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Portfolio

Uma jornada
pela história da língua
portuguesa
Movimentos de
(des)construção

Fabiane Alves dos Santos


UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-
BRASILEIRA
INSTITUTO DE LINGUAGENS E LITERATURAS
CURSO DE LETRAS - LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA
PROFA. DRA. JULIANA ARAÚJO

FABIANE ALVES DOS SANTOS

PORTFÓLIO DE ATIVIDADES

Redenção - CE
2023
Objetivo:
O presente trabalho tem como objetivo registrar os temas tratados e as
experiências vivenciadas durante as aulas da disciplina História da Língua
Portuguesa, do curso de Letras língua portuguesa da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB, ministrada pela professora
Dra. Juliana Geórgia Gonçalves de Araújo no período de Agosto a Dezembro de
2023.
O portfólio tem como título “Uma jornada pela história da língua portuguesa:
movimentos de (des)construção”, uma vez que a proposta da disciplina é conhecer a
língua portuguesa a partir de uma perspectiva que dá visibilidade às raízes africanas
e indígenas para a formação do português brasileiro, visando reflexões críticas e a
desconstrução das histórias únicas que foram contadas a partir do ponto de vista
europeu.
SEXTA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2023

Aula Introdutória
Na aula introdutória da disciplina, iniciamos com uma atividade de pesquisa que consistia
em buscar a origem do nosso nome e dos nomes dos nosso colegas.
RAYANE - de origem hebraica, veio de Rayyan, significa renascida.

CECÍLIA - vem do latim Caecilia, originando de Caecus (cego). Também associado à


sabedoria e à música.

FABIANE - É uma variante de Fabiana, forma relativa de Fábia, a versão feminina


de Fábio, que surgiu através do nome do latim Fabius, a partir da palavra faba, que
quer dizer literalmente “fava”. Fava simboliza sorte.

A atividade foi interessante pois nos permitiu refletir sobre as diferentes origens que os
nomes podem ter, entretanto, há um padrão, ou seja, latim, hebraico e grego, que são línguas
consideradas centrais para o surgimento de outras línguas. Desse modo, é interessante pensar em
que outras línguas são estruturantes e que muitas vezes são se destacam pois estamos
acostumados a olhar em um perspectiva eurocentrada.
Além disso também discutimos um pouco sobre a ementa da disciplina e as atividades
avaliativas que seriam realizadas ao longo do semestre.

Avaliação 1: entrevistas e submissão de resumos na IX semuni (o objetivo é entrevistar


um grupo e investir qual a perpectiva desse grupo acerca da história da língua portuguesa).

Avaliação 2: Realização de oficinas sobre os PALOP e Brasil

Avaliação 3: Portfólio - Registro das aulas de forma crítica e com expressão da


subjetividade.
As propostas de atividades são bem interessantes e desafiadoras pois irão nos proporcionar
muitas experiências diferentes, para além da clássica prova em sala de aula.
SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2023

Pensamentos que a colonização enraizou


A aula do dia 26 de Agosto de 2023, iniciou-se a partir de uma discussão sobre a história
única que é contada nas escolas sobre a independência do Brasil. O material utilizado para a
discussão foi um vídeo usado como material didático para o ensino desse tópico para as crianças
na educação infantil. O vídeo traz, de forma bem ilustrativa, a história de como os portugueses
chegaram ao Brasil e exploraram a terra, mas sem mencionar os assassinatos dos povos
indígenas, e como D.Pedro I, declarou a independência do Brasil, simplesmente porque gostava
muito do lugar. Após assistir ao vídeo é levantada a seguinte questão: qual base você usaria para
argumentar contra a reprodução desse tipo de material?
Refletindo sobre essa questão podemos destacar alguns autores que falam sobre a
descolonização e a necessidade de desconstruir ideias que foram naturalizadas durante o
colonialismo, como Frantz Fanon em sua obra “Os condenados da terra”, Chimamanda Ngozi
Adichie em “O perigo de uma história única” e Tatiana Fuly em “Que história você quer contar?
Caminhos para uma educação decolonial” que foi o aporte teórico para a aula. Essas obras são
essenciais para os docentes que pretendem desenvolver uma pedagogia decolonial.

PRETUGUÊS
Lélia Gonzalez

Pretuguês é um termo muito ouvido na Unilab mas talvez ainda


não compreendido por muitos. Discutimos esse termo a partir
do vídeo no qual a atriz Zezé Motta traz uma fala de Lélia
Gonzalez, uma pensadora antirracista brasileira:

"É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo
que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l, nada mais é que a marca
linguística de um idioma africano, no qual o l inexiste. Afinal, quem é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior
barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais, que condensa você em cê, o está em tá e por aí
afora. Não sacam que estão falando pretuguês." (GONZALEZ, Lélia, 1984, p.238)

O Pretuguês é a língua portuguesa falada no Brasil com as marcas das línguas africanas dos
povos que foram sequestrados e trazidos para serem escravizados. Entender esse fenômeno é
essencial para compreender que a história da língua portuguesa não se resume a uma evolução do
latim, mas que, no caso do português brasileiro, se define pela presença das línguas indígenas e
africanas. Pensando nesse termo, fiz uma pesquisa rápida a partir da tag Pretuguês na barra de
pesquisa do instagram e encontrei o perfil “Letras, câmera, ação!”, criado por professoras de
Língua Portuguesa, do Cefet-RJ, campus Maria da Graça para divulgar práticas de ensino
relacionadas aos letramentos digitais. Destaco o projeto no qual foi produzido o Glossário do
pretuguês, com os alunos do primeiro ano do ensino médio. As professoras falaram sobre o termo
pretuguês, Lélia Gonzalez e a origem africana de diversas palavras da língua portuguesa e os
alunos produziram posts com verbetes de palavras de origem africana. Abaixo, alguns dos posts
produzidos:
O projeto, além de promover o letramento digital, também trabalha na perspectiva decolonial
e se enquadra na proposta da Lei 10.635/2003, dando destaque às culturas e línguas africanas
que desempenham um importante papel na formação histórico-cultural brasileira.

