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TREINAMENTO RESISTIDO EM SUPERFÍCIE INSTÁVEL PARA

PREVENÇÃO DE LESÕES DE LIGAMENTO CRUZADO


ANTERIOR EM MULHERES ADULTAS.

Rafael Arruda dos Santos - 15157118


Orientador: Prof. Dr. Vagner Roberto Bergamo
Co-orientadora: Prof. Dr. Candida Luiza Tonizza de Carvalho
FAEFI – PUC CAMPINAS

RESUMO

Tem sido observado que as rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA) apresentam
maior incidência nas mulheres atletas comparadas aos homens praticantes das mesmas modalidades
esportivas. Diante disto, a ênfase principal dos estudos concerne às diferenças biomecânicas
existentes entre os gêneros, ou seja, aos diferentes padrões de ativação muscular e de movimento
adotados durante um gesto motor. Dentre as inúmeras opções de tratamentos disponíveis hoje, os
exercícios de resistência realizados em superfícies instáveis vêm ganhando espaço e tornaram-se
parte do treinamento atlético e da reabilitação desse tipo de lesão, devido a uma melhora
significativamente rápida desse quadro lesivo. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi
verificar o efeito do treinamento em superfície instável como método de prevenção de lesão de
ligamento cruzado anterior em mulheres adultas. O presente estudo foi realizado por meio de uma
revisão sistemática qualitativa, apresentando 13 estudos referentes a lesões de joelho, sendo 5 deles
composto de amostra do sexo feminino, 2 com amostra do sexo masculino, 5 com amostra de sexo
misto e 1 estudo de revisão bibliográfica conceitual que não possui amostra. abordando e levando
em conta as similaridades e diferenças importantes entre as pesquisas previamente realizadas a fim
de ampliar as possibilidades interpretativas dos resultados. Foi apresentado uma relação entre os
trabalhos que abordaram o controle neuromuscular e a propriocepção como sendo esses fatores
essenciais na manutenção da boa postura no exercício. Os dados do presente estudo apontaram que
o treinamento em plataforma instável possui um importante papel na prevenção de lesões do LCA,
sendo um recurso que pode ser incluído na preparação física de atletas, principalmente do sexo
feminino.

Keywords: lca, joelho, mulheres, lesão, esporte, alto impacto, treinamento, instável.
INTRODUÇÃO

Dentre as diferenças morfológicas e fisiológicas entre homens e mulheres, a biomecânica


do joelho em esportes de alto impacto vem recebendo maior atenção dos pesquisadores nos
últimos anos. Segundo BALDON 1, tem sido observado que as rupturas do ligamento cruzado
anterior (LCA) apresentam maior incidência nas mulheres atletas comparadas aos homens
praticantes das mesmas modalidades esportivas. Os estudos afirmam que os fatores predisponentes
para as rupturas do LCA nas mulheres têm sido divididos em três grupos principais: anatômicos,
biomecânicos e hormonais 1. No entanto, os fatores hormonais não são o foco do presente estudo.
2
Diante disto, Zazulak cita também que a ênfase principal dos estudos concerne às diferenças
biomecânicas existentes entre os gêneros, ou seja, aos diferentes padrões de ativação muscular e de
movimento adotados durante um gesto motor. Tais aspectos são enfatizados por serem passíveis de
intervenção fisioterapêutica, ao contrário das características anatômicas e das variações hormonais 2.
Todavia, é importante evidenciar que os fatores anatômicos podem estar relacionados a possíveis
desvios posturais do joelho, sendo abordados nesta revisão os desvios mais comuns do joelho,
valgos estáticos e dinâmicos, assim também como a medida do ângulo desse desvio, conhecido
como ângulo-Q 3, 4, 5.

