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A esta altura podemos protestar dizendo que afinal de contas a fida não é tão
negra assim para a maioria das pessoas. Normalmente, podemos aceitar as
dificuldades junto com as alegrias, achando que a vida decididamente vale a
pena ser vivida. É claro que isto é verdade e está muito bem fundamentado, se
somos homens de fé como aqueles que conhecemos no final do capítulo cinco.
Mesmo que não o sejamos, ainda assim podemos viver satisfeitos, como
milhares de pessoas vivem, sem nos preocupar com o significado final das
coisas.
Se esta vida é tudo, oferecendo a algumas pessoas mais frustração do que
satisfação e nada lhes deixando para dar àqueles que delas dependem; se,
além disso, todos igualmente aguardam a sua vez de ser esquecidos (v.6c)
então alguns realmente podem invejar os natimortos, que tiveram mais
proveito. Em certas horas, Jó e Jeremias teriam concordado com isso
fervorosamente (Jó 3; Jr 20:14ss.);
Tudo isto estraga qualquer quadro cor-de-rosa que se tenha do mundo; a BLH
destaca isso dizendo “tenho visto outra coisa muito triste que acontece neste
mundo...” (6:1), e faz 6:2 dizer: “e não está certo” . Coelet está muito longe de
afirmar que o homem tem direitos que Deus ignora; antes, o homem tem
necessidades que Deus denúncia. Algumas delas, como já vimos, são de um
tipo que o mundo temporal não pode nem começar a usufruir, uma vez que
Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (3:11); outras, mais limitadas,
são de um tipo que o mundo pode satisfazer um pouco e por algum tempo;
nenhuma delas, porém, com certeza e em profundidade. Se isto é sofrimento e
pesa sobre os homens (v.1), também é uma coisa muito salutar. O próprio
mundo no-lo diz com a única linguagem que geralmente entendemos: “não é
lugar aqui de descanso”
7-12
As idéias e as perguntas do parágrafo final do capítulo voltam a tocar em
alguns assuntos que já vimos antes, para consubstanciar o lema do livro,
“vaidade de vaidades!”.
A primeira delas (v.7) insiste em um ponto que é tão real para o homem
moderno em sua rotina industrial quanto o era para o lavrador primitivo que
mal tirava da terra o seu sustento: que se trabalha para comer, a fim de ter
forças para continuar trabalhando e continuar comendo. Mesmo quando se
gosta do que faz – e do que se come – a compulsão continua existindo. Quem
governa, parece, é a boca e não a mente.
Quando objetamos que os homens tema algo mais do que isso, e coisas
melhores pelas quais viver, o versículo 8 não permite que tal argumentação
fique sem resposta. A sabedoria, por exemplo, pode ser infinitamente melhor
que a loucura, como já vimos numa passagem anterior (2:13); mas será que o
sábio vive em melhores condições do que o tolo? Materialmente, tanto pode ser
que sim como não, embora ele certamente o mereça; e nós já vimos que a
morte vai nivelar os dois com total indiferença. Quanto à felicidade, a clareza
de visão do homem sábio não se constitui só de alegria: “Porque na muita
sabedoria”, como vimos em 1:18, “há muito enfado; e quem aumenta ciência,
aumenta tristeza.”