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O círculo vicioso do

preconceito linguístico: “Os


três elementos que são quatro”
e “Sob o império de Napoleão”
“Preconceito Linguístico: o que é, como se faz”
Marcos Bagno

Universidade Federal de Alfenas


Docente: Elias Ribeiro da Silva
Discentes: Ana Heloise Pereira Vicentini
Bruna Belo Sales

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O círculo vicioso do
preconceito linguístico
Os mitos analisados são difundidos em nossa
sociedade por meio de um mecanismo chamado círculo
vicioso do preconceito linguístico;

Esse círculo vicioso se forma pela união de três


elementos que Marcos Bagno denomina “Santíssima
Trindade” do preconceito linguístico;

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Os três elementos

Ensino tradicional Gramática tadicional

Livros didáticos

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Como esse círculo é formado?

Gramática tradicional: inspira a prática de ensino

Ensino tradicional: fomenta a indústria do livro didático

Autores de livros didáticos recorrem à gramática tradicional


para fundamentar teorias sobre a língua

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Reconhecimento do preconceito
linguístico pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais
O Ministério da Educação reconhece o preconceito
linguístico e tem se esforçado para estimular uma postura
menos dogmática e mais flexível por parte das escolas
públicas sobre essa questão;

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998)


“existe muito preconceito decorrente do valor atribuído às
variedades padrão e ao estigma associado às variedades
não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela
gramática [...]”

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“Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua
padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o que existe
uma forma ’correta’ de falar, o de que a fala ‘correta’ é a que
se aproxima da língua escrita” [...]

Muitas editoras estão produzindo materiais didáticos mais


compatíveis com as novas concepções pedagógicas a respeito
da língua e escrita, como a coleção “Tecendo Linguagens”,
que teve sua primeira publicação em 2018, nos trechos a
seguir há, respectivamente, uma definição de língua e
linguagem nos Pressupostos teórico-metodológicos no manual
do professor, e uma concepção de variação linguística;

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[...] a língua é muito mais do que um código: ela é constitutiva
dos sujeitos e está em contínua mudança. E é a prática da
linguagem como discurso, como produção social, que dá vida
à língua, posta a serviço da intenção comunicativa.
(OLIVEIRA, ARAÚJO, apud KLIPPEL 2018, p.88);

[...] por ser dinâmica, a língua passa por processos naturais de


mudança e seu uso se modifica de acordo com a situação,
variando conforme o tempo em que se vive, o lugar onde se
mora, a idade, a circunstância em que a produzimos etc. A
essas diferentes maneiras de uso da língua chamamos
variedades linguísticas [...] (OLIVEIRA, ARAÚJO, apud
KLIPPEL 2018, p.88);

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A impregnação do preconceito
na mentalidade das pessoas

As atitudes preconceituosas se integram ao nosso modo de


ser;

“E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele exercido


por uma pessoa em relação a outra, mas o preconceito que
uma pessoa exerce contra si mesma.” (BAGNO)

8
O quarto elemento
Comandos paragramaticais: livros, manuais de redação de
empresas jornalísticas, programas de rádio e televisão,
todo esse arsenal de consulta o qual Arnaldo Niskier
denomina “saudável epidemia”;

Os comandos gramaticais poderiam ser úteis para


esclarecer dúvidas, mas acabam se perdendo na espessa
camada de preconceito linguístico que envolve a mídia,
reforçando os seguintes mitos: “brasileiro não sabe
português” “português é muito difícil”;

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Sob o império de Napoleão
Napoleão Mendes de Almeida
(1911-1998)
Um dos principais propagadores de
preconceito linguístico por meio de
comandos paragramaticais durante longas
décadas;

Autor do “Dicionário de Questões


Vernáculas”, obra que expõe o
Wikipédia
exacerbado autoritarismo e intolerância
em relação às variações linguísticas por
parte do autor;

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Preconceito social e linguístico

“Os delinquentes da língua portuguesa fazem do princípio


histórico ‘quem faz a língua é o povo’ verdadeiro moto para
justificar o desprezo de seu estudo, de sua gramática, de seu
vocabulário, esquecidos de que a falta de escola é que
ocasiona a transformação, a deterioração, o apodrecimento
de uma língua. Cozinheiras, babás, engraxates,
trombadinhas, vagabundos, criminosos é que devem figurar,
segundo esses derrotistas, como verdadeiros mestres de
nossa sintaxe e legítimos defensores do nosso vocabulário.”
(ALMEIDA, apud BAGNO)

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Napoleão faz comparações ao latim e grego para embasar
suas explicações, e considera a imitação do francês como
origem dos “erros” sintáticos que os brasileiros cometem;

Além disso, o gramático demonstra sua incompreensão


a respeito da Linguística, de acordo com seu vernáculo a
respeito desta ciência;

A linguística não estuda idioma nem gramática nenhuma, a


linguística estuda a fala, explica fatos naturais de articulação,
de formas de expressão oral do ser humano; como estudo da
estrutura das línguas em geral, não vai além da fonética.
Enganam-se os pais, enganam-se os filhos quando pensam
estar a escola, a faculdade ensinando gramática, ensinando a
língua da terra porque no programa consta “linguística”.
(ALMEIDA apud BAGNO)

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A ignorância linguística e a
gramática “internacional”
Napoleão afirma que a gramática é “internacional”,
para ele as funções sintáticas e classe de palavras de
todas as línguas são iguais;

Mas essa asserção é resultado de ignorância


linguística, um exemplo disso é o chinês cujo não há
“concordância” que assinale o que é sujeito e o que é
objeto, mas há de discernir quem fez o quê e a quem,
como também não há nada que se possa classificar de
“adjetivos”;

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A parede de preconceito
linguístico
Bagno afirma que os comandos paragramaticais se perdem
por trás de uma espessa camada de preconceito linguístico,
mas no caso do livro “Dicionário de Questões Vernáculas”
seria análogo a uma parede impermeável, tornando nula a
utilidade de suas explicações;

A obra desrespeita os direitos linguísticos dos cidadãos


brasileiros;

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Referências
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se
faz.ed.49. São Paulo: Edições Loyolla, 2007

KLIPPEL, Nivaldo dos Santos. O preconceito linguístico no


livro didático de língua portuguesa: uma análise, [s.i.: s.n.]
2020

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Obrigada!

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