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OURO PRETO - MG
2018
GEÓRGIA DE SOUZA OLIVEIRA
georgiasoliveira@yahoo.com.br
OURO PRETO – MG
2018
O482l Oliveira, Geórgia.
CDU: 624.014
Catalogação: www.sisbin.ufop.br
Dedico este trabalho a Deus, força maior que
sempre me ilumina na conquista de meus
objetivos, aos meus pais e meu irmão querido,
que sempre acreditaram em mim, confiando e
apoiando-me incondicionalmente.
AGRADECIMENTO
This thesis investigates the prefabricated building system Light Steel Frame and the
possible tracks to qualify the project process to this type of building technology. In this aspect,
the architect has a crucial role, being responsible for integrating the multidisciplinary crew,
indispensable to this sort of project. It is, thus, important to discuss the project process, the
means of production, as well as strategies to prefab in civil construction. As far as the
methodology is concerned, a bibliographic review was made on the main topic of this work.
Also, an exploratory research based on case studies of prefab edifications has been
conducted, considering the logics of project process and innovative prefab practices. Finally,
a practical study, from the data analysis and elaboration of a building project in partnership
with a company of prefab buildings. The results indicate that the process of project to prefab
buildings present peculiarities, which is fundamental to the application of the concepts of
project as well as engineering, which enables the potentialities of the steel to be achieved.
Given the aim of investigation of this work (Light Steel Frame), the conclusion of such
constructive method favors customization, especially as far as construction by modular
method is concerned. Another advantage offered by the system is the rapidness in the
execution of the construction. This research, however, has shown that Light Steel Frame is
not the best alternative to the construction of customized houses autonomously designed by
the user, since it is an industrialized construction, which does not favor auto construction.
Therefore, the elaboration of a project that foresees expansions or modifications is essential
to broaden the range of possibilities to customization to users, even considering that the
intervening of a contracted company is yet necessary.
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
Considerações iniciais .............................................................................................. 11
Objetivos ................................................................................................................... 12
1.2.1 Geral ................................................................................................................... 12
1.2.2 Específicos.......................................................................................................... 13
Metodologia .............................................................................................................. 13
Estrutura do Trabalho ............................................................................................... 14
PRÉ-FABRICAÇÃO ...................................................................................................... 27
Histórico: Análise Cultural ....................................................................................... 27
3.1.1 Reino Unido ....................................................................................................... 27
3.1.2 Escandinávia....................................................................................................... 28
3.1.3 Japão .................................................................................................................. 30
Conceitos .................................................................................................................. 32
Princípios e Fundamentos ......................................................................................... 34
3.3.1 Dymaxion House ................................................................................................ 37
3.3.2 House of Tomorrow e Crystal House ................................................................. 38
3.3.3 Aladdin Homes ................................................................................................... 39
3.3.4 Sears Roebuck .................................................................................................... 40
3.3.5 Jean Prouve ......................................................................................................... 41
3.3.6 Charles e Ray Eames .......................................................................................... 41
Estudos de Caso de Pré-fabricação ........................................................................... 44
3.4.1 Produção Atual .................................................................................................. 44
3.4.2 KIERAN TIMBERLAKE ........................................................................................ 46
3.4.2.1.1 Loblolly House:............................................................................................... 47
3.4.2.1.2 Cellophane House .......................................................................................... 48
3.4.3 RESOLUTION, 4 ARCHITECTURE ...................................................................... 49
3.4.4 BENSONWOOD .................................................................................................. 53
3.4.5 BRASIL ................................................................................................................ 55
3.4.5.1.1 Casa Fácil Gerdau ........................................................................................... 57
3.4.5.1.2 Projeto Habitacional COSIPA ........................................................................ 58
3.4.5.1.3 Sistema Modular da CSN ............................................................................... 59
3.4.5.1.4 Usiteto ............................................................................................................ 60
3.4.5.1.5 Studio Paralelo ............................................................................................... 62
COORDENAÇÃO MODULAR .............................................................................. 64
3.5.1 Aspectos Fundamentais da Coordenação Modular ........................................ 65
3.5.2 A Coordenação Modular no Contexto da Política de Desenvolvimento
Produtivo ......................................................................................................................... 67
CONCLUSÃO............................................................................................................... 135
REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 137
Considerações iniciais
Casa Minha Vida” (MCMV)1. Suas moradias não têm identidade arquitetônica, não
como estratégia de projeto para se alcançar uma Customização de Massa (CDM), o que
proporcionaria aos usuários flexibilidade para adaptação e ampliação do produto final,
ainda que produzido de maneira seriada. A CDM traz consigo conceitos de produção em
massa e automação para propiciar uma economia no escopo. Sob este conceito, trabalha-
se em prol de maximizar os benefícios da mecanização e métodos de produção
automatizados, reduzindo custos com mão de obra e garantindo variabilidade e
customização do produto final.
1
O programa MCMV é a maior iniciativa da política habitacional do Brasil. Lançado em 2009 pelo governo
federal, a proposta é atender à famílias de baixa renda, com até dez salários mínimos, permitindo à elas o acesso à
moradia.
2
A Coordenação Modular visa compatibilizar elementos construtivos (definidos em projeto) e componentes
(definidos pelos fabricantes); reduzir a variedade de medidas utilizadas na fabricação de componentes; simplificar
a coordenação dimensional nos projetos das edificações, que hoje é elaborada caso a caso; simplificar o processo
11
de marcação no canteiro de obras para posicionamento e montagem de componentes construtivos; reduzir cortes
e ajustes de componentes e elementos construtivos; aumentar a intercambiabilidade de componentes tanto na
construção inicial quanto em reformas e melhorias ao longo da vida útil da edificação. Além disso, permite ainda
aumentar o mercado de exportação de componentes e ampliar a cooperação entre os diversos agentes da cadeia
produtiva da construção.
Esta proposta partiu, também, da intenção de investigar a pré-fabricação como
processo de produção para o segmento habitacional da construção civil considerando seu
potencial para edificações de maior qualidade, com custo e tempo de execução
controlados e, desta forma, colaborar para a qualificação do setor.
O setor de construção civil no Brasil é reconhecido por utilizar parcela significativa
de mão de obra desqualificada, por gerar enorme impacto ambiental em toda cadeia
produtiva e por apresentar lentidão para incorporar avanços tecnológicos e de
racionalização à produção (a racionalização construtiva pode ser definida como “um
processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o
uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais
e financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases” _ SABBATINI, 1989). A
racionalidade aplicada aos processos construtivos acarreta aumento de produtividade e
alinha-se a posturas sustentáveis.
A construção civil, apesar de ser um dos setores básicos para o desenvolvimento
nacional, é ainda caracterizado como defasado em comparação a outros setores da
economia do país. Basta pensar que a cadeia produtiva da construção civil utiliza pouca ou
nenhuma mecanização e conta com mão de obra em grande parte desqualificada,
portanto, não pode ser caracterizada como indústria. E ao contrário do que se pode pensar,
esta situação é verificada não apenas no caso das moradias precárias construídas sem
qualquer orientação profissional, mas também acontece na construção de edifícios
públicos, comerciais ou residências de médio a alto padrão.
Diante do exposto, enuncia-se a seguir os objetivos deste trabalho.
Objetivos
1.2.1 Geral
Metodologia
edificações.
Estrutura do Trabalho
15
CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO
CIVIL NO BRASIL
Modelo de Produção Atual
Maricato (2009) argumenta que o setor da construção civil no Brasil não pode ser
propriamente caracterizado como indústria por um simples fato: é manufatura. Alguns
fatores que corroboram esta afirmativa:
. Cada projeto é único pois, ainda que padronizado, atende a um terreno específico, logo,
é difícil a reprodutibilidade;
. A produção pode ser paralisada em função de condições climáticas que inviabilizem as
atividades;
. O processo de produção é sequencial e não simultâneo. A cada empreendimento é feita
a mobilização/desmobilização de pessoal e verifica-se alta rotatividade e desqualificação
das equipes de trabalho.
