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PLANO DE

PREVENÇÃO
A RECAÍDA
ÍNDICE

1ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA
1.2 A TRE e a Teoria da Personalidade.
1.2 A Teoria A B C da Personalidade

O PROCESSO TERAPÊUTICO TRE


1.3 Objetivos Terapêuticos
1.4 Função e papel do terapeuta
1.5 A experiência do paciente na terapia

TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: MANIA DE GRANDEZA


1.6 Introdução
1.7 Características da Mania de Grandeza
1.8 Dificuldades de Caráter e Sentimentos Disfuncionais
1.9 Submissão X Compreensão e Atitude

PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA RECAÍDA - PPR


1.10 Introdução à Prevenção da Recaída
1.11 O que é dependência de drogas e ou álcool
1.12 O que é recaída?
1.13 O que é Prevenção da Recaída?
1.14 A Prevenção da Recaída é um programa de tratamento que prevê:
1.15 O que é Situação de Risco?

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


1.16. Introdução
1.17 Saúde Física MEV1001

2ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: IMATURIDADE
2.1 Definição de Imaturidade
2.2 Quem é o Imaturo?
2.3 Características Da Imaturidade
2.4 O Mito da Imaturidade
2.5 Compreender a Derrota e Ter Atitude Perante a Realidade
2.6 Compreendendo o Imaturo

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
2.7 Quadro das Vantagens e Desvantagens PPR1001
2.8 Descrição de Um Dia Típico PPR1002

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


2. 9 Amizades MEV1002
2.10 Relacionamento Amoroso MEV1002

3ª SESSÃO
RECOSNTRUÇÃO DE VIDA
3.1 A Reconstrução de Vida RV1001

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
3.2 Balanço das Situações Protetoras e Provocadoras do Uso PPR1003
3.3 Balanço do Envolvimento Afetivo com Drogas e ou Álcool PPR1004

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA

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3.4 Saúde Familiar MEV1003
3.5 Leitura Texto Escolhas de uma Vida T1001

4ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA :NEGAÇÃO
4.1 Introdução
4.2 Não Reconhecendo e Não Compreendendo a Realidade
4.3 É Parte de um Processo
4.4 Fases da Negação
4.5 Como Parece / Como Se Sente / Como Entende
4.6 Como Parece
4.7 Como Se Sente
4.8 Inventário das Habilidades para Lidar com Situações de Risco PPR1005

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


4.9 Saúde Intelectual e Saúde Profissional MEV1004

5ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: PERFECCIONISMO
5.1 O Que é Perfeccionismo?
5.2 Causas do Perfeccionismo
5.3 O Ciclo do Perfeccionismo
5.4 Como Mudar
5.5 Que Fazer com o Perfeccionismo
5.6 Tipos de Perfeccionistas
5.7 Características Perfeccionistas
PREVENÇÃO DA RECAÍDA
5.8 Cartões de Estratégias para Lidar com Situações de Risco PPR1006

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


5.9 Saúde Espiritual e Comportamentos e Atitudes MEV1005

6ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA:PENSAMENTODISFUNCIONAL
6.1 Introdução
6.2 Manipulação
6.3 Mania De Grandeza
6.4 Resistência
6.5 Desafiando o Pensamento Disfuncional
6.6 Transformações

PREVENÇÃO À RECAÍDA
6.7 Horários de Risco
6.8 Mapeando os Horários de Risco PPR1007
MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA

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6.9 Saúde Psicológica e Emocional MEV1006

7ª SESSÃO
7.1 Leitura da Reconstrução de Vida

8ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: VERGONHA
8.1 Introdução
8.2 De Onde Vem a Vergonha
8.3 A Vergonha e a Dependência Química
8.4 A Vergonha Contra Culpa
8.5 As Boas Notícias
8.6 Princípios TRE
8.7 Um Trabalho De TRE

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
8.8 Sinalizadores PPR1008
8.9 Estratégias para Lidar com os Sinalizadores PPR1009
MODIFICAÇÃODEESTILODEVIDA
8.10 Sonhos e Desejos MEV100

9ª SESSÃO
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: RAIVA
9.1 A Raiva
9.2 Aprender A Controlar A Raiva E As Suas Causas
9.3 Conseqüências Da Nossa Raiva
9.4 Aprendendo A Compreender A Raiva
9.5 Fazer Um Diário
9.6 Compreendendo A Raiva
9.7 Usar Um Diário Para Obter Resultados Positivo

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
9.8 Levantamento Semanal Das Situações De Risco PPR1010
9.9 Saídas De Emergência PPR1011

MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA


9.10 Uma Carta Para Mim MEV1008

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10ª SESSÃO
A LISTA
10.1 Introdução
10.2 As Pessoas Que Prejudicamos, E Como As Prejudicamos
10.3 Fazendo a Lista
10.4 Motivação

11ª SESSÃO
ATOS DE SE REDIMIR
11.1 Atos de se Redimir

12ª SESSÃO
RECONSTRUÇÃO DE VIDA
12.1 Importância da Reconstrução da Vida
12.2 Diário
PREVENÇÃO DA RECAÍDA
12.3 Agenda Diária PPR1012

13ª SESSÃO
SESSÃO DE ENCERRAMENTO
13.1 A Sessão de Encerramento da 1ª Fase
13.2 Avaliação AIT1001

1ª SESSÃO-TERAPIA RACIONAL EMOTIVA


1.1_ A TRE E A TEORIA DA PERSONALIDADE.

As emoções são produtos do pensamento humano. Quando pensamos que alguma coisa é
ruim, sentimo-nos mal em relação a esta coisa. Ellis sustentava que "o distúrbio emocional
consiste essencialmente, portanto, em proposições ou significados incorretos, ilógicos e não-
validáveis, em que o indivíduo perturbado acredita de modo dogmático e sem discussão, e em
relação aos quais conseqüentemente se emociona ou age construindo sua própria derrota".
A TRE mostra-se insistente ao afirmar que a culpa é o núcleo da maioria dos distúrbios
emocionais. Logo, se precisamos trabalhar uma neurose ou psicose, será melhor que paremos
de culpar a nós mesmos e aos outros. Será melhor que aprendamos a nos aceitar apesar de
nossas imperfeições. A ansiedade provém da repetição interior da seguinte proposição: "Eu não
gosto do meu comportamento e gostaria de mudar"; deriva ainda de auto-acusação, contida
nesta crença: "Devido a meu comportamento incorreto e aos meus erros, sou uma pessoa
muito ruim, mereço ser condenada, mereço sofrer." Tal ansiedade é desnecessária, segundo a
TRE O indivíduo pode ser ajudado a perceber que essas crenças, imprecisas e irracionais, são
falsas armadilhas autopunitivas por ele adquiridas.

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A TRE, argumenta que as pessoas não necessitam ser aceitas e amadas, muito embora isto
seja algo a desejar. O profissional ensina ao paciente a maneira de não se sentir ferido,
mesmo quando não é aceito e amado pelos outros. Ainda que permitindo às pessoas se
sentirem tristes por não serem aceitas, a TRE tenta auxiliá-las a encontrar formas de superar
todas as manifestações intensas de depressão, dor, desvalorização e ódio.
Algumas das principais idéias irracionais internalizadas e que conduzem inevitavelmente a uma
vida autodestrutiva são as seguintes:
A idéia de que o ser humano adulto tem uma necessidade terrível de ser amado ou aprovado.
A idéia segundo a qual é preciso ser totalmente competente, adequado e bem sucedido quanto
a todos os aspectos possíveis, caso o indivíduo queira considerar alguém de valor;
A idéia de que certas pessoas são más, perversas e infames e deveriam ser severamente
acusadas e punidas por sua maldade;
A idéia de ser mais fácil evitar certas dificuldades da vida e responsabilidades próprias, do que
enfrentá-las;
A idéia de uma situação de pavor e catástrofe quando as coisas não ocorrem como as gostaria
realmente que ocorressem;
A idéia segundo a qual a infelicidade humana decorre de causas externas e as pessoas possuem
pouca ou nenhuma capacidade para controlar seus sofrimentos e perturbações;
A idéia de ser a história passada um importante fator determinante do comportamento e de
que, pelo fato de alguma coisa certa vez ter afetado muito a vida de alguém, deverá ter efeitos
semelhantes indefinidamente.

1.2_ ATEORIA ABC DA PERSONALIDADE


A teoria A -B - C da personalidade é central para a TRE,em termos teóricos e práticos. "A" é a
existência de um fato, um evento, ou comportamento ou a atitude de um indivíduo. "C" é a
conseqüência emocional ou reação do indivíduo; a reação pode ser adequada ou inadequada.
"A" (o evento ativador) não causa "C" (a conseqüência emocional).
Assim, os seres humanos são em grande parte responsáveis pela criação de suas próprias
reações e perturbações emocionais.
Como é fortalecido um distúrbio emocional? É alimentado por sentenças ilógicas que a pessoa
repete continuamente para si mesma, tais como: "A culpa por algo que aconteceu é
inteiramente minha", "Eu sou um miserável fracassado, tudo o que fiz estava errado", "Não
tenho valor algum", "Sinto-me só e rejeitado, e isto é uma catástrofe horrível."
A TRE sustenta que "a pessoa se sente conforme o que pensa". As reações emocionais
perturbadas, tais como a depressão e a ansiedade, são desencadeadas e perpetuadas pelo
sistema de crenças auto-derrotistas, o qual se baseia em idéias irracionais incorporadas pela
pessoa. Embora, haja a possibilidade de se eliminarem ou modificarem os distúrbios emocionais
trabalhando diretamente com os sentimentos (depressão , ansiedade, hostilidade, medo, etc.),
propõe-se que "a técnica mais rápida, mais firmemente implantada, mais refinada e de efeitos
duradouros enquanto técnica para ajudar as pessoas a modificarem suas reações emocionais
disfuncionais, provavelmente consiste em capacitá-las a ver com clareza o que se dizem a si
mesmas com tanta força, no ponto "B" (seu sistema de crença), acerca dos estímulos incidentes
sobre elas no ponto "A" (suas experiências ativadoras) e em ensinar-lhes como discutir no ponto
"D", de forma ativa e vigorosa, suas crenças irracionais". Para aprender a compreender e
confrontar sistema de crenças irracionais é necessário autodisciplina, pensamento e trabalho.

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A TRE, portanto, confronta os pacientes com suas crenças irracionais, atacando, desafiando,
questionando e discutindo tais crenças.
Após "A" - "B", - "C", tem-se "D", a Discussão. Essencialmente, "D" é a aplicação do método
científico com vistas a ajudar os pacientes a combater em seu estilo as crenças irracionais que
acarretam perturbações do seu comportamento e emoções.

O PROCESSO TERAPÊUTICO TRE


1.3_OBJETIVOS TERAPÊUTICOS
Muitos caminhos seguidos pela TRE dirigem-se a uma meta principal: "A minimização da
perspectiva auto-derrotista central do paciente e a aquisição de uma filosofia de vida mais
realista e tolerante".
A TRE não visa primariamente à remoção de sintomas; propõe-se, em lugar disso, a incentivar
o paciente no sentido de examinar criticamente seus valores mais básicos. Se o problema
apresentado pelo paciente é o medo de fracassar, a meta não é reduzir simplesmente este
medo específico; em vez disso, o profissional tenta trabalhar com os medos exagerado do
paciente em relação ao fracasso de modo geral.
A TRE vai além da remoção do sintoma, pelo fato do processo terapêutico ter, como objetivo
central, a ajuda ao paciente no sentido de livrar-se de sintomas declarados e não-declarados.
Em síntese, o processo terapêutico consiste em curar a irracionalidade com a racionalidade. Já
que o indivíduo é essencialmente um ser racional, e já que a fonte de sua infelicidade funda-se
na "des-razão", segue-se que ele pode atingir a felicidade aprendendo a pensar racionalmente.
O processo de terapia é assim, em grande parte, embora não inteiramente, um processo de
ensino/aprendizagem.

1.4_FUNÇÃO E PAPEL DO TERAPEUTA


As atividades terapêuticas da TRE são conduzidas com um propósito central: ajudar o paciente
a libertar-se de idéias ilógicas e aprender a substituí-las por idéias lógicas. .
Para atingir este objetivo, o profissional desempenha tarefas específicas. O primeiro estágio é
mostrar aos pacientes que seus problemas se relacionam com crenças irracionais e mostrar
como desenvolveram seus valores e atitudes.
Os pacientes precisam aprender a separar suas crenças racionais das irracionais. O profissional
estimula, e, às vezes, até mesmo comanda o paciente no sentido deste dedicar-se a atividades
que atuarão como agentes de contrapropaganda.
Um segundo estágio, no processo terapêutico, leva o paciente além do estágio de
conscientização, demonstrando que, no presente, mantém em atividade seus distúrbios
emocionais por continuar a pensar ilogicamente e pela repetição de crenças auto-derrotistas,
as quais conservam a influência dos primeiros anos em seu caráter funcional. Em outras
palavras, o paciente é responsável por seus próprios problemas, porque continua a se reeducar.
Não é suficiente que o profissional mostre simplesmente aos pacientes, o fato de apresentarem
processos ilógicos, pois estarão prontos a dizer: "Agora compreendo que tenho medo do
fracasso, e que este medo é exagerado e fora da realidade. Mas ainda sinto medo de fracassar!".
Para ir além do simples reconhecimento dos pensamentos e sentimentos irracionais por parte
dos pacientes, o profissional dá um terceiro estágio: tenta levá-los a modificarem seus
pensamentos e abandonarem suas idéias irracionais. O profissional precisa ajudá-los a

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atingirem uma compreensão acerca da relação entre suas idéias auto-derrotistas e sua filosofia
irrealista que conduz ao círculo vicioso do processo de auto-acusação.
Assim, o último estágio do processo terapêutico consiste em desafiar os pacientes, tendo em
vista desenvolverem filosofias racionais de vida, de modo que possam evitar se tornarem
vítimas de outras crenças irracionais. Não será possível assegurar a não emergência de outros
medos ilógicos, atacando apenas problemas ou sintomas específicos. Logo, para o profissional,
o desejável é atacar o núcleo do pensamento irracional e ensinar aos pacientes a maneira de
substituírem crenças e atitudes irracionais por outras racionais.
A TRE é um processo educativo, e a tarefa primordial do profissional é ensinar ao paciente os
meios para compreender-se a si mesmo e modificar-se.
Emprega principalmente uma metodologia de ataque rápido, diretiva em alto grau e
persuasiva, a qual enfatiza os aspectos cognitivos, que compõe um quadro sobre a atuação do
praticante da terapia racional-emotiva nos seguintes termos:
Consegue fazer com que o paciente se defina quanto a algumas idéias irracionais de base, as
quais motivam uma grande soma de comportamentos perturbadores;
Desafia os pacientes a validarem suas idéias;
Demonstra aos pacientes a natureza ilógica de seu pensamento;
Usa uma análise lógica para restringir as crenças irracionais dos pacientes;
Mostra como tais crenças são inoperantes e como levarão a futuros distúrbios emocionais e
comportamentais; Lança mão do absurdo e do humor para fazer frente à irracionalidade do
pensamento dos pacientes;
Explica de que maneira essas idéias podem ser substituídas por idéias mais racionais que
tenham fundamento empírico; e ensina aos pacientes como aplicar a abordagem científica ao
seu pensamento, a fim de poderem observar e minimizar idéias irracionais presentes e futuras,
assim como deduções que incrementam formas autodestrutivas de sentir e se comportar.
1.5_A EXPERIÊNCIA DO PACIENTE NA TERAPIA
A psicoterapia é encarada como um processo de reeducação, através do qual o paciente
aprende a aplicar o pensamento lógico à solução de problemas.
O processo terapêutico tem seu foco na experiência presente do paciente. A TRE, como as
abordagens centradas no paciente, dá ênfase sobretudo ao aqui-e-agora e à capacidade atual
do paciente para mudar os padrões de pensamentos e emotividade precocemente adquiridos
por ele. Desse modo, a TRE valoriza a interpretação enquanto instrumento terapêutico.
O simples fato de falar sobre seus medos não será de muita utilidade para mudar seu
comportamento. O importante é engajar-se em uma atividade que venha a destruir os alicerces
de seus medos irracionais.
A TRE valoriza especialmente os segundo e terceiro níveis de insight, isto é, o reconhecimento
do paciente quanto a ser ele mesmo quem, agora, mantém vivos os sentimentos e idéias
originalmente perturbadores e quanto a ser melhor para ele encará-los racional e
emotivamente, pensar neles e trabalhar para eliminá-los.

TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: MANIA DE GRANDEZA


1.6_INTRODUÇÃO
A mania de grandeza é um transtorno no qual o humor está exaltado, em discordância com as
circunstâncias em que o indivíduo se encontra e que pode variar desde uma jovialidade

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despreocupada até uma excitação quase incontrolável, comum em pessoas que desenvolvem
alguma relação com o uso de alguma substância química, homem ou mulher.
Este estado tem de ser identificado e trabalhado buscando junto à consciência e a compreensão
da realidade que é necessária para a sobriedade. Por tanto este transtorno em individuo
dependente químico, se deve ter muito cuidado devido às outras características, durante a
sobriedade assim como em períodos de desintoxicação, a mania de grandeza espera
pacientemente o momento de descuido ou de complacência que motive o retorno àqueles
comportamentos disfuncionais, que supostamente podem levar ao retorno do uso de qualquer
substância química. A mania de grandeza pertence a uma lista que inclui autoridade,
supremacia, excelência, grandeza, magnificência ou qualquer outra combinação que implique
superioridade. A sua presença é obvia para os outros. Os seus efeitos são descritos como
orgulho, impaciência, determinação, dominação, egoísmo, agressividade e desconsideração.
Todas estas palavras descrevem a aparência exterior causada pelo sentimento de onipotência
criado dentro da pessoa que desenvolve a mania de grandeza.
Alguns Dependentes químicos que estão em tratamento acreditam que a mania de grandeza é
um assunto demasiadamente intelectual para ser discutido. Eles preferem falar sobre assuntos
simples. No entanto um sentimento de onipotência não é mais eminente do que gratidão e
humildade. A mania de grandeza pode ser a maior ameaça ao tratamento, até mesmo mais do
que a raiva ou o ressentimento. As idéias grandiosas são muito fáceis de adquirir. Os homens e
mulheres usuários de drogas e/ou álcool vivem num mundo onde se dão prêmios às “pessoas
espertas”. As revistas, jornais e televisão dão muito tempo e espaço à teoria de que as “pessoas
espertas” merecem o melhor da vida. Boas roupas, viagens exóticas, automóveis, jóias, e
jantares luxuosos ficam assim tão facilmente acessíveis a bebidas alcoólicas ou outras drogas.
Para o usuário que apresenta a mania de grandeza, tudo isso fica, aparentemente fáceis de
obter através de fantasias oferecidas pela ingestão de drogas e/ou álcool.

1.7_CARACTERÍSTICAS DA MANIA DE GRANDEZA


A mania de grandeza é baseada no egocentrismo. Os seus desejos e prazeres vêm primeiro
para o individuo orgulhoso, grandioso, e cada sucesso aumenta este egoísmo. O egoísmo e a
mania de grandeza é uma defesa para impedir que os outros descubram seus comportamentos
disfuncionais. O individuo que desenvolve o uso de qualquer substância que altere seu humor,
torna-se arrogante, pois se acha esperto.
Mesmo o sentimento de estar sendo observado, serve para aumentar o ego: é a prova para os
indivíduos que desenvolveram o uso de substâncias, de sua importância para os outros.
Quando os outros começam a “estimular” ou a ser “abusivos”,os dependentes que apresenta
mania de grandeza, começam a pensar que estes são “falsos amigos”,cuja falta de carinho eles
podem viver sem, “quem precisa do afeto deles de qualquer maneira?, sou a minha própria
pessoa e estou bem”.
Quando a família e os amigos, médicos e terapeutas, estão desgastados e consideram a pessoa
uma causa perdida, o paciente grandioso sabe que a sua superioridade foi provada.
A mania de grandeza é a causa principal da racionalização. Ela oferece as respostas a cada
pedido para deixar de usar drogas ou álcool. O pensamento grandioso tem desculpas já feitas,
álibis, explicações, buracos e negações como resposta. Este medo de pensar limitado é a marca
da mania de grandeza. O paciente grandioso recusa-se a aceitar a idéia de que não consegue
controlar o seu uso.

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As respostas deste pensador onipotente ao tratamento são típicas. Eles não aceitam a idéia de
serem impotentes sobre toda e qualquer substancia química e de terem as suas vidas
disfuncionais.
A mania de grandeza não promove normalmente uma reação violenta de raiva como sinal de
rebeldia às sugestões. Bater com os punhos na mesa e exclamações profanas normalmente dão
lugar a uma calma, mas firme recusa ouvir. É suficiente para o usuário na ativa que se considera
superior aos que os querem ajudar como bem intencionados ignorantes, inexperientes e mal-
guiados.
A atitude superior dos quem usam algum tipo de substância. Exemplo:
- Estou bem, os outros são muito pior do que eu. Se eu algum dia começar a usar como eles...
A mania de grandeza é enganadora, habilidosa e poderosa e, mais ainda ciumenta e paciente.
A mania de grandeza também ajuda outras dificuldades de caráter, atitudes negativas e
emoções disfuncionais.

