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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

NÚCLEO DE PARCERIAS E TRANSPORTES

PROCESSO: SPI-PRC-2023/00066
INTERESSADO: Secretaria de Parcerias em Investimentos
PARECER: NPT n.º 75/2023
EMENTA: CONTRATO ADMINISTRATIVO. Consulta sobre os
servidores que fazem jus ao recebimento do benefício de
vale-refeição objeto do Contrato SLT nº 01/2020,
inicialmente firmado pela então denominada Secretaria de
Logística e Transportes e cuja gestão foi posteriormente
assumida pela Secretaria de Parcerias em Investimentos, em
razão da reorganização administrativa operada pelo Decreto
nº 67.435, de 1º de janeiro de 2023. Proposta de retorno dos
autos à origem para prosseguimento da matéria à luz dos
apontamentos e recomendações constantes do opinativo.

Sr. Procurador do Estado Coordenador;


1. Trata-se de consulta sobre os servidores que fazem jus ao
recebimento do benefício de vale-refeição objeto do Contrato SLT nº 01/2020 (fls. 03/19)1,
inicialmente firmado pela então denominada Secretaria de Logística e Transportes e cuja
gestão foi posteriormente assumida pela Secretaria de Parcerias em Investimentos 2, nos
termos dos seguintes questionamentos formulados pelo Diretor do Centro Administrativo
da Secretaria (fls. 83/86):

“Considerando que a SPI necessita pacificar a questão de abrangência dos


servidores que fazem jus ao recebimento do benefício, para possibilitar o
decorrente ajuste contratual, se necessário, entende-se importante dirimir as
seguintes questões:
i) O atual contrato de vale-refeição pode, de imediato, abranger a todos os
servidores que integram atualmente a Pasta, em especial os oriundos da anterior
SPAE e que não percebiam o benefício na forma de crédito em cartão magnético,
1
Alterado pelo Termo Aditivo Modificativo nº 01/2021 (fls. 20/21), pelo Termo Aditivo Modificativo nº
02/2022 (fls. 22/24) e pelo Termo Aditivo Modificativo nº 03/2022 (fls. 25/27).
2
Termo de Apostilamento nº 07/2023 (fls. 74/75), firmado em razão da reorganização administrativa operada
pelo Decreto nº 67.435, de 1º de janeiro de 2023, nos termos do Parecer Referencial NPT nº 01/2023 (fls.
28/43).

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por utilizarem do refeitório instalado no Palácio dos Bandeirantes? Ou o


benefício depende da regularização funcional de cada servidor oriundo da
SPAE?
ii) O benefício pode ser concedido aos recém nomeados, decorrentes de vagas
existentes ainda vinculadas à SEGOV, ou depende da regularização
mencionada?
iii) O benefício, caso de direito, tem efeito retroativo a 01/01/2023, a data do
apostilamento do contrato pela SPI (22/03/2023) ou da data em que ocorrer a
regularização da situação funcional apontada no item “i” do penúltimo
“considerando”?
iv) Os servidores dos cargos que permaneceram na SPM, e não lotados
efetivamente naquela Pasta, por razões diversas, devem ser excluídos do
benefício, ou dependem de decreto ou de resolução conjunta para regularização e
consequente corte do benefício?
v) O contrato pode ser aditado, se necessário, até o limite disposto no artigo § 1º
do artigo 65 da Lei nº 8.666/93, ou há a necessidade de se promover à
instauração de novo processo licitatório para uma nova contratação?”

2. Em 05.05.2023, o Sr. Chefe de Gabinete da Secretaria de


Parcerias em Investimentos solicitou a análise deste Núcleo de Parcerias e Transportes (fl.
87), o qual dispõe de competência para tanto, nos termos da Portaria SubG-Cons nº 03, de
13 de agosto de 2022, com a redação dada pela Portaria SubG-Cons nº 03, de 12 de janeiro
de 20233.

É o relatório. Opino.