Shimbo (2010) exemplifica este modo de produção sequencial dos sistemas
construtivos consolidados no país:
Porém, a visão mais atualizada oferecida por Baravelli (2014) expõe um ponto de
vista completamente oposto. O autor rebate esta imagem, ressaltando que tal cenário
retrataria a realidade da manufatura no período dos piores anos do regime militar
enfrentado pelo país, portanto, tal quadro não corresponde mais a atual situação dos
modelos de produção. O autor propõe uma atualização da descrição de um canteiro de
obras típico do Brasil, fazendo uma releitura da afirmação de (FERRO, 2006 [1976]):
O segmento da Habitação
3
No campo da construção civil, o ciclo aberto define uma produção cujos componentes são fabricados
por múltiplos fornecedores, o que, segundo (KAPP e OLIVEIRA, 2006), estimula o desenvolvimento técnico e a
concorrência de preços, logo, favorecendo o usuário.
produto em função das necessidades dos usuários (ainda que numa produção em massa)
do que no caso de um processo de construção de ciclo fechado4. Diante da inviabilidade de
um sistema de produção em série para residências (como proposto pelos ideais fordistas e
do movimento Moderno), um novo princípio pode ser explorado, com o foco na fabricação
seriada de componentes ao invés de unidades habitacionais completas. Porém, se esta
nova lógica mantém os esforços concentrados no produto, em detrimento do usuário, com
evidente preocupação da indústria com normas, produtividade e custos, novamente tem-
se o não atendimento às suas necessidades.
Kapp e Oliveira (2006), em Produção seriada e individualização na arquitetura de
moradias, discutem conceitos que se aplicam a diversos setores, inclusive à construção civil,
e que podem ser explorados em prol de se obter um produto totalmente customizado, que
atenda às especificidades dos clientes, ainda que sob um regime de produção em série.
As autoras apontam que os processos flexíveis, que permitem alterações ao longo
do tempo, são uma alternativa e conferem diferentes graus de autonomia aos usuários
quanto às suas escolhas e participação na concepção do produto. A fabricação de um
produto segundo a lógica de um processo flexível passa pela etapa de planejamento e
fornecimento de materiais e componentes até a montagem, estando envolvidos neste
processo fornecedor, produtor ou mesmo o próprio usuário. Para que se compreenda os
diferentes graus de autonomia do usuário, as autoras fazem uma análise quanto às
categorias de repertório e aos processos de montagem.
Para Kapp e Oliveira (2006) o repertório é caracterizado pelos componentes que o
fornecedor disponibiliza para a montagem, portanto, tem influência nas alternativas
oferecidas ao usuário, tanto em quantidade quanto em qualidade. Nem sempre um
repertório composto por elevado número de componentes oferece melhores opções, pois
um repertório reduzido e bem planejado pode ser menos complexo e mais eficaz.
Um repertório imprevisível tem componentes que permitem inúmeras
possibilidades de montagem, ao contrário do previsível, que tem o produto final pré-
21
4
No campo da construção civil, de modo oposto, o ciclo fechado define uma produção cujos componentes
são fabricados por um único fornecedor, desestimulando o desenvolvimento técnico e a concorrência de preços,
logo, sendo menos favorável ao usuário.
definido, sendo os componentes simples resultado da fragmentação com o intuito de
facilitar a montagem e, neste caso, o usuário tem limitado poder de decisão.
Já a receptividade define se um sistema é aberto ou não, ou seja, se é receptível a
componentes de outros fabricantes ou não. Para o usuário, o sistema aberto é mais
conveniente, pois estimula a concorrência, acarretando na redução de preços e
desenvolvimento técnico. Um sistema aberto muitas vezes está condicionado a patentes
(que reduzem a receptividade) ou a normas (que aumentam a receptividade).
Um outro conceito discutido pelas autoras é o da adaptabilidade, o qual determina
se os componentes podem se adequar a uma montagem específica. Já o reuso define se
os componentes permitem montagem/desmontagem/remontagem. Os componentes de
um repertório podem durar vários ciclos, sendo este um aspecto interessante, pois
contribui para a diminuição da geração de resíduos e consumo de matéria prima, logo,
reduz o impacto ambiental.
Quanto às categorias de montagem, existem as mediações envolvidas neste
processo, que surgem da intervenção do trabalho de terceiros, seja na fase de concepção
ou execução. No caso das edificações o usuário precisa do arquiteto para elaboração de
seu programa de necessidades e de terceiros para a construção. O ponto de partida para a
montagem pode demandar ou não uma plataforma auxiliar. Esta plataforma pode ser
incorporada ao produto final ou servir apenas como suporte durante a montagem, a qual
pode ser contínua ou finita. A montagem contínua permite alterações ao longo do ciclo de
vida útil do produto, já a finita não permite modificações.
Conforme mencionado, tais conceitos se aplicam a vários setores produtivos. Na
indústria automotiva, o processo flexível é restrito, pois o usuário escolhe cores e
acessórios opcionais; porém o repertório é limitado, tendo em vista que o produto final
precisa ser previsível para as montadoras. Muitas vezes acessórios de versões diferentes
de um mesmo modelo são incompatíveis.
Brinquedos, como os de modelismo de carros ou aviões, decorrem da fragmentação
dos componentes para montagem do produto final, portanto, totalmente previsível, sem
22
2.2.3 Flexibilidade
de área;
Geraedts, Remøy, Hermans e Rijn (2014) afirmam que a relação entre flexibilidade e
sustentabilidade é definida de forma clara. Há crescente demanda por sustentabilidade e
flexibilidade, bem como maior consciência acerca da necessidade de economia em todo o
ciclo da construção. Isso acarreta em um olhar mais consciente sobre medidas e práticas
sustentáveis ao longo de todo o ciclo de vida útil da edificação.
Um edifício mais durável e com alta capacidade adaptativa apresenta um tempo mais
estendido de uso de forma sustentável, seja para o primeiro morador, seja para as gerações
futuras de moradores (LAMOUNIER, 2017).
Jorge (2012) afirma que a flexibilidade auxilia no surgimento de uma nova mentalidade
arquitetônica, relacionada à satisfação do usuário, promovendo a melhoria do espaço
doméstico e a durabilidade.
Jorge (2012) pontua ainda que a definição do conceito de flexibilidade é complexo, sendo
explorada por diversos autores, em variadas áreas de conhecimento, envolvendo
25
26
5
HAMDI, Nabeel. Housing without houses. Participation, flexibility, enablement. New York, London:
Van Nostrand Reinhold, 1991.
PRÉ-FABRICAÇÃO
Histórico: Análise Cultural
Smith (2009) observa que os Estados Unidos da América (EUA), apesar de deterem
26% do mercado de residências pré-fabricadas, perderam a liderança para o Reino Unido,
Escandinávia e Japão, que destacam-se em inovação, ao passo que este índice, nos EUA, é
justificado em função de seu crescimento econômico. Para se compreender o destaque
destes três países, e a correlação existente entre aspectos culturais e modelos produtivos
de habitação, segue uma breve análise de suas experiências com a pré-fabricação de
moradias.
3.1.1 Reino Unido
No ocidente a colonização britânica dá início à pré-fabricação. Os britânicos não se
familiarizaram com os materiais disponíveis nas colônias e a solução encontrada foi fabricar
componentes na Inglaterra e transportá-los de navio para a montagem das construções
nas colônias. Em 1624 as casas preparadas na Inglaterra e erguidas na vila pesqueira de
Cape Anne deram origem à atual cidade de Massachusetts (ARIEFF, 2002, p. 13).
Já por volta de 1790 tem-se registro dos primeiros pré-fabricados enviados à Sidney,
na Austrália, que serviriam de hospital, armazéns e casas. Este sistema construtivo, cujos
abrigos eram estruturados em madeira, assim como os painéis de fechamento para
paredes, forros e pisos, ficou conhecido como Balloon Frame. Há especulações de que os
elementos de fechamento poderiam ainda ter sido feitos de lona ou painel em madeira
com tratamento térmico (HERBERT, 1978, p. 6).
Em 1820 os britânicos enviam uma expedição à África com três chalés pré-fabricados
em madeira para serem erguidos in loco. A estrutura destas casas coloniais portáveis era
simples, compostas por painéis previamente preparados que se encaixavam e eram
afixados à estrutura. (HERBERT, 1978, p. 8).
27
Figura 3-1: Manning Portable Colonial Cottage . Em 1830, John Manning,
carpinteiro e construtor de
Londres projetou um chalé
portável, confortável e que fosse
facilmente montado para seu
filho, que imigraria para Austrália
(Figura 3-1). Os painéis
padronizados e intercambiáveis
encaixavam-se entre os pilares de
madeira (LOUDEN, 1839). A ideia
de Manning era que uma pessoa
comum pudesse carregar sozinha
cada parte que compõe o abrigo, e
o sistema foi então adotado para
Fonte: SMITH, 2010.
suprir as colônias britânicas.