1.8_DIFICULDADES DE CARÁTER E SENTIMENTOS DISFUNCIONAIS


Um ego grande relembra constantemente aquele que usa droga e/ou álcool sobre o estigma
que a sociedade pode discriminá-lo, se confessar o uso.
Uma grande parte da sociedade, ainda ignorante dos fatos acerca desta doença, é culpada de
marcar o usuário de droga e/ou álcool com escárnio.
A mania de grandeza não só promove a negação como a arma principal do paciente contra
qualquer hipótese de que se compreender, sendo esta a principal característica, muitas vezes
chamada de sintoma número um do usuário.
O paciente grandioso acredita em todas estas negações tão completamente que ele ou ela
confronte os sinais dos outros para parar de usar determinada substancia que altere o seu
humor.
Exemplo:
- Porque eles estão mentindo sobre mim? Quem está dando para eles estas informações falsas?
A sutileza da mania de grandeza é descrita pela citação: “A Dependência Química é a única
doença que diz às suas vítimas que não a tem”.
O adiamento é uma arma poderosamente deste grande ego.
A mania de grandeza facilmente consegue um adiamento que lhe evite compreender – Não
tenha demasiada pressa. Os que bebem ou usam drogas lembram-se das frases dos dias de
escola: “Devagar se vai ao longe”; “Não tires conclusões precipitadas”. “A desconfiança ajuda
um individuo a concluir que aqueles que insistem na sobriedade estão manipulando tentando
enganar; sou muito esperto pra cair na conversa deles”. Ele ou ela reage a uma advertência para
ser humilde com “essa manipulação”.Vocês pensam mesmo que eu não valho mais do que esses
que andam aí caídos na sarjeta?”“. Em relação à gratidão, a resposta surge: – Grato pelo que
tenho? A verdade é que mereço muito mais do que me foi dado.
A inveja é facilmente promovida pela mania de grandeza porque o individuo com problemas de
droga e/ou álcool é sempre excessiva em tudo aquilo que ele ou ela crê ser necessário. O
individuo que apresenta mania de grandeza pensa: - Eu quero o que ele tem. Mereço mais do
que ele. Faço tudo melhor que ele. Ele só tem sorte.
Porque os usuários de droga e/ou álcool são pessoas de tudo ou nada, é natural que os seus
sentimentos de onipotência não tenham problemas em produzir ganância. Se ao Ego do que
usa são negadas as melhores coisas da vida, ele ou ela não vá aceitar as segundas melhores,

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mas vai dizer: - Sou um líder natural, e não mais um. Ou tenho isto à minha maneira ou não vou
jogar este ridículo jogo do sucesso.
A conquistas e as vitórias dos outros, despertam no dependente químico que apresenta mania
de grandeza os sentimentos de raiva, inveja e a ganância. Os pacientes arrogantes raramente
exterioriza a raiva, mas se sentem rejeitados. A sua resposta é a de usar por tudo e por todos.
A raiva do dependente químico que apresenta mania de grandeza é um luxo. É uma raiva que
fecha o assunto e deixa o dependente químico afastar-se de todas as controvérsias.
Os dependentes químicos temem não ter a quantidade de droga e/ou álcool necessários
disponível em todas as alturas, não tem medo da substancia. Eles também têm medo das
pessoas bem intencionadas porque elas podem cortar-lhes o suprimento através de algum
truque.
A solidão e o aborrecimento são mantidos pela mania de grandeza como exemplos das coisas
horríveis que podem acontecer ao dependente químico que tenta parar de usar. Eles são vistos
como os falsos presentes que os “intrometidos” bem intencionados podem prometer se ele ou
ela deixar de usar.
A mania de grandeza se predispõe de que tudo aquilo que merece ser feito deve ser feito em
excesso.
O excesso impele o paciente que apresenta mania de grandeza de ir até ao fim das suas
compulsões, obsessões, impaciência, ciúme, impulso, pressão, stress e emoções como raiva,
medo e ódio.
O orgulho do paciente onipotente é todo virado para si mesmo. Ele entra em conflito com
atitudes e pontos de vista. O super-orgulhoso não se pode preocupar ou dividir com os outros.
O orgulho doentio faz dele ou dela intolerante, rude às críticas, incapaz de ouvir conselhos. Ele
ou ela não só não concorda como é desagradável.
O dependente químico que apresenta mania de grandeza tem dificuldades de elaboração dos
ressentimentos. Eles estão numa concha onde a ajuda nunca lhes pode chegar, preocupados
com os constantes ensaios das retribuições que estão planejando. Eles culpam qualquer dor
resultante dos seus ressentimentos nos outros. A sua determinação em se vingarem de toda
gente mantém-nos a usar substancias que alterem seu humor.
A maioria destas emoções leva ao pensamento disfuncional. Para o que é arrogante, todas as
pessoas estão erradas e não tem nunca o direito de estar certas.
Um fator dominante da mania de grandeza é a resistência. Em qualquer conflito, a maneira de
ser do paciente nunca é uma questão de opinião, mas sim um fato e uma realidade. Apesar de
os outros saberem que se ele ou ela muitas vezes está errado, o paciente nunca põe em duvida
o seu ponto de vista.

1.9_SUBMISSÃO XCOMPREENSÃO E ATITUDE


Os pacientes desafiadores têm toda confiança do mundo no que diz respeito à sua capacidade
de resistir a todos os estímulos para parar de usar. Estes os fazem se sentirem invencíveis. Eles
acreditam que, enquanto recusarem o deixar de usar, nada de importante nunca poderá ser
retirado. Independente do que verbaliza os pacientes que apresentam mania de grandeza que
confirma a sua onipotência, vivendo em conflito entre o seu consciente e o seu inconsciente.
Nos períodos mais calmos que seguem estas recaídas, a mania de grandeza do usuário de droga
e/ou álcool toma controle, assegurando que a dor foi o resultado de um pequeno erro no modo
como enlouqueceu: - Um pouco de azar; um erro compreensível. Da próxima vez tenha um
pouco mais de cuidado.

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A mania de grandeza é aquela autoridade máxima, que requeria uma “segunda opinião” para
todos os que usam droga e/ou álcool. Existe uma “inversão da decisão” para muitos pacientes
que pedem ajuda no seu pico de agonia e desespero.
Mas os pacientes são famosos por terem planos B e memórias curtas. A mania de grandeza
esconde as memórias da dor, libertando a “alegria”. O ego avisa-nos contra sermos fracos de
vontade e “deixar que esses alarmistas possuam o usuário”. Esses puritanos haviam de proibir
todos os divertimentos do mundo – diz a mania de grandeza.
Uma rápida mudança de atitude é familiar a todos no processo da recuperação. Muitos dos que
usam drogas e/ou álcool, quando iniciam o tratamento pensam repetidamente: “eu preciso de
ajuda” e “tenho muita pena, mas eu não vou para frente com isto”.
A principal razão pela quais os usuários de drogas e/ou álcool desistem temporariamente e
podem apagar-se e parecer aparentemente entregues é porque a mania de grandeza permite
apenas um ato de submissão e não de compreensão e atitude.
Mas submeter-se é um escape e um disfarce à compreensão. Não é sequer um sentimento de
resignação a um cruel destino.
Toma lugar apenas na superfície da consciência e é só uma escolha de “uma maneira mais fácil
e mais suave”. Está entre os atos descritos como “viver apenas à superfície da pele.”.
Ao submeter-se, o paciente pode conscientemente sentir a necessidade de ajuda, mas estas
meias medidas normalmente levam o usuário de drogas e/ou álcool de volta ao uso e nunca
mais o deixam tentar a abstinência.
Este equívoco pode desencorajar amigos e família. O fato de haver um constante conflito na
mente do usuário entre o consciente e o inconsciente dá razão à esperança de que a mania de
grandeza pode ser identificado, compreendido e trabalhado.
Dado que a mania de grandeza facilita a intolerância das outras pessoas assim como das suas
idéias e opiniões, qualquer indecisão da parte do arrogante paciente é um progresso.
É um passo em direção a realidade se o paciente grandioso começar a dar como resposta: - Eu
não sei. Eu não percebo, ou então, estou mudando a minha forma. Um sinal de crescimento em
tolerância mostra-se muitas vezes em expressão a por comportamentos disfuncionais. Se tal
culpa pode ser trabalhada, a consciência da responsabilidade pode começar. O progresso em
ouvir e identificar leva um conhecimento ao paciente, olhar para si mesmo. Isto irá oferecer um
sentido e oportunidade de sentir carinho, de dar e receber. E de tocar os outros com
pensamentos e atitudes de amor. Vai-lhe dar o presente de sentir boas emoções.
Aqueles que estão perto de um dependente onipotente podem sentir-se impacientes com o
tempo que leva a compreender e ter atitude. Temos de nos lembrar que a redução da mania de
grandeza só funciona quando tem lugar na base da onipotência – o inconsciente.
A consciência, compreensão e atitude perante a realidade, é algo que o dependente químico
que apresenta mania de grandeza tem dificuldade de elaboração.
A mania de grandeza sofre uma quebra, quando o individuo para de tentar resolver os seus
problemas sozinhos e aceita a ajuda de outros para fazer o seu tratamento. Em vez de resolver
os conflitos gerados pelo uso da substância, o individuo dissimula e manipula outra forma de
viver. Volta à autoconfiança.
Mas quando não é compreendido que só a escolha de mudança de vida garanta a
recuperação e que há necessidade da elaboração dos conflitos e de outros acompanhamentos,
para que haja sucesso na recuperação. Pode ser assim rapidamente, o paciente que está em
recuperação pode voltar a pensar e agir de forma disfuncional.
O comportamento disfuncional compulsivo dos dependentes químicos, mantém a tensão
quando esta em tratamento, isto pode fazer com que o paciente fique ansioso e ate mesmo

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decidir colocar sua vida em risco novamente. Os que estão com dificuldade em permanecer em
tratamento são por vezes facilmente identificáveis.
Dado que eles se submeteram a uma tentativa com a abstinência mais do que compreender a
sua mania de grandeza, eles favorecem o pensamento disfuncional, evitam fazer a reconstrução
de vidas e resolver algumas situações, não se esforçam em buscar esta compreensão,
negligenciam a procurar um profissional. Uma pessoa assim está novamente doente.

PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA RECAÍDA - PPR


1.10_ INTRODUÇÃO ÀPREVENÇÃO DA RECAÍDA
O termo “Prevenção da Recaída” refere-se a uma ampla variedade de técnicas, quase todas
Cognitivas, que se baseia no princípio de que a maneira como pensamos ou julgamos os fatos
que nos acometem determina o modo como nos sentimos, por exemplo: “uma pessoa
negativista tende a enxergar tudo que lhe acontece, de maneira ruim, o que a leva a se sentir
triste, preocupada e angustiada”.
E Comportamentais, que visa entender os padrões gerais de comportamento de cada pessoa,
analisando o histórico de vida do indivíduo e verificando a presença de padrões de
comportamentos que possam ser improdutivos e/ou causar sofrimentos.

1.11_ O QUE É DEPENDÊNCIA DE DROGAS E OU ÁLCOOL


Dependência é a necessidade psicológica ou física que uma pessoa tem de alguma substância,
seja álcool, tabaco, maconha, cocaína ou qualquer outra.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) estabelece que uma pessoa tenha uma Síndrome de
Dependência quando apresenta: “um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais,
cognitivos em que o uso de uma substância alcança uma prioridade muito maior para o
indivíduo que outros comportamentos que antes tinham maior valor”.
A pessoa apresenta um forte desejo, compulsão ou “fissura” para consumir álcool ou droga e
pode manifestar uma Síndrome de Abstinência, isto é, sintomas físicos da falta de álcool/droga.
Se não evidenciar sintomas de abstinência claros, é considerado “usuário abusador” ou “usuário
problema”.
Este trabalho é dirigido àquelas pessoas que estabelecem com o álcool ou outras drogas uma
relação afetiva tão intensa que parecem não sentir prazer de viver sem as drogas e/ou álcool.

1.12_ O QUE É RECAÍDA?


È voltar ao uso de drogas e/ou álcool após passar por um programa de tratamento.

1.13_ O QUE É PREVENÇÃO DA RECAÍDA?


É um conjunto de habilidades e modificações no estilo de vida da pessoa para evitar uma
recaída. Num programa de Prevenção da Recaída você não é um paciente passivo, você é um
agente ativo no tratamento.

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1.14_ APREVENÇÃO DA RECAÍDA É UM PROGRAMA DE TRATAMENTO QUE PREVÊ:
A identificação e a antecipação de Situações de Risco, internas ou externas que possam levar o
indivíduo a recair no uso de drogas/álcool.
A aprendizagem das habilidades cognitivas (crenças / pensamentos) e comportamentais
necessárias para lidar e enfrentar estas situações de risco, através de Cartões de
Enfrentamento. Aplicar essas modificações de cognições, e comportamentos, ou
seja, Modificações do Estilo de Vida.

1.15_ O QUE É SITUAÇÃO DE RISCO?


É qualquer situação na vida que coloque em perigo o controle e a manutenção do seu objetivo.
Exemplos de situações de risco são alguns lugares, pessoas e hábitos antigos de vida.
Frente a uma situação de risco, tenho duas opções: ou enfrento a situação (resposta de
enfrentamento), ou não. Cada uma das opções tem dois finais diferentes.

Veja o quadro abaixo:

Quanto mais e melhor você aprender a lidar com essas Situações de Risco, mais forte ficara e
maior capacidade terá para lidar com outras Situações de Risco que surgirem em sua vida.

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Chamamos isso de auto-eficácia, a habilidade para lidar com situações de risco sem beber ou
usar drogas.
Neste programa de Prevenção da Recaída, a idéia fundamental é a de que a dependência, isto
é, a relação afetiva estabelecida com o álcool ou a droga, é um aprendizado. Você aprendeu a
relacionar-se com o álcool ou com a droga de forma tão intensa, que parece ser impossível lidar
com a vida se não estiver apoiado pela droga. Então, o jeito é “desaprender” esta relação e
reaprender outro modo de relacionar-se com a vida.
Portanto, a Prevenção da Recaída é um programa de tratamento que conscientiza visando:
antecipar, prevenir, modificar, enfrentar e lidar com situações que coloquem em risco de
recaída, isto é, situações que provoquem o retorno ao consumo de álcool ou drogas.
Você deve fazer também amplas modificações no seu estilo de vida, para que o tratamento dê
certo.

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


1.16_ INTRODUÇÃO
Possuímos muitas metas e planos que desejamos realizar. Temos a opção de escolhermos o
nosso destino e o nosso caminho. Queremos algo, entretanto, inúmeras vezes escolhermos
rotas que nos afastam de nosso objetivo maior ou ficamos confusos em relação a qual caminho
tomar, justamente por não ter planejado antes o que realmente queremos.
Um projeto de vida é um plano colocado em papel para que possamos visualizar melhor
caminhos que devemos seguir, para alcançar nossos objetivos.
Para isso, necessitamos saber nossos valores, pois são eles que direcionarão nossas vidas. Se
nossas metas não estiverem em congruência com nossos valores mais profundos, dificilmente
estaremos satisfeitos com nossas vidas. Mesmo alcançando as metas, se elas não estiverem em
harmonia com o que realmente nosso coração pede, sentiremos um vazio interior que poderá
nos deixar confusos e sem direção.
Dessa forma, conhecer-se saber o que a vida realmente significa para você e conhecer seus
valores é de fundamental importância no planejamento da Modificação do Estilo de Vida.
Os exercícios propostos requerem uso de formulários anexos.

1.17_SAÚDE FÍSICA
Os exercícios propostos da Modificação de Estilo de Vida devem ser preenchidos nos
formulários pelo paciente e entregues ao terapeuta. Utilizar para esta etapa o formulário
MEV1001.

2ª SESSÃO- TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: IMATURIDADE


2.1_DEFINIÇÃO DE IMATURIDADE
É um padrão de comportamento ocasionado pela permanência de um individuo em estágios
anteriores de desenvolvimento, tanto intelectual quanto moral. Umas das características é a
dificuldade de assumir as responsabilidade pelos próprios atos, esta dificuldade acaba levando
a um comportamento disfuncional.

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2.2_QUEM É O IMATURO?
Para compreendermos o imaturo, vamos imaginar por alguns momentos que estamos no
estado fetal, no ventre de nossa mãe, onde recebemos calor, segurança, conforto, liberdade e
poder são onde as nossas necessidades são satisfeitas e isso nos satisfaz totalmente.
Após este estágio vem a infância onde também são reforçadas as nossas atitudes imaturas as
nossas exigências por alimento, atenção e carinho são imediatamente atendidas, é onde os
nossos desejos são da máxima importância. E estes pensamentos, comportamentos podem se
estender pela pré-adolescência, adolescência e a vida adulta.
E quando “os traços infantis se mantém na idade adulta, diz-se que a pessoa é imatura”. E esta
imaturidade está ligada aos sentimentos de onipotência, incapacidade de identificar frustrações
e a impulsividade.
Ao tentarem recuperar a atenção e o carinho que receberam na infância, as pessoas imaturas
continuam a funcionar com base nos mesmos sentimentos que há muito tempo atrás, os
gratificaram.

2.3CARACTERÍSTICAS DA IMATURIDADE

Ficam muitas vezes irritados com pessoas que representam autoridade ou com
receio delas. Tenta pôr uma contra a outra, a fim de modo a conseguir o que
quer.
Procuram aprovação e freqüentemente perdem a sua própria identidade no
decorrer do processo.
São capazes de causar uma boa primeira impressão, mas incapazes de mantê-la.
Tem dificuldades de aceitar críticas pessoais e sentem-se ameaçados e irados
quando são criticados.
Tem temperamento forte e se deixam levar ao extremo.
Não se aceitam ou acabam evitando a si mesmos.
Ficam muitas vezes imobilizados pela ira e frustração e raramente estão
satisfeitos
Sentem-se geralmente sozinhos, mesmo quando rodeados de pessoas.
Estão sempre a queixar-se e culpar os outros pelo que lhes acontece de mal na
vida.
Sentem que não são apreciados e que não pertencem.
Vêem o mundo como uma selva cheia de pessoas egoístas que não estão
disponíveis para eles.

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Encaram tudo como uma catástrofe, como uma situação de vida ou de morte.
Julgam a vida em termos absolutos: preto ou branco, certo ou errado.
Vivem no passado ao mesmo tempo em que receiam o futuro.
Tem fortes sentimentos de dependência e um medo exagerado de abandono.
Tem medo do fracasso e da rejeição e não tentam fazer coisas novas em que
possam vir a falhar.
Tem a obsessão do dinheiro e das coisas materiais.
Sonham com planos e esquemas grandiosos e tem pouca capacidade de fazer com
que eles aconteçam.
Não podem tolerar a doença neles ou em outras pessoas.
Preferem agradar aos superiores e intimidar os subordinados.
Acham que as regras e as leis são para os outros e não para eles próprios.
Tornam-se freqüentemente dependentes da excitação e de uma vida de frenesi.
Guardam para si as emoções dolorosas e perdem o contato com os seus
sentimentos.
2.4_O MITO DA IMATURIDADE
A mentalidade da pessoa imatura é comandada por três motivações:

Poder
Atenção
Prazer
Tentamos conseguir amizades sendo excessivamente simpáticos e amáveis.
Podemos estar muito próximos às pessoas.
Tentamos freqüentemente controlar ou dominar.
Impomos condições em quase tudo o que fazemos, e isso gera situações de divida para conosco.
Receamos que o nosso verdadeiro “eu” seja rejeitado, por isso apresentamos ao mundo uma
falsa e inventada pessoa. Isto nos protege de sermos magoados.
Cada uma das personalidades ou jogos que inventamos tem por base uma falsa promessa ou
um mito.

A PESSOA POPULAR
Mito: Se eu for simpático, atraente, e for à pessoa que anima as festas, você vai querer
ser meu amigo
Verdade: Querendo ser tudo para todos, perdemos o nosso verdadeiro “eu” no
processo. O jogo acaba quando os outros compreendem que não existe nada por
detrás dos falsos sorrisos.

O TIRANO / DITADOR

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Mito: Se me obedecer e se eu o puser sob meu controle, protejo-o do caos.
Verdade: Se pensamos que nascemos chefes, capazes de dominar qualquer crise,
esperamos que os outros se coloquem confiantemente em nossas mãos. Mestres no
sarcasmo mantêm os nossos súditos no seu lugar com comentários cruéis. O fim do
jogo dá-se quando os “súditos” se recusam a obedecer.
O CONQUISTADOR

Mito: Sou irresistível para o sexo oposto. Parte da minha capacidade de atração
vem da minha falta de respeito pelos outros. Espero amor, atenção, riqueza e
poder em troca do privilégio da minha companhia.
Verdade: Estamos metidos em uma competição feroz para ocupar o centro do palco
e somos incapazes de nos comprometer em uma relação. O jogo acaba quando os
outros tomam consciência da frivolidade do conquistador.
A PESSOA BONITA

Mito: Juventude, um corpo bonito e uma boa aparência são as qualidades


essenciais para eu ser amado e aceito.
Verdade: Tentamos viver apenas de aparência. O jogo acaba quando os outros se
fartam da criança que exige que lhe confirmem constantemente a sua capacidade
de atrair.

A PESSOA QUE ENTRETÉM


Mito: Se eu conseguir entretê-lo com a minha música, o meu espírito ou qualquer
outro talento, você vai me admirar e me adorar.
Verdade: Só nos sentimos aceitos se os outros ficarem entusiasmados com os
nossos talentos e procurarem a nossa companhia para se distrair. O jogo acaba
quando os outros se fartam de terem de estar sempre na posição de admiradores
ou quando perceberem que não temos qualidades humanas e afetivas que
contribuam para uma relação.
O PERFECCIONISTA
Mito: Não tenho valor algum se não conseguir ser o melhor naquilo que faço.
Verdade: Ninguém é sempre o melhor ou o mais bem sucedido, mas tentamos
valorizar-nos especializando-nos em fazer algumas coisas bem feitas. O jogo
termina quando tomamos consciência da futilidade de tão altas expectativas ou
quando os outros se cansam da nossa competitividade.
O SIMPÁTICO
Mito: Se eu for simpático e amável com todos, as pessoas gostarão de mim.
Verdade: O nosso medo da rejeição leva-nos a procurar a aprovação constante de
todos. O fim do jogo acontece quando verificamos que não podemos agradar a todos
ou quando os outros se cansam da fraqueza das nossas atitudes.
O REBELDE

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Mito: Tenho de fazer tudo à minha vontade, senão... As regras são para os outros.
Se me disser para não fazer algo é como se me desafiasse a fazê-la. Verdade:
Nós, rebeldes acarretamos geralmente com as conseqüências ou o castigo que
merecemos ou pedimos. O fim do jogo vem quando nos aborrecemos de pagar o preço
que o fora da lei tem de pagar e abandonamos este comportamento.

O MÁRTIR
Mito: Mereço sofrer. Ninguém me compreende. Pobre de mim. Considero a sua
piedade como uma expressão de amor.
Verdade: Confundimos amor com piedade e pensamos que nos sacrificando e nos
protegendo do abandono. O jogo acaba quando nos cansamos de sofrer e
compreendemos que merecemos o melhor.

A PESSOA QUE NÃO PARTICIPA


Mito: Se não jogar o mesmo jogo que eu, recuso-me a jogar.
Verdade: Paralisados pelo medo do insucesso e da rejeição, não compreendemos
nada e sentimos que o mundo tem uma divida para conosco. Temos tão pouca
coragem e tanto pessimismo que desistimos antes mesmo de começar. O fim do
jogo dá-se quando os outros se fartam de não receber nada em troca.
2.5_COMPREENDER A DERROTA E TER ATITUDE PERANTE A REALIDADE
Compreendendo que com a nossa maneira de pensar e agir não tivemos resultados, pensar
desta forma abrirá as portas para a compreensão da realidade. O imaturo começará sentir a
necessidade de ajuda ao sentimento de desespero, de ser pessimista a achar que não podem
mudar. Neste momento poderá aceitar o tratamento que é oferecido. O imaturo precisa
desenvolver a confiança de que “Se os outros são capazes, eu também sou”.

2.6_COMPREENDENDO O IMATURO
Servindo-nos de todo o amor e apoio das pessoas que nos amam e que nos querem ver bem,
teremos de empreender uma viagem interior a fim de encontrar aquela parte de nós, o imaturo,
que tanto tempo ignoramos.
Podemos tornar-nos pais amantes e carinhosos dessa criança que existe dentro de cada um de
nós. Como qualquer pai faria, encorajamos a criança a aproximar-se, sentar-se perto de nós e
explicar o que está acontecendo de errado.
Então, ao pegarmos nessa criança dizendo “Está tudo bem”,e ao enxugarmos carinhosamente
as suas lágrimas, fazemos com que ela saiba que é amada, que é um belo ser humano e que
está em segurança.

