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LENHO DE REAÇÃO
LAVRAS – MG
2022
MICHELE LOPES MEDINA
LENHO DE REAÇÃO
Orientador
Coorientadora
Coorientadora
LAVRAS – MG
2022
LISTA DE FIGURAS
3.1 - Transcriptomics and proteomics reveal the cellulose and pectin metabolic
processes in the tension wood (non-G-layer) of Catalpa bungei ..................................... 19
3.2 - Contributions of bark and tension wood and role of the G-layer lignification in
the gravitropic movements of 21 tropical tree species ..................................................... 20
1.0 - INTRODUÇÃO
As florestas possuem uma gama de benefícios para a sociedade e o meio ambiente como
um todo, sejam sociais, econômicos ou ecológicos. Elas são fundamentais para a manutenção
da biodiversidade e dentre suas funções ecológicas pode-se destacar o sequestro de carbono,
regulação do clima, controle de erosões, preservação da fauna e flora e etc. As florestas também
têm grande importância econômica, pela qual o homem obtém múltiplos produtos madeireiros
e não madeireiros, gerando riquezas e suprindo diversas necessidades da sociedade (IWAKIRI
et al., 2002).
A madeira vem sendo usada pelo homem desde os tempos mais antigos, seja para
proporcionar calor em noites frias ou para cozinhar. Com passar do tempo, o homem foi
descobrindo novas utilizações, tornando-a assim, um material versátil e com grande valor
agregado (LEÃO, 2000).
A madeira pode ser considerada um material de origem natural e heterogêneo,
apresentando estruturas celulares diferentes que variam sua composição ao longo de uma árvore
ou entre espécies (MORESCHI, 2012). Ela apresenta propriedades específicas para
desempenhar funções vitais de crescimento, condução de água, transformação, armazenamento,
condução de substâncias nutritivas e sustentação do vegetal (PANSHIN; ZEEUW, 1980).
Dentre os materiais de origem biológica, a madeira é sem dúvidas o que apresenta maior
potencial econômico, pois sua variabilidade lhe confere propriedades físicas e químicas que
podem ser utilizadas para diversas finalidades. Em função de sua estrutura heterogênea e
natureza anisotrópica a madeira possui características próprias e também algumas limitações.
Seu conhecimento aprofundado é importante para que suas utilizações sejam eficazes
(CORADIN; CAMARGOS, 2002).
Alguns fatores podem interferir na qualidade e por consequência no uso da madeira,
como por exemplo, os defeitos naturais. Estes defeitos podem ser provocados por fatores
internos e externos. O lenho de reação é um defeito natural da madeira que é formado quando
a árvore passa por algum estresse mecânico, auxiliando a planta a voltar para sua posição
normal (MONTEIRO, 2010). Sua ocorrência é mais susceptível em algumas espécies que em
outras e sua presença pode causar mudanças significativas nas propriedades da madeira e por
conseguinte, na sua utilização (VIDAURRE et al., 2013).
Tendo em vista a importância da qualidade da madeira para seu uso racional e
sustentável e sabendo que a presença do lenho de reação pode ocasionar consequências
indesejáveis para a indústria, este trabalho traz informações acerca de suas características, sua
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A madeira é produzida pelas árvores, não com o objetivo de ser usada pelo homem, mas
devido as suas funções, como parte integrante de uma planta viva. Por se tratar de um produto
do metabolismo da árvore, a madeira é heterogênea e variável, apresentando, muitas vezes,
defeitos relacionados ao crescimento. O grande atrativo para o uso da madeira é exatamente a
variação de sua estrutura, possibilitando os mais variáveis e sofisticados usos. Mas, em certos
casos, tem desvantagem em relação a outros materiais mais homogêneos (CORADIN;
CAMARGOS, 2002).
A madeira é um dos recursos naturais mais utilizados no mundo, empregada para usos
múltiplos como na fabricação de carvão vegetal, móveis, celulose, papel, plástico, tecidos,
combustível e medicamentos. O cultivo de árvores no Brasil é uma prática difundida e contribui
significativamente com a economia do país, pois somente no segmento de celulose, ao final do
ano de 2017, houve produção de 19,5 milhões de toneladas de polpa, com exportação de 67%
desse montante (IBÁ, 2018).
