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Revista de Jovens e Adultos da

Convenção Batista Fluminense

Reflexões
das cartas
de Tiago, I e
II Pedro e
Judas

Pr. Ronaldo Gomes de Souza


Revista evangélica trimestral da Convenção
Batista Fluminense.
O intuito desta revista é servir de material de
educação religiosa acerca do que é ensinado na
Palavra de Deus, pela leitura e interpretação dos
escritores destas lições.
Esta revista não é um manual para a vida cristã, é
apenas um material de auxílio educacional. Antes
de tudo leia a Bíblia, que é a Palavra de Deus.
Publicada pela Convenção Batista Fluminense,
sob cuidado do Departamento de Educação
Religiosa e produção do DECOM (Departamento
de Comunicação).

(21) 9 9600-6132 | contato@batistafluminense.org.br


Rodovia BR-101, KM 267 - Praça Cruzeiro, Rio Bonito/RJ
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Sumário
7 Primeiras Palavras

13 Palavra Especial aos Pais

17 Palavra do Redator

21 Apresentação – Quem Escreve

24 Lição 1 A Fé e as Provações

33 Lição 2 A Fé e o Convívio Social

41 Lição 3 A Fé e as Obras

49 Lição 4 A Fé e as Palavras

57 Lição 5 A Fé e a Opressão

66 Lição 6 A Esperança na Verdade

75 Lição 7 O Imperativo da Santidade

83 Lição 8 A Verdade para Fazer a Diferença

93 Lição 9 A Verdade no Relacionamento Conjugal

101 Lição 10 O Sofrimento em Nome da Verdade

110 Lição 11 Cristo é a Verdade Suficiente

118 Lição 12 A Vitória da Verdade

126 Lição 13 A Defesa da Verdade

135 Ficha Tècnica


Primeiras Palavras
Pr. Amilton Ribeiro Vargas
Diretor Executivo da CBF
Membro da PIB
Universitária do Brasil

Não Reclame,
Agradeça!

Não é raro vivermos reclamando e murmurando,


isso tem roubado a nossa alegria e, muitas vezes,
nossa intimidade com o Pai é afetada pela ingrati-
dão sem que percebamos. A nossa vida é como uma
gangorra. Temos altos e baixos, momentos de ale-
gria e tristeza, lágrimas e risos, escassez e bonança,
avanços e retrocessos. Pessoas, coisas e circunstân-
cias causam-nos estresses. Entretanto, são as afli-
ções para as quais o Senhor Jesus já nos advertiu
preventivamente. “no mundo tereis aflições...” (João
16:33). As adversidades não podem tirar nossa ale-
gria, tampouco determinar nossa felicidade ou obs-
curecer nossa gratidão a Deus e às pessoas que o
servem.

Ser grato é uma determinação, não uma alternati-


va a concordar por sua escolha ou humor, a palavra
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de Deus é cheia de orientações com esta ordem: “...E
sede agradecidos.” (Colossenses 3.15).

Tendo comunhão com Deus é impossível deixar


de enxergar os incontáveis motivos de agradecer a
Deus.

A ingratidão fecha portas e nos cega em relação


aos motivos para agradecer. Corremos o risco de co-
meter injustiças e esquecer o quanto fomos ajuda-
dos. Veja essa história de autor desconhecido:

“Um rei perverso tinha dez cães selvagens. Quan-


do um servo cometia um erro ele o jogava para os
cães para ser devorado, daí um dos servos mais an-
tigos fez algo errado. O rei ordenou que ele deveria
ser jogado aos cães. O servo disse: “Eu o servi por
dez anos, por favor me dê dez dias antes de me jo-
gar aos cães?” O rei lhe concedeu.

Na prisão o servo disse ao guarda que gostaria de


servir aos cães durante os próximos dez dias. O guarda
concordou e o servo pôde alimentar os cães, limpar
o canil e banhá-los com todo o carinho. Quando os
dez dias acabaram, o rei ordenou que o servo fosse
jogado aos cães como punição. Quando foi lançado,
todos ficaram surpresos ao ver apenas os cães vora-
zes lamberem os pés do servo! O rei, perplexo com
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o que estava vendo, disse: “O que aconteceu com
meus cães?” O servo respondeu: “Eu servi aos cães
apenas dez dias e não esqueceram os meus servi-
ços. Eu o servi por dez anos e o senhor se esqueceu
de tudo no meu primeiro erro.” O rei percebeu seu
erro e ordenou que o servo fosse restabelecido ao
cargo”.

Dedicado a todos aqueles que se esquecem de


uma palavra linda: “GRATIDÃO”, esquecendo às coi-
sas boas que uma pessoa fez e assim que ela co-
mete um erro, a condenam. Que possamos sempre
ver o melhor nos outros e olharmos apenas para os
nossos erros.”

9
Palavra Especial aos Pais
Dilene Monteiro
Psicopedagoga Institucional do Colégio Batista de Campos

Com a educação partilhada construímos o caráter


do cidadão consciente que almejamos hoje em nossa
sociedade. A educação passa pela família e depois
pela escola, mostrando seus reflexos nas relações
sociais. Diversos benefícios são possíveis por meio
da interação entre família e escola no processo de
aprendizagem. E é nesse sentido que a família passa a
participar da escola, com pequenas intervenções no
processo educacional do estudante, que gera gran-
des mudanças no seu comportamento e aprendizado.
Ao demonstrar interesse pela vida escolar dos filhos,
os pais desenvolvem uma parte fundamental em seu
processo de aprendizagem e, ao perceber este in-
teresse, o estudante sente-se valorizado, desenvol-
vendo-se de forma segura e com boa autoestima.

“Quando os pais iniciam uma parceria com a esco-


la, o trabalho com as crianças e jovens pode ir além
da sala de aula, e as aprendizagens na escola e em
casa passam a se complementar mutuamente” (SPO-
DEK; SARACHO, 1998, p. 167).
Colégio Batista Fluminense.
Educação por Princípios para
uma vida com Propósito
13
Palavra do Redator
Pr. Alonso Colares

“Abre tu os meus olhos,


para que veja as mara-
vilhas da tua lei.” Salmo
119.18
É com grande satisfa-
ção que entregamos,
ao nosso querido povo,
as lições do terceiro tri-
mestre de dois mil e
vinte e dois. Com os corações agradecidos devido
à maravilhosa bondade e graça de Deus, continua-
mos firmes na aprendizagem e no aprendizado das
Escrituras por meio da nossa bendita Escola Bíblica
Dominical. A nossa oração ao Senhor direciona-se a
rogar as mais ricas bênçãos celestiais sobre a vida
de cada professor e professora; dos irmãos e irmãs
que trabalham na coordenação e, é claro, na vida
de cada aluno e aluna da nossa EBD. Oramos, tam-
bém, a fim de que as nossas lições, da revista Pala-
vra e Vida, possam ser um instrumento do Senhor
no aprimoramento da fé e do conhecimento da ver-
dade do Senhor, assim como o salmista expressou
em Salmo 119.18: “Abre tu os meus olhos, para que
veja as maravilhas da tua lei”.
Vale dizer que é justamente acerca de ‘fé’ e ‘verda-
de’, que refletiremos nesse trimestre. O tema será:

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Fé e Verdade: reflexões nas cartas de Tiago, I e II
Pedro e Judas. Essas cartas nos ensinam, valorosa-
mente, no que tange a nossa fé.
A fé, na verdade eterna, pode ser demonstrada por
meio de: atitudes, palavras, provações, relaciona-
mentos, bem como na espera do Mestre, na defesa
do Evangelho, enfim, a fé está presente nos círculos
existenciais da vida do discípulo de Jesus.
A pessoa, a qual nos conduzirá nessas reflexões,
será o Pr. Ronaldo Gomes de Souza, Pastor da Igreja
Batista no Jardim Aeroporto, em Campos dos Goy-
tacazes/RJ, a quem já agradecemos muito pelo be-
líssimo trabalho. O Pr. Ronaldo é professor das dis-
ciplinas: Grego e Exegese, da nossa amada FABERJ,
e um profundo expositor das Escrituras. Nossa ex-
pectativa é que, você, seja abençoado e fortalecido
em sua fé, via essas preciosas lições.
Não podemos deixar de mencionar, também, a
enorme gratidão à equipe de revisores da FABERJ,
bem como ao trabalho incansável das nossas Edu-
cadoras Cristãs na elaboração dos recursos didáti-
cos. Além, indubitavelmente, do brilhante trabalho
que o Pr. Rodrigo Zambrotti e toda a sua equipe têm
realizado no layout da nossa amada revista.
Por fim, alicerçados nesta fé bendita, cresçamos
em ‘unidade’, na ‘verdade do Senhor’. Que Deus te
abençoe, poderosamente!

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Apresentação

Quem escreve

Pr. Ronaldo Gomes de Souza


Nascido em 17/02/1963, ordenado ao Ministé-
rio Pastoral em 05 de outubro de 1985, exercen-
do desde 22 de fevereiro de 1987 o pastorado
na Igreja Batista No Jardim Aeroporto, Campos
dos Goytacazes, RJ. Casado com Ana Mírian
Crispim Pereira de Souza (27/05/1989), o casal

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possui dois filhos: Raiana Pereira de Souza, exer-
cendo a medicina na cidade Rio de Janeiro, e
André Pereira de Souza, que está se preparan-
do para o ministério pastoral. Formou-se pelo
Seminário Teológico Batista Fluminense – hoje
FABERJ (1986) e possui o título de mestrado livre
em teologia (concentração em AT) no Seminá-
rio Teológico Batista do Sul do Brasil (1995). For-
mado em Psicologia (Universidade Estácio de
Sá – 2008) e especialista em Gestão de Educa-
ção pela UNOPAR (Universidade Norte do Pa-
raná - 2012). Foi coordenador do curso de teolo-
gia no Seminário Teológico Batista Fluminense
por cerca de 22 anos, onde também lecionou
diversas disciplinas. Atualmente, é professor de
grego e exegese no Novo Testamento na FA-
BERJ (Faculdade Batista do Estado do Rio de
Janeiro), Campos dos Goytacazes, RJ.

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a campanha!
Lição 1

Texto Base: Tiago 1:2-18

A Fé e as
Provações

O Novo Testamento fala de vários homens com o


nome Tiago (Mc 1:19, 3:18; Lc 6:16; Gl 1:19; At 12:17,15:13).
Toda a discussão sobre autoria e data tomaria um es-
paço que não temos aqui. Há discussões acerca da
identificação de cada um deles, se as referências são
sobrepostas (mais de um texto se referindo à mes-
ma pessoa) e qual deles seria o autor da carta. Para
fins didáticos, assumimos, aqui, o posicionamento ao
lado daqueles que consideram como autor o Tiago,
‘irmão do Senhor’, e, quanto à data, referimos em tor-
no do ano 60 d.C.
A característica marcante da carta é o ensino de
que a verdadeira fé cristã se evidencia em ‘ações’,
contrastando com a atitude dos cristãos que se sa-
24
tisfazem com uma fé acomodada e que faz conces-
sões ao estilo de vida mundano, querendo ‘tirar pro-
veito’ do que há de melhor deste mundo, ao passo
que deseja, também, auferir dividendos do mundo
vindouro.
Nestes primeiros cinco estudos, separamos alguns
assuntos que se destacam na carta, para que possa-
mos refletir e praticar, começando por um tema que
está dentro do nosso contexto de vida nesse tempo.

1. Alegria nasprovações (1:2)


A afirmação de Tiago, neste versículo, é grande-
mente paradoxal. Dificilmente, imaginamos a possi-
bilidade de desfrutarmos ‘alegria’ nas provações, pois
estas nos lembram dor, sofrimento e dificuldades. So-
mos ensinados a buscar o prazer e evitar a dor. Pri-
meiramente, é importantíssimo observar que o texto
diz que devemos ter alegria em meio às provações,
não por causa delas. Somos chamados a conside-
rar, ponderar, expressão que significa uma atitude
que envolve reflexão, algo que ocupe o pensamen-
to principal na mente de uma pessoa. O ensino, en-
tão, é que ao virem as provações, devemos exercitar
nossa mente a olhar para os resultados benéficos da
provação, ao invés de sermos dominados pela re-
clamação, pelo desespero ou pela revolta pelas cir-
cunstâncias que nos oprimem.
A palavra provação (peirasmoîs) pode ser traduzida
por adversidade, problema, julgamento, experimen-

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to, aflição e, no aspecto negativo, tentação, como al-
gumas de nossas versões traduzem. O contexto nos
leva à preferência por uma das palavras relacionadas
à aflição, provação. Quero chamar a atenção para o
verbo ‘passarem’ (peripésēte) que, literalmente, sig-
nifica “estarem totalmente cercados por”, que faz ser
ainda mais desafiador mantermos a alegria, pois não
se trata de provações distantes, esporádicas, mas
uma dura realidade de estarmos envolvidos, cerca-
dos por provações de todos os lados.

Pensemos um pouco e concluiremos que, esta é


uma verdade patente em nosso viver. Há provações
no ambiente pessoal, ministerial, eclesiástico, fami-
liar, social, enfim, todo o lugar para o qual nos vira-
mos há provações. Fica claro que, aqueles os quais
pregam uma vida cristã triunfalista, sem crises, estão
espalhando falsas notícias. Estar em Cristo não nos
isenta de lutas e dificuldades. Por exemplo, estamos
desde 2020 passando por uma pandemia mundial
que tem provado nossa fé, nossas emoções e nosso
convívio interpessoal. Ainda assim, somos exortados
à alegria, a qual apenas o Espírito Santo pode im-
plantar em nossos corações como fruto que ele se-
meia em nosso interior. Portanto, quando sobrevêm
as provações, devemos adotar uma atitude alegre.
Isto não é fingimento ou autosugestionamento, con-
tudo, olhar as provações sob a perspectiva da fé.

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2. Colhendo frutos nas
provações (1:3-12)
Se não bastasse ensinar que devemos ter alegria
em meio às provações, o Apóstolo Tiago nos ensina
que há bons frutos a serem colhidos por tais circuns-
tâncias. Vejamos quais frutos são estes:
a) Perseverança: a palavra grega descreve o pe-
ríodo que o trabalhador suporta um trabalho pesa-
do e cansativo. As provações produzem resistência,
desde que conectadas com a fé ativa e dinâmica e
que avança mesmo sob as chicotadas do dia a dia.
Ao enfrentarmos e superarmos as tribulações pela
fé, nosso caráter se torna mais perseverante. O autor
Strong sustenta que: a perseverança é “...a caracte-
rística de um homem que não se desvia de seu pro-
pósito deliberado, sua lealdade à fé e piedade, até
mesmo pelas maiores provações e sofrimentos”.
b) Maturidade: “sejam maduros e íntegros” ou
“perfeitos e completos”. Entre os gregos, os termos
serviam para designar a chegada à maioridade ci-
vil, quando a pessoa se tornava responsável por si
mesma. O fruto desta vez é tornar-se maduro após
passar pelos estágios necessários para alcançar o
objetivo final. O fruto que nos alimenta passa por um
longo processo até estar pronto e da mesma forma é
a nossa caminhada em direção à maturidade. O ob-
jetivo é sermos completos, íntegros em cada área de
nossa vida, sem que haja falta de coisa alguma, não
no sentido de posses materiais, mas do caráter cris-

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tão provado e aprovado, pronto para vivermos neste
mundo como aqueles que refletem a luz de Cristo.
Deus não se contenta com um trabalho inacabado, o
Senhor quer realizar uma obra perfeita e deseja que,
ao final, sejamos maduros e completos.
c) Oração: passar por provações requer sabedoria
e esta se adquire pela ‘oração’. Sabedoria não é co-
nhecimento, cultura ou filosofia especulativa. Não há
faculdade para aprendê-la; não é inata; não é con-
sequência da idade nem mesmo fruto da mera ob-
servação dos fatos da natureza. Ela é uma doação
de Deus. Sabedoria, no pensamento hebraico, sig-
nificava empregar o que se aprendia à uma manei-
ra correta de encarar a vida. Por isso, o conteúdo de
nossas orações ao passarmos pelas dificuldades é:
pedir-lhe sabedoria. Somos ensinados não apenas a
pedir, mas também como pedir. Devemos pedir com
fé, pois o maior empecilho para as respostas à ora-
ção é a incredulidade.
A pequena história, a seguir, ilustra muito bem o
pensamento a ser destacado: Certo pastor abordou
uma irmã que passava por grandes provações. Ela
teve um derrame, seu marido ficou cego e foi leva-
do para o hospital com chances reduzidas de cura.
O pastor disse à irmã: estou orando por você. O que
você está pedindo que Deus faça? - perguntou a irmã.
Estou pedindo que Deus a ajude e fortaleça – res-
pondeu o pastor. Agradeço suas orações - disse ela,
mas peça mais uma coisa. Ore para que eu tenha sa-
bedoria para não desperdiçar essa experiência toda!

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d) Cumprimento das promessas: aquele que per-
severa ante as provações é bem-aventurado e rece-
berá a coroa da vida. Essas palavras estão no verso
12. “Bem-aventurado” é a mesma expressão do Ser-
mão do Monte (as bem-aventuranças – Mt 5:3-11), que
significa aquela pessoa digna de admiração e felici-
tação, que vive em bem-estar. ‘Persevera’ (hypoménō
no grego) significa ficar, permanecer, sustentar um
peso, o que, para o crente, só é possível mediante
a atuação do poder de Deus sobre ele. Estamos de
passagem neste mundo e este período é de prova-
ções, no intuito de sermos aprovados e recebermos a
promessa da coroa da vida. A palavra ‘aprovado’ tem
um belo significado aqui. Significa o que passa no
teste necessário e genuíno, portanto, aceitável após
ser verificado e validado. Esta era a palavra usada
para confirmar que uma moeda não era falsa, após
passar pela observação dos especialistas. Estamos,
neste mundo, sendo submetidos aos testes divinos.
Desse modo, Ele os aplica, avalia e aprova (ou re-
prova). A recompensa, a coroa da vida, é a mesma
prometida aos crentes da igreja de Esmirna (Ap 2:10),
que mesmo sob à ameaça de morte, perseveraram.