ANTES DEPOIS

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Frustrado Em segurança
Zangado Protegido
Tenso Descontraído
Nervoso Grato
Sem saída Aberto
Em pânico Capaz em receber ajuda
Com medo Com boa vontade
Culpado Honesto
Envergonhado Esperançoso
Com duvidas Em paz
Derrotado Sereno
Ressentido Tolerante
Vazio Realizado

PREVENÇÃO DA RECAÍDA

2.7_QUADRO DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS


O objetivo desta tarefa é você colocar na balança as vantagens e desvantagens de usar e de não
usar álcool e outras drogas. Muitas pessoas conseguem ver apenas as vantagens imediatas de
beber ou usar drogas e “esquecem” ou diminuem as desvantagens de usar. No caso dessas
pessoas, a balança pesa muito para o lado das vantagens. Por isso, não se sentem motivadas a
parar de usar, já que não conseguem colocar todo o peso das vantagens na balança.
Comparar as vantagens e as desvantagens de suas decisões (usar, não usar) pode ajudar
você a se decidir pelo melhor caminho.
Ex: João preencheu assim o seu Quadro das Vantagens e desvantagens de Usar:

Vantagens de Usar Vantagens de Não Usar

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Faço parte de um grupo de amigos Sinto-me melhor fisicamente
Fico mais sociável Fico com a cabeça “no lugar”
Perco a inibição, a vergonha, a Sem ciúmes, sem desconfiança
timidez, a insegurança Fico bem com a esposa
Sinto-me mais confiante Fico bem com a família
Sinto-me bem, mais “relaxado” Trabalho melhor, mais disposto
Esqueço dos problemas Sem ressaca
Com dinheiro
Durmo melhor
Acordo, sem me preocupar com o que
posso ter feito na noite anterior
Alimento-me melhor

Desvantagens de Usar Desvantagens de não usar


Tenho ressaca Sinto-me sozinho, isolado, sem amigos
Fico fissurado Tenho que lidar com “fissuras” e
Brigo com a esposa compulsões
Piora relacionamento com os filhos Desajeitado no contato social
Problemas físicos Parece que a vida perde a graça
Fico desmotivado no outro dia
Sinto-me culpado
Problemas com o trabalho
Gasto todo o meu dinheiro
Perco o controle
Fico agressivo

2.8_DESCRIÇÃO DE UM DIA TÍPICO


Faça uma descrição, a mais completa possível, do seu dia-a-dia. O objetivo, é que você
identifique os momentos ou espaços do seu dia em que está engajado em hábitos e
comportamentos inadequados para a sua recuperação. Descreva também as horas que você
gastava bebendo, usando drogas, ou se preparando para o uso.
Exemplo: Esta foi à avaliação que João fez do seu dia-a-dia.
Descrição de um dia de semana típico:
_Manhã: Trabalho no escritório, atendendo clientes e telefonemas. Ao meio-dia, na maioria das
vezes não consigo almoçar direito, faço um lanche no escritório, o que, às vezes, me deixa
irritado.
_Tarde: O mesmo trabalho. Lá pelas 17 horas, já quero ir embora, mas ainda tenho atividades
a cumprir.
_Noite: Ás 18 horas vou ao encontro dos amigos, bebo uma ou duas cervejas, uso cocaína e já
me sinto bem “aliviado”.Os amigos me dão força e entendem que eu dou um duro danado na
vida.Às vezes, pego no papo, e, quando vejo, são 21 horas.Em casa s bronca é certa. Quando
consigo, janto, bebo mais uma cerveja, assisto há um pouco de TV e vou dormir.

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Num dia típico, de segunda à sexta-feira bebo mais ou menos quatro cervejas e cheiro duas
carreiras de cocaína entre 18 e 21 horas.

Descrição de um Sábado típico:


Manhã: Acordo por volta de 11 horas, vou ao bar, onde bebo uma caipirinha e cheiro uma
carreira de cocaína. No almoço, bebo uma cerveja.
Tarde: Tiro uma soneca e pelas 15 horas, brinco um pouco com os filhos ou assisto TV. Pelas 17
horas vou ao bar, onde jogamos cartas, bebemos e cheiramos cocaína. Após as 19 – 20 horas,
volto para casa.
Noite: Como o dinheiro anda curto, a família fica em casa, ou vamos até a casa de um parente.
Na maioria das vezes, fico em casa assistindo à TV e bebendo uma cerveja. No final do sábado,
bebo mais ou menos seis cervejas e duas caipirinhas, cheiro quatro carreiras de cocaína.

Descrição de um Domingo típico:


Manhã: parecido com o sábado. Almoço com os parentes, na minha casa ou na casa deles. Às
vezes, já começo o dia bebendo e cheiro uma carreira de cocaína.
Tarde: durmo boa parte da tarde, depois do almoço. Pelas 16 horas saio um pouco com a esposa
e filhos.
Noite: janto, assisto há um pouco de TV, talvez ainda beba uma cervejinha e vou
dormir cedo. No domingo, tomo umas seis cervejas e cheiro duas carreiras de cocaína.
Pedir ao paciente para preencher o formulário PPR1002.

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA

2.9_AMIZADES
Como fazer novas, como lidar com as antigas e como se redimir. Círculo de amizades.

2.10_RELACIONAMENTO AMOROSO MEV1002


Constituição de família. Papel de marido, pai e filho.

Observação: deve-se pedir ao paciente para preencher o formulário MEV1002.

3ª SESSÃO- RECOSNTRUÇÃO DE VIDA


3.1_ARECONSTRUÇÃO DE VIDA RV1001
A maioria de nós já perguntou: “Mas porque é que temos que fazer a Reconstrução de Vida?”.

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Para muitos de nós, a motivação para trabalhar a Reconstrução de Vida é bastante simples:
estamos praticando um programa de tratamento e queremos buscar qualidade de vida. Como,
o comportamento disfuncional envolve muito mais fatores do que apenas o óbvio uso de drogas
e/ou álcool, o tratamento implica também em algo mais do que apenas a permanente
abstinência.
A solução para o nosso problema é constituída por uma profunda mudança na nossa maneira
de pensar e no nosso comportamento. Precisamos mudar a forma como olhamos o mundo, o
papel que nele desempenhamos, e as nossas atitudes. Acaba por não ter grande importância
saber se a nossa motivação está no desejo de nos afastarmos de todos aqueles
comportamentos disfuncionais que nos levaram ao uso de determinadas substâncias, ou antes,
no desejo de estar em abstinência.
A Reconstrução de Vida constitui um ponto de grande importância no nosso percurso no
tratamento. É um momento de reflexão pessoal. Vai diminuindo a confusão que tentamos
disfarçar quando no uso de substâncias e as próprias ilusões que fomos criando. Estamos
iniciando um caminho que conduz a uma melhor compreensão de nós mesmos, dos nossos
sentimentos, dos nossos medos e ressentimentos, enfim, dos padrões de comportamento que
constituem nossas vidas.
Podemos ficar assustados perante a perspectiva de olhar minuciosamente para nós mesmos.
Não nos conhecemos assim tão bem como pensamos. Talvez nem tenhamos a certeza de que
nos querermos conhecer. O medo do desconhecido pode nestes momentos parecer arrasador.
A honesta compreensão de nossas vidas, irá ajudar-nos a resolver e a superar as nossas
dificuldades.
A honestidade é fundamental neste momento. Devemos acabar com a mentira. Se pararmos e
tranqüilizarmos a mente, será mais fácil entrar em contato com a realidade. Se nos sentarmos,
dispostos a por no papel, será mais fácil ainda. Dizer a verdade constitui um ato de coragem.
Com essa coragem, vamos ser capazes de escrever tudo aquilo que julgávamos impossível
contar.
O que significa Reconstrução de Vida? Significa descobrir quem verdadeiramente somos, para
que possamos expor as mentiras que construímos sobre nós mesmos. Depois de vivermos anos
na mentira, começamos a acreditar nessas mentiras. Embora já tenhamos encontrado algumas
verdades valiosas, a Reconstrução de Vida separa a fantasia da realidade. Podemos começar a
deixar de ser as pessoas que inventamos, pois encontramos a liberdade de ser quem somos.
Se a palavra “moral” incomodar, o profissional poderá aliviar o nosso desconforto. Fazer uma
Reconstrução de Vida não significa condenarmo-nos a nós mesmos. Na realidade, todo este
processo de fazer a Reconstrução de Vida transforma-se num dos maiores atos de amor para
nos mesmos.
Basta olhar para os nossos instintos, desejos, motivações, tendências e rotinas compulsivas, que
nos mantiveram presos aos comportamentos disfuncionais. Não importa há quantos anos ou
dias estamos em recuperação, pois não deixamos de ser humanos e sujeitos a ter dificuldades
e fraquezas.
A Reconstrução de Vida permite-nos observar e entrar em contato com as nossas dificuldades
e qualidades. Olhamos, para as nossas dificuldades, e para as nossas esperanças, nossos sonhos
e aspirações, e, tentamos perceber como os nossos pensamentos e comportamentos
disfuncionais, impediram de compreendermos a nos mesmos.
Alguns de nós poderemos até querer escrever a Reconstrução de Vida todo de uma só vez;
outros escrevem um pouco a cada dia.

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Na maioria dos casos ficamos aliviados ao descobrir que basta apenas começar para vermos
como as palavras parecem fluir naturalmente.
A maioria de nós não tem grande experiência na auto-avaliação que estamos prestes a fazer. É
por isso que devemos procurar o auxílio do profissional , que poderá sugerir um formato ou
uma orientação geral para seguirmos, ou então alguns tópicos ou assuntos em que nos
concentremos. O profissional poderá não só guiar-nos na Reconstrução de Vida propriamente
dito como, também, encorajar-nos, enfim dar-nos todo apoio emocional ao longo deste
processo.
Muitas vezes fortalecemos a relação com o profissional ao confiarmos na sua experiência no
decorrer do processo de tratamento.
Uma ação consistente é muito importante para o nossa Reconstrução de vida. Não podemos
dar-nos ao luxo de adiar escrever a nossa Reconstrução de Vida. Depois de começado,
precisamos levá-lo até o fim. Se tivermos tendência para “deixar para mais tarde”, poderá ser
boa idéia reservarmos um período do dia para escrevê-lo. Tal rotina irá tornar a Reconstrução
de Vida uma prioridade. Se pusermos a nossa Reconstrução de Vida de lado assim que o
tivermos iniciado, arriscamo-nos a nunca mais pegar nela.
Na nossa Reconstrução de Vida devemos ser meticulosos e pormenorizados. Teremos, por isso,
de examinar sistematicamente todos os aspectos da nossa vida. Começamos a ver e a
compreender a verdade acerca de nós mesmos, os nossos motivos e os nossos padrões de
comportamento. É importante analisar mais do que uma dimensão da nossa experiência.
O que é que nos motivou para agir assim? Que repercussão teve nossos comportamentos na
nossa vida? Como é que afetamos aqueles que nos rodeavam? De que modo é que magoamos
os outros? Como é que nos sentimos com as nossas ações? E as reações dos outros? Estes são
apenas alguns dos pontos em que focamos a Reconstrução de Vida, mas sabemos que estas e
outras questões parecidas constituem áreas essenciais que devem ser examinadas.
Na Reconstrução de Vida é importante que olhemos com bastante atenção para o medo e a
forma como ele afetou a nossa vida.
Muitos de nós fingimos não ter medo quando, no fundo, estávamos aterrorizados. O medo leva-
nos a agir irrefletidamente, tentando, ainda assim, proteger-nos de nós mesmos. Aliás, os
nossos medos muitas vezes paralisaram-nos completamente.
Como temíamos o futuro, recorríamos a esquemas e as manipulações. Adotamos atitudes
radicais só para tentar evitar aquilo que julgávamos ser uma possível perda, um desastre, uma
falta constante daquilo de que necessitávamos.
Usamos pessoas, manipulamos, mentimos, arquitetamos esquemas, planejamos, roubamos e
depois mentimos ainda mais para encobrir os nossos esquemas e manipulações. Sentíamos
inveja, ciúmes, profundas e dolorosas inseguranças. Estávamos sós, íamos afastando aqueles
que se preocupavam conosco, tentando disfarçar os nossos sentimentos.
Quanto mais sozinhos nos sentíamos, mais tentávamos controlar tudo e todos. Sofríamos
quando as coisas não corriam como queríamos, mas o nosso desejo de poder e de controle era
tão forte que não conseguíamos ver quão inútil era esse nosso esforço para controlar os
acontecimentos. Já não precisamos ter receio do que nos pode acontecer.
Na nossa Reconstrução de Vida também avaliamos os efeitos emocionais gerados por nossos
comportamentos disfuncionais. Alguns de nós tornaram-se tão hábeis em esconder
sentimentos, desenvolvendo comportamentos compulsivos, só depois de começarmos o
tratamento é que descobrimos que havíamos perdido o contato com as nossas emoções.
Em tratamento, aprendemos a identificar aquilo que estamos sentindo. É importante
reconhecermos os nossos sentimentos, pois assim poderemos começar a lidar com eles. Em vez

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de entrarmos em pânico, podemos dizer especificamente como estamos a sentir-nos.
Abandonamos a nossa forma limitada de identificar os sentimentos como “bons” ou “maus”.
Convém fazer uma lista dos nossos ressentimentos que costumam dificultar-nos no tratamento.
Não podemos obcecar-nos pelo ódio contra terceiros. Fazemos uma lista das pessoas, dos
lugares, dos valores sociais, das instituições e das situações contra os quais sentimos raiva.
Examinamos não só as circunstâncias que envolvem estes ressentimentos como, também, o
papel que desempenhamos neles. O que é que em nós foi tão ameaçado que nos fez atravessar
um sofrimento emocional tão profundo? Iremos constatar igualmente que as mesmas áreas das
nossas vidas foram repetidamente afetadas.
Observamos também as relações, em especial dos familiares. Não fazemos isso para culpar
quem quer que seja pelos nossos comportamentos disfuncionais. Sabemos que estamos
escrevendo a Reconstrução de Vida de nós mesmos e não dos outros. Escrevemos sobre como
nos sentimos em relação à nossa família e a forma como agimos sobre os nossos sentimentos.
Na maioria dos casos veremos que os padrões de comportamentos estabelecidos na nossa vida
são aqueles que mantivemos até o presente. Alguns desses padrões foram úteis para nós,
outros não. Através da Reconstrução de Vida procuramos os padrões que queremos manter e
aqueles que queremos modificar. É muito importante escrevermos sobre as nossas relações.
Devemos dar especial atenção às nossas amizades. Se encobrirmos as amizades platônicas para
nos concentrarmos apenas nas relações amorosas, a nossa Reconstrução de Vida ficará
incompleto. Muitos chegaram para o tratamento sem nunca terem tido uma amizade
duradoura. Os nossos conflitos internos foram verdadeiros motivos para as discussões que
tivemos com os amigos e, portanto, para a nossa recusa em lidar com as diferenças e tentar,
assim, manter as amizades. Alguns sentiram que uma relação mais próxima equivalia a sermos
maltratados.
Assim, e para evitar que algo acontecesse, éramos nós próprios que provocava o fim de uma
relação. Outros recearam de tal modo, a intimidade que nunca revelamos nada de nós.
Ou então talvez tenhamos convencido outros que eram eles os culpados disso ou daquilo, como
forma de garantirmos a sua lealdade, ou utilizado outras formas de chantagem emocional.
Se os nossos amigos tivessem outras pessoas em suas vidas, os nossos ciúmes e inseguranças
tornavam necessário remover essa “ameaça”. O nosso comportamento variava, desde
tornarmos os nossos amigos reféns, até tomarmos a sua amizade como garantida.
Iremos provavelmente descobrir conflitos e comportamentos semelhantes nessas relações
amorosas, encontraremos as mesmas dificuldades em confiar, recusarmos ser vulneráveis, e
talvez o padrão constante de sermos incapazes de assumir compromissos.
À medida que formos escrevendo, iremos por certo descobrir em cada relação o medo da
intimidade, ou, verificar que nunca compreendemos a diferença entre intimidade e sexo. Quer
tenhamos fugido de relações intimas devido ao medo, ou porque fomos magoados várias vezes,
aquilo que procuramos são os traços comuns, aqueles que surgem em todas as nossas relações.
Podemos ter utilizado o sexo para conseguir os nossos objetivos. Convém perguntarmos a nós
mesmos se tivemos um comportamento sexual baseado no egoísmo ou no amor. O sexo pode
ser utilizado para preencher uma carência que sentíamos. Alguns de nós sentem vergonha das
práticas sexuais. Depois de anos a agirmos compulsivamente sobre os nossos medos, e com
idéias erradas sobre sexo, queremos agora ficar em paz com a nossa própria sexualidade. Este
tópico é muito desconfortável para a maioria de nós. Contudo, se queremos algo diferente
daquilo que temos tido, torna-se necessário iniciar o processo de mudança. E nada melhor do
que escrevermos sobre isso.

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Alguns de nós sofremos abusos. Podemos ter sido vitimas de incesto ou violação. Muitos
tiveram uma infância horrível, cheia de privações e de negligência. Experiências destas podem
fazer com que inflijamos a outras pessoas o mesmo abuso. Outros de nós podem terse
prostituído ou vivido outras formas de degradação, pois sentíamos que não merecíamos o
melhor. Embora doloroso e triste, o passado não pode ser alterado. No entanto, as idéias
deturpadas que desenvolvemos acerca de nós próprios e dos outros podem ser mudadas.
Escrever sobre estas questões serve para nos libertarmos dos nossos segredos mais dolorosos
e seguirmos em frente na nossa vida. Não precisamos ser eternas vitimas do nosso passado.
Para experimentar a serenidade, precisamos alterar os padrões disfuncionais que tem
prevalecido nas nossas vidas.
A Reconstrução de Vida vai ajudar-nos a identificar esses padrões. A maioria de nós culpa várias
pessoas pelas conseqüências que temos sofrido devido aos nossos comportamentos
disfuncionais. Ou seja, não queremos aceitar o impacto negativo gerado por comportamentos
disfuncionais, pelo qual apenas nós éramos responsáveis. Alguns de nós cometemos crimes e
depois queixamo-nos das conseqüências. Outros foram irresponsáveis no emprego, mas
protestávamos em voz alta quando éramos responsabilizados. E rapidamente batíamos em
retirada sempre que nos víamos confrontados pela vida.
A nossa Reconstrução de Vida irá ajudar-nos a identificar a nossa responsabilidade pelas ações
cometidas e detectar as circunstâncias em que tentávamos culpar os outros.
A qualidade da nossa vida depende, em muito, do resultado das decisões que tomamos.
Enquanto escrevemos a Reconstrução de Vida procuramos identificar as circunstâncias em que
tomamos decisões que nos magoaram, bem como os momentos em que as decisões
resultaram. Escrevemos também sobre as ocasiões em que as nossas vidas pecaram por defeito,
ao recusarmos fazer qualquer escolha.
As situações em que fomos adiando até deixar as oportunidades passar, os momentos em que
abandonamos todas as responsabilidades, e aqueles em que nos isolamos e nos recusamos a
participar na vida, tudo isto é matéria para constar na Reconstrução de vida. Quase todos nós
alimentamos esperanças e sonhos em determinada fase da vida, mas abandonamos tudo
quando desenvolvemos o comportamento de usar drogas e/ou álcool.
Na Reconstrução de Vida tentamos recuperar sonhos perdidos e ver como é que as nossas
escolhas destruíram as hipóteses de esses sonhos se tornarem realidade. E perguntamos a nós
mesmos quando é que deixamos de acreditar em nós mesmos e também nos outros. Através
deste processo, poderemos a voltar a sonhar novamente.
Procuramos mais a fundo só para descobrirmos o modo como vivíamos em conflito com os
nossos próprios valores morais. Se, achávamos errado roubar, e mesmo assim roubávamos
aquilo que pudesse, o que fazíamos para calar nossa angustia?
Se acreditávamos na monogamia, mas éramos infiéis nas relações, o que fazíamos para
conseguir viver com nossos princípios comprometidos?
Observamos a maneira como nos sentíamos quando virávamos as costas às nossas convicções
mais profundas. Através deste processo descobrimos os nossos valores perdidos, podendo,
enfim, começar a reconstruí-los.
A reconstrução de Vida dá-nos uma visão inicial de tudo aquilo que necessitamos para crescer.
Quer seja a nossa primeira ou a nossa vigésima Reconstrução de Vida , estamos sempre a iniciar
um processo que nos leva da confusão à clareza, e que nos conduz do ressentimento ao perdão.
Podemos voltar a repetir este processo várias vezes.
Quando estamos confusos, com raiva, com problemas que parecem não desaparecer, temos na
Reconstrução de Vida uma boa forma de fazer um balanço de como nos encontramos no

26
tratamento. Depois de escrevermos algumas Reconstruções de Vida, poderemos constatar que
a nossa primeira Reconstrução de Vida apenas foi escrito o superficial. À medida que diferentes
atitudes e comportamentos vão se tornando evidentes, iremos querer renovar o processo de
mudança, voltando a escrever uma Reconstrução de Vida.
O tratamento é o instrumento que utilizamos ao longo da nossa vida. Ao prosseguirmos,
começamos a resolver alguns dos conflitos básicos que contribuíram para que
desenvolvêssemos o uso de drogas e/ou álcool. Começa a desaparecer a dor das feridas antigas,
o que nos permite viver o presente com maior intensidade.
Utilizar formulário RV1001 solicitando ao paciente para reescrever sua história de vida.
Levar o paciente a reescrever sua história de vida desde quando ele se lembra. Incluindo
nascimento, infância, adolescência e idade adulta.
Objetivo É Proporcionar ao paciente a reavaliação e a reconstrução de sua própria vida de um
modo mais adaptável, sociável e saudável.
A reconstrução de vida trabalha com a história ou relato de vida, ou seja, a história contada por
quem a vivenciou.
Este processo deverá ser acompanhado e orientado pelo profissional e ao término do mesmo
será feita a leitura da Reconstrução de sua história, onde o profissional dará os devidos
feedbacks.

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
3.2_BALANÇO DAS SITUAÇÕES PROTETORAS E PROVOCADORAS DO USO
Há situações e fatores que nos protegem de agir de determinado jeito, enquanto que, por outro
lado, há situações que provocam um comportamento nosso, mesmo quando não o queremos.
Nesta tarefa, solicitamos que ao paciente faça uma lista de todas as situações que
podem proteger ou provocar o uso de drogas ou de álcool. Usar formulário PPR1003.

3.3_BALANÇO DO ENVOLVIMENTO AFETIVO COM DROGAS E OU ÁLCOOL


Ao longo de uma vivência com a droga ou álcool, a pessoa vai estabelecendo com estes uma
relação afetiva muito forte, e doentia. As substâncias químicas são, realmente, muito sedutoras
por todos os efeitos psíquicos que proporcionam.
Por causa desse forte apelo exercido pela droga, o indivíduo acaba se “esquecendo” de todas
as desvantagens do seu uso (as conseqüências negativas posteriores), e só lembra,
momentaneamente, das vantagens (ou conseqüências positivas imediatas) da droga, como, por
exemplo, o bem estar, a satisfação, a euforia, o relaxamento, a facilitação do relacionamento
social, etc.

CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS DO USO CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS DO


USO

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Alívio de sentimento de mal estar com Reclamações da esposa
o chefe Pouco contato com os filhos
Relacionamento com amigos, onde me Preocupações da família;
sinto igual, não há superiores e nem Críticas da família
subordinados Gastos com drogas e/ou álcool
É minha forma de lazer e passatempo. Problemas físicos, sexuais
Fissuras, Ressacas
“Apagamentos” (esquecimento)
Atrasos no trabalho

Exemplo: João fez o seguinte balanço do seu envolvimento com o álcool

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


3.4_SAÚDE FAMILIAR MEV1003
Nesta etapa o paciente descreve a sua saúde familiar, está relacionado aos relacionamentos
familiares. Como o paciente tem tratado o que sente pelos familiares próximos. O que o está
impedindo de ter um relacionamento mais amoroso e harmonioso com todos os seus familiares.
O que o paciente pode fazer para ter um bom relacionamento familiar.

3.5_LEITURA TEXTO ESCOLHAS DE UMA VIDA T1001


Ao final desta sessão deve ser recomendada a leitura em casa do texto “Escolhas de
uma vida”, formulário T1001.

4ª SESSÃO: TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: NEGAÇÃO

4.1_INTRODUÇÃO
A negação é uma defesa consciente ou inconsciente que todos nós usamos para evitar, reduzir
ou prevenir a ansiedade quando somos ameaçados. Usamos a negação para fechar a nossa
consciência para as coisas que seriam demasiadamente perturbadoras de saber.
A pessoa, quando está em negação pode mentir, recusando-se a admitir a verdade de alguma
coisa, fazendo ginástica mental para transformar algo de ilógico em algo lógico.