O conhecimento das características de qualquer material é essencial para sua melhor
utilização. Quando se trabalha com materiais orgânicos, como é o caso da madeira, deve-se
sempre levar em consideração algumas características fundamentais, como sua
heterogeneidade, higroscopicidade e anisotropia. Deste modo, o estudo da madeira e seu
comportamento nas mais diversas situações se torna indispensável (CORADIN; CAMARGOS,
2002).
encontrados no interior da árvore e podem ser visualizados apenas com o uso de técnicas não-
destrutivas (PEDRAZZI et al., 2019).
eudicotiledonêas, esta madeira é mais clara e mais brilhante que a normal (BURGUER;
RITCHER, 1991). Outra característica que apresenta destaque na madeira de reação em
angiospermas é o baixo teor de lignina na parede celular das fibras (PANSHIN; DE ZEEUW,
1980). Além da ocorrência de uma camada gelatinosa na parte interna à parede celular
secundária (SIMPSON; TENWOLDE, 1999).
Para as características físicas e mecânicas da madeira de reação, pode-se destacar a
excessiva contração quando a umidade fica abaixo do ponto de saturação das fibras e o aumento
da densidade básica. Além de produzir uma superfície irregular quando usinada, suas tábuas
apresentam cores contrastantes, com aparência prateada ou escura variando com a espécie e
durante a secagem é comum o surgimento de defeitos (SIMPSON; TENWOLDE, 1999).
meio de microscopia (BADIA et al., 2005). As diferenças anatômicas entre a madeira normal e
de tração são consideráveis, ressaltando que podem variar de acordo com a espécie. Plantações
florestais de árvores jovens do gênero Eucalyptus, podem sofrer inclinações devido ações do
vento ou do terreno onde se encontram, levando o surgimento da madeira de tração nestas
espécies. Este fator pode reduzir o valor agregado do produto final, por alterar as propriedades
tecnológicas da madeira de forma significativa (SOUSA, 2004).
As principais diferenças anatômicas associadas ao lenho de tração estão relacionadas às
fibras, sendo estas caracterizadas como fibras longas e diferenciadas, chamadas de fibras
gelatinosas, com uma espessa camada gelatinosa em seu interior, preenchendo quase totalmente
o seu lume (DÉJARDIN et al., 2010). De acordo com Clair e colaboradores (2006), camada
gelatinosa pode ser encontrada apenas em fibras libriformes e em fibrotraqueídes, sendo
extremamente raro em parênquima axial ou radial.
Todas as angiospermas, aparentemente são capazes de produzir madeira com elevadas
quantidades de madeira de tração (CLAIR et al., 2006). Em algumas espécies, a diferença na
estrutura da fibra é evidente com a presença da camada gelatinosa na madeira de tensão. Em
outros casos, a diferença entre a madeira normal e a com elevada tensão não é tão evidente a
partir de observações em anatomia clássica (VIDAURRE et al., 2013).
A camada gelatinosa é caracterizada por altos níveis de celulose cristalina e pelo baixo
ângulo microfibrilar, que fica próximo de 0°C. Sua porcentagem de celulose fica em torno de
98%, diferindo do teor de hemicelulose e lignina, que são baixos nesta camada (DÉJARDIN et
al., 2010).
No passado acreditava-se que a camada gelatinosa era deslignificada, mas o uso de
novas técnicas químicas comprovou a presença de quantidades de pectina, hemiceluloses e
lignina na camada gelatinosa de algumas espécies (VIDAURRE et al., 2013). Lehringer et al.
(2009) notou a presença de compostos aromáticos na camada gelatinosa em Acer sp. L., Fagus
sylvatica L. e Quercus robur L., como pode ser visto na figura 2.
densidade básica e resistência mecânica (VIDAURRE et al., 2013). Sousa (2004), ao fazer
análise de cortes histológicos, pôde concluir que a presença do lenho de tração é mais
significativa na parte superior da árvore, mesmo não havendo diferenças significativas na
densidade básica, no sentido medula-casca de Eucalyptus grandis.