O joelho é a maior e mais solicitada articulação do corpo humano, sendo


composto pelos ossos fêmur, tíbia e patela, acoplados por estruturas de suporte
e estabilização como ligamentos, cápsula articular, meniscos e músculos. Devido
à elevada solicitação mecânica a que é submetido na sua função de suporte, um
grande número de lesões lhe está associada, tais como rompimentos totais e
parciais dos ligamentos, fissuras e lesões nos meniscos, fraturas ósseas, entre
outras 6.
2, 5, 7, 8, 15, 17
Recentemente, várias metodologias de treino relacionadas a estabilização
articular, não somente na articulação do joelho, estão sendo implementadas a fim de prevenir lesões
e também auxiliar na reabilitação de pessoas que sofreram lesões no joelho. Dentre as inúmeras
opções de tratamentos disponíveis hoje, os exercícios de resistência realizados em superfícies
instáveis vêm ganhando espaço e tornaram-se parte do treinamento atlético e da reabilitação desse
tipo de lesão, devido a melhora do padrão de movimento, decorrente de um aumento do controle
neuromuscular de musculaturas responsáveis pela estabilização articular. Consequentemente, seu
papel no desempenho e no treinamento de força voltado para a saúde, emergiu cada vez mais como
uma questão de interesse para pesquisadores e treinadores 2.

Para Pereira 7, quando se insere plataformas instáveis em um exercício, pode-se observar


maiores oscilações corporais, ou seja, um maior desafio para o controle postural. Especificamente, a
propriocepção refere-se ao uso sensorial dos receptores dos fusos musculares, tendões e
articulações que discriminam a posição e movimentos articulares, amplitudes e velocidades, bem
como a tensão relativa sobre os tendões 5. Diante desse assunto, o termo “lesão de LCA” tem se
tornado cada vez mais recorrente no meio esportivo, e sabe-se que atividades físicas de alto impacto
como corridas, saltos, quedas e giros, podem ser grandes responsáveis por acarretar esse tipo de
lesão. Mesmo com estudos mais recentes demonstrando que uma melhora no controle
neuromuscular de tronco demonstra grande correlação com a estabilidade articular do joelho, a
maioria das pesquisas sobre lesão de LCA permanece focada nos membros inferiores (MMII), com
informações limitadas sobre a posição do tronco no momento da lesão 8.

De acordo com Weineck 9, o tronco é a parte central do corpo de diversos animais,


incluindo o ser humano, e possui duas funções essenciais: envolve e protege os órgãos internos e
serve como base para os movimentos dos membros e para a postura da cabeça. Para que isso
ocorra de maneira eficiente os músculos do dorso e da parede abdominal funcionam como uma
armação dinâmica do tronco, permitindo movimentos altamente diferenciados, graças às variações
na disposição de fibras dos diversos feixes musculares. 9

Considerando o centro de massa e as forças externas atuantes sobre o corpo humano, uma
boa postura torna-se essencial para minimizar a sobrecarga das articulações, visto que se essas
articulações estiverem dispostas em um plano vertical de forma que a linha de gravidade atravesse o
centro de cada articulação, será aplicada a tensão mínima sobre os músculos e ligamentos.
“Portanto, boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
sustentação do corpo contra deformidades ou lesões progressivas 9 ”.

5,14
Estudos que utilizaram a eletromiografia (EMG) , mostraram que durante os exercícios
resistidos em plataforma instável observa-se uma ativação mais pronunciada dos músculos
estabilizadores, principalmente dos músculos estabilizadores de tronco, em relação aos exercícios de
solo estável. Desse modo é possível dizer que o treinamento de resistência com plataformas
instáveis pode auxiliar na adaptação neural dos músculos estabilizadores do tronco, resultando
assim em uma melhora na estabilidade do mesmo 1.

Quando analisado o controle neuromuscular do tronco em mulheres que sofreram lesão de


LCA foi visto que a importância que é dada ao treinamento prévio de musculaturas estabilizadoras
de tronco e quadril foi insuficiente na maioria dos casos, isso pode estar relacionado ao enfoque dos
treinamentos, que comumente são mais direcionados aos MMII 2.

Mesmo as respostas agudas e crônicas de músculos principalmente ativados para exercícios


realizados em uma superfície instável continuarem sendo uma questão de debate, são também
apresentadas aplicações de exercícios de resistência à instabilidade para a melhoria das funções
neuromusculares nos fatores fisicamente ativos, principalmente para aqueles que são submetidos a
ligamentoplastias e reconstruções do ligamento cruzado anterior 3.

