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ARTIGO

Ofensiva do capital e novas determinações do trabalho


profissional

Mônica Maria Torres de Alencar Sara Granemann


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Ofensiva do capital e novas determinações do trabalho profissional


Resumo: Discute-se, neste artigo, as condições nas quais se realiza o trabalho profissional dos assistentes sociais. Toma-se por
fundamento “as configurações do trabalho na sociedade capitalista”, as contrarreformas do Estado e as (in)consequentes alterações na
natureza e na orientação das políticas sociais, conduzidas pelo grande capital em todo o mundo. Assim, a compreensão da pauperização
da força de trabalho dos assistentes sociais ganha sentido na análise dos movimentos mais gerais da luta de classe e das necessidades do
capital em se articular para garantir a realização de sua função primária, o aumento dos lucros.
Palavras-chave: ofensiva do capital, contrarreforma do Estado, trabalho profissional, precarização das condições de trabalho.

Capital Offensive and the New Determinations of Professional Labor


Abstract: This article discusses the conditions in which the professional work of social workers is conducted. It is based on the
“configurations of labor in capitalist society,” the counter reforms of the State and the (in)consequential alterations in the nature and
orientation of social policies, conducted by the interests of capital throughout the world. Thus, the understanding of the impoverishment
of the labor force of social workers takes on meaning in the analysis of the more general movement of class struggle and the needs of
capital to organize to guarantee the realization of its primary function, the increase of profit.
Key words: capital offensive, counter reform of the State, professional labor, increased precariousness of labor conditions.

Recebido em 14.04.2009. Aprovado em 30.06.2009.

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Introdução nou-se mais evidente a partir dos efeitos da crise


estrutural do capital na década de 1970 e das respos-
A preocupação com o trabalho do assistente soci- tas articuladas pelo próprio capital, que levaram à
al, como especialização do trabalho, inscrito na divisão reorganização econômica e política do sistema e à
social e técnica do trabalho social ganhou, nos últimos ofensiva generalizada contra o trabalho organizado.
anos, fôlego renovado face às novas determinações A atual dinâmica do capitalismo mundial estrutura
históricas da sociedade contemporânea. Enquanto tra- um conjunto de condições econômicas e políticas que
balho assalariado, a profissão não é imune à dinâmica aprofunda cada vez mais a tendência de desvaloriza-
dos processos sociais contemporâneos que determi- ção da força de trabalho à medida que modifica as
nam a sua configuração técnica-profissional, com cla- formas de produção e o conjunto das relações sociais
ras implicações em suas competências e atribuições, para assegurar o nível das taxas de lucro. A lógica da
bem como nas suas condições de trabalho. transnacionalização e da financeirização da economia,
Enquanto força de trabalho, inscrita na organiza- do desenvolvimento científico e tecnológico modificou
ção coletiva do trabalho, é permeável, ainda que dis- a produção de bens e serviços com implicações na
ponha de uma relativa autonomia, aos condicionamen- organização e gestão do trabalho. Dentre as principais
tos e parâmetros institucionais e trabalhistas que se consequências, situam-se as alterações no processo
tecem no âmbito das instituições e organizações públi- produtivo, agora caracterizado pelas flexibilização e
cas e privadas, responsáveis pela gestão das “sequelas” descentralização da produção em que a terceirização
decorrentes da ofensiva orquestrada pelo capital con- assume grandes proporções. Nesse cenário, são
tra o trabalho. A ofensiva mais recente tende a articu- reeditadas formas pretéritas de trabalho, como, por
lar respostas que apontam para a “assistencialização exemplo, o trabalho por peça e domicciliar, além do
e financerização das políticas sociais” cujo significado predomínio de regimes de trabalho em contrato tem-
parece ser o de administrar os efeitos do processo de porário e jornada de trabalho parcial.
desvalorização e superexploração do trabalho no ca- Embora as reestruturações econômicas e políti-
pitalismo contemporâneo. cas com impactos no trabalho sejam próprias da di-
A contrarreforma do Estado e o aumento da ex- nâmica do capital, não sendo, portanto, novidade his-
ploração no âmbito da fábrica capitalista determinam tórica, há que se considerar as condições nefastas
o “empobrecimento” das políticas sociais e a redu- que atualmente conferem para a força de trabalho.
ção dos direitos sociais da classe trabalhadora. As Ao tomar-se em conta o fato de que a mais recente
consequências das profundas alterações nas condi- crise do capital apresenta elementos novos, de acor-
ções de trabalho, na forma de contrato da força de do com Mészáros (2002), dado seu caráter univer-
trabalho ocupada e na “gestão” da força de trabalho sal, seu alcance global, sua escala de tempo extensa,
excedente determinam e atingem o trabalho do as- contínua e permanente, a ofensiva contra o trabalho
sistente social e a forma de contratação de sua força adquire conotações extremas cujo principal sentido é
de trabalho, pois não há possibilidade de o trato da a sua mais completa subjugação.
“questão social” ser aviltada e de, ao mesmo tempo, As exigências da produção têm como escopo o
existirem condições generosas interferindo nesse pro- uso mais intensivo da força de trabalho, para viabilizar
cesso. Nossa hipótese de trabalho é a de que “políti- ganhos permanentes de produtividade em um ambi-
cas sociais” aviltadas para a classe trabalhadora im- ente de reduções de custo e aumento na maleabilidade
põem o rebaixamento do contrato e das condições do processo produtivo, face às recorrentes mudan-
do trabalho profissional mediador/executor destas ças no nível e na composição da demanda, bem como
políticas sociais. a incorporação das inovações tecnológicas. O movi-
mento de reprodução ampliada do capital rompe com
essa “camisa de força” criada pela consolidação de
1 Desvalorização e superexploração do certo padrão de organização produtiva e social, por
trabalho no capitalismo contemporâneo meio da incorporação de novos equipamentos
informatizados, desverticalização das empresas,
Os processos históricos recentes de alteração na relocalização de plantas e pela reorganização das
forma de produção e reprodução das relações capi- formas de regulação do trabalho.
talistas determinaram, em escala mundial, novas con- A crescente flexibilidade produtiva passou a exi-
dições para o trabalho. Na particularidade histórico- gir a intensificação do uso do trabalho o qual, para
social do capitalismo contemporâneo, em um con- existir, deve ter por base também as modificações
texto de acirramento da luta de classes, aprofundou- em suas relações. Passou-se a questionar as formas
se a desvalorização e a superexploração da força de de organização das relações de trabalho que, basea-
trabalho para a continuidade da reprodução amplia- das na estabilidade do contrato e na jornada pré-
da do capital. A potencialização das contradições in- estabelecida, ao serem implementadas no mundo
trínsecas à dinâmica da acumulação capitalista tor- todo, tornaram frágeis as amplas conquistas do mo-

