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AULA 2

CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS
E ANÁLISES DE DESEMPENHO
ENERGÉTICO

Prof. Bruno Garcia


CONVERSA INICIAL

Esta aula vai demonstrar quais são os primeiros passos para obtenção da
certificação de um empreendimento sustentável, inserindo quais normas devem
ser obedecidas e quais os métodos mais eficazes para o sucesso da certificação.
Também apresentará selos nacionais e internacionais que corroboram com as
certificações, em especial o Leadership In Energy and Environmental Design
(Leed).
Por meio dos selos PBE Edifica ou Green-E, por exemplo, o edifício poderá
cumprir o pré-requisito da categoria de Energia e Atmosfera do Leed. Já o selo
FSC garantirá créditos na categoria Materiais e Recursos.

TEMA 1 – NORMA DE DESEMPENHO TÉRMICO

A certificação de um empreendimento com selo Leed, Aqua ou Breeam


deve respeitar normas municipais e estaduais, concomitantemente com as
Normas Brasileiras (NBR) elaboradas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
Há a NBR 15575, conhecida como a “Norma de Desempenho em
Edificações”, essencial para o entendimento dos padrões construtivos em
diferentes condicionantes climáticos no território brasileiro. Ela dispõe
informações de estabilidade estrutural, desempenho térmico, luminoso, acústico,
resistência contra fogo, projetos hidrossanitários e inclui questões referentes ao
impacto ambiental das construções.
A norma subdivide-se em partes:

1. Requisitos Gerais
2. Sistemas Estruturais
3. Sistemas de Pisos
4. Sistemas de Vedações Verticais: Internas e Externas
5. Sistemas de Coberturas
6. Sistemas Hidrossanitários

Dentro dos sistemas de vedações, a norma evidencia no tema de


“Desempenho Térmico” a adequação de paredes externas, isolamento térmico da
cobertura e aberturas para ventilação. Estes referem-se à informação de
transmitância térmica em W/m².K (capacidade de transferência de energia) de um

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determinado material que será utilizado no projeto, seja parede externa, interna
ou cobertura, isto é, quanto maior o valor de transmitância térmica de um conjunto,
maior será sua transferência de energia e menor isolamento térmico.

Figura 1 – Isolamento térmico

Crédito: Francesco Scatena/Shutterstock.

Esses dados influenciam diretrizes construtivas e estratégias de conforto


térmico para diferentes zonas climáticas do território brasileiro, organizadas
conforme médias mensais de temperatura máxima, mínima e umidade relativa.
Seguem elas:

 Zona climática 1 (8 °C a 26 °C de temperatura e 10 g/kg de umidade média).


Cidades: Caxias do Sul (RS), Bom Jesus (RS), São Francisco de Paula
(RS), Campos do Jordão (SP), Lages (SC), São Joaquim (SC) etc.
 Diretrizes: aberturas médias entre 15% e 25% de área de pisos para
ventilação e permitir o sol durante o período frio.
 Vedações externas: parede leve com transmitância térmica de 3,00
W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o inverno: aquecimento solar da edificação e inércia
térmica.
 Zona climática 2 (8 °C a 28 °C de temperatura e 12 g/kg de umidade média).
Cidades: Cruz Alta (RS), Teresópolis (RJ), Santa Maria (RS), Itapeva (SP),
Alegrete (RS), Bagé (RS), Ponta Grossa (PR) etc.
 Diretrizes: aberturas médias para ventilação e permitir o sol durante o
inverno.

