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• Definição das especificações técnicas para os TCs de proteção

A primeira característica a ser determinada quando se trata dos transformadores


de corrente é a corrente nominal do primário. Para isso, deve-se levar em consideração
dois critérios fundamentais. Primeiro, a corrente nominal do primário do TC deve ser
igual ou superior à multiplicação de um fator de segurança K pela corrente de carga
máxima, já definida anteriormente. Além disso, ela deve ser maior ou igual à maior
corrente de curto-circuito dividida pelo fator de sobrecorrente. Assim, considerando o
valor do fator K como 1,5 e o fator de sobrecorrente como 20, tem-se:

I - Inom,P,TC ≥ K x ICarga,máx
Inom,P,TC ≥ 1,5 x 15,6888
Inom,P,TC ≥ 23,5332 A

ICCmáx,P
II - Inom,P,TC ≥
FS
1103,11
Inom,P,TC ≥
20

55,1555 A

Determinado que a corrente precisa ser maior ou igual a 55,1555 A, é necessário


realizar uma análise junto aos valores encontrados nos catálogos dos fabricantes. Após
essa análise, constatou-se que a corrente nominal mais adequada para o primário é de
100A.
Quanto à corrente nominal do secundário, é fundamental observar que a maioria
dos tipos de TCs possui uma classificação padrão de 5 A. Assim, é prático e sensato optar
por esse valor como corrente nominal para o secundário do TC.
Com a definição das correntes nominais do primário e secundário, pode-se
determinar a relação de transformação do TC. Ela é dada pela divisão da corrente nominal
do primário pela corrente nominal do secundário. Assim, tem-se:

Inom,P,TC
RTC =
Inom,S,TC
100
RTC =
5
RTC = 20 : 1
O próximo passo é determinar a tensão máxima de operação do equipamento. Para
isso, realizou-se uma análise da tensão máxima do sistema, consultando a tabela de níveis
de isolamento normalizados presente na NBR 6939 para fazer a escolha mais adequada.
Após essa análise, optou-se por uma tensão máxima de 15 kV e uma frequência de 60 Hz
visto que o sistema também possui essa frequência.
Continuando com a análise da tabela 2 da NBR 6939, que aborda os níveis de
isolamento normalizados para a faixa de 1 kV < Um ≤ 245 kV, observou-se que para uma
tensão máxima de 15 kV, a tensão suportável nominal normalizada de frequência
fundamental de curta duração mais apropriada é de 34 kV (valor eficaz), e o valor da
tensão suportável nominal normalizada de impulso atmosférico é de 95 kV (crista).
Dando continuidade à definição das especificações do TC, é necessário determinar
a carga nominal do equipamento. Para isso, a carga nominal deve ser maior ou igual ao
valor da impedância de carga multiplicado pela corrente nominal do secundário do TC ao
quadrado (Cnom,TC ≥ Zcarga x I²nom,S,TC ). Assim, percebe-se que, antes de determinar a
carga nominal, é fundamental calcular a impedância de carga.
Quando se trata da determinação da impedância de carga, observa-se que ela é a
soma das impedâncias dos condutores, do relé e do TC (ZCarga = ZCondutor + ZRelé + ZTC ).
Portanto, será necessário determinar cada uma delas separadamente e, em seguida,
realizar o somatório.
Para a impedância dos condutores, a norma DIS-NOR-036 estabelece que ela pode
ser determinada multiplicando-se o fator de 0,02 pela resistência máxima tabelada ou pela
divisão do comprimento pelo valore da seção nominal do condutor. Considerando uma
seção do condutor de 4 mm² e um comprimento de 6 metros, tem-se:

Lcondutor
ZCondutor = 0,02 x
Snominal,Cond
6
ZCondutor = 0,02 x
4
ZCondutor = 30 mΩ

Continuando a consulta à norma DIS-NOR-036, observa-se que para a


determinação da impedância do relé será necessário dividir a carga solicitada pelo relé
(que dependerá das características de medição) pela corrente nominal do secundário do
TC, ao quadrado. Como o relé será utilizado para medições tanto de fase como de neutro,
considera-se que:
𝑆𝐹𝑎𝑠𝑒 𝑆𝑁𝑒𝑢𝑡𝑟𝑜
ZRelé = +
I²nom,S,TC I²nom,S,TC

Considerando que as cargas de fase e neutro são 0,2 e 0,4, e que a corrente nominal
do secundário do TC é 5 A, tem-se:

0,2 0,4
ZRelé = +
5² 5²
ZRelé = 0,008 + 0,016
ZRelé = 24 mΩ

E, por fim, quando se trata da impedância do TC, normalmente ela é definida pelo
fabricante do TC. No entanto, na falta de maiores informações e considerando um TC
com baixa reatância de dispersão, apenas a resistência é importante, podendo ser
considerada como 20% da carga do TC. Assim, para o TC em questão e considerando
uma impedância de carga nominal próxima a 1,0 Ω, a resistência de carga nominal é de
0,81 Ω (obtida da tabela 8 da ABNT NBR 6856, que trata das características das cargas).
Dessa forma, tem-se:

ZTC = 0,2 x 0,81


ZTC = 162 mΩ

Agora, realizando a soma das impedâncias, obtém-se a impedância da carga.

