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Os suicídios e a universidade produtivista

RAYMUNDO DE LIMA*

“Um suicida está sempre acusando alguém”


Lya Luft – Quarto Fechado

“Educação é o item mais importante na diminuição dos índices de suicídio”


Edwin Schneideman (apud Fontenelle, 2008)

Suicídios acontecem todos os dias nas de Suicidas Ilustres”, escrito pelo artista
grandes, médias e pequenas cidades. plástico brasileiro e cronista, J. Toledo,
Mas, só é notícia se a vítima é uma publicado em 1999, realiza um
personalidade pública1: Champignon, levantamento dos suicidas conhecidos,
Chorão, Walmor Chagas, Kurt Cobain, na história da humanidade. Quando
Leila Lopes, Ana Cristina César, Pedro elaborava este escrito me surpreendeu
Nava, Péricles (cartunista), Nikos saber que J. Toledo também optou pela
Poulantzas, Gilles Deleuze, Getúlio morte voluntária (ler nota n.1. OBS.:
Vargas, e tantos outros. Uma análise aprofundada, psicológica
São artistas, escritores, filósofos, ou psicanalítica, sobre os suicídios está
médicos, até psicanalistas2 aparecem fora do propósito neste ensaio, contudo,
veja no rodapé uma breve
entre os suicidas, por sinal uma lista
consideração)3.
longa e surpreendente. O “Dicionário

1954: Suicídio de Getúlio Vargas: “[...] saio da vida para entrar na História. Deixo a sanha de meus
inimigos o legado da minha morte” [Carta Testamento]

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1978: Suicídio coletivo e homicídios “guiados” pelo pastor Jens Jones,
do Tempo do Povo, na Guiana: 383 mortes

Nos últimos 45 anos o número de suicídio. A primeira onda teve seu


suicídios no planeta aumentou em 60%, ponto mais alto em 1958, com
principalmente em homens entre 15 e 23.641 mortes; a segunda alcançou
24 anos (FONTENELLE, 2008; o máximo em 1986 com 25.667
DUTRA, 2012). A China registra o mortes. Atualmente, estamos no
meio da terceira onda, que
maior número de suicídios de todo o começou em 1998. Estas ondas são
planeta, com 280.000 por ano, a maioria observáveis não somente em
de jovens estudantes. A enorme pressão termos do número, mas também em
sofrida pelos estudantes, nesta faixa termos da taxa por cada cem mil
etária, é considerada a causa principal habitantes” (UENO, 2005).
do abreviamento da vida naquele país4.
O governo japonês vem trabalhando
Também o suicídio é problema grave no intensamente para diminuir os 30 mil
Japão, considerado a “nação suicida”. suicídios por ano. Levantamento da
Em 2007, a Agência Nacional de Organização Mundial de Saúde (OMS)
Polícia do Japão, divulgou 33.093 apresenta o suicídio entre as dez causas
suicídios. Isso representa mais morte do de morte no mundo, para todas as faixas
que a guerra do Iraque, no mesmo ano etárias. Alguns países da Europa
que contou 26.932 mortes. também apresentam elevadas taxas de
“De acordo com o Ministério da suicídios/ano (FONTENELLE, op.cit.:
Saúde e do Trabalho Japonês, 189 ss).
depois da segunda guerra mundial,
o Japão passou por três ondas de

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Pesquisa com 637 universitários extremo ‘acidente’ ou ‘morte natural’.
brasileiros que responderam ao Os mais próximos da vítima tendem a
questionário, 52,45% disseram que sentir culpa ou raiva: “por que ele fez
sentiam vontade de morrer e 48 haviam isso comigo”. Religiosos ainda
tentado se matar, relata a pesquisadora consideram o suicídio um pecado
Elza Dutra, da Universidade Federal do imperdoável. Judeus ainda impedem
Rio Grande do Norte. “O que faz com enterrar o suicida no mesmo cemitério
que os jovens não estejam desejando dos demais. As pesquisas acadêmicas
viver?” sobre as causas suicidas, conforme a
região ou país, ou inexistem ou são
Família, grupo de trabalho, classe
insuficientes.
profissional, influenciados pelo senso
comum, geralmente consideram o ato

