Você está na página 1de 11

PERFIL MOTOR E APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ESTUDO

SOBRE AS IDADES CRONOLÓGICA E MOTORA EM UMA ESCOLAR


MACAPAENSE

Anne Lorena Ferreira da Silva1 - UNIFAP


Aylla Monise Ferreira da Silva2 - ESTÁCIO MACAPÁ

Grupo de Trabalho – Educação da Infância


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Ao longo do desenvolvimento da criança podem ocorrer atrasos motores, e por consequência


disso, poderá haver influência no seu processo de aprendizagem, e vice-versa. O
desenvolvimento motor acontece de forma individual onde cada criança possui suas próprias
percepções através de uma relação com imagem do corpo, sendo muito associada com o
desenvolvimento das percepções do mundo em que vivem. O domínio das habilidades
motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento motor da criança. Desta forma,
destaca-se a necessidade de uma avaliação específica para detectar precocemente possíveis
atrasos. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil motor de uma criança de 8 anos de
idade com dificuldade de aprendizagem escolar na Escola Estadual Professor Roberto José
Morais de Castro, no município de Macapá - AP. A pesquisa apresentada caracterizou-se
como um estudo de caso do tipo descritivo, A amostra foi composta por uma escolar do sexo
feminino, de 8 anos de idade, aluna do 3º ano do Ensino Fundamental. Para a coleta e análise
dos dados foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), proposta por Rosa Neto
(2002), cuja aplicação em uma criança permite avaliar seu nível de desenvolvimento motor,
considerando êxitos e fracassos, levando em consideração as normas estabelecidas pelo autor
da escala. A partir dos resultados obtidos foi possível classificar seu desenvolvimento motor
como Normal baixo de acordo com a EDM, o que significa que a escolar apresentou um
desenvolvimento normal, porém com idade motora abaixo de sua idade cronológica,
comprometendo seu desenvolvimento motor, principalmente os componentes relacionados ao
seu equilíbrio.

Palavras-chave: Perfil motor. Aprendizagem. Ensino aprendizagem.

1
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física – Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-
mail: f.annelorena@gmail.com
2
Especialista em Educação Especial e em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNINTER. Professora de
Educação Especial da Rede Estadual de Ensino do Estado do Amapá. Professora e Pesquisadora Institucional da
Faculdade Estácio de Macapá. E-mail: ayllamonise@hotmail.com.

ISSN 2176-1396
30841

Introdução

O desenvolvimento motor é um processo constante de mudanças no comportamento


que envolve tanto a maturação do sistema nervoso central, quanto a interação com o ambiente
e os estímulos dados durante o desenvolvimento da criança. Além disso, a aquisição de
habilidades motoras está relacionada ao desenvolvimento da percepção do corpo, espaço e
tempo, e essas habilidades são componentes de domínio básico tanto para a aprendizagem
motora quanto para as atividades de formação escolar (MEDINA, ROSA e MARQUES,
2006).
De acordo com Fin e Barreto (2010), a avaliação do perfil motor de escolares que
apresentem dificuldades no aprendizado é extremamente importante para que sejam
identificados os reais problemas de aprendizagem do aluno, e “a avaliação do desempenho
motor da criança é a primeira etapa no processo do planejamento de aulas de qualidade, que
permitam ao professor criar um programa de ensino que auxilie o aluno durante toda a
trajetória escolar” (FIN e BARRETO, 2010, p. 5).
Partindo deste contexto, qual o perfil motor de uma criança de oito anos de idade,
aluna da Escola Estadual Professor Roberto José Morais de Castro, no Município de Macapá-
AP?
A partir da observação de uma criança com dificuldades de aprendizagem, percebeu-se
a necessidade de avaliar seus aspectos motores e analisar se os mesmos são afetados por essas
dificuldades.
Há diversos testes e escalas para avaliação do desenvolvimento motor de uma criança,
contudo, a maioria desses instrumentos não consegue englobar completamente todos os
aspectos do desenvolvimento. Um dos métodos que tende a colaborar para uma avaliação
completa e esclarecedora do desenvolvimento motor, é a Escala de Desenvolvimento Motor
(EDM) proposta por Rosa Neto (2002), indicada para crianças com dificuldades de
aprendizagem escolar; atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor; problemas na fala, na
escrita e em cálculo; problemas de conduta; alterações neurológicas, mentais, sensoriais, etc.
A EDM compreende um conjunto de provas diversificadas e adequadas para crianças,
com dificuldade graduada, conduzindo a uma avaliação minuciosa dos elementos básicos da
motricidade: motricidade fina; motricidade global; equilíbrio; esquema corporal; organização
espacial; organização temporal e lateralidade.
Utilizando-se dessa forma de avaliação, é possível que professores possam criar meios
de intervenção apropriados para cada criança, focando principalmente nos pontos fracos
30842

