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A importância da

Enfermagem nos Cuidados


Paliativos

Daniel Espirito Santo da Silva


Cursando Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial pela EEAAC - UFF (2019)

Residência em Enfermagem Oncológica pela EEAP - UNIRIO (2019)

Especialização em Enfermagem Gerontológica pela EEAAC - UFF (2019)

Enfermeiro graduado pela EEAN - UFRJ (2016)


Dame Cicely Saunders
Pode-se dizer a matriarca do movimento Hospice moderno, Dama Cicely Saunders nasceu em
22 de Junho de 1918 em Barnet, Hertfordshire, Inglaterra. Tendo se graduado como enfermeira,
assistente social e médica.

Ela planejou por anos e em 1963, já com um plano estabelecido, começou a arrecadar fundos
para a construção do St Christopher's Hospice, com a proposta de ser o primeiro centro de
pesquisas e aprendizado sobre controle de dor e outros sintomas, cuidados, ensino e pesquisas
clinicas. Em 1967 o St Christopher's Hospice é aberto sendo pioneiro na área de cuidados
paliativos.

Reconhecendo que ainda mais pesquisas sobre o tema se faziam necessárias, em 2002, quase
com 80 anos, Cicely Saunders se torna a fundadora da Fundação Cicely Saunders localizada em
King's College em Londres, trata-se da primeira instituição no mundo com a proposta de reunir
pesquisadores, cuidadores e profissionais da área da saúde todos no mesmo local para um
ambiente realmente multiprofissional.

Cicely Saunders faleceu em 14 de Julho de 2005 no St Christopher's Hospice, tendo sido uma
figura central no que são os cuidados paliativos no mundo hoje, desenvolveu diversos conceitos
durante sua vida (Dor total sendo um deles), tendo sido condecorada com diversos títulos ao longo
de sua vida, dentre eles o título de Dama tanto pelo Papa, quanto pelo império Britânico, além de
receber a Ordem ao mérito pela Rainha em 1989.
O que são Cuidados Paliativos?
“Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe
multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus
familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio
do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e
demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.”(1)
O que é sofrimento?

“Sofrimento é o espaço entre suas


expectativas e realidades.”

Processos de luto.
Bj Miller, Médico Paliativista
“Morremos um pouco a cada dia. De fato, a cada dia, uma parte da
vida se perde. Então, também, enquanto crescemos, a vida decresce.
Perdemos a infância, em seguida, a puerícia, em seguida, a adolescência.

Todo o tempo que passou até o dia de ontem está extinto. Este dia
mesmo que estamos vivendo, o dividimos com a morte. Do mesmo
modo que não é a última gota que esvazia a clepsidra, mas tudo o que
escorreu antes, também a hora derradeira, na qual deixamos de existir,
não constitui sozinha a morte, mas ela sozinha a consuma. Chegamos,
então, até ela, mas demoramos a chegar.(..)

A morte que vem a nós não é única,


Porém, essa que nos leva é a última. (...)

Sêneca. Edificar-se para a morte . Editora Vozes. Edição do Kindle.


RESOLUÇÃO Nº 41, DE 31 DE OUTUBRO DE 2018 (1)

Dispõe sobre as diretrizes para a organização dos


cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados
integrados, no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 1º Dispor sobre as diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados
integrados, no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 2º Cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a
melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio
da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais
sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.

(...)

Art. 5º Os cuidados paliativos deverão ser ofertados em qualquer ponto da rede de atenção à saúde, (...)
“Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe
multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus
familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio
do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e
demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.”

• Proporciona alívio da dor e outros sintomas angustiantes;


• Afirma a vida e considera a morte um processo normal;
• Não pretende apressar ou adiar a morte;
• Integra os aspectos psicológicos e espirituais do atendimento ao paciente;
• Oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver o mais ativamente possível até morte;
• Oferece um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente e em seu próprio luto;
• Usa uma abordagem de equipe para atender às necessidades dos pacientes e de suas famílias, incluindo
aconselhamento de luto, se indicado;
• Aumentará a qualidade de vida e também pode influenciar positivamente o curso de doença;
• É aplicável no início do curso da doença, em conjunto com outras terapias que se destinam a prolongar a vida,
como quimioterapia ou radiação terapia e inclui as investigações necessárias para melhor compreender e
gerenciar complicações clínicas angustiantes.
“Não pretende apressar ou adiar a morte”
Eutanásia – Palavra de origem grega que significa “boa morte” (eu = boa e
thanatos = morte). É o equivalente a terminar a vida de alguém que sofre
demais ou está condenado a morte progressiva. É uma prática ética e
legalmente ilegal pela legislação brasileira. Além de ir contra os conceitos dos
Cuidados Paliativos.
Mistanásia – Termo pouco utilizado que representa a morte miserável, antes
da hora, também conhecida como eutanásia social. Quando uma morte
ocorre por omissão de socorro, erro, negligência, imprudência e imperícia,
dificuldade de acesso a tratamento entre outros, pode-se considerar
mistanásia.
Distanásia – Palavra de origem grega onde "Dis" significa afastamento e
tanásia, de "thanatos", significando morte. Distanásia pode ser traduzida
então para um "afastamento da morte"
Entende-se por distanásia uma ação, intervenção ou procedimento
que não tenha como objetivo final beneficiar a pessoa em fase terminal e
sim prolongar inutil e sofridamente o processo do morrer, procurando
distanciar a morte e reduzindo a qualidade de vida da pessoa.
“Não pretende apressar ou adiar a morte”
Ortotanásia – Palavra de origem grega que pode ser traduzida
como morte correta (Ortho = Correta, Thanatos = Morte)