Suicídio entre universitários superior à da população em geral. As


Se o suicida é jovem, universitário, especialidades: anestesistas, psiquiatras,
oftalmologistas e patologistas, são
caberia investigar: Por que deixar a vida
referidos como os mais vulneráveis.
quando o futuro se apresenta como
Tem-se questionado porque alunos do
promissor? Podemos apontar um curso
curso de medicina pertencem ao grupo
universitário com mais suicidas/ano,
de alto risco em suicídio, daí algumas
considerando a última década? Noutros
hipóteses: (a) estudantes mais propensos
termos, existem cursos cujo conteúdo
a sofrerem pressões impostas diante de
ou estilo docente induz ao suicídio?
qualquer falha médica ou falta de
Meleiro (1998) diz que na revisão da preparo médico diante da possibilidade
literatura disponível sobre suicídio entre de morte de pacientes; (b) passar a
médicos no planeta, verificou-se que a sentir culpa pelo que não sabe e com
taxa de suicídio na população médica é isso se sente paralisado pelo medo de

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errar; (c) Os sentimentos de desvalia e os filhos e dar-lhes total apoio afetivo e
impotência, que, muitas vezes, são moral, principalmente no primeiro ano
responsáveis por ideias de abandono do da faculdade.
curso e depressão; (d) Estresse 2) Se o curso é extremamente
acumulado durante o curso e na competitivo, o individualismo é
residência médica e privação de sono; exacerbado, aulas pessimistas,
(e). O fácil acesso aos métodos para professores apocalípticos e sádicos que
cometimento do ato suicida (além dos extraem prazer ao humilhar alunos
estudantes de medicina, o fácil acesso contribuem para gerar desencanto,
às drogas ou veneno, aumenta a desesperança e infelicidade nos
probabilidade entre estudantes de estudantes propensos à depressão e
química, farmácia, enfermagem, outros transtornos psíquicos5.
odontologia). (Deveriam ser alertados aqueles
Neste quadro, existe cobrança para os professores cuja aula induz os alunos
cursos de medicina não faltar com a para além da angústia “normal” relativa
responsabilidade de dar assistência aos problemas de formação profissional,
psicoprofilática e psicoterapêutica aos ou seja, o estilo docente cuja aula
estudantes. (Recente notícia diz que sempre induz ao mal estar,
alguma universidade chinesa vem desesperança, depressão, e ideias de
impondo aos estudantes de medicina morte de si). Também deveria ser objeto
assinar um termo de compromisso de sindicância aqueles cursos com mais
absolvendo a instituição da casos de suicídios/ano). O produtivismo
responsabilidade caso eles cometam da universidade [publish or perish/
suicídio ou fiquem feridos. Que pensar “publica ou perece” epidêmico entre
de uma medida como esta?). professores-pesquisadores] e o
individualismo narcisista universitário
vêm contagiando os alunos, gerando
Indícios, sintomas e alertas dos neles alta ansiedade, estresse,
suicidas desencadeando transtornos psíquicos,
Alguns [poucos] trabalhos científicos pânico de não dar conta dos trabalhos e
apontam algumas hipóteses sobre provas, pavor de ser julgado como
possíveis causas dos suicídios entre intelectualmente incapaz pelos colegas e
universitários: professores, bullying etc. (“Não deixe
que essa universidade, ou algumas
1) Adolescentes que deixam pela pessoas que nela estão te contaminem
primeira vez o aconchego de suas assim como fizeram comigo” disse Luiz
famílias, para morar longe e estudar, Carlos de Oliveira, 20 anos, estudante
sentem-se obrigados a conviver com a de Filosofia da Universidade Federal de
solidão. Muitos não conseguem São Paulo (Unifesp), antes de se
estabelecer novos vínculos de amizade, enforcar).
e sofrem intensamente esta privação. “A
ideia suicida é comum nos 3) Um importante fator indutor de
adolescentes”, observa Caçula (1992, p. suicídios apontado pelas pesquisas é a
86). A vida acadêmica de estudos, depressão e o abuso de substâncias
confinada, pode contribuir para esvaziar lícitas e ilícitas, em particular álcool e
o sentido existencial de alguns drogas. “Álcool é a droga psicoativa
estudantes de tendência depressiva. Daí mais presente nos suicídios”, observa
a recomendação de os pais “escutarem” Fontenelle (op. cit., p.78). Se

