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FERNANDÓPOLIS - NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE - Vol.

II / 2012
Fernandópolis - Nossa História, Nossa Gente
Prefeitura de Fernandópolis - 2012 - vol. II

FERNANDÓPOLIS
NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE
Vol.II

PREFEITURA DE FERNANDÓPOLIS - 2012


Copyright© 2012 Prefeitura de Fernandópolis

Todos os direitos desta edição são reservados à Prefeitura de Fernandópolis

CAPA
Yukio Sugahara(foto)

COORDENAÇÃO
Conselho Editorial

FINANCIAMENTO
Prefeitura de Fernandópolis

Prefeitura de Fernandópolis

Fernandópolis – nossa história, nossa gente / Prefeitura de


Fernandópolis; Equipe Executiva (organização e revisão), 2012. v. II.

382 fl. : il. color. ; 21X28 cm

Prefeitura de Fernandópolis

ISBN :

Impressão e acabamento:
Gráfica e Editora Anglo S/A
Rua Gibraltar‐ nº 368 / Santo Amaro
São Paulo‐ CEP 04755‐902
PREFEITURA DE FERNANDÓPOLIS/SP

FERNANDÓPOLIS-

NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE

v. II - 2012
APRESENTAÇÃO

Volume II do Livro Fernandópolis - Nossa História, Nossa Gente

SEMENTES DO PASSADO, RAÍZES DO FUTURO

Em 1996, lançamos o primeiro volume do Livro Fernandópolis - Nossa História, Nossa


Gente, motivados pela necessidade de resgatar e homenagear a memória daqueles que edificaram o
passado de Fernandópolis, legando à posteridade suas vidas e suas obras, enaltecendo-as,
meritoriamente. Impulsionou-nos, também, o compromisso administrativo de constituir e oferecer à
população uma fonte oficial para conhecimento, estudo e pesquisa da História e de nossas
características e atividades presentes, estimulando o civismo e reverência ao Passado em nossas
crianças e jovens.

No citado Livro, a Pesquisa e o Relato Histórico de Fernandópolis detalharam dos


primórdios de sua formação à gestão de Líbero de Almeida Silvares (1948 a 1951) e descreveram,
sinteticamente, as administrações municipais de 1952 a 1996. Nele constam também trabalhos sobre
9 Temas e 34 Biografias de figuras locais proeminentes, todos escolhidos e elaborados por
representações da comunidade.

Hoje, com os mesmos sentimentos de valorização e gratidão ao Passado e


responsabilidade pelo Futuro, entregamos à população o Volume II do Livro Fernandópolis - Nossa
História, Nossa Gente, codificando outros períodos da História de Fernandópolis, sendo composto
por quatro eixos: - 1º - Relato Histórico, 2º- 18 Artigos e Temas; 3º- Biografias (72) e 4º - Imagens
da História.

Importante destacar que as duas obras refletem, e há, de forma real e efetiva, o
sentimento e a participação da população fernandopolense, visto que dela partiram as sugestões e a
elaboração das Biografias e Temas, e as fontes de coleta da maioria das fotos.

Assim, este projeto permitiu que o Fernandopolense, perene escultor de nossa


história, também participasse de sua codificação.

Portanto, cumpre-nos externar nossa imensa gratidão a todos que, de alguma forma,
possibilitaram a pesquisa, elaboração e edição deste Volume II, destacando o trabalho de mais de um
ano do Conselho Editorial e Equipe Executiva, responsáveis pelo Projeto deste Livro, bem como às
entidades, instituições, representações comunitárias, famílias e cidadãos, parceiros fundamentais
nesta vitoriosa empreitada cívica.

Fernandópolis, maio de 2012.

LUIZ VILAR DE SIQUEIRA

- Prefeito –
DECRETO Nº 6.235 - DE 15 DE MARÇO DE 2011
(Nomeia o Conselho Editorial).

LUIZ VILAR DE SIQUEIRA, PREFEITO DO MUNICÍPIO DE FERNANDÓPOLIS,


ESTADO DE SÃO PAULO, NO EXERCÍCIO DE SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS;...
CONSIDERANDO a responsabilidade do Poder Público em possibilitar a pesquisa, a
codificação e a perenização da história de Fernandópolis;

CONSIDERANDO a importância de oferecer a esta e às próximas gerações a oportunidade


do reconhecimento, do resgate e da valorização de personalidades, ações e fatos que
contribuíram para a formação e desenvolvimento de nosso município;

CONSIDERANDO a necessidade da constituição de um acervo oficial e de uma fonte


confiável para conhecimento, estudo e pesquisa de nossa história, estimulando o civismo,
especialmente em nossas crianças e jovens;

CONSIDERANDO o indispensável apoio da comunidade e da participação direta das


Instituições de Ensino, da Câmara Municipal e das Organizações Sociais locais, que serão
conclamadas a colaborarem para a realização desse empreendimento;

CONSIDERANDO, finalmente, que a consecução pretendida requer, também, rigor técnico,


conhecimento específico e o labor de pessoas de reconhecida competência;

DECRETA:

Artigo 1.º - Ficam nomeados os membros do Conselho Editorial, com a


finalidade de acompanhar e observar as atividades realizadas e sugerir melhorias na
atualização e edição da obra “Fernandópolis – Nossa História, Nossa Gente”, como segue:

I – COORDENADOR GERAL:

JESIEL BRUZADELLI MACEDO.

II - SECRETÁRIA:

IRACI PINOTTI.
III – MEMBROS DO “CONSELHO EDITORIAL”:

a- DARCI APARECIDA DA SILVA MARIN;


b- EDVALDO CERAZE;
c- JOSÉ ANTONIO ALVES DA SILVA;
d- MOACIR MOLINA;
e- OSVALDO SILVA;
f- HUMBERTO CÁFARO FILHO;
g- WANDALICE FRANCO RENESTO;
h- WÔNIA APARECIDA FRANCO GOMES;
i- ADAUTO DONIZETI CASSIMIRO;
j- AMADEU JESUS PESSOTTA;
k- CELESTE ANTENORE ROSSI;
l- DURVAL APARECIDO RAMANHOLI;
m- ROSA MARIA SOUZA DA COSTA;
n- WANDA APARECIDA DE LIMA COSTA.

Parágrafo único – Os membros das alíneas i, j, k, l, m e n também integram a


Equipe Executiva.

Artigo 2.° - Os trabalhos prestados pelo Conselho Editorial não serão


remunerados, mas considerados relevantes serviços prestados ao Município.

Artigo 3.° - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogando
as disposições em contrário.

Paço Municipal “Massanobu Rui Okuma”, 15 de março de 2011.

- LUIZ VILAR DE SIQUEIRA -

Prefeito Municipal de Fernandópolis

- JOSÉ CASSADANTE JUNIOR -

Secretário Municipal de Gestão

Registrada no livro próprio de portarias e publicada na Imprensa Oficial do Município, bem como por
afixação nesta Prefeitura Municipal em lugar de costume e amplo acesso ao público. Data supra.

- BRUNO CEZAR ROSSELLI MEDRI -

Gerente de Apoio Administrativo e de Normatização


UM ETERNO REVELAR

A História é constituída e construída, fundamentalmente, por vontades e ações de homens e


mulheres, gerando fatos e iniciando processos, no irrefreável escoar do Tempo. Revelá-la
fidedignamente, portanto, é tão difícil quanto encontrar as causas dos pensamentos que motivaram
as pessoas envolvidas.
Assim, dois sentimentos nortearam nossos trabalhos: O respeito às ações e obras dos que
nos antecederam, e a consciência de nossa limitação, na tentativa de retratar a mais exata realidade,
trazendo à luz a verdade.
Isso nos leva a uma feliz constatação: sempre faltará alguém ou algo!
Essa constatação foi, é e será, sempre, a indutora de uma constante procura pelos fatos e
circunstâncias e a correta identificação e valorização daqueles que foram seus autores e atores.
Será, também, a geradora de uma nobre insatisfação que, perenemente, levará os homens
e mulheres do futuro a continuarem este trabalho, eternizando-o.
Integrais, apenas, foram a nossa vontade de espelhar a grandiosa luta pela edificação de
Fernandópolis e a participação de pessoas, famílias e setores organizados de todos os estratos
sociais, legítimos parceiros de primeira hora.
Resta-nos, portanto, exaltar e agradecer ao Prefeito Luiz Vilar de Siqueira a nova
oportunidade oferecida para retomarmos a história de nossa cidade, bem como a todos que
colaboraram neste projeto, colocando seus corações, mãos e homenagens nas linhas desta obra.

CONSELHO EDITORIAL

Coordenador Geral: Jesiel Bruzadelli Macedo


Secretária: Iraci Pinotti
Adauto Donizeti Cassimiro José Antonio Alves da Silva
Amadeu Jesus Pessotta Moacir Molina
Celso Spósito Reynaldo Osvaldo Silva
Darci Aparecida da Silva Marin Rosa Maria Souza da Costa
Durval Aparecido Ramanholi Vanda Aparecida de Lima Costa
Edvaldo Ceraze Wandalice Franco Renesto
Humberto Cáfaro Filho Wônia Aparecida Franco Gomes
ESCLARECIMENTOS

Volume I – 1996

O primeiro volume do livro Fernandópolis - nossa história, nossa gente, lançado em 1996,
historiou, de forma analítica, dos primórdios da região e do município até 1951 – final do governo de
Líbero Silvares, primeiro prefeito eleito.

De 1952 a 1996, foram descritas, de forma sintética, as administrações municipais do


período: Edison Rolim (duas gestões), Adhemar Monteiro Pacheco, Percy Waldir Semeghini, Leonildo
Alvizzi, Antenor Ferrari, Milton Edgard Leão (duas gestões), Newton Camargo de Freitas (1ª gestão) e
Luiz Vilar de Siqueira (1ª gestão). Foram abordados 7 Temas/Artigos e 34 biografias.

(Nomes biografados no Volume I – 1996 )

Afonso Cáfaro Fernando Jacob Moacyr Ribeiro

Alberto Senra Francisco Leão Olívio de Araújo

Américo Messias dos Santos João Garcia Andrêo Padre Canísio

Antônio Tanuri João Lima Pedro Malavazzi

Antônio Brandini João Pereira Zequinha Percy Waldir Semeghini

Benedicto Cunha Joaquim Antônio Pereira Primo Angelucci

Carlos Barozzi José de Souza Coelho Saturnino Leon Arroyo

Cláudio Rodante Leonildo Alvizzi Silde Colagrossi Pessini

Emílio Mininel Líbero de Almeida Silvares Umbelina Aldelina Corrêa

Eulálio Gruppi Maria Simão Vicente Ferreira da Silva

Fernando Barbosa Lima Matsuo Yendo Waltrudres Baraldi

Wilfredo de Souza Nazareth

Volume II – 2012

Neste Volume II, consta a descrição analítica do período de 1952 a 1976 – do 1º governo Edison
Rolim ao de Antenor Ferrari, e a descrição sinótica das gestões 1997/2000 - Armando Farinazzo,
2001/2004 - Newton Camargo/Adilson, 2005/2008 - Rui Okuma/Ana Bim e 2009/2012 - Luiz Vilar.
São abordados 19 Temas, 73 Biografias e a seção Imagens da História(fotos).

Conselho Editorial
PARTE I

A HISTÓRIA
(1952-1976)
DEDICATÓRIAS

A
Osterno, que viveu e conhece esta história;
Adriane, Gisele, Ricardnho, Victor e Ricardo que são filhos da terra e a amam;
E Celso, de outras terras, para que também possa conhecer a nossa história.

Rosinha

À minha família: Oreste (marido), Carla, Patrícia e Ana Beatriz (Filhas),


Ismar e Humberto (genros) e os queridos Victoria, Amanda e João Augusto
(netos), que compartilham comigo de imensa alegria e orgulho em oferecer ao
povo de Fernandópolis um pouco de sua história.

Vanda
AGRADECIMENTOS

Funcionários da Câmara:
Vanda Regina de Rezende – Assistente Legislativa
Edna Rosi Tarláo – Assistente Técnico Legislativa

1º cartório Cível
Amauri Piratininga Silva – Diretor
Harlei Barreto Gomes – Oficial maior
Valdice Fernandes de Souza – Agente administrativa

Prefeitura
Bruno Cesar Rosselli Medri – Gerente de Apoio Administrativo e de Normatização
Iara Cristina Fuzari Perez – Assessora de Planejamento
Jéssica Guimarães da Silva – Supervisora de setor
Frederico A. Nossa Garcia – Escriturário

Arquivo Municipal
Júnio
FERNANDÓPOLIS: LIGAÇÕES INTERNAS E EXTERNAS, PERMANÊNCIAS E
RUPTURAS POLÍTICAS

Rosa Maria Souza da Costa


Vanda Aparecida de Lima Costa

Conhecer, entender, respeitar e preservar as raízes e a origem de um povo, comunidade ou


região é, sobretudo, garantir a esse povo a condição de existir e proteger a sua identidade,
valorizando e cultivando a sua história, facilitando o entendimento e a inserção das pessoas no
contexto histórico não só local, como regional e nacional.
A cidade de Fernandópolis é, atualmente, um espaço que privilegia o reconhecimento
sociocultural, no qual grupos numerosos e diferentes imprimem seus desejos, sua história e sua
identidade.
Este livro, o segundo volume de Fernandópolis - nossa história, nossa gente, não pretende
tudo identificar e relatar, mas é um trabalho que alarga, significativamente, o processo iniciado com a
publicação, em 1996, do primeiro volume. Neste primeiro trabalho, realizou-se uma visão da
ocupação da Alta Araraquarense e da fundação de Fernandópolis até o ano de 1951.
Na presente obra, como na anterior, não se procurou apenas fazer o levantamento de
fontes primárias (documentos públicos e privados, gravações e transcrições de depoimentos orais,
acervos iconográficos e fotográficos, escrituras, mapas e todos os tipos de documentação que
remetam aos vestígios do passado) e fontes secundárias (artigos e textos de relevância para a
pesquisa histórica, livros etc.), mas se abriu, também, um espaço para as lembranças, por meio de
depoimentos de pessoas, e para as fotografias na tentativa de, visualmente, ilustrar o passado. Isto
se deve ao fato de que, como bem enfatiza a equipe do Projeto Memória, “o fazer historiográfico
necessita estar permanentemente municiado de dados e informações que garantam o constante
diálogo entre o historiador e seu objeto de estudo” (BORZILLO; SILVA; COSTA, 1997).
Na continuidade da história de Fernandópolis, tal como na anterior, foi refletido e discutido o
significado social e político das fontes pesquisadas, indagando sobre as relações sociais, políticas e
ideológicas inscritas no processo de suas produções e de suas preservações. No momento da
discussão, sempre foi indagado e refletido sobre quem as produziu, quando, onde e em quais
circunstâncias. Não se procuram simplesmente autorias, nem meras datas ou fatos, mas, sim, elas
(fontes) expressam sujeitos históricos inseridos em uma rede de relações e acontecimentos que
abrem horizontes múltiplos, e referenciais com os quais se pode compreender o porquê dos
acontecimentos.
Com efeito, abordar o local, ligando-o aos efeitos amplos do processo histórico, não destoa
da proposta de análise associada à micro-história, mas a aperfeiçoa, conforme atesta Burke (2000),
quando afirma que cabe ao estudioso da micro-história demonstrar os vínculos entre as pequenas
comunidades e as tendências macro-históricas.
Tentando pensar a história de Fernandópolis em um tempus continuum (tempo em
continuidade), lembra-se que seus primórdios, já descritos no primeiro volume de Fernandópolis –
nossa história, nossa gente, remontam ao ano de 1938, ou mesmo anteriores, quando aqui aportaram
os pioneiros para a “colonização” das novas terras, desbravando sertões e implantando as nascentes
de uma cidade.
O primeiro volume perfaz, pois, o nascimento, a ocupação das terras, o alargamento dessa
ocupação para as primeiras povoações, a emancipação política da cidade nascente (1945), os
primeiros “gestores públicos” e início do processo democrático com a eleição do primeiro prefeito
Líbero de Almeida Silvares (1948), entre outras abordagens pertinentes já descritas até o ano de
1951.
A dar continuidade ao perfil temporal da cidade de Fernandópolis, optou-se por vê-lo gestão
por gestão, sem perder de vista, no entanto, o fio histórico que une determinada gestão à sua anterior
e à sua posterior e o percurso histórico do município ligando-o à macro-história.
O período da história de Fernandópolis que ora se analisa abrange os anos de 1952 a 1976,
com as gestões: Edison Rolim, período compreendido entre 1952 a 1955; Adhemar Monteiro
Pacheco, de 1956 a 1959; segunda gestão de Edison Rolim, de 1960 1963; Percy Waldir Semeghini,
período de 1964 a 1968; Leonildo Alvizzi, de 1969 a 1972 e Antenor Ferrari, de 1973 a 1976.
Para análise política, econômica, social e cultural do referido período da cidade de
Fernandópolis, faz-se necessário abordar a história local considerando a sua relação com a
conjuntura regional, estadual e nacional.
Assim é que, para a compreensão política do período ora estudado, há que se considerar o
cenário político-partidário do país.
17

Havia um grande número de partidos políticos, sendo o maior deles o Partido Social
Democrático (PSD). Esse partido esteve ancorado na máquina governamental do Estado Novo,
herdeiro direto dessa estrutura. Os membros que fundaram o partido devem ser vistos “como homens
íntimos ao trato com a coisa pública, ao conhecimento dos canais de ligação com diferentes esferas
do governo” (GOMES, 1994, p. 109).
Segundo Pandolfi (2002), no que se refere ao perfil ideológico do PSD, seria uma
composição dos interesses das oligarquias rurais e dos novos setores urbanos ligados à burocracia
estatal, possuindo o aval do próprio Getúlio Vargas, então presidente da República.
O quadro dos fundadores desse partido conta com vários interventores do Estado Novo tais
como Benedito Valadares (MG), Agamenon Magalhães (PE), Amaral Peixoto (RJ), Pedro Ludovico
(GO), Nereu Ramos (SC) e, entre eles, Fernando Costa (SP), interventor que visita esta região em
1943, promove a união das vilas Brasilândia e Pereira para que, juntas, pudessem ser inseridas como
município na nova divisão territorial do estado de São Paulo, - o que ocorreria em 1944. Em sua
homenagem, a cidade recebeu o seu nome (PESSOTTA et al., 1996, p. 44).
O PSD foi o partido presente em todos os municípios brasileiros nas eleições de 1945,
conseguindo eleger o presidente da República Eurico Gaspar Dutra.
Em Fernandópolis, a influência do partido se fez presente com a nomeação, em 1945, pelo
interventor Fernando Costa, do primeiro prefeito, Gumercindo Ferraz Frota, que, ao tomar posse,
profere um discurso de teor perfeitamente articulado ao ideário varguista. O referido discurso está
relatado em Pessotta et al. (1996, p. 47-49).
Após 100 dias da gestão Gumercindo Ferraz Frota, é nomeado novo prefeito, Miguel Dutra
da Silva, da mesma orientação política, que governa até 1947, quando se afasta para concorrer às
eleições municipais.
O terceiro prefeito nomeado foi Verginaud Mendes Caetano, este já apoiado pelo PSP,
partido de Adhemar de Barros.
Nas eleições de 1947, vence Líbero de Almeida Silvares (PSP), derrotando Miguel Dutra
(PSD) e José Maria Pascoalik (PCB).
Em âmbito nacional, o PSP e o PTB elegem, em 1955, Juscelino Kubistcheck para
presidente da República. Barbosa Lima Sobrinho, Tancredo Neves e Ulisses Guimarães foram alguns
dos importantes políticos que viriam a pertencer ao partido. O PSP, embora nacionalmente colocado
em quarto lugar, foi dominante no estado de São Paulo, tendo como liderança maior Ademar de
Barros, governador do Estado em dois mandatos. Com enorme influência em Fernandópolis, a ponto
de, por ocasião do golpe de 1964, a Câmara Municipal, que apoiava irrestritamente todos os atos do
governo militar, se dividir quando os líderes do PSP reagiram, indignados com a cassação do
mandato político de Ademar de Barros. Foram eleitos por esse partido os prefeitos Líbero de Almeida
Silvares e Percy Waldir Semeghini.
Outro partido importante foi a União Democrática Nacional (UDN). Apresentava um perfil
anti-Vargas, buscando conhecer-se por sua eterna vigilância contra a ditadura, e seu maior
representante foi Eduardo Gomes, tendo, ainda, como integrantes, Afonso Arinos, Carlos Lacerda,
Juracy Magalhães e Magalhães Pinto. A UDN apoiou a candidatura vitoriosa de Janio Quadros em
1960. Em Fernandópolis, em 1951, 1955 e 1959, em coligações com PSB, PSD e PR, apóia as
candidaturas vitoriosas de Edison Rolim, Adhemar Monteiro Pacheco e, novamente, Edison Rolim.
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi o terceiro maior partido da época. Assim como o
PSD, era situado do lado varguista. Foi esse partido que elegeu Getúlio Vargas presidente em 1950 e
João Goulart a vice-presidente em duas eleições seguidas, em 1955 e 1960. Quando ocorreu a
renúncia de Jânio Quadros, em 1961, João Goulart, que havia sido eleito vice-presidente pela
segunda vez, assume a presidência. Em Fernandópolis, na primeira legislatura (1952-1955), o PTB
foi um partido que elegeu cinco vereadores à câmara municipal e, junto aos 5 vereadores do PSP, fez
cerrada oposição à primeira gestão de Edison Rolim, que contava somente com quatro vereadores:
dois do PTN e dois da UDN.
Havia também o Partido Republicano (PR), Partido Democrata Cristão (PDC), Partido
Trabalhista Nacional (PTN), Partido Liberal (PL), Partido Social Trabalhista (PST), Partido Socialista
Brasileiro (PSB), Partido da Representação Popular (PRP), Partido Rural Trabalhista (PRT), todos
eles atuantes na cidade, apoiando, em coligações, candidaturas a prefeitos e elegendo vereadores à
Câmara Municipal, repetindo as coligações em esfera estadual.
A tabela 1 mostra os partidos políticos mais expressivos do período histórico estudado
(1952/76) e sua participação (assinalada com X) nas eleições em Fernandópolis:
18

Tabela 1 Partidos políticos participantes de eleições 1952-1976


Eleições Partidos
ano
1955 PSP PR PTB UDN PSB PDC PRP PSD PTN PL ARENA MDB
1959 x x x x x x x x
1963 x x x x x x
1968 x x
1972 x x
1976 x x
Fonte: As autoras, 2011.

Havia também, o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Esse foi o mais antigo do país,
fundado em 1922 e legalizado em 1945; entrou em ilegalidade em 1947, mantendo-se, no entanto,
com potencial de reestruturação e organização ao longo do tempo e obtendo a legalidade novamente
em 1979, com a Lei da Anistia. Esse partido era muito forte em Fernandópolis, tendo, em 1949,
organizado um levante agrário (PESSOTTA et al., 1996, p. 62-63, 280-310).
Os líderes do PCB, devido à situação de ilegalidade (do partido), filiavam-se a outros
partidos para poderem atuar politicamente. Esse foi o caso de nomes como Fernando Jacob, Alberto
Senra, José Maria Pascoalik, Antônio Alves dos Santos (Antônio Joaquim), José Antônio de
Figueiredo (Zé Cearense), João Thomaz de Aquino, Osvaldo Felisberto e Gerosino Pereira. Este
último não era político, mas atuante no partido.
É importante destacar que, já nesta década (1950), havia a participação feminina: Idalina
Maldonado, Anita Figueredo, Luiza Alves dos Santos, Avelina Pereira, que pertenciam a uma
Associação Feminina fundada na cidade pelo PCB. Embora a sociedade fernandopolense fosse, à
época, conservadora e, acentuadamente, de tendência machista, havia tentativas de atuação política
feminina, tais como as candidaturas à vereança, em 1956, de D. Leontina Conceição Siqueira
(concorrendo junto com Pacheco), D. Avelina Pereira e Elza Gomes (concorrendo com Neca Verdi).
Nenhuma delas foi vitoriosa, o que revelava o conservadorismo da sociedade de então.
De todos os partidos aqui atuantes, o PCB tinha uma ideologia de esquerda mais bem
definida; os outros ora se moviam de acordo com os interesses pessoais e econômicos, ora seguiam
lideranças locais ou estaduais.
O golpe militar de 1964 extingue todos os partidos políticos, suspendendo as eleições
majoritárias diretas para o executivo estadual e federal, e implanta o bipartidarismo: Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). As eleições municipais
permanecem diretas e os candidatos se movem em torno dos dois partidos (ARENA e MDB). A partir
do ano de 1980, voltou-se ao multipartidarismo, vigorando até os dias de hoje.
A Arena se caracterizou como partido da situação, ou seja, abrigou políticos que apoiavam
o governo e o regime militar. O MDB representou o partido que atuou como oposição consentida. A
adoção do bipartidarismo foi mais um artifício da ditadura a fim de dotar de feições democráticas o
regime autoritário.
EDISON ROLIM (1952/1955)

Foto 1 Edison Rolim, 1951. Foto 2 Adhemar Monteiro Pacheco, 1951.


Fonte: CDP/FEF, 2010. Fonte: CDP/FEF, 2010.

Após a sucinta análise do cenário político partidário nacional e estadual e voltando a


atenção para o cenário partidário em Fernandópolis, vê-se que, até a década de 1950, o PSP era o
partido dominante. Líbero de Almeida Silvares (1947/1951) havia sido eleito prefeito e, em seguida,
vereador, tendo também ocupado o cargo de presidente do partido local.
Líbero De Almeida Silvares era amigo e compadre de Ademar de Barros, político
populista, que instalou diretórios do partido em todos os municípios do estado. Essa estratégia
política valorizava o voto do povo do interior, enquanto a maioria dos líderes de outros partidos
construía suas plataformas eleitorais na capital do estado e adjacências.
Outros partidos que se faziam representar por políticos locais eram: UDN, PDC, PSD,
PSB, PTB, PTN, PR e PCB, mas, com menor força política, uma vez que os líderes desses
partidos em âmbito estadual e federal tinham menor representatividade no interior.
O Fernandópolis Jornal, estimulando a participação popular para as eleições que se
realizariam em 1951, organiza uma prévia (figura 3) com vários candidatos, representativas figuras
da sociedade local, e que estão discriminadas com os respectivos números de votos:

Figura 3 Prévia eleitoral organizada pelo jornal para as eleições de 1951.


Fonte: Fernandópolis Jornal, 1951.
20

Nota-se que nenhum dos nomes citados na prévia concorreu ao cargo de prefeito e de
vereador. Só se elegeram Líbero de Almeida Silvares e José, na verdade, João Pimenta.
As eleições realizadas em Fernandópolis em 1951 para o quatriênio 1952/55 foram
disputadas por Edison Rolim (PSB coligado à UDN) para prefeito e Adhemar Monteiro Pacheco
(PDC) para vice-prefeito (figura 4), contra Raimundo Noronha Batista (PSP) para prefeito e de
Manoel de Oliveira Verdi (Neca Verdi, também do PSP), para vice-prefeito.

Figura 4 Campanha de 1951 de Edison Rolim. (UDN/PSB).


Discursa Wilfredo Nazaré.
Fonte: Casari, 2010. (Arquivo particular)

A convenção do PSP, da qual fazia parte Líbero de Almeida Silvares, lançou como
oponente à chapa acima, Waltrudes Baraldi, presidente da Câmara de vereadores. No entanto, por
oposição da sua esposa, Odete, e de seu pai, Baraldi, não aceitou a indicação1:

O Baraldi tinha sido escolhido pela convenção do PSP pra candidato. Ele estava
muito popular, no auge da popularidade, tanto política, quanto profissional. Por
isso então, estava todo mundo entusiasmado, ele teria sido eleito tranquilamente
se tivesse sido escolhido candidato, e foi escolhido pela convenção (do PSP).
Eu era completamente contra a política em geral, não fui uma companheira ideal
para ele como político, não. Quando chegava a hora da campanha, da eleição, eu
tinha que participar, não podia ficar de braços cruzados e o marido aí
“apanhando”. Então, eu fazia o que podia, no momento. Mas antes, eu fazia tudo
para evitar...
O pai dele também não queria que ele aceitasse...
Me lembro daquela vez. Quem acabou sendo candidato foi aí aquele.... o doutor
Raimundo Noronha, lembra?...
Aí, ficaram todos muito bravos comigo... “O que você fez? acabou com o PSP!

Osvaldo Felisberto concedeu o seguinte depoimento2:

O Líbero lança o Raimundo Noronha Batista [figura 5], filho [era genro] do Selmo
Nazareth, lá de Rio Preto, um advogado, por ser candidato; um cara entojado,
ninguém gostava dele. Perdeu feio. Ganhou o Rolim

1
Entrevista concedida por Odete Baraldi às professoras Rosa Maria Souza da Costa, Áurea Sugahara e
Perpétua Matos Malacrida, em 22 de julho de 1996.
2
Entrevista concedida à profª. Áurea Sugahara, em julho de 1996.
21

Figura 5 Campanha de Raimundo Noronha Batista do PSP, em 1951. Discursa o líder


pessepista Adhemar de Barros; à direita, atrás de Noronha, o orador Sérgio
Cavariani.
Fonte: Casari (Depósito das Roupas), 2010. (Arquivo particular)

O professor Sérgio Cavariani (figura 5) era o orador oficial nos comícios que o PSP
realizava durante a campanha de Raimundo Noronha Batista, para prefeito. Os comícios sempre
encerravam com as palavras de ordem do professor, que ficaram na memória de Joaquim Melero
de Barros:

Com Raimundo, todo mundo.


Com Noronha ninguém se ponha.
Com Batista, vitória a vista!

Assim, o partido opta pela candidatura de Raimundo Noronha Batista, advogado e


professor, que, desde maio de 1950, era diretor nomeado do Ginásio Estadual de Fernandópolis e,
tendo vindo de São José do Rio Preto, já possuía propriedades na cidade. Embora lançado pelo
PSP, partido de Adhemar de Barros e do prefeito Líbero, políticos de grande prestígio, perdeu as
eleições para Edison Rolim, mudando-se a orientação política no poder executivo, embora, no
legislativo, o PSP continuasse majoritário.
22

Figura 6 Jânio Quadros e Edison Rolim, s/d.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

O período que antecedeu as eleições foi tumultuado, com várias discussões e acusações
de lado a lado, havendo, inclusive, brigas que resultaram em duas mortes. Segundo a Ata da 49ª
sessão da Câmara de Vereadores do dia 09/02/55, o então vereador Antonio Brandini, que havia
rompido com o prefeito Edison Rolim e apoiava a candidatura do vice-prefeito Adhemar Pacheco
para as eleições de 1956, referindo-se aos acontecimentos da campanha passada, disse: “[...] lutei
ao lado dele e, se não morri, foi por obra do acaso como aconteceu com dois pais de famílias que
morreram”.
Também sobre esses mesmos fatos, há os depoimentos de várias outras pessoas, dentre
as quais é citado o de Alberto Senra, relatado por Bizelli (1993, p. 203) em sua dissertação de
mestrado:

[...] eleição dura mesmo foi para prefeito de 1951... Nessa ocasião, disputavam a
prefeitura a turma nossa, do PSP, e a turma do Rolim... o Líbero silvares era presidente
do PSP, amigo do Adhemar de Barros já de longa data. E perdemos a eleição por erro
tático... perdemos para o Rolim que era um tipo simpático, popular, lidava com os
lavradores, era comprador de cereais... Eleições se perde por burrice [...] [na eleição]
acabaram morrendo dois coitados.

Há o registro de outro depoimento, o de Odete Baraldi, que também se referiu ao fato, em


entrevista concedida a Bizelli (1993, p. 203):

O pai dele (do Baraldi) também não queria que ele aceitasse. Tem gente que tem
medo da política, ainda mais lá naquele tempo. Assassinaram um correligionário
[nosso] em frente da [nossa] casa, né, nessa eleição.
23

Ainda, segundo o depoimento de Joaquim Melero Barros, que presenciou os


acontecimentos, a primeira tragédia resultou na morte de um militante do PSP que, após
desentendimento com pessoas da outra facção política, morreu esfaqueado no meio da Rua São
Paulo, em frente ao bar A Paulicéia, no centro da cidade. É certo que, também de acordo com o
imaginário popular, a primeira tentativa de matá-lo foi a bala, mas a arma negou por conta de
conhecidos “poderes” que lhe mantinham o corpo fechado. Diante disso, logo em seguida, uma
segunda pessoa o esfaqueou nas costas, o que lhe foi fatal.
A segunda tragédia, de acordo com a mesma fonte, teria ocorrido no centro da cidade, na
Rua Brasil, no bar do Cassio Vendramini, tendo como vítima um militante da UDN, que se
envolvera em discussões políticas com um militante do PSP, residente no bairro Brasilândia. Esse,
estando em desvantagem no entrevero físico, já caído e tendo sobre si o seu oponente, conseguiu
acionar o revólver que trazia na cintura e matar Agostinho.
Nessa época, com as condições de quase isolamento da cidade, havia a presença de
muitos aventureiros e impunidade, uma vez que o policiamento e a justiça ainda eram precários;
buscando precaver-se, as pessoas andavam armadas, o que facilitava, em muito, tais ocorrências,
principalmente no ardor das disputas políticas.
Os vereadores eleitos junto com Edison Rolim foram: Pedro Malavazzi (PSP), Francisco
Arnaldo da Silva (PTB), Arnaldo Bevilacqua, Edilberto de Araújo Pinho (PTB), Alberto Senra (PSP),
João Pimenta (PSP), Osvaldo Felisberto (PSD), João de Freitas Gonçalves Leite (PTN), Arnaldo
Rodrigues Neto (PTB/PSP), Olívio Araújo (PSP), Donato Marcelo Balbo (PTB), Alberto Eugênio
Dias (PTN/PTB), Antonio Brandini (UDN), João Pereira Zequinha (UDN) e Aziz José Abdo.
Analisando a constituição da Câmara eleita, verifica-se a grande oposição ao prefeito
(UDN, PSB e PDC) feita pela coligação PSP e PTB.
Durante o período de 1948 até o governo Ferrari, constata-se uma grande mobilidade na
Câmara, uma vez que os vereadores não eram remunerados e, muitas vezes, para cuidar de seus
interesses particulares, licenciavam-se ou desligavam-se, sendo substituídos pelos suplentes.
A posse dos eleitos se deu no dia 01/01/1952 e já no dia 06/02/1952, o prefeito Edison
Rolim elabora um ofício solicitando afastamento do cargo, uma vez que, conforme já relatado,
enfrentava oposição contundente da Câmara. No entanto, o afastamento não se concretizou e ele
governou até o fim de seu mandato sob forte pressão. Em Ata de 09/02/1955, a Câmara redige um
manifesto pedindo a renúncia do prefeito, que não foi concretizada.
Mesmo que a oposição tenha sido exercida sistematicamente, o governo Rolim realizou
obras que beneficiaram a vida da população. Uma realização de grande importância foi a
instalação da comarca em 1953.
24

A COMARCA

Fernandópolis e Votuporanga, em 1945, foram elevadas à categoria de municípios. Na


mesma data, porém, Votuporanga também se constituiu como comarca, à qual Fernandópolis ficou
subordinada.
A partir do governo Líbero de Almeida Silvares, inicia-se uma campanha envolvendo
políticos locais e deputados representantes da região para incluir Fernandópolis na nova divisão
Administrativa e Judiciária, o que se daria em 1948. A figura 7 revela o esforço desenvolvido por
políticos, representantes e autoridades da época para a criação da comarca de Fernandópolis.

A partir da esquerda: 1º - José Beran; 2º (não identificado); 3 º Francisco Arnaldo da Silva; 4º Líbero de
Almeida Silvares (prefeito); 5º (não identificado); 6º (não identificado); 7º (não identificado); 8º
(deputado Paulo Teixeira de Camargo?); 9º Waltrudes Baraldi, presidente da Câmara; 10º João Garcia
Andreo; 11º (não identificado); 12º Wagner Rodrigues Costa; 13º Deputado Yukishigue Tamura.

Figura 7 Em um restaurante em São Paulo, em 03/12/1948, comissão de autoridades


fernandopolenses para solicitar a criação da comarca.
Fonte: CDP/FEF, 2010.

Almejando alcançar seus objetivos, os vereadores fernandopolenses, na sessão da


Câmara Municipal de 01/12/1948, enviam ofícios aos deputados Cunha Bueno, Anísio José
Moreira e Solon Varginha, solicitando apoio para a criação da comarca. Votuporanga, que não
desejava o desmembramento; também se movimenta e trabalha com o deputado Gaunout
Châteaubriant, contra os interesses de Fernandópolis.
Dando continuidade à luta iniciada no governo de Líbero de Almeida Silvares, Edison
Rolim (figura 8), desde o início de sua gestão, dá especial atenção a essa reivindicação:
25

Figura 8 O prefeito Edison Rolim, vereadores e personalidades


locais visitam o Presidente da Assembléia
Legislativa, Cel. Astrubal da Cunha, vendo-se, ainda,
os deputados Paulo Teixeira de Camargo e
Yukishigue Tamura, reivindicando a criação da
comarca. Da esquerda para a direita: Yukishigue
Tamura, Paulo Teixeira de Camargo, Asdrúbal da
Cunha, Dr. Edilberto de Araújo Pinho e Edison Rolim.
Fonte: Revista Administrativa, 1958.

Figura 9 Nova comissão de autoridades fernandopolenses em


visita ao Governador do Estado, Lucas Nogueira
Garcez, para tratar da criação da comarca.
Fonte: Casari (Depósito das Roupas), 2010. (Arquivo particular)

Finalmente, a lei criando a Comarca, sob n. 1940, foi promulgada em 3 de dezembro de


1952, instalando-se a nova jurisdição em Fernandópolis em 25 de maio de 1953 (figuras 9, 10, 11 e
12) com a presença do Governador Lucas Nogueira Garcez e do Secretário da Justiça, Prof. José
Loureiro Júnior, sendo seu primeiro Juiz de Direito o Dr. Licínio Rocha von Pfuhl e Promotor
Público o Dr. Carlos Teixeira Leite.
26

Figura 10 Convite para a instalação da Comarca.


Fonte: CDP/FEF, 2010.

A jurisdição da comarca de Fernandópolis, na época de sua criação, estava assim


constituída de:
a) Municípios: Fernandópolis (sede), Estrela d´Oeste e Indiaporã;
b) Distritos: Pedranópolis, Macedônia, Brasitânia, Guarani d´Oeste, Meridiano;
c) Povoados: Santa Izabel, Dulcelina, Conde Prates, Ouroeste, Arabá e Santo Antônio.

Figura 11 O Governador Lucas Nogueira Garcez em


Fernandópolis por ocasião da instalação da
comarca em 1953.
Fonte: Warner Casari (Depósito das Roupas), 2010.
(Arquivo particular)
27

Figura 12 O juiz de Direito Dr. Joaquim Rebouças de Carvalho


Sobrinho e o Promotor Theófilo de Oliveira e Souza
Filho. Fonte: O Município, 1959.

Figura 13 Dr. Joaquim Rebouças de Carvalho


Sobrinho, Juiz da 150ª Zona Eleitoral.
Fonte: O Município, 1959.

O juiz Joaquim Rebouças de Carvalho Sobrinho (figura 13) foi muito considerado pela
população por ser o primeiro a ficar morando mais de quatro anos na cidade. Na época, a comarca
ficava isolada dos grandes centros e, em razão disso, apresentava muitas dificuldades; por esta
razão, bem poucos eram os juízes que se sujeitavam a vir para o então considerado “sertão”. O Dr.
Joaquim era solteiro e ficou por aqui cerca de quatro anos, sempre envolvido com o acúmulo de
serviço da comarca e liderando várias campanhas filantrópicas em prol da Santa Casa, Casa da
Criança (hoje Centro Social de Menores) e Igreja Matriz.
Liderou, também, em 1958, uma campanha para aumentar o número de votantes da
comarca que, à época, era de menos de quatro mil eleitores. A comarca de Fernandópolis era
muito extensa abrangendo três municípios, vários distritos e povoados com diminuto número de
eleitores, o que comprova uma verdadeira indiferença do povo do município em se alistar para
exercer o direito do voto.
Através de acordo com o Executivo local, foi traçada a meta de se alcançarem 12.000
eleitores. Usando todos os meios permitidos por lei, facilitou a inscrição dos eleitores, poupando-
lhes tempo, dinheiro e dispensando sua vinda à cidade para tal motivo, uma vez que um
funcionário devidamente autorizado pelo Juiz Eleitoral, acompanhado de um fotógrafo, percorreu
toda a cidade, casa por casa promovendo o alistamento.
Para cada distrito do município também foi nomeado um Juiz Preparador e um fotógrafo,
para que, em datas pré-determinadas, se fizesse a inscrição “in loco”.
A imprensa colaborou fazendo a necessária cobertura publicitária (figura 14). Dísticos
alusivos ao alistamento foram enviados aos jornais pelo Juízo Eleitoral, para divulgação da
campanha do voto:
28

Figura 14 Divulgação da campanha do voto em 1958 e Fernandópolis.


Fonte: O Município, 1958.

O esforço despendido resultou em vitória com significativa elevação do colégio eleitoral


do município, que alcançou a cifra de 11.542 eleitores, assim distribuídos na Comarca:
Municípios: Fernandópolis, 5.740; Estrela d’Oeste, 3.653 e Indiaporã, 2.149; Distritos e povoados:
Meridiano, 421; Pedranópolis, 337; Macedônia, 511; Brasitânia, 262; Guarani d`Oeste, 405;
Arabá, 77; Brasilândia, 241; São João das Duas Pontes, 309; Turmalina, 456; e Populina, 1.019.
Realizações significativas marcaram positivamente o nome do juiz Rebouças de Carvalho
na história de Fernandópolis. No entanto, vivenciando nos tempos atuais as várias investidas do
governo federal no sentido de tolher a liberdade de imprensa, constata-se, por meio de uma
publicação no Jornal O Município, de 04/06/59, que o juiz Rebouças proíbe a exposição e venda de
periódicos nacionais e internacionais na comarca de Fernandópolis. Determinou também a
apreensão de exemplares que já estivessem expostos.
A determinação do Juiz estava respaldada pela lei nº 2083 de 12/11/53, que lhe facultava
o direito de declarar quais as publicações eram de caráter obsceno e impedir a sua circulação.
A cópia da lei e da determinação do juiz foi remetida aos prefeitos municipais de
Fernandópolis, Estrela d’Oeste e Indiaporã, ao promotor de Justiça da comarca, aos presidentes
das câmaras municipais, aos delegados de polícia e às autoridades escolares.
Nos documentos e jornais da época analisados não se encontra repercussão negativa
frente a esta atitude demonstrando uma sociedade altamente conservadora.
O que pode parecer estranho é que a relação das revistas encaminhadas pelo juiz às
autoridades, dificilmente poderiam estar expostas em bancas das pequenas cidades como
Fernandópolis, Estrela d`Oeste e Indiaporã, especialmente as revistas internacionais.
Em 1958, inicia-se a campanha pela elevação da nossa comarca à 2ª Entrância. Foi
constituída a “Comissão Pró 2ª Entrância”, formada pelos senhores Dr. Benito Mussolino, Dr.
Fernando Jacob, Waldomiro Renesto e Paulo Gonçalves de Oliveira. Por essa época, já havia sido
apresentado um projeto na Assembléia Legislativa sobre o assunto.
Dando ênfase maior à campanha, o Dr. Delson Pinheiro Curty, advogado atuante na
cidade, foi incumbido de redigir um memorial, enviado ao Tribunal de Justiça do Estado, traduzindo
o extraordinário movimento forense de Fernandópolis, sua pujança econômica, seu colégio
eleitoral, seu desenvolvimento social e cultural. Foi encarregado, também, de encaminhar uma
certidão do 2º Tabelionato que dava conta do grande movimento de feitos existentes na comarca.
Em 1969, o prefeito Leonildo Alvizzi, através da Portaria nº 85/69, constitui nova
comissão formada por José Pontes Junior, José Marrara, Jair Rodrigues (advogados), e Sebastião
Ferraz de Carvalho e Antonino Sérgio Guimarães, acadêmicos de direito, destinada
especificamente a tomar todas as iniciativas e diligências junto à Secretaria da Justiça, Governo do
Estado e Tribunal de Justiça, no sentido da concretização definitiva da 2ª Vara no Fórum local.
Para tanto, fazia as seguintes considerações:
a) impressionante o volume de processos em tramitação no fórum local;
b) a solução dos litígios demanda tempo acarretando prejuízos para os litigantes e descrédito ao
Poder Judiciário;
29

c) as autoridades que estão à frente do Poder Judiciário local se vêem obrigadas a excessivas
horas de trabalho, tendo prejudicados o indispensável repouso e a tranquilidade;
d) há alguns anos, foi criada a 2ª vara Judicial, junto ao Fórum local;
e) recentemente, o governo estadual, na nova lei de Organização Judicial do Estado, extinguiu
praticamente todas as varas judiciais criadas e não instaladas até a data de sua promulgação,
mantendo, em caráter excepcional, apenas as 2ªs varas de Fernandópolis e Americana;
f) Fernandópolis, dada sua condição de cidade centro de região, contribuindo aos cofres públicos
com enorme parcela de tributos, não compensada proporcionalmente pelos serviços públicos
recebidos, não pode abrir mão, de forma alguma, da possibilidade concreta de conseguir, junto ao
Poder Judiciário do estado, a instalação, com urgência, da 2ª Vara Judicial.
Porém, essa conquista só vai ser conseguida no governo de Antenor Ferrari (1973/76)3.

Outros feitos do primeiro governo Rolim

Também do governo Rolim foram: a ampliação do patrimônio adquirindo terrenos para a


instalação do Ginásio Estadual de Fernandópolis, construção da Cadeia Pública e Delegacia de
Polícia, estádio municipal, quadras de esportes e pista de pouso de aviões. Adquiriu maquinários e
implementos para abrir e preservar estradas, construir pontes e mata-burros a fim de facilitar,
sobremaneira, a vida da população, especialmente, a população rural, melhorando a infraestrutura,
permitindo o escoamento de produtos e ligando a cidade a outras regiões e estados limítrofes4. É
em sua gestão que ocorre a instalação da Companhia Telefônica de Rio Preto5
Os feitos do governo Rolim foram reconhecidos pela população, que o reelegeria para o
quadriênio 1960/63.

3
Sobre a conquista da 2ª Vara Judicial, conferir explanações do governo de Antenor Ferrari desta seção.
4
Para maiores detalhes sobre a urbanização e equipamentos urbanos oferecidos à população pelo governo
de Edison Rolim, ler o artigo O processo de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, no final
desta.
5
Para maiores informações, ver equipamentos urbanos implantados no espaço onde se formou a cidade de
Fernandópolis (1938/1980), item 3 (telefone), em O processo de formação do espaço urbano em
Fernandópolis até 1980, no final desta seção.
ADHEMAR MONTEIRO PACHECO (1956/1959)

Figura 15 Adhemar Monteiro Pacheco Figura 16 Chafi Marão


Fonte: EELAS, 1975. Fonte: EELAS, 1975.

O segundo prefeito eleito, dentro da década de 1950, foi Adhemar Monteiro


Pacheco (figura 15), tendo como vice-prefeito Chafi Marão (figura 16), pela coligação PDC,
PSD, PSB e PDN, derrotando novamente o PSP, que era o partido dominante na cidade.
Governou no período de 1956-1959.
Pela outra facção, formada pelo PSP e PR, concorreram Manuel de Oliveira Verdi
para prefeito e Waltrudes Baraldi para vice-prefeito, que perderam o Executivo, mas
mantiveram a maioria no Legislativo, que persistiu na oposição, embora de forma não tão
contundente como ocorrera contra o governo anterior de Edison Rolim.
Durante a campanha eleitoral, populares faziam versos que eram cantados nos
comícios, tais como os citados abaixo, rememorados pelo advogado Paulo Barbosa:

Dia três de outubro


Eu vou dar o meu voto
Com sinceridade
Porque o Neca Verdi é bom
E também o Baraldi.

Os eleitos para a Câmara de vereadores no governo de Pacheco foram:

Alberto Senra (PSP)


Antonio Fuentes (Fontes) Gomes (PSB)
Argemiro Scavazzini (PSP)
Marcelo Donato Balbo (PDC)
Edison Rolim (PSB)
Fernando Jacob (PSP)
Jerônimo Martins de Araújo (PSD)
Manuel da Silveira Moraes (PSP)
Mario Martins (PR)
Olímpio de Marchi (PDC)
Olívio Araújo (PSP)
Osvaldo Michelutti (PDC)
Octávio Gomes Garcia (PSP)
Pedro Malavazzi (PSP)
Ernesto Nogueira (PSB)
31

Assim como a Câmara constituída na legislatura anterior, esta também não se


mantém inalterada em sua composição, uma vez que havia muitos pedidos de licença ou
mesmo de renúncia com a finalidade de os vereadores cuidarem de afazeres particulares.
Vê-se, por sua composição, que a oposição, formada pelos partidários do PSP e PR,
continuou sendo a maioria; no entanto, o prefeito Pacheco não encontra uma oposição tão
acirrada como o seu antecessor.
Pode-se atribuir esse fato a três motivos: Pacheco havia sido vice-prefeito atuante no
governo anterior, conhecendo bem os meandros da política, o que pode ter facilitado sua
gestão; em segundo lugar, tinha maior influência e trânsito entre seus adversários políticos;
finalmente, sucederam-se inúmeras inaugurações de obras que haviam sido iniciadas nos dois
governos anteriores e que, entregues à população, davam a todos, povo e políticos,
expectativa de progresso e desenvolvimento.
Na administração Pacheco, é dado início à abertura de galerias de esgoto e
pavimentação da cidade. Segundo depoimento de Nélson Rodrigues Cunha, esses fatos
caracterizam sua gestão, embora conquistas importantes, como incentivo à educação e à
6
saúde, também marcaram seu governo .
A Escola Normal Municipal (ENM)7, que entrou em funcionamento no seu governo, já
era discutida desde 1954. Nessa data, na 40ª sessão da câmara dos vereadores, foi discutido o
veto do prefeito da época, Edison Rolim, à Lei 02/54, que criava a Escola Normal Municipal. A
justificativa do veto foi a de que a manutenção da ENM oneraria os cofres públicos. A respeito
desse assunto, o vereador Wagner Rodrigues Costa sugere a cobrança de taxas. Tanto o veto
do prefeito quanto a cobrança de taxas foram vencidos na votação da câmara por 9 a 4 votos.
Nesse dia, a câmara estava repleta de populares interessados na criação da escola
por dois justos motivos: os normalistas de Fernandópolis tinham que viajar de ônibus nas
precárias estradas para frequentar aulas em Votuporanga e leigos lecionavam nas escolas
primárias do município, por falta de professores habilitados.
Mesmo com toda a pressão da comunidade e trabalho de muitos vereadores, a ENM
só veio a ser instalada e entrou em funcionamento em 1956. A Lei n. 02/56, de 22/05/56,
autoriza a prefeitura a contratar pessoal necessário à constituição do corpo docente: o inspetor
Álvaro Duarte de Almeida, a diretora Zilda Hernandes, o secretário Dante Esmerini, a inspetora
de alunos Aparecida Coleto e os professores Wônia Aparecida Franco (Sociologia), Zuleika
Scalope (Educação Artística), Armando Glaucos dos Santos (Biologia), Aylton Modesto
(Pedagogia), Márcia Gavião Pres de Mendonça (Prática de Ensino), Odete Baraldi (Música) e
Fernando Jacob (História da Educação).
No mesmo ano de 1956, transferidos de Votuporanga, 14 alunos formam a primeira
turma da ENMF. A escola funcionava na Av. Expedicionários Brasileiros, nº 810, onde hoje é o
prédio da Wells, prédio cedido para uso da municipalidade pelo Professor Fernando Barbosa
Lima, diretor da Escola Técnica de Comércio. A ENMF funcionava no período da manhã e a
escola de Comércio à noite.
Essa turma teve como paraninfo o prefeito Adhemar Monteiro Pacheco e, já no ano
seguinte (1957), vários dos formandos (figura 17) são contratados para lecionarem nas escolas
municipais, uma vez que a falta de professores habilitados era grande:
1- Wilmar Martins da Silva - Fazenda Fraga
2- Celso Agrelli - Fazenda Trindade
3- Idelma Martins Dias - Escola Municipal de Ouroeste
4- Nair Motta - Fazenda Santa Alice
5- Cleide Motta - Fazenda Santa Adélia
6- Maria Aparecida Brandini - Fazenda do Córrego das Pedras
7- Míriam Ribeiro - Fazenda Simonati
8- Ena Fonseca - Fazenda Córrego do Pulador
9- Ruth Silva - Fazenda Córrego da Gralha

6
Ver também fotos e informações referentes ao processo de formação do espaço urbano, em O processo
de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, no final desta seção.
7
Antes da instalação da ENM, já existia a Escola Técnica de Comércio de Fernandópolis, dos irmãos
Fernando e Cícero Barbosa Lima, funcionando na Avenida Expedicionários Brasileiros. Era uma escola
técnica profissionalizante que formava auxiliares de escritório (5ª a 8ª séries) e técnicos em contabilidade
(1º a 3º colegial). Em 1965, quando o curso normal noturno gratuito passou a funcionar, fechou. Os
alunos protestam e, pressionada, a prefeitura assume a escola nomeando diretor a Cecílio Pistelli, ex-
contador da prefeitura. Através da Lei nº 2/65, criou-se e instalou-se o Colégio Comercial Municipal de
Fernandópolis.
32

10- Leida Neusa Benini - Fazenda Catalano


11- José da Silveira (Nhandeara)
12- Wladimir Costa (Monte Aprazível)
13- Maria Auxiliadora Lellis de Barros (escola estadual)
14- (sem foto)

Os quatro últimos professores vieram de outras cidades para lecionarem em


Fernandópolis, mas, no final do período letivo, retornaram às suas cidades. As figuras 18 a 21
mostram turmas formadas posteriormente à primeira turma pela ENMF e atividades de que
participavam. A figura 22 lembra três professoras formadas pela primeira turma da ENMF.

Figura 17 Quadro comemorativo da formatura da 1ª turma da


ENMF, 1956.
Fonte: EELAS, 2011. (Foto das pesquisadoras)

Figura 18 Segunda turma formada pela ENMF, 1957.


Fonte: EELAS, 2011.
33

Figura 19 Grupo de normalistas da ENMF, s/d.


Fonte: EELAS, 2011.

Figura 20 Desfile de normalistas em 22/05/1958.


Fonte: EELAS, 2011.
34

Figura 21 Time de futebol da ENMF, 1958.


Fonte: Casari, 2011.

Em 27/12/58, pela Lei n. 5075/58, a ENM passa a ser administrada pelo Estado,
unindo-se ao Ginásio Estadual com o nome de Colégio Estadual e Escola Normal de
Fernandópolis.

Figura 22 Foto atual de três normalistas das primeiras turmas da


ENMF; a partir da esquerda: Irma Motta Delpino, Leonor
Nazareth Fares (a professora da turma), Noêmia Sano e
Cleide Motta Barros.
Fonte: Clínica, 2011.

Pacheco inaugura, em 1956, a Santa Casa, idealizada já no governo Líbero Silvares,


quando foi efetivada a doação do terreno e se iniciaram as primeiras campanhas para
arrecadação, e construída no período de 1951 a 1955, sob sua supervisão e direção (figura 23,
24 e 25)8.

8
A respeito da Santa Casa, ver mais detalhes na seção de Artigos (Parte II) desta obra.
35

Figura 23 Obras de construção da Santa Casa de Fernandópolis, 1957.


Fonte: Revista, 1957a.

A inauguração da Santa Casa em 1956 foi um evento que repercute favoravelmente


na população, que, a partir daí, pode contar com uma bem aparelhada instituição para cuidar
de sua saúde e médicos, tais como o próprio Adhemar Pacheco, Alberto Senra, Labieno
Mendonça, Antonio Viçosa Moreira Resende, Osmar Almeida Luz, Waltrudes Baraldi, além do
operador do aparelho de raios-X, Nelson Rodrigues Cunha. A respeito do aparelho de raios-X,
Nelson Rodrigues Cunha faz um interessante depoimento:

Eu cheguei aqui em 1954 e vim a pedido de quatro médicos: Dr. Adhemar


Monteiro Pacheco, Dr. Alberto Senra, Dr. Waltrudes Baraldi e Dr. Theodósio
Dério Semeghini. Eles me conheciam através do serviço que eu prestava em
Rio Preto. Na Rua Quinze, eu tinha um aparelho de raio-X que fazia vários
tipos de serviço. Era um serviço completo. Eles mandavam todo o serviço pra
mim lá. Eu fazia a radiografia e depois fazia o laudo e enviava para cá. Eles
gostavam do meu serviço e me convidaram para vir trabalhar aqui. E eu
perguntei se tinha luz elétrica. Eles disseram que tinha, mas era muito
precária. Era uma luz que não funcionava nem uma geladeira. Aqui tinha um
serviço de energia prestado pelo Alcides, farmacêutico. Era muito precário
porque, quando chegavam as onze horas, antes das onze, ele dava uma
piscada na luz. Era um tomatezinho. Aquilo lá não clareava nada.
Quando me convidaram para vir aqui, a Santa Casa estava em fase de
construção. O prefeito era o Rolim e o vice o Dr. Pacheco, e era ele quem
comandava a construção. Mas o que eu fiz lá na Santa Casa? O Dr. Ademar
me pôs para fiscalizar a construção. Eu disse: - O que é de mais urgência?
[Respondeu:] - É uma sala de cirurgia e uma sala para o raio-X, que eu vou
trazer o aparelho de Rio Preto para cá. Mas essa luz que tem aqui não
funciona o meu aparelho.
Então, eu fui no Tarraf e comprei um conjunto gerador de origem
dinamarquesa que dava a luz para a sala de cirurgia e para a sala de raio-X.
9
[...] eu também comprei mais um conjunto gerador que o Juliano Voltarelli ,
que era o farmacêutico, me dava uma mão maravilhosa. E nós fomos buscar
a Vera10 em uma cidade11 perto de Catanduva, a pedido do Dr. Pedro12. Ela
trabalhou como enfermeira, até o ano passado, na Santa Casa. Então as
salas eram iluminadas pelos geradores. Um desses geradores era acionado
por bateria, e o auxiliar, esse era de manivela. Uma manivela me bateu na
cabeça e teve um afundamento e eu caí. Mas, felizmente, o Juliano
apareceu, me socorreu, deu partida e ele pegou.

9
Juliano Voltarelli, farmacêutico da Santa Casa.
10
Vera Tripeno Fernandes, enfermeira.
11
A cidade a que o depoente se refere é Itápolis, estado de São Paulo.
12
Dr. Pedro (não identificado).
36

Até então a prefeitura de Fernandópolis tinha que enviar verbas para a Santa Casa
de Misericórdia de São José do Rio Preto, para a de Tanabi e para o leprosário Aimorés, de
Bauru, para que essas recebessem os pacientes enviados pela municipalidade.

Figura 24 A Santa Casa, já construída em 1956.


Fonte: Revista, 1957b.

Figura 25 Sala de cirurgia da Santa Casa de Fernandópolis, 1957.


Fonte: Revista, 1957b.

Ao longo de todos os anos desde 1956, a Santa Casa tem recebido a atenção de
todas as administrações e, hoje, ela é referência no atendimento de saúde não só da
comunidade de Fernandópolis, mas também da região e dos estados limítrofes13.
Ao colaborar com a construção da Santa Casa, o prefeito Pacheco baseou-se na
experiência obtida quando da construção, em 1949, da Casa de Saúde Nossa Senhora das
Graças (figura 26), hoje, Central da Saúde, localizado na Avenida Milton Terra Verdi, primeiro
hospital de Fernandópolis, em sociedade com os colegas que clinicavam na cidade: Alberto
Senra, Waltrudes Baraldi, Antonio Viçoso Moreira de Resende e Osmar de Almeida Luz.

13
Esta obra contempla um estudo sobre a Santa Casa, sua origem e evolução até os dias atuais. Para
maiores detalhes sobre o hospital, conferir a seção II, de Artigos.
37

Figura 26 Casa de Saúde Nossa Senhora das Graças.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Logo após o término de seu mandato, em 1960, Pacheco e os colegas médicos João
de Carvalho, José Anézio Faleiros e o radiologista Nelson Rodrigues Cunha inauguram o
Hospital das Clínicas (figura 27), na Avenida Expedicionários Brasileiros, onde trabalha por
dois anos, afastando-se para exercer seu mandato de deputado estadual.

Figura 27 Hospital das Clínicas.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

A construção dos três hospitais deu-lhe o epíteto de “Construtor de Hospitais”.


Ao final do governo Pacheco, mantém-se uma orientação política com a eleição de
Edison Rolim pela coligação PSD, PR, PDC e UDN.
EDISON ROLIM (1960-1963)

Figura 28 Edison Rolim – prefeito Figura 29 Pedro Malavazzi - vice-prefeito


Fonte: EELAS, 1975. Fonte: EELAS, 1975

Para o quadriênio de 1960 a 1963, Edison Rolim (figura 28) é novamente eleito prefeito de
Fernandópolis pela coligação PSD, PR, PDC e UDN, derrotando a coligação do PSP-PRP e PTN,
que apoiou Percy Waldir Semeghini. Para vice-prefeito foi eleito Pedro Malavazzi (figura 29) do PSP.
Os vereadores eleitos para esse quadriênio foram:

Osvaldo de Arruda Mendes (PR)


Antonio Brandini (UDN)
André Malavazzi (PDC)
Antonio Marin (PSP)
Antonio de Freitas (PR)
Carlos Giacomini (UDN)
Gentil Franco de Almeida (PSP)
José Nunes de Oliveira (PTB)
Ramon Godoi (PDC)
Shuitti Torri (PR)
Ademar Monteiro Pacheco (PDC)
Arnaldo Tondelli (PDC)
Benito Mussolino (PR / PSD)
Serafim Martins (PR /PSD)
Fernando Jacob (PSP)

A década de 60, que se inicia com o segundo governo de Edison Rolim, já reflete um maior
crescimento demográfico; no entanto, ainda possui uma população rural superior à urbana: 21.157
habitantes na zona rural contra 16.083 habitantes na cidade (IBGE apud BIZELLI, 1993). As
atividades agropecuárias e agrícolas também suplantam às do comércio e indústria.
As Atas das sessões da Câmara do período de 60/63 demonstram a preocupação dos
vereadores de que, em requerimentos e indicações, solicitam providências em referência a reparos
em estradas, pontes, mata-burros.
Pedem também providências para que comerciantes e particulares não deixem detritos e
lixos espalhados pelas calçadas, que o poder público solucione os problemas de cães vadios que
infestam a cidade, que se capine e apedregulhe o campo de aviação.
39

Figura 30 Aeroporto de Fernandópolis na década de 1950.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

A Indicação n. 14/60, de autoria do vereador Benito Mussolino, lavrada em ata da reunião


da Câmara Municipal do dia 1º de abril de 1960, dá uma idéia de como a cidade ainda não dispunha
de infraestrutura, e a preocupação dos políticos era dotá-la do mínimo possível para que a população
vivesse mais confortavelmente: “solicito ao prefeito municipal que tome providência no sentido de por
cobro à fedentina que expande das privadas localizadas no fundo da Rodoviária”.
Na mesma ata, por iniciativa do vereador Gentil Franco de Almeida e por decisão unânime
do plenário, foi aprovado o Projeto de Lei n. 4/60, dispondo sobre a construção de um mictório público
na Praça Joaquim Antonio Pereira. O referido projeto beneficiaria a população rural que,
necessitando vir à cidade resolver problemas nos bancos ou em compras no comércio, poderiam
frequentar o mictório público.
O mesmo vereador, em ata do dia 05/04, faz a Indicação n. 15/60, no sentido de se proibir
o trânsito de boiadas na Avenida União. Eram preocupações de uma cidade fundamentalmente rural
em uma região ainda considerada “sertão”.

Jornal “ O Município”dia 04/01/59

Figura 31 Jornal indicando o horário de partidas de trens.


Fonte: O Município, 1959.

Em contrapartida, há esforços para dotar a cidade de benefícios que facilitassem a vida da


população e que, uma vez realizados, dariam à cidade um aspecto de maior desenvolvimento urbano.
Há perfuração de poços semiartesianos na tentativa de resolver os problemas de abastecimento de
água, a luta pela expansão e melhoria da energia elétrica e da rede de telefonia14.
Os dados (tabela 1) sobre a infraestrutura da cidade de Fernandópolis nas décadas de
1960/70 demonstram a veracidade do que acima foi exposto.

14
Essas lutas estão, em parte, explicadas na seção II desta obra, sob o tema O processo de formação do
espaço urbano em Fernandópolis até 1980.
40

Tabela 1 Infraestrutura na cidade de Fernandópolis (1960-1970)


Censo 1960 1970
Número de domicílios 7.274 7.481
Com ligação de água na rede geral 474 2.635
Poços ou nascentes 5.683 4.170
Com ligação na rede de esgoto 289 1.321
Fossa séptica 382 276
Fossa rudimentar 3.957 5.272
Outros 262 38
Com ligação na rede elétrica 1.829 4.705
Fonte: IBGE (Censo Demográfico 1960/1970), 1971.

O comércio, dentro da referida década começa também a dar mostra de se estender além
das ruas centrais (São Paulo e Brasil) e, nas avenidas Expedicionários Brasileiros e União (atual
Líbero de Almeida Silvares) começam a se instalar escritórios de advocacia, clínicas médicas,
consultórios odontológicos, concessionária de automóveis, caminhões e tratores, oficinas mecânicas
(BIZELLI, 1993).
Já ocorre um fluxo mediano de carros e ônibus que circulam na cidade, na zona rural e
cidades vizinhas, principalmente os ônibus que transportam os jovens todos os finais de tarde para as
faculdades de São José do Rio Preto, Votuporanga e Jales, uma vez que a cidade demandaria até
1984 para instalar sua primeira instituição de ensino superior, a Faculdade de Enfermagem e
Obstetrícia.
Vários outros benefícios foram realizados, objetivando o desenvolvimento da cidade, tais
como: construção dos prédios do Paço Municipal, na Rua São Paulo, n. 536, e os da Caixa
Econômica Estadual e Banco do Brasil (figuras 32 e 33)

Figura 32 Agência do Banco do Brasil.


Fonte: EELAS, 1974.
41

Figura 33 Primeiro funcionários da agência do Banco do Brasil em


Fernandópolis
Fonte: EELAS, 1974.

As duas instituições bancárias facilitam sobremaneira tanto à prefeitura como ao comércio e


à lavoura a obtenção mais ágil de empréstimos e financiamentos para a realização de outros
benefícios para a cidade e investimentos para seus negócios.
Entre os benefícios, o Fernandópolis Jornal do dia 13/03/60 noticia a inauguração da bitola
larga da EFA, no trecho de Votuporanga a Santa Fé do Sul, passando por Fernandópolis. Na ocasião,
estava presente o Governador do Estado, Carvalho Pinto, que recebeu o título de Cidadão
Fernandopolense.
O feito trouxe euforia para a população que, a partir daí, necessitando-se locomover para
outros centros, teria uma viagem mais rápida e sem as baldeações que se faziam em Votuporanga.
Ainda em 18/09/1960, instala-se a Casa das Irmãzinhas de Assunção, que ficou sobre a
direção da Irmã Margarida (figura 34).
42

Figura 34 Casa das Irmãzinhas da Assunção em construção, 1960.


Fonte: EELAS, 1974.

Em outubro do mesmo ano (02/10/1960), foi instalado o Serviço de Assistência Médica


Domiciliar de Urgência. Era assistência gratuita, e os doentes eram transportados em uma
ambulância Ford 1960. Esse serviço foi instalado pela ação de políticos locais junto ao vice-
presidente da República, João Goulart, e do deputado estadual Wilson Lapa. Oferecem assistência
médica gratuita os médicos: Osmar Luz, Teodósio Semeghini, Waltrudes Baraldi, Antonio Garcia
Pelaio e Acrísio de Oliveira.
O Fernandópolis Jornal de 1961 noticia, ainda, a inauguração do Hospital das Clínicas pelo
médico Adhemar Monteiro Pacheco, que, na ocasião, era vereador e presidente da câmara. No
mesmo dia da inauguração, 16/09/1961, ele lança sua candidatura a deputado estadual.
A inauguração de uma nova instituição para cuidar da saúde da população fernandopolense
serviu para amenizar, em parte, a decepção provocada pelo Projeto de Lei 1558/59, publicado em
02/07/61, preterindo Fernandópolis a Jales para a instalação da Delegacia Regional de Ensino. O
governador do estado, Carvalho Pinto, justifica a escolha pelo fato de Fernandópolis estar muito perto
de Votuporanga, onde já existia uma Delegacia Regional em pleno funcionamento, reiterando que a
região geográfica de Jales era, de fato, a mais indicada para receber o benefício.
Esse fato repercute negativamente na cidade, e políticos e imprensa (escrita e falada) se
15
reúnem no Cine Fernandópolis (08/07/60) para debater sobre os problemas do município e cobrar
do prefeito e do deputado da região, Wilson Lapa, ação mais contundente junto às autoridades
estaduais e federais.
Outro fato que repercute negativamente é a perda da sede da diocese também para Jales.
Desde 1947, quando começam os preparativos para a construção da igreja matriz, havia a
expectativa de que Fernandópolis seria a sede de bispado. A construção da igreja demandou um
período de mais de dez anos, pela grandiosidade da obra.
Pari passu à construção do templo, assiste-se à luta de pessoas de variados setores
objetivando desmembrar Fernandópolis da diocese de São José do Rio Preto, possibilitando-a ser
sede do bispado. A cidade, na região, possuía as melhores condições para concretizar sua
pretensão.
O jornal O Município, de 20/02/58, deu ciência à população de que uma comissão foi
formada uma semana antes para ir ao encontro do bispo diocesano D. Lafaiete Libânio para
demonstrar-lhe a preponderância de Fernandópolis sobre Jales, inclusive e principalmente pela
construção do templo em fase de conclusão.
Da referida comissão participaram: Joaquim Rebouças Sobrinho (juiz de direito), Adhemar
Pacheco (prefeito municipal), Pedro Malavazzi (presidente da Câmara Municipal), Hélio Nico, Delson
Curty, Percy Waldir Semeghini, Jaime Leone, Humberto Cáfaro, Paulo Gonçalves de Oliveira, Antonio
Brandini e Américo Messias.

15
Cine Fernandópolis, à época, localizado na esquina da Avenida Expedicionários Brasileiros e Rua São Paulo.
43

O encontro da comissão com o bispo se fazia urgente, uma vez que Jales se havia
antecipado e tomado iniciativas para conseguir tal benefício. A expectativa e esperança de vitória
eram grandes pela realidade da preponderância de Fernandópolis sobre Jales, em todos os setores.
No entanto, no dia 06/03/58, em editorial, o jornal O Município publica (figuras 35 e 36):

Figura 35 Jornal publica, em 20 de fevereiro de 1958, a notícia da luta de


Fernandópolis para conseguir a sede da diocese.
Fonte: O Município, 1958. (Acervo CDP/FEF, 2009)

Figura 36 O jornal O Município, de 6 de março de 1958, noticia


a perda do bispado.
Fonte: O Município, 1958. (Acervo CDP/FEF, 2009)

“Afinal lá se foi também o bispado”. Fernando Jacob (EFEJOTA) chega à seguinte


conclusão: “Fernandópolis só luta por suas reivindicações depois de perdidas”. Argumenta que,
antes, “deixa tudo correr à revelia. Depois que outros se adiantam e fazem todos os acertos, é que
nós vamos correr atrás daquilo que já é impossível conseguir”. Afirma que isso já se tornara rotina na
cidade e, “enquanto nós estávamos tratando com o bispo, Jales já havia acertado tudo com o Núncio
Apostólico, na capital federal” (figura 37).
44

Figura 37 O núncio, Dom Armando Lombardi, ladeado por Dr. Eufly Jalles e
sua mãe Inês Jalles.
Fonte: Scheffers, 2007, p. 82.

A explicação de D. Lafayete para a escolha foi a da posição geográfica mais centralizada de


Jales. Mas a população de Fernandópolis, que se sentiu preterida pelas autoridades eclesiásticas,
acredita que a verdadeira razão da escolha se deu pela influência política do prefeito Euphly Jalles
(figura 38).

Figura 38 Dom Lafayete Libânio, bispo de Rio Preto, ao lado da família Jalles na primeira
igreja do município.
Fonte: Revista Interativa, 2010.

O prefeito, Dr. Euphly Jalles, compreensivelmente, ficou contentíssimo com a


escolha de Jales como sede do bispado. Imediatamente prometeu toda colaboração
e apoio para providenciar uma boa infraestrutura para a diocese. Não somente um
palácio episcopal e um secretariado, mas também um seminário, uma emissora de
rádio. E, naturalmente, boas providências de utilidade pública como telefone,
pavimentação e rede de esgoto. A primeira coisa concreta que ele providenciou foi a
instalação da energia elétrica. (SCHEFFERS, 2007, p. 77)

Outra surpresa se deu na escolha do bispo da nascente diocese. D. Lafayete era favorável
à escolha do vigário de Jales, padre Ewaldo. No entanto, a escolha do núncio apostólico recaiu sobre
o padre Arthur (figura 39), ex-vigário de Fernandópolis, querido da população por ter batalhado muito
em prol da construção da igreja matriz. Essa escolha ajuda a minimizar um pouco a decepção da
população fernandopolense.
45

Figura 39 Sagração episcopal de D. Arthur Horsthius, em São Paulo, em 26/06/1960


(início da cerimônia). Da esquerda para a direita: 1 (desconhecido); 2. D.
Paulo Rolim Loureiro; 3. D. Armando Lombardi; 4. D. Lafayette Libânio;
5. D. Arthur Horsthiu.
Fonte: Scheffers, 2007, p. 79.

Os limites da nova diocese (figura 40) são demarcados pelos rios Grande, Paraná e Tietê,
grande parte da qual pertencia anteriormente à paróquia de Fernandópolis16.

Figura 40 Limites da nova diocese de Jales, 2010.


Fonte: Revista Interativa, 2010.

As duas perdas (Diretoria Regional de Ensino e sede do Bispado) fizeram com que as
cobranças se dessem de maneira mais contundente. Se resultado das cobranças ou não, o fato é
que, em outubro de 1961, ocorre a construção da Cadeia Pública e o encaminhamento do projeto de
Lei n. 1.058/61 do deputado Wilson Lapa, solicitando a criação da Delegacia Regional de Polícia (só
conseguida em 1994, mas extinta em 199917). Lutam também pela Criação da Associação Comercial
e Industrial de Fernandópolis, conseguida em 27/10/61; construção do Prédio da Delegacia Regional
Agrícola, onde deveriam funcionar também o Serviço Regional de Classificação de Café, Posto

16
Mais informações sobre a criação da Diocese de Jales encontram-se no livro História e Memória da Paróquia
Santa Rita de Cássia de Fernandópolis (COSTA; MALACRIDA, 2012) (no prelo).
17
No governo Orestes Quércia, o Decreto n. 27.022, de 26 de maio de 1987, criara a Delegacia Seccional de
Polícia, à qual se subordinavam as Delegacias de Polícia de Fernandópolis, Estrela d’Oeste, Guarani d'Oeste,
Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Pedranópolis, Populina, São João das Duas Pontes e Turmalina;
46

Veterinário Regional do Instituto Biológico, Serviço Regional de Conservação do Solo (estas últimas
propostas não se concretizaram).
Em novembro do mesmo ano, ocorre a inauguração da agência local do Banco do Estado
de São Paulo (Banespa) (figuras 41 e 42).

Figura 41 Agência do Banco do Estado de São Paulo.


Fonte: EELAS, 1970. (Acervo particular)

Figura 42 Funcionários que fizeram parte da 1ª equipe da agência local do


Banespa. A partir da direita para a esquerda: 1ª fila (sentados):
José Maria Nuevo, Fernando Maria F. Bitencourt, João Leite,
José Euzébio da Silveira; 2ª fila (sentados): Chapinha, Antônio
Amilcar Dumbra, Arcídio Capuccio, Jair Marin, Ápio Anselmo,
Durval Thomás de Souza; em pé: (da direita para a esquerda)
Darci Martins, José Giraldeli, Oreste Antônio da Costa, (não
identificado), Moacir Spósito Ribeiro, Ismael, Altino Burin,
Humberto Rodrigues e Neoclair Ferreti.
Fonte: Oreste Antonio da Costa, 2011. (Acervo pessoal)
47

Visando à melhoria na educação, foram executadas obras no Colégio Estadual e Escola


Normal, no Grupo Escolar Francisco Arnaldo da Silva, no Grupo Escolar da Brasilândia, no Grupo
Escolar Joaquim Antonio Pereira, amparadas pelas leis respectivas n. 27, 28 e 29, de 13/11/62, e Lei
n. 42, de 26/12/62.
Outro ganho para a cidade ocorreu em 1963, quando a Delegacia Regional da Fazenda
(figura 43) foi instalada (Lei nº 66 de 18/02/63).

Figura 43 Delegacia Regional da Fazenda, no prédio da Rua


São Paulo, n. 536.
Fonte: EELAS, 1970. (Acervo particular)

No final da gestão de Rolim, na campanha eleitoral de 1963, disputaram Percy Waldir


Semeghini, Leonildo Alvizzi e Fernando Jacob, importante líder político, ex-vereador por duas
legislaturas e advogado muito respeitado na cidade e região. Foi fundador da 45ª subseção da OAB
local e quatro vezes eleito seu presidente. Contra ele só havia a fama de ser comunista, o que, em
uma sociedade conservadora e capitalista como a da cidade, era motivo suficiente para não ganhar
eleições.

Figura 44 Fernando Jacob, 1963.


Fonte: Jacob, 1963. (Arquivo da família).

Em entrevista concedida às historiadoras Rosa Maria de Souza Costa e Vanda Aparecida


de Lima Costa, José Marrara e Jorge Aidar dão suas opiniões sobre Fernando Jacob (figura 44):
48

[...] ele não fazia proselitismo, ele não divulgava as idéias políticas dele, era coisa interna,
chamada interna corporis, coisa dele, dentro da casa dele. Alguns amigos, quando vinham
lá do partido comunista, faziam visita ao Dr. Jacob. Mas, no mundo político nosso aqui,
municipal, ele não impunha em momento nenhum as idéias dele de esquerda; o que ele
queria era ser prefeito de Fernandópolis, a paixão dele era ser prefeito, não era, Jorginho?
Então, Rosinha, esse negócio de ideologia, ideologia não existia. Eram valores pessoais,
só. [...] O Jacó era adhemarista roxo... (José Marrara, advogado)

Para mim, o Dr. Fernando Jacó estudou, assim como o Dr. Marrara, na USP. A USP era, e
é, uma das faculdades de Direito mais respeitadas do Brasil. Seu nível intelectual [do
Jacob] era muito elevado para a época e local. Ele se formou e veio prá cá, Marrara se
formou e veio prá cá, e outros da faculdade de direito da USP também vieram pra cá com
idéias novas, mas não eram comunistas. (Jorge Aidar, advogado)

Em entrevista com Marrara, transcrita a seguir, o advogado manifesta sua posição política:

Rosa: O senhor foi taxado de comunista também?

Marrara: Ora, eu não sofri nenhuma repressão durante a Revolução. Eu sempre fui amigo
de pessoas ligadas ao partido comunista: Jacó, Alberto Senra, percebe, mais eu nunca
pertenci a partido comunista nenhum. Eu era amigo desse pessoal comunista, mas nunca
me filiei, desde o tempo de estudante, nada de política de esquerda, nem sabia naquele
tempo o que era esquerda. Era mais é local, a nossa paixão era Fernandópolis. Dr. Jacó
tinha paixão para ser prefeito, tentou duas vezes, não conseguiu...

Rosa: Pela pecha de comunista18, não é?

Marrara: Ele sofreu uma derrota por uma coisa que ele nunca fez: propaganda na vida. Ele
nunca quis inculcar em ninguém a idéia de partido comunista. Se ele tinha essas idéias de
esquerda, era pra ele só.

Rosa: O Senhor era do lado do Pacheco, mas não era muito fanático...

Marrara: Eu era mais Jacó, né?

Rosa: Ah! Do Jacó... mais do Jacó...

Marrara: Eu sempre fui amigo assim... era irmanado com o Dr. Jacó. O Jacó era uma
cultura...

Para tentar atenuar a campanha organizada contra ele de ser comunista, o que o fazia
perder muitos votos, o seu grupo político, na campanha de 1963, montou uma estratégia, como é
mostrado na entrevista com as historiadoras Maria de Souza Costa e Vanda Aparecida de Lima
Costa:
Marrara: Eles tinham um companheiro do Jacó, chamado Velson Vieira do Nascimento, de
Catanduva. Ele disse: Jacó, eu tenho um amigo lá que é padre, entendeu? Você aceita eu
trazer esse padre para fazer um comício pra você e tirar, mascarar essa pecha de que
você é comunista? Coitado, o Jacó, vendo essa situação, disse: “Eu aceito”. Ele trouxe o
tal de padre Damião que fez o comício. O Luiz Rolim, que é irmão do Edison Rolim, tinha
um bispo que era parente dele, D. Rolim Loureiro. Ele foi a São Paulo e trouxe um jornal
da diocese de São Paulo dizendo que esse tal de Damião nunca foi padre na vida,
entendeu? Então isso aí acabou com a nossa campanha.

[...] Esse padre não era padre nada e veio aqui e fez o comício. O que aconteceu contra
nós foi esse padre que, infelizmente, era falso. Se fosse um padre verdadeiro... (risos).
Aquilo foi uma bomba atômica em cima de nós... (risos)

Vanda: Acabou com vocês...

Marrara: Perdemos a campanha.

Embora ele não tenha realizado seu sonho de ter sido eleito prefeito, as denúncias contra
ele nunca arranharam a sua reputação e credibilidade de grande advogado.
Da eleição de 1963, foi eleito Percy Waldir Semeghini para o quadriênio 1964/1968

18
Em sua campanha, Fernando Jacob recebeu a alcunha de Mate Leão, sugerindo aquele “que já vem
queimado”.
PERCY WALDIR SEMEGHINI (1964-1968)

Figura 45 Percy Waldir Semeghini Figura 46 Jacob de Angelis Gaetti

Figura 47 Brasão de Fernandópolis.


Fonte: Lei Nº 11, de 1965.

Figura 48 Partitura do Hino a Fernandópolis


(excerto).
Música: Padre Hugo Van Tuyil.
50

Letra: Hino a Fernandópolis


Composição: Wandalice Franco Renesto
Lei Nº 20, de 1965

Fernandópolis, terra-moça
Tens progresso sedutor
És "criança-gigante”
Que eu amo com ardor
És “criança-gigante”
Que eu amo com ardor
Tuas brisas tão suaves
Teu céu de tão puro anil
Abrigam estas crianças
A esperança do Brasil
Fernandópolis....
Ó Deus bondoso e justo
Olhai este meu rincão
Fernandópolis este pedaço
Da nossa grande nação.
Fernandópolis...

O segundo governo da década de 1960 (1964/68) foi o do prefeito Percy Waldir Semeghini19
(figura 46), tendo como vice Jacob de Angelis Gaetti (Jacob Vigorelli) (figura 47). Foram eleitos pela
coligação PSP, PR e PTB, derrotando a coligação PDC, PSD, PSB e UDN, que esteve no poder
desde 1952.
As pesquisas realizadas nos mostram, doravante, que, de todas as administrações, esta foi
a mais tumultuada, tanto por acontecimentos locais como pelo golpe de 1964, que trouxe em nível
federal os militares para a vida política, e nela permaneceriam por 21 anos.
Os acontecimentos locais a que nos referimos acima estão relacionados à eleição de Percy
Waldir Semeghini, líder do PSP local. Esta eleição interrompe a exclusividade política da coligação
PDC, PSD, PCB e UDN no poder há 12 anos, e que tinha como líder máximo Adhemar Monteiro
Pacheco, prefeito no quatriênio 1956/1959 e Deputado Estadual desde 1962.
Os vereadores eleitos foram:

Alberto dos Santos (UDN)


Antonio de Freitas (PTN-PR)
Antonio Garcia Pelaio (PSP)
Arlindo Alves Garcia (PTN-PR)
Felício Luiz Pereira (UDN)
Feres Bucater (PSP)
Gentil Franco de Almeida (PSP)
Jorge Aidar (PSP)
José Akira Massuda (PSP)
José Antonio de Figueiredo (PSD)
Matsuo Yendo (PSP)
Nelson Rodrigues Cunha (PSD)
Wagner Rodrigues Costa (PSP)
Wilmar Martins da Silva. (UDN)
Gabriel Navarro (PL)

Embora com oito vereadores alinhados ao lado do prefeito, as dificuldades para aprovação
dos projetos, que exigiam 2/3 de quórum, eram muitas, pois a oposição, para obstruir a pauta, se
ausentava das reuniões, ora não comparecendo, ora retirando-se do plenário quando havia votações.
As rivalidades partidárias impediam que os políticos percebessem que haviam sido eleitos
para buscar novos empreendimentos e melhorar os já existentes. Projetos, requerimentos e
indicações foram sempre rejeitados pelos oponentes. A situação acusava a oposição de dificultar o
bom andamento dos trabalhos e vice-versa. Elevando ainda mais o clima de rivalidade, o jornal
“Diário da Região”, partidário da oposição, em todas as suas edições tecia críticas ao prefeito e seus
partidários.

19
Percy Waldir Semeghini era popularmente conhecido como “Gato”.
51

A ata da Câmara do dia 03/05/65, decorridos poucos meses da eleição do prefeito Percy, já
registra uma “Ação Popular” de autoria dos vereadores da oposição juntamente com o Deputado
Pacheco contra a Mesa da Câmara e o prefeito. Por outro lado e da mesma ocasião, há um
requerimento dos vereadores da situação hipotecando solidariedade ao prefeito.
Tal Ação Popular, subscrita sob n. 144/65, de 06/04/1965, foi encabeçada por Valério
Angelucci e assinada por Alberto dos Santos, Leodegário Fernandes de Oliveira, Nelson Rodrigues
da Cunha, Arlindo Alves Garcia (todos vereadores à época da ação) e mais Ademar Monteiro
Pacheco, domiciliado em São Paulo, mas com residência em Fernandópolis. Os referidos autores
constituíram como advogado Mauro Viotto, cunhado de Ademar Pacheco, com escritório profissional
na cidade e comarca de Bela Vista do Paraíso, estado do Paraná.
A Ação Popular foi proposta contra o prefeito Percy Waldir Semeghini, a Mesa da Câmara
composta por Gentil Franco de Almeida (presidente) e Wagner Rodrigues Costa (secretário) e contra
a Empresa Comercial Irmãos Martinho, com sede em São Paulo.
Na Ação, a Mesa da Câmara e a Empresa Comercial Irmãos Martinho foram defendidas
pelos advogados José de Almeida Silvares e Jorge Aidar, e o prefeito Percy teve sua defesa
assumida por Luchési Fleury Netto.
O motivo da Ação Popular foi a aprovação (por maioria de votos, inclusive por dois
vereadores, Nelson Rodrigues Cunha e Arlindo Alves Garcia, que a assinaram) do Projeto de Lei
21/64, tornado Lei n. 13/64, autorizando a prefeitura a vender bens móveis (figuras 49 e 50)
pertencentes ao município e considerados inservíveis.

Figura 49 Veículos (sucateados) da Prefeitura, objeto da venda.


Fonte: Ação Popular (Fórum de Jundiaí), Processo n. 1.625/65.
52

Figura 50 Veículos (sucateados) da Prefeitura, objeto da venda.


Fonte: Ação Popular (fórum de Jundiaí), Processo n. 1.625/65.

A referida Ação foi considerada procedente com os réus condenados a pagar os custos do
processo e honorários advocatícios estipulados pela Justiça. A prefeitura municipal deveria desfazer
o negócio com a empresa Martinho, e o material seria devolvido à municipalidade que dele disporia
conforme lhe fosse conveniente.
A empresa, porém, não mais foi localizada, tornando impossível cumprir a determinação
judicial. Dessa forma e decorridos os trâmites legais, a Justiça enviou o processo ao Tribunal de
Contas do Estado que a arquivou em 20/12/1979.
Em entrevista descontraída, realizada no dia 14/04/2011, na residência da professora Rosa
Maria Souza da Costa, em companhia da professora Vanda Aparecida de Lima Costa, os senhores
José Marrara e Jorge Aidar, indagados a respeito dos fatos da época, relatam o seguinte:

Rosa: [...] Então, fala aqui (nas atas da Câmara) que quem assinou a ação popular
contra o Percy foi o Pacheco.
Jorge: Foi um parente do Pacheco. Foi um cidadão que era advogado em Londrina,
Paraná. Foi ele que veio e assinou contra o Percy, para tirar o Percy, em nome do
Pacheco e da turma do Pacheco e do Rolim. E essa ação, o Juiz também [...] então
carregaram contra ele.
Rosa: Mas a ação falava o que contra Percy?
Jorge: A ação popular eu não lembro por quê, mas prenderam máquinas, prenderam
tudo.
Rosa: da Prefeitura?
Jorge: Da prefeitura. A administração do Percy foi sofrida.
Rosa: Daí ele teve que deixar a prefeitura, fugir, né?
Jorge: Para não ir preso, porque montaram a prisão do Percy. Então, um parente do
Pacheco montou a ação popular contra o Percy e entraram na Justiça. Eles tinham
uma capacidade, [...] de captação da justiça, oficiais de justiça, Era terrível!
Marrara: Jorge, eu acho que lembro o nome do advogado... se eu falar, você se
lembra? Mauro Viotto.
Jorge: Isso, Mauro Viotto
Rosa: Era parente do Pacheco?
Marrara: Irmão da D. Cidinha.
Vanda: Irmão da mulher do Pacheco.
53

Em muitas outras ocasiões houve discussões acaloradas de parte a parte, com ofensas
pessoais. O clima político da cidade era tão nefasto, repercutindo em toda a comunidade, que, no dia
10/06/65, foi apresentado requerimento com 30 assinaturas de moradores da cidade. Esse
documento apresenta um pedido formal à Câmara solicitando que deixe as discussões de lado e
trabalhe em favor do bem da comunidade, aprovando a autorização para o prefeito firmar contrato
com a Caixa Econômica visando ao asfaltamento de 20.000 m2 de vias públicas. Essa autorização já
havia sido postergada várias vezes e só se realizaria no ano de 1966.
Às rivalidades locais que tinham uma conotação pessoal e partidária somam-se os fatores
ocasionados pelo golpe militar de março de 1964, segundo o qual, logo após tomar o poder, o
governo militar baixou o Ato Institucional n. 01 em 09/04/1964, concedendo ao Exército poderes
excepcionais para cassar mandatos, com suspensão de direitos políticos por dez anos. Foi decretado
Estado de Sítio sem aprovação do Congresso, bem como propostas emendas constitucionais. Já no
dia seguinte à sua decretação (06/04/64), foram suspensos, por dez anos, os direitos políticos de
centenas de pessoas, entre as quais João Goulart, Leonel Brizola, Jânio Quadros e, em junho do
mesmo ano, Juscelino Kubistchek.
Os atos punitivos contra elementos ligados ao governo deposto (João Goulart) foram
ampliados, e generalizou-se por todo o país um clima de medo e delações.
Apesar do clima repressivo com prisões, perseguições e exílio, aconteceram manifestações
de oposição ao regime, realizadas, inicialmente, por estudantes e intelectuais. Nas eleições diretas
para governador, em julho de 1965, a oposição sagrou-se vitoriosa em cinco dos onze estados onde
houve pleito. O poder de oposição se viu ampliado e, devido a esse fato, os militares exigiam um
aumento de medidas repressivas. Como consequência, Castelo Branco decreta o Ato Institucional n.
02/10/1965, que extinguia os partidos políticos e estabelecia eleições indiretas para a presidência da
república. No início de 1966, o Ato Institucional n. 03 (AI 3) estabelece eleições indiretas para
governador e, por um Ato Complementar, cria o bipartidarismo: de um lado, a Aliança Renovadora
Nacional (ARENA), partido da situação, e, de outro, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
reunindo oposicionistas.
As manifestações da oposição continuaram a crescer: intelectuais, estudantes, sindicatos,
clero, imprensa e professores protestavam contra as medidas de arbítrio. A oposição ao governo
partia, também, de elementos ligados a ele e de muitos que haviam aprovado o golpe de março de
1964. Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda romperam, nessa ocasião, com o
governo.
Para manter, perante o povo brasileiro e o mundo, uma aparência democrática, o governo
militar manteve algumas instituições funcionando em todos os níveis (federal, estadual e municipal),
embora precariamente, como os poderes Judiciário e Legislativo, bem como os partidos políticos
como o MDB, atuando como uma oposição consentida.
Os políticos fernandopolenses, de maneira geral, apoiaram o golpe militar, até mesmo por
absoluta falta de alternativa. Na ata do dia 01/04/64, a Câmara Municipal se solidariza com Adhemar
de Barros (governador de São Paulo) pela “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, da qual ele
havia sido o idealizador. No entanto, mais tarde, ao entender que o golpe militar, na verdade, se
constituía em uma ditadura plena de medidas arbitrárias, posicionou-se contrariamente e foi cassado.
Quando, em outubro de 1965, o AI-2 foi decretado, a Câmara de Fernandópolis apoia o ato
e até faz um ofício dirigido ao Presidente Castelo Branco, colocando-se inteiramente ao trabalho em
defesa da “democracia”. O ofício é proposto pela bancada oposicionista e, excepcionalmente, a
situação adere de forma coesa.
No dia 10/11/65, a Câmara se reúne e é apresentado o requerimento n. 45/65, de autoria
dos vereadores Nelson Rodrigues Cunha, Arlindo Alves Garcia, Valério Angelucci, Alberto dos Santos
e Gervik Cassiano, louvando, solidarizando e aplaudindo o Marechal Humberto Castelo Branco e
Juracy Magalhães pela decretação dos Atos Institucionais n. 1 e 2.
Os dois grupos de políticos que até então eram antagônicos filiam-se à ARENA. A situação
passa a ser a ARENA 1 e a oposição a ARENA 2. Não há adesão ao MDB, que atuará na esfera
estadual e federal, com um discurso de oposição ao regime militar e de valorização das conquistas
democráticas.
Dá-se a entender que os políticos locais não percebiam que a situação política dos
municípios não fora alterada; antes, eram utilizados como forma de manter a estabilidade a e a
legitimidade do estado autoritário.
Na verdade, com o golpe militar, inicia-se um período no qual à Câmara estaria reservada o
papel secundário de órgão legitimador das ações do executivo municipal. Nessa época, os poderes
municipais, de maneira geral, eram entendidos como simples provedores de serviços urbanos. Não
eram espaço de representação coletiva, uma vez que todo tipo de manifestação era reprimida. Dessa
54

forma, apoiar o regime militar tornou-se o que deveria ser feito para aqueles que queriam continuar
militando na política.
Vasconcelos (2004, p. 7) considera que:

um dos pilares básicos de um Estado de democracia representativa e de tradição


democrático-liberal é o Poder Legislativo como órgão representativo máximo
composto por membros eleitos pelo povo, para tomar decisões em seu nome. Ou
seja, em um estado democrático-liberal, o Legislativo é o órgão máximo, que integra
politicamente o povo e o governo, à medida que representa os diversos setores da
sociedade levando ao governo as suas demandas. [...] Ao manter esse órgão
composto por representantes dos grupos sociais em funcionamento, mesmo que
limitado e com suas atribuições reduzidas, o regime está buscando legitimar-se.

Se há coesão quanto à aceitação do regime militar autoritário, em esfera local, é cada vez
maior a rivalidade entre os dois grupos políticos.
O ano de 1966 foi repleto de críticas e discussões, mais que nos anteriores, por um fato
que, em princípio, não estava relacionado à política, mas que repercutiu negativamente. Não
bastassem os debates acalorados na Câmara na sessão do dia 10/05/1966, devido a um gasto de
Cr$ 60.000.000 (sessenta milhões e cruzeiros) que o prefeito havia empregado na reforma das
praças da Matriz e Joaquim Antônio Pereira (fonte luminosa), um fato novo e grave acontece. No dia
13/05/1966, uma sentença judicial condenatória, exarada pelo juiz de Direito Alfredo Neglione e
expedido pelo Cartório de Notas e anexos de Fernandópolis contra o prefeito, impede-o de continuar
no cargo.
Pelo requerimento n. 22/66, de 14/05/66, o vice-prefeito Jacob de Angelis Gaetti é
empossado prefeito em sessão extraordinária. A bancada da situação, liderada por Gentil Franco de
Almeida, elogia o governo de Percy e apoia Gaetti, considerando que os acontecimentos ferem mais
a cidade que o próprio Percy. Em nome da situação, o documento agradece ao deputado estadual
Jorge Cury, que, na Assembléia, havia defendido o prefeito eleito e, indiretamente, critica Adhemar
Pacheco, pois, embora fosse de Fernandópolis, nada fez para defender o prefeito. (conforme conta
de ata do dia 20/05/1966 da Câmara municipal).
Nessa mesma sessão, o vereador Wilmar Martins, em nome da oposição, por requerimento,
solicita que seja enviado um manifesto de solidariedade ao Presidente Castelo Branco, por ter
cassado os direitos políticos do líder do PSP, Adhemar de Barros. Os vereadores da situação não
aceitam, havendo acaloradas discussões com os situacionistas, acusados até de serem contra a
política do governo militar. Essa foi a primeira vez em que houve divergências entre os dois grupos
políticos de Fernandópolis com relação aos atos do governo ditatorial imposto ao país pelos militares.
No dia 29/10/66, pelo requerimento n. 47/66, o vereador Gentil Franco de Almeida requer
uma sessão extraordinária da Câmara, objetivando revogar o requerimento n. 22/66, de 14/05/66, que
investira Jacob Gaetti como prefeito.
O requerimento n. 47/66 foi proposto tendo como suporte jurídico Certidão do Cartório do 1º
Ofício de Fernandópolis e, em notas taquigráficas do resultado dos votos dos ministros da 3ª Câmara
do Supremo Tribunal Federal, expedidas pelo DD Presidente no pedido de habeas corpus n. 43.613,
expedido em 27/10/66, que declara extinta a ação penal que havia cassado os direitos políticos do
prefeito Percy.
Na referida sessão extraordinária, estavam presentes todos os vereadores da situação,
assim como os militares capitães Eurides Fortunato de Oliveira, Delegado da 25ª Delegacia do
Recrutamento de Fernandópolis, e Joaquim Carlos de Oliveira, Comandante da 3ª Cia. 17-B-P em
Fernandópolis.
O requerimento de n. 48/66 foi aprovado por unanimidade e Percy volta ao cargo de
prefeito. Na ocasião, a oposição não estava presente e Wagner Rodrigues da Costa, presidente da
Câmara, declara Percy apto a ser reintegrado ao cargo.
A reintegração de Percy ao cargo teve consequências que repercutiram negativamente,
maculando ainda mais a política fernandopolense. Há prisão de vários políticos e pessoas da
comunidade, ordenadas pelo juiz Ayuchi Ammar e executadas pelo oficial de justiça Antonio dos
20
Santos (Tonicão). A respeito das prisões, “Tonicão” relata em entrevista dada à Folha de
Fernandópolis (17/05/2003, p.10B):

Fui cupincha político por 12 anos; 8 anos com o Rolim e 4 anos com o Pacheco. Não
deixei inimigo. Até hoje tenho sentimento de uma coisa. Teve uma ocasião que o juiz

20
A respeito, podem-se conferir detalhes na biografia de Antônio dos Santos (o Tonicão) na seção III desta obra.
55

de Direito Dr. Ayuchi decretou a prisão dos vereadores e do prefeito Percy Waldir
Semeghini. Caiu para mim. Prendi o Capeta, Jorge Aidar, Massuda, Esperancini e,
quando cheguei para prender o Armelindo, ele quis engrossar. Ele morreu de mal
comigo. Mas os outros são meus amigos. Era uma época de política muito ferrenha.
O Jacob Vigorelli era vice do Dr. Percy. O juiz viajou e a Câmara empossou o Percy,
que estava afastado por processo crime. O juiz chegou e decretou a prisão deles.
Eles ficaram numa sela na Delegacia enquanto o Dr. Jacob conseguia um habeas
corpus.

Sobre o mesmo assunto e o clima de intensa rivalidade da época, pode-se conferir a


entrevista realizada com Marrara e Jorge Aidar no dia 14/04/2011 para as professoras Rosinha Costa
e Vanda Aparecida Lima Costa:

Jorge Aidar: Ayuchi Ammar era juiz substituto.


Rosa: Prendeu todos da Câmara?
Jorge: Só os que votaram a favor do Percy,
Rosa: Votaram em quê?
Jorge: Para a reintegração do Percy, em tirar o Jacob (Gaetti). Por que eu me baseei
21
em umas notas taquigráficas que vieram do Supremo Tribunal de Justiça,
mandando reintegrar o Percy. E o processo do Percy, que era um criminal, aqui
levou ferro, no Tribunal de Justiça também e aí subiu para o Supremo Tribunal de
Justiça.
Marrara: Foi o Supremo que mandou reintegrar.
Jorge: E nós o reintegramos. O promotor era o José Evander de Araújo (comunista),
que era contra nós. Ele mandou o juiz Ayuchi Ammar, que era novinho, substituto, a
mandar prender todos os que votaram a favor. Eu estava em meu escritório e o
oficial de justiça Tonicão, lá esteve para me levar até a delegacia de polícia. Eu lhe
disse que poderia voltar que me apresentaria espontaneamente. Lá ficamos detidos
por algum tempo e depois fomos soltos. Depois o Zé Cearense e nós telefonamos
para o presidente do Tribunal de Justiça. Acho que também o Fernando Jacob
ajudou.
Rosa: E o Percy, onde estava?
Jorge: Ele se guardou até resolver a situação, senão seria preso.

A ata da reunião da Câmara, em sessão ordinária de 01/11/66, relatou que foi submetido à
apreciação dos vereadores o requerimento de n. 49/66, datado do dia 29/10/66, de autoria do prefeito
municipal Percy Semeghini, solicitando 60 (sessenta) dias de licença, estando presentes oito
vereadores; e o requerimento foi aprovado por unanimidade.
Não há documentos ou relatos do que motivou o afastamento. Supõe-se que tenha sido
para afastar-se da perseguição que levou à detenção de alguns políticos partidários seus, inclusive o
presidente da Câmara, Wagner Costa.
A leitura das atas de reunião da Câmara e dos jornais da época demonstra que os anos de
1967 e 1968 não diferem dos três anteriores. São repletos de discussões acaloradas, ofensas,
acusações e agressões. A análise da história de Fernandópolis, feita em documentos, atas, jornais,
fotos e depoimentos de políticos e de pessoas comuns, mostram que, desde seu início, com a
fundação e fusão das duas vilas (Brasilândia e Pereira), vigorou mais a rivalidade que a ideologia.
As rivalidades surgidas nos dois grupos de pioneiros que deram origem a Fernandópolis
acabaram transformando-se em beligerância e persistiram em todas as administrações.
Posteriormente, em 1970, na sessão da Câmara do dia 01/09/1970, já na administração Alvizzi,
diante de mais uma acalorada discussão de vereadores com acusações, Marrara asseverou:
“Vereadores: há necessidade de se dizer que cada cidade nasce sobre influências diversas, mas
Fernandópolis, infelizmente, nasceu sob o signo da discórdia!”. O edil lembrou, também, que
“estávamos precisando de um novo Fernando Costa” para trazer mais concórdia e amizade para a
cidade.
Nem um grupo político nem outro conseguiam entender o sentido de que, em política, pode
e deve haver divergências, mas que, para haver desenvolvimento e progresso, há que se guardarem
as armas dos interesses pessoais e partidários e buscarem estratégias convergentes.

