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SONHOS DE LEÔNIDAS

novela
Copyright, Joaquim Neto Ferreira ano 2018.

Literatura Piauiense – Novela – Sonhos de Leônidas.

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“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas,
fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”
SONHOS DE LEÔNIDAS
SUMÁRIO

I - TERESINA, ENCANTOS POÉTICOS!

II - ERA NOITE...

III - O TROCA TROCA...

IV - CABARÉ BABILÔNIA...

V - MUITO PRAZER, LEÔNIDAS!

VI - O SOL DO ENTARDECER...

VII- OS SONHOS DE LEÔNIDAS

VIII - DE PÉS NUS, VESTIDO SOLTO...

IX -...NOITE CHUVOSA

X - ERA ALI..

XI - JANEIRO DE 2009

XII -...HOMENS POR TODOS OS LADOS

XIII - O TEMA DO ROMANCE TEIMA EM NÃO SAIR!

XIV - UM SONHO INDECENTE

XV - CAPÍTULOS DA FICÇÃO

XVI - MICHELE, UMA MULHER IMPRESSIONANTE

XVII - UMA CHUVA FINA E INTERMINENTE...

XVIII -...INSENSÍVEL ERA LEÔNIDAS COM AS MULHERES

XIX - O CRIME DE LEÔNIDAS

XX --...OS SONHOS DE LUIZA MARIA

XXI - DEMÔNIOS SÚCUBOS!


SONHOS DE LEÔNIDAS
I

TERESINA, ENCANTOS POÉTICOS!

Teresina de encantos poéticos, uma cidade que é brisa nos doces cânticos de amor. É
lira, sob o manto verde que lhe recobre nas avenidas cinzentas e negras do asfalto. De
ruas espontâneas que se agitam aos passos dos transeuntes no vai e vem de pernas
entrelaçadas. Capital do sonho no céu que o vento a levar nas harmonias da paisagem
pelo Parnaíba abundante, imponente e majestoso. Era ali no velho sobrado de paredes
emboloradas pelo tempo, na rua Arimateia Tito, no bairro Monte Castelo, o refúgio ideal
que Leônidas tinha para escrever sua ficção, ficção de páginas despedaçadas de um livro
que com certeza nunca iria ser publicado ou lido.

II

ERA NOITE...

Era noite, a rua se despia saudosa sob os véus do mistério. Dentro do quarto, a solidão
do rapaz tão seminua e tímida. Uma luz que depunha fé teimara em clarear sob o brilho
da lua no alto do céu. Nos escritos de Leônidas: os ingredientes de poesia e amor. Para
ele, a capital um mistério indecifrável de terra adorada a mais digna veneração. Do alto,
as folhas de uma árvore, vira-se esfolhar a leiva da vida nos frutos e ramos da pálida
fantasia com que imaginara as páginas da ficção. Das fantasias insanas com a prima Ísis
que se espraiava no banheiro, nas mãos frias em frenesi, até ejacular o líquido sem
cheiro que só o prazer lhe revolvia no momento. Era de noite, Leônidas não conseguia
dormi. Teve no sonho melodias ao embalo da lua clara no céu. Sob aquele frio clarão da
lua, imaginava o rosto de palidez da mulher que povoou seus sonhos horas antes.
Tentara recordar a langue face, os seios revoltos que palpitara ao tempo que mesmo a
sonhar, cismara querer beijar. O neófito escritor a cheirar os negros cabelos soltos e não
conseguira mais dormir. Talvez, Leônidas se embebesse na alma pensativa da bela
amante a que seus beijos, semelhavam-se as noites de luar. Horas antes estivera perto da
beira do cais, a sentir a ondas molhar os pés nus.

III

O TROCA TROCA...

O Troca troca sentia o Parnaíba arder aos perfumes do vento. O cabaré Babilônia cheio
de pessoas a ver a vida se embeber nas noites de orgias que parecera suspirar de
sentimento no notívago ambiente. Era uma noite pálida, assim como as noites de luar.
O Parnaíba a soluçar na brisa que se desmaiava e quebrara-se em marolinhas, a bater
uma a uma contra o cais. Depois, de muitos goles de vinho, as pessoas entreviam-se,
com a imagem da mulher misteriosa que passeara entre as mesas do local. As imagens
fortaleciam-se na mente de Leônidas, e quase desmaiado de sono, começara a sonhar
novamente. Dormira sobre uma cama e nela cheia de sonhos, faziam-se mais fixos.
Vira no sonho, a prima Ísis a quem achara ser tão pura que no sufoco dos lábios aos seus
hálitos longos, serenos e frios.

IV

CABARÉ BABILÔNIA...

Havia no famoso Cabaré Babilônia, localizado na rua Paissandu, bem no centro de


Teresina, uma linda mulher de olhos verdes que brilhara as lábios a causar delírios nos
sonhos dos moços, por longas noites ardentes. Uma bela mulher que tinha uma
peculiaridade, só bebia vinho e pelas noites abrira a janela, só para adorar o luar. Uma
mulher loira, de pele branca, daquelas criaturas reumáticas que a coluna fazia um “S” no
meio das costas. Esvaziara o copo cheio de vinho com as mãos alvas, os olhos de um
lindo verde fixados nos clientes. Leônidas recordou da noite no bar Babilônia. Sentara
em uma das mesas e a escutar o que a mulher dizia a um e a outro.

- Levei muito rapaz novo à perdição!

A mulher vangloriar-se, de iniciar os rapazes nas orgias do amor pago. O batom


vermelho desbotara-se nos lábios, ao beber o vinho. Leônidas tinha completado dezoito
anos, e não sabia ainda qual o gosto dos beijos de uma mulher. Ali, no cabaré, o local
ideal para devassar o hálito virgem nos beijos quentes das mulheres da vida. Talvez,
uma doidice, os abraços convulsos da mulher de seios murchos, de rosto enrugado pelas
intempéries do tempo. Ela sentira-se abandonada pelo mundo, e até pelos homens ou
pela sorte.

- Teresina já fora terra de oportunidades! Completava.

Os homens dentro do quarto sentiam o cheiro do gosto de Michele pelos perfumes


doces, perfumes puros, dos que embriagam a alma pecaminosa. Na cama, uma mulher
de gozos frenéticos e de uma existência fogosa eterna que ninguém jamais esquecia.
Leônidas estava apaixonado por ela. Michele também. Leônidas descia pela praça da
bandeira, assim que vinha da Universidade Federal, ali passara longas noites perdidas ao
relento, ás vezes pela avenida Maranhão, a espreitar a mulher, mesmo que fosse um
simples aceno ou até mesmo um adeus. Tinha tanto desejo, e tanta esperança para
sorver o primeiro beijo, mas precisava pagar por aquilo. Foi na noite de soluços,
lágrimas, de choros e de esperanças, de beijos e promessas, de amor e voluptuosidade
que ele a teve em sonhos eróticos. Quando, Leônidas completara dezoito anos, partira
de Barras para Teresina. Na bagagem o sonho de vencer na capital como escritor de
ficção. Durante a viagem só lembranças. Lembrara que ainda como uma criança ao
entrar na casa do pai, e ver velho todo moribundo no fundo de uma rede, o moço
ajoelhara-se, perto do leito e agradecera a Deus por ele ainda viver. O velho
Taumaturgo ainda pôs as mãos na cabeça dele, banharam as faces de lágrimas, as
últimas que Leônidas ia ver cair. Com as mãos no peito, e com os olhos no filho,
Taumaturgo ainda murmura balbuciando algumas palavras inaudíveis antes de falecer.
- Deus te abençoe!

Escutara pela última vez a voz rouca do velho. Todos ali choravam. Morrera sem deixar
fortuna, dinheiro, somente dívidas que quitariam com o patrimônio pouco que tinha.
Honorina, a irmã de Leônidas partira para Teresina e nunca mais dera notícias, nenhuma
carta. A moça partira para capital, depois de um casamento fracassado aos dezesseis
anos e ter um filho de outro homem. Costumara a sofrer castigos físicos do homem com
quem morava. Leônidas tinha cinco anos, quando ela viajara na busca de viver melhor.

MUITO PRAZER, LEÔNIDAS!

Muito prazer. Apresento-lhes Leônidas, um moço diferente de qualquer outro que tinha
a mesma idade e morara em Teresina. Tinha dezoito anos e ainda era virgem. Tinha
olhos castanhos e uma inteligência à altura de seu porte. Seu queixo fino e feições bem
marcadas faziam com que ele lembrasse seu avô Coriolano. Com mais de um metro e
oitenta de altura, queria ser goleiro no time do Flamengo Esporte Clube, o River era
mais para elite. Era de uma rapidez incrível, quando agarrava no gol que até surpreendia
seus colegas nos campos de várzea. Os amigos zoavam dele na Universidade Federal
pelo fato de ainda ser virgem. Todos no bairro Monte Castelo, chamavam-no de escritor
do mal do século. Há anos tentava ganhar o Concurso Literário Novos Autores da
Fundação cultural Monsenhor Chaves. Esgotavam-se, os temas literários. De morte,
traição, amores impossíveis e crimes. Leônidas tinha escrito tudo. Todos os escritores,
um dia mastigaram demais aqueles temas. Desde criança tinha como distração, o ato de
escrever estórias fictícias, se verdadeiras ou não, o certo é que ninguém poderia
comprová-las. De poesias a romances, ele era uma fera. Leônidas poderia ser hoje em
dia, um gênio da escrita, se não fosse sua morte prematura aos vinte anos. Poderia fazer
fama entre os escritores piauienses, quem sabe. Talvez, o povo um dia irá reconhecer
suas obras, ou talvez até ler seus romances. O certo é que os sonhos descritos no
romance feito pelo jovem Leônidas na maioria eram indecifráveis, imperfeitos,
incompletos ou até mesmo, um sinal do que fossem as novas produções e ficções
piauienses. Hoje, talvez onde tiver, ele lembre o que mais lhe admirava. Gostava de ver
descer o sol de Teresina no poente para o lado de Timon. Tinha uma obsessão em toda a
parte e em qualquer tempo, os sonhos lhe perseguiam.

VI

O SOL DO ENTARDECER...

O sol do entardecer era uma imensa auréola a brilhar no firmamento, com as últimas
réstias a entrar pela janela do sobrado. Sob a pouca claridade solar, escrevia uma ficção.
A ficção escrita por Leônidas, apenas um romance efêmero, cheio de ceticismo e
ingredientes eróticos. Depois de o autor dar seu último soluço na escrita da ação
narrativa, é que se ver que é linda a estória. O personagem central é cheio de treva, e
vive uma constante indecisão de ser e não ser, um Shakespeare piauiense. Leônidas
criou algumas ideias teóricas sobre sua ficção. Escrevê-las, cheia das paixões ardentes e
aguçada de uma pitada de imaginação, talvez de alguma coisa que um dia sonhou. É um
tipo novo de autor de romances que não se parece com um O. G Rêgo de Carvalho e seu
Ulisses, nem Assis Brasil com seu Beira rio, beira vida. No entanto, sua ficção também
é carregada de tragédias. O escritor quis retratar e decifrar os sonhos do amigo Matias.
Leônidas era um gênio vagabundo, boêmio. Modéstia. Por isso, é autor com talento,
autor que foi um gênio. É o que eu penso. É grande ideia que talvez, ele não concorde.
Para ele, um escritor sem publicar uma obra seria o mesmo que imaginar o rio Parnaíba
sem suas correntezas a galope. Uma avenida Frei Serafim, sem o trânsito infernal de
uma segunda-feira. E por fim, o Teatro 4 de Setembro sem espetáculos aos sábados e
domingos. Leônidas achava que Teresina tinha que ter mesmo uma vida tumultuosa,
férvida, anelante, às vezes com roteiros violentos do cotidiano, manchetes sangrentas
pelos noticiários, assim como toda cidade grande em desenvolvimento e a viver ás
expensas do progresso.