3. Lidando com as provações (1:13-18)


A palavra ‘provação’ tem, também, uma conotação
negativa como tentação. Todavia, não se deve atribuir
a Deus as tentações, pois, Ele é perfeitamente santo
e a ninguém tenta. Deus pode nos provar como fez
com Abraão (Gn 22), porém jamais nos tentará. Vale
dizer: nós é que podemos transformar ocasiões de
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prova em tentações. A tentação pode até ser uma
oportunidade de realizar algo bom de maneira erra-
da, fora da vontade de Deus. Por exemplo: não é er-
rado querer passar em uma avaliação na Escola, mas
é errado ‘colar’ para ser aprovado. Vejamos como po-
demos lidar com as provações.
a) Não transformar a tentação em desculpa para
o pecado (1:13-16): o texto apresenta os quatro está-
gios para a consecução do pecado: cobiça (v.14), se-
dução ou engano (v.14), desobediência (v.15) e morte
(v.15). Quando a tentação vir em nosso pensamento,
é importante desviarmos a nossa mente para as con-
sequências do pecado, a saber, o juízo condenatório
de Deus. Como diz o texto: “o pecado consumado
gera a morte”, o que Paulo concorda: “porque o salá-
rio do pecado é a morte” (Rm 6:23).
b) Diante da tentação, devemos lembrar de que
Deus é bom (1:17): “a bondade de Deus é uma gran-
de proteção para não cedermos à tentação. Uma vez
que Deus é bom, não precisamos de alguém mais
para suprir nossas necessidades. É melhor passar
fome dentro da vontade de Deus do que estar sa-
ciado fora da vontade de Deus. Uma vez que come-
çamos a duvidar da bondade de Deus, as ofertas de
Satanás tornam-se atraentes, e os desejos naturais
dentro de nós se afloram”. O versículo 17 nos mostra
quatro realidades acerca da bondade de Deus, que
jamais devemos esquecer: Ele nos dá apenas boas
dádivas, a maneira como Deus dá é boa; Ele nos dá
de forma contínua (o Verbo descendo traz a ideia de
descer continuamente); Ele não muda (“É impossí-
30
vel Deus mudar. Não pode mudar para pior, porque
é santo; não pode mudar para melhor, porque já é
perfeito”).
c) Diante da tentação, precisamos lembrar que
temos a natureza divina em nós (1:18a): Deus de-
cidiu nos gerar pela Palavra da verdade. Nascemos
do alto, pela graça e por meio da Palavra de Deus
e não existe nascimento mais nobre do que este. “É
a experiência de novo nascimento que nos ajuda a
vencer a tentação. Se deixarmos que a velha nature-
za (do primeiro nascimento) assuma o controle, se-
remos derrotados. Recebemos a velha natureza (a
carne) de Adão, e ele fracassou. No entanto, se nos
sujeitarmos à nova natureza, seremos vitoriosos, pois
a nova natureza vem de Cristo, e Ele é o Vencedor.”

Conclusão
Wiersbe comenta que: “o Senhor precisa operar
em nós antes de poder operar por meio de nós. Deus
passou 25 anos trabalhando na vida de Abraão an-
tes de lhe dar o filho prometido. Trabalhou 30 anos
na vida de José, fazendo-o passar por “várias prova-
ções”, antes de colocá-lo no trono do Egito. Passou
80 anos preparando Moisés para 40 anos de servi-
ço. Cristo levou 3 anos para treinar seus discípulos e
construir o caráter deles”. Estes são exemplos com-
probatórios de que as provações refinam e fortale-
cem nossa fé. Ninguém gosta de passar por prova-
ções, porém, elas servem para nos fortalecer e ajudar
a crescer. É muito fácil seguir Jesus quando vai tudo
31
bem, mas a grande prova de nossa fé é quando pas-
samos por dificuldades. Será que amamos Jesus de
verdade ou somente queremos as coisas boas que
ele oferece? Será que estamos mesmo prontos para
seguir Jesus em todas as circunstâncias? A provação
é o teste eficaz da fé.

Para pensar e agir


1. Você está lembrando de alguma provação pela
qual passou e venceu?
2. Você está passando por alguma provação ago-
ra? Saiba que, por ela, Deus está criando raízes em
sua fé nele.
3. Como você pode ajudar aquelas pessoas que
estão hoje sob o peso de uma provação?

Leitura Diária

SEG Romanos 5:1-5

TER Romanos 8:15-18

QUA Gênesis 22:1-18

QUI Salmo 11:1-5

SEX Salmo 66:8-20

SÁB Tiago 1:2-18

DOM Tiago 5:7-12

32
Lição 2

Texto Base: Tiago 2:1-13

A Fé e o
Convívio
Social

A análise sobre o tema da discriminação é bem


presente no mundo atual. Englobamos, aqui, a dis-
cussão sobre discriminação racial, a discriminação
religiosa, a discriminação quanto a assim chamada
orientação sexual, a discriminação social, entre tan-
tas outras.
Algumas destas questões não estavam tão laten-
tes na época de Tiago, pelo menos não com a inten-
sidade em que são discutidas hoje. Todavia, a dis-
criminação social abordada por Tiago compreende
princípios de validade para todos os tempos. Nos
tempos do Apóstolo, os mais ricos eram mais bem
recebidos, dando até a impressão de estarem sendo

33
bajulados, enquanto os mais pobres eram deixados
de lado, não recebiam a mesma atenção. A orien-
tação de Tiago é clara: o modo de agir em relação
às pessoas demonstra as verdadeiras convicções a
respeito de Deus.
Vamos nos deter, então, quais os fundamentos que
o cristão tem para não aceitar nem praticar a discri-
minação contra o seu próximo.

1. O exemplo de Jesus (2:1-4)


A competição entre as pessoas por reconheci-
mento, louvor e honra parece estar constantemen-
te presente na sociedade humana, independente
da época. As parábolas que Jesus conta, em Lucas
14:7-14, tratam dessa questão, como também o faz a
condenação dos fariseus em Mateus 23. Temos esse
mesmo problema hoje. Encontramos ‘alpinistas so-
ciais’ na política, nos negócios, na sociedade e, até,
na igreja. Infelizmente, não é incomum encontrar nas
igrejas: os grupinhos; as ‘panelinhas’, os quais podem
acarretar dificuldades para os recém-convertidos se
entrosarem. Se você acha que não é bem assim, co-
mece pelas palavras de Paulo em I Coríntios 3:1-8,21-
23. Alguns membros de igreja usam cargos de lide-
rança para realçar sua imagem de relevância. Muitos
cristãos, para os quais Tiago escreveu, disputavam
cargos dentro da igreja, e por isso, sofrem severa ad-
vertência (Tg 3:1).

34
Em Jesus, aprendemos atitudes totalmente dife-
rentes. Ele experimentou rejeição no mais alto nível,
a ponto de ser condenado à morte por inveja e des-
peito dos líderes religiosos judeus. Entretanto, os ini-
migos de Jesus reconheceram que suas credenciais
eram diferenciadas: “Mestre, sabemos que és íntegro
e que ensinas o caminho de Deus conforme a verda-
de. Tu não te deixas influenciar por ninguém, porque
não te prendes à aparência dos homens.” (Mt 22:16b).
O episódio em que a viúva pobre oferece sua oferta é
mais uma prova de como Jesus olhava a questão do
favorecimento pessoal, (Mc 12:41-44), contrastando
com a tendência humana de julgar outros pela apa-
rência ou seu passado, coisas que são unicamente
exteriores. Saulo, quando se converteu, experimen-
tou essa desagradável situação. A igreja de Jerusa-
lém teve medo de recebê-lo, sendo necessário que
Barnabé tomasse a iniciativa de romper tais barreiras
(At 9:26-28).

2. O tratamento gracioso de Deus para


com todos (2:5-7)
Ora, fica claro aqui que Deus não leva em conta as
diferenças nacionais ou sociais. Ele é gracioso para
com todos. (At 10:34). A despeito de os cristãos judeus
ficaram estarrecidos quando Pedro visitou a casa de
um gentio chamado Cornélio, pregou aos gentios
e, até, comeu com eles. Os senhores e escravos (Ef
6:9), bem como os ricos e os pobres, são iguais para
35
Deus. O Apóstolo Tiago ensina que a graça de Deus
transforma o homem rico em pobre, pois, este não
pode depender de sua riqueza; também transforma
o homem pobre em rico, pois, Aquele lhe dá como
herança as riquezas da graça de Cristo.
Quando compreendemos e vivenciamos realmen-
te a graça de Deus, nos relacionamos com as pes-
soas com base no plano de Deus, não no mereci-
mento do homem, na sua posição social, na sua cor,
ou na sua circunstância presente. A igreja não pode
se prender a uma classe social, a um estrato da so-
ciedade, seja ele qual for. Quando Jesus morreu na
cruz, desfez-se o muro que separava judeus e gen-
tios (Ef 2:11-22). Com sua obra salvadora, morte e res-
surreição, Jesus derrubou todos os muros que o ho-
mem construiu, constrói ou venha a construir. Ricos
e pobres, jovens e velhos, cultos e incultos, e qual-
quer outro rótulo antagônico foi desfeito. No entanto,
os textos mencionados não induzem, muito menos
autorizam, nós chegarmos à conclusão universalista,
a qual afirma que todos serão salvos, até mesmo o
diabo e seus anjos, e o inferno é uma simples metá-
fora das contradições existentes na criação. Esse é
um pensamento confuso, ilusório e antibíblico. Deus
é bom, gracioso e justo!

3. O ensino da Palavra de Deus (2:8-11)


O Apóstolo Tiago recorre ao Antigo Testamento
para lembrar um dos mandamentos mais conheci-
36
dos: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv
19:18). Na parábola do “bom samaritano”, aprende-
mos que o próximo é toda pessoa que precisa de
ajuda. Com efeito, este mandamento é considerado
a regra de ouro da relação cristã. Em primeiro lugar,
porque foi Deus quem deu esta ordem com o amor
que procede dele e, assim, Ele espera que comparti-
lhemos esse amor com os outros. Em segundo lugar,
porque “amar o próximo” é a regra que traz sentido
para todas as outras leis: “o cumprimento da lei é o
amor” (Rm 13:10). Se cada pessoa amasse, de fato,
seu próximo, não haveria necessidade de ter milha-
res de leis tão complexas.
Praticar o amor cristão não significa que devo gos-
tar de uma pessoa e concordar com ela em tudo.
Posso não gostar de seu modo de falar, dos seus
hábitos e nem é necessário tê-la como alguém que
vive dentro do meu círculo de intimidade. Praticar
o ‘amor cristão’ significa tratar os outros da manei-
ra como Deus nos trata. É um ato da vontade, não
um mero sentimentalismo fabricado artificialmente.
Amar, é glorificar a Deus!

4. Temor do julgamento de Deus


(2:12,13)
Não obstante, O Apóstolo Tiago nos adverte acer-
ca da justiça de Deus e o quanto importa temermos
o seu justo julgamento. Tanto Jesus, quanto Paulo
(João 5:24, Rm 8:1), expressam com total clareza que
37
os cristãos jamais serão julgados por seus pecados;
mas nossas obras serão julgadas e recompensadas
(Rm 14:10-13; II Co 5:9,10). Os versículos 12 e 13 nos
apresentam três ensinos sobre o juízo de Deus em
relação ao fato de que devemos ter cuidado com o
que falamos e como tratamos as outras pessoas:
a) Nossas palavras serão julgadas (v.12a): aquilo
que dizemos para as pessoas e a forma como dize-
mos será colocado diante de Deus. Até mesmo nos-
sas palavras descuidadas serão julgadas (Mt 12:36);
b) Nossos atos serão julgados (v.12b): Deus não
se lembra mais de nossos pecados de modo a nos
condenar por eles (Jr 31:34; Hb 10:17), mas esses pe-
cados afetam nosso caráter e nossas obras. “Não é
possível pecar levianamente e, ao mesmo tempo,
servir com fidelidade. Deus perdoa nossos pecados
quando os confessamos a ele, mas não pode mudar
suas consequências”;
c) Nossas atitudes serão julgadas (v.13): Há duas
atitudes contrastantes: demonstrar misericórdia para
com outros e se recusar a demonstrar misericórdia.
Se somos misericordiosos com os outros, Deus será
misericordioso conosco. No entanto, não devemos
desvirtuar essa verdade e transformá-la em algo fal-
so. Não há o ensino de que se nos esforçarmos em
sermos misericordiosos, mereceremos a misericór-
dia da parte de Deus. Isso é impossível, até mesmo
pelo próprio significado da palavra misericórdia (não
recebermos o que merecemos), pois se merecêsse-
38
mos, não estaríamos sendo tratados com misericór-
dia nem com graça!
Seremos julgados “pela lei da liberdade”. Liberda-
de não é sinônimo de licenciosidade. A licenciosi-
dade (fazer tudo o que se tem vontade) é o pior tipo
de escravidão. “Ser livre significa ter liberdade para
fazer tudo o que é permitido em Jesus Cristo. Licen-
ciosidade é confinamento, liberdade é realização.”

Conclusão
Os princípios aqui estudados sobre o assunto “dis-
criminação” podem ser aplicados a todas as áreas
que a sociedade hoje tanto discute, de forma aca-
lorada, extremista e buscando mais o confronto do
que o diálogo. O fato de aprendermos, nesta lição,
que não devemos agir com discriminação, não signi-
fica que vamos abrir mão de princípios, valores e en-
sinos da Palavra de Deus, mesmo quando os assun-
tos são difíceis ou ‘polêmicos’. Vale dizer que, onde
a Palavra de Deus é assertiva, proposicional, não há
o que discutir, duvidar ou buscar um acordo com o
mundo. O que precisamos, é ter a mente e o cora-
ção abertos para apresentar a verdade com amor às
pessoas, lembrando que a Bíblia Sagrada diz que: “...
mas onde aumentou o pecado, transbordou a gra-
ça”. (Rm 5:20).
39
Para Pensar e Agir
1. Você tem dificuldade de dialogar com aqueles
que vivem e pensam diferente de você e respeitá-
-los?
2. Você consegue separar o fato de não discriminar
as pessoas com o não concordar necessariamente
com seus pensamentos e atitudes?
3. Você está consciente de a Bíblia Sagrada ser
proposicional, assertiva, em muitos assuntos que são
polêmicos na sociedade, mas que entre o ‘politica-
mente aceitável’ e os princípios eternos do Senhor,
estes têm preeminência e proeminência?

Leitura Diária

SEG Lucas 10:25-37

TER Marcos 12:41-44

QUA Atos 10:1-8

QUI Atos 10:9-16

SEX Atos 10:17-48

SÁB Tiago 2:1-7

DOM Tiago 2:8-13

40
Lição 3

Texto Base: Tiago 2:14-26

A Fé e
as Obras

Hoje, iremos refletir sobre algo que tem sido fon-


te de discussão acalorada entre diversos escritores
e intérpretes bíblicos ao longo de décadas, alguns
até mesmo sugerindo equivocadamente que haja
uma divergência entre o que o Apóstolo Paulo sus-
tenta em suas cartas e o que o Apóstolo Tiago sus-
tenta nesta passagem.

É importante deixar claro que, Tiago não nega de


forma alguma que a salvação vem pela fé, unica-
mente pela fé! No entanto, ele mostra o ‘outro lado
da moeda’, criticando um cristianismo apenas de
emoções, de sentimentalismo, ao invés de atitudes
efetivas em favor do próximo. A fé salvífica é dinâmi-

41
ca, fruto da vivência ‘na’ e ‘da’ Palavra. Assim, o tipo
de fé que Tiago nos ensina é aquela que alguém
definiu da seguinte forma: “fé não é crer apesar das
evidências, mas obedecer apesar das consequên-
cias”.

Vejamos, então, os ensinos desses versos a res-


peito da ‘fé’.

1. A fé morta (2:14-17)
A fé morta seria um tipo de fé falsa e inútil. Analo-
gamente, assim como produtos de grandes marcas
sofrem com a falsificação do que produzem, mesmo
que a falsificação seja a mais bem feita, ainda assim
será algo falso. Do mesmo modo, aqueles que têm
a fé morta falam muito e agem pouco. As pessoas
com a fé morta colocam palavras no lugar de atos;
suas vidas não condizem com seus discursos. Elas
acreditam que suas palavras têm o mesmo valor de
obras, mas estão enganando a si mesmas.

O Apóstolo Tiago expõe a sua reflexão de uma


maneira bem simples e ilustrativa: “se um irmão ou
irmã estiver necessitando de roupas e do alimento
de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz,
aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem,
porém, lhe dar nada, de que adianta isso?” (2:15,16).
Com efeito, o cristão com a fé morta, vê e consta-
ta o necessitado precisando de roupas e de comi-
da, se aproxima dele e diz apenas palavras de âni-
mo, conforto ou, até mesmo, pode orar com ele e

42
por ele. Contudo, se tal cristão não faz coisa alguma
para suprir, dentro das suas próprias possibilidades,
as necessidades do que está carente, deve-se se
questionar tal fé. A falsa disposição para servir, faz
com que o Apóstolo irrompa em um veredito bem
claro (v.16): de que adianta tal fé? De que vale uma
fé em Deus que não observa os dois maiores man-
damentos: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo?”.

Ademais, como cristãos, temos a obrigação de


ajudar a suprir as necessidades dos outros sem fazer
acepção de pessoas. Paulo diz que devemos fazer
o bem a todos, principalmente àqueles que comun-
gam da mesma fé que nós (Gl 6:10). Jesus, também,
falou acerca da importância de atendermos àqueles
que padecem de alguma carência, seja ela alimento,
água, roupa ou uma visita para consolo ao que sofre
(Mt 25:35-46). Todos estes gestos, segundo Jesus,
estão sendo observados por Ele, como uma obra
feita como se fosse para Ele próprio: “o que vocês
fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o
fizeram”. (Mt 25:40b). O apóstolo João destaca o im-
perativo das boas obras: “Se alguém tiver recursos
materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não
se compadecer dele, como pode permanecer nele
o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra
nem de boca, mas em ação e em verdade.” (I João
3:17,18).

Portanto, a pergunta feita pelo Apóstolo Tiago, no


verso quatorze, precisa ser bem entendida – “po-
43
deria, acaso, esse tipo de fé salvá-lo?” Fica claro,
então, que o Apóstolo não está atrelando a salva-
ção às obras, mas, sim, ao fato daquele que diz ter
fé, mas ela nunca é vista na sua prática cotidiana.
Assim, qualquer declaração de fé que não seja de-
monstrada em mudança de vida e em boas obras é
uma fé falsa, morta e inútil.

2. A fé demonstrada pelas
obras (2:18-20)
Destarte, não são as obras que produzem fé ou
favor de Deus. Não obstante, dos versos dezoito até
o verso vinte, há uma declaração surpreendente: até
os demônios creem, e tremem (grego fríssousin -
estremecer, ser atingido com extremo medo, estar
horrorizado, eriçar)! O uso desta ilustração é uma
declaração surpreendente e chocante aos cristãos
indecisos.

Alguns ficam estarrecidos ao saber que os de-


mônios têm fé! Como assim? Eles creem? Sim! De-
mônios acreditam veementemente na existência de
Deus; não são ateus nem agnósticos. Creem ainda
na divindade de Cristo. O Novo Testamento teste-
munha que ao se depararem com Cristo, aqui na
Terra, deram testemunho de sua filiação (Mc 3:11,12).
Também creem na existência de um lugar de casti-
go (Lc 8:31); e reconhecem Jesus Cristo como o Juiz
(Mc 5:1-13). Sujeitam-se ao poder de sua Palavra.

