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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE DIREITO

MELISSA CAROLINE CAMBUHY

CRISE, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO:


A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

São Paulo
2016
MELISSA CAROLINE CAMBUHY

CRISE, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO:


A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Direito.

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto

São Paulo
2016
MELISSA CAROLINE CAMBUHY

CRISE, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO:


A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Direito.

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto
Universidade Presbiteriana Mackenzie

__________________________________________
Prof.
Universidade Presbiteriana Mackenzie

__________________________________________
Prof.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
AGRADECIMENTOS

A minha família, pelo constante amor, carinho e suporte. Em especial a minha mãe,
Márcia, ao meu pai Ricardo e ao meu segundo pai, André. Sem vocês nada disso
seria possível.

Aos meus irmãos, Felipe e Laura, meus pequenos grandes amores, que me inspiram
a luta por um mundo melhor.

As minhas amigas e amigos, família que escolhi, pelo carinho e companheirismo.

As minhas colegas e aos meus colegas de trabalho do Roberto Caldas e Mauro


Menezes Advogados Associados, que me inspiram e me mostram diariamente, que
apesar das grandes contradições, é possível se lutar e alcançar vitórias pelo povo
usando o Direito como ferramenta.

Ao meu orientador, Prof. Siqueira, pelo comprometimento, paciência e compreensão,


a quem dedico grande consideração, admiração e respeito.

Às companheiras e companheiros de militância no Movimento Estudantil do


Mackenzie, do Levante Popular da Juventude e do Campo Popular, que inflamam em
mim e compartilham comigo os mais bonitos sentimentos de solidariedade, esperança
e luta pela terra sem amos. Pátria livre, venceremos!
RESUMO

Localizado em um contexto neoliberal e assim, de processo produtivo mais flexível,


se concebeu a necessidade de flexibilizar também o trabalho e consequentemente
sua regulamentação. Deste modo, a terceirização tem sido sinônimo do imperativo de
expansão e autovalorização do capital e assim, da acumulação flexível neoliberal e
do agravamento da precarização do trabalho. Neste sentido, para compreensão deste
fenômeno é imprescindível localizá-lo e contextualizá-lo histórica e economicamente.
Assim, este trabalho busca analisar e demonstrar a dinâmica entre o modo de
produção capitalista, os processos de crise e os de reestruturação produtiva no
capitalismo central e periférico.

Palavras-Chave: Capitalismo; crise; reestruturação produtiva; precarização do


trabalho.
ABSTRACT

Located in a context of neoliberalism and, therefore, a context of a more flexible


production process, the need to lighten labor and its regulation was conceived as well.
In this sense, the outsourcing has been a synonym of mandatory expansion and self-
valuation of money and therefore of the aggregation of neoliberalism's flexibility and
worsening of labor's deterioration. In light of this, for the comprehension of this
phenomenon it is vital to locate it and contextualize it in a historical and economical
way. In this sense, this essay aims to analyse and demonstrate the dynamics of
capitalism's production resources, the crisis' process and the productive reorganization
of the central and peripheral capitalism.

Key words: Capitalism, crisis, productive reorganization, labor deterioration


"Quando se enfatiza a necessidade de uma mudança
estrutural radical deve-se tornar claro desde o início
que isso não é um apelo a uma Utopia não realizável.
Ao contrário, a característica definidora primária das
teorias utópicas modernas era precisamente a
projeção de que a melhoria pretendida nas condições
de vida dos trabalhadores poderia ser alcançada no
âmbito da base estrutural existente das sociedades
criticadas."

(István Mészáros)
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1. CAPITALISMO E CRISE .................................................................................... 12

1.1. “Capitalismo é crise?” Algumas questões de ordem teórica ........................... 16

2. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O MUNDO DO TRABALHO .................... 22

Capitalismo, Trabalho e Reestruturação produtiva. ............................................... 22

2.1 Paradigma Taylor – Ford: da ascensão à decadência ..................................... 27

2.2 Crises (s) do Século XX e Teoria da Regulação .............................................. 31

2.3 Pós – Fordismo: Toyotismo, acumulação flexível e precarização do trabalho . 36

3. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO


CAPITALISMO PERIFÉRICO ............................................................................ 44

3.1 Terceirização e Precarização do Trabalho: atual panorama brasileiro ............ 51

CONCLUSÃO. .......................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS. ........................................................................................................ 60
9

INTRODUÇÃO

Para real compreensão do fenômeno mundial de flexibilização e


desregulamentação do trabalho é imprescindível localizá-lo e contextualizá-lo
histórica e economicamente. Neste sentido, este trabalho busca demonstrar a relação
entre o modo de produção capitalista e os processos de crise que, historicamente,
também verificam relação direta com os de reestruturação produtiva, os quais tem
sido sinônimo do imperativo de expansão e autovalorização do capital e assim, do
agravamento das taxas de exploração meio à flexibilização e desregulamentação.

Algumas são as contradições internas, do próprio funcionamento do modo de


produção capitalista que resultam em processos de crise. No caso da crise secular da
década de 70, ou ainda, a chamada Crise do Petróleo, as contradições se deram entre
a desproporção entre oferta e demanda, resultante do imperativo capitalista
expansionista da autovalorização do valor, superficialmente dizendo.
Desdobrou-se assim o colapso do capitalismo fordista do “pós 2ª Guerra Mundial” e
forjou-se uma ofensiva neoliberal, ou seja, a referida crise propiciou uma mudança
drástica no regime de acumulação de capital vigente, sendo que segundo a Teoria da
Regulamentação:

A Sociedade capitalista é, em razão de seus antagonismos e conflitos


estruturais, fundamentalmente portadora de crise, e por isso, só pode ser
estável em suas respectivas estruturas sociais, políticas e institucionais por
períodos limitados. Seu desenvolvimento não transcorre nem linear, nem
continuamente; as fases de relativa estabilidade são sempre interrompidas
por grandes crises.1

A Crise de 1973 foi agente importante na viabilização do transformar de


técnicas de produção e da organização do trabalho, fato esse que demonstra que
compreender as dinâmicas das crises é condição relevante para se compreender
também os processos de reestruturação produtiva e seus desdobramentos, ponto
central desta pesquisa.

Superado o paradigma Taylor-Ford iniciou-se um processo de transição e


reestruturação no interior do modo de acumulação de capital ora vigente. A chamada

1 HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: processos de transformação do sistema


capitalista de Estados. Tradução de Luciano Carvini Martorano. Rio de Janeiro: Revan, 2010.
10

“especialização flexível” transformou a estrutura produtiva fordista durantes os séculos


XX e XI e é marcada pela intensificação da exploração do trabalho,
desregulamentação e flexibilização dos direitos trabalhista impulsionada pela busca
incessante da maximização de lucros. Pertinente contextualizar aqui o instituto da
terceirização, o qual gera um aumento de lucro ao diminuir salários e aumentar a
jornada de trabalho, porém totalmente desvinculado do ganho na produtividade, uma
vez que traço diferenciador da “especialização flexível” é o trabalho não qualificado.

Atualmente no Brasil vive-se os reflexos da crise de 2008 materializada em


uma crise econômica e política, a qual tem aberto espaço para ataques incansáveis
contra toda a classe trabalhadora e seus direitos em busca de retomar as taxas de
lucro. 26,8% do mercado formal de trabalho, ou seja, 12,7 milhões de assalariados,
são trabalhadores terceirizados, sendo que este número na realidade pode ser muito
maior, pois parte considerável desses trabalhadores encontram-se alocados na
informalidade.

Importante destacar que os terceirizados têm remuneração cerca de 30%


menor apesar de trabalharem em torno de 7,5 horas a mais que os trabalhadores em
setores diretamente contratantes, o que demonstra o caráter precarizante ao qual a
terceirização e outras modalidades de subcontratação condenam as relações de
trabalho2.

Através do exposto, é possível notar a profunda ligação entre o atual


panorama da terceirização no Brasil e as tentativas cada vez mais recorrentes de
flexibilização e até extinção da legislação trabalhista com o contexto econômico e
histórico marcado pela crise e pelos processos de reestruturação produtiva a partir do
século XX, fazendo-se necessária a análise desses.

Deste modo, para executar tal análise, esse trabalho foi divido em 3 capítulos,
sendo que em seu primeiro se examina e desenvolve as questões teóricas referentes
ao capitalismo e às crises sob um referencial teórico marxista, buscando demonstrar
a ligação existente entre ambos os temas.

2 CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES. Secretaria Nacional de Relações de Trabalho e


Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Terceirização e
desenvolvimento: uma conta que não fecha. Dossiê acerca do impacto da terceirização sobre os
trabalhadores e propostas para garantir a igualdade de direitos. São Paulo: Central Única dos
Trabalhadores, 2014. p. 13.
11

Seu segundo capítulo, que conta com quatro partes, busca demonstrar o
desenvolvimento do capitalismo central no século XX, processo esse eivado pelas
crises e pela reestruturação produtiva. Nele se analisa o paradigma Taylor-Ford, as
crises do século XX, o pós-fordismo e a precarização do trabalho, após se examinar
e desenvolver questões teóricas quanto ao trabalho e a reestruturação produtiva sob
uma ótica marxista.

Em seu terceiro e último capítulo busca-se analisar a reestruturação produtiva


e a precarização do trabalho no Brasil, na figura da terceirização, partindo do acúmulo
teórico propiciado pelos capítulos anteriores.
12

1. CAPITALISMO E CRISE

O capitalismo, que se forjou da decomposição da estrutura medieval, ou ainda,


sobre os ombros do gigante feudal, tem como suas principais estruturas a propriedade
privada dos meios de produção e o trabalho assalariado. Essas, apesar de terem um
cunho prioritariamente econômico embasadas no acúmulo primitivo de capital e na
exploração de mais-valia se derivam em todas as relações da sociedade uma vez que
forjam um modo específico de se viver e pensar, recriando e reafirmando constante e
dialeticamente as relações burguesas de produção.

Entretanto, a história da humanidade é muito mais extensa e anterior à história


do capitalismo e nela invariavelmente estiveram presentes as contradições e conflitos
entre as classes oprimidas e que oprimiam, dados os interesses antagônicos de
classe, os quais sempre desembocaram em processos de crises, guardadas as suas
respectivas especificidades para cada modo de produção em que ocorriam como
elucidam Engels e Marx:

A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas
de classe.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das
corporações e aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em
contraposição uns aos outros e envolvidos em uma luta ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação
revolucionária da sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes
em conflito.3 (grifo nosso)

No limiar do século XV, a Revolução Comercial, materializando o processo que


nascia de superação do modo de produção feudal, meio a expansão do comércio
ultramarino e consequente constituição de um mercado mundial dirigida pela
burguesia comercial europeia emergente, associada à monarquia que ambicionava
por novas fontes de riqueza4, possibilitou grande concentração dessas na Europa
ocidental, a chamada “acumulação primitiva de capitais”. Esse acúmulo permitiu a
apropriação dos meios de produção pela classe burguesa, fato crucial posteriormente

3 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 8,
4 MELLO, Alex Fiúza de. Crise Mundial e reestruturação produtiva: algumas questões de ordem teórica.

Novos Cadernos NAEA. Belém, v. 7, n. 1, p. 5-30, jun. 2004. Disponível em:


http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/34. Acesso em 01 out. 2016.
13

possibilitou o triunfo dela que truculentamente tentava se ver livre das amarras
feudais:

Seja como for. Deu-se, assim, que os primeiros acumularam riquezas e os


últimos acabaram sem ter nada para vender, a não ser sua própria pele. E
desse pecado original datam a pobreza da grande massa, que ainda hoje,
apesar de todo seu trabalho, continua a não possuir nada para vender a não
ser a si mesma, (...) 5

Assim as caravelas foram difundindo aquela nova sociabilidade que se forjava


sobre a velha forma de exploração feudal que ruía. Alicerçava-se ideologicamente na
racionalidade da acumulação, do lucro e da produtividade máxima e materialmente na
acumulação primitiva de capital, na disponibilidade de mão de obra e no avanço
tecnológico, em um processo paulatino de constituição do sistema capitalista
enquanto um modo de produção mundial.
Sintomaticamente e fiel aos mandamentos do capitalismo, os mercados continuavam
junto das necessidades, crescendo e a manufatura, processo produtivo ora vigente,
já não comportava tamanha demanda trazendo à tona crises de sub-produção.

Então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. No


lugar da manufatura surgiu a grande indústria moderna; no lugar dos
pequenos produtores, os industriais milionários, os chefes de exércitos
industriais inteiros, os burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da
América. O mercado mundial promoveu um desenvolvimento incomensurável
do comércio, da navegação e das comunicações. Esse desenvolvimento por
sua vez, voltou a impulsionar a indústria. E na mesma medida em que
indústria, comércio, navegação e estradas de ferro se expandiam,
desenvolvia-se a burguesia, os capitais se multiplicavam e, com isso, todas
as classes da Idade Média passavam a um segundo plano.
Vemos, assim, como a burguesia moderna é ela mesma produto de um longo
processo, moldado por uma série de transformações nas formas de produção
e circulação.6

Esse revolucionário, e de reflexos mundiais, processo de reestruturação


produtiva descrito no excerto acima, se deu em meados do século XVIII e foi nomeado
Revolução Industrial.

Mesmo em seus iniciais passos a caminho da consolidação, o capitalismo já


expunha seus traços que, cruciais, permitiriam seu desenvolvimento e sua

5MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 960.
6MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 10-11.
14

manutenção: a história do modo de produção capitalista é permeada incessantemente


por processos de crises e reestruturação produtiva como já expusera Engels e Marx:
“A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de
produção, portanto as relações de produção, e por conseguinte todas as relações
sociais.” E completam, “A transformação contínua da produção, o abalo incessante de
todo o sistema social, a insegurança e o movimento permanentes distinguem a época
burguesa de todas as demais”.7

Vale ressaltar que para além do êxito no setor econômico, a burguesia com o
desenvolvimento do capitalismo vinha ampliando também seu domínio e centralização
do poder político. Expressão desse domínio se deu em 1789 com a Revolução
Francesa, na qual a classe imprimiu sua hegemonia ideológica com a tríade
"Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, enterrando os dogmas religiosos e a servidão
do mundo medieval sobre os quais triunfaram os imperativos do capitalismo liberal
burguês.