O Chalé Manning pode ser considerado, portanto, uma melhoria dos primeiros
sistemas projetados pelos britânicos no sentido em que ele favorecia uma fácil construção.
“O sistema do Manning pressupunha conceitos fundamentais de pré-fabricação, de
coordenação dimensional e padronização.” (HERBERT, 1978, p. 11-12).
Tais exemplos ilustram experiências de sucesso com a pré-fabricação na construção
neste país, refletindo a evolução no avanço tecnológico da construção do século XVII ao
XIX, na Inglaterra, além da consolidação da cultura da pré-fabricação, cuja tecnologia foi
transferida e aplicada pelos séculos seguintes à produção das habitações.
3.1.2 Escandinávia
A região geográfica da Escandinávia abrange Finlândia, Dinamarca, Suécia e
Noruega e a produção da pré-fabricação de casas nesta região é marcada por 3 eventos: a
Revolução Industrial, o período da 2ª Guerra Mundial e o pós-guerra.
28
3.1.3 Japão
Historicamente os métodos de construção no Japão já se baseavam em produção
em massa, embora construídos por artesãos e, além disso, a padronização de elementos
construtivos é cultural neste país, o que levou a estruturas com estética marcante e
duráveis (SMITH, 2010).
No Japão, o tradicional sistema de construção residencial chamado “post-and-
beam”, já poderia ser considerado um método de pré-fabricação. Neste sistema, o
espaçamento dos pilares era regular e receberiam os fechamentos de dimensões também
padronizadas, sendo a medida do tatame utilizada como padrão (SMITH, 2010).
30
Conceitos
Segundo Smith (2010) nos últimos 100 anos a lógica da construção é regida pela
expressão:
QxT=ExC
onde Q é a qualidade; T é o tempo; E é o escopo e C é o custo.
Independente da variável adotada como parâmetro do projeto é essencial que as
demais estejam em equilíbrio. Por exemplo: se é imposto um prazo de tempo curto,
consequentemente a qualidade será impactada e maior investimento financeiro será
demandado, ou então uma redução de escopo. Outra situação: se é necessária uma
redução no orçamento, então faz-se necessário gerenciar custos e, reduzir qualidade e
32
6
Disponível em: < http://www.toyota-global.com/company/profile/non_automotive_business/housing.html>
escopo. Numa terceira situação, se a intenção é atingir alta qualidade, é preciso prever um
incremento no orçamento proporcional ao escopo e aumento de prazo.
Acerca da construção pré-fabricada, Smith (2010) questiona como o mundo tem se
portado para viabilizá-la nos dias atuais e aponta algumas suposições. Segundo o autor,
outras indústrias têm modificado seu modo de produzir, como as indústrias automotiva,
aeroespacial e da construção naval, cujos métodos de produção são mais enxutos, poupam
tempo, aplicam materiais mais eficientes e utilizam trabalho em conjunto. Isso se aplica
desde um automóvel totalmente customizado em massa até um navio quase
completamente personalizado, considerando-se, claro, que a escala destes produtos
também excede a complexidade de quase tudo o que é produzido em Arquitetura.
Contudo, deve-se levar em conta a diferença crucial entre a pré-fabricação em Arquitetura
e as demais indústrias: estas estão integradas, tanto na etapa de planejamento quanto para
o gerenciamento de recursos da cadeia de suprimentos; já na construção civil a cadeia é
extensa e o modo de trabalho fragmentado. Há que se destacar a adoção de ferramentas
que têm otimizado a integração do trabalho, como exemplo, as plataformas BIM7 (Building
Information Modeling) e softwares para gerenciamento online de documentos, que
permitem visualizar o produto previamente à sua construção e facilitam a troca de
informações. Estes aspectos contribuem para a minimização de erros e incremento de
qualidade ao produto final.
Outro ponto destacado nesta discussão é uma nova postura que vem sendo
adotada por arquitetos e pela indústria da construção: a preocupação em se evitar
desperdícios, reduzindo, assim, impactos econômicos e ambientais. Uma cadeia integrada
auxilia arquitetos e construtores a gerenciarem documentos e suprimentos, além de
permitir o reaproveitamento de outros materiais.
Smith (2010) destaca que, apesar dos grandes avanços em segurança no trabalho, a
construção in loco ainda representa um ambiente de trabalho perigoso e sujeito a
potenciais acidentes. Já a construção fora do local da obra implica maior segurança, é mais
33
7
A tecnologia BIM (Building Information Modeling) é um sistema computacional, também conhecido como
modelagem paramétrica que permite automaticamente e simultaneamente estimar quantitativo de materiais. A
tecnologia não se utiliza de desenhos unicamente bidimensionais, minimizando as possibilidades de erros nas
interfaces entre o arquiteto/ construtor e construtor e montagem.
enxuta e amplia a força de trabalho, trazendo maior competitividade econômica. Este
ambiente de trabalho mais seguro e que elimina o fator de condições climáticas que, num
ambiente externo pode paralisar a obra, a longo prazo pode também ser considerado uma
medida de sustentabilidade. Logo, a pré-fabricação garante maior produtividade e
potencial para crescimento.
Por fim, Smith (2010) coloca a pré-fabricação como uma tendência para uma nova
lógica de construção, no sentido de mudar a economia e o modo de pensar Arquitetura e
planejamento, além de incrementar qualidade à produção.
Princípios e Fundamentos
Smith (2010) destaca 06 princípios fundamentais na definição dos efeitos na
produtividade de uma construção, conforme Figura 3-7, sendo eles:
. Custo: capital e investimento operacional;
. Mão de obra: trabalho humano (com ou sem Figura 3-7: Princípios básicos de uma
construção e suas influências na produtividade.
especialização);
. Tempo: cronograma ou a duração do projeto;
. Escopo: extensão do projeto (ou programa);
. Qualidade: excelência do projeto/construção;
. Risco: exposição a potenciais perdas
financeiras.
Para exemplificar a relação entre estes princípios, coloca-se como exemplo uma
situação prática, em que o proprietário faz algumas escolhas quanto a sistemas, estética,
durabilidade, dentre outros aspectos envolvidos no projeto, os quais vão afetar
diretamente custo/cronograma/escopo/qualidade. Portanto, para um dado programa, a
34
(SMITH, 2010).
Chegando ao modernismo, arquitetos como Le Corbusier, Walter Gropius e Mies
van der Rohe se questionaram por que a cultura da construção era resistente à
transformação, ainda que já tivesse sido observada uma revolução na produção de objetos
como roupas, sapatos, artigos para casa, automóveis e aviões. Estes arquitetos buscaram
soluções criativas, com experimentações de novos materiais e métodos.
Historicamente, uma série de experimentos, conduzidos por arquitetos,
empreendedores e engenheiros ilustram a evolução na pré-fabricação que ocorreu
mediante os avanços conseguidos a partir da avaliação de tentativas bem sucedidas e das
mal sucedidas também.
Figura 3-8: Dymaxion House, patenteada em 1928 Figura 3-9: interior da Dymaxion House
(Fuller). (Fuller).
Foi então projetada a Wichita House (Figura 3-10), fabricada como um avião em
Alumínio, que podia ser rapidamente fixada por rebites. Toda a parte de serviços da casa
era agrupada ao centro e nos extremos foram dispostos os quartos. A casa poderia ser
transportada em caminhão e, segundo prometia seu criador, poderia ser erguida em
apenas um dia de trabalho. Enquanto modelo para produção em massa, falhou.
Fonte: Pinterest9.
Fonte: Pinterest8.
39
8
Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/424182858623601599/>
9
Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/436286282624550349/>
Figura 3-13: The Aladdin “Built in a day” house.
Entre 1908 e 1940 os modelos de Sears Roebuck com sistema Balloon Frame
permitiam uma variedade de opções e financiamento. As casas (Figura 3-14) eram
modulares, populares e haviam centenas de opções.
A grande contribuição esteve não tanto Figura 3-14: Modelo de casa de Sears
Roebuck.
no projeto, mas em sua concepção do uso de
componentes, se utilizando da padronização
porém, com variedade. Tanto os
empreendimentos de Aladdin quanto de Sears
foram afetados pela grande depressão de 1930.
Fonte: Archdaily11.
Cada exemplo deixou uma lição, dando um direcionamento que pode ser seguido
por arquitetos e profissionais da construção, conforme indicado por Smith (2010):
1. Sistemas proprietários não favorecem habitação de massa:
Os sistemas proprietários falham economicamente, ainda que bem planejados e
detalhados, pois são mais caros e dificultam reposições ou modificações.
