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BOM PREVI

INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES


PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE BOM JARDIM
CNPJ Nº 04.539.825/0001-30
bomprevi@bomprevi.rj.gov.br
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Processo PMBJ nº. 4498/2021
Requerente: ANA PAULA MOTTA ERTHAL TARDIN
Assunto: Gratificação de Direção Escolar

PARECER

Trata-se o presente sobre solicitação de Servidora ativa de


informação a respeito da composição da verba denominada
Gratificação de Direção Escolar em seus proventos de Aposentadoria,
quando de sua aposentação.

Em que pese o fato de a Servidora ter protocolado o presente


requerimento, de maneira equivocada, junto à Prefeitura Municipal de
Bom Jardim, vez que o pedido é dirigido ao BOM PREVI, o mesmo será
apreciado, em consideração à Servidora/Requerente.

É o brevíssimo relatório.

1 FUNDAMENTAÇÃO

Relata a Requerente, que ingressou no serviço público


municipal em 22/02/1988, percebendo desde o ano de 2012,
componente remuneratório a título de Gratificação de Direção Escolar.

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Questiona a mesma, se tal verba integrará os proventos de
aposentadoria, quando de sua inativação e, caso, a resposta seja
negativa, requer que seja informada, através de Certidão, tanto a
respeito deste questionamento, quanto os demais formulados no
mesmo requerimento.

Inicialmente, cumpre-nos informar que os questionamentos


feitos pele Requerente serão respondidos por este Instituto, através
deste parecer, vez que uma Certidão não se mostra o melhor meio
para resposta no caso em apreço.

1.2 DAS PARCERLAS QUE INTEGRAM OS PROVENTOS DE INATIVIDADE –


PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Em primeiro lugar, se faz necessário frisar que as legis


previdenciárias aplicáveis ao servidor público proíbem a integração de
parcela remuneratória nos proventos de inatividade que são
consideradas transitórias.

Assim, os cálculos dos proventos devem ter como base a


remuneração do cargo efetivo, que pode ser definida como sendo: o
valor constituído pelos vencimentos e vantagens pecuniárias
permanentes desse cargo estabelecidas em lei de cada ente
federativo, acrescido dos adicionais de caráter individual e das
vantagens pessoais permanentes. 1
Nesta mesma linha de raciocínio, em que pese o fato de a
Requerente ter recebido parcelas à título de gratificação de direção,
observando o que preceitua a Lei Federal 10.887/2004, bem como a
Nota n. 77/2014 CGNAL/DRPSP/SPPS/MPS, a parcela de gratificação de
direção é uma parcela que não possui natureza permanente do
cargo, pois conforme previsão na Lei Municipal nº 234/2018, a qual
dispõe sobre o Plano de Carreira, Cargos e Remuneração do Magistério
Público Municipal, a sua concessão depende de nomeação ou

NOTA Nº 77/2014 CGNAL/DRPSP/SPPS/MPS

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designação do prefeito por ato disciplinar do mesmo, portanto, tem
caráter transitório e individual. Senão vejamos:

Lei Municipal 234/2018, art. 6º:

§ 8º - Nas escolas municipais a ascensão ao cargo de


gestor escolar será regulamentada através de ato
disciplinar do chefe do poder executivo, observando-se
os princípios da gestão democrática, na forma da lei
orgânica no município de Bom Jardim. (grifo nosso)

Sendo assim, não encontra respaldo legal a sua inclusão nos


proventos de inatividade. Ademais, não existe ato incorporando a
referida gratificação na remuneração da Requerente.

Ressalta-se que o fato de ter havido contribuição sobre as


parcelas, não é justificativa para inclusão das mesmas no cálculo dos
proventos, conforme citada Nota 77/2014. IN VERBIS:

7. No âmbito dos RPPS, a vedação de que o valor dos


benefícios de aposentadoria e pensão ultrapasse a
remuneração do servidor no cargo efetivo persiste ainda
que tenha havido a incidência de contribuição
previdenciária sobre tais parcelas, visto que o limite dos
benefícios definido no § 2º do art. 40 da Constituição – a
remuneração no cargo efetivo- não pode ser
descumprido em qualquer hipótese. Lembre-se que o
valor da remuneração do servidor de cargo efetivo, que
somente pode contemplar parcelas permanentes, não
corresponde necessariamente à remuneração de
contribuição do segurado, que é a base de cálculo da
contribuição, conceito de natureza tributária, definida na
legislação de cada ente federativo, no exercício da
competência atribuída pelo § 1º do art. 149 da
Constituição Federal.

