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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE ECONOMIA

MATRIZ DE LEONTIEF
IMPORTÂNCIA COMO INSTRUMENTO DE
PLANEAMENTO ECONÓMICO

LUANDA, 2024
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE ECONOMIA

MATRIZ DE LEONTIEF

IMPORTÂNCIA COMO INSTRUMENTO DE PLANEAMENTO ECONÓMICO

Trabalho de Planeamento apresentado à


Faculdade de Economia da Universidade
Agostinho Neto, como Requisito parcial para
obtenção da segunda prova parcelar de
Planeamento.

LUANDA, 2024
INTEGRANTES DO GRUPO

1. Adão Malonde Neto


2. Carlos Bruder Esteves Torres
3. Cautele Lemba Durão
4. Jabes Francisco Catima
5. Júlio Quiosa Quizanga
EPIGRAFE

“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele


que se empenha em conquistá-la.”
Johann Goethe
RESUMO

O presente estudo busca entender as hipóteses do modelo input-output (matriz de Leontief), a


sua eficiência e vantagens em relação a outras metodologias de mensuração da actividade
económica, e analisar a sua aplicação e relevância. O problema de pesquisa levantado é: como
o modelo Input-Output pode ser utilizado como ferramenta de planeamento económico?
Dispondo do método bibliográfico, mediante a revisão em livros e artigos científicos
publicados, verificamos que o modelo Input-Output é uma ferramenta que permite avaliar a
actividade económica de um país através de uma matriz de relações intersectoriais, e que
através deste modelo é possível entender o grau de intensidade e interdependência dinâmica
entre os diferentes sectores de uma economia, fornecendo informações valiosas para o
planeamento económico de uma nação.

Palavras chaves: modelo Input-output, matriz de Leontief, interdependência sectorial.


ABSTRACT

The present study seeks to understand the hypotheses of the input-output model (Leontief
matrix), its efficiency and advantages in relation to other methodologies for measuring
economic activity, and to analyze its application and relevance. The research problem raised
is: how can the Input-Output model be used as an economic planning tool? Using the
bibliographic method, through a review of published books and scientific articles, we found
that the Input-Output model is a tool that allows evaluating the economic activity of a country
through a matrix of intersectoral relations, and that through this model it is possible to
understand the degree of intensity and dynamic interdependence between different sectors of
an economy, providing valuable information for a nation's economic planning.

Keywords: Input-output model, Leontief matrix, sectoral interdependence.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: As origens da teoria de Leontief ......................................................................... 12


Figura 2: Quadro de transacções com coeficientes técnicos ......................................... 15
Figura 3: Tabela de Insumo Produto com dois sectores ................................................. 37
ÍNDICE

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9
Objectivos .......................................................................................................................................... 9
Metodologia ....................................................................................................................................... 9
Importância do tema ...................................................................................................................... 10
Problema de pesquisa ..................................................................................................................... 10
CAPÍTULO I. OS FUNDAMENTOS DA ANÁLISE INPUT-OUTPUT .............................. 11
Histórico do modelo Input-Output ................................................................................................. 11
Capítulo II. O modelo input-output ........................................................................................ 13
Conceitos Gerais ............................................................................................................................. 13
Modelo Input-Output ..................................................................................................................... 13
Pressupostos do modelo Input-Output.......................................................................................... 13
Estrutura de um modelo de Input-Output ................................................................................... 14
Hipóteses básicas do modelo input-output estático...................................................................... 14
Os coeficientes técnicos ................................................................................................................... 15
O modelo Input - Output dinâmico ............................................................................................... 16
Os coeficientes de interdependência .............................................................................................. 17
Interpretação económica da matriz inversa de Leontief ............................................................. 18
CAPÍTULO III. O MODELO INPUT-OUTPUT E O SISTEMA DE CONTAS
NACIONAIS ............................................................................................................................ 20
Representação Matemática ............................................................................................................ 23
Modelo de Leontief para Economia fechada ................................................................................ 23
Modelo de Leontief para Economia aberta .................................................................................. 23
CAPÍTULO IV. PRINCÍPIOS DE INSUMO-PRODUTO: INOVAÇÕES TEÓRICAS E
PRÁTICAS DE LEONTIEF ................................................................................................... 25
Comércio Internacional .................................................................................................................. 26
Análise Espacial e Mundial ............................................................................................................ 26
CAPÍTULO V. ANÁLISES ESTRUTURAIS E DE IMPACTO ............................................ 28
Distribuição de Renda .................................................................................................................... 29
Modelos Econométricos de Insumo-Produto ................................................................................ 29
Multiplicadores ............................................................................................................................... 30
Multiplicadores do Tipo I e do Tipo II .......................................................................................... 31
Multiplicador de Produção ............................................................................................................ 31
Multiplicador do rendimento ......................................................................................................... 31
Multiplicador de emprego .............................................................................................................. 31
Determinação dos setores-chave da economia.............................................................................. 32
Algumas limitações da análise input-output................................................................................. 33
CAPÍTULO VI: EXERCÍCIOS .............................................................................................. 36
Fluxos de insumo-produto .............................................................................................................. 36
Exemplo numérico .......................................................................................................................... 37
Interpretação dos valores ............................................................................................................... 39
Por que esses valores variam.......................................................................................................... 40
Multiplicador simples (gerador) de emprego ............................................................................... 40
Sistema regional de insumo-produto – setor x setor .................................................................... 41
Sistema regional de insumo-produto setor x setor ....................................................................... 41
Multiplicador simples de emprego ................................................................................................ 41
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 44
INTRODUÇÃO

Em meio as constantes adversidades que assolam a Economia global, os governos


estão cada vez mais preocupados em reduzir o efeito da casualidade das actividades de todos
sectores da Economia, portanto, aperfeiçoar as técnicas de Planeamento Económico surge
como um factor preponderante para alcançar tal efeito. Nesta linha de pensamento, o presente
trabalho abordará sobre a Matriz de Leontief, que é uma ferramenta de suma importância no
processo de Planeamento Económico.
No âmbito do planeamento estratégico, os diversos sectores da economia encontram-
se intrinsecamente interligados. Esta inter-relação é complexa e varia de país para país,
caracterizando-se pelo seu dinamismo, harmonia, conflito e complementaridade entre os
diferentes sectores. Por exemplo, a construção e operação de sistemas de produção de energia
requerem “inputs” como capital, mão-de-obra e matérias-primas. Um aumento na demanda
por estes “inputs” estimularia não só a produção destes bens de capital, mas também a
actividade económica de outros sectores.
Este modelo proporciona uma visão completa da cadeia produtiva, mostrando o que
cada sector de actividade compra e vende para outros sectores, ou seja, revela as transacções
com bens e serviços intermédios.

Objectivos

O objectivo geral deste trabalho é explorar o Modelo Input-Output.


Os objectivos específicos incluem:
 Descrever oa pressupostos do modelo Input-Output;
 Apurar a eficiência e as vantagens do modelo Input-Output em relação a outras
metodologias de mensuração da actividade económica;
 Demonstrar, analisar a aplicação e a relevância dos resultados apresentados
pelo Modelo Input-Output.

Metodologia

Para atingir os objectivos propostos, foi utilizado o método de Levantamentos


Bibliográficos.

9
Importância do tema

O presente tema é importante porque com o Modelo Input-Output, podemos entender


o grau de intensidade e interdependência dinâmica entre os diferentes sectores de uma
economia. Os resultados apresentados por este modelo podem ser usados como informações
determinantes para as tomadas de decisão no planeamento económico de uma nação,
permitindo prever o impacto de alterações numa indústria sobre as outras e dos consumidores,
governo e fornecedores estrangeiros sobre a economia.

Problema de pesquisa

O problema de pesquisa deste estudo é: Como o Modelo Input-Output pode ser usado
para avaliar a actividade económica de um país e quais são as implicações dessa avaliação
para o planeamento estratégico e a tomada de decisão económica?

