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No decorrer, em cada lugar, a todo instante, recolho algo

daquilo que vivo.


Enquanto isso, sobrecarregado, perco a pureza.
Minha visão é obstruída por muito, meus músculos cansados de
tanto,
a ponto de esquecer-me o belo que sempre há de se descobrir.
A cada acontecimento em perspectiva, possibilidades.
Meu velho corpo condicionado treme enfastiado ante a
obrigação de mais carga.
Meu velho corpo deveria exultar pela aventura do novo.
Somente possibilidades, no entanto, por enquanto:
Da morte, declarada nas lembranças ressentidas,
Da vida, no nascimento, do novo, da tabula rasa para o desfile da
esperança.
Para a concretude da vibração consoante a mim.
Há esse mundo que vai e aquele que ia.
E se vivo recolhendo, é o que semeio naquilo que vivo.
"Com tudo que se me apresenta, pergunto: o que faço com isso?
A quanto mais sou apresentado, mais “issos” se revelam, mais complexa
fica a resposta, menos sei o que fazer."

Sir. R. Castron
Talvez não queiramos projetos bem definidos.

Talvez não queiramos produtos.

Quem sabe não queiramos dar satisfação a ninguém, nem a nós


mesmos por não querermos tudo isso.

Talvez ainda não estejamos acostumados a caminhar nesse novo


mundo, de contornos difusos.

Falta familiaridade, há certo desconforto, insegurança.

Mundo de contornos difusos, sim.

Diferente do mundo dos objetos bem definidos com os quais têm sido
construída nossa representação de realidade.

Representação que parece não nos caber mais.

Aprendemos, como nossos antepassados, que o que existia era tudo


aquilo que nos mostravam estampado, para onde quer que
olhássemos.

Aquilo, cuja parte interna ao seu contorno chamamos por algum nome.

Aquilo que, para ser identificado, é separado do resto.

Objetos.

O meu mundo, como o seu, é o de dentro. O outro... só vai andando. E


tropeça na gente.
Jaculações Concretistas de Poesia Física-Metafísica

Conhecimento absoluto
Desintegração máxima
Cada partícula elementar
Microcosmo similar
Componente fractal
Desintegração maior fosse
Espiritual seria
Mas, de outro lado
Absoluto também
O absoluto é onde nada acontece
Tudo já é, inacontecível
Repositório das abstrações inflexíveis
Para lá então levadas
Por um senhor sombrio
Temente da impermanência
Tal que, se assim não fosse
Fantasmas portadores das intemporalidades
À consciência insurgiriam
Assumindo ao senhor
Suas vidas, seus caracteres
Que antes repisados
Derramariam-se a seus pés
Obrigando-lhe ao equilíbrio
Humano

Dança, senhor das sombras!

Sergio Teixeira dos Anjos


A delícia imaginada enquanto se sorve não é a delícia que se
sorve

É caminhar em dois mundos com um corpo só

É estar em cada mundo desaproveitadamente

Com toda percepção do intelecto

Imagino que o chão sobre o qual penso

É o mesmo chão sobre o qual piso

Mas percebo de fato um sentimento oblíquo

Pode não ser chão o que sinto

E sim, imagem que vagueia nos pensamentos

Imagem que corresponde com suficiência

Àquilo que toco e vejo

A ponto de não saber se existe chão

Ou se esse é a imagem e piso nela

Por não saber como existe o mundo

O mundo que imagino pode não ser o mundo

Mas é o mundo como imagino

Que certamente é outro


Como sou
Assim é também aquilo que me cerca
Concreto ou não
Há as essências permanentes
Constitutivas intemporais
E há as emanações
Transientes, passageiras
Essas tomadas em suas formas
São brinquedos, são sintomas
Vestem para a festa dos tempos
A alma assim como sou

Ruy Castro Filho

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