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 Vedações externas: parede leve com transmitância térmica de 3,00
W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o verão: ventilação cruzada.
 Estratégias para o inverno: aquecimento solar da edificação e inércia
térmica.
 Zona climática 3 (14 °C a 28 °C de temperatura e 15 g/kg de umidade
média). Cidades: Ubatuba (SP), Tremembé (SP), Campinas (SP), Rezende
(RJ), Porto Alegre (RS), Paranaguá (PR), Viçosa (MG) etc.
 Diretrizes: aberturas médias para ventilação e permitir o sol durante o
inverno.
 Vedações externas: parede leve refletora com transmitância térmica de
3,60 W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o verão: ventilação cruzada.
 Estratégias para o inverno: aquecimento solar da edificação e inércia
térmica.
 Zona climática 4 (13 °C a 28 °C de temperatura e 14 g/kg de umidade
média). Cidades: Oliveira (MG), Pirapora (MG), Sete Lagoas (MG), Franca
(SP), Jau (SP), Viracopos (SP) etc.
 Diretrizes: aberturas médias para ventilação e sombrear aberturas.
 Vedações externas: parede pesada com transmitância térmica de 2,20
W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o verão: resfriamento evaporativo, massa térmica para
resfriamento, ventilação quando a temperatura interna seja superior à
externa.
 Estratégias para o inverno: aquecimento solar da edificação e inércia
térmica.
 Zona climática 5 (14° C a 28 °C de temperatura e 15 g/kg de umidade
média). Cidades: Santos (SP), Xerém (RJ), São Francisco do Sul (RJ),
Niterói (RJ), Teófilo Otoni (MG), Garanhuns (PE) etc.
 Diretrizes: aberturas médias para ventilação e sombrear as aberturas.

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 Vedações externas: parede leve refletora com transmitância térmica de
3,60 W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o verão: ventilação cruzada.
 Estratégias para o inverno: inércia térmica.
 Zona climática 6 (14° C a 32 °C de temperatura e 16 g/kg de umidade
média). Cidades: Montes Claros (MG), Coxim (MS), Campo Grande (MS),
Três Lagoas (MS), Meruri (MT), Barra do Rio Grande (BA), Catalão (GO)
etc.
 Diretrizes: aberturas médias para ventilação e sombrear as aberturas.
 Vedações externas: parede pesada com transmitância térmica de 2,20
W/m².K e cobertura leve isolada com transmitância térmica de 2,00
W/m².K.
 Estratégias para o verão: resfriamento evaporativa e ventilação seletiva.
 Estratégias para o inverno: inércia térmica.
 Zona climática 7 (19 °C a 36 °C de temperatura e 18 g/kg de umidade
média). Cidades: Barreiras (BA), Carolina (MA), Imperatriz (MA), Goiás
(GO), Floresta (PE), Bom Jesus do Piauí (PI) etc.
 Diretrizes: aberturas pequenas entre 10% e 15% de área de piso e
sombreá-las.
 Vedações externas: parede pesada com transmitância térmica de 2,20
W/m².K e cobertura pesada com transmitância térmica de 2,00 W/m².K.
 Estratégias para o verão: resfriamento evaporativo e ventilação seletiva.
 Zona climática 8 (23 °C a 33 °C de temperatura e 24 g/kg de umidade
média). Cidades: Corumbá (MS), Umbuzeiro (PE), João Pessoa (PB),
Fernando de Noronha (PE), Recife (PE) etc.
 Diretrizes: aberturas grandes acima de 40% da área do piso e
sombreadas.
 Vedações externas: parede leve refletora com transmitância térmica de
3,60 W/m².K e cobertura leve refletora com transmitância térmica de 2,30
W/m².K.
 Estratégias para o verão: ventilação cruzada permanente.

Esses dados citados anteriormente são usados como parâmetros para o


desenvolvimento e para a escolha dos materiais do projeto. São bases para as

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normas regulamentadoras do selo PBE Edifica, Programa Brasileiro de
Etiquetagem.
O PBE Edifica foi criado pelo Inmetro nos anos 1970, influenciado pela crise
do petróleo e pensado inicialmente para o setor automotivo e é responsável por
certificar a eficiência de produtos como fogões, geladeiras, condicionadores de ar,
veículos e as edificações.
A etiquetagem funciona para as edificações comerciais, públicas, de
serviços e residenciais, que compreende unidades habitacionais autônomas
(casas ou apartamentos), multifamiliares e áreas de uso comum.
Portanto, a certificação do PBE Edifica é um selo de conformidade que
atesta o atendimento dos requisitos de desempenho estabelecidos em normas ou
regulamentos técnicos.
O Regulamento Técnico da Qualidade para Nível de Eficiência Energética
em Edificações Residenciais (RTQ-R) é um manual que orienta para os
procedimentos corretos para a certificação, sendo divididos em níveis de A
(satisfeito) a E (insatisfeito).
Esse manual contém informações baseadas na NBR 15575 e NBR 15220
e priorizam analises do envoltório do edifício, isto é, parede e cobertura.
Cada conjunto de parede ou cobertura possui diversas camadas de
materiais, sendo cada uma delas com propriedades térmicas específicas. Existem
inúmeras configurações de paredes e coberturas, adiante segue uma lista
referenciada pela portaria n. 50 de 2013 do Inmetro:

