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ANÁLISE DE ARCO VOLTAICO POR SIMULAÇÃO DE CAMPO ELÉTRICO

EM DISJUNTORES SF6

José de Deus e Silva Neto - jose.silva.neto@itec.ufpa.br


Universidade Federal do Pará

Kaio Edson Magno Martins - kaio.martins@itec.ufpa.br


Universidade Federal do Pará

Mauro Quaresma Lobato - mauro.lobato@itec.ufpa.br


Universidade Federal do Pará

Tsuyoshi Farias Yoshikawa - tsuyoshi.yoshikawa@itec.ufpa.br


Universidade Federal do Pará

Resumo: Este trabalho investiga o campo elétrico estabelecido entre os contatos de um


disjuntor Hexafluoreto de Enxofre (SF6) e o arco voltaico gerado pela diferença de
potencial e o movimento relativo entre eles. A análise é gerada a partir de simulações
computacionais no software Finite Element Method Magnetics (FEMM) comparando a
distribuição espacial do campo elétrico para os contatos de arco em diferentes posições
na presença do extintor SF6. Os valores típicos da construção do disjuntor, bem como os
valores iniciais de tensão entre os contatos foram extraídos da literatura. Os resultados
oferecem conclusões a respeito do arco voltaico durante o rompimento do meio dielétrico
através da resolução das equações constitutivas do Eletromagnetismo.

Palavras-chave: Arco voltaico. Campo Elétrico. Hexafluoreto de Enxofre. Disjuntor Puffer.


1 INTRODUÇÃO

Em sistemas elétricos de potência, os disjuntores de alta tensão são importantes


dispositivos de proteção contra correntes de falha e possuem a funcionalidade de
extinção de arco voltaico. Nesse cenário, os disjuntores SF6 são extensamente utilizados
e investigados desde 1960 (BEROUAL, 2017). Isso deve-se às interessantes
propriedades do gás. Em sua forma pura não é tóxico e não é perigoso quando inalado,
mas como é quase cinco vezes mais denso que o ar, em ambientes fechados desloca o
oxigênio e, portanto, há risco de asfixia. Este também possui alta eletronegatividade,
assim forma íons pesados e ​de baixa mobilidade, por isso opõe-se a fenômenos muitas
vezes danosos como avalanche de elétrons (EDISCIPLINAS, 2020). Devido à sua baixa
temperatura de decaimento e alta energia de decaimento, o SF6 é um gás de extinção de
arco ideal. Além disso, quando o arco é resfriado em SF6, ele permanece condutivo a
uma temperatura relativamente baixa, minimizando assim a interrupção de corrente,
evitando assim altas sobretensões (KOH, 2006).
Não obstante, conhecer e prever parâmetros relacionados do disjuntor é de grande
relevância para o dimensionamento de projetos. A respeito disso, a norma (ABNT NBR
IEC 62271-100, 2006) explica que as correntes nominais de curto-circuito não podem
ultrapassar os valores máximos a depender das características do disjuntor envolvido.
Sendo assim, o artigo proposto possui a finalidade de conhecer o valor da intensidade do
campo elétrico associado a formação do arco voltaico por meio da simulação da
distribuição espacial do campo elétrico.
Alguns trabalhos já investigaram problemas eletromagnéticos a respeito da
construção desse equipamento e seu funcionamento. Em (KHARE, 2016), foi feito análise
de campo e potencial elétrico na atuador do disjuntor para análise de condutividade
devido ao acúmulo de impurezas. No entanto, a simulação não propõe conclusões a
respeito do rompimento dielétrico do gás SF6. Neste trabalho, é feita a investigação dos
efeitos de tal questão. Por outro lado, (AGRAWAL, 2017) mostrou que diferentes
condições de limpeza da estrutura causam a linearização do potencial na superfície do
isolador. Contudo, o trabalho não simula o comportamento do campo elétrico na região de
interesse.
As seções deste artigo são estruturadas como segue: a seção 2 descreve a
fundamentação teórica abordada nas simulações. O modelo utilizado bem como o
funcionamento do disjuntor é detalhado na seção 3. A seção 4 expõe as principais
contribuições do trabalho com a mostra e interpretação dos resultados. Nas seções 5 e 6
é discutido, respectivamente, a conclusão e a proposta de trabalhos futuros.

2 Fundamentação teórica

Com o objetivo de modelar a o ponto a ponto o potencial elétrico devido aos


contatos móvel e fixo, utilizou-se a equação de Laplace partindo do pressuposto que não
há elétrons livres na superfície dos condutores.