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Mas esta pessoa não está fazendo isso para os outros. Está negando para si mesmo. Negação,
não é mentir, é não compreender o que é realidade.
A negação trabalha em um nível muito profundo. Mentimos a nós mesmos.
Quando alguma realidade ameaça a nos magoar, enganando-nos de modo a acreditar que “não
é verdade”.
Que arestas da vida são estas que nos atiram para esta auto-ilusão temporária? As pessoas
podem negar sentimentos, pensamentos, acontecimentos, mudanças, situações, problemas,
doenças e até a própria morte. As pessoas negam mais ou menos tudo o que pode ser negado
– mas o que normalmente negamos são as nossas perdas, o que perdemos ou suspeitamos que
vamos perder – algo de importante para nós. Esta perda pode ser tão pequena como uma nota
de cinco reais ou tão grande como a nossa saúde. As pessoas perdem todo tipo de coisas
importantes – amor, autoestima,confiança, sonhos, trabalhos, saúde, dinheiro, posses,
independência e até dependências. As pessoas podem perder coisas que se tornaram
importantes para elas, mas que os outros dificilmente vêem como perdas – como relações
pouco saudáveis com pessoas ou drogas.
Todo tipo de perda obriga pessoas a usar a negação. Quanto tempo, e até que ponto usamos a
negação, isso depende, podemos ter um segundo de espanto e descrédito. Podemos resistir à
realidade por minutos, horas, dias ou meses.
Por vezes a negação pode ser usada para fazer o que alguns consideraram como algo de heróico
e positivo.

A negação é uma coisa séria. Quando um usuário de bebida alcoólica nega a sua doença,
continua bebendo até morrer. Os usuários de drogas negam o seu problema e ficam mais
doentes. Os familiares de usuários de drogas e/ou álcool negam que tenham sido afetados pela
doença e podem continuar a sofrer e a fazer os outros sofrerem enquanto estão em negação.
Uma pessoa que nega a realidade não está admitindo, nem resolvendo o problema. A negação,
enquanto usada, elimina a possibilidade de mudança. Nós somos, ao mesmo tempo, seres
fortes e fracos. Temos uma grande capacidade de tolerar e suportar a mudança, a dor e a perda.
Surpreendentemente, pudemos até crescer através destas experiências e tornarmo-nos seres
mais maduros, sensíveis e carinhosos. Mas a principio, quando enfrentamos uma perda, muitos
precisam dizer: - Não. Isto não pode ser verdade. Isto não pode estar acontecendo comigo.

4.2_NÃO RECONHECENDO E NÃO COMPREENDENDO A REALIDADE


Isto é uma reação normal, natural e instintiva à perda. Usamos para lidar com a dor ou com os
problemas, não lidando com eles até estarmos prontos e preparados para lidar com eles. Alguns
precisam de um pouco mais de tempo e de ajuda do que outros, até estarem “prontos”. Não
será a compreensão melhor? – pode você perguntar. Não deverá uma pessoa ser obrigada a ver
as coisas com realidade? Estas perguntas têm razão de ser. Sim, o reconhecimento e a
compreensão são melhores. Isso não é dito para encorajar as pessoas a escolher, ou,
continuarem na negação. Mas podemos querer lembrar-nos que, a negação pode ser – e
freqüentemente é, o primeiro estágio em direção à compreensão.

4.3_ÉPARTE DE UM PROCESSO
As pessoas confundem freqüentemente o reconhecimento e a compreensão.

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O reconhecimento e a compreensão não são fáceis. Nós não reagimos imediatamente com
serenidade à dor ou aos problemas. Agora, normalmente, devemos ser gratos e ficarmos
contentes por estarmos conscientes. É muito importante descobrir que devemos parar de usar
drogas e/ou álcool se quisermos viver. Devemos parar e fazer uma reflexão a respeito de nossas
vidas, identificar perdas, para ter o reconhecimento e a compreensão.
As más noticias não ficam boas ou até neutras instantaneamente. A maioria de nós precisa lutar
com aquilo que acreditam, e com aquilo que sentem, antes e poder reconhecer e compreender
uma perda. Temos de atravessar um processo.
Podemos nos ver atravessando fases de dor/luto, com diferentes velocidades e níveis de
emoção, quando esquecemos um telefonema importante, temos um corte de cabelo que nos
desagrada, perdemos o nosso emprego ou nos divorciamos.
Podemos sofrer sempre que experimentamos uma mudança – mesmo uma mudança desejada
– porque qualquer mudança significa que tivemos de deixar algo para trás de modo a abrir
espaço para o novo.
Não importa o que uma perda possa parecer, o mesmo processo tem de ser elaborado. Pode
levar anos para se recuperar de uma grande perda. Mas os sintomas de dor podem também ser
completamente vividos num espaço tão pequeno como dez segundos.
Não existe regra que determine quanto tempo leva cada fase, não existe regra que determine
quanto tempo todo o processo leva.
Isso vai depender da perda, até que ponto estará preparado para lidar com ela, como lidamos
com outras perdas. As pessoas vão levar o tempo que precisarem.
Apesar de poderem delinear cinco fases no papel, a nossa passagem por elas pode não ser tão
linear. As fases podem sobrepor-se; podemos viver várias fases ao mesmo tempo. Podemos
voltar a fases antigas. Podemos estar em diferentes fases do processo por duas ou mais perdas
simultâneas
Muitas vezes, no caso de perdas continuas, podemos nunca chegar a atingir o reconhecimento
e a compreensão permanente. Isto é verdade quando a perda continua a afetar o nosso dia-a-
dia. Uma das razões pelas quais é tão importante para os Dependentes químicos é participar do
tratamento.
O reconhecimento e a compreensão permanente pode requerer muita atenção.
Há pessoas que chamam este processo de “processo de dor, perdão, luto”, mas a melhor
descrição é “o modo de como olhamos para as perdas”.

4.4_FASES DA NEGAÇÃO
Negação: A negação é a primeira reação à perda. Do mesmo modo como uma dor física muito
forte ou uma ferida pode por os corpos em estado de choque, a dor emocional ou mental pode
causar uma reação semelhante aos nossos sentimentos, intelecto, e por vezes ao nosso físico.
Ficamos entorpecidos, entramos em curto circuito. Isso é chamado de bloqueio, normalmente
não é um bloqueio total. Alguns sabem ou suspeitam da verdade, só que ainda não estamos
prontos ou capazes de lidar com ela. De novo, não há regra quanto ao tempo que dura a
negação.
Cada pessoa e cada situação são únicas. As pessoas negam até se sentirem suficientemente
seguras para lidar com a perda de outra maneira. Uma vez que a pessoa ultrapassa a negação,
no entanto, não é ainda a altura para atingir o reconhecimento e a compreensão.

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Raiva: Esta fase é caracterizada pela inveja, culpas, ressentimentos. A nossa raiva pode ser
específica e direcionada, ou pode ser atirada à nossa volta ao acaso. Pode ser racional ou
irracional, justificada ou injustificada, sensata ou sem sentido.
Podemos culpar os outros e nós mesmos pela situação em que nos encontramos. Podemos nos
ver tendo inveja daqueles que tem o que nós perdemos.
Podemos manter este dilema interminavelmente, assumir e atirar com maus sentimentos, ou
explodir num grande abuso verbal. Esta raiva pode por vezes ser perigosa, tanto para a pessoa
que a sente como para a pessoa que é o objeto. Normalmente por detrás da raiva estão o medo,
a culpa e a vergonha.
Negociar: Após extravasarmos a nossa ira, podemos tentar negociar de modo a evitar ou adiar
a perda. Esta fase é normalmente caracterizada por “se... então...”; frases que medem o que
damos contra aquilo que recebemos.
Algumas vezes os nossos acordos são construtivos, realistas, e obtemos o resultado pretendido.
No entanto, normalmente, muitos planos não são realistas.
O usuário de algum tipo de substância vai tentar um acordo em que pretende usar
determinada substancia apenas um fim de semana por mês.
Depressão: Avançamos agora para um período de tristeza. Desde que pela primeira vez
dissemos: - Isto não pode ser verdade – que fomos empurrados para este momento. É talvez a
essência da dor – estar de luto completamente.
É o ponto mais alto do processo de compreensão e é dor emocional na sua forma mais pura.
Choramos pelo que perdemos, e sobre o que vamos perder no futuro. Chegou a hora de chorar.
Esta tristeza pode levar horas, dias, semanas ou meses. Esta depressão será amenizada de
acordo com a elaboração dos conflitos.
Compreensão: Quando já não precisamos mais, de sentir raiva, ou de fazer acordos, e, depois
de ter trabalhado a tristeza e todos os sentimentos, comportamentos que nos deixam em
conflitos, vamos chegar a uma fase de compreensão. Isto implica que não nos limitamos
a sobreviver à experiência, mas que mudamos ou fomos melhorados por ela. De algum modo,
se não podemos ver como isso nos beneficiou, temos pelo menos a confiança de que estamos
certo.
Podemos aceitar a perda e crescer, mas o caminho não é fácil, nem particularmente confortável.
Pode ser estranho e por vezes parecer que nos vai destruir. No momento em que começa,
podemos sentir-nos em choque e pânico. Enquanto o vivermos, podemos sentir-nos confusos,
vulneráveis, sozinhos e isolados. Podemos ter uma sensação de falta de controle.
É importante compreender e fazer um compromisso a este processo. Isto é valido, benéfico, e
necessário para o reconhecimento e para a compreensão. Atravessar este processo é também
importante para a nossa saúde.
Apenas muito recentemente começamos a entender que negar a dor é negar uma função
humana natural e que tal negação produz conseqüências graves. A dor, como qualquer emoção
genuína, é acompanhada por certas mudanças físicas e a libertação de uma certa forma de
energia psíquica. Se essa energia não é gasta no processo de luto normal, passa a ser destrutiva
dentro da própria pessoa...
A própria doença física pode ser a penalidade por um processo de luto mal trabalhado...,
qualquer acontecimento, qualquer conhecimento que contenha uma sensação de perda para
si, tem de e deve ser trabalhado. Isto não significa uma vida de tristeza permanente. Significa
estar capaz de compreender um sentimento em vez de ter sempre de rir da dor.
E é positivo compreender o luto. As pessoas que sofrem, estão vivendo esse

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processo. Precisamos de nos permitir, e aos outros, a liberdade de lutar, sentir e falar sobre este
processo, se o quiserem.
Muitas pessoas, após pararem de negar, começam a atravessar um grande período de raiva e
depressão. Durante este período ficam com medo e confusos. Tem a sensação de estarem
ficando loucos e confusos.
Esta sensação, não é de loucura, mas sim de dor, gerada pela ausência de algo que durante
algum tempo nos deu a sensação de prazer e bem estar. Dá-nos uma sensação de tristeza, mas
devemos identificar o porquê, e tudo ficará bem.
Reconhecer e compreender o processo não vai eliminar a necessidade de atravessar, mas vai
nos ajudar a relaxar, ter menos medo, e trabalhá-los com ele, em vez de lutar contra ele. Agora
que examinamos o lugar da negação no processo de reconhecimento e compreensão, vamos
ver com que se parece à negação, tanto no interior como no exterior.

4.5_COMO PARECE /COMO SE SENTE /COMO ENTENDE


Como podemos nos reconhecer e nos compreender quando estamos em negação? Será tão fácil
como descobrir um elefante sentado no meio da sala?
O que nós negamos é um problema, uma perda, um sentimento no meio das nossas vidas. É
algo que evitamos, andamos em volta, e da qual fugimos. Apesar dos nossos esforços, é algo
contra o qual estamos sempre a lutar.
Apesar de não aceitar quando estamos em negação, pode ser difícil reconhecer e
compreender quando se está imersa nela. Podemos estar tão perto de uma situação que não a
vemos claramente. Podemos sentir-nos tão provocados com o comportamento escandaloso
de alguém que não pensamos claramente. Podemos estar tão ocupados a responder aos
sintomas, que não tomamos o tempo necessário para identificar o problema.
Apesar da dificuldade em reconhecer e compreender a negação, podemos aprender a ficar
sensíveis à sua presença. Cada pessoa é única; cada sistema de negação vai ser único.
Algumas pistas podem indicar que uma pessoa está usando a negação.
A pessoa pode usar mais do que uma ao mesmo tempo, ou pode andar para frente e para trás
conforme a ocasião o exigir.
Comece por se estudar a si mesmo. E quando tiver acabado de estudar a si mesmo, lembrese
de usar a informação, não para julgar os outros, mas para se comportar de uma maneira mais
saudável e prestável para eles.
Não se preocupe em descobrir todos os sistemas de negação na sua vida. Não se esqueça que,
não precisamos estar conscientes de todos os nossos problemas ao mesmo tempo. Se
estivermos trabalhando na elaboração e vivendo como devemos, vamos ficar conscientes das
coisas nas quais temos que trabalhar, quando for o tempo certo.
Cuidado! A presença de alguns traços seguintes não é uma prova segura de que está negando.

4.6_COMO PARECE
As quatro maneiras principais que as pessoas usam para negar são:
Recusar-se a reconhecer e a compreender a realidade. Aqui a característica são frases como:
“não acredito”; “não pode ser verdade”; e “isto não pode estar acontecendo”. Começamos
então a comportar-nos como se o acontecimento, problema, ou perda não tivessem
acontecido. Algumas vezes, podemos agir como se tivéssemos consciência do problema, mas
só estamos a nos adaptar sob pressão. Bem no fundo, estamos a sussurrar “Não. Eu não”.

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Negar ou minimizar a importância da perda. Aqui dizemos que seja o que for que aconteceu
“não tem importância”. Compreendemos a realidade do que se passou, mas insistimos em que
não é tão importante como as pessoas dizem; podemos até acusá-los de estarem exagerando.
Comportamo-nos como se não considerássemos o problema importante.
Negamos quaisquer sentimentos sobre perda. Isto é repressão emocional. “Aconteceu – está
pra acontecer – mas eu não me importo”, dizemos a nós mesmos e aos outros. Podemos agir e
parecer como se não nos importássemos, aparentamos estar emocionalmente vazios.
Fuga mental. Evitamos os acontecimentos mentalmente de varias maneiras. Podemos dormir
excessivamente para escapar (sentindo-nos de fato, cansados). E estamos mesmo!

4.7_COMO SE SENTE
Uma pessoa que está negando pode sentir-se desesperada, sozinha, confusa, pouco a vontade,
ansiosa, assustada, culpada, vulnerável.
Ao contrario, pode não sentir nada: as emoções estão em baixo, fechadas, frias ou reprimidas.
A resposta para as situações pode ser inapropriada: inconstante quando é altura de tristeza,
infelicidade ou raiva quando a alegria seria o apropriado. Em certos momentos ficamos
espantados ao ver como uma pessoa reage à tragédia.
À parte sentimo-nos cansados por causa da grande fuga no sono, a pessoa que nega pode sentir
um cansaço fora do comum por estar negando e porque todo o processo de negação é muito
cansativo.
Evitar a realidade é como tentar manter debaixo d’água uma bola de basquete. “Pode ser feito,
mas exige concentração e energia”.
Quando na negação, nos sentimos por vezes defensivos acerca daquilo que estamos negando.
Os outros podem sentir isso, quer tenha sido verbalizados ou não, e pensarem: - O melhor é
não falar sobre isso, ou vai haver problema. Portanto o problema não pode ser discutido.
Um sentimento de estar desligado ou fora de contato consigo mesmo é muitas vezes sinal de
negação. Podemos reparar que ao sentirmos desligados de nós mesmos e da nossa capacidade
de sentir e pensar.
Às vezes, em incidentes traumáticos podemos até ter a sensação de estar fora de nós mesmos.
Podemos sentir essa falta de ligação e não ter intimidade com a pessoa que está em processo
de negação. Pode parecer que ela se foi embora e não consegue voltar e entrar em contato.
Negação durante muito tempo pode fazer com que uma pessoa se sinta doente e até possa ficar
doente, mental ou fisicamente. Uma pessoa pode ter dores de cabeça, dores de estomago,
dores nas costas ou disfunções sexuais. Uma pessoa que nega pode ser menos resistente a todas
as doenças, e ficar doente mais vezes que o habitual.

4.8_INVENTÁRIO DAS HABILIDADES PARA LIDAR COM SITUAÇÕES DE RISCO


Todos nós, seres humanos, temos maior ou menor habilidade para lidar com determinados
sentimentos e situações do cotidiano. Alguns, ao longo da vida, aprenderam esta habilidade,
enquanto outros, não sabendo como lidar adequadamente com as situações, sempre buscaram
escapar daquilo que lhes causasse desprazer ou mal-estar. Algumas pessoas aprenderam,
mesmo sem dar conta disto, que bebendo ou usando drogas poderiam obter algum alívio
daqueles sentimentos ou situações desagradáveis.
Você mesmo já deve ter passado por muitas situações difíceis, conflitantes, confusas,
estressantes, ou, ao contrário, alegres, de bem-estar, de felicidade total, das quais o álcool ou

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a droga fizeram parte. Agora que você está em tratamento, é importante dar-se conta de como
as drogas e/ou álcool tiveram uma participação ativa ao longo da sua vida, tanto nas situações
boas, como nas ruins. Muitas pessoas ficam tão “ligadas” ao álcool ou a outra droga que
parecem não conseguir, pensar em obter prazer em viver sem ela. É como se, tendo de viver
sem “química”, a pessoa perdesse sua própria identidade. Assim, quando enfrenta qualquer
situação que antes estava associada à droga, acaba recaindo. São as chamadas situações de
risco. Para a Prevenção da Recaída, é necessário que você aprenda a identificar qualquer
situação que ponha em risco sua meta de permanecer em abstinência.
Como já foi dito quanto mais experiências bem sucedidas de enfrentamento ocorrer, mais a sua
auto-eficácia se fortalecerá, reduzindo aos poucos o risco da recaída. No entanto, se alguma
experiência de enfrentamento não for bem sucedida ou obtiver sucesso apenas em parte, isso
não deve desanimá-lo, pois tais experiências servirão como sinais de que novos jeitos de lidar
com as situações precisam ser aprendidos e aplicados na próxima oportunidade. Saber
identificar seus limites e dificuldades de enfrentamento (baixa autoeficácia) é o primeiro estágio
no desenvolvimento de planos para prevenir recaídas. Por isso, desenvolvemos este
inventário que tem dois objetivos: Ajudá-lo a identificar as suas situações de risco que podem
levá-lo a recaída; Ajudá-lo a avaliar a sua auto-eficácia; suas habilidades para lidar e enfrentar
tais situações de risco.

Algumas situações você pode prever facilmente. Outras, nem tanto, porque podem aparecer
de repente, sem aviso prévio. Depois de pensar e avaliar cada uma das situações em cada grupo,
o segundo estágio é fazer uma cuidadosa avaliação do quanto você está preparado e habilitado
para enfrentar com sucesso cada uma delas. Provavelmente você irá se dar conta de muitas
situações de sua vida em que, antes, automaticamente, acabava bebendo ou usando drogas.
Pois agora propomos que você, primeiro aprenda a identificar essas situações. Depois, faça uma
avaliação de sua habilidade de lidar com estas situações.
Se você já passou por uma recaída, deve usar sua experiência passada para responder com mais
acerto sobre suas habilidades de enfrentamento. Não se esqueça que um equívoco (uma
recaída) do passado, não deve ser visto como um fracasso, mas sim, como uma oportunidade
de aprender com o equívoco. A experiência pode servir para melhorar a maneira de sentir a
situação, de aprimorar suas habilidades de enfrentamento e, assim, evoluir positivamente
dentro do tratamento.
Exemplo: João sempre foi muito tímido e inseguro. Tem muita dificuldade em ouvir críticas,
principalmente quando seu chefe fala com ele naquele tom de voz que o faz sentir-se “por
baixo”. Ao invés de dialogar com seu chefe e explicar seu ponto de vista, fica “engolindo” tudo,
guardando muita raiva e ressentimento. João não sabe lidar com essa situação. No final do dia,
quando usa drogas e/ou álcool com os amigos, João sente-se mais aliviado, parece que “passou
tudo”.
No grupo nº1 do seu Inventário de Habilidades para Lidar com as Situações de Risco, João
marcou as seguintes situações de risco:

GRUPO 1 – LIDAR COM EMOÇÕES NEGATIVAS

AUTO-EFICÁCIA (HABILIDADES PARA LIDAR COM A SITUAÇÃO)

0 = NENHUMA 1 = POUCA 2 = SUFICIENTE

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1 Quando me sinto deprimido, triste, desanimado 0 1X 2
2 Quando estou ansioso ou estressado 0 1 2X
3 Quando sinto angustia, sem razão aparente 0 1X 2
4 Quando me sinto sozinho, isolado 0 1 2X
5 Quando estou preocupado 0 1 2X
6 Quando me sinto culpado ou envergonhado 0 1 2X
7 Quando me sinto frustrado, alguma coisa não deu certo 0 1X 2
8 Quando me sinto tímido, inibido 0X 1 2
9 Quando me sinto rejeitado 0 1X 2
10 Quando me sinto criticado ou humilhado 0X 1 2
11 Quando sinto pena de mim mesmo 0 1 2X
12 Quando tenho lembranças ruins da minha vida 0 1 2X
13 Quando sinto inveja ou ciúmes 0 1 2X
14 Quando me sinto confuso, atrapalhado 0 1X 2
15 Quando sinto raiva ou ressentimento 0X 1 2
16 Quando sinto tédio da vida 0 1X 2
Agora, pede-se ao paciente que pense com cuidado e responda sem pressa em cada uma destas
situações levantadas neste inventário de Auto-Eficácia. Ele deve colocar-se nas situações
descritas. Levando o tempo que for necessário para o primeiro estágio desta tarefa. Utilizar
formulário PPR1005.

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


4.9_ SAÚDE INTELECTUAL E SAÚDE PROFISSIONAL MEV1004
Nesta etapa o paciente deve descrever sobre sua saúde intelectual, ou seja, como adquire
conhecimento, aprendizado, seja na vida acadêmica ou em cursos diversos. Também deve
descrever sobre sua saúde profissional, como transcorre sua carreira, perspectivas e objetivos
futuros. Utilizar formulário MEV1004.

5ª SESSÃO- TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: PERFECCIONISMO

"Ser perfeccionista não é fazer alguma coisa mais, ou melhor, ou buscar sempre a excelência;
Mais sim ter a convicção emocional errônea de que a perfeição é o único caminho para a
aceitação pessoal. É a convicção de que somente seremos aceitos como pessoas se formos
perfeitos."

5.1_ O QUE É PERFECCIONISMO?


Você sente que o que você realiza nunca é bom o bastante? Você sente que deve dar mais de
100 por cento em tudo que você faz ou se sentirá medíocre ou “menos”? "A principal coisa na

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vida, é não ter medo de ser humano" - Pablo Casals se for assim, mais do que simplesmente
estar trabalhando para o seu sucesso, você pode estar tentando ser perfeito.
O perfeccionismo aparece como um jogo de pensamentos e de comportamentos de auto
derrota, visando alcançar objetivos não realistas e excessivamente elevados. O perfeccionismo
freqüentemente é visto equivocadamente em nossa sociedade como desejável ou mesmo
necessário para o sucesso.
Entretanto, os estudos recentes mostraram que as atitudes perfeccionistas interferem
realmente com o sucesso. O desejo de ser perfeito pode transmitir a você um sentimento
interno de satisfação pessoal.
Porém exteriormente ele pode realizar exatamente o oposto, e fazer com que você não consiga
certas realizações tanto quanto as pessoas que tem expectativas mais realistas sobre si mesmas.

