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RELAÇõES INTERNACIONAIS
G. E. DO NASCIMENTO E SILVA *
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próprio filho, MIGUEL I, comunicou ao Presidente da República
francesa em forma telegráfica que havia assumido o trono,
sendo que GASTON DOUMERGUE respondeu da mesma maneira. 5
Ocorrendo golpe de Estado com a conseqüente mudança
do soberano ou chefe de Estado, o nôvo regime ou chefe de
Estado deverá ser devidamente reconhecido pelos demais Es-
tados antes de poder manter com êles relações diplomáticas.
É interessante notar que quando, em abril de 1967, as fôrças
armadas gregas tomaram o poder e destituíram o govêrno
constitucional, a situação do Rei CONSTANTINO não foi afetada
não ocorrendo necessidade de reconhecimento.
Conforme tem sido salientado, o órgão central responsá-
vel pelas relações internacionais do Estado pode ser de tipo
colegial. O único exemplo atualmente existente é o da Suíça,
onde nos têrmos do art. 103 de sua Constituição Federal, o
poder executivo supremo é exercido por um colégio de conse-
lheiros federais com direitos iguais. Nos têrmos da lei federal
de 1924 se estipula que o presidente do Conselho representa
no exterior a confederação. Tal norma, na opinião de GUGGEN-
HEIM, está em contradição com o conteúdo verdadeiro dos
podêres presidenciais da confederação e representa uma remi-
niscência do conceito monárquico da função do chefe de Es-
tado. 6
O Uruguai, de 1919 a 1952, tentou implantar um regime
colegiado, que na prática não deu os resultados almejados, dada
a presença de membros pertencentes a dois grupos políticos
rivais no Conselho, cujas deliberações e decisões eram mais de
natureza política do que administrativas. Em março de 1967,
o Uruguai abandonou o regime colegial depois de um período
de acentuada instabilidade política, social e econômica, fruto
de ausência de um poder central com autoridade.
São igualmente órgãos centrais de natureza coletiva os
triunviratos e outras soluções políticas semelhantes adotadas
freqüentemente depois de revoluções ou golpes de Estado logo
a seguir à derrocada do govêrno e que são, quase sempre, de
duração efêmera, com um dos membros do govêrno revolu-
cionário, geralmente de militares, assumindo o poder. Na
Rússia Soviética, depois de KRUSCHEV, surgiu um govêrno de
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Roma, por exemplo, imperador, rei e príncipe foram todos
utilizados em épocas distintas para designar a autoridade
suprema.
O título mais alto conferido tem sido o de imperador, deri-
vado do impera.tor romano. O título de imperador era uma
distinção honorífica dada pelas legiões aos generais e aos co-
mandantes de exércitos vitoriosos, mas com TIBÉRIO, passou a
designar o título do poder supremo. 1I Em 395, com o desmem-
bramento do Império Romano, surgem dois imperadores, do
Ocidente e do Oriente. O Império do Oriente subsistiria até
1453, data da tomada de Constantinopla.
O título de imperador foi retomado por CARLOS MAGNO
no ano 800 quando subjugou os saxões e se fêz coroar impera-
dor do Ocidente pelo Papa LEÃO IlI, título êsse que os seus
herdeiros mantiveram até que CHARLES-LE-GROS foi deposto
pela dieta de Tribur em 887. É interessante observar que CAR-
LOS MAGNO não passava, para o imperador dos romanos se-
diado em Constantinopla, de um rei bárbaro, usurpador do
título sacrossanto. I:! É bem verdade que em 812 o título de
imperador de CARLOS MAGNO foi reconhecido pelos basileus,
mas em 871 o imperador BASILE I recusou-se a reconhecer o
título assumido por LUIZ lI. OTON, o Grande, rei da Alemanha
desde 936, tornou-se rei da Itália em 961 cingindo a coroa im-
perial no ano seguinte dando origem ao Santo Império Romano
Germânico, que perdurou até a época napoleônica. NAPOLEÃO
ao proclamar, em 1804, o Império Francês escolheu para si o
título de imperador, não só porque a idéia de rei era insepará-
vel dos BOURBONS, mas também para atestar a derrota dos
HABSBURGOS, com a transferência da coroa para a França. No
intuito de vincular a sua coroação à de CARLOS MAGNO fêz
questão de que o Papa PIO VII o coroasse em Paris, a 2 de
dezembro do mesmo ano. Mas o império de NAPOLEÃO foi o mais'
efêmero; durou até 1814, renasceu em virtude de golpe militar
em 1852 para desaparecer definitivamente em 1870. O título,
contudo, não desapareceu, voltou aos HABSBURGOS com êles
permanecendo até 1918, quando o Imperador CARLOS IV da
Áustria foi forçado a abdicar.
