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Snorri Sturluson
Título Original:
Snorra-Edda (~ 1220)
Tradução: Artur Avelar
Traduzido da obra original e do inglês The Younger Edda de Rasmus Anderson
(1879) e The Prose Edda de Arthur Gilchrist Brodeur (1916)
Ed. Barbudânia
Índice
Nota do Editor
Edda em Prosa: Prólogo
Gylfaginning: A Ilusão de Gylfi
Capítulo 1 – Sobre o Rei Gylfi e Gefjun
Capítulo 2 – Gylfi Chega a Asgard
Capítulo 3 – Sobre o Pai de Todos, o Mais Alto Deus
Capítulo 4 – Sobre Niflheim e Múspelheim
Capítulo 5 – A Origem de Ymir e dos Gigantes de Gelo
Capítulo 6 – Sobre Audumla e a Origem de Odin
Capítulo 7 – A Morte de Ymir e sobre Bergelmir
Capítulo 8 – Os Filhos de Borr criam a Terra e o céu
Capítulo 9 – Os Filhos de Borr criam Askr e Embla
Capítulo 10 – A Chegada de Dia e de Noite
Capítulo 11 – A Origem de Sol e de Lua
Capítulo 12 – Sobre a Perseguição de Sol
Capítulo 13 – Sobre a Bifröst
Capítulo 14 – A Morada dos Deuses e a Criação dos Anões
Capítulo 15 – Sobre a Yggdrasil, a Fonte de Urdr e as Nornas
Capítulo 16 – Ainda Sobre a Árvore
Capítulo 17 – Os Locais Sagrados dos Deuses
Capítulo 18 – A Origem do Vento
Capítulo 19 – Sobre a Diferença do Verão e do Inverno
Capítulo 20 – Sobre Odin e Seus Nomes
Capítulo 21 – Sobre Áss-Thor
Capítulo 22 – Sobre Baldr
Capítulo 23 – Sobre Njördr e Skadi
Capítulo 24 – Sobre Freyr e Freyja
Capítulo 25 – Sobre Týr
Capítulo 26 – Sobre Bragi e Idunn
Capítulo 27 – Sobre Heimdallr
Capítulo 28 – Sobre Hödr
Capítulo 29 – Sobre Vídarr
Capítulo 30 – Sobre Váli
Capítulo 31 – Sobre Ullr
Capítulo 32 – Sobre Forseti
Capítulo 33 – Sobre Loki, Filho de Laufey
Capítulo 34 – Sobre os Filhos de Loki e a Captura de Fenrir
Capítulo 35 – Sobre as Ásynjur
Capítulo 36 – Sobre as Valquírias
Capítulo 37 – Freyr Conquista Gerdr, Filha de Gýmir
Capítulo 38 – Sobre a Comida dos Einherjar e de Odin
Capítulo 39 – Sobre a Bebida dos Einherjar
Capítulo 40 – Sobre o Tamanho de Valhalla
Capítulo 41 – Sobre o Entretenimento dos Einherjar
Capítulo 42 – Os Æsir Quebram o Juramento Feito ao Construtor da Cidadela
Capítulo 43 – Sobre Skídbladnir
Capítulo 44 – Thor Começa Sua Jornada a Útgarda-Loki
Capítulo 45 – Sobre o Encontro de Thor e Skrýmir
Capítulo 46 – Sobre as Proezas de Thor e de seus Companheiros
Capítulo 47 – A Despedida de Thor e de Útgarda-Loki
Capítulo 48 – Thor Vai ao Mar com Hymir
Capítulo 49 – A Morte de Baldr, o Bom
Capítulo 50 – Loki é Acorrentado
Capítulo 51 – Sobre o Ragnarök
Capítulo 52 – As Moradas Após o Ragnarök
Capítulo 53 – Quem Sobrevive ao Ragnarök
Capítulo 54 – Sobre Gangleri
Skáldskaparmál: A Poesia dos Escaldos
Capítulo 1 – A Jornada de Ægir à Asgard
Capítulo 2 – O Gigante Thjazi Seqüestra Idunn
Capítulo 3 – Loki Resgata Idunn e a Morte de Thjazi
Capítulo 4 – Sobre a Família de Thjazi
Capítulo 5 – A Origem do Hidromel de Suttungr
Capítulo 6 – Como Odin Obteve o Hidromel
Capítulo 7 – As Características da Poesia
Capítulo 9 – Os Nomes de Odin e Suas Metáforas
Capítulo 10 – As Metáforas da Poesia
Capítulo 11 – As Metáforas de Thor
Capítulo 12 – As Metáforas de Baldr
Capítulo 13 – As Metáforas de Njördr
Capítulo 14 – As Metáforas de Freyr
Capítulo 15 – As Metáforas de Heimdallr
Capítulo 16 – As Metáforas de Týr
Capítulo 17 – As Metáforas de Bragi
Capítulo 18 – As Metáforas de Vídarr
Capítulo 19 – As Metáforas de Váli
Capítulo 20 – As Metáforas de Hödr
Capítulo 21 – As Metáforas de Ullr
Capítulo 22 – As Metáforas de Hœnir
Capítulo 23 – As Metáforas de Loki
Capítulo 24 – Sobre o Gigante Hrungnir
Capítulo 25 – Sobre a Sábia Gróa
Capítulo 26 – A Viagem de Thor à Morada de Geirrödr
Capítulo 27 – As Metáforas de Frigg
Capítulo 28 – As Metáforas de Freyja
Capítulo 29 – As Metáforas de Sif
Capítulo 30 – As Metáforas de Idunn
Capítulo 31 – As Metáforas do Céu
Capítulo 32 – As Metáforas da Terra
Capítulo 33 – As Metáforas do Mar
Capítulo 34 – As Metáforas de Sól
Capítulo 35 – As Metáforas do Vento
Capítulo 36 – As Metáforas do Fogo
Capítulo 37 – As Metáforas do Inverno
Capítulo 38 – As Metáforas do Verão
Capítulo 39 – As Metáforas dos Homens e das Mulheres
Capítulo 40 – As Metáforas do Ouro
Capítulo 41 – Ægir Dá uma Festa para os Æsir
Capítulo 42 – Sobre a Árvore Glasir
Capítulo 43 – Dos Ferreiros Filhos de Ívaldi e o Anão Sindri
Capítulo 44 – As Metáforas do Ouro e Freyja
Capítulo 45 – O Ouro Chamado de Palavra dos Gigantes
Capítulo 46 – O Resgate da Lontra
Capítulo 47 – Sobre Fáfnir, Reginn e Sigurdr
Capítulo 48 – Sobre Sigurdr e os Filhos de Gjúki
Capítulo 49 – A Morte de Sigurdr
Capítulo 50 – A Morte dos Filhos de Gjúki e a Vingança de Gudrún
Capítulo 51 – Sobre os Filhos de Völsungr
Capítulo 52 – Sobre o Rei Fródi e o Moinho Grótti
Capítulo 53 – Sobre Hrólfi Kraki e Vöggr
Capítulo 54 – Sobre como Hrólfi Derrotou o Rei Adils
Capítulo 55 – Sobre o Rei Hölgi
Capítulo 56 – Ainda Sobre as Metáforas do Ouro
Capítulo 57 – As Metáforas do Homem com o Ouro
Capítulo 58 – As Metáforas da Mulher com o Ouro
Capítulo 59 – As Metáforas dos Homens com as Árvores
Capítulo 60 – As Metáforas da Batalha
Capítulo 61 – As Metáforas das Armas e Armaduras
Capítulo 62 – Sobre a Batalha dos Hjadnings
Capítulo 63 – A Batalha como Metáfora de Odin
Capítulo 64 – As Metáforas de Navios
Capítulo 65 – As Metáforas de Cristo
Capítulo 66 – As Metáforas dos Reis e Suas Distinções
Capítulo 67 – As Metáforas dos Nomes
Capítulo 68 – Os Nomes dos Deuses
Capítulo 69 – Os Nomes dos Céus, Sol e Lua
Capítulo 70 – Os Nomes da Terra
Capítulo 71 – Os Nomes dos Lobos, Ursos e Cervos
Capítulo 72 – Os Nomes dos Cavalos
Capítulo 73 – Bois, Serpentes, Ovelhas e Porcos
Capítulo 74 – Os Nomes do Ar e dos Ventos
Capítulo 75 – Os Nomes dos Corvos e das Águias
Capítulo 76 – Os Nomes do Mar
Capítulo 77 – Os Nomes do Fogo
Capítulo 78 – Os Nomes do Tempo
Capítulo 79 – Os Nomes dos Reis
Capítulo 80 – Sobre Hálfdan o Velho e os Descendentes do Rei
Capítulo 81 – Os Nomes dos Homens
Capítulo 82 – Os Nomes da Multidão
Capítulo 83 – Circunlóquios e Descrições Verdadeiras
Capítulo 84 – Os Nomes das Mulheres
Capítulo 85 – As Partes da Cabeça
Capítulo 86 – Coração, Peito e Sentimentos
Capítulo 87 – Mãos e Pés
Capítulo 88 – Fala e Compreensão
Capítulo 89 – Expressões Ambíguas e Trocadilhos
Nafnaþulur – Conhecimento dos Nomes
Sumário de Figuras
Nota do Editor
O historiador, poeta e político Snorri Sturluson nasceu em 1179 na cidade de
Hvamm na Islândia. Ele pertencia a uma rica família aristocrata, os Sturlungar, e
teve grande carreira literária e política, chegando a ser eleito duas vezes para o
parlamento islandês. Snorri teve grande contato com o Rei Norueguês Hakon
Hakornason e seu sogro Earl Skuli em uma época que a Islândia era governada
pela Noruega. Skuli, por sua vez, se rebelou contra o rei e foi morto em 1240.
Pouco tempo depois, Snorri teve desavenças com o rei e acredita-se que isso o
levou a ser assassinado em sua própria casa em Skalholt em 1241.
Como historiador, Snorri foi famoso por defender a teoria de que os deuses
mitológicos surgiram a partir de figuras históricas que lutaram em combate e reis
que, após mortos, eram invocados em guerras constantemente, sendo venerados
até serem lembrados somente como deuses. Ele defendia que, após uma tribo
vencer uma guerra, era comum dizer que seus deuses lutaram ao seu lado,
trazendo assim a vitória.
Snorri Sturluson, por Christian Krohg (~1890)[1]
Ele é mais conhecido por ter escrito o Edda em Prosa, uma compilação de
lendas da mitologia nórdica dividida em quatro partes: Prólogo, Gylfaginning (A
Ilusão de Gylfi), Skáldskaparmál (Poesia dos Escaldos) e Háttatal (Lista de
Formas Poéticas). Há muitas controvérsias em relação ao Edda em Prosa, pois
não se sabe exatamente se Snorri somente compilou as informações de poemas
antigos ou se ele é autor de várias partes da obra, chegando a ser acusado de até
inventar histórias em momentos em que ele não cita excertos de poemas de onde
retirou as lendas.
A primeira parte do texto é um claro momento em que Snorri demonstra sua
teoria dos deuses, relacionando-os com figuras históricas do tempo de Tróia e
ainda mostra a relação que ele faz com o Cristianismo, tentando harmonizar a
mitologia nórdica com a tradição greco-romana.
A segunda parte, Gylfaginning, consiste em um diálogo entre o lendário rei
sueco Gylfi e uma fictícia trindade de deuses chamados Hárr, Janhárr e Thriddi,
em que é contada desde a criação do mundo até seu fim, passando por várias
passagens e aventuras dos deuses Æsir. Essa seção é uma das mais ricas fontes
para o conhecimento da mitologia nórdica, com grandes detalhes dados aos
vários nomes dos deuses, seus filhos e seus feitos.
A terceira parte do Edda em Prosa, Skáldskaparmál, também começa em
forma de diálogo, sendo que os personagens agora são os deuses Ægir, deus do
mar, e Bragi, deus da poesia, porém isso vai se desfazendo e virando um grande
relato de metáforas e nomes empregados na poesia dos escaldos; acredita-se que
essa perda de ritmo se deve à suposição de que Snorri escreveu o Edda em Prosa
durante anos, talvez com intervalos longos entre várias seções. Ainda no
Skáldskaparmál, algumas histórias de reis lendários são contadas, além de uma
versão da Saga dos Völsungs, história que foi a principal inspiração para a ópera
O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner. A última parte dessa seção é uma
extensa lista de nomes separados entre assuntos, desde deuses a termos náuticos
específicos de embarcações; presume-se que foram incluídos para auxiliar poetas
com sinônimos na construção de metáforas para os termos nórdicos.
A última parte do texto, Háttatal, é o que mais se aproxima a um tratado
formal sobre poesia e métrica; ele se inicia como um diálogo entre mestre e
pupilo e discursa sobre dispositivos e estruturas poéticas comuns aos escaldos,
passando ainda por métodos utilizados na retórica. No final da seção, ainda há
um poema de autoria de Snorri em claro elogio ao Rei Hakon e Earl Skuli,
possivelmente feito após conhecer a ambos.
Capa da uma edição do séc XVIII da Edda em Prosa, por Ólafur Brynjúlfsson
(1760)[2]
1.
No início, Deus Todo-Poderoso criou os Céus e a terra e todas as coisas que
há neles e, por último, dois seres humanos, Adão e Eva, de quem vieram muitas
famílias. Seus descendentes se multiplicaram e se espalharam por todo o mundo.
Conforme o tempo passou, no entanto, surgiram as desigualdades entre os povos,
alguns eram bons e justos, mas, de longe, o maior número, desprezando os
mandamentos de Deus, viraram-se para os prazeres terrenos. Por esta razão,
Deus afogou o mundo e todas as criaturas que viviam nele, com exceção
daqueles que estavam com Noé na arca.
Oito pessoas sobreviveram ao dilúvio de Noé e estes povoaram o mundo e
fundaram famílias. Como a população aumentava, no entanto, e uma área maior
tornou-se habitada, a mesma coisa aconteceu de novo, a grande maioria da
humanidade, amando a busca por dinheiro e poder, parou de prestar homenagens
a Deus. Isto cresceu a tal ponto que eles boicotaram qualquer referência a Deus,
e então quem poderia dizer a seus filhos dos poderosos milagres Dele? Enfim,
eles perderam o próprio nome de Deus e não havia em todo o mundo um homem
que conhecia o seu Criador.
Apesar disso, Deus concedeu-lhes dádivas terrenas, riqueza e prosperidade
mundana, e Ele também lhes conferiu sabedoria para que eles compreendessem
todas as coisas terrenas e todas as formas em que o céu e a terra eram diferentes
uns dos outros. Eles observavam que, em muitos aspectos, a terra, os pássaros e
os animais têm a mesma natureza, porém apresentam um comportamento
diferente, e eles se perguntavam o que isso significava.
Por exemplo, podia-se cavar a terra em um pico de montanha não mais
profundo do que seria em um vale e ainda encontrar água; da mesma forma, em
ambos os pássaros e os animais, o sangue fica tão perto da superfície da pele da
cabeça como do pé. Outra característica da terra é que a cada ano a grama e as
flores crescem e nesse mesmo ano murcham e morrem, do mesmo modo, pêlos e
penas crescem e morrem todos os anos em animais e pássaros. Há uma terceira
coisa sobre a terra: quando sua superfície é revirada e desenterrada, a grama
cresce no solo. Montanhas e rochedos foram associados aos dentes e ossos de
criaturas vivas, e assim eles viam a terra de alguma forma como um ser com vida
própria. Eles sabiam que era inconcebivelmente antiga em idade, e por natureza,
poderosa; ela deu origem a todas as coisas e possuía tudo o que morria, e por
isso deram-lhe um nome e reconheceram sua descendência dela.
