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Rio de Janeiro
2004/2013
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
SUMÁRIO
não funcionem nas versões antigas do Kindle, e venha com alguns bugs nas
edições para iPad e para Android. Dois três anexos originais, eliminei dois (que
situação de Israel no Egito, segundo Êx 23.9. O interesse por tal teologia baseia-
Israel foram escravos neste país. Para tal intento, o primeiro capítulo dedica-se a
uma exaustiva exegese da palavra hebraica ( ֵגּרger) e da raiz que lhe dá origem
BJ – Bíblia de Jerusalém
BLH – Bíblia na Linguagem de Hoje
Kirst et al)
EBTF - Enciclopédia De Bíblia, Teologia e Filosofia
TB – Tradução Brasileira
TWAT - Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament (Anderson,
Botterweck, Ringgren)
INTRODUÇÃO
segundo Êxodo 23.9: “Também não oprimirás o forasteiro; pois vós conheceis o
frente uma teologia do ger – adotamos uma exegese completa desta palavra
hebraica e de todos os seus cognatos. Pretendo assim apresentar uma pesquisa
exegética. A mesma provém do grego ἐξήγησις (exegesis), derivada de εξ,
podemos utilizá-la para tão somente corroborar ideias e doutrinas que temos
que se lê “no texto aquilo que alguém quer encontrar ali, mas que, na realidade,
Século XXI), nem a Alta Crítica, “que envolve qualquer coisa fora do próprio
texto, como as questões de autoria, propósito, problemas linguísticos, pano de
fundo histórico, unidade, proveniência, datas, problemas especiais, etc.” (EBTF,
P. 990). Uma vez que muitos no passado se engajaram na Alta Crítica partindo
Crítica Literária (EBTF); apenas não concordo quando seus defensores negam a
gramatical, unicamente baseada nas línguas originais. Mas não restam dúvidas
de que o acesso ao texto nas línguas originais abre as portas de maneira ímpar.
Eis por que, apesar de ter à disposição o texto massorético de diversas formas –
via internet, através de inúmeros softwares – consultei diretamente a abalizada
Biblia Hebraica Stuttgartensia na sua quarta edição, obra imortal de Rudolf
Kittel que sempre serve de base para as mais modernas traduções, e reproduz o
manuscrito Leningradense B19A (o mais antigo a conter na íntegra o texto
Atualizada em 1956 e que recebeu uma segunda edição em 1993, por conservar
Identity in Israel: the ger in the Old Testament”, e lançada pela editora Walter de
Gruyter.
pretendo fornecer este amplo estudo, e, portanto, sua principal relevância reside
que desejo fazer a todos aqueles que apetecem mergulhar no mundo do ger,
identificando na mesma tudo aquilo que ocorre na peregrinação particular de
O termo ֵגּר (ger) deriva-se da raiz hebraica גור (gur). Esta raiz
quais não necessariamente estão relacionados entre si. Concluímos então que, na
típico das línguas semíticas: várias raízes idênticas, porém com significados
atacar, brigar, contender; e גור III – ter medo (DITAT). Mas, obviamente,
sempre fica aberta a questão do tipo de relacionamento que envolve raízes com a
raiz como “contender” pode ter ligações com o acadiano gerû, “ser adversário”,
provavelmente indicando o ambiente hostil no qual o estrangeiro era envolvido
Faremos a seguir uma distinção da raiz verbal גורde יַׇשׁב (yashabh) e שַׁכן
ׇ
(shakhan). Analisaremos a relação entre o substantivo ger e a raiz verbal; e
54.15: “Eis que poderão suscitar contendas, mas não procederá de mim; quem
conspira contra ti cairá diante de ti”. O mesmo significado pode ser atestado nas
seguintes passagens:
passos...”
Sl 59.3a [4a]: “pois que armam ciladas à minha alma; contra mim se reúnem
contendas”
2.13[12]. Pode-se conjeturar que esta raiz seja na verdade uma variante da raiz
fareis vir a mim, e eu a ouvirei”. Este significado também pode ser atribuído à
esta raiz nas seguintes passagens:
Números 22.3a: “Moabe teve grande medo deste povo, porque era muito...”
1 Samuel 18.15: “Então, vendo Saul que Davi lograva bom êxito, tinha medo
dele”
as duas raízes são colocadas em paralelismo sintético: “que a terra inteira tema
(yare‘) a Iahweh, temam-no (gur) todos os habitantes da terra” (BJ). Ainda
desta raiz origina-se o substantivo ׇמגוֹר (magor), traduzido como “terror” (Sl
31.13[14]; Jr 6.25; 20.3,4,10; 46.5; Lm 2.22), “medo” (Is 31.9), “horror” (Jr
deles”, BLH). Entretanto é mais adequado ligar estes substantivos à raiz ׇא ַגר
(’agar), uma vez que possui um significado muito mais afim: “recolher”,
“armazenar” (DHP&AP). Esta raiz ainda pode ser uma variante de ( יׇגוֹרyagor)
“ter medo”, conforme aparece em Dt 9.19; 28.60; Jó 3.25; 9.28; Sl 119.39
(TWAT).
imediatamente ao presente trabalho, posto ser aquela que deu origem ao termo
ֵגּר (ger). O seu significado é confirmado no árabe, no aramaico e no etíope,
seja indefinido:
necessário definir até que ponto estes últimos podem ser considerados sinônimos
bem mais amplo, além de significar “sentar-se” (como, por exemplo, Gn 21.16;
1.11; Sl 24.1). Mas isso não impede que apareça como paralelo ao verbo gur em
algumas passagens:
Gênesis 20.1: “Partindo Abraão dali para a terra do Neguebe, habitou (verbo
yashabh) entre Cades e Sur e morou (verbo gur) em Gerar”
Gênesis 47.4 “Disseram mais a Faraó: Viemos para habitar (verbo gur) nesta
terra; porque não há pasto para o rebanho de teus servos, pois a fome é severa
do Egito para morar (verbo gur), não haverá quem escape e sobreviva para
tornar à terra de Judá, à qual desejam voltar para morar (verbo yashabh); mas
Josué 18.1: “Reuniu-se toda a congregação dos filhos de Israel em Siló, e ali
nela de geração em geração; o arábio não armará ali a sua tenda, nem
tampouco os pastores farão ali deitar os seus rebanhos”
não vos aborrecerá. Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu
povo”
Salmo 84.1: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!”
Por isto, o verbo acaba ganhando uma forte conotação religiosa, para se
Êxodo 29:45: “E habitarei no meio dos filhos de Israel e serei o seu Deus”
Êxodo 40.35: “Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a
nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo”
Números 9.17: “Quando a nuvem se erguia de sobre a tenda, os filhos de Israel
se punham em marcha; e, no lugar onde a nuvem parava , aí os filhos de Israel
se acampavam”
palavra שִׁכיׇנה
ְ (shekhinah), para definir a glória de Deus, a própria Divindade
(BEREZIN: 1995). Em Nm 35.34, podemos ver como se reserva o verbo
qual eu habito (verbo shakhan); pois eu, o SENHOR, habito (verbo shakhan) no
meio dos filhos de Israel”. Ainda assim, o verbo shakhan pode significar
33.20; 2 Sm 7.10).
Em quatro trechos, temos os três verbos sendo utilizados de uma vez só:
Juízes 5.16,17: “Por que ficaste (verbo yashabh) entre os currais para ouvires a
flauta? Entre as facções de Rúben houve grande discussão. Gileade ficou (verbo
shakhan) dalém do Jordão, e Dã, por que se deteve (verbo gur) junto a seus
navios? Aser se assentou (verbo yashabh) nas costas do mar e repousou (verbo
shakhan) nas suas baías”
derribarei, diz o SENHOR. Assim, será Edom objeto de espanto; todo aquele
que passar por ele se espantará e assobiará por causa de todas as suas pragas.
Como na destruição de Sodoma e Gomorra e das suas cidades vizinhas, diz o
SENHOR, assim não habitará (verbo yashabh) ninguém ali, nem morará (verbo
Jeremias 49.31 – 33: “Levantai-vos, ó babilônios, subi contra uma nação que
habita (verbo yashabh) em paz e confiada, diz o SENHOR; que não tem portas,
nem ferrolhos; eles habitam (verbo shakhan) a sós. Os seus camelos serão para
presa, e a multidão dos seus gados, para despojo; espalharei a todo vento
aqueles que cortam os cabelos nas têmporas e de todos os lados lhes trarei a
yashabh) nela, e nunca mais será povoada (verbo yashabh), nem habitada
(verbo shakhan) de geração em geração, como quando Deus destruiu a
História Patriarcal (e.g., Gn 12.10; 19.9), a História de Moisés (Êx 3.22; 6.4),
‘( ׇעׇלהalah), “subir” (compare Gn 12.10 com 13.1; Gn 47.4 com 50.7 – 9). O
mesmo não acontece com relação ao substantivo. Uma vez que o substantivo é
utilizado, especialmente nos escritos sacerdotais, para os estrangeiros residindo
pelo menos para esse versículo, há uma preferência pela tradução “estrangeiro”.
nativo da terra. Mas deve ser distinguido da palavra ( ׇנְכ ִריnokhri), que fala de
um estrangeiro sem qualquer vínculo com a terra na qual está habitando. Tanto,
que sua ênfase está mais no estranho (DITAT; por exemplo, em Gênesis 31.15 a
ARA traduz: “Não nos considera ele como estrangeiras?” enquanto a ARC
traduz: “Não nos considera ele como estranhas?”), em especial aquele que veio
de terras longínquas (Dt 29.22 [21]; 1 Rs 8.41; 2 Cr 6.32). Esta palavra pode se
referir ao estrangeiro que não fixou residência em algum lugar – enquanto o ger
Neste ponto é mais bem expresso por ( ׇזרzar). Um estranho, que não tinha
com a religião judaica (BDB). Não poderia comer dos sacrifícios (Êx 29.33),
nem usar o óleo da santa unção (Êx 30.33), muito menos se aproximar da tenda
(Nm 17.5). O “fogo estranho” (Lv 10.1; Nm 3.4) é um fogo não sagrado, não
consagrado ao Senhor. O estranho pode ser um estrangeiro inimigo: desta forma,
tratadas pessoas que têm residência estável em um lugar, ao qual não pertencem
estrangeiro.