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vimento operário. Tais conquistas – ainda que limita- um profundo reordenamento das bases econômicas,
das na direção de superar o modo de produção capi- sociais e políticas da trajetória histórica do capitalismo
talista – punham limites ao uso dilapidador da mão de fundada no pós-Segunda Guerra Mundial.
obra, abriam a possibilidade de ampliar o emprego e O ressurgimento atual do desemprego, enquan-
regulamentavam a incorporação social do trabalho. to um fenômeno crônico e global, é apenas a ponta
Com a racionalização da produção, opera-se a de um iceberg. A cultuada política do “pleno em-
reorganização das relações de trabalho que tem im- prego” dos anos de ouro do capitalismo não nos deve
plicado, na verdade, na instauração de uma nova fazer esquecer: tais políticas foram bastante locali-
correlação de forças entre o capital e o trabalho; zadas nos países do centro do capitalismo onde o
nela, o primeiro passa a ter um maior poder na de- desemprego foi controlado por um período e para
terminação da forma de uso do trabalho (referentes parcelas de trabalhadores. Na periferia do modo de
à alocação, à remuneração e ao tempo de trabalho) produção capitalista e para expressivas frações da
e potencializa, inclusive, o seu uso de forma mais classe trabalhadora no centro do modo de produ-
intensiva. A flexibilização e a desregulamentação ção, por exemplo, para os imigrantes das ex-colôni-
das relações de trabalho têm um significado bas- as europeias, o “pleno emprego” nunca foi uma pos-
tante expressivo que é o de desvencilhar o capital sibilidade. Na realidade, o desemprego é a expres-
da “camisa de força” proporcionada pelo arranjo são de um processo muito mais amplo no campo do
regulador, cujo eixo estava pautado por uma forte embate entre o capital e o trabalho e constitui o
intervenção do Estado em uma significativa oposi- modo de ser desta relação. Nos últimos 30 anos é,
ção aos princípios que colocam no mercado a de- pois, a expressão privilegiada da ofensiva do capital
terminação do uso do trabalho. sobre o trabalho. Não se pode deixar de considerar
Trata-se, de fato, da ruptura de um padrão de que as bases desse processo estão profundamente
regulação social do mercado e das relações de tra- relacionadas à dinâmica histórica do capitalismo que
balho que, sob a égide da desregulamentação eco- se consolidou principalmente nos anos que se se-
nômica e social, do imperativo da competitividade, guiram à Segunda Guerra Mundial.
da exponenciação da lógica do mercado, restabele- O novo desenvolvimento do capitalismo mundial
cem a autonomia das empresas na contratação e confere um novo sentido à categoria de população
na determinação das regras de uso da força de tra- “excedente”, à medida que não possui mais a capa-
balho. A atual etapa do capitalismo, com o uso cidade de absorver o contingente de trabalhadores
destrutivo da força de trabalho, reedita condições e que está à procura de empregos. Alves (2000) tem
relações de trabalho que remontam ao século 191. razão quando afirma que ocorre uma alteração lógi-
Repõem-se, no capitalismo atual, traços do que co-epistemológica (e ontológica) da categoria “po-
Burawoy (1990) denominou de “regime despótico”, pulação trabalhadora excedente”. Isto é, o que du-
no qual prevalecia a gestão privada do uso do tra- rante a grande indústria poderia ser considerado “tra-
balho pela coação econômica do mercado que ins- balhadores assalariados excedentes” converte-se no
taura o “despotismo hegemônico”2. atual momento histórico em “população trabalhadora
Tal processo coaduna-se com a atual fase de acu- excluída”. As imensas massas de desempregados,
mulação capitalista, caracterizada pelo predomínio do incluindo o chamado “subproletariado tardio”, repre-
capital financeiro, pela reorganização econômica e sentam os novos excluídos da “nova ordem capitalis-
produtiva e por políticas sob hegemonia liberal que ta”. Alves considera esta parcela da classe trabalha-
flexibilizam as relações de trabalho com a finalidade dora tão importante para a nova ordem do capital,
de fortalecer uma regulação privada das relações quanto o próprio desemprego estrutural.
entre o capital e o trabalho. Portanto, as transforma- A lógica do capitalismo, atualmente potencializada,
ções no sistema de relações de trabalho fazem parte é a de expulsar o trabalho vivo do processo de traba-
de um movimento mais amplo de reestruturação ca- lho como estratégia de valorização do capital. Nesse
pitalista, em contraposição ao padrão de desenvolvi- caso, reproduz-se hoje na lógica estrutural do capital
mento socioeconômico hegemônico no pós-guerra e uma massa de trabalhadores que, de fato, torna-se
ao sistema de regulação das relações de trabalho, excluída do processo de trabalho, tendo pouca ou qua-
tanto do ponto de vista institucional como da dinâmi- se nenhuma chance de inserir-se novamente no cir-
ca das negociações coletivas. cuito do grande capital, restando-lhes apenas as ocu-
A produção recente de um desmesurado contin- pações contingentes. Para Alves, o “excedente”
gente de trabalhadores considerados supérfluos, interverte-se em “excluído”. Desse modo, surgem os
excedentários ou sobrantes deve ser relacionada à di- novos excluídos da “nova ordem capitalista”, que são
nâmica atual do capitalismo contemporâneo que assu- as massas de desempregados (e subproletários) do sis-
miu expressões diferenciadas, sobretudo, a partir da tema de exploração do capital (ALVES, 2000, p. 76).
crise estrutural do capital evidenciada mais fortemen- Se a produção progressiva de uma superpopulação
te no início da década de 1970, quando desencadeou relativa não se configura como algo episódico na his-

