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FACULDADE DE DIREITO
São Paulo
2016
MELISSA CAROLINE CAMBUHY
São Paulo
2016
MELISSA CAROLINE CAMBUHY
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________
Prof.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________
Prof.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
AGRADECIMENTOS
A minha família, pelo constante amor, carinho e suporte. Em especial a minha mãe,
Márcia, ao meu pai Ricardo e ao meu segundo pai, André. Sem vocês nada disso
seria possível.
Aos meus irmãos, Felipe e Laura, meus pequenos grandes amores, que me inspiram
a luta por um mundo melhor.
(István Mészáros)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
CONCLUSÃO. .......................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS. ........................................................................................................ 60
9
INTRODUÇÃO
Deste modo, para executar tal análise, esse trabalho foi divido em 3 capítulos,
sendo que em seu primeiro se examina e desenvolve as questões teóricas referentes
ao capitalismo e às crises sob um referencial teórico marxista, buscando demonstrar
a ligação existente entre ambos os temas.
Seu segundo capítulo, que conta com quatro partes, busca demonstrar o
desenvolvimento do capitalismo central no século XX, processo esse eivado pelas
crises e pela reestruturação produtiva. Nele se analisa o paradigma Taylor-Ford, as
crises do século XX, o pós-fordismo e a precarização do trabalho, após se examinar
e desenvolver questões teóricas quanto ao trabalho e a reestruturação produtiva sob
uma ótica marxista.
1. CAPITALISMO E CRISE
A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas
de classe.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das
corporações e aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em
contraposição uns aos outros e envolvidos em uma luta ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação
revolucionária da sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes
em conflito.3 (grifo nosso)
3 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 8,
4 MELLO, Alex Fiúza de. Crise Mundial e reestruturação produtiva: algumas questões de ordem teórica.
possibilitou o triunfo dela que truculentamente tentava se ver livre das amarras
feudais:
5MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 960.
6MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 10-11.
14
Vale ressaltar que para além do êxito no setor econômico, a burguesia com o
desenvolvimento do capitalismo vinha ampliando também seu domínio e centralização
do poder político. Expressão desse domínio se deu em 1789 com a Revolução
Francesa, na qual a classe imprimiu sua hegemonia ideológica com a tríade
"Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, enterrando os dogmas religiosos e a servidão
do mundo medieval sobre os quais triunfaram os imperativos do capitalismo liberal
burguês.
7 MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 13.
8 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do trabalho, volume
9 HOBSBWAWM, Eric. A era das revoluções: 1780-1848. Tradução de Maria Tereza Lopes Teixeira
e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
10 MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 20.
11 “Pela primeira vez, a alienação era vista enquanto processo da vida econômica. O processo por meio
do qual a essência humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha
a eles por serem produtos alienados e convertidos em capital”. GORENDER, Jacob. Apresentação.
In: MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
“Processo histórico-social no qual o produto do trabalho humano torna-se independente, se
autonomiza, escapando ao controle racional e virando-se contra seu criador. Apesar de,
etimologicamente, ―alienação‖ possuir uma origem psicológica, Marx utilizou o termo também no seu
aspecto econômico, ao se referir à alienação no trabalho e suas consequências no cotidiano das
pessoas. Marx também observou a alienação da sociedade burguesa – o fetichismo (ver adiante).
Hegel define ―alienação‖ como ―o outro distinto de si mesmo‖. Em Hegel, seu conteúdo não é
negativo. Em Marx, sim. Expressa o estranhamento, a separação e a fragmentação do ser humano.
Algo está alienado quando já não mais nos pertence.” KOHAN, Nestor. Dicionário básico de
categorias marxistas. Disponível em: https://pcb.org.br/portal/docs1/texto3.pdf. Acesso em 01 out.
2016.
12 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do trabalho, volume
14 MELLO, Alex Fiúza de. Crise Mundial e reestruturação produtiva: algumas questões de ordem
teórica. Novos Cadernos NAEA. Belém, v. 7, n. 1, p. 5-30, jun. 2004. Disponível em:
http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/34. Acesso em 01 out. 2016.
17
15MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 17-19.