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CAPÍTULO I. OS FUNDAMENTOS DA ANÁLISE INPUT-OUTPUT

Histórico do modelo Input-Output

Análise Input-Ouput (ou análise inter-industrial) é o nome atribuído a um instrumento


analítico desenvolvido por Leontief, cujo objectivo fundamental é estudar a interdependência
de diferentes ramos de actividade ou indústrias numa economia (Miller e Blair, 1985).
O modelo de Input-Output (também designado por modelo de Leontief) é baseado
numa noção muito simples, mas fundamental, segundo a qual todos os produtos ou outputs
são obtidos à custa da utilização de factores de produção, ditos inputs, que podem ser, por sua
vez, o produto de outras indústrias. As diversas ligações de Input-Output existentes numa
economia (que poderá ser constituída pela actividade de uma região ou de um país) podem ser
formalizadas através de um Quadro de Transacções Inter-industriais (ou, simplesmente,
quadro de Input-Output) onde são registados todos os fluxos de produtos de cada sector
considerado como produtor para cada um dos sectores considerados como consumidores
Cantillon publicou o seu trabalho, Essai sur la Nature du Commerce en Général
(Ensaio sobre a natureza do comércio em geral) postumamente em 1755 (veja Cantillon,
1931) o livro é considerado um dos primeiros tratado moderno sobre economia, sendo
fortemente influenciado pelo trabalho de Petty. Ele enfatiza que todos os membros da
sociedade subsistem com base na produção da terra, o que parece indicar que a fonte de todo
o excedente é a agricultura, porém existem passagens no seu trabalho que indicam que o
excedente também pode ser gerado na manufatura, como lucro.
A visão de que somente a agricultura pode gerar excedente e de que a manufatura é
uma atividade estéril, gerando uma produção com um valor não maior do que os insumos
agrícolas por ela utilizados são apresentados no trabalho de François Quesnay (1694-1774),
Tableau Économique publicado em 1758. Quesnay dividiu a economia francesa em três
classes distintas: classe dos produtores – agricultores; classe dos proprietários – senhores da
terra; e classe estéril – artesãos e comerciantes. No Tableau Économique é ilustrada a
distribuição da produção dos agricultores (vista como fonte de riqueza pelos fisiocratas) por
eles próprios e pelas outras duas classes, num fluxo circular, sem variáveis exógenas. Esta
obra foi fundamental para o desenvolvimento do sistema de equilíbrio geral de Léon Walras.
Passado mais de um século, a investigação nesta área teve uma nova contribuição de
vulto com o trabalho desenvolvido por Walras, que construiu um modelo de equilíbrio geral
no qual eram determinados os preços e as quantidades de todos os mercados da economia
(Miller e Blair, 1985). Neste modelo Walras utilizou um conjunto de coeficientes de produção

11
que relacionavam a quantidade de factores de produção requeridos com o nível total de
produção, muito próximos dos coeficientes técnicos desenvolvidos posteriormente por
Leontief.
Segundo Leotief, origem da teoria I-O pode ser traçada ao problema do fluxo circular
da renda assim como ao problema da sua distribuição entre as classes envolvidas dentro do
processo produtivo. Preocupações essas que aparecem no seu artigo de 1928, baseado no seu
trabalho de doutorado e que mais tarde foi parcialmente traduzido para o inglês em Leontief
(1991), “The Economy as a Circular Flow”, assim como no seu artigo de 1936, “Quantitative
Input-Output Relations in the Economic System of the United States” (Leontief, 1936).
As origens da teoria de Leontief, apresentada de forma esquemática na Figura 1

Figura 1: As origens da teoria de Leontief

12
CAPÍTULO II. O MODELO INPUT-OUTPUT

Conceitos Gerais

Uma economia funciona, em grande parte, para equacionar a demanda e a oferta


dentro de uma vasta rede de atividades. O que Leontief conseguiu realizar foi a construção de
uma “fotografia econômica” da própria economia; nessa fotografia, ele mostrou como os
setores estão relacionados entre si - ou seja, quais setores suprem os outros de serviços e
produtos e quais setores compram de quem. O resultado foi uma visão única e compreensiva
de como a economia funciona - como cada setor se torna mais ou menos dependente dos
outros.
Esse sistema de interdependência é formalmente demonstrado em uma tabela
conhecida como tabela de insumo-produto; e tais representações demandam grandes
investimentos, já que elas requerem uma coleção de informações sobre cada companhia, a
respeito dos seus fluxos de vendas e das suas fontes de suprimento.
A estrutura do processo de produção de cada sector de um sistema económico é
representada por um vector de coeficientes estruturais que descreve, em termos quantitativos,
as relações entre os inputs que absorve e os outputs que produz.
Apesar das limitações impostas pelas hipóteses simplistas da análise I-O, aliadas
muitas vezes à dificuldade na obtenção de informação apropriada, esta forma de modelação
permite a caracterização do sistema produtivo, facilita a comparação entre economias e pode
ser utilizada como técnica de projecção.

Modelo Input-Output

Já que um modelo de insumo-produto normalmente abrange um grande número de


indústrias, a sua estrutura é, necessariamente, complicada. Para simplificar o problema, os
seguintes pressupostos são, em regra, adoptados:

Pressupostos do modelo Input-Output

Leontief imaginou a economia dividida em n setores, produzindo e consumindo n


bens, e se fixou nas trocas entre esses setores. As suposições básicas de seu modelo são:
a) existem n setores, produzindo n bens, indexados por i = 1, 2,..., n, que são
consumidos, comercializados ou investidos;
b) cada setor produz um único e exclusivo bem; setores diferentes produzem bens
diferentes; em outras palavras, existe uma relação um a um entre bens e setores;

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c) cada setor produz o bem j correspondente através do consumo dos bens i = 1, 2,..., n
em proporções fixas, ou seja, a quantidade de unidades consumidas x1, x2,..., xn, dos bens i =
1, 2,..., n, respectivamente, por unidade do bem j produzido, é constante.

Estrutura de um modelo de Input-Output

Na análise I-O pode considerar-se uma estrutura estática ou dinâmica da economia.


Um modelo é estático quando considera apenas a estrutura da economia num único período de
tempo, geralmente um ano (Duchin, 1998). No caso de ter uma estrutura dinâmica, o modelo
I-O representa a procura de bens de capital por cada um dos sectores produtores e faculta um
detalhe sectorial acerca dos requisitos de inputs e produtos necessários para produzir bens de
capital (Duchin, 2004).
Para efectuar o estudo de um sistema I-O é necessário dispor os fluxos económicos
numa tabela I-O (quadro de entradas e saídas) estruturada de forma a obter uma apresentação
concisa de todas as actividades económicas de um país ou região. Assim, é necessário
construir três quadros principais:
 Quadro de transacções;
 Quadro de coeficientes técnicos;
 Quadro de coeficientes de interdependência.

Hipóteses básicas do modelo input-output estático

O modelo I-O estático considera, na sua forma mais simples, as seguintes hipóteses
básicas:
Homogeneidade (ou exclusão de produção conjunta) – cada sector produz um único
output com uma única estrutura de inputs (portanto, outputs iguais utilizam os mesmos
processos e tecnologias), não havendo substituição entre outputs dos diversos sectores, nem
entre inputs do mesmo sector (O’Connor e Henry, 1975);
Constância dos coeficientes técnicos – os inputs de cada sector são simples proporções
do nível de output desse sector, ou seja, a quantidade de cada tipo de input aumenta ou
diminui na proporção directa do aumento ou diminuição do output total desse sector,
verificando-se a invariabilidade dos coeficientes técnicos ao longo do tempo (O’Connor e
Henry, 1975);
Não admite economias de escala – o efeito total de se produzir em vários sectores é
igual à soma dos efeitos separados (O’Connor e Henry, 1975);

14
Oferta de cada produto infinita e perfeitamente elástica – pressupõe a existência de
uma capacidade produtiva ilimitada (Barata, 2002; Castro et al., 2002).