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tória do capitalismo, a novidade histórica é que a di- ção, no abandono ou aniquilamento deliberado de bens
nâmica de acumulação do capital repõe, hoje e em e serviços; no crescente desperdício resultante da
escala ampliada, a tendência intrínseca e contraditó- introdução de tecnologia nova; e na subutilização crô-
ria do processo de acumulação do capital de produzir nica de instalações e maquinário.
uma parcela de força de trabalho “sobrante”, em- Quanto à força de trabalho, a tendência de utili-
prestando um novo significado ao exército de reser- zação decrescente relativa à do trabalho socialmen-
va de trabalhadores. Para Mészáros (2002), a ques- te disponível constitui-se, para Mészáros, a contradi-
tão do desemprego não se limita mais apenas à exis- ção mais explosiva do capital. Na verdade, para esse
tência de um “exército de reserva”, com a possibili- autor, está-se diante de uma “contradição antagôni-
dade de ser ativado nos momentos de ascensão eco- ca e literalmente explosiva”, qual seja: por um lado o
nômica do sistema. Para esse autor, o desemprego capital necessita crescentemente de consumidores
assumiu um caráter crônico e global e, por isso mes- de massa, de outro tem uma necessidade sempre
mo, tornou-se uma força potencialmente explosiva menor de trabalho vivo. Mas, ocorre que o trabalho
denotando um limite absoluto do capital. não é apenas “fator de produção”, mas também o
“consumidor de massa”, constituindo-se, pois, numa
[...] como uma grande ironia da história, a dinâmica identidade estrutural que está na base da economia
interna antagonista do sistema do capital agora se capitalista, conferindo ao trabalho uma objetiva posi-
afirma – no seu impulso inexorável para reduzir glo- ção estratégica no sistema. Esta tendência estrutural
balmente ‘o tempo de trabalho necessário’ a um não pode ser resolvida por intermédio de medidas
valor mínimo que otimize o lucro – como uma ten- conjunturais. A moderna teoria econômica burguesa,
dência devastadora da humanidade que transfor- ao buscar reduzir o papel estratégico do trabalho a
ma por toda parte a população trabalhadora numa um mínimo irrelevante, inventa o consumidor e o pro-
‘força de trabalho crescentemente supérflua’ dutor, este último, o capitalista, legitima a mais
(MÉSZÁROS, 2002, p. 341, grifos do autor). antissocial e desumanizadora tendência do capital
para a eliminação brutal do trabalho vivo do proces-
Para este autor, está-se diante de um ataque em so de trabalho.
duas frentes à classe operária em todo o mundo que Os processos de transformações na dinâmica do
se revela no desemprego crônico em todos os campos capitalismo orientam-se, pois, por uma clara perspec-
de atividade, disfarçados como práticas trabalhistas tiva de classe revelando-se como uma ofensiva do
flexíveis, eufemismo para a política deliberada de frag- capital contra o trabalho assalariado, que emerge
mentação e precarização da força de trabalho e para nesse processo ainda mais “complexo, fragmentado
a máxima exploração administrável do trabalho em e heterogeneizado”. O desemprego contemporâneo,
tempo parcial, e também se revela numa redução sig- de escala planetária, relaciona-se à nova dinâmica
nificativa do padrão de vida até mesmo dos trabalha- do capital para a superação de sua própria crise, ins-
dores em ocupações de tempo integral. No entanto, o crevendo-se ainda numa dinâmica que tenta repor,
reconhecimento da existência dessa população em novos patamares, a dominação do capital sobre o
sobrante, redundantes para as requisições do capital trabalho. O desemprego e a precarização do traba-
estão longe de poder ser consideradas supérfluas como lho tornam-se armas contra os trabalhadores, com o
consumidoras que asseguram a continuidade da re- sentido de debilitar seu potencial de classe. O objeti-
produção ampliada e da autovalorização do capital. vo é propiciar as bases favoráveis à valorização do
Para ele, essa força de trabalho supérflua continua capital e assegurar as condições favoráveis para a
mais necessária do que nunca para possibilitar a re- recomposição da mais-valia. Nesse caso, ainda é
produção ampliada do capital (MÉSZÁROS, 2002). possível reconhecer a funcionalidade de uma popu-
Sendo este sistema uma poderosa estrutura lação trabalhadora excedente nas novas estratégias
“totalizadora” de controle, à qual tudo deve se ajus- de dominação do capital, sob as novas configurações
tar, que se sobrepõe a tudo e a todos, no capitalismo históricas que remodelam o cenário do capitalismo.
contemporâneo essa tendência assume cada vez mais Em síntese a nova ofensiva do capital configura-
uma lógica essencialmente destrutiva, cuja máxima se não apenas pelas determinações tecnológicas, mas
expressão atual esta determinada pelo que Mészáros também por determinações políticas que são o resul-
(2002) denomina de “taxa de utilização decrescen- tado sócio-histórico da luta de classes, do amadure-
te” do valor de uso das coisas. Esta afeta negativa- cimento das contradições geradas ao longo do pro-
mente todas as três dimensões fundamentais da pro- cesso de internacionalização das relações capitalis-
dução e do consumo, os bens e serviços, as instala- tas de produção no período histórico de 1945 à 1968/
ções e maquinaria e a própria força de trabalho. A 1970; e envolvem elementos econômicos e
taxa de uso decrescente se manifesta: na sociopolíticos. Nesse caso, as respostas efetuadas
obsolescência planejada em relação aos bens de con- pelo capital em relação à crise têm uma clara dimen-
sumo duráveis produzidos em massa; na substitui- são de classe, na medida em que o capital tem o ob-