obtidos nos testes, para assim, contribuir para um melhor desenvolvimento motor e possível
melhora nas dificuldades de aprendizagem escolar.
Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil motor de uma criança de 8 anos de
idade com dificuldade de aprendizagem escolar na Escola Estadual Professor Roberto José
Morais de Castro, no município de Macapá - AP.

Materiais E Métodos

A pesquisa apresentada caracterizou-se como um estudo de caso do tipo descritivo


que, segundo Cervo e Bervian (2002), estuda um determinado indivíduo, família ou grupo
para investigar aspectos variados ou um evento específico da amostra, um único caso é
estudado com profundidade e integralmente no contexto de sua realidade, para alcançar maior
compreensão de casos similares.
A amostra foi composta por uma criança, aqui denominada de “escolar”, do sexo
feminino, de 8 anos de idade, aluna do 3º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual
Professor Roberto José Morais de Castro, no Município de Macapá-AP, onde foi selecionada
de forma aleatória dentre as crianças com dificuldades de aprendizagem relatadas pela
professora de sala e diagnosticadas a partir do nível de desenvolvimento da leitura, escrita e
avaliação do seu desempenho escolar através da análise de produções escolares.
Para a coleta de dados foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM),
proposta por Rosa Neto (2002), onde foram aplicados os testes correspondentes a idade
cronológica da escolar, de duas idades anteriores e uma posterior. Sua aplicação em uma
criança permite avaliar seu nível de desenvolvimento motor, considerando êxitos e fracassos,
levando em consideração as normas estabelecidas pelo autor da escala.
Após a diretora, professora e mãe tomarem conhecimento sobre a finalidade do estudo
e autorizarem a participação da escolar, a responsável da mesma assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e em seguida a criança foi encaminhada para a
sala de recursos multifuncionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE), onde foi
submetida aos testes da EDM, com duração variável de 25 a 30 minutos.
Para participar da pesquisa, a escolar deveria estar matriculada no 3º ano do Ensino
Fundamental, ter dificuldades de aprendizagem e não ter nenhum tipo de necessidade especial
diagnosticada.
30843

A escolar não teve riscos ao participar dessa pesquisa, já que a investigação não
utilizou-se de técnicas invasivas. Os benefícios para a mesma, se deram pelo conhecimento e
avaliação do seu perfil motor.
Os dados coletados foram tabulados, categorizados e analisados descritivamente de
acordo com a EDM, o qual permitiu uma comparação simples e rápida de diversos aspectos
do desenvolvimento motor, evidenciando os pontos fortes e fracos da escolar.
Para tanto, é necessário esclarecer-se os termos utilizados na pesquisa para melhor
compreensão da mesma (ROSA NETO, 2002):
• Idade Motora (IM) – é um procedimento aritmético para pontuar e avaliar os resultados dos
testes. A pontuação assim obtida e expressa em meses é a idade motora.
• Idade cronológica (IC) – Se obtém através da data de nascimento da criança, geralmente
dada em anos, meses e dias. Logo, transforma-se essa idade em meses. Ex.: seis anos, dois
meses e 15 dias, significa o mesmo que seis anos e três meses ou 75 meses. Quinze dias ou
mais equivalem a um mês.
• Idade motora geral (IMG) – Se obtém através da soma dos resultados positivos obtidos nas
provas motoras expresso em meses e dividido por seis. Os resultados positivos obtidos nos
testes são representados pelo símbolo (1); os valores negativos (0); os valores parcialmente
positivos são representados pelo símbolo (1/2).
IMG = IM1 + IM2 + IM3 + IM4 + IM5 + IM6
6
• Idade negativa ou positiva (IN/IP) - É a diferença entre a idade motora geral e a idade
cronológica. Os valores serão positivos quando a idade motora geral apresentar valores
numéricos superiores a idade cronológica, geralmente expressa em meses.
• Idade motora 1 (IM1) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de motricidade fina – expressa em meses.
• Idade motora 2 (IM2) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de motricidade global – expressa em meses.
• Idade motora 3 (IM3) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de equilíbrio – expressa em meses.
• Idade motora 4 (IM4) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de esquema corporal (controle do próprio corpo e rapidez) – expressa em meses.
• Idade motora 5 (IM5) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de organização espacial – expressa em meses.
30844

