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Nova Friburgo
2019
MAYARA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA JANUÁRIO
Orientadora:
Nova Friburgo
2019
MAYARA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA JANUÁRIO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof.ª Dra. Gisele Gouvêa da Silva (UFF) – Orientadora
_______________________________________________________
Prof. ª Ms. Ana Carolina Teixeira Pinto (UNESA) – Membro Titular
_________________________________________________________
Prof.ª Dra. Tania Afonso Chaves (UFF) – Membro Titular
_________________________________________________________
Profa. Dra. Tatiana Bagetti (UFF) – Membro Suplente
Nova Friburgo
2019
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos,
a reprodução parcial ou total deste trabalho de conclusão de curso, através de processos
fotocopiadores ou meios eletrônicos, desde que citada a fonte.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que dá sentido a tudo em minha vida. Esse dia já
estava descrito em seu Livro...Sem Ele seria impossível chegar até aqui. Ele é a razão
de tudo!
Aos meus pais, Wellinton e Kátia, os seres humanos luzes da minha vida, que me
impulsionam a evoluir, pouco a pouco, todos os dias. Minha busca incansável é
retribuir todo o esforço e dedicação de vocês em prol do meu crescimento profissional.
Ao meu irmão Wellinson pelo apoio e por vibrar junto nessa conquista.
As minhas queridas amigas Kelly Affonso, Larissa Gomes, Taísa Bon e Vanessa
Barbosa, as quais aprendi a amar e com quem construí laços eternos. Nada é tão
precioso como o valor da verdadeira amizade. Obrigada por todos os momentos
compartilhados durante esses 5 anos de graduação. Obrigada pela paciência, pelos
sorrisos, pelos abraços, pelas mãos estendidas. Esta caminhada não seria a mesma
sem vocês. Palavras faltam pra expressar minha gratidão. Da UFF pra vida!
A minha orientadora, Gisele Gouvêa. Obrigada pelo cuidado com minhas limitações e
por ressignificá-las a cada novo encontro que tínhamos. Obrigada pelas orientações
nos finais de semana, pela porta aberta em sua casa, pelas risadas compartilhadas e
pela amizade que construímos. Obrigada por todo aprendizado transmitido ao longo
da trajetória acadêmica.
Aos meus amigos: Marina, Rebeca, Victor, Gabriel, Lukas, Marcelle, Annelize,
Marcos, João, Jéssica e Patrick. Obrigada por compreenderem meus momentos de
ausência e por se alegrarem comigo nas pequenas e grandes conquistas da vida.
Aos meus amados pastores Selma e Rossine, pelas orações e palavras de
encorajamento nos momentos mais difíceis.
A equipe do CAPSi, pela receptividade e pelo solo de conhecimento que foram para
ampliar meu olhar ao sujeito.
Por último e não menos importante, à Universidade Federal Fluminense, de quem fiz
minha segunda casa e a todo o corpo docente que demonstrou estar comprometido
com a qualidade e excelência do ensino.
A única coisa que devemos temer é o próprio medo.
Franklin Roosevelt
RESUMO
A automutilação tem sido uma prática que vem crescendo significativamente nos
últimos anos e está cada vez mais presente, principalmente no que se refere ao sujeito
adolescente. Essa demanda tem sido encontrada constantemente nos serviços de
saúde, principalmente na rede de atenção primária. A automutilação é um ato
intencional, que não envolve intenção suicida. Para o sujeito que a pratica,
proporciona alívio e bem-estar diante do sofrimento psíquico. Entretanto, a
automutilação tem como característica: marcas no corpo, principalmente cortes
superficiais sobre a pele, mas podem ser encontradas outras lesões como arranhões,
mordidas, queimaduras, entre outros danos, dirigidos ao próprio corpo. Foi utilizado
neste trabalho uma discussão teórica sobre a adolescência, sobre a automutilação e
o relato de experiencia sobre o trabalho fonoaudiológico desenvolvido com
adolescentes em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) que vêm
a exemplificar o fazer fonoaudiológico diante desse contexto. Dada a escassez de
trabalhos relacionando a automutilação e a fonoaudiologia, através desse trabalho
será possível entender a potencialidade do fazer fonoaudiológico junto a equipe
multiprofissional frente ao contexto da automutilação, compreendendo que por trás de
um signo, pode haver um pedido de ajuda, tentando comunicar algo. Por fim, o
fonoaudiólogo pode contribuir nas questões de automutilação e na promoção de
estratégias discursivas, pautadas no exercício da linguagem, especificamente, na
relação da fala do adolescente com a sua própria fala, com a fala do outro e com a
língua.