21
Tais notas taquigráficas, apesar das buscas realizadas pelas pesquisadoras em processos (Fórum) e cartórios,
não foram encontradas, podendo, até mesmo, ter sido destruídas com o tempo. Acredita-se, entretanto, em sua
existência pela importância que representam no episódio, uma vez que foi, a partir dessas notas, que o prefeito
Semeghini foi reempossado.
56

Convergir não é aderir, mas buscar alvos comuns. Alvos que, se forem bons para o
desenvolvimento da cidade, serão bons para todos.
Após os sessenta dias de licença, o prefeito Percy reassume suas funções, mas o clima
político continua de guerra, conforme relatado em ata de sessão da Câmara do dia 03/03/67. Mesmo
tendo recebido as visitas do major Expedito Campos, chefe da 6ª CSM de Bauru, e do tenente Pedro
de Moro, das relações públicas da mesma corporação, os vereadores da oposição abandonaram a
sessão. Alegavam que queriam denunciar à comunidade ofensas sofridas em sessão anterior da
Câmara e não conseguiram devido à ausência da Rádio Cultura.
Após ser homenageado pelo prefeito e por alguns dos vereadores, o major Expedito
Campos afirmou (ipsis verbis):

Sinto-me constrangido, porque teria imenso prazer de conhecer os vereadores


ausentes, a essa sessão, os senhores Alberto dos Santos, Arlindo Alves Garcia,
Nelson Rodrigues Cunha, Valério Angelucci, Wagner Rodrigues Costa e Wilmar
Martins da Silva, o motivo porque se acham ausentes eu não sei mais pensei de
aqui encontrá-los por tratar-se de, segundo tenho conhecimento, de sessão de
importância para o município. Quero nesta oportunidade lembrar ao senhor
prefeito municipal Dr. Waldir Percy Semeghini, ele como os demais prefeitos do
interior cometem o mesmo erro, deixando de comunicar através dos caminhos
legais certos, aos seus chefes de sua região denunciando os elementos que
atrás dos bastidores procuram destruir as lutas, os labores dos prefeitos
municipais em prol do seu povo. Porque elementos assim, e com tendências
subversivas, nós precisamos ser comunicados Sr. Prefeito, ter conhecimento e
numa junção de forças erradicá-los totalmente, acabar com essa gente e para
isso lá estamos em Bauru a sua disposição.

Embora as autoridades militares tenham dado apoio ao prefeito, o clima de beligerância


continuou, muitas vezes, além de palavras agressivas, mas também com gestos a ações, tais como
socos na mesa da presidência e “cadeiradas”.
A ata da reunião da Câmara realizada no dia 01/06/67 demonstra o clima de agressividade.
Nessa sessão, um vereador de oposição chama o prefeito de mentiroso, referindo-se ao discurso que
Percy havia proferido por ocasião da inauguração da Praça da Matriz, no dia 22 de maio. Em sua
fala, dava ciência à população de que, em 06/06, estaria visitando a cidade o governador do Estado
de São Paulo para a inauguração oficial do Instituto de Educação de Fernandópolis. O vereador
afirma, textualmente, que “o prefeito mente descaradamente e que todos sabem disto”, numa clara
atitude de desrespeito.
Nessa mesma sessão da Câmara, o vereador Arlindo Alves Garcia lê um comunicado
enviado pelo deputado estadual Adhemar Monteiro Pacheco, o qual já havia sido publicado no Diário
da Região, em São José do Rio Preto, com o seguinte teor:

O deputado Adhemar Pacheco comunica ao povo de Fernandópolis que a propalada


visita do excelentíssimo Sr. Governador do Estado, Dr. Roberto de Abreu Sodré, à
cidade, é absolutamente infundada. Sua excelência não sabe de nada e não
recebeu nenhum convite. A notícia deve ter naturalmente a finalidade de
incompatibilizar o chefe do Executivo com a opinião pública local, pois anunciada
sua presença e ao final o seu não comparecimento servirá para desprestigiá-lo junto
à população. Esse deve ser o desejo dos que. ávidos de perseguição e desejosos
de continuarem a praticar os desmandos até bem pouco executados, tentam
comprometer agora o honrado governador Abreu Sodré nas suas manobras
escusas. Sua Excelência, o Senhor governador, irá a Fernandópolis, mas não a
convite do corrupto e agitador chefe do executivo fernandopolense. Ao povo de
Fernandópolis e de nossa região, a minha saudação e com certeza de que
continuamos como sempre a lutar pelo bom nome da nossa querida araraquarense.

O líder maior da oposição, deputado Pacheco, mesmo distante, fazia-se presente


influenciando o clima de agitação na cidade. Para a população, o que realmente importava era a
inauguração de um novo prédio para melhor atender aos jovens. A presença do governador daria
prestígio aos políticos, mas não influenciaria na realização do ato, uma vez que o prédio já estava
construído.
O clima de rivalidades persiste e fez-se sentir uma vez mais quando, no dia 23/09/67, o
prefeito Percy recebe a medalha em grau de comendador da Sociedade Brasileira de Heráldica e
Medalhística, a Cruz do Mérito Cívico e Cultural e a Medalha do 2º Centenário de José Bonifácio de
Andrada e Silva; nenhum vereador da oposição compareceu à homenagem. Nessa ocasião, também
57

receberam medalhas Humberto Cáfaro, Wandalice Franco Renesto, Célia Coutinho Semeghini e
Carlos Barozzi. Prestigiaram o acontecimento várias autoridades militares e representantes das
câmaras de São José do Rio Preto e Monte Aprazível.
Uma nova ação do deputado Adhemar Pacheco mais uma vez repercute na comunidade
com regozijo da oposição e indignação por parte da situação. Em ata da reunião da Câmara
Municipal, em sessão extraordinária realizada no dia 14/10/1967, os oito vereadores, todos da
situação, presentes à reunião, aprovam o requerimento de n. 52/67, de autoria do vereador Armelindo
Ferrari e outros. O documento visava oficiar o governador do estado, certificando-o de que as
declarações feitas pelo deputado Adhemar Pacheco no jornal da capital “Última Hora” eram
inverídicas. No dia 13/10/67, na página 3 do referido jornal, o deputado Pacheco havia declarado que
Fernandópolis estava em pé de guerra.
O presidente da Câmara de vereadores, Feres Bucater, usando da palavra, disse:

Sei perfeitamente, senhor prefeito municipal, que calou fundo, e que dói
profundamente na alma de nossos adversários e esta Comenda que V. Excelência
recebeu, estas homenagens bem merecidas, desnorteou completamente os nossos
adversários [...]. Hoje nossos adversários não se conformam de perder o mando de
12 (doze) anos.

Frente às declarações do deputado Pacheco no jornal “Última Hora”, os vereadores da


situação redigiram e apresentaram o requerimento de n. 54/67, considerando o deputado “Personna
non grata” em Fernandópolis. Logo que a nova Câmara tomou posse, esse Decreto, no entanto, foi
revogado imediatamente pelo Decreto n. 2/69, apresentado na sessão de 01/03/69, quando já era
prefeito Leonildo Alvizzi.
Na sessão da Câmara, realizada no dia 10/11/67, o prefeito Percy Semeghini protocolou o
requerimento n. 57/67, em que solicitava sessenta (60) dias de licença a partir de 11/11/67,
assumindo o cargo Jacob Gaetti. No entanto, por condenação do tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, em processo crime no dia 20/12/67 (portanto antes do término de sua licença), ficou
impedido de retornar à Prefeitura até julgamento de todos os recursos.
Em sessão extraordinária da Câmara municipal no dia 15/01/68, há muito tumulto, porque
os oito vereadores da situação apresentaram o requerimento de n. 2/68, solicitando o impedimento do
prefeito Percy Semeghini até o julgamento de todos os recursos ainda pendentes. Os vereadores da
oposição, em número de cinco, apresentaram o requerimento de n. 5/68, no sentido de que fosse
extinto o cargo de prefeito e que Jacob Gaetti continuasse à frente do Executivo.
O vereador Gentil Franco de Almeida considera que a Câmara não tem competência para
tornar vago o cargo de Prefeito. Usando também a palavra, o vereador Nelson Rodrigues Cunha, da
oposição, fez questão que constasse em ata que, embora ele tivesse assinado o requerimento n.
03/68, ele não tinha interesse em que o impasse perdurasse. Afirmou que o requerimento foi redigido
pelo prefeito Jacob Gaetti e seu compadre Wagner Rodrigues da Costa e que o atual prefeito não
devia usar desse requerimento, mas continuar trabalhando normalmente, uma vez que, no
impedimento do prefeito eleito, o vice deve assumir o cargo.
Com maioria na câmara, a situação aprovou o requerimento n. 02/68 (impedimento de
Percy como prefeito até julgamento dos recursos pendentes).
O Fernandópolis Jornal do dia 18/01/1968 dá destaque ao fato, considerando que o
município esteve legalmente sem prefeito durante quatro dias, uma vez que, no dia 11 de janeiro,
havia expirado o prazo de sessenta dias da licença concedida ao prefeito. Percy. Assim, esteve
acéfala a prefeitura municipal.
A edição 964 do Fernandópolis Jornal do dia 07/04/68 traz para a população da cidade a
notícia da absolvição de Percy Semeghini. Tal notícia, em sessão realizada 05/04/1968, revelava que
o Tribunal Federal tinha concedido habeas corpus ao prefeito no processo criminal que o condenara
anteriormente. O processo foi tornado sem efeito, porquanto não foi encontrada justa causa. A 3ª
Turma do Tribunal Federal, que julgou o referido processo, esteve constituída dos desembargadores
Gonçalves de Oliveira, Hermes Lima Ferreira Rocha e Thompson Flores.
Na sessão da Câmara de 10/04/68, Percy Semeghini está presente, já tendo assumido a
prefeitura, e homenageia os senhores Zeigmundo C. Koszutski, presidente da Mercedes Bens do
Brasil S/A, Rodolpho Borghoff, diretor comercial da Mercedes Bens e Waldemar Verdi, diretor
comercial da Verdiesel, concessionária da Mercedes Bens em Fernandópolis.
Reportando-se aos fatos que impediram, durante certo período, a gestão do prefeito Percy
Semeghini, o Fernandópolis Jornal de 18/04/1968 relata sua volta, afirmando que instantes de grande
emoção marcaram esse evento, com comparecimento de grande massa popular, conseguindo ver
eliminado o processo que lhe roubara o direito de dirigir os destinos da municipalidade.
58

Por falta de documentação, a presente relação de períodos de governo Percy/Gaetti é


aproximada e, por isso, apresenta lacunas entre uma data e outra. Foi montada (tabela 3), tendo
como base registros dos livros de Portarias, Leis e Decretos da Prefeitura Municipal de
Fernandópolis. Foram consultados os livros da Prefeitura de Fernandópolis: n. 3: de portarias, aberto
em 28/08/57 e encerrado dia 01/01/68; n. 4: portarias; n. 8, 9 e 10: de leis; n. 3: de decretos; e livro n.
7: atas da Câmara Municipal.

Tabela 3 Afastamentos de Percy Waldir Semeghini do Executivo de Fernandópolis


Ano Percy Gaetti

1964 completo
1965 completo
1966 até 09/05/66 14/05 a 29/10
30/31 de outubro 01/11 até o fim do ano
1967 26/01 a 10/11/67 01/01/67 a 25/01
15/11/ 67 o fim do ano
1968 06/04 ao fim do ano 01/01/ a 06/04
1969 até 31/01/69
Fonte: As autoras, 2011.

Resultados aproximados: Percy afastou-se da Prefeitura por 3 vezes:


a) de 14 de maio a 29 de outubro de 1966 = 5 meses e meio
b) de 01 de novembro de 1966 a 25 de janeiro de 1967= 2 meses e 25 dias
c) de 15 de novembro de 1967 a 06 de abril de 1968= 5 meses.
Totalizou, portanto, cerca de 1 ano e 4 meses de afastamento.
Os nefastos acontecimentos decorridos durante anos tiveram consequências para a saúde
de Percy. No feriado de Corpus Christi, estando em viagem a São Paulo e Santos, foi acometido de
um enfarte do miocárdio em 13/06/68. (FERNANDÓPOLIS, 1968).
Na ata da reunião da Câmara realizada em 25/06/68, o vereador Antônio Garcia Pelayo lê e
encaminha para julgamento o requerimento de n. 48/68, que dispõe sobre autorização ao prefeito
municipal para se ausentar do município pelo prazo de 20 dias, conforme determina a Lei n. 9842/67
(Lei Orgânica do Município), o qual foi aprovado por 11 vereadores presentes à sessão.
Decorrido o prazo solicitado, o prefeito volta à casa do Executivo; no entanto, a oposição ao
chefe do município mantinha-se firme, e o clima continuava de rivalidade e brigas, agravado pelo
lançamento de candidatos às eleições para o pleito de 1969 a 1972.
A ata da reunião da Câmara municipal dá conta de um ofício sob n. 256/68, de autoria do
prefeito municipal, convocando uma sessão extraordinária para aquele dia 17/09, baseado no artigo
12, Capítulo II, Secção I, da Lei 9.842, de 19/09/1967 (Lei Orgânica do Município) e, mesmo tendo os
vereadores sido oficiados (ofício de n. 250/08), toda a oposição não compareceu durante duas
sessões, impedindo sua apreciação.
O referido ofício tratava da apreciação do Projeto de Lei n. 26/68, que dispunha sobre
empréstimo na ordem de NCr$ 559.450,00 (quinhentos e cinquenta e nove mil, quatrocentos e
22
cinquenta cruzeiros novos ) do governo do estado, destinados à pavimentação asfáltica de diversos
ruas e avenidas da cidade. Colocado para apreciação da Câmara na reunião extraordinária do dia
19/09/68, estando presentes 14 vereadores e várias pessoas da comunidade, os ânimos se
exaltaram de tal forma que, dessa feita, não só palavras de baixo calão foram proferidas, como
também o vereador Gervik Cassiano, exaltando-se, empunha uma cadeira do plenário e ameaça
arremessá-la contra os assistentes, que se manifestavam contrários a suas ameaças verbais. Com a
mesma agressividade, o vereador Valério Angelucci quebra uma plaqueta e arrasta uma mesa. Após
muitas considerações, o presidente da Casa consegue acalmar os ânimos.
Os vereadores da oposição negavam-se a votar favoravelmente ao projeto, alegando que o
preço do m2 do asfalto em Fernandópolis excedia em muito ao preço cobrado em outras cidades da
região.

22
O cruzeiro novo (NCr$) foi uma moeda que circulou transitoriamente no Brasil no período entre 13 de fevereiro
de 1967 e 14 de maio de 1970.
59

O presidente da Câmara, Feres Bucater, consegue, de forma clara e elucidativa, explicar


que o empréstimo pleiteado de NC$ 559.450,00 é tão somente um compromisso visando a firmar
contrato com a Caixa Econômica Estadual. Só depois de trinta (30) dias, após a assinatura do
contrato, é que seria aberta concorrência pública, publicada em jornais da cidade e da capital,
podendo comparecer várias empresas, sendo contratada a que oferecesse melhores condições e
menor preço. Mesmo após esses esclarecimentos e colocado em discussão, o referido projeto foi
aprovado apenas com os votos da situação, que era maioria.
O Fernandópolis Jornal, presente à sessão da Câmara do dia 19/09/69, relata a explanação
do prefeito Percy, segundo o qual, em se referindo ao projeto de n. 26/68, o asfaltamento será
executado com ou sem a autorização do projeto. No entanto, se não aprovado o empréstimo, a
população sofreria, porque teria que arcar com as despesas, pagando-o em somente 10 meses, ao
invés de 36 meses conforme estipulado no projeto.
Até a última reunião da Câmara municipal (ata do dia 31/01/69), o clima de beligerância
prevaleceu com toda a bancada da oposição, rejeitando as contas da prefeitura do 2º semestre de
1968, que só foram aprovadas porque a situação era maioria. Não foi bom para Fernandópolis o
clima de tensão permanente que reinou durante os cinco anos, resultando em certa imobilidade para
o município e falta de avanços bem mais significativos ou prioritários para a população.
Em 1968, em uma tentativa de pacificação dos ânimos dos políticos fernandopolenses, foi
transferido para a comarca de Fernandópolis o então Promotor de Justiça Cláudio Ferraz de
Alvarenga, que aqui permaneceu por cerca de três anos, desenvolvendo um profícuo trabalho e
angariando vários amigos.
Anos mais tarde, já na função de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São
Paulo, esses laços de amizade e o prazer de ver Fernandópolis desenvolver-se fizeram com que
lutasse arduamente para trazer a Unidade Regional do Tribunal de Contas para o município,
inaugurada em 01/08/2000, uma vez que autoridades de Votuporanga também pleiteavam a referida
Unidade para aquela cidade.

REALIZAÇÕES DO GOVERNO PERCY

Embora num clima repleto de desarmonia, a administração do período de 1964 a início de


1969 não deixou de ser profícua. Obras e realizações engrandeceram Fernandópolis e perduram
contribuindo sobremaneira para a projeção, o desenvolvimento e progresso da cidade.
Exemplos dessas conquistas são: a Exposição Agropecuária e Industrial, construção do
prédio do Instituto de Educação (atual Líbero de Almeida Silvares), ponte sobre o Rio Grande (atual
Água Vermelha).
A análise e a avaliação inicial feita pela administração demonstraram a necessidade de
regularizar a vida funcional dos servidores municipais. Foi realizada a regularização perante o
IAPEFESP e IAPETC, atual INSS.
Através da Lei n. 3/64 de 27/01/64, foi criado o Serviço Municipal de Assistência Escolar,
por projeto de José Antônio de Figueiredo (Zé Cearense). Por meio dessa lei e seu funcionamento, o
município conseguiu o Setor Regional da Campanha Nacional de Alimentação Escolar (CNAE), com
fornecimento de merenda escolar a trinta e oito municípios da região da Alta Araraquarense.
Fernandópolis foi a primeira cidade do interior escolhida para ser Setor Regional. Na inauguração do
Setor Regional de Alimentação Escolar de Fernandópolis (SRAEF) estava presente o general Ênio
Gratidiano Dorilêo (figuras 51 e 52), representando o governo federal.
60

Figura 51 General Ênio inaugura o Setor Regional de Alimentação


Escolar de Fernandópolis.
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

Nas palavras do general Ênio, segundo o mesmo jornal,

A administração municipal fernandopolense do prefeito Percy Semeghini é pioneira


no Estado no sentido de fornecer uma sadia e perfeita merenda escolar dentro da
área municipal sendo modelo para todas as administrações municipais interessadas
na promoção da merenda escolar no âmbito municipal.

Noêmia Sano foi a primeira delegada do setor e Otávio Barreto, o primeiro supervisor.

Figura 52 Noêmia Sano, Gal. Ênio, Otávio Barreto e Percy Semeghini em


foto no gabinete do prefeito.
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

O Fernandópolis Jornal estampa o fato (figura 53), com euforia, em sua primeira página:
61

Figura 53 Jornal noticia inauguração do Setor Regional de Merenda Escolar.


Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

Em entrevista, Noêmia Sano relata o funcionamento do Setor Regional de Merenda Escolar,


em nossa cidade:

Na época do regime militar no Brasil, a merenda escolar era controlada pelo governo
federal, ou seja, pela Companhia Nacional de Alimentação Escolar (CNAE). Os estados
eram divididos em Representações e essas em Setores. O estado de São Paulo e o Mato
Grosso do Sul constituíam uma única Representação, que era chefiada pelo General Ênio
Graciliano Dorilêo. Nos municípios onde existia um Lions Clube, o General Dorilêo
62

determinou que esse clube de serviços fiscalizasse a merenda. Meu marido era
presidente do Lions Clube (1966/67) e eu fui designada pelo clube para fazer o curso de
Supervisor de Merenda Escolar em São Paulo.
Na época, era prefeito municipal o Dr. Percy Waldir Semeghini, que, nas idas à
Representação em São Paulo, fez muita amizade com o General Dorilêo, que contemplou
Fernandópolis com um Setor Regional, o terceiro a ser criado no estado de São Paulo,
para atender a 34 municípios da região.

Ainda dentro do 1º ano de administração, foram criados cursos de admissão ao ginásio,


com professores remunerados pela prefeitura (Lei n. 15/64), construção dos armazéns e silos da
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP) (figuras 54 e
55) e Armazéns do Instituto Brasileiro do Café (IBC).

Figura 54 Alunos do JAP visitam depósito de mantimentos


do CEAGESP.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 55 Distribuição de merenda escolar, na Escola


Estadual Coronel Francisco Arnaldo da Silva.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Além da distribuição de gêneros alimentícios, o Setor Regional organizava, na sede e nos


municípios setoriados, cursos de supervisor de merenda escolar e de merendeiras (figuras 56 e 57).
63

Figura 56 Curso de supervisor de merenda escolar.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 57 Curso de merendeira.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Assim expõe a Sra. Noêmia Sano sobre sua nomeação e as subsequentes:

Durante a gestão do prefeito Percy, fui nomeada para dirigir o Setor Regional.
Posteriormente, o cargo foi ocupado pelo Tenente Moreira, representante do Exército na
cidade e, no governo de Leonildo Alvizzi, o cargo foi ocupado pela professora Marlene
Aparecida Assalin da Costa, que, por sua vez, foi substituída pela professora Edith Ferrari
Roquete na gestão de Antenor Ferrari. No governo de Milton Leão, novamente assumi o
cargo de chefe do Setor (figura 58).

Figura 58 Equipe da CNAE, do governo Ferrari.


Fonte CDP/FEF, 2009.
64

Durante o governo do prefeito Newton Camargo de Freitas, a CNAE viria a ser extinta em
todo território nacional, e a merenda escolar foi municipalizada.
No ano de 1965, encontram-se realizações importantes tanto para a educação quanto para
o comércio e justiça, com a criação e instalação da Escola Técnica de Comércio Municipal e dos
Escritórios da Junta Comercial do Estado e Procuradoria Judicial. Mesmo sendo particular (paga), a
referida escola atendia a um grande número de jovens de Fernandópolis e região que não podiam
estudar durante o dia porque já trabalhavam. Seu fechamento prejudicaria em muito esse segmento
da população; houve, então, um árduo trabalho do município e do diretor da escola, Cecílio Pistelli,
junto ao Departamento de Ensino Profissional, da Secretaria da Educação, para tratar do
reconhecimento oficial do colégio particular para municipal23.
No ano de 1966, o plano de asfaltamento de 20.000m2, idealizado no ano anterior, foi
concretizado com a simultânea ampliação da rede de água e esgoto em 20.000 metros lineares e
construção de galerias pluviais. Na tentativa de beneficiar o bairro da Brasilândia, foi instalado um
parque infantil e montada a fonte luminosa da praça.
Os dois últimos anos da administração Percy, embora imperando a discórdia que impedia a
realização de sessões na Câmara pela ausência dos vereadores, há uma série de realizações.
Pelo decreto 49245, de 09/02/68, instalou-se a Delegacia de Ensino Elementar de
Fernandópolis.
Na edição de 04/04/68, o Fernandópolis Jornal traz como manchete a instalação e
funcionamento do 2º Ginásio Estadual de Fernandópolis, tendo como diretora substituta Dayse
Malavazzi Bortoluzo. Era governador do estado Abreu Sodré, e administrava o município o vice-
prefeito Jacob de Angelis Gaetti, uma vez que o prefeito estava afastado por processo criminal. O
jornal relata que quem leu a mensagem do governador dando conta da instalação do 2º Ginásio foi o
deputado estadual Adhemar Pacheco do mesmo partido do governador e em oposição ao prefeito
fernandopolense. O deputado, na ocasião, foi bastante elogiado pelos vereadores da oposição pelo
empenho em conseguir essa conquista.
Ainda em abril de 1968, foi entregue oficialmente à comunidade a 2ª pista de acesso à
rodovia estadual Washington Luiz (na extensão que, hoje, se denomina Euclides da Cunha). Embora
a rodovia fosse estadual, o referido acesso foi executado com recursos do município. É do mesmo
período o asfaltamento da avenida da estação ferroviária, facilitando a vida das pessoas que
necessitassem viajar e, principalmente, dos moradores do bairro. E mais importante ainda: permitia o
acesso de doentes à Santa Casa.
A ata de 03/05/68 relata a aprovação da Lei n. 5, autorizando o poder executivo a assinar
contrato com a Companhia Energética do Estado de são Paulo (CESP) para a eletrificação e
iluminação pública do município, beneficiando os bairros: Jardim Progresso, Jardim América, trevo
principal até à Santa Casa, estádio municipal e grupo escolar Afonso Cáfaro (figuras 59, 60 e 61).

Figura 59 Manchete anunciando a inauguração da iluminação pública na cidade.


Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

23
Esse Colégio criará as raízes para que, mais tarde, se estabelecesse a criação e instalação do que é, hoje
(2012), a Fundação Educacional de Fernandópolis.
65

Figura 60 Vista do trevo principal da cidade após a inauguração da sua


iluminação a vapor de mercúrio.
Fonte” Fernandópolis Jornal, 1968.

Figura 61 Ligação da chave que iluminará a Av. Expedicionários e Jardim


Santa Helena. Na foto: Dr. Percy e Dr. Massaru Fukuoda,
Engenheiro Distrital de Fernandópolis.
Fonte” Fernandópolis Jornal, 1968.

O Fernandópolis Jornal de 19/05/68, em manchete, afirma:

Começa amanhã (20/05) a I Exposição de Animais e Produtos Derivados. Obra


magnífica do ilustre prefeito municipal Dr. Percy Waldir Semeghini, que encontrou
todo o apoio em homens de nossa cidade que compreenderam o quanto ela é
66

imprescindível para deixar bem claro o que somos e o que temos aqui em nossa
terra.

Em sessão extraordinária no dia 18/09/68, após muita resistência da oposição, foi aprovada
a Lei nº 26/68, que permitia à prefeitura a assinar empréstimo junto ao governo do estado destinado à
pavimentação asfáltica de diversas ruas e avenidas, num total de 45.760 m2, o que beneficiou um
número significativo de bairros da cidade.
Objetivando a integração e desenvolvimento de toda a região noroeste do estado, o governo
Abreu Sodré inicia o asfaltamento da rodovia Washington Luiz (a a extensão hoje denominada
Euclides da Cunha – SP 320) até Santa Fé do Sul e as negociações para a construção da ponte
sobre o Rio Grande ligando o estado a Minas Gerais, atual Água Vermelha. Construiu ainda os
grupos escolares Afonso Cáfaro, Ivonete e o grupo escolar do bairro Ubirajara.
Jorge Aidar, vereador na época, em entrevista realizada no dia 15/08/2011, confirma foi no
governo Percy que começam os trabalhos para a construção da ponte sobre o Rio Grande, inclusive
com aprovação de verbas.
Já no crepúsculo de sua administração, no final de dezembro de 1968, foi inaugurado o
novo edifício do Fórum (figuras 62 e 63). Essas realizações, em âmbito estadual, repercutiram
positivamente na população.

Figura 62 Primeiro Fórum da cidade, onde funcionou a pre-


Feitura na Rua São Paulo, esquina com a Av. Quatro (dos
Arnaldos).
Fonte: EELAS, 1974.

Figura 63 Edifício do Fórum inaugurado em 1968 – Rua


Rio de Janeiro.
Fonte: EELAS, 1974.

É da época do governo Percy que se começam a estimular, ainda que de forma


embrionária, cursos de formação profissional. Como exemplo, tem-se o curso de formação para corte
e costura, de cuja turma de 64 o prefeito foi paraninfo (figura 64).
67

Figura 64 Formatura da escola de Corte e Costura “Santa Rosa”- 1964. Alunas de três turmas:
Fernandópolis, Jales e Meridiano. Percy como paraninfo. Ao centro, as professoras: de
vestido estampado, Maria Sato de Fernandópolis; à sua direita, Mariquinha de Jales; à
esquerda de Percy, Setsuo Tobita, de Meridiano. Casa na rua Rio de Janeiro, próximo à casa
Sato.
Fonte: Fernandópolis, 1964.

O fim do governo Percy é também o final da década de 1960. Fernandópolis inicia 1969
uma nova administração, adentrando a década de 1970 e já oferecendo à população uma boa
qualidade de vida com quase toda a infraestrutura necessária da rede urbana, resultado,
evidentemente, do somatório de todas as administrações que o precederam.
Como anteriormente já enfatizado, o regime militar que se havia instalado no país a partir de
1964 decreta, em fevereiro de 1966, o Ato Institucional nº 2 (AI2), estabelecendo eleições indiretas
para governador e, através de um ato complementar, cria o bipartidarismo com a ARENA, partido da
situação, e o MDB, oposição que, na verdade, era uma oposição até então consentida.
De fato, com o golpe militar, inicia-se um período no qual à Câmara estaria reservado o
papel secundário de órgão legitimador das ações do Executivo municipal. Nessa época, os poderes
municipais, de maneira geral, eram entendidos apenas como simples provedores de serviços
urbanos. Não eram espaço de representação coletiva, uma vez que todo tipo de manifestação era
reprimida; dessa forma apoiar o regime militar era o que deveria ser feito para aqueles que queriam
continuar militando na política.Para exemplificar a afirmação, há vários exemplos de atitudes tomadas
pela Câmara: sessões extraordinárias solenes em comemoração ao aniversário da Revolução de 31
de março; ofícios de apoio a atos do governo militar referentes a cassações de mandatos e decretos
de Atos Institucionais de exceção.
Nas eleições que se realizaram em final de 1968, os candidatos a prefeito e vice-prefeito
estavam filiados à ARENA1 e ARENA 2, embora tivessem tendências antagônicas. O MDB lança
somente candidatos a vereador.
A ARENA 1 tinha como líder Percy Semeghini, então convalescente de enfermidade
cardíaca; afasta-se da política, e o partido escolhe como candidato a prefeito Dr. Fernando Jacob
(figuras 65 e 66).

Tanto a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) quanto o MDB (Movimento


Democrático Brasileiro) tiveram dificuldade de estruturação. O MDB... um partido de
oposição em um regime autoritário, não seria muito atraente para aqueles que
buscavam pelo menos alguma proximidade com o poder, ou que não queriam correr
o risco de ter seu mandato cassado em virtude de algum discurso imprudente. [...]
Num primeiro momento, a tendência das lideranças locais é se incorporarem à
ARENA. (KERBAUY, 1993, p. 213)
68

Figura 65 Fernando Jacob e Antônio Garcia Pelaio candidatos a prefeito e vice-prefeito


de Fernandópolis em 1968.
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

Figura 66 Fernando Jacob (à esquerda) e Antônio Garcia (à direita) acompanham


discurso de Marrara em campanha nas eleições de 1968,
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

Pela ARENA 2, o candidato escolhido foi Leonildo Alvizzi (figura 67), apoiado por Adhemar
Pacheco e Edison Rolim.
69

Figura 67 Alvizzi, Arlindo Alves Garcia e Dr. Adhemar Monteiro Pacheco, em campanha nas eleições de
1968.
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.

Perspectiva de uma nova era para Fernandópolis: eventos culturais e esportivos,


apresentações intelectuais, esportivas e artísticas

Com essa manchete, o Fernandópolis Jornal de 18/07/68 anunciava a organização da


Primeira Semana Universitária de Fernandópolis (SUFE), que se realizaria no período de 13 a 20 de
julho de 1968. Pretendia-se, nas férias, congregar universitários fernandopolenses que estudavam
fora da cidade, já que aqui não existia qualquer curso superior. Na programação estava agendada
apresentação de grupos teatrais, conferências sobre temas variados e a participação de
representantes de alunos de faculdades de todo o estado de São Paulo em jogos esportivos.
O objetivo era o congraçamento da classe universitária e a formação de um ambiente
universitário na cidade. Lutava-se com muita dificuldade para a organização da Semana, mas em
várias reuniões da câmara de vereadores da época foram aprovados recursos para esse fim. Um
problema a resolver era o da hospedagem de universitários que para cá acorriam e, na maioria das
vezes, eram recebidos em casas de famílias.
Embora a iniciativa fosse bastante inovadora e trouxesse uma movimentação cultural para a
cidade, nem todos estavam plenamente satisfeitos com a programação e propunham outros objetivos
a alcançar, como o de pensar a cidade e seus problemas: saneamento, desnutrição, falta de escolas,
mortalidade infantil... Acredita-se que já seria exigir muito de um grupo de estudantes que, há quase
vinte anos antes de ser instalado o primeiro curso universitário na cidade, já se propunha a
transformá-la através da cultura e da educação. Hoje, muitos desses jovens de 1960, são os
profissionais que pensam a cidade e tentam resolver os seus problemas.
O Fernandópolis Jornal, de 11/07/68, registrou a relação desses alunos a fim de expor seus
nomes aos demais munícipes, como uma forma de chamar a atenção para a “lacuna’ que
representava a ausência de cursos superiores na cidade e, simultaneamente, homenageá-los pelo
seu empenho em buscar fora o que não conseguiam aqui.
70

Universitários que participaram da 1ª “Sufe”

FILOSOFIA Cleudes F. da Silva CIÊNCIAS SOCIAIS


Mitiko Oda
São Paulo Reni Barbosa Machado (MG)
Edmur S. Moita Cleide Manoel Sobrinho Neto
Elsa Sato Gizélia Antonieta Cechini Artes Plásticas
Célia Sato Maria Selma de Freitas Araújo
Humberto França Rute Chacon Esperancini São Paulo
Waldenita Miranda Izabel H. Sato
Campinas Maria Elisa Rodrigues Hatsue Sano
Sonia M, Gomes Ivo Vignardi Maria Inês Mello
Dulce Birolli Laureana Canhada Pontes
Elizabete Silvares Zoé Massato Okamoto EDUCAÇÃO FÍSICA
Maria Lúcia Silvares Siusei Isiava
Maria Adelina m. Pereira Inivaldo RanieroLurdes L. Bizelli São Carlos
M. Helena Garcia Otacílio de Souza Carvalho Paulo Miyamoto
Maria Alice F. Andrade Roberto Arruda Adston L. Arantes
Edilson Bizelli
São José do Rio Preto João Carlos Lopreto ODONTOLOGIA
Miguel Jodas
Luzia Alves Mogi das Cruzes Araraquara
Milton Leão Dirce A. Baldini Clélia Correia e Silva
Maria Amélia Alves Dirlei Malavazzi Pedro Roquete
Terezinha Curi Quaggio Bauru
Ribeirão Preto Enoá Alves Garcia Maria Aparecida Pavarini
Ângela Santana Candido P. Duarte
Edmundo A. Marques FARMÁCIA E BIOQUÍMICA
Araçatuba Gracir Fontana
Armando José Farinazzo Nair Belúcio Minas Gerais
Maria Silvia Salles Walfíria Benfatti Roberto Kuroda
Dirce Biancardo Edson Viana
Antonieta M. Vieira Nicolau Borbon Araraquara
Mitie Konishi José Jorge Antonio Perinazzo
Celina Haydê Maldonado
Faber Bernardi Wandalice Franco Renesto
Antonieta Pena BIOLOGIA
Elizabete Jorge Guaxupé(MG)
Aparecida Correira Atys Camphebel Botucatu
Maria Bareia Oclair Zanelli Eliane Gaete
Rute Esperancine Oclandir Fontana
Ássimo Sales VETERINÁRIA
Edson Inocente Botucatu
Elizabete Betiol Líria Lacerda Botucatu
Maria Augusta B. Mattos Irene Bíbries Thelio Pedrosa
Osvaldo Marchi
CIÊNCIAS ECONÔMICAS Curitiba
Araraquara Ramiro Sales
Ercília Correira e Silva São José do Rio Preto
Inivaldo Raniero AGRONOMIA
Catanduva Wanderley Batista Gnaldo
Adalgisa Om Américo Leva Piracicaba
Hélio Vasconcelos Sebastião A. da Silva
Presidente Prudente Joel Menin Cesar Benfatti
Rumiko Oishi Tsuneo Matsunoto
José Carlos Trovatti Curitiba
José Roberto Helena Hélcio Canhada
Votuporanga Orivaltes Angelucci Rui Balbo
Iveraldo Malavazzi Nobuo Nakazoni José Beran Jr.
Maria Tereza Salioni Ienedes Benfatti
Maria Nilze Vendramini José Marques Bandos Jaboticabal
Fernandes Sebastião Tanamato
Nelson Andreozzi São Paulo
Neide A. M. Garcia José Machado
Célia Coutinho Semeghini Mário Miyamoto
Maria Garcia Stroppa
71

MÚSICA Germano G. Prirtto


Manoel Laguna Ribeirão Preto
São Paulo Ezequiel Alves da silva Júlio Cesar Voltarelli
Maria Izabel Mello João Roberto saes Gerson Antônio Vansan
José Pessuto
ENGENHARIA Aparecido Rubens de Oliveira Curitiba
Moacir Molina Valter R. Benez
São Paulo Durval R. de Rezende Filho João Anísio Garcia
Ricardo G. Baraldi Antonino Sergio Guimarães José Lima
São Carlos João Luiz Faquim
José Aroldo Zantedeschi José Matos Jr. Porto Alegre
João Inácio Pimenta Edson G. Betiol
Brasília Sebastião Camargo Stênio H. de Souza
Manoel Marques Pereira José Poli
Pelotas
Lins Uberaba Marcos A. Gonçalves
Makoto Yendo Máximo Claudio José Jorge Filho
Ulíssio
DIREITO Osterno Antonio da costa Botucatu
Luiz Arão Mansur José Manoel Bertoloti
Ribeirão Preto Moacir Espósito ribeiro Natal Fernandes Rodrigues
Noboro Torii Antônio Correia Antônio Gevalio Carçava
Yvanoé Luis Arantes
Pedro Bonassi Filho Bauru Marília
Rubens D. G. Stroppa Hilário Pegoraro Nestor sano
Nelson Luchesi
São José do Rio Preto Curitiba
Milton Edgar Leão Chosi Sinque Taubaté
Eromil Freitas Rosemeire L. Canhada
João de Paula
José Cury Neto São João da Boa Vista Rio de Janeiro
Silvia Guimarães Darcy Pessuto Euclides L. canhada
Dagmar Beran
Franca MEDICINA
João Toro Ovídio Portugal
São Paulo Nilson Abdala
Uberlândia Luiz A. Baraldi Washington L.de Mattos
Fernando A. Senra Walter T. Sano Shiguenoli Miyamoto
Luiz saravalli Yeihiti Tabara
Eduardo Colombano Castelo Salione
LEONILDO ALVIZZI (1969/1972)

Figura 68 Leonildo Alvizzi. Figura 69 Arlindo Alves Garcia.

Leonildo Alvizzi (figura 68) é eleito prefeito para o quadriênio 1969/72, tendo como vice-
prefeito Arlindo Alves Garcia (figura 69), que concorreram pela ARENA 2 e receberam 6.343 votos,
contra 4.152 votos conferidos a Fernando Jacob e Antonio Garcia Pelaio, candidatos da ARENA 1,
apoiada pelo MDB, que não lançou candidatos próprios.
Para o poder legislativo, os candidatos da ARENA (1 e 2) somaram, 8.831 votos contra
1.218 conferidos ao MDB. Assim, a câmara foi formada por 12 vereadores da ARENA e somente um
do MDB.
Constituindo a Câmara Municipal (figura 71) são eleitos os vereadores:

José Hass da Silva, ARENA 1- 782 votos


Armando José Farinazzo, Arena 1- 583 votos
Moacyr Vieira da Costa, Arena 1- 536 votos24
Gentil Franco de Almeida, Arena 2- 524 votos
José de Almeida Silvares, ARENA 2- 511 votos
Nelson Rodrigues da Cunha, ARENA 1- 506 votos
Feres Bucater, ARENA 2- 500 votos
Jatir Martins de Souza, ARENA 2- 499 votos
Wilson Sanaiotti, Arena 1- 448 votos
José Marrara, ARENA 2- 387
Antonio Brandini, ARENA 1- 371 votos
Osmundo Dias de Oliveira Arena1- 368 votos
25
João Fernandes - pelo MDB

Figura 70 Moacir Vieira da Costa – Presidente


Fonte: Revista, 1971.

24
Figura 70.
25
João Fernandes foi o único vereador eleito pelo MDB.
73

Figura 71 Constituição da Câmara em maio de 1971.


Fonte: Revista, 1971.

Alvizzi26 governa com maioria na Câmara (figura 71) e a oposição, embora em número
elevado, não é belicosa e combativa como a do governo anterior; por conseguinte existe situação de
melhor governabilidade. Um gesto conciliador deu-se com a aprovação do decreto Legislativo nº 2/69
revogando o ato da Câmara Municipal da administração anterior que havia considerado Adhemar
Monteiro Pacheco, persona non grata em Fernandópolis.
Várias considerações podem ser levantadas a respeito da situação de menor discórdia.
Pode-se supor que a situação de calmaria seja a consequência do descanso que os
políticos se concederam após tanta discórdia no governo anterior, repercutindo e ecoando na
sociedade por meio da imprensa escrita e falada. A oposição anterior, agora como situação, teria
melhores condições de trabalhar.
Considera-se ainda que o governo Alvizzi transcorre sob o clima do “milagre econômico”,
uma vez que o governo federal autoritário procura legitimar-se por meio do crescimento econômico. É
o período em que o Brasil entra na era do ufanismo, do ”Ninguém segura esse país”, do “Brasil
Grande”, do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, slogans propagados pelo governo federal e pelos meios de
comunicação em colaboração com ele.
A respeito dos efeitos do “Milagre econômico”, deve-se considerar o que pensam os “santos
do milagre”:

Quem trabalhava na roça, não vi milagre nenhum. As coisas só tinham valor quando
passava para a mão dos “grandes”. A gente não aguentava segurar os produtos para
esperar o preço. Na época era bom, porque tinha muita gente no sítio, muita cultura: café,
arroz, algodão, milho. Mas se houve milagre, foi por conta de muita reza: não chovia e já
a gente estava na beira do córrego “molhando o santo”. A gente também roubava o santo
do vizinho e só devolvia quando chovia. (Maria de Fátima Seleguim Menegasso:
lembranças da vida no sítio)

26
Em sua campanha política, Leonildo Alvizzi era conhecido pela alcunha de “Farelo”.
74

Outrossim, é importante relembrar que, especialmente depois de 1968, com o AI-5, o


Legislativo perdeu o seu poder de legislar e viu diminuído o poder fiscalizador. Além disso, segundo
Cintra (1974, p. 222):

diversificaram-se enormemente as formas de financiamento aos municípios,


permitindo a proliferação de mecanismos informais de transferência de recursos
efetuados por meio de programas especiais.

José de Almeida Silvares, vereador no período, em entrevista ao jornal O Cidadão de


23/07/2011, relata que: “vereador não conseguia fazer nada naquele tempo. Você não podia
apresentar um projeto que significasse despesa e, além disso, eu era da oposição, nada do que eu
apresentasse seria aprovado”.
Corroborando a declaração acima, citam-se as palavras de Vasconcelos (2004): “Com a
constituição de 1967, o Legislativo teve restringido o conteúdo das suas iniciativas legislativas [...]
perde seu poder de legislar [...] deixou de poder criar despesas, por exemplo”.
Os referidos “programas especiais” eram de iniciativa do governo federal ou estadual, e
vários deles foram aqui instalados com “transferência de recursos”.
O MOBRAL, por exemplo, foi um deles. Foi criado pela lei nº 5.379 de 15/12/1967 e era
mantido pelo governo militar (figura 72).

Figura 72 Ten. José Moreira, Presidente do Mobral.


Fonte: Revista, 1971

Seu objetivo era proporcionar alfabetização às pessoas acima da idade escolar


convencional. Quem escolhia os objetivos e conteúdos do material era o MOBRAL/Central. Os
professores e alunos só seguiam as ordens, o que se discutia em aula era somente o processo de
realização das atividades propostas.
O MOBRAL, como quase todos os projetos grandiosos com a marca da propaganda “Brasil
Grande” que caracterizou o período, fez muito barulho por quase nada. Quando ele termina em 1985,
a notícia de seu fim não pode ser lida por milhões de analfabetos.
Como quase todas as administrações municipais, a de Fernandópolis não fugia à regra e
dava total apoio aos militares e usufruía da euforia reinante atribuída ao milagre econômico.
A mensagem do prefeito Alvizzi feita por ocasião do transcurso da IV Exposição
Agropecuária e Industrial no ano de 1971 é exemplo da aceitação e apoio ao governo militar.

APRESENTAÇÃO
Com o advento da Revolução de 31 de março de 1964, abriram-se novas
perspectivas para a vida e desenvolvimento dos municípios do Interior do Estado.
A política tributária do Governo abriu novos horizontes para os diferentes municípios,
graças às reformas introduzidas, de início, pelos ex-presidentes Castelo Branco,
Costa e Silva e, atualmente, pelo eminente presidente Emílio Garrastazu Médici.
75

A distribuição ordenada, racional e justa das rendas, possibilitou, com o aumento da


receita tributária, a conquista de melhoramentos básicos que até então não
passavam de meros sonhos irrealizáveis.
E, ao lado desse fator, há que ressaltar o sempre presente interesse dos governos
maiores, com suas vistas voltadas para o desenvolvimento harmônico da nação e
especialmente não descurando da menor de suas células, que é o município.
Dentro desse espírito, integrado na política da construção do Brasil Grande,
colocando antes de tudo os verdadeiros interesses do município e seu povo, iniciei
meu governo, que já vai ao meio, com duas idéias básicas: o homem ressaltando o
aspecto educacional, sanitário e sociocultural, e as obras, visando antes de tudo ao
saneamento básico, à construção e manutenção das escolas, aos melhoramentos
fundamentais, à busca de órgãos estaduais e federais para conosco seguir a
caminhada do progresso.
Hoje, Fernandópolis está aí, pujante e grandiosa com alguns de seus mais difíceis
problemas resolvidos; atacados outros, com desassombro, e outros, ainda, sendo
estudados e suas soluções planejadas com cuidado e bom senso.
Nosso comércio vigoroso, nossas indústrias promissoras, nosso rebanho
incomparável e nossa agricultura diversificada são as maiores testemunhas das
lutas árduas de nossos antepassados, dos nossos esforços no presente e do grande
futuro que nos é prometido.
Procuramos introduzir no Município a mesma filosofia da revolução de 31 de março,
que, em apenas 7 anos, transformou a feição econômica do Brasil e deu aos
brasileiros aquela certeza na grandiosidade da Pátria e na bonança dos dias que
virão, projetando nossa terra entre as maiores nações do mundo.
Nós participamos com orgulho nesse esforço, colocando a serviço do povo o melhor
de nosso trabalho sem buscar da posteridade senão a tranquilidade de que
cumprimos com o nosso dever e soubemos honrar, modestamente, a alta dignidade
do cargo que a vontade popular nos outorgou.
Leonildo Alvizzi (Prefeito Municipal)

Uma das assertivas do prefeito sobre um comércio vigoroso é facilmente comprovada pela
inversão populacional com predominância da urbana em detrimento da rural. Segundo Bizelli (1993),
há uma população urbana de 28.478 habitantes para 10.572 residentes na zona rural, enfatizando
também o registro de 35 novos loteamentos, totalizando 7.156 lotes.
Boa parte da cidade já pode contar com água, luz, telefone e asfalto, e o prefeito administra
buscando recursos para dotar outros locais da cidade com os referidos benefícios. Constrói um
reservatório de água no Jardim Progresso, faz melhoramentos na Av. Augusto Cavalim (figura 73),
que dá acesso à exposição e no trevo da Brasilândia.

Figura 73 Avenida Augusto Cavalim, que dá acesso à


Exposição Agropecuária.
Fonte: Revista, 1971.

Dando cumprimento ao programa a que se propôs e que tinha como centro o homem em
seus aspectos educacional, sanitário e sócio-cultural, Alvizzi realizou seu governo totalmente voltado
para os setores que permitiam alcançar seus objetivos.
O setor educacional mereceu especial atenção. Nove prédios para abrigar escolas foram
construídos na zona rural e na urbana. Um grupo escolar foi edificado no bairro Boa Vista e grande
76

reforma no Grupo Escolar Afonso Cáfaro foi efetuada para abrigar o ginásio Estadual de
Fernandópolis, bem como a instalação e funcionamento do MOBRAL, já relatado (figura 74).

Figura 74 Reforma de prédios escolares.


Fonte: Revista, 1971.

Com relação á saúde, juntamente a órgãos estaduais, constrói o prédio da Unidade


Polivalente de Saúde (figura 75), doando o terreno que se localiza no Jardim América; contrata
dentista para proporcionar serviço dentário à população rural em veículos doados pelo Estado, bem
como contrata outros profissionais para atender a crianças em estabelecimentos de ensino.

Figura 75 Prédio da Unidade Polivalente de Saúde.


Fonte: Revista, 1971.

No início de 1969, foi instalado e entrou em funcionamento o Consórcio da Promoção


Social. Este tinha a finalidade de estudar os problemas sociais da cidade e região e programar as
atividades para diminuí-los. O primeiro presidente do referido consórcio foi o Sr. Antonio França
(figura 76).
77

Figura 76 Sr. Antonio França, 1º presidente do Consócio de


Promoção Social.
Fonte: Revista, 1971

A partir da instalação do Consórcio de Promoção Social, várias associações de cunho


filantrópico foram constituídas, tais como o Abrigo de Menores Melvin Jones.
A história dessas instituições já é relatada em abrangente trabalho de pesquisa realizado
pelos alunos da 4ª série do 2º grau do magistério da Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares, nos
anos de 1974 a 1982, sob a coordenação e supervisão da professora Laura Maria Borges Mapelli.
Professora e alunos tinham como objetivo reunir todos os dados disponíveis a respeito da
assistência social prestada às crianças do município por meio das instituições de cunho filantrópico.
Ainda em início de 1969, foi instalada a Inspetoria Regional de Educação Física com
jurisdição em diversos municípios da região. Seu primeiro dirigente foi o professor José Geraldo
Mirabelli (figura 77), auxiliado pela professora Silvia Guimarães. e também a Instalação da Delegacia
de Ensino Secundário e Normal.

Figura 77 Prof. José Geraldo Mirabelli e a profª. Sílvia Guimarães


Fonte: Revista, 1971.

Foi durante essa administração que um grupo de cidadãos portugueses, tendo à frente
Mario de Matos, construiu a Casa de Portugal (figura 78), um grande empreendimento sócio-
recreativo.
78

Figura 78 Casa de Portugal.


Fonte: Revista, 1971.

Nesse período, continuam as providências para a construção da ponte sobre o Rio Grande
que, na ocasião, foi chamada de Ponte da Integração (figura 79) por facilitar a ligação da região
noroeste paulista com os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

Figura 1 Ponte da Água Vermelha, sobre o Rio Grande

Figura 79 Ponte rodoviária de Água Vermelha sobre o Rio Grande.


Fonte: Revista, 1971.

É ainda instalada a Delegacia Regional da Caixa Econômica do Estado de São Paulo.


Grande esforço foi feito para a ampliação do sistema de abastecimento de água,
perfurando-se vários poços semi-artesianos. No entanto, mesmo com abertura desses poços, a oferta
de água continuava escassa para abastecer toda a população (figura 80).
79

Figura 80 Reservatório de água do Jardim Santa Helena.


Fonte: Revista, 1971.

Figura 81 Válvula de segurança do sistema de


abastecimento de água
Fonte: Revista, 1971.

Objetivando resolver o problema, Alvizzi busca, com o governo estadual, um empréstimo


junto à Caixa Econômica Estadual através de financiamento para a perfuração do poço profundo
(Poção) (figura 81). Esse processo, iniciado em fins de 1970, será concluído em início de 1976, na
administração Ferrari.
Vê-se que, pelo relato de todas as administrações até agora feito, os problemas do
abastecimento de água, a ponte sobre o Rio Grande, a estrada que ligaria definitivamente
Fernandópolis a outros estados, também a instalação de uma escola de nível superior foram
assuntos que envolveram sempre entusiasticamente prefeitos e vereadores com discussões
acaloradas e lutas constantes e que foram sendo viabilizadas no transcorrer das diversas
administrações.
Ao término do governo Alvizzi em 1972 e início do governo Ferrari em 1973, inicia-se, no
país, um processo de mudança e definição do quadro partidário.

É quando o MDB começa a organizar a sua estrutura partidária municipal em bases


mais sólidas. A nova situação obriga as variadas tendências existentes nos
municípios a conviverem dentro de um mesmo partido para que possam sobreviver
politicamente. Assim, os dois partidos não têm uma composição homogênea de
interesses, na esfera municipal. A essa característica acrescenta-se o fato de que o
MDB tinha, desde o início, um caráter nitidamente de oposição à ditadura militar, e a
ARENA, um caráter de situação, dado que os que optaram por se filiar a ela passam
a defender o regime militar. (KERBAUY, 1993, p. 214)

Em Fernandópolis, como já enfatizado, os políticos de tendências divergentes filiam-se


todos à ARENA, cabendo ao MDB um papel secundário, não apresentando candidatos aos cargos
majoritários; para a câmara somente foi eleito pelo partido o Sr. João Fernandes. As várias
manifestações de apoio ao governo federal, já relatadas na plataforma política de Alvizzi, bem como
nas atas da Câmara, demonstram essa realidade.
ANTENOR FERRARI (1973/76)

Figura 82 Antenor Ferrari Figura 83 Antonio Gonçalves Neto

Figura 84 Bandeira do município de Fernandópolis.


Fonte: Lei n. 420, de 06 de novembro de 1975.

Antenor Ferrari (figura 82) e seu vice Antonio Gonçalves Neto (figura 83) eram da
ARENA 2 e obtiveram 6.381 votos contra Newton Camargo de Freitas e Rubens Dalton Garcia
Stroppa da ARENA 1 que conquistaram 4.961 votos. Para o legislativo não foi eleito nenhum
vereador do MDB. Os vereadores eleitos eram, em sua maioria, filiados à ARENA 2, partido do
prefeito. Apesar de só ter concorrido a ARENA, houve 537 votos em branco e 316 nulos, de
num total de 11.700 O resultado do pleito de 1972 (para a vereança) foi o seguinte:

Vereadores
Milton Edgar Leão (ARENA 1): 1.125
Waldomiro Renesto (ARENA 2): 910
João José de Paula (ARENA): 823
Armando José Farinazzo (ARENA 1): 694
Eduardo Colombano Soler (ARENA 2):609
Raul Gonçalves (ARENA 2): 602
Moacyr Vieira da Costa (ARENA 1): 597
Jorge Aidar (ARENA 2): 533
José Akira Massuda (ARENA): 472
Martinho Fernandes (ARENA): 456
Sakai Yoshida (ARENA): 447
Armando Antonio Salioni (ARENA): 398
Antonio Brandini (ARENA 1): 377
81

A candidatura de Antenor Ferrari27 acontece com a saída de Percy da disputa


eleitoral, cuja candidatura fora impugnada em consequência da condenação na Ação Popular
contra ele movida, iniciada em 1965 e ainda em andamento na época.
Milton Edgard Leão, eleito vereador para essa legislatura, assim relata os bastidores
da proposição do nome de Ferrari:

Historicamente em Fernandópolis existiam dois grupos políticos rivais: aquele


ligado ao Pacheco com orientação de Jânio Quadros e udenista e aquele
ligado ao Percy com ligação ao ademarismo.
O Antenor era tido como pachequista. Com a cassação da candidatura do
Percy e dada a ligação dele com o Fernando Jacob, que era do lado do
Percy, indicaram o Antenor para prefeito pelo partido do Percy. Aí deu uma
confusão danada, porque os percilianos não confiavam no Antenor e os
pachequistas, como o Armando Farinazzo, que era sobrinho dele e eu (Milton
Leão) estávamos contra ele. Posteriormente, Armando passa a dar uma força
ao tio

Ferrari e Antonio Gonçalves irão governar Fernandópolis no início do período da


“distensão” lenta e gradual, expressão que marcou o governo do general Geisel. Era uma leve
esperança de normalidade constitucional. Nas eleições parlamentares de 1974, o MDB
conquista sua maior vitória: 170 deputados federais e vários senadores. Em Fernandópolis,
que, nas eleições de 1972, nem mesmo apresentara candidatos do MDB, dá a Orestes Quércia
(senador) uma estrondosa vitória e ajuda a eleger Osvaldo de Carvalho deputado de Jales e
Auro Ferreira, de Votuporanga, todos do MDB, dando-lhes mais votos do que para Adhemar
Monteiro Pacheco.
Era Fernandópolis acompanhando a tendência que foi a palavra de ordem em todo o
país. No entanto, esse pleito, que mostra ao país a insatisfação com o governo militar,
demonstra para Fernandópolis uma dura lição: das três cidades – Jales, Fernandópolis e
Votuporanga – Fernandópolis é a única que não tem representação parlamentar
autenticamente local, uma vez que Pacheco já não residia na cidade. Era claramente a vitória
da desunião política que sempre imperou por aqui. A união entre opositores para o bem da
cidade parecia aos políticos um estigma que os diminuiria e nunca uma ação que os
dignificaria.
Os anos do final da década de 60 até meados da década de 70, período dos
governos Percy, Alvizzi e Ferrari, foram marcados, nacionalmente, por dois pólos: a oposição
armada ao regime militar de um lado e um grande progresso econômico do outro.
Crescem as passeatas contra a ditadura militar e aumenta a repressão. Bombas
explodem, mas a indústria vive progresso extraordinário. A União Nacional dos Estudantes
(UNE) organiza um protesto contra o regime e cem mil pessoas saem às ruas do Rio de
Janeiro. No setor industrial, tudo é “cor de rosa”. O governo mostra o seu primeiro avião, o
Bandeirante, e cria a Embraer. O astronauta Neil Armstrong preparava-se para ir à lua e,
quando ele pisa em seu solo em 20/07/69, todos os brasileiros, inclusive os fernandopolenses,
puderam ver a epopéia pela televisão, porque o Brasil já estava integrado ao mundo através da
Embratel. Dr. Euryclides Zerbini fazia transplantes de corações e o coração do povo vibrava
nos festivais com os Mutantes, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Milton
Nascimento e outros.
Foram anos de glória para as empreiteiras, empresas de engenharia e de construção
civil. Constroem-se as pontes Rio-Niterói e a Florianópolis-Continente. Elevam-se grandes
viadutos em várias capitais, como o elevado General Costa e Silva (Minhocão) em São Paulo e
as vias expressas, como as marginais do Tietê e Pinheiros. Constroem-se a ferrovia do aço, os
grandes estádios de futebol e a Transamazônica, que empurraria para lá os nordestinos que
fugiam das secas, a Cuiabá-Santarém, a Imigrantes em São Paulo e muito asfalto novo em
velhas estradas. Surge, a partir de 1974, “a crise do petróleo”, consequência da guerra entre
Egito e Israel. Os países árabes reduzem em 25% as exportações de petróleo e seu preço
sobe assustadoramente. Essa crise obriga os países a procurarem alternativas. No Brasil
nascem o Proálcool, o programa nuclear e as hidrelétricas.
O país ainda irá viver mais ou menos três anos de euforia até chegar ao fim o
“milagre econômico”, e Fernandópolis aproveita bem essa euforia. Esse período coincide com

27
Antenor Ferrari, em sua campanha política, recebeu a alcunha de “Pavão”.
82

a viabilização de obras que se arrastavam por várias administrações e outras, diretamente


consequentes da ação política de Ferrari.
Desde o dia 11/02/72, estava aprovado o Projeto n. 63/72 referente à construção de
casas pelas Centrais Elétricas do Estado de São Paulo (CESP) para residência dos
engenheiros e técnicos que construiriam a Usina de Água Vermelha28. Coube a Ferrari a
negociação do terreno medindo 3.342 metros quadrados e, depois, mais 6 alqueires para a
construção do núcleo da Cesp, o que lhe rendeu uma inimizade com o proprietário das terras,
Sr. Humberto Cáfaro. Relembrando aqueles tempos, assim veicularia a Folha de Fernandópolis
de 28 de março de 2008:

QUANDO...
a Cesp veio para a região para definir seu cronograma expansionista de
obras, com atenção especial para a construção da Usina de Água Vermelha,
a diretoria da empresa, baseada em levantamentos e estudos técnicos,
definiu que as moradias para os engenheiros, nível 5, seriam construídas em
Fernandópolis.
COLOCADAS...
algumas áreas à disposição para construção do núcleo residencial, a escolha
avançou para terras da família Cáfaro. A desapropriação por parte da
prefeitura custou o rompimento de uma amizade de algumas décadas entre
Humberto Cáfaro e o prefeito Antenor Ferrari. Segunda-feira, ainda pela
manhã, Ferrari, emocionado, confessava ao redator da coluna, que Deus, em
tempo, houvera abençoado a reconciliação com seu amigo cursilista.

O jornal Folha de Fernandópolis, de 11/09/73 traz a esperada notícia: “a estrada


chegou: conclusão em 60 dias”. E, realmente, no dia 10/11/73, a manchete com fotos mostra a
estrada Fernandópolis-Água Vermelha, que terminava na então Cachoeira dos Índios, já em
fase de conclusão (figuras 85 e 86).

Figura 85 Asfaltamento da estrada Fernandópolis-Água Vermelha.


Fonte: Folha de Fernandópolis, 1973.

28
Sobre o que se convencionou chamar de Núcleo da Cesp, ver maiores informações sobre O processo
de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, ao final desta seção.
83

Figura 86 Estrada Fernandópolis-Água Vermelha em fase de conclusão.


Fonte: Folha de Fernandópolis, 1973.

No início de 1973, em meio à euforia pela abertura da estrada Água Vermelha,


chegam as máquinas para a perfuração do poço profundo artesiano. Há queima de fogos, mas
também críticas da oposição que creditava os méritos da solução do problema da água e a
construção da estrada à administração Alvizzi.
Na verdade, houve esforços de várias administrações anteriores e, na de Ferrari, o
Instituto Tecnológico de Pesquisa do Estado de São Paulo realiza pesquisa para detectar o
local onde a potencialidade da água seria ideal para perfurar. Escolheram-se as margens do
córrego da Abelha, onde foi perfurado o Poção I. Embora com vários entraves que dificultaram,
sobremaneira, a solução do grande problema de abastecimento, esse foi finalmente resolvido
em 1976, ocasião em que o poço profundo jorrou água. O volume primeiro do livro
Fernandópolis, nossa história nossa gente narra todas as medidas técnicas e administrativas
para a resolução do abastecimento de água em Fernandópolis.
As atas da câmara referentes aos anos de 1973 e 74, bem como o noticiário do jornal
Folha de Fernandópolis, que começou a circular em 1974, refletem um período alvissareiro
tanto no campo político-econômico, como jurídico, cultural, esportivo e social.
Houve o pagamento a Da. Filomena Cáfaro da importância de cento e oito mil
cruzeiros (CR$108.000,00) referentes aos terrenos onde se construiriam o campo de beisebol
e parte das casas do núcleo da Cesp.
Uma comissão composta de políticos e de pessoas ligadas à justiça vai a São Paulo
reivindicar a instalação da 2ª vara da comarca, que, só será instalada, porém, na gestão
seguinte de Milton Edgard Leão.
O vereador Armando José Farinazzo propõe a instalação da Casa da Cultura, do
Museu Histórico de Fernandópolis e a criação do Museu do Som, com o nome de Manuel
Ferreira de Mello (proprietário do Hotel Central, primeiro prédio assobradado da região). Esse
hotel, que era um patrimônio arquitetônico da cidade, foi demolido e, em seu lugar, construiu-se
o prédio da loja de brinquedos Bazar do Luiz. Ainda dentro do referido período, efetivou-se a
construção do Ginásio de Esportes, que, no governo de Milton Edgard Leão, passou a chamar-
se Centro Esportivo Dr. Querton Ribamar Prado de Souza, em homenagem ao “Atleta Símbolo
da Cidade”, bem como a instalação do Tiro de Guerra, término do asfaltamento da Avenida
Afonso Cáfaro em direção à estação ferroviária, com a colaboração da Cesp (que pagou 46%
da obra, uma vez que a avenida beneficiaria os técnicos e engenheiros que iriam residir no
núcleo em construção).
84

A Telesp oficia à Prefeitura que, dentro de curto prazo, chegarão a Fernandópolis os


telefones automáticos; é assinado um convênio para o asfaltamento da Rodovia Água
Vermelha.
Embora com grande desenvolvimento em vários setores, o jornal “Folha de
Fernandópolis” de 01/09/74 noticia sob o título: “É a grande lacuna”:

E a grande lacuna continua sem ser preenchida [...]. Nossa Fernandópolis,


gigantesca em todos os aspectos, ainda não conseguiu se equiparar a outras
em matéria de faculdade. Os ônibus (aumentando cada vez mais)
permanecem transportando nossos estudantes, noite após noite, numa
aventura que nos deixa aflitos [...]. E os índices de acidentes, estão aí,
crescendo assustadoramente. Achamos que é chegada a hora de parar de
sobressaltos. Chega de ônibus novos; o negócio é a Faculdade.

O atraso na instalação de uma faculdade em Fernandópolis reflete uma vez mais o


antagonismo de grupos políticos. Se o projeto proposto era de oponentes, mesmo que benéfico
à comunidade, a luta era sempre para criar empecilho à sua realização.
Várias iniciativas foram tomadas para preencher a lacuna do campo educacional,
como a de Luiz de Arruda Rolim. No dia 17/04/1972, foi aprovado o estatuto da Associação
Educacional de Fernandópolis (AEF), que tinha como diretor Luiz Arruda Rolim e como
membros Yara Maria Pimentel Rolim e Marisa Martins Mussolino. A AEF foi registrada no
cartório de Fernandópolis sob o número 8.335, às folhas 75, do Livro A.
A referida Associação propunha a instalação da faculdade de Educação, iniciando
com as seguintes áreas: Pedagogia e Letras com proposta de funcionamento a partir de agosto
de 1972. A escola já estava com os documentos solicitando aprovação, protocolados no MEC,
sob n. 22.010, desde o dia 05/04/1972.
O Fernandópolis Jornal do dia 21/05/1972 informa a apresentação de ofício n. 280/72,
do prefeito municipal com dois projetos de lei; o de n. 29/72, que declarava de utilidade pública
a AEF, cujo diretor presidente seria Luiz de Arruda Rolim foi aprovado por 08 votos a zero
(FERNANDÓPOLIS, 1972a).
O projeto de nº 30/72 autorizava o uso do prédio do Ginásio Estadual Afonso Cáfaro,
em comodato por 10 anos para funcionamento da faculdade. Não foi aprovado por falta de
quórum, uma vez que os vereadores Feres Bucater, Wilson Sanaioti e José de Almeida
Silvares se retiraram do recinto da Câmara.
No mesmo período, outros dois grupos pretendiam a instalação de uma escola de 3º
grau em Fernandópolis; uma tendo à frente Jatir de Souza (Capeta) e outra de Osvaldo Soler,
que já possuía em funcionamento a faculdade de Jales.
Uma comissão do Departamento de Assuntos Universitários (DAU), do Ministério de
Educação, esteve em Fernandópolis no dia 28/07/1972, para inspecionar o prédio e a
documentação da AEF. Essa comissão estava composta pelos professores Ady Correia Dias e
Roque de Barros Laraya, da Universidade de Brasília, e pelo professor José de Andrade, da
Assessoria Técnica do DAU. O parecer favorável dá a seguinte conclusão:

A comissão verificadora examinou toda a documentação existente, orientou a


organização do processo e estudou as condições da faculdade, constatando
a retidão de propósitos de que está imbuída a mantenedora no sentido de dar
a Fernandópolis seu estabelecimento de ensino de nível superior. Brasília,
20/10 1972. (FERNANDÓPOLIS,1972b)

O mesmo jornal informa que no dia 21/11/1972 esteve em Fernandópolis uma


comissão de professores de nível superior, designada pelo DAU para inspecionar os prédios
onde Soler pretendia instalar a Faculdade de Educação de Fernandópolis (FEF) e Jatir Martins
instalar a Associação Fernandopolense de Ensino (AFE). No entanto, a inspeção não pode ser
realizada porque Jatir Martins oficiou à comissão, considerando a inspeção irregular, alegando
falta de informação da data da vistoria.
Embora com objetivo comum – fazer funcionar uma faculdade em Fernandópolis –,
interesses divergentes, porém, frustraram o funcionamento de uma já instalada e impediram a
instalação de outras.
Apesar de que todas essas tentativas não tenham sido realizadas na época, hoje
(2012) Fernandópolis é considerada uma cidade universitária, atraindo jovens de várias regiões
85

do país. Um dos pilares da economia de Fernandópolis são as duas instituições de ensino de


nível superior, a Universidade Camilo Castelo Branco e a Fundação Educacional de
Fernandópolis29.
O Decreto-Lei n. 31/76, de origem do poder executivo, que criava a Fundação
Educacional de Fernandópolis, foi aprovado pela Câmara Municipal na sessão do dia 22/11/76
e foi transformado na lei municipal n. 462, de 25/11/76. O primeiro curso de nível superior,
Enfermagem e Obstetrícia, seria implantado em 198430.
Os anos de 1975 e 76 transcorreram em meio a algumas perdas, como a
transferência da Delegacia da Caixa Econômica Estadual para São José do Rio Preto
(02/06/75) e muitas conquistas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publica que a população de
Fernandópolis em 1975 já era de 43 mil habitantes. O crescimento populacional considerável
era o resultado, em parte, da vinda de técnicos e engenheiros para o núcleo da CESP. Leva-se
em consideração que, a essa época, iniciava-se, de modo crescentemente acentuado, a
migração do homem do campo para a cidade, em busca de novas e promissoras
oportunidades.
Em âmbito estadual, o recrudescimento da repressão atingia principalmente
jornalistas e sindicalistas, como, por exemplo, o ”caso Herzog”. Wladimir Herzog era diretor de
jornalismo da TV Cultura e, segundo Napolitano (1998, p. 57), ele foi intimado a comparecer ao
DOI-CODI, apresentou-se voluntariamente e, no dia seguinte à sua apresentação, apareceu
enforcado em uma cela, depois de assinar uma “confissão” na qual admitia ser membro do
Partido Comunista: “A morte de um importante jornalista, completamente desvinculada de
qualquer grupo de guerrilha, servia para demonstrar o poder desafiador do aparato repressivo,
sob a guarda do comando militar”.
Em âmbito local, na câmara municipal, vários vereadores propõem enviar às
autoridades estaduais e federais votos de congratulações pelo décimo primeiro aniversário da
Revolução de 1964. Houve júbilo também pela presença do Dr. Paulo Salim Maluf na
inauguração da estrada da Água Vermelha
Ao mesmo tempo, os governos federal e estadual solicitam que o poder municipal
envide esforços no sentido de se lançar uma chapa única nas eleições de 1976, unindo a
ARENA 1 à ARENA 2, reforçando o partido aliado e impedindo o avanço do MDB. Para
dificultar nova vitória da oposição nas eleições municipais, o governo federal baixa um decreto
que limita o acesso dos candidatos ao rádio e à televisão.
Concomitantemente, aprova-se a resolução n. 3/75, que regulamentava subsídio aos
vereadores, e o executivo assina convênio, em 10/04/75, com a Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos, bem como para a duplicação da rodovia Euclídes da Cunha. O primeiro convênio
assinado foi realizado de imediato; a duplicação da Euclides da Cunha, porém, só agora em
2011 começa a se realizar, decorridos já 36 anos.
A partir de setembro de 1975, com os serviços da SABESP e da CESP instalados e
em funcionamento, passou-se a aproveitar a água da represa Augusto Cavalim (figura 87) para
sanar, em parte, o abastecimento de água.

29
Para maiores informações, ler sobre Educação na seção de artigos desta obra.
30
Hoje a Fundação Educacional de Fernandópolis mantém as Faculdades Integradas de Fernandópolis
com 32 cursos, a Escola Profissionalizante Dr. Alberto Senra com 9 cursos e o Centro de
Aperfeiçoamento e Pós-Graduação (lato sensu). A Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), hoje
sob a denominação de Círculo dos Trabalhadores Cristãos do Embaré, também se expandiu a partir de
suas origens, mantendo de Medicina, Odontologia, Agronomia, Engenharia Civil entre outros. Em
conjunto, as duas faculdades fazem movimentar particularmente o comércio e o setor imobiliário da
cidade, uma vez que para Fernandópolis acorrem universitários de todo o país, especialmente dos
estados limítrofes ao estado de São Paulo, e aqui se fixam até cumprirem os anos escolares do ensino
superior.
86

Figura 87 Represa Augusto Cavalim, fonte de abastecimento de água


para a cidade
Fonte: Revista, 1971.

A SABESP inaugura sua sede regional na cidade; A TELESP instala em vários


pontos estratégicos telefones públicos beneficiando principalmente a camada mais pobre da
população.
Todas essas realizações formavam um conjunto de circunstâncias que permitiam aos
fernandopolenses uma vida mais confortável. E, realmente, as realizações que se deram em
seguida consolidavam as expectativas: o Tiro de Guerra foi instalado e, por Lei n. 420/75, é
criada a Bandeira do município.
O ano de 1976 inicia-se repleto de acontecimentos que permitem à cidade caminhar
em busca de mais progresso. No dia 20/01/76 foi instalado o 16º Batalhão da Polícia Militar do
Interior, criado por decreto n. 7 289, de 15/12/75, do Governo do Estado, que reorganiza a
Polícia Militar. O comandante nomeado foi o major Enemêncio Borges, e o sub-comandante o
então capitão Benedicto Vicente Mapelli. Nesse dia Milton Edgard Leão aproveita a ocasião
para louvar a Revolução de 31/03/64.
Em 01/02/76, Fernandópolis foi incluída no Programa de Cidades Médias, pelo então
governador Paulo Egydio Martins e pelo ministro do Planejamento Reis Veloso. A Folha de
Fernandópolis do dia 08/02/76 destaca a notícia dizendo que:

Repercute internamente e em toda a região o anunciado Programa das


Cidades Médias, em que de nossa região entrou apenas Fernandópolis e São
José do Rio Preto. Cidades vizinhas, como Jales e Votuporanga estão
trabalhando para serem incluídas também, o que parece difícil, pois o plano é
de âmbito federal e foi baseado em dados apenas técnicos. Fernandópolis
teve a seu favor a importantíssima situação de desenvolvimento que
atravessa no momento. A estrada de Água Vermelha/ Fernandópolis e as
casas que o núcleo da CESP aqui construiu transformando nossa cidade em
base de apoio para a construção da hidrelétrica de Água Vermelha foram
consideradas essenciais para que a cidade constasse do programa de
cidades médias.

Em 29/02/76, a câmara municipal reúne-se extraordinariamente para homenagear


com o título de “Cidadão Fernandopolense” ao Dr. Klaus Reinck, presidente da Companhia de
Saneamento Básico do Estado de são Paulo (SABESP).
Waldomiro Renesto, à época presidente da câmara, saudando o Dr. Klaus, assim se
refere:
87

Durante mais de 20 anos, a população fernandopolense teve que enfrentar o


angustiante problema de falta de água, que aumentava a cada ano em
virtude do espetacular crescimento da cidade. [...] Dr. Klaus determinou que
seus técnicos viessem a Fernandópolis, estudassem o problema e lhe
apresentassem soluções, daí surgindo o aproveitamento da represa Cavalim
e [...] continuam as obras de perfuração do poço profundo próximo ao córrego
Gatão, e mais dois outros poços de 300 metros serão perfurados.

No dia 10/03/76, tem início no município, por ordem dos três poderes, campanha para
aumentar para 20.000 o número de eleitores, uma vez que, à época, o número era de 17.000.
A referida campanha utilizava rádio, jornais e facilitava para a população carente tirando
gratuitamente suas fotos. Tal campanha é semelhante à realizada no governo Adhemar
Pacheco (l956/59), encabeçada pelo juiz Joaquim Rebouças de Carvalho Sobrinho, quando
houve um aumento altamente expressivo de 4.119 para 11.542 eleitores.
Ainda no final do governo Ferrari, foi instalado o Corpo de Bombeiros (22/10/76) e,
para agrado dos professores, principalmente os de ensino fundamental, no dia 28/10, foi
inaugurada a Casa do Professor, atual Centro do Professorado Paulista (CPP).
A partir de meados do ano de 1976, inicia-se a campanha política para o pleito
municipal de 1977/81. Pela primeira vez, em Fernandópolis, os dois partidos (MDB e ARENA)
entram na luta pela sucessão municipal e renovação da câmara. A ARENA, ainda persistindo
em uma divisão interna, apresenta 2 sublegendas: na ARENA nº 1, concorrem Percy Waldir
Semeghini para prefeito e para vice Raul Gonçalves; na ARENA 2, concorrem Milton Edgard
Leão para prefeito, apoiado por Antenor Ferrari, e para vice João José de Paula. Note-se que,
na eleição anterior, Antenor Ferrari elegeu-se com forte apoio de Percy Waldir Semeghini.
Pelo MDB concorrem 3 sublegendas: MDB 1, 2 e 3, que apresentam,
respectivamente, os candidatos a prefeito Jair Rodrigues, Walter Leon e Traber Viscard e para
vice, como candidato único para as três sublegendas, Shuiti Torii. Venceu Milton Edgard Leão,
persistindo grande a supremacia da ARENA sobre o MDB, o mesmo acontecendo nas cidades
da região.
Nessa eleição compareceram 15.753 eleitores 13.605 votaram nas duas sublegendas
da Arena e 1.093 se distribuíram nas três sub-legendas do MDB. Todos os vereadores foram
eleitos pelas sublegendas da ARENA, já que o MDB não conseguiu o coeficiente necessário
para compor uma cadeira na câmara.
Os resultados da eleição para prefeito foram os seguintes:
ARENA 1 – Percy Waldir Semeghini e Raul Gonçalves: 6.575 votos
ARENA 2 – Milton Edgard Leão e João José de Paula: 7.851 votos
MDB 1: Jair Rodrigues e Shiuiti Torii; 396 votos
MDB 3: Traber ViscardI Correa e Shiuiti Torii: 113 votos
MDB 2: Valter Vicente Leon e Shiuiti Torii; 93 votos.
Com os resultados do pleito, o candidato a prefeito eleito Milton Edgard Leão e seu
companheiro a vice-prefeito João José de Paula assumiriam o poder executivo para o
quadriênio que se seguiria (1977/1981)
.
PREFEITOS APÓS 1996
(Sinótico)

Para se complementarem os dados principais dos governos municipais e do


legislativo numa linha temporal até a atualidade, mesmo que de forma sucinta, apresenta-se
um quadro sinótico dos homens públicos que se seguiram ao governo Antenor Ferrari e suas
principais obras ou conquistas para Fernandópolis31. Abre-se, para ulteriores trabalhos a este
volume de Fernandópolis nossa história, nossa gente, a possibilidade (e conveniência
histórica!) de pesquisas a fim de se aprofundarem as propostas de cada gestão administrativa.

ARMANDO JOSÉ FARINAZZO


(quatriênio 1997/2000)

Foi eleito prefeito obtendo 14.539 votos pela coligação “União para o Progresso de
Fernandópolis”, formada pelo PSDB, PPB, PTB.

Figura 88 Armando José Farinazzo, 1997/2000.

O prefeito eleito em 03 de outubro de 1996 foi o professor Armando José Farinazzo


(figura 88) para ocupar o Executivo Municipal no quatriênio 1997/2000.
Nascido em 03/06/1945, em Potirendaba (SP), filho de Armando Ferinazzo e Adélia
Ferrari Farinazzo, foi casado com Wanda de Andrade Nazareth Farinazzo, com quem teve os
filhos Graziela, Andres e Marcel. Morou em Fernandópolis desde 1952; foi advogado e
professor, tendo exercido os cargos de diretor de escola e supervisor de ensino. Foi também
diretor regional do CDHU.
O diretor e advogado Armando José Farinazzo já ocupara, por três legislaturas,
assento na Câmara Municipal de Fernandópolis, tendo sido seu presidente em 1987/88. Foi
primeiro suplente a deputado estadual, cargo que ocuparia a partir de 01/01/97. Foi
coordenador e membro do PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro).
Teve como vice-prefeito Alcides do Faria Benedito Andrade, que ocupou também a
cadeira de deputado estadual a partir de 1º de janeiro de 1997.
Faleceu em São Paulo em 13 de agosto de 2011.
Para o quatriênio 1997/2000, a Câmara foi composta pelos seguintes vereadores:

Paulo Nogueira Barbosa - PSDB


Alaor Pereira Marques - PPB
Maurílio Saves - PSDB
Étore José Baroni - PPB
João Luiz Garcia Gomes - PL
Aguinaldo Pavarini - PFL

31
Os governos anteriores até 1996 já foram lembrados na edição do primeiro volume de Fernandópolis,
nossa história, nossa gente, editado em 1996.
89

Edjair Martins Tosta - PPB


Ademir de Jesus Almeida - PMDB
Alcides Luiz Semenzati - PSDB
Ana Maria Matoso Bim - PMDB
Antonio Carlos Finoto - PL
Darci Taroco - PSDB
Arnaldo Luiz Pussoli - PT
Luiz Antonio Pessuto - PFL
Aparecido Duarte Vieira - PSDB
Lourival Vieira Lopes - PMN
Mílton César Bortoleto - PPB

Principais obras, realizações e conquistas realizadas na administração Farinazzo

Conquistas
1 - Divisão Regional de Assistência e Desenvolvimento Regional (DRADS): engloba 49
municípios;
2 - Regional do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE): sedia 55 municípios.
3 - Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) – Regional.
4 - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Regional): abrange 55 municípios.
5 - Implantação do Banco do Povo.
6 - 4ª Vara de Justiça.
7 - Conselho Regional de Farmácia.
8 - Conselho Regional de Odontologia.
9 - Repasses estaduais em Dinheiro à Santa Casa de Fernandópolis.

Obras estaduais
1 - Lagoas de tratamento de esgoto
2 - Coletor-tronco de esgoto
3 - Perfuração do Poção IV e construção do sistema de resfriamento
4 - Rede de esgoto nos bairros
5 - Infraestrutura: iluminação, galerias, asfalto
6 - Implantação de novo sistema de sinalização no trânsito e colocação de semáforos
7 - Conjuntos Habitacionais: “Albino Mininelle”, “Antonio Marin” e “Sérgio Cavariani”
8 - Passarela sobre a Rodovia Euclides da Cunha
9 - Cobertura das quadras poliesportivas das escolas: Saturnino, Barozzi, Cáfaro, EELAS,
Armelindo Ferrari, Fernando Barbosa Lima e Antônio Tanuri
10 - Construção e reformas em várias escolas, nos bairros:
a) CEMEI Albertina Rosa de Souza – Parque das Nações
b) CEMEI Américo Borin – Brasitânia
c) EMEF Koei Arakaki - Paraíso
d) EMEI Maria Simão - Centro
e) CEMEI Tatiane Cristina dos Santos – Planalto/Vila Veneto
f) CEMEI Wilson Alves Ferraz – Araguaia/Paineiras
11 - Construção de centros comunitários
12 - Construção de campos de futebol, quadras de areias, campos de bocha, campos de
malha, nos bairros
13 - Construção e implantação da Casa da Gestante Dr. Fernando Jacob
14 - I Fórum de Desenvolvimento da Alta Noroeste
15 - Implantação da rede municipal de ensino infantil e fundamental
16 - Instalação da Escola Agrícola Melvin Jones
17 - Ampliação da rede municipal de creches
18 - Conclusão do Teatro Municipal
19 - 1ª Lagoa de Tratamento de Esgoto da Sabesp
20 - Implantação da Faculdade de Direito e Agronomia
90

NEWTON CAMARGO DE FREITAS (período 2001/ 2004)


(Governou até 19/03/2002)

Coligação PMDB - PT- PSB

Figura 89 Newton Camargo de Freitas, 2001/2002.

Newton Camargo de Freitas (figura 89) nasceu em São Carlos, em 5 de novembro de


1927, filho de Ernesto Camargo de Freitas e de dona Maria Nami Camargo de Freitas. Newton
frequentou a escola Dom Pedro II, de São José do Rio Preto, onde se formou em
contabilidade. De seu casamento com a Sra. Gladys Salomão Camargo de Freitas nasceram
os filhos Newton Jr., Luiz Fernando, Júlio César e Ernesto Neto. Faleceu em 29 de março de
2002.
,Assumiu a prefeitura o vice-prefeito Adilson Luiz Campos, em 1º de abril de 2002 ,
para completar a sua gestão.

ADILSON CAMPOS
(01/04/2002 a 2004)

Figura 90 Adilson Campos, 2002/2004.

Adilson Campos (figura 90) nasceu em Planalto (SP), em 04/11/1953, filho de Antonio
Rodrigues Campos e de Aparecida Monteolivio Campos. Veio para Fernandópolis em fevereiro
de 1961.
Frequentou as escolas: JAP, Ginásio Estadual e EELAS. Fez o curso Superior de
Matemática em Votuporanga (1974/76) e Direito em Araçatuba (1996/2000).
Iniciou sua vida profissional aos 14 anos de idade ao ingressar na Indústria Elétrica
WTW, em 1968. Trabalhou na COBRAL nos anos de l971/72. Depois, ingressou na Caixa
Econômica do Estado de São Paulo por concurso em 1973, onde permaneceu até fevereiro de
91

1976, quando assumiu suas funções no Banco do Brasil S/A, Agência de Fernandópolis, onde
se aposentou em 1998.
Casou-se em 1977 com Ângela Aparecida Sinibaldi Azadinho Campos, de cujo
matrimônio nasceram os filhos Ane Caroline, André Luiz e Ana Claudia. Tem dois netos: Lucas
e Laura.
São realizações desse período de governo:
- Recuperação de várias pontes, principalmente as das Avenidas Amadeu Bizelli (Avenida 7) e
dos Arnaldos (Avenida 4), destruídas pela enchente ocorrida em 2000 e que prejudicaram o
sistema viário, ilhando a região norte da cidade. Essas obras tiveram início com Camargo e
foram concluídas por Adilson.
- Conquista da Faculdade de Medicina da Unicastelo: trabalho desenvolvido pelo Prefeito
Adilson junto ao Ministro da Educação Cristovão Buarque
- Ampliação da rede de ensino infantil
- Construção da CEMEI Ângelo Finoto
- Implantação da Central da Saúde
- Implantação de Consórcio Intermunicipal da Saúde
- Desapropriação de área para construção de 300 casas populares
- Implantação do Projeto Cultural e Educacional Metal Madeira
- Implantação da Casa-Escola
- Implantação do Projeto Sentinela
- Implantação do Orçamento Participativo
- Elaboração para implantação do Plano Diretor de Fernandópolis
- Implantação do Programa de Modernização da Administração Tributária e da
Gestão dos Setores Sociais Básicos (PMAT), com recursos do BNDES
- Reforma geral da EMEFA “Melvin Jones” – Escola Agrícola
- Implantação do Programa Saúde no Campo
- Implantação da Patrulha Agrícola
- Construção da Casa do Caboclo, no recinto da Exposição
A Câmara foi composta pelos vereadores:

Mário Roberto Rodrigues Faria - PMDB-PT-PSB


Emerson Arouca Poço - PL-PTB-PSD
Maria Christina Dias Prado - PFL
Maurílio Saves - PFL
Milton Cesar Bortoleto - PFL
Salvador Rosante - PMN-PPB-PPS
Étore José Baroni - PFL
Alaor Pereira Marques - PFL
Francisco Affonso de Albuquerque - PMN-PPB-PPS
João Luiz Garcia Gomes - PL-PTB-PSD
Pedro Rodrigues Neto - PFL
Gilberto Arnar Martines - PSDB
Antonio Carlos Finoto - PL-PTB-PSD
Nilza Barbiero - PSDB
José Horácio de Andrade - PMDB-PT-PSB
Ana Maria Matoso Bim - PMDB-PT-PSB
Darci Taroco - PSDB
Antenor Ferrari – PMN-PTB-PPS
Warley Luiz Campanha de Araújo - PMDB-PT-PSD
92

RUI OKUMA (MASSANOBU OKUMA)


( 1º/01/2005 a 2008)

Figura 91 Rui Okuma, 2005/2006.

Rui Okuma (figura 91) foi eleito pela coligação “Inovação Já”, composta pelos
partidos: PP, PDT, PTB, PFL,PHS e PSP.
Filho de Masayuki Okuma e Thomico Koga Okuma. Nasceu em 05/05/1950, em
Fernandópolis. Faleceu em 04/02/2006. Propunha grandes planos para a cidade, mas não
pôde ver nenhuma obra sua efetivamente realizada, posto que a morte o colhera um ano após
sua eleição.
Para a Câmara concorreram as seguintes coligações: Inovaçao Já (formada pelo PP,
PDT, PTB, PFL, PHS r PSP), Frente de Renovação Democrática (com o PMDB e PSC),
Aliança Popular (formada pelo PPS e PT), Trabalho e Progresso (com o PP, PTB e PSB) e
Verde Esperança (composta pelo PMN e PV). Os vereadores eleitos foram:

1 - Alaor Pereira - Inovaçao Já


2 - Ademir de Jesus Almeida - Frente de Renovação Democrática
3 - Étore José Baroni - PSDB
4 - Manoel Sobrinho Neto Junior - Aliança Popular
5 - Francisco Affonso de Albuquerque - Trabalho e Progresso
6 - Maiza Rio - Frente de Renovação Democrática
7 - Milton César Bortoleto - PSDB
8 - Pedro Ribeiro de Toledo Filho - Verde Esperança
9 - Warley Luiz Campanha de Araújo - Inovaçao Já
10 - José Carlos Zambon - PL

ANA MARIA MATOSO BIM


(6/02/2006 a 2008)

Figura 92 Ana Maria Matoso Bim, 2006/2008.


93

Vice-prefeita eleita em 2005, Ana Maria Matoso Bim (figura 92) assumiu o cargo em
06/02/2006 com o falecimento do prefeito eleito Rui Okuma; completou o seu mandato em
2008.
Filha de Djalma Matoso e de Maria Tereza Soares Matoso, Ana Bim nasceu no Rio
de Janeiro em 13/02/1954. Casou-se com Avenor Esmenio Bim em 21/03/1978 em Nova
Iguaçu (RJ), com quem teve quatro filhos: Alan, Valquíria, Djalma e Camila, e 3 netas (Isabela,
Maria Thereza e Eduarda.
Cursou Estudos Sociais, licenciatura de 1º grau, concluído em 1979, na Faculdade
Regina Coeli (RJ). Formou-se em Serviço Social, Geografia (concluído em 1984, pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Associação Educacional de Jales) e Assistente
Social.
Realizações da gestão de Ana Bim:
Na saúde
1 - Coleta de Sangue nas Unidades de Saúde
2 - Abertura da Farmácia Municipal aos Sábados
3 - Implantou os Serviços Odontológicos em todas as Unidades de Saúde
4 – Construiu a UBS do Paraíso, com setor de Fisioterapia e o CEO( Centro de Especialidades
Odontológicas); um novo prédio da UBS Brasilândia e um novo setor da UBS Pôr-do-Sol.
Reformou/ampliou as Unidades do Ipanema, Uirapuru, Brasitânia, Caic, Ana Luiza, Araguaia,
Santa Bárbara, Vila Regina, Central de Saúde, Cadip, Caps e Cisarf
5 - Construiu o Centro de Zoonose
6 - Firmou convênio com a Unicastelo para criação de Especialidades no Pôr do Sol, aquisição
do Dr. Ônibus.

Na educação
1 - Assinou convênio para Construção da Pró-Infância, no Planalto
2 – Instalação da ETEC em fevereiro de 2006
2 - Conquistou o SESI no Ana Luiza
3 - Implantou o Curso Letra e Vida
4 - Refeições nas Escolas (EMEIS e CEMEIS)
5 - Construiu o CEMEI no Jardim Barbosa (Antonio Maurício)
6 - Reformou e ampliou a Escola das Irmãzinhas (Diretoria de Educação e Escola Especial)
7 - Reformou o CAIC e a Escola Alberto Senra
8 - Criação da Biblioteca Móvel

Infraestrutura
1 - Verbas para as Av. Getúlio Vargas e Raul Gonçalves através da renovação do convenio
com a SABESP
2 - Asfalto e galerias (Ipanema, Uirapuru, Alto das Paineiras, Planalto, Redentor) e asfalto e
recape em várias ruas da cidade, sendo mais de 30 km
3 - Iluminação em vários pontos da cidade
4 - Construiu e centralizou a Unidade de Atendimento ao Público junto ao Paço Municipal
5 - Recuperou o Tiro de Guerra e construiu a Junta do Serviço Militar
6 - Reforma e paisagismo da Avenida Expedicionários Brasileiros e dos Arnaldos
7 - Ampliou e remodelou o Foro local (convênio com o Estado)

Lazer / Social
1 - Construção e reforma da Praça Central com abertura da Av. Milton Terra Verdi
2 - Recuperou o terreno na Represa
3 - Projetou e começou a construir o Parque de Lazer da Represa (calçamento, aterro,
arborização) junto à represa municipal
4 - Firmou convênio com o Estado: Bom de Bola Bom de Escola
5 - Iniciou o Projeto Bem-Te-Vi na área do antigo Zoológico (asfalto, galerias)
6 - Construção de Galpão no Ana Luiza
7 - Criou e implantou o CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) e CREAS (Centro de
Referência Especializado em Assistência Social)

Empregos
1 - Compra de área de 8 (oito) alqueires em continuação ao Parque Industrial para doação aos
microempresários da cidade.
94

LUIZ VILAR DE SIQUEIRA


(1º/01/2009 a 2012)

Nas eleições de 15 de novembro de 2008, para o período de 2009 a 2012, foi


escolhido para prefeito o Sr. Luiz Vilar de Siqueira, tendo como vice-prefeito o Sr. Paulo Biroli.
Nessa segunda administração de Vilar, destacam-se as seguintes realizações,
desenvolvidas nos vários setores:
Educação:
- Renovação da frota escolar com a aquisição de onze veículos (ônibus, micro-ônibus e “vans”),
todos adpatados para deficintes físicos;
- Implementação do Programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA) e do Programa Brasil
Alfabetizado (PBA);
- Doação de terreno para construção da nova escola SESI;
- Implantação do ensino apostilado nas escolas municipais;
- Implantação do Vale Educação e Vale Uniforme;
- Inauguração da Nova ETEC, numa parceria da prefeitura com o governo do estado de São
Paulo;
- Instalação de laboratórios de informática nas escolas municipais;
- Implantação da Casa Aprender, que já formou mais de 1.000 alunos em cursos de depilação,
massagem, manicure e noções básicas de cabeleireiro.
- Ampliação da Escola Antônio Maurício e reforma das escolas Coronel, João Garcia Andreo,
Ivonete e EELAS;
- Construção de creche no Jardim Planalto - PróInfância
No campo da Saúde, foram instalados:
- Clínica da Mulher, com atendimento médico, ultrassons e realização pré-natal;
- Centro Integrado da Saúde, que oferece reabiltação física e psicológica para pacientes
encaminhados pelos médicos das Unidades Básicas de Saúde;
- Clínica da Criança, com atendimento noturno;
- Centro de Referência em Saúde com mais de 10 especialidades clínicas
- Instalação do Ambulatório Médico de especialidades (AME);
95

- Centro de Reabilitação Lucy Montoro, para recuperação de pessoas vítimas de acidentes ou


com deficiências físicas;
- Construção da PSF do Jardim Paulista, criação da UBS do Trabalhador Rural e reforma de 15
Postos de Saúde
- Implantação do SAMU;
- Ambulatório de Álcool e Droga;
- Centro de Referência em Saúde;
- Casa de Apoio de Barretos;
- Laboratório Municipal de Análises Clínicas;
Quanto à urbanização:
- Revitalização das praças Dr. Fernando Jacob, São Bernardo e construção da Praça Odille
DellaRovere, no Residencial Terra Verdi;
- Recuperação e revitalização das avenidas Getúlio Vargas e Raul Gonçalves Jr;
- Construção da ciclovia na Avenida Líbero de Almeida Silvares;
- Estação das Artes
- Condomínio Industrial no antigo IBC.
Relativamente à habitação, têm-se as seguintes obras ou providências:
- Já entregues 253 casas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU),
Conjunto Dr. Jayme Baptista Leone;
- Construção de 577 casas no Jardim São Francisco, ao lado do Jardim Ipanema, através de
uma parceria entre prefeitura e governo federal.
São ações também da atual administração:
- Construção do prédio da Delegacia de Defesa da Mulher;
- Ampliação do prédio do Fórum;
- Reforma e reativação do Tiro de Guerra, que havia sido fechado em 2007;
- Conquista da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a única do Estado de São Paulo;
- Recuperação de 50 km de estradas rurais pelo Programa Melhor Caminho;
- Conquista do Selo Município Verde Azul nos anos 2009; 2010 e 2011.

Como vereadores, ocupam a Câmara Municipal os seguintes eleitos:


André Giovanni Pessuto Cândido
Cândida de Jesus Silva Nogueira
Creusa Maria de Castilho Nossa
Dorival Pântano
Étore José Baroni
José Carlos Zambon
Maiza Rio
Rogério “Chamel” Pereira da Silva
Neide Nunes Borges Garcia Gomes
Júlio César Alves Machado (Zarola)
PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM FERNANDÓPOLIS ATÉ
1980

Rosa Maria Souza da Costa32


Vanda Aparecida de Lima Costa

1 TRANSFORMAÇÕES INICIAIS DO CENÁRIO URBANO DE FERNANDÓPOLIS

Transformar uma área em espaço urbano exige um conjunto de trabalho necessário e


imprescindível para dotar essa área de infraestrutura (água, esgoto, gás, eletricidade) e de
serviços urbanos (transporte, saúde, educação).
Corrêa (2002, p. 8) considera que o espaço urbano “é um reflexo tanto das ações que
se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram
suas marcas impressas nas formas espaciais presentes”.
Na tentativa da apresentação do processo de urbanização da área que hoje constitui
a cidade de Fernandópolis, há que se apontarem os povoamentos da vila Brasilândia e da Vila
Pereira como consequência direta das atividades econômicas mais importantes à época:
pecuária, café e algodão.
A concordância com o enfoque exposto é revelada por Rodrigues (1992, p.1-8).

O oeste pioneiro, e particularmente no noroeste paulista, a ocupação do


território e a emergência de uma vida urbana se dão na confluência entre
pecuária, café, ferrovia e algodão. Assim, quando a crise de 1929
desestruturou, em definitivo, a economia cafeeira, a expansão para o oeste
continuou [...]. A araraquarense abre caminhos do sertão, operando numa
lógica de racionalização de escoamento de uma produção agrícola regional
diversificada, destinada primordialmente ao abastecimento interno.

A frente pioneira que aqui se fixa é representada, de início, por duas correntes
migratórias, que depois se ampliam: a italiana e a baiana (figura 93).

Figura 93 Frente pioneira até 1950.


Fonte: Fernandópolis, 2004.

O imigrante italiano Carlos Barozzi adquiriu terras nesta região em 1930 e 1935,
somando um total de 600 alqueires. Foi na sua propriedade da gleba Marinheiro que ele iria

32
Rosa Maria Souza da Costa, professora, formada em História, e Wanda Aparecida de Lima Costa,
professora, formada em Filosofia, são historiadoras residentes em Fernandópolis e colaboraram,
intensamente, como responsáveis pela composição da seção histórica desta obra.
97

fundar, em 1938, a vila Brasilândia, a qual se expandiu com a vinda de várias famílias italianas.
Muitas adquiriram terras e outras se tornaram arrendatários nas terras de Barozzi.
O migrante baiano Joaquim Antônio Pereira esteve nesta região em 1918, a trabalho,
demarcando terras na região da Cachoeira dos Índios. Dois anos depois, em 1920, retornou
junto a outro migrante baiano, Francisco Arnaldo da Silva, e juntos adquiriram propriedades,
mas retornaram para suas cidades. Somente em 1924 é que Pereira retorna e adquire as
terras, dando-lhes a denominação de Fazenda São José, próxima ao rio Santa Rita. Nessas
terras Pereira fundaria a vila Pereira em 1939.
Tanto Barozzi quanto Pereira fundaram as vilas (figuras 94 e 95) porque perceberam
as vantagens de se criar um povoado para a valorização das terras e forçar a abertura de
estradas, bem como o prolongamento da EFA, facilitando o escoamento de produtos. No dizer
de Corrêa (2002, p. 16),

os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda


fundiária de suas propriedades, interessando-se em que estas tenham o uso
que seja o mais remunerador possível, especificamente uso comercial ou
residencial de status. Estão particularmente interessados na conversão da
terra rural em terra urbana, ou seja, têm interesse na expansão do espaço da
cidade na medida em que a terra urbana é mais valorizada que a rural.

Figura 94 Imagens do arruamento original de Brasilândia.


Fonte: Fernandópolis, 2011.

Figura 95 Planta original de Vila Pereira.


Fonte: CDP/FEF, 2009.
98

Segundo relata Bizelli (1993, p. 64), Barozzi doa cerca de 20 alqueires de terra para a
instalação do patrimônio: “Quatro ruas formavam o quadrilátero da praça e, logo em seguida, a
demarcação de quadras e lotes que, lentamente, iam-se irradiando em novas quadras e novos
lotes”. Brasilândia surge com a elevação do cruzeiro onde, posteriormente, se pretendia
construir a igreja do vilarejo.
Em 1939, Joaquim Antonio Pereira escolhe 19 alqueires de sua fazenda São José
para construir o patrimônio. Da mesma forma que Barozzi, o primeiro ato de Pereira foi o de
levantar um cruzeiro e rezar missa, rezada por padre Izidoro no dia 22/05/1939, dia de Santa
Rita de Cássia. Em 1945, o prefeito Miguel Dutra, decretou a data de “22 de Maio” feriado
municipal, em louvor à padroeira da cidade33.
O traçado de Vila Pereira, feito pelo agrimensor Leonardo Posella Segundo, contém
dez avenidas e dez ruas. O povoado cresce rapidamente e seu desenvolvimento é célere.
Embora Barozzi, no contrato com a Companhia Oeste de Terras (COESTER), tenha reservado
terras no trecho da atual Avenida Líbero de Almeida Silvares entre as duas vilas para a
construção de prédios que abrigariam órgãos públicos, antevendo que ali seria o centro da
cidade, na realidade isso não se concretizou, pois, quando ocorreu a união das duas vilas em
1945, Pereira já era hegemônica. Assim é que os primeiros loteadores de Fernandópolis foram
Barozzi e Pereira.
Mesmo antes da criação e instalação do município em 01/01/1945, já estava instalado
e em funcionamento (09/03/1944) o primeiro grupo escolar de vila Pereira (atual JAP), núcleo
onde será formado um novo bairro: o de Vila Aparecida.
Atrás do grupo escolar, onde existia um campinho de futebol e o campo de aviação,
foi erguida uma capelinha em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Essas duas
construções viabilizam o início de um núcleo urbano, atraindo moradores da zona rural que
buscam maior facilidade para a educação dos filhos, uma vez que à nova escola foram
anexadas algumas antigas escolinhas que funcionavam nas zonas rurais.
Pode-se afirmar, com segurança, que o primeiro bairro da nascente Fernandópolis
surgiu em função da educação.

Azul = núcleos iniciais (até 1950)


Amarelo = bairros da década de 1950/60

Figura 96 Primeiros núcleos da formação de Fernandópolis (até 1950-1960).


Fonte: Fernandópolis, 2004.

33
Fernandópolis não possui um feriado (cívico) comemorativo do aniversário da cidade, o qual,
normalmente, ocorre na data de elevação de uma cidade à categoria de município. No caso de
Fernandópolis, essa data seria “Primeiro de Janeiro”, uma vez que, em 01/01/1945, Fernandópolis foi
elevada à condição de município. O feriado de 22 de Maio é, pois, religioso e não político ou cívico.
99

O segundo bairro surge em função da construção da Estrada de Ferro Araraquarense


(EFA). O local escolhido, dois quilômetros distante do centro urbano, torna-se o bairro da
Estação (figura 96).
A estrada de ferro impulsionou o desenvolvimento da emergente Fernandópolis,
possibilitando o escoamento mais rápido da produção agrícola e trazendo novos habitantes: os
ferroviários, moradores da Vila Ferroviária.
A chegada dos trilhos foi, quase sempre, um marco na história das cidades. Com a
estrada de ferro, vem toda a infraestrutura que ela exige. Em Fernandópolis, bem como em
várias outras cidades do interior, ela propiciou a construção de unidades habitacionais
destinadas a abrigar os ferroviários e suas famílias, bem como os galpões para
armazenamento de produtos de cargas e descargas.
As referidas unidades habitacionais, construídas especificamente para moradias dos
ferroviários, seguem os padrões residenciais de regiões européias, principalmente da
Inglaterra, Alemanha e Itália. São espécies de chalés onde se empregam alvenaria, madeira e
ferro em casas geminadas. As casas tinham tamanhos diferenciados conforme o cargo
ocupado pelo ferroviário (figuras 97 a 100). Com a desativação da EFA em janeiro de 1997,
muitos dos antigos ferroviários venderam o direito de moradia para terceiros.