VII

OS SONHOS DE LEÔNIDAS

Os sonhos de Leônidas na maioria das vezes, o sonhos de qualquer moço delirante no


auge dos vinte anos, doido de amor, doido para ter um amor, doido para morrer beijando
os lábios de uma mulher. O contrário somente uma paixão sem nódoa que viveu, assim
como em uma ficção. Cada capítulo escrito, deixara-o sonâmbulo, até ás vezes,
convulso nas ideias, no enredo e entrelaçamento da ficção. Leônidas agitara-se,
debatera-se ao traçar das linhas, não quisera perder o foco narrativo. E, por isso mesmo
que sua ficção, um tipo apenas de um singelo romance que escrevera em uma noite de
insônia, noite de febre, noite das aberrações excitantes dos sonhos, noite antes de partir
para o outro mundo tão tragicamente, após beber a última taça de vinho e ser
esfaqueado até a morte. Chamavam-no de o escritor do mal do século. Poderia ser pelo
começo da ficção com estórias de sangue e violência que fazem certo sucesso nos
romances. Não! Os leitores poderiam preferir um tema mais suave, ameno. Mas ele não,
o autor preferira um tema pouco conhecido do público. Não que não desse um pitada de
tais temas, tão debatido em outros romances. Como não tinha bastante experiência, mas
alguma imaginação aliada ao gosto de escrever, e inventou uma estória que ninguém
nunca soube se verdadeira ou ficção. O certo é que vamos à narração da estória. Todos
da rua Arimatheia Tito acordavam assustados na manhã de fevereiro. Contava-se na rua
que o marido soubera de tudo.

VIII

DE PÉS NUS, VESTIDO SOLTO...

...Era alta noite e ela esperava-o. Viu passar o coletivo pela rua Heráclito de Sousa.
Quando passou, ela correu para encontrá-lo. Bateu na porta de dona Marieta e entrou
assustada. Uma voz chamou-a. Entrou Luiza Maria com os pés nus, o vestido solto, o
cabelo despenteado e os olhos ardentes. Tomou-o pela mão e o convidou a entrar. Os
dois entraram na casa. Era escura a escada que eles subiram e tão quentes foram os
beijos molhados nos lábios dela. Os dois deitados na cama. A mulher sacudira os
longos cabelos negros e ria-se, com o amante. Entrou na sala, o marido Zé de Lauro. Ele
voltara para pegar um documento do carro que tinha esquecido. Tudo escuro. O homem
entrara na casa, tateara pelo documento e escutara uns gemidos vindos do quarto.
Passou a mão em uma faca. Sentira o golpe da traição e ao adentrar no quarto desferira
uma punhalada primeira no moço, em seguida, a mulher não deu tempo de avisar ao
amante para fugir, e também sentira a umidade escorrer no meio dos seios. Sentira o
corpo esfriar feitos neve molhada e um líquido espesso, meio coagulado. Era sangue.
Depois de matar o moço e a mulher, Zé de Lauro, degolou-se. Deitado dobre a cama o
assassino e suicida deitado de bruços.

- Foi uma cena daquelas! Dizia dona Catarina.

- O marido era um viajar sem fim. Comentava outra mulher.

Não foram poucas, às vezes em que Luiza Maria, vestira-se de homem para encontrar-se
com os homens. O moço todo formoso. A mulher, demais para o velho Zé de Lauro.
Quase todo mundo na rua conhecera a orgia do belo corpo. Quando, o coletivo passara
meio dia, o corpo dela ardera ao amor de Leônidas ao vê-lo chegar da UFPI. Nas
noites, Luiza Maria sim se revelava uma das mais belas mulheres do bairro. Os lábios
cheios de vícios a lançar-se, como um anjo mau para o deleite dos muitos homens a
cortejar migalhas do amor. Não havia um homem que não quisera seduzi-la, perder-se
no amor da mulher e nas orgias de um coração excitado, o delírio. Era somente prazer
carnal de certo, o que sentiam por ela. Mas, tudo terminara em uma fatalidade infernal.
Via-se morrer um pobre inocente que nem um momento, nem um segundo se quer,
amou-a. Fora uma terrível noite. Noite de blasfêmia, de último adeus, de maldição. Ele
tivera sede da vida. Um belo moço. Pelas faces morenas, caiam-lhe os cabelos negros.
Criatura pálida, morto parecia a um anjo alvo adormecido, sob a cama escura. Alvura
das noites de luar, enquanto o marido não repousara a face nas mãos dela, ele sob a
vigília da espera, a apreciar a lua, espreitara o momento exato para se deleitar nos
braços dela. Poderia dizer que durante o dia, Luiza Maria era uma santa, uma mulher
correta, até nos modos de vestir. A mulher do senhor Zé de Lauro. Zé de Lauro era
conhecido no bairro Monte Castelo, por ser um homem brutal, perigoso e valente. O
contrário, a esposa Luiza Maria era sedutora, doce, carinhosa e prestativa com as
pessoas da comunidade. Muito religiosa que não perdia uma missa aos domingos.
Também uma mulher de gozos malditos na cama, de muitos amores, uma vagabunda
aos vinte e um anos. Tinha uma vida de miséria e loucura ao lado do esposo bem mais
velho. O corpo lívido e nu, as entranhas em fogo e a última agonia do amor que
queimara em convulsões na voluptuosidade dos lábios. ....Era de um gozo febril que
acabara no delírio de morte.

IX

...NOITE CHUVOSA
Na noite chuvosa de sexta-feira, Michele subia as escadas rumo ao quarto de Leônidas.
Antes mesmo que batesse, a porta do apartamento soou. A porta se abriu e ela fez sinal
para entrar.

- Obrigado por ter vindo! Disse Leônidas.

- Sem problemas. - Ela sorriu, enquanto sentava-se do outro lado da cama.

Michele era uma mulher alta, meiga, cujas feições inexpressivas ajudara a disfarçar a
eficiência obstinada e o perfeccionismo. Seus olhos verdes e acinzentados, geralmente
transmitiam uma impressão de confiança, mas naquele dia pareceram inquietos e até
perturbador.

- Você parece cansada! - disse Leônidas.

- Já estive melhor! A mulher respondeu.

- Eu diria que sim. Retrucou Leônidas.

Leônidas mostrara a Michele, uma preocupação. Seus cabelos grisalhos estavam


despenteados, e com o vento a entrar pela janela, sua testa suava na noite fria de julho, o
caburé piando. Parecera que havia dormido muito mau e havia mesmo, a mulher
estivera acordada, durante duas noites, em seguidas.

- É possível um ritual para afastar os súcubos! - declarou ela.

- Você quer isso mesmo? Interrogou.

- Sim. Disse o moço.

Michele assentiu positivamente com a cabeça. O moço olhou para a mulher com uma
sensação ruim.

- Apenas me escute. Disse ela.

O moço olhara estupefato.

- O quê? Deve fazer o ritual como manda a oração do livro. Saiba que eles nunca mais
te atacarão nos sonhos.

- Ok. Confirmou Leônidas.

Leônidas olhou o relógio. Não hesitara. Esperou pela mulher iniciar o ritual. Ele e
Michele foram para um matagal, nas proximidades da rua Heráclito de Sousa.

Caia noite.

Tudo era treva no local, exceto por eles estarem ladeado pela luz das velas. Uma oração
do livro de são Cipriano parecera penetrar na mente de Leônidas. Michele a arremeter
contra o moço, golpes físicos na genitália, arrancando-lhe, sussurros de prazer e dor.
Sadomasoquismo. Tal ritual, segundo a prostituta seria para expulsar-lhe, a fonte de
energia e sede dos súcubos. Queria lhe dizer que seu corpo não ia sofrer. Michele dizia
que expulsara as almas perdidas, e assim poderia enfim, Leônidas viveria
tranquilamente, nunca mais ter os tais sonhos. Ela simplesmente explicou todo o mundo
de crepúsculo, de sangue, de morte dos súcubos. Do ser humano só sai secreções e suor.
Michele a partir daquele momento, uma mulher das trevas e vestira-se com trajes de
homem e pedira para ser sodomizada por Leônidas. Mas, para que serviria tal ato?
Pensou miseravelmente o moço. Se não fizesse tal ato com Michele, os demônios
súcubos continuariam a nublar sua alma perante as noites seguintes. Os fantasmas dos
mortos gritariam e perturbariam como manadas de animais, durante os sonhos. Se
pudesse afastá-los, fá-lo-ia. Mas, aonde o prazer carnal com a prostituta, o levaria a
livrar-se dos malditos sonhos? Leônidas fez cara de preocupação ao roçar seus dedos
contra a nuca de Michele que aos gemidos transloucados, dizia uma oração que seria o
passaporte para livrar-se de tais visões oníricas. O certo é que Leônidas tinha sido
enfeitiçado e ludibriado pela mulher. O que com o tempo, transformar-se-ia no amante
perfeito, um moço perturbado pelas poluções noturnas, o que um médico diria.
Suspeitara-se que a mulher estivesse lhe enganando, com o ritual de exorcismo. Não
tomara aquilo, como um rechaço. Como se pudesse ler sua mente, Michele lhe sacudiu
fortemente e apressou mais rápido para o gozo, para o orgasmo. Com o passar dos dias,
Leônidas chorara. Depois do ato imundo com a mulher, outros rapazes do bairro riam,
quando ele passava pela rua. Certa noite, Leônidas sonhara que usava uma calça jeans
negra e botas compridas. Uma camiseta vermelha escondida por baixo de uma jaqueta
negra para ninguém o reconhecer. Um ímpeto de raiva e vergonha tomara conta dele.
No momento, Michele estivera novamente se deliciando de outro moço. Leônidas
entrara sorrateiramente no cabaré Babilônia. Ficara escondido até ela terminar o ato
indecente. O tal moço saira pela porta sem nenhuma vergonha. Michele ainda deitada na
cama, quando sentira o golpe de um punhal nas costas. Uma punhalada que varou o
coração. A mulher desfalecia. Graças a Deus que aquilo tinha sido um sonho, ou melhor,
um pesadelo que era lembrado Leônidas ao escrever as páginas da nova ficção. Talvez,
a vontade de fazer aquilo tivesse sendo reprimido pela consciência. A mulher sabia
apresentar-se nos sonhos como um súcubo. Fazia sexo com ele. Ela era simpatizante da
maior pomba gira, a Sete saias que invadia os sonhos de Leônidas na hora que queria.
Dentro do quarto que ficara no final da rua Paissandu, só exalava cheiro do sexo
proibido. Depois de tudo acendera velas para Iemanjá. Enquanto, esperava o relógio
marcar doze horas, Michele lia a oração das horas mortas. Ritual para atacar os moços
na puberdade. O ritual parecia iniciar-se. O fogo das velas oscilou nos resplandecentes
olhos da mulher, e a oração de letras emboloradas presa ao olhar nas mãos tremulas. O
medo, a sede de desejo flutuava em igual medida através dos pedaços de reza
balbuciados pelos lábios trêmulos. E assim era melhor terminar aquilo que iniciava. O
ritual dos súcubos havia sido feito há muitos anos atrás por um grupo de adolescentes,
chamados de adoradores de demônios, os simplesmente adoradores da Sabath. Era
noite, Michele rasgaria o véu entre o bem e o mal. Entre o mundo dos mundos e o
mundo dos sonhos, um mundo que se retorcia no caos, na fantasia e na ilusão a
complexo de Electra. Tudo o que queria era penetrar nos sonhos das pessoas, excitar
pessoas que seriam atacadas nos sonhos ao dormirem. E havia boas probabilidades de
que sua vida – tal e como era, transformar-se em um inferno, após o ritual, um demônio
sexual. Lutara contra todas as forças oníricas, o mestre expôs sua alma à prisão no
mundo dos demônios súcubos. Orou e ao assumir todo o ritual, tomou a forma de uma
natureza demoníaca: uma Lilith. O controle de sua alma esquecera e expusera ao perigo
mortal. Alguns dos demônios riam, outros olhavam com horror, outros se arrastaram nas
sombras pelo quarto da mulher. E era alma de culpados e condenados por aquele ritual.
Então, Michele pretendera manter relações sexuais com Leônidas. Depois de rezar a
oração dos súcubos. Tudo se idealizara. O sonho de invadir os sonhos das pessoas
transformou-a numa sombra pela escuridão do mundo desses seres. O prêmio em suas
mãos era Matias. O moço por quem era apaixonado. Os olhos de Michele brilharam ao
ver o moço, cativo e assustado no sonho. Leônidas de cabelos claros ainda úmidos e
lisos. Após o banho, antes de ele deitar o que revelou o impermeável corpo alvo e nu
sobre a cama. Seus olhos castanhos azuis, olhos que suplicavam o amor erótico. Desde a
tentativa de invasão onírica que o fôlego da mulher soprava como o vapor. Ofegava pela
tensão do ato que ela não tinha ideia do que era. Na invasão onírica, a imagem dela era
de uma jovem conhecida.