GIRA DIALÓGICA

Para finalizar a aula, tivemos um momento de compartilhar nossas leituras estabelecendo


relações entre o texto de Tatiana Fuly e o vídeo de Paulina Chiziane, no qual a escritora
moçambicana fala sobre a invasão portuguesa e a construção da narrativa maniqueísta de que os
povos negros africanos são o mau em oposição ao bom, que é o branco europeu.
Em diálogo com o texto de Fuly, destaco algumas citações que são importantes para
compreender como essa ideia foi difundida.

“[...] o eurocentrismo não é a perspectiva cognitiva somente dos europeus, mas torna-se também
do conjunto daqueles educados sob sua hegemonia.” (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p. 19 apud
FULY)
A partir desse trecho podemos destacar o prefácio d’Os condenados da terra, no qual Jean-
Paul Sartre afirma que,
A elite européia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adolescentes,
gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-
lhes na boca mordaças sonoras, expressões bombásticas e pastosas que grudam nos
dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados.(SARTRE;
In: FANON, 1968)

Catequizar os povos, educá-los para difusão da cultura européia sempre foi parte do projeto do
colonizador, de modo que muitas culturas foram apagadas. Essa difusão ainda hoje é realizada
no ambiente escolar, um exemplo são as leituras que são disponibilizadas para crianças e
adolescentes que trazem destaque para autores e personagens brancos. Como afirma Fuly,
“A mentira e o perigo das distorções da verdadeira história dos povos, que acabam
por colocar jovens e adultos, desde a infância, debruçados em leituras hegemônicas e
deslocadas de sua cultura, por meio das quais são inseridas na literatura e em novos
mundos, porém sem a consciência de que pessoas de sua raça e lugar social podiam
ser também sujeitos reais e legítimos dessas histórias.” (FULY, p.43)

Desse modo, é importante que nós, enquanto docentes em formação, entendamos a importância
de dar destaque para a representatividade e protagonismo de crianças e jovens, negros e negras,
nos temas, materiais e atividades trabalhados em sala de aula, para que o racismo não seja
propagado no espaço escolar.
SEXTA-FEIRA, 01 DE SETEMBRO DE 2023

Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal: nações


plurilingues
Dando continuidade às discussões da aula anterior, trabalhamos com o artigo de Bethania
Mariani (2008), intitulado “Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal: nações
plurilingues”, no qual a autora trata, entre outras questões, das legislações sobre o uso da língua
estabelecidas no período colonial no Brasil e em Moçambique.
A metodologia consistiu em formar grupos com quatro integrantes e cada grupo recebeu um
Qr Code que direcionava a um material que deveria ser estudado de forma comparada com o
artigo de Mariani (2008).
O Qr Code nos direcionou para o artigo “Heranças africanas no português do Brasil”,
publicado no site Museu da Língua Portuguesa. No artigo é feito um levantamento histórico das
origens dos povos africanos trazidos para o Brasil, afirma-se que 70% dos africanos trazidos
como escravizados eram da região da África centro-ocidental (Congo e Angola), povos falantes
de línguas do grupo Banto. O Banto foi a principal influência para a pronúncia, o léxico e a
sintaxe do portiguês brasileiro.
No fim do século XVII e início do XVII, os povos da Costa da Mina, falantes das línguas do
grupo Gbe, foram trazidos para a região de Minas Gerais uma vez que tinham experiência com
mineração. Nessa região era usada a língua de Mina para que os senhores de escravos se
comunicassem com esses povos e para isso a língua foi registrada e descrita para que pudesse ser
aprendida.
No século XIX, os povos do Golfo de Benin, de origem Iorubá, foram trazidos para a cidade
de Salvador e Recôncavo Baiano, se destacam por terem permanecido fiéis aos seus ritos e aos
Orixás.
No artigo de Mariani (2008), é abordada a questão da legislação sobre a língua portuguesa e
as línguas nativas de povos indígenas e africanos, ou seja, o controle que era exercido sobre o
uso dessas línguas pelos colonizadores. Em resumo, no início da colonização, permitia-se o uso
das línguas nativas, principalmente para a catequização, mas depois proibiam e obrigavam que
se falasse a língua portuguesa, de modo que o uso da língua nativa estava sempre atrelado aos
interesses econômicos, como foi o caso do povo da Costa de Mina, ou religiosos, com os
indígenas.
Esse aspecto da legislação pode ser observado no artigo destacado por Mariani (2008) do
Estatuto do Missionário,
“Nas escolas é obrigatório o ensino e o uso da língua portuguesa. Fora
das escolas, os missionários e os auxiliares usarão também a língua
portuguesa. No ensino da religião pode, porém, ser livremente usada a
língua indígena” (Estatuto do Missionário, artigo 69 apud Mariani,
2008)
Nesse ponto, também é importante destacar que a imposição da língua portuguesa no Brasil
foi um processo devastador, que resultou na extinção de muitas línguas nativas, uma vez que, ao
invadirem o território, os portugueses estavam presentes constantemente. Em África, muitas
línguas foram preservadas, pois, mesmo que tenham chegado muito antes, a invasão, de fato,
assim como o processo de independência foram tardios.
O que se percebe é que a língua sempre foi um instrumento de poder e de dominação, de modo
que, para os colonizadores, impor uma língua e impedir os povos de falarem suas línguas foi
parte do projeto de colonização.
SEXTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2023

Como as línguas nascem e morrem? O que são famílias linguísticas?