18
16 “Valor: Não é uma coisa, nem uma propriedade intrínseca das coisas. É uma relação social de
produção. Em ambos os polos da relação, vincula-se aos possuidores de mercadorias. Quando os
produtos do trabalho são gerados dentro de relações de valor, são produzidos para serem vendidos no
mercado. Marx distingue historicamente diversas relações de valor, desde a mais simples (a permuta)
até a mais desenvolvida (o dinheiro)”. KOHAN, Nestor. Dicionário básico de categorias marxistas.
Disponível em: https://pcb.org.br/portal/docs1/texto3.pdf. Acesso em 01 out. 2016.
17 “Mais-valor ou mais-valia: Fração do valor produzido pela força de trabalho que é apropriada
gratuitamente pelo capitalista. Constitui a origem da exploração. Representa um trabalho não pago. É
a fonte de vida do capital. É o excedente repartido entre diferentes capitalistas, na forma de juros (para
os banqueiros); lucros (empresários industriais) e rendas da terra (proprietários)”. Idem ibidem.
18 MARX, Karl. Capítulo inédito D’O Capital: resultado do processo de produção imediato. Escorpião,
1975, p. 20
19
contração do exército industrial de reserva, que se regem, por sua vez, pela alternância periódica do
ciclo industrial. Não se determinam, portanto, pelo movimento do número absoluto da população
trabalhadora, mas pela proporção variável em que a classe trabalhadora se divide em exército ativo e
exército de reserva, pelo aumento ou redução do tamanho relativo da superpopulação, pelo grau em
que ela é ora absorvida, ora liberada” (MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São
Paulo: Boitempo, 2013, p. 865).
20
24 HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Tradução: Rogério Bettoni. São Paulo:
Boitempo, 2016
25 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.
O trabalho fora definido por Marx29 como atividade vital, um processo entre o
humano e a natureza, no qual aquele com seu próprio impulso regula e controla seu
com o modo de produção capitalista não se volta à produção de objetos que satisfaçam a
necessidades humanas, valores de uso, mas sim a produção de valores e, mais especificamente,
mais-valia. Segundo, no interior deste próprio processo de trabalho capitalista ocorrem mudanças
significativas, por conta do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social, que alteram sua
própria natureza intrínseca” (ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios
de sociologia do trabalho. 2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007) (grifo nosso).
28 HAREY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Tradução: Rogério Bettoni. São Paulo:
Boitempo, 2016.
29 “O trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, processo este em que
o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele se
23
intercâmbio material com a natureza a tornando uma de suas forças. E ainda, como
primeiramente uma atividade voltada a um fim que ao modificar a natureza, modifica
também ao humano. Ou seja, como meio pelo qual o humano torna-se ser social.
confronta com a matéria natural como com uma potência natural [Naturmacht]. A fim de se apropriar
da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida, ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes a sua corporeidade: seus braços e pernas, cabeça e mãos. Agindo sobre a natureza
externa e modificando-a por meio desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria
natureza. Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu
próprio domínio. Não se trata, aqui, das primeiras formas instintivas, animalescas [tierartig], do trabalho.
Um incomensurável intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta no
mercado como vendedor de sua própria força de trabalho daquele em que o trabalho humano ainda
não se desvencilhou de sua forma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz
respeito unicamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma
abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início
distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua
mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado
que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado
que já existia idealmente. Isso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento
natural; ele realiza neste último, ao mesmo tempo, seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei,
o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação
não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, a atividade laboral exige a
vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de
sua tarefa, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo seu próprio conteúdo e pelo modo de
sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos este último usufrui dele como jogo de suas
próprias forças físicas e mentais.
Os momentos simples do processo de trabalho são, em primeiro lugar, a atividade orientada a um fim,
ou o trabalho propriamente dito; em segundo lugar, seu objeto e, em terceiro, seus meios.” (MARX,
Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 326) (grifo nosso)
30 NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.
Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. spe, p. 14-20, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400004&lng=en&nrm=iso.
Acesso em 11 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000400004.
31 Idem ibidem.
24
32 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010.
33 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.
quer dizer que o sucesso da fábrica não foi, como se pode pensar, a
mecanização e o desenvolvimento tecnológico, mas sim o fato de ela ter
sido um locus privilegiado da disciplinarização dos trabalhadores que
acabaram por introjetar dentro de cada um o relógio moral do
desenvolvimento capitalista.
(...)