Muitas vezes os arquitetos ou companhias têm competência técnica e estão
preparados para enfrentar o mercado, no entanto, seus sistemas proprietários não se
sustentam ao longo do tempo em função da demanda por estoque de material para
reposição e manutenção da construção ao longo de seu ciclo de vida útil.
Os sistemas proprietários tendem também a se estagnar em sua estética,
dificilmente se adaptando a preferências individuais. Já os sistemas não-proprietários
permitem, a partir de componentes padronizados e não patenteados, uma diversidade de
possibilidades e até mesmo ampliações.
2. Pré-fabricação tem a ver com projeto e desenvolvimento de uma tecnologia:
É importante pensar não apenas no projeto em si, de um bom produto, com seus
detalhes de conexão e relação de materiais mas também planejar sobre o ponto de vista
da produção. Os arquitetos costumam se ater mais ao projeto do que pensar na forma pela
qual se dá a construção, porém, a tecnologia precisa ser desenvolvida, e não apenas
planejada, necessitando de um ambiente de produção.
42
11
Disponível em: < http://www.archdaily.com/66302/ad-classics-eames-house-charles-and-ray-eames>
Outro ponto que representa um entrave à pré-fabricação é a preocupação dos
arquitetos com a questão autoral, acreditando que sistemas pré-fabricados não deixariam
em evidência este crédito. É consenso que cada projeto é único para determinado terreno
e cliente, havendo uma barreira em se pensar em soluções que possam atender lugares
diversos e um público maior e, neste sentido, este aspecto representa um entrave, uma
vez que a pré-fabricação precisa de um ambiente de colaboração para se desenvolver.
3. Pré-fabricação tem mais a ver com um plano de negócios do que com um produto:
A pré-fabricação, assim como qualquer negócio, está sujeita a oscilações do
mercado, financiamento ou políticas econômicas, podendo fracassar.
Um outro fator corrobora esta afirmativa: os consumidores não se interessam por
métodos de produção, engenhosidades ou sistemas de montagem sofisticados; a eles
interessam mais características como durabilidade, conveniências e liquidez para revenda,
portanto, há que se considerar técnica simultaneamente a um plano de mercado.
4. Circunstâncias devem justificar a pré-fabricação:
Ao se elaborar um projeto/obra, a escolha do sistema construtivo deve considerar
o contexto. A construção no canteiro nem sempre é a mais adequada e o contrário também
é verdadeiro, logo, cada situação deve ser avaliada para receber soluções pré-fabricadas.
Uma produção fora do canteiro deve considerar o cliente, o local e as condições de
trabalho, evitando-se o risco das pretensões estéticas tecnológicas.
5. Pré-fabricação deve surgir de um processo integrado:
Casos de insucesso ocorrem pela falta de um processo integrado desde o início do
projeto, assim, ressalta-se a importância de uma equipe integrada que trabalhe orientada
por responsabilidades distribuídas, com benefícios gerais e não promovendo visões
individuais ou estéticas. Os benefícios da pré-fabricação não vêm somente da redução de
custos individuais, mas também de efeitos secundários como redução de tempo,
burocracia, tomadas de preços, dentre outros.
A seguir discute-se o modo de produção atual e alguns conceitos relevantes a serem
considerados no processo de projeto, bem como tendências de soluções que vêm sendo
43
12
Disponível em: < http://www.kierantimberlake.com/pages/view/20/loblolly-house/parent:3>
3.4.2.1.2 Cellophane House
Figura 3-21: Casa Cellophane (Kieran Timberlake Associates).
sua preferência, o que resulta numa residência personalizada (Figura 3-24). O escritório
trabalha com o método modular e já oferece ao cliente também algumas configurações de
layout/planta baixa padronizados (Figura 3-25). Smith (2010) coloca que Tanney tem
desenvolvido CDM em Arquitetura explorando a indústria de madeira encontrada nos EUA
para fornecer uma arquitetura modular de alta qualidade.
Figura 3-23: Módulos.
Figura 3-24: Sistema modular da Resolution 4 Architecture, que pode ser customizado para
configurações diversas, atendendo em específico cada cliente, local e orçamento.
As Figura 3-26 a Figura 3-28 mostram o caso da The House on Sunset Ridge e sua
sequência de produção e montagem.
53
Figura 3-29: Unity House, fabricada pela Bensonwood.
3.4.5 BRASIL
55
13
Kapp (2016) define que, por meio de tais processos os moradores têm autonomia para decidir sem o
intermédio de terceiros (arquitetos ou engenheiros) sobre como aplicar recursos e executar a construção.
Basicamente autoprodução e autoconstrução se distinguem por: na primeira o morador necessita da mão de obra
de pedreiros (ou outros tipos de profissionais) para execução da obra; na segunda, além de gestor da obra, é também
mão de obra para execução.
que, além desta distribuição interna dos ambientes, o produto não favorece ampliações
futuras da edificação.
Figura 3-34: (a) Planta baixa padrão da Casa Fácil Gerdau. (b) Perspectiva da Casa Fácil Gerdau.
(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.
(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.
58
Os quites de 36 m² são vendidos para a casa padrão, sendo possível acréscimo com
aquisição de um quite extra de 18 m². O sistema permite autoconstrução com a montagem
da estrutura em 3 horas, e num prazo de 6 a 10 dias a casa completa pode ser concluída.
Apesar da possibilidade de escolha de materiais para fechamentos e cobertura e do quite
fornecido para ampliação, o usuário tem certa limitação quanto à customização de seu
produto, que fica limitada a este quite extra de 18 m².
3.4.5.1.3 Sistema Modular da CSN
O sistema desenvolvido pela CSN (Figura 3-36) também é voltado para habitação
popular. O sistema construtivo é modular, composto por chapas de aço galvanizado,
formadas a frio. Já o fechamento externo é feito com painéis modulares em aço
galvanizado, que aceitam acabamento em chapas de fibrocimento ou siding vinílico, sendo
a ligação entre os módulos feita por perfis U simples, enquanto o engradamento do
telhado é feito com perfis Ue e perfis cartola.
O quite comercializado permite a construção de uma casa de 50 m², com
possibilidade de ampliação, demandando de 15 a 30 dias para montagem completa. A
cobertura aceita diversos tipos de telhas, dentre elas a cerâmica, metálica ou de
fibrocimento. O projeto para este sistema já foi vendido adaptado para outros usos, com
fins comercial ou de saúde, abrigando escritório ou unidade básica de saúde.
Figura 3-36: (a) Conjunto habitacional CSN. (b) Unidade básica de saúde construída com o sistema da
CSN.
(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.
A fundação é feita com viga baldrame e a laje do piso recebe manta asfáltica para
impermeabilização. Os painéis de aço estrutural já vêm pré-fabricados com os vãos de
portas e janelas e a fixação dos módulos ocorre por ligações aparafusadas e, em seguida,
59
estes módulos são chumbados no piso por meio de parafusos e buchas de expansão.
As redes elétrica e hidráulica são embutidas nas paredes, fixadas com parafusos
auto atarraxantes e ocultas por chapas de gesso acartonado, cujas juntas recebem fitas e
massas impermeabilizantes. As áreas molhadas também recebem as chapas de gesso
acartonado, porém de um tipo mais resistente à umidade, com índice de absorção da água
limitado a 5%. O produto final fornecido pela CSN, assim como os outros casos do Brasil
discutidos anteriormente, oferece baixa possibilidade de CDM, limitando-se à variabilidade
de escolha de materiais e uma ampliação pré-definida.
3.4.5.1.4 Usiteto
O projeto da USIMINAS (Figura 3-37 e
Figura 3-38) segue duas linhas para habitação popular: uma para edifícios de 4
pavimentos com 4 unidades por andar, e outra para casas de aproximadamente 36 m².
Ambas as propostas configuram obras de grande produtividade, baixo custo e ampla
utilização para conjuntos habitacionais.
Figura 3-37: (a) Estrutura da casa USITETO. (b) Perspectiva da casa USITETO.
(a) (b)
Fonte: HENRIQUES, 2005.
A estrutura é metálica e colunas guia servem para dar o alinhamento das alvenarias.
O tipo de aço utilizado na estrutura é o USI-SAC 41, resistente à corrosão atmosférica. As
chapas são conformadas a frio, com espessura de 2 mm e as ligações são aparafusadas e
padronizadas.
