COLEGIADO DE LETRAS INGLÊS ESTUDOS LÍNGUISTICOS II PROF. DRª. CRISTHIANE FERREGUETT DISCENTE: LUIZ BARROS
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: nova sociolinguística. 15 ed. São Paulo: Contexto, 2006. p.09-64.
O livro: A língua de Eulália: nova sociolinguística, no início da sua narrativa nos
apresenta as personagens Vera, Sílvia e Emília que acompanhadas pelo taxista Ângelo, vão para a casa da tia de Vera, Irene. Com o passar da narrativa Eulália é introduzida, e após um almoço realizado pela mesma, durante uma conversa com Irene, Sílvia e Emília começam a comentar sobre Eulália, e há no início do capítulo uma repreensão a terminologia “prendada” utilizada por Sílvia para se referir as qualidades culinárias de Eulália, tal terminologia é criticada devido ao seu sentido de mulher submissa ao lar. “— Prendada? Essa é boa! — ri Irene. — Menina, em que século passado você nasceu? Sílvia fica corada” (p.13). Na página seguinte é abordada a “fala errada” de Eulália, Irene explica que assim como existe um estranhamento e falta de compreensão quando alguém fala uma língua estrangeira, a língua portuguesa do século XII é diferente da hoje em dia, assim como a língua atual é diferente da língua de Portugal e que o falar “errado” de Eulália, é nada mais que uma variação não-padrão do nosso português, em que as regras gramáticas das quais conhecemos não existem. “– A fala de Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa, só isso – explica Irene” (p.15). Nos capítulos seguintes é explicado que no Brasil há um mito de unidade linguística (p.18) em que se acredita que a única língua falada em território nacional é a português- brasileiro, desconsiderando-se as outras línguas aqui faladas por indígenas, colônias e etc. Então é explicado por Irene, que “não existe nenhuma língua que seja uma só” (p.18). Sendo assim, uma língua ela está sempre atrelada a algo, a um conjunto e que tais conjuntos são as variedades. Toda língua varia, e tal fato é apresentado de acordo com o local geográfico em que as pessoas se encontram, em que cada região há uma variação diferente, mas que há também uma série de elementos que definem uma variação (p.20), e isso define então uma variedade única e exclusiva a qual todos nós falamos, como a comparação realizada por Emília, em que essa variedade é comparada a escrita onde cada pessoa possui a sua forma única de escrever (p.20-21). Mais adiante é explicado que toda a língua muda com o passar do tempo, mesmo sendo falantes de língua portuguesa, não conseguiríamos entender textos dos séculos anteriores, mesmo estando em português, tudo isso se deve a mutação que a língua portuguesa sofreu ao longo dos anos, sendo afirmado que “toda língua muda e varia” (p.22). E que no português a uma padronização pelo bem falar, devido ao investimento realizado para a promoção dessa norma de fala e escrita (p.22-24), o que acarretou na marginalização de possíveis variações delas (p.24-27). Irene irá explicar nas páginas seguintes, o que o Português Padrão (PP) e o Português Não-Padrão (PNP), possuem e comum, em que o PP é utilizado na literatura, meios de comunicações, leis, decretos governamentais, nas escolas, nas gramáticas e nos dicionários. Enquanto o PNP, tem sua variação definida pelas regiões geográficas, classes sociais, faixas etárias e níveis de escolarização (p.28). Nas páginas 28-30, Irene aborda que o PNP é marginalizado, uma vez que o conhecimento do PP está detido pelas classes sociais privilegiadas, e aqueles que não possuem essa forma culta de conhecimento, acabam sofrendo preconceito onde eles deveriam ter uma compreensão e suporte para que pudessem se equiparar e bater de frente com a elite pelo menos em dominação linguística do PP, mas acontece o contrário, criando ali, um sentimento de rejeição entre outros, que acabam por inferiorizar e desqualificar os falantes de PNP. Irene pretende então, desmistificar o conceito de que o esse português é um