Wiersbe (2007, v.6, p.458) nos ensina a respeito


44
deste particular: “Mas crer e tremer não são expe-
riências que produzem salvação”. Uma pessoa pode
ser esclarecida em sua mente e até tocada em seu
coração e, ainda assim, perder-se para sempre. A
verdadeira fé salvadora envolve algo mais, que pode
ser visto e reconhecido: uma vida transformada –
“Mostra-me essa tua fé sem as obras.”, desafiou Tia-
go, “e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.” (Tg
2:18).

Como é possível uma pessoa mostrar sua fé sem


as obras? É óbvio que uma pessoa morta não pode
fazer qualquer coisa. O morto, fisicamente, é inca-
paz de se movimentar, reclamar, falar. O morto espi-
ritual não pode da mesma formav, realizar qualquer
obra de fé. A Bíblia Sagrada nos diz: “Porque somos
criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fa-
zermos boas obras, as quais Deus preparou de an-
temão para que nós as praticássemos.” (Ef 2:10). Na
expressão “criação de Deus”, a palavra para ‘criação’
é ‘poiēma’, que significa trabalho feito, obra pronta,
de onde vem a nossa palavra ‘poema’, o que mostra
que Cristo completou sua obra em nós, para que
sejamos plenos na realização de obras plenas de fé.
O cristão tem fé em Cristo e vive para Cristo; recebe
a vida e revela vida. Sua fé não pode ser inoperan-
te (v.20), estéril ou inativa. Esta palavra (inútil) tem o
sentido de ‘ocioso, preguiçoso, irrefletido, inútil, pre-
judicial’. Vejam quantos sinônimos a fé morta pode
ter. Uma fé morta é preguiçosa e, até mesmo, pre-
judicial.

45
3. A fé eficaz (2:21-26)
Por outro lado, o Apóstolo Tiago nos lembra de
dois personagens do Antigo Testamento para nos
ensinar de que a fé produtiva é dinâmica, eficaz:
Abraão e Raabe. Dois personagens distintos, mas
que estão lado a lado, em Hebreus 11, na lista co-
nhecida como “galeria dos heróis da fé”.

A verdadeira fé salvadora conduz à ação. A fé efi-


caz não é uma contemplação intelectual nem um
estado de êxtase emocional. Não é uma ocorrência
isolada, mas continua ao longo de toda a vida, bem
como conduz às obras. Abraão era amigo de Deus,
enquanto Raabe pertencia a um povo inimigo de
Deus. O que tinham em comum? Os dois exercita-
vam a fé salvadora em Deus.

Sugiro a leitura de Gênesis Cap.15 e Cap.22, para


entender o contexto da vida de Abraão. Desta for-
ma, Gênesis se refere a este herói da fé: “Abrão creu
no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça.” (Gn
15:6). O verbo ‘creditar’ ou ‘imputar’ é um termo de
origem legal ou financeiro e significa “depositar na
conta de alguém”. Uma vez que Abraão era um ho-
mem pecador, estava em débito para com Deus. Ele
estava falido! No entanto, creu em Deus, que colo-
cou justiça em sua conta. “Abraão não trabalhou por
essa justiça; ele a recebeu como dádiva de Deus.
Foi declarado justo pela fé. Foi justificado pela fé”.
Eis o exemplo singular de um homem com uma fé
eficaz, dinâmica, segundo a qual devemos atentar e

46
buscar praticar.

Raabe nem mesmo pertencia ao assim chamado


“povo de Deus”. Ela possuía pouca informação so-
bre Deus ao seu alcance, para chegar a uma con-
clusão de que precisava crer. Por isso, podemos di-
zer como sua fé foi verdadeiramente extraordinária;
exemplo de uma fé eficaz e operante. Sua história é
registrada em Josué Cap.2 e Cap.6. Israel estava se
preparando para conquistar a cidade de Jericó. O lí-
der Josué enviou espias até a cidade, para explorar
o território. Os espias enviados encontraram Raabe,
uma meretriz que os protegeu e que, declarou crer
naquilo que Deus havia dito e naquilo que ele faria.
Ao partir, os espias prometeram preservar Raabe e
sua família quando a cidade fosse tomada, e cum-
priram essa promessa.

Mais tarde, seu descendente Boaz, que, casado


com Rute, gerou Obede, que foi pai de Jessé, que
gerou ao grande rei Davi. Portanto, aquela mulher
faz parte da genealogia terrena de Jesus. Que ma-
ravilhosa graça! Ela provou sua fé por meio de suas
obras. Mais uma fé dinâmica e eficaz, que transfor-
ma a vida e se põe a trabalhar para Deus.

Conclusão
Estudamos, nesta lição, que todo cristão madu-
ro ‘pratica a verdade’. Não está atrelado de forma
simplista a doutrinas antigas, mas as pratica na vida
diária. Tal cristão possui uma fé dinâmica tal como

47
Abraão e Raabe; uma fé que transforma a vida e que
se põe a trabalhar para Deus. É esta fé que precisa-
mos exercitar – produtiva, influenciadora, transfor-
madora.

Para Pensar e Agir


1. Você percebe a relevância de uma fé operante,
a qual frutifique?

2. Como você tem demonstrado sua fé em Deus,


por meio de ações concretas de obras de fé?

3. O que você pode fazer para ter uma fé produti-


va, tanto na sua vida pessoal como na vida coletiva,
da igreja a qual você pertence?

Leitura Diária

SEG Hebreus 11:1-6

TER Marcos 11:7-16

QUA Hebreus 11:17-29

QUI Hebreus 11:30-40

SEX Mateus 25:35-45

SÁB Tiago 2:14-19

DOM Tiago 2:20-26

48
Lição 4

Texto Base: Tiago 3:1-12

A Fé e as
Palavras

Hoje, iremos refletir sobre os efeitos que as pala-


vras podem fazer ‘sentir’ nas relações humanas. Com
relação a presente questão, o Apóstolo Tiago faz uso
do termo ‘língua’. O Apóstolo menciona acerca dos
estragos os quais a língua pode causar – o mesmo
de uma ‘fera indomável’ que, uma vez solta, ataca
com ferocidade tal que estraçalha suas vítimas. Ela
não é o maior órgão de nosso corpo, mas é apre-
sentado como sendo o mais perigoso, o mais letal,
quando não é controlado e usado de forma indevida,
espalhando palavras levianas e cheias de falsidade.

Vamos aprender com Tiago sobre esta fera qua-


se indomável – a língua, e como ela pode ser usada

49
tanto para o mal como para o bem. Ele nos ensina a
partir de seis figuras: o freio, o leme, o fogo, um ani-
mal venenoso, uma fonte e uma figueira. Essas seis
ilustrações podem ser agrupadas em três catego-
rias significativas, as quais revelam os três poderes
da língua.

1. A língua tem o poder de dirigir (3:1-4)


Temos, nestes versos, as figuras do freio ou cabres-
to colocado na boca do cavalo e do leme que está no
navio. Ambos são pequenos, se comparados ao que
os comanda. A figura do leme é mais contrastante
ainda, ao considerarmos o seu tamanho com o navio
que ele faz mover para um lado ou para outro. Pare-
ce que havia muitas pessoas que desejavam ensinar
e liderar entre os leitores de Tiago. Muitos queriam
e desejavam, na congregação, ensinar e ser líderes
espirituais, pois Tiago os adverte: “Meus irmãos, não
sejam muitos de vocês mestres.” (3:1). Muitos se sen-
tem atraídos pelo aparente prestígio que a liderança
na igreja parece oferecer, e se esquecem da extrema
responsabilidade e a prestação de contas que impli-
ca! Os que ensinam a Palavra serão julgados com
maior rigidez!

Não apenas os líderes, mas todo cristão deve re-


conhecer que “todos tropeçamos de muitas manei-
ras” (3:2), e os pecados oriundos do uso da língua
parecem ocupar o topo da lista. Se alguém pudesse
controlar a própria língua, poderia alcançar a perfei-
ção. Palavras impensadas também podem destruir
50
vidas; colocar a pessoa numa briga; separar amigos;
entre outros.

Freio e leme, dois pequenos objetos. Um peque-


no freio permite que o cavaleiro controle um grande
cavalo, e um pequeno leme permite que o timonei-
ro controle um navio enorme. Ambos devem supe-
rar forças contrárias. “O freio deve superar a natureza
selvagem do cavalo, e o leme deve lutar contra os
ventos e correntes que poderiam tirar o navio de seu
curso”. Da mesma forma, a língua humana também
deve superar forças contrárias, que é a velha natu-
reza, a qual deseja nos controlar e nos fazer pecar.
Tanto o freio quanto o leme precisam estar sob o
controle de uma mão forte. ‘O cavaleiro hábil man-
tém o grande poder sob seu cavalo, e o timoneiro
experiente pilota o navio, corajosamente, em meio à
tempestade’. Quando Jesus Cristo controla a nossa
língua, não precisamos ter medo de dizer coisas er-
radas, pois Ele é o timoneiro ou aquele que segura
as rédeas de nosso ‘falar’.

Prestem bem atenção a estes dois versículos: “A


língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que
gostam de usá-la comerão do seu fruto.” (Pv 18:21).
“Coloca, Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a
porta de meus lábios. Não permitas que o meu cora-
ção se volte para o mal, nem que eu me envolva em
práticas perversas com os malfeitores. Que eu nun-
ca participe dos seus banquetes!” (Sl 141:3,4). “Raça
de víboras, como podem vocês, que são maus, di-
zer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio
51
o coração.” (Mt 12:34). O freio e o leme servem para
dirigir, o que, como figura, ensinam que nossas pa-
lavras afetam a vida de outros. É o que estes versos
nos ensinam.

2. A língua tem o poder de destruir


(3:5-8)
As figuras usadas agora são as de um pequeno
fogo e de um animal venenoso. A palavra fogo vem
acompanhada do adjetivo ‘pequeno’, daí a ideia de
fagulha, uma faísca, que, mesmo muito pequena,
provoca grandes incêndios. A palavra traduzida por
veneno (ioû) também pode significar ferrugem (lem-
brando que a ferrugem tem o poder de corroer o
duro ferro) ou flecha. O sentido é a fala injuriosa dos
homens, que caluniam e, assim, prejudicam os ou-
tros, destruindo-lhes a reputação, podendo, literal-
mente, levar até mesmo à morte.

As pessoas, muitas vezes, não imaginam o grande


mal que comentários nada ‘inocentes’ podem gerar
na vida de outros. Não por acaso, a palavra fogo pode
ser traduzida também por flecha. Uma palavra ‘mal
dita’, se torna ‘maldita’, pois é como uma flecha que,
uma vez lançada, não volta mais. Há um pensamento
anônimo que afirma: “Há três coisas que jamais vol-
tam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade
perdida”. Quando falamos alguma coisa, não temos
mais controle sobre as interpretações e significados
que as pessoas darão as nossas palavras. Por isso,
devemos pensar muito antes de falar qualquer coisa,
52
especificamente, se tais palavras podem trazer de-
preciação a alguém e corroer a vida daquele sobre o
qual falamos. Palavras levianas podem começar um
grande estrago, como uma fagulha em uma flores-
ta. (leia Pv 26:20-26). O fogo queima e fere, e nossas
palavras podem fazer o mesmo.

A língua não é apenas semelhante ao fogo, mas


é também semelhante a um animal peçonhento. É
uma fera irrequieta, difícil de domar, que procura sua
presa, a ataca e a mata. Assim como há animais vene-
nosos, há também línguas venenosas, que agem de
maneira oculta e matam lentamente. Pessoas cheias
de malícia inoculam um pouco de veneno em uma
conversa, com a intenção de que suas palavras se
espalhem até chegar à outra pessoa que desejam
ferir. Línguas venenosas causam grandes estragos
na vida de indivíduos, de famílias, do ambiente de
trabalho, na escola e, até, na igreja! Será que alguém
soltaria um animal selvagem e faminto ou um monte
de cobras venenosas no meio de um culto na igre-
ja? Ou borrifaria um líquido inflamável no templo e
jogaria um fósforo aceso? Espero que não! Todavia,
a língua que não se contém, que destila veneno ou
lança uma fagulha, produz os mesmos resultados, e
não nos damos conta disso.

Somos lembrados que os animais podem ser do-


mados e o fogo controlado. Um animal, antes feroz,
pode ser domado e se tornar útil para o trabalho. O
fogo controlado pode gerar energia. No entanto, o
ser humano não tem como domar a língua; ela só
53
pode ser controlada por Deus.

3. A língua pode ser fonte de bênção


(3:9-12)
O Apóstolo Tiago nos mostra mais duas figuras:
uma fonte de águas e uma árvore frutífera. Uma fon-
te não pode, ao mesmo tempo, produzir água própria
para consumo humano e água poluída. Da mesma
forma, se a árvore for uma figueira, deverá produzir
figos, não azeitonas; se for uma videira, deverá pro-
duzir uvas, não figos. O ser humano precisa de água
para beber, lavar, cozinhar, cuidar de suas lavouras
e para uma série de outras atividades essenciais à
vida.

Como a água, nossas palavras também podem dar


vida. Entretanto, se não for controlada, a água pode
causar morte e destruição, como temos visto desde
o ano passado e este ano, em nosso país (2021-2022).
No entanto, quando nos inclinamos para beber um
pouco de água numa fonte, dificilmente nos lembra-
mos de enchentes; pensamos apenas no refrigério
que um gole de água pode proporcionar. O livro de
Provérbios apresenta diversas orientações a respeito
da importância do que falamos; como falamos e quan-
do falamos. Nesse prisma, então, citaremos apenas
dois versos, a título de ilustração de como a palavra
pode ser bênção: “Dar resposta apropriada é motivo
de alegria; e como é bom um conselho na hora cer-
ta!” (Pv 15:23). “A palavra proferida no tempo certo é
como frutas de ouro incrustadas numa escultura de
prata.” (Pv 25:11).
54
A outra figura usada por Tiago é a da árvore, que
precisa dar o fruto de acordo com sua qualidade. Tan-
to a figura da fonte quanto a da árvore falam da ne-
cessidade de coerência. Espera-se que, uma fonte
jorre água doce todo tempo, que uma figueira sem-
pre dê figos e que uma oliveira sempre dê olivas. A
natureza reproduz-se segundo sua espécie. Assim,
“a boca fala do que está cheio o coração.” (Mt 12:34b).

A língua que canta, ora, bendiz a Deus e, depois,


pragueja contra os homens e os amaldiçoa, carece
de tratamento espiritual. Quantas vezes acontece de
um ‘cristão’ cantar os hinos durante o culto e, depois,
ir discutindo com a família até chegar à casa e, às
vezes, até após chegar à casa, indo dormir zangado
com o(s) outro(s). Quando isso ocorre, revela um pro-
blema mais interior: não é a língua, é o coração. “Mas
as coisas que saem da boca vêm do coração, e são
essas que tornam o homem impuro.” (Mt 15:18). “So-
bre tudo o que se deve guardar, guarda o coração,
porque dele procedem as fontes da vida.” (Pv 4:23).
Precisamos encher nosso coração com a Palavra de
Deus, para sermos como fontes, as quais sempre
vertam águas purificadas, e como árvores produti-
vas, as quais oferecem o fruto que se espera delas.

Conclusão
Você já foi vítima de fofoca? Já fez fofoca? Pen-
se sobre os efeitos de umas palavrinhas soltas, di-
tas ‘sem querer’. Há um ditado popular que afirma o
seguinte: “pessoas inteligentes falam de ideias; pes-
55
soas comuns falam de coisas e pessoas medíocres
falam de outras pessoas”. Vamos ter cuidado com
nossas palavras!

Para Pensar e Agir


1. Você costuma participar das ‘rodinhas’ de con-
versas, as quais falam acerca da vida alheia? Enten-
de que a Palavra de Deus é contrária a essa prática?

2. Se você der a desculpa de que não fala, mas se


‘empresta’ seu ouvido, sabia que é cúmplice das fo-
focas? Só existe o falador da vida alheia, porque tem
gente com ouvidos abertos para ouvir.

3. Use seus lábios para louvar a Deus, espalhar o


evangelho e abençoar as pessoas. Não jogue pala-
vras ao vento.

Leitura Diária

SEG Salmo 34:9-14

TER Mateus 12:33-37

QUA Provérbios 10:19; 12:18,19

QUI Salmo 34:1-3

SEX Salmo 150:1-6

SÁB Salmo 103:1-22

DOM Tiago 3:1-12

56
Lição 5

Texto Base: Tiago 5:1-8

A Fé e a
Opressão

O texto base desta lição é bem atual. O Apósto-


lo Tiago denuncia a opressão socioeconômica, algo
que, infelizmente, nós, brasileiros, presenciamos dia-
riamente. No entanto, como cristãos não podemos
nos conformar, jamais, com alguma forma de opres-
são, pois a salvação em Cristo não é apenas liberta-
ção do pecado, mas, sobretudo, uma proposta de
vida em abundância; uma proposta de destruição
das estruturas malignas que oprimem e impedem
que se tenha esta vida. Conforme o próprio Jesus
afirmou: “...eu vim para que tenham vida, e a tenham
plenamente.” (João 10:10). Desse modo, o Apóstolo
faz duras críticas aos opressores, conforme veremos

57
a seguir.

1. Uma grave repreensão aos


opressores (5:1)
O versículo 1 começa com um imperativo: Ouçam!
Prestem atenção! É uma ordem dada aos ricos opres-
sores, algo semelhante aos “ais” que há em vários
lugares da Bíblia Sagrada (Ex.: Mt 23:23-30). É muito
importante frisar que, não há algum texto bíblico em
que os ricos são repreendidos simplesmente pelo
fato de serem ricos, mas são advertidos contra as
tentações que tal condição lhes sucede. Intrinseca-
mente, ser rico não é algo demoníaco nem a pobre-
za é virtude. Abraão era rico e, no entanto, tornou-se
o ‘pai da fé’; andava com Deus e foi chamado para
abençoar todas as famílias da terra. De maneira bem
peculiar, vemos o patriarca sendo bênção para seu
sobrinho Ló.

A grande tentação a que os ricos estão sujeitos é


o egoísmo. Por isso, são convidados ao arrependi-
mento que, na expressão do Apóstolo, seria “cho-
rar” e “lamentar”. O verbo chorar (klaúsate) remete à
ideia de “chorar em voz alta, expressando uma dor
incontida e audível” (Strong). Lamentar (ololýzontes)
é um verbo que expressa o som de animais, uma
onomatopeia, assemelhando-se ao som de um grito
abismado, significando uivar, gritar audivelmente. Os
dois termos, usados ambos no verso 1, indicam, por-
58
tanto, que os ricos, quando levados ao egoísmo, são
alertados de que um dia poderão lamentar profun-
damente as ações opressoras que levaram a efeito
contra os menos afortunados.