• Idade motora 6 (IM6) – É obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes
de organização temporal (linguagem e estruturação espaço temporal) – expressa em meses.
• Quociente motor geral (QMG) – É obtido através da divisão entre a idade motora geral e
idade cronológica multiplicado por 100.
QMG = IMG ∙ 100
IC
• Quociente motor 1 (QM1) – É obtido através da divisão entre a idade motora 1 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
• Quociente motor 2 (QM2) – É obtido através da divisão entre a idade motora 2 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
• Quociente motor 3 (QM3) – É obtido através da divisão entre a idade motora 3 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
• Quociente motor 4 (QM4) – É obtido através da divisão entre a idade motora 4 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
• Quociente motor 5 (QM5) – É obtido através da divisão entre a idade motora 5 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
• Quociente motor 6 (QM6) – É obtido através da divisão entre a idade motora 6 e idade
cronológica. O resultado é multiplicado por 100.

Análise e Discussão dos Resultados

O estudo em questão foi realizado com uma escolar de 8 anos de idade, da Escola
Estadual Professor Roberto José Morais de Castro, com dificuldades de aprendizagem
relatadas pela professora de sala e diagnosticadas a partir do nível de desenvolvimento da
leitura, escrita e avaliação do seu desempenho escolar por meio da análise de produções
escolares, conforme relatado em itens anteriores.
Os testes foram realizados na sala de recursos multifuncionais do Atendimento
Educacional Especializado (AEE) com a presença apenas da pesquisadora, onde a escolar
permaneceu com seu uniforme e tirou apenas os calçados para evitar deslizar e permitir
correta observação nas provas de coordenação e equilíbrio.
Durante a avaliação a escolar demonstrou-se, em grande parte do tempo, atenta às
instruções, porém, em alguns momentos perdia a concentração com facilidade, e em todos os
testes precisou que os comandos fossem explicados mais de uma vez.
A tabela abaixo mostra os resultados obtidos através da EDM.
30845

Tabela 1. Resultados

TESTES/ANOS 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1. Motricidade fina 1/2 1 0 0
2. Motricidade global 1 1 1 0
3. Equilíbrio 1 0 0 0
4. Esquema corporal/Rapidez 1 1 0 0
5. Organização espacial 1 1 0 0
6. Linguagem/Organização temporal 1 1 1 0
Fonte: Dados da pesquisa de campo/ arquivo pessoal da pesquisadora.

Com relação a sua motricidade fina (IM1), apresentou IM com atraso de 14 meses
para à IC (Tabela 2), dados semelhantes a esses foram encontrados em estudo de Coppede,
Okuda e Capellini (2012) em que os autores analisaram 96 escolares com dificuldades
deaprendizagem da 1ª à 3ª série e obtiveram desempenho inferior em provas de função motora
fina quando comparados com escolares sem dificuldades de aprendizagem na mesma série
escolar.
Para Rosa Neto (2002), Capellini e Souza (2008) e Trevisan, Copped e Capellini
(2008), a motricidade fina é necessária para a realização de atividades que exijam destreza,
como: pegar um objeto e lançá-lo, escrever, desenhar, pintar, recortar etc., e os escolares com
déficits motores geralmente têm dificuldade de adquirir habilidades motoras condizentes com
a idade e acabam apresentando dificuldades nas tarefas funcionais diárias e nas tarefas
escolares.
Nos testes de motricidade global (IM2) a escolar apresentou dois meses de atraso
motor em relação a sua IC (Tabela 2), resultado semelhante ao encontrado por Moreira,
Fonseca e Diniz (2000), onde compararam a proficiência motora de 30 crianças, e o grupo
com dificuldades de aprendizagem obteve resultados inferiores ao grupo de crianças ditas
“normais”, sugerindo um perfil motor bem mais vulnerável, o que pode trazer alguma
compreensão sobre os problemas de maturação motora no potencial de aprendizagem das
crianças com dificuldades.
O resultado dos testes de equilíbrio (IM3) foi o mais baixo de todos, com 26 meses de
atraso na IM (Tabela 2), diferente do resultado encontrado por Medina-Papst e Marques
(2010) onde avaliaram trinta crianças, 21 meninos e 9 meninas, de 8 a 10 anos de idade, com
dificuldades de aprendizagem escolar, e as mesmas apresentaram IM3 correspondente à sua
IC. Porém, assemelha-se ao estudo de Mello (1997) feito em um grupo de crianças com
mesma faixa etária, em que os resultados dos testes de equilíbrio também foram inferiores a
30846