Marx vai relevar que "os que se emanciparam só se tornaram vendedores de


si mesmos depois que lhes roubaram todos os seus meios de produção e os
privaram de todas as garantias que as velhas instituições feudais
asseguravam à sua existência".
Assim, a luta burguesa contra o poder feudal e seus privilégios, em
verdade, se deu para eliminar "os embaraços que elas criavam ao livre
desenvolvimento da produção e à livre exploração do homem pelo
homem", tida como essencial para que o capital acumulado pudesse se
reproduzir.
Em suas palavras: "O capital dinheiro, formado por meio da usura e do
comércio, era impedido de se transformar em capital industrial pelo sistema
feudal no campo e pela organização corporativa na cidade. " Como explica
Marx, "o processo que produz o assalariado e o capitalista tem suas raízes
na sujeição do trabalhador. O progresso consistiu numa metamorfose dessa
sujeição, na transformação da exploração feudal em exploração capitalista8
(grifo nosso)

Hobsbawm expõe no excerto abaixo a clara relação entre a Revolução


Industrial e Francesa ao chamá-las de “levante gêmeo” e, ainda, a real faceta da última
enquanto triunfo dos ideais burgueses:

7 MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 13.
8 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do trabalho, volume

I: Parte I. São Paulo: LTr, 2011, p. 125.


15

A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da "indústria" como tal,


mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, mas
da classe média ou da sociedade "burguesa" liberal; não da "economia
moderna" ou do "Estado moderno", mas das economias e Estados com uma
determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns trechos
da América do Norte) (...) A transformação de 1789-1848 é essencialmente o
levante gêmeo que se deu naqueles dois países [Inglaterra e França, se
referindo à Revolução Industrial e Francesa] que dali se propagou por todo
o mundo.9 (grifo nosso)

Na segunda metade do século XIX o capitalismo produtivo atinge escala global


e junto crescem suas contradições que se expressam entre períodos de crescimento
econômico e de crise generalizada.

Vale enfatizar que com o desenvolvimento da burguesia desenvolve-se


também o proletariado, sujeito fundamental na expansão do processo produtivo
industrial. Assim “A indústria moderna transformou a pequena oficina do mestre
patriarcal na grande fábrica do capitalista industrial”10 condenando o proletariado à
total alienação11 e viabilizando o ápice da exploração do homem, mulheres e crianças
pelo homem.

É certo que “a velocidade imprimida pelas máquinas a vapor no processo


produtivo”12 foi proporcional ao agravamento das contradições que se expunham entre
as classes burguesa e proletária acelerando “os problemas quanto à coesão social”.13
Ou seja, para além do fator das crises econômicas que despontavam, a luta de
classes, fruto dos interesses essencialmente antagônicos dessas, começou a se

9 HOBSBWAWM, Eric. A era das revoluções: 1780-1848. Tradução de Maria Tereza Lopes Teixeira
e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
10 MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,

2008, p. 20.
11 “Pela primeira vez, a alienação era vista enquanto processo da vida econômica. O processo por meio

do qual a essência humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha
a eles por serem produtos alienados e convertidos em capital”. GORENDER, Jacob. Apresentação.
In: MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
“Processo histórico-social no qual o produto do trabalho humano torna-se independente, se
autonomiza, escapando ao controle racional e virando-se contra seu criador. Apesar de,
etimologicamente, ―alienação‖ possuir uma origem psicológica, Marx utilizou o termo também no seu
aspecto econômico, ao se referir à alienação no trabalho e suas consequências no cotidiano das
pessoas. Marx também observou a alienação da sociedade burguesa – o fetichismo (ver adiante).
Hegel define ―alienação‖ como ―o outro distinto de si mesmo‖. Em Hegel, seu conteúdo não é
negativo. Em Marx, sim. Expressa o estranhamento, a separação e a fragmentação do ser humano.
Algo está alienado quando já não mais nos pertence.” KOHAN, Nestor. Dicionário básico de
categorias marxistas. Disponível em: https://pcb.org.br/portal/docs1/texto3.pdf. Acesso em 01 out.
2016.
12 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do trabalho, volume

I: Parte I. São Paulo: LTr, 2011, p. 134.


13 Idem Ibidem, p. 135
16

materializar na insatisfação das trabalhadoras e trabalhadores que reagiam às


péssimas condições de trabalho e ao agravamento das taxas de exploração.

Deste modo, se o século XIX foi palco da passagem do capitalismo comercial


ao capitalismo industrial, pode-se dizer que o século XX e XXI presenciam o
imperialismo, sendo que este de início se deu pela mundialização do processo
produtivo levando a uma nova fase do processo de acumulação de capital no século
XX e posteriormente, a mundialização financeira neoliberal.

Ou seja, as bases produtivas que antes eram localizadas, nacionais


gradualmente passaram à inter/transnacionalização na busca constante pela
expansão do mercado de consumo e criação de mais-valia. Ao explorar locais com
mão de obra mais abundante e menos qualificada viabilizou-se o agravamento das
taxas de exploração, logo o aumento dos lucros e ainda a exploração de países
subdesenvolvidos, os condenando unicamente ao papel de exportadores de
commodities e mão de obra barata, como exposto abaixo:

Com o advento da revolução industrial, o agigantamento das empresas e as


novas necessidades de acumulação capitalista, a mundialização da
produção (que veio também por etapas) passou então a impor-se como
tarefa inadiável ao grande capital formado, tendo em vista a necessidade de
expansão da produção para o mercado e do próprio mercado consumidor, o
que ocasionou inicialmente a exportação de inteiros setores fabris para
países periféricos a partir do final do século XIX e início do XX.
O imperialismo clássico (até a II Guerra Mundial) representou o primeiro
movimento de expansão do grande capital industrial por via da exportação
extensiva de suas bases produtivas originariamente européias (e depois
americanas e japonesas) para o resto do mundo, traduzindo os primeiros
esforços de superação da relativa imobilidade internacional do capital
produtivo herdada da era da livre concorrência, quando a concentração se
dera basicamente nas esferas nacionais. A transferência em massa do capital
oligopólico para antigas zonas de colonização – ao que Lênin chamava de
cartelização do mercado mundial por gigantescas “empresas combinadas”
(LÊNIN, 1977) –levou o sistema capitalista mundial a ingressar numa nova
fase do processo de concentração do capital, agora escalonado em nível
internacional (...) (grifo nosso)14

1.1. “Capitalismo é crise?” Algumas questões de ordem teórica

14 MELLO, Alex Fiúza de. Crise Mundial e reestruturação produtiva: algumas questões de ordem
teórica. Novos Cadernos NAEA. Belém, v. 7, n. 1, p. 5-30, jun. 2004. Disponível em:
http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/34. Acesso em 01 out. 2016.
17

Como já fora mencionado inicialmente, as crises existiram em todas as velhas


formas de exploração pré-capitalistas, se destacando enquanto crises de sub-
produção. Entretanto, essas nunca haviam se tornado cíclicas e posteriormente
estruturais, logo intrínsecas e próprias do funcionamento do modo de produção em
que operassem, como ocorrera no capitalismo e como explicitou Engels e Marx no
Manifesto, de 1848:

As relações de produção e de circulação burguesas, as relações burguesas


de propriedade, a sociedade burguesa moderna – que, como por encanto,
criou meios de produção e circulação tão espetaculares – mais parecem o
feiticeiro que não consegue controlar os poderes subterrâneos que ele
mesmo invocou. Há décadas a história da indústria e do comércio se
restringe à revolta das modernas forças produtivas contra as modernas
relações de produção, contra as relações de propriedade que constituem as
condições vitais da burguesia e de seu domínio. (...)
Como a burguesia consegue superar as crises? Por um lado, pela
destruição forçada de grande quantidade de forças produtivas; por outro, por
meio da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa de
mercados antigos. Através de quê, portanto? Da preparação de crises
mais gerais e violentas e da limitação dos meios que contribuem para
evitá-las. (grifo nosso)15

Sendo assim, é possível notar a faceta dúbia que as crises interpretam no


modo de produção capitalista e que devem ser demonstradas neste Capítulo.

Elas se mostram como reflexos do modus operandi das relações de produção no


capitalismo, logo intrínsecas. E se mostram também necessárias ao viabilizar a
manutenção do modo de produção capitalista, expondo que mais do que fruto das
contradições do capital, as crises são também contraditórias em si mesmas ao serem
processos de desorganização com a finalidade de reorganizar e conservar.

Quanto ao caráter cíclico das crises, o analisaremos e demonstraremos aqui


segundo a Lei do Valor, de Karl Marx.

15MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008, p. 17-19.
18

Para ele, o imperativo que orienta o modo de produção capitalista seria o da


busca pela valorização do valor16 meio a criação de mais-valia17, o que se desdobra
e tem por meta, a super acumulação de capital. Ou seja, esse processo de criação de
mais-valia nada mais é do que a força de trabalho trabalhando mais que seria
necessário para suprir necessidades, para o sustento, criando então um sobrevalor
que fica ao dispor do capitalista que a explora.

Importante salientar que a ânsia pela criação de mais-valia se verte no


constante agravamento das taxas de exploração como expõe Marx: “a força motriz da
produção capitalista é a valorização do capital, ou a seja, a criação de mais-valia, sem
nenhuma consideração para com o trabalhador”18 e também no movimento
contraditório de acumulação e expansão contínua das forças produtivas capitalistas,
ou ainda, a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas versus as
relações de produção capitalistas, a qual se desdobra nas crises de superprodução
de mercadorias.

Ou seja, a massa de valor gerado na busca pela valorização do valor depende


da contínua absorção do mercado para satisfazer a sua finalidade natural no processo
de acumulação, o lucro, logo o acúmulo de capital. Entretanto, ocasionalmente o modo
de produção capitalista, dado o seu caráter incontornavelmente expansivo, cria uma
desproporção entre oferta e procura, entre a necessidade de expansão da produção
e a capacidade social de consumo resultando então, em crises de superprodução,
como elucidado a seguir:

Na caça a maiores lucros, os capitalistas ampliam a produção,


aperfeiçoam a técnica, introduzem novas máquinas e lançam enormes
massas de produtos no mercado. Nesta mesma direção atua a tendência
constante a baixa da taxa de lucro, condicionada pelo aumento da
composição orgânica do capital. Os empresários se esforçam por
compensar a queda da taxa de lucro com o aumento da massa de lucros

16 “Valor: Não é uma coisa, nem uma propriedade intrínseca das coisas. É uma relação social de
produção. Em ambos os polos da relação, vincula-se aos possuidores de mercadorias. Quando os
produtos do trabalho são gerados dentro de relações de valor, são produzidos para serem vendidos no
mercado. Marx distingue historicamente diversas relações de valor, desde a mais simples (a permuta)
até a mais desenvolvida (o dinheiro)”. KOHAN, Nestor. Dicionário básico de categorias marxistas.
Disponível em: https://pcb.org.br/portal/docs1/texto3.pdf. Acesso em 01 out. 2016.
17 “Mais-valor ou mais-valia: Fração do valor produzido pela força de trabalho que é apropriada

gratuitamente pelo capitalista. Constitui a origem da exploração. Representa um trabalho não pago. É
a fonte de vida do capital. É o excedente repartido entre diferentes capitalistas, na forma de juros (para
os banqueiros); lucros (empresários industriais) e rendas da terra (proprietários)”. Idem ibidem.
18 MARX, Karl. Capítulo inédito D’O Capital: resultado do processo de produção imediato. Escorpião,

1975, p. 20
19

por meio da ampliação da produção, da elevação da quantidade de


mercadorias fabricadas.
Desse modo, é inerente ao capitalismo a tendência a ampliação da
produção, ao enorme crescimento da capacidade produtiva. Mas, como
resultado do empobrecimento da classe operária e dos camponeses, a
procura solvente dos trabalhadores atrasa-se em relação ao crescimento da
produção, reduz-se de modo relativo. Em consequência disso, a ampliação
da produção capitalista choca-se inevitavelmente com os marcos estreitos do
consumo das massas fundamentais da população.19
Desde já, é evidente que o trabalhador, durante toda sua vida, não é senão
força de trabalho, razão pela qual todo o seu tempo disponível é, por natureza
e por direito, tempo de trabalho, que pertence, portanto, à autovalorização do
capital. Ou seja, as crises de superprodução são tendências do próprio
processo de acumulação e circulação de capital. (grifo nosso)20
O verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital. É o fato de que
nela são o capital e sua própria valorização o que constitui o ponto de partida
e a meta, o motivo e o fim da produção. O fato de que aqui a produção só é
produção para o capital, e os meios de produção não são simples meios para
ampliar cada vez mais a estrutura do processo de vida da sociedade dos
produtores. Daí que os limites dentro dos quais têm de se mover a
conservação e a valorização do valor-capital, que depende da
expropriação e do empobrecimento das grandes massas de produtores,
choquem-se constantemente com os métodos de produção que o
capital se vê obrigado a empregar para conseguir seus fins, que tendem
ao aumento ilimitado da produção, à produção pela produção mesma, ao
desenvolvimento incondicional das forças sociais produtivas do trabalho. O
meio empregado – desenvolvimento incondicional das forças
produtivas do trabalho social – choca-se constantemente com o fim
perseguido, que é um fim limitado: a valorização do capital existente.
Por conseguinte, se o regime capitalista de produção constitui um meio
histórico para desenvolver a capacidade produtiva material e criar o mercado
mundial correspondente, envolve ao mesmo tempo uma contradição
constante entre esta missão histórica e as condições sociais próprias deste
regime21 (grifo nosso)

Assim, o século XIX testemunhou a passagem do capitalismo comercial ao


capitalismo industrial, processo eivado por sucessivas crises cíclicas. Resultantes
dessas, considerando a queda na demanda, havia a queda dos preços para baixo do
preço de custo e assim, a diminuição da produção, consequente dispensa da mão de
obra e o aumento do exército de reserva de trabalhadores22. Sendo que esses, à

19 ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA URSS. Instituto de Economia. Manual de Economia Política.


Tradução de Jacob Gorender. Rio de janeiro. Editorial Vitória, 1961. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/manual/index.htm. Acesso em 01 jul. 2016.
20 MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 427.
21 Idem. El Capital. Vol. III. Cidade do México: FCE, 1973, p. 248.
22 “Grosso modo, os movimentos gerais do salário são regulados exclusivamente pela expansão e

contração do exército industrial de reserva, que se regem, por sua vez, pela alternância periódica do
ciclo industrial. Não se determinam, portanto, pelo movimento do número absoluto da população
trabalhadora, mas pela proporção variável em que a classe trabalhadora se divide em exército ativo e
exército de reserva, pelo aumento ou redução do tamanho relativo da superpopulação, pelo grau em
que ela é ora absorvida, ora liberada” (MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São
Paulo: Boitempo, 2013, p. 865).
20

disposição do capital, aceitavam a exploração vendendo sua força de trabalho por


cada vez menos. Havendo a queda no valor dos salários, aumentavam-se os lucros
dos capitalistas, mas subsequente havia a queda do poder de consumo, que levaria a
um novo ciclo de desproporção entre oferta e demanda de mercadorias, como
demonstra o Manual de Economia Política:

O período entre o começo de uma crise e o começo de outra crise denomina-


se ciclo. O ciclo consiste de quatro fases: crise, depressão, reanimação
e ascenso. A fase fundamental do ciclo é a crise, que constitui o ponto
de partida do novo ciclo.
A crise é a fase do ciclo em que a contradição entre o crescimento das
possibilidades produtivas e a redução relativa da procura solvente
manifesta-se de forma tempestuosa e destruidora. Nesta fase do ciclo,
revela-se a superprodução de mercadorias que não encontram saída;
ocorre uma queda brusca nos preços; a carência aguda de meios de
pagamento é seguida pelo “crack” da bolsa, que provoca bancarrotas
em massa; tudo isto conduz a diminuição brusca da produção, ao
crescimento do desemprego, a redução dos salários. A depreciação de
mercadorias, o desemprego, a destruição direta de máquinas, de
equipamentos e de empresas inteiras significam uma enorme
devastação das forças produtivas da sociedade. Por meio do
arruinamento e da liquidação de muitas empresas, por meio da destruição de
parte das forças produtivas, a crise adapta violentamente, e num prazo certo,
as proporções da produção as proporções da procura solvente.23

O fenômeno das crises de superprodução é resultado de um segmento


específico de contradições fruto do próprio funcionamento do sistema capitalista, no
caso, a desproporção entre a necessidade de expansão do capital e a demanda
conjuntural. Entretanto, outras contradições existem e desembocam em processos de
crises para além do fenômeno da superprodução, como por exemplo, a tendência de
queda da taxa de lucro.