- Nãooo, não.... Sussurrou Leônidas. Sim, OH siiiim. Dissera excitado.

Ela replicara em uma só risada sarcástica.

- Vamos Leônidas, depois de todos estes ano estudando a seu lado, sabe que não pode
ocultar nada de mim, em especial a alguém tão encantado com sua beleza.

A cabeça à altura do ventre daquilo que seria uma mulher, enlouquecia-o. O corpo dela
era como parte do seu. Leônidas girou a cabeça a mostrar suas carícias, sob a luz
incandescente da lâmpada envolta de insetos. O que fora que tivessem planejado
naquela noite, os lábios da mulher permanecera secos, exceto também por Leônidas a
mexer-se na cama sozinho, retorcera-se lugubremente. Assim que a beijara, sentira-se
impotente diante do poder sedutor da mulher. A moça arranhava as costas dele, as
grandes unhas escarlates pressionara profundamente contra o formoso corpo másculo.
Ela perguntara, se ele a trairia. Pouco importara o que o namorado de Gabriela
respondera. Esse não era seu dever como homem cumprir. Impotente diante da situação,
só observara em silêncio. A mulher assemelhara-se mais e mais a namorada. A imagem
de uma linda mulher de olhos oscilantes e em chamas, olhos que resplandeciam
intensamente como brasas. Embora, a maioria usasse a oração para o moderno ritual —
ambos os súcubos faziam sexo com o macho e ele era o único que não parecia ser
completamente humano. Matias estava pálido, seus olhos azuis, cintilavam castanhos na
cor mel e sedento sem energia vital, e em nenhum momento mais parecia viver. E seu
corpo pálido era do mesmo pálido de um defunto, desde o primeiro dia em que foi
atacado por um demônio súcubo. Enfim, os ataques intensificavam-se. Teresina para o
lado do bairro Monte Castelo na zona sul, mostra-se uma cidade colocada sobre morros,
envolta de muitas casas, velhos sobrados, ladeiras íngremes e ruas péssimas.
X

ERA ALI..

Era ali na rua Arimatheia Tito que Leônidas morava desde que veio de Barras de
marataoã. O local que era seu refúgio, sua fortaleza. Buscava inspiração para vida e
também para sua ficção. Escrevia no pequeno caderno sobre a mesa, uma obra inédita
que para sua desgraça nunca seria publicada ou vencida no concurso novos autores da
Prefeitura de Teresina. Dizia para si, que pelo menos há de alguém da comissão
organizadora ler. E, contudo, não se dava por vencido. O romance sobre súcubos,
íncubos e sonhos até que tinha bonitas histórias, imorais, eróticas e tendenciosas ao
explícito. Segundo, o amigo Matias, os tais seres demoníacos atacavam os humanos na
terra desde Idade Média. De moças virgens aos moços mancebos reprimidos dos atos
sexuais. Invadiam os sonhos da pessoa á noite para sugar-lhe as energias vitais,
principalmente através dos sonhos e a trazer os maliciosos sonhos eróticos.

- Deve ser delicioso! Dizia Ísis ao ler um parágrafo do livro.

Ísis era prima de Leônidas. Uma dessas moças, onde a beleza é tão vagabunda quanto
ao caráter. Dos homens, dizia querer o ecletismo do amor. Nada de sexo sem amor ou só
por prazer. Dizia que hoje ficaria com um, amanhã com outro, mas nada sério, exceto o
professor de Literatura, a sua verdadeira grande paixão. Queria experimentar todas as
raças. O que falava ao primo tornava-se nojento, repulsivo para uma moça de família.
Sentia amor ou até mesmo uma atração sexual pelo professor de Literatura. Sentia pelo
homem, a malícia de provocá-lo sexualmente. Apreciava seu rosto macio, os olhos
lânguidos, o peito musculoso, o corpo alvo, mas reprimia seu desejo.

- Ele sim que é um homem. Dizia a moça.

Depois de elogiar o seu professor, Ísis ia deitar, mas resolveu ficar e beber vinho com o
primo escritor. Leônidas bebia vinho com a prima. Ísis retirou-se embriagada para
dormir. Sozinho e deitado na velha cama dentro do sobrado da rua Arimatheia Tito no
bairro Monte Castelo, ele ficou pensativo. Sentia uma saudade imensa do amigo Matias,
seu confidente. Talvez, quisesse morrer de embriaguez. Depois da morte de Matias, a
vida era sem cor. Tudo era preto e branco. Que importavam os sonhos eróticos sem
Matias para ouvi-los? Estava morto.

- Silêncio! Dizia para si. Foi um ataque cardíaco.

Uma cantilena horrível tocava baixo a vir do quarto da prima. O quarto de frente ao
dele. Ele a via pela fresta da porta, a moça que dormia ébria, macilenta. Não quis
perturbar o sono da mulher. Só admirá-la. Estava totalmente embriagada. Ísis nua por
cima da cama e Leônidas de pálpebras dormentes a apreciar a beleza da moça. Os olhos
castanhos claros estavam cheios de volúpia. Enquanto, o aparelho de som tocava a
música suave, a moça dormia. Cambaleando e quase a adormecer, ouvia murmúrios da
canção na rádio Pioneira. Uma canção de orgia, daquelas músicas que embalam o prazer
carnal de duas pessoas.
XI

JANEIRO DE 2009

Sabe-se, que era uma noite fria do começo do mês de janeiro de 2009. No céu da
capital, nuvens corriam negras no céu. Morcegos errantes voavam e cortavam os céus
nos voos rasantes. A lâmpada incandescente quase a apagar. Ísis deitada, desmaiada, só
a alvura de sua beleza, sob o reflexo dos olhares do primo. Leônidas a pensar na prima.

- És um louco, Leônidas! Dizia ele.

Ouvia toda a canção no rádio. Calado e atento a cada detalhe do que a moça fazia. Ísis
ao sentir que estava sendo observada, tratou de fazer uns barulhinhos por debaixo dos
lençóis. Dentro do quarto, um cheiro de sexo no ar. Leônidas em pé na porta do quarto
dela. Um riso de escárnio ecoou pela noite e vinha de debaixo dos lençóis. Em seguida,
um soluço da moça a pedir por mais vinho. O vinho na taça reluzia, sob o fogo da
lâmpada incandescente. O moço dava-lhe, o líquido tão precioso no momento.

- Vinho!vinho! Dizia Ísis.

A garrafa pela metade, e Leônidas completava a taça nas mãos frias da moça. Ela bebia
quase sonâmbula. Entregou-lhe, o copo vazio. Chamava-o de desgraçado, voyeur, casto.
Chamou-o, até a cama e quando ia unir seus lábios aos dele, empurrou-o. Os beijos dela,
talvez ardessem feitos o fogo do vinho. O beijo entre os dois só ficou na imaginação
inacabada de Leônidas. Acabava-se, assim o vinho e os copos secavam. O escritor iria
contar no outro dia aquela reminiscência, sonho ou fantasia com a linda prima, mas
seria apenas mentira. Poderia ser esperança que tudo aquilo poderia se realizar um dia.
Dizia aquelas estórias para não ser mais alvo das chacotas pela turma da Universidade,
pelo fato de ainda ser virgem. Leônidas iria deitar-se e naquela noite ficaria com a prima
na cabeça. Já era meia-noite, o deleite do sonho de um adolescente é seduzir, saber a
arte de conquistar uma garota. Do lado de fora, a noite negra como uma mina de carvão.
De frente a um espelho, Leônidas sentia o vento entrar pela janela do quarto. Fazia um
pouco de frio na capital. Ele imaginava se existia mesma a oração que Matias disse e
que dava o poder de invadir os sonhos de uma pessoa. Na noite de janeiro de 2009,
chovia o suficiente para alagar as lápides sepulcrais do cemitério são José na matinha ou
até o Parnaíba a lamber o asfalto da Maranhão perto do Troca troca.

- Será que existe a tal oração onírica? Perguntava-se.