2. A SITUAÇÃO SOCIAL DO ESTRANGEIRO NA
ANTIGÜIDADE
alguém cujas intenções sempre eram suspeitas. Portanto, recorria-se até mesmo a
rituais mágicos para repeli-los (DITNT). Desta forma, não tinha direito
específicas para o estrangeiro entre os seus 282 artigos. Devemos levar em conta
indenização.
estrangeiro. Por isso, já o Livro dos Mortos do Antigo Egito, datado do século
XIII a.C., tecia um juízo elogiador aos que alimentavam os famintos e vestia os
nus – condição na qual geralmente se encontravam os estrangeiros (EBTF). No
o trono de seu país natal demonstrasse lealdade a Faraó (SCHULTZ: 1977). Isto
bate com a informação de que Moisés fora instruído em toda a ciência do Egito
(At 7.22), o que segundo Filo incluiria aprendizado em aritmética, geometria,
Tendo assim falado, [a deusa Atena] atou aos pés suas belas e imortais sandálias
Zeus, e por mínimo que seja nosso dom, sempre é bem recebido (Odisseia I.207-
8)
termo traduz ger em apenas um único versículo – a saber, o Salmo 119.19 (na
direitos políticos. Também não poderia ser proprietário fundiário – pois, uma vez
que adquirisse posses, estaria se fixando, o que caracteriza um direito do
pedir autorização até mesmo para uma possessão funerária). “Qualquer um que
habilitado a residir” (Platão, Leis 850a, tradução própria). Ainda era obrigado a
causa talvez seja o trauma de não ter sido escolhido como sucessor de seu mestre
episódio da retirada dos dez mil e tornou-se discípulo de Sócrates. Ele já discute
bem favoravelmente aos metecos, mostrando que uma classe tão rentável ao
estado ateniense bem merecia o direito à cidadania (Barsa):
muitos metecos como retaliação à atuação anterior dos tiranos. Em 404 a.C.,
pelo relato feito por Pausânias, nascido nas primeiras décadas do século II da era
cristã na Lídia, Anatólia. Sua realidade já era outra – o mundo integrado pelo
Império Romano. Sua colaboração à moderna Geografia é inestimável, devido às
viagens empreendias a vários ligares – entre eles a Grécia (Barsa). Ele narra o
fato dos metecos contarem com um altar dentro da famosa Academia ateniense –
Jerusalém, obteve o perdão do governo romano (por isso, não é estimado entre
na língua grega.
até mesmo duvidar que a tradução meteco seja cabível aqui – a tradução de Gary
meteco e o ger pode ser esclarecida pelo fato de que nas passagens do texto
hebraico do Sirácida em que aparece o termo ( ֵגּרger), a saber 10.22 e 42.9, não
grega (Louw–Nida).
Tobias 4.12a: Guarda—te, meu filho, de toda a impureza. Escolhe uma mulher
da linhagem de teus pais; não tomes por esposa uma mulher estrangeira, que
não pertença à tribo de teu pai, porque nós somos filhos dos profetas.
1 Macabeus 2.7: exclamou: “ai de mim! Por que nasci para contemplar a ruína
do meu povo e o pisoteamento da cidade santa, deixando-me estar aqui sentado
estrangeiros?”
ídolos.
teus privilégios.
Esta visão negativa do estrangeiro nos apócrifos segue na contramão do
Elohim, e reserva o nome Yahweh apenas para após a revelação mosaica. Aqui,
conforme sugeriu Meek (vide supra), a ênfase do ger é no seu papel social de
imigrante. Isto pode se constatado pelo fato de que o verbo גור aparece 10
20.7, como aquele que é “familiar com Deus, querido dele, amigo dele, para
quem ele comunica seus segredos; apto a prever as coisas por vir, assim como
interpretar a mente de Deus” (Gill). A não ser nas lendas judaicas, não temos
maiores informações bíblicas acerca dos primeiros anos de sua vida. Apenas
somos informados que era filho de Terá (Gn 11.26), e natural de Ur dos Caldeus.
Sua história começa realmente com a sua chamada para sair de sua cidade natal e
Hebreus 11.8: Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um
lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.
história de Abraão como ger. Torna-se artigo de fé que esta condição foi
colocada pelo próprio Deus: sua retirada de Ur dos caldeus é o convite para
andar errante em Canaã, andar como ger.
3.1. Abraão como ger
Gênesis 15.7: Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos caldeus,
Josué 24.3: Eu, porém, tomei Abraão, vosso pai, dalém do rio e o fiz percorrer
toda a terra de Canaã; também lhe multipliquei a descendência e lhe dei Isaque.
direito à posse de terra; sua única posse de terra, seu único quinhão em Canaã
seu lar – onde quer que se localizasse[16] – para assumir uma vida de incertezas.
Sabia já de antemão que a terra não seria sua, pois Deus prometeu a terra de
Canaã apenas para sua descendência (Gn 12.7). Na verdade, temos uma
constante tensão entre as duas posições: a promessa sendo cumprida somente aos
seus descendentes (Gn 12.7; 15.18), e outra permitindo que Abraão já usufrua a
Gênesis 15:13-16: Então, disse a Abrão: Saibas, decerto, que peregrina será a
tua semente em terra que não é sua; e servi-los-á e afligi-la-ão quatrocentos
anos. Mas também eu julgarei a gente à qual servirão, e depois sairão com
grande fazenda. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E
a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus
não está ainda cheia. (ARC)
não seria cumprida na sua geração, torna-se parte integrante da religião patriarcal
não na pátria terrestre, e sim na celestial (Hb 11.13,14). Enfatiza inclusive que,
se a fé deles estivesse na pátria terrestre, voltariam à sua pátria original (no caso,
Ur) assim que pudessem (Hb 11.15). Mas observamos que isto não aconteceu,
como podemos constatar no episódio da escolha de uma esposa para Isaque (Gn
24.1ss). Tornam-se inseparáveis as promessas do descendente e da terra. A fim
de expressar esta fé, como testemunho vivo, os patriarcas espalharam altares por
toda a terra de Canaã.
descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe
aparecera.
Gênesis 12.8: Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou a sua
Gênesis 13.18: E Abrão, mudando as suas tendas, foi habitar nos carvalhais de
Gênesis 26.25: Isaque construiu um altar ali e adorou ao Deus Eterno. Ele
armou as suas barracas naquele lugar, e ali os seus empregados cavaram outro
poço (BLH)
Gênesis 33.20: E levantou ali um altar e lhe chamou Deus, o Deus de Israel.
Gênesis 35.7: E (Jacó) edificou ali um altar e ao lugar chamou El-Betel; porque
Podemos então falar acerca de um legado da vida ger, recebido mediante uma fé
inabalável no El Shadday, aquele que se revela mediante este nome aos
peregrinações: Siquém (Gn 12.6), Neguebe (Gn 12.9), Egito (Gn 12.10), Gerar
(Gn 20.1), Berseba (Gn 22.19), Hebrom (Gn 23.2). Seus descendentes imediatos,
Isaque e Jacó, da mesma forma traçam estes “mapas”: Isaque ficou longo tempo
em Gerar (Gn 26.1 – 6), e Berseba (Gn 26.33), repetindo praticamente o roteiro
de seu pai. Jacó inclui, além de Berseba (Gn 28.10) e Siquém (Gn 33.18),
constantes na rota de Abraão, Harã (Gn 28.10), Maanaim (Gn 33.2), Sucote (Gn
33.17), e Betel (Gn 35.1ss). Embora muitos creditem estas peregrinações a um
estilo de vida nômade pastoril (GOTTWALD: 1988), foi tão somente a sua
obediência que proporcionou este movimento errante, uma vez que não tinha
tal status (se é que, do ponto de vista sócio-econômico, podemos denominar tal
posição de status) demonstraria uma fé ainda maior. Deus convida a Isaque em
Gn 26.1ss ser ger como o seu pai. Mas Deus promete abençoar-lhe. A terra de
Canaã, prometida aos patriarcas, é a “terra das peregrinações”:
Gênesis 17.8: Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações,
toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus.
para que possuas a terra de tuas peregrinações, concedida por Deus a Abraão.
Gênesis 36.7: Porque os bens deles eram muitos para habitarem juntos; e a
terra de suas peregrinações não os podia sustentar por causa do seu gado.
Gênesis 37.1: Habitou Jacó na terra das peregrinações de seu pai, na terra de
Canaã.
patriarcas deixaram o seu rastro (Gill). E cada lugar de peregrinação dos pais
Êxodo 6:2-4: Falou mais Deus a Moisés e disse: Eu sou Yahweh. E eu apareci a
Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como El Shadday; mas pelo meu nome, Yahweh,
não lhes fui adequadamente conhecido. E também estabeleci o meu concerto
com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual
foram peregrinos. (tradução própria)
O termo ger e o substantivo magor estão ligados somente à vida de
Abraão, Isaque e Jacó. Ao ser arguido por Faraó, Jacó define a sua própria vida
como uma peregrinação (BDB). Sua vida confunde-se com a grande aventura
que foi passar a vida inteira peregrinando. Ainda afirma que não conseguira
alcançar o mesmo tempo de peregrinação de seu antepassado Abraão. Isto
Gênesis 47.9: Jacó lhe respondeu: Os dias dos anos das minhas peregrinações
são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e
não chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas
peregrinações.
Deus não mais se dirige diretamente aos patriarcas, mas tão somente através de
sonhos. Talvez a semelhança com o Conto dos Dois Irmãos, fábula egípcia do
século XIII a.C. (KIDNER: 1979), explique uma influência literária que teria
tornado tão diferente este trecho. De qualquer forma, esta análise do uso de ger
na época patriarcal ficaria incompleta se supuséssemos algum silêncio absoluto
acerca do tema no relato de José. Embora ele jamais seja mencionado como
peregrino – ao contrário, por ser vendido a uma caravana de midianitas (ou
ismaelitas), chega ao Egito na condição de escravo, seus familiares parecem
habitar. Assim procedeu Elimeleque (Rt 1.1ss), quando houve fome em Belém.
propósito de sair de Canaã pelo mesmo motivo (Gn 26.2 – 6). Não era
ao Egito para não perecer (Gn 45.6 – 11). Jacó fica confuso: se a ordem expressa
anterior era não descer ao Egito, não se ausentar de Canaã, como proceder
Gênesis 46.3-4: Então, disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer
olhos
Mas Jacó não precisaria temer: ali, sua família deixaria a condição de clã para
tornar-se uma grande nação. Também não precisava temer deixar de ser
parece ser favorecido pelo fato do faraó que está no poder ser um hicso, povo
semita como os hebreus (HOFF: 1983). Isto pode ser contrariado a partir de uma
que está ocupando o trono egípcio, para habitar um país estrangeiro seria
Gênesis 47.4: Disseram mais a Faraó: Viemos para peregrinar nesta terra;
porque não há pasto para as ovelhas de teus servos, porquanto a fome é grave
na terra de Canaã; agora, pois, rogamos-te que teus servos habitem na terra de
Gósen (ARC).
Estariam então na condição de “clientes” do soberano local (Gn 47.6).
Não seriam escravos, mas estariam estabelecidos numa terra concedida pelo
próprio faraó – aonde quer que se localizasse Gósen[18]. Estavam numa posição
privilegiada, sob o beneplácito real. Aqui jaz a base para a confissão esboçada
em Êx 23.9, e que demonstra o quanto esta situação dos patriarcas alimentou a fé
analisaremos a seguir.
povo de Deus. Portanto, não devem se considerar como cauda, e sim como
Seria comparável a ferir um direito internacional hoje (EBTF). Isso parece ser
egípcios aos hebreus peregrinos com o ultrajante trato dos habitantes de Sodoma
os nossos pais; nossos dias na terra passam como a sombra e não há esperança.
(BJ).
Salmo 39.12: Ouve, SENHOR, a minha oração, escuta-me quando grito por
socorro; não te emudeças à vista de minhas lágrimas, porque sou forasteiro à tua
peregrinação.
quando Deus o liberta com mão forte – daí o seu nome tal qual é conhecido,
23.33).