Em 17 contradições e o fim do capitalismo, David Harvey se debruça sobre as


principais contradições internas do capital demonstrando que o ponto em comum
entre todos esses processos é justamente o seu ponto de partida, que são as
contradições do próprio modus operandi deste modo de produção. Tal fato nos
permite concluir que crises são, então, inerentes à existência do capitalismo, mas não
só, uma vez que se colocam também enquanto necessárias para sua reprodução,
como ele explicita:

23 ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA URSS. Instituto de Economia. Manual de Economia Política.


Tradução de Jacob Gorender. Rio de janeiro. Editorial Vitória, 1961. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/manual/index.htm. Acesso em 01 jul. 2016.
21

Crises são essenciais para a reprodução do capitalismo. É no desenrolar


das crises que as instabilidades capitalistas são confrontadas, remodeladas
e reformuladas para criar uma nova versão daquilo em que consiste o
capitalismo. Muita coisa é derrubada e destruída para dar lugar ao novo.
Terras produtivas são transformadas em desertos industriais, velhas fábricas
são demolidas ou usadas para novas finalidades, bairros onde mora a classe
trabalhadora são gentrificados.24 (grifo nosso)

E ainda, ratificando a tese exposta até aqui, expõe Giovanni Alves:

É importante salientar que a idéia de crise é complexa. Na perspectiva da


lógica do capital, as crises do sistema não possuem apenas sentido de
negatividade. Pelo contrário, é por meio delas que o sistema produtor de
mercadorias cresce e se expande, recompondo suas estruturas de
acumulação de valor. Em sua dimensão objetiva, a crise decorre da
própria expansividade sistêmica do capital, mesclando, em si,
momentos intensamente contraditórios de desenvolvimento ampliado
das forças produtivas do trabalho social por meio das Revoluções
Científico- Tecnológicas, que criam novos meios de produção, de
comunicação e de transporte e que marcam os períodos mais críticos de
desenvolvimento do capitalismo industrial; e momentos de aguda
exacerbação da expropriação, exploração e exclusão social do trabalho
vivo.25 (grifo nosso)

24 HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Tradução: Rogério Bettoni. São Paulo:
Boitempo, 2016
25 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.

2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007, p. 144.


22

2. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O MUNDO DO TRABALHO

Capitalismo, Trabalho e Reestruturação produtiva.

Sedimentado sobre a acumulação primitiva de capital, a alta disponibilidade de


mão de obra nas cidades e o avanço tecnológico, o capitalismo industrial revolucionou
e criou todo um novo processo produtivo dentro das fábricas. Meio a tal avanço das
forças produtivas, segundo Alves26 o escopo do trabalho já não é a satisfação das
necessidades humanas, mas um processo de produção de valor27, diferenciando-se
assim de todos os outros modos de produção pré-capitalista uma vez que mercantiliza
a força de trabalho, como expõe também David Harvey:

Mas aquilo que é negociado como mercadoria pelo capital, e distingue


esse modo de produção, é a força de trabalho. O trabalhador dispõe e
vende essa mercadoria para o capitalista em um mercado de trabalho
supostamente “livre”. O comércio da prestação de serviços antecede o
advento do capitalismo, é claro, e é bem possível que esse tipo de atividade
continue existindo muito depois de o capital deixar de existir como modo
viável de produção e consumo. Mas o capital entendeu que poderia criar a
base para sua própria reprodução – com a esperança que fosse permanente
- pelo uso sistemático e contínuo da força de trabalho para produzir um
mais-valor sobre aquilo que trabalhador precisava para sobreviver com
dado padrão de vida. Esse excedente está na raiz do lucro monetário.28

Assim o processo produtivo capitalista se apropria do trabalho tornando esse


mero processo de valorização, ou seja, um processo de trabalho que se volta para a
produção de mercadorias sob o imperativo da maximização dos lucros.

O trabalho fora definido por Marx29 como atividade vital, um processo entre o
humano e a natureza, no qual aquele com seu próprio impulso regula e controla seu

26 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.


2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007.
27 “Assim, destacamos dois momentos cruciais. Primeiro, o processo de trabalho que se constitui

com o modo de produção capitalista não se volta à produção de objetos que satisfaçam a
necessidades humanas, valores de uso, mas sim a produção de valores e, mais especificamente,
mais-valia. Segundo, no interior deste próprio processo de trabalho capitalista ocorrem mudanças
significativas, por conta do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social, que alteram sua
própria natureza intrínseca” (ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios
de sociologia do trabalho. 2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007) (grifo nosso).
28 HAREY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Tradução: Rogério Bettoni. São Paulo:

Boitempo, 2016.
29 “O trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, processo este em que

o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele se
23

intercâmbio material com a natureza a tornando uma de suas forças. E ainda, como
primeiramente uma atividade voltada a um fim que ao modificar a natureza, modifica
também ao humano. Ou seja, como meio pelo qual o humano torna-se ser social.

Partindo de tal definição de trabalho é possível concluir que a centralidade do


trabalho na sociabilidade da humanidade não se dá só em um nível econômico, mas
psíquico também, sendo que esse não é apenas meio de satisfação de necessidade
humanas, mas também fonte de identificação, autoestima e de desenvolvimento das
potencialidades humanas.30 Assim, ao trabalho tornar-se mera mercadoria no modo
de produção capitalista, como Saramago trouxe em “A caverna”, há o afastamento do
humano de sua essência, colocando em cheque a própria existência do trabalhador:
“... pensou em muitas coisas, pensou que seu trabalho se tornara definitivamente
inútil, que a existência de sua pessoa deixara de ter justificação suficiente...”.

E ainda, desenvolve Navarro31 que o capitalismo traz consigo uma série de


contradições, muitas delas relacionadas ao mundo do trabalho. Ao mesmo tempo
em que o trabalho é a fonte de humanização e é o fundador do ser social, sob a

confronta com a matéria natural como com uma potência natural [Naturmacht]. A fim de se apropriar
da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida, ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes a sua corporeidade: seus braços e pernas, cabeça e mãos. Agindo sobre a natureza
externa e modificando-a por meio desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria
natureza. Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu
próprio domínio. Não se trata, aqui, das primeiras formas instintivas, animalescas [tierartig], do trabalho.
Um incomensurável intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta no
mercado como vendedor de sua própria força de trabalho daquele em que o trabalho humano ainda
não se desvencilhou de sua forma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz
respeito unicamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma
abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início
distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua
mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado
que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado
que já existia idealmente. Isso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento
natural; ele realiza neste último, ao mesmo tempo, seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei,
o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação
não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, a atividade laboral exige a
vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de
sua tarefa, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo seu próprio conteúdo e pelo modo de
sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos este último usufrui dele como jogo de suas
próprias forças físicas e mentais.
Os momentos simples do processo de trabalho são, em primeiro lugar, a atividade orientada a um fim,
ou o trabalho propriamente dito; em segundo lugar, seu objeto e, em terceiro, seus meios.” (MARX,
Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 326) (grifo nosso)
30 NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.

Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. spe, p. 14-20, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400004&lng=en&nrm=iso.
Acesso em 11 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000400004.
31 Idem ibidem.
24

lógica do capital se torna degradado, alienado, estranhado. O trabalho perde a


dimensão original e indispensável ao homem de produzir coisas úteis (que
visariam satisfazer as necessidades humanas) para atender as necessidades do
capital. Sob o capitalismo, explicou Marx, o trabalhador decai à condição de
mercadoria e a sua miséria está na razão inversa da magnitude de sua produção.
(grifo nosso)

Nessa esteira, importante salientar dois aspectos da natureza do processo de


trabalho capitalista que surgem já na manufatura e se generalizam com o processo
de cientificização do processo produtivo, sendo eles a i) desqualificação técnica do
trabalhador e sua ii) alienação frente ao processo produtivo resultando no trabalho
sem conteúdo, como mera mercadoria, chamado por Marx de “trabalho abstrato”.

Quanto à desqualificação, a ausência de qualquer formação se generaliza com


a introdução da maquinaria, a qual toma do trabalhador a tarefa de transformar a
matéria-prima em produto e assim, o trabalho vivo torna-se mero apêndice da
máquina, fenômeno esse que foi chamado por Marx de “superação da barreira
orgânica”, uma vez que o humano restou como mero instrumento de produção.

Desdobramento da desqualificação do trabalho também é a amplificação do


controle do trabalho que será definido por David Harvey como “a disciplinação da força
de trabalho para os propósitos de acumulação do capital”32

Segundo Benedito R. de Moraes Neto em “O século XX e a teoria marxista do


processo de trabalho”, o processo de trabalho sob o domínio do capital faz com que
as bases técnicas se ajustem às necessidades do capitalismo, ou seja, o processo de
trabalho passa por uma adequação de sua forma técnica à forma econômica.

Ademais, para além de tornar o trabalho vivo mero intermediário subsumido à


máquina,33 o capitalismo industrial ao transformar o mundo do trabalho, transformou
profundamente a vida dos trabalhadores impondo também sutis mecanismos de
controle sociais a estes, como demonstra o excerto:

Decca (1988) afirma que é preciso encontrar a fábrica em todos os lugares


em que se teve a intenção de disciplinar e assujeitar o trabalhador. Isso

32 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010.
33 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.

2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007.


25

quer dizer que o sucesso da fábrica não foi, como se pode pensar, a
mecanização e o desenvolvimento tecnológico, mas sim o fato de ela ter
sido um locus privilegiado da disciplinarização dos trabalhadores que
acabaram por introjetar dentro de cada um o relógio moral do
desenvolvimento capitalista.
(...)
A tecnologia é vista, então, como mais uma forma de controle social. A
imposição da noção de “tempo útil” parece ser um bom exemplo disso, na
medida em que prevalece, cada vez mais, a idéia “moralizante” de que não
se pode perder tempo, de que tempo é dinheiro. Esta introjeção definitiva
da imagem e do valor do tempo como moeda de mercado é uma
ilustração de que são dominantes as idéias da classe dominante.

Marglin (1989, p. 41) afirma:

... a origem e o sucesso da fábrica não se explicam por uma superioridade


tecnológica, mas pelo fato dela despojar o operário de qualquer controle
e de dar ao capitalista o poder de prescrever a natureza do trabalho e a
quantidade a produzir. A partir disso, o operário não é livre para decidir
como e quanto quer trabalhar para produzir o que lhe é necessário; mas é
preciso que ele escolha trabalhar nas condições do patrão ou não trabalhar,
o que não lhe deixa nenhuma escolha.
Os capitalistas reuniram os trabalhadores em fábricas muito mais por
uma questão organizacional que tecnológica.
No entanto, a técnica não deve ser entendida como neutra: ela serviu e
continua servindo aos interesses de controle e hierarquia do capital. O capital
conseguiu que a ciência se colocasse a seu serviço, o que se deu num
processo de “docilização” da mão-de-obra (Decca, 1988).34

Ou seja, é possível se concluir que a indústria cumpriu papel crucial à


reprodução do capitalismo, uma vez que possibilitou a produção em larga escala e,
considerando a elevada disponibilidade de mão de obra, a qual viabilizou o
agravamento da exploração dos trabalhadores, fez com que os industriais colhessem
altos lucros, ao contrário dos explorados. Fato esse que expõe que a ideia de lucro
baseada em baixo custo da mão de obra é da própria essência da industrialização.35

Além disso, cumpriu também papel crucial ao cooperar na construção da


hegemonia ideológica burguesa que naturaliza e reforça que a força de trabalho é
mercadoria, logo passível de compra e venda. Sendo que, assim, o comprador passa
a ter controle sobre sua compra podendo então decidir como e o quanto aquele que

34 NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.


Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. spe, p. 14-20, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400004&lng=en&nrm=iso.
Acesso em 11 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000400004.
35 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do direito do trabalho, volume

I: Parte I. São Paulo: LTr, 2011, p. 111.


26

não tem nada para vender, a não ser sua própria pele36 deverá trabalhar,
consequentemente o disciplinando e assujeitando sob seus mandos.

Deste modo é possível notar a deturpação a qual o modo de produção


capitalista condenou o trabalho e, consequentemente, o processo produtivo em que
se insere, uma vez que ““o capital precisa criar o processo de trabalho capitalista. Ele
necessita ter poder no verdadeiro coração da produção de forma a conseguir uma
sólida base material para seu objetivo dominante: valorização no comando!.”37. Ou
seja, adequação da forma técnica às necessidades da forma social capitalista.

Entretanto, considerando a incessante busca do capital pela maximização dos


lucros, em muitos momentos da História do modo de produção capitalista houve
mudanças, maiores e menores, no processo produtivo. Tais mudanças são chamadas
de reestruturação produtiva, sendo que segundo Mello (2004, p.6), a história do
capitalismo é a história da constante e permanente reestruturação produtiva.

Já em 1848, Marx e Engels no “Manifesto do Partido Comunista”, já


denunciavam a natureza evolucionária do capitalismo, ao afirmarem que a burguesia
não poderia sequer existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de
produção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto todo conjunto das
relações sociais. E como bem retratou, no capitalismo, tudo que é sólido se
desmancha no ar.

