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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP


ESCOLA DE MINAS - DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSTRUÇÃO METÁLICA
MESTRADO PROFISSIONAL EM CONSTRUÇÃO METÁLICA

Geórgia de Souza Oliveira

LIGHT STEEL FRAME: POTENCIAL DO SISTEMA CONSTRUTIVO PARA CUSTOMIZAÇÃO DE


HABITAÇÕES PRÉ-FABRICADAS

OURO PRETO - MG
2018
GEÓRGIA DE SOUZA OLIVEIRA
georgiasoliveira@yahoo.com.br

LIGHT STEEL FRAME: POTENCIAL DO SISTEMA CONSTRUTIVO PARA CUSTOMIZAÇÃO DE


HABITAÇÕES PRÉ-FABRICADAS

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Construção Metálica da
Escola de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto, como parte integrante dos
requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Construção Metálica.

Professor orientador: Dr. Clécio Magalhães do Vale


Professor coorientador: Dr.Geraldo Donizetti de Paula

OURO PRETO – MG
2018
O482l Oliveira, Geórgia.

Light steel frame [manuscrito]: potencial do sistema


construtivo para customização de habitações pré-fabricadas / Geórgia
Oliveira. - 2018. 146f.: il.: color; grafs; tabs.

Orientador: Prof. Dr. Clécio Magalhães do Vale.

Coorientador: Prof. Dr. Geraldo Donizetti de Paula.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto.


Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil. Mestrado Profissional
em Construção Metálica.
Área de Concentração: Construção Metálica.

1. Industrialização. 2. Construção. 3. Processo de Projeto. 4.


Customização de Massa. I. Vale, Clécio Magalhães do. II. Paula, Geraldo
Donizetti de. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Titulo.

CDU: 624.014

Catalogação: www.sisbin.ufop.br
Dedico este trabalho a Deus, força maior que
sempre me ilumina na conquista de meus
objetivos, aos meus pais e meu irmão querido,
que sempre acreditaram em mim, confiando e
apoiando-me incondicionalmente.
AGRADECIMENTO

Agradeço, primeiramente, ao professor Clécio Magalhães, meu orientador, pelo apoio,


incentivo e direcionamento nas orientações desta dissertação de mestrado.
Aos demais professores, pela contribuição em suas disciplinas para o aprimoramento da
minha formação.
À Universidade Federal de Ouro Preto, pela oportunidade de me qualificar
profissionalmente no Mestrado Profissional em Construção Metálica.
Agradeço também aos meu colegas de turma, pelo companheirismo e momentos de
descontração.
À família Vitor, minha família ouropretana, pela amizade, carinho e acolhimento nos três
incríveis anos que vivi em Ouro Preto!
Ao meu parceiro, amigo e namorado Fred, pelo apoio e incentivo!
À empresa Flasan, pela oportunidade de parceria nesta pesquisa, especialmente aos
arquitetos Janiny Oliveira e Richard Braga.
Considero muito o apoio e carinho de todos aqueles que em algum momento ou de alguma
forma me auxiliaram nesta trajetória.
RESUMO
Nesta dissertação investiga-se o sistema construtivo industrializado em Light Steel
Frame e seu potencial para customização de habitações pré-fabricadas, explorando as
soluções desta tecnologia construtiva em projetos flexíveis, que permitam ampliações.
Neste cenário, o arquiteto tem papel fundamental por ser peça chave na integração de
uma equipe multidisciplinar, indispensável em projetos dessa natureza. Discute-se o
processo de projeto, o modo de produção e estratégias para prática no mercado da pré-
fabricação na construção civil. Metodologicamente, foi feita uma revisão bibliográfica
sobre os tópicos relacionados ao tema (pré-fabricação, coordenação modular, a
construção civil no Brasil, o sistema construtivo Light Steel Frame, dentre outros) e
pesquisa exploratória a partir de estudo de casos de edificações pré-fabricadas e práticas
inovadoras de pré-fabricação. Por fim, um estudo prático, desenvolvido a partir da coleta,
análise de dados e elaboração de projeto em sistema pré-fabricado em parceria com uma
empresa produtora de componentes do sistema Light Steel Frame. Os resultados apontam
que o processo de projeto para construção pré-fabricada apresenta peculiaridades, sendo
fundamental a aplicação dos conceitos de projeto simultâneo e engenharia simultânea, o
que permite que de fato as potencialidades da construção em aço sejam alcançadas. Nesta
investigação do sistema Light Steel Frame, pode-se concluir que ele favorece a
customização, especialmente no caso da construção modular. O sistema oferece agilidade
na execução da obra, porém, mediante a pesquisa desenvolvida e análise do estudo
prático, observou-se que o Light Steel Frame não é a melhor alternativa para a construção
de habitações customizáveis de forma autônoma pelo próprio usuário, uma vez que, por
se tratar de uma construção industrializada que demanda suporte técnico especializado,
não favorece a autoconstrução. A elaboração de um projeto que preveja expansões ou
modificações é essencial para ampliar a gama de possibilidades de customização para os
usuários, ainda que haja a necessidade de intermediação de uma empresa contratada para
execução da obra.

Palavras-chave: Industrialização, Construção, Processo de Projeto, Customização


de Massa.
ABSTRACT

This thesis investigates the prefabricated building system Light Steel Frame and the
possible tracks to qualify the project process to this type of building technology. In this aspect,
the architect has a crucial role, being responsible for integrating the multidisciplinary crew,
indispensable to this sort of project. It is, thus, important to discuss the project process, the
means of production, as well as strategies to prefab in civil construction. As far as the
methodology is concerned, a bibliographic review was made on the main topic of this work.
Also, an exploratory research based on case studies of prefab edifications has been
conducted, considering the logics of project process and innovative prefab practices. Finally,
a practical study, from the data analysis and elaboration of a building project in partnership
with a company of prefab buildings. The results indicate that the process of project to prefab
buildings present peculiarities, which is fundamental to the application of the concepts of
project as well as engineering, which enables the potentialities of the steel to be achieved.
Given the aim of investigation of this work (Light Steel Frame), the conclusion of such
constructive method favors customization, especially as far as construction by modular
method is concerned. Another advantage offered by the system is the rapidness in the
execution of the construction. This research, however, has shown that Light Steel Frame is
not the best alternative to the construction of customized houses autonomously designed by
the user, since it is an industrialized construction, which does not favor auto construction.
Therefore, the elaboration of a project that foresees expansions or modifications is essential
to broaden the range of possibilities to customization to users, even considering that the
intervening of a contracted company is yet necessary.

Keywords: Industrialization, Construction, Project Processing, Mass Customization.


LISTA DE ABREVIATURAS

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial


BIM – Building Information Modeling
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CBCA – Centro Brasileiro de Construção em Aço
CDM – Customização de Massa
CM – Coordenação Modular
COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional
EUA – Estados Unidos da América
FEC – Fundação Euclides da Cunha
IBS – Instituto Brasileiro de Siderurgia
LSF – Light Steel Frame
MCMV – Minha Casa Minha Vida
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
OSB – Oriented Strand Board
SINAT – Sistema Nacional de Avaliações Técnicas
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
Considerações iniciais .............................................................................................. 11
Objetivos ................................................................................................................... 12
1.2.1 Geral ................................................................................................................... 12
1.2.2 Específicos.......................................................................................................... 13
Metodologia .............................................................................................................. 13
Estrutura do Trabalho ............................................................................................... 14

CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL ...... 16


Modelo de Produção Atual ....................................................................................... 16
O segmento da Habitação ......................................................................................... 19
2.2.1 Produção Seriada e Individualização ................................................................ 19
2.2.2 A Interface Usuário x Produto .......................................................................... 20
2.2.3 Flexibilidade ....................................................................................................... 24

PRÉ-FABRICAÇÃO ...................................................................................................... 27
Histórico: Análise Cultural ....................................................................................... 27
3.1.1 Reino Unido ....................................................................................................... 27
3.1.2 Escandinávia....................................................................................................... 28
3.1.3 Japão .................................................................................................................. 30
Conceitos .................................................................................................................. 32
Princípios e Fundamentos ......................................................................................... 34
3.3.1 Dymaxion House ................................................................................................ 37
3.3.2 House of Tomorrow e Crystal House ................................................................. 38
3.3.3 Aladdin Homes ................................................................................................... 39
3.3.4 Sears Roebuck .................................................................................................... 40
3.3.5 Jean Prouve ......................................................................................................... 41
3.3.6 Charles e Ray Eames .......................................................................................... 41
Estudos de Caso de Pré-fabricação ........................................................................... 44
3.4.1 Produção Atual .................................................................................................. 44
3.4.2 KIERAN TIMBERLAKE ........................................................................................ 46
3.4.2.1.1 Loblolly House:............................................................................................... 47
3.4.2.1.2 Cellophane House .......................................................................................... 48
3.4.3 RESOLUTION, 4 ARCHITECTURE ...................................................................... 49
3.4.4 BENSONWOOD .................................................................................................. 53
3.4.5 BRASIL ................................................................................................................ 55
3.4.5.1.1 Casa Fácil Gerdau ........................................................................................... 57
3.4.5.1.2 Projeto Habitacional COSIPA ........................................................................ 58
3.4.5.1.3 Sistema Modular da CSN ............................................................................... 59
3.4.5.1.4 Usiteto ............................................................................................................ 60
3.4.5.1.5 Studio Paralelo ............................................................................................... 62
COORDENAÇÃO MODULAR .............................................................................. 64
3.5.1 Aspectos Fundamentais da Coordenação Modular ........................................ 65
3.5.2 A Coordenação Modular no Contexto da Política de Desenvolvimento
Produtivo ......................................................................................................................... 67

LIGHT STEEL FRAME ............................................................................................... 70


Sistema Construtivo.................................................................................................. 70
Vantagens do Sistema Construtivo Light Steel Frame ............................................. 73
Métodos de Construção Em Light Steel Frame ........................................................ 74
Tipos de montagem: Balloon Framing e Platform Framing .................................... 74
Fundações ................................................................................................................. 75
4.5.1 Radier ................................................................................................................. 75
4.5.2 Sapata corrida .................................................................................................... 77
Fixação...................................................................................................................... 77
Painéis ....................................................................................................................... 78
4.7.1 Painéis estruturais ou autoportantes ............................................................... 79
Lajes.......................................................................................................................... 80
4.8.1 Laje úmida .......................................................................................................... 81
4.8.2 Laje seca ............................................................................................................. 82
Cobertura .................................................................................................................. 83
Fechamento Vertical ................................................................................................. 84
4.10.1 Placa OSB ........................................................................................................... 84
4.10.2 Alvenaria ............................................................................................................ 85
4.10.3 Placas cimentícias .............................................................................................. 86
4.10.4 Gesso acartonado .............................................................................................. 88
Instalações ................................................................................................................ 88

INTERAÇÃO AMBIENTE PRODUTIVO X ARQUITETO .................................... 90


Empresa Flasan ......................................................................................................... 90

PROPOSTA PROJETUAL EM LSF CONSIDERANDO A CUSTOMIZAÇÃO DA


MORADIA ............................................................................................................................ 101
Condicionantes de Projeto ...................................................................................... 101
Programa de Necessidades ..................................................................................... 101
Partido Arquitetônico ............................................................................................. 102
Processo de Projeto ................................................................................................. 102

RESULTADOS ............................................................................................................. 132

CONCLUSÃO............................................................................................................... 135

REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 137

ANEXO A ................................................................................................................................ 142


INTRODUÇÃO

Considerações iniciais

No segmento de habitações é observado um déficit habitacional, se justificando a


necessidade de avanço na pesquisa por soluções que ofertem maior qualidade ao usuário
em comparação ao que é disponibilizado hoje em programas de habitação como o “Minha

Casa Minha Vida” (MCMV)1. Suas moradias não têm identidade arquitetônica, não

garantem o atendimento de especificidades e há saturação pela simples replicação massiva


de um modelo. Inseridas em contextos precários, muitas vezes não oferecem aos
moradores infraestrutura urbana básica.
Neste estudo investiga-se a pré-fabricação, com especial foco na tecnologia
construtiva em Light Steel Frame (LSF), e concentra-se no segmento de habitações pré-

fabricadas, de modo a explorar o conceito de Coordenação Modular2 (CM) e empregá-lo

como estratégia de projeto para se alcançar uma Customização de Massa (CDM), o que
proporcionaria aos usuários flexibilidade para adaptação e ampliação do produto final,
ainda que produzido de maneira seriada. A CDM traz consigo conceitos de produção em
massa e automação para propiciar uma economia no escopo. Sob este conceito, trabalha-
se em prol de maximizar os benefícios da mecanização e métodos de produção
automatizados, reduzindo custos com mão de obra e garantindo variabilidade e
customização do produto final.

1
O programa MCMV é a maior iniciativa da política habitacional do Brasil. Lançado em 2009 pelo governo
federal, a proposta é atender à famílias de baixa renda, com até dez salários mínimos, permitindo à elas o acesso à
moradia.
2
A Coordenação Modular visa compatibilizar elementos construtivos (definidos em projeto) e componentes
(definidos pelos fabricantes); reduzir a variedade de medidas utilizadas na fabricação de componentes; simplificar
a coordenação dimensional nos projetos das edificações, que hoje é elaborada caso a caso; simplificar o processo
11

de marcação no canteiro de obras para posicionamento e montagem de componentes construtivos; reduzir cortes
e ajustes de componentes e elementos construtivos; aumentar a intercambiabilidade de componentes tanto na
construção inicial quanto em reformas e melhorias ao longo da vida útil da edificação. Além disso, permite ainda
aumentar o mercado de exportação de componentes e ampliar a cooperação entre os diversos agentes da cadeia
produtiva da construção.
Esta proposta partiu, também, da intenção de investigar a pré-fabricação como
processo de produção para o segmento habitacional da construção civil considerando seu
potencial para edificações de maior qualidade, com custo e tempo de execução
controlados e, desta forma, colaborar para a qualificação do setor.
O setor de construção civil no Brasil é reconhecido por utilizar parcela significativa
de mão de obra desqualificada, por gerar enorme impacto ambiental em toda cadeia
produtiva e por apresentar lentidão para incorporar avanços tecnológicos e de
racionalização à produção (a racionalização construtiva pode ser definida como “um
processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o
uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais
e financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases” _ SABBATINI, 1989). A
racionalidade aplicada aos processos construtivos acarreta aumento de produtividade e
alinha-se a posturas sustentáveis.
A construção civil, apesar de ser um dos setores básicos para o desenvolvimento
nacional, é ainda caracterizado como defasado em comparação a outros setores da
economia do país. Basta pensar que a cadeia produtiva da construção civil utiliza pouca ou
nenhuma mecanização e conta com mão de obra em grande parte desqualificada,
portanto, não pode ser caracterizada como indústria. E ao contrário do que se pode pensar,
esta situação é verificada não apenas no caso das moradias precárias construídas sem
qualquer orientação profissional, mas também acontece na construção de edifícios
públicos, comerciais ou residências de médio a alto padrão.
Diante do exposto, enuncia-se a seguir os objetivos deste trabalho.

Objetivos

1.2.1 Geral

. Investigar o potencial de customização de habitações pré-fabricadas mediante proposta


de projeto que emprega tecnologia construtiva em LSF.
12
1.2.2 Específicos

. Investigar os conceitos que norteiam a racionalidade construtiva considerando seus


aspectos instrumentais para o campo da construção civil;
. Identificar materiais e técnicas de construção aptas ao emprego em sistemas construtivos
pré-fabricados;
. Investigar o processo de projeto da construção pré-fabricada e suas interferências nas
soluções projetuais de Arquitetura, considerando a relação arquiteto/ambiente de
produção.

Metodologia

A primeira etapa da pesquisa tem caráter exploratório com abordagem qualitativa


e, para o segmento de moradias, busca-se investigar a questão da habitação e das formas
de se habitar através de um referencial teórico e estudos de caso, numa investigação sobre
a pré-fabricação e sobre a habitação em LSF.
Numa segunda etapa realizou-se coleta e análise de dados a partir de pesquisa feita
com a empresa Flasan, produtora de tecnologia LSF, em Belo Horizonte. A entrevista foi
feita com aplicação de questionário à arquiteta gerente de projetos e orçamento, que ainda
disponibilizou registro fotográfico de uma obra executada pela empresa.
Por fim, desenvolveu-se a proposta de projeto, com elaboração de um modelo com
potencial para aplicação em situações de demandas diversas, permitindo customização a
partir de um sistema que se ajuste a terrenos e programas de necessidade diversos.
Este estudo prático visou o desenvolvimento de um sistema construtivo
racionalizado, pré-fabricado em LSF, com vedação por painéis, como proposta para a
produção seriada de habitações, considerando a CM e sistemas de construção abertos que
favoreçam a CDM, permitindo o atendimento de especificidades dos usuários, ainda que
sob processos de produção em série. Investigou-se a CM como ferramenta para projetar,
explorando sua importância nos processos de projeto, produção e manutenção das
13

edificações.
Estrutura do Trabalho

O trabalho investiga o potencial construtivo do sistema LSF para CDM de habitações


mediante método de fabricação e montagem por painéis, conforme o modelo de trabalho
da empresa Flasan, analisando se de fato tal sistema representa autonomia para o usuário
quanto às possibilidades de ampliação ou modificações.
No capítulo 2 caracteriza-se o modelo de produção atual do setor de construção civil
do país e as circunstâncias que o colocam na condição de manufatura heterogênea. Discute
ainda as possibilidades para que o setor da construção civil forneça edificações com mais
qualidade, elaboradas mediante processos flexíveis, que permitam adequações ao longo
do tempo, conforme necessidades dos usuários.
No capítulo 3 discute-se conceitos, princípios e fundamentos relacionados à pré-
fabricação na construção civil e sistematiza uma análise cultural da construção pré-
fabricada no Reino Unido, Escandinávia e Japão, que se destacam pelo significativo
emprego da construção produzida fora do canteiro de obras. Além da análise do contexto
da construção nestes três países, são apresentados alguns estudos de caso internacionais
de empresas que vêm obtendo sucesso na inserção de seus produtos no mercado de
habitação decorrente de seus modelos de produção e comercialização da habitação. O
capítulo apresenta ainda um breve histórico de tentativas de inserção da construção em
aço no Brasil e os reflexos da adoção de sistemas industrializados e racionalizados no
desenvolvimento tecnológico do setor. Destacam-se, também, alguns casos nacionais de
construção pré-fabricada proposta tanto para o segmento de moradia popular, em
formato de “casas kit”, quanto para clientes específicos. O capítulo versa ainda sobre a CM
e seus aspectos normativos relacionados à NBR 15873 (ABNT, 2010), seu papel na política
de desenvolvimento produtivo, além de um breve histórico relativo à CM no Brasil.
No capítulo 4 discorre-se sobre o sistema construtivo LSF e seus aspectos técnicos,
como métodos de construção, tipos de fundação utilizadas, sistema de
fixação/ancoragem, vedações verticais/horizontais e instalações, além das vantagens e
14

desvantagens construtivas. Esta compreensão foi fundamental para o desenvolvimento do


estudo prático.
No Capítulo 5 estudou-se uma empresa atuante no mercado de pré-fabricação de
moradia (Flasan), seus produtos, processos de produção e projeto, entre outros aspectos.
A empresa deu suporte ao desenvolvimento do estudo prático, apresentado no Capítulo 6,
cujas etapas do processo de projeto foram registradas, da concepção ao produto final,
considerando-se todas as condicionantes que envolvem projetar no contexto da
construção pré-fabricada. Por fim, resultados obtidos com o projeto elaborado e
conclusões deste trabalho são apresentados nos Capítulos 7 e 8, respectivamente.

15
CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO
CIVIL NO BRASIL
Modelo de Produção Atual
Maricato (2009) argumenta que o setor da construção civil no Brasil não pode ser
propriamente caracterizado como indústria por um simples fato: é manufatura. Alguns
fatores que corroboram esta afirmativa:
. Cada projeto é único pois, ainda que padronizado, atende a um terreno específico, logo,
é difícil a reprodutibilidade;
. A produção pode ser paralisada em função de condições climáticas que inviabilizem as
atividades;
. O processo de produção é sequencial e não simultâneo. A cada empreendimento é feita
a mobilização/desmobilização de pessoal e verifica-se alta rotatividade e desqualificação
das equipes de trabalho.
Shimbo (2010) exemplifica este modo de produção sequencial dos sistemas
construtivos consolidados no país:

[...] primeiro o pedreiro elevava a alvenaria e o eletricista passava os


conduites das instalações elétricas, para, depois, o encanador quebrar os
blocos e as lajes para instalar as tubulações de água e esgoto [...] Do
mesmo modo, voltava o eletricista para quebrar os blocos a fim de se
instalar as caixinhas de elétrica – quando se poderiam cortar os blocos
previamente à elevação da alvenaria (SHIMBO, 2010:257).