5.2_CAUSAS DO PERFECCIONISMO
Se você for um perfeccionista, é provável que você tenha aprendido cedo na vida que as
pessoas sempre a avaliariam pelo quanto você realizaria ou conseguisse. Em conseqüência
disso, você pode ter aprendido a avaliar-se somente na base da aprovação das outras pessoas.
Assim sua auto-estimapode estar sendo baseada primeiramente em padrões externos. Isto
pode deixá-la vulnerável e excessivamente sensível às opiniões e as criticas dos outros.
Na tentativa de proteger-se de tal criticísmo, você pode decidir que ser perfeito é sua única
defesa. Os seguintes sentimentos, pensamentos, e opiniões negativas podem estar associados
ao perfeccionismo:
Medo de errar. Os perfeccionistas freqüentemente associam uma falha em conseguir seus
objetivos com uma falta pessoal ou de valor.
Os perfeccionistas comparam freqüentemente erros com falhas. Ao orientar suas vidas em
razão de evitar erros, aos perfeccionistas faltam oportunidades de aprender e crescer.
Medo da desaprovação. Se deixarem os outros verem suas falhas, os perfeccionistas temem
freqüentemente que não sejam aceitos. Tentar ser perfeito é uma maneira de tentar proteger-
se do criticismo, da rejeição, e da desaprovação.
Pensamento definitivo. Os perfeccionistas acreditam freqüentemente que são “sem valor” se
suas realizações não forem perfeitas. Os perfeccionistas têm dificuldade de enxergar as
situações em perspectiva. Por exemplo: um estudante que receba uma nota “B” ao invés de
uma nota “A” pode acreditar: “Eu falhei” (o que se reflete em: “eu sou uma falha total”).
Ênfase nos “deveria”. As vidas dos perfeccionistas são estruturadas freqüentemente por uma
lista infinita de “deveria”, existem regras rígidas de como suas vidas devem ser conduzidas. Com
tal ênfase nos “deveria”, os perfeccionistas passam a controlar as suas vidas através de regras,
ao invés de perceber o que realmente gostam e querem.
Acreditando que outro é facilmente bem sucedido. Os perfeccionistas tendem a perceber que
o sucesso dos outros é conseguido com um mínimo do esforço, poucos erros, baixo stress
emocional, e máxima autoconfiança. Ao mesmo tempo, vêem seus próprios esforços como
ineficazes e inadequados.

5.3_OCICLO DO PERFECCIONISMO
As atitudes de Perfeccionistas formam um ciclo vicioso. Primeiramente, os perfeccionistas têm
certos objetivos irrealizáveis. Em segundo lugar, muito do que poderia já estar concretizado na

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sua vida, não se concretizam pela atitude critica que tem em relação a si mesmo, e não porque
os seus objetivos eram impossíveis ou difíceis de alcançar.
A falha em alcançá-los era assim inevitável. Em terceiro lugar, a pressão constante para
conseguir a perfeição e a falha crônica inevitável reduz a produtividade e a eficácia. Em quarto,
este ciclo conduz os perfeccionistas a serem autocríticos e auto-responsáveis (se culpam, se
exigem demais) o que resulta em uma baixa auto-estima.
Este comportamento também pode conduzir à ansiedade e a depressão. Neste momento os
perfeccionistas podem ter um pensamento do tipo: “Se eu me esforçar mais, fizer mais, ou
melhor, vou conseguir”. Este pensamento ajusta o ciclo outra vez.
Este ciclo vicioso pode ser ilustrado olhando a maneira com que os perfeccionistas
freqüentemente se comportam com relação aos seus relacionamentos interpessoais. Os
perfeccionistas tendem a antecipar a desaprovação e rejeição dos outros por medo. Dado tal
medo, os perfeccionistas podem reagir de maneira defensiva às criticas, e desse modo afastar
os outros. Mesmo sem realizá-los, os perfeccionistas podem também aplicar seus padrões
irreais elevados aos outros, tornando-se críticos e exigentes com eles.
Além disso, os perfeccionistas podem evitar deixar que outros vejam seus erros, não
percebendo assim, que demonstrar as suas fraquezas permite que outros os percebam como
mais humanos e assim mais “normais” e agradáveis.
Afinal tendemos a gostar menos de pessoas "perfeitas", do que daquelas que nos parecem mais
próximas a nós.
Por causa deste ciclo vicioso os perfeccionistas têm freqüentemente uma dificuldade de se
relacionar com as pessoas. E podem até ter em conseqüência disso relacionamentos
interpessoais pouco satisfatórios.

5.4_COMO MUDAR
Os comportamentos saudáveis tendem a buscar objetivos baseados nos seus próprios desejos
e vontades em primeiro lugar, ao invés de querer corresponder às expectativas externas.
Seus objetivos são apenas mais uma etapa além do que você já realizou. Ou seja, seus objetivos
são realistas, internos, e potencialmente atingíveis e capazes de serem mantidos. Os
comportamentos saudáveis têm como foco prazer no processo de perseguir uma tarefa, ao
invés de focalizá-la somente nos resultados de finais.
Quando experimentam a desaprovação ou a falha, suas reações geralmente estão
limitadas às situações específicas ao invés de generalizadas á você como um todo.

5.5_QUE FAZER COM O PERFECCIONISMO


A primeira etapa na mudança das atitudes perfeccionistas é perceber que o perfeccionismo é
indesejável. A perfeição é uma ilusão inatingível. A etapa seguinte é desafiar os pensamentos e
os comportamentos de disfuncional que abastecem o perfeccionismo. Algumas das seguintes
estratégias podem ajudar:
Ter objetivos realísticos e possíveis de serem realizados sempre tendo como base as suas
próprias vontades e necessidades. E levando em conta tudo o que você já realizou no passado.
Isto permitirá que você consiga aumentar a sua auto-estima.
Dê pequenos passos. Pense nos seus objetivos de maneira seqüencial, mas sem rigidez.
Escolha uma atividade e em vez de apontar para 100%, tente 90%, 80%, ou nivele 60% de
sucesso. Isto a ajudara a perceber que o mundo não termina quando você não é perfeito. E

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que você pode conseguir e alcançar muita coisa que deseja, sem a necessidade de ser 100%
perfeita. Focalize no processo de fazer uma atividade não apenas no resultado de final. Avalie
seu sucesso não somente nos termos do que você realizou, mas também nos termos de quanto
você apreciou a tarefa. Reconheça que pode haver um valor no processo de perseguir um
objetivo.
Use seus sentimentos de ansiedade e depressão como oportunidades de perguntar-se: "Eu
tenho me colocado expectativas impossíveis para mim mesmo nesta situação?”.
Confronte os medos que podem estar atrás de seu perfeccionismo se perguntando: "O que mais
me dá medo nesta situação? Qual é a pior coisa que poderia acontecer?”.
Reconheça que muitas coisas positivas somente podem ser aprendidas cometendo-se erros.
Quando você faz um erro pergunte: "O que eu posso aprender desta experiência?”. Mais
especificamente, pense em um erro recente que você fez e liste todas as coisas você pode
aprender com ele. Evite o pensamento rígido com relação a seus objetivos. Aprenda a
discriminar as tarefas que você quer dar uma maior prioridade daquelas tarefas que são
menos importantes para você. Com relação às tarefas menos importantes, escolha colocar
menos esforço daqui por diante.
Uma vez que você tentou estas sugestões, você pode ser capaz de perceber que o
perfeccionismo não é uma influencia útil ou necessária na sua vida. Há maneiras alternativas de
pensar que são mais benéficas. Dê uma chance a si mesmo e aos outros que estão ao seu lado;
chance de descansar, de aproveitar a vida, de se divertir.
5.6_TIPOS DE PERFECCIONISTAS
Se antes de considerar uma tarefa ou trabalho terminado, você o revisa minuciosamente. A sua
obsessão pela perfeição vai obrigá-la a ficar dedicada ao trabalho, horas a mais que os seus
colegas, porem este não é o grande problema.
O problema é que jamais você fica satisfeita com o que faz. Sempre, a pessoa perfeccionista
pode buscar uma sensação de controle sobre as situações da sua vida, porém se torna "escrava“
dos êxitos e vulnerável à frustração.
A pessoa perfeccionista pode ser definida como aquela que se esforça em melhorar o êxito de
seu objetivo seguindo um padrão ideal. Este padrão ideal pode estar presente em todas as áreas
da vida da pessoa; abrangendo desde os seus bem pessoais, trabalho, relacionamentos e
imagem corporal. Estas pessoas tendem a dar uma importância exagerada a tudo e nunca se
sentem satisfeitas. Sempre ficam com a sensação de que poderiam ter feito ainda melhor. A
maioria das vezes consegue seu objetivo, porém a energia para alcançá-lo tornase sufocante.
Podem ser detalhistas, meticulosos e caprichosos frente ao que desejam aperfeiçoar.
O problema é que quando alguma coisa fracassa surge à frustração, sentimento que não
toleram e que os faz cair numa crise de tristeza, agressividade e culpa.
O perfeccionismo costuma ser definido por uma "síndrome depressiva derivada de frustrações
e dos fracassos que descompensam". O perfeccionista acaba apresentando uma formação
rígida que o impede de adaptar-se a diferentes situações e pessoas. O problema está na
personalidade do perfeccionista, e pode ser confundido com o transtorno obsessivo compulsivo
e receber tratamento errôneo.
Porém a grande diferença entre eles é que o obsessivo-compulsivo tem uma idéia que considera
absurda, irracional e que gera tensão. Por isso, deve realizá-la como um ritual, ou seja,
apresentar uma conduta compulsiva.
A obsessão deixa sem vontade. Enquanto que o perfeccionista tenta realizar o trabalho sempre
da melhor maneira possível, nunca ficando satisfeito com o resultado.

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A psicóloga americana, Mônica Ramirez Brasco, em seu livro “(Nunca suficientemente bom:
Liberte-se da cadeia do perfeccionismo.), identifica dois tipos de perfeccionistas”:

Introspectivo: Apresentam pouca auto-estima e confiança. Sentem que qualquer erro será
terrível (o que é uma fantasia, embora pareça real) e que errando não contariam com o carinho
e a aprovação dos outros. Nunca estão satisfeitos com eles mesmos.
Extrospectivos: Não apresentam baixa auto-estima, porém não confiam nas habilidades ou
capacidades do restante do grupo de trabalho e, por isso, não conseguem delegar. Exigem das
pessoas a perfeição que eles procuram em si mesmos.

O perfeccionista espera que todos ao redor sejam perfeitos (de acordo com o SEU modelo
“particular de perfeição”) e se incomoda quando não consegue aplicar aos outros suas regras
de disciplina.
As pessoas do seu convívio não conhecem suas expectativas (porque não vivenciam a mesma
necessidade de perfeição), o que gera tensão com sua família, amigos e colegas, e um grande
sentimento de raiva. A chave está em entender que não é possível obrigar outras pessoas a ter
atitudes perfeccionistas. Ninguém jamais poderá sentir o que você esta sentindo.
Cada um de nós está sozinho internamente, com sentimentos e pensamentos únicos, só seus.
Você pode usar esse conceito para ter a liberdade, de pôr um ponto final num esforço que pode
durar a sua vida inteira; e, que de sobra é inútil, para que as outras pessoas sintam o que você
sente.
Pensando dessa forma você também terá forças para ser você mesmo, de uma forma mais
poderosa e positiva. A idéia de que estamos sozinhos com nossos pensamentos e sentimentos,
não nos torna uma ilha, incompreendidos ou solitários. Nenhum homem ou mulher é uma ilha,
mas, sabemos que em virtude do nosso caráter único e de nossas experiências próprias, que,
internamente somos ilhas para nós mesmos, e, que compreender esta idéia nos ajudará a
construir pontes para os demais, em vez de erguer barreiras, perturbando-nos, brigando e nos
magoando quando vemos que os outros não pensam, nem são como nós. O indivíduo com
personalidade perfeccionista pode mudar sua conduta, aos poucos e com êxito.
Deve aprender a dar prioridades às suas atividades, sem fazer tudo de um modo extremamente
perfeito, já que é isso o que faz perder de vista o objetivo principal de suas ações. Muitas vezes
o perfeccionista acaba vivendo “pela metade” já que desperdiça uma série de oportunidades
pessoais e de vida.
O perfeccionismo é uma fantasia; só se libertando desta idéia você poderá viver a vida de
maneira completa e com qualidade.

5.7_CARACTERÍSTICAS PERFECCIONISTAS
Tem uma sede insaciável de realização.
Precisa sentir-se indispensável.
Não há oportunidade que se verifiquem erros.
Deposita esperanças irrealistas nos outros.
Sente necessidade de aprovação de todas as pessoas.
Concentra-se nos insucessos.

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Estabelece para si mesmo normas impossíveis de atingir.
É extremamente competitivo em relação aos outros.
Receia correr riscos.
Adia.
Tem dificuldade em aceitar críticas.

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
5.8_CARTÕES DE ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM SITUAÇÕES DE RISCO
Estratégias fazem parte de um plano de ação. É a arte de usar e aplicar os instrumentos
necessários para atingir o objetivo de enfrentar, lidar com uma situação de risco.
No inventário das habilidades para lidar com as situações de risco, você já identificou e marcou
as suas situações de risco, as situações nas quais se sente mais vulnerável a uma recaída por
causa de sua pouca ou nenhuma auto-eficácia.
Por isso, a próxima tarefa é você descrever para cada situação de risco, no mínimo 3 (três)
possíveis estratégias que julga necessário aprender ou desenvolver para sentir-se com o
domínio da situação.
Exemplo: João fez o seguinte plano de ação para a situação de risco de receber críticas do chefe
pelo seu trabalho.
Situação de Risco: Receber críticas do chefe pelo seu trabalho.
Estratégia nº 1: Quando o meu chefe falar comigo, escutar o que ele tem a me dizer e, então,
colocar o meu ponto de vista.
Estratégia nº 2: Aprender a dialogar com o chefe. Falar com ele quando não tem nenhum
problema no trabalho.
Estratégia nº 3: Pensar e refletir que assim como eu sou, o meu chefe também não é perfeito.
Concluindo o exercício inicial, faça um planejamento de estratégias de enfrentamento para
todas as situações de risco que você marcou no seu inventário de autoeficácia com “0” ou “1”,
isto é, nenhuma ou pouca auto-eficácia. Lembrando que para cada situação de risco, monte, no
mínimo 3 (três) estratégias de enfrentamento.
Observação: Formulário Cartões de Enfrentamento PPR1006, os cartões poderão ser
impressos e depois de preenchidos podem ser recortados para o paciente carregá-los.

MODIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA


5.10_SAÚDE ESPIRITUAL E COMPORTAMENTOS E ATITUDES
Nesta etapa o paciente deve descrever sobre sua saúde espiritual, que esta relacionado com o
seu auto-desenvolvimento como Ser. O que anda fazendo para manter sua paz de espírito, seu
amor por você e pela vida. Também descreve sobre seus comportamentos e atitudes, que
consiste nos comportamentos problema, com suas melhorias atuais e futuras. As características
de comportamento, caráter, personalidade, junto ao seu funcionamento. Utilizar formulário
MEV1005.

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6ª SESSÃO- T.R.E. PENSAMENTO DISFUNCIONAL
6.1_INTRODUÇÃO
Nós podemos conseguir e desfrutar uma sobriedade duradoura. Temos dentro de nós o
potencial para crescer e amadurecer com o tratamento, e conseguir qualidade de vida.
Podemos tornar-nos pessoas com boa auto-estima e de expectativas otimistas. Podemos nos
tornar vencedores. Quantos recuperam? Quantos conseguem manterem-se sóbrios e bem,
depois da sua primeira experiência em tratamento? Quantos recaem mergulhando outra vez na
doença e no desespero da dependência química? De fato, a dependência química é uma doença
caracterizada pela recaída. Dentre aqueles que realmente tentam manterem-se sóbrios e bem
através do acompanhamento profissional e do programa terapêutico, cerca de 40% desenvolve
a dependência crônica do álcool e/ou de outras drogas. O que se passa com eles? Serão
estúpidos? É pouco provável. Observe que ficar abstinente por muito tempo não está
dependendo da inteligência. O mundo está cheio de usuários de drogas e/ou álcool, que são
inteligentes.
Não é a inteligência, a sorte ou a beleza que nos mantém sóbrios – a atitude faz a
diferença dentro do processo de compreensão e consciência.

6.2_MANIPULAÇÃO
Um escritor russo disse uma vez que: “Fingir tão facilmente coexiste com sentimento sincero”
As suas palavras descrevem habilmente um fenômeno comum entre as pessoas que estão em
tratamento da dependência química. O fenômeno chama-se manipulação e é um exemplo de
primeira importância do Pensamento Disfuncional.
A manipulação é fazer afirmações que não são sinceras. É dizer aos outros aquilo que eles
querem ouvir. É condescendência superficial .
Manipulação é diferente da mentira. Quando mentimos, estamos a cometer uma fraude total.
Sabemos que estamos a faltar com a verdade e esperamos não ser apanhados. A manipulação
se parece mais com um pensamento daquilo que estamos a dizer. Algumas vezes somos
totalmente sinceros – pelo menos neste momento. Mas nos falta seqüência.
É só conversa e nada de ação. E isto é o que torna perigosa a manipulação para pessoas em
tratamento. Sentamo-nos, mexemos os lábios desejando que as nossas palavras se tornem
verdade. Mas a conversa de nada vale. O tratamento exige ação! Mudança! Compromisso!
Trabalho! A manipulação oferece perigo à sobriedade porque suficientemente ingênuos para
acreditar que ao repetir as palavras e os slogans certos, podemos adequadamente substituir o
trabalho, tantas vezes doloroso e difícil, de olharmos para dentro de nós mesmos e mudarmos
as crenças e comportamentos errados que tornaram as nossas vidas disfuncionais.
A manipulação não resulta. Poderemos ser capazes de enganar o profissional, a esposa, o
patrão, os amigos, a assistente social com as nossas fluentes palavras, mas, se não formos
honestos e verdadeiros, teremos que encarar a possibilidade mais provável da recaída!
Certas frases feitas são características da manipulação:
Prometo não tornar a fazer; Desta vez aprendi a lição; Juro que ter sido pego dirigindo
embriagado foi à pior coisa que me aconteceu; Sei que nunca mais irei beber.
Eu vou deixar de (fumar, dirigir sem carta, comer porcarias, perder a cabeça, etc.) assim que...
Farei tudo o que disser, desde que (não me despeça, não tenha que me divorciar, não me meta
na cadeia).

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Lembre-se: Normalmente acreditamos na nossa própria manipulação. Continuidade é o que
distingue a falsidade da manipulação, da sinceridade do verdadeiro compromisso para com o
tratamento. Não é o que dizemos que conta. Mas sim aquilo que fazemos.

6.3_MANIA DE GRANDEZA
A mania de grandeza é outro lado da baixa auto-estima. É caracterizada por um sentido
exagerado do “eu”, e aqueles que dentre nós quem sofre disso possuem um sentido
embaraçosamente irrealista da sua importância, talentos e habilidades.
É a nossa crença grandiosa de que as outras pessoas são demasiado estúpidas para
reconhecerem a nossa insinceridade, que nos leva a continuar o jogo da manipulação. Mania
de grandeza é acreditarmos que podemos continuar a andar por ai com os nossos velhos amigos
do “uso” sem sermos apanhados outra vez usando drogas e/ou álcool. Mania de grandeza é
acreditar que há outras pessoas que podem precisar da muleta do programa terapêutico, mas,
que nós não precisamos de nenhumas .Mania de grandeza é acreditar que uma cerveja ou uma
“pinga” não vai nos fazer agir de forma disfuncional.
Mania de grandeza é acreditar que podemos voltar a beber em sociedade ou usar drogas outra
vez. Mania de grandeza é acreditar que somos os melhores, mais espertos ou dignos que os
outros. Mania de grandeza é acreditar que regras são para os tolos e não para nós. Mania de
grandeza é a crença irrealista de que, de uma maneira ou de outra, podemos magicamente
ultrapassar as probabilidades de podermos continuar preguiçosos e exigentes, sem arriscar a
recaída. Mania de grandeza é Pensamento Disfuncional.
O que distingue tanto a baixa auto-estima como a mania de grandeza é o desprezo. Com baixa
auto-estima o desprezo vira-se para dentro de nós; com mania de grandeza, nós visamos o
exterior, as outras pessoas e as regras da sociedade e da natureza.

6.4_RESISTÊNCIA
Não suportamos que nos digam o que temos que fazer. No momento em que alguém começa
a dar ordens (mesmo quando estão certos, mesmo que sejam para o nosso bem), os nossos
ficam arrepiados.
Para nós, a resistência é tão normal como respirar. Parece que temos uma tendência nata para
resistir e opormo-nos à autoridade. E para nós, a autoridade pode ser qualquer um, incluindo a
nossa esposa, os nossos filhos, os nossos pais, o nosso terapeuta, etc. É qualquer pessoa que
tenta influenciar o nosso comportamento. Talvez a nossa resistência provenha em parte da
nossa mania de grandeza. Nós queremos ter sempre a razão. A nossa mania de grandeza nos
engana, fazendo-nos acreditar que temos as respostas, que tudo irá correr bem, se toda essa
estúpida gente fizer as coisas da nossa maneira.
Claro que nem sempre mostramos abertamente a nossa resistência. Podemos mesmo nos
mostrando perfeitamente agradáveis e alegres por fora, mas por dentro, estamos pensando e
montando planos para virar a situação e fazermos exatamente o que nos apetece.
Por causa da resistência e mania de grandeza, não somos muito bons a receber sugestões dos
nossos terapeutas e outras pessoas.
A chave da resistência é a imaturidade. Em muitos aspectos, somos como crianças grandes.
Queremos ser o centro das atenções e que todas as nossas necessidades sejam imediatamente
satisfeitas. Ficamos zangados e ressentidos quando as pessoas que nos rodeiam não procedem
como nós queremos.

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Começamos culpá-los pelos nossos problemas e despendemos uma enorme quantidade de
energia tentando mudá-las, a fazer tudo certo, para nos tornarem felizes.
Isto é o que torna a resistência tão perigosa para o nosso tratamento. Estamos tão ocupados a
tentar controlar e mudar os outros de um modo tão arrogante, que não temos energia ou visão
necessária para mudar a nós mesmos e aos nossos pensamentos disfuncionais.
Uma boa atitude é a resposta. O tratamento floresce quando encaminhamos sem medo os
nossos pensamentos e ações quando dedicamos a reconhecer e a eliminar os hábitos
disfuncionais da manipulação, da mania de grandeza, do facilitar e da resistência.
Estas quatro qualidades de comportamento promovem crenças disfuncionais que podem tornar
as nossas vidas desgovernadas e infelizes mesmo quando estamos sóbrios.
Mas podemos mudar! Podemos desafiar o nosso Pensamento Disfuncional e aprender novas e
saudáveis respostas à vida.