Ademais o Tribunal de Contas já se pronunciou em outros


processos, sobre a impossibilidade de inclusão nos proventos de
parcelas de natureza temporária transitórias, conforme Votos nos autos
de n. 204.527-8/08 e 231.958-2/06.

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No mesmo sentido afirma o parecer exarado na Nota 77/2014
CGNAL/DRPSP/SPPS/MPS, já citada, vejamos:

11. Deve também ser esclarecido que, em razão da


limitação estabelecida pelo § 2º do art. 40 da
Constituição Federal, pelo § 5º do art. 1º da Lei nº 10.887,
de 2004, e da vedação do inciso X do art. 1º da Lei nº
9.717, de 1998, contraria as normas gerais a lei que incluir
parcelas temporárias no conceito de remuneração do
cargo efetivo ou no rol de vantagens que integram essa
remuneração, ou que defina a remuneração do cargo
por meio de média em que se incluam também parcelas
temporárias.
12. Estão igualmente contrárias à regra geral as previsões
de incorporação do valor de parcelas temporárias à
remuneração do servidor “para efeito de aposentadoria”,
explícita ou implicitamente, mesmo que cumprido
determinado prazo de carência ou que tenha havido
contribuição por determinado tempo.
13. Somente são consideradas parcelas permanentes,
integrantes da definição de remuneração no cargo
efetivo, conforme o art. 23, § 5º da Portaria MPS nº 402, de
2008, aquelas quanto às quais o servidor tem garantia de
seu recebimento enquanto titular do cargo,
independentemente de qualquer condição. Ou seja,
quando não podem ser excluídas da remuneração,
mesmo se afastadas as circunstâncias que determinam
seu pagamento, e cuja incorporação à remuneração
não esteja vinculada à ocorrência de aposentadoria.
Quanto às demais, ainda que percebidas durante grande
parte da vida funcional e mesmo que tenha havido
contribuição, a simples possibilidade de serem retiradas
impede sua inclusão nos proventos.

Assim, com base no Princípio da Legalidade, onde a


Administração só pode fazer aquilo que for permitido por Lei, a verba
correspondente ao componente remuneratório a título de Direção de
unidade Escolar não integrará os proventos de aposentadoria da
Requerente.
Quanto aos demais questionamentos, serão respondidos a seguir.

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1.2 DOS REPASSES REVIDENCIÁRIOS

Primeiramente, há que se ressaltar que os descontos


previdenciários são de competência da Administração Direta, a qual
possui servidores capacitados, bem como corpo Jurídico competente
para interpretar tanto a Lei Municipal que trata do assunto, como as
demais legislações pertinentes, confiando o Bom Previ nesta
capacidade técnica.
Porém, por consideração à Servidora/Requerente, os
questionamentos serão aqui respondidos.
Pois bem, o Instituto recebe os repasses do Poder Executivo
referente aos descontos previdenciários incidentes sobre a verba
mencionada, também, em razão do Princípio da Legalidade,
especialmente, pelo disposto na Lei Complementar nº 39/2001 do
Município de Bom Jardim, em seus artigos 66, I, II e parágrafo único, 72,
73 e 78 do citado diploma legal.2
Logo, se na lei do ente público houver diferença entre as bases
de cálculo, deverá o RPPS cumprir o que determina a legislação, até
sua alteração, já que, repita-se, diante do Princípio da Legalidade, é
vedado ao administrador público fazer aquilo que não estiver previsto
em lei.

1.3 DO TEMA DE REPERCUSSÃO GERAL 163 DO STF

Sobre o Tema 163 do STF, segundo o qual a contribuição


previdenciária paga pelo servidor não deve incidir sobre parcelas que
não serão incorporadas à sua aposentadoria, traz-se a ementa do
julgado do correspondente:
Ementa: Direito previdenciário. Recurso Extraordinário
com repercussão geral. Regime próprio dos Servidores
públicos. Não incidência de contribuições previdenciárias
sobre parcelas não incorporáveis à aposentadoria. 1. O
regime previdenciário próprio, aplicável aos servidores

2
Disponível em: https://bomprevi.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/04/Lei-
Complementar-039-de-20-de-maro-de-2001-Dispe-sobre-a-organizao-do-Regime-de-
Previdncia-Social.pdf. Acesso em 16/08/2021.