Em “O canteiro e o desenho” Ferro (2006 [1976]) descreve a dinâmica de trabalho


em um típico canteiro de obras no país, muito próximo da descrição de Shimbo:

“A areia, a pedra são descarregadas. Um servente as amontoa nos locais


previstos do canteiro; um outro leva parte para o ajudante de pedreiro que
16

ajunta água e cal ou cimento (...)


Em cima, o carpinteiro prepara outras fôrmas com a madeira empilhada (...)
Pás, enxadas, desempenadeiras, colheres, prumos, esquadros, réguas,
fios, serrotes, martelos, alicates, goivas, plainas, rolos, espátulas etc.
Instrumentos simples, isolados, adaptados às diversas operações,
resultado de lento aperfeiçoamento e diferenciação para um uso preciso.
Mais raramente, betoneiras, elevadores, guinchos, vibradores, serras
elétricas etc. Sempre, entretanto, máquinas somente auxiliares nas tarefas
pesadas; nenhuma operatriz que reúna os instrumentos particularizados.
Um mestre transmite as instruções, organiza a cooperação, fiscaliza,
impede atrasos: é, também, feitor. A descrição – de um quadro frequente
em um país subdesenvolvido como o Brasil – é de típica manufatura serial.”
(FERRO, 2006 [1976]: 112)

Porém, a visão mais atualizada oferecida por Baravelli (2014) expõe um ponto de
vista completamente oposto. O autor rebate esta imagem, ressaltando que tal cenário
retrataria a realidade da manufatura no período dos piores anos do regime militar
enfrentado pelo país, portanto, tal quadro não corresponde mais a atual situação dos
modelos de produção. O autor propõe uma atualização da descrição de um canteiro de
obras típico do Brasil, fazendo uma releitura da afirmação de (FERRO, 2006 [1976]):

“Há pouca areia e pedra a granel no canteiro de obras (...) Nenhum


concreto de uso estrutural é produzido dentro do canteiro (...) Na obra, já
não há mais o pedreiro que desempena e vibra o concreto. [Guarulhos –
Maio de 2010] (...)
A fôrma de laje tem nervuras com perfis metálicos e foi produzida pela
empresa que aluga o cimbramento também metálico. [São Paulo/Itaquera
– Novembro de 2011] (...)
Só existem equipes especializadas quando estão unidas a uma máquina
cujo fornecimento, operação e manutenção é de um prestador de serviços
igualmente especializado. [Itaquaquecetuba – Fevereiro de 2011]
A supervisão do mestre-de-obra está desvinculada de qualquer função de
planejamento. Ele instrui, mas não comanda. Quem comanda o
acionamento de cada máquina, o transporte de cada insumo e a
17

produtividade de cada trabalhador é quem opera o software de fluxo de


serviço e a FVS [Ficha de Verificação de Serviço] preenchida em palmtops.
[Guarulhos – Maio de 2010]”.
Esta releitura de Baravelli (2014) retrata a disparidade entre a visão do canteiro de
obras no período militar e durante o programa habitacional MCMV implantado nos
governos Dilma Rousseff e Lula. Deste contraste, é perceptível na visão de Sérgio Ferro, a
descrição de um “típico” canteiro de obras de um país em situação de
subdesenvolvimento. Para Baravelli (2014) esta descrição de um típico canteiro de obras
do programa MCMV revela um embasamento científico adotado para o modo de produção,
ressaltando que todo trabalho (mecânico ou manual) é comandado por uma matriz
industrial. O que se pode concluir que a construção civil, hoje, se não é totalmente
caracterizada como uma manufatura, também apresenta segmentos com níveis de
industrialização elevados.
Destaca-se, ainda, que no Brasil prevalece a lógica da seleção natural darwinista na
compreensão da história da construção civil (do pau-a-pique e adobe à alvenaria de tijolos
e desta para o concreto armado), contribuindo para o senso comum de que o sistema
tecnológico em evidência tem sua hegemonia legitimada por ser o mais eficaz e, desta
forma, todos os outros sistemas construtivos passam a ser vistos como caros e/ou
inseguros (MASCARENHAS, 2014). Portanto, não se pretende afirmar aqui que uma
tecnologia construtiva é superior à outra, ou que a escolha das mesmas deva ocorrer a
partir somente de seus aspectos positivos, pois esta escolha está condicionada a fatores
externos, como questões econômicas, sociais, culturais, dentre outros. Porém, o
desenvolvimento tecnológico da construção civil acarreta em impactos positivos e é
condicionado à substituição de manufaturas por processos com altos graus de
racionalização, os quais permitem uma nova dinâmica de trabalho no canteiro de obras,
como maior precisão e agilidade no processo construtivo, redução de custos (na medida
em que a construção racionalizada gera menos desperdícios) e melhoria do desempenho
das edificações.
O desenvolvimento deve ocorrer, não só com a utilização de novos
métodos e processos construtivos, novas técnicas e novos materiais, mas
principalmente, com o incremento progressivo do nível de organização da
atividade de construção civil em todas as suas fases, do projeto ao uso do
18

produto fabricado peta indústria (SABBATINI, 1988, p.3).


O capítulo a seguir versa sobre estratégias para se produzir edificações,
especialmente habitações com maior qualidade e planejadas sob processos flexíveis, que
permitam a CDM.

O segmento da Habitação

2.2.1 Produção Seriada e Individualização


Pretende-se discutir aqui as possibilidades para que o setor da construção civil
forneça edificações com mais qualidade, com foco no usuário, e não no produto, em
processos flexíveis, que permitam adequações ao longo do tempo, conforme
necessidades.
A Figura 2-1representa a ideia de que é possível a variabilidade dentro de um certo
custo, sob uma margem controlada (conforme gráfico à direita). Já o gráfico à esquerda
nos remete ao método de produção fordista, com produção em massa, que permite
redução de custos, porém, sob repetição massiva. O gráfico ao meio também mostra
possibilidade de variação (assim como o da direita), porém, sob aumento exponencial dos
custos. Portanto, a CDM sugere que é possível alcançar variabilidade dentro de uma
margem aceitável de incremento de custo.
Figura 2-1: Gráfico Custo x Customização.

Fonte: SMITH, 2010

Em Arquitetura, a CDM não ocorre nas mesmas proporções que na produção


industrial por diferenças básicas como volume e repetição, mas, alguns modelos podem
ser transferidos da indústria para a construção, como coloca Schodek (2004, p. 156-157):
19

. Compartilhamento de componentes: mesmos componentes básicos com aparente


variabilidade em cada produto, por exemplo, com variações de opções de revestimento;
. Permuta de componentes: mesma configuração de aparência com a possibilidade de
substituir um componente;
. Redimensionamento do módulo: através da variação de comprimento/largura/altura a
partir de um módulo-tipo;
. Modularidade múltipla: através da mistura de módulos;
. Modularidade de base: uma base dá suporte a inúmeros anexos;
. Modularidade seccional: as partes são completamente diferentes mas compartilham um
método de conexão em comum.
A CDM, portanto, ainda que sob a ótica da produção modular e seriada, permite ao
usuário escolher a opção que melhor o atende, mas dois aspectos são fundamentais para
consolidar esta prática na construção:
. Os insumos devem estar em conformidade com os conceitos de CM, bem como as normas
que a contemplam;
. Projetistas e construtores precisam incorporar também tais conceitos, além dos
fabricantes.
Segundo histórico que consta no Relatório da ABDI-FEC (2009) acerca da
implantação da CM no país, conclui-se que tal medida é um desafio, pois no caso do Brasil,
pouco se aplica dos conceitos da CM (tanto por parte dos projetistas quanto fabricantes).
Na década de 1970 houve produção massiva de habitações de interesse social, que tentou
aplicar os conceitos da normatização relacionada à racionalização. Neste período a
tecnologia ainda era precária, o que fez com que a CM adquirisse um sentido pejorativo,
relacionado à construção de baixa qualidade e para pessoas de baixa renda. Com esta
experiência de aplicação mal sucedida dos conceitos da CM, na década de 1980 tivemos
uma lacuna de estudos e uma falta de padronização dimensional dos componentes, o que
contribuiu para a inviabilidade da difusão da CM no país.
2.2.2 A Interface Usuário x Produto
Na Arquitetura, um processo de construção flexível, de ciclo aberto3, que permita
alterações ao longo do tempo, oferece uma possibilidade muito maior de customização do
20

3
No campo da construção civil, o ciclo aberto define uma produção cujos componentes são fabricados
por múltiplos fornecedores, o que, segundo (KAPP e OLIVEIRA, 2006), estimula o desenvolvimento técnico e a
concorrência de preços, logo, favorecendo o usuário.
produto em função das necessidades dos usuários (ainda que numa produção em massa)
do que no caso de um processo de construção de ciclo fechado4. Diante da inviabilidade de
um sistema de produção em série para residências (como proposto pelos ideais fordistas e
do movimento Moderno), um novo princípio pode ser explorado, com o foco na fabricação
seriada de componentes ao invés de unidades habitacionais completas. Porém, se esta
nova lógica mantém os esforços concentrados no produto, em detrimento do usuário, com
evidente preocupação da indústria com normas, produtividade e custos, novamente tem-
se o não atendimento às suas necessidades.
Kapp e Oliveira (2006), em Produção seriada e individualização na arquitetura de
moradias, discutem conceitos que se aplicam a diversos setores, inclusive à construção civil,
e que podem ser explorados em prol de se obter um produto totalmente customizado, que
atenda às especificidades dos clientes, ainda que sob um regime de produção em série.
As autoras apontam que os processos flexíveis, que permitem alterações ao longo
do tempo, são uma alternativa e conferem diferentes graus de autonomia aos usuários
quanto às suas escolhas e participação na concepção do produto. A fabricação de um
produto segundo a lógica de um processo flexível passa pela etapa de planejamento e
fornecimento de materiais e componentes até a montagem, estando envolvidos neste
processo fornecedor, produtor ou mesmo o próprio usuário. Para que se compreenda os
diferentes graus de autonomia do usuário, as autoras fazem uma análise quanto às
categorias de repertório e aos processos de montagem.
Para Kapp e Oliveira (2006) o repertório é caracterizado pelos componentes que o
fornecedor disponibiliza para a montagem, portanto, tem influência nas alternativas
oferecidas ao usuário, tanto em quantidade quanto em qualidade. Nem sempre um
repertório composto por elevado número de componentes oferece melhores opções, pois
um repertório reduzido e bem planejado pode ser menos complexo e mais eficaz.
Um repertório imprevisível tem componentes que permitem inúmeras
possibilidades de montagem, ao contrário do previsível, que tem o produto final pré-
21

4
No campo da construção civil, de modo oposto, o ciclo fechado define uma produção cujos componentes
são fabricados por um único fornecedor, desestimulando o desenvolvimento técnico e a concorrência de preços,
logo, sendo menos favorável ao usuário.
definido, sendo os componentes simples resultado da fragmentação com o intuito de
facilitar a montagem e, neste caso, o usuário tem limitado poder de decisão.
Já a receptividade define se um sistema é aberto ou não, ou seja, se é receptível a
componentes de outros fabricantes ou não. Para o usuário, o sistema aberto é mais
conveniente, pois estimula a concorrência, acarretando na redução de preços e
desenvolvimento técnico. Um sistema aberto muitas vezes está condicionado a patentes
(que reduzem a receptividade) ou a normas (que aumentam a receptividade).
Um outro conceito discutido pelas autoras é o da adaptabilidade, o qual determina
se os componentes podem se adequar a uma montagem específica. Já o reuso define se
os componentes permitem montagem/desmontagem/remontagem. Os componentes de
um repertório podem durar vários ciclos, sendo este um aspecto interessante, pois
contribui para a diminuição da geração de resíduos e consumo de matéria prima, logo,
reduz o impacto ambiental.
Quanto às categorias de montagem, existem as mediações envolvidas neste
processo, que surgem da intervenção do trabalho de terceiros, seja na fase de concepção
ou execução. No caso das edificações o usuário precisa do arquiteto para elaboração de
seu programa de necessidades e de terceiros para a construção. O ponto de partida para a
montagem pode demandar ou não uma plataforma auxiliar. Esta plataforma pode ser
incorporada ao produto final ou servir apenas como suporte durante a montagem, a qual
pode ser contínua ou finita. A montagem contínua permite alterações ao longo do ciclo de
vida útil do produto, já a finita não permite modificações.
Conforme mencionado, tais conceitos se aplicam a vários setores produtivos. Na
indústria automotiva, o processo flexível é restrito, pois o usuário escolhe cores e
acessórios opcionais; porém o repertório é limitado, tendo em vista que o produto final
precisa ser previsível para as montadoras. Muitas vezes acessórios de versões diferentes
de um mesmo modelo são incompatíveis.
Brinquedos, como os de modelismo de carros ou aviões, decorrem da fragmentação
dos componentes para montagem do produto final, portanto, totalmente previsível, sem
22

participação do usuário na concepção. Os componentes são anexados à plataforma e não


há receptividade à novas peças. A montagem é finita e executada pelo próprio usuário, mas
demanda desenho explicativo. Já o jogo oriental Tangram permite uma variedade de
possibilidades, com resultados imprevisíveis a partir de peças com formas geométricas. A
montagem é contínua, sem mediações e o repertório é reutilizável.
O LEGO®, com blocos genéricos (Figura 2-3), possui características semelhantes ao
Tangram (Figura 2-2), tem sistema fechado e confere elevada autonomia ao usuário em seu
processo criativo. Já o LEGO® temático (Figura 2-4) segue outra lógica, semelhante à dos
brinquedos de modelismo.
Figura 2-2: Brinquedo Figura 2-3: Brinquedo LEGO® (blocos genéricos). Figura 2-4: Brinquedo
Tangram. LEGO® (temático).

Fonte: Google Imagens. Fonte: Google Imagens. Fonte: Google


Imagens.
Quanto ao setor de vestuário, é disponibilizada a produção seriada, a costura
artesanal e a alta costura, esta última voltada a um público alvo, de elevado poder
aquisitivo. Os uniformes apresentam o menor grau de individualização, porém permitem
ajustes ao corpo do usuário, além da customização. Já o tipo prêt-à-porter oferece grande
flexibilidade, pois o usuário pode criar diversos looks ao combinar diferentes peças.
As refeições do tipo Prato Feito e os pedidos à la carte são pouco flexíveis. Já o self-
service com balança permite ao usuário compor o prato sem nenhuma mediação, porém,
somente o self-service sem balança possibilita montagem contínua do prato.
Desta analogia com outros setores, pode-se concluir que, para a construção civil,
um sistema de montagem contínuo é fundamental; repertórios imprevisíveis conferem
maior individualização, mesmo aqueles com número reduzido de componentes. As
plataformas podem ser apropriadas para facilitar questões técnicas, desde que seja
mantido o caráter da imprevisibilidade; padronizar componentes para um público
23

específico diminui as possibilidades de individualização, logo, o ideal é se pensar em


variações que atendam a diversas demandas.
Também é possível inferir que, desta analogia, em específico para o caso do
programa MCMV, tais conceitos poderiam conferir maior qualidade às moradias
oferecidas. O uso de um sistema de montagem contínuo e a possibilidade de repertórios
variados poderiam contribuir para o melhor atendimento de demandas individuais dos
usuários, maior identidade arquitetônica das habitações e melhor qualidade projetual, no
que se refere à funcionalidade e construtibilidade.

2.2.3 Flexibilidade

A flexibilidade na arquitetura deve ser explorada, no intuito de prover habitações que


permitam maior versatilidade, seja para adaptação, ampliação/expansão, ou ainda
redução.

Gausa (1998) relaciona o conceito de flexibilidade a uma maior polivalência e


versatilidade do espaço, confrontando a diversidade tipológica e a flexibilidade espacial,
contra a racionalização dos espaços e a uniformidade. Sua pesquisa responde a um novo
perfil de vida, que ocasiona uma adaptação de um programa de necessidades tradicional:
a família com poucos filhos ou nenhum, alterando sua vida doméstica para vida social,
divisão das tarefas domésticas entre todos os membros da família, constante mudança no
mercado de trabalho que cria instabilidade, provendo as casas alugadas. A habitação passa
a ser entendida como um lugar de bem estar e lazer, ao contrário da habitação comum que
era concebida somente como uma necessidade social (GAUSA, 1998).

Para Abreu e Heitor (2007) a flexibilidade do espaço doméstico relaciona-se à


capacidade do espaço físico se adaptar à dinâmica do habitar. As autoras consideram cinco
condições de adaptação do espaço físico da habitação, que resultam em práticas
projetuais, tanto no nível de organização espacial, quanto aos processos construtivos:

1. Conversão: pela alteração na configuração espacial;

2. Polivalência: sem alteração na configuração espacial;

3. Expansão: por alteração de limites, seja na vertical ou na horizontal, com aumento


24

de área;

4. Multifuncionalidade: por adaptação do espaço a vários usos;


5. Diversidade: pela variação tipológica num edifício.

Para as autoras, estas estratégias, quando utilizadas isoladamente, não auxiliam na


geração de flexibilidade, ou seja, o ideal é a conjugação total ou parcial dessas estratégias,
nos vários elementos arquitetônicos (estrutura, fechamentos verticais/horizontais,
instalações, acesso/circulação, configuração espacial). Portanto, nas tipologias propostas
no estudo prático deste trabalho, considerou-se, no mínimo, as estratégias de conversão,
expansão, multifuncionalidade e diversidade.

Geraedts, Remøy, Hermans e Rijn (2014) afirmam que a relação entre flexibilidade e
sustentabilidade é definida de forma clara. Há crescente demanda por sustentabilidade e
flexibilidade, bem como maior consciência acerca da necessidade de economia em todo o
ciclo da construção. Isso acarreta em um olhar mais consciente sobre medidas e práticas
sustentáveis ao longo de todo o ciclo de vida útil da edificação.

Um edifício mais durável e com alta capacidade adaptativa apresenta um tempo mais
estendido de uso de forma sustentável, seja para o primeiro morador, seja para as gerações
futuras de moradores (LAMOUNIER, 2017).

Jorge (2012) afirma que a flexibilidade auxilia no surgimento de uma nova mentalidade
arquitetônica, relacionada à satisfação do usuário, promovendo a melhoria do espaço
doméstico e a durabilidade.

“O edifício, apto a promover as modificações e adequações necessárias,


adquire um significado que ultrapassa a dimensão construtiva e opera
satisfatoriamente, na esfera psicológica e cultural do indivíduo, que
encontra, na habitação, um significado superior aos atributos endógenos
do edifício, promovendo a recordação de lembranças de cada espaço
vivido e a manutenção de padrões reconhecidos segundo códigos
próprios, articulações amigáveis com a vizinhança, legibilidade do entorno
e expressão social.” (JORGE, 2012, p.30).

Jorge (2012) pontua ainda que a definição do conceito de flexibilidade é complexo, sendo
explorada por diversos autores, em variadas áreas de conhecimento, envolvendo
25

definições tais como: adaptabilidade, participação, polivalência, multifuncionalidade,


elasticidade, mobilidade, evolução e outros.
Para Hamdi5 (1991 apud MESQUITA, 2000, p.202), o conceito de flexibilidade pode ser
definido como:

Liberdade de escolha entre opções existentes ou a criação de programas


que atendam às necessidades e aspirações específicas dos indivíduos em
relação às edificações que ocupam [...] Além disso, para os arquitetos a
flexibilidade normalmente demonstra o quanto um projeto é capaz de
assegurar nas edificações, nos programas ou nas tecnologias utilizadas,
uma boa funcionalidade inicial, que possibilita resposta às futuras
modificações. Para isto o projeto deve ser capaz de prever a influência das
configurações espaciais e das dimensões dos ambientes construídos, dos
serviços envolvidos e/ou das tecnologias intrínsecas aos componentes dos
sistemas construídos.

A seguir são apresentados os conceitos, princípios e fundamentos da pré-fabricação


na construção civil, em uma análise cultural da construção pré-fabricada no Reino Unido,
Escandinávia e Japão, que têm destaque neste contexto por sua história de
desenvolvimento de modelos de produção.