Com relação a desvios da postura da articulação do joelho, o sexo feminino apresenta um valgo
estático mais acentuado que o sexo masculino devido a anatomia, retardo na ativação muscular,
menor rigidez articular e massa corpórea 10. No entanto, Maia 10
não encontrou relação entre o
aumento da massa corpórea com o aumento do valgo dinâmico, uma vez que em seu estudo, todos
os atletas com sobrepeso não apresentaram valores de valgo estático fora da normalidade do
ângulo-Q, que segundo Jensen 3 é formado pela intersecção entre uma linha que liga a espinha ilíaca
ântero-superior até o centro da patela e outra que liga o centro da patela até a tuberosidade da tíbia.
Há também a teoria que o excessivo ângulo-Q esteja relacionado ao desenvolvimento de Síndrome
da dor patelofemoral (SDPF) ou à lesão de LCA devido ao aumento das forças compressivas entre
a faceta lateral da patela com o côndilo femoral lateral. No entanto, essa hipótese não é confirmada
por estudos prospectivos 4.

OBJETIVO

Neste sentido, o objetivo do presente estudo é verificar o efeito do treinamento em superfície


instável como método de prevenção de lesão de ligamento cruzado anterior em mulheres adultas.

METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão sistemática qualitativa, abordando
e levando em conta as similaridades e diferenças importantes entre as pesquisas previamente
realizadas a fim de ampliar as possibilidades interpretativas dos resultados, a coleta dos dados para a
realização da pesquisa foi obtida a partir dos levantamentos de artigos e livros de educação física,
fisioterapia, medicina e medicina esportiva.

Os artigos analisados para a realização do estudo foram pesquisados nas bases de dados
PubMed, Google Acadêmico, SciElo e MedLine, usando palavras chave: knee injury (14214), acl
injury (5103), acl rehabilitation (1576), trunk stability acl (14), woman knee injury (939). Foram
utilizadas as palavras chaves em inglês para a realização da busca, devido ao maior número de
estudos disponíveis. Os mais de 20.000 resultados encontrados foram filtrados seguindo os
seguintes critérios de inclusão: textos na língua portuguesa ou inglesa, data de publicação de até 10
anos atrás, estudos realizados em humanos, textos completos gratuitos e pagos nas áreas de
educação física, fisioterapia, medicina, medicina esportiva e neurociência. Dos artigos filtrados,
foram selecionados para o estudo apenas os que continham no título uma ou mais palavras como:
LCA, joelho e lesão de joelho, no total foram incluídos 18 estudos para a referenciação deste
trabalho que relatam tanto as investigações originais sobre o assunto, revisões sistemáticas,
meta-análises, quanto estudos sobre outras variáveis que possuem alguma relação com a articulação
do joelho, além dos livros de anatomia e biomecânica que foram usados para a sustentação desses
dados. A partir destes, foi realizada uma tabela comparativa de resultados dos trabalhos publicados,
contudo, não foram aproveitados todos os dados, devido aos critérios de inclusão do estudo.

Como base para analisar e relacionar as forças atuantes sobre a articulação do joelho
durante os movimentos de aterrissagem bipodal e unipodal foi utilizado como base os estudos de
Carvalho A. R.11, Zazulak B.2 e Sheehan F.6, considerando a amostra masculina apenas para questões
de comparação entre os demais estudos que abordam as questões de diferenças biomecânicas de
core e membros inferiores entre os gêneros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro 1 foi composto por 13 estudos que tiveram grande relevância na obtenção de
informações para o cruzamento dos dados relacionados às lesões de LCA em mulheres adultas.