Vale destacar aqui a contribuição de Schumpeter, que alicerçado em Marx,


atestou a imprescindibilidade da reestruturação produtiva para a reprodução do
sistema capitalista criando, na obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia” o
conceito de “destruição criativa”. Segundo ele, os novos bens de consumo, os novos
métodos de produção ou transporte, os novos mercados e as novas formas de
organização industrial seriam impulso fundamental que põe e mantém em
funcionamento a máquina capitalista.38 Como é possível concluir também com suas
palavras:

36 MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 960.
37 BRIGHTON LABOUR PROCESS GROUP. The Capitalist Labour Process. Capital & Class. Londres,
v, 1, 1977, p. 9.
38 SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Editado por George Allen e

Unwin Ltd. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, capítulo 7.
27

os itens do orçamento do operário, digamos de 1760 a 1940, não cresceram


de maneira simples ao longo de linhas invariáveis, mas sofreram também um
processo de transformação qualitativa. Similarmente, a história da
aparelhagem produtiva de uma fazenda típica, desde os princípios da
racionalização da rotação das colheitas, da lavra e da engorda do gado até a
agricultura mecanizada dos nossos dias — juntamente com os silos e as
estradas-de-ferro — é uma história de revoluções, como o é a história da
indústria de ferro e aço, desde o forno de carvão vegetal até os tipos
que hoje conhecemos, a história da produção da eletricidade, da roda
acionada pela água à instalação moderna, ou a história dos meios de
transporte, que se estende da antiga carruagem ao avião que hoje corta
os céus. A abertura de novos mercados, estrangeiros e domésticos, e a
organização da produção, da oficina do artesão a firmas, como a U.S.
Steel, servem de exemplo do mesmo processo (106) de mutação industrial
— se é que podemos usar esse termo biológico — que revoluciona
incessantemente * a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo
incessantemente o antigo e criando elementos novos.
(*Essas revoluções não são permanentes, num sentido estrito; ocorrem em
explosões discretas, separadas por períodos de calma relativa. O processo,
como um todo, no entanto, jamais pára, no sentido de que há sempre
uma revolução ou absorção dos resultados da revolução, ambos
formando o que é conhecido como ciclos econômicos.) Este processo
de destruição criadora é básico para se entender o capitalismo.39

Tais assertivas quanto às especificidades do trabalho e da reestruturação


produtiva no capitalismo são fundamentais para compreender o processo produtivo
que permeou a virada do século XIX e o século XX.

2.1 Paradigma Taylor – Ford: da ascensão à decadência

Sob a égide do capitalismo industrial, já na passagem do século XIX o processo


produtivo das fábricas teve um salto “qualitativo” nos Estados Unidos com o
Taylorismo, ou ainda, “administração científica do trabalho” que preocupou-se
prioritariamente com a organização do trabalho aprofundando a divisão desse.

Tal organização já existia no sistema fabril porém foi levada a outros níveis por
Taylor com a decomposição de cada processo de trabalho, níveis esses que
agravaram a alienação do trabalhador e o controle sobre o trabalho com a separação
extrema entre a concepção e a execução, com a expropriação do saber dos
trabalhadores e buscando transformá-los em meros instrumentos de produção. Sendo

39SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Editado por George Allen e


Unwin Ltd. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, capítulo 7.
28

que, segundo a análise de Coriat, o Taylorismo ilustrara a essencialidade do processo


de trabalho capitalista:

Tudo o que Marx anuncia em relação às características especificamente


capitalistas do processo de trabalho (parcelamento de tarefas, incorporação
do saber técnico no maquinismo, caráter despótico da direção), o realiza
Taylor, ou mais exatamente, lhe dá uma extensão que até então não havia
tido. 40

Entretanto, em 1930 uma crise mundial, ou ainda, a “Grande Depressão” e


outras rupturas ocorrem desestabilizando todo modo de produção capitalista. O “New
Deal”, de Roosevelt, o fascismo europeu, a dominação nazista na Alemanha, a
Revolução Russa de Outubro e finalmente, a II Guerra Mundial, Hirsch (2010, p. 138),
sendo que para enfrentar a crise surgiram instrumentos de política econômica
destacadamente intervencionistas traduzidos no “New Deal”, ou seja, na busca da
expansão do mercado de trabalho e de consumo, a qual se embasou na doutrina
econômica de Keynes.

Hirsch41 elucida que a teoria macroeconômica de Keynes defendia a


necessidade de instrumentos estatais-administrativos para viabilizar e consolidar os
processos de crescimento e para a diminuição das crises conjunturais. Assim, o
“Estado keynesiano” ficou retratado como aquele que centralizava e intermediava os
antagonismos capitalistas de classe meio à política social, de crescimento, de
pesquisa, industrial e conjuntural.

Vale ressaltar aqui que a crise de 1930 foi um dos agentes que criou as
condições políticas e sociais para tal processo de reestruturação produtiva que
desaguou no fordismo e assim, esse se aliou firmemente ao keynesianismo, como
ratifica o excerto:

a partir da década de 1930, para enfrentar a dinâmica cíclica da economia


capitalista, surgem instrumentos de política econômica.
O keynesianismo significará maior intervenção do Estado na economia
de mercado através de políticas anticíclicas. É uma inovação da teoria
econômica burguesa (J.M. Keynes é seu principal arauto científico). Por meio
de mecanismos de política monetária e fiscal no âmbito da gestão
macroeconômica do Estado-nação, buscou-se regular o ciclo da economia

40CORIAT, Benjamin. Ciencia, técnica y capital. Madrid: H.Blume, 1976, p. 107.


41HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: processos de transformação do sistema
capitalista de Estados. Tradução de Luciano Carvini Martorano. Rio de Janeiro: Revan, 2010, p. 143.
29

capitalista, impedindo as grandes depressões, como a que ocorreu em


1929-1932 nos EUA.
(...)
O que se chamou fordismo-keynesianismo é um momento histórico de
regulação do ciclo capitalista, que impediu, nas condições da crise
orgânica, que a dinâmica cíclica do capital implicasse em
consequências nefastas para a reprodução capitalista no plano da
economia nacional.42

Baseado na produção fabril em grande escala e em série, o fordismo coletivizou


o taylorismo, ou ainda, segundo Michel Aglietta, em “A Theory of Capitalist Regulation
– the US Experience”, o fordismo teria aprofundado o taylorismo no processo de
trabalho.43

Para Hirsch (2010, p. 139), o fordismo surge na implementação da produção


taylorista em massa nas fábricas de automóveis de Henry Ford no início do século
XX, sendo que sua característica básica seria a implementação da organização do
trabalho taylorista na produção massiva de bens de consumos estandartizados,
marcada pela forte racionalização e intensificação do trabalho.

A introdução da cadeia de montagem e o trabalho subdividido em operações


mínimas intensificou os traços de desqualificação técnica, meio ao emprego intensivo
de mão de obra não qualificada, e da alienação, já presentes nos processos produtivos
passados. A linha de montagem possibilitou, segundo Moraes Neto, a fabricação em
massa de produtos padronizados com produtividade crescente, fato esse que permitiu
a queda nos preços dos bens, a elevação dos salários reais e a intensificação do
consumo.

Ainda definindo o fordismo, João Batista Pamplona:

conjunto de métodos de produção fundamentado em sequências lineares de


trabalho fragmentado e simplificado; em linha de montagem; em longas
horas de trabalho manual rotinizado; em controle inexistente do
trabalhador sobre o projeto, ritmo e organização do processo de produção;
em equipamentos especializados com baixa flexibilidade; em comando
fortemente hierarquizado do processo de trabalho; em produção em

42 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.


2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007, p. 145.
43 AGLIETTA, Michel. A Theory of Capitalist Regulation: the US Experience. Londres, NLB, 1979, p.

117-8.
30

massa, buscando ganhos de escala; em mercado de consumo de massa.44


(grifo nosso)

No que concerne à gerência científica enquanto forma de administração, ou


ainda, enquanto forma de gerir a força de trabalho utilizada no Taylorismo, Navarro
(2007, p. 17) traz importante destaque ao aumento dos níveis salariais dos
trabalhadores que acabaram se tornando grandes incentivos para estes, como um
dos traços do Taylorismo aperfeiçoado por Ford. Aumentos esses que, segundo
Hirsch (2010, p. 140), foram viabilizados pelo aumento da produtividade do trabalho
que deu base para um crescimento econômico sólido e constante, sendo que os
aumentos salariais para além de incentivos aos trabalhadores também eram base do
consumo em massa que se desenvolvia.

Quanto à faceta de incentivo, da questão do aumento salarial, Maria da Graça


Duck em “Terceirização: (des)Fordizando a Fábrica”45 destaca que a forma de
gerência proposta por Taylor tinha forte conteúdo autoritário e se dava muito mais na
forma de coerção que de convencimento dos trabalhadores. Tal ponto também é
aperfeiçoado por Ford e como demonstrado por Gramsci em “Americanismo e
Fordismo”, o Fordismo se explicita como um processo todo articulado que traz um
novo modo de produzir, de trabalhar e consequentemente, de viver.

Assim, segundo Druck (1999, p. 45) o fordismo – enquanto novo padrão de


gestão do trabalho e da sociedade (ou do Estado) – sintetiza as novas condições
históricas, constituídas pelas mudanças tecnológicas, pelo novo modelo de
industrialização caracterizado pela produção e consumo em massa.

Na segunda metade do século XX, no contexto de consolidação do fordismo-


keynesiano, da Revolução Socialista, na Rússia e após a II Guerra Mundial, se deu o
auge do Estado de Bem-Estar social, ou ainda, “Welfare State” que se caracterizara
basicamente como um “pacto pós-guerra”.

Druck (1999, p. 45) demonstra o caráter reativo à vitória socialista que este tem
afirmando que o modo americano de trabalhar e de viver, no pós- II Guerra, precisou
fazer frente ao modo socialista de trabalhar e viver, e assim, expõe que, na realidade,

44 PAMPLONA, João Batista. Inserção brasileira no novo padrão capitalista. Pesquisa & Debate. São
Paulo: PUCSP, v. 7, n. 2, 1996, p. 140.
45 DRUCK, Maria da Graça. Terceirização (des)Fordizando a Fábrica. Salvador: Edufa,1999.
31

a proteção social do Estado concedida ao povo era uma arma na defesa da


hegemonia ideológica do modo de produção capitalista.

Apesar de ser mera maneira pela qual o modo de produção capitalista pôde
prosseguir com sua reprodução e não uma real mudança nos já mencionados
imperativos do capital, o fordismo-keynesiano propiciou meio à política de conciliação
de classes, 30 anos gloriosos ao capitalismo no período de 1945 a 1973.

Entretanto a partir de 1965 o processo produtivo taylorista-fordista já dava


sinais de esgotamento meio à crise estrutural que se instalava nas entranhas do
capital, segundo Hirsch (2010, p. 135), este período tornou cada vez mais evidente a
incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao
capitalismo.

2.2 Crises (s) do Século XX e Teoria da Regulação

Em meados dos anos 60 a recuperação da II Guerra Mundial já se apresentava


consolidada no Japão e da Europa Ocidental fato que iniciava um processo de perda
de hegemonia dos Estados Unidos. Harvey46 afirma que após a recuperação, com o
mercado interno saturado surge o impulso para criar mercados de exportação para os
excedentes, fato esse que se desdobraria posteriormente no agravamento da
competição internacional chegando ao ápice de produzir a desvalorização do dólar.

Importante salientar que apesar de todo deterioramento e deturpação que o


processo produtivo capitalista industrial impôs ao trabalho, dentro da indústria sempre
habitou grande potencial político. Ao capital exigir o emprego de grandes quantidades
de trabalhadores para, assim, extrair grande volume de mais-valia, viabilizava e
explicitava também o desenvolvimento do conflito capital x trabalho, fortalecendo
então a atividade política, como Gramsci demonstrou em “Americanismo e Fordismo”.

Deste modo, narra Druck (1999, p. 64), que apesar da crise que na década de
60 já imprimia seus efeitos sobre a classes trabalhadora, os sindicatos exigiam a
continuação dos ganhos de produtividade incorporados aos salários e se recusavam

46HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 135.
32

a continuar contribuindo com a gestão taylorista-fordista, a qual impunha um trabalho


parcelizado, repetitivo, fragmentado, rotinizado, expondo, ainda segundo a autora, um
manifesto esgotamento também de tal forma de controle do capital sobre o trabalho.
Tais fatos expõem a resistência, logo contradições e conflitos sociais naquele
contexto, que segundo Mészáros, em “Para além do Capital”, intensificam e
caracterizam o caráter estrutural da crise do capitalismo.

Em 1973 a situação dos Estados Unidos se agrava com a alta do preço do


petróleo imposta pela OPEP e a crise do capitalismo fordista se instala.

Importante ressaltar que apesar da Crise do Petróleo ser conhecida como o


fenômeno que levou à derrocada do modo de acumulação fordista, segundo Hirsch
(2010, p. 150) em essência, a crise do fordismo foi causada por um retrocesso
estrutural na rentabilidade do capital em todas as metrópoles capitalista,
consequência de uma forte diminuição da taxa de lucro.

Como já fora desenvolvido neste trabalho, as crises para além de intrínsecas


ao funcionamento do capitalismo dadas suas contradições, também tem papel crucial
na sua reprodução ao criar condições para um novo processo de acumulação de
capital.

No caso em tela, a crise do capitalismo fordista foi crucial para a reorganização


das forças produtivas, logo da reestruturação produtiva que será tratada no próximo
capítulo, na qual a “acumulação flexível’ ascendeu com a derrocada do fordismo
retomando as taxas de lucro. Ainda quanto à crise, Flávio Ferreira de Miranda, em
“Marx e as crises cíclicas do capitalismo: aspectos teóricos”, ratifica a tese exposta:

Nas crises os aspectos contraditórios dos dois polos de uma mesma relação
dialética se manifestam violentamente e essa é a única forma possível de
restabelecer-se a unidade necessária entre esses polos. As crises,
portanto, são soluções bruscas que restabelecem transitoriamente a
normalidade, ou seja, não são terminais – consideradas em si mesmas –,
não se deve esperar o fim do capitalismo como mera consequência de uma
crise econômica, que pelo contrário o restaura, recolocando-o em seu
curso normal (contraditório) de desenvolvimento. Isto significa dizer
que as crises criam as condições para um novo processo de
acumulação de capital, o que denota o caráter cíclico do mesmo. (grifo
nosso)
33

A crise de 1973 não foi diferente e fato é que o fordismo-keynesiano que por
anos se caracterizou como sustentáculo para o acúmulo de capital, tornou-se sua
trava com a queda das taxas de crescimento e o endividamento estatal crescente.47

Assim, a profunda recessão imposta pela crise, segundo Harvey48 movimentou


um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista e viabilizou todo um
período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político abrindo
espaço ideológica e materialmente para a ofensiva neoliberal.

Neste cenário, de crise econômica e crise da teoria keynesiana, desenvolve-se


a Teoria da Regulação, a qual, segundo Hirsch49 tenta resolver as inseguranças
teóricas vinculadas à segunda crise econômica mundial do século vinte [“Crise do
Petróleo” de 1973]. Sendo que seu central questionamento é quanto às condições de
persistência e desenvolvimento de uma sociedade capitalista atravessada por
antinomias estruturais,50 ou seja, busca entender a dinâmica da sociedade capitalista,
suas crises e processos de transformações.

