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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE SAÚDE DE NOVA FRIBURGO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA

MAYARA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA JANUÁRIO

O FAZER FONOAUDIOLÓGICO NO CONTEXTO DA AUTOMUTILAÇÃO NA


ADOLESCÊNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Nova Friburgo

2019
MAYARA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA JANUÁRIO

O FAZER FONOAUDIOLÓGICO NO CONTEXTO DA AUTOMUTILAÇÃO NA


ADOLESCÊNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Fonoaudiologia, do Instituto de
Saúde de Nova Friburgo, da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial à
obtenção do grau em bacharel em
Fonoaudiologia.

Orientadora:

Prof.ª Dra. Gisele Gouvêa da Silva

Nova Friburgo

2019
MAYARA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA JANUÁRIO

O FAZER FONOAUDIOLÓGICO NO CONTEXTO DA AUTOMUTILAÇÃO NA


ADOLESCÊNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Fonoaudiologia, do Instituto de
Saúde de Nova Friburgo, da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial à
obtenção do grau em bacharel em
Fonoaudiologia.

Aprovada em 02 de dezembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Prof.ª Dra. Gisele Gouvêa da Silva (UFF) – Orientadora

_______________________________________________________
Prof. ª Ms. Ana Carolina Teixeira Pinto (UNESA) – Membro Titular

_________________________________________________________
Prof.ª Dra. Tania Afonso Chaves (UFF) – Membro Titular

_________________________________________________________
Profa. Dra. Tatiana Bagetti (UFF) – Membro Suplente

Nova Friburgo

2019
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos,
a reprodução parcial ou total deste trabalho de conclusão de curso, através de processos
fotocopiadores ou meios eletrônicos, desde que citada a fonte.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que dá sentido a tudo em minha vida. Esse dia já
estava descrito em seu Livro...Sem Ele seria impossível chegar até aqui. Ele é a razão
de tudo!

Aos meus pais, Wellinton e Kátia, os seres humanos luzes da minha vida, que me
impulsionam a evoluir, pouco a pouco, todos os dias. Minha busca incansável é
retribuir todo o esforço e dedicação de vocês em prol do meu crescimento profissional.
Ao meu irmão Wellinson pelo apoio e por vibrar junto nessa conquista.

As minhas avós, Mariana e Noêmia, que me incentivam dia-a-dia na caminhada da


vida.

As minhas queridas amigas Kelly Affonso, Larissa Gomes, Taísa Bon e Vanessa
Barbosa, as quais aprendi a amar e com quem construí laços eternos. Nada é tão
precioso como o valor da verdadeira amizade. Obrigada por todos os momentos
compartilhados durante esses 5 anos de graduação. Obrigada pela paciência, pelos
sorrisos, pelos abraços, pelas mãos estendidas. Esta caminhada não seria a mesma
sem vocês. Palavras faltam pra expressar minha gratidão. Da UFF pra vida!

A minha orientadora, Gisele Gouvêa. Obrigada pelo cuidado com minhas limitações e
por ressignificá-las a cada novo encontro que tínhamos. Obrigada pelas orientações
nos finais de semana, pela porta aberta em sua casa, pelas risadas compartilhadas e
pela amizade que construímos. Obrigada por todo aprendizado transmitido ao longo
da trajetória acadêmica.

A Guilherme Scanferla, com quem dupliquei as alegrias e dividi as angústias do último


ano. Obrigada pela amizade, reciprocidade, pelo encontro tão bonito que tivemos na
graduação. Já estava escrito esse encontro. Obrigada pela leveza que você trouxe
nos meus dias.

Aos meus amigos: Marina, Rebeca, Victor, Gabriel, Lukas, Marcelle, Annelize,
Marcos, João, Jéssica e Patrick. Obrigada por compreenderem meus momentos de
ausência e por se alegrarem comigo nas pequenas e grandes conquistas da vida.
Aos meus amados pastores Selma e Rossine, pelas orações e palavras de
encorajamento nos momentos mais difíceis.

Aos meus queridos adolescentes. Em especial, Duda, Sarah e João Pedro.

Aos colegas de turma e a galera do Dunamis Pockets. Em especial, a Críscila


Marquiotti e Larissa Theophilo.

A equipe do CAPSi, pela receptividade e pelo solo de conhecimento que foram para
ampliar meu olhar ao sujeito.

A banca examinadora, por terem aceito o convite, pela competência profissional e


pelas contribuições feitas a pesquisa.

Por último e não menos importante, à Universidade Federal Fluminense, de quem fiz
minha segunda casa e a todo o corpo docente que demonstrou estar comprometido
com a qualidade e excelência do ensino.
A única coisa que devemos temer é o próprio medo.

Franklin Roosevelt
RESUMO

A automutilação tem sido uma prática que vem crescendo significativamente nos
últimos anos e está cada vez mais presente, principalmente no que se refere ao sujeito
adolescente. Essa demanda tem sido encontrada constantemente nos serviços de
saúde, principalmente na rede de atenção primária. A automutilação é um ato
intencional, que não envolve intenção suicida. Para o sujeito que a pratica,
proporciona alívio e bem-estar diante do sofrimento psíquico. Entretanto, a
automutilação tem como característica: marcas no corpo, principalmente cortes
superficiais sobre a pele, mas podem ser encontradas outras lesões como arranhões,
mordidas, queimaduras, entre outros danos, dirigidos ao próprio corpo. Foi utilizado
neste trabalho uma discussão teórica sobre a adolescência, sobre a automutilação e
o relato de experiencia sobre o trabalho fonoaudiológico desenvolvido com
adolescentes em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) que vêm
a exemplificar o fazer fonoaudiológico diante desse contexto. Dada a escassez de
trabalhos relacionando a automutilação e a fonoaudiologia, através desse trabalho
será possível entender a potencialidade do fazer fonoaudiológico junto a equipe
multiprofissional frente ao contexto da automutilação, compreendendo que por trás de
um signo, pode haver um pedido de ajuda, tentando comunicar algo. Por fim, o
fonoaudiólogo pode contribuir nas questões de automutilação e na promoção de
estratégias discursivas, pautadas no exercício da linguagem, especificamente, na
relação da fala do adolescente com a sua própria fala, com a fala do outro e com a
língua.

Palavras-chave: Automutilação; Fonoaudiologia; Linguagem; Adolescente; Saúde


Coletiva
ABSTRACT

Self-mutilation has been a practice that has grown significantly in recent years and is
increasingly present, especially regarding the adolescent subject. This demand has
been constantly found in health services, especially in the primary care network. Self-
mutilation is an intentional act that does not involve suicidal intent. For the subjects
who practice it, it provides relief and well-being in the face of psychic suffering.
However, self-mutilation is characterized by: marks on the body, especially superficial
cuts on the skin, but other injuries can be found such as scratches, bites, burns and
other damages directed to their own body. It was used in this paper a theoretical
discussion about adolescence, self-mutilation and the experience reports about the
speech therapy work developed with adolescents in a Children and Teenagers
Psychosocial Care Center that exemplify speech therapy in this context. Given the
scarcity of works relating self-mutilation and speech therapy, through this study it will
be possible to understand the potentiality of speech therapy practice with a
multidisciplinary team in the context of self-mutilation, understanding that behind a sign
there may be a request for help, trying to communicate something. Finally, the speech
therapist can contribute to the issues of self-mutilation and the promotion of discursive
strategies, based on the exercise of language, specifically, in the relationship between
the adolescents’ speech and their own speech, the other's speech and the language.