 Parede simples (transmitância térmica de 2,78 W/m².K)


 Argamassa interna (2,5cm)
 Bloco de concreto (9 x 19 x 39 cm)
 Argamassa externa (2,5cm)
 Pintura externa

 Parede simples sem revestimento interno (transmitância térmica de 3,00


W/m².K)

 Bloco de concreto (9 x 19 x 39 cm)


 Argamassa externa (2,5 cm)

 Pintura simples sem revestimento interno (transmitância térmica de 3,00


W/m².K)

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 Bloco de concreto (9 x 19 x 39 cm)
 Argamassa externa (2,5 cm)
 Pintura externa

 Parede composta com placa de gesso interno (transmitância térmica de


1,74 W/m².K)

 Gesso interno (2,0 cm)


 Bloco cerâmico (14 x 19 x 29 cm)
 Argamassa externa (2,5 cm)
 Pintura externa

 Parede simples sem revestimento (transmitância térmica de 3,65 W/m².K)

 Tijolo maciço (10 x 6 x 22 cm)

 Parede composta com câmara de ar (transmitância térmica de 0,65


W/m².K)

 Argamassa interna (2,5 cm)


 Bloco cerâmico (9 x 14 x 24 cm)
 Argamassa externa (2,5 cm)
 Câmara de ar (>5,0 cm)
 Placa de alumínio composto

 Parede composta com poliestireno (transmitância térmica de 0,31 W/m².K)

 Argamassa interna (2,5 cm)


 Bloco cerâmico (9 x 14 x 24 cm)
 Argamassa externa (2,5 cm)
 Poliestireno (8 cm)
 Placa de alumínio composto
 Parede interna simples com lã de rocha (transmitância térmica de 0,45
W/m².K)
 Placa de gesso (1,25 cm)
 Lã de rocha (9 cm)
 Placa cimentícia (1,0 cm)
 Parede externa composta com duas camadas de tijolo e lã de rocha
(transmitância térmica de 0,63 W/m².K)
 Argamassa interna (2,5 cm)
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 Bloco cerâmico (9 x 14 x 24 cm)
 Lã de rocha (4cm)
 Bloco cerâmico (9 x 14 x 24 cm)
 Argamassa externa (2,5 cm)
 Cobertura simples sem telhado (transmitância térmica de 3,73 W/m².K)
 Laje maciça (10 cm)
 Cobertura com laje pré-moldada sem telhado (transmitância térmica de
2,95 W/m².K)
 Laje pré-moldada, concreto 4,0 cm + lajota cerâmica 7,0 cm +
argamassa 1,0 cm (12 cm)
 Cobertura com laje pré-moldada de poliestireno sem telhado (transmitância
térmica de 2,29 W/m².K)
 Laje pré-moldada, concreto 4,0 cm + poliestireno 7,0cm + argamassa
1,0 cm (12 cm)
 Cobertura com telhado e forro (transmitância térmica de 1,75 W/m².K)
 Forro PVC (1,0 cm)
 Câmara de ar (>5,0 cm)
 Telha cerâmica
 Cobertura com poliuretano (transmitância térmica de 0,55 W/m².K)
 Laje maciça (10 cm)
 Câmara de ar (>5,0 cm)
 Telha metálica trapezoidal ou ondulada (0,1 cm)
 Poliuretano (4,0 cm)
 Telha metálica trapezoidal ou ondulada (0,1 cm)
 Telhado verde extensivo (transmitância térmica de 2,18 W/m².K)
 Laje maciça (10 cm)
 Terra argilosa seca (10 cm)
 Vegetação
 Telhado verde intensivo (transmitância térmica de 0,96 W/m².K)
 Laje maciça (10 cm)
 Terra argilosa seca (40 cm)
 Vegetação

Lembrando que cada projeto há uma particularidade, isto é, não é


necessário que todas as faces da edificação possuam o mesmo material.

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Outro parâmetro importante para a escolha de materiais de um envoltório
é a “absortância”, ou seja, quanto de energia será absorvida em relação à
incidência solar incidente na superfície, geralmente é relacionado com a cor do
material. Adiante segue uma lista da NBR 15220 com escala de 0 (mais claro e
reflexivo) e 1,00 (escuro e menos reflexivo).