Figura 97 Vista atual da Vila Ferroviária (2011).


Fonte: As autoras, 2011. (Arquivo particular)

Figura 98 Vista atual da Vila Ferroviária (2011).


Fonte: As autoras, 2011. (Arquivo particular)
100

Figura 99 Placa de identificação das casas como


patrimônio da FEPASA.
Fonte: As autoras, 2011. (Arquivo particular)

Figura 100 Mesa de pedra, tanque de cimento e chaminé, características originais


que ainda sobrevivem nas casas da Vila Ferroviária.
Fonte: As autoras, 2011. (Arquivo particular).

Em Fernandópolis, foram construídas onze casas geminadas de um lado e três do


outro lado da via férrea (figuras 99 e 100). Destas últimas, duas foram demolidas. Além das
casas que abrigavam vinte e oito famílias, foram construídas a estação e armazéns,
constituindo uma estrutura adequada ao funcionamento necessário da EFA.
Assim como a Vila Ferroviária, mais tarde, a partir de 1972, outro núcleo habitacional
será instalado em Fernandópolis para abrigar funcionários que iriam construir a Usina (UHE) de
Água Vermelha34.

34
Para maior detalhamento da construção da Usina de Água Vermelha, consultar artigo específico nesta
seção da obra sob o tema “UHE de Água Vermelha e sua importância para Fernandópolis”.
101

Nas imediações da estação de embarque da EFA, na década de 1950, foram


instaladas importantes empresas de produtos agrícolas cultivados na época: Sociedade
Algodoeira do Nordeste Brasileiro S/A (SANBRA), Anderson Clayton (algodão); a Cooperativa
Mista da Alta Araraquarense (Agrimista), o Instituto Brasileiro do Café (IBC), a Companhia de
Entrepostos e Armazéns do Estado de São Paulo (CEAGESP) e ACCO (fabricante e
distribuidora de implementos agrícolas). O local foi escolhido justamente para facilitar o
escoamento dos produtos da região através da linha ferroviária (figura 101).

Figura 101 Parte do mapa desenhado por Francisco Leão e Benízio Florêncio Vicente, em 1969. Na foto,
está localizada a estrada da EFA e as empresas Anderson Clayton Corporation, Sanbra, Acco,
Agrimista, IBC e Cagesp.
Fonte: EELAS, 1975.

Na Avenida Afonso Cáfaro, são inaugurados a Santa Casa de Misericórdia (1956) e


o Asilo São Vicente de Paulo (28/09/1977), mas o povoamento da região só se dará mais
consistentemente a partir da década de 1990.
Os bairros que se vão formando (Aparecida e Estação) atraem uma população de
baixo poder aquisitivo, mas que vislumbra valorização e bem-estar em função da implantação
de futuros serviços públicos ou equipamentos como calçamento, água, esgoto, iluminação etc.
102

A evolução de um bairro e a sua urbanização resultam, de um lado, da ação dos


próprios moradores que, devagar, durante um longo período de tempo, vão melhorando suas
residências e implantando atividades econômicas diversas; de outro, advêm da ação do Estado
ou da prefeitura, que implantam alguma infraestrutura urbana, seja a partir de pressões
exercidas pelos moradores, seja por interesses eleitorais.
As ações, portanto, do estado e da prefeitura se concretizam. Em 1948, foi elaborado
o primeiro plano de abastecimento de água, o de serviço de iluminação pública e o de saúde,
principalmente no atendimento de crianças.
Em 1950, durante o governo de Líbero de Almeida Silvares, é construído o prédio
para o Ginásio Estadual de Fernandópolis (figuras 102 e 103), onde hoje se encontra instalado
o Quartel da 16º BPMI, em terreno destinado para esse fim no acordo firmado entre Barozzi e a
Coester em 1945.

Figura 102 Ginásio Estadual, na antiga Avenida União.


Fonte: EELAS, 1975. (Acervo particular)

Figura 103 Prédio do Ginásio Estadual de Fernandópolis na atual


Avenida Líbero de Almeida Silvares (antiga Avenida
União), onde hoje é o quartel do 16º BPMI.
Fonte: EELAS, 1975. (Acervo particular)

A construção do Ginásio e o funcionamento do Posto de Puericultura, na metade da


Avenida que ligava as duas antigas vilas, era uma maneira de preencher o espaço entre
ambas, além de, evidentemente, atender a crianças e jovens das duas antigas vilas. Nessa
avenida são também instaladas, ainda em 1950, a Casa da Lavoura e, em 1956, a Associação
Rural (BIZELLI, 1993).
Com relação às ações dos moradores, vê-se o desenvolvimento de atividades ligadas
à área terciária. Tanto na área central quanto nos dois bairros, surgem lojas como padaria,
açougue, quitanda, farmácia, armazém, botequim, oficina mecânica, oficina de carroças que
atendem às demandas mais frequentes da população. Os próprios comerciantes são
moradores e conhecidos dos fregueses. Percebe-se que há estratégias e ações concretas no
processo de fazer a cidade, tanto por parte do Estado e da prefeitura, como dos próprios
moradores. No entanto, há que se destacar ainda a ação dos promotores imobiliários, ou seja,
103

as companhias de loteamento, e frisar que, que embora possam ser encontradas diferenças
nas estratégias, tanto a prefeitura como o Estado, os particulares e os loteadores têm um
denominador comum que os une: a apropriação da renda ou lucro que possam obter com a
urbanização.
A ação de loteadores se faz sentir em Fernandópolis desde 1945 com a Companhia
Oeste de Terras (Coester) colocando à venda 784 lotes, dos quais 184 são vendidos logo de
início, formando o bairro Coester. Até os anos 1951 aproximadamente, a Coester dominava o
mercado de loteamentos. Nesse ano, passa a sofrer a concorrência da Companhia Construtora
da Casa Própria (CCCP). Segundo Bizelli (1993, p. 97),

nas décadas de 1940/50, o número de registros de lotes colocados à venda e


que foram configurando o perímetro urbano inicial soma 6.276 lotes, cuja
medida padrão é de 11/22 metros. Desse total, temos os registros como
localizados na sede (2.957), e os loteamentos realizados pela Coester, em
2.592 lotes. Em 1952, é registrado o loteamento do Parque Vila Nova (450
lotes) e o do Jardim Santa Rita (45 lotes).

Muitas vezes uma só pessoa registrava vários lotes em seu nome e não os colocava
à venda imediatamente. Esperava a valorização para vendê-los com lucro quando toda a
infraestrutura já estivesse servindo o local. Se o total de lotes adquirido fosse em número
elevado, a pessoa, quando os colocava à venda, fazia outro registro em nome diferente a esse
loteamento.
Corrêa (2002, p. 14) afirma que “a especulação fundiária interessa aos proprietários
fundiários porque cria uma escassez de oferta e o aumento de seu preço, possibilitando-lhes
ampliar a renda da terra”.
Quanto ao crescimento dos bairros já criados até fins de 1950, é necessário
esclarecer que o Bairro da Aparecida teve crescimento lento, havendo prolongamento só da
avenida em frente ao Grupo Escolar (atual JAP) e as duas ruas paralelas à praça da Igreja.
Somente a partir da década 60 é que o bairro absorverá um rápido desenvolvimento.
O crescimento mais rápido se dá com o loteamento da Coester, que ligava o centro
da cidade ao bairro da Brasilândia. No entanto, é um crescimento que se localiza no lado
direito da avenida no sentido centro-bairro (figura 104). Do lado esquerdo, além de ser um
terreno com grandes declives localizados e, por isso, cheio de erosões, era limitado também
pela rodovia, que, de alguma forma, também limitava sua expansão.

Azul: núcleos iniciais


Amarelo: 1950/60
Verde: 1960/70
Figura 104 Núcleos habitacionais de Fernandópolis entre 1960 a 1970.
Fonte: Fernandópolis, 2004.
104

A década de 60 foi marcada por grande transformação em relação às décadas


anteriores. A área do município se reduziu com o desmembramento de dois distritos,
Macedônia e Meridiano, emancipados em 1964. Ao longo dos anos 60, são realizados
dezesseis (16) registros de loteamentos com um total de 2.348 lotes, quase todos de
particulares.
Os maiores loteamentos foram o Santa Helena com 406 lotes, o Jardim do Trevo com
250 lotes registrados em 1964 e o Jardim América com 301 lotes registrados em 1967.
Com os loteamentos dos Jardins América e Santa Helena (figuras 106 e 107), que
seriam vendidos a partir de 1966, inicia-se, em Fernandópolis a formação de um bairro da elite
local, fenômeno denominado pelos geógrafos Burgess (1920) e Kohl (1941) de segregação
residencial (figura 105).
Os autores consideram que a localização junto ao centro das cidades que nasciam
constituía uma necessidade para a elite, porque ali se localizavam as mais importantes
instituições urbanas: o governo, a igreja, as instalações financeiras e o comércio. A localização
central da elite se devia a uma questão de acessibilidade à fonte de poder e prestígio. Mas, a
partir do momento em que se inicia o processo de centralização, a elite começa,
progressivamente, a abandonar suas residências centralizadas, passando a residir na periferia.

Figura 105 Esquema de segregação residencial proposto por Burgess


(1920) e Kohl (1941).
Fonte: Corrêa, 2002, p. 67.
105

Figura 106 Em primeiro plano, a rodovia Euclides da Cunha (sem asfalto); a


seguir a região do Jardim Santa Helena e, já esquadrejado, o Jardim
América com a reserva que seria o parque Antônio Augusto de Arruda
Rolim. Ao fundo, a cidade. A foto comprova os esquemas clássicos de
segregação residencial propostos por Kohl e Burgess (apud CORREA,
2002, p. 67).
Fonte: Luiz Rolim, 1970. (Acervo particular).

Figura 107 Ao alto, a região dos loteamentos Jardim América e Santa Helena. Nota-
se que a Avenida 6 não seria aberta, mas acabaria em um parque.
Fonte: Luiz Rolim, 1970. (Acervo particular).
106

A configuração da cidade se deve muito à construção da rodovia Euclides da Cunha


(1962), uma vez que ela delimita o perímetro urbano da época: o Bairro Brasilândia, por
exemplo, é formado em um lado da rodovia, onde é construído o primeiro trevo de acesso à
cidade. A rodovia também estabelece o limite do bairro Santa Helena, terras loteadas
pertencentes a Ladislau Batista de Oliveira.
Do outro lado da rodovia, foram planejados e realizados loteamentos populares como
os do Jardim do Trevo (1964) e Bairro Ubirajara, separados pela Avenida Duque de Caxias e,
na saída para Indiaporã e Populina, surge o bairro Bela Vista.

Azul: núcleos iniciais


Amarelo: 1950/60
Verde: 1960/70
Rosa:1970/80

Figura 108 Loteamentos em Fernandópolis entre 1970 e 1980.


Fonte: Fernandópolis, 2004.

Na década de 1970 há vários loteamentos (figura 108): o jardim Paulista com 362
lotes, São Judas Tadeu com 121 lotes e o Eldorado com 131 lotes, que vão preenchendo
alguns espaços que existiam tanto da Coester até a rodovia, como do centro da cidade à
Brasilândia.
Dos loteamentos da década de 1970, o da Companhia Energética de São Paulo
(Cesp), construído entre os anos de 1973 e 1974, terá destaque não só por suas
especificidades, como também por haver impulsionado o desenvolvimento econômico e social
de Fernandópolis.
A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) foi criada em 1966. Desde sua criação
e consolidação, ao lado de estudos que viabilizassem os recursos naturais para geração de
energia e sua distribuição domiciliar, a Cesp forma a Divisão de Arquitetura e Urbanismo,
visando a complementar as complexas atividades de engenharia. A arquitetura praticada pela
Cesp está impregnada pelo sistema de classificação, que garante um tratamento diferenciado
para os funcionários com maior grau de instrução.
Esse sistema é semelhante ao que Foucault (1979) denominou de “sistema de
diferenciações”. É a forma desigual com que indivíduos se apresentam diante de outros
indivíduos. Essas diferenças podem ser de ordem jurídica, econômica, profissional, cultural e
outras, envolvendo sempre uma relação de poder.
Foucault (1979) chama a atenção para o fato de que as relações de poder não devem
ser sempre associadas a aspectos negativos. Considera que o aspecto negativo do poder, sua
107

força destrutiva, não é tudo e talvez não seja o fundamental, ou que, ao menos, é preciso
refletir sobre seu lado positivo, isto é, produtivo e transformador. Ele diz:

É preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos:


“ele exclui”, “ele reprime”, “ele recalca”, ”ele censura”, “ele abstrai”, “ele
mascara”, “ele esconde”. De fato, o poder produz e possui uma eficácia
produtiva, uma riqueza estratégica, uma positividade. E é justamente esse
aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para
supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo. (FOUCAULT, 1979, p. 16)

O sistema diferenciador de Foucault (1979) envolve um tipo específico de poder que


é o poder disciplinar, incluindo uma técnica de distribuição dos indivíduos através de sua
inserção em um espaço individualizado e classificatório. Isola em um espaço hierarquizado
para que o indivíduo seja capaz de desempenhar funções diferentes segundo o objetivo
específico que dele se exige.
A Cesp, ao construir hidrelétricas, parece ter adotado tanto o modelo classificatório,
quanto utilizado o poder disciplinar separando os sujeitos por níveis de 1 a 6; a remuneração,
habitação, alimentação e lazer estavam diretamente articulados a esse sistema de
classificação que seguia uma ordem crescente.Nem sempre as pessoas percebiam a aplicação
do poder disciplinar: É o que se entende pela fala de um dos funcionários:
Aqui em Fernandópolis não havia discriminação para frequentar o clube. O que
acontecia é que as pessoas de nível 1, 2 e 3, elas mesmas se isolavam... Na Ilha
Solteira era separado. Havia um clube para os diferentes níveis. [...] Na usina,
havia separação. Lá havia o hotel da Camargo Corrêa, que servia a gente, até o
nível 3. O refeitório era separado e a comida também era diferente. Os
engenheiros tinham outro restaurante com outro tipo de comida. [...] Os
engenheiros tinham motoristas para levá-los até a obra para que eles só se
focassem em seu trabalho. Nada deveria dispersá-los. (Jesus Alves Nogueira, ex-
funcionário da Cesp, nível 3)

Essa fala demonstra que as relações de poder não somente devem ser associadas a
aspectos negativos, mas também que atuam de forma dupla. Se, pelo lado negativo, mostra
uma situação visivelmente heterogênea de poder, com engenheiros e técnicos com melhores
casas, refeitório e clube separados, pelo lado positivo garante acesso a casa, saúde,
educação, alimentação e lazer, a que boa parte dos operários, realmente, não tinham acesso
anteriormente. Mostra também que o objetivo da Cesp era a otimização do trabalho.
Paulo Marchiori, indagado se percebia que a Cesp utilizava um sistema diferenciador,
respondeu que nunca sentiu que houvesse uma diferenciação, pois, desde criança, viveu em
núcleos residenciais da Cesp e, por isso, estava acostumado com esse estilo de vida.

2 A CONSTRUÇÃO DO NÚCLEO DA CESP EM FERNANDÓPOLIS

O núcleo residencial da Cesp em Fernandópolis (SP) surgiu da necessidade de


abrigar trabalhadores na construção da Usina de Água Vermelha, atual UHE de Água
Vermelha. A descrição da construção do núcleo da Cesp contou com a colaboração de Paulo
Marchiori, antigo funcionário ainda residente no núcleo (figura 109).
108

Figura 109 Croqui original do núcleo residencial da Cesp em Fernandópolis.


Fonte: Fernandópolis, 1974.

Os barrageiros35 formavam uma classe de trabalhadores especializados em


construções de usinas e afins e vinham de outros canteiros de obras, deslocando-se de tempos
em tempos para novos lugares. Obviamente eles compunham a base operária da obra; no
entanto, ao iniciar uma nova usina, a empresa contratava um contingente muito grande de
trabalhadores nos locais e na região e, assim, iam-se formando novos barrageiros.
Água Vermelha é a quarta maior usina hidrelétrica do estado de São Paulo. Sua
construção trouxe enormes benefícios à região, diante da grandiosidade da obra e da
construção da infraestrutura necessária ao empreendimento. Esta era uma região que se
desenvolvia, mas era carente de tais benefícios. Sua construção injetou no mercado enorme
volume de recursos e a adoção de novas tecnologias, inovando e instruindo.
A ocorrência de vilas residenciais próximos às hidrelétricas para atender a construção
já era uma prática comum e se fundamentava na necessidade de abrigar esses trabalhadores,
uma vez que essas obras geralmente envolvem grande número de trabalhadores vindos de
outros centros e as cidades raramente dispunham de estrutura para atender a demanda.
A Cesp utilizou várias formas para abrigar os trabalhadores que construíam usinas
hidrelétricas: edificando cidades específicas inteiras, como Ilha Solteira e Primavera, que
nasceram como vilas residenciais e tornaram-se cidades independentes; montando núcleos
próximos das usinas os quais, após a construção, eram demolidos, ou se aproveitava a
infraestrutura das cidades da região próximas da obra e construíam núcleos residenciais.
Para a construção da Usina de Água Vermelha foram edificados, também, núcleos
residenciais em Guarani d´Oeste, Ouroeste, Indiaporã e Iturama, destinados aos operários em
geral. Fernandópolis foi beneficiada com a construção do núcleo destinado à alta administração
da Usina, onde residiam engenheiros chefes, encarregados técnicos, engenheiros franceses,
que vieram para a montagem dos equipamentos elétricos da usina todos importados da
França. Também se estabeleceram aqui operários que atendiam exclusivamente a essa chefia,
inclusive seus familiares (figuras 110 e 111).

35
Barrageiros – assim eram chamados os funcionários da Companhia Energética de São Paulo (Cesp),
indistintamente do grau ou nível de função que ocupavam na companhia. Para maiores informações,
consultar também o trabalho de Paulo Antônio Marchiori, em seu artigo intitulado “UHE de Água Vermelha
e sua importância para Fernandópolis”, constante da seção B, desta obra.
109

Figura 110 Casas da Cesp em Fernandópolis.


Fonte: Folha, 1974.

Figura 111 Construção do núcleo da Cesp em Fernandópolis (1973/74). Na foto estão


bem definidos os 4 níveis do núcleo: acima à direita, nível seis; à esquerda,
níveis 4 e 5; em primeiro plano, casas geminadas, nível 2. Na parte central
da foto, à direita, a construção do clube; ao fundo, à direita, o estádio
municipal.
Fonte: Marchiori, 2011. (Acervo particular)

Na época, com o objetivo de aumentar o espaço do núcleo, a Cesp propôs para a


prefeitura construir, às suas expensas, um novo estádio municipal em um local na Avenida
Augusto Cavalim, uma vez que o estádio confrontava com o núcleo, mas a prefeitura não
acatou a proposta.
110

Fernandópolis foi contemplada para abrigar a alta administração da usina, por sua
proximidade das obras e também por oferecer a melhor infraestrutura em relação às demais
cidades da região.
O núcleo de Fernandópolis foi construído entre os anos de 1973 e 1974. Possui uma
configuração diferente dos demais, inspirada num modelo de vila americana. Sua arquitetura é
mais arrojada que os demais, com características próprias: larga avenida com canteiro central,
grandes áreas verdes, fachadas sem gradil totalmente abertas, paisagismo, organização e
distribuição das residências em níveis hierárquicos em concordância com a função
desempenhada pelo funcionário e nível socioeconômico.
À época, foram edificadas 176 casas divididas em 04 (quatro) níveis de acomodação.
A quadra mais estruturada destinada à alta administração possuía 49 casas de alto
padrão, cerca de 250 metros quadrados de área construída, armários fixos embutidos em todas
as dependências e acomodações também para empregados domésticos.
As casas foram montadas pela Madezati, empresa do Rio Grande do Sul, e ofereciam
alto grau de conforto (figuras 112, 113, 114 e 115). Do antigo núcleo residencial da Cesp
surgiram dois bairros: o condomínio Morada do Sol, que abrange a quadra onde foram
construídas as casas dos engenheiros nível 6, e o Jardim Rio Grande que corresponde às
casas níveis 5, 4 e 2.

Figura 112 Casa nível 6, com 250 m2 de área construída. Quadra 6;


atual condomínio Morada do Sol.
Fonte: Marchiori, 1974. (Arquivo particular)
111

Figura 113 Planta de uma casa de nível 5 com 178,22 m2 de área


construída. Quadra 1: casas das ruas E, F, G e H -
Jardim Rio Grande.
Fonte: Fernandópolis, 1983. (Arquivo municipal)

Figura 114 Planta de casa do nível 4 , com 105,90 m2 de área


construída. Casas de parte da rua E e F1 quadra 3-
Jardim Rio Grande,
Fonte: Fernandópolis, 1983. (Arquivo municipal)
112

2
Figura 115 Planta de casa nível 2, com 90,58m de área construída.
Casas da Rua J, quadra 4, Jardim Rio Grande, destinada aos
funcionários que atendiam à alta administração e seus
familiares.
Fonte: Fernandópolis, 1983. (Arquivo municipal)

Ariovaldo Dalto Vieira, à época encarregado de obras da Madezati, comenta que

a Madezati (empresa de Caxias do Sul - RS) foi a empresa encarregada de


fornecer o material para a construção das casas. Quem construía eram as
empreiteiras contratadas pela Madezati; tinha que ser um processo rápido
porque faltavam casas para abrigar os engenheiros e técnicos da Cesp.

Ruas tortuosas visavam reduzir a velocidade dos veículos no local, associada a


grandes áreas verdes, compondo o visual mais bonito ao lugar.
Dispunha de toda uma equipe de manutenção civil, elétrica, transporte, motoristas,
telefonia com central de PABX e vigilância para atender à chefia residente no núcleo, além de
um clube recreativo mantido pela Cesp com excelente bar, piscinas, minicampo, quadra
poliesportiva, discoteca e promoção de grandes bailes frequentados também pela sociedade
fernandopolense.
Contava, à época, com um serviço de água e esgoto próprios, com poços artesianos,
caixa d’água, estação de tratamento de água distribuída por todo o núcleo. Esse serviço era
necessário na época, visto que Fernandópolis tinha sérios problemas no abastecimento de
água, só solucionado anos depois com a entrada em operação dos poções da Sabesp
(resquícios dessas instalações ainda existem no local).
As moradias eram cedidas gratuitamente aos funcionários, como também eram
isentos do pagamento das contas de água e luz, benefícios abolidos mais tarde após o término
da obra e com a chegada dos funcionários da operação e manutenção.
36
O núcleo foi construído nas terras da fazenda Brasitália , de propriedade da família
Cáfaro, zona sul da cidade, ao lado do Estádio Municipal. No local, existia também um campo
de basebol, onde hoje está localizada a sede da Secretaria de Esportes e Turismo (antigo
clube da Cesp).

36
Para construir o núcleo residencial, foram desapropriados da família Cáfaro dois lotes de terrenos da
fazenda Brasitália e doados à CESP: o primeiro (Lei 253, de 02/06/73) com área aproximada de 3,5
alqueires, pelo qual foi paga a Filomena Brandi Cáfaro a quantia de 108.000,00. O segundo, com cerca
de 6,5 alqueires (Lei 323, de 02/05/74) só foi pago pela CESP quando, em 1988, houve o desmonte do
núcleo e a CESP devolveu à família Cáfaro parte do Jardim Rio Grande.
113

Para a construção, fez-se necessário executar obras de infraestrutura no núcleo,


como também em todas as imediações de acesso; obras de pavimentação, drenagens,
esgotos, calçamento, eletrificação e iluminação.
A Avenida Amadeu Bizelli foi pavimentada toda, a partir do cruzamento com a Rua
Bahia, chegando até a entrada da sede da fazenda Brasitália, próximo à estrada de ferro.
As ruas Moacir Ribeiro, Rosalvo Aderaldo e todo o interior do núcleo, suas ruas
internas e as ruas de divisas com os bairros adjacente foram pavimentados ou refeitos e
efetuados calçamento do passeio público.
A Avenida Afonso Cáfaro (avenida da estação) também foi asfaltada com participação
da Cesp. Na época, falava-se que Fernandópolis distribuía sua autoridade municipal entre dois
prefeitos: Ferrari e a Cesp.
A construção da usina de Água Vermelha e a do núcleo residencial da Cesp em
Fernandópolis produziram enormes reflexos na economia local e regional, gerando empregos e
37
atraindo investimentos paralelos. Para Ariovaldo Dalto Vieira ,

Foi um tempo em que correu muito dinheiro. A Cesp e outras empreiteiras,


como a Madezati, pagavam muito bem. Esse dinheiro movimentava os
escritórios e consultórios de profissionais liberais, como advogados,
engenheiros, médicos, dentistas; movimentava o comércio e as locadoras de
imóveis. Os profissionais que ofereciam mão de obra como os pedreiros,
pintores, encanadores, eletricistas, empregadas domésticas se beneficiaram
com aumento de salários. Consequentemente, aumentaram os investimentos.
Muitos engenheiros da Cesp construíram casas para alugar no Santa Helena,
bairro de classe alta local, que também estava se desenvolvendo na época.

A renda per capita nos canteiros de obras era bem superior ao praticado até então na
região, gerando divisas e desenvolvimento para o comércio e a indústria local e regional.
Fernandópolis, especialmente por abrigar os funcionários das mais altas funções e, por
conseguinte, com alto poder aquisitivo, foi impulsionada pelo “boom” causado e viveu grande
momento de euforia e dinamismo proporcionando crescimento e desenvolvimento
generalizado.

Fernandópolis, uma pequena cidade que tinha na agropecuária e força motriz


da sua economia, com a chegada repentina de uma população com alto
poder aquisitivo e intelectual, sofreu um impacto considerável. A princípio, o
mercado imobiliário ficou aquecido, depois o comércio corre para atender às
novas exigências de consumidores sofisticados: os supermercados da época
(Pastorinho, Luzitana e Pires) ofereciam pordutos que até então nunca foram
expostos em suas gôndolas (whisky, vinho e champanhe importados,
camarão, lagosta etc). O valor do salário de trabalhadores domésticos, como
jardineiro, faxineira, motorista, lavadeira, cozinheira, foram às alturas.
Também no aspecto cultural a vinda dos “barrageiros” foi impactante: havia
apresentação de peças teatrais no FEC com a participação de atores da
Rede Globo de Televisão, grandes bailes com a participação da elite social
na Casa de Portugal. Entretanto, havia na população local, pricipalmente
entre os jovens, um certo recentimento com a invasão desses estrageiros,
sentimento que foi reforçado com a inauguração do Clube da Cesp exclusivo
para os “Cespianos”. Mas, de uma maneira geral, a convivência foi boa e
trouxe muito progresso para Fernandópolis. (Humberto Cáfaro Filho38)

Após a conclusão da obra em 1979, os barrageiros, tidos como povos seminômades,


construtores do maior parque industrial da energia elétrica no estado e no país, foram sendo
transferidos para outras localidades, construindo novas obras e levando desenvolvimento a
novos lugares, deixando suas marcas nos municípios e regiões onde se estabeleciam
temporariamente para a construção de alguma obra.
Foram substituídos pelos novos funcionários técnicos que iriam operar e cuidar da
manutenção da usina; estes vieram residir nos núcleos residenciais aqui construídos.

37
Ariovaldo Dalto Vieira, na época, era encarregado de obras da Madezati.
38
Humberto Cáfaro Filho, atualmente, é professor na Universidade Círculo de Trabalhadores Cristãos do
Embaré (Unicastelo) e administra o condomínio Brasitália; parte das terras da fazenda Brasitália, de
propriedade da família Cáfaro, foram desapropriadas para a construção do núcleo da Cesp.
114

Muitos deles fixaram residência em definitivo aqui na região, atuando em outro


segmento, contribuindo com o desenvolvimento social e comercial.
No final da década de 80, mais precisamente em 1988, ocorreu o processo de venda
das casas do núcleo residencial aos funcionários que nelas habitavam (figuras 116).

Por fim, a Hidrelétrica de Água Vermelha ficou pronta e a maior parte dos
funcionários precisavam seguir para o proximo destino, mas muitos já haviam
fincado raizes aqui, outros se aposentaram e não queriam mais ir embora.
Então, montaram uma Associação de Moradores que, juntamente com a
Familia Cáfaro, que até o momento não havia sido ressarcida pela
desapropriação, se juntaram e negociaram um acordo com a Cesp, que
atendeu ao interesse de todos. À familia Cáfaro foram oferecidas três opções
de reparação: uma área próxima à barragem de Água Vermelha, o aeroporto
da usina e uma faixa de terra próxima ao córrego Santa Rita, que foi a
escolhida. Após a sua urbanização, hoje é o bairro Jardim Rio Grande.
(Humberto Cáfaro Filho)

Figura 116 Exemplo de residência atual de casas do antigo núcleo da


Cesp.
Fonte: Rafael Muraro Mariano, 2011. (Arquivo particular)

Segundo Paulo Antônio Marchiori, atualmente, a população do núcleo de


Fernandópolis não é mais exclusividade dos antigos funcionários, configurando hoje uma
minoria, cerca de um terço; são remanescentes das áreas de operação e manutenção da usina
de Água Vermelha. Dentro do núcleo residencial Jardim Rio Grande, que abrangia todo o
núcleo da Cesp, a quadra 6, que abrigava as residências dos engenheiros chefes (nível 6), foi
vendida pela própria Cesp como um condomínio, com o nome de Morada do Sol e, como tal,
permanece até hoje. Esse condomínio foi mantido principalmente para a proteção da
vegetação plantada quando do trabalho de ajardinamento do local. Hoje, o condomínio dispõe
de vigilantes, zeladores e uma equipe de manutenção, tipo de organização ainda resquício da
implantada pela Cesp no núcleo original.

3 EQUIPAMENTOS URBANOS IMPLANTADOS NO ESPAÇO ONDE SE FORMOU A


CIDADE DE FERNANDÓPOLIS (1938/1980)

3.1 Água e esgoto


Em 1949, a prefeitura foi intimada pelo Serviço Sanitário do estado a resolver o
problema de esgoto na sede do município. No entanto, a concorrência pública para o
abastecimento de água e esgoto só foi concretizada através da Lei n. 11, de 03/04/1951,
autorizando a Prefeitura a firmar contrato com a Sociedade Técnica do Estado Ltda. (SOTEC).
No final da década de 1950 (13/04/1959), inicia-se a perfuração das galerias de
esgoto, começando pela Rua São Paulo (conforme figuras 117 e 118).
115

Figura 117 Início do serviço de esgoto, no primeiro quarteirão,


entre o Banco Bandeirantes do Comércio e a casa
Ikeda (hoje, Rua são Paulo entre as avenidas
Amadeu Bizelli e Manoel Marques Rosa).
Fonte: O Município, 1959.

Figura 118 Centro da cidade onde se observa a Rua São Paulo com
as galerias abertas para o esgoto, desde a praça na
Avenida Amadeu Bizelli até a Avenida Expedicionários
Brasileiros.
Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)

Nas décadas de 1940/50, o abastecimento de água era feito, basicamente, através de


cisterna de quintais, penalizando a vida das donas de casa.
Na segunda administração de Edison Rolim, de 1960 a 1963, foram perfurados
alguns poços semiartesianos, buscando uma solução para o problema de abastecimento, mas,
mesmo assim, não atendia totalmente às necessidades da população.
O grande problema de abastecimento começa a ser resolvido entre os anos de 1968
e 1971 (já na administração de Leonildo Alvizzi), quando se consegue verba junto à Caixa
Econômica Estadual através de financiamento fiscalizado pelo Fundo Estadual de Saneamento
Básico (FESB), órgão especializado no problema de água e esgoto. São realizados, então,
estudos pelo Instituto Tecnológico de Pesquisas do Estado de São Paulo, detectando o local
onde a potencialidade do aquífero Guarani seria ideal para a perfuração. Essa perfuração só se
116

concretizou em 29 de junho de 1976 (administração de Antenor Ferrari) sendo, definitivamente,


resolvido o problema de abastecimento de água e de esgoto39 para a cidade (figura 119 e 120).

Figura 119 Paulo Egydio Martins, governador do estado de


São Paulo, é entrevistado pelo radialista José
Antônio Sanches, por época da inauguração do
“poção”.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 120 Perfuração do primeiro “poção” para se extrair água potável


de poços profundos.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

39
Sobre o abastecimento de água, ver Pessotta et al. (org.). Fernandópolis, nossa história, nossa
gente. Fernandópolis : Bom Jesus, 1996. v. 1.
117

3.2 Energia elétrica


As primeiras fontes de energia elétrica de Fernandópolis foram os motores
particulares, que funcionavam até as dez horas da noite. Em 1º de junho de 1948, um desses
particulares, Sr. Pedro Muraro (figura 121), pede à Câmara Municipal empréstimo para poder
melhorar a iluminação na sede do município, assim como isenção de impostos (figura 122),
benefícios nem sempre atendidos.

Figura 121 Propaganda da empresa de prestação de serviços de energia elétrica


(Pedro Muraro).
Fonte: Revista não identificada, à época do governo Dutra.

Figura 122 Pedro Muraro requer isenção de impostos,


09/08/1945.
Fonte: Arquivo Municipal, 1945

Nas residências, usavam-se geradores privativos, lampiões, lamparinas e velas.


Mais tarde é criada a Empresa Elétrica de Fernandópolis, de propriedade de Alcides
de Oliveira, que se instalou onde hoje é a rotatória perto da Sabesp (Munheca), na Avenida
Afonso Cáfaro. Em 1958, essa empresa foi comprada pela Prefeitura Municipal.
De acordo com notícia veiculada na imprensa local (O MUNICÍPIO, 1958), a venda da
empresa já estava combinada há algum tempo, mas o empresário, na última hora, se recusou
a efetivar a venda. Frente a uma grande revolta popular, ele mudou de opinião. Durante o
período entre o acordo de venda e a efetivação da medida, a luz da cidade, que já era precária,
118

piorou ainda mais. Tentando explicar o motivo, Fernando Jacob, em sua coluna Ecos da
Cidade, no jornal O Município, edição de 17/04/58 (CDP/FEF, 2009), comenta:

Qual a causa do enfraquecimento da nossa luz? Duas opiniões buscam


encontrá-la. Uma afirmando que, de volta a São Paulo, já com o “negócio
fechado” com o município, o empresário passou a fazer novas e inúmeras
ligações que estavam sustadas, mercê da fragilidade dos motores. Outra,
asseverando que é a Prefeitura a responsável pela baixa da luz, visando à
conservação dos motores.

Qualquer que tenha sido a causa, o desrespeito com o consumidor, que já pagava
muito caro pelo serviço, era evidente.
Novamente, no dia 15/05/58 (O MUNICÍPIO, 1958 apud CDP/FEF, 2009), o advogado
e jornalista volta a reclamar: “Agora, sim, já é preciso acender um fósforo, à noite, dentro de
casa, com a luz acesa. A verdade é que, para desmentir os incréos, a luz ainda encontrou uma
escala inferior, à qual pudesse descer.”
De qualquer maneira, dia 28/07/58 (O MUNICÍPIO, 1958 apud CDP/FEF, 2009),
realizou-se uma sessão extraordinária da Câmara Municipal para a aprovação do Projeto-Lei n.
11/58 que autorizou a Prefeitura Municipal de Fernandópolis a assumir, perante o governo
federal ou seus órgãos, as responsabilidades e exigências legais decorrentes da aquisição da
empresa elétrica, da qual passou a ser sucessora, como concessionária do mesmo serviço.
No dia 13 de dezembro de 1958, foi publicada no Diário Oficial a inauguração, em
janeiro de 1959, da Usina Termoelétrica de Votuporanga, que deveria atender a toda região da
Alta Araraquarense, num total de 350 mil habitantes em, aproximadamente, 30 cidades.

Com o funcionamento de usinas termoelétricas (UTEs) a partir de 1957,


construídas através da Secretaria da Viação, pelo DAEE, o estado de São
Paulo, efetivamente, ingressou na geração e na transmissão de eletricidade,
suprindo falhas. Essas usinas eram de difícil operação. O DAEE/SP não tinha
pessoal especializado para operá-las e elas produziam eletricidade para
regiões de difícil acesso. (IANNONE, 2006)

De acordo com dados do Diário Oficial, reproduzidos pelo O Município, de 20/12/58


(CDP/FEF, 2009), essa UTE possuía duas unidades de 5.000 kw de potência cada uma. Sua
luz era de 127 volts e supria força motriz trifásica de 220 volts. Consumia óleo de origem
nacional, do tipo “Bunker-C”, que é resíduo de destilação, muito barato. O conjunto todo era
composto de uma usina geradora, estação elevadora, oito estações abaixadoras e linhas de
transmissão e distribuição.
A UTE Marechal Rondon foi inaugurada em 17 de janeiro de 1959 e, já em 17 de abril
do mesmo ano, realizou-se uma Convenção Municipalista na cidade de Votuporanga para
tratar do crônico problema da eletricidade na região.
Na reunião, o vereador Joaquim Franco Garcia, daquela cidade, apresentou as
propostas de reivindicações que se fariam junto ao governo do estado, compostas de três
tópicos: a) redução da tarifa da Usina de Votuporanga; b) construção de uma usina hidrelétrica
no rio Turvo; c) formação de uma sociedade de economia mista para a exploração da energia
elétrica na região. Em defesa de seus argumentos, citou que estavam sendo propostas tarifas
muito altas para a energia gerada na rodovia Marechal Rondon, o que dificultaria a instalação
de indústrias na região. Por outro lado, salientou que a UTE de Votuporanga era destinada a
atender provisoriamente à demanda de toda a região e que a solução definitiva seria a
hidroelétrica do Turvo.
Fernandópolis estava representada nessa convenção por uma comissão formada
pelo prefeito municipal Adhemar Monteiro Pacheco, pelo presidente da Câmara, vereador
Pedro Malavazzi, e pelos vereadores Fernando Jacob e Donato Marcelo Balbo.
Como consequência dessa convenção, foi intermediada, pelo deputado Aloysio
Nunes Ferreira para o dia 19 de junho de 1959, uma audiência entre o governador do estado,
prefeitos e vereadores da Alta Araraquarense para debaterem o assunto da energia elétrica.
Mais uma vez Fernandópolis se fez representar pelo prefeito Adhemar Pacheco, o vereador
Fernando Jacob e o técnico em eletricidade Sr. Alonir Ribeiro de Souza.
Em 1960, as Usinas Elétricas do Paranapanema (USELPA) passaram a administrar
as UTEs, entre elas a de Votuporanga, para atenuar a crise energética que assolava o estado
119

de São Paulo, provocada tanto pela expansão do setor de manufaturas quanto pelo aumento
do uso de eletrodomésticos nas residências.
A eletricidade gerada por uma termoelétrica tinha um alto custo de manutenção e era
muito mais cara do que a energia hidroelétrica. Por isso, foram desativadas e substituídas
pelas hidrelétricas da Cesp, empresa criada em 1966.
Em 02/05/68, a Câmara aprova projeto de Lei nº 9/68, que autoriza o prefeito
municipal, Percy Waldir Semeghini, a celebrar contrato com a Cesp.

Através de convênio para o serviço de eletricidade: remodelação da rede,


extensão da rede primária para os últimos três bairros onde ainda faltava
iluminação, iluminação desde o trevo principal da entrada da cidade até a
Praça da Liberdade. A novidade: implantação da iluminação a mercúrio.
(FERNANDÓPOLIS, 1968)

A Cesp, por sua vez, em 1999, foi cindida em cinco empresas, sendo três de geração
de energia, uma de transmissão e uma de distribuição, que é a Elektro, formada em
06/01/1998, sendo então uma subsidiária da Cesp que hoje fornece energia para 1.8 (um
milhão e oitocentos mil) clientes em 223 municípios do estado de São Paulo e cinco do Mato
Grosso do Sul. Essa empresa tem, hoje, oito regionais, sendo que uma delas está sediada em
Votuporanga e atende a 65 municípios, entre os quais está o de Fernandópolis.

3.3 Telefone
A Empresa Telefônica de Rio Preto, de propriedade do Sr. Moysés Miguel Haddad,
instalou seu serviço em Fernandópolis em 23/06/1952, de acordo com um contrato feito com a
municipalidade.
A instalação desse serviço era aguardada com ansiedade, porque contribuiria para
menos isolamento da população, uma vez que, até então, as comunicações se davam por
meios mais lentos tais como, cartas, telegramas e rádio.
As fotos das figuras 123 a 130 atestam a participação não só de políticos, como
também da comunidade por ocasião da instalação dos serviços da Empresa e Fernandópolis.

Figura 123 Colocando o poste para a linha telefônica: 23/06/52


Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)
120

Figura 124 Comemoração da instalação do telefone em


Fernandópolis. À esquerda, Pacheco e Edison
Rolim.
Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)

Figura 125 Pinho (dentista), Pacheco, Édison Rolim,


Manoel Marques Rosa, Zé Beran; Zé Cearense
(de óculos - só o rosto). Inauguração do Serviço
Telefônico em Fernandópolis (10/10/52).
Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)

Figura 126 Inauguração do Centro Telefônico.


Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)
121

Figura 127 Contrato de trabalho da telefonista senhorita Rosa


Lopes Tefelli, assinado em 05/08/1954.
Fonte: Tefelli, 1954. (Acervo da família Biúdes)

Figura 128 Rosa Lopes Tafelli, em cuja casa foi


instalado o 1º posto telefônico de
Fernandópolis.
Fonte: Biúdes, 1954. (Acervo de família)
122

Figura 129 Almoço festivo do Centro Telefônico recém-criado, tendo como


sede a residência do senhor José Lopes Biúdes, em 25/03/53.
Fonte: Biúdes, 1953. (Acervo de família)

Figura 130 Telefonistas de Fernandópolis no “centro


telefônico”
Fonte: Biúdes, 1953. (Acervo de família)

Desde o início, porém, a companhia protegida por um contrato que lhe assegurava
direitos dificilmente rescindíveis não se esforçava para oferecer um serviço satisfatório. Para
começar, já descumpriu o contrato colocando a rede interna da cidade em prazo muito além do
combinado.
Sem ter completado um ano da instalação da rede, a Companhia já entrou em atrito
com o Executivo local, ao exigir o aumento da tarifa em patamares abusivos. O comércio e os
assinantes manifestaram o seu inconformismo por meio de abaixo-assinados. Uma mesa
redonda foi organizada para discutir o assunto e todos apoiaram o prefeito: não haveria
aumento enquanto não melhorasse o serviço oferecido.
Apesar de todo o apoio da população, o Executivo e a Câmara capitularam e
assinaram o aumento de tarifas, levando as pessoas a acreditarem em ameaças de sabotagem
por parte da Companhia.
As ligações interurbanas até 1956 não eram diretas com Rio Preto, havendo uma
retransmissão pelo posto telefônico de Votuporanga. Esse fato pode ser comprovado por ata
da Câmara Municipal de 02/03/1956, quando o vereador Fernando Jacob fala a respeito da
festa dada há alguns dias antes para inaugurar a linha direta de Fernandópolis a São José do
123

Rio Preto; até então o problema não havia sido resolvido, e as ligações continuavam via
Votuporanga, tomando horas para serem completadas.
As instalações, devido a defeitos técnicos, não resistiam à mínima mudança do
tempo, como ventos e chuvas, e entravam em colapso. Além disso, a prestação de serviços
deixava muito a desejar com relação à polidez no atendimento.
Quase vinte anos mais tarde, para solucionar de vez o problema de telefonia em
Fernandópolis, surge a Telecomunicacões de São Paulo (Telesp), em 12 de abril de 1973. A
Telesp foi a empresa operadora de telefonia no estado de São Paulo antes da privatização
desse serviço.
Adotou uma política arrojada, que envolvia a encampação das empresas existentes,
contratação e instalação de terminais e sistemas de transmissão. No início dos anos 70, no
estado de São Paulo, eram 256 empresas de telefonia, mas as companhias municipais e
regionais mal conseguiam sobreviver e muitas abandonaram os já reduzidos investimentos na
área. A Telesp incorporou diversas pequenas empresas municipais ou particulares, com
reduzido número de terminais. Dessa maneira, implantou seus serviços em Fernandópolis,
substituindo o serviço da Telefônica de Rio Preto durante o governo de Antenor Ferrari.
Hoje o município é atendido pela Telefônica, empresa espanhola que comprou a
Telesp em 1998, quando o sistema de telefonia do estado foi privatizado.

3.4 A televisão em Fernandópolis


A televisão foi introduzida no Brasil em 1950, em são Paulo, com a criação da TV
Difusora, posteriormente denominada Canal 4 – TV Tupi.
Em Fernandópolis, ela só será instalada na década de 1960, no período do governo
militar. Este determinava que todo o equipamento de transmissão e repetidores de sinal
deveriam ficar vinculados e sob a tutela das prefeituras, que também deveriam contratar os
técnicos.
Todos os meios de comunicação social, incluindo a televisão, foram utilizados pelo
regime com o intuito de doutrinar a população para a aceitação dos ideais do governo. Mas foi
também utilizada como um instrumento de integração nacional e de incentivo ao
desenvolvimento do país. Ao utilizar a televisão para alcançar seus objetivos, o governo
propiciou sua expansão e crescimento.
Em setembro de 1966, Jacob de Angelis Gaetti, substituindo o prefeito Percy
40
Semeghini em um de seus afastamentos , promulgou a Lei n. 55/66, que criava no município o
serviço de repetição, manutenção e amplificação de sinais de televisão e permitia manter
contatos e acordos técnicos ou financeiros com municípios vizinhos que estivessem
interessados nesses serviços. A instalação, a efetivação e a manutenção dos serviços ficariam
sob a responsabilidade da prefeitura. Para tanto, a artigo 2º da Lei n. 55/66 instituía uma tarifa
anual de CR$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros) pagos pelos usuários, em duas prestações
semestrais, para cada aparelho instalado. Por conseguinte, apenas famílias com bom poder
aquisitivo possuíam televisão; categorizava-se como sinal de status ter no telhado da
residência uma antena de TV. Essa taxa só foi extinta em 1974 pela Lei municipal n. 327/74.
Edson Maurício de Almeida e Moacyr Rigueiro, que, juntos com Cecílio Pistelli,
Dermeval Cortez, Lysias Wey e Humberto Cáfaro, constituíam, em 1967, por portaria de Percy
Waldir Semeghini, a 1ª Comissão de Serviço de Repetição e Manutenção e Ampliação dos
sinais de TV no município, comentam em entrevista que:

a princípio, o repetidor do canal 4 foi instalado no Bairro da Estação com


transmissão direta, mas não teve efeito positivo, porque a imagem não era
nítida. A solução apontada por técnicos foi a instalação de um repetidor em
VHF na região de General Salgado, com antena direcional para
Fernandópolis. Aqui foi colocado um transmissor com antena unidirecional.
(FERNANDÓPOLIS, 1968).

Ainda segundo os entrevistados, a antena foi, posteriormente, transferida do Bairro da


Estação para a caixa d’água, evitando-se acidentes topográficos que dificultavam a boa
recepção de imagens nos pontos mais baixos. O formato da antena que, de início era em

40
Sobre os afastamentos do então prefeito Percy, ver período de seu governo diante da administração
municipal (1964-1969), na seção A desta obra.
124

leque, passou a ser em X, proporcionando uma transmissão para 360º, atingindo todos os
pontos altos e baixos da cidade.
O sinal de televisão nos anos 60 e 70 só se propagava no alcance da linha visual, isto
é, o sinal alcançaria o que a visão de uma pessoa posicionada em cima de um morro
alcançasse. Nos morros ou lugares mais elevados, colocava-se uma antena repetidora de
sinais que os enviava, sucessivamente, de morro a morro, até seu destino. Como esses
lugares, dificilmente, possuíam energia elétrica, era necessário agregar um gerador a um motor
a gasolina para o fornecimento de energia necessária para repetir o sinal. Se o motor
“engasgasse” ou a gasolina acabasse, podia-se dar adeus ao sinal. Dificultando ainda mais a
repetição de sinais, colaboravam os problemas provocados por intempéries, tais como chuva,
descargas elétricas e ventos.
Em 1968, a Portaria n. 31/68 substitui a de n. 06/67, formando uma nova comissão,
sempre no sentido de aperfeiçoamento dos sinais de retransmissão. Nesse sentido também, a
ata de 11/05/70 (Câmara Municipal) revela que uma área medindo 80 x 80m dentro da fazenda
São Pedro, pertencente à firma The Sancshare General Investimento Company Limited, foi
recebida, por servidão para uso (usufruir), por tempo indeterminado para instalação de uma
torre de serviço de repetição dos sinais de TV.
Fernandópolis passa, em 1969, a integrar o Consórcio da Rede Tronco de Televisão
Bauru-Lins-Araçatuba, que se encarrega de cuidar da aparelhagem de General Salgado.
Mesmo assim, ocorrem intermitentes falhas técnicas (ata da Câmara Municipal, de 10/10/69).
Antenor Ferrari, fundamentando-se na Lei Municipal 95/70, cria, em 1973, o Conselho
Municipal de Televisão de Fernandópolis (CONTEFE) e, por Portaria n. 321/73, nomeia
Roberto da Silva Rosa para o cargo de presidente da Diretoria Executiva do CONTEFE e, pela
Portaria n. 322/73, nomeia para o Conselho Superior do CONTEFE: Fernando Alegrini, Antonio
Kawakami, Orlando Greco, José Carlos Rodrigues, José Custódio da Silva, Adalberto
Bernardino Pereira, Álvaro Fernandes de Souza, José Pereira do Nascimento e José Humberto
Martins.
Em 1978, uma nova comissão foi formada para julgar as propostas de concorrência
pública para aquisição de retransmissores de televisão, sempre visando ao aperfeiçoamento da
nitidez das imagens para dar à população um entretenimento que concorresse com o rádio e o
cinema.
Atualmente, o sinal de televisão é abrangente, visto que se utilizam potentes
transmissores e satélites que, no início da TV, estavam em estado embrionário.
125

CONCLUSÕES

Imensurável é o sentimento de alegria que nos toma ao término dos estudos


historiográficos sobre mais um período da história de Fernandópolis.
Quando nos foi dada a oportunidade de retomar um trabalho iniciado em 1996, e que
não teve continuidade, lançamo-nos ao desafio de buscar fontes, organizar acervos, ouvir
depoimentos, gravá-los, transcrevê-los.
Finalmente, transcorrido mais de um ano, cumprimos nossa obrigação, difundindo e
esclarecendo parte da história de Fernandópolis, sempre fundamentadas em testemunhos
voluntários (documentos), mas também naqueles involuntários (pessoas), uma vez que os
documentos, às vezes, falam apenas a linguagem de um grupo social.
O relato do período histórico de Fernandópolis, abrangendo os anos de 1952 até
1976, é fruto de reiterada análise de documentos, de fatos e oitiva de inúmeras pessoas, mas é
também o resultado do desempenho de duas professoras sem pretensão de elaborar tese
acadêmica nem obra pronta e acabada. Nosso objetivo precípuo foi oferecer à população de
Fernandópolis, mormente os estudantes, um relato fidedigno da ação de pessoas de vários
setores, fazendo a história em cada momento e em todos os espaços.
Concluindo nosso relato, reiteramos o que foi enfatizado no convite de lançamento do
projeto deste livro, que agora entregamos à população.
Contar a história de Fernandópolis é uma boa razão para manifestarmos amor à
Nossa Terra, por que o amor é perfeito e mais forte quando baseado no conhecimento. Quem
conhece a nossa História, e a Nossa Gente, pode amá-la com mais consistência.

As autoras
126

REFERÊNCIAS

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caso - a cidade de Fernandópolis. 1993. 235f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
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brasileiro: ficção legislativa ou necessidade de legitimação? (1964-1968). Rio de Janeiro :
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TEMPOS DE CRIANÇA E DA JUVENTUDE “SADIA” EM FERNANDÓPOLIS:
CONSTRUINDO VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS
(dos anos 40 aos anos 70 do século XX)

Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida41

1 INTRODUÇÃO
“O passado não é aquilo que passa,
É aquilo que fica do que passou.”
(Tavares, Flávio)

Quando produzimos o conhecimento histórico de uma determinada sociedade, sob a


luz da “história nova”, buscamos resgatar a memória através da reconstrução do passado,
renunciando “a uma temporalidade linear em proveito dos tempos vividos múltiplos nos níveis
em que o individual se enraíza no social e no coletivo”, como ensina Le Goff42. E é ao adquirir
esse conhecimento histórico e ao conservar a memória individual e coletiva de momentos
“passados” significantes, que a sociedade encontra seus laços identitários.
Nessa perspectiva, quando estamos produzindo a história da sociedade
fernandopolense, faz-se necessário que, paralelamente à sua história política e econômica, se
pesquisem e resgatem “outras histórias, outras memórias”, sobre a vida social e cultural de seu
povo. Esse é o objetivo deste trabalho, que se enveredou no processo de construção desse
conhecimento histórico, mas sem o rigor historiográfico e metodológico da academia.
Assim, fomos atrás dos jogos e brincadeiras de criança, das diversões, romances e
arte da juventude, nos finais dos anos 40 e início de 50 até 1970 do século passado, para
pesquisar e entrevistar os atores históricos e sociais, que estavam silenciados até agora, mas
que vivenciaram essas experiências em uma dessas épocas, cientes de que todos os homens
e mulheres, crianças e velhos são sujeitos da História e suas diversas maneiras de expressão
deixam marcas, registros, vestígios, rastros de formas variadas (fontes, documentos,
evidências). E é a história oral, com o depoimento desses atores, que nos abre essa
possibilidade de “entrarmos” pela porta da frente da história de Fernandópolis, rememorando
suas vivências e experiências nas vilas e, por fim, na cidade.
Mas, mesmo a memória sendo uma das matrizes da história, um testemunho
importantíssimo na história atual, pois atesta a existência de uma realidade vivida; ela, porém,
por si só, não lhe atribui sentido, que precisa ser buscado também em outras referências que
deem conta do seu contexto e, assim, através da oralidade (os depoimentos), ela se entrelace
com outras fontes como as fotografias, os jornais, álbuns, revistas, pequenas publicações de
época, internet, pesquisas históricas, ajudando a elucidar determinados fatos e acontecimentos
importantes da vida social e cultural das crianças e jovens fernandopolenses.
Os atores históricos, ao relembrarem as brincadeiras de criança, as diversões, os
romances e a arte dos jovens, fazem com que nós, historiadores, também os recordemos,
porque também vivenciamos esse tempo, embora hoje deixemos de atribuir-lhes “valor”,
porque estamos distantes deles e lhes atribuímos “significado”. Portanto, o entrevistador/
historiador é um “coentrevistado”, porque também vive essas experiências que os
entrevistados já vivenciaram.
Antecipadamente, agradeço aos mais de quarenta entrevistados que, gentilmente,
trouxeram informações e fotografias valiosas, muitas ajudando a “ler” e compreender as fotos,
e às minhas duas orientadoras, professoras Rosinha de S. Costa e Vanda L. Costa, que
nortearam este trabalho. A contribuição dos entrevistados vai além disso, porque, através do
depoimento oral ou escrito, eles se tornam visíveis para a sociedade, mesmo estando, muitas
vezes, distantes e comprovam que a história não é feita só por grandes homens, grandes
heróis e grandes batalhas. Eles também são sujeitos da história, fazendo a história de nossa
41
Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida, 61 anos, viúva, é historiadora e professora Ms. em
História Social. É conhecida como profª Péta Matos.
42
LE GOFF. Jacques. Memória. In: ENCICLOPÉDIA Eunadi. Imprensa Nacional. Lisboa, Portugal : Casa
da Moeda, 1984. p. 14.
129

cidade, em casa, nos quintais, na rua, na escola, no clube, na igreja, no trabalho. Que esses
atores históricos, relacionados neste trabalho, tenham percebido que “relembrar é viajar por
tempos e espaços já vivenciados, experenciados, explorados”, e nós só estamos começando a
reescrever esse tempo.

2 TEMPOS DE CRIANÇA: RECORDANDO BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

Mas quando um poeta moderno diz que para cada um


existe uma imagem em cuja contemplação o mundo
inteiro submerge, para quantas pessoas essa imagem não
se levanta de uma velha caixa de brinquedos?
(Walter Benjamim)

As lembranças do tempo de criança nos remetem ao poema de Casimiro de Abreu:


“Ai que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos
não trazem mais!...”, e é fato: os anos não trazem a infância de volta, mas a memória nos faz
reviver esse tempo – as brincadeiras que vivenciamos em casa, nos grandes quintais sem
muro ou na rua de terra, e que nos divertiam; as cantigas que cantávamos; os poemas que
declamávamos; alguém que se fez presente e marcou nossa infância; as quedas, ou talvez,
pensando no cheiro e no gostinho delicioso do bolinho de chuva ou na sensação de escorregar
no corrimão do coreto, na alegria de tomar uma cotubinha; na visão que se descortinava do
alto da roda gigante; andar de bicicleta, o medo do “bicho papão”... seja qual for o momento da
infância que veio à mente, seja ele triste, seja ele feliz, de um jeito ou de outro, pode-se ter
certeza de que esse momento não foi vivido para ser esquecido.
Pesquisas acadêmicas confirmam que o lúdico, desde tempos imemoriais, faz parte
da vida humana. Aprender a brincar de forma simbólica, representando a realidade onde vive,
usando a imaginação, a fantasia e a criatividade, faz parte do desenvolvimento humano das
crianças. Através da brincadeira é possível, segundo Grigorowitschs (2010, p. 230):

desenvolver iniciação esportiva através de atividades lúdicas, exercícios de


coordenação motora, lateralidade, ritmo, noções de regras de jogos e de
limites e, também, estimular o interesse das crianças na procura de novas
formas de descobrir o mundo, de relacionar-se consigo e com os outros e de
iniciar-se com dignidade como cidadão brasileiro.

Complementando, Fernandes (1978, p. 378) considera que um único folguedo pode


pôr a criança em contato com quase todos os valores e instituições da comunidade de modo
simbólico em seus grupos. Assim se refere o autor:

O desejo comum de brincar, o contínuo trato com as mesmas crianças, a


preferência por certos tipos de jogos, sua livre escolha, a liberdade de que
goza nesses momentos e o interesse que lhe desperta o brinquedo em bando
conduzem à criança a formação das primeiras amizades dando-lhe a noção
de posição social.

Portanto, os jogos e as brincadeiras, produzidos historicamente, se constituem em


uma das referências concretas sobre a cultura lúdica popular e permeiam o dia a dia do
homem.
Nossa história no mundo das brincadeiras começa nos finais de 1940, indo até 1970,
demonstrando que, ao longo dos tempos, foram criados vários jogos, brincadeiras,
entretenimentos que fizeram a alegria de crianças e jovens. É oportuno lembrar que o conceito
de brincar, assim como o de criança e infância, para Benjamin (ano), são produzidos
historicamente. Portanto, sempre existiram diferentes formas e jeitos de brincar, diferentes
espaços e tempos que se foram modificando ao longo dos tempos.
O espaço brincante das crianças, em nossa cidade, era ao ar livre “tomando” o ar
puro, na rua de terra, sob a luz do sol ou da lua, sob chuva, descalços no barro, e também nos
grandes quintais das casas com suas frondosas árvores a nos convidarem para subir. As ruas
de chão da cidade pouco iluminadas e com muitos terrenos baldios faziam a alegria da
garotada.
130

Nessa época, a maioria dos brinquedos era confeccionada pelas próprias crianças,
como se recordam as “meninas” e o “menino” da UNATI43:

com pouco brinquedo, poucas opções, o jeito era confeccionar os próprios


brinquedos. Eis alguns que criávamos com gosto: cavalinho (pau de
vassoura, cabeça de pano), balanços nas árvores, bonecas de sabugo ou de
pano, elástico nas mãos e nos pés, piai, saquinhos de terra, móveis de
casinha com caixas de fósforo, estilingue, peteca, bolinhas de gude, bolinhas
de meia, carrinhos de carretel e carroceria de lata de sardinha.

2.1 Sob a luz do sol são várias recordações

Segundo Joaquim Melero de Barros (2011)44, ele, seus irmãos Miguel e José e vários
45
amigos constituíam a turma da av. 7; construíram um campo de futebol, próximo à rua
Pernambuco (onde hoje está instalada a Casa de Carnes Zanim) e ali todos os dias jogavam
uma pelada, a diversão preferida da garotada:

munidos de enxadas, enxadões e rastelos, fizemos a limpeza do terreno. De


todas as diversões, a preferida era mesmo o futebol, que em quase todos os
dias sempre havia alguém batendo bola, com exceção aos domingos, quando
o campo não tinha descanso, devido ao grande número de participantes.
Eram tantos que minha mãe comentava que existiam, em nossa rua, mais
moleques do que na fábrica.
Outra diversão era a corrida barra bandeira, formada por diversas duplas, que
percorriam determinadas distâncias, ida e volta, desclassificando as
perdedoras, até chegar a dupla final, e daí era conhecido o campeão.
Tínhamos também o jogo de bocha, formado por duas duplas, que consistia
em duas raquetes rústicas de qualquer tábua, não muito largas, que nós
mesmos fabricávamos, e uma bolinha de borracha, que era rebatida e
funcionava mais ou menos como no baseball. (Este jogo era praticado na
rua, e, somente durante o dia).

Relembra Osterno46, que passou sua infância e adolescência no Bairro da Aparecida:

Na década de 1950, todas as noites, até mais ou menos às 22h, era costume
47
dos meninos da Vila Aparecida reunirem-se na esquina da avenida Dois

43
As meninas da Unati, que estavam presentes na reunião com o objetivo de dar seus depoimentos sobre
a infância e adolescência, no dia 17/01/2012, são senhoras que nasceram de 1939 em diante. São elas:
Marta M. Dinardi Pim, Iraceles de L. Garcia (Celinha), Maria Augusta Bento da Silva, Ormy Sant’Anna
Angeluci, Iracema Guimarães Medrado, Maria Teresinha Prandi, Esmeralda Guimarães Siqueira, Anna
Zendron de Figueiredo – Anita Cearense -, Zenith Zendron de Figueiredo, Ramona A. Peres Fraga, Maria
José Pessuto Cândido e o “menino” Joaquim Melero Barros. A transcrição, a mão para o papel sulfite,
dos depoimentos foi feita pela presidente da UNATI, Maria José Pessuto Cândido, que a enviou para a
profª Péta Matos em janeiro de 2012 e esta a (re)transcreveu para o CP.
44
Depoimento escrito de Joaquim Melero Barros, 75 anos, casado, agricultor, para as professoras Vanda
a
Aparecida de Lima Costa e Rosa Maria Souza da Costa, em junho/julho de 2011. Transcrito pela prof
Rosinha em julho de 2011, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
45
Melero cita o nome dos amigos: Romildo e os irmãos Waltides e Fred, Edmilson A. Bizelli, os irmãos
Tiago e Domingos Oribio, Waldomiro Lopes (Mirim), Júlio Roberto Santana e o irmão Ivo (mais conhecido
por “Ivo fala fina”), Ilson Lemos, os irmãos Albano e Alceu de Abreu Lima, Joaquim Nunes e Moacir, Zé
Bistrigui, Antonio Pereira (Tonico da Loteca) e seu irmão Zé Balau, José e Carlos Guimarães, os irmãos
Fragoso, João Garcia, Orlando da Horta, Benedito e Alcebíades Cubas, Geraldo Forquin, os irmãos
Damasceno Junqueira, Otides, Odair, Ozilmo e Odelício e mais quatro cujos nomes não recordo.
46
(COSTA, 2011) Depoimento de Osterno Antonio da Costa, 69 anos, casado, advogado, que passou a
sua infância e adolescência no Bairro da Aparecida, à sua esposa, profª Rosinha, no dia 02 de setembro
de 2011, em sua residência.
47
Osterno, cita, praticamente, toda a Turma da Vila Aparecida: os irmãos Pessuto (Jurandir, Gilberto,
José e Darci), os irmãos Farinazo (Armando, Adalberto (Pico) e Amilton (Tutu)), José Vicente Gil, Carlos
Okiyama, Benito Molina, os irmãos de Almeida: Arnaldo, Arlei e Ailton de Almeida, Wilson (Bola Sete),
Alicio, Alaor, Rubens Stropa, Murilo Marques, os irmãos Oliveira: José (Zé Ruela) e Orivaldo; Ademar
Soares (Tubá), Gregório, Waldomiro Calente, os irmãos Micheluti (Osmar e Odivaldo), Antonio dos Santos
(Tonhão), Walter dos Santos (Alicate), Gilberto dos Santos (Cascudo), os irmãos Maksumoto (Ioshiro,
Tsuneo e Sadao), Carlos de Almeida (Carlito), os irmãos Rodrigues (Durvalino e Milton), Mário Alves de
131

com a Rua Bahia, em frente ao empório do Sr. Vicente, onde se divertiam


com as brincadeiras da época, ou seja, cabra cega, salva-pega, pique, contar
piadas, rodar pião, soltar buscapé, contar causos etc.
No lugar onde hoje é a Igreja, era, na época, um campinho de futebol onde,
quase todas as tardes, sábados e domingos, se reuniam para a prática do
futebol, sendo certo ali se revelaram bons jogadores amadores, destacando-
se o Rodrigues (conhecido pelo apelido de Lindão, filho do velho
Florenciano), que, durante um bom tempo, jogou no time de Araraquara como
profissional. Havia também muitas meninas no bairro que gostavam de
brincar de passar anel, bola queimada, balança caixão, roda de versos etc.,
mas nessas brincadeiras raramente participavam meninos.

No campinho da Aparecida, os garotos do bairro tiraram uma foto memorável (figura


1), que Osterno vai identificando: da esquerda para a direita, em pé: Hélio Gazeta, Waldir
(Dilo), Darcy Pessuto, Benito Molina, Waltide Cecato, Devanil; agachados: Durval Tomás de
Souza (Du), Olindo Antonio da Costa, Gregório, Jurandy Pessuto, Inácio Canossa, Hamilton
Leone (Mimi).

Figura 1 Garotos do bairro da Aparecida. Início da


década de 1950 (1953?).
Fonte: Osterno Antonio da Costa, 2011. (Acervo
pessoal)

Hoje, já não se veem as peladas de futebol, jogadas nas ruas mais tranquilas, de
pouco movimento, em terrenos baldios, gramados de jardins públicos e até em algumas
praças. Mas, naquela época, qualquer espaço público vazio e uma bola (mesmo que de pano
ou outro material não contundente) serviam para a prática da pelada.
Um dos meninos da Aparecida era Martin Del Pino48; em seu depoimento, fez
questão de dizer, entre emoção e orgulho: “o Osterno era meu parceiro na bolinha de gude, a
gente jogava no chão de terra do jardim ou na rua que era tranquila”.
Para Wi Corsini, essas brincadeiras aconteciam “ao lado da máquina de arroz N. Sra.
Aparecida (entre a Av. 9 e 10), de sua família, num terreirão onde secavam o café e arroz, com
uma área verde muito grande, com eucaliptos na frente, onde as andorinhas vinham pousar”.49
Além das “peladas”, os pais levavam os/as filhos/as ao campo de futebol para
assistirem às partidas dos times profissionais (figura 2). Segundo Melero, “no ano de 1950,
existiam dois times de futebol, o Fernandópolis Esporte Clube e o América, que disputavam o

Lima, José Rodrigues Arnaldo da Silva (Zezão), os irmãos Leone (Lé, Amilton (Mimi) e Zanone), José
Machado, Walter (Jabuca), Abel, Lourival (Louro), Benedito Pereira (Piché), Baltazar Pereira, José
Nicoleti, Dirceu Moreira da Silva, Baiano, Poranga, os irmãos Batelo (Luiz, José (Zé) e Aparecido (Cido)),
José Coleto (Zezinho), os irmãos Del Pino (Caetano, Martin Del Pino, Jaime Rodrigues (Palito), Messias
Pedrosa), os irmãos Osório Vicente (Cláudio e Ovídio), os irmãos Antonio da Costa (Osterno, Oreste e
Olindo), Valdir (Dilo), Marcos Pagioro, Júlio Pagioro, Tadeo Pagioro, Aderval de Oliveira (Bola), Irmãos
Patéis, José Ramos, Jamanta, João Rodrigues (Janjão), os irmãos Mantovani (Décio, Delvem e Funeco)
e os irmãos Corrêa (Waldomiro (Caboclo) e Clodomiro).
48
Martin Del Pino, 69 anos, casado, comerciante, em entrevista à profª Péta Matos, no dia 9 de fevereiro
a
de 2012. Transcrito pela prof Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
49
Depoimento de Waldevir Corsini, 59 anos, casado, corretor de seguro, à profª Peta Matos, em
29/02/2012.
132

campeonato amador regional. Aqui havia uma grande rivalidade entre o América e o FEC”
(BARROS, 2012).

Figura 2 Time de futebol ao lado do prefeito Edison Rolim, 1950 (?).


Fonte: Família Edison Rolim, 2011. (Acervo pessoal)

A figura 3 traz o time de futebol Fernandópolis Esporte Clube; os jogadores


aparecem ladeados pelo padre Canísio e autoridades como Ademar Monteiro Pacheco, Edison
Rolim etc.

Figura 3 Padre Canísio com o time “ Fernandópolis Esporte Clube” e autoridades.


Fonte: Scheffers, 2007, p. 68.

O jornalista Claudinei50 recorda que,

para cada época do ano havia um tipo diferente de brincadeira: na primavera,


51
a diversão predileta dos meninos da periferia da cidade era arranjar uma
peneira para apanhar borboletas nos terrenos baldios, onde floresciam os
“capitães-do-mato” de todas as cores. Em agosto, o mês das ventanias, era
tempo de empinar papagaios, e o ponto preferido dos meninos era a praça da
igreja matriz. Em outras épocas, a mania era andar de pernas-de-pau ou pés-

50
Claudinei Cabreira, redator do jornal TÁ NA MÃO, de Fernandópolis, escreve aos domingos na coluna
História dos Tempos do Botinão (2011/2012).
51
Esse termo “periferia” não existia na época. Ele quer se referir aos bairros que ficavam ao redor do
centro, como o bairro Aparecida. O termo apropriado seria, provavelmente, nos arredores do centro.
133

de-lata, jogar bilboquê. Ou participar de animadas disputas de jogos de bétias


(raquetes), com as casinhas armadas em três pauzinhos sobrepostos ou uma
52
velha lata de óleo Sol Levante !

Nos anos 50, a família de Antônio Martins Fernandes era dona da Sapataria Martins
do centro53. Para muitos era a famosa DIVA (Departamento de Investigação da Vida Alheia),
porque os homens se encontravam para se “atualizarem” das novidades do dia, como fazem
hoje nas padarias União e Bastilha e no barzinho Pequeno Segredo (todos no centro da
cidade). Nos fundos da sapataria, havia um pátio com vários cômodos, utilizados para guardar
o material da loja e a residência do irmão Olívio (bancário), sua esposa Eunice (que exercia ali
dois trabalhos: cabeleireira e costureira) e seu filho Viko Tangoda. Diz Antônio:

no centro havia um frondosa mangueira e era debaixo dela que eu, com
16/17 anos, juntava meus irmãos Francisco, Olívio, José Pedro e os amigos
Osias e Aer Ferreira (filhos do seu Vicente Ferreira da Silva e Da. Generosa),
Jaime e Edson Martins (filhos da Da. Veva e José Martins), Adão Teixeira do
Carmo( Adãozinho), e outros para jogarmos tômbola, baralho, pebolim. Meu
irmão Francisco era o cantador do jogo54.

Já as senhoras da UNATI, que nasceram nos anos 30, 40 e 50 (século XX)


relembram com saudade de seu tempo de infância,

de como brincávamos de casinha, treinando para ser boa mãe e esposa.


A casinha era montada com tijolos e caixotes, formando fogões e prateleiras.
Os utensílios aí colocados eram os cacos das louças quebradas da mãe,
vidros e tampas de remédios; toalhas eram retalhos de roupas; as bonecas
feitas de sabugo seco ou sabugo de milho verde com cabelo e tudo, algumas
eram de panos, de papelão e raras e, mais recentemente (só para quem tinha
grande poder aquisitivo), eram de porcelana. Várias narrativas de muito choro
quando se esquecia alguma boneca de papelão nas casinhas embaixo das
árvores e, se porventura chovesse, elas se desmanchavam. E os batizados
das bonecas? Um acontecimento com direito a convites, padres, padrinhos e
festinha. Íamos de roupas novas, como para uma festa verdadeira.
(CÂNDIDO, 2012)

Nos anos 40 e 50, o famoso buracão55 era um dos pontos de brincadeira da


criançada. Recorda Esmeralda56:

Durante o dia, quando chovia, ficávamos esperando a chuva passar para


brincar no “buracão”. Aproveitávamos a enxurrada para brincar e soltar
barquinhos de papel. Após muitas brincadeiras e risos, voltávamos para casa,
sujos, molhados com medo de apanhar.

Morando também nos “arredores” do centro, a profª Delurdes57, lembra que chegou
aqui, com a família, em 1946 e

brincava na rua em frente à fábrica do meu pai - Bebidas União, que produzia
vinagre, cotuba etc. –, localizada no final da Av. 8, próximo à Rua Amazonas.
Jogava bola-queimada, brincava de amarelinha, pulava corda e, cada vez
mais rápido, “o foguinho”.

52
Sol Levante era a marca de óleo, muito consumido à época; hoje, não existe mais.
53
Na Rua Brasil, no quarteirão entre a Av. 8 (Av. Manoel M. Rosa) e a praça Coutinho Cavalcanti (hoje
praça Dr.Fernando Jacob), onde é hoje a Lotérica e a loja de $1,99.
54
Depoimento do Sr. Antônio Martins Fernandes, 78 anos, casado, sapateiro aposentado, à profª Péta
Matos, no dia 29/02/2012.
55
O buracão começava na Av. 6 entre as ruas Paraná e Pará, onde ficava a olaria do pai do Joaquim
Melero; o buracão foi aumentando até chegar à Rua Bahia.
56
Depoimento escrito de Esmeralda Guimarães Siqueira, 71 anos, viúva, aposentada, para a profª Péta
Matos, em janeiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
57
Depoimento de Delurdes Cavalotti Casari, 72 anos, casada, professora aposentada, à profª Péta
Matos, no dia 16 de fevereiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel
a grafia do texto original
134

No centro da cidade, a molecada brincava, principalmente, nos amplos quintais, no


jardim, na rua. Relembra Ilda Pereira58:

com minha irmã Maria Adelina, as irmãs Massako. Akiko, Midore e Mitiê
Konishi, e, as irmãs Clarice e Laura Matos, a gente brincava de casinha, nos
fundos da Casa Brasil e casa dos pais das japonesas (do lado esquerdo do
Sotam Hotel) e fazíamos comida de verdade, cozinhando o arroz na lata de
manteiga Aviação. Pra se livrar de nós, minha amiga Peta Matos, que achava
muito monótona e chata essa brincadeira, ia brincar ao lado, no corredor e
59
quintal na loja de meu pai, a Casa Luzitana (onde hoje é o Sotam Hotel),
junto com meus primos Antônio Luís Pereira Alves, Fernando Pereira da
Cunha e meus irmãos Nelito (Manuel Marques Pereira) e Luís Carlos. Ela
dizia que era mais emocionante... mas era difícil não sair com algum
arranhão de lá... vivia ralada. Ali onde se amontoavam as sacarias, eles
brincavam de bandido e mocinho. Nesse quintal havia também grandes
árvores e o inesquecível abacateiro, e todos nós subíamos nelas e ficávamos
sentadas ali, conversando uns com os outros. Íamos também brincar no
coreto, de roda, salva-pega etc.
Mas, geralmente, a gente só ia pra casa quando escurecia. Nossas mães só
gritavam: Pra dentro! E a gente obedecia. Uma aventura inesquecível nesse
quintal, onde havia uma cerca com pé de bucha... desse pé, eu e a Péta
pegávamos, às escondidas da mãe, um pequeno galho e acendíamos para
fumar, isso depois de surrupiar a caixa de fósforo e, ainda, fazíamos pose de
adultas... era uma aventura para nós e muito comum entre a molecada.

Nessa época, não havia uma diferenciação entre brinquedos de meninos e de


meninas, conforme os estereótipos de hoje. No centro, as crianças iam também brincar no
jardim, com chão de terra e uma frondosa paineira. Recorda Flor de Lis60:

eu brincava com minhas irmãs Maria de Lurdes, Madalena, Jurani, Analise e


Corina, e amigas, na paineira da praça e no coreto: de “barata” (o pega-
pega), passa anel, balança caixão, lenço atrás. A gente ia também no sítio do
meu pai (hoje é o bairro Corinto, em homenagem a ele) e no terreiro de café
brincava de “direita tá vaga”: todos ficavam em círculo e levava um número.
Um ficava com o espaço à sua direita vago e dizia: “a minha direita está vaga
para o nº 7” (por exemplo) e quem tinha esse número corria para sentar nele.
Se a criança não estivesse atenta para correr, tinha que pagar um castigo

Na década de 60, Elza Garcia61, ainda criança, se lembra de quando brincava no


jardim e diz: “eu, minha irmã Laurinha, as irmãs Vera Lúcia e Ivoninha Basílio, o Carlinhos da
Lisboa, íamos pro jardim brincar na ponte por onde passava um riozinho com peixes, e também
no coreto pra brincar de roda, pega-pega e era uma delícia escorregar ali” (figura 4)

58
Depoimento de Ilda Marques Pereira, solteira, 64 anos, por e-mail, à profª Péta Matos, em janeiro de
2012. Manteve-se fiel a grafia do texto original.
59
A Casa Brasil se localizava do lado direito do Sotam Hotel, e a Luzitana ficava onde hoje é o hotel e só
na década de 60 se mudou para o prédio da frente e se transformou no Supermercados Luzitana no local
onde, hoje, está o Supermercado Pejô. Todos na Rua Brasil.
60
Depoimento de Flor de Lis Antonia Carneiro Colombano, viúva, 63 anos, à profª Peta Matos, no dia
06/02/2012. Transcrito pela profa Péta em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
61
Depoimento de Elza Mara Marques de Matos Garcia, casada, 55 anos, fisioterapeuta, à profª Peta
Matos, no dia 21 de janeiro de 2012. Transcrito pela profa Péta em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a
grafia do texto original.
135

Figura 4 Laura, Ivone, Vera, Carlos e Elza, no jardim, anos 60.


Fonte: Ana Fernandes Felipe, 2012. (Acervo pessoal)

O jardim, nos anos 50, tinha também uma fonte luminosa, que era admirada pelas
crianças e seus pais, como também pelos visitantes. A figura 5 mostra, à esquerda da fonte, a
ponte sobre o lago de peixes.

Figura 5 O jardim nos anos 50.


Fonte: Nelson Toscano Saes62, s/d. (acervo pessoal)

Carmita63, que morava na Avenida 7, esquina com a Rua Espírito Santo, no início dos
anos 50, “brincava na rua de terra de bola-queimada, bétia, salva-pega, com os amigos: os
irmãos Eduardo, Evaristo e Isaura Colombano, João Inácio Pimenta, os irmãos Maria Olinda e
Marcos Gonçalves, Edgar Alberto Senra, José Alberto Maldonado e as irmãs Isa e Vera Marão.
Outras brincadeiras eram realizadas pelo pessoal da UNATI, inclusive com animais
que,

eram tratados com muito carinho e, quando morriam, significava muita


tristeza, acompanhada de enterro, com direito à cruz, velas, flores e até
oração. Algumas que moravam nos arredores do centro se lembram de que
ajudavam as mães recolherem as roupas que elas punham para “corar”
(quarar) na grama. Quando ia passar uma boiada no caminho era pura

62
Fotos e depoimento de Nelson Toscano Saes, casado, à profª Peta Matos, em julho de 2011. Transcrito
a
pela prof Péta, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
63
Depoimento de Carmem Gomes Trindade, 70 anos, casada, diretora de escola aposentada, para a
profª Peta Matos, no dia 05/02/2012.
136

brincadeira. Os mais levados subiam em árvores e até montavam aí suas


brincadeiras (era mais para moleque). (CÂNDIDO, 2012)

Para Celinha64, era uma aventura subir ás árvores: “subia em árvores e pulava de um
galho para o outro, achando que era a Jane (mulher do Tarzan)”. E ri quando rememora essa
aventura. Essa época de “viver” os super-heróis também foi a do Jorge Campagna 65, que,
criança nos anos 70, diz sempre rindo ao lembrar as traquinagens que fazia: “A gente brincava
imitando os super-heróis e o maioral era o Tarzan, com o Boy menino, a Chita, os índios, e
montávamos a cabana nas árvores / mangueiras do quintal. A Jane só raramente aparecia,
quando uma menina ia brincar também”.
Mas ressalva Anna da UNATI, esposa do Sr. Zé Cearense, que havia um outro
motivo para se subir às árvores: “Subir em árvores e ameaçar se jogar daí também era uma
espécie de chantagem que algumas crianças faziam quando queriam ganhar algo que estava
muito difícil” (CÂNDIDO, 2012).
Outra aventura das crianças era andar de bicicleta ou andar a cavalo ou charrete,
como lembra Celinha:

Uma vez fui passear de bicicleta com minhas amigas, as irmãs Maria Inês,
Mariza e Marion Carmelengo e, quando chegou na famosa descida do Gatão,
descobri que minha bicicleta não tinha freio. Desci em alta velocidade,
gritando feito louca. Minha sorte foi que tinha dois pescadores lá em baixo na
ponte, que me ampararam, mas também deram boas gargalhadas pela cena
ridícula que assistiram. Me lembro que era só algum cliente amarrar seu
animal em frente do frigorífico [refere-se ao frigorífico Garcia, de seu pai, avô
e tios, na Brasilândia], que eu, escondida, subia no cavalo e saía galopando
pela cidade; ou então pegava a charrete do cliente e ia passear. Fiquei
famosa por causa disso e todos já sabiam quem tinha sequestrado o tal
cavalo ou a charrete. Só restava aguardarem minha volta, para poderem
seguir seus caminhos. Claro que eu ficava de castigo, mas logo aprontava
outra.
Muitas vezes tive que correr de boi bravo nos pastos e subir em árvores para
me proteger, ou então subia em algum cavalo bravo sem arreio, deixando
meus pais desesperados.

Mais uma aventura da criançada era nadar em açudes, em cachoeiras; continua:

[…] fui com amigas nadar num açude na zona rural da Brasilândia e uma
amiga estava morrendo afogada. Eu mesmo, sem saber nadar, resolvi salvá-
la e quase morremos as duas. [Ela era] uma criança bem moleca e fazia
muitas traquinagens, e era muito alegre, divertida e tinha muitos amigos.

Muitas vezes, os pais que gostavam de pescar, nadar ou só navegar pelo rio,
levavam seus filhos para o Rio Santa Rita, a Cachoeira do Coqueiro, a Cachoeira dos Índios
etc. Na figura 6, “Edison Rolim passeia de barco com os 5 filhos e duas empregadas, na
saudosa e bela Cachoeira dos Índios (hoje Usina de Água Vermelha). Minha mãe, Belkiss, não
foi porque estava esperando o seu último filho, o Olavo”, lembra Rita Rolim66.

64
Celinha, como é conhecida Iraceles de Lourdes Garcia, 68 anos, professora aposentada, uma das
“meninas” da UNATI, enviou seu depoimento por e-mail no dia 11/01/2012 para a profª Péta Matos.
Manteve-se fiel a grafia do texto original.
65
Depoimento de Jorge Campagna (Izildo Jorge Aparecido Campagna), 48 anos, solteiro, cabelereiro, no
a
dia 16/02/2012, para a profª Péta Matos. Transcrito pela prof Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto
original.
66
Depoimento de Rita de campos Rolim, casada, moradora em Votuporanga (SP).
137

Figura 6 A saudosa e bela Cachoeira dos Índios, s/d.


Fonte: Família Edison Rolim, 2012. (Acervo pessoal)

Ser criança era também cultura. Relembro,

havia programas de auditório numa Rádio (onde hoje é o Gigantão), que era
também o FEC e minhas irmãs, amigas e eu sempre participávamos só
vendo as apresentações ou mesmo cantando ou recitando poemas. Uma vez
cantei “se a perpétua cheirasse, seria a rainha das flores, mas como a
perpétua não cheira meu bem, perpétua não tem amores”. Como o microfone
era alto e fixo, a gente tinha que subir numa cadeira para alcançá-lo. Já em
casa, o momento mais aguardado era quando meu pai colocava minha irmã
Laurinha em cima da mesa para declamar.
Na década de 50, começou a ter importância o ensino de algum instrumento
musical, do balé e, como meus pais valorizavam o que eles não puderam ter
em criança, resolveram colocar as filhas. A escolha seguia um ritual: minha
irmã Clarice, a primogênita, escolhia primeiro e a opção foi o piano, eu, então,
tinha que ficar no acordeon. A escola particular de música improvisada ficava
no Hotel Central de D. Carmem Garçon Ferreira Bertolote, que também era a
professora; e os exames de final de ano eram feitos no conservatório de
Monte Aprazível. Também ali comecei a aprender balé com uma professora
japonesa, mas muito moleca, larguei logo, mas consegui, pelo menos,
aprender um versinho de música japonesa (figura 7).

Figura 7 Hotel Central, 1944; hoje (2012), Casa


do Luizna Av. Amdeu Bizelli, em frene à
praça da matriz.
Fonte: Família Edison Rolim, 2012. (Acervo
pessoal)

Só no inicio dos anos 60 é que surge o Instituto Musical Santa Cecília, sob o
comando do Geraldo Bataglia. O nome do Conservatório é uma homenagem a Santa Cecília,
138

padroeira dos músicos. Segundo Idalina Bataglia67, “a escola, no início, ensinava violão, balé,
acordeão, piano e teclado. Ela foi oficializada em 1964, quando se formou a primeira turma, e o
seu Edison Rolim foi o paraninfo. Chegamos a ter 600 alunos”. A figura 8 mostra o
Conservatório, que se localizava na Rua Brasil, entre as Avenidas 6 e 5, no antigo Banco
Mercantil, hoje Casas Bahia.

Figura 8 Alunos e professores do Instituto Musical


Santa Cecília, s/d.
Fonte: Família Edison Rolim, 2012. (Acervo pessoal)

Celinha aprendeu, com sua mãe Nair Anselmo Garcia, a cantar e declamar poemas,
o que adorava fazer. Diz ela:

sempre era convidada para declamar poemas no Grupo Escolar da


Brasilândia, onde estudava e morava. Mas também foi uma criança bem
moleca e fazia muitas traquinagens, e era muito alegre, divertida e tinha
muitos amigos. Adorava aquelas brincadeiras de criança como salva-pegua,
esconde-esconde, pular corda, bola queimada, bambolê etc., com as filhas
das famílias Silvares, Barozzi, Malavazzi, Pradella, Bortolozzo, Vidalle, Marim
e muitas outras, todas muito queridas.

As mães adoravam vestir suas filhinhas com vestidinhos cheios de “frufru”, rendas,
“pingo de chuva” ou poá, bordados de casinha de abelha, fitinhas; eles eram engomados e,
embaixo, o saiotinho cancan para o vestido ficar mais rodado. Enfeitavam-nas com pulseira,
anel, brinquinho, lacinhos na cabeça, os sapatinhos com lacinhos, e a meia soquete branca era
inevitável. Enquanto isso, as meninas que residiam “no sítio” tinham que usar vestidinhos feitos
com os tecidos mais rústicos que os pais compravam para toda a família, por isso levavam a
peça de tecido inteira e só os confeccionavam uma ou duas vezes por ano no máximo: “a
gente quando via as menininhas da cidade com esse vestidinhos, ficava morrendo de vontade
de ter um vestido desses”, lembra Ivone68. Na figura 9, vemos a menina June, com um aninho,
com seu tradicional vestidinho engomado, “convivendo” lado a lado com os tão festejados
sinais da modernidade: o telefone preto, as revistas, o taco de madeira no chão e a foto dos
pais em um porta-retrato.

67
Depoimento de Idalina Miotto Bataglia, 84 anos, viúva, aposentada, à profª Peta Matos, no dia 29 de
fevereiro de 2012.
68
Depoimento de Ivone Scatena Corsini, 55 anos, casada, administradora, à profª Peta Matos, no dia 29
de fevereiro de 2012.
139

Figura 9 Tradição e modernidade, 1959.


Fonte: June F. Migliorini R. Cunha, 2012.
(Acervo pessoal)

As famílias de alto poder aquisitivo também faziam festa de aniversário para seus
filhos e toda a garotada da redondeza comparecia, convidada ou não. Na figura 10, vemos a
festa do menino José Silvares no colo de seu pai, Líbero de Almeida Silvares, na Brasilãndia.

Figura 10 Festa de aniversário na década de 40.


Fonte: Albany Vieira de Carvalho, 2012. (Acervo pessoal)

Nos anos 50, principalmente nas cidades do interior, a molecada adorava assistir às
corridas de cavalos, com o comparecimento de grande público. Joaquim Melero esclarece:

nas diversas raias que existiam naquela época, na nossa região, na fazenda
dos Verdi, do Sr. Walter Sócrates do Nascimento Filho (Waltinho), na fazenda
dos Arnaldos, do Sr. Manoel (Rodrigues da Silva – Badeco), do Sr. Manoel
Dutra Santana. Todos esses fazendeiros possuíam seus próprios cavalos. O
Sr. Milton Terra Verdi possuía o cavalo Alegre, o Sr. Florênciano o Estilingue,
o Badeco a égua AVA, o Sr. Jacques Almeida da Silva o Gualicho.
140

A mais famosa era a égua do Badeco, por suas arrancadas fulminantes,


chegando a ficar alguns corpos na dianteira, mas, na reta final, claudicava e
normalmente perdia a corrida, razão pela qual, quando alguém é mal
sucedido em qualquer atividade, dizem que “é igual à égua do Badeco”.
Todas as raias eram localizadas afastadas das sedes das Fazendas, onde
houvesse um retão plano, sem nenhuma infraestrutura, muito estreita, que os
assistentes se aglomeravam, geralmente no início até um determinado ponto,
mais parecia um corredor da morte.
Havia também raia, aqui na cidade, mais precisamente na Rua Rio Grande
do Sul, após a Avenida Francisco Costa, que era usada por proprietários de
cavalos comuns, e menos favorecidos. O Sr. Sebastião Fernandes também
possuía uma égua que participava das corridas na citada rua.

Figura 11 Fazendeiro Horácio Leite, com roupa


típica, de época, s/d.
69
Fonte: Inês Artiolli Rodrigues . (Acervo pessoal)

E Melero não esquece que os meninos iam também com os adultos:

aos domingos, na “Gambira de Éguas” [...] ver as trocas, também estavam


incluídos os cavalos, burros e mulas. Os chamados gambireiros se
instalavam ao lado esquerdo da Capela, na Praça da Matriz, que era em sua
maioria por pessoas ligadas ao meio rural, carroceiros e charreteiros (hoje é a
famosa “Pedra”, que é a troca de carros usados, localizada entre o Terminal
Rodoviário e Auto Posto Boa Vista).

Uma das alegrias de infância era a ida ao cinema. Clarice Sousa lembra, com
saudade, quando ia às matinês de domingo à tarde, às 14h, assistir aos filmes do “Mazzaroppi,
Marcelino Pão e Vinho, Tarzan, de Bang-Bang, dentre outros e na Sexta-feira Santa à Paixão
de Cristo”.
Outro lazer das crianças era brincar na estação ferroviária. Nelson Toscano70,
relembrando seus tempos de infância, se refere à escola, e mostra as fotos; diz: “a professora
Da. Lopoldina nos levava para visitar o local das escavações da estação ferroviária... era uma
novidade e sinal de progresso” (figura 12)

69
Fotos e depoimento de Inês Artiolli Rodrigues, casada, a profª Péta Matos, no dia 14/04/2011.
70
Fotos e depoimento de Nelson Toscano Saes, casado, comerciário, à profª Péta Matos, em 14 de abril
de 2011.
141

Figura 12 Visita dos alunos do Grupo Escolar de Fernandópolis, nos anos 40.
Fonte: Nelson Toscano Saes, 2012. (Acervo pessoal)

Segundo Joaquim Meleiro, em fins de 40, a estação ferroviária ficou pronta “a


primeira locomotiva chegou no ano de 1948 e o primeiro trem de passageiros foi no ano de
1949”; novamente, a escola leva suas alunas para visitá-la (figura 13). Segundo ele,

a Banda dos Irmãos Bortoleto (Dorival, Orides e Milton), que tocavam em


quase todos os eventos, inclusive na chegada do primeiro trem de ferro em
Fernandópolis, ocasião em que todos os músicos foram cumprimentados pelo
governador da época, o Sr. Adhemar Pereira de Barros, em plena estação da
Estrada de Ferro Araraquarense (EFA). (BARROS, 2011)

Figura 13 Visita dos alunos do Grupo Escolar de


Fernandópolis à EFA, 1949.
Fonte: Albani Vieira de Carvalho, 2012. (Acervo
pessoal)

Além das visitas, as crianças também iam até lá para brincar. Uma fernandopolense,
não identificada no youtube, quando viu postado lá a atual situação da estação ferroviária com
os dizeres “O governo Federal doou para Fernandópolis a área da Estação de Trem, onde será
implantada a "Estação das Artes"71 já com o projeto e o recurso, falta a execução das obras.
Isso merece parabéns” , desabafou ao mesmo tempo lamentando e esperançosa:

é de chorar, eu cresci brincando nessa estação. Morava próximo do quartel e


ia de bicicleta até lá, e olha que é longe, heim! Ficava na casa de uma tia que
morava no CDH e exatamente às 7h40 da manhã eu estava na beira da via,
pois a composição de passageiros já estava na plataforma, sentido Rio Preto.
O som da GP9 que tracionava a composição não sai da minha cabeça. Hoje

71
Estação de Trem de Fernandópolis - 2 – EFA. Enviado, via e-maeil, por J B N Oliveira em 10/05/2011.
Informação "Ifernandopolis.com.br".
142

moro em Campinas, mas espero, sinceramente, que a estação seja


revitalizada e utilizada para o benefício cultural da população72

Outro divertimento da gurizada era ir até a Estação Rodoviária, que ficava na Rua
São Paulo, entre a Av. 7 e 8 (hoje, agência do banco Bradesco). Era uma delícia ficar
“assistindo” às jardineiras chegando e partindo, a movimentação dos passageiros. Mas, os
garotos que mais a frequentavam eram os “paqueros, contratados pelas lojas para fazer
propaganda, e ele ia até a rodoviária arregimentando os fregueses (hoje, menino propaganda)”,
relembra Nelson Toscano Saes.
As jardineiras chegavam pela Rua Rio de Janeiro, onde hoje está o Banco do Brasil
(figura 14), e partiam pela rua São Paulo (figura 15). Observar que o trânsito dos veículos era
ao contrário do que é hoje. Na figura 14, observam-se a garagem e a entrada das jardineiras; à
direita, existia um hotel, cujos banheiros feitos de madeira ficavam no quintal.

Figura 14 Primeira “Estação Rodoviária”, s/d.


Fonte: Inês Artioli Rodrigues. (Acervo pessoal)

Figura 15 Estação Rodoviária, s/d.


Fonte: Joaquim Melero de Barros (acervo pessoal)

Outra opção dos meninos era ser Escoteiro. O escotismo, que surgiu em nossa
cidade na década de 40,

72
S.n.t. Comentário no <www.youtube.com>. Procurar: Estação de Trem de Fernandópolis- 2 – EFA.
Acessado pela profª Péta Matos em 08/02/2012.
143

é um movimento mundial, educacional, objetivando o desenvolvimento do


jovem por meio de um sistema de valores que prioriza a honra e, através da
prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem
assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade,
73
lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina .

Na figura 16, observam-se os escoteiros em frente à capela.

Figura 16 Grupo de escoteiros nos anos 40.


Fonte: Nelson Toscano Saes, 2012. (Acervo pessoal)

2.2 Sob a luz do luar do sertão, também as recordações pipocam

A noite chegava e, sob a luz da lua, os pais colocavam as cadeiras nas calçadas para
conversarem com os vizinhos, deixando as portas das casas entreabertas, enquanto as
crianças brincavam nas ruas de chão pouco iluminadas. No centro da cidade era a hora,
também, de tomar sorvete no Bar do Babá (rua Brasil, entre as avenidas 7 e 8) ou no Nosso
Bar (ambas de famílias japonesas).
Para alguns pais, cinéfilos, era chegada a hora de irem ao cinema com seus filhos
para assistir a alguma película/filme interessante e permitida para menores de idade. Relembra
Marion Carmelengo74,

meus pais gostavam muito de cinema, por isso, íamos todos os dias, e lá
sentávamos sempre no mesmo lugar. Eu, como era muito pequena, sempre
dormia. Um dia, mais ou menos com 6 anos, esqueci um pé do sapato no
cinema e, como vim no colo do meu pai, ninguém percebeu. No outro dia, lá
foi seu Alvarenga (o gerente) anunciar quem tinha perdido um pé do sapato e
lá fui eu buscá-lo, levei uma bela bronca da minha mãe; nunca mais tirei o
sapato para dormir no cinema.

Segundo Joaquim Melero,

À noite, logo no inicio, começávamos a brincadeira de salva-pega, que, às


vezes, se estendia até as 23h. Como não havia luz elétrica e as ruas eram
muito escuras, alguns participantes usavam faroletes a fim de localizar os que
estavam escondidos, ora em árvores, embaixo de caminhões que ficavam
estacionados nas ruas, por trás de muros, pilhas de tijolos e tudo poderia ser
considerado esconderijo.
Quando o número de participantes era pouco, nos dirigíamos até a máquina
de beneficio de arroz, com uma serraria que funcionava nos fundos, que era
de propriedade dos sócios, João Birolli e Amadeu Bizelli, cujo vigia era o Sr.
João, sogro do Sr. Amadeu, que era contador de histórias. Ele ficava no

73
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Escotismo>. Acesso em: 02 fev. 2012.
74
Depoimento escrito de Marion Isabel Carmelengo Chaves, 63 anos, casada, à profª Péta Matos em 28
de janeiro de 2012. Transcrição feita pela professora.
144

centro e todos nós sentados em volta do mesmo, contando histórias muito


demoradas, assim como as do Joãozinho sem medo, João e Maria, Pedro
Malazartes e muitas outras, até altas horas, sempre ficando o final para a
próxima noite ou oportunidade, mais ou menos como as novelas e os
seriados na televisão, o que aguçava a curiosidade da turma.
Naquela época, as portas das residências ficavam somente encostadas, e o
último a chegar as trancava. A noite chegava e com ela outras brincadeiras
divertiam as crianças: salva-pega, corrida, barra-bandeira, ricotrico, barra-
manteiga, esconde-esconde, campeonato de cuspe à distância. Como não
havia luz elétrica e as ruas eram muito escuras, brincava-se, às vezes, com
faroletes.
Em algumas noites, toda a meninada dirigia-se até à máquina de benefício de
arroz de propriedade de João Birolli e Amadeu Bizelli, cujo vigia era o Sr.
João contador de histórias. (BARROS, 2012)

Para a turma do Melero, havia, também, outra contadora de histórias, a Dolores,


vizinha da turma. Destaca Esmeralda Siqueira:

As noites, principalmente quando a lua chegava clara tinha o momento de


histórias. Carlos (meu irmão), os irmãos Joaquim e Jesus Melero, Zumira e
outros ficávamos ávidos ao ouvir as histórias contadas com simplicidade pela
nossa querida Da. Dolores. Quando ela dizia: “felizes para sempre” ou
“acabou a história, morreu a vitória”, “quem chegar primeiro”... Levantávamos
correndo, a algazarra estava formada, prontos para levantar o caixão:
Balança caixão
Balança você
Dá um tapa na... (leia-se “bunda”)
E vai se esconder.
E não é que na hora do esconde-esconde, a lua dava uma ajudazinha
passando sutilmente pelas nuvens?

Para Dellurdes Casari, como não havia luz onde morava, a noite era a hora de ficar
dentro de casa e, “com a luz da lamparina eu gostava de ler historinhas para minha mãe, que
era semianalfabeta, e ela adorava”.
Rememorando a infância, membros da UNATI dizem:

outra brincadeira eram os circos que montávamos nos terrenos baldios,


alguns com esteios e encerados (os adultos ajudavam a montar).
Arquibancadas eram tijolos e caixotes. O ingresso era palito de fósforo.
Artistas os mais variados usando figurinos inusitados, por exemplo, a
bailarina “embutia” a própria saia nas pernas da calcinha e ficava bufante
(experimente você fazer, vai ver como vira bailarina também). Música,
palmas, alegria e muita, muita criatividade, pois éramos materialmente
desprovidos de tudo, menos de imaginação. (CÂNDIDO, 2012).

Morando no centro, Laura Sousa75 também se recorda:

eu, minhas irmãs, os irmãos Nelito, Luis Carlos, Maria Adelina e Hilda
Pereira, as irmãs Mitiê e Midori, os irmãos Edson e Gilberto Martins76, o
Rubinho Ferreira e outros montavámos o circo num terreno baldio ao lado do
Cine Santa Rita, na Av. 7, e o palito de fósforo era de tamanha importância
na época, que pegavam-no do fogão às escondidas, porque, se a mãe visse
tal delito, era um safanão daqueles. Além disso, o Gilberto dava uma de
cineasta, montando um “cinema” no quintal de sua casa e ali projetava
filminhos na parede, enquanto a gente ficava sentada no chão. Novamente
pagávamos a entrada com palito de fósforo. Provavelmente o palito de
fósforo, como elemento simbólico, representava o único “dinheiro” ao qual a
gurizada tinha acesso, mesmo às escondidas da mãe.

75
Depoimento de Laura Marques de Matos Sousa, 59 anos, casada, à profª Peta Matos, em sua
residência na cidade de Valinhos, no dia 25 de fevereiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, mantendo-se
fiel a grafia do texto original.
76
A família de Da. Veva (Genoveva) morava na casa nos fundos da loja de seu marido, José Martins -
Casa Martins -, localizada onde hoje estão a Casa Vidal e o Boticário.
145

As “meninas” e o “menino” da UNATI rememoram as brincadeiras com diferentes


animais que

eram tratados com muito carinho e, quando morriam, significava muita


tristeza, acompanhada de enterro, com direito à cruz, velas, flores e até
oração. O Cavalinho de Deus (é o louva-a-deus, bichinho sagrado) era motivo
de brincadeira, pois enchíamos o saco dele até ele pedir perdão com as duas
patinhas. O vagalume também: ficávamos na maior alegria gritando:
“vagalume tem, tem, teu pai tá aqui , tua mãe também”. E como tinha
vagalume! Mazi explica que o vagalume tinha uma luzinha verde brilhante à
noite. O que falava era pra chamá-lo e, quando ele caía na grama, a gente
corria e catava e colocava numa caixinha de fósforo para vê-lo (BANDOS,
2012).
E elas continuam: outro bichinho que brincávamos era o Bilú, espécie de um
pequeno besouro que ficava num buraquinho e onde tinha um morrinho,
íamos lá e, assoprando, dizíamos: “Sai Bilú, sai Bilú”. Depois de tanto soprar
na areia, o bichinho apontava a carinha e ai pegávamos na mão só para
admira-lo. Tudo deslumbrava a meninada daquele tempo, imagine que as
crianças ficavam nas ruas à noite, esperando que algum carro passasse e,
com a luz acesa, jogasse o foco de luz nas paredes das casas, fazendo um
verdadeiro “cinema”. (CÂNDIDO, 2012)

Outro lazer muito popular nos anos 1950/60 era proporcionado pelos circos, pelas
touradas e os parques de diversão que, frequentemente, se instalavam em terrenos vagos.
Interessante e informativo o depoimento de Joaquim Melero sobre um entretenimento
que ocorria em nossa cidade e quase totalmente desconhecido – as touradas:

as touradas eram instaladas ao lado de onde hoje está o 1º Distrito Policial ou


então nas esquinas da Rua Brasil com a Av. dos Arnaldos e na Avenida
Libero Almeida Silvares (entre a Av. 14 e 15). Os animais das touradas eram
fornecidos pelo Sr. Martinho Fernandes Beato.