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jetivo de, além da retomada das taxas de lucro, cário-financeiras, no interesse do grande ca-
fragilizar a auto-organização dos trabalhadores e com pital portador de juros;
isso retomar e aprofundar o controle sobre eles. e) imputação à força de trabalho empregada pelo
Estado da responsabilidade pela ineficiência dos
serviços públicos para impor similares condições
2 Estado, políticas sociais aviltadas e de trabalho e de vida, de contrato rebaixado, de
rebaixamento do valor da força de trabalho instabilidade no trabalho e de redução de direi-
tos trabalhistas e sociais às praticadas nas em-
No âmbito da articulação de respostas às crises do presas capitalistas contra a força de trabalho.
capital e da retomada das taxas de lucro, o Estado Para a consecução destas medidas é indispen-
continua a jogar papel central, mas desuniforme em sável alterar em profundidade o aparelho esta-
relação ao período histórico dos anos posteriores ao tal e criar novos entes jurídicos “estatais”. Tais
segundo conflito bélico mundial até a década de 1970, entes em geral carregam do público apenas a
os chamados anos de ouro do capitalismo. Naquelas denominação porque sua natureza é essencial
décadas, o estágio da luta de classes, a existência da e profundamente privada. Tais “instituições”
vitoriosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, viabilizam as parcerias público-privadas e se
responsável pelo fim da barbárie nazifascista da Se- metamorfoseiam em distintas formas, confor-
gunda Grande Guerra Mundial e as condições ótimas me os embates de classes em cada espaço e
de lucro para o capital, decorrentes da necessidade de local, das quais as mais comuns são as “funda-
reconstrução da parte do mundo destruída pela má- ções estatais de direito privado”, as “organiza-
quina bélica, possibilitou também que partes significa- ções sociais (OS)”, as “organizações da socie-
tivas da classe trabalhadora tivessem acesso a níveis dade civil de interesse público (OSCIP)”e as “fun-
de proteção social inéditos sob o capitalismo. dações de apoio” etc.
Esgotadas tais condições novos arranjos são in- A nova configuração assumida pelo Estado não
dispensáveis à manutenção da taxa de lucro do capi- descuidou de reforçar os aparatos repressivos/poli-
tal e ao Estado cumpre prover as circunstâncias de ciais4 contra os movimentos sociais da classe traba-
um novo período de crescimento. Ao Estado, o novo lhadora e passou a criminalizar a pobreza e suas ações
estágio da acumulação capitalista requereu reivindicativas por melhores condições de vida e tra-
contrarreformas no sentido de privatizar o fundo pú- balho em todo o mundo, embora com mais ‘afinco’
blico de diferentes e criativas formas, dentre as quais nos países da periferia do capitalismo como meio de
situam-se a: combater a auto-organização dos trabalhadores.
a) entrega do parque estatal lucrativo (produtivo Como analisou Marx, em passagem sobre os expedi-
e de serviços) aos negócios privados; entes da burguesia para elevar a exploração da for-
b) redução da proteção à força de trabalho ocu- ça de trabalho,
pada e excedente pela diminuição de direitos
trabalhistas e sociais de que são exemplos ca- Para atingir esse objetivo, para extirpar a preguiça,
racterísticos as contrarreformas previdenciá- a licenciosidade e as divagações românticas da li-
rias, trabalhista e sindical; berdade, para reduzir a taxa arrecadada em benefí-
c) redefinição do campo de atuação das políticas cio dos pobres, para incentivar o espírito industrial
sociais como atividades não exclusivas do Es- e para reduzir o preço do trabalho nas manufaturas,
tado de modo a torná-las serviços privados, propõe esse fiel paladino do capital o meio eficaz, a
esferas passíveis de comercialização, de cria- saber, encarcerar os trabalhadores que dependam
ção de novos negócios e de intensificação dos da beneficência pública, em uma palavra, os po-
já existentes (por exemplo a saúde, a previ- bres, num ‘asilo ideal de trabalho’. ‘Será mister
dência e o ensino privado) com subsídios do transformar esse asilo em casa de terror’. Nessa
fundo público; ‘casa de terror’, nesse asilo ideal de trabalho, have-
d) canalização de parte mínima dos recursos do rá a obrigação de trabalhar ‘14 horas por dia, inclu-
fundo público que financia as políticas sociais indo-se o tempo adequado para as refeições, de
de responsabilidade do Estado para a fração modo que restarão 12 horas inteiras de trabalho’
da classe trabalhadora mais pauperizada (pro- (MARX, 1988, p. 314, grifos do autor).
gramas de transferência de renda/assistenciais,
curiosamente cognominados “bolsas”), a enor- Às contrarreformas do Estado somaram-se as
me fração excedentária da força de trabalho, inovações tecnológicas e as mudanças no método de
pela via de operação monetarizada, com di- trabalho que oportunizaram a elevação da explora-
nheiro plástico, operado por bancos, de modo ção da força de trabalho (instabilidade e precarização
a tornar o recurso público3 também recursos do trabalho, extensão da jornada de trabalho, aumen-
monetários manipulados por instituições ban- to do trabalho excedente, redução dos direitos traba-