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BLUNTSCHLI salientava que os Estados com direito à dig-
nidade imperial deveriam abarcar o mundo ou parte do mundo
e serem potências universais ou, pelo menos, reunir diversos
povos ou terem sôbre diversos povos uma influência política
determinada; sendo que os Estados que correspondem a um só
povo sôbre um território determinado possuem a dignidade
real. 15 É bem verdade que os conceitos emitidos por BLUNTS-
CHLI, que tinha em vista o caso específico dos reis da Prússia,
que depois de 1870 assumiram o título de imperador, carecem
hoje de importância.
N o estudo das monarquias temos ainda o título mais ge-
neralizado de rei tido como o mais eminente depois do de im-
perador. Foi o título primitivo adotado pelos soberanos dos
países latinos. A palavra deriva do latim rex, embora o rex
romano não correspondesse precisamente aos reis tal como en-
tendidos hoje em dia. No passado a dignidade real era confe-
rida pelos imperadores romanos, e posteriormente pelos im-
peradores bizantinos, pelos imperadores romano-germânicos e
pelos papas. A partir da Idade Média, os exemplos de príncipes
soberanos que adotaram o título de rei tornam-se mais fre-
qüentes, sendo que em 1701 o eleitür de Brandeburg colocou
pessoalmente sôbre a sua cabeça a coroa real, assumindo o tí-
tulo de rei.
Outros títulos monárquicos podem ser citados, sendo que
nas pequenas monarquias de Luxemburgo, Leichtenstein e Mô-
naco os títulos dos soberanos são os de grão-duque e de prín-
cipe, sem que isso possa ser tido como uma capitis diminutio
em relação às demais monarquias ou repúblicas, mercendo os
respectivos chefes de Estado as mesmas honras e prerrogativas
reconhecidas aos de outros Estados maiores e mais poderosos.
Os títulos dos soberanos geralmente mencionam todos os
territórios sob a sua suzerania, mas podem ainda incluir os tí-
tulos religiosos atribuídos a determinadas famílias reinantes
pelos sumo pontífices. Assim, os reis de Portugal eram os reis
fidelíssimos, 16 os franceses, os cristianíssimos, os espanhóis,
os católicos, os húngaros os apostólicos. O título de defensor
da fé foi outorgado ao Rei HENRIQUE VIII da Inglaterra pelo
Papa LEÃo X por haver escrito obra condenando as teorias de
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Variam as atribuições do chefe de Estado na fixação e
execução da política exterior do país e as suas limitações.
Quanto às limitações, algumas podem ser fixadas taxativa-
mente pela constituição, e outras podem ser conseqüência do
contrôle e da fiscalização exercida pelo Parlamento nacional,.
sendo que estas podem ser ou a priori ou a posteriori.
