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A ORGANIZAÇÃO PSÍQUICA DAS CRIANÇAS AMAZÔNIDAS: ANÁLISE DOS FENÔMENOS TRANSICIONAIS NA PANDEMIA DE COVID-19 View project
All content following this page was uploaded by Paula Amorim on 23 March 2022.
1. Introdução
A avaliação psicológica é um processo estruturado por meio de
diferentes métodos (e.g. entrevistas, testes, inventários) no âmbito indi-
vidual, grupal ou institucional, que auxilia na elucidação de fenômenos
psicológicos com a finalidade de produzir, orientar, monitorar e enca-
minhar ações e intervenções a respeito da pessoa avaliada, tornando-se
elemento fundamental para a tomada de decisão do profissional de psi-
cologia (SCHNEIDER et al.2020).
Entre os diversos métodos de avaliação psicológica estão os tes-
tes psicológicos que são definidos como instrumentos padronizados que
avaliam construtos específicos e não observados diretamente (URBI-
NA, 2014). Constituem-se por medidas objetivas (e.g. escalas, questio-
nários de autorrelato) que utilizam parâmetros básicos como padroni-
zação, validade, fidedignidade e normas com alta confiança estatística
(CARDOSO; SILVA-FILHO, 2018), e pelas técnicas projetivas, carac-
terizadas por estímulos não estruturados (e.g. imagens, fotos, desenhos,
manchas de tinta) que captam informações e tendências implícitas e
motivadas por necessidades não conscientes do sujeito (FENSTERSEI-
FER; WERLANG, 2016).
A cientificidade dos métodos projetivos é evidenciada por sua
validade clínica, isto é, pela integração dinâmica dos padrões de res-
posta de um sujeito expressos nos instrumentos com outros indicadores,
como o contexto de vida e de avaliação do sujeito (FENSTERSEIFER;
WERLANG, 2016). Especificamente no Brasil, um estudo de revisão
demonstrou que os métodos projetivos são utilizados em pesquisas de
avaliação psicológica com transtornos alimentares, transtornos disso-
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ciativos de identidade, câncer de mama e síndrome pré-menstrual, indi-
cando a sua utilização em diferentes contextos (MIGUEL, 2014).
Dentre as possibilidades de métodos projetivos, os testes projeti-
vos gráficos (que utilizam a grafia) e os não gráficos (que utilizam pran-
chas, figuras, cartões) são importantes fontes de informação na avalia-
ção psicológica devido a plasticidade dos estímulos e a possibilidade de
obter diversidade de respostas que não são consideradas certas ou erra-
das, mas como uma possibilidade de acessar livremente às conflitivas
do sujeito, ao promover relaxamento de resistências e defesas psíquicas
e a projeção de conteúdos inconscientes, obtendo, assim, informações
do modo de funcionamento da dinâmica psíquica que podem ou não ser
do conhecimento da pessoa avaliada (DUARTE; RANGEL, 2018). Os
métodos projetivos possuem características peculiares em seu desen-
volvimento enquanto técnica psicológica. Conforme indicado por Gras-
sano (2012), características implícitas da situação projetiva tem como
centralidade basear-se no processo vincular com limitação temporal,
pois geralmente um sujeito demanda uma avaliação para um profissio-
nal de psicologia treinado, que, utilizando-se de material ambíguo, pro-
cura fundamentar respostas baseadas em evidências para compreender
como este sujeito percebe, estrutura e responde às situações-estímulo
(e.g. pranchas, desenhos, criação de estórias) apresentadas no contex-
to avaliativo e que demonstram diretamente o funcionamento do seu
mundo interno.
Além disso, para um manejo adequado do material a(o) psicólo-
ga(o) precisa de treinamento adequado, uma vez que o material apre-
senta características próprias e o melhor desempenho e aumento da ex-
pertise estão alicerçados na continuidade do aperfeiçoamento técnico,
o que demanda formação em cursos de capacitação específica, pois as
horas-aula da graduação são insuficientes para esse aprimoramento. É
necessária, ainda, supervisão com outro profissional mais experiente
para troca de experiências e tirar dúvidas, adquirir conhecimento acerca
do manual do teste bem como de sua correção standard, conforme indi-
cação do Conselho Federal do Psicologia e do SATEPSI.Cabe destacar
que, na graduação em psicologia no Brasil, o ensino dos métodos pro-
jetivos se concentra em poucas disciplinas, com carga horária reduzida.