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considerarmos que álcool e drogas hoje da existência. O Centro de Valorização
fazem parte da cultura dos da Vida (CVV) e Samaritanos também
universitários, aumenta a probabilidade prestam ajuda providencial neste
de ocorrer suicídios e outros efeitos. sentido. O fone é: 141.
Álcool e drogas combinados geram 4) A universidade precisa ir para além
descontroles, brigas, acidentes de do formalismo das pesquisas e do
trânsito geralmente sem cinto de legalismo de ocasião, isto é, precisa
segurança, nadar embriagado. pensar o espaço formativo também
Levantamento da Senad/2010, do como área de convivência social, para
Ministério da Justiça, revela que quase os estudantes conversarem
metade dos universitários brasileiros já informalmente. Precisam conceber a
fez o uso de substâncias ilícitas. formação como um tempo de crise e de
“Universitários são parcela da risco. No Brasil, os arquitetos e
população que mais consome drogas”. urbanistas projetam as universidades
Existe um vale-tudo para superar o tédio sem áreas de convivência social, sem
da vida universitária. Quanto mais fácil bancos para a comunidade curtir o ócio,
o aluno tem acesso às drogas ilícitas ou para as pessoas exercerem o seu direito
lícitas maior é a possibilidade de de viver o tempo livre, no sentido de
drogadicção e descontroles emocionais. trocar ideias e impressões sobre a vida
Pertencer a um grupo usuário de acadêmica e a vida em geral.
substâncias químicas aumenta a
probabilidade de se tornar ‘igual’. Suspeito que a universidade em ritmo
de barbárie produtivista seja o melhor
Geralmente quando acontece um lugar para transformar ideias de
suicídio – de jovem ou adulto – os autodestruição em ato efetivo, porque
colegas, amigos e familiares tendem a nela reinam competição,
camuflar como “acidente”, “fatalidade” individualismo, inveja, fogueira das
ou simplesmente joga a culpa no vaidades, violência simbólica etc.
próprio pelo ato. Acontece que a Conforme observa Pierre Bourdieu
maioria dos suicidas anuncia de modo (2004), a produção dos campos
direto ou camuflado6 a intenção de acadêmicos, mais especificamente, o
cometer o ato extremo. As tentativas de jogo de forças que operam no interior
suicídio são de dois tipos: ato dos cursos de graduação e pós-
intencional ou consciente e ato não graduação, em que cada um deles
intencional (exemplos: cortes no próprio corresponde um habitus (sistema de
corpo ou automutilação, brincadeiras de disposições incorporadas, maneiras
alto risco, reações impulsivas reativas às duráveis que podem resistir às forças
agressões presenciais ou virtuais)7. A opostas no campo); entre professores-
reação das pessoas vai do ceticismo, pesquisadores narcisicamente
confusão mental, sarcasmo e até mesmo constituídos enquanto grupo de
um “empurrãozinho” sádico. Ueno “capitalistas científicos” (sic), cuja
(2005) observa na internet, redes sociais posição de dominantes visa reproduzir
e blogs, mais incentivo ao suicídio do alunos em série, dominados e crentes no
que apoio para sustentar a vida. Existem sistema teórico Ou seja, neste ambiente
pessoas e grupos na internet que não sobra muito espaço para o aluno ou
incentivam pessoas propensas a sair da professor independente. Mas aqueles
vida. Também existem pessoas e que incorporam o habitus próprio do
grupos, a maioria de religiosos, que campo têm condição de jogar o jogo e
contribuem para ressignificar o sentido