Quanto ao Brasil, verificamos que a Constituição de 1966,
apesar de haver fortalecido o poder executivo, a quem compete
privativamente a manutenção de relações com Estados estran-
geiros, delega podêres de contrôle ao Congresso Nacional. Em
determinadas condições, o contrôle é exercido apriorlsticamen-
te, como no caso da nomeação dos chefes das missões diplomá-
ticas permanentes, quando a aprovação prévia do nome do
in digitado pelo Senado é condição sine qua nono O Presidente
também só pode declarar a guerra ou fazer a paz depois de
devidamente autorizado pelo Parlamento. O contrôle a poste-
riori se verifica principalmente na aprovação de tratados já
firmados em nome do Presidente da República, figurando den-
tre êstes os tratados de paz para os quais é necessário a auto-
rização anterior e a aprovação posterior do tratado. Quanto
às proibições, basta recordar que a Constituição proclama que
"é vedada a guerra de conquista". Na vigência da Constituição
de 1946 havia ainda uma norma obrigatória pois se estipulava
"é mantida a representação diplomática junto à Santa Sé", o
que poderia eventualmente impedir o Presidente da República
de agir diversamente. 26
A exigência de autorização do legislativo para que os
chefes de Estado possam se ausentar do território nacional
constitui outra limitação à sua liberdade de ação em matéria
de relações exteriores. O Senado chileno rejeitou em janeiro de
1967 o pedido do Presidente EDUARDO FREI para visitar os Es-
tados Unidos a convite do respectivo govêrno, o que provocou
profunda surprêsa não só em Washington senão no resto do·
continente.
Problema delicado é determinar quais as conseqüências
internacionais da violação pelo chefe de Estado de texto consti-
tucional limitativo de seus podêres. É inegável que o direito
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visitas, podemos ainda acrescentar os deslocamentos dos chefes
de Estado a fim de participar em reuniões de cume ou para
apresentar a posição de seu país perante as Nações Unidas,
ocasiões em que são, a rigor, chefes de missão de alto nível,
questão esta que já se encontra na pauta da Comissão de Di-
reito Internacional das Nações Unidas. 31
O pr· meiro problema é o de saber se o chefe de Estado
quando no exterior pode continuar a exercer funções inerentes
ao seu cargo. O problema é da alçada do Direito Interno, mas
é fora de dúvida que, encontrando-se no exterior em missão
oficial não pode ser tido como havendo sido despojado de tais
atribuições, mesmo se, conforme sucede em países de regime
presidencialista, o vice-presidente ou o seu sucessor legal
assume em caráter interino a presidência, podendo em tal ca-
pacidade exercer todos os atos inerentes ao chefe de Estado.
Mas convém lembrar que freqüentemente o chefe de Estado
exerce no exterior funções de caráter administrativo e como
exemplo de Direito Internacional menciona-se o fato de o Rei
EDUARDO VII da Inglaterra haver recebido em Cristiania, não
na legação britânica mas no castelo real norueguês, as creden-
ciais do Senhor NANSEN, Ministro da Noruega em Londres.
O mesmo soberano nomeou ASQUITH como Primeiro-Ministro
quando em Biarritz, em 1908. 35 Em setembro de 1947, em vi-
vita oficial ao Brasil, o Presidente HARRY S. TRUMAN deslo-
cou-se do Palácio Laranjeiras para a Embaixada dos Estados
Unidos onde despachou normalmente.
Quando no exterior, o chefe de Estado não pode exercer
atos de jurisdição sôbre os membros de sua comitiva. Essa
regra, mencionada por diversos autores 36 se refere sobretudo
à época dos monarcas absolutos com direito de vida e morte
sôbre todos os seus súditos. Hoje em dia, nos regimes consti-
tucionais apenas o judiciário tem podêres de tal natureza e não
o chefe de Estado. É bem verdade que a regra ainda não pode
ser considerada perempta e basta atender aos deslocamentos
feitos por soberanos de alguns países árabes com tôdas as suas
mulheres e séquito, inclusive com os guardas pessoais. Nesse
particular, cita-se o fato de a Rainha CRISTINA da Suécia haver
mandado executar, em 1657, no Castelo de Fontainebleau, onde
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acrescenta que uma República não pode exigir para o seu pre-
sidente o mesmo tratamento dado a um monarca. Referin-
do-se à visita do Presidente WOODROW WILSON a Londres em
1918 observa, contudo, que recebeu as mesmas honras proto-