A molecada ia sempre assistir aos espetáculos circenses, quando o circo aparecia na


cidade. O circo atraia porque, depois da apresentação de variedades que incluíam palhaços,
mágicos, trapezistas, malabaristas, globo da morte, animais, finalizava-se o espetáculo com
uma peça de teatro, geralmente um drama: Amar foi minha ruína, Minha mãezinha querida,
Coração de luto, O céu uniu dois coraçõe. Esse era “o momento mágico do circo onde se corria
muito sangue, muitos dramas e choradeira da platéia, carregada de emoção”. Para quem tinha
muitos filhos, como Tiana77, ir ao circo representava uma despesa extra muito grande, então,
“enquanto ela pagava para uns dois ou três filhos, os outros “furavam” a lona com o
consentimento da mãe. Ficava muito caro pagar para todos e eles insistiam em ir”, justifica.
Aliás, essa prática de “furar” a lona era muito comum entre a molecada e acabava tornando-se
uma grande aventura.
Os parques de diversão, equipados com vários brinquedos, também animavam a
cidade, “mas o mais procurado era a roda gigante”, lembro. “Exigia muita adrenalina (como a
montanha-russa hoje). Que coisa linda ver, lá de cima, as pessoas pequeninas lá embaixo e a
cidade lá longe. Literalmente nos sentíamos ‘nas alturas’ – realmente era o ponto mãos alto da
cidade na época”.
Tanto nos circos quanto nos parques, não podiam faltar o carrinho de pipoca,
amendoim e algodão doce, as músicas no alto-falante e ficavam sempre repletos de adultos e
crianças. No passado, eles representavam um mundo de fantasia, pleno de magia e
encantamento.
Muitas eram as brincadeiras de rua, realizadas principalmente à noite: Amarelinha,
Cantigas de roda populares (Ciranda-cirandinha; Eu sou pobre, pobre, pobre; Samba lelê;
Itororó; Atirei o pau no gato; Você gosta de mim), Bambolê, Bilboquê, Bola-queimada, Passa
anel, Pega-pega, Esconde-esconde, Pula corda, É pique, Peteca, Cabra-cega, Minha mãe
mandou batê nessa daqui, Bafo (com trouxinhas de pano e arroz dentro), Balança caixão etc.,

77
Depoimento de Sebastiana Oliveira Carneiro, viúva, funcionária pública aposentada, para a professora
Rosinha Sousa da Costa em outubro de 2011.
146

fazem parte da lembrança de muitas pessoas. Dentro de casa, as meninas brincavam, muitas
vezes, de mamãe e filhinha.
Muitos versinhos eram recitados e representados e, fazendo parte da tradição oral,
foram sendo repassados de uma geração para geração. É o que confirma Marlene78, que viveu
a infância nos anos 70, e se lembra de alguns (mesmo que a letra estivesse errada, era assim
que se dizia):

“Sou pequenininha, “Batatinha quando nasce, “Sou pequenininha,


Da perninha grossa Esparrama pelo chão Do tamanho de um botão,
Vestidinho curto, Nenezinho quando dorme, Carrego papai no bolso
Papai não gosta” Põe a mão no coração” E mamãe no coração”

Nos anos 60, o Lions Clube trouxe para a cidade um grande divertimento para
gurizada, o “Trenzinho da Alegria” (figura 17), que, “percorrendo as principais ruas da cidade
progresso, o Trenzinho levava consigo a alegria das crianças79”.

Figura 17 Trenzinho da Alegria, 1966.


Fonte: O Imparcial, 1966.

Ao se recordar da infância, na década de 60, Ivoninha, que morava em frente ao


jardim, disse que “também brincava lá com a Arlete Sano e a Eti Leão. Eu tinha medo do seu
Joaquim, o jardineiro, porque era muito bravo e ficava numa casinha embaixo do coreto [...] as
crianças soltavam a imaginação”, passando para lá e para cá, para ver o que tinha lá dentro.
Na realidade, era o local onde ele “guardava os instrumentos de jardinagem, mas, para mim
era sinistra”. Apesar de ele ter só uma perna e usar bengala, Ivoninha diz que “tinha que correr
dele quando roubava uma rosa do jardim”. Era impressionante o amor e cuidado que ele tinha
de suas flores e de seu jardim. E destaca:
à noite, o alto-falante do jardim encerrava as atividades do dia às 9h e meia
(21h30), tocando a música “O Guarani” de Carlos Gomes; e esse era o sinal para
as crianças irem para casa. Como apagavam a luz, mesmo no jardim, era festa
80
brincar de esconde-esconde .

Conversando com Marlene de Paula, que viveu a infância nos anos 70 e morava
perto do estádio de futebol, ela vai revivendo como brincava no jardim: “aos domingos, a gente
saía da missa, comia pipoca com molho de pimenta e depois ia correr em volta da fonte e
chegava em casa encharcada”. Enquanto as crianças brincavam, os pais ficavam sentados nos

78
Depoimento de Marlene Aparecida de Paula, 42, solteira, à profª Peta Matos, no dia 04 de fevereiro de
2012.
79
Revista O Imparcial e as Debutantes. Fernandópolis, set. 1966. (contracapa)
80
Depoimento de Ivone Maria Basílio Cardoso, 55 anos, casada, gerente comercial, à profª. Péta Matos,
no dia 14 de fevereiro de 2012, na loja O Boticário.
147

bancos apreciando a beleza e o espetáculo que a fonte (figura 18) proporcionava, a música
que dava o tom para o colorido e a dança das águas. Aliás, para as crianças, brincar na fonte
era muito frequente nos anos 50/60.

Figura 18 Inauguração da fonte luminosa (anos 50/60)


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Também vivendo seu tempo de criança nos anos 70, quando já havia inúmeros
brinquedos eletrônicos, Jorge Campagna ressalva: “mas o autorama era brinquedo de gente
rica”. Já para as crianças com menor condição financeira, a imaginação, a criatividade
“corriam” soltas: “eu brincava era na rua ou no quintal, de bola-queimada, salva-pega etc.
Brincar de circo também era uma alegria. Me lembro do dia em que minha tia deu uma cortina
velha e com ela fiz a cortina do circo… Era o glamour”.
As festas juninas também eram a “curtição” da gurizada. O povo, de maneira geral,
aderia levando prendas que eram leiloadas. Conforme depoimento de D. Odete Baraldi81:

Havia barracas de vendas de fogos e comidas caipiras. A fogueira, no final da


festa, servia para muitos corajosos que, testando sua fé, caminhavam
descalços sobre ela. O que atraía a criança era o “pau de sebo”, em cuja
ponta era colocada uma prenda: quem escalasse era premiado, e também as
comidas que eram fartas.

Essas brincadeiras perduraram por várias gerações através da oralidade, bem como
tomar banho de chuva, soltar barquinhos de papel na enxurrada e nela brincar. Brincadeiras
que divertiam as crianças e, hoje, quando os/as entrevistados/as vão recordando essas suas
vivências, percebe-se que elas ainda os/as encantam e são parte da cultura popular.
Mas, a vida da molecada não era só alegria e brincadeira sadia, como mostra o Sr.
Joaquim:

assim como hoje, existiam as turmas do bem e do mal. Uma das turmas do
mal era a do Alemão, que residia na Rua Amazonas, hoje Leonildo Alvizzi.
Era formada por um grupo de menores delinquentes que andavam munidos
de porretes de madeira e, quando se deparavam com alguém de outra turma,
o mesmo era cercado e apanhava ali mesmo.
Essas brincadeiras perduraram por várias gerações e as vemos repetidas
pela geração de 1950/60 por outra turma identificada: a dos meninos
residentes no bairro da Aparecida. (BARROS, 2012)

81
Depoimento de Odete Baraldi, viúva, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M. Malacrida
e Rosa Maria Souza da Costa, em 22/07/1996.
148

3 TEMPOS DA “JUVENTUDE SADIA”82: RECORDANDO DIVERSÃO, ROMANCE E ARTE

A passagem da infância para a adolescência era feita gradativamente. Até a


passagem do tempo parecia mais lenta: não existia esse afã de querer ser adulta bem antes do
tempo. Para as meninas, a adolescência era a fase da “’menina-moça’, e só bem mais tarde
(18 anos) seria a ‘flor mulher’”, como cantava Nelson Gonçalves. Os meninos também seguiam
o mesmo ritmo. Era raro alguém “atropelar” o tempo, principalmente nas cidadezinhas do
interior.
Mas, para os jovens de famílias menos abastadas financeiramente, o tempo era
atropelado pela necessidade de trabalhar antes da maioridade. Osterno Costa, ao recordar sua
turma da Aparecida, diz:

A grande maioria fez o ensino primário no GEJAP e o secundário no curso


noturno da Escola Técnica de Comércio que era particular e cobrava
mensalidades. Mas, como precisavam trabalhar desde cedo, não podiam
frequentar o Ginásio Estadual, que era diurno. Alguns não deram conta de
continuar os estudos além do primário, porquanto vários outros conseguiram
concluir o curso superior somente depois de adultos.

O relato de Nelson Toscano Saes confirma: “fui um dos que começaram a trabalhar
muito cedo na casa ‘Ao Preço Fixo’ e ali arrumei o primeiro emprego para o garoto José
Pereira do Nascimento’. Na figura 19, José Pereira é o primeiro da esquerda para a direita e
Nelson é o segundo.

Figura 19 Funcionários da Casa Ao Preço


Fixo, s/d.
Fonte: Nelson Toscano Saes, 2012. (acervo
pessoal)

Outro relato é de Martin, que também viveu essa situação:

com 13 anos fui trabalhar de engraxate no jardim e depois na barbearia do sr.


Miguel Martinez, junto com seu filho Amândio. Eram meus clientes o Percy, o
Teodósio, Humberto Cáfaro, Jatir, o “Capeta”. Ganhava muito bem, um
salário fixo e as gorjetas.

Também trabalhava na barbearia o Jaime83, que relembra:

82
Depoimento de Olga Balbo Ferreira Fontes, casada, residente em Votuporanga, a profª Peta Matos, no
dia 02/02/2012. Esse termo foi exaustivamente usado durante o “Estado Novo” (1939 a 1945), do governo
de Getúlio Vargas, e era reproduzido pelos jovens, como fez Olga num discurso de campanha política de
Ademar Pacheco, com 16 anos. À época, Olga cursava o normal no Instituto de educação de
Fernandópolis.
83
Entrevista do Sr. Jaime Guedes Rodrigues para a coluna Observatório: O eterno gerente do FEC.
Jornal Cidadão, 20 nov. 2010, p.11-A. Transcrito pela profa Peta Matos, mantendo-se a grafia do texto
original.
149

seu Miguel me chamou para trabalhar lá. Naquela época, tinha o Big,
considerado o melhor barbeiro da cidade. Era um artista, “desenhava o
cabelo do freguês”. Só que era boêmio e, quando chegava o sábado à tarde,
ele acertava a conta e sumia, só voltava na terça-feira à tarde. Eu aproveitava
e trabalhava aos domingos e às segundas e firmei boa clientela: o juiz de
direito Dr. Rolando, muito sério. Depois chegou o Dr. Joaquim Rebouças, era
bonachão, sorridente. Naquele tempo as gorjetas eram muito boas.

O memorialista a quem muitos procuram para tirar dúvidas ou saber de algo da


história de nossa cidade, inclusive eu, é o Mário84, da Caiçara. Ele recorda:

comecei a trabalhar com 11 anos, em 1964, e como tinha aqui uma


engraxataria, eu era o engraxate com o Devanir de Oliveira. Aqui já era do
seu Osmundo Dias de Oliveira. Estudava de manhã no Grupo Escolar JAP e
depois vinha para cá e trabalhava até as 23h, e não fazia mal a ninguém. Em
1966, comecei a trabalhar de jornaleiro, entregando jornais na rua à noite. Às
20h eu ia buscar o jornal na FEPASA (estação ferroviária). Em 1977/78, fiquei
interno, como balconista.

Mas, não eram só os rapazes que enfrentavam o trabalho desde cedo, pois as moças
também o faziam, como confirma Aroni85:
86
eu trabalhei na “Casa Douglas” , de 1950 a 1960, junto com outras moças:
Alberina Van Tol, Cidinha Pezati, Olga Navas, Maria Pomaro e Nair Atíli. Era
uma loja de calçados, conhecida como a casa do ”BOTINÃO”, por expor um
botinão na entrada da loja (figura 20).

Figura 20 Casa Douglas, anos 50.


Fonte:Albany Vieira de Carvalho, s/d.
(Acervo pessoal)

Enquanto isso, as meninas-moças e os rapazes, cujos pais tinham maior poder


aquisitivo, só estudavam ou aqui no Instituto de Educação de Fernandópolis (IEF) ou em
escolas particulares e colégios de outras cidades, como São Carlos, Taquaritinga, Araçatuba,
São Paulo, São José do Rio Preto etc.
Esclarecem as senhoras da UNATI (2011):

84
Depoimento de Mario Pereira, 59 anos, solteiro, comerciário aposentado, à profª Peta Matos, no dia
07/03/2012.
85
Depoimento de Arony Vieira de Carvalho de Souza, 77 anos, casada, à profª Péta Matos, no dia
29/02/2012.
86
A Casa Douglas (antiga Casa Verde) localizava-se na parte esquerda do supermercado Pejô. “A loja
inicialmente pertencia ao sr. Osvaldo Terra, que mais tarde a vendeu para o sr. Lúcio Burguer”. Por fim,
foi vendida para os irmãos Pereira, que montaram ali uma casa de secos e molhados, Casa Luzitana, que
se transformou no Supermercado Luzitana.
150

quando iam entrando na adolescência, as meninas-moças já começava um


pouco de vaidade, então usávamos papel de seda molhado para passar nos
lábios; uma flor (maravilha) também era espremida e esfregada no rosto
como se fosse rouge. Explica a profª Mazi: dessa flor saia um sumo vermelho
e era também brincadeira de criança. Continuam elas: os colares eram feitos
com folha de mamona e olho de cabra. O maior cuidado era com o “tênis”
(feito de tecido e muito simples) em que vivíamos passando “alvaiade”, um pó
branco parecido com pó de gesso. Ficava muito branquinho. Para que seus
87
vestidos se destacassem, elas usavam saiotes que eram engomados com
água que a mãe fervia o macarrão caseiro (CÂNDIDO, 2012). Ou como a
mãe de Mazi fazia: engomava com maizena. O vestido ficava mais armado e
quanto mais engomado estava, mais chique você era (BANDOS, 2012).

As mães, quando as filhas se tornavam a flor-mulher, já começavam a pensar no seu


casamento, preparando o enxoval (roupas de cama, banho e mesa) que levariam consigo. Era
o sonho de ver as filhas casadas, como se todas elas fossem realizá-lo. Esse ritual era
importante, porque se acreditava que a mulher precisava de um provedor (o marido), como se
isso fosse da natureza da própria mulher. Além disso, ninguém queria ver sua filha para “titia”
ou “encalhada”, como se dizia na época. Lembram as senhoras da Unati (2012): “as mães
viviam bordando os enxovais das filhas e as filhas, para imitá-las pegavam, a folha do maracujá
e, com um espinho de laranjeira nas mãos, furava toda folha que virava uma verdadeira renda”.
Além disso, as mães também preparavam suas filhas para se tornarem futuras
esposas prendadas, ensinando-as a cozinhar, bordar, costurar etc. Muitas frequentavam o
88
Curso de Corte e Costura. Lembra Lídia Sato :

o prefeito Rolim abriu uma escola de Corte e Costura municipal no prédio da


família Sato. A diretora era Maria Sato Higuti, que também ministrava o curso.
Após o curso, as alunas recebiam o diploma obedecendo a todo o ritual de
uma formatura: tinham padrinhos, iam as autoridades, a família e amigos. Era
chique. As festas da formatura eram realizadas nos jardins da casa dos pais
– Kazuo e Haru Sato (Catarina) – da irmã Thereza, porque era um casarão
muito bonito, com um jardim enfeitado com ciprestes em forma de muro e um
lindo gramado (figura 21).

Figura 21 Formandas do curso Corte e Costura, anos 1950-1960.


Fonte: Albani Vieira de Carvalho, 2011. (Acervo pessoal)

87
Saiote é a saia curta, de tecido encorpado ou engomado, que as mulheres usam sob o vestido ou outra
saia. É também chamada de “anágua”.
88
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, professora aposentada, à profª. Peta Matos, no dia
04/06/2011. Texto transcrito pela profª. Peta Matos, mantendo-se a grafia original.
151

As festas juninas eram muito frequentadas pelas moças, pois estas, além de serem
um espaço de encontro das famílias, dos amigos que, muitas vezes, iam vestidos a caráter,
promoviam também namoros que se iniciavam com a troca de correios elegantes entre o rapaz
e a moça. Segundo Odete Baraldi:

as moças eram atraídas pela simpatia, sortes e advinhas de Santo Antonio.


Pegava-se uma imagem do santo, amarrava-se uma fita vermelha e outra
branca no braço da imagem e fazia-se um pedido. Rezava-se um Pai-Nosso
e um Salve-Rainha e pendurava-se a imagem de cabeça para baixo sob a
cama, só retirando quando o pedido fosse atingido.

A figura 22 mostra, da esquerda para a direita, as jovens “caipiras”: Haidê Maldonado,


Terezinha Machado, Maria Tereza, Albany e Leda Santos; sentadas: Adaide B. de Souza e
Arony V. de Carvalho. Elas ladeavam o amigo Carvalho, agrônomo da Casa da Lavoura. Elas
estavam no baile junino, ou baile caipira, do FEC, em 1968, que, como a quermesse, era muito
prestigiado pelas garotas.

Figura 22 Festa junina, 1968.


Fonte: Arony Vieira de Carvalho de Souza, 1968. (Acervo pessoal)

Outro evento importante para os jovens eram as comemorações de rua, e em grande


estilo, das datas cívicas, com corridas, desfiles glamurosos e prestigiadas pela população e
autoridades.
No desfile cívico, as autoridades e convidados ficavam no palanque, enquanto a
banda municipal e o povo se posicionavam na rua. Na figura 23 o palanque estava instalado na
Av. 7, esquina com Rua São Paulo. Esse desfile ocorreu em um dos mandatos do prefeito
Edison Rolim.
152

Figura 23 Desfile cívico, anos 1960.


Fonte: Família Edison Rolim, s/d. (Acervo pessoal)

As fotos da família Rolim na sequência da figura 24 mostram as corridas


desenvolvidas pelos jovens fernandopolenses nas ruas da cidade, no dia 07/09/1952, dia em
que se comemora a Independência do Brasil.

Figura 24 Corridas do Sete de Setembro, 1952.


Fonte: Família Edison Rolim, 1952. (Acervo pessoal)

Além das corridas, nas datas cívicas também eram realizados desfiles grandiosos
(sequência na figura 25), onde não é possível faltar a fanfarra e a(s) baliza(s), que vai(vão) à
frente do desfile abrindo a marcha e, em geral, fazendo demonstrações de destreza, evoluções
153

acrobáticas, manejando um bastão. É o caso de Sueli Artiolli, vestida de baliza na frente de sua
casa com suas irmãs Inês e Josefa e uma conhecida.

Figura 25 Desfile cívico nos anos 1950/1960.


Fonte: Inês Artiolli Rodrigues, 2011. (Acervo pessoal)

O cinema era a coqueluche, a diversão de muita gente, e o escurinho, o momento


propício ao flerte para casais de namorados ou somente na fase da paquera. Mas era também
motivo de fim de namoro, quando a mocinha não deixava seu namorado pegar em sua mão, ou
não dava o tão esperado beijinho. Em Fernandópolis, havia dois cinemas: o Cine Santa Rita e
o Cine Fernandópolis, mas o pessoal improvisava outros locais, como se verá adiante.
154

Figura 26 Cine Santa Rita, final dos anos 1940/1950 e no ano 1960.
Fonte Joaquim Melero Barros, s/d. (Acervo pessoal); CDP/FEF, 2009.

Na foto da esquerda (figura 26) dos anos 40/50, observamos a jardineira que desce a
Avenida 8 (esse era o sentido do trânsito). A bilheteria é a janela voltada para a Rua Brasil; na
esquina, a porta de entrada e as portas de saída na av. 8. Antes da bilheteria, vemos o Bar
Barbarella, descrito muito bem pelo Domingão89:

O bar tinha um hall grande que ocupava a Agência Caiçara e a Ótica Visão, e
era aberto para a rua Brasil. Nele tinha uma mureta de 1m e 80cm, mais ou
menos, que fechava o hall com elementos vazados. Se a pessoa estivesse
no bar e quisesse ir pro cinema, era só passar pelo hall e entrava lá, e quem
estava no cinema vinha no bar.

Na foto à direita (figura 25, tirada nos anos 60, o bar foi reduzido e, por isso, no lugar
dele vemos a Relojoalheria e Ótica Fernandes de Carlos Fernandes Fontanele (hoje Ótica
Visão). Apenas por curiosidade (embora não seja possível ver), depois dela já era a Gráfica e
Distribuidora de Jornais e Revistas do Dr. Jayme Leone (hoje Agência Caiçara), onde já
trabalhava (e ainda trabalha Mário); em seguida, o Bar Barbarella (onde hoje é a Azália),
esclarece o memorialista Mário da Caiçara. No início do cinema, o carrinho de pipoca ficava do
lado de fora e só mais tarde foi construída uma bombonière; a recepcionista do cinema e
vendedora de bilhetes era Iraci Gazeta, e o porteiro, o Francisco Martins. Os rolos de filmes
chegavam pelo trem, e quem ia até a estação ferroviária buscá-los era o Sr. Pedro Gazeta.
Segundo seu filho, Hélio Gazeta90,

Meu pai ia de carroça até a estação buscar os rolos de filme que vinham de
Rio Preto e se, eventualmente, não conseguia ir até lá para buscá-los, ficava
sem passar o filme. Os cinemas eram do Angelucci, que, depois vendeu para
o Curti de Rio Preto, e o gerente era o Aristóteles Alvarenga.

A figura 27 mostra o Cine Fernandópolis, construído no terreno que abrigara o


primeiro cemitério da cidade, na esquina da Av. Expedicionários com a São Paulo.

89
Depoimento de Domingos Azol Fernandes Filho, 64 anos, casado, ótico, à profa Peta Matos, em
08/02/2012.
90
Depoimento de Hélio Gazeta, 73 anos, casado, contador despachante, à profa Peta Matos, em
08/02/2012.
155

Figura 27 Cine Fernandópolis, 1960.


fonte: Cláudio Alcantara Silva, 2011.

A CINELÂNDIA era o local em se compravam doces, balas, chocolates para assistir


ao filme, porque dentro do cinema não havia bombonière.
Quando o cinema na Vila Pereira foi inaugurado, relembra Ivone Felipe91 (que à
época morava na vila Brasilândia):

a gente vinha a pé (não tinha a Mijoleta), por causa do cine Santa Rita, que
era do Angeluci. Naquela parte onde é a Caiçara era um bar (Barbarella, do
Tarciso), e a gente fazia uma espécie de clube, dançava. Então a vida
começou a vir para Fernandópolis, a parte da sociedade, então a gente vinha
todo domingo, era sagrado, vinha todo mundo para o cinema. Depois que o
Salione comprou a Mijoleta, vinha todo mundo de Mijoleta (o povo pôs o
apelido), porque era circular e então começou e tinha os horários para a
gente vir para Fernandópolis. Era divertido. Era divertido...

A respeito de cinema, quando se passa pela Máquina Santa Rosa, da família Sato
desde 1946 (na Av. dos Arnaldos, entre a rua Rio de Janeiro e Espírito Santo) não se imagina
que, ali, “a colônia japonesa se reunia aí para assistir aos filmes japoneses (figura 28),
sentados nos sacos de arroz, até construir o clube Tókio”, como esclarece Lígia Sato92. Essa
declaração é corroborada Tsueno e Hanami Sano93 (casal), que relembram essa época:

aqui não tinha divertimento, de vez em quando alugávamos filmes japoneses


e íamos assistir na máquina do Sato; não tinha cadeira, sentávamos em cima
dos sacos de arroz, de café. Primo Angeluci, dono do cinema, comprou um
motor e nós pagávamos para ele ligar a luz.

91
Depoimento de Ivone Marques Felipe, solteira, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M.
Malacrida e Rosa Maria Souza da Costa em 24/09/1996. Estava presente, também, sua irmã Aurora
Felippe Basílio, casada.
92
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, à profª. Peta Matos, no dia 04/06/2011.
93
EE Afonso Cáfaro. Portifólio “Programa Viva Japão”. Cáfaro, 2007. A/c de Lídia Katsue Sato Pizzuto.
a
Transcrito pela prof Péta, em 2011, mantendo-se a grafia original.
156

Figura 28 “Cinema” na Máquina do Sato, s/d.


Fonte: EE Afonso Cáfaro, 2007. (Portfólio)

Os jovens também aproveitavam as folgas do trabalho para prestigiarem a mais nova


representante do progresso de nossa cidade, a Estação Ferroviária, sem esquecer (alerta
Melero!) que a “primeira locomotiva chegou no ano de 1948 e o primeiro trem de passageiros
foi no ano de 1949”. A figura 29 mostra os irmãos Joaquim e Jesus Melero e seus amigos.

Figura 29 Estação Ferroviária, 1949.


Fonte: Joaquim M. de Barros, 2011. (Acervo pessoal)

Lá pelos anos 40 e até início dos anos 60, paquerar era sinônimo de caminhar pelas
ruas – o footing – e flertar quando pudesse. Na nossa memória e na da maioria dos
entrevistados, o footing aparece como uma prática comum entre os moradores. No footing,
rapazes e moças, nos seus melhores trajes, exibiam-se e se observavam mutuamente. Os
rapazes quedavam-se perfilados na caçada ou nos passeios do jardim, formando duas paredes
para apreciar o passeio das meninas que, de braços dados, caminhavam entre eles, indo para
lá e para cá. Essa paquera se estendia até, no máximo, às dez horas da noite. Passavam-se
semanas até que o rapaz dirigisse o primeiro “olá” à sua eleita. Portanto, "o footing” era o lugar
do primeiro encontro, dos olhares apaixonados, do bate-papo descontraído, em uma mistura de
espreitada, esperança e encantamento, mas, às vezes, levava à frustração, quando a pessoa
amada não enxergava a quem tanto a admirava.
Em nossa cidade, o melhor lugar para o footing era o jardim e a Rua Brasil (entre as
avenidas. 7 e 8). Era o palco do flerte, do footing, da paquera, onde se cruzavam olhares
inocentes e sorrisos cheios de futuro – propostas que, hoje, não soariam nada indecorosas
157

quanto às que, algumas vezes, fizeram acelerar os coraçõezinhos de príncipes e princesas. Na


figura 30, vemos as irmãs Josefa (sentada, é a 2ª da direita para a esquerda) e em pé Inês
Artioli (3ª da esquerda para a direita) com amigas, no dia da inauguração da praça.

Figura 30 Dia da inauguração da Praça, 1959.


Fonte: Inês Artioli Rodrigues, 2011. (Acervo pessoal)

Por meio das rememorações das “meninas” da UNATI, é possível formar uma
imagem mais precisa desse passeio:

Nos “footings” que começavam em volta da fonte da praça e se estendiam


pela rua Brasil, as meninas iam ou de mãos dadas ou de braços dados
passando pelos meninos, como que em “revista” e sempre tinha algum moço
que ficava conferindo as meias finas que deveriam estar bem retinhas (as
moças usavam vestidos, meias com cinta-liga94 e sapato alto). O pipoqueiro,
como o Sr. Luiz Nicoleti, não podia faltar. (CÂNDIDO, 2012)

Interessante observar que as moças andavam, literalmente, “grudadas” umas às


outras, e Celinha Garcia explica a razão: “para ganharmos coragem”. Quando se cansavam do
passeio, sentavam-se nos bancos ou paravam no coreto para assistir à banda tocar. Delurdes
se lembra de que, nos anos 50, também “passeava no footing com as amigas Maria e a
Gioconda Rosseto, mas foi por pouco tempo, porque, aos 16 anos, comecei a namorar um
rapaz lindo, meu marido, Wainer Casari”.
Mazi95 complementa essa descrição citando algumas amigas que faziam o footing
com ela: “Vanda Nazareth, Lurdes Vansan, Raquel Brandini, Marta Brandini, Aparecida Franco,
Zirlei, Inês e Josefa Artioli, Geni Atili etc. As moças andavam com seus vestidos engomados e
carteira de mão. Flertava um mês inteiro até o moço chegar na moça [ou seja, se aproximar].
Às vezes, ele chegava e dizia: ‘Pode ser ou está difícil?’”, o que é confirmado por outras
mulheres que viveram essa época. Mas ressalva: “no jardim havia um pedaço que as moças
evitavam passar, era na ‘Brilhantina’”, que fica no corredor que começa na fonte e termina nos
degraus da esquina da Rua Brasil com a Avenida 7. Lá ficavam os moços mais assanhados e
desrespeitosos.
Nos anos 70, lembra Ivoninha Basílio, “o footing era feito só pelas moças que iam à
missa e as que vinham do sítio, porque as que tinham condições econômicas iam ao cinema
cuja sessão começava as 18h30, depois tomavam sorvete na Cherry e ia para casa”.
Segundo Martin, que viveu os “anos dourados” e participava com os amigos do
footing, “tinha uma molecada que fazia canudinho de papel e colocava num cano de mamoeiro
para espetar nos cabelos das moças. Eram cabelos armados e cheios de laquê”.
Apesar dessas e outras traquinagens de criança, o footing mostra como se dava a
construção social do relacionamento amoroso dos adolescentes. Os casais, geralmente, se
formavam a partir dele e namoravam em casa e/ou fora dela, nos bancos do jardim, no cinema;
nesses locais quase sempre tinham que levar uma “vela” (nome dado à pessoa que ia junto
para vigiá-los, enviada pelos pais da moça). Muitas vezes, o pai não confiava muito na “vela”,

94
Cinta-liga - cinta feminina provida de quatro tiras elásticas, em cujas extremidades há um prendedor de
meias. Nessa época não havia meia-calça.
95
Depoimento de Maria José Brandini Dutra Bandos, casada, à profª Peta Matos, em 307/01/2012.
158

então enviava um filho ou sobrinho para cumprir a função. Os casais apaixonados que “se
sentavam no banco do jardim e ousavam dar algum selinho, sempre tinha um danado de um
moleque que ia atrás do banco e soltava bombinhas, só para assustá-los na hora H”, lembram
as senhoras da UNATI, como se não bastasse a “vela” que, muitas vezes, fazia “vista grossa”
para os pequenos “pecados” (beijinhos, mãos dadas) e fazia a alegria dos apaixonados. O
selinho, na época, era tido como verdadeiro beijo. O presente mais comum que a namorada
ganhava era um bichinho de pelúcia, principalmente os ursinhos.
O ponto alto do romantismo eram as serenatas ansiosamente aguardadas pelas
namoradas nos anos 40/50/60, como esclarece o seresteiro Sr. Martin:

Naquela época, só era permitido namorar até as 22h e, depois, a gente fazia
a seresta nas janelas das namoradas. Meus companheiros eram o Humberto
Rodrigues de Almeida, Arnaldo Lima (Liminha), Eduardo Colombano,
Oswaldo Silva, Zuza. A gente deixava as namoradas em casa e se reunia no
bar, a Paulicéia, em frente ao jardim e planejava as músicas a serem
cantadas. Algumas vezes, a gente ia na casa dos amigos também, sempre a
pé. Eu era o cantor acompanhado de um violão, e os outros acompanhavam
batucando numa caixinha de fósforo ou levando uma garrafa de Cinzano ou
de Cinar (bebida à base de alcachofra).

Lembra-se das músicas que tocavam: “de Nelson Gonçalves, todo o repertório dele,
como “A volta do boêmio”, “Moço”, e Agostinho dos Santos, esse era o Oswaldo que cantava”.
Mas fazer serenata sob a janela da namorada muitas vezes era uma peripécia. Ele conta,
orgulhoso do feito:

Na hora de fazer serenata pra minha namorada (hoje sua esposa Eucledes,
conhecida por Cleide), a gente tinha que escalar um muro para chegar
próximo à janela da amada, porque sua casa ficava no fundo do instituto de
beleza “Primavera”, na Avenida 7, em frente ao bar 7.

A profª Rosinha, revisando este artigo, se lembrou de que Osterno, seu namorado na
época e hoje marido, e seu grupo de amigos, “faziam serenata na sua janela com uma radiola”.
Estavam junto as professoras Vanda e Péta, que recordaram do friozinho no “coração”, na hora
da paquera.
Os jovens, nas décadas de 50 e 60, conviveram muito com os aparelhos de rádio.
Nos anos 60, quase todas as casas tinham pelo menos um receptor de rádio ou um rádio
vitrola, e só os mais ricos possuíam um aparelho de TV em preto e branco. A TV era um objeto
tão sofisticado que, quando a moça se casava, tirava fotos ao seu lado.
Mas, nos anos 40, Ivone, Felipe Basílio (2006), morando na Vila Brasilândia, relembra
algo que acha interessante:

naquela época (1940 a 1950), quase ninguém tinha rádio, rádio era assim
muita novidade. Aí meu pai colocou um alto-falante lá em cima da porta da
loja (Loja Lisboa, na Brasilândia); então, chegava à tarde, lá pelas cinco
horas, por aí, o pessoal chegava da roça, a novela começava às 6h,
tomavam banho e sentavam-se na praça para ouvir as novelas. A praça não
era um jardim, eram umas gramas assim (faz gesto, “mostrando” como era);
o pessoal chegava do serviço e sentava tudo na grama para ouvir as novelas.
Antigamente, quem passava novelas era a Rádio São Paulo e também a
Rádio Tupi.

E Aurora96 complementa:

para ouvir pelo alto-falante, ficavam na praça, ouvindo as novelas pelo alto-
falante. Tinha uma chavinha que, quando a gente queria, passava para a
casa ou se não para a loja, acabava a novela, passava para a casa e todo
mundo ia embora.

96
Depoimento de Aurora Felippe Basílio, casada, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M.
Malacrida e Rosa Maria Souza da Costa, em 24/09/1996. Estava presente, também sua irmã Ivone
Marques Felipe.
159

Ivone Felipe destaca: “era acumulador ainda, era bateria”. Elas lembram que, quando
passou o Direito de Nascer, “essa foi uma das últimas (do alto-falante). Essa aí, todo mundo
fechava e todos que tinham rádio iam ver a novela. Depois ela foi feita na televisão”.
Além da rua, do jardim, outro local de lazer e paquera era o clube. O Fernandópolis
Esporte Clube (FEC), localizado na rua Rio de Janeiro (entre as avenidas 7 e 8) era o point
dos jovens (figura 31).

Figura 31 Sede do FEC, s/d.


Fonte: Joaquim M. Barros, 2011. (Acervo pessoal)

Além dos grandiosos bailes (como se verá adiante), O FEC era local das festas de
casamento, das brincadeiras dançantes às 10h nos domingos e do encontro de namorados.
O Tênis Clube, com suas piscinas e quadras, também era local de encontros de
amigos e namorados. Rememorando o tempo de juventude, Ivoninha conta que ela e sua
turma “iam às brincadeiras dançantes no domingo de manhã e passava as tardes na piscina do
Tênis Clube”.
No final dos anos 50 e começo dos 60, era comum ocorrerem concursos de dança
durante alguns bailes. Celinha Garcia rememora essa época:

dos 16 anos até 22 anos de idade, participei de vários concursos de dança,


com meu parceiro e professor de dança o Arnaldinho (Arnaldo da Silva
Neto). Muitas vezes, fomos vencedores. Outro parceiro ótimo era o Nelito
(Manoel Santo). Sinto saudade daqueles bailes do FEC. Vinham orquestras
famosas tocar, como Ray Connif, Henrique Simonete e, quando terminava o
baile, íamos comer pão quentinho em alguma padaria ou tomar uma canja
em algum bar.

Para as moças, ir a um baile significava seguir todo um ritual: acordar das 4h às 5h


da manhã para ficar em frente ao salão de beleza aguardando ser aberto às 8h, esperando ser
uma das primeiras a ser atendida; afinal, a produção de um penteado glamoroso, bem
trabalhado e cheio de laquê levava muito tempo; esmaltar as unhas, maquinar-se (quando o
pai permitia), colocar um vestido caprichosamente bordado, salto à Luís XV, jóias, bolsas
bordadas ou carteiras refinadas e submeter-se à aprovação do pai. Mas a maior expectativa,
que gerava muita aflição durante todo o dia, ficava por conta de seus parceiros de dança. Será
que o rapaz que paquerava ia mesmo ao baile? Será que ia dançar com ele? Perguntas como
essas não “calavam” o coração. Afinal, todo o sacrifício do ritual visava a ser admirada por ele,
ser entrelaçada em seus braços na dança. Quem não tinha paquera, também ficava na
expectativa de flertar, paquerar alguém. Na hora do baile, que começava às 22h, as moças iam
para o clube acompanhada dos pais ou responsáveis, sentavam-se à mesa, já reservada e
comprada, e ali ficavam esperando, elegantemente, comportadamente, o convite de um rapaz
para dançar; e, se a jovem recusasse, geralmente o pai não deixava a filha aceitar convite de
outro para a mesma seleção: dizia que era falta de educação e de respeito, e a gente ficava
com raiva porque sempre estava esperando um paquera ou um amigo. Da. Celina Chinet,
160

“adorava ir a bailes”, levando suas filhas Rose e Sônia e as amigas Cidinha e Vera Tomáz,
relembra sua filha Rose97.
Além dos grandiosos bailes, dos casamentos, o FEC era o point dos jovens, local de
lazer e paquera. Ali se realizavam as “brincadeiras dançantes” dominicais às 10h, os carnavais;
era, também, local de encontro dos namorados, principalmente dos que namoravam às
escondidas dos pais.
Na década de 60, também eram comuns os bailinhos nas residências, como relembra
Rosemarie Chinet. Como seus pais “gostavam de festa, sua casa era, muitas vezes, o point
dos amigos, que iam para conversar, paquerar, dançar, namorar, ao som das músicas do disco
de vinil que tocavam na vitrola ou sonata”.
Os bailes eram frequentes na vila Brasilândia, nos anos 40; relembra Aurora:

A Brasilândia era pequena, era uma família, mas a gente se divertia muito
mais. Depois da casa do Líbero, tinha um barracãozão. Então, chegava o
final de semana, no sábado, a Angelina Barozzi, eu, as irmãs dela, o Tio
Hélio ia daqui, a gente falava: “vamos fazer um baile?” – ”Vamos”. Chamava
as meninas, e esse conjunto do Ferrarezi, (não o fazendeiro), que era uma
família, o pai e os filhos.
A gente dizia: “Seu Luiz, vamos tocar que nós vamos dançar”. “Vamos”. Num
estantinho arrumava o baile, já fazia o baile. O conjunto Musical do Marim
veio depois.
Tinha muito rapaz. E sempre tinha aqueles de que a gente não gostava, que
você tem antipatia. Então tinha um tal de Manuel, que morava pra cima da
nossa casa, os meninos de Jazão (Zezão?), então, a gente conversava
demais. Quando estava no baile e vinha um cara tirar para dançar de que a
gente não gostava, a gente falava: “Não, eu já tenho par”. Ele era o ponto de
apoio.

Saudosa desse tempo, sua irmã Ivone comenta: “É. Eram uns bailes bons”. Mas,
quando questionadas, pela profª Rosinha, se arrumavam os namorados todos ali, elas
continuaram a falar da vida lá e não responderam.
Já nos anos 60, anos dourados, o glamour dos 15 anos era o consequente despertar
da menina-moça para a vida social. As famílias de maior poder aquisitivo, integrantes da “alta
sociedade”, comemoravam essa passagem da menina--moça para a flor-mulher cumprindo
uma série de rituais: festa de aniversário e/ou o baile de debutantes.
O Baile de debutantes98 foi inserido na sociedade fernandopolense pelo Lions Clube,
na década de 60, e continuou nos anos 70. Revestido de luxo e glamour, ele era considerado
uma espécie de ritual de passagem da infância para a vida adulta, quando os pais
apresentavam sua princesa à sociedade, começando, assim, uma nova fase em sua vida. A
partir do seu debut, a jovem moça passava a frequentar reuniões sociais, a usar roupas mais
adultas, fazer o footing e tinha permissão para namorar. Ou seja, literalmente, era uma data
marcada para a menina tornar-se, definitivamente, uma mulher. Formalmente, era seu primeiro
baile.
Normalmente, no baile, à meia noite, a debutante, usando um lindo vestido de gala,
entrava no salão para dançar a valsa com seu pai – tudo para representar que ela deixava de
ser menina para se tornar uma mulher. Além do vestido deslumbrante, o acessório mais
comum usado pela debutante era a tiara, indispensável para a valsa.
O baile de debutante era realizado em conjunto com outras debutantes, no
Fernandópolis Esporte Clube (FEC99); assim, 15 meninas com 15 anos eram apresentadas à
sociedade da época de uma só vez. O baile começava entre 21h e 22h, possibilitando que se
cumprissem todos os rituais.
Baile de Debutantes – um ritual de passagem da menina-moça para a flor-mulher –
seguia uma sequência impecável: 1. Abertura do baile de debutantes; 2. Apresentação da
debutante: a menina-moça, em belo traje de gala e uma rosa na mão, simbolizando o
desabrochar da flor-mulher, era recebida no salão com exclamações dos presentes e dos

97
Depoimento de Rosemarie Chinet, solteira, professora aposentada, à profª Peta Matos, em fevereiro de
2012.
98
Debutante é uma palavra derivada do francês (débutante), que, traduzida, significa estréia ou iniciante.
99
O FEC localizava-se na rua Rio de Janeiro (entre as avenidas 7 e 8), onde hoje é o Banco Itaú, em
frente à agência do Banco do Brasil.
161

príncipes encantados A figura 32 mostra a debutante Clarice Matos sendo apresentada à


sociedade.

Figura 32 FEC: Baile de Debutante, 1963.


Fonte: Clarice Marques de Matos Sousa, 2011. (Acervo pessoal)

1. A recepção à debutante - o pai da jovem normalmente era o “padrinho” do baile de


debutante; era o pai quem apresentava a filha à sociedade. Era ele quem recepcionava sua
filha e a levava até a cadeira, dando prosseguimento ao ritual.
2. A troca de sapatos – a jovem entrava no salão com um sapato de salto baixo, e o pai o
trocava por outro de salto alto. A troca dos sapatos era a representação da passagem da
infância para a vida adulta. A figura 33 mostra Paulo Carmelengo procedendo à troca de
sapatos de sua filha Marion.

Figura 33 FEC: Baile de Debutante – “Troca de sapato”, 1963.


Fonte: Marion Isabel Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

3. Apresentação de todas as debutantes com a madrinha ou padrinhos. Na figura 34, as


debutantes se apresentam com a madrinha, Irene Salione e a Miss Fernandópolis, Elizabeth
Betiol. Debutaram as meninas-moças: Marion Carmelengo, Aimê Peres, Ângela C. Santana,
Maria Luiza Fernandes, Clarice M. de Matos, Marilena Pezatti, Dalva Cabral, Cléa Lucia da
Silveira, Dagmar.Colombano, Sônia Chinet, Matilde Pomaro, Ivanete Salione, Célia Romano
Leite etc.
162

Figura 34 Baile de Debutantes, no FEC, 1963.


Fonte: Marion Isabel Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Se nos anos 60 eram 15 debutantes, simbolizando seus 15 anos, na década de 70


essa simbologia foi deixada de lado e o número de debutantes só aumentou: em 1972, 27
meninas debutaram. A figura 35 identifica as jovens: Ivone M. Basílio, as irmãs Nilza e Regina
Roquete, Tânia Ferrari, Marta Almeida, Eliethy Riola, as irmãs Any e Alcy Ferrari, Rosângela
Esmerini, Elza Mara M. de Matos, Márcia Sandin Spadon, Inês Rossato, Cleonice Machado,
Helena Pavanelo, Célia Correa, Suzi Oliveira etc., que ladeavam os padrinhos, Dr. Jorge Aidar
e a Sra. Cezira, sua esposa.

Figura 35 Baile de Debutantes, FEC, 1972.


Fonte: Ivone Maria Basílio Cardoso, 2011. (Acervo pessoal)

4. Apresentação da valsa - A primeira valsa da debutante era com seu pai, que também era o
“padrinho”. Rodopiando pelo salão, ele apresentava a filha à sociedade. Em sua ausência,
podia-se escolher um padrinho para dançar a valsa (podia ser um primo, um irmão mais velho,
um tio, ou o avô). Em muitos bailes, havia também o segundo padrinho (um primo, um irmão
mais velho) para dançar a segunda valsa.
A valsa era a dança oficial desse evento, interpretada pelas mais importantes
orquestras da época: “Orquestra Leopoldo, de Tupã, Orquestra Jasson Tupã, Nelson de Tupã,
Billy Vogue, Ray Coniff”, lembra Clarice M. Sousa. Na figura 36, a debutante June dança a
valsa com seu pai, Jaime S. Migliorini.
163

Figura 36 Valsa das Debutantes, 1973.


Fonte: June F. Migliorini R. Cunha, 2011. (Acervo pessoal)

De todo esse ritual, as domadoras100, que o organizavam, mantiveram o que era


tradição de todos os bailes de debutantes: a abertura do baile; a apresentação da debutante,
com um botão de rosa na mão (só mudando o cenário), a apresentação de todas as
debutantes ao lado da madrinha ou os padrinhos, a presença da Rainha de Fernandópolis ou
da Miss Fernandópolis e das princesas e, finalmente, a apresentação da valsa. Outros rituais
foram tirados como a troca de sapatos, bem assim outros foram acrescentados, como se verá a
seguir. As fotos, às quais tivemos acesso, mostram que essas mudanças não afetavam a
elegância do baile porque, seja qual fosse o ritual, ele era sempre impecável:
1. A lembrança do primeiro baile – os convidados e familiares recebiam em suas casas a
lembrança da jovem debutante, com sua foto, ritual já presente em 1966, como mostra figura
37.

Figura 37 Lembrança do primeiro baile – Eudóxia Maria Rolim, 1966.


Fonte: Família Edison Rolim, 2011. (Acervo pessoal)

2. A revista O Imparcial e as Debutantes foi lançada em setembro de 1966, pela primeira vez,
pelo jornal “O Imparcial”, com o apoio do comércio, homenageando as debutantes e o Lions
Clube (figura 38).

100
Domadoras – são assim chamadas as esposas que pertencem ao Lyons Clube.
164

Figura 38 Revista O Imparcial e as Debutantes, 1966.


Fonte: Família José Basílio, 2011. (Acervo pessoal)

Essa revista retrata e identifica todas as debutantes desse ano (figura 39), e os
presidentes do Lions Clube, Dr. Paulo Sano e esposa, Dra. Noêmia, “saúdam as Debutantes
agradecendo a colaboração de todos que prestigiaram mais uma grande promoção do Lions”.
Para nós, pesquisadoras, essa revista é um achado, porque possibilitou grandemente
identificar as debutantes e suas famílias; na sequência: Alcy Maria Senra, Beatriz T. Franco
Renesto, Vera Lúcia Felipe Basílio, Carmem Liz Ferraz, Marilena A. G. Martins, Regina Célia
Zangaro, Cleuza B. Maciel, Ely Terezinha Martinho, Ivanei A. Malavazzi, Elvira Albuquerque,
Deonice M. Malavazzi, Regina Célia Pacheco, Delizabeth E. Malavazzi, Eudóxia M. Rolim,
Iracema Sisto, Ilda M. Melo, Carmen Yvone Scarlate, Sueli M. Oliveira, Luisa M. Jacinto, Dalva
Silveira, Cláudia M. de Mattos, Márcia Teixeira, Mara Cristina Silva, Rosalinda A. Luchesi, Iara
C. Ovídio, Maria Amélia Benez, Maria Antonieta Garcia, Maria Hercília Cizelli, Maria Tereza
Rodrigues, regina Maris Jorge, Regina Déa Stroppa, Sônia Arantes, Sônia Ferraz, Thelma C.
Pistelli e Ana Rita Moreira, residente em São José do Rio Preto, vindo da maior cidade da
região, oferece um retrato da dimensão desse evento.
165

Figura 39 Revista O Imparcial e as Debutantes, 1968.


Fonte: Família José Basílio, 2011. (Acervo pessoal)

3 O coquetel - já era realizado em 1967, no FEC. À véspera do baile, as meninas-moças


participavam de um coquetel com suas famílias, amigos e a madrinha ou padrinhos. As
debutantes da figura 40 podem ser identificadas pelo convite. É interessante observar o uso
das bolsinha de mão das debutantes.
166

Figura 40 Coquetel: as debutantes com sua madrinha Eunice Mattos, 1967.


Fonte: Laura Marques de Matos Sousa, 2011. (Acervo pessoal)

4. O convite – também já estava presente em 1967, e os pais o enviavam aos familiares,


padrinhos e amigos da debutante (figura 41):

Figura 41 Convite do Baile de Debutantes, 1967.


Fonte: Antonia Maria de Campos Rolim, 2011. (Acervo pessoal)

5. Um novo padrinho – mais tarde, a partir da década de 70, o glamour do baile de debutantes
passaria a ser a presença de um ator de televisão escolhido por elas para abrilhantá-lo,
apadrinhá-las, recepcioná-las e dançar, com cada uma, a primeira valsa.
167

Figura 42 O Padrinho Toni Ramos e debutantes, 1973.


Fonte: June F. Migliorini R. Cunha, 2011. (Acervo pessoal)

Como vimos, o Baile de Debutantes era um evento temático que cumpria tradições e
rituais, que estavam sempre em renovação. Tais bailes, literalmente, “ferveram” nesse período,
com direito a espaço em colunas sociais. Portanto, representavam um momento único e
especial tanto para a aniversariante quanto para todas as pessoas que participavam da
celebração, que marca uma passagem na vida da adolescente.
Enfim, segundo consta (DEBUTANTE, 2012):

Debutar é ver menina bonita, deixar vestido de chita, tirar do cabelo a fita.
Vestir vestido encantado de baile, todo enfeitado, com as cores dos sonhos
lindos. E, em seus olhinhos, sorrindo, vestir poesia inocente, vestir poesia
que sente nos versos que o coração da menina-flor botão não é mais de uma
qualquer. Pois a noite debutante transformou naquele instante flor-menina em
flor-mulher. [...] é o que faz a brilhante noite ficar na memória.

Além do Baile de Debutantes, outros bailes concorriam em elegância e glamour: a


Noite de Gala (o Baile da Cidade), em comemoração ao aniversário da cidade; o Baile das
“Dez Mais”, o Baile de Formatura (normal, científico, contabilidade etc.).
Na figura 43, vê-se o prestígio dos bailes no FEC, pelas jovens que os frequentavam,
vestidas com elegância e requinte. São elas: Albany V. de Carvalho, Dirce Alcântara (de Rio
Preto), Leda dos Santos, Erony V. de Carvalho, Adaíde B. de Souza e Wônia Franco.
168

Figura 43 Aniversário do FEC, 1958.


Fonte: Albany Vieira de Carvalho, 2011. (Acervo pessoal)

Nos anos 50/60, realizado o ritual da menina-moça para a flor-mulher, era, para
muitas delas, a hora de participar do concurso de Rainha de Fernandópolis, cujo ápice era a
coroação no Baile de Gala, que era o baile da cidade.
No Baile da Cidade, que ocorria no dia 22 de maio ou no sábado mais próximo a ele,
o glamour ficava por conta da coroação da Rainha da Cidade e das princesas. No filme
Fernandópolis Ano 1959101, constata-se que, na festa em comemoração ao aniversário da
cidade, a Noite de Gala era o acontecimento mais marcante, porque era o momento da
coroação da Rainha de Fernandópolis.
A entrada de cada candidata à rainha no salão do clube FEC era glamourosa, sendo
recebida por seu padrinho. Na figura 44, vemos a candidata Esmeralda sendo apresentada à
sociedade pelo seu padrinho e irmão João Batista Guimarães.

Figura 44 Concurso Miss Fernandópolis, 1958.


Fonte: Esmeralda Guimarães Siqueira, 2011.
(Acervo pessoal)

101
Interessante e emocionante assistir ao Filme Fernandópolis Ano 1959, do 20º aniversário da cidade de
Fernandópolis/SP. Filme postado no youtube. Disponível em: <www.youtube.com>. Transcrição feita pela
prof Péta Matos em janeiro de 2012.
169

No ano de 1958, o juiz de direito Joaquim R. Carvalho Sobrinho coroou a senhorinha


Sílvia Guimarães, ladeada pelas princesas Eni, Izolda, Ivani A. Ferraz e Esmeralda Guimarães
(figura 45). Elas eram bonitas e requintadas, diz o locutor do filme.

Figura 45 Miss Fernandópolis e Princesas, 1958.


Fonte: Esmeralda Guimarães Siqueira, 2011. (Acervo pessoal)

A senhorinha Esmeralda Guimarães, por ter vivido a grandiosidade dessa época, diz:
“eram diferentes os bailes de antigamente”. No domingo, acontecia o desfile pelas ruas centrais
da cidade e a rainha desfilava num carro alegórico, sendo aclamada pela população.
A Rainha da Cidade era convidada a participar de todos os bailes, eventos
importantes que aconteciam na cidade, durante seu ano de mandato. Ela representava
Fernandópolis aqui e em outras cidades.
Em 1963, foi eleita a candidata Maria Inês Mello como Rainha da Cidade. O baile de
coroação foi realizado no dia 22/05/1963, no FEC. Na figura 46, vemos a rainha Maria Inês
Mello ao lado de seu pai, Nelson Garçom Mello, e, em pé, a princesa Mariza Carmelengo ao
lado de seu pai, Paulo Carmelengo.

Figura 46 FEC: Coroação da Rainha da cidade e Princesas, 22/5/1963.


Fonte: Marion Isabel Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)
170

No ano de 1963, foi eleita Rainha de Fernandópolis a senhorita Elizabeth Betiol,


sendo coroada no Baile da Cidade, no mês de maio. Na figura 47, ela participa do Baile de
Debutantes, realizado no FEC em 1963.

Figura 47 Rainha de Fernandópolis: Elizabeth Betiol. 1963.


Fonte: Marion Isabel Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Em 1966, foi aclamada Rainha de Fernandópolis a senhorita Rosemarie Chinet e


coroada no Baile de Gala no mês de maio. Na figura 48. ela é destaque da capa da Revista O
Imparcial e as Debutantes. Rosemarie também foi Rainha dos Estudantes, sendo coroada no
Baile de 7 de Setembro.

Figura 48 Rainha de Fernandópolis: Rosemarie


Chinet, 1966.
Fonte: O Imparcial, 2011.

A partir da década de 60, chegava ao fim o concurso para a escolha da Rainha de


Fernandópolis, e a cidade começou a participar do concurso Miss São Paulo, elegendo a Miss
171

Fernandópolis. Esse concurso surgiu na década de 1920 pelos Diários Associados, mas só
participavam as senhoritas da cidade de São Paulo. Segundo o colunista social Roberto
Sécio102, foi só “na década de 1950, no ano de 1954, que o Concurso Miss São Paulo acabou
criando mais glamour e requinte [,] se tornando um concurso de beleza do estado de São
Paulo em que participam as vencedoras dos concursos de beleza municipais”.
No ano de 1967, Fernandópolis participou do concurso Miss São Paulo, cercado de
requinte e elegância, e a eleita para representar nossa cidade foi Celinha Garcia, que ganhou o
título de Missa Simpatia do estado.

Figura 49 Miss Fernandópolis. 1967.


Fonte: Iraceles de Lourdes Garcia, 1967.
(Acervo pessoal)

Rememorando esse título, Celinha, emocionada e com orgulho por ter vivido esse
momento tão especial em sua vida e de toda a população, escreve:

a Rede de TV dos Diários e Emissoras Associadas resolveu escolher


candidatas das cidades aqui da região noroeste para participarem do
Concurso de Beleza Miss São Paulo. Fui convidada para participar da
seleção e acabei sendo escolhida para representar nossa cidade no
Concurso, no ano de 1967, mês de junho. Fiquei muito feliz, pois iria divulgar
o nome da nossa cidade que iria aparecer pela primeira vez na TV. Deu tudo
certo. Representei nossa cidade muito bem, fiquei entre as semifinalistas e
ganhei o prêmio de Miss Simpatia.

Destaca algumas pessoas que foram importantes:

Quem me ajudou muito foi a Sra.Célia Semeghine (primeira dama da cidade),


pois eu não tinha condições financeiras para me apresentar bem vestida no
concurso; então, ela providenciou tudo e, felizmente, consegui representar
Fernandópolis com muita dignidade. Quem me acompanhou foi a Amélia
Rosa, que era Colunista Social na época, e nos divertimos muito durante a
semana em que ficamos hospedadas no Hotel Danúbio.

Celinha mostra, em seu relato, todo o glamour que envolvia o concurso:

102
O colunista social Roberto Sécio destaca a história e a origem do Miss São Paulo, no site:
www.robertosecio.net/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=94&Itemid=159. Acesso: set.
2012.
172

Naquela época, o Concurso era considerado um grande evento e o Hotel


ficou conhecido como o Hotel das Misses. Inclusive os artistas gostavam de
se hospedar no Hotel, na ocasião do Concurso, para se promoverem, sendo
fotografados junto com as Misses. Tenho uma foto onde eu e as outras
candidatas estamos junto com o Erasmo Carlos. Lembro também do Jece
Valadão, que foi convidado a se retirar do Hotel, por se comportar de forma
inconveniente com as Misses. O Amauri Júnior era colunista social de uma
revista de São José do Rio Preto e passou a semana toda em São Paulo,
acompanhando as Misses aqui da região, fazendo toda a cobertura do
Concurso.
Naquela época, o Concurso era supervalorizado. Saíamos num ônibus em
São Paulo, com vários batedores (policiais em motos) na frente, abrindo
caminho e, quando passávamos, as pessoas aplaudiam.
O patrocinador era a Lanofix (empresa distribuidora de máquinas de tricô e
costura importadas), os maiôs eram da grife Katalina (figura 50)

Figura 50 Desfile da Miss Fernandópolis 1967, Celinha Garcia.


Fonte: Iraceles de Lourdes Garcia, 1967. (Acervo pessoal)

Interessante no relato de Celinha foi também conhecermos os bastidores de um


Concurso de Miss:

Aconteceram alguns fatos hilários na noite do Concurso, que foi realizado no


Clube do Palmeiras. Era junho e fazia muito frio em São Paulo. Nós, as
candidatas tivemos que ficar horas de maiô nos vestiários do Palmeiras,
tremendo de frio.
Naquele ano, as Misses Internacionais vieram abrilhantar nosso Concurso e
tiveram tratamento VIP, ao contrário de nós, as brasileiras, a maioria vindo
de cidades do interior do estado de São Paulo.
Os garçons passavam com bandejas levando conhaque e vinho quente para
as Misses Internacionais, mas não serviam para nós, as coitadas que
sofríamos quase congeladas de tanto frio. Resolvi, então, me rebelar e tomar
uma atitude. Convenci as demais candidatas brasileiras a assaltar as
173

bandejas e, assim, tomamos todo o conhaque e vinho quente destinados às


internacionais.
O fato mais hilário da noite foi quando, já no final do desfile, os organizadores
resolveram homenagear a Miss do ano anterior quando ela ia passar a faixa e
a coroa para a Miss eleita, a Carmem Silvia Ramasco, Miss Campinas, que
era tão linda, que venceu também o Concurso de Miss Brasil. Eles
resolveram soltar muitos fogos dentro do Clube, mas se esqueceram de
avisar o público o que iria acontecer. Resultado: o povo se assustou e
começou a maior confusão, com as pessoas correndo como loucas de um
lado para outro, gritando: FOOOOGO!. FOOOOG!
Minha mãe e tias saíram correndo desesperadas para me encontrar. Mas eu,
depois de tomar aqueles conhaques deliciosos, estava tão alegre que achei
foi graça daquela confusão e, junto com as outras candidatas, ríamos muito,
inclusive porque a apresentadora do Concurso, a Meire Nogueira, se
assustou tanto que desmaiou em cima da passarela. A sorte dela é que tinha
vários seguranças bem fortes por perto, que a ampararam nos braços.

E conclui:

Eu fui feliz pelo fato de ter sido a primeira representante de Fernandópolis no


Concurso de Miss São Paulo, e, pela primeira vez, nossa cidade ter seu
nome divulgado por um canal de TV; todos entenderam a importância da
minha participação.
Soube que, naquela noite do Concurso, nossa cidade inteira se colocou
diante da TV para assistir ao Concurso.
Quando retornei para Fernandópolis, fui recebida pela cidade toda com muito
carinho. Desfilei num carro aberto junto com a Amélia Rosa. Fecharam o
comércio, soltaram fogos de artifício, colocaram faixas de boas vindas e
agradecimento por eu ter representado com dignidade nossa cidade.

Em 1976, novamente nossa cidade se destacou “lá fora”, e quem nos representou foi
a jovem Maria Aparecida Loverbek (figura 51) eleita Miss Fernandópolis.

Figura 51 Maria Aparecida Loverbeck, 1976.


Fonte: CDP/FEF, 2009.
174

Depois de coroada, Maria Aparecida Loverbec, Miss Fernandópolis, participou do


Concurso de Miss Regional na cidade de São José do Rio Preto.
Esse concurso contou com dez misses:Buritama, Catanduva, Fernandópolis, Jales,
Nova Aliança, Palestina, Potirendaba, Onda Verdi, Tanabi e Uchoa, todas representando a
beleza da mulher da região de São José do Rio Preto. O concurso ocorreu no Ginásio de
Esportes do Palestra, ao som do conjunto Roberto Farah, em 14 de maio de 1976103. Dentre
elas, Maria Aparecida foi eleita a mais bela, recebendo o título e a faixa de Miss Regional.
Concorreu também no concurso Miss São Paulo.

Figura 52 Maria Ap. Loverbek, MISS Regional 1976.


Fonte: CDP/FEF, 2009; Albani V. de Carvalho, 2011. (Acervo pessoal)

Em maio de 1977, foram cinco candidatas concorrendo ao concurso de Miss


Fernandópolis: Tânia Mara Singolano, Maria da Penha, Irene Lopes de Oliveira, Wanderly
Aparecida Ribeiro Sanches e Gislene do Amaral (figura 53), ao lado da Miss Fernandópolis 76,
Maria Ap. Loverbek.

Figura 53 Candidatas ao concurso Miss Fernandópolis 77, ao lado da Miss Fernandópolis,


Loverbeck (1976).
Fonte: CDP/FEF, 2009.

103
Folheto do Concurso Oficial das Misses: 76 – Miss Rio Preto, Regional e Imprensa – São José do Rio
Preto.
175

A comissão julgadora, formada por representantes da sociedade fernandopolense,


dentre eles os casais Maridéa e Horácio Carnelossi, Sônia e Ivanoé Arantes, o radialista
Sanches, elegeu Miss Fernandópolis 77 a candidata Tânia Mara Singolano (figura 54), que
recebeu a faixa das mãos de Maria Aparecida Loverbek. Como era tradição, a sociedade
prestigiou o concurso.

Figura 54 Capa da revista Gazeta Social, 1977.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Depois do concurso, o Jornal Gazeta, com o patrocínio do comércio, homenageou as


candidatas com uma revista, apresentada pelo colunista social Mirim (figura 55).

Figura 55 Colunista Social, Mirim e Miss


Fernandópolis 77.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

No ano de 1967, a colunista social Amélia Rosa começou a promover o “Baile das
Dez Mais” elegantes fernandopolenses, destacando as senhoritas e senhoras da alta
sociedade. Ela não só promovia o baile, como também produzia a “Sociedade em Revista” ou o
“Álbum de Recordações”, com o apoio financeiro do comércio local (figura 56).
176

Figura 56 Apresentação da SOCIEDADE EM REVISTA,


Fernandópolis, junho de 1967.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Em cada página, a apresentação de uma senhorita e de uma senhora, além de fotos


dos casais que prestigiavam o baile (figura 57).

Figura 57 Álbum de Recordação do Baile das DEZ MAIS, 1966.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

O “BAILE DAS DEZ MAIS”, realizado em 23 de abril de 1967, nos salões do FEC, foi
abrilhantado pela orquestra Nelson de Tupã. Imperavam os vestidos confeccionados em fino
177

tecido oriental, detalhes em strass, em brocado chinês, em cristal bordado, em tonalidades


diversas, em tecido cloquê com fios prateados, em laminado francês, em musseline de seda
pura, bordados com pailletês franceses, em ziberline etc., além dos complementos: sapatos,
bolsa, luvas, leques requintados, jóias caríssimas e fino casaco de vison. Nas mesas, o
champagne, “bebida para as ocasiões significativas”, diz Amélia Rosa. Nesse baile, foram
apresentadas à alta sociedade, as Senhoritas DEZ MAIS de 1966, bem como as senhoras.
Muitas das elegantes senhoritas, quando se casavam, continuavam a receber o título,
mas agora de Senhora Mais Elegante. A apresentação das “SENHORAS DEZ MAIS” ocorria
em paralelo à das senhoritas, escolhidas por Amélia Rosa (figura 58).

Figura 58 “SENHORAS DEZ MAIS, de 1966.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Depois desse baile, outros se seguiram, e o Álbum de Recordação se renovou. Em


1968, cada uma das senhoritas e senhoras elegante ganhou uma página inteira, mas com a
propaganda do patrocinador abaixo da foto (figura 59).
178

Figura 59 Álbum de Recordações das DEZ MAIS elegantes


fernandopolenses, 1968.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Em 1974, o Fernandópolis Jornal, através de sua coluna Momento Social, dirigida


pelas irmãs Maria Lúcia e Maia Izabel Brandão Leone, passou a promover um Suplemento
Especial de Momento Social e o Baile das Personalidades e Elegantes do ano, em parceria
com o Tênis Clube de Fernandópolis e Geraldo Bernardes (figura 60). Nesse ano, o Baile
contou com a apresentação da jornalista e radialista Cidinha Campos.

Figura 60 Apresentação da equipe do Fernandópolis Jornal no


Suplemento Especial de Momento Social, 1974.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

As personalidades masculinas de 74 (figura 61) também se destacaram em suas


atividades no setor comercial, industrial, agrícola, pecuária, comunicação, advocacia,
veterinária, agronomia, saúde, benemerência, filantropia, administração pública. Dentre eles
179

destacaram-se os jovens Valter T. Sano, revelação médica; Armelindo Ferrari Jr., revelação
administrativa industrial; César Aquiles Benfatti, agrônomo; homem de visão, Sebastião Luiz
Sobrinho.

Figura 61 JOVENS PERSONALIDADES DE 74.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

As personalidades femininas de 74 destacaram-se apenas na área da alta costura,


Nazareth Sato (Kunico Yoshida Sato), e da educação, Wandalice F. Renesto. Foram eleitas as
senhoras mais elegantes: Maria Aparecida F. Fontes Ramos, Alice da S. Ferrarezi, Agadir A. C.
Folchini, Cezira S. C. Aidar, Inês Zaira R. Risk Martins, Marilza Sandin Spadon Rodrigues,
Apparecida A. Scarlatti Cáfaro, Sonia M. Pierotti Arantes
Dentre as senhoritas, as mais elegantes: Célia M. Sano, Jomara B. Gomes, Maria
Inês Agrelli, as irmãs Carmem e Priscila Clemêncio do Nascimento, Jomara B. Gomes e Lílian
Mara S. Mansor, respectivamente (figura 62).

Figura 62 As SENHORITAS MAIS ELEGANTES de 1974.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Glamourosos também eram os Bailes de Formatura do normal, do científico, de


contabilidade, e outros de nível médio, que aconteciam todo final do ano no FEC. Nesses
bailes, além das grandes orquestras, também participavam conjuntos musicais, como o “The
Helss”, de Fernandópolis, o “Tesourinha” de Votuporanga, lembra Marion Carmelengo.
Na figura 63, a formanda Suely Aparecida Serra Negra é recepcionada pelo padrinho
da turma, o sr. Jaime Migliorini, do Lions Clube. Essa foi uma formatura do Instituto de
Educação de Fernandópolis, antigo Ginásio Estadual e hoje Escola Estadual Líbero de Almeida
Silvares.
180

Figura 63 Baile de Formatura.


Fonte: Suely Aparecida Serra Negra, s/d.

O FEC iniciou, em 31 de dezembro de 1957, os elegantes Bailes de Réveillon, que se


iniciavam com música romântica; à meia noite, estourava-se o champanha, fazia-se um brinde
e, depois, o carnaval. Em relação ao réveillon de 1957, o sr Jaime confidencia: “Foi um baile
histórico. A orquestra era Nelson de Tupã. Naquele tempo, o interior de São Paulo tinha
grandes orquestras”, que tocaram no FEC: a já citada, a de Sílvio Mazucca, Osmar Milani,
Cassino de Sevilha, Icaraí de São José do Rio Preto. Em relação aos conjuntos, Jaime lembra
The Black Falcon, The Hells.
Se nos anos 40 e início dos 50, esses grandiosos bailes eram românticos, embalados
por músicas suaves e sentimentais, no final dos anos 50 e início de 60, eles passaram a
conviver e, por fim, dar lugar ao rock'n’roll.
O "rock'n'roll" surge em 1954-55 e vai abrindo espaços nos clubes, nas rádios e no
gosto da juventude.

Era uma música voltada para a juventude, que incluía suas batidas
empolgantes, a necessidade de se dançar e o efeito de suas letras: o rock,
mais conhecido como rock'n'roll. Suas letras traziam temas comuns da
adolescência: escola, carros, férias, pais e, o mais importante, amor. Os
principais instrumentos do velho rock'n'roll eram a guitarra, o baixo, o piano, a
bateria e o saxofone. Todos os aspectos da música - sua batida pesada, a
sonoridade, as letras autoabsorvidas e a liberação da loucura - indicavam
104
uma rebeldia dos adolescentes pelos valores e autoridade dos adultos .

Em contrapartida, a ala conservadora da nata da sociedade reage contra o rock,


inclusive em nossa cidade. A colunista social D. A. G., de O Município, assim expressou sua
repudia:

A chegada do “Rock”105
D. A. G.
Foi na noite de sexta-feira, dia 25, que os fequianos se reuniram para mais
uma noitada magnífica. Ao som de La Gran Orchestra de Las Américas de
Dante Lencone, decorria o animadíssimo baile. De súbito, inicia-se o Rock,
importado do estrangeiro, abrasileirado nas capitais, conseguiu êle chegar à
nossa cidade. Prontamente, vários pares aderiram a esta dança exótica,
impetuosa, fremente e contagiante. Assistimos a um espetáculo tragicômico.

104
Disponível em: <www.portaldorock.com.br/origensrock1.htm>. Acesso em; 14 fev. 2012.
105
D. A. G. A chegada do “rock”. O Município, 31/07/1958. Transcrito por Liana Scatena Corsini, no dia
08/03/2012, respeitando a grafia do texto original
181

Numa expressão grotesca bamboliavam moças e rapazes, neste ritmo


abominável para um clube familiar.
Ignoramos se assistimos a “autêntico Rock” ou a “pseudo Rock”, o fato é que
o F. E. C. perdeu. Perdeu sua austeridade social, perdeu sua senha de
retidão.
Êste incidente lamentável, esta nódoa colocada no bom nome do nosso clube
repercute lá fora. Nas cidades vizinhas foi o assunto da semana,
menosprezando-nos, naturalmente. E... houve aplausos, cumprimentos, da
parte fernandopolense.
Perdoamos. A dança embriaga e embrutece a razão.
É necessário, no entanto, extirpar este tumor maligno, a fim de que ele não
mais pertube nossas noitadas, deteriorando nossa sociedade.
Compreendem, os senhores diretores, que a ofensa atingiu o “tendão de
Aquiles” de qualquer entidade – a moral.
Esperamos, que jamais seja repetido o “Rock” em nosso clube, mormente
daquela forma. Adultos, educadores, orientadores, chefes de família, todos
responsáveis pela nova geração, não podem permitir que adolescentes nos
proporcionem estes espetáculos degradantes e (pior ainda) que outros
adolescentes os assistam.
Se continuarmos batendo palmas à chegada do “Rock”, estaremos
aplaudindo à retirada do bom nome do nosso clube. Não foi para isso que o
edificamos!

Para completar a revolta, junto com o rock, vindo da Inglaterra, chegou também o
twist, uma das danças mais populares das que surgiram nos Estados Unidos nos anos 60, mas
que infernizavam a vida das elites conservadoras.
Mas nenhum protesto evitou que o rock e o twist acabassem abruptamente com a
ascendência das baladas românticas.
Comentando a chegada do rock e o protesto acima, Inez Zaira106 relembra, com um
misto de saudade e tristeza na voz, que “a vida mudou muito, tudo mudou. Fernandópolis era
uma cidade pequenina, mas tinha glamour”.
O carnaval, que constitui a mais importante festa popular do país, trazendo
“significação muito forte de prazer, satisfação lúdica e sensual, encontro com amigos,
conquistas amorosas, gente bonita e descontraída”, segundo o psicanalista Paulo Sternick,
começou a “agitar” nossa cidade já no final da década de 40 e em diferentes espaços privados
e públicos.
Toda a animação carnavalesca ficava por conta das marchinhas cantadas pelos
foliões. Quem não lembra de Ó abre alas e de tantas outras marchinhas de carnaval: Taí, eu fiz
tudo pra você gostar de mim..., Allah-lá-ô-ô ô ô ô, Ô balancê balance, quero dançar com você,
Ei, você ai, me dá um dinheiro aí, Se você fosse sincera Ô ô ô ô, Aurora, Chiquita bacana, lá
da Martinica, Mamãe, eu quero, entre outras? Essas marchinhas ficaram marcadas na história
dos carnavais e foi graças a elas que o carnaval ganhou “vida”.
Ivone e Aurora Felipe, que moraram na Brasilândia de 1943 a 1951, entrevistadas,
rememoraram suas vivências e experiências na vila. Ali, as pessoas também faziam festas e
carnavais; comenta Ivone Felipe:

e as festas eram muito animadas, os carnavais eram muito bons, realizados


na máquina do Líbero. Era como um clube, nós tínhamos um conjunto muito
bom, tinha as quatro noites de carnaval, a Aurora fazia as fantasia dela. O
clube era enfeitado, tinha fantasia, muito lança-perfume, porque podia lança-
perfume, muito confete, muita serpentina... Tinha um sapateiro lá que
organizava tudo e tomava conta, era o “Joãozinho Trinta” da Brasilândia. Ele
andava sempre de calça branca. Mas não tinha carnaval de rua. E os moços
da Pereira iam todos, porque a Brasilândia era melhor.

Indagada se havia rivalidade e briga entre os rapazes das duas vilas, ela responde:
“não tinha briga”. E retoma as festas: “as festas na Brasilândia sempre eram melhores, as
quermesses davam muito dinheiro, os carnavais eram muito melhores, o conjunto de música
era da Brasilândia, então tudo era na Brasilândia, mas depois tudo passou”.

106
Depoimento de Inez Zaira Risk Martins, 65 anos, casada, à profª Peta Matos, em fevereiro de 2012.
182

Ó abre alas que eu quero passar, Ó abre alas que eu quero passar...107 abrindo alas,
o carnaval chegou também na vila Pereira, mas, devido à inexistência de espaços específicos
para sua realização, os foliões tiveram que “reinventar” espaços para realizá-lo. Segundo a
profª Lídia Sato, ele “era realizado, por exemplo, na máquina de arroz e café da nossa família –
Sato (hoje Máquina Santa Rosa, na Avenida 4) – até porque não tinha um clube próprio”.
Segundo a foliã da época, Albany108, “outros lugares eram também improvisados,
como as padarias, o Cine Santa Rita, quando tiravam as cadeiras para dançar”; mas destaca:
“o primeiro clube de carnaval ficava na Av. 7 (onde hoje é o “Gigantão”)”, depois veio o FEC , o
Tênis Clube e, por fim, na década de 70, a Casa de Portugal. Mas, paralelo ao FEC, o Clube
Tóquio também passou a ser um dos espaços privados das folias de carnaval, como destaca a
propaganda: “Clube Tóquio” promove Carnaval Maioral em 77 (GAZETA, 1977, p. 4).
A figura 64 mostra o carnaval de 1952 ou 1953, realizado no primeiro clube (da Av.
7), e mostra a foto em seu álbum. Albani cita e aponta seus conhecidos foliões, da esquerda
para a direita:

minha irmã Arony Vieira de Carvalho de Souza (a primeira à esquerda, de


blusa xadrez), Carlos Ferrari (o mais alto, de chapéu marinheiro de lado) e,
ao seu lado, de sorriso aberto, Dorival Machado (no meio, era da escola de
datilografia), na sua frente Léia Bitencourt, com lança-perfume na mão (da
Casa das Linhas), na sua frente e mais alto, João Romildo de Souza (hoje
marido da Aroni), abaixo dele, Pedro Viana (alfaiate), de boné marinheiro, e
seu irmão de camisa listrada.

A Sra, Arony cita também: Paulo Nogueira, Alfredo Scarlatti e tantos outros.
Interessante observar a legalidade do lança-perfume nas mãos dos foliões, os confetes e as
serpentinas.

Figura 64 Carnaval no clube da Av. 7, 1953.


Fonte: Albany Vieira de Carvalho, 2011. (Acervo pessoal)

Como Mario de Matos achava que carnaval era imoral (isso até ele dirigir a Casa de
Portugal), sua filha aproveitou a oportunidade para perguntar a Albani: “Havia preconceito da
sociedade em relação aos foliões ou ao carnaval de maneira geral?” E ela responde convicta:
“Não existia preconceito em relação aos que frequentavam o carnaval”

107
Primeira marchinha de carnaval – a Marcha de Carnaval –, composta por Chiquinha Gonzaga, em
1899. Foi ela a mulher que levou a música das ruas para os salões da elite.
108
Depoimento oral de Albani Vieira de Carvalho, viúva, para as profªs. Péta Matos e Rosinha Costa, em
a
25/10/2010. Transcrito pela prof Peta Matos.
183

Com sua inauguração, o FEC (1957) promoveu, já em 1958, o primeiro de seus


grandiosos bailes de carnaval, frequentado, principalmente, pela elite fernandopolense ou,
como diz Cabreira, “a nata” da sociedade. A figura 65 mostra os foliões Dimas, Tânia Ferraz,
Zé Martins, Ia Rolim, Serginho Mattos e Emília Ikeda.

Figura 65 Os foliões, anos 70.


Fonte: Família Edison Rolim, 2011. (Acervo pessoal)

Mas, se hoje essa festa toda “rola” solta, antigamente ela “era controlada pelos pais
que acompanhavam suas filhas aos bailes de carnaval”, relembra sua filha Rose:

a gente ia com meus pais [Wilson Chinet e sua esposa Celina], que levavam
também algumas amigas, como a Celinha, a Vera e Cidinha Thomaz, cujos
pais não gostavam ou não podiam ir ao carnaval, e eram responsáveis por
elas também. Mas, quem gostava mesmo era meu pai e, muitas vezes, minha
mãe não ia, ela gostava mais dos bailes

A presença de Jaime na recepção do FEC também era fator de proteção e controle


dos que entravam no salão, mas, mesmo assim, havia os penetras; conta ele:

Walter Baiá não tinha idade para entrar no carnaval e conta que enchia o
cabelo de confete para parecer que já estava lá dentro e só tinha dado uma
saidinha. “Não tinha jeito”, ele conta. “Você sempre me barrava”. Havia
também jovens que eram folclóricos, como o Carbureto, formava uma dupla
com o Célio Machado. Todo ano, o Célio se vestia de fotógrafo lambe-lambe
e o Carbureto, vestido de mulher, era a “secretária” dele. Era um show.

As sessões de matinê, tão aguardadas pela garotada, aconteciam nas tardes de


domingo e terça-feira, e, geralmente, elas iam fantasiadas ou formavam blocos, para brincarem
com confetes e serpentinas e concorrerem ao melhor folião, melhor bloco, melhor fantasia.
Elas eram também frequentadas por jovens e adultos que sempre aproveitavam para dar uma
“puladinha” no salão sempre com a desculpa de estar acompanhando a molecada. A profª
Delurdes lembra: “eu ia só na matinê de carnaval”. Essas matinês também eram animadas
pelas marchinhas de carnaval. A figura 66 mostra os filhos do Sr. Edison Rolim: os marinheiros
Olavo e Nenê, a espanhola Toninha, a bailarina Rita e as baianas Eudóxia e Ana Maria, no
FEC.
184

Figura 66 Os foliões e foliãs mirins, 1964.


Fonte: Família Edison Rolim, 2011. (Acervo pessoal)

A Banda dos Irmãos Bortoleto era presença constante tanto nas movimentadas
matinês como nas grandiosas noitadas do reinado de Momo, tocando as marchinhas de
carnaval que animavam todos os foliões, como relembra o Sr. Joaquim Melero:

Não podemos esquecer a Banda dos Irmãos Bortoleto, que animara vários
bailes e principalmente carnavais, a partir de 1947, ora no FEC, onde hoje
está instalado o Gigantão, ora no Cine Santa Rita, às vezes no reservado do
bar do cinema – Barbarella, do Tarciso -, que era bem amplo, na esquina da
rua Brasil com a Manoel Marques Rosa, local onde estão estabelecidas a
agência Caiçara, ótica Visão e Lacqua di Fiori.

Quando Marion Carmelengo relembra a participação de sua família no carnaval


(figura 67), remete-nos à citação do escritor carioca João do Rio (1881-1921): “o carnaval é
uma embriaguês de alegria”.

Meus pais eram muito alegres, tanto que meu pai foi Rei Momo várias vezes,
e minha mãe organizou por vários anos muitos blocos de carnaval. Fazíamos
uma fantasia para cada noite de carnaval, e era muito divertido, pois tudo era
feito por nós mesmos e na minha casa. A gente se reunia por vários dias,
minha mãe era quem organizava tudo. Todos participavam e era muito bom.
Me lembro que uma vez fizemos uma fantasia de “Negrinhos” e passamos
graxa de sapato nos braços; quando chegamos ao salão, com o contato do
lança-perfume (que na época era permitido), a pele queimava como fogo,
fomos obrigados a ir lavar e tirar. Foi muito engraçado, mas também muito
dolorido, mas no fim foi divertido, pois era carnaval. Sempre ganhávamos o
primeiro lugar.
185

Figura 67 1º bloco de carnaval OS APACHES, s/d.


Fonte: Marion Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Este foi o primeiro bloco de carnaval (figura 67) organizado por sua mãe, Da. Áurea,
como tantos outros. Ela era uma mulher determinada, responsável, dinâmica, comunicativa,
moderna, alegre e agregadora (figura 68).

Figura 68 Da. Áurea Coelho Carmelengo,


s/d.
Fonte: Marion Carmelengo Chaves, 2011.
(Acervo pessoal)

Retomamos o contato com Marion em 02/03/2012, que esclareceu:

nossa turma eram muitos: Hélio Machado, Neno Angeluci, Ismail Queiros,
Moaciar Pantaleão, João Chaves, Lucilia Angeluci, minha tia Vanda (que
vinha de Votuporanga) e muitos outros que agora não me lembro. Tinha,
também, uma outra turma que competia com a gente (figura 69), que era da
família dos Gomes.
186

Figura 69 Bloco OS FANTASMAS, s/d.


Fonte: Marion Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Albani também era uma grande foliã e sempre organizava os blocos de sua turma. Na
figura 70, vemos a turma da Albany e seu namorado Olímpio Ruvieri (segundo casal à
esquerda), e seu bloco Malandros e Melindrosas, na Casa de Portugal, em 1979.

Figura 70 Bloco Malandros e Melindrosas, Casa de Portugal,1979.


Fonte: Albani Vieira de Carvalho, 2011. (Acervo pessoal)

Conta Cabreira (2011) que

antes de o baile começar, sempre às onze em ponto, a moçada fazia o


aquecimento nos bares da moda na cidade: Bar do Picolino (amantes do
chopp), do Victor Corintiano, no Barbarella, do Tarcíso (turminha da cuba-
libre e destilados), do bar Heliar, do Carmino Stelutti (pessoal mais velho e
intelectualizado) e o Restaurante Minuano (moçadinha mais descolada), do
Adjúnior Villas-Bôas. [...] Depois do baile, a maioria ia para casa, mas uma
boa parte do pessoal rumava para o Picolino ou o Bar Heliar, para tomar a
famosa canja. Outros preferiam repor líquidos, tomando cerveja e comendo
“o melhor bauru do mundo”, feito na chapa pelo esperto e habilidoso Natal, do
Bar Alvorada, do lendário Tião Murari.
187

Não há carnaval sem o REI MOMO, por mais que ele seja glamouroso, com o brilho
dos paetês, as plumas, os confetes, as serpentinas, muita purpurina, o brilho das marchinhas e
da alegria estampada nos rostos dos foliões. Ele surgiu por volta do século XV, quando os
franceses, muito festivos e

gulosos, perceberam que o carnaval lembrava fartura e excesso. Assim,


começaram a chamar os dias de comemoração de dias gordos e os demais --
da quarta-feira de cinzas em diante, quando começava a quaresma -- de dias
magros. Daí surgiu um dos personagens mais conhecidos do carnaval: o Rei
Momo! Jovem, alegre e gordo, ele representa a fartura e está sempre
acompanhado de uma mulher magra (hoje, a rainha do carnaval). (BARROS,
2004)

Em nossa cidade, o famoso Médico dos Pneus, Paulo Carmelengo (dono de uma
borracharia) (figura 71), reinou brilhantemente nos carnavais como REI MOMO. Sua filha
Marion comenta:

meu Pai reinou no FEC, se não me engano ele participou por dois anos como
Rei Momo. E não houve competição, ele foi convidado pela diretoria do clube.
Na época não havia carnaval de rua, só no clube mesmo, o carnaval de rua
veio muito tempo depois, na época do Corsini.

Figura 71 Rei Momo, Paulo Carmelengo, 1968.


Fonte: Marion Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Reinando no ano de 1968, em que Fernandópolis participava do programa do Sílvio


Santos, no quadro Cidade contra Cidade, Paulo (com 45 anos) levou seu brilho como Rei
Momo, representando com galhardia a cidade ao lado de outros fernandopolenses que também
brilharam no palco (figura 72)
188

Figura 72 Fernandópolis no programa CIDADE CONTRA CIDADE, 1968.


Fonte: Marion Carmelengo Chaves, 2011. (Acervo pessoal)

Para entendermos a importância do Reinado de Paulo Carmelengo, reproduzimos, a


seguir, a reportagem do Jornal A Gazeta da Região, em sua primeira página, em relação à
homenagem póstuma que o Tênis Clube de Fernandópolis lhe fez em 1977:

Ninguém poderia desmoroná-lo e ninguém o tirará dos corações que um dia o


viram vibrar, alegrar, e tornar-se insubstituível. Paulão deu vida aos nossos
carnavais, atuando no clube de seu coração. Era perfeito... fabuloso, sabia
representar o verdadeiro dono da festa. Sua imagem permanece mesmo
desaparecido há alguns anos. Sua presença é a mesma porque dele
ninguém se esquece.
A diretoria do Tênis Clube de Fernandópolis, mantendo viva aquela imagem
maravilhosa do Paulão, homenageia-o ainda agora, fazendo sua
companheira presente [refere-se à sua esposa Da. Áurea] à entrega dos
troféus. É uma homenagem bonita, colorida, que o Paulão vibraria em
presença, se aqui conosco ele estivesse.

Essa reportagem foi produzida justamente no dia em que o Rei Momo iniciava a sua
atividade no Tênis Clube e

faz questão de mostrar o Paulão saudoso, com as suas vestes e o perfeito


retrato de um homem feliz que sempre foi fiel, e ainda o Paulão tal como era
visto cotidianamente, nas festas em que Fernandópolis reclamava a sua
presença, sempre colaborando com tudo, só pelo prazer de ser sempre um
grande colaborador... que tem um passado rico de virtudes pelo progresso de
nossa terra.

Mais um memorável Rei Momo foi Alcides Corsini, o famoso “Peru” (1942-1998):
“fernandopolense fanático, desde cedo, Corsini, sempre de sorriso aberto e sincero, era visto
rodeado de amigos”. Para falar sobre ele, a Tribuna Regional (1998, p. 1) noticia sua morte,
com chamada de primeira página: “Fernandópolis perde o maior rei da fantasia e ilusão”.

ele foi o maior rei momo que a cidade conheceu... Nos salões carnavalescos,
todos os anos, era esperada com grande vibração e entusiasmo, a figura
tradicional do consagrado rei momo da cidade. Com sua entrada em cena,
completava-se a apoteótica noite de festa máxima do povo, que se sentia
189

gratificado pela magnífica presença luxuosa do maior rei da fantasia e ilusão


do oeste paulista. Solteiro, faleceu em 16/02/1998.

Outro jornal que prestou homenagem a Corsini (figura 73)foi a Folha de


Fernandópolis (1998, p. 4-8), com uma breve biografia de sua vida e historietas cujo
protagonista é ele mesmo.

Figura 73 Rei Momo, Alcides Corsini, o Peru.


Fonte: Folha , 1998, p. 4.

Segundo o jornalista Cabreira (2012, p. 11),

o radialista Alcides Corsini, o Peru, e o empresário Antonio Carlos Catelani, o


Gordo, eram os eternos Reis Momos, sempre se revezando no posto, ano
sim, ano não. Havia disputa, até concurso para escolha do Rei e da Rainha
da Folia e, no caso do Momo, esses dois reinavam absolutos, dividindo palmo
a palmo cada disputa e complicando a vida dos jurados.

Se, na época do Paulo Carmelengo, não existia a Rainha de Carnaval, na época do


Corsini ela já era presente. Ser Rei Momo e Rainha do Carnaval exigia o cumprimento de
alguns rituais, como visitar todos os clubes da cidade, desfilar em um carro alegórico. A figura
74 estampa “um flagrante muito especial com Maria Lucia Nalim e Alcides Corsini, que
governaram a alegria da cidade durante quatro dias. E neste ‘flash’, o grande momento que
adentraram a ala social da Casa de Portugal, em 1977” (FOLHA, 1977).
190

Figura 74 Rainha do Carnaval de rua e Rei Momo, 1977.


Fonte: Folha, 1977. (Acervo da Família Corsini)

A Rainha de Carnaval que por mais tempo brilhou nas passarelas foi Carmita: “fui
Rainha de Carnaval por sete vezes, de 1963 a 1969” (FOLHA, 1977)109. Dizem que ela sempre
foi linda, simpática e encantava a todos por onde passava. Na figura 75, Carmita está
acompanhada do Rei Momo, Ubiratan Garcia, o Bi.

Figura 75 Rainha do Carnaval e Rei Momo, anos


60/70.
Fonte: Carmem Gomes Trindade, 2012. (Acervo
pessoal)

Mesmo quando não reinava, Carmita participava dos carnavais como foliã e sempre
com uma fantasia (figura 76).

109
Depoimento de Carmem Gomes Trindade, 70 anos, casada, diretora de escola aposentada, à profª
Péta Matos, em 05/03 /2012.
191

Figura 76 Foliã, s/d.


Fonte: Carmem Trindade, 2012.
(Acervo pessoal)

Em 1977, foi a vez de Tina Gomes (sobrinha de Carmita) (figura 77) exercer seu
reinado nos salões do Tênis Clube, como escreveu o colunista Social Mirim (GAZETA, 1977, p.
2), em sua coluna,

Olhem só, reflete mais uma linda boneca, com seus longos cabelos loiros. É
a Tina, a alegria do Tênis Clube, sua Rainha de Carnaval, uma menina toda
querida por suas amizades. Esteve na redação, disse de sua alegria, de sua
música feita por Bob Lester, da festa do ano passado, de seus papitos tão
queridos. Nas piscinas do Tênis, só ouvimos seu nome, é compreensiva, é
garota nota 10. Agora, sempre estará de mãos dadas com nossas
promoções.

Figura 77 Rainha do Tênis Clube, 1977.


Fonte: Gazeta da Região, 1977.

Se a elite fernandopolense frequentava o FEC, depois o Tênis Clube e mais tarde a


Casa de Portugal, o poder público viu-se obrigado a realizar o carnaval para o povão (como
eram chamadas na época as pessoas de menor poder aquisitivo). E se fazia urgente, porque o
carnaval sempre funcionou como válvula de escape para os trabalhadores, que se submetem,
192

o ano todo, ao jugo do autoritarismo da classe dominante; e esse é o momento que têm para
esquecer suas obrigações rigidamente cobradas, suas insatisfações, suas frustrações. Afinal, o
lúdico é sustentado pela coreografia, percussão, música, sem qualquer censura prévia (eis a
razão da máscara).
Era o surgimento do Carnaval Popular,

que acabou ficando conhecido pelo sugestivo nome de “Panela de Pressão”,


porque entupia de gente, que se espremiam na antiga quadra central, ali na
110
esquina da Av. Amadeu Bizelli com a rua Rio de Janeiro . Mais tarde,
passou a ser chamada de “Risca Faca”, porque toda noite o tempo fechava,
sempre tinha um pé de briga, uma confusão.
E talvez por isso mesmo, e também devido à proximidade com o FEC, o
carnaval popular mudou-se para o grande salão da antiga Cafeeira Rolim, na
Av. Amadeu Bizelli na esquina com a rua Paraná. (CABREIRA, 2012)

Era o carnaval em diferentes espaços públicos e privados, que dava maior visibilidade
à enorme desigualdade econômica e social existente em nossa cidade. Enquanto a elite
fernandopolense pulava o carnaval em um clube privado, o FEC e outros, envoltos no aroma
do lança-perfume, o povão pulava em um espaço público ou alugado pelo poder público - a
Panela de Pressão -, envolto no aroma do suor e cachaça. Destaca Cabreira (2012):

enquanto no FEC o pessoal se aquecia tomando cuba-libre, hi-fi, e os mais


elegantes, belas doses de uísque do bom, na “Panela de Pressão”, o povão
enchia o latão com o famoso “Fogo Paulista”, misturado com algumas doses
de caninha “Tatuzinho e Arara”.

Em nossa cidade, as ruas só adquiriram um novo colorido e passaram,


gradativamente, a tornar-se o espaço da diversão, da folia, dos encontros dos amantes do
carnaval na cidade nos anos 70, quando um grupo de jovens fernandopolenses, que estudava
fora, resolveu “formar” uma escola de samba por brincadeira, como relembra o Carlinhos da
Lisboa111:

A escola começou como uma brincadeira, mais ou menos em 1976. Eu, o


Márcio Carnelossi, o Tim Marrara, o Franlei Machado e outros estávamos
num bar, batucando e tomando cerveja, quando resolvemos formar um grupo
de carnaval e sair pelas ruas. Pensando no nome, o Tim sugeriu “Batuque
Fermentação”. E, assim, saímos pelas ruas batucando, vestidos com uma
calça de cetim vermelha com uma faixa branca, sem camisa. O circuito era
curto: saía de frente do coreto, passava pela Rua Brasil, até a Av.
Expedicionários e voltava pela Rua São Paulo.

A turma continuou a sair batucando pelas ruas, com um ou outro bloco que aparecia
casualmente. E ele continua:

no segundo ano, a escola passou a se chamar FERMENTAÇÃO, mas foi só


no 3º ano de carnaval da escola que o carnaval ocorreu com mais de três
escolas, e Sérgio Agustini surgiu como o carnavalesco da Escola
(Fermentação), tirando, assim, um pouco do amadorismo da coisa. Foi Milton
Leão (prefeito na época) que teve a iniciativa de oficializar o carnaval de rua,
criando a Comissão Fernandopolense para o Carnaval (a CONFESCAR). O
trajeto ampliou e arquibancadas foram construídas em frente a Casas Pires
(hoje o Supermercado Sakashita). Em relação aos anos anteriores,
praticamente não havia manifestações populares de rua

Assim, nos dias de carnaval, a rua tornou-se o espaço da diversão, da folia, do


samba no pé (figura 78), da euforia.

110
Local em que está instalada, hoje, a segunda agência do banco do Brasil (ex-Nossa Caixa)
111
Depoimento de Carlos Alberto Fernandes Phelippe, 53 anos, casado, comerciante, à profª Péta Matos,
em 01/03/2012.
193

Figura 78 Escola de Samba, s/d.


Fonte: Edgar, carnavalesco, 2011. (Acervo do Projeto
Fernandópolis – nossa história, nossa gente)

A rua é o espaço em que o Rei Momo pede passagem, como se observa na figura 79,
onde o reinado era do Corsini.

Figura 79 Rei Momo, no desfile de rua, s/d.


Fonte: Família Corsini, 2011. (Acervo pessoal)

Mas os jovens universitários, que estudavam em outras cidades, outros estados,


quando vinham à sua “terra natal”, principalmente nas férias, queriam mais do que “comida, a
gente quer comida, diversão e arte... A gente quer saída para qualquer parte”. Foi por essa
busca que criaram a Associação Fernandópolis Acadêmica (AFA), no início dos anos 70, e a
Associação Universitária Fernandopolense Roberto Kenjy Myamoto, em fins dos anos 70 e
começo de 80112.
A Associação Fernandópolis Acadêmica (AFA), “uma precursora no desenvolvimento
de movimentos socioculturais do interior do Estado, lançava publicações com poesias e
crônicas (chamado Mutirão Literário), trazia shows como o de João Bosco e Tom Zé,
palestrantes como o dramaturgo Plínio Marcos e o escritor Fernando Morais”, relembra seu ex-
presidente Zecão113. E continua: “em alguns prédios desocupados realizávamos o Salão de Arte.
A gente se reunia no FEC, nas esquinas, nos botecos, no restaurante Minuano”.
A AFA lançou, em janeiro de 1978, um livreto (figura 80) que revela características da
“turma que transa música, pintura, artesanato, literatura, escultura”.

112
Sobre essas agremiações, mais informações constam da parte histórica.
113
Esclarecimentos de José Antônio Alves da Silva, o Zecão, casado, para a profª Peta Matos, em
29/02/2012.
194

Figura 805 Capa do livreto da AFA, 1978.


Fonte: CDP/FEF, 2009.

Da turma que transita por esses caminhos, enfoca suas produções literárias:

Bira Toriceli, que tão bem pinta como escreve; Rita Aparecida Bôer, mui
intelepática (cruzamento de inteligente com simpática); Wilson Granella, no
romance, no conto, na crônica é mestre; Tito Montenegro, enveredou nas
cores com barbas e pés... maestro no bim-bom musical... é coringa precioso;
Armando José Farinazo, seus feitos revelam os fatos... de escritos
jornalísticos tem resmas; Zecão (José Antonio Alves da Silva), seria ridículo
não fazer poesia c’a BIO-grafia; João Fileto, poeta e meio. Pintor convicto.
Dá e sobre a turma que transa com pintura, música, artesanato e outros,
destaca: Deise Rodrigues Alves, artista plástica; Eliara Ferreira da Silva,
artista plástica; Odília Alves de Lima, artista plástica; Antonio Sérgio Agustini,
envereda pelo piano e violão, é grande admirador de música erudita,
decoração, escultura e música popular, mas tem a pintura como seu melhor
passatempo; João Lima, escultor e pintor por natureza; Moisés das Graças
Schneider, artista plástico; Elita Maia de Souza, gosta mesmo é de pintura
em tela e trabalhos em madeira; Onivaldo Aprecido Loverde, transa com
pintura e modelagem; Sônia Martins, pintora de apurada técnica e vontade
extrema; Maria Lúcia Brandão Leone, colunista social do Fernandópolis
Jornal, ainda “ataca” de poetisa. (AFA, 1978)

Destaca os trabalhos em salões, concursos e exposições ocorridas na cidade:

Deise expôs seus trabalhos na AFA; Eliara ganhou o 1º lugar em pintura no I


Salão de Arte Juvenil da AFA, em 1968,;Sérgio Agustini, venceu em 1974 e
1975 o concurso comemorativo à Independência; João Lima participou de
várias exposições: Salão de Artes da III Semana Universitária (AFA – 1974),
Expô (exposição agropecuária, 75, Ala de Artes), IV Semana Universitária
(AFA – 75), Tênis Clube e outros; Onivaldo A. Loverde em 1969 conseguiu o
3º lugar em escultura, no IEEF, em 1972, ganhou o 1º lugar no 1º Salão de
Arte Juvenil, organizado pela Profª Sibéria, onde concorreu com Modelagem,
em 1975, angariou Diploma de Mérito pela participação no Salão de Artes da
IV Semana Universitária (AFA).

Em fins dos anos 70, alguns universitários remanescentes da AFA e a ala mais jovem
que vinha com mais frequência à cidade resolveram fundar a Associação Universitária
Fernandopolense Roberto Kenjy Myamoto (AUF), e os integrantes da AFA começaram a
colaborar com eles. A AUF promovia “grandes encontros e eventos, como peças de teatro,
shows musicais, palestras, exposições de arte”, relembra o historiador Valdemar Ferreira,
conhecido como Puff, que acabou dando origem à Semana Universitária, lançando publicações
como a Mostra Literária, realizando a Feira do Livro e o Salão de Artes Plásticas, como
aconteceu em 1980, na VIII Semana Universitária (figura 81). Esta semana contou com os
pintores Tito Montenegro e Bira Torricelli e os escultores Onivaldo Loverde e João de Lima.
195

Figura 81 Capa do livreto da Associação


Universitária Fernandopolense
Roberto Kenjy Myamoto, 1980.
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Em paralelo a essas mobilizações estudantis, a profª Sibéria Violin levava a arte para
fora dos muros da escola, como recorda o historiador Valdemar, o Puff114:

lembro-me dos salões de arte que a profª Sibéria Violin promovia em espaços
que estavam desocupados no centro da cidade. Isso é uma coisa que hoje é
moda no mundo inteiro: ocupar espaços desocupados para promover a arte;
ela chegou a usar o prédio do Banco Comercial de São Paulo, com a mostra
de trabalhos dos alunos do Instituto Estadual de Educação.

Do livreto da AFA consta que “Onivaldo Aparecido Loverde, em 1972, ganhou o 1º


lugar no 1º Salão de Arte Juvenil, organizado pela Profª Sibéria, onde concorreu com
Modelagem”.
Relembra ainda Puff: “tinha também a noite da poesia e canção, no FEC. E também
os festivais da canção, na quadra coberta do IEEF”. E cita os que participavam: “o Dimas, o
Urias do Amaral, a Mitiê Konishi, o Ulisses Coutinho, o tecladista Sílvio Gomes, os poetas Léo
Cunha, Bento Celso da Rocha e o jornalista Merciol Viscardi... grande agitação cultural!”.
Interessante observar que, nessa época de efervescência cultural, a cidade não
possuía faculdade e, hoje, em que pese a presença de duas faculades (a FEF e a
UNICASTELO), essa dinâmica cultural já não existe mais. Indagado sobre esse paradoxo pelo
jornal Cidadão, o historiador Puff responde:

Naquele tempo, os estudantes de curso superior “vestiam a camisa”, na


acepção da palavra, dessa condição de universitários. Havia orgulho em se
dizer aluno de um curso superior. Hoje, a postura do estudante ficou um
pouco diferenciada em relação aos anos 60 e 70, por exemplo. Também as
circunstâncias daquele período podem explicar isso, já que era um tempo
sombrio, de ditadura, o que fazia as pessoas assumirem posições mais
conscientes. Com isso, além de desenvolverem um sentido coletivista, elas
usavam manifestações como a arte para expressar sua indignação com
aquele estado de coisas. As coisas hoje são meio pasteurizadas. Vivemos
hoje o império do descartável.