O desejo de possuir tal oração faria Leônidas procurar a tal Michele do Cabaré
Babilônia. Matias era quem conhecia a mulher. A tal era uma cultora das ciências
ocultas. Michele havia dito a Leônidas que o ataque dos demônios súcubos drenaria a
alma do indivíduo. Ele não lhe deu ouvidos. A mulher ainda disse-lhe, que os ataques
cresceriam e seus sonhos ficariam como normais a realidade. Mas, Matias era cético.
Sabia que há mais de 150 anos, o homem sempre quis poder fazer uma invasão onírica
ou livrar-se dos ataques dos demônios sexuais. Pesquisou vídeos na internet, sites, blogs
e velhos livros com referência ao assunto e sobre orações que ensinavam tal ato. Talvez,
Michele equivocara-se em muitas coisas, ultimamente. Uma delas era sobre a eterna
perdição da alma de uma pessoa atacada. A mulher era uma espécie de bruxa e exímia
mestra das ciências ocultas na região do bairro Piçarra perto do 6 DP. Dias depois, ela
promoveria uma magia juntamente com Leônidas. O objetivo era dar-lhe força para
combater tais seres oníricos

XII

...HOMENS POR TODOS OS LADOS

Homens por todos os lados, a abraçar as lindas mulheres. Uma mulher solitária numa
das mesas, levantou-se e com uma voz grave que contrastava as suas faces cheias de
rugas. Uma mulher de longa idade, voz de um grave tão forte a ser pronunciado pelos
lábios trêmulos. Por entre os cabelos negros prateara-lhe, o reflexo dos grisalhos. Era a
velha prostituta, chamada de Michele. Michele não tinha mais os lábios ardentes,
naquelas horas de amor. Um corpo que não seduzia, poderia causar saudade, mas beijos
quentes e tudo eram sonhos e pesadelos. Dela, os homens esqueciam. E que espécie de
mulher ainda era aquela que vivia na vida por viver. Noite no cabaré Babilônia, a
mulher ao lado de um homem numa mesa era apenas um corpo só. Sob as sombras da
noite, e o vento a tremer as folhas que soluçavam aos soluços dos dois amantes. Dentro
do quarto, o perfume em torno dela, o perfume dos cabelos soltos da mulher.

- Foi uma loucura! Dizia Leônidas.

Contava que foram apenas poucos minutos, daquele sonho de fogo. Depois daquela
noite, seguiram-se outra, outra e muitas noites que o sussurro dos ventos roçava de
mistério seus sonhos. E o vento a penetrar o quarto dele, embriagava-o ao deleite das
imaginações maliciosas. A pessoa não ideal para tomar posse do moço e iniciá-lo como
homem, pensava Matias. Tudo mentira e sabia disso, o amigo Matias. Leônidas nunca
se deitaria com a mulher. Matias pensou que aquilo seria loucura, uma podridão. Perder
a virgindade com uma mulher de faces mortas, uma virgem morta. Não. Leônidas não
iria querer dos seus trabalhos sexuais. Era uma mulher que se arrastava macilenta, um
ser invisível para todos aqueles homens do local. Porventura, noite, o moço não queria
sentir na cabeceira da cama, um cadáver. E então, o coração de Leônidas começou a
palpitar mais forte ao ver Laura. Laura era uma mulher de trinta e seis anos, tipo de
mulher que emudecesse qualquer homem, mulher misteriosa. A começar pelo perfume
forte, amadeirado, um vestido negro que a deixava quase sempre nua. Parecera um anjo
negro de tentação ou um demônio súcubo da realidade promíscua. Ela de uma beleza
quase virginal. O corpo de a mulher transformava-se, numa espécie de sedução e todos
queriam provar do cálice do seu amor. Passou por Leônidas como quem passa por uma
criança. A inexperiência, a timidez do moço fazia sua inteligência ficar inerte, menos a
mente e o coração cheio de impureza, malícia. Era para ser uma noite de gozo frívolo,
não teve coragem de perder sua virgindade. Retornou para casa. No caminho ao lado do
amigo Matias, só ouviam o som das reboadas de trovão no nascente. Novamente o leito
seria seu túmulo, sua tumba de pensamentos maliciosos, durante a noite. O mormaço
no céu denunciava que um temporal na capital estava prestes a cair. Leônidas dentro do
coletivo lembrara ainda ela dizer, outras estórias. Dissera que certa vez, a lua parou no
céu da capital. Naquela noite, tudo dormia. Era a hora dos mistérios. No sonho via a tia
Marieta encaminhar-se para seu quarto, a mulher implorar um regaço incestuoso do
sobrinho. Nos lábios dela transbordavam o prazer, o pecado ou o que é que fosse aquilo.
Seus olhos vidrados, os lábios brancos e as unhas escalarte. Uma espécie de Lilith em
carne e osso. Seus cabelos quase grisalhos, mas tinha uns negros ainda. Ela se erguia, a
cambalear, estremecendo as pernas tortuosas e se perdia nas trevas do quarto do moço.
Só via-se por baixo dos lençóis Leônidas apertarem os lábios naqueles seios murchos,
seios gelados a revolver-se, eriçar os bicos, dos arrepios e dos beijos amargos de prazer.
Uma mulher a matar a sede sexual ao apetite lascivo do jovem que não podia amá-la.
Leônidas repousava os lábios nos seus seios, roçava-lhes as faces, como queria fazer
com a prostituta Laura e ao final, só um silêncio. Matias dizia que ele estava doido.
Leônidas continuava a narrativa. Banhava-se da torrente de seu fogo de mulher aos
quarenta e seis anos. Embalava-a nua e macilenta no seu peito. Era uma insânia. Um
pecado carnal. Em sonhar que era amor. Ébrio sim. Ébrio de amor, de prazer. Leônidas
era uma criança inocente que se embebedou de seu gozo.

- Que noite!

Parece que seus corpos desfaleciam. A brisa silenciosa e o rapaz todas as noites a
esperar mudo nos sonhos, a vagabunda que morreria nos seus braços todas as noites.
Matias sabia do segredo de Leônidas. O moço tinha uma paixão pela prima Ísis. Ísis era
uma moça bonita, morena, de olhos muito lânguidos e muito úmidos. Os olhos negros
penetrantes, o corpo seminu ao sentar-se, sobre o dele na cama. Ísis repousava as mãos
sobre a face dele para sentir suas lágrimas do amor, lágrimas de saudade que banhava-
lhe, os olhos ao luar. Fazia aquilo como uma provocação. Quando tentava beijá-la, Ísis
arrancava-se de dentro do quarto. Aquele seria um beijo de amor na loucura dos lábios.
Leônidas perdia-se de amor pela moça. A moça pedia para ele escrever-lhe um romance,
uma poesia, um conto talvez, só para ouvir seus devaneios, contos eróticos e perder-se
no pensamento das ilusões amorosas. Contava e sonhava com Ísis dia e noite. No
entanto, Ísis sentia amores pelo professor de Literatura. O professor era um homem de
trinta e três anos, esplêndido, voluptuoso, alvo, de que talvez seus beijos fossem quentes
como o sol de Teresina, um detalhe impedia o romance dos dois: Ele era casado.
Pensava a moça que com ele, a orgia valia uma página da vida ou as páginas da ficção
escrita pelo primo. Quando chegou, ele ficou a recordar do sonho. Lembrou-se que
Matias comentava sobre estória de súcubos dita pela prostituta Michele. No fundo,
Leônidas não queria saber de tais estórias de demônios. Tinha medo e achava que seria
apenas para ridicularizar sua virgindade. Partiu para a mesa e a digitar no computador,
mais páginas da sua ficção romanesca.

XIII

O TEMA DO ROMANCE TEIMA EM NÃO SAIR!

Leônidas quisera escrever um romance. O tema central teimava em não aparecer.


Resolvera estudar, tudo sobre os demônios íncubos. Um tema bastante complexo.
Lembrou-se do que Matias falou. Matias dizia ter muitos sonhos eróticos com mulheres,
ultimamente. Sonhos eróticos, diziam que na maioria das vezes, talvez revelava alguma
coisa. Na primeira vez que teve tal sonho, recordou que via uma mulher sem rosto.
Dizia que a tal mulher chegava a sua cabeceira, tal qual um espírito impuro, sedento por
prazer. Ajoelhou-se, vestia uma grande saia de sete dobras. O sonho era tal como na
realidade. A mulher tinha uma febre de libertino, uma lascívia nos lábios, seminua,
trêmula e palpitante sobre a cama dele. Matias não conseguia ver o rosto dela. Sob a luz,
via somente seus lábios. E sonhou com ela, a noite toda. Não sabia, o que aqueles
sonhos queriam dizer. A verdade é que amanheceu apaixonado pela mulher. Ela, o
visitaria em outras noites. Sempre insana tão falsa e esquiva. Matias não a tirava da
mente. Embriagava-se, com os beijos dela. Um dos ataques dos súcubos foi na noite que
chegava ao sobrado da Arimatheia Tito, os amigos, Débora, Ísis, Alberto, Clarice.
Traziam muitas garrafas de vinho nas mãos. Naquela noite, a orgia, a bebedeira rolaria
solta até altas horas. Entravam para o quarto e começavam a conversar. Débora noiva de
Alberto era a mais assanhada, desinibida. Convencia Matias a contar a mesma estória, o
sonho dito a Leônidas.

- Bem! Muito bem! É uma falta de respeito com as amigas! Dizia Débora.

Ela queria saber quem era a tal mulher que visitava Matias nos sonhos. No fundo, só
desejavam saber quem era o amor proibido de Matias que completava-lhe, a vida. E
logo Leônidas, Matias, Alberto, Débora, Ísis e Clarice desciam taças cheias de vinho.
Os copos caiam vazios na mesa em goles rasgados. Marieta ouvia tudo da parte debaixo
do sobrado. Estendia uma toalha molhada na janela do quarto, só para ouvir melhor o
que o pessoal conversava. Do quarto, Leônidas contava histórias sanguinolentas, de
paixões efêmeras, lia, relatava os contos eróticos e oníricos do amigo Matias. Deliravam
ao clarão dourado do sol ás cinco da manhã. Horário em que muitos vinham das baladas
e boates da zona leste, outros iam ao trabalho. Os seis jovens tremiam de frio e desciam
por uma das ladeiras do bairro, iam matar a fome no mercado da Piçarra.

- São apenas sonhos! dizia Matias.

- Conta mais, conta agora os teus Leônidas! Manifestou-se, Débora.