colares concedidas a um monarca. 39 Poder-se-ia acrescentar
que o próprio cerimonial britânico não mais diferencia entre
um monarca e um Presidente da República. Mais sem cabi-
mento são as considerações do Barão A. HEYKING que em 1925
ainda ensinava que "a exterritorialidade não se aplica ao Pre-
sidente de uma República. Inicialmente, é óbvio que quando
um soberano ou um presidente se encontram no exterior para
exercer funções diplomáticas, os privilégios de exterritoriali-
dade existem em virtude de seu caráter diplomático. O direito
das gentes reconhece, contudo, ainda ao soberano a exterrito-
rialidade em virtude da posição que ocupa como chefe supremo
do Estado. Semelhante posição não pode ser atribuída a um
presidente; não é soberano, mas apenas chefe do executivo e
simples funcionário, empregado do Estado que preside. Em
tais circunstâncias, a exterritorialidade não tem nenhuma jus-
tifir.ativa e não pode ser empregada". 40 Além de ainda funda-
mentar os privilégios e imunidades diplomáticas na ficção da
exterritorialidade, defende teses completamente inaceitáveis e,
completamente contrárias ao princípio da igualdade jurídica
dos Estados, que, repetindo, coloca todos os chefes de Estados
soberanos em pé de igualdade, quer se trate de um imperador,
rei, príncipe, grão-duque, ou presidente. Mais ainda, tratan-
do-se de país com govêrno colegiado, todos os membros de tal
govêrno quando oficialmente no exterior têm direito ao trata-
mento de chefe de Estado, se bem que na prática geralmente
um membro do govêrno é indicado para representar interna-
cionalmente o Estado.
O chefe de Estado goza quando no estrangeiro de privilé-
gios e imunidades bastante semelhantes aos reconhecidos aos
agentes diplomáticos. A doutrina, prática e jurisprudência
são, contudo, menos seguras na fixação das mesmas, se bem
que, em tese, seja justo dizer que as primeiras não devem ser
inferiores às segundas.
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dade de se poder em muitos casos diferenciar os casos em que
um chefe de Estado, ou mais precisamente um monarca, age
em qualidade particular distinta da oficial. Segundo SIBERT, a
jurisprudência francesa, consubstanc:ada em decisão de 1872
da Côrte de Apelação de Paris considera os tribunais franceses
incompetentes no tocante aos atos praticados por chefes de Es-
tado estrangeiros na sua qualidade oficial mas que são compe-
tentes para tomar conhecimento de uma ação iniciada contra
um soberano que tenha agido como pessoa privada. 45 Em 1921,
a Côrte de Cassação de Roma condenou o imperador da Áustria
em ação relativa a uma trnasação particular. 46 Escrito sob a
influência de tais teorias, o Código Bustamante, subscrito em
Havana, em 1928, depois de proclamar a imunidade de juris-
dição civil de chefes de Estado no art. 333, muda essa regra
no art. 335 ao estipular que "se o Estado estrangeiro contra-
tante ou o seu chefe tiverem atuado como particulares ou como
pessoas privadas, serão competentes os juízes e tribunais para
conhecer dos assuntos em que se exercitem ações reais ou
mistas, se essa competência lhes corresponder em relação a
indivíduos estrangeiros, de acôrdo com êste código".
A jurisprudência inglêsa. ao contrário, parecia admitir a
imunidade mesmo no concernente aos atos privados, e em 1911,
a Alta Côrte de Justiça opinou que um príncipe estrangeiro
não pode ser chamado a depor em processo de divórcio por
adultério como correspondente. A verdade é que a distinção
entre ações públicas e privadas, sendo fàcilmente aceitável na
maioria dos casos em que não padecem dúvidas quanto à sua
natureza, é perigosa nos casos de classificação duvidosa. Além
do mais é d :fícil ignorar a qualidade oficial de um chefe de Es-
tado 47 e sua situação sempre pode sofrer ao ser julgado por
juiz excessivamente zeloso, com evidentes prejuízos para as
boas relações entre os dois países.
N essas condições, pondo de lado tais distinções genéricas,
é preferível enumerar os casos em que os tribunais podem
tomar conhecimento de processos em que se acham envolvidos
soberanos estrangeiros.
O Instituto de Direito Internacional em sua sessão de
Hamburgo de 1891, baseado em relatório do Jurista de Bar,
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muitas legislações de ordem pública e não pode ser afastada.