Keywords: Self-mutilation; Speech therapy; Language; Adolescent; Collective Health


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................12
2. O SUJEITO ADOLESCENTE..............................................................15
3. A AUTOMUTILAÇÃO E SUAS VICISSITUDES..................................21
4. FONOAUDIOLOGIA E SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIENCIA
NO CAPSi............................................................................................28
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................36
6. REFERÊNCIAS....................................................................................38
12

INTRODUÇÃO

O interesse pela temática “automutilação na adolescência” surgiu durante a


vivência do estágio obrigatório em Fonoaudiologia Institucional, como pré-requisito na
formação dos graduandos em Fonoaudiologia da Universidade Federal Fluminense,
do Instituto de Saúde de Nova Friburgo. O estágio é realizado em várias instituições
de saúde que compõem a atenção básica no município de Nova Friburgo/RJ. Uma
dessas instituições em que foram realizadas atividades promovidas por estagiárias foi
o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi). O CAPSi é um dos
dispositivos que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e que surge
durante o processo de reforma Psiquiátrica no Brasil, de modo a substituir os hospitais
psiquiátricos.

De acordo com a Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, o CAPSi é um


serviço aberto e de caráter comunitário, que atende diariamente crianças e
adolescentes com transtornos mentais. Compõe-se como modelo-referência para
municípios ou regiões com população acima de 200 mil habitantes ou com outro
parâmetro definido pelo gestor local, de modo a atender a demanda, tecer a rede de
cuidados em saúde mental no âmbito territorial e na identificação de populações
específicas e mais vulneráveis que devem ser objeto de estratégias diferenciadas de
cuidado. Há oferta de cuidados médicos, psicológicos, fonoaudiológicos, de
assistência social, além de grupos com objetivos diversos (BRASIL, Ministério da
Saúde, 2014). Falaremos mais à frente de modo detalhado sobre a configuração e
funcionamento desse serviço.

Com base na proposta de cuidado oferecida pelo CAPSi, o fonoaudiólogo é um


dos protagonistas da equipe de apoio na atenção e no cuidado de crianças e
adolescentes com sofrimento psíquico. O fonoaudiólogo, conforme o Conselho
Federal de Fonoaudiologia (2007), é o profissional da área da Saúde responsável em
avaliar, diagnosticar, realizar terapia e fornecer orientações sobre os aspectos
fonoaudiológicos, como linguagem oral e escrita, voz, motricidade orofacial, fala,
deglutição, funções auditivas, funções vestibulares e fluência. Além disso, o
fonoaudiólogo é responsável por ações de promoção e prevenção da Saúde.
13

A atuação da Fonoaudiologia em Saúde Mental é um tema relativamente


recente, o trabalho fonoaudiológico nesse público em si ainda é pouco discutido,
entretanto, alguns autores como Oliveira, Batista e Domenes (2008); Almeida, Cunha
e Souza (2013); Almeida et.al (2010, 2014); Arce (2014); Patriarca (2017) ressaltam
importância da atuação do fonoaudiólogo juntamente com outros profissionais na rede
de cuidado em Saúde Mental. De acordo com Garcia, Santos e Machado (2015),
existem poucos estudos brasileiros que abordam a utilização de serviços de saúde
mental para população infanto-juvenil.

Durante os semestres de 2018.2 e 2019.1, eu com mais três discentes do curso


de Fonoaudiologia, estive realizando atividades multiprofissionais diversas na
instituição, tendo como base o princípio do apoio institucional. Os profissionais do
CAPSi permitiram que realizássemos em conjunto com eles, o acolhimento de
crianças e adolescentes e de suas famílias. Trouxeram como demanda para prática
fonoaudiológica do estágio, a implantação e o apoio as intervenções em grupos e
oficinas com as famílias e com os adolescentes. A orientadora do estágio apontava
para a necessidade de que fossem realizados os registros de procedimentos
fonoaudiológicos em prontuários. A base do estágio estava pautada não somente na
prática compartilhada do cuidado, mas como na discussão de casos clínicos com a
equipe, que por sua vez, ocorreram tanto nas reuniões de equipe, como na realização
de diálogos e visitas intersetoriais e interprofissionais.

Os avanços e desafios durante essas práticas constituíram o ponto de partida


para a construção desse trabalho. Dentre as atividades destaco uma que surgiu
através de uma demanda levantada pela equipe do CAPSi durante reunião: a
construção de uma oficina de contação de histórias para crianças e adolescentes com
transtornos mentais e/ou transtornos de linguagem. Me causou estranhamento a
equipe ter encaminhado para nós estudantes de fonoaudiologia, adolescentes que
tinham em sua história episódios e marcas no corpo de automutilação. À primeira
vista, me interroguei se a formação durante a graduação prepara o profissional
fonoaudiólogo para enfrentar essa questão. Não recordo em minha trajetória
acadêmica de ter sido abordada a temática da mutilação, apesar de ter tido disciplinas
voltadas para o desenvolvimento biopsicossocial, constituição subjetiva e transtornos
mentais e do comportamento.
14

Sob essa perspectiva, surgiram alguns questionamentos: O que é


automutilação? O que acontece na adolescência que pode desencadear este ato?
Qual seria a relação entre automutilação e o fazer fonoaudiológico?

Diante desses questionamentos, o objetivo central desta pesquisa é relatar a


experiência sobre o fazer fonoaudiológico no contexto da automutilação na
adolescência. Para tanto, a pesquisa trata-se de um estudo sobre o sujeito
adolescente, as vicissitudes da automutilação e o relato de experiência com revisão
de literatura de caráter narrativo.

Justifica-se a importância de realização dessa pesquisa dada a escassez de


trabalhos relacionando a automutilação e a Fonoaudiologia. Espera-se através desse
trabalho contribuir e entender a potencialidade do fazer fonoaudiológico junto a equipe
multiprofissional frente ao contexto da automutilação.

A seguir, no capítulo I, o leitor poderá encontrar uma revisão bibliográfica sobre


a adolescência, com o objetivo de caracterizar esse importante ciclo de vida, que tanto
marca a passagem da infância a vida adulta, como ressignifica as formas de viver do
adolescente, uma vez que há mudanças nos processos subjetivos, linguísticos,
físicos, sociais e culturais da adolescência.

No capítulo II, será realizado uma revisão de literatura sobre a automutilação,


com o objetivo de compreender esse ato sobre o corpo. A automutilação pode se
manifestar como um sinalizador de sofrimento psíquico, como uma forma de transmitir
um pedido de ajuda.

No capítulo III, será discutido sobre a contribuição da Fonoaudiologia e atuação


em Saúde Mental e o relato de experiência da vivência no CAPSi com adolescentes,
conduta profissional e manejos fonoaudiológicos.

No capítulo IV são apresentadas as Considerações Finais desta pesquisa.


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CAPÍTULO I

O SUJEITO ADOLESCENTE

O termo adolescência é um conceito bem recente. Produto do século XX e


oriundo de processos de transformações e mudanças históricas, avanços
tecnológicos, exigências no mercado de trabalho e outras séries de transmutações
sociais, culturais, políticas e econômicas (XAVIER E NUNES, 2013; GOMES et al.,
2015). A adolescência representa “uma etapa de transição, na qual não se é mais
criança, mas ainda não se tem o status de adulto” (XAVIER E NUNES, 2013, p.47).

O sujeito adolescente até meados da década de 1970 era visto apenas como
objeto da família e do estado. Este só passou a ganhar visibilidade através dos
problemas sociais enfrentados por eles, tais como: o uso de álcool e drogas, sexo sem
proteção, envolvimento em atos de violência foram alguns dos comportamentos,
considerados de risco pelos quais foram criadas políticas e desenvolvidas ações
específicas para os adolescentes e estes então passaram a ser reconhecidos como
sujeitos de direitos (OPAS/OMS, 2017).