A Juventude Sadia Fernandopolense, portanto, vivia o clima de diversão, romance e


arte.

114
Entrevista concedida pelo historiador Valdemar Ferreira da Silva, o Puff, para a coluna Observatório do
Jornal Cidadão, no dia 11/02/2012, p. 11-A. Fernandópolis. Seu pai, Vicente, tinha um armazém de secos
e molhados – Casa Ferreira - no centro da cidade, na rua Brasil, entre as avenidas. 8 e 9.
196

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Somos desse tempo distante, tempo de todos esses brinquedos e brincadeiras de


criança... do brincar coletivo, das interações infantis, em que as ruas e as praças eram das
crianças... do tempo longo de ser criança, em que a imaginação e a criatividade da gurizada
rolavam soltas... em que as mães ficavam em casa...
Tempo de todas essas diversões, romances e arte dos jovens, em que o ambiente
social e cultural eram interligados e o convívio social era efetivo.
Vivemos o tempo dos grandes quintais, da inexistência de muros, da porta sem
tranca. A criança, esparramando milho no quintal, chamando as galinhas, piu...piu...piu..,
tomava o leite tirado da vaca na horinha, andava a cavalo, ia ver os porquinhos no chiqueiro...
Tomamos Biotônico Fontoura, Cibalena, Cafiaspirina, o fortificante Calcigenol, o
xarope São João e de fígado de bacalhau, que era empurrado goela abaixo!
Tempo em que basquete era bola ao cesto, futebol era pelada...
Tempo de dormir no colchão de palha e acordar ao som do cantar do galo, dos
primeiros raios de sol que entravam pela fresta do telhado, do rádio da vizinha tocando moda
de viola ou dos cavalos relinchando.
Andamos na Maria-Fumaça, na jardineira, na charrete, na carroça, no cavalo no
centro da cidade... passamos pela pinguela, pelo mata-burro e abrimos as cancelas.
Somos do tempo da canseira que era passar cera Parquetina ajoelhada no chão, de
usar o escovão para dar lustro no vermelhão, de puxar água na cisterna com um sarilho, uma
corda e um balde... do bater a roupa no batedouro de madeira, depois estendê-la na grama
para quará... e passá no ferro a brasa.
Tomamos banho de bacia, no regador puxado com corda, usamos a fossa... o papel
higiênico improvisado pelo jornal e folha de caderno...
Ouvíamos música no alto-falante da praça, na vitrola, na rádio-vitrola e na sonata,
com o disco de vinil, no radinho de pilha e na rádio Nacional! Tempo da Emilinha Borba, da
Ângela Maria, do Cauby Peixoto, do Alvarenga e Ranchinho, do Elvis Presley, da Cely
Campelo, dos olhos “verdes” do Vanderlei Cardoso, da Rita Pavone, do Yves Montagne, do
João Gilberto, do Vinícius de Moraes, da Nara Leão, no sucesso musical... na televisão era o
Chacrinha e suas chacretes... dançamos música romântica: com os rostos coladinhos, muito
rock, twist, chachacha e o “quadradinho” do samba... era um show!
Ouvimos os contos da Carochinha e lemos muito as revistas de Fotonovela, Cruzeiro,
Manchete e Vida Doméstica, a coleção Sabrina... pesquisamos na coleção Tesouro da
Juventude e na Barsa.
Somos do tempo do PBX, de pegar o telefone preto para pedir que a telefonista
ligasse para modista e esperar sua boa vontade.
Escrevemos com bico de pena, caneta-tinteiro, no caderno com linhas para treinar
caligrafia e, também, lemos a cartilha Caminho Suave.
Tempo do tostão, do vintém, do mil réis (1$000), do cruzeiro, (Cr$) do cruzeiro novo
(NCr$) e da volta do cruzeiro... que confusão para nossas cabeças já cansadas de tantas
mudanças de dinheiro!
Enviamos missivas para o(a) amado(a), aguardarmos ansiosas(os) uma réplica,
mandamos amplexos apertados... enfim, o telegrama que chegou encurtando distância!
Somos do tempo do pó de arroz, do ruge, do laquê, da brilhantina e do Gumex.
Tempo de viajar em estrada de terra até Rio Preto; só de ônibus levava 6 horas, isso
quando não chovia... que barreiro, mas que aventura!
Pedimos a bênção de nossos pais, beijando suas mãos ao acordar e ao dormir;
tratamento era senhor e senhora, e os limites para nossas ações eram obedecidos; se não,
surra!
Tempo em que a mulher não podia andar de charrete, guiar carro, fumar, entrar
sozinha em bar, pois tudo isso era coisa de prostituta.
Tempo do namoro escondido, do selinho envergonhado, dos play boys “botando
banca”.
Tempo em que beijar na boca engravidava, em que o pai ia correndo chamar a
parteira fazer o parto da mamãe, de ficar na janela esperando ansioso a cegonha chegar
trazendo mais um nenezinho e da frustração em saber que a cegonha havia desviado o
caminho.
197

Somos do tempo em que o amor chegava devagarinho e deixava um friozinho no


peito, do amor que não tinha pressa...
Mas, também, somos do tempo da chegada da modernidade, com seus aparelhos de
eletrodomésticos – a geladeira, a enceradeira, o liquidificador, a batedeira –, os aparelhos
eletrônicos – rádio a pilha, televisão.
Vimos nascer uma sociedade de consumo, na qual tudo virou mercadoria, em que a
concorrência do mercado arrasta todos para o “cada um, por si” e para a solidão.
Tempo em que a liberação dos sentimentos, principalmente os da sexualidade,
adquiriu a dimensão política de libertação da humanidade.
Tempo em que líamos Marx, Engels, Gramsci, Caio Prado Jr, Nélson Werneck
Sodré... e nossos heróis eram Lênin, Che Guevara, Gandhi, Buda...
Somos do tempo em que os governos municipais não se preocupavam em preservar
os patrimônios históricos e culturais. Continuamos sendo do tempo em que o governos
municipais ainda não se conscientizaram da importância de se preservarem os patrimônios
históricos e culturais
E ainda somos do tempo de hoje... mas...
Do tempo em que o lazer, como espaço para manifestações dos componentes
lúdicos da cultura foi “roubado” da criança... roubaram também seus sonhos, sua fantasias,
magias e encantamentos.
Tempo em que a tecnologia tem um papel central na vida das crianças e dos jovens e
seu ambiente social significa cada um ficar centrado com seu joguinho eletrônico, do
contraditório mundo em que estar junto é estar isolado e vemos o mesmo acontecendo com os
jovens também... em que o lazer está associado ao consumo puro e simples.
Tempo em que pais mais ocupados geram filhos mais ocupados, de vermos os pais
exigirem competitividade o tempo todo dos seus filhos (crianças ou jovens).
Um tempo em que o espaço é cada vez menor, o tempo cada vez mais veloz... tempo
de não ter tempo... e as relações sociais mais voláteis.
Tempo em que os adultos (família, escola, poder público) têm que tomar consciência
de que a realização do lúdico se dá no jogo (Homo ludens), que tem sua essência no
divertimento (prazer, agrado, alegria)... divertimento em que haja interação entre as crianças,
alerta o historiador Huizinga. (s/d)
Tempo em que é preciso buscar uma alternativa educacional que respeite a cultura
da criança, de formar crianças capazes não de apenas desejarem, mas de construírem “de
verdade” atividades lúdicas e de redescobrirem o mundo como lazer coletivo permeado pelas
interações sociais tanto em casa quanto na escola.
Somos do tempo em que o amor tem pressa... e é descartável!
Tempo em que é fundamental o caráter “desinteressado” da vivência coletiva, da
“disponibilidade” de tempo que significa possibilidade de opção pela atividade prática ou
contemplativa.
Somos do tempo em que é preciso usar a força da coletividade para o
desenvolvimento cultural, social, econômico e político de nossa cidade.
Tempo em que é preciso criar novas possibilidades de utopia!... somos eternos
aprendizes!
Nosso tempo é curto... o tempo das crianças e jovens é longo.
Enfim...
Somos do tempo...
PARTE II

ARTIGOS E TEMAS
À GUISA DE INTROITO

Como no primeiro volume de Fernandópolis – nossa história, nossa gente, editado em 1996,
o atual abriu espaço à elaboração de temas diversos pertinentes à história da cidade. Tais temas
evocam, necessariamente, relatos ou investigações relacionadas a aspectos atuais da história
passada ou recente de Fernandópolis.
Inicialmente, foi acolhida uma grade de temas que abrangia aspectos da economia, política,
educação, saúde, gente fernandopolense, religião, diversões e tradições, atualidades etc. O Conselho
Editorial, dentre cerca de trinta sugestões e diante da impossibilidade de esgotar-se a abrangência do
trabalho, houve por bem privilegiar alguns que, remota ou recentemente, se ligassem de modo mais
contundente a Fernandópolis, quer pela atualidade, quer pelo próprio valor histórico, quer pelas
preocupações que sugeriram.
Desde o início, contou-se com a cooperação e a participação efetiva do “fazer coletivo”, sem
as quais não se plantaria mais esta semente de discussões. Tarefas foram distribuídas, cooperação
foi conclamada, escolhas foram feitas. Assim nasceu esta seção de artigos e assim se fez.
Nestes artigos115, há que se vislumbrar uma Fernandópolis em sua crescente economia,
que se vê atualizando, acompanhando a globalização e as exigências locais e regionais. Há que se
ver a luta de sua gente em busca de novos caminhos da cultura e do saber, incluindo aí a pesquisa
acadêmica, emergindo como centro de atenção nacional, através de suas universidades e cursos
técnicos. E mais, bem mais: a luta pela preservação de seu patrimônio histórico e cultural; a chegada
da ferrovia como (antigo) meio de transporte coletivo ligando a cidade a tantos outros centros
urbanos; a diversidade religiosa e a fé como âncora de sustentação do espírito; o confronto pacífico
entre a tradição e as transformações (entre o antigo e o novo); o esporte como história e atualidade; a
saúde e o bem-estar físico e emocional como acolhimento e primazia; as preocupações com a
preservação do meio ambiente e suas riquezas naturais; enfim, toda uma gama de pertinências ao
passado e à atualidade de nossa gente.
Tal qual no primeiro volume, mas avançando no relato histórico, nas discussões temáticas e
na vasta apresentação de biografias, além de um conjunto de fotos históricas, este apresenta uma
profusão de ideias e curiosidades, que contagiam e enlevam o espírito de quem ama Fernandópolis.
Embora os artigos se articulem uns com os outros, é conveniente lembrar que cada artigo ou relato
se produziu independentemente, eis por que as ilustrações têm sua numeração também
independente.

115
Cada artigo seguiu numeração própria em relação às figuras, tabelas, gráficos etc.
200

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE FERNANDÓPOLIS (ACIF)

Uma história de sucesso, fruto de empreendedorismo

Aos 50 anos de atuação, a Associação Comercial e Industrial de Fernandópolis (ACIF) se


consagra como uma entidade atuante, prestadora de serviços importantes e, principalmente, como a
casa do empreendedor, onde o empresário fernandopolense busca soluções empresariais e
encontra, no associativismo, a força para o desenvolvimento local.
Com o passar dos anos, a ACIF se tornou uma das entidades mais atuantes no
desenvolvimento de Fernandópolis, com projetos inovadores e de grande impacto para a economia
local.
Todo esse processo de construção da credibilidade da ACIF não ocorreu do dia para a
noite. A Associação é fruto do trabalho de muitas pessoas e, em especial, de 14 empresários
voluntários, que encararam o desafio de ajudar no crescimento de Fernandópolis por meio do apoio
ao empresariado.

Fundação
A ACIF foi fundada no dia 27 de outubro de 1961, tendo como seu primeiro presidente o
empresário Armelindo Ferrari. A primeira diretoria contava com 43 empresários que tinham como
objetivos, segundo a ata de fundação da entidade, pugnar pelos interesses legítimos das classes que
representava:
1. exercer, junto aos poderes públicos, a sociedades congêneres e a terceiros em geral, a
representação do comércio, da indústria, consoante a lei e os estatutos;
2. desempenhar todas as funções que as leis atribuam ou consistam às sociedades da natureza
desta;
3. organizar e manter serviços de utilidade para seus associados e para as classes representadas;
4. fomentar, entre os comerciantes e industriais, o espírito de solidariedade correspondente à
comunhão de seus interesses;
5. procurar dirigir, amigavelmente, questões porventura surgidas entre as classes ou associados.

Sede
Quando criada, a ACIF funcionava na Avenida Manoel Marques Rosa. Anos depois, a
Associação foi transferida para a Avenida Expedicionários Brasileiros e, atualmente, está localizada
em prédio próprio na Avenida Primo Angelucci, n.º 135. A sede foi construída sobre o terreno doado
pelo prefeito da época, Sr. Antenor Ferrari.

Presidentes
A ACIF só se tornou a entidade forte que se conhece hoje porque homens empreendedores
incorporaram os objetivos da Associação. Por meio de novas ideias, projetos inovadores e muito
trabalho é que a ACIF se consolidou como a casa do empresariado local.
Vale a pena conhecer os empresários que fazem parte desta história:

Gestão 1961/1962
Presidente: Armelindo Ferrari

Gestão 1963/1964
Presidente: Pedro Malavazzi

Gestão 1965/1966
Presidente: Geraldo Roquette

Gestão 1967/1968
Presidente: Newton Camargo
201

Gestão 1969/1986
Presidente: José Carlos Rodrigues

Gestão 1987/1988
Presidente: Antonio Otávio Simões Moita

Gestão 1989/1990
Presidente: Antonio Ribeiro Pereira

Gestão 1991/1992
Presidente: Onivaldo Nogueira Vicente

Gestão 1993/1994
Presidente: Carlos Alberto Rodrigues de Lima

Gestão 1995/1996
Presidente: Luis Antônio Arakaki

Gestão 1997/1998
Presidente: José Sequini Júnior

Gestão 1999/2000
Presidente: Ivan Pedro Martins Veronesi

Gestão 2001/2004
Presidente: Neoclair José Morales

Gestão: 2005/2012
Presidente: Carlos Takeo Sugui

Viabilizar projetos para o desenvolvimento das empresas sempre foi um dos principais
objetivos desses empresários junto a ACIF.

Ano 2011
A ACIF é filiada à Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo
(FACESP) e à Confederação das Associações Empresariais do Brasil (CACB). Oferece mais de 30
serviços aos seus associados, com destaque ao SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), ao
Certificado Digital, à Câmara de Mediação e Arbitragem, ao serviço de Recuperação de Crédito, ao
Programa Empreender, a consultorias, cursos e palestras.
Conta com 820 associados, entre comércio, prestadores de serviços e indústria registrados
em Fernandópolis.
Todo o trabalho desenvolvido e ações com os empresários enfatizam a missão que a ACIF
assumiu desde a sua fundação: representar os interesses dos associados e contribuir para o
desenvolvimento social, cultural e econômico do município.
UHE DE ÁGUA VERMELHA E SUA IMPORTÂNCIA PARA FERNANDÓPOLIS

Paulo Antônio Marchiori116

1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho, será destacada a usina de Água Vermelha em seus benefícios, importância
no cenário local, regional e nacional, e suas peculiaridades.
Nessa pequena amostra, elaborada de forma simples, didática, entende-se necessário
relatar um pouco da história da eletricidade no estado e no País, para facilitar o entendimento de
Água Vermelha. Nesse contexto, a construção de UHE de Água Vermelha representa fator importante
de evolução tecnológica, de desenvolvimento local, regional e nacional.

2 ENERGIA ELÉTRICA
Energia elétrica é o movimento dos elétrons no interior de um condutor. Dentre as fontes de
energia elétrica se acham: a eólica, a termelétrica, hidrelétrica e nuclear.
A eólica tem como força motriz a originada pela ação dos ventos sobre pás mecânicas
ligadas diretamente ao o gerador. A termelétrica tem sua força motriz originada da combustão de
diversos tipos de materiais (carvão, diesel, gás etc.) que produz calor movimentando as turbinas e
estas, o gerador. Por seu turno, a força motriz da hidrelétrica provém da água, que movimenta as
turbinas e estas, o gerador. Na nuclear, a força motriz é originada da fissão do átomo de urânio
produzindo grande fonte de calor; esta movimenta as turbinas e, consequentemente, o gerador.
É desnecessário citar as utilizações e a importância, nos dias atuais, da presença quase
imperceptível da energia elétrica nas vidas dos indivíduos, tal é a forma de como ela está inserta no
cotidiano das pessoas e no mundo moderno, administrada por grandes empresas de energia elétrica
com tecnologia de ponta, o que garante bem-estar e dividendos. No entanto, no Brasil, num passado
não muito distante, nem sempre foi assim: pioneiros que se aventuraram a produzir energia elétrica
buscando uma queda d’água razoável que pudesse gerar força motriz e movimentar um gerador
elétrico sucumbiram ante as dificuldades encontradas, pela falta de domínio da técnica, inexperiência,
mercado consumidor e ausência de políticas públicas condizentes.
No Brasil, nas últimas décadas do século XIX, a eletricidade passou a ser produzida e
aplicada na incipiente indústria, na iluminação pública e no serviço de bondes. Nas décadas
seguintes, seu uso se estendeu às residências, estabelecimentos comerciais, ferrovias e metrô, e
também nas áreas rurais, transformando intensamente as formas de produção, modificando os
espaços e o cotidiano das pessoas na cidade e no campo. Investimentos na geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica justificavam pela sua imprescindível disponibilidade como elemento
chave para o desenvolvimento.
Paralelamente a isso tudo, uma gama de novos profissionais foi sendo formada a fim de
atender à demanda, e o trabalho assalariado no Brasil expandiu-se no mesmo contexto em que
disseminou o uso da eletricidade ainda na segunda metade do século XIX, tendo Eloy Chaves (1875-
1964) empresário paulista do setor elétrico como um dos pioneiros.

2.1 O café e a energia elétrica


Em meados do século XIX, o Brasil apresentava-se como um território extenso e de baixa
densidade demográfica, com a agricultura canavieira em retração, perdendo importância como
monocultura de exportação para a cafeicultura.
A partir do Rio de Janeiro (baixada fluminense), os cafezais avançaram pelo Vale do
Paraíba até São Paulo e, depois, seguiram através da região de Campinas (época dos Barões do
Café) no sentido Oeste Paulista, onde encontravam solo propício para o cultivo. Os agentes e
beneficiários dessa expansão eram as oligarquias agrícolas que utilizavam mão de obra escrava
importada da África e interrompida em 1850, quando o tráfico negreiro foi abolido e, gradativamente,
os escravos são substituídos por imigrantes europeus, principalmente italianos, que chegavam em

116
Paulo Antônio Marchiori é Técnico em Eletrotécnica/Operador de US/SE, reside em Fernandópolis na Rua
José Barone, 217. Telefones para contato: 3462-6832 e 9603-1343.
203

grande número para trabalhar nos cafezais paulistas, assalariados, criando um discreto mercado
interno de consumo.
O enriquecimento auferido pelos setores ligados à cafeicultura fomenta, em São Paulo e
outros centros urbanos paulistas, uma apreciável demanda de bens econômicos, estimulando outras
atividades, como a indústria e o comércio. A cafeicultura de exportação expande o mercado
consumidor interno, permite um excedente de capital que será empregado fora da atividade agrícola
e uma cultura empresarial centrada em uma elite de fazendeiros do café, comerciantes e financistas
que se expande para a indústria.
Se a Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra em fins do século XVIII, tinha
como fonte privilegiada a energia do carvão, que movimentava máquinas a vapor e que o Brasil
assimilou de modo apenas passivo como importador; a Segunda Revolução Industrial, um século
depois, definida pela concentração de capitais, uso de energia elétrica e petróleo, aparecimento da
indústria química e elétrica, da siderurgia e pelo íntimo relacionamento entre Ciência, Tecnologia e
Indústria, teve, nos laboratórios de Química e Física, partes integrantes do aparato industrial,
diferente, portanto, da primeira, cujos talentos dos inventores a beneficiaram.
Forma-se no mundo uma sociedade urbana, cujas fontes de energia principais eram o
petróleo e a energia elétrica. Na mesma época, ocorreu, no Brasil, certo processo de industrialização,
também com o emprego da eletricidade.
Embora fossem instaladas usinas termoelétricas e hidrelétricas, estas últimas se vão
impondo como modelo apropriado de um País com pouca disponibilidade de carvão mineral e
petróleo, mas abundante em recursos hídricos.

Figura 1 Usina de Corumbataí, 1895.


Fonte: CESP, 1985. (Acervo próprio)

2.1 Diferentes momentos da indústria elétrica no Brasil


Para entender o desenvolvimento do setor elétrico paulista, requer inserir, no contexto da
história dessa indústria, o País como um todo. Os diferentes momentos aqui apresentados são mais
um recurso descritivo orientador do que uma imagem completa da realidade histórica da energia
elétrica no Brasil. Essas fases diferentes não são divisões estanques, visto que o início de uma não
implica o término da outra, mas mescla elementos da realidade histórica.
204

Ainda no final do século XIX, empresas pequenas de capital nacional e âmbito local,
empresários e até fazendeiros instalaram pequenas termelétricas e hidrelétricas para uso pessoal,
industrial em fábricas de tecidos, mineração e iluminação.

Figura 2 Usina de Salesópolis – Nascente do Rio Tietê.


Fonte: CESP, 2011.

Na primeira metade do século XX, ocorre forte desnacionalização do setor, com a chegada
do grupo anglo-canadense Light & Power e, depois, American & Foreign Power (Amforp) a partir dos
anos de 1920. Essas multinacionais instalaram subsidiárias e assumiram o controle de empresas
brasileiras, configurando um domínio quase completo da eletricidade no País, que duraria até o fim da
Segunda Guerra Mundial.
A partir da criação da Cia. Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) pelo Governo Federal
em 1948, organizaram-se várias empresas estatais e da União.

2.2 Desenvolvimento histórico do setor elétrico paulista


O incipiente processo de urbanização e industrialização teve como eixo principal o Sudeste,
notadamente o estado de São Paulo. A organização empresarial e o excedente financeiro gerado
pela cafeicultura permitiram a industrialização paulista em geral e a indústria da eletricidade em
particular.
O comércio do café não gerou apenas a procura da produção industrial, mas custeou,
também, grande parte das despesas gerais, econômicas e sociais, necessária a tornar proveitosa a
manufatura nacional. A construção de estradas de ferro proveio toda ela da expansão do café: as
linhas foram construídas pelos próprios plantadores com seus lucros ou por estrangeiros seduzidos
pela perspectiva do frete.
Importantíssimo para os primórdios da indústria, o porto de Santos foi igualmente um
empreendimento do café, importando e exportando.
Aí é que ocorre a implementação em território bandeirante da já citada primeira fase, a das
pequenas empresas nacionais. A elite de cafeicultores paulistas desejava usufruir das benesses da
modernidade e passa a construir usinas térmicas e hidrelétricas nos locais em que residiam, para
adornar suas cidades com inventos modernos, na expressão de Warren Dean.
205

Se as hidrelétricas erguidas pelos cafeicultores eram um ornamento de modernidade, é na


segunda fase, a dos Grupos Estrangeiros, que realmente se estabelece a eletricidade como insumo
para a indústria e depois para o agronegócio.
O início da urbanização e industrialização criou um mercado para empreendimentos
elétricos de vulto, que serão dominados por duas multinacionais.
A primeira a se instalar por aqui foi a The São Paulo Railway Light & Power Co. Ltd.
Formada de capital britânico e canadense, abrangia geração, transmissão e distribuição de
eletricidade, explorava a telegrafia, telefonia e transporte urbano na forma de bondes elétricos.
Em 1901, a empresa canadense iniciava sua geração de energia hidrelétrica com a
conclusão da UHE de Parnaíba, no Rio Tietê; com todas as dificuldades de então, como o transporte
de equipamentos em carros de boi, a contratação e treinamento de mão de obra, quase tudo
importado, inclusive cimento.
A partir da inauguração de Parnaíba, a Light pôde verificar que o consumo de energia
cresceu rapidamente, mais do que o previsto, refletindo a dinâmica economia paulista. No início, a
empresa propagava o uso da energia nas residências e mantinha lojas próprias que distribuíam
lâmpadas e equipamentos e ensinavam a utilizar a eletricidade.
Antes de completados três anos da inauguração, uma segunda linha de tubulação já estava
em funcionamento.
Em 1911, uma terceira linha de tubos era colocada na casa de máquinas de Parnaíba, que
atingiu 16.000kW em 1912; isso mostra o crescimento do uso da eletricidade.
Visando a resolver o problema do crescimento, a Light adquiriu a Empresa de Eletricidade
de Sorocaba, que operava uma pequena usina que fornecia energia para Sorocaba e São Roque;
próximo dali, situava-se o Salto de Itupararanga, com 80 metros de queda vertical.
Para explorar esse salto, a Light constituiu a São Paulo Electric Co. Ltd., em 1911. Foi
através da São Paulo Electric que o Grupo Light ultrapassou os limites da capital, começando a
estender seu raio de ação pelo interior de São Paulo:
- 1901 – Usina Parnaíba;
- 1912 – represa de Guarapiranga, regularizando a vazão do Rio Tietê, que alimentava a Usina de
Parnaíba, a termelétrica Paula Souza e a hidrelétrica de Itupararanga (Sorocaba);
- 1914 – uma forte seca diminui a capacidade de geração, trazendo dificuldades para a Light, aliviado
com a inauguração de Itupararanga. Para acompanhar esse crescimento, a capacidade de geração
de Itupararanga foi ampliada várias vezes;
- 1924 – nova seca em São Paulo afeta o fornecimento de energia elétrica. Atendendo à demanda,
que não parava de crescer, a Light coloca em operação novas usinas;
- 1925 – Usina Rasgão, no Rio Tietê;
- 1926 – Usina Cubatão, na Serra do Mar, entre São Paulo e Santos;
- 1934 - Critérios de remuneração e dificuldades de importação de equipamentos devido à Segunda
Guerra Mundial (1939/1945) restringiram os investimentos;
- 1961 – ampliação da potência de Cubatão para 420 mW foi a última significativa atuação da Light
em São Paulo. No início século XX, ocorreu, no interior de São Paulo, um processo de concentração
de pequenas empresas elétricas paroquiais, em grupos mais fortes, uma exigência do
desenvolvimento econômico do estado. A Cia. Paulista de Força e Luz (CPFL), constituída em 1912,
foi incorporando empresas já existentes em Botucatu, São Manoel, Dois Córregos, Agudos,
Pederneiras, Bauru, Ribeirão Preto, Araraquara, Piracicaba, Pirajuí e São José do Rio Preto;
- 1923 – Electric Bond & Share, empresa americana do Grupo General Electric, criou a Amforp, para
atuar no exterior. Como o lucrativo eixo São Paulo-Rio era monopolizado pela Light, esta vai atuar em
outras grandes cidades brasileiras, como Recife, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Niterói,
Natal, Curitiba, Maceió, Vitória e Pelotas; adquirindo também a CPFL no interior de São Paulo. Dessa
forma os quatros grupos (CPFL, Grupo Armando Salles, Grupo Silva Prado e Light - Ataliba Vale JA,
Fonseca Rodrigues-Ramos de Azevedo) mais fortes que atuavam no interior de São Paulo passaram
todos para o controle das estrangeiras Amforp;
- 1945 – a guerra trouxera dificuldades para a importação de máquinas e peças, e os investimentos
não foram executados pelas concessionárias estrangeiras, que alegavam baixa remuneração,
encerrando, assim, o predomínio das multinacionais e iniciando-se o período de grandes
investimentos estatais no setor elétrico;
206

- 1948 – inicio da estatização, com a criação da Cia. Hidroelétrica do São Francisco (CHESF);
- 1956 – no âmbito estadual, foi apresentado o Plano de Eletrificação do Estado de São Paulo,
prevendo esforços paralelos do governo estadual e iniciativa privada. Anteriormente, o governo
paulista já vinha adotando importantes medidas, criando;
- 1953 - Uselpa – Usinas Elétricas do Paranapanema S.A, a primeira estatal paulista de energia
criada pelo governador Lucas Nogueira Garcez;
- 1955 – Cherp – Cia. Hidroelétrica do Rio Pardo S.A. (estatal);
- 1961 – Celusa – Centrais Elétricas de Urubupungá S.A. (estatal);
- 1962 – Belsa – Bandeirante de Eletricidade S.A. (estatal);
- 1963 – Comepa – Cia. Melhoramentos de Paraíbuna (estatal).
Essas cinco empresas estatais e mais seis outras deram origem às Centrais Elétricas de
São Paulo (CESP) em 1966. A CPFL e a São Paulo Light também passaram por processo
semelhante de estatização.
É nesse cenário que ocorre, de fato, um desenvolvimento forte no setor elétrico patrocinado
todo ele pelo Estado e onde ocorre a construção de grandes usinas hidrelétricas.

2.3 Termelétricas
Com a estatização do setor elétrico, o Estado passa a investir massiçamente no setor, num
projeto idealizado ainda na década anterior. O objetivo, no primeiro momento, era levar energia às
“áreas escuras” do estado de São Paulo; tem-se início a construção de quatro termelétricas, pelo
DAEE, e, posteriormente, transferidas para a Uselpa:
a) Usina Termelétrica Itapetininga (Itapetininga)
Potência 1.000kW
Inaugurada em 1956
Desativada em 1960, após funcionar precariamente, e a região passou a ser abastecida pela Usina
de Salto Grande;
b) Usina Termelétrica Engenheiro Loyola (Juquiá)
Local: Juquiá, Vale do Ribeira
Potência 10.000 kW
Inaugurada em 1959
Em 1966 começava o processo de desativação e funcionou esporadicamente até 1970;

Figura 3 Usina termelétrica de Juquiá.


Fonte: CESP, 2011.
207

c) Usina Termelétrica Engenheiro Francisco M. de Campos (Flórida Paulista)


Local: Flórida Paulista
Inaugurada em 1960
Potência 20.000 kW
Desativada em 1967
d) Usina Termelétrica Marechal Rondon (Votuporanga)
Inaugurada em 1959
Potência 10.000 kW
Desativada em 1967
Até os fins da década de 50, muitas cidades do interior paulista dispunham apenas de uma
ou duas unidades geradoras de eletricidade, motores a diesel mantidos com dificuldades pelas
prefeituras, gerando altos custos e manutenção deficiente, e as quatros pequenas térmicas citadas
foram empreendimentos emergenciais visando a atender essas áreas escuras do interior paulista;
elas durariam até que as hidrelétricas das empresas formadoras da CESP viessem suprir as dezenas
de municípios que aquelas termelétricas atendiam precariamente.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939/1945), as dificuldades de financiamento e
importação de equipamentos levaram à estagnação do crescimento da potência instalada.
Como já foi citado, nessa época, duas empresas multinacionais respondiam pela maior
parte do suprimento de eletricidade no estado de São Paulo: a canadense Light & Power Co.
dominava a região da capital, e a American & Foreign Power Co. (Amforp), americana, predominava
no interior de São Paulo, além de outras pequenas empresas locais.
No pós-guerra, esses dois conglomerados e outras concessionárias particulares alegavam
ser impossível efetuar investimentos, uma vez que as tarifas determinadas pelo governo federal, em
meados de 50, não previam uma adequação suficiente, pois eram corroídas pela inflação. Seja pelas
dificuldades de financiamento, de importação de equipamentos durante a guerra, seja pela baixa
remuneração, a escassez de energia ameaçava o vigoroso crescimento de São Paulo, agravado por
um período prolongado de secas entre 1952 e 1955.
O risco de um colapso econômico preocupava o governo, que ensaiava algumas
providências. Começa, então, um processo de estatização do setor, inicialmente pelo DAEE e,
posteriormente, pelas estatais, fundadas pelo governo, que fizeram investimentos em várias regiões:
nas bacias do Rio Pardo, Rio Paraíba, Rio Tietê, Rio Paranapanema, Rio Paraná e Rio Grande e, em
1966, deram origem a uma única estatal paulista – as Centrais Elétricas de São Paulo (CESP).

2.4 Hidrelétricas
São apresentadas, a seguir, as bacias hídricas do estado de São Paulo com suas usinas
hidrelétricas:
a) Bacia do Rio Pardo: DAEE/Cherp/Cesp
- Usina Limoeiro, iniciada em 1953 e concluída em 1966, potência de 32.200 kW;
- Euclides da Cunha, iniciada em 1954 e concluída em 1965, potência 109.000 kW;
- Caconde, iniciada em 1959 e concluída 1966, potência 80.400 kW.
Em 1949, Lucas Nogueira Garcez, secretário de Viação e Obras Públicas, determinava que
se implementassem estudos de aproveitamento múltiplo do médio Tietê, que incluía controle de
enchentes, navegação fluvial e projetos de irrigação, inspirado num modelo americano.
Eleito governador (1951/1955), Garcez criou o Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE), que organiza os serviços regionais do Vale do Tietê, Vale do Ribeira e Vale do Paraíba.
b) Médio Tietê: DAEE/Cherp/Cesp
- Usina de Barra Bonita, iniciada em 1957 concluída em 1964, potência de 141.000 kW; possui uma
eclusa de navegação concluída em 1973;
- Usina Álvaro de Souza Lima (Bariri), iniciada em 1959 e concluída em 1969, potência de 143.000
kW; sua eclusa foi concluída em 1966;
- Usina de Ibitinga, iniciada em 1963 e concluída em 1969 pela CESP, com potência de 131.490 kW;
Sua eclusa foi concluída em 1986;
- Usina Mario Lopes Leão (Promissão), iniciada em 1966 e concluída em 1977, com potência de
264.000 kW; como as demais, possui eclusa de navegação que entrou em operação em 1986.
208

Desde 1960, a Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo (CHERP) passou a ser responsável
por um amplo programa de integração regional que incluía irrigação, navegação e reflorestamento
numa grande área do Estado.
c) Baixo Tietê: Cesp
- Usina de Nova Avanhandava, concluída em 1985, com uma potência de 347.000 kW; possui eclusa
de navegação em operação;
- Usina de Três Irmãos, em operação desde 1990, com uma potência de 807, 500 kW.
d) Bacia do Rio Paranapanema – Uselpa/Cesp
- Usina Armando A. Laydener (Jurumirim), concluída em 1962, com potência de 97.750 kW;
- Usina Xavantes, concluída em 1971, com potência de 414.000 kW;
- Usina Lucas Nogueira Garcez (Salto Grande), concluída em 1960, tem uma potência de 70.380 kW;
- Usina Capivara, concluída em 1978, com potência de 640.000 kW;
- Usina Taquaruçu, concluída em 1990, com potência de 526.000 kW;
- Usina de Rosana, inaugurada em 1987, tem potência de 353.000 kW;
- Canoas I, com potência de 81.000 kW; e
- Canoas II, com potência de 72.000 kW.
e) Bacia do Rio Paraíba - Comepa/Cesp
- Usina Jaguari, concluída em 1973, tem potência de 27.600 kW;
- Usina Paraíbuna, concluída em 1978, com potência de 86.000 kW.
f) Bacia do Rio Paraná – Celusa/Cesp
- Usina Engenheiro Souza Dias (Jupiá), concluída em 1975, possui potência 1.551.000 kW;
- Usina de Ilha Solteira, concluída em 1978, com potência de 3.344.000 kW;
- Usina de Porto Primavera, com potência 1.430.000 kW;
g) Bacia do Rio Grande – Cesp
- Usina José Ermírio de Moraes (Água Vermelha), concluída em 1979, apresenta potência de
1.396.000 kW.
Apesar de as estatais desenvolverem o setor elétrico, com a construção de grandes usinas,
e atuarem nas diversas bacias hidrográficas do estado de São Paulo, essas operavam independente
umas das outras, cada qual com características e recursos próprios. Era uma desnecessária
multiplicidade de esforços que provoca altos custos e prejuízos para o Estado.
Assim, em 05 de dezembro de 1966, visando a facilitar as transações com agentes
financeiros e fortalecer as empresas e o Estado, foram constituídas as Centrais Elétricas de São
Paulo S.A. (Cesp), somatória de 11 (onze) empresas paulistas de eletricidade: Usinas Elétricas do
Paranapanema S.A. (USELPA), Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo (CHERP), Centrais Elétricas de
Urubupungá (CELUSA), Bandeirantes de Eletricidade S.A. (BELSA), Companhia Melhoramentos de
Paraíbuna (COMEPA), Companhia Luz e Força de Tatui, Empresas Luz e Força Elétrica de Tietê
S.A., Central Elétrica de Rio Claro, Empresa Melhoramentos de Mogi Guaçú S.A., Companhia Luz e
Força de Jacutinga S.A. e Empresa Força e Luz de Mogi Mirim S.A.
Em 1975, o Estado aumentou sua atuação nessa área com a aquisição do controle
acionário da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)
Em 1977, com atuação em diversas áreas energéticas, a Cesp mudou seus estatutos,
alterando a razão social para Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

3 USINA HIDRELÉTRICA
A construção de uma grande usina hidrelétrica envolve vários aspectos e estudos auxiliares
que dão subsídios para o projeto, tais como: vazão média da bacia hidrográfica, altura da queda
d’água do rio, o tipo da barragem, segurança na operação da usina, área a ser inundada, população
atingida, desapropriações, garantia do fornecimento, impacto no meio ambiente, além de estudos da
decamilenar, que corresponde às precipitações pluviométricas de grande vulto que ocorrem a cada
50 (cinquenta) anos e determinam a capacidade de vazão dos vertedouros para controle de cheias,
entre outros.
O princípio básico de uma usina hidrelétrica funciona através da água de um rio que é
represada, pela construção de uma barragem. Essa água represada constitui uma força e é
conduzida por meio de grandes tubulações até uma turbina (roda com pás) que gira. Por sua vez, a
turbina está ligada a um gerador de energia elétrica, através de um eixo. O gerador entra em
209

movimento (um imã ou eletroímã movimenta-se no interior do gerador, provocando o aparecimento


de um campo magnético e surge a corrente elétrica).
A geração de energia elétrica a partir de uma hidrelétrica nada mais é do que a
transformação de energias: a energia hídrica (força das águas de um rio) transforma-se em energia
mecânica (movimenta turbina e gerador) e, posteriormente, em energia elétrica (variação de um
campo magnético sobre um bobinado condutor).

Figura 4 Corte transversal Usina Hidrelétrica.


Fonte: Cesp, 2011.

As principais partes de uma usina hidrelétrica são:


- Barragem: pode ser de terra ou concreto, ou de ambos e é construída perpendicularmente ao leito
do rio;
- Reservatório ou lago: montante, que surge em função da barragem;
- Tomada d’água: conduz a água represada até as turbinas;
- Turbina: roda com pás; a água ao atingir a turbina faz com que ela gire;
- Gerador: ao ser girado pela turbina, produz energia elétrica;
- Sala de máquinas: local onde ficam os grupos geradores;
- Sala de comando: local onde se operam todas as atividades da usina;
- Vertedouro: comportas móveis que servem para controlar o nível de água do reservatório;
- Saída d’água: jusante, local de saída da água após movimentar as turbinas;
- Subestação elevadora: recebe a energia elétrica transformando-a em alta tensão para que ela
possa ser transportada a grandes distâncias.
210

Figura 5 Principais partes de uma Usina Hidrelétrica.


Fonte: Cesp, 2011.

4 USINA JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES - ÁGUA VERMELHA


4.1 Histórico
Localizada no Rio Grande, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais, a 80 km da
confluência com o Rio Paranaíba, na Rodovia Percy Valdir Semeghini, km 66, consta de um projeto
inteiramente nacional desenvolvido em conjunto pela Promon Engenharia S.A. e pela Themag; tem
sua produção de energia elétrica destinada à região que mais consome em todo o País: a Região
Sudeste.
Tem como sede o município de Ouroeste, rstado de São Paulo, distante 20 km, abrangendo
ainda os municípios de Indiaporã, Guarani d’Oeste e Iturama (MG).
211

Figura 6 Usina José Ermírio de Moraes - Água Vermelha.


Fonte: Cesp, 2011.

Água Vermelha constituiu o último grande aproveitamento hidrelétrico do Rio Grande e é o


único que foi explorado por São Paulo, através da Cesp, existindo a montante (acima) de Água
Vermelha 12 (doze) usinas hidrelétricas das empresas Cemig (Minas Gerais) e Furnas (empresa
federal de energia).
No local onde está construída a usina, existia a Cachoeira dos Índios formada por várias
quedas d’água com nomes curiosos, tais como: Tombo das Andorinhas, Caldeirão do Inferno, Tombo
dos Dourados, Tombo das Três Pedras, Tombo da Fumaça e Véu de Noivas. A denominação de
Cachoeira dos Índios é uma referência aos antigos habitantes do local. Alguns anos após da
inauguração da usina, foram encontrados, a jusante da usina, vestígios da era indígena que, hoje,
estão no museu arqueológico da cidade de Ouroeste.
212

Figura 7 Mapa de localização da Usina de Água Vermelha.


Fonte: Cesp, 2011.

Ao lado da cachoeira, na parte baixa, lado direito do rio, existia também uma casa de
veraneio que era do governo do estado desde a década de 40; contava com uma miniusina
hidrelétrica (PCH), que fornecia energia elétrica para o local. Era conhecida como a Casa do
Adhemar numa alusão ao governador do estado na época e que perdurou até os finais da década de
setenta, quando foi desativada para abrigar as subestações elevatórias e de interligação. Vestígios da
miniusina estão presentes até hoje no local.
O nome fantasia Água Vermelha deriva de um córrego afluente do Rio Grande existente
próximo dali, de águas muito barrentas, de tons avermelhado; é o córrego da água vermelha
Água Vermelha foi toda ela construída pela Cia Energética do Estado de São Paulo (Cesp),
grande estatal de energia elétrica paulista, empresa originária da união de várias empresas estatais
no período conhecido como estatização do setor elétrico. Com uma potência instalada de 1.396.000
kW, está interligada ao anel energético da Grande São Paulo através de três subestações: uma de
138 kV, uma de 440 kV e outra de 550 kV, esta última com linhas de transmissão de extra alta tensão
em 550 kV, interligando-se com a Usina de São Simão (Cemig) e a Usina de Marimbondo (Furnas).
Possui, ainda, três linhas de transmissão em extra alta tensão de 440 kV, que a interligam
com a Usina de Ilha Solteira e as subestações de Araraquara e Ribeirão Preto e, de lá, para outros
centros consumidores.
A subestação de 138 kV faz as interligações regionais com duas linhas para a subestação
de Votuporanga e duas linhas para subestação de Jales.
Água Vermelha é a quarta maior usina hidrelétrica do estado de São Paulo. Seus
equipamentos elétricos foram importados da França; empresas francesas constituíram um consórcio
para desenvolvimento do projeto com tecnologia avançada, e foi a primeira hidrelétrica totalmente
automatizada e supervisionada por computadores. Sua construção teve início em outubro de 1973
(obras civis) e inaugurou o primeiro grupo gerador em 22 de agosto de 1978, com a presença do
Presidente da República e, em 13 de dezembro de 1979, o sexto e último grupo entrou em operação;
um tempo recorde para a época.
Seu reservatório abrange uma área de 650 kM/2, com um volume de 11 (onze) bilhões de
metros cúbicos de água, ocorrendo desde a usina até a jusante da Usina de Marimbondo em
Fronteira (Minas Gerais).
213

Opera na cota máxima de 383,30 metros e em cota mínima de 373,30 metros em relação ao
nível do mar. Possui 06 (seis) grupos turbina/gerador com potência nominal de 232.600 kW cada,
perfazendo 1.396.000 kW.

Figura 8 Jornal local noticia a primeira roda da turbina de Água Vermelha.


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

A barragem é mista de terra e concreto, com extensão de 3.920 metros de comprimento e


queda bruta nominal de 57 metros. Os vertedouros são de tipo superfície com oito comportas com
vazão nominal de 20.000 metros cúbicos de água por segundo. O volume total de aterro compactado
é de 21.070.014 m3 de terra, 3.640.507 m3 de escavação em rocha e 1.414.712 m3 de concreto.
As obras de construção da usina de Água Vermelha foram marcadas pelo emprego de
avançadas técnicas de engenharia, como o concreto refrigerado. Tal processo, utilizado pela primeira
vez no mundo na construção de Ilha Solteira, permitiu um maior rendimento dos materiais, além de
inúmeras vantagens de ordem técnica e qualidade; essa tecnologia foi exportada para o mundo.
Durante a construção, destacou-se também o gigantesco trabalho dos milhares de homens
que participaram das obras. Só na primeira etapa de instalação do canteiro industrial, a obra
empregou cerca de 8.000 operários.
Para permitir todo esse trabalho, o canteiro de obras era dotado de toda infraestrutura
necessária para dar suporte à obra; destaca-se a construção de um Porto Fluvial próprio que
transportava areias, britas e cascalhos via fluvial de Itumbiara (GO)s até o local da usina.
214

Figura 9 Diversas fases da construção da UHE – Água Vermelha.


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

Figura 10 Fase final da montagem – Grupos 5 e 6.


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

Um grande almoxarifado de suprimentos de materiais, oficinas e até a construção de um


hotel e um aeroporto para pouso e decolagem de grandes aeronaves foram construídos.
215

Más, além dos benefícios da energia elétrica gerada por Água Vermelha, as obras da usina
trouxeram desenvolvimento à vida das comunidades á sua volta.
Localidades como Indiaporã, Guarani d’Oeste, Mira Estrela, Ouroeste, Fernandópolis,
Campina Verde (MG) e Iturama (MG) foram diretamente beneficiados com a implantação de 130 km
de estradas municipais, 170 km de estradas de ligação, 210 km de linhas de transmissão de alta
tensão e 140 km de linhas telefônicas.
Soma-se a isso a construção de vilas residenciais, escolas, hospital, áreas de lazer e clubes
recreativos, proporcionando melhores condições de infraestrutura social, novos empregos e novas
fontes de renda para a população da região.

Figura 12 Hospital e Vila residencial de Indiaporã (SP).


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

As vilas residenciais construídas em Indiaporâ, Guarani d’Oeste, Ouroeste, Iturama e


Fernandópolis a fim de abrigarem os trabalhadores deram um grande impulso na economia local com
a implantação de uma infraestrutura nova no local e ao redor delas, e essas benfeitorias
permaneceram após a conclusão das obras, agregando valores aos municípios.
216

Figura 13 Núcleo Residencial de Ouroeste (SP).


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

A vila residencial de Fernandópolis abrigou a alta direção da obra, administradores,


encarregados e pessoal técnico, enquanto as demais cidades receberam a grande massa de
trabalhadores de todas as categorias.

Figura 14 Núcleo Residencial de Fernandópolis (SP).


Fonte: Marchiori, 2011. (Arquivo particular)

A construção de Água Vermelha, além da implantação de uma enorme infraestrutura


regional, trouxe também uma categoria de profissionais cuja remuneração era bem acima da média
praticada na região, o que contribuiu sensivelmente para o desenvolvimento do comércio de bens de
consumo locais, dinamizando-o com a nova injeção de dividendos.
217

4.2 Benefícios diretos


Entre os benefícios diretos mais evidentes se destacam: pavimentação da Rodovia Percy
Valdir Semeghini (Fernandópolis-Água Vermelha), pavimentação da Rodovia SP 525 (Jales-Populina-
Arabá), construção do Viaduto em Fernandópolis a confluência das Rodovias Percy Valdir Semeghini
e a Rodovia Euclides da Cunha, construção de 42 pontes rurais pequenas, de médio e de grande
porte em toda a região atingida pelo lago da usina, nos municípios de Guarani d’Oeste, Indiaporã,
Macedônia, Mira Estrela, Cardoso, Santa Isabel do Marinheiro e outras.
Além disso, destacam-se: 100 casas em Iturama (MG), quantidade limitada pelo governo
local à época, 150 casas em Guarani d’Oeste, 176 casas em Fernandópolis, 250 casas em Ouroeste,
1.207 casas em Indiaporã, um hospital em Indiaporã com uma área de 2.500 metros quadrados e
uma escola de ensino fundamental para 560 alunos aproximadamente.
Relativamente às pontes construídas na região, têm-se: ponte sobre o Ribeirão Pauda Diniz
(124,57 m de extensão), ponte sobre o Ribeirão Marinheiro (Mira Estrela, com 330,00 m), ponte sobre
o córrego Tomazão (85 m), ponte sobre o Rio Guariroba (55 m), ponte sobre o Córrego Capituva
(42,40 m), ponte sobre o Ribeirão Marinheiro (62,20 m), ponte sobre o Rio Turvo (207,27 m) e pontes
de pequeno porte em Cardoso (06 unidades).
Foram assinados convênios CESP/DER/MG par a construção de 9 pontes de médio e
grande porte, entre elas: ponte sobre o Córrego do Fundo (57 m), ponte sobre o Rio São Francisco
de Sales (5.000 m), ponte sobre o Ribeirão Marimbondo (68 m) e ponte sobre o Córrego Bom Jardim
(58 m).
A formação do lago gerou a indústria da pesca através do repovoamento de peixes e do
turismo de recreação, com a criação de áreas de lazer e praias nas margens da represa em toda sua
longa extensão.
Ao término das obras, muitos trabalhadores que aqui vieram acabaram por permanecer,
fixando residência na região que agora oferecia novas oportunidades de crescimento e investimentos,
continuando, assim, a contribuir para o desenvolvimento regional.
Dessa forma a construção da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha contribuiu imensamente
para o desenvolvimento econômico da região e constitui, hoje, uma das grandes indústrias locais,
gerando energia elétrica, empregos e promovendo o desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

Billings Rio de Janeiro 1962 – Série Pioneiros

NOVA, Antônio C. Boa nova - percepções da cultura da Cesp.

Da Light à Eletropaulo São Paulo – escrituras

Boletim Memórias da Cesp – semestral – 1992 a 1997

Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL Energia e Desenvolvimento 1982

Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – 1988

Dean Warren – A industrialização de São Paulo – 1880 – 1945

Encartes de divulgação da Cesp

Jornal mensal “Prezado Companheiro” da Cesp

Energia não se aposenta - AAFC – 2007

MARCHIORI, Paulo Antônio. Arquivo pessoal


EDUCAÇÃO EM FERNANDÓPOLIS

Na década 1930, em plena expansão dos movimentos de ocupação do que mais tarde vai
ser chamado de sertão paulista, surgem os povoados de Vila Pereira, fundada por Joaquim Antonio
Pereira, e Vila Brasilândia, por Carlos Barozzi.
O final da década de 1930 e início da década de 1940 foram marcantes, pois é nessa fase
que ocorre a formação de Brasilândia e Vila Pereira, pertencentes ao município de Tanabi, sendo
criadas em cada uma das comunidades uma Escola Rural, com controle e sede em Tanabi. É nesse
período que, segundo relato já registrado em edição anterior da obra Fernandópolis, nossa história,
nossa gente (PESSOTTA et al., 1996, p. 36), surgem os pioneiros na área da educação no município,
como os professores Antônio Tanuri e a professora Antonieta Moura Nogueira.
Em março de 1944, antes da criação do município de Fernandópolis, é criada a primeira
escola da Vila Pereira, denominada de 1º Grupo Escolar de Vila Pereira, que, com a emancipação do
município em 1944, passa a chamar-se Grupo Escolar Joaquim Antonio Pereira (GEJAP).
Recentemente, a educação no estado de São Paulo tem passado por um processo de
descentralização e, por ela, de municipalização do ensino, o que tem alterado o panorama do vínculo
das escolas e sua consequente supervisão.
O que se apresenta a seguir é um relato da história e das principais ações levadas a efeito
no setor da educação no município de Fernandópolis, de suas origens à atualidade.

Escola Estadual Joaquim Antônio Pereira.


A Escola Estadual “Joaquim Antonio Pereira” está instalada em um prédio muito antigo,
construído em 1944. Conta com 29 salas de aula e outros equipamentos pertinentes. A escola conta
com um diretor, um vice-diretor, um professor coordenador pedagógico, 66 professores, 14
funcionários, 624 alunos no ensino fundamental, 103 no ensino médio e 786 no centro de línguas.
A maioria das salas é de médio porte, os corredores são amplos. A conservação em geral é
boa, graças ao trabalho de conscientização de alunos e comunidade visando à preservação do
patrimônio escolar.
Por ser uma escola centralizada e tradicional tem uma equipe escolar permanente, em sua
117
maioria por profissionais efetivos que têm vínculos inclusive afetivos com a instituição .

Escola Estadual Carlos Barozzi


De sua criação até a atualidade, mudanças profundas ocorreram e deixaram no tempo a
escolinha cujas portas das salas de aula se abriram diretamente para a rua lateral da praça em prédio
alugado pela prefeitura da cidade para ganhar espaço de destaque em frente à Igreja São Luiz
Gonzaga, no Bairro da Brasilândia.
O 2º Grupo Escolar de Fernandópolis foi criado e instalado em 1946. Suas atividades
iniciaram-se sob a direção de Osvaldo Frido, diretor interino, com um total de 397 alunos, sendo 218
masculinos e 179 femininos, funcionando em dois períodos, manhã e tarde, com cinco classes em
cada período.
Os professores estagiários das 1ª e 2ª escolas Municipais da Brasilândia, respectivamente,
tiveram as escolas anexadas ao 2º Grupo Escolar da Brasilândia no dia de sua criação. Os docentes
de 1946 eram as professoras Aparecida Pimenta, responsável pelo 2º e 3º anexos (1º período) e Olga
Bocalon, responsável pelo 1º e 2º anexos (2º período).
Ainda como professores interinas, trabalharam na escola Dirce Agrelli, Hayder Gomes de
Oliveira, Odília de Souza, Elza Agreli, Edmundo Paschoal, Pilar Azol Mompean, Elza Rodrigues,
Dorcelia Nogueira da Costa e Maria Aparecida Furtado e no seu quadro administrativo dois
serventes: Aguinelo Costa e Geraldina Luiza Conceição.
No ano de 1947, o diretor interino foi substituído pelo professor Olívio Araújo, diretor efetivo.
Neste mesmo ano, foram iniciadas as construções do galpão e da cozinha, bem como o início das

117
Maiores detalhes sobre a escola, conferir no primeiro volume de Fernandópolis, nossa história, nossa gente
(PESSOTTA et al., 1996).
219

campanhas pró-instalação da sopa escolar, pró-instalação da biblioteca escolar, pró-constituição de


fundos da caixa escolar e a instalação de cursos para alfabetização de adultos.
De lá até os dias atuais, várias denominações teve a atual Escola Estadual Carlos Barozzi,
conforme as circunstâncias de momento: Grupo Escolar da Brasilândia, Ginásio Estadual da
Brasilândia, EEPG Carlos Barozzi, Colégio Estadual da Brasilândia, EEPSG Carlos Barozzi
Entre as recentes mudanças por que transitou, recebeu o curso de alfabetização de adultos,
o Projeto Educacional “Escola Padrão” (sendo a pioneira na Diretoria de Ensino de Fernandópolis)
quando o governo estadual, estimulando maior autonomia pedagógica e administrativa nas escolas,
ofereceu mais recursos didáticos e concedeu remuneração diferenciada aos educadores envolvidos
no processo de descentralização, com finalidade de recuperar o padrão de qualidade do ensino
ministrado nas escolas públicas.
A partir de 2006, passou a ser escola de tempo integral, cujo objetivo é o de assegurar o
desenvolvimento de novas competências, habilidades e atitudes, bem como minimizar os riscos da
população mais vulnerável, mas, pela não aceitação da comunidade, voltou a ser escola regular em
30/01/2010.
No dia 04 de outubro de 1996, data do jubileu de ouro, estava na Direção Senhora Valfiria
Benfati, que recebeu como convidados de honra todos os ex-diretores, professores, funcionários e
ex-alunos, além da família de Carlos Barozzi, quando foram prestadas as homenagens àquele que
doou o terreno e seu nome a esta unidade escolar. Foi uma homenagem a todos os que contribuíram
para o que é hoje a Escola Estadual Carlos Barozzi, que tem como diretora a Sra. Célia Alves de
Lima Ribeiro.

Escola Estadual Afonso Cáfaro


Fundada em 1955, como Grupo Escolar de Fernandópolis, contava com 165 alunos e 4
professores. O Decreto nº 2749 de 15/02/57 deu ao Grupo Escolar de Fernandópolis a denominação
de Grupo Escolar Afonso Cáfaro, em homenagem ao Sr. Afonso Cáfaro, falecido 18 de janeiro do
mesmo ano.
Hoje, a escola atende a aproximadamente 800 alunos, distribuídos nos períodos da manhã,
tarde e noite, nos segmentos: Ensino Fundamental Ciclo I (1ª série ou 2º ano até a 4ª série ou 5º ano)
Ensino Fundamental Ciclo II (5ª série ou 6º ano até a 8ª série ou 9º ano) e Ensino Médio.
Preocupada com a formação de uma consciência social responsável, no sentido de
desenvolver em cada aluno a solidariedade e a lealdade, bem como sua capacidade crítica e criativa,
também é conhecida por seu dinamismo e desenvolvimento de projetos junto à sociedade, entre os
quais se destacam: “Cuida de mim”, projeto de formação da cidadania através da Educação
Ambiental, que possibilitou a vivência de práticas integradoras, com aproximação entre diferentes
segmentos sociais, culturais, profissionais e humanos, em parceria com a Escola Agrícola, Polícia
Florestal, Grupos de reciclagem e preservação da nascente do Rio Santa Rita; projeto “Formação
profissional”, que possibilita a reflexão sobre o universo do trabalho, ampliando a visão do aluno
sobre as questões éticas associadas à formação profissional, em parceria com a FEF, ACIF,
Unicastelo, Batalhão da Polícia Militar, CAEFA.
A unidade escolar tem-se destacado no IDESP, SARESP e com elevado grau de aprovação
de alunos nas universidades federais, estaduais e particulares. Partindo da premissa de que o projeto
educativo não pode ser concretizado sem a percepção das características e tendências do sistema
social, receber ex-alunos, que trazem suas histórias de vida e sucesso, tem sido a realização do
sonho de uma sociedade transformada através da educação.
No ano de 2005, a escola organizou um pequeno museu em homenagem a seu patrono
Afonso Cáfaro, com a contribuição da família, que doou para a escola vários utensílios particulares:
livros de registro, móveis etc.

EE Coronel Francisco Arnaldo da Silva


A hoje EMEF Cel Francisco Arnaldo da Silva, localizada na Av. Milton Terra Verdi, nº 732,
Jardim América, municipalizada em 21/02/2010, pertence à Diretoria de Ensino Região de
Fernandópolis, Prefeitura Municipal de Fernandópolis e Secretaria Municipal de Educação.
Essa unidade escolar foi criada como GESC (Grupo Escolar) e teve como sua primeira
diretora a professora Enoah Alves Garcia.
220

Em 1968, foi criada uma classe especial de deficiente auditivo e transformada em sala de
Recurso – Deficiente Auditivo.
Em 1970, através do Decreto nº 52.375, foi novamente criada e instalada como GEG
(Grupo Escolar Ginásio).
Novamente, em 1975, pelo Decreto nº 6907/75 e Resolução SE nº 22/76, a unidade tem
alterada sua denominação para EE de 1º grau. Em 1980, a escola recebeu a criação de uma classe
especial – deficientes mentais.
Durante todo esse período, esta unidade escolar pode contar com diretores dinâmicos, tais
como Wônia Aparecida Franco Gomes e Wandalice Franco Renesto; a professora Wandalice
conduziu a UE por mais de 30 anos, tendo como ponto alto de sua administração a festa das
Bonecas Vivas, evento social muito importante para a cidade. Dirigiram, também, essa UE as
professoras Shirley da Silva Navarro, Carmem Gomes da Trindade, Maria de Lourdes Davanzo,
Clarice Guarnieri Soares e, atualmente, Margaret Loide Bariani Brumati, tendo como vice-diretora Iara
Teresinha Molina Martinez e coordenadora pedagógica a professora Cleonice Aparecida Machado
Scalise.

Escola Adventista – Educação adventista


Um dos pilares da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a educação, cujo propósito maior é o
desenvolvimento integral do educando em todas as suas capacidades: física, intelectual, social e
espiritual, formando cidadãos autônomos, comprometidos com o bem-estar da comunidade, servindo
a pátria e a Deus.
Seu processo educacional é voltado à formação acadêmica do indivíduo, fundamental do
ponto de vista profissional, porém, seu objetivo maior é a formação de cidadãos responsáveis
moralmente, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, econômica e socialmente
mais desenvolvida.
No ano de 1956, a Igreja Adventista do Sétimo Dia iniciou suas atividades educacionais em
Fernandópolis. Um começo muito humilde, apenas uma sala de aula e, por décadas, ensinou às
crianças valores fundamentados em princípios bíblico-cristãos. Em 1998, ampliou-se o espaço
destinado ao ensino, então com oito salas de aula, que abrangia desde a educação infantil até o
ensino fundamental, totalizando 280 alunos.
Atualmente, está em construção um prédio próprio em terreno doado pela Prefeitura no
Parque Universitário, onde a Igreja Adventista do Sétimo Dia fará crescer e frutificar a semente da
educação cristã. Segunda a concepção da escola, a educação cristã amplia horizontes e abre portas;
realiza mais do que sonhos: possibilita oportunidade de trabalhar na formação de personalidades
humanas. (Vidotti, E. S., 2012. Pedagoga)

EE Líbero de Almeida Silvares


Uma das escolas mais tradicionais de Fernandópolis, fundada em 1950 com o nome de
Ginásio Estadual de Fernandópolis, iniciou suas atividades com 55 alunos em prédio adaptado até a
construção do prédio municipal.
Em 1958, a Escola Normal Municipal passou a funcionar junto ao Ginásio Estadual; logo
depois, a instituição de ensino passou a ser denominada Colégio Estadual e Escola Normal. Nesse
período, foram seus diretores a Sra. Zilda Hernandes, Sr. Sérgio Cavariani (1956). Alguns
professores que trabalharam nessa época: Odette Botura Baraldi, Francisco Freire de Carvalho, Rosa
Gonçalves Pimenta, Maria Aparecida Viotto Monteiros e Maria Aparecida de Agostini. Entre os
funcionários, fizeram parte Dona Celina e Augusto Jesus Mene Goyano (inspetores de alunos),
Dorival Sallete de Campos Machado (secretário). Também nessa década, formaram-se as primeiras
turmas do Ginásio; entre os formandos estavam Maria Aparecida Brandini Gomes, Tereza Salione,
Aparecida Cáfaro, Haydé Maldonado Garcia, Idelma Arakaki, Nilam Martins Lopes, Irma Motta Del
Pino, Ena Fonseca Silva, Cecília Belucio Nogueira, Ruth da Silva Belucio, Albertina de Souza Pinto,
Sidney Pereira Del Grossi, Walkiria Rezende Teixeira Nunes, Olga Balbo Ferreira Fontes, Regina
Garcia Pelaio Gomes, Silvia Candeo, Maria Cotrini, Edson de Paula Viana, Cleide Motta Barros, Meiry
do Rosário Angeluci, Leida Neuza Benini da Rocha, Delurdes Cavalotti Casare, José Alberto Brandini,
Genir Brandini, Edmilson Antonio Bizelli, Claudinice Soares Públio, Aguinaldo de Oliveira, Takio
Issoe, Oswaldo Silva, Edelice Carta Silva, Paulo Antonio Rodrigues Nogueira, entre outros.
221

Dentre as curiosidades dessa época, destacam-se: a primeira formatura da Escola Normal


foi realizada no local onde era o Cine Fernandópolis; as aulas de Educação Física eram realizadas ao
lado da escola, pois não havia quadra e, de vez em quando, treinava-se em uma que existia onde
hoje se localiza o Banco do Brasil (antiga Nossa Caixa); os alunos utilizavam caneta-tinteiro,
participavam de desfiles pela cidade, o grêmio era muito atuante, realizando vários eventos; na
escola havia uma pequena biblioteca, fanfarra e as carteiras eram de madeira. O uniforme escolar era
saia longa azul-marinho, de pregas, blusa branca de manga com emblema bordado, meia e conga.
Além disso, os alunos tinham uniforme específico para o inverno. Para a Educação Física, o uniforme
era outro: calção, cinto branco e camiseta. Foi uma época marcante para muitos jovens da época,
tanto que, após 55 anos, no dia 11 de julho de 2008, houve um reencontro dos “saudosistas” no
Shopping Center Fernandópolis.
O Colégio foi transformado em Instituto de Educação Estadual de Fernandópolis (IEEF) a
partir de 1962, passando a contar com os cursos regulares, primário anexo, pré-primário,
Aperfeiçoamento e Administradores Escolares. Em agosto de 1968, assume a direção do IEEF o
professor José Decio Cotrim e, em outubro do mesmo ano, ele aniversariou e seus alunos
prepararam-lhe uma encantadora homenagem com predominância de músicas. O diretor, por sua
vez, notando tantas revelações musicais, prometeu-lhes um Festival da Canção que aconteceu no
ano seguinte, liderado pela professora de Música Regina Célia Mussi Cabral. O evento teve grande
repercussão, inclusive com cobertura da Rádio Cultura. Nessa década, o professor Querton
introduziu o basquete feminino na escola. Além de aula de música, os alunos também tinham aula de
francês, aos sábados era aula normal (único dia em que podiam ir sem uniforme) e o desfile no dia 7
de Setembro era obrigatório.
Em 1974, o IEEF passou a denominar-se Escola Estadual de 1º e 2º Graus Líbero de
Almeida Silvares. Após sete anos, passou a contar com os cursos de Magistério e Contabilidade.
O estabelecimento contou com vários eventos, um deles, a comemoração do Dia das Mães
em que os alunos do Magistério preparavam os alunos de 1ª a 4ª série para apresentar-se às mães
na quadra coberta. As aulas de Educação Física eram feitas em horários opostos; havia aula de Arte
Musical, Educação Moral e Cívica, Francês e cada sala era composta de, no máximo, 30 discentes. O
2º Festival da Canção (12 e 13 de setembro de 1970) foi incluído no Roteiro Turístico do Estado e
teve premiação de salários mínimos para os cinco primeiros colocados, oficializado pelo prefeito, Sr
Leonildo Alvizi, além de premiações oferecidas pelos clubes de serviços.
No ano seguinte, aconteceu o 3º Festival da Canção. Também em 70, houve o Segundo
Seminário de Estudos, com a presença de 653 professores de 50 cidades vizinhas. Além do diretor
citado, também nesse período, estiveram na direção: Ramon Carmona (1972), Dagmar de Freitas
Pinha (72 a 75), Tomaz Gimenes Navarro (76 a 78) e Shirlei da Silva Navarro (79).
Em 92, a escola teve aprovado o curso em Processamento de Dados, com início no ano
seguinte e duração de quatro anos, ou seja, formaram-se quatro turmas sob orientação do professor
Marcelo Tadeu Boer. Era um curso muito concorrido e, para frequentá-lo, os alunos passavam por
uma espécie de vestibulinho, organizado pelo professor efetivo Amadeu Jesus Pessotta.
Entre 1993 e 2000, o CEFAM (Centro de Formação e Aperfeiçoamento para o Magistério)
passou a funcionar no mesmo prédio. De 1999 até 2003, a EELAS (como passou a ser conhecida)
também oferecia o curso Técnico em Informática. A partir de 2003, foi autorizada a reabertura do
Ensino Fundamental, iniciado com 8ª série.
No decorrer de seus 60 anos de existência, passaram pela escola vários diretores: o senhor
Olindo Cavariani (primeiro diretor), Sérgio Cavariani, Omir C. Barbosa, Loyde A. Faustini, Maria
Aparecida V. Monteiro Pacheco, Edson Freire, Armando Glaucos dos Santos, Rachel Marques,
Antonio Parisi, José Sílvio V. Coutinho, Mauro Durante, José Cotrim, Ramon Carmona, Dagmar
Freitas Pinho, Tomás Gimenes Navarro, Shirlei S. Navarro, Enoah Alves Garcia, José Alberto
Brandini, Odete S. Agustini Scarlatti, Noêmia Cândida de S. Sant’Anna, Haydée Maria S. R. Terra
Verde, Maria Jesus C. B. Zanato e Valdemir Dias Brasil.
Citam-se alguns dos inúmeros professores e funcionários que marcaram a vida de muitos
jovens: Rosinha (historiadora), Rui, Hélio, Silde, Mirabeli, Regina Maris, Cibeli, Antonieta Aguiar, Célia
Sano, Amadeu Pessotta, Maria Dolores, Antônia Laprano, Cleide Polachini, Aldo Moscaridni, Mariza
Moscaridni, Bila, Vanda Lima, Laura Mapelli, Clélia Violin, Edneu, Neusa Galeano, Regina Helena,
Alexandre, Sueli Argenti, Maribel, Dalva, João Batista, Dayse Malavazzi, Valdemir Brasil, Fátima
222

Marques, Idelma, Neusa, Hélio Tovatti, Rosária, Nair Anselmo, Sebastiana, Zoraide, Raimundo, entre
tantos; alunos destacaram-se, também, tanto na escola quanto na vida: Ivan Rossi (engenheiro),
Maria Massami Miachita (dentista), Luzia Satie Oyafuzo (dentista), Mariana Hideko Anabuki
(enfermeira, USP), Oscar Toshio Kume (médico acupunturista), Vanderlei Augusto Simonato
(engenheiro), Elena Maria Beline (bancária), Ireni Toshiko Okamura (enfermeira), Júlio Semeghini
(deputado federal, foi presidente do grêmio estudantil – bem atuante), Luiz Antônio Fleury Filho (ex-
governador) e outros tantos, nas mais variadas profissões.
Atualmente, na direção da escola encontra-se Maria de Lourdes Avanzo e, na vice-direção,
o professor Paulo Marcos da Silva; atuando junto a eles, as coordenadoras Régia Maria Longo de
Souza e Meiri Aparecida Pinheiro Lopes, a secretária Ivone Aparecida Ferro Albuquerque e um corpo
docente formado por cinquenta e sete (57) professores, que atendem setecentos e sessenta e quatro
(764) alunos nos três períodos de aula. Além desses, há dezesseis (16) funcionários, entre secretária,
inspetores de alunos e serviços gerais, que mantêm a tradição de competência e limpeza.
O antigo Ginásio Estadual de Fernandópolis, nascido de um modesto salão, transformou-se
na conhecida EELAS, que, no dia 23 de março de 2011, completou sessenta e um anos de trabalho.
A Escola Líbero de Almeida Silvares se destaca, também, pela imponente estrutura física (construído
na gestão do prefeito Percy Waldir Semeghini), cuja beleza envaidece seu povo: a grande maioria da
sociedade fernandopolense passou pelos seus bancos escolares onde iniciou a sua história de
sucesso e, com entusiasmo, todos se orgulham de dizer: “Fui aluno(a) da EELAS, nela adquiri grande
parte de tudo que sou”.

Escola Estadual Professor Antônio Tanuri


A Escola Estadual Professor Antonio Tanuri está situada na Rua Tiradentes, nº 522, Bairro
Jardim do Trevo, Fernandópolis – SP. Foi criada conforme decreto de 25/11/1964, publicado no
D.O.E. de 01/12/1964. Localizada, naquela ocasião, no bairro Ubirajara, iniciou suas atividades como
Grupo Escolar da Vila Ubirajara, em 1965.
Inicialmente, funcionou em uma casa cujas dependências físicas foram adaptadas para
duas salas que abrigavam duas séries no período matutino e duas séries no período vespertino,
totalizando 4 turmas.
Em 1965, o Sr. Romeu de Matos desempenhou simultaneamente as funções de professor e
diretor da unidade escolar. Em 1966, o Sr José Jorge escolhe o cargo até então vago e vem como
diretor efetivo. Como não havia sala exclusiva para abrigar a direção, este, a exemplo do Sr. Romeu
de Matos, levava todo material inerente ao exercício da função para casa à tarde, retornando-os na
manhã seguinte. Em 1967, passa a ser identificada como Ginásio Estadual Prof. Antônio Tanuri.
Entre o final do ano de 1969 e início de 1970, o diretor em exercício José Jorge deixa o
cargo e assume a professora Alice Terezinha Pelielo de Matos. Em 1970, ocorre a mudança das
dependências da escola para um novo prédio, fato acompanhado de mais uma mudança na direção,
agora sob a responsabilidade do Sr. Osvaldo Marques.
A denominação de Escola Estadual Prof. Antônio Tanuri ocorre a partir de 1979, quando
até então abrigava somente alunos do ensino fundamental. A partir de 1985, a escola passa a
oferecer o ensino médio.
Atualmente, a sua área de abrangência em relação aos alunos compreende os bairros do
Jardim do Trevo, Ubirajara, Uirapuru, Ipanema, Paraiso, Paineiras, Taiguara e Cohabs Antônio
Brandini e João Pimenta. Em 2011, a composição do corpo discente contava com 12 salas com
turmas do ensino fundamental e 11 salas com turmas do ensino médio.
Quanto à identificação, a partir de 1967, proporcionou uma forma de homenagem ao
Professor Antônio Tanuri, oficializado patrono desta unidade escolar. Foi uma forma de
reconhecimento ao destacado papel de professor e cidadão que desempenhou em Fernandópolis,
mesmo tendo por aqui uma estadia bastante abreviada em função de sua morte precoce.

Escola Estadual Saturnino Leon Arroyo


Em 1967, foi instalada no prédio do Grupo Escolar Coronel Francisco Arnaldo da Silva uma
extensão do Instituto de Educação de Fernandópolis, que acabou dando origem à Escola Estadual
Saturnino Leon Arroyo.
223

Em 1970, o estabelecimento de ensino mudou-se, provisoriamente, para o prédio do GESC


Afonso Cáfaro, onde funcionou até julho de 1973, mudando-se definitivamente para as novas
instalações na Rua Bahia, no Bairro Bela Vista.
Em1976, houve a fusão do Colégio Estadual de Fernandópolis com o GESC Vila Nova de
Fernandópolis, e a escola passou a ser denominada Escola Estadual de 1º e 2º Graus de
Fernandópolis.
Ainda em 1976 a EEPSG de Fernandópolis passa a ser denominada EEPSG Saturnino
Leon Arroyo, em homenagem a um dos desbravadores cuja vida foi marcada pela busca do
progresso na construção de nossa cidade.
Em fevereiro de 1996, com a reorganização das escolas, as classes do Ensino Fundamental
– Ciclo I foram remanejadas para a EEPG João Garcia Andreo, permanecendo na escola a clientela
do Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Em 1999, foi autorizada a transferência das classes de Educação de Jovens e Adultos,
Telessalas de Ensino Fundamental e Médio da EE José Belúcio para a EE Saturnino Leon Arroyo,
que, hoje, conta com atendimento à população oferecendo o Ensino Fundamental Ciclo II, o Ensino
Médio e Ensino de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental e Ensino Médio.
A Escola Estadual Saturnino Leon Arroyo também atende à inclusão de alunos portadores
de necessidades especiais: em 2004, recebeu um aluno deficiente físico dependente de cadeira de
rodas, dois alunos surdos e um aluno com deficiência visual profunda.
Em 2005, foi feita uma parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes
Auditivos de Fernandópolis (APADAF), e a escola recebeu nove alunos surdos. Para a inclusão
desses alunos, foi elaborado um projeto especial envolvendo a escola em pesquisas, entrevistas,
visitas, ações de integração e aprendizagem, que despertou a atenção dos alunos de classes
especiais de outras escolas, os quais migraram para a EE Saturnino Leon Arroyo.
A inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais oportunizou à escola a
premiação no Prêmio Construindo a Nação, promovido pelo Instituto da Cidadania Brasil, no
Destaque Social no estado de São Paulo.

Escola SESI
Com o desejo de estabelecer uma contribuição concreta para a promoção da justiça social e
do bem-estar dos trabalhadores, um grupo de empresários, capitaneado por Roberto Simonsen e
Euvaldo Lodi, se reúne em São Paulo e lança a Carta da Paz Social como primeiro passo para
humanizar as relações entre trabalho e capital, criando atividades de interesse imediato do
trabalhador.
Em 25 de junho de 1946, o Presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra, cria o
Serviço Social da Indústria (SESI). Está lançada a semente de um dos projetos sociais mais
significativos já criados pelo setor privado.
Vinculado à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o SESI paulista
demonstra capacidade da iniciativa privada de edificar o futuro com consciência social e noção de
desenvolvimento. Esse trabalho é feito de modo integrado com o Instituto Roberto Simonsen (IRS) e
o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que compõem a constelação das entidades
máximas do empresariado paulista.
O Centro Educacional SESI – 405 de Fernandópolis realiza atividades educativas, visando a
sociabilizar crianças, jovens e adultos, transformando-os em cidadãos atuantes.
Iniciou suas atividades educacionais em Fernandópolis em 1974, na Avenida Afonso
Cáfaro, no prédio da Igreja Presbiteriana Independente, na gestão de Antenor Ferrari. A unidade
SESI Fernandópolis funcionou, também, na Avenida Américo Messias dos Santos, nº 157 – Centro;
atualmente atende em um prédio próprio, com adequações modernas e com toda tecnologia,
garantindo qualidade, modernidade, eficiência no trabalho. O SESI oferece educação nos três
períodos: manhã, ensino fundamental de 6º ao 9º ano e ensino médio; à tarde, ensino fundamental de
1º ao 5º ano; e à noite, a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A Escola SESI possui um quadro de funcionários e de professores qualificados e oferece
condições para que os mesmos realizem formação semestralmente por área de atuação,
aprimorando seus conhecimentos a fim de proporcionarem aos alunos uma educação que se
aproxima da ideal.
224

Hoje (2012), a escola soma 377 alunos no período diurno e 864 alunos na EJA, período
noturno. A clientela ainda é mista, e aproximadamente 53% dos alunos são beneficiários das
indústrias, ou seja, são filhos (as) de funcionários (as) da indústria contribuinte do SESI.
O Centro Educacional SESI 405 está jurisdicionado à Diretoria de Ensino de São José do
Rio Preto, que conta com 8 unidades escolares, localizadas nos seguintes municípios: Fernandópolis,
Votuporanga, José Bonifácio, Catanduva, Barretos e 3 unidades em São José do Rio Preto. No
estado de São Paulo somam aproximadamente 223 Centros Educacionais e 55 CATs – Centro de
Atividades
O SESI trabalha de maneira que, propondo limites e valorizando atitudes humanistas,
reduza a indisciplina na escola, na família e na sociedade, atingindo, assim, os objetivos de progresso
contínuo e mudanças constantes, para que ocorra uma efetiva e significativa educação.

EE João Garcia Andreo


A Escola Municipal de Ensino Fundamental João Garcia Andreo foi fundada em 1979, por
meio o do Decreto nº 14424 instalada em 1980 com a denominação de Escola Estadual de Primeiro
Grau do Jardim Bela Vista. A escola iniciou suas atividades atendendo 300 alunos de 1ª a 3ª séries
no período diurno e supletivo no período noturno, com seu primeiro diretor o professor Wagner
Cavariani. A escola foi uma extensão da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Saturnino
Léon Arroyo.
Durante muitos anos, funcionou em condições precárias em espaço físico pequeno e
inadequado, com 4 salas de aula e 2 salas onde funcionavam a secretaria, diretoria e sala de
professores, atendendo a alunos de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental nos turnos matutino e
vespertino. Após a reforma e ampliação de suas instalações, a escola conta com 8 salas de aulas, 1
biblioteca, 1 laboratório de informática, 1 sala de direção, 1 sala da secretaria, 1 sala de professores,
1 cozinha, 1 depósito de merenda escolar, 1 depósito de material de limpeza, 1 pátio coberto, 1
quadra de esporte coberta.
No ano 1982, passou a denominar-se Escola Estadual João Garcia Andreo e, em 2010,
com a municipalização, passou a chamar-se Unidade Escolar Municipal de Ensino Fundamental João
Garcia Andreo.
Atualmente, é uma escola de período integral, conta com 201 alunos matriculados e
distribuídos no turno matutino do 1º ao 5º anos do Ensino Fundamental e oficinas no turno vespertino.
A diretora Eliana Bernadete Galvão Marchini assumiu em 2010 e desempenha seu trabalho voltado
para o crescimento da Unidade Escolar.

Escola Estadual Armelindo Ferrari


Criada em 14 de dezembro de 1979 e instalada em maio de 1980, teve como diretora a
professora Dirley Aparecida Malavazi Martins da Silva; atualmente, tem como diretora a professora
Clarice Guarnier Soares e o professor Prof. Adgilson Pereira Machad, como diretor substituto.
Entre os eventos relevantes produzidos pela escola estão: Projeto Mobilização de Pais (5ª
série); Lendo, escrevendo e aprendendo; Carnaval; Comemoração do Dia das Mães; Comemoração
do Dia dos Pais; Dia do Estudante; Projeto Agita Galera; Festa do Sorvete; Feira do Verde; Viagens
Culturais; Festa Junina; Halloween e Culto à Bandeira

Escola Estadual Fernando Barbosa Lima


A história da Escola Estadual Fernando Barbosa Lima teve início na década de 80, com a
necessidade da construção de uma escola no bairro Jardim Araguaia: devido ao crescimento do
bairro, houve um aumento significativo na demanda de crianças em idade escolar para serem
atendidas.
Em 1981, a Lei municipal nº 759 dispunha sobre a autorização para doação de um imóvel
para construção da escola. A escola foi inaugurada sob a denominação Escola Estadual de 1º Grau
Agrupada do Jardim Araguaia e contava com apenas 2 salas de aula de 1ª a 4ª série, sendo 2 turmas
por período. Com o crescimento do bairro, em 1985, a escola foi ampliada para atender a demanda e
passou a se denominar EEPG Fernando Barbosa Lima, em homenagem ao educador Fernando
Barbosa Lima.
225

Atualmente, a EE Fernando Barbosa Lima, ainda em pleno processo de crescimento,


atende aproximadamente a 440 alunos entre Ensino Fundamental e Médio, funcionando nos três
períodos. A escola ampliou o seu atendimento às comunidades Terra das Paineiras, Alto das
Paineiras e, no período noturno, atende aos demais bairros da cidade.
O ano de 2010 foi um marco para a escola. Muitas conquistas nos esportes com medalhas
de ouro no xadrez feminino e masculino, por equipe e individual, e para o voleibol feminino.
Apresentou resultados expressivos na avaliação do SARESP, sendo o 1º lugar na DER de
Fernandópolis e 9º lugar no estado. Conquistas e premiações de 1º e 2º lugares em concursos
estaduais e nacionais de redação e cartazes completaram o sucesso da escola.

Escola Estadual José Belúcio


Em 1987, através do Decreto nº 2662, o governador Franco Montoro decreta a criação da
EEPG do Bairro Santo Antônio agrupada à Escola Estadual Ivonete Amaral da Silva Rosa. A escola
começou a funcionar em 1987, tendo como diretora a professora Diná Maria Belúcio.
Em 1987, passa a denominar-se José Belúcio a então Escola Estadual de 1º Grau do Bairro
Santo Antônio, em Fernandópolis. Com o crescimento significativo da clientela escolar no bairro e
adjacências, houve a necessidade de mudança de endereço e, a partir 1991, a escola passou a
funcionar na Avenida Perimetral Projetada A, no Jardim Residencial Benez (atual Centro Municipal de
Treinamento de Mão de Obra). Em 1993, foi transformada em EEPG José Belúcio.
Novamente, em 1996, a EEPG José Belúcio foi transferida para o prédio do CAIC (Centro
de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), no Bairro Albino Mininel. A Escola Estadual José
Belúcio faz parte do sistema de Ensino da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e tem
como diretor o professor Roberto Alves Gomes e vice- diretora a professora Sônia Lucas.

EMEI Maria Simão


Em 1981, o então Prefeito Milton Edgard Leão, atendendo à solicitação da comunidade de
mães que trabalhavam durante todo o dia, inaugurou a Creche Maria Simão, que, inicialmente,
atendia a crianças na faixa de 2 a 4 anos.
As exigências da demanda escolar aumentaram e tornou-se necessária a construção de um
novo prédio para abrigar as crianças. Coube ao então prefeito Armando José Farinazzo a criação da
Escola Municipal de Educação Infantil Maria Simão (EMEI Maria Simão), que atendia especificamente
alunos na faixa de 5 e 6 anos (Pré-I e Pré-II).
Em 2009, a Unidade passou por nova ampliação para atender a uma nova etapa de ensino,
o 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos. Assim, foi implantado o Ensino Fundamental e alterado o
nome para EMEIEF Maria Simão.

CEMEI Wilson Alves Ferraz


Antes do ano de 1985, as crianças com cinco e seis anos de idade moradoras do Jardim
Araguaia, que necessitavam frequentar a pré-escola, não encontravam no seu bairro um local que
oferecesse condições adequadas para acolhê-las.
Pensando em garantir o acesso dos alunos à escola, o prefeito Newton Camargo de Freitas,
inaugurou, em 1985, a Escola Municipal de Educação Infantil Monteiro Lobato, sita na Rua das
Gralhas, em frente à Escola Estadual Fernando Barbosa Lima. A escola municipal contava com uma
única sala, onde as professoras Maria Aparecida Mantovani e Maria de Lurdes Gregório ministravam
suas aulas, apenas com a ajuda da funcionária Margarida de Oliveira Cabreira.
No local não havia cozinha, e as crianças eram conduzidas à EE Fernando Barbosa Lima
para suas refeições.
Com o aumento da clientela escolar, foi necessário construir um prédio novo para abrigá-la,
o que ocorreu na gestão do prefeito Armando José Farinazzo, em 1998, com o nome de Centro
Municipal de Educação Infantil Wilson Alves Ferraz, no Jardim Terra das Paineiras.
A nova escola recebeu esse nome em homenagem ao senhor Wilson Alves Ferraz,
fundador do bairro Jardim Araguaia, onde a escola foi construída.
Atualmente, a escola atende 217 alunos de seis meses a cinco anos que frequentam a
educação infantil, organizados em catorze turmas: duas classes de Berçário I, duas classes de
Berçário II, três classes de Maternal I, três classes de Maternal II, duas classes de Jardim, duas
226

classes de Pré, e mais quarenta e seis alunos de primeiro ano, organizados em duas classes
pertencentes à EMEF Koei Arakaki. O CEMEI atende, ainda, em período integral, a crianças cujos
pais trabalham o dia todo.

EMEI Dr. Alberto Senra


A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Alberto Senra, no Jardim Ipanema, em
Fernandópolis, tem como mantenedora a Prefeitura Municipal de Fernandópolis. Foi criada por Lei
Federal nº 1238, em 1987, com o nome de EMPG Dr. Alberto Senra, em homenagem a um dos
primeiros médicos de Fernandópolis
A escola foi construída com a finalidade de atender à demanda educacional dos bairros
Jardim Ipanema, Redentor e Paulistano. O atendimento dentro da Educação Básica compreende o
Ensino Fundamental (Ciclo I), funcionando apenas no período diurno; atende, atualmente, 135
crianças de 6 até 14 anos (inclusão). Possui uma classe de 1º ano, uma de 2º ano, uma de 3º ano,
uma de 4º ano e duas classes de 5º ano, funcionando no período da manhã. À tarde são realizadas
as Oficinas Curriculares: cultura e arte/artesanato, esporte e lazer/xadrez, recreação, informática,
leitura, música e acompanhamento pedagógico em matemática.
A Unidade Escolar é dirigida pela Marta Carta Nunes e, na orientação pedagógica, está a
professora Solange Jesus da Costa, ambas com um trabalho articulado com o aprimoramento do
processo pedagógico e, consequentemente, a qualidade do ensino.
O bairro Ipanema é residencial, com casas modestas, feitas de alvenaria, porém a maioria
sem reboco e pintura. Nem todas as ruas são pavimentadas, e o período das chuvas se transforma
em grande obstáculo para a comunidade. Apesar disso, possui água encanada e rede de esgoto. Os
principais meios de locomoção dos moradores são a bicicleta e o ônibus (circular); conta com
algumas indústrias (mesas de bilhar, móveis e telas). O bairro tema com uma Unidade Básica de
Saúde (Postinho – Unidade Base de Saúde) para atender aos moradores. Os pais dos alunos
trabalham em atividades diversificadas e, em sua maioria, não têm registro em carteira.
Pata trabalhar com a comunidade, a escola procura envolver o máximo possível os pais e a
comunidade em geral, uma vez que muitos projetos escolares são desenvolvidos no bairro,
oferecendo informações a familiares e moradores e dando-lhes a oportunidade de participar das
atividades da escola, numa relação recíproca e interativa.

CEMEI Ângelo Finoto


O CEMEI Ângelo Finoto é um centro municipal de educação infantil e atende a crianças de
6 meses a 5 anos em dois períodos, manhã e tarde, parcial e integral. Funciona com turmas de
Berçário I até a Pré-escola, distribuídas em 14 classes, com um total de 223 alunos. Conta com 11
professores, sendo 8 efetivos, 3 celetistas e 2 possuem carga suplementar; 18 funcionários e
auxiliares de sala trabalham para que as crianças tenham um ambiente propício ao seu
desenvolvimento.
O CEMEI Ângelo Finoto está localizado no bairro Pôr do Sol e recebeu seu nome em
homenagem a Ângelo Finoto, morador antigo da cidade.

EMEF José Zantedeschi


Em 2001, entrou em vigor o Decreto nº 4.237 que estabelece a criação dessa Unidade
Escolar com a denominação de EMEF José Zantedeschi, localizado no bairro Bernardo Pessuto e
vinculado à EMEF Koei Arakaki.
Em 2006, iniciou-se a reforma no espaço físico do CEMEI José Zantedeschi, que estava
sob a direção da professora Marli AP. Oliveira Silvestrin de Souza. As classes de Ensino
Fundamental foram transferidas para o CMTMO (Centro Municipal de Treinamento de Mão de Obra),
no bairro Residencial Benez, sem prejuízo do atendimento da comunidade escolar.
Como a demanda escolar aumentou, a escola necessitou de maiores acomodações, cuja
solução veio do CMTMO, que cedeu o prédio para a EMEF. Apesar disso, o espaço físico não foi
suficiente e, em 2007, o CEMEI José Zantedeschi cedeu duas classes em que funcionavam os dois
primeiros anos.
Em 2011, a escola oferecia 14 classes de Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano e uma sala
de Recurso para Atendimento Educacional Especializado aos alunos portadores de necessidades
227

especiais. A escola está sob a direção da professora Roselene Miotto de Abreu e da orientadora
educacional Maria Inês de Jesus Germano.

CEMEI Albertina Roza de Souza Garcia


Com a instalação de novas indústrias no Parque Industrial e o loteamento de muitas áreas
próximas ao Parque das Nações, surgiu a necessidade da construção de um CEMEI para atender a
essa demanda.
Em 1999, iniciou-se a construção do Cemei, na gestão do então prefeito Armando
Farinazzo. Em2001, foi criado e instalado o CEMEI Albertina Roza de Souza Garcia, que iniciou suas
atividades como Centro de Educação Infantil na Rua Itália, Parque das Nações. Seu nome foi uma
indicação do vereador Luiz Pessuto, com o objetivo de homenagear a mulher competente, dedicada e
batalhadora que honrou sua profissão através de suas conquistas pessoais e seus feitos junto à
comunidade
O Cemei Albertina Roza de Souza Garcia ocupa uma área de 1517.50 m² e atende aos
moradores do bairro e circunvizinhos do Parque das Nações, Residencial Liana, Parque Vila Nova,
Jardim Acapulco, Paulistano, Jardim Ipanema, Jardim Morada do Sol, Residencial Hilda Helena,
Parque Industrial, Jardim Santa Bárbara, Vista Alegre, Rosa Amarela, Redentor, Vila Regina e Jardim
Bela Vista, Loteamento Benedito Guedes, Vila Neves, Nova Aparecida, Bom Jesus, Vila São José e
São Lucas.
Atende cerca de 230 alunos, 14 classes, na faixa de 6 meses a 6 anos (Berçário, Maternal,
Jardim e Pré).
As metas propostas pelo CEMEI são alcançadas através de um trabalho que envolve
respeito às necessidades do cuidar e acesso ao conhecimento sistematizado, respeitando as
diferentes fases do desenvolvimento infantil.

CEMEI Profª Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo


Diretora: Yvone Aparecida Cestari
Endereço: Avenida Jacob de Angelis Gaeti, nº 313
Inaugurada em 2003, sob a denominação de CEMEI Pingo de Gente, funcionou nas
dependências da Associação Comunitária Maria João de Deus, no Jardim Ipanema.
Em 2004, passou a chamar-se CEMEI Profª Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo,
homenageando uma das educadoras que mais lutou pela Educação Infantil. A CEMEI atende a 140
crianças de 6 meses a 6 anos de idade, do bairro e dos adjacentes como Jardim Redentor, Jardim
Paulistano, que recebem transporte gratuito oferecido pela Prefeitura Municipal.
A clientela atendida pelo CEMEI é advinda de área urbana e, na sua maioria, da baixa
classe social. São famílias muito numerosas, que procuram a escola em busca de um local onde seus
filhos possam ser cuidados, enquanto saem para trabalhar.
O prédio passou por uma adequação para favorecer um ambiente em que a criança possa
se desenvolver de forma prazerosa e segura.

EMEF Antônio Maurício da Silva


A EMEF Antônio Mauricio da Silva está localizada na na Av. Getúlio Vargas, nº 351, Bairro
São Judas Tadeu, e, atualmente, atende alunos do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental (ciclo I), pois
é uma escola nova que se está estruturando quanto ao atendimento, considerada por pais de alunos
e comunidade como uma escola conceituada pela qualidade de ensino. Localiza-se no bairro próximo
ao frigorifico, atendendo a crianças do bairro e outros próximos como Brasilândia, Jardim Paulista e
Coester.
Possui um total de 98 alunos. A mantenedora é a Prefeitura Municipal, e foi instalada em
2010. Acomoda, em suas dependências, 4 classes com alunos regulares, sendo duas do 1º ano e
duas do 2º ano.
A equipe docente é composta por 4 professores da Educação Básica I e 5 professores
especialistas II. O setor administrativo é formado por 4 servidores: a direção da professora Simone de
Campos Viana, 1 inspetor e 2 funcionários na limpeza e conservação do prédio.
228

Escola ANGLO de Fernandópolis


Em 1984 surge, na cidade, o Curso Cidade de Fernandópolis, transformado no atual
Colégio Cidade de Fernandópolis, bairro Aparecida.
A instituição iniciou seus trabalhos apenas com o Ensino Médio, visando, futuramente, ao
Ensino Superior. Em agosto do mesmo ano, assume a direção do Colégio a Profª. Wônia Aparecida
Franco Gomes. No terceiro ano de sua fundação, com a morte do mantenedor em um acidente,
assume o cargo o Sr. Osvaldo Soler, que altera o nome do colégio para “Escola 22 de Maio”.
Em 1987, é criado o Ensino Fundamental I e II. O material didático utilizado, nessa época,
era o Sistema de Ensino Positivo, que permaneceu até o lançamento do material de Ensino
Fundamental do Sistema Anglo, o qual passou a ser adotado pela instituição.
Em 1996, a instituição passa a ser assumida pelo Sr. Ubaldo Martins e mantida pela
Sociedade Fernandopolense de Ensino e pela Sociedade de Educação e Cultura de Fernandópolis.
Surge o Colégio Cidade de Fernandópolis, que, atualmente, mantém os cursos de Educação Infantil,
Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e Curso Extensivo para vestibulares, conveniados com o
Sistema Anglo de Ensino.
Atualmente, o “Colégio Cidade de Fernandópolis” conta com alunos de Fernandópolis e
cidades circunvizinhas. Valderes Maria Gonçalves está na direção e conta com a assistência de
Maria Aparecida Godoy Seco, coordenadora pedagógica.

Escola OBJETIVO de Fernandópolis.


Sua origem ocorre no ano 1989, e sua fundação, em 1990, mantendo os cursos de Ensino
Fundamental II, Ensino Médio e Pré-vestibular. A escola, hoje, pertence a um grupo de professores,
que adquiriu, em 2010, a Escola FefTeen (então mantida pela Fundação Educacional de
Fernandópolis).
A Escola Objetivo de Fernandópolis ocupa um amplo espaço situado na Avenida
Expedicionários Brasileiros e mantém o Ensino Fundamental e Médio.

Escola COC de Fernandópolis


O Colégio Incentivo COC – Ensino Médio foi implantado em 1990, com a bandeira do
Objetivo. Em 1998, continuou com a mesma estrutura pedagógica, mas mudando para Sistema de
Ensino COC. Seus mantenedores, Célio Casella G. Junior e Helena Maria Pereira Dias Casella, tem
como diretora pedagógica a professora Sibéria Violin. A escola funciona nos três períodos (manhã,
tarde e noite), de manhã e à tarde com o Ensino Médio e, no período noturno, com o curso Pré-
vestibular.
A escola COC se localiza na Avenida Primo Angelucci, no centro da cidade.

Colégio COOPERE
O Colégio Coopere é uma escola criada em sistema de cooperativa, formada por pais do
município. Para o seu funcionamento pedagógico foi realizado um convênio com o sistema
educacional privado ETAPA, atuando tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. Teve
como um dos fundadores o cirurgião dentista Jesiel Bruzadeli Macedo, que ocupou o cargo de 1º
presidente da cooperativa de ensino. Funciona na Avenida Afonso Cáfaro, no Jardim Higienópolis.
Por ser um sistema diferenciado e inédito de organização de ensino até o momento de sua
formação, mantém valores importantes para a formação de crianças e jovens, o que é reforçado
pelos envolvidos.
Em 1991, alguns pais fernandopolenses, em busca de uma alternativa melhor para o ensino
de seus filhos, decidiram criar a sua própria escola. O modelo fora o de uma cooperativa de ensino,
que até então não existia no estado de São Paulo. Hoje, dezenove anos depois, a ousadia desse
grupo é motivo de orgulho para Fernandópolis. O empreendimento teve tanto sucesso que foi copiado
por mais de cinquenta outras escolas. E a trajetória de seus alunos nesse intervalo provou, mais uma
vez, a eficiência da capacidade empreendedora da cidade.
229

O Colégio Coopere, instalado em uma área de 10 mil m2 com muito verde, mantém um
número reduzido de alunos por classe, ensino fundamental sem apostilas, ênfase em leitura e
matemática, participação ativa dos pais; todas essas características dão o tom no ambiente
escolar que busca formar adultos responsáveis e solidários. O comando da escola está com Adriana
Macedo na presidência, Dirce Vieira na direção, Áurea Maria de Azevedo na coordenação do ensino
médio e Elenice Marques Ferreira na coordenação do fundamental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Prefeitura de Fernandópolis está transformando a educação municipal. O resultado já é


visível e teve início em 2009, com o Plano de Ações Articuladas de Educação, que mudou a realidade
das unidades escolares. Veja-se algumas dessas mudanças:
• Enfermeiro: foi implantado em todas as escolas de ensino infantil, para cuidar da integridade e da
saúde de crianças que estão nas unidades escolares;
• Merenda escolar de qualidade: fornecimento diário de merenda escolar de qualidade, em
quantidade suficiente para suprir as necessidades nutricionais durante todo o período em que os
alunos permanecem na escola;
• Cursos de capacitação: visando à qualidade do ensino municipal, um cronograma com diversos
cursos de capacitação dos profissionais da educação inserido no calendário da Diretoria da
Educação;
• Brinquedos pedagógicos: para proporcionar momentos de diversão e despertar a criatividade dos
alunos do ensino infantil e fundamental, foram adquiridos 1500 brinquedos e jogos pedagógicos e
mais 130 livros de histórias infantis;
• Ensino da língua inglesa: no segundo semestre de 2009, a prefeitura inovou ao implantar aulas de
inglês na grade curricular dos alunos do infantil e fundamental. O investimento em 2010 foi ainda
maior com a reforma e ampliação das escolas municipais, compra de novos ônibus escolares;
• Vale Educação: para garantir materiais de qualidade aos alunos da rede municipal de ensino, a
prefeitura lançou o “Vale Educação”. A iniciativa é inovadora e dá direito à família de escolher tanto a
papelaria que mais agrade quanto o material escolar. Os materiais são da melhor qualidade;
• Ensino apostilado: o ensino apostilado foi outra novidade implantada pela prefeitura de
Fernandópolis na volta às aulas. O material didático apostilado foi elaborado por editora especializada
pedagogicamente;
• Uniformes: os alunos da rede municipal de ensino ganharam uma nova coleção de uniforme. Para
as crianças do ensino infantil - que ficam o dia todo na escola -, serão entregues bermudas
camisetas;
• Laboratório de informática: três laboratórios de informática foram inaugurados nas escolas
municipais Coronel Francisco Arnaldo da Silva, José Zantedeschi e Koei Arakaki. Os laboratórios
possuem microcomputadores, lousas digitais e softwares com atividades pedagógicas que facilitam o
aprendizado dos alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. Com a implantação dos três
laboratórios de informática, a prefeitura passou a oferecer ensino 100% digital em todas as escolas
de ensino fundamental;
• Programa Jovem Empreendedor: os alunos da rede municipal de ensino vão destacar-se ainda mais
a partir de agora. A prefeitura lançou o projeto-piloto do Programa Jovem Empreendedor – Primeiros
Passos. O projeto tem parceria com o Sebrae/SP e será oferecido, inicialmente, aos alunos da Emefa
Melvin Jones. A disciplina será inserida na grade curricular do ensino fundamental, visando ampliar o
conhecimento dos alunos quanto à educação empreendedora. O conteúdo será ministrado pelos
professores que já receberam a capacitação do Sebrae. Agora é a vez de os alunos aprenderem, de
forma lúdica, a cultura empreendedora, que fará com que eles lancem um novo olhar para o mundo.
Ao finalizar essa etapa de estudos sobre a educação no município de Fernandópolis, crê-se
que se busque promover uma educação de qualidade a todos os níveis e setores da sociedade.

Colaboração
Marcos Euclides Bonassi
Professor e pedagogo.
Professor na EE Joaquim Antonio Pereira
230

A ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL (ETEC) DE FERNANDÓPOLIS

Autorizada a funcionar em novembro de 2005 e instalada em fevereiro de 2006, quando


começou oficialmente suas atividades com o início das aulas nos cursos técnicos em Administração e
em Informática, a Etec de Fernandópolis foi oficialmente criada pelo então governador Geraldo
Alckmin através do Decreto n. 50.628, de 30 de março de 2006.
As primeiras ações com o objetivo de instalar uma Escola Técnica em Fernandópolis foram
formalizadas através de convênio entre o Centro Paula Souza e a Prefeitura de Fernandópolis, em
que as partes passaram a atuar conjuntamente para viabilizar a Escola hoje existente. Coube ao
governo do estado de São Paulo, através do Centro Paula Souza, disponibilizar o prédio para a
Escola, bem como recursos para reformas para sua adaptação e adequação, além da aquisição de
mobiliário e equipamentos necessários, tendo, ainda, a responsabilidade de contratar docentes e
designar a equipe pedagógica e de instalação. À Prefeitura de Fernandópolis coube disponibilizar
funcionários administrativos e de manutenção, bem assim garantir os serviços essenciais e
responsabilizar-se pelas adequações iniciais do prédio.
O prédio destinado para instalar a escola abrigou, até dezembro de 2005, o CEFAM de
Fernandópolis pertencente à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. No mesmo prédio,
originalmente, funcionava a Escola Sólon da Silva Varginha: trata-se de edificação concebida pelo
arquiteto João Batista Vilanova Artigas, que, recentemente, teve todo o seu acervo de obras tombado
pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico de São Paulo
(CONDEPHAAT), inclusive o prédio de Fernandópolis.
O prédio foi transferido para o Centro Paula Souza em janeiro de 2006 e conta com 16 salas
de aulas (seis delas aptas a abrigar laboratórios diversos) e salas-ambientes, auditório com
capacidade aproximada de 100 pessoas, instalações administrativas e pedagógicas diversas,
cozinha, cantina, sanitários, vestiários e quadra poliesportiva, totalizando uma área construída de
2
2.270 m , em um terreno de 6.924 m2, localizado no Jardim Paulista, região central de Fernandópolis.
As reformas e adequações necessárias para receber os cursos técnicos passaram pela aprovação do
CONDEPHAAT e tiveram início no mês de agosto de 2006.
Em julho de 2011, o governador Geraldo Alckmin inaugurou as novas instalações da Etec,
que dobraram a capacidade de atendimento, com mais 7 salas de aula, auditório, espaço multiuso de
esportes e eventos, novos laboratórios de desenho, de eventos e de gestão, além de oferecer amplo
espaço para a instalação do laboratório-oficina, destinado a atender à nova habilitação técnica
Mecanização Agrícola.
Atualmente, a Etec de Fernandópolis oferece as habilitações profissionais de nível médio
em Administração, Informática, Informática para Internet, Secretariado, Açúcar e Álcool, Marketing,
Jurídico e Contabilidade, distribuídas em 27 turmas nos períodos da tarde e noite, além de oferecer
ensino médio para 6 turmas no período da manhã. A partir de 2012, a escola passará a oferecer a
nova habilitação técnica em Mecanização Agrícola.