todas as outras idades motoras. Mesmo que as crianças desse estudo praticassem uma
modalidade esportiva, percebeu-se que o desenvolvimento não ocorre igualmente para todos
os componentes motores.
O esquema corporal (IM4) da escolar também ficou abaixo de sua IC, 14 meses de
atraso (Tabela 2), semelhantes aos estudos de Costa (2001) que avaliou 105 crianças na faixa
etária entre cinco e 14 anos, encaminhadas ao Núcleo Desenvolver do Hospital Universitário
por queixa de dificuldade de aprendizagem, e de Rosa Neto, Poeta, Coquerel e Silva (2004)
que avaliaram 51 crianças entre quatro e 12 anos com dificuldade de aprendizagem
encaminhadas ao programa de psicomotricidade da UDESC, onde ambos obtiveram
resultados classificados como inferiores em relação a IM4 dos participantes.
Na organização espacial (IM5), a escolar também apresentou atraso de 14 meses
(Tabela 2), semelhante ao estudo de Amaro et al (2008) em que avaliou crianças com
dificuldade de aprendizagem e encontrou classificação muito inferior nas áreas da
organização espacial. De acordo com Rosa Neto (2002), com a evolução mental da criança, se
estabelece progressivamente a aquisição e a conservação das noções de distância, superfície,
volume, perspectivas e coordenadas que determinam suas possibilidades de orientação e de
estruturação do espaço em que vive, o que acaba não acontecendo de maneira progressiva em
crianças com dificuldades de aprendizagem.
Quanto a organização temporal (IM6), apresentou-se dois meses de atraso entre IC e
IM6 (Tabela 2), o que justifica-se pelo fato de crianças com transtornos de aprendizagem
apresentarem dificuldades de concentração e desatenção a estímulos perceptivos.
Beresford, Queiroz e Nogueira (2002) afirmam que os componentes da aprendizagem
motora exercem influência significativa na aquisição das habilidades de aprendizagem
cognitiva, particularmente da noção de corpo, de tempo e espaço, principalmente nos anos
que antecedem a idade escolar. Tal resultado assemelha-se ao estudo de Amaro et al (2008),
em que a EDM foi aplicada em 42 crianças com dificuldades de aprendizagem, com o
objetivo de avaliar a organização temporal das mesmas, e a IM6 classificou-se como Muito
Inferior.
A tabela abaixo mostra o resumo de pontos dos testes realizados com a escolar.
30847

Tabela 2. Resumo de pontos


Idade motora geral (IMG) 86 meses Idade positiva (+) ----------
Idade cronológica (IC) 98 meses Idade negativa (-) -12 meses
Quociente motor geral (QMG) 87 Escala de desenvolvimento Normal Baixo
Idade Motora (IM) Quociente Motor (QM)
IM1 84 meses IM4 84 meses QM1 85 QM4 85
IM2 96 meses IM5 84 meses QM2 94 QM5 85
IM3 72 meses IM6 96 meses QM3 73 QM6 97
Lateralidade Cruzada Mãos Direita
Olhos Direito Pés Esquerdo
Fonte: dados da pesquisa de campo/ arquivo pessoal da pesquisadora