No livro de Êxodo ainda temos a conexão entre o período patriarcal e o
mosaico. Em duas ocasiões o texto declara que Moisés dá o nome de um de seus
ָשׁם (sham), “lá”, fazendo com o que nome signifique “lá (fui) peregrino”
popular, onde este nome na verdade encontra sua explicação no verbo ָגּ ַרשׁ
(garash), “expulsar”, declarando então que foi expulso da terra do Egito
7.7 (BJ) lembra que a terra prometida sob juramento aos patriarcas foi a terra de
Aliança, ou mais especificamente o Livro da Aliança (ֵסֶפר ַהְבּ ִרית, sefer ha-
brit), supondo que Êx 24.7 seja uma referência aos termos incluídos nesta
perícope. Alguns estudiosos concedem este título unicamente aos Dez
Mandamentos conforme Êx 20.1- 17 (COLE: 1980).
autoria mosaica como um todo ao mesmo. O trecho que vai desde o capitulo 19
eloísta, de tal forma que seria impossível separá-las aqui (GOTTWALD: 1988).
do povo de Israel, surgindo por volta do século XII a.C. no tempo dos juízes
(WANDERMUREM: 1999).
povo de Deus. Temos assim diversas mishpatim: o costume das filhas (conforme
estabelece punição, como o trecho de 22.28 – 30; mas muitas vezes prevê uma
Êxodo 23.9: Também não oprimirás o forasteiro; pois vós conheceis o coração
do forasteiro, visto que fostes forasteiros na terra do Egito.
Êxodo 23.12: Seis dias farás a tua obra, mas, ao sétimo dia, descansarás; para
que descanse o teu boi e o teu jumento; e para que tome alento o filho da tua
serva e o forasteiro
princípio ético para o tratamento dos estrangeiros (CASSUTO; 1967). Nos dois
predileto para descrever a opressão sofrida por Israel, como em Êxodo 3.9: “Pois
o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que
reportam amargas experiências da época dos juízes (Jz 2.18; 4.3; 6.9; 10.12; 1
“tratar alguém com hostilidade” (DITAT). O verbo possui um forte apelo social,
como podemos perceber em muitas passagens:
vestes;
Com relação ao ger, há um apelo para que o este não sofra a opressão
vocábulo ger ocorre apenas quatro vezes e a raiz verbal oito vezes, estaria a
prova de que este código não poderia vir a lume antes do advento da monarquia;
Código da Aliança não teria sido escrito antes da destruição de Samaria em 722
a.C. (ibid.). Muitos preferem entender aqui tratar-se de uma interpolação
deuteronômica, para evitar este problema de datação (COLE: 1980). De qualquer
Isto não deveria afetar a visão que os filhos de Israel deveriam ter acerca
numa terra estrangeira. O que, sob esta condição, pode sofrer. Em 23.9, o texto
nação santa, aos que como eles foram anteriormente são estrangeiros residindo
numa terra estranha. Os israelitas eram uma raça escolhida, mas isso não lhes
dava direito exclusivo da proteção de Deus (NCB). Este versículo, portanto,
norteará tudo o que o restante do Antigo Testamento tem a dizer acerca do ger.
Funcionará como que uma bússola para este tema, permeando todos os aspectos
teológicos subjacentes – inclusive influenciando o grande princípio teológico de
que Israel foi escravo no Egito, conforme teremos oportunidade de verificar mais
adiante. A importância desta abordagem do Código da Aliança cristalizar-se-á no
grande evento da Páscoa.
4.2. O ger e a legislação pascal
momento propício no qual Deus os toma como povo seu (Êx 6.6,7). Por este
motivo, os judeus consideram esta data tão ou mais importante do que o dia da
Sua origem está ligada a uma festa agrícola, a Festa dos Pães Ázimos (ou
Asmos), uma antiga festa cananeia (COLE: 1980), e unida à Páscoa por ocasião
1982).
51). Como a saída do povo de Israel do Egito ocorreu durante esta que
provavelmente era uma antiga festa nômade, passou a celebrar a libertação do
tais como ְבּ ָיד ֲח ָז ָקה (beyad chazaqah), “por mão forte” (3.19; 6.1; 13.9;
32.11), e ( ִבּ ְזרוַֹע ְנטוּ ָיהbizroa netuyah) “com braço estendido” (6.6). Outros
versículos darão preferência a união das duas expressões: Dt 4.34; 5.15; 26.8; Sl
136.12; Ez 20.33,34. Deus faz Israel sair de debaixo das cargas do Egito, ִסְבָלה
(sibhlah), uma palavra que sempre aparece no plural como que para realçar o
peso destas cargas (1.11; 2.11; 5.4,5; 6.6,7). A escravidão provoca dores,
sofrimento, ( ַמְכאוֹבmakhobh), que são conhecidas por Deus (3.7), e que tanto
são físicas quanto mentais (BDB), lembrando que a escravidão provoca sequelas
expressão genérica para povo (Gn 12.2; 18.8; 46.3; Êx 19.6); após este evento, o
termo será utilizado preferencialmente às nações estrangeiras, sendo reservado o
termo ַעם (am) para Israel como o “povo do Senhor” (DITAT; confira Nm
12.13,23,27 ganha o sentido do Senhor passar de largo, desviar-se das casas nas
quais havia a marca do sangue do cordeiro, “saltar” (Gill). Por isso o profeta
Elias utiliza o mesmo verbo para perguntar aos israelitas indecisos: “até quando
vida”[21] é uma leitura cristã influenciada pela tradução efetuada por Jerônimo
de Êx 12.11b: “esta é a páscoa, isto é, a passagem do Senhor”[22].
permissão para uma ampla participação no ritual da Páscoa. Sendo uma festa
tal maneira ao natural que fica sujeito como este à pena de morte caso alimente-
se de pão fermentado.
Êxodo 12.19: Por sete dias, não se ache nenhum fermento nas vossas casas;
maiores laços com o javismo, está proibido de participar (12.43: Gill). A Páscoa
propósito de Deus com Abraão, quando lhe disse que nele todos os clãs da terra
seriam abençoados (12.3, BJ). O povo de Israel não foi chamado para de maneira
egoísta reter par si as bênçãos divinas. Se a eleição é legitima, o sentimento de
eleição, que fecha os olhos a esta realidade, não (VRIEZEN, apud SMITH,
2001). Isto ficará ainda mais evidente com a inclusão do ger no Decálogo.
4.3. O ger e o Decálogo
Almeida Corrigida, que assim compreenderam a expressão ֲעֶשׂ ֶרת ַה ְדָּב ִרים
(aseret hadbharim) em Êx 34.28; Dt 4.13; 10.4, que significa simplesmente as
decálogo.
Deus, após os seis dias da criação, também descansa (Gn 2.2,3). Entretanto,
Deus nunca cessa de trabalhar (Is 40.28; Jo 5.17). Em seis dias devemos realizar
dias para realizar todo o nosso “business”, “negócios” (BDB). Mas ao sétimo
dia, devemos cessar nossas atividades mais costumeiras – da mesma forma que
Deus também cessou sua obra. Por isso pede-se para “lembrar” o dia de sábado –
e por isso estaremos celebrando o Deus Criador. Por este motivo, é dito que este
pela elite sacerdotal, aqui a proposta é de um grande culto festivo. Todos estão
Êxodo 20.10: Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás
nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem
a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro.
“dentro das tuas portas”, o ger também deve participar do shabat. Se isto parece
ser uma imposição severa, na verdade é mais uma prova do amor que Deus
deseja mostrar pelos gerim. A guarda do sábado é uma aliança perpétua (Êx
31.16), da mesma forma que a circuncisão é descrita (Gn 17.13): ְבּ ִרית עוָֹלם
(brit olam). Sendo um sinal entre Deus e os filhos de Israel, o sábado torna-se
mais uma vez o ger está sendo mergulhado dentro do povo da aliança. O
efeito pelos assírios em 721 a.C. Segundo Von Rad, os autores de Deuteronômio
(ibid.). Este grupo evasivo, denominado de ַעם־ָהאָ ֶרץ (am ha-aretz), atua
social (GOTTWALD: 1988). Se este povo da terra puder ser identificado com os
camponeses judaítas, indubitavelmente temos aqui uma verdadeira revolução nas
estruturas políticas do Reino do Sul (SCHWANTES: 1987).
Mas propor uma autoria sacerdotal ao Deuteronômio, com sua insistência
cortando o galho sobre o qual está sentado” (WEINFELD: 1972, p. 55). Adam
Welch propõe uma origem no norte de Israel, embora seja de opinião de que a
composição do livro seja antes do século VII a.C., e Nicholson lança a proposta
do corpo profético do reino do norte, fugindo para Judá após a queda de Samaria
se localizava Siquém (Jz 9.7), este corpo profético tem sido identificado como
proveniente mais especificamente desta cidade, que também era um santuário.
entre estes quatro livros e Deuteronômio, fator que foi determinante para esta
um quarto das menções de todo o Antigo Testamento! Isto faz do tema do ger
somente – quatro vezes! Não por acaso alguns comentaristas usam este fato para
Ao todo, temos apenas quatro menções do substantivo ֵגּר, ger (sendo três em
Josué e um em 2 Samuel) e 12 ocorrências em 11 versículos da forma verbal גור
em Juízes).
contexto em Gênesis – onde o ger aparece como a confissão dos patriarcas como
ser dado ao migrante, dentro do espírito do contexto pascal, mas ainda não
apresenta uma integração social do ger em Israel, como fará o livro de
Deuteronômio.
As primeiras aparições do ger na História Deuteronomista ocorrem no
livro de Josué:
Josué 8.33,35: “Todo o Israel, com os seus anciãos, e os seus príncipes, e os
seus juízes estavam de um e de outro lado da arca, perante os levitas sacerdotes
o povo de Israel (...) Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara,
que Josué não lesse para toda a congregação de Israel, e para as mulheres, e os
para Josué e suas tropas. Quem é o ger aqui mencionado? Possivelmente, sua
comparação com o natural parece supor uma teologia sacerdotal acerca do ger,
como veremos no próximo capítulo. Pela quebra evidente do fluxo da narrativa,
tarde condenado com o cisma político religioso (BJ). Não necessitamos negar a
veracidade histórica desta passagem: se aqui a Páscoa não é mencionada,
podemos dizer que a especificação desta com relação ao estrangeiro está sendo
cumprida.