3. Preliminarmente à análise de cada uma das questões


indicadas na consulta formulada pelo Diretor do Centro Administrativo da Secretaria de
Parcerias em Investimentos, cumpre ressaltar que, de acordo com a jurisprudência
administrativa da Procuradoria Geral do Estado, o fornecimento de vale-refeição “não pode
ser equiparado à concessão de vantagem funcional stricto-sensu”, conforme o exposto, por
exemplo, no Parecer PA-3 nº 375/1994, aprovado pelo então Procurador Geral do Estado4.
3.1. Por essa razão, o fornecimento de vale-refeição não se
submete ao regramento jurídico-administrativo a que submetidas as vantagens funcionais
propriamente ditas, a exemplo da exigência de lei para a sua instituição/alteração,

3
"Artigo único - Fica designado o Núcleo de Parcerias e Transportes para exercer as atividades de
consultoria e assessoramento jurídico à Secretaria de Parcerias em Investimentos, enquanto não for instalada
Consultoria Jurídica específica".
4
O mesmo entendimento foi adotado no Parecer SF nº 257/1992 e no Parecer PA-3 nº 276/2000, ambos
aprovados pelo então Procurador Geral do Estado.

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estabelecida no art. 128 da Constituição do Estado de São Paulo 5. Na verdade, esse


benefício é condicionado apenas a uma decisão administrativa quanto à “conveniência de
se oferecer a certos funcionários a possibilidade da alimentação no próprio local de
trabalho”, conforme o exposto no Parecer PA-3 nº 375/1994 e reproduzido no Parecer PA-3
nº 276/2000. Estabelecida essa decisão, esta pode ser validamente veiculada por meio da
contratação administrativa de serviços de administração, gerenciamento, emissão e
fornecimento de vale-refeição sob a forma de cartões eletrônicos, consoante o anotado, por
exemplo, no Parecer PA-3 nº 276/2000, no Parecer PA nº 290/2007 e no Parecer SubG-
Cons. nº 36/2004.
3.2. Em resumo, o vale-refeição não constitui vantagem funcional
stricto sensu, não dependendo de lei para ser instituído ou modificado, mas apenas de uma
decisão administrativa quanto à conveniência de oferecer a certos funcionários refeições
subsidiadas pelo erário, o que pode se dar por meio da contratação administrativa do
serviço de fornecimento do benefício sob a forma de cartões eletrônicos, submetendo-se a
matéria, a partir de então, a uma relação de natureza contratual – e não funcional –
estabelecida entre a Administração e a empresa contratada para a dispensação do benefício.
4. Especificamente no que se refere aos servidores que podem
se beneficiar do objeto da supracitada relação contratual e, portanto, receber o vale-
refeição, transcreve-se o entendimento estabelecido pela Subprocuradoria Geral da Área da
Consultoria Geral, no Parecer SubG-Cons nº 79/2018, nos seguintes termos:

“[T]ratando-se de objeto de contrato de prestação de serviço, a meu ver, é


razoável que o vale-refeição seja prestado de forma isonômica aos servidores que
exercem sua atribuição no órgão. Tal posicionamento reforça que não se trata de
benefício ligado à determinada pessoa, mas sim de comodidade in natura
relacionada às condições de trabalho, que, portanto, atinge a todos, de forma
indistinta, que laboram na unidade”.

4.1. Ou seja, conforme o exposto no referido opinativo, o vale-


refeição, em linha de princípio, deve ser prestado de forma isonômica e indistinta aos
servidores que laboram no órgão que opta pela dispensação do benefício, tendo em vista

5
“Art. 128. As vantagens de qualquer natureza só poderão ser instituídas por lei e quando atendam
efetivamente ao interesse público e às exigências do serviço”.