Os questionamentos que orientaram a discussão da aula têm como base o texto de Ataliba T.
de Castilho, no qual o autor aborda as hipóteses sobre o surgimento das línguas no mundo e as
principais famílias linguísticas existentes. A partir da leitura prévia, elaborei um breve resumo
dos principais tópicos do texto:

Como teriam surgido as línguas no mundo?

HIPÓTESE MONOGENÉTICA
Todas as línguas derivavam do hebraico, que teria dado origem às línguas hoje conhecidas
depois do episódio da torre de Babel.
Trata-se de uma crença baseada na Bíblia.

“Naquele tempo todos os povos falavam uma língua só, todos


usavam as mesmas palavras”
“O Senhor disse assim: - Essa gente é um povo só, e todos falam
uma só língua. Isso que eles estão fazendo é apenas o começo.
Logo serão capazes de fazer o que quiserem. Vamos descer e
atrapalhar a língua que eles falam, a fim de que um não entenda
o que o outro está dizendo” (BÍBLIA)

Não podia ser confirmada, pois com o avanço na descrição, percebeu-se a grande diferença
entre as estruturas das línguas.
Para responder a questão do surgimento das línguas, é necessário antes de tudo, fazer um
trabalho de descrição e comparação das línguas tendo como objetivos:
- Identificar as grandes famílias linguísticas
- Descrever as “línguas-filha”
- Estabelecer as tipologias linguísticas

As línguas do mundo derivam de uma só língua?

As descrições feitas já permitiram a identificação de diversas famílias linguísticas. Dentre elas


o INDOEUROPEU, a maior e mais falada das famílias linguísticas.

“A língua portuguesa pertence à família do Indoeuropeu”

INDOEUROPEU
“Um conjunto de línguas , aparentemente faladas seis mil anos atrás, portanto, a partir de
4.000 a.C”
“Seus usuários eram indivíduos ágrafos”
“Os linguistas descobriram que o Indoeuropeu compreende atualmente 60 línguas”
“Descoberta do Indoeuropeu” - Final do século XVIII
Viajantes europeus conhecedores de Latim, Grego e Gótico, ao passarem pela Índia, notaram
semelhanças em palavras dessas línguas e do Sânscrito. Assim surge a hipótese de que essas línguas
eram aparentadas e deveriam ter evoluído de uma língua comum. Essa língua comum foi
denominada Indoeuropeu.

As variações e mudanças no Latim


LATIM ARCAICO
(contato com os gregos no século III a.C)
Latim culto Latim Vulgar

Variedade praticada pela elite romana Variedade praticada pelas classes


Era falado e escrito incultas
A variedade escrita permaneceu em Apenas falado
usos muitos específicos: Foi continuada pelas língua
- Nos escritórios reais (Latim românicas que dela derivaram.
Medieval)
- Na igreja católica (Latim
Eclesiástico)
- Na literatura científica (Latim
científico)

A metodologia empregada na aula foi a discussão a partir de algumas questões. Nos


organizamos em grupos e discutimos as questões e em seguida compartilhamos com todos. Umas
das questões discutidas foi relacionada ao processo de mudança do Latim e o processo de mudança
do português nos países da integração. Seriam processos similares?
Nessa reflexão, um dos pontos a destacar é que ambos as mudanças ocorrem por meio da
invasão de territórios e o contato entre as línguas, que geralmente se dá de forma violenta pela
dominação dos povos e a imposição linguística. Entretanto, à invasão nos países da integração
acrescenta-se o elemento da escravização tendo como base a inferiorização de raças, sendo esses
povos considerados inferiores e que não possuíam língua.
Outra questão nos levou a refletir sobre a “morte das línguas”, desse modo, pode-se dizer que
as línguas que não possuem falantes mas que foram descritas, ainda podem ser ensinadas. Nesse
caso, o extermínio de uma língua se dá quando não há falantes e a língua não possui registros
escritos.
SEXTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2023

Do latim para o português e o Latim no português

Retomando os questionamentos da aula anterior, refletimos sobre a “morte” do Latim, desse


modo, pode-se chegar à conclusão de que as chamadas línguas latinas são desdobramentos do
latim, por isso o latim, não necessariamente é uma língua morta.
Nessa perspectiva, começamos a refletir sobre a presença do latim na contemporaneidade, no
Português brasileiro, a partir de alguns exemplos de nomes de marcas:
- Lux (pode remeter a luxury, do inglês, luxo ou à palavra latina que significa luz)
- Natura (do latim, natureza)
- Cerveja Liber (do latim, liber - liver - livre)
- Whisk Domus (do latim, casa, domicílio, família)
- Optimum (do latim, Ótimo)
- Plusvita (do latim, mais vida)
Refletindo sobre os processo de mudança, percebe-se que na palavra VITA, em latim, houve a
substituição do T pelo D, resultando na palavra VIDA.