Ainda temos mais uma menção do ger no livro de Josué, inserido no
direito de usufruir das cidades de refúgio estabelecidas no território de Israel:
Josué 20.9: São estas as cidades que foram designadas para todos os filhos de
Israel e para o estrangeiro que habitava entre eles; para que se refugiasse nelas
todo aquele que, por engano, matasse alguma pessoa, para que não morresse às
13. Seguindo a ordem do cânon, seis cidades são designadas em Números sem
após a conquista sejam separadas mais três cidades. Deste modo, temos em
Josué a lista completa das seis cidades, por nome (BJ). Certamente, o texto é
sacerdotal, sendo retocado pelo deuteronomista em sua obra. O ger aqui
mencionado também deve ser entendido como o migrante, que será protegido de
uma aplicação abusiva pessoal e particular da lex talionis.
descrição da atuação dos estrangeiros. Estes estão sempre a serviço dos reis,
Sm 21.8), cuja origem não pode ser precisada; a lista dos valentes de Davi (2 Sm
vendeu seu campo para Davi e foi aproveitado como espaço para a construção
do templo (2 Cr 3.1).
relato histórico deuteronomista. Embora não sejam descritos como gerim, são
israelita. Apenas cargos de extrema confiança não são entregues nas mãos dos
em uma das montanhas de Judá (BDB), enquanto Arqui estaria situada nas
fronteiras de Efraim (Gill). Estas aparições dos estrangeiros em momentos-chave
da história de Israel, ainda que não definidos como gerim, não podem passar
desapercebidas à pena deuteronomista. Aqui, ele encontrará um importante
apoio histórico, que corroborará ainda mais o que foi exposto com relação aos
nos apêndices do livro de Juízes (17 – 21), este verbo aparece sempre ligado aos
levitas, no seu ato de peregrinação (Jz 17.7 – 9; 19.1 – 16). Talvez isto sirva para
mostrar a situação incomum de um levita fora das cidades que lhe foram
designadas
5.2. O ger e o Código Deuteronômico (Dt 12 – 26): a tríade ger-órfão-viúva
passa a incluir o perdão das dívidas, para evitar o empobrecimento – algo que
turbulências do século VIII a.C., ao mesmo tempo em que representa uma “era
(REIMER: 1999).
que não conta com o beneplácito da lei. Não poderá haverá acepção de pessoas
palavras estabelecidas para o pobre: ָע ָנו (anaw), cujo significado básico é
Pois bem, com a queda de Samaria nas mãos dos assírios em 722 a.C.,
para o genuíno filho de Israel – a não ser que ele voluntariamente se subjugue a
isso (WEINFELD: 1972).
Este código deixa bem claro a diferença entre o ger e o ָנְכ ִרי (nokhri),
estranho. Uma boa demonstração é a estipulação acerca da carcaça do animal
morto, ְנֵבָלה (nebhelah), o “que morreu por si” (14.21): ao ger, não poderá
vender, mas sim dar como prova de generosidade. Sendo um estranho, este
somente adquirirá mediante compra. Neste ponto, difere bem do estipulado no
parece que fica aberta a possibilidade de um ger, não um nokhri, poder assentar
no trono de Judá. Mas sabemos que na história de Judá sempre foi a dinastia de
Davi que governou (a não ser pelo curto período da usurpação de Atalia, 2 Rs
11.1ss), e o deuteronomista mostra a legitimação divina para isso em 2 Sm 7. A
levita por todo o bem que o Senhor tem concedido. O contexto no capítulo 26 é
o da festa das Primícias, Pentecostes. Embora alguns comentaristas judeus
cúltico totalmente integrado: o natural, o levita, o ger, todos juntos numa grande
das viúvas.
Isaías 9.17a[16a]: Pelo que o Senhor não se regozija com os jovens dele e não
das referências ao ger, e das onze referencias à tríade nove delas estão no código
a distribuição de alimentos, par evitar a fome aos personae miserae: estes devem
se alimentar, fartando-se (14.29); no trecho de 24.19 – 21, temos a “lei da
colheita não poderiam ser requeridos, mas deixados para os pobres. Não são
apenas os pobres naturais da terra que podem usufruir disso: os gerim possuem o
pleno direito destes rabiscos. Ainda que seja proveniente de um povo cujo
que usufruiu plenamente desta lei da respigadura (Rt 2.1 – 8). Os gerim ainda
expressamente diante do sacerdote que haviam tirado de suas posses para dar ao
ger (26.13)! Ou seja, fazia parte da confissão de fé israelita tal qual interpretado
pelo deuteronomista expressar que tinha colaborado para que não existissem
incluídos.
verbo utilizado neste versículo para “perverter” é ָנָטה (natah) na forma hifil,
causativa, cujo sentido no grau simples paal é “estender”, por exemplo uma
garantida à tríade.
5.3. O ger e os acréscimos em Deuteronômio (1 – 11 e 27 – 34)
Com relação ao ger, estes acréscimos, aqui especificados pelos capítulos iniciais
(1 – 11) e finais (27 – 34), não apenas ratificam aquilo que já havia sido
horizontes já delineados.
Em 1.16, temos a reafirmação para não excluir o ger do exercício da
Deuteronômico, em 24.17. Para que isto possa estar bem fixo na mente dos
israelitas, a lista das maldições inclui agora justamente o perverter este direito,
que não é somente do ger, mas da tríade (27.19), exatamente como já havia sido
(THOMPSON: 1982). No trecho de 7.6 – 11, fica claro a ligação entre a eleição,
particular, ְס ֻגָלּה, segulah (7.6; 14.2; 26.18), mas também a posse da terra. Uma
possuir” (1.8,21; 2.12; 3.18,20; 4.1; 9.6,23; 10.11; 11.29,31; 12.1; 15.4; 16.20;
17.14; 19.2,14; 25.19; 26.1). Isto fica bem patente com o uso que Deuteronômio
faz do verbo traduzido por “possuir, apossar”, ָי ַרשׁ (yarash). Das 233
dádiva divina, um tesouro concedido por Deus a Israel (4.21; 19.10; 24.4). mas a
se então a Grande Saga que comprova este binômio. Por isso, esta história
termina de maneira melancólica com o cativeiro. Uma vez que todos devem se
empenhar na manutenção da posse da terra, nada mais justo que aqueles que
estão usufruindo desta mesma terra também participem desta aliança. Por isso, o
ger também deve estar presente na leitura pública da lei, que deve ser efetuada a
cada sete anos, onde todas estas estipulações são expostas (31.10 – 12).
para ser benevolente com o ger, mas ir além disso: o israelita é conclamado a
amar o ger.
Deuteronômio 10.18,19: que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro,
dando-lhe pão e vestes. Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na
terra do Egito.
usado o verbo ( אַָהבahabh) tanto para falar do amor que Deus tem por Israel
(4.37; 7.8,13; 10.15; 23.6) quanto do amor que os israelitas devem devotar ao
Senhor (6.5; 7.9; 10.12; 11.1,13; 13.3). A Rainha de Sabá declarou que o Senhor
10.18,19 quebra esta regra, mostrando que o Senhor ama o ger, e que por este
Ali, Israel também foi um ger, e sabe o que sofreu por ser estrangeiro.
em Lv 19.18.
Mas Israel tem um motivo adicional bem forte par cultivar este amor,
numa terra estrangeira. Portanto, a atitude para com os gentios será bem mais
aos povos gentílicos. Não é a toa que os primeiros esforços missionários são
provenientes deste contexto. E isto se reflete bem no ambiente cultual, tal como
perícope de Dt 10.14 – 18: os céus e a terra pertencem a Deus, e tudo que está
neles; o Senhor é o que executa a justiça; e o Senhor ama a tríade ger-órfão-
O próximo grande passo será dado pela literatura sacerdotal. Mas antes,
Jeremias.
Deuteronômio:
vosso coração
(AUNEAU: 1992). Mas, uma vez que está ligado aos sacerdotes de Anatote,
para onde foi exilado por Salomão o rival de Zadoque, Abiatar (1 Rs 2.26 – 27),
posse da terra está diretamente ligada à quebra desta aliança (22.9); o tema da
Nova Aliança (31.31 – 33); como em Deuteronômio, o tema da terra como
herança concedida pelo Senhor (2.7; 3.19; 12.7 – 15; 16.18; 17.4; 50.11), assim
derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses
passar a noite?
teria de passar por uma reforma total, de tal forma que as injustiças sociais
Israel”, שׂ ָרֵאל
ְ ( ִמ ְק ֵוה יִMiqweh Yisrael), é como um ger, ou ainda um viajante,
no sentido de não se interessar pelos habitantes da região. Mas Deus insiste em
seus direitos à aliança (ibid.), e esta passagem faz lembrar o quanto Deus se
sacerdotes.
6. O GER E OS ESCRITOS SACERDOTAIS
obras que narram não somente as origens patriarcais, como também a grande
derrota o rei Astíages. Em seguida, em 539 a.C., sua ambição volta-se aos
termo ao cativeiro dos judaítas, cativeiro este que era encarado como uma
catástrofe por estes. Agora, todos os remanescentes do antigo reino de Judá
perceberam que pela sua desobediência haviam perdido o direito à terra. Mesmo
que muitos tenham retornado à terra que mana leite e mel, eles não estão mais
nesta terra gozando de soberania. Ainda encontram-se subjugados – agora, aos
persas. Encontram-se agora na condição de colonos na terra – terra esta que foi
dada por Deus a Israel. Para não sofrer uma crise de identidade, Israel precisa se
reunir tenazmente em torno de seu culto e de seus sacerdotes. Lograrão êxito
mostra o total apoio que ele recebe dos mesmos. A sua descrição como escriba,
סֵפר
ֺ (sofer), em Ed 7.6, indica que ele era um secretário no governo persa, e
estes secretários estavam incumbidos de redigir decretos oficiais (BDB). A
intenção, em Jerusalém, é fortalecer a facção leal ao império (In Der Smitten,
ímpar de aplicar a Torah ao povo, Esdras agradece a Deus por ter de tal maneira
inclinado o coração do rei para esta tão importante obra (Ed 7.27).
Por este motivo, Esdras pode realmente ser, tal como colocado pela
religiosa, conforme seria organizada por Esdras, foi decretada como o direito
mínimo custo para si próprios” (ibid., p. 409). Isto explica um dos baluartes da
“doutrina sacerdotal”: um mundo estável num cosmos estável (ibid.), onde tudo
uma separação rígida entre essas esferas, indicada pelo uso do verbo ָבּ ַדל
(badal) no hifil, o grau causativo (DITAT). Tudo deve ser descrito de tal modo a
representa quebrar uma tal ordem. Já no primeiro relato da criação (Gn 1.1 –
2.4a) isto é comprovado: o cosmos é criado em seis dias, cada dia com a sua
Qualquer perturbação é tão terrível, que deve ser punida com a morte imediata –
povo”, expressada pelo hebraico ִנְכ ַרת ֵמַעם (nikhrat meam), conforme Êx
O ger é inserido dentro das leis sacerdotais não como uma “concessão”,
mas antes como uma forma de manter a santidade do povo do Senhor. Não há
– 26), nos enxertos sacerdotais desde Gênesis até Números (a fonte P, do alemão
Priester, “sacerdote”) e no livro do profeta Ezequiel. Mas antes, vamos
Esdras e Neemias, alguns mantendo a opinião de que não se deve atribuir estas
obras ao mesmo autor, e outros defendendo uma “Escola Cronista” que
uniformiza estes escritos. Seja como for, é fortemente marcada pela visão
sacerdotal pós-exílica (HOFF: 1996). Em Crônicas vemos uma obra que procura
a qual não faz parte da obra deuteronomista (GOTTWALD: 1988). Portanto, nos
livros das Crônicas, existem muitos paralelos com Samuel e Reis, além de
É notório que Crônicas procura omitir qualquer fato que possa de alguma
ênfase o templo e a linhagem davídica, omite fatos que lhe são considerados
irrelevantes, como o reinado de Saul e a história dos reis do norte (NCB). Desta
forma, não temos aqui paralelo com as únicas menções ao ger na obra
Deuteronomista, a saber, Js 8.33,35; 20.9; 2 Sm 1.13. Em contrapartida, em
trechos paralelos de Reis que não mencionam o ger, vemos o seu aparecimento
na obra cronista.