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que este não se relaciona com características específicas dos funcionários, mas sim às
condições de trabalho verificadas na unidade.
4.2. Por esse motivo, o vale-refeição não pode beneficiar
indivíduos que não se submetam às condições de trabalho que justificaram a sua
instituição, a exemplo daqueles que já deixaram de trabalhar na unidade que optou pela
dispensação do benefício aos seus funcionários, até mesmo porque este possui natureza
transitória e não se incorpora ao salário desses agentes, como afirmado pelo Parecer PA nº
01/2010.
5. Estabelecidas essas premissas extraídas do posicionamento
institucional da Procuradoria Geral do Estado a respeito da matéria, passa-se a responder
os questionamentos especificamente indicados na consulta em exame.
6. Quanto aos itens (i) e (ii), tem-se que o vale-refeição pode ser
estendido aos funcionários oriundos da antiga Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas e
de vagas da Secretaria de Governo e Relações Institucionais que passaram a atuar na
Secretaria de Parcerias em Investimentos, ainda que pendente a regularização da sua
situação funcional.
6.1. Com efeito, a pendência em questão não constitui
impedimento ao recebimento do vale-refeição, uma vez que, como exposto alhures, o
benefício não tem natureza de vantagem funcional e não se liga a características
específicas dos servidores.
6.2. Trata-se de benefício relacionado às condições de trabalho
verificadas no âmbito de determinado órgão público que leva as autoridades
administrativas competentes a decidir pelo fornecimento refeições subsidiadas aos
funcionários sujeitos a tais condições laborais, por meio de contrato administrativo firmado
com essa finalidade.
6.3. Nesse sentido, não há óbice jurídico a que as mesmas
autoridades, por intermédio dos atos de gestão contratual – e não funcional – cabíveis,
decidam por estender os efeitos da supracitada contratação administrativa a funcionários

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que, no seu entendimento, submetam-se às mesmas condições de trabalho que levaram à


instituição do benefício do vale-refeição.
6.4. Trata-se de decisão pertinente, inclusive, a garantir o
tratamento isonômico a todos os funcionários submetidos a tais condições laborais,
equalizando-se, assim, a situação dos servidores da antiga Secretaria de Logística e
Transportes, que já recebem o vale-refeição nos termos da contratação em tela, e dos
agentes oriundos da antiga Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas e de vagas da
Secretaria de Governo e Relações Institucionais, que apesar de trabalharem nas mesmas
circunstâncias que os primeiros, ainda não têm acesso ao benefício.
6.5. Por oportuno, ressalta-se que, em hipótese similar à presente,
o Núcleo de Direito de Pessoal da Subprocuradoria Geral da Área da Consultoria Geral, no
Parecer NDP nº 164/2021, admitiu exatamente a extensão do vale-refeição pago aos
funcionários da Secretaria da Fazenda e Planejamento em favor dos empregados da
Fundação do Desenvolvimento Administrativo e da Fundação “Prefeito Faria Lima”
afastados junto à Pasta.
6.5.1. No entanto, o opinativo em questão, em sua fundamentação,
citou o disposto no Parecer PA nº 76/2015, segundo o qual “há sempre que se perquirir as
legislações dos servidores que se encontram afastados, a verificar se existem
peculiaridades que impediriam a concessão de tais benefícios”.
6.5.2. Sendo assim, é recomendável a análise individual da
legislação a que submetidos cada um dos funcionários em questão, à luz da sua respectiva
ficha funcional (não juntada ao presente expediente), a fim de verificar a existência de
eventuais peculiaridades impeditivas da extensão do vale-refeição em seu proveito, como,
por exemplo, o fato de receberem de outros benefícios com a mesma finalidade de subsídio
alimentar pelo Estado, podendo eventuais dúvidas a respeito da situação funcional desses
agentes ser submetida ao Núcleo de Direito de Pessoal, nos termos da Resolução PGE nº 2
de 10, de janeiro de 20186.
6
“Art. 1º. Fica criado, junto à Subprocuradoria Geral da Consultoria Geral, o Núcleo de Direito de Pessoal,
cujo escopo é sistematizar, uniformizar e centralizar as orientações jurídicas da Procuradoria Geral do Estado
nos processos relativos à vida funcional dos servidores e empregados públicos da Administração Centralizada
e Autarquias do Estado de São Paulo. § 1º - Os processos relativos à vida funcional do servidor e do