26

5
HAMDI, Nabeel. Housing without houses. Participation, flexibility, enablement. New York, London:
Van Nostrand Reinhold, 1991.
PRÉ-FABRICAÇÃO
Histórico: Análise Cultural
Smith (2009) observa que os Estados Unidos da América (EUA), apesar de deterem
26% do mercado de residências pré-fabricadas, perderam a liderança para o Reino Unido,
Escandinávia e Japão, que destacam-se em inovação, ao passo que este índice, nos EUA, é
justificado em função de seu crescimento econômico. Para se compreender o destaque
destes três países, e a correlação existente entre aspectos culturais e modelos produtivos
de habitação, segue uma breve análise de suas experiências com a pré-fabricação de
moradias.
3.1.1 Reino Unido
No ocidente a colonização britânica dá início à pré-fabricação. Os britânicos não se
familiarizaram com os materiais disponíveis nas colônias e a solução encontrada foi fabricar
componentes na Inglaterra e transportá-los de navio para a montagem das construções
nas colônias. Em 1624 as casas preparadas na Inglaterra e erguidas na vila pesqueira de
Cape Anne deram origem à atual cidade de Massachusetts (ARIEFF, 2002, p. 13).
Já por volta de 1790 tem-se registro dos primeiros pré-fabricados enviados à Sidney,
na Austrália, que serviriam de hospital, armazéns e casas. Este sistema construtivo, cujos
abrigos eram estruturados em madeira, assim como os painéis de fechamento para
paredes, forros e pisos, ficou conhecido como Balloon Frame. Há especulações de que os
elementos de fechamento poderiam ainda ter sido feitos de lona ou painel em madeira
com tratamento térmico (HERBERT, 1978, p. 6).
Em 1820 os britânicos enviam uma expedição à África com três chalés pré-fabricados
em madeira para serem erguidos in loco. A estrutura destas casas coloniais portáveis era
simples, compostas por painéis previamente preparados que se encaixavam e eram
afixados à estrutura. (HERBERT, 1978, p. 8).
27
Figura 3-1: Manning Portable Colonial Cottage . Em 1830, John Manning,
carpinteiro e construtor de
Londres projetou um chalé
portável, confortável e que fosse
facilmente montado para seu
filho, que imigraria para Austrália
(Figura 3-1). Os painéis
padronizados e intercambiáveis
encaixavam-se entre os pilares de
madeira (LOUDEN, 1839). A ideia
de Manning era que uma pessoa
comum pudesse carregar sozinha
cada parte que compõe o abrigo, e
o sistema foi então adotado para
Fonte: SMITH, 2010.
suprir as colônias britânicas.

O Chalé Manning pode ser considerado, portanto, uma melhoria dos primeiros
sistemas projetados pelos britânicos no sentido em que ele favorecia uma fácil construção.
“O sistema do Manning pressupunha conceitos fundamentais de pré-fabricação, de
coordenação dimensional e padronização.” (HERBERT, 1978, p. 11-12).
Tais exemplos ilustram experiências de sucesso com a pré-fabricação na construção
neste país, refletindo a evolução no avanço tecnológico da construção do século XVII ao
XIX, na Inglaterra, além da consolidação da cultura da pré-fabricação, cuja tecnologia foi
transferida e aplicada pelos séculos seguintes à produção das habitações.
3.1.2 Escandinávia
A região geográfica da Escandinávia abrange Finlândia, Dinamarca, Suécia e
Noruega e a produção da pré-fabricação de casas nesta região é marcada por 3 eventos: a
Revolução Industrial, o período da 2ª Guerra Mundial e o pós-guerra.
28

A partir da Revolução Industrial os conceitos de portabilidade e produção em massa


de habitações passou a ser explorada, com as serrarias/carpintarias produzindo em um
novo ritmo. Por volta de 1917 aumentava a demanda por habitação e, já em 1930, mais de
20 fabricantes dispunham de catálogos de residências, expondo “casas kit” que poderiam
ser escolhidas e encomendadas (SMITH, 2010).
No período pós-guerra aproximadamente 70 companhias produziram mais da
metade das habitações na Suécia. Em 1947, cerca de 17.500 casas foram pré-fabricadas,
sendo este um episódio importante, pois a pré-fabricação na construção começava a ser
considerada não apenas pelo aspecto industrial como também pelo seu papel social. Com
isso surgem novos métodos de produção e uma variedade de protótipos, e observa-se uma
escala comercial de produção na construção (SMITH, 2010).
Nos anos 1960 a pré-fabricação foi adotada como política habitacional nos países
Escandinavos. Neste momento, a pré-fabricação era então vista não só como a prática mais
viável economicamente mas também como a única solução aceitável politicamente para
produção de habitações a custos acessíveis. Ainda neste período, um grande avanço foi o
fato de praticamente todas as novas construções serem planejadas a partir de múltiplos de
300 milímetros, o que evidencia uma tentativa de aplicação de medidas modulares para
otimização dos processos de projeto e execução da obra. Em 1965 o Estado lança um
programa de construção massiva para dez anos e, com isso, a produção das companhias
impactou no trabalho dos arquitetos, que trabalhavam com determinada cadeia de
suprimentos e aplicavam os componentes desta aos projetos (SMITH, 2010).
Ao fim dos anos 1960 os catálogos (Figura 3-2) para compra de casas se tornaram
prática comum, em oposição às casas projetadas individualmente por arquitetos. O
resultado disto foi que a produção em massa de habitações tornou caótica a paisagem de
comunidades nos subúrbios, na medida em que a abundância de variações era meramente
superficial. Como estratégia para que o consumidor tivesse a sensação de estar adquirindo
um produto único, os fabricantes lançaram os catálogos com as imagens das casas isoladas,
inseridas num entorno no qual a paisagem natural seria seu único vizinho (SMITH, 2010).
29
Figura 3-2: Catálogo para divulgação de Contudo, a produção de residências pré-
casa à venda.
fabricadas na Escandinávia obteve maior êxito
em comparação aos EUA em função da maior
aceitação social da tecnologia de pré-fabricação
naquele país, onde não havia preocupação com a
construção de casas portáveis mas sim com um
método de construção mais eficaz.
Dois fatores podem ser apontados para o
sucesso da pré-fabricação na Escandinávia.
Primeiro, o detalhamento de projeto, com
adoção de conexões e articulações padronizadas,
fabricadas industrialmente, gerando construções
resistentes e duráveis, que são mais valorizadas
Fonte: SMITH, 2010.
pelo mercado. Em segundo, a pré-fabricação na
construção foi vista como mais vantajosa, pois
permitiu menor custo à obra, logo, sistemas
construtivos tradicionais tornaram-se obsoletos
neste país (SMITH, 2010).

3.1.3 Japão
Historicamente os métodos de construção no Japão já se baseavam em produção
em massa, embora construídos por artesãos e, além disso, a padronização de elementos
construtivos é cultural neste país, o que levou a estruturas com estética marcante e
duráveis (SMITH, 2010).
No Japão, o tradicional sistema de construção residencial chamado “post-and-
beam”, já poderia ser considerado um método de pré-fabricação. Neste sistema, o
espaçamento dos pilares era regular e receberiam os fechamentos de dimensões também
padronizadas, sendo a medida do tatame utilizada como padrão (SMITH, 2010).
30

Após a Segunda Guerra Mundial, os métodos de construção pré-fabricados


facilitaram o atendimento da demanda de reconstrução de casas e, assim como a
Escandinávia, nas décadas de 50 e 60, o Japão produziu protótipos de residências que
poderiam ser produzidas em massa. Hoje o país está em evidência por fazer da pré-
fabricação seu principal método de construção. Em 2004, de 1.160.083 novas casas
construídas no Japão, 159.224 eram pré-fabricadas, ou seja, em 1 a cada 7 novas casas
construídas no Japão naquele ano foram usados métodos baseados em fabricação. Outra
questão é a escassez de terrenos no Japão, logo, a necessidade pelo novo, mais eficiente
e durável, atrai os consumidores (SMITH, 2010).
No Japão uma companhia se destaca: a Toyota Homes. Com sua técnica reconhecida
mundialmente no segmento automobilístico, a Toyota aposta também no segmento de
produção de casas pré-fabricadas. Embora as casas Toyota não apresentem forte
expressão arquitetônica, elas permitem uma variedade de possibilidades para elaboração
de um produto refinado, com foco em processo e pessoas e não apenas na tecnologia do
produto. Um dos motivos que levou ao sucesso da empresa no segmento da construção
de habitações pré-fabricadas foi a aplicação dos princípios utilizados no setor automotivo,
no qual a Toyota já se destacava (SMITH, 2010). A Figura 3-3 e Figura 3-4 mostram a
fabricação de um módulo inteiro em fábrica, conforme modo de produção Toyota:
Figura 3-3: Produção de módulo residencial. Figura 3-4: Produção de módulo residencial.

Fonte: Toyota Homes. Fonte: Toyota Homes.

As Figura 3-5 e Figura 3-6 representam modelos de residências Toyota disponíveis


no mercado:
31
Figura 3-5: Modelo de residência Toyota. Figura 3-6: Modelo de residência Toyota.

Fonte: Toyota Homes. Fonte: Toyota Homes6.

Concluindo, o sistema de pré-fabricação no Japão apresenta uma série de


possibilidades, e não apenas uma única solução, e o sucesso deste país está relacionado a
seu histórico de coordenação e técnicas eficientes que podem ser aplicadas para produção
em massa, com suporte governamental e boas condições econômicas. Atualmente,
mudanças demográficas e de estilo de vida clamam por constante evolução, portanto, o
desafio para o Japão é conciliar suas tradições com a crescente demanda industrial (SMITH,
2010).
A seguir se discute conceitos, princípios e fundamentos relacionados à pré-
fabricação na construção civil.

Conceitos
Segundo Smith (2010) nos últimos 100 anos a lógica da construção é regida pela
expressão:
QxT=ExC
onde Q é a qualidade; T é o tempo; E é o escopo e C é o custo.
Independente da variável adotada como parâmetro do projeto é essencial que as
demais estejam em equilíbrio. Por exemplo: se é imposto um prazo de tempo curto,
consequentemente a qualidade será impactada e maior investimento financeiro será
demandado, ou então uma redução de escopo. Outra situação: se é necessária uma
redução no orçamento, então faz-se necessário gerenciar custos e, reduzir qualidade e
32

6
Disponível em: < http://www.toyota-global.com/company/profile/non_automotive_business/housing.html>
escopo. Numa terceira situação, se a intenção é atingir alta qualidade, é preciso prever um
incremento no orçamento proporcional ao escopo e aumento de prazo.
Acerca da construção pré-fabricada, Smith (2010) questiona como o mundo tem se
portado para viabilizá-la nos dias atuais e aponta algumas suposições. Segundo o autor,
outras indústrias têm modificado seu modo de produzir, como as indústrias automotiva,
aeroespacial e da construção naval, cujos métodos de produção são mais enxutos, poupam
tempo, aplicam materiais mais eficientes e utilizam trabalho em conjunto. Isso se aplica
desde um automóvel totalmente customizado em massa até um navio quase
completamente personalizado, considerando-se, claro, que a escala destes produtos
também excede a complexidade de quase tudo o que é produzido em Arquitetura.
Contudo, deve-se levar em conta a diferença crucial entre a pré-fabricação em Arquitetura
e as demais indústrias: estas estão integradas, tanto na etapa de planejamento quanto para
o gerenciamento de recursos da cadeia de suprimentos; já na construção civil a cadeia é
extensa e o modo de trabalho fragmentado. Há que se destacar a adoção de ferramentas
que têm otimizado a integração do trabalho, como exemplo, as plataformas BIM7 (Building
Information Modeling) e softwares para gerenciamento online de documentos, que
permitem visualizar o produto previamente à sua construção e facilitam a troca de
informações. Estes aspectos contribuem para a minimização de erros e incremento de
qualidade ao produto final.
Outro ponto destacado nesta discussão é uma nova postura que vem sendo
adotada por arquitetos e pela indústria da construção: a preocupação em se evitar
desperdícios, reduzindo, assim, impactos econômicos e ambientais. Uma cadeia integrada
auxilia arquitetos e construtores a gerenciarem documentos e suprimentos, além de
permitir o reaproveitamento de outros materiais.
Smith (2010) destaca que, apesar dos grandes avanços em segurança no trabalho, a
construção in loco ainda representa um ambiente de trabalho perigoso e sujeito a
potenciais acidentes. Já a construção fora do local da obra implica maior segurança, é mais
33

7
A tecnologia BIM (Building Information Modeling) é um sistema computacional, também conhecido como
modelagem paramétrica que permite automaticamente e simultaneamente estimar quantitativo de materiais. A
tecnologia não se utiliza de desenhos unicamente bidimensionais, minimizando as possibilidades de erros nas
interfaces entre o arquiteto/ construtor e construtor e montagem.
enxuta e amplia a força de trabalho, trazendo maior competitividade econômica. Este
ambiente de trabalho mais seguro e que elimina o fator de condições climáticas que, num
ambiente externo pode paralisar a obra, a longo prazo pode também ser considerado uma
medida de sustentabilidade. Logo, a pré-fabricação garante maior produtividade e
potencial para crescimento.
Por fim, Smith (2010) coloca a pré-fabricação como uma tendência para uma nova
lógica de construção, no sentido de mudar a economia e o modo de pensar Arquitetura e
planejamento, além de incrementar qualidade à produção.

Princípios e Fundamentos
Smith (2010) destaca 06 princípios fundamentais na definição dos efeitos na
produtividade de uma construção, conforme Figura 3-7, sendo eles:
. Custo: capital e investimento operacional;
. Mão de obra: trabalho humano (com ou sem Figura 3-7: Princípios básicos de uma
construção e suas influências na produtividade.
especialização);
. Tempo: cronograma ou a duração do projeto;
. Escopo: extensão do projeto (ou programa);
. Qualidade: excelência do projeto/construção;
. Risco: exposição a potenciais perdas
financeiras.

Fonte: SMITH, 2010.

Para exemplificar a relação entre estes princípios, coloca-se como exemplo uma
situação prática, em que o proprietário faz algumas escolhas quanto a sistemas, estética,
durabilidade, dentre outros aspectos envolvidos no projeto, os quais vão afetar
diretamente custo/cronograma/escopo/qualidade. Portanto, para um dado programa, a
34

equipe deve buscar um equilíbrio entre o orçamento, o tempo e a qualidade. Destaca-se a


seguir particularidades da construção pré-fabricada quanto aos princípios custo, tempo,
mão de obra e qualidade:
. Custo: Na pré-fabricação alguns custos embutidos devem ser considerados, apesar da
economia conseguida em função da redução de tempo e mão de obra. Em primeiro lugar,
a construção fora de campo implica manutenção em tempo integral de uma equipe e
custos tais como manutenção de equipamentos, aluguel de espaço, dentre outras
despesas. A pré-fabricação também pode onerar em custos relacionados ao transporte,
considerando o grande volume de elementos a serem transportados, tais como painéis,
módulos e demais componentes. Este tipo de construção demanda também mão de obra
mais especializada e muitas vezes guindastes para erguer e alocar elementos, o que gera
custos e, por fim, a pré-fabricação exige maior coordenação entre a equipe, sendo maior a
necessidade de interação no trabalho de engenheiros e arquitetos.
. Tempo: A redução do cronograma é um dos maiores benefícios da produtividade da pré-
fabricação. Enquanto a mobilização e a fundação são feitas em campo, simultaneamente
pode ocorrer a construção em fábrica de elementos como estrutura e fechamentos.
Portanto, a produção simultânea é uma grande vantagem da pré-fabricação, ao contrário
da construção em campo, que trabalha de modo sequencial. Além disto, como a
construção pré-fabricada exige maior detalhamento e planejamento, as decisões são
tomadas previamente, de modo que se evite improvisos. Por fim, um outro fator que
influencia no cronograma são as condições climáticas, que numa obra tradicional tem
maior impacto do que na construção pré-fabricada.
. Mão de obra: No caso de obras distantes, a pré-fabricação é interessante por não
demandar o deslocamento dos operários, levando à redução de custos e riscos, uma vez
que, no canteiro de obras, o risco de acidentes de trabalho fatais é maior; já o ambiente de
trabalho de uma fábrica oferece melhores condições de segurança, havendo maior
controle sobre níveis de ruído, poeira, qualidade do ar.
. Qualidade: Pré-fabricar não significa padronizar, portanto, é um desafio para arquitetos,
engenheiros, fabricantes e construtores encontrarem uma solução que ofereça alta
35

qualidade, tanto para planejamento quanto para produção. A construção em canteiro de


obras é semelhante a processos de manufatura, ao passo que a pré-fabricação pode
incrementar precisão à produção, conferindo maior qualidade ao produto final, além da
redução de custo e tempo.
Bergdoll (apud SMITH, 2010) aponta que a pré-fabricação corresponde a um longo
período da história da construção e que pode ser identificada desde a antiguidade,
incluindo os métodos empregados na construção de templos antigos e estruturas de
madeira. Controversamente, a história da pré-fabricação na Arquitetura é um tema de
discussão da Arquitetura Moderna, que surgiu a partir da união entre Arquitetura e
indústria.
A ponte Coalbrookdale, erguida em 1807 sobre o rio Severn, no Reino Unido, foi um
dos primeiros exemplos do emprego do ferro fundido na construção. Quase que
completamente pré-fabricada, seus componentes eram padronizados, replicados e
transportados ao local onde a ponte seria erguida. Esta tecnologia foi transferida para a
pré-fabricação de edificações em ferro e, em meados dos anos 1800, as casas inglesas e
outros tipos de construções foram feitas com o uso de chapas pré-fabricadas em ferro
fixadas por rebites (HERBERT, 1978).
Já o ferro corrugado foi uma inovação dos britânicos na construção, sendo adotado
como material para coberturas e paredes. Inicialmente a corrosão era um problema, até
que em 1837 começou a se aplicar o processo de galvanização. O ferro corrugado também
foi empregado na Corrida do Ouro, em São Francisco, em meados de 1800 e, devido ao
fluxo de pessoas atraídas para a região, surgiu uma urgente demanda por habitações
(PETERSON, apud, SMITH, 2010). Smith (2010) destaca que o uso do ferro corrugado não
se encerrou com a construção das “casas kit” no período da Corrida do Ouro, tendo sua
aplicação continuado durante a Segunda Guerra Mundial para a fabricação dos abrigos
militares Quonset, e mais tarde também em construções industriais ou mesmo em igrejas
nas áreas rurais.
No período pós Segunda Guerra Mundial, a necessidade da reconstrução de cidades
inteiras como parte do resultado da guerra novamente requisitou sofisticados sistemas
construtivos, embora a qualidade das construções fosse frequentemente sacrificada
36

(SMITH, 2010).
Chegando ao modernismo, arquitetos como Le Corbusier, Walter Gropius e Mies
van der Rohe se questionaram por que a cultura da construção era resistente à
transformação, ainda que já tivesse sido observada uma revolução na produção de objetos
como roupas, sapatos, artigos para casa, automóveis e aviões. Estes arquitetos buscaram
soluções criativas, com experimentações de novos materiais e métodos.
Historicamente, uma série de experimentos, conduzidos por arquitetos,
empreendedores e engenheiros ilustram a evolução na pré-fabricação que ocorreu
mediante os avanços conseguidos a partir da avaliação de tentativas bem sucedidas e das
mal sucedidas também.

3.3.1 Dymaxion House


O empreendedor Buckminster Fuller apontou a necessidade da pesquisa por
materiais construtivos e sistemas em prol das demandas de transporte e montagem e sua
Arquitetura condizia mais com uma “máquina de morar” do que as propostas de Le
Corbusier. A geometria era condicionada à estrutura e, além disso, ele explorou o
planejamento de formas que trabalhariam naturalmente em prol de aquecimento ou
refrigeração. Fuller propôs o uso do Alumínio como material construtivo pois, ainda que de
custo elevado, permitiria a construção de casas pré-fabricadas portáteis.

Figura 3-8: Dymaxion House, patenteada em 1928 Figura 3-9: interior da Dymaxion House
(Fuller). (Fuller).

Fonte: SMITH (2010).


Fonte: SMITH (2010).
37
Em 1928 Fuller patentiou a Figura 3-10: Dymaxion House construída em
Wichita (Fuller).
Dymaxion House (Figura 3-8 e Figura 3-9) e
por volta de 1944, com o fim da Segunda
Guerra Mundial, ele foi desafiado a
converter fábricas de aviões ociosas em
instalações para produção de habitações,
mantendo a massa de trabalhadores
empregada.
Fonte: SMITH, 2010.

Foi então projetada a Wichita House (Figura 3-10), fabricada como um avião em
Alumínio, que podia ser rapidamente fixada por rebites. Toda a parte de serviços da casa
era agrupada ao centro e nos extremos foram dispostos os quartos. A casa poderia ser
transportada em caminhão e, segundo prometia seu criador, poderia ser erguida em
apenas um dia de trabalho. Enquanto modelo para produção em massa, falhou.

3.3.2 House of Tomorrow e Crystal House


O construtor George Fred Keck desenvolveu a “Crystal House” (Figura 3-11) e a
“House of Tomorrow” (Figura 3-12), ambas em 1933. Seus modelos eram caracterizados por
utilizar estrutura em aço e enchimento de lã de vidro. Apesar da exibição da “House of
Tomorrow” ter atraído milhares de pessoas e de o protótipo da “Crystal House” permitir
uma impressionante construção em apenas três dias, estas empreitadas de Keck foram um
fracasso (ARIEFF, 2002, p. 16).
38
Figura 3-11: Crystal House. Figura 3-12: House of Tomorrow.

Fonte: Pinterest9.
Fonte: Pinterest8.