6.5_DESAFIANDO O PENSAMENTO DISFUNCIONAL


São necessárias pelo menos três coisas para desafiar o Pensamento Disfuncional.
Consciência: Não podemos mudar uma má atitude se não a identificarmos, enquanto
enterramos nossas cabeças na areia da mania de grandeza e resistência, nunca reconheceremos
os nossos próprios defeitos de caráter. O Quarto Estágio é um modo excelente para aumentar
a nossa consciência dos nossos comportamentos. A consciência pode ser dolorosa. Temos uma
tendência natural para negar as nossas imperfeições, protegermos os nossos egos, e
escondermos da horrível verdade dos nossos erros. Mas sem estarmos conscientes nunca
poderemos crescer ou melhorar. Então, vamos não ter medo do nosso inventario moral. Uma
vez passada a dor inicial da busca dentro de nós, podemos até achar maravilhosamente
libertadora a consciência de nós mesmos.
Compromisso: Agora já não é tempo de manipulação e superficial. A mudança positiva requer
trabalho esforçado e prática. Devemos procurar conselho sensato com um terapeuta hábil,
digno de confiança e que se preocupa conosco. Devemos examinar os nossos planos para
melhorarmos. Estaremos a facilitar? A tentar encontrar o caminho mais fácil? A mudança não
acontece facilmente, não está tendo valor o nosso esforço? O compromisso sincero é vital para
o tratamento!
Ação: A consciência não tem significado a menos que tomemos uma ação positiva e construtiva
para melhorar as nossas fraquezas e defendermos as nossas forças. Possuímos uma habilidade
notável para mudar, contudo, a visão de nós mesmos é muitas vezes seguida de inatividade.
Por quê? O medo pode assustar-nos: medo do desconhecido, medo de nos enfrentarmos. –
Pode dor – dizemos. – A mudança me apavora. A preguiça é um grande bloqueio. – Pra que me
incomodar? Perguntamos. – Até aqui sobrevivi sem mudar. E a mania de grandeza juntamente
com a baixa auto-estima nos mantém presos à nossa rotina. – Eu não preciso mudar – insistimos
com medo de admitir a nossa fraqueza. – Não se passa nada de mal comigo! A ação marca a
diferença entre o sucesso e o fracasso. Se estivermos prontos para mudar, para melhorar e
crescer, é agora tempo de fazê-lo.

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6.6_TRANSFORMAÇÕES
O ponto mais importante a ter em conta acerca do Pensamento Disfuncional é este: Podemos
mudar as nossas atitudes!
Podemos ser negativos ou positivos. A escolha é nossa! Ao eliminar o Pensamento Disfuncional,
estamos a pensar claramente e a nos comprometer com o tratamento. Já aprendemos que as
chaves da recaída são: desonestidade, desprezo, desculpas e imaturidade. Estas características
da personalidade são obstáculos à nossa procura da felicidade e da maturidade. Mas estamos
atentos, empenhados e agindo, podemos transformar estes obstáculos nos alicerces do
tratamento. Podemos contrabalançar estes aspectos negativos da nossa personalidade,
esforçando-nos ativamente na direção dos opostos positivos.
Vejamos os opostos positivos que podem intensificar o tratamento. De um lado estão às
características negativas que conduzem à recaída, do outro lado vemos os opostos positivos, os
traços de personalidade que assinalam uma atitude vencedora e um propósito de vida saudável.

SINTOMAS DE RECAÍDA SINAIS DE TRATAMENTO


Chave: Falsidade Chave: Sinceridade
Falso Genuíno
Enganador Honesto
Autocrítico Transparente
Mentiroso Sério
Exagerado Digno de confiança
Manhoso Sincero
Falador Ativo
Inconstante Dedicado
MANIA DE GRANDEZA AUTOCONFIANÇA
Chave: Desprezo Chave: Respeito
Barulhento: o que fala alto. Prudente: aquele que ouvi
Pomposo Humilde
Acusador Compreensivo
Egoísta Diferente
Ignorante Dedicado: o que aprende
O que se odeia O que gosta de si
Arrogante Convicto
Fantasista Realista
FACILITADOR VIGILANTE

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Chave: O que se desculpa Chave: De confiança
Irresponsável Responsável
Preguiçoso Enérgico
Passivo Ativo
Que não é de confiança Escrupuloso
Auto-indulgente Disciplinado
Impulsivo Pontual
Que se atrasa Verdadeiro
Falso
RESISTÊNCIA ACEITAÇÃO
Chave: Imaturidade Chave: Maturidade
Exigente Generoso
Teimoso Receptivo
Egocêntrico O que se preocupa
Zangado Calmo
Amedrontado Aberto à mudança
Argumentador O que pergunta
Resistente O que se rende
Rígido Flexível
Agora, olhemos para nós mesmos, de perto e honestamente para os mais íntimos pensamentos e
sentimentos. Qual é a lista de características de personalidade que melhor descreve o que
gostaríamos e ser? Qual é a lista que melhor descreve como fomos e como somos agora?
Somos sinceros, egoístas, não dignos de confiança e exigentes? Somos enganadores,
arrogantes, irresponsáveis e argumentativos? Será o nosso pensamento claro e racional ou o
Pensamento Disfuncional?
PREVENÇÃO À RECAÍDA
6.7_HORÁRIOS DE RISCO
Algumas pessoas estabelecem ao longo do tempo alguns horários em que costumam beber ou
usar drogas, segundo as convivências ou facilidades. Enquanto alguns, só bebem no final do
expediente, no barzinho com os amigos, outros têm o hábito de fumar um “baseado” somente
quando “saem pra noite”. São os horários de Risco.
Exemplo: João costumava beber entre 18 e 21 horas, em dias de semana. No fim desta semana,
João bebia entre 11 e 14 horas e entre 17 e 20 horas. Seus relógios dos Horários de Risco ficaram
assim:

HORÁRIOS DE RISCO EM DIAS ÚTEIS (DIA) HORÁRIOS DE RISCO EM DIAS


ÚTEIS
(NOITE)

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HORÁRIOS DE RISCO EM FIM DE SEMANA HORÁRIOS DE RISCO EM FIM
(DIA) DE SEMANA
(NOITE)

6.8_ MAPEANDO OS HORÁRIOS DE RISCO


Neste exercício pede-se ao paciente para identificar os seus horários de risco,
durante a semana e aos fins de semana. Utilizar formulário PPR1007.
Observação: Ao final desta sessão é importante solicitar ao paciente que finalize e
traga para a próxima sessão a sua “Reconstrução de Vida” para leitura.

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7ª SESSÃO: RECONSTRUÇÃO
7.1LEITURA DA RECONSTRUÇÃO DE VIDA
Esta sessão é dedicada à leitura do exercício “Reconstrução de Vida” escrito pelo paciente na
sua 3ª sessão. O terapeuta deve analisar com atenção todos os aspectos positivos e negativos
e posteriormente fornecer feedback ao paciente.

8ª SESSÃO: TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: VERGONHA


8.1_INTRODUÇÃO
Compreender os nossos sentimentos não é tarefa fácil. A maioria de nós já sentiu o peso da
vergonha as determinadas alturas, alguns de nós foram desonestas em relação aos nossos
sentimentos – para conosco e com os outros por medo de sermos descobertos ou de que os
outros ficassem, a saber, desanimado sobre nós.
Quando estamos focados no tratamento, os sentimentos dolorosos vêm freqüentemente à
superfície, e quando deixar assim sentindo-nos mal. Palavras como infelizes ou tristes podem
dar uma boa descrição desses sentimentos dolorosos. Por vezes não só nos sentimos mal
como acreditamos que somos maus.
Não só nos sentimos magoados como acreditamos que há algo de errado no mais profundo do
ser. Acreditamos que há algo de errado não só com o uso de álcool ou drogas, mas também
conosco próprios. Sentimos que algo nos falta, sentimentos inadequados e vazios.
Esse sentimento crônico que nos invade é muitas vezes a vergonha. O vazio aumenta com o
derrotismo e com a necessidade constante de preenchimento. O vazio da vergonha é uma
armadilha que nos impede de nos sentirmos satisfeitos e que faz com que fato de não usarmos
drogas, álcool, comida ou outros comportamento compulsivos, pareça impossível, em relação
aos nossos sentimentos – para conosco e com os outros – por medo de sermos descobertos ou
de que os outros ficassem, a saber, desanimado sobre nós.
Quando em abstinência, os sentimentos dolorosos vêm freqüentemente à superfície, e quando
deixar assim sentindo-nos mal. Palavras como infelizes ou tristes podem dar uma boa descrição
desses sentimentos dolorosos.
Por vezes não só nos sentimos mal como acreditamos que somos maus. Não só nos sentimos
magoados como acreditamos que há algo de errado no mais profundo do ser. Acreditamos que
há algo de errado não só com o uso de álcool ou drogas, mas também conosco próprios.
Sentimos que algo nos falta, sentimentos inadequados e vazios.
Esse sentimento crônico que nos invade é muitas vezes a vergonha. O vazio aumenta com o
derrotismo e com a necessidade constante de preenchimento. O vazio da vergonha é uma
armadilha que nos impede de nos sentirmos satisfeitos e que faz com que fato de não usarmos
drogas, álcool, comida ou outros comportamento compulsivos, pareça impossível.
8.2_DE ONDE VEM A VERGONHA
Para a maioria de nós a vergonha tem as suas raízes na nossa infância. Há famílias que têm
problemas relacionados a uso de drogas e/ou álcool, inclusive emocionais, por isso, muitos de
nós fomos criados em famílias doentes que ao sabiam corresponder às nossas necessidades
emocionais e muitas vezes físicas.

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Quando os pais são cronicamente depressivos ou se debatem com um problema relacionado
ao uso de drogas e/ou álcool, são muitas vezes incapazes de estar à altura das necessidades
emocionais dos seus filhos. Quando as crianças não vêem as suas necessidades emocionais
satisfeitas, sentem muitas vezes vergonha. A vergonha é fomentada quando as necessidades
emocionais de uma criança não são satisfeitas, quando essa criança não é ajudada a crescer
como uma pessoa válida e livre para explorar as suas capacidades, para testar os seus limites e
para se aceitar emocionalmente.
Uma família saudável satisfaz naturalmente as necessidades emocionais de cada um dos seus
membros. Os filhos são aceitos tal como são; amados e respeitados. A individualidade dos
membros da família é mantida. Os pais são livres de ser adultos e os filhos, livres de serem
criança. A vergonha cresce quando a criança ou o adolescente se sente abandonado ou
desprezado, quando não recebem o carinho necessário para crescer e se desenvolver, e olhar
para si próprio como uma pessoa válida. Estas crianças ou adolescentes acabam muitas vezes
por ter uma maturação em que os sentimentos de inadequação e de inutilidade estão
profundamente enraizados.
A educação inadequada durante a infância pode ter diversas formas. Para alguns de nós era
maneira evidente: Batendo-nos ou empurrando-nos; Obrigando-nos a ter comportamentos
sexuais; Abandonando-nos durante vários dias.
Para muitos de nós, era sutil e pretensioso:
✓ Comparando-nos com irmãos que tinham conseguido tanto;
✓ Sujeitando-nos a ouvir comentários depreciativos sobre a nossa masculinidade ou
feminilidade;
✓ Criticando-nos sobre a nossa capacidade de ultrapassar ou de conseguir as coisas
sozinhas;
✓ Criticando-nos sobre os nossos aspectos ou pesos;
✓ Lembrando-nos constantemente dos nossos erros;
✓ Ameaçando-nos de que nos tornaríamos iguais ao nosso “pai bêbado e mau”;
As pessoas criadas inadequadamente aprendem em grande parte a estarem vigilantes quando
perto dos outros, não vá alguém descobrir os seus sentimentos de falta de adaptação. Poderão
sentir uma necessidade de se esconderem, às suas emoções e aos seus pensamentos.
Manter segredos torna-se importante para eles, assim como resistir às descobertas, para
evitar errar. Errar é visto como a maior evidência de inutilidade. Um erro não é visto como um
acontecimento isolado; é generalizado para passar a ser a descrição total de pessoa: Eu sou
um erro.A minha vergonha significa que, não só eu me sinto mal, como acredito que não
presto, sou inadequado e inútil. Esse gênero de raciocínio promove um ciclo vicioso, em que
as crianças que não são valorizadas tornam-se adultos que acreditam que não tem valor.
Para esconderem os seus sentimentos de inutilidade, eles desenvolvem um sistema defensivo
muito rígido. Ninguém pode saber nada sobre eles. Escondem cautelosamente qualquer pista
sobre a sua falta de adaptação.
Duvidam e negam as suas emoções e deixam de exprimir os sentimentos, de demonstrar afeto,
e tornam-se desconfortáveis em relações à sua sexualidade. Tristeza crônica, apatia e medo de
serem descobertos, tomam o lugar dos sentimentos de confiança e partilha.

48
8.3_AVERGONHA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A vergonha pode também começar a aparecer mais tarde. Aqueles de nós que desenvolvem o
uso de drogas e/ou álcool, podem se sentir desesperados com os problemas emocionais à
medida que o ciclo da dependência vai aumentando, e as nossas tentativas de levarmos uma
vida saudável e produtiva vão sendo derrotadas.
Com a perda da esperança, este ciclo auto-destrutivo só vem salientar os nossos problemas de
comportamento e exagerar os sentimentos de inutilidade.
A vergonha e as suas conseqüências auto-destrutivas, a vergonha é um problema emocional.
As emoções tornam-se um problema quando nos impedem de alcançar alguns dos nossos
objetivos mais básicos. Para muitos de nós, construir um estilo de vida saudável implica no
desenvolvimento de relações que nos preenchem ao nos deixarmos de ser vulneráveis e
imperfeitos com aqueles que confiamos, ao mesmo tempo em que aceitamos a vulnerabilidade
e imperfeição dos outros.
Ser humano é ser falível e menos que perfeito. Tratamento também significa participar
ativamente no mundo do trabalho, ter prazer em viver o dia-dia e, é claro, manterse abstinente.
Quando um sentimento como a vergonha nos impede de realizarmos qualquer uma destas
tarefas básicas, então temos um problema emocional.
A vergonha é, portanto um obstáculo à aprendizagem das tarefas básicas da vida. Sensações
crônicas de vazio podem minar os esforços para nos sentirmos felizes e podem fornecer uma
desculpa para uma recaída.
A vergonha mantém-nos isolados e separados dos outros, sabotando assim as nossas
necessidades de intimidade e relação com significado. Interfere com a nossa capacidade para
nos relacionarmos com os outros, como pessoas reais e imperfeitas.
A vergonha é um problema especial para as pessoas em tratamento da dependência de drogas
e/ou álcool e de problemas emocionais.
Se tivermos sentimentos não identificados de vergonha com os quais não lidamos, estamos
correndo o risco de voltar ao uso. De fato, o modo como nos comportamos ao sentirmos
vergonha é freqüentemente oposto ao modo como nos comportamos em tratamento.
Tratamento é o processo que nos devolve a uma vida realizada, o que envolve freqüentemente
menos sofrimento emocional e liberdade do comportamento compulsivo.

CARACTERÍSTICA DE VERGONHA CARACTERÍSTICA DE QUEM ESTÁ EM


TRATAMENTO
Procura isolamento social e Participa no processo social de
distanciamento emocional tratamento
Falta de confiança em si próprio Confia nas suas opiniões e
Sente a espontaneidade reprimida sentimentos
Repete os mesmos erros Sente alegria
Baseia-se em comportamentos Aprende com a experiência
rígidos Aborda os problemas com
flexibilidade
Como a vergonha nos faz sentir mal e tem como resultado o nosso comportamento auto-destrutivo, é
importante identificar a vergonha como parte do nosso processo de tratamento.

49
8.4_AVERGONHA CONTRA CULPA
A vergonha é diferente da culpa. A culpa é um sentimento de reação contra um mau
comportamento ou uma omissão de um comportamento esperado. Por exemplo, um
adolescente pode sentir-se culpado por ter agido de forma a magoar outras pessoas, ou um pai
pode sentir-se culpado por ter negligenciado o seu filho. A culpa está geralmente limitada a um
acontecimento específico, não envolve uma avaliação do nosso valor como pessoa.
Na verdade, os sentimentos de culpa são muitas vezes saudáveis. Podem ser um sinal de que
falhamos em alguma coisa ou que precisamos olhar melhor para o nosso comportamento.
Podemos aprender a olhar para a culpa e a não temer.
Ajuda a lembrar que somos seres humanos imperfeitos e que temos valor, podendo aprender
com os nossos erros e tornar-nos pessoas que funcionam em pleno. Por outro lado, os
sentimentos de vergonha envolvem geralmente a nossa valorização como pessoa.
A vergonha não é uma simples reação a um acontecimento específico; mas antes uma resposta
emocional adquirida que permanece seja qual for à qualidade da nossa atuação.
Quando nos sentimos com vergonha, temos mais probabilidade de nos isolar e de nos
distanciarmos emocionalmente; tornamo-nos menos espontâneos e mais infelizes. Os
comportamentos derrotistas da vergonha reforçam os nossos sentimentos implacáveis na
angústia, vazio e inutilidade.

8.5_AS BOAS NOTÍCIAS


Podemos mudar os sentimentos da vergonha! Assim como a vergonha se aprende, também
pode ser “desaprendida” e substituída por atitudes e sentimentos. Podemos reduzir os
sentimentos da vergonha compreendendo as suas raízes, reconhecendo que temos vergonha e
alterando conscientemente os comportamentos relacionados com ela. As convicções em
relação a nós próprios; quer tenham sido adquiridas na infância que mais tarde tendem a
persistir mesmo quando paramos com o uso de drogas e/ou álcool. Quando crianças, temos
tendência de acreditar naquilo que os adultos nos ensinam, especialmente quando confiamos
nesses adultos, tais como nos pais, religiosos ou professores.
Quando adolescentes, modificamos as nossas atitudes baseando-nos nas nossas experiências.
Assim, se formos confrontados com fracassos constantes, críticas e com os nossos novos
comportamentos inadequados, aprendemos depressa a desvalorizar aquilo que somos.
As crianças e os adolescentes, pela natureza da sua juventude, têm falta da capacidade, do
conhecimento e da estabilidade emocional para compreender a complexidade das suas atitudes
e sentimentos. O mesmo se aplica quando há uso de drogas e/ou álcool e aos comportamentos
compulsivos. Alguns de nós passamos por obsessões e comportamentos compulsivos que
invadiram toda a nossa personalidade; outros passaram pela experiência do descontrole em
relação a certos comportamentos tais como a bebida ou o jogo.
Todos nós enfrentamos e sentimos a destruição que vem da nossa incapacidade para modificar
o nosso comportamento. Por si só, as resoluções firmes e a força de vontade, só nos levaram
aos tristes insucessos. Embora quiséssemos que a dor resultante do nosso comportamento
derrotista parasse, éramos impotentes. Tal como as crianças eram impotentes em relações às
nossas tentativas para controlar as complexidades das nossas atitudes, sentimentos e
comportamentos derrotistas. Só quando aceitamos a nossa impotência enquanto adultos é que
podemos recuperar.

50
Em tratamento, ficamos mais conscientes dos nossos sentimentos e podemos tomar decisões
conscientes em relação ao modo como nos comportamos e sentimos.
A vergonha perpetua-se nas nossas convicções. Não importa quando, como e onde as
aprendemos, estas atitudes baseadas na vergonha fazem agora parte de nós.
O juiz interior que representa as nossas tentativas perfeccionistas de controle pode agora ser
enfrentado, diminuído e, eventualmente, destronado! As leis do juiz não são absolutas e podem
ser vencidas com uma oposição persistente baseada na lógica e na razão.

8.6_PRINCÍPIOS TRE
Apesar de a vergonha ter as suas raízes no passado, precisamos lidar com ela no presente. Um
dos métodos para atacar as atitudes baseadas na vergonha é utilizar uma abordagem baseada
na auto-ajuda. A TRE baseia-se na premissa que os pensamentos provocam sentimentos.
Muitos de nós pensamos que os nossos sentimentos são reações automáticas a acontecimentos
isolados. Falamos muitas vezes dos sentimentos desagradáveis como se alguém ou algo fosse
responsável por eles: “Ela deixou-me furiosa”.
Muitos de nós acreditamos que os acontecimentos em ‘A’ causam as emoções em ‘B’.
No entanto, os sentimentos não são automáticos nem necessariamente similares ou
compatíveis com a resposta a acontecimentos semelhantes. Por exemplo, um acontecimento
(A), tal como receber um conselho em grupo pode resultar em inúmeros sentimentos diferentes
(B, C), que podem ir desde sentir raiva a sentir tristeza (D).
Portanto, os sentimentos variam de individuo para individuo e não estão automaticamente
relacionados com os acontecimentos. Como tal, as emoções não são diretamente causadas por
acontecimentos. A TRE diz-nos que podemos escolher o modo como interpretamos ou o que
pensamos de um acontecimento em B, que por sua vez causa um sentimento em C.

A B C D
Situação Convicção Sentimento
Ação

RESUMINDO
Seguem-se seis coisas importantes para nos lembrar sobre a vergonha:
_A vergonha é um sentimento penetrante de inutilidade. A vergonha é diferente da culpa; não
é uma simples reação ao nosso mau comportamento. A vergonha é, muitas vezes um
sentimento crônico de inadequação, de vazio e de dúvida em relação a nós próprios.
_A vergonha tem muitas vezes origem na infância e na adolescência, vinda de um sistema
familiar doentio. A criança ou adolescente acredita que as criticas que a família lhe faz são
plenamente justificadas e cresce a acreditar que ele ou ela não tem qualquer valor ou utilidade.
Somos impotentes em relação àquilo que aprendemos em crianças.
_A vergonha pode também ser uma conseqüência da perda de controle. A incapacidade de
parar ou de controlar um comportamento doentio leva-nos freqüentemente à desvalorização
pessoal.

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_Os sentimentos intensos de vergonha resultam em comportamentos derrotistas tais como,
afastamento social, isolamento e em comportamentos aditivos, tais como não parar de comer,
jogar compulsivamente ou beber excessivamente. Portanto, a vergonha representa um fator de
risco para recaída.
_A vergonha envolve geralmente um juiz interior que exige um comportamento rígido e que
nos envergonha quando não conseguimos cumprir essas exigências. A vergonha balança muitas
vezes entre as expectativas perfeccionistas e a autocondenação. O “juiz interior” representa de
fato o nosso conjunto de crenças.
_Já que a vergonha é inventada e aprendida, também pode ser desaprendida.
Usando os recursos ao nosso dispor que incluem as ferramentas básicas de TRE, podemos
reduzir com sucesso os nossos sentimentos de vergonha - isto é, sentir vergonha menos
intensamente e com menos freqüência.

8.7_UM TRABALHO DE TRE


Agora é sua vez! Tal como com qualquer comportamento novo, você precisa praticar a redução
dos seus sentimentos de vergonha. A sua tarefa é fazer o trabalho de TRE e, para isso, talvez
precise de um bloco de notas. Eis algumas sugestões a considerar quando fizer o seu trabalho:
Identifique a vergonha. Comece primeiro identificando o sentido da vergonha que o preocupa;
observe os comportamentos derrotistas geralmente relacionados com a vergonha; seja
especifico; pense num exemplo retirado da sua experiência.
Identifique o acontecimento. Em seguida identifique o acontecimento motivador. Pense numa
ocasião em que ação especifica tenha provado um sentimento intenso de vergonha. Pode ter
sido a informação (feedback) que lhe deram durante uma terapia de grupo ou um comentário
feito pelo seu parceiro. Em qualquer dos casos, seja o mais objetivo, concreto e especifico
possível, ao identificar o acontecimento (A).
Identifique os seus pensamentos e sentimentos. A próxima tarefa é identificar os seus
pensamentos (B). Geralmente, os sentimentos de vergonha (C) são explodidos por exigências
irrealistas, tendência para exagerar o lado negativo e desvalorização pessoal.
Critique o seu pensamento. Questione a sua lógica (D). Aqui, critique os seus
pensamentos, contaste a sua lógica e desenvolva uma alternativa mais racional.
Estabeleça objetivo. Pense em quais os seus objetivos para essa situação. Claro que prefere
sentir vergonha menos vezes e menos intensamente. É melhor sentir pena e remorso do que
vergonha e incerteza. Reduzir a vergonha é sem duvida um objetivo importante para se atingir
a sanidade. Freqüentemente, este objetivo ajuda a orientar a nossa ação construtiva.
Comece a agir. Faça uma lista de ações construtivas que podia alcançar os seus objetivos (E).
Seja o mais especifico e concreto possível. Numere a lista e mantenha-a simples, concentrando-
se na ação.
Agora que acabou um exercício escrito de TRE a sua próxima tarefa é partilhar este trabalho
com outros. Procure mais ajuda e opiniões em relação ao pensamento (B). Pergunte aos
companheiros se falhou algumas coisas. Talvez tenham algumas idéias que o ajudem a
questionar a sua lógica (D).
Talvez alguns deles tenham alguma ação a acrescentar à lista que você fez em “E”. Use o seu
trabalho de TRE como catalisador para discutir os seus sentimentos, as suas atitudes baseadas
na vergonha e as idéias alternativas. Quando mais envolver outras pessoas no processo, mais
rapidamente aprenderá maneiras de reduzir os seus sentimentos de vergonha.