Matias tinha ouvido Clarice pedir para ele contar a estória. Contou tudo aos amigos,
disse que foi certa vez. Tudo aconteceu na casa de dona Princesinha, a avó. Na entrada
do bairro Piçarra perto da igreja de são Raimundo. Por trás da igreja, via-se no nascente
a lua se levantar ao longe. E sobre aquele luar, Matias conversavam sobre a ficção
escrita pelo amigo Leônidas. Por trás da casa da avó, Luiza Maria tinha desejo de correr
seu prazer e assim exorcizar sua solidão sexual deixada pelo marido Zé de Lauro que
viajava muito. Poderia o desejo ser realizado, mas seria uma propensão singular de uma
mulher ás ruínas. Luiza Maria devia ser uma anja, talvez um demônio mesmo, mas não
se sabe ao certo. Sabe-se que era meio sombria e também ébria, mas antes de tudo uma
mulher muito sexual. Tinha sangue de Baco nem mais nem menos. Tinha os olhos
azuis, sentava-se ao lado dele na cama. Ninguém sabia, quando ela esteve no seu leito,
se era mulher ou se homem. Sem falar, sem suspirar, via-se somente o vulto pelo luar
belo a entrar no quarto. Também no sonho, ouvia gemidos que vinham do quarto da
mãe. Os sinais do corpo do ser tinham contornos femininos, outrora formas masculinas.
Ora, aparentava-se homem e ora, mulher. Ficou ali parado ao lado da porta. Muitas
vezes, a mãe dizia que era melhor Matias procurar uma mulher da vida ao invés de se
acabar literalmente na mão. Conforme os minutos se passaram, mãe e filho no sonho
começavam uma relação amorosa. Numa das vezes, depois do episodio do quarto,
Matias estava sentado no sofá grande e confortável da sala que mais parecia uma cama.
Quando adormeceu, viu em sonhos a espontaneidade dos seres demoníacos e era uma
das características que ele admirava. Um deles beijou-o, longa e amorosamente. O
rapaz tomou-o em seus braços e retirou a camisola com um gesto suave. No sonho
sentia as agonias do amor. Todos os sonhos de impureza, Matias sonhava á noite e eram
de cenas obscenas que lhe saciavam todo dia. Num deles, deitou-se com a noiva do
amigo Alberto, Débora. A moça o saciava, e Matias acordou impotente, envolvido no
orgulho de um mísero desgraçado. Os sonhos estavam enlouquecendo-o. E ele sem
entender que os sonhos poderiam ser produto da mente ou da imaginação.

XIV...

UM SONHO INDECENTE

Leônidas acordou assustado. O sonho indecente que teve com Ísis ainda rastejava-se, a
mente. Talvez, também fora atacado em sonhos pelos tais demônios súcubos. Que
espécie de louco seria o amigo Matias que sempre comentava sobre demônios que
atacavam pessoas nos sonhos. Nunca tinha acontecido, exceto naquela noite que via a
prima como objeto de desejo sexual.

- Seria um ataque? Um desejo reprimido do subconsciente! Do tal id? Ah que Freud se


exploda, talvez apenas sonhos de um rapaz!

Diziam os mais velhos que aquilo era constante na adolescência e na maioria dos
jovens. Poderia também ser o fato de folhear revistas de mulheres nuas ou de saciar seus
desejos e fantasias através da masturbação. Masturbava-se, para compensar tudo aquilo
que era reprimido pelas leis da moral, da igreja, da sociedade. O contrário, do que o
sonho mostrou com Ísis, Leônidas a respeitava e muito. Sentia que o sonho foi uma
espécie de pecado, sórdido, nojento. Passou a pedir a Deus para livrar-lhe, daqueles
sonhos, daquela tentação. Mesmo tendo sido gostoso, tentador, mas um sonho terrível,
pecaminoso aos olhos do padre Gregório da igreja do Monte Castelo. Tal ato era insano,
indecente, indecoroso aos olhos dos homens e de Deus. Refletiu e resolveu tomar banho
antes de dormir. Pela manhã teria que ir para a Universidade Federal na Ininga.
Esfregou os olhos e lembrou discretamente do sonho. Em frente a televisão, a prima Ísis
de babydool, os seios volumosos á amostra, seios de bicos eriçados por baixo da
vestimenta que alinhava o corpo belo da moça. Partiu para o banho e a mente cheia de
insanidades, malícias. Terminou o banho demorado. Ele vinha enrolado na toalha.
Passou pela prima e ela o observou por um movimento de canto de olho, um olhar
malicioso, provocador sem dúvida. Repreendeu-o por sempre sair assim do banho. No
entanto, o olhar denunciava que até mesmo gostou do ato. Ísis sabia bem disfarçar. O
rapaz timidamente, aproximou-se por trás do sofá.

- Relaxa prima, a toalha não cai! Dizia.

Olhando para a TV ligada, Leônidas começou a passar as mãos nas costas dela. Queria
falar-lhe, mas ficou sem ação. Virou-se para ela, depois para sua boca. Seus lábios se
encheram de prazer e imaginou um beijo arrematador.

- Leônidas! Eu não sei o que estudar para a prova de Literatura. Disse a moça.

Um silêncio pesado tomou conta dos dois. Leônidas imaginou que o corpo da prima a
entrar em erupção vulcânica de prazer. Na mente dele, os corpos entravam em ação e
eles não tinham controle. A sensação para os dois era de que o tempo passava devagar,
quase parando.

- Estamos perdendo a razão! Falava a moça.

O olhar de desespero, os corpos mergulhados no prazer. O ato do entrar e sair dos beijos
quentes de língua que perdia totalmente o foco racional da coisa. Leônidas observava os
olhos dela que pareciam cheios de arrependimento, de medo, mas com vontade de
realizar tal ato de insanidade. Não queria que aquilo fosse tão longe, pensava. Até
admirava os amores proibidos de pessoas em adultério, mas aquilo era um amor de
maldição, repreendido por todos. De repente, o rapaz voltou à realidade.

- Tudo bem, depois eu te ensino! Respondeu.

E subiu para o quarto. Assim, os dias de janeiro a passar rapidamente. Cada vez mais, o
mesmo pensamento se repetia, os mesmos desejos insanos se repetiam com os dias. Não
importava mais o ato insano, o ato imoral para a igreja, para a ética, para a moral.
Leônidas era um ser humano, não um santo. Era virgem, isto era verdade. Também era
um pecador igual a muitos. Sabia até de padres pecadores e contado pelo primo Alberto,
quando esteve no seminário. Também ele, quando acólito da igreja da Piçarra via as
graças de mulheres casadas e viúvas pelos homens santos da igreja, principalmente
padre Rodolfo metido a galanteador.

- Qual a maldita diferença entre o amor e o pecado? Entre o permitido e o proibido?


Ninguém sabe?! Não havia resposta.

Sabia bem Leônidas que o sexo enchia a prima de vestidos caros, calças compridas,
blusas de marca, perfumes importados e muitas outras coisas. De Empório Armani a
Louis Viton. De Jean Paul Gautier a CK. E o coração dele, só batia ao compasso das
depravações de Ísis. Também esquecia a doce ternura da prima. Leônidas observou um
movimento estranho numa certa noite. Poderia ser coisa da cabeça. O certo é que viu e
tinha certeza daquilo, o primo Alberto a correr rapidamente para o quarto de Ísis.
Alberto no auge dos quase dezoito anos e feito um cachorro no cio, a esfregar a
lubricidade por todos os cantos. O primo imaginou que ele não perderia a inocência, a
moral, a razão. Ísis sempre lhe dizia que a felicidade de possuir um homem seria apenas,
como um brinquedo e usá-lo, somente nas horas de solidão e vazio.

O irmão seria tal brinquedo?

Quanto a Leônidas, Ísis olhava-o, desde que chegara de Barras, sem desejo. Talvez, Ísis
não era uma moça que sentiria a carência de mulher, através dos desejos da carne. Dizia
ao primo que dominava o corpo, o sexo, mas a mente não. Naquela noite, não
imaginaria que com o irmão, poderia por tudo em prática.

XV

CAPÍTULOS DA FICÇÃO

Depois daquela noite, Leônidas se lembrara de tudo, debruçado sobre o romance.


Escrevia capítulos da ficção e ficou a lembrar da noite em que a prima Ísis leu alguns
parágrafos da ficção. O rapaz não acreditava que por pouco teve seu corpo contra o
dela.

- O que faltaria para tê-la?

Somente os beijos, talvez as carícias ou os finalmente das intimidades libidinosas. Mas,


tudo fazia parte de uma fantasia dele, infelizmente. Tornava-se, a partir dali um
mendigo ébrio nos sonhos da prima, nos sonhos de poeta, nas visões obscenas de
escritor e na ardente orgia da beleza da mulher nua, na languidez de uns olhos negros,
na convulsão que o abalou todo na hora daquele deleite. De repente, Ísis entrou de uma
vez no quarto. Gostava de fazer aquilo, só para ver se flagrava o primo, masturbando-se.
Dessa vez, não. Entrou e perguntou para ele:

- É alguma parte do romance?

Leônidas sozinho com a moça dentro do quarto. A tia Marieta e Alberto tinham viajado
para Barras. Pensou que a prima Ísis tivesse dormindo. Naquela noite tinha telefonado
para uma vagabunda de rua, chamada Michele. Criou coragem para perder a virgindade.
Era uma noite escura. Michele era dessas mulheres que depois de bater ponto no cabaré
Babilônia saia a vagar horas pelas ruas à toa. Quando ele ligou não demorou a mulher
chegar a casa. Ísis saiu do quarto antes dela chegar. A moça viu assim que Leônidas
abriu a porta para a mulher entrar. Ficou do seu quarto observando o movimento.
Demorou pouco, Ísis ouvia o primo juntamente com Michele, jogarem-se na cama. Era
um colchão, mas tão velho, tão batido, que fazia vergonha. A tia tinha se desfeito assim
que comprou outro e doado ao rapaz. Eles deitavam-se. Estiveram por algumas horas
conversando, mas nada das orgias libidinosas. O corpo de Michele era belo, magro e
lívido, apesar dela confessar que tinha um filho. Eles estavam em contato e um deles
excitava todas as sensações e fantasias possíveis. Leônidas, dava-lhe beijos e Michele
retribuía.

- Silêncio! Disse ele.


E com um ar cínico, Leônidas dizia:

- Queres que minha prima escute?

- Quero que essa vadia fique louca de tesão! Dizia Michele.

Deitaram-se, adormeceram-se por toda noite embriagados pelas muitas garrafas de


vinho. Pela manhã, tudo esquecido. Leônidas esquecia toda a noite de orgia. Michele ia
embora. Ísis ainda dormia. Assim que ela acordou, lembrava-se do que ouviu. Ficou a
imaginar os lábios do primo a beijar os seios da mulher, da grande vulva que saciava a
sede imunda do prazer dele.

- Gozaste com aquela mulher? Perguntava Ísis.

- Sim. Dizia Leônidas sem o menor pudor.

Talvez, o beijo daquela imunda, o seu corpo frio fosse mesmo cheio de ceticismo, como
dizia o amigo Matias. Podia ser que os sonhos que povoavam a mente dele fossem
espíritos sexuais. Daqueles que a vagar nas horas mortas feito cadáveres que se abrem
aos lábios inchados e murmuram os mistérios do prazer.

XVI

MICHELE, UMA MULHER IMPRESSIONANTE

- Leônidas, presta atenção! São muitos sonhos assim. Dizia Matias ao melhor amigo.