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lhistas e sociais), requerida pelo capital para 3 Condição do trabalho profissional na


exponenciar sua lucratividade. sociedade brasileira contemporânea
Em tal cenário, as diferentes frações da classe
trabalhadora – quer vendam sua força de trabalho Historicamente o Congresso Brasileiro de Assis-
ao Estado ou diretamente ao capital – sofreram forte tentes Sociais (CBAS) tem sido espaço de expressão
ofensiva na forma de contratação e venda da força e discussão do projeto profissional nas suas dimen-
de trabalho, na piora das condições de vida e de tra- sões teóricas, práticas-interventivas e ético-políticas.
balho, talvez a mais grave dos últimos dois séculos. Ao mesmo tempo revela-se como importante termô-
Cumpre notar, todavia: as investidas do capital metro da dinâmica do mercado de trabalho profissio-
foram maiores ou menores, mais ou menos intensas nal ao dar a conhecer tensões e contradições do tra-
e profundas, conforme a ca- balho profissional nos dife-
pacidade de reação e de or- rentes espaços ocupacionais,
ganização demonstrada pela
Por intermédio do relato e da guardadas suas naturezas,
classe trabalhadora nos dife- problematização das racionalidades e finalidades
rentes quadrantes do plane- distintas.
ta, mas, sem exceção, a redu- experiências profissionais O estudo dos relatórios da
ção dos direitos e a reformu- sessão temática Trabalho
lação das condições gerais do tornam-se evidentes as profissional e espaços
contrato de trabalho – inclu- socioocupacionais5 dos três
sive com o surgimento de for- mudanças processadas nas últimos congressos explicitou
mas análogas ao trabalho es- importantes elementos relaci-
cravo em vários países do agências empregadoras dos onados aos feixes de tensões
mundo – são as condições e contradições que perpas-
basilares para a elevação das
assistentes sociais quanto à sam a malha organizacional-
taxas de lucro. orientação e natureza das institucional empregadora dos
O aumento do desempre- assistentes sociais com reper-
go e da pauperização absolu- políticas sociais. cussões no trabalho profissi-
ta de significativos contingen- onal. As mudanças em curso
tes da força de trabalho pelo no campo da orientação e da
mundo ensejou ao grande capital – por meio de seus natureza da política social no Brasil repercutem no
organismos multilaterais, espécie de capital coletivo espaço de trabalho do assistente social à medida que
transnacionalizado – demarcar uma forma específica determinam, em última instância, as condições em
de proteção social. Forma esta que não pôde seguir que o trabalho profissional se realiza quanto requisi-
outros cânones a não ser exatamente os mesmos ope- ções, normatização, delimitação de funções e atri-
rados pelo capital no trato dispensado para a força de buições e normas contratuais (salário, jornada de tra-
trabalho em geral: redução dos limites sociais da re- balho) (IAMAMOTO, 2007).
produção social do trabalho para torná-los os mais Por intermédio do relato e da problematização
agudos e regressivos possível; preferencialmente ao das experiências profissionais tornam-se evidentes
resumir o ser social ao âmbito do ser natural e de suas as mudanças processadas nas agências emprega-
muito básicas necessidades físicas. No universo de doras dos assistentes sociais quanto à orientação e
formulações do Estado do grande capital para a “pro- natureza das políticas sociais. No contexto social
teção social” a redução ao ser biológico, natural é bas- brasileiro, sob o discurso da crise econômica e da
tante visível em políticas e programas de “transferên- escassez de recursos, tendem a ser estruturadas
cia de renda” como o “Bolsa Família”. ações que ferem a condição de direito das políticas
A precarização, a instabilidade do não direito, a sociais de caráter universalista. As orientações da
fragmentação da “questão social”, a responsabilização política social em geral e da assistência social em
do sujeito individual por seu lugar na vida social, a particular fundamentam-se, para a força de traba-
“política social” diferenciada para as frações da for- lho que as executam, com fortes traços e tendênci-
ça de trabalho ocupada e excedente – regra geral, as de precarização, focalização e descentralização,
sempre rebaixadas e insuficientes – são feições do e, nesse quadro, as atividades filantrópicas e volun-
mesmo estágio do desenvolvimento capitalista. tárias e os novos “entes” do estado brasileiro tor-
Não é demais lembrar que neste quadro aprofunda- nam-se parceiros importantes e, supostamente, aju-
se a alienação do trabalho e aumenta a exploração dam a tecer a “gestão da pobreza”. Some-se ainda
porquanto ser “impulso imanente e tendência constan- a numerosa gama de variantes da privatização da
te do capital elevar a força produtiva do trabalho para seguridade e das políticas sociais e de assistência
baratear a mercadoria e, como consequência, o pró- que passam a ser alocadas no mercado, quando
prio trabalhador” (MARX, 1988, p. 367). passíveis de lucro, e/ou na sociedade civil, pela