Autor Objetivo Método Resultados

A) Identificar diferenças Protocolo: Revisão de literatura - Há evidências de que as


Baldon biomecânicas entre os não sistemática com ensaios mulheres apresentam
RDM, gêneros, referentes à clínicos controlados diferenças biomecânicas
Lobato articulação do quadril e Procedimento: verificar o efeito do padrão de movimento
DFM, joelho; de treinos preventivos do membro inferior.
Carvalho LP, neuromusculares sobre parâmetros - Diminuição da incidência
et al.. 1 Verificar as suas biomecânicos do membro inferior. de lesões do LCA no
implicações na elaboração População: Mulheres e homens grupo de mulheres
de intervenções adultos.
preventivas. - Melhora do alinhamento
dinâmico do membro
inferior

B) Analisar as forças atuantes Protocolo: Estudo transversal. - Estabilidade do core


Zazulak BT, no deslocamento do Procedimento: Identificar prediz risco de lesões no
Hewett TE, tronco e relacionar com a preditores de risco em atletas que joelho com alta
Reeves NP, predição de lesões de sofreram lesão no joelho. sensibilidade para atletas
et al.. 2 joelho. População: 277 atletas colegiados, do sexo feminino e
sendo 140 do sexo feminino. moderada sensibilidade
para o sexo masculino.

C) Avaliar por Protocolo: Estudo transversal - Quanto maior a


Callegari B, eletromiografia a ativação Procedimento: Exercícios instabilidade, maior a
et al.. 5 muscular do gastrocnêmio realizados no balancinho, prancha ativação de musculaturas
e tibial anterior em de equilíbrio, cama elástica e solo, estabilizadoras.
diferentes exercícios de com 3 repetições de 15 segundos
propriocepção do cada, com intervalo de 15
tornozelo em apoio segundos entre as repetições.
unipodal, comparando População: 54 voluntários, do
graus de dificuldade. sexo masculino.
D) Analisar a posição do Protocolo: Estudo comparativo. - A aterrissagem com o
Sheehan FT, tronco em relação a base Procedimento: Análise de 20 centro de massa muito
Sipprell 5 de suporte no momento vídeos de atletas que sofreram posterior da base de
WH, Boden da lesão em atletas e lesão de LCA e 20 vídeos de suporte indica um fator de
BP. 8 correlacionar com a lesão atletas que realizaram movimentos risco para a lesão do LCA
de joelho (LCA). similares, porém não sofreram a sem contato;
lesão. - Pode ser abordada em
População: Atletas de ambos os programas de prevenção.
gêneros.

E) Apresentar e comparar Protocolo: Estudo transversal. - Melhora da estabilidade


Zemková, E. estudos que envolvam o Procedimento: Foi utilizado o postural e da potência do
17
treinamento de resistência dispositivo FiTRODyne para que o treinamento
em superfície instável para comparar as forças de aceleração e tradicional em uma
a melhora das funções picos de força da fase concêntrica superfície estável;
neuromusculares nos durante os movimentos de - Incluir no programa de
indivíduos fisicamente agachamento e supino reto em reabilitação, a fim de
ativos, e pós plataformas estáveis e instáveis, acelerar o retorno do
reconstruções do LCA. com e sem contra movimento. atleta à competição.
População: 24 homens
fisicamente ativos.

F) Investigar a relação entre Protocolo: Estudo transversal. - O ângulo-Q não teve


Almeida o ângulo-Q e intensidade Procedimento: Foram avaliados o relação com intensidade
GPL, et al.. 4 da dor anterior no joelho, ângulo-Q, a intensidade da dor da dor, capacidade
capacidade funcional, anterior do joelho, o valgo funcional e pico de torque
valgo dinâmico de joelho dinâmico e o pico de torque dos isométrico dos músculos
e torque abdutor do abdutores do quadril. do quadril.
quadril em mulheres com População: 22 mulheres com - Direcionar a avaliação e
síndrome da dor SDPF. tratamento para outras
patelofemoral (SDPF). variáveis potencialmente
modificáveis.

G) Estabelecer a relação Protocolo: Estudo transversal. - O ângulo-Q é apenas um


Jensen T. S. entre o aumento do Procedimento: Aplicação de dos fatores que pode
E.. 3 ângulo-Q e a presença da questionário e avaliação postural; contribuir para a SDPF,
SDPF e também verificar População: - Analisado de maneira
qual a melhor posição 30 mulheres sedentárias, com isolada não indica se o
para medir esse ângulo. idade entre 18 e 35 anos que indivíduo tem ou terá a
apresentavam joelhos valgos. SDPF, já que nem todos
os indivíduos relataram
sentir dor.

