As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar – Beth Carter / Monica Mcgoldrick -2ª edição.
São Paulo – Artmed. 1995
Capítulo 20 – Problemas de Alcoolismo e o Ciclo de Vida Familiar
Jo-Ann Krestan, Claudia Bepko
O alcoolismo tanto interrompe a realização das tarefas desenvolvimentais quanto
pode ser uma resposta a estresses impostos pelas fases desenvolvimentais específicas. (1995: 415) Alcoolismo e o Ciclo de Vida: Questões Gerais e Tratamento. Segundo National Council on Alcoholism, 1976: “A pessoa com alcoolismo não consegue predizer consistentemente a duração do episódio e a quantidade que será consumida”. (1995: 416) O terapeuta perceberá vários sintomas somáticos, psicológicos e interpessoais na família, que variam de perturbações no funcionamento profissional, conflito e infidelidade conjugal a problemas no funcionamento escolar dos filhos, e podem também incluir depressão, isolamento social, abuso de prescrições ou de outras drogas para combater a ansiedade, ou inúmeros distúrbios físicos em todos os membros da família. Sempre que o incesto ou abuso físico está presente numa família, o alcoolismo deve ser um diagnóstico presumido. (416) Nossa premissa operativa é a de que o alcoolismo constitui um processo sistêmico que afeta e é afetado pela interação entre o bebedor e o álcool, o bebedor e ele mesmo e o bebedor e os outros. Os efeitos do beber resultam em mudanças adaptativas em todos os níveis sistêmicos, e uma vez que ele é altamente destrutivo em todos esses níveis, assim como uma ameaça potencial à vida, é muito adequadamente chamado de doença. Como uma droga psicoativa, o consumo do álcool produz efeitos predizíveis no bebedor (levando-se em consideração diferenças culturais e étnicas), e isso com o passar do tempo, distorce os padrões de feedback interpessoal dentro do sistema familiar. Este tipo de família pode ser chamado de “sistema alcoolista” ou “organizado em torno do alcoolismo” (Steinglass, 1979) Nesse tipo de família a abstinência é um objetivo necessário, mas não suficiente. A abstinência deve ser mantida para que a interação distorcida e disfuncional da família possa ser tratada, mas a interação disfuncional também precisa ser tratada para que a abstinência possa ser mantida e evitada outra sintomatologia (Meeks & Kelly, 1970). Avaliar os comportamentos que mantém o beber é sempre mais importante que fazer hipóteses sobre as causas do comportamento de beber. (416) O beber de início tardio pode ter provocado apenas uma ruptura menor na progressão desenvolvimental da vida familiar, ao passo que o início precoce (prolongado) normalmente terá prejudicado severamente a capacidade da família de realizar as transições de um estágio para outro. (417) O lapso de tempo entre o início do beber e o momento em que a família busca tratamento também é significativo. Depois de vários anos de alcoolismo crônico, a disfunção normalmente é muito grave, ao passo que a intervenção e o tratamento logo no início sugerem um grau menos intenso de prejuízo, assim como um melhor prognóstico para o futuro ajustamento familiar. A família e o bebedor desenvolvem um rígido sistema de negação, uma tentativa de evitar o reconhecimento do problema. Os efeitos do alcoolismo são insidiosos, e tanto distorcem quanto destroem a autoconfiança e a autoestima na família. A negação se torna uma defesa contra o reconhecimento da crescente falta de controle que tipicamente ocorre nos níveis emocional e funcional. A negação pode ser considerada um dos maiores sintomas do alcoolismo, e pode ampliar-se para uma negação tanto do beber problemático quanto do impacto desse beber em outros membros da família (Vaillant, 1993). É importante conceitualizar o alcoolismo como um distúrbio com um impacto intergeracional. (não está idêntico ao texto) Álcool em algum ponto da estrutura trigeracional da família nuclear imediata pode afetar as questões atuais de diferenciação, individuais ou familiares. (417) Determinação do Estágio (418) Ocorrem 2 sequências interatuantes de eventos – a progressão do alcoolismo no indivíduo, que influencia e é influenciada pela progressão desenvolvimental da própria família Steinglass, 1979 – História desenvolvimental da família influenciada pelo álcool. Jellinek, 1960 – A progressão fisiológica e psicológica do alcoolismo no indivíduo. Jackson, 1954 – Processo de ajustamento da família ao alcoolismo. °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Em que estágio do ciclo de vida está o indivíduo que bebe? Um bebedor adolescente representa uma dinâmica familiar diferente e requer diferentes abordagens de tratamento se comparado a um bebedor