Os coeficientes técnicos

O quadro de transacções permite efectuar uma representação interessante da actividade


económica, mas é em si insuficiente para efeitos de análise económica (Proops et al., 1993).

Figura 2: Quadro de transacções com coeficientes técnicos


Como já foi referido, a análise I-O considera relações proporcionais entre inputs e
outputs e rendimentos de escala constantes. Deste modo, os inputs de um sector podem ser
expressos através das seguintes relações lineares:

A relação entre o fluxo de fornecimentos intermédios do sector i para o sector j e o


output total do sector j, aij, designa-se por coeficiente técnico/tecnológico (ou coeficiente
directo de input) e não é mais do que a quantidade do bem ou serviço i necessária à produção
de uma unidade do bem ou serviço j, cujo valor pode variar entre 0 e 1, se os fluxos se
encontrarem na mesma unidade de medida.
“O conjunto completo dos coeficientes técnicos de todos os sectores de uma dada
economia alinhados na forma de uma tabela rectangular – correspondente à tabela I-O dessa
economia – é designado por matriz estrutural dessa economia” (Leontief, 1985). Essa matriz

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ou quadro de coeficientes técnicos mostra o cálculo da estrutura de custos unitários ou
coeficientes técnicos/tecnológicos ou ainda coeficientes directos de input.

O modelo Input - Output dinâmico

Leontief formulou um modelo I-O dinâmico, em termos de equações diferenciais,


incluindo uma nova matriz que descreve os recursos de capital (designada por matriz B),
permitindo distinguir estruturas tecnológicas em diferentes pontos no tempo. O vector de
investimento exógeno, que no modelo estático se insere nas procuras finais, é substituído por
uma expressão onde a matriz de coeficientes de stocks é multiplicada pelo aumento
antecipado do output entre o período temporal presente e o período subsequente. Este
conjunto de equações representa a utilização de relações I-O dinâmico na descrição e análise
do processo de crescimento económico (Leontief, 1985).
A interdependência directa entre os outputs de todos os sectores de uma dada
economia nacional, em dois anos sucessivos, pode ser descrita pela seguinte equação de
equilíbrio (Leontief, 1970b):

Onde os vectores coluna Xt e Xt+1 representam os níveis de output das diferentes


indústrias nos períodos t e t+1, respectivamente; o vector yt corresponde à quantidade dos
diversos bens e serviços entregue, no ano t, pelos sectores produtores às famílias e a outros
utilizadores finais (não inclui adições aos stocks de capital fixo utilizados pelos sectores
produtivos); At é a matriz de coeficientes técnicos no período t e Bt+1 é uma matriz de
coeficientes de capital (os bens de capital produzidos no ano t são instalados e utilizados no
ano t+1). Cada elemento genérico da matriz Bt+1, t+1 representa um determinado stock
tecnológico de um determinado tipo de bens – máquinas, edifícios industriais e outros stocks
de bens necessários à produção – produzidos pela indústria i que a indústria j tem que utilizar
por unidade do seu output. Por outras palavras, cada coluna da matriz Bt+1 descreve os
requisitos físicos de capital (por unidade de output) de uma determinada indústria. O índice
t+1 da matriz B não identifica o ano em que os bens de capital são produzidos, mas antes o
ano em que os bens de capital são instalados e utilizados (Leontief, 1970b).
O sistema I-O dinâmico é uma generalização do modelo I-O estático (Dorfman et al.,
1958). Os pressupostos do modelo dinâmico incluem os mesmos condicionalismos que o
modelo estático num período de tempo: não existe produção conjunta e, para cada outptut,

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existe apenas uma actividade possível ou processo tecnológico, com proporções fixas
(Dorfman et al., 1958).
Esta versão do modelo dinâmico possui ainda alguns aspectos que limitam a sua
utilidade empírica: não é possível, em geral, assegurar soluções não negativas para os vectores
de output (Duchin, 2004). Duchin e Szyld (1985) introduziram uma alteração à estrutura
dinâmica originalmente proposta por Leontief, tendo definido duas variáveis adicionais:
capacidade de produção de cada sector e adições à capacidade produtiva durante um dado
período de tempo. Esta nova formulação permite a existência de capacidade não utilizada,
quando há uma diminuição do output.

Os coeficientes de interdependência

As relações inter-sectoriais fazem com que a variação na procura final dos produtos de
um sector dê origem a repercussões através de todo o sistema, provocando não só alterações
no output desse sector, mas também na maior parte ou em todos os sectores da economia
(O’Connor e Henry, 1975). O estudo destes efeitos secundários não pode ser feito através dos
coeficientes técnicos, sendo necessários outros operadores conhecidos como coeficientes
totais, de interdependência ou coeficientes indirectos de input.
Os coeficientes de interdependência exprimem a quantidade de um determinado bem
(ou serviço) directa e indirectamente necessária à satisfação de uma unidade de procura final
de um determinado bem (ou serviço).
Através da observação do quadro de coeficientes técnicos, e considerando a procura
final agregada num único vector y, obtém-se o seguinte conjunto de n igualdades, em notação
matricial:

A expressão acima pode ser reescrita de modo condensado da seguinte forma:


E1)

Onde A é a matriz (n×n) de coeficientes técnicos, x é o vector (n×1) dos outputs totais
e y é o vector (n×1) da procura final.

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Como, por hipótese, os coeficientes técnicos são constantes, a procura final pode ser
considerada como exógena, sendo possível obter o output total de cada sector. Deste modo, a
expressão (E1) pode reorganizar-se da seguinte forma:

E2)

Se os elementos na matriz (I – A)-1 forem designados por αij, então a expressão


genérica para a obtenção do output de um dado sector é:

Esta expressão ilustra a dependência de cada output total dos valores de cada procura
final.
O elemento genérico, αij, da matriz (I – A)-1 representa a quantidade total directa e
indirectamente necessária do bem ou serviço i para entregar uma unidade de procura final do
bem ou serviço j (Duchin e Steenge, 1999; Miller e Blair, 1985). De facto, a matriz inversa de
Leontief indica todos os requisitos directos e indirectos de produção na economia, que são
necessários para satisfazer um determinado vector de procura final de bens ou serviços (Gat e
Proops, 1993). Por este motivo, esta matriz é também designada por matriz dos
multiplicadores (Ciaschini, 1988).

Interpretação económica da matriz inversa de Leontief

A interpretação económica da matriz (I – A)-1 pode efectuar-se através da separação


dos efeitos directos dos efeitos indirectos. Esta operação consiste na decomposição da
expressão (II.9), escrevendo a matriz inversa de Leontief como uma série infinita convergente
de produtos matriciais, representando mais um processo indirecto de ajustamentos do output à
procura final e aos requisitos de inputs (Cruz, 2002):

Deste modo, a procura total dos n bens (ou serviços) produzidos na economia pode
decompor-se do seguinte modo (Proops et al., 1993):
Efeito directo: y é a procura final requerida;
Efeito indirecto de primeira ordem: Ay é a produção necessária para permitir a
produção do vector de procura final, y;

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Efeito indirecto de segunda ordem: A2 y = A(Ay) é a produção necessária para
permitir a produção de Ay;
Efeito indirecto de ordem t: At y = A(At-1y) é a produção necessária para permitir a
produção de At-1y;
O vector de outputs, x, obtido para um número de efeitos indirectos suficientemente
grande, é efectivamente o mesmo obtido por multiplicação do vector de procura final pelos
coeficientes de interdependência (O’Conner e Henry, 1975). Portanto, este processo iterativo
faculta uma outra forma de obter o efeito total de aumentos da procura nos outputs dos
diferentes sectores. Na realidade, depois de cinco iterações, a soma dos efeitos sucessivos é
idêntica à solução da inversa (O’Conner e Henry, 1975).
Em suma, os efeitos indirectos totais (ou a procura intermédia) correspondem à soma
do primeiro efeito indirecto, com o segundo efeito indirecto e assim sucessivamente, podendo
escrever-se da seguinte forma (Proops et al., 1993):