Na tabela 1 produzida originalmente por Panshin e De Zeeuw (1980) e adaptada por
Vidaurre et al. (2013), é possível observar algumas propriedades físicas e mecânicas da madeira
de tração de quatro espécies, onde analisa-se madeira normal MN e madeira de tração MT. A
compressão paralela à grã, a compressão perpendicular à grã, o módulo de ruptura em flexão
estática, o cisalhamento longitudinal e o módulo de elasticidade em flexão apresentaram
menores valores médios do que a madeira de tração, em todos os níveis de umidade, em relação
à madeira normal. Para à tração paralela à grã, foi possível notar uma menor resistência da
madeira de tração em relação à madeira normal na condição verde, isto se justifica pois, nessa
condição de umidade, a camada gelatinosa presente nessas madeiras não está bem ligada ao
resto da parede secundária, o que acaba influenciando na resistência. Contudo, para uma
condição de 15% de umidade, pode-se ver um aumento de resistência para madeira de tração
da espécie Populus regenerata (VIDAURRE et al., 2013).
De acordo com Vidaurre e colaboradores (2013), a discrepância mostrada na tabela 1
quanto a resistência à baixa tração, são porque tais madeiras possuem um defeito chamado de
“cerne quebradiço”. Para os mesmos autores, a resistência das madeiras de tração, em
comparação à madeira normal, pode ser explicada qualitativamente baseado na mudança das
taxas de celulose-lignina. Uma diminuição no teor de lignina na madeira de tração indica que
há um decréscimo no apoio lateral entre as microfibrilas de celulose na parede celular.
Consequentemente, as microfibrilas e as lamelas na madeira de tração agem como longas
colunas sem apoio sob compressão paralela à grã e empenam sob cargas menores do que ocorre
com madeira normal, que possui uma maior quantidade de lignina.
Tabela 1 - Propriedades físicas da madeira de tração e madeira normal.
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Fonte: Produzida originalmente por Panshin; De Zeeuw (1980) e adaptada por (VIDAURRE et al.,
2013).
aproximadamente, duas vezes maior que em traqueídeos normais. Quanto ao lenho inicial, os
traqueídeos possuem espessuras semelhantes a da parede das células normais. Os diâmetros das
células radiais apresentam pouca diferença, exceto nos limites dos anéis de crescimento. Tanto
o diâmetro médio radial quanto o tangencial são menores do que aqueles que seriam evidentes
em uma madeira normal (PANSHIN; DE ZEEUW, 1980).
Notavelmente, suas paredes celulares secundárias são mais espessas, têm celulose
reduzida e contêm maior teor de lignina com mais subunidades de p-hidroxifenil em
comparação com a madeira normal, além de apresentarem uma maior resistência à compressão
(BURGUER; RICHTER, 1991). De modo geral, o teor médio de lignina, com base no peso
seco, cresce cerca de 9%, o teor de celulose em madeira de compressão é cerca de 10% menor,
em relação aos níveis normais, e o teor de galactose é 7,8% maior que o da madeira normal. A
análise da celulose em madeira de compressão mostra que esta tem grau mais baixo de
cristalinidade e que alguns componentes das hemiceluloses são retidos na celulose purificada
(GROOVER, 2016).
Estudos das estruturas dos traqueídeos de madeira de compressão evidenciam que a
lamela média composta é similar à da madeira normal, além de a camada S1 ser mais espessa e
possuir a mesma organização microfibrilar da madeira normal, porém, seu teor de lignina é
maior e uma maior quantidade deste componente pode ser encontrada na camada S2
(GROOVER, 2016). A camada S2 modificada em madeira de compressão possui ângulo
microfibrilar (AMF) de cerca de 45° em relação ao eixo da célula. Esse ângulo é maior que o
encontrado na camada S2 da madeira normal. O ângulo espiral é evidente nas paredes celulares
de muitas espécies de coníferas, onde é possível ver a presença de padrões helicoidais que
acompanham o ângulo microfibrilar (VIDAURRE et al., 2013). O efeito do AMF é visto na
resposta à hidratação, onde em traqueídes de madeiras normais, o inchaço resulta em contração
em comprimento, enquanto o inchaço em traqueídes de madeira de compressão resulta em
extensão em comprimento. A camada de parede S3 está frequentemente ausente na madeira de
compressão (GROOVER, 2016).