No caso da Universidade Federal do Amazonas são duas, divididas em
técnicas gráficas (desenhos) e técnicas não gráficas (expressivas, narra-
tivas e desempenho). Desta forma, o objetivo desse trabalho é analisar
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a opinião dos discentes matriculados nas disciplinas de técnicas projeti-
vas gráficas e não gráficas, sobre a importância de conhecer os métodos
projetivos na graduação para formação da(o) psicóloga(o).
2. Percurso Metodológico
Para esta pesquisa, foi realizado um levantamento de opinião
com objetivo de conhecer o processo de ensino e aprendizagem das
disciplinas de Testes Projetivos Gráficos e Não Gráficos pertencentes
ao curso de Formação do Psicólogo da Faculdade de Psicologia da Uni-
versidade Federal do Amazonas (UFAM).
Essa pesquisa integrou o plano de ensino das disciplinas apro-
vado pelo Colegiado do Curso de Psicologia em 29/03/2021 e está
associada ao projeto de pesquisa maior vinculado ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia, intitulado “Processos avaliativos para
orientações e intervenções em contexto amazônico” coordenados pela
Profa. Gisele Cristina Resende e pelo Prof. Marck Torres, ambos da
área de avaliação psicológica. Esse projeto pressupõe que os processos
avaliativos na área da psicologia se constituem como importantes re-
cursos para subsidiar intervenções em diferentes contextos, articulando
a teoria psicológica, a prática profissional, a ciência e a profissão. São
processos que propiciam o conhecimento de aspectos humanos e que
necessitam de formação adequada e ética.
A partir desse panorama, visualiza-se a necessidade de estudo
sobre os fenômenos psicológicos com os instrumentos de avaliação psi-
cológica no contexto amazônico, especificamente na cidade de Manaus,
favorecendo a compreensão da população amazonense em diferentes
contextos, especificamente para favorecer a saúde e bem-estar e propi-
ciando a análise da validade e precisão de instrumentos psicológicos no
contexto amazônico com a riqueza étnica e sociocultural.
Participantes
Participaram do estudo 27 discentes de psicologia de ambos os
sexos, devidamente matriculados nas disciplinas de Técnicas Projetivas
Gráficas e Técnicas Projetivas Não Gráficas no período letivo 2020/1.
Ao iniciar a disciplina, os discentes assinaram um Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido que versava sobre os aspectos éticos que
envolvem o processo de ensino-aprendizagem da avaliação psicológi-
ca, de acordo com as normativas da Cartilha de Boas Práticas para a
Avaliação Psicológica em contextos de Pandemia. (CFP, 2020).
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Procedimento de Coleta de Dados
A pergunta foi postada nos fóruns de discussão do Google Clas-
sroom onde estava alocada o material das disciplinas, por meio de uma
pergunta disparadora: Como você percebe a utilidade da psicologia
projetiva e dos métodos projetivos para o trabalho da(o) psicóloga(o)?
Foi estipulado o período de uma semana para que os discentes matricu-
lados interagissem uns com os outros e respondessem à pergunta. Após
o período estipulado para resposta, 27 discentes retornaram o questio-
nário com suas opiniões. As respostas foram analisadas utilizando aná-
lise de temática proposta por Braun e Clarke (2006). As análises foram
agrupadas em 4 grandes temas: (1) o uso dos métodos projetivos como
instrumentos para ampliar o campo da avaliação psicológica para além
da questão psicométrica; (2) noção equivocada de que os métodos pro-
jetivos estão embasados unicamente na perspectiva psicanalítica; (3)
uso dos métodos projetivos para compreensão de aspectos profundos
da personalidade; (4) desconstrução do subjetivismo implicado no en-
tendimento errôneo de que os métodos projetivos não são baseados em
evidências científicas.
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MOR-AMARAL; PASQUALINI-CASADO, 2006; TAVARES, 2003).
A discussão sobre a cientificidade dos métodos e técnicas projetivas
(validade, precisão e normatização) é de fundamental importância na
psicologia, pois são instrumentos e recursos utilizados para avaliação
da personalidade em muitos contextos de atuação do psicólogo, de
modo que compreender a cientificidade dos instrumentos é essencial
para a formação técnica e ética do profissional em psicologia.