No processo de montagem, a construtora executa a obra para erguer a estrutura
(com ou sem participação da comunidade) e, em seguida, fechamentos e acabamentos são
executados numa iniciativa de autoconstrução. A construção é feita em módulos, podendo
ser ampliada.
Diversos tipos de fechamentos são admitidos pelo sistema, como blocos de
60
14 O Studio Paralelo é um escritório de arquitetura com sede em Porto Alegre fundado em 2002 e titulado
62
pelos arquitetos Luciano Andrade e Rochelle Castro, formados pela Universidade Luterana do Brasil (RS).
Figura 3-40: Refúgio São Chico: execução do embasamento e processo de pré-fabricação.
se a instalação de esquadrias e
a montagem da estrutura
metálica que dá suporte ao
deck de madeira. Por fim, foram
feitas todas as instalações
(hidráulicas e elétricas) e
paredes internas, em gesso
acartonado e enchimento com
lã de rocha. Fonte: SAYEGH, 2008.
COORDENAÇÃO MODULAR
64
sua dimensão, que deve ser inferior à medida modular, permitindo o espaço de tolerância.
A junta modular é a distância entre as arestas de dois componentes.
. Sistema de Ajustes e Tolerâncias: conforme
Figura 3-46 a Figura 3-49, o ajuste modular é a medida entre a medida de projeto do
componente e a medida modular. O componente pode sofrer variações em suas medidas,
em função de falhas de fabricação ou no posicionamento, dilatações/contrações ou
deformações e, neste sentido, as juntas são essenciais.
Figura 3-46:
Medida modular,
medida nominal,
junta modular e
ajuste modular.
Fonte: GREVEN,
2007.
Figura 3-47:
Ajuste modular
positivo.
Fonte: GREVEN,
2007.
Figura 3-48:
Ajuste modular
negativo.
Fonte: GREVEN,
2007.
Figura 3-49:
Ajuste modular
nulo.
Fonte: GREVEN,
2007.
69
LIGHT STEEL FRAME
Sistema Construtivo
O LSF é um sistema Figura 4-1: Perfiladeira para fabricação de perfil Ue.
construtivo racional, com
estrutura em perfis de aço
galvanizado formados a frio. Estes
perfis compõem painéis
estruturais e não-estruturais,
vigas, tesouras de telhado, dentre
outros elementos.
Fonte: CBCA, 2012.
Segundo definição da NBR 6355 (ABNT, 2003), os perfis estruturais de aço formados
a frio são obtidos a partir do dobramento, em prensa dobradeira, ou por perfilagem em
conjunto de matrizes rotativas de tiras de aço cortadas de chapas ou bobinas laminadas a
frio ou a quente, revestidas ou não. As seções têm forma e dimensões variadas e, em
função do processo de fabricação acontecer em temperatura ambiente, tem-se o nome
“perfis formados a frio”. A Figura 4-1 mostra o processo de perfilação de um perfil Ue.
Na Erro! Fonte de referência não encontrada. encontram-se os perfis disponíveis e sua
utilização correspondente na edificação:
70
Tabela 1: Perfis de aço formados a frio para uso em LSF.
Fundações
As fundações são menos exigidas por serem a estrutura e os fechamentos mais
leves. A fundação deve ser contínua, tendo em vista que as cargas são uniformemente
distribuídas ao longo dos painéis. A definição do tipo de fundação a ser utilizada está
condicionada a diversos fatores, como o tipo de solo, a altura do lençol freático e a
topografia, devendo sua base estar nivelada e em esquadro para facilitar o processo de
montagem.
4.5.1 Radier
É um tipo de fundação rasa, que consiste em uma laje que transmite as cargas ao
solo, com vigas em torno da laje e sob paredes estruturais e colunas (Figura 4-6). É o tipo
de fundação usualmente utilizada para construção em LSF, principalmente para tipologias
residenciais. Se bem executado e nivelado, o radier pode atuar também como contrapiso.
75
Figura 4-6: Laje radier.
Figura 4-7: Detalhe esquemático de ancoragem de painel estrutural a uma laje radier.
O radier deve ter certo desnível no entorno para que a umidade e infiltração não
atinjam o painel, sendo necessária uma distância do contrapiso ao solo de pelo menos 15
cm e, além disto, também é importante que a calçada permita o escoamento de águas
pluviais e tenha inclinação em torno de 5%, conforme
Figura 4-7.
No radier são feitas as perfurações para instalações hidráulicas, elétricas e de rede,
sendo fundamental a precisão no posicionamento e diâmetro dos furos, evitando-se
incompatibilidades com os painéis, uma vez que os ajustes tornam-se complicados no caso
de grandes desalinhamentos, além de gerarem transtornos na obra (Figura 4-8).
76
Figura 4-8: (a) Ponto alocado corretamente. (b) Ponto alocado incorretamente.
(a) (b)
Fonte: THÉCNE, 2008.
Fixação
A ancoragem permite a fixação da estrutura à fundação e evita a ocorrência de
deslocamentos quando da transmissão dos esforços. Para que esta interação
estrutura/fundação seja perfeita, a ancoragem deve ser bem dimensionada e executada,
sendo o tipo de fixação dos painéis à fundação definido no cálculo estrutural,
77
Figura 4-10: (a) Ancoragem química com barra roscada. (b) Ancoragem com fita metálica chumbada à
fundação.
(a) (b)
Fonte: THÉCNE, 2008.
Outra opção é perfurar a fundação e a ela fixar a guia da estrutura, com o uso de
parabolts, conforme Figura 4-11.
Painéis
Os painéis podem ser estruturais ou não estruturais (não possuem função estrutural
78
Lajes
Seguem o mesmo princípio dos Figura 4-15: Alinhamento da modulação de
montantes para paredes e vigas de piso.
painéis, sendo importante que as vigas de
piso e de cobertura coincidam no mesmo
alinhamento dos montantes a fim de
garantir melhor desempenho estrutural
(Figura 4-15). O sistema LSF permite a
abertura de vãos nas lajes para instalação
de escadas, conforme
80
Figura 4-16:
Fonte: THÉCNE, 2008.
Figura 4-16: Possíveis configurações para escada.
(a) (b)
Fonte: QUEIROZ, 2001.
conforme Figura 4-19. Os pisos também são estruturados por perfis galvanizados, porém
dispostos na horizontal.
Como vantagens destaca-se: a Figura 4-19: Laje seca.
Cobertura
A cobertura confere proteção contra intempéries e ainda tem função estética,
sendo composta pelo entelhamento (que pode ser de telhas cerâmicas, metálicas, de
fibrocimento, shingle...), pelo engradamento (ripas, caibros, tesouras, treliças e
contraventamentos) e pelo sistema de escoamento de águas pluviais (condutores, calhas
e rufos). As telhas cerâmicas e shingle precisam ser apoiadas sobre placas de OSB e
receberem proteção por manta de impermeabilização.
A cobertura com LSF segue a mesma concepção de um telhado comum, de madeira,
porém a estrutura é constituída pelos perfis galvanizados. Para execução da cobertura são
utilizados também os perfis U e Ue, devendo ser prevista a sustentação do peso próprio,
além de forros, material de isolamento, instalações, vento, neve...Os rufos e os beirais
devem ter dimensão maior que 600mm e, as tesouras, assim como os painéis, podem ser
também pré-fabricadas, conferindo maior precisão e agilidade ao processo. A Figura 4-20
Figura 4-20 a Figura 4-22 ilustram algumas configurações para montagem do
engradamento e substrato de apoio para cobertura.
83
Figura 4-20: Beiral com Figura 4-21: Telhado de Figura 4-22: Apoio de OSB para
prolongamento do banzo quatro águas composto por sustentação de telhas cerâmicas.
superior das tesouras. caibros.
Fechamento Vertical
O fechamento vertical é composto pelas vedações internas e externas à edificação,
e deve atender à ISO 6241, garantindo os seguintes quesitos: segurança estrutural,
segurança quanto ao fogo, estanqueidade, conforto térmico/acústico, conforto visual,
adaptabilidade ao uso, higiene, durabilidade e economia.
No Brasil os fechamentos mais utilizados são placas de OSB, cimentícias e de gesso
acartonado (internamente).
Figura 4-25: Instalação de Siding Vinílico. Figura 4-26: Figura 4-27: Fachada com
Revestimento das placas acabamento argamassado e
de OSB com argamassa juntas de dilatação.
aplicada sobre tela tipo
deployée.
