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RESUMO
Tem sido observado que as rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA) apresentam
maior incidência nas mulheres atletas comparadas aos homens praticantes das mesmas modalidades
esportivas. Diante disto, a ênfase principal dos estudos concerne às diferenças biomecânicas
existentes entre os gêneros, ou seja, aos diferentes padrões de ativação muscular e de movimento
adotados durante um gesto motor. Dentre as inúmeras opções de tratamentos disponíveis hoje, os
exercícios de resistência realizados em superfícies instáveis vêm ganhando espaço e tornaram-se
parte do treinamento atlético e da reabilitação desse tipo de lesão, devido a uma melhora
significativamente rápida desse quadro lesivo. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi
verificar o efeito do treinamento em superfície instável como método de prevenção de lesão de
ligamento cruzado anterior em mulheres adultas. O presente estudo foi realizado por meio de uma
revisão sistemática qualitativa, apresentando 13 estudos referentes a lesões de joelho, sendo 5 deles
composto de amostra do sexo feminino, 2 com amostra do sexo masculino, 5 com amostra de sexo
misto e 1 estudo de revisão bibliográfica conceitual que não possui amostra. abordando e levando
em conta as similaridades e diferenças importantes entre as pesquisas previamente realizadas a fim
de ampliar as possibilidades interpretativas dos resultados. Foi apresentado uma relação entre os
trabalhos que abordaram o controle neuromuscular e a propriocepção como sendo esses fatores
essenciais na manutenção da boa postura no exercício. Os dados do presente estudo apontaram que
o treinamento em plataforma instável possui um importante papel na prevenção de lesões do LCA,
sendo um recurso que pode ser incluído na preparação física de atletas, principalmente do sexo
feminino.
Keywords: lca, joelho, mulheres, lesão, esporte, alto impacto, treinamento, instável.
INTRODUÇÃO
Considerando o centro de massa e as forças externas atuantes sobre o corpo humano, uma
boa postura torna-se essencial para minimizar a sobrecarga das articulações, visto que se essas
articulações estiverem dispostas em um plano vertical de forma que a linha de gravidade atravesse o
centro de cada articulação, será aplicada a tensão mínima sobre os músculos e ligamentos.
“Portanto, boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
sustentação do corpo contra deformidades ou lesões progressivas 9 ”.
5,14
Estudos que utilizaram a eletromiografia (EMG) , mostraram que durante os exercícios
resistidos em plataforma instável observa-se uma ativação mais pronunciada dos músculos
estabilizadores, principalmente dos músculos estabilizadores de tronco, em relação aos exercícios de
solo estável. Desse modo é possível dizer que o treinamento de resistência com plataformas
instáveis pode auxiliar na adaptação neural dos músculos estabilizadores do tronco, resultando
assim em uma melhora na estabilidade do mesmo 1.
Com relação a desvios da postura da articulação do joelho, o sexo feminino apresenta um valgo
estático mais acentuado que o sexo masculino devido a anatomia, retardo na ativação muscular,
menor rigidez articular e massa corpórea 10. No entanto, Maia 10
não encontrou relação entre o
aumento da massa corpórea com o aumento do valgo dinâmico, uma vez que em seu estudo, todos
os atletas com sobrepeso não apresentaram valores de valgo estático fora da normalidade do
ângulo-Q, que segundo Jensen 3 é formado pela intersecção entre uma linha que liga a espinha ilíaca
ântero-superior até o centro da patela e outra que liga o centro da patela até a tuberosidade da tíbia.
Há também a teoria que o excessivo ângulo-Q esteja relacionado ao desenvolvimento de Síndrome
da dor patelofemoral (SDPF) ou à lesão de LCA devido ao aumento das forças compressivas entre
a faceta lateral da patela com o côndilo femoral lateral. No entanto, essa hipótese não é confirmada
por estudos prospectivos 4.
OBJETIVO
METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão sistemática qualitativa, abordando
e levando em conta as similaridades e diferenças importantes entre as pesquisas previamente
realizadas a fim de ampliar as possibilidades interpretativas dos resultados, a coleta dos dados para a
realização da pesquisa foi obtida a partir dos levantamentos de artigos e livros de educação física,
fisioterapia, medicina e medicina esportiva.
