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Foucault inicia dizendo que o corpo não é o mesmo que uma utopia e ao
mesmo tempo o chama de "utopia" implacável. Afirma que as utopias foram
feitas contra o corpo. Para transfigurá-lo. Torná-lo belo, como num país das
fadas, num país mágico. Logo a seguir expõe também que há uma utopia feita
para apagar o corpo e a relaciona com o país dos mortos, como as múmias ou
até as pinturas e esculturas dos túmulos. Para ressaltar a utopia capaz de
apagar a triste topologia do corpo, cita o grande mito da alma. A alma é "meu
corpo liso, castrado, ar redondeado como uma bolha de sabão" (p. 9). Foucault diz que
a alma, os túmulos, os gênios e as fadas são utopias que podem fazer o corpo
desaparecer. Mas, ao mesmo tempo, o autor fala que o corpo não se deixa
reduzir tão facilmente, pois possui fontes próprias. O corpo utópico é
simultaneamente incompreensível, penetrável e opaco, aberto e fechado,
visível e invisível. Leve, transparente e imponderável. Evidencia ainda que para
que o corpo seja utopia, basta ser um corpo. No decorrer da obra. Foucault
reconhece que se enganou ao dizer que as utopias se voltavam contra o corpo
e tinham como objetivo apagá-lo. Para ele, as utopias nascem do próprio corpo
e talvez retornem contra ele. Certeza somente de que "o corpo humano é o ator
principal de todas as utopias" (2013: 12).
Das utopias dos gigantes, o autor passa para a reflexão sobreas máscaras, a
maquiagem e a tatuagem. Utopias que fazem o corpo se comunicar com
poderes secretos e forças invisíveis, passando de seu espaço próprio para um
espaço outro. Foucault diz ainda que tudo que se refere ao corpo, como a cor,
a tiara, a vestimenta, dentre outros elementos, faz nascer as utopias no corpo.
Além dessa reflexão sobre as coisas, Foucault também discorre sobre a
ligação do corpo com o restante do mundo. Após tecer uma relação intrínseca
entre corpo e mundo, Foucault elege o espelho e o cadáver como responsáveis
por nos ensinar que temos um corpo e que este ocupa um lugar. Graças a eles,
o corpo não é simplesmente utopia. Para o filósofo, o amor, assim como o
espelho e a morte, abranda a utopia do nosso corpo.
Para ele, as utopias nascem do próprio corpo e podem pagar contra ele. No
trecho
“Meu corpo, de fato, está sempre em outro lugar.
Está ligado a todos os outros lugares do mundo,
e, para dizer a verdade, está num outro lugar que é o além do mundo.
É em referência ao corpo que as coisas estão dispostas,
é em relação ao corpo que existe uma esquerda e uma direita,
um atrás e um na frente, um próximo e um distante.
O corpo está no centro do mundo, ali onde os caminhos e
os espaços se cruzam, o corpo não está em nenhuma parte:
o coração do mundo é esse pequeno núcleo utópico a partir do qual sonho,
falo, me expresso, imagino, percebo as coisas em seu lugar
e também as nego pelo poder indefinido das utopias que imagino.
O meu corpo é como a Cidade de Deus, não tem lugar,
mas é de lá que se irradiam todos os lugares possíveis,
reais ou utópicos”(FOUCAULT, 2012).
O corpo é feito e vai se organizando para limitar seus desejos, que faz com
que o ser humano se limite, guardando aquela liberdade, ou seja sua
liberdade, indo pelo decorrer da vida, levando o corpo a muito lugares, a
lugares nenhum, tentando se encontrar na alma do mundo, mas acabando se
enraiando em todos os lugares.
Foucault traz como uma utopia desgastada, como algo em que já não serve
mais, como algo em que ele realmente está preso, o que traz um reflexão
sobre “ eu estou condenada a esse corpo?” com o decorrer do texto lemos
como é que esse corpo é violado, explorado, arrumado, bagunçado e
desprezado. Na verdade quando pensamos, geralmente, esse corpo é passado
na sociedade e ela nos faz levar marcas, a vida nos faz ter cicatrizes, e esse
corpo é o que você vê no espelho, mas as vezes ele é bem mais que isso.
Esse corpo que responde, o corpo que se arruma de acordo com suas
vivências e momentos, guardando tudo e ao mesmo tempo mostrando tudo,
ele traz esse corpo que se mostra a sociedade e suas reações ao encontro
disso tudo.
“Talvez seria preciso dizer também que fazer
o amor é sentir seu corpo se fechar sobre si,
é finalmente existir fora de toda utopia,
com toda a sua densidade, entre as mãos do outro.
Sob os dedos do outro que te percorrem, todas
as partes invisíveis do teu corpo se põem a existir,
contra os lábios do outro os teus se tornam sensíveis,
diante de seus olhos semiabertos teu rosto
adquire uma certeza, há um olhar finalmente par
ver tuas pálpebras fechadas. Também o amor,
assim como o espelho e como a morte, acalma
a utopia do teu corpo, a cala, a acalma,
a fecha como numa caixa, a fecha e a sela.” (FOUCAULT, 2012)