Também foi discutida a presença de termos em latim no campo científico, como os nomes
das espécies animais e vegetais e os termos usados na escrita acadêmica, Apud e et al, por
exemplo. Isso nos leva a refletir sobre as línguas que são consideradas capazes de transmitir
conhecimento, latim e grego ocupavam esse espaço, por isso que ainda hoje, na esfera científica
há resquícios do latim em expressões que circulam no meio acadêmico. Atualmente, o inglês
ocupa esse espaço.
Após a discussão inicial, a turma foi dividida em dois grupos para um quiz, baseado no
capítulo “Percepção e mudança”, da obra Linguística Histórica. Foi uma metodologia muito
interessante, pois nos levou a perceber as questões centrais do texto, no que se refere ao processo
de variação e mudança da língua.
A mudança pode ser entendida como um processo natural das línguas que ocorre de forma
organizada, ou seja, as alterações mantêm a plenitude estrutural e potencial semiótico das
línguas. Trata-se de um processo lento que atinge partes específicas das línguas, nesse caso,
pode-se falar sobre mudanças fonético-fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas,
pragmáticas e lexicais.
Tendo em mente como se dá o processo de variação e mudanças, analisamos, ainda em grupo,
algumas mudanças do latim para o português com o intuito de entender como ocorreram esses
processos.
- amare habeo > a(b)eo > * aio > *eio > ei
Nesse exemplo está sendo analisada a mudança da forma amare habeo para amarei, o que
ocorre é um processo de gramaticalização, no qual alguns elementos são subtraídos ao longo do
tempo, ocorrendo uma redução fonética. O mesmo processo ocorre no pronome de tratamento
Vossa Mercê que se transforma no pronome pessoal Você, nesse caso, a expressão perde seu
significado original e adquire um novo significado e função gramatical (descoloração
semântica).
Outra questão discutida foi o surgimento do advérbio de modo (-mente), em palavras como
Perdita mente - mente perdida
Sollicita mente - mente solícita
Percebe-se que no português atual, tais palavras se tornaram advérbios: perdidamente e
solicitamente.
SEXTA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2023

Os povos e as línguas Bantu

Para discutir sobre os povos e as línguas Bantu foi usado como referencial teórico a
introdução e o capítulo 1 da obra África Bantu: de 3500 a.C. até o presente, de Catherine
Cymone Fourshey, Rhonda M. Gonzalez e Christine Saidi.
Para tornar a discussão mais dinâmica a proposta foi o trabalho em grupo, no qual
elaboramos questões que seriam respondidas por outro grupo.
Uma das questões mais discutidas foi:
“O que é a cosmovisão Bantu?”
A cosmovisão Bantu refere-se à visão de mundo desses povos que moldam seu modo de
viver. Nessa perspectiva, sua cosmovisão é voltada para integração do homem com a natureza.
Outra questão discutida foi a diferença entre o termo Bantu e Tradição Bantu. O primeiro
termo é genérico, levando à ideia de que Bantu é um único grupo, enquanto que Tradição Bantu
é abrangente, pois destaca as práticas linguísticas, históricas, religiosas, tratadas em conjunto
mas entendidas como heterogêneas.
Os falantes Bantu tiveram influência em todo o mundo e conseguiram povoar grande parte
do continente africano. Uma das explicações para esse fato é a relação de hospitalidade com os
forasteiros.
“A hospitalidade era uma ideologia importante e um sistema ético que informava as decisões e
escolha em relação a forasteiros e convidados. [...] Muitas comunidades de língua Bantu
reconheciam o valor de acolher os forasteiros e saudar os pioneiros.”
A hospitalidade fortalece as interações interculturais, sendo os povos Bantu, nômades,
conseguiram povoar grandes áreas, estabelecendo relações de troca e promovendo o intercâmbio
cultural. Desse modo, comparando os processos de expansão do português e da língua Bantu,
pode-se dizer que o primeiro se baseou no extermínio de povos e imposição da língua do
colonizador e o segundo baseou-se na cooperação entre os povos que permitiu o surgimento de
várias línguas pertencentes a uma raiz Bantu.
Para concluir, uma discussão importante refere-se à problemática do uso do termos línguas
Bantas, com variação em gênero e número.

Aqui há um aportuguesamento da língua,


fato que ocorre, inclusive, em trabalhos
científicos. Por respeito à gramática da
língua, o correto seria “Línguas Bantu”, uma
vez que BA- é a partícula que marca o plural.

Uso do termo “línguas bantas” em trabalho científico


SEXTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2023

As influências das línguas Bantu no português do Brasil: origens e


trajetórias rumo ao pretoguês
Dando continuidade às várias discussões que estavam sendo realizadas nas aulas anteriores,
trabalhamos com o artigo de Makosa Tomás David e Gabriel Nascimentos dos Santos, no qual
os autores abordam a presença das línguas africanas no português brasileiro trazendo as marcas
linguísticas que Lélia Gonzalez veio a chamar de pretoguês.
Uma das reflexões iniciais foi a seguinte questão:

Por que a norma culta é a europeia e a norma popular (considerada errada) é aquela marcada
pela presença das línguas africanas?
A língua não se separa do social e do político, desse modo, a política da colonização visava a
dominação dos povos e um aspecto dessa dominação foi a imposição linguística. As línguas se
modificaram pelos contatos, de modo que se cria a ideia do erro como uma questão social, ou
seja, quem fala a norma europeia tem mais status, nesse sentido há um silenciamento da
presença das línguas africanas no Brasil.

PRETUGUÊS é um termo que traz uma marca racial para a língua.

A metodologia da aula consistiu na discussão de algumas questões em grupo e em seguida o


compartilhamento com a turma toda.
Algumas questões discutidas:
As comunidades indígenas que habitavam a costa brasileira brasileira falavam línguas
pertencentes ao tronco tupi, desse modo, os portugueses não conseguiam entender aquelas
línguas. Para que conseguissem o domínio do território tiveram que aprender uma língua, que
foi a língua geral, usada para a comunicação entre as diferentes etnias. A língua portuguesa não
foi imposta desde o início pois, para obter o domínio, inicialmente, se apropriaram da língua
geral, o primeiro passo para se buscar a homogeneização linguística no Brasil.