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de acreditar na importância desse jogo. poucos te chorarão [...] Depois, só és
Se o habitus for contrariado, de forma lembrado em duas datas,
contínua, pode ser o lugar de forças aniversariamente [...].
explosivas (fofocas, difamações, Para Hillman (1993), numa perspectiva
desqualificações) e implosivas de psicoterapia junguiana, o suicídio, no
(ressentimentos, tentativas e suicídios), fundo, é efeito do afrouxamento tanto
que tem o poder de corrosão silenciosa da estrutura social geral como também
do valor existencial das singularidades um enfraquecimento dos laços grupais
intelectuais. “Todos conhecem a dos mais próximos do dia a dia. Isto é
verdade das práticas científicas [na fato na comunidade universitária onde
universidade], e todos continuam a se mede o outro por ser “produtivo” ou
fingir não saber e a acreditar que isso “não produtivo”. A pessoa com baixa
se passa de outro modo” (BOURDIEU, autoestima, sentindo-se desqualificada,
2004, p.108). deprimida ou em profunda crise
Conforme está estruturada, a existencial, se tiver alguém para
universidade produtivista não é lugar conversar no ambiente de estudo,
para amizades genuínas, nem para trabalho, na “sua” psicoterapia, nas
adquirir sabedoria prática de saber redes sociais, pode diminuir a
como viver nela ou “existir” na probabilidade de ela passar ao ato
sociedade. Os antigos professores-cultos extremo.
ou intelectuais hoje são substituídos Portanto, as universidades deveriam
pelos professores-produtivos. Mesmo os também oferecer serviços efetivos
críticos do sistema Lattes, reproduzem a voltados para “trabalhar” as causas dos
servidão voluntária. Existe ainda os transtornos psíquicos, depressão,
professores-ideológicos ou políticos, alcoolismo e drogadicção entre
sempre prontos a atacar supostos universitários. Os especialistas afirmam
“inimigos do povo”, e sempre prontos que 90% dos suicídios em geral
formar o espírito de horda selvagem, poderiam ser evitados, porque a maioria
para lutar por uma bandeira ou defender não quer morrer, mas sim fugir de
um cumpincha. Cairá em desgraça “situação desagradável, angustiante, de
aquele que ousar enfrentar tal horda sofrimento absoluto”, observa José
selvagem. Ele morrerá simbolicamente Manoel Bertolote, psiquiatra professor
para possíveis bancas, convites para da Faculdade de Medicina da
projetos, reuniões específicas, etc. Universidade Estadual de São Paulo
Alguém disse que na universidade não é (Unesp) e consultor da Organização
preciso matar de fato, basta tornar o Mundial de Saúde (OMS), autor do
colega invisível ou mesmo inexistente livro “O Suicídio e sua Prevenção”
no seu espaço de trabalho. Então, (2013).
quando o suicídio se torna fato de
membro da comunidade universitária, A responsabilidade pelos cursos
ele já não fazia falta. Daí o alerta de superiores por um serviço preventivo-
Fernando Pessoa: “[...] Ninguém faz terapêutico, parte do entendimento que
falta; não fazes falta a ninguém... Sem ti o suicídio é uma questão de saúde
correrá tudo sem ti [...] Descansa: pública e de educação.