A madeira de compressão é frequentemente classificada pelas indústrias moveleiras,
como uma matéria prima "dura". O estudo acerca dos efeitos deste material visando a
estabilidade dimensional da madeira é de fundamental importância para a melhor utilização dos
indivíduos que estão apresentando esta condição, pensando em evitar perdas, otimizar sistemas
de produção e aumentar o rendimento (SCHWEITZER, 2016).
A densidade é quase que invariavelmente alta em madeira de compressão e está
associada com propriedades mais baixas de resistência do que aquela que seria prevista com
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base em seu peso. A madeira de compressão bem desenvolvida geralmente é mais densa do que
o esperado para uma dada espécie, sendo mais difícil de ser trabalhada que a madeira normal
(SCHWEITZER, 2016). De acordo com Panshin e De Zeeuw (1980), o aumento na densidade
deve-se às paredes geralmente mais espessas na madeira de compressão, o que resulta em cerca
de um terço a mais de material de parede celular do que na madeira normal. Para os mesmos
autores, problemas que ocorrem durante a usinagem de madeira, que contém o lenho de
compressão são, provavelmente, o resultado do aumento da fricção causada pela distorção das
peças durante a operação de corte, e não apenas por diferenças de densidade entre o tecido
normal e anormal madeira (PANSHIN; DE ZEEUW, 1980).
A madeira de compressão parece ser relativamente uniforme devido à pouca distinção
entre o lenho juvenil e adulto. As tábuas serradas contendo grandes quantidades de madeira de
compressão tendem a ser mais frágeis e, consequentemente, têm uma resistência à flexão e ao
impacto inferiores a madeira livre deste problema (SCHWEITZER, 2016).
Na tabela 2 produzida originalmente por Panshin e De Zeeuw (1980) e adaptada por
Vidaurre et al. (2013), é possível observar algumas propriedades físicas e mecânicas da madeira
de compressão de três espécies, onde analisa-se madeira normal MN e madeira de tração MT.
É possível notar que a contração e o inchamento da madeira de compressão são maiores do que
os da madeira normal. A contração excessivamente grande ao longo da grã faz com que tábuas
que contenham madeira de compressão empenem e se torçam fortemente, o que causa
rachaduras frequentes nas junções entre a madeira de compressão e a normal (VIDAURRE et
al., 2013). As propriedades de tração e o módulo de elasticidade da madeira de compressão são
menores do que o esperado, com base em sua massa específica. A baixa resistência à tração ao
longo do eixo da célula pode ser explicada pela presença de cavidades espiraladas na parede
celular dos traqueídeos do lenho de compressão (VIDAURRE et al., 2013).
Fonte: Produzida originalmente por Panshin & De Zeeuw (1980) e adaptada por (VIDAURRE et al.,
2013).
Com o avanço da ciência novas descobertas são feitas todas os dias e muitas vezes estas
descobertas permitem complementar algo existente e até mesmo desmentir certas informações,
que até o momento pensava-se ser verdade absoluta. Deste modo, pesquisas recentes são muito
importantes, pois além de proporcionar informações atuais comprovadas cientificamente,
comparam tais informações com outros trabalhos já pulblicados.
Diversos pesquisadores vem se empenhando nos estudos sobre o lenho de reação em
coníferas e folhosas e neste tópico serão abordados cinco estudos atuais acerca deste tema.