N esse sentido, cumpre ainda salientar que nos países em que
a legislação veda a propriedade de bens imóveis a Estados
estrangeiros, a não ser para instalação da missão diplomática,
a aquisição de imóvel por chefe de Estado para outro fim signi-
caria automàticamente que a aquisição era a título particular
ocorrendo como que uma aceitação tácita da jurisdição terri-
torial. Em 1893 o Tribunal de Amiens na França pronun-
ciou-se contràriamente a um legado feito pelo Marquês de
Plessis-Belliere ao papa; se bem que os tribunais italianos
tenham abraçado a solução liberal numa sucessão deixada na
Itália ao reino da Dinamarca. 49
No caso de sucessão por soberano ou chefe de Estado de
bens situados no estrangeiro, a lex rei sitae já cobre os proble-
mas mais importantes. Quanto aos móveis, constata-se que em
muitos casos a herança não será pacífica, existindo a necessi-
dade de uma ação perante os tribunais, caso em que ocorre uma
renúncia tácita à imunidade jurisdicional. Seja como fôr, a
competência da jurisdição local é geralmente admitida pelos
autores. 50 A questão poderá complicar-se no caso de herança
deixada a monarca ou presidente em sua qualidade oficial de
chefe de Estado, como representante de tal Estado e não a
título particular.
São poucos os autores que admitem a competência dos tri-
bunais no tocante a atos de comércio praticados a título par-
ticular em território estrangeiro; e não devemos confundir
essa hipótese específica com a norma geral aceita por alguns
autores entre as duas guerras, que distingue os atos públicos
dos atos privados. A jurisprudência inglêsa é contrária, mas
LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA cita a decisão dada pelos tri-
bunais inglêses acêrca de um transporte de mercadorias feito
em um navio pertencente a D. PEDRO I, imperador do Brasil:
julgou-se "que S.M.I. tendo se empenhado em uma transação
comercial achava-se submetido por suas obrigações pessoais
às mesmas regras que qualquer outro comerciante e que se o
processo tivesse tido por objeto matéria conexa com o seu ca-
ráter político, outra seria a decisão". 51 Em 1752 a Côrte de Ape-
lação de Paris considerou-se competente em ação movida pelo
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pois a herança não foi tida como a título particular, mas como
ehefe supremo da Igreja Católica. 58 É bem verdade, que admi-
tido o direito de Estado estrangeiro a possuir bens imóveis no
país, que não sejam para fins da missão diplomática ou da
repartição consular, e que a herança tenha sido do papa como
chefe de Estado e não a título particular, a questão torna-se
mais complexa. De qualquer maneira, a justiça local é compe-
tente para decidir e, por analogia, a isenção fiscal só poderia
ser justificada por cortesia e não como um direito.
"Um chefe de Estado que chefia uma missão especial tem
o direito de trazer consigo os membros de sua família e pessoas
vinculadas ao seu serviço pessoal que, enquanto pertenceron.1
ao seu séquito, terão direito às mesmas imunidades que o chefe
de Estado". Trata-se da regra que se nos depara no art. 2,
alínea h, do projeto elaborado pelo Professor MILAN BARTOS e
submetido, mas não discutido pela Comissão de Direito Inter-
nacional em sua sessão de 1965. 59 Consagra a orientação atual-
mente admitida pelo Direito Internacional ou seja de que os
membros da família do chefe de Estado bem como os membros
de sua comitiva gozam de prerrogativas e imunidades quando
no exterior. É a regra que se nos depara na. maioria dos auto-
res contemporâneos, 60 sendo raros os que, como SIBERT, ainda
julgam que as imunidades devem ser reconhecidas apenas ao
chefe de Estado, 61 tese esta que se nos depara em alguns auto-
res antigos. 62 Nesse particular, não há porque colocar o chefe
de Estado em situação de inferioridade ao chefe de missão
diplomática, cujos familiares lhe são assimilados em matéria
jurisdicional. Por sua vez, OPPENHEIM-LAUTERPACHT reco-
nhece a imunidade à mulher do soberano, mas não aos mem-
bros de sua família. 63
O Tratado de Versalhes de 1919 em seu art. 227 veio abrir
uma importante brecha no princípio da inviolabilidade e no da
imunidade de jurisdição, pena dos chefes de Estado ao prever
a criação de um tribunal especial, a posteriori, encarregado de
julgar o Kaiser por "ofensa suprema contra a moral interna-
cional e a autoridade sagrada dos tratados", pela agressão à
Bélgica e pela violação sistemática das leis de guerra pelas
fôrças armadas alemãs. A recusa dos Países Baixos de entre-
BIBLIOGRAFIA
88 R.C.P. 1/70.
Vi BLUNTSCHLI. Le Droit International Codifié (5. a edição), arts. 85-
a 87, p. 99-100.