∇²𝑉 = 0, (1)

Em paralelo, assume-se que a resolução das equações diferenciais parciais


obedecem às condições de fronteira de Dirichlet, isto é, nas extremidades do problema
são conhecidos os valores dos respectivos potenciais. Assim, é possível conhecer o
módulo e direção do campo elétrico na presença dielétrica do gás SF6 na câmara pela
equação 2.

‾ =
𝐷 − ϵ∇𝑉. (2)

Onde ϵ representa a característica elétrica do meio. Por conseguinte, compara-se


os valores obtidos com valor típico do rompimento do dielétrico κ envolvido utilizando o
respectivo valor de constante dielétrica ϵ𝑟 na fórmula
ϵ = ϵ0ϵ𝑟 (3)

Tabela 1 - Informações elétricas dos materiais analisados.


Material ϵ κ
𝑟
Ar 1 3.10⁶ V/m
SF6 1,002026 2,5 κ𝑎𝑟
Porcelana 5,9

Fonte: Autores.

Na tabela 1 é comparado os materiais utilizados por meio de suas constantes


dielétricas e seus respectivos valores de rompimento.
3 Construção do disjuntor SF6
Para efeitos de aproximação geométrica dos dispositivos reais, esse trabalho
utilizou o modelo da folha de dados da empresa CG (CG, 2017) e é válido para modelos
que operam na faixa de 24 kV a 800 kV.

Figura 1: Geometria do interruptor do disjuntor SF6

Fonte: CG Power and Industrial Solutions


A figura 1 retrata a construção do disjuntor e o seu funcionamento quando na
posição fechada e aberta. No primeiro momento, os contatos fixo e móvel permitem o
fluxo de corrente, enquanto o gás SF6 encontra-se pressurizado no interior do pistão e do
cilindro puffer. Entretanto, quando ocorrem correntes de falha e, consequentemente, o
desarme do disjuntor, o cilindro puffer se move com um dos contatos, fazendo o gás
comprimir com o pistão fixo mas escapando fortemente pelos bocais (nozzles).
Ao abrir os contatos, a tensão é suficiente para promover o rompimento do meio e
a formação do arco elétrico, porém, com a transição de SF6 na câmara, a propriedade
eletronegativa do gás é responsável por capturar elétrons livres, extinguindo o arco
voltaico. Além disso, a confiabilidade do sistema é aprimorada ainda mais pelo fluxo duplo
de pressão única do cilindro puffer, reduzindo o número de peças móveis e
sistemas auxiliares no disjuntor.
No presente trabalho, é analisada a distribuição do campo elétrico no interior do
interruptor durante a abertura dos contatos e valor da corrente associada ao arco. Porém,
devido a limitações de software, não será demonstrada a extinção do arco pelas
propriedades químicas do gás SF6.

4 Simulação e Discussão

Dessa forma, será feita uma análise partindo do pressuposto de que a tensão
ultrapassou os limites estabelecidos pelo fabricante e que o disjuntor foi acionado,
levando à separação entre os contatos e liberação do gás hexafluoreto pressurizado, para
a então posterior formação do arco elétrico. Em um primeiro momento, baseando-se em
(CG, 2017), foi importado o desenho em escala 1:1 para o software femm. A figura 2
representa a geometria que será utilizada para os respectivos cálculos.
Figura 2: Geometria do disjuntor utilizada no FEMM

Fonte: Autores

O FEMM é um conjunto de programas utilizado para a simulação de problemas


envolvendo eletromagnetismo em baixas frequências; atualmente, o software conta com o
poder de resolução de quatro tipos de problemáticas: magnetostática, eletrostática, fluxo
de calor e corrente elétrica. Na figura 3, cujo domínio de resolução será eletrostático, é
possível visualizar a geometria importada para o software e a composição das diferentes
partes do disjuntor.
Figura 3: geometria utilizada no software

Fonte: Autores.

Para efeitos de simplificação da simulação, utilizou-se apenas os materiais contidos


na tabela 1, sendo os meios eletricamente isolados pelo material de porcelana e a câmara
preenchida pelo gás SF6. Além disso, devido a limitações do software, não é possível
representar materiais condutores quando realiza-se análises eletrostáticas, por essa
razão, utilizou-se um material genérico, caracterizado por uma baixa permissividade.
Os valores para cada bloco, que representam o material que é composto o
disjuntor, foram inseridos baseados na tabela 1. A partir desta composição, o resultado
obtido para a disposição das linhas equipotenciais é demonstrado na figura 4:
Figura 4: Linhas equipotenciais no disjuntor.

Fonte: autor

A região de maior interesse é entre os condutores, há a maior diferença de


potencial. É nesta região em que há a maior probabilidade de formação do arco. Com o
auxílio do software, calculou-se o campo elétrico presente neste trecho e foi verificada a
possibilidade de ruptura da rigidez dielétrica do gás hexafluoreto.