É um conceito que vai contra o prolongamento da vida em


detrimento da qualidade de vida (que seria a distanásia), assim
como também é contrária a interrupção da vida (que seria a
eutanásia).

Trata-se do entendimento da morte como um processo natural,


que não deve ser adiantado ou atrasado, ocorrendo em seu
momento correto. Visa a morte digna.
“Não pretende apressar ou adiar a morte”
Kalotanásia – Palavra também de origem grega que pode ser
traduzida como morte bela, ou boa morte (Kalós = boa, bela;
thánatos = morte). Trata-se não apenas da morte no momento
correto (ortotanásia), mas também da aceitação e
entendimento total por parte não apenas do paciente, mas de
seus familiares e pessoas próximas.

A kalotanásia agrega aspectos culturais e estéticos à morte


correta, enfatizando a participação ativa de quem está
morrendo com a distribuição dos bens, presença dos familiares
no momento da morte, cenas de despedida, entre outros
valores importantes para garantir uma boa morte na concepção
do paciente.

👉É intimamente ligada a cultura do indivíduo e como esta


encara a morte.
Não
Sim
Milstein J. A paradigm of integrative care: Healing with
curing throughout life, “being with” and “doing to”.

Vamos falar de Cuidados Paliativos, SBGG-ANCP, 2014


Barrioso PDC. Cuidados Paliativos e Enfermagem: Guia para abordagem inicial. PEBMED.
Enfermagem em Cuidados Paliativos.
O entendimento de que morte é uma derrota, tão comum na área da saúde
atualmente, acaba causando sofrimento a todos os envolvidos na situação, sejam seus
cônjuges, familiares e a própria equipe multidisciplinar.
Isto pode ser minimizado caso o profissional tenha tido em sua prática formativa
discussões sobre o conceito de terminalidade.(6)
Neste cenário o profissional de enfermagem se encontra exposto pois ainda que não
possua muitas vezes o preparo para lidar com a terminalidade do outro(7) ele ainda
possui mais tempo próximo do paciente, o que gera um maior vínculo entre o
profissional e determinados pacientes e seus familiares(8).
Esta falta de preparo muitas vezes se traduz em sofrimento pelo profissional de
enfermagem, que percebe intervenções desnecessárias por outros membros da
equipe(10) mas muitas vezes não está instrumentalizado para advogar pelo paciente.
O desconforto de lidar com a terminalidade também causa com que os diálogos com
os pacientes e seus familiares ocorram no nível de amenidades(9) tornando o vínculo
principalmente afetivo e não potencializador das intervenções da enfermagem.
Escala de Performance Paliativa
(PPS)

Saúde M da. Cuidados Paliativos [Internet]. Vol. 1, Fundação Oswaldo Cruz & Centro de Telessaúde HC-UFMG &
Centro Universitário Newton Paiva. 2017. Available at: https://www.telessaude.hc.ufmg.br/wp-
content/uploads/2016/07/CUIDADOS-PALIATIVOS_LIVRO.pdf
NECPAL-BR
Escala de Edmonton
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Melhor
sensação
Sem Sem Sem Sem Sem Muito bom Sem falta Outro
Sem dor de bem-
cansaço náusea depressão ansiedade sonolência apetite de ar problema
estar
possível
10
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Melhor
sensação
Sem Sem Sem Sem Sem Muito bom Sem falta Outro
Sem dor de bem-
cansaço náusea depressão ansiedade sonolência apetite de ar problema
estar
possível
Atuações da Enfermagem
Enfermeiro Navegador(15)
• Coordenar o cuidado;
• Comunicar, educar, orientar;
• Influenciar resultados positivos ao paciente e serviço de saúde;
• Comunicação assertiva;
• Conhecimento dos serviços disponíveis;
• Conhecer os processos administrativos e operacionais;
• Mapear processos (identificar barreiras);
• Implementar planos de ação para melhorias;
Atuações da Enfermagem
• Controle da dor

DOR TOTAL
Atuações da Enfermagem
• Controle da dor

• Domínio da técnica de Hipodermóclise

• Domínio de curativos nas lesões (tumorais ou não)

• Técnicas de comunicação terapêutica (Inclusive

comunicação de más notícias)


Atuações da Enfermagem
• Controle da dor

• Domínio da técnica de Hipodermóclise

• Domínio de curativos nas lesões (tumorais ou não)

• Técnicas de comunicação terapêutica (Inclusive

comunicação de más notícias)