Eles também aprenderam com seus antepassados que a mesma terra e o sol e
as estrelas já existiam há muitos séculos, mas que a procissão das estrelas era
desigual, algumas tinham uma longa jornada, outras uma curta. Por coisas como
essas eles imaginaram que devia haver alguém que governava as estrelas, que, se
ele desejasse, poderia colocar um fim à sua procissão, e que ele devia ser muito
poderoso e forte. Eles reconheceram também, que, se ele controlava os
elementos primordiais, ele devia ter existido antes dos corpos celestes; e eles
perceberam que, se guiava estes, ele devia governar o brilho do sol e o orvalho e
o crescimento das plantas, e os ventos do céu e as tempestades do mar também.
Eles não sabiam onde era o seu reino, mas eles acreditavam que ele
governava tudo na terra e nas nuvens, o céu e as estrelas, o mar e o clima. A fim
de que isso pudesse estar relacionado e ser lembrado, eles deram seus próprios
nomes a tudo, mas com as migrações de povos e multiplicação de línguas, essa
crença mudou de muitas maneiras.
Em sua velhice, Noé repartiu o mundo com seus filhos: para Cam ele deu a
região oeste, para Jafé a região norte e para Sem a região sul, estas são as partes
que serão daqui em diante marcadas na divisão da terra em três partes. No tempo
em que os filhos desses homens estavam no mundo, aumentou-se imediatamente
o desejo por riqueza e poder, a partir do fato de que eles sabiam muitos ofícios
que não tinham sido descobertos antes, e cada um se exaltou com as suas
próprias habilidades. E tão longe eles carregaram seu orgulho que os africanos,
descendentes de Cam, saquearam esta parte do mundo que os descendentes de
Sem, seu parente, habitavam. E quando eles os tinham conquistado, o mundo
pareceu-lhes muito pequeno, e eles construíram uma torre com tijolos e pedras,
pois ela deveria alcançar os Céus, na planície chamada de Sinar.
E quando essa edificação era tão avançada que se estendia acima do ar, e eles
não estavam menos ansiosos para continuar o trabalho, e quando Deus viu como
seu orgulho crescia, então ele viu que teria que derrubá-la de alguma forma. E o
mesmo Deus todo poderoso que poderia ter derrubado todo o seu trabalho em
um piscar de olhos, transformando-o em pó, ainda preferiu frustrar o seu
propósito, fazendo-os perceber a sua própria insignificância, em que nenhum
deles deveria compreender o que o outro falava; e, portanto, ninguém sabia o
que o outro mandava, e um quebrava o que o outro construía, até que chegou a
discórdia entre eles, e com isso foi frustrado, no início, o seu propósito de
construir uma torre. E aquele que foi o mais importante, chamado Zoroastro, ele
riu antes de chorar quando isto ocorreu; mas eram setenta e duas línguas, e tantas
línguas se espalharam pelo mundo inteiro desde que os gigantes foram dispersos
sobre a terra, e a nações tornaram-se numerosas.
Neste mesmo lugar foi construída a mais famosa das cidades, que levou o
nome da torre, e foi chamada Babilônia. E quando a confusão de línguas
ocorreu, em seguida aumentaram os nomes de homens e de outras coisas, e este
mesmo Zoroastro teve muitos nomes; e embora ele tenha compreendido que seu
orgulho foi abalado pela referida torre, ele ainda trilhou seu caminho para o
poder mundano, e escolheu-se rei de muitos povos assírios. Dele surgiu o erro da
idolatria, e quando ele era adorado, era chamado de Baal, nós o chamamos de
Bel, ele também teve muitos outros nomes. Mas, como os nomes aumentaram
em número, então a verdade se perdeu, e a partir deste primeiro erro cada
homem a seguir adorava seu mestre, animais ou pássaros, o ar e os corpos
celestes, e várias coisas sem vida, até que o erro se espalhou por todo o mundo, e
eles perderam a verdade a ponto que ninguém conhecia o seu criador, exceto
aqueles homens que falavam a língua hebraica, que floresceu antes da
construção da torre, e ainda não perderam os dotes materiais que lhes foram
dados e, portanto, eles entenderam tudo em um sentido material, no entanto, uma
vez que não tinha sido dado entendimento espiritual, eles pensaram que todas as
coisas eram formadas por alguma essência.
2.
O mundo foi dividido em três partes. Do sul ao oeste até o Mediterrâneo era a
parte conhecida como África, e a parte sul desta é tão quente que tudo lá é
queimado pelo sol. A segunda parte, percorrendo de oeste para o norte até o mar,
é chamado de Europa ou Énéa, e a metade norte é tão fria que não cresce grama
lá e é desabitada. De norte a leste e para o sul é a Ásia, e estas regiões do mundo
têm grande beleza e magnificência; a terra produz produtos especiais, como ouro
e pedras preciosas. O centro do mundo está lá também, e assim como a terra lá é
mais fértil e em todos os sentidos superior à encontrada em outros lugares,
também os seres humanos que ali vivem foram dotados para além dos seus
companheiros com todos os tipos de presentes: sabedoria, força, beleza e todo o
tipo de habilidade.
3.
Perto do centro do mundo, onde o que chamamos de Turquia se encontra, foi
construído o mais famoso de todos os palácios e salões, Tróia por nome. Essa
cidade foi construída em uma escala muito maior do que as outras então
existentes e em muitos aspectos com maior habilidade, por isso ela foi
luxuosamente equipada. Havia doze reinos com um rei soberano, e cada reino
continha muitos povos. Na cidadela havia doze chefes e estes estavam muito
acima de outros homens que já estiveram no mundo.
Nenhum estudioso jamais contestou essa verdade, e por esta razão, todos os
governantes da região norte rastreavam seus antepassados de lá, e colocavam no
mesmo patamar dos deuses todos os que foram governantes da cidade.
Sobretudo eles colocaram Príamo no lugar de Odin, pois Príamo surgiu de
Saturno, este que os povos da região norte, por um longo tempo acreditavam ser
o próprio Deus.
Saturno cresceu na ilha da Grécia chamada Creta. Ele era maior e mais forte e
mais belo que os outros homens. Como em outros dons naturais, ele se destacou
sobre todos os homens em sabedoria. Ele inventou muitos ofícios que ainda não
tinham sido descobertos. Ele também era tão incrível na arte da magia que ele
tinha certeza sobre coisas que ainda não tinham acontecido. Ele também
descobriu aquela coisa vermelha na terra da qual fundia o ouro, e de tais coisas
ele logo se tornou muito poderoso. Ele também previu colheitas e muitas outras
coisas secretas, e por tais e muitas outras obras, ele foi escolhido chefe da ilha.
E em pouco tempo de seu governo, rapidamente já havia grande abundância
de todas as coisas. Nenhum dinheiro circulava, exceto moedas de ouro de tão
abundante que era este metal; e embora houvesse fome em outras terras, as
colheitas nunca foram escassas em Creta, de forma que as pessoas podiam obter
de lá todas as coisas que elas precisavam. E a partir deste e muitos outros dons
secretos e poderosos que ele possuía, os homens acreditavam que ele era um
Deus, e disso surgiu outro erro entre os cretenses e macedônios, como o anterior
mencionado entre os assírios e caldeus de Zoroastro. E quando Saturno
descobriu quão grande força as pessoas pensavam que ele tinha, ele se chamou
de Deus, e afirmou que ele governava os Céus e a Terra e todas as coisas.
Uma vez ele foi para a Grécia em um navio, pois havia a filha de um rei a
quem ele tinha preparado o seu coração. Ele ganhou o seu amor da seguinte
forma: um dia, quando ela estava com suas servas, ele tomou a forma de um
touro e ficou diante dela na floresta, e ele era tão belo que cada fio dos pêlos
tinha uma tonalidade que se assemelhava a ouro, e quando a filha do rei o viu,
ela apalpou seus lábios. Ele levantou-se e se livrou da aparência de touro e
tomou-a em seus braços e levou-a para o navio e a levou para Creta. Porém sua
esposa, Juno, descobriu isso, então ele transformou a filha do rei em um novilho
e a enviou ao leste para os braços do grande rio Nilo, e deixou que seu escravo,
que se chamava Argulos, cuidasse dela. Ela ficou lá por 12 meses antes de ele
mudar sua forma novamente. Muitas coisas ele fez assim, ou de formas ainda
mais maravilhosas.
Ele teve três filhos: um chamado Júpiter, outro Netuno, o terceiro Plutão.
Foram todos homens de grandes realizações, e Júpiter foi de longe o maior, ele
era um guerreiro e conquistou muitos reinos; também era habilidoso como seu
pai, e tomou a aparência de muitos animais, e assim ele realizou muitas ações
que eram impossíveis para os homens; e por conta disso e outros, ele era visto
com temor por todas as nações. Portanto Júpiter é colocado no lugar de Thor, já
que todas as criaturas do mal o temiam.
Saturno havia construído em Creta setenta e duas cidades, e quando ele se
julgou firmemente estabelecido em seu reino, ele as compartilhou com seus
filhos, a quem ele também chamou de deuses, e a Júpiter ele deu o reino dos
Céus, a Netuno, o reino da terra, e a Plutão, o inferno; e este último parecia o
pior para administrar e, portanto, ele deu-lhe o seu cão, a quem ele chamou de
Cérberos, para guardar o inferno. Cérberos, os gregos dizem, Hércules arrastou
para fora do inferno e sobre a terra. E, embora Saturno tenha dado o reino dos
Céus a Júpiter, ele, no entanto, desejava possuir o reino da terra, e por isso ele
saqueou o reino de seu pai, e dizem que ele mandou desaparecer com ele e o
castrou, e por essas grandes conquistas, ele se declarou Deus, e os macedônios
dizem que ele mandou lançar os órgãos genitais ao mar, e, portanto, eles
acreditavam há muito tempo que daí tinha vindo uma mulher; eles a chamaram
de Vênus, e enumerada entre os deuses, ela tem, em todas as épocas, sido
chamada de deusa do amor, pois acreditavam que ela era capaz de transformar os
corações de todos os homens e mulheres para o amor.
Quando Saturno foi castrado por Júpiter, seu filho, ele fugiu para o leste da
ilha de Creta e oeste para a Itália. Lá moravam naquele tempo pessoas que não
trabalhavam, e viviam de nozes e grama, e viviam em cavernas ou buracos na
terra. E quando Saturno chegou lá, ele mudou seu nome e se chamou de Njörd,
porque ele acreditava que Júpiter, seu filho, poderia procurá-lo. Ele foi o
primeiro dali a ensinar os homens a arar e plantar vinhas. Lá, o solo era bom e
fresco, e logo se produziu grandes colheitas. Ele foi nomeado chefe e, portanto,
tomou a posse de todos os reinos de lá e construiu muitas cidades.
Júpiter, seu filho, teve muitos filhos, das quais várias raças foram
descendentes, seu filho foi Dardanos, seu filho Erictônio, seu filho Tros, seu
filho Hon, seu filho Laomedonte, o pai do rei soberano Príamo. Príamo teve
muitos filhos, um deles foi Heitor, que foi o mais famoso de todos os homens do
mundo pela sua força e estatura e realizações, e por todos os atos viris de um
cavaleiro, e encontra-se escrito que, quando os gregos e toda a força das regiões
norte e leste lutaram contra os troianos, eles nunca teriam vencido caso os gregos
não tivessem invocado os deuses, e é também relatado que nenhuma força
humana os teria conquistado, caso eles não tivessem sido traídos por seus
próprios homens.
E de sua fama, os homens que vieram depois deram-se títulos e,
especialmente, isso foi feito pelos romanos, que eram os mais famosos em
muitas ações após os seus dias, e dizem que, quando Roma foi construída, os
romanos adaptaram os seus costumes e as leis tanto quanto possível aos dos
troianos, seus antepassados. E tanto poder acompanhou estes homens por muitos
séculos depois que, quando Pompeu, um chefe romano, saqueou a região leste,
Odin fugiu da Ásia e foi para a terra do norte, e, em seguida, ele deu a si mesmo
e a seus homens os seus nomes, e disse que Príamo tinha se chamado Odin e
Frigg sua rainha, e a partir desta, o reino mais tarde teve o seu nome e foi
chamado Frígia, onde era a cidade. E tenha Odin dito isso de si mesmo por
orgulho, ou tenha sido trazido pela mudança de línguas, ainda assim, muitos
sábios têm considerado um ditado verdadeiro, e após muito tempo cada homem
que foi um grande chefe seguiu o seu exemplo.
Um dos reis se chamava Múnón ou Mennón. Ele se casou com a filha do rei
soberano Príamo, que foi chamado Tróáin, e eles tiveram um filho chamado
Trór, nós o chamamos de Thor. Ele foi criado na Trácia por um duque chamado
Lóricus e, quando ele tinha dez anos de idade, ele recebeu as armas de seu pai.
Quando ele tomou o seu lugar entre os outros homens, ele era tão bonito de se
olhar como o marfim incrustado em madeira de carvalho, seu cabelo era mais
belo que ouro. Aos doze anos de idade ele tinha chegado a sua força total e,
posteriormente ele levantou dez peles de urso da terra de uma vez e matou seus
pais adotivos Lóricus com sua esposa Lóri ou Glóri, e tomou posse do reino da
Trácia, que chamamos de Thrúdheim.
Depois disso, ele viajou para muito longe explorando todas as regiões do
mundo e por si mesmo superando todos os berserkers e gigantes e um enorme
dragão e muitos animais selvagens. Na parte norte do mundo ele conheceu e se
casou com uma profetisa chamada Sibila a quem chamamos de Sif. Eu não sei a
genealogia de Sif, mas ela era uma mulher muito bonita com os cabelos como o
ouro. Lóridi, que se parecia com seu pai, era seu filho. O filho de Lóridi foi
Einridi, seu filho Vingethór, seu filho Vingener, seu filho Módi, seu filho Magi,
seu filho Seskef, seu filho Bedvig, seu filho Athra, a quem chamamos de Annar,
seu filho Ítrmann, seu filho Heremód, seu filho Skjaldun, a quem chamamos de
Skjöld, seu filho Biaf, a quem chamamos de Bjár, seu filho Ját, seu filho Gudólf,
seu filho Finn, seu filho Fríallaf, a quem chamamos de Fridleif, ele teve um filho
chamado Vóden, a quem chamamos de Odin, ele era um homem famoso por sua
sabedoria e todo tipo de realização. Sua esposa se chamava Frígída, a quem
chamamos de Frigg.
4.
Odin, e também sua esposa, possuíam o dom da profecia e por meio dessa
arte mágica, ele descobriu que seu nome seria famoso na parte norte do mundo e
mais honrado do que de todos os reis. Por esta razão, ele decidiu sair da Turquia
em uma viagem. Ele foi acompanhado por uma grande multidão de jovens e
velhos, homens e mulheres, e eles tinham com eles muitos objetos de valor.
Através de quaisquer terras que eles viajaram, façanhas tão gloriosas foram
contadas que eles foram vistos como deuses em vez de homens. Eles não
pararam sua jornada até que chegaram ao norte do país hoje chamado Alemanha.
Lá Odin viveu por um longo tempo, tomando a posse de grande parte das
terras e nomeou três de seus filhos para defendê-la. Um deles era chamado
Vegdeg, ele era um poderoso rei e governou a Alemanha Oriental, o seu filho era
Vitrgils, seus filhos eram Vitta, pai de Heingest e Sigar, pai de Svebdag, a quem
chamamos Svipdag. O segundo filho de Odin era chamado Beldeg, a quem
chamamos de Baldr; ele possuía o país agora chamado Vestfália, seu filho era
Brand, seu filho, Frjódigar, a quem chamamos Fródi; seu filho, Freóvin; seu
filho, Wigg, seu filho, Gevis, a quem chamamos Gave. O terceiro filho de Odin
se chamava Sigi, o seu filho, Rerir; eles governaram o que hoje é chamado de
França, e a família conhecida como Völsungar veio de lá. Grandes e numerosas
famílias vieram de todos eles. Então Odin partiu em sua viagem para o norte e,
chegando na terra chamada Reidgotaland tomou posse de tudo o que ele queria
naquele país. Ele nomeou o seu filho Skjöld para governar lá, seu filho era
Fridleif, de onde veio a família conhecida como Skjöldungar, eles são os reis da
Dinamarca e o que era então chamado Reidgotaland agora é chamado Judand.