Leônidas não prestava atenção ao que dizia o amigo. Só queria responder suas
atividades de Literatura Brasileira. Matias lhe contava que Michele era uma mulher
impressionante, cálida e apaixonada, daquelas mulheres sensuais em que sua
sexualidade caprichosa de fêmea faz qualquer homem pecar. Michele havia sido sua em
sonhos. Tudo isso aconteceu, depois daquela noite fria de janeiro na cabaré Babilônia
no centro. No alto dos céus, um trovão retumbou no nascente. No sonho, Michele
caminhava lentamente pela rua Valdivino Tito na piçarra. Como todo sonho é cheio de
imperfeições, a mulher penetrava seu quarto. Matias olhou-a e desejou sexualmente a
mulher. Na noite ele seria vítima de um súcubos que o atacaria em uma invasão onírica.
Da janela do quarto, o jovem ouvia o bater das asas dos morcegos, enquanto se
preparavam para dormir. Tinha medo de novas invasões dos súcubos nos seus sonhos. E
então, escutou os passos familiares. Era a mãe dona Rosa Clarice. Ela vinha dar-lhe boa
noite. Para ele, o pesadelo estava a ponto de começar. Com medo de dormir, o rapaz
folheava uma revista erótica e contemplava atentamente uma foto. Adormeceu.
Enquanto dormia, uma perturbação se formou entre os sonhos. O sonho não se
condensava, ajoelhava-se perto de Michele e a mulher fazia reverência a sua pessoa.
Michele permanecia como estava e o manteve como prisioneiro no sonho. No sonho
Matias era aprisionado ao corpo dela, como pensar que a velha prostituta seria tão audaz
de tomar a liberdade onírica para atacar o rapaz. Uma sábia precaução para um súcubo é
não atacar uma homem, fruto do desejo de outro súcubo.
- Não sabe as regras. Disse Michele a Laura.

Enquanto, aparecia um círculo negro e um túnel do tempo entre o súcubos. A voz


profunda de Michele ecoou. Michele era alta e branca como o alabastro, com cabelos de
uns grisalhos quase loiros e olhos verdes que se agitaram com a intromissão da outra
mulher no sonho. Ela usava uma blusa negra de pescoço alto e vestido negro.

- Matias acorde. Volte para a matéria corpórea. Dizia ela, ordenando-o, a acordar.

Laura não tinha sentido em antagonizar com a velha súcubo.

- Fuja! Disse Michele.

Jogou-se, sobre o rapaz, expulsando-o do sonho. Laura escutou a dor na voz de Michele,
e também ouviu assim que despertou. Se pudesse fazer ver Michele antecipadamente,
certamente não teria feito a invasão ao sonho do jovem. Depois daquele sonho terrível,
Matias estava sozinho. Os sonhos estavam demais. Imagine o povo saber daquilo. Ser
apontado por todo mundo na rua, como o mestre das poluções noturnas. Raiva e
vergonha, uma mistura explosiva e fatal. Matias torceu a cabeça olhando para os quatro
cantos do quarto. Pressionou o pescoço na corda tão fortemente que os ossos das
vértebras cervicais se quebraram. Talvez, não desistiu daquilo. Não sentia mais gosto
pela vida. Foi para o sono eterno e tudo aconteceu. Quando correu a notícia pelo bairro,
desespero. No começo da manhã saía gente chorando, outros conversando pelo terreiro
da casa. O velório de Matias passara assim, numa agitação medonha na sala. Dona
Princesinha era uma velha de uns setenta anos, a avó dele. Ela morava há longo tempo
com o neto e a filha Rosa Clarice. Foi casada, com um dos homens mais ricos de
Teresina, senhor Jerônimo. Dona Princesinha ordenava as rezas durante o velório de
Matias. Era quem tomava conta da casa, quando o filho Osório estava cuidando dos
negócios da família. O rosto enrugado pelas intempéries do tempo, não afastava o ar
maledicente da mulher. Durante a reza o olhar esquivo, a voz áspera, um tormento. A
velha uma espécie de demônio, tinha tanto poder sobre o neto que se ele estivesse vivo,
não resistia aos caprichos da velha. Era uma figura magra e branca, de tão pálida que a
pele reluzia o azul das veias pelo longo dos braços. Os olhos azuis afundados dentro das
órbitas e uns cabelos grisalhos até abaixo da cintura. Ela andava com uma tiara
vermelha na cabeça e naquela noite, a velha rezava e rezava no meio daquela gente
pobre e subserviente que qualquer coisa era motivo de choro. Via-se, Michele
preocupada. Suava, mordia os lábios, assanhava os cabelos nervosamente, tremia.
Havia praticamente desaparecido o chão firme que pisava. Os olhos piscavam e as mãos
trêmulas numa sudorese, sem fim. A velha virou-se para ouvi-la. A mulher manteve-se
de pé, rígida, olhando para o chão e parecia prestes a passar mal.

XVII

UMA CHUVA FINA E INTERMINENTE...

Caia uma chuva fina e intermitente. O céu cortado por todos os lados por relâmpagos,
reboadas de trovão no nascente. Ele subia a rua Arimatheia Tito ao entrar para a Tote
Carvalho seus passos foram ficando mais lentos, ora pisando em poças de água, ora
pulando uma calçada. Leônidas sentia que alguém lhe seguia rapidamente. E suas
pernas pareciam serem paralisadas. Um vulto de preto aproximava-se, causando-lhe
medo, ojeriza, e tudo aquilo foi como o vento a roçar os pelos dos braços. Tal e qual a
noite tinham por si só, um sinal de mistério. Noite fria. Um cão negro de olhos
avermelhados e sozinhos a perambular pelas ruas. Era ela. Sim era ela. Leônidas podia
senti-la, só pelo cheiro que entorpecia de sexo o ar. No entanto, não conhecia suas
estranhas. Foi seduzido pela mulher e entregou-se, ao prazer. Ela foi capaz de masturbar
o rapaz no meio da rua sem ninguém os ver. Luiza Maria tinha as mãos frias. Devia ser
por causa da chuva que caia naquela noite. Visitou-o em sonho, duas vezes. E ele viria a
possuí-la, por ainda outras vezes. Outra vez, foi numa tarde que caíam, os vapores
azulados do horizonte na capital Teresina e tudo se escureciam. Um vento frio vindo da
zona leste sacudia as folhas da mangueira. Leônidas contemplava à tarde que caía.
Havia algo naquele horizonte. Dia de morte, talvez. Na linha azul orlada do nascente,
para o lado de Timon, um bando de gaivotas brancas sentadas numa das mangueiras do
quintal da casa da tia. Presságio. Dizia que aquelas aves eram anjos voando pelo céu.
Teresina que algumas horas mais tarde mergulhariam nas águas de um temporal. Dos
céus, uma cachoeira imensa que espedaçava suas águas prateadas no asfalto morno das
avenidas. Uma chuva de escuma pelo asfalto, a levar sacolas de lixo pelos negros
paralelepípedos das ruas do Monte Castelo. E o rapaz olhava tudo aquilo, com um ar
perfeitamente romântico. Olhar para a chuva fazia Leônidas sentir um divertimento
agradável. E seus pensamentos, sempre na mulher que ele havia feito amor na noite
anterior. De pé, encostado na porta, a tia Marieta o chamava para sair da chuva.

- Esse diabo é doido! Quer é pegar um resfriado.

O caso é que foi preciso a mulher brigar para ele entrar em casa. Leônidas era um jovem
estudante. Rapaz vadio, estudioso, talentoso ou estúpido escritor de romances, de
poesias, de contos. Pouco importava o que ele escrevia. Duas coisas lhe deixavam
preocupado: os sonhos eróticos que ocorriam com frequência, tais quais os mesmos que
o amigo Matias lhe relatava e o reconhecimento dos seus escritos. Amava as mulheres
sem realmente possuí-las, amava o romantismo e os escritores da segunda geração. Um
digno rapaz, sempre honesto. Nas noites de solidão, dentro do quarto gostava de
garrafas de vinho, ler seus poemas e de sonhar ter em seus braços, a prima. Adorava
acordar cedo da manhã, só para ouvir o canto dos passarinhos. Um fino apreciador das
noites de luar sonolento, noites límpidas. Quando veio da Universidade Federal achava
o mundo monótono. Via pela avenida Frei Serafim, nas calçadas por cima de papelões,
miseráveis mendigos, ou um acidente entre veículos, o que era tão popular, vulgar e
comum. Porque havia de ver alegria em assistir aquilo? É que sem esses ingredientes
cotidianos, Teresina não é Teresina. Na Universidade, Leônidas sentia-se um D. Juan
com as mulheres. Era uma modéstia! Dizia que toda mulher é sedutora e não
conquistadora.
Todas elas seriam assim, falava ao amigo fiel, Matias. As que não seriam sedutoras por
dentro eram conquistadoras por fora. Há dias que o amigo Matias, queixava-se para
Leônidas de sonhos eróticos que aconteciam com frequência.

- Então anda saciado! Ironiza Leônidas.

E contou tudo. Dos sonhos eróticos com uma mulher de quem ele beijou os seios. Outra
vez que sentiu os lábios de uma vagabunda que dormia na rua perto da praça da
bandeira. Contou da mulher do vizinho, do senhor Zé de Lauro que o pessoal dizia que
vendia o corpo na Paissandu. Leônidas explicou-lhe que poderia ser, talvez por ser ainda
virgem é que ele imaginava nos sonhos estas lindas mulheres. Alguma mulher na
realidade ainda o levaria para a cama.

- Reze por mim! Dizia Matias.

Na verdade, Leônidas não entendeu aquilo dito pelo amigo. Depois da aula de Literatura
Piauiense, o suicídio de Matias aos vinte anos virou manchete dos jornais da capital. O
tal ato de insanidade humana mexeu com Leônidas. Logo, o Matias que batia no peito e
dizia que tinha uma mente de um homem de quarenta anos. Exímio questionador dos
escritores da segunda geração do Romantismo. Leônidas, naquele dia passou a querer
entender os sonhos eróticos de Matias. O que seria aqueles sonhos eróticos? Depois que
se enxugou e a tia trouxe-lhe o jantar, o rapaz ficou horas deitado na cama e a mente
focada no que Matias lhe falara. Perguntava-se, porque ele não deu atenção à confissão
do amigo. Por fim, adormecia pensando em tudo. Começava a sonhar. No sonho via
uma mulher chegando ao quarto dele. Os dois abraçavam-se e faziam sexo. Os dois
corpos entravam em convulsão, os seios e os peitos arquejavam. O beijo das duas bocas
tremia nas duas vidas que se fundiam muito e sempre. Depois do sonho, Leônidas
começou a chorar, talvez se sentisse culpado pela morte do amigo. Amante da boemia,
Leônidas passou a contemplar a beleza das coisas. Começou a dar valor a tudo que via.
Passou a adivinhar o perfume da prima Ísis. Perguntava-lhe à noite, quando chegava da
Universidade que música ela mais apreciava. Ísis tinha uma doce voz, e seu coração
prometido a outro homem. A formosura da moça era divino e dela Leônidas nunca
poderia sentir seu amor. Achava a mulher mais linda do mundo. Lembrou-se de uma
vez, quando a viu, nua no banho, suas formas divinas, de morena, de seus cabelos
negros. Ele tinha visto seu semblante empalidecer de vergonha, mas depois daquele riso
malicioso e do efêmero exibicionismo é que revelava o lado erótico e encantador da
moça. Parecia então que aquela mulher o fazia estremecer, enlouquecer, sentir desejos
obscenos com ela. Imaginava deitado no quarto, os seus lábios tocarem os seios delas.
Morreria com certeza de um desmaio de prazer. O amor se desfazia com a saudade que
se desfaz no esquecimento. Amava-a em silêncio. Sentia pena do amigo Matias, pois se
lembrava dele aos vinte anos nunca ter amado de verdade, exceto os amores pagos ás
mulheres do Babilônia. Não sabia que sonhos o levariam a morte. Talvez, o amigo fosse
impotente diante da situação. Nunca quis exigir de uma mulher, o seu amor, somente o
ato sexual pago. Leônidas era jovem igual aos que se contavam nas lendas de vampiros.
Estava ainda encantado com sua própria força, seu poder de invadir sonhos. Ou talvez,
só quisesse amar para provar a si mesmo que havia superado a timidez. Com a ajuda da
maior mestra de todos os tempos em ciências ocultas, Michele que idolatrava Iemanjá,
Leônidas sentia-se poderoso.