O extenso material contido em 1 Cr 21 – 29 é exclusividade do cronista,
reinado de Davi.
1 Crônicas 22.2: Deu ordem Davi para que fossem ajuntados os estrangeiros
Gill concorda aqui que estes são prosélitos, portanto totalmente imersos no
antigos habitantes de Canaã que não foram incorporados por elos matrimoniais
ou não foram reduzidos à escravidão (EPSZTEIN:1990). Seja como for, o
atestar a presença maciça dos estrangeiros até mesmo no seu exército (confira no
capítulo anterior, tópico 5.1). Não fica claro aqui qual o propósito de tal
convocação dos gerim. Dentro do esquema apresentado na totalidade de 1 Cr 22,
que havia na terra de Israel, segundo o censo que fizera Davi, seu pai; e
templo entre estes gerim: setenta para levarem as cargas, oitenta mil para
Salomão apenas aproveitou o censo anteriormente organizado pelo seu pai. Tudo
depende do modo como interpretamos o verbo raro – aparece apenas onze vezes
no texto massorético – que aqui é traduzido por “ajuntar”, ׇכּ ַנס (kanas).
Provavelmente é um aramaísmo, uma vez que não o encontramos na Torah e nos
Profetas Anteriores – isto parece ser reforçado pela presença apenas em escritos
pós-exílicos, como Crônicas, Neemias e Ester, nas obras poéticas dos Salmos e
importante indício da origem aramaica desta raiz é a sua presença nesta língua
como na coleta de dízimos (Ne 12.44), o ato de ajuntar as águas do mar (Sl
33.7), o ato de ajuntar riquezas (Ec 2.8,26) e pedras (Ec 3.5) e o ato de cobrir-se
reinos de Judá e Israel. Encontramos esta ideia no profeta mais identificado com
José, que esteve na mão de Efraim, e das tribos de Israel, suas companheiras, e o
29.24; 30.5; 35.3; Ed 2.70; 6.17; 8.35; 10.5; Ne 7.73; 12.47; 13.26). Israel então
torna-se uma designação para o povo fiel, com o qual Deus fizera Aliança
outrora, com o qual renovou esta Aliança na pessoa de Davi (BJ). Em 2 Cr
que são designados como uma congregação, ׇקַהל (qahal) tanto quanto os
judaítas também o são; mas são designados como gerim para lembrar que o
sim religiosa.
Na obra de Esdras e Neemias, não há uma única menção ao ger. Isto não
quer dizer que estrangeiros não sejam mencionados. Não são identificados como
gerim, mas são colocados como inimigos declarados dos repatriados. São
pela sua ação incisiva contra os judaítas: Sambalate o horonita, Tobias o amonita
(Ne 2.10), Gesém o arábio (Ne 2.19) e os asdoditas (Ne 4.7). Israel ficou cercada
de inimigos: Samaria pelo norte, os amonitas pelo leste, os arábios pelo sul e os
asdoditas pelo oeste (KIDNER: 1985). Samabalate era uma pessoa influente,
inclusive estabelecendo conexões com a família do sumo-sacerdote (confira Ne
13.28). Mais tarde, tornou-se governador de Samaria. Parece desejar que Judá
também fosse colocada sob sua jurisdição (NCB). A origem de Tobias é
controversa: tendo um nome judaíta, a referência dele como “amonita” pode
indicar não usa descendência, mas sua esfera escolhida (KIDNER; 1985); outros
pensam nele como um escravo que conseguiu chegar à posição de governador
na condição de vassalo do rei persa (Gill). Seja como for, este então é
1.4, estipulando que os habitantes do lugar deverão ajudar com ouro, prata,
fazenda e gado os peregrinos repatriados. Aqui, claramente, o autor remete ao
“Novo Êxodo” pregado por Isaías (43.14ss; 48.20,21, etc.). O retorno dos
17 – 26.
6.2. O ger no Código da Santidade (Lv 17 – 26)
santidade, na expressão “sede santos, pois eu o Senhor sou santo” (19.2; 20.7,26;
âmbito do sagrado por meio de rito divino ou de ato público de culto (DITAT).
(GOTTWALD: 1988).
Desta forma, no Código da Santidade o ger é equiparado ao natural da
terra não como um privilégio social, mas sim como uma imposição ritualística
questão se o ger já alcançou tal status aqui (Joosten, apud RAMÍREZ; 1999, p.
Uma vez que nenhum destes termos serve para descrever um estrangeiro
residente (veja análise detalhada destes termos no primeiro capítulo, tópico 1.4),
podemos perceber a falta de interesse com estas classes de estrangeiros, e como
Mais do que isso, não lhes é permitido. Já o ֵנָכר, mencionado apenas em 22.25,
sequer pode fornecer animais para sacrifício, para que não haja o risco de os
Já com relação ao ger, além de impor uma série de regras para o bem da
ultrapassa este âmbito puramente social e insere no contexto cultual da Festa das
Semanas, sendo então uma reelaboração da lei antiga exposta em 19.10 (Elliger,
apud RAMÍREZ: 1999, p. 49), que por sua vez reflete um antigo costume de
manter a fertilidade deixando as sobras como ofertas às divindades do campo
como a si mesmo em 19.18 (ibid.). Como demonstração deste amor lembra que
secundária faz até mesmo Gallazzi (1999) sugerir que aqui os gerim não sejam
que não foram ao exílio. De qualquer forma, aqui é lembrado que o ger possui
direitos, e que ninguém, seja natural ou estrangeiro, deve ter sua miséria como
morando em Canaã como inquilinos (Gill); em 25.35, a pobreza não deve ser
desculpa para o rompimento dos relacionamentos de irmandade que devem
existir em Israel, mas o que empobrecer deve merecer tanta hospitalidade quanto
de morte. O princípio está exposto em 24.22: “uma e a mesma lei havereis, tanto
para o estrangeiro como para o natural; pois eu sou o SENHOR, vosso Deus”.
Lei aqui não é תּוׇֹרה, torah, e sim ִמְשׇׁפּט, mishpat, que enfatiza o campo da
administração civil (DITAT). Isto demonstra que o ger está indubitavelmente
congregação, mas não está obrigado a aderir à religião judaica, e portanto, não
requer que ele observe os regulamentos e cerimônias que são parte da especial
Tabernáculos). Bertholet (ibid.) sustenta que não há lógica para essa omissão.
Mas temos aqui a lógica da não inclusão do ger nas prescrições especificas para
Israel, como verificamos no versículo seguinte, 23.43: “para que saibam as
vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei
defeito, caso contrário não será aceito pelo Senhor (HARRISON: 1983). De
igual modo, e sujeito à mesma severidade, o ger fica proibido de ingerir sangue
(17.10 – 14). Embora muito se fale sobre uma possível medida profilática aqui
(ibid.), o motivo por trás deste resguardo em relação ao sangue está no seu valor
ritual, que por sua vez denota a sacralidade da vida (STORNIOLO: 1995). Caso
ingira carne não abatida, ou pelo menos de procedência duvidosa (17.15,16), fica
israelitas são instados a não imitar os povos pagãos com relação à pratica sexual
“povo da terra” (confira o início do capitulo 5). Isto visa coibir a propagação de
culto tão ignominioso, no qual os estrangeiros eram colaboradores em potencial
(ibid.). Na passagem paralela de Dt 18.10, de uma maneira muito genérica se
Desta forma, se mostra o caráter único do Deus verdadeiro. Por isso, toda a
congregação deve participar da execução do malfeitor. Esta legislação é bem
tornando-a não muita clara com relação a quem está endereçada e qual punição
impõe regras das quais antes estava eximido. Nem mesmo podemos afirmar que
esteja obtendo aqui o privilégio de ser um prosélito, conforme parece estar
Mas nesta fonte podemos perceber reais privilégios concedidos ao ger, e não
livro de Êxodo (vide capítulo quatro, tópico 4.2, onde encontra-se a matéria
ger também são consideradas sacerdotais (vide capítulo cinco, tópico 5.1). Todas
estas constituem pequenas contribuições na parte narrativa do Pentateuco. Resta-
Levítico 16.29: Isso vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez dias
do mês, afligireis a vossa alma e nenhuma obra fareis, nem o natural nem o
estrangeiro que peregrina entre vós
Este estatuto perpétuo, לם
( ֻח ַקת עוֹ ׇchuqat olam), estabelece o Yom
Kippur como uma das principais festas de Israel até hoje (HARRISON: 1983).
Aqui temos a referência ao “ger que peregrina entre vós”, ַה ֵגּר ַהׇגּר ְבּתוְֹכֶכם
e
(hager hagar b tokhkhem), uma expressão bem típica da fonte sacerdotal, junto
com a similar “o ger que peregrina convosco”, ִאְתֶּכם ( ַה ֵגּר ַהׇגּרhager hagar
Santidade, em 23.26 – 32, está direcionada aos filhos de Israel (confira 23.24), e
não menciona o ger. Isto confirmaria a posição de que a ordem para “afligir a
alma” é direcionada unicamente aos israelitas – ele já inicia no versículo 27
cinco, tópico 5.1). Em outra passagem, 19.10, o ger está inserido no ritual da
purificação pelas cinzas de uma novilha vermelha, a qual era ordenada para todo
aquele que havia tocado um morto. A fim de não comprometer a pureza ritual de
toda a congregação, o ger que houvesse tocado um morto precisava passar por
das narrativas neste livro. Chega a ser problemática a colocação deste capítulo,
que trata de assuntos diversos, após a narrativa da apostasia em Cades (capítulos
13 e 14), quando o povo foi condenado a vagar durante quarenta anos pelo
deserto. Conforme observa Wenham (1985), parece que estaria mais bem
localizada após Levítico 7, ou ainda Números 29. Mas também observa que esta
o ger trazer uma oferta queimada de aroma agradável ao Senhor, ֹ ֵריַח־ ִני
חַח
( ִאֵשּׁהisheh reyach nichoach). Esta inclui especificamente o holocausto e o
oferta pacífica (15.3). Ela é complementada pela legislação que provê expiação
das faltas cometidas inadvertidamente (15.22 – 31), e que parece excluir toda
paralela de Lv 4 é que neste último a ênfase está no ritual da oferta pelo pecado,
pode comprometer todo o povo (15.26). Uma vez que toda a coletividade está
comprometida pelo erro de qualquer um que more no meio do povo, seja natural
ou ger, esta lei deve ser aplicada a ambos (15.29). Em contrapartida, o versículo
seguinte (15.30) estabelece que tanto um quanto o outro será eliminado, ou seja,
sofrerá a pena de morte, caso cometa deliberadamente um pecado, ou seja, se
“fizer alguma coisa à mão levantada” (ARC), conforme uma tradução literal do
seu mandamento; será eliminada essa pessoa, e a sua iniquidade será sobre ela”.