Oferenda, por Johan Ludwig Lund (1831)[3]
5.
Posteriormente, Odin foi para o norte para onde hoje é chamado Suécia.
Havia um rei lá chamado Gylfi e, quando soube da expedição dos homens da
Ásia, como os Æsir foram chamados, ele foi ao seu encontro e ofereceu a Odin
quanta autoridade sobre o seu reino quanto ele mesmo desejasse. Suas viagens
receberam tamanha prosperidade que, onde quer que eles ficassem em um país, a
região tinha boas colheitas e paz, e todos acreditavam que eles causavam isso,
uma vez que os habitantes nativos nunca tinham visto quaisquer outras pessoas
como eles com tão boa aparência e inteligência.
As planícies e os recursos naturais da vida na Suécia atingiram Odin como
sendo favoráveis e ele escolheu para si uma cidade hoje chamada Sigtuna. Lá ele
nomeou chefes pelo padrão de Tróia, estabelecendo doze governantes para
administrar as leis da terra, e ele elaborou um código de leis como a que tinha
realizado em Tróia e que os troianos estavam acostumados.
Depois disso, ele viajou para o norte até chegar ao mar, que eles achavam que
envolvia o mundo todo, e colocou seu filho sobre o reino hoje chamado
Noruega. Seu filho se chamava Saeming e, como se diz no Háleygjatal,
juntamente com os Earls e outros governantes, os reis da Noruega traçam suas
genealogias de volta a ele.
Odin mantinha por perto o filho chamado Yngvi, que era o rei da Suécia após
ele, e com ele vieram as famílias conhecidas como Ynglingar. Os Æsir e alguns
de seus filhos se casaram com as mulheres das terras que se estabeleceram, e
suas famílias se tornaram tão numerosas na Alemanha e daí sobre o norte que a
sua língua, a dos homens da Ásia, tornou-se a linguagem adequada a todos esses
países. A partir do fato de que suas genealogias estão escritas, os homens
supõem que estes nomes vieram junto com essa linguagem, e que foi trazido
aqui para o norte do mundo, à Noruega, Suécia, Dinamarca e Alemanha, pelos
Æsir. Na Inglaterra, no entanto, os nomes de distritos e cidades devem ser
compreendidos como decorrentes de um idioma diferente.
Gylfaginning: A Ilusão de Gylfi
O Rei Gylfi era um homem sábio e habilidoso na magia, ele estava muito
preocupado que os Æsir eram tão astutos que tudo corria de acordo com a sua
vontade. Ele ponderou se isso podia proceder de sua própria natureza, ou se os
poderes divinos que eles cultuavam podiam ordenar essas coisas. Ele partiu para
Asgard, indo secretamente, e se vestiu na semelhança de um velho, com o qual
ele se disfarçou. Mas o Æsir eram mais sábios neste assunto, tendo o poder de
ver o futuro, e eles previram a sua jornada antes mesmo de ele vir, e prepararam
contra ele ilusões dos olhos. Quando ele entrou na cidade, viu ali um salão tão
grande que ele não conseguia facilmente ver seu topo: seu teto era recoberto com
escudos de ouro como se fossem telhas. Assim também diz Thjódólfr de Hvin,
que Valhalla era coberta com escudos:
Em suas costas deixam brilhar,
Os escudos com pedras golpeados,
As telhas do salão de Odin,
Recobertas de ouro.
Na entrada do salão, Gylfi viu um homem fazendo malabarismo com espadas,
tendo sete no ar ao mesmo tempo. Este homem pediu-lhe o seu nome. Ele
chamou a si mesmo de Gangleri, e disse que tinha vindo pelos caminhos da
serpente, e pediu por hospedagem para a noite, perguntando: “Quem é o dono
deste salão?”
O outro respondeu que era seu rei, “e eu vou te acompanhar para vê-lo, então
você poderá perguntá-lo sobre o seu nome”, e o homem caminhou diante dele
para dentro do salão, e ele o seguiu, e logo a porta se fechou atrás dele.
Lá, ele viu uma grande sala e muita gente, alguns entretidos com jogos,
alguns bebendo, e alguns tinham armas e estavam lutando. Então ele olhou em
volta e achou inacreditável muitas coisas que ele viu, e disse:
Em todos os portões,
Antes de entrar,
Você deve examinar bem,
Porque é incerto,
Onde o inimigo se senta,
À espera no interior.
Ele viu três altos assentos, um acima do outro, e três homens sentavam-se
neles, um em cada. E perguntou qual poderia ser o nome desses senhores.
Aquele que o conduziu até lá respondeu que aquele que se sentava no alto
assento de baixo era um rei “e seu nome é Hárr, ou Alto, e o próximo é chamado
Janhárr, ou Mais Alto, e aquele que está sentado mais alto é chamado Thridi, ou
Terceiro.”
Então Hárr perguntou ao recém-chegado se sua missão tinha algo mais do que
para a comida e bebida que estavam sempre ao seu dispor, como para qualquer
um lá no Alto Salão. Ele respondeu que desejava primeiro saber se havia algum
homem sábio lá dentro.
Hárr disse que ele não escaparia de lá, a menos que ele fosse ainda mais
sábio.
“Dê um passo adiante,
Enquanto você perguntar,
Aquele que responder, se sentará.”
Gangleri disse: “O que foi o início, ou como começou, ou o que havia antes?”
Hárr respondeu: “Como é dito no Völuspá:
Era a manhã do Tempo,
Quando não havia nada,
Nem areia, nem mar,
Nem ondas refrescantes.
Não havia Terra,
Nem o céu acima.
Apenas um fosso,
Mas não havia grama.”
Então disse Jafnhárr: “Muitas eras antes de a Terra ser moldada, Niflheim já
existia, e no meio de seu território está a fonte que é chamada Hvergelmir, da
qual brotam os rios chamados Svöl, Gunnthrá, Fjörm, Fimbulthul, Slídr e Hrid,
Sylgr e Ylgr, Víd, Leiptr, Gjöll, este último está perto dos portões de Hel.”
E Thridi disse: “No entanto, primeiro havia o mundo na região sul, que foi
nomeado Múspelheim, ele é iluminado e quente, aquela região é brilhante e
ardente, e intransponível para com os forasteiros que não são nativos de lá.
Aquele que se senta lá no fim da terra, para defendê-la, é chamado Surtr, ele
brande uma espada flamejante, e no fim do mundo, ele sairá e saqueará, e
superará todos os deuses, e queimará todo o mundo com fogo, assim é dito no
Völuspá:
Surtr viaja do sul
Brandindo fogo ardente,
Da sua espada brilha
O sol dos Deuses da Guerra,
As rochas se chocam,
Os demônios sofrem,
Heróis seguem a estrada de Hel,
E os Céus se abrem em fendas.”
O Gigante com a Espada Flamejante, por John Charles Dollman (1909)[7]
Capítulo 5 – A Origem de Ymir e dos Gigantes de Gelo
Então disse Gangleri: “Onde morava Ymir, ou onde ele encontrava sustento?”
Hárr respondeu: “Imediatamente após o gelo derreter, surgiu dele a vaca
chamada Audumla; quatro rios de leite corriam de suas tetas, e ela nutria Ymir.”
Em seguida, perguntou Gangleri: “De que maneira era a vaca alimentada?”
E Hárr respondeu: “Ela lambia os blocos gelo, que eram salgados; e no
primeiro dia que ela lambeu os blocos, então saiu deles durante a noite o cabelo
de um homem, no segundo dia, a cabeça de um homem, no terceiro dia o homem
inteiro estava lá. E ele era chamado Búri: ele era belo de aspecto, grande e
poderoso. Ele gerou um filho chamado Borr, que se casou com a mulher
chamada Bestla, filha de Bölthorn o gigante, e eles tiveram três filhos: um era
Odin, o segundo Vili, o terceiro Vé. E esta é a minha crença, que ele, Odin, junto
com seus irmãos, devem ser governantes dos Céus e da Terra, acreditamos que
ele deve ter esse nome, pois ele é o homem que sabemos ser o mais poderoso e o
mais digno de honra, e fará bem em chamá-lo assim dessa maneira.”
Então disse Gangleri: “Como estes mantinham a paz com Ymir, ou qual era o
mais forte?”
E Hárr respondeu: “Os filhos de Borr mataram Ymir o gigante; onde ele caiu,
jorrou tanto sangue de suas feridas que com isso se afogou toda a raça dos
Gigantes de Gelo, exceto aquele a quem os gigantes chamam de Bergelmir, que
escapou com a sua família; ele subiu em seu navio, e sua esposa com ele, e eles
estavam seguros ali. E deles surgiu a raça dos Gigantes de Gelo, como é dito
aqui:
Incontáveis eras
Antes de a Terra ter forma,
Nasceu Bergelmir;
Isso eu recordo primeiro,
Como o famoso sábio gigante
No convés do navio se deitou.”
Nascimento e Morte de Ymir, por Lorenz Frølich (1885)[9]
Capítulo 8 – Os Filhos de Borr criam a Terra e o céu
Então disse Gangleri: “O que foi feito então pelos filhos de Borr, se você
acredita que eles são deuses?”
Hárr respondeu: “Neste assunto, não há pouco a ser contado. Levaram Ymir e
o carregaram para o meio do Ginnungagap, e fizeram dele a Terra: de seu sangue
o mar e as águas; a terra foi feita de sua carne, e os rochedos de seus ossos,
cascalho e pedras eles fizeram a partir de seus dentes e as suas mandíbulas e
daqueles ossos que estavam quebrados”.
E Jafnhárr disse: “Do sangue, que correu e jorrou livremente de seus
ferimentos, eles fizeram o mar, quando haviam formado e feito a terra firme, e
puseram o mar em um anel circundando-a, e parece ser um ato árduo para a
maioria dos homens cruzar o oceano.”
Então disse Thridi: “Eles pegaram seu crânio também, e fizeram dele o céu, e
os puseram sobre a terra com quatro cantos, e sob cada canto eles colocaram um
anão: os nomes destes são Leste, Oeste, Norte e Sul. Então tomaram as brasas e
faíscas que irrompiam de Múspellheim, e as colocaram no meio do
Ginnungagap, nos Céus, acima e abaixo, para iluminar o céu e a terra. Eles
atribuíram lugares para todos os fogos: alguns no céu, alguns vagavam livre
debaixo do céu, no entanto, a estes também deram um lugar e criaram-lhes
trajetórias. É dito em canções antigas que, a partir desta data, os dias e os anos
foram contados, como é dito no Völuspá:
O sol não sabia
Onde era seu lugar;
A lua não sabia
O poder que possuía;
As estrelas não sabiam
Onde ficavam seus lugares.
Assim era antes de a terra ser feita.”
Então disse Gangleri: “Estas são grandes histórias que agora ouço, isto é uma
grande obra maravilhosa de habilidade, e astuciosamente feita. Como foi a terra
criada?”
E Hárr respondeu: “Ela é em forma de anel por fora, e ao redor dela, sem fim,
o fundo do mar, e ao longo da costa do mar eles deram terras para as raças de
gigantes, ou jötna, para viverem. Mas no interior da terra fizeram uma cidadela
em volta do mundo contra a hostilidade dos gigantes, e para a sua cidadela eles
usaram as sobrancelhas de Ymir o gigante, e chamaram a este lugar Midgard.
Eles pegaram também seu cérebro e lançaram-no no ar, e fizeram com ele as
nuvens, como é dito aqui:
Da carne de Ymir
A terra foi criada,
Do seu sangue o mar;
Rochedos de seus ossos,
Árvores de seus cabelos,
E de seu crânio o céu.
De suas sobrancelhas
Os joviais deuses fizeram
Midgard para os filhos dos homens.
De seu cérebro,
Todas as melancólicas
Nuvens foram criadas.”
Odin e Seus Dois Irmãos Criam o Mundo do Corpo de Ymir, por Lorenz
Frølich (1895)[10]
Capítulo 9 – Os Filhos de Borr criam Askr e Embla
Então disse Gangleri: “Muito mesmo tinham feito então, me parece, quando o
céu e a Terra foram feitos, e o sol e as constelações do céu foram fixados, e
divisão foi feita de dias. Agora, de onde vêm os homens que povoam o mundo?”
E Hárr respondeu: “Quando os filhos de Borr estavam caminhando ao longo
da costa do mar, eles encontraram duas árvores, e tomaram-nas e moldaram
homens delas: o primeiro filho deu-lhes espírito e vida, o segundo, inteligência e
sentimento, o terceiro, forma, fala, audição e visão. Deram-lhes roupas e nomes:
o macho foi chamado Askr e a fêmea Embla, e deles era nascida a raça dos
homens, que receberam uma morada em Midgard. Em seguida, eles criaram para
si mesmos, no meio do mundo, uma cidade chamada Asgard, os homens a
chamam de Tróia. Lá habitaram os deuses e seus parentes, e muitos eventos e
histórias de lá ocorreram, tanto na terra como no ar. Há um lugar chamado
Hlidskjálf, e quando Odin sentava-se no trono de lá, ele olhava para o mundo
inteiro e via os atos de cada homem, e sabia de todas as coisas que ele via. Sua
esposa se chamava Frigg, filha de Fjörgvinn, e de seu sangue é vindo a linhagem
que chamamos de a raça dos Æsir, que povoaram a Antiga Asgard, e os reinos
que pertencem a ela, e eles são uma raça divina. Por esta razão, ele deve ser
chamado o Pai de Todos: porque ele é o pai de todos os deuses e dos homens, e
tudo isso foi cumprido por ele e por seu poder. A Terra era sua filha e sua
esposa, nela ele gerou o primeiro filho, que é Áss-Thor: força e coragem lhe
atendem, com as quais ele é capaz de vencer todos os seres vivos.
Odin, Lódurr e Hœnir Criam Askr e Embla, por Lorenz Frølich (1895)[11]
Capítulo 10 – A Chegada de Dia e de Noite
Então disse Gangleri: “Como é que ele orienta o curso do sol ou da lua?”
Hárr respondeu: “Um certo homem recebeu o nome Mundilfari, ele teve dois
filhos, eles eram tão belos e graciosos que ele chamou seu filho Máni, ou Lua, e
sua filha Sol, ou Sól, e a casou com um homem chamado Glenr. Mas os deuses
se indignaram com essa insolência e tomaram o irmão e irmã, e colocaram-nos
no céu; eles fizeram Sol conduzir os cavalos que puxavam a carruagem do sol,
que os deuses tinham criado para a iluminação do mundo, feito do material
brilhante que voou para fora de Múspellheim. Esses cavalos são chamados
assim: Árvakr e Alsvidr, e sob os ombros deles os deuses colocaram dois foles
para resfriá-los, mas em alguns registros isso é chamado de Ísarnkol. Lua dirige
o curso da lua e determina as suas fases crescente e minguante. Ele tomou da
terra dois filhos, chamado Bil e Hjúki enquanto voltavam do poço chamado
Byrgir, tendo sobre os seus ombros um barril chamado Sægr, e uma vara
chamada Simul. O pai deles é chamado Vidfinnr. Estas crianças seguem Lua,
como pode ser visto da terra.”
Máni e Sól, por Lorenz Frølich (1895)[14]
Capítulo 12 – Sobre a Perseguição de Sol
Então disse Gangleri: “O que o Pai de Todos então fez quando Asgard foi
criada?”