19
CAPÍTULO III. O MODELO INPUT-OUTPUT E O SISTEMA DE
CONTAS NACIONAIS

A contabilidade nacional é uma técnica de síntese estatística que tem por objecto a
representação quantificada e coerente da actividade económica de um país num determinado
período de tempo.
Os quadros de recursos e empregos são matrizes por ramo de actividade e por produto
que descrevem de modo pormenorizado os processos de produção internos e as operações
sobre produtos na economia nacional.
Aplicações da análise input-output
Desde o início da década de 60 que Leontief aplicou a análise I-O em problemas
específicos: aos efeitos económicos do desarmamento e dos gastos militares (e.g. Leontief e
Hoffenberg (1961); Leontief (1965, 2004); Leontief e Duchin (1983)); aos custos da poluição
(e.g. Leontief (1970a, 1973); Leontief e Ford (1972)); à depleção de recursos minerais não
combustíveis (e.g. Leontief et al. (1983)); ao impacte da automação no trabalho (e.g. Leontief
e Duchin (1986)); e às projecções da economia mundial até ao ano 2000 (e.g. Leontief (1974,
1975)), patrocinadas pelas Nações Unidas e inspiradas na prelecção de Leontief aquando da
atribuição do prémio Nobel, em 1973 (Garfield, 1986).
Em geral, para além da aplicação da análise I-O como ferramenta no planeamento
económico nacional, esta técnica de análise pode também aplicar-se em modelos de
planeamento regional, na análise de uma indústria específica, no estudo da economia de
empresa, entre outros. Portanto, esta ferramenta permite analisar sistemas mais agregados ou
desagregados, consoante os objectivos do estudo, proporcionando o tratamento de problemas
de âmbito micro e macroeconómico (Hawdon e Pearson, 1995; Proops et al., 1993; Barata,
2002; Cruz, 2002).
Nos modelos de planeamento nacional, a metodologia I-O permite analisar as
repercussões directas e indirectas, resultantes de alterações verificadas em determinados
elementos do sistema económico, em toda a economia, fornecendo uma ferramenta muito útil
para o planeamento económico e a consideração de determinados aspectos de política
(Pearson, 1989). Neste contexto, uma das maiores vantagens dos modelos I-O reside na sua
capacidade em analisar as consequências económicas de alteração de medidas de política
implementadas a um nível sectorial. Outro aspecto relevante dos modelos I-O consiste na
possibilidade da utilização combinada destes com diferentes cenários de suporte, permitindo
avaliar os efeitos de diferentes medidas de política numa perspectiva ex ante ou ex post

20
(Ciaschini, 1988; F∅rsund, 1985). Adicionalmente, como as relações entre preços e
quantidades descrevem aspectos duais da estrutura e funcionamento das economias modernas,
a análise I-O pode considerar-se como uma ferramenta de análise poderosa, por exemplo,
através da adopção de alguns mecanismos que podem influenciar a oferta e/ou a procura de
determinados sectores ou indústrias (Cruz, 2002).
Nos modelos de planeamento regional, as compras a outras regiões são tratadas como
importações, enquanto as vendas a outras regiões são tratadas como exportações, sendo
possível analisar, através do quadro I-O, a dependência da região dos seus recursos internos e
externos. Estes modelos são úteis, nomeadamente para a tomada de decisões, permitindo
demonstrar como políticas benéficas em termos nacionais são por vezes contraproducentes
para uma região em particular (O’Connor e Henry, 1975).
No caso de modelos de planeamento para uma indústria específica, faz-se a
desagregação da indústria em análise num determinado número de sub-sectores. Cada um
destes sub-sectores é visto como um sector que se inclui numa linha e coluna do quadrante
correspondente, na matriz de fluxos inter-sectoriais. As indústrias com ligações directas à
indústria em análise são geralmente incluídas neste quadrante, sendo agregadas num único
sector. As indústrias que não se encontram ligadas directamente ao sector em análise são
também, em geral, agregadas num único sector, podendo ou não ser incluídas neste quadrante.
Neste caso, o que se pode fazer para redução dos cálculos, dado não haver necessidade de
calcular as suas estruturas de custos, é a sua inclusão numa coluna, na secção de procura final
(vide, por exemplo, Erdösi (1985)). A aplicação da análise I-O a uma determinada indústria
pode ser útil, porque permite fazer o estudo da inter-relação dos sub-sectores dessa indústria.
Este estudo pode ser de grande importância para efeitos de planeamento, visto que permite
aos responsáveis projectar planos consistentes e determinar as necessidades de recursos para a
produção planeada (O’Connor e Henry, 1975).
Apesar de menos divulgada, a aplicação da análise I-O pode dirigir-se ao estudo da
economia das empresas. Neste caso, constrói-se um quadro de entradas e saídas que relaciona
o volume do produto com o valor dos inputs primários (matérias primas e força de trabalho)
necessários à sua concretização. Este quadro permite uma caracterização das técnicas de
produção utilizadas. A utilização deste instrumento é muito útil no estudo da forma como a
empresa se deverá adaptar à modificação nos preços dos factores de produção, na técnica
produtiva ou na procura final (Brito, 1985).

21
Os preços no modelo input-output
As relações estruturais numa economia, originalmente abordadas através do modelo I-
O, eram analisadas em termos físicos, ou seja, dando ênfase ao lado real da economia. Deste
modo, o modelo I-O permitia determinar as quantidades totais dos outputs necessários para
satisfazer uma dada procura final.
O preço que cada sector produtivo recebe por unidade do seu output, num sistema I-O
aberto, deve igualar o total de gastos incorridos no curso da sua produção. Como a coluna de
uma tabela de transacções I-O contabiliza todos os gastos do produtor, o preço de cada
produto pode construir-se a partir dos preços dos inputs utilizados para produzir esse produto.
Portanto, os gastos do produtor compreendem não só os pagamentos de aquisições de inputs a
essa indústria ou a outras indústrias mas também os inputs primários, ou seja, o valor
acrescentado, que representa essencialmente pagamentos efectuados aos sectores exógenos
(Leontief, 1985).
Sejam pi o preço (por unidade) dos bens produzidos no sector i e ri um factor
remunerativo (por unidade) dos factores não produzidos i (e.g. impostos indirectos, subsídios,
salários, lucros e amortizações, entre outros).
Assim, uma equação para um dado output i, expressa em termos de valor, pode ser
definida da seguinte forma:

Por outro lado, uma equação para um dado input j, expressa em termos de valor, pode
ser escrita do seguinte modo:

Considerando que a relação (física) entre inputs e outputs é proporcional, os inputs de


um sector podem ser expressos por relações lineares e obtendo-se a seguinte equação para um
dado input j:

22
Representação Matemática

Modelo de Leontief para Economia fechada

x = w + f (1)
Onde: x: vetor da produção setorial;
w: vetor do consumo intermediário setorial;
f: vetor da demanda final setorial.
Como w = Ax (onde A é a matriz de coeficientes técnicos aij), a equação (1) pode ser
reescrita como:
X =(𝐼 − 𝐴)−1 f (2)
Onde (𝐼 − 𝐴)−1 é a conhecida matriz de Leontief, que mostra os requisitos diretos e
indiretos por unidade de demanda final doméstica.
Em geral, as equações (1) e (2) são suficientes para o entendimento das questões mais
usuais sobre as matrizes de insumo-produto. Contudo, essas equações são representações
muito simplificadas da realidade.