Hirsch51 leciona que com a crise da teoria keynesiana foi refutado o


pressuposto imperante de que era possível, meio a intervenções estatais, o
desenvolvimento do capitalismo livre de crises. Provado o contrário, se tornou possível
que a Teoria da Regulação partisse de um padrão de análise na qual as crises figuram
como desfecho próprio do capitalismo, uma vez que o processo de acumulação do
capital é impulsionando por um incontornável caráter expansionista que visa a
maximização de lucros. Tal nível de dinamicidade deste regime de acumulação tende
a se chocar com a certa rigidez que os modos de regulação tendem a apresentar.

Nas palavras de Alysson Mascaro: “O padrão de análise da dinâmica do


capitalismo deve ser pautado na crise como seu corolário necessário, compreendendo
as eventuais estabilidades como excepcionais”.52

Assim, segundo a Teoria da Regulação, um regime de acumulação estável só


pode formar-se quando se impõe simultaneamente um contexto de regulação

47 HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: processos de transformação do sistema


capitalista de Estados. Tradução de Luciano Carvini Martorano. Rio de Janeiro: Revan, 2010, p. 151.
48 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.

20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 140.


49 HIRSCH, Joachim. Op. cit., p. 101.
50 Loc. cit., p. 101.
51 Idem ibidem, p. 103.
52 MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 126.
34

correspondente.53 O que nos permite concluir que as grandes crises capitalistas não
são simplesmente crises econômicas.54

Para melhor compreensão da assertiva acima, insta explicitar que, segundo


Lipietz, o regime de acumulação designa-se em um modo de produção determinado
que garanta por períodos mais extensos, as relações de correspondência entre as
condições materiais de produção e o seu desenvolvimento, com o seu consumo
social.55

Já o modo de regulação, seria para os regulacionistas, o conjunto de


instituições, formas organizacionais, redes sociais, normas (explícitas ou Implícitas),
leis, padrões de conduta, que asseguram a compatibilidade dos diversos
comportamentos no quadro de um regime de acumulação, em conformidade com o
estado das relações sociais existentes. Nas palavras de Althusser e Marx:

Como dizia Marx, até mesmo uma criança sabe que, se uma formação
social não reproduzir as condições da produção ao mesmo tempo que
produz, não conseguirá sobreviver um ano. A condição última da
produção é, portanto, a reprodução das condições de produção. [...] A
produção (que se efetua nas empresas) é dominada e regulada pelas
relações de produção capitalistas. Essas relações de produção são, ao
mesmo tempo, relações de exploração capitalista.56 (grifo nosso)

O capitalismo fordista materializa perfeitamente todo o descrito acima ao


conjugar um regime de acumulação e um modo de regulação.

Ou seja, como é possível se depreender no desenvolver deste trabalho: um regime


de acumulação caracterizado pela expansão do trabalho assalariado regular, pela
produção e consumo massivo, meio a um processo produtivo que fora denominado
taylorista-fordista, articuladas com uma política econômica e social de Estado
intervencionista que fora cunhada como Estado de Bem-Estar Social.

Vale rememorar a contribuição de Gramsci em “Americanismo e Fordismo”, no


qual há o desenvolvimento do conceito de “americanismo”, que se caracterizaria por
mais do que a hegemonia do processo produtivo americano e o regime de acumulação
que o fordismo se tornou, mas pela transcendência do capital da esfera produtiva para

53 HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: processos de transformação do sistema


capitalista de Estados. Tradução de Luciano Carvini Martorano. Rio de Janeiro: Revan, 2010, p. 108.
54 Idem ibidem, p. 132.
55 LIPIETZ, Alain. Akkumulation, krisen und auswege aus der krise. Prokla, nº 58, 1985, p. 120
56 ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes, 2008.
35

as esferas de reprodução da vida humana com o surgimento de um “novo tipo


humano”, em consonância com o “novo tipo de trabalho e de produção”, se
desdobrando na hegemonia daquele processo produtivo em uma padronização dos
trabalhadores:

[...] é possível, com a pressão material e moral da sociedade e do Estado,


conduzir os operários como massa para passar por todo o processo de
transformação psicofísica a fim de conseguir que o tipo médio do operário de
Ford se torne o tipo médio do operário moderno,57

Entretanto, como fora exposto, são necessários ao modo de produção


capitalista processos de crise para que se reorganizem as forças produtivas e se
retome as das taxas de lucro. Em dado momento a consonância vigente entre o
regime de acumulação e o modo de regulação fordista-keynesiano se desfez: o
fordismo, frente à competição inter-capitalista, já não era tão produtivo, e assim, as
taxas de lucro caíram; o keynesianismo, que antes era combustível ao motor do
fordismo, virou um fardo ao capital e já não mais cumpria seu papel. A dissonância
concebeu a Crise de 1973.

Nas palavras de Hirsch:

A “crise do Petróleo” de meados dos anos sessenta não foi de modo


algum a causa da crise econômica mundial, mas uma consequência da
estratégia de preços da OPEP e das grandes companhias petrolíferas, mas
ela teve uma considerável dimensão simbólica ao deixar claro o limite dos
recursos naturais. As manifestações de crise econômica, o desmonte do
Estado de bem-estar social e o fim do crescimento econômico, que havia sido
considerado como infinito, se conjugaram no quadro de uma reorientação
de valores e movimentos de protesto até a convicção, com difusão
paulatina, de que o modelo de sociedade fordista, suas estruturas
econômicas e as condições de vida que determina, não ofereciam mais
perspectiva. Assim, a crise do fordismo não havia sido unicamente uma
crise de valorização do capital, mas esteve vinculada a uma crise de
hegemonia, que se fazia notar em todas as suas dimensões:
ideologicamente, através da desintegração das representações de valores
até então dominantes; politicamente, pela erosão da dominação
estadunidense; e, institucionalmente, pela transformação dos Estados e das
organizações internacionais colocadas em questão.58

57GRAMSCI, Antonio. Americanismo e fordismo. São Paulo: Hedra, 2008, p. 81


58HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: processos de transformação do sistema
capitalista de Estados. Tradução de Luciano Carvini Martorano. Rio de Janeiro: Revan, 2010, p. 156.
36

2.3 Pós – Fordismo: Toyotismo, acumulação flexível e precarização do trabalho

A década de 80, nos países de capitalismo avançado, foi palco de um notável


salto tecnológico que inseriu a automação, a robótica e a microeletrônica no universo
fabril influenciando diretamente o processo produtivo vigente. Concomitantemente,
dada a crise do fordismo-keynesianismo, se dava um espaço social que vinha sendo
disputado por outras formas de organização social e política. Surgia a ofensiva
neoliberal em total contraponto à teoria keynesiana.

Nas palavras de Moraes Neto:

O ajuste pleno da teoria marxista do processo de trabalho aos


acontecimentos produtivos do Século XX necessitam todavia de um teste
adicional, representado pelo revolucionamento tecnológico fundamental na
esfera produtiva verificado nos anos 80: a nova automação, de base
microeletrônica. Ora, é recorrente na literatura que essa nova automação
representa o fim do taylorismo-fordismo. É claro que existe grande confusão
a respeito, pois é bastante comum a visão equivocada do ohnoísmo (ou
toyotismo) como responsável pela superação histórica do taylorismo-
fordismo, em direção a um regime de “acumulação flexível”. Para nós,
considerando ser o ohnoísmo não uma superação, mas uma trilha possível a
partir do fordismo original, o aspecto fundamental para efeito da
superação histórica do taylorismo-fordismo localiza-se na automação
de base microeletrônica, possibilitadora, pela primeira vez na história,
de aliança entre elevado nível de automação e flexibilidade produtiva. É
fato inquestionável que essa nova automação tem levado as plantas fordistas
em direção à “unmanned factory”, ou seja, uma fábrica dotada de
elevado grau de prescindibilidade do trabalho vivo imediatamente
aplicado à produção. (Moraes Neto, p.9) (grifo nosso)

Assim, o paradigma Taylor- Ford foi substituído, ou ainda, historicamente


superado pela “especialização flexível”, a qual foi teorizada pioneiramente por Charles
Sabel e Michael Piore.

Segundo eles a “especialização flexível” seria uma nova forma produtiva que
articula desenvolvimento tecnológico e desconcentração produtiva, ou seja, a
superação das unidades fabris concentradas e verticalizadas do fordismo e assim, da
produção em massa, sendo substituída por empresas médias e pequenas com um
processo produtivo mais flexível, “artesanal”. Ademais, segundo os teóricos, o que
teria causado a crise capitalista de 1973 teria sido os excessos da produção em massa
fordista.
37

Em contrapartida, Sabel e Piore foram muito criticados, uma vez que segundo
Simon Clarke, a “especialização flexível” traria na realidade o agravamento da
exploração do trabalho, o desqualificando e desorganizando, e quanto à crise do
fordismo, afirma que esta é apenas mais uma manifestação da crise permanente e
intrínseca ao funcionamento do sistema capitalista.

David Harvey cunhará esse processo de acumulação de capital que começa a


se desenvolver de “acumulação flexível”. Segundo ele, essa fase do processo
produtivo é marcada pelo confronto direto com a rigidez do fordismo, sendo que ela
se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e padrões de consumo. Ademais, afirma que a “acumulação flexível” envolve
rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores
como entre regiões geográficas, desencadeando um desenvolvimento no “setor de
serviços”, bem como conjuntos industriais em regiões até então subdesenvolvidas.59

Para Ricardo Antunes, em “Adeus ao Trabalho?”, Harvey se diferenciará dos


teóricos à época ao reconhecer a existência de uma combinação de processos
produtivos articulando o fordismo com processos flexíveis, artesanais, mas que não
se deve ignorar a acentuação da flexibilidade nas técnicas de produção e nas relações
de trabalho, a desindustrialização e a transferências geográficas de fábricas que se
impõem. Ressalta ainda que o desenvolvimento de novas tecnologias aumentou o
exército de reserva aumentando o excedente de força de trabalho, viabilizando e
retornando, assim, a superexploração.

Nessa esteira, emergiram em várias partes do mundo alternativas que se


fundiam ou superavam as características centrais do fordismo, sendo que segundo
Navarro60 “o taylorismo e o fordismo passam a conviver ou mesmo a ser substituídos
por outros modelos considerados mais “enxutos” e “flexíveis”, melhor adequados às
novas exigências capitalistas de um mercado cada vez mais globalizado. É a partir
dos anos 1980 que se observa o acirramento da chamada reestruturação produtiva.
Em um cenário de maior competitividade as empresas, visando a redução dos custos

59 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 148.
60 NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.

Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. spe, p. 14-20, 2007 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400004&lng=en&nrm=iso.
Acesso em 11 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000400004, p. 17.
38

de produção, a maior variabilidade de suas mercadorias, a melhoria da qualidade de


seus produtos e serviços e de sua produtividade, investiram em mudanças de ordem
tecnológica e organizacionais, que repercutiram negativamente nas relações e
condições de trabalho.”

E ainda que “alguns estudos chegam mesmo a afirmar a existência de um novo


paradigma de produção industrial alternativo ao fordismo. São exemplos destas novas
experiências o modelo sueco, o modelo italiano e o modelo japonês. No entanto, foi
este último que conseguiu maior capacidade de propagação. ”

Ou seja, em um contexto de crise econômica, política e ideológica em que meio


ao emergir do neoliberalismo se acreditava que a liberalização da economia seria o
caminho para se superar a crise, se adicionou o progresso tecnológico que então abriu
espaço ao modelo japonês, enquanto processo produtivo com os imperativos da
acumulação flexível61. Como já se depreendera da Teoria da Regulação, para se ter
alguma estabilidade no capitalismo se faz necessário articular um regime de
acumulação com um modo de regulação, no caso, respectivamente se tem o
neoliberalismo e a acumulação flexível/toyotismo, como o fordismo se uniu ao
keynesianismo, sempre visando o aumento das taxas de lucro e assim a reprodução
do modo de produção capitalista. Sendo que Teixeira caracteriza o atual contexto do
capital no excerto:

O atual momento de expansão da acumulação capitalista encontra barreiras


estruturais intransponíveis, o capital “bateu no teto”, e tal evidência empírica
pode ser encontrada em alguns fenômenos como a Centralização do capital;
Financeirização da riqueza; Predomínio crescente da produção de
descartáveis; Elevação das taxas de desemprego; Precarização da força de
trabalho62

Tais fatos ratificam a tese exposta até então nesse trabalho, deixando clara a
relação entre crises e reestruturação produtiva, e ainda, a submissão do processo
produtivo à forma econômica.

61 “A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do
fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.
Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de
fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de
inovação comercial, tecnológica e organizacional”. (HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma
pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 20.ed. São Paulo: Loyola, 2010, p. 140.)
62 TEIXEIRA, Francisco José Soares. A Cooperação Complexa. Tese (Doutorado em Educação).

Universidade Federal do Ceará, 2005.


39

Vale ressaltar que consequência de toda processualidade narrada foi o


desemprego estrutural, uma flexibilização nos contratos de trabalho meio a
mecanismos de subcontratação e um retrocesso na ação sindical, fatos que
golpearam diretamente os trabalhadores e os direitos que haviam conquistado durante
o fordismo e o Estado de bem-estar social.
Assim desenha-se conduta típica da acumulação flexível que por meio de ataques aos
direitos dos trabalhadores, flexibilizando e desregulamentando direitos, busca
aumentar as taxas de lucros dos capitalistas. Nas palavras de Ricardo Antunes, em
“Trabalho e precarização numa ordem neoliberal”:

A sociedade contemporânea, particularmente nas últimas duas décadas,


presenciou fortes transformações. O neoliberalismo e a reestruturação
produtiva da era da acumulação flexível, dotadas de forte caráter
destrutivo, têm acarretado, entre tantos aspectos nefastos, um
monumental desemprego, uma enorme precarização do trabalho e uma
degradação crescente, na relação metabólica entre homem e natureza,
conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de
mercadorias, que destrói o meio ambiente em escala globalizada. (grifo
nosso)

No que tange ao modelo japonês, cunhado de toyotismo ou ainda, ohnismo,


insta demonstrar alguns traços constitutivos dele para que possamos nos debruçar
sobre suas consequências no mundo do trabalho.

Coriat contextualiza o advento do modelo em quatro fases, sendo elas: i) dada


a necessidade do trabalhador operar várias máquinas simultaneamente, o que
posteriormente seria conceituado como trabalhador polivalente, se introduziu à
indústria automobilística japonesa técnicas da indústria têxtil; ii) graças à crise,
aumento da produção sem o aumento do número de trabalhadores; iii) produzir
somente o necessário, no melhor tempo possível, para isso baseou-se na técnica dos
supermercados, no sentido de só se repor produtos após sua venda; iv) expansão do
último método, que ficou conhecido como kanban, às empresas fornecedoras e
subcontratadas.63

63 CORIAT, Benjamin. Ciencia, técnica y capital. Madrid: H.Blume, 1976, p. 27-30.


40

O teórico acrescenta ainda a necessidade de atender o respectivo mercado


interno com condições limitadas dado o contexto de pós-guerra do Japão, que então
solicitava pedidos pequenos de produtos diferenciados.64

Desta forma, pode se dizer que os traços constitutivos do toyotismo são


basicamente uma produção conduzida e voltada diretamente pela demanda, sendo
ela flexível e em pequenos lotes de uma variedade de tipos de produtos para satisfazer
o consumo. E é o consumo que dita o que é produzido, fato que contraria totalmente
a lógica que se aplicava ao processo produtivo fordista.