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transferência de partes do fundo público para a in- no âmbito institucional-organizacional responsáveis pela
tervenção privada sob a “questão social”. sua operacionalização e execução. Os impactos para
Aprofunda-se, pois, a tendência já sinalizada por o trabalho profissional são imediatos e fortemente con-
Mota (1995) acerca da condição da seguridade soci- dicionados pelos parâmetros institucionais, dadas as
al no Brasil de privatização, como é o caso da previ- exigências colocadas pelas agências empregadoras e
dência e saúde, que se conjuga com o assistencialismo pela realidade do formato do conjunto de programas
focalizado sobre os segmentos mais pobres. O que sociais. Não se pode perder de vista que se trata de
tem implicado a carência de recursos, a estruturação diferentes espaços ocupacionais e, certamente, a lógi-
de uma plêiade de programas sociais voltados para ca da pauperização e privatização dos serviços têm
os segmentos sociais mais vulneráveis, a tendência expressões diferenciadas na medida em que se trata
de “assistencialização das políticas sociais” e, mais também de natureza, racionalidades e finalidades
grave, pela “financeirização” do fundo público. Com institucionais distintas.
a expansão desta segunda tendência, reduzem-se os Sob as racionalidades técnico-políticas e adminis-
postos de trabalho típicos da era em que o grande trativas, próprias da contrarreforma do Estado brasi-
capital suportou a construção do Estado de bem-es- leiro, teceram-se condições para o exercício profissio-
tar social com políticas universais, grandes equipa- nal com fortes tendências de precarização e de alie-
mentos públicos sob sua execução direta e com um nação profissional. No atual contexto histórico regres-
número significativo de força de trabalho por ele sivo para os direitos dos trabalhadores, a barbárie so-
empregada para viabilizar os direitos sociais e traba- cial, através de mediações específicas, reproduz no
lhistas. Todavia, a vigência de uma tal realidade deve âmbito institucional do trabalho profissional condições
ser submetida a um novo momento de necessidade limitadas para a autonomia teórico-metodológica, téc-
de aumento das taxas de lucro. nica e ético-política do exercício profissional. Isto sig-
Ao capital financeiro e portador de juros interes- nifica afirmar o necessário debate que problematiza
sam as mais diferentes formas de apropriação do fun- os traços singulares de autonomia relativa da profis-
do público, isto é, das generosas quantidades de mais são no quadro da correlação de forças dos dias pre-
valia produzidas pela força de trabalho que sustentam sentes. Para Iamamoto (2007, p.128), “estabelece-se
as intervenções do Estado capitalista. Já não lhes bas- a tensão entre projeto ético-político e alienação do tra-
tam, aos grandes capitais, no presente estágio da vida balho, indissociável do estatuto assalariado.”
social, os empréstimos, as privatizações, os favores A tendência, pois, de alienação do trabalho está
licitatórios e toda a numerosa sorte de “serviços” pres- enraizada nas condições de trabalho propiciadas pelo
tados ao grande capital por seu “comitê executivo”. estágio atual do modo de produção, por suas exigên-
Assim, é parte importante da apropriação do fundo cias de lucro, pelas contrarreformas de seu Estado,
público pelo grande capital, na sua forma bancário- pela redefinição das políticas sociais com ênfase nos
financeira, as medidas e as políticas de “transferência seus traços de assistencialização e financeirização.
de renda” para as frações mais pauperizadas da clas- Sobre tais elementos, repousam muitas das
se trabalhadora. Tais instituições bancário-financeiras problematizações dos assistentes sociais quando se
ao intermediarem as “transferências de renda” para a referem ao sofrimento e ao desgaste mental e emo-
fração mais miserável da classe trabalhadora realizam cional, ao desânimo face às normas e aos parâmetros
a sua função por excelência: multiplicar o mesmo di- institucionais, as (im) possibilidades de operacionalizar
nheiro e torná-lo capital6. seus princípios ético-políticos, a inserção combinada
Reconhecer os traços da assistencialização e da em várias políticas sociais que impõe rotinas de tra-
financeirização das políticas sociais é distinguir as pro- balho duplas, sob a perspectiva do cumprimento de
fundas e irreconciliáveis contradições do tempo pre- índices de produtividade e de metas a serem
sente que no espaço da proteção social nos confron- alcançadas e atestadas.
tam com limites muito claros, porque de classe. Des- Como o indicou Lukács, o processo de conheci-
velar estes limites é fundamental para a compreensão mento da vida social sob o modo de produção capita-
das metamorfoses do trabalho profissional; mascará- lista na idade presente torna-se mais difícil porque o
los é tornar indecifrável a precarização do trabalho fetiche do capital impregna as relações sociais de
dos assistentes sociais, o elevado grau de sofrimento e modo profundo, como o próprio modo de ser e de se
frustração manifestos em reflexões nos ambientes pro- realizar do estágio em curso. Na sua letra,
fissionais e de organização da categoria, a dilatação e
a intensificação da jornada de trabalho, a decadência Eis como a evolução do capitalismo no estágio im-
geral das condições de vida e de trabalho. perialista não faz senão intensificar o fetichismo
Toda essa dinâmica configura uma nova realidade geral, pois, o fato da dominação do capital finan-
profissional à medida que a tendência de privatização ceiro, os fenômenos a partir dos quais seria possí-
e pauperização da política social face às exigências da vel desvendar a ‘reificação’ de todas as relações
contrarreforma do Estado brasileiro são objetivadas humanas, tornam-se cada vez menos acessíveis à

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reflexão da média das pessoas (LUKÁCS, 1967, p. · Trabalho profissional é produtor de sofrimento
29, grifos no original). e de desgaste emocional (assistência/abrigos).