Modelo de Leontief para Economia aberta

Numa economia aberta, por exemplo, parte dos insumos é fornecida pelo exterior,
enquanto alguns produtos intermediários são vendidos ao resto do mundo. Analogamente,
uma parcela da demanda final doméstica e das exportações também é composta por bens
finais importados. Isso torna necessária uma apresentação mais completa do modelo estático
de Leontief.
Assim, um modelo estático mais completo de Leontief, considerando uma economia
aberta, deveria ser composto por duas equações:

Onde e representa as exportações e os sobrescritos D e M indicam a procedência


setorial doméstica e estrangeira dos insumos, respectivamente.
Considerando que a soma da produção doméstica e das importações constitui a oferta
total setorial, que se iguala à demanda total setorial, pode-se escrever:

Onde:

23
No que se refere ao consumo intermediário, por construção pode-se escrever:

A equação (6) traduz a possibilidade de somar as matrizes de oferta e demanda da


produção nacional e de produtos importados, dadas às hipóteses de importações competitivas
e de homogeneidade da estrutura produtiva global. Portanto, a equação básica de um modelo
aberto de Leontief poderia ser escrita como:

ou:

ou ainda:

Ou seja, como os fluxos de consumo intermediário, demanda final doméstica e


exportações, igualando a oferta doméstica, incluem as importações, estas evidentemente
devem ser subtraídas quando se calcula a produção doméstica.

24
CAPÍTULO IV. PRINCÍPIOS DE INSUMO-PRODUTO: INOVAÇÕES
TEÓRICAS E PRÁTICAS DE LEONTIEF

Como se pode verificar na literatura consultada e no próprio trabalho de Leontief, a


sua grande ênfase sempre foi na ligação entre a teoria e a aplicação desta. Segundo Polenske
(2000), e baseando-se na premissa acima, existem cinco áreas da Economia Aplicada para as
quais Leontief contribui com idéias inovativas, quais sejam: i) automação; ii) desarmamento;
iii) meio ambiente; iv) comércio internacional; e v) análise espacial e mundial. Cada uma
destas áreas é discutida a seguir.
Automação
A automação e as conseqüências que esta teria sobre os trabalhadores e em especial
sobre o emprego sempre foi um tópico que fascinou Leontief. Em princípio ele acreditava que
os trabalhadores seriam substituídos por máquinas. Trabalhos futuros, Leontief (1952) e
Leontief e Duchin (1986), mostrariam que os trabalhadores não se tornariam obsoletos e que
estes se adaptariam às novas tecnologias, para tanto seria necessário um processo continuo de
treinamento da mão-de-obra, ao mesmo tempo em que haveria uma diminuição das horas de
trabalho.
Apesar de existirem semelhanças entre o trabalho de Alfred Kälher (1900-1981) sobre
automação, desenvolvimento originalmente na Universidade de Kiel, e o de Leontief, não se
pode garantir em princípio que houve troca de idéias entre ambos. Uma boa discussão a este
respeito pode ser encontrada em Gehrke (2000).
Desarmamento
Em dois momentos Leontief se concentrou no problema do desarmamento e quais
seriam as suas conseqüências sobre a economia americana.
O primeiro destes trabalhos, Leontief (1944), se refere a preocupação de quais seriam
os impactos de reconverter a economia americana de uma economia de guerra para uma
economia civil e quais seriam os impactos sobre produção e o emprego nos diferentes setores
da economia.
No seu segundo trabalho, Leontief et al. (1965), a preocupação agora se volta para a
guerra do Vietnã e quais seriam as conseqüências de uma lado, de uma diminuição dos gastos
militares com a guerra do Vietnã em 20%, e de outro lado qual deveria ser o aumento nos
gastos civis do governo americano para compensar a queda nos gastos militares. Como a
produção militar dos EUA não se encontra igualmente distribuída pelo país, Leontief decidiu
trabalhar com um modelo intranacional, em que os EUA foram divididos em 19 regiões. Os

25
resultados mostraram que os impactos do corte nos gastos militares seriam diferentes entre as
diversas regiões, sendo que um aumento de 2% nos gastos civis do governo dos EUA seria
suficiente para contrabalançar o corte nos gastos militares.
Os fatos porém foram outros, e o governo americano durante a segunda metade dos
anos de 1960, ao invés de diminuir, aumentou os gastos militares com a guerra do Vietnã em
20%.
Meio Ambiente
No final dos anos de 1960 Leontief começou a se preocupar com o meio ambiente e o
impacto que os diferentes setores teriam sobre ele.
Apesar de trabalhos anteriores já terem tido tratado do problema do meio ambiente
utilizando-se de insumo-produto, como Cumberland (1966), Daly (1968), Isard et al. (1968), e
Ayres e Kneese (1969), Leontief não estava satisfeito com o enfoque destes trabalhos, até que
em Leontief (1970) apresenta a sua formulação de um modelo de insumo-produto que estuda
o problema de poluição do meio ambiente. Sendo este modelo implementado posteriormente
em Leontief e Ford (1972).

Comércio Internacional

As contribuição de Leontief para o comércio internacional são o objetivo do trabalho


de Duchin (2000), porém, aqui será dado destaque especial ao que viria a ser e continua sendo
um tema de grande discussão na literatura, que é o “paradoxo de Leontief”.
O “paradoxo de Leontief” surge em Leontief (1953a), quando estudando a composição
das exportações dos EUA, usando as matrizes de 1947, Leontief observa que estas possuíam
uma oferta abundante de trabalho e escassa de capital. Esta proposição vai contra o teorema
de Heckscher-Ohlin (HO), Heckscher (1919) e Ohlin (1933), também conhecido como
Heckscher-Ohlin-Vanek (HOV), Vanek (1968), que afirma que países com abundância de
capital, como os EUA, deveriam exportar bens intensivos em capital e importar bens
intensivos em trabalho.

Análise Espacial e Mundial

Leontief desenvolveu modelos à nível regional e mundial, e talvez seja nesta área da
economia que os modelos de insumo-produto têm recebido um destaque maior.
Em Leontief (1953b) são lançadas as bases para o modelo intranacional que seria
aplicado em Leontief et al. (1965). O modelo intranacional quando comparado com os outros
modelos regionais e relativamente pouco demandante em termos de necessidade de dados.

26
Por sua vez o modelo interregional de insumo-produto (IRIP), ou modelo ideal,
desenvolvido em Isard (1960), é um modelo altamente demandante em dados, já que todas as
informações do sistema teriam que ser censitárias.
Um modelo intermediário, em termos de exigência de dados, é o modelo multiregional
de insumo-produto (MRIP) apresentado em Leontief e Strout (1963) e aplicado para a
economia americana em Polenske (1980).
Em termos de modelo mundial, é famoso o trabalho de Leontief para as ONU, visando
fazer previsões sobre a economia mundial para os anos de 1980, 1990, e 2000. As bases
teóricas deste modelo estão apresentadas em Leontief (1975), sendo que os resultados são
apresentados em Leontief, Carter, e Petri (1977). O modelo consistia de 15 regiões e 48
setores, além também de ser dado um tratamento no modelo para o problema do meio
ambiente. Uma discussão comparativa dos resultados deste modelo visto já estarmos no ano
2000, é apresentada em Fontela (2000).