Hárr respondeu: “No início, ele estabeleceu governantes, e mandou-lhes
ordenar destinos de assuntos dos homens com ele, e dar conselhos sobre o
planejamento da cidade, isso era no lugar que se chama Idavold, no meio da
cidade. Foi o primeiro trabalho deles fazer aquele tribunal em que seus doze
assentos ficariam, e outro, o alto-assento em que o Pai de Todos dispõe. Aquela
casa é a melhor construída de qualquer uma na Terra, e a mais incrível, fora e
dentro, é tudo como uma peça de ouro, os homens a chamam de Gladsheim. Eles
fizeram também um segundo salão: ele era um santuário que as deusas
possuíam, e era uma casa muito bela, os homens a chamam de Vingólf. Em
seguida, eles criaram uma casa, onde eles colocaram uma forja, e fizeram além
de um martelo, pinças, e uma bigorna, e por meio destes, todas as outras
ferramentas. Após isso, eles forjaram metal e pedra e madeira, e fizeram tão
abundantemente que o metal, que é chamado de ouro, eles tinham em todos os
seus utensílios de casa e todos os pratos de ouro, e esse tempo é chamado de
Idade do Ouro, antes que fosse estragado pela vinda das mulheres, mesmo
aquelas que vieram de Jötunheim. Em seguida, os próprios deuses se
empossaram em seus assentos e realizaram um julgamento, e chamaram a
atenção para se os anões tinham surgido no molde e debaixo da terra, como
fazem as larvas na carne. Os anões haviam recebido primeiro forma e vida na
carne de Ymir, e eram então larvas, mas por decreto dos deuses tornaram-se
conscientes e com a inteligência dos homens, e tinham forma humana. E, no
entanto, eles habitam na terra e nas pedras. Módsognir foi o primeiro, e Durinn o
segundo, assim é dito no Völuspá.
Então caminharam todos os deuses
Aos assentos do julgamento,
Os deuses mais sagrados,
E juntos debateram,
Quem deveria dos anões
Governar os povos
Do Mar de sangue,
E dos ossos de Blain.
Na semelhança dos homens
Muitos foram feitos
Anões na terra
Como Durinn disse.
E estes, diz a sibila, são os seus nomes:
Nýi e Nidi,
Nordri e Sudri,
Austri, Vestri,
Althjófr, Dvalinn;
Nár, Náinn,
Nípingr, Dáinn,
Bifurr, Báfurr,
Bömburr, Nóri,
Óri, Ónarr,
Óinn, Mjödvitnir,
Viggr e Gandálfr,
Vindálfr, Thorinn,
Fíli, Kíli,
Fundinn, Váli;
Thrór, Thróinn,
Thekkr, Litr e Vitr,
Nýr, Nýrádr,
Rekkr, Rádsvidr.
E estes também são anões e habitam em pedras, mas foram os primeiros em
moldes:
Draupnir, Dólgthvari,
Hörr, Hugstari,
Hledjólfr, Glóinn;
Dóri, Óri,
Dúfr, Andvari,
Heptifíli,
Hárr, Svíarr.
E estes procedem de Svarinshaugr para Aurvangar em Jöruplain, e daí Lovarr
surgiu; estes são os seus nomes:
Skirfir, Virfir
Skáfidr, Ái,
Álfr, Yngvi,
Eikinskjaldi,
Falr, Frosti,
Fidr, Ginnarr.”
Então disse Gangleri: “Onde fica a morada central ou santuário dos deuses?”
Hárr respondeu: “Essa fica ao lado da árvore de freixo Yggdrasil, lá os deuses
se reúnem todos os dias”.
Então Gangleri perguntou: “O que há para ser dito sobre esse lugar?”
Então disse Jafnhárr: “O Freixo é a maior de todas as árvores e a melhor: os
seus ramos se espalham por todo o mundo e estão acima dos Céus. Três raízes da
árvore a sustentam e se espalham amplamente: um está entre os Æsir, outra entre
os Gigantes de Gelo, no lugar onde outrora foi o Ginnungagap, o terceiro está
sobre Niflheim, e sob essa raiz está Hvergelmir, e Nídhöggr rói a raiz por baixo.
Mas sob essa raiz, que se vira em direção aos Gigantes de Gelo está a fonte de
Mímir, onde sabedoria e compreensão são armazenados, e ele é chamado Mímir,
que guarda a fonte. Ele possui muita sabedoria antiga, uma vez que ele bebe da
fonte com o Chifre Gjallar. Para lá foi Odin e ele ansiava por um gole da fonte,
mas ele não conseguiu até que ele deu um de seus olhos como garantia. Assim é
dito no Völuspá:
Tudo sei eu, Odin,
Onde escondeu seu olho,
Na cristalina e renomada
Fonte de Mímir.
Mímir bebe hidromel
Todas as manhãs
Da garantia do Pai de Todos.
Já sabe agora ou não?
Odin Bebe da Fonte da Sabedoria, por Robert Engels (1903)[18]
A terceira raiz do Freixo está nos Céus, e sob essa raiz está a fonte que é
muito sagrada, que é chamada de A Fonte de Urdr, lá os deuses controlam seu
tribunal. Todos os dias os Æsir cavalgam pela Bifröst, que também é chamada
de A Ponte dos Æsir. Estes são os nomes dos cavalos dos Æsir: Sleipnir é o
melhor, Odin o possui, ele tem oito patas. O segundo é Gladr, o terceiro Gyllir, o
quarto Glenr, o quinto Skeidbrimir, o sexto Silfrintoppr , o sétimo Sinir, o oitavo
Gisl, o nono Falhófnir, o décimo Gulltoppr, o décimo primeiro Léttfeti. O cavalo
de Baldr foi queimado com ele, e Thor caminha para o tribunal, e nada pelos rios
que são chamados assim:
Körmt e Örmt
E os dois Kerlaugs,
Esses Thor deve atravessar
Todos os dias
Quando ele vai a julgar
Na árvore de Yggdrasil;
Pois a Ponte dos Æsir
Queima com as chamas,
E as águas sagradas uivam.”
Thor Atravessa Rios Enquanto os Æsir Cavalgam pela Ponte Bifröst, por
Lorenz Frølich (1895)[19]
Então disse Gangleri: “Fogo queima sobre a Bifröst?”
Hárr respondeu: “O que você vê como vermelho no arco é fogo ardente; os
Gigantes de Gelo e os Gigantes das Montanhas poderiam ir aos Céus se a
passagem em Bifröst estivesse aberta a todos aqueles que a cruzariam. Há
muitos lugares belos nos Céus, e sobre tudo lá uma vigília divina é mantida. Um
salão fica ali, belo, sob a árvore perto da fonte, e fora do salão há três donzelas,
que são chamadas assim: Urdr ou Passado, Verdandi ou Presente, Skuld ou
Futuro; essas donzelas determinam o período de vida dos homens: nós as
chamamos de Nornas, mas há muitas nornas: aquelas que vêm para cada criança
que nasce, para designar a sua vida, essas são da raça dos deuses, mas outras são
do povo Elfo, e um terceiro grupo são da família dos anões, como é dito aqui:
De vários lugares
As Nornas são;
Elas não são da mesma raça:
Algumas são dos Æsir,
Algumas são dos Elfos,
Algumas são filhas dos Anões.”
Então disse Gangleri: “Se as Nornas determinam os destinos dos homens,
então elas os repartem de forma desigual, visto que alguns têm uma vida
agradável e luxuosa, mas outros têm poucos bens mundanos ou fama; alguns têm
vida longa, outros curta.”
Hárr disse: “Boas nornas e de raça nobre designam vidas boas, mas os
homens que sofrem desventuras são regidos por nornas do mal.”
As Nornas, por Arthur Rackham (1911)[20]
Capítulo 16 – Ainda Sobre a Árvore
Então disse Gangleri: “Você sabe muitas histórias para contar dos Céus. Que
principais moradas há mais além da Fonte de Urdr?
Hárr disse: “Muitos lugares estão lá, e gloriosos são. Aquele que é chamado
Álfheimr é um deles, onde habitam os povos chamados de Elfos Claros, ou
Ljósálfar, mas os Elfos Negros, ou Dökkálfar, habitam abaixo da terra, e eles são
diferentes na aparência, mas, de longe, ainda mais diferentes na natureza. Os
Elfos Claros são mais belos de se olhar do que o sol, mas os Elfos Negros são
mais negros do que o piche. Depois, há também nesse lugar a morada chamada
Breidablik, e não há nos Céus uma habitação mais bela. Lá, também, há o lugar
chamado Glitnir, cujas paredes e todos os seus postes e pilares são de ouro
vermelho, mas o seu telhado é de prata. Há também a morada chamada
Himinbjörg, que fica no final dos Céus na cabeça da ponte, no lugar onde a
Bifröst se junta aos Céus. Outra grande morada é lá, que é chamada Valaskjálf;
Odin é dono dessa habitação, os deuses a construíram e seu telhado é feito com
pura prata, e neste salão fica o Hlidskjálf, o chamado alto-assento. Sempre que o
Pai de Todos senta naquela cadeira, ele inspeciona todas as terras. No extremo
sul do céu fica aquele salão que é o mais belo de todos, e mais brilhante do que o
sol, que é chamado Gimlé. Ele resistirá quando os Céus e a Terra já não
existirem, e os homens bons e de conversas justas nele habitarão: assim é dito no
Völuspá:
Eu conheço um salão
Mais belo que o Sol,
Com telhados de ouro,
Chamado de Gimlé.
Nele habitarão
Aqueles que praticam a justiça
E para todo o sempre
Desfrutarão de prazeres.”
Então disse Gangleri: “O que guardará este lugar, quando a chama de Surtr
consumir os Céus e a Terra?”
Hárr respondeu: “É dito que um outro céu está ao sul e acima do presente, e
ele é chamado de Andlangr, mas o terceiro céu está ainda acima disso, e ele é
chamado Vídbláinn, e é neste céu que nós acreditamos que esta morada esteja.
Porém acreditamos que ninguém, exceto os Elfos Claros habitam estas mansões
agora.”
Brincadeira de Elfos, por August Malmström (1866)[22]
Capítulo 18 – A Origem do Vento
Então disse Gangleri: “De onde vem o vento? Ele é forte, de modo que agita
grandes mares, e estimula o fogo, mas, mesmo forte como é, ninguém pode vê-
lo, pois é maravilhosamente moldado.”
Então disse Hárr: “Isto eu sou bem capaz de dizer. À extremidade norte dos
Céus está o gigante chamado Hræsvelgr: ele tem as penas de uma águia, e
quando ele estende suas asas para o voo, então o vento surge de debaixo delas,
como é dito aqui:
Hræsvelgr ele se chama,
Aquele que se senta na extremidade dos Céus,
Um gigante em forma de águia.
De suas asas, dizem,
O vento surge
Sobre todos os homens.”
Capítulo 19 – Sobre a Diferença do Verão e do Inverno
Então disse Gangleri: “Por que há tanta diferença, que o verão deve ser
quente, mas o inverno frio?”
Hárr respondeu: “Um homem sábio não perguntaria isso, visto que todos são
capazes de responder, mas se você é tão incapaz de compreender a ponto de não
ter ouvido falar disso, então eu ainda vou permitir que você pergunte tolamente
uma vez, em vez de você ser mantido na ignorância sobre uma coisa que é
adequada de se saber. Ele é chamado Svásudr, o pai do Verão, ou Sumarr; e ele é
de natureza agradável, de modo que a partir de seu nome tudo o que é agradável
é chamado de doce. Mas o pai do Inverno, ou Vetr, é variadamente chamado de
Vindljóni ou Vindsvalr, ele é o filho de Vásadr, e estes eram parentes sombrios e
de corações frios, e o Inverno tem seu temperamento.”
Capítulo 20 – Sobre Odin e Seus Nomes
Então disse Gangleri: “Quem são os Æsir, em quem cabe aos homens
acreditar?”
Hárr respondeu: “Os Æsir divinos são doze.”
Então disse Jafnhárr: “Não menos sagradas são as Ásynjur, as deusas, e elas
não possuem menos autoridade.”
Então disse Thridi: “Odin é o mais elevado e mais velho dos Æsir: ele
governa todas as coisas e é poderoso como os outros deuses, todos eles servem a
ele como filhos obedecem a um pai. Frigg é sua esposa, e ela conhece todos os
destinos dos homens, embora ela não revele as profecias, como é dito aqui,
quando o próprio Odin falou com aquele dos Æsir a quem os homens chamam
de Loki:
Louco está você, Loki,
E fora de seus sentidos,
Por que não para?
Acredito eu que Frigg sabe,
De todas as sortes,
Embora ela não diga nada.
Odin é chamado de Pai de Todos porque ele é o pai de todos os deuses. Ele
também é chamado de Pai do Massacre, pois todos aqueles que caem no campo
de batalha são os seus filhos adotivos; ele os envia para Valhalla e Vingólf, e são
então chamados de Einherjar, ou Campeões. Ele também é chamado de Deus dos
Enforcados, Deus dos Deuses, Deus das Cargas, e ele também foi nomeado em
muitos mais aspectos, depois que ele veio ao rei Geirrödr:
Eu sou chamado Grímr
E Ganglari,
Herjann, Hjálmberi;
Thekkr, Thridi,
Thudr, Udr,
Helblindi, Hárr.
Sadr, Svipall,
Sann-getall,
Herteitr, Hnikarr;
Bileygr, Báleygr,
Bölverkr, Fjölnir,
Grímnir, Glapsvidr, Fjölsvidr.
Sídhöttr, Sidskeggr,
Sigfödr, Hnikudr,
Alfödr, Atrídr, Farmatýr;
Óski, Ómi,
Jafnhárr, Biflindi,
Göndlir, Hárbardr.
Svidurr, Svidrir,
Jálkr, Kjalarr, Vidurr,
Thrór, Yggr, Thundr;
Vakr, Skilfingr,
Váfudr, Hroptatýr,
Gautr, Veratýr.”
Então disse Gangleri: “Muitos nomes você lhe deu, e, por minha fé, deve-se
realmente precisar ter uma inteligência considerável para conhecer todo o saber e
os eventos que trouxeram cada um desses nomes.”
Então Hárr respondeu: “É realmente uma grande soma de conhecimento para
se reunir e fixar oportunamente. Mas é mais breve te dizer que a maioria de seus
nomes foram dados a ele por causa desta razão: havendo assim muitas
ramificações de línguas no mundo, todos os povos acreditavam que era
necessário para eles transformar seu nome em sua própria língua, para que eles
pudessem melhor invocá-lo e suplicar-lhe em seus próprios nomes. Mas em
algumas ocasiões esses nomes surgiram em suas andanças; e estes casos estão
registrados em sagas. E você não poderá ser chamado de um homem sábio se
não for capaz de narrar esses grandes eventos.”
Odin, por Johannes Gehrts (1901)[23]
Capítulo 21 – Sobre Áss-Thor
Então disse Gangleri: “Quais são os nomes dos outros Æsir, ou quais são os
seus ofícios, ou que obras de renome eles fizeram?”
Hárr respondeu: “Thor é o principal deles, ele que é chamado Thor dos Æsir,
ou Öku-Thor, ele é o mais forte de todos os deuses e homens. Ele tem o seu
reino no lugar chamado Thrúdvangar, e seu salão é chamado Bilskirnir, este
salão possui quinhentos e quarenta quartos. Essa é a maior casa que os homens
conhecem, portanto é dito no Grímnismál:
Quinhentos quartos
E mais quarenta,
Assim acredito que sejam
As curvas de Bilskirnir.
De todas as casas
Que sei que possuem tetos,
Eu sei que a do meu filho é a maior.
Thor tem dois bodes, que são chamados de Tanngnjóstr e Tanngrisnir, e uma
carruagem na qual ele dirige, e os bodes puxam-na, por isso ele é chamado de
Öku-Thor. Ele também possui três coisas de grande valor: um é o martelo
Mjölnir, que os Gigantes de Gelo e os Gigantes das Montanhas conhecem
quando é levantado ao alto, e isto é de se admirar, pois feriu muitos crânios
entre seus pais ou seus parentes. Ele tem um segundo tesouro valioso, o melhor
de todos, o Megingjarder, ou o Cinturão de Força, e quando ele aperta-o em sua
cintura, então a força divina dentro dele é duplicada. No entanto, uma terceira
coisa ele possui, na qual há muita virtude: suas Luvas de Ferro, ou Járnglófar,
ele não pode ficar sem elas quando usa seu martelo. Mas ninguém é tão sábio a
ponto de poder dizer a todos as suas grandes obras, mas posso te dizer tantas
histórias dele que as horas seriam gastas antes de tudo o que eu sei fosse dito.”