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públicos, rege-se pelas normas expressas do art. 40 da
Constituição, e por dois vetores sistêmicos: (a) o caráter
contributivo; e (b) o princípio da solidariedade. 2. A leitura
dos §§ 3º e 12 do art. 40, c/c o § 11 do art. 201 da CF,
deixa claro que somente devem figurar como base de
cálculo da contribuição previdenciária as
remunerações/ganhos habituais que tenham
“repercussão em benefícios”. Como consequência, ficam
excluídas as verbas que não se incorporam à
aposentadoria. 3. Ademais, a dimensão contributiva do
sistema é incompatível com a cobrança de contribuição
previdenciária sem que se confira ao segurado qualquer
benefício, efetivo ou potencial. 4. Por fim, não é possível
invocar o princípio da solidariedade para inovar no
tocante à regra que estabelece a base econômica do
tributo. 5. À luz das premissas estabelecidas, é fixada em
repercussão geral a seguinte tese: “Não incide
contribuição previdenciária sobre verba não incorporável
aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais
como ‘terço de férias’, ‘serviços extraordinários’,
‘adicional noturno’ e ‘adicional de insalubridade.” 6.
Provimento parcial do recurso extraordinário, para
determinar a restituição das parcelas não prescritas.
(RE 593068, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 11/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-056 DIVULG 21-03-2019 PUBLIC 22-03-2019)

Acerca da análise da tese da Suprema Corte, o próprio relatório


da decisão orienta acerca do entendimento da questão, a começar
com a explicação de que o regime previdenciário é solidário e
coletivo, razão pela qual não guarda correspondência específica ou
proporcional entre contribuições e futuros proventos em favor do
contribuinte:
O regime previdenciário do servidor público hoje
consagrado na Constituição está expressamente
fundado no princípio da solidariedade (art. 40 da CF), por
força do qual o financiamento da previdência não tem
como contrapartida necessária a previsão de prestações
específicas ou proporcionais em favor do contribuinte. A
manifestação mais evidente desse princípio é a sujeição
à contribuição dos próprios inativos e pensionistas.
Precedenets. STJ: Resp 805.072/PE, T1. Rel. Min. Luiz Fux, j.
12.12.2006, DJ 15.02.2007 p. 219; Resp 512848/RS, Rel. Min.
Teori Albino Zavascki, T1, DJ 28.09.2006.

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(RE 593068, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 11/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-056 DIVULG 21-03-2019 PUBLIC 22-03-2019)

Assim, o Princípio da Solidariedade apresenta-se como justificativa


para a ausência de exata correlação entre o montante vertido em
favor do sistema e o benefício auferido por aquele que contribuiu.
Além disto, é a própria Constituição Federal que determina que o
regime próprio de previdência terá caráter contributivo e solidário.
Senão vejamos:
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos
servidores titulares de cargos efetivos terá caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do
respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)

Seguindo a análise, faz-se necessário trazer luz sobre a base de


cálculo das contribuições.
A base de cálculo é a grandeza econômica sobre a qual se
aplica a alíquota para apuração de determinada quantia a pagar,
cuja definição depende da edição de lei, mais uma vez, em respeito ao
Princípio da Legalidade.
No que se refere à contribuição devida aos RPPS, cujo
fundamento é o princípio do caráter contributivo e solidário,
encontrado no caput do art. 40 da Constituição Federal, a Portaria MPS
nº 402/2008 estabelece em seu art. 4º, caput que: “A lei do ente
federativo definirá as parcelas que comporão a base de cálculo da
contribuição”.
Portanto, compete ao ente federativo definir em lei própria a
base de cálculo da contribuição previdenciária destinada ao seu RPPS,
sobre a qual deverão incidir as alíquotas de contribuição.
Nesse ponto, torna-se necessário distinguir, didaticamente, os
conceitos de “remuneração do cargo efetivo” e “remuneração de
contribuição” (base de cálculo).

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A citada Portaria MPS nº 402/2008, traz em seu art. 23, § 5º a
definição de “remuneração no cargo efetivo”, nos seguintes termos:

Considera-se remuneração do cargo efetivo, o valor


constituído pelos vencimentos e pelas vantagens
pecuniárias permanentes desse cargo estabelecidas em
lei de cada ente federativo, acrescido dos adicionais de
caráter individual e das vantagens pessoais permanentes.
Já a “remuneração de contribuição”, por sua vez, compreende
todas as parcelas da remuneração que compõem a base de cálculo
da contribuição previdenciária devida ao RPPS pelos segurados e pelo
ente federativo, na forma estabelecida em lei do ente federativo, nos
termos do art. 4º, caput da Portaria MPS nº 402/2008, acima referido.
Cabe ainda citar o art. 29, caput da Orientação Normativa SPS/MPS nº
02/2009:
Art. 29. A lei do ente federativo definirá as parcelas da
remuneração que comporão a base de cálculo da
contribuição, podendo prever que a inclusão das
parcelas pagas em decorrência de local de trabalho, de
função de confiança, de cargo em comissão, ou de
outras parcelas temporárias de remuneração, será feita
mediante opção expressa do servidor, inclusive quando
pagas por ente cessionário.