2. A maneira como se obtém as


riquezas pode ser opressora (5:4-6a)
A Bíblia Sagrada não condena aquisição de bens
nem nega à pessoa o direito de possuir bens e ob-
ter lucro, mas condena a obtenção de riquezas por
meios ou para fins ilegais. É esse o sentido que o
texto bíblico apresenta nesses versos. O luxo egoís-
ta de alguns, às vezes, é conseguido pela opressão
de muitos, e Tiago fala de algumas formas que o ser
humano usa para obter essas riquezas:

a) Retenção do salário do trabalhador (5:4): Deus


registrou, em sua Palavra, instruções claras para que
o trabalhador não seja prejudicado pelo empregador,
via retenção de seu salário. Muitos trabalham o dia,
para receber ao final dele, tendo assim como com-
prar algo para o alimento de sua família. Reter o sa-
lário do trabalhador é pecado, condenado pelo Se-
nhor. Leiam os seguintes textos: Dt 24:14,15; Lv 19:13;
Jr 22:13;

b) Aplicação parcial e injusta de leis (5:6a): é mui-


to claro que, quando o poder socioeconômico se
une ao poder político e jurídico, as possibilidades de
59
existirem manobras para favorecer aos que detêm
tal poder se avolumam. Infelizmente, a parcialidade,
manobras obscuras e leis criadas com a intenção de
favorecimento aos que já detêm muito, se multipli-
cam a cada dia. Há uma diferença considerável entre
lei e justiça. Deveriam andar de mãos dadas, todavia
nem tudo que é legal é justo, e Deus condena tais
subterfúgios para mascarar a opressão.

3. A maneira como se usa as riquezas


pode ser opressora (5:3-5)
Nos argumentos anteriores, aprendemos que as
riquezas podem se tornar pecaminosas de acordo
com a forma como são adquiridas. Agora, veremos
que o propósito com a qual são usadas, podem, tam-
bém, a tornar pecaminosas. Vejamos, então, como
as riquezas podem contribuir para a opressão.

a) Quando são acumuladas (v.3): riquezas enfer-


rujadas e apodrecidas falam do perigo de se perder
algo que ficou guardado, sem ter sido usado de for-
ma útil. Não há nada de errado com a pessoa pou-
par algum dinheiro para gastos eventuais, mas é er-
rado, por exemplo, acumular riquezas não pagando
aos funcionários, sonegando impostos ou ‘atrasando’
propositalmente os compromissos, visando a deixar
o dinheiro render mais um pouco. Somos instruídos
a acumular tesouros no céu, para que o nosso cora-
ção não se prenda ao material (Mt 6:20,21). O proble-
60
ma do jovem rico (Lc 18:18-30) não era a riqueza que
possuía, mas seu apego a elas.

b) Quando seu uso é egoísta (v.4): voltamos a este


verso para destacar que, se Deus permite que al-
gum cristão possua riquezas, este passa a ter certas
responsabilidades para com seu semelhante e para
com o próprio Deus. Isso fala de fidelidade e mordo-
mia, que é o uso do que se tem para abençoar ou-
tros e para a glória do Senhor.

c) Quando a riqueza é ostensiva (v.5): o verso fala


do pecado de uma vida entregue ao luxo, ao prazer,
à vida extravagante enquanto outros, tão próximos,
não têm o mínimo para viver de forma digna. O ter-
mo ‘fartaram-se’ é o mesmo usado para falar dos
animais que eram engordados para o abate. Não há
algum problema em desfrutar o que Deus dá (I Tm
6:17), mas é perigoso viver de forma extravagante,
enquanto outros pouco ou nada têm. Ao cristão não
cabe um estilo de vida egoísta, pois há muitas pes-
soas passando por necessidades ao seu redor.

4. Futilidade da riqueza (5:1-4)


Um grande problema do acúmulo de riquezas é
que a pessoa que a tem pode começar a compreen-
der que está segura nesta vida, mas não é desta for-
ma que Deus entende: “Chorem e lamentem-se, ten-
do em vista a miséria que lhes sobrevirá.” (v.1b). Esta
61
passagem é um alerta duro àqueles que depositam
confiança nas posses materiais, sem perceber sua
futilidade. O Apóstolo Tiago passa, então, a ensinar
sobre os motivos deste alerta:

a) Riquezas passam (vv.2,3a): passam, porque ou


elas nos deixam ou nós as deixamos. Costumo dizer
que, nunca vi um caminhão de mudanças num cor-
tejo fúnebre levando os pertences do falecido. Bens
materiais desaparecem, apodrecem. Roupas caríssi-
mas podem ser corroídas pela traça da mesma forma
que uma roupa bem simples; um ‘carrão’ importado
pode ser roubado, enferruja ou estraga num aciden-
te como qualquer carro ‘básico’; alimentos acumula-
dos podem apodrecer. O mercado financeiro oscila
todos os dias – a moeda dólar sobe e desce, enfim,
as riquezas passam! É certo que, o dinheiro pode pa-
gar o melhor médico e os melhores remédios, mas
não compra a saúde; pode comprar a companhia,
mas não compra o amigo. A sabedoria bíblica nos
ensina: “Não esgote suas forças tentando ficar rico;
tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim
que você as contempla; elas criam asas e voam como
águias pelo céu.” (Pv 23:4,5).

b) Riquezas podem corromper o caráter (v.3): “O


ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem
deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes
devorará a carne”. Observem o verbo ‘devorar’. Co-

62
mer e devorar são de intensidades diferentes. A ideia
que o texto nos dá é: assim como um fogo ‘devora’ o
que está sendo queimado, o apego às riquezas pode
devorar a vida de uma pessoa, acabar com ela, seus
valores, seu caráter. Certamente, muitas pessoas po-
dem se lembrar das denúncias envolvendo autorida-
des em conchavo com diferentes pessoas, solapan-
do, desviando verbas públicas para enriquecimento
pessoal; outras, aceitando suborno para oferecer e
receber vantagens em licitações, etc. Eis o alerta da
sabedoria: “Cuidado! Que ninguém o seduza com ri-
quezas; não se deixe desviar por suborno, por maior
que este seja. Acaso a sua riqueza, ou mesmo todos
os seus grandes esforços, dariam a você apoio e alí-
vio da aflição?” (Jó 36:18,19). (Ver também I Tm 6:17;
Sl 62:10).

c) O juízo divino contra a opressão (vv.3,5): O jul-


gamento dos opressores é mostrado pelo Apóstolo
Tiago como possibilidade nesta vida (pela deteriora-
ção dos bens e corrupção do caráter) e como certe-
za em relação ao futuro julgamento divino. No verso
9, ele alerta: “o juiz está às portas”. Ironicamente, as
riquezas deterioradas e o salário retido dos trabalha-
dores, servirão de testemunhas contra os opressores
diante do julgamento de Deus. “É bom ter as coisas
que o dinheiro pode comprar; desde que também
tenhamos o que o dinheiro não pode comprar. De
que adianta ter uma mansão, se ela não é um lar?
De que adianta uma aliança de brilhantes, quando
63
não há amor? O Apóstolo não condena as riquezas
nem os ricos; antes, condena o uso de suas riquezas
como armas, não como instrumentos de edificação.”
(Warren). Frequentemente, ouvimos que “o dinheiro
fala mais alto”, todavia, o que ele falará sobre cada
ser humano no dia do julgamento final?

Conclusão
O mundo não é justo e, às vezes, também agimos
de forma injusta. A Bíblia Sagrada afirma: “Sempre
haverá pobres na terra. Portanto, eu lhe ordeno que
abra o coração para o seu irmão israelita, tanto para
o pobre como para o necessitado de sua terra.” (Dt
15:11). Percebam que o texto expõe que é inevitável
a diferença econômica, mas preconiza que os mais
abastados devem ser liberais em atender os que têm
falta de.

Não deveria haver miséria, falta de moradia, gente


pegando comida no lixo e tantas outras consequên-
cias da ganância opressora. No entanto, o pecado
deturpa tudo e, nós, como cristãos, não estamos imu-
nes à insensibilidade ao sofrimento de nosso próxi-
mo. Que Deus nos livre de ficarmos alheios aos que
sofrem e carecem do vestir, do alimentar, do ter uma
vida digna. Os últimos versos de nosso texto ensi-
nam que, devemos ter paciência diante deste mun-
do injusto e opressor (v.7), mas também alerta para a
certeza do juízo divino (v.8).

64
Para Pensar e Agir
1. Você tem experimentado injustiças, opressões
existenciais que o(a) deixam triste e, às vezes, até
mesmo enfurecido(a)? Como este estudo o(a) ajuda
a encarar esta situação?
2. Você tem sido agraciado por Deus com bens
materiais? O que você tem feito deles?
3. Formas de honrar a Deus com seus bens: dizi-
mar, ofertar, participar do sustento missionário, aju-
dar alguém que não tem o que vestir, o que comer...
4. Precisamos ser proativos no clamor e ação por
justiça. Não fica bem aos cristãos: saquear, partici-
par de protestos violentos, mas podemos fazer mui-
to com nossas orações e ações, para que a justiça
se estabeleça e a opressão não domine.

Leitura Diária

SEG Lucas 12:13-21

TER Mateus 6:19-34

QUA Lucas 18:18-30

QUI Filipenses 4:4-20

SEX 1 Timóteo 6:1-10

SÁB Marcos 12:41-44

DOM Tiago 5:1-8

65
Lição 6

Texto Base: 1 Pedro 1:3-12

A Esperança
na Verdade

A partir de agora, estaremos direcionando a nos-


sa reflexão nas cartas do Apóstolo Pedro. A epístola
de I Pedro traz a identificação da autoria e os desti-
natários da carta logo no verso 1: Pedro, apóstolo de
Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos.
O apóstolo Pedro foi um dos primeiros discípulos de
Jesus destacando-se, no corpo apostólico, como um
dos principais líderes nos primeiros anos do Cristia-
nismo. Apenas a título de referência, provavelmente,
esta carta foi escrita em Roma, entre 63 e 65 d.C.

A epístola é destinada aos cristãos, os quais es-


tavam dispersos pela região da Ásia Menor, prova-
velmente devido à perseguição, para encorajá-los a
66
continuarem firmes na caminhada cristã, a despeito
das lutas, dificuldades e perseguições. Por isso, este
escrito de Pedro é conhecido como a “carta da espe-
rança” ou a “carta da coragem”. Então, não por acaso,
nosso primeiro destaque é, exatamente, identificar-
mos o que o texto sagrado tem a nos dizer acerca da
‘esperança’ que, para nós, é mais que um sentimen-
to, é uma convicção de que Deus está no controle
de todas as coisas, quaisquer que sejam as circuns-
tâncias por que passarmos.

1. O fundamento da nossa
esperança (1:3)
De nada adiantaria nossa esperança, se ela seguis-
se a máxima popular a qual afirma que “a esperança
é a última que morre”. A esperança do cristão não
morre jamais, pois está fundamentada na Rocha, a
qual é Cristo. A palavra grega para ‘esperança’, tem
o sentido de ‘expectativa do que é certo’, aguardan-
do quando acontecerá e não se acontecerá. Portan-
to, diferente do dito popular, a esperança do cristão
é uma “esperança viva”, compreendendo este senti-
mento em relação às promessas de Deus.

Ao escrever aos cristãos que estavam experimen-


tando provações e privações, Pedro os lembra do
propósito e poder de Deus, os quais foram revela-
dos na salvação assegurada por Ele mesmo (os sal-
vos são eleitos, escolhidos - vv.1,2), ao passo que os

67
encoraja a enfrentar as lutas, uma vez que, por meio
delas, a salvação deles estava sendo aperfeiçoada,
pois Jesus é a fonte maior e única da regeneração.
Ainda mais, através da Sua ressurreição, temos as-
segurada nossa bem-aventurança futura e, enquan-
to mantivermos tal esperança, seremos guardados
nesta vida aqui. Pedro, como testemunha da ressur-
reição de Jesus, conduz os cristãos daquela e de to-
das as épocas, a verem a ‘esperança’ na ‘ressurreição’
como baseada na vitória de Cristo sobre a morte, que
afasta nosso olhar de nós mesmos para concentrá-lo
em Deus, que é o fundamento da esperança cristã.

A fundamentação da nossa esperança em Cris-


to está espalhada por todo o Novo Testamento. O
Apóstolo Paulo expressa: “A eles quis Deus dar a co-
nhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mis-
tério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória.”
(Cl 1:27). Na epístola aos Romanos (15:13), o Apósto-
lo Paulo define que Deus é “o Deus da Esperança”,
dando-nos a entender que Ele é o autor, não o obje-
to dela.

A esperança nos ajuda a crer; a obediência nos co-


loca no caminho da paciência e conforto diante do
sofrimento, fortalecendo nossa expectativa na he-
rança eterna.
68
2. Esperança de uma
herança gloriosa (1:4,5)
Através da ressurreição do Senhor Jesus, pode-
mos ter a esperança de uma futura herança no céu,
definida como “uma herança que jamais poderá pe-
recer, macular-se ou perder o seu valor (v.4)”. Três
expressões definem o caráter desta herança: “jamais
poderá perecer” (incorruptível, não passível de cor-
rupção ou decadência, imperecível); “não maculá-
vel” (incontaminado, livre de contaminação, de su-
jeira, de degradação); “não perde o valor” (algo que
não murcha, não definha). No que tange a esta últi-
ma expressão, ela é a palavra grega amáraton, que
designa uma flor – amaranto (e sua semente, que é
comestível), cuja característica é ‘preservar durante
muito tempo suas cores e cheiro’. Vejam que bela
metáfora da herança, a qual está guardada; mantida
intacta; preservada no céu para os salvos! Aleluia!

Destarte, o objeto central da esperança do cristão


é a herança incorruptível, incontaminável e que se
não pode murchar, a qual está guardada nos céus.
A palavra ‘protegidos’ significa aquilo ou aquele que
é defendido ou mantido em custódia em uma forta-
leza ou castelo, significando manter, vigiar, guardar;
pode, também, referir-se a uma sentinela, manter
sob a guarda militar. Logo, essa herança não pode
ser perdida pela perseguição, sendo, portanto, um
encorajamento para todos os salvos, pois é uma he-

69
rança espiritual eterna, independentemente dos so-
frimentos daqui. Essa visão requer ‘fé no poder de
Deus’, o qual nos guarda contra todos os inimigos,
tendo a capacidade de preservar todo cristão com-
prometido com Ele. Conquanto seja uma herança
para a eternidade, ela é um fato concluído, pronto e
esperando para ser manifestado no momento certo
“até chegar à salvação prestes a ser revelada no úl-
timo tempo (v.5)”.

3. Esperança em meio
às provações (1:6-9)
Nesta perspectiva, as tribulações fazem parte da
didática divina para nos ensinar e preparar. O texto
usa a palavra ‘provação’ em lugar de ‘tribulação’ ou
‘perseguição’, pois o apóstolo trata dos problemas
gerais que os cristãos enfrentam por estarem em
meio a uma sociedade incrédula. O problema do so-
frimento, geralmente, traz questionamentos aos cris-
tãos, mas o caminho para a nossa glorificação pre-
cisa passar pelo teste da resistência às provações.
Às vezes, há uma espécie de necessidade de que
os seguidores de Deus sejam afligidos; quando não
passam por provações, tendem a ficar descuidados
e quando têm prosperidade secular, provavelmente,
se voltam para o mundo. Todo esse processo purifi-
ca a alma da impureza e proporciona a manifestação
da integridade da fé em Jesus Cristo.

70
Podemos apresentar alguns aspectos da ‘prova-
ção’, a partir do texto:

a) Elas atendem objetivos de Deus: “devam ser”


(v.6), pode ser entendido como “se necessário”, e in-
dica que Deus usa as provações como disciplina,
quando se desobedece a sua vontade (Sl 119:67). Elas,
também, preparam para o crescimento espiritual ou,
ainda, guardam de pecar (II Co 12:1-9);

b) Elas são de todo o tipo (v.6): “de todo o tipo” é a


mesma palavra empregada para descrever a graça
de Deus em I Pe 4:10. Não importa a provação, Deus
dá graça suficiente para suprir tudo o que precisa-
mos. Se as provações são variadas, Deus nos supre
de forças de acordo com cada uma delas;

c) Elas são doloridas (v.6): fingir que as provações


não incomodam, não adianta. O apóstolo Pedro usa a
palavra entristecidos, a qual expressa o ‘experimentar
dor profunda e emocional (tristeza)’, ou seja, tristeza
severa (luto), uma dor tão intensa que é usada tam-
bém para a dor de parto. A mesma palavra é usada
para descrever a experiência de Jesus no Getsêmani
(Mt 26:37), e a tristeza pela morte de um ente querido
(I Ts 4:13). Embora o afligir de severas provações, a fé
do cristão é por elas refinada e a sua firmeza o capa-
cita a desfrutar das bênçãos, as quais Jesus concede
agora e na eternidade: “[...] vocês estão alcançando o
alvo da sua fé, a salvação das suas almas.” (v.9), além

71
de firmar o amor e alegria no Senhor (v.8) e glorificar
o Seu nome (v.7);

d) Elas são controladas por Deus (v.6): temos


esta certeza na expressão “por um pouco de tempo”.
Wiersbe diz que “quando Deus permite que seus fi-
lhos passem pela fornalha, mantém os olhos no re-
lógio e a mão no termostato”, ou seja, a duração e
intensidade das provações são controladas pelo Se-
nhor. Paulo afirma: “Não sobreveio a vocês tentação
que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel;
ele não permitirá que vocês sejam tentados além do
que podem suportar. Mas, quando forem tentados,
ele lhes providenciará um escape, para que o pos-
sam suportar.” (I Co 10:13 – a palavra tentação, aqui, é
a mesma em I Pe 1:6 – grego peirasmós; a conotação
que é diferente nos dois textos).

4. Esperança proclamada e
concretizada (1:10-12)
Ser cristão não é uma fuga do mundo presente por
causa da esperança eterna no céu. Mesmo nos mo-
mentos de sofrimento, de provações, o cristão pode,
pela fé e fortalecimento interior proporcionado pelo
Espírito Santo, transformar o sofrimento presente em
glória nos dias que vive aqui. E estes versos finais,
de nosso estudo, nos apresentam uma esperança
proclamada e concretizada, já a partir da vida neste
mundo em que as provações nos acompanham tão

72
de perto. Spurgeon disse: “Uma fé pequena leva a
alma ao céu; mas uma grande fé traz o céu para a
alma”.

O verso 10 nos ensina que, a salvação a qual te-


mos e aguardamos, é parte do plano de Deus desde
a eternidade; ‘algo’ que os profetas testemunharam,
significando que eles mesmos a procuraram, ou exa-
minaram com cuidado as revelações feitas a eles,
para entenderem exatamente o que foram designa-
dos falar e registrar no que tange à salvação, a qual
deveria ser conhecida por meio do Messias. Assim,
orientados pelo Espírito Santo, predisseram os sofri-
mentos de Jesus Cristo e a glória que sucederia aos
seus sofrimentos (v.11). A salvação é um mistério tão
glorioso, que até os anjos a observam, tentando en-
tender a dimensão de tanto amor que Deus dedica
ao ser humano. (v.12). Por amar a Jesus Cristo, confiar
nele e se alegrar nele, o cristão experimenta a glória
proclamada, aqui e agora, e aguarda sua concretiza-
ção futura.