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7. Quanto ao item (iii), tem-se que, independentemente do


marco inicial eventualmente estabelecido, não é possível atribuir qualquer tipo de efeito
retroativo à extensão do vale-refeição aos funcionários objeto da consulta.
7.1. Como reiteradamente exposto, o vale-refeição não se trata de
vantagem funcional propriamente dita, não extraindo, portanto, fundamento de validade
diretamente de lei. Somente nesse caso, poder-se-ia cogitar da aquisição do direito ao
benefício a partir do momento em que verificada a situação descrita em lei como condição
para o recebimento da vantagem e, portanto, a possibilidade de retroação dos efeitos
financeiros do reconhecimento administrativo deste direito à data em questão.
7.2. No entanto, o vale-refeição não deriva de lei, mas de decisão
administrativa quanto à conveniência de oferecer a certos funcionários refeições
subsidiadas pelo erário, nos termos de relação de natureza contratual – e não funcional –
estabelecida entre a Administração e a empresa contratada para a dispensação do benefício.
7.3. Nesse sentido, a decisão destinada a estender a novos
funcionários o recebimento do vale-refeição objeto da supracitada contratação
administrativa tem natureza de ato de gestão contratual – e não funcional – ao qual não se
pode conferir efeitos financeiros retroativos, nos termos do art. 56 da Lei nº 6.544, de 22
de novembro de 19897.
7.4. Sendo assim, o recebimento do vale-refeição por esses
funcionários somente é devido a partir do momento em que expedida decisão
administrativa que efetivamente reconheça a conveniência de lhes estender o benefício em
função das condições de trabalho a que submetidos, nos termos da supracitada relação
contratual.
7.5. Para tanto, recomenda-se a consolidação da lista de
funcionários que trabalham na Secretaria de Parcerias em Investimentos e fazem jus ao
recebimento do vale-refeição, a qual deverá ser acostada ao processo administrativo

empregado público são os referentes à remuneração, licenças, afastamentos, adicionais, abonos, promoções,
concursos públicos, gratificações, diárias, vantagens, benefícios, incorporações, contagem de tempo e
dispensa de reposição ao erário, dentre outros.”
7
“Art. 56. É vedado atribuir efeitos financeiros retroativos aos contratos regidos por esta lei, bem assim as
suas alterações sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de quem lhe deu causa”.

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relativo à supracitada contratação administrativa, com posterior ciência à empresa


contratada para a dispensação do benefício8, sem prejuízo de eventual necessidade de
aditivo contratual, conforme abordado no item 9 deste opinativo.
8. Quanto ao item (iv), tem-se que os funcionários ocupantes
dos cargos da antiga Secretaria de Logística e Transportes atualmente integrantes da
estrutura da Secretaria de Políticas para a Mulher devem ser excluídos do recebimento do
vale-refeição administrado pela Secretaria de Parcerias em Investimentos.
8.1. Com efeito, a análise e a decisão quanto à conveniência de
oferecer a tais funcionários refeições subsidiadas pelo erário hão de ser feitas pelas
autoridades administrativas competentes da Secretaria de Políticas para a Mulher, à luz das
condições de trabalho verificadas naquela Pasta e às custas das suas respectivas dotações
orçamentárias, não podendo essa competência ser exercida e custeada pela Secretaria de
Parcerias em Investimentos.
8.2. A exclusão do vale-refeição gerido pela Secretaria de
Parcerias em Investimentos independe de “decreto ou de resolução conjunta para
regularização e consequente corte do benefício”, bastando: (i) a não inclusão dos
funcionários na lista referida no item 7.5 deste opinativo; e (ii) a realização das
comunicações cabíveis à Secretaria de Políticas para a Mulher, garantindo-se a
oportunidade para alocação tempestiva desses agentes no regime de dispensação de
refeições subsidiadas pelo erário eventualmente mantido por aquela Pasta, visando a evitar
a descontinuidade do recebimento do benefício.
9. Quanto ao item (v), tem-se que a alteração na lista de
funcionários que trabalham na Secretaria de Parcerias em Investimentos e fazem jus ao
recebimento do vale-refeição9, caso implique modificação do valor do contrato em razão
do acréscimo ou da redução do número de cartões eletrônicos administrados pela
contratada, poderá ser formalizada mediante termo aditivo modificativo, sem a necessidade
de novo processo licitatório.
8
“CLÁUSULA QUINTA – DAS OBRIGAÇÕES E DAS RESPONSABILIDADES DO CONTRATANTE.
Ao CONTRATANTE cabe: (....) V – Fornecer o cadastro dos usuários, contendo os seguintes dados: a) nome;
b) CPF; c) RG; d) matrícula do funcionário; e) valor a ser creditado (mensalmente)”.
9
Cf. Item 7.5 do Parecer.