H) Descrever a questão da Protocolo: Estudo descritivo. - Benefício direto na


Silvers HJ, lesão do LCA no atleta e a Procedimento: Discutir o papel diminuição do número de
Mandelbau eficácia da implementação anatômico do LCA, a lesões ligamentares do
m BR.15 de um programa de epidemiologia, a etiologia e os LCA em atletas.
treinamento quatro fatores de risco categóricos
neuromuscular e para a ocorrência de uma lesão do
proprioceptivo específico LCA
para reduzir a incidência População: Mulheres atletas
deste tipo de lesão.
I) Pesquisar e resumir a Protocolo: Revisão de literatura. - Associação entre a
De Blaiser literatura sobre o papel da Procedimento: Revisar estabilidade do core
C, Roosen P, estabilidade do core como sistematicamente os estudos, que prejudicada e o
Willems T, fator de risco no relacionavam o funcionamento da desenvolvimento de lesões
Danneels L, desenvolvimento de musculatura do core e a nos membros inferiores.
et al.. 16 lesões em membros estabilidade do mesmo para lesões - Déficit da estabilidade do
inferiores em uma nos membros inferiores. core foram identificados
população de atletas. População: Atletas de ambos os como fatores de risco para
sexos. lesões nos membros
inferiores.

J) Conceituar termos Protocolo: Revisão de literatura. - Associação de estratégias


Carvalho, A. relacionados ao controle Procedimento: Conceituação de tanto neuromusculares,
R. 11 neuromuscular e termos relacionados à quanto proprioceptivas
propriocepção; Buscar propriocepção e controle motor, deva ser contemplada na
evidências a favor do uso evidenciação do uso do periodização esportiva;
do treinamento treinamento neuromuscular e - Maximizar o refinamento
neuromuscular e proprioceptivo e mecanismos motor;
proprioceptivo, como neurofisiológicos envolvidos na - Prolongar a durabilidade
métodos de prevenção de adaptação desse tipo de do atleta no meio
lesões desportivas; treinamento. esportivo.
Descrever os mecanismos
neurofisiológicos
envolvidos na adaptação
ao treinamento
neuromuscular e
proprioceptivo.

L) Realizar uma análise Protocolo: Estudo transversal,


Maia MS, et associativa do valgo observacional. - Associação entre a
al.. 10 dinâmico do joelho Procedimento: Teste de Craig e diminuição da rotação
durante a descida de um valor do ângulo do valgo do joelho medial do quadril com o
degrau juntamente com o durante a descida de um degrau. aumento do valgo do
ângulo de rotação interna População: 104 voluntários do joelho.
de quadril em atletas sexo feminino, praticantes de - Ainda há necessidade de
jovens do sexo feminino. esportes variados em nível mais estudos conclusivos
competitivo, com idade entre 11 e sobre o valgo dinâmico do
18 anos. joelho e das avaliações
clínicas realizadas neste
estudo.

M) Fornecer evidências para Protocolo: Revisão de literatura. - O treinamento


Myer G., delinear uma nova teoria Procedimento: Revisão neuromuscular de core
Donald C., usada para definir os sistemática dos estudos que pode fornecer a
Jensen B., mecanismos relacionados definem os mecanismos abordagem mais eficaz
Timothy H. ao aumento do risco de relacionados ao aumento do risco para aliviar a biomecânica
13
lesão do LCA em atletas de lesão do LCA de alto risco em atletas do
do sexo feminino. População: Mulheres atletas sexo feminino.
jovens e adultas.