4.10.2 Alvenaria
A interface deste fechamento com a estrutura é mais difícil, a fim de que a edificação
tenha boa eficácia quanto à proteção das intempéries. Outro aspecto é que este tipo de
fechamento não condiz com a ideia de construção industrializada, implícita no sistema LSF,
que propõe uma execução mais rápida e “seca”, com otimização do trabalho no canteiro
85
87
Instalações
Basicamente as instalações hidráulicas e elétricas não diferem das instalações em
edificações convencionais, que utilizem outro sistema construtivo, uma vez que os
materiais utilizados para tubulação são os mesmos, porém, deve-se atentar para o fato de
que é necessário evitar corrosão galvânica entre as tubulações de cobre (usadas para água
quente e gás) e os perfis de aço, sendo importante o uso de espaçadores plásticos para
isolamento.
Existem no mercado materiais elétricos e hidráulicos específicos para uso em gesso
acartonado ou LSF, porém, os materiais convencionais podem ser utilizados normalmente
e os critérios para perfuração de vigas de piso e montantes para passagem das instalações
são normatizados pela NBR 15253 (ABNT, 2005). As Figura 4-31 e Figura 4-32 mostram
algumas instalações elétricas executadas em obra.
Figura 4-31: Caixa de luz fixada a montante. Figura 4-32: Passagem de conduíte por viga de
laje.
reforço na região da viga de piso ou de cobertura e, conforme o caso, optar pela adoção
de treliças ou tesouras, que possuem espaço entre os perfis, permitindo a passagem das
instalações sem a necessidade de furações.
Os painéis funcionam como shafts, o que facilita a manutenção e correção de
eventuais interferências durante a obra. Para evitar que a vibração das tubulações seja
transmitida à estrutura, o que causa um efeito indesejável e pode ocasionar perfurações, é
importante a fixação por braçadeiras ou introdução de espuma ou peças plásticas
especiais.
A racionalidade construtiva preconizada pelo sistema LSF se apresenta também nas
instalações, pela facilidade de execução e manutenção das mesmas, diferentemente da
construção convencional, com alvenaria em blocos, que gera desperdícios durante a
execução desta etapa da obra.
89
INTERAÇÃO AMBIENTE PRODUTIVO X ARQUITETO
Empresa Flasan
A partir das experiências estudadas anteriormente, foi proposta uma pesquisa que
pudesse verificar, no ambiente de produção da arquitetura pré-fabricada, como poderia
ocorrer uma relação entre o arquiteto e a indústria, com especial foco no segmento de
habitações customizáveis. Optou-se pela empresa Flasan (com escritório em Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil), que atua do detalhamento da estrutura em LSF à execução
da obra e disponibiliza seus arquitetos para suporte ao desenvolvimento de projetos
arquitetônicos. Basicamente, foi uma oportunidade de avaliar o potencial do sistema
construtivo LSF para um estudo de habitação pré-fabricada com possibilidades de CDM; e
avaliar, também, como os processos projetuais são impactados por uma relação estreita
com o ambiente de produção, mais do que simplesmente compreender o sistema
construtivo empregado pela empresa.
Para uma primeira abordagem a respeito da tecnologia de produção da empresa foi
aplicado um questionário aberto (Apêndice A). As informações coletadas a partir das
perguntas estabelecidas, que guiaram a entrevista, estão aqui discorridas, e sintetizadas
no fluxograma a seguir:
90
91
A Flasan atua com o detalhamento e cálculo de estruturas em LSF (sendo a maioria
residências), além da fabricação dos perfis formados a frio, que são produzidos na fábrica
localizada em Oliveira _ MG. A funcionária entrevistada, Janiny Oliveira Melo, arquiteta da
empresa e que desempenha funções de gerente de projetos e orçamento. Relatou uma
experiência na construção de 46 Unidades Municipais de Educação Infantil, as chamadas
UMEIs, ressaltando que a Flasan também atua com obras.
A prestação de serviço varia conforme interesse do contratante, havendo situações
em que também são fornecidos transporte e montagem da edificação, sendo mais atrativo
firmar contratos com o maior número de serviços. Janiny destaca que a maioria dos clientes
opta apenas pela aquisição da estrutura, mas que a empresa também oferece o
fornecimento dos fechamentos verticais já com enchimento interno ou mesmo os kits com
os parafusos para montagem.
Quanto ao perfil de clientes, a arquiteta responde que são pessoas físicas ou
jurídicas, captados, em sua grande maioria, por meio da parceria com arquitetos, uma vez
que a empresa não trabalha com o desenvolvimento de projeto arquitetônico.
A escolha por adotar o sistema construtivo LSF parte muito dos arquitetos parceiros
da empresa, e não de seus clientes, que muitas vezes desconhecem o sistema, com
exceção dos clientes com perfil de maior poder aquisitivo, que em viagens ao exterior
tiveram contato com este tipo de construção industrializada.
Questionada quanto à possibilidade de customização dos projetos, Janiny identifica
que este aspecto varia conforme a forma de trabalho do arquiteto parceiro e quanto à
possibilidade de ampliação futura da residência, ressaltando ainda que esta é uma
característica favorável do LSF e que há uma arquiteta parceira que sempre utiliza este
conceito em seus projetos.
Os principais perfis utilizados são U (para guias) e Ue (para montantes), cujas almas
têm dimensões preferenciais de 89 mm e 200 mm (mais usado para lajes). Janiny destaca
uma situação em que foi necessário adaptar a perfiladeira para produção de perfis com
alma de 70 mm, em função de uma exigência presente no contrato para construção de
92
que se negocie prazo com o cliente. Para a empresa, trabalhar com um estoque reduzido
e fornecimento segundo demandas é mais vantajoso. Os principais itens a serem
gerenciados são: os perfis de aço, as placas de gesso acartonado e cimentícias e a lã de
vidro usada para enchimento.
A empresa segue normas americanas e alemãs, além de diretrizes como a Diretriz
SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas_ ver Anexo A), específica para sistema
LSF, que versa sobre a Avaliação Técnica de Produtos e estabelece requisitos e critérios
para qualidade do sistema quanto ao desempenho estrutural, segurança contra incêndio,
estanqueidade à água, desempenho térmico e acústico, durabilidade e manutenção. Janiny
sugere o uso de janelas de PVC, pois estas têm melhor estanqueidade à água do que janelas
de vidro temperado.
Os softwares utilizados são: o Autocad® (para o projeto de detalhamento) e o
FrameCAD Detailer®, que gera automaticamente o 3D da estrutura e um arquivo que é
enviado à perfiladeira para fabricação dos perfis. A Flasan não trabalha com a tecnologia
BIM, que facilita a identificação de incompatibilidades e otimiza o processo de projeto,
porém há busca por soluções integradas no trabalho entre o engenheiro calculista e
arquitetos da empresa e os arquitetos parceiros, responsáveis pelo projeto arquitetônico,
facilitando, assim, a solução de conflitos e comunicação quanto à alterações.
O detalhamento estrutural elaborado pela Flasan é composto pelas seguintes
informações:
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para painéis,
treliças e vigas de paredes autoportantes;
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para telhado
(tesouras, terças, ripas, etc.);
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de estrutura LSF para lajes secas;
. Desenhos técnicos com mapeamento e especificação de contraventamentos e
ancoragens em LSF;
. Desenhos técnicos com detalhes típicos de composição de vergas, montagem de
contraventamentos, execução de ancoragens, travamentos e outros detalhes pertinentes
necessários para execução da estrutura da edificação em LSF;
94
Figura 5-3: Montagem da estrutura, em destaque o Figura 5-4: Detalhe de conexão aparafusada.
contraventamento.
Figura 5-9: Estrutura montada e instalação de placas Figura 5-10: Detalhe de instalações elétricas.
de OSB na cobertura.
97
Figura 5-11: Detalhe da calha para suporte de Figura 5-12: Instalação de fechamento vertical externo
instalações. (placas cimentícias).
Figura 5-13: Detalhe de fechamento vertical e Figura 5-14: Montagem final da estrutura.
forro em placas cimentícias.
98
Figura 5-15: Ambiente interno (cozinha). Figura 5-16: Ambiente interno (banheiro).
Figura 5-17: Residência principal finalizada. Figura 5-18: Residência principal finalizada.
Figura 5-19: Residência principal finalizada. Figura 5-20: Residência principal finalizada.