 Chapa de alumínio: 0,05


 Chapa de aço galvanizada: 0,25
 Concreto aparente: 0,65 a 0,80
 Telha de barro: 0,75 a 0,80
 Tijolo aparente: 0,65 a 0,80
 Reboco claro: 0,30 a 0,50
 Revestimento asfáltico: 0,85 a 0,98
 Vidro incolor: 0,06 a 0,25
 Vidro colorido: 0,40 a 0,80
 Pintura branca: 0,20
 Pintura amarela: 0,30
 Pintura verde clara: 0,40
 Pintura vermelha: 0,74
 Pintura preta: 0,97

Para o cálculo de eficiência térmica, a norma RTQ-R do PBE Edifica propõe


que sejam seguidos os parâmetros de absortância solar, transmitância térmica e
zona bioclimática da NBR 15575 e NBR 15220. Então, sugere-se que sejam
seguidos os pré-requisitos a seguir para a certificação.

Tabela 1 – Pré-requisitos

Zona Bioclimática Componente Absortância Transmitância


1e2 Parede Sem exigência < 2,50
Cobertura Sem exigência <2,30
3a6 Parede <0,60 <3,70
>0,60 <2,50
Cobertura <0,60 <2,30
>0,60 <1,50
7 Parede <0,60 <3,70
>0,60 <2,50
Cobertura <0,40 <2,30
>0,40 <1,50
8 Parede <0,60 <3,70
>0,60 <2,50

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Cobertura <0,40 <2,30
>0,40 <1,50

Ao analisar essas informações, é possível obter premissas de projeto.


Podemos concluir, por exemplo, que na cidade de Santos (SP), Zona climática 5,
um projeto de uma casa com dormitório de 20 m², sala de 20 m², cozinha de
15 m² e banheiro de 4 m² as aberturas médias (15% a 25% da área de piso) para
ventilação devem ser respectivamente 3 m², 3 m² (adotando 15%), 3,75 m² e 1 m²
(adotando 25%).
Podemos, então, escolher 3 janelas de 1,00 x 1,00 para sala, 2 janelas de
1,50 x 1,50 para o dormitório, 2 janelas de 2,00 x 1,00 para a cozinha e 1,00 x
1,00 para o banheiro.
Para as vedações externas, uma parede com pintura branca composta com
placa de gesso interno com transmitância térmica de 1,74 W/m².K e absortância
de 0,20 atende à norma.

1.1 IPTU verde – benefícios legais

Como descrito anteriormente, os sistemas certificadores devem respeitar


as leis municipais, estaduais e federais no que tange ao uso do solo, respeito de
áreas de preservação ambiental, uso do espaço aéreo etc.
A Lei n. 10.257, conhecida como Estatuto da Cidade, atribui ao município
a função de ordenar o pleno desenvolvimento da cidade, controlar a utilização do
solo, evitar instalações de empreendimentos ou atividades que gerem trafego
intenso sem previsão de infraestrutura adequada, planejar o crescimento de
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, como também
prever estudos de impacto ambiental (EIA) e estudos de impacto de vizinhança
(EIV).
Os prédios sustentáveis tendem a seguir rigorosamente essas leis, de tal
maneira que prefeituras incentivam e gratificam essas construções por meio de
redução de taxas ou liberação de potencial construtivo para o cumprimento de
ações que contribuem com o meio ambiente, denominado IPTU Verde.
O IPTU Verde é uma proposta que vêm sendo adotada em diferentes
cidades do Brasil. Em São Paulo, essa medida teve embasamento inicial em 2014
no art. 195 do Plano Diretor Estratégico Municipal e após ratificado no Projeto de
Lei 568/2015, prevendo descontos de 4%, 8% e 12% para edificações residenciais

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e comerciais que adotarem certificações sustentáveis, dentre elas o selo
Leadership in Energy and Environmental Design (Leed).
O método para a obtenção desses descontos é comprovar as medidas
eficientes adotadas na construção impondo que as certificações “estrangeiras”
adotassem requisitos mínimos de eficiência perante o Programa Brasileiro de
Etiquetagem, o PBE Edifica.
Na cidade de Guarulhos (SP), por exemplo, os descontos fiscais são
previstos na Lei 6.793/2011 e dispõe dos seguintes critérios.

