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Aula 02

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase


XXXII Exame - Com Videoaulas

Autor:
Diego Cerqueira Berbert
Vasconcelos
Aula 02
26 de Fevereiro de 2020
Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 02

APRESENTAÇÃO
Olá, alunos do Estratégia OAB!

Como estão os estudos? Preparados para mais uma aula de Dir. Constitucional?

Aqui, deixo uma dica. Atenção mais que especial na leitura do pdf, pois
abordaremos alguns temas recorrentes da FGV.

Boa jornada a todos. ;)

Prof. Diego Cerqueira

diegocerqueira@estrategiaconcursos.com.br

https://www.facebook.com/profdiegocerqueira/

@profdiegocerqueira

*Esse curso é desenvolvido pelo Prof. Diego Cerqueira, mas conta com a
participação da Advogada Dra. Lara Abdala na produção do conteúdo para 1ª fase
em Dir. Constitucional.

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Apresentação .................................................................................................................... 1
9. Direitos Sociais .......................................................................................................3
9.1 – Direitos sociais na Constituição Federal de 1988 .......................................... 4
9.2 - Cláusula de reserva do financeiramente possível ........................................... 4
9.3 - Princípio do mínimo existencial ...................................................................... 5
9.4 - Princípio da Vedação ao Retrocesso .............................................................. 6
10 - Direitos de Nacionalidade.................................................................................11
10.1 - Atribuição de Nacionalidade ...................................................................... 13
10.2 - Condição especial dos portugueses residentes do Brasil .......................... 20
10.3 - Condição jurídica do nacionalizado ............................................................ 21
10.4 - Perda de Nacionalidade ............................................................................. 23
11 - Direitos Políticos ................................................................................................35
11.1 - Direitos Políticos Positivos .......................................................................... 36
11.1.1 – Capacidade eleitoral ativa ................................................................... 38
11.1.2 – Capacidade eleitoral passiva ............................................................... 41
11.2 - Direitos Políticos Negativos ........................................................................ 47
11.2.1 – Inelegibilidades .................................................................................... 48
11.2.2 – Perda e suspensão dos direitos políticos ............................................. 65
11.2.3 – Princípio da anterioridade eleitoral...................................................... 66
12 - Dos Partidos Políticos ........................................................................................69

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9. DIREITOS SOCIAIS
Primeiramente, vamos fazer uma revisão rápida dos assuntos já abordados.
Lembram dos direitos de 1ª geração?
Pois bem. Estes direitos têm a função de evitar que o Poder Público interfira sobre
o espaço de autodeterminação dos indivíduos (ou seja a esfera privada), pois
estabelecem uma diretriz ao Estado: a obrigação de não fazer. É a limitação do
poder estatal.
Em relação aos direitos de 2ª geração, o que temos aqui é uma situação inversa,
uma atuação positiva do Estado. Representa uma obrigação de fazer por parte do
Poder Público. São os denominados direitos sociais. Através destes, fica evidente o
dever do Estado no cumprimento das prestações sociais, concretizando a chamada
igualdade material.
Com a crise do Estado liberal, passou-se a perceber que a “igualdade formal” até
então conferida já não era mais suficiente. Era necessário um papel mais atuante do
Estado. Assim, após a 1ª Guerra Mundial, o Estado passou a atuar como agente do
bem-estar e da justiça social1 (Estado do Bem-Estar Social).
Nesse sentido, tivemos a Constituição de Weimar de 1919 que regulou os deveres
do Estado no campo social, sendo um marco no tema dos direitos sociais. Em
âmbito nacional, a Constituição de 1934 teve um grande papel, pois foi nela que
ocorreu a primeira previsão de norma constitucional acerca da ordem social.
A Constituição de 1988 trouxe um capítulo próprio para tratamento do tema dos
direitos sociais. (art. 6º ao art. 11). Contudo, a doutrina e a jurisprudência entendem
que há outros direitos espalhados ao longo da Carta política. Um exemplo disso
seria o art. 194, que aborda a seguridade social. Temos também a previsão do art.
196 que rege o direito à saúde; o art. 205 com a temática do direito à educação,
enfim.
O próprio Supremo Tribunal entende que estamos diante de um rol instituído no
art. 6º de caráter meramente exemplificativo2.

1
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, 6ª edição. Ed. Juspodium. Salvador: 2016, p. 1310.
2
STF, ADI nº 639, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 02.06.2005.

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9.1 – DIREITOS SOCIAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.

O texto acima não é original da Constituição Federal, quando de sua promulgação


em 1988. O direito à moradia, por exemplo, foi inserido no caput do art. 6º no ano
de 2000 com a Emenda Constitucional nº 26. Além disso, temos o direito à
alimentação com a EC nº 64/2010 e, mais recentemente, o direito ao transporte que
foi incluído com a EC nº 90/2015.
A partir desta explicação, temos um ponto importante, meus amigos! Estes três
direitos que não constavam no caput normalmente são o foco da banca
examinadora. Muito cuidado com uma pegadinha desse tipo.
(...)
Por conta da necessidade da atuação do Estado para a materialização dos direitos
sociais previstos no art. 6º, entende-se que estamos diante de normas
constitucionais de eficácia limitada. A atuação ocorrerá por meio da edição de leis
regulamentadoras, que permitirão prestações positivas a serem realizadas pelo
Estado.
A concretização e a efetividade dos direitos sociais são de suma importância para o
estudo constitucional, tendo já sido objeto de exame tanto doutrinaria quanto
jurisprudencialmente.
Nesse quesito, vamos analisar três princípios basilares: i) o princípio da “reserva do
possível”; ii) o princípio do “mínimo existencial” e; iii) o princípio da vedação do
retrocesso. É o que faremos a seguir.

9.2 - CLÁUSULA DE RESERVA DO FINANCEIRAMENTE POSSÍVEL

Esta cláusula tem relação direta com a disponibilidade financeira do Estado.


Também denominada de teoria da reserva do possível. A ideia aqui pessoal é de
que a efetivação dos direitos sociais deve acontecer na medida exata do possível,
mais especificamente “na medida do financeiramente possível”. Tecnicamente, há
uma espécie de limitação da obrigação de fazer do Estado.

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Vamos pensar o seguinte. Digamos que o Estado esteja com grave problema
financeiro e orçamentário. Então inicia o exercício de 2019 e ele precisa custear a
manutenção dos serviços públicos (saúde pública, rede hospital, sanitária, serviços
de educação básica, ensino médio estadual...etc). Será que o Estado pode alegar a
reserva do possível?
Pode. Mas, cuidado! O princípio serve para determinar quais os limites em que o
Estado deixa de ser obrigado a dar efetividade aos direitos sociais. Se o Estado
está com grave problema financeiro, tudo bem. Nem todos os serviços públicos
serão ofertados (em sua integralidade). Mas, por outro lado, o Estado não pode
chegar e dizer " não tenho dinheiro para absolutamente nada. Corte-se a verba
pública de todos os postos de saúde, feche-se todas as escolas estaduais de ensino
básico".
Ele não pode simplesmente alegar que não possui recursos orçamentários. O
Supremo tribunal Federal entende que, ocorrendo uma situação extrema, é
fundamental que o Poder Público demonstre objetivamente a inexistência de
recursos públicos e a falta de previsão orçamentária da respectiva despesa.
Alguma coisa ele precisa prestar.3
“Professor...e o Judiciário pode intervir nesses casos?”
De acordo com o STF, excepcionalmente pode o Poder Judiciário intervir nas
políticas públicas, de forma a implementá-las, em caso de inércia estatal
injustificável. Quer ver um exemplo? Quando temos uma determinação judicial para
a concessão do tratamento de câncer pelo Estado a um indivíduo4.

9.3 - PRINCÍPIO DO MÍNIMO EXISTENCIAL

O princípio do mínimo existencial também é um valor-fonte em nossa ordem


jurídica. Trata-se de um preceito indispensável à realização da dignidade da pessoa
humana. Consiste num grupo de prestações essenciais que devem ser fornecidas
ao indivíduo pelo Poder Estatal, para que o mesmo possa gozar de uma existência
digna.
Um dos primeiros autores a tratar do princípio em exame foi “Otto Bachof”. Ele
defendeu que todo Estado deve garantir ao seu povo o mínimo de dignidade. A

3
ADPF 45 MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 29.04.2004, DJ 04.05.2004.
4
STF, RE 436.996 – AgR. Rel. Min. Celso de Mello. 22.11.2005.

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ideia levantada pelo teórico é inspirada no princípio da dignidade da pessoa


humana5.
Ao se promover o bem-estar social do homem, o Estado precisa proteger os direitos
individuais, mas também garantir condições materiais mínimas de existência aos
indivíduos.
Uma pergunta que se faz é a seguinte: será que existe compatibilidade entre
princípio do mínimo existencial e a cláusula da reserva do possível? SIM!!!!
Como vimos, a cláusula da reserva do possível possui limites. E esses limites são
balizados pelo mínimo existencial, conforme entendimento firmado pelo STF6. Ao
alegar a reserva do possível para a não materialização de direitos sociais, o Estado
deve ao menos assegurar o mínimo existencial, sendo esta garantia uma obrigação
inafastável do Poder Público.
O direito à saúde é comumente objeto de várias discussões judiciais, em que se
analisa o papel do Estado e a garantia do mínimo existencial. Por exemplo, temos
decisões relacionadas ao fornecimento de medicamentos, tratamento médico,
estoque mínimo de remédios na rede pública de saúde, etc.
Outro direito social que já foi objeto de discussão no Supremo foi a segurança
pública. De acordo com o STF, há a possibilidade de decisão judicial determinar,
por exemplo, que o Poder Público execute obras em presídios, desde que o objetivo
seja garantir a integridade física e moral dos presos, protegendo e concretizando
assim os seus direitos fundamentais.7

9.4 - PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO

A vedação ao retrocesso significa que, uma vez concretizado um direito social, este
não pode ser suprimido, ou seja, as conquistas sociais obtidas ficam impedidas de
serem desconstituídas. Na visão do ilustre jurista J.J Canotilho, ao ser conquistado,
o direito social passa “a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um
direito subjetivo” 8.
Além de exigir que a política pública esteja em harmonia com os direitos sociais
adquiridos, este princípio (denominado pela doutrina francesa de effet cliquet)
busca impedir a revogação da norma infraconstitucional que materializou um direito

5
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Maria Filchtiner. Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: algumas aproximações. Direitos
Fundamentais & Justiça, Porto Alegre, ano 1, n. 1, p. 171-231, out./dez., 2007, p. 178.
6
STF, RE 639.637. AgR. Rel. Min. Celso de Mello. 15.09.2011
7
RE 592.581/RS. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. 13.08.2015.
8
J.J.G.Canotilho, Direito constitucional e teoria da Constituição, 6. ed. p. 468.

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social previsto na CF/88. No campo jurisprudencial, O Supremo entende que é dita


como inconstitucional a atuação do Estado (seja legislativa ou não) que viole o
núcleo essencial do direito social adquirido.

“cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito
à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação
desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais
prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado”. 9

Pessoal, para a prova de direito constitucional, nesta parte da aula tratamos daquilo
que tem mais probabilidade de ser cobrado em termos de Direitos Sociais. As
disposições do art. 7º a 11º da CRFB/88 são temas com um enfoque mais específico
no estudo do Direito do Trabalho.

1. (FGV / XX Exame de Ordem Unificado – 2016 – Reaplicação de Prova –


Salvador/BA). Com a promulgação da Constituição de Weimar, em 1919,
ocorreram transformações paradigmáticas no regime jurídico de proteção dos
direitos fundamentais, o que alterou a concepção negativa do papel do
Estado, que apenas consagrava as liberdades individuais e a igualdade formal
perante a lei. Com o advento da referida ordem constitucional, o Estado deve
agir, positivamente, para garantir as condições materiais de vida digna para
todos e para a proteção dos hipossuficientes. Esse texto descreve o ambiente
em que o Direito Constitucional Positivo:
A) estabeleceu os direitos individuais negativos de primeira dimensão.
B) consagrou os direitos sociais prestacionais de segunda dimensão.
C) definiu os direitos transindividuais de solidariedade de terceira dimensão.
D) instituiu os direitos humanos metaconstitucionais de quarta dimensão.

Comentário:

9
STF, RE 436.996 – AgR. Rel. Min. Celso de Mello. 22.11.2005.

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Opa! Acabamos de estudar os direitos de 2ª geração. E o enunciado traz o


momento histórico em que surgiram estes direitos, que diferente dos direitos
de 1ª geração, tutelaram a igualdade material (tratar os iguais igualmente e os
desiguais desigualmente), de forma a exigir do Estado uma prestação positiva,
ou seja, uma atuação. Foi neste momento que os direitos sociais, econômicos
e culturais passaram a ser consagrados. Gabarito letra B.

2. (ESTRATÉGIA OAB/ INÉDITA) De acordo com os valores sociais previstos


no texto da Constituição Federal de 1988, bem como a abordagem realizada
pela doutrina acerca do tema, assinale a alternativa correta.
a) Os direitos sociais exigem uma omissão por parte dos poderes constituídos;
b) Os direitos sociais são classificados como os direitos fundamentais de 1ª
geração;
c) Os direitos sociais jamais independem da disponibilidade de recursos
financeiros para a sua implementação;
d) Os direitos sociais revelam prestações positivas do Estado; a exigência de
uma obrigação de fazer, visando concretizar a chamada isonomia material.

Comentários:
A letra A está incorreta. Acabamos de estudar que os direitos sociais
geralmente exigem uma ação (e não uma omissão) dos poderes constituídos.
Atenção extra hein? rs
A letra B está incorreta. Opa! Pegadinha. Estamos diante dos direitos
fundamentais de 2ª geração.
A letra C está incorreta. Há sim uma observância pela disponibilidade de
recursos financeiros para sua implementação. (reserva do financeiramente
possível)
A letra D está correta. Perfeito. É o nosso gabarito. Os direitos sociais podem
exigir prestações específicas para sua implementação. Temos como exemplo o
direito à saúde, previsto no contexto da ordem social.

3. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) Conforme a previsão do art. 6º da Carta


Magna de 1988, pode-se afirmar que temos seguintes direitos sociais:

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a) a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados.
b) a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.
c) a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados.
d) o direito de herança, a intimidade, a privacidade, a informação dos órgãos
públicos.

Comentários:
Opa! Pessoal, essa questão é para que possamos reforçar a previsão do art. 6º,
CF/88. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.
Gabarito Letra A.

4. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) A teoria dimensional dos direitos


fundamentais examina os diferentes regimes jurídicos de proteção desses
direitos ao longo do constitucionalismo democrático, desde as primeiras
Constituições liberais até os dias de hoje. Nesse sentido, a teoria dimensional
tem o mérito de mostrar o perfil de evolução da proteção jurídica dos direitos
fundamentais ao longo dos diferentes paradigmas do Estado de Direito,
notadamente do Estado Liberal de Direito e do Estado Democrático Social de
Direito. Essa perspectiva, calcada nas dimensões ou gerações de direitos, não
apenas projeta o caráter cumulativo da evolução protetiva, mas também
demonstra o contexto de unidade e indivisibilidade do catálogo de direitos
fundamentais do cidadão comum. A partir dos conceitos da teoria dimensional
dos direitos fundamentais, assinale a afirmativa correta.
a) Os direitos estatais prestacionais, ligados ao Estado Liberal de Direito,
nasceram atrelados ao princípio da igualdade formal perante a lei, perfazendo
a primeira dimensão de direitos.

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b) A chamada reserva do possível fática, relacionada à escassez de recursos


econômicos e financeiros do Estado, não tem nenhuma influência na
efetividade dos direitos fundamentais de segunda dimensão do Estado
Democrático Social de Direito.
c) O conceito de direitos coletivos de terceira dimensão se relaciona aos
direitos transindividuais de natureza indivisível de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, como ocorre com o direito
ao meio ambiente.
d) Sob a égide da estatalidade mínima do Estado Liberal, os direitos negativos
de defesa dotados de natureza absenteísta são corretamente classificados
como direitos de primeira dimensão.