As línguas gerais eram derivadas das línguas nativas da Costa que pertenciam ao tronco tupi,
que eram muito semelhantes por pertencerem à mesma família, eram uma tipo de crioulo.
Devido à presença de muitas línguas indígenas, os colonizadores tentaram, de início, aprender
uma língua e usá-la para a comunicação com os povos originários e impor o seu domínio.

No artigo em estudo são destacadas as revoltas pró-independência no Brasil que tiveram


ampla participação de escravizados que fomentavam a existência de manifestos e sociedades
secretas. Nesse sentido, as línguas eram uma forma de resistência.
SEXTA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2023

Histórias das línguas portuguesas

O foco de discussão durante a aula foi a diversidade, pois se a sociedade é plural, assim
também é a língua e a língua materializa a diversidade.
Desse modo, a imposição de um norma culta vai contra a diversidade, pois visa a
homogeneização das formas de falar, além disso, essa norma culta é o europeu e a norma
popular é assim chamada pois se afasta do padrão europeu. A grande questão é que a
singularização da língua resulta no silenciamento de povos, culturas e etnias.

A partir do capítulo “O continuum afro-brasileiro do português”, de Margarida Maria


Tadoni Petter, discutimos sobre as aproximações entre as formas de português faladas em países
africanos e o português brasileiro, não focalizando no que é certo ou errado, mas no sentido de
compreender a histórias de contato dessas línguas.
A metodologia da aula consistiu em formar grupos e pesquisar sobre essas aproximações. Cada
grupo focalizou diferentes aspectos da língua: fonético-fonológico, lexical e morfossintático.

Nível lexical: aproximações entre o português brasileiro, angolano e Moçambicano


Destacamos algumas palavras do léxico do português brasileiro que tem sua origem nas línguas
Bantu.
Dengo - origem bantu
Birra infantil (significado mais comum no Brasil)
Carinho

Muxoxo: expressão de insatisfação


Chocho: triste

Desse modo, conseguimos fazer uma comparação, em diversos níveis linguísticos em uma
perspectiva de semelhanças e diferenças, entre os países de expressão portuguesa.
Relato e registros da IX Semuni
O processo de produção do resumo expandido foi longo e consistiu em algumas etapas: as
discussões teóricas realizadas em sala de aula, a pesquisa de campo (entrevistas), a escrita do resumo e
a apresentação oral durante a IX Semana Universitária da Unilab.
As discussões teóricas foram abordadas anteriormente no portfólio, desse modo, descrevo aqui a
etapa de pesquisa de campo. Decidimos entrevistar um grupo de docentes de escolas do ensino médio
de Acarape e Redenção com o objetivo de investigar a perspectiva de ensino da história da língua
portuguesa no ensino médio associado à formação desses professores. Entrevistamos três professores e
a partir dos dados coletados discutimos sobre a necessidade de descolonizar a ementa disciplina de
história da língua portuguesa dos cursos de letras língua portuguesa e de repensar os currículos do
ensino médio de modo a dar maior espaço para abordagem dessa temática em uma perspectiva
decolonial, ou seja, de desconstruir as histórias únicas contadas do ponto de vista do colonizador,
dando destaque para a presença das línguas indígenas e africanas no português brasileiro.

A apresentação oral foi realizada no dia 22 de novembro de 2023, na VII mostra da vida estudantil
que foi realizada no Campus dos Palmares, bloco 2, sala 203, das 08:00 às 12:00. Durante o encontro,
outros resumos produzidos no âmbito da disciplina História da língua portuguesa também foram
apresentados gerando muitas discussões interessantes sobre o tema.
Oficinas:
Línguas, culturas e histórias outras
As oficinas foram planejadas em grupos, os quais deveriam pesquisar e trazer discussões para a
turma acerca da história, cultura e aspectos linguísticos dos países africanos de língua oficial
portuguesa e do Brasil.
No total foram realizadas sete oficinas com os seguintes temas:

Guiné-Bissau
Moçambique
Angola
Timor Leste
Cabo Verde
Povos Quilombolas (Brasil)
Povos Indígenas (Brasil)
SEXTA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2023

Primeiro dia de oficinas


Oficina 1: O ensino da língua portuguesa em
Guiné-Bissau
O grupo iniciou a oficina trazendo uma importante
discussão relacionada ao modo como o país africano
Guiné-Bissau é apresentado nos sites de busca mais
acessados para pesquisas rápidas.
Trouxeram informações encontradas nos sites:
The world bank e Brasil escola que trazem uma visão colonial, afirmando que Guiné-Bissau é um
dos países mais pobres e frágeis do mundo, destacando apenas aspectos negativos relacionados à
economia, não havendo preocupação em trazer aspectos históricos e culturais. Comparando com as
informações apresentadas no site da Unilab, cujo propósito é trazer visibilidade para os países
africanos, considerando o projeto da integração, percebe-se que há maior destaque para a
diversidade linguística, cultural e étnica do país.