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Referências http://www.espacoacademico.com.br/044/44eli
ma.htm
BERTOLOTE, José Manoel. O Suicídio e sua
prevenção. São Paulo: Unesp, 2013. MELEIRO, A.M.A.S. Suicídio entre médicos e
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http://oglobo.globo.com/saude/depressao-
42301998000200012&script=sci_arttext
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do-suicidio-7400897 O INFERNO DOS ADOLESCENTES
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contemporaneidade. Disponível em: suicida”. Edição 764, de 17/09/2013.
http://www.revispsi.uerj.br/v12n3/artigos/html/v http://www.observatoriodaimprensa.com.br/new
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FONTENELLE, Paula. Suicídio: o futuro ada_por_jovem_suicida
interrompido. São Paulo: Geração Editorial, SUICÍDIO DE UNIVERSITÁRIOS ALERTA
2008.
AUTORIDADES NA CHINA. UOL/
GRANDO, Carolina Pompeo. Observatório da 28/05/2007. Disponível em:
Imprensa. Edição 596 (2010). Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/05/28/
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s/view/o_suicidio_na_pauta_jornalistica TOLEDO, J. Dicionário de suicidas ilustres.
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Vozes, 1993. UENO, Kayoko. O suicídio é o maior produto
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sociedade do espetáculo. Disponível em: de suicídio no Japão. [Tradução de Eva Bueno].

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Jan/2005. Revista Espaço Acadêmico.
Disponível em: [3] BREVE CONSIDERAÇÃO: (A) O suicídio
http://www.espacoacademico.com.br/044/44eue é um fenômeno sociológico, psicológico,
no.htm psicanalítico, filosófico, religioso, cultural,
biológico, bioquímico, histórico, econômico,
estatístico, legal, observa Cassorla (1992).
Vários são os motivos que levam ao ato suicida:
político, amoroso, financeiro, sentimento de
culpa ou remorso, doença fatal, modo de
*
resgatar a honra, meio de expressar uma causa
RAYMUNDO DE LIMA é Mestre mítica ou religiosa, etc. Pode ser um gesto
em Psicologia (Psicologia Social) pela individual ou coletivo (geralmente inspirado por
Universidade Gama Filho e Doutor em uma seita religiosa), de livre-arbítrio ou
Educação pela Universidade de São Paulo. influenciado por um fanatismo, por um líder
Docente do Departamento de Fundamentos da carismático ou grupo em estado de transe. O
Educação, Universidade Estadual de Maringá pioneiro estudo de Émile Durkheim estabelece
(DFE/UEM). conexão entre elevadas taxas de suicídios e os
[1] É inevitável noticiar suicídios de famosos. laços sociais frouxos ou baixa integração do
Porém, “existe uma convenção profissional indivíduo com família, grupo, comunidade; é
extra-oficial, uma espécie de acordo entre mais elevado o número de suicídios entre
cavalheiros, que determina: suicídios não serão solteiros, viúvos, divorciados do que entre
noticiados pela grande imprensa [...]. Dos casados; também é elevado entre pessoas que
Manuais de Redação de jornais brasileiros o não tem filhos. (B) Outros estudos consideram
jornal carioca O Dia, é taxativo: "O Dia não como mais importante a “autorização” da
publica suicídios”. O Globo (1992: 87) cultura do que o sistema político (capitalismo,
recomenda evitar “noticiar suicídios de socialismo, fascismo). Por exemplo, o harakiri e
desconhecidos, exceto quando o fato tem o seppuku, no Japão, fazem parte de um antigo
aspectos fora do comum". A Folha de S. Paulo ritual suicida de extirpação das entranhas,
(1992: 111) diz sobre: "Não omita o suicídio portanto, o suicídio no Japão tem implicações
quando ele for a causa da morte de alguém." profundas com a tradição cultural ou moral
(apud GRANDO, 2010). samurai. Há quem considere o harakiri uma
[2] CURIOSIDADES: (a) Psicanalistas morte não voluntária (UENO, 2005). Mas, o
conhecidos que se mataram: Viktor Tausk, suicídio no Japão parece constituir uma
Wilhelm Stekel, Paul Federn, Eugenie tradição, que teria contribuído para forjar a ação
Sokolnicka, Sophie Morgenstern, Johann J. tática dos kamikazes japoneses, na 2ª. Guerra
Honegger (junguiano), Arminda Aberastury, Mundial, cujo ato de jogar o avião sobre os
Bruno Bettelheim; (b) Além do genro Paul navios norte-americanos era parte da estratégia
Lafargue, duas filhas de Karl Marx também se militarista, precária, mas ideologicamente
mataram: Laura Marx Lafargue e Eleanor Marx, considerado honroso e digno..Em tempos de
esta com com 42 anos, em 1898. paz, os suicídios no Japão de hoje são
OBSERVAÇÃO do professor Walter Praxedes, freqüentes; daí ser considerada a “nação do
do curso de Ciências Sociais da UEM: “O genro suicídio” [sic]. O interesse é demonstrado no
do Marx e sua esposa se consideravam idosos, elevado número de pesquisas, debates, e
cansados, provavelmente sem amparo, e políticas específicas de governo para prevenção
decidiram que não teria mais porque e tratamento. (Ler importante artigo da
continuarem vivos e sofrendo com os problemas professora-doutora em Sociologia, Kayoko
de saúde do envelhecimento [eles fixaram em UENO, da Universidade de Tokushima, Japão:
70 anos a duração de suas existências]. Portanto, http://www.espacoacademico.com.br/044/44eue
foi um ato consciente de ambos. Muito diferente no.htm. Desse modo, o suicídio na cultura
da motivação altruísta de um Sócrates e Walter japonesa sustenta um sentido diverso dos
Benjamim, ou motivado por crise de governo: demais suicídios que ocorre nas outras culturas.
Adolf Hitler, Getúlio Vargas, Salvador Allende; Existem especialistas que consideram a
(c). José Arruda Toledo, mais conhecido por J. diversidade dos suicídios: suicídio amoroso dos
Toledo, artista plástico, fotógrafo, cronista, jovens no mundo ocidental, suicídio político,
autor do Dicionário de Suicidas Ilustres, suicídio coletivo, suicida terrorista-suicida
também se suicidou em sua casa, no distrito fundamentalista islâmico.
de Sousas, em 2007. (Fonte: Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/J._Toledo).