Pode-se observar que esse período de transição entre a infância e a vida adulta
refere-se ao desenvolvimento físico, mental, linguístico, emocional, sexual, social e
pelas lutas do adolescente em enfrentar os desafios relacionados às expectativas
culturais da sociedade em que vive (EISENSTEIN, 2005; AVILA, 2005).

De acordo com o Ministério da Saúde, “a adolescência é a etapa da vida


compreendida entre a infância e a fase adulta, marcada por um complexo processo
de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007,
p. 7). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece a adolescência como sendo
o período da vida que se inicia aos 10 anos e se encerra aos 19 anos completos.
Adota ainda o termo “pessoas jovens” para se referir ao conjunto de adolescentes e
jovens, que estão na faixa compreendida entre 10 e 24 anos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera a adolescência,


sendo o período dos 12 até os 18 anos de idade completos. De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 17,9% da população
brasileira é composta por adolescentes – um pouco mais de 34 milhões de pessoas.
16

Segundo Xavier e Nunes (2013), todos passam pelo processo de puberdade na


adolescência; mas do ponto de vista psicossocial, a depender do povo e cultura, essa
fase pode ter significações e características bem diferentes.

As mudanças no cenário da sociedade atual contribuíram para o conceito de


adolescência que temos hoje. O exacerbado uso das redes sociais, a valorização e
busca pelo corpo ideal, a transição entre o espaço escolar e o mundo do trabalho, o
início do uso de drogas e outras substâncias, a escolha da sexualidade, a primeira
relação sexual, a gravidez na adolescência, dentre outras, são questões que vão
desenhando o perfil dessa fase da vida:

A adolescência é marcada, entre outras características, pela busca de


autonomia sobre as decisões, emoções e ações, pelo desenvolvimento
de habilidades e a vivência da sexualidade. É um período em que
adolescentes exploram mais intensamente sua identidade sexual e de
gênero. Em muitos casos, as buscas e experimentações dessa faixa
etária possibilitam uma maior exposição às violências e aos
comportamentos de riscos, tais como o abuso de álcool e de outras
drogas, que podem resultar em uma maior suscetibilidade às doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs) e em uma gravidez não desejada.
Frequentemente, problemas de saúde mental, como depressão e
ansiedade, aparecem pela primeira vez durante a adolescência
(OPAS/OMS, 2017, p.7-8).

Quantos aos aspectos físicos, a puberdade marca um conjunto de


transformações no corpo ligadas ao crescimento tais como, ganho de peso, altura,
massa muscular e ao desenvolvimento de respostas fisiológicas que geram mudanças
na produção de hormônios para meninos e meninas. A puberdade marca a passagem
do corpo infantil para o corpo adulto apto a reprodução.

A voz também é uma outra característica marcante nessa fase da vida, que
estabelece a diferença entre os gêneros. Essa modificação na voz durante a
adolescência é conhecida como “muda vocal.” A instabilidade vocal, no uso da voz
pelo adolescente, é causada pelo crescimento do comprimento das pregas vocais e
da maturação da laringe que trazem consigo oscilações na frequência fundamental da
voz. A voz do adolescente ora parece de criança, ora de adulto. Conforme Gomes et
al. (2015, p.132), “Por ser um momento de definição de identidade, a mudança de voz
17

que acompanha o desenvolvimento, tem uma posição determinante nessa definição


e na autoafirmação do sujeito na fase da adolescência.”

Do ponto de vista cognitivo, as principais aquisições da adolescência, de


acordo com Xavier e Nunes (2013, p.40) são: “aprender a pensar e lidar com as ideias,
a administrar os problemas de forma sistemática e metódica. Nessa etapa acrescenta-
se a lógica dedutiva, quando se tornam mais evidentes os eventuais déficits de
desenvolvimento intelectual.”

Quanto ao aspecto psíquico, o desenvolvimento do adolescente segundo o


Ministério da Saúde (2017, p.87): “[...] ocorre por meio de uma sucessão de
experiências intrapsíquicas no sentido do desligamento progressivo dos pais, do
ambiente e dos valores da infância. Este processo de “separação” e “individuação”
culmina com a aquisição da consciência do sentimento de identidade.”

A construção da autonomia do adolescente, segundo Contini, Koller e Barros


(2002) se dá através da modificação de laços e referências em constante relação com
a família e será através das divergências e oposições que, pouco a pouco, o
adolescente irá se diferenciando, fazendo do conflito uma ferramenta indispensável
para tornar-se sujeito, conforme ressalta Ribeiro e Ribeiro (1995). “A constituição da
identidade acontece na diferenciação entre o “eu” e o “outro”, entre o que o sujeito
reconhece como semelhante e o que lhe causa estranheza” (BERNARDES, 2015, p.
37)

Essas mudanças consigo mesmo e com o outro durante a fase da adolescência


é que constroem a subjetividade do adolescente. No que diz respeito, Freire afirma
que:

Mudança nas configurações sociais, quebra de valores, fragilidade na


consolidação de vínculos, é o cenário apresentado pela cultura pós-
moderna. É nesse contexto, que o sujeito adolescente constrói sua
subjetividade, onde precisa lidar com os mal-estares inter-relacionais e
intrapsíquicos (FREIRE, 2017, p.2).

De acordo com Knobel (2003) baseado na abordagem psicanalítica, há uma


série de sinais e sintomas que seriam considerados normais e que caracterizariam a
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adolescência, que este a chama de Síndrome Normal da Adolescência. Segundo o


autor rebeldia, humor flutuante, busca pela identidade, necessidade de intelectualizar
e fantasiar, tendência a grupos, crises relacionadas a religião e outras condutas
singulares, consideradas “anormais”, são importantes para o desenvolvimento do
sujeito em transição, entretanto muitas vezes marcam o surgimento de conflitos
psíquicos.

O autor também destaca uma fase de luto que o adolescente terá de passar,
passando por uma “morte psicológica” de sua autoimagem infantil para então entrar
na fase adulta, ou seja, para se tornar adulto, o adolescente precisará vivenciar não
somente a perda do corpo infantil, como parte das referências construídas pelos pais
durante a infância e passar a ocupar um outro lugar no contexto da sociedade e da
família. Os amigos ganham importância crescente, na medida em que surge um
natural distanciamento dos pais em direção a uma maior independência. Ao mesmo
tempo, a sociedade e a família passam a exigir do adolescente, maiores
responsabilidades com relação a sua própria vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Durante a adolescência, o contexto familiar é um lugar a qual devemos


destacar. Segundo os autores Rossi et. al (2018) e Mesquita et al. (2011), desarranjos
na estrutura familiar impactam diretamente na saúde mental dos adolescentes,
podendo ser estes desencadeadores de sofrimento psíquico. Ainda que as mudanças
nessa fase da vida sejam individuais e bem particulares do sujeito, elas estão
interligadas ao contexto social do adolescente em questão, sendo esses a família, a
escola e os amigos. Na trama familiar surge uma série de conflitos, que muitas vezes,
estes podem ser resolvidos por estar em companhia de sua “turma”:

A casa da família fica bem difícil de habitar quando os defeitos


dos pais são tão chamativos aos olhos dos filhos e vice-versa.
Ao mesmo tempo, desde uma posição menos valorizada, fica
difícil o exercício de autoridade que os pais ainda necessitam
fazer. A consequência disso é um ambiente tenso e
potencialmente conflitivo, onde lugares hierárquicos são
disputados, e pais e filhos passam se criticando, em
discussões ou, no mínimo, em pensamentos (CORSO D. e
CORSO M., 2007, p.82).