Ezequiel.
6.4. A herança sacerdotal do ger em Ezequiel
produto da pena de um único autor – como poderia um profeta, com visão moral
e social, ser também sacerdote com escrúpulos rituais e planos para um templo
saberão que houve no meio deles um profeta” (33.33). E, por isso, ecoa em seu
mana leite e mel” (20.6,15); o tema da posse da terra (11.15; 33.24 – 26); o uso
37.26; confira nota de rodapé 35); acusação contra os falsos profetas (13;
livro).
Mas ele também é apresentado como sacerdote (1.3). Podemos ver
claramente isto no seu horror à impureza (4.9 – 17), à idolatria (8.3 – 18), de tal
modo que sua linguagem reflete bem o meio sacerdotal (ASURMENDI: 1992).
Portanto, tem uma influência muito grande da fonte P, que pode ser averiguada
no uso de expressões tipicamente sacerdotais: “levarão sobre si a sua iniquidade”
(14.10); “ele morrerá por causa de sua iniquidade” (18.18); “estabelecer uma
que trata acerca dos crimes de Jerusalém (BJ). Podemos aqui identificar três
o ger com o natural, este é incitado a não se alienar do Senhor devido à idolatria,
uma vez que isto constituiria um tropeço de iniquidade. Se vier consultar um
profeta, estando o coração de tal modo entregue à idolatria, ouvirão não palavras
mais abrangente do que a menção dos anciãos de Israel em 14.1 pode sugerir
(ibid.).
que moram em Israel que se alienar de mim, e levantar os seus ídolos dentro do
seu coração, e tiver tal tropeço para a iniquidade, e vier ao profeta, para me
consultar por meio dele, a esse, eu, o SENHOR, responderei por mim mesmo.
herança, no meio das tribos de Israel. E será que, na tribo em que morar o
estrangeiro, ali lhe dareis a sua herança, diz o SENHOR Deus.
a terra como o presente de Deus concedido aos israelitas. Podemos dizer que
nesta passagem Ezequiel uniu com grande maestria não só os dois estilos
concedeu ao ger.
7. ESBOÇANDO UMA TEOLOGIA DO GER
já demonstra isto ao usar um neologismo para traduzir o termo hebraico הִעְב ִרי
ׇ
(ha-ivri), “o hebreu” em Gn 14.13: περάτης (perates), “migrante”. Exclusivo
dessa passagem na Septuaginta, de tal maneira será espiritualizado por Filo que
concebe sua conversão como o primeiro estágio da sua vida espiritual, e mesma
escravo, faz surgir enfim a pergunta: Israel foi ger ou escravo no Egito? Apesar
da quantidade de versículos que identificam Israel com ger no Egito – ao invés
de escravo – ser bem pequena, poderemos comprovar que aqui começa uma
fato inegável que Israel esteve na posição de escravo no Egito (HOFF: 1983). O
o uso da raiz עבד. Esta raiz significa em sua essência trabalhar, servir (DITAT).
Este sentido tanto pode ser positivo quanto negativo, levando em conta os
Êxodo 1.13: então, os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel
Êxodo 6.5: Ainda ouvi os gemidos dos filhos de Israel, os quais os egípcios
como a “casa da servidão”, ( ֵבּית ֲעׇב ִדיםbeyt avadim). Está contido naquele
que é reputado pelos judeus como o primeiro mandamento, Êx 20.2: “Eu sou o
SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (COLE:
1980). E podemos comprovar essa expressão em mais doze passagens: Êx
13:3,14; Dt 5:6; 6:12; 7:8; 8:14; 13:6,11; Js 24:17; Jz 6:8; Jr 34:13; Mq 6:4. A
origem desta expressão parece estar relacionada a fonte eloísta, mas podemos
pouca gente; e ali veio a ser nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios
nos maltrataram, e afligiram, e nos impuseram dura servidão. Clamamos ao
SENHOR, Deus de nossos pais; e o SENHOR ouviu a nossa voz e atentou para a
nossa angústia, para o nosso trabalho e para a nossa opressão; e o SENHOR
nos tirou do Egito com poderosa mão, e com braço estendido, e com grande
espanto, e com sinais, e com milagres; e nos trouxe a este lugar e nos deu esta
terra, terra que mana leite e mel.”
mudar o motivo para a guarda do sábado: não será mais a celebração da criação
em seis dias e descanso no sétimo, mas sim a escravidão no Egito (5.15). Este
16.12; 24.18,22).
aos deuses estranhos (4.19,28; 5.9; 7.4,16; 8.19; 11.16; 12.2), como uma
único Senhor que eles devem ter em suas vidas é Yahweh, do qual devem se
(ibid.).
Israel não pode ser reputado como um escravo comum. Uma vez que a palavra
quatro palavras gregas para escravo para definir a posição ímpar de Israel como
enquanto em Lv 26.13 afirma que Israel não poderia ser δοῦλος (doulos) dos
egípcios – palavra esta que mais acuradamente deve ser traduzida por escravo
Egito em Deuteronômio parece ser um indício de que esta teologia lhe é peculiar
(WEINFELD: 1972). Em contrapartida, este mesmo tema parece ser por demais
vexatório para a história de Israel. E aí, nos deparamos com a pequena tradição
de Israel não como ( ֶעֶבדebhed), mas como ger no Egito. Não obstante, esta
tradição não precisa necessariamente ser considerada como posterior; pelo
considerado o propulsor dessa teologia. E, uma vez que a separação das fontes
eloísta e javista no trecho de Êx 19 – 24 torna-se praticamente impossível
(GOTTWALD: 1988), podemos dizer que a origem desta teologia está ligada a
uma destas fontes. Compreendemos então: uma vez que estas fontes estão
diretamente relacionadas às origens de Israel, em especial às tradições dos “pais
capítulo três.
Esta origem eloísta/javista da tradição de Israel como ger no Egito não
impediu sua presença nas demais fontes: como já havíamos analisado, temos este
país como a “casa da servidão” (vide supra). Sem dúvida a razão por trás deste
com o Egito ao tempo da sua promulgação, embora não haja consenso acerca da
data exata (ibid.). É uma atitude bem mais complacente do que deveria se ter
com os amonitas e moabitas (Dt 23.3 – 6[4 – 7]). A ordem é bem clara: não se
deve reputar os egípcios como abominação, ou seja, ritualmente impuros
(THOMPSON: 1982).
Esta teologia de Israel como ger no Egito irá influenciar o profeta Isaías:
ele apresenta uma posição simpática a este país, apresentando-lhe uma rica
promessa de salvação em 19.18 – 25; desconhece a tradição de Israel como
escravo ali; e confirma em 52.4 (“Porque assim diz o SENHOR Deus: O meu
povo no princípio desceu ao Egito, para nele habitar, e a Assíria sem razão o
oprimiu”) a tradição de Israel na condição de ger no Egito – embora aqui não
utilize o substantivo, e sim o verbo (RIDDERBOS: 1995).
7.2. A Teologia do ger na literatura profética
não se cometer contra este nenhuma espécie de injustiça social. Sendo ambos
profetas pós-exílicos, esta visão bem pode ser influenciada pela experiência que
seguida pela ARA e pela TB, é justamente realizada neste versículo da raiz גור
no particípio paal masculino plural absoluto (DHP&AP). A ARC traz
“forasteiros”, enquanto a King James, Reina Valera e a Louis de Ségond trazem
“estranhos”. Embora Gill identifique aqui o autêntico ger enquanto prosélito, e
Ridderbos apoie que aqui temos uma simples menção aos nômades que
estar a raiz גור, pelo que a BJ traduz “cevados”. Parece que houve uma confusão
com uma das seguintes palavras, de acordo com a BHS: ְגׇּדיִים (gedayim,
“crianças”, conforme sugestão da Revised Standard Version e New Living
vista uma teologia do ger, uma vez que o verbo é empregado no seu sentido
atemorizados perguntando quem nesta condição pode habitar com um Deus que
é fogo devorador (RIDDERBOS: 1995).
Em nenhuma dessas passagens isaianas poderemos encontrar algo da
teologia do ger, mas sim na única passagem de todo o livro de Isaías a utilizar o
substantivo e não o verbo: 14.1 (“Com efeito, Iahweh mostrará compaixão para
qual faz parte da sentença pronunciada contra a Babilônia (ibid.). Este versículo
servirá de base para uma busca de algo da teologia do ger em outras passagens
proféticas que não utilizam nem o verbo גורe nem o substantivo ֵגּר.
prosa ao poema encontrado em 14.4b – 21, unindo então este trecho ao oráculo
Uma significa “tomar emprestado”, comprovado pelo cognato árabe que tem o
significado de “adiar pagamento de débito”, e conforme o uso atestado em Êx
22.24; Dt 28.12,44; Ne 5.4; Sl 37.21,26; 112.5; Pv 19.17; 22.7; Is 24.2 (BDB). A
outra raiz não aparece como verbo, mas devido ao seu cognato árabe
“grinalda” (Pv 1.9; 4.9), ָיה (loyah), termo de significado dúbio que aparece
somente em 1 Rs 7.29,30,36, e da palavra ( ִל ְו ָיָתןliwyatan), monstro marinho,
“Leviatã” (conforme a ARC em Jó 41.1[40.25]; Sl 74.14; 104.26; Is 27.1 e a BJ
em Jó 3.8). A terceira raiz, significando “unir, unir-se”, é a que aparece em Is
14.1 (ibid).
Esta terceira raiz é utilizada uma única vez no paal (Ec 8.15, onde
explicação de Lia para o nome de Levi: “agora, desta vez, se unirá mais a mim
tabernáculo (Nm 18.2,4); e serve para designar uma aliança militar (Sl 83.8[9] e
em uma eterna aliança (Jr 50.5). Mas nos profetas será um termo técnico para
estes “outros” (56.8), de tal modo que o templo será conhecido como a Casa de
Oração para todos os povos (56.7). Esta colocação profética pode ser ocasionada
pelos gentios que se haviam unido a Israel durante o período do exílio
compreendido facilmente pelo fato de que aqui não existe nenhum elemento
legal, e sim estritamente cultual e/ou sapiencial. Mas a distribuição da Teologia
do ger pelos livros poéticos não é uniforme: há duas menções no livro de Jó,
sapiencial, uma vez que tal literatura fora de Israel comumente aborda de alguma
forma o tema do estrangeiro. Em contrapartida, justamente as passagens de
cunho legalista nas quais aparece o ger não possuem paralelo com estas mesmas
culturas, onde o estrangeiro não conta com nenhum respaldo de qualquer lei – o
utilizado em Sl 5.4 [5] para transmitir a certeza irrefutável de que o mal não é
hóspede de Deus (BJ). Podemos dizer que, dentre todas estas menções, existe
uma genuína abordagem acerca do ger somente em Jó 31.32.
deuteronomista da tríade:
mim gerim e hóspedes” (tradução própria). Além disso, parte da experiência dos
patriarcas como gerim na terra de Canaã (HOSSFELD-ZENGER, apud
tópico 3.4).
Salmos 39.12 [13]: Ouve, SENHOR, a minha oração, escuta-me quando grito
por socorro; não te emudeças à vista de minhas lágrimas, porque sou forasteiro
à tua presença, peregrino como todos os meus pais o foram.
forasteiros nela;
Salmos 105.23: Então, Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de
Cam.