O ENSINO SUPERIOR EM FERNANDÓPOLIS

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

Caracterização
A Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF), pessoa jurídica de direito privado, com
sede e foro na cidade de Fernandópolis/SP, foi criada pela Lei Municipal n. 462, de 25/11/76. Com a
anexação de terreno e prédios doados pela Prefeitura em 1986, a Fundação Educacional de
Fernandópolis teve seu endereço alterado para Avenida Teotônio Vilela S/N, Câmpus Universitário.
231

Histórico
Desde meados da década de 1960, o Poder Público Municipal de Fernandópolis mantinha
uma escola (Colégio Comercial) dedicada a oferecer cursos profissionalizantes à população (Lei
Municipal n. 462, de 25/11/1962). Em fins da década de 1970, começou-se a cogitar o
estabelecimento de uma instituição de ensino superior na cidade. Diante disso, houve um avanço na
proposta original, pois, mediante ações da mantenedora (Fundação Educacional de Fernandópolis),
foi promovida a instalação do curso superior de Enfermagem e Obstetrícia de Fernandópolis, em
1984. Com o curso, foram também organizados os primeiros laboratórios do que viria a ser as FIFE:
Anatomia, Microscopia e de Enfermagem.
O início das atividades do curso de Enfermagem e Obstetrícia não implicou o encerramento
da preocupação com a formação profissionalizante até então mantida pelo Colégio Comercial. Muito
pelo contrário, ela continuou a existir, já que tal estabelecimento de ensino foi substituído pela Escola
Profissionalizante Dr. Alberto Senra, autorizada a funcional pelo Parecer CE n. 108/87. Tal com as
FIFE, a Escola Profissionalizante Dr. Alberto Senra passou a ser mantida pela Fundação Educacional
de Fernandópolis. Atualmente, esse estabelecimento de ensino presta serviços importantes à
comunidade local e regional, ao oportunizar uma dezena de cursos, caso de Técnico em Informática,
Técnico em Enfermagem, Técnico em Segurança no Trabalho, entre outros.
Anos após, mais precisamente em 1989, foi criada e instalada a Faculdade de Ciências e
Letras de Fernandópolis, que passou a abrigar cursos de Letras, História e Geografia, postos em
funcionamento em 1990, que ampliam a estrutura e aumentam as possibilidades de crescimento da
Instituição.
Anos após a instalação desses cursos - e justamente em decorrência deles - é que seriam
criados outros dois laboratórios (de Línguas e de Geologia, vinculados aos cursos de Letras e de
Geografia, respectivamente), bem como o Centro de Documentação e Pesquisa (surgido em 2005,
atrelado ao curso de História).
Entre 1984 e 1992, a Fundação atravessa períodos de extrema dificuldade, tanto no setor
administrativo como no pedagógico. Com apenas quatro cursos superiores, sua sobrevivência era
cada vez mais conturbada pela falta de recursos financeiros. Contudo, um ano depois, a Fundação
não só apaga essa imagem, como multiplica seus projetos. De um lado, organiza-se
administrativamente e, de outro, começa a dar ênfase ao campo da cultura, propondo ao Conselho
Estadual de Educação a criação de novos cursos: Ciências Econômicas, Pedagogia e Farmácia -
Habilitação Farmacêutico Bioquímico. Além disso, por proposta da Presidência da Fundação, é criado
o Centro de Aperfeiçoamento e Pós-graduação CAP-FEF e implementado um conjunto de iniciativas
para melhorar a infraestrutura disponível. Por essa época, a Fundação assiste a um novo
reaparelhamento da infraestrutura de suas Faculdades, tendo em vista a criação dos laboratórios de
Pedagogia, Multidisciplinar, de Análises Clínicas e da Farmácia-Escola.
Em 1994, frente à aprovação das propostas de instalação de novos cursos, a unificação das
duas Faculdades já em funcionamento configurou-se oportuna e necessária, resultando na criação
dos Estabelecimentos de Ensino Superior Integrados de Fernandópolis (EESIF), mantidos pela
Fundação. A unificação das duas Faculdades aconteceu mediante Ato Administrativo baixado pela
ex-presidente da Fundação, Dra. Brígida do Amaral Botelho Prudêncio, Portaria FEF n. 76/96,
prevista no Artigo 4º da Lei n. 1984, de 20/12/1994, sendo o referido ato homologado pelo Conselho
de Curadores em reunião de 04 de dezembro de 1996.
Com a unificação das duas Faculdades, foram eleitos um Diretor e um Vice-Diretor
Pedagógico. Para isso, a Diretoria Executiva reuniu-se e elegeu o Professor Durval Aparecido
Ramanholi e Professora Alba Regina de Abreu Lima Catelani, respectivamente Diretor e Vice-Diretora
Pedagógica, que tiveram suas escolhas referendadas na mesma reunião de 04/12/96. Para a
escolha, a Diretoria Executiva baseou-se na Deliberação CEE 05/96, de 27/06/96, e no Regimento
Unificado para os Estabelecimentos de Ensino Superior Integrados de Fernandópolis. A escolha foi
realizada mediante lista tríplice enviada à Diretoria Executiva pelas Faculdades, conforme Ata e
Ofício nº 034/96 e nº 069/96.
Mais do que um registro histórico, a unificação e as formas adotadas para a escolha dos
novos dirigentes acadêmicos revelam traços marcantes da Fundação Educacional de Fernandópolis,
que merecem destaque: a capacidade de planejar para o futuro e o respeito ao profissional
qualificado para o exercício da gestão acadêmica.
232

A demanda por novos cursos leva a Fundação a ampliar seu quadro com a implantação dos
cursos de Tecnologia em Processamento de Dados (1998, transformado em Sistemas de Informação
em 2001), Engenharia de Alimentos (1999) e Fisioterapia (1998). Em abril de 1999, três processos
foram montados e enviados ao Conselho Estadual de Educação (CEE), solicitando a criação dos
cursos de Ciências Biológicas - Modalidade Médica e Licenciatura, Psicologia - Formação de
Psicólogos e Fonoaudiologia, todos autorizados.
Já que tais cursos requeriam determinados laboratórios, investe-se mais ainda em
infraestrutura física e tecnológica. Assiste-se, assim, com a criação desses novos cursos, a
aplicações sensíveis em infraestrutura física e tecnológica (Laboratórios de Informática, Clínica de
Fisioterapia, de Audiologia e de Psicologia, Laboratórios de Produtos de Origem Animal, de Produtos
de Origem Vegetal, de Hidráulica e Fenômenos de Transportes e de Análise Sensorial).
Em 2003, o credenciamento das Faculdades Integradas de Fernandópolis (FIFE), por
transformação da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia e da Faculdade de Ciências e Letras, bem
como a aprovação do seu Regimento Unificado, pela Portaria MEC nº. 3.753, de 12/12/2003,
consolida a inserção da instituição de ensino superior no Sistema Federal de Ensino e põe fim a um
período de instabilidade, quando a Instituição não pertencia nem ao Sistema Estadual nem ao
Federal de Ensino. E isso só foi resolvido mediante ação da Mantenedora junto à Justiça Federal.
A partir de 2003, atendendo às solicitações da Fundação Educacional de Fernandópolis
(FEF), sob a Presidência do Sr. Luiz Vilar de Siqueira, o MEC deliberou atos para a autorização de
Funcionamento dos Cursos de Administração - Bacharelado, com a Habilitação em Marketing,
Engenharia Ambiental, Ciências Contábeis, Terapia Ocupacional, Nutrição, Serviço Social, Química –
Licenciatura, Física – Licenciatura, Matemática – Licenciatura, Educação Física – Licenciatura,
Filosofia – Licenciatura, Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, hoje em plena atividade, com
exceção dos Cursos de Física e Filosofia.
É importante atentar para as consequências positivas que tais cursos geraram, entre outras
coisas, no que se refere à infraestrutura das FIFE. A implantação desses cursos motivou a criação de
espaços técnicos e acadêmicos como: Empresa Júnior, Laboratórios de Mídia, Laboratório de
Resíduos, Laboratório de Solos, Laboratório de Física, Núcleo de Atendimento Social, Rádio e
Televisão, Laboratório de Nutrição e Técnicas Dietéticas, Laboratório de Matemática e Terapia
Ocupacional, Sala de Ginástica Espelhada, entre outros.
A partir da implantação dos seus 32 cursos, as Faculdades Integradas de Fernandópolis
(FIFE) experimentam momentos de crescimento e evolução de desempenho muito positivos, que lhe
conferem a condição de Instituição consolidada em Fernandópolis e na região e que a credencia para
pleitear um novo modelo de organização acadêmica, mais compatível com o atual estágio de
desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão.
Atualmente, além de um projeto educativo bem sucedido, a Fundação Educacional de
Fernandópolis (FEF) não tem descuidado de prover a infraestrutura necessária ao desenvolvimento
acadêmico e à ampliação de sua relação com a comunidade.
2
As Faculdades Integradas dispõem de área física construída que ultrapassa os 20.000 m ,
composta por edificações dotadas de todas as facilidades materiais para proporcionarem ensino de
excelência.
A Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) e as Faculdades Integradas de
Fernandópolis (FIFE) apresentam ao Ministério da Educação proposta de transformação em Centro
Universitário e, para tanto, apresentam o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do Centro
Universitário de Fernandópolis - período 2012-2016, em continuidade à política expansionista do
ensino superior da Instituição na região em que se localiza.
As Faculdades Integradas de Fernandópolis têm como missão a promoção da Educação,
em nível superior, visando à formação de cidadãos imbuídos de valores éticos que, com competência
profissional, possam atuar no seu contexto social de forma comprometida com a construção de uma
sociedade mais justa, solidária e integrada ao meio ambiente. Na missão institucional, três focos
orientam as ações: o primeiro é o da cidadania, entendida como consciência de pertencer a uma
comunidade e também como responsabilidade partilhada; o segundo é o da produção do fazer
científico e tecnológico; e o terceiro é a autonomia intelectual dos alunos, como elemento central e
diferencial para integrar teoria e prática.
233

Para tornar possível a materialização dos compromissos presentes em sua missão,


definiram-se os seguintes objetivos: estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito
científico e do pensamento reflexivo; formar profissionais nas diferentes áreas de conhecimento, com
capacidade de inserção no mundo de trabalho bem como colaborar na sua formação continuada;
incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência,
tecnologia, criação e difusão da cultura, desenvolvendo o entendimento do homem e do meio em que
vive; promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e socializar o saber por meio do ensino, da publicação ou de outras
formas de comunicação; suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização; integrar os conhecimentos adquiridos numa estrutura
intelectual sistematizadora; estimular a reflexão sobre as questões atuais, em particular as nacionais
e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de
reciprocidade; promover a extensão à comunidade, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição; participar
do desenvolvimento social e econômico de Fernandópolis e da região, por meio de programas de
ensino, pesquisa e extensão, que promovam a interação com os diferentes segmentos da
comunidade e respondam às necessidades locais e regionais.
O desempenho da Fundação Educacional de Fernandópolis ao longo de sua existência
merece destaque especial no cenário local e regional. Devem-se aos trabalhos dessa Instituição
inúmeras conquistas, a formação de inúmeros profissionais e a prestação de um número expressivo
de serviços à comunidade. Como se não bastasse, soma-se ao compromisso das FIFE a
manutenção da Escola Profissionalizante Alberto Senra, bem como o Centro de Aperfeiçoamento e
Pós-Graduação CAP-FEF, com a responsabilidade de promover a melhoria da formação dos
docentes das FIFE, bem como organizar cursos de extensão à comunidade, capacitação e pós-
graduação para os egressos e demais interessados.
Atualmente, são os seguintes os cursos das Faculdades Integradas de Fernandópolis
(FIFE), mantidos pela Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF):
234

Cursos Semestres Vagas


Administração (Habilitação em Marketing) 8 50
Ciências Biológicas (Licenciatura) 6 50
Ciências Biológicas – Modalidade Médica 8 50
Ciências Contábeis 8 80
Ciências Econômicas 8 100
Comunicação Social – Jornalismo (noturno) 6 50
Educação Física (diurno/noturno) 6 240
Enfermagem (diurno) 9 80
Enfermagem (noturno) 10 80
Engenharia Ambiental (diurno) 9 50
Engenharia Ambiental (noturno) 10 50
Engenharia de Alimentos (diurno) 10 80
Farmácia (diurno) 9 100
Farmácia (noturno) 10 80
Filosofia 6 100
Física 6 60
Fisioterapia (diurno) 9 100
Fisioterapia (noturno) 10 80
Fonoaudiologia 8 50
Geografia 6 100
História 6 100
Letras 6 100
Língua Espanhola e Respectivas literaturas 6 120
Matemática 6 80
Nutrição (diurno) 8 80
Nutrição (noturno) 8 80
Pedagogia 6 120
Psicologia (diurno/noturno) 10 50
Química 6 80
Serviço Social 8 50
Sistemas de Informação (diurno) 8 40
Sistemas de Informação (noturno) 8 80
Terapia Ocupacional (diurno) 8 50
Terapia Ocupacional (noturno) 8 50
Estética e Cosmetologia 6 80
Gestão Pública 6 80
Logística 6 80
Sucroalcooleira 6 80
Web Design 6 80

Colaborçaão
Roseli Soler Aparecida Bortoloto
235

UNICASTELO FERNANDÓPOLIS

A Unicastelo iniciou suas atividades em Fernandópolis no mês de julho de 1995, com duas
turmas: uma do curso de Agronomia com 50 alunos e outra de Medicina Veterinária com 100 alunos.
Os cursos estavam instalados provisoriamente no câmpus da FEF, que cedeu um bloco para as salas
de aula, secretaria e laboratórios. Também nesse bloco havia uma sala com 18 gabinetes dentários
completos, pois, na época, o presidente da mantenedora, Prof. João Maurício Alves, havia planejado
iniciar o câmpus com o curso de Odontologia, sonho que só se realizou 13 anos mais tarde.
A Direção Geral do câmpus ficou a cargo da Profª Denigrace Barbosa Lisboa, que veio do
câmpus de São Paulo e mudou-se com a família para Fernandópolis. Em fevereiro de 1996, tiveram
início os primeiros cursos noturnos: Administração de Empresas, Comércio Exterior e Ciências
Contábeis.
Em 1997, com o início dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Química e Direito, o
espaço da Fundação já não era suficiente. Para poder alocar aproximadamente 500 alunos, alguns
cursos foram transferidos para a Escola Melvin Jones, instalações originariamente planejadas para
abrigar uma creche.
Em 1998, o curso de Medicina Veterinária precisava iniciar as aulas práticas. Como o
Hospital Veterinário não estivesse pronto, foram cedidas as instalações da Fazenda Brasitália. Em
um antigo armazém de café próximo à via de acesso ao câmpus, os alunos da primeira turma foram
acomodados em uma sala de aula; foram, igualmente, montados os consultórios e laboratórios e,
assim, deu-se início ao atendimento aos pequenos animais.
A estrutura de currais e piquetes foram adaptadas e, assim, trabalhava-se com os animais
de grande porte, realizando aulas práticas e atendimento ao público.
Em 1999, foi concluído pronto o Hospital Veterinário, segundo os próprios professores,
provavelmente, o maior do Brasil em área construída. O início dos atendimentos teve uma grande
repercussão regional: vinham criadores pecuaristas de toda a região, e as aulas práticas produziram
o atendimento itinerante que levava alunos e professores às propriedades rurais.
Em 2000, a Universidade inaugura o complexo de salas de aulas, uma construção integrada
à paisagem rural: 20 amplas salas de aula, direcionadas a um enorme pátio central e localizadas
entre duas matas, recebem os alunos para iniciarem as atividades do Câmpus da Unicastelo
Fernandópolis ou Câmpus VII, como então era chamado. Também nesse ano, foi inaugurado o
Núcleo de Prática Jurídica, com a instalação do juizado especial cível, escritório jurídico e setor de
conciliação, com mais de 6.000 atendimentos gratuitos ao ano.
A grande conquista da Universidade, que muda a economia de Fernandópolis, foi a vinda do
curso de Medicina em 2003. O curso tem seu início após um vestibular em que estiveram presentes
alunos da FAMERP de São José do Rio Preto, tentando tumultuar e anular o processo de seleção da
primeira turma. Posteriormente, o processo seletivo passa a ser realizado pela VUNESP, dando mais
transparência e credibilidade ao vestibular do curso de Medicina.
Em 2007, tem início o curso de Odontologia, e as salas de aula e os seus laboratórios de
atendimento são instalados no Shopping Fernandópolis. A partir dessa estratégia, a população
carente de toda a região passa a receber atendimento odontológico gratuito com aproximadamente
200 pacientes por mês. Todas essas ações colaboraram para que o curso obtivesse, logo em sua
primeira avaliação pelo MEC, a nota máxima.
Em 2008, fica pronta, na Santa Casa de Fernandópolis, a reforma de duas alas destinadas
inteiramente ao SUS e UBS do Jardim Pôr do Sol; também ganha uma reforma e ampliação, com
todas as despesas efetuadas pela mantenedora para receber os alunos do internato e residência.
Em 2010, têm início os cursos de Pós-Graduação, mestrado e doutorado em Engenharia
Biomédica: foi o primeiro curso stricto sensu a ser oferecido por uma instituição particular na região.
Em 2011, o câmpus de Fernandópolis encerra suas atividades letivas com
aproximadamente 3.000 alunos regularmente matriculados. São os seguintes os cursos mantidos
pela Unicastelo:
236

Curso Vagas Período Duração


Administração 50 Noturno 8 semestres
Agronomia 50 Mat./Vesp. 8 semestres
Agronomia 50 Noturno 8 semestres
Direito 60 Mat./Vesp. 10 semestres
Direito 60 Noturno 10 semestres
Engenharia Civil 50 Mat./Vesp. 10 semestres
Engenharia Civil 80 Noturno 10 semestres
Medicina 80 Mat./Vesp. 12 semestres
Medicina Veterinária 50 Mat./Vesp. 8 semestres
Odontologia 40 Mat./Vesp. 8 semestres
Odontologia 40 Noturno 10 semestres
Química (licenciatura) 60 Noturno 6 semestres
CST em Comércio Exterior 50 Noturno 8 semestres
Engenharia Química* 80 Noturno 10 semestres
CST em Logística* 50 Noturno 4 semestres
CST em Secretariado* 50 Noturno 4 semestres
* Cursos que estão iniciando em 2012.
Cursos de Pós-Graduação, mestrado e doutorado, em Engenharia Biomédica, mestrado em Ciências
Ambientais.

A missão da Unicastelo é “oferecer, de maneira crescente e sustentável, educação superior


contemporânea comprometida com a formação de sujeitos éticos, socialmente responsáveis e
profissionais qualificados para o mundo do trabalho e o exercício da cidadania que contribuam para
melhoria da qualidade de vida” (PPI).
O câmpus de Fernandópolis oferece cursos de graduação que contribuem para o fomento
econômico e social da região, além de elevar o nome da cidade em âmbito nacional.

Colaboração
Humberto Cáfaro Filho
Wônia Aparecida Franco Gomes
ESPIRITISMO EM FERNANDÓPOLIS

1 INTRODUÇÃO
Fernandópolis, em sua formação inicial, teve instituída (consensualmente) a religião católica
como oficial. Com o crescimento da cidade e a concepção da liberdade religiosa, começaram a
instalar-se, oficialmente, diversos cultos religiosos, bem como doutrinas ligadas à prestação de
serviços comunitários e orientação espiritual.
Foi nesse contexto que, aos poucos e com a participação de dedicados fernandopolenses,
surgiram os adeptos da doutrina espírita que logo se propagaria sob diversas denominações.

2 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO
Aos 22 de novembro de 1955, um grupo de adeptos da Doutrina Espírita se reuniu na
residência de Sr. Antonio Martins Barbieri, na rua Brasil, nº 1089, em Fernandópolis (SP), para fundar
o Centro Espírita “Pátria do Evangelho”, estabelecendo os estatutos dessa sociedade.
Estavam presentes os seguintes membros: Bento Teixeira do Carmo, Ludovina Teixeira da
Silva, Angelina Grecco Segato, Salistory Lucio de Lima, Antonio Balieiro Pessoa, Arminda Gonçalves
Balieiro, Francisco Martins Fernandes, Maria Dutra de Souza, Antonio Bim, Antonio Lozapio,
Francisco Lozapio, Elza Luiza Mantay, Iracy Chiarello, José Martins Fernandes, Maximiano Dutra,
Zózimo Gonçalves, Leopoldo Ribeiro Aguiar, Rosa Prisca, Vitório Petini, Irinéia Petini e o Sr. Antonio
Martins Barbieri.
A Diretoria ficou assim constituída a primeira Sociedade Espírita: Presidente: Bento Teixeira
do Carmo, Vice-presidente: Rosa Prisca, 1º Secretário: Antonio Martins Barbieri, 2º Secretário:
Zózimo Gonçalves, 1º Tesoureiro: Antonio Balieiro Pessoa, 2º Tesoureiro: Francisco Lozapio; Diretor
de Estudos: Maria Dutra de Souza e Diretor de Assistência Social: Antonio Bim.
Posteriormente, a sociedade passou a ser presidida pelo Sr. Nestor João Masotti, atual
presidente da Federação Espírita Brasileira, sediada em Brasília.
Em 1965, formou-se uma comissão constituída pelos seguintes membros: Nestor João
Masotti, Dr. José Milton Martins, Cel. Benedicto Vicente Mapelli, Geraldo Silva de Carvalho e Bento
Teixeira do Carmo para reformularem os estatutos da entidade, que passou a ser denominada
Associação Espírita Beneficente “Pátria do Evangelho”, constituída pelos departamentos Centro
Espírita “Pátria do Evangelho” e Casa da Criança “Meimei”.
São finalidades do Centro Espírita:
a) Divulgar e levar a Doutrina Espírita à comunidade, por todos os meios, tais como: biblioteca,
livraria, fitateca, feira do livro espírita, exposições doutrinárias, bem como quaisquer outros recursos
de difusão, que estejam sob a anuência desse departamento;
b) Manter cursos de estudos e estimular a prática da Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto:
religioso, filosófico e científico, tendo como base fundamental as obras de Allan Kardec e obras
subsidiárias que não divirjam delas mesmas;
c) Prestar assistência a todos que busquem a Casa Espírita, necessitando do conforto espiritual, sem
quaisquer tipos de distinções.
De acordo com os estatutos da Associação, são suas finalidades:
a) Trabalhar, sem sectarismo pessoal ou de grupo e sem partidarismo político, pela efetivação da
fraternidade humana e pelo conhecimento e prática do bem, do belo, da justiça, do amor e da
verdade, inspirando-se, especialmente, no Evangelho de Jesus;
b) Fundar e manter obras de caráter filantrópico e beneficente de natureza educacional, cultural e
assistencial, tais como as de amparo à infância, à juventude, aos enfermos, à velhice necessitada,
enfim, a todos, assistindo-os sem distinção de classe sexo, cor ou raça, nacionalidade ou religião.
Foi realizada uma festa junina na fazenda Caçula em Meridiano (SP), de propriedade do Sr.
Olívio de Carvalho em 27/06/1970 para levantamento de fundos e aquisição do terreno na av. Primo
Angelucci, onde funcionou o Departamento Casa da Criança “Meimei”, dedicado à assistência social
à infância. Funcionou como Creche, em regime de semi-internato, para crianças carentes de 1 a 8
anos.
Devido a mudanças estabelecidas pela Secretaria da Educação, passou a se chamar Lar
“Meimei”, atendendo a crianças para reforço escolar e berçário, com idades de 1 a 12 anos.
238

Além dessa atividade, há também cursos para gestantes, assistência a famílias e aos mais
diversos atendimentos conforme solicitação.
A partir dessa Instituição, foram-se formando outros grupos interessados em fundar centros
espíritas nos bairros da cidade, tais como:
● Associação Espírita Beneficente “Abrigo aos Aflitos”, situada na av. dos Melros, n° 206, no
bairro Jardim Araguaia.
Participaram da Assembléia da fundação da entidade as seguintes pessoas: Otacília Duarte
Vieira, Anna Zendron de Figueiredo, Nair Enedina de Jesus, Carlos Antônio Marques Dias, Ana Maria
Piva, Anselmo Roberto Barreto, Aurizia Teixeira Charmone, Antônio Balieiro, Herculano Rocha Neto,
Danilo Alves de Lima, Creusa Honório de Jesus, Benedito de Oliveira, Antônio Martins Barbieri,
Antônia do Amaral Terra Ferraz, Etelvino Francisco de Oliveira, Ernesto Dias, Vicente de Paulo
Gonçalves e Lazara de Souza Carneiro.
A Diretoria dessa Instituição, fundada em 10/06/1979, constou dos seguintes membros:
Presidente: Raimundo de Souza Medrado, Vice-presidente: Quirino Cesário Vieira, 1ª Secretária:
Valdenira Custódio Medrado Dias, 2ª Secretária: Zenith Zendron de Figueiredo, 1º Tesoureiro:
Marcilio Vilela Ogel, 2º Tesoureiro: Aparecido Duarte Vieira e Bibliotecária: Hermenegilda Rodrigues
de Almeida.
Além das atividades doutrinárias normais, há um trabalho de assistência social voltado para
a infância carente.
Em 10 de junho de 1979, foi igualmente fundada a Casa da Criança “Auta de Souza”, com a
finalidade de atendimento às famílias carentes e respectivas crianças.
● Associação Espírita Beneficente “André Luiz”, sediada na Rua Guilherme Bim, nº 150 no bairro da
Brasilândia.
Foi idealizada pelo Sr. Zózimo Gonçalves na década de 40, quando ele e sua esposa D.
Amélia vieram residir naquele bairro. Frequentou inicialmente o Centro Espírita “Pátria do Evangelho”,
juntamente com Sr. Bento Teixeira do Carmo. Em função das dificuldades de locomoção daquele
bairro, decidiu fundar um grupo denominado Centro Espírita “Fé, Amor e Caridade”, funcionando até
meados de l954, na Av. Vinte e Nove, nº 710, atendendo aos moradores do bairro e da zona rural.
Na década de 70, morando no estado do Paraná, Zózimo manifestou ao seu filho Edegardo
o desejo de retornar a Fernandópolis e, por volta de 1986, formou um grupo de mulheres lideradas
por D. Amélia, dando assistência aos necessitados e, em 09 de outubro de 1989, fundou-se a
Associação Espírita “André Luiz”, conforme consta nos atuais estatutos da sociedade.
Além das atividades doutrinárias realizadas durante a semana, a entidade, aos sábados,
distribui a sopa fraterna e cestas básicas.
● Associação Espírita Beneficente “Missionários da Luz”: fundada em 07 de fevereiro de 1985 com o
nome Centro Espírita “Luz”, situada na Rua Argentina, nº 180, Parque das Nações, tendo como
presidente D. Laíde Sango de Oliveira e vice-presidente D. Maria Aparecida Manselha.
Em março de 1985, a diretoria resolveu modificar o nome para Instituição Espírita “Luz”. No
período de 1986 a 1993, foi presidente o Sr. João Batista Domiciano; em 1989, a instituição mudou-
se para a rua Itália, nº 80, Jd. Acapulco, onde permanece até hoje.
Em 21 de novembro de 1993, Wilson José Granella assume a presidência e, em 13 de
agosto de 1999, é criada a Associação Filantrópica “Henri Pestalozzi”, que atende na área de
Assistência Social.
Em 15 de dezembro de 1999, a Instituição passa a chamar-se Associação Espírita
Beneficente “Missionários da Luz”, e, em 14 de abril de 2000, muda o nome novamente para
Associação Espírita “Missionários da Luz”.
A partir de 2004, a Pestalozzi abriga o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETEI).
Outras instituições viriam a se formar:
● A Associação Espírita Amantes da Verdade – Jesus e Kardec;
● Grupo Espírita do Caminho Associação Espírita Beneficente “Encontro da Paz”;
● Associação Espírita Beneficente “Caminho da Esperança” – iniciou suas atividades em maio de
2005, com o estudo doutrinário, sob a inspiração da Sra. Ana Jaicy Guimarães, escritora e oradora,
divulgadora da doutrina espírita e dirigente do Grupo Caminho da Esperança na cidade do Rio de
Janeiro;
239

● Núcleo Espírita “Adolfo Bezerra de Menezes”;


● Centro Espírita “Allan Kardec”.
Existem, ainda, alguns centros fundados em cidades vizinhas para os quais foi dada
assistência e orientação (Pedranópolis, Macedônia, São João das Duas Pontes, Meridiano e outros).
Além das atividades assistenciais que, praticamente, todos realizam, desenvolve-se
também o trabalho de assistência espiritual reconfortando pessoas em situações complexas (perdas
de entes queridos, enfermidades, perdas financeiras, desequilíbrios psíquicos, vícios, problemas
familiares etc.).
Nas reuniões públicas, são realizadas palestras de cunho evangélico e doutrinário,
transmitidos passes espirituais ou tratamentos específicos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, os grupamentos espíritas, basicamente, têm suas atenções voltadas para a
prestação de serviços assistenciais, além de prestarem orientação espiritual a adeptos da
comunidade.
A assistência espiritual continua sendo a essência da doutrinação espírita, levando conforto
a pessoas em situações de dor e desamparo. Simultaneamente, as instituições espíritas, como um
todo, se voltam também para a assistência material aos menos favorecidos, em especial à infância
carente, desprotegida ou em situação de risco.

Colaboração
Associações Espíritas
ANTIGAS VIAS DE COMUNICAÇÃO E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO NOROESTE
PAULISTA

Wilie Schio Barbosa118


Adauto Donizete Cassimiro

1 INTRODUÇÃO
Historicamente, o noroeste paulista é uma região de ocupação recente, cujo processo
se deu por meio de duas fronteiras - demográfica e econômica -, por meio de uma frente
pioneira de expansão em busca de uma economia lucrativa, que via, no plantio do café, na
pecuária (escoamento de bovinos para o abastecimento de frigoríficos paulistas) e na
policultura fontes de riqueza que garantissem maior rentabilidade e transformasse o sertão de
São Paulo em um centro economicamente ativo. Tal centro ganhava outros mercados
consumidores em estados vizinhos, com a expansão da malha ferroviária e a incorporação
crescente de novos espaços à economia paulista. Esse fato acelerou o surgimento de cidades
e mudou o panorama do interior com a criação de vários municípios, além de desenvolver
grandes centros urbanos regionais, como São José do Rio Preto.
Visando à ocupação do interior e à produtividade, o governo incentivava as pessoas a
comprarem as então terras devolutas, barateando-as e possibilitando a especulação agrária.
A demarcação das glebas no extremo noroeste paulista decorreu do avanço da
fronteira agrícola, que tinha, nessa região, uma nova área para o cultivo do café, uma vez que
outras áreas no estado de São Paulo já apresentavam desgaste pelo uso excessivo do solo na
cultura cafeeira, além da valorização de terras que levou à sua especulação.
Para se estabelecer nas regiões do extremo noroeste paulista, era necessária a
abertura de estradas, que facilitassem a locomoção de pessoas e o escoamento de produtos
para outras localidades, revelando uma necessidade defendida, desde 1867, por Alfredo
d’Escragnolle de Taunnay: a abertura de uma estrada oficial de Jaboticabal até as barrancas do
rio Paraná, no Porto do Taboado (figura 1)

Figura 1 Estrada visualizada por Visconde de Taunay.


Fonte: Adauto Donizete Cassimiro, 2012. (Acervo particular)

118
Wilie Schio Barbosa, professor de História, responsável pela pesquisa e redação; Adauto Donizeti
Cassimiro é colaborador na produção do artigo.
241

Essa constatação do então Visconde de Taunnay abriu caminho para as discussões


que permeavam a criação de circuitos que possibilitassem o estabelecimento de comunicações
de São Paulo com os estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, com o intuito
principal de se estabelecer uma ligação estratégica de comércio e defesa brasileira na Guerra
do Paraguai, permitindo, posteriormente, sua utilização na Revolução Constitucionalista.

2 A ESTRADA DO TABOADO: ORIGEM E EVOLUÇÃO


O primeiro trecho da Estrada do Taboado foi construído em 1882 na cidade de
Jaboticabal. De início, ligava a localidade a São José do Rio Preto, servindo de artéria para o
deslocamento no transporte de bovinos, aos abatedouros localizados em Barretos e às outras
“estradas boiadeiras”, conhecidas como “picadas”, por serem rudimentares.
As ideias para retomar as obras da construção da Estrada do Taboado a partir de São
José do Rio Preto em direção ao Porto do Taboado começaram a ser discutidas com mais
veemência somente em 1895, tendo sido uma expedição de reconhecimento geográfico
organizada pela equipe do engenheiro Olavo Hummel, atendendo à necessidade de
comunicação dos interesses comerciais da Secretaria da Agricultura, Comércio e obras
públicas para a referida região.
O interesse pela abertura de novos meios de comunicação (estradas ordinárias), em
especial a Estrada do Taboado, proporcionou um encurtamento das distâncias, fácil e barato
abastecimento da região por onde a estrada passaria, prestando serviços ao povoamento de
extensas e férteis zonas do sertão, ainda desaproveitadas (Jaboticabal ao Porto do Taboado).
A região de Santana do Paranaíba (MS) era grande criadora de bovinos, os quais
partiam dali atravessando o Porto do Taboado por meio de balsa particular, pelo rio São José
dos Dourados e Paraná (com 8 metros de profundidade no lugar mais fundo, com águas
regulares), cruzando as divisas e abastecendo os frigoríficos no estado de São Paulo.
Antes, para o gado chegar a São Paulo, tinha de seguir via Uberaba-Barretos, porém,
tal empreendimento não compensava, pois havia a cobrança de impostos na passagem fluvial:
Paranaíba e Grande. A viagem era muito mais cansativa, tanto para os boiadeiros que
executavam a travessia, como para as boiadas que, muitas vezes, não completavam a viagem,
devido ao seu desgaste, pois tinham que dar uma volta maior pelo Triângulo Mineiro; acontecia,
também, perderem-se boiadas inteiras nas travessias fluviais pelo rio Paranaíba, no porto
Alencastro.
Além disso, os criadores santanenses preferiam a Estrada do Taboado que permitia a
travessia, mesmo em épocas de enchentes. A Estrada do Taboado, com destino a Barretos,
visava principalmente ao mercado de gado, oferecendo aos pecuaristas de Santana do
Paranaíba (MS) a economia de um dia de viagem em relação à estrada de Uberaba (MG).
Santana do Paranaíba foi de suma importância para que houvesse maior dinamização
de pessoas, do comércio de gado e outros produtos: liga a Estrada do Taboado às estradas de
diversas regiões como Abóboras (Dores do Rio Verde/Goiás), Campo Grande de Vacaria/Mato
Grosso do Sul, Uberaba/Minas Gerais e Jatahy/São Paulo.
O município de Santana do Paranaíba possuía grande quantidade de pastagens para
invernada, cortado dos grandes rios e fazendas de criação “calculando-se a exportação anual
em 15 a 20 mil reses só da comarca de Sant’Anna, bastante grande.”
As dificuldades existentes em toda a extensão da estrada eram muitas. Dentre elas,
podem-se destacar os problemas acarretados pelas enxurradas nas descidas dos córregos e
rios que abriam sulcos profundos na terra, atolando muitos carros e atrapalhando o trânsito,
pois muito do traçado da Estrada do Taboado localizava-se próximo ao leito dos rios. Para
evitar esses e outros problemas, a comissão Hummel verificou a importância no alargamento
de 10 metros da estrada.
Além do alargamento da estrada para controlar melhor os efeitos das enxurradas,
pouco trabalho se teria na roçada, pois a metade da estrada não estava em mata; também era
necessária a construção de pontes menores em toda sua extensão, aproveitando o leito dos
ribeirões e córregos para as passagens e, principalmente, evitando-se que os moradores
fizessem mudanças e/ou reformas físicas na estrada.
242

Segundo o relatório de 1895, o serviço poderia ser executado por empreitadas


parciais ou por turmas de trabalhadores sob a responsabilidade de feitores, que gerenciassem
a alimentação, efetuação de pagamentos mediante o livro ponto e zelassem também pela
saúde e segurança no trabalho, uma vez que, principalmente na zona despovoada (de São
Jose do Rio Preto ao Porto do Taboado), existiam ocorrências de malária e febres palustres, e
se deveria se aproveitar o tempo da seca para a execução do serviço.
Em exposição ao governador do estado de São Paulo, a Secretaria da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, em nome de Theodoro Dias de Carvalho Junior, solicita ao Poder
Legislativo a decretação de uma lei especial autorizando o governo liberar capital para a
abertura da estrada, abrindo créditos até o limite da quantia, à medida que o serviço fosse
realizado.
Inúmeras vezes a Câmara Municipal de São José do Rio Preto exigia a continuação
das obras e os melhoramentos na estrada. Em 1897, o engenheiro Ugolino Ugolini lamenta a
interrupção dos trabalhos da estrada e suas consequências, apresentando sugestões que
pudessem preservar os interesses econômicos do município e região.
Enquanto a solicitação de reparar o trecho da estrada de Rio Preto a Jaboticabal não
era atendida pela Secretaria da Agricultura, a solicitação de reformar, concertar e abrir atalhos
no trecho de Rio Preto ao Taboado também era negada. A partir dos investimentos particulares
na estrada, a Câmara Municipal de Rio Preto propõe a continuidade dos serviços para a
abertura da estrada, desde que o estado concedesse um auxílio de crédito para a execução da
obra (concessão que foi atendida com o recebimento de dinheiro do governo).
A Câmara Municipal preocupava-se com os reparos e melhoramentos na estrada, que
interferia diretamente nos interesses econômicos que beneficiariam Rio Preto com a criação de
gado e o plantio de café.
Dessa forma, a Câmara aliava seu discurso a uma preocupação com diversos tipos
de produtos que alavancavam economicamente a região: o plantio de cereais, aguardente tanto
de Rio Preto como de Barretos, mostrando o quão importante significava a estrada do Taboado
para a região noroeste paulista.
Os jornais de 1912 em Rio Preto, em especial, A Cidade, alertavam as autoridades
rio-pretenses para que se preocupassem com as medidas do governo estadual, pois o ponto de
convergência da estrada seria Barretos, atendendo às necessidades da Companhia Frigorífica
Anglo:

Há tempos, dando uma notícia relativa ao mau estado da estrada desta


cidade ao Taboado, salientamos a necessidade dos poderes municipaes
envidarem esforços junto ao governo do Estado para fazer-se os concertos
geraes, abertura de atalhos etc. e denunciamos o intuito da Companhia
Frigorífica de Barretos de ligar as suas propriedades em Viradouro e
adjacentes ao município cuja sede funciona. Não nos consta que fosse até o
presente encetado qualquer serviço de reparação ou melhoramento dessa
importante estrada.
Sabemos, entretanto, que o Congresso Estadual votou uma verba de 30 ou
35 contos para que seja Barretos o ponto convergente da estrada e não Rio
Preto, como até aqui tem sido.
Insistimos: é necessário que a nossa edilidade esteja alerta, para impedir que
o nosso município seja prejudicado com as pretensões da Frigorífica e do
vizinho município. (A CIDADE, 191, p. 2)

A demanda por melhores mercados para seus produtos foi o que moveu a busca de
uma travessia sem perigos para as boiadas que vinham de Mato Grosso do Sul e Goiás para os
comerciantes paulistas (figura 2). Assim, tanto a Estrada do Taboado (que partia de
Jaboticabal, passava por Olímpia, São José do Rio Preto, Mirassol, Tanabi até chegar ao Porto
do Taboado) como outras “boiadeiras” tinham a mesma finalidade: dar passagem para o gado
(digura 3), contribuindo para que surgissem pequenos povoados e vilarejos, a exemplo de Vila
Carvalho, localizada no município de Votuporanga, sendo durante muito tempo um próspero
243

povoado que foi um “centro boiadeiro e do criatório regional foi, aos poucos, desaparecendo,
esmagada pelo latifúndio e pela decadência da Estrada Boiadeira”. (COSTA, 1979, p. 46)

Figura 2 Comitivas de boiadeiros que conduziam o gado para o primeiro


frigorífico da América Latina em Barretos
Fonte: Adauto Donizete Cassimiro, 2012. (Acervo particular)

Figura 3 Boiadeiro Waldemar Lopes da Silva,


com seus trajes típicos - 1960.

Somado à atividade cafeeira, ao trabalho com a pecuária e à suinocultura à margem


da estrada, sentiu-se a necessidade da atividade dos retireiros, carreiros, vaqueiros,
abatedores de animais e lavradores que tinham suas peculiaridades em cada região ao longo
da Estrada do Taboado. Além disso, pensões, cabarés, formadores de invernadas e
estabelecimentos comerciais para fornecimento de cachaça, pólvora, munição, fumo e tecido
foram de suma importância para uma diferente dinamização social.
Já a lida com a suinocultura merecia destaque tanto quanto a criação de gado bovino
e a agricultura, responsável que era pelo sustento de inúmeras famílias. Muitas criações de
porcos eram transportadas pela estrada, visando ao consumo da carne, sangue, couro, miúdos,
gordura, pés e vísceras, complementos da alimentação cotidiana.
Além da importância econômica da Estrada do Taboado, pode-se destacar também a
importância cultural que serviu para miscigenar costumes, crenças e tradições de povos
dedicados à atividade da agropecuária:
244

Povos que passaram a receber e a repassar experiências; absorver termos


linguísticos e expressões para danças, folguedos e folias como cateretê,
catira paulista, folia mineira, festa do Divino, dança de São Gonçalo, reisado
etc. (SEIXAS, 2003, p. 23)

Na década de 1920, o advento do automobilismo influenciou diretamente nas


características da Estrada do Taboado, onde o transporte em carros de boi, cavalos e mulas
passou a conviver lado a lado com a realidade moderna dos automóveis, caminhões e
jardineiras. Tal realidade foi estabelecida a partir de uma lógica capitalista que visava à
obtenção de maiores lucros no escoamento de produtos, comparados aos períodos anteriores.
A economia favorecida pelo desenvolvimento da Estrada do Taboado era bem
diversificada; de qualquer modo, a estrada continuava um problema para o transporte de
mercadorias e pessoas:

Basta referir que, em 1906, já se encontrava arruinada e, não obstante


reformas de emergência, foi sempre, até hoje, abandonada pelos poderes
públicos e, afinal, condenada ao desaparecimento depois de ter prestado
assinalados serviços principalmente no transporte de imensas boiadas
provindas dos estados centrais. Pirambeiras, declives e precipícios tornam
difíceis e até impossível o trânsito na velha pista de gado também conhecida
por Boiadeira. (OLIVEIRA, 1977, p. 23)

Uma intensa movimentação em torno da questão produtiva da terra, somada aos


preços baixos, forneceu motivos suficientes para diversos anúncios em jornais de compra e
venda de terras para o plantio de determinadas culturas, principalmente para a cafeicultura,
contribuindo para ocupar e conectar regiões.
Assim, destacamos dois fatores de integração que, lado a lado, foram de suma
importância para a ocupação e o crescimento urbano no interior paulista: o transporte
ferroviário e o rodoviário.
Com o incremento do transporte ferroviário e a presença de uma massa de mão de
obra estrangeira, o café e outros produtos invadem o interior paulista, multiplicando núcleos
populacionais em locais pouco habitados e incrementando cidades até então pouco
expressivas. À medida que se ampliava a capacidade produtiva, tais elementos passaram a
induzir, crescentemente, o surgimento de atividades tipicamente urbanas, como a industrial
(beneficiamento do café e outras culturas agrícolas); a expansão do sistema bancário (taxas
elevadas no saldo da balança comercial interna e externa, políticas tarifárias, monetária e
cambial); escritórios, armazéns, transportes urbanos, comunicações (portos, estradas), além do
comércio, que era privilegiado pelo crescente mercado consumidor de assalariados.
Antes da Estrada de Ferro Araraquarense (EFA) chegar a Rio Preto (1912), o
município direcionava, por meio de estradas de rodagem, sua produção agropastoril para os
limites dos rios Paraná e Grande, promovendo um intercâmbio com o Mato Grosso. Porém, a
partir do advento ferroviário, tanto o município quanto a região se expandiram economicamente.
Os trilhos da Estrada de Ferro Araraquarense ficaram parados durante dezenove
anos em Rio Preto, até que, em 1931, por ordem do interventor federal, os trilhos
prosseguissem para Mirassol (1933), Votuporanga (1945), Fernandópolis (1948) e, depois de
muitas discussões e controvérsias, até as barrancas do rio Paraná em 1952.
Por onde os trilhos da Companhia de Estrada de Ferro Araraquarense passassem,
benefícios para o sertão da Araraquarense eram conseguidos, pois atraíam capital, pessoas e
produtos de maneira instantânea.
Já o transporte rodoviário veio para substituir as ferrovias, com a diferença de que seu
crescimento era mais lento e gradativo. No lugar de caminhões-gaiolas, carros de boi, trens,
troles etc., surgem os automóveis, os caminhões e as jardineiras (ônibus da época) para o
transporte de cargas e passageiros, acompanhando as inovações tecnológicas advindas de um
mundo capitalista e globalizado que possibilitam entregar mercadorias em tempo mais curto se
comparado com os comboios ferroviários.
245

O processo de ocupação de Fernandópolis é diferente em comparação com as


cidades do complexo cafeeiro da região de São José do Rio Preto, pois, aqui, não só havia
pessoas interessadas no cultivo do café, mas também na pecuária, policultura etc.
Além disso, o fator primordial para o desenvolvimento das cidades circunvizinhas a
Rio Preto foi que, antes da própria ferrovia, as cidades já contavam com um sistema viário de
integração, o qual possibilitava um maior desenvolvimento dessa região, e isso se deve ao
antigo sistema da Estrada do Taboado e suas adjacências, que tinha sua comunicação
estratégica de abastecimento de gado com outras regiões do interior de São Paulo, além de
manter um circuito que se integrava com os estados do Mato Grosso e Minas Gerais. A partir
do momento em que os trilhos da ferrovia Araraquarense são prolongados, adentrando no
sertão de São Jose Rio Preto, a região adquire um caráter expansivo em sua demografia e
economia, além de novos valores socioculturais, garantindo uma fundamental importância para
o sistema viário do noroeste paulista: estradas de rodagem e ferrovia.
Dada à sua importância histórica, como a via por onde se deu os primeiros passos
para o desbravamento e urbanização do noroeste do Estado de São Paulo, a região foi
mobilizada, constituindo-se uma Comissão Oficial, visando resgatar e registrar a história da
Estrada do Taboado( Estrada Boiadeira), as culturas sertaneja e dos boiadeiros e sua tradicão,
“causos”, crenças, comida etc., bem como lutar pela sua preservação e valorização, através do
Projeto Renascer da Boiadeira. Para tanto, em 2001 foi realizada a Primeira Cavalgada, de
Paranaíba(MS) até Barretos(SP), passando por 25 municípios que fazem parte do traçado
original da estrada. Posteriormente, foi dada continuidade às Cavalgadas em 2002 2003,
seguindo-se o mesmo percurso, tendo sido escolhida a cidade de Fernandópolis como a sede
organizacional do evento. A Comissão era constituída por Genésio Mendes Seixas, de Jales,
Adauto Donizeti Cassimiro e Adalberto Lopes da Silva, de Fernandópolis, Eli Aparecido Leite,
de São José do Rio Preto, Waldemar Lopes da Silva, de Cosmorama, Jorge Luís Xavier de
Souza, de Votuporanga, e Dr. Agnaldo José de Góes, de Tanabi.

Logomarca do Projeto; criação João Batista Bôer( Tuti)

REFERÊNCIAS

A CIDADE, Jornal. Ed. de 11/05/1912, n. 48, p. 2.


BARBOSA, W. S. As vias de comunicação do noroeste paulista e as transformações no sertão
de Rio Preto. Monte Aprazível, 2010.
COSTA, E. C. Votuporanga, um milagre paulista. Votuporanga: Tamoio, 1979.
OLIVEIRA, S. A. Subsídios para a história de Tanabi. São Paulo : Grafik, 1977.
RELATÓRIO apresentado pelo engenheiro Olavo A Hummel ao diretor da Superintendência de
Obras Públicas, 1895.
SEIXAS, G. M. A Estrada Boiadeira. Jales, 2003.
246

EVOLUÇÃO DA PAISAGEM DO MUNICÍPIO DE FERNANDÓPOLIS (SP)

Luiz Sérgio Vanzela119

1 INTRODUÇÃO
Esta seção descreve como é e como evoluiu a paisagem do município de Fernandópolis,
desde sua fundação em 1944, sendo, para isto, subdividido em quatro itens.
O primeiro item traz a “Localização e Características de Fernandópolis” e tem por objetivo
caracterizar, sobretudo, aspectos dos recursos naturais do município, tais como características
edafoclimáticas, do relevo e dos recursos hídricos superficiais. Para tanto, foram utilizados dados
cartográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Imagens do Radar ASTER
(Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer), de resolução espacial de 30
metros, de propriedade da NASA (United States National Aeronautics and Space Administration) e da
METI (Ministry of Economy, Trade, and Industry of Japan), além de dados de pesquisa do instituições
nacionais e de trabalhos de conclusão de cursos da UNICASTELO e da Fundação Educacional de
Fernandópolis.
O segundo item, “Histórico dos Limites Municipais de Fernandópolis”, tem como objetivo
descrever e identificar a evolução dos limites territoriais do município desde a sua fundação em 1944.
Para este item, além da base cartográfica vetorizada do IBGE que foi utilizada para definir os limites
municipais, também foi utilizado o seu acervo de documentação territorial dos municípios.
Os terceiro e quarto itens, “Evolução da Área Urbana de Fernandópolis” e “Evolução da
Área Rural de Fernandópolis”, têm como objetivo apresentar as principais modificações ocorridas no
uso e ocupação do solo nos últimos 30 anos. Cabe ressaltar que essa análise foi realizada somente
com o auxílio dos seguintes materiais: (1) fotografias aéreas realizadas nos dias 31 de julho e 28 de
agosto de 1979, pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) (folhas 01-2559 a 01-2570, 02-
2547 a 02-2556, 03-2523 a 03-2531, 04-5749 a 04-5756, 05-5723 a 05-5730); (2) fotografias aéreas
realizadas em outubro de 1985, pelo Instituto de Geografia e Cartografia (IGC) (folhas 8-26 a 8-31, 9-
27 a 9-31, 10-29 a 10-33, 11-32 e 11-33, 11A-01 a 11A-05, 12-32 a 12-37, 13-37 a 13-40, 14A-04 e
14A-05, 15-30 e 15-31); (3) imagem do satélite LANDSAT 1, sensor MSS, bandas 4, 5 e 7, de
resolução espacial de 80 m, com data de 20 de agosto de 1973, disponível no banco de dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); (4) imagens do satélite CBERS 2B, sensor HRC,
com data de 11 de setembro de 2008; (5) imagens de satélite disponíveis no software Google Earth,
versão 6.1.0.5001. As fotografias aéreas foram digitalizadas com o auxílio de escâner. Em seguida,
tanto as fotografias digitalizadas como as imagens de satélite, foram todas georreferenciadas no
Datum SIRGAS 2000.
Somente foi possível concluir esse capítulo com o auxílio dos professores Amadeu Jesus
Pessotta (que proporcionou a oportunidade) e José Alberto Felipe Basílio (que cedeu as fotografias
aéreas antigas). Também foi auxiliado pelos Engenheiros da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI) do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Fernandópolis, Carlos Roberto de
Oliveira e Mauro Macchi, que auxiliaram na identificação de algumas culturas. Outras importantes
instituições que contribuíram indiretamente para este trabalho foram a Unicastelo e a Fundação
Educacional de Fernandópolis.

119
Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2001.
Mestre em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2004. Formação
Continuada em Georreferenciamento de Imóveis Rurais pela Faculdade de Agrimensura de Pirassununga
(FEAP) em 2005 e credenciado no INCRA para serviços de Georreferenciamento de Imóveis Rurais. Doutor em
Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2008. Atualmente, é professor do
Curso de Graduação em Agronomia e Coordenador do Curso de Pós-Graduação Mestrado em Ciências
Ambientais da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO) de Fernandópolis; é professor do Curso de
Graduação em Engenharia Ambiental e Coordenador Geral do Departamento de Pós-Graduação, Pesquisa e
Extensão da Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) e consultor e responsável técnico da Empresa
Agroprecisão Engenharia e Georreferenciamento Ltda. de Ilha Solteira (SP).
247

2 LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE FERNANDÓPOLIS


O município de Fernandópolis abrange uma área total oficial de 550.033 km2 (55.003,3 ha),
localizada no Noroeste paulista, com a área urbana situada nas coordenadas 20°17’00” Sul e
50°14’54” Oeste (Datum SIRGAS 2000) (figura 1).

7.779.384,961 m
SP
527

560.886,192 m
MACEDÓNIA

SP
543

FERNANDÓPOLIS

2 USINA
ALCOESTE

FERNANDÓPOLIS

590.474,325 m
USINA
MERIDIANO 3

7.735.275,820 m

Figura 1 Localização do município de Fernandópolis (SP).

O clima da região de Fernandópolis, de acordo com a classificação de Koppen, é


subtropical úmido, Aw, com inverno seco e ameno e verão quente e chuvoso (ROLIM et al., 2007). De
acordo com o balanço hídrico climatológico normal ponderado do município de Fernandópolis, a
precipitação média anual é de 1321 mm, com 8 meses de deficiência hídrica e o mês de agosto o de
maior déficit hídrico (tabela 1).

Tabela 1 Balanço hídrico climatológico normal ponderado para o município de Fernandópolis (SP)
P ETP ARM ETR DEF EXC
Mês
(mm)
Jan 240 158 100 158 0 83
Fev 196 137 100 137 0 59
Mar 164 136 100 136 0 27
Abr 78 105 76 102 4 0
Mai 56 74 64 68 5 0
Jun 28 64 44 47 17 0
Jul 15 67 26 33 34 0
Ago 16 90 12 30 61 0
Set 58 115 7 63 52 0
Out 117 153 5 119 34 0
Nov 138 148 4 138 10 0
Dez 215 161 59 161 0 0
Total 1321 1409 - 1192 217 169
OBS: P (precipitação média); ETP (evapotranspiração potencial); ARM (armazenamento de água no solo); ETR
(evapotranspiração real); DEF (deficiência hídrica de água no solo); EXC (excedente hídrico).
Fonte: Lima et al., 2009.
248

De acordo com Oliveira et al. (1999), os solos do município de Fernandópolis são


constituídos pelos grupos LV56, PVA1, PVA10 e PVA105, sendo a sua distribuição apresentada na
figura 2.

N LV56: Latossolos Vermelhos distróficos + Latossolos Vermelho-amarelos


distróficos, ambos a moderado, textura média, relevo plano e suave
W E ondulado.

S PVA1: Argissolos Vermelho-amarelos eutróficos abrúpticos a moderado,


textura arenosa/média relevo suave ondulado e ondulado.

PVA10: Argissolos Vermelho-amarelos eutróficos + Argissolos Vermelhos


distróficos e eutróficos, ambos textura arenosa/média e média, relevo
suave ondulado + Latossolos Vermelhos distróficos, textura média. relevo
plano, todos a moderado.

PVA105: Argissolos Vermelho-amarelos eutróficos e distróficos a


moderado, textura média, relevo suave ondulado.
C
l
a
s
s
e
s
d
e
S
o
l
o
s
Á
r
e
a
U
r
b
a
n
a
L
V
5
6
P
V
A
1
P
V
A
1
0
P
V
A
1
0
5

Figura 2 Solos do município de Fernandópolis (SP).


Fonte: Oliveira et al., 1999.

O município de Fernandópolis está compreendido entre as altitudes de 340 a 560 m, sendo


que a maior parte de seu território (58,28%) está entre as altitudes de 440 a 500 m (figura 3). A maior
altitude identificada no município é de 557 m, localizada na área urbana, no bairro Jardim Residencial
Benez.
249

540-560 m 340-360 m 360-380 m


520-540 m 0.68% 1.60% 3.45%
5.24%
380-400 m
500-520 m 3.51%
11.84%
400-420 m
5.59%
420-440 m
9.81%
480-500 m
20.31%
440-460 m
16.54%

460-480 m
21.43%

Figura 3 Mapa de altitudes do município de Fernandópolis (SP).


Fonte: O autor, 2012.

Com relação à declividade, o município apresenta a maior parte de seu território (81,67%)
com declividades entre 2 a 10%, sendo a classe predominante de 5 a 10% de declividade (figura 4).
250

15,0-20,0 20,0-50,0
0.92% 0.05%

10,0-15,0 0,0-2,0
9.73% 7.63%

2,0-5,0
37.23%
5,0-10,0
44.44%

Figura 4 Mapa de declividades do município de Fernandópolis (SP).


Fonte: O autor, 2012.

O município de Fernandópolis tem o seu território dividido em duas Unidades de


Gerenciamento de Recursos Hídricos: 61,8% na Bacia do Rio Turvo/Grande e 38,2% na Bacia do
São José dos Dourados. Dentro da Bacia do Rio Turvo/Grande, os recursos hídricos superficiais
estão distribuídos entre as sub-bacias dos Ribeirões Santa Rita (38,2% do total) e Pádua Diniz
(10,7% do total) e do Córrego das Pedras (12,9% do total). Já na Bacia do São José dos Dourados,
os recursos hídricos superficiais são constituídos pelas sub-bacias dos Ribeirões Jagora (14,9% do
total) e São Pedro (23,3% do total) (figura 5).
251

Sub-bacias do Município:

1-Sub-bacia do Ribeirão Santa Rita


2
2-Sub-bacia do Ribeirão Pádua Diniz
3-Sub-bacia do Córrego das Pedras
4-Sub-bacia do Ribeirão Jagora
5-Sub-bacia do Ribeirão São Pedro

Figura 5 Sub-bacias que compõe os recursos hídricos superficiais do município de Fernandópolis (SP).
Fonte: O autor, 2012.

3 HISTÓRICO DOS LIMITES MUNICIPAIS DE FERNANDÓPOLIS


A evolução histórica dos limites do município de Fernandópolis até as condições atuais
inicia-se com a consolidação dos primeiros povoados que ocuparam a região Noroeste paulista no
início do século XX, entre os anos de 1900 e 1920, cujo único acesso à região se dava pela Estrada
Boiadeira que ligava São José do Rio Preto ao Porto do Taboado (atualmente Aparecida do
Taboado), às margens do Rio Paraná (quadro 1).
Somente para o entendimento, os povoados eram formados a partir da construção de uma
capela e das casas ao seu redor. Com o crescimento do povoado e a construção da Igreja, além da
câmara, cadeia e pelourinho, o povoado podia elevar-se à categoria de vila e município (SÃO
PAULO, 1995, 30p.).
Como pode ser observado pelo quadro 1, a partir de sua fundação como município, os
limites municipais de Fernandópolis sofreram grandes modificações em um período de 25 anos.

Ano Evento histórico


Inicia-se a consolidação dos primeiros povoados pela Estrada da Boiadeira que ligava São José
1918
do Rio Preto ao Porto do Taboado.
Joaquim Antônio Pereira, com a ajuda de seus irmãos (Francisco Joaquim e Bertolino Arnaldo da
1927 Silva), adquiriu 1000 alqueires próximos às Fazendas Santa Rita e Marinheiro e, com Afonso
Cáfaro, iniciaram o cultivo do café na região.
1938 Carlos Barozzi fundou a Vila Brasilândia (que, inicialmente, tinha o seu nome).
1939 Joaquim Antônio Pereira realizou o levantamento topográfico para a implantação da Vila Pereira.
252

Fernando Costa (Interventor Federal do estado de São Paulo) visita as vilas e sugere a sua união,
1943
que, em sua homenagem, receberam o nome de Fernandópolis.
Fernandópolis desmembra-se dos municípios de Tanabi e Pereira Barreto, elevado a categoria de
1944 município, com sede na antiga Vila Pereira e têm como distritos Jales (povoado de Jales) e
Pedranópolis (povoado de Pedranópolis).
São criados os distritos de Indiaporã (povoado de Indianápolis), Macedônia e Meridiano. Jales é
1948 desmembrada e elevada à categoria de município. Também é desmembrado o distrito de Estrela
d'Oeste, que é elevado à categoria de município.
O município é constituído de 5 distritos (Fernandópolis, Indiaporã, Macedônia, Meridiano e
1950
Pedranópolis).
É criado o distrito de Guarani d'Oeste e desmembrado o distrito de Indiaporã, que é elevado à
1953
categoria de município.
O município é constituído de 5 distritos (Fernandópolis, Guarani d’Oeste, Macedônia, Meridiano e
1955
Pedranópolis)
É criado o distrito de Brasitânia e desmembrados os distritos de Guarani d'Oeste e Meridiano, que
1959
são elevados à categoria de município.
1960 O município é constituído de 4 distritos (Fernandópolis, Brasitânia, Macedônia e Pedranópolis).
1964 Desmembra-se dos municípios de Macedônia e Pedranópolis, elevados à categoria de município.
1968 O município é constituído de dois distritos (Fernandópolis e Brasitânia), até o presente momento.
Quadro 1 Sequência de eventos na evolução dos limites municipais de Fernandópolis, da sua fundação até os
dias atuais
Fonte: O autor, 2012.

Em 1944, imediatamente após a sua fundação, estima-se que os limites territoriais de


Fernandópolis chegaram a 5.819.416 km2 (581.941,6 ha), o que corresponderia atualmente a 2,34%
da área territorial total do estado de São Paulo (figura 6).

São Paulo 1964-2011

1944 1948 1953

Figura 6 Evolução dos limites territoriais de Fernandópolis, desde a sua fundação até o atual.
Fonte: O autor, 2012.

Como pode ser observado, desmembraram-se diretamente da área do município de


Fernandópolis 6 municípios, quais sejam: Jales, Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Guarani d'Oeste e
Pedranópolis. No entanto, contando-se os municípios que se desmembraram desses anteriores, o
total de municípios fundados, a partir de Fernandópolis, soma 28 municípios (contando com os 6
anteriormente citados).
Os demais 22 municípios que se desmembraram, indiretamente, de Fernandópolis são:
Estrela d’Oeste, Dolcinópolis, Palmeira d’Oeste, Três Fronteiras, Vitória Brasil, Pontalinda, Santa
Albertina, Urânia, São Francisco, Dirce Reis, Paranapuã, Mesópolis, Santa Salete, Santana da Ponte
253

Pensa, Aspásia, Santa Rita d’Oeste, Nova Canaã Paulista, Santa Clara d'Oeste, Ouroeste, São João
das Duas Pontes, Populina e Turmalina.
A maior redução de área municipal se deu no ano de 1948 em função do desmembramento
do município de Jales (de onde, indiretamente, se desmembraram 17 dos 22 municípios
anteriormente citados) (figura 7).
Área (km2)

7000
5819.416
6000

5000

4000

3000
2018.353
2000 1738.887
1138.646
1000 549.551

0
1944 1948 1953 1959 1964
Ano
Figura 7 Evolução da municipal do município de Fernandópolis, com os desmembramentos ocorridos desde a
sua fundação em 1944.
Fonte: O autor, 2012.

4 EVOLUÇÃO DA ÁREA URBANA DE FERNANDÓPOLIS


A área urbana do município de Fernandópolis também sofreu muitas modificações ao longo
de sua história. Em 1944, ano de fundação do município, somente as Vilas Pereira e Brasilândia (que
se distanciavam em aproximadamente 1.100 m) formavam a área urbana de Fernandópolis (figura 8).
a b

Brasilândia

Centro

Coester

Higienópolis

Figura 8 Detalhe das Vilas Pereira e Brasilândia nos locais atuais do município de Fernandópolis (“a” e “b”).
Fonte: O autor, 2012.
254

O território da Vila Pereira, que apresentava uma área aproximada de 77 ha, estaria
atualmente compreendida pelos bairros Centro, Coester e Higienópolis (figura 8a). Já a Vila
Brasilândia, com uma área aproximada de 39 ha, compreenderia atualmente os bairros Brasilândia e
Jardim Brasilândia (figura 8b).
Desde 1944, a área urbana120 cresceu a uma taxa média aproximada de 1,6% por ano (que
corresponde a aproximadamente 26 ha / ano), passando de 115,73 ha, em 1944, para 1776,20 ha em
2008 (figura 9).

a b
2000

Área Urbana (ha)


1776.20

1500

1000
743.59
614.76
500
115.73
0
1944 1979 1985 2008

1944
Ano

1979
1985
2008
Figura 9 Evolução dos limites da área urbana (a) e do tamanho da área (b) do município de Fernandópolis.
Fonte: O autor, 2012.

Pode-se observar que a expansão da área urbana se deu para todas as direções, com
exceção da direção Leste. Em 1979, a área urbana já se havia expandido pouco mais de 5 vezes em
tamanho em relação a 1944, distribuída em um total de aproximadamente 75 bairros ocupados por
casas. Naquela época, os limites da área urbana eram definidos pelos bairros Jardim Planalto,
Corinto, Jardim Santista, Jardim Rio Grande, Jardim Independente, Vila Regina, Parque Vila Nova,
Boa Vista, São João, São Cristovão, Jardim Santa Helena e Jardim Eldorado (figuras 10 e 11).

120
Sobre a expansão urbana de Fernandópolis, conferir também “O processo de formação do espaço urbano em
Fernandópolis até 1980”, elaborado pelas professoras Rosa Maria Souza da Costa e Vanda Aparecida de Lima
Costa, constante da Parte B, Artigos, desta obra.
255

Figura 10 Jardim Planalto em 1979 (acima) e em 2004 (abaixo).


Fonte: O autor, 2012.
256

Figura 11 Detalhe dos bairros Morada do Sol e Jardim Rio Grande em 1979 (a esquerda) e em 2004 (a direita).
Fonte: O autor, 2012.

Em relação aos limites urbanos atuais, a área urbana de 1979 aumentou quase 3 vezes
(chegando aos seus atuais de 1.776,20 ha), distribuída em um total de 118 bairros ocupados por
casas. A expansão ocorreu de tal forma, que os atuais limites urbanos são definidos pelos Conjuntos
Habitacionais Albino Minineli e Bernardo Pessuto ao Sul, Residenciais Antonia Frando e Parque
Universitário ao Sudoeste, jardins Redentor e Ipanema ao Oeste, Jardim Uirapuru e Vila Maria ao
Noroeste, e Jardim Paraíso, Residencial Alto das Paineiras e Terra Verde ao Norte (figura 12).

a b
257

c d

Jardim Jardim
Impanema Impanema

Jardim
Jardim
Redentor
Redentor

e f

Residencial
Residencial Terra Verde
Terra Verde

Figura 12 Bairros do município de Fernandópolis em 1979 (“a”, “c” e “e”) e em 2008 (“b”, “d” e “f”).
Fonte: O autor, 2012.

Outro aspecto a se destacar foi a alteração que a represa municipal sofreu com a evolução
da área urbana (figura 13).

a b

Figura 13 Represa municipal de Fernandópolis em 1979 (a) e em 2008 (b).


Fonte: O autor, 2012.
258

Durante a evolução da área urbana, devido ao processo de assoreamento, o espelho


d’água da represa passou de 4,76 ha para 2,46 ha, ou seja, uma redução de 2,30 ha (48,3%), que
correspondeu a uma taxa de aproximadamente 800 m2 por ano.
Outros dois importantes empreendimentos de Fernandópolis, localizados na área urbana,
que em 1979 ainda constituíam somente mais uma das áreas rurais, são a Fundação Educacional de
Fernandópolis (FEF) e a Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO) (figura 14).

a b

c d

Figura 14 Detalhes das áreas da FEF e UNICASTELO (Fazenda Santa Rita) em 1979 (“a” e “c”) e em 2008 (“b”
e “d”).
Fonte: O autor, 2012.

E, finalmente, o local onde, atualmente, está o Shopping Center Fernandópolis, em 1979, não
passava de mais uma área de pastagem NAs margens da área urbana (figura 15).
259

a b

Figura 15 Local do Shopping Fernandópolis em 1979 (a) e em 2008 (b).


Fonte: O autor, 2012.

Como podem ser observadas, de maneira geral, as principais modificações na paisagem da


área urbana foram as ocupações agrícolas que deram lugar aos novos bairros do município. As
principais culturas que perderam espaço para a área urbana foram as culturas de pastagem, culturas
anuais (principalmente algodão e milho) e a cultura do cafeeiro.

5 EVOLUÇÃO DA ÁREA RURAL DE FERNANDÓPOLIS


Assim como a área urbana, a área rural do município de Fernandópolis desde a sua
fundação sofreu grandes modificações, especialmente no que se refere ao uso e ocupação do solo.
Um dos registros mais antigos disponíveis de uso e ocupação da região é do Escritório de
Desenvolvimento Rural (EDR) de Fernandópolis (que abrange, além de Fernandópolis, mais 11
municípios da região). Os dados de 1985, que estão apresentados na figura 16, demonstram que,
nesse ano, as três ocupações mais expressivas da região de Fernandópolis eram as pastagens
(pecuária de corte e leite), culturas anuais (principalmente algodão e milho) e o cultivo do cafeeiro.
140000
Área (ha)

121684
116436
120000

100000

80000

60000

40000
21660 18238
20000 13868
6535 4856 3640
2914 1375 1171
0

Figura 16 Principais culturas agrícolas exploradas em 1985 no EDR de Fernandópolis


Fonte: Instituto de Economia Agrícola, 2011.
260

Na figura 17 pode-se ter uma visão geral da área total e urbana do município de
Fernandópolis por imagem de satélite de 1973.

a b

Figura 17 Detalhe da área total e urbana de Fernandópolis por imagem de satélite datada de 20 de agosto de
1973.
Fonte: O autor, 2012.

Embora a resolução espacial não permita a identificação visual dos alvos, é possível notar
as áreas de coloração verde na imagem que, em função da época em que foi realizada,
possivelmente sejam áreas de matas e da cultura do cafeeiro (vegetações mais densas).
No ano de 1985, as áreas de vegetação natural (matas nativas) já representavam pequena
parcela do município de Fernandópolis, com um total aproximado de 3.800 ha (6,9% da área total) e
se concentravam, sobretudo, nas áreas de preservação permanente e em pequenos fragmentos
isolados (figura 18).
261

a b

Figura 19 Áreas de matas nativas no município de Fernandópolis em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.

Em 2008, estima-se uma área de vegetação nativa remanescente de aproximadamente


2.450 ha. Com isso, verificou-se uma redução de cerca 1350 ha nas áreas de matas nativas (36%). A
redução na área de vegetação nativa se deu principalmente nas áreas de preservação permanente e
em pequenos fragmentos de matas (figura 20).
262

a b

c D

Figura 20 Fragmento de mata de 2 ha em 1985 (a) e mesmo local em 2008 (b). Local com mata ciliar em 1985
(c) e mesmo local com vegetação de várzea em 2008 (d), podendo ser verificada em função da
rugosidade apresentada.
Fonte: O autor, 2012.

Com relação às culturas agrícolas, as principais modificações observadas com o auxílio de


fotografias aéreas e imagens utilizadas foram a evolução das áreas da cultura da cana-de-açúcar e
as reduções na área de culturas anuais e do cafeeiro (figura 21).
263

a b

Figura 21 Distribuição das áreas ocupadas por cana-de-açúcar em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.

Em 1985, a área estimada de cana-de-açúcar em Fernandópolis era de aproximadamente


3.600 ha. Em 2008, o cultivo de cana alcançou 11.500 ha, o que representa, atualmente, cerca de
21% da área total do município, demonstrando a sua atual importância econômica (figura 21).
Em contrapartida, a cultura do cafeeiro reduziu sua ocupação no município de
aproximadamente 3.100 ha em 1985 para cerca de 30 ha em 2008, deixando de ser uma das
principais culturas do município (figuras 22 e 23).
264

a b

Figura 22 Distribuição das áreas ocupadas por café em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.

Área de Café

Figura 23 Detalhe de área de cultura do cafeeiro próxima à área urbana do município de


Fernandópolis, realizada por aerofotogrametria em 1985.
Fonte: O autor, 2012.
265

Assim como a cultura do cafeeiro, as culturas anuais (principalmente representadas pelo


algodão e milho), em 1985, representavam aproximadamente 2650 ha (figura 24).

Área de
culturas anuais

Figura 24 Área de culturas anuais de cerca de 140 ha no município de Fernandópolis em


1985.
Fonte: O autor, 2012.

Atualmente, as áreas de culturas anuais representam pequenas áreas isoladas, que


raramente ultrapassam 1.000 ha em sua área total, sendo representada, principalmente, pelo milho
safrinha.
Sendo assim, verificou-se que a evolução da paisagem no meio rural do município de
Fernandópolis, nos últimos 30 anos, foi principalmente marcada pela ascensão da cultura da cana-
121
de-açúcar, que ocupou o espaço das culturas anuais (como milho e algodão) e do cafeeiro .
Também cabe ressaltar a redução na área de vegetação nativa ocorrida, sobretudo, de pequenos
fragmentos isolados e nas áreas de preservação permanente.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pode ser verificada, a evolução da paisagem do município de Fernandópolis, tanto na
área urbana quanto rural, sofreu uma significativa mudança.
A área urbana evoluiu muito rapidamente, ocupando as áreas de algumas das principais
culturas agrícolas (pastagens, café e culturas anuais). Se for considerado um crescimento linear,
espera-se que, em 2050, a área urbana do município chegue a aproximadamente 2.500 ha, ou seja,
um aumento de 40%.
Já na área rural, podem-se verificar modificações marcantes no uso e ocupação do solo.
Culturas antes importantes, como as culturas do algodão, milho e do cafeeiro, perderam espaço
principalmente para a cultura da cana-de-açúcar. As áreas de vegetação nativa se reduziram,
sobretudo, nas áreas de preservação permanente e em pequenos fragmentos isolados. Nos próximos
20 a 30 anos, considerando a atual expansão em que o setor sucroalcooleiro se encontra, é de se
esperar que as áreas de cana-de-açúcar no município alcancem 20.000 ha. Quanto às áreas de

121
Maiores informações sobre esse assunto, ler também o artigo sobre “A evolução e as transformações na
agricultura do município de Fernandópolis, do professor João de Souza Lima, na Parte B, seção Artigos, desta
obra.
266

matas nativas, em função da legislação ambiental de proteção às áreas de preservação permanente,


é possível que haja um pequeno incremento em seu valor nas próximas décadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CESP – Companhia Energética de São Paulo. Aerolevantamentos de 1979: folhas de 01-2559 a 01-
2570, 02-2547 a 02-2556, 03-2523 a 03-2531, 04-5749 a 04-5756, 05-5723 a 05-5730. São Paulo:
CESP, 1979.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Biblioteca virtual do IBGE: documentação


territorial. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: <www.biblioteca.ibge.gov.br/index.htm>. Acesso em:
jun. 2011.

______. Downloads em geociências: malhas municipais digitais. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível
em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: jun. 2011.

IEA – Instituto de Economia Agrícola. Área e produção dos principais produtos da agropecuária.
São Paulo: IEA, 2011. Disponível em: <www.iea.sp.gov.br/out/index.php#>. Acesso em: jun. 2011.

IGC – Instituto de Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo. Aerolevantamentos de 1985:


folhas de 8-26 a 8-31, 9-27 a 9-31, 10-29 a 10-33, 11-32 e 11-33, 11A-01 a 11A-05, 12-32 a 12-37,
13-37 a 13-40, 14A-04 e 14A-05, 15-30 e 15-31. São Paulo: IGC, 1985.

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de imagens CBRES. São José dos
Campos: INPE, 2011. Disponível em: <www.dgi.inpe.br/CDSR/>. Acesso: maio 2011.

LIMA, F. B. de; VANZELA, L. S.; MARINHO, M. de A.; SANTOS, G. O. Balanço hídrico climatológico
normal ponderado para o município de Fernandópolis (SP). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
AGROMETEOROLOGIA, 16, 2009, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: SBAGRO, 2009.

NASA – United States National Aeronautics and Space Administration. ASTER Global Digital
Elevation Map Announcement. Pasadena: NASA, 2010. Disponível em:
<www.asterweb.jpl.nasa.gov/gdem.asp>. Acesso em: ago. 2011.

OLIVEIRA, J. B.; CAMARGO, M. N.; ROSSI, M.; CALDERANO FILHO, B. Mapa pedológico do
estado de São Paulo: legenda expandida. Campinas: Instituto Agronômico/ EMBRAPA Solos,
1999. 64p.

ROLIM, G. de S.; CAMARGO, M. B. P. de; LANIA, D. G.; MORAES, J. F. L. de. Classificação


climática de Köppen e de Thornthwaite e sua aplicabilidade na determinação de zonas agroclimáticas
para o estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v. 66, n. 4, p. 711-720, 2007.

SÃO PAULOS (estado). Municípios e distritos do estado de São Paulo. São Paulo: IGC, 1995.
208p.
A FERROVIA EM FERNANDÓPOLIS

1 INTRODUÇÃO
A Baronesa (figura 1) era o nome da locomotiva do primeiro trem a circular no Brasil; na sua
primeira viagem, no dia 30 de abril de 1854, percorreu a distância de 14 km num percurso que ligava
a Baía de Guanabara a Raiz da Serra em Petrópolis no Rio de Janeiro. Irineu Evangelista de Souza,
o Barão de Mauá (depois visconde) (figura 2), foi o responsável pela construção dessa ferrovia
através da concessão Do imperador D. Pedro II, conhecida por Estrada de Ferro Petrópolis ou
Estrada de Ferro Mauá.

Figura 1 A Baronesa, primeira locomotiva no Brasil, 1854.

Figura 2 Irineu Evangelista de Souza, Barão de


Mauá (1813-1889).

2 AS FERROVIAS EM SÃO PAULO


É importante salientar que, em São Paulo, as estradas de ferro foram decorrência natural
das exportações agrícolas. Pode-se afirmar que existe uma relação natural entre a expansão da
produção cafeeira do Vale do Paraíba e a construção de estradas de ferro naquela região. A
construção de ferrovias em São Paulo iniciou-se após a primeira metade do século XIX, formando
verdadeira rede de captação do café em direção ao Porto de Santos. De 1867 até a década de 1930,
existiam 18 ferrovias, sendo que, desse total, metade, com extensões inferiores a 100 km, serviam de
ramais de captação de cargas para as grandes e médias companhias.
268

O Governo Vargas, no final da década de 1930, iniciou o processo de saneamento e


reorganização das estradas de ferro e promoção de investimentos, pela encampação de empresas
estrangeiras e nacionais, inclusive estaduais, que se encontravam em má situação financeira. Assim,
foram incorporadas ao patrimônio da União várias estradas de ferro, cuja administração ficou a cargo
da Inspetoria Federal de Estradas (IFE), órgão do Ministério da Viação e Obras Públicas,
encarregado de gerir as ferrovias. Dentre os objetivos da encampação das estradas de ferro pela
União podem-se destacar: evitar a brusca interrupção do tráfego, prevenir o desemprego, propiciar a
melhoria operacional, objetivando a reorganização administrativa e a recuperação de linhas e material
rodante. Acompanhando a expansão cafeeira na região da Araraquarense, os fazendeiros dessa
região, objetivando o escoamento do produto, fizeram construir uma nova estrada – a Estrada de
Ferro Araraquarense (EFA).

3 A FERROVIA EM FERNANDÓPOLIS
Em 21 de agosto de 1948, Fernandópolis assiste à chegada do “trem de ferro” trazendo o
governador Ademar de Barros, mas a chegada do trem de passageiro ocorreu em 16 de dezembro de
1949.
A ferrovia trouxe para o desenvolvimento de Fernandópolis, em termos de comunicação:
a) o telégrafo (figura 3), que, apenas com duas teclas e uma campainha, transmitia e recebia
mensagens, telegramas, cartas de todos os tipos. Foi o primeiro a introduzir as linhas telegráficas no
mundo inteiro, baseadas no sistema de pontos e traços na codificação das mensagens;
b) o seletivo (figura 4), um telefone especial que permitia a um centro de controle chamar qualquer
estação de seu trecho e se comunicar, simultaneamente, com todas as estações;
c) o “staff” eletromecânico (figura 5), um aparelho destinado a licenciamento de trens em linha
singela, por meio de bastão piloto; geralmente, tais bastões metálicos (denominados de estafe)
eram fixados em arcos de couro, revestidos de arame, com pequenas aberturas onde se
introduziam recomendações especiais aos maquinistas. Tais bastões se alojavam nos
convencionais aparelhos de estafe elétrico e só eram liberados através de complicados processos
de correntes magnéticas. Para o nosso controle, identifiquemos três estações, adotando-as de três
símbolos: a-b-c. Agora, substituamos as três letras referenciais por nomes próprios simplesmente
que, na realidade, são as estações de: Votuporanga, FERNANDÓPOLIS e Estrela do Oeste,
situados na linha tronco da Estrada de Ferro Araraquarense (379 quilômetros). Dessa forma, um
eventual trem, ao circular por Votuporanga (1ª estação), conduz dessa estação o estafe para
Fernandópolis (2ª estação) e desta para Estrela do Oeste (3ª estação) configurada no circuito. E,
assim, sucessivamente, até se chegar ao fim da linha.
A estação de Fernandópolis dispunha de dois aparelhos de estafe: um para expedir trens
para o lado da estação da direita e outro para atender à estação da esquerda, em sentido
completamente oposto. Cada aparelho de estafe elétrico é equipado com fone e manivela que, uma
vez acionada manualmente, gera um circuito magnético que libera prontamente o bastão de estafe.
Após a retirada do citado bastão, através de um orifício, o próprio mostrador do aparelho acusa: “linha
impedida”. Considerando que cada estafe, fora do aparelho, representa um trem a entrar em
circulação, é óbvio que tanto a estação que concedeu o estafe como a que recebeu têm o mecanismo
de seus aparelhos bloqueados implacavelmente. A situação só se reverte quando o próprio trem leva
o estafe até a estação vizinha, ou, por uma circunstância especial, o bastão retorna ao próprio
aparelho da estação de procedência. Exemplificando: se um determinado trem sofresse um
descarrilamento em pleno trecho, à noite, visto que o bastão de estafe estava na máquina em poder
do maquinista, não há perigo de qualquer choque, porque o aparelho estava bloqueado e, por essa
razão, não liberaria outro similar, mesmo que o telegrafista de plantão estivesse sonâmbulo.
269

Figura 3 Telégrafo

Figura 4 Seletivo

Figura 5 Staff eletrônico

O desenvolvimento da cidade, em termos de características e vantagens, tinha grande


capacidade de transportar cargas de produtos agrícola da região: café, milho, arroz, algodão e gado,
pois era, na época, um meio de transporte mais econômico, mais rápido e eficaz. Fernandópolis
embarcava seus produtos e recebia mercadorias diversas, leves e pesadas, tais como fardos de
tecidos, calçados, medicamentos, sal, cal, cimento, adubos; enfim, a estrada de ferro trouxe
progresso a esta região, sem contar o número de imigrantes que aqui chegou para adquirir novas
terras e obter novas conquistas.
Na década de 50, a Estrada de Ferro Araraquara recebeu grandes investimentos do Estado.
As obras de expansão foram concluídas em 1952, quando a linha alcançou Presidente Vargas (atual
Rubinéia), situada nas margens do Rio Paraná. Após ter sua expansão concluída, foram iniciadas as
obras de retificação de trechos, modernização de estações existentes e abertura de novas estações,
aquisição de novo material rodante e rebitolamento das vias (de 1,00m para 1,60m) para integrar a
270

malha da Estrada de Ferro Araraquara à da Linha Tronco da Companhia Paulista (ligada à Rede
Ferroviária Federal – figura 6), que possuía bitola de 1,60m (chamada de bitola larga).

Figura 6 Vagão da Rede Ferroviária Federal, anos 60.

Nos anos 1960, foram adquiridos carros Budd de aço inox, com diversas pinturas. Passou a
haver composições com carros-dormitório; tanto estas composições (no caso do diurno) quanto o
carro-restaurante e o carro-salão paravam em Jales, seguindo até o final da linha sem esses carros.
Outros afirmam que, no trem noturno, os carros seguiam até Presidente Vargas, incluindo as
poltronas-leito.
Um dos fatores primordiais para o desenvolvimento da ferroviária foi o transporte das
turbinas para a construção da Usina de Água Vermelha no final dos anos 70. Assim, a ferrovia teve
efeitos duradouros em todo o processo econômico: os mercados para produtos manufaturados e
matérias-primas se ampliaram de modo extraordinário; reduziram-se os custos de produção, com a
maior eficiência e alcance da distribuição e, devido ao crescimento do volume de vendas, os lucros
dispararam.
Segundo um horário da EFA de 1970, no "apagar das luzes", havia três trens diários de ida
e três de volta (figura 7 a 9): um diurno de luxo, em aço inox, ligando a estação da Luz a Presidente
Vargas com carros Budd-Mafersa; um noturno da Luz a São José do Rio Preto, em aço carbono
(figura 8), que deviam ser os "SAMDU"; e um misto diurno, com carros de madeira e vagões de carga
para mudanças e pequenas cargas, ligando Araraquara a Presidente Vargas. Este era o afamado
"Trem Barateiro", apelidado de "oficial" (figura 9).

Figura 7 Máquina conduz vagões de passageiros, 1970.


271

Figura 8 Composição de aço inox, 1970.

Figura 9 Trem de passageiros, 1970.

Em 10 de novembro de 1971, a Estrada de Ferro Araraquara foi absorvida pela Ferrovia


Estadual Paulista (Fepasa) (figura 10). Com a construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, o
trecho final da linha tronco foi inundado, sendo a estação de Presidente Vargas desativada em 1973.
Com isso o ponto final da Linha Tronco passou a ser a estação de Santa Fé do Sul.
272

Figura 10 Ferrovia Estadual Paulista, 1971.

Em 1990, a ferrovia apresentou dados que, apesar de não falarem por si, levantam
questões intrigantes. A ferrovia reduz o número de funcionários, a extensão das linhas, o número de
locomotivas, a frota de carros de passageiros e também o número de vagões.
Desde 1997, o trem de passageiros não passa em Fernandópolis e, desde então, o prédio
da estação ferroviária permanece abandonado. Todavia os trens de carga (figura 11) continuam, pois
a Linha Tronco foi ligada à nova linha da Ferronorte, em 29 de maio de 1998, quando foi inaugurada
a Ponte Rodoferroviária sobre o Rio Paraná, a qual liga os estados brasileiros de Mato Grosso do Sul
e São Paulo, unindo a cidade sul-matogrossense de Aparecida do Taboado à cidade paulista de
Rubinéia.

Figura 11 Composição de transporte ferroviário de cargas, anos 90/97.

A construção da Ponte Rodoferroviária (figuras 12 e 14) possibilitou a conclusão da ferrovia


Ferronorte, que liga a malha ferroviária do estado de São Paulo à cidade de Alto Taquari, no estado
de Mato Grosso, permitindo o escoamento da produção de grãos (figura 14) de parte do Centro-
Oeste brasileiro. Sua extensão total é de 3.700 metros, sendo, portanto, a maior ponte fluvial
brasileira. Cada vão possui 100 metros de extensão, em cuja construção foi utilizada uma plataforma
flutuante alemã.
273

Figura 12 Ponte Rodoferroviária SP-MS construída em 1998.

Figura 13 Ponte Rodoferroviária SP-MS construída em 1998.

Figura 14 Ponte Rodoferroviária SP-MS construída em 1998.

Em maio de 2006, a Brasil Ferrovias foi fundida à América Latina Logística (ALL). A compra
foi efetuada por um processo de troca de ações entre os controladores das empresas e os da ALL
(FERRONORTE, 2012). A ALL é responsável pelo escoamento de parte da soja produzida no Oeste
do País.
A distribuição física das unidades armazenadoras da Companhia de Entreposto e Armazéns
Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), responsável pela armazenagem e distribuição de
produtos (especialmente grãos a granel e açúcar), no contexto do modal ferroviário do estado está
contemplada da seguinte forma (quadro 1):
274

Adamantina/Tupã/Bauru/Pederneiras/Itirapina ALL América Latina Logística


Fernandópolis/São José do Rio Preto/Catanduva/Araraquara/ Itirapina ALL América Latina Logística
Presidente Prudente/Paraguaçu Pta./Assis/Palmital/Ourinhos/Avaré ALL América Latina Logística
Bauru/São Manoel/Rubião Jr. ALL América Latina Logística
Tatuí ALL América Latina Logística
Ribeirão Preto/São Joaquim da Barra/Ituverava FCA Ferrovia Centro Atlântica
Quadro 1 Unidades linhas (concessionárias).
Fonte: Ferronorte, 2011.

A rede armazenadora da Ceagesp adaptou as unidades ao novo perfil agrícola do estado de


São Paulo, cuja produção de açúcar ganha espaços cada vez maiores em detrimento da produção de
grãos. A produção de açúcar no estado de São Paulo vem estabelecendo recordes nos últimos anos:
na safra 2009/10, foram produzidas, de acordo com a União dos Produtores de Bioenergia (UDOP),
20.815,8 milhões de toneladas, em 169 usinas distribuídas pelo estado de São Paulo.
Em 2011, o futuro das ferrovias está na especialização e operação de elevados volumes de
carga em corredores de grande distância ligados a troncos intermodais. A ferrovia deve desempenhar
seu papel na economia globalizada, permitindo transporte de grande quantidade de carga de ponto a
ponto, com eficiência e baixo custo. A CEAGESP mantém a maior rede pública de armazéns, silos e
graneleiros do País, que tem capacidade para estocar, simultaneamente, mais de um milhão de
toneladas de produtos agrícolas.

REFERÊNCIA

FERRONORTE. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferronorte-cite_note-5>. Aceso em: 12


set. 2011.

Colaboração
Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola “Melvin Jones”
Autora: Mary Ângela Veríssimo Segura Joaquim – Professora
Colaboradores:
José Carlos Joaquim – Diretor de Escola
Claudia Malavazzi Trovatti Custódio – Orientadora Educacional
Rodrigo Alves Dionísio – Professor de Informática
FFC E SUA HISTÓRIA

A história do Fernandópolis Futebol Clube começa no dia 15 de novembro de 1961, com o


nome Associação Bancária de Esportes (ABE). A equipe foi montada por vários funcionários de
agências bancárias da cidade, que se reuniam para jogar futebol Nos finais de semana e, dessa
forma, estavam formalizando aquela união.
A princípio o time jogava com o uniforme nas cores: camisa amarela com detalhes em verde
e calções azuis, mas já adotou uma águia como escudo oficial. Na época, a equipe começou de
forma extraprofissional, participando de competições oficiais organizadas pela Federação Paulista de
Futebol, na qual nossos atletas se destacaram por cinco anos seguidos.

Figura 1 Primeiro time em 1961.


Fonte: O autor, 2011.

O campeonato paulista da Quarta Divisão de então era disputado em duas chaves: interior e
capital. No ano de 1964, a ABE chegou à final do torneio contra a equipe do São José, da cidade de
São José dos Campos. Na primeira partida, no estádio municipal John Kennedy, em Fernandópolis,
posteriormente alterado para Cláudio Rodante em 1987, a Associação Bancária de Esportes perdeu
pelo placar de 1 x 2. Na segunda partida, no Vale do Paraíba, a partida terminou empatada em 0 x 0,
resultado que deu o título de campeão à equipe do São José.
Naquele mesmo ano (1964), o Palmeiras, do craque Ademir da Guia, esteve em
Fernandópolis disputando um amistoso contra o time da casa (a ABE); a partida terminou no empate
de 1 x 1. Graças às defesas milagrosas do goleiro fernandopolense Olavo, o time da capital paulista o
contratou, levando-o, inclusive, embora no mesmo ônibus que trouxe a equipe palestrina para
Fernandópolis.
Na época, surgia, também, o nome de um dos maiores ídolos da torcida Fernandópolis,
‘Téia’. Ao conseguir fazer ótimas partidas pelo Fernandópolis, transferiu-se para o São Paulo Futebol
Clube.
276

Figura 2 Téia ainda com a camisa


da ABE, 1964.
Fonte: O autor, 2011.

Ao perceber que o futebol conseguia mostrar positivamente o município para todo o estado
de São Paulo, em 1965, após uma assembléia com os envolvidos no projeto, a Associação Bancária
de Esportes mudou o nome para Fernandópolis Futebol Clube, única e exclusivamente para divulgar
ainda mais a cidade. As cores do uniforme também foram trocadas pelo azul e branco, porém, o
símbolo permaneceu o mesmo (uma águia de asas abertas), mas com as novas siglas FFC.

Figura 3 O símbolo da ABE – uma águia de asas abertas,


1964.
Fonte: O autor, 2011.
277

Figura 4 Escudo do time atual.


Fonte: O autor, 20-11.

Com reformulações feitas na competição, o Fernandópolis disputava, no início de sua nova


jornada, o Campeonato Paulista da Terceira Divisão. Em 1967, a equipe chegou ao quadrangular
final da competição ao vencer o Oeste de Itápolis pelo placar de 4 x 1, na cidade de Araraquara, jogo
que ficou conhecido como a “Invasão dos fernandopolenses na cidade da Morada do Sol’.

Figura 5 Torcedores do Fernandópolis em Araraquara na partida contra o Oeste, 1967.


Fonte: O autor, 2011.

Outro fato marcante ocorreu em 22 de maio de 1968. Para marcar as comemorações do


aniversário de Fernandópolis, a equipe recebeu o time da Ponte Preta de Campinas para um
amistoso. O FFC venceu pelo placar de 2 x 0 com dois goles de Maurinho. Na oportunidade, o
prefeito de Fernandópolis, Percy Waldir Semeghini, foi convidado para dar o ponta pé inicial da
partida.
278

Figura 6 Percy, grande incentivador do futebol na cidade, dá o pontapé inicial, 1968.


Fonte: O autor, 2011.

Por motivos financeiros, nos anos de 1969 e 1970, o Fernandópolis Futebol Clube se
afastou das competições oficiais, retornando em 1971 para participar do “Paulista da Terceira
Divisão”, campeonato em que permaneceu realizando campanhas razoáveis até 1976. Com uma
nova reformulação feita pela Federação Paulista de Futebol (FPF), vários times que disputavam a
Terceira Divisão foram transferidos para a Quarta Divisão, fato ocorrido com o próprio Fernandópolis.
O ano de 1979 reservou muitas alegrias aos torcedores que, para o evento, lotavam o
estádio municipal. A equipe sagrou-se campeão paulista da Quarta Divisão com um time invejava
pela qualidade dos seus atletas. Foi justamente nesse ano que todos vibraram com as jogadas
magníficas de Noronha, Bereco, Chico Amorim, Jorginho, Da Silva, Ari, Xisté, Zé Roberto e a dupla
infernal, Carlos Silva e Tato, que conseguiram realizar uma campanha que, dos trinta jogos, resultou
21 vitórias, 06 empates e apenas 03 derrotas.

Figura 7 Time campeão de 1979. Atletas do Fernandópolis, diretores, prefeito Milton


Leão e Presidente Fernando Sisto.
Fonte: O autor, 2011.
279

Figura 8 Tato, apelidado carinhosamente pela


torcida de o “pai herói”, marcou 328 gols
no clube.
Fonte: O autor, 2011.

Figura 9 Carlos Silva, 1979. Era o grande ‘astro’


do FFC, mais tarde, contratado
posteriormente pelo Santos FC.
Fonte: O autor, 2011.

Nos anos seguintes, a equipe participou da Terceira Divisão do futebol paulista, sempre
disputando jogos emocionantes que atraíam grande público ao estádio. Esse torneio também era
chamado de “Divisão Intermediária”. Em janeiro de 1981, a equipe recebeu em seus domínios o
tradicional time do Santos, em jogo amistoso que terminou em 1 x 1. Essa partida serviu para pagar
parte do salário do craque Carlos Silva, que se havia transferido do FFC para o time da baixada
santista. Alguns anos depois, em 1985, o Fefecê, carinhosamente chamado assim pelos cronistas
esportistas do estado de São Paulo, recebeu a equipe do São Paulo Futebol Clube, que, naquele
ano, havia sido campeão paulista da “A1”. O jogo terminou em 1 x 1 e reuniu vários astros do futebol,
tais como Muller; Silas, Pita, Nelsinho, todos comandados pelo técnico tricolor Cilinho.
Em 1987, o clube continuou realizando seus jogos no mesmo estádio, que passou, porém, a
ter outro nome. Até então homenageando o ex-presidente norte-americano John Kennedy, o estádio
municipal passou a se chamar Cláudio Rodante, grande esportista da cidade, apaixonado pela “Águia
de sangue azul’. O que muitos não lembram é que a história do estádio municipal começou em 25 de
280

maio de 1953, quando foi inaugurado numa partida entre o Fernandópolis Esporte Clube 3 x 2 Uchôa;
até então, o estádio era utilizado apenas para práticas esportivas amadoras. Só foi utilizado de forma
profissional com o surgimento da ABE e, posteriomente, FFC.

Figura 10 Primeiro jogo. Atletas que estrearam o estádio de Fernandópolis, ao lado de


personalidades e autoridades do município.
Fone: O autor, 2011.

No ano de 1989, o clube obteve a melhor classificação na Divisão Intermediária de sua


história, chegando às finais da competição em quadrangular com jogos de ida e volta em um grupo
que tinha as equipes do Fernandópolis, Francana, Rio Branco de Americana e Ponte Preta. A época
ficou marcada até hoje na memória de muitos fernandopolenses com a invasão da torcida
pontepretana na cidade de Fernandópolis, numa manhã de domingo. Por aqui, eles invadiram a
missa que era celebrada na igreja Santa Rita de Cássia, causaram confusão na “feira livre”, na época
ainda realizada na Avenida Líbero de Almeida Silvares, tentaram invadir a Padaria União, enfim, entre
outros problemas registrados em residências próximas ao estádio. Além dos danos materiais, alguns
torcedores ficaram gravemente feridos, resultado do confronto entre as torcidas de Ponte e Fefecê.
Ao longo de sua história, o Fernandópolis Futebol Clube conseguiu criar uma grande
rivalidade regional contra a Associação Atlética Votuporanguense. Jogos em Fernandópolis, no
Cláudio Rodante, ou em Votuporanga, no estádio Dr. Plínio Marim, sempre foram motivos de “casas”
cheias. Naquele mesmo ano (1989), o time do FFC era apontado como o grande favorito ao acesso à
principal divisão do futebol paulista, mas um acidente automobilístico atingiu a principal peça do time,
Helenio. O acidente tirou o atleta do campo, o que abalou bastante a equipe que acabou sendo
desclassificada nas últimas rodadas.
281

Figura 11 Helenio, craque do FFC, vítima de um


grave acidente de carro.
Fonte: O autor, 2011.

A equipe permaneceu disputando a Divisão Intermediária até 1993, mas novamente a


Federação Paulista de Futebol (FPF) remodelou a competição e colocou o Fernandópolis na Quarta
Divisão. Esse era um novo rebaixamento que a equipe sofria extracampo. Os comentários são de que
a política “extracampo” fora fator fundamental para essa nova queda de divisão. O motivo alegado
para a decisão da Federação foi que o time não possuía estádio com capacidade suficiente para
disputar a série A3 em 1994, ou seja, o estádio não atendia à exigência de 15.000 lugares
disponíveis.
O brilho e a estrela do Fernandópolis não foram apagados por esses fatores, pois um ano
depois, em 1994, a equipe acabou levando novamente os torcedores ao estádio Cláudio Rodante.
Com o campeonato sendo disputado em turno e returno, obtendo uma parceria forte com a empresa
Blue Life, o time sagrou-se “bi-campeão paulista da Segunda Divisão”, conhecida também como
“série B1A”. O torneio foi em pontos corridos, e o Fernandópolis só conseguiu garantir a “faixa” no
último jogo, realizado na cidade de Porto Feliz, contra o Capivariano; O FFC venceu por 5 x 0. O time
era comandado por Viriato Mendes e presidido pelo empresário Antonio Ribeiro
Nesse mesmo ano (1994), a alegria veio em dose dupla para os cidadãos
fernandopolenses, pois o time Júnior do Fefecê sagrou-se Campeão Paulista da Segunda Divisão
Sub-20. Uma grande carreata percorreu as principais ruas e avenidas da cidade, os jogadores foram
recebidos como ‘heróis’ e desfilaram no recém-chegado carro dos Bombeiros Pierce. Uma grande
festa foi realizada no recinto de exposições Dr. Percy Waldir Semeghini.
Um dos fatos mais marcantes daquela conquista foi um novo sentimento de “união” surgido
na cidade. Para não correr o risco de ficar de fora novamente da série A3, devido à incapacidade de o
estádio abrigar público previsto pela Federação, a Prefeitura, sob o comando do então prefeito Luiz
Vilar de Siqueira (PFL), iniciou, em caráter de urgência, a construção das arquibancadas metálicas,
que ficam em cima dos vestiários. Com a aproximação do prazo para entrega das obras e vistoria dos
fiscais da FPF, vários moradores da cidade e principalmente os torcedores se dirigiram ao estádio e
começaram a ajudar os operários nas obras. Era um “mar” de fernandopolenses carregando ferro e
madeira para agilizar a entrega da obra. Todo esse processo deu certo e, finalmente, a obra foi
entregue e o time conseguiu o acesso.
282

Figura 12 Atletas campeões em 1994 – jogo das faixas contra o


Corinthians de Presidente Prudente.
Fonte: O autor, 2011.

Entre 1995 e 1996, o Fernandópolis disputou a série A3 do futebol paulista obtendo ótimas
colocações (5º e 6º lugares respectivamente), mas, em 1997, a equipe realizou uma campanha
trágica, que o rebaixou novamente para a série B1A. Esse foi o primeiro rebaixamento que o Fefecê
sofreu dentro de campo.
Em 2002, a FPF reformulou novamente a competição, unificando as série B1A, B1B e B1C,
numa única competição chamada Segunda Divisão. Nesse ano, vários times tiveram a oportunidade
de subir para a primeira divisão, mas o Fernandópolis não aproveitou a chance e continuou
“amargando” até o seu cinquentenário, comemorado em novembro de 2011, o Campeonato Paulista
da Segunda Divisão.
Durante o trabalho de pesquisa e levantamento histórico sobre o Fernandópolis Futebol
Clube, efetuada pelo empresário Gilmar Fúria Gavioli, uma enquete foi realizada com alguns
cronistas esportivos da cidade, que viveram intensamente o clube. Eles formaram a seleção de todos
os tempos do Fefecê:

Durval Eduardo Amorim Cavariani


283

Noronha Breco Carlos Silva Helênio

Tato Téia Canhoto

Dicão (treinador) Fernando Sisto (presidente)

Os jornalistas esportivos que participaram da enquete foram: Darci Araújo; Vic Renesto,
Ivan Gomes, Toninho Alves, Fred Jorge, Paulo Alves, Alaerte Vidali, Natanael Coelho e Antonio Olívio
Vono.

Pesquisa: fotos, informações históricas: Gilmar Fúria Gavioli.


Texto: Paulinho Boaventura
A IGREJA SANTA RITA DE CÁSSIA DE FERNANDÓPOLIS

Rosa Maria Souza da Costa122


Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida

Figura 1 Igreja Santa Rita de Cássia em Fernandópolis, vista ao anoitecer.


Fonte: Roberto Miranda, 2012.