Analisando cada resultado das IM’s separadamente, pode-se verificar que em todos a
escolar apresentou idade motora abaixo de sua idade cronológica, concordando com diversos
estudos que evidenciam a relação direta entre o que uma criança é capaz de aprender
(cognitivo) e o que ela é capaz de realizar (motor) (FERREIRA et al., 2006; SILVA et al.,
2006; POETA; ROSA NETO, 2007).
O estudo revelou resultados baixos na maioria das áreas avaliadas, motricidade fina
(QM1 normal baixo), equilíbrio (QM2 inferior), esquema corporal/rapidez (QM4 normal
baixo) e organização espacial (QM5 normal baixo). Porém, o equilíbrio obteve a classificação
mais baixa, com QM2 inferior, diferentemente dos estudos de Amaro et al (2008) que
encontrou classificação muito inferior nas áreas da organização espacial e temporal em
crianças com dificuldades na aprendizagem; e de Batistela (2001), em que a única área
classificada como inferior foi a de organização temporal.
Quanto a lateralidade, a escolar apresentou resultado cruzado, isto ocorre quando
existe uma lateralidade distinta da manual para os pés, olhos ou ouvidos; como: escrever com
a mão direita e chutar com o pé esquerdo, que é o caso da escolar.
Tal resultado corrobora com os encontrados por Rosa Neto et al (2013) que, ao
analisarem o desempenho da leitura e escrita em escolares com lateralidade cruzada,
verificaram que o grupo de escolares destros obteve resultados superiores no desempenho
destas tarefas. Conforme Fonseca (1995), a dominância lateral cruzada pode ser considerada
como causa de certos desequilíbrios e de perturbações; assim como dificuldades de
aprendizagem podem ser consequência de transtornos de lateralidade associados a distúrbios
na organização espacial (CORAZZA et al 2011).
Com base nos resultados obtidos, a IMG da escolar é de 86 meses, com QMG de 87,
sendo classificado como Normal baixo na EDM, apresentando IN de 12 meses, semelhante ao
estudo de Fin e Barreto (2010) no qual os resultados demonstraram que 36,7% dos 60
30848

escolares avaliados tiveram QMG classificado como Normal baixo. Posto isto, foi possível
traçar o perfil motor da escolar (Gráfico 1), identificando a influência de seu atraso entre a IC
e IM nas dificuldades de aprendizagem.
O gráfico abaixo apresenta o perfil da escolar de modo geral nos itens avaliados neste
estudo.

Gráfico 1. Perfil Motor da escolar


11 anos • • • • • •
10 anos • • • • • •
09 anos • • • • • •
08 anos • • • • • •
07 anos • • • • • •
06 anos • • • • • •
05 anos • • • • • •
04 anos • • • • • •
03 anos • • • • • •
02 anos • • • • • •
Idade Motricidade Motricidade Equilíbrio Esquema Organização Organização
Cronológica Fina Global Corporal Espacial temporal
Fonte: dados da pesquisa de campo/ arquivo pessoal da pesquisadora

Percebe-se que a escolar tem IM similar a IC apenas em duas áreas, revelando que
crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam atraso em seu desenvolvimento
motor, conforme aponta a literatura.

Conclusão

Foi possível classificar o desenvolvimento motor da escolar como Normal baixo, de


acordo com a EDM. O que significa que a mesma apresentou um desenvolvimento normal,
porém com IM abaixo de sua IC, comprometendo seu desenvolvimento motor, principalmente
os componentes relacionados ao seu equilíbrio.
Tais resultados comprovam que a EDM parece ser um dos instrumentos mais
apropriados para se traçar o perfil motor de uma criança, uma vez que, partindo desse perfil,
acredita-se na possibilidade de criação de estratégias de intervenção por parte da escola,
professores e familiares, em busca da adequação da idade motora com a idade cronológica,
visto que, tais prerrogativas trarão conhecimento sobre as áreas da motricidade mais afetadas
pelas dificuldades de aprendizagem.
30849

REFERÊNCIAS

AMARO, K.N.; BRUSAMARELLO, S; CAMPOS, F.C.G.; CORAZZA, T.D.M. XAVIER,


R.F.C. Análise da organização temporal em escolares com dificuldade de aprendizagem.
Revista efdeportes.com, Buenos Aires, Ano 13 N. 127, 2008.