Neste sentido, a Lei Complementar nº 39/2001 do Município de


Bom Jardim/RJ definiu, em seu art. 12, qual é a base de cálculo das
contribuições, que pode ser compreendida como “remuneração de
contribuição”, evidenciado a seguir:

Art. 12 Considera-se base de cálculo das contribuições,


para os efeitos desta Lei, o total das parcelas de
remuneração mensal percebido pelo segurado,
acrescido das vantagens pecuniárias estabelecidas em
lei, excluídas:
I. as diárias para viagens
II. a ajuda de custo em razão de mudança de sede;
I. a indenização de qualquer origem;
II. horas extras;
III. Adicional de férias;

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§ 1º As vantagens recebidas a título de função de
confiança, cargo em comissão, local de trabalho e
gratificações integrarão a base de cálculo das
contribuições para os efeitos desta lei; (grifo nosso)

Assim, mais uma vez, pondera-se que a remuneração de


contribuição não guarda relação direta com a remuneração do cargo
efetivo, pois sua finalidade é viabilizar o custeio dos benefícios
previdenciários, bem como a manutenção do equilíbrio financeiro e
atuarial, de modo que, existindo lei que contenha a previsão de
incidência de contribuições sobre parcelas que não integram a
remuneração do cargo efetivo, esta deverá ser observada e cumprida.
Ademais, o equilíbrio financeiro e atuarial é princípio fundamental
e estruturante consagrado no art. 40 da Constituição Federal e na
legislação infraconstitucional, devendo ser considerado na elaboração,
interpretação e aplicação de toda a legislação relacionada aos RPPS.
Por fim, sobre a análise da tese 163 do STF, de que “Não incide
contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos
de aposentadoria do servidor público, tais como 'terço de férias',
'serviços extraordinários', 'adicional noturno' e 'adicional de
insalubridade.", cumpre destacar que a mesma aplica-se tão somente
aos servidores públicos federais:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS. FÉRIAS EFETIVAMENTE GOZADAS.
INFRACONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 163.
NÃOAPLICABILIDADE.
1. A incidência ou não de contribuições previdenciárias
sobre as remunerações pagas durante as férias
efetivamente gozadas pelos empregados demandaria a
análise da legislação infraconstitucional aplicada à
espécie, de modo a inviabilizar o processamento do
apelo extremo.
2. O Tema 163 da sistemática da Repercussão Geral, cujo
recurso paradigma é o RE-RG 593.068, de relatoria original
do Ministro Joaquim Barbosa e atualmente sob a relatoria
do Ministro Luís Roberto Barroso, DJe 22.05.2009, além de
não tratar de contribuição previdenciária sobre a
remuneração paga durante o período de férias gozadas,
mas apenas sobre o adicional de férias (terço

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constitucional), aplica-se tão somente aos servidores
públicos federais.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STF – AgR RE 949.275 SC - SANTA CATARINA, Relator: Min.
EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 15/03/2016,
Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-070 15-04-2016)
(grifo nosso)

A despeito da data da decisão acima, a mesma foi corroborada


no Emb. Decl. no Recurso Extraordinário com Agravo 1.265.898 Espírito
Santo, de Relatoria do Ministro Edson Fachin, como exposto a seguir:
É certo que o mencionado Tema 163 da repercussão
geral aplica-se tão somente aos servidores públicos
federais (RE 949.275-AgR, de minha relatoria, Primeira
Turma, DJe 15.04.2016) (...).
(STF ARE 1.265.898 ES 0006090-94.2016.8.08.0024, Relator
Edson Fachin, pag. 10, Data de Julgamento 05/08/2020,
data de Publicação 07/08/2020)(grifo nosso).