27
CAPÍTULO V. ANÁLISES ESTRUTURAIS E DE IMPACTO

As análises estruturais visam entender como a economia funciona e como os setores e


as regiões se interrelacionam entre si, enquanto que as análises de impacto visam estudar a
reação da economia e dos seus setores à choques resultantes de políticas econômicas e/ou de
alterações de comportamento dos agentes econômicos.
Dentro das análises estruturais, o conceito e a determinação de setores chave numa
economia pode ser apresentado de diversas maneiras, e a necessidade básica é explorar as
informações provenientes de cada tipo de análise, ao invés de se dirigir o centro das atenções
para as vantagens aparentes e reais que uma técnica pode oferecer. Seria surpreendente se
existisse uma consistência total; como Diamond (1976) observou, a multiplicidade de
objetivos que caracterizam as estratégias de crescimento e desenvolvimento de muitos países
tornam improvável que um número pequeno de setores geraria os requisitos necessários para
satisfazer as necessidades de emprego, renda, produção, divisas, etc.
Dentre as técnicas utilizadas nas análises estruturais, os índices de
Rasmussen/Hirschman e o enfoque do campo de influência são usados para se estudar como a
estrutura interna da economia se comporta, sem levar em consideração o nível de produção
em cada setor, enquanto que o índice Puro de ligação é usado para se analisar a estrutura
produtiva quando os diferentes níveis de produção em cada setor são levados em
consideração. O primeiro tipo de análise é importante, pois se a estrutura interna da economia
não é levada em consideração ao se definir setores chave, pode-se gerar gargalos que
limitarão o crescimento desta. Por outro lado, o nível de produção em cada setor é também
importante na medida em que auxilia na determinação de quais seriam os principais setores
responsáveis por variações nos níveis do PIB e de outras variáveis macroeconômicas
importantes. Portanto, ambas análises devem ser combinadas.
Outro tipo de análise possível seria o estudo das origens das mudanças temporais no
nível de produção setorial, as quais podem ser atribuídas de um lado à mudanças nos
coeficientes de produção, mudanças na demanda final, e a mudanças nos efeitos interativos
entre a demanda final e os coeficientes de produção, e de outro lado à mudanças que se
originam dentro do setor e aquelas que se originam nos outros setores da economia (veja
Guilhoto, Hewings, Sonis, e Guo, 1997).

28
Distribuição de Renda

O estudo do problema da distribuição de renda em modelos de insumo-produto se


deve ao trabalho pioneiro de Miyazawa (1976), onde a demanda final do modelo de Leontief
é dividida em demanda internas de consumo das famílias e demanda exógena (isto é, gasto do

governo, investimento, e exportações):


A função de consumo multisetorial é definida como
Onde C é uma matriz (nxr) com os coeficientes de consumo, e Q é um vetor (rx1) com

a renda total de cada grupo de renda.


A matriz C é derivada a partir de uma matriz E, cujo elemento eik representa a
quantidade total do i-ésimo produto consumido pelo k-ésimo grupo de renda, isto é,
Além de incorporar esta função-consumo multisetorial nas equações de Leontief,

deve-se incluir também no modelo a estrutura da distribuição da renda, uma vez que “a
estrutura de consumo geralmente depende da estrutura de distribuição da renda” (Miyazawa,
1976, p. 1).
A estrutura de distribuição da renda pode ser representada pelas equações simultâneas

Onde V é uma matriz (rxn) com os coeficientes do valor adicionado.


Obtém-se a matriz V a partir de uma matriz R, cujo elemento rkj representa a renda do
k-ésimo grupo de renda obtida do j-ésimo setor, vkj é dado por

Modelos Econométricos de Insumo-Produto

Os modelos econométricos de insumo-produto visam de um lado tirar vantagem do


poder de previsão dos modelos econométricos e do outro visam tirar vantagem dos aspectos
intersetoriais e interregionais encontrados nos modelos de insumo produto.

29
Os modelos macroeconométricos por natureza são modelos que tratam das variáveis
macroeconômicas da economia, ou seja, dos seus agregados. Aos mesmo tempo são modelos
que permitem análise de previsão, onde moeda tem o poder de afetar o nível de produção da
economia. Já os modelos de insumo-produto são modelos desagregados da economia que
permitem análises intersetoriais e interregionais, sendo mais indicados para análises de
impacto, e onde o importante é o lado real da economia, desta forma, moeda não tem o poder
de afetar produção.
O ponto interessante da combinação deste dois modelos é a possibilidade de se levar
em consideração que moeda afeta o nível de produção da economia, pelo menos no curto
prazo, e de se poder fazer previsões para os diversos setores/regiões da economia ao longo do
tempo.
A combinação destes modelos pode ser feita de várias formas, as mais utilizadas são:
a) o enfoque de cima para baixo, ou seja, o modelo macroeconométrico dá a linha de
deslocamento da economia e o modelo de insumo-produto deve se ajustar de modo a fornecer
resultados consistentes com o modelo macroeconométrico; e
b) há uma interação entre os modelos através da “conversação” entre eles, de modo
que os resultados de um influencia os resultados do outro e os dois entram num processo de
interação e convergência, de modo a chegarem num resultado comum e consistente.

Multiplicadores

Se existir um aumento na procura final de um determinado produto, podemos assumir


que haverá um aumento na produção desse produto, bem como um aumento no emprego no
respectivo ramo de actividade, devido à reação dos produtores a esse aumento da procura.
Este tipo de efeito chama-se efeito directo.
Aumentar a produção de um produto implica necessariamente um aumento no
consumo de inputs que, se forem produzidos localmente, induzem um aumento na produção e
emprego nos ramos de actividade que os produzem. A este tipo de efeito é costume chamar
efeito indirecto.
Por fim, as famílias locais gastam as suas remunerações, que em média subiram
devido a existir agora mais gente empregada, numa economia maior, e estes gastos equivalem
a uma maior procura de bens e serviços. A este efeito é costume chamar efeito induzido.
Segundo o modelo input-output, alterações na procura final produzem então três tipos
de efeitos: directos, indirectos e induzidos.

30
Um multiplicador elevado não indica necessariamente uma economia grande.
Simplesmente indica que esse determinado ramo de actividade está muito inter-ligado com os
outros ramos de actividade presentes na região. Por exemplo, uma economia pequena, mas
fechada tenderá a ter multiplicadores elevados.

Multiplicadores do Tipo I e do Tipo II

Os multiplicadores do Tipo I medem os efeitos directos e indirectos ao passo que os


multiplicadores do Tipo II, para além dos efeitos directos e indirectos, medem também os
efeitos induzidos.
Os multiplicadores do Tipo I baseiam-se simplesmente na matriz inversa de Leontief e
obtêm-se quer pela soma das colunas dessa matriz, no caso dos multiplicadores de produção,
quer na multiplicação dessa matriz por vectores adequados, no caso dos restantes
multiplicadores.

Multiplicador de Produção

Podemos então definir o multiplicador de produção para o ramo j por:


Oij=∑bij
Sendo bij um elemento da matriz inversa de Leontief.

Multiplicador do rendimento

Os multiplicadores do rendimento quantificam os impactos no rendimento das famílias


induzidos pela alteração da procura final. O vector de multiplicadores de rendimento r é
obtido através de:
r=w×B
Onde w é o vector de coeficientes técnicos relativos às remunerações e B é a matriz
inversa de Leontief.

Multiplicador de emprego

A única diferença para o cálculo deste multiplicador relativamente ao anterior é que


agora existe uma unidade física de trabalho. Calcula-se então um “coeficiente de trabalho
físico” em vez de monetário, sendo expresso, por exemplo, em milhares de pessoas por
milhão de kwanzas. O cálculo do vector de multiplicadores de emprego é dado então por:
e=p×B
Onde p é o vector de coeficientes de emprego e B é a matriz inversa de Leontief.

31
Determinação dos setores-chave da economia

Existem três métodos para o cálculo dos setores-chave: os índices tradicionais de


Rasmussen-Hirschman, os Índices Puros de Ligação e o método do Campo de Influência. No
presente trabalho optou-se pelo método de Rasmussen-Hirschman.
De acordo com o método desenvolvido por Hirschman (1958) e Rasmussen (1956),
utiliza-se a matriz inversa de Leontief para medir a capacidade dos setores em criar estímulo
ao investimento nos demais setores. Tal método ajuda no sentido de direcionar os
investimentos para aqueles setores com maior resposta ao estímulo, embora ao fazer um
investimento não queira dizer que irá ocorrer crescimento de forma homogênea em todos os
setores. A lógica é que este índice mede a importância do setor conforme impactos no sistema,
considerando que não há variação na estrutura tecnológica.
Segundo Hirschman (1958), no início do investimento há uma tendência de
concentração em determinados setores econômicos, expandindo-se, posteriormente para os
demais setores via aumento da produção e/ou incorporação de tecnologia. O poder de
encadeamento do setor é percebido na medida em que a elevação de investimento no setor
resulta em efeito multiplicador de renda, emprego e produção nessa atividade acima da média
das demais atividades.

