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Introdução

Momento oportuno para


aprimorar os trabalhos
1º encontro de ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de animais
silvestres - Estado de São Paulo
Vincent Kurt Lo
Divisão de Fauna – IBAMA - SP

Dado nosso entendimento sobre a importância dos Em suma, deparamos com o seguinte contexto:
monitoramentos, foi incluído o termo na nomenclatura 1) altos índices de caça e captura de animais silvestres
das Áreas de Soltura, passando de ASAS – Áreas de 2) indicativos de redução das populações na
Soltura de Animais Silvestres – para ASM – Área de natureza, ameaça de extinção local e global, “florestas
Soltura e Monitoramento – , comunicado através de vazias” (Redford, 1992)
Ofício Circular nº 05/06, de 4/7/06. 3) demanda de proprietários de áreas particulares
Cremos que a realização do 1º Encontro de Áreas interessados em recomposição de fauna e flora
de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres no 4) priorização de retorno dos animais à natureza pela
Estado de São Paulo vem ao encontro da necessidade própria legislação, como preconiza o Decreto Federal
de compilação e divulgação dos resultados das solturas. nº 3.179/99, artigo 2º, parágrafo 6º:
Como órgão público, o IBAMA depara-se com “II - os animais apreendidos terão a seguinte
limitações de recursos materiais, estruturais e humanos. destinação:
Entretanto, através do empenho de diversos parceiros, a) libertados em seu hábitat natural, após verificação
podemos concretizar esse singelo porém essencial da sua adaptação às condições de vida silvestre;
evento, e esperamos contribuir não só para a divulgação, b) entregues a jardins zoológicos, fundações ambien-
mas para o aprimoramento dos trabalhos. talistas ou entidades assemelhadas, desde que fiquem
Apesar de incipientes, pode-se constatar resultados sob a responsabilidade de técnicos habilitados; ou
positivos para o efetivo estabelecimento de populações c) na impossibilidade de atendimento imediato das
em vida livre, para o fomento à pesquisa e participação condições previstas nas alíneas anteriores, o órgão
de universidades, e para o envolvimento de áreas ambiental autuante poderá confiar os animais a fiel
privadas na proteção da fauna e flora. Tais resultados depositário na forma dos arts. 1.265 a 1.282 da Lei no
visam possibilitar a constante análise e avaliação dos 3.071, de 1o de janeiro de 1916, até a implementação
procedimentos e das solturas, e a finalidade de con- dos termos antes mencionados.”
servação da biodiversidade, em reiteração à missão do Considera-se, portanto, o retorno desses animais à
IBAMA. natureza, apesar de um processo às vezes complexo,
A perda de hábitat é certamente a principal ameaça com os devidos cuidados, possível e desejável.
à fauna silvestre. Entretanto, outros fatores como a Em face do cuidado com solturas de maneira aleatória
introdução de espécies exóticas, a caça e a captura e descriteriosa, e a ausência de uma legislação específica,
também exercem fortes pressões sobre as populações houve a necessidade de elaboração de protocolos para
nativas, mesmo com a presença de ambientes disponíveis. normatização das solturas e das áreas de soltura pela
Em 2005, apenas no Estado de São Paulo, os animais Divisão de Fauna da Superintendência do IBAMA - SP,
silvestres irregulares apreendidos chegaram ao através dos documentos Requerimentos para Cadastro
impressionante número de aproximadamente 30 mil de Área de Soltura e Protocolo de Orientações para a
espécimes. Certamente uma pequena parcela do Soltura, adaptados das recomendações da IUCN (1995),
montante traficado. disponível no site: www.ibama.gov.br/sp.

vincent.lo@ibama.gov.br

RELATÓRIO DE ATIVIDADES DAS ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres - 2006
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Introdução

Áreas de soltura e monitoramento 5. A emissão de guias de transporte para Áreas de