Thor, por Arthur Rackham (1911)[24]
Capítulo 22 – Sobre Baldr
O terceiro entre os Æsir é aquele que é chamado Njördr: ele mora nos Céus, na
morada chamada Nóatún. Ele governa o curso do vento, e dirige o mar e o fogo,
a ele devem os homens chamar para viagens e para caçar. Ele é tão próspero e
abundante em riqueza que ele pode dar-lhes uma grande quantidade de terras ou
de mantimentos, e a ele devem os homens chamar para essas coisas. Njördr não
é da raça dos Æsir: ele foi criado na terra dos Vanir, mas os Vanir o entregaram
como refém aos deuses, e tomaram como refém em troca aquele que os homens
chamam de Hœnir, ele tornou-se parte do pacto entre os deuses e os Vanir.
Njördr tomou como esposa a mulher chamada Skadi, filha de Thjazi o gigante.
Skadi queria de bom grado morar na residência que seu pai tinha morado, que
fica em certas montanhas, no lugar chamado Thrymheimr, mas Njördr queria
ficar perto do mar. Eles fizeram um pacto nestes termos: eles ficariam nove
noites em Thrymheimr, mas as próximas nove em Nóatún. Mas quando Njördr
desceu da montanha de volta para Nóatún, ele cantou esta canção:
Cansado estou eu das montanhas,
Há não muito tempo eu estava lá,
Apenas nove noites.
O uivo dos lobos
Pareciam-me doentes,
Comparado a canção dos cisnes.
Então Skadi cantou:
Dormir eu não conseguia
Na costa do mar,
Pois os gritos das aves marinhas;
Sempre me acordam,
Elas que vem de longe
As gaivotas todas as manhãs.
Então Skadi subiu à montanha e habitou em Thrymheimr. E ela andava a
maior parte do tempo em esquis e com um arco e flecha, e ela atira em animais,
ela é chamada de Deusa da Neve ou Senhora dos Sapatos de Neve. Assim, é
dito:
Thrymheimr é chamado,
Onde Thjazi morou,
Ele o hediondo gigante.
Mas agora Skadi mora,
Pura noiva dos deuses,
Na antiga casa de seu pai.
Skadi Sente Falta das Montanhas, por William Gersham Collingwood (1908)
[27]
Capítulo 24 – Sobre Freyr e Freyja
Njördr em Nóatún gerou mais tarde dois filhos: o filho foi chamado de Freyr,
e a filha Freyja, eles eram belos e poderosos. Freyr é o mais famoso dos Æsir,
ele governa a chuva e o brilho do sol, e com isso o nascer dos frutos da terra; e é
bom invocá-lo nas estações frutíferas e de paz. Ele governa também a
prosperidade dos homens. Mas Freyja é a mais famosa das deusas; ela tem nos
Céus a morada chamada Fólkvangr, e onde quer que ela cavalgue para a luta, ela
fica com metade dos mortos, e Odin a outra metade, como é dito aqui:
Fólkvangr é chamado
Onde Freyja reina;
Para os assentos de seu salão
Metade dos mortos
Ela escolhe todos os dias,
A outra metade é de Odin.
Seu salão Sessrúmnir é grande e belo. Quando ela sai, ela leva seus gatos que
a conduzem em uma carruagem; ela é a mais facilmente invocada pelas orações
dos homens, e de seu nome vem o nome da honra, Frú, pelos quais são
chamados os nobres. Canções de amor são agradáveis a ela, é bom invocá-la em
casos de amor.”
Freyr, por Johan Thomas Lundbye (1845)[28]
Freyja em Sua Carruagem, por Carl Emil Doepler (1905)[29]
Capítulo 25 – Sobre Týr
Um dos Æsir é nomeado Hödr: ele é cego. Ele é suficientemente forte, mas os
deuses desejariam que em nenhuma ocasião invocassem esse deus, pois o
trabalho de suas mãos será ainda muito lembrado na memória entre os deuses e
os homens.
Capítulo 29 – Sobre Vídarr
Forseti é o nome do filho de Baldr e Nanna, filha de Nep: ele tem o salão nos
Céus que é chamado de Glitnir. Todos os que vêm a ele com tais brigas que
surgem de disputas judiciais, todos estes retornam dali reconciliados. Essa é a
melhor sede de julgamento entre deuses e homens, assim é dito aqui:
Um salão chamado Glitnir,
Sustenta-se com pilastras de ouro,
E com telhados de prata.
Lá mora Forseti,
Durante o todo o dia,
Coloca fim a todas as disputas
Também incluído entre os Æsir está ele quem alguns o chamam de semeador
das trapaças dos Æsir, e o primeiro pai das falsidades, e mácula de todos os
deuses e homens: ele é chamado Loki ou Loptr, filho do gigante Fárbauti, sua
mãe era Laufey ou Nál, seus irmãos são Býleistr e Helblindi. Loki é bonito e
formoso à vista, mal em espírito e muito inconstante no hábito. Ele ultrapassou
outros homens nessa sabedoria que é chamada de artimanha, e criou trapaças em
todas as ocasiões; ele sempre levou os Æsir para grandes dificuldades e, em
seguida, os livrava com astutos conselhos. Sua esposa era chamada Sigyn, seu
filho Nari ou Narfi.
Ainda mais filhos teve Loki. Angrboda era o nome de uma certa gigante em
Jötunheim com quem Loki teve três filhos: um era o Lobo Fenrir, o segundo
Jörmungandr, que é a Serpente de Midgard, a terceira é Hel. Mas quando os
deuses souberam que estes foram criados em Jötunheim, e quando os deuses
perceberam pelas profecias que destes irmãos grande infortúnio cairia sobre eles,
e uma vez que parecia a todos que havia grande possibilidade de males, primeiro
do sangue da mãe, e ainda pior do pai, então o Pai de Todos enviou deuses para
lá para pegar as crianças e levá-las a ele. Quando elas se aproximaram dele,
imediatamente ele lançou a serpente ao fundo do mar que circunda toda a Terra,
e esta serpente cresceu tanto que ela está no meio do oceano e ela rodeia toda a
Terra, e morde sua própria cauda.
Hel ele lançou em Niflheim, e deu a ela o poder sobre o nono mundo para
repartir todas as moradas entre aqueles que foram enviados a ela, ou seja, mortos
de doença ou de idade avançada. Ela tem grandes posses lá, suas paredes são
muito altas e seus portões enormes. Seu salão é chamado Eljudner; seu prato,
Fome, Faminto é sua faca; Ganglate, seu escravo; Ganglot, sua serva; Poço do
Tropeço, seu limite, pelo qual se entra, Doença, sua cama, Angústia, suas roupas
de cama. Ela é meio negra e meio cor de carne, pelo qual ela é facilmente
reconhecida, e muito abatida e feroz.
Filhos de Loki, por Carl Emil Doepler (1905)[37]
Há também aquelas outras cujo ofício é servir em Valhalla, para levar bebida
e se encarregar de servir as mesas com os garrafões de cerveja, assim elas são
nomeadas no Grímnismál:
Hrist e Mist
Desejo que meu chifre seja trazido a mim,
Skeggjöld e Skögull;
Hildr e Thrúdr,
Hlökk e Herfjötur,
Göll e Geirahöd,
Randgrídr e Rádgrídr
E Reginleif
Estas trazem cerveja aos Einherjar.
Estas são chamadas de Valquírias: elas Odin envia a cada batalha, elas
determinam quais homens devem morrer e quem deve vencer. Gudr e Róta e a
mais jovem Norna, ela que é chamada de Skuld, andam sempre a levar os mortos
e a decidirem lutas. Jörd, a mãe de Thor, e Rindr, a mãe de Váli, são
reconhecidas também como Ásynjur.
Valquíria, por Peter Nicolai Arbo (1869)[41]
Capítulo 37 – Freyr Conquista Gerdr, Filha de Gýmir
Um certo homem era chamado Gýmir, e sua esposa Aurboda: ela era da
família dos Gigantes das Montanhas; sua filha foi Gerdr, que era a mais bela de
todas as mulheres. Aconteceu um dia que Freyr tinha ido para Hlidskjálf, e olhou
sobre todo o mundo, mas quando ele olhou para a região norte, ele viu em uma
propriedade uma casa grande e bela. E a esta casa ia uma mulher; quando ela
levantou suas mãos e abriu a porta diante dela, uma luz brilhou de suas mãos,
sobre o céu e o mar, e todos os mundos foram iluminados por ela. Assim, o seu
orgulho arrogante, por ter tido a presunção de se sentar naquele santo assento,
foi vingado sobre ele, então ele foi embora cheio de tristeza. Quando ele chegou
em casa, ele não falou, ele não dormiu, ele não bebeu; ninguém se atreveu a falar
com ele.
Então Njördr convocou a ele Skírnir, servo de Freyr, e ordenou-lhe que fosse
até Freyr e implorasse que ele falasse e perguntasse por quem ele estava tão
amargo que ele não falava com os homens. Skírnir disse que iria, ainda que a
contragosto, e disse que respostas ruins eram de se esperar de Freyr.
Mas quando ele foi até Freyr, logo ele perguntou por que ele estava tão
abatido e não falava com os homens. Então Freyr respondeu, e disse que tinha
visto uma mulher formosa, e por causa dela ele estava tão cheio de pesar que não
viveria muito tempo se ele não a obtivesse. ‘E agora você irá e irá cortejá-la em
meu nome e irá trazê-la aqui, mesmo que seu pai deixe ou não. Eu vou
recompensar-te bem por isso.’
Então Skírnir respondeu assim: ele iria em sua missão, mas Freyr deveria lhe
dar a sua própria espada, que é tão boa que ela luta por si só, e Freyr não
recusou, e deu-lhe a espada. Então Skírnir saiu e cortejou a mulher por ele, e
recebeu sua promessa; e nove noites depois, ela deveria ir para o lugar chamado
Barrey, e depois comparecer ao noivado com Freyr. Mas quando Skírnir disse a
Freyr sua resposta, então ele cantou esta canção:
Longa é uma noite
Longa é a segunda;
Como posso esperar por três?
Muitas vezes um mês
Pareceu menos para mim
Do que esta noite de espera.
Esta foi a razão por Freyr estar desarmado quando ele lutou com Beli, e o
matou com o chifre de um cervo.”
Então disse Gangleri: “É muito de se admirar que um grande chefe como
Freyr é, ele daria sua espada, não tendo outra igualmente boa. Foi uma grande
privação para ele, quando ele lutou com este chamado Beli, acredito eu, ele deve
ter se lamentado de dar esse presente.”
Então respondeu Hárr: “Houve pouco problema nisso, quando ele e Beli se
encontraram; Freyr poderia tê-lo matado com suas mãos. Ainda se sucederá
quando Freyr vai pensar que uma situação pior veio a ele, quando ele sentir falta
de sua espada no dia em que os Filhos de Múspell vierem para guerrear.”
Então disse Gangleri: “Você diz que todos os homens que caíram em batalha
desde o começo do mundo estão agora com Odin, em Valhalla. O que ele tem
para dar-lhes de comida? Eu devo imaginar que uma grande multidão deve estar
lá.”
Então Hárr respondeu: “O que você diz é verdade: uma poderosa multidão
está lá, mas muitos mais estarão, não obstante ainda parecerá muito pequena no
momento em que o Lobo vier. Mas nunca é tão grande a multidão em Valhalla
que a carne do javali faltará, este que é chamado Sæhrímnir, ele é cozido todos
os dias e fica inteiro ao entardecer. Mas essa pergunta que você inquiriu agora:
Eu acho provável que poucos possam ser tão sábios de serem capaz de relatar a
verdade sobre isso. O nome de quem cozinha as carnes é Andhrímnir, e o
caldeirão se chama Eldhrímnir, logo é dito aqui:
Andhrímnir faz
Em Eldhrímnir
Sæhrímnir cozido,
A melhor das carnes.
Embora poucos saibam
Com que comida os Einherjar se alimentam.”
Então disse Gangleri: “Tem Odin a mesma comida que os Einherjar?”
Hárr respondeu: “Aquela comida que está em seu prato ele dá para dois lobos
que ele possui, chamados Geri e Freki, mas de nenhum alimento ele precisa, o
vinho é alimento e bebida para ele, logo é dito aqui:
Geri e Freki
Saciam os guerreiros,
O famoso Pai dos Exércitos;
Mas com vinho apenas
O Glorioso em armas
Odin vive para sempre.
Dois corvos sentam sobre seus ombros e dizem em seu ouvido todas as
novidades que eles vêem ou ouvem, eles são chamados assim: Huginn, ou
Pensamento, e Muninn, ou Memória. Ele os envia ao amanhecer para voar sobre
todo o mundo, e eles voltam no desjejum; assim ele fica familiarizado com
muitas novidades. Por isso os homens chamam-lhe de Deus Corvo, como é dito:
Huginn e Muninn
Voam todos os dias
Sobre a imensa Terra.
Eu temo por Huginn
Que ele possa não voltar,
No entanto eu temo mais por Muninn.”
Então disse Gangleri: “O que os Einherjar têm para beber, para ser suficiente
para eles que é abundante como a comida? Ou é água que é bebida lá?”
Então disse Hárr: “Agora você pergunta estranhamente, como se o Pai de
Todos fosse convidar reis ou Earls ou outros homens de poder e dar a eles água
para beber! Eu sei, por minha fé, que muitos homens que vem a Valhalla
pensariam que eles teriam comprado seu copo de água muito caro, se não
houvesse melhor alegria para se ter lá; eles que antes sofreram feridas e dores
ardentes até a morte. Posso te dizer um conto diferente deste. A cabra, ela que é
chamada de Heidrún, fica no alto de Valhalla e morde as folhas dos ramos
daquela árvore que é muito famosa, e é chamado Lærádr; e de suas tetas
hidromel corre tão copiosamente, que ela preenche um tonel a cada dia. Esse
tonel é tão grande que todos os Einherjar ficam bastante bêbados com ele.”
Então disse Gangleri: “Essa é uma cabra adequadamente maravilhosa para
eles; deve ser uma incrível árvore da qual ela come.”
Então falou Hárr: “Ainda mais digno de nota é o cervo Eikthyrni, este que
está em Valhalla e morde os ramos da árvore; e de seus chifres destila tal
transpiração abundante que desce até Hvergelmir, e dali caem os rios chamados
assim: Síd, Víd, Søkin, Eikin, Svöl, Gunnthrá, Fjörm, Fimbulthul, Gípul, Göpul,
Gömul, Geirvimul. Esses correm sobre as moradas dos Æsir, estes também são
registrados: Thyn, Vín, Thöll, Höll, Grád, Gunnthráin, Nyt, Nöt, Nönn, Hrönn,
Vína, Vegsvinn, Thjódnuma.”
Heidrun em Valhalla, por Ólafur Brynjúlfsson (1760)[44]
Capítulo 40 – Sobre o Tamanho de Valhalla
Então disse Gangleri: “Estas são histórias incríveis que você conta. Uma
maravilhosa grande casa Valhalla deve ser; deve estar frequentemente muito
lotado perante suas portas.”
Então respondeu Hárr: “Por que você não pergunta quantas portas existem em
Valhalla, e quão grande elas são? Se você descobrir isso, você vai confessar que
preferia ser maravilhoso se todo mundo não pudesse facilmente entrar e sair.
Também é dito que não é mais difícil encontrar espaço dentro do que entrar.