- Pelo poder dos íncubos. Leônidas ordenou.

- Não. Sussurrou Michele sem fôlego.

O olho do outro íncubo girou em torno dele e Michele deu com a cabeça, uma rápida
sacudida. O melhor para o outro súcubo era ficar em silêncio. Os cabelos escuros de Ísis
roçaram a pele de Leônidas. Quando despertou, Ísis só lembrava-se do sonho.
Recordou-se dos anteriores. Ela ainda acordava e sentia-se mais apaixonada, só que
Leônidas não era o professor de Literatura. Os íncubos estavam acostumados desde
séculos a encantar os humanos. Faziam isso até que estivessem em condições sexuais,
só para alimentar-se de suas energias; e embora uma vez invadisse os sonhos, ninguém
poderia provar que tinha sido atacado por um deles. Diziam besteiras de Leônidas na
rua que morava, só pelo fato de ele não ter ainda ido para a cama com uma mulher.
Tinha feições delicadas e olhos castanhos brilhantes. Era um tipo de jovem elegante.
Talvez, um pouco magrelo e esquisito, mas certamente havia mudado muito. Ao longo
dos anos, ganhou um belo corpo torneado, peitos firmes e um abdômen perfeito. O certo
era que tinha muitas namoradas, paqueras, mas nada de sexo ainda. Quando passava na
rua Arimatheia Tito, muitas mulheres o via com olhos de desejo. Masturbava-se
regularmente. E a ideia de ter uma relação com uma mulher estava sempre na
imaginação. Sonhos eróticos passaram a ser frequentes. E não sabia que sonhos eram
aqueles. Desde a morte de seu melhor amigo Matias que a vida não fazia mais sentido.
Questionava-se por que Deus permitiu tal perversidade. E não encontrava nenhuma
alegria em nada, nem gosto pela vida. Uma vez que o jovem amigo cometeu o suicídio e
pelo quarto, logo se sentia um cheiro fétido de demônio. Outra vez, havia também
municiado o revolver do pai, um revolver oxidado, débil e com os cartuchos velhos,
talvez a morte dele o sujeitasse por muito tempo. Desistiu de tal loucura. Suicidou-se.
Certamente, Leônidas sabia que aquilo aconteceria. As cicatrizes feitas na vida dele não
cicatrizariam e quando morresse as levaria para a tumba. Já Leônidas vivia em Teresina
na casa da tia Marieta. Dona Marieta era uma viúva e tinha dois filhos, Ísis e Matias.
Foi há cerca de três anos que Leônidas foi influenciado por Matias que tentara tornar-se
escritor. Matias havia participado de vários concursos literários e nada. Certa noite,
Leônidas debatia-se, com o primeiro romance, pegou o gosto pela literatura. Todas as
noites, enquanto escrevia, bebia vinho e ouvia música clássica pela rádio Pioneira até
amanhecer. O moço impôs-se, com objetivo de um capítulo por noite. De manhã
levantava-se, ia até a parada do coletivo, depois seguia para a Universidade Federal
fazer o curso de Letras. Para escrever o seu primeiro romance levou praticamente um
ano. Pensara que ele mesmo era maluco. De vez em quando eles faziam uma festa na
casa de dona Marieta. Bebiam vinho até às 4 ou 5 da manhã. Comentários pelo Monte
Castelo que Leônidas tinha caso com a prima Ísis. Mentira. Ela era uma terrivelmente
ninfomaníaca, safa, fizera-se de católica dessas que vão à igreja ao domingo de manhã
para encobrir a tara pelo sexo.
- Tudo mentira, ele negara.

O certo que os boatos, atazanava-lhes o pensamento. Michele, a velha prostituta era uma
usuária da magia. Aqueles fiéis que chamam para si mesmos os poderes das ciências
ocultas. Leônidas tinha escutado sobre os ensinamentos da mulher. Havia de aprender
algumas coisas das ciências ocultas. Os sonhos que tinha com uma mulher misteriosa da
rua poderiam ser explicados pela mestra. Entrecerrou seus olhos, imaginou. Nem todo
mundo teria coragem para tal ato ou coisa. Sem advertência, lançou-se no caminho até
Michele. Não a encontrou em casa. Desistiu e resolveu dormir. Começou a sonhar
novamente. No sonho, ele seguia para o centro de Teresina, mais precisamente para um
bar perto da praça da bandeira. Quase em frente ao Troca troca. Leônidas dizia:

- Garçom! Mais uma garrafa de vinho!

Um desconhecido chegava.

- Só uma dose. Dizia a tal pessoa.

Leônidas olhou para o desconhecido e correu goela abaixo um corpo de vinho. O


desconhecido aos poucos, foi familiarizando-se com o rapaz sentado á mesa.

- Garrafa vazia? Perguntou.

O moço respondeu:

- Sim, o garçom demora vir atender.

Era uma noite silenciosa, exceto pelo rio Parnaíba com suas marolinhas a bater no cais
lentamente. Leônidas antes tinha visto um vulto com roupas negras, achou ser o vigário
da igreja de nossa senhora do Amparo a passos largos pelo caminho de paralelepípedos
da praça da bandeira. Não havia movimento de pessoas na praça. Ninguém passaria
àquelas horas, pois temeriam os usuários de drogas ou algum elemento ruim. O silêncio
do lugar amedrontava Leônidas. Ele adorava as noites de luar á beira do cais perto do
Troca troca, mas aquilo se erguia misterioso demais.

- Mais uma garrafa de vinho?

- Sim!

- Que fantasmas te atormentam? O desconhecido perguntou.

- Não entenda mal, eu só estou tentando esquecer uma grande tragédia! Disse Leônidas.

Demorou pouco, o desconhecido desaparecia e chegava uma mulher. Uma mulher


conhecida por Leônidas. Ela não era uma dessas acostumadas ao beijo fácil que ansiava
por prazer de desconhecidos na rua Paissandú. Era talvez, daquelas mulheres casadas
que adorava também as sensações mais fortes. Chamava-se Luiza Maria e era uma bela
mulher. Luiza Maria era a grande paixão ou a tentação dos adolescentes da rua
Arimatheia Tito. Diziam as más línguas que ela durante as noites, vestia-se de homem.
- Uma cerveja! Disse ela.

Leônidas olhou para a mulher. Havia algo de anormal, naquela noite. O desconhecido
tinha se retirado do local, e logo Luiza Maria uma lúgubre mulher sensual, não era
daquelas das esquinas, mas é que ela ao chegar ao bar e não lhe reconhecia. Imaginara
está drogada àquelas altas horas.

- Que diabo é isso? Seria alguma assombração! Dizia ele.

- Boa noite. Dizia ele.

- Boa noite! Respondeu rispidamente.

Parecia que aquilo não era a primeira vez que eles se encontravam. E Leônidas se
lembrou de um sonho que tivera com a mulher.

XVIII

...INSENSÍVEL ERA LEÔNIDAS COM AS MULHERES

Leônidas não se importava com o sentimento das mulheres. Queria delas somente a
beleza, a virgindade, roubar a inocência e sentir o amor. Tinha um incrível poder de
sedução com as mulheres. Era baixo, moreno, olho castanho escuro, também sempre foi
desejado por ter uma beleza única, um corpo bem feito, arredondado, uma pele macia,
rosada e cabelos negros. Quanto à virgindade, Leônidas não era mais virgem. De Ísis, a
irmã, ele a queria virgem na alma, não no corpo. Queria que ela nunca tivesse sentido a
menor emoção por ninguém. Nem por um primo, nem por um amante, nem pelo
professor de literatura. Sabia que se deitava com ela, mas no fundo queria que Deus
tivesse a criado e adormecida nas entranhas, assim como as princesas encantadas dos
contos de fada que esperam pelo príncipe encantado. Leônidas, um anjo sado não
descobrira o ato imundo. Poderia ser expulso de casa pela mãe, igual ao que Deus fez
com Adão no paraíso do Éden. Também que a mãe nunca descobrisse o véu de
inocência da prima. Ao entrar devagar no quarto, flagrou-a lendo uma parte do romance
escrito por Leônidas. Leu durante meia hora. Um dos trechos escritos dizia:

...Tinha longos cabelos castanhos escuros, na verdade muito compridos, um nariz


proeminente e um corpo sedutor. Desprendia vitalidade, e sabia-se que não era mais
virgem. Olhou-a, e ela devolveu-lhe o olhar. Leônidas viu Ísis sacudir para a esquerda
e para a direita os seus longos cabelos castanhos escuros. Sentia ciúmes, pois Ísis era
louca por homens inteligentes.

Pela primeira vez, ela vira seriamente a hipótese de Leônidas fazer amor. Quis recitar os
poemas do primo, e nada dela mostrar-se fácil, a seus interesses sexuais. Olhara para as
nádegas da prima que era uma loucura. Ísis ficou imóvel, com o romance na mão. O
moço agarrou-a.
- Vamos fazer amor! Disse-lhe. Anda, vamos!

Ela repeliu-o. Bateu com a porta e se foi. Leônidas acompanhou-a, sentara-se no sofá,
ao pé da porta. Ísis era maravilhosa. E Leônidas, tinha medo dela contar o que acontecia
a mãe, dona Marieta. Depois que Leônidas chegou da Universidade, e adentrou ao
quarto para dormir, ele ouviu barulhos vindos do quarto da prima e foi até lá ver o que
era. Tamanha foi à surpresa. Ísis masturbava-se, e Leônidas quis beijá-la. Ela cedeu ao
primo. Enquanto, continuava a beijá-la, enfiara-lhe as mãos dentro das calças dela. À
medida que a noite avançara os dois iam partir para a atividade sexual proibida.
Leônidas estava calado. Absorto, em silêncio letárgico. Excitava-os um ao outro. Então,
ouviu abrir e fechar a porta da frente. A tia Marieta que chegava do centro. Ouviu seus
passos na sala. Era espetacular, erótico ver o irmão e a prima. Ouviam-se, as risadinhas
deles e mais nada. De repente, Leônidas saia ás pressas da porta do quarto dela. Ele
sentiu inveja, ciúmes, raiva de tudo aquilo. Poderia interromper tudo aquilo. O véu que
Leônidas descobrira todas as noites, quando a transformara em mulher, e por isso, não
passaria para as mãos de outro. Sentira vontade, também dos beijos da mulher impura
nos seus lábios. Esperava-a, todas as noites também, mulher vadia na sua cama quente.
Mas, sabia que ele não ia fazer parte do lodo de prostituição, um caso de incestuosidade.
Nas entranhas dela, sentiria até mais prazer.