Self-mutilation has been a practice that has grown significantly in recent years and is
increasingly present, especially regarding the adolescent subject. This demand has
been constantly found in health services, especially in the primary care network. Self-
mutilation is an intentional act that does not involve suicidal intent. For the subjects
who practice it, it provides relief and well-being in the face of psychic suffering.
However, self-mutilation is characterized by: marks on the body, especially superficial
cuts on the skin, but other injuries can be found such as scratches, bites, burns and
other damages directed to their own body. It was used in this paper a theoretical
discussion about adolescence, self-mutilation and the experience reports about the
speech therapy work developed with adolescents in a Children and Teenagers
Psychosocial Care Center that exemplify speech therapy in this context. Given the
scarcity of works relating self-mutilation and speech therapy, through this study it will
be possible to understand the potentiality of speech therapy practice with a
multidisciplinary team in the context of self-mutilation, understanding that behind a sign
there may be a request for help, trying to communicate something. Finally, the speech
therapist can contribute to the issues of self-mutilation and the promotion of discursive
strategies, based on the exercise of language, specifically, in the relationship between
the adolescents’ speech and their own speech, the other's speech and the language.
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................12
2. O SUJEITO ADOLESCENTE..............................................................15
3. A AUTOMUTILAÇÃO E SUAS VICISSITUDES..................................21
4. FONOAUDIOLOGIA E SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIENCIA
NO CAPSi............................................................................................28
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................36
6. REFERÊNCIAS....................................................................................38
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
O SUJEITO ADOLESCENTE
O sujeito adolescente até meados da década de 1970 era visto apenas como
objeto da família e do estado. Este só passou a ganhar visibilidade através dos
problemas sociais enfrentados por eles, tais como: o uso de álcool e drogas, sexo sem
proteção, envolvimento em atos de violência foram alguns dos comportamentos,
considerados de risco pelos quais foram criadas políticas e desenvolvidas ações
específicas para os adolescentes e estes então passaram a ser reconhecidos como
sujeitos de direitos (OPAS/OMS, 2017).
Pode-se observar que esse período de transição entre a infância e a vida adulta
refere-se ao desenvolvimento físico, mental, linguístico, emocional, sexual, social e
pelas lutas do adolescente em enfrentar os desafios relacionados às expectativas
culturais da sociedade em que vive (EISENSTEIN, 2005; AVILA, 2005).
A voz também é uma outra característica marcante nessa fase da vida, que
estabelece a diferença entre os gêneros. Essa modificação na voz durante a
adolescência é conhecida como “muda vocal.” A instabilidade vocal, no uso da voz
pelo adolescente, é causada pelo crescimento do comprimento das pregas vocais e
da maturação da laringe que trazem consigo oscilações na frequência fundamental da
voz. A voz do adolescente ora parece de criança, ora de adulto. Conforme Gomes et
al. (2015, p.132), “Por ser um momento de definição de identidade, a mudança de voz
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O autor também destaca uma fase de luto que o adolescente terá de passar,
passando por uma “morte psicológica” de sua autoimagem infantil para então entrar
na fase adulta, ou seja, para se tornar adulto, o adolescente precisará vivenciar não
somente a perda do corpo infantil, como parte das referências construídas pelos pais
durante a infância e passar a ocupar um outro lugar no contexto da sociedade e da
família. Os amigos ganham importância crescente, na medida em que surge um
natural distanciamento dos pais em direção a uma maior independência. Ao mesmo
tempo, a sociedade e a família passam a exigir do adolescente, maiores
responsabilidades com relação a sua própria vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
A experiência da castração como concreta é uma fantasia, porque será uma imagem
que assumirá o valor da castração, como o temor que acompanha as crianças, os
adolescentes e os adultos, causando angústia.