 Acessibilidade: adaptar a calçada para trânsito livre e seguro de pedestres


e usuários de cadeira de rodas, mantendo de 1 a 1,5 metros para
circulação. Desconto de até 5% no valor do IPTU.
 Arborização: imóveis com árvores nativas. Desconto de até 2% no valor
anual do IPTU.
 Áreas permeáveis: prédios com jardins ou gramados que permitam a
absorção das águas das chuvas. Desconto de 2%.
 Sistema de captação de água de chuva. Desconto de 3%.
 Sistema de reuso de água. Desconto de 3%.
 Sistema de aquecimento hidráulico solar: Desconto de 3%.
 Construções com materiais sustentáveis: Desconto de 3%.
 Utilização de energia passiva: 3% de desconto.
 Utilização de energia eólica: 5% de desconto.
 Telhado verde: 3% de desconto.
 Separação de resíduos sólidos: 5% de desconto.

Esses benefícios garantem ao proprietário do imóvel os descontos durante


os primeiros cinco anos de funcionamento.
Outro município que adotou o IPTU Verde é a cidade de Goiânia por
intermédio da Lei complementar n. 235/2012, com objetivo de fomentar ações que
promovam o ideário de uma cidade sustentável. Os benefícios tributários são
concedidos durante o período de cinco anos consecutivos e não podem exceder
20% de desconto total do valor do imóvel, por meio das seguintes ações.

 Captação e reutilização de águas pluviais: 3,0% (três por cento).


 Sistema de aquecimento hidráulico solar: 2,0% (dois por cento).
 Sistema de aquecimento elétrico solar: 2,0% (dois por cento).
 Construção de calçadas ecológicas: 3,0% (três por cento).
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 Arborização no calçamento: 3,0% (três por cento).
 Permeabilidade do solo com cobertura vegetal: 2,0% (dois por cento).
 Participação da coleta seletiva de resíduos sólidos em condomínios: 3,0%
(três por cento).
 Construções com material sustentável: 3,0% (três por cento).
 Instalação de telhado verde: 3,0% (três por cento).
 Sistema de utilização de energia eólica: 3,0% (três por cento).

Na cidade de Curitiba (PR), o desconto do IPTU ocorre para edificações ou


condomínios que preservem as matas nativas no terreno, oferecendo descontos
de até 50% para os moradores.

1.2 Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)

Existe um selo nacional chamado “Programa Brasileiro da Qualidade e


Produtividade do Habitat (PBQP-H)”, criado pelo governo federal com objetivo de
organizar o setor da construção civil, em torno da melhoria das construções
habitacionais e avanços referentes à modernização construtiva, por meio da
qualificação de agentes envolvidos como construtoras, mãos de obra,
fornecedores de materiais e serviços.
Neste, as empresas do setor devem se adequar e comprovar padrões de
qualidade para participar dos incentivos criados pelo governo federal, por
exemplo, o programa “Minha Casa Minha Vida”, na qual facilita a obtenção de
crédito financiado pelo Banco Caixa Federal e Banco do Brasil, se respeitadas as
normas da certificação.
Além do mais, as empresas certificadas podem participar de licitações
municipais e/ou estaduais e obter empréstimos do Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDES).
Os objetivos específicos do PBQP-H são:

 universalizar o acesso à moradia, ampliando o estoque de moradias e


melhorando as existentes;
 fomentar o desenvolvimento e a implantação de instrumentos e
mecanismos de garantia da qualidade de projetos e obras;
 fomentar a garantia da qualidade de materiais, componentes e sistemas
construtivos;
 estimular o inter-relacionamento entre agentes do setor;

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 combater a não conformidade técnica intencional de materiais,
componentes e sistemas construtivos;
 estruturar e animar a criação de programas específicos visando à formação
e requalificação de mão de obra em todos os níveis;
 promover o aperfeiçoamento da estrutura de elaboração e difusão de
normas técnicas, códigos de práticas e códigos de edificações;
 coletar e disponibilizar informações do setor e do programa;
 apoiar a introdução de inovações tecnológicas;
 promover a melhoria da qualidade de gestão nas diversas formas de
projetos e obras habitacionais;
 promover a articulação internacional com ênfase no Cone Sul.