Comentários:
Meus amigos, chegamos a comentar essa questão em aula anterior. Mas, vamos
treiná-la novamente, até para que possamos reforçar os conceitos.
Letra A: errada. Os direitos prestacionais estão ligados ao Estado Social de
direito (direitos 2ª geração).
Letra B: errada. A cláusula da reserva do possível deve ser levada em
consideração na tarefa de concretização dos direitos sociais. O Estado, para
concretizar direitos sociais, depende de recursos econômicos e financeiros.
Letra C: errada. De fato, o direito ao meio ambiente é um direito de 3a geração,
possuindo natureza indivisível. Trata-se, porém, de um direito difuso, cuja
titularidade é indeterminada. Todas as pessoas são titulares do direito ao
ambiente, independentemente de quaisquer circunstâncias de fato que as
liguem.
Letra D: correta. Temos aqui o gabarito! Os direitos de defesa (liberdades
negativas) são classificados na 1ª geração de direitos fundamentais. Estado
Liberal de direito.

5. (FGV / XXXI Exame de Ordem – 2020) Preocupado com o grande número


de ações judiciais referentes a possíveis omissões inconstitucionais sobre
direitos sociais e, em especial, sobre o direito à saúde, o Procurador-Geral do
Estado Beta (PGE) procurou traçar sua estratégia hermenêutica de defesa a
partir de dois grandes argumentos jurídicos: em primeiro lugar, destacou que

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a efetividade dos direitos prestacionais de segunda dimensão, promovida pelo


Poder Judiciário, deve levar em consideração a disponibilidade financeira
estatal; um segundo argumento é o relativo à falta de legitimidade democrática
de juízes e tribunais para fixar políticas públicas no lugar do legislador eleito
pelo povo.
Diante de tal situação, assinale a opção que apresenta os conceitos jurídicos
que correspondem aos argumentos usados pelo PGE do Estado Beta.
A) Dificuldade contraparlamentar e reservado impossível.
B) Reserva do possível fática e separação dos Poderes.
C) Reserva do possível jurídica e reserva de jurisdição do Poder Judiciário.
D) Reserva do possível fática e reserva de plenário.

Comentários:
Meus amigos, questão bem interessante trazida pela FGV. Lembram do que
estudamos há pouco?
A teoria da reserva do possível no diz que a efetivação dos direitos sociais deve
acontecer na medida exata do possível, mais especificamente “na medida do
financeiramente possível”. Há, em verdade, uma espécie de limitação da
obrigação de fazer do Estado.
E a banca trouxe um exemplo exatamente nessa linha. ;) O primeiro argumento
jurídico diz respeito à reserva do possível fática (ou reserva do financeiramente
possível).
No caso do segundo argumento, estamos diante do princípio da separação dos
poderes, encampado no art. 2º da CRFB/88: “são Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Gabarito letra B.

10 - DIREITOS DE NACIONALIDADE
Pessoal, vamos conversar um pouco agora acerca dos Direitos de Nacionalidade.
Prevalece na doutrina o entendimento que o Estado possui 03 elementos para sua
formação: território, governo (este em caráter soberano) e povo.

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O elemento humano do Estado é representado pelo povo, que alguns da doutrina


chegam a tratar como a chamada “dimensão subjetiva” - conjunto de pessoas
compõe o Estado, ou seja, os nacionais.
“Mas, professor, em um Estado não temos os estrangeiros também?” Cuidado!
Povo não se confunde com população. População é conjunto de pessoas que
habitam o território de um Estado, sendo consideradas nacionais ou não.
Então, no aspecto do vínculo jurídico-político temos que a ligação entre Estado e
povo faz nascer o conceito de nacionalidade. Através desta, o indivíduo passa a
integrar o Estado.
A nacionalidade implica em aquisição de direitos e submissão às obrigações. Ela
comporta a dimensão horizontal e vertical, conforme entendimento de Valério
Mazzuoli.10 A dimensão horizontal permite ao indivíduo se inserir em uma
comunidade, ligando-se ao elemento “povo”. Já a dimensão vertical traz
justamente a diferença entre nacional e estrangeiro em relação aos direitos e
obrigações perante o Estado (relação de subordinação).
Professor...uma outra pergunta. Quem concede a nacionalidade?
Meus amigos, é o Estado soberano o responsável por conceder a nacionalidade,
estabelecendo quais as condições para esta aquisição (ou eventualmente perda),
pois o ato de outorgar a nacionalidade é uma manifestação da soberania estatal.
Por conta desta soberania, a regulamentação legal da nacionalidade é da
competência de cada Estado (referente a nacionalidade que pode conceder).

Uma dúvida que aparece muito em nossas vídeoaulas. Nacionalidade é


sinônimo de cidadania? Não. Muito cuidado!!!!!
A nacionalidade tem um conceito mais amplo do que cidadania, de forma
que esta pressupõe a nacionalidade, mas não é todo nacional que possui
cidadania. A nacionalidade identifica o indivíduo como pertencente ao
povo de um determinado Estado.

10
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

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Por outro lado, a cidadania é um atributo político, pois decorre do direito


de votar e ser votado. Tecnicamente, considera-se cidadão aquele que
está em pleno gozo dos seus direitos políticos. A regra é que todo cidadão
brasileiro é nacional.

10.1 - ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE

De acordo com a doutrina, a nacionalidade pode ser dividida em duas espécies:


Ä A nacionalidade primária ou originária é a chamada de involuntária
(independe da vontade do indivíduo); decorre do nascimento, sendo imposta
pelo Estado de maneira unilateral. Os critérios para a atribuição podem ser:
sanguíneos (“jus sanguinis”), territoriais (“jus soli”) ou mistos. O nacional aqui
é denominado de “nato”.
Ä A nacionalidade secundária ou derivada é aquela que depende de ato de
vontade do indivíduo e sua aquisição decorre de um processo de
naturalização. Por isto, o indivíduo nacional é denominado de “naturalizado”.

NACIONALIDADE

SECUNDÁRIA
PRIMÁRIA
(ADQUIRIDA OU
(ORIGINÁRIA)
DERIVADA)

“IUS SOLI”
(REGRA) OU “IUS
NASCIMENTO ATO VOLITIVO
SANGUINIS”
(EXCEÇÃO)

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O critério sanguíneo determina que o filho de um nacional também é considerado


um nacional, não importando aqui o território de seu nascimento. Já no critério
territorial, o fator que determina a nacionalidade é o local de nascimento do
indivíduo.
Nossa Constituição Federal de 1988 adotou como regra geral o critério de território.
Todavia, o próprio texto constitucional apresentou exceções trazendo algumas
hipóteses de atribuição de nacionalidade via “jus sanguinis”.
Que tal fazermos uma análise acerca do art. 12 da CF/88?

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde
que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a
residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo,
depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

A alínea “a” determina que qualquer indivíduo nascido no território nacional será
brasileiro nato. Como regra geral, aquele que nasceu no território nacional será
considerado brasileiro nato. (critério “jus soli”). Mas, cuidado, temos uma exceção:
quando o indivíduo nascer no Brasil e for filho de estrangeiros que estejam a serviço
do seu país de origem. Neste caso, não haverá atribuição de nacionalidade
originária.
Vamos pensar num exemplo. Digamos que um casal de uruguaios venha ao Brasil a
título de passeio e se encante com nossa terra. Em seguida, eles decidem morar em
Morro de São Paulo na Bahia e montam um empreendimento da região. Dois anos
depois nasce o pequeno Suarez. Esse filho será considerado brasileiro nato? Sim. O
casal estava morando aqui no Brasil e eles não estavam a serviço do país de origem.
Agora, vamos complicar um pouco (rs). Imagine que um casal de diplomatas italianos
venha ao Brasil a serviço da Itália. Durante este período, eles acabam tendo o
pequeno Baggio. Esse filho será considerado brasileiro nato? Não!!! Por qual razão?
Então. Mesmo com o nascimento no território brasileiro, a criança não será

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considerada brasileira nata, pois haverá o enquadramento da parte final da alínea


“a” do art. 12, I, CF/88.
“Professor, precisa que os dois estejam a serviço do país de origem?”
Boa pergunta. ;)
Não. Basta que um deles esteja a serviço. Se fosse só o pai diplomata e a mãe
estivesse acompanhando o cônjuge ainda sim o filho não seria considerado brasileiro
nato. O professor Marcelo Novelino11 explica que não é necessário que ambos os
pais estejam a serviço do país. Para que a exceção prevista na alínea “a” do inciso I
do art. 12 da CF/88 se concretize basta que um dos pais esteja a serviço, enquanto
o outro apenas o acompanhe.
Agora, muito cuidado! E se o diplomata vem sozinho ao Brasil e aqui se casa com
uma brasileira nata e dessa relação acaba surgindo um filho. Será que esse filho pode
ser considerado brasileiro nato? SIMMMM!
A esposa é brasileira, assim o filho será considerado brasileiro nato por conta do
laço materno, já que nasceu no território nacional e é filho de brasileira. E, pode
obter a dupla nacionalidade professor? Até pode, mas vai depender da legislação
do país de origem do diplomata. (se permitirá ou não...)
Assim, são três as situações possíveis a partir do disposto na alínea “a”:12

2ª situação:
•Um filho de pai ou mãe •Um filho de estrangeiros
brasileiro, ou ambos, que não estão a serviço
nasce em território •Um filho de estrangeiros de seu país nasce em
brasileiro: será brasileiro que estão a serviço de território brasileiro: será
nato. seu país nasce em brasileiro nato.
território brasileiro: não
será brasileiro nato.

1ª situação: 3ª situação:

11
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional, 11ª ed. Salvador: Editora JusPodium, 2016, pág. 482-483.
12
Trata-se de uma regra consuetudinária de direito internacional, que os filhos de agentes de Estados estrangeiros, como diplomatas e cônsules, sejam
normalmente excluídos da atribuição de nacionalidade pelo critério “jus soli”.

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Um ponto importante. Considera-se território brasileiro as terras delimitadas pelas


fronteiras geográficas, o mar territorial e espaço aéreo; os navios mercantes
brasileiros; e as aeronaves civis brasileiras. 13
(...)
Vamos analisar agora a alínea “b”?!
A Constituição estabeleceu que os nascidos no estrangeiro também serão
considerados brasileiros natos se forem filho de pai brasileiro ou mãe brasileira,
desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil.
Temos aqui a adoção do critério “jus sanguinis”; uma situação em que o indivíduo
não nasceu no território nacional, mas por questões de laço sanguíneo, o legislador
Constituinte optou por atribuir a nacionalidade originária. Para tanto, deve haver o
cumprimento de dois requisitos: ser filho de pai brasileiro ou mãe brasileira (não
precisa ser o dois) e qualquer deles (ou ambos) estarem a serviço da República
Federativa do Brasil.
Estarão a serviço da República Federativa do Brasil todo indivíduo que estiver a
serviço de qualquer dos entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e
Município), incluídos também os entes da Administração Pública indireta.
Quer um exemplo?
Vamos supor que Diego venha a ser Adido Tributário da Receita Federal do Brasil14
e seja enviado para representar a Administração Tributária em Washington.
Chegando lá, conhece a linda Katy Perry e dessa relação nasce o pequeno John. ;)
A pergunta é: esse filho é brasileiro nato? SIM! Diego estava a serviço do Brasil. E
será americano, professor? Não sei (rs). Vai depender da legislação de lá...
(...)
Você deve estar pensado....” caso o pai brasileiro ou mãe brasileira deste indivíduo
que nasceu no exterior não esteja a serviço do Brasil, posso concluir que ele não
será brasileiro nato, então?” Não é bem assim! Calma....muita calma nessa hora.
Temos ainda uma terceira hipótese constitucional, a alínea “c”, que analisaremos a
seguir.

13
CARVALHO, Dardeau de Carvalho, Nacionalidade e cidadania, p. 57, apud José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo, 36. ed.rev. São
Paulo: Malheiros, 2013, p. 290.
14
A Receita Federal possui uma “função” chamada de Adido, que se trata de uma representação da Administração Tributária Federal em outros países. Os
Adidos Tributários e Aduaneiros Auditores Fiscais lotados nos países que possuem acordos comerciais e aduaneiros com o Brasil.

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(...) “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,


desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”.

Olha só meus amigos! Percebam que a condição da alínea “c” permite que um filho
de pai ou mãe brasileira que não esteja a serviço do Brasil e que venha a nascer no
exterior possa ser considerado brasileiro nato. São duas condições em que tal fato
pode ocorrer:
Ä O indivíduo ter sido registrado em repartição brasileira competente
ou;
Ä Vir a residir no Brasil e optar, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Em relação a primeira hipótese, é necessário apenas o registro do indivíduo perante
repartição competente. Fez o registro na repartição brasileira competente? Sim.
Será considerado brasileiro nato.
Já na segunda hipótese, é preciso o preenchimento de dois requisitos: (i) o indivíduo
precisa residir no Brasil; e (ii) também manifestar sua vontade. Este ato de
manifestação apenas acontecerá com a maioridade e será realizada em um processo
perante a Justiça Federal.
Importante frisar que a opção do indivíduo em se tornar brasileiro revela uma
condição potestativa, ou seja, preencheu os requisitos tem direito subjetivo ao
reconhecimento da nacionalidade originária. Daí a doutrina dizer em nacionalidade
potestativa.
“Mas, professor, e no caso deste indivíduo vir a morar ainda menor no país, se ele
só pode optar pela nacionalidade após a maioridade, como fica a relação dele com
o Brasil até o momento da escolha? Muito boa a sua pergunta!
O Supremo Tribunal Federal entende que, apesar da aquisição ocorrer apenas
quando atingir a maioridade, durante o período ainda menor o residente será
considerado um nacional, mais especificamente um brasileiro nato.
E depois de atingida a maioridade, até que faça a opção, continua tendo o mesmo
tratamento? Não. A partir do momento em que chega à maioridade, até que se
manifeste, sua condição de brasileiro nato fica suspensa. Então, a maioridade se
apresenta aqui como uma condição suspensiva da nacionalidade.
Vamos consolidar? ;)

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Brasileiro nato

Nacidos no
Estrangeiro de Pai
Nascidos no Brasil
brasileiro ou mãe
brasileira...

Desde que qualquer Ou venham a residir na Ainda que de pais


deles esteja a serviço Desde que sejam RFB do Brasil e optem, estrangeiros, desde
da República registrados em em qualquer tempo, que estes não estejam
Federativa do Brasil repartição brasileira depois de atingida a a serviço de seu país
(critério “jus competente maioridade, pela (critério “jus soli”)
sanguinis”) nacionalidade brasileira

Art. 12. São brasileiros:


(...)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas
aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um
ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

A hipótese do inciso II trata da aquisição secundária ou derivada da nacionalidade.


É denominada de naturalização no Brasil, pois ocorre por um ato de vontade do
indivíduo de forma expressa e se divide em ordinária e extraordinária.
A naturalização ordinária vem enunciada na alínea “a”. Trata-se de uma regra de
concessão desde que presentes os requisitos apresentados pela lei (a chamada Lei
de Migração). Contudo, se o estrangeiro for originário de país de língua portuguesa,

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a CRFB/88 determina um processo diferenciado e mais facilitado, desde que haja o


cumprimento de dois requisitos:
Ä residência por um ano ininterrupto no Brasil;
Ä e idoneidade moral.
Em ambas as situações, a naturalização é um ato discricionário, pois há uma análise
sobre a conveniência e oportunidade para tal concessão. Este ato é praticado pelo
Chefe do Poder Executivo e decorre da soberania estatal. Assim, não há um direito
subjetivo do estrangeiro pelo simples cumprimento das exigências jurídicas.
Já em relação a naturalização extraordinária, a alínea “b” traz três requisitos
necessários. São eles:
Ä O estrangeiro residir ininterruptamente no Brasil por mais de quinze
anos;
Ä Não pode ter condenação penal;
Ä Requerimento a naturalização.
Ao atender os três requisitos acima, o indivíduo estrangeiro passa a ter um direito
subjetivo à naturalização extraordinária. Isto porque, a expressão “desde que
requeiram” significa que, com os requisitos preenchidos e realizada a solicitação, a
naturalização deve ser reconhecida formalmente. Portanto, o Executivo não pode
negar a naturalização. É ato vinculado.
No RE 264.848 o STF reconheceu este entendimento, conforme transcrito abaixo:
“O requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira, previsto na alínea “b” do inciso II do art. 12
da CF, é suficiente para viabilizar a posse no cargo triunfalmente disputado mediante concurso público.
Isto quando a pessoa requerente contar com quinze anos ininterruptos de residência fixa no Brasil, sem
condenação penal. A Portaria de formal reconhecimento da naturalização, expedida pelo Ministro de
Estado da Justiça, é de caráter meramente declaratório. Pelo que seus efeitos hão de retroagir à data
do requerimento”. 15

A partir desta decisão, ficou estabelecido que, caso na data da posse a


nacionalidade requerida ainda não tenha sido reconhecida, o aprovado não fica
impedido de tomar posse no cargo público. O requerimento é suficiente para
viabilizar a posse no cargo. Afinal, o reconhecimento da naturalização possui efeitos
declaratórios. Assim, o requerente é considerado brasileiro desde o momento que
"solicitou a naturalização" (efeito retroativo).