Conclusão
No início da lição foi contestado um dito popular.
Agora, é apresentado outro: “quem espera, sempre
alcança”. Se acrescentarmos a expressão: “em Cris-
to”, então, o ditado fica completo e certo: “quem es-
pera em Cristo, sempre alcança”. Logo, mesmo que
venham as provações (e elas com certeza vêm e vi-

73
rão), elas não podem tirar nossa ‘esperança’. Peçamos
a Deus o fortalecimento, para crermos e vivermos
(n)essa verdade.

Para Pensar e Agir


1. Por certo, você tem passado provações em sua
vida. Como você as vivencia?

2. As provações têm afetado sua esperança? Peça


a Deus que fortaleça sua fé.

3. Saiba que as provações desta vida não se com-


param com a glória que nos aguarda: Devemos con-
siderar que, os nossos sofrimentos atuais não podem
ser comparados com a glória que em nós será reve-
lada. (Rm 8:18).

Leitura Diária

SEG Romanos 8:31-39

TER 2 Timóteo 1:3-12

QUA Romanos 8:24-26

QUI Zacarias 13:1-9

SEX Salmo 66:5-14

SÁB 1 João 5:1-5

DOM 1 Pedro 1:3-12

74
Lição 7

Texto Base: 1 Pedro 1:13-23

O Imperativo
da Santidade

Infelizmente, há pessoas dentro do Cristianismo,


as quais ‘acham’ que podem seguir a Jesus e ao pe-
cado ao mesmo tempo. Entretanto, isso não é pos-
sível! Deus nos chama para a santificação (I Ts 4:3),
o que justifica dizer que ela é um ‘imperativo’ para o
cristão. Por toda a Bíblia Sagrada, encontramos tex-
tos que ensinam o dever do servo de Deus de viver
em ‘santidade’, tendo o prazer de servi-Lo.

Quando alguém recebe Jesus como Senhor e Sal-


vador de sua vida, o Espírito Santo vem habitar em
seu coração, tornando o próprio corpo do cristão um
templo santo (I Co 3:16). Vale dizer que, em todas as
igrejas, há pessoas que dizem servir a Jesus, mas

75
suas atitudes estão distantes desse viés, pelo que
podemos sustentar que a santidade não pode estar
desligada da nossa vida cristã. O texto que estuda-
remos, hoje, nos mostra exatamente esta verdade
imperiosa para cada servo de Jesus.

1. Chamados à Santidade (1:13,14)


Há uma obrigação explícita do cristão em viver uma
vida santa, e nada deve seduzi-lo ao estado ante-
rior à sua salvação. Isto requer disposição de caráter,
mente e vontade: “portanto, estejam com a mente
preparada, prontos para a ação...” (v.13a). O chamado
à santidade não é para que o cristão viva escondido
dentro das paredes de sua casa ou do templo, mas
para estar preparado para agir, dispondo-se a um es-
forço em obedecer às ordens de Deus. A mente não
deve estar presa aos incômodos, medos e conceitos
mundanos. Ao contrário, requer uma interação do in-
telecto com a disposição moral e a espiritual. Essas
três ações indicam uma vida disciplinada.

A mente não deve ser apenas disciplinada, mas


também sóbria. O adjetivo ‘sóbrio’ se refere a alguém
que não está embriagado, mas, em sentido mais am-
plo, significa alguém que está no pleno controle de
sua capacidade mental. Significa “ser calmo, está-
vel, controlado; ponderar as coisas”, a fim de alcan-
çar opiniões e práticas saudáveis. Outro motivo para
ser sóbrio é que, Satanás está rodeando os cristãos
para tragar os que estão menos vigilantes – como
o apóstolo alerta nesta mesma epístola (I Pe 5:8) –,
76
usando contra eles todos os perigos e inimigos es-
pirituais, os quais tentam desviá-los do caminho da
santidade.

A volta de Jesus é iminente e deve ser um incen-


tivo a termos: calma e tranquilidade nesse mundo:
“esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu
na revelação de Jesus Cristo” (v.13b; comparar com I
Pe 4:7). “Esperai inteiramente” significa “depositai to-
das as vossas esperanças”. O cristão tem uma pers-
pectiva esperançosa da sua vida e da história! Por
causa disso, experimenta a graça de Deus em seu
viver aqui e continuará a experimentá-la na vinda de
Jesus Cristo. Olhar para a volta de Cristo fortalece a
fé e a esperança, em tempos difíceis, como os que
enfrentamos, sendo que Deus confere graça para
que Seus filhos vivam no mundo, mas separados do
sistema pecaminoso que há nele: “Como filhos obe-
dientes, não vos conformando com as concupiscên-
cias que antes havia em vossa ignorância” (v.14).
Assim, o cristão aprende a não se conformar com o
padrão da sociedade mundana, desenvolvendo um
caráter e conduta compatíveis com a sua fé cristã.
Por terem sido regenerados (v.3), os cristãos partici-
pam da natureza do Pai, a qual é santidade e requer
de Seus filhos: o abandono daquilo que eram e fa-
ziam no passado.

2. A base da Santidade (1:15-17)


Esta base é o próprio caráter Santo de Deus como
expresso nesses versos, e que se revela no cotidia-
77
no, bem como em todas as áreas da vida (v.15). O
nosso Deus Santo nos chamou, convidou, convocou.
Uma vez salvos, somos chamados para sermos san-
tos como Ele é. O padrão é altíssimo, requerido por
meio de termos fortes e fundamentado no caráter
do Deus Santo: “Sede santos, porque eu sou santo”.
Quem está à altura dessa ordem? O Deus que orde-
na, é o mesmo que capacita o cristão para cumpri-la,
sem o que seria impossível cumprir esse processo.

Entretanto, em que nível de abrangência deve se


dar essa busca pela santidade? O Espírito Santo, atra-
vés do apóstolo Pedro, responde: “...em toda a vossa
maneira de viver’’, ou seja, em toda a vossa conduta,
comportamento, modo de vida e, até mesmo, em
relação à forma de lidar com outras pessoas. ‘San-
tidade’ se relaciona, portanto, com cada aspecto da
vida, a saber: pessoal, público, civil, religioso, enfim,
todos os relacionamentos humanos. Santidade e Éti-
ca não se separam, porque a conduta ética exigida
do cristão é forjada de acordo com o caráter de Deus.
Santidade não é um status para o cristão, mas uma
exigência do seu relacionamento com o Deus Santo,
o qual o chamou. Temos, aqui, um argumento lógi-
co: filhos herdam a natureza dos pais (II Pe 1:4); nosso
Pai é Santo; portanto, como seus filhos, devemos ter
uma vida de santidade.

Além de Santo, Deus é Justo (v.17). Desse modo,


precisamos levar a sério a questão do pecado e da
vida de santidade, andando em temor durante o tem-
po da nossa peregrinação nesse mundo, temendo o
78
julgamento divino. Que julgamento é este? Nossos
pecados já foram julgados na cruz (I Pe 2:24), e nada
ou ninguém pode acusar o cristão novamente (Hb
10:10-18). Todavia, quando Cristo voltar, todos esta-
rão diante do “tribunal de Cristo” – inclusive os salvos
– (II Co 5:9,10; leia, também, I Coríntios 3:9-15), a fim
de prestarem contas de suas obras e receberem a
recompensa apropriada.

3. Santidade e o alto preço


da Salvação (1:17-21)
Prata e ouro são valiosos e desejados, mas são
corruptíveis e desaparecerão. O texto grego indica
“pedaços de prata e ouro” ou, então, “pequenas moe-
das de prata e ouro que eram usadas para resgatar
escravos da escravidão”. Um escravo poderia com-
prar sua liberdade se conseguisse ajuntar os recur-
sos necessários; ou seu senhor poderia vendê-lo a
alguém que pagasse o preço de mercado para li-
bertá-lo. Portanto, na época de Pedro, esse resgate
ou redenção era muito precioso.

No entanto, o resgate da vida humana não foi a


qualquer preço. O vocábulo ‘corruptível’ tem o sen-
tido de ‘perecível’, ou seja, que facilmente se desin-
tegra, corrompe ou deteriora, como o nosso próprio
corpo físico, o qual vai definhando durante a vida ter-
rena. Muitas pessoas, ainda, vivem de acordo com
vãs tradições religiosas recebidas de familiares; es-
perando a salvação através de rituais religiosos, boas
obras ou, até, uma moralidade pessoal. Os judeus se
79
agarravam ao fato de serem “filhos de Abraão”, para
a sua salvação (confira Mateus 3:8,9 e João 8:33,34).
Os gentios depositavam sua esperança nos muitos
deuses. Contudo, nada dessas coisas pode resgatar
a vida humana da escravidão ao pecado.

A palavra ‘resgatados’ é uma das mais belas figu-


ras da obra de Cristo. A importância desta palavra
torna-se, ainda maior, se lembrarmos de que, pro-
vavelmente, cerca de 40% da população do impé-
rio romano era formada por escravos, ou seja, quase
metade de todo o império anelava por ser resgatado!
O resgate do pecador não é proporcionado por uma
redenção ‘corruptível’. A herança incorruptível não
pode ser assegurada dessa forma, mas é proporcio-
nada pelo precioso ‘sangue de Jesus’. É a primeira
vez que, Pedro usa a palavra ‘precioso’ em sua carta.
A redenção é valiosa, porque se baseia na morte sa-
crificial de Jesus –a divindade em forma humana.

O preço altíssimo pago pela ‘redenção’, aliado ao


benefício que ela traz ao pecador libertado, constitui
conjuntamente um grande motivo, para que ele de-
seje intensamente a santidade em seu caráter e con-
duta. Essa é a motivação suprema para uma vida de
santidade – a vida fútil, vã, ficou para trás, pois, ago-
ra, é a novidade de vida. Pedro faz questão de deixar
claro que, a morte de Jesus foi o cumprimento de
um plano, não um acidente histórico, determinado
por Deus, antes da fundação do mundo (v.20). Sob a
80
perspectiva humana, Jesus foi brutalmente assassi-
nado; mas, do ponto de vista divino, O Senhor Jesus
se entregou, voluntariamente, pelos pecadores (Jo
10:17,18; At 2:23; Gl 1:4); ressuscitou dentre os mortos,
e todos os que nele creem, recebem a salvação eter-
na! (v.21).

Em suma, quando refletimos acerca do sacrifício


que Jesus realizou por nós, não há outra re(ação) a
não ser a de: obedecer a Deus e viver em ‘santidade’
para Sua glória. Algo menos que isso, é não com-
preender e, até mesmo, desmerecer o grande preço
pago pelo nosso resgate!

Conclusão
Vivemos em meio à corrupção; ao olhar para o
lado, tudo o que vemos é sujeira. O cristão vive no
mundo, mas não pode se contaminar com a sujeira
dele. Caminha na podridão de um mundo distante
de Deus, mas, a partir do momento que é transfor-
mado por Cristo, pecado algum deve se agarrar a
ele. Não é porque estamos no mundo que, devemos
viver como o mundo. O barco é feito para estar na
água, mas a água no barco pode fazê-lo afundar. Es-
tamos, aqui, para fazer a diferença! É o imperativo da
santidade!
81
Para Pensar e Agir
1. Reflita no fato de que, você é chamado para uma
vida santa: uma busca contínua para ter vitórias so-
bre o pecado.

2. Desenvolva a consciência de que, o padrão que


Deus requer de você se baseia no próprio caráter
Santo Dele.

3. A santidade é para ser vivida em meio ao pe-


cado, como a garça que não se mancha no lodo. E
a ‘graça’ vai capacitá-lo para isso, notadamente, no
expressar ‘amor’ para com as pessoas.

Leitura Diária

SEG 1 Tessalonicenses 4:1-8

TER Salmo 93

QUA Levítico 19:1-18

QUI Levítico 19:31-37

SEX 2 Co 7:1; 1 Ts 4:7; Hb 12:14

SÁB 1 Pedro 1:13-23

DOM Efésios 5:1-20

82
Lição 8

Texto Base: 1 Pedro 2:11-25

A Verdade
para Fazer
a Diferença

Como discípulos, somos sal e luz do mundo (Mt.


5:14,16), mas se o sal não salga, não tempera, não
serve para nada, exceto para ser jogado fora e pisa-
do pelos homens (Mt. 5:13). De modo semelhante,
Pedro referiu-se ao privilégio dos cristãos de pro-
clamar “as virtudes daquele que vos chamou das tre-
vas para sua maravilhosa luz” (2:9). Ser diferente não
é simplesmente ser conhecido como “evangélico”.
Ao contrário, é ter a postura de um discípulo que
anda com Deus e reflete esse andar nos seus rela-
cionamentos. É mais que comportamentos padro-
nizados, repetidos de forma instintiva, mas, sim, fru-
to da vida de santidade exigida pelo Senhor, como
vimos na lição anterior.

83
Como igreja, temos a missão de fazermos a dife-
rença na vida das pessoas, de marcarmos a vida dos
nossos familiares, dos nossos colegas de trabalho,
enfim, da nossa sociedade. O texto desta lição nos
ensina tanto a importância de ser diferente como
de fazer a diferença.

1. Diferentes na vida pessoal para


fazer diferença (2:11,12)
O cristão é chamado à abstinência (moderação,
equilíbrio) dos desejos carnais. “Desejo” é a ânsia
para realizar algo, já a luxúria é a paixão construída
sobre fortes impulsos, em outras palavras: o desejo
é algo natural, inerente ao ser humano, já a luxúria é
resultado de ter a sua mentalidade sadia dominada
por um descontrole doentio dos desejos. Essas são
duas realidades que se opõem no íntimo do cren-
te, a tal ponto de Pedro dizer que estão em guer-
ra, exprimindo a ação de um soldado no campo de
batalha. Os desejos carnais lutam contra a alma do
crente, numa guerra sem tréguas e intensa.

O apelo à abstinência dos desejos da carne diz


respeito ao fato de estes pertencerem ao mundo
natural. Estamos neste mundo, mas o apóstolo diz
que ele não é a nossa pátria; somos, portanto, habi-
tantes temporários deste lugar, identificados como
estrangeiros e peregrinos. A palavra “estrangeiros”
significa “aquele que mora em lugar sem direito de
cidadania, com direitos limitados”, enquanto “pere-
84
grinos” tem um sentido mais forte ainda: um pere-
grino seria alguém que estaria exilado. Ambos os
termos ensinam que a morada verdadeira e perma-
nente do crente não é aqui, nosso lar é o Céu, nossos
aposentos estão lá, preparados pelo Senhor Jesus
(João 14:2). Ele mesmo disse que não somos daqui,
somos peregrinos e exilados nesta terra de lutas,
sofrimentos e expectativas (João 17:14). Não custa
lembrar que os destinatários estavam dispersos por
diversas regiões, refugiados em terra estrangeira,
provavelmente devido às perseguições que sofriam
(I Pe.1:1). Com certeza, tais palavras foram de grande
alento para eles naquele tempo!

O verso doze pode ser resumido em uma frase: “a


importância do testemunho”. Os cristãos da época
de Pedro foram difamados e maltratados porque re-
cusaram-se a adorar os deuses pagãos e a partici-
par de festas carnais a ídolos. Claro que isso não era
bom, mas o que importava mesmo era que esse “fa-
lar mal” não fosse verdadeiro, daí serem chamados
a viverem de maneira exemplar. Esta expressão fala
de um viver atraente, honrado, cativante até mes-
mo para os não cristãos. Como naquela época, ape-
sar das calúnias e difamações, é preciso que a vida
e caráter dos cristãos resistam a uma investigação
cuidadosa feita por outros, demostrando coerência
entre discurso e prática, que pode levar os incré-
dulos a crer em Cristo e glorificar o Nome de Deus
(leia Mateus 5:10-16).

85
2. Diferentes para fazer diferença na
vida pública (2:13-17)
Esses versículos começam pela expressão “por
causa do Senhor”. Tudo o que o cristão faz deve ser
para a glória do Senhor (I Coríntios 10:31), mas Pedro
destaca que os cristãos são representantes de Je-
sus Cristo na sociedade através de seu comporta-
mento. Esses versos apresentam um forte paralelo
com Rm. 13:1-7, em que Paulo fala da relação dos
cristãos com as autoridades instituídas, com ambos
ensinando o dever da submissão. Não era um tema
fácil para aquela época como não o é hoje.

Ser leal a Jesus como Autoridade Suprema era um


desafio aos cristãos no Império Romano, por causa
da perseguição e falsas acusações de serem des-
leais aos governantes. Embora fossem “estrangei-
ros e peregrinos” (v. 11), deveriam ser submissos às
autoridades civis, que eram instrumentos de Deus
e exerciam o poder pela permissão Dele. O verbo
“sujeitar”, no texto grego, é submeter-se voluntaria-
mente às autoridades sem, no entanto, indicar obe-
diência cega. Mesmo exercendo o direito de serem
críticos, os crentes em Jesus Cristo precisam ser
os melhores cidadãos, não porque lhes convêm ou
porque são partidários de determinada ideologia
ou pessoa no poder, mas por amor e submissão a
Deus. O crente deve cooperar com as autoridades
para promoção do bem-estar de todos, evitando a
confrontação desordeira. Submissão à autoridade
civil é uma regra geral, mas há exceções, quando

86
as leis humanas conflitam com a consciência ilumi-
nada pelo Espírito Santo. Em casos assim, o próprio
Pedro é um exemplo do que deve ser feito, bem
como Daniel e seus amigos. (leiam At. 4:19,20; 5:29 e
Dn. 1:5-16; 3:13-18; 6:1-28).

Outra razão para os cristãos se submeterem às


autoridades é que esta é a vontade de Deus e, cum-
prindo-a, o cristão pode calar as calúnias maldo-
sas de homens ignorantes, insensatos e loucos (v.
15). A palavra silenciar (grego fimoûn) origina-se do
uso da focinheira em animais para fechar sua boca
e mantê-los sob controle, daí o sentido de amorda-
çar, calar, tapar a boca, deixar sem palavras, reduzir
ao silêncio. Portanto, o cristão precisa ter um com-
portamento público exemplar a fim de silenciar as
afrontas irracionais dos que o confrontam quanto ao
seu caráter. A obediência que a verdadeira santida-
de produz cumpre a vontade de Deus, que sempre
envolve uma vida irrepreensível.