Para que seja possível a satisfação das variadas demandas do consumo é


necessário que a produção se sustente em um processo produtivo flexível, ou seja,
necessário que haja uma flexibilidade da organização do trabalho. No caso do
toyotismo isso se desenvolveu com o que foi chamado de “polivalência do trabalhador
japonês” já que os operários se desespecializavam, tendo capacidade de operar
variadas máquinas. Segundo Antunes (2015, p.46), Gounet nos mostra ainda que o
sistema toyotista supõe uma intensificação da exploração do trabalho, quer pelo fato
de que os operários atuam simultaneamente com várias máquinas diversificadas, quer
através do sistema de luzes que possibilitam ao capital intensificar – sem estrangular
– o ritmo produtivo do trabalho.

Ainda nas palavras de Antunes65 outro ponto essencial do toyotismo é que,


para a efetiva flexibilização do aparato produtivo, é também imprescindível a
flexibilização dos trabalhadores. Direitos flexíveis, de modo a dispor desta força de
trabalho em função direta das necessidades do mercado consumidor. O toyotismo
estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-se através
das horas extras, trabalhadores temporários ou subcontratados, dependendo das
condições de mercado. O ponto de partida básico é um número reduzido de
trabalhadores e a realização de horas extras.

Levando em consideração os temas tratados nos parágrafos acima é


imprescindível para compreensão do fenômeno toyotista desenvolvermos os

64CORIAT, Benjamin. Ciencia, técnica y capital. Madrid: H.Blume, 1976, p. 33-34.


65ANTUNES, Ricardo. A nova morfologia do trabalho e as formas diferenciadas da reestruturação
produtiva no Brasil dos anos 1990. Sociologia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, Vol. XXVII, 2014, p. 47.
41

conceitos acerca do processo de precarização, de flexibilização e desregulamentação


que recaíram sobre a classe trabalhadora no século XX.

Segundo Alves66 uma das determinações estruturais do modo de produção e


reprodução capitalista é a constituição sistêmica, a partir de processos de
precarização do trabalho vivo, de formas históricas de precariedade social. A principal
forma histórica de precariedade social é o sistema do trabalho assalariado que
predomina nas sociedades burguesas há séculos.

Ou seja, como já se expôs neste trabalho, a criação de mais-valia é necessária


para que aconteça a valorização do valor, processo que visa o lucro e
consequentemente, o acúmulo de capital. Como se é sabido, a mais-valia depende
do trabalho assalariado para se realizar, assim, se fez necessário um processo de
proletarização do trabalho. E esse trabalho deturpado em sua essência pelo modo de
produção capitalista, isto é, ao trabalho tornar-se mera mercadoria e tornar-se trabalho
assalariado, este se caracteriza em uma precariedade social. Nas palavras de
Giovanni Alves:

Deste modo, ao dizermos precariedade, tratamos de uma condição sócio


estrutural que caracteriza o trabalho vivo e a força de trabalho como
mercadoria, atingindo aqueles que são despossuídos do controle dos meios
de produção das condições objetivas e subjetivas da vida social. A
precariedade do mundo do trabalho é uma condição histórico-ontológica da
força de trabalho como mercadoria. Desde que a força de trabalho se
constitui como mercadoria, o trabalho vivo carrega o estigma da
precariedade social (grifo nosso).67

Nessa esteira, para tratar do conceito de precarização, o localizaremos no


século XX, durante o qual o conflito capital versus trabalho galgou conquistas políticas
a favor do trabalho. Segundo Alves,68 o Estado Social constituiu-se no período
histórico de ascensão histórica do capital no século XX, garantindo, a partir da luta de
classe do proletariado organizado, uma ampla margem de concessão às
reivindicações do mundo do trabalho. Por exemplo, as leis trabalhistas e a
previdência e seguridade social universal, ou o Welfare State, são produtos
históricos das lutas sociais e políticas do mundo do trabalho no século passado,

66 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.


2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007, p. 112.
67 Idem ibidem, p. 113.
68 Idem ibidem, p. 114.
42

que ao constituírem obstáculos à sanha de valorização do capital, alteraram a


dinâmica de desenvolvimento do capitalismo no século XX. (grifo nosso)

Deste modo, o processo de precarização do trabalho é a diluição dessas


conquistas, o derrubar dos obstáculos que outrora se conseguira construir, apesar de
que em nenhum momento tais ganhos aboliram o caráter de precariedade do trabalho
assalariado e ainda, segundo Alves,69 enquanto existir precariedade haverá a
possibilidade objetiva de precarização que pode assumir dimensões objetivas e
subjetivas.

O processo de precarização do trabalho, ou ainda, “flexibilização do trabalho”,


como aduzido acima, se impõe pela perda de direitos e pelo aumento da exploração
do trabalho.70 Ou seja, tal processo se dá, basicamente, na busca por retomar as taxas
de lucro e, ou sob o argumento da competitividade empresarial. Assim, o capitalista
sacrifica o já muito pouco que o trabalhador dispõe, em seu favor, impondo maior
produtividade, maiores ou menores jornadas, menores salários e muitas vezes,
condenando à subcontratação ou mesmo ao desemprego.

Fato é que desde que o trabalho se tornou emprego e que os operários por
meio de lutas históricas, conquistaram o Direito do Trabalho (que surgiu como uma
tentativa de limitar o poder econômico e também pacificar a contradição própria do
capital, capital x trabalho) este tem sido alvo de ataques e designado enquanto rígido,
inflexível. Entretanto tal questionamento quanto à flexibilidade, coincidentemente, não
alcança a rigidez do capital que nega qualquer “retrocesso” em sua conduta de
incontornável defesa da majoração de seus lucros, seja como for, a qualquer preço.

Deste modo, o discurso de flexibilizar os direitos conquistados pelos


trabalhadores basicamente significa torná-los maleáveis e moldáveis conforme o
interesse, mas sempre do capital. Mesmo que se queira fazer acreditar que o
trabalhador tem legitimidade para mitigar seus próprios direitos, tal assertiva é injusta

69 ALVES, Giovanni. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho.


2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6, 2007, p. 115.
70“O processo de precarização do trabalho, que aparece sob o neologismo da flexibilização do trabalho,

impõe-se não apenas por meio da perda de direitos e do aumento da exploração da força de trabalho,
por meio do alto grau de extração de sobretrabalho de contingentes operários e empregados da
produção social. A precarização do trabalho se explicita por meio através do crescente contingente de
trabalhadores desempregados supérfluos à produção do capital”. ALVES, Giovanni. Dimensões da
Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do trabalho. 2.ed. Londrina/Bauru: Praxis/Canal 6,
2007, p. 126.
43

e desigual em sua própria essência, pois claramente a relação de trabalho tem no


trabalhador o lado mais fraco, dado que sua sobrevivência depende dele.

A flexibilização abarca uma série de aspectos jurídicos, de acordo com o


Direito de cada país, compreendendo fatores econômicos, políticos etc.
Existem várias formas de flexibilização do Direito do Trabalho, em
decorrência de cada sistema. Do ponto de vista sociológico, a
flexibilização é a capacidade de renúncia a determinados costumes e de
adaptação a novas situações. Prefiro dizer que a flexibilização das
condições de trabalho é o conjunto de regras que tem por objetivo
instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem
econômica, tecnológica, política ou social existentes na relação entre o
capital e o trabalho. (grifo nosso)71

Como é possível concluir, conjulgam-se aqui o ideário neoliberal de


liberalização da economia e consequente desmanche dos direitos sociais próprios do
Estado de bem estar social keynesiano, junto da acumulação flexível e o processo
produtivo toyotista que corrobora na epidêmica técnica de subcontratação que impera
em seu interior.

Ou seja, para além da tentativa de flexibilização por meio da


desregulamentação dos direitos trabalhistas, fazendo com que a recessão econômica
prevaleça sobre tais direitos, também se experimenta novas formas de
subcontratação e setor informal e de serviços crescente, tópicos que serão
desenvolvidos no próximo capítulo.

71 MARTINS, Sergio Pinto. Flexibilização das Condições de Trabalho. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009,
p. 13.
44

3. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO


CAPITALISMO PERIFÉRICO

O acúmulo primitivo de capital na Europa coroado pela sua expansão


ultramarina, lhe deu condições materiais para que submetesse todo um mundo novo
aos seus interesses durante o período colonial (1500-1850). Nessa lógica se fundou
boa parte do desenvolvimento das nações do capitalismo central.

Chamaremos aqui de países de capitalismo periférico aqueles que não


centralizam os grandes fluxos econômicos, que encontram-se historicamente
submetidos aos mandos e desmandos do colonialismo e imperialismo e que assim,
se fizeram dependentes tecnológica, econômica e militarmente, sendo eles
basicamente os países da América Latina, Ásia e África, respeitando suas respectivas
especificidades. Neste capítulo trataremos da América Latina e posteriormente das
atuais especificidades do Brasil.

Vale salientar que o modo de produção capitalista em si necessita das


disparidades regionais para se reproduzir e manter, sendo que para o
desenvolvimento deste capítulo partiremos de uma análise das economias periféricas
sob a ótica da Teoria marxista da Dependência, a qual entende a dependência como
uma relação de subordinação entre nações periféricas e centrais.

Nas palavras de Marisa Silva Amaral72:

a teoria da dependência numa tentativa de demonstrar que, na verdade, o


modo de produção capitalista é intrinsecamente desigual e excludente
e que desenvolvimento e subdesenvolvimento são fenômenos antagônicos –
por se tratarem de situações distintas dentro de uma mesma lógica de
acumulação – e, ao mesmo tempo, complementares. Isto se justifica pelo
fato de que a lógica mundial de acumulação capitalista possui
características que produzem o desenvolvimento de determinadas
economias na mesma medida em que produzem o subdesenvolvimento
de outras, de tal forma que a dependência é uma característica
estruturante das economias periféricas. (grifo nosso)

72AMARAL, Marisa Silva. A Investida Neoliberal na América Latina e as Novas Determinações da


Dependência. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Uberlândia:
Universidade Federal de Uberlândia, 2006, p. 14.
45

Ainda segundo Amaral73 é possível distinguir três formas históricas de


dependência, as quais se contextualizam também com as mudanças no processo
produtivo mundial, ao qual o capitalismo periférico encontra-se subordinado.

Inicialmente caracterizou-se a dependência colonial, na qual havia a


dominância da Europa sobre suas colônias, das quais a metrópole explorava a
exportação de produtos naturais.

Em um segundo momento caracterizou-se a dependência financeiro-industrial,


quando da passagem do capitalismo comercial para o industrial no capitalismo central,
a produção dos países dependentes ficou condenada à exportação e assim
determinada de acordo com a demanda dos centros hegemônicos, assim como seu
desenvolvimento.

E a terceira forma história de dependência seria a tecnológica-financeira, a qual


durante a década de 50 se baseou nas corporações multinacionais que investem na
indústria voltada para o mercado interno dos países subdesenvolvidos.

Sendo que conclui Amaral74:

Cada uma destas formas de dependência corresponde a uma situação que


condiciona não somente as relações internacionais desses países, mas
também suas estruturas internas: a orientação da produção, as formas de
acumulação de capital, a reprodução da economia e, simultaneamente, sua
estrutura social e política.

Quanto à dependência colonial, Caio Prado Jr.75 traz importante contribuição


quanto aos seus desdobramentos no processo de (sub)desenvolvimento da América

73 “Desenvolvendo melhor estes aspectos, é possível distinguir três formas históricas da dependência.
A primeira delas seria a dependência colonial, com tradição na exportação de produtos in natura e na
qual o capital comercial e financeiro, em aliança com os estados colonialistas, domina as relações entre
a Europa e as colônias. A segunda seria a dependência “financeiro-industrial” que se consolida ao final
do século XIX, sendo caracterizada pela dominação do grande capital nos centros hegemônicos, cuja
expansão se dá por meio de investimentos na produção de matérias-primas e produtos agrícolas para
seu próprio consumo.
Consequentemente, a produção nos países dependentes é destinada à exportação, isto é, a produção
é determinada pela demanda por parte dos centros hegemônicos. A estrutura produtiva interna é
caracterizada pela rígida especialização e pela monocultura em algumas regiões”. AMARAL, Marisa
Silva. A Investida Neoliberal na América Latina e as Novas Determinações da Dependência.
Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Uberlândia: Universidade Federal de
Uberlândia, 2006, p. 31.
74 Idem ibidem, p. 32
75 PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense, 1974, p. 14.
46

Latina ao expor ao que os colonizadores condenaram às colônias tropicais, como o


Brasil:

Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos


constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde,
ouro e diamante; depois algodão, e em seguida café, para o comércio
europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o
interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a
economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura social,
bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular,
realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra de
que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos,
articulados numa organização puramente produtora, mercantil, constituir-se-
á a colônia brasileira. Este início, cujo caráter manter-se-á dominante
através dos séculos da formação brasileira, gravar-se-á profunda e
totalmente nas feições e na vida do país. Particularmente na sua
estrutura econômica. E prolongar-se-á até nossos dias, em que apenas
começamos a livrar-nos deste longo passado colonial. (grifo nosso)

Deste modo, para real compreensão do processo de formação socioeconômico


da sociedade brasileira se faz necessário partir das relações de submissão aos
interesses econômicos externos a que fomos castigados desde o período colonial e
que perpassam nossa história até hoje nos condenando ao lugar periférico e
dependente do capitalismo:

Marini [teórico da vertente marxista da Teoria da Dependência] busca na


expansão comercial do capitalismo nascente no século XVI, e na forma como
a economia latino-americana se desenvolve em estreita consonância com
essa dinâmica, a configuração da situação de dependência, que viria a
determinar todo o posterior desenvolvimento da região, definida a partir de
uma bem estruturada divisão internacional do trabalho.
Desde cedo, a condição para que a América Latina se inserisse na
economia internacional esteve relacionada com a capacidade para criar
uma oferta mundial de alimentos. Tão logo, a essa função foi acrescentada
a de contribuir para a formação de um mercado de matérias-primas
industriais, cuja importância crescia em função do próprio
desenvolvimento industrial.76 (grifo nosso)

É possível então se depreender que há uma relação desigual de controle


hegemônico dos mercados por parte dos países dominantes e uma perda de controle
dos dependentes sobre seus recursos, o que leva à transferência de renda – tanto na
forma de lucros como na forma de juros e dividendos – dos segundos para os

76 DUARTE, Pedro Henrique Evangelista; GRACIOLLI, Edílson José. A teoria da dependência:


interpretações sobre o (sub)desenvolvimento na américa latina. Anais do V Colóquio CEMARX.
Campinas: Unicamp, 2007, p. 8.
47

primeiros. Ou seja, essa relação é desigual em sua essência porque o


desenvolvimento de certas partes do sistema ocorre às custas do subdesenvolvimento
de outras.77

Ponto pertinente que a Teoria marxista da Dependência desenvolve é à


Superexploração da Força de Trabalho, análise que se funda na Lei Geral da
Acumulação Capitalista78, de Marx e que delineia as especificidades da precariedade
e do processo de precarização do trabalho no Capitalismo Periférico.