15
RE 264.848-5 / TO. Rel. Min. Carlos Ayres Britto. Julgamento em 29.06.2005.

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Importante destacar que já foi consolidado pelo STF o entendimento que no sistema
jurídico-constitucional brasileiro não cabe a aquisição da nacionalidade pelo simples
casamento civil. Ou seja, a nacionalidade não é um efeito direto e imediato do
casamento civil16. Não há assim previsão da nacionalidade brasileira jure matrimonii.

Naturalização Naturalização
Ordinária Extraordinária

Os estrangeiros de
Os que, na forma da lei,
qualquer nacionalidade,
adquiram a nacionalidade
desde que requeiram a
brasileira
nacionalidade brasileira

Aos originários de países Residente na República


de língua portuguesa, Federativa do Brasil há
basta apenas a residência mais de quinze anos
por um ano ininterrupto e ininterruptos e sem
idoneidade moral condenação penal,

Trata-se de ato
A concessão é direito
discricionário do
subjetivo do interessado
Presidente da República

10.2 - CONDIÇÃO ESPECIAL DOS PORTUGUESES RESIDENTES DO BRASIL

Art. 12 (...)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes
ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

16
Ext 1.121, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18-12-2009, Plenário, DJE de 25-6-2010.

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Como mencionado anteriormente, os portugueses podem adquirir a nacionalidade


brasileira. No entanto, o §1º do art. 12 da CF/88 traz uma hipótese diferenciada para
os portugueses: a chamada quase nacionalidade.
“O que seria isso professor?”
Enquadram-se neste dispositivo aqueles que mesmo possuindo residência
permanente no Brasil não desejam se naturalizar. Há uma equiparação entre o
português e o brasileiro naturalizado, pois o português, chamado aqui de português
equiparado, receberá o mesmo tratamento que o brasileiro naturalizado (status
jurídico).
Agora, um detalhe! Para que isto seja possível, é preciso a existência de
reciprocidade para com os brasileiros que residam em Portugal.
Mas, então, são exigidos apenas dois requisitos para a ocorrência da equiparação?
Sim, basta o atendimento destas duas condições:
Ä a residência permanente do português no Brasil;
Ä e Portugal deve conferir direitos iguais aos brasileiros residentes em
seu território (reciprocidade).
Evidenciando mais uma vez que não estamos falando aqui de atribuição de
nacionalidade. É apenas de concessão dos mesmos direitos conferidos aos
naturalizados.

10.3 - CONDIÇÃO JURÍDICA DO NACIONALIZADO

Continuando o assunto sobre o naturalizado, vamos tratar da condição jurídica do


naturalizado em relação ao brasileiro nato.
Será que existe diferença de tratamento entre brasileiros natos ou naturalizados? O
art. 12, §2º, apresenta uma vedação expressa ao legislador infraconstitucional no
que tange à diferença de tratamento. “a lei não poderá estabelecer distinção entre
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”.
Desta forma, as únicas distinções entre os brasileiros natos e os brasileiros
naturalizados permitidas são aquelas já previstas no texto da Constituição de 1988.
E, aqui, temos algumas informações para anotação. Vejamos:

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Ä art. 5º, LI da CF/88 – entre os brasileiros apenas os naturalizados


poderão sofrer extradição e apenas em caso de crime comum cometido
antes da naturalização ou de comprovado envolvimento com tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Ä art. 89, VII, da CF/88 – foram reservadas aos brasileiros natos as 06 (seis)
vagas no Conselho de República (órgão superior de consulta do
Presidente da República).
Ä art. 222 da CF/88 – este dispositivo trata do direito de propriedade de
empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora de sons e imagens. Este
direito pode ser exercido por brasileiros natos ou os naturalizados há
mais de 10 anos. Além disto, quando esta empresa é uma sociedade, o
dispositivo exige que pelo menos 70% do capital total e votante tenha
como titulares brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos. A
estes também compete a gestão desse tipo de empresa.
Ä art. 12, §3º e o §4º, I, da CF/88 – estes serão trabalhados logo abaixo.

(...) § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII - de Ministro de Estado da Defesa.

O §3º traz uma das mais importantes diferenças: a ocupação de alguns cargos
públicos. Os cargos que constam no parágrafo são aqueles cuja CRFB/88 reservou
apenas aos brasileiros natos.
Não é difícil decorar quais são os cargos exclusivos de brasileiro nato, quando
pensamos na importância que estes possuem para a manutenção da soberania e
segurança estatal.
Vamos à explicação...

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Em relação aos incisos I, II, III e IV, a preocupação foi evitar que o ocupante da
posição de Chefe de Estado venha a utilizar o cargo para servir aos interesses de
outros Estados. Por conta disto, houve a previsão da exclusividade ao cargo de
Presidente da República, assim como aos cargos em que seus titulares podem vir a
suceder o Presidente: Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara,
Presidente do Senado Federal e Ministros do STF.
Já o inciso V temos a carreira diplomática. Tecnicamente, a função do diplomata é
representar bem o Brasil diante da comunidade de nações, defendendo sempre os
interesses do país no exterior. A ideia que se tem é que o naturalizado poderia
sucumbir mais facilmente, quando a discussão girasse em torno dos interesses do
país da sua outra nacionalidade. Exemplo: na celebração de um acordo entre
Canadá e Brasil, caso um o diplomata fosse um canadense naturalizado brasileiro
esta seria uma tarefa difícil para ele.
Por fim, temos o oficial das Forças Armadas e o Ministro da Defesa, cargos que
envolvem a segurança do Estado. Como um naturalizado pode exercer um cargo
que pode o colocar, futuramente, em uma situação de ataque a sua terra natal?

Possíveis pegadinhas em prova:


Ä A exclusividade se refere ao Presidente da Câmara dos Deputados e o
Presidente do Senado Federal. Desta forma, o Deputado Federal e o
Senador pode ser tanto brasileiro nato, quanto naturalizado.
Ä Apenas o Ministro da Defesa deve ser brasileiro nato. Os demais cargos
de Ministro não se enquadram nesta limitação.
Ä Como os portugueses equiparados possuem o mesmo tratamento dos
brasileiros naturalizados, assim como estes últimos, eles não podem ocupar
cargos privativos de brasileiro nato.

10.4 - PERDA DE NACIONALIDADE

No Brasil, as hipóteses de perda da nacionalidade estão dispostas no §4º, do art. 12


da CF/88, conforme transcrito abaixo:

(...) §4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

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I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de


atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro
residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em
seu território ou para o exercício de direitos civis;

Analisando os dois incisos, temos as seguintes situações de perda: o cancelamento


de naturalização e aquisição de outra nacionalidade.
A primeira hipótese se encontra no inciso I, que traz expressamente a sua aplicação
apenas ao naturalizado. Além disto, para ocorrer o cancelamento da naturalização
o mesmo inciso especifica a existência de alguns pressupostos: esta deve se dar por
sentença judicial e em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.
Importante destacar que após a sentença transitar em julgado, somente há uma
possibilidade de reaquisição da nacionalidade brasileira: ação rescisória. Então, não
é permitida a abertura de um novo processo de naturalização.
Já em relação à segunda hipótese, temos a condição de “perda-mudança” ou
também chamada de perda da nacionalidade por naturalização voluntária. “O que
seria isso prof?”
Então. Diferente do cancelamento, é permitida a aplicação desta tanto aos
brasileiros natos quanto aos brasileiros naturalizados. Ocorre a perda em função da
aquisição voluntaria de uma outra nacionalidade. Por isso se diz “perda-mudança”.
Houve mudança da condição em virtude de uma aquisição. (será realizada por um
decreto do Presidente da República).
Agora, muito cuidado aqui! Preste bastante atenção nas alíneas do inciso II, pois
nelas temos duas exceções à perda pela aquisição de outra nacionalidade: (i)
quando ocorre o reconhecimento da nacionalidade originária, pela lei estrangeira; e
(ii) se há imposição da naturalização para que o sujeito possa permanecer no país
estrangeiro ou para o exercício de direito civis no exterior.
Para um melhor entendimento, vamos pensar juntos em alguns exemplos:
Ä Henrique é brasileiro nato e filho de um espanhol. A lei espanhola concedeu
a ele o direito de também ser um espanhol nato, ou seja, ocorre aqui um
reconhecimento de nacionalidade originária pelo país de origem do seu pai.
Neste caso, o indivíduo terá dupla nacionalidade, não havendo a perda da
nacionalidade brasileira.

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Ä O país W possui uma legislação que estabelece a naturalização como


condição para permanência de estrangeiros em seu território nacional.
Digamos que um jogador brasileiro foi chamado para trabalhar no time deste
país, mas para poder firmar o contrato será necessária a naturalização, por
conta da imposição legislativa. Aqui também não há que se falar em perda da
nacionalidade brasileira, pois trata-se de exceção prevista na CF/88, sendo
garantida a dupla nacionalidade.

Em recente julgado, o STF (MS 33.864/DF) reconheceu a perda da


nacionalidade de uma brasileira nata que voluntariamente adquiriu a
nacionalidade norte-americana, apesar de já possuir o direito de
permanecer e trabalhar nos EUA. Ela já era portadora do green card.
Ao ser pleiteada a sua extradição pelos EUA, a brasileira alegou, no
Mandado de Segurança, que precisou adquirir a nacionalidade norte-
americana para o pleno exercício dos direitos civis naquele país
(principalmente moradia e trabalho). Foi solicitado por ela a revogação da
Portaria do Ministério a Justiça.
Foi reconhecida a possibilidade de extradição. Como ela já era possuidora
do green card, o entendimento adotado pelo STF foi de que a aquisição
da nacionalidade norte-americana foi voluntária. Porque através do green
card, ela já possuía o direito de permanecer dos EUA e de exercer trabalho
no território americano.
A partir deste julgado, resta clara e evidente a existência da possibilidade
de extradição do indivíduo cuja condição de brasileiro nato foi perdida
pela aquisição voluntária de outra nacionalidade.

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6. (FGV / XXVI Exame de Ordem Unificado/2018) Afonso, nascido em


Portugal e filho de pais portugueses, mudou-se para o Brasil ao completar 25
anos, com a intenção de advogar no estado da Bahia, local onde moram seus
avós paternos. Após cumprir todos os requisitos exigidos e ser regularmente
inscrito nos quadros da OAB local, Afonso permanece, por 13 (treze) anos
ininterruptos, laborando e residindo em Salvador. Com base na hipótese
narrada, sobre os direitos políticos e de nacionalidade de Afonso, assinale a
afirmativa correta.
A) Afonso somente poderá se tornar cidadão brasileiro quando completar 15
(quinze) anos ininterruptos de residência na República Federativa do Brasil,
devendo, ainda, demonstrar que não sofreu qualquer condenação penal e
requerer a nacionalidade brasileira.
B) Uma vez comprovada sua idoneidade moral, Afonso poderá, na forma da lei,
adquirir a qualidade de brasileiro naturalizado e, nessa condição, desde que
preenchidos os demais pressupostos legais, candidatar-se ao cargo de prefeito
da cidade de Salvador.
C) Afonso poderá se naturalizar brasileiro caso demonstre ser moralmente
idôneo, mas não poderá alistar-se como eleitor ou exercer quaisquer dos
direitos políticos elencados na Constituição da República Federativa do Brasil.
D) Afonso, por ser originário de país de língua portuguesa, adquirirá a
qualidade de brasileiro nato ao demonstrar, na forma da lei, residência
ininterrupta por 1 (um) ano em solo pátrio e idoneidade moral.

Comentários:
Questão bem interessante cobrada no XXVI Exame OAB. Estamos diante da
condição para o português adquirir a nacionalidade brasileira. Temos a regra
do art. 12, II - a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por
um ano ininterrupto e idoneidade moral;
Assim, uma vez comprovada a idoneidade moral, Afonso poderá, na forma da
lei, adquirir a qualidade de brasileiro naturalizado. Além disso, temos um
“plus”. Será que Afonso poderia se candidatar ao cargo de prefeito?
Para esta condição, temos que analisar o § 3º: São privativos de brasileiro nato
os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente
da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de

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Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial


das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa.
Nesse caso, percebe-se que o cargo de prefeito não é privativo de brasileiro
nato, portanto Afondo na condição de brasileiro naturalizado poderá ocupar
este cargo. Gabarito Letra B.

7. (FGV / XVI Exame de Ordem Unificado/2015) Alessandro Bilancia, italiano,


com 55 anos de idade, ao completar 15 anos de residência ininterrupta no
Brasil, decide assumir a nacionalidade “brasileira”, naturalizando-se. Trata-se
de renomado professor, cuja elevada densidade intelectual e capacidade de
liderança são muito bem vistas por um dos maiores partidos políticos
brasileiros. Na certeza de que Alessandro poderá fortalecer os quadros do
governo caso o partido em questão seja vencedor nas eleições presidenciais, a
cúpula partidária já ventila a possibilidade de contar com o auxílio do referido
professor na complexa tarefa de governar o País. Analise as situações abaixo e
assinale a única possibilidade idealizada pela cúpula partidária que encontra
respaldo na Constituição Federal.
a) Alessandro Bilancia, graças ao seu reconhecido saber jurídico e à sua ilibada
reputação, poderá ser indicado para compor o quadro de ministros do
Supremo Tribunal Federal.
b) Alessandro Bilancia, na hipótese de concorrer ao cargo de deputado federal
e ser eleito, poderá ser indicado para exercer a Presidência da Câmara dos
Deputados.
c) Alessandro Bilancia, na hipótese de concorrer ao cargo de senador e ser
eleito, pode ser o líder do partido na Casa, embora não possa presidir o Senado
Federal.
d) Alessandro Bilancia, dada a sua ampla e sólida condição intelectual, pode ser
nomeado para assumir qualquer ministério do governo.

Comentários:
Letra A: errada. O cargo de Ministro do STF é privativo de brasileiro nato. Logo,
se Alessandro se naturalizar brasileiro, não poderá ser Ministro do STF.
Letra B: errada. O cargo de Presidente da Câmara dos Deputados é privativo
de brasileiro nato.

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Letra C: correta. De fato, Alessandro Bilancia poderá ser eleito Senador e,


ainda, ser o líder do partido nessa Casa Legislativa. Ele só não pode ser
Presidente do Senado Federal, que é um cargo privativo de brasileiro nato.
Gabarito letra C.
Letra D: errada. Alessandro Bilancia não poderá ser nomeado para o cargo de
Ministro da Defesa, pois trata-se de cargo privativo de brasileiro nato.

8. (FGV / XV Exame de Ordem Unificado – 2014) A CRFB/88 identifica as


hipóteses de caracterização da nacionalidade para brasileiros natos e os
brasileiros naturalizados. Com base no previsto na Constituição, assinale a
alternativa que indica um caso constitucionalmente válido de naturalização
requerida para obtenção de nacionalidade brasileira.
a) Juan, cidadão espanhol, casado com Beatriz, brasileira, ambos residentes em
Barcelona.
b) Anderson, cidadão português, domiciliado no Brasil há 36 dias.
c) Louis, cidadão francês, domiciliado em Brasília há 14 anos, que está em
liberdade condicional, após condenação pelo crime de exploração sexual de
vulnerável.
d) Maria, 45 anos, cidadã russa, residente e domiciliada no Brasil desde seus 25
anos de idade, processada criminalmente por injúria, mas absolvida por
sentença transitada em julgado.