3.1 - Transcriptomics and proteomics reveal the cellulose and pectin metabolic processes
in the tension wood (non-G-layer) of Catalpa bungei
3.2 - Contributions of bark and tension wood and role of the G-layer lignification in the
gravitropic movements of 21 tropical tree species
A orientação vertical das hastes das plantas é altamente instável. Pode ser facilmente
perturbado, por exemplo, pelo vento, animais, queda de árvores ou detritos. O próprio
crescimento é uma fonte de perturbação: por causa da gravidade, o aumento da autocarga da
planta tende a dobrar os caules para baixo. Para lidar com essas situações e tentar restaurar o
crescimento vertical, a madeira produz um tecido especial, denominado madeira de reação. A
produção de madeira tensionada é muitas vezes acompanhada de crescimento excêntrico,
aumentando a quantidade de forças em um lado da haste. Algumas espécies constituem em suas
fibras a presença de uma camada gelatinosa, denominada camada G. De acordo com Ruelle e
colaboradores (2007), esta camada é visível nos estágios iniciais de maturação da parede
celular, mas é posteriormente lignificada e, portanto, mascarada. Assim, as espécies que foram
classificadas como não possuindo uma camada G, pode ter tido esta camada mascarada por
lignificação.
Ghislain e colaboradores (2019), desenvolveram um estudo com 21 espécies de
angiospermas, separando-as em três grupos: com camada G lignificada, com camada G não
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lignificada e sem camada G. Seu principal objetivo foi avaliar se essa diversidade anatômica
possui alguma relação com o movimento gravitrópico da madeira de tensão.
De acordo com os autores, algumas espécies podem ser facilmente classificadas com
base no tipo de camada G mais representativa. Porém, a lignificação da madeira de tensão nem
sempre é uma característica binária. Em algumas espécies, camadas G lignificadas e não
lignificadas podem ser observadas na mesma seção (GHISLAIN et al., 2019).
Neste estudo, a diferença na eficiência gravitrópica do caule entre espécies dentro de
um grupo foi maior do que a diferença entre grupos anatômicos, o que indica uma forte variação
interespecífica. Nenhuma diferença significativa foi registrada entre os grupos anatômicos.
Portanto, níveis semelhantes de eficiência gravitrópica do caule podem ser alcançados por
fortes deformações de maturação na madeira (madeira tensionada com camadas G, lignificadas
ou não) ou por forte ação da casca e madeira (madeira tensionada sem camadas G) (GHISLAIN
et al., 2019).
Ghislain et al. (2019), sugere que a lignina na camada G não contribui para a geração
adicional ou reduzida de tensão de maturação na madeira tensionada. Ou seja, a lignina não
parece contribuir significativamente para a geração de estresse de maturação na madeira
tensionada, ao passo que representa um custo de carbono mais alto para a árvore em comparação
com as camadas G não lignificadas. Isso abre a questão da função da lignina na madeira
tensionada. Uma possível função é que a deposição de lignina “congela” o estresse de
maturação, impedindo seu relaxamento a longo prazo.
Os autores sugerem também, que a terminologia “madeira de tensão” não seja mais
adequada para este mecanismo, pois a diversidade das espécies faz com que este termo seja
insuficiente. Para eles, a madeira produzida na face superior dessas espécies de angiospermas
em resposta a um estímulo gravitrópico não pode ser denominada “madeira de tensão”, pois
não atua na produção de alta tensão. Seria mais correto falar em madeira de reação, pois ela é,
na maioria das espécies, fortemente modificada em relação à madeira normal, mas sua principal
ação é gerar compressão radial através de forte crescimento radial, a fim de induzir tensões
longitudinais na casca (GHISLAIN et al., 2019).
3.3 - Uso das técnicas microscópicas para caracterizar quimicamente a madeira normal
e de compressão de Pinus caribaea
das árvores com fuste reto do que nos das inclinadas; já quanto à frequência, não houve
diferença significativa na média geral. Deste modo, isso remete em uma maior facilidade na
impregnação de reagentes do cozimento na polpação kraft (BOSCHETTI et al., 2015).
De acordo com os autores, nas árvores inclinadas os elementos de vasos do lenho de
tração diminuíram em diâmetro e frequência, diferentemente do observado nos vasos do lenho
normal, que apresentaram maior diâmetro e maior frequência. Isso sugere um equilíbrio na
porosidade do tronco e mostra a importância dos elementos de vasos na fisiologia da árvore,
principalmente no fluxo de seiva da árvore viva (BOSCHETTI et al., 2015).