• Cuidados espirituais

• Manutenção da higiene

• Trabalho junto às famílias e comunicação com a equipe

multidisciplinar
O que esperar no final de vida
Anorexia e nenhuma ingestão de líquidos

• Sonda não aumentou sobrevida


• Não diminuiu pneumonia aspirativa
• Não melhorou cicatrização feridas
• Não aumentou peso ou status funcional
O que esperar no final de vida
Anorexia e nenhuma ingestão de líquidos

• Sonda aumentou 1,44 vezes morte precoce

• Suporte nutricional não beneficia


doente
• Aumenta sofrimento
• Apressa morte
O que esperar no final de vida
Anorexia e nenhuma ingestão de líquidos
Imobilidade
Alteração cognitiva e sonolência e/ou delirium
Mioclonus
Dor
Colapso periférico, falências funcionais
Ronco final (Sororoca)
https://www.instagram.com/p/BeCAkE1Dcpo/?utm_source=ig
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Referências
https://cicelysaundersinternational.org/dame-cicely-saunders/dame-cicely
http://www.stchristophers.org.uk/about/damecicelysaunders

Sêneca. Edificar-se para a morte . Editora Vozes. Edição do Kindle.

1. Comissão Intergestores Tripartite. Resolução No 41, De 31 De Outubro De 2018. Diário Of da União [Internet]. 2018;seção 1(225):276. Available at: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/novembro/23/RESOLUCAO-N41.pdf

2. World Health Organization. Definition of Palliative Care [Internet]. 2002 [citado 1 de dezembro de 2019]. Available at: https://www.who.int/cancer/palliative/definition/en/

3. SBGG-ANCP. Vamos falar de Cuidados Paliativos [Internet]. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 2014. 24 p. Available at: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2014/11/vamos-falar-de-cuidados-paliativos-vers--o-online.pdf

4. Milstein J. A paradigm of integrative care: Healing with curing throughout life, “being with” and “doing to”. J Perinatol. 2005;25(9):563–8.

5. Barrioso PDC. Cuidados Paliativos e Enfermagem: Guia para abordagem inicial. PEBMED. 2020. 1–21 p.

6. Ferreira JMG, Nascimento JL, Sá FC de. Profissionais de saúde: um ponto de vista sobre a morte e a distanásia. Rev Bras Educ Med [Internet]. 2018;42(3):87–96. Available at: http://www.scielo.br/pdf/rbem/v42n3/1981-5271-rbem-42-3-
0087.pdf

7. Pesut B, Greig M. Resources for Educating, Training, and Mentoring Nurses and Unregulated Nursing Care Providers in Palliative Care: A Review and Expert Consultation. J Palliat Med. 2017;21(S1):S-50-S-56.

8. Prado RT, Leite JL, Castro EAB de, Silva LJ da, Silva ÍR. Desvelando os cuidados aos pacientes em processo de morte/morrer e às suas famílias. Rev Gauch Enferm. 2018;39:e20170111.

9. Vasques TCS, Lunardi VL, Silva PA da, Carvalho KK de, Lunardi Filho WD, Barros EJL. Perception of Nursing Professionals About Patient Care of the Terminally Ill in the Hospital Environment. Texto Context - Enferm. 2016;25(3):1–7.

10.Baik D, Russell D, Jordan L, Dooley F, Bowles KH, Masterson Creber RM. Using the palliative performance scale to estimate survival for patients at the end of life: A systematic review of the literature. J Palliat Med. 2018;21(11):1651–61.

11.Saúde M da. Cuidados Paliativos [Internet]. Vol. 1, Fundação Oswaldo Cruz & Centro de Telessaúde HC-UFMG & Centro Universitário Newton Paiva. 2017. Available at: https://www.telessaude.hc.ufmg.br/wp-
content/uploads/2016/07/CUIDADOS-PALIATIVOS_LIVRO.pdf

12.Sandsdalen T, Rystedt I, Grøndahl VA, Hov R, Høye S, Wilde-Larsson B. Patients’ perceptions of palliative care: Adaptation of the Quality from the Patient’s Perspective instrument for use in palliative care, and description of patients’
perceptions of care received. BMC Palliat Care [Internet]. 2015;14(1). Available at: http://dx.doi.org/10.1186/s12904-015-0049-4

13.Santana MTEA, Gómez-Batiste X, Silva LMG da, Gutiérrez MGR de. Adaptação transcultural e validação semântica de instrumento para identificação de necessidades paliativas em língua portuguesa instrument to identify palliative
requirements in Portuguese. Einstein (Sao Paulo) [Internet]. 2020;1–8. Available at: https://www.scielo.br/pdf/eins/v18/pt_2317-6385-eins-18-eAO5539.pdf

14.Tavares de Carvalho R, Afonseca Parsons H. Manual de Cuidados Paliativos ANCP Ampliado e atualizado 2a edição. Acad Nac Cuid Paliativos. 2013;

15.Oncology Nursing Society. Oncology Nurse Navigator Core Competencies [Internet]. 2017. 1–11 p. Available at: https://www.ons.org/practice-resources/competencies
enf.danielrj@gmail.com
@enfermagem.paliativa

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