99
100
PROPOSTA PROJETUAL EM LSF CONSIDERANDO A
CUSTOMIZAÇÃO DA MORADIA
Condicionantes de Projeto
As etapas anteriores desta pesquisa serviram para dar suporte ao estudo prático,
em que optou-se pela investigação da pré-fabricação a partir da elaboração de projeto
arquitetônico para residências unifamiliares em LSF, com ciclo aberto, podendo ser a
elaboração de projeto arquitetônico para habitação multifamiliar alvo de investigação
específica.
O projeto deste estudo prático aplica um sistema pré-fabricado em LSF com
vedação por painéis, como uma proposta para a produção seriada de habitações, segundo
o modo de produção da Flasan, considerando sistemas de construção abertos que
favoreçam a CDM, permitindo o atendimento de especificidades dos usuários, ainda que
sob processos de produção em série.
Como estratégias para CDM, será possível que o usuário obtenha variações de
volumetrias e fachadas dentro de um padrão, podendo ainda optar dentre cores,
componentes e demais materiais disponíveis na cadeia de suprimentos, além de poder
ampliar/subdividir a casa, mantendo-se uma harmonia visual no todo.
Programa de Necessidades
Para elaboração do programa de necessidades, foi levado em consideração o fato
de que, atualmente, existem outras formas de morar que fogem ao núcleo familiar
convencional. Tramontano (1995) expõe que a dinâmica da vida em sociedade se
modificou, formando novos grupos familiares. Novas relações se estabeleceram, as
famílias tendem a ter menos filhos (ou mesmo optam por não tê-los), a expectativa de vida
do ser humano aumentou, a mulher assumiu uma nova posição na família e no mercado de
trabalho e, consequentemente, o modo de morar se modificou e foi adaptado à esta nova
101
realidade. A setorização rígida para o programa de uma habitação não se restringe mais
aos tradicionais setores social, íntimo e de serviços; logo, a cozinha deixou de ser um
ambiente de serviço e passou a integrar-se com a sala, fazendo parte de um espaço para
convívio social e familiar. Além deste ambiente, o banheiro pode ser visto como um espaço
para relaxamento e, neste sentido, bastante equipado, sem falar nos homeoffices, que
permitem que trabalhadores autônomos tenham em casa toda a estrutura de um
escritório.
Diante de tantas transformações, a flexibilidade dos espaços é essencial para que a
moradia acompanhe estas novas formas de habitar, num espaço que se adapte
continuamente, conforme necessário. Assim, deferentes tipologias para conjuntos
habitacionais favorecem o atendimento a individualidades.
Partido Arquitetônico
O projeto foi elaborado seguindo a proposta do escritório Resolution 4 Architecture,
apresentado em um dos estudos de caso e a ideia é permitir a criação de diferentes
combinações para cada projeto, ainda que o sistema construtivo e módulos básicos sejam
os mesmos.
Processo de Projeto
O projeto arquitetônico para as residências foi pensado sobre a malha de 400 mm x
400 mm, utilizada pela Flasan (conforme constatado em entrevista) e com método
construtivo por painéis.
Seguindo este raciocínio foram criados os módulos básicos, que são os ambientes
da habitação, podendo ser aumentados ou diminuídos conforme o uso de múltiplos ou
submúltiplos da malha de 400 mm x 400 mm, permitindo ainda variações de layout. O
cliente, portanto, “monta” o seu programa de necessidades a partir destes módulos
básicos. As Figura 6-1 a Figura 6-5 representam alguns dos módulos sugeridos dentre várias
possibilidades do catálogo disponível para o cliente, o que não impede, portanto, que
outros módulos possam ser adquiridos.
102
MÓDULOS BÁSICOS DE QUARTOS
Fonte: Autor.
106
Módulos utilizados para expansão:
Figura 6-8: Módulos básicos para expansão da Tipologia 01(pavimento térreo).
Fonte: Autor.
Figura 6-9: Módulos básicos para expansão da Tipologia 01(pavimento superior).
107
Fonte: Autor.
Figura 6-10: Configuração final após expansões.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
108
TIPOLOGIA 02
Figura 6-12: Bloco inicial. . Tipologia básica formada por dois blocos;
. Área inicial: 55,10 m²;
. Área total com expansão: 137,85 m²;
. Número de pavimentos: 02;
. Expansão sugerida: pavimento superior e
laterais;
. Ambientes iniciais: sala de estar, cozinha,
área de serviço, lavabo, escada, quarto e
banheiro (suíte);
. Ambientes utilizados na expansão: 02
quartos, banheiro (suíte), escada, sala de
Fonte: Autor. jantar, garagem, lavabo, escritório.
109
Fonte: Autor
Figura 6-14: Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 02 (pavimento térreo).
Fonte: Autor.
Figura 6-15: Módulos básicos para configuração inicial da Tipologia 02 (pavimento superior).
Fonte: Autor.
110
Módulos utilizados para expansão:
Figura 6-16: Módulos básicos para expansão da Tipologia 02 (pavimento superior).
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
111
Figura 6-18: Expansão da Tipologia 02 (pavimentos térreo e superior).
Fonte: Autor.
Alguns aspectos técnicos foram discutidos com os arquitetos da Flasan, como o
tamanho máximo a ser adotado para os painéis montados (em função do caminhão
utilizado para transporte), a configuração dos perfis entre painéis, o contraventamento e,
em específico para as futuras ampliações, o que deveria ser previsto em relação às
instalações e reforço estrutural para remoção de paredes.
Segundo os arquitetos, o ideal é que os painéis cheguem a campo montados e no
projeto é necessário definir as dimensões conforme a limitação do tamanho do caminhão
a ser utilizado para o transporte. Segundo esta lógica, são utilizados então painéis de no
máximo 2,40 m de largura por uma altura variável conforme pé-direito adotado e caminhão
utilizado, os quais têm carroceria em geral de 6 m, 8 m ou 12 m, devendo ser também
considerado o tipo de carreta permitida a acessar o condomínio/bairro onde a edificação
será construída.
A seguir discute-se em maior detalhe a Tipologia 01, desde sua configuração inicial
até a expansão sugerida nesta proposta. O processo de construção foi dividido em 06
112
etapas (configuração inicial_ Figura 6-19 a Figura 6-33), mais 09 etapas para expansão do
núcleo básico (Figura 6-34 a Figura 6-54), visando explicar esquematicamente as fases da
obra, lembrando que, todas as questões técnicas comentadas no capítulo 04, sobre o
sistema construtivo LSF, se aplicam a este projeto.
Figura 6-19: Vista geral da estrutura finalizada _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Figura 6-21: Estrutura de base para vencer topografia acidentada _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
em radier, esta já serve como contrapiso do pavimento térreo. Para a opção de construção
com o uso da estrutura de base (Figura 6-23) é necessária a montagem da malha de piso
previamente a instalação dos painéis e execução de laje seca com uso de placas de OSB
(maiores detalhes da execução do piso, ver no Anexo A).
Figura 6-22: Instalação dos painéis (opção com fundação em radier)_ configuração inicial.
Fonte: Autor.
Figura 6-23: Montagem da malha de piso (opção com estrutura de base) _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
115
Encerrando esta etapa, sucede-se a instalação das treliças de reforço estrutural
(Figura 6-24), conforme previsto em projeto, para que seja possível a remoção de vedação
para ampliação da habitação, ou mesmo para conjugação de ambientes internos.
Figura 6-24: Instalação das treliças _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
ETAPA 03: MONTAGEM DAS GUIAS SUPERIORES E VIGAS DE PISO
As guias e vigas de piso vão compor a cobertura do pavimento térreo e, na ocasião
de ampliação da habitação com o acréscimo de um segundo andar, estas servirão de
apoio a laje seca/piso.
Figura 6-25: Instalação das guias superiores _ configuração inicial.
116
Fonte: Autor.
Figura 6-26: Instalação das vigas de piso _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
15
Disponível em <http://www.alwitra.com/uploads/2016-12-09-18-41-15.jpg>
Figura 6-28: Instalação das tesouras e painéis que compõem a platibanda _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
118
Figura 6-30: Instalação das ripas e cobertura _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
ETAPA 05: ESQUADRIAS
Segue a instalação das esquadrias, destacando-se que, esta é uma das etapas da
obra que pode acontecer de modo simultâneo a outras etapas, uma vez que, esta é uma
das premissas do sistema construtivo LSF. Portanto, a sequência de montagem ilustrada
neste trabalho visa ilustrar de forma didática o processo construtivo mas não eliminando a
construção simultânea.
119
Fonte: Autor.