No caso em tela, entende-se a que a gratificação exercida por


direção de unidade escolar possui natureza distinta das verbas não
incidentes de contribuição previdenciária segundo a Suprema Corte,
que se apresentam como verbas indenizatórias, destinadas a recompor
o patrimônio jurídico do empregado, em razão de alguma perda ou
violação de direito.
Portanto, este Instituto entende que não há lesão aos servidores
em função do desconto previdenciário incidente sobre a gratificação
pelo exercício de direção de unidades escolares, uma vez que a
mesma possui natureza de gratificação, conforme disposição expressa
do art. 20 da Lei Complementar 234/2018, e a Lei Complementar nº
39/2001 do Município de Bom Jardim definir, em seu art. 12, §1º, que as
vantagens recebidas a título de gratificações integrarão a base de
cálculo das contribuições.

1.4 DO MONTANTE DESCONTADO SOBRE A GRATIFICAÇÃO DE DIREÇÃO


ESCOLAR

Quanto aos valores descontados mês a mês referentes à


gratificação mencionada, os mesmos devem ser levantados junto à
Administração Direta, pois, como a Servidora encontra-se na ativa, a

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ficha financeira, com o levantamento dos valores em questão,
encontrar-se-á em sua pasta funcional, que só migra para o Instituto de
Previdência no momento da aposentadoria.
É oportuno relembrar que os servidores municipais permaneceram
por mais de 08 (oito) anos sem contribuir para qualquer regime, tendo
em conta que o antigo PRESERV, somente passou a existir e,
consequentemente, receber os repasses previdenciários, a partir de
01/06/1999.
Assim, não é verídica a afirmação da Requerente no sentido de
que sempre contribuiu sobre tal parcela, eis que por um longo lapso
temporal, não contribuição nem mesmo sobre as parcelas que serão
incorporadas aos seus proventos de aposentadoria, caso se aposente
pelas regras gerais.

Ora, se o Instituto deve ressarcir à Requerente pela contribuição


previdenciária incidente sobre a parcela relativa ao Adicional de
Direção Escolar durante o tempo que a mesma contribuiu, então
deveria a Requerente, como forma de justiça, quitar os valores não
pagos, não recolhidos, fazendo-se, assim, uma compensação.

1.5 DO QUESTIONAMENTO SOBRE MEDIDAS TOMADAS POR ESTE INSTITUTO

Quanto ao requerimento de medidas a serem tomadas no


sentido de coibir lesão aos servidores, destaca-se que as mesmas
dependem de processo legislativo, ponderando que o Bom Previ não
possui iniciativa de lei.
Ademais, reitera-se que para todas as parcelas legalmente
incluídas na “remuneração de contribuição”, ainda que não
integrantes da “remuneração do cargo efetivo”, é devida a
contribuição.
Frise-se, não é cabível a restituição de contribuições, seja aos
segurados ou ao ente federativo, que tenham incidido sobre parcelas
legalmente incluídas na remuneração de contribuição, ainda que não
integrantes da remuneração do cargo efetivo, uma vez que, como

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exposto, na lei do ente público há diferença entre essas bases de
cálculo, devendo, por conseguinte, o RPPS cumprir o que determina a
legislação, em razão do Princípio da Legalidade.
O duplo caráter do Regime Próprio de Previdência confere ao
legislador razoável margem de livre apreciação para a sua concreta
configuração, devendo este harmonizar as suas dimensões solidária e
contributiva.
Assim, o caráter solidário do sistema afasta a existência de uma
simetria perfeita entre contribuição e benefício (como em um
sinalagma), enquanto a natureza contributiva impede a cobrança de
contribuição previdenciária sem que se confira ao segurado qualquer
contraprestação, efetiva ou potencial.
Logo, há potencial contraprestação na contribuição incidente
sobre parcelas temporárias de cunho remuneratório, quando do
calculo do benefício de aposentadoria sobre os proventos, através de
média aritmética, que também é a metodologia aplicada ao cálculo
de benefícios previdenciários a serem concedidos em caso de
aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho.
Quanto à alegação final de que as informações requeridas
constituem em mora o Instituto sobre o assunto versado para todos os
servidores públicos municipais, entendemos que a Servidora não
apresentou procuração ou documento hábil que a habilite como
representante de Classe, bem como, a exposição dos fatos tratou-se de
sua situação particular, de modo que essa análise revelou-se casuística,
de modo que o Bom Previ não conhece a extensão dos efeitos
pretendidos pela Requerente a outros servidores, uma vez que esta é a
primeira análise da matéria.

É o parecer, salvo melhor juízo.

Bom Jardim, em 24 de agosto de 2021.

Simoni Emrich Sanches

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Assessora jurídica
MAT. 41/0028
OAB/RJ 173.482

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