Durante a disciplina, os estudantes conseguiram perceber a cien-
tificidade dos métodos projetivos e a importância em seu uso para a
avaliação psicológica:
“As técnicas projetivas são um rico suporte que o psicólogo pode
lançar mão ao realizar uma avaliação psicológica, uma vez que elas
vão além do objetivo, vão além do que podemos analisar tanto ver-
balmente quanto comportamentalmente. Sem as técnicas um psi-
cólogo pode ter uma visão “partida” do paciente – no sentido de
“em partes” e acabar não vendo o todo. No entanto, ao aplicar as
técnicas projetivas, a visão da subjetividade do cliente é ampliada,
mostra inclusive uma parte da pessoa que ela mesmo desconhece,
esconde ou rejeita. Apesar de cada teste ter um protocolo a ser se-
guido, as respostas dadas são únicas. E é sim uma técnica científica,
com método e validade, ou seja, não é baseado em achismos (D1)”
- 275 -
sas informações, inclusive para intervenções mais específicas e que, de
fato, auxiliem na retomada de uma vida mais funcional e com possibi-
lidades, pois os resultados de uma avaliação psicológica podem favore-
cer a tomada de decisão e planejamento terapêutico (CFP, 2018).
- 276 -
Na atualidade, o uso da terminologia “projeção”, foi repensado
na literatura, pois remete à Psicanálise de Freud e à projeção, teoria que
nem sempre fundamenta os instrumentos e técnicas. Consolidou-se a
Psicologia Projetiva, na qual o conceito de projeção está relacionado
com um modelo de investigação da dinâmica da personalidade, poden-
do ser definida como a expressão do modo particular de agir e ser de
cada sujeito, o termo projeção expressa a personalidade e, dessa forma,
não é vinculado com o conceito de projeção de Freud (MYER; KURTZ,
2006 apud VILLEMOR-AMARAL, 2019).
Outras terminologias têm sido adotadas para classificar os mé-
todos e técnicas que possuem estímulos não estruturados, ou seja, es-
tímulos plásticos que investigam aspectos da personalidade e aspectos
do ser humano, como as emoções, os relacionamentos inter e intrapes-
soais. Rappaport (1971 apud FENSTERSEIFER; WERLANG, 2016)
defende que a hipótese que embasa as técnicas projetivas indica a indi-
vidualidade está envolvida em toda a atividade humana e as diferenças
que cada pessoa apresenta ao realizar uma atividade com estímulos não
estruturados podem ser interpretadas sob a luz de teorias psicológicas e
favorecerem a compreensão da personalidade.
Em uma classificação utilizando outra terminologia, Pinto (2014)
apresenta os métodos e técnicas projetivas em categorias, sendo, (i) mé-
todos e técnicas temáticas, representadas por tarefas que envolvem a
elaboração de uma história, na qual o avaliando revela conflitos, neces-
sidades e desejos fundamentais, expectativas, mecanismos de defesa
(e.g TAT, CAT, Fábulas de Düss), (ii) métodos e técnicas estruturais
e/ou de performance, oferecem informações referentes à estrutura da
personalidade e a performance do sujeito (e.g Teste de Rorschach), (iii)
métodos e técnicas expressivas, aquelas que investigam características
de personalidade através dos padrões dos movimentos e ritmos corpo-
rais (e.g PMK – Psicodiagnóstico Miocinético, Palográfico, Pirâmides
Coloridas de Pfister). Entre as técnicas expressivas encontra-se o dese-
nho e a pintura, a atividade do brinquedo nas sessões livres, os testes
lúdicos, o grafismo (e.g. HTP).
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dinâmica familiar e vivências do cotidiano, pois o material projetivo é
a expressão do mundo interno do sujeito em relação com a percepção
externa, é uma resposta que traz consigo a forma de funcionamento psí-
quico daquele sujeito (FENSTERSEIFER; WERLANG, 2016).