No verso 16, o texto introduz o assunto da liberda-


de, que, à primeira vista, parece não se encaixar na
sequência do pensamento. No entanto, é só olhar
para os versos 13-15, que percebemos a ligação do
tema submissão com liberdade. É uma relação refi-
nada esta, pois o cristão é o ser mais livre que existe
sobre a terra (conforme João 8:32,36), inclusive na
sua relação com as autoridades e a sociedade. Como
ser livre, ele decide ser submisso, ter uma vida hon-
rada por amor e obediência a Deus, embora jamais
use sua liberdade como pretexto para fazer o que é
87
mau. Quando a liberdade é usada para a prática do
mal, deixa de ser liberdade para ser escravidão, pois
o mal, o pecado, escraviza o homem (João 8:34). As-
sim é a ética do crente: inicia na liberdade individual
e não compactua com nenhuma forma de imposi-
ção legalista nem está escravizado a qualquer tipo
de paixão.

As obrigações éticas na vida pública do cristão


são resumidas no verso 17: tratar a todos com res-
peito, amar os irmãos, temer a Deus e honrar às au-
toridades.

3. Diferentes para fazer diferença na


relação servo-senhor (2:18-25)
Temos de entender esses versos à luz do contex-
to histórico da época. A escravidão nunca foi justifi-
cável em qualquer lugar e época, mas era realidade
(e, mesmo ilegal, ainda acontece) na época de Pe-
dro e o desafio era tanto para o escravo – ou o servo
empregado – como para o senhor ou patrão. Possi-
velmente havia “senhores” bons e humanos, gentis
e atenciosos; mas outros, no entanto, eram maus,
tirânicos e injustos. O desafio que é apresentado é
que, independentemente da índole do senhor, o
servo deveria sujeitar-se a seus senhores com todo
o respeito (v. 18).

O versículo 19 desafia os servos cristãos a serem


leais aos seus senhores, motivados pela fidelidade
às exigências de Deus e não pelo medo do castigo.
88
A expressão do versículo é bem clara: “... por moti-
vo de sua consciência para com Deus...”. A palavra
“consciência” diz respeito ao que “une a consciên-
cia moral e espiritual como parte de ser criado à
imagem divina. Assim, todas as pessoas têm essa
capacidade dada por Deus de distinguir o certo do
errado porque cada um é um agente moral livre”
(Strong). Se alguém, por causa da consciência para
com Deus, sofre ofensas, a fim de manter o sen-
timento da presença e bênção de Deus, recebe a
promessa que Jesus proferiu: “Bem-aventurados os
perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino
dos céus.” (Mt. 5:10). No entanto, não há recompensa
se os sofrimentos, mesmo suportados com paciên-
cia, independentemente da bondade ou severidade
do senhor, são uma consequência da insubmissão
do servo.

Estamos sendo ensinados aqui que se depois de


termos feito aquilo que é bom e amável formos afli-
gidos injustamente, “isso é louvável diante de Deus”
(v. 20) ou “encontraremos o favor de Deus”. Wiersbe
resume muito bem esse ensino dizendo que “Pedro
havia aprendido por experiência própria que o povo
de Deus serve mediante o sofrimento. A princípio,
89
o apóstolo opôs-se ao sofrimento de Cristo na cruz
(Mt. 16:21ss), mas aprendeu a lição importante de
que lideramos pelo serviço e servimos pelo sofri-
mento. Também aprendeu que esse tipo de sofri-
mento sempre conduz à glória!” (v. 6, p. 523).

Nos últimos versos (21-15) o texto nos encoraja a


passar pelas aflições, opressão e injustiças dentro
da sociedade olhando para o exemplo de Jesus. Pri-
meiramente, Ele é nosso exemplo de vida (vv. 21-23),
especialmente na maneira de reagir ao sofrimento.
Mesmo sendo irrepreensível em palavras e atos, so-
freu nas mãos das autoridades, demonstrando que
uma pessoa, mesmo sofrendo injustamente, pode
estar no centro da vontade de Deus e ser amada
por Ele. Sua humildade e submissão foram sinais
de poder e não de fraqueza (João 18:33-38). Em se-
gundo lugar, Ele morreu em nosso lugar (v. 24). Este
versículo é uma referência clara ao Servo Sofredor
de Isaías 53, que nos mostra os surpreendentes pa-
radoxos da cruz: Jesus foi ferido para que pudés-
semos ser curados; morreu para que pudéssemos
viver. Em terceiro lugar, Ele é nosso supremo Pastor
(v. 25). No Antigo Testamento, as ovelhas morriam
pelo “pastor”; mas, na cruz, o Pastor morreu pelas
90
ovelhas. Nenhuma pessoa é capaz de fazer coisa al-
guma por si mesma, por isso o pastor sai em busca
das suas ovelhas perdidas (Lc. 15:1-7). Não apenas
procurou por suas ovelhas e morreu por elas! Co-
locados de volta na segurança do aprisco, somos
guardados para não voltarmos novamente para a
vida de pecado.

Cristo se torna então o Exemplo Perfeito para to-


dos os sofredores de todas as épocas, isto é, para nós
neste tempo também. Mesmo sem pecar, suportou
os sofrimentos com paciência, como o Substituto
do homem, sendo exemplo de que é possível uma
vida piedosa e nos sujeitando a senhores humanos
(e principalmente ao Senhor Soberano) assim nos
tornando mais semelhantes a Jesus.

Conclusão
Jesus nos chamou para fazermos diferença. A ex-
pressão “ser diferente” tem um peso no verbo que a
compõe. “Ser” indica nossa postura pessoal, princi-
palmente como alguém conhecedor da verdade. É
o nosso caráter e as nossas atitudes que produzem
frutos em nossa forma de ser. Já a expressão “fazer
a diferença” tem o centro no verbo “fazer”, que indi-
ca ação! Portanto, “fazer diferença” é a nossa ação
em relação ao mundo que está ao nosso redor e as
atitudes para com as outras pessoas.

91
Para Pensar e Agir
1. Você tem buscado ser diferente do padrão pe-
caminoso do mundo?

2. Você está fazendo a diferença onde Deus te


colocou?

3. Como você tem se posicionado nas coisas pú-


blicas e mediante os poderes que as representam?

4. Seja você patrão ou empregado, tem praticado


o bom trato aos seus funcionários e submissão aos
seus superiores?

Leitura Diária

SEG Daniel 1:5-16

TER Daniel 3:13-18

QUA Daniel 6:1-28

QUI Atos 4:8-20

SEX Malaquias 3:13-18

SÁB Lucas 10:25-37

DOM 1 Pedro 2:11-25

92
Lição 9

Texto Base: 1 Pedro 3:1-7

A Verdade no
Relacionamento
Conjugal

A temática do relacionamento está presente nos


versos de 1 a 14. No entanto, enfatizaremos nesta li-
ção os versos de 1 a 7, que falam do relacionamen-
to matrimonial, tratado com especial destaque pelo
apóstolo Pedro.

Relacionamentos sadios são aqueles em que os


envolvidos agem de forma que harmonizam o am-
biente com respeito, autonomia, carinho, atenção e
liberdade, em doses equilibradas. Desse modo, cer-
tamente haverá estímulo à mutualidade de amar e
de se sentir amado, mantendo um convívio agradá-
vel. Enfim, a boa convivência entre as pessoas é um
fator essencial à vida humana, já que não tem como

93
vivermos totalmente isolados, o que é verdade mais
determinante ainda na vida conjugal. Se, porventura,
você não for casado(a), aqui está uma ótima opor-
tunidade para aprender, antecipadamente, como se
relacionar com seu futuro cônjuge.

1. Submissão e casamento
saudável (3:1)
Muitos (principalmente algumas mulheres) têm di-
ficuldade com esse texto bíblico e o texto de Paulo
aos Efésios (5:22-33). Paulo estende seus ensinos para
a relação pais e filhos, enquanto Pedro fixa apenas o
relacionamento conjugal. Essa dificuldade origina-se
numa leitura parcial do texto, apegando-se à ordem
do Espírito Santo de submissão da mulher, interrom-
pendo a passagem neste ponto. Na realidade, a be-
leza de ambos os textos está no ensino do equilíbrio
no relacionamento entre homem e mulher no rela-
cionamento conjugal. Observem: “mulheres, sujei-
tem-se a seus maridos” (3:1); “maridos (...) tratem-nas
(suas mulheres) com honra, como parte mais frágil”
(3:7). Paulo diz: “Mulheres, sujeitem-se a seus mari-
dos” (Ef.5:22); “os maridos devem amar as suas mu-
lheres” (Ef.5:28). Creio que só uma grande má vontade
para não enxergar o perfeito equilíbrio nas orienta-
ções bíblicas para mulheres e maridos, o que resulta
em um relacionamento sadio no casamento.

Com efeito, o texto da Palavra em nada induz a


uma assim chamada “guerra dos sexos”. No equilí-
brio bíblico, mulher feminina, sim; feminista, não. Ho-
94
mem “macho”, sim, machista, jamais! Infelizmente,
muitos casais cristãos acreditam que os ensinos bí-
blicos são antiquados e deixam poluir suas mentes
e comportamentos por modelos novelescos e ideo-
logicamente pecaminosos sobre a família e o casa-
mento. As exposições excessivas a esses padrões e
ideologias contaminam a vida dos casais cristãos e,
assim, condenam seu lar a problemas, desavenças
e separações. Mas se os cônjuges imitarem Jesus
Cristo em sua submissão e obediência e em seu de-
sejo de servir a outros, seu lar terá vitória e alegria.

2. Responsabilidades da esposa
na construção de um casamento
saudável (3:1-6)
Pedro apresenta três motivos pelos quais uma es-
posa cristã deve ser submissa ao marido, mesmo
quando este não é um cristão.

Primeiro, a submissão é uma ordem de Deus (v.1).


Em sua sabedoria, o Senhor estabeleceu a melhor
arrumação para um casamento ser abençoado. A
submissão não é uma estratificação de autoridade
nem de valor intrínseco menor da mulher em rela-
ção ao homem. É verdade repetida que a sujeição
da esposa não significa que ela seja inferior ao mari-
do, pois, no próprio verso sete, o apóstolo deixa claro
que o marido e a esposa são “coerdeiros do dom da
graça da vida”. Homem e a mulher foram feitos pelo
mesmo Criador e da mesma “matéria-prima”; ambos
foram criados à imagem de Deus. O domínio sobre a
95
criação foi dado ao casal (Gn.1:28), e, em Jesus Cristo,
os cônjuges cristãos são um (Gl.3:28).

Em segundo lugar, a submissão é uma oportuni-


dade (vv.lb,2) de conquistar o marido não crente. É
preciso lembrar que este argumento é uma possibi-
lidade, não uma promessa. Não há necessidade de
se casar com alguém para evangelizá-lo. É preciso
cuidado com o “jugo desigual!”. A expressão “sem
palavras”, no verso dois, deve ser entendida como
“sem conversa, sem muito falatório”. A esposa pode-
rá ganhar seu esposo para Cristo pelo seu caráter, e
por atitudes como compreensão, amor, bondade e
paciência.

Em terceiro lugar, a submissão é um adorno na vida


da mulher (vv.3-6). A palavra grega para “adorno” é
kosmos, que dá origem às palavras mundo, universo,
mas também pode ser traduzida por ornamento, de-
coração, adorno. A advertência às esposas cristãs é
a de não dedicarem toda a sua atenção aos enfeites
exteriores, mas, sim, ao caráter interior. Não significa
que a esposa não deva se cuidar nem acompanhar
a moda, apenas que não deve se preocupar excessi-
vamente com modismos só para não “ficar por fora”.
O que existe aqui é uma relação de prioridades, não
de proibição ao usar brincos, colares, roupas da mo-
da,etc. O charme e a beleza das joias são artificiais e
96
exteriores; a beleza interior, não. Esta é permanente
e duradoura.

Alguns cristãos querem ver nesses versos uma es-


pécie de catálogo de vestimentas e enfeites proibi-
tivos às mulheres cristãs. Tal ideia não se sustenta
sob nenhum argumento, principalmente para justi-
ficar extremismos. Não há justificativa no texto para
desleixo pela aparência como uma marca de san-
tidade superior. Santidade está no comportamento
quanto à sua atitude no vestir e na submissão a seus
maridos, a exemplo de Sara, cujas filhas espirituais
devem seguir o exemplo.

3. Responsabilidades do esposo
na construção de um casamento
saudável (3:7)
Aos maridos, o apóstolo faz algumas exortações
de caráter muito sério, que todos os esposos preci-
sam considerar. Primeiramente, ele exorta os espo-
sos a serem “sábios” no relacionamento. Essa palavra
significa inteligência, entendimento, conhecimento
adquirido pela experiência pessoal em um relacio-
namento direto. “É impressionante como duas pes-
soas casadas podem viver juntas por longo tempo
sem se conhecerem de verdade! A ignorância é pe-
rigosa em qualquer área da vida, mas especialmen-
te no casamento. O marido cristão precisa conhecer
as variações de humor, sentimentos, medos e es-
peranças da esposa. Precisa ‘ouvir com o coração’ e

97
se comunicar de maneira correta com ela.” (Wiesbe,
v.6, p.529). É compreender que a esposa é diferente
física, emocional e, mesmo espiritualmente, age e
reage diferente.

Em segundo lugar, o esposo é chamado ao “conví-


vio” com a esposa (e, consequentemente no lar, com
os filhos). O marido deve reservar tempo para ficar
em casa com a esposa e os filhos, pois a ausência
da figura masculina traz sérias lacunas na formação
dos filhos. A palavra “convívio” é mais do que com-
partilhar o mesmo espaço físico, a ideia é coabitar,
incluindo a vivência doméstica e a relação sexual de
marido e mulher. É relação física, emocional e espiri-
tual (ainda mais se o esposo for cristão), criando am-
biente de harmonia e segurança dentro do lar.

Em terceiro lugar, o esposo é ordenado a tratar


a mulher com honra, palavra que, no grego, tem o
sentido de algo que tem valor aos olhos de quem
vê, dando a ideia de que o esposo traz equilíbrio ao
emocional de sua esposa ao tratá-la com considera-
ção e cavalheirismo. “Como parte (ou vaso) mais frá-
gil”, não significa em termos mentais, morais ou es-
pirituais, mas, sim, em termos físicos. Com algumas

98
exceções, o homem é fisicamente mais forte, por-
tanto, o marido deve tratar a esposa como um vaso
caro, belo e frágil, que contém um tesouro precioso.

Em quarto lugar, o esposo precisa ser o líder espi-


ritual do lar, o que, infelizmente, muitos se esquecem
desse aspecto de sua liderança. Pedro propõe que
o marido e a esposa orem juntos e sempre. As res-
ponsabilidades do esposo são tão sérias que, se não
cumpridas, as orações do casal são interrompidas.
Se casais não cristãos têm lares felizes sem oração,
quão mais felizes podem ser os lares cristãos com
oração! Na verdade, a vida de oração de um casal
indica como estão as coisas no lar. Quando algo não
vai bem, atrapalha até as orações.

Conclusão
O âmbito doméstico é, sem dúvida, o mais deli-
cado para se viver os princípios cristãos. É muito im-
portante entender com clareza as funções que Deus
designou para o homem e para a mulher dentro do
casamento. A confusão existente sobre as funções
de cada um é a causa principal de muitos conflitos
conjugais. Ao idealizar o casamento, Deus deu a cada
cônjuge uma posição de serviço diferente do outro,
nem superior nem inferior, mas diferente. Para con-
seguir harmonia na vida familiar é essencial que os
esposos conheçam e aceitem seu próprio papel e o
de seu cônjuge.

99
Para Pensar e Agir
1. Como casais, vocês estão sendo companheiros
ou concorrentes? Lembrem-se de que são exemplo
para seus filhos.

2. Diante do que Bíblia ensina, estão cumprindo


seus papéis – submissão (esposa) e cuidado afetuo-
so (esposo)?

3. Como está a vida de oração do casal?

4. Cada dia que passa, percebemos que nosso en-


tendimento está crescente?

Leitura Diária

SEG Daniel 1:5-16

TER Daniel 3:13-18

QUA Daniel 6:1-28

QUI Atos 4:8-20

SEX Malaquias 3:13-18

SÁB Lucas 10:25-37

DOM 1 Pedro 2:11-25

100
Lição 10

Texto Base: 1 Pedro 4:12-19

O Sofrimento
em Nome da
Verdade

Sofrimento e provação do cristão são temas re-


correntes em I Pedro. Não se trata do sofrimento por
enfermidades, desemprego ou outras coisas decor-
rentes da precariedade e transitoriedade da vida,
mas, sim, do sofrimento advindo das provas por ser
um filho de Deus. Os destinatários da carta de I Pe-
dro estavam sofrendo, perseguidos por causa da in-
compreensão e oposição que recebiam da parte dos
não cristãos.
Não obstante, devemos resistir firmes, pois as pro-
vações são testes para a fé do cristão (Conforme re-
fletimos na primeira lição). Com solidariedade e frater-
nidade, não desviando o olhar da glória que o espera
na eternidade, o cristão suporta as aflições do tempo
101
presente e pode antecipar a alegria do mundo vin-
douro pela convicção da presença de Deus em sua
vida. Por causa disso, tal forma de sofrimento pode
ser chamado de “sofrimento glorioso”.

1. Sofrimento glorioso com Cristo (4:12-


14)

a) O cristão deve esperar pelo sofrimento


(v.12)
Esperar não é desejar. Pedro afirma que o cristão
não deve ficar surpreendido com o fato de passar
por sofrimentos por causa de sua fé. Ao contrário do
que muitos pregam atualmente, a Bíblia ensina que
as provações são inerentes ao ser cristão. Ao longo
da história, o povo de Deus tem sofrido nas mãos do
mundo ímpio, justamente por serem diferentes dos
incrédulos (II Co. 6:14-18). O homem sem Deus vive em
mentiras, orgulho, prazeres ilícitos e busca de poder
e bens materiais. Ao contrário, o cristão dedica sua
vida à verdade, à humildade, à santidade, ao desejo
de glorificar a Deus e de ajuntar tesouros no céu.
O sofrimento é descrito como um fogo, um incên-
dio que se apresenta. É uma figura que se refere à
fornalha usada pelo refinador do metal, da prata ou
do ouro, que os “derrete” para retirar suas impurezas.
Comumente, “fogo”, na Bíblia, simboliza o julgamento
de Deus. Mas aqui, Pedro usa a figura do fogo como
um processo de refinamento, não de julgamento divi-

102
no. Claro que nem todas as dificuldades da vida são,
necessariamente, provações ligadas à fé em Cristo.
Muitas fazem parte da vida, e quase todos passam
por elas. Infelizmente, também há problemas causa-
dos pelo próprio ser humano, por decisões equivo-
cadas ou por causa da desobediência e do pecado.
As provações na vida do cristão não são um aci-
dente de percurso. O verbo “surgir” pode ser traduzi-
do também por “acompanhar”. Isto reafirma que ser
cristão e sofrer por amor a Cristo são inseparáveis.
A palavra final do v.12 – “acontecendo” – é um verbo
usado no Novo Testamento para referir-se principal-
mente à providência de Deus, que organiza todas as
ocorrências da vida para trabalhar em conjunto com
Seu propósito eterno. Portanto, as provações fazem
parte do plano de Deus, que tudo controla, visto que
todas as coisas cooperam para o bem dos que amam
a Deus e se submetem à sua vontade. (Rm.8:28).

b) O cristão deve se alegrar no sofrimento


(vv.13,14)
Alegrar-se no sofrimento e não pelo sofrimento. O
verso 13 mostra 3 palavras que indicam alegria: “ale-
grem-se”, “alegria” (deleitar-se na graça de Deus, ex-
perimentar a graça de Deus, estar feliz por Sua graça);
“exultem” (ficar tão feliz que a pessoa chega a saltar
em comemoração). Para quem não experimenta a
graça de Deus é difícil entender de que maneira as
circunstâncias difíceis podem produzir alegria exul-
tante. Apenas a graça pode oferecer essa perspec-

103
tiva.