Disso você pode ler no Grímnismál:
Quinhentas portas
E quarenta mais
Eu julgo existir em Valhalla.
Oitocentos Einherjar
Saem de cada porta
Quando eles forem lutar com o lobo.”
Então disse Gangleri: “O que há para ser dito de Skídbladnir, que é o melhor
dos navios? Não há outro navio tão igualmente grandioso?”
Hárr respondeu: “Skídbladnir é o melhor dos navios e feito com a maior das
habilidades, mas Naglfar é o maior navio; Múspell o possui. Alguns anões,
filhos de Ívaldi, criaram Skídbladnir e deram o navio para Freyr. Ele é tão
grande que todos os Æsir podem embarcá-lo, com suas armas e equipamentos, e
ele tem um vento favorável assim que a vela é içada, para onde quer que ele
esteja indo, mas quando não há nenhum motivo para ir com ele ao mar, ele é
feito de tantas coisas e com tanta perícia que então ele pode ser dobrado como
um guardanapo e mantido em um bolso.”
Capítulo 44 – Thor Começa Sua Jornada a Útgarda-Loki
Então falou Gangleri: “Um bom navio é Skídbladnir, mas uma magia muita
poderosa deve ter sido usada nele antes que ele pudesse ser criado. Thor nunca
experimentou tal coisa, em que ele encontrou em seu caminho algo tão poderoso
ou tão forte que o superava na força da magia?”
Então disse Hárr: “Poucos homens, creio eu, são capazes de dizer isto; ainda
assim muitas tarefas já lhe foram difíceis de superar. Embora possa ter havido
algo tão poderoso ou forte que Thor pode não ter conseguido alcançar a vitória,
porém não é necessário falar sobre isso, porque há muitos exemplos para provar,
e todos são obrigados a acreditar, que Thor é o mais forte.”
Então disse Gangleri: “Parece-me que eu devo ter perguntado sobre algo em
que não há alguém capaz de contar.”
Então falou Jafnhárr: “Ouvimos dizer sobre algumas questões que nos
parecem incríveis, mas aqui se senta um ao alcance da mão, que saberá dizer
verdadeiras histórias sobre isto. Portanto, você deve acreditar que ele não vai
mentir pela primeira vez agora, aquele que nunca mentiu antes.”
Gangleri disse: “Aqui eu vou ficar e ouvir, para ver se alguma resposta há
sobre esta questão, mas caso contrário, eu os declararei derrotados, se vocês não
puderem dizer sobre o que eu perguntei.”
Então falou Thridi: “Agora, é evidente que ele está decidido a conhecer deste
assunto, embora não nos pareça uma coisa agradável de contar.
Este é o início deste conto: Öku-Thor ia adiante com seus bodes e carruagem,
e com ele aquele Áss chamado Loki, eles chegaram à noite a casa de um
lavrador, e lá receberam uma noite de hospedagem. À noite, Thor levou seus
bodes e abateu ambos. Após isso eles foram esfolados e levados ao caldeirão.
Quando a comida estava pronta, então Thor e seu companheiro sentaram-se para
jantar. Thor convidou a comer a carne com ele, o lavrador e sua esposa e seus
filhos: o filho do lavrador era chamado Thjálfi e a filha Röskva. Então Thor
colocou as peles dos bodes afastadas do fogo, e disse que o lavrador e os seus
servos deveriam lançar os ossos sobre as peles dos bodes. Thjálfi, o filho do
lavrador, estava segurando uma coxa do bode, e dividiu o osso com sua faca e o
quebrou para chegar à medula. Thor permaneceu lá durante a noite, e no
intervalo antes do dia ele se levantou e se vestiu, pegou o martelo Mjölnir,
balançou-o, e benzeu as peles dos bodes, logo eles levantaram-se e então um
deles estava coxo de uma perna. Thor descobriu isso e supôs que o lavrador ou a
sua família não tiveram cuidados suficientes com os ossos dos bodes: saiba que
o fêmur estava quebrado. Não há necessidade de fazer uma longa história disso,
todos podem saber quão assustado o agricultor deve ter ficado quando ele viu
como Thor deixou as sobrancelhas afundar diante de seus olhos, mas quando ele
olhou para os olhos de Thor, então lhe pareceu que ele devia cair perante estes
olhares. Thor apertou as mãos sobre o cabo do martelo de modo que as juntas
ficassem pálidas, e o lavrador e toda a sua família fizeram o que era de se
esperar: eles clamaram vigorosamente, rezaram por paz, ofereceram em
recompensa tudo o que tinham. Mas quando ele viu seu terror, então sua fúria
passou, e ele se acalmou, e levou deles em reparação seus filhos, Thjálfi e
Röskva, que depois se tornaram seus servos, e eles o seguem desde então.
Thor Descobre que um de seus Bodes Está Coxo, por Lorenz Frølich (1895)
[48]
Capítulo 45 – Sobre o Encontro de Thor e Skrýmir
Então ele deixou seus bodes para trás, e começou sua jornada para o leste em
direção a Jötunheim e para o mar, e, em seguida, ele entrou no oceano, para seu
fundoe, mas quando ele chegou em terra, ele emergiu, e Loki e Thjálfi e Röskva
estavam com ele. Então, quando eles tinham andado um pouco, diante deles
havia uma grande floresta, eles andaram todo o dia até a noite. Thjálfi era o mais
rápido de pés de todos os homens, ele levava a bolsa de Thor, mas não havia
nada de bom para comer.
Assim que se tornou escuro, eles procuraram abrigo para a noite, e
encontraram diante de si um salão muito grandioso: havia uma porta no final, da
mesma largura que o próprio salão, onde então eles encontraram quartos para a
noite. Mas à cerca de meia-noite ouviu-se um grande terremoto: a terra balançou
sob eles extremamente e a casa toda tremeu. Então Thor se levantou e chamou
seus companheiros, e eles exploraram mais longe, e encontraram no meio do
salão uma câmara lateral no lado direito, e eles entraram lá. Thor sentou-se na
soleira da porta, mas os outros foram mais para o interior, e eles estavam com
medo, mas Thor agarrou o cabo de seu martelo e estava pronto para se defender.
Em seguida, eles ouviram uma grande zumbido e um baque.
Mas quando se aproximava do amanhecer, então Thor saiu e viu um homem
deitado perto dele na floresta, aquele homem não era pequeno, ele dormia e
roncava poderosamente. Então Thor achou que ele entendeu que tipo de barulho
era o que tinham ouvido durante a noite. Ele apertou o cinturão de força, e seu
poder divino aumentou, e no instante em que o homem acordou e levantou-se
rapidamente, então é dito que pela primeira vez Thor se assustou de golpear
alguém com o martelo. Ele perguntou o nome dele, e o homem se chamava
Skrýmir, ‘mas eu não tenho nenhuma necessidade’, disse ele, ‘de perguntar-lhe o
seu nome, eu sei que você é Áss-Thor. Mas o que você fez com a minha luva?’
Então Skrymir estendeu sua mão e pegou a luva, e imediatamente Thor viu
que era o que ele tinha pensado ser um salão durante a noite, e que a câmara
lateral era o polegar da luva.
Skrýmir perguntou se Thor aceitava sua companhia e Thor disse que
concordava. Então Skrýmir pegou e desamarrou sua bolsa de provisões e se
preparou para comer sua refeição da manhã, e Thor e seus companheiros fizeram
o mesmo em outro lugar. Skrýmir em seguida, propôs-lhes para juntar suas
provisões e Thor concordou. Então Skrýmir colocou toda a comida em um saco
e o pôs em suas costas; ele andou na frente de todos durante o dia, e dava passos
muitos largos, mas no final da noite Skrýmir encontrou para eles aposentos sob
um grande carvalho.
Então Skrýmir disse a Thor que ele iria se deitar para dormir, ‘e você pegue o
saco de provisões e prepare o seu jantar.’
Logo após, Skrýmir dormia e roncava forte, e Thor pegou a bolsa de
provisões e se preparou para desamarrá-la, mas essas coisas devem ser contadas
já que vão parecer inacreditáveis: ele não soltou nenhum nó e nenhuma tira se
afrouxou, de modo a ficar menos apertado do que antes. Quando ele viu que este
trabalho não ia dar em nada, então ele ficou irritado, segurou o martelo Mjölnir
com ambas as mãos, e caminhou a passos largos para o lugar onde Skrýmir
dormia, e bateu-lhe na cabeça. Skrýmir acordou, e perguntou se uma folha tinha
caído em sua cabeça, e se haviam comido e estavam prontos para dormir.
Thor respondeu que eles estavam prestes a ir dormir, então eles foram para
baixo de outro carvalho. Deve ser dito para você que não havia então ninguém
dormindo sem medo.
No meio da noite, Thor ouviu como Skrýmir roncava e caía no sono
rapidamente, de modo que trovejava na floresta, então ele se levantou e foi até
ele, então sacudiu a martelo ansiosa e duramente, e desferiu um golpe no centro
de sua coroa: ele viu que a face do martelo afundou em sua cabeça.
E naquele momento Skrýmir acordou e disse: ‘O que é agora? Será que
alguma noz caiu em minha cabeça? Ou o que está fazendo Thor?’
Mas Thor voltou rapidamente e respondeu que estava recém-despertado, disse
que era ainda o meio da noite e que havia ainda tempo para dormir. Thor
meditou que se ele pudesse desferi-lo um terceiro golpe nunca mais veria o
gigante; ele se deitou e observou se Skrýmir já estava dormindo profundamente.
Um pouco antes de o dia amanhecer, quando ele percebeu que Skrýmir tinha
adormecido, ele se levantou de uma vez e correu até ele, brandindo seu martelo
com toda a sua força, e bateu em uma de suas têmporas que estava para cima.
Mas Skrýmir sentou-se e acariciou sua bochecha, e disse: ‘Algumas aves
devem estar empoleiradas na árvore em cima de mim; eu imaginei, quando
acordei, que alguma sujeira dos galhos caiu sobre minha cabeça. Você está
acordado, Thor? Já vai ser a hora de levantar e vestir-nos, mas agora você não
tem mais uma longa jornada para o castelo chamado Útgardr. Eu ouvi como
você sussurrou entre vocês que não sou nenhum pequeno homem em estatura,
mas você verá homens ainda mais altos se você entrar em Útgardr. Agora vou
dar-lhes um bom conselho: não se comportem com arrogância, pois os capangas
de Útgarda-Loki não vão suportar tais comportamentos de pessoas tão pequenas.
Mas se não for para ser assim, então volte para onde veio, e eu acho que seria
melhor para você fazer isso, mas se você for em frente, então vá para o leste.
Quanto a mim, tenho o meu caminho para o norte para estas colinas, como pode
ver.’
Skrýmir pegou a bolsa de provisões e a jogou em suas costas e se separou
deles do outro lado da floresta, e não está escrito que os Æsir deram-lhe votos de
boa viagem.
Thor voltou-se para seu caminho, junto com seus companheiros, e continuou
em frente até o meio-dia. Então eles viram um castelo em uma determinada
planície, e dobraram seus pescoços até suas costas antes que eles pudessem ver
seu topo. Eles foram até o castelo, onde havia uma grade na frente do portão e
ele estava fechado. Thor foi até a grade e não conseguiu abri-la, mas quando eles
se esforçaram para abrir caminho, eles se espremeram por entre as barras e
entraram dessa forma. Eles viram um grande salão e entraram nele, a porta
estava aberta; então eles viram ali muitos homens e a maioria deles era grande o
suficiente para ocupar dois bancos de uma vez.
Logo após, eles chegaram diante do rei Útgarda-Loki e o saudaram, mas ele
olhou para eles em seu próprio tempo e sorriu com desdém com seus dentes, e
disse: ‘É tarde para perguntar novas de uma longa jornada, mas se não me
engano este moleque é Öku-Thor? No entanto, você pode ser mais poderoso do
que parece para mim. Que tipo de realizações são essas que você e seus
companheiros pensam estarem prontos para competir? Ninguém pode ficar aqui
conosco que não saiba algum tipo de habilidade ou astúcia que supera a maioria
dos homens.’
Em seguida, falou aquele que chegou por último, que se chamava Loki: ‘Eu
sei de um truque que eu estou pronto para experimentar: que não há ninguém
aqui dentro que conseguirá comer sua comida mais rapidamente do que eu.’
Então Útgarda-Loki respondeu: ‘Isso é uma façanha, se você realizá-la, e este
feito deve, portanto, ser posto à prova.’ Ele chamou na extremidade mais
afastada do banco, que aquele que se chamava Logi devia vir adiante e tentar sua
proeza contra Loki.
Em seguida, uma calha foi trazida e colocada em cima do piso do salão e
enchida com carne, Loki sentou-se em uma extremidade e Logi na outra, e cada
um comeu tão rápido quanto podia e eles se encontraram no meio da calha.
Nessa altura Loki tinha comido toda a carne dos ossos, mas Logi também tinha
comido toda a carne e os ossos com ele, e a calha também, e agora parecia a
todos que Loki tinha perdido o jogo.
Então Útgarda-Loki perguntou o que o jovem podia jogar, e Thjálfi respondeu
que se comprometia a competir uma corrida com quem Útgarda-Loki escolhesse.
Então Útgarda-Loki disse que essa era uma boa realização, e que havia uma
grande chance de ele ser bem dotado em corrida se fosse para realizar essa
façanha, mas ele seria rápido em fazer com que a questão fosse testada. Então
Útgarda-Loki levantou-se e saiu, e havia um bom percurso para correr sobre uma
região plana. Então Útgarda-Loki chamou um certo rapaz, que se chamava Hugi,
e ordenou-lhe competir uma corrida contra Thjálfi. Em seguida, eles realizaram a
primeira corrida e Hugi estava tão à frente que se voltou para encontrar Thjálfi
no final do curso.
Então disse Útgarda-Loki: ‘Você precisa se esforçar mais, Thjálfi, se você
quiser ganhar o jogo, mas não é menos verdade que nunca nenhum homem que
já veio aqui me pareceu tão rápido com os pés quanto você.’
Então eles começaram outra corrida, e quando Hugi tinha chegado ao fim do
curso e estava voltando, ainda havia um longo percurso para Thjálfi.
Então falou Útgarda-Loki: ‘Thjálfi parece-me correr bem este percurso, mas
eu não acredito que ele agora vai ganhar a competição. Mas isto será provado
agora, quando eles correrem a terceira corrida.’
Então eles começaram a corrida, mas quando Hugi tinha chegado ao final do
percurso e voltou, Thjálfi ainda não havia atingido a metade do caminho. Então
todos disseram que esse jogo tinha sido provado.
Em seguida, Útgarda-Loki perguntou a Thor quais feitos havia que ele podia
desejar mostrar a eles: tão grandes histórias os homens contaram dos seus
milagres. Então Thor respondeu que ele voluntariamente se comprometia a
enfrentar qualquer um em beber. Útgarda-Loki disse que isso poderia muito bem
ser, ele entrou na sala e chamou o seu copeiro e ordenou-lhe que trouxesse o
chifre que seus companheiros estavam acostumados a beber. Imediatamente o
copeiro veio com o chifre e colocou-o na mão de Thor.
Então disse Útgarda-Loki: ‘Afirma-se que este chifre é bem drenado se for
bebido em um gole, mas alguns bebem em dois, mas ninguém é tão fraco em
beber que não o esvazie em três.’
Thor olhou para o chifre e não parecia grande para ele, mas parecia um pouco
longo. Ainda assim, ele estava com muita sede, ele tomou e bebeu e engoliu
enormemente, e pensou que ele não precisaria se submeter novamente ao chifre.
Mas quando seu fôlego falhou, e ele levantou a cabeça e olhou para ver como ele
tinha se saído com a bebida, porém parecia-lhe difícil determinar se havia menos
bebida nele do que antes.
Então disse Útgarda-Loki: ‘O chifre está bem bebido, mas não muito, eu não
acreditaria se tivessem me dito que Áss-Thor não podia beber um maior gole.