Requerimentos para cadastro de Área de Soltura e Soltura está condicionada ao cadastro regularizado das
Monitoramento: mesmas junto ao Ibama
1. A propriedade não pode possuir nenhuma pen- 6. As Áreas de Soltura devem encaminhar ao Ibama
dência judicial/fundiária. relatório anual (formulários no site www.ibama.gov.br/
2. A localização da propriedade em área de sp <http://www.ibama.gov.br/sp>;) referente aos animais
interesse, considerando aspectos faunístico-florísticos, soltos na localidade, com informações das espécies,
e características geomorfológicas, hídricas e antrópicas, marcação, sexo, etc. e manter o órgão informado de
ressaltando-se a restrição em UC (Unidade de Con- toda alteração documental ou ambiental da área.
servação).
3. Requerimento de cadastro junto ao IBAMA mais
próximo, com a apresentação dos seguintes docu- Protocolo de Orientações para soltura de
mentos: animais silvestres
a) Informações básicas do proponente (nome, RG, Considerações:
CPF, endereço da propriedade, endereço para corres- O termo “soltura” é genérico. Primeiramente se mos-
pondência, telefone, e-mail etc.) e elaboração sucinta tra necessária a compreensão do que está sendo realizado
de texto com proposta para a área (objetivos, justifica- (adapt. da IUCN, 1995):
tivas e metodologia) Reintrodução (Restabelecimento) tentativa de se esta-
b) Apresentação do documento de posse da pro- belecer uma espécie em área da qual anteriormente fazia
priedade e croqui de acesso parte de seu histórico, mas da qual foi extirpado ou se
c) Localização da propriedade e vizinhanças em ma- tornou extinto
pa, ou imagem de satélite, ou foto aérea de 1:25.000, Relocação (ou Translocação) – movimento
com a cobertura da vegetação e caracterização qualitativa deliberado ou mediado, de indivíduos selvagens ou de
e quantitativa do uso do solo populações de sua área de atuação para outra área em
d) Levantamento faunístico dos vertebrados in loco que ela também ocorre
(listagem das espécies que ocorrem na localidade por Recolocação (ou Devolução) – devolução do
trabalho de campo, não apenas de literatura e dependen- indivíduo/grupo na mesma localidade de origem num curto
do das espécies, estudo populacional) espaço de tempo
e) Levantamento florístico, englobando listagem das Revigoramento (ou Reforço/Suplementação) – sol-
espécies vegetais e caracterização fisionômica (tipos de tura de indivíduos de uma espécie com a intenção de
paisagem e porcentagem de área) e, se possível, fitosso- aumentar o número de indivíduos de uma população em
ciológica, visando, se necessário, a revegetação e o en- seu hábitat e distribuição geográfica originais
riquecimento florístico Introdução de Conservação (ou Benigna) – tentativa
f) Programa de divulgação e educação ambiental do de se estabelecer uma espécie, para o propósito de
projeto junto à população local dos arredores e auto- conservação fora de sua área de ocorrência, mas dentro
ridades ambientais correlatas de um hábitat apropriado. É uma ferramenta de con-
g) Viveiros/ recintos de isolamento (“quarentena”) e servação excepcional, quando não houver área rema-
ambientação pré-soltura in loco (no caso em que há pré- nescente dentro do histórico de atuação da espécie
ambientação/ reabilitação anteriormente realizada, o local Orientações:
de soltura pode prescindir de viveiros) • Identificação correta do animal por espécie (ou
h) Protocolo sanitário de recepção, isolamento, exa- subespécie quando houver)
mes e tratamento • Para espécies ameaçadas consultar existência de
i) Apresentar programa de marcação individual (no comitês ou grupos de trabalho
caso de aves, preferencialmente anilhas do CEMAVE) • Avaliar origem e histórico do animal
e monitoramento pós-soltura • A localidade deve ser de ocorrência natural da
j) Descrição clara da fonte de recursos e do período espécie/subespécie no local (pelo menos historicamente)
de financiamento e preferencialmente não ser borda de ocorrência
k) Anotação de Responsabilidade Técnica ART do • Considerar animais com estrutura social e
técnico responsável territorialidade
4. Após a apresentação de todos documentos, será • Avaliar domesticabilidade e condições fisiológicas
realizada a análise dos mesmos e agendada uma vistoria (vôo, vocalização, ato de fuga, alimentação...)
ao local. Após a aprovação final, a área será considerara • Escolher indivíduos competentes para reabilitação
oficialmente uma área cadastrada junto ao Ibama e soltura, considerando itens anteriores

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Introdução

• Avaliar época do ano mais apropriada para soltura • As solturas de animais devem estar acompanhadas
das espécies, considerando disponibilidade de alimento por representante de órgão ambiental competente
(floração, frutificação, insetos), horário do dia, migração (IBAMA/Polícia Ambiental), ou técnico autorizado
da espécie etc. acompanhado por duas testemunhas, registradas em
• Evitar socialização com homem (imprinting) de documento próprio.
animais destinados à soltura
• Avaliar tamanho e qualidade do hábitat Objetivos
• Avaliar, se necessário, população da localidade Como objetivos das solturas e formação das áreas
(densidade do táxon) de soltura, podemos listar:
• Seguir protocolo sanitário: quarentena e exames 1) Recolocação de espécimes e estabelecimento de
• Avaliar, se possível, capacidade de suporte do local populações na natureza
• Avaliar pressões sobre a espécie no local (caça, 2) Retorno de processos ecológicos (polinização,
predadores, ação antrópica etc.) dispersão...)
• Avaliar necessidade de fatores de suplementação: 3) Geração de experiências, informações e conhe-
alimentação (comedouros artificiais), abrigo (caixas/ cimento
ninhos artificiais) 4) Estabelecimento de parcerias, integração de
• Incentivar a restauração e ampliação de hábitat no órgãos governamentais e privados
local (sugestão: Resolução SMA nº 47, de 26/11/2003) 5) Incentivo à pesquisa com fauna e flora (levanta-
• Incentivo ao envolvimento da vizinhança na mentos, monitoramentos, enriquecimento florístico...)
conscientização e proteção 6) Incentivo à conscientização da população e à
• Avaliar, se possível, genética dos animais a serem proteção de áreas
soltos e da população da localidade A criação de áreas de soltura é, portanto, uma
• Realização de marcação individual ferramenta para a realização de solturas mais criteriosas,
• Tomada de medidas biométricas (peso, com- utilizando-se o soft release, cuidados pré e pós-soltura,
primento etc.) e o monitoramento. Além disso, a contribuição não se
• Viveiros/recintos pré-soltura no local para ambien- restringe à fauna silvestre, mas abrange uma conservação
tação e soft release (procedimentos de suplementação) mais global, pelo fomento às pesquisas, à proteção de
• Monitoramento pós-soltura áreas e à educação ambiental.
• Avaliar recursos financeiros necessários Nesse contexto, o IBAMA - SP prioriza a devolução
• Incentivo à participação dos setores privados e de responsável da fauna silvestre apreendida aos ambientes
pesquisa de ocorrência natural, através de procedimentos
criteriosos e da criação de áreas de soltura.

BIBLIOGRAFIA

IUCN 1995. Guidelines for Reintroductions. Aprovadas no 41º Encontro, Gland, Suíça.

REDFORD, K. H. 1992. The Empty Forest. Bioscience vol. 42

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