Alguns dados linguísticos


O crioulo guineense é falado por 80% da população
A língua portuguesa só é falada por 20% da população
A língua portuguesa é língua oficial

A partir dos dados apresentados a reflexão que se faz é sobre a questão da oficialização do
português em detrimento das línguas étnicas e o crioulo guineense.
Sendo língua oficial, a língua portuguesa é a língua de ensino, essa é uma problemática pois a
maioria dos guineenses possuem, as línguas étnicas ou o crioulo como língua materna, de modo
que, ao chegar na escola suas línguas são silenciadas e a língua portuguesa é imposta de forma
violenta.
Para enriquecimento da oficina, o grupo trouxe a convidada guineense Vanessa, estudante do
curso de letras língua portuguesa, para trazer relatos pessoais acerca da realidade do ensino em
Guiné-Bissau. Vanessa relatou que as crianças são obrigadas a falar a língua portuguesa em sala de
aula com os professores e caso não consigam se expressar nessa língua são silenciadas. Além disso,
o material didático não é adequado para o ensino de português como língua segunda, sendo
necessário, urgentemente, pensar na adequação desse material para as realidades linguísticas e
culturais dos guineenses. Tais medidas não seriam no sentido de extinguir a língua portuguesa, mas
sim de valorizar a presença de outras línguas que constituem a identidade linguística nacional.
SEXTA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2023

Primeiro dia de oficinas


Oficina 2: Moçambique
O grupo iniciou a oficina trazendo alguns prints de
sites que geralmente são acessados em pesquisas rápidas
falando sobre o país africano Moçambique.
Trouxeram informações encontradas nos sites:
Wikipédia
Uol
O que se percebe é que ambos os sites apresentam o país inferiorizando-o, trazendo aspectos
relacionados à economia. Além disso, destacam semelhanças com Portugal, como as imagens de
igrejas católicas construídas no período colonial.
Moçambique teve sua independência no ano de 1975 e após isso viveu um longo período em
guerra civil.

Dados linguísticos
Aproximadamente 60 línguas são faladas em Moçambique, pertencentes principalmente ao
tronco Bantu.

Aspectos culturais
O grupo destacou, enquanto aspecto cultural, a capulana, um tecido com textura e cores fortes
que é usado no casamento. Trouxeram esse tecido para que as pessoas tocaram e sentirem a
textura.

Literatura
Para encerrar a oficina, o grupo trouxe alguns aspectos relacionados à produção literária em
Moçambique, destacando autores mais conhecidos como Mia Couto.

Após a exposição dos conteúdos e as discussões realizadas, participamos de um rápido quiz


para revisar o que foi aprendido na oficina.
Apesar de não ter ocorrido uma discussão mais aprofundada acerca dos aspectos linguísticos
do país, sendo essa a proposta das oficinas, muitos conhecimentos foram compartilhados.

Vanessa falando sobre os


aspectos culturais de
Moçambique
SEXTA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2023

Segundo dia de oficinas


Oficina 3: Comunidades quilombolas no Brasil: um percurso histórico
A partir de agora estarei escrevendo em primeira pessoa, pois essa oficina foi ministrada por
mim e por Marceliana.
A nossa proposta foi fazer um percurso histórico sobre as comunidades quilombolas e para isso
organizamos nossa oficina em três momentos centrais:
A formação dos quilombos em África
Os quilombos no Brasil colonial
As comunidades remanescentes de quilombos na contemporaneidade
No momento inicial trouxemos o mito de origem dos quilombos em África, a partir da pesquisa
de Kabengele Munanga, que destaca que os quilombos em África era uma “associação de homens,
aberta a todos sem distinção de filiação a qualquer linhagem, na qual os membros eram submetidos
a dramáticos rituais de iniciação que os retiravam do âmbito protetor de suas linhagens e os
integravam como co-guerreiros num regimento de super-homens invulneráveis às armas de
inimigos.” (MUNANGA, 1996)
Após isso, trouxemos dados históricos da formação de quilombos no Brasil que se deu a partir
da diáspora africana, ou seja, o tráfico de africanos escravizados para trabalharem nas lavouras de
cana-de-açúcar. Destacamos o quilombo de palmares, por ter sido o maior e mais resistente
durante o período colonial português.
A partir desse momento refletimos sobre a realidade pós-abolição, destacando que as
comunidades quilombolas só tiveram seu direito à terra assegurado 100 anos após a abolição, com
a promulgação da constituição federal de 1988 que, seu texto, garantia esse direito.

Aspectos linguísticos
Trouxemos duas abordagens relacionadas à língua. A primeira foi referente ao português
brasileiro quilombola, indagando se a turma já tinha ouvido falar sobre essa variedade e o que
achavam que seria. Alguns falaram que se tratava da forma de falar dos quilombolas, desse modo
trouxemos, a partir da pesquisa sociolinguística de Silvana Silva de Farias , que se tratam de
variedades do PB faladas por comunidades quilombolas que apresentam traços da aquisição do
português em situações de intensos contatos linguísticos. Também discutimos sobre as línguas afro-
brasileiras faladas em comunidades quilombolas e que não possuem tanta visibilidade, pois para
muitos, o Brasil é um país monolíngue. A gira da tabatinga é falada da comunidade Tabatinga e a
Cupópia é falada na comunidade Cafundó, ambas são línguas com base lexical africana e matriz
gramatical portuguesa.
Aspectos culturais
Para falar sobre cultura, considerando que cada comunidade tem sua particularidade,
destacamos a Dança de São Gonçalo realizada na comunidade quilombola Serra do Evaristo.
Levamos o vídeo da dança e houveram relatos de conhecimento da comunidade, que se localiza na
cidade de Baturité, e da dança.
Para encerrar, foi feita a discussão sobre o modo como as comunidades quilombolas são
apresentadas nos sites de busca mais acessados pelos estudantes da educação básica. Os sites
apresentados foram:
Toda matéria
Wikipédia
Fizemos a leitura dos artigos e pedimos que a turma comentasse sobre as diferenças que podiam ser
observadas entre os dois sites. No toda matéria se destaca um conceito que localiza as comunidades
quilombolas no passado colonial, não dando destaque para as comunidades remanescentes de
quilombos.
Em seguida apresentamos a forma como as comunidades remanescentes de quilombos são
retratadas no site Toda Matéria:
Foram destacados:
A visão preconceituosa
trazida no site
A homogeneização, pois as
comunidades são tratadas
como se tivessem a mesma
história e cultura.