O cristão pode alegrar-se no sofrimento por al-


guns motivos. Primeiro, o sofrimento representa co-
munhão com Cristo, sendo um privilégio sofrer com
Ele e ser tratado pelo mundo da forma como ele foi
(At.5:41). Essa comunhão é tão profunda que aqueles
que perseguem os cristãos, na verdade estão per-
seguindo Jesus Cristo (At 9:4). Em segundo lugar, o
sofrimento trará gloria no futuro: “...quando a sua gló-
ria for revelada, vocês exultem com grande alegria”
(v.13b). Sofrimento e glória são dois ensinos que es-
tão sempre juntos em I Pedro. A glória não consiste
na ausência de sofrimento, mas na aprovação da fé
diante das provações e a consequente recompen-
sa garantida quando Jesus voltar. Em terceiro lugar,
o Espírito Santo vem em socorro do crente quando
chegam as lutas, as calúnias (insultos por causa do
nome de Cristo – v.14a), o sofrimento e as persegui-
ções: “...pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus,
repousa sobre vocês.” (v.14b). É por isso que cristãos
martirizados ou perseguidos (e existem muitos no
mundo hoje em dia) podem louvar a Deus em meio
às mais duras provas, sem retroceder. Em quarto lu-
gar, o Nome de Jesus é glorificado quando seus fi-
lhos resistem aos sofrimentos. Ser cristão é mais do
que pertencer a uma religião, mas é ser como Cristo,
é ser alguém que tem o privilégio de viver como Ele,
e que também aceita o desafio de levar esse nome
e sofrer por amor a ele.

104
2. O Sofrimento leva a avaliar a vida
com Cristo (4:15-18)
O sofrimento, de forma geral, parece deixar as pes-
soas mais sensíveis e, no caso do cristão, pode ser
uma grande oportunidade para avaliar sua vida com
Cristo. Não se trata de ficar “caçando” pecado na pró-
pria vida para “explicar” o sofrimento, pois o livro de
Jó nos ensina a não fazermos isso. Mas é verdade
que no fogo da perseguição e do sofrimento, parece
que as coisas tendem a ficar mais claras, pois a pes-
soa se volta para si mesma, examinando sua vida em
vários aspectos.

a) Qual o motivo do sofrimento? (v.15)


Esta inquietante pergunta é feita em muitas oca-
siões na Bíblia e continua sendo um dilema para a
teologia. Mas o que Pedro deixa claro nesse verso é
que o sofrimento do cristão não deve ser motivado
por atitudes erradas que ele venha a cometer. O so-
frimento glorioso é o que decorre da união e com-
promisso com Cristo e não pelo fato de uma pessoa
ter cometido um assassinato, ser um ladrão, um cri-
minoso ou alguém que recorrentemente causa pro-
blemas. É preciso ter certeza de que sofremos por
sermos cristãos, não por sermos criminosos.
105
b) A vida com Cristo é a causa do
sofrimento? (v.16)
A questão pode ser posta de maneira simples: meu
viver glorifica ou envergonha a Cristo? O crente não
deve, como Paulo nos escreve, ter vergonha do Evan-
gelho (Rm.1:16), mas também não deve envergonhá-
-lo (II Co.6:3). Pedro tinha experiência nesse aspecto,
pois teve a dolorosa experiência de negar a Jesus,
o que muito fez sofrer sua alma (Mt.26:69-75). Se al-
guém padece pela causa do evangelho, não deve
considerar isso uma vergonha, mas uma honra para
si mesmo; e deve glorificar a Deus que assim o con-
siderou digno (ler At.5:41). Quando os sofrimentos são
consequências dos nossos próprios pecados, não há
consolo que baste para alívio da alma. No entanto,
se eles ocorrem por “defendermos” a verdade, pro-
clamarmos o evangelho, por nossa lealdade ou por
qualquer das doutrinas ou deveres do cristianismo,
os sofrimentos pelos quais passamos são gloriosos.

c) Estou consciente da iminência do juízo


de Deus? (vv.17,18)
O juízo de Deus é aplicado constantemente, em-
bora muitos não consigam percebê-lo. No entanto,
o cristão tem consciência de que haverá um juízo
especial, final, definitivo, em que todas as pessoas
comparecerão diante do tribunal divino. Se para os

106
crentes verdadeiros é difícil suportar as provações,
questiona-se qual será o destino daqueles que são
desobedientes a Deus, que, segundo Pedro, será
muito maior do que os cristãos são chamados a su-
portar, ou podem imaginar. A perspectiva “...daque-
les que não obedecem ao evangelho de Deus” é de
completa falta de esperança. Algo muito pior aguar-
da os desobedientes, quer sejam perseguidores pa-
gãos, quer cristãos infiéis.” A estes, resta o sofrimento
eterno por extrapolar a medida da ira de Deus.

3. O sofrimento é uma oportunidade


para entrega total a Deus (4:19)
O verso 19 é uma espécie de conclusão do tex-
to que estamos estudando, reforçando o ensino se-
gundo o qual os que sofrem, segundo a vontade de
Deus, nada lhes acontecerão que esteja fora dos de-
sígnios de Deus. O sofrimento do cristão não é, pro-
priamente, da vontade de Deus, mas, sim, por causa
da Sua vontade, uma vez que o crente fez a opção
por andar de acordo com a vontade do Senhor. Por-
tanto, o salvo coloca sua vida sob a direção de Deus:
“...devem confiar suas vidas ao seu fiel Criador”.

107
Estas verdades implicam a onipotência e domínio
de Deus sobre os acontecimentos. Os cristãos per-
seguidos podem apoiar-se sobre esta verdade a sua
esperança inabalável. Esse compromisso não é algo
isolado, mas, sim, uma atitude constante. Ao retribuir
o mal com o bem, mesmo sofrendo por isso, o cris-
tão se entrega a Deus e seu cuidado para todas as
áreas e momentos da vida.

Conclusão
O que torna ainda mais inquietante é o silêncio de
Deus em algumas situações do sofrimento da hu-
manidade. Comumente, queremos respostas rápi-
das, pois o nosso tempo é limitado. No entanto, todo
sofrimento humano – especialmente dos cristãos –
precisa ser visto à sombra da cruz e da ressurreição
de Jesus. Sem a vitória sobre a morte, o sofrimento
humano não teria uma resposta cristã coerente. Se-
ria agonia, dor, sofrimento e fim. Mas pelo sofrimento
de Cristo, do qual cada cristão é participante neste
mundo, confiamos na glória que nos aguarda. Sob
esta perspectiva, devemos suportar as aflições da-
qui focados na gloriosa eternidade que nos aguarda
(Rm.8:18).

108
Para Pensar e Agir
1. Ser cristão e passar por sofrimento causa es-
panto para você? Foi Jonathan Edwards quem disse:
“A terra é tudo de melhor que o ímpio pode experi-
mentar e tudo de pior que um cristão experimenta-
rá”.
2. Diante do sofrimento você é capaz de ver as
provisões de Deus?
3. Você entende que os sofrimentos deste tempo
são passageiros enquanto a glória futura é perma-
nente?

Leitura Diária

SEG Mateus 26:69-75

TER Atos 5:17-33

QUA Atos 5:34-42

QUI Filipenses 3:12-21

SEX Romanos 8:14-18

SÁB 2 Coríntios 1:2-7

DOM 1 Pedro 4:12-19

109
Lição 11

Texto Base: 2 Pedro 1:1-11

Cristo é a
Verdade
Suficiente

Como vimos nas últimas cinco lições, a primeira


carta de Pedro foi escrita para encorajar os irmãos e
fortalecê-los diante da tribulação, perseguição e so-
frimento. Já sua segunda carta, tem como objetivo
encorajar os irmãos a combater os falsos ensinos e
as heresias que se espalhavam na Igreja. A primeira
abordagem da carta é o seu ensino sobre a suficiên-
cia de Cristo para a vida de cada cristão e da igreja.
É esta suficiência (compreendê-la e vivenciá-la) que
fortalecerá a igreja a identificar e vencer os falsos en-
sinos, assunto que o apóstolo começa a desenvolver
após a costumeira saudação presente nas cartas do
Novo Testamento (v.1,2).

110
1. A pessoa de Cristo é suficiente
(1:3,4)
O verso três, do capítulo primeiro, é o ponto central
da carta: “Seu divino poder nos deu todas as coisas de
que necessitamos para a vida e para a piedade...”. O
verbo “dar” indica uma ação de “dar como presente,
livremente”. Essa palavra está em um tempo verbal
no grego que significa algo que foi dado, está dado e
continuará dado, ou seja, tudo o que o cristão precisa
está para sempre garantido ao cristão para viver. Não
tudo o que ele deseja, mas tudo de que necessita.
Pedro tinha visto e vivenciado muitas demonstrações
do poder de Jesus, através dos milagres realizados
e suas próprias experiências (Mt.14:22-29). A palavra
poder (dynamis) indica uma energia constante e di-
nâmica habitando em Cristo por força da sua nature-
za divinal.

Com efeito, é esse poder que capacita o cristão


para viver na piedade. Essa palavra indica a resposta
interior de alguém às coisas de Deus e que se ex-
pressa naturalmente em reverência à sua pessoa e,
naturalmente, às coisas santas. Entretanto, esse po-
der só alcança o homem pelo conhecimento daque-
le que nos chamou por sua glória e virtude. “Glória” é
o renome de Deus, seu esplendor e sua majestade.
“Virtude”, por sua vez, traz a ideia de perfeição, reti-

111
dão, excelência moral. São por estas qualidades que
Jesus Cristo chama os homens para si e, de forma
admirável, lhes oferece participação nessa glória e
virtude (v.3b).

Se isso ainda não bastasse, é pela virtude e gló-


ria do Senhor que o cristão é alvo das “grandiosas
(magníficas) e preciosas (de grande valor) promes-
sas (v.4a), mostrando que elas são supremamente
grandes e de inestimável valor. Elas são magníficas
e preciosas que, ao crer nelas, o cristão participa
(compartilha, se torna parceiro, associado) da natu-
reza divina, recebendo capacitação para escapar da
corrupção (contaminação, destruição, decadência,
podridão, decomposição) que domina este mundo,
sendo esse o desejo natural do homem sem Deus.
Participar da natureza divina, portanto, não significa
que o homem se tornará um “deus”, mas que está
reservado para si, a natureza, peculiaridades, carac-
terísticas e poderes que o tornarão diferente do não
salvo. Portanto, a vida apegada às coisas santas é
fruto do cultivo da nova natureza, e tudo isso é al-
cançado pela suficiência de Cristo na vida do salvo.

2. Cristo é suficiente para fazer


crescer a fé (1:5-11)
Há duas frases bem parecidas que ligam as duas
sequências de texto que estamos refletindo: “...por
meio do pleno conhecimento daquele [Jesus] que nos
chamou...” (v.3b) e “...no pleno conhecimento de nos-
so Senhor Jesus Cristo...” (v.8). O “pleno conhecimento”
112
de Jesus coloca o cristão em contato com a sua na-
tureza divina, como também o capacita para o cres-
cimento na fé e sua prática operosa. O próprio Deus
dá aos seus servos tudo do que eles precisam para
o viver piedoso e santo, mas o crescimento espiritual
não ocorre automaticamente. É preciso que haja de-
dicação na aplicação dos recursos que Ele provê. O
Apóstolo Paulo exorta aos filipenses que eles deve-
riam por “...em ação a salvação de vocês com temor
e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o
querer quanto o realizar, de acordo com a boa vonta-
de dele” (Fp.2:12b,13).

Não obstante, o Apóstolo Pedro enumera, nos ver-


sos 5-7, sete qualidades que fazem parte do cresci-
mento na fé. Não são etapas de desenvolvimento,
mas características que estão intimamente relaciona-
das, assim como os elos de uma corrente. Para tanto,
é necessário haver empenho nessa tarefa. O verbo
empenhar (v.5) aparece apenas nesse texto em todo
o Novo Testamento e refere-se a realizar algo com
envolvimento pessoal real, enfatizando fortemente
a necessidade do envolvimento profundo e pessoal
do crente na fé. O verbo acrescentar, ainda no v.5,
é uma metáfora que indica fornecer tudo o que é
necessário para atingir um grande objetivo, signifi-

113
cando ainda a cooperação generosa e dispendiosa.
Isto quer dizer que o cristão deve investir tudo o que
puder nesse tipo de cooperação com Deus, em sua
própria vida, para a honra dEle.

Assim, estas qualidades são: virtude, conhecimen-


to, domínio próprio, perseverança, piedade, fraterni-
dade e amor. Por “Virtude” compreendemos excelên-
cia, coragem e bondade moral. Por “conhecimento”
compreendemos a noção sobre Deus e sobre coisas
divinas, em geral, como resultado de um viver pela
fé. O “elo” seguinte da corrente é o “domínio próprio”,
que significa autodomínio, procedendo de “dentro de
si mesmo”, e não meramente por si mesmo. O domí-
nio próprio, uma das manifestações do fruto do Es-
pírito, conforme exposto na carta aos Gálatas 5:22,23.
Ao domínio próprio é acrescentada a “perseverança”
(v.6), cujo sentido é permanência, resistência, firme-
za, especialmente quando Deus capacita o crente a
suportar os desafios, as oposições humanas ou sa-
tânicas que surgem ou até mesmo a sedução car-
nal que vem do interior do homem. À perseverança
une-se a “piedade”, que é reverência para com Deus
e respeito para com as pessoas. Por último, junta-se
à lista de virtudes o “amor fraternal”, pois, como nos
ensina o Apóstolo João em sua Primeira Carta: “...se
alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão,
é mentiroso...” (I João 4:20a).

3. Cristo em nós é suficiente para a


prática da fé (v.8-11)
114
Os cristãos não podem ser estéreis, infrutíferos nem
acomodados com aquilo que fazem. O Apóstolo Pe-
dro sustenta que as qualidades cristãs precisam es-
tar crescendo cada vez mais. No grego, este verbo
“crescendo” tem relação com a nossa palavra “pleo-
nasmo”, que significa a repetição de uma expressão,
como “eu vi com meus próprios olhos”. A aplicação
disso ao texto é que o crescimento na prática da fé é
algo contínuo, repetitivo a cada dia na vida do cristão.
A falta de crescimento espiritual mostra justamente
um declínio espiritual. Assim não pode haver espaço
para a preguiça e para o relaxamento da dedicação.
Pedro apresenta três evidências de que o cristão está
crescendo espiritualmente.

Em primeiro lugar, a frutificação (v.8). Incialmente,


o cristão precisa desenvolver-se no conhecimento
da pessoa de Cristo como seu Senhor, demostrando
ser seu servo pelo fruto na obra que Ele nos deu para
realizar. É importante dizer que frutificação está dire-
tamente relacionada ao caráter e conduta do crente,
que produz em abundância por ser fiel e eficaz no
crescimento cristão, o que resulta na glorificação a
Deus.

A segunda evidência é a visão espiritual. Quando o


homem tem seus olhos espirituais abertos pelo novo
115
nascimento, este aguça sua visão e enxerga o que
Deus lhe quer mostrar. A frase “só vê o que está per-
to” (v.9) traduz um termo que significa “míope”, que é
aquela pessoa que só enxerga bem de perto, mas
não vê claramente objetos que estão longe. O cris-
tão precisa ter visão de longo alcance nas coisas es-
pirituais. Percebam o detalhe do verso que relaciona
a visão cristã com a lembrança do que Cristo fez por
nós. Não podemos jamais esquecer que antes éra-
mos cegos e nossos olhos foram abertos porque fo-
mos lavados e perdoados pelo sangue de Jesus.

A terceira evidência do crescimento espiritual é


a segurança na caminhada (v.10,11). Esta segurança
perpassa a vida terrena e alcança a grande expecta-
tiva cristã, que é a “entrada no reino eterno do nosso
Senhor Jesus Cristo” (v.11). A palavra suprir, no v.11, é a
mesma traduzida por acrescentar, no v.5, e significa
“pagar as despesas”, “providenciar com fartura”. Por-
tanto, o crente que cresce na prática da fé, sob a su-
ficiência de Cristo, terá suas provisões supridas aqui
e multiplicadas na vida no céu.

Conclusão
A caminhada do cristão neste mundo começa com
a fé em Jesus. No entanto, ela deve direcioná-lo ao
crescimento espiritual. Caso contrário, tal fé será uma
fé morta, improdutiva, inoperante, pobre nas coisas
espirituais (recordar a advertência de Tg.2:14-16). A fé
precisa, imperiosamente, conduzir ao crescimento
que, por conseguinte, gerará resultados práticos na
116
vida e no serviço cristãos. Viver esse estilo de vida,
o Cristianismo verdadeiro, torna difícil o crente ser
levado pelo engano dos falsos ensinos, dos falsos
mestres e dos que se afastam da fé genuína.

Para Pensar e Agir


1. Jesus Cristo é suficiente para tudo do que ne-
cessitamos em nosso viver. Você precisa crer e viver
essa verdade.

2. A suficiência de Cristo é mais que uma afirma-


ção teológica e doutrinária. Precisa ser vivida.

3. Cuide para que sua fé seja sempre operante, rea-


lizadora. Participe da obra de Deus através da igreja
local e glorifique ao Senhor com a prática da fé.

Leitura Diária

SEG Colossenses 2:1-10

TER Colossenses 2:11-23

QUA 2 Coríntios 3:1-12

QUI João 15:1-16

SEX Efésios 1:3-14

SÁB Efésios 1:15-23

DOM 2 Pedro 1:1-11

117
Lição 12

Texto Base: 2 Pedro 3:8-18

A Vitória da
Verdade

A volta de Jesus é a esperança áurea do Cristão


que confia e vive os valores da Palavra do Senhor. Esta
é uma verdade presente em toda a Bíblia, de forma
mais clara, naturalmente, em o Novo Testamento. O
Senhor é fiel e o dono do tempo e das eras e tem o
controle de todas as coisas, para cumprir fielmente
todas as suas promessas.