- Quem sabe!

Não sonhou a realidade que Leônidas. Sonhar com o amor, a glória nos estudos, fazer as
mulheres perderem a virgindade, mas tudo era uma ilusão. Para Leônidas a virgindade
não era ilusão. Sabia também que a prima não era mais virgem. Que nas noites
chuvosas, ele não iria tentar deflorá-la ao dormir. Se bem que a moça era uma espécie
de Lilith na carne de mulher aos dezoito anos de idade.

XIX

O CRIME DE LEÔNIDAS

Leônidas não era como os outros rapazes da sua idade. Achara que o amor pago era uma
corrupção social. Um lado de exploração sórdida do ser humano para com o outro.
Aquilo não merecia que seus lábios se unissem aos de uma prostituta, pois considerava
uma mulher paga, corrupta! Dizia que o amor devia ser puro.

- Besteira! Dizia a si mesmo.

Chovera muito em Teresina. O local era a rua Paissandu no centro de Teresina.


Contando com a sorte, uma mulher passou-lhe rápido as pernas, grudando Leônidas ao
seu corpo, e logo vieram os beijos. A mulher nunca tivera tanto prazer nos braços de um
amante. Os dois entraram em gozo venéreo. Laura descobria no hálito do jovem, os
gemidos e os suspiros que nunca tinha ouvido de um homem.

E gozou-a, gozou-a loucamente. Gozou-a com delírio na verdadeira satisfação de uma


mulher da noite. E ele também! Também gozou, estimulado pela fantasia de ser
seduzido por uma mulher da vida fácil, uma Lilith em carne e osso. Os amantes
gozaram a desonestidade do ato imundo, insano, erótico, sexual de dois seres que se
completara. Nos braços nus enroscados, metendo-lhe pela boca, a língua úmida e em
brasa. Os amantes uivavam como lobos no cio. Depois, um arranco de corpo inteiro.
Leônidas vestira-se, rapidamente a roupa. E saia do quarto. Quinze minutos no lugar
imundo, fétido, lúgubre tinha sido o suficiente, para a satisfação sexual, para o prazer
pago. Estabeleceu-se entre eles, o hábito efêmero de felicidade sexual completa. Agora,
porém, tanto tempo depois da primeira vez, Leônidas era frequente do lugar e com
Laura tinha um caso amoroso de dois amantes. Nas noites no quarto, da casinha do
bairro Monte Castelo, sentia fome de sexo, porém, saciava-se nas noites das fantasias de
uma mulher que sempre lhe vinha fazer companhia e que saciava seu corpo. O corpo de
Leônidas faminto nas mãos da mulher que lhe fazia seu corpo morrer e secar como um
cadáver. A meretriz dos sonhos eróticos. Deixava-o como um cadáver. Leônidas
admirava-se, dessas e outras coisas mais. Sempre se lembrava do auge dos vinte anos,
quando era puro. Devia Leônidas era um devasso com as prostitutas da Paissandu. Não
é que Leônidas voltara a lembrar dos sonhos. É certo, aquilo era uma loucura. Leônidas
enchera um copo de vinho e pensara nas fantasias sexuais sempre e ria dentro do quarto.
Tivera sono e dormia. Começou a ser atacado durante os sonhos. Visões oníricas.
Sonhara com uma mulher e um homem de que os rostos não davam para ser visto na
escuridão. Eles apertavam suas mãos e ouvia meio que desajeitado, os convidando a
atos libidinosos, atos sexuais. Era um casal de libertinos da rua. Luiza Maria e Zé de
Lauro. Um casal em que a vergonha de um terceiro no leito, um desejo e uma vontade.
O moço fazia sexo com os dois, com o casal. Ora com um, ora com o outro, ora com os
três. Depois no sonho, desenhara-se um céu, um palácio de torres escuras em volta de
vários casebres iguais aos do bairro santa Bárbara. Nuvens pretas como a noite,
labaredas de fogo como o dia, um clarão que iluminara a cama do casal, depois o ato,
tornava-se sombrio. Leônidas via o rosto do casal e como num enterro, o ato sexual com
ambos tinha um gosto de ânsia, nojo, repulsa. O casal era seus vizinhos. O sonho
erótico transformava-se em pesadelo. Acordou assustado. Estava no centro de Teresina a
apreciar o povo passando pela praça da bandeira. Todos os dias no centro de Teresina
viam-se mulheres, padres, soldados e estudantes. Pela praça da bandeira muitos falavam
das mulheres lascivas, dissolutas, ébrias, vadias. Durante a noite, vários pontos no
centro da cidade eram de devassidão, atos insípidos, redutos de rodas de pagode, onde
muitos estudantes suicidavam seus tédios, exorcizavam seus demônios, extravagavam.
Alumiara a monotonia do tédio pelo samba, pelo álcool. Praças transitáveis, bater de
várias pernas. As calçadas da praça Rio Branco, um inferno de mendigos espalhados por
todos os lados, enxame de miséria espalhada pelos cantos, sob papelões e cobertas. Era
local fétido, odor de urina e fezes. Leônidas gostava de andar pelas horas mortas da
madrugada. Conversar com as mulheres debaixo do pano luzidio das lâmpadas
incandescentes da avenida Maranhão. Descobrir o que fizeram cair na vida fácil,
desvendar a renda do véu de suas vidas, de suas faces e depois um namoro pago. Tudo
inspirava o jovem escritor para escrever sua ficção.
A mantilha acetinada da noite sobre os olhares do Parnaíba imponente e majestoso. A
brisa fresca como uma rosa. Lembrou-se de Ísis, de seus olhos negros, dos cílios, do
momento em que Alberto na madrugada adentrava seu quarto e apertava-lhe os seios,
seus ais, seus suspiros, seus soluços abafados de prazer. Usava a imaginação na ficção
escrita para refazer a realidade dos amores, daquelas mulheres de sexo pago. Dentro de
um quarto abafado, um ventilador velho teimava em girar. O local era na rua Paissandu.
Beijava-lhes o seio palpitante, agita-se convulso no colo da mulher, apertava-lhe a
cintura, sufocava lhe os lábios no seu clitóris e sonhava ser tudo aquilo, o Paraíso. Tudo
fazia lembrar a primeira aula sobre Romantismo, sobre o mal do século. Só despertou
do devaneio, quando uma moça se colocou perto da sua cadeira na sala de aula. Poucas
vezes, ele não viajava nas aulas de Literatura.

XX

...OS SONHOS DE LUIZA MARIA

Leônidas lembrara-se uma vez, Matias dissera-lhe que perturbado todas as noites, por
sonhos eróticos. Que nos sonhos Luiza Maria, apertara-o, por entre os abrigos dos sacos
de goma e açúcar da quitanda do pai, e era feito criança a brincar, jogara-se por cima
dos sacos, e ali mesmo fornicaram, entre os sacos, fizera-o, o leito nas almofadas. E
desde então, a mulher tivera uma ideia no cérebro, ideia de mulher extremosa e
monopolizadora, nas poucas horas com ele, o trabalho das intimidades domésticas.
Leônidas, o comandado, escravo sexual. De vez em quanto, o povo no bairro comentara
dos dois, apenas fuxico. Os amigos preocupados, a estranhar o chamego dos dois que
excitara até a curiosidade dos vizinhos. No rosto dele arderam lágrimas misturadas aos
desejos, também fantasias sexuais desde mulheres, homens, até de animais que
revolvera sozinho no quarto. Tinha uma timidez deprimente, na hora do ato. Ensaiara,
ensaiara frente ao espelho. O que falar às mulheres? E na hora H, tremia, suava.

XXI

DEMÔNIOS SÚCUBOS!

O primeiro ataque que sofrera pelos demônios súcubos, tinha dezoito anos. Sonhou que
se sentira em insuportável estado de lubricidade. Era tarde da noite e na mente, logo
veio à ideia inescrupulosa, sabia que a mãe, Rosa Clarice tinha medo de fantasma. O pai
havia viajado para o Codó. Passou a desejá-la. Ele fora macilentamente até o leito dela.
Ela que dormira tão tranquilamente. Quando chegou, Leônidas se colocara diante dela,
o objetivo era saciar-se, de seus desejos proibidos, imorais. Por dentro sentira o perigo
de assanhar o desejo da carne. Iria fazer da mãe o fruto proibido? Ele sentira o desejo de
vingança pelo fato do pai maltratá-la, porém imaginou que não devia fazer aquilo e que
moralmente diminuía-se, com tal ato de repugnância, o de ir até o quarto dela. Rosa
Clarice estava em sono pesado, letargia completa do efeito do álcool. Era alcoólatra e
dormira embriagada. Leônidas aproximara-se dela que vestida de uma linda lingerie,
deixara o corpo lindo e emoldurado, e voyeur ficou de pé, apreciara ela no leito.
Aproximou-se. E hesitara por um instante, imóvel, ficara a contemplá-la no seu desejo
de homem voraz, de adolescente mal amado, de rapaz perdido nas tentações da carne.
Leônidas a palpara-lhe o corpo, Rosa Clarice torcera-se sobre a cama, mostrara-lhe as
coxas, que despira a nudez da pele morena. Coxas grossas, bunda gigante. Leônidas não
pôde resistir. Atirara-se contra ela, e a mulher em estado ébrio, a fez de mulher, de
afago, de fêmea. Os dois de olhos bem fechados saciaram-se um do outro, numa
explosão vulcânica de atos libidinosos. Dentro de si, o moço não queria vê-la separada
do pai, mais sabia que mais cedo ou mais tarde, ela iria procurar um novo marido.
Conhecia o temperamento fraco de uma mulher carente para resistir ao desejo da carne.
Consumado o delito, sentira remorso, vergonha e arrependimento. Não teve animo de
dar uma palavra, retirou-se tristonho e murcho de volta para o quarto. Deitou-se e lhe
doía o que acabara de praticar, sentiu-se impotente diante da própria sensualidade.
Solução para a timidez, para uma vergonha do envolvimento com uma parenta tão
próxima. Uma corda no telhado. Rompia-se, com as mãos, a morte. Muitos disseram
que devia está lendo algum romance impuro da segunda geração do romantismo, talvez
Macário, Noite na Taverna de Álvares de Azevedo. O moço não sentira mais a
virgindade na alma e nem no corpo. Para ele poderia existir a mais linda prostituta da
Paissandu, que Leônidas não queria aquele tipo de mulher, só Rosa Clarice, a mulher
que lhe retirara a virgindade do seu corpo, e de sua alma.

Fim

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