Figura 5: módulo da intensidade do campo elétrico


Fonte: Autores

A figura 5 mostra a evolução da intensidade de campo elétrico ao longo da


distância entre os contatos. Como esperado, os valores nos primeiros centímetros são
suficientes para romper a rigidez dielétrica do SF6. No entanto, ao atingir 0.05 metros o
campo já se encontra totalmente abaixo do limite necessário para a formação do arco
elétrico. Isso demonstra a excelente eficiência do gás como meio extintor de arco apenas
em termos de característica elétrica. Porém, sabe-se que esse atributo poderia ser ainda
maior quando analisado em conjunto com a eletronegatividade e captura de elétrons
livres.

5 Conclusão

Neste artigo, analisou-se o arco voltaico por meio da simulação da distribuição


espacial do campo elétrico conforme a distância dos contatos fixo e móvel do disjuntor e
comparou-se os valores ao de rompimento dielétrico do gás com o meio extintor SF6.
Percebeu-se, então, que sem as propriedades eletronegativas do SF6 o arco
voltaico extingue-se, isto é, o campo elétrico é inferior à tensão de ruptura do dielétrico na
distância aproximada de 0.03 metros. O que demonstrou a excelente eficiência do meio
apenas em termos de permissividade elétrica.

6 Trabalhos futuros

Embora o presente artigo tenha atingido com sucesso os objetivos propostos, para
representações mais precisas da análise de arco voltaico, é necessário uso de softwares
munidos de ferramentas capazes de modelar o fenômeno como nas diretrizes da
Magnetohidrodinâmica (MHD), pois o espalhamento do arco voltaico pode ser aproximado
ao de fluidos.

7 Referências

AGRAWAL, Krutika T.; TAPRE, P. C. Electric field computation for porcelain insulator
during polluted conditions. In: 2017 International Conference on Intelligent Computing
and Control Systems (ICICCS). IEEE, 2017. p. 301-306.

BEROUAL, Abderrahmane; HADDAD, Abderrahmane. Recent advances in the quest for a


new insulation gas with a low impact on the environment to replace sulfur hexafluoride
(SF6) gas in high-voltage power network applications. Energies, v. 10, n. 8, p. 1216, 2017.

CG Power and Industrial Solutions. SF6-Gas Circuit Breakers. Disponível em:


https://5.imimg.com/data5/TV/QW/MY-1842773/gas-circuit-breaker.pdf. Acesso em: 11
Julho 2023

D. C. Meeker, Finite Element Method Magnetics, Version 4.2 (28Feb2018 Build).


Disponível em: https://www.femm.info. Acesso em: 10 Julho 2023

D. KOH. Problema nº 2: Propriedades do SF6 e sua utilização em equipamentos de


comutação de média e alta tensão, Cadernos Técnicos Schneider Electric, março de
2006.
EDISCIPLINAS. Dielétricos Polarização e Ruptura Dielétrica. Disponível em:
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FAULT CURRENT CALCULATIONS. Corrente de Falha. Disponível em:Fault


Current Calculations | Graphic Products. Acesso em: 11 jul. 2023

GAMA GASES. Propriedades dos Gases: Nitrogenio. Disponível em:


http://www.gamagases.com.br/propriedades-dos-gases-nitrogenio.html. Acesso em: 10 jul.
2023.

KHARE, Tejas; HASABE, R.; MANDLIK, Manoj. Electric Field and Potential Distribution
along Porcelain Insulator under Polluted Conditions using Finite Element Method.
International Journal of Advanced Research in Electrical, Electronics and
Instrumentation Engineering, v. 5, n. 5, p. 3531-3536, 2016.

VOLTAIC ARC ANALYSIS BY ELECTRIC FIELD SIMULATION IN SF6 PUFFER TYPE


CIRCUIT BREAKER

Abstract: This work investigates the electric field established between the contacts of a
Sulfur Hexafluoride (SF6) circuit breaker and the electric arc generated by the potential
difference and the relative movement between them. The analysis is generated from
computer simulations in the Finite Element Method Magnetics (FEMM) software
comparing the spatial distribution of the electric field for the arc contacts in different
positions in the presence of quenching medium SF6. Typical values ​of circuit-breaker
construction, as well as initial conditions of the contacts were taken from the literature. The
results offer conclusions about the electric arc during the rupture of the dielectric medium
by solving the Electromagnetics constitutive equations.

Keywords: Voltaic Arc. Electric Field. Sulphur Hexafluoride. Puffer Type Circuit Breaker.

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