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Quem não conhece a passagem bíblica que narra a insistência do baixinho

Zaqueu para ver Jesus? Sem dúvida, essa é uma das passagens mais conhecidas
do Evangelho e, por que não dizer, uma das mais emblemáticas! Em apenas dez
versículos toda essa narrativa, repleta de nuances, é apresentada. Embora sejam
poucos versículos, eles têm muito a nos ensinar.
O primeiro versículo do capítulo 19 do Evangelho de Lucas abre essa narrativa
dizendo que “Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade”. Uma coisa é
bastante evidente: se Jesus estava atravessando a cidade, certamente, estava se
dirigindo para algum lugar previamente planejado, afinal, Jesus não andava
desorientado por terras palestinas.

Foto ilustrativa: ZU_09 by Getty Images

Jesus encontra Zaqueu a caminho da cruz


Surge, neste ponto, uma primeira pergunta: para onde Jesus estaria indo? A
resposta pode ser facilmente encontrada se perseverarmos um pouco mais na
leitura desse mesmo capítulo 19. Jesus estava “subindo para Jerusalém”. Uma
segunda pergunta faz-se necessária: o que, afinal, Jesus iria fazer em Jerusalém?
Bom, a resposta para essa pergunta é extremamente importante. Jesus estava
subindo em direção a Jerusalém para ser julgado, condenado e morto.
Estava se aproximando, pois, o tempo em que Jesus cearia, pela última vez, com
Seus discípulos, passaria pela angústia suprema, seria preso, julgado, condenado
crucificado e morto. Note que Jesus não estava a passeio em Jericó, ao contrário,
estava se dirigindo para o momento mais decisivo da sua vida e, é claro, de toda
a humanidade. Afinal, a morte de cruz significou a remissão e salvação de todos
os seres humanos.

O encontro de Jesus com Zaqueu


Ao passar por aquela região, porém, Jesus encontrou um homem; seu nome era
Zaqueu. Zaqueu é derivado da palavra “Zakchaios”, um nome hebraico que quer
dizer puro, justo.
Apenas para abrir um parêntese, sabemos que, na Bíblia, o nome das pessoas está
diretamente ligado à sua missão específica. Por exemplo, Abraão significava “pai
de muita gente”. Não é por acaso que, a partir de Abraão, desenvolveu-se as três
grandes vertentes religiosas da humanidade: judaísmo, cristianismo e o
islamismo. Pedro (Petrus) quer dizer “pedra”: “…tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja (cf. Mt 16,18). O próprio nome de Jesus significa “Deus
que salva”, e, de fato, Jesus era Deus e salvou a todos. A Bíblia está repleta
desses exemplos.
Havia algo de estranho. “Zaqueu”, que significava “justo”, era um coletor de
impostos. Os coletores de impostos eram odiados pelos judeus, os compatriotas
de Jesus. Os judeus viam os coletores de impostos como grandes traidores, uma
vez que eles trabalhavam para o Império Romano. Eram vistos como alguém
que roubava o seu próprio povo.
No caso de Zaqueu, ainda tinha um agravante, ele não era um simples coletor de
impostos, a palavra o apresenta como o “chefe dos coletores”. Se os coletores de
impostos eram visto pelos judeus como pecadores e traidores, Zaqueu seria ainda
mais, o “chefe dos pecadores” ou o “traidor-mor”.
Zaqueu, que deveria ser “justo” em vista de seu nome, não agia como tal. Cabe,
aqui, uma reflexão importante. No batismo, nós nos transformamos em filhos de
Deus. Seja qual for o nome que recebemos dos nossos pais por ocasião do nosso
batismo, somos verdadeiros filhos de Deus. E se somos Filhos de Deus,
deveríamos estar agindo como tal. Mas será que estamos mesmo?
Leia mais:
.:Como era a sociedade no tempo de Jesus?
.: O vilarejo de Nazaré no tempo de Jesus
.: Reflita sobre a dimensão político-religiosa no tempo de Jesus
.: Continue a reflexão sobre a dimensão político-religiosa no tempo de
Jesus
Faz parte da filiação a busca da confiança. O filho que se percebe vulnerável sabe
que pode confiar em seu pai (ou, pelo menos, deveria ser assim). O filho também
é aquele que obedece, que se deixa guiar, ser conduzido (pelo menos, deveria ser
assim). É aquele que possui a mente sempre aberta para receber os ensinamentos
de seu pai e o coração escancarado para dele receber amor e carinho (ou, pelo
menos, deveria ser assim). O filho, em suma, precisa ser filho, pelo menos,
deveria ser assim. Refaço, então, a seguinte afirmação: somos, verdadeiramente,
filhos de Deus! Se não o estamos sendo, “Zaqueu” poderia ser o nosso nome.
Nossa reflexão não para por aqui. No próximo artigo, refletiremos um pouco
mais sobre o encontro de Jesus com Zaqueu.
Deus abençoe você e até a próxima!

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