Ir. O título de Rei Fidelíssimo foi outorgado pelo Papa em 1748 a
Dom JoÃo V em virtude da devoção por êle demonstrada quando de sua
estada em Roma.
17 FODÉRÉ, P. Op. cit., vol. 1, p. 90; GENET, R. Op. cit., n. 341, p. 370-371.
I~ Nota aos parágrafos 45 e 46 do Livro 11, capo II do Droit des Gens,
de VATTEL.
19 GENET, R. Op. cit., vol. 1, n. 343, p. 373. SATOW, op. cit., § 69,
p. 39. FODÉRÉ, P. Op. cit., vol. 1, p. 91. ERICE, Sebastián de. Op. cit.,
vol. 1, p. 177.
2ú Relatório dos Negócios Estrangeiros de 1862, documentos oficiais,
ns. 57 a 61, p. 116 a 119.
2' A British Digest of International Law, parte VII, p. 650.
2~ NICOLSON, Sir Harold. Diplomacy, 3. a edição, p. 189-190.
2': QUADRI, Rolando. Diritto Internazionale Pubblico, p. 78.
2. RENOUVRIN, Pierre. Historia de las Relaciones Internacionales, voI. 3.
p, 1.271.
2,1 DE CONDE. The American Secretary of State, p. 87.
2G NASCIMENTO E SILVA. "O Direito Internacional no Projeto de Re-
forma da Constituição" in Boletim da Sociedade Brasileira de Direito
Internacional, ns. 43-44, 1966.
2. STRUPP, Karl. Elements de Droit International Public, vol. 1, p. 209.
2., F AUCHILLE. Op. cit., vol. 1, 3. a parte, n. 632, bis, p. 6.
29 MELLO, R. vol. 1, n. 23, p. 40. SANCHEZ DE BUSTAMANTE. Droit In-
ternational public, vol. 1, p. 320.
30 SCHWARZENBERGER, George. Interna tio na L Law, voI. 1, p. 75.
31 ANZILOTTI. Op. cit., voI. 1, p. 261. CAVAGLIERI, A. Regles Générales
du droit de la Paix, in Recueil des Cours de l' Académie de Droit Inter-
national, vol. 1, 1929, p. 501. ACCIOLY. Tratado de Direito Internacional
Público, vol. 1, 2. a edição, n. O 683, p. 442.
37 Yearbook of the International Law Commission, 1966, vol. 2, p. 241.
3;\ Idem, ibidem, vol. 2, p. 241.
34 O Anuário da Comissão de Direito Internacional de 1965, vol. 2,
transcreve o esbôço de MILAN BARTOS relativo às missões especiais de
alto nível. P. 109 e seguintes.
~ FAUCHILLE. Op. cit., vol. 1. m. 647, bis, p. 17.
3G FARO JUNIOR, Luiz de. Manual de Direito Internacional Público,
4. a edição, 1962, p. 287. CAVARÉ, Louis. Le droit international public posi-
tive, 1962, vol. 2, p. 12. SATOW. Op. cit., p. 5. MELLO, R. Op. cit., voI. 1,
n. 29, p. 43. ANTOKOLETZ, D. Tratado teórico y prático de derecho diplo-
mático y consular, vol. 1, p. 100.
37 FAUCHILLE. Op. cit., n. 645, p. 16.
:IR Veja ERICE, Sebastián de. Vol. 1, p. 221-222. BUSTAMANTE. Op. cit.,
voI. I, n. 278, p. 361.
90 R.C.P. 1/70