Comentários:
Letra A: errada. Ser casado com brasileira não é requisito suficiente para a
concessão de naturalização.
Letra B: errada. A naturalização de indivíduos originários de países de língua
portuguesa depende de residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral.
Letra C: errada. A naturalização extraordinária depende de residência no Brasil
há mais de 15 anos ininterruptos e ausência de condenação penal.
Letra D: correta. Maria já reside no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e
não teve condenação penal. Ela até foi processada, mas foi absolvida por

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sentença transitada em julgado. Logo, faz jus à naturalização extraordinária.


Gabarito Letra D.

9. (FGV/XII Exame de Ordem Unificado/2013) João, 29 anos de idade,


brasileiro naturalizado desde 1992, decidiu se candidatar, nas eleições de 2010,
ao cargo de Deputado Federal, em determinado ente federativo. Eleito, e após
ter tomado posse, foi escolhido para Presidir a Câmara dos Deputados. Com
base na hipótese acima, assinale a afirmativa correta.
a) João não poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal, uma
vez que esse é um cargo privativo de brasileiro nato.
b) João não poderia ser Deputado Federal, mas poderia ingressar na carreira
diplomática em que não é exigido o requisito de ser brasileiro nato.
c) João poderia ter se candidatado ao cargo de Deputado Federal, bem como
ser eleito, entretanto, não poderia ter sido escolhido Presidente da Câmara dos
Deputados, eis que esse cargo deve ser exercido por brasileiro nato.
d) João não poderia ter se candidatado ao cargo de Deputado Federal, mas
poderia ter se candidatado ao cargo de Senador da República, mesmo sendo
brasileiro naturalizado.

Comentários:
Letra A: errada. João poderia, sim, ter se candidatado ao cargo de Deputado
Federal. Esse cargo não é privativo de brasileiro nato.
Letra B: errada. Os cargos da carreira diplomática são privativos de brasileiro
nato. João poderia ser Deputado Federal, mas não poderia ingressar na carreira
diplomática.
Letra C: correta. O cargo de Presidente da Câmara dos Deputados é privativo
de brasileiro nato. João poderia até ter se candidatado ao cargo de Deputado
Federal, mas não poderia exercer a Presidência da Câmara dos Deputados.
Gabarito letra C.
Letra D: errada. Os cargos de Deputado Federal e de Senador não são
privativos de brasileiro nato. Assim, João poderia ter se candidatado aos dois
cargos.

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10. (FGV/VII Exame de Ordem Unificado/2012) A Constituição de 1988


proíbe qualquer discriminação, por lei, entre brasileiros natos e naturalizados,
exceto os casos previstos pelo próprio texto constitucional. Nesse sentido, é
correto afirmar que somente brasileiro nato pode exercer cargo de:
a) Ministro do STF ou do STJ.
b) Diplomata.
c) Ministro da Justiça.
d) Senador.

Comentários:
Dentre as opções apresentadas, é privativo de brasileiro nato o cargo de
diplomata. Portanto, o gabarito é a letra B.

11. (FGV/VI Exame de Ordem Unificado/2012) João, residente no Brasil há


cinco anos, é acusado em outro país de ter cometido crime político. Nesse caso,
o Brasil:
a) pode conceder a extradição se João for estrangeiro.
b) pode conceder a extradição se João for brasileiro naturalizado e tiver
cometido o crime antes da naturalização.
c) não pode conceder a extradição, independentemente da nacionalidade de
João.
d) não pode conceder a extradição apenas se João for brasileiro nato.

Comentários:
Pegadinha! Estão lembrados da aula anterior? Segundo o art. 5º, LII, não será
concedida a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.
Gabarito letra C.

12. (FGV/V Exame de Ordem Unificado/2011) No que tange ao direito de


nacionalidade, assinale a alternativa correta.
a) O brasileiro nato não pode perder a nacionalidade.

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b) O filho de pais alemães que estão no Brasil a serviço de empresa privada


alemã será brasileiro nato caso venha a nascer no Brasil.
c) O brasileiro naturalizado pode ser extraditado pela prática de crime comum
após a naturalização.
d) O brasileiro nato somente poderá ser extraditado no caso de envolvimento
com o tráfico de entorpecentes.

Comentários:
Letra A: errada. O brasileiro nato pode, sim, perder a nacionalidade. Isso
ocorrerá quando houver aquisição voluntária de outra nacionalidade.
Letra B: correta. São brasileiros natos os nascidos na República Federativa do
Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço
de seu país. Como os pais alemães não estão no Brasil a serviço da Alemanha,
seu filho será brasileiro nato.
Letra C: errada. O brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em caso de
crime comum praticado antes da naturalização.
Letra D: errada. Não é admitida a extradição de brasileiro nato.

13. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Rosenval Junior Mitto, cidadão brasileiro,


empregado público concursado do Banco do Brasil desde 2015, recebeu uma
promoção tendo em vista o belo trabalho de gestão desenvolvido em 2016 na
agência de Pacaraima, município brasileiro localizado no nordeste do estado
de Roraima, na fronteira com a Venezuela. No ano de 2017, foi transferido para
a agência bancária situada em Moscou - Rússia, onde permaneceu até 2022.
Enquanto trabalhava nessa cidade, Rosenval conheceu a bela Yelena
isinbayeva, cidadã russa, com quem teve um breve relacionamento. Dessa
relação nasceu Neymarito. Tendo em vista o caso narrado acima e as
disposições da CRFB/88, é possível afirmar que o filho do casal:
a) não poderá acumular a nacionalidade brasileira nata que lhe seja reconhecida
com eventual nacionalidade russa, que lhe seja garantida pela legislação desse
país.
b) é brasileiro nato, independentemente de qualquer opção ou registro
consular.

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c) será brasileiro nato, desde que seja registrado em repartição brasileira


competente ou venha a residir na República Federativa do Brasil e opte a
qualquer tempo pela nacionalidade brasileira.
d) tendo em vista que somente os nascidos no território da República
Federativa do Brasil, Neymarito não será considerado brasileiro nato.

Comentários:
Questão tranquila né? Trata-se da condição do art. 12º, inciso I, alínea b, da
CRFB/88. Rosenval é brasileiro nato e estava no exterior a serviço da República
Federativa do Brasil, já que estava trabalhando para o Banco do Brasil, que é
uma sociedade de economia mista integrante da Adm. Pública indireta. Assim,
seu filho será brasileiro nato independentemente de qualquer opção ou
registro. Gabarito letra B.

14. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Conforme a previsão da Constituição em


seu Título I, Capítulo III – Da Nacionalidade, marque a alternativa correta que
apresenta a condição de um brasileiro nato.
a) Considera-se brasileiro nato o originário de países de língua portuguesa com
residência no Brasil por um ano ininterrupto.
b) Considera-se brasileiro nato o estrangeiro de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptamente.
c) Considera-se brasileiro nato o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou
mãe brasileira, desde que um deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil.
d) Considera-se brasileiro nato o português com residência permanente no
Brasil.

Comentários:
A letra A está incorreta. Trata-se de condição de brasileiro naturalizado (art. 12,
II, “a”, CF), exigindo-se, ainda, a idoneidade moral.

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A letra B está incorreta. Trata-se de condição de brasileiro naturalizado (art. 12,


II, “b”, CF), desde que não tenham sofrido condenação penal e requeiram a
nacionalidade brasileira.
A letra C está correta. É o que prevê o art. 12, I, “b”, da Carta Magna. Gabarito
letra C.
A letra D está incorreta. Os portugueses com residência permanente no Brasil,
desde que haja reciprocidade em favor de brasileiros, gozam da condição de
“portugueses equiparados”. A eles são atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro naturalizado (art. 12, § 1º, CF).

15. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Tendo em vista o que dispõe a Constituição


da República Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa que apresenta
um caso de atribuição da nacionalidade brasileira.
a) Paul, nascido no Brasil, filho de pais canadenses a serviço do Governo do
Canadá.
b) Diego, hoje com 22 anos e residente na cidade de Salvador, nasceu e foi
registrado nos EUA em repartição consular competente, sendo filho de Maria
e Antônio, um casal de brasileiros que se mudaram para a américa para
trabalhar numa empresa multinacional na década de 90.
c) Manoel, português, domiciliado na cidade de Manaus há seis meses.
d) Karl, alemão, é domiciliado na cidade de Recife há 09 anos, e hoje está em
liberdade condicional, após condenação pelo crime de tráfico de drogas.

Comentários:
Letra A: errada. Paul nasceu no Brasil, mas é filho de pais estrangeiros que
estavam a serviço do seu país. Portanto, ele não será considerado brasileiro.
Letra B: correta. Este é o nosso gabarito. Olha só que questão interessante.
Diego nasceu no nos EUA e é filho de pai brasileiro e mãe brasileira. No
entanto, estes não estavam a serviço da República Federativa do Brasil. Como
ele foi registrado em repartição brasileira competente, então ele será
considerado brasileiro nato.

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Letra C: errada. Para que um português adquira a nacionalidade brasileira, ele


precisa fixar residência no Brasil por um ano ininterrupto e ter idoneidade
moral.
Letra D: errada. Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
República Federativa do Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem
condenação penal poderão requisitar a naturalização.

16. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) No tema dos os direitos de nacionalidade,


é possível afirmar todas as condições abaixo relacionadas, exceto:
a) Nossa Constituição da República Federativa do Brasil consagra
conjuntamente os critérios jus soli e jus sanguinis para atribuição da
nacionalidade.
b) O cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal é privativo de brasileiro
nato.
c) Para que o brasileiro naturalizado seja proprietário de empresa jornalística e
de radiodifusão sonora e de sons e imagens, a Constituição brasileira exige a
aquisição de nacionalidade brasileira há mais de dez anos.
d) São brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de dez anos ininterruptos
e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Comentários:
Letra A: correta. De fato, a CF/88, ao atribuir nacionalidade, utilizou em
conjunto os critérios jus sanguinis e jus soli.
Letra B: correta. O cargo de Ministro do STF é privativo de brasileiro nato.
Letra D: correta. Exatamente. De acordo com a previsão do art. 222, CF/88,
somente poderão ser proprietários de empresa jornalística e de radiodifusão
sonora e de imagens brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos.
Letra D: errada. Este é o nosso gabarito. Item Errado, pessoal. Cuidado!!! São
brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

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17. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Renato é um brasileiro nato que vive há


quinze anos em Paris. Ocorre que, em 2019, a França editou uma lei exigindo
a naturalização dos estrangeiros residentes no país há mais de 10 anos, como
condição obrigatória para permanência em seu território. Diante da
circunstância, Renato requereu a atribuição de naturalização, tendo o pedido
sido deferido em março do presente ano. Nesse sentido, de acordo com a
sistemática constitucional brasileira, é possível afirmar que Renato:
a) deve ter declarada a perda da nacionalidade brasileira por ter obtido, a partir
de requerimento seu, a nacionalidade estrangeira.
b) somente não perderia a nacionalidade brasileira caso fosse naturalizado
estrangeiro por força de lei do respectivo País, sem qualquer requerimento
nesse sentido.
c) não perderia a nacionalidade brasileira se estivesse no estrangeiro, de
maneira impositiva, a serviço da República Federativa do Brasil.
d) não perderá a nacionalidade brasileira, pois a naturalização foi imposta, pela
norma estrangeira, como condição para permanência no território do
respectivo País;

Comentários:
Pessoal, questão que trago para fixação do art. 12, 4º, II, b, da CF/88. No caso
prático, Renato estava residindo em País, que por meio de lei passou a exigir
dele a naturalização como condição de permanência em seu território. Então,
temos aqui a exceção prevista na Constituição Federal. Não haverá declaração
de perda da nacionalidade.
Gabarito Letra D.

11 - DIREITOS POLÍTICOS
A doutrina do Direito Constitucional vai nos dizer que os direitos políticos formam a
base do regime democrático, pois é por meio deles que a Carta Magna garante o
exercício da soberania popular (característica do regime democrático).
Ao prever esses instrumentos, a Constituição garante ao cidadão uma espécie de
direito subjetivo: o chamado “direito de participação na vida política do Estado”.
Conclui-se, então, que os direitos políticos estão relacionados ao exercício da
cidadania.

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Como o exercício da democracia pode ocorrer em mais de uma forma, ou seja, a


participação popular pode ser direta ou indireta, podemos classificar a democracia
em:

•O poder é exercido sem •Ocorre através da eleição pelo •Há a presença de


intermediários; sem povo de um representante. O características das duas
representantes, pois é o povo outorga poderes ao anteriores (sistema híbrido). O
próprio povo que o exerce eleito que governará o país em povo exerce diretamente
nome do povo e para o povo. (plebiscito, do referendo e da
Aqui, o representante exerce iniciativa popular) e
um mandato e não fica indiretamente (por meio de
vinculado à vontade do povo representantes). A democracia
(mandato livre) no Brasil é semidireta.

Democracia Democracia
Democracia direta: representativa ou semidireta ou
indireta: participativa:

Importante esclarecer que são duas as espécies de direitos políticos:


Ä Positivos – são aqueles que outorgam ao cidadão o poder para
participar da vida política do Estado, havendo o exercício da cidadania.
Ä Negativos – através deles ocorre uma restrição aos direitos políticos
positivos. As normas que representam estas limitações e impedimentos
são as inelegibilidades e as hipóteses de perda e suspensão dos direitos
políticos.
Vamos estudá-los mais detalhadamente?

11.1 - DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS

O caput do art. 14 da CRFB/88 traz a forma como se expressa a chamada soberania


popular. Uma dessas formas é o sufrágio universal. Agora, muito cuidado, pois
sufrágio e voto não são sinônimos. Como assim professor?
O sufrágio é um direito público subjetivo garantido ao cidadão. Seria o direito de
participar da vida política de uma sociedade, mais especificamente a capacidade

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eleitoral. E, quando falamos em capacidade eleitoral, precisamos compreender que


ela representa tanto o direito de votar (capacidade de ser eleitor), quanto o direito
de elegibilidade (direito de ser votado).

Capacidade Capacidade
eleitoral eleitoral Sufrágio
ativa passiva

Certo, professor! Entendi o que é o sufrágio. Mas, o dispositivo fala em sufrágio


universal. O que significa isso? Então, quer dizer que a participação do eleitorado
não está restrita a qualquer condição econômica, acadêmica, profissional ou étnica.
O voto é um dos instrumentos para o exercício do sufrágio, assim como o plebiscito,
o referendo e a iniciativa popular de leis. Conforme a determina o art. 14 da
CRFB/88, os três últimos necessitam de regulamentação legal.
Particularmente, em relação ao voto, é necessário realizar uma interpretação
conjunta com o art. 60, § 4º, CRFB/88. Isso porque, esse dispositivo nos traz algumas
características para o voto. Ele é considerado direto, secreto, universal, periódico.
“Professor, eu lembro de ter visto em algum lugar que esse o parágrafo 4º é
considerado uma cláusula pétrea”. Exatamente!!! Mas, cuidado!!! A Constituição
estabeleceu a limitação constitucional apenas para essas 04 características. A
doutrina e jurisprudência entendem que a obrigatoriedade de voto não é uma
cláusula pétrea, podendo ser extinta.
Por fim, vamos falar um pouquinho acerca do plebiscito e referendo. Os dois
institutos são formas de participação direta do povo na vida política nacional. Aqui
ocorre a chamada consulta popular.
A diferença entre eles reside no momento em que acontece a manifestação.
Enquanto a convocação do plebiscito realiza-se anteriormente à edição do ato
legislativo ou administrativo, no caso do referendo a convocação do povo ocorre
posteriormente à edição do ato. A consulta, funciona como uma espécie de ato de
confirmação ou rejeição.