erro da língua através de uma abordagem científica (p.34-35). É apresentada uma tabela em que as diferenças do PNP e do PP são listadas, e qual a representação e visão de cada uma que temos que ter ao comparar com o contexto social (p.36). Embora exista diferenças, essas duas variações também possuí semelhanças e que a separação e preconceitos de uns referentes a outros, vêm de um preconceito social e não linguístico (p.38). Na página 41, temos a contextualização do latim, que foi uma língua utilizada pelo império romano, e com um destaque, o latim que se propagou ao longo de toda a expansão romana, não foi o latim clássico, mas sim sua variante, um latim coloquial, por muitos naquela época, denominado de latim vulgar, a partir dessa variação do latim, foi então que nascerão as línguas românicas. Irene, agora irá ensinar o estudo gramatical a partir do riso (p.43), do estranhamento que se tem ao usar o R em palavras que padrão utilizam o L, tal fenômeno se chama rotacismo (p.46), e ao analisar um quadro (p.44) com palavras de origem latina e comparar com outras línguas como o francês, espanhol e português é possível perceber que muitas palavras em que existe o L no latim, manteve-se nas demais língua, enquanto no português houve um rotacismo em que esse L passou a ser um R. “O português não-padrão é coerente na sua obediência às tendências da língua. Os falantes do PNP só conhecem encontros consonantais com R. Na variedade deles simplesmente não existem encontros consonantais com L” (p.46). Através da música folclórica “Cuitelinho” é abordado ainda o PNP, com uma abordagem voltada para a formação do plural (.49-50). Uma vez que o PP exige evidências que indicarão que a sentença está no plural, através de várias ‘marcas de plural’, o PNP, ele não necessita dessa regra, ele apenas precisa evidenciar uma palavra como plural para dar sentido a oração, no PP tais marcas estão contidas no artigo, substantivo, adjetivo, verbo... (p.51), já no PNP ela está somente nos artigos definidos ou indefinidos e na sua ausência, ela estará na primeira palavra do grupo a ser pluralizado (p. 52). “[...] não vamos querer eliminar o português padrão das escolas e passar a ensinar o PNP. Mas o conhecimento dessas regras serve para que fiquemos mais atentas às diferenças que existem entre as duas variedades... Diferenças que quase sempre, infelizmente, são logo consideradas “erros” por quem não consegue compreender a lógica que existe nelas...” (p.55). Dentro do PNP, existe uma variação de pronuncia de palavras com LH do PP e tais variantes, não são exclusivas da língua portuguesa, ela está presente em outras variantes linguísticas do francês e espanhol por exemplo (p.57). “[...] Como essas pessoas não têm, em suas línguas, a consoante /λ/ e sentem dificuldade em pronunciá-la, substituem-na pelo som mais próximo que encontram, que é justamente o /γ/...” (p.60). “Mas toda língua está sempre se modificando, de forma ininterrupta e imperceptível para seus falantes, mas sempre se modificando” (p.60). O processo de educar é diferente do processo de ensinar, e é preciso que a psicologia educacional se desprenda de que o aluno não possui voz, não tem nada a passar a diante, uma vez que a interiorização dos meios leva a sua desistência do ensino, e para isso então, é necessário que se eduque e dar a ele uma voz (p.63). “‘Cuitelinho’ tem imagens poéticas muito bonitas, tem rima e métrica perfeitas, e se encaixa numa tradição secular de poesia lírica da língua portuguesa, que remonta aos trovadores do século XIII. É uma canção, com letra e melodia, e usa o tradicional verso de sete sílabas. Repare que cada uma de suas estrofes aborda um aspecto diferente da vida do poeta. A primeira é uma visão objetiva da paisagem, uma descrição da natureza, um panorama ‘ecológico’. A segunda situa a trajetória geográfico-histórica do poeta: de sua casa até a fronteira entre Paraguai e Mato Grosso, numa época de ‘revolução’...” (p.63).