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ANTÓNIO DAMÁSIO diz em “A estranha ordem das coisas” (2017):

A homeostase refere-se ao conjunto fundamental de operações no centro da vida, desde o


ponto mais antigo e há muito desaparecido do seu início na bioquímica primitiva, até ao
presente. A homeostase é o imperativo poderoso, impensado, não falado, cujo cumprimento
implica, para cada organismo vivo, pequeno ou grande, nada menos do que perdurar e
prevalecer. A parte do imperativo homeostático que diz respeito ao "durar" é transparente:
produz a sobrevivência e é tomada como garantida sempre que se considera a evolução de
qualquer organismo ou espécie. Uma outra parte da homeostase diz respeito a "prevalecer", e
é mais subtil e raramente reconhecida. Assegura que a vida é regulada dentro de um intervalo
que não é apenas compatível com a sobrevivência, mas também conducente ao florescimento,
a uma projeção da vida no futuro de um organismo ou de uma espécie."

A homeoestasia é uma necessidade da célula que busca não a mera estabilidade, mas o estado
mais conveniente em cada momento para continuar a viver. O equilíbrio completo não existe,
já que de um ponto de vista termodinâmico só a morte o poderia garantir. Ou seja, a célula
determina sempre o seu estado em função da otimização dos recursos de energia disponíveis
e da garantia de manutenção futura da própria vida, isto porque a célula não vive numa ilha
isolada, mas está em permanente interação com a realidade que a rodeia. Neste sentido a
homeostasia funciona como um ‘drive’ interno, ou seja, a motivação para a vida, que se
propaga depois a todos os restantes mecanismos biológicos.

O facto de se estar vivo obriga a uma emocionalidade contínua. Assim como é impossível não
comunicar, é impossível não sentir emoção. A nossa emocionalidade tende para a
tranquilidade, o que não seria neutra, mas antes “natural”, ou seja, tal como a homeostasia,
um modo de garantir a manutenção ótima da experiência humana. O modo como a vida é
regulada explica a razão porque nunca paramos de evoluir, porque estamos em constante
mutação e progressão, ainda que de um modo lento, impercetível ao nosso olhar quotidiano.

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