idoso. Em que geração da família está o indivíduo que bebe (avô, pai, filho) e em que estágio do ciclo de vida está a família que este bebedor está afetando? Qual é o lapso de tempo entre o início dos primeiros sinais do alcoolismo e apresentação da família para tratamento? Quantas fases do ciclo de Dida ocorreram desde o início do beber e de que maneira elas foram ou não resolvidas? Em que estágio do alcoolismo está o bebedor? Jellinek (1960) identifica três fases de progressão do alcoolismo: as fases pandrômica, intermediária e crônica. o Pandrômica – crescente tolerância ao álcool, preocupação com o beber, utilização do álcool pelo efeito e mudanças na personalidade depois de poucos drinques. o Intermediário – caracterizado por blackouts, incapacidade consistente em predizer o comportamento de beber, beber sozinho, mudanças na personalidade mais acentuadas, crescente dependência física e psicológica incluindo sintomas iniciais de abstinência, e maior racionalização ou negação do beber. o Crônica – perda do emprego, isolamento social, problemas médicos, deterioração ética e moral, pensamento irracional, extremas flutuações do humor, vago medo, ansiedade, paranóia, tolerância ao álcool diminuída, e frequente ou constante embriaguez. Existem sintomas físicos e será necessário tratamento médico para lidar com as potenciais complicações da abstinência. Um sistema em que há um alcoolista sóbrio ainda é um sistema alcoolista. Em que fase de ajustamento ou resposta adaptativa ao beber está a família? Joan Jackson (1954) – sequência de reações (modelo em que o marido é o bebedor, mas pode ser generalizado para uma família em que outro membro bebe). o Interação conjugal tensa em resposta ao beber – tendência a minimizar ou evitar problemas não relacionados ao beber. o Crescente isolamento social da família – a interação familiar se torna mais reativa, se “organiza” em torno do comportamento de beber. O ajustamento conjugal se deteriora. Conforme a autoestima é minada, intensificam-se as tentativas de controlar o bebedor ou de “manter a família funcionando”. Os filhos adotam papeis disfuncionais. o O comportamento familiar muda para um extremo oposto, quando não conseguem controlar o bebedor e abandonam as tentativas. (419) Filhos – comportamento de atuação ou perturbado Cônjuge – grande ansiedade em relação à sua PP capacidade de funcionar adequada/e. o O cônjuge passa a ser responsável por todas as tarefas funcionais ou paternas, e o bebedor não é mais considerado como um membro adulto responsável da família, a qual protege e sente pena do bebedor. O cônjuge se torna mais confiante na sua capacidade de administrar a família e se desenvolve uma nova organização que procura minimizar a influência perturbadora do bebedor. Quer o casal se separe ou não, quando e se o alcoolista fica sóbrio e tenta restabelecer seu papel na família, esta sente dificuldade em reorganizar-se e aceitar os novos papéis exigidos pela sobriedade. Fases do tratamento (419) Pré-sobriedade – o bebedor está bebendo ativamente e a família funciona num estado de crise sustentada que se intensifica conforme o beber progride. Objetivos do tratamento nessa fase: redução do isolamento e das rígidas fronteiras familiares, tratar a rígida complementaridade dos papéis, reduzir a super- responsabilidade nos membros-chave da família, motivar o bebedor a parar de beber e frequentar programas de reabilitação. Ajustamento à sobriedade – quando o alcoolista parou de beber, crise da sobriedade, pode durar de seis meses a dois anos depois de conseguida a sobriedade. Objetivos do tratamento nessa fase: estabilizar a família em resposta ao desequilíbrio radical representado pela sobriedade. Questões primárias: diferenciação e o eu de cada cônjuge e não a interação conjugal, a reestruturação de papéis previamente disfuncionais assumidos na paternidade, ressentimento por parte dos outros membros da família, potencial depressão, atuação ou mudança de um comportamento sintomático para outro membro da família devem ser preditos e explicados. A família deve compreender as mudanças na dinâmica que vem com a sobriedade. Manutenção da sobriedade – ocorre aproximadamente após dois anos de sobriedade mantida. Objetivos do tratamento nessa fase: estabilização suficiente para encorajar o reequilíbrio dos extremos interacionais que ocorriam antes da sobriedade. Modificar a dinâmica familiar de uma maneira que impeça uma recaída na bebida ou sintomas em outros membros da família. Compreensão como o beber funcionava para evitar ou distorcer conflitos interacionais e questões de poder, dependência e conflito de papel sexual na família.