Do ponto de vista psicanalítico, “a adolescência é o luto de um corpo infantil


que estava carregado de desejos, de histórias, de narrativas, que está sendo
19

substituído por um corpo ainda indeterminado, que é parcialmente inventado, não só


na imagem (Dunker, 2017).” É um corpo que por vezes parece não lhe pertencer e
este “tem medo de seu próprio corpo e não sabe se servir dele, o que provoca a
angústia e o receio de cometer faltas em relação ao proibido” (Haim,1971 apud
ALBERTI, 2016, p.24)

Considerando que a entrada na puberdade, produz uma série de exigências


pulsionais do adolescente, que desencadeia processos emocionais muito intensos e
que estão submetidos aos efeitos do Complexo de Édipo ou que reagem contra ele,
iremos fazer uma breve explicação sobre esse processo, uma vez que, apesar do
Complexo de Édipo realizar-se na infância, é na adolesência que ele passa a ser
revivido pelo sujeito e os resultados dele estão presentes na vida adulta. Isso ocorre
porque na adolescência, a separação dos pais, é determinada por um tipo específico
de lei produzida no atravessamento da encruzilhada estrutural do Édipo para
simbolização do desejo. O sujeito adolescente revive a passagem dos processos de
identificação (ser como) e a escolha de objeto (ter o quê), para poder estabelecer sua
posição sexual e social.

O Complexo de Édipo, trata-se de um conflito que ocorre na primeira infância,


que mediado por uma relação de contiguidade entre o objeto de desejo materno e a
criança, que alienada ao seu desejo se faz de objeto que supostamente faz falta à
mãe. A alternância da presença e ausência da mãe, que produz uma falta na criança,
instaura um enigma: O que quer a mamãe? A criança, para lidar com esse conflito,
encontra um substituto, por exemplo, na brincadeira de vai e vem dos objetos. Essa
brincadeira é insuficiente para resolver o enigma da criança, mas serve de dialética
para ser ou não ser o falo. A entrada do pai nesta relação é fundamental, porque será
através da intrusão dele na relação mãe-bebê, que poderá tanto frustrar a satisfação
da lei materna, como poderá ser o responsável em interditar ou proibir a satisfação da
criança. Com isso, o pai aparece como objeto de desejo da mãe e a criança verifica
que o desejo da mãe está submetido à lei do desejo do pai. E assim, a criança
reconhece a lei do pai como aquela que regulariza o seu próprio desejo. É na
passagem do conflito da castração, que a criança se dá conta que não é o falo e nem
o possui. A criança passa a desconfiar que os adultos escondem a verdade e cria sua
própria teoria sexual infantil. Ocorre a perda do objeto fálico imaginário, pela
simbolização da castração, produz um novo significante para representar esta perda.
20

A experiência da castração como concreta é uma fantasia, porque será uma imagem
que assumirá o valor da castração, como o temor que acompanha as crianças, os
adolescentes e os adultos, causando angústia.

Na adolescência, a falta dos pais se configura de outra forma e de acordo com


Alberti (2008), há um processo de elaboração de perdas que é fundamental para o
sujeito adolescente. Essa elaboração está fundamentada em duas ideias – a
elaboração de escolhas e elaboração na falta do Outro. Na chegada da fase de
latência, o adolescente passa a perceber faltas e falhas de seus referenciais e a partir
disso as “referências identificatórias”, assim chamada pela a autora, vem ao chão.
Esse processo de “alienação e separação dos pais”, é importante para a constituição
desse sujeito, pois possibilita que esse adolescente encontre sua própria maneira de
ser e de sustentar seus próprios desejos e assevera: “Além da alienação ao Outro, ou
seja, além do fato de que todo desejo é sempre desejo do Outro, para se exercer
como desejante é preciso poder se separar”(ALBERTI, 2004, p.24-25).

Sobre isso, Alberti (2008) também diz que durante a adolescência os modelos
de identificação por eles antes criados (principalmente referências do contexto
familiar, como por exemplo, os pais sendo os super-heróis da criança) se cedem,
sendo que, segundo a autora, isso trará inúmeros efeitos. Em uma via de mão dupla,
os pais podem não suportar a adolescência dos filhos e os filhos a dos pais,
produzindo um afastamento. Alberti alerta que, quando a ausência das referências
primárias acontece antes do tempo da separação, o adolescente sente essa
experiência como abandono, com isso tentam ceifar a imagem dos pais. Nessa
passagem, quando o adolescente passa a acreditar que os seus pais não podem
salvá-lo do desamparo, precisará unir esforços para elaborar o luto da perda dos pais
onipotentes da infância.
21

CAPITULO II

A AUTOMUTILAÇÃO E SUAS VICISSITUDES

A automutilação não é um fenômeno da sociedade pós-moderna como pensam


alguns. É uma prática não muito recente e historicamente é conhecida por marcar ritos
de passagem e por classificar a identidade de determinados grupos, tendo sua
especificidade em cada cultura. Presentes também como marcas de identidade entre
povos, como no caso das tribos indígenas e tribos africanas. Na cultura africana, pode
haver variação do significado de região para região. Em tribos etíopes, a
automutilação pode simbolizar tanto o padrão de beleza, como marca a distinção e a
passagem entre menino e homem. Nas mulheres das tribos etíopes, a automutilação
pode significar a força capaz de suportar as dores do parto.

Conforme Jatobá (2010), a tatuagem e o piercing não são considerados em


nossa cultura como automutilações, são vistos como adereços cutâneos utilizados
para embelezar corpo. Essas marcas produzidas no corpo, variam de acordo com as
representações históricas, religiosas, sociais e culturais. A automutilação também
pode se manifestar como um sinalizador de sofrimento psíquico, e é sobre esse último
que vamos enfatizar ao longo desse trabalho.

A automutilação, também pode ser chamada de autolesão, escarificação,


autoflagelação, autoagressão, escoriação ou cutting. Tem sido uma prática que está
cada vez mais presente na vida dos adolescentes e essa temática tem sido discutida
por pesquisadores, principalmente devido a sua predominância e a grande ocorrência
dos casos na atualidade, mas ainda se mostra escassa na pesquisa científica
conforme aponta Oliveira e Araújo (2016); Reis (2018).

A literatura nacional mostra que existem ainda muitas lacunas sobre o tema e
um dos principais agravantes é quanto à terminologia e ao diagnóstico no contexto
clínico, já que ainda não existe no Brasil uma normatização terminológica para
reportar-se as pessoas que praticam tal ato, como fora abordado por Araújo et al.
(2016).
22

A automutilação é definida como qualquer ação voluntária que tenha injúria


direta ao próprio corpo sem intenção suicida, podendo envolver cortes em braços,
pernas e outras partes do corpo. Em alguns casos queimaduras, beliscões, mordidas
e arranhões podem ser encontrados (GIUSTI, 2013; ARAÚJO et al., 2016; SILVA e
BOTTI, 2017).

Conforme o Descritores em Ciências da Saúde (BVS, 2017), automutilação é


“ato de lesar o próprio corpo, até o ponto de cortar ou destruir permanentemente um
membro ou outra parte essencial do corpo.” De acordo com o DeCS, o descritor
Comportamento Autodestrutivo (Self-Injurious Behavior), se apresenta como “ato de
se machucar ou de fazer mal a si mesmo sem que haja intenção de suicídio ou
perversão sexual.”