O material produzido pelas técnicas projetivas permite uma
compreensão de como os sujeitos avaliados respondem a situações não
estruturadas, como resolve problemas quando estes não estão aparen-
tes, como lida com a liberdade de manejar estímulos, organiza informa-
ções para comunicar em situação pouco comum da sua vida. Dessa for-
ma, observa-se a emergência dos seus principais conflitos, ansiedades,
mecanismos de defesa, organização dinâmica e variações emocionais
que serão mobilizadas de acordo com as áreas que irão reagir diante da
exposição ao material (GRASSANO, 2012)
Os métodos projetivos para a avaliação psicológica, em espe-
cial da personalidade, são recursos importantes que o psicólogo precisa
conhecer para que em sua atuação profissional disponha para avaliar
pessoas com um grau de profundidade maior, como relatado pelos es-
tudantes:
“Tenho aprendido que as técnicas projetivas quando bem selecio-
nadas e combinadas a uma boa escuta e conhecimento do contexto/
realidade do paciente, possibilitam a compreensão de diversas dinâ-
micas internas e inconscientes de quem está sendo avaliado.” (D3)
“Tem sido muito enriquecedor estar em contato com uma disciplina
que explora técnicas e instrumentos que revelam o mundo interno
através de projeções. Que uma ação física orientada por uma técni-
ca profissional e científica é capaz de revelar tanto sobre aspectos
profundos do que há de mais íntimo e muitas vezes obscuro sobre
a mente humana.” (D4)
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4 - Desconstrução do subjetivismo implicado no enten-
dimento errôneo de que os métodos projetivos não são basea-
dos em evidências científicas
Os métodos projetivos, por sua qualidade interpretativa e mais
livre, podem conduzir a uma falsa percepção de que são instrumentos
sem evidência científica e, portanto, com baixa credibilidade para uso
profissional. Entretanto, os discentes compreenderam sobre a importân-
cia e relevância científica dos métodos projetivos:
“Fazer ciência é sempre uma aproximação do real. Se compreen-
demos a realidade como movimento, então a verdade será um mo-
mento desse conhecimento. Tenho pensado bastante sobre isso na
aula sobre testes projetivos até agora. O rigor teórico metodológico
na prática profissional do psicólogo é fundamental. O que num pri-
meiro momento pode parecer menos estruturado e livre, não pode
ser confundido como menos fidedigno, subjetivista ou pouco cien-
tífico. Existe um método e um fundamento que sustentam a aplica-
ção dos testes projetivos, e o rigor na aplicação garante a isonomia
necessária e o compromisso ético-político com a prática da profis-
são. É, portanto, uma ferramenta importante para a compreensão de
aspectos latentes e manifestos da personalidade e auxilia na tomada
de decisão para a condução do tratamento clínico.” (D5)
- 279 -
preenderam que a rigorosidade metodológica dos métodos deve estar
pautada na expertise profissional do psicólogo em realizar interpreta-
ções embasadas tanto na compreensão teórica da Psicologia Projetiva
e dos manuais do teste escolhido, quanto na própria abordagem teórica
utilizada por ele na sua práxis.
Cunha e Nunes (2010) retomaram esse tema ao relembrar que
as técnicas e métodos projetivos são instrumentos que nascem de pes-
quisas e que estes possuem validade, fidedignidade e normas para sua
utilização, além de requerer que o profissional tenha conhecimento teó-
rico e compromisso ético ao utilizá-los. Villemor-Amaral (2019) rea-
firma esse compromisso que o psicólogo precisa assumir ao adotar o
uso de métodos projetivos quando evidencia que o uso de instrumentos
na psicologia requer que o profissional conheça seus propósitos, alcan-
ces e limitações, pois o instrumento é um facilitador do conhecimento.
Além disso, o profissional precisa saber os critérios para o uso de tais
recursos, sendo os principais critérios: (i) os objetivos da avaliação, (ii)
a orientação teórica e técnica – preparo do avaliador, e (iii) as carac-
terísticas do sujeito avaliado. A partir desses critérios poderá escolher
quais os instrumentos mais adequados e que podem explicar melhor a
demanda trazida por quem procura o psicólogo (FENSTERSEIFER;
WERLANG, 2016).
Dessa forma, a escolha de instrumentos projetivos precisa se
pautar no conhecimento adequado do profissional para fazer uso desse
recurso (conhecimento científico) para saber interpretar os resultados,
sem contaminar com julgamentos pessoais ou com a sua própria subje-
tividade e possuir compromisso ético para que os resultados promovam
bem-estar e qualidade de vida para a pessoa que foi avaliada.