Foi o estatuto deste profissional assalariado que As reflexões iniciais aqui desenvolvidas permitem
circunscreveu o universo e as condições nas quais se afirmar que as condições de trabalho dos assistentes
realiza o trabalho profissional do assistente social. Es- sociais pioraram nas décadas de 1990 e de 2000 e
tas condições são aqui sumariadas como traços seguiram igual tendência auferida em estudos de ou-
indicativos e, ainda, que carecem de quantificação como tras categorias profissionais, em particular, e na classe
objeto de pesquisa de muitos para que seja possível trabalhadora como um todo. Todavia investigações
que a universidade e a categoria, autonomamente, pos- amiúde são mais do que necessárias para capturar e
sam fazer a crítica e a superação dos fetiches que problematizar as tendências centrais nestes quase 20
também nos alcançam em tempos tão bárbaros. anos de contrarreformas do Estado e das políticas so-
A sistematização, a seguir, foi elaborada pela au- ciais. O aprofundamento da pesquisa neste campo
toras com base em relatórios de CBAS: Sessão certamente contribuirá para o desvanecimento de pers-
Temática: Trabalho profissional e espaços sócio- pectivas ilusórias sobre os potenciais das políticas so-
ocupacionais: ciais, bem como para compreender a condição históri-
ca do trabalho dos profissionais nelas envolvidos.
Formas de contratação da força de trabalho
profissional
· Contratos sem realização de concursos; Referências
· Contratos por prestação de serviços;
· Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho.
Reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São
Expressões da precarização do trabalho Paulo: Boitempo/Fapesp, 2000.
profissional
· Trabalho domiciliar; BURAWOY, M. A transformação dos regimes fabris no
· Legalização da precarização no âmbito muni- capitalismo avançado. Revista Brasileira de Ciências
cipal; Sociais, v. 5, n. 13, p. 29-50, jun. 1990.
· A instabilidade e a precarização do trabalho
dos assistentes são identificadas desde os ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na
editais dos concursos pela ausência de dados Inglaterra. Prefácio de José Paulo Netto. Tradução de B.
sobre como será o trabalho e as condições de A. Schumann. São Paulo: Boitempo, 2008.
contratação da força de trabalho.
IAMAMOTO, M. Serviço Social em tempo de capital
Condições do trabalho profissional fetiche. São Paulo: Cortez, 2007.
· Metas de produtividade e desempenho são
campo fértil para o assédio moral quando não IANNI, O. A ditadura do grande capital. Rio de Janeiro:
se alcançam as metas; Civilização Brasileira, 1981.
· Atuação na interseção de duas ou mais políti-
cas sociais; LUKÁCS, G. Existencialismo ou marxismo. São Paulo:
· Exigências de múltiplas capacitações para tra- Senzala, 1967.
balhar com diferentes áreas da política social
ao mesmo tempo; MARX, K. O capital. Crítica da Economia Política. Livro 1:
· Trabalho solitário e individual; O processo de produção do capital. Volume 1. Rio de Janeiro:
· Jornadas longas e intensivas; Bertrand Brasil, 1988.
· Baixos salários;
· Exploração e fragmentação do trabalho; _______. O capital. Crítica da Economia Política. Livro 3:
· Rotinas de viagens exaustivas; O processo global de produção capitalista. Volumes IV, V,
· Acúmulo de funções e atividades, como parti- VI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988a.
cipar em diversos conselhos e em cada um
desenvolver e representar uma categoria MÉSZÁROS, I. Para além do capital. Tradução de Paulo