Giusti (2013), em sua tese de doutorado Automutilação: características clínicas


e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo, relata que cortes
sobre a pele, mexer em ferimentos e bater em si mesmo são os comportamentos mais
encontrados em adolescentes que se mutilam.

Em um outro estudo, de Vieira, Pires e Pires (2016), foi aplicado um


questionário em 20 pacientes atendidos no setor de Psiquiatria de uma clínica de um
munícipio de médio porte do Vale do Paraíba que verificou que a prevalência da
automutilação é maior em mulheres, jovens, portadoras de algum transtorno psiquico,
desencadeado por profunda tristeza ao anoitecer.

Outros estudos ainda abordam que a prevalência da automutilação é maior em


mulheres e na população adolescente (CEDARO e NASCIMENTO, 2013; VIEIRA,
PIRES e PIRES, 2016; SILVA e BOTTI 2017; HENRIQUES, 2018; SANTOS et al.,
2019), mas podendo este ocorrer em qualquer faixa etária da vida.

Conforme Silva e Botti (2017) os fatores de risco para automutilação na


população infanto-juvenil envolvem condições individuais, familiares e sociais. Quanto
aos individuais estão relacionados fatores psicopatológicos específicos, uso de álcool
e outras drogas (lícitas e ilícitas); inquietações com a impulsos sexuais e
impulsividade, baixa autoestima; histórico de comportamento agressivo. Quanto aos
aspectos familiares estão: históricos de familiares que tenham tentado suicídio ou
suicídio consumado; maus tratos causados por um adulto ou pelos pais; problemas
23

parentais; assédio, abuso físico e sexual; negligência emocional; recente separação


dos pais, morar com apenas um dos pais; familiares que tenham histórico de
automutilação. Entre os riscos sociais destaca-se afastamento social; bullying;
desempenho escolar abaixo do esperado, formação profissional e/ou emprego;
amigos que pratiquem a automutilação.

Favazza (1996 apud ARAÚJO et al., 2016) em seu livro intitulado de “Bodies
under siege” divide a automutilação em três grupos: grave; estereotipada; superficial
e/ou moderada. A automutilação grave inclui atos como castrar e amputar membros,
remover os olhos em associação à psicose e envenenamento, possuindo muitas
vezes significados ligados a religião ou a questões sexuais. A automutilação
estereotipada envolve atos como bater a cabeça de forma repetitiva, mordidas e
arranhões, sendo que estes são repetitivos e rítmicos, podendo ser vistos em sujeitos
autistas ou portadores da Síndrome de Tourette.

A automutilação superficial/moderada é a que inclui a utilização de objetos


pontiagudos e cortantes com o objetivo de fazer cortes superficiais e refinados sobre
a pele. Este também classificou a automutilação superficial/moderada em três
subtipos: compulsivo, episódico e repetitivo. A automutilação do tipo compulsiva é
aquela que é automática, que não passa pelo crivo do pensamento, promovendo um
desejo repentino em se machucar e aliviar a ansiedade. A do tipo repetitivo ocorre de
maneira crônica e acaba por gerar uma série de cortes, queimaduras e a quebra dos
próprios ossos. A diferenciação entre a repetitiva e a episódica consiste entre a
frequência em que é realizado e o que o ato de se mutilar produz na vida do sujeito
que o pratica. A do tipo episódico ocorre de maneira periódica como um sintoma ou
uma marca em associação desencadeada por alguns transtornos, como o estresse
pós-traumático, depressão, transtorno dissociativos ou no de personalidade
Borderline.

A automutilação está presente como sintoma de alguns quadros de transtornos


mentais, como é descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
– (DSM -5), podendo ser encontrada no Transtorno de Escoriação – 698.4 ; no
Transtorno Dissociativo de Identidade – 300.14; na Amnésia Dissociativa- 300.12 e
no Transtorno de Personalidade Boderline – 301.83.
24

A automutilação ainda aparece descrita no DSM-5 no capítulo intitulado


“Condições para estudos Posteriores”. Neste capítulo em especifico apresentam-se
descritas condições sob as quais estão sendo desenvolvidos estudos e possivelmente
serão incluídos nas próximas edições do manual, não podendo, portanto, utilizado
para fins clínicos. Entretanto a automutilação aparece descrita como “Autolesão não-
suicida”. Quanto ao desenvolvimento e curso, conforme descrito no manual, este tem
início com mais frequência no começo da adolescência, podendo se estender durante
anos. Este ainda traz como principais características diagnósticas a repetição de
lesões superficiais, com o propósito de reduzir sentimentos negativos como angústia,
tristeza, tensão, ansiedade e como resolver conflitos interpessoais. A grande maioria
dos que praticam o ato não procuram atendimento e o comportamento pode interferir
no relacionamento interpessoal, acadêmico e em outras áreas do funcionamento.

Na perspectiva fisiológica, o sujeito que se automutila não senti dor, durante a


realização dos cortes e ferimentos, como explica Reis:

Fisiologicamente, isso pode ser explicado porque no momento


do ferimento, o sistema nervoso central libera uma quantidade
determinada de endorfina, um hormônio cuja finalidade é
proporcionar sensação de bem-estar, funcionando como
analgésico que reduz a sensação de dor (REIS, 2018, p.56).

Se considerarmos a automutilação como de base fisiológica, corremos o risco


de calar o que esse tipo de prática está tentando nos dizer (ARAÚJO et al., 2016). O
que também explica e nos ajuda a entender que a automutilação não está só vinculada
a um analgésico, mas pode ser lida na chave de transmissão de uma mensagem.

O corpo, de acordo com Mauss (1974) é o instrumento que o sujeito se serve


para receber parte das normas coletivas. Essas normas se inscrevem nas tradições e
hábitos culturais dos modos de falar, andar, dormir, comer do sujeito. As maneiras
que os homens “sabem servir-se de seus corpos”, vem da cultura, passa pelo social
e psiquico e dependerá da perspectiva do sujeito integrar essas técnicas corporais em
si mesmo. Para a Fonoaudiologia (Gouvêa, 2015), um corpo falante é um corpo falado,
que depende dos efeitos de como é dito, silenciado, interditado, não dito. Nessa
perspectiva, as palavras e as mensagens que elas carregam no corpo, podem criar
25

ou desfazer os sentidos e até mesmo fazer estragos no corpo. O corpo não é somente
instrumento fisiológico, psíquico nem apenas adquire símbolos culturais e sociais,
porque é também um receptor e e emissor de sentidos.

Segundo Freud (1924/1996), “toda dor contém em si a possibilidade de uma


sensação prazerosa”. A relação de prazer torna tolerável a dor uma vez que o sujeito
acaba ganhando algo com o sintoma. Sendo assim, por mais que os sintomas sejam
manifestações penosas para o eu, atos aparentemente inúteis que são realizados com
profunda aversão, para o inconsciente, em contrapartida, significam desfrutar de uma
satisfação.

Para a psicanálise, o sintoma é um sinalizador do inconsciente (SANTAELLA,


2008). “O sintoma sempre tem um significado latente além do manifesto; ele é
revelador da vida psíquica do paciente, salientando-se que um indivíduo pode usar de
seu corpo e não da fala para dizer de seu sofrimento” (PINHEIRO e CUNHA, 2004,
p.87). Freud explica que o sintoma é uma forma de retorno a aquilo que fora recalcado.
Ou seja, o ato também pode ser visto como uma forma do sujeito se punir, sendo
assim uma das formas para purgar a própria culpa.