A Igreja Santa Rita de Cássia de Fernandópolis, conhecida como Igreja Matriz, “é um


patrimônio arquitetônico e cultural de grande valor histórico, e tem uma dimensão religiosa na
comunidade que é constitutiva de sua própria identidade e testemunho da formação da cidade”. É
essa a idéia que permeia o trabalho de pesquisa que resultou no livro História e Memória da Igreja
Santa Rita de Cássia de Fernandópolis, escrito pelas historiadoras Rosa Maria Souza da Costa e
Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida, resumido neste artigo.
O desafio de escrever a história da Igreja Matriz começou por um problema crucial: sua
contextualização e sua inserção na Paróquia Santa Rita de Cássia de Fernandópolis, a primeira
paróquia assuncionista holandesa do estado de São Paulo. Para isso, foi necessário utilizar fontes
históricas diferenciadas: documentos oficiais, arquivos, biografias e registros/livros de memórias;
anúncios, jornais, pinturas, fotografias, depoimentos orais e escritos, internet e outras, objetivando
reconstruir o processo histórico que se iniciou com o cruzeiro, depois a construção da capela, do
barracão e, finalmente, da igreja matriz. Esse processo contou com a participação ativa e efetiva da
comunidade local e se caracterizou por doações de terra e de bens simbólicos, por infinitos trabalhos
comunitários, festas, quermesses, novenas, procissões.
Nas quatro primeiras décadas do século XX, a Igreja Católica utilizou como estratégia uma
pastoral extensiva, com poucos padres para atender a grandes áreas, sendo suas visitas
esporádicas, destacando-se, assim, no âmbito religioso, os fiéis leigos pelo procedimento coletivo,
solidário e fraterno com espírito criativo de fé que assumiam. Eram eles que, por iniciativa própria,
erguiam as capelas – espaços de adoração aos santos de devoção –, muitas vezes sem a devida
licença das autoridades eclesiásticas e em terras doadas por fiéis, realizavam as rezas do terço, das
novenas, da catequese. Foi o que aconteceu na origem de Fernandópolis: as construções das
capelas de Santa Rita, em Vila Pereira, e da capela em louvor a São Luiz Gonzaga, na Brasilândia,
foram realizadas por iniciativa leiga de seus fiéis.
Assim, a fisionomia espiritual da nossa gente se foi refletindo, de início, no Cruzeiro, nas
Capelas, no "Rezador", no "Tirador de Terços”, nas festas dos padroeiros, nas procissões, nas

122
Rosa Maria Souza da Costa (conhecida como profª. Rosinha) e a Ms. Perpétua Maria Marques Matos
Malacrida (conhecida como profª. Péta Matos), são professoras e historiadoras.
285

novenas, nas missões123, no catecismo, nos funerais e em outras expressões de religiosidade. Era o
padre acolhido com apreço e carinho, tal a reverência que se lhe dispensava nos bairros e fazendas
que percorria numa ação de visita. Batizava, pregava, celebrava, presidia matrimônios, atendia
confissões e abençoava.
O advento da República (1889) provocou mudanças profundas na atuação da Igreja
Católica no Brasil. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1891, determinou a
separação entre a Igreja e o Estado, o fim efetivo do sistema do padroado e garantiu plena liberdade
religiosa a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país.
Assim, a Igreja perdeu a exclusividade de ser a religião oficial do Estado, mas ganhou em
liberdade de ação eclesiástica, reestruturando-se e redirecionando suas práticas para uma nova
identidade institucional, a fim de impedir que outras religiões, como o protestantismo, se alastrassem
protegidas agora pela legislação vigente. Para realizar a reforma, a Cúria Romana trabalhou em três
setores: criação de novas dioceses, reforma das antigas ordens religiosas e o envio de novas
congregações masculinas e femininas para o Brasil.
É nesse contexto que, em 1929, foi criada a Diocese de Rio Preto, e nomeado seu primeiro
bispo, Dom Lafayette Libânio (1886- 979). Uma de suas ações foi convidar os padres assuncionistas
holandeses, que chegaram ao Brasil para colaborar com o episcopado na atividade pastoral e
“fortalecer o processo de romanização da Igreja no Brasil, pois esses religiosos já estavam
aglutinados pelo espírito romanizador” (AMARAL, 2005).
A alguns padres assuncionistas, em 1947, D. Lafayette ofereceu a distante paróquia de
Fernandópolis, criada em 1943 e ainda não instituída, com o objetivo de cumprir as determinações de
Roma. Pela Bula da criação, a Diocese de Rio Preto constava de 15 paróquias, dentre elas a de
Tanabi, em cujo município, entre 1938/1939, foram fundadas as vilas Brasilândia e Pereira, que
deram origem à cidade de Fernandópolis.
Joaquim A. Pereira, fundador da Vila Pereira, ordenou a derrubada da mata central e, em
lugar previamente escolhido, onde é hoje a Praça da Matriz, foi erigido o Cruzeiro e rezada a primeira
missa, no dia 22 de maio de 1939. Hoje, o dia 22 de Maio, dia de adoração à Santa Rita de Cássia, é
também a data comemorativa do aniversário da cidade.

Figura 2 Imagem de Santa Rita de Cássia,


padroeira de Fernandópolis.
Fonte: Roberto Miranda, 2012.

123
Missão é um tempo especial de evangelização numa comunidade ou numa paróquia e envolve pregação,
celebração e fraternidade.
286

Perto do local do Cruzeiro, foi erguida uma pequena e simples casa, local de encontros dos
moradores para a realização de devoções como novenas e terços rezados sempre por leigos como
D. Maria Cândida, Américo Messias dos Santos, Carrinho Medeiro e outros. Ali também,
ocasionalmente, eram celebradas missas pelo padre Vítor, vindo da Vila Monteiro (hoje Álvares
Florence), para dar assistência religiosa ao povoado que nascia, já que aqui não havia padre
residente.
Em 1941, foi construída a capelinha em honra à padroeira da Vila, Santa Rita de Cássia, da
qual o fundador Joaquim A. Pereira era devoto. A cruz e o sino foram doados por ele e trazidos de
Monte Verde Paulista, hoje Cajobi (SP). Na ocasião da inauguração da capela, houve a primeira visita
pastoral à região feita por D. Lafayette Libânio.

Figura 9 - Capela Santa Rita de Cássia, em Vila Pereira.


Fonte: Scheffers, 2007, p. 67.
Figura 3 Capela Santa Rita de Cássia, em Vila Pereria, 1941.
Fonte: Scheffers, 2007, p. 67.

D. Ana Zanqueta, paroquiana, lembra que “a primeira capelinha era amarela, simples e bem
acabada, a porta era de madeira”. Destaca que “os primeiros catequistas foram seu Benedito
(mariano) e Maria Ferreira (filha de Maria)124”.
Segundo Silva Júnior125,

A capela construída era o elemento central dos primeiros povoados, o edifício


mais importante do pequeno lugarejo. Foi a partir do terreno doado como
patrimônio que se ergueram as primeiras casas, fazendo surgir, posteriormente,
a praça que, aos poucos, ia delineando o traçado das ruas, constituindo-se o
templo como eixo simbólico da povoação.

Revendo a história de nossa capela, Santa Rita de Cássia, concordamos com Silva Júnior
porque ela realmente constituiu o eixo simbólico da povoação de Vila Pereira.
Em 23 de dezembro de 1943, foi criada, oficialmente, a Paróquia de Santa Rita de Cássia
de Fernandópolis, separada da de São João Batista, de Monteiro. A partir daí, alguns sacerdotes
daquela paróquia responderam pela Capela, vindos de quando em quando, como foi o caso de Frei
Gonçalves. Foi ele que, “em 1943, criou a 1ª Congregação Mariana de Vila Pereira” (HISTÓRICO,
2010).
Apesar de criada em 1943, a Paróquia só foi instituída em 1947, quando aqui chegaram
para dirigi-la os padres assuncionistas holandeses. Estes estiveram na cidade por 35 anos, de 1947 a
1983, em um trabalho de catequese, de pastoral, educação e construção da igreja matriz. A partir de
1984 até hoje, a paróquia passou a ser dirigida pelos padres diocesanos.
Em 1947, padre Canísio Van Herkhuizen e seu cooperador padre Walter Pasmans entram
para a história de Fernandópolis. Pe. Canísio, nomeado pelo bispo, veio para assumir o cargo de

124
.Depoimento de Ana Zanqueta, 82 anos, para Maria José Brandini Dutra Bandos, no dia 30/03/2011. Ela
pertenceu a Legião de Maria, ao Sagrado Coração e faz parte dos grupos de oração.
125
SILVA JUNIOR, Agenor Soares. Nas sombras da cruz: a Igreja Católica e o desenvolvimento urbano no
Ceará (1870-1920). Revista Historiar, jan./jun. 2009. Disponível em:
<www.uvanet.br/revistahistoriar/janjun2009/07>. Acesso em: 03 maio 2010.
287

primeiro vigário ou “fabriqueiro da parochia de Santa Rita”, como consta no documento oficial, e aqui
permaneceu até 1954. Depois chegaram os padres: José Jansen (holandês), Armando e Mateus
(irmãos de padre Canísio). Todos eles, além de celebrarem missa na capela, “celebravam missas na
Brasilândia e nas capelas da zona rural. As missas eram celebradas todos os dias às 6 horas da
manhã em latim e respondidas pelos coroinhas, enquanto os fiéis rezavam o terço” (BANDOS, 2010).
Quando Padre Canísio chegou à cidade,

hospedou-se na residência de Cássio Vendramini, cuja esposa, D. Dalila, muito


trabalhava pela igreja. Com o passar do tempo, através do Sr. João Rodrigues Neto,
genro do Sr. Francisco Arnaldo da Silva, foi doado um terreno, para que o sacerdote
tivesse sua própria casa. A casa foi mobiliada com campanhas feitas por D. Dalila.
Depois, por iniciativa do padre, foi construída, ao lado da casa paroquial, a Capela
de Nossa Senhora da Assunção, em 1951 (BANDOS, 2010).

Quando se estuda o papel da religião no processo de formação de uma cidade e sua


comunidade, dois fatores são preponderantes. O primeiro diz respeito aos instrumentos de integração
social utilizados pela Igreja, que acaba por construir um programa de ações que determinam o modo
de ser de uma sociedade. O segundo se refere às atividades do padre na comunidade e da
comunidade na igreja.
O trabalho na paróquia Santa Rita de Cássia foi intercalado por ações conservadoras e
inovadoras. Elementos simbólicos da Igreja foram efetivados, tais como o “Ano Santo”, a “coroação
de Nossa Senhora; a procissão de “Corpus Christi”; o “Rosário Vivo”; a instituição da “Cruzada
Eucarística”, da catequese, dos três “sacramentos de iniciação cristã” da criança (o batismo, a
primeira comunhão e o crisma); da celebração do casamento, da criação das Irmandades, como a
Congregação Mariana (filhos de Maria e Marianos), da Cruzada, da Irmandade São José, do
Apostolado da Oração; a organização das missões populares ou “Santas Missões” e a criação de
corais, de jogral, de teatro, de grupo de jovens etc. Foram seus projetos: a criação da Escola
Apostólica Nossa Senhora da Glória, da Escola Vocacional São José, a construção da Igreja Matriz e
as Congregações Femininas.
O segundo fator que mostra a importância da Igreja na formação das cidades faz referência
à atuação do padre no cotidiano das pessoas que viviam na zona rural e urbana, espaços onde se
vivencia sua ação a partir da relação entre esfera religiosa e esfera laica. Na organização social dos
primeiros habitantes do povoado, o padre era elemento imprescindível, contribuindo para a
manutenção de valores religiosos e morais, o que ocorre até os dias atuais.
A atuação do padre Canísio na comunidade, de 1943-1954, se estendeu também às vilas e
povoados das regiões vizinhas Segundo Bandos (2010):

fazia visitas, levantando cruzeiros e participando das festas do padroeiro.


Juntamente com padre Jansen, organizou um rodízio pastoral mensal, utilizando
uma charrete ou cavalo e, também, “uma motocicleta inglesa de cor preta para
pequenos percursos e de uma perua verde para lugares mais distantes. Visitou os
patrimônios de Pedranópolis, Maravilha (hoje Meridiano), Santo Antonio do
Viradouro, Conde de Prates, Guarani d´Oeste, Brasilândia, Caxixi, Indiaporã,
Macedônia, Santa Isabel, Tupinambá, Boa Esperança. Para Populina, Sol e Estrela
d´Oeste, indo de “jardineira”. Padre Walter tinha uma mula alta e imponente, com a
qual fazia suas viagens a Santa Albertina, Populina e pelo sertão a fora. Na década
de 40, a pedido do Pe. Jansen, também “foram instituídos os cultos dominicais nas
capelas rurais”.

Os padres participavam também da vida social da comunidade. Eram convidados para as


festas de casamento, bodas, batizados, aniversários etc. Faziam visitas aos doentes em suas casas e
às famílias tanto da zona urbana, como da zona rural.
O segundo vigário da Paróquia de Fernandópolis foi o padre holandês Arthur Horsthuis
(1912-1979), que “trabalhou intensamente nesta cidade e região, de março de 1953 a dezembro de
1958. Impulsionou a construção da belíssima igreja-matriz e organizou a pastoral tanto na cidade
como das numerosas capelas rurais” (DIOCESE, 2010)
288

Até a década de 50 ou 60, os padres eram figuras indispensáveis nas cerimônias públicas,
como festividades municipais, estaduais e nacionais, nas inaugurações de obras da prefeitura (como
o jardim da praça), na construção da Santa Casa de Misericórdia etc., relacionando-se com as
autoridades políticas. Uma inauguração não estaria completa sem a bênção do recinto por parte do
bispo ou do padre. As autoridades políticas também se faziam presentes (e ainda hoje o fazem) nas
festividades religiosas, na recepção a um padre que chegava à cidade etc. Os fiéis tinham por
costume, quando inauguravam um estabelecimento comercial, industrial ou construíam sua casa,
chamar autoridades religiosas e políticas, os radialistas, a família, os amigos e a população em geral
para a cerimônia. Era o padre que fazia a bênção do local.
Também era e é constante a presença dos padres com os fiéis na organização das
tradicionais festividades religiosas. Algumas festas são marcantes em nossa igreja: de São Sebastião
em janeiro, de São Cristóvão e do Motorista no dia 25 de julho, de Santa Rita de Cássia no dia 22 de
maio e de Nossa Senhora Aparecida no dia 12 de outubro, do nascimento de Jesus – Natal.
Os assuncionistas fizeram um trabalho que irradiava de Fernandópolis e exigia um esforço
de equipe. Em sua visita pastoral em 1952, Dom Lafayette escreveu: “Ao Revmo. Padre Canísio e
seus auxiliares devemos a vida espiritual nessa vasta paróquia” (PESSOTTA, 1996, p. 132).
Assegurada a vida espiritual na paróquia pelos assuncionistas, era necessário mantê-la
“viva” com os padres diocesanos que vieram para substituí-los em 1983. Esses padres dirigem a
paróquia até hoje e também tiveram e têm um papel relevante em nossa comunidade.
Em 1982, foi nomeado para a Diocese de Jales (criada em 1960), à qual pertence nossa
paróquia o bispo Dom Demétrio Valentini, e “com ele a Diocese entrou num processo pastoral
participativo em sintonia com as Diretrizes Pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB)“.
Nesse contexto, os primeiros padres diocesanos chegaram à nossa paróquia em 1984, com
uma nova mentalidade religiosa alicerçada na Teologia da Libertação. Segundo a profª. Maria Isabel
Bizelli Vidal126, responsável pelo livro de batismo da igreja, “a teologia da libertação começou na
igreja com o Pe. Sardinha (Antonio de Jesus Sardinha), primeiro vigário diocesano de nossa
paróquia, chegando aqui em 1984 e permanecendo até 1991. Atua até hoje em nossa diocese127.
Chegaram depois outros padres também dessa corrente: o coordenador da paróquia, Pe. Geraldo
José da Silva (1986 a 1998), Pe. Geraldo Trindade (1991 a 1998) e Pe. Mario Roberto R. Faria. (1991
a 2004)”.
A criação das Comunidades Eclesiais de Base (CEB)128 talvez tenha sido uma das formas
mais eficazes da atuação dos padres ligados à teologia, na comunidade fernandopolense que, com o
apoio das irmãs, principalmente irmã Lurdes e irmã Terezinha, visitavam os bairros, incentivavam os
moradores católicos a criarem as suas comunidades que, depois de constituídas, continuavam a
caminhar com os próprios moradores. Hoje nossa paróquia é constituída por 23 Comunidades
Eclesiais de Base129 em vários bairros, agrupadas em três núcleos.
Após o Concílio Vaticano II (1962-1965), que provocou inúmeras mudanças na igreja e nas
ações dos religiosos (a missa passou a ser rezada em português, os padres passaram a rezá-la de
frente para os fiéis etc.) e dos fiéis, tornou-se muito valorizada a ação desses leigos na Igreja. Hoje,
homens, mulheres, jovens e até crianças têm um papel importante de evangelização e de
contribuição para que a Igreja alcance a sua missão. O que para nós demonstrou bem essa
correlação foi o depoimento da ministra leiga, Eulália Sartori: “Antes você assistia à missa e hoje você
130
participa ”.
Nessa perspectiva, foram criadas diversas Pastorais como: a Matrimonial, a Litúrgica, da
Promoção Humana, dos Quarteirões, do Centro da Promoção da Mulher (CPM), da Vocacional

126
Maria Isabel Bizelli, em sua casa, numa conversa informal com a profª. Péta Matos, em março de 2011.
127
Pesquisa feita no site da Diocese de Jales. Disponível em:
<www.diocesedejales.org.br/portal/presbiteros.php>. Acesso em: 14 abr. 2011.
128
As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) são comunidades ligadas principalmente à Igreja Católica que,
incentivadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), se espalharam principalmente nos anos 1970 e 80 no Brasil e
na América Latina.
129
Sobre as Comunidades Eclesiais de Base em Fernandópolis, acessar:
<www.microservicenet.com.br/Srita/Comunidades>.
130
Depoimento de Eulália Malaquias Leonel Sartori, 67 anos, casada, à profª. Peta Matos, na Sacristia da igreja,
em 31 de março de 2011.
289

Pastoral das Exéquias ou Esperança, da Visita, do Batismo, da Juventude, da Saúde, do Dízimo, da


Catequese, da Comunicação, dos Ministros Leigos.
A Igreja conta também com diferentes movimentos: Apostolado da Oração, dos Vicentinos
(Sociedade São Vicente de Paulo), do Cursilho, do Movimento Familiar Cristão (MFC) e do Grupo de
Oração Rosa Mística.
Com o objetivo de administrar, junto com o pároco, os bens patrimoniais da paróquia e
promover e realizar as festas da Igreja, em nossa paróquia, foi instalado o Conselho Pastoral
Administrativo (CPA), que é a principal instância de sustentação do pároco.
Por fim, a paróquia mantém diversos Projetos Sociais, com apoio da Diocese (DIOCESE,
2011). São eles:
1 – Projetos com juventude131: Projeto Juventude e Vida, Projeto Espaço Amigo, Projeto Casa da
Convivência Bem Viver, Casa Cofasp – casa abrigo;
2 – Projetos para recuperação de dependentes: Associação de Voluntários de Combate ao Álcool e
as Drogas;
3 – Projetos com lixo reciclável: Acarf – reciclagem;
4 – Outros Projetos Sociais com destinação diversa: Lar dos Velhinhos, UNATI - Universidade da
Terceira Idade, ADVF- Associação dos Deficientes Visuais e APADAF- Associação dos Deficientes
Auditivos.
É tradicional a oração de Santa Rita, que propõe uma comunhão com a idéia de que são
necessários responsabilidade e compromisso social de todos os católicos, religiosos e leigos para
com a comunidade:

Onipotente e Eterno Deus, que concedestes inúmeras graças à Vossa serva Santa
Rita de Cássia, concedei também a mim perseverança na oração e na caridade.
Que eu enfrente as tribulações desta vida com renovado espírito de oração e prática
sacramental. Por Cristo Senhor. Amém. Santa Rita de Cássia, rogai por nós.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Inez Maria Bitencourt do. Entre rupturas e permanências: a igreja católica na região de
Dourados (1943–1971). 2005. Dissertação. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Câmpus de
Dourados, 2005. Disponível em: <www.ufgd.edu.br/.../dissertacao-de-inez-maria-bitencourt-do-
amaral>. Acesso em: 20 abr. 2010.

BANDOS, Maria José Brandini Dutra. Anotações. Acesso em: abr. 2010.

DIOCESE de Jales. Disponível em: <http://www.diocesedejales.org.br>. Acesso em: 30 nov. 2010.

DIOCESE de Jales. Disponível em:


<www.diocesedejales.org.br/portal/content.php?catid=11&notid=430>. Acesso em: 27 ago. 2011.

HISTÓRICO dos primeiros tempos da Igreja Católica em Fernandópolis Disponível em:


<www.microservicenet.com.br/Srita/>. Acesso em 2010.

PESSOTTA, Amadeu Jesus et al. Fernandópolis - nossa história, nossa gente. Fernandópolis : Bom
Jesus, 1996.

131
Para maiores informações sobre o interessante trabalho da COFASP, acessar o site: <www.cofasp.org.br/>.
IGREJAS EVANGÉLICAS EM FERNANDÓPOLIS

1 INTRODUÇÃO
Em 1943, quando um ato político uniu as duas vilas (Vila Pereira e Brasilândia) que deram
origem a Fernandópolis, os evangélicos já estavam presentes e atuantes no município. De maneira
tímida e sem grandes representações, realizavam cultos, reuniões de oração e mesmo batismos. Na
época não havia energia elétrica, nem ruas asfaltadas, e a maioria da população morava na zona
rural, embora isto não fosse empecilho para frequentar os locais de cultos.
Após a união das vilas, as igrejas se foram fortalecendo na medida da perseverança e fé. A
igreja católica exercia domínio cultural e religioso, e se tornar um crente era uma decisão difícil, pois
quase sempre sua fé era discriminada não pela igreja Católica, mas pelos habitantes como um todo –
herança provável de cismas ocorridos no passado (Reforma Protestante de Martinho Lutero) e das
cristalizações da tradição católica apostólica romana. Os chamados protestantes enfrentaram muitas
adversidades devido à doutrina confrontante com católicos e com os costumes. A crença dos
evangélicos em ter a bíblia como regra de fé única, a abolição de imagens de adoração, dentre
outras, renderam muitos debates e animosidades entre as pessoas que criam, principalmente, na
tradição romana.
Os poucos locais de cultos se resumiam a casas dos que professavam a fé que, unidos,
foram juntando forças para adquirir terrenos e construir templos. As construções aconteciam,
principalmente, em mutirão nos finais de semana, assim como acontece nos dias atuais.
Precisar datas para a primeira igreja evangélica é difícil, porém, sabe-se que, em 1939, já
existiam famílias evangélicas na Vila Pereira. A presença de missionários e pastores representando
as várias denominações, vindos de cidades maiores, davam assistência (espiritual e material) às
famílias residentes na cidade.
As igrejas alugaram salões com o intuito de estabelecer locais mais adequados e, aos
poucos, se foram fortalecendo.
Nas décadas vindouras, as denominações de várias tendências se fixaram na cidade. Em
1993 (portanto, nos primórdios da cidade), foi criada a Associação de Ministros Evangélicos com o
intuito de congregar várias igrejas. Outras instituições se fortaleceram, tais como a Associação dos
Homens de Negócio do Evangelho Pleno (Adhonep), que promove eventos para a divulgação do
evangelho, e os Gideões Internacionais, que distribuem bíblias e funcionam como um braço
estendido das igrejas.
Hoje, em novembro de 2011, existem cerca de 50 templos e outros locais de cultos
132
distribuídos entre aproximadamente 30 denominações diferentes .

2 HISTÓRICO E TRABALHO: IGREJAS EVANGÉLICAS EM FERNANDÓPOLIS


2.1 Igreja Adventista da promessa
No ano de 1947, foi aberto um salão, na Avenida Sete, sob a coordenação do Pr. Davino
Mendes. Portanto, a Igreja Adventista da Promessa encontra-se instalada em nossa cidade há 64
anos.
No ano de 1951 foi inaugurado um pequeno templo na Rua Rio Grande do Sul, num terreno
grande, em meio ao mato e capinzal, tendo apenas do lado direito uma casa de pau a pique.
Há 64 anos famílias de raízes fortes, alicerçadas no conhecimento da palavra, floresceram e
produziram bons frutos para manutenção, propagação, desenvolvimento e crescimento da obra de

132
Em junho de 2011, uma das propostas sugeridas ao Conselho Editorial desta obra foi a inserção, em suas
páginas, da origem e atual funcionamento das Igrejas Evangélicas em Fernandópolis, ao que prontamente o
Conselho acatou por reconhecer a importância que tais igrejas tiveram – e muito – para o crescimento da
Fernandópolis. Embora todas primem pelo seu trabalho apostólico ou doutrinário, algumas das igrejas
evangélicas também se destacam pelo trabalho social, educacional e de assistência social. Porquanto se deva
respeitar a “diversidade religiosa”, reconhece-se, acima de tudo, a importância que tiveram na conjugação de
esforços pela busca por construir uma comunidade mais sadia e fraterna. Assim, apresentam-se, neste trabalho,
relatos ou históricos dessas igrejas, elaborados por ou sob a responsabilidade das próprias igrejas ou de seus
pastores. À Equipe Executiva coube a reorganização deste trabalho e a adequação textual para publicação, além
de alterações no texto original adequadas a torná-lo mais claro (didático) e acessível.
291

Deus nesta cidade. As primeiras famílias eram formadas por Angelim Nossa, Bernardino Nossa,
Cezar Covre, Guido Lavezzo, Luiz Maiolo, Orlando Mantelli, Orlando Bariani etc.
Com o crescimento da igreja, houve a necessidade de ampliar a tenda, alongar as estacas.
Em 1982, iniciou-se uma nova construção no mesmo local, sob a liderança do Pr. Dirceu Nunes de
Faria e do irmão Ovídio Pedro Martins. Em 18.06.1983, foi inaugurado o novo templo. Após alguns
anos, em 16.06.2001, na administração do Pr. Osi Freschi Ferreira, o templo foi reinaugurado com
alterações internas e ampliação nas demais dependências.
Hoje, temos filhos, netos e bisnetos dos patriarcas da Igreja de Fernandópolis exercendo
liderança na igreja local e nas diversas igrejas do País. Os pastores que por aqui passaram foram
Davino Mendes, José Pereira Mendes, Davino Mendes (2ª Gestão), Vicente Muniz Falcão, Manoel
Correia, Jonatã Muniz Falcão, José da Costa Menezes, Junílio da Silveira, José Francisco Barros,
Marcelino Deúngaro, Dirceu Nunes de Faria, Marcelino Deúngaro (2ª Gestão) e Osi Freschi Ferreira,
que, por quase onze anos, tem exercido o pastorado da Igreja na Rua Rio Grande do Sul.
Por dois anos (2006 e 2007), contamos com a ajuda do Pr. Janir da Silva Gói, que, hoje,
lidera a 1ª Igreja em São J. Rio Preto.
A igreja mãe de Fernandópolis gerou outras igrejas na região. No final do ano de 2000, houve
a inauguração da 2ª Igreja Adventista da Promessa em Fernandópolis, situada na Vila Veneto. Em
agosto de 2007, foi inaugurada mais uma Igreja na cidade de Meridiano, que abriga cerca de 100
adeptos.
Os fiéis da Igreja Adventista da Promessa se sentem orgulhosos pelo reconhecimento da
comunidade local devido ao trabalho espiritual por ela realizado
Fernandópolis, 16 de junho de 2012.

2.2 Igreja Adventista do Sétimo Dia


A história da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Fernandópolis é pautada por pioneirismo,
lutas e idealismo. Ela nos remete ao início da história da nossa cidade, pois, através da memória dos
pioneiros, resgatamos também nomes de pessoas que ajudaram a transformar um pedaço de terra
no sertão paulista em uma comunidade pungente e solidária.
Por volta dos anos de 1939 e 1940, aqui chegaram as famílias Russo, Martinelli, Prato,
Silva, Mayor, Rondon, Bernardi, Zanardi e Colombano, que ajudaram a construir a história desta
cidade e a da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
No ano de 1948, com a chegada do Pr. Altino Martins, a primeira igreja foi organizada. Foi
um começo difícil: marchas e contramarchas, lutas e desafios tiveram que enfrentar os pioneiros e um
pequeno grupo de pessoas, juntando cada tijolo e pedra para erguerem o primeiro templo. A história
da cidade de Fernandópolis, sem o atestado de trabalho desses homens e mulheres, seria
incompleta.
A Igreja em Fernandópolis conta com aproximadamente seiscentos membros que se
dividem em três templos, um central na Avenida Paulo Saravali, outro no Bairro Jardim Paraíso e um
terceiro no Bairro do CAIC. Fazendo parte desta estrutura, está em construção uma Escola e um
Centro de Desenvolvimento Infantil no Parque Universitário.
Possui também o Clube de Aventureiros e o Clube de Desbravadores formados por
meninos e meninas de 5 a 15 anos, que se reúnem aos sábados e domingos, para desenvolver
talentos, habilidades, percepções e o gosto pela natureza. Participam de campanhas comunitárias,
combatem o uso do álcool, fumo e drogas. Em tudo buscam desenvolver o amor a Deus e à Pátria.
Esses clubes são abertos a toda comunidade sem discriminação étnica, social ou religiosa.
A Ação Social Adventista (ASA) atua na cidade levando às pessoas projetos emergenciais e
de desenvolvimento, especialmente nas comunidades mais carentes, atendendo a suas
necessidades básicas e visando aos eu desenvolvimento como seres humanos criados por Deus.
Nossas doutrinas e princípios têm como objetivo o desenvolvimento harmônico de todas as
capacidades do ser humano: física, mental, intelectual, tornando-o um cidadão cônscio e responsável
por seus direitos e deveres. Primamos pela melhoria da qualidade de vida através da adoção de
princípios de vida saudável e cuidados com a natureza.
Não podemos considerar nosso trabalho acabado, pois somos um povo que aguarda o
advento, a vinda do Senhor Jesus, e, enquanto o fazemos, queremos continuar crescendo com a
cidade e colocando-nos a serviço de sua comunidade.
292

2.3 Igreja Assembléia de Deus


A Assembléia de Deus chegou a Fernandópolis através de famílias que se fixaram na
cidade em busca do sertão para construir suas vidas. As terras eram baratas e havia incentivos para
se adquirirem áreas para a agricultura.
No início da década de 40, quando a cidade ainda não era emancipada e organizada, as
Vila Pereira e Brasilândia se rivalizavam como distrito para adquirir o patamar de município.
Nesse período, a igreja no Brasil experimentava um avanço na mensagem pentecostal com
o envio de vários missionários pregando a mensagem trazida por Daniel Berg e Gunnar Vingren. Os
missionários suecos, que aportaram em Belém do Pará em 1910, trouxeram consigo a promessa de
um Jesus que salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o Céu.
Com o ato de criação de município em 1944, os assembleianos já estavam presentes na
então Vila Pereira. Em 07 de março de 1943, a igreja realiza o primeiro batismo nas margens do
Ribeirão Santa Rita, dirigido pelo pastor João Lourenço. A fundação oficial da igreja aconteceu em 10
de julho de 1943.
Os cultos eram realizados no local onde mais tarde foi construída a Praça Joaquim Antônio
Pereira. Nesse período, foi adquirido um terreno na Rua Rio Grande do Sul, onde a igreja sede
funciona até os dias atuais.
Em 16 de outubro de 1948 se dá a chegada do Pr. Florentino Zacarias, vindo da cidade de
Bebedouro e, naquele ano, uma pequena igreja com capacidade de 15 pessoas já existia; pouco
mais adiante, foi substituída por um templo com medidas maiores, com formas modestíssimas.
O pastor Florentino foi recepcionado por poucas famílias que mantinham a denominação na
cidade: famílias Antoniolli, Otaviano e Candeia.
Os meios de locomoção nessa época eram carrinho de tração animal e, quando existiam
ônibus, estes eram muito escassos, paravam longe dos destinos.
Os primeiros cooperadores do Pr. Florentino foam: José Felipe Santiago, Francisco Gomes,
Francisco Apolinário, José Maiolo Filho. Com a abertura de outras congregações, surgiram outros
como David Lacerda, Amilcar Nalini, Joaquim Domingos Ribeiro, Durvalino Dias, Moisés Lacerda,
Giácomo Farina. Além de sua esposa Maria Veloso Zacarias, várias mulheres também se
destacaram, dentre elas a irmã Luiza Antoniolli, que se dedicavam à igreja.
Na década de 50, com a expansão da evangelização, várias cidades da região foram
alcançadas e o destaque na época foi a cidade de Meridiano, em que, após 60 dias de pregação, já
existiam mais de 50 pessoas congregando.
Em 1953, foi inaugurada a casa pastoral nos fundos da igreja na Rua Rio Grande do Sul,
seguido também por várias construções de templos e casas na região de Fernandópolis.
Em 1962, o Pr. Florentino Zacarias se mudou para a cidade de Jales e levou consigo a sede
regional da igreja, deixando para cuidar da congregação de Fernandópolis o Pr. Alcides Pereira de
Souza, de Tupã (SP); seu trabalho se estendeu por 13 anos. Nesse período, os eventos eram
centralizados em Jales, onde foram realizados congressos memoráveis.
A saída do pastor Alcides se deu por doença, e assumiu o presbítero Amilton Borges de
Matos, que sairia no final de 1979. O pastor Elandi Mariano da Silva, de Votuporanga, assumiu
interinamente a liderança até que se decidisse a possibilidade de a igreja de Fernandópolis
transformar-se em um campo autônomo.
Em 20 de dezembro de 1982, a igreja passou a sede de campo, desvinculando-se da
regional de Jales. Nessa data assume o pastor Antonio Rufino de Oliveira. Em sua gestão foi
adquirido um terreno em que funcionava uma máquina de beneficiamento de arroz no bairro
Brasilândia onde, mais tarde foi erguido o templo da congregação do bairro. Com a saída do Pr.
Antônio Rufino assume novamente, de maneira interina, o Pr. Elandi Mariano até 14 de dezembro de
1984, data em que chega para presidir a igreja o Pr. Davi Barbosa Chaves. Em sua administração
foram comprados três novos terrenos, próximos ao bairro da Cohab, onde foram construídas uma
nova casa pastoral e a congregação.
Em 19 de dezembro de 1991, assume a igreja o Pr. Vicente Paula de Freitas. A igreja havia
crescido e se tornava desconfortável a realização de cultos e principalmente de eventos: urgia
ampliar o templo. A gestão do Pr. Vicente foi marcada pelo início das obras da construção da nova
sede da igreja. A casa pastoral foi demolida e, nos finais de semana, os fieis se reuniam em mutirão
293

para a construção. O Pr. Ilson Donizete de Oliveira, mestre de obras, dava as diretrizes a serem
seguidas. Durante a construção, os membros da igreja sede passaram a realizar seus cultos na
congregação de Brasilândia.
Em 06 de maio de 1995, a igreja passou a ser presidida pelo Pr. Pedro Raimundo da
Rocha, de Piracicaba (SP) em cuja administração a igreja voltou a congregar no templo central, sem
piso, forro e ainda com bancos antigos. Em 21 de fevereiro de 1997, o Pr. Valdeni Carneiro de
Oliveira foi empossado como interventor da igreja, em que ficou apenas 19 dias como pastor. Esse
fato ocorreu por determinação do Ministério do Belém em São Paulo, que interveio na saída do Pr.
Pedro Rocha. Com a chegada do Pr. José Soares de Melo Filho, mais conhecido como Pr. Zezito, em
12 de março de 1997, várias congregações foram reformadas.
Em 31 de julho de 1998, assume a presidência da igreja o Pr. Leonardo Benedito Garcia,
que prosseguiu vários trabalhos iniciados. Destacam-se, nesse período, os acabamentos do templo
da igreja sede: a colocação de piso, forro e a compra de novos bancos, além da aquisição da
congregação do Bairro Palma Mininel. A sua administração foi até o dia 16 de abril de 2004, quando
chega a Fernandópolis o Pr. João Barbosa da Silva.
O Pr. Barbosa, eloquente pregador, priorizou a renovação de frentes de trabalho. No ano de
2005, foi realizado o 1º Encontro de Adoração e Santificação no Recinto de Exposições da cidade.
Tal evento marcou a cidade e a região com a presença de muitas caravanas do estado e a presença
estimada de 10 mil pessoas e contou com a presença de principais pregadores e cantores do Brasil
de então. Nesse período foi adquirida uma área de cerca de 1700 m2 na Rua Minas Gerais, com o
projeto de construção de uma nova sede.
A igreja passou a ser presidida pelo Pr. Elias Evangelista de Farias a partir de 31 de Abril de
2008, de Mirassol (SP). Em sua gestão, adquiriram-se novos terrenos, ampliando, reformando e
construindo templos dos quais cinco foram inaugurados em três anos e meio de administração.
Também foi adquirido um ônibus para a congregação.
Hoje, a igreja conta com 11 templos próprios na cidade, 4 em cidades da região, além de
outros 12 locais de cultos. Passados 68 anos de sua fundação, a igreja agradece a Deus pela história
de lutas e vitórias.

2. 4 Assembléia de Deus – Ministério de Madureira


A igreja foi fundada em 1976 pelo Pr. Sebastião de Sá. Durante todos esses anos até o
presente, ela tem cumprido um trabalho de fé e evangelização e procurado atender a todos, do mais
humilde ao mais abastado.
Atualmente, é dirigida pelo Pr. Josué José da Costa, que assumiu em 28 de julho de 2010.

2.5 Igreja Pentecostal Coluna de Deus


A Igreja Pentecostal Coluna de Deus foi fundada no dia 20 de abril de 2000 em
Fernandópolis, na Rua Vitório Passarini, n° 808, Jardim Canaã, pelo Pr. Luis Carlos de Assumpção,
na época, presbítero, responsável pela Igreja até o ano de 2003.
Nesse mesmo ano, recebeu a consagração de pastor da Igreja, ungido pelo Pr. Francisco
de Assis na cidade de São José do Rio Preto (SP). Também foi aberta uma congregação em
Fernandópolis, na Av. Afonso Cáfaro, n° 3338, no bairro da Estação.
Em 2004, a Igreja Pentecostal Coluna de Deus sede foi transferida para a Rua Senhora do
Santana, n° 140, no bairro Higienópolis, onde o Pr. Luis Carlos de Assumpção foi empossado como
1° Presidente, e o Pr. Donizete Prudenciano do Carmo como Vice-presidente.
Além de sua obra de evangelização, a igreja realiza batismos, casamentos e outros
eventos, sempre buscando a expansão da fé através da palavra do Senhor.

2.6 Comunidade Renovada de Fernandópolis


Iniciou-se com um pequeno grupo de fieis na Rua Nossa Senhora Santana, nº 142, no
Jardim Progresso, fundos do Cemitério da Saudade.
Em 1994, a regional enviou o Pr. Francisco Aparecido Biagge, que assumiu o pequeno
grupo e acabou transferindo sua residência de Votuporanga para esta cidade.
A partir de então, o Pr. Francisco, com a comunidade, passou a desenvolver um trabalho
voltado para a evangelização, alcançando crianças, jovens, famílias, as quais tiveram suas vidas
294

transformadas. Desenvolveu, também, um trabalho de assistência a todas as classes sociais, cujo


resultado significou um crescimento numérico de pessoas, o que ensejou, no ano de 2001, a
construção de um novo templo, mais amplo, para melhor conforto da comunidade: estacionamento
próprio, quadra poliesportiva, espaço social para crianças, jovens e terceira idade, situado na Avenida
Geraldo Roquette, nº 1471, jardim Cambaúva.

2.7 Congregação Cristã no Brasil


A igreja se iniciou pela obra de Louis Francescon, italiano, residente nos Estados Unidos,
em 08 de março de 1910, quando veio para o Brasil em missão de evangelizar. Iniciou seu trabalho
em Santo Antônio da Platina (PR), onde converteu os primeiros crentes. Em 05 de junho daquele
ano, houve o primeiro batismo para onze adeptos.
A partir de então, seu trabalho propagou-se. Chegou a Fernandópolis em 1944, quando
seus primeiros fieis se reuniam em casa residencial. Em 1949, foi construída a primeira Casa de
Oração bairro Brasilândia, com a realização do primeiro batismo para 53 pessoas. Em 1960, foi
iniciada a construção da Congregação Central, sita na Rua Bahia, 1.578, aberta aos cultos em 1962.
Em 1974, foi concluída a terceira Casa de Oração, no Parque Vila Nova. Com sua expansão,
concluíram-se outras casas: em 1986 no Jardim Araguaia, em 1989 na Cohab Antônio Brandini, em
1994 no Residencial Ana Luiza, em 1997 no Jardim Uirapuru, em 1998 no Jardim Ipanema, em 2002,
no Residencial Pôr do Sol; em 2007, houve demolição e reconstrução na Brasilândia e, em 16 de
agosto de 2009, foi iniciada a construção da Casa de Oração no Jardim Morada do Sol, aberta
recentemente, em abril de 2011. Somente na cidade de Fernandópolis, são dez os templos da
Congregação Cristã no Brasil, todos em sede própria.
A obra da igreja tem aumentado consideravelmente nesses anos. Fernandópolis é,
atualmente, sede Regional (a Congregação possui 8 regionais no estado de São Paulo, sendo uma
em Fernandópolis), com prédio próprio construído em uma área de dez lotes de terrenos no
Residencial Ana Luíza, agregando 149 congregações da região Noroeste do estado de São Paulo,
inclusive nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Em prédio anexo à igreja do Residencial Ana Luíza, também se agregam as acomodações
da obra da piedade, com salas de corte e costura, cama, mesa e banho para atendimento de
carentes. Atualmente, a igreja conta com dois jovens Anciãos, dez cooperadores do ofício ministerial
que atendem as congregações, oito diáconos, dez cooperadores de jovens e menores, dois
encarregados regionais (maestros) e dez encarregados locais (maestros das orquestras locais),
duzentos e oitenta e sete músicos, duas examinadoras (maestrinas) e setenta e seis organistas, e
centenas de irmãs que atendem como diaconisas da obra da piedade em atendimento dos carentes,
todos distribuídos nas congregações de Fernandópolis.

2.8 Igreja Cristã Nova Vida


Em 30 de junho de 2004, a igreja chegou a Fernandópolis: Pr. Sérgio com a esposa Soraia
e os filhos Samuel e Sarah, para fundarem a primeira “Igreja Cristã Nova Vida” no estado de São
Paulo, em Fernandópolis.
Tudo começou quando a irmã Deise, de Fernandópolis, esteve em visita ao Rio de Janeiro e
conheceu uma das igrejas cristãs Nova Vida, no bairro de Botafogo. Logo solicitou a um dos Bispos a
criação de uma Nova Vida em Fernandópolis. Após longos meses de diálogo com o Bispo Ubirajara
Fernandes (responsável pelas missões), foi chegado o momento de inaugurar uma igreja em
Fernandópolis.
Pr. Sérgio se voluntariou para participar do desafio: deixou um trabalho próspero em uma
multinacional, todos os familiares e amigos, para se mudar para Fernandópolis e iniciar seus
trabalhos. Durante quatro meses, as reuniões se realizavam em sua própria casa em Fernandópolis.
Após esse período, a igreja mudou-separa um salão maior e mais apropriado, com o templo na
Rua Paraíba, n°1970, Higienópolis, em Fernandópolis.
Pr. Sérgio Vidal

2.9 Igreja Formosa


Antigamente, a Igreja tinha por nome Igreja Evangélica Pentecostal Formosa
Evangelização e Cura Divina – Prodígios de Jesus, fundada em 07 de setembro de 1961 pelo Pr.
295

José Jairo Gândara, que se estabeleceu como seu presidente. Após seu falecimento, em 02 de maio
de 1968, a presidência da Igreja passou a um jovem pastor, o Sr. Edson Marques de Farias.
No ano de 1973, em 07 de setembro, o Pr. Edson declarou com ousadia: “O Senhor nosso
Deus, que nos tem orientado na realização de sua obra nos fará sair do anonimato para fazer uma
grande obra evangelística pentecostal no Brasil inteiro”. Hoje, essa palavra se cumpre fielmente, pois
a Igreja Formosa tem sua extensão em vários estados do Brasil e Paraguai. E, através do “Grupo
Musical Formosa”, a Igreja é conhecida em todo o Brasil e em vários outros países.
Com a fusão dos ministérios, em 01 de janeiro de 1974, o nome da Igreja foi modificado
para “Igreja Pentecostal Maravilhas de Jesus”.
Com o falecimento do Pr. Edson em 1974, a presidência da Igreja passa a ser exercida pelo
Pr. Ostílio Xavier de Souza, que a dirige até os dias atuais.
No dia primeiro de maio de 1983, o nome do ministério foi novamente alterado a pedido do
Pr. Leonel da Silva, e passou a chamar-se “Igreja Evangélica Pentecostal Formosa”.
Em Fernandópolis, a Igreja Formosa foi fundada no ano de 1972, pelo Pr. José Dias
Cardoso. Hoje como dirigente local está o Pr. José Ferreira Duarte, desde 1983. A Igreja está
localizada na Av. São José do Rio Preto, n° 527, bairro Coester.

2.10 Igreja O Brasil para Cristo


Com a iniciativa do missionário Manoel de Mello e Silva, desencadeou-se um movimento
nacional de evangelização, em 1956, que é, hoje, a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para
Cristo e que se encontra entre as maiores denominações pentecostais do Brasil.
Em 1960, deu-se inicio a uma grande obra de evangelização em Fernandópolis, com o Pr.
Paulo Scarano, juntamente com a sua esposa Maria José de Oliveira Scarano, que em tudo auxiliou
seu esposo.
Vindo da cidade de São José de Rio Preto (SP), sem medir esforços, fundou a primeira
“tenda” na Avenida Nove, no centro de Fernandópolis. Anos depois, mudou-se para a Rua Paraná,
onde foi adquirido um terreno e se iniciou a construção do templo a Igreja O Brasil Para Cristo. Anos
mais tarde, em 28 de novembro de 1998, foi inaugurado o novo templo sede da Igreja. Hoje o templo
sede se constitui em verdadeira catedral, localizada na Rua São Paulo, bairro Coester, próximo ao
comando do Batalhão da Policia Militar.
A Igreja Evangélica Pentecostal Brasil Para Cristo vem fazendo história nesta Cidade de
Fernandópolis há mais de 50 anos. O Pr. Paulo Scarano, quando “chamado” para iniciar sua obra em
Fernandópolis, bem conduziu seu ministério.
A Igreja atual tem, sob direção, o Pr. Jecélio Soares Floriano, que tem dado continuidade à
obra. Atualmente, o ministério conta com quatro igrejas na cidade e três congregações na região: em
Estrela D’Oeste, Santa fé do Sul e Brasitânia (distrito de Fernandópolis). A primeira congregação,
situada na Rua Paraná, centro (próxima ao Estádio), tem na direção o Pr. Rubens Honório Soares; a
segunda congregação (CAIC), no Residencial Benez, com a direção do Pr. Flávio de Lima; e a
terceira congregação, no bairro Ubirajara, tem na direção o presbítero Marcos Santiago.
Esse ministério ficou conhecido na cidade e região pelo seu trabalho de evangelização,
trabalhando na área social. Hoje se pode contar com reuniões das igrejas com uma grande
frequência de membros, amigos e visitantes.

2.11 Igreja Presbiteriana de Fernandópolis


Impossível falar da Igreja Presbiteriana de Fernandópolis sem citar o nome da Igreja
Presbiteriana de Indiaporã. Os crentes fixados em Indiaporã vieram todos de Frutal (MG), exatamente
do povoado denominado Ressaca.
Em 1942, Indianópolis, hoje Indiaporã, recebeu os primeiros fieis oriundos da Ressaca, os
quais foram pastoreados a partir de 1945 pelo Pr. Josué Spina França.
As informações precisas sobre o começo do presbiterianismo em Fernandópolis foram
prestadas pelos irmãos Gastão Vieira, Zacarias José Fernandes (já falecidos) e Diva Campos da
Silva, nascida aos 13 de abril de 1925, filha de Otaviano Campos e Jovelina Maria Campos que, em
23 de dezembro de 1942, fez sua Pública Profissão de Fé perante o Pr. Camilo Fernandes Costa, na
Igreja Presbiteriana de Indianópolis. Ela, ainda com vida em 2011.
296

O trabalho presbiteriano foi iniciado em Fernandópolis em 1946 por Cândido Odor dos
Santos, contando com Manoel Pontes, Zacarias José Fernandes, Gabriel Batista Diniz e seus
familiares, além das famílias Navarro e Pierre.
A partir de 1947, o Pr. Joaquim Rodrigues Mourão tornou-se o primeiro pastor da nova
igreja. Em 1948, ela foi enriquecida com a chegada do irmão Gastão Vieira e família.
Não podem ser esquecidos outros próceres como Américo Luiz Vieira, Joaquim Rodrigues
Mourão, Orlando de Oliveira Rosa, Elias Gabriel, José Calixto da Silva e Nelson do Nascimento, que,
em 25 de agosto de 1968, promoveu a Organização Eclesiástica da Igreja que, por longos 40 ou 50
anos, permaneceu na Av. Manoel Marques Rosa, 1013.
Esse resumo foi preparado pelo Pr. Daniel Custódio da Silva, que pastoreou a igreja de
1981 a 1984; depois, em uma segunda etapa, pastoreia a mesma igreja desde 1992 até o presente.
As palavras chaves que norteiam a igreja podem ser: pioneirismo, amor, sonho, fidelidade,
fé e trabalho.
A igreja não veio para espoliar a cidade, o povo, mas veio com a finalidade específica de
declarar a Fé em Jesus Cristo, pagando, ela mesma, por esse esforço. Sua Declaração de Fé
encontra-se resumida na Confissão de Fé de Westminster, aceita e acatada pelas Igrejas
Reformadas (calvinistas) no mundo todo.
Registra-se que a Igreja Presbiteriana do Brasil completou seu sesquicentenário no Brasil
em 12 de agosto de 2009; em 09 de julho último (2012) foi comemorado, em todo o mundo, o
nascimento de João Calvino, francês de naturalidade, que adotou Genebra como sua cidade do
coração. A igreja em Fernandópolis, em 2009, completou 41 anos de organização eclesiástica.

2.12 IPI de Fernandópolis


A cidade de Fernandópolis teve seu início em 1939 quando a cidade ainda era Vila
Pereira. Nesse mesmo ano, começou a formação da igreja com a vinda de um grupo de crentes da
congregação do Sapé, jurisdicionada à Igreja Presbiteriana Independente de São José do Rio Preto
(SP), que fixou moradia no Córrego do Pau Roxo, a sete quilômetros de Fernandópolis.
Esse grupo permaneceu quase isolado, sem qualquer visita pastoral, recebendo apenas
esporádica assistência do presbítero José Alves do Santos, eleito em Rio Preto. Nesse grupo,
destacava-se a família Carvalho, cujo chefe era Félix de Souza Carvalho, falecido em 1943.
Logo depois, começaram a chegar novos crentes de outras regiões, porém, sem fixar
residência na cidade. O primeiro crente, de que se tem notícia, a fixar residência por aqui foi Virgílio
Euclides, membro da Igreja Conservadora, e sua esposa Vitalínia Ferreira da Silva, da Igreja
Independente.
Em 1942, já residia na cidade o irmão Cândido Odor dos Santos com sua família, que se
reuniram com os irmãos Virgilio e Vitalínia. O trabalho da Igreja teve início, e os cultos funcionavam
na casa de Candido até que fosse construída a Casa de Cultos.
Em 1943, vieram morar em Vila Pereira com suas famílias os presbíteros João Saturnino de
Almeida e Francisco Pereira da Silva, de Monte Aprazível e da Terceira Igreja de São Paulo,
respectivamente, fortalecendo o trabalho cristão na cidade.
Devido ao grande crescimento do trabalho em Vila Pereira e arredores, os irmãos
resolveram apresentar ao Conselho da Igreja de Votuporanga, a que estavam jurisdicionados na
época, um pedido em que se expunha o desejo de sua organização em Igreja. O Conselho atendeu
ao pedido e encaminhou-o ao presbitério do Oeste, que, em reunião de janeiro de 1944, resolveu que
se organizasse a Igreja de Vila Pereira.
Em 27 de fevereiro de 1944, deu-se a organização da Igreja com 124 membros maiores de
idade e 71 menores, cuja comissão se compunha do Pr. Silas Dias e dos presbíteros Jerônimo
Correia Lourenço e Luiz Zucolotto. Coube à assembléia presente eleger seus oficiais, sendo
escolhidos cinco presbíteros: João Saturnino de Almeida, José Alves dos Santos, Francisco Pereira
da Silva, Hortêncio Souza Carvalho e Antônio Pinto Cabral; três diáconos: Cândido Odor dos Santos,
Línio Ramos Filho e Vicente Bento Silva; e um Tesoureiro: presbítero Francisco Pereira da Silva.
Pastorearam a Igreja de 1944 a 2006 os seguintes pastores: Silas Dias, Rui Anacleto, João
Bernardes da Silva, Lutero Cintra Damião, Orlando Feraz, Rossinei Sales Fernandes, Josué Cintra
Damião, Rubens Aversari, Jorge Amaral Pinto, Neudir Batista, Getro Pereira da Silva, Josué de
Campos, Valdemar de Souza, Uverland Barros da Silva, José Pereira Filho e Edson Avelino da Silva.
297

Em 2007, o Reverendo Otoniel Marinho de Oliveira, já jubilado, assumiu temporariamente o


pastorado.
No ano de 2008, o presbitério Noroeste Paulista comissionou para pastorear a Igreja
Presbiteriana Independente de Fernandópolis o reverendo Antônio Carlos Alves, que permanece até
a presente data.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela síntese do histórico das igrejas evangélicas, é possível destacar seu trabalho de
evangelização e de solidariedade. Muitas delas desenvolvem um trabalho de cunho acentuadamente
social, além de seu trabalho doutrinário.
Outras vertentes religiosas surgem de ano para ano. De um modo geral, embora se iniciem
de forma incipiente, elas buscam, gradualmente, espaço para a elaboração e divulgação de “sua
verdade”. Os templos se disseminam, os adeptos também. O certo é que parece haver, nos corações
humanos, espaços para todos professarem e comungarem sua fé.

Colaboração
Associação das Igrejas Evangélicas de Fernandópolis
O ESPORTE AMADOR EM FERNANDÓPOLIS

Dedicatória

A todos os jovens fernandopolenses sadios de mente e de corpo, que se dedicam ao


esporte.
Ao jovem atleta, prematuramente falecido,

JOÃO NEVES DE OLIVEIRA SOBRINHO

Ele praticava o atletismo, na modalidade salto em altura e, em Santa Fé do Sul, em 1966.


defendendo a sua escola IEEF, machucou-se. Vindo a se agravar sua doença, culminou com sua
morte em 1968. Recebeu, como justa homenagem à perenidade, seu nome ligado à a quadra de
esporte da EELAS.

1 INTRODUÇÃO - JUSTIFICATIVA
Proposto o trabalho pela Câmara Municipal, uma monografia sobre Fernandópolis, resolvi
participar por várias razões:
a) A oportunidade é ótima para conhecer mais sobre a minha cidade. Conhecendo melhor
os homens, os acontecimentos, as vitórias e fracassos de nosso povo, a gente se sente mais
ajustado, mais fernandopolense e mais feliz.
b) Houve, também, a oportunidade para a aplicação do método da pesquisa, principalmente
a entrevista. Para realizar o trabalho, foram realizadas 22 entrevistas.
c) Contribuir, conseguindo informações valiosas, aproveitando fontes ainda existentes, para
a história do esporte em nossa cidade.
d) Escolhi o esporte, por ser um campo aberto, de que ainda não há nada registrado e
complementar a história desta urbe.
Este trabalho pretende ser um ponto de partida, uma motivação para que o assunto seja
mais plenamente estudado, deixando, portanto, de esgotá-lo. É o resultado da colaboração valiosa
dos antigos e atuais esportistas de nossa terra, aos quais agradeço.
133
“O Esportista”

133
O Esportista é o pseudônimo de um atleta da época, cujo nome permanece no anonimato, em que pesem os
esforços empreendidos para sua identificação. A própria Câmara Municipal, à época patrocinadora do concurso
de monografias e trabalhos sobre o esporte amador em Fernandópolis, não detém o registro do nome de seu
autor. Este trabalho, escrito provavelmente em meados de 1978, chegou às mãos da Equipe Executiva
responsável pela preparação deste livro recentemente (nos dias finais de fevereiro de 2012): o trabalho está
encadernado, com fotos originais, embora desgastadas pelo tempo. Para a publicação, a Equipe Executiva
efetuou, portanto, algumas adaptações a fim de ajustá-lo a uma redação final e apresenta chamadas para melhor
orientar o leitor ora no tempo em que os fatos ocorreram, ora para situá-lo dentro da história atual. A Equipe
Executiva teve o cuidado de preservar, tanto quanto possível, a redação original, bem como se esmerou em
manter a aura esportiva que envolveu aquele momento da história do esporte amador em Fernandópolis. O
texto, continuamente, convida o leitor a remontar ao ano de 1978 (quando foi elaborado o trabalho e se passou a
maioria dos fatos então recentes) ou anos anteriores e evocar lembranças.
Ao Esportista desconhecido rendemos a nossa mais elevada gratidão pelo registro de um pouco da história de
Fernandópolis e de sua gente.
299

2 A COORDENAÇÃO DO ESPORTE AMADOR EM FERNANDÓPOLIS

A - Inspetoria Regional de Esportes e Recreação


Essa inspetoria é vinculada à Delegacia de Esportes e Recreação de São José do Rio Preto
e é um órgão estadual.
A sua função é coordenar e organizar o esporte amador em nossa região, nas diversas
modalidades: basquete, vôlei, natação, futebol, atletismo, judô, malha, bocha, truco etc. Foi criada no
ano de 1970, quando ocupava o assento do Executivo o Sr. Leonildo Alvizzi, tendo sido publicada sua
oficialização no DO de 15 de agosto do mesmo ano. Para ocupar a pasta foi nomeado inspetor de
esportes e recreação o professor José Geraldo Mirabelli.
A Inspetoria colabora também com a Secretaria da Educação (Delegacia de Ensino),
organizando o Campeonato Colegial de Esportes, nas modalidades de basquete, vôlei, natação,
atletismo e ginástica. Essas competições obedecem a um calendário elaborado pela Secretaria de
Turismo e Secretaria de Educação.

B - Comissão Municipal de Esportes


O presidente da Comissão Municipal de Esportes (CME) não é remunerado, porém o órgão
tem à sua disposição verba dotada no orçamento do ano anterior, para ser empregada de acordo
com as necessidades, não podendo, em hipótese alguma, ser usada para o futebol profissional. Em
1975, Antenor Ferrari, então prefeito municipal, visando desenvolver o esporte amador na cidade,
criou a Comissão Municipal de Esportes, cujo primeiro presidente foi Querton Ribamar Prado de
Souza.

C - Departamento de Esporte e Turismo


Esse Departamento começou a funcionar na gestão de Milton Edgard Leão, por entender
que, normalmente um presidente de CME, por não ser remunerado, não tem condições de atender às
necessidades que o esporte amador e a recreação necessitam. Dessa forma, o cidadão que ocupar o
referido cargo, por ser remunerado, teria condições de preencher as lacunas que poderá haver na C
ME, uma vez que seu diretor teria tempo integral para se dedicar à intensa atividade exigida pelo
134
esporte. O atual diretor [1970] é o Sr. José Pereira Bastos.

D - As diversas modalidades do esporte amador em Fernandópolis (1949-1978)

O BASQUETE FEMININO EM FERNANDÓPOLIS

Esse esporte começou a ter destaque apenas em 1952, quando só havia um time na
cidade. Por esse tempo, as moças que jogavam eram muito incentivadas por uma senhora, já
casada, vinda de São Carlos: Elsa Buso.
Quando da participação do time de Fernandópolis nos Jogos Abertos em Sorocaba, em
1956, foram as próprias atletas que arrecadaram o dinheiro para as despesas da viagem.
Jogavam nessa época as seguintes atletas: Elza Gomes, Eva Gomes, Elza Buso, Erotides
Ferraz, Ivani Ferraz, Miriam Terra Verdi, Sidinei Del Grossi, Mirtes Terra Verd e Iara, a moça que
tinha vindo do Corínthians Paulista.
A primeira participação de Fernandópolis em algo importante foi nos Jogos do Interior
(Sorocaba). Segundo o técnico da equipe à época, Sr. Sérgio Cavariani, o time de Fernandópolis
estava com o melhor uniforme dentre os municípios do estado de São Paulo, um uniforme caro e
usado apenas por seleções famosas.
Por infortúnio, o time fernandopolense, logo no início, enfrentou a seleção de Sorocaba, que
tinha cinco atletas da seleção brasileira da época. A derrota foi inevitável, mas, segundo o técnico da
equipe, Fernandópolis não se deixou abalar pelo resultado, lutando o tempo todo.

134
Por se tratar de um texto escrito em meados de 1978, foram propostas algumas atualizações (elaboradas
pela Equipe Executiva) colocadas entre colchetes, que possibilitam melhor compreensão temporal ou
informacional.
300

Em 1957, foram realizados em Fernandópolis os jogos Intercolegiais. Participaram do grupo


de Fernandópolis as cidades de Tanabi, Votuporanga e Mirassol.
Todos esses jogos foram realizados na primeira quadra de basquete da cidade, onde hoje
está localizada a Caixa Econômica do Estado de São Paulo [atual Banco do Brasil, agência, na
Avenida Amadeu Bizelli, esquina com a Rua Rio de Janeiro]. Um desfile das equipes participantes
abriu os dias de competição (figura 1)

Figura 1 Desfile das equipes, 1957. A partir da esquerda: 1 - Desfile da delegação de Fernandópolis em
Votuporanga, 1956; 2 Desfile da delegação de basquete feminino em Fernandópolis em 1956
em Fernandópolis; 3 - Desfile do time de basquetebol feminino nos Jogos de Sorocaba, 1956; 4
- Desfile do time de basquetebol masculino nos Jogos abertos de Sorocaba; 5 Centro: Time de
basquetebol feminino na antiga quadra local da atual Caixa econômica estadual (hoje, Banco
do Brasil).
Fonte: O Esportista, 1978.

Em 1959, havia também um time em nossa cidade composto por jogadoras de diversas
escolas, principalmente do Instituto Estadual de Educação de Fernandópolis [IEEF, atual EELAS]. O
técnico dessas atletas também era o prof. Sérgio Cavariani, e o time era composto, entre outras,
pelas seguintes atletas: Maria José Estropa, Elza Gomes, Erotides Ferraz, Edna Maria Ferraz
(falecida recentemente), Dirce Biancardo, Marinez (falecida), Dirlei Malavazzi e Antonieta [ex-zeladora
da EELAS, também falecida].
Neste mesmo ano (1959), a equipe fernandopolense conquistou o terceiro lugar nos jogos
Intercolegiais.
Participaram também dos Jogos Abertos do Interior realizados em Santo André.
Em homenagem a ex-jogadora e uma das mulheres que mais incentivou o basquete
feminino e até masculino da EELAS, portanto incentivando também o basquete em nossa cidade, a
senhora Antonieta (zeladora da EELAS), que treinou e ainda colabora com a equipe desta escola,
colocamos aqui a sua fotografia (figura 2)
301

Figura 2 Antonieta Tazinaffo, s/d.


Fonte: O Esportista, 1978.

Daí por diante, o basquete passou a ter mais e mais pessoas interessadas, progredindo aos
poucos.
Já em 1966, nossa cidade participava de muitas partidas amistosas com cidades vizinhas.
Por esse tempo, jogamos dezoito partidas amistosas das quais perdemos apenas três. Fernandópolis
chegou mesmo a jogar nesta época com a seleção feminina do Uruguai.
A atual escola EELAS chegou, em 1969, a conquistar para nossa cidade o Campeonato do
Interior do estado, juntamente com o estadual. Foi, realmente, um grandioso feito do nosso basquete,
que passou a ser conhecido até no cenário estadual. O técnico da época era o senhor Anésio Soares
Pereira, atualmente, técnico no Automóvel Clube de São José do Rio Preto.
Mas também um senhor, que havia sido jogador até da seleção brasileira quando esta
conquistou o vice-campeonato do mundo na Alemanha, o Dr. Querton Ribamar (figura 3), foi muito
dedicado ao basquete em nossa cidade, tanto no masculino (equipe de que participou como jogador),
quanto no feminino, dando orientação às atletas e mesmo treinando-as sem receber nenhum salário
por isso.

Figura 3 Dr. Querton Ribamar, treinado o basquete feminino, 1969.


Fonte: O Esportista, 1978.
302

As atletas que jogaram nesse ano [1969] foram as seguintes: Cibeli do Carmo Bertuci,
Mariângela Ferreira Júlio, Maria aparecida Salioni, “Melô”, Sônia Arantes, Uzenir Maria da Silva e
Célia Salione

TROFÉU CAMPEÃO DO INTERIOR BASQUETE FEMININO 1969

Figura 4 Troféu Campeão do Estado, Basquete feminino 1969.


Fonte: O Esportista, 1978.

As figuras 4, 5 e 6 mostram os troféus conquistados pelo basquete da equipe da EELAS


nesses anos.
303

Figura 5 Troféu ganho pela EELAS, 1969.


Fonte: O Esportista, 1978. (Acervo da EELAS,)

Figura 6 Troféus ganhos pela EELAS, 1970.


Fonte: O Esportista, 1978. (Acervo da EELAS)
304

Em 1971, começaram, na escola “Coronel Francisco Arnaldo da Silva”, os treinos de


basquete, e as atletas eram orientadas pela professora de educação física, Valquíria. Messe. Nesse
mesmo ano, as jogadoras foram campeãs da primeira fase (Jogos Intercolegiais) e campeãs da
segunda fase (Jogos Regionais), realizados em Mirassol.
A partir de então, o basquete dessa escola evoluiu sempre e sempre,; as jogadoras vindas
do “Coronel” praticamente foram a base do basquete juvenil de Fernandópolis.
O time dessa escola foi também campeão mirim e infantil municipal durante os anos de
1971 a 1977, chegando neste mesmo ano [1977], a conquistar, além do campeonato municipal, o
sub-regional e o regional realizado em Franca. Conquistou também o vice-campeonato estadual
realizado aqui em Fernandópolis quando a equipe venceu todas as outras cidades, perdendo apenas
na final para Presidente Prudente, por 75x74, ou seja, por um único ponto.
As atletas eram: Flávia, Rosângela, Valéria, Felícia, Celi, Patrícia, Denise Moita, Denise
Castro, Lúcia Dimari, Cristina Prioli, Márcia Bortoluzo.
Na fase final ou estadual, participaram em Fernandópolis dos jogos as seguintes cidades:
Presidente Prudente (campeã), Sorocaba, Campos do Jordão e Casa Branca.
As atletas fernandopolenses chegaram, graças ao esforço realizado pela professora
Valquíria, a conhecer diversas cidades do estado de São Paulo e mesmo a cidade de Cuiabá. Nesta
cidade, o “Coronel” [como é carinhosamente chamada a escola] esteve nos jogos cuiabanos dos
quais participaram os times de diversas capitais brasileiras como: Belo Horizonte, Rio de Janeiro,
juntamente com o time da capital do país, Brasília, além das cidades do interior do estado. Nesses
jogos cuiabanos a equipe conquistou, em 1976, o terceiro lugar e, em 1977, o vice-campeonato,
feitos dignos das melhores equipes do País.
A figura 7 mostra a equipe do Coronel quando, em 1976, conquistou o campeonato mirim
(campeonato colegial).

Figura 7 Equipe do Coronel, em 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.

Também o basquete da EELAS (Escola Estadual de 1º e 2º graus Líbero de Almeida


Silvares) foi de muita valia para Fernandópolis, levando o nome de nossa cidade a diversos pontos do
estado e até em Cuiabá onde, em 1976, foram na Semana da Pátria. E continua sendo de muito
305

valor, pois cada vez mais se revela como o melhor time atual (juvenil) da nossa cidade. Em 1976,
chegou mesmo a vencer o campeonato interdelegacias, o campeonato regional, realizado em São
José do Rio Preto e conquistou o nono lugar no campeonato estadual, realizado na capital.
Os nomes das atletas desse ano eram: Lílian Mara Gomes, Lia Clemêncio do Nascimento,
Elizabeth Sugahara, Mari Ângela Garcia, Maria Iza Zanovelo, Sandra Cavazini, Maria Cristina Gomes
França, Dolores Ap. Peres, Rosa Maria Vantol Cavalin, Maria Alice, Mara e Lígia Peres. A figura 8
mostra a equipe vencedora de 1976.

Figura 8 Equipe da EELAS, 1976.


Fonte: O Esportista, 1978.

Já no ano de 1977, a equipe da EELAS (juvenil) conseguiu, além do campeonato do interior


do estado de São Paulo, o título de vice-campeã paulista de basquete juvenil feminino.
Sem dúvida isso representa muitíssimo para esse esporte em nossa cidade, pois além de
vice-campeã, em 1977, pelo Coronel, foi também vice-campeã juvenil pela EELAS.

BASQUETE MASCULINO

Hoje em dia o esporte é mais acessível, mas, naqueles tempos, tudo parecia mais difícil,
embora, graças a pessoas de boa vontade, conseguimos há algum tempo chegar aonde estamos.
Antigamente, não havia muita diversão; esta foi uma das razões que levaram um grupo de
pessoas a formar um time de basquetebol.
Naquela época, chegava a Fernandópolis o Dr. Humberto Cáfaro, recém-formado em
engenharia, que já jogava na faculdade; o professor Armando Glaucos dos Santos, o Dr. Sérgio
Cavariani, Sr. Otávio Gomes, seu irmão João Gomes, Ladislau (Banco Bandeirantes), Hélio
Maldonado, Osmundo Dias de Oliveira, (proprietário da Agência Caiçara), Dalvo Guedes e Alfredo
Escarlate, que resolveram construir a primeira quadra de basquetebol municipal, com o terreno
comprado pelo Dr. Humberto Cáfaro do Sr. Raimundo Noronha, por 30 contos de réis, sob a condição
de que ali fosse construída a quadra, devido ao ponto privilegiado do terreno.
A quadra foi construída por eles próprios com muito sacrifício: toda tarde se reuniam para o
trabalho: construir uma quadra de terra, com as primeiras tabelas feitas de madeira. Foi assim que se
iniciou o do basquetebol; para essa mesma quadra, o Dr. Humberto Cáfaro conseguiu trazer o time
do Palmeiras.
306

Como primeiro técnico destacava-se o Dr. Sérgio Cavariani. Mais tarde foram chegando os
primeiros professores de Educação física: Baldan e Airton Gomes, que também jogaram muito tempo.
Em seguida, partiram para a disputa dos jogos estaduais, com muita dificuldade, pois tudo que era
necessário para o time eles próprios que adquiriam às suas expensas.
A primeira quadra de cimento foi edificada no Ginásio Estadual pelo prefeito Adhemar
Monteiro Pacheco. Fora construída para sediar os primeiros jogos Intercolegiais aqui realizados,
durante 12 dias, com a participação de 18 cidades.
Os jogos eram regionais e as equipes com as quais Fernandópolis competia eram apenas
das cidades vizinhas, pois nosso setor era sub-regional.
A idéia de construir um clube recreativo foi cada vez mais debatida, até que se decidiu
135
construir a ADF, hoje Tênis Clube de Fernandópolis , formado apenas pela piscina e uma quadra de
basquetebol; mais tarde sofreu as transformações que se apresentam hoje: a quadra de tênis foi
ampliada, construíram-se outras piscinas, bocha, campo de futebol e outras modalidades que
surgiram posteriormente. Para a inauguração da piscina, no dia 22 de maio de 1962, veio o recordista
mundial de nado livre, Manoel dos Santos.
Posteriormente, chegou a Fernandópolis o Dr. Querton Ribamar, craque da seleção
brasileira de basquete, vice-campeão na Alemanha.
Chegou a nossa cidade no ano de 1960 e encontrou uma nova equipe de estudantes que,
incentivados pelos anteriores; começaram a ser treinados continuamente pelo Dr. Querton no Instituto
de Educação [atual 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Como Dr. Querton finha
grande conhecimento no assunto, treinava-os a fim de aprimorarem a técnica e o condicionamento
físico.
A equipe era formada por Mário Mantovani, Wilson Saravali, Eugênio Jurandir Rossato (hoje
professor de Educação Física), José Carlos Trovati (Chuca, do Banco do Estado de São Paulo),
Valtinho (gerente da Caixa Federal), Rubens Ferreira, José Alberto Brandini (também professor de
Educação física).
Foram esses que fizeram a primeira viagem com o Dr. Querton a Jales. No ano seguinte,
começou o troféu Bandeirantes, e Fernandópolis, com uma equipe maior, conseguia tornar-se
campeã de 1961 a 1966 (figura 9) sucessivamente.
Dessa equipe já fazia parte o prefeito municipal Milton Edgard Leão, que, em um jogo em
Araraquara, quebrou o pé e, por uma semana, seus amigos o carregavam para assistir aos jogos,
devido a ele ser o mais novo, cerca de 15 anos.

Figura 9 O time de 1966.


Fonte: O Esportista, 1978.

135
O Tênis Clube de Fernandópolis, atualmente [2012], está desativado, e só restam escombros do brilho e
importância que um dia teve o clube. Ele ainda se situa na Rua Rio de Janeiro, próximo ao Fórum (observações
da Equipe Executiva).
307

Fernandópolis participou de 4 ou 5 Jogos Abertos, participou também dos primeiros Jogos


da Araraquarense realizados em São José do Rio Preto, de 14 a 19 de julho de 1957. Fernandópolis
é considerada um dos fundadores desses jogos, que, hoje [leia-se, 1978], não são mais divididos em
Araraquarense, Mogiano e, sim, em zona Norte, Sul, Leste, Oeste e Litoral, devido ao aumento das
equipes participantes.
Depois desses jogos, foi realizado aqui um poliesportivo, do qual Valter de Castro,
presidente do Grêmio Estudantil, juntamente com a Comissão, conseguiu trazer 12 cidades com as
seguintes modalidades: futebol de salão, atletismo e basquete, que marcou a época em nossa
cidade.

CAMPEONATO POLIESPORTIVO - 1966

Figura 10 Tocha Olímpica em Fernandópolis, para os jogos poliesportivos de 1966.


Fonte: O Esportista, 1978.

Em 1971, o professor Mário Aldo Tonissi (Mará) vem para Fernandópolis e começa a treinar
um time mirim, no Coronel, onde iniciava como professor de Educação Física.
Faziam parte do time o Murilo, Dado, Beto, Valter, Fernando Carneiro, Siqueira, Paulo
Semeghini, Flávio Sano e outros.
Todo ano começava um trabalho novo: saiam uns, apareciam outros. Já no ano seguinte,
entraram para o time o Tiquinho, Maurinho, Coquinho, Chiquinho e, no outro ano, Mário César
Bortoluzzo. E, assim, continuou sucessivamente até nos dias de hoje, formando o time da cidade.
308

Figura 11 Time Infantil do “Coronel”, 1971.


Fonte: O Esportista, 1978.

Desde 1971, Fernandópolis participa dos jogos colegiais, sendo vencedor municipal e, em
1973, foi vencedor intermunicipal.
Nessa faixa etária, o campeonato de que Fernandópolis participou foi o campeonato
colegial de esportes, Troféu Estímulo (promovido pelo Sr. Joel), Troféu Bandeirantes, Jogos
Regionais e Jogos Abertos.
Sucessivamente, o time se foi modificando, até chegar à equipe que jogava até o ano
passado [1977], composta por Beto, Marlon, Mário César, Siqueira, Joaquim, Tim Ferrari, Toninho e
outros mais.

Figura 12 Time da EELAS de 1976.


Fonte: O Esportista, 1978.
309

Atualmente [1978], o Coronel está formando uma equipe pré-mirim, da qual podem surgir
talentos para fazerem parte do mirim; o mirim ainda está em formação, e o infantil é um time
praticamente formado e já disputou esse ano o campeonato colegial.
Fernandópolis, de uns anos para cá, tem recebido um apoio imenso no esporte amador,
principalmente no basquete, um esporte normalmente praticado aqui. O apoio dado pelo prefeito é
considerável, nomeando o professor Mará como técnico das duas equipes, masculino e feminino, a
fim de que fosse formada uma equipe à altura de Fernandópolis, para que a cidade pudesse ser bem
representada nos IX Jogos da Zona Norte, a serem realizados aqui entre 1º e 9 de julho [1978].
Para representar Fernandópolis nesses jogos, foram buscados em Catanduva dois
jogadores, o Pantera e o Edmar, e o Júlio de Brasília; foram também a Anabá e de lá foram trazidos
quatro atletas: Fernando, Marlan, Miller e Lourenço, que jogam com jogadores daqui (Tiquinho,
Marlon, Tim Ferrari, Toninho, Nagibe, Pleba, Beto e outros).
Atualmente, o esporte fernandopolense está tendo um impulso muito grande, graças a um
trabalho iniciado na prefeitura de Fernandópolis e, no basquete masculino (figura 13), Fernandópolis
está muito bem representado em condições de partir para a conquista de campeão.

Figura 13 Equipe de basquetebol da EELAS, 1971. À esquerda, Antônieta Tazinaffo; à direita, o


técnico Mará.
Fonte: O Esportista, 1978.

FUTEBOL AMADOR

Antes de ser formado um órgão que dirigisse e coordenasse os times, jogavam-se


verdadeiras “peladas” de futebol entre equipes “catadas”136. E foi assim que apareceu a necessidade
da formação de um órgão oficial que dirigisse e organizasse esse esporte em nossa cidade. Formou-
se a Liga Fernandopolense de Futebol Amador.
Essa Liga é137 uma entidade esportiva filiada e subordinada à Federação Paulista de
Futebol; é uma instituição de âmbito municipal.

136
Equipes catadas são equipes formadas e escolhidas aleatoriamente, sem nenhum histórico razoável de
prática de futebol.
137
Não se deve esquecer que esta narrativa se passa em 1978.
310

Os clubes amadores das cidades são a ela filiados e por ela dirigidos. Os atletas dos times
são registrados na Federação Paulista de Futebol, o que garante aos clubes os seus direitos de
passe sobre os jogadores.
O primeiro presidente da Liga foi o Dr. Valdemar Oliveira Rocha, escolhido pelos dirigentes
dos clubes.
A Liga é regida por estatutos; sua diretoria é formada por um presidente e um vice-
presidente, primeiro e segundo tesoureiros e primeiro e segundo secretários; um conselho fiscal que
zela pelo correto funcionamento e também uma junta disciplinar e esportiva.
Cuida da elaboração das tabelas, horários dos campeonatos e tem um departamento de
árbitros responsáveis pelas arbitragens.
Os primeiros times que apareceram em nossa cidade foram: Brasilândia Esporte Clube,
Dourado Futebol Clube, Clube Recreativo Vasco da Gama (figura 14), SPFC, Cacique F. C., Santos
F. C., Flamengo F. C. e Palmeiras F. C.
O futebol amador disputa a Copa Arizona. Este é um campeonato organizado pelo jornal “A
Gazeta Esportiva de São Paulo”, cuja finalidade é o desenvolvimento do futebol amador em todo o
país.
Graças aos esforços da Liga Fernandopolense de Futebol, do Departamento Esportivo da
Rádio Cultura e da CME, a Copa Arizona é realizada já há cinco anos em Fernandópolis, tendo seu
campeão invicto o Vasco da Gama.
A Copa Arizona é disputada por mais de 5.000 clubes de cidades diferentes. Cada cidade
forma uma chave de 32 clubes, que vão jogando entre si, até que sejam reduzidos a 2 finalistas, os
quais, por sua vez, vão formar as chaves estaduais com campeões de outras cidades, até surgir o
campeão estadual que irá disputar a chave nacional da qual surgirá o campeão nacional.

Figura 14 Vasco F C, tetracampeão da Copa Arizona, s/d.


Fonte: O Esportista, 1978.

O campeão nacional, além de ser premiado com medalhas de ouro para os atletas e um
troféu de 1,50 de altura, ganha também uma viagem ao exterior com tudo pago.
No ano passado o vencedor nacional da Copa Arizona foi o Colorado F. C., do estado do
Paraná (Curitiba), que fez uma excursão para a Argentina.
311

Atualmente, há em Fernandópolis 40 times de futebol amador registrados na Liga e 12


equipes registradas na Federação Paulista de Futebol.
São os times: Brasilândia F. C., Havaí F. C., Vasco da Gama F. C., Dourado F. C.,
Palmeirinhas, Grêmio, Ajax, Santos, Flamengo, Botafogo, São Paulo, Cacique (figuras 114 a 20) e
muitos outros.
Os times que mais conseguiram destacar-se pela sua atuação marcante são: o Vasco da
Gama (cinco vezes finalista da Copa Arizona), o Dourado (bicampeão do Campeonato Oficial da
Federação Paulista de Futebol), o Brasilândia (uma vez finalista da Copa Arizona) e o Havaí (o mais
recente campeão amador da cidade).
Fernandópolis, infelizmente, até hoje não está com uma infraestrutura que dê melhores
condições para o desenvolvimento do futebol amador, devido à falta de campos para treinamentos e
a outras dificuldades existentes.
Mas creio que, como o prefeito está dando o máximo de apoio possível, aparecerão logo os
frutos desse trabalho: Fernandópolis ainda será de renome nacional se continuar nessa marcha.

.
Figura 15 Ajax Futebol Clube, 1978.
Fonte: O Esportista, 1978.
312

Figura 16 Haviaí Futebol Clube, 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.

Figura 17 Palmeiras Futebol Clube, 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.
313

Figura 18 Grêmio Futebol Clube, 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.

Figura 19 Brasilândia Esporte Clube, 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.
314

Figura 20 Dourado Futebol Clube, vice-campeão da Copa América, 1978.


Fonte: O Esportista, 1978.

O XADREZ EM FERNANDÓPOLIS

O xadrez, que se caracteriza por ser jogo de muito raciocínio e criatividade, praticamente
iniciou-se em Fernandópolis a por volta de 1962. Antes disso, não temos informações mais precisas,
pois, praticamente, se fosse realidade alguma partida, deveria ser por simples passatempo e sem
uma relevância especial.
O xadrez começou aqui em uma reunião de enxadristas que, segundo um dos participantes
desse tempo, não se poderia definir como um clube de xadrez, mas era um lugar (no antigo prédio da
Sabesp, agora local da Associação Antialcoólica e LBA) onde se realizavam partidas entre
entusiastas do esporte, sem qualquer aspiração mais elevada.
Podemos destacar como um grande incentivador do xadrez em Fernandópolis o Sr. José
Jorge, que, no princípio desse seleto “clube”, juntamente com os pioneiros promoveu uma campanha
para comprarem mesas, a fim de que os participantes daquela casa pudessem ter um local um pouco
mais apropriado. Depois de algum tempo, o local mudou-se para as dependências do atual salão de
festas do Tênis Clube [hoje, 2012, desativado].
Depois disso, as principais atividades relacionadas com o xadrez foram mais divulgadas e
incentivadas dentro da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Essas atividades foram ao estilo
de torneios de xadrez que contaram com cerca de quatro ou cinco edições.
Daí se elaborou, com o apoio da prefeitura municipal, da imprensa falada e escrita e da
AABB, um 1º Campeonato Municipal de Xadrez. Esse campeonato realizou-se no ano de 1974, para
o qual foram convidados todos os enxadristas que quisessem participar do campeonato. Os
vencedores do certame foram: Roberto Hideo Sano (1º lugar), José Cláudio de Campos (2º lugar),
Litério João Greco (3º lugar) e Sérgio Luís Mazon (4º lugar).
Esteve em Fernandópolis, na época, o campeão brasileiro de xadrez, Alexandre Sorim
Segal, a fim de prestigiar e divulgar o esporte.
Ainda em referência a esse campeonato, contou com 64 jogadores, divididos em 16 grupos
de 4 jogadores cada, classificando-se um de cada chave; foram, então, divididos em 4 grupos de que
saíram os quatro finalistas. Alexandre Segal, além de proferir uma palestra no auditório da AABB,
também jogou uma simultânea com 34 jogadores, dos quais venceu 32 e empatou duas. Os
felizardos dos empates foram: João Américo Garcia e José Cândido de Freitas.
315

Em janeiro de 1975, foi realizado o torneio de Verão ou de férias, que contou com a
participação de 34 enxadristas. Esse torneio foi de muito sucesso e consagrou-se campeão o jogador
João Américo da Silva e tendo Sérgio Mazon como vice-campeão.
Prosseguiram-se, assim, as atividades do xadrez em nossa cidade e podemos chamar essa
época, compreendida entre 1974-1976, de época de ouro desse esporte em Fernandópolis.
Em junho de 1975, foi realizado o torneio de classificação para os Jogos Abertos, cujo
campeão foi José Cândido de Freitas. O torneio trouxe, também, algumas revelações: Marcos
Agostinho de Freitas, Litério João Greco, Sérgio Saldanha Miranda da Silva e Sérgio Cesar da Silva.
Pouco tempo depois, foi realizado o II Campeonato de Xadrez de Fernandópolis, de 1975 a
1976. Esse campeonato foi realizado com a colaboração da AABB, prefeitura e imprensa
fernandopolense.
Por esse campeonato sagrou-se campeão e vice os enxadristas: José Cândido de Freitas
(1º lugar) e Eeroberto Hideo Sano (2º lugar).
Nesse ínterim, foram também realizados os VI Jogos Regionais da Zona Norte, em julho de
1975, quando Fernandópolis conseguiu um lugar muito significativo, ou seja, o 7º, o que honrou muito
os enxadristas fernandopolenses.
Tornaram-se comuns, também, disputas em cidades vizinhas como Votuporanga, São José
do Rio Preto, Matão e Araraquara.
A AFA também chegou a organizar, durante a sua Semana Universitária (cujo diretor, à
época, era José Alves da Silva), um torneio de xadrez.
Após a realização de todas essas atividades relacionadas com o xadrez em Fernandópolis,
infelizmente, o esporte foi decrescendo consideravelmente.
Algumas causas são apontadas para o fato: a ida para outras cidades de vários jogadores
bons de Fernandópolis; ou por ser o xadrez um jogo individual, que exige muito esforço mental do
enxadrista, e tenha sido abandonado para dar lugar a outras modalidades esportivas realizadas em
conjunto; ou por falta de maior apoio de pessoas ligadas ao esporte em Fernandópolis; ou por
carência de torneios e promoções, falta de incentivo aos novos valores que surgiam etc. Esse esporte
poderia ter dado destaque a Fernandópolis no cenário regional, estadual e mesmo nacional.

NATAÇÃO

A natação em Fernandópolis é um esporte que ficou muito esquecido, não havendo equipes
formadas e treinadas. Era ligeiramente ativada em épocas de competições. Concorria muito para isso
a falta de instrutores e divulgação do esporte.
Por volta de 1970, aqui morou um campeão sul-americano, Milton Buzzin, que treinou
equipes e organizou campeonatos infantis, procurando incentivar a juventude para aquele esporte.
Para um desses campeonatos, treinou uma equipe de “agualoucos”, que fez grande sucesso.
Atualmente, estão formando-se equipes nas escolas e os resultados já se fazem sentir com
as vitórias da equipe do Coronel (escola) em Estrela d´Oeste e São José do Rio Preto.

TÊNIS DE MESA

Começou com uma demonstração de uma equipe de São José do Rio Preto, formada por
três elementos: Guaraci, Carlinhos e Archati, dando orientação sobre regras de pingue-pongue, que
passou para tênis de mesa para alguns rapazes de Fernandópolis.
Aqui, o esporte foi iniciado por três elementos, grandes “prestigiadores” e participantes do
tênis de mesa: Antonio Angelucci, Oswaldo José de Almeida e Paulo Tomás de Souza (Pauleta).
Participaram de vários campeonatos, sendo o primeiro denominado Troféu Bandeirantes,
ocasião em que Fernandópolis foi representada pelos jogadores Toninho, Baixinho e Pauleta. O
campeonato ocorreu em Rio Preto em 1960. Também participaram dos Jogos Abertos de Santo
André, São Caetano do Sul, Araraquara, Catanduva e Jales.
Nossa equipe sagrou-se campeã da Alta Araraquarense nos anos de 1967 aqui em
Fernandópolis, em Catanduva em 1969 e em Araraquara em 1970, tornando-se, portanto, a equipe
tricampeã da modalidade na Araraquarense.
316

Vários atletas participaram do tênis de mesa, tais como: Toninho, Baixinho, Pauleta, José
Carlos Ferrari, Nestor Sano, Tochinha, Haruó, Cabelinho e Haruzi. Treinavam no Fernandópolis
Esporte Clube (FEC) e no Clube Tóquio.
De Fernandópolis se destacou o atleta Nestor Sano (hoje médico), que teve participação
nas divisões mais altas do tênis de mesa do estado de São Paulo.

TÊNIS DE CAMPO

O tênis de campo se iniciou em 1965 com a construção da quadra na Associação


Desportiva Fernandopolense (ADF), cujos incentivadores foram: Hélio César Figueiredo (presidente)
e Querton Ribamar Prado de Souza (diretor de esporte), membro da diretoria da ADF na época.
Tiveram muita dificuldade para a construção da quadra, pois o número de tenistas era
pequeno e, na época, o tênis era considerado um esporte de “elite”, portanto, poderiam contar com
poucos adeptos e, em consequência, baixa contribuição. Além disso, contribuía para a baixa adesão
a essa modalidade esportiva o elevado custo do esporte e das instalações.
No mesmo ano [1965], foi realizado o 1º campeonato de tênis, com a inauguração da
quadra, então considerada a melhor do interior paulista.
Em 1967, foram realizados os Jogos Abertos do Interior em Fernandópolis. Os tenistas
participantes do tênis nesses jogos foram: Fernando Bittencourt, Maurício Almeida, Acácio Rosa,
Hélio Cesar Figueiredo, Orestes, Dirceu Quágio e outros.
Fernandópolis nunca conquistou um campeonato, pois faltava incentivo para os
participantes. Hoje [1978], porém, está iniciando-se a formação de uma nova equipe, com muito
incentivo, inclusive do Tênis Clube, que já contratou um técnico para os treinamentos na própria
quadra de tênis “Roberto Kenji Miyamoto”. A quadra recebeu o nome desse jovem, devido a seu
entusiasmo e incentivo ao tênis, tanto que promoveu inúmeros campeonatos amistosos com a AFA.
Hoje, crianças, jovens e adultos praticam tênis de campo com muito entusiasmo, graças ao
incentivo de jovens como Roberto Kenji Miyamoto, Nilton Carlos Esmerini, Leonardo Scarlate Cunha
e outros. Contribui para esse incremento principalmente a divulgação e popularização dessa
modalidade esportiva.

ATLETISMO

Colônia Japonesa
O atletismo em Fernandópolis existe desde o ano de 1948, praticado nos seguintes locais:
Bairro do Rodeio, Meridiano e na sede do município que era o grande núcleo agrícola da colônia
japonesa naquela época.
Na cidade, a prática do atletismo se intensificou com a fundação da Associação Cultural e
Esportiva de Fernandópolis, em 17 de julho de 1949 (figura 21), sendo seu primeiro presidente o Sr.
Akio Yoshida, assessorado por Sadao Koguchi, Shogiro Konischi e Tsunehissa Sano.
O esporte, além de constituir um meio de recreação, é u’a maneira específica de integração
dos jovens e adultos da Colônia.
Entre os muitos incentivadores e praticantes do esporte estão: Nobuyoshi Nakai, Tkashi
Sinya, Koichi Ikeda, Guiiti Nagaya, Shogiro Konischi, Kazuo Kawahara, Tsunehissa Sano, Kasuo Aoki
e Suguru Ushida.
Fernandópolis, representada pela Associação Cultural e Esportiva, conquistou vários troféus
nas modalidades de corrida em extensão, de 5.000m e 800m rasos, conquistado por Kiniti Kudo
(figura 22).
O atletismo da colônia japonesa, atualmente (1978), encontra-se numa fase de
138
reestruturação devido à grande evasão de jovens que vão estudar em outras cidades .

138
Sobre essa evasão de jovens fernandopolenses a fim de estudarem em faculdades de outras cidades já
foram elaborados comentários na parte histórica desta obra, gestão de Antenor Ferrari.
317

Figura 21 Delegação de atletismo de Fernandópolis no 1º campeonato aqui realizado em 1949.


Fonte: O Esportista, 1978.

Figura 22 Kiniti Kudo (no centro) e familiares de praticantes e


troféus conquistados.
Fonte: O Esportista, 1978.

Tivemos, no fim do ano que passou [1977], provas para que fossem escolhidos dois
representantes da região e até dos estados vizinhos para a corrida de São Silvestre (figura 23), que
318

se realiza anualmente na capital na noite de 31 de dezembro. A corrida é realizada na Avenida


Paulista com um percurso de 8.900m.
Nas preliminares, realizadas em 30/12/77 e 10/12/77, foram classificados dois atletas:
Gilberto Hurtado e José Alberto Cazali. Esses atletas conseguiram as seguintes colocações entre os
quase 400 atletas de vários países:
231ª - Gilberto Hurtado, com a marca de 32’35”,
268ª - José Cazali, com a marca de 34’35”.
O atletismo está tomando novo rumo, com maior incentivo, pois Fernandópolis sediará o IX
Campeonato Regional da Zona Norte. Por isso a Prefeitura, através da Comissão Municipal de
Esportes (CME), está dando todo apoio necessário aos atletas. Junto ao Ginásio de Esportes está
sendo construída a pista de atletismo.

Figura 23 Os vencedores das preliminares da São


Silvestre em Fernandópolis139 - 1977.
Fonte: O Esportista, 1978.

BASEBOL

O basebol iniciou-se em 1953 e contou com bastante participação nos Jogos Abertos do
Oeste Paulista, que, mais tarde, se tornaram os Jogos Abertos da Alta Araraquarense.
Após os Jogos Abertos, eram selecionados os melhores jogadores de cada cidade da
região: Fernandópolis, Votuporanga, Jales, Santa Fé do Sul e Urânia; daí partiam para o campeonato
estadual, do qual sempre saíam classificados.
Os participantes fernandopolenses eram: Fernando Uetanabara, seu irmão Natal
Uetanabara, Arnaldo Sano, Mário Kogushi, Nestor Sano, Tochinha, Takashi Kuroda, seu irmão
Toninho Kuroda, Sebastião Tanamashi, Kazu Babá, Titosi Uehara, Minori Shigaki, que tinham Tamaia
como técnico.
Tinha seu campo na Vila Aparecida (figura 24), cedido pela prefeitura, o qual, mais tarde, se
mudou para outro local, onde é hoje a CESP.

139
A figura consta de uma cópia afixada no próprio trabalho d’O Esportista.
319

Figura 24 Equipe de basebol de Fernandópolis, s/d.


Fonte: O Esportista, 1978.

A verba em dinheiro de que precisavam para o uniforme e material para o jogo era
conseguida através da Associação Cultural de Esporte de Fernandópolis (ACEF), pela Prefeitura e
pela Comissão de Esporte de Fernandópolis; mesmo assim não conseguiram superar a crise, pois
esse esporte era muito caro e, em consequência, o número de seus participantes começou a reduzir-
se e, em 1963, se extinguiu o basebol em Fernandópolis, justamente o que ocorreu em outras
cidades da região pelo mesmo motivo.

CONCLUSÃO

Estudando a história do esporte amador de Fernandópolis, não há como não ficamos felizes
por conhecer tantos triunfos das nossas equipes.
Os esportes coletivos, até o presente [1978], maior destaque do que os individuais, uma vez
que encontramos poucos incentivos para estas modalidades esportivas.
No próximo mês de julho, as nossas forças esportivas serão testadas nos IX Jogos da Zona
Norte. Estamos preparados para receber as equipe dignamente e disputar com eles boas
classificações.
Para esses nossos visitantes, temos a mensagem do nosso prefeito Milton Leão: “A cidade
é de vocês, cidade das crianças felizes, da família unida e da juventude sadia”

“O Esportista”
O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DE FERNANDÓPOLIS,
TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA

Rosa Maria Souza da Costa


Vanda Aparecida de Lima Costa

Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar o conceito de patrimônio cultural e sua evolução
conceitual, bem como conhecer as leis que dão fundamento legal para as ações de sua preservação. Pretende,
ainda, destacar que a amplitude e abrangência do conceito de patrimônio, disposto na Constituição, em leis
estaduais e leis municipais, se têm constituído simplesmente em um desafio que só se efetivará por meio da
educação e envolvimento do poder público e toda a comunidade. Embasado nesses conceitos, procurou-se
analisar a situação em que se encontra o Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de Fernandópolis.

Palavras-chave: Patrimônio cultural. Preservação. Órgãos oficiais de preservação. Fernandópolis.

1 INTRODUÇÃO
O amplo entendimento do conceito de patrimônio cultural e sua abrangência não têm vindo
acompanhados, no Brasil, por uma reflexão sobre as maneiras ou formas de gestão e de proteção
desse patrimônio. As consequencias disso são, além da destruição, as incompreensões sobre o
papel dos órgãos oficiais de preservação e a dificuldade de as cidades e grupos de indivíduos
identificarem e protegerem seu patrimônio.
De acordo com Silva e Silva (2006), pode-se definir patrimônio histórico-cultural como o
complexo de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques nacionais de
determinado país ou região que possuem valor histórico e artístico e compõem um determinado
entorno ambiental de valor patrimonial. Esses autores consideram que aquele conceito abrange
também a produção emocional, ou seja, tudo o que permite ao homem conhecer a si mesmo e ao
mundo que o cerca.
Santos (2001) considera que a palavra patrimônio está historicamente associada ou à
noção do sagrado, ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de família.
A idéia de um patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua identidade e, como tal,
merecedor de proteção, nasce no final do século XVIII e início do século XIX, com a visão moderna
de história e de cidade. Preservar o passado sempre foi uma necessidade inconsciente ou consciente
do ser humano, mas somente nos fins dos séculos XIX e XX é que o Estado passou a estimular a
produção de leis de conservação e restauração do patrimônio histórico e cultural, transformando-se
em uma problemática mundial.
Pellegrini (1997) esclarece que o professor francês Hugues de Varine-Boham divide o
patrimônio cultural em três grupos: elementos naturais como os rios, as matas, as praias; elementos
do saber, as técnicas e artes, que o homem utiliza para sobreviver, como saber cozinhar, desenhar,
transformar, dançar, esculpir; e bens culturais, que surgem a partir dos outros dois grupos, como
objetos, artefatos e construções. E ainda: que os bens se dividem em móveis, que são setoriais e
possíveis de serem colecionados como fotografias, selos, lendas, músicas; festas populares; e
imóveis, que são edificações, como igrejas, residências, forte, prédios, ruas cidades.
Pelo que foi enfatizado, patrimônio cultural é bem de todos e deve ser preservado. Para
tanto é necessário que se estabeleçam seus limites físicos e conceituais, as regras e as leis para que
isso aconteça.

2 AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL DO BRASIL


O século XX foi marcado por movimento político mundial de preservação do patrimônio
cultural de tal maneira, que é correto afirmar, hoje, que a preservação da identidade popular é uma
das funções do Estado e um dever de toda a sociedade.
Com referência específica ao Brasil, podem-se destacar três ações de preservação de seu
patrimônio histórico cultural: a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
321

(IPHAN) na década de 30 do século passado, o Compromisso de Brasília assinado em 1970 e a


Constituição de 1988 (BRASIL, 2003).
Durante o governo de Getúlio Vargas, na década de 30 do século passado, era ministro da
Educação e Saúde Gustavo Capanema, que tinha real preocupação com a preservação do
patrimônio brasileiro. Imbuído dessa filosofia, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), de acordo com o Decreto-Lei 25, de 30 de novembro de 1937, no qual se define
patrimônio histórico e artístico nacional como:

o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

O objetivo do referido Decreto-Lei (BRASIL, 1937) é o de impedir que se esqueçam ou se


deixem deteriorar os objetos materiais e as expressões imateriais da Nação, bem como a sua
memória coletiva.
Ainda segundo o mesmo Decreto-Lei 25, o patrimônio é definido como arte e agrupado em
oito categorias: a arte arqueológica, arte ameríndia, arte popular, arte histórica, arte erudita nacional,
arte erudita estrangeira, artes aplicadas nacionais e artes aplicadas estrangeiras.
Hoje, a denominação do órgão é IPHAN, que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, atuando em 29 unidades, além das superintendências regionais e sub-regionais, museus,
escritórios técnicos e centros culturais, com o objetivo de proteger, fiscalizar, restaurar, identificar e
preservar os bens culturais do país.
Fonseca (1997) esclarece que a gestão do patrimônio tombado e a execução das políticas
culturais foram delegadas, a partir da criação do IPHAN, a representações regionais coordenados por
uma direção central. Desde a sua criação, o Instituto organizou-se de forma descentralizada, na
tentativa de melhor atender diferentes regiões nas suas especificidades e na variedade das
manifestações culturais.
Com relação à segunda ação para preservação do patrimônio cultural brasileiro, o
Compromisso de Brasília aconteceu em 1970. É um documento escrito em pleno regime ditatorial e
ficou subordinado ao Ministério de Educação e Cultura, tendo como órgão controlador a Diretoria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).
Pellegrini Filho (1993) assegura que este foi um período conturbado, de não valorização do
patrimônio, e a educação foi massificada em detrimento da qualidade, o que impossibilitava a
conscientização voltada para a compreensão que levaria o povo a construir a identidade cultural.
Uma das sugestões elaboradas pelo Compromisso de Brasília, mas que não se efetivou
devido ao regime político vigente à época, foi a determinação de que a responsabilidade para com o
patrimônio não deveria ser somente do âmbito federal, mas dividida entre os governos dos estados e
municípios que deveriam redigir suas próprias diretrizes de preservação e restauração (PELLEGRINI
FILHO,1993).
É ainda resultado do Compromisso de Brasília:

[...] uma evolução conceitual que nos faz compreender patrimônio cultural incluindo
não apenas artefatos da elite, mas também os de grupos minoritários (indígenas,
negros, ciganos e outros) e os estratos populacionais não privilegiados. Realmente,
na seleção e na preservação de bens representativos, não interessa exclusivamente
a cãs-grandes, mas também à senzala; não apenas às mansões dos barões do café
ou dos primeiros industriais, mas também humildes conjuntos residenciais de
colonos e de primeiros trabalhadores da indústria, bem como interessa registrar o
artesanato pobre rural e urbano, as modas de viola, o processo evolutivo da
macumba/ umbanda (passado de caso de polícia para culto religioso reconhecido e
até procurado pela elite), a medicina tradicional popular, a chamada arte plumária e
as pinturas corporais indígenas, os movimentos reivindicatórios de operários etc.
(PELLEGRINI FILHO, 1993, p.106-107).

A terceira ação referente à preservação do patrimônio cultural brasileiro surge com a


promulgação da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003). Nesta, os artigos referentes ao
322

patrimônio tiveram um avanço significativo, surgindo o Conceito Patrimônio Cultural, e são


explicitadas no texto as responsabilidades de ação popular perante o patrimônio:

Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...]
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe; à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má fé, isento das custas judiciais e do ônus da
sucumbência.

Há ainda o artigo 215 (BRASIL, 1988), que dispõe que o Estado fica responsável por
promover e divulgar as manifestações culturais, com a preocupação de abranger toda a formação
étnica diversificada brasileira.

Artigo 215. [...]


§ 1º: O estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

No Artigo 216 (BRASIL, 1988), encontra-se uma alusão na definição do que deve ser
considerado patrimônio:

Art. 216. Constituem patrimônio brasileiro os bens de natureza material e imaterial,


tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade.

Há também estabelecidas no Artigo 23 (BRASIL, 1988) recomendações que constam no


Compromisso de Brasília e em outros documentos internacionais:

Art. 23. É competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios: [...]
III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico e cultural.