ETAPA 06: FIXAÇÃO DAS PLACAS DE VEDAÇÃO
Por fim, a instalação das placas de vedação (interna e externamente) e que,
conforme comentado, também pode acontecer de modo simultâneo a outros serviços, a
medida que a estrutura e instalações (elétrica, hidráulica e de rede) vão sendo concluídas.
A Figura 6-32 representa esquematicamente as camadas que compõem as vedações (mais
detalhes ver Anexo A). Importante lembrar que, conforme comentado no capítulo 04, as
juntas das placas não devem coincidir com as juntas dos painéis (ver Figura 4-30).
Figura 6-32: Instalação das vedações _ configuração inicial.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
desnível na parte posterior da edificação, de modo que possa ser exemplificada a solução
projetual adotada para implantação em topografias acidentadas. O processo construtivo
é o mesmo em relação ao módulo inicial, sendo destacados aqui os ajustes necessários para
ampliação. Seguem as etapas:
ETAPA 07: EXECUÇÃO DA FUNDAÇÃO OU MONTAGEM DA ESTRUTURA DE BASE
Figura 6-34: Execução da fundação em radier (porção plana do terreno) e estrutura de base (porção
em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
Figura 6-35: Execução da fundação em radier (porção plana do terreno) e estrutura de base (porção
em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
121
ETAPA 08: MONTAGEM DAS GUIAS E VIGAS DE PISO
Montagem das guias e vigas de piso, dando suporte à laje seca na porção posterior
do terreno.
Figura 6-36: Montagem da malha de piso (porção em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva
frontal.
Fonte: Autor.
Figura 6-37: Montagem da malha de piso (porção em desnível no terreno) _ ampliação, perspectiva
posterior.
Fonte: Autor.
122
ETAPA 09: MONTAGEM DOS PAINÉIS
Segue a instalação dos painéis pré-fabricados.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
ETAPA 10: MONTAGEM DAS GUIAS SUPERIORES, VIGAS DE PISO, LAJE SECA E ESCADA DO
PAVIMENTO SUPERIOR
Em sequência, segue a instalação das guias e vigas de piso do pavimento superior,
dando suporte a laje seca dos módulos de ampliação. Nesta etapa insere-se ainda a escada
interna.
123
Figura 6-40: Montagem das malhas de piso e treliça estrutural _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
Figura 6-41: Montagem das malhas de piso e treliça estrutural _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
Figura 6-42: Instalação da laje seca e escada interna _ ampliação, perspectiva frontal.
124
Fonte: Autor.
Figura 6-43: Instalação da laje seca e escada interna _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
Figura 6-44: Remoção da cobertura e vedações internas do módulo inicial e instalação de malha de
piso sobre este _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
125
Figura 6-45: Remoção da cobertura e vedações internas do módulo inicial e instalação de malha de
piso sobre este _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
Figura 6-46: Instalação dos painéis no pavimento superior _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
127
Fonte: Autor.
Figura 6-49: Instalação da cobertura no pavimento superior _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
Figura 6-50: Instalação das esquadrias (externas e internas) _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
128
Figura 6-51: Instalação das esquadrias (externas e internas) _ ampliação, perspectiva frontal.
Fonte: Autor.
Figura 6-52: Instalação das vedações e serviços finais _ ampliação, perspectiva frontal.
129
Fonte: Autor.
Figura 6-53: Instalação das vedações e serviços finais _ ampliação, perspectiva posterior.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
130
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Todas as especificações técnicas ocorrem conforme os detalhes construtivos
apresentados no capítulo 04. Na Figura 6-55 destaca-se possibilidades de conexões dos
perfis, solução esta que pode ser adotada para conexão entre os painéis do núcleo básico
e os módulos expandidos.
Figura 6-55: Ligações entre perfis de Light Steel Frame.
Fonte: Metálica16
131
134
CONCLUSÃO
Através do estudo prático desenvolvido em parceria com a Flasan, verificou-se que o
processo de projeto na construção em aço demanda maior integração entre os
profissionais envolvidos nas diversas disciplinas referentes ao projeto, sendo exigido maior
grau de detalhamento a fim de que se evitem incompatibilidades, uma vez que as soluções
projetuais para construção pré-fabricada estão muito mais diretamente relacionadas às
etapas de fabricação, transporte e montagem da estrutura do que em outros sistemas
construtivos. Neste sentido, o projeto simultâneo deve ser um conceito fundamental a ser
adotado, garantindo-se que sejam exploradas ao máximo as vantagens construtivas do
sistema em aço, dentre elas a construção mais limpa e rápida.
Ainda que atualmente prevaleça o desenvolvimento do projeto do produto, é
importante atentar para a investigação do processo de produção e o ciclo de vida útil e
amplo da construção. A flexibilidade permite maior versatilidade à construção e, para
tanto, é fundamental a discussão de processos de projeto e modos de produção com
estratégias para que, na prática, uma obra para adaptação, ampliação ou redução ocorra
com o menor impacto possível para o morador, tanto em relação quanto ao que representa
o inconveniente da gestão e execução de uma obra de reforma quanto à facilidade para
que a mesma ocorra.
Comprovou-se que, de fato, para atingir maior grau de customização o ideal é adotar
nas soluções projetuais um sistema de montagem contínuo e oferecer a possibilidade de
repertórios imprevisíveis. Além disso, é vantajoso o uso de sistemas não proprietários,
conforme Lição 01 de Smith (2010).
Apesar de a empresa acompanhada nesta investigação ter maior foco no
detalhamento estrutural dos projetos e na construção por empreitada, no estudo prático
foi possível investigar um método de produção similar ao adotado pelo Resolution 4,
buscando-se soluções projetuais eficazes e desenvolvimento da tecnologia, conforme
Lição 02 de Smith (2010).
135
A Lição 03 de Smith (2010) não foi verificada, uma vez que, conforme comentado, a
Flasan não trabalha com plano de negócios ou financiamento, e sim com projeto estrutural
e empreitadas.
Quanto às Lições 04 e 05 de Smith (2010), verificou-se a importância de se considerar
a viabilidade da construção em LSF, desde os estudos preliminares e a necessidade de
maior integração entre todas disciplinas referentes ao projeto, por conta do fluxo de
informações a serem compatibilizadas entre os membros de uma equipe multidisciplinar.
Como limitação deste trabalho, não foi possível aplicar a CM, uma vez que a empresa
Flasan utiliza uma malha quadricular para projetar mas não aplica os conceitos definidos
pela norma NBR 15873 (ABNT, 2010), o que coloca em evidência o fato de sua adoção não
estar ainda difundida no mercado. Mediante esta situação, foi definida como prioridade
acompanhar o processo de projeto segundo os moldes da empresa, ainda que a mesma
não aplique a norma em projeto.
Como sugestão para trabalhos futuros indica-se a investigação da prática da CM e do
projeto simultâneo num espaço amostral maior de empresas, sendo possível a coleta de
dados qualitativa e quantitativamente, aprofundando-se o estudo de soluções para o
processo de projeto da construção metálica. Outra abordagem interessante que se
tornaria complementar no estudo prático desse trabalho seria a investigação relacionada
aos custos para gestão e execução da obra.
Por fim, embora os requisitos técnicos interfiram diretamente em todas as etapas do
projeto, desde a concepção, as possibilidades construtivas do aço não são limitadas,
permitindo diferentes soluções e proporcionando customização. O sistema construtivo em
LSF pode oferecer autonomia ao usuário para decidir sobre preferências funcionais,
estéticas ou de outra ordem, desde que as soluções projetuais prevejam tais possibilidades
em projeto.
136
REFERÊNCIAS
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138
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VALE, B. Prefabs: A History of the UK Temporary Housing Programme. Londres: E & FN Spon, 1995.
140
APÊNDICE A
13. Quais estratégias de marketing a empresa utiliza para inserção de seu produto no
mercado?
Sistema de Vedação Vertical Externa com Sistema de Vedação Vertical Externa com
revestimento de fachada em placas cimentícias. revestimento de fachada em placas de OSB com
face externa acabada.
(a) Sistema de Vedação Vertical Interna com função estrutural. (b) Sistema de Vedação Vertical Interna
sem função estrutural.
(a) (b)
Fonte: Diretriz SINAT, 2016.
Sistema de Vedação Vertical Externa com contraventamento metálico.
142
Sistema de piso composto por perfis leves de aço, placas de OSB, contrapiso de argamassa e
camada de acabamento _ Áreas molhadas.
Corte esquemático de Sistema de Vedação Vertical Interno com impermeabilização para parede que
possui instalação hidráulica interna.
144