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Recensão crítica de um filme:

- The Super 8 Years (2022)

Ano letivo 2023/2024


Docente: Carla Baptista
Discente: Constança Vieira (2023121583)
Unidade Curricular: História dos Media
Licenciatura em Ciências da Comunicação – 1º ano

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No âmbito da Unidade Curricular de História dos Media, elaborei este
trabalho que se destina à recensão crítica do filme “The Supper 8 Years”. Esta obra,
classificada como documentário autobiográfico foi dirigida por Annie Ernaux e pelo
seu filho David Ernaux-Briot.
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, no ano 1940 vinda de
um meio familiar que fazia parte da classe trabalhadora. Devido ao seu empenho nos
estudos e ao seu trabalho como professora ascendeu socialmente e passou a
pertencer à classe média. Começou a escrever em 1960 mas só em 1967 é que
publicou o seu primeiro livro. Durante esse período casou com Philipe Ernaux com
quem teve dois filhos. Divorciou-se no início dos anos 80 e em 2000 abandonou
cargo de professora dedicando-se a tempo inteiro à escrita. No mesmo ano em que
sai o seu filme "The Super 8 Years", 2022, foi galardoada com o Prémio Nobel da
Literatura "pela coragem e acuidade clínica com a qual ela descobre as raízes, os
afastamentos e as tensões coletivas da memória pessoal", algo que identificamos no
filme que é co-dirigido pela autora.
O documentário, constituído por memórias privadas da família Ernaux
gravadas numa câmara Bell & Howell Super 8, tem como data inicial o fim do
inverno de 1972, altura em que a família adquiriu este objeto. O final do filme
acontece no início dos anos 80. Estes dez anos são condensados numa hora de
gravações pelos olhos do ex-marido de Annie Ernaux, Philipe Ernaux e
acompanhadas por um texto extramente íntimo narrado por Annie Ernaux.
“Film truly captured life and people, even if the films were silent.” Natais,
aniversários e momentos em casa, férias por Espanha, Portugal e Grã-Bretanha,
assim como as viagens ao Chile, Albânia e URSS, são algumas das diversas
memórias gravadas e apresentadas em “The Supper 8 Years”. Estas imagens do
passado, articuladas com narrações atuais, tornam-se um lugar de memória.
Podemos relacionar este aspeto do filme com os meios de comunicação e como
estes, são amplamente considerados lugares de memória na sociedade
contemporânea. Têm nela uma grande importância e é um tema complexo e
multifacetado, devido aos media desempenharem um papel fundamental na
formação da opinião pública e na construção da identidade social. São uma fonte
importante de informação e entretenimento, com a capacidade de influenciar a forma
como as pessoas pensam e se comportam.
O impacto dos media e nomeadamente da imagem é enorme. No filme, onde
são retratadas imagens do íntimo de uma família feliz temos o choque da descrição e
autorreflexão de Annie Ernaux. Ao contar ao expectador momentos como: a fase em
que o casamento estava a ruir, o que levou a um desconfortável ambiente familiar,
tanto como a ambição secreta de construir uma carreira literária, contribuiu para o
surgimento de um ambiente contrastante com gravações idílicas e não
representativas dos sentimentos de Annie Ernaux no momento. “On the beach, I was
buoyed by the certainty of finishing the book I´d only just begun to write my story
of a woman assigned since marriage to the role of nurturer, silent manager and
steward, whereas I’d been raised to believe in freedom and equality with men.”

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Contudo, este documentário não representa simplesmente um arquivo
familiar. A par das viagens e das realidades impactantes retratadas nas imagens
desses países, estão também presentes testemunhos de gostos, passatempos, estilo de
vida e aspirações de muitas pessoas de uma determinada geração e classe social, ao
longo de uma década posterior às grandes manifestações de rua e às ideias
subjacentes, como a revolução sexual e a emancipação feminina do Maio de 1968.
O resultado deste filme é um retrato excecional de uma época, que captura
dimensões pessoais e políticas. Através da narração portentosa de Annie Ernaux e da
perspicácia e subtileza de edição da montagem feita por Clément Pinteaux, somos
conduzidos através destes vislumbres fragmentados e várias experiências para uma
década transformadora. Oferece-nos “insights” sobre mudanças pessoais e sociais,
enquanto nos proporciona uma extensão convincente da sua vida e dos seus esforços
literários. Tudo isto numa intensa e rica imagética visual.

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Bibliografia e Webgrafia

Referência bibliográfica Annie Ernaux:


https://www.annie-ernaux.org/biography/
‘The Super 8 Years’ Review: Annie Ernaux’s Celluloid Memories. In The
New York Times:
https://www.nytimes.com/2022/12/15/movies/the-super-8-years-review-annie-
ernaux.html
The Super 8 Years review – the family life of a Nobel prizewinner caught
on film. In The Guardian:
https://www.theguardian.com/film/2023/jun/20/the-super-8-years-review-the-
family-life-of-annie-ernaux
LES ANNÉES SUPER-8 / 2022
Annie Ernaux – Os Anos Super-8:
https://www.cinemateca.pt/CinematecaSite/media/Documentos/2023-05-
11_LES-ANNEES-SUPER-8.pdf

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