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Não se esqueça de utilizar outros métodos de auto-ajuda para atacar os sentimentos de
vergonha. Não desista facilmente. Provavelmente tem muitos anos de pratica de
comportamentos baseados na vergonha.
Terá por isso, que praticar bastante para encontrar novos comportamentos que o ajudem a
encontrar novos comportamentos que o ajudem a superá-los.
Há uma serie de recursos que podem ajudar: grupos de auto-ajuda, terapia individual e de
grupo, aconselhamento em longo prazo e grupos de prevenção à recaída. Alterando as suas
atitudes e modificando os seus comportamentos, pode reduzir os sentimentos de vergonha,
diminuir o risco de recaída e abrir-se às alegrias de uma vida feliz e saudável.

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
8.8_SINALIZADORES
Fissura ou compulsão ocorre quando há um desejo intenso de beber ou usar droga, mais isso
não é sinal de fracasso do tratamento, é apenas um evento normal. Fissura e compulsão podem
ser diferentes em intensidade e freqüência, de pessoa para pessoa.
Algumas até relatam não sentir nenhuma fissura, após iniciarem o tratamento.
Outras se sentem um pouco confusas e não conseguem saber direito se o que estão sentindo é
fissura mesmo ou é “nervosismo”. Fissura pode ocorrer, mesmo que você esteja envolvido
ativamente em seu plano de tratamento.Muitas coisas no seu ambiente cotidiano podem servir
como acionadores de uma fissura. Determinadas pessoas, lugares, cheiros, gostos, podem servir
como pistas, indicadores, sinais e senhas para fissura. São os chamados Sinalizadores. Alguém
que está se tratando do envolvimento com álcool e drogas, ao ver uma garrafa de sua bebida
preferida, ou um gesto que ative sua memória química, pode sentir um desejo intenso, uma
fissura, ou, uma compulsão. A garrafa de bebida, ou o papelote, cachimbo, seringa, etc., passa
a ser um sinalizador.
Exemplo: Para João, um dos sinalizadores mais importantes era seu amigo José, que sempre
passava pela sua repartição para irem juntos ao bar, encontrar-se com amigos para beber e usar
drogas.

8.9_ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM OS SINALIZADORES PPR1009


Qual o seu plano para lidar com os possíveis sinalizadores, que você certamente irá encontrar
em sua vida?
Exemplo: João, por exemplo, resolveu falar com seu amigo José e explicar toda a situação. Pediu
a ele que o ajudasse no seu Plano de Tratamento e que a primeira ajuda que poderia lhe dar
era não mais irem ao bar ou pontos de drogas, como de costume, mas saírem para fazer uma
boa caminhada.

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MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA
8.10_SONHOS E DESEJOS MEV1007
Nesta etapa o paciente deve descrever sobre seus sonhos e desejos em todos os aspectos.
Utilizar formulário MEV1007.

9ª SESSÃO: TERAPIA RACIONAL EMOTIVA: RAIVA


9.1_A RAIVA
Porque nos preocupamos com a raiva? é verdade que todos ficamos irritados? De fato, a raiva
é um sentimento humano que todos nos experimentamos. O principal problema está nas
conseqüências – o que acontece quando você fica com raiva? Se não acontece nada quando
você se irrita, então, a sua raiva não é razão para preocupação porque as conseqüências são
limitadas. No entanto, se tiver perdas em relação a si ou se fizer mal aos outros – se a sua raiva
tiver conseqüências dolorosas ou prejudiciais, assim terá razão para se preocupar com ela.
Por exemplo: à tarde, você quer ir embora do trabalho mais cedo para jogar futebol. Começa
trabalhar cedo e trabalha na hora do almoço para compensar o fato de sair mais cedo. Ao meio
dia, aparece o seu patrão e destina-lhe uma nova tarefa que seja feito antes de você ir embora.
Você obedece, mas só acaba a tarefa muito tarde, quando já não dá mais tempo para jogar
futebol. Quanto mais o tempo vai avançando, mais você se sente furioso. Quando sai
do trabalho, para em um bar no caminho de casa para aliviar alguns de seus sentimentos de
raiva.
Acaba por beber demais, chega em casa muito tarde e tem uma discussão com a esposa, com
quem não se preocupou em telefonar para avisar que chegaria mais tarde. Ou, em vez de parar
em um bar, poderia ir diretamente para casa depois do trabalho, com muito mau humor.
Tropeça nos brinquedos das crianças, espalhados pela sala onde seus filhos estiveram
brincando, enquanto aguardava a sua chegada. Descarrega a sua raiva contra as crianças,
mandando-as arrumar a sala imediatamente. Ameaça-as ao ver que elas demoram em guardar
os brinquedos e, finalmente, num ataque de fúria, manda-as para cama. Depois, senta-se para
jantar com a esposa e acusa-a violentamente de ser uma mãe tão má.
Alguns de nós podemos negar ou sentir dificuldade em aceitar ou exprimir abertamente
quaisquer sentimentos de raiva contra os outros. Podemos esconder a nossa raiva, guardá-la
para nós mesmos.
Podemos ter medo de que os outros não gostem de nós se a manifestarmos.
Entre nós, alguns reprimem os seus sentimentos de raiva e podem, seja qual for à razão porque
o fazem, ter encontrado um escape para essa raiva no uso que fizeram da droga e/ou álcool no
passado.
Enquanto usávamos, podemos ter nos tornados implicativos, ou, começado a proceder de
modo fisicamente hostil.
Outros podem ter escondido os seus sentimentos de raiva, depois, usam-na erradamente sob a
forma de acessos de raiva contra pessoas vulneráveis a quem ama.

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9.2_APRENDER A CONTROLAR A RAIVA E AS SUAS CAUSAS
Aprender a lidar com a raiva de forma saudável, sem fazer mal a nós mesmos ou aos outros, é
uma parte importante da vida. Embora sendo importante para todos nós sermos capazes de
forma eficaz a nossa raiva, para alguns, isso se torna especialmente importante.
Se estivermos nos tratando de problemas de droga e álcool ou de problemas emocionais,
podemos correr o risco de ter prejuízos se não aprendermos a compreender os sentimentos de
raiva. Achamos que as outras pessoas fazem ou o que nos acontece que causa a nossa raiva.
Transferimos a nossa responsabilidade da nossa raiva para outros. Acreditamos erradamente
que o nosso conflito emocional – a raiva – é causada por pressões externas. Achamos que não
podemos mudar esses sentimentos perturbadores sem que as “causas” – pressões exteriores
ou outras pessoas – mudem. Acusar permite-nos racionalizar a nossa raiva. Arranjamos
desculpas para os nossos sentimentos de raiva, atribuímos culpas aos outros e recusamos
mudar o nosso comportamento. Para alguns de nós, culpar outras pessoas ou situações pela
nossa raiva fornecenos uma desculpa para usar o álcool ou outras drogas. Para outros, essa
acusação constitui uma justificação para a nossa raiva, e, por isso, não a largamos.
Normalmente, quando julgamos ou avaliamos qualquer coisa de forma negativa, ficamos
perturbados. Se julgarmos ou avaliarmos qualquer coisa de forma menos negativa e mais
positivamente, nos sentiremos melhor.
Basicamente, não são os acontecimentos que nos perturbam, mas sim a nossa forma de pensar
sobre esses acontecimentos. Em outras palavras, sentimos como pensamos. A maneira de
pensar que provoca em nós os sentimentos de raiva, têm a ver com a nossa necessidade de
controle e nossa exigência de conseguirmos a todo custo impor a nossa vontade! A seqüência
começa com o que querermos, segundo o nosso desejo, o que é um exemplo normal do
egocentrismo que todos temos.
O que acontece no desenrolar dos sentimentos de raiva é que a nossa forma de pensar muda
de acordo com o nosso desejo. Tudo tem de ser como eu quero! Quanto mais raiva sentirmos,
tanto mais exigirmos ou insistirmos que as coisas corram como queremos.
Egocentrismo: a necessidade de controlar. “Consegui o que quero”.

FLEXÍVEL RÍGIDO
Querer que tudo se realize de acordo Exigir que tudo se realize como eu
com o meu desejo e o não o quero e não o conseguir. Devia ter,
conseguir. Eu quero, desejo ou tenho de ter uma coisa e consigo:
prefiro uma coisa e não a obtenho: Conseqüência – raiva (sentimento de
Conseqüência – irritação perturbação intensa).
(sentimento de perturbação
normal).

9.3_CONSEQÜÊNCIAS DA NOSSA RAIVA


As conseqüências da nossa raiva podem ser o tentarmos conseguir o que queremos sendo
verbal ou fisicamente agressivos. O que acontece à nossa relação com os outros se usarmos a
raiva para conseguirmos o que queremos? Como é que os outros nos vêem? Evitam-nos e
ignoram-nos? E como é que isto se repercute sobre a compreensão que temos sobre nós
próprios?

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Quando ficamos com raiva, se não tentarmos compreende-la, este sentimento poderá distorcer
os nossos pensamentos ou percepções sobre a situação . É difícil observar uma situação
objetivamente ou com realismo quando a vemos através da raiva, e é provável que agir segundo
estas percepções distorcidas torne a situação ainda pior – ou agrave as suas conseqüências
negativas.

9.4_APRENDENDO ACOMPREENDER ARAIVA


Para começar, podemos fazer um inventário pessoal sobre a nossa raiva ajuda-nos a
desenvolver uma maior consciência e compreensão quanto à sua origem, quanto às
conseqüências de ficarmos irritados, e, quanto ao que poderemos fazer a esse respeito.
Um inventário pessoal ajuda-nos a entrar em contato com os nossos sentimentos e a tomar
consciência da nossa necessidade de compreensão. Pode usar o esquema ABCD para ajudar a
compreender a “anatomia” da raiva.
A= Situação: O problema que desperta certos sentimentos que o perturbam ou enraivecem.
B= Convicções: Certeza obtida por fatos ou razões. O que pensa ou o que diz a si mesmo
(as suas exigências) a respeito da situação.
C= Sentimentos: Como se sente (confuso ou enraivecido) em relação à situação.
D= Ações: Como se comporta ou atua de acordo com o que sente. As conseqüências derrotistas
ou dolorosas.

9.5_FAZER UM DIÁRIO
Como parte do processo de aprendizagem para fazer um diário sobre sua raiva. Para começar,
tome nota de acontecimentos ou situações passadas ou recentes em que sentiu raiva. Ao
descrever essa experiência, use o esquema ABCD.

A B C D
Situação Convicção Sentimento Ações

9.6_COMPREENDENDO ARAIVA
Comece pelos sentimentos que o incomoda. Identifique-os. Use-os como sinais de “stop”. Os
sentimentos que o incomoda são sinais de que algo não está bem. Poderá ter que entrar em
contato com os seus sentimentos.
Identifique os pensamentos irritantes que, dentro da situação, lhe estão a provocar raiva. O que
é que está a querendo exigir? Examine os pensamentos que o incomoda. Pergunte a si mesmo:
Porque há de ser como eu quero? Porque é que os outros têm de fazer o que eu quero? E depois
responda às perguntas.
Torne a situação clara para si próprio. Pergunte-se: O que é que realmente se passa que me
enraivece? Em que consistem os fatos e quais são as minhas opiniões sobre eles? Haverá uma
forma mais eficaz de encarar a situação? Pode então ficar desapontado com a situação, mas
não com raiva contra as pessoas que a criaram.

56
Em seguida, estabeleça para si objetivos mais realistas em relação às circunstâncias que
levantam o problema. Pergunte a si próprio: O que posso fazer? Seja explícito e concreto. O
que posso mudar (comportamento) e o que terei de aceitar ( comportamento dos outros) nesta
situação?
Faça uma lista das opções construtivas por meio das quais pode alcançar os seus objetivos.
Pergunte-se: Que ações construtivas poderei empreender para atingir os meus objetivos?
Escolha uma opção construtiva para alcançar o seu objetivo e atue de acordo com ela. O
resultado final do processo ABCD é uma ação positiva.

9.7_USAR UM DIÁRIO PARA OBTER RESULTADOS POSITIVOS


Compreender os sentimentos de raiva através do esquema ABC pode ser considerado como
fazer o diário. No início, diário exigirá de si muito tempo e esforço. Com a prática continuada
de compreensão dos sentimentos de raiva pelo processo ABC, poderá, eventualmente, reduzi-
lo a um esquema mais simples:
1. Use os primeiros sinais de raiva como sinais de stop.
2. Diga a si mesmo, acalme-se, simplifique. Não fique irritado.
3. Pergunte-se: O que poderei fazer, nestas circunstâncias, que seja útil?
4. Depois atue de acordo com as suas opções construtivas.
O processo ABCD pode ser um instrumento muito útil no processo de trabalhar problemas
emocionais ou problemas relacionados com o abuso do álcool ou outras drogas.
O processo representa uma forma valiosa de enfrentar a perturbação emotiva que se encontra
muitas vezes associada com os problemas ligados ao abuso do álcool e outras drogas ou com
problemas emocionais. Se não aprendeu a lidar construtivamente com as perturbações
emocionais, poderá estar em risco de uma recaída, já que as situações que envolvem problemas
fazem parte da vida.

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
9.8_LEVANTAMENTO SEMANAL DAS SITUAÇÕES DE RISCO PPR1010
Várias situações de risco podem surgir no dia-a-dia.
Pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos ocorrem o tempo todo durante o dia,
apesar de que muitas vezes nem percebemos isso. Quando estes são seguidos de oscilações, se
não tratados, podem acabar levando você, aos poucos, a tomar decisões aparentemente
irrelevantes que, em uma série encadeada, direcionam-no para uma recaída.
No processo do tratamento, é importante identificar diariamente as situações de risco para não
ser engolfado por uma cadeia de eventos, que supostamente, parecem não ter importância
para a sua meta no tratamento.
O convite de um amigo para um simples jantar íntimo e informal, por exemplo,
pode gerar em você algum desconforto na hora de recusar aquele uísque que lhe é oferecido.

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“Desce redondinho” pode pensar, enquanto sente a adrenalina subir. Se não fosse a companhia
que estava com você ter lhe dado “uma força” naquele momento, poderia deixase levar pelas
expectativas dos efeitos positivos de beber.
Algumas horas depois, você sentiria os efeitos da violação da abstinência, aqueles sentimentos
e pensamentos super desagradáveis e conflitantes a respeito do seu próprio eu, posteriores ao
uso da substância psicoativa.
Exemplo: João fez seu Levantamento Semanal das Situações de Risco, e, na segunda-feira
anotou o seguinte:
Situação: José me procurou, como de costume, às 18h00min horas.
Sentimento: Estou cansado do meu trabalho hoje. Pra variar, meu chefe me humilhou na frente
dos outros.
Pensamento: Se eu fosse até o bar, ou bocada, poderia relaxar, bem que eu mereço.
Atitude: Antes que a vontade de ir ao bar ou na quebrada aumentasse, falei para o José que eu
estava fazendo um plano de tratamento da minha história, e isto incluía não beber e usar
drogas. Bem que eu gostaria de ir ao bar, ou bocada, é tão legal encontrar com todo mundo,
mas eu preciso seguir com meu objetivo. Funcionou.
Esta é a idéia deste Levantamento Semanal das Situações de Risco: fazer um balanço semanal
das situações de risco ocorridas diariamente e as estratégias de enfrentamento empregadas.
È Preciso criar o hábito de, anotar no fim do dia aquelas situações de risco pelas quais passou
no decorrer deste; e também com quem você estava e onde estava. Anotar também os
sentimentos e os pensamentos que teve quando ocorreu a situação de risco.
Depois, descreva as atitudes e os comportamentos (isto é, as respostas de enfrentamento) que
teve para lidar com essa situação de risco.
Descreva as estratégias de enfrentamento de que lançou mão e o resultado prático das mesmas
(“funcionou e não funcionou”, “funcionou mais ou menos”).
Este levantamento irá prover importantes informações para que possa trabalhar
no sentido de melhorar e fortalecer as suas habilidades e estratégias de enfrentamento.

9.9_SAÍDAS DE EMERGÊNCIA PPR1011


Os edifícios têm saídas de emergência para o caso de acontecer um incêndio ou outro problema
mais grave. Não que estejam esperando um incêndio, mas apenas como precaução.
No seu caso, se acontecer de estar numa situação de alto risco, que parece não ter saída, como
uma fissura muito grande e o “incêndio” da vontade de beber ou de usar droga quiserem tomar
conta, o que você irá fazer?
Exemplo: João anotou em seu manual, em primeiro lugar, o nome da esposa e seus telefones
do trabalho e de casa, pois ela está dando todo seu apoio para ele.

NOME TELEFONES

Maria (11) 3523-7865

Helena (11) 9876-1234

Renato (12) 3445-7654

58
Silvio (15) 4344-2212

MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA


9.10_UMA CARTA PARA MIM
Nesta etapa pede-se ao paciente que escreva uma carta “Uma carta para mim”,

10ª SESSÃO A LISTA L1001


10.1_INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos esta parte, trazemos outras pessoas para esse processo: pessoas que
prejudicamos em função de nossos comportamentos disfuncionais, pessoas a quem tivemos a
intenção de prejudicar, pessoas que prejudicamos acidentalmente, pessoas que não estão em
nossas vidas e aquelas de quem esperamos estar próximos.
Quando fazemos esta lista, identificamos os danos que causamos. Não importa se foi porque
estávamos tomados pela ira, pela indiferença, ou porque sentimos medo. Não importa se
nossas ações foram baseadas no egoísmo, arrogância ou qualquer outra dificuldade. Tampouco
importa se pretendíamos ou não prejudicar. Todos os danos que causamos, constituem o
material para se redimir.
Talvez não consigamos nos redimir de todos esses ou não possamos fazê-los diretamente.
Podemos até nem ser responsáveis por algo que colocamos na nossa lista. O profissional nos
ajudará a diferenciar estas situações, antes de seguirmos o processo de nos redimir. No
momento, identificamos a quem prejudicamos e qual foi o dano.
Enquanto estivermos trabalhando este programa terapêutico, é natural pensarmos e
planejarmos como iremos nos redimir. É importante que já tenhamos começado nossos
relacionamentos com algumas pessoas da nossa vida. Nossas famílias, provavelmente, estão
contentes por não mais usar. Alguns desses danos se cessaram, assim que paramos o uso.
Provavelmente, ouvimos pessoas em tratamento enfatizando que “redimir-se” significa
mudança e não apenas pedir “desculpas” e, o que realmente conta, é a nossa maneira como
estamos tratando as pessoas hoje. Isso não significa que as desculpas formais não são precisas.
Redimir de forma direta ou verbalmente, são importantes.
O que os profissionais enfatizam é que não podemos simplesmente oferecer às pessoas um
pedido de desculpas pouco convincente, e logo depois, repetir os mesmos comportamentos.
Esta é um processo que permitirá sentir-nos iguais aos outros. Em vez de sentir vergonha, culpa
e constante sentimento de “inferioridade” nos tornamos capazes de olhar as pessoas nos olhos.
Não teremos medo de ser pegos e punidos por alguma responsabilidade negligenciada.

10.2_AS PESSOAS QUE PREJUDICAMOS, E COMO AS PREJUDICAMOS


Antes de começar a fazer a lista, existe um ultimo conceito com o qual devemos nos familiarizar:
o significado de “prejuízo”. Para que a nossa lista seja minuciosa, precisamos nos esforçar para
compreender todas as maneiras possíveis de prejudicar alguém.
Por exemplo, se roubamos dinheiro ou bens de uma pessoa ou de um negócio, isto é,
obviamente, uma forma de prejuízo. Além disso, a maioria de nós não tem dificuldade em
reconhecer o abuso físico ou emocional como sendo um tipo de dano. Também existem

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situações em que não temos dificuldades de reconhecer que fizemos algo prejudicial, mas
podemos não identificar quem, em particular, nós prejudicamos. Por exemplo, se colamos
numa prova na escola, perguntamos: isso prejudicou o professor? Prejudicamos nossos colegas
de escola? A nós mesmos?
Os estudantes que vieram depois de nós tiveram que pagar o preço da falta de confiança do
nosso professor, por causa da nossa desonestidade? A resposta para esse exemplo é que todas
essas pessoas foram prejudicadas, mesmo que só indiretamente. Elas pertencem à nossa lista
de reparações.
Finalmente, chegamos aos tipos de prejuízos mais profundos. Por exemplo, tínhamos um
amigo. A amizade talvez fosse muito antiga, daquelas que duram anos. Emoções, confiança e
até identidade pessoal estavam envolvidos na amizade.
O relacionamento era realmente importante para nosso amigo, assim como para nós. Então,
sem explicação, por uma razão real ou imaginaria, nos afastamos da amizade e nunca tentamos
reatá-la. Perder um amigo já é suficientemente doloroso mesmo sem o peso adicional de não
saber o porquê; porém, muitos de nós infligimos exatamente este tipo de dano a alguém.
Prejudicamos o sentido de confiança daquela pessoa, e ela pode ter levado muitos anos para se
recuperar. Uma situação similar foi termos permitido que alguém levasse a culpa pelo fim de
um relacionamento, fazendo com que sentisse que não era digno de ser amado, quando, na
realidade, ficamos apenas cansados do relacionamento e indispostos em mantê-los.
Existem muitas maneiras diferentes de causar um dano emocional profundo: negligência,
abandono, exploração, manipulação e humilhação, para citar apenas algumas. As “vitimas” e as
“pessoas legais”, entre nós, podem acabar descobrindo que fizeram os outros se sentirem
inferiores, quando se passaram por pessoas melhores do que as outras, através de uma de
superioridade moral.
Aqueles, dentre nós, que são competentes e auto-suficientes, podem encontrar nomes para a
lista de reparações, pensando nas pessoas cuja oferta de ajuda e gestos de apoio, rejeitamos.
Outra dificuldade que muitos de nós enfrentamos, ao identificar os tipos de danos, vem da
tendência automática de focalizar somente o tempo antes de pararmos de usar. É um pouco
mais fácil, para nós, sermos rigorosamente honestos quanto ao prejuízo que causamos em
virtude dos comportamentos disfuncionais, desenvolvidos durante o uso de drogas e/ou álcool.
Entretanto, todos nós causamos danos, lembre-se: não importa se tivemos ou não essa
intenção. De fato, todos nós, provavelmente prejudicamos algumas pessoas. Podemos ter feito
fofocas sobre elas, tê-las deixadas sozinhas, respondido com insensibilidade à sua dor,
interferindo numa relação, tentando controlar o comportamento de alguém, ter sido ingratos
com alguém, roubado dinheiro, manipulado pessoas, usando nosso tempo limpo como fonte
de credibilidade numa disputa de serviço, ou explorando sexualmente uma pessoa, para citar
apenas alguns exemplos relativamente comuns.
A maioria de nós passa por momentos extremamente difíceis, ao relacionar essas situações,
porque pensar em fazer reparações nos traz muito desconforto. Cobramos de nós um alto
padrão de comportamento, e temos a certeza de que os outros também esperam mais de nós.
O fato é que as pessoas que nos amam, são especialmente propensos a perdoar, porque sabem
o que estamos tentando fazer.