TEMA 2 – EVOLUÇÃO DOS SELOS

Existem inúmeros tipos de selos que oferecem credibilidade a produtos ou


serviços. Estes podem ser de origem privada, estatal, de organizações não
governamentais ou até mesmo de associações empresariais. Além disso, há
também selos de qualidade que são aplicados durante o funcionamento interno
de uma empresa, podendo ser em forma de premiação do colaborador ou cliente.
Um exemplo disso é a premiação do “funcionário do mês” ao trabalhador que
cumpriu com excelência as metas estabelecidas pela empresa.
Os primeiros registros referentes à preocupação quanto à manutenção do
meio ambiente e a saúde global foram descritos na década de 1940. Porém,
somente no final da década de 1970 surgiram os primeiros selos verdes advindos
da pressão dos movimentos ambientalistas.
A Alemanha foi a pioneira em selos ambientais em 1978 e até hoje é
referência em pesquisas referentes ao conforto ambiental. O primeiro programa
de rotulagem ambiental apresentado pelo governo alemão foi intitulado “Anjo Azul”
(Blaue Engel), o qual contribui para o reconhecimento de produtos com baixo nível
de contaminação e oriundos de reciclagem.
Os Estados Unidos, por sua vez, possuem, desde 1989, o “Selo Verde”
(Green Seal), precursor no desenvolvimento de muitos outros rótulos ambientais
como o Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) e o Aqua, High
Quality Environmental. Tal selo serviu como um parâmetro inicial na criação de
critérios de pontuação dentro do sistema de certificações ambientais. Além disso,
o Green Seal promove o desenvolvimento de produtos sustentáveis, produzidos
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e manufaturados por companhias e indústrias, por intermédio de um sistema
chamado “Compra Ambientalmente Preferível” (Environmentally Preferable
Purchasing), incentivando que o governo e instituições optem pela utilização
desses produtos em escolas, residências e áreas comerciais.
A Figura 2 a seguir demonstra de forma ilustrativa como funciona o
emprego dos selos em produtos que se destacam por serem saudáveis.

Figura 2 – Figura Ilustrativa do emprego dos selos "saudáveis"

Crédito: LFor/Shutterstock.

Já a União Europeia tem o selo chamado Ecolabel (Figura 3), criado em


1992 para premiar e destacar padrões produtivos rigorosamente sustentáveis por
meio de um conceito de “ciclo de vida”, na qual acompanha desde o material cru,
extração, produção e distribuição até o descarte final do produto. No entanto, o
material deve ser altamente durável, fácil de reparar e reciclável.
Além disso, a Ecolabel promove a economia circular, encorajando
produtores para gerar cada vez menos lixo e menor emissão de CO² durante a
manufatura de seus produtos.

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Figura 3 – Selo Ecolabel

Crédito: IMAG3S/Shutterstock.

No Brasil, a aparição de selos verdes ocorreu nos anos 2000, com cerca
de 20 certificações somente na área da agricultura orgânica. Em outras áreas,
houve importantes avanços, como o surgimento do “Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica (Procel) ”, do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), etiquetando aparelhos
eletrodomésticos e disponibilizando informações sobre sua faixa de consumo de
energia.
Outro importante selo, instalado no Brasil, é o “Conselho de Manejo
Ambiental” (Forest Stewardship Council), conhecido como FSC, o maior
certificador de manejo florestal do mundo, que será discutido posteriormente nesta
aula.

Figura 4 – Etiquetagem Procel

Crédito: Andrey_Popov/Shutterstock.

TEMA 3 – LEAN CONSTRUCTION

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O termo, em inglês, lean construction, ou “construção enxuta”, é um método
eficaz de construir ao mesmo tempo que se preocupa com prazos, orçamentos,
produtividade dos colaboradores envolvidos e qualidade no produto final. Desse
modo, é um método que auxiliará para a comprovação de uma obra limpa, o que
também é priorizado pelas certificações sustentáveis, que prezam por práticas
organizacionais no decorrer da construção como planejamento do canteiro de
obra, uso da água para limpeza, reutilização de resíduos, redução de poeira, uso
de equipamentos de segurança, saída e entrada de terra e contaminação do
terreno.
Por exemplo, um profissional de obra pode realizar dentro do seu espaço
diferentes ações como modelar o cimento, transportar no carrinho e jogar na laje,
ao invés de se contratar um profissional para cada atividade específica. Ou seja,
um profissional pode ser mais produtivo dentro do seu espaço em um tempo
programado do que três ao mesmo tempo em períodos ociosos. Desse modo, os
profissionais são relocados para setores que podem adiantar a obra ou programar
menores expedientes para cada funcionário.
Portanto, este não é um selo ou certificação, mas um método sustentado
pelos pilares da qualidade e otimização do esforço envolvido.
Esse método baseia-se na antecipação da resolução de problemas que
poderiam acontecer durante a execução da obra.
Procura consertar problemas recorrentes como retrabalho, equipes
ociosas, funcionários sobrecarregados, variabilidade indesejada ou desvios
ligados à mão de obra, materiais, máquinas e métodos.
Aplicam-se então correções como gerenciamento semanal e padronização
de trabalho para promover bases para futuras melhorias.
Figura 5 – Lean construction