Entretanto, de acordo com clínica psicanalítica, “o sintoma é um fenômeno


subjetivo que não constitui necessariamente sinal de uma doença, mas a expressão
de um conflito inconsciente ou uma forma de lidar com ele” (ARAÚJO et al., 2016, p.
514).

Diante de tais pressões, as formas de enfrentamento das questões são


variadas, sendo que vários buscam na automutilação uma forma de
alívio para suas dores psíquicas, o que, geralmente, leva a família a
enfrentar a própria angústia, e buscar serviços de saúde mental, para
livrar os adolescentes de tal sofrimento (HENRIQUES, 2018, p.173-
174).

O adolescente que pratica esse ato muitas vezes não encontra recursos
psíquicos simbolizantes para enfrentar o sofrimento. Assim, a automutilação se
apresenta como uma forma de apaziguamento diante da dificuldade de encontrar
palavras para dar significado a dor, já que muitas vezes sujeitos que se automutilam
tendem ao isolamento e a ausência de um interlocutor com quem possa compartilhar
26

suas dores (FORTES E KOTHER, 2017; ARAÚJO ET. AL 2016). Sofrimento este que
através das palavras não consegue dizer, transferindo-o para um lugar onde este seja
visível: no corpo. A pele é o que separa o sujeito do meio e o que o une (BERNARDES,
2015).

Na adolescência, há uma tendência maior do agir do que a utilização


de outros recursos como a palavra, ou seja, no lugar de colocar em
palavras aquilo que o angustia, o adolescente transfere para o corpo,
que é a forma de percebê-lo como sendo seu (LOPES E TEIXEIRA,
2019, p. 292).

[...] podemos afirmar que, antes de ser uma tentativa de suicídio, a


autolesão aparece mais como uma forma de demandar a um Outro, de
se mostrar a um Outro, enviando uma mensagem, podendo ser uma
forma de dizer que aquela situação está insuportável, que não se
aguenta mais. Aponta, portanto, para uma situação intolerável vivida
pelo sujeito, a autolesão vem mostrar que, para algumas pessoas, a
dor na pele é não é nada quando comparada à dor psíquica (OTTO e
SANTOS, 2015, p. 51).

Dessa forma, falar sobre a automutilação em adolescentes implica abordar o


conflito da busca pelo espaço social e sexual, de duas maneiras. A primeira em que a
automutilação não vem mediada pelo campo da linguagem. Em função disto, o
adolescente inscreve na pele, os atos de mutilação contra o próprio corpo, porque é
impossível falar sobre essa dor. A impossibilidade de usar recursos simbólicos e o uso
excessivo de recursos não verbais, pode ser entendido como um artifício para aliviar
a angústia avassaladora e insuportável. Em contrapartida, a automutilação pode vir
sob a forma de um apelo, o sujeito faz uma demanda dirigida ao olhar do outro,
visando transmitir uma mensagem.

Ainda não há dados epidemiológicos consistentes sobre os riscos provocados


pela automutilação, entretanto com a criação da Lei Nº 13.819, de 26 de abril de 2019
que trata da Política Nacional de Prevenção ao Suicídio e à Automutilação, as
unidades de saúde e educação terão de notificar casos de automutilação e tentativas
de suicídios. No caso das unidades de saúde e educação, seja elas públicas ou
privadas, a notificação deve ser feita as autoridades sanitárias; no caso de crianças e
adolescentes, o registro é feito junto aos conselhos tutelares.
27

O conhecimento do que é a automutilação, os fatores desencadeantes desse


comportamento e os motivos que levam o adolescente a praticar tal ato podem ser
diversos. Por isso, é importante que o profissional de saúde compreenda a história
desse sujeito e suas relações sociais, pois estes aspectos são de extrema importância
para proporcionar estratégias de como o profissional de saúde pode atuar no cuidado
e manejo clínico frente aos casos de automutilação.
28

CAPÍTULO III

FONOAUDIOLOGIA E SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIENCIA NO CAPSi

O CAPSi tem suas origens no campo da Saúde Mental quando ganhou


destaque a partir do final da década de 70 com a Reforma Psiquiátrica, sendo este
produto de intensas lutas políticas e sociais, contra o holocausto que havia sendo
produzindo nas instituições de tratamento contra os direitos das crianças,
adolescentes, adultos e idosos. Esse movimento contou com o apoio de vários atores:
médicos, sanitaristas, psicólogos, psicanalistas, e outros profissionais da área da
saúde, com usuários atendidos nos serviços de saúde mental e com familiares dos
usuários. O paciente com transtornos mentais era mantido nos manicômios em
condições sub-humanas, de violência, maus-tratos e fora do convívio social (BRASIL,
2005).

Um dos principais objetivos dessa luta foi a desinstitucionalização e o desmonte


do sistema manicomial, visando a modificação do modelo assistencial em saúde, a
busca pela igualdade dos serviços ofertados, a atuação do profissional de saúde e do
usuário como protagonistas em todo processo de cuidado-saúde, a fim de
proporcionar o cuidado humanizado e fundamentado em direitos humanos. Além de
ter promovido mudanças no modelo hospitalocêntrico, a Reforma Psiquiátrica
promoveu mudanças nas políticas, principalmente nas de âmbito legislativo conforme
nos aponta Oliveira, Baptista e Domenes (2008).

Em 1987, ocorrem marcos importantes que entram para a história da saúde


mental, tais como: a I Conferência Nacional de Saúde Mental, que aconteceu no Rio
de Janeiro e adotou como tema de debate: “Por uma sociedade sem manicômios”.

O surgimento do CAPS teve um papel relevante e determinante para o que hoje


conhecemos como rede de cuidados em saúde mental. Contudo, os CAPS só
passaram a receber financiamento do Ministério da Saúde a partir do ano de 2002 e
a partir desse momento, este serviço experimentou um grande crescimento (BRASIL,
2005). Os CAPS se configuram como um dispositivo de saúde municipal, aberto a
comunidade, com a oferta de serviços diários a portadores de transtornos mentais
severos ou persistentes, de modo a substituir os hospitais psiquiátricos e tendo como
29

fundamento a noção de clínica ampliada, com o olhar voltado para as demandas do


território e com as atividades terapêuticas voltadas para a socialização desse sujeito
com sua comunidade.

Existem 5 modalidades de CAPS: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad
e estes se distinguem quanto ao tamanho, a capacidade de atendimento, ao público-
alvo atendido e sua organização é pautada de acordo com o delineamento
populacional dos municípios brasileiros. (BRASIL, 2005).

O CAPSi é o dispositivo de Saúde Mental responsável por acolher, cuidar e


tratar de crianças e adolescentes com transtornos mentais e que podem ou não fazer
uso de drogas e/ou outras substâncias. É indicado nos territórios que contemplam
população acima de 150 mil habitantes (BRASIL, 2011). Este tem funcionamento de
segunda a sexta feira, comportando 2 turnos e se houver necessidade pode funcionar
em um terceiro turno (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; BRASIL, 2005). A equipe
mínima do CAPSi é de 11 profissionais e composta por:

01 (um) médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação


em saúde mental; 01 (um) enfermeiro; 04 (quatro) profissionais de nível
superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo,
assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo,
pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico; 05
(cinco) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
(BRASIL; MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro
de 2002).

O fonoaudiólogo está inserido na equipe mínima dos CAPSi, e essa é uma das
particularidades desse serviço em específico, já que nas outras modalidades de CAPS
o profissional fonoaudiólogo não consta como exigência na equipe mínima.