Nos cavacos de madeira, os vasos são os principais elementos anatômicos na difusão do
vapor de água. Para tanto, Boschetti e colaboradores (2015), sugerem que a variação na
porosidade do lenho afeta a permeabilidade de cavacos com porosidade distinta, o que pode
influenciar, dependendo de sua proporção, a penetração dos reagentes no cozimento e,
consequentemente, nos parâmetros de polpação.
No lenho de tração, os elementos de vasos diminuíram em diâmetro e pouco alteraram
em frequência, porém, no lenho normal, além de diminuírem em diâmetro, aumentaram também
sua frequência, de forma considerada. Sabe-se que o elevado número de vasos diminui a
percentagem de fibras por unidade de área, o que acaba deixando o material com uma menor
densidade (BOSCHETTI et al., 2015).
As fibras de menor comprimento permitem uma maior formação da folha de papel,
porém originam papéis com propriedades físico‑mecânicas inferiores às do oriundo de fibras
mais longas. Neste trabalho não houve diferença na espessura de parede das fibras entre o lenho
normal e o oposto. Porém, no lenho de tração, a presença da camada gelatinosa resultou em
aumento da espessura da parede, quando comparado aos lenhos normal e oposto. Ao se
comparar os lenhos de reação, as paredes das fibras do lenho de tração e do lenho oposto
apresentaram largura semelhante, contudo, as fibras do lenho de tração tiveram menor diâmetro
de lume. A camada gelatinosa presente nas fibras do lenho de tração tende a aumentar a
espessura de parede e diminuir o diâmetro de lume, em comparação às fibras dos lenhos normal
e oposto (BOSCHETTI et al., 2015).
bioquímicos. Este estudo tem o objetivo de investigar modelos capazes de prever respostas
da planta em seu sistema radicular, quando estas sofrem mudanças ambientais.
Diversas pesquisas analisam o efeito do lenho de reação na madeira , comparando-o
com a madeira normal. Porém, existem poucos estudos sobre o efeito do lenho de reação nas
raízes. Deste modo, Montagnoli e colaboradores (2019), investigaram as características da raíz
de um arbusto, uma angiosperma e uma gimnosperma e perceberam que as plantas que crescem
em encostas adaptam seu sistema radicular para obter uma ancoragem mais forte ao solo. Tal
reforço é obtido por meio da implantação de uma distribuição assimétrica de raízes laterais ao
redor do coto. Eles prosseguiram com os estudos da espécie de gimnosperma (Pinus
ponderosa), descrevendo vários aspectos do sistema radicular das mesmas.
A produção assimétrica do lenho das raízes indicaram a presença de madeira de reação.
Groover (2016), diz que a madeira de reação é central para os conceitos de projeto mecânico e
crescimento adaptativo que descrevem como o tronco e os galhos das árvores respondem a
estresses ambientais. Este trabalhou mostrou que apesar das prováveis diferenças qualitativas e
quantitativas nas forças mecânicas (compressão e tensão) ativas nos vários quadrantes do
sistema radicular, a resposta observada foi sempre a formação de excentricidade anual do anel
orientada para cima (ou seja, em direção à superfície do solo), pelo menos na zona de conicidade
rápida.
De acordo com Montagnoli et al. (2019), o lenho de compressão das raízes se formou
no sentido ascendente. Assim, eles sugerem que a estimulação mecânica e/ou inibição das
células iniciais do câmbio vascular pode ocorrer na face superior e inferior da raiz,
respectivamente. Isso é independente do tipo de força mecânica .
Em todos os quadrantes estudados, a direção da excentricidade foi a mesma, portanto,
Montognoli e colaboradores (2019), sugerem que o sistema radicular de Pinus ponderosa está
preparado para responder às forças de tração ou compressão de qualquer direção em que essas
forças indutoras cheguem.
Deste modo, eles concluiram que as árvores ajustam continuamente a implantação
espacial das raízes em resposta às condições ambientais por meio da emissão de novas raízes
laterais, mudança de direção de crescimento e produção de madeira de reação, em qualquer
local ao longo do eixo da raiz parental. Também, sempre que necessário para modificar a
arquitetura do sistema radicular em resposta a estímulos ambientais (MONTAGNOLI et al.,
2019).
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