3.3.3 Aladdin Homes


Em 1906 os criadores acreditavam na produção em massa com sistema construtivo
Balloon Frame e suas casas (Figura 3-13) tinham como vantagem não adotarem um sistema
proprietário, o que favorecia a CDM. A companhia era formada por dois irmãos que
acreditavam que os conceitos de produção em massa de outras indústrias, como a de
vestuário, poderiam ser aplicados para construção em massa de habitações. O processo de
pré-fabricação em madeira, portanto, reduzia desperdícios e o tempo de execução e
melhoravam a qualidade do produto final, em comparação ao modelo de construção in
loco.
Outro fator que contribuiu para o sucesso da Aladdin Homes foi o momento da
expansão dos EUA em direção ao Oeste, com isso, havia forte demanda por habitações que
fossem construídas rapidamente e a preços acessíveis.

39

8
Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/424182858623601599/>
9
Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/436286282624550349/>
Figura 3-13: The Aladdin “Built in a day” house.

Fonte: SMITH, 2010.

3.3.4 Sears Roebuck

Entre 1908 e 1940 os modelos de Sears Roebuck com sistema Balloon Frame
permitiam uma variedade de opções e financiamento. As casas (Figura 3-14) eram
modulares, populares e haviam centenas de opções.
A grande contribuição esteve não tanto Figura 3-14: Modelo de casa de Sears
Roebuck.
no projeto, mas em sua concepção do uso de
componentes, se utilizando da padronização
porém, com variedade. Tanto os
empreendimentos de Aladdin quanto de Sears
foram afetados pela grande depressão de 1930.

Fonte: Sears Archives10.


40

10 Disponível em: < http://www.searsarchives.com/homes/1908-1914.htm>


3.3.5 Jean Prouve
Prouve não era arquiteto, no
Figura 3-15: Unidade projetada por Prouve.
entanto era um projetista e fabricante de
mobiliário que nos deixou também
algumas lições. Ele desenvolveu abrigos
temporários para uso militar e trabalhou
num esforço para minimizar desperdícios
e maximizar benefícios, sendo capaz de
aproveitar ao máximo o espaço de um

Fonte: SMITH, 2010. volume. Projetou modelos fabricados em


fábrica com perfis de aço formados a frio
e painéis de vedação e cobertura em
madeira (Figura 3-15).

3.3.6 Charles e Ray Eames


Em 1945, na Califórnia, teve início o “Case Study House Program”, com a fabricação
de casas protótipo (Figura 3-16). Os projetos eram unifamiliares, de qualidade e de fácil
construção, entretanto, após 20 anos, apenas 36 casas foram construídas. Muitas vezes
projetistas nunca estiveram em contato com os fabricantes e muitas casas foram
construídas inteiramente no canteiro de obras, no entanto, muitas foram pré-fabricadas,
estruturadas em aço com fechamento em painéis. Neste cenário destacaram-se Charles e
Ray Eames, projetistas e casados. Assim como Prouve, o casal via Arquitetura e mobiliário
de maneira parecida. Propunham a construção a partir de componentes e tinham como
objetivo principal construir o mais barato possível, com maior grau de industrialização.
41
Figura 3-16: Charles e Ray Eames House.

Fonte: Archdaily11.
Cada exemplo deixou uma lição, dando um direcionamento que pode ser seguido
por arquitetos e profissionais da construção, conforme indicado por Smith (2010):
1. Sistemas proprietários não favorecem habitação de massa:
Os sistemas proprietários falham economicamente, ainda que bem planejados e
detalhados, pois são mais caros e dificultam reposições ou modificações.
Muitas vezes os arquitetos ou companhias têm competência técnica e estão
preparados para enfrentar o mercado, no entanto, seus sistemas proprietários não se
sustentam ao longo do tempo em função da demanda por estoque de material para
reposição e manutenção da construção ao longo de seu ciclo de vida útil.
Os sistemas proprietários tendem também a se estagnar em sua estética,
dificilmente se adaptando a preferências individuais. Já os sistemas não-proprietários
permitem, a partir de componentes padronizados e não patenteados, uma diversidade de
possibilidades e até mesmo ampliações.
2. Pré-fabricação tem a ver com projeto e desenvolvimento de uma tecnologia:
É importante pensar não apenas no projeto em si, de um bom produto, com seus
detalhes de conexão e relação de materiais mas também planejar sobre o ponto de vista
da produção. Os arquitetos costumam se ater mais ao projeto do que pensar na forma pela
qual se dá a construção, porém, a tecnologia precisa ser desenvolvida, e não apenas
planejada, necessitando de um ambiente de produção.
42

11
Disponível em: < http://www.archdaily.com/66302/ad-classics-eames-house-charles-and-ray-eames>
Outro ponto que representa um entrave à pré-fabricação é a preocupação dos
arquitetos com a questão autoral, acreditando que sistemas pré-fabricados não deixariam
em evidência este crédito. É consenso que cada projeto é único para determinado terreno
e cliente, havendo uma barreira em se pensar em soluções que possam atender lugares
diversos e um público maior e, neste sentido, este aspecto representa um entrave, uma
vez que a pré-fabricação precisa de um ambiente de colaboração para se desenvolver.
3. Pré-fabricação tem mais a ver com um plano de negócios do que com um produto:
A pré-fabricação, assim como qualquer negócio, está sujeita a oscilações do
mercado, financiamento ou políticas econômicas, podendo fracassar.
Um outro fator corrobora esta afirmativa: os consumidores não se interessam por
métodos de produção, engenhosidades ou sistemas de montagem sofisticados; a eles
interessam mais características como durabilidade, conveniências e liquidez para revenda,
portanto, há que se considerar técnica simultaneamente a um plano de mercado.
4. Circunstâncias devem justificar a pré-fabricação:
Ao se elaborar um projeto/obra, a escolha do sistema construtivo deve considerar
o contexto. A construção no canteiro nem sempre é a mais adequada e o contrário também
é verdadeiro, logo, cada situação deve ser avaliada para receber soluções pré-fabricadas.
Uma produção fora do canteiro deve considerar o cliente, o local e as condições de
trabalho, evitando-se o risco das pretensões estéticas tecnológicas.
5. Pré-fabricação deve surgir de um processo integrado:
Casos de insucesso ocorrem pela falta de um processo integrado desde o início do
projeto, assim, ressalta-se a importância de uma equipe integrada que trabalhe orientada
por responsabilidades distribuídas, com benefícios gerais e não promovendo visões
individuais ou estéticas. Os benefícios da pré-fabricação não vêm somente da redução de
custos individuais, mas também de efeitos secundários como redução de tempo,
burocracia, tomadas de preços, dentre outros.
A seguir discute-se o modo de produção atual e alguns conceitos relevantes a serem
considerados no processo de projeto, bem como tendências de soluções que vêm sendo
43

adotadas de maneira estratégica. Além disso, apresentam-se alguns casos de produção de


construção pré-fabricada, de empresas do exterior e do Brasil.
Estudos de Caso de Pré-fabricação
3.4.1 Produção Atual
Atualmente as soluções são baseadas em estratégias de fabricação e transporte,
sob inovação digital em prol da relação entre planejamento e mercado. A evolução da
produção digital carrega certo otimismo quanto ao desenvolvimento de novas
possibilidades para CDM na pré-fabricação.
Outro importante conceito a ser considerado no processo de projeto da construção
racionalizada é o de projeto simultâneo, definido por Fabricio (2002) como:

“O desenvolvimento integrado das diferentes dimensões do


empreendimento, envolvendo a formulação conjunta da operação
imobiliária, do programa de necessidades, da concepção arquitetônica e
tecnológica do edifício e do projeto para produção, realizado por meio da
colaboração entre o agente promotor, a construtora e os projetistas,
considerando as funções dos subempreiteiros e fornecedores de materiais,
de forma a orientar o projeto à qualidade ao longo do ciclo de produção e
uso do empreendimento.”

Os principais elementos a serem considerados ao se adotar o projeto simultâneo


são:
. Valorização do papel do projeto e integração precoce, no projeto, entre os vários
especialistas e agentes do empreendimento;
. Transformação cultural e valorização das parcerias entre os agentes do projeto;
. Reorganização do processo de projeto de forma a coordenar concorrentemente os
esforços de projeto;
. Utilização das novas tecnologias de informática e telecomunicações na gestão do
processo de projeto.
Com o objetivo de:
. Ampliar a qualidade do projeto e, por conseguinte, do produto;
44

. Aumentar a construtibilidade do projeto;


. Subsidiar, de forma mais robusta, a introdução de novas tecnologias e métodos no
processo de produção de edifícios;
. Eventualmente, reduzir os prazos globais de execução por meio de projetos de execução
mais rápida.
Gerken (2003) elabora um modelo esquemático (Figura 3-17) visando destacar o
quão importante é o projeto no processo construtivo como um todo, além da importância
do arquiteto, da multidisciplinaridade e da conexão entre concepção e possibilidades de
execução.
Figura 3-17: Modelo integrado para projeto de estruturas em aço.

Fonte: BORSATO (2009), adaptado de GERKEN (2003).

Bauermann (2002), que propunha melhorias no processo de projeto da construção


em aço, elabora o fluxograma da Figura 3-18 ilustrando a ordenação do processo de
produção da estrutura em aço.
45
Figura 3-18: Diagrama do processo de produção da estrutura em aço.

Fonte: BAUERMANN, 2002.


Machado (2016) observa a partir da análise do diagrama que o projeto estrutural
inicia-se após a negociação, a partir da proposta arquitetônica. Logo, o estudo preliminar
de arquitetura deve atender a requisitos técnicos e legais, viabilizando o uso da estrutura
em aço com o objetivo de menor prazo de execução.
A seguir, discutem-se os estudos de caso das empresas atuantes no campo da pré-
fabricação e seu modo de produção, conforme comentado anteriormente.

3.4.2 KIERAN TIMBERLAKE


Atuando em parceria desde 1984, na atualidade, James Timberlake e Stephen
Kieran, lideram a Kieran Timberlake nos EUA e são algumas das mais importantes figuras
no campo da arquitetura pré-fabricada. Eles trabalham de forma integrada, num processo
que envolve clientes, engenheiros, produtores e fabricantes na busca por soluções. A
seguir os casos da Loblolly House (Figura 3-19) e Cellophane House (Figura 3-21).
46
3.4.2.1.1 Loblolly House:
Figura 3-19: Loblolly House.

Fonte: Kieran Timbarlake12.


O esqueleto estrutural da casa é Figura 3-20: Modelo de perfis de alumínio
utilizados na Loblolly House.
em alumínio com conexões em “T”
(Figura 3-20) que permitem
encaixe/desencaixe. Pisos, telhados e
vedações foram desenvolvidas de modo
que possam ser integradas com vigas,
enchimento e instalações. As fachadas
compõem uma espécie de jogo com Fonte: SMITH, 2010.

painéis em cedro, que contextualizam a


edificação com o entorno, bem
arborizado.
O processo de fabricação foi em
parceria com o fabricante Bensonwood,
cujo modo de produção será descrito
mais adiante.
47

12
Disponível em: < http://www.kierantimberlake.com/pages/view/20/loblolly-house/parent:3>
3.4.2.1.2 Cellophane House
Figura 3-21: Casa Cellophane (Kieran Timberlake Associates).

Fonte: BERGDOLL, 2008.


Com a Cellophane House, Kieran Timberlake exploram a tecnologia BIM, do
gerenciamento da cadeia de suprimentos até a modelagem da pré-fabricação. A casa foi
desenvolvida para uma exposição do Museu de Arte Moderna, em 2008, intitulada Home
Delivery.
O sistema estrutural permite que os materiais possam ser desmontados (e não
demolidos) e, até mesmo reciclados ao invés de desperdiçados. Os perfis de alumínio
foram os mesmos utilizados na Loblolly House, permitindo que cada elemento possa ser
encaixado na estrutura e recombinado. Os fechamentos externos são de uma película de
politereftalato de etileno transparente. Os arquitetos acreditam que, compreender este
tipo de estratégia é crucial, “não reinventar, mas reusar...tirar partido e estender as
capacidades das tecnologias existentes.” (TIMBERLAKE; KIERAN, apud, BERGDOLL, 2008,
p. 226).
Smith (2010) explica o sistema construtivo da casa, cujas articulações horizontais e
verticais encaixam-se a outros conectores em aço, em vez de serem soldados, o que
permite montagem/desmontagem. Paredes internas e a pele externa podem da mesma
48

forma ser afixadas/desafixadas. A casa é quase completamente montada fora de campo e


transportada por caminhão, seja com seus inúmeros componentes ou mesmo volumes
inteiros.
A tecnologia BIM é aplicada na modelação da estrutura e diversas estratégias
visando a sustentabilidade são adotadas no projeto. A casa dispõe de recursos como
painéis fotovoltaicos, aquecimento de água por meio de coletor solar instalados no telhado
e manutenção da temperatura interna através de um sistema de parede dupla ativa,
evitando-se perdas ou ganhos de calor indesejados. A Figura 3-22 ilustra a sequência de
montagem.
Figura 3-22: Casa Cellophane _ processo de construção.

Fonte: SMITH, 2010.

A casa favorece a CDM, permitindo simples modificações para adaptação a diversas


condições climáticas, de insolação, de topografia, além da variação de materiais, texturas
e cores, conforme orçamento e escolha do cliente.
A construção ocorreu com a colaboração do Kullman Buildings Corporation e a
edificação foi montada em 16 dias, a medida que os elementos construtivos chegavam à
obra.

3.4.3 RESOLUTION, 4 ARCHITECTURE


A companhia de Joe Tanney começou com a pré-fabricação nos EUA em 2002 a
partir do desenvolvimento de uma série de tipologias de habitação com possibilidade de
variabilidade dentro de um sistema padronizado. A Figura 3-23 ilustra módulos básicos
utilizados para composição da habitação. O cliente escolhe a composição de módulos de
49

sua preferência, o que resulta numa residência personalizada (Figura 3-24). O escritório
trabalha com o método modular e já oferece ao cliente também algumas configurações de
layout/planta baixa padronizados (Figura 3-25). Smith (2010) coloca que Tanney tem
desenvolvido CDM em Arquitetura explorando a indústria de madeira encontrada nos EUA
para fornecer uma arquitetura modular de alta qualidade.
Figura 3-23: Módulos.

Fonte: SMITH, 2010.

Figura 3-24: Sistema modular da Resolution 4 Architecture, que pode ser customizado para
configurações diversas, atendendo em específico cada cliente, local e orçamento.

Fonte: SMITH, 2010.


50
Figura 3-25: Sistema modular da Resolution 4 Architecture: módulos residenciais para uso
privado/comum e módulos acessórios.

Fonte: SMITH, 2010.

As Figura 3-26 a Figura 3-28 mostram o caso da The House on Sunset Ridge e sua
sequência de produção e montagem.

Figura 3-26: The House on Sunset Ridge da Resolution 4 Architecture: planejamento/fabricação.

Fonte: SMITH, 2010.


51
Figura 3-27: The House on Sunset Ridge da Resolution 4 Architecture: montagem.

Fonte: SMITH, 2010.

Figura 3-28: The House on Sunset Ridge da Resolution 4 Architecture.

Fonte: SMITH, 2010.


Segundo Smith (2010), o processo da produção da empresa se desenvolve em 4
etapas:
. Fase 1: Projeto e documentação com o cliente (programa, adaptação do projeto modular,
customização);
. Fase 2: Coordenação de Engenharia/fabricante/contratante e aprovação legal;
. Fase 3: Projeto básico/revisão/aprovação. Nesta etapa o cliente faz um depósito para que
se inicie a produção. A medida que o fabricante adquire materiais e produtos, o contratante
prepara o terreno. Dentro de uma a duas semanas o módulo básico está pronto;
. Fase 4: montagem e acabamento da casa, que podem levar até 16 semanas em função da
capacidade do contratante e da complexidade do terreno.
A proposta de Tanney é desenvolver habitações com qualidade e, a longo prazo,
construir habitações para maior adensamento.
52
3.4.4 BENSONWOOD
Tedd Benson começou a produção da Bensonwood Homes nos EUA em 1975, e desde
então vem aprimorando a produção da fábrica. Benson é um construtor que trabalha com
uma equipe de arquitetos na criação de casas pré-fabricadas customizáveis, atuando desde
o projeto, fabricação e transporte à montagem e acabamento no local (SMITH, 2010).
Os painéis utilizados como fechamento exterior são produzidos com estrutura e
acabamentos de qualidade e bom desempenho térmico e as casas têm sistemas de
paredes, pisos e cobertura por painéis, sendo modulares banheiros e cozinhas. A empresa
produz também edificações comerciais, porém a atuação concentra-se no segmento de
habitações, de médio a alto nível, estando envolvida na produção uma equipe de
arquitetos, engenheiros, carpinteiros, dentre outros profissionais (SMITH, 2010).
A Unity House (Figura 3-29) foi projetada com 50 elementos pré-fabricados, tendo
sido os componentes e os painéis desenvolvidos em fábrica como elementos estruturais e
de fechamento e posteriormente montados no canteiro de obras. O banheiro e a cozinha
são módulos finalizados em fábrica, uma vez que a Bensonwood utiliza modulação apenas
nestes ambientes por acreditar que alcançar variabilidade com o uso de módulos é mais
difícil. Tedd Benson vê a modulação, painéis e componentes favoráveis a serem utilizados
em métodos de pré-fabricação que pretendem atender quesitos como custo, cronograma,
escopo e qualidade (SMITH, 2010).

53
Figura 3-29: Unity House, fabricada pela Bensonwood.

Fonte: SMITH, 2010.


Segundo Smith (2010), a empresa trabalha sob a lógica de 8 princípios: partes
separadas compõem um todo, regulação da malha, visualização virtual prévia, montagens
planejadas, modulação, local para montagem, equipe integrada e bom trabalho.
. Partes separadas compõem um todo: Componentes, painéis e módulos são produzidos
como sistemas separados para que no futuro possam ocorrer adaptações, e este conceito
facilita também o processo de montagem. As vedações externas são elementos robustos,
que recebem enchimento e são testadas quanto à infiltração de umidade e ar, evitando o
comprometimento da qualidade e garantindo-se a durabilidade do produto final. Portanto,
muita importância é dada aos fechamentos externos devido ao fato de que o bom
desempenho dos mesmos é que vai garantir o longo ciclo de vida útil da edificação;
. Regulação da malha: considerando uma malha tridimensional é possível um controle
sobre o espaço, com dimensões definidas e custos previstos;
. Visualização virtual prévia: a Bensonwood utiliza da tecnologia BIM não só para
54

desenvolvimento do projeto e identificação de incompatibilidades, mas também para


prever a sequência de montagem, separando os componentes em grupos. Com o projeto
coordenado é possível se extrair previsões quanto a custos, cadeia de suprimentos,
transporte e instalação por simulações prévias à construção, portanto, dados mais
concretos são enviados à linha de produção. A montagem é crucial para um processo de
pré-fabricação e, neste sentido, a tecnologia BIM é fundamental. Por exemplo, para
desenvolver a fabricação da Loblolly House, a Bensonwood deu continuidade a partir do
projeto desenvolvido em Revit® por Kieran Timberlake e, neste processo, ambos estavam
continuamente compartilhando arquivos de modelo digital, estando os projetos de
arquitetura e fabricação sempre integrados;
. Montagens planejadas: a Bensonwood usa uma biblioteca de objetos parametrizados que
podem ser reutilizados em diferentes projetos. Por exemplo, vários detalhes de conexões
entre estrutura e fechamentos podem ser mantidos como elementos-chave, garantindo
variedade e custo. Isso permite que a empresa trabalhe com um número reduzido de
componentes a serem gerenciados;
. Modulação: enquanto a obra ocorre, paralelamente módulos inteiros como cozinhas e
banheiros podem chegar para instalação praticamente prontos e, uma vez instalados,
podem ser finalizados;
. Local para montagem: o local de instalação é usado apenas para montagem dos
elementos pré-fabricados e conexão dos sistemas, garantindo-se maior controle de
qualidade, custo, tempo e eficiência. Deste modo, os elementos são embalados e
carregados nos caminhões na ordem contrária em que serão montados no terreno. Uma
vez que os elementos são numerados, a sequência de montagem torna-se mais rápida e
previsível;
. Equipe integrada: todas as disciplinas estão integradas em todo o processo, envolvendo
profissionais diversos como arquitetos, engenheiros, construtores;
. Bom trabalho: a Bensonwood acredita numa cultura de disciplina e treinamento,
essenciais para a pré-fabricação, que exige uma estrutura horizontal e livre fluxo de
informação.

