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SATURNO

Desde muito tempo atrás, a contemplação de pontinhos brilhantes se movendo no céu estimula bastante
a curiosidade humana. Sem sombra de dúvidas, as trajetórias de planetas coloridos na escuridão noturna
proporcionam efeitos visuais suficientes para alimentar a fantasia da mente humana. Foi a partir destas
observações astronômicas que mistérios foram estabelecidos e mitos foram criados. Nesse sentido, o
segundo maior planeta do nosso sistema solar não ficou fora disso, sendo muitas vezes o protagonista de
grandes mistérios e de várias histórias transpassadas através das gerações.

Embora esteja em média a 1.426,6 milhões de quilômetros do Sol e aproximadamente a 1.277 milhões de
quilômetros da Terra, Saturno pode ser visto a olho nu. Sendo 9,1 vezes maior do que a Terra, suas
dimensões gigantescas possibilitam que observadores terráqueos o vejam sem auxílio de equipamentos
óticos. Alguns textos preservados desde os tempos da Babilônia Antiga (2 mil a.C.) contém relatos da
observação deste e de outros planetas em meio às estrelas que cintilam o céu escuro da noite,
verificando que os pontinhos coloridos vistos no céu já eram admirados há milhares de anos.

Tanto tempo conhecendo e contemplando sua existência permitiu que várias sociedades ao longo da
história atribuíssem várias características e mitos a ele. O principal deles tem origem na mitologia romana,
em que Saturno é o deus do tempo, da geração, dissolução, abundância e riqueza, e é daí que o planeta
herda seu nome atual. De acordo com a tradição, Saturno expulsou Caelus (Urano), seu pai, da sua
posição soberana como deus e, para evitar que o mesmo acontecesse com ele, devorou seus filhos.
Alegoricamente, assim como a fluência do tempo “dá cabo de tudo”, esse recorte mitológico pode ter
dado origem a associação deste deus a características temporais, consagrando sua imagem mais atual
de deus do tempo. Para além disso, esse deus também já foi correlacionado a outras figuras divinas em
culturas egípcias e semitas.

Similarmente, em pseudociências como a astrologia ocidental e a astrologia chinesa, o planeta Saturno é


considerado um regente de signos astrológicos e é muitas vezes associado ao destino, ao “karma” e à
relação entre causa e efeito. Já na filosofia ocultista, ele é personificado como um homem melancólico,
frio e seco, sendo autor da contemplação secreta e afastado de demonstrações públicas. Neste
paradigma, o astro é considerado o mais elevado de todos os planetas e seus atributos lhe conferem
conhecimento da passagem de coisas futuras. Em ambos os contextos, Saturno está relacionado ao
tempo de certa forma e, certamente, tanto o deus como o planeta estão vinculados a diversas fantasias
da humanidade.

Muitos são os mitos a respeito do deus Saturno, mas o que a ciência sabe sobre o planeta Saturno?

De acordo com estudos astrofísicos, Saturno é composto por várias camadas de gases dentre os quais
gás hidrogênio e gás hélio são os componentes majoritários. Tal aspecto garante a este gigante gasoso o
título de planeta menos denso do sistema solar, apresentando uma densidade de 0,687 g/cm3, enquanto
que a Terra (planeta rochoso) apresenta uma densidade de 5,513 g/cm3. Embora as camadas gasosas
estejam bem definidas, a composição química de seu núcleo ainda é um mistério. Especula-se que possa
haver um núcleo de rocha derretida do tamanho da Terra nas profundezas de Saturno, porém isto ainda
não está totalmente esclarecido devido à dificuldade de obter resultados que comprovem tal composição.

Os rápidos giros de aproximadamente 9,87 km/s e sua composição gasosa deformável atribuem a
Saturno um formato oblato, ou seja, esférico achatado nos polos, de modo que seu raio equatorial é
60.268 km e seu raio axial é 54.364 km. Seu movimento angular (giro) faz com que seja necessária uma
velocidade maior que 35,5 km/h para escapar do planeta. Com isso, os dias em Saturno são muito
curtos, durando em média 10h34min terrestres.

Mesmo com dimensões muito maiores do que as do nosso planeta, sua gravidade apresenta valor
próximo ao da Terra, sendo g(Terra) = 9,8 m/s2 e g(Saturno) = 10,4 m/s2. Seu campo gravitacional é
capaz de manter 62 satélites naturais em órbita, ocupando o posto de planeta com segundo maior
número de luas, sendo Júpiter o primeiro com 67. Outra característica semelhante é o ângulo de
inclinação do eixo de rotação: o de Saturno é de 26,73° e o da Terra é de 23,26°. Por mais que sejam
valores muito próximos, já é o suficiente para que seus efeitos sejam muito diferentes.

Sua longa distância do Sol, faz com que ele receba menos calor que a Terra e apresente temperaturas
médias de -139 °C superficiais a pressão de 1 atmosfera, muito frio. O raio de órbita de Saturno é tão
grande que ele leva aproximadamente 29 anos e 6 meses terráqueos para dar uma volta completa em
volta do sol se movendo a uma velocidade de 9,68 km/s. Ou seja, festas de aniversário só a cada 29
anos, viva à juventude!

Apesar de todo o panorama mitológico associado ao planeta, o que mais chama a atenção da
comunidade científica é o mistério da origem de seus anéis exuberantes. Ainda não há um consenso a
respeito de como e quando seus anéis foram formados. Alguns astrônomos defendem que eles existem
desde a formação do sistema solar, isto é, há 4,54 bilhões de anos. Outros astrônomos dizem que os
anéis são mais jovens do que o próprio planeta e podem ter sido formados a partir do seu choque com um
asteroide. O estudo realizado mais recentemente explica que tanto os anéis como as luas tiveram origem
há 100 milhões de anos, muito mais recente do que a formação do nosso sistema solar.

Seus anéis se estendem por mais de 100 km na direção equatorial e agregam um aspecto visual único a
Saturno. Sabe-se que eles são formados majoritariamente por gelo de água, com pouca porcentagem
(7%) de carbono amorfo e quantidades muito baixas (traços) de tolinas, moléculas orgânicas formadas
pela ação de radiação UV. Nitidamente, uma composição muito diferente de sua atmosfera e interior, o
que deixa ainda muitas dúvidas a respeito de seus anéis.

Saturno é de longe um planeta extraordinário, apresenta uma beleza única e características muito
interessantes. Desde de que se tornou possível enviar naves e sondas para o espaço, ele tem sido muito
estudado por vários grupos de pesquisa. Até então, quatro espaçonaves já passaram por perto. Na
missão espacial mais recente envolvendo Saturno, a nave Cassini foi enviada para orbitar o planeta, e
essa lançou a sonda Huygens na lua Titã (a maior de todas) para realizar estudos sobre este satélite.
Imagens belas e únicas foram obtidas nesta missão, exaltando as características singulares deste planeta
que encanta multidões. Enfim, muitos estudos ainda serão realizados e muitos mitos ainda serão
contados sobre este gigante gasoso, suas luas e seus satélites.

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