(gestor, trabalhador); Cezar Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo,
· Superposição das funções; 2002.
· “Assistencialização”: rebaixa o direito do usu-
ário e precariza as condições de contrato e MOTA, A. E. Cultura da crise e seguridade social: um
das condições de trabalho dos assistentes so- estudo sobre as tendências da previdência e da assistência
ciais, principalmente nos municípios; social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995.

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Ofensiva do capital e novas determinações do trabalho profissional 169

PAULO NETTO, J. Capitalismo monopolista e Serviço Sara Granemann


Social. São Paulo: Cortez, 1991. sgranemann@uol.com.br
Doutorado em Serviço Social pela Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ)
Notas Professora Adjunto da Escola de Serviço Social da
UFRJ.
1 Para um quadro tocante das condições presentes no século Pesquisadora do NEPEM-UFRJ (Núcleo de Estu-
19, é suficiente conferir a excepcional obra de Engels (2008). dos e Pesquisas Marxistas).
2 O novo despotismo é a tirania “racional” da mobilidade do UERJ - Faculdade de Serviço Social
capital sobre o trabalhador coletivo. A reprodução da força Rua São Francisco Xavier, n. 524
de trabalho é novamente vinculada ao processo de produção, Maracanã
mas em vez de se dar pela via individual, a ligação se produz Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil
no nível da empresa, região ou mesmo nação. O medo de ser CEP: 20550-011
despedido é substituído pelo medo da fuga de capitais, do
fechamento da fábrica, da transferência das operações e do UFRJ - Escola de Serviço Social
desinvestimento na planta industrial. Av. Pasteur 250 – Fundos
Campus Praia Vermelha
3 Ao analisar as funções do Estado sob a idade dos mo- Botafogo
nopólios, a lúcida crítica de José Paulo Netto (1992, p. 21-) Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil
indica: as funções extraeconômicas ou políticas implicam CEP: 22290-240
em, contraditoriamente e pela mesma ação, contemplar as
requisições do capital na garantia de lucros e na criação de
espaços de inversões e, também, a da força de trabalho no
atendimento de demandas por meio de políticas sociais que
se configuram em respostas fragmentadas e individualistas
para a “questão social”.

4 Não é demais lembrar: na América do Sul e em outros cantos


do planeta as ditaduras do grande capital foram a forma de
expansão dos monopólios quando se anunciava o fim dos
anos de ouro na Europa pós Segunda Grande Guerra Mundial.
Ver Ianni (1981).

5 As autoras agradecem as entidades da categoria e estudantil


(Conjunto Cfess/Cress, Abepss, Enesso) organizadoras dos
CBAS pela oportunidade, nos três últimos congressos, da
leitura dos trabalhos e o privilégio de coordenar sessões. De
modo especial, somos gratas aos autores dos trabalhos que
nos possibilitaram elementos para a problematização das
polêmicas aqui postas.

6 É muito elucidativo e de extrema relevância em tempos de


crise mundial a leitura do livro 3 de O Capital (MARX, 1988a).
Ali, colhemos as inspirações para pensar a financeirização
das políticas sociais.

Mônica Maria Torres de Alencar


monicatalencar@hotmail.com
Doutorado em Serviço Social pela Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ)
Professora da Faculdade de Serviço Social da Fa-
culdade de Serviço Social da Universidade do Esta-
do do Rio de Janeiro (UERJ)
Professora pesquisadora do Centro de Estudos
Octávio Ianni (CEOI)

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