Mas eu sei que você vai querer beber o resto em outro gole.’
Thor nada respondeu, ele colocou o chifre em sua boca, pensando que ele
devia beber um maior gole, e lutou com o gole até a sua respiração ceder, e ele
ainda viu que a ponta do chifre não subiu tanto quanto ele gostaria. Quando ele
tomou o chifre de sua boca e olhou para ele, parecia-lhe como se tivesse
diminuído menos do que a vez anterior, mas agora havia uma redução
claramente aparente no interior do chifre.
Então disse Útgarda-Loki: ‘E agora, Thor? Você não está deixando mais para
o terceiro gole do que convém a sua habilidade? Parece-me que se você esvaziar
o chifre com o terceiro gole, então este deverá ser o maior. Mas você não será
considerado um homem tão grande aqui entre nós como os Æsir o chamam, se
você não se distinguir mais em outros feitos do que você conseguiu fazer nesse
até agora.’
Então Thor ficou com raiva, colocou o chifre em sua boca e bebeu com toda
sua força, e lutou com a bebida o tanto quanto pôde, e quando ele olhou para o
chifre, pelo menos algum espaço tinha sido feito. Então ele desistiu do chifre e
não beberia mais.
Então disse Útgarda-Loki: ‘Agora é evidente que o seu talento não é tão
grande como pensávamos que fosse, mas você vai tentar sua chance em mais
jogos? Está claro que você nada ganhou com o primeiro.’
Thor respondeu: ‘Eu vou tentar ainda outros jogos, mas teria sido
maravilhoso para mim, quando eu estava em casa com os Æsir, se essas bebidas
fossem chamadas de pequenas. Mas que jogo vai agora você me oferecer?’
Então disse Útgarda-Loki: ‘Jovens rapazes aqui estão acostumados a fazer
isso, o que não passa de uma brincadeira: levantar o meu gato acima da terra,
mas eu não deveria ser capaz de falar de tal coisa a Áss-Thor se eu não tivesse
visto que você é muito menos de um homem do que eu pensava.’
Nisso saltou para frente no chão do salão um gato cinza, e era um gato muito
grande. E Thor foi até ele e o pegou com a mão no meio de sua barriga e ergueu
seus braços. Mas o gato dobrou em um arco assim que Thor estendeu as mãos e,
quando Thor levantou tão alto quanto pôde , então o gato levantou uma pata e
Thor não levou o jogo mais adiante que isso.
Então disse Útgarda-Loki: ‘Este jogo foi como eu havia previsto, o gato é
muito grande, enquanto Thor é baixo e pequeno comparado aos grandes homens
que estão aqui conosco.’
Então disse Thor: ‘Pequeno como você me chama, deixe qualquer um vir
agora e lute comigo, pois agora eu estou com raiva.’
Então Útgarda-Loki respondeu, olhando sobre os bancos, e falou: ‘Eu não
vejo nenhum homem aqui dentro que não cairia em desgraça se lutasse contigo.’
Mas ainda assim ele disse: ‘Vamos ver primeiro, deixe a minha velha ama
ser chamada aqui, Elli, e deixe Thor lutar com ela se ele quiser. Ela já jogou ao
chão tais homens que parecem-me não menos fortes do que Thor.’
Imediatamente, veio para o salão uma mulher velha, avançada em idade.
Então Útgarda-Loki disse que ela devia enfrentar Áss-Thor. Não há necessidade
de se prolongar essa história: essa luta foi de tal modo que quanto mais forte
Thor se esforçava em agarrá-la, mais rápido ela se soltava e, depois, a velha
senhora tentou um golpe e Thor perdeu o equilíbrio em seus pés, e sua luta era
muito difícil. No entanto, não demorou muito para que Thor caísse de joelhos.
Então Útgarda-Loki foi para cima deles e ordenou-lhes que cessassem a luta,
dizendo que Thor não precisaria desafiar mais seus homens em combate. Já
havia chegado a noite; Útgarda-Loki levou Thor e seus companheiros a um
assento e ficaram ali a noite inteira usufruindo da melhor das hospitalidades.
Então falou Gangleri: “Já aconteceram outras coisas notáveis entre os Æsir?
Um grande ato de coragem Thor alcançou nessa viagem.”
Hárr respondeu: “Agora será contada uma das histórias que parecem de maior
importância para os Æsir. O início da história é esta, que Baldr, o Bom sonhou
grandes e perigosos sonhos sobre sua vida. Quando ele contou esses sonhos aos
Æsir, então eles se reuniram em conselho, e esta foi a sua decisão: pedir
segurança para Baldr de todos os tipos de perigos. E Frigg fez juramentos com
este teor, que o fogo e a água deviam poupar Baldr, também o ferro e o metal de
todos os tipos, pedras, terra, árvores, doenças, animais, pássaros, venenos,
serpentes.
E quando isso foi feito e divulgado, então era um passatempo de Baldr e dos
Æsir, em que ele devia ficar em pé no meio das reuniões, e todos os outros
deviam atirar nele, alguns tentar cortá-lo, alguns atacá-lo com pedras; mas tudo o
que era feito não o machucava, e isso parecia a todos eles uma coisa de muita
glória.
Mas quando Loki viu isso, lhe agradou que Baldr não levava nenhum dano.
Ele foi para Fensalir até Frigg, e se disfarçou à semelhança de uma mulher.
Então Frigg perguntou se aquela mulher sabia o que os Æsir faziam nas
reuniões. Ela disse que todos atiravam coisas em Baldr, e, além disso, que ele
não recebia nenhuma ferida.
Então Frigg disse: ‘Nem armas nem as árvores podem ferir Baldr: Eu tomei
juramentos de todos eles.’
Em seguida, a mulher perguntou: ‘De todas as coisas foram tomados
juramentos para poupar Baldr?’
E Frigg respondeu: ‘Cresce um broto de árvore sozinho a oeste de Valhalla:
chama-se Visco, eu pensei que ele é muito jovem para pedir seu juramento.’
Então, logo que a mulher se virou, Loki pegou um visco e puxou-o e foi para
a reunião. Hödr estava do lado de fora do círculo dos homens, porque ele era
cego.
Então Loki falou a ele: ‘Por que você não atira em Baldr?’
Ele respondeu: ‘Porque eu não vejo onde Baldr está, e porque também eu
estou desarmado.’
Então disse Loki: ‘Faça você também, segundo o costume de outros homens,
e mostre honra a Baldr como os outros. Vou te indicar onde ele está; atire nele
com essa vara.’
Hödr pegou o visco e atirou em Baldr, sendo guiado por Loki: a vara voou
através de Baldr, e ele caiu morto na terra, e essa foi a maior desgraça que já
acontecera entre deuses e homens.
Então, quando Baldr estava caído, as palavras falharam em todos os Æsir e
suas mãos também para levantá-lo. Cada um olhou para o outro, e todos eram
unânimes quanto a quem havia feito aquilo, mas nenhum deles podia se vingar,
pois era muito sagrado aquele santuário. Mas quando os Æsir tentaram falar,
então aconteceu primeiro que o choro irrompeu de modo que ninguém conseguia
falar com os outros com palavras a respeito de sua dor. E Odin tomou o
infortúnio de forma muito pior, pois tinha a maior percepção de quão grandes
danos e perdas para os Æsir era a morte de Baldr.
Então disse Gangleri: “O que acontecerá depois, quando todo o mundo estiver
queimado e mortos estarão todos os deuses e todos os Einherjar e toda a
humanidade? Você não disse antes, que todos os homens devem viver em algum
mundo em todas as eras?”
Então Thridi respondeu: “Nesse tempo as boas moradas serão muitas, e
muitas as ruins, então será melhor estar em Gimlé nos Céus. Além disso, há
grande abundância de boa bebida para aqueles que estimam por este prazer no
salão que é chamado Brimir, ele está em Ókólnir. Esse também é um bom salão
que fica nas Montanhas de Nida, feito de ouro vermelho, o seu nome é Sindri.
Nestes salões habitarão os homens bons e puros de coração. Em Nástrand está
um grande salão do mal e as suas portas se voltam ao norte: tudo é entrelaçado
de serpentes como uma casa de vimes e todas as cabeças das cobras estão
viradas para o interior da casa e cospem veneno, de modo que ao longo do salão
corre rios de veneno, e os que quebraram juramentos e os assassinos percorrem
esses rios, como é dito aqui:
Eu conheço um salão de pé
Longe do sol,
Em Nástrand, as portas
Ao norte estão voltadas;
Gotas de veneno
Caem dos furos do teto;
O salão é bordado
De infinitas serpentes.
Lá devem percorrer
Pelos rios encharcados
Homens da mentira
E aqueles que assassinam.
Mas é pior em Hvergelmir:
Lá a serpente Nídhöggr
Dilacera os corpos dos mortos.”
Nástrand, por Lorenz Frølich (1895)[58]
Capítulo 53 – Quem Sobrevive ao Ragnarök
Então falou Gangleri: “Algum dos deuses viverá ou haverá então qualquer
terra ou Céus?”
Hárr respondeu: “Nessa época a terra emergirá do mar, verde e bela, então
seus frutos surgirão da terra não semeada. Vídarr e Váli estarão vivos, uma vez
que nem o mar nem o fogo de Surtr os terá ferido; e eles habitarão nas Planícies
de Ida, onde Ásgard estava antes. E então os filhos de Thor, Módi e Magni, irão
para lá e eles terão o Mjölnir com eles. Depois Baldr irá para lá, e Hödr, vindos
de Hel, então todos sentar-se-ão juntos e conversarão uns com os outros, e se
lembrarão de sua sabedoria secreta, e falarão desses acontecimentos que
ocorreram antes: da Serpente Midgard e do Lobo Fenrir. Em seguida, eles
encontrarão na grama as peças de xadrez de ouro que os Æsir possuíam, assim é
dito:
Vídarr e Váli
Morarão no santuário dos deuses,
Quando o fogo de Surtr tiver enfraquecido;
Módi e Magni
Possuirão o Mjölnir
Ao fim da luta de Thor.
Logo após, Gangleri ouviu grandes barulhos em cada lado dele, e então,
quando ele olhou em volta, eis que ele estava do lado de fora em uma planície e
não viu nenhum salão lá e nenhum castelo. Em seguida, ele seguiu o seu
caminho adiante e voltou para casa para o seu reino, e contou aquelas histórias
que ele havia visto e ouvido, e depois dele cada homem contou estas lendas para
o outro.
Então os Æsir sentaram-se para conversar e se reuniram e lembraram de todas
essas histórias que tinham sido ditas a Gylfi. E deram estes mesmos nomes que
foram nomeados antes para aqueles homens e lugares que estavam lá, com o
objetivo de que, quando longas eras tivessem passado, os homens não deveriam
duvidar disso, que os Æsir que foram mencionados agora, e estes para os quais
os mesmos nomes foram então dados, todos fossem um só. Thor era assim
chamado e ele é o antigo Áss-Thor. Ele é Öku-Thor, e a ele estão atribuídas as
poderosas obras que Heitor fez em Tróia. Mas esta é a crença dos homens, que
os turcos contaram de Ulisses, e chamaram-no de Loki, pois para os turcos ele
era o seu maior inimigo.
Bragi e Idunn, por Frederik Barfod (1839)[61]
Skáldskaparmál: A Poesia dos Escaldos
Ele começou a história no ponto em que três dos Æsir, Odin e Loki e Hœnir,
partiram de casa e estavam vagando sobre montanhas e florestas, e a comida era
difícil de se encontrar. Mas quando eles desceram em um determinado vale,
viram uma manada de bois, pegaram um deles, e o cozinharam. Agora, quando
eles pensaram que ele devia estar cozido, eles apagaram o fogo, e ele não estava
pronto. Depois de um tempo, após eles terem feito uma fogueira pela segunda
vez, e não tendo cozinhado, eles se consultaram, perguntando um ao outro o que
isso podia significar.
Em seguida, eles ouviram uma voz vinda do carvalho acima deles, declarando
que aquele que estava sentado lá confessava que havia causado a falta de virtude
no fogo. Eles olharam para cima e lá estava uma águia, e ela não era pequena.
Então, a águia disse: “Se vocês estiverem dispostos a me dar a minha parte do
boi, então ele cozinhará no fogo.”
Eles concordaram com isso. Em seguida, ele se deixou planar de cima da
árvore e pousou perto do fogo, e logo de primeira tomou para si as duas pernas
do boi e ambos os ombros.
Então Loki ficou irritado, pegou uma grande vara, brandiu-a com toda a
força, e bateu-a no corpo da águia. A águia balançou violentamente com o golpe
e voou, de modo que a vara ficou presa em suas costas, e as mãos de Loki no
outro lado da vara. A águia voou uma altura tal que os pés de Loki batiam
contra pedras e montes de rochas e árvores, e ele pensou que seus braços seriam
arrancados de seus ombros. Ele clamou em alta voz, pedindo a águia com
urgência por paz, mas a águia declarou que Loki nunca devia ser solto, a menos
que ele lhe desse seu juramento de induzir Idunn para sair de Asgard com suas
maçãs. Loki concordou, e sendo logo solto, foi para junto de seus companheiros,
e nada mais é relatado desta jornada, exceto que eles voltaram para casa.
Mas na hora marcada Loki atraiu Idunn fora de Asgard em uma determinada
floresta, dizendo que ele tinha encontrado tais maçãs que pareceriam a ela de
grande virtude, e pediu para que ela trouxesse suas maçãs com ela para compará-
las com essas. Então Thjazi o gigante veio disfarçado em sua plumagem de águia
e pegou Idunn e voou para longe com ela, para Thrymheimr em sua morada.
Odin, Loki e Hœnir Encontram Thjazi, por Ólafur Brynjúlfsson (1760)[63]
Capítulo 3 – Loki Resgata Idunn e a Morte de Thjazi
Entretanto os Æsir se tornaram angustiados com o desaparecimento de Idunn,
e rapidamente tornaram-se grisalhos e velhos. Em seguida, os Æsir se
consultaram, e cada um perguntou ao outro o que por último se tinha
conhecimento de Idunn, e a última vez que ela tinha sido vista foi quando ela
tinha saído de Asgard com Loki. Então Loki foi pego e levado para a reunião, e
foi ameaçado de morte, ou torturas, e quando ele estava bem assustado, ele
declarou que iria buscar Idunn em Jötunheim, se Freyja emprestasse-lhe a
plumagem de falcão que ela possuía.
E quando ele pegou a plumagem de falcão, ele voou para o norte para
Jötunheim, e chegou em um determinado dia na casa de Thjazi o gigante. Thjazi
havia remado para o mar, mas Idunn estava em casa sozinha: Loki transformou-a
na forma de uma noz e agarrou-a em suas garras e voou com todas as suas
forças.
Agora, quando Thjazi chegou em casa e sentiu falta de Idunn, ele pegou sua
plumagem de águia e voou atrás de Loki, criando uma poderosa onda de som
com suas asas. Mas quando os Æsir viram como o falcão voava com a noz, e
onde a águia estava voando, eles foram para as muralhas de Asgard e levaram
pilhas de lascas de madeira para lá. Assim que o falcão voou para a cidadela, ele
desceu perto das muralhas do castelo, então os Æsir acenderem o fogo nas lascas
de madeira. Mas a águia não conseguiu parar quando errou o falcão: as penas da
águia pegaram fogo, e logo seu voo cessou. Em seguida, os Æsir que estavam
perto mataram Thjazi o gigante dentro dos Portões de Asgard, e essa morte é
incrivelmente famosa.
Agora Skadi, a filha do gigante Thjazi, pegou seu elmo e sua armadura e
todas as armas de guerra e foi à Asgard, para vingar seu pai. Os Æsir, no entanto,
ofereceram-lhe reconciliação e reparação: primeiro ela devia escolher para si um
marido dentre os Æsir e escolhê-lo apenas pelos pés, não vendo nada mais dele.