Os artigos analisados para a realização do estudo foram pesquisados nas bases de dados
PubMed, Google Acadêmico, SciElo e MedLine, usando palavras chave: knee injury (14214), acl
injury (5103), acl rehabilitation (1576), trunk stability acl (14), woman knee injury (939). Foram
utilizadas as palavras chaves em inglês para a realização da busca, devido ao maior número de
estudos disponíveis. Os mais de 20.000 resultados encontrados foram filtrados seguindo os
seguintes critérios de inclusão: textos na língua portuguesa ou inglesa, data de publicação de até 10
anos atrás, estudos realizados em humanos, textos completos gratuitos e pagos nas áreas de
educação física, fisioterapia, medicina, medicina esportiva e neurociência. Dos artigos filtrados,
foram selecionados para o estudo apenas os que continham no título uma ou mais palavras como:
LCA, joelho e lesão de joelho, no total foram incluídos 18 estudos para a referenciação deste
trabalho que relatam tanto as investigações originais sobre o assunto, revisões sistemáticas,
meta-análises, quanto estudos sobre outras variáveis que possuem alguma relação com a articulação
do joelho, além dos livros de anatomia e biomecânica que foram usados para a sustentação desses
dados. A partir destes, foi realizada uma tabela comparativa de resultados dos trabalhos publicados,
contudo, não foram aproveitados todos os dados, devido aos critérios de inclusão do estudo.
Como base para analisar e relacionar as forças atuantes sobre a articulação do joelho
durante os movimentos de aterrissagem bipodal e unipodal foi utilizado como base os estudos de
Carvalho A. R.11, Zazulak B.2 e Sheehan F.6, considerando a amostra masculina apenas para questões
de comparação entre os demais estudos que abordam as questões de diferenças biomecânicas de
core e membros inferiores entre os gêneros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O quadro 1 foi composto por 13 estudos que tiveram grande relevância na obtenção de
informações para o cruzamento dos dados relacionados às lesões de LCA em mulheres adultas.
O quadro 1 apresenta 13 estudos referentes a lesões de joelho, sendo 5 deles composto de amostra
do sexo feminino, 2 com amostra do sexo masculino, 5 com amostra de sexo misto e 1 estudo de
revisão bibliográfica conceitual que não possui amostra. Devido ao objetivo deste estudo, trabalhos
com amostras referentes ao sexo masculino foram utilizados apenas para comparar, relacionar e
acrescentar as diferenças entre gêneros nos resultados obtidos.
Dentre os inúmeros fatores que estão associados às lesões de joelho em mulheres adultas, teoriza-se
que o excessivo ângulo-Q esteja relacionado ao desenvolvimento de SDPF pelo aumento das forças
compressivas entre a faceta lateral da patela com o côndilo femoral 4. No entanto, Almeida 4 (quadro
1.F) afirma que o ângulo-Q não teve relação com intensidade da dor, capacidade funcional, ângulo
de projeção no plano frontal do joelho e pico de torque isométrico dos músculos do quadril. E
ainda sugere que a avaliação do ângulo-Q possivelmente não traga informações adicionais para o
tratamento de pacientes com SDPF. Visto que, o ângulo-Q não demonstra alta correlação sobre o
valgo dinâmico excessivo, a avaliação e a reabilitação devem ser direcionadas para outras variáveis
potencialmente modificáveis, como o controle neuromuscular e torque de abdutores de quadril a
fim de reduzir esse valgo dinâmico. É também, válido considerar que a escassa experiência motora
prévia das mulheres na infância devido a fatores socioculturais, pode desencadear ao baixo
desenvolvimento motor na vida adulta 12, podendo assim prejudicar o aprendizado de novos e mais
8
complexos padrões de movimentos. Entretanto, Sheehan (quadro 1. D) relata que das três
variáveis analisadas em seu estudo, o gênero não se mostrou significativo para nenhuma delas, e não
houve efeito de interação entre o estado da lesão e o gênero para nenhuma das três variáveis de
interesse. Especificamente, não existiam diferenças ao comparar as variáveis dos atletas do sexo
masculino e feminino dentro ou entre os dois grupos.
Assim, ele pode ser definido como sendo a resposta motora inconsciente para um estímulo
11
aferente em relação à estabilidade articular dinâmica (quadro 1. J). Já a estabilidade articular,
consiste na habilidade de retornar para sua posição de equilíbrio após uma pequena perturbação, ou
de resistir a essa perturbação, e é um requisito indispensável para a execução de atividades físicas 5
(quadro 1. C). Desse modo, a propriocepção pode garantir respostas musculares às perturbações do
centro de gravidade, possibilitando ao atleta retornar rapidamente a sua posição de equilíbrio,
favorecendo assim uma boa postura das articulações e minimizando os riscos de lesão durante a
execução da atividade física.
13
Myer (quadro 1. M), aponta também evidências de que o treinamento neuromuscular não apenas
reduz os níveis de potenciais fatores de risco biomecânico para lesão do LCA, mas também diminui
a incidência de lesões no joelho e no LCA.
Estudos pilotos que aplicaram treinamento neuromuscular para o core evidenciaram aumento da
força e do recrutamento dos músculos envolvidos na abdução do quadril em tarefas de
ortostatismo nas atletas mulheres e essa condição aprimorou o alinhamento do membro inferior e
diminuiu o valgismo de joelho e as cargas resultantes dos deslocamentos do tronco durante
atividades esportivas 13 (quadro 1. M).