A tecnologia é vista, então, como mais uma forma de controle social. A
imposição da noção de “tempo útil” parece ser um bom exemplo disso, na
medida em que prevalece, cada vez mais, a idéia “moralizante” de que não
se pode perder tempo, de que tempo é dinheiro. Esta introjeção definitiva
da imagem e do valor do tempo como moeda de mercado é uma
ilustração de que são dominantes as idéias da classe dominante.
não tem nada para vender, a não ser sua própria pele36 deverá trabalhar,
consequentemente o disciplinando e assujeitando sob seus mandos.
36 MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 960.
37 BRIGHTON LABOUR PROCESS GROUP. The Capitalist Labour Process. Capital & Class. Londres,
v, 1, 1977, p. 9.
38 SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Editado por George Allen e
Unwin Ltd. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, capítulo 7.
27
Tal organização já existia no sistema fabril porém foi levada a outros níveis por
Taylor com a decomposição de cada processo de trabalho, níveis esses que
agravaram a alienação do trabalhador e o controle sobre o trabalho com a separação
extrema entre a concepção e a execução, com a expropriação do saber dos
trabalhadores e buscando transformá-los em meros instrumentos de produção. Sendo
Vale ressaltar aqui que a crise de 1930 foi um dos agentes que criou as
condições políticas e sociais para tal processo de reestruturação produtiva que
desaguou no fordismo e assim, esse se aliou firmemente ao keynesianismo, como
ratifica o excerto:
117-8.
30
Druck (1999, p. 45) demonstra o caráter reativo à vitória socialista que este tem
afirmando que o modo americano de trabalhar e de viver, no pós- II Guerra, precisou
fazer frente ao modo socialista de trabalhar e viver, e assim, expõe que, na realidade,
44 PAMPLONA, João Batista. Inserção brasileira no novo padrão capitalista. Pesquisa & Debate. São
Paulo: PUCSP, v. 7, n. 2, 1996, p. 140.
45 DRUCK, Maria da Graça. Terceirização (des)Fordizando a Fábrica. Salvador: Edufa,1999.
31
Apesar de ser mera maneira pela qual o modo de produção capitalista pôde
prosseguir com sua reprodução e não uma real mudança nos já mencionados
imperativos do capital, o fordismo-keynesiano propiciou meio à política de conciliação
de classes, 30 anos gloriosos ao capitalismo no período de 1945 a 1973.
Deste modo, narra Druck (1999, p. 64), que apesar da crise que na década de
60 já imprimia seus efeitos sobre a classes trabalhadora, os sindicatos exigiam a
continuação dos ganhos de produtividade incorporados aos salários e se recusavam
46HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 135.
32
Nas crises os aspectos contraditórios dos dois polos de uma mesma relação
dialética se manifestam violentamente e essa é a única forma possível de
restabelecer-se a unidade necessária entre esses polos. As crises,
portanto, são soluções bruscas que restabelecem transitoriamente a
normalidade, ou seja, não são terminais – consideradas em si mesmas –,
não se deve esperar o fim do capitalismo como mera consequência de uma
crise econômica, que pelo contrário o restaura, recolocando-o em seu
curso normal (contraditório) de desenvolvimento. Isto significa dizer
que as crises criam as condições para um novo processo de
acumulação de capital, o que denota o caráter cíclico do mesmo. (grifo
nosso)
33
A crise de 1973 não foi diferente e fato é que o fordismo-keynesiano que por
anos se caracterizou como sustentáculo para o acúmulo de capital, tornou-se sua
trava com a queda das taxas de crescimento e o endividamento estatal crescente.47
correspondente.53 O que nos permite concluir que as grandes crises capitalistas não
são simplesmente crises econômicas.54
Como dizia Marx, até mesmo uma criança sabe que, se uma formação
social não reproduzir as condições da produção ao mesmo tempo que
produz, não conseguirá sobreviver um ano. A condição última da
produção é, portanto, a reprodução das condições de produção. [...] A
produção (que se efetua nas empresas) é dominada e regulada pelas
relações de produção capitalistas. Essas relações de produção são, ao
mesmo tempo, relações de exploração capitalista.56 (grifo nosso)
Segundo eles a “especialização flexível” seria uma nova forma produtiva que
articula desenvolvimento tecnológico e desconcentração produtiva, ou seja, a
superação das unidades fabris concentradas e verticalizadas do fordismo e assim, da
produção em massa, sendo substituída por empresas médias e pequenas com um
processo produtivo mais flexível, “artesanal”. Ademais, segundo os teóricos, o que
teria causado a crise capitalista de 1973 teria sido os excessos da produção em massa
fordista.