Crédito: Ilkercelik/Shutterstock.

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TEMA 4 – NET ZERO – O FUTURO

Projetos tecnológicos com autonomia energética são conhecidos como


edifícios “Net Zero Energy”, responsáveis por zerar o consumo de energia da rede
pública, além de gerar energia para si e/ou para a venda.
Um exemplo disso é o prédio chamado EcoBussiness, situado na cidade
de Curitiba e premiado como edifício Net Zero Water. O prédio é certificado “Leed
Platinum”, que representa o maior nível de certificação Leed. Este não utiliza água
da rede pública, pois conta com um ciclo fechado de uso de água potável, cinza e
negra.
Além disso, quando os prédios ou casas autossuficientes produzem mais
energia do que gastam, abre-se a disponibilidade para a venda, conhecida como
crédito energético. Entretanto, embora no Brasil a venda de energia para a rede
pública não seja implementada, o crédito energético pode ser utilizado para
compensar gastos de energia elétrica em contas do mesmo titular.
Existem dois modos de energia sustentável, o “on-site” (“dentro do
terreno”), em que o proprietário do imóvel pode colocar painéis fotovoltaicos ou
turbinas eólicas dentro do seu terreno para geração de energia, e o modo “off-site”
(“fora do terreno”), por meio da certificação Green-E, que será detalhada mais
adiante. Em ambos os casos, as edificações devem ser projetadas com foco na
eficiência, com profissionais capazes de entender sobre arquitetura bioclimática e
tecnologia aplicada à construção.
Vale lembrar que, antes mesmo de adquirir painéis fotovoltaicos para a
redução do gasto com energia, deve-se primeiro pensar em um projeto eficiente
de iluminação e climatização, pois não é sustentável ou eficiente implantar esse
sistema para usos abusivos ou para fins estéticos.
As estratégias utilizadas pelo Net Zero Energy começam desde a
orientação adequada das aberturas, facilitando o uso da ventilação e iluminação
natural – com controle automático inteligente de persianas e/ou janelas – até a
escolha de materiais com alta inércia térmica que permitem abrandar os picos
diários de temperatura e garantir maior conforto térmico no interior da edificação.

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Figura 6 – Demonstração de diferentes fontes de energia alternativa on-site

Crédito: Adazhiy Dmytro/Shutterstock.

Existem inúmeros métodos de aproveitamento eficiente de energia on-site.


Entre eles, estão a utilização de turbinas eólicas, painéis fotovoltaicos,
aquecedores solares, sistema de aquecimento do piso e troca eficiente de
temperatura, condicionamento de ar, aproveitamento de água da chuva, vidros
com baixa emissão de calor, entre outros, conforme revela a Figura 6 anterior.

TEMA 5 – SELO DE ENERGIA – GREEN-E

A Green-e é um selo reconhecido na certificação de energia limpa e


compensação de carbono. Seu papel é facilitar a compra de energia limpa para
indivíduos e empresas, além de promover o consumo de produtos e serviços
ambientalmente corretos. Dessa forma, esse selo constitui um programa de
proteção ao consumidor projetado para fornecer aos compradores de energia
renovável garantia da qualidade e boas informações sobre o produto.
Além disso, existe a certificação de energia renovável (REC), que permite
que consumidores de eletricidade optem pela utilização de fontes renováveis de
energia. Cada REC equivale a 1.000 quilowatts hora de energia limpa injetada no
sistema elétrico renovável. Dessa forma, essa energia se torna um commodity
comercializável e pode ser vendido ou adquirido em forma de REC na mesma
quantidade da energia consumida. Além disso, a utilização de RECs fornece
rastreabilidade e comprova a origem renovável da energia utilizada.