Com a Lei Geral da Acumulação Capitalista, Marx tenta mostrar que se


mantida constante a quantidade de trabalhadores necessária para por em
funcionamento determinada quantidade de meios de produção – ou dito de
outra forma, se mantida constante a composição do capital - quando se
aumenta o capital, a demanda por força de trabalho deve aumentar na
mesma proporção deste. Como a ampliação da procura por força de
trabalho leva a um ponto no qual a demanda por trabalho supera sua oferta,
os salários também crescem de acordo com o ritmo de crescimento do
capital.
No entanto, o sistema capitalista de produção tem como lei geral uma
produtividade crescente, de tal forma que a composição do capital possui
uma tendência a aumentar progressivamente. Nesse sentido, e como a
expansão do capital depende que a força de trabalho seja
continuamente incorporada a ele, acumular capital significa
necessariamente aumentar a massa de trabalhadores, na medida
mesmo em que o trabalho vivo por ele exercido é o único capaz de criar
valor adicional.
Ao ser o motor principal da reprodução no sistema capitalista – dado sua
capacidade de criar valor adicional - e conseqüentemente, ao permitir e
garantir a ampliação da riqueza, a classe trabalhadora acaba produzindo as
condições que a tornam relativamente irrisória a este mesmo processo. Isso
porque, quando ocorre um incremento na composição do capital, a
produtividade do trabalho deve ser ampliada através da intensificação do
processo acumulativo, e não através da contratação de trabalhadores a
serem incluídos no processo produtivo, o que quer dizer que amplia-se a
quantidade de máquinas e equipamentos, mas a contratação de
trabalhadores não acompanha essa ampliação. A partir disso, forma-se o
exército industrial de reserva, fator de vital importância para o
funcionamento do sistema capitalista.
Tal importância se dá na medida em que a classe trabalhadora
desempregada que forma esse exército pressiona constantemente a parte
dessa mesma classe que está empregada, deixando estes em uma situação
de instabilidade e incerteza. Como a parte desempregada está disposta a
trabalhar a salários inferiores aos vigentes (já que querem de toda forma
se ver livres do desemprego), os que se encontram empregados ficam
sujeitos a trabalho excessivo, de modo que a exploração a que são

77 DUARTE, Pedro Henrique Evangelista; GRACIOLLI, Edílson José. A teoria da dependência:


interpretações sobre o (sub)desenvolvimento na américa latina. Anais do V Colóquio CEMARX.
Campinas: Unicamp, 2007, p. 6.
78 MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, capítulo

XXIII.
48

submetidos é a fonte de enriquecimento da classe capitalista como um


todo.
Esse processo se amplia à medida que o capitalismo se desenvolve e a
estrutura produtiva vai se modificando e se modernizando. Vale dizer, à
medida que o capitalismo se desenvolve, amplia-se a relação capital
constante/capital variável e conseqüentemente a produtividade e o
excedente produzido, ao mesmo tempo em que se amplia a exploração
sobre a massa de trabalhadores.79

Ou seja, considerando que o imperativo que rege o capital é o da


autovalorização do valor na busca do lucro e assim, da acumulação de capital, e essa
valorização se dá pela mais-valia: “Acumulação do capital é, portanto, multiplicação
do proletariado”80, o que levaria a uma maior oferta de trabalho e assim, ao aumento
salarial.

Entretanto, nas palavras de David Harvey81, o modelo de Marx sugere que,


onde quer que enfrente problemas de oferta de trabalho, a acumulação do capital
expulsa as pessoas de seus postos de trabalho, recorrendo a inovações tecnológicas
e organizacionais, e o resultado é a queda dos salários abaixo de seu valor ou o
aumento da jornada e da intensidade de trabalho para aqueles que permanecem
empregados. (grifo nosso)

Partindo de tais pressupostos passaremos a analisar, a partir da configuração


da situação de dependência da América Latina, sua inserção na economia
internacional e na divisão internacional do trabalho.

Considerando seu papel de prover uma oferta mundial de alimentos e,


posteriormente em função do desenvolvimento industrial no capitalismo central, prover
matérias primas industriais, forja-se um intercâmbio desigual82 entre as economias

79 DUARTE, Pedro Henrique Evangelista; GRACIOLLI, Edílson José. A teoria da dependência:


interpretações sobre o (sub)desenvolvimento na américa latina. Anais do V Colóquio CEMARX.
Campinas: Unicamp, 2007, p. 7.
80 MARX, Karl. O capital. Vol. I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 837
81 HARVEY, David. Para entender O capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo,

2013, p. 265
82 “Na medida em que aumentam a oferta mundial de alimentos (que são bens-salário), os países

latino-americanos acabam induzindo a uma redução dos preços dos produtos primários no
mercado mundial. O resultado direto disso é uma redução do valor real da força de trabalho nos países
industriais, permitindo que o incremento da produtividade se traduza em ampliação da mais-valia.
“Em outras palavras, mediante sua incorporação ao mercado mundial de bens-salário, a América Latina
desempenha um papel significativo no aumento da mais-valia nos países industrializados” (Ibidem, p.
116). Como o preço dos produtos industriais se mantém relativamente estável, a depreciação
dos bens primários acaba sendo refletida na deterioração dos termos de troca. Nesses termos,
a deterioração dos termos de troca acaba sendo a expressão da realização de um intercâmbio
desigual de mercadorias entre nações industriais e não industriais, dentro da imposta divisão
49

periféricas e centrais, redundando na transferência de valor da periferia em direção


ao centro.

Deste modo, para suprir tal intercâmbio desigual, o capitalista da nação


dependente tenta compensar tal transferência de valor indevida no plano da própria
produção interna ampliando a produção de excedente pelo agravamento da
exploração de mais-valia, pelo aumento da intensidade do trabalho, pelo
prolongamento da jornada de trabalho ou ainda, pela redução do consumo do
operário.

Tais mecanismos de tentativa de compensação fazem com que o trabalho na


América Latina seja remunerado por baixo de seu valor, explicitando uma
superexploração da força de trabalho que decorre da condição de dependência das
nações que a compõe. Ou seja, se no modo de produção capitalista o trabalho ao
tornar-se mera mercadoria já é dotado de uma precariedade intrínseca, no Sul do
mundo tal precariedade se exacerba com a superexploração.

Nas palavras de Amaral83:

Haveria três formas históricas iniciais de dependência, quais sejam, a


dependência colonial, a dependência “financeiro-industrial” e a dependência
“tecnológico-industrial”, caracterizadas pela existência de um intercâmbio
desigual entre as economias periféricas e centrais, o que redunda na
transferência de valor da periferia em direção ao centro. Isto implica numa
forte saída estrutural de recursos, que traz consigo graves problemas
de estrangulamento externo e restrições externas ao crescimento.
Diante disto, a única atitude que torna possível às economias periféricas
garantir sua dinâmica interna de acumulação de capital é o aumento da
produção de excedente através da superexploração da força de trabalho

internacional do trabalho. Tal intercâmbio, ao contrário de exprimir uma troca de equivalentes,


conformam uma série de mecanismos que permitem realizar transferências de valor. Seriam dois os
principais mecanismos através dos quais se realizaria a transferência de valor. O primeiro opera em
nível da esfera de produção interna. Como as mercadorias tendem a ser vendidas pelo preço de
mercado (valor das condições médias de produção), os países centrais acabam realizando suas
mercadorias por um valor superior ao custo de produção, na medida em que possuem padrões de
produção superiores aos países periféricos. A conseqüência disso é a transferência de valor do centro
para a periferia, por conta do processo de concorrência entre capitais internos e externos dentro de
uma mesma esfera de produção.
O segundo opera no âmbito da concorrência entre distintas esferas que se interrelacionam. A
existência de monopólio na produção de bens de alto valor agregado por parte dos países centrais
permite que estes vendam seus produtos a preços superiores àqueles que prevaleceriam com iguais
taxas de lucro, o que implica que as nações periféricas sejam obrigadas a ceder gratuitamente parte
do valor que produzem.” DUARTE, Pedro Henrique Evangelista; GRACIOLLI, Edílson José. A teoria da
dependência: interpretações sobre o (sub)desenvolvimento na américa latina. Anais do V Colóquio
CEMARX. Campinas: Unicamp, 2007, p. 8 (grifo nosso).
83 AMARAL, Marisa Silva. A Investida Neoliberal na América Latina e as Novas Determinações da

Dependência. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Uberlândia:


Universidade Federal de Uberlândia, 2006, p. 20-21.
50

– e este é o eixo principal através do qual se constrói a teoria marxista da


dependência (...) (grifo nosso)
dado o comércio internacional, há uma tendência permanente à deterioração
dos termos de troca que desfavorece os países exportadores de produtos
primários – ao contrário do que apregoa a teoria tradicional das vantagens
comparativas –, fazendo com que haja transferência de renda da periferia em
direção ao centro. Esta deterioração se dá porque, como as economias
primário-exportadoras não desenvolvem seu setor industrial, elas são
incapazes de promover uma elevação em seus níveis de produtividade
e são também incapazes de incorporar maior quantidade de mão-de-
obra ao processo produtivo. Ambos os aspectos levam a que se tenha um
excedente de força de trabalho e uma redução salarial generalizada para
toda a economia, o que promove uma redução nos custos e, por
conseguinte, nos preços das mercadorias produzidas. Contrariamente, o
componente salarial nos custos das firmas dos países centrais é muito maior
do que o que prevalece na periferia. (grifo nosso)84

Ademais, Amaral85 expõe ainda que com a consolidação do neoliberalismo e


consequente novo regime de acumulação e modo de regulação, teria se forjado uma
nova forma de dependência. “Num período mais recente – mais propriamente, em
tempos neoliberais –, tem se firmado uma nova fase do capitalismo, que representaria
uma nova forma histórica da dependência – a quarta forma histórica –, caracterizada,
principalmente, pela transferência de recursos (valor, nos termos marxistas) na forma
financeira, através do pagamento de juros e amortizações em razão de
endividamentos externos crescentes. Destacando que esta é uma nova fase da
dependência porque aprofunda as condições estruturais da dependência e, por outro
lado, assume uma maior face na valorização do capital fictício, que é um tipo de capital
que se desdobra tendo como base o capital portador de juros financiador do
investimento produtivo,”

No Brasil, em um contexto neoliberal, o mecanismo de compensação do


capitalista, ou ainda, a superexploração do trabalho como processo de precarização
do trabalho tem se materializado no crescente fenômeno da terceirização, que
partindo das assertivas acima será analisado no próximo tópico.

84 AMARAL, Marisa Silva. A Investida Neoliberal na América Latina e as Novas Determinações da


Dependência. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Uberlândia:
Universidade Federal de Uberlândia, 2006, p. 20.
85 Idem ibidem, p. 32.
51

3.1 Terceirização e Precarização do Trabalho: atual panorama brasileiro

Coincidência, ou não, de acordo com Maurício Godinho Delgado os contornos


da terceirização começam a ganhar maior clareza no ordenamento jurídico brasileiro
no fim da década de 60.86

Vale ressaltar que a Consolidação das Leis do Trabalho, que data de 1940, não
versou à época sobre o tema. Naquela oportunidade se previra e definira apenas as
figuras do empregado e do empregador em seus artigos 2º e 3º, sendo que estes
figurariam em uma relação de emprego caso os critérios da pessoalidade,
habitualidade, subordinação e a bilateralidade da relação jurídica fossem atendidos.
Suas únicas exceções eram as previstas no artigo 455 do mesmo diploma, o qual
previa as figuras da empreitada e subempreitada.

Fato é que o processo produtivo vigente à época não requeria ainda tal modo
triangular de contratação, já que o contexto histórico-econômico brasileiro que
“coincidia”, ou melhor dizendo, (dada sua característica de dependência) encontrava-
se submetido a do capitalismo central, ainda forjava-se sobre o fordismo. Como
Ricardo Antunes contextualiza no excerto abaixo:

O capitalismo brasileiro, de desenvolvimento hipertardio quanto ao seu


modo de ser, vivenciou, ao longo do século XX, um verdadeiro processo de
acumulação industrial, especialmente a partir do getulismo. Pôde, então,
efetivar seu primeiro salto verdadeiramente industrializante, uma vez que
as formas anteriores de indústria eram prisioneiras de um processo de
acumulação que se realizava dentro dos marcos da exportação do café, no
qual a indústria tinha o papel de apêndice. De corte fortemente estatal e
feição nacionalista, a industrialização brasileira somente deslanchou a
partir de 1930 e, posteriormente, com Juscelino Kubitschek, em meados da
década de 1950, quando o padrão de acumulação industrial deu seu
segundo salto. O terceiro salto foi experimentado a partir do golpe de 1964,
quando se aceleraram fortemente a industrialização e a
internacionalização do Brasil (Antunes, 1982 e 1992).
O país estruturava-se, então, com base em um desenho produtivo bifronte:
de um lado, voltado para a produção de bens de consumo duráveis, como
automóveis, eletrodomésticos etc., visando um mercado interno restrito e
seletivo; de outro, prisioneiro que era de uma dependência estrutural
ontogenética, o Brasil continuava também a desenvolver sua produção
voltada para a exportação, tanto de produtos primários quanto de
produtos industrializados.
No que concerne à dinâmica interna do padrão de acumulação industrial,
estruturava- se pela vigência de um processo de superexploração da força

86 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015, p. 488.
52

de trabalho, dado pela articulação entre baixos salários, jornada de


trabalho prolongada e fortíssima intensidade em seus ritmos, dentro de
um patamar industrial significativo para um país que, apesar de sua inserção
subordinada, chegou a alinhar-se, em dado momento, entre as oito grandes
potências industriais.87 (grifo nosso)

Deste modo, segundo Delgado88 já no fim da década de 1960 e início dos anos
70 é que a ordem jurídica instituiu referência normativa mais destacada ao fenômeno
da Terceirização (ainda não designado por tal epíteto nessa época, esclareça‐se).
Mesmo assim tal referência dizia respeito apenas ao segmento público (melhor
definindo: segmento estatal) do mercado de trabalho – administração direta e indireta
da União, Estados e Municípios. É o que se passou com o Decreto‐Lei n. 200/67 (art.
10) e Lei n. 5.645/70.