Ao final, propomos uma atividade de ressignificação de


termos.
Criar um verbete com o significado de Quilombo,
em um ponto de vista decolonial. Para os povos
quilombolas e os descendentes, o que é um
quilombo?

Ao final, posso dizer que a oficina ocorreu de acordo com o planejado, no tempo estimado e
contou com a participação da turma, gerando momentos de interação. Acredito que tenha se
encaixado na proposta inicial em termos de conteúdo apresentado e com a interação da turma.
SEXTA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2023

Segundo dia de oficinas


Oficina 4: Povos Indígenas
O ponto de partida da oficina foi a apresentação de
referências bibliográficas que consistia em livros e alguns
trabalhos produzidos por estudantes da Unilab.
Resultados das pesquisas nos sites de busca
De modo geral, os povos indígenas são trazidos nos sites
sem aprofundamento, apenas de modo superficial.
Entretanto, nos foi apresentado o site Fundo Brasil que
traz a visão do extermínios dos povos, em detrimento de
outros sites que abordam a “chegada” dos portugueses.
Pergunta para interação:
COMO A HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS FOI APRESENTADA PARA VOCÊS NA
ESCOLA?
De modo geral, foi falado que na escola a história dos povos indígenas é estudada apenas
pontualmente, em datas comemorativas, além disso, é apresentada a história da chegada dos
portugueses, além de destacar o aspecto caricato do indígena.
Nos foi apresentado o mapeamento dos povos indígenas no Brasil, a partir do qual foi possível
perceber a diversidade de povos, além de discutir sobre a maior concentração de povos indígenas
na região norte do país. A maior concentração de povos indígenas nessa região pode levar à falsa
ideia de que “só existem índios na Amazônia”, tal pensamento é desconstruído quando o grupo
apresenta povos indígenas cearenses.
Palavras de origem indígena na língua portuguesa:
A turma trouxe algumas palavras que sabiam ter origem indígena e em seguida o grupo
explicou sobre os troncos linguísticos Tupi-guarani e Macro-jê, dando destaque para o Tupinambá,
a primeira língua indígena a ser gramaticalizada e usada para a catequização. Em uma perspectiva
histórica, entende-se que não houve a imposição da língua portuguesa desde o início, foi a partir do
estabelecimento de uma língua geral que se iniciou a política de homogeneização linguística. Foi
apenas no governo do Marquês de Pombal que se estabeleceu uma lei que proibia o uso do
tupinambá.
A gramaticalização foi importante para que as línguas indígenas não
fossem extintas, mas foi um processo muito violento, pois tinha como fim
o domínio dos povos originários e a homogeneização linguística.
Aspectos culturais
Destaque para os povos indígenas cearenses
Festa da carnaúba (povos indígenas Tapeba de Caucaia)

De modo geral, a oficina foi muito rica em conteúdos e nos proporcionou muitas aprendizagens,
entretanto teria sido interessante que o convidado indígena tivesse tido um maior momento de fala,
pois certamente poderia falar de sua realidade com maior propriedade.
SEXTA-FEIRA, 01 DE DEZEMBRO DE 2023

Terceiro dia de oficinas


Oficina 5: Angola
O ponto de partida da oficina foi a Pergunta:
O QUE VOCÊS ENTENDEM POR ANGOLA?
À qual foi dito se tratar de um país africano de língua
oficial portuguesa e que faz parte da CPLP.
Resultados das pesquisas nos sites de busca
O site WIKIPÉDIA não apresenta a perspectiva da
invasão, trazendo o “contato” com os portugueses de
forma pacífica. Outros sites como MUNDO
EDUCAÇÃO e BRASIL ESCOLA trazem informações
relacionadas aos problemas socioeconômicos e
desigualdades sociais.
Dando destaque para a diversidade linguística em Angola, foi abordado sobre as línguas
nacionais/regionais.
A percentagem de falantes de português em angola é de 75,4%
A língua portuguesa é oficial
Pensando nos números apresentados, pode-se dizer que faz sentido que a língua portuguesa
seja oficial, entretanto, essa oficialidade não deveria silenciar e apagar as línguas étnicas do país,
uma vez que, quando uma língua é extinta também são extintas as histórias e culturas transmitidas
por meio daquela língua. Desse modo, é essencial que haja um olhar, em uma perspectiva das
políticas linguísticas, sobre essas línguas.
O grupo apresentou alguns sites voltados para o ensino das línguas angolanas. Tratam-se de
ações muito importantes para a preservação e promoção de línguas, como o Kimbundo.
Para encerrar, foi realizada a dinâmica de atividade em grupo para discutir algumas questões
referentes ao tema da oficina.