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9.1. Com efeito, há, neste caso, alteração contratual quantitativa,


que encontra fundamento no art. 65, I, “b”, da Lei federal nº 8.666, de 21 de junho de
199310, podendo ser validamente realizada pela Administração, desde que observado o
limite de 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato (§1º 11), salvo
no caso de supressões resultantes de acordo celebrado junto à contratada (§2º12).
9.1.1. Trata-se de proposta cuja juridicidade, inclusive sob a
perspectiva do atendimento dos referidos limites legais, há de ser avaliada em concreto
pela Administração e poderá ser verificada por este órgão consultivo quando da submissão
do tema à consulta específica, em sede de processo administrativo devidamente instruído
com a documentação pertinente.
9.2. De todo modo, cabe observar que a viabilidade jurídica, em
tese, de aditamento ao contrato atualmente vigente não deve excluir a avaliação
administrativa quanto à realização de uma nova licitação para a contratação do serviço de
fornecimento de vale-refeição. Explica-se.
9.2.1. O contrato atualmente vigente foi firmado com a taxa de
administração negativa de -6,90% (fl. 12). Porém, por ocasião da terceira extensão

10
“Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos
seguintes casos: I - unilateralmente pela Administração: (...) b) quando necessária a modificação do valor
contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por
esta Lei”.
11
“Art. 65. (...) § 1º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou
supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial
atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50%
(cinqüenta por cento) para os seus acréscimos”.
12
“Art. 65. (...) § 2º Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites estabelecidos no parágrafo
anterior, salvo: (...) II - as supressões resultantes de acordo celebrado entre os contratantes”.

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contratual (até 04.12.2023), a taxa foi zerada (fl. 26), para atendimento ao art. 3º, I, e §2º,
da Medida Provisória nº 1.108, de 25 de março de 2022, convertida na Lei federal nº
14.442, de 2 de setembro de 2022. Trata-se de reforma legislativa que vedou o
estabelecimento de taxa negativa em contratos desta natureza e a prorrogação dos ajustes
em desacordo com essa previsão13.
9.2.2. A prorrogação do contrato e a neutralização da taxa de
administração foram analisadas pelo Parecer CJ/SLT nº 81/2022, que, à luz do
entendimento então vigente no âmbito da Procuradoria Geral do Estado, com lastro em
orientação da Subprocuradoria Geral da Área da Consultoria Geral, concluiu pela
viabilidade jurídica da celebração de aditamento contratual com essa finalidade, com
fundamento no art. 65, §5º, da Lei federal nº 8.666/19931415.
9.2.3. No entanto, posteriormente ao lançamento do opinativo e a
celebração do aditamento em questão, o supracitado posicionamento institucional foi
alterado à vista de manifestação do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo
(“TCE/SP”), conforme o divulgado pela Subprocuradoria Geral da Área da Consultoria
Geral, na e-Orientação SubG-Cons nº 11/2022, nos seguintes termos:

“À vista de recente análise efetuada pela área técnica do Tribunal de Contas do


Estado acerca da (ir)regularidade de termo aditivo em contrato de gerenciamento
de cartões magnéticos ou microprocessados, para fornecimento de alimentação a
servidores através de estabelecimentos comerciais credenciados, recomendamos
que, doravante, em razão da vigência da Lei federal nº 14.442, de 2 de setembro
de 2022, e de modo a evitar futuros apontamentos, não sejam prorrogados
eventuais ajustes que tenham sido avençados com o emprego de taxa de
administração negativa, ainda que o termo aditivo estipule a alteração de