As atividades de acolhimento, cuidado e tratamento desenvolvidas no CAPSi,


podem ser de diferentes naturezas, são elas:

• Tratamento medicamentoso: tratamento realizado com remédios


chamados medicamentos psicoativos ou psicofármacos.
• Atendimento a grupo de familiares: reunião de famílias para criar
laços de solidariedade entre elas, discutir problemas em comum,
30

enfrentar as situações difíceis, receber orientação sobre diagnóstico e


sobre sua participação no projeto terapêutico.
• Atendimento individualizado a famílias: atendimentos a uma família
ou a membro de uma família que precise de orientação e
acompanhamento em situações rotineiras, ou em momentos críticos. •
Orientação: conversa e assessoramento individual ou em grupo sobre
algum tema específico, por exemplo, o uso de drogas.
• Atendimento psicoterápico: encontros individuais ou em grupo onde
são utilizados os conhecimentos e as técnicas da psicoterapia.
• Atividades comunitárias: atividades que utilizam os recursos da
comunidade e que envolvem pessoas, instituições ou grupos
organizados que atuam na comunidade. Exemplo: festa junina do
bairro, feiras, quermesses, campeonatos esportivos, passeios a
parques e cinema, entre outras.
• Atividades de suporte social: projetos de inserção no trabalho,
articulação com os serviços residenciais terapêuticos, atividades de
lazer, encaminhamentos para a entrada na rede de ensino, para
obtenção de documentos e apoio para o exercício de direitos civis
através da formação de associações de usuários e/ou familiares.
• Oficinas culturais: atividades constantes que procuram despertar no
usuário um maior interesse pelos espaços de cultura (monumentos,
prédios históricos, saraus musicais, festas anuais etc.) de seu bairro ou
cidade, promovendo maior integração de usuários e familiares com seu
lugar de moradia.
• Visitas domiciliares: atendimento realizado por um profissional do
CAPS aos usuários e/ou familiares em casa.
• Desintoxicação ambulatorial: conjunto de procedimentos destinados
ao tratamento da intoxicação/ abstinência decorrente do uso abusivo
de álcool e de outras drogas. (BRASIL, 2004, p. 21-22).

De acordo com Arce (2014), a atuação do fonoaudiólogo em Saúde Mental


representa um grande desafio, já que historicamente privilegiava abordagens clínicas
centradas no indivíduo, na patologia e no fazer estritamente tecnicista (ACIOLI et al.,
2011). Com a implantação dos CAPS, a prática do fonoaudiólogo precisou ser
repensada, de modo que as decisões e estratégias de tratamento passem a ter um
novo olhar, sendo este multidisciplinar com base na interdisciplinaridade e tendo como
objetivo central: o sujeito, sua família e a comunidade onde está inserido
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Conforme Almeida (2010, p.17): “O atendimento multidisciplinar oferece trocas


valiosas entre os profissionais e possibilita abordagens mais consistentes, o que gera
apoio mais estruturado aos sujeitos portadores de transtornos mentais, e o
fonoaudiólogo segundo a autora...

[...] o fonoaudiólogo, no trabalho multiprofissional em saúde mental,


além de identificar e tratar alterações fonoaudiológicas (de linguagem,
de motricidade orofacial, de voz e de audição), precisa valorizar e
fomentar alternativas de comunicação e de trocas simbólicas entre os
pacientes e destes com os familiares, bem como das equipes com os
pacientes, intensificando e estimulando o uso de variadas modalidades
31

de linguagem (verbais e não-verbais), e lançando luz sobre a


importância da comunicação para, entre outros aspectos, a reabilitação
biopsicossocial, formação de vínculos interpessoais, valorização e
circulação discursiva e social dos sujeitos. (ALMEIDA, 2010).

As contribuições da Fonoaudiologia não se restringem apenas no saber e no


desenvolvimento de serviços fonoaudiológicos, mas também em promover saúde em
atuação conjunta com os demais membros da equipe multiprofissional (CONSELHO
FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2015). Pode também contribuir na construção do
cuidado mais humanizado e pensando em Saúde segundo a definição da OMS como
“um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de
afecções e enfermidades”, buscando assim a singularidade de cada sujeito que
procura os serviços de saúde.

Diante desse contexto, este trabalho passa a relatar a experiência do estágio


institucional que mobilizou e me encantou para realizar essa pesquisa. Nesse estágio
no CAPSI, tive a companhia de outras estagiárias de Fonoaudiologia. A perspectiva
do fazer fonoaudiológico era escutar e dar voz aos adolescentes, acolher as suas
mensagens e dar suporte de simbolização, de acordo com a Política Nacional de
Humanização. Como uma das estratégicas de cuidado é a proposição de oficinas, a
equipe nos demandou a ajuda-los a criar uma oficina com adolescentes, utilizando
como método a contação de histórias. Os participantes do grupo eram indicados após
a discussão dos técnicos e dos adolescentes como parte do PTS. O grupo era
basicamente composto por sua grande maioria por adolescentes que tinham em sua
história episódios e marcas no corpo de automutilação. Podia-se observar que muitos
deles tinham os discursos empobrecidos.

O grupo funcionava uma vez na semana e tinha a duração de uma hora. As


escolhas dos livros eram de acordo com a temática de interesse dos adolescentes e
o gênero textual dependia da escolha deles, mas dentre diversos gêneros um se
sobressaiu: os contos de fada. A leitura era realizada de modo compartilhado por
todos os membros do grupo, incluindo as estagiárias.

De acordo com a literatura, a contação de histórias possibilita a expansão do


vocabulário; ampliação do discurso; formulação de enunciados; reconhecimento da
importância da leitura/escrita; aumento do potencial crítico, compreensão da noção de
32

mundo; estimula habilidades de criatividade e imaginação; desperta o imaginário e


sentimentos (NETO, 2006; SOUZA e BERNARDINO, 2011).

A contagem de histórias também proporciona prazer ao leitor. “A história bem


contada tem a capacidade de prender a atenção do ouvinte de satisfazer e
principalmente de fazer rir, despertando a potencialidade de determinadas áreas do
cérebro” (SOUSA, 2004., p.16)

Contar histórias desempenha um papel importante no psiquismo. Nas histórias


o mal e o bem estão presentes, os conflitos são vivenciados, tomadas de decisão são
realizadas, mas há um “final feliz” ou saída possíveis do desfecho da história. Os
heróis das histórias também se configuram como pessoas que lutam e não desistem
diante dos desafios. Estas características encontradas nas histórias fazem parte da
vida do sujeito adolescente quase que o tempo todo, e este através das histórias pode
se identificar e formular saídas para seus próprios conflitos e reduzindo assim as
angústias.

O gênero textual utilizado nos encontros do grupo eram predominantemente os


contos de fada. De acordo com Souza e Bernardino (2011), os contos de fada
possuem características bem singulares, podendo ser estes auxiliadores no
desenvolvimento psíquico. Segundo Bettelheim (2002, p.6): “os contos de fadas
transmitem importantes mensagens à mente consciente, à pré-consciente, e à
inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando no momento.”

Os contos de fadas são as únicas histórias que de maneira simples e


simbólica falam das perdas, da fome, da morte, do medo, do abandono,
da violência... Eles têm suas bases nas camadas do inconsciente
coletivo, em sentimentos comuns a toda a humanidade, por isso
encontramos histórias bastante parecidas em diversas culturas pelo
globo e em épocas diversas. Os contos de fadas possuem um fundo
arquetípico, sentimentos complexos organizados de um modo fácil de
entender especialmente pelas crianças, mostram que é natural ter
pensamentos destrutivos e maus, que não se é essencialmente
construtivo e bom e que é preciso ordenar os sentimentos e as
tendências contraditórias (SOUZA e BERNARDINO, 2011,p. 243).