3.4.5 BRASIL
55

Em 1953 houve tentativas de se difundir o uso do aço na construção civil brasileira,


a partir da iniciativa da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que neste ano criou a Fábrica
de Estruturas Metálicas, desativada em 1998. Com objetivo de formar mão de obra
capacitada, vários edifícios foram construídos em estrutura metálica, como o Edifício
Garagem América em São Paulo (1957_ primeiro com projeto e materiais totalmente
fabricados no país_Figura 3-30), o Edifício Avenida Central no Rio de Janeiro (1961_Figura
3-31) e o Edifício Escritório Central da CSN em Volta Redonda (1966_ primeiro a utilizar
perfis soldados_Figura 3-32) (BELLEI, 2008).
Figura 3-30: Edifício Garagem Figura 3-31: Edifício Avenida Figura 3-32: Edifício Escritório
América, São Paulo. Central, Rio de Janeiro. Central da CSN, Volta Redonda.

Fonte: FARIA, 2008. Fonte: FARIA, 2008. Fonte: FARIA, 2008.


Em 1967, com a implantação do Plano Siderúrgico Nacional, houve um incremento
significativo na quantidade e qualidade da produção do aço no país. O plano tinha como
objetivos a ampliação, modernização e instalação de novas siderúrgicas, colocando o Brasil
na posição não mais de importador mas de grande exportador de aço (BELLEI, 2008).
Na década de 1990 é inserido o sistema LSF, técnica construtiva sucessora do Balloon
Frame, que consiste em painéis autoportantes compostos por perfis formados a frio. Cerca
de dez anos depois, com a tecnologia já mais difundida, surgem as primeiras normas: a NBR
14762 (ABNT, 2010), que versa sobre o Dimensionamento de Estruturas de Aço Constituídas
por Perfis Formados a Frio (ABNT, 2001) e a NBR 6355 (ABNT, 2003), sobre Perfis
Estruturais de Aço Formados a Frio (ABNT, 2003). Em 2006 o Instituto Brasileiro de
Siderurgia (IBS) e o Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA) publicaram manuais
com o intuito de difundir a técnica de construção e concepção projetual do sistema LSF,
56

orientando arquitetos e definindo os principais conceitos relativos aos perfis formados a


frio e seu dimensionamento, com este último objetivo mais direcionado aos engenheiros
(FREITAS e CRASTO, 2006) e Rodrigues (2006).
Hoje a Caixa Econômica Federal já financia a construção de edificações com sistema
construtivo industrializado e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), desde 2009 conta com uma linha de crédito específica para empresas fabricantes
destes sistemas, direcionados ao segmento de habitações, como forma de fomentar a
produção destas empresas.
A seguir alguns estudos de caso da produção nacional de habitações pré-fabricadas.
3.4.5.1.1 Casa Fácil Gerdau
A construção popular pré-fabricada
Figura 3-33: Estrutura da Casa Fácil Gerdau. comercializada pela Gerdau (Figura 3-33
e Figura 3-34) configura uma habitação de
48 m² que é vendida em kits com peças de
aço laminado e ligações aparafusadas,
podendo ter a estrutura montada em 2
horas. O quite é composto por gabarito,
estrutura principal e estrutura da cobertura,
permitindo autoconstrução13 com auxílio de
Fonte: HENRIQUES, 2005.
manual de instruções para montagem.
O telhado geralmente é feito com telhas de barro, sendo possível a instalação de
outro tipo de telha. Para o fechamento externo diversos materiais também podem ser
escolhidos, conforme gosto do cliente. A distribuição dos ambientes também é livre, já que
internamente a casa não tem pilares, o que possibilita uma diversidade de configurações,
dando ao usuário certa autonomia para planejamento do layout interno.
Este modelo oferece possibilidade de escolha de materiais diversos, porém a planta
livre não é suficiente para permitir grande possibilidade de customização da casa, uma vez
57

13
Kapp (2016) define que, por meio de tais processos os moradores têm autonomia para decidir sem o
intermédio de terceiros (arquitetos ou engenheiros) sobre como aplicar recursos e executar a construção.
Basicamente autoprodução e autoconstrução se distinguem por: na primeira o morador necessita da mão de obra
de pedreiros (ou outros tipos de profissionais) para execução da obra; na segunda, além de gestor da obra, é também
mão de obra para execução.
que, além desta distribuição interna dos ambientes, o produto não favorece ampliações
futuras da edificação.
Figura 3-34: (a) Planta baixa padrão da Casa Fácil Gerdau. (b) Perspectiva da Casa Fácil Gerdau.

(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.

3.4.5.1.2 Projeto Habitacional COSIPA


O projeto da COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista) (
Figura 3-35) também oferece uma construção popular a partir de perfis formados
a frio resistentes a corrosão atmosférica, o que contribui para a durabilidade da edificação.
Os fechamentos externos podem ser em blocos cerâmicos, blocos de concreto ou outras
opções. As esquadrias e o engradamento do telhado são metálicos, o qual permite vários
tipos de telha para a cobertura.
Figura 3-35: (a) Planta baixa padrão do Projeto Habitacional COSIPA. (b) Perspectiva do
Projeto Habitacional COSIPA.

(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.
58

Os quites de 36 m² são vendidos para a casa padrão, sendo possível acréscimo com
aquisição de um quite extra de 18 m². O sistema permite autoconstrução com a montagem
da estrutura em 3 horas, e num prazo de 6 a 10 dias a casa completa pode ser concluída.
Apesar da possibilidade de escolha de materiais para fechamentos e cobertura e do quite
fornecido para ampliação, o usuário tem certa limitação quanto à customização de seu
produto, que fica limitada a este quite extra de 18 m².
3.4.5.1.3 Sistema Modular da CSN
O sistema desenvolvido pela CSN (Figura 3-36) também é voltado para habitação
popular. O sistema construtivo é modular, composto por chapas de aço galvanizado,
formadas a frio. Já o fechamento externo é feito com painéis modulares em aço
galvanizado, que aceitam acabamento em chapas de fibrocimento ou siding vinílico, sendo
a ligação entre os módulos feita por perfis U simples, enquanto o engradamento do
telhado é feito com perfis Ue e perfis cartola.
O quite comercializado permite a construção de uma casa de 50 m², com
possibilidade de ampliação, demandando de 15 a 30 dias para montagem completa. A
cobertura aceita diversos tipos de telhas, dentre elas a cerâmica, metálica ou de
fibrocimento. O projeto para este sistema já foi vendido adaptado para outros usos, com
fins comercial ou de saúde, abrigando escritório ou unidade básica de saúde.
Figura 3-36: (a) Conjunto habitacional CSN. (b) Unidade básica de saúde construída com o sistema da
CSN.

(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.

A fundação é feita com viga baldrame e a laje do piso recebe manta asfáltica para
impermeabilização. Os painéis de aço estrutural já vêm pré-fabricados com os vãos de
portas e janelas e a fixação dos módulos ocorre por ligações aparafusadas e, em seguida,
59

estes módulos são chumbados no piso por meio de parafusos e buchas de expansão.
As redes elétrica e hidráulica são embutidas nas paredes, fixadas com parafusos
auto atarraxantes e ocultas por chapas de gesso acartonado, cujas juntas recebem fitas e
massas impermeabilizantes. As áreas molhadas também recebem as chapas de gesso
acartonado, porém de um tipo mais resistente à umidade, com índice de absorção da água
limitado a 5%. O produto final fornecido pela CSN, assim como os outros casos do Brasil
discutidos anteriormente, oferece baixa possibilidade de CDM, limitando-se à variabilidade
de escolha de materiais e uma ampliação pré-definida.

3.4.5.1.4 Usiteto
O projeto da USIMINAS (Figura 3-37 e
Figura 3-38) segue duas linhas para habitação popular: uma para edifícios de 4
pavimentos com 4 unidades por andar, e outra para casas de aproximadamente 36 m².
Ambas as propostas configuram obras de grande produtividade, baixo custo e ampla
utilização para conjuntos habitacionais.
Figura 3-37: (a) Estrutura da casa USITETO. (b) Perspectiva da casa USITETO.

(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.

A estrutura é metálica e colunas guia servem para dar o alinhamento das alvenarias.
O tipo de aço utilizado na estrutura é o USI-SAC 41, resistente à corrosão atmosférica. As
chapas são conformadas a frio, com espessura de 2 mm e as ligações são aparafusadas e
padronizadas.
No processo de montagem, a construtora executa a obra para erguer a estrutura
(com ou sem participação da comunidade) e, em seguida, fechamentos e acabamentos são
executados numa iniciativa de autoconstrução. A construção é feita em módulos, podendo
ser ampliada.
Diversos tipos de fechamentos são admitidos pelo sistema, como blocos de
60

concreto, concreto celular ou tijolos cerâmicos (mais utilizado). O engradamento do


telhado e as esquadrias também são metálicos, sendo o aço utilizado nestas o USI-R-COR,
também com tratamento anticorrosivo. Para cobertura aplica-se telhas de fibrocimento,
metálica ou colonial de barro (mais utilizada por apresentar melhor desempenho térmico).

Figura 3-38: Sequência de ampliação da casa USITETO.

Fonte: HENRIQUES, 2005.


Os quatro estudos de caso discutidos anteriormente representam um pouco da
produção difundida atualmente no mercado brasileiro. Apesar de as edificações, todas
propostas para fins de habitação popular, não apresentarem características arquitetônicas
como diversidade tipológica, flexibilidade, adaptabilidade, e não se ter uma avaliação
quanto ao seu desempenho térmico/acústico, elas têm custo baixo e permitem grande
produtividade em função de seus sistemas de montagem.
É interessante a comparação com os casos da produção americana, citados
anteriormente (Kieran Timberlake, Resolution 4 Architecture e Bensonwood), através dos
quais se pode observar maior variabilidade de tipologias e possibilidades de CDM, além da
riqueza das soluções técnicas para pré-fabricação e modo de produção, impactando em
redução de custo e otimização do processo de execução e, por fim, na qualidade do
produto final.
O exemplo discutido a seguir representa uma produção de habitação pré-fabricada
com maior qualidade, porém elaborada para um cliente específico, que não corresponde
ao mesmo público dos casos apresentados anteriormente, portanto, não cabem aqui
comparações, sendo apresentados apenas aspectos técnicos e de desempenho desta
edificação.
61
3.4.5.1.5 Studio Paralelo
A casa projetada pelo Studio Paralelo14 (Figura 3-39) em 2007 para ser um abrigo aos
finais de semana na região serrana do Rio Grande do Sul, a 100 Km de Porto Alegre, tem
um total de 82 m², implantada ao centro do lote, em um terreno de um condomínio em
meio à Mata Atlântica.
O sistema construtivo é em LSF e Figura 3-39: Refúgio São Chico: fachada principal.
permitiu que a construção fosse concluída
em dois meses. Suspensa do solo, a casa é
composta por dois volumes retangulares
com texturas diversas e que se
interceptam.
As etapas de fabricação e
montagem ocorreram conforme as Figura
3-39 a Figura 3-43.
Fonte: SAYEGH, 2008.

A fundação com embasamento em concreto armado afasta a edificação do solo,


impedindo a atuação da umidade. A estrutura é em perfis de aço galvanizado e os
fechamentos em placas de OSB (Oriented Strand Board) pré-fabricadas em painéis de 1,20
m x 1,20 m. A estrutura foi montada em um galpão em Porto Alegre e, desta forma
conseguiu-se maior agilidade na construção, além de maior controle do processo
construtivo.

14 O Studio Paralelo é um escritório de arquitetura com sede em Porto Alegre fundado em 2002 e titulado
62

pelos arquitetos Luciano Andrade e Rochelle Castro, formados pela Universidade Luterana do Brasil (RS).
Figura 3-40: Refúgio São Chico: execução do embasamento e processo de pré-fabricação.

Fonte: SAYEGH, 2008.


Na terceira semana teve início a fixação desta estrutura e fechamentos pré-
fabricados sobre a laje de concreto armado. Para a fixação da estrutura foram usados pinos
fixados à pólvora, já as placas foram conectadas por meio de parafusos autobrocantes. Na
semana seguinte começou a instalação das vigas de bordo e das treliças da cobertura, além
da finalização da instalação das placas de OSB.
Figura 3-41: Refúgio São Chico: montagem da estrutura e placas.

Fonte: SAYEGH, 2008.


63

Com a volumetria montada, foi instalada uma membrana impermeabilizante nas


vedações e em seguida veio a execução do revestimento exterior, sendo no volume maior
telha ondulada e, no volume menor, lambris de Pinus. Na cobertura foram instaladas telhas
metálicas trapezoidais com miolo em EPS.
Figura 3-42: Refúgio São Chico: instalação de membrana impermeabilizante e revestimento.

Fonte: SAYEGH, 2008.

Na última semana seguiu- Figura 3-43: Refúgio São Chico: interior.

se a instalação de esquadrias e
a montagem da estrutura
metálica que dá suporte ao
deck de madeira. Por fim, foram
feitas todas as instalações
(hidráulicas e elétricas) e
paredes internas, em gesso
acartonado e enchimento com
lã de rocha. Fonte: SAYEGH, 2008.

O item a seguir discute a CM, importante para qualificação do processo de


projetar/construir, destacando-se aspectos da NBR 15873 (ABNT, 2010) e sua relevância na
política de desenvolvimento produtivo, na medida em que responde à questões
econômicas e ambientais.

COORDENAÇÃO MODULAR
64

A fim de produzir edificações com maior qualidade, funcionalidade e durabilidade,


aliada à pré-fabricação, a CM pode ser usada como ferramenta de projeto, qualificando o
processo. Questões econômicas e de sustentabilidade podem ser respondidas, na medida
em que a CM otimiza o uso dos componentes, agiliza o processo de projeto, aumenta a
produtividade, diminui desperdícios e perdas. Para melhor compreender os conceitos
fundamentais da CM, discute-se a seguir aspectos relativos a NBR 15873 (ABNT, 2010).

3.5.1 Aspectos Fundamentais da Coordenação Modular


A produção de componentes é seriada e é possível a intercambialidade entre eles,
pois são compatíveis em dimensões, múltiplos do módulo decimétrico, em um sistema
aberto. A NBR 15873 (ABNT, 2010) favorece a padronização dimensional destes
componentes, sendo aspectos fundamentais da CM:
. Sistema de Referência: conforme
Figura 3-44 e
Figura 3-45, é formado por pontos, linhas e planos que determinam a posição e dimensão
de cada componente e sua relação com o todo. Neste sistema pode-se trabalhar com um
plano horizontal em duas dimensões ou ainda em perspectiva.

Figura 3-44: Sistema de referência. Figura 3-45: Reticulado modular espacial de


referência.

Fonte: GREVEN, 2007.


Fonte: GREVEN, 2007.
. Sistema Modular de Medidas: baseado na unidade básica modular, no módulo e seus
múltiplos. O módulo ocupa o espaço entre os planos no sistema de referência. A medida
modular corresponde à medida do módulo ou múltiplo inteiro do módulo, considerando o
componente e sua folga perimetral. A medida de projeto do componente é definida por
65

sua dimensão, que deve ser inferior à medida modular, permitindo o espaço de tolerância.
A junta modular é a distância entre as arestas de dois componentes.
. Sistema de Ajustes e Tolerâncias: conforme
Figura 3-46 a Figura 3-49, o ajuste modular é a medida entre a medida de projeto do
componente e a medida modular. O componente pode sofrer variações em suas medidas,
em função de falhas de fabricação ou no posicionamento, dilatações/contrações ou
deformações e, neste sentido, as juntas são essenciais.

Figura 3-46:
Medida modular,
medida nominal,
junta modular e
ajuste modular.

Fonte: GREVEN,
2007.

Figura 3-47:
Ajuste modular
positivo.

Fonte: GREVEN,
2007.

Figura 3-48:
Ajuste modular
negativo.

Fonte: GREVEN,
2007.

Figura 3-49:
Ajuste modular
nulo.

Fonte: GREVEN,
2007.

. Sistema Numérico preferencial:


Segundo Mascaró (1976), o sistema de números preferenciais caracteriza-se:
. Por ter fixos os seus limites pelas características técnicas dos componentes e pelas razões
66

econômicas de sua fabricação;


. Pela função que desempenha;
. Por sua forma de união;
. Por sua possibilidade de dividir-se sem desperdício.
O projeto modular é feito no quadriculado modular de referência, sendo possível
coordenar os componentes. Esta representação é usada para plantas baixas, cortes e
fachadas. Este planejamento favorece também a montagem, pois diminui a necessidade
de cortes. Os componentes são posicionados no quadriculado modular de referência com
suas medidas “no osso”, ou seja, sem levar-se em conta acabamentos, conforme Figura
3-50 a Figura 3-52:

Figura 3-50: Componentes em posição simétrica em relação à linha do quadriculado modular de


referência.

Fonte: GREVEN, 2007.

Figura 3-51: Componentes em posição assimétrica em relação à linha do quadriculado modular de


referência.

Fonte: GREVEN, 2007.

Figura 3-52: Componentes em posição lateral em relação à linha do quadriculado modular de


referência.

Fonte: GREVEN, 2007.

3.5.2 A Coordenação Modular no Contexto da Política de Desenvolvimento Produtivo


No ano de 2009, a partir da contratação da Fundação Euclides da Cunha (FEC) foi
elaborado um relatório sobre os impactos da iniciativa de implantação da CM no país. A
67

medida partiu da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), órgão ligado ao


Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em função da
necessidade de analisar e debater sobre o tema.
O objetivo da Agência é disseminar a publicação para agentes do setor e, a partir
daí, fundamentar a argumentação técnica para discussão quanto às vantagens da adoção
da CM. Os projetos desenvolvidos pela Agência alinham-se às políticas e programas de
governo, tendo em vista a intenção de fomentar o desenvolvimento industrial e
competitividade do Brasil a partir da modernização e inovação tecnológica.
Nesta parceria com o MDIC, a partir dos esforços para implantação da CM no país,
o setor de construção civil pode se tornar mais competitivo, com aumento de
produtividade e redução de perdas. A CM, portanto, pode ser uma ferramenta estratégica
para modernização e industrialização do setor da construção civil.
O relatório aponta que, para alcançar o caminho do desenvolvimento da construção
industrializada aberta no Brasil é essencial a implementação da NBR-15873 (ABNT, 2010), o
que viabilizaria a interoperabilidade técnica, permitindo:
. Reduzir e dar coerência à variedade de medidas utilizadas na fabricação de componentes;
. Simplificar a coordenação dimensional nos projetos das edificações, que hoje é elaborada
caso a caso;
. Simplificar o processo de marcação no canteiro de obras para posicionamento e
montagem de componentes construtivos;
. Reduzir cortes e ajustes de componentes e elementos construtivos e a geração de
resíduos no canteiro de obras;
. Aumentar a intercambiabilidade de componentes tanto na construção inicial quanto em
reformas e melhorias ao longo da vida útil da edificação;
. Evitar cortes e ajustes desnecessários;
. Induzir maior cuidado na resolução de projetos e maior acuidade técnica na sua execução;
. Ampliar a cooperação entre os diversos agentes da cadeia produtiva da construção;
. Aumentar o mercado de exportação de componentes;
. Minimizar desperdícios, com redução de custos e diminuição nos prazos de execução das
obras, devido à maior facilidade de ajustes e montagens.
E, por fim, para o sucesso da implementação de tal medida, toda a cadeia da
68

produtiva da construção civil precisa estar envolvida, provendo o mercado de produtos


que observem a CM.
A ideia da construção de uma edificação composta por elementos e componentes
coordenados modularmente parece melhor atender aos princípios de uma construção
racionalizada e sob a lógica de processos flexíveis do que uma construção edificada como
um organismo único, dificilmente alterado ao longo do tempo, conforme ilustra a Figura
3-53.
Figura 3-53: Sistemática da conectividade entre componentes.

Fonte: GREVEN, 2007.Histórico da Coordenação Modular no Brasil

O capítulo a seguir discute aspectos técnicos relacionados ao sistema construtivo LSF,


utilizado na etapa do estudo prático deste trabalho. O LSF permite a execução de
construções racionalizadas, além de facilitar a CDM e futuras ampliações, uma vez que esta
é uma característica do sistema, portanto, é adequado para a proposta do estudo prático
deste trabalho.

69
LIGHT STEEL FRAME

Sistema Construtivo
O LSF é um sistema Figura 4-1: Perfiladeira para fabricação de perfil Ue.
construtivo racional, com
estrutura em perfis de aço
galvanizado formados a frio. Estes
perfis compõem painéis
estruturais e não-estruturais,
vigas, tesouras de telhado, dentre
outros elementos.
Fonte: CBCA, 2012.

Segundo definição da NBR 6355 (ABNT, 2003), os perfis estruturais de aço formados
a frio são obtidos a partir do dobramento, em prensa dobradeira, ou por perfilagem em
conjunto de matrizes rotativas de tiras de aço cortadas de chapas ou bobinas laminadas a
frio ou a quente, revestidas ou não. As seções têm forma e dimensões variadas e, em
função do processo de fabricação acontecer em temperatura ambiente, tem-se o nome
“perfis formados a frio”. A Figura 4-1 mostra o processo de perfilação de um perfil Ue.
Na Erro! Fonte de referência não encontrada. encontram-se os perfis disponíveis e sua
utilização correspondente na edificação:

70
Tabela 1: Perfis de aço formados a frio para uso em LSF.

Fonte: NBR 15253, 2005.