N) Determinar se há Protocolo: Estudo transversal. - Mulheres utilizam


Zazulak BT, diferença eletromiográfica Procedimento: Atletas colegiais diferentes padrões de
et al.. 14 (EMG) na ativação dos realizaram quedas de alturas de ativação muscular em
músculos estabilizadores 30,5 (♀) e 45,8(♂)cm e a EMG foi comparação aos homens.
do quadril entre os utilizada para examinar a atividade
gêneros, durante uma das musculaturas de quadril, além - A diminuição da
aterrissagem unipodal. do pico e valores médios para cada atividade muscular de
músculo (glúteo máximo, glúteo abdutores do quadril e
médio, reto femoral) em cada aumento da atividade do
tempo. quadríceps podem ser
População: 22 atletas colegiais, fatores que
sendo 13 mulheres e 9 homens. contribuem para a
suscetibilidade de lesões
de LCA sem contato em
atletas do sexo feminino.
Quadro 1: Artigos levantados para meta-análise

O quadro 1 apresenta 13 estudos referentes a lesões de joelho, sendo 5 deles composto de amostra
do sexo feminino, 2 com amostra do sexo masculino, 5 com amostra de sexo misto e 1 estudo de
revisão bibliográfica conceitual que não possui amostra. Devido ao objetivo deste estudo, trabalhos
com amostras referentes ao sexo masculino foram utilizados apenas para comparar, relacionar e
acrescentar as diferenças entre gêneros nos resultados obtidos.

Dentre os inúmeros fatores que estão associados às lesões de joelho em mulheres adultas, teoriza-se
que o excessivo ângulo-Q esteja relacionado ao desenvolvimento de SDPF pelo aumento das forças
compressivas entre a faceta lateral da patela com o côndilo femoral 4. No entanto, Almeida 4 (quadro
1.F) afirma que o ângulo-Q não teve relação com intensidade da dor, capacidade funcional, ângulo
de projeção no plano frontal do joelho e pico de torque isométrico dos músculos do quadril. E
ainda sugere que a avaliação do ângulo-Q possivelmente não traga informações adicionais para o
tratamento de pacientes com SDPF. Visto que, o ângulo-Q não demonstra alta correlação sobre o
valgo dinâmico excessivo, a avaliação e a reabilitação devem ser direcionadas para outras variáveis
potencialmente modificáveis, como o controle neuromuscular e torque de abdutores de quadril a
fim de reduzir esse valgo dinâmico. É também, válido considerar que a escassa experiência motora
prévia das mulheres na infância devido a fatores socioculturais, pode desencadear ao baixo
desenvolvimento motor na vida adulta 12, podendo assim prejudicar o aprendizado de novos e mais
8
complexos padrões de movimentos. Entretanto, Sheehan (quadro 1. D) relata que das três
variáveis analisadas em seu estudo, o gênero não se mostrou significativo para nenhuma delas, e não
houve efeito de interação entre o estado da lesão e o gênero para nenhuma das três variáveis de
interesse. Especificamente, não existiam diferenças ao comparar as variáveis dos atletas do sexo
masculino e feminino dentro ou entre os dois grupos.

No Quadro 1, dez dos estudos presentes (quadro 1. A, B, D, E, H, I, J, L, M, N) tiveram o objetivo


de analisar, conceituar e discutir o controle neuromuscular e a propriocepção como sendo fatores
de predição e/ou recuperação de lesões de joelho. O estudo de Sheehan 8 (quadro 1.D) apontou por
meio de videotapes que a lesão de LCA ocorreu em virtude da variação postural caracterizada pela
extensão de tronco no momento da aterrissagem unipodal, os atletas anteriormente lesionados no
LCA tiveram maior distância do centro de massa do corpo (CDM, localizado aproximadamente no
centro do tronco) em relação a base de suporte (BDS). Isso mostra que, se o vetor gravitacional do
centro de massa do corpo não se encontra próximo da base de suporte a postura estática fica
instável. A fim de evitar a queda, a postura se altera de modo que o CDM fique próximo da BDS.
Em uma situação dinâmica, o CDM pode até estar posicionado posteriormente da BDS, mas se a
distância for muito grande, a recuperação não será mais possível, resultando em queda 8.

Os estudos B, C, D, E, H, I e J do quadro 1 aprofundam-se na questão do treinamento em


plataforma instável como método de prevenção/reabilitação de lesões de joelho, devido ao fato do
treinamento em plataforma instável objetivar o fortalecimento de musculaturas proprioceptivas e o
desenvolvimento do controle neuromuscular com o intuito de aprimorar a estabilidade da
articulação em questão.