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11.1.1 – Capacidade eleitoral ativa

Ao possuir capacidade eleitoral ativa, o cidadão pode exercitar o sufrágio por meio
do voto. Vale destacar que o exercício do direito de votar não se limita às eleições,
mas também se manifesta no plebiscito e no referendo.
No ordenamento jurídico brasileiro, a capacidade eleitoral ativa depende da
aquisição da qualidade de eleitor. Tal fato ocorre com o alistamento eleitoral, que
se dá com o pedido do interessado de inscrição junto à Justiça Eleitoral.
Importante esclarecer que a qualidade de eleitor dá ao nacional a capacidade de
votar, mas não só isso. A partir de então, o indivíduo passa a ser considerado
juridicamente como cidadão, em pleno gozo dos seus direitos políticos, podendo
inclusive ajuizar Ação Popular e até propor iniciativa de lei juntamente com outros
cidadãos, respeitando logicamente os demais requisitos constitucionais.
Assim, nota-se que diversos direitos políticos podem ser exercidos após o
alistamento eleitoral, mas para o exercício de todos os direitos políticos é necessário
o preenchimento de demais requisitos previstos na CRFB/88. Afinal, o direito de
elegibilidade, ou seja, o direito de ser votado tem o alistamento como uma das
condições a serem preenchidas, nos termos no §3º do art. 14, (Calma que elas serão
trabalhadas em tópico posterior rs)
Primeiro, vamos estudar o §1º do art. 14 da CRFB/88, que trata do alistamento
eleitoral e do voto. O Constituinte fez uma divisão em obrigatório, facultativo ou
proibido.

§1º - O alistamento eleitoral e o voto são:


I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o
período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

De acordo com o disposto acima, os estrangeiros são inalistáveis, não possuindo


capacidade eleitora ativa e passiva, já que o alistamento é condição de elegibilidade.
O alistamento é permitido apenas aos brasileiros (natos ou naturalizados).
Vale destacar que o português equiparado recebe um tratamento equivalente ao
de brasileiro naturalizado. “Hum.... então quer dizer que o português pode votar?”

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Sim. Ele pode se alistar como eleitor e ser eleito, mas há certos cargos políticos que
são privativos de brasileiro nato (art. 12 §3° da CF/88). (comentamos um pouco mais
à frente)
O §2º também traz uma outra característica no critério do alistamento eleitoral: a
vedação aos conscritos. Agora, calma que não a todos eles, apenas aqueles que
estejam prestando o serviço militar obrigatório.

O termo conscrito abrange aqueles que por conta da idade


possuem a obrigação legal de se alistar, ou seja, se apresentar a
uma seleção para a prestação de serviço militar inicial obrigatório; e
também os profissionais de saúde (médicos, dentistas,
farmacêuticos e veterinários) que devem prestar o serviço militar
obrigatório após o encerramento da faculdade. 17

O inciso I do §1º trata da obrigatoriedade do alistamento e determina que sua


aplicação aos maiores de 18 (dezoito) anos. Já o inciso II elenca aqueles cujo
alistamento é facultativo: os analfabetos, os maiores de 70 (setenta) anos e os
maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos.
Assim, quem na data da eleição tiver completado a idade mínima de 16 anos, passa
a ter o direito de votar, (mas não é um dever/obrigação; o critério é facultativo).
Em relação aos portadores de deficiência grave, o alistamento e o voto são
obrigatórios. Contudo, o TSE editou a Resolução nº 21.920/2004 transcrita abaixo:

“não estará sujeita a sanção a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou
demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao alistamento e ao
exercício do voto”.

O TSE também editou uma Resolução para regulamentar a questão dos índios e a
comprovação de quitação do serviço militar para a realização do alistamento
eleitoral. Na Resolução nº 20.806/2001 determinou a exclusão dos índios isolados
ou em via de integração dessa obrigatoriedade. Então, apenas os índios integrados

17
Resolução do TSE no 15.850/89.

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possuem a obrigação da comprovação de quitação do serviço militar para o


alistamento.18

Alistamento Alistamento Alistamento


e voto e voto analfabetos e voto
obrigatório facultativo vedado
+ Estrangeiros e,
Maiores de 18 durante o serviço
maiores de 70
anos militar obrigatório,
+ os conscritos
16< X <18

18. (FGV /III Exame de Ordem Unificado/2011) De acordo com a Constituição


da República, são inalistáveis e inelegíveis:
a) somente os analfabetos e os conscritos.
b) os estrangeiros, os analfabetos e os conscritos.
c) somente os estrangeiros e os analfabetos.
d) somente os estrangeiros e os conscritos.

Comentários:
Questão para fixação, pessoal! São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos.
Por consequência, serão inelegíveis. Para os analfabetos, o alistamento eleitoral
é facultativo. Gabarito letra D.

19. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Pode-se afirmar que os direitos políticos são
valores fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988, sendo fruto
de manifestação da chamada soberania popular e com a participação do
cidadão na vida pública. Nesse contexto, a Carta Política assevera:
a) o voto indireto e secreto, com valor igual para todos.

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b) o sufrágio universal e o voto direto, obrigatório para os maiores de dezoito


anos e menores de sessenta anos.
c) o voto facultativo para os analfabetos, os maiores de setenta anos, bem como
pessoas maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
d) o plebiscito ou o referendo, nos quais o cidadão decide diretamente qual
será o rumo legislativo sobre matéria de relevância nacional, sem qualquer
participação do Poder Legislativo durante o processo legislativo.

Comentários:
Letra A: errada. O voto é direto, secreto e com valor igual para todos.
Letra B: errada. O voto é obrigatório para os maiores de 18 anos e menores de
70 anos.
Letra C: correta. O voto é facultativo para: i) os analfabetos; ii) os maiores de
70 anos e; iii) os maiores de 16 anos e menores de 18 anos.
Letra D: errada. É o Congresso Nacional que autoriza referendo e convoca
plebiscito. Portanto, esses instrumentos contam com a participação do Poder
Legislativo.

11.1.2 – Capacidade eleitoral passiva

A capacidade eleitoral passiva confere ao indivíduo direito de ser votado


(elegibilidade).
A partir da leitura da CRFB/88, é possível perceber que a obtenção a capacidade
eleitoral passiva deve ser precedida do preenchimento de certos requisitos. “Basta
o alistamento eleitoral, professor?” Não!!!!!! A condição de eleitor é apenas uma das
hipóteses exigidas pelo §3º do art. 14.
Então, quais são essas condições? Elas estão previstas no art.14, §3º, CF/88 e serão
destrinchadas a seguir. ;)

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;

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VI - a idade mínima de:


a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

De início, já esclareço que é preciso o cumprimento cumulativo de todas as


condições elencadas pelo dispositivo acima.
A nacionalidade brasileira é o primeiro requisito previsto. O inciso I trata dessa
condição de forma genérica, ou seja, abrange os brasileiros natos e os naturalizados.
Assim, os estrangeiros não possuem a capacidade eleitoral passiva, com exceção
dos portugueses equiparados ao brasileiro naturalizado.
Lembrando que temos a existência de cargos políticos que não podem ser ocupados
por brasileiros naturalizados (vedação estendida ao português equiparado). O art.
12 §3º da CF/88 enumera alguns cargos políticos como privativos de brasileiro nato.
O pleno exercício dos direitos políticos é a segunda condição prevista. Para o
preenchimento desse requisito, não pode ocorrer qualquer circunstância de perda
ou suspensão de direitos políticos, como uma improbidade administrativa, por
exemplo.
O alistamento eleitoral também é um dos requisitos de elegibilidade. Então, são
inelegíveis os estrangeiros e os conscritos durante a prestação do serviço militar
obrigatório. Dessa forma, chegamos à conclusão que a capacidade eleitoral passiva
(direito de ser votado) é condicionada pelo exercício da capacidade eleitoral ativa.
O domicílio eleitoral na circunscrição está presente no inciso IV. Há uma exigência
constitucional para que o domicílio eleitoral do candidato seja no local onde
concorrerá às eleições. Vamos pensar num exemplo para facilitar. Digamos que o
Professor Diego pretende concorrer ao cargo de Governador do Estado da Bahia.
Logo, ele deverá ter seu título de eleitor nesse Estado.
Mas, cuidado! Domicílio eleitoral não é sinônimo de domicílio civil. Quem reside em
Brasília (domicílio civil), por exemplo, pode ter o seu título de eleitor em Salvador
(domicílio eleitoral).

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A filiação partidária também é uma condição da elegibilidade. Para o direito de ser


votado, significa que não é admitida uma candidatura sem partido político. O
candidato precisa se filiar a um partido político.
Agora, uma pergunta interessante. Será que a desfiliação partidária e da infidelidade
partidária (mudança de partido) no curso do mandato gera algum reflexo sobre o
mandato? Se o candidato se filia a um partido político, ganha as eleições, e depois
durante o seu mandato se desfilia do partido...será que isso tem algum impacto
jurídico?
Então, pessoal. O Supremo já firmou um entendimento sobre o assunto. O reflexo
ocorre em relação aos deputados que perdem os seus mandatos quando ocorrem
ambas as situações (desfiliação e a infidelidade partidárias).
Agora, cuidado. O STF entende que se a justa causa está presente não haverá essa
perda (por exemplo, desvio de orientação ideológica do partido). A Corte também
deixou claro que essa sanção não é aplicada aos candidatos eleitos pelo sistema
majoritário (chefes do poder executivo, por exemplo). Isto porque, se tal fato fosse
permitido, haveria uma flagrante violação à soberania popular e às escolhas
realizadas pelo eleitor brasileiro.19
(...)
Por fim, para fecharmos esse tópico. Temo um último requisito que é a idade
mínima. Conforme legislação infraconstitucional é avaliada apenas na data da posse.
Vale a pena memorizar esse dispositivo, pois é bastante cobrado em prova!

19
ADI 5081 / DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso. Julg. 27.05.2015.

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NACIONALIDADE
BRASILEIRA

PLENO EXERCÍCIO
IDADE MÍNIMA DOS DIREITOS
POLÍTICOS

CONDIÇÕES DE
ELEGIBILIDADE

FILIAÇÃO ALISTAMENTO
PARTIDÁRIA ELEITORAL

DOMICÍLIO
ELEITORAL NA
CIRCUNSCRIÇÃO

20. (FGV/XIII Exame de Ordem Unificado/2014) No que concerne às


condições de elegibilidade para o cargo de prefeito previstas na CRFB/88,
assinale a opção correta.
a) José, ex-prefeito, que renunciou ao cargo 120 dias antes da eleição poderá
candidatar-se à reeleição ao cargo de prefeito.
b) João, brasileiro, solteiro, 22 anos, poderá candidatar-se, pela primeira vez,
ao cargo de prefeito.
c) Marcos, brasileiro, 35 anos e analfabeto, poderá candidatar-se ao cargo de
prefeito.
d) Luís, capitão do exército com 5 anos de serviço, mas que não pretende e
nem irá afastar-se das atividades militares, poderá candidatar-se ao cargo de
prefeito.

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Comentários:
Letra A: Então, pessoal. Esse item foi considerado errado pela FGV. Entretanto,
vale uma observação. O enunciado não deixa claro na questão se José havia
cumprido apenas um mandato de prefeito. Se for o caso, ele poderá se
candidatar à reeleição, mas não precisa se desincompatibilizar. Caso José já
tenha cumprido 2 (dois) mandatos consecutivos como Prefeito, ele não poderá,
em qualquer hipótese, se candidatar a uma nova reeleição.
Letra B: correta. Para que João se candidate a Prefeito, ele deve ter a idade
mínima de 21 anos. Esse requisito é preenchido por João.
Letra C: errada. Os analfabetos são inelegíveis. Logo, Marcos não poderá se
candidatar ao cargo de Prefeito.
Letra D: errada. Em razão de Luís ter menos de 10 anos de serviço, Luís terá
que se afastar das atividades militares.

21. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Dentro do contexto dos direitos políticos


previstos pela Carta Magna, tem-se as condições para que um cidadão possa
se candidatar em uma eleição. E, um dos requisitos dispostos, é a idade mínima
para o exercício de determinados cargos políticos. Dessa forma, assinale a
afirmativa correta.
a) A Constituição exige a idade mínima de 18 anos para Deputado Federal.
b) A Constituição exige a idade mínima de 25 anos para Prefeito.
c) A Constituição exige a idade mínima de 18 anos para vereador.
d) A Constituição exige a idade mínima de 30 anos para Senador.

Comentários:
A letra A está incorreta. A idade mínima para o cargo de Deputado Federal é
de 21 anos (art. 14, § 3º, VI, “c”, CF).
A letra B está incorreta. A idade mínima para Prefeito é de 21 anos (art. 14, §
3º, VI, “c”, CF).
A letra C está correta. É o que prevê o art. 14, § 3º, VI, “d”, da Constituição. A
idade mínima para Vereador é 18 anos.

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A letra D está incorreta. Para Senador, a idade mínima é de 35 anos (art. 14, §
3º, VI, “a”, CF).

22. (FGV / XIX Exame de Ordem – 2016) André, jovem de 25 anos, é Vereador
pelo Município M, do Estado E. Portanto, com domicílio eleitoral nesse Estado.
Suas perspectivas políticas se alteram quando, ao liderar um grande movimento
de combate à corrupção, o seu nome ganha notoriedade em âmbito nacional.
A partir de então, passa a receber inúmeras propostas para concorrer a diversos
cargos eletivos, advindas, inclusive, de outros Estados da Federação, a exemplo
do Estado X. Nessas condições, seduzido pelas propostas, analisa algumas
possibilidades. De acordo com a Constituição Federal, assinale a opção que
indica o cargo eletivo ao qual André pode concorrer.
a) Deputado Estadual pelo Estado X.
b) Deputado Federal pelo Estado E.
c) Senador da República pelo Estado E.
d) Governador pelo Estado E.

Comentários:
Letra A: errada. Uma das condições de elegibilidade é o domicílio eleitoral na
circunscrição. Tendo em vista que André tem domicílio eleitoral no Estado E,
ele não poderá concorrer ao cargo de Deputado Estadual por outro Estado.
Letra B: correta. É possível, sim, que André concorra ao cargo de Deputado
Federal pelo Estado E. Cabe destacar que a idade mínima para que alguém
possa se candidatar a Deputado Federal é 21 anos, requisito preenchido por
André.
Letra C: errada. A idade mínima para o cargo de Senador é de 35 anos.
Letra D: errada. A idade mínima para o cargo de Governador é de 30 anos.

23. (FGV / XX Exame de Ordem Unificado – 2016 – Reaplicação de Prova –


Salvador/BA) Wilson, nascido nos Estados Unidos da América, com 29 anos de
idade, é filho de pais brasileiros. Fluente na língua portuguesa, participa
com brilho da política partidária regional de um Estado da federação brasileira,
dominado há várias gerações por sua família. Esta natural inclinação leva seus

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familiares a incentivá-lo no sentido de concorrer ao cargo de Governador do


Estado nas eleições que serão realizadas dali a dois anos. Sobre a possibilidade
jurídica de Wilson concorrer ao pleito, mais precisamente no que se refere
às questões de nacionalidade e idade, assinale a afirmativa correta.
A) Wilson já terá completado, na data da eleição, a idade exigível para o
exercício do cargo pleiteado, mas somente poderá concorrer caso adquira a
nacionalidade brasileira.
B) Wilson poderá concorrer, pois não apenas contemplará o requisito da idade,
como, pelo simples fato de ser filho de brasileiros, possui automaticamente a
nacionalidade de brasileiro nato.
C) Wilson não estará apto a concorrer nesta próxima eleição para o cargo
apontado, pois, mesmo que adquira a nacionalidade brasileira, não possuirá
a idade mínima exigida para o cargo.
D) Wilson não poderá concorrer, pois, embora a idade não seja um problema,
poderá, no máximo, adquirir o status de brasileiro naturalizado, enquanto o
cargo em questão exige o status
de brasileiro nato.

Comentários:
A idade mínima como critério de elegibilidade para o cargo de Governador é
de 30 anos, nos moldes do §3°, do art. 14, da CF/88, que deve ser avaliada
apenas na data da posse (Lei nº 9.504/97, art.11, §2º). Contudo, somente
poderá concorrer caso adquira a nacionalidade brasileira, tendo em vista que o
enunciado diz apenas que os pais são brasileiros e que ele nasceu nos Estados
Unidos, ficando claro que ainda não possui a nacionalidade brasileira, que é
requisito essencial para ter capacidade eleitoral passiva (§3°, I, do art. 14, da
CF/88 e alínea “c”, I, do art. 12, da CF/88).
Gabarito letra A.