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[4] Cf.:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/05/28/
ult1766u21935.jhtm
[5] O documentário “O inferno dos adolescentes
japoneses” (BBC-2004) mostra um pai cujo
filho se matou se queixando do rígido sistema
escolar japonês e do autoritarismo tradicional
dos professores.
[6] Frases que nunca devem ser ignoradas:
“Estou cansado de viver assim”, “Vocês ficarão
melhores sem mim”, “Não estou conseguindo
motivo para continuar vivendo neste mundo”.
Para analisar as mensagens dos suicidas,
consultar o estudo de Maria Luiza Dias
“Suicídio: testemunhos de adeus”, editora
Brasiliense, publicado em 1991.
[7] Rebecca Ann Sedwick, de 12 anos, sofria
bullying por parte de um grupo de 15
adolescentes que pediam que ela se matasse,
através de mensagens nas redes sociais
(ciberbullying) do tipo “Por que ainda está
viva?”, “Você é muito feia”, e “Você pode
morrer, por favor?” Ela começou a se cortar, por
isso a mãe teve que colocá-la em um hospital.
(Cf.: SUICICIO EM ADOLESCENTE/ 2013).
Outro caso “A adolescente Hannah foi
encontrada enforcada em sua casa, em
Leicestershire, depois de sofrer constantes
ataques em seu perfil no Ask.fm. As mensagens
enviadas repetidamente para ela continham
agressões como “morra”, “beba água sanitária”
e “tenha câncer” (Cf.: OBSERVATORIO DA
IMPRENSA/ Edição 759).

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