37
Em contrapartida, Sabel e Piore foram muito criticados, uma vez que segundo
Simon Clarke, a “especialização flexível” traria na realidade o agravamento da
exploração do trabalho, o desqualificando e desorganizando, e quanto à crise do
fordismo, afirma que esta é apenas mais uma manifestação da crise permanente e
intrínseca ao funcionamento do sistema capitalista.
59 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 148.
60 NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.
Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. spe, p. 14-20, 2007 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400004&lng=en&nrm=iso.
Acesso em 11 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000400004, p. 17.
38
Tais fatos ratificam a tese exposta até então nesse trabalho, deixando clara a
relação entre crises e reestruturação produtiva, e ainda, a submissão do processo
produtivo à forma econômica.
61 “A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do
fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.
Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de
fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de
inovação comercial, tecnológica e organizacional”. (HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma
pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 140.)
62 TEIXEIRA, Francisco José Soares. A Cooperação Complexa. Tese (Doutorado em Educação).
Fato é que desde que o trabalho se tornou emprego e que os operários por
meio de lutas históricas, conquistaram o Direito do Trabalho (que surgiu como uma
tentativa de limitar o poder econômico e também pacificar a contradição própria do
capital, capital x trabalho) este tem sido alvo de ataques e designado enquanto rígido,
inflexível. Entretanto tal questionamento quanto à flexibilidade, coincidentemente, não
alcança a rigidez do capital que nega qualquer “retrocesso” em sua conduta de
incontornável defesa da majoração de seus lucros, seja como for, a qualquer preço.
impõe-se não apenas por meio da perda de direitos e do aumento da exploração da força de trabalho,
por meio do alto grau de extração de sobretrabalho de contingentes operários e empregados da
produção social. A precarização do trabalho se explicita por meio através do crescente contingente de
trabalhadores desempregados supérfluos à produção do capital”. ALVES, Giovanni. Dimensões da
Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho. 2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6,
2007, p. 126.
43
71 MARTINS, Sergio Pinto. Flexibilização das Condições de Trabalho. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009,
p. 13.
44
73 “Desenvolvendo melhor estes aspectos, é possível distinguir três formas históricas da dependência.
A primeira delas seria a dependência colonial, com tradição na exportação de produtos in natura e na
qual o capital comercial e financeiro, em aliança com os estados colonialistas, domina as relações entre
a Europa e as colônias. A segunda seria a dependência “financeiro-industrial” que se consolida ao final
do século XIX, sendo caracterizada pela dominação do grande capital nos centros hegemônicos, cuja
expansão se dá por meio de investimentos na produção de matérias-primas e produtos agrícolas para
seu próprio consumo.
Consequentemente, a produção nos países dependentes é destinada à exportação, isto é, a produção
é determinada pela demanda por parte dos centros hegemônicos. A estrutura produtiva interna é
caracterizada pela rígida especialização e pela monocultura em algumas regiões”. AMARAL, Marisa
Silva. A Investida Neoliberal na América Latina e as Novas Determinações da Dependência.
Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Uberlândia: Universidade Federal de
Uberlândia, 2006, p. 31.
74 Idem ibidem, p. 32
75 PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense, 1974, p. 14.
46
XXIII.
48
2013, p. 265
82 “Na medida em que aumentam a oferta mundial de alimentos (que são bens-salário), os países
latino-americanos acabam induzindo a uma redução dos preços dos produtos primários no
mercado mundial. O resultado direto disso é uma redução do valor real da força de trabalho nos países
industriais, permitindo que o incremento da produtividade se traduza em ampliação da mais-valia.
“Em outras palavras, mediante sua incorporação ao mercado mundial de bens-salário, a América Latina
desempenha um papel significativo no aumento da mais-valia nos países industrializados” (Ibidem, p.
116). Como o preço dos produtos industriais se mantém relativamente estável, a depreciação
dos bens primários acaba sendo refletida na deterioração dos termos de troca. Nesses termos,
a deterioração dos termos de troca acaba sendo a expressão da realização de um intercâmbio
desigual de mercadorias entre nações industriais e não industriais, dentro da imposta divisão
49
Vale ressaltar que a Consolidação das Leis do Trabalho, que data de 1940, não
versou à época sobre o tema. Naquela oportunidade se previra e definira apenas as
figuras do empregado e do empregador em seus artigos 2º e 3º, sendo que estes
figurariam em uma relação de emprego caso os critérios da pessoalidade,
habitualidade, subordinação e a bilateralidade da relação jurídica fossem atendidos.