11.2 - DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

Pessoal, muita atenção agora. Vamos entrar no tópico mais sensível da aula. ;)
(inclusive é o tema mais abordado pela FGV quando da cobrança dos “Direitos
Políticos”)

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Os Direitos Políticos Negativos são normas que definem situações restritivas e


impeditivas ao exercício do sufrágio. Estamos diante de circunstâncias
constitucionais em que cidadão estará impedido de ser eleito ou de eleger um
candidato. Há uma restrição à participação do indivíduo na vida política, que é assim
dividida: (a) inelegibilidades e; (b) hipóteses de perda e suspensão dos direitos
políticos.

11.2.1 – Inelegibilidades

As inelegibilidades constituem condições que obstam o exercício da capacidade


eleitoral passiva de um indivíduo. As hipóteses de inelegibilidade estão dispostas
do art. 14, § 4º ao 7º da CRFB/88, mas a doutrina entende serem do tipo não
exaustiva. Como assim professor?
Então. A própria Constituição expressamente autoriza que lei complementar possa
estabelecer outras hipóteses de inelegibilidade. (art. 14, § 9º, CRFB/88)
Vamos entender um pouco mais os critérios de classificação:
Ä inelegibilidades absolutas: o impedimento ao exercício da capacidade
eleitoral passiva se aplica a qualquer cargo político. O entendimento é que
a CRFB/88 não deu permissão para que a legislação infraconstitucional
trouxesse novas hipóteses para essa espécie.
Os inelegíveis estão previstos no art. 14, §4º e são eles: os inalistáveis e
os analfabetos. A partir da leitura do dispositivo, nota-se que a
inelegibilidade aqui decorre de condições pessoais do sujeito.
- Os analfabetos podem votar (pois o voto para eles é facultativo), mas não
podem ser votados.
- Relembrando o §2º, são inalistáveis os estrangeiros e os conscritos,
durante o período do serviço militar obrigatório.
Ä inelegibilidades relativas: o sujeito fica inelegível para determinados
cargos políticos, não havendo impedimento para o exercício daqueles sob
os quais a inelegibilidade não recaia.
As regras constitucionais estabelecem que ela pode decorrer: a) da função
exercida (inelegibilidade por motivos funcionais); b) do parentesco
(inelegibilidade reflexa); c) da condição de militar. Também, há previsão
da possibilidade de lei complementar estabelecer outras situações.

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Calma que vamos destrinchar essas inelegibilidades relativas. ;) A primeira delas


consta no art. 14, §5º da CRFB/88, transcrito abaixo:

o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito


Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso
dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Esta é uma hipótese de inelegibilidade por motivos funcionais. A Constituição


Federal veda à reeleição do Chefe do Poder Executivo para mais de um período
subsequente. Assim, Presidente, Governador e Prefeito apenas possuem a
permissão constitucional para cumprirem dois mandatos consecutivos no mesmo
cargo.
A partir da leitura do §5º, fica claro que a regra não é aplicada aos Deputados e
Senadores, não havendo limites para o número de reeleições subsequentes
possíveis.
Importante frisar que o descrito acima também não impede o exercício de mais de
dois mandatos pelo Chefe do Poder Executivo. O que se veda é que tenhamos três
ou mais mandatos que sejam consecutivos, permitindo-se que um terceiro possa
ocorrer caso seja alternado com o mandato de outra pessoa.

O Supremo Tribunal Federal firmou alguns entendimentos importantes:

Ä Condição do Prefeito “Itinerante”

A figura do “prefeito itinerante” é vedada. “O que é isso professor?”


Então, acontecia muito nos municípios. O indivíduo era prefeito de um município X;
exercia dois mandatos e, ato contínuo, se candidatava a prefeito do município Y
vizinho. Na prática, a popularidade dele local acabava influenciando para ganhar as
eleições, em razão das proximidades existentes.

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O Supremo Tribunal Federal analisando essa questão entendeu que: “É inelegível


para um terceiro mandato aquele que exerceu dois mandatos consecutivos de
prefeito, mesmo que em município distinto”.20

Ä Condição dos Vices na chefia do Executivo

A inelegibilidade funcional do Chefe do Poder Executivo, que exerceu dois


mandatos consecutivos, o impede também de se candidatar ao cargo de Vice na
eleição seguinte. Vamos a um exemplo.
O ex Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu a chefia do executivo por 2
mandatos consecutivos. Após a conclusão do seu 2º mandato, ele não poderia se
candidatar a vice compondo uma chapa à presidência logo na eleição seguinte.
E o vice pode se reeleger indefinidamente? Não pode! Não é permitido ao Vice
também se reeleger para mais de um período subsequente. (na qualidade de vice)
Agora, tem um detalhe importante na jurisprudência do STF. A inelegibilidade
funcional do Vice não impede que ele venha a se candidatar para o cargo de titular.
Tal entendimento se aplica mesmo que o Vice, reeleito ou não, tenha substituído o
Chefe do Poder Executivo.
Professor não entendi. Calma!!!! Vamos entender um pouco mais. ;)

O Supremo Tribunal julgou um caso que se tornou referência nessa


questão. Em 1994, Mário Covas foi eleito Governador do Estado de São
Paulo. O seu vice à época era Geraldo Alckmin.

Mario Covas foi reeleito em 1998, juntamente com Geraldo Alckmin sendo
o seu Vice. Até aqui, nenhum problema! Certo?

20
RE 637485/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 1º.8.2012. (RE-637485)

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O problema é que durante o 2º mandato, Mario Covas veio a falecer


(2001). Com a vacância do cargo, Geraldo Alckmin sucedeu a Covas
assumindo o cargo de Governador para completar o mandato do
antecessor. Contudo, em 2002, Alckmin decidiu se candidatar a
Governador e chegou ao STF o questionamento dessa candidatura.

Será que Geraldo Alckmin, ao ser eleito, estaria no exercício de um


terceiro mandato consecutivo? De acordo com STF, não havia
impedimento para que Alckmin assumisse o mandato.

Ao ser eleito (depois de ter sucedido o Governador), ele estaria no cargo


de Chefe do Executivo pela segunda vez e não pela 3ª. “Somente quando
sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como
titular do cargo”. 21

(...)
E, em relação a cargo diferente do ocupado, o Presidente, Governador ou Prefeito
podem se candidatar? A Constituição permite desde que respeitado o que
determina art. 14, § 6º:

para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os


Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

Temos aqui uma proteção constitucional ao equilíbrio de forças entre os candidatos,


por meio da chamada regra da desincompatibilização. Esse instituto impede que
o Chefe do Poder Executivo, no exercício do cargo, venha a influenciar o resultado
da eleição, utilizando-se da “máquina pública” para se eleger em outro cargo
político.
Assim, a desincompatibilização é exigida apenas quando há uma candidatura a um
novo cargo. Não é necessária a aplicação quando estamos diante da reeleição do
Chefe do Poder Executivo. Por exemplo: Caso um Governador venha a se
candidatar a Senador na eleição seguinte, é exigido que ele renuncie 06 meses antes
das eleições ao cargo de Governador.

21
RE 366.488, rel. min. Carlos Velloso, j. 4-10-2005, 2ª T, DJ de 28-10-2005.

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Professor, mas essa regra também deve ser seguida pelos vices?
Então. A regra para os vices (Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito)
é um pouquinho diferente, pois é permitido que concorram normalmente a outros
cargos, preservando seus mandatos, desde que nos seis meses anteriores ao
pleito não tenham sucedido ou substituído o titular.

Meus amigos, vamos avançar um pouco mais no estudo das


inelegibilidades. Mas, antes, peço se possível que façam uma
pausa de 5 minutinhos para o descanso. Assim, conseguem
voltar com força total para o tema mais “espinhoso” da FGV. ;)

(...)
A inelegibilidade reflexa está prevista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal.
Chama-se reflexa, porque determinado indivíduo que ocupa um cargo eletivo acaba
afetando a elegibilidade de terceiros. Ou seja, de maneira reflexa ele provoca uma
inelegibilidade.
Vamos fazer a leitura do texto constitucional!

§7º-São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os


parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos
seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e
candidato à reeleição.

Professor, não entendi absolutamente nada. ;)


Calma! (rsrs) Isso aconteceu comigo na primeira vez que estudei o tema. Para
facilitar, vamos definir algumas premissas. Assim, acredito que irão compreender
melhor.

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Ä Quem são afetados pela inelegibilidade? E quem afeta a


elegibilidade de terceiros?

Quando pensamos em inelegibilidade reflexa, temos que ter em mente que serão
afetados aqueles que possuem um grau de conexão com o titular de um mandato
eletivo. E esse grau de conexão será por motivo de casamento, parentesco ou
afinidade.
O próprio §7º deixa muito claro ao mencionar que serão “São inelegíveis (...) o
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção
(...)
Tudo bem até aqui? Ok. ;)
Agora, um segundo ponto importante. Precisamos compreender quem afeta a
elegibilidade de terceiros. Aqui, a resposta é clara de direta: aqueles que ocupam
os cargos de Chefia do Poder Executivo.
“Então, professor, você está querendo dizer que se um indivíduo for Deputado
Federal ou Senador ele não afeta a elegibilidade de terceiros? Seus filhos, pais e
esposa, podem concorrer normalmente aos cargos políticos?” SIMMM!!!
Aquele que ocupa um cargo no legislativo não afeta a elegibilidade por motivo de
casamento, parentesco ou afinidade. Ex: Se Jorge ocupa o cargo de Deputado
Federal, sua esposa, filhos, parentes consanguíneos ou afins poderão se candidatar
a qualquer cargo político.
Tudo bem até aqui? ;)
Mais uma informação importante. Será que essa afetação quanto à elegibilidade vale
por todo o território nacional? A inelegibilidade reflexa alcança somente o território
de jurisdição do titular do cargo do Poder Executivo.
Suponha que Diego seja Prefeito do Município de Salvador. A afetação que ele
provoca em terceiros está adstrita aos cargos políticos dentro do território do
Município de Salvador: Prefeito, vice-prefeito, vereador...
Seus parentes podem se candidatar a Governador, Presidente da República,
Deputado Federal, por exemplo...

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•O cônjuge, parentes e afins, até


o segundo grau, ou por adoção
de Prefeito não poderão se
Prefeito candidatar a nenhum cargo
dentro daquele Município
(Vereador, Prefeito e Vice-
Prefeito).

•O cônjuge, parentes e afins, até


o segundo grau, ou por adoção
de Governador não poderão se
candidatar a nenhum cargo
dentro daquele Estado. Isso
inclui os cargos de Vereador,
Governador
Prefeito e Vice-Prefeito (de
qualquer dos Municípios daquele
estado), bem como os cargos de
Deputado Federal, Deputado
Estadual e Senador, por aquele
estado.

•O cônjuge, parentes e afins, até


o segundo grau, ou por adoção
Presidente de Presidente não poderão se
candidatar a nenhum cargo
eletivo no País.

Cumpre destacar que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal, a


inelegibilidade reflexa alcança também aqueles que tenham constituído união
estável com o Chefe do Poder Executivo, inclusive no caso de uniões homoafetivas.
(...)
Outro ponto importante. O Tribunal Superior Eleitoral entende que “se o Chefe do
Executivo renunciar seis meses antes da eleição, seu cônjuge, parentes ou afins até
o segundo grau poderão candidatar-se a todos os cargos eletivos da circunscrição,
desde que ele próprio pudesse concorrer à reeleição”. Isso é válido para o próprio
cargo do titular.
Um exemplo para que possamos compreender melhor. Suponha que Diego seja
Governador do Estado de São Paulo e está em seu primeiro mandato. Em virtude
da inelegibilidade reflexa, sua esposa Lara não poderia se candidatar a nenhum
cargo eletivo dentro do território de jurisdição do titular. Ok, tudo bem até aqui?
Na eleição seguinte, Diego poderia se reeleger para um 2º mandato, mas caso ele
renuncie seis meses antes da reeleição, Lara poderá candidatar-se ao cargo de

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Governadora. Isso somente será possível porque Diego poderia concorrer à


reeleição.
(...)
“Professor, no final do dispositivo constitucional temos ainda uma regrinha que não
entendi muito bem”.
Confesso que essa parte é espinhosa realmente. Ao lermos a redação do art. 14,
§7º, “salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição” temos uma
hipótese excepcional de não aplicação da inelegibilidade reflexa.
Tal permissivo visa alcançar aqueles que se candidatem à reeleição, mesmo
ocupando cargos políticos dentro da circunscrição do Chefe do Executivo. Quer um
exemplo?

Maria é vereadora do município de Lauro de Freitas (BA). Nas eleições


seguintes, seu irmão se elege Governador do Estado da Bahia. Ele está
afetado? Não, pois vimos que quem ocupa cargo do legislativo não
afeta a elegibilidade de parentes.
Agora, uma vez o irmão de Maria sendo Governador, ele na qualidade
de chefe do executivo passa a afetar a elegibilidade de terceiros, certo?
Sim.
Pois bem. Será que na reeleição dele como Governador, Maria sua irmã
poderá se concorre mais uma vez ao mandato de vereadora? Sim, pois
ela já era titular de mandato eletivo e está agora apenas numa condição
de reeleição.

Ä Aspecto jurisprudencial

Prestem atenção, pois aqui temos um ponto de destaque na aula. O Supremo


Tribunal Federal entendeu que a dissolução do casamento, quando ocorrida
durante o mandato, não afasta a inelegibilidade reflexa.
Como assim professor?
Vamos imaginar que Luís seja Governador do Estado do RJ. Sua esposa Alessandra
não é detentora de mandato eletivo nem candidata à reeleição. Portanto, está
afetada pela inelegibilidade reflexa. Concorda? Ok. ;)

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A pergunta é a seguinte. Durante o curso do mandato, Luís e Alessandra desejam


se separar. Nas eleições seguintes, será que Alessandra estará impedida? Sim.
Segundo o Supremo Tribunal Federal na Súmula Vinculante nº 18:

“A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta


a inelegibilidade prevista no § 7º, do artigo 14 da Constituição Federal”.

“Ah...prof... e se a dissolução ocorrer em virtude de morte?” Opa...


Nesse caso peculiar, entende o STF que não há aplicação da súmula vinculante.
Como a dissolução do vínculo conjugal ocorreu por motivo morte, cessa-se o
impedimento. Tecnicamente, cessa-se a possibilidade de influência para
manipulação dos cargos.
O efeito disso é que o candidato volta a ter elegibilidade. (Info 678 STF). Pessoal,
olho grande nessa súmula, pois o tema já foi no XXIV Exame de Ordem.
(...)
Vamos comentar um pouco sobre a hipótese do município-mãe X município-filho.
Digamos que Carlos seja Prefeito do Município Alfa. Via de regra, seus parentes
estão afetados pela inelegibilidade reflexa, concorda?
Mas, o Município Alfa desmembra parte de seu território formando o Município
Beta. Será que os parentes de Carlos estarão afetados pela inelegibilidade reflexa
caso queiram concorrer aos cargos no território do Município Beta? SIMMM!!!!
A jurisprudência do STF entende que, caso um município seja desmembrado, o
parente do prefeito do “município-mãe” estará afetado pela inelegibilidade reflexa
quanto ao “município-filho”, não podendo candidatar-se à prefeitura deste.

§8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:


I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para
a inatividade.

Vamos analisar agora a inelegibilidade relativa à condição de militar.


Primeira informação relevante. Apenas são elegíveis os militares que forem
alistáveis. Então, os conscritos (aqueles que cumprem o serviço militar obrigatório)
não serão elegíveis, (estudamos isso a pouco rs).

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Outro detalhe. Para que o militar seja elegível, ele deve cumprir certas condições. E
o texto constitucional trouxe o requisito do tempo de serviço.

Se o militar contar menos


de 10 anos de serviço, ele
deverá afastar-se da
atividade.

Se contar mais de 10
anos, será agregado pela
autoridade superior e, se
eleito, passará
automaticamente, no ato
da diplomação para a
inatividade. Nesse caso, o
militar se conservará ativo
até a diplomação.
Por último, vale destacar que uma das condições de elegibilidade é a filiação
partidária. E, aqui, temos um problema. Nossa Constituição, em seu art. 143, §3º,
V, veda a filiação do militar a partido político.
Então, como resolvemos professor? pois vejo toda eleição alguns militares se
candidatando...
O Tribunal Superior Eleitoral –estabeleceu que, caso o militar venha a se candidatar
a algum cargo, a ausência de filiação partidária poderá suprida com um registro da
candidatura apresentada pelo partido político e autorizada pelo candidato.