O controle neuromuscular refere-se à ativação inconsciente dos restritores


dinâmicos como consequência da entrada proprioceptiva, que ocorre na
preparação para, e em resposta, à sobrecarga e ao movimento articular a fim de
restabelecer a estabilidade articular funcional 11 (quadro 1. J).

Assim, ele pode ser definido como sendo a resposta motora inconsciente para um estímulo
11
aferente em relação à estabilidade articular dinâmica (quadro 1. J). Já a estabilidade articular,
consiste na habilidade de retornar para sua posição de equilíbrio após uma pequena perturbação, ou
de resistir a essa perturbação, e é um requisito indispensável para a execução de atividades físicas 5
(quadro 1. C). Desse modo, a propriocepção pode garantir respostas musculares às perturbações do
centro de gravidade, possibilitando ao atleta retornar rapidamente a sua posição de equilíbrio,
favorecendo assim uma boa postura das articulações e minimizando os riscos de lesão durante a
execução da atividade física.

Além da falta do treinamento em plataformas instáveis, fatores como o envelhecimento, fadiga


muscular, lesões neuromusculares e/ou musculoesqueléticas, cicatrização tecidual, uso de órteses ou
bandagens, dor, lesões nos mecanorreceptores e proprioceptores podem influenciar negativamente
a propriocepção 5, prejudicando assim o controle neuromuscular. Além disto, a falta de controle
neuromuscular de membros inferiores não é o principal responsável pela manutenção de uma boa
propriocepção, e consequentemente uma boa postura, acredita-se que um pobre controle
neuromuscular do core, que inclui estruturas passivas da pelve e coluna toracolombar, e
contribuição ativa dos músculos do tronco, pode gerar um comportamento instável e predispor a
lesão em todos os segmentos da cadeia cinética 11. Os autores 2, 13
(quadro 1. B, M) concluíram
então, que o déficit proprioceptivo do core está associado a um maior risco de lesão de joelho e
pode predizer risco de lesões em atletas do sexo feminino 2 (quadro 1. B).

13
Myer (quadro 1. M), aponta também evidências de que o treinamento neuromuscular não apenas
reduz os níveis de potenciais fatores de risco biomecânico para lesão do LCA, mas também diminui
a incidência de lesões no joelho e no LCA.

Estudos pilotos que aplicaram treinamento neuromuscular para o core evidenciaram aumento da
força e do recrutamento dos músculos envolvidos na abdução do quadril em tarefas de
ortostatismo nas atletas mulheres e essa condição aprimorou o alinhamento do membro inferior e
diminuiu o valgismo de joelho e as cargas resultantes dos deslocamentos do tronco durante
atividades esportivas 13 (quadro 1. M).

O estudo N do quadro 1 reforça também a possível causa de suscetibilidade para lesões de LCA
sem contato o fato das mulheres exercerem diferentes padrões de ativação muscular dos músculos
estabilizadores do quadril em relação aos homens. Enquanto, durante uma aterrissagem unipodal os
homens têm uma maior ativação dos músculos do quadril (glúteo máximo, glúteo médio), as
14
mulheres tiveram um maior recrutamento de fibras do músculo reto femoral (quadro 1. N),
causando desse modo uma maior adução do quadril e consecutivamente maior rotação interna da
articulação do joelho, ocasionando a sobrecarga do LCA devido a anatomia do mesmo, e podendo
levar a ruptura total ou parcial do ligamento.

Visto que o treinamento em plataforma instável tem se mostrado efetivo na prevenção desse tipo
13
de lesão, Myer (quadro 1. M) propôs em seu estudo um modelo de Treinamento Neuromuscular
Direcionado ao Tronco (TNDT) (Tabela 1) orientado para mulheres atletas, que consiste em cinco
fases de exercício são utilizadas para facilitar progressões visando melhorar o controle e a
estabilidade do core das atletas, durante atividades dinâmicas, sendo que os exercícios em cada fase,
devem ser progressivos nas complexidades técnicas. A seleção inicial do volume deve ser baixa para
permitir que a atleta tenha a oportunidade de aprender a executar o exercício com excelente técnica
e relativa facilidade.