É um sistema industrializado de construção a seco, apresentando maior eficácia por
otimizar o trabalho no canteiro de obras, incrementando rapidez ao processo. O esqueleto
estrutural em aço é formado por diversos componentes que trabalham em conjunto para
resistir às cargas solicitadas à edificação e conferem forma à mesma. O sistema possui
vários subsistemas, como o de fundação, fechamentos interno/externo, tratamento
térmico/acústico, instalações elétrica/hidráulica/rede.
O LSF deriva do sistema Balloon Frame, que era utilizado já desde o século XIX
quando da colonização dos americanos. Estruturado em madeira, material abundante na
região, atendia à demanda por habitação. Este sistema se consolidou nos Estados Unidos,
sendo substituído pelo aço por volta de 1933, em função do desenvolvimento da indústria
siderúrgica neste país. A Figura 4-2 ilustra o sistema:
71
Figura 4-2: Protótipo de uma residência em LSF na
Exposição Mundial de Chicago em 1933.

Fonte: CBCA, 2012.

O sistema construtivo LSF é importado de países que já utilizam a técnica há anos,


de forma consolidada, porém sob condições climáticas, sociais e econômicas adversas do
Brasil. Portanto, se fazem necessárias adaptações a fim de viabilizar o uso deste sistema
em larga escala no país, além, claro, da necessidade de se vencer as barreiras culturais aqui
existentes, pois muitas vezes as vedações são associadas à ideia de fragilidade. O LSF vem
sendo utilizado aqui para tipologias comerciais e institucionais, como shoppings,
supermercados, hotéis, escolas, dentre outras. A Figura 4-3 ilustra uma esquema geral para
tipologia residencial:
A sequência de construção Figura 4-3: Desenho esquemático de residência em LSF.
em LSF segue basicamente as
etapas: execução da fundação,
montagem dos painéis estruturais,
cobertura, instalação das
esquadrias, execução do
fechamento externo, instalação
da rede hidráulica/elétrica,
isolamento térmico, execução do
fechamento interno e
acabamento interno/externo.
72

Fonte: CBCA, 2012.


Vantagens do Sistema Construtivo Light Steel Frame
Os sistemas industrializados em aço apresentam diversas vantagens e
custo/benefícios em relação a sistemas construtivos convencionais, como em concreto, se
fazendo pertinente a investigação sobre o tema. Segundo (SANTIAGO, FREITAS e CRASTO,
2012), podemos citar:
. Construção simultânea, permitindo, por exemplo, a execução da fundação em
concomitância a outras frentes de trabalho;
. Padronização dos componentes oriundos de uma produção industrializada, o que confere
maior qualidade ao processo de produção, matéria-prima e produto final;
. Compatibilidade com diversos materiais de revestimento;
. A resistência do aço é conhecida e o processo de produção industrial confere qualidade e
precisão dimensional, acarretando em uma estrutura de bom desempenho;
. Facilidade de obtenção dos perfis formados a frio, produzidos em larga escala;
. A estrutura é durável, sendo sua vida útil prolongada devido ao processo de galvanização
ao qual os perfis são submetidos;
. Leveza, permitindo fundações mais simples;
. Facilidade no transporte e montagem da estrutura;
. Construção a seco, o que reduz o uso de recursos naturais e desperdício;
. Facilidade para execução das instalações elétricas e hidráulicas;
. Maior desempenho térmico e acústico com a aplicação de materiais de
fechamento/isolamento;
. Facilidade para execução das conexões;
. Rapidez do processo de construção devido à pré-fabricação e montagem no canteiro;
. O aço pode ser reciclado;
. Ganho em área útil, por serem as paredes mais delgadas;
. Flexibilidade do projeto, permitindo ampliações.
Em relação às desvantagens do sistema, para tipologias residenciais, muitas vezes a
economia não é tão significativa, considerando que em obras de maior porte muitos custos
73

são diluídos e é possível se recorrer a grandes fornecedores. No entanto, a utilização de


LSF para várias unidades habitacionais e os aspectos positivos do sistema, viabilizam a
proposta deste estudo.
Outro aspecto é que a construção em aço demanda profissionais mais qualificados
e maior atenção ao detalhamento do projeto e compatibilização.

Métodos de Construção Em Light Steel Frame


Em relação ao método de construção do sistema LSF, há basicamente três
possibilidades: o método Stick, o método por painéis e a construção modular. O método
Stick é válido para situações em que não é viável a pré-fabricação, uma vez que os perfis
são cortados no canteiro de obras para dar sequência à montagem. Já no método por
painéis, estes, estruturais ou não estruturais, bem como os contraventamentos, lajes e
tesouras são pré-fabricados e montados na obra, onde são feitas as conexões. Alguns
painéis podem inclusive já vir com materiais de acabamento aplicados em fábrica,
reduzindo o tempo que seria gasto com este procedimento em obra. Observa-se, portanto,
algumas vantagens em relação a esta última opção, como a velocidade na montagem, o
maior controle de qualidade da produção, a redução do tempo de trabalho em campo e a
maior precisão das dimensões em função do processo de produção acontecer no ambiente
controlado da fábrica.
Na construção modular, as unidades modulares pré-fabricadas podem chegar
prontas para serem instaladas na obra, sendo possível que os módulos já venham com
acabamentos internos (cerâmicas, pinturas, dentre outros), louças sanitárias, bancada e
instalações elétrica/hidráulica.

Tipos de montagem: Balloon Framing e Platform Framing


Ambos os tipos de montagem podem ser usados para o método Stick ou por
painéis. No tipo Balloon (Figura 4-4) a estrutura do piso fica fixa aos montantes e os painéis
ultrapassam um pavimento. No tipo Platform (Figura 4-5) os pisos e as paredes são
construídos pavimento a pavimento.
74
Figura 4-4: Esquema de construção Balloon Frame. Figura 4-5: Esquema de construção Platform Frame.

Fonte: CBCA, 2012. Fonte: CBCA, 2012.

Fundações
As fundações são menos exigidas por serem a estrutura e os fechamentos mais
leves. A fundação deve ser contínua, tendo em vista que as cargas são uniformemente
distribuídas ao longo dos painéis. A definição do tipo de fundação a ser utilizada está
condicionada a diversos fatores, como o tipo de solo, a altura do lençol freático e a
topografia, devendo sua base estar nivelada e em esquadro para facilitar o processo de
montagem.

4.5.1 Radier
É um tipo de fundação rasa, que consiste em uma laje que transmite as cargas ao
solo, com vigas em torno da laje e sob paredes estruturais e colunas (Figura 4-6). É o tipo
de fundação usualmente utilizada para construção em LSF, principalmente para tipologias
residenciais. Se bem executado e nivelado, o radier pode atuar também como contrapiso.
75
Figura 4-6: Laje radier.

Fonte: CBCA, 2012.

Figura 4-7: Detalhe esquemático de ancoragem de painel estrutural a uma laje radier.

Fonte: THÉCNE, 2008.

O radier deve ter certo desnível no entorno para que a umidade e infiltração não
atinjam o painel, sendo necessária uma distância do contrapiso ao solo de pelo menos 15
cm e, além disto, também é importante que a calçada permita o escoamento de águas
pluviais e tenha inclinação em torno de 5%, conforme
Figura 4-7.
No radier são feitas as perfurações para instalações hidráulicas, elétricas e de rede,
sendo fundamental a precisão no posicionamento e diâmetro dos furos, evitando-se
incompatibilidades com os painéis, uma vez que os ajustes tornam-se complicados no caso
de grandes desalinhamentos, além de gerarem transtornos na obra (Figura 4-8).
76
Figura 4-8: (a) Ponto alocado corretamente. (b) Ponto alocado incorretamente.

(a) (b)
Fonte: THÉCNE, 2008.

4.5.2 Sapata corrida


Conforme Figura 4-9, este tipo de Figura 4-9: Detalhe de fundação em sapata corrida.
fundação é indicada para edificações
com paredes portantes, cujas cargas são
distribuídas continuamente ao longo
das paredes. A fundação em sapata
corrida é constituída por vigas de
concreto armado localizadas sob os
painéis estruturais, podendo o
contrapiso ser executado em concreto
ou perfis galvanizados.
Fonte: CBCA, 2012.

Fixação
A ancoragem permite a fixação da estrutura à fundação e evita a ocorrência de
deslocamentos quando da transmissão dos esforços. Para que esta interação
estrutura/fundação seja perfeita, a ancoragem deve ser bem dimensionada e executada,
sendo o tipo de fixação dos painéis à fundação definido no cálculo estrutural,
77

considerando-se as cargas atuantes, clima, vento dominante, dentre outros fatores. A


ancoragem pode se dar por ancoragem química, ancoragem com fita metálica ou
ancoragem com parabolt.
Para a ancoragem química com barra roscada (Figura 4-10 a), um orifício é feito na fundação
e a estrutura é fixada a ela com o uso da barra. Em seguida uma resina epoxídica auxilia na
aderência entre a barra e a fundação.

Outra possibilidade para a execução da ancoragem é com o uso de fita metálica


chumbada à fundação (Figura 4-10 b). Esta fita é de aço galvanizado e é chumbada à
fundação para fixação ao montante.

Figura 4-10: (a) Ancoragem química com barra roscada. (b) Ancoragem com fita metálica chumbada à
fundação.

(a) (b)
Fonte: THÉCNE, 2008.
Outra opção é perfurar a fundação e a ela fixar a guia da estrutura, com o uso de
parabolts, conforme Figura 4-11.

Figura 4-11: Parabolt para ancoragem por expansão.

Fonte: CBCA, 2012.

Painéis
Os painéis podem ser estruturais ou não estruturais (não possuem função estrutural
78

e não demandam a instalação de vergas). A concepção estrutural do LSF pressupõe que os


painéis trabalhem em conjunto travando-se entre si para gerar integridade estrutural. Os
painéis das paredes sãos compostos por montantes e guias, sendo os montantes formados
por perfis Ue, dispostos paralelamente, na vertical e distanciados, normalmente, a cada
400 mm ou 600 mm. Já as guias são compostas por perfis U e as uniões entre os perfis são
executadas com parafusos autoperfurantes e auto-atarraxantes. A Figura 4-12 mostra a
configuração geral de um painel típico em LSF.
Figura 4-12: Painel genérico.

Fonte: CBCA, 2012.

4.7.1 Painéis estruturais ou autoportantes


Os painéis estruturais suportam cargas horizontais (devido a ventos ou abalos
sísmicos) e as cargas verticais devido ao peso próprio da edificação (cargas permanentes)
e ao uso (cargas variáveis – pessoas, mobiliário...). As cargas são transferidas à fundação e
são necessárias vergas junto aos vãos que receberem janelas ou portas, conforme
Figura 4-13. Figura

4-13: Combinações para concepção de vergas.


79
Fonte: THÉCNE, 2008.
Os montantes precisam do auxílio de contraventamentos ou placas rígidas no plano
vertical, para resistirem às cargas horizontais e, neste diafragma rígido as placas funcionam
como paredes de cisalhamento.
Ao projetar é preciso se atentar Figura 4-14: Contraventamento executado com fita
de aço e chapa Gusset.
para o fato de que os painéis que
receberem contraventamento não
poderão receber aberturas para os
vãos de janelas ou portas. Estes
contraventamentos são feitos
geralmente com fitas de aço
galvanizado aparafusadas em chapas
Gusset, conforme Figura 4-14,
podendo assumir forma “K” ou “X”. Fonte: THÉCNE, 2008.

Lajes
Seguem o mesmo princípio dos Figura 4-15: Alinhamento da modulação de
montantes para paredes e vigas de piso.
painéis, sendo importante que as vigas de
piso e de cobertura coincidam no mesmo
alinhamento dos montantes a fim de
garantir melhor desempenho estrutural
(Figura 4-15). O sistema LSF permite a
abertura de vãos nas lajes para instalação
de escadas, conforme
80

Figura 4-16:
Fonte: THÉCNE, 2008.
Figura 4-16: Possíveis configurações para escada.

Fonte: THÉCNE, 2008.

4.8.1 Laje úmida


A laje úmida (Figura 4-17) é composta pela chapa metálica ondulada, que atua como
fôrma incorporada para o concreto, aparafusada às vigas.
Figura 4-17: Laje úmida.

Fonte: CBCA, 2012.

A aderência entre o concreto e as fôrmas pode acontecer de duas maneiras:


. Ligação mecânica por mossas nas fôrmas de aço trapezoidais (conforme Figura 4-18 a);
. Ligação por atrito devido ao confinamento do concreto nas fôrmas de aço com cantos
reentrantes (conforme Figura 4-18 b).
81
Figura 4-18: Lajes com fôrma de aço incorporada.

(a) (b)
Fonte: QUEIROZ, 2001.

Para melhor desempenho acústico é recomendada a instalação de material de


isolamento entre a fôrma de aço e o concreto, como lã de vidro sobre a chapa de aço
protegido por uma camada de polietileno (evitando umidificação da lã durante a
concretagem).
As principais vantagens desta solução são: a dispensa de escoramento, a redução
no desperdício de material, a facilidade de instalação (que acarreta rapidez na execução),
a facilidade na passagem de dutos e de fixação de forros, a redução e ou eliminação da
armadura de tração na região de momentos positivos, a maior segurança no trabalho (uma
vez que a fôrma funciona como plataforma de serviço e de proteção dos operários) e, por
fim, a praticidade de execução (já que a fôrma fica incorporada ao sistema, a etapa de
desforma é eliminada).
Como desvantagens destaca-se, em primeiro lugar, o fato desta solução não
condizer com a premissa de construção a seco do sistema LSF. Além disso, há necessidade
de utilização de forros suspensos (por razões estéticas) e a maior quantidade de vigas
secundárias (caso não se utilize o sistema escorado e ou fôrmas de grande altura, devido à
limitação dos vãos antes da cura do concreto).

4.8.2 Laje seca


Este tipo de laje é executada com placa OSB (mais leve) ou com placa de madeira
laminada, recebendo ou não revestimento cimentício (recomendado para áreas úmidas),
82

conforme Figura 4-19. Os pisos também são estruturados por perfis galvanizados, porém
dispostos na horizontal.
Como vantagens destaca-se: a Figura 4-19: Laje seca.

menor carga, a dispensa do uso de


água e maior velocidade na execução.
Assim como a laje úmida, também são
necessárias recomendações para
melhor desempenho acústico, como o
uso de lã de vidro entre vigas e manta
de polietileno expandido entre o
contrapiso e a estrutura. Fonte: CBCA, 2012.

Cobertura
A cobertura confere proteção contra intempéries e ainda tem função estética,
sendo composta pelo entelhamento (que pode ser de telhas cerâmicas, metálicas, de
fibrocimento, shingle...), pelo engradamento (ripas, caibros, tesouras, treliças e
contraventamentos) e pelo sistema de escoamento de águas pluviais (condutores, calhas
e rufos). As telhas cerâmicas e shingle precisam ser apoiadas sobre placas de OSB e
receberem proteção por manta de impermeabilização.
A cobertura com LSF segue a mesma concepção de um telhado comum, de madeira,
porém a estrutura é constituída pelos perfis galvanizados. Para execução da cobertura são
utilizados também os perfis U e Ue, devendo ser prevista a sustentação do peso próprio,
além de forros, material de isolamento, instalações, vento, neve...Os rufos e os beirais
devem ter dimensão maior que 600mm e, as tesouras, assim como os painéis, podem ser
também pré-fabricadas, conferindo maior precisão e agilidade ao processo. A Figura 4-20
Figura 4-20 a Figura 4-22 ilustram algumas configurações para montagem do
engradamento e substrato de apoio para cobertura.
83
Figura 4-20: Beiral com Figura 4-21: Telhado de Figura 4-22: Apoio de OSB para
prolongamento do banzo quatro águas composto por sustentação de telhas cerâmicas.
superior das tesouras. caibros.

Fonte: THÉCNE, 2009. Fonte: THÉCNE, 2009. Fonte: THÉCNE, 2009.

Fechamento Vertical
O fechamento vertical é composto pelas vedações internas e externas à edificação,
e deve atender à ISO 6241, garantindo os seguintes quesitos: segurança estrutural,
segurança quanto ao fogo, estanqueidade, conforto térmico/acústico, conforto visual,
adaptabilidade ao uso, higiene, durabilidade e economia.
No Brasil os fechamentos mais utilizados são placas de OSB, cimentícias e de gesso
acartonado (internamente).

4.10.1 Placa OSB


A placa de OSB pode ser usada como vedação vertical (interna e externa), forro,
piso, ou ainda como substrato de apoio para a cobertura do telhado. Necessita de
acabamento nas áreas externas e tratamento contra xilófagos e umidade. Tem boa
resistência mecânica e padronização dimensional, sendo útil como diafragma rígido em
painéis estruturais ou como laje de piso. É mais aplicado externamente, uma vez que,
internamente o gesso acartonado mostra-se mais adequado, por possuir melhor
desempenho térmico/acústico e estético. Recebe acabamentos como argamassado,
cimentício, madeira ou Siding Vinílico (o qual se adapta melhor ao OSB e permite uma
execução mais rápida e limpa, se comparada a acabamentos com argamassa com pintura
ou cerâmica). As Figura 4-23 a Figura 4-27 ilustram este tipo de fechamento vertical.
84
Figura 4-23: Fachada com acabamento externo em Figura 4-24: Impermeabilização das placas de
OSB. OSB desta mesma fachada, com polietileno.

Fonte: CBCA, 2012. Fonte: CBCA, 2012.

Figura 4-25: Instalação de Siding Vinílico. Figura 4-26: Figura 4-27: Fachada com
Revestimento das placas acabamento argamassado e
de OSB com argamassa juntas de dilatação.
aplicada sobre tela tipo
deployée.

Fonte: CBCA, 2012. Fonte: CBCA, 2012. Fonte: CBCA, 2012.

4.10.2 Alvenaria
A interface deste fechamento com a estrutura é mais difícil, a fim de que a edificação
tenha boa eficácia quanto à proteção das intempéries. Outro aspecto é que este tipo de
fechamento não condiz com a ideia de construção industrializada, implícita no sistema LSF,
que propõe uma execução mais rápida e “seca”, com otimização do trabalho no canteiro
85

de obras (Figura 4-28).


Figura 4-28: Desenho esquemático de fechamento em alvenaria.

Fonte: CBCA, 2012.

4.10.3 Placas cimentícias


As placas cimentícias (Figura 4-29) podem ser usadas como fechamento interno
(especialmente em áreas molhadas) ou externo e também como piso, sendo necessário
um substrato para apoio. Esta é uma opção de fechamento que possui grande
compatibilidade com o sistema LSF, por apresentar leveza, pequena espessura, resistência
estrutural, baixa condutividade térmica, resistência a xilófagos e a microorganismos,
durabilidade, por ser impermeável e incombustível e, por fim, por favorecer a modulação
e aplicação de acabamentos diversos.
Ao instalar as placas, deve-se atentar para alguns aspectos, como evitar a
coincidência de juntas internas e externas (a); evitar a ocorrência de todos os vértices no
mesmo ponto das juntas verticais (b) e se evitar a coincidência de juntas de placas e de
painéis (c), conforme Figura 4-30:
86
Figura 4-29: Fechamento externo com placas cimentícias.

Fonte: CBCA, 2012.

Figura 4-30: Recomendações na instalação das placas cimentícias.

87

Fonte: THÉCNE, 2008.


4.10.4 Gesso acartonado
O gesso acartonado é usado no fechamento interno e divisórias internas. Em
ambientes sujeitos à umidade por tempo limitado de forma intermitente é aceitável o uso
de placas de gesso resistentes à umidade.

Instalações
Basicamente as instalações hidráulicas e elétricas não diferem das instalações em
edificações convencionais, que utilizem outro sistema construtivo, uma vez que os
materiais utilizados para tubulação são os mesmos, porém, deve-se atentar para o fato de
que é necessário evitar corrosão galvânica entre as tubulações de cobre (usadas para água
quente e gás) e os perfis de aço, sendo importante o uso de espaçadores plásticos para
isolamento.
Existem no mercado materiais elétricos e hidráulicos específicos para uso em gesso
acartonado ou LSF, porém, os materiais convencionais podem ser utilizados normalmente
e os critérios para perfuração de vigas de piso e montantes para passagem das instalações
são normatizados pela NBR 15253 (ABNT, 2005). As Figura 4-31 e Figura 4-32 mostram
algumas instalações elétricas executadas em obra.
Figura 4-31: Caixa de luz fixada a montante. Figura 4-32: Passagem de conduíte por viga de
laje.

