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Prezado Marcos Moraes,

Saudações! Obrigado por compartilhar conosco a porção que o Senhor tem te dado acerca de tantos temas. Gratidão!
Gostaria, se fosse possível, que me ajudasse a compreender melhor alguns temas relacionados ao resultado das eleições.
Antes de chegar às duvidas, entretanto, peço permissão para contextualizar o raciocínio a partir do qual os
questionamentos serão formulados:
Em Salmos 115:16, a palavra estabelece:
“Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.”

Também a palavra de Deus é clara ao estatuir a lei da semeadura e da colheita, dando conta de que há consequências
ao livre arbítrio do homem:
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também
ceifará” (Gálatas 6:7)
“O que semeia a injustiça segará males” (Provérbios 22:8a)
“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e
a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência”
(Deuteronômio 30:19)
1

Da análise dos textos, pode-se inferir que a humanidade colherá a partir do que semear, das escolhas que efetivamente
fizer. Parece não haver dissenso acerca deste assunto.
Por outro lado, também ao Espírito Santo pareceu oportuno lembrar, na carta aos Romanos, que apenas seremos capazes
de experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus pela transformação que vem da renovação da mente,
transformação pela qual boa (senão a maior parte) das pessoas não passou. Vejamos:
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente,
para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus.” (Romanos 12:2)

Ora, e se há uma boa, perfeita e agradável vontade de Deus que decorre da transformação do homem, da sua
mentalidade, o que decorreria da não transformação da mente humana? Parece não haver margem para acreditar que
uma escolha equivocada do(s) homem(s), fruto de uma mentalidade corrompida pelo pecado e não renovada pelo
Espírito Santo, possa coincidir com a vontade perfeita de Deus. A exemplo disto, certamente não foi vontade de Deus
que o homem pecasse, e pelo pecado viesse a morte aos homens.
Aqui, neste ponto, muitos começam a sustentar o que seria uma “vontade permissiva de Deus” que, aparentemente,
aponta para a soberania de Deus e o livre arbítrio dos homens, aos quais a terra foi dada para que eles a dominassem1,
no mesmo sentido do já acima mencionado texto de Salmos 115:16. Também, dialeticamente, talvez fosse possível

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Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céus, sobre os
animais domésticos, e sobre toda a terra (Gênesis 1: 26 e 27)
inferir que se há a vontade perfeita, haveria a imperfeita, mas aqui também isto resta consignado de forma precária e
superficial, apenas por argumentar.
Sem entrar no mérito da existência de “vontade” permissiva e/ou perfeita do Senhor, é fato que o homem entregou o
governo da terra a Satanás ao pecar contra Deus2 (fato que certamente não foi vontade de Deus3), sendo igualmente
cediço que Cristo Jesus resgatou toda a autoridade4, empoderando5 a Igreja para cumprir a grande comissão e fazer
discípulos de todas as nações, expandindo o Reino Dele na terra, e com poder para prevalecer contra o inimigo em
qualquer cenário (inclusive político). Neste sentido:
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela;
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus,
e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16:18,19)

Além disto, o Senhor traduz em palavras a sua soberania ao afirmar que “age em todas as coisas para o bem daqueles
que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Romanos 8:28), e que não devemos andar
“ansiosos por coisa alguma, antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica
com ações de graças” (Filipenses 4:6), vindo daí “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7).
Trazendo estas palavras para o contexto político que o país vive hoje, portanto, independente do resultado das urnas, 2
isto cooperará para o bem daqueles que amam a Deus.
Com isto em mente, compreendemos com clareza bíblica a visão do presbitério de que seria preferível a eleição de um
governo progressista sem o apoio da igreja, do que a eleição de um governo conservador com a igreja apoiando uma
pauta progressista/esquerdista. Amando ao Senhor nas suas escolhas, folgando com a justiça e com a verdade6, a igreja
nunca terá o que temer.
Entretanto, a própria palavra de Deus nos recomenda:
“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças
por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos
uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.” (1 Timóteo 2:1-2)

Penso que o Espírito Santo jamais demandaria de nós que orássemos “por todos os que exercem autoridade, para que
tenhamos uma vida tranquila e pacífica” se não fosse desejo do Senhor que o fizéssemos (seria um contrassenso, além
de uma manifesta incoerência com a Sua palavra7). Neste mesmo sentido, jamais pediria o Senhor que orássemos sem
crer que isto é possível (uma vida tranquila e pacífica), pois estaríamos condenados a não receber do Senhor coisa
alguma. Observe-se o ensino de Tiago:

2
Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. (2Pedro
2:19 NAA)
E propôs a Jesus: “Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares”. (Mateus 4:9)
3
(…)Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao pleno conhecimento
da verdade. (1 Timóteo 2:3-4)
4
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. (Mateus 28:18)
5
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas
as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mateus 28:19-20 ARA)
6
O amor (...) não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; (1Coríntios 13:6-7 ARC)
7
E esta é a segurança que temos para com Ele: que, se lhe fizermos qualquer pedido, de acordo com a vontade de Deus, temos a certeza de
que Ele nos dá atenção. (1 João 5: 14)
(...) “porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada
de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa.” (Tiago
1:6-7)
Na carta aos Hebreus, novamente é esta a impressão que fica:
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima
de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hebreus 11:6)

Aqui surgem então as primeiras perguntas:


1) Porque oraríamos “por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida
tranquila e pacífica”, se não temos esperança (fé) de que isto seria possível, inclusive nos
tempos do fim?
2) De fato todas as nações viverão no fim o mesmo nível de perseguição e retaliações, ou
haverão aquelas que, inclusive, estarão contra o governo do anticristo? Fará o anticristo
aliança com muitas nações (Daniel 9.278) ou todas? A oração dos justos tem poder de
influenciar esta agenda?

Aqui as perguntas não surgem motivadas pelo medo da perseguição ou batalhas que porventura a igreja tenha que
enfrentar neste mundo de aflições, mas pela perspectiva não escapista que que o Reino de Deus, pela fé, pode prevalecer 3
na sociedade, transformando a realidade das nações através de um grande avivamento que virá sobre a noiva de Cristo,
ainda neste mundo.
Em segundo plano, é incontroverso que o Reino de Deus é justiça, e que devemos, portanto, folgar com a justiça e com
a verdade9, e não o inverso. Entretanto, considerando que pairam sobre as eleições fundadas dúvidas acerca do processo
de apuração e, porque não dizer, da condução dos trabalhos eleitorais (favorecendo um candidato em detrimento do
outro), restam os questionamentos:
3) Poderia a Igreja brasileira (enquanto cidadãos brasileiros) silenciar diante da
institucionalização da injustiça? Seria isto uma omissão que poderia ser interpretada como
pecado?
4) Se devemos orar pela concretização da boa, perfeita e agradável vontade de Deus, e se
esta vontade se aperfeiçoa como fruto de decisões tomadas por mentes renovadas, e se
decisões exigem posicionamentos práticos, o que devemos fazer nesses dias, enquanto
cidadãos, na busca pelo justo e correto?

No mais, alço votos de estima e afeto em Cristo, esperançoso de que a Sua vontade se cumpra no Seu povo, e através
do Seu povo. Abração!
Ubaitaba/BA, 04/11/2022.
Silvestre Netto

8
E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações
virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador. Daniel 9:27
9
O amor (...) não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; (1Coríntios 13:6-7 ARC)

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