13
“Art. 3º O empregador, ao contratar pessoa jurídica para o fornecimento do auxílio-alimentação de que
trata o art. 2º desta Lei, não poderá exigir ou receber: I - qualquer tipo de deságio ou imposição de descontos
sobre o valor contratado; (...) § 2º É vedada a prorrogação de contrato de fornecimento de auxílio-
alimentação em desconformidade com o disposto no caput deste artigo”.
14
“Art. 65. (...) § 5º Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou extintos, bem como a
superveniência de disposições legais, quando ocorridas após a data da apresentação da proposta, de
comprovada repercussão nos preços contratados, implicarão a revisão destes para mais ou para menos,
conforme o caso”.
15
“7.6. Sobre a proposta em questão, cabe registrar que, ao menos em tese, esta Procuradoria Geral do
Estado, por intermédio do Parecer CJ/SEFAZ nº 203/2022, do Parecer CJ/ARSESP nº 22/2022 e do Parecer
CJ/SDE nº 128/2022, já compreendeu pela viabilidade jurídica da prorrogação de contratos de fornecimento
de vale refeição, simultaneamente à formalização de alteração contratual voltada à adaptação destes ajustes
às exigências previstas pela Medida Provisória nº 1.108/2022 (“MPV”), com fundamento no artigo 65, § 5º,
da Lei Federal nº 8.666/19936 , adotando-se as seguintes cautelas: (...)”.

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sobredita taxa para zero, submetendo-se, assim e por conseguinte, a demanda a


novo certame”.

9.2.4. Nesse sentido, conquanto a alteração da orientação


institucional concernente ao tema não determine necessariamente a invalidação do aditivo
contratual previamente realizado (cf. arts. 2316 e 2417 da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro), não é recomendável a realização de uma nova prorrogação do contrato,
em vigor até 04.12.2023, salvo se comprovada a excepcional necessidade da medida
“frente [...] ao interesse público envolvido, à essencialidade do serviço e ao risco de sua
descontinuidade, [o que deve ser decidido] de forma expressa e motivada nos autos”,
conforme recentemente estabelecido pela Subprocuradoria Geral da Área da Consultoria
Geral, no Parecer SubG-Cons nº 30/2023.
9.2.5. Sendo assim, sugere-se, preferencialmente, que a
Administração adote as providências necessárias à realização de processo licitatório para a
celebração de uma nova contratação administrativa do serviço de fornecimento de vale-
refeição com execução programada a partir da expiração do contrato atualmente vigente.
10. Por todo o exposto, nos limites da competência estritamente
jurídica deste órgão consultivo, excluídos os aspectos técnicos e discricionários pertinentes
ao presente expediente, propõe-se o retorno dos autos à origem para prosseguimento da
matéria telada, à luz dos apontamentos e recomendações constantes do opinativo.

É o parecer, à autoridade superior.

São Paulo, 10 de maio de 2023.


assinatura
CAIO CÉSAR ALVES FERREIRA RAMOS
16
“Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação
nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito,
deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de
direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais”.
17
“Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as
interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento
público”.

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ASSUNTO: Serviços de Administração, Gerenciamento, Emissão,
Distribuição e Fornecimento de Vale Refeição, na forma de
Cartão Eletrônico/Magnético com Chip ou de Tecnologia
Similar
PARECER: NPT n.º 75/2023

1. Aprovo o Parecer NPT nº 75/2023, por seus


próprios fundamentos.

2. Encaminhe-se os autos à Chefia de Gabinete da


Secretaria de Parcerias em Investimentos.

São Paulo, 10 de maio de 2023.


assinatura
THIAGO MESQUITA NUNES
Procurador do Estado Assessor
Coordenador do Núcleo de Parcerias e Transportes

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