Fonte: THÉCNE, 2008. Fonte: THÉCNE, 2008.

Eventualmente, em função da magnitude do furo necessário para passagem de


tubulação ou conduíte, é necessário que o calculista responsável avalie a necessidade de
88

reforço na região da viga de piso ou de cobertura e, conforme o caso, optar pela adoção
de treliças ou tesouras, que possuem espaço entre os perfis, permitindo a passagem das
instalações sem a necessidade de furações.
Os painéis funcionam como shafts, o que facilita a manutenção e correção de
eventuais interferências durante a obra. Para evitar que a vibração das tubulações seja
transmitida à estrutura, o que causa um efeito indesejável e pode ocasionar perfurações, é
importante a fixação por braçadeiras ou introdução de espuma ou peças plásticas
especiais.
A racionalidade construtiva preconizada pelo sistema LSF se apresenta também nas
instalações, pela facilidade de execução e manutenção das mesmas, diferentemente da
construção convencional, com alvenaria em blocos, que gera desperdícios durante a
execução desta etapa da obra.

89
INTERAÇÃO AMBIENTE PRODUTIVO X ARQUITETO

Empresa Flasan
A partir das experiências estudadas anteriormente, foi proposta uma pesquisa que
pudesse verificar, no ambiente de produção da arquitetura pré-fabricada, como poderia
ocorrer uma relação entre o arquiteto e a indústria, com especial foco no segmento de
habitações customizáveis. Optou-se pela empresa Flasan (com escritório em Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil), que atua do detalhamento da estrutura em LSF à execução
da obra e disponibiliza seus arquitetos para suporte ao desenvolvimento de projetos
arquitetônicos. Basicamente, foi uma oportunidade de avaliar o potencial do sistema
construtivo LSF para um estudo de habitação pré-fabricada com possibilidades de CDM; e
avaliar, também, como os processos projetuais são impactados por uma relação estreita
com o ambiente de produção, mais do que simplesmente compreender o sistema
construtivo empregado pela empresa.
Para uma primeira abordagem a respeito da tecnologia de produção da empresa foi
aplicado um questionário aberto (Apêndice A). As informações coletadas a partir das
perguntas estabelecidas, que guiaram a entrevista, estão aqui discorridas, e sintetizadas
no fluxograma a seguir:

90
91
A Flasan atua com o detalhamento e cálculo de estruturas em LSF (sendo a maioria
residências), além da fabricação dos perfis formados a frio, que são produzidos na fábrica
localizada em Oliveira _ MG. A funcionária entrevistada, Janiny Oliveira Melo, arquiteta da
empresa e que desempenha funções de gerente de projetos e orçamento. Relatou uma
experiência na construção de 46 Unidades Municipais de Educação Infantil, as chamadas
UMEIs, ressaltando que a Flasan também atua com obras.
A prestação de serviço varia conforme interesse do contratante, havendo situações
em que também são fornecidos transporte e montagem da edificação, sendo mais atrativo
firmar contratos com o maior número de serviços. Janiny destaca que a maioria dos clientes
opta apenas pela aquisição da estrutura, mas que a empresa também oferece o
fornecimento dos fechamentos verticais já com enchimento interno ou mesmo os kits com
os parafusos para montagem.
Quanto ao perfil de clientes, a arquiteta responde que são pessoas físicas ou
jurídicas, captados, em sua grande maioria, por meio da parceria com arquitetos, uma vez
que a empresa não trabalha com o desenvolvimento de projeto arquitetônico.
A escolha por adotar o sistema construtivo LSF parte muito dos arquitetos parceiros
da empresa, e não de seus clientes, que muitas vezes desconhecem o sistema, com
exceção dos clientes com perfil de maior poder aquisitivo, que em viagens ao exterior
tiveram contato com este tipo de construção industrializada.
Questionada quanto à possibilidade de customização dos projetos, Janiny identifica
que este aspecto varia conforme a forma de trabalho do arquiteto parceiro e quanto à
possibilidade de ampliação futura da residência, ressaltando ainda que esta é uma
característica favorável do LSF e que há uma arquiteta parceira que sempre utiliza este
conceito em seus projetos.
Os principais perfis utilizados são U (para guias) e Ue (para montantes), cujas almas
têm dimensões preferenciais de 89 mm e 200 mm (mais usado para lajes). Janiny destaca
uma situação em que foi necessário adaptar a perfiladeira para produção de perfis com
alma de 70 mm, em função de uma exigência presente no contrato para construção de
92

telhados da edificação da Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).


Na fábrica em Oliveira, as bobinas para perfilação dos perfis são adquiridas de
empresas como a Usiminas, Arcelor ou mesmo importadas da China (principalmente até
2010) e já são slitadas (com filetes que permitem o corte nas dimensões específicas para
perfilar). A Flasan tem uma capacidade de produção de 150 toneladas/mês, por turno, de
perfis de aço formados a frio e a fabricação destes perfis ocorre simultaneamente ao
projeto, sendo o prazo para desenvolvimento do mesmo variável conforme sua
complexidade.
Os projetos seguem a malha de 400 mm ou 600 mm, sendo a primeira opção mais
usada por baratear a estrutura e em função da necessidade de coordenação com
componentes como azulejos ou placas cimentícias, cujos fabricantes só dão garantia para
instalação segundo este espaçamento. Janiny enfatiza a importância de que esta
modulação de 400 mm seja seguida para que se evite desperdícios, relatando que muitas
vezes os arquitetos parceiros enviam um projeto arquitetônico que não segue esta malha.
Quanto aos fechamentos horizontais, a opção adotada pela empresa é a construção
a seco, uma vez que as lajes úmidas, em função do peso do concreto, sobrecarregam a
estrutura e, consequentemente, gera aumento de custo – explica Janiny.
Para os fechamentos verticais externos, em geral utiliza-se OSB com placa
cimentícia ou OSB com acabamento argamassado sobre tela, conforme característica
arquitetônica. Para fechamento interno as paredes são também em LSF, devido à
necessidade de travamento e/ou contraventamento, preferencialmente alocado nas
paredes de banheiro e cozinha, as quais recebem também as instalações hidráulicas.
Eventualmente utiliza-se divisórias em gesso acartonado, cujas principais dimensões
disponíveis no mercado são de 48 mm, 70 mm e 75 mm de largura, sendo mais utilizadas
pela Flasan as duas primeiras opções. Já as placas cimentícias e de OSB mais usadas pela
empresa têm 1200 mm x 2400 mm.
A construção é feita por sistemas não-proprietários e a cadeia de suprimentos varia
por projeto. Quando é firmado um contrato as informações são passadas para o setor
responsável por estoque e logística e verifica-se a disponibilidade dos componentes para
93

que se negocie prazo com o cliente. Para a empresa, trabalhar com um estoque reduzido
e fornecimento segundo demandas é mais vantajoso. Os principais itens a serem
gerenciados são: os perfis de aço, as placas de gesso acartonado e cimentícias e a lã de
vidro usada para enchimento.
A empresa segue normas americanas e alemãs, além de diretrizes como a Diretriz
SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas_ ver Anexo A), específica para sistema
LSF, que versa sobre a Avaliação Técnica de Produtos e estabelece requisitos e critérios
para qualidade do sistema quanto ao desempenho estrutural, segurança contra incêndio,
estanqueidade à água, desempenho térmico e acústico, durabilidade e manutenção. Janiny
sugere o uso de janelas de PVC, pois estas têm melhor estanqueidade à água do que janelas
de vidro temperado.
Os softwares utilizados são: o Autocad® (para o projeto de detalhamento) e o
FrameCAD Detailer®, que gera automaticamente o 3D da estrutura e um arquivo que é
enviado à perfiladeira para fabricação dos perfis. A Flasan não trabalha com a tecnologia
BIM, que facilita a identificação de incompatibilidades e otimiza o processo de projeto,
porém há busca por soluções integradas no trabalho entre o engenheiro calculista e
arquitetos da empresa e os arquitetos parceiros, responsáveis pelo projeto arquitetônico,
facilitando, assim, a solução de conflitos e comunicação quanto à alterações.
O detalhamento estrutural elaborado pela Flasan é composto pelas seguintes
informações:
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para painéis,
treliças e vigas de paredes autoportantes;
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para telhado
(tesouras, terças, ripas, etc.);
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para lajes secas;
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de contraventamentos e
ancoragens em LSF;
. Desenhos técnicos com detalhes típicos de composição de vergas, montagem de
contraventamentos, execução de ancoragens, travamentos e outros detalhes pertinentes
necessários para execução da estrutura da edificação em LSF;
94

. Desenhos técnicos de detalhamento em software FrameCAD Detailer® dos elementos


construtivos (painéis, treliças, tesouras, etc.);
. Arquivo de produção exportado (.fcp) para os elementos detalhados no software
FrameCAD Detailer® na versão para máquina do cliente;
. Lista de quantitativo de materiais pertinentes a estrutura de LSF projetada.
Os painéis podem ser fornecidos montados ou desmontados. Como exemplo, foi
citado o fornecimento para um cliente em Maceió cujos painéis foram desmontados para
que o frete se tornasse mais viável.
A empresa estabelece parcerias com instituições como a Universidade Federal de
Minas Gerais para uso do laboratório para realização de testes de verificação estrutural.
Para inserção de seu produto no mercado, utiliza de estratégias como parcerias com o
CBCA, Usiminas, arquitetos, órgãos públicos e subempreitadas. O cliente pessoa física
também procura os serviços e é uma intenção de que a divulgação passe a ser feita de
forma mais ativa.
É feito um feedback com os clientes, porém as informações coletadas não estão
ainda sistematizadas. É intenção da empresa futuramente desenvolver uma plataforma no
site ou num aplicativo para que os clientes façam a avaliação do produto fornecido. Por
enquanto este registro é feito por email, e é fundamental para incremento de qualidade ao
processo.
A Flasan disponibilizou registro fotográfico de um dos empreendimentos realizados
pela empresa, uma residência construída em LSF num condomínio em Nova Lima, o Lagoa
do Miguelão C. Nesta obra a Flasan foi subcontratada e forneceu cálculo, projeto de
detalhamento, perfis e montagem da estrutura, sendo as demais etapas da obra
subcontratadas e gerenciadas pelo engenheiro responsável. A seguir, da Figura 5-1 a Figura
5-22, o processo de construção da residência: 95
Figura 5-1: Fundação e preparação dos painéis Figura 5-2: Montagem da estrutura.
para montagem.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-3: Montagem da estrutura, em destaque o Figura 5-4: Detalhe de conexão aparafusada.
contraventamento.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-5: Montagem da estrutura. Figura 5-6: Montagem da estrutura.


96

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.


Figura 5-7: Montagem com auxílio de
guindaste. Figura 5-8: Montagem com auxílio de guindaste.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-9: Estrutura montada e instalação de placas Figura 5-10: Detalhe de instalações elétricas.
de OSB na cobertura.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

97
Figura 5-11: Detalhe da calha para suporte de Figura 5-12: Instalação de fechamento vertical externo
instalações. (placas cimentícias).

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-13: Detalhe de fechamento vertical e Figura 5-14: Montagem final da estrutura.
forro em placas cimentícias.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

98
Figura 5-15: Ambiente interno (cozinha). Figura 5-16: Ambiente interno (banheiro).

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-17: Residência principal finalizada. Figura 5-18: Residência principal finalizada.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

Figura 5-19: Residência principal finalizada. Figura 5-20: Residência principal finalizada.
99

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.


Figura 5-21: Residência principal finalizada, vista Figura 5-22: Residência auxiliar finalizada, vista
geral. geral.

Fonte: Arquivo Flasan, 2008. Fonte: Arquivo Flasan, 2008.

A partir da análise das informações coletadas na entrevista, seguiu-se a etapa do


estudo prático, considerando-se o modo de produção da empresa e o processo de projeto
do arquiteto na elaboração do projeto arquitetônico para edificação em estrutura metálica.

100
PROPOSTA PROJETUAL EM LSF CONSIDERANDO A
CUSTOMIZAÇÃO DA MORADIA

Condicionantes de Projeto
As etapas anteriores desta pesquisa serviram para dar suporte ao estudo prático,
em que optou-se pela investigação da pré-fabricação a partir da elaboração de projeto
arquitetônico para residências unifamiliares em LSF, com ciclo aberto, podendo ser a
elaboração de projeto arquitetônico para habitação multifamiliar alvo de investigação
específica.
O projeto deste estudo prático aplica um sistema pré-fabricado em LSF com
vedação por painéis, como uma proposta para a produção seriada de habitações, segundo
o modo de produção da Flasan, considerando sistemas de construção abertos que
favoreçam a CDM, permitindo o atendimento de especificidades dos usuários, ainda que
sob processos de produção em série.
Como estratégias para CDM, será possível que o usuário obtenha variações de
volumetrias e fachadas dentro de um padrão, podendo ainda optar dentre cores,
componentes e demais materiais disponíveis na cadeia de suprimentos, além de poder
ampliar/subdividir a casa, mantendo-se uma harmonia visual no todo.

Programa de Necessidades
Para elaboração do programa de necessidades, foi levado em consideração o fato
de que, atualmente, existem outras formas de morar que fogem ao núcleo familiar
convencional. Tramontano (1995) expõe que a dinâmica da vida em sociedade se
modificou, formando novos grupos familiares. Novas relações se estabeleceram, as
famílias tendem a ter menos filhos (ou mesmo optam por não tê-los), a expectativa de vida
do ser humano aumentou, a mulher assumiu uma nova posição na família e no mercado de
trabalho e, consequentemente, o modo de morar se modificou e foi adaptado à esta nova
101

realidade. A setorização rígida para o programa de uma habitação não se restringe mais
aos tradicionais setores social, íntimo e de serviços; logo, a cozinha deixou de ser um
ambiente de serviço e passou a integrar-se com a sala, fazendo parte de um espaço para
convívio social e familiar. Além deste ambiente, o banheiro pode ser visto como um espaço
para relaxamento e, neste sentido, bastante equipado, sem falar nos homeoffices, que
permitem que trabalhadores autônomos tenham em casa toda a estrutura de um
escritório.
Diante de tantas transformações, a flexibilidade dos espaços é essencial para que a
moradia acompanhe estas novas formas de habitar, num espaço que se adapte
continuamente, conforme necessário. Assim, deferentes tipologias para conjuntos
habitacionais favorecem o atendimento a individualidades.

Partido Arquitetônico
O projeto foi elaborado seguindo a proposta do escritório Resolution 4 Architecture,
apresentado em um dos estudos de caso e a ideia é permitir a criação de diferentes
combinações para cada projeto, ainda que o sistema construtivo e módulos básicos sejam
os mesmos.

Processo de Projeto
O projeto arquitetônico para as residências foi pensado sobre a malha de 400 mm x
400 mm, utilizada pela Flasan (conforme constatado em entrevista) e com método
construtivo por painéis.
Seguindo este raciocínio foram criados os módulos básicos, que são os ambientes
da habitação, podendo ser aumentados ou diminuídos conforme o uso de múltiplos ou
submúltiplos da malha de 400 mm x 400 mm, permitindo ainda variações de layout. O
cliente, portanto, “monta” o seu programa de necessidades a partir destes módulos
básicos. As Figura 6-1 a Figura 6-5 representam alguns dos módulos sugeridos dentre várias
possibilidades do catálogo disponível para o cliente, o que não impede, portanto, que
outros módulos possam ser adquiridos.
102
MÓDULOS BÁSICOS DE QUARTOS

Figura 6-1: Módulos básicos de quartos.


Fonte: Autor.

MÓDULOS BÁSICOS DE BANHEIROS E LAVABO

Figura 6-2: Módulos básicos de banheiros/lavabo.


Fonte: Autor.
103
MÓDULOS BÁSICOS DE AMBIENTES DE COZINHA E ÁREA DE SERVIÇO

Figura 6-3: Módulos básicos de cozinha/área de


serviço. Fonte: Autor.

MÓDULOS BÁSICOS DE SALA DE ESTAR/JANTAR

Figura 6-4: Módulos básicos de sala de


estar/jantar. Fonte: Autor.
104
MÓDULOS BÁSICOS PARA AMPLIAÇÕES
(Closet, Escritório, Garagem, Escada, Corredor)

Figura 6-5: Módulos básicos para ampliações. Fonte: Autor.


* Os módulos básicos correspondem a área mínima para circulação/mobiliário;
** Cada quadrado da malha tem 40cm², sendo esta malha usada para ampliação/subdivisão;
*** Módulo de escada: Piso: 28cm; Espelho: 18cm; Patamar: 160 cm x 80 cm.

Após a escolha de alguns dos módulos básicos do catálogo se inicia o projeto,


mediante a combinação dos ambientes, resultando em variadas volumetrias. A seguir
destacam-se duas possíveis tipologias (Figura 6-6 a Figura 6-18), e uma delas será detalhada
a fim de que seja explicitado o funcionamento do sistema construtivo, bem como os ajustes
necessários para a execução de futuras expansões.
105
Figura 6-6: Bloco inicial. TIPOLOGIA 01
. Tipologia básica formada por bloco único;
. Área inicial: 47,36 m²;
. Área total com expansão: 135,45 m²;
. Número de pavimentos: 01;
. Expansão sugerida: pavimento superior e
laterais;

Fonte: Autor. . Ambientes iniciais: Banheiro, quarto, sala


de estar, cozinha e área de serviço;
. Ambientes utilizados na expansão:
garagem, escritório, sala de jantar, escada,
02 quartos, banheiro (suíte) e closet.

Figura 6-7: Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 01.

Fonte: Autor.

106
Módulos utilizados para expansão:
Figura 6-8: Módulos básicos para expansão da Tipologia 01(pavimento térreo).

Fonte: Autor.
Figura 6-9: Módulos básicos para expansão da Tipologia 01(pavimento superior).

107

Fonte: Autor.
Figura 6-10: Configuração final após expansões.

Fonte: Autor.

Figura 6-11: Expansão da Tipologia 01(pavimentos térreo e superior).

Fonte: Autor.
108
TIPOLOGIA 02
Figura 6-12: Bloco inicial. . Tipologia básica formada por dois blocos;
. Área inicial: 55,10 m²;
. Área total com expansão: 137,85 m²;
. Número de pavimentos: 02;
. Expansão sugerida: pavimento superior e
laterais;
. Ambientes iniciais: sala de estar, cozinha,
área de serviço, lavabo, escada, quarto e
banheiro (suíte);
. Ambientes utilizados na expansão: 02
quartos, banheiro (suíte), escada, sala de
Fonte: Autor. jantar, garagem, lavabo, escritório.

Figura 6-13 Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 02.

109

Fonte: Autor
Figura 6-14: Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 02 (pavimento térreo).

Fonte: Autor.

Figura 6-15: Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 02 (pavimento superior).

Fonte: Autor.
110
Módulos utilizados para expansão:
Figura 6-16: Módulos básicos para expansão da Tipologia 02 (pavimento superior).

Fonte: Autor.

Figura 6-17: Configuração final após expansões.

Fonte: Autor.
111
Figura 6-18: Expansão da Tipologia 02 (pavimentos térreo e superior).

Fonte: Autor.
Alguns aspectos técnicos foram discutidos com os arquitetos da Flasan, como o
tamanho máximo a ser adotado para os painéis montados (em função do caminhão
utilizado para transporte), a configuração dos perfis entre painéis, o contraventamento e,
em específico para as futuras ampliações, o que deveria ser previsto em relação às
instalações e reforço estrutural para remoção de paredes.
Segundo os arquitetos, o ideal é que os painéis cheguem a campo montados e no
projeto é necessário definir as dimensões conforme a limitação do tamanho do caminhão
a ser utilizado para o transporte. Segundo esta lógica, são utilizados então painéis de no
máximo 2,40 m de largura por uma altura variável conforme pé-direito adotado e caminhão
utilizado, os quais têm carroceria em geral de 6 m, 8 m ou 12 m, devendo ser também
considerado o tipo de carreta permitida a acessar o condomínio/bairro onde a edificação
será construída.
A seguir discute-se em maior detalhe a Tipologia 01, desde sua configuração inicial
até a expansão sugerida nesta proposta. O processo de construção foi dividido em 06
112

etapas (configuração inicial_ Figura 6-19 a Figura 6-33), mais 09 etapas para expansão do
núcleo básico (Figura 6-34 a Figura 6-54), visando explicar esquematicamente as fases da
obra, lembrando que, todas as questões técnicas comentadas no capítulo 04, sobre o
sistema construtivo LSF, se aplicam a este projeto.
Figura 6-19: Vista geral da estrutura finalizada _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

ETAPA 01: EXECUÇÃO DA FUNDAÇÃO OU MONTAGEM DA ESTRUTURA DE BASE


A obra se inicia com a execução da fundação em radier (terreno plano) ou com a
construção da estrutura de base (terrenos acidentados ou em situações em que haja a
intenção de afastar a edificação do solo), sendo esta opção uma alternativa para evitar
possíveis danos que a umidade poderia causar ao sistema construtivo. O uso desta
estrutura de base flexibiliza e racionaliza a obra, na medida em que permite a construção
em terrenos com diversas topografias e evita que sejam feitas grandes movimentações de
terra. Os perfis metálicos utilizados são laminados, “I” e “H”, com fundação em sapatas.
Na Figura 6-21 os alicerces estão representados com altura de 1,50 m, sendo esta apenas
uma representação esquemática. No caso da necessidade de adequação a um terreno em
aclive/declive, a solução projetual é ajustar a medida destes perfis conforme a topografia.
113
Figura 6-20: Fundação em radier _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

Figura 6-21: Estrutura de base para vencer topografia acidentada _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

ETAPA 02: MONTAGEM DOS PAINÉIS


A próxima etapa é a montagem dos painéis, conforme Figura 6-22. Os painéis
utilizados têm dimensão máxima da 2,40 m, segundo o padrão adotado pela Flasan. Estes
painéis já chegam a obra montados, prontos para instalação e de acordo com a
especificação do projeto de detalhamento, sendo alguns já compostos por
contraventamento, vergas e parapeitos. No caso da opção de construção com fundação
114

em radier, esta já serve como contrapiso do pavimento térreo. Para a opção de construção
com o uso da estrutura de base (Figura 6-23) é necessária a montagem da malha de piso
previamente a instalação dos painéis e execução de laje seca com uso de placas de OSB
(maiores detalhes da execução do piso, ver no Anexo A).
Figura 6-22: Instalação dos painéis (opção com fundação em radier)_ configuração inicial.