ZCarga = ZCondutor + ZRelé + ZTC


ZCarga = 30mΩ + 24mΩ + 162mΩ
ZCarga = 216 mΩ

Com a impedância de carga definida, é possível prosseguir com o cálculo da carga


nominal do equipamento.

Cnom,TC ≥ Zcarga x I²nom,S,TC


Cnom,TC ≥ 0,216 x 5²
Cnom,TC ≥ 5,4 VA
Após obter a condição necessária, é essencial consultar novamente a Tabela 8 da
norma NBR 6856 para selecionar o valor de carga mais adequado à situação. O valor
padronizado de carga que melhor se ajusta é 12,5 VA.
O próximo passo consiste na determinação da designação da classe de exatidão
do TC. Para isso, será necessário analisar a norma NBR 6856, onde é definida uma
maneira específica para essa determinação. Observando-a, tem-se que essa designação do
TC deve ser representada por um código composto inicialmente pela classe de exatidão
em porcentagem do TC, seguida pelo tipo de reatância secundária e, por fim, a tensão
secundária. Tudo isso levando em consideração um fator de sobrecorrente de 20.
Assim, considerando que a classe de exatidão é a designação dada a um
transformador de corrente quando os erros dele permanecem dentro de limites
especificados sob condições prescritas de uso e os valores padronizados na norma, optou-
se por uma classe de exatidão de 10%.
Com relação ao tipo de reatância secundária, após análise das impedâncias do TC
e dos equipamentos, concluiu-se que o TC é do tipo de baixa reatância (B).
Por fim, é crucial determinar a tensão do secundário e a tensão de saturação para
finalizar a codificação do TC. Quanto à tensão do secundário, esta é obtida multiplicando-
se a corrente nominal do secundário do TC pelo fator de sobrecorrente e pela impedância
da carga. Assim, tem-se:

V = Inom,S,TC x FS x ZCarga
V = 5 x 20 x 0,216
V = 21,6 V

Para a tensão nominal de saturação do TC, esta precisa ser maior ou igual à
corrente de curto-circuito máxima do secundário do TC multiplicada pela impedância de
carga. Assim:

ICCmáx,P
Vnom,sat,TC ≥ x ZCarga
RTC
10000
Vnom,sat,TC ≥ x 0,216
20
Vnom,sat,TC ≥ 108 V

Assim, ao comparar os valores calculados com os padronizados pelas normas e


pelos fabricantes, optou-se por escolher uma tensão de 150V.
Sendo assim, juntando os componentes, temos o código 10B150. Vale ressaltar
que em uma nova edição da norma, essa designação precisa ser composta, em ordem, pela
carga-padrão secundária, seguida da classe de exatidão em porcentagem, depois a classe
de proteção e o fator de sobrecorrente. Seguindo isso, tem-se o código 12,5 VA 10P20.
Agora, será necessário determinar o fator térmico. Para isso, consulta-se a norma
NBR 6856, que estabelece que o fator térmico deve estar na faixa de valores ≥ 1,0 e ≤
2,0. Considerando a elevação de temperatura admissível de 55ºC pelos fabricantes, optou-
se por escolher um fator térmico de 1,2, amplamente utilizado de forma comercial.
Por fim, são definidas a corrente térmica nominal de curta duração e a corrente
dinâmica nominal.
Para estabelecer a corrente térmica nominal de curta duração, é necessário, em
primeiro lugar, determinar o tempo em que a corrente máxima de curto-circuito simétrico
pode fluir pelo enrolamento primário, sendo geralmente definido como 1 segundo. Uma
vez definido o tempo, a determinação da corrente térmica nominal de curta duração segue
a seguinte condição:

It ≥ ICCmáx,P ; para tat ≤ 1s


It ≥ 10 kA

Definido esse critério, escolheu-se um valor de 96 kAef 1s para a corrente térmica


nominal de curta duração. Já a corrente dinâmica nominal, quando não especificado, deve
ser maior ou igual a 2,5 vezes a corrente térmica nominal de curta duração. Portanto, tem-
se:

Id ≥ 2,5 x It
Id ≥ 2,5 x 10000
Id ≥ 25000 A

Assim, optou-se por uma corrente dinâmica de 240 kACr. Com todas as
especificações necessárias definidas, criou-se uma tabela que resume esses parâmetros,
apresentada abaixo:
Tabela 5 – Parâmetros especificados para o TC.
Corrente nominal primária 100A
Corrente nominal secundária 5A
Tensão máxima do equipamento 15 kV
Frequência nominal 60 Hz
Tensão suportável nominal normalizada
de frequência fundamental de curta 34 kV
duração
Tensão suportável nominal normalizada 95 kV
de impulso atmosférico
Carga nominal 12,5 VA
Classe de exatidão 10B150 - 12,5 VA 10P20
Fator térmico nominal (Ft ) 1,2
Corrente térmica nominal de curta 96 kA ef para 1 segundo
duração (It )
Corrente dinâmica nominal (Id ) 240 kA Cr
Uso Interno
Meio isolante Sólido (Epóxi)
Fonte: Autoria própria, 2023

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