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10.3_FAZENDO A LISTA
A primeira coisa, a saber, é que esta não é uma lista que possamos guardar de cabeça. Devemos
anotar cada nome, e o que fizemos para prejudicar a pessoa. Depois que está no papel, é difícil
esquecer alguém ou voltar a negar as reparações que preferiríamos evitar.
Se, por alguma razão, não conseguirmos escrever, podemos pedir ajuda ao profissional, para
que possa nos ajudar a fazer o que é necessário.
Devemos incluir todos os nomes e situações que recordarmos mesmo se estivermos quase
certos de que não devemos nos redimir naquela situação especifica. Além disso, pode acontecer
de nos lembrarmos de um acontecimento no qual causamos danos, mas não dos nomes das
pessoas envolvidas. Devemos pelo menos, listar o acontecimento.
Para alguns de nós, pode parecer embaraçoso colocar a si próprio na lista. Podemos ter sido
informados, que redimir-se a nós mesmos era uma idéia egocêntrica, que precisávamos parar
de pensar em nós o tempo todo, e começar a pensar nas pessoas que prejudicamos. Então, essa
noção pode nos causar confusão.
Provavelmente, alguns de nós pensamos que redimir-se deveria envolver uma “recompensa”
por permanecermos sem o uso, ou alguma outra realização. Podemos ter tentado nos
compensar, comprando coisas sem termos recursos, ou nos entregando a outras compulsões.
Na realidade, a maneira de se redimir é abandonar comportamentos irresponsáveis. Precisamos
identificar as formas como criamos nossos próprios problemas – isto é, prejudicamos a nós
mesmos – através da nossa incapacidade de aceitar responsabilidades pessoais. Então, quando
nos incluímos na lista, podemos relacionar os danos que causamos às nossas finanças, auto-
imagem, saúde, etc.
Há também, uma situação delicada que muitos de nós enfrentamos: e se tivermos prejudicado
nosso profissional, e ele não souber disso, mas puder vir a descobrir, examinando a nossa lista?
Nesta situação, devemos ser honestos e enfrentar a realidade.

10.4_MOTIVAÇÃO
Agora que escrevemos ou acrescentamos novos nomes à relação que guardamos desde o
primeiro com o programa terapêutico aqui proposto, é hora de nos dispormos a nos redimir.
Para tanto, teremos que conhecer, pelo menos um pouco, o que significa “se redimir”.
Anteriormente, falamos sobre a necessidade de fazer mais do que somente modificar nosso
comportamento. Porém, alguns de nós podem simplesmente, sentir medo de não terem
capacidade de mudar. Somos sinceros.
Queremos nos abster de repetir os mesmos comportamentos, mas pensamos sobre às vezes
anteriores em que fizemos promessas. Não estaríamos sujeitos a fazer a mesma coisa
novamente? É nesse ponto que precisamos, realmente, acreditar que somos capazes de viver
sem o uso. Porque apenas dizer “me desculpe” não é suficiente para redimir-se?
Porque apenas modificar meu comportamento não é suficiente para redimir-se?
É muito raro não estarmos devendo, redimir-se financeiramente, seja para pessoas que
roubamos, ou, que nos emprestaram dinheiro que nunca devolvemos, seja para
estabelecimentos ou instituições.
Sabemos que se redimir nos privará de um dinheiro que preferiríamos guardar para nós. Poderá
levar tempo até percebermos a leveza interior que vem com a quitação das tais dividas e assim,
conseguir a motivação para nos redimir.

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Alguns de nossos atos de se redimir podem ser devidas a pessoas que também nos
prejudicaram. Estas são, geralmente, a forma de se redimir mais difíceis de nos dispormos a
fazer. Parece que, toda vez que pensamos a esse respeito, ficamos com tanta raiva, pensando
no que eles fizeram contra nós, que esquecemos tudo sobre se redimir.
Os atos de se redimir que não conseguimos nos imaginar fazendo podem também estar na lista.
Nesse caso, precisamos simplesmente deixar na lista. Não precisamos fazer todas elas em um
dia, nem dentro de nenhum prazo especifico. Poderá levar algum tempo para nos
prontificarmos a se redimir.
Cada vez que olharmos para nossa lista, devemos nos perguntar se já nos dispusemos a se
redimir; se não, podemos continuar verificando periodicamente.
É essencial que conversemos sobre cada ato de se redimir com o profissional. Não importa há
quanto tempo estamos sem o uso, ou nossa experiência em se redimir. Cada um de nós está
sujeito a julgar mal uma situação quando trabalha sozinho, mas, freqüentemente, descobrimos
que podemos ver as coisas com mais clareza quando olhamos para as situações por outro
ângulo. Precisamos do discernimento do profissional.

11ª SESSÃO: ATOS DE SE REDIMIR


11.1_ATOS DE SE REDIMIR
Agora que estamos dispostos a nos redimir, estamos envolvidos num processo que nos leva da
consciência dos nossos erros, em direção à consciência e a compreensão que procuramos.
Este processo levou-nos a refletir sobre as nossas vidas, a identificarmos as nossas dificuldades
de caráter e a tornamo-nos consciente de como prejudicamos os outros.
Agora precisamos fazer aquilo que pudermos para redimir os danos que causamos.
Temos a lista feita e sabemos aquilo que temos de fazer. Apesar disso, saber e fazer são duas
coisas diferentes. Podemos ter um plano perfeito para fazer os nossos atos de se redimir, mas
quando o momento chegar poderemos sentir medo e insegurança.
Podemos também recear a forma como os nossos atos de se redimir serão recebidos, ou achar
que alguém poderá querer vingar-se. Por outro lado, podemos alimentar uma esperança de
sermos desculpados.
Tudo é possível quando nos redimimos, desde sermos totalmente responsabilizados até
sermos completamente desculpados. Devemos confiar em nós mesmos e continuar
independente de quais sejam às conseqüências.
Devemos ser corajosos quando nos redimimos. Embora a idéia de se redimir nos assuste e
apesar do medo de falar com as pessoas que prejudicamos
Podemos hesitar, temendo que as outras pessoas não nos aceitem tão prontamente como
desejaríamos. Há outras pessoas que também são capazes de nos aceitar como somos e de
compreender os nossos problemas.
Mas, quer queiram ou não aceitar-nos, devemos prosseguir com os atos de se redimir. O risco
que corremos será certamente recompensado.
As pessoas poderão reagir de diferentes formas às nossas atitudes, apreciando ou não aquilo
que estamos fazendo. As relações que temos com essas pessoas poderão melhorar, ou não.
Poderão agradecer, ou poderão dizer-nos: - “Já era tempo de fazer isso”.

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Podemos pedir humildemente por perdão, mas, se ele não nos for dado, podemos ficar
despreocupados, sabendo que fizemos o melhor. Quando nos redimimos, perguntamos a nós
mesmos se estamos fazendo por estarmos verdadeiramente sentidos ou por termos um desejo
genuíno de nos redimirmos por aquilo que fizemos. Se a nossa resposta for “sim”, podemos
estar seguros de que estamos nos redimindo com humildade e amor.
Centrados na humildade, devemos pedir, sempre que possível, a ajuda do profissional para nos
ajudar a se redimir nas situações difíceis, discutindo cada uma delas antes de as realizarmos.
Contamos ao profissional o motivo pelo qual queremos fazer as reparações, aquilo que
tencionamos dizer, e o que pretendemos oferecer para corrigir a situação. Aquilo que
pretendemos oferecer como atos de se redimir, deverá ser adequada ao dano que causamos.
Por exemplo, se pedimos dinheiro emprestado a alguém e nunca o pagamos, não nos limitamos
a pedir desculpa, devolvemos o dinheiro. Falamos diretamente com a pessoa que prejudicamos
e nos redimimos daquilo que fizemos de errado.
A nossa experiência diz que os atos de se redimir constituem um processo de duas etapas. Não
só nos redimimos à pessoa a quem prejudicamos, como também a acompanhamos de uma séria
mudança do nosso comportamento. Por exemplo, alguns de nós, num acesso de raiva, podemos
ter destruído coisas alheias.
Quando nos redimimos, não só pedimos desculpa e substituímos ou reparamos o que
estragamos, como damos também seguimento a isso como um ato de redimir as nossas
atitudes.
Reparamos o nosso comportamento através de um esforço diário para não exprimirmos mais
a nossa raiva através da destruição de coisas materiais.
A mudança do modo de vida constitui um processo para a vida, e é talvez o ato de se redimir
mais significativo que podemos fazer. Houve pessoas que, devido a nós, sofreram durante anos,
tal como as nossas famílias ou outros que nos foram próximos.
Os atos de se redimir não podem ser feitos como um pedido de desculpas em cinco minutos,
por mais sincero que seja. Embora uma admissão de erro, ou uma desculpa, possa constituir o
ponto de partida, precisamos prosseguir, fazendo um esforço diário concentrado para parar de
magoar aqueles que amamos.
Se demonstrarmos falta de consideração, por estarmos sempre empenhados naquilo que
queríamos e precisávamos, começamos agora a ser sensíveis às necessidades dos outros.
Claro que podemos já não ter uma relação próxima com algumas das pessoas que prejudicamos.
Por exemplo, se estivermos divorciados de uma mulher de quem temos filhos, podemos dever-
lhe uma pensão de alimentos. Se redimir não exige e não significa neste caso, que recomecemos
uma relação emocional.
Podemos simplesmente entrar em um pleno acordo que satisfaça as nossas obrigações para
com os nossos filhos, lembrando-nos de que elas não são apenas financeiras.
Dado que a ação que tomamos nesse momento pode ter um profundo impacto noutras
pessoas, não queremos começar alegremente a fazer as nossas reparações sem primeiro as
discutirmos em pormenor com o profissional. Alguns de nós sentiram-se compelidos em
redimir-se por impulso, apenas para aliviar a nossa própria consciência; contudo, acabamos
geralmente por piorar as coisas.
A escolha da melhor forma de se redimir requer um estudo cuidadoso. Com tempo, deveremos
procurar na nossa consciência aquilo que esteja certo. Alguns de nós temos de encarar situações
que não podem ser corrigidas. As nossas ações podem ter deixado cicatrizes físicas ou
emocionais permanentes, ou provocado até a morte de alguém.

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Devemos procurar aprender a viver com isso. Vivemos com indescritíveis remorsos, sem
sabermos como é que poderíamos se redimir.
Não existem respostas fáceis para problemas como estes. Fazemos simplesmente o melhor que
podemos, confiando na orientação do profissional.
Para muitos de nós, a destruição do passado inclui coisas relativamente pequenas, como
notificações do tribunal por violações de trânsito, enquanto outros cometeram crimes com
conseqüências muito serias. Podemos sentir-nos num dilema em relação a tais questões. Se nos
entregarmos às autoridades podemos ir para a prisão, mas, se não o fizemos, podemos viver no
medo de ser pegos e ir parar à cadeia de qualquer maneira.
Com a ajuda do profissional, estaremos dispostos a fazer aquilo que for preciso. Poderá ser
muito útil consultarmos também um advogado acerca destes problemas, pois teremos de
confiar em conselhos de profissionais antes de se redimir.
Os nossos receios de intimidade ou de compromisso podem ter-nos levado a usar, a ser infiéis,
ou a abandonar as pessoas que nos amavam. Geralmente não estávamos disponíveis para as
pessoas que nos amavam. Enquanto houver ocasiões em que precisamos ter com essas pessoas
para se redimir, há outras ocasiões em que será melhor deixá-las em paz, a fim de não reabrimos
velhas feridas.
Reconhecer esta diferença requer uma honestidade total da nossa parte e uma comunicação
aberta com o profissional. Quer façamos o ato de se redimir de forma direta às pessoas que
prejudicamos nas relações, precisamos definitivamente mudar a forma como hoje nos
comportamos. Se antes fugimos da intimidade, precisamos sentar e aprender a se comunicar.
Devemos ter mais consideração, e nos tornar mais sensíveis e atentos às necessidades dos
outros. Começamos a não viver mais com tantos remorsos. Amadurecemos e descobrimos que
estamos a ganhar nova liberdade nas nossas vidas. O nosso passado é apenas isso - o passado.
Como resultado dos atos de se redimir, estamos livres para viver o presente, capazes de
aproveitar cada momento e de sentir a vida abstêmia. As memórias do passado já não nos
prendem, e surgem assim novas possibilidades. Estamos livres de ir por caminhos nunca
pensados. Estamos livres para sonhar e ter a liberdade de procurar e realizar os nossos sonhos.
As nossas vidas estendem-se à nossa frente como um horizonte sem limites. Poderemos
tropeçar de vez em quando, mas temos a oportunidade de nos levantarmos e de seguirmos em
frente.

12ª SESSÃO:RECONSTRUÇÃO DE VIDA


12.1_IMPORTÂNCIA DA RECONSTRUÇÃO DA VIDA
Com o desenvolvimento do tratamento, tornou-se possível viver em harmonia conosco e com
os outros. A auto-avaliação, a confrontação com aquilo que descobrimos de nós mesmos, e o
reconhecimento dos nossos erros, constituem elementos fundamentais para vivermos as
nossas vidas com qualidade. Ao praticarmos o programa terapêutico tornamo-nos mais
conscientes das nossas emoções. Sentimo-nos, assim, constantemente recompensados com
uma perspectiva nova de vida.
Alguns de nós olharam para trás, e interrogaram-se sobre a necessidade de se fazer a
Reconstrução de Vida. Podemos achar que já corrigimos todas as nossas falhas passadas. Dado
que não temos qualquer intenção de repetir esses erros, porque é que havemos de continuar
com esta implacável auto-avaliação?

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A Reconstrução de Vida parece, para alguns de nós, uma tarefa cansativa de concluir, um
exercício doloroso que bem poderíamos evitar. Mas temos de continuar a crescer e é
exatamente isso o que este exercício nos ajuda a fazer.
Nunca é demais salientar a importância de nos mantermos em contato com os nossos
pensamentos, as nossas atitudes, os nossos sentimentos e comportamentos. A cada dia que
passa, a vida apresenta-nos novos desafios.
O nosso progresso dentro do programa terapêutico depende da nossa disposição para enfrentar
esses desafios. A nossa experiência diz-nos que alguns não conseguem se manter sóbrios,
mesmo após longos períodos de abstinência, porque se tornaram complacentes no programa
terapêutico, deixando que os seus sentimentos crescessem e recusando-se a reconhecer os
seus erros.
Aos poucos, essas pequenas dores, essas meias verdades e esses rancores “justificados”,
transformam-se em desapontamentos profundos, em sérias desilusões, em ressentimentos
elaborados. Não podemos deixar que essas ameaças nos comprometam.
Começar o dia reforçando a nossa decisão de viver com qualidade de vida, tem ajudado muitos
de nós a manter-nos focados em ideais ao longo do dia. E mesmo assim iremos cometer erros
que nos são muitos familiares. Podemos atribuir praticamente cada erro a uma dificuldade de
caráter que identificamos.
No nosso dia-a-dia fazemos tudo isto regularmente. Cada dia fazemos o nosso inventário,
procuramos aqueles momentos em que não correspondemos aos nossos ideais , e renovamos
os nossos esforços para viver uma vida centrada em princípios.
Precisamos desenvolver a autodisciplina. Quanto mais nos esforçarmos por isso, menos
dificuldades sentiremos em fazê-los.
Se, por um lado, procuramos manter uma consciência continua ao longo do dia, será útil nos
sentarmos calmamente no fim do dia e refletir sobre aquilo que aconteceu e a forma como
reagimos. Por vezes, o profissional irá sugerir que escrevamos o nosso diário. Devemos buscar
“Viver o Programa”. Neste momento, fazemos nós próprios o mesmo tipo de perguntas que
fizemos anteriormente. A única diferença é que a ênfase é colocada no hoje.
Olhamos para o nosso comportamento presente e perguntamos a nós próprios se estamos
vivendo de acordo com os nossos valores. Fui honesto hoje? Estou mantendo a integridade
pessoal nas minhas relações com os outros? Estou crescendo, ou estou caindo nas velhas
atitudes? Concentramo-nos, assim, no quadro geral do nosso dia.
A fim de examinarmos o nosso dia ou, afinal, a nossa vida, na sua totalidade, precisamos da
humildade que adquirimos no decorrer do tratamento. Aprendemos sobre nós próprios: a
forma como reagimos à vida no passado e como queremos reagir à vida hoje. É necessária
bastante consciência para reconhecermos humildemente o nosso papel nas nossas vidas.
Por vezes, quando as nossas intenções nos parecerem boas, poderão ter dificuldades em saber
quando estamos errados. Estamos tão convencidos da nossa opinião que não conseguimos
reconhecer a nossa presunção.
Outras vezes agimos de forma contraria aos nossos valores, mas, no entanto, queremos que
os outros sigam os nossos padrões. Por exemplo, podemos ficar perplexos quando ouvimos
outros fazendo fofocas de alguém; em seguida, podemos agir arrogantemente até nos vermos
fazendo exatamente a mesma coisa.
Outra situação que pode acontecer é quando nos tornamos demasiadamente críticos. Por
exemplo, podemos ter uma tendência para ter expectativas muito altas em relação aos outros
e querer que todas as pessoas à nossa volta sejam infalivelmente honestas.

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Contudo, temos à mão uma série de desculpas para que esse padrão não se aplique a nós! Se
nos encontrarmos numa ambigüidade assim, podemos usar o que aprendemos no tratamento
a fim de nos darem uma outra direção.
Pode haver outras ocasiões nas nossas vidas em que nos encontramos numa situação que
parece exigir um compromisso com as nossas crenças e para os nossos valores pessoais.
Por exemplo, se tivéssemos sido contratados por uma empresa e descobríssemos que o nosso
patrão esperava que nos dedicássemos a praticas comerciais duvidosas, teríamos razão para
nos sentir confusos quanto às escolhas que estão ao nosso dispor.
Decidir o que fazer perante um dilema tão difícil constituiria uma decisão dura para qualquer
um de nós. Podemos sentir-nos tentados a fazer um juízo rápido ou esperar que o profissional
dê uma resposta fácil; descobrimos, contudo, que ninguém pode resolver tal dilema por nós.
Embora o profissional possa dar-nos orientação, devemos ser nós mesmos para chegar à nossa
própria decisão.
Pode torna-se muito confuso determinar quando erramos, principalmente quando estamos em
conflito. Quando as nossas emoções estão exaltadas, podemos não ser capazes de olhar
honestamente para nós mesmos. Conseguimos ver apenas as nossas necessidades e os nossos
desejos. Nessas ocasiões, o profissional poderá sugerir que façamos a Reconstrução de Vida de
uma área específica das nossas vidas, para que possamos ver o nosso papel nela. Se os nossos
amigos repararem que estamos a agir sobre uma dificuldade de caráter, poderão sugerir que
falemos isso ao profissional.
Devemos lembrar-nos de que a Reconstrução de Vida não constitui um exercício parcial, para
anotarmos apenas aquilo que fizemos de errado. Devemos resistir a qualquer impulso na
procura impiedosa de toda e qualquer dificuldade de caráter.
O objetivo da reconstrução de Vida é estarmos dispostos a prestar atenção nos nossos
pensamentos, comportamentos e valores, e depois trabalharmos naquilo que precisamos.
Deveremos reconhecer que, muitas vezes, os nossos motivos são válidos e fazemos as coisas
bem. As dificuldades e as qualidades de caráter não são mutuamente exclusivos, e em cada dia
iremos decerto encontrar exemplos de ambos.
Quando compreendemos hoje que não demos o nosso melhor em determinada área da nossa
vida, não temos de nos deixar subjugar por sentimentos de terror e de medo de falhar. Em vez
disso, podemos estar gratos pela nossa consciência de nós próprios e começar a sentir alguma
esperança. Começamos formar uma idéia mais realista de nós mesmos, como resultado de
trabalharmos a Reconstrução de Vida. À medida que descobrimos as nossas qualidades, durante
tanto tempo ignoradas, sentimos um renovar de esperança. Vemo-nos como realmente somos,
aceitando as nossas virtudes assim como as nossas dificuldades.
Embora todos nós precisemos do amor e da atenção dos outros, podemos deixar de depender
das pessoas para nos darem aquilo que só podemos encontrar dentro de nós. Podemos deixar
de fazer exigências descabidas aos outros e começar a dar o melhor de nós nas relações.
As nossas relações de amor, as nossas amizades e as nossas interações com familiares, colegas
e conhecidos, estão a sofrer uma mudança surpreendente. Estamos livres para desfrutar a
companhia de outra pessoa, pois já não estamos obcecados com nos mesmos.
Vemos finalmente que todo o artifício que utilizamos para manter as pessoas a distancia, são,
pelo menos, desnecessários e, na maior parte das vezes, são a causa subjacente da dor que
sofremos nas nossas relações.
O fato de termos relações mais saudáveis é apenas uma indicação de como a qualidade das
nossas vidas melhorou, mas reflete, por outro lado, as mudanças impalpáveis, mas muito reais
que tiveram lugar dentro de nós. Toda a nossa perspectiva mudou

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12.2_DIÁRIO
Cada noite deveremos registrar as coisas positivas que fizemos e as coisas negativas que
aconteceram. Isto põe em evidência que devemos a nós mesmos algum crédito por aquilo que
realizamos. Podemos rever calmamente os nossos erros e compreender a ou na aquilo em que
erramos.

PREVENÇÃO DA RECAÍDA
12.3_AGENDA DIÁRIA
A pessoa que está mudando o seu estilo de vida precisa planejar e administrar o seu tempo de
maneira adequada. Bem organizada, uma agenda diária pode ajudar a pessoa a não retornar
para hábitos antigos que podem levá-la em direção à recaída. A recaída pode começar muito
antes do uso inicial da substância psicoativa. Ela pode começar quando a pessoa “esquece” seu
plano de tratamento e volta aos padrões antigos de hábitos e comportamentos viciados.
Não esqueça que você precisa ter na sua vida um equilíbrio entre seus deveres e compromissos
a serem cumpridos, desejos e prazeres a que tem direito.
Um equilíbrio na sua vida entre deveres e desejos é decisivo para sua meta de permanecer em
abstinência. Portanto, não sobrecarregue seu tempo com muitos deveres, esquecendo que,
tão importante quanto os compromissos assumidos é a satisfação de se proporcionar atividades
prazerosas.
Observação: É proposto ao paciente que mantenha uma agenda pessoal para ser preenchida
diariamente. No exercício desta sessão pede-se ao paciente que descreva como você planeja
organizar sua agenda nos dias da semana e no fim de semana.

13ª SESSÃO: SESSÃO DE ENCERRAMENTO


13.1_ASESSÃO DE ENCERRAMENTO DA 1ª FASE

O terapeuta e o paciente discutem acerca das questões abordadas durante o tratamento e a


possibilidade da continuidade do mesmo e em seguida é aplicada a folha de avaliação individual
do tratamento.

13.2AVALIAÇÃO
Ao final da sessão pede-se ao paciente que realize a avaliação da primeira fase do
Tratamento Personal Care. O terapeuta deve orientá-lo sobre as questões.

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