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os


prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a
moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do

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candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência


do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

No aspecto infraconstitucional, a Lei Complementar no. 64/1990 trouxe os casos de


inelegibilidade. Recentemente, essa lei sofreu alteração pela LC no. 135/10, a
chamada “Lei da Ficha Limpa”.
Agora, um pequeno detalhe. ;) Percebam que o texto da Constituição fala em “Lei
Complementar”. Será que poderemos ter outro instrumento legal, por exemplo?
A doutrina entende que sim. Uma emenda constitucional também pode criar novas
hipóteses de inelegibilidade relativa.
Mas, para fins de prova, terá que ter atenção especial. Se a cobrança é pela
literalidade da Constituição ou o entendimento doutrinário. :) Fique tranquilo que a
banca mencionará isso no enunciado.

§10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no


prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas
de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça,
respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

A partir da leitura desses dois dispositivos, fica evidente que a Constituição trouxe
apenas noções basilares sobre a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - “AIME”,
tratando sobre o prazo, o fundamento da ação e a característica de tramitar em
segredo de justiça.
Tecnicamente, AIME deve ser intentada visando combater o abuso de poder
econômico, a corrupção e a fraude. Deve ser alegado pelo autor da ação que o
candidato foi eleito por meio de uma das 03 condições acima. Só cabível apenas
contra essas ilicitudes.
E quem pode propor a AIME? Ela pode ser proposta por um outro candidato ao
mesmo cargo, partido político, coligação ou Ministério Público. O Réu da ação
em questão será, portanto, o titular do mandato eletivo impugnado. (art. 3º. da
LC 64/90) Cuidado, pois não há previsão do cidadão ser legitimado ativo na AIME.

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24. (FGV/XII Exame de Ordem/2013) João, 29 anos de idade, brasileiro


naturalizado desde 1992, decidiu se candidatar, nas eleições de 2010, ao cargo
de Deputado Federal, em determinado ente federativo. Eleito, e após ter
tomado posse, foi escolhido para Presidir a Câmara dos Deputados. Com base
na hipótese acima, assinale a afirmativa correta.
a) João não poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal, uma
vez que esse é um cargo privativo de brasileiro nato.
b) João não poderia ser Deputado Federal, mas poderia ingressar na carreira
diplomática em que não é exigido o requisito de ser brasileiro nato.
c) João poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal, bem como
ser eleito, entretanto, não poderia ter sido escolhido Presidente da Câmara dos
Deputados, eis que esse cargo deve ser exercido por brasileiro nato.
d) João não poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal, mas
poderia ter se candidatado ao cargo de Senador da República, mesmo sendo
brasileiro naturalizado.

Comentários:
A letra A está incorreta. O cargo de Deputado Federal não é privativo de
brasileiro nato. Essa restrição aplica-se apenas ao cargo de Presidente da
Câmara (art. 12, § 3º, II, CF).
A letra B está incorreta. Como vimos, o cargo de Deputado Federal não é
privativo de brasileiro nato, o que já bastaria para a alternativa estar errada. Há,
entretanto, mais um erro na questão: o ingresso na carreira diplomática requer
a condição de brasileiro nato (art. 12, § 3º, V, CF).
A letra C está correta. É o que prevê a Constituição Federal (art. 12, § 3º, II,
CF). O cargo de Presidente da Câmara dos Deputados é privativo de brasileiro
nato, motivo pelo qual João não poderá exercê-lo. Quanto ao cargo de
Deputado Federal, exige-se idade mínima de 21 anos.

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A letra D está incorreta. João poderia candidatar-se a Deputado Federal, mas


não poderia se candidatar ao cargo de Senador. O cargo de Senador tem como
requisito a idade mínima de 35 anos, o que não é cumprido por João.

25. (FGV/IX Exame de Ordem Unificado/2012) José da Silva, prefeito do


Município “X”, integrante do Estado “Y”, possui familiares que pretendem
concorrer a cargos elegíveis nas próximas eleições. Sobre essa situação,
assinale a afirmativa correta.
a) José da Silva Junior, filho de José da Silva, que terá 18 anos completos na
época da eleição, poderá se candidatar ao cargo de deputado estadual de “Y”,
desde que José da Silva tenha se desincompatibilizado seis meses antes do
pleito.
(b) Maria da Silva, esposa de José da Silva, vereadora do município “X”, só
poderá concorrer novamente ao cargo de vereadora, se José da Silva se
desincompatibilizar seis meses antes do pleito.
c) José da Silva poderá concorrer ao cargo de governador do estado “Z”, não
sendo necessário que renuncie ao mandato até seis meses antes do pleito.
d) Pedro Costa, sobrinho de José da Silva, poderá concorrer ao cargo de
Vereador do Município “X” mesmo que José da Silva não tenha se
desincompatibilizado seis meses antes do pleito.

Comentários:
Letra A: errada. Não há qualquer óbice a que o filho do Prefeito do Município
X se candidate a Deputado Estadual, uma vez que a inelegibilidade reflexa
alcança apenas os cargos que estão no território de jurisdição do titular. Assim,
o filho do Prefeito do Município X não poderia se candidatar a vereador por
esse mesmo Município. Até aqui tudo bem! O problema é que José da Silva
Junior tem apenas 18 anos, e a idade mínima para elegibilidade ao cargo de
deputado estadual é de 21 anos (art. 14, § 3º, VI, “c”, CF).
Letra B: errada. Como Maria é candidata a reeleição, não é necessária a
desincompatilização de José da Silva. De acordo com o § 7º do art. 14 da
Constituição Federal, “são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por
adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território,

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do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis


meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição”.
Letra C: errada. É necessário que José da Silva renuncie ao mandato até seis
meses antes do pleito, por determinação do art. 14, § 6º, da Constituição
Federal. É que, para concorrerem a outros cargos, os Chefes do Poder
Executivo devem renunciar aos seus mandatos até 6 meses antes do pleito.
Letra D: correta. Pegadinha, meus amigos. O sobrinho é parente de 3º grau e,
portanto, não é atingido pela inelegibilidade reflexa, que alcança até o 2º grau.
Logo, Pedro Costa poderá, sim, candidatar-se a Vereador do Município X.

26. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) De acordo com os direitos políticos


previstos no texto da Constituição Federal de 1988, assinale a alternativa
INCORRETA:
a) A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante plebiscito,
referendo ou iniciativa popular.
b) Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período
do serviço militar obrigatório, os conscritos.
c) O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo
de quinze dias contados da posse, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude.
d) É condição de elegibilidade o domicílio eleitoral na circunscrição.

Comentários:
Letra A: correta. São instrumentos de participação popular: i) o voto direto,
secreto e com valor igual para todos; ii) o plebiscito; iii) o referendo e; iv) a
iniciativa popular.
Letra B: correta. Os estrangeiros e os conscritos não podem se alistar como
eleitores. Trata-se de hipóteses de inelegibilidade absoluta.
Letra C: errada. O mandato eletivo pode ser impugnado no prazo de 15 dias
contados da diplomação (e não da posse!).

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Letra D: correta. Uma das condições de elegibilidade é o domicílio eleitoral na


circunscrição.

27. (FGV/XXIII Exame de Ordem/2017) João, rico comerciante, é eleito


vereador do Município “X” pelo partido Alfa. Contudo, passados dez dias após
sua diplomação, o partido político Pi, adversário de Alfa, ajuíza ação de
impugnação de mandato eletivo, perante a Justiça Eleitoral, requerendo a
anulação da diplomação de João. Alegou o referido partido político ter havido
abuso do poder econômico por parte de João na eleição em que logrou ser
eleito, anexando, inclusive, provas que considerou irrefutáveis. João, sentindo-
se injustiçado, já que, em momento algum no decorrer da campanha ou mesmo
após a divulgação do resultado, teve conhecimento desses fatos, busca
aconselhamento com um advogado acerca da juridicidade do ajuizamento de
tal ação. Com base no caso narrado, assinale a opção que apresenta a
orientação dada pelo advogado.
a) O Partido Pi não poderia ter ingressado com a ação, pois abuso de poder
econômico não configura fundamento que tenha o condão de viabilizar a
impugnação de mandato eletivo conquistado pelo voto.
b) O Partido Pi respeitou os requisitos impostos pela CRFB/88, tanto no que se
refere ao fundamento (abuso do poder econômico) para o ajuizamento da ação
como também em relação à sua tempestividade.
c) O Partido Pi, nos termos do que dispõe a CRFB/88, não poderia ter
ingressado com a ação, pois, ocorrida a diplomação, precluso encontrava-se o
direito de impugnar o mandato eletivo de João.
d) O Partido Pi só poderia impugnar o mandato eletivo que João conquistou
pelo voto popular em momento anterior à diplomação, sob pena de afronta ao
regime democrático.

Comentários:
Olha só pessoal!! Questão bem fresca do XXIII Exame de Ordem!!! A ação de
impugnação de mandato eletivo tem como fundamentos o abuso do poder
econômico, a corrupção e a fraude. Deverá ser proposta perante a Justiça
Eleitoral, dentro de 15 dias após a diplomação (art. 14, § 10, CF/88). Gabarito
Letra B.

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28. (FGV/XXVI Exame de Ordem/2018) Juliano, governador do estado X,


casa-se com Mariana, deputada federal eleita pelo estado Y, a qual já possuía
uma filha chamada Letícia, advinda de outro relacionamento pretérito. Na
vigência do vínculo conjugal, enquanto Juliano e Mariana estão no exercício de
seus mandatos, Letícia manifesta interesse em também ingressar na vida
política, candidatando se ao cargo de deputada estadual, cujas eleições estão
marcadas para o mesmo ano em que completa 23 (vinte e três) anos de idade.
A partir das informações fornecidas e com base no texto constitucional, assinale
a afirmativa correta.
A) Letícia preenche a idade mínima para concorrer ao cargo de deputada
estadual, mas não poderá concorrer no estado X, por expressa vedação
constitucional, enquanto durar o mandato de Juliano.
B) Uma vez que Letícia está ligada a Juliano, seu padrasto, por laços de mera
afinidade, inexiste vedação constitucional para que concorra ao cargo de
deputada estadual no estado X.
C) Letícia não poderá concorrer por não ter atingido a idade mínima exigida
pela Constituição como condição de elegibilidade para o exercício do mandato
de deputada estadual.
D) Letícia não poderá concorrer nos estados X e Y, uma vez que a Constituição
dispõe sobre a inelegibilidade reflexa ou indireta para os parentes
consanguíneos ou afins até o 2º grau nos territórios de jurisdição dos titulares
de mandato eletivo.

Comentários:
Trata-se de uma questão com fundamento no art. 14, § 7o, CF/88, o chamado
tema da inelegibilidade reflexa. Resulta do fato de que uma pessoa, ao ocupar
um cargo de Chefe do Poder Executivo, afeta a elegibilidade de terceiros
(cônjuge, parentes e afins). No caso prático, Letícia preenche a idade mínima
para o cargo de deputada estadual, mas não poderá concorrer ao cargo no
executivo estadual, pois está afetada pela incidência do art. 14, parágrafo 7º.
Gabarito letra A.

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29. (FGV/XXVI Exame de Ordem/2018) José Maria, no ano de 2016, foi eleito
para exercer o seu primeiro mandato como Prefeito da Cidade Delta, situada
no Estado Alfa. Nesse mesmo ano, a filha mais jovem de José Maria, Janaína
(22 anos), elegeu-se vereadora e já se organiza para um segundo mandato
como vereadora.
Rosária (26 anos), a outra filha de José Maria, animada com o sucesso da irmã
mais nova e com a popularidade do pai, que pretende concorrer à reeleição,
faz planos para ingressar na política, disputando uma das cadeiras da
Assembleia Legislativa do Estado Alfa.
Diante desse quadro, a família contrata um advogado para orientá-la. Após
analisar a situação, seguindo o sistema jurídico-constitucional brasileiro, o
advogado afirma que
A) as filhas não poderão concorrer aos cargos almejados, a menos que José
Maria desista de concorrer à reeleição para o cargo de chefe do Poder
Executivo do Município Delta.
B) Rosária pode se candidatar ao cargo de deputada estadual, mas Janaína não
poderá́ se candidatar ao cargo de vereadora em Delta, pois seu pai ocupa o
cargo de chefe do Poder Executivo do referido município.
C) as candidaturas de Janaína, para reeleição ao cargo de vereadora, e de
Rosária, para o cargo de deputada estadual, não encontram obstáculo no fato
de José Maria ser prefeito de Delta.
D) Janaína pode se candidatar ao cargo de vereadora, mas sua irmã Rosária
não poderá se candidatar ao cargo de deputada estadual, tendo em vista o fato
de seu pai exercer a chefia do Poder Executivo do município.

Comentários:
A FGV já gosta do tema da inelegibilidade reflexa, né? Mais uma questão sobre
esse assunto. Desta vez no recente XXXI Exame OAB.
Temos aqui um chefe do poder executivo que afeta a elegibilidade de terceiros.
Mas, essa afetação é apenas na jurisdição onde ele ocupa a chefia. Portanto, a
filha de José Maria pode se candidatar a outros cargos fora da jurisdição
municipal, como é o caso do cargo de deputada estadual.

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Além disso, no caso filha Janaína, esta já exerce mandato eletivo e agora só
está concorrendo ao cargo em reeleição. Assim, ela pode tentar novamente o
cargo de vereadora.
Gabarito letra C.

11.2.2 – Perda e suspensão dos direitos políticos

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Nossa Carta Política trouxe as hipóteses de privação dos direitos políticos.


Tecnicamente, isso pode ocorrer de modo definitivo (perda) ou modo temporário
(suspensão).
E quais são as hipóteses de perda e suspensão? Esse é o grande problema rsrs. O
art. 15 não trouxe de maneira expressa. Temos que buscar o entendimento
doutrinário.
Embora não haja consolidação do tema, a maior parte da doutrina entende que a
perda ocorre nos casos dos incisos I e IV do art. 15 da CF. Já as hipóteses de
suspensão, ficaria com os demais incisos. Olha só:

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•CANCELAMENTO DA •INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA


PERDA DOS DIREITOS

NATURALIZAÇÃO POR SENTENÇA •CONDENAÇÃO CRIMINAL

DIREITOS POLÍTICOS
SUSPENSÃO DOS
TRANSITADA EM JULGADO TRANSITADA EM JULGADO,
POLÍTICOS

•RECUSA DE CUMPRIR OBRIGAÇÃO ENQUANTO DURAREM SEUS


A TODOS IMPOSTA OU EFEITOS
PRESTAÇÃO ALTERNATIVA, NOS •IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
TERMOS DO ART. 5º, VIII. NOS TERMOS DO ART. 37, § 4º

Sobre o tema, temos 03 informações importantes:


Ä Condenação criminal transitada em julgado: a suspensão ocorre da
maneira imediata e implica a perda do mandato eletivo.
Ä Atos de improbidade administrativa: De acordo com o art. 37, § 4º,
“os atos de improbidade administrativa resultarão na perda do mandato e
na suspensão dos direitos políticos”.
Ä Congressistas: a perda do mandato não se aplica a membro do
Congresso Nacional. Isso porque, o art. 55, § 2º, da Constituição nos diz
que “a perda do mandato será decidida pela Casa a que pertencer o
congressista, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva
Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa”.

11.2.3 – Princípio da anterioridade eleitoral

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de
sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data
de sua vigência

Temos aqui um dos valores fundamentais no âmbito do Direito eleitoral: o princípio


da anterioridade eleitoral.
Nossa Constituição nos diz que a lei que alterar eventualmente um processo eleitoral
tem vigência imediata na data de sua publicação. Mas, em relação aos seus efeitos,
ela somente começa a produzir em um momento futuro, não se aplicando à eleição
que ocorrer até um ano da data de sua vigência.