Suas únicas exceções eram as previstas no artigo 455 do mesmo diploma, o qual
previa as figuras da empreitada e subempreitada.
Fato é que o processo produtivo vigente à época não requeria ainda tal modo
triangular de contratação, já que o contexto histórico-econômico brasileiro que
“coincidia”, ou melhor dizendo, (dada sua característica de dependência) encontrava-
se submetido a do capitalismo central, ainda forjava-se sobre o fordismo. Como
Ricardo Antunes contextualiza no excerto abaixo:
86 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015, p. 488.
52
Deste modo, segundo Delgado88 já no fim da década de 1960 e início dos anos
70 é que a ordem jurídica instituiu referência normativa mais destacada ao fenômeno
da Terceirização (ainda não designado por tal epíteto nessa época, esclareça‐se).
Mesmo assim tal referência dizia respeito apenas ao segmento público (melhor
definindo: segmento estatal) do mercado de trabalho – administração direta e indireta
da União, Estados e Municípios. É o que se passou com o Decreto‐Lei n. 200/67 (art.
10) e Lei n. 5.645/70.
Tal disposição ensejou uma série de fraudes que fizeram com que os números
de reclamações trabalhistas disparassem e em consequência disso, buscando
uniformizar a jurisprudência da Corte, o TST, em 1986, editasse a Súmula nº 256
declarando expressamente que a terceirização só seria lícita nos dois casos já
previstos em lei, sob pena de se caracterizar o vínculo empregatício: “Salvo nos
casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previsto nas leis 6.019 e
7.102, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta, formando‐se
o vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços.” (grifo nosso)
Entretanto, tais esforços não obteram êxito e em 1993 o TST editou nova
Súmula, a nº 331, que passou a abranger também a temática no campo da
Administração Pública, e que até a atualidade é a que regulamenta o instituto da
terceirização no Brasil:
terceirização trabalhista no Supremo Tribunal Federal?. In: Wilson Ramos Filho; José Eymard
Loguércio; Mauro de Azevedo Menezes. (Org.). Terceirização no STF: elementos do debate
constitucional. Bauru: Canal 6, 2015, v. 1, p. 13-38.
56
93 LOPES, João Gabriel; COZERO, Paula ; GIORGI, Fernanda . O que está em jogo em matéria de
terceirização trabalhista no Supremo Tribunal Federal?. In: Wilson Ramos Filho; José Eymard
Loguércio; Mauro de Azevedo Menezes. (Org.). Terceirização no STF: elementos do debate
constitucional. 1ed.Bauru: Canal 6, 2015, v. 1, p. 13-38.
57
CONCLUSÃO.
Deste modo, foi possível concluir que se os processos de crise são imanentes
das contradições do capital, tanto quanto o processo de precarização do trabalho
também o é, somente a superação do modo de produção capitalista se apresenta
como saída real para as mazelas que castigam a classe trabalhadora. Neste sentido:
REFERÊNCIAS.
BRIGHTON LABOUR PROCESS GROUP. The Capitalist Labour Process. Capital &
Class. Londres, v, 1, 1977.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015.
LIPIETZ, Alain. Akkumulation, krisen und auswege aus der krise. Prokla, nº 58, 1985.
LOPES, João Gabriel; COZERO, Paula; GIORGI, Fernanda. O que está em jogo em
matéria de terceirização trabalhista no Supremo Tribunal Federal?. In: Wilson Ramos
Filho; José Eymard Loguércio; Mauro de Azevedo Menezes. (Org.). Terceirização no
STF: elementos do debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015, v. 1, p. 13-38.
______. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013.
62
MELLO, Alex Fiúza de. Crise Mundial e reestruturação produtiva: algumas questões
de ordem teórica. Novos Cadernos NAEA. Belém, v. 7, n. 1, p. 5-30, jun. 2004.
Disponível em: http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/34. Acesso
em 01 out. 2016.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense,
1974.
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do
trabalho, volume I: Parte I. São Paulo: LTr, 2011.