Os índices de Rasmussen-Hirschman são os seguintes:


1) índice de poder de dispersão (PDj), mede os encadeamentos para trás do setor.
2) índice de sensibilidade à dispersão (SDi), mede os encadeamentos para frente.

O índice de poder de dispersão (PDj) representa a ordem de grandeza do impacto que


uma variação teria, na demanda final, sobre seus fornecedores, ou seja, o incremento total na
produção da economia para atender ao aumento de uma unidade na demanda final do setor j.
A interpretação seria: se o setor apresentar um índice de poder de dispersão maior do que um
(1), diz-se que tem alto poder de dispersão, ou seja, é capaz de gerar significativos efeitos de
encadeamento para trás - os efeitos multiplicadores se difundem aos fornecedores de matéria
prima (FERNANDES & ROCHA, 2010).
O índice de sensibilidade à dispersão (SDi) mostra como o setor é afetado - direta e
indiretamente - pelo sistema produtivo. A interpretação desse índice é que: quando um setor
apresenta valor superior à unidade, significa que sua importância, enquanto fornecedor de

32
insumos intermediários é superior à média dos demais setores, portanto, mais sensível que
aqueles em relação a mudanças no sistema produtivo, tendo um forte poder de encadeamento
para frente. O forte encadeamento para frente remete à situação em que o aumento de
investimento no setor resulta em substanciais efeitos positivos nos setores compradores de
seus produtos (FERNANDES & ROCHA, 2010).
A análise dos setores-chave da economia retrata a importância das diferentes
atividades como demandantes de insumos das outras atividades econômicas, como também
possibilita o entendimento da eficácia das políticas públicas de planejamento na priorização
dos investimentos nos setores com capacidade de desempenhar funções estimuladoras do
sistema de produção. O enfoque é de que a produção de uma atividade econômica incentiva o
aumento da produção das demais atividades. Segundo Fajardo (2008), na atividade produtiva
não poderia existir vazios, pois estes, quando ocupados, provocavam o surgimento de outras
atividades para frente e para trás, formando uma cadeia produtiva.
Segundo Miller e Blair (2009), os índices de ligação para trás e para frente permitem
identificar os setores-chave de uma economia, sendo geralmente medidos de forma
normalizada, cujos setores com índice acima de um (1) possuem forte ligação. Isso quer dizer
que o sistema produtivo tem um grau elevado de dependência desses setores. A identificação
dos índices de ligação ajuda, ainda, na decisão do investimento: em qual setor econômico
devem-se concentrar os recursos para desenvolver a economia.
Para Locatelli (1985) são considerados setores-chave aqueles que apresentam índices
de ligações para trás e para frente, maiores que um (1), seriam os que provocariam mudanças
no nível do PIB do estado e em outros agregados macroeconômicos.
Segundo Locatelli (1985), para que ocorra desenvolvimento, não basta direcionar
investimentos para os setores-chave, os investimentos devem ser diversificados em novas
atividades e o emprego deve ser qualificado.

Algumas limitações da análise input-output

As limitações da análise I-O devem-se, fundamentalmente, às hipóteses assumidas no


modelo. De facto, este tipo de modelação possui um conjunto de pressupostos de algum modo
redutores, nomeadamente decorrentes da consideração de coeficientes fixos, de rendimentos
de escala constantes, da homogeneidade assumida na produção de cada sector e, em geral, da
determinação exógena da procura final. Por outro lado, assume-se a não existência de
restrições de capacidade, ou seja, que a oferta é supostamente infinita e perfeitamente elástica.

33
As simplificações impostas nos modelos I-O, nomeadamente a consideração de que a
tecnologia é similar durante um período, não permitindo a substituição entre factores, podem
restringir, aparentemente, os modelos I-O a análises económicas de curto prazo. No entanto,
neste argumento, confundem-se dois aspectos diferentes acerca do curto-prazo e do longo-
prazo (Wilting et al., 2004). O primeiro aspecto a ter em consideração é a diferença entre os
estudos de curto-prazo e de longo-prazo. Se um modelo for utilizado para um estudo de
longo-prazo é desejável que o modelo incorpore alterações tecnológicas. Em segundo lugar,
há uma diferença entre as opções de curto-prazo e de longo prazo para uma tecnologia de
produção. As opções tecnológicas de curto-prazo são, em geral, limitadas, porque cada
indústria tem uma determinada tecnologia instalada, que provavelmente não permite
substituições significativas de inputs no curto-prazo. No longo-prazo, uma indústria terá a
oportunidade de escolher várias tecnologias com diferentes estruturas de inputs. A
discrepância entre as opções de curtoprazo e longo-prazo, neste caso, é então a diferença entre
a produção com uma tecnologia já instalada, descrita como uma função de produção ex post, e
a escolha entre diversas tecnologias que poderiam ser instaladas, descrita como uma função
de produção ex ante (Wilting, 2004). Existem basicamente duas formas para projectar
alterações tecnológicas no âmbito da análise I-O: uma associada a uma análise de tendências
e, outra, baseada numa construção de coeficientes técnicos assente em opiniões de peritos
(vide Leontief e Duchin (1986)). Proops et al. (1993) referem, neste contexto, que devem
considerar-se, ao longo do tempo, alterações conhecidas ou previstas dos coeficientes
tecnológicos.
Outra possível limitação da abordagem I-O deve-se ao facto de os dados estarem
sujeitos a erros, não sendo conhecidos com exactidão, pois determinados parâmetros são
considerados como dados a priori. Contudo, para mitigar esta questão pode efectuar-se uma
análise da sensibilidade das variáveis dependentes como resultado das alterações verificadas
nos parâmetros do modelo (Proops et al., 1993).
Os dados do modelo I-O são uma agregação da actividade de um conjunto numeroso
de empresas, que vendem diferentes tipos de bens, com distintas tecnologias de produção,
pelo que quando se considera um quadro indústria por indústria, esta é uma aproximação da
realidade, não permitindo a determinação adequada das funções procura e/ou oferta. De facto,
no sentido de colmatar esta questão, nomeadamente no que se refere à hipótese de cada ramo
(sector ou indústria) produzir apenas um único produto, foi desenvolvida uma outra
abordagem, os modelos I-O rectangulares, com um quadro de entradas e saídas rectangular