Salmos 119.19: Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus
mandamentos.
O primeiro salmo desta pequena lista pode ter como título “o nada do
modo tão assíduo uma criatura de habitação na terra tão temporária (KIDNER:
1980). É uma queixa individual do salmista, motivada pelo flagelo (v. 10) que
bom pode ser uma doença (IAT). A experiência do salmista como ger em 119.19
salmo 105.
A ideia do israelita se sentindo como um ger diante do Senhor permeará
três salmos, nos quais haverá uma aplicação cúltica específica.
Quedar.
pode sugerir uma origem cúltica do tema do ger (RAMÍREZ: 1999), mas
(IAT), onde o adorador que está se dirigindo a Jerusalém lamenta por estar em
terra estrangeira, simbolizado por nações tão distantes entre si quanto Meseque e
em terra estrangeira, clamando pelo socorro divino (v. 1), pois sofre perseguição
dos ímpios (v. 2 – 4; 6 – 7).
7.4. O impacto da Teologia do ger no Novo Testamento
Até aqui mostramos que existe de fato uma teologia do ger no Antigo
uma teologia elaborada acerca desse assunto (SMITH: 2001). Mas o Novo
Apesar disso, o Novo Testamento não refletirá esse uso do primeiro termo, uma
6.5; 13.43. Isto pode ser confirmado pelo fato da Peshita Siríaca, famosa
tradução do Novo Testamento para o aramaico: apesar de usar nestas passagens
passagens nas quais aparece πάροικος utiliza outra palavra – a saber, תותבא
(tawtobho). Atitude bem diferente na tradução do Novo Testamento efetuada por
[45].
Em Atos dos Apóstolos, o uso tanto de πάροικος (7.6, 29) quanto de
παροικία (13.17) não traz nenhuma teologia em especial; tão somente reproduz o
relato histórico dos patriarcas, tal qual se encontra na Septuaginta (sequer temos
Atos dos Apóstolos 7.6: E falou Deus que a sua descendência seria peregrina
em terra estrangeira, onde seriam escravizados e maltratados por quatrocentos
anos;
Atos dos Apóstolos 7.29: A estas palavras Moisés fugiu e tornou-se peregrino na
terra de Midiã, onde lhe nasceram dois filhos.
Atos dos Apóstolos 13.17: O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e
exaltou o povo durante sua peregrinação na terra do Egito, donde os tirou com
braço poderoso;
últimos dias?
Hebreus 11.9: Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia,
habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa;
não tendo esperança e sem Deus no mundo (2.12), foram aproximados pelo
sangue de Cristo (2.13), obtiveram a paz e reconciliação (2.14 – 18), e mediante
tudo isso conclui em 2.19: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas
concidadãos dos santos, e sois da família de Deus”. Ou seja: para Paulo a palavra
πάροικος não vislumbra nenhum significado positivo, antes tem toda uma carga
negativa, sendo quase que sinônimo da velha vida que os gentios devem
abandonar (Gill).
O mesmo não podemos dizer acerca de Pedro. Ele usa em sua primeira
carta tanto a palavra παροικία (1.17) quanto πάροικος (2.11) totalmente dentro
anterior.
1 Pedro 1.17: Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas,
julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da
vossa peregrinação,
1 Pedro 2.11: Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos
enfatiza aquele que esta na condição de “exilado”, o qual não é transmitido pelo
1984); além do mais, uma vez que ele coloca lado a lado ambos os termos em
2.11, podemos deduzir que seus destinatários são duplamente qualificados como
A partir dessa experiência social, Paulo aproveita para mostrar que agora
Jesus. Portanto, nossa vida atual é comparada a uma peregrinação, e por isso não
mesmo como um estranho e peregrino nela” (Agric 65, apud RAMÍREZ: 1999,
comunidade cristã, o novo Israel. O impacto da teologia do ger pode ser ainda
comprovada pelo fato da palavra παροικία se estabelecer como parte da
justamente com a obra-prima de John Bunyan, “The Pilgrim’s Progress from this
world to that which is to come” (o progresso de um peregrino deste mundo para
aquele que está por vir), de 1678, a “summa theologiae evangelicae” na opinião
de Coleridge (ibid.)
CONCLUSÃO
sim como ger no Egito – tendo como ponto-chave Êxodo 23.9. Concluímos
então: realmente temos uma teologia do ger, e a mesma unificada – e esta, uma
gerim para realçar o princípio de que apesar de herdarem uma terra que
não era deles próprios – e sim dos cananeus, viveram durante toda a sua
lo (Dt 10.19a);
A segunda maior quantidade de citações encontra-se nos relatos
procura sujeitá-lo às mesmas leis rituais que devem ser observadas pelo
segundo – pelo menos aquelas que dizem respeito não à essência da
perto Pedro (de tal modo que podemos até falar de uma “teologia petrina
acerca do ger”).
qual é tratado no Antigo Testamento, não possui paralelo algum com o mesmo
já mostra que não possui uma importância secundária, mas tem seu lugar
indelevelmente unido ao ger, a ponto de “conhecer a sua vida” (BJ), a sua alma
Por este motivo nos prendemos neste versículo especificamente. A ideia aqui
transmitida, não só legalista, mas quase ritual, terá seu eco no deuteronomista
(Dt 10.19; capítulo cinco, tópico 5.3) e no sacerdotal (Lv 19.34; capítulo seis,
tópico 6.2), o qual é evidente. Mas, e o restante da literatura vetero-
verdade ter não várias teologias e sim uma teologia do ger. Na literatura
profética, podemos considerar suficiente o reconhecimento tácito em Is 52.4 de
que Israel desceu ao Egito para peregrinar, e não para ser escravizado – neste
Abraão, Isaque e Jacó, mas a totalidade dos antepassados, incluindo aqueles que
29.15, que repete praticamente o mesmo princípio – “como nossos pais”, sendo
este um versículo sem dúvidas pós-exílico (capítulo três, tópico 3.4).
peregrino nesta carta (capítulo sete, tópico 7.4) não se reporta exclusivamente
aos patriarcas, mas antes também reconhece a importância do princípio de Êx
23.9.
deve buscar inspiração nas peregrinações dos patriarcas, como bem demonstra a
carta aos Hebreus 11. Mas há uma interpretação negativista: devemos ser como
gerim neste mundo, refutando todos os costumes do mesmo, simplesmente por
contato deve ser evitado de modo absoluto. O mesmo vale para qualquer de seus
teologia do ger no Antigo Testamento diz para estes: “vós conheceis a alma do
ger”, ou seja, conheceis bem o que é não ser evangélico. Portanto, ainda diz:
“não oprimirás o ger... pois fostes gerim no Egito”. Ora, já é clássica a colocação
do Egito como alegoria deste mundo; portanto, de acordo com a recomendação
da teologia do ger, devemos ter um olhar mais benevolente para com estes, não
os tratando como leprosos, e sim nos aproximando dos mesmos para inseri-los
em Cristo. Vale lembrar que isto não tem nada a ver com a posição
extremamente oposta: abrir mão da genuína doutrina bíblica, para conformar a
bem claro: vamos inserir o não evangélico a Igreja de Cristo, mostrando que
desejamos ardentemente o seu ingresso em nosso meio – ao tratá-lo como pária,
parece que não desejamos tal ingresso! Conforme a legislação pascal (capítulo
quatro, tópico 4.2), convidemos estes que são gerim para celebrar conosco a
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova ed., rev. São Paulo: Paulinas, 1985. 2366p.
A Bíblia TEB. Nova ed., rev. e cor. - São Paulo: Paulinas e Loyola, 1995.
1572p.
BUNYAN, John. The Pilgrim’s Progress. In: Bíblia On Line Módulo Avançado
Versão 3.00. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
DAVIDSON, Francis (org.). O Novo Comentário da Bíblia. 3a. ed. São Paulo:
Vida Nova, 1997. 1488 p. il.
DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA DO ANTIGO
TESTAMENTO. Organizado por R. Laird Harris. Tradução de Márcio Loureiro
Redondo, Luiz Alberto T. Sayão e Carlos Osvaldo C. Pinto. 1a. Ed. São Paulo:
Vida Nova, 1998. 1789 p.
HOFF, Paul. O Pentateuco. Tradução Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Vida,
1983. 252 p. il.
RAMIREZ, José E. Alterity and Identity in Israel: The Ger in the Old
Testament (Beihefte Zur Zeitschrift Fur Die Alttestamentliche
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THE BIBLE. Authorized Version. Great Britain: Oxford University Press: The
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THE GREEK NEW TESTAMENT. Edited by Kurt Aland et al. Third Edition
(Corrected). Stuttgart: United Bible Societies, 1984. 926 p.
The New John Gill's Exposition of the Entire Bible. Modernised and adapted
for the computer by Larry Pierce of Online Bible. In: Bíblia On Line Módulo
Avançado Versão 3.00. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
acessado em 04/07/2004.
ANEXOS
ANEXO A – Êxodo 23.9 em várias versões
ְו ֵגר א ִתְלָחץ ְוַאֶתּם ְי ַדְעֶתּם ֶאת־ ֶנֶפשׁ ַה ֵגּר ִכּי־ ֵג ִרים ֱהיִיֶתם ְבֶּא ֶרץ ִמְצ ָריִ ׃
ם
(Texto Massorético)
ולעמורא לא תעיקון אנתון גיר ידעין אנתון נפשא דעמורא מטל דעמורא
הויתון דמצרין
(Peshitta Siríaca)
καὶ προσήλυτον οὐ θλίψετε ὑμεῖς γὰρ οἴδατε τὴν ψυχὴν τοῦ προσηλύτου
αὐτοὶ γὰρ προσήλυτοι ἦτε ἐν γῇ Αἰγύπτῳ
(Septuaginta)
Καὶ ξένον δὲν θέλεις καταδυναστεύσει διότι σεῖς γνωρίζετε τὴν ψυχὴν
τοῦ ξένου , ἐπειδὴ ξένοι ἐστάθητε ἐν τῇ γῇ τῆς Αἰγύπτου .
(Grego Moderno)
peregrino molestus non eris scitis enim advenarum animas quia et ipsi peregrini
fuistis in terra Aegypti
(Vulgata)
(Bíblia de Jerusalém)
Não oprimirás ao peregrino; pois vós conheceis o coração dum peregrino, visto
que fostes peregrinos na terra do Egito.
(Tradução Brasileira)
(Tradução Ecumênica)
Não maltratem os estrangeiros que moram no meio de vocês. Vocês sabem como
eles sofrem por serem estrangeiros, pois vocês foram estrangeiros no Egito.
And a sojourner thou dost not oppress, and ye -- ye have known the soul of the
sojourner, for sojourners ye have been in the land of Egypt.
Also thou shalt not oppress a stranger: for ye know the heart of a stranger,
seeing ye were strangers in the land of Egypt.
(King James Version)
Do not oppress an alien; you yourselves know how it feels to be aliens, because
you were aliens in Egypt.
Do not oppress the foreigners living among you. You know what it is like to be a
foreigner. Remember your own experience in the land of Egypt.