O estudo N do quadro 1 reforça também a possível causa de suscetibilidade para lesões de LCA
sem contato o fato das mulheres exercerem diferentes padrões de ativação muscular dos músculos
estabilizadores do quadril em relação aos homens. Enquanto, durante uma aterrissagem unipodal os
homens têm uma maior ativação dos músculos do quadril (glúteo máximo, glúteo médio), as
14
mulheres tiveram um maior recrutamento de fibras do músculo reto femoral (quadro 1. N),
causando desse modo uma maior adução do quadril e consecutivamente maior rotação interna da
articulação do joelho, ocasionando a sobrecarga do LCA devido a anatomia do mesmo, e podendo
levar a ruptura total ou parcial do ligamento.
Visto que o treinamento em plataforma instável tem se mostrado efetivo na prevenção desse tipo
13
de lesão, Myer (quadro 1. M) propôs em seu estudo um modelo de Treinamento Neuromuscular
Direcionado ao Tronco (TNDT) (Tabela 1) orientado para mulheres atletas, que consiste em cinco
fases de exercício são utilizadas para facilitar progressões visando melhorar o controle e a
estabilidade do core das atletas, durante atividades dinâmicas, sendo que os exercícios em cada fase,
devem ser progressivos nas complexidades técnicas. A seleção inicial do volume deve ser baixa para
permitir que a atleta tenha a oportunidade de aprender a executar o exercício com excelente técnica
e relativa facilidade.
Assim como em outros tipos de treinamento, o volume (ou intensidade, quando aplicável) deve ser
aumentado até que a atleta possa realizar todos os exercícios no volume e intensidade prescrita com
técnica perfeita. O profissional de Educação Física deve ser habilidoso em reconhecer a técnica
apropriada para um determinado exercício, e deve encorajar a atleta para manter a técnica adequada.
Caso haja fadiga a ponto de a atleta não conseguir mais realizar o exercício com a forma quase
perfeita, ou ela apresentar um declínio acentuado na proficiência, então ela deve ser instruída a
parar o exercício.
As repetições para cada exercício completado devem ser observadas, e o objetivo da próxima sessão
de treinamento deve ser continuar a melhorar a técnica e aumentar o volume ou a intensidade.
Quando uma atleta se torna proficiente com todos os exercícios dentro de uma fase de progressão,
ela pode avançar para o próximo estágio. Para melhorar as técnicas de exercício, os instrutores
devem dar continuidade e feedback para a atleta, durante e após cada sessão de exercício. Isso fará
com que ela fique consciente da forma e técnicas adequadas, assim como as posturas indesejáveis e
potencialmente lesivas 13.
O grande diferencial deste tipo de treinamento fica na abordagem, que tem como objetivo
incorporar exercícios que perturbem o equilíbrio do tronco, trabalhando a propriocepção e
melhorando o controle das musculaturas envolventes, também como a estabilidade do core 13.
Podendo minimizar os possíveis desvios posturais de quadril e joelho, como os valgos dinâmicos,
resultando assim numa menor probabilidade de lesão do LCA em mulheres adultas.
CONCLUSÃO
Ao analisar e relacionar os dados obtidos no decorrer deste estudo, foi encontrado uma alta relação
entre os trabalhos que abordaram o controle neuromuscular e a propriocepção como sendo esses
fatores essenciais na manutenção da boa postura no exercício, consequentemente reduzindo os
riscos de lesão do LCA. No entanto, trabalhos que envolveram as questões do ângulo-q e valgo
estático do joelho como preditores de lesões de LCA/SDPF não encontraram relação com
intensidade da dor, capacidade funcional e redução de torque isométrico do quadril 3, 4 (quadro 1.F,
G), concluindo-se assim que o ângulo-q e o valgo estático do joelho não são as variáveis
determinantes na predição de lesões de LCA e/ou recuperação pós-trauma. Podendo desse modo,
direcionar os estudos e trabalhos nas áreas de Educação Física, Medicina Esportiva e Fisioterapia
para outras variáveis mais relevantes, como o controle neuromuscular e proprioceptivo do core e do
quadril.
Sendo assim, é possível afirmar que o treinamento em plataforma instável possui um importante
papel na prevenção de lesões do LCA, tornando-se um recurso que pode ser incluído na preparação
física de atletas, principalmente em atletas do sexo feminino. E quando orientado da maneira
correta por um profissional de Educação Física capacitado, pode resultar tanto na diminuição dos
riscos, como na recuperação de lesões de joelhos em mulheres adultas, devido a redução das
alterações posturais de articulações envolvidas nos movimentos específicos de cada modalidade
esportiva.
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TABELA 1: Treinamento Neuromuscular Direcionado ao Tronco (TNDT) 13