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30/01/2022 13:14 Encontros Universitários 2021

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NAVIOS LETREIROS: UMA EXPERIÊNCIA DE


FORMAÇÃO DOCENTE
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Código: 1.03.08.082

Orientador(a): STELIO TORQUATO LIMA

Autor(a): LUCAS DINIZ VAZ

Área: Lingüística, Letras e Artes

Palavras-chave: África;Literatura;Intersemiótica

Resumo:

(INTRODUÇÃO) Cada vez mais, as fronteiras entre saberes e linguagens tornam-


se difusas, ou líquidas, para retomarmos um conceito desenvolvido por Zygmunt
Bauman. Nesse contexto de constante e prolífico diálogo entre as áreas do
conhecimento, as ações interdisciplinares tornam-se uma necessidade, e o
conceito de relações intersemióticas ganha cada vez mais destaque. Foi nessa
perspectiva que definimos, em parceira com nosso orientador, Prof. Dr. Stélio
Torquato Lima, o minicurso Navios letreiros: encontros intersemióticos das
literaturas africanas da lusofonia. (OBJETIVO) Este trabalho, assim, tem como
objetivo discorrer sobre o minicurso em foco, o qual teve uma carga horária de
15h/aula e foi ministrado remotamente por mim nos sábados entre 17/07 e 28/08
de 2021 junto aos alunos da disciplina de Literaturas Africanas de Língua
Portuguesa, da qual sou monitor desde o semestre letivo 2021.1.
(METODOLOGIA) Em termos metodológicos, o minicurso desenvolveu-se através
de diálogos entre obras das literaturas africanas de língua portuguesa e outros
sistemas semióticos, como o cinema, a música, a dança, etc. (RESULTADOS)
Como será mostrado através de pôster, o feedback por parte dos alunos
demonstra que o minicurso contribuiu para uma melhor compreensão dos
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conteúdos atinentes à disciplina da qual sou monitor. (CONCLUSÃO) Por este e

por outros fatores que apresentaremos no pôster, o minicurso em foco


representou uma importante experiência para nossa formação como futuros
docentes, uma vez que, para além de um exercício de compreensão do diálogo
entre os saberes, o minicurso se configurou em um espaço de reflexão sobre a
forma como as literaturas africanas têm procurado se ajustar a uma modernidade
em constante e frenética transformação.

Comentários * evento fechado para novos comentários

* Avaliador(a)

Thais Goncalves Rodrigues Da Silva comentou: 03/12 às 08:17

Caro Lucas,

Que iniciativa interessante e instigante! Parabéns! Fiquei com vontade de participar do


seu curso. Entretanto, gostaria de saber melhor quais os conteúdos ministrados no seu
curso e como se deram, efetivamente, através desses conteúdos abordados, as
relações intersemióticas propostas. Pode detalhar um pouco mais? No caso, pareceu
que havia tanto uma relação intersemiótica entre linguagens artísticas (literatura,
cinema, dança etc) como também entre culturas (brasileira e africana - para falar de
uma primeira camada mais superficial de um dado cultural). Pode trazer alguns
elementos mais de como essas relações intersemióticas se deram?

Atenciosamente,

Thaís Gonçalves

* Autor(a)

Lucas Diniz Vaz comentou: 06/12 às 09:42

Olá, Thais Gonçalves.

Obrigado pelo retorno e pelo interesse em relação ao meu trabalho.

Antes de responder objetivamente suas questões, permita-me acentuar que a


opção por estudar a literatura africanas de língua portuguesa numa perspectiva
intersemiótica surgiu da própria natureza dialógica dessa literatura, como se
observam pelos seguintes exemplos:

a) Música e literatura: em poemas como “Deixa passar o meu povo” e “Billie


Holiday, cantora”, a moçambicana Noémia de Sousa usa o blues como elo entre os
negros africanos e os afro-americanos; os poemas “Quissange” e “O tocador de
marimba”, respetivamente escritor por Tomás Viera da Cruz e Geraldo Bessa-
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Victor, fazem referências a instrumentos musicais africanos para discorrem sobre a

identidade negra;

b) Teatro e literatura: o romance “Muana Puó”, escrito pelo angolano Pepetela, se


desenvolve a partir de uma máscara andrógina usada em rituais místico-teatrais da
etnia Tchokwé;

c) Artes plásticas e literatura: como bem esclarece o Prof. Dr. Leite Jr. no livro “O
pictórico na poesia-cabo-verdiana”, a relação entre literatura e pintura se evidencia
em várias obras daquele país, desde os Claridosos até Kiki Lima.

Partindo dessa perspectiva, desenvolvemos nosso minicurso trazendo várias


possibilidades de estudar obras da literatura africana de língua portuguesa através
do diálogo com outras artes, a saber:

a) As já citadas obras de Noémia de Sousa através do paralelo com canções dos


Spirituals, dos Blues, do Jazz, etc. Entre as canções utilizadas, citamos: “Go Down
Moses” e “Strange Fruit”.

b) A abordagem de poemas do angolano Agostinho Neto, que se caracterizou pela


produção de obras que criticavam a opressão dos negros, com canções igualmente
críticas do Racionais Mc 's, sendo exemplo a canção Negro Drama;

c) Estudo de obras como “Terra sonâmbula”, romance de Mia Couto, a partir do


confronto com suas adaptações fílmicas;

d) Leitura de poemas escritos por alguns autores, a destacar: José Craveirinha,


Francisco José Tenreiro e a já mencionada Noémia de Sousa, com a vídeo
performance “Noirblue – Deslocamentos De Uma Dança”, da artista Ana Pi.

Em paralelo com essas abordagens de caráter intersemiótico, desenvolvemos


também abordagens orientadas pela literatura comparada, como se vê no
seguintes exemplos:

a) Diálogos entre a obra de Mia Couto e Guimarães Rosa, visando observar como
a criação de novas palavras (neologismos) podem não apenas renovar a língua,
libertando-a dos automatismos que a empobrecem, como também estabelecer
novos efeitos de sentido, aproximando a prosa da poesia;

b) Estudos da novela “Nga Muturi'', do escritor Alfredo Troni, e do romance “Úrsula”,


de Maria Firmina dos Reis, analisando os retratos sociais da colonização em que
os personagens estão inseridos.

c) Contatos entre o romance “Mayombe” de Pepetela e o conto “A Terceira margem


do rio” de Guimarães Rosa, analisando e apontando os problemas das guerrilhas
em superar os tribalismos presentes nos países africanos, bem como as
polarizações amplamente disseminadas pelo ocidente.

Para concluir, acentuarmos que as abordagens intersemióticas, além de inserir os


estudos no contexto contemporâneo (que desconhece fronteiras entre as
linguagens), nos permite expandir as noções de estudos que temos, colocando as
literaturas africanas em seu lugar de direito, o de ser fonte riquíssima de arte e de
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conhecimento. É apropriar do simbolismo dos navios negreiros, devolver e deixar-

se envolver em navios de conhecimento, de atravessamento de linguagens, de


uma formação crítica frente ao nosso pensamento ocidental. É entender que como
futuros docentes, precisamos valorizar as culturas africanas a tempos
estigmatizados e utilizar também o conhecimento que temos atualmente,
fraternizando os saberes como José Craveirinha. Nossas jornadas ao longo do
minicurso objetivaram exatamente isso: fixar pontes entre Brasil e África,
retomando e ampliando nossa trajetória comum e traçando novos rumos nos mares
da contemporaneidade.

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