Já nos dias de Pedro, os falsos mestres zomba-


vam da veracidade do retorno do Senhor (3:3,4). Fal-
sos ensinos sobre a volta de Jesus, baseados em fal-
sas revelações, também estão presentes no escopo
doutrinário de alguns segmentos religiosos. São fal-
sos porque toda a revelação bíblica está completa,

118
portanto nada pode ser tirado, modificado ou acres-
centado ao que está na Bíblia, inclusive sobre a se-
gunda vinda do Senhor. Esta vinda é certa e será vi-
sível a todos (Ap.1:7).

1. Jesus voltará – uma certeza (vv.8-10)


Existe a plena certeza da volta de Jesus, porém não
há como afirmar quando isso ocorrerá. Os não cren-
tes questionam se Ele realmente voltará; os crentes,
perguntam quando Ele retornará; outros questionam
o fato da aparente demora do cumprimento da pro-
messa da segunda vinda de Cristo. As respostas a
esses questionamentos são ressaltadas no texto:

a) A demora é uma evidência da eternidade


de Deus (v.8)
Uma vez que para o Senhor mil anos são como um
dia, Deus não pode ser culpabilizado por um preten-
so atraso em relação ao retorno de Jesus ou a uma
espécie de adiamento em cumprir suas promessas.
Sob a perspectiva divina, toda a criação tem ape-
nas alguns dias! Ele não é limitado pelo tempo nem
o mede pelos nossos padrões; nunca chega antes
da hora, mas também nunca se atrasa; pode realizar
em um só dia aquilo que outros levariam mil anos
para realizar! Ele espera o tempo próprio para agir e
o completa!

119
b) A demora é o exercício da paciência de
Deus
É a misericórdia divina que, bondosamente, ofere-
ce inúmeras oportunidades de arrependimento ao
pecador (v.9a). É a demonstração de que o Senhor
tem um plano para este mundo e que o está execu-
tando rigorosamente. Deus deseja que os pecadores
sejam salvos, (v.9, comp. I Tm.2:4). Obviamente, isso
não significa que todas as pessoas serão salvas, mas
que não há contentamento de Deus em condenar o
homem à perdição eterna.

c) A demora é uma incompreensão dos


projetos de Deus
“Demora” é ser indevidamente lento, atraso com
referência a uma hora marcada. Na realidade, é uma
demora aparente, é um julgamento errôneo das pes-
soas que não entendem (ou não aceitam) o modo
que Deus tem planejado o retorno de Seu Filho (v.9b).

d) A demora não significa que a palavra de


Deus será anulada
O Dia do Senhor “virá repentinamente” como o la-
drão, mas o que Deus prometeu não cairá por terra
(v.10). A despeito da demora, o Dia do Senhor com cer-
teza ocorrerá, pois Sua palavra jamais poderá passar
(Mt.24:29,35). Pedro fala em linguagem apocalíptica
no restante do verso dez, buscando mostrar que a
história caminha para um clímax surpreendente em
termos do juízo de Deus, até mesmo sobre toda a
120
criação.

2. Jesus voltará: sejamos Zelosos


(vv.11-14)
Agora estamos diante de uma séria reflexão: Que
tipo de pessoas devemos ser? Somos aqui exortados
a uma vida santa e piedosa (v.11). Assim, percebemos
a íntima ligação entre a crença na vinda do Senhor e
o chamado para a santidade. O investimento de nos-
sas vidas precisa ser naquilo que é eterno, demons-
trado por um viver santo e piedoso.

Faz parte da conduta do cristão esperar e apres-


sar a vinda do Senhor. Esperar é aguardar com gran-
de expectativa, uma atitude de entusiasmo pelo re-
torno de Jesus. Portanto, uma vez que o mundo e
suas obras se dissiparão e seus elementos se de-
sintegrarão, não devemos colocar a nossa esperan-
ça nas coisas daqui, mas somente no Senhor Jesus
Cristo. Por sua vez, a palavra “apressar” significa ace-
lerar, desejar sinceramente. Sem dúvida, a maneira
mais contundente dos cristãos apressarem o “dia de
Deus” é proclamando o evangelho a todo o mundo e
insistindo com as pessoas para que se arrependam
e creiam.

Esse esperar diligente auxilia o cristão a aguardar


“novos céus e nova terra” (v.13), nos faz exultar no fato
de que viveremos num lugar no qual habita a justiça.
Portanto, não importam as lutas, embaraços, prova-
ções, privações e sofrimentos deste tempo. O cristão
121
tem os seus aposentos preparados pelo Senhor (João
14:2), um lar onde habita a justiça (Is 65:16b). Confiar
nessa promessa torna mais fácil suportar as aflições
que dominam o mundo presente. Isso não significa
fugir da realidade, mas vivê-la tendo em mente a sua
transitoriedade e sob a perspectiva da eternidade.

3. Jesus voltará: preguemos o


evangelho (vv.15,16)
Motivos não faltam a Deus para determinar já o
julgamento do mundo, pondo fim à incredulidade,
às más obras da humanidade. O motivo pelo qual
Ele não se “apressa” está no verso quinze: “tenham
em mente que a paciência de nosso Senhor significa
salvação”. “Paciência” significa ânimo longo (longani-
midade), esperar tempo suficiente antes de expres-
sar ira, evitando o uso prematuro da força ou da re-
tribuição, que surge de uma raiva descontrolada. Ou
seja, Deus, em sua misericórdia, é longânimo para
com o ser humano, dando repetidas oportunidades
para que haja arrependimento e aceitação da verda-
de (v.9).

Vivemos o tempo da salvação, não do julgamento.


Mas a igreja precisa falar, os crentes precisam tes-
temunhar da obra salvadora de Jesus. As pessoas
precisam ouvir para crer (Rm.10:13-15). A igreja preci-
sa ser diligente em levar os perdidos até Cristo, sa-
bendo que não podemos converter qualquer pessoa
– isto é obra do Espírito Santo – mas não podemos
ser negligentes na proclamação do evangelho. Não
122
temos conhecimento de até quando o Senhor será
paciente para com a humanidade perdida, por isso
a evangelização é urgente e não se deve abusar da
graça de Deus. Devemos agir motivados pelo amor
aos perdidos e por obediência à ordem de Jesus de
levar sua mensagem a todas as pessoas.

Uma última observação importante nesta refle-


xão é a curiosa referência de Pedro aos escritos de
Paulo, salientando que há pontos difíceis de serem
entendidos. Isso não significa em nenhuma hipótese
um motivo para não estudarmos os ensinos daquele
Apóstolo, mesmo porque é ele quem mais fala so-
bre o plano de Deus para a salvação da humanida-
de, principalmente nas epístolas aos Romanos e aos
Efésios. O que o Apóstolo Pedro está nos ensinan-
do é que existem textos na Bíblia que precisam de
um exame cuidadoso para ser entendido, ou, pelo
menos, alcançarmos alguma luz sobre eles. Assim,
ele nos adverte sobre o perigo de uma interpretação
equivocada, que distorceria o significado das Escritu-
ras e criariam doutrinas contrárias à Palavra de Deus.
O Apóstolo Pedro afirma que tais pessoas são igno-
rantes (sem conhecimento) e instáveis (alguém não
confiável). Assim, devemos aceitar os ensinamentos
das Escrituras e não tentar fazê-las dizer o que que-
remos.
123
4. Jesus voltará: cresçamos na fé
(vv.17,18)
Como permanecermos firmes, não sermos incons-
tantes e facilmente seduzidos nem perdermos o rumo
de nossa caminhada? Crescendo espiritualmente.
Literalmente, o v.18a quer dizer “estejam constante-
mente crescendo” e isso tem a ver com maturidade.
Um dos entraves para o desenvolvimento da igreja é
a existência de cristãos que nascem, mas não cres-
cem, continuam bebês emocional e espiritualmente.
Muito importante mencionar aqui que o crescimento
não é meramente o conhecimento intelectual da Bí-
blia ou das doutrinas, mas, essencialmente, “conhe-
cimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.
É conhecer (o verbo indica conhecimento pelo rela-
cionamento) uma pessoa: Jesus. Não é difícil crescer
em conhecimento das doutrinas e da teologia, difícil
é crescer em graça! Todos sabemos muito mais da
Bíblia do que pomos em prática. Ah! Que evolução
e revolução seria se praticássemos o que conhece-
mos da Bíblia. É assim que devemos viver enquanto
aguardamos o retorno do nosso Senhor.

Conclusão
Ao terminarmos estes dois estudos, um pequeno
estrato de uma carta tão atual e de mensagem ur-
gente, destacamos que os apóstatas, falsos mestres,
estão se reproduzindo assustadoramente nas igrejas
e seduzindo muitos cristãos imaturos. Portanto, é ne-
cessário que cada cristão cresça e se fortaleça es-
124
piritualmente, aproveitando todas as oportunidades
de proclamar a verdadeira mensagem aos perdidos.

Para Pensar e Agir


1. Você está atento à iminente volta de Jesus Cris-
to?

2. Você tem sido zeloso por uma vida santa e pie-


dosa?

3. Você tem aproveitado bem as oportunidades


para pregar o evangelho?

4. Você tem se dedicado a crescer na fé no conhe-


cimento de Jesus?

Leitura Diária

SEG Atos 1:6-11

TER 1 Tessalonicenses 4:13-18

QUA Hebreus 9:22-28

QUI Mateus 24:1-9

SEX Mateus 24:10-14;23-28

SÁB Mateus 24:29-51

DOM 2 Pedro 3:8-18

125
Lição 13

Texto Base: Judas 1:3-16

A Defesa
da Verdade

Comumente se compreende que o autor desta


breve carta, Judas, era um dos meios-irmãos de Je-
sus os quais não creram nele enquanto ministrava
(Marcos 6:3). Não se sabe a circunstância nem época
em que ocorreu a mudança na vida desse irmão de
Jesus, mas o certo é que eles, posteriormente, com-
preenderam a mensagem que Jesus veio trazer e a
Ele se rendeu.

Essa carta nos adverte quanto ao surgimento dos


apóstatas (aqueles que negam e abandonam a fé). A
apostasia sempre foi uma das maiores ameaças a fé.
Embora haja semelhanças entre a carta de Judas e II

126
Pedro (Ex.: II Pedro 2:1-3; 3:3ss), não é possível afirmar
que os destinatários das duas cartas são os mesmos.
O certo é que ambas estimulam os cristãos a leva-
rem a sério as advertências contra a apostasia.

Aparentemente, Judas havia começado a escrever


uma carta devocional tranquila acerca da salvação,
mas o Espírito o instruiu a escrever uma convocação
para a batalha (v.3). O escritor exorta os crentes para
um enfrentamento em defesa da fé. A palavra exor-
tação (grego parakaléō) é uma expressão bem forte,
que indica uma chamada, uma súplica, para o enga-
jamento na defesa da pureza da fé evangélica.

1. A fé que defendemos (v.3)


O termo “fé”, a que Judas se refere, não é a fé sal-
vífica, mas o conjunto de doutrinas dadas por Deus
à igreja por intermédio dos apóstolos. Nas cartas do
Apóstolo Paulo a Timóteo e a Tito, há a exortação
para que estes ensinassem a “sã doutrina”, ou seja, a
“doutrina salutar”, que promove a saúde espiritual da
igreja local.

Essa verdade foi “entregue” (v.3) aos santos. Essa


palavra significa “ser encarregado de algo”. Assim,
Deus nos entregou o conhecimento acerca do Seu
Filho, e, ao nos alimentarmos desse conhecimento,
nós somos nutridos e fortalecidos. Porém, se o rejei-
tarmos, enfraqueceremos e caímos no pecado. A ex-

127
pressão “foi entregue” ou “foi dada” é o verbo grego
paradotheísē, que significa dar em custódia (quando
alguém recebe algo para guardar e é responsável
por essa guarda). Desse modo, podemos sustentar
que Judas, com certeza, concorda com João: Todo
aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas
vai além dele, não tem Deus; quem permanece no en-
sino tem o Pai e também o Filho. Se alguém chega a
vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em
casa nem o saúdem. (II João 1:9,10).

2. Como defendemos a fé (v.3)


Somos convocados a “batalhar pela fé”? O termo
grego é o verbo epagōnízestai, de onde vem a pa-
lavra agonizar. O termo faz parte do vocabulário es-
portivo e retrata o atleta dedicado competindo nos
jogos gregos, estendendo nervos e tendões, a fim
de dar o melhor de si e vencer. Também significava
a luta, o engajamento em uma guerra. A defesa da
fé sempre foi, é e será custosa e agonizante; o custo
de não ser levado pela avalanche dos modismos, o
esforço agonizante de procurar expressar a fé de um
modo que seja realmente compreensível ao homem
contemporâneo, porém sem renunciar à fidelidade
em relação à Palavra de Deus.

Não obstante, defender fé não é ser contencioso


ou causar rixas e divisões, mas estar preparado para
pagar um alto preço, se necessário, para defendê-
-la. Como soldados cristãos, não devemos lutar uns
contra os outros nem sair procurando brigas ou “po-
128
lêmicas”, mas se os inimigos da fé confrontam a igre-
ja, a sã doutrina, não é possível ficarmos parados, de
braços cruzados, ouvidos tampados e boca fechada.

3. Contra quem defendemos a fé (vv.8-


16)
Judas escreve palavras de advertência, descre-
vendo os falsos mestres e o que fariam com a igreja.
Os apóstatas são descritos por suas atitudes e por
diversas metáforas. Sugiro ao leitor comparar Judas
8-16 e II Pedro 2. Vamos conhecer um pouco do ca-
ráter dos apóstatas:

a) Rejeitam a autoridade divina (v.8)


O termo grego é enypniazómenoi (sonhadores).
Esta palavra pode ser traduzida por “falsos mestres,
sonhando”, “afirmando ter autoridade com base em
sonhos”. Fala, metaforicamente, de uma esperança
(desejo) que se opõe ao reino de Deus. Pedro apre-
senta tais pessoas como brutos e irracionais: (II Pedro
2:12,22). Quando os homens se rebelam contra Deus,
descem ao mesmo nível dos animais.

b) Blasfemos (v.8b-11)
Descreve uma pessoa arrogante, desafiadora, in-
solente, que levianamente desafia a Deus e sua au-
toridade. O caráter dessas pessoas é ilustrado por
três personagens bíblicas: Caim, Balaão e Corá, to-
129
dos eles arrogantes diante de Deus. A forma correta
de enfrentar os apóstatas blasfemos é demonstra-
da nas palavras de Miguel para pôr fim ao embate
contra Satanás pelo corpo de Moisés: “o Senhor te
repreenda”.

c) Dissimulados (v.12)
Judas os chama de “rochas submersas”. Na nave-
gação, o timoneiro deve estar sempre alerta, pois
águas de aparência calma e segura podem escon-
der recifes traiçoeiros. Portanto, líderes espirituais e
cristãos em geral devem estar sempre de guarda.

d) Egoístas (v.12)
Caracterização que se dirige mais aos líderes após-
tatas. A Bíblia na Nova Versão Internacional traduz
como “pastores que só cuidam de si mesmos”. Fazem
tudo isso “sem qualquer recato”, expressão que tam-
bém pode ser traduzida por “sem qualquer medo”.
Esta é a diferença entre o verdadeiro pastor e o mer-
cenário: o primeiro preocupa-se com as ovelhas; o
segundo, apenas consigo mesmo.

e) Inúteis (v.12)
Nuvens que prometem chuvas, mas não a der-
ramam, são uma decepção para o agricultor cujas
plantações precisam encarecidamente de água. Os
apóstatas dão a impressão de serem pessoas que
130
podem oferecer ajuda espiritual e se vangloriam de
suas aptidões, mas são incapazes de concretizar coi-
sa alguma.

f) Infrutíferos (v.12)
“Árvores sem frutos”, “árvores duplamente mortas”.
Particularmente, gosto dessa última forma de tradu-
ção. Além de não ter frutos, também não têm raízes
(“desarraigadas”), por isso são árvores “duplamente
mortas”. São mortos porque não dão frutos e mortos
porque estão arrancados da terra. Temos aqui um
grande contraste com o homem piedoso do Salmo
1:3.

g) Fingem poder (v.13a)


As ondas do mar são extremamente poderosas.
Judas, porém, compara os apóstatas a “ondas bra-
vias”, que fazem barulho ao baterem nas pedras, es-
pumam, mas logo voltam “mansas” para o mar. Além
disso, deixam sujeira quando a maré abaixa. É pos-
sível que Judas tivesse em mente Isaías 57:20: “Mas
os perversos são como o mar agitado, que não se
pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo”.
As palavras de “grande arrogância” dos apóstatas só
produzem espuma e refugo, enquanto os verdadei-
ros mestres da Palavra trazem tesouros de dentro
dela.

131
h) Decadentes (v.13b)
A comparação agora é com estrelas cadentes, ou
meteoros, que aparecem de repente, mas alguns
saem da órbita prevista e depois somem na escuri-
dão para nunca mais serem vistos. É perturbador e
muito triste ler ou ouvir histórias daqueles que um dia
se destacaram como líderes e hoje estão na escuri-
dão, caíram no esquecimento. E desses, alguns caí-
ram por causa do orgulho de enxergarem a si mes-
mos como estrelas.

i) Murmuradores e descontentes (v.16a)


Se um falso mestre consegue levar uma pessoa a
criticar diretamente a sã doutrina ou a ficar descon-
tente com aqueles que a defendem, tal pessoa pode
ser levada a desviar-se da verdadeira doutrina.

Conclusão
As condições apresentadas por Judas são muito
parecidas com as de hoje. A principal forma de bata-
lhar pela fé é explicar e expor a realidade e verdade
das Escrituras Sagradas. Não é algo simples de ser
feito e, por incrível que pareça, nem sempre é bem
aceito. Precisamos exortar à fidelidade ao Evange-
lho. Somos de fato chamados por Judas a defender
esse evangelho (fé), dentro e fora das nossas igrejas.
Porém, isso exige conhecer as Escrituras. (I Pe.3:15).
Não podemos dar brechas para o inimigo. Estamos
na batalha pela fé e para alcançarmos a vitória nesta
132
luta, não podemos nos afastar da Palavra de Deus
nem descuidarmos de nossa saúde espiritual.

Para Pensar e Agir


1. Você tem consciência de que está numa luta re-
nhida contra as falsas doutrinas que afastam o cren-
te do centro da revelação de Deus?
2. Você está preparado para esta batalha, pela lei-
tura e entendimento da Palavra de Deus?

3. Você está preparado e disposto(a) a pagar o pre-


ço, “agonizar” se for preciso, para defender a fé?

4. Você compreende que a melhor forma de afas-


tar os falsos ensinos é ensinar e viver os verdadeiros
ensinos da revelação de Deus?

Leitura Diária

SEG Judas 1:1-4

TER Judas 1:5-11

QUA Judas 1:12-16

QUI Judas 1:17-25

SEX Gálatas 1:6-9

SÁB Efésios 4:10-20

DOM 2 Timóteo 3:12-17

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40° CONGRESSO DA AMBF
23, 24 e 25
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P R I M E I R A I G R E J A B AT I S TA E M R I O B O N I T O
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