De modo geral, a oficina foi realizada de acordo com o que foi proposto, além de trazer
importantes discussões sobre língua e políticas linguísticas e a importância da valorização da
oralidade nas culturas angolanas e dos países africanos.
SEXTA-FEIRA, 01 DE DEZEMBRO DE 2023

Terceiro dia de oficinas


Oficina 6: Timor-Leste
A primeira informação indispensável sobre Timor-
leste é o fato de se tratar de um país do sudeste asiático
que se localiza próximo à Indonésia.
Além disso, o país foi colonizado duas vezes, primeiro
por Portugal e depois pela Indonésia. A colonização
portuguesa foi realizada com o propósito de
comercialização, e de início não houve a imposição
linguística mas foi incentivado o uso do Tétum, que era a
língua mais falada.
Em Timor-Leste:
A língua portuguesa é oficial
O tétum é língua cooficial
Durante a colonização Indonésia o português se torna uma língua de resistência, com o sentido
de união e criação da identidade nacional dos timorenses para se opor ao domínio e expulsar a
Indonésia. A independência do país só foi conquistada no ano de 2002.
Para enriquecimento da oficina, o grupo trouxe a fala de um timorense, estudante do curso de
letras língua portuguesa na Unilab, a partir de um áudio. O convidado falou um pouco sobre a
questão linguística no seu país, destacando que a língua portuguesa é língua de instrução, usada na
escola, mas que não é uma língua usada no cotidiano, o Tétum faz essa função. Sobre esse aspecto,
surge a questão do baixo índice de estudantes timorenses na Unilab, que pode ou não, ser um
reflexo do pouco uso da língua portuguesa no dia-a-dia, podendo causar dificuldades de adaptação
ao contexto do Brasil.
Para encerrar, o grupo trouxe um quiz realizado na plataforma Kahoot! para testar os
conhecimentos adquiridos ao longo das discussões realizadas na oficina.
A oficina foi muito interessante pois trouxe
informações valiosas acerca do país, que por vezes
não recebe tanto destaque quanto os PALOP na
Unilab.
SEXTA-FEIRA, 01 DE DEZEMBRO DE 2023

Terceiro dia de oficinas


Oficina 7:
Cabo Verde: história, língua e cultura
O grupo iniciou trazendo alguns sites que falam sobre
Cabo Verde. A informação que mais ganha destaque é a
apresentação de Cabo Verde como uma ilha desabitada,
descoberta e povoada pelos portugueses. Essa
informação é rebatida a partir de uma pesquisa
apresentada que traz indícios de que a ilha já havia sido
habitada, ou seja, os portugueses não foram os primeiros
a chegar no local.
Nos sites também é apresentada a ideia da miscigenação, destacando que Cabo verde é um
local onde as culturas convivem lado a lado. Essa informação é bastante problemática pois
apresenta uma perspectiva de apagamento das violências, ou seja, o tráfico e sequestro de pessoas
que foram tiradas de suas nacionalidades e famílias para serem escravizadas na ilha de Cabo verde.

Situação linguística de Cabo Verde:


O crioulo cabo verdiano é uma língua da oralidade e da comunicação no dia-a-dia
A língua portuguesa é língua oficial e de ensino
Sobre o aspecto linguístico, houve uma discussão acerca da proibição do uso do crioulo em
estabelecimentos comerciais. Durante esse período, era difundida a ideia de que “O crioulo não
favorece a ideia unitária do império português”, ou seja, sabendo que a língua é poder e resistência,
o crioulo torna-se uma ameaça ao império português, por isso há a proibição.
O grupo trouxe o Batuque, através de um vídeo, para falar sobre aspectos culturais de Cabo
Verde, além da Cocada cabo verdiana, como aspecto gastronômico.

Cocada cabo verdiana


CONCLUSÃO

Para concluir, destaco que a disciplina foi muito produtiva e gerou muitos debates e
desconstruções acerca da história da língua portuguesa, trazendo uma abordagem decolonial que é
muito importante e deve ser difundida em salas de aula da educação básica, mesmo considerando
os diversos entraves do sistema educacional e dos currículos estabelecidos. Trabalhar com o
desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de questionar é um ponto crucial para a
educação básica independente da área de estudo.
Considerando a limitação de aulas da disciplina, pode-se dizer que foi possível criar as bases
para o entendimento da história da língua portuguesa, agora cabe a nós, enquanto docentes em
formação e pesquisadores, nos aprofundar na temática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

MARIANI, Bethania. Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal: nações


plurilingues. Niterói, n.24, p. 71-88, 2008.

Heranças africanas no Português do Brasil. Disponível em:


<https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/lingua-africanas-na-experiencia-portugues-do-
brasil/>. Acesso em: 8 set. 2023.

FULY, Tatiana. Invisibilidade social e o direito de existir. In:________. Que história você quer
contar? Caminhos para uma educação decolonial. 1ed. Curitiba: Appris, 2022.

LIMA, Mariana da Silva‌; MAGALHÃES, Alessandra. Verbete digital da palavra dendê. Rio de
Janeiro. 15 set. 2022. Instagram: @letrascameraacao1. Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CiivKaAAhDb/?img_index=1. Acesso em: 8 set. 2023.

LIMA, Mariana da Silva‌; MAGALHÃES, Alessandra. Verbete digital da palavra quiabo. Rio de
Janeiro. 31 jul. 2022. Instagram: @letrascameraacao1. Disponível
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FOURSHEY, C.C; GONZALES, R.M; SAIDI, C. África Bantu: de 3500 a.C até o presente.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

DAVID, M.T; NASCIMENTO, G. As influências das línguas Bantu no português do Brasil: origens
e trajetórias rumo ao pretoguês. Revista Internacional de Educação de Jovens e Adultos, v.04, n.08,
p.137-148, jul./dez. 2021.

PETTER, M.M.T. O continuum afro-brasileiro do português. In: RIBEIRO, F.R (Org.). África-
Brasil: caminhos da língua portuguesa. Campinas, SP: editora da Unicamp, 2009.

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