Após o Decreto‐Lei nº 200/67 adotar a terceirização no segmento estatal foi


publicada a Lei 5.645/70 que disciplinava quais atividades poderiam ser terceirizadas
na Administração direta e indireta, sendo que eram: “as atividades relacionadas com
transporte, conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras
assemelhadas”. Valendo destacar que o Decreto citado fora editado em plena
Ditadura Militar brasileira, o que denuncia o caráter autoritário e a função
economicamente liberal do ato.

Posteriormente foram publicadas as Leis que versavam sobre trabalho


temporário (Lei 6.019/74); serviços de vigilância bancária (Lei 7.102/83); serviços de
telefonia (Lei 9.472/97) e a Lei 8.863/94 que acrescentou a possibilidade de se
terceirizar toda a área de vigilância patrimonial, sendo ela pública ou privada.

Segundo Delgado (2015, p.489) a partir da década de 70, apesar da


inexistência de texto legal que permitisse e regulamentasse a terceirização, a prática
já era uma realidade.

Tal fato ratifica a “coincidência” entre a crise do fordismo no capitalismo central


e o nascer de um novo processo produtivo em um regime de acumulação flexível que
requeria contratos mais flexíveis e que já refletia tais imperativos no capitalismo
periférico. E também se expressa a submissão ou ainda, articulação (rememorando a

87 ANTUNES, Ricardo. A nova morfologia do trabalho e as formas diferenciadas da reestruturação


produtiva no Brasil dos anos 1990. Sociologia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, Vol. XXVII, 2014, p. 11-25.
88 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015.
53

Teoria da Regulação) da legislação, no caso do Direito, à forma econômica, que no


respectivo contexto histórico-econômico se viu tendo que adequar-se às demandas
do novo regime de acumulação.

Nas palavras de Ricardo Antunes89:

Foi durante a década de 1980, que ocorreram os primeiros impulsos do


nosso processo de reestruturação produtiva, levando as empresas a
adotar, no início de modo restrito, novos padrões organizacionais e
tecnológicos, novas formas de organização social do trabalho. Iniciou-
se a utilização da informatização produtiva e do sistema just-in-time;
germinou a produção baseada em team work, alicerçada nos programas de
qualidade total, ampliando também o processo de difusão da microeletrônica.
Deu-se, também, o início da implantação dos métodos denominados
“participativos”, mecanismos que procuram o “envolvimento” (na verdade, a
adesão e a sujeição) dos trabalhadores com os planos das empresas. (grifo
nosso)

Como é possível depreender, o processo produtivo brasileiro passa por grande


transformação a partir da década de 80, a qual fora impulsionada pela competição
internacional e pela imposição de “novos” processos de produção pelas
transnacionais. Essa reestruturação produtiva caracterizou-se então pela busca da
redução de custo pela redução da força de trabalho, despendendo um desemprego
estrutural. Sendo que, segundo Ricardo Antunes, os setores que foram principalmente
expostos a tais mudanças foram os automobilísticos, têxtil e bancário.

Entretanto havia ainda a necessidade da elevação da produtividade, que ficou


a cargo então da reorganização da produção que conseguia diminuir a quantidade de
trabalhadores, mas em compensação elevava a jornada de trabalho resultando na
superexploração.

De modo sintético pode-se dizer que a necessidade de elevação da


produtividade ocorreu através de reorganização da produção, redução
do número de trabalhadores, intensificação da jornada de trabalho dos
empregados, surgimento dos CCQ’s (Círculos de Controle de
Qualidade) e dos sistemas de produção just-in-time e kanban, dentre
os principais elementos.90

89 ANTUNES, Ricardo. A nova morfologia do trabalho e as formas diferenciadas da reestruturação


produtiva no Brasil dos anos 1990. Sociologia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, Vol. XXVII, 2014, p. 11-25.
90 ANTUNES,, Ricardo. Os caminhos da liofilização organizacional: as formas diferenciadas da

reestruturação produtiva no Brasil. Idéias 2002/2003; 9/10:13-24. p. 17


54

Em 1985 frente ao crescente número de fraudes que ocorriam no setor


bancário, o TST se posiciona pela primeira vez quanto ao tema e edita a Súmula nº
293, cujo conteúdo era: “É bancário o empregado de empresa de processamento de
dados que presta serviço a banco integrante do mesmo grupo econômico”. Deste
modo, passou a ser considerada atividade própria do banco o processamento de
dados, entendendo-se então ilícita a terceirização do que, se entendeu por “atividade-
fim”, no artigo 581, § 2º, da CLT.

Posteriormente, em 1994, foi editada a Lei 8.949 que introduziu na CLT o


parágrafo único do artigo 442 que determinava que: “qualquer que seja o ramo de
atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus
associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela”.

Tal disposição ensejou uma série de fraudes que fizeram com que os números
de reclamações trabalhistas disparassem e em consequência disso, buscando
uniformizar a jurisprudência da Corte, o TST, em 1986, editasse a Súmula nº 256
declarando expressamente que a terceirização só seria lícita nos dois casos já
previstos em lei, sob pena de se caracterizar o vínculo empregatício: “Salvo nos
casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previsto nas leis 6.019 e
7.102, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta, formando‐se
o vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços.” (grifo nosso)

Entretanto, tais esforços não obteram êxito e em 1993 o TST editou nova
Súmula, a nº 331, que passou a abranger também a temática no campo da
Administração Pública, e que até a atualidade é a que regulamenta o instituto da
terceirização no Brasil:

I ‐ A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,


formando‐se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo
no caso de trabalho temporário. (Lei n. 6.019, de 03.01.1974).
II ‐ A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa
interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da
administração pública direta, indireta ou fundacional. (art. 37, II, da
CF/1988).
III ‐ Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de
serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20‐06‐1983), de
conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade‐meio do tomador, desde que inexistente a
pessoalidade e a subordinação direta.
55

IV ‐ O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do


empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador
dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos
órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações
públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista,
desde que hajam participado da relação processual e constem
também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de
21.06.1993).” (Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000)

Como é possível notar, a S. 331 acrescentou às exceções passíveis de


terceirização as chamadas atividades-meio das empresas, as ampliando. Porquanto,
vale contextualizar, nas palavras de Marcio Pochmann91, o fato de que não fora mera
coincidência sua edição em plenos anos 90, restando novamente clara a articulação
daquele novo regime de acumulação neoliberal e o modo de regulação:

No regime democrático iniciado em 1985, a regressão na regulação


do trabalho se deu na década de 1990, com a flexibilização dos
contratos impulsionada pelos governos neoliberais dos fernandos
(Collor, 1990‐92, e Cardoso, 1995‐2002). O avanço na precarização
nas relações de trabalho se mostrou inquestionável, com
agravamento da informalidade e do desemprego. (grifo nosso)

Ademais, ainda quanto à edição da Súmula nº 331, se faz claro que o


enunciado transcendeu os limites do Poder Judiciário ao possibilitar a terceirização
também das atividades-meio sem haver previsão legal para tal. Ao interpretarmos os
artigos 2º e 3º, da CLT resta óbvio que a relação bilateral se impõe como regra e que
assim, as exceções deveriam vir a sê-las por mais que mera arbitrariedade de um
Tribunal.

Quanto aos argumentos usados pelo empresariado que defende a terceirização


indiscriminada, segundo Giorgio, Lopes e Cozero92 para legitimar o processo de
terceirização utiliza-se do argumento de que esta prática diminuiria os custos da
produção possibilitando que as empresas contratem mais, havendo aumento dos
postos de trabalho, maior dinamismo e crescimento econômico.

91 POCHMANN, Márcio. A terceirização e a UBERização do trabalho no Brasil. 2016. Disponível


em: https://blogdaboitempo.com.br/2016/08/24/aterceirizacaoeauberizacaodotrabalhonobrasil/.
Acesso em 01 jul. 2016.
92 LOPES, João Gabriel; COZERO, Paula; GIORGI, Fernanda. O que está em jogo em matéria de

terceirização trabalhista no Supremo Tribunal Federal?. In: Wilson Ramos Filho; José Eymard
Loguércio; Mauro de Azevedo Menezes. (Org.). Terceirização no STF: elementos do debate
constitucional. Bauru: Canal 6, 2015, v. 1, p. 13-38.
56

Contudo, contrariamente a este ciclo, a terceirização tem consolidado um


encadeamento perverso de fatores que causa desequilíbrios econômicos e sociais: a
diminuição dos custos da produção se dá através dos baixos salários e da
precariedade a que estes empregos estão ligados. O rebaixamento massivo dos
salários dos trabalhadores desencadeará o empobrecimento da população,
diminuição do consumo e redução da produtividade com impacto negativo sobre o
número e empregos.

O artigo ainda cita o impacto da terceirização no papel que o Brasil


desempenha na divisão internacional do trabalho, ponto também tratado por Ricardo
Antunes que caracteriza o “discreto charme do capitalismo brasileiro” que seria
justamente oferecer “superexploração da força de trabalho com padrões produtivos
tecnologicamente mais avançados” ao capital estrangeiro, reinventando e
consolidando nosso papel de economia dependente, praticamente colonial.

Para além da superexploração, a terceirização manifesta e viabiliza outros


processos de precarização do trabalho como a maior rotatividade entre empregos,
maior índice de acidentes de trabalho, maiores riscos de trabalho análogo ao de
escravo e ainda, agravamento da dificuldade de receber as verbas trabalhistas
devidas na Justiça do Trabalho em decorrência de reclamação trabalhista. Valendo
ressaltar que cerca de 80% dos acidentes de trabalho no Brasil estão ligadas à
prestação de trabalho terceirizado e a análise dos 10 maiores resgates de
trabalhadores em condições análogas a de escravos entre 2010 e 2013 indica que
85% deles eram terceirizados.93
Enfim, a terceirização, após o trabalho escravo, é, talvez, a maior
expressão da mercantilização da força de trabalho humana. A
terceirização rompe a estrutura binária – empregador/empregador –
que ainda hoje marca a relação de emprego e retira o trabalhador da
posição de protagonista dessa relação, tornando-o objeto de uma
negociação comercial entre duas empresas – a prestadora e a
tomadora.
Nesses termos, terceirização nada mais é do que a mais ampla
expropriação do ser humano, que deixa de ser proprietário de sua
própria força de trabalho. O bem colocado à disposição do mercado

93 LOPES, João Gabriel; COZERO, Paula ; GIORGI, Fernanda . O que está em jogo em matéria de
terceirização trabalhista no Supremo Tribunal Federal?. In: Wilson Ramos Filho; José Eymard
Loguércio; Mauro de Azevedo Menezes. (Org.). Terceirização no STF: elementos do debate
constitucional. 1ed.Bauru: Canal 6, 2015, v. 1, p. 13-38.
57

pela terceirização é a energia vital dos trabalhadores terceirizados,


que, reificados, tornam-se passíveis de alienação.94 (grifo nosso)

Deste modo, analisando todo o contexto de crise e reestruturação produtiva


que encontram-se por trás da defesa indefensável da terceirização, resta claro que a
saída da flexibilização e desregulamentação das relações empregatícias só atende
aos interesses de uma elite, que sequer existiria não fossem as trabalhadoras e
trabalhadores que levam há mais de cinco séculos, este país nas costas.

94TRINDADE, Pedro Mahin Araujo. O golpe de 2016 e a terceirização: um programa governamental


de domínio do capital sobre a classe trabalhadora.
58

CONCLUSÃO.

Partindo de um referencial teórico marxista buscou-se neste trabalho analisar


o modo de produção capitalista, os processos de crise, reestruturação produtiva,
precarização do trabalho e suas conexões.

Ao observar o modo de produção capitalista sobre o prisma de seu


incontornável caráter expansivo foi possível concluir que há contradições internas, de
seu próprio funcionamento que o levam a processos de crises. Sendo que, partindo
do pressuposto de que o capitalismo precisa a todo momento se reorganizar para que
sua continuidade seja possível, os processos de crise ao permitirem isso, verificam
papel crucial em sua existência.

Historicamente foi possível demonstrar que contextos de crise propiciaram


grandes mudanças nos processos produtivos. Esse fenômeno nomeado
reestruturação produtiva, que se caracteriza basicamente pela reorganização do
trabalho na constante busca da retomada e aumento das taxas de lucro, a qualquer
custo.

Nesse sentido, vale destacar o caráter de mercadoria que o capitalismo impôs


à concepção e função do trabalho. Sendo que, ao deturpar completamente a
concepção de trabalho e impor a ela a lógica da busca incessante do lucro, o capital
tornou ainda, o homem mera ferramenta de todo o processo produtivo.

Deste modo, analisando o processo de reestruturação do processo produtivo a


partir do século XIX, do Taylorismo ao Toyotismo, e as crises que o permearam, foi
possível depreender que tanto quanto as crises, o processo de precarização do
trabalho também se mostrou intrínseco ao capitalismo.

Tal fato, restou mais claro ainda ao observarmos a dinâmica do capitalismo


periférico, no qual o processo de precarização do trabalho é exacerbado pela
superexploração da força de trabalho, a que a condição de dependente o condena.

Nesta esteira, foi contextualizado o instituto da terceirização no Brasil, o qual


materializa os imperativos do neoliberalismo e da acumulação flexível no processo
produtivo brasileiro. Vale ressaltar que tal fato expõe a necessidade do Direito do
Trabalho de se adequar às “novas formas” econômicas. Ou seja, expõe o que a Teoria
da Regulação já demonstrara: a necessidade de articulação entre o regime de
59

acumulação de capital e modos de regulação, que no caso se materializam em uma


faceta jurídica.

Vale rememorar e ressaltar que não foram as mínimas garantias trabalhistas


que levaram, e levam, à crise econômica, e muito menos a retirada delas provocará a
recuperação da economia, como já comprovou a História em outros momentos em
que se deu o aprofundamento do liberalismo.

Deste modo, foi possível concluir que se os processos de crise são imanentes
das contradições do capital, tanto quanto o processo de precarização do trabalho
também o é, somente a superação do modo de produção capitalista se apresenta
como saída real para as mazelas que castigam a classe trabalhadora. Neste sentido:

A juventude trabalhadora, sobretudo, é chamada para esta grande tarefa.


Como geração futura, ela formará com toda certeza o verdadeiro fundamento
da economia socialista. Ela tem que mostrar já, como portadora do futuro da
humanidade, que está à altura dessa grande tarefa. Há todo um velho mundo
ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós
conseguiremos, jovens amigos, não é verdade? Nós conseguiremos!95

95LUXEMBURGO, Rosa. A Socialização da Sociedade. Gesammelte Werke, Vol. 4, p 431-34, RDA,


Berlin, 1970-75.
60

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