Sobre isso, Alberti (2008) também diz que durante a adolescência os modelos
de identificação por eles antes criados (principalmente referências do contexto
familiar, como por exemplo, os pais sendo os super-heróis da criança) se cedem,
sendo que, segundo a autora, isso trará inúmeros efeitos. Em uma via de mão dupla,
os pais podem não suportar a adolescência dos filhos e os filhos a dos pais,
produzindo um afastamento. Alberti alerta que, quando a ausência das referências
primárias acontece antes do tempo da separação, o adolescente sente essa
experiência como abandono, com isso tentam ceifar a imagem dos pais. Nessa
passagem, quando o adolescente passa a acreditar que os seus pais não podem
salvá-lo do desamparo, precisará unir esforços para elaborar o luto da perda dos pais
onipotentes da infância.
21
CAPITULO II
A literatura nacional mostra que existem ainda muitas lacunas sobre o tema e
um dos principais agravantes é quanto à terminologia e ao diagnóstico no contexto
clínico, já que ainda não existe no Brasil uma normatização terminológica para
reportar-se as pessoas que praticam tal ato, como fora abordado por Araújo et al.
(2016).
22
Favazza (1996 apud ARAÚJO et al., 2016) em seu livro intitulado de “Bodies
under siege” divide a automutilação em três grupos: grave; estereotipada; superficial
e/ou moderada. A automutilação grave inclui atos como castrar e amputar membros,
remover os olhos em associação à psicose e envenenamento, possuindo muitas
vezes significados ligados a religião ou a questões sexuais. A automutilação
estereotipada envolve atos como bater a cabeça de forma repetitiva, mordidas e
arranhões, sendo que estes são repetitivos e rítmicos, podendo ser vistos em sujeitos
autistas ou portadores da Síndrome de Tourette.
ou desfazer os sentidos e até mesmo fazer estragos no corpo. O corpo não é somente
instrumento fisiológico, psíquico nem apenas adquire símbolos culturais e sociais,
porque é também um receptor e e emissor de sentidos.
O adolescente que pratica esse ato muitas vezes não encontra recursos
psíquicos simbolizantes para enfrentar o sofrimento. Assim, a automutilação se
apresenta como uma forma de apaziguamento diante da dificuldade de encontrar
palavras para dar significado a dor, já que muitas vezes sujeitos que se automutilam
tendem ao isolamento e a ausência de um interlocutor com quem possa compartilhar
26
suas dores (FORTES E KOTHER, 2017; ARAÚJO ET. AL 2016). Sofrimento este que
através das palavras não consegue dizer, transferindo-o para um lugar onde este seja
visível: no corpo. A pele é o que separa o sujeito do meio e o que o une (BERNARDES,
2015).
CAPÍTULO III
Existem 5 modalidades de CAPS: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad
e estes se distinguem quanto ao tamanho, a capacidade de atendimento, ao público-
alvo atendido e sua organização é pautada de acordo com o delineamento
populacional dos municípios brasileiros. (BRASIL, 2005).
O fonoaudiólogo está inserido na equipe mínima dos CAPSi, e essa é uma das
particularidades desse serviço em específico, já que nas outras modalidades de CAPS
o profissional fonoaudiólogo não consta como exigência na equipe mínima.
debates sobre o assunto discutido e compreensão textual a aceca do que fora lido,
enriquecendo o discurso e assim fazendo com que o sujeito adolescente se aproxime
do uso da língua, da leitura, escrita e das relações discursivas, tão presentes no
exercício da linguagem e possibilitando assim que o sujeito adolescente reformule sua
própria história, (re)significando-a e encontrando através da via da linguagem uma
saída para seu sofrimento.
Como esse adolescente escuta, de que lugar escuta, o que escuta? São
questões que se apresentam no fazer fonoaudiológico no CAPSi. Podemos observar
que falar não é somente um ato motor. Falar também é ser um autor. Falar é falar a
alguém, alguma coisa. Implica considerar com que falo, o que falo, como falo, para
quem falo, quando falo ou me calo. Falar é um jogo político dos signos.
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O contar histórias é como uma ponte que liga o arremedo de palavras, ao sabor
da língua e a diversão da experiência de fala. É a ponte que liga uma política de
cuidado, de cuidado com as palavras, de cuidado de si, de cuidado com o ouvinte,
cuidado com a musicalidade da voz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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