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A grande vantagem de comprar um REC é contribuir para a redução das
emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, indicando responsabilidade
socioambiental e agregando valor ao serviço ou ao projeto, obter benefícios
ambientais como créditos de carbono, incentivando a produção de energia nova
e limpa.
As certificações sustentáveis como Leed e Aqua consideram como
requisito ou crédito de bonificação a utilização ou produção de energias
renováveis, que pode ser comprovada por meio dos RECs.

5.1 Selo de material: FSC

Diante da conferência ECO-92, representantes empresariais, grupos


sociais e organizações ambientais interessados no manejo florestal ecoeficiente
reuniram-se para criar o selo “Forest Stewardship Council (FSC)”.
Seu principal objetivo é a divulgação dos males causados pelo
desmatamento florestal ilegal e a promoção de produtos advindos de madeira
ambientalmente correta e legalizada.
No Brasil, apenas em 2001, o FSC formalizou-se como Conselho Brasileiro
de Manejo Florestal, direcionando seus trabalhos para os riscos do desmatamento
da Floresta Amazônica.
Vale lembrar que vários produtos têm na madeira sua matéria-prima, como
a celulose, o papel, a madeira para a construção civil, para a produção de resinas,
óleos para o setor de cosméticos, produtos de limpeza, entre outros.
Os valores e práticas do selo FSC, citados no documento nomeado Plano
Estratégico Global de 2015 a 2020, são:

 Abraçar a Diversidade – O FSC cria um ambiente de inclusão, tolerância,


justiça e confiança mútua. Isso inclui um reconhecimento de que todos os
povos do mundo vivem sob uma variedade de culturas e paradigmas
relacionados ao manejo florestal e todos merecem compreensão e
inclusão;
 Conservar a Natureza – O FSC garante que nossas atividades sirvam para
proteger e restaurar processos de uma forma holística, mantendo e
melhorando as funções ecológicas e a capacidade produtiva dos
ecossistemas.

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 Capacitar as Pessoas – O FSC promove a participação equitativa na
tomada de decisões e empoderamento dos trabalhadores, povos
indígenas, comunidades, pequenos agricultores, mulheres e outros grupos
sub-representados.
 Buscar excelência – O FSC lidera pelo exemplo, cultivando uma cultura
organizacional melhoria contínua, inovação e eficiência.
 Demonstrar Impacto – O FSC monitora e comunica como nosso trabalho
resulta em resultados positivos no terreno em relação aos nossos objetivos.
 Promover Florestas – O FSC educa e inspira as pessoas a compreenderem
dependência das florestas e aumentar sua motivação para realizar ações
positivas que levem à mudança significativa.
 Credibilidade da Embody – O FSC implementa métodos confiáveis e
transparentes de validação de práticas responsáveis, impulsionadas pela
integridade que é a essência da nossa promessa.
 Uso Sustentável – O FSC promove o uso responsável de florestas,
produtos florestais e serviços ecossistêmicos baseados na melhoria
contínua e na melhor ciência disponível, levando a sociedade em direção
ao objetivo da sustentabilidade florestal.
 Ultrapassar as Normas – O FSC fornece soluções que vão além do estado
das coisas e das condições de base políticas nas florestas, na indústria
florestal e no mercado de produtos florestais.

Figura 7 – Demonstração figurativa do uso de madeira

Crédito: MoiraFF/Shutterstock.

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REFERÊNCIAS

BUSTOS ROMERO, M. A. Arquitetura Bioclimática do Espaço Urbano. 3. ed.


Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007.

CAMPANHOL, E. M.; ANDRADE, P. de.; ALVES, M. C. M. Rotulagem ambiental:


barreira ou oportunidade estratégica? Revista eletrônica de administração –
FACEF, v. 2, n. 3, jul./dez. 2003.

FSC-STD-BRA-01-2010. Evaluation standard for Community Forestry


Management and Smallscale Producers in Brazil.

GUÉRON, A. L. Rotulagem e certificação ambiental: uma base para subsidiar a


análise da certificação florestal no Brasil. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

GREEN-E. Disponível em: <www.green-e.org>. Acesso em: 28 nov. 2019.

HEYWOOD, H. 101 Regras básicas para edificações e cidades sustentáveis.


São Paulo: GG, 2017.

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