5. Considerações Finais
Esse estudo permitiu conhecer as opiniões dos discentes de Psi-
cologia da Universidade Federal do Amazonas acerca da importância
do ensino das técnicas projetivas para a formação profissional. Os re-
latos coletados puderam ser didaticamente seccionados em quatro ca-
tegorias de análise para destrinchar as discussões realizadas. Pode-se,
assim, compreender as concepções referentes ao campo de atuação na
Avaliação Psicológica, entendimento a respeito da Psicologia Projetiva,
o arcabouço metodológico, e a finalidade do uso dos métodos projeti-
vos.
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Os alunos compreenderam que o uso das técnicas projetivas é
essencial para subsidiar a Avaliação Psicológica, devendo ser escolhi-
das a partir do objetivo e contexto de aplicação, podendo ainda serem
aplicado em conjunto com as técnicas psicométricas, para que assim,
pudesse se obter a compreensão mais ampla possível do funcionamento
e dinâmica psíquica do indivíduo. Além disso, concebem como técni-
cas imprescindíveis, já que apenas a figura do profissional, garantiria
apenas fenômenos observáveis o que seria desconexo à compreensão
dinâmica mais profunda do sujeito.
Nota-se que os discentes da graduação, a princípio, desconhe-
ciam o campo da psicologia projetiva, que acabavam intuindo que o
seu uso estava ancorado em um fazer descolado de bases científicas
empíricas, inclusive desconhecendo os estudos normativos de validade
e fidedignidade das referidas técnicas. Durante as aulas, os pré-concei-
tos foram sendo desconstruídos e os discentes puderam compreender a
rigorosidade metodológica, teórica e ética das técnicas projetivas, bem
como a possibilidade de fazer uso destas com a base teórica da escolha
do profissional, compreendendo que a psicanálise não possui exclusi-
vidade para seu uso, mas que determinados conceitos originados dela
permitem conhecer em profundidade a dinâmica psíquica do sujeito.
Por isso, ensinar métodos projetivos durante a graduação é ne-
cessário, por meio de professores e pesquisadores qualificados e que
buscam evidências no uso de métodos projetivos, auxiliando na des-
construção de pré-conceitos, e auxiliar os discentes a balizarem suas
discussões e dúvidas em pressupostos acadêmicos e científicos, levando
em consideração que aquele que transmite o conhecimento precisa ter
formação adequada, bem como expertise na aplicação e correção dos
métodos, e não apenas formação teórica.
Adaptar o ensino de métodos e técnicas projetivas para a ava-
liação psicológica durante a Pandemia de Covid-19 para o modo re-
moto foi um grande desafio para os docentes, pois estes tiveram de
contar com a criatividade para inovar e lecionar com ética, isto é, tive-
ram de respeitar as normativas para o ensino de avaliação psicológica
e o cuidado com os instrumentos e direitos autorais, além prezar pela
aprendizagem adequada dos testes. Também foi um grande desafio para
o aprendizado dos discentes, que não puderam realizar o treinamento
prático da aplicação e interpretação das técnicas, representando, assim,
uma grande lacuna na sua formação.
- 281 -
Um aspecto relevante do ensino dos métodos projetivos, que
urge a ser discutido durante a formação é a sua vinculação com os as-
pectos culturais. É notório que sua origem e fundamentação são es-
tadunidense/europeu, distantes da américa latina e particularmente do
Amazonas. A todo momento somos convidados a fazer um exercício de
aproximação e distanciamento com o material e suas produções, pois
não podemos esquecer das nossas regionalidades, mas acima de tudo
que vivemos em momento distintos de quando esse material foi pensan-
do e articulado. Cabe pautar durante a formação e a transmissão desse
conhecimento que são necessárias pesquisas, e novas perspectivas críti-
cas para continuidade do aperfeiçoamento desse material que não deve
perder seu caráter de importância dentro da ciência psicológica, e por
conseguinte da avaliação da personalidade.
Como limitação do estudo, o próprio desafio do ensino on-line
durante a pandemia impossibilitou o encontro presencial com os estu-
dantes e os dados poderiam ser mais robustos, caso houvesse a possibi-
lidade de um encontro presencial.
No mais, esse estudo provoca reflexões a respeito da importância
do ensino da Avaliação Psicológica no país para o processo de forma-
ção profissional do psicólogo. É necessário um debate mais profundo
quanto as possibilidades de ampliação do escopo do ensino na gradua-
ção para que possam ser desconstruídos ideias pré-concebidas (e errô-
neas) a respeito da metodologia e embasamento teórico das técnicas
projetivas.
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