A contação de histórias é uma estratégia que a princípio parece ser bem


simples, mas possui um grande efeito sobre a linguagem. Após a contagem de
histórias, sempre eram desenvolvidas atividades sobre o que fora lido. Desenhos,
33

debates sobre o assunto discutido e compreensão textual a aceca do que fora lido,
enriquecendo o discurso e assim fazendo com que o sujeito adolescente se aproxime
do uso da língua, da leitura, escrita e das relações discursivas, tão presentes no
exercício da linguagem e possibilitando assim que o sujeito adolescente reformule sua
própria história, (re)significando-a e encontrando através da via da linguagem uma
saída para seu sofrimento.

A prática de contação de história e a possibilidade dos encontros entre


diferentes adolescentes, estagiárias e técnicos, podem ser lidos como “um espaço
privilegiado para a promoção da saúde e prevenção de agravos; essa estratégia se
coaduna melhor às necessidades dessa faixa etária, tais como fazer parte de um
grupo, ser ouvido e respeitado, e o impacto numérico que se pode alcançar é bem
maior. É nesse espaço de atenção, também, que se pode construir uma rede de
proteção social que garanta os direitos dessa população (OPAS/MS, 2010, p. 79).

A possiblidade do fazer fonoaudiológico sob a perspectiva do encontro com o


outro, a partir do conto, pode promover processos de relação entre o psiquismo e o
campo da linguagem. A retórica, o pensamento, a exposição de ideias, permitem de
alguma maneira mudanças na posição discursiva, no sentido de construir laço sociais.
Esses adolescentes eram geralmente vítimas de bulling, que é posto para fora do
discurso social.

Podemos depreender dessa experiência com os contos, que resume o lugar da


escuta no fonoaudiólogo em 3 frentes: em relação a fala do outro. Em relação ao
sentido e em relação à experiência da fala pelo conto. A gente aprende a escutar o
outro, do ponto de vista fonoaudiológico, não apenas com a potência e a capacidade
de uma função biológica, tampouco apenas como o exercício sobre a impressão
sonora, nem somente como uma função linguística do processo de leitura e
interpretação do som, a voz, da palavra, do texto, do alerta, do sinal.

Como esse adolescente escuta, de que lugar escuta, o que escuta? São
questões que se apresentam no fazer fonoaudiológico no CAPSi. Podemos observar
que falar não é somente um ato motor. Falar também é ser um autor. Falar é falar a
alguém, alguma coisa. Implica considerar com que falo, o que falo, como falo, para
quem falo, quando falo ou me calo. Falar é um jogo político dos signos.
34

Considerando a hipótese de Gouvêa, Freire e Dunker (2011) que um signo


pertence ao campo do sintoma fonoaudiológico porque responde à intervenção
fonoaudiológica, admitimos que a automutilação poderia ser um signo fonoaudiológico
que se apresenta no discurso adolescente.

A primeira lição em como aprender a escutar a fala do adolescente é brincando,


conversando, contando histórias, escrevendo. Ao fazer isso, o fonoaudiógo, passa a
observar quais os efeitos que são produzidos na fala, no silêncio, no movimento
corporal, no gesto vocal, na mensagem que transmite. Aposte que essas expressões
da fala estão sendo endereçadas a ti. O fonoaudiólogo precisa escutar o falante que
está na voz que se faz ouvinte. Escutar é renunciar a situação de poder. Escutar
compreende dizer, em falar. Em abrir-se para o mal-entendido da comunicação.
Colocar em cena que a fala e a escuta para a fala do adolescente como realmente
relevante para o tratamento.

A função de contar histórias permitir que o falante possa ocupar a posição de


diferentes ouvintes, é ultrapassar a barreira da resistência discursiva. Como também
possibilita, ao mesmo tempo, que do lugar de ouvinte ele possa ocupar diferentes
posições de falante, por isso as histórias podem representar a lei indeterminada do
ouvinte.

O contar histórias é como uma ponte que liga o arremedo de palavras, ao sabor
da língua e a diversão da experiência de fala. É a ponte que liga uma política de
cuidado, de cuidado com as palavras, de cuidado de si, de cuidado com o ouvinte,
cuidado com a musicalidade da voz.

O conto permite a escuta para a fala do adolescente. Contar e ouvir histórias


pode ser um método e uma técnica fonoaudiológica, que depende do lugar que se
coloca o adolescente na Fonoaudiologia e do lugar de escuta do fonoaudiólogo. Como
também depende do lugar que entendemos por linguagem.

Por fim, se a adolescência é a passagem da infância à vida adulta, a hipótese


é que o contar histórias é um método de escuta para a fala do adolescente, para a
língua e para a fala do outro. É aquilo que constrói o texto, cria sentido, que oferece o
suporte necessário para que a mensagem seja transmitida, para que o contexto da
35

automutilação possa ser traduzido, interpretado. É escutar o detalhe poético da


automutilação.
36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que fora exposto, através da discussão teórica e do relato de


experiência no CAPSi, podemos verificar que há pouca literatura relacionando
Fonoaudiologia e automutilação, já que o único achado envolvia a automutilação como
sintoma do autismo. A maioria dos referenciais teóricos sobre a temática são oriundos
da Psicologia e da Psiquiatria.

A questão aqui a ser colocada é que o profissional fonoaudiólogo pode


desempenhar estratégias juntamente com a equipe multidisciplinar no campo da
linguagem, estando este não só preocupado com os desvios fonético-fonológicos,
disfluências, dificuldades de aprendizagem, atrasos de linguagem, mas estando
voltado ao discurso, as trocas dialógicas e como a subjetividade se articula com
manobras sobre a linguagem e seu uso.

O fazer fonoaudiológico no CAPSI, pode ser representado como uma técnica


da palavra, que envolve um posicionamento de escuta, abertura ao diálogo de quem
usa essa técnica. É uma técnica ajustada ao pensamento, ao contexto, as histórias.
As posições de escuta do fonoaudiólogo vão gerar esses conceitos. A escuta do
fonoaudiólogo pode servir-se sobre a fala do adolescente, como uma escuta particular
ao uso do sistemas de trocas simbólicas.

Por fim, se a adolescência é a passagem da infância à vida adulta, a hipótese


é que o contar histórias é um método de escuta para a fala do adolescente, para a
língua e para a fala do outro. É aquilo que constrói o texto, cria sentido, que oferece o
suporte necessário para que a mensagem seja transmitida, para que o contexto da
automutilação possa ser traduzido, interpretado. É escutar o detalhe poético da
automutilação.

Também essa experiência pode propiciar uma proximidade à realidade social


que tem crescido nas unidades de saúde que é a automutilação, sendo que esta
marca as histórias dos adolescentes e de suas famílias. Este trabalho e o a
experiência no serviço CAPSi permitiu maior compreensão acerca do tema e como se
dá o processo saúde-doença-cuidado em relação aos transtornos mentais. O
37

sofrimento psíquico então passa a ser visto como um campo de intervenção,


permeado pela linguagem.
38

REFERÊNCIAS

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adolescentes: identificação, manejo e conhecimento da rede de referência por
fonoaudiólogo em serviços públicos de saúde. Rev. Bras. Saude Mater.
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Capa, 2009.

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2014. Tese de Doutorado. Tese [doutorado em Fonoaudiologia] -Pontifícia
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ALMEIDA, Beatriz Paiva Bueno de; CUNHA, Maria Claudia; SOUZA, Luiz Augusto de
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portadores de transtornos mentais e institucionalizados em um Centro de
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