Fonte: Autor.

Figura 6-23: Montagem da malha de piso (opção com estrutura de base) _ configuração inicial.

Fonte: Autor.
115
Encerrando esta etapa, sucede-se a instalação das treliças de reforço estrutural
(Figura 6-24), conforme previsto em projeto, para que seja possível a remoção de vedação
para ampliação da habitação, ou mesmo para conjugação de ambientes internos.
Figura 6-24: Instalação das treliças _ configuração inicial.

Fonte: Autor.
ETAPA 03: MONTAGEM DAS GUIAS SUPERIORES E VIGAS DE PISO
As guias e vigas de piso vão compor a cobertura do pavimento térreo e, na ocasião
de ampliação da habitação com o acréscimo de um segundo andar, estas servirão de
apoio a laje seca/piso.
Figura 6-25: Instalação das guias superiores _ configuração inicial.

116

Fonte: Autor.
Figura 6-26: Instalação das vigas de piso _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

ETAPA 04: COBERTURA


Para execução da cobertura, é feita primeiramente a instalação das tesouras
metálicas e painéis, que virão a compor a platibanda. Para finalizar, segue a instalação de
caibros e ripas metálicas e, por fim, a cobertura (Figura 6-28 a Figura 6-30), que pode
receber entelhamento ou apenas impermeabilização como acabamento final. Para este
tipo de impermeabilização de laje, a manta Alwitra® é uma boa opção, devendo ser
instalada sobre as placas de OSB.
Figura 6-27: Ralo para escoamento
Para instalação desta manta, a declividade de água pluvial.
mínima indicada para o caimento do telhado é de 2%
e a captação das águas pluviais é feita por ralos na
extremidade da laje, com encaixe específico para a a
manta Alwitra®. Em seguida, a água captada por
117

estes ralos é direcionada a tubulação.


Fonte: ALVWITRA15

15
Disponível em <http://www.alwitra.com/uploads/2016-12-09-18-41-15.jpg>
Figura 6-28: Instalação das tesouras e painéis que compõem a platibanda _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

Figura 6-29: Instalação dos caibros _ configuração inicial.

Fonte: Autor.
118
Figura 6-30: Instalação das ripas e cobertura _ configuração inicial.

Fonte: Autor.
ETAPA 05: ESQUADRIAS
Segue a instalação das esquadrias, destacando-se que, esta é uma das etapas da
obra que pode acontecer de modo simultâneo a outras etapas, uma vez que, esta é uma
das premissas do sistema construtivo LSF. Portanto, a sequência de montagem ilustrada
neste trabalho visa ilustrar de forma didática o processo construtivo mas não eliminando a
construção simultânea.

Figura 6-31: Instalação das esquadrias (internas e externas) _ configuração inicial.

119

Fonte: Autor.
ETAPA 06: FIXAÇÃO DAS PLACAS DE VEDAÇÃO
Por fim, a instalação das placas de vedação (interna e externamente) e que,
conforme comentado, também pode acontecer de modo simultâneo a outros serviços, a
medida que a estrutura e instalações (elétrica, hidráulica e de rede) vão sendo concluídas.
A Figura 6-32 representa esquematicamente as camadas que compõem as vedações (mais
detalhes ver Anexo A). Importante lembrar que, conforme comentado no capítulo 04, as
juntas das placas não devem coincidir com as juntas dos painéis (ver Figura 4-30).
Figura 6-32: Instalação das vedações _ configuração inicial.

Fonte: Autor.

Figura 6-33: Perspectiva do módulo finalizado_ configuração inicial.

Fonte: Autor.

Para ampliação/customização da habitação será feita simulação em um terreno com


120

desnível na parte posterior da edificação, de modo que possa ser exemplificada a solução
projetual adotada para implantação em topografias acidentadas. O processo construtivo
é o mesmo em relação ao módulo inicial, sendo destacados aqui os ajustes necessários para
ampliação. Seguem as etapas:
ETAPA 07: EXECUÇÃO DA FUNDAÇÃO OU MONTAGEM DA ESTRUTURA DE BASE
Figura 6-34: Execução da fundação em radier (porção plana do terreno) e estrutura de base (porção
em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.

Figura 6-35: Execução da fundação em radier (porção plana do terreno) e estrutura de base (porção
em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.
121
ETAPA 08: MONTAGEM DAS GUIAS E VIGAS DE PISO
Montagem das guias e vigas de piso, dando suporte à laje seca na porção posterior
do terreno.

Figura 6-36: Montagem da malha de piso (porção em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva
frontal.

Fonte: Autor.

Figura 6-37: Montagem da malha de piso (porção em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva
posterior.

Fonte: Autor.
122
ETAPA 09: MONTAGEM DOS PAINÉIS
Segue a instalação dos painéis pré-fabricados.

Figura 6-38: Montagem dos painéis _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.

Figura 6-39: Montagem dos painéis _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.
ETAPA 10: MONTAGEM DAS GUIAS SUPERIORES, VIGAS DE PISO, LAJE SECA E ESCADA DO
PAVIMENTO SUPERIOR
Em sequência, segue a instalação das guias e vigas de piso do pavimento superior,
dando suporte a laje seca dos módulos de ampliação. Nesta etapa insere-se ainda a escada
interna.
123
Figura 6-40: Montagem das malhas de piso e treliça estrutural _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.

Figura 6-41: Montagem das malhas de piso e treliça estrutural _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

Figura 6-42: Instalação da laje seca e escada interna _ ampliação, perspectiva frontal.
124

Fonte: Autor.
Figura 6-43: Instalação da laje seca e escada interna _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

ETAPA 11: REMOÇÕES NO MÓDULO INICIAL


Nesta etapa o foco são os serviços de remoções (da cobertura/ perfis da platibanda
e vedações internas) no módulo inicial. Por fim o pavimento superior está pronto para
receber os painéis, seguindo a próxima etapa.

Figura 6-44: Remoção da cobertura e vedações internas do módulo inicial e instalação de malha de
piso sobre este _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.
125
Figura 6-45: Remoção da cobertura e vedações internas do módulo inicial e instalação de malha de
piso sobre este _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

ETAPA 12: MONTAGEM DOS PAINÉIS DO PAVIMENTO SUPERIOR

Figura 6-46: Instalação dos painéis no pavimento superior _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor. 126


Figura 6-47: Instalação dos painéis no pavimento superior _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

ETAPA 13: COBERTURA


A instalação da cobertura segue as mesmas fases de execução ocorridas no módulo
inicial.

Figura 6-48: Instalação da cobertura no pavimento superior _ ampliação, perspectiva frontal.

127

Fonte: Autor.
Figura 6-49: Instalação da cobertura no pavimento superior _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

ETAPA 14: ESQUADRIAS

Figura 6-50: Instalação das esquadrias (externas e internas) _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.
128
Figura 6-51: Instalação das esquadrias (externas e internas) _ ampliação, perspectiva frontal.

Fonte: Autor.

ETAPA 15: FIXAÇÃO DAS PLACAS DE VEDAÇÃO E SERVIÇOS FINAIS


Por fim, a instalação das placas de vedação (interna e externamente) e instalações
(elétrica, hidráulica e de rede). As camadas que compõem as vedações são as mesmas do
módulo inicial (mais detalhes ver Anexo A).

Figura 6-52: Instalação das vedações e serviços finais _ ampliação, perspectiva frontal.

129

Fonte: Autor.
Figura 6-53: Instalação das vedações e serviços finais _ ampliação, perspectiva posterior.

Fonte: Autor.

Figura 6-54: Interior do pavimento superior _ ampliação, perspectiva.

Fonte: Autor.
130
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Todas as especificações técnicas ocorrem conforme os detalhes construtivos
apresentados no capítulo 04. Na Figura 6-55 destaca-se possibilidades de conexões dos
perfis, solução esta que pode ser adotada para conexão entre os painéis do núcleo básico
e os módulos expandidos.
Figura 6-55: Ligações entre perfis de Light Steel Frame.

Fonte: Metálica16

131

16 Disponível em: < http://www.metalica.com.br/padronizacao-de-paineis-em-light-steel-frame>


RESULTADOS
No contexto da construção pré-fabricada a importância do processo de projeto torna-
se ainda mais evidente, uma vez que este tipo de sistema construtivo não admite
improvisações pois, do contrário, a eficácia prevista quanto a custos, tempo de execução
e qualidade do produto final é comprometida. Ainda que inicialmente a pré-fabricação
possa não ser o caminho mais barato, a qualidade e os impactos ambientais podem ser
mais facilmente alcançadas através de um maior controle do produto.
Quanto ao projeto proposto no estudo prático, muitas vezes a economia em função
da escolha pelo sistema LSF não é tão significativa para tipologias residenciais. Em obras
de maior porte muitos custos são diluídos e é possível se recorrer a grandes fornecedores.
Entretanto, a utilização deste sistema para várias unidades habitacionais pode viabilizar a
proposta.
O uso de um núcleo básico expansível é uma excelente estratégia para customização,
mas, para que as expansões ocorram de modo funcional e sem comprometimento estético
ou de conforto (térmico/acústico), é essencial que a solução projetual adotada considere
o uso da modulação de maneira planejada, permitindo variar plantas e atender a um
público diversificado.
A customização acontece também não só na volumetria, mas também no tratamento
dado as fachadas e acabamentos internos. Esta é também uma estratégia que auxilia na
obtenção de grande variabilidade mediante opções de cores, componentes e materiais
diversos, dentro de uma cadeia de suprimentos em comum.
Por fim, através deste estudo prático foi possível a investigação do processo de projeto
para a construção pré-fabricada, a qual não precisa estar relacionada à monotonia e
repetição massiva, rigidez funcional, adaptabilidade. Logo, o desafio para os arquitetos não
é revolucionar, mas evoluir no processo de projeto para construção pré-fabricada,
cumprindo seu papel para vencer a barreira cultural que ainda existe quanto a estes
sistemas construtivos.
132
LIÇÕES ESTUDO PRÁTICO RESULTADO NO ESTUDO
Smitth (2010) PRÁTICO
1. Sistemas Na experiência deste projeto Lição atendida. Positivo.
proprietários desenvolvido para habitações em LSF
não favorecem
foi possível constatar na prática a
habitação de
massa maior eficácia de sistemas não
proprietários, pois mediante esta
estratégia aplicada ao projeto, é
facilitada a manutenção e ampliação
das residências, além de maior
flexibilidade para CDM, conferindo
variabilidade numa mesma linguagem
de Arquitetura e, além disso, o
processo de projetar sob a ótica do
modo de produção de uma empresa
atuante no mercado permitiu a
compreensão do seu modo de
trabalho integrado.
2. Pré-fabricação O modelo de produção da Flasan, Lição atendida. Positivo.
tem a ver com utilizado como referência para o O uso de método similar ao
projeto e desenvolvimento do estudo prático, adotado pelo Resolution 4
desenvolvimento coloca em evidência muito mais a favoreceu a criação de
de uma atuação no mercado com foco no tipologias e permite
tecnologia detalhamento de projeto e combinações diversas,
empreitada do que no ampliando as possibilidades
desenvolvimento de uma tecnologia de CDM.
em si. É importante planejar não só o
projeto mas também o modo como se
dará a produção e inserção do produto
no mercado. Exemplo de sucesso é o
caso do Resolution 4, que trabalha
133

com a ideia da criação de tipologias


com possibilidade de customização a
partir de um sistema padronizado.
3. Pré-fabricação Alguns estudos de caso utilizados Lição não atendida.
tem mais a ver como referência, como o Resolution 4 Negativo.
com um plano de e Bensonwood, representam modos Conforme comentado no
negócios do que de produção e de inserção no mercado item 2, o modelo de
com um produto de maneira bem sucedida. Em seus produção da Flasan trabalha
planos de negócios, estas empresas com detalhamento de
consideram a relação com os projeto e empreitada, e não
fornecedores já na etapa de projeto, com desenvolvimento de
de forma que planejamento e uma tecnologia em si, plano
produção sigam alinhadas. Outra de negócios ou mesmo
questão é o modo como é feito o financiamento para o
contrato com o cliente, que permite consumidor final.
que etapas como a preparação do
terreno e aquisição de materiais sigam
em paralelo. Por fim, a garantia ao
consumidor quanto à qualidade e
durabilidade do produto final.
4. Circunstâncias A empresa (Flasan) verifica desde o Lição atendida. Positivo.
devem justificar estudo preliminar a viabilidade para
a pré-fabricação execução com sistema LSF.
5. Pré-fabricação A empresa (Flasan) conta com uma Lição atendida. Positivo.
deve surgir de equipe multidisciplinar (arquitetos,
um processo engenheiros, técnicos, construtores,
integrado dentre outros profissionais), sempre
atualizando e compatibilizando
informações do projeto/execução.

134
CONCLUSÃO
Através do estudo prático desenvolvido em parceria com a Flasan, verificou-se que o
processo de projeto na construção em aço demanda maior integração entre os
profissionais envolvidos nas diversas disciplinas referentes ao projeto, sendo exigido maior
grau de detalhamento a fim de que se evitem incompatibilidades, uma vez que as soluções
projetuais para construção pré-fabricada estão muito mais diretamente relacionadas às
etapas de fabricação, transporte e montagem da estrutura do que em outros sistemas
construtivos. Neste sentido, o projeto simultâneo deve ser um conceito fundamental a ser
adotado, garantindo-se que sejam exploradas ao máximo as vantagens construtivas do
sistema em aço, dentre elas a construção mais limpa e rápida.
Ainda que atualmente prevaleça o desenvolvimento do projeto do produto, é
importante atentar para a investigação do processo de produção e o ciclo de vida útil e
amplo da construção. A flexibilidade permite maior versatilidade à construção e, para
tanto, é fundamental a discussão de processos de projeto e modos de produção com
estratégias para que, na prática, uma obra para adaptação, ampliação ou redução ocorra
com o menor impacto possível para o morador, tanto em relação quanto ao que representa
o inconveniente da gestão e execução de uma obra de reforma quanto à facilidade para
que a mesma ocorra.
Comprovou-se que, de fato, para atingir maior grau de customização o ideal é adotar
nas soluções projetuais um sistema de montagem contínuo e oferecer a possibilidade de
repertórios imprevisíveis. Além disso, é vantajoso o uso de sistemas não proprietários,
conforme Lição 01 de Smith (2010).
Apesar de a empresa acompanhada nesta investigação ter maior foco no
detalhamento estrutural dos projetos e na construção por empreitada, no estudo prático
foi possível investigar um método de produção similar ao adotado pelo Resolution 4,
buscando-se soluções projetuais eficazes e desenvolvimento da tecnologia, conforme
Lição 02 de Smith (2010).
135

A Lição 03 de Smith (2010) não foi verificada, uma vez que, conforme comentado, a
Flasan não trabalha com plano de negócios ou financiamento, e sim com projeto estrutural
e empreitadas.
Quanto às Lições 04 e 05 de Smith (2010), verificou-se a importância de se considerar
a viabilidade da construção em LSF, desde os estudos preliminares e a necessidade de
maior integração entre todas disciplinas referentes ao projeto, por conta do fluxo de
informações a serem compatibilizadas entre os membros de uma equipe multidisciplinar.
Como limitação deste trabalho, não foi possível aplicar a CM, uma vez que a empresa
Flasan utiliza uma malha quadricular para projetar mas não aplica os conceitos definidos
pela norma NBR 15873 (ABNT, 2010), o que coloca em evidência o fato de sua adoção não
estar ainda difundida no mercado. Mediante esta situação, foi definida como prioridade
acompanhar o processo de projeto segundo os moldes da empresa, ainda que a mesma
não aplique a norma em projeto.
Como sugestão para trabalhos futuros indica-se a investigação da prática da CM e do
projeto simultâneo num espaço amostral maior de empresas, sendo possível a coleta de
dados qualitativa e quantitativamente, aprofundando-se o estudo de soluções para o
processo de projeto da construção metálica. Outra abordagem interessante que se
tornaria complementar no estudo prático desse trabalho seria a investigação relacionada
aos custos para gestão e execução da obra.
Por fim, embora os requisitos técnicos interfiram diretamente em todas as etapas do
projeto, desde a concepção, as possibilidades construtivas do aço não são limitadas,
permitindo diferentes soluções e proporcionando customização. O sistema construtivo em
LSF pode oferecer autonomia ao usuário para decidir sobre preferências funcionais,
estéticas ou de outra ordem, desde que as soluções projetuais prevejam tais possibilidades
em projeto.
136
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137

DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO TÉCNICA DE PRODUTOS. DIRETRIZ SINAT. Sistemas Construtivos


Estruturados em Perfis Leves de Aço Zincado conformados a frio, com Fechamentos em Chapas
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VALE, B. Prefabs: A History of the UK Temporary Housing Programme. Londres: E & FN Spon, 1995.
140
APÊNDICE A

Questionário de entrevista com a empresa Flasan:


Data da entrevista: 02/03/2017
Funcionário entrevistado: Janiny Oliveira Melo
1. Quais as principais características do sistema construtivo utilizado (Steel Frame,
fechamentos horizontais/verticais...)?

2. Por quais etapas a empresa se responsabiliza


(projeto/fabricação/transporte/montagem/finalização)?

3. Quais perfis são utilizados nas construções?

4. O sistema utiliza painéis/módulos?

5. Como é o processo de fabricação?

6. Em média quanto tempo duram os processos de fabricação e montagem?

7. Os arquitetos participam do processo produtivo?

8. Há busca por soluções integradas (Arquitetura/Engenharia/fabricante/cliente)?

9. Os projetos permitem customização?

10. As casas podem ser ampliadas/modificadas após construídas?

11. Qual a tecnologia usada no projeto/fabricação (CAD, BIM)?

12. É feito algum feedback com os clientes?

13. Quais estratégias de marketing a empresa utiliza para inserção de seu produto no
mercado?

14. O sistema é aberto/proprietário?

15. Como é feito o gerenciamento da cadeia de suprimentos (fornecedores fixos/altera


por projeto)?

16. A empresa pode disponibilizar portfólio/imagens de algumas obras já realizadas?


141
ANEXO A

Sistema de Vedação Vertical Externa com Sistema de Vedação Vertical Externa com
revestimento de fachada em placas cimentícias. revestimento de fachada em placas de OSB com
face externa acabada.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

(a) Sistema de Vedação Vertical Interna com função estrutural. (b) Sistema de Vedação Vertical Interna
sem função estrutural.

(a) (b)
Fonte: Diretriz SINAT, 2016.
Sistema de Vedação Vertical Externa com contraventamento metálico.

142

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.


Sistema de piso composto por perfis leves de aço, placas de OSB e contrapiso de argamassa _
Áreas secas.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

Sistema de piso composto por perfis leves de aço, placas de OSB, contrapiso de argamassa e
camada de acabamento _ Áreas molhadas.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

Corte esquemático de Sistema de Vedação Vertical Corte esquemático de Sistema de


Externo com impermeabilização para áreas molhadas ou Vedação Vertical Externo com
molháveis. impermeabilização para áreas secas do
pavimento térreo.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.


143

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.


Corte esquemático de Sistema de Vedação Vertical Externo com impermeabilização para parede que
possui instalação hidráulica interna.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

Corte esquemático de Sistema de Vedação Vertical Interno com impermeabilização para parede que
possui instalação hidráulica interna.

Fonte: Diretriz SINAT, 2016.

144

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