Assim como em outros tipos de treinamento, o volume (ou intensidade, quando aplicável) deve ser
aumentado até que a atleta possa realizar todos os exercícios no volume e intensidade prescrita com
técnica perfeita. O profissional de Educação Física deve ser habilidoso em reconhecer a técnica
apropriada para um determinado exercício, e deve encorajar a atleta para manter a técnica adequada.
Caso haja fadiga a ponto de a atleta não conseguir mais realizar o exercício com a forma quase
perfeita, ou ela apresentar um declínio acentuado na proficiência, então ela deve ser instruída a
parar o exercício.

As repetições para cada exercício completado devem ser observadas, e o objetivo da próxima sessão
de treinamento deve ser continuar a melhorar a técnica e aumentar o volume ou a intensidade.
Quando uma atleta se torna proficiente com todos os exercícios dentro de uma fase de progressão,
ela pode avançar para o próximo estágio. Para melhorar as técnicas de exercício, os instrutores
devem dar continuidade e feedback para a atleta, durante e após cada sessão de exercício. Isso fará
com que ela fique consciente da forma e técnicas adequadas, assim como as posturas indesejáveis e
potencialmente lesivas 13.

O grande diferencial deste tipo de treinamento fica na abordagem, que tem como objetivo
incorporar exercícios que perturbem o equilíbrio do tronco, trabalhando a propriocepção e
melhorando o controle das musculaturas envolventes, também como a estabilidade do core 13.
Podendo minimizar os possíveis desvios posturais de quadril e joelho, como os valgos dinâmicos,
resultando assim numa menor probabilidade de lesão do LCA em mulheres adultas.

CONCLUSÃO

Ao analisar e relacionar os dados obtidos no decorrer deste estudo, foi encontrado uma alta relação
entre os trabalhos que abordaram o controle neuromuscular e a propriocepção como sendo esses
fatores essenciais na manutenção da boa postura no exercício, consequentemente reduzindo os
riscos de lesão do LCA. No entanto, trabalhos que envolveram as questões do ângulo-q e valgo
estático do joelho como preditores de lesões de LCA/SDPF não encontraram relação com
intensidade da dor, capacidade funcional e redução de torque isométrico do quadril 3, 4 (quadro 1.F,
G), concluindo-se assim que o ângulo-q e o valgo estático do joelho não são as variáveis
determinantes na predição de lesões de LCA e/ou recuperação pós-trauma. Podendo desse modo,
direcionar os estudos e trabalhos nas áreas de Educação Física, Medicina Esportiva e Fisioterapia
para outras variáveis mais relevantes, como o controle neuromuscular e proprioceptivo do core e do
quadril.

Sendo assim, é possível afirmar que o treinamento em plataforma instável possui um importante
papel na prevenção de lesões do LCA, tornando-se um recurso que pode ser incluído na preparação
física de atletas, principalmente em atletas do sexo feminino. E quando orientado da maneira
correta por um profissional de Educação Física capacitado, pode resultar tanto na diminuição dos
riscos, como na recuperação de lesões de joelhos em mulheres adultas, devido a redução das
alterações posturais de articulações envolvidas nos movimentos específicos de cada modalidade
esportiva.

REFERÊNCIAS

1. Baldon RDM, Lobato DFM, Carvalho LP, et al. Diferenças biomecânicas entre os gêneros e
sua importância nas lesões do joelho. Fisioter em Mov 2011; 24: 157–166.

2. Zazulak BT, Hewett TE, Reeves NP, et al. Deficits in neuromuscular control of the trunk
predict knee injury risk: A prospective biomechanical-epidemiologic study. Am J Sports Med
2007; 35: 1123–1130.

3. Jensen T. S. E.. Relação entre a presença de joelhos valgos e o aumento do ângulo Q.


Revista PIBIC 2006, v. 3, 83–91.

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5. Callegari, Bianca, et al. Atividade eletromiográfica durante exercícios de propriocepção de


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TABELA 1: Treinamento Neuromuscular Direcionado ao Tronco (TNDT) 13

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