34
(quadro combinado de entradas e saídas ou matriz make and useII. 4 ), que considera o facto
de um ramo (sector ou indústria) produzir mais do que um produto (vide Stone (1961, 1966)).
Por último, a possibilidade de permitir manejar um conjunto vasto de dados facultada
pela análise I-O deve ser vista de modo dúplice; i.e., por um lado, como uma vantagem e, por
outro, como uma desvantagem, na medida em que, normalmente, ocorrem problemas
associados à precisão e actualização dos dados disponíveis (Cruz, 2002).
Embora as matrizes de insumo-produto tenham inúmeras vantagens para a análise
estrutural da economia, pela consistência da apresentação de suas informações, ela tem
também algumas limitações. Em primeiro lugar, o modelo assume retornos constantes de
escala, ou seja, para qualquer quantidade produzida serão utilizadas as mesmas combinações
relativas de fatores produtivos. Em segundo lugar, assume-se que os coeficientes técnicos não
mudam ao longo do tempo, o que significa que não são considerados quaisquer efeitos em
termos de mudanças de preços ou avanços tecnológicos. Em terceiro lugar, presume-se que a
oferta de recursos produtivos seja infinita e perfeitamente elástica, assim como o uso desses
recursos seja feito com máxima eficiência. Por fim, há um conjunto amplo de restrições
quanto à elaboração das matrizes de insumo-produto, que vão desde hipóteses simplificadoras
sobre a natureza dos produtos e dos insumos utilizados nos processos de produção até a
defasagem decorrida entre a coleta e a publicação ordenada dos dados.
Importa, contudo notar que estas limitações apontadas ao modelo, sobretudo as quatro
primeiras, constituem problema apenas quando este seja utilizado com a finalidade de
previsão – que na realidade foi, ao longo do tempo, a principal utilização deste modelo.
Porém, se o nosso objectivo for puramente a descrição da economia num dado momento
histórico, o momento ao qual a matriz se refere, aqueles pressupostos perdem claramente
importância, deixando de poder ser considerados limitativos da nossa análise. Além disso,
mesmo numa perspectiva previsional, aquelas limitações são efectivamente relevantes no
traçado de cenários a longo prazo, mas poderão ser hipóteses toleráveis numa análise de
sensibilidade em que o momento em que ocorre a perturbação não dista consideravelmente do
ano a que se referem os dados de base do quadro de Input-Output.

35
CAPÍTULO VI: EXERCÍCIOS

Fluxos de insumo-produto

As transações entre os setores estão dispostas em uma matriz com n linhas e n colunas,
conforme tabela anterior (exemplo numérico).
Pela ótica das linhas, as vendas feitas pelas firmas à esquerda podem ser atribuídas às
firmas listadas no topo da coluna:
O Setor 1 (S1) vende $150 para o Setor 1 (S1) e $500 para o Setor 2 (S2).
O Setor 2 (S2) vende $200 para o Setor 1 (S1) e $100 para o Setor 2 (S2).
Esta parte da tabela de insumo-produto é chamada de transações interindustriais ou
consumo intermediário – fornece uma fotografia da economia com o foco nas relações
intersetoriais.
Vale ressaltar que os insumos são expressos em termos monetários, uma vez que seria
difícil combinar, por exemplo, toneladas de minério de ferro com megawatts de eletricidade,
etc.
Além das transações intermediárias, os setores também vendem para outros conjuntos
de atividades:
Consumidores (famílias), governo e mercados externos (exportações).
Esta parte da tabela de insumo produto é chamada de demanda final. No exemplo, o
Setor 1 (S1) vende $350 para os agentes da demanda final (Y). O Setor 2 (S2) vende $1700
para os agentes da demanda final (Y).
Por fim, pela ótica das colunas, os setores (firmas) também fazem pagamentos aos
fatores de produção, trabalho e capital, e às importações.
Estes fluxos são mostrados no restante da tabela (setor de pagamentos). Os elementos
da demanda final e do valor adicionado não estão desagregados neste exemplo.
Modelo nacional de insumo-produto
A tabela de insumo-produto é basicamente um sistema contábil – uma dupla entrada
semelhante à preparada por uma empresa em que as vendas e as compras ou ativos e passivos
são apresentados, mas, neste caso, para uma economia.
Para mapear o impacto das mudanças em um setor no restante da economia, Leontief
propôs um modelo econômico. O modelo de insumo-produto (ou modelo de Leontief) leva
em consideração a interdependência produtiva ente os setores.

36
Exemplo de uma tabela de insumo produto com dois sectores

Figura 3: Tabela de Insumo Produto com dois sectores

Zij- luxo monetário entre os setores i e j.


Ci- consumo das familías dos produtos do setor i
gi - gasto do governo junto ao setor i
Ii- demanda por bens de investimento produzidos no setor i
ei- total exportado pelo setor i
xi- total de produção do setor i
Mi- importação total realizada pelo setor i
ti- total de impostos indiretos líquidos pagos por i
Wi- valor adicionado gerado pelo setor i

Exemplo numérico

Sistema regional de insumo-produto – setor x setor

A partir da matriz de insumo-produto (MIP), podemos calcular os coeficientes diretos


(ou coeficientes técnicos). Ou seja, tomando como pressuposto de “receita” fixa, temos as
transações em forma proporcional.

37
Na análise de IP, uma vez que um conjunto de informações fornecem os coeficientes
técnicos, assume-se que estes não se alteram.

Determinação dos coeficientes técnicos


Sistema regional de insumo-produto – setor x setor

• A partir dos coeficientes técnicos, podemos calcular a matriz inversa de

Leontief (𝐼 − 𝐴)−1.

38
As entradas revelam os impactos diretos e indiretos em um setor quando a demanda
final do setor no topo da coluna muda em $1 (ou $1 milhão ou $100 milhões).
A entrada na diagonal principal é sempre maior que a unidade (>1), o valor unitário
representa o aumento da demanda final nesse setor e a parcela restante representa o impacto
direto e indireto da expansão.
A soma das linhas da matriz inversa de Leontief mostram os multiplicadores de

produção:

Interpretação dos valores

Eles fornecem informações sobre o impacto no restante da economia (incluindo o setor


em questão) de uma mudança unitária na demanda final em qualquer setor.
O valor de 1,45 para o Setor 2 nos diz que, para cada aumento de $1 na demanda final
desse setor, um valor adicional de $0,45 de atividade é gerado para um valor total de produção
de $1,45.

39
Por que esses valores variam

Eles refletem o grau em que um setor é dependente dos outros setores da economia,
por seus insumos e como fonte de consumo de seus produtos. Eles dependem da estrutura de
produção (a “receita”). Seria incorreto supor que a importância de um setor na economia está
diretamente relacionada ao tamanho do multiplicador. Um setor com um grande volume de
produção, mas com um multiplicador modesto, pode gerar um maior volume de atividade na
região do que um setor com maior multiplicador, mas com um menor volume de produção.

Multiplicador simples (gerador) de emprego

Para calcular o multiplicador simples de emprego, devemos calcular primeiro o

coeficiente de emprego (requisito de emprego):


• A partir da equação, podemos definir o multiplicador simples de emprego (ou
gerador de emprego) como:
O multiplicador simples de emprego apresenta o impacto total, direto e indireto, sobre
a variável.

O multiplicador de emprego, por sua vez, é dado por:


O multiplicador de emprego indica o quanto é gerado, direta e indiretamente, de
emprego para cada unidade diretamente gerada de emprego.

40
Sistema regional de insumo-produto – setor x setor

Sistema regional de insumo-produto setor x setor

Multiplicador simples de emprego

41
A partir dos coeficientes diretos e da matriz inversa de Leontief, é possível estimar,
para cada setor da economia, o quanto é gerado direta e indiretamente também de
importações, impostos, salários, valor adicionado, etc. para cada unidade monetária produzida
para a demanda final.

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CONCLUSÃO

O modelo input-output é uma ferramenta de análise económica que permite estudar


as interdependências entre os diversos setores da economia. Apesar de simples, é um modelo
poderoso que pode ser utilizado para uma variedade de aplicações, incluindo o planeamento
económico.
Alguns factores tornam este modelo tão poderoso em comparação, eventualmente,
com outras ferramentas de planeamento económico, tais como o facto dele permitir ter uma
visão holística da economia, constatando a influência que cada sector impõe a outro; o facto
dele ser uma ferramenta de previsão robusta, permitindo identificar quais sectores merecem
maior preocupação; e por fim, o facto dele ser uma ferramenta de avaliação de políticas
económicas, visto que permite identificar os impactos de políticas económicas, como
mudanças nos impostos ou subsídios evitando, deste modo, impactos indesejados.
A aplicação do modelo input-output pode ser resumida em quatro finalidades
fundamentais: projecção do crescimento económico, considerando a interdependência dos
sectores; planificação do investimento, considerando as necessidades de insumos desses
sectores; planeamento da produção, considerando as demandas dos diversos sectores; e
avaliação das políticas económicas.

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