BATISTELLA, P. A. Estudo de parâmetros motores em escolares com idade de 6 a 10


anos da cidade de Cruz Alta-RS. 2001. 103 p. Dissertação (Mestrado em Ciências do
Movimento Humano) - Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do
Estado de Santa Catarina, SC, Florianópolis, 2001.

BERESFORD, H.; QUEIROZ, M.; NOGUEIRA, A. B. Avaliação das relações cognitivas e


motoras na aquisição instrucional das habilidades para a aprendizagem da linguagem escrita.
Revista ensaio: avaliação política pública educacional. Rio de Janeiro, v.10, n.37, p. 493-502,
2002.

CAPELLINI, A. S.; SOUZA, A. V. Avaliação da função motora fina, sensorial e perceptiva


em escolares com dislexia. In: SENNYE, A. L.; CAPOVILLA, F. C.; MONTIEL, J. M.
Transtornos da aprendizagem da avaliação à reabilitação. São Paulo: Artes Médicas,
2008.

COPPEDE, A. C.; OKUDA, P. M. M.; CAPELLINI, S. A. Desempenho de escolares com


dificuldades de aprendizagem em função motora fina e escrita. Journal of Human Growth
and Development, 22(3): 297-306, 2012.

CORAZZA, T. D. M.; BRUSAMARELLO, S.; CARDOSO, F. G. C.; ROSA NETO, F.


Validação de uma bateria de testes de Organização Espacial: Análise da Consistência
Interna. Temas desenvolv, 17(100):179-82, 2011.

FERREIRA, L.F; NASCIMENTO, R.O; APOLINÁRIO, M.R; FREUDENHEIM, A.M.


Desordem da coordenação do desenvolvimento. Motriz, Rio Claro, v.12, n.3, p.283-292,
set./dez. 2006.

FIN, G.; BARRETO, D. B. M. Avaliação motora de crianças com indicadores de dificuldades


no aprendizado escolar, no município de Fraiburgo, Santa Catarina. Unoesc & Ciência –
ACBS, Joaçaba, v. 1, n. 1, p. 5-12, jan./jun. 2010.

FONSECA, V. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos


fatores psicomotores. Porto Alegre: Artmed, 1995.

MEDINA-PAPST, J.; MARQUES, I. Avaliação do desenvolvimento motor de crianças com


dificuldades de aprendizagem. Rev. Bras. Cineantropometria e Desempenho Humano,
12(1):36-42, 2010.

MEDINA, J.; ROSA, G. K. B.; MARQUES, I. Desenvolvimento da organização temporal de


crianças com dificuldades de aprendizagem. Rev Educ Fís/UEM, 17(1): 107-16, 2006.
30850

MELLO R. R. F. O perfil motor de alunos atletas de 8 a 10 anos que praticam


regularmente natação. Monografia (Graduação em Educação Física) – Centro de Educação
Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade Estadual de Santa Catarina, SC, Florianópolis,
1997.

MOREIRA, N. R.; FONSECA, V.; DINIZ, A. Proficiência motora em crianças normais e


com dificuldade de aprendizagem: estudo comparativo e correlacional com base no teste de
proficiência de Bruininks-Oseretsky. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v.11, n.1,
p.11-26, 2000.

POETA, L; ROSA NETO, F. Evaluación motora en escolares con indicadores del trastorno
por déficit de atención/hiperactividad. Revista de Neurología, v. 44, p. 1112-1115, 2007.

ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.

ROSA NETO, F.; POETA, L. S.; COQUEREL, P. R. S.; SILVA, J. C. Avaliação motora em
escolares com problemas na aprendizagem escolar - programa de Psicomotricidade.
Temas sobre Desenvolvimento, 13(74), 19-24, 2004.

SILVA C.A; ROSA NETO, F; ALMEIDA G.M.F; AMARO K.N; BASTOS M.B. A
importância da avaliação motora em escolares. Revista Íbero Americana de Psicomotridad
y Técnicas Corporales, v.6. p.137- 144, 2006.

TREVISAN JG, COPPED AC, CAPELLINI SA. Avaliação da função motora fina,
sensorial e perceptiva em escolares com dificuldades de aprendizagem. Temas Desenvol.
16 (94):183-7, 2008.

Você também pode gostar