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Por fim, o Supremo Tribunal Federal entende que o princípio da anterioridade


eleitoral, embora não conste no rol dos direitos individuais e coletivos, por encampar
um valor-fonte fundamental, também é considerado uma cláusula pétrea, devendo
o Poder Constituinte Derivado reformador respeitar os ditamos do art. 60, § 4º,
CRFB/88.

30. (FGV/VI Exame de Ordem Unificado/2012) A respeito dos direitos


políticos, assinale a alternativa correta.
a) O cancelamento de naturalização por decisão do Ministério da Justiça é caso
de perda de direitos políticos.
b) A condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos, é caso de cassação de direitos políticos.
c) A improbidade administrativa é caso de suspensão de direitos políticos.
d) A incapacidade civil relativa é caso de perda de direitos políticos.

Comentários:
Letra A: errada. O cancelamento de naturalização por decisão (judicial)
transitada em julgado é hipótese de perda dos direitos políticos.
Letra B: errada. No Brasil, é vedada a cassação de direitos políticos.
Letra C: correta. De fato, a improbidade administrativa importa na suspensão
dos direitos políticos.
Letra D: errada. A incapacidade civil absoluta é hipótese de suspensão dos
direitos políticos.

31. (FGV/ IV Exame de Ordem Unificado/2011) Os direitos políticos não


podem ser cassados. Podem, no entanto, sofrer perda ou suspensão à luz das
normas constitucionais pelo seguinte fundamento:
a) condenação cível sem trânsito em julgado.
b) incapacidade civil relativa, declarada judicialmente.

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c) cancelamento de naturalização por decisão administrativa.


d) improbidade administrativa.

Comentários:
Letra A: errada. A condenação criminal transitada em julgado, enquanto
durarem seus efeitos, importa na suspensão dos direitos políticos.
Letra B: errada. A incapacidade civil absoluta implica na suspensão dos direitos
políticos.
Letra C: errada. O cancelamento de naturalização por decisão judicial transitada
em julgado leva à perda dos direitos políticos.
Letra D: correta. A improbidade administrativa implica na suspensão dos
direitos políticos.

32. (ESTRATEGIA OAB/ INÉDITA) Nossa Constituição Federal de 1988 que


assegura os direitos políticos como instrumentos por meio dos quais se garante
o exercício da soberania popular. Todavia, o próprio texto constitucional prevê
condições de perda ou suspensão desses direitos, a exemplo:
a) incapacidade civil relativa, como na hipótese de interdição, na forma da lei.
b) condenação criminal por improbidade administrativa, através de sentença
penal transitada em julgado.
c) recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, na
forma da lei.
d) condenação criminal por crime hediondo, com decisão judicial transitada em
julgado, hipótese em que ocorre cassação dos direitos políticos enquanto
durarem os efeitos da condenação.

Comentários:
Letra A: errada. A incapacidade civil absoluta é que implica na suspensão dos
direitos políticos.
Letra B: errada. O examinador misturou as coisas. Cuidado! Ocorrerá suspensão
dos direitos políticos no caso de condenação criminal transitada em julgado,

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enquanto durarem os seus efeitos. A improbidade administrativa não tem


natureza criminal.
Letra C: correta. A recusa de cumprir obrigação legal a todos imposta ou
prestação alternativa, na forma da lei, é hipótese de suspensão dos direitos
políticos.
Letra D: errada. Não existe cassação de direitos políticos no ordenamento
jurídico brasileiro.

12 - DOS PARTIDOS POLÍTICOS


Pessoal, vamos concluir a aula de hoje comentando um pouquinho acerca dos
partidos políticos. Trata-se de uma instituição importante para a democracia, mais
especificamente para a manutenção do Estado democrático de direito.
Os partidos políticos são entidades de direito privado que abarcam as diferentes
convicções políticas e ideologias presentes em uma sociedade. A formação de um
partido político tem por objetivo a congregação de ideias, seja do ponto de vista
social, econômico, político...
E em decorrência da importância dessa instituição, nossa Carta Magna reservou um
artigo próprio para tratamento do tema. Olha só:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos:

Logo no caput. desse dispositivo encontramos a previsão da chamada liberdade de


organização partidária, que abarca a criação, fusão, incorporação e extinção de
partidos políticos.
Cumpre ressaltar que o mesmo dispositivo determina a existência de uma liberdade
não absoluta. Assim, devem ser resguardados a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
também aos preceitos constantes nos incisos e que iremos trabalhar abaixo.
Vamos estudar um pouco agora os incisos que compõe o art. 17. Vejamos!

I - caráter nacional;

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II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou


governo estrangeiros ou de subordinação a estes;

A criação de partidos apenas em âmbito regional ou municipal não é permitida pela


CRFB/88. Busca-se a formação de partidos políticos que tenham repercussão em
todo o país.
A liberdade estabelecida no caput não pode ferir a soberania nacional. Por conta
disto, o inciso II traz uma limitação ao funcionamento dos partidos. Estas limitações
se resumem a vedação de subordinação da República Federativa do Brasil ao capital
estrangeiro.
Mas como se materializa isso, professor? Através da impossibilidade de
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros por
parte e, também, a vedação a subordinação do partido político a estes.

III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;


IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Temos aqui a manifestação clara da moralidade administrativa. Afinal, ao exigir a


prestação de contas dos partidos políticos à Justiça Eleitoral, o legislador
constitucional estabeleceu a fiscalização financeira para impedir a existência do
chamado “caixa dois”. (embora na prática ainda sabemos que é difícil o seu combate
100%)
Outrossim, o texto constitucional ainda impõe aos partidos políticos que o seu
funcionamento deva seguir o disposto em lei. E, no campo prático, temos a
incidência da Lei nº 9.096/95. (esse inciso IV é considerado pela doutrina como
norma de eficácia limitada).

Aqui temos um ponto de destaque no nosso estudo: Emenda


Constitucional nº. 97/17. (...) Antes de mergulharmos no dispositivo
afetado e suas alterações, vamos entender a origem dessa emenda.
Há muito tempo, juristas e doutrinadores exigiam uma reforma por conta
da crise política vivenciada no Brasil. Um dos pontos debatidos era a

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ausência de representatividade do povo com a classe política atual, apesar


do grande número de partidos existentes.
A conclusão que se chegou foi a de que o surgimento dos variados
partidos estava diretamente ligado à parcela de recursos do fundo
partidário e do tempo de televisão. Calma que vou explicar melhor rs!!!
O que tínhamos antes eram muitos partidos pequenos e sem ideologia,
que apenas existiam (no plano fático) para negociar seu tempo de
propaganda com os partidos maiores.
Como resposta aos anseios da sociedade, nasceu a EC nº 97/2017,
buscando o estabelecimento da “cláusula de barreira” ou “cláusula de
desempenho”. Através dela, agora para se ter acesso aos recursos do
fundo partidário e a garantia de tempo de propaganda gratuita no rádio
e na televisão será preciso ter uma representatividade significativa.
Vamos entender isso um pouco mais! Façamos a leitura do parágrafo
primeiro.

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua


estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração
de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições
proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas
em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

No §1º, temos assegurada a autonomia partidária. Dessa forma, o partido define


sua estrutura interna, organização e funcionamento sem interferência do Estado. A
ideia do dispositivo constitucional é impedir controle Estatal nessas áreas.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal entendeu que na autonomia partidária foi
instituída uma “área de reserva estatutária absolutamente indevassável pela ação
normativa do Poder Público, vedando, nesse domínio jurídico, qualquer ensaio de
ingerência legislativa do Poder Estatal” (ADI 1.407-MC)
É importante destacar aqui as novidades trazidas pela EC nº 97/2017. J
O texto do §1º ainda foi alterado para constar a proibição de coligações em
eleições proporcionais. O sistema proporcional é aplicado nas eleições para
Deputado Federal, Estadual e Vereador, por exemplo.

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Contudo, um ponto digno de nota é que a EC nº 97/2017 estipulou um prazo de


aplicação para 2020 (a vedação à celebração de coligação em eleições
proporcionais).
Em relação a simetria das coligações, já havia previsão antes da emenda
constitucional da não obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. E tal fato foi mantido, ou seja,
continua valendo no nosso ordenamento jurídico a não aplicação do princípio da
verticalização na celebração de coligações.

§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na


forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

Como qualquer pessoa jurídica de direito privado depende de inscrição do ato


constitutivo no respectivo registro para ter sua existência legal, o §2º determina que
a aquisição de personalidade jurídica ocorre conforme a lei civil (arts. 45 e 985 do
CC/02 e art. 120 da Lei nº 6.015/73).
Ainda, o mesmo dispositivo exige que o estatuto seja registrado no TSE da Lei de
Registros Públicos, pois este registro é o que outorga a plena capacidade jurídico-
eleitoral ao partido.22

§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito


ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:

I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3%


(três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço
das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos
votos válidos em cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em
pelo menos um terço das unidades da Federação

§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização


paramilitar.23

22
STF, RE 164.458-AgRg, DJ de 02.06.1995.
23
Já no caso do parágrafo 4º, essa proibição se coaduna com o art. 5º, XVII, CF/88, que dispõe que “é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar”.

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O §3º também sofreu modificação da EC nº 97/2017. O acesso aos recursos do


fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão ficou
condicionado. Agora, será necessário que o partido tenha um percentual mínimo de
candidatos eleitos.
Mas, professor, poderia me explicar melhor a aplicação dessa regra? Claro, vamos
lá!
Ao trazer o termo “alternativamente” o dispositivo determina que os critérios
previstos nos dois incisos não são cumulativos, ou seja, para ter o direito ao fundo e
acesso ao tempo de TV o partido deve atender ao disposto no inciso I OU o inciso
II.
Então, deve atender a um número mínimo de votos nas eleições para a Câmara dos
Deputados OU a um número mínimo de Deputados Federais eleitos.

Eleições para a
Número mínimo de Partido político deverá
Câmara dos
votos válidos: ter...
Deputados

03 % dos votos
Com um mínimo de
válidos, distribuídos
2% (dois por cento)
em pelo menos 1/3
dos votos válidos em
(um terço) das
cada uma delas
unidades da federação

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Número mínimo de
Cumprir a “cláusula de
2ª Condição: Deputados Federais
barreira”
eleitos:

Partidos que tiverem Distribuídos em pelo


elegido pelo menos 15 menos 1/3 (um terço)
(quinze) Deputados das unidades da
Federais federação

Caso não atenda a qualquer dos dois critérios acima, ocorrerá uma restrição no
funcionamento parlamentar do partido. Ele não será automaticamente extinto, mas
a falta de acesso à principal fonte de recursos das legendas pode ocasionar a
extinção a longo prazo.
Vale ressaltar que a Emenda trouxe uma regra de transição no seu texto. O
constante no § 3º somente vai produzir total efeito a partir das eleições de 2030.
Enquanto isso, a sua aplicação acontece de forma gradativa a partir das eleições
após o ano de 2018.24

Art. 17 (...) § 5o Ao eleito por partido que não preencher os requisitos


previstos no § 3o deste artigo é assegurado o mandato e facultada a
filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não
sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do
fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.

Aqui, notamos uma regra bem interessante. A Emenda também trouxe um direito
ao candidato eleito do partido que não preencheu os requisitos do §3º. A ele não

24
Art. 3o O disposto no § 3o do art. 17 da Constituição Federal quanto ao acesso dos partidos políticos aos recursos do fundo partidário e à propaganda gratuita no rádio e na
televisão aplicar-se-á a partir das eleições de 2030.
Parágrafo único. Terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que:
I - na legislatura seguinte às eleições de 2018:
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 1,5% (um e meio por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação,
com um mínimo de 1% (um por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
b) tiverem elegido pelo menos nove Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação;
II - na legislatura seguinte às eleições de 2022:
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 2% (dois por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com
um mínimo de 1% (um por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
b) tiverem elegido pelo menos onze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação;
III - na legislatura seguinte às eleições de 2026:
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 2,5% (dois e meio por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação,
com um mínimo de 1,5% (um e meio por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
b) tiverem elegido pelo menos treze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.

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será aplicada a questão da infidelidade partidária. “Então, poderá haver mudança


de partido professor?”
Sim. É permitida a mudança de partido, sem que isso venha a implicar na perda do
seu mandato. Todavia, o §5º traz expressamente que o novo partido não terá com
essa filiação um aumento dos recursos do fundo partidário e do tempo de rádio e
TV.
Por fim, em relação a desfiliação e a infidelidade partidária, o STF entende que o
resultado destes atos gera a perda do mandato dos parlamentares que foram
eleitos pelo sistema proporcional, como regra. O Supremo só traz uma ressalva:
quando for identificada a “justa causa” para a desfiliação partidária. Um exemplo
seria o desvio de orientação ideológica.

33. (FGV/X Exame de Ordem Unificado/2013/ADAPTADA) Apesar da


existência de vários partidos políticos por força de questões regionais,
conjunturais e do vínculo da fidelidade partidária, é comum a cada ano o
surgimento de novas agremiações no cenário nacional. Quanto ao
funcionamento dos partidos políticos, à luz das normas constitucionais, assinale
a afirmativa correta.
a) Podem receber recursos financeiros de governo estrangeiro.
b) Devem prestar as contas partidárias perante Conselho Especial.
c) Podem ter caráter regional, representando pelo menos duas regiões.
d) terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei, os partidos políticos que obtiverem nas eleições para
a Câmara dos Deputados, por exemplo, no mínimo, 3% (três por cento) dos
votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada
uma delas.

Comentários:
Letra A: errada. Os partidos políticos não podem receber recursos financeiros
de entidade ou governo estrangeiro.

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Letra B: errada. A prestação de contas deve ser feita à Justiça Eleitoral.


Letra C: errada. Os partidos políticos devem ter caráter nacional.
Letra D: correta. Segundo o art. 17, § 3º, CF/88, já com a redação da nova EC
nº. 97/2017 “Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso
gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente: I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um
terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos
votos válidos em cada uma delas; ou II - tiverem elegido pelo menos quinze
Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação”.

34. (FGV/XXIV Exame de Ordem Unificado/2017) Numerosos partidos


políticos de oposição ao governo federal iniciaram tratativas a fim de se
fundirem, criando um novo partido, o Partido Delta. Almejam, com isso, criar
uma força política de maior relevância no contexto nacional. Preocupados com
a repercussão da iniciativa no âmbito das políticas regionais e percebendo que
as tratativas políticas estão avançadas, alguns deputados federais buscam
argumentos jurídico-constitucionais que impeçam a criação desse novo partido.
Em reunião, concluem que, embora o quadro jurídico-constitucional brasileiro
não vede a fusão de partidos políticos, estes, como pessoas jurídicas de direito
público, somente poderão ser criados mediante lei aprovada no Congresso
Nacional. Ao submeterem essas conclusões a um competente advogado, este,
alicerçado na Constituição da República, afirma que os deputados federais:
A) estão corretos quanto à possibilidade de fusão entre partidos políticos, mas
equivocados quanto à necessidade de criação de partido por via de lei, já que,
no Brasil, os partidos políticos possuem personalidade jurídica de direito
privado.
B) estão equivocados quanto à possibilidade de fusão entre partidos políticos
no Brasil, embora estejam corretos quanto à necessidade de que a criação de
partidos políticos se dê pela via legal, por serem pessoas jurídicas de direito
público.
C) estão equivocados, pois a Constituição da República não só proibiu a fusão
entre partidos políticos como também deixou a critério do novo partido político
escolher a personalidade jurídica de direito que irá assumir, pública ou privada.

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D) estão corretos, pois a Constituição da República, ao exigir que a criação ou


a fusão de partidos políticos se dê pela via legislativa, concedeu ao Congresso
Nacional amplos poderes de fiscalização para sua criação ou fusão.

Comentários:
Gabarito Letra A. De fato, nossa CRFB/88 em seu art. 17 estabelece a livre a
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos. Agora, o detalhe
é que a constituição dos partidos políticos acontece na forma da lei civil (Lei.
9.096/95) perante o serviço de registro civil de pessoas jurídicas competente.
Uma vez realizado o registro, há a aquisição de personalidade jurídica, e em
seguida formaliza-se o registro de seu estatuto perante o TSE.

(...)
Espero que tenham gostado da aula. ;)
Forte abraço e até a próxima,
Prof. Diego Cerqueira

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