Do not be hard on the man from a strange country who is living among you; for
you have had experience of the feelings of one who is far from the land of his
birth, because you yourselves were living in Egypt, in a strange land.
And a sojourner, shalt thou not drive away,—seeing that, ye yourselves, know
the, soul of a sojourner; for sojourners, became ye in the laud of Egypt.
Die Fremdlinge sollt ihr nicht unterdrücken; denn ihr wisset um der Fremdlinge
Herz, dieweil ihr auch seid Fremdlinge in Ägyptenland gewesen.
E non oppressare il forestiere; perciocchè voi sapete in quale stato è l’anima del
forestiere, essendo stati forestieri nel paese di Egitto.
(Diodati 1649)
[20] Segundo BDB e DITAT devemos distinguir seis raízes diferentes com o
padrão ערב: I – a que deu origem a palavra traduzido por “misto de gente”; II –
tomar penhor, daí a palavra ( ֵע ָרבוֹןerabhon), “penhor”; III – ser doce; IV – ser
árido, estéril, dando origem à palavra ( ֲע ָרָבהarabhah), “planície desértica”,
‘estepe”; V – pôr, colocar, retirar, o verbo que deu origem ao termo ֶע ֶרב
ֹ (orebh), “corvo”.
(erebh), “tarde”; VI – ser negro, dando origem à palavra ע ֵרב
[25] The Eloquent Peasant to the Chief Steward no. 60; translation J.A. Wilson,
Ancient Near East Texts p. 408, apud RAMIREZ: 1999, p. 37.
[26] Mentuhotep, 11th Dinasty, in: Janssen, Autobiographie, p. 100, apud
RAMIREZ: 1999, p. 134.
[27] Hym to Amon # 71 (“Prière d’un aveugle à Amon”), VIII 1 – 3, in: Hymnes
et prières de L’Égypte Ancienne p.204 – 205, apud RAMIREZ: 1999, p. 135.
[28] Código de Hamurabi, epílogo, § 47: 50 – 60, tradução de Bouzon (2003).
[29] Keret 16, VI. 46 – 50, in: Gibosn, Myths p. 102, apud RAMIREZ: 1999, p.
137.
[30] Confira ainda Sl 94.6; 146.9; Jr 7.6; 22.3; Ez 22.7; Zc 7.10; Ml 3.5
[33] Esta palavra consiste em um título honorífico persa, o que pode ser
comprovado pelo uso sempre acompanhado de artigo, que pode ser traduzido
literalmente como “Sua Excelência”, equivalendo ao título acádico ֶפָּחה
(pechah), “governador” (DITAT).
[34] Gn 2.17; 3.4; 20.7; 26:11; Lv 20:2,9,10,15; 24:16,17; 27:29; Nm 15:35;
35:16 – 18,21,31; Ez 3:18; 18:13; 33:8,14. Observe ainda na Obra
Deuteronomista: Jz 13:22; 21:5; 1 Sm 14:39,44; 22:16; 2 Sm 12:14; 14:14; 1 Rs
2:37,42; 2 Rs 1:4,6,16; 8:10; Jr 26:8,19; 38:15.
[35] Ao contrário da expressão “certamente morrerás”, a expressão “ser
eliminado do povo” não é atestada na obra Deuteronomista. Isto porque o verbo
( ָכּ ַרתkarat) é reservado para o termo técnico “cortar uma aliança”, no sentido
de “realizar uma aliança” (e.g., Dt 5.2; 7.2; 29.13), enquanto o sacerdotal reserva
este mesmo verbo para o contexto da pena de morte, e por isso dá preferência à
expressão “estabelecer uma aliança”, ( ֵה ִקים ֶאת ַהְבּ ִריתheqym et habrit),
como em Gn 6:18; 9:9,11,17; 17:7,19,21; Lv 26:9; 1 Cr 22:19; 28:2; Ne 9:8; Ez
16:60,62 (Observe ainda Gn 21:32; Êx. 6:4; Dt 8:18; 31:16; Js 4:9; 2 Sm 3:21; 2
Rs 23:3; Is 28:18; 49:8; Jr 34:18). Confira BDB.
[36] São utilizados os seguintes verbos hebraicos: אַסף ( ׇasaf), o verbo mais
utilizado, por ser o mais abrangente, pois são 233 versículos (assim distribuídos:
14 em Gênesis, 6 em Êxodo, 4 em Levítico, 16 em Números, 6 em
Deuteronômio, 6 em Josué, 12 em Juízes, 1 em Rute, 9 em 1 Samuel, 12 em 2
Samuel, 1 em 1 Reis, 9 em 2 Reis, 19 em 1 Crônicas, 17 em 2 Crônicas, 4 em
Esdras, 11 em Neemias, 3 em Jó, 21 em Salmos, 2 em Provérbios, 1 m
Eclesiastes, 18 em Isaías, 14 em Jeremias, 6 em Ezequiel, 1 em Daniel, 2 em
Oséias, 4 em Joel, 1 em Amós, 4 em Miquéias, 3 em Habacuque, 3 em Sofonias
e 3 em Zacarias, não aparecendo em Ester, Cantares, Lamentações, Obadias,
Jonas, Naum, Ageu e Malaquias); ׇקַבץkabatz), utilizado em 121 versículos (3
em Gênesis, 3 em Deuteronômio, 2 em Josué, 2 em Juízes, 9 em 1 Samuel, 3 em
2 Samuel, 5 em 1 Reis, 2 em 2 Reis, 3 em 1 Crônicas, 10 em 2 Crônicas, 5 em
Esdras, 5 em Neemias, 3 em Ester, 4 em Salmos, 2 em Provérbios, 18 em Isaías,
8 em Jeremias, 15 em Ezequiel, 3 em Oséias, 4 em Joel, 4 em Miquéias, 2 em
Naum, 1 em Habacuque, 3 em Sofonias, 2 em Zacarias); e ( ׇקַהלqahal), em 39
versículos com um sentido mais religioso, quase que de uso exclusivo a Israel (2
em Êxodo, 2 em Levítico, 9 em Números, 3 em Deuteronômio, 2 em Josué, 1 em
Juízes, 1 em 2 Samuel, 3 em 1 Reis, 3 em 1 Crônicas, 4 em 2 Crônicas, 5 em
Ester, 1 em Jó, 1 em Jeremias, e 2 em Ezequiel). Confira BDB.
[37] Encontramos uma pequena variante desta forma, כנשׁ, nos trechos
aramaicos de Daniel 3.2,3,27 (BDB).
[38] Gill vê dificuldade aqui numa legislação que conceda um certo direito às
divindades estrangeiras. Portanto, como observa Aben Ezra, a palavra Elohim
aqui deveria ser traduzida “juízes”, como em Sl 82.1,6
[39] A dificuldade apontada na nota anterior repete-se aqui, talvez com um grau
maior. Isto porque a Septuaginta e a Vulgata claramente traduzem aqui por
“deuses” – no plural, o que identificaria uma concessão aos deuses estranhos.
Henry admite a possibilidade dessa tradução, conforme já atestado em Filo e
Josefo, mas conclui que uma incompatibilidade com Dt 16.1ss somente dá
margem a traduzir-se aqui “juízes”. Cole (1980) conclui o mesmo, observando
que o estranho paralelismo com “príncipe” somente pode ser explicado mediante
esta tradução; já Durham (1987) concebe aqui uma referência ao Deus
verdadeiro, embora não classifique “amaldiçoar” e sim “ser desrespeitoso” para
com Deus.
[40] A primeira expressão ainda pode ser vista nos seguintes versículos da fonte
P: Êx 12.49; Nm 15.26,29; 19.10; Js 20.9; Ez 47.22 e ainda no Código da
Santidade: 17.10,12,13; 18.26. A segunda expressão é encontrada em apenas
dois versículos: Lv 19.34; Nm 15.16. A expressão ַה ֵגּר ַהׇגּר, independente dos
prefixos ְבּe ֵאת, aparece em um único versículo: Nm 15.15. Mas a expressão,
além de anormal na fonte P, fica sem sentido. A BHS observa que aqui deve ter
havido uma omissão do copista, uma vez que a Septuaginta insere ε̕ν ὑμῖν, o que
ainda é confirmado pelo versão siríaca.
[41] Além desses dois versículos, ainda encontramos esta palavra na Septuaginta
mais 53 vezes: Gn 9:25; 27:37; 44:16,33; 50:18; Êx 5:15,16; 12:44; 21:26,27;
32:13; Lv 25:39; Nm 32:5; Dt 5:15; 6:21; 15:15,17; 16:12; 24:18,20,22; 34:5; Js
5:14; 9:8,11; 1 Ed 3:19; 4:59; Tb 8:18,10,18; 9:2,5; Pv 13:13; 17:2; 19:10; 22:7;
29:19,21; 30:10,22; Eclo 4:30; 6:11; 7:20,21; 10:25; 23:10; 33:25,27,31,32;
37:11; 42:5; Is 36:9. O Novo Testamento a utiliza apenas quatro vezes: Lc 16.13;
At 10.7; Rm 14.4; 1 Pe 2.18.
[42] Seu emprego na Septuaginta é bem extenso: são 385 vezes em 349
versículos. O mesmo ocorre no Novo Testamento: são 126 vezes em 118
versículos, primordialmente em Mateus (30), Lucas (25) e Apocalipse (13).
[43] De uso igualmente extenso na Septuaginta (469 vezes em 435 versículos),
embora literalmente tenha este significado de “criança”, maciçamente traduz o
termo hebraico ( ֶעֶבדebhed) em 310 versículos. Traduz o termo hebraico para
jovem, criança – ( ַנַערnaar) – em apenas 32 ocasiões (Gn 18.7; 22.3,5,19;
24.14,28,57,61; 34.12; 41.12; 44.30 – 33; Nm 22.22; Dt 22.15,16,23,25,28; Rt
2.6; 1 Sm 25.42; 1 Rs 1.2; 11.17; Ne 6.5; Et 2.7; Pv 1.4; 29.15,21; Jó 1.15,17;
29.5).
[44] O termo aparece na Septuaginta 64 vezes em 60 versículos: Gn 24:44;
50:17; Êx. 4:10; 5:21; 7:9,10,20,28,29; 8:5,7,17,20,25,27; 9:8,14,20,30,34;
10:1,6,7; 11:3; 12:30; 14:5,8,31; 33:11; Nm 11:11; 12:7,8; 32:31; Dt 3:24; 9:27;
29:1; 34:11; Js 1:2; 9:2; 1 Cr 16:40; Jt 2:2; 6:6; 7:16; 9:10; 10:20,23; 11:20;
12:5; 4 Mc 12:11; Pv 18:14; 27:27; Jó 2:3; 3:19; 7:2; 19:16; 31:13; 42:7,8; Sb
10:16; 18:21. Dentro do Novo Testamento, aparece uma única vez (Hb 3.5)
referindo-se a Jesus Cristo na condição de servo fiel.
[45] Ainda temos o uso indevido da frase “andar peregrinos” em Hb 11.37 pela
ARA, uma vez que o verbo περιέρχομαι deve ser mais adequadamente traduzido
simplesmente por “andar errante”, como faz a TB.