Então ela viu os pés de um homem, absolutamente belos, e disse: “Eu escolho
este: em Baldr pouco é repugnante.”
Mas esse era Njördr de Nóatún.
Em segundo lugar, foi estipulado que os Æsir deviam fazer uma coisa que ela
pensou que não seriam capazes de realizar: fazê-la rir. Então Loki fez isso: ele
amarrou uma corda na barba de uma cabra, com a outra extremidade sendo ao
redor de seus próprios genitais, e um puxava de um lado e o outro puxava de
outro lado, e cada um dos dois gritava em voz alta e, depois, Loki deixou-se cair
sobre os joelhos de Skadi, e ela riu. Então a reconciliação foi feita com ela por
parte dos Aesir.
Rei Hrólfr Espalha Ouro para Escapar dos Suecos, por Jenny Nyström (1895)
[104]
Capítulo 55 – Sobre o Rei Hölgi
É dito que o rei chamado Hölgi, de quem Hálogaland foi chamada, foi o pai
de Thorgerdr Hölgabrúdr. Sacrifícios eram feitos para os dois, e um marco de
pedras foi levantado para Hölgi: uma camada de ouro ou prata; que era o
dinheiro do sacrifício; e outra camada de terra e pedras. Assim cantou Skúli
Thorsteinsson:
Quando eu avermelhei a espada de Reifnir,
Pelo amor à riqueza,
Em Svöldr, acumulei em anéis de ouro
Como o marco bélico de Hölgi.
Capítulo 56 – Ainda Sobre as Metáforas do Ouro
No antigo Bjarkamál muitos termos para o ouro são ditos. É dito lá:
O mais magnânimo rei,
Seus homens enriqueceu,
Com o Trabalho de Fenja,
Com a Midgard de Fáfnir,
As Folhas de Glasir,
O Fardo de Grani,
A preciosa Gota de Draupnir,
Travesseiro de Grafvitnir.
O generoso senhor deu,
Os heróis aceitaram,
As Tranças de Sif,
Gelo da Força do Arco,
Relutante Resgate da Lontra,
Lágrimas de Mardöll,
Fogo de Órun,
Belos Discursos de Idi.
O guerreiro se alegrou,
Nós andamos com belas vestes,
Com os Conselhos de Thjazi,
O numeroso exército,
O Metal Vermelho do Reno,
Herança dos Niflungs,
O líder que se atreve à guerra,
O silencioso Baldr o defende.
O ouro é metaforicamente denominado Fogo da Mão, ou do Membro ou da
Perna, porque é vermelho; mas a prata é chamada de Neve ou Gelo, ou Geada,
porque é branca. Da mesma forma, o ouro ou a prata podem ser nomeados em
metáforas da bolsa, ou cadinho, ou espuma, e ambos podem ser chamados de
Pedra de Mão, ou Colar, de qualquer pessoa que estava acostumada a usar um
colar. E colares e anéis significam prata e ouro, se nenhum outro detalhe é dado.
Como Thorleikr o Belo cantou:
O justo príncipe lança a carga
Do cadinho nos assentos dos falcões
Dos guerreiros, os pulsos enfeitados,
Dá brasas aos seus braços.
E como Einarr Skálaglamm cantou:
O valoroso Rei de Lurid
Dá as Marcas do Fogo dos Membros,
Acredito que os guerreiros do príncipe
Não carecem de Pedras do Reno.
Assim cantou Einarr Skúlason:
A Bolsa de Neve e o Mar de Fogo
Estão nos dois lados da cabeça do machado,
Devo louvar aqueles
Que batalham contra os destruidores.
E ele cantou ainda mais:
A Chama do Mar descansa a cada dia
Sobre o monte de neve;
Aquele que ornamenta o navio,
Governa com um generoso coração;
Nunca se conseguirá fundir a prateada
Jarra de Neve no Fogo
Do Caminho da Enguia; O lenhador
De exércitos alcança todas as gloriosas façanhas.
Aqui ouro é chamado de Fogo do Caminho da Enguia; e prata, Jarro de Neve.
Assim cantou o escaldo Thórdr Mæri:
O feliz doador da Pedra de Mão,
Daquele que reduz seu ouro, percebe
Que Hermódr do lar da serpente,
Teve um nobre pai.
Capítulo 57 – As Metáforas do Homem com o Ouro
O homem é chamado Quebra-Ouro, assim como Óttarr o Moreno cantou:
Preciso do favor da nobreza
Que segue o Quebra-Ouro das batalhas;
Aqui está uma boa tropa
Com um sábio rei.
Ou Envia-Ouro, como Einarr Skálaglamm cantou:
O Envia-Ouro permite ao rei;
O príncipe seus homens alegra em canções,
Seus tesouros eu recebo;
Aprecie o hidromel de Ygg.
Lança-Ouro, como Thorleikr cantou:
O Lança-Ouro se faz leal a ele,
Sua guarda com armadura real.
Adversário do Ouro, como cantou Thorvaldr Blönduskáld:
O Inimigo do Ouro lança brasas
Dos braços, o rei dá a riqueza vermelha;
O destruidor do povo vil
Distribui o Fardo de Grani.
Príncipe de Ouro, como está escrito aqui:
Um Príncipe de Ouro em amizade
Eu possuo, e do guerreiro,
Filho da brilhante lâmina da guerra,
Eu faço uma canção de louvor.
Capítulo 58 – As Metáforas da Mulher com o Ouro
A mulher é nomeada em metáforas do ouro, sendo chamada de Salgueiro ou
Negociante de Ouro, como Hallarsteinn cantou:
Aquele que lança o âmbar
Da fria bebida salgada do Javali de Vidblindi,
Por muito tempo se lembrará da Negociante
Do Rio Dourado da serpente.
Aqui baleia é chamada do Javali de Vidblindi. Ele era um gigante que tirava
as baleias do mar como peixes. A Bebida das Baleias é o mar; Âmbar do Mar é o
ouro; mulher é o Salgueiro, ou Negociante, do Ouro que ela dá; e o salgueiro é
uma árvore. Portanto, como já foi mostrado, a mulher é nomeada como todos os
tipos de árvores femininas. Ela também é chamada consumidora do que ela dá; e
a palavra para consumidora também significa uma tora, uma árvore que cai na
floresta. Assim cantou Gunnlaugr Ormstunga:
Essa dama nasceu para trazer conflitos
Entre os filhos dos homens;
O guerreiro foi o causador disso; loucamente
Desejo possuir essa Tora de Riquezas.
Mulher é chamada de Floresta; assim cantou Hallarsteinn:
Com a bem treinada arte de cantar,
A língua suavizei, minha senhora,
Damas das primeiras canções das bebidas,
Bela Floresta de Jarros.
Graveto, como Steinn cantou:
Tu irás, ó doce Sif
Do Fogo da Inundação, como outros
Gravetos do cascalho de Hjadnings,
Romper com tua boa sorte.
Suporte, como Ormr Steinthórsson cantou:
O Suporte de Pedra foi vestida
Em roupas limpas e decentes,
Um novo manto o herói
Lançou sobre a brilhante Valquíria.
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Table of Contents
Nota do Editor
Edda em Prosa: Prólogo
Gylfaginning: A Ilusão de Gylfi
Capítulo 1 – Sobre o Rei Gylfi e Gefjun
Capítulo 2 – Gylfi Chega a Asgard
Capítulo 3 – Sobre o Pai de Todos, o Mais Alto Deus
Capítulo 4 – Sobre Niflheim e Múspelheim
Capítulo 5 – A Origem de Ymir e dos Gigantes de Gelo
Capítulo 6 – Sobre Audumla e a Origem de Odin
Capítulo 7 – A Morte de Ymir e sobre Bergelmir
Capítulo 8 – Os Filhos de Borr criam a Terra e o céu
Capítulo 9 – Os Filhos de Borr criam Askr e Embla
Capítulo 10 – A Chegada de Dia e de Noite
Capítulo 11 – A Origem de Sol e de Lua
Capítulo 12 – Sobre a Perseguição de Sol
Capítulo 13 – Sobre a Bifröst
Capítulo 14 – A Morada dos Deuses e a Criação dos Anões
Capítulo 15 – Sobre a Yggdrasil, a Fonte de Urdr e as Nornas
Capítulo 16 – Ainda Sobre a Árvore
Capítulo 17 – Os Locais Sagrados dos Deuses
Capítulo 18 – A Origem do Vento
Capítulo 19 – Sobre a Diferença do Verão e do Inverno
Capítulo 20 – Sobre Odin e Seus Nomes
Capítulo 21 – Sobre Áss-Thor
Capítulo 22 – Sobre Baldr
Capítulo 23 – Sobre Njördr e Skadi
Capítulo 24 – Sobre Freyr e Freyja
Capítulo 25 – Sobre Týr
Capítulo 26 – Sobre Bragi e Idunn
Capítulo 27 – Sobre Heimdallr
Capítulo 28 – Sobre Hödr
Capítulo 29 – Sobre Vídarr
Capítulo 30 – Sobre Váli
Capítulo 31 – Sobre Ullr
Capítulo 32 – Sobre Forseti
Capítulo 33 – Sobre Loki, Filho de Laufey
Capítulo 34 – Sobre os Filhos de Loki e a Captura de Fenrir
Capítulo 35 – Sobre as Ásynjur
Capítulo 36 – Sobre as Valquírias
Capítulo 37 – Freyr Conquista Gerdr, Filha de Gýmir
Capítulo 38 – Sobre a Comida dos Einherjar e de Odin
Capítulo 39 – Sobre a Bebida dos Einherjar
Capítulo 40 – Sobre o Tamanho de Valhalla
Capítulo 41 – Sobre o Entretenimento dos Einherjar
Capítulo 42 – Os Æsir Quebram o Juramento Feito ao Construtor da
Cidadela
Capítulo 43 – Sobre Skídbladnir
Capítulo 44 – Thor Começa Sua Jornada a Útgarda-Loki
Capítulo 45 – Sobre o Encontro de Thor e Skrýmir
Capítulo 46 – Sobre as Proezas de Thor e de seus Companheiros
Capítulo 47 – A Despedida de Thor e de Útgarda-Loki
Capítulo 48 – Thor Vai ao Mar com Hymir
Capítulo 49 – A Morte de Baldr, o Bom
Capítulo 50 – Loki é Acorrentado
Capítulo 51 – Sobre o Ragnarök
Capítulo 52 – As Moradas Após o Ragnarök
Capítulo 53 – Quem Sobrevive ao Ragnarök
Capítulo 54 – Sobre Gangleri
Skáldskaparmál: A Poesia dos Escaldos
Capítulo 1 – A Jornada de Ægir à Asgard
Capítulo 2 – O Gigante Thjazi Seqüestra Idunn
Capítulo 3 – Loki Resgata Idunn e a Morte de Thjazi
Capítulo 4 – Sobre a Família de Thjazi
Capítulo 5 – A Origem do Hidromel de Suttungr
Capítulo 6 – Como Odin Obteve o Hidromel
Capítulo 7 – As Características da Poesia
Capítulo 9 – Os Nomes de Odin e Suas Metáforas
Capítulo 10 – As Metáforas da Poesia
Capítulo 11 – As Metáforas de Thor
Capítulo 12 – As Metáforas de Baldr
Capítulo 13 – As Metáforas de Njördr
Capítulo 14 – As Metáforas de Freyr
Capítulo 15 – As Metáforas de Heimdallr
Capítulo 16 – As Metáforas de Týr
Capítulo 17 – As Metáforas de Bragi
Capítulo 18 – As Metáforas de Vídarr
Capítulo 19 – As Metáforas de Váli
Capítulo 20 – As Metáforas de Hödr
Capítulo 21 – As Metáforas de Ullr
Capítulo 22 – As Metáforas de Hœnir
Capítulo 23 – As Metáforas de Loki
Capítulo 24 – Sobre o Gigante Hrungnir
Capítulo 25 – Sobre a Sábia Gróa
Capítulo 26 – A Viagem de Thor à Morada de Geirrödr
Capítulo 27 – As Metáforas de Frigg
Capítulo 28 – As Metáforas de Freyja
Capítulo 29 – As Metáforas de Sif
Capítulo 30 – As Metáforas de Idunn
Capítulo 31 – As Metáforas do Céu
Capítulo 32 – As Metáforas da Terra
Capítulo 33 – As Metáforas do Mar
Capítulo 34 – As Metáforas de Sól
Capítulo 35 – As Metáforas do Vento
Capítulo 36 – As Metáforas do Fogo
Capítulo 37 – As Metáforas do Inverno
Capítulo 38 – As Metáforas do Verão
Capítulo 39 – As Metáforas dos Homens e das Mulheres
Capítulo 40 – As Metáforas do Ouro
Capítulo 41 – Ægir Dá uma Festa para os Æsir
Capítulo 42 – Sobre a Árvore Glasir
Capítulo 43 – Dos Ferreiros Filhos de Ívaldi e o Anão Sindri
Capítulo 44 – As Metáforas do Ouro e Freyja
Capítulo 45 – O Ouro Chamado de Palavra dos Gigantes
Capítulo 46 – O Resgate da Lontra
Capítulo 47 – Sobre Fáfnir, Reginn e Sigurdr
Capítulo 48 – Sobre Sigurdr e os Filhos de Gjúki
Capítulo 49 – A Morte de Sigurdr
Capítulo 50 – A Morte dos Filhos de Gjúki e a Vingança de Gudrún
Capítulo 51 – Sobre os Filhos de Völsungr
Capítulo 52 – Sobre o Rei Fródi e o Moinho Grótti
Capítulo 53 – Sobre Hrólfi Kraki e Vöggr
Capítulo 54 – Sobre como Hrólfi Derrotou o Rei Adils
Capítulo 55 – Sobre o Rei Hölgi
Capítulo 56 – Ainda Sobre as Metáforas do Ouro
Capítulo 57 – As Metáforas do Homem com o Ouro
Capítulo 58 – As Metáforas da Mulher com o Ouro
Capítulo 59 – As Metáforas dos Homens com as Árvores
Capítulo 60 – As Metáforas da Batalha
Capítulo 61 – As Metáforas das Armas e Armaduras
Capítulo 62 – Sobre a Batalha dos Hjadnings
Capítulo 63 – A Batalha como Metáfora de Odin
Capítulo 64 – As Metáforas de Navios
Capítulo 65 – As Metáforas de Cristo
Capítulo 66 – As Metáforas dos Reis e Suas Distinções
Capítulo 67 – As Metáforas dos Nomes
Capítulo 68 – Os Nomes dos Deuses
Capítulo 69 – Os Nomes dos Céus, Sol e Lua
Capítulo 70 – Os Nomes da Terra
Capítulo 71 – Os Nomes dos Lobos, Ursos e Cervos
Capítulo 72 – Os Nomes dos Cavalos
Capítulo 73 – Bois, Serpentes, Ovelhas e Porcos
Capítulo 74 – Os Nomes do Ar e dos Ventos
Capítulo 75 – Os Nomes dos Corvos e das Águias
Capítulo 76 – Os Nomes do Mar
Capítulo 77 – Os Nomes do Fogo
Capítulo 78 – Os Nomes do Tempo
Capítulo 79 – Os Nomes dos Reis
Capítulo 80 – Sobre Hálfdan o Velho e os Descendentes do Rei
Capítulo 81 – Os Nomes dos Homens
Capítulo 82 – Os Nomes da Multidão
Capítulo 83 – Circunlóquios e Descrições Verdadeiras
Capítulo 84 – Os Nomes das Mulheres
Capítulo 85 – As Partes da Cabeça
Capítulo 86 – Coração, Peito e Sentimentos
Capítulo 87 – Mãos e Pés
Capítulo 88 – Fala e Compreensão
Capítulo 89 – Expressões Ambíguas e Trocadilhos
Nafnaþulur – Conhecimento dos Nomes
Sumário de Figuras