Bem claramente estão configuradas, no Artigo 30 (BRASIL, 1988), as competências dos


municípios:

Art.30: Compete aos municípios promover a proteção do patrimônio histórico cultural


local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

É, pois, não só dever da União, dos estados e dos municípios a proteção de todo o
patrimônio histórico e cultural; à sociedade cabe, igualmente, zelar pelo cumprimento da legislação
para preservação e contribuir para que tal zelo e proteção de fato ocorram.

3 O Papel do município na preservação do Patrimônio Cultural

Atualmente, o patrimônio cultural, considerado em toda sua amplitude e complexidade,


começa a se impor como um dos principais componentes no processo de planejamento e ordenação
da dinâmica de crescimento das cidades e como um dos itens estratégicos na afirmação de
identidade de grupos e comunidade (FONSECA, 1997).
No estado de São Paulo, desde 1968, já funciona o Conselho do Patrimônio Histórico,
Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephat). Atualmente, vários municípios paulistas já contam
com seus Conselhos Municipais de Patrimônio e respectivas legislações de proteção. Na maior parte
323

das cidades, porém, a questão do patrimônio cultural não foi compreendida, aceita, priorizada.
Ausentes na maioria das políticas públicas de planejamento territorial e dos planos de gestão
municipal, o patrimônio tem sido relegado à responsabilidade do Estado ou da União e
completamente divorciado do planejamento das cidades.
Acredita-se que isso ocorreu por fatores tais como: descontinuidade administrativa,
inexistência de políticas culturais locais, falta de incentivo na formação de técnicos na área,
suscetibilidade às pressões de grupos da comunidade, forte jogo de interesses imobiliários, aceitação
generalizada de uma noção de progresso e desenvolvimento associado à verticalização e instauração
de processos de renovação contínuo das cidades sobre elas mesmas.
Tais fatores podem esclarecer o fato de as cidades do interior paulista estarem, como diz
Levi Strauss (1985), “passando do frescor à decrepitude sem conseguirem ser antigas”.
Fernandópolis não difere das muitas outras cidades do interior paulista. Pouco tem sido feito
com relação à preservação do patrimônio histórico.
O que existe, de fato, mas com pouca eficácia com relação ao patrimônio Histórico e
Cultural e Ambiental, são: Lei nº 1082, de 1986; lei Orgânica do Município, 1990; e o Plano Diretor, de
2004.
A Lei nº 1082/86, na seção III, Art.11, relaciona alguns imóveis como patrimônio de
importância histórica, turística e arquitetônica, alvos de preservação pelo município:

Art. 11. Ficam declarados imóveis de interesse público, os abaixo relacionados,


conforme sua importância histórica, turística e arquitetônica:
a) Igreja matriz do bairro da Brasilândia (interesse histórico);
b) Praça Joaquim Antonio Pereira (interesse histórico);
c) Lago situado ao lado da Rodovia Fernandópolis-Macedônia, no trecho entre a
Rodovia SP 320 e o Recinto da Exposição Agro-Pecuária e Industrial (interesse
turístico);
d) Imóvel comercial situado na Av. 32, nº 620, esquina com a R. Piauí, bairro de
Brasilândia (interesse histórico);
e) Imóvel residencial situado na Av. Paulo Saravalli, nº 554, esquina com a Rua São
Paulo, Centro (interesse histórico e arquitetônico);
f) Imóvel residencial situado na Av. dos Arnaldos, nº 526, esquina com a R. São
Paulo, Centro (interesse histórico e arquitetônico);
g) Edifício de apartamentos denominado “Edifício Fernandópolis”, situado na
R.Espírito Santo, nº 770 (interesse histórico);
h) Quadra nº 53, no bairro Coester, incluindo as edificações e vegetação existentes
(interesse histórico).

O Art. 12 da mesma lei estabelece penalidades pela sua não observação:

Art. 12. Não serão permitidas construções, reconstruções, ampliações ou reformas


dos imóveis acima relacionados sem prévia análise e anuência da Prefeitura
Municipal de Fernandópolis, ficando sujeito, em caso de infração, às penalidades
previstas no Artigo 45.

Pelo que se pode observar, atualmente, na cidade, muito pouco, ou quase nada se
respeitou da lei. Os imóveis relacionados que restaram não devem, por certo, sua preservação pelo
esforço ou fiscalização da Prefeitura.
Em 2006, foi elaborada a Lei nº 3.105, de autoria do vereador Warley Campanha, que
deixou de vigorar depois de sofrer uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) proposta pelo
poder Executivo, alegando erro de origem, uma vez que fora proposta pelo Legislativo quando
deveria ter sido proposta pelo Executivo. Nessa Lei, há referência da necessidade de o Poder
Executivo Municipal criar uma Equipe Técnica e o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico,
Cultural e Ambiental com competência para organizar, tombar, conservar, defender e divulgar o
referido patrimônio.
Ainda hoje (ano de 2010), a Equipe Técnica e Conselho Municipal não foram formalizados.
Deve-se destacar que o único patrimônio tombado em Fernandópolis é o prédio da antiga escola
“Sólon da Silva Varginha”, onde hoje funciona uma ETEC (escola profissionalizante de ensino médio).
324

O referido prédio é obra do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, que construiu, entre outras obras,
a Escola Paulista de Arquitetura da USP, o Hospital São Lucas em Curitiba e o Estádio do Morumbi
em São Paulo. Toda a sua obra foi tombada na década de 1990 pelo Condephat, sendo, portanto, o
resultado de uma ação do Estado e não do Município.
Neste texto, os bens patrimoniais citados foram selecionados pelas autoras; nada impede,
todavia, que alguns não sejam considerados e que outros sejam incluídos, uma vez que:

determinar o que deve ser preservado é uma decisão político-ideológica. Nessa,


devem estar refletidos os valores e as opiniões da comunidade, envolvendo os
elementos que devem ser tidos como representativos de uma determinada
sociedade. A esfera política necessita manter diálogo constante com a comunidade,
para que, juntos, possam decidir o que deve ser preservado ou não dos bens
culturais da cidade. (BARRETO, 2000)

4 A POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EM FERNANDÓPOLIS

4.1. A Lei Orgânica do Município


A Lei Orgânica do Município foi criada em 1990 e de referia ao Patrimônio Cultural como
sendo constituído pelos bens material e imaterial, bem como estabelecendo os seguintes deveres do
município:
- proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
- impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor
histórico, artístico, e cultural;
- proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
- proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
- preservar as florestas, a fauna e a flora.
Embora exista uma legislação que especifique claramente os deveres do município com
relação à preservação do Patrimônio Cultural de Fernandópolis, há deficiências: tem ocorrido, ao
longo dos anos, a degeneração da história local, tanto pela omissão dos entes políticos, como pela
passividade da própria sociedade que pouco tem reivindicado no sentido de se manterem vivos os
bens culturais, como algumas construções e monumentos de relevância cultural. A omissão dos
entes políticos e a passividade da comunidade diante das insuficientes tentativas de se manter vivo o
Patrimônio Cultural são demonstradas pelo tempo decorrido da publicação da Lei Orgânica do
Município (1990) e a elaboração do Plano Diretor de Fernandópolis em 2004, embora o item 1º do
Art. 182 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) defina que “o Plano Diretor, aprovado pela Câmara
Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e de expansão urbana”.

4.2 Plano Diretor de Fernandópolis


O Plano Diretor de Fernandópolis foi elaborado em 2004 e, nas suas considerações finais,
enfatiza que

a partir do Plano Diretor do Município de Fernandópolis, e certamente com ele, nas


suas discussões e debates, aumenta-se a consciência dos cidadãos e amplia-se seu
espaço político-social e cultural, sua história e sua determinação no trato da
paisagem e meio ambiente. (FERNANDÓPOLIS, 2004)

Segundo o referido Plano diretor (figura 1), o poder público implementará políticas sociais
partindo dos princípios e objetivos a seguir discriminados:

I – Estabelecer um diagnóstico e ações específicas com a participação democrática


de grupos e segmentos sociais;
II – A partir do diagnóstico, definir diretrizes de políticas de desenvolvimento social
integradas em nível da Educação, Saúde, Cultura, Inclusão Social, Esporte e
325

Turismo, Segurança Pública e Programa de Geração de Renda e emprego


(Segurança Alimentar);
III – Adotar uma política social a partir do conhecimento da situação real;
IV – Definir estratégias para garantir as demandas e necessidades coletivas de
qualidade de vida urbana;
V- Integrar os programas e projetos setoriais de políticas sociais.

4.3 Patrimônio Histórico e Cultural de Fernandópolis

Figura 1 Mapa do municíio de Fernandóplolis, com a localização dos patrimînios históricos e naturais,
segundo o Plano Diretor da cidade:
*1- Igreja da Brasilândia; 2- Praça Joaquim Antonio Pereira; 3 - Lago da Sabesp; 4 - Museu Histórico Municipal; 5 -
Imóvel residencial (demolida); 6 - Imóvel residencial particular; 7 - Edifício Fernandópolis; 8 - Quadra 53,
antiga rádio (descaracterizada); 9 - Estação de trem; 10 - Hospedaria (demolida); 11- Edifício Quebracho
Marruco; 12 - Capela/Casa Paroquial; 13 - Sede da Fazenda Brasitália; 14 - Mercado Municipal.
Fonte: Fernandópolis, 2004.

Comparando-se os imóveis considerados patrimônios da cidade relacionados pela Lei


1082/86 e os relacionados pelo Plano Diretor (2004), alguns são reconhecidamente citados nas duas
ocasiões, porém o plano diretor cita patrimônios que já nem existem mais. Por outro lado, foram
deixados de lado importantes marcos que, segundo as autoras deste artigo, são significativos para a
história de Fernandópolis. Sendo certo que “o que é patrimônio”, tem uma conotação ideológica e de
valor, fica clara a necessidade de um Conselho Municipal de Patrimônio para fazer seu invetário e
posterior tombamento.
As pesquisadores elaboraram uma pequena amostra do patrimônio histórico, cultural e
arquitetônico de Fernandópolis, cujas imagens se verão a seguir (fotos das autoras, do CDP/FEF,
2009, e de colaboradores).

4.3.1 Históricos e arquitetônicos

Relacionam-se alguns patrimônios históricos e arquitetônicos (figuras 2 a 11).


326

Figura 2 Igreja (1944) da paróquia São Luiz Figura 3 Igreja matriz da paróquia Santa Rita
Gonzaga e praça do bairro de Brasilândia. de Cássia (2009?)
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 4 Praça Joaquim Antonio Pereira. (descaracterizada).


Fonte: CDP/FEF, 2009.
327

Figura 5 Estação da Estra de Ferro Figura 6 Escola Joaquim Antônio Pereira


Fonte: CDP/FEF, 2009. (1952).
Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 7 Conjunto de casinhas antigas. Figura 8 Edifício “Quebracho Marruco”.


Fonte: Rose Marchi, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 9 Terminal rodoviário. Figura 10 Centro Cultural – Teatro Municipal


Fonte: Eduardo Uliana, 2009. “Merciol Viscardi”.
Fonte: Rose Marchi, 2010.
328

Figura 11 Antigo Paço Municipal, s/d.


Fonte: Eduardo Uliana, 2009.

4.3.2 Monumentos
As autores elencaram alguns monumentos na cidade, ainda presentes, outros já demolidos:

Figura 15 Monumento comemorativo da união das duas vilas: Brasilândia


e Pereira em 1943 na Av. Líbero de Almeida Silvares, perto do
16º Batalhão da Polícia Militar.
Fonte: As autoras, 2010.

Figura 16 Monumento comemorativo à Missão da Igreja católica


em 1958 (conhecido como “Munheca”).
Fonte: As autoras, 2010.
329

Figura 17 Cruzeiro erigido em 1939 – Fundação Figura 18 Busto de Joaquim Antônio


da Vila Pereira. Praça da Igreja Matriz Pereira, fundador de Vila Pereira. Praça JAP.
Fonte: As autoras, 2010. Fonte: As autoras, 2010.

Figura 19 Monumento comemorativo Figura 20 Marco de várias inaugurações


ao cinquentenário da imigração na na praça JAP.
paponesa para o Brasil. Praça JAP.
Fonte: As autoras, 2010. Fonte: As autoras, 2010.
330

Figura 21 Monumento à Bíblia - Praça Jap. Figura 22 Praça dos Maçons.


Fonte: As autoras, 2010. Fonte: Paty Peceguini Viana, 2009.

Figura 23 Marco histórico: “toco” para amarrar cavalos, s/d.


Fonte: As autoras, 2010.

4.3.3 Bairro da Brasilândia

Figura 24 Museu Histórico Municipal, esquina da Av. Carlos


Barozzi com a Rua Guilherme Bim. Bairro de
Brasilândia.
Fonte: Eduardo Uliana, 2010.
331

Imóveis do bairro da Brasilândia, no entorno da Praça. Fotos (de 1 a 5) obtidas pelo


historiador e pesquisador Humberto Perinelli Neto140, em 2009.

Foto 1 Foto 2

Foto 3 Foto 4

Foto 5

140
Humberto Perinelli Neto foi professor e coordenador do curso de História na Fundação Educacional de
Fernandópolis, 2009. Embora ainda existam os imóveis das fotos (em 2011), eles aparecem sem identificação.
332

3.3.4 Patrimônio Cultural

Figura 25 Grupo de seresta – Zecão e Figura 26 Orquestra de sopro.


Família, 2009. Fonte: Zecão, 2009.
Fonte: Zecão, 2009. (Arquivo pessoal)

Figura 27 Literatura: obra do escritor Wilson Granella.


Fonte: Granella, 2008.

Figura 28 Enfeite de rua no dia de Figura 29 Artesanato.


Corpus Christi Fonte: As autoras, 2008.
Fonte: As autoras, 2008.
333

4.3.5 Patrimônio imaterial

Figura 30 Lenda de origem. No “Sertão de Rio Preto”, havia


violentas disputas de terras entre posseiros e entre eles
e índios.
Fonte: Rio Preto, 1929.

Figura 31 Festa de São Sebastião; Figura 32 Cavalgada na Estrada Boiadeira


Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009.

Figura 33 Festa tradicional – Expô Fernandópolis.


Fonte: Fernandópolis, 2010.
334

4.3.6 Patrimônio ambiental

Figura 34 Ribeirão Santa Rita. Figura 35 Lagoa Beira Rio.


Fonte: Fernandópolis, 2004. Fonte: Fernandópolis, 2004.

Figura 36 Poção nº 1 Aquífero Guarani. Figura 37 Sítio paleontológico – zona rural de Fernandópolis.
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: Oliveira, 2008. (Acervo pessoal)

Figura 38 Reta do Dr. Garbarino (Estrada Boiadeira). Primeira estrada


de rodagem ligando a Fazenda São Luiz Gonzaga a
Álvares Florence (1934).
Fonte: Willie Schio, s/d.
.
335

4.3.7 Patrimônio perdidos

Figura 39 “Colônia do Peres”, travessa, s/d Figura 40 Hotel Central (Av. Amadeu Bizelli)
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009

Figura 41 Residências na Rua Espírito Santo, Figura 42 Fonte luminosa – Pr. da Matriz.
esquina com Avenida dos Arnaldos. Fonte: Rose Marchi Panoramio, s/d.
Fonte: CDP/FEF, 2009

Figura 43 “Bonecas Vivas”. Promoção da EEPG Coronel Francisco Arnaldo da Silva.


Fonte: CDP/FEF, 2009.
336

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O século passado foi marcado por um movimento político mundial de preservação do


Patrimônio Cultural, determinando que a preservação da identidade popular seja uma função do
Estado e um dever de toda a sociedade. Especificamente no Brasil, segundo diversos artigos da
Constituição, é competência comum da União, estados, Distrito Federal e municípios, proteger os
documentos, as obras e os bens de valor histórico, artístico, cultural, os monumentos, os sítios
arqueológicos e as paisagens naturais notáveis.
A enfatizada “competência comum”, claramente citada no art. 23, inciso III, da Constituição
Federal significa que todos os cidadãos políticos são, não só competentes, mas responsáveis pela
proteção dos bens de interesse cultural. Deverão passar, por meio de suas ações administrativas e
políticas de governo, necessariamente, pela implementação de atos que preservem e valorizem os
bens patrimoniais e culturais.
Embora explícitas em lei, a conservação e preservação do patrimônio histórico e cultural de
Fernandópolis apresentam falhas e deficiências, como ficou enfatizado pela Comissão Executiva do
Plano Diretor e Equipe de Assessoria UFSCAR/PUCCAMP (2004):

Os diversos tipos de objetos de valor histórico não estão sendo devidamente


cuidados. É necessário que a Prefeitura Municipal de Fernandópolis tenha forte
vontade política e aloque recursos para que a “história” da cidade, além de não se
perder, tenha um local adequado de guarda para visitas públicas.

Deve-se considerar que a preservação do patrimônio cultural não é só dever dos entes
políticos, mas também da efetiva participação dos cidadãos buscando audiências, incentivando
debates, conferências e levantando questões que envolvam a proteção dos bens culturais,
Como bem enfatizado por Costa (2009),

Fernandópolis possui um rico patrimônio cultural. Isso implica enorme


responsabilidade de nossa cidade em termos de conservação e valorização desse
legado. O ponto mais crítico é que a perda do patrimônio cultural é irreversível, o
que se perde não pode ser recuperado. Fernandópolis já destruiu muito de seu
patrimônio e o que resta corre sérios riscos. Deveríamos, hoje, incentivar formas de
fazer com que cada cidadão compreenda e contribua para a sua conservação.”

RFERÊNCIAS

BARRETO. M. Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. Campinas, SP :


Papirus, 2000. (Coleção Turismo)

BRASIL. Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico


e artístico nacional. Brasília, 1937.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo :
Revista dos Tribunais, 2003.

CDP/FEF. Centro de Documentação e Pesquisa - Fundação Educacional de Fernandópolis,


Fernandópolis, 2009.

COSTA, Rosa Maria Souza da. Olhar o passado e agir no presente para construir o futuro. Jornal O
Cidadão, ed. 22 maio 2009.

FERNANDÓPOLIS. Lei n. 1082/86. Fernandópolis : Câmara Municipal de Fernandópolis, 1986.

FERNANDÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Fernandópolis. Plano Diretor de Fernandópolis.


Fernandópolis : Prefeitura Municipal / UFSCAR, 2004.
337

FERNANDÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Fernandópolis. Disponível em:


<http://www.fernandopolis.sp.gov.br/portal/galerias/view.asp?dir=Conhe%E7a+Fernand%F3polis&next
_id=18&max_pic=21>. Acesso em: 10 abr. 2010.

PELLEGRINI FILHO, Américo. Ecologia, cultura e turismo. 7. ed. Campinas : Papirus, 1993.

FONSECA, M. C. L. O patrimônio em processo – trajetória da política federal de preservação no


Brasil. Rio de Janeiro : UFRJ, 1997.

OLIVEIRA, Carlos Maia de Oliveira. Fotos – sítio paleontológico em Fernandópolis. 2008. (Acervo
pessoal)

PELEGRINI, Sandra. C. A. O patrimônio cultural no discurso e na lei - trajetória e o debate sobre a


preservação no Brasil. Diálogos, v. 9, n. 1. Maringá : DHI-PPH, 1997.

PESSOTTA, Amadeu et al. (org). Fernandópolis, nossa história, nossa gente. Fernandópolis : Bom
Jesus, 1996.

RIO PRETO. Álbum ilustrado da comarca de Rio Preto. São José do Rio Preto, 1929.

SANTOS, C. R. Novas fronteiras e novos pactos para o patrimônio cultural - São Paulo em
perspectiva. São Paulo :Fundação SEADE, v. 15, n. 2, abr./jun. 2001.

SILVA, K.V; SILVA, M H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo : Contexto, 2006.
A PRÉ-HISTÓRIA DE FERNANDÓPOLIS E REGIÃO

Carlos Eduardo Maia de Oliveira141

1 INTRODUÇÃO
A região de Fernandópolis é considerada um ecótone, ou seja, uma zona de transição entre
dois biomas importantes - a Mata Atlântica e o Cerrado. As evidências ecológicas são a presença de
espécies vegetais e animais pertencentes aos dois ambientes, como bromélias, orquídeas, figueiras,
ipê-amarelo, ipê-rosa, farinha seca, aroeira, goiabeira, tatu-canastra, macaco bugio e prego,
capivaras, tamanduá-bandeira, seriema e muitos outros exemplares da fauna e flora.
O relevo é colinoso (nota-se facilmente este fato ao percorrer a rodovia Euclides da Cunha
com seus declives e aclives) e o clima é tropical semi-úmido com inverno seco e verão chuvoso, com
precipitações anuais médias em torno de 1.362 mm. As temperaturas médias, mínimas e máximas,
atingem, respectivamente, 17º C e 33,5ºC, com oscilações bruscas durante o ano
(FERNANDÓPOLIS, 2002).
O que poucos imaginam é que, há aproximadamente 85 milhões de anos, em um período
geológico chamado Cretáceo Superior, o cenário ambiental na região era completamente diferente,
com a presença de répteis como tartarugas e crocodilos, distintos da morfologia dos atuais,
dinossauros herbívoros e carnívoros, mamíferos exclusivamente de pequeno porte, escassos e
fossoriais (viviam em tocas subterrâneas) e baixa biodiversidade de aves, que eram primitivas e um
pouco diferentes das atuais. A paisagem, por sua vez, era caracterizada pela ausência de gramíneas
e plantas frutíferas, com o predomínio de uma vegetação que lembrava extensas florestas de
gimnospermas (atuais pinheiros e cicas); havia presença de um imenso lago denominado pelos
geólogos de Paleolago Araçatuba (originou um grupo rochoso atual chamado de Formação
Araçatuba) e rios meandrantes (repletos de curvas) que originaram um grupo rochoso predominante
na região chamado de Formação Adamantina, popularmente conhecida com piçarra, encontrada em
perfurações de poços e cisternas e em afloramentos (conjunto de rochas expostas na superfície) que
se espraiam pelas pastagens de fazendas e barrancos de rodovias, em especial em áreas marcadas
por processos erosivos; o clima era semi-árido a árido, ou seja, com temperaturas médias mais
elevadas que as verificadas atualmente. Foram encontradas provas, geológicas e paleontológicas, da
existência deste cenário paleoambiental, como a descoberta de inúmeros fósseis (animais e plantas
“petrificadas”) associados a moldes de cristais salinos e cimentação carbonática nas rochas
sedimentares (“piçarra”) em toda a região (CANDEIRO, 2005; BATEZELLI et al., 2003; FERNANDES,
1998; SOARES et al., 1980).
Tanto a paisagem do Cretáceo Superior como a atual da região de Fernandópolis são
consequências de um fenômeno vulcânico (derrame de lavas basálticas) e tectônico (deslocamento
de grandes placas rochosas na superfície do planeta) que abrangeu toda a região centro-sul do Brasil
e se estendeu ao longo das fronteiras com o Paraguai, Uruguai e Argentina. Este evento geológico
ocorreu no Cretáceo Inferior (entre 137 e 127 milhões de anos atrás) e está relacionado com a
separação do supercontinente Gondwana142 e a formação do oceano Atlântico-sul (MILANI, 1997).
Desde 1905 até os dias atuais, estudos geológicos e paleontológicos conduzidos por
diversas instituições de pesquisa, como Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São
Paulo (DAEE), a antiga Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, atual Instituto

141
Graduado em Odontologia pela UNESP de Araçatuba em 1994; graduado em Ciências Biológicas,
Licenciatura Plena pelas Faculdades Integradas de Fernandópolis, mantidas pela Fundação Educacional de
Fernandópolis (FEF) em 2003; Mestre em Microbiologia pela UNESP de Jaboticabal em 2002; Doutor em
Geologia Regional pela UNESP de Rio Claro em 2008. Atualmente, é professor de Paleontologia e Microbiologia
na FEF e Microbiologia na Unicastelo – câmpus de Fernandópolis; é pesquisador do CNPq na área de
Paleontologia e orienta projetos de iniciação científica em Microbiologia na Unicastelo – câmpus de
Fernandópolis e na FEF; presidente do Comitê de Ética e Pesquisa da FEF. Professor EBTT do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS) - Câmpus de Três Lagoas. E-mail:
edumaiaoli@yahoo.com.br
142
Pronuncia-se gonduana.
339

Geológico, a Universidade Estadual Paulista (UNESP), em especial o câmpus de Rio Claro (SP), a
Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), vêm pesquisando os detalhes geológicos das formações
rochosas do estado de São Paulo, incluindo a região em que se localiza Fernandópolis; atualmente, a
UNESP de Rio Claro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu de Paleontologia de
Monte Alto (SP), a USP (câmpus da capital paulista e de Ribeirão Preto) e, mais recentemente, a
Fundação Educacional de Fernandópolis, em conjunto com pesquisadores da Universidade de
Brasília e Universidade de Bristol (Inglaterra), conduzem pesquisas que já levantaram importantes
informações sobre a fauna pré-histórica da região de Fernandópolis e cidades próximas, como Jales,
General Salgado e Auriflama (OLIVEIRA et al.; 2011; OLIVEIRA, 2007; SANTUCCI; BERTINI, 2001;
ARRUDA, 2004; FERNANDES, 1998; BRANDT NETO et al., 1990; MEZZALIRA, 1989; SOARES et
al., 1980; PRICE, 1945).
Portanto, as conclusões e inferências sobre o cenário ecológico pretérito da região,
incluindo alguns exemplares da fauna e flora, estão embasadas em intensas pesquisas de diversas e
renomadas instituições acadêmicas e autarquias federais do País, bem como do exterior.
Ao conhecer a evolução geológica e paleontológica regionais, compreendem-se os
processos de formação de seu solo, formações rochosas e mananciais de água, que determinam a
qualidade da flora local e, ademais, desperta a curiosidade geral a respeito dos espécimes animais
que viveram por aqui há milhões de anos, em uma época em que nem o mais primitivo dos ancestrais
humanos existia no planeta.

2 HISTÓRIA GEOLÓGICA DE FERNANDÓPOLIS E REGIÃO – PROCESSO DE FORMAÇÃO DO


SOLO E MANANCIAL DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
É curioso saber que o processo de formação do solo e da paisagem da região de
Fernandópolis se relaciona com a separação do continente africano do sul-americano há mais de 125
milhões de anos.
Houve época em que o supercontinente Gondwana (figura 1), composto pela África,
América do Sul, Antártida, ilha de Madagascar, Oceania e Índia, começou a fragmentar-se devido à
movimentação das placas tectônicas (grandes placas rochosas que recobrem a superfície do
planeta). Essa fragmentação provocou um rifteamento143 no continente sul-americano, ocasionando
um episódio de vulcanismo de fissura, que derramou lava basáltica (em alguns locais superando a
espessura de um quilômetro) na superfície do solo. Essa lava, ao se esfriar, originou a conhecida
rocha chamada de basalto, muito abundante nesta região devido à ocorrência desse episódio
geológico; há tempos, esse tipo de rocha é utilizado na produção de brita que serve a pavimentação e
construção civil e, em pequenos blocos, se destina ao calçamento das vias públicas. Esse conjunto
de rochas de basalto recebeu o nome de Formação Serra Geral (FERNANDES; COIMBRA, 1996).

143
Rachaduras.
340

Figura 1 Concepção artística da fragmentação do supercontinente Gondwana.


Fonte: O autor, 2011.

O peso desse volume gigantesco de basalto promoveu a formação de uma bacia (depressão
na superfície), originando a unidade geológica composta por rochas sedimentares denominada de
Bacia Bauru (figura 22), que compreende toda a região de Fernandópolis, estados e alguns países
vizinhos.

Figura 2 Mapa geológico da Bacia Bauru ou Grupo Bauru.


Fonte: Fernandes, 1998; Fernandes; Coimbra, 1996. (Adaptado pelo autor)

Essa depressão (Bacia Bauru) começou a receber sedimentos (areia, argila e silte) de suas
bordas, formando o conjunto de rochas sedimentares chamado de Grupo Bauru, no qual os
341

paleontólogos encontram os inúmeros fósseis na região noroeste do estado de São Paulo, incluindo
Fernandópolis (figura 3) (FERNANDES; COIMBRA, 1996).

Figura 3 Esquema da formação da Bacia Bauru (Períodos


Geológicos Ki = Cretáceo Inferior; Ks = Cretáceo
Superior; T – Q = Terciário-Quaternário).
Fonte: Fernandes; Coimbra, 1996. (Adaptado pelo autor)

Ao longo de milhões de anos, a erosão promovida pelas águas das chuvas, ácidos
orgânicos de liquens, ação do vento e outros agentes naturais foram desgastando essas rochas
(basalto da Formação Serra Geral e rochas do Grupo Bauru) e colaboraram com a formação do solo
nesta região; esse solo extremamente foi explorado no passado na produção de café, sem reposição
de elementos orgânicos e de forma precípua, e, atualmente, serve as pastagens na criação de gado
bovino, no plantio de cana-de-açúcar, seringueiras, laranjais e outras culturas. A produção de café,
nas décadas de 30 e 40 do século XX, desenvolveu-se muito bem devido à presença de um solo fértil
e estimulou a fundação de cidades como Fernandópolis, Jales, Votuporanga e muitas outras; no
intuito de expandir as fronteiras agrícolas, o governo construiu a estrada de ferro (antiga Estrada de
Ferro Araraquarense – EFA), que corta a região e colaborou com o rápido desenvolvimento desses
municípios. Já naquela época, quando tais cidades foram fundadas, à medida que construíam a
referida estrada de ferro, operários encontravam fósseis de dinossauros e crocodilos pré-históricos
após o rompimento dos paredões de rochas situados pelo caminho (MEZZALIRA, 1989).
É interessante notar que a formação do solo nesta região se relaciona diretamente com o
processo de separação da América do Sul do continente africano, ocorrida há mais de 125 milhões
de anos. Na figura 4, observa-se uma concepção artística de como era a provável paisagem regional
no Cretáceo Superior (85 milhões de anos atrás), onde hoje é a zona rural de Fernandópolis. À frente
na imagem, observa-se um animal da fauna daquela época, o crocodilo Baurusuchus144, cujas
características serão detalhadas mais adiante, e, ao fundo, um rio meandrante145, comum na região
naquele período geológico, cujos sedimentos formaram os inúmeros afloramentos de rochas

144
Baurusuchus - pronuncia-se baurusucus.
145
Meandrante - rio cujo curso é caracterizado por curvas acentuadas.
342

sedimentares do tipo arenito146 (figura 5). Verifica-se, também, a ausência de grama na relva – este
tipo de vegetação era inexistente naquele tempo.

Figura 4 Concepção artística da paisagem da região de Fernandópolis no Cretáceo


Superior.
Fonte: Elias, 2011.

Figura 5 Afloramento de rocha sedimentar na zona rural de


Fernandópolis (SP)147.
Fonte: O autor, 2004. (Arquivo particular)

146
Arenito - em nossa região, ele é conhecido como piçarra.
147
Rocha sedimentar - nesse tipo de rocha encontram-se os fósseis em Fernandópolis e região.
343

A maioria desses afloramentos de rochas sedimentares pertence a um conjunto rochoso


denominado Formação Adamantina (unidade do Grupo Bauru), descrita em detalhes por Sares e
colaboradores (1980). Acima desses afloramentos, encontra-se o solo e, abaixo, as camadas de
rochas basálticas da Formação Serra Geral. Ainda abaixo da Formação Serra Geral, encontra-se
outro grupo de rochas chamadas de Formação Botucatu, que contém o conhecido Aquífero Guarani
na região, onde a SABESP de Fernandópolis prospecta água para a cidade através da exploração
dos poções a uma profundidade entre 1.600 e 1.700 metros (figura 6). A Formação Botucatu é
resultado do acúmulo de areia (deposição eólica), que se litificou148, proveniente de um extenso
deserto que existiu entre o Jurássico Superior e o Cretáceo Inferior (entre 151 a 134 milhões de anos
atrás); esse deserto, chamado de Botucatu, era semelhante ao atual Saara e possuía área superior a
um milhão de km2. Por essa época, o supercontinente Gondwana ainda não se tinha fragmentado
(MILANI et al., 2007; ROCHA, 1997).

Figura 6 Coluna litoestratigráfica da região de Fernandópolis mostrando a sequência de rochas no subsolo há


uma profundidade de 1.600 metros.
Fonte: O autor, 2011.

Portanto, curiosamente, deve-se a água de abastecimento público na cidade, pelo menos


em parte, à deposição de areia proveniente de um imenso deserto pré-histórico, pois esse evento
geológico foi responsável pela formação das rochas que hoje abrigam o Aquífero Guarani – um dos
maiores mananciais de água subterrânea do mundo.

3 HISTÓRIA PALEONTOLÓGICA DE FERNANDÓPOLIS E REGIÃO


3.1 Breves comentários sobre a Paleontologia
Os vestígios de animais pré-históricos preservados em rochas são chamados de fósseis; a
ciência que estuda tais elementos é denominada Paleontologia, e seus pesquisadores são os
paleontólogos.

148
Litificou - transformou-se em rocha.
344

Os fósseis geralmente são representados por diversos tipos de ossos, dentes, conchas e
carapaças pertencentes a animais pré-históricos, mas também podem apresentar-se na forma de
icnofósseis (evidências de atividades biológicas), não constituindo, portanto, partes do animal pré-
histórico, mas vestígios de sua fisiologia ou comportamento, como ovos, fezes fossilizadas
(coprólitos), pedras utilizadas para aumentar o atrito com o alimento no tubo digestório (gastrólitos),
marcas de descanso, de ataque ou defesa (impressões de dentadas em ossos) e outras evidências.
Quando uma pessoa pega um fóssil pela primeira vez, tem a impressão de estar segurando
uma pedra, pois as peças fossilizadas contêm minerais próprios provenientes da rocha que as
circundam.
Os fósseis são preservados em rochas sedimentares, como já referido, portanto, a idade de
constituição desse tipo de rocha coincide com a idade aproximada da morte do animal que se
fossilizou, por isso os paleontólogos conhecem o tempo estimado de um exemplar fóssil. Como na
região as rochas sedimentares são do Cretáceo Superior (idade aproximada de 85 milhões de anos),
todos os fósseis regionais têm essa idade149.
É certo que existiram outros animais e plantas pré-históricos na região além dos
apresentados nesta seção, porém, as rochas que os preservaram ou já foram erodidas (processo que
destrói as rochas e os fósseis), ou estão abaixo daquelas que se encontram expostas na superfície e,
portanto, inacessíveis aos paleontólogos. Portanto, os fósseis aqui apresentados são aqueles que
foram preservados em rochas que estão expostas na superfície do solo em afloramentos, em cortes
de rodovias e ferrovias locais, espalhadas nas pastagens e lavouras da zona rural ou nas paredes de
cisternas e poços.
É importante ressaltar que os fósseis não podem ser vendidos, guardados como objetos de
coleção particular ou de decoração, ou, ainda, coletados por pessoas que não tenham autorização
expedida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), pois, segundo a Constituição
brasileira, os fósseis pertencem à União, inclusive os encontrados em propriedades particulares.
Qualquer pessoa que descobrir um espécime fóssil deve avisar pesquisadores capacitados a coletá-
los, para evitar a sua destruição no ato da prospecção150 e, assim, manter a sua integridade, podendo
então ser objeto de pesquisa, publicação científica e uso didático em aulas de Paleontologia,
Geografia e Geologia e também ser admirado em exposições de museus.

3.2 Primeiro fóssil descoberto em Fernandópolis


A primeira descoberta de um fóssil ocorrida em Fernandópolis e documentada oficialmente
foi em abril de 2004 e ocorreu em uma fazenda às margens do ribeirão Jagora, próximo ao município
de São João das Duas Pontes, por pesquisadores da Fundação Educacional de Fernandópolis
(professores Carlos Eduardo Maia de Oliveira, Uderlei Donizeti Covissi e José Alberto Felipe Basílio),
dos quais foram avisados por um veterinário que visitava a propriedade rural – tratava-se de ossos
como tíbia, fíbula, fêmur, ísquio, gastrálias e garras de um crocodilo pré-histórico reconhecido como
Baurusuchus (figura 7) (BERTINI et al., 2005).

149
Na verdade, existem também outros métodos científicos para se obter a idade de um fóssil ou de uma rocha,
mas a explicação detalhada desses métodos ultrapassa os objetivos deste trabalho, podendo ser obtida em
Rohn (2004) e Labouriau (1994).
150
Extração.
345

Figura 7 Primeiro fóssil descoberto e documentado oficialmente no município de


Fernandópolis em estágio precoce de preparação. Os ossos estão incrustados
em um bloco de arenito proveniente da Formação Adamantina, Cretáceo
Superior.
Fonte: O autor, 2004. (Arquivo particular)

A figura 8 retrata o momento em que o primeiro fóssil de Fernandópolis foi retirado,


incrustado em um bloco de arenito. Caso o animal que originou esse fóssil morresse a poucos metros
adiante do local onde se encontrava, esta descoberta teria sido registrada no município de São João
das Duas Pontes – cidade fronteiriça a Fernandópolis.
346

Figura 8 Professor Carlos Eduardo Maia de Oliveira (FEF)


removendo um bloco de arenito contendo o primeiro
fóssil descoberto no município de Fernandópolis em abril
de 2004.
Fonte: O autor, 2004. (Arquivo particular)

O reconhecimento de alguns ossos encontrados no afloramento rochoso em Fernandópolis


foi decisivo para concluir que o referido fóssil se constituía em vestígios de um crocodilo pré-histórico
como, por exemplo, placas dérmicas ou osteodermos (elementos ósseos típicos desses répteis –
figura 9), que recobrem as costas do animal.

Figura 9 Quatro placas dérmicas de crocodilos pré-históricos encontradas


em Fernandópolis (SP).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)
347

Além das placas dérmicas, naquela oportunidade, outros ossos fossilizados foram
encontrados como tíbia, fíbulas (figura 10) e vértebras (figura 11).

Figura 10 Tíbia (seta vermelha) e partes de fíbula (setas amarelas) de crocodilos pré-
históricos encontrados em Fernandópolis (SP).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Figura 11 vértebras de crocodilo pré-histórico encontradas em Fernandópolis – SP.


Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Essa descoberta serviu como estímulo para a constituição de um grupo de pesquisa


científica composto por profissionais de instituições de ensino como a FEF (professores Carlos
Eduardo Maia de Oliveira e José Alberto Felipe Basílio), da UnB, em Brasília (professor Rodrigo
Miloni Santucci) e da Universidade de Bristol, na Inglaterra (professores Marco Brandalise de
Andrade e Michael José Benton), o qual continuou a procura por fósseis em Fernandópolis e região e,
com isso, fizeram várias descobertas noticiadas com trabalhos publicados no Brasil e exterior, dentre
os quais, artigos publicados em revistas científicas internacionais, apresentações em congressos,
nacionais e no exterior, tese de doutoramento e iniciações científicas, além da criação de um acervo
paleontológico, depositado na FEF; tal acervo conta, atualmente, com mais de 155 espécimes fósseis
provenientes de 17 localidades brasileiras distintas. Essa coleção teve sua montagem autorizada pelo
348

Departamento Nacional de Produção Mineral, autarquia federal responsável pela fiscalização da


mineração em todo o território nacional (OLIVEIRA et al., 2008, 2009, 2011; OLIVEIRA, 2007;
BERTINI et al., 2005, 2006; GUIDOTI et al., 2006).

3.3 Fósseis da região Noroeste do estado de São Paulo


Alguns fósseis, que serão citados nesta seção, não foram descobertos ainda dentro dos
limites do município de Fernandópolis, mas em cidades vizinhas e, por isso, devido à proximidade
territorial, é possível sugerir que também ocorressem no município de Fernandópolis, àquela época.
Fazendo uma analogia com a presente situação, não é difícil imaginar que, ao avistar uma seriema
ou um tamanduá-bandeira em Jales ou Votuporanga, também se pode encontrá-los em
Fernandópolis. Não há razões para pensar o contrário, uma vez que a natureza desconhece limites
geográficos e políticos entre municípios que, como é óbvio, nem existiam naquela época.

3.3.1 Crocodilos do gênero Baurusuchus


Um desses exemplares é um crocodilo pré-histórico (figura 12), que já foi encontrado em
Fernandópolis, como referido na seção anterior, porém, os melhores exemplares foram descobertos
nas cidades de Jales e General Salgado. Foram duas espécies diferentes, Baurusuchus pachecoi,
encontrado pela primeira vez na cidade de Paula de Faria (SP) em 1945 (PRICE, 1945) e,
posteriormente, vários exemplares em Jales e Fernandópolis, e Baurusuchus salgadoensis,
encontrado em General Salgado (CARVALHO et al., 2005).

Figura 12 Concepção artística do crocodilo pré-histórico, pertencente ao gênero Baurusuchus, que habitou a
região há 85 milhões de anos.
Fonte: Elias, 2010.

Observe-se, na figura 12, que esse crocodilo difere dos espécimes atuais em muitos
aspectos, pois o Baurusuchus apresentava os membros locomotores retos, longos e postados abaixo
do corpo (nos atuais, tais membros são curtos e lateralizados), crânio achatado lateralmente, com
olhos lateralizados, presença de dentes apenas na região anterior da maxila e mandíbula (nos atuais
o crânio apresenta-se achatado dorsoventralmente, os dentes se espalham por toda a maxila e
mandíbula e os olhos situam-se no topo da cabeça) e as narinas situam-se na extremidade do
focinho e em posição terminal (nos crocodilos atuais as narinas ficam na região anterior e no topo do
focinho). Esse crocodilo apresentava hábitos terrestres e não semiaquáticos como os exemplares
atuais e atingia, aproximadamente, quatro metros de comprimento (CARVALHO et al., 2005;
BRANDT-NETO et al., 90, 91, 92). A figura 13 mostra esses detalhes morfológicos, do animal em vida
e de seu esqueleto, em imagens de Baurusuchus pachecoi.
349

Figura 13 Concepção artística do crocodilo pré-histórico Baurusuchus pachecoi (imagem


superior) e reconstrução de seu esqueleto (imagem inferior).
Fonte: Elias, 2010.

Em 2006, pesquisadores da Fundação Educacional de Fernandópolis (Carlos Eduardo Maia


de Oliveira e José Alberto Felipe Basílio), em parceria com o professor Marcelo Bonetti Agostinho, de
Jales, encontraram na zona rural de Jales um crânio quase completo de, ao que tudo indica, um
Baurusuchus pachecoi (figura 14), com mais de 40 cm de comprimento e, atualmente, depositado no
acervo paleontológico da FEF.

Figura 14 Fotografia de crânio de Baurusuchus pachecoi.


Fonte: O autor, 2006. (Acervo particular)

Outro crânio desse gênero de crocodilo foi descoberto em 2005 pelo professor João Tadeu
Arruda em General Salgado (SP) (CARVALHO et al., 2005), além de um esqueleto quase completo
350

(ARRUDA et al., 2004) e referem-se à espécie Baurusuchus salgadoensis – a escolha de seu nome
científico foi uma homenagem àquela cidade (figuras 15 e 16). Essa foi a segunda espécie desse
gênero de crocodilo descoberta na região e, embora sua morfologia seja muito parecida com a de um
Baurusuchus pachecoi, alguns detalhes anatômicos são distintos, o que permitiu àqueles
pesquisadores criar o nome de uma nova espécie crocodiliana.

Figura 15 A – fotografia de crânio e mandíbula de Baurusuchus salgadoensis; B – concepção artística


em vista lateral de B. salgadoensis; C – B. salgadoensis atacando uma presa; D – vista
lateral do corpo inteiro de um B. salgadoensis.
Fonte: Silva, 2011; Carvalho, 2011.

Figura 16 Esqueleto quase completo de crocodilo Baurusuchus


incrustado em arenito encontrado na região, mais precisamente
na zona rural de General Salgado (SP) (espécime UFRJ – DG
– 288 – R).
Fonte: Arruda et al., 2004.
351

A figura 17 mostra o contorno dos crânios de duas espécies de crocodilos do gênero


Baurusuchus, cujos ossos fossilizados são bastante comuns em na região e também na zona rural de
Fernandópolis (SP).

Figura 17 Comparação entre crânios de Baurusuchus pachecoi e Baurusuchus


salgadoensis.
Fonte: Carvalho et al., 2005.

Recentemente, duas novas espécies de crocodilo da família Baurusuchidae (pronuncia-se


baurussuquide) foram encontradas na região, Baurusuchus albertoi, descoberto nos arredores do
município de General Salgado (SP) (NASCIMENTO; ZAHER, 2010) e Campinasuchus dinizi
(CARVALHO et al., 2011), encontrado no município de Campina Verde (MG) (figura 18). Há
publicações científicas de revisão sobre os Baurusuchi que citam vários artigos sobre outros
crocodilos, parentes do exemplar da região de Fernandópolis, encontrados em localidades distintas
como Europa, África, Argentina e mesmo no Paquistão, evidenciando que os ancestrais dos
Baurusuchi apresentaram ampla abrangência pelo mundo (OLIVEIRA, 2007; ARRUDA et al.; 2004).

Figura 18 contorno do crânio e vista lateral da cabeça do crocodilo Campinasuchus


dinizi.
Fonte: Carvalho, 2011; Nogueira, 2011.
352

Em março de 2011 foi publicado um artigo científico (OLIVEIRA, 2011), por um grupo de
pesquisadores da FEF (Fernandópolis), UnB (Brasília), Rio Claro (UNESP) e Universidade de Bristol
(Inglaterra) que descreveu um novo oogênero e ooespécie de fóssil, denominado de Bauruoolithus
fragilis. Trata-se de ovos e cascas de ovos de crocodilo Baurusuchus descobertos em dezenas de
ninhos representados na figura 19 (OLIVEIRA et al., 2008, 2011).

Figura 19 Ovos de crocodilos pré-históricos Baurusuchi incrustados na rocha. A – primeiro


exemplar descoberto na rocha em estágio adiantado de preparação laboratorial – ovo
bem completo com cascas ao redor; B – um ovo incrustado na rocha, sem nenhum
tipo de preparo laboratorial; C – três ovos incrustados na rocha, sem nenhum tipo de
preparo laboratorial; D – pesquisadores da FEF removendo um ninho de crocodilo
pré-histórico da rocha (barra de escala de cinco centímetros).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Esta coleção fóssil é considerada a maior concentração de ovos e cascas de ovos de


crocodilos pré-históricos do mundo. Foram encontradas dezenas de ovos e cascas distribuídos em 16
ninhos juntamente com inúmeros esqueletos e crânio de Baurusuchus localizados em um afloramento
na zona rural da cidade de Jales (SP) (fig. 20). O que chamou a atenção da comunidade
paleontológica mundial é o fato de que uma descoberta desse tipo de fóssil (ovos de crocodilos pré-
históricos) é raríssima, tanto que existem poucos artigos científicos do gênero e os exemplares são
muito escassos em todo o mundo (OLIVEIRA et al., 2011).
353

Figura 20 Imagem de satélite com as ocorrências de ninhos de Baurusuchus na zona rural de


Jales (SP) (ec = ovos e cascas nos ninhos; linha preta = delimitação do afloramento
de rochas sedimentares; seta branca = afloramento 1; triângulo laranja = local onde
foram encontrados um esqueleto e o crânio de Baurusuchus; elipse laranja = local
onde foi encontrado outro esqueleto de Baurusuchus).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

As pesquisas paleontológicas conduzidas pela FEF ainda renderam alguns achados


interessantes, como um esqueleto de Baurusuchus encontrado no mesmo local onde foram coletados
os ninhos, representado pela elipse laranja na figura 20 e na imagem fotográfica na figura 21.

Figura 21 Esqueleto de crocodilo Baurusuchus incrustado no arenito (“piçarra”).


Na imagem observam-se os seguintes elementos ósseos: fêmur (seta
vermelha), costelas (seta amarela), úmero (seta preta), esterno (seta
azul) e fragmento de mandíbula (seta laranja).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)
354

Pertencentes ao esqueleto do crocodilo pré-histórico apresentado na figura 21, foram


encontrados, também, alguns ossos da pata com garras preservadas (figura 22).

Figura 22 ossos da pata (setas amarelas) e garras (setas vermelhas) pertencentes a um


crocodilo pré-histórico encontrado em Jales (SP) incrustados em rocha.
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Também foram encontrados coprólitos (fezes fossilizadas) desses crocodilos em


afloramentos de Jales e Fernandópolis, representados na figura 23; nesse tipo de fóssil, é possível
descobrir que tipo de alimentos faziam parte do cardápio de tais animais (OLIVEIRA, 2007).

Figura 23 Quatro coprólitos (fezes fossilizadas) encontrados juntos aos


esqueletos de crocodilos pré-históricos do gênero Baurusuchus
com escala de 20 mm.
Fonte: O autor, 2006. (Arquivo particular)

Tecidos duros e mineralizados se fossilizam com mais frequência e, devido à presença de


esmalte (camada dentária superficial altamente resistente), dentes são achados relativamente
comuns em jazigos fossilíferos. Na zona rural de Fernandópolis, Turmalina, Auriflama, General
Salgado e Jales foram encontrados inúmeros dentes de crocodilos Baurusuchi (figura 24).
355

Figura 24 Dentes de crocodilo pré-histórico do gênero Baurusuchus encontrados na região.


Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Devido à abundância de esqueletos fossilizados de crocodilos baurussuquídeos na região,


pode-se imaginar o que se veria por aqui se se voltasse no tempo entre 85 a 90 milhões de anos
atrás; certamente se depararia com esses magníficos répteis em um lugar onde hoje se constitui a
região de Fernandópolis.

3.3.2 Crocodilos do gênero Sphagesaurus151


Essa espécie de crocodilo foi descrita pela primeira vez pelo eminente paleontólogo
Llewellyn Ivor Price em 1950 (também descreveu o primeiro Baurusuchus, em 1945), a partir de um
exemplar encontrado próximo à cidade de Presidente Prudente (SP), embora haja registros de
descoberta de dentes do animal em 1931 por Von Huene na localidade de Guarucaia (atual
Presidente Bernardes – SP). No entanto, há relatos de descoberta de ossos desse crocodilo em
Catanduva e no km 370 da rodovia Washington Luiz, próximo ao município de Santa Adélia (SP)
(MEZZALIRA, 1989; ARID; VIZOTTO, 1965) e crânio e mandíbula, parcialmente preservados, nos
arredores da cidade de Jales (AGOSTINHO, 2009).
Era um crocodilo de pequeno porte (figura 25), com grandes olhos, rosto alongado (região
anterior da “cara” do animal) com narina terminal e única. Os membros locomotores eram eretos e
dispostos abaixo do corpo (AGOSTINHO, 2009; ANDRADE, 2005; PRICE, 1950).

Figura 25 Concepção artística do crocodilo do gênero Sphagesaurus.


Fonte: Elias, 2010.

151
Pronuncia-se sfagessaurus.
356

3.3.3 Crocodilo da espécie Goniopholis paulistanus152 ou Machimosaurus153


Descrito por Mathias Gonçalves de Oliveira Roxo em 1936 (ROXO, 1936), os primeiros
fósseis do crocodilo Goniopholis paulistanus foram descobertos em 1911 por Rodolpho Von Ihering
(1911) em poços escavados próximos ao município de São José do Rio Preto (SP).
Von Ihering descobriu e descreveu em 1911 (VON IHERING, 1911) apenas dois dentes sem
muitos detalhes. Posteriormente, Von Huene (1931) examinou os mesmos dentes e apresentou
interessantes esclarecimentos. O referido autor concluiu que se tratava de dentes de crocodilos pré-
históricos.
Pesquisas realizadas por Alberto Lavanere Wanderley para a Divisão de Geologia e
Mineralogia em 1935, resultaram na coleta de mais dois dentes e um osso fossilizado desse crocodilo
(tíbia), encontrados em cortes de uma ferrovia que estava sendo construída na região de Araçatuba
(SP) (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, Estado de São Paulo).
Fundamentando-se principalmente nesses espécimes, Roxo (1936) julgou pertencerem ao
gênero Goniopholis, e representarem uma nova espécie a qual denominou Goniopholis paulistanus.
Estudos realizados por Price (1950), porém, colocaram em dúvida essa designação, e relacionou os
dentes de crocodilos encontrados em São José do Rio Preto, em 1911, possivelmente a outro gênero
de crocodilo – o dos Machimosaurus.
Em 1978, Campos e Castro relataram a descoberta de dentes, ossos do crânio, maxila e
diversos fragmentos ósseos desses crocodilos no corte 208 da antiga Ferrovia Paulista S/A
(FEPASA), a 12 km a oeste de Votuporanga (SP) e no município de Valentim Gentil (SP), no corte
128 dessa mesma ferrovia, em Votuporanga e em Meridiano (SP). No entanto, esses materiais ainda
são objetos de controvérsia, porém, com certeza são pertencentes a crocodilos pré-históricos.

3.3.4 Crocodilo da espécie Armadillosuchus arrudai154


Esse crocodilo deve o seu nome à sua anatomia, que lembra uma mistura de crocodilo com
tatu (figura 26) e viveu na região há aproximadamente 90 milhões de anos. Seus despojos fósseis
foram encontrados por um professor de Biologia aposentado chamado João Tadeu Arruda nos
arredores de General Salgado (MARINHO; CARVALHO, 2009).

Figura 26 Concepção artística de um crocodilo, parecido com o atual tatu, que


viveu na região há mais de 85 milhões de anos.
Fonte: Carvalho, 2011; Martine, 2011.

Esse crocodilo media dois metros de comprimento e estima-se que pesava 120 quilos.
Possuía patas com garras fortes, como um tatu, seu crânio era largo, o focinho era curto e estreito,
várias placas dérmicas se espalhavam por suas costas, como uma armadura, e serviam para

152
Pronuncia-se goniofolis.
153
Pronuncia-se maquimossaurus.
154
Pronuncia-se armadilossucus arrudai.
357

proteger o animal contra ataques de predadores. Sua dentição era adaptada a uma alimentação
onívora (figura 27).

Figura 27 A – réplica do esqueleto do crocodilo Armadillosuchus arrudai; B – concepção artística da cabeça de


A. arrudai em vista lateral.
Fonte: Carvalho, 2011; Silva, 2011.

Segundo Marinho e Carvalho (2009), o crocodilo Armadillosuchus arrudai apresentava


hábitos fossoriais, ou seja, escavava buracos no chão, à semelhança dos atuais tatus, e, para isso,
utilizava suas fortes garras (figura 28).

Figura 28 A – concepção artística do crocodilo Armadillosuchus arrudai; B – crânio de crocodilo A. arrudai.


Observar o escudo em forma de capacete na região cervical (seta vermelha) que servia como
proteção contra ataque de predadores (espécime UFRJ – DG – 303 – R).
Fonte: Carvalho, 2011.

3.3.5 Dinossauros na região Noroeste do estado de São Paulo


Não há muitos relatos de descobertas de fósseis de dinossauros na região de
Fernandópolis e, quando se descobrem, são fragmentos de ossos como costelas, fêmures, alguns
dentes isolados de carnívoros, nada que se compare aos espécimes de crocodilos pré-históricos.
Um dos primeiros artigos científicos data de 1962 e noticia a descoberta de restos de fêmur,
tíbia e vértebras de um grande dinossauro herbívoro cujo nome científico é Antarctosaurus
brasiliensis, mais conhecido popularmente como uma das várias espécies de titanossauro,
semelhante ao da figura 29. Esse espécime foi encontrado a cinco quilômetros de São José do Rio
Preto (SP), na rodovia Assis Chateaubriand (ARID, 1962). No mesmo local, em 1971, também foram
encontrados restos ósseos desse mesmo dinossauro (ARID; VIZOTTO, 1971).
358

Figura 29 A – representação artística de um dinossauro herbívoro chamado Titanossauro, que viveu


na região; B – modelo de um titanossauro, em escala, comparado a um homem adulto.
Fonte: Anelli, 2010; Elias, 2011.

Os titanossauros eram muito comuns no supercontinente Gondwana (que continha a atual


América do Sul) no Cretáceo Superior, há 85 milhões de anos, e, ao que tudo indica, não era
diferente na região de Fernandópolis. Esse grande réptil podia alcançar mais de 15 metros de
comprimento, seis metros de altura e cerca de nove toneladas; há casos de fêmur de titanossauro
com 1,60 m de comprimento e 100 Kg de peso (figura 30), sugerindo o tamanho gigantesco desses
animais (ANELLI, 2010; SANTUCCI; BERTINI, 2001).

Figura 30 Imagem fotográfica de fêmur de titanossauro com 1,60 m de comprimento e 100 Kg de


peso, que está, atualmente, depositado no Museu de Paleontologia de Monte Alto (SP).
Fonte: Santucci, 2011.
359

Além de São José do Rio Preto, foram noticiadas descobertas desse dinossauro em
Araçatuba, Mirassol, fazenda São Vicente (a 10 km de Ibirá), Votuporanga e Pedreira Santo Antônio
(a 5 km de Bálsamo), entre os anos de 1962 e 1987 (MEZZALIRA, 1989).
Em 2008, foram encontrados fragmentos ósseos e uma costela de 1,20 m de comprimento
de titanossauro (figura 31) em um sítio próximo à cidade de Auriflama (SP). Essa costela, atualmente,
se encontra depositada no acervo paleontológico da Fundação Educacional de Fernandópolis.

Figura 31 A – Imagem fotográfica de uma costela de titanossauro com 1,20 m de comprimento (seta vermelha);
B – reconstrução de um esqueleto de titanossauro (notar a referida costela destacada em amarelo em sua
posição original no esqueleto).
Fonte: O autor, 2011 (imagem A); Santucci, 2011 (imagem B).

A referida costela é a última da caixa torácica do titanossauro, denominada de flutuante, e é


curioso ressaltar que é a menor da série e, mesmo assim, possui um comprimento considerável (1,20
m), sugerindo que o dinossauro que possuía esse elemento ósseo apresentava um grande porte.
Ao lado dessa costela, foram descobertos, por pesquisadores da FEF, alguns dentes de
pequenos dinossauros carnívoros, chamados genericamente de terópodes cujos dentes perderam ao
se alimentarem da carne do titanossauro e, assim, foram (os dentes) fossilizados junto com a costela
do grande dinossauro. Esses dentes são achatados como lâminas de uma faca bem afiada e
apresentam serrilhas cortantes nas laterais (figura 32).
360

Figura 32 Dentes de dinossauro carnívoro (notar as serrilhas nas laterais – seta


vermelha) encontrados na região.
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)

Ainda não há relatos de ossos fossilizados desses pequenos dinossauros carnívoros, mas
Anelli (2010) descreve um pouco de sua anatomia a partir da análise de esqueletos encontrados em
outras localidades, como os terópodos manirraptores (figura 33), que constituem um grupo de
dinossauros predadores com alguns exemplares fósseis encontrados no distrito de Peirópolis,
Uberaba (MG).

Figura 33 A – concepção artística de dinossauro manirraptor; B – comparação, em escala, de um


dinossauro manirraptor com aproximadamente dois metros de comprimento com um homem
adulto.
Fonte: Elias, 2011 (imagem A); Anelli, 2010 (imagem B).

Fragmentos ósseos não determinados e relacionados a dinossauros ainda foram


encontrados no corte 128 da estrada de ferro (FEPASA) em Votuporanga, em um corte de rodovia
nos arredores da cidade de Tanabi, Catanduva, Mirassol e em um teste de sondagem, com
profundidade de 109 metros, de um poço em Sud Menucci (todas as cidades no estado de São
Paulo) (MEZZALIRA, 1989).
361

3.3.6 Outros fósseis da região Noroeste do estado de São Paulo


Foram descobertas conchas de bivalves (semelhantes às atuais ostras) do Cretáceo
Superior no corte de ferrovia (FEPASA) em Estrela d’Oeste em 1959 e conchas de gastrópodes
(caracóis) pré-históricos a cinco quilômetros de São José do Rio Preto, em 1974 ,na rodovia Assis
Chateaubriand (MEZZALIRA, 1989).
Fósseis de tartarugas pré-históricas foram encontrados nos municípios de Araçatuba, São
José do Rio Preto, Catanduva, corte 128 da estrada de ferro FEPASA em Votuporanga e Ibirá
(MEZZALIRA, 1989).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fauna local, com certeza, era bem mais diversificada que a revelada nos estudos
paleontológicos, porém, como a formação de fósseis é um fenômeno raro, o registro fossilífero é
bastante escasso e lacunar; por isso, os paleontólogos comemoram quando descobrem esqueletos
bem preservados - o que já ocorreu por diversas vezes na região, especialmente com crocodilos.
Devido a esses fósseis, cidades como Fernandópolis, General Salgado e Jales são conhecidas
internacionalmente na comunidade científica, através do trabalho de seus pesquisadores.
Com o avanço das pesquisas em Fernandópolis e região, torna-se importante a criação de
um museu que, além de preservar esse patrimônio pré-histórico de valor científico e cultural em seus
locais de origem, pode tornar-se uma opção de lazer para a população local.
Ressalte-se que os fósseis são como janelas que revelam cenários ecológicos de um
passado tão distante que mexe com a imaginação, despertando a curiosidade. Animais como
crocodilos pré-históricos e, principalmente dinossauros, apresentam um apelo muito forte junto ao
público em geral, sobretudo em crianças, cujo brilho nos olhos provocado ao ver um esqueleto
verdadeiro de dinossauro vale qualquer esforço de um pesquisador ou de uma autoridade que se
empenhe em criar acervos paleontológicos.

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RIBEIRÃO SANTA RITA

Uma análise empírico-exploratória documental acerca do impacto ambiental da expansão urbana de


155
Fernandópolis sobre os mananciais do Ribeirão Santa Rita .

1 INTRODUÇÃO
Vive-se em um momento histórico, em que todo o engenhoso emaranhado de produção de
técnicas governadas pela informação produz e recria rapidamente, por conta da globalização, um
intenso processo de competitividade, consumo e confusão dos espíritos que, segundo Santos (2007),
“constituem um baluarte do presente estado de coisas. A competitividade comanda nossas formas de
ação, o consumo comanda nossas formas de inação. E a confusão dos espíritos impede o nosso
entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade, e de cada um de nós mesmos”.
O autor prossegue: os períodos da história são antecedidos e sucedidos por crises e, como
período e como crise, a época atual mostra-se como uma coisa nova, cada um com variáveis e
características que estão continuamente chocando-se e exigindo novas definições.
Nunca se falou tanto das questões problemáticas pertinentes ao meio ambiente como se
tem discutido nas últimas décadas do século passado e na primeira década do atual século. Isso é
reflexo do desenvolvimento econômico promovido pelo sistema capitalista que, no âmago da
cumulação de capital e bem-estar da minoria, por vezes sem a devida respeitabilidade ambiental e
natural, cria impactos de proporções absurdas: desmatamentos, assoreamentos, poluição
atmosférica, hídrica e ambiental, aquecimento global, laterização de solos, voçorocas e lixiviação

155
Pesquisa (original) apresentada pelo professor Judá Vieira de Oliveira, acompanhado dos alunos Augusto
Nunes Bichof, João Victor de Gênova, José Eduardo Cardoso e Maria Beatriz Gaviolle, à Secretaria de Meio
Ambiente e/ou Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal de Fernandópolis (SP), 2011. Foram efetuadas
revisões e adaptações para publicação; mantiveram-se, porém, suas fontes e, sempre que possível, o texto
original.
366

entre outros. Daí a necessidade de diferentes formas de planejamento territorial para controlar os
conflitos que, juntamente com as contradições do pensamento econômico, ainda segundo Santos
(2007), se manifestam no território em que se dão as relações sociais, ou seja, as relações
econômicas, envolvendo economia, ambiente, natureza e cultura. O autor é categórico: o território é o
chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e sentimento de pertencer àquilo que
pertence aos seres humanos. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e
espirituais e da vida, sobre as quais ela influi.
Debates e embates sobre economia e natureza globalizaram-se com a Eco-92 realizada no
Rio de Janeiro (RJ). De lá para cá, percebe-se que o grau de conscientização cresceu em todo o
globo, no entanto, patenteia-se, também, certa banalização com o tema invocando conceitos como
consciência ambiental, qualidade ambiental e educação ambiental, exemplos de vocabulários que
têm sido associados às noções de ética, conservação, preservação e, mais recentemente, de
recuperação, sem um apontamento claro no sentido de distinguir natureza de ambiente, como
asseveram Oliveira e Herrmann (2009).
Ainda para Oliveira e Herrmann (2009, p. 148), natureza e ambiente são conceitos distintos.

Em geral, a natureza tem o significado do conjunto das coisas naturais,


sendo com frequência associada ao Cosmos ou ao Universo.
Consequentemente, natural é todo corpo ou objeto que foi engendrado pelo
Cosmos, que foi criado pelo Universo e que possui as mesmas
propriedades que são comuns ao Todo. Ao contrário, o conceito de
ambiente traz em sua etimologia a noção de envoltório que serve à
sustentação dos seres vivos [...]. Para que haja ambiente, é necessário,
portanto, que haja seres vivos que possam ser envolvidos. Logo, não existe
ambiente sem seres, assim como não existe ambiente urbano sem seres
humanos.

A partir desses conceitos, pode-se invocar a noção de território humanizado a partir de um


conteúdo natural apropriado pelo homem de onde se extraem recursos para sua sobrevivência, sob
limitações de subsistência, ou sob as aspirações de acumulação de capital: o primeiro de grande
limitação e o segundo vultoso quanto à capacidade de desenvolver conteúdos geográficos na
construção de um habitat de melhor qualidade, seja no campo, seja na cidade. São conteúdos de
ambiente que se entrelaçam com o natural, ao mesmo tempo interligados e interdependentes,
solicitando constantes transformações e qualidade da infraestrutura dispensada aos cidadãos:
qualidade da cultura, qualidade do ar e das águas utilizadas e qualidade da paisagem. Tais
conteúdos invocam a necessidade de se ter planejamento urbano e planejamento ambiental,
trabalhando em conformidade, como afirma Moraes (1999 apud OLIVEIRA; HERRMANN, 2009, p.
149):

o setor de desenvolvimento urbano (desenvolvimento do habitat construído) e o de


políticas ambientais (políticas relacionadas aos recursos naturais) exercem comando
por vezes conflitante no interior do próprio aparelho de Estado brasileiro, resultando
em políticas desarticuladas e ineficientes.

O presente trabalho busca detectar, na pesquisa de campo, as alterações ambientais


promovidas pela ocupação humana nas áreas de mananciais do Ribeirão Santa Rita. Busca, ainda,
levantar questões sobre o planejamento urbano e ambiental, suas implicações no plano diretor e na
gestão de bacias hidrográficas, as questões pertinentes ao impacto ambiental e social causado pela
expansão urbana e os novos usos da terra que se estão instalando nas áreas dos mananciais.
A área dos mananciais do Ribeirão Santa Rita no município de Fernandópolis (SP) foi
estudada através de levantamentos do uso do solo e dos dados socioeconômicos, considerando sua
importância como unidade de planejamento e gestão ambiental, como determinado pela Lei Estadual
n. 7.663 de 30/12/1991, pela Lei Complementar n. 51, de 23 de outubro de 2006, que institui o Plano
Diretor Participativo do Município de Fernandópolis, estabelece as diretrizes gerais de política de
desenvolvimento urbano e rural, e dá outras providências; pelo Estatuto da Cidade (Lei n.10.257, de
367

10 de julho de 2001) e pelo Decreto n. 10.755, de 22 de novembro de 1977.


Esta pesquisa teve por objetivo geral analisar as mudanças espaciais ocorridas na área de
mananciais da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Rita, no município de Fernandópolis (SP) e
detectar as alterações no uso do solo e suas relações com os impactos socioambientais. Para tanto,
foram efetuados levantamentos dos diferentes usos do solo que se instalaram na área de mananciais
da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Rita, através de pesquisa de campo, avaliadas as
dificuldades no âmbito do poder público municipal quanto à definição e implementação de
instrumentos de regulação e controle do uso do solo e levantada, junto à comunidade habitante da
área de estudo, a percepção com relação aos benefícios e impactos das mudanças ocorridas na
configuração do espaço rural, o avanço urbano e o interesse na preservação ambiental e no
desenvolvimento sustentável.

2 FUNDAMENTAÇÃO DA PESQUISA
A arquitetura das inquietações temáticas requer, ainda que sucintamente, o cruzamento de
dois percursos diferentes de leitura: a reflexão sobre a legislação estadual e municipal sobre recursos
hídricos e uma reflexão crítica de pesquisadores da questão ambiental.
O espaço rural e o espaço urbano fazem parte de uma paisagem juntamente com outros
conteúdos tais como rios, montanhas, florestas, lagos, morros etc., podendo ser mais de caráter
natural ou mais de caráter humano (espaço físico alterado pelo trabalho), mais organizado (energia,
estradas, avenidas, saneamento etc.) ou de menor organização de acordo com o capital, a cultura, a
época e a circunstância dos agentes construtores, o que lhe confere aspectos bastante
heterogêneos. Essa paisagem é a microbacia.
Uma bacia hidrográfica corresponde, na verdade, a uma determinada área drenada por um
rio principal e seus afluentes (bacia autônoma ou principal) ou a uma região banhada por um conjunto
de pequenas bacias que, agrupadas, constituem uma bacia maior (bacia secundária ou agrupada). Já
a microbacia é uma bacia menor, também drenada por ribeirões, riachos, córregos e seus afluentes
(tributários).
Na região da microbacia, toda água pluvial que cai na superfície da terra e sobre os
espigões ou serras drena para o leito principal, interligando, em profunda dependência, todos os seus
agentes: a água, o solo, os vegetais, os animais silvestres ou domesticados, a agricultura, a cidade e
o homem que mora e trabalha nela. São biomas frágeis e se apresentam vulneráveis às ações
antrópicas, o que requer balizá-las como unidades importantíssimas para o planejamento do uso e
conservação ambiental.
O município de Fernandópolis possui instrumentos de regulação e controle de ocupação e
uso do solo como a Lei de Zoneamento, Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) ou Plano Diretor
de Desenvolvimento Integrado (PDDI), instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. Por essa razão, o município tem
aparato normativo e institucional de gestão de uso e ocupação do solo, o que lhe confere
possibilidades formais capazes de instrumentalizar suas ações num balizamento da regulação não
somente do espaço rural ou urbano, mas de toda sua configuração, uma vez que sua população
absoluta ultrapassa os sessenta mil habitantes.
O município é amparado ainda pela Lei Estadual 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que
estabelece normas de orientação à política estadual de recursos hídricos, bem como ao sistema
integrado de gerenciamento de recursos hídricos, e pela Lei Municipal Complementar n. 51, de 23 de
outubro de 2006, que institui o Plano Diretor Participativo do Município de Fernandópolis, estabelece
as diretrizes gerais de política de desenvolvimento urbano e rural e dá outras providências.
O Artigo 1º da Lei 7.663 institui que a política estadual de recursos hídricos se desenvolverá
de acordo com os critérios e princípios adotados por essa lei. Seu Artigo 2º anota que a política
estadual de recursos hídricos tem por objetivo assegurar que a água, recurso natural essencial à
vida, ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar social, possa ser controlada e utilizada, em
padrões de qualidade satisfatórios, por seus usurários atuais e pelas gerações futuras, em todo o
território do estado de São Paulo. No Artigo 28º, Parágrafo 4º, a lei aponta para o apoio que os
municípios podem dar ao Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI) na
sua atuação descentralizada.
368

No Capítulo II, a mesma lei aborda os diversos tipos de participação dos municípios quando
diz que o Estado incentivará a formação de consórcios intermunicipais nas bacias ou regiões críticas,
cujos gerenciamentos de recursos hídricos devem ser feitos segundo diretrizes e objetivos especiais
e estabelecerá convênios de mútua cooperação e assistência com os mesmos. Também ordena que
o Estado poderá delegar aos municípios que organizem, técnica e administrativamente, o
gerenciamento de recursos hídricos de interesse exclusivamente local, compreendendo, dentre
outros, os de bacias hidrográficas que se situem exclusivamente no território do município e os
aquíferos subterrâneos situados em áreas urbanas.
É amparado, também, pelo Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que
se contemplem dezesseis diretrizes que deverão nortear a política urbana a ser implementada pelo
município, através, inicialmente, do Plano Diretor, conforme observa Mukai (2010, p. 47).
Assim, cabe à prefeitura a responsabilidade da gestão em quaisquer circunstâncias, desta e
muitas outras matérias pertinentes à administração pública municipal, apesar de o Decreto n. 10.755,
de 22 de novembro de 1977, dispor sobre o enquadramento dos corpos de água receptores, na
classificação prevista no Decreto n. 8.468, de 8 de setembro de 1976, ou seja: os corpos de água
receptores do território do Estado, bem como as respectivas bacias ou sub-bacias que compreendem
seus formadores e/ou afluentes, ficam enquadrados na forma determinada no anexo ao Decreto, em
obediência à classificação prevista no Artigo 7º do Decreto n. 8.468, de 8 de setembro de 1976. Vale
ressaltar que a classificação mencionada coloca o Ribeirão Santa Rita na Classe quatro, no entanto,
segundo o CONAMA (BRASIL, 2005), todas as nascentes fazem parte da Classe um, que abrange as
águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à
preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e c) à preservação dos ambientes
aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. Podem-se, todavia, fixar outros limites
para os parâmetros de afluentes de qualquer natureza lançados nos corpos de água.
Isso aponta para uma flexibilidade legal e, ao mesmo tempo, acende uma luz para a
solicitação, junto a quem de direito, por uma mudança na classificação do Ribeirão Santa Rita para
uma classe que lhe possibilite maior segurança quanto à sua preservação.
Relativamente aos mananciais – preocupação maior deste trabalho –, está muito claro na
Resolução CONAMA (BRASIL, 2005) que todas as nascentes, uma vez contempladas como Classe
um, não podem receber nenhum tipo de efluente, tratado ou não. Fica claro, ainda, que nenhum
manancial pode ser assoreado, degradado, não importando qual seja(m) a (s) causa(s).
Nas palavras de Mukai (2010, p. 12), “o município no Brasil tem autonomia legislativa
administrativa e financeira, o que o torna uma das esferas de Governo da Federação Brasileira”,
ainda segundo o autor, contrariando a Lei Nacional de Política Ambiental n 6.938/81, que dá
competência monopolística aos estados-membros para o licenciamento e demais aspectos da
proteção ambiental. Neste caso, caberia à União e aos municípios atuarem supletivamente nessas
áreas, exigindo outras licenças. Para o autor, tratava-se de uma inconstitucionalidade aberrante, que
violentava a Federação e que durou por vinte e oito anos sem que ninguém se insurgisse
judicialmente contra isso até ser revogada com a edição da Lei nº. 10.257/2001, que contemplou
dezesseis diretrizes a serem observadas e previstas, obrigatoriamente, no Plano Diretor das Cidades
com mais de vinte mil habitantes. Quatro ou cinco dessas diretrizes dizem respeito à proteção e à
preservação do meio ambiente pelo município.
É importante salientar que implementação eficaz da legislação requer o apoio da Cetesb, da
Polícia Ambiental, da Promotoria Pública, da Guarda Municipal, da Polícia Militar, da iniciativa
privada, do Ibama e da comunidade, tornando-se indispensável quando há pretensão de construir um
espaço geográfico fundamentado na respeitabilidade ambiental e social.
Também é verdade que a complexidade do uso do solo, no que tange às especificidades
daquilo que é campo e daquilo que é cidade, deixa, a todo instante, mais tênues as áreas limítrofes
graças às diversas maneiras de como se dá o processo que, em todo momento, passa por
transformações assediadas, principalmente, pelo segmento imobiliário, o que torna mais complexa a
regulação do uso e ocupação do solo. Ainda: tratar área rural como estoque de espaço a ser
urbanizado tem sido uma constante e, muitas vezes, ocorre sem se considerar a necessidade de
preservação do patrimônio natural e cultural.
369

Novos bairros surgem de forma aberta ou fechada, atendendo a demandas diversificadas


de acordo com o poder aquisitivo heterogêneo de sua população, e a expansão urbana, horizontal e
vertical, vai ditando novos rumos para o espaço anteriormente organizado pela atividade agrária.

2.1 Metodologia
Inicialmente, torna-se imprescindível esclarecer que uma pesquisa científica requer tempo
para mergulhar na literatura sobre o assunto a ser investigado, além de um amplo contato com o caso
(área) a ser estudado. Todavia, dadas as “condições”, sobretudo do limite de tempo para se efetuar
tarefa de tamanha envergadura, reitera-se que o que ora se apresenta como “investigação” é
bastante preliminar.
Entretanto, mesmo diante dos limites, procedeu-se à investigação por meio dos seguintes
passos: levantamento bibliográfico sobre o tema a ser pesquisado; levantamento da legislação sobre
os mananciais; visitas ao local para verificação da ocupação do solo; entrevistas com moradores do
entorno dos mananciais; registro de imagens da área fotografadas e filmadas; recuperação de
imagens antigas da área estudada; entrevistas com autoridades locais; entrevistas com antigos
proprietários da área pertinente aos mananciais.
É imprescindível destacar que a participação dos alunos neste trabalho de investigação
restringiu-se às visitas no local contemplado como objeto de estudo. O levantamento bibliográfico,
bem como a redação do presente texto, ficou por conta e responsabilidade do professor. Os dados
coletados foram analisados a partir do referencial teórico adotado (COELHO, 2009).
Em linhas gerais, esses são os procedimentos adotados para o desenvolvimento da
pesquisa.

3 ANÁLISE DOS DADOS


As transformações sofridas pelo quadro natural oriundas do processo acelerado e
desordenado das últimas décadas que contemplam muitas cidades brasileiras são inegáveis. Sobre
essa realidade, pesquisadores, como Guerra e Cunha (2009), asseveram que a principal causa da
degradação ambiental resulta do manejo inadequado do solo, presente em áreas urbanas e rurais.
Pela observação dos pesquisadores, Fernandópolis não foge à regra: apresenta uma área
rural/suburbana de grande importância quando vista como estoque de espaço a ser urbanizado, e o
mercado imobiliário tem atentado para esse segmento; logo, compete à administração municipal
delimitar o perímetro urbano, as áreas de expansão urbana e os núcleos urbanos no sentido de evitar
que avance a apropriação de território rural pela urbanização, fruto do espraiamento da mancha
urbana, conflitos de interesses entre a pressão do setor imobiliário, por um lado, e de outro, o
Ministério Público, que tem por finalidade defender a manutenção, preservação e, se necessário, a
recuperação de conteúdos naturais importantes à vida. Tais conflitos podem ocorrer, também, no
próprio seio da administração municipal entre departamentos, ou mesmo entre administração
municipal e a sociedade ambientalista. Tudo pode invocar o poder de polícia que, segundo Mukai
(2010, p. 13),

é a faculdade, inerente à Administração Pública, mais rigorosamente, ao Poder


Público, que estes detêm pelo só fato de assim se constituírem, para restringir e
disciplinar as atividades, o uso e gozo de bens e de direitos, bem como as
liberdades dos administrados, em benefício da coletividade.

Neste trabalho, trata-se do caso específico dos mananciais do Ribeirão Santa Rita no
município de Fernandópolis (SP).
Fernandópolis está localizada na latitude de 20°17’02’’sul e na longitude de 50°14’47’’oeste,
estando em uma altitude de 535, no noroeste paulista (figura 1). Vive, principalmente, das atividades
do agronegócio, comércio e prestação de serviços nos campos da saúde e educação.
370

Figura 1 Localização de Fernandópolis no estado de São Paulo (mapas).


Fonte: O autor, 2011.

Para compreensão, a formação do conteúdo geográfico (espaço rural e espaço urbano) não
pode ser compreendida separando-se um aspecto do outro, porque eles se entrelaçam sob duas
importantes abordagens: a dicotômica, que dá ênfase às diferenças que se estabelecem entre esses
dois espaços, sendo o campo pensado como algo de contrafação à cidade, e a continuum, que atenta
para a área de contato entre atividades rurais e a chegada da cidade, ou seja, onde ocorre a
aproximação rural e a realidade urbana.
Ainda: é onde ocorrem conflitos típicos do meio geográfico que, rapidamente, se
metamorfoseia, incrementado por gamas cada vez maiores de informação que Santos (2005, p. 88)
chamou de meio “técnico-cintífico-informacional”.
É nesse campo continuum que este trabalho permeia. No entanto, é de mesma
responsabilidade destacar que, na construção da história econômica do município de Fernandópolis,
a área de mananciais do Ribeirão Santa Rita sempre sofreu algum tipo de impacto promovido ora
pela cafeicultura, ainda que como viveiro de mudas e produção de hortaliças que exigiram um menor
grau de desmatamento da área, ora pela pecuária que determinou o maior desmatamento da região,
o que lhe é pertinente quando do manejo do solo para preparação de pastagem (neste caso, a
braquiária), pastagem (figura 2) até então presente na área dos mananciais, sugerindo que até a
mata ciliar fosse profundamente alterada e, em muitos pontos, como da nascente principal,
totalmente destruída.
371

Figura 2 Braquiária utilizada como pastagem para a pecuária bovina.


Fonte: O autor, 2011.

Esse uso inadequado do solo, ao longo dos anos, permitiu um paulatino e gradativo
estrangulamento desses mananciais, localizados tanto fora como dentro da configuração do asilo São
Vicente de Paulo em Fernandópolis.
A nascente localizada dentro da área do asilo, segundo moradores mais antigos do local,
resistiu às agressões agrárias, porém, não sobreviveu à expansão urbana. Com o surgimento do
bairro Corinto, desencadeou-se a morte da fonte devido à rede pluvial, cuja tubulação encerra a
alguns metros acima no encontro da Rua São Jerônimo com a Rua das Nações (figura 3), lançando
águas, por vezes poluídas (análise de água n.1), sem escada de dissipação, isto é, técnica de
engenharia que inibe processo de assoreamento e evita o surgimento de voçoroca (figura 4),
estrangulando, sedimentando e compactando a nascente (figura 5).
372

Figura 3 Galeria pluvial que leva águas poluídas diretamente para o Ribeirão Santa Rita,
principalmente no período chuvoso (setembro/verão).
Fonte: O autor, 2011.

Figura 4 Voçoroca produzida, segundo moradores do Asilo são Vicente de Paulo, pela erosão pluvial
graças à galeria (figura 3), erosão que causou, segundo os mesmos moradores, a morte da
nascente principal do Ribeirão Santa Rita.
Fonte: O autor, 2011.
373

Figura 5 Antiga nascente principal do Ribeirão Santa Rita.


Fonte: O autor, 2011.

A área do entorno dos mananciais do Ribeirão Santa Rita, exceto o espaço relativo ao asilo
São Vicente de Paulo, encontra-se ocupada por bairros residenciais, heterogêneos, do ponto de vista
socieconômico, e áreas comerciais, como mostra a figura 6:

Figura 6 Bairros que surgiram e crescem no entorno dos mananciais do Ribeirão Santa Rita.
Fonte: O autor, 2011.

Ao longo da Avenida Afonso Cáfaro, foi encontrada outra nascente no lado direito da
avenida, sentido centro-bairro. Uma terceira nascente, mais a jusante, bordeada pelos bairros
Residencial Santo Afonso e Residencial Santa Filomena, margem esquerda, e uma quarta, ao sul do
Minidistrito Industrial e Comercial, fundo da Santa Casa, na margem direita.
A nascente no lado da Avenida Afonso Cáfaro, por ser a mais montante dos atuais
mananciais, batizada desse momento em diante como a primeira, uma vez que a primeira de fato
374

morreu, constitui-se, hoje, a mais importante das fontes do Ribeirão Santa Rita. Sua situação quanto
à sobrevivência é preocupante. Embora seja área de Área de Preservação Permanente (APP),
contemplando trinta metros de raio (o Ribeirão não ultrapassa dez metros de largura) e estando
protegida por cerca, a alguns metros do olho d’água principal registra-se a presença de entulhos,
lixos domésticos em sacos plásticos, sofás, garrafas pet e, um pouco mais afastada, obras de
engenharia que recuperam a pista da Avenida Afonso Cáfaro, além da tubulação de esgoto
pertencente à empresa de saneamento básico que presta serviços de saneamento à cidade.
Quando essa nascente forma seu curso de água, correndo cerca de cem metros, encontra o
antigo curso da nascente destruída que ficava na área do asilo, cujas águas, que descem por ele, são
águas de efluentes carregadas de poluentes conforme corrobora a análise do Boletim Analítico n.
21682/11 (em anexo) e, assim, nasce, de forma lamentável, o principal curso d’água do Ribeirão
Santa Rita.
No percurso percorrido pelo Ribeirão Santa Rita, ainda como um pequeno veio de água, até
receber águas da terceira nascente, hoje a mais volumosa e mais fácil de ser preservada e, de uma
quarta, tão degradada quanto a primeira, ele se avoluma um pouco mais e apresenta, em
determinados trechos, presença de vida animal. Foram observados acanhados cardumes de
pequenos peixes e berçários de girinos. Também se observaram alguns vegetais hidrófilos, caso de
samambaias, vislumbrando uma perspectiva de recuperação desse bioma. No entanto, viu-se
também que, bem frontal à área onde a segunda nascente deságua (margem esquerda), desemboca
uma enxurrada de água com efluentes, provavelmente carregada de produtos químicos utilizados
como agentes de limpeza voltando a poluir o leito principal, águas lançadas em direção ao leito do
Ribeirão, fora das especificações da engenharia, pois não apresenta, também, escada de dissipação.
Há um charco malcheiroso nessa região, área da segunda nascente, nascente tão degradada quanto
a primeira.
Na terceira nascente, foi identificada uma situação melhor no que tange à poluição e
assoreamento. Ela está mais protegida por vegetais ciliares, alguns arbustivos de pequeno porte,
outros rasteiros, formando um emaranhado sobre a área das minas d’água. Agora, no seu entorno
imediato, não há mata ciliar arbórea, porém, já existe um trabalho de rearborização (há muitas
espécies plantadas), o que é bastante positivo. No entanto, encontrou-se nela um duto instalado,
sugerindo que a mesma esteja sendo utilizada como fonte de abastecimento para algum segmento
econômico.
Além da poluição, existem outros agentes de degradação que sufocam os mananciais do
Ribeirão Santa Rita: o assoreamento, a lixiviação, apesar da presença e aparente proteção da tão
frágil mata ciliar, dentro da APP; fora dela, a impermeabilização dos solos, fruto do excesso de
calçamento provocado pela urbanização que sufoca o Santa Rita.
Na área de investigação, é bastante perceptível o assoreamento. Ao longo do leito
investigado, há várias áreas de barrancos desmoronados, sugerindo ação erosiva, mais grave no
período de maior índice de chuvas (verão), de um lado, quando o leito do Ribeirão se torna mais
caudaloso; de outro, a fragilidade da mata ciliar, na maior porção do curso analisado, não apresenta
qualquer espécie natural junto ao veio de água num raio de dois a três metros, mas braquiária,
todavia, insuficiente e inadequada para combater a erosão.
Outra fragilidade da mata ciliar, que acelera o assoreamento e permite a lixiviação do solo,
está presente no desfalque de espécies que a compõem. A ausência de vegetais limita sua
capacidade de retenção de materiais erosivos sólidos, oriundos, principalmente, dos espigões,
comprometendo a microbacia. A mata ciliar tem papel muito importante: o da proteção.
A situação revelada pelo Ribeirão Santa Rita configura-se em mais um exemplo da triste
realidade provocada pela expansão urbana junto ao quadro natural.
A concentração urbana brasileira é, atualmente, da ordem de 85%. O seu desenvolvimento
tem sido realizado de forma pouco planejada, com grandes conflitos institucionais e tecnológicos.
Ainda: os principais problemas estão relacionados com inundações e impactos ambientais. A
tendência atual do limitado planejamento urbano integrado está levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedade.
Pelo que se sabe e se vê na mídia, nas últimas décadas, não só regiões metropolitanas
passaram a sofrer uma gigantesca disseminação de problemas pertinentes ao saneamento básico e
à degradação de seus recursos naturais devido a lançamento de efluentes domésticos e industriais,
375

da devastação indiscriminada da cobertura vegetal, pela ocupação acelerada, desordenada e


imprópria de áreas de espigões e várzea, mas também médias e algumas pequenas cidades.
O alto índice de pavimentação e de ocupação imobiliária da superfície urbana gera um
intenso processo de impermeabilização do solo, aumentando o escoamento hídrico superficial, o que
faz com que grande parte das águas pluviais se dirija para córregos, ribeiros, rios e pontos mais
baixos, colocando em risco a população que vive em seu entorno.
Outro grave problema das inundações reside na elevada quantidade de detritos sólidos, de
origem doméstica e industrial, que se avolumam nos leitos dos rios, causando, assim, intenso
assoreamento.
Lembre-se, ainda, que, do ponto de vista hidrológico, a cobertura vegetal, além de evitar um
maior escoamento hídrico superficial, favorece a percolação, passagem da água pelos poros do solo
e do subsolo, alimentando, dessa forma, lençóis freáticos que poderão alimentar rios, ribeirões e
córregos que abastecem populações.
Como assevera os pesquisadores (ATTANÁSIO, 2007), as matas ciliares funcionam como
um filtro. Sem elas, ou com elas em estado de grande degradação, vitimadas por queimadas e com
árvores e arbustos esparsos, os rios ficam assoreados e poluídos (figuras 7 e 8).

Figura 7 Infiltração e armazenamento da água da chuva,


preservação do rio, conservação do solo, melhor
qualidade de vida.
Fonte: Sergius Gandolfi (adaptado).

Figura 8 Erosão, assoreamento, poluição do rio e falta de


água.
Fonte: Sergius Gandolfi (adaptado).

Ocupados, hoje, por uma série de bairros (Santo Afonso, Santa Filomena, Pôr do sol,
Brasitália, Jardim Universitário etc.) e traçados por diversas vias rodoviárias, logo, com seus solos
376

bastante impermeabilizados pelo excesso de calçamento, o que compromete o abastecimento do


lençol freático, os espigões tornaram-se os maiores colaboradores da erosão. No período chuvoso,
forma-se uma grande lâmina d’água sobre as áreas pavimentadas que, ao ultrapassarem as
proteções das sarjetas, depositam materiais sólidos no curso do Ribeirão, evocando, então, a
expansão urbana como a maior responsável pela degradação dos mananciais do Ribeirão Santa Rita.
Outro agente de assoreamento também observado na área da pesquisa é o intemperismo
orgânico animal. Foram encontrados alguns bovinos e equinos criados nas áreas de APPs. Ao buscar
a alimentação através da água, eles pisoteiam os barrancos desmoranando-os e abrem, também,
sulcos que facilitam o escoamento da água superficial.
Para maior preocupação, soma-se a tudo isso a condição arenosa dos solos, revelando
baixíssimos percentuais de matéria orgânica, o que torna a área muito suscetível à erosão. Segundo
Guerra e Cunha (2009), com menos de 2% de matéria orgânica no solo, os agregados rompem-se,
liberando matérias que preenchem os poros existentes junto à superfície, podendo aumentar a
densidade aparente e reduzir a capacidade de infiltração. Isso favorece o escoamento superficial e,
portanto, multiplica a capacidade erosiva também por lixiviação (GUERRA; CUNHA. 2009).

4 CONCLUSÕES

“[...] Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a A falta de certeza


científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a
adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a
degradação do meio ambiente.” (Declaração do Rio, Princípio 15, 1992.)

Um trabalho dessa grandeza demanda tempo e requer maior aprofundamento. É um tema


inesgotável e inacabável, e um conteúdo da mais nobre envergadura. Logo, seria delírio a pretensão
de esgotá-lo nos limites desta breve reflexão, ou em qualquer outro de natureza semelhante. Todavia,
seria covardia se não se aceitasse a empreitada desta investigação, que foi tão prazerosa quanto
desafiadora.
Foram investigados os mananciais do Ribeirão Santa Rita, localizados no município de
Fernandópolis (SP). Investigou-se, ainda que muito superficialmente, a água doce, a água
continental. E que tesouro raro! Basta lembrar que, em todo o planeta, não há sequer 3% desse
recurso em toda sua forma (geleiras, água subterrânea, lagos e pântanos, água na atmosfera e rios);
são apenas 2,7% e, desse montante, os rios só apresentam 0,01%.
Se todos os rios do planeta, somados, representam apenas 0,01%, o que representam,
então, os mananciais do ribeirão investigado?
Aqui, não se trata apenas de números, muito menos de teorias ou de tautologias a invocar
problemas ou, mesmo, paradigmas. Trata-se da vida, vida de mundos que, quando somados, dão o
mundo global. Trata-se da busca pela percepção de que todos são mundos diferentes e se
relacionam com outros mundos, compostos por gente e naturezas heterogêneas em um espaço.
Espaço sugerido por Moya (1970 apud SANTOS, 1996, p. 176), como um lugar onde se define uma
totalidade de relações posicionais que organizam a totalidade de atores, porém, cada um com sua
importância e suas particularidades.
Os indivíduos relacionam-se uns com os outros, tecem as teias, formam as redes e
globalizam o planeta. Formam o mundo. Formam a sociedade total, o Ser, segundo Santos (1996).
Trabalho prazeroso este, porque se trata de uma contribuição para melhorar o mundo de
Fernandópolis, ou seja, o Ser de todos: pessoas, economia, cultura, lazer, entretenimento,
perspectivas e natureza que se relacionam nesse município.
Um mundo de construtores e de construídos, interdependentes e carentes de
respeitabilidade e que, a todo tempo, se metamorfiza no seu processo e, constantemente, vê-se
mergulhado em crise.
Desafiador, porque evidencia a situação de grito por socorro dos mananciais do Ribeirão
Santa Rita e, por conseguinte, grito de todo o Ribeirão. Grito que, para ser ouvido, exige de todos
terem, ou desenvolverem, capacidade auditiva cuja raiz brota somente em solos da respeitabilidade
ambiental e social.
377

A pesquisa realizada encontrou os mananciais do Ribeirão numa situação muito difícil, ou


mesmo deplorável. Além de bastante estrangulados por falta de cobertura vegetal e assoreamento,
que comprometem duramente suas vazões, os mananciais sofrem com as poluições química e sólida.
Foram encontradas águas poluídas e muito lixo de diversa natureza. Também entulhos, muito perto
das nascentes foram encontrados. A situação é crítica e merece a atenção de todos.
Não agrada apresentar o estado de crise em que se encontram os mananciais do Ribeirão
Santa Rita. Mas pensa-se que, ao invés de escondê-la, deve-se evidenciá-la. Aliás, como lembra
Santos (1996), o estado de crise não é normalmente um testemunho de fraqueza. A crise é a prova
do desajustamento do velho que deseja manter-se em face do novo que busca substituí-lo. Então, se
se quer algo melhor para o Ribeirão e para toda a comunidade, isso soa como um desafio
permanente à busca de um novo caminho.
Podem-se aqui elucidar alguns pequenos e isolados responsáveis pela preocupante
situação dos mananciais do Ribeirão. No entanto, se se procedesse assim, fugir-se-ia do objetivo
maior, o de investigar os impactos produzidos pela expansão urbana sobre os mananciais do
Ribeirão Santa Rita. E foi este o caminho de investigação.
Conclui-se que a maior causa da degradação dos mananciais do Ribeirão Santa Rita tem
sido a expansão urbana, com seus novos loteamentos e densidades populacionais no entorno das
nascentes. Faz-se necessário recuperá-los (se é o que se deseja); para tanto, sugerem-se
alternativas práticas e enérgicas: melhor reflorestamento, maior combate às pragas, maior
fiscalização (monitoramento, até para inibir incêndios, principalmente no período de inverno); um
mutirão de limpeza, para retirar e direcionar aos meios competentes muito lixo sólido que se encontra
ao redor dos mananciais e parte do curso do Ribeirão Santa Rita; maior e melhor compreensão da
legislação ambiental, de suas implicações e de seus legisladores por parte de todos os indivíduos; um
trabalho conjunto entre todos os poderes de polícia, setores econômicos e comunidade em geral.

REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATTANASIO, Cláudia Mira et al. Manual de recuperação de matas ciliares para produtores rurais.
Campinas : ESALQ/USP. 2007.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução N. 357, de
17 de março de 2005. Brasília, MMA/CONAMA, 2005.

COELHO, M. Célia N. Impactos ambientais em áreas urbanas. teorias, conceitos e métodos de


pesquisa. In: GUERRA, Sandra; CUNHA, B. da (orgs.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. 5.
ed. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2009. p. 19-43.

GUERRA, Sandra; CUNHA, B. da (orgs.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. 5. ed. Rio de
Janeiro : Bertrand Brasil, 2009.

SÃO PAULO (estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Coordenadoria de Assistência


Técnica Integral (CATI). In: ATTANASIO, Cláudia Mira et al. Manual de recuperação de matas
ciliares para produtores rurais. Campinas : ESALQ/USP. 2007.

MUKAI, Toshio. Direito ambiental municipal. Abordagens teóricas e práticas. Belo Horizonte :
Fórum, 2010.

OLIVEIRA, Marcelo A. de T.; HERRMANN, Maria L. de P. Ocupação do solo e riscos ambientais na


área conturbada de Florianópolis. In: GUERRA, Sandra; CUNHA, B. da (orgs.). Impactos
ambientais urbanos no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2009. p.148-188.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. 12.
ed. Rio de Janeiro/São Paulo : Record, 2005.
378

______. Por uma geografia nova. 4. ed. São Paulo: HUCITEC, 1996.

SANTOS, Celenrozi Z. dos. Alterações socioambientais na bacia hidrográfica do Lajeado no


município de Paraibuna (SP). 2007. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) –
Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2007.

Responsável pelo trabalho

COLÉGIO CIDADE DE FERNANDÓPOLIS – ANGLO


SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE FERNANDÓPOLIS
Wandalice Franco Renesto
Wônia Aparecida Franco Gomes

Figura 1 Santa Casa de Misericórdia em 2012 – 64 anos de fundação.


Fonte: As autoras, 2012.

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE FERNANDÓPOLIS


Estabelecimento de Assistência à Saúde

O Hospital Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, situada na Avenida Afonso


Cáfaro, n° 2630, fone (17) 3465-6122, na cidade de Fernandópolis, região noroeste do estado de São
Paulo (dista 552 km da Capital do estado), tem área física de 24.000 m² e construída de 13.000 m²,
inscrita no CNPJ n° 47.844.287/0001-08. Foi fundada em 1/02/1948 e teve suas atividades iniciadas
no dia 28/02/1956 É de natureza filantrópica com a finalidade de prestar atendimento à comunidade
local, regional e interestadual, integrada à DRS – XV de São José do Rio Preto (SP).

1 HISTÓRICO
Em 01/01/1948, um grupo de pessoas benfeitoras da cidade se reuniu com o objetivo de
fundar a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, que se encarregaria da criação
de um hospital para a vila que crescia.
Dessa reunião nasceu a 1° comissão encarregada de angariar donativos para a Santa
Casa, a saber:

Presidente: Prefeito Municipal Líbero de Almeida Silvares.


Provedoria: Apolinário de Matos.
1° Vice Provedor: Alcides Martinelli.
2° Vice Provedor: João Pereira Zequinha.
380

Secretário Geral: José Pereira Rocha.


1° Secretário: Aparício Simões Moita.
2° Secretário: Francisco R. Costa Sobrinho.
3° Secretário: Pedro Malavazzi.
Tesoureiro Geral: Francisco Arnaldo da Silva.
1° Tesoureiro: João Batista Dolci.
2° Tesoureiro: Francisco Gasques.

Comissão de Obras: Apolinário de Matos, Francisco Arnaldo da Silva, Amadeu Bizelli, Augusto Pereira Bastos,
Augusto Fasiera Junior, Antonio Augusto Fernandes, Vitório Frana Luiz, Dr. Jayme B. Leone, Dr. Waltrudes
Baraldi, Dr. Antonio Viçozo Rezende, Dr. Waldyr Souza, Guilherme Cechini, Afonso Cáfaro, João Garcia Andréa,
José Almeiro, Amadeu Sagliane, Américo Messias dos Santos, Francisco Hernandes Moreira, Manoel Rodrigues
da Silva, Arnaldo Rodrigues Neto, Severiano França, João Biroli, Carlos Barozzi, Emílio Mininelli, José Gimenez
Navarro, Olívio Cetembrini, Luiz Saravalli, José Marques Toledo, Antonio Carvalho Souza, João Batista Dolci,
Manoel Marques Rosa, Manoel Victorino Seixas, Fioravante Tazinafa, francisco Macedo, Antonio Brandini,
Santiago Vicente, João Gonçalves de Souza, Dr. Mario Parini, João Batista Alves, Cezário Ferrari, Domingos
Pistelo, Mário Bortolozo, Thomaz Rigueiro, Maximiano Dutra, Agide Bariani, Lindo Luchese, Izaías Ferreira,
Senzi Koga, Gessis Milaré, Alcides Oliveira, André Malavazi, Antonio Gonçalves Neto, José da Silva, Luiz Russo,
Antonio Alves dos Santos, Orazimbo Ribeiro, Antonio Masson, Antonio Baptista dos Santos, Benedito Rastelli,
Antonio Baptista Filho, Sebastião Figueira, Antonio Miguel de Mendonça, José Honário, Antonio MarinhoAlves,
Antonio Amaro, Santo Cavaloti, Manoel Ferreira Melo, Antonio Menezes, Mineronio Caetano de Souza, Antonio
Hernandes, Ângelo Del Grossi, Marcolino Antonio de Moraes, José Gregorini, José Marinho Lopes, Francisco
Leão, Vitor Pavarini, João Vieira Pontes, João Fontes, José Batista Lacerda, João Betiol, Primo Angeluci, Paulo
Pereira Bento, Ângelo Zanata, José Pinati, Moisés Abdala, Joel Granja, José Catelani, Manoel Lopes da Silva,
Antonio Pereira Salgueiro, Cássio Vendramini, José Maldonado, Joaquim Pires, Antonio Campiolo, Joaquim
Pereira da Costa, Aristides Andrade Vidali, J. A. Blaya, Irmãos Alvizi, Saturnino Leão, Alcides Martinelli, Joaquim
Vergueiro, Cecílio Ramos. O construtor encarregado foi o Sr. Salvador Artioli (vulgo Líbero).

A comissão saiu a campo para angariar donativos. Conseguiu um terreno doado pela
Coester (ata de 06/04/1948) que não serviu. Apesar dos esforços, só em 1952 (ata de 14/03/1952)
com a doação de novo terreno pelo benemérito Afonso Cáfaro é que se deu início à construção da
Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, cuja pedra fundamental foi lançada em 22/06/1952
com as presenças de D. Lafaiete Libâneo, Bispo de São José do Rio Preto, autoridades e missa
campal. A planta foi arquitetada pelo Dr. Humberto Cáfaro, engenheiro.
Na ata de 14/03/1952, ainda consta a convocação para que os doadores de fundos já
angariados se apresentassem a fim de se contabilizar corretamente o montante arrecadado.

Inauguração Santa Casa: 26/01/1959.

PROVEDORES – 02/1948 a 02/2007

ANO MANDATO PROVEDOR FATOS IMPORTANTES


1948 01/02/48 a 02/49 Apolinário de Matos Reorganização da nova Diretoria, Comissão elaboradora dos
Estatutos e pedido da planta oficial ao Secretário Saúde
Pública e Assistência Social, definição do local para o
hospital, arrecadações etc.
1949 02/49 a 02/52 Waltrudes Baraldi Fez a última reunião em 19/10/49. Em 08/03, o Dr. Alberto
Senra pediu a nulidade da Mesa na 1ª Sessão Extr. Frase em
03/49: “Fernandópolis é hoje o que foi há anos SJ Rio Preto:
A boca do Sertão!.”
1950 Waltrudes Baraldi Não houve reuniões.
1951 Waltrudes Baraldi Não Houve reuniões
1952 02/52 a 06/57 Adhemar M. Pacheco Devido a não terem sido realizadas reuniões no período, o
prefeito Edson Rolim, em 28/02/52, considerou inativa a
diretoria e, em reunião entre prefeito, padre, políticos e
munícipes, desconsiderou o período desde 1948 até aquela
data, anulando a fundação original e “fundou” nova
Irmandade com os elementos presentes. Última reunião:
15/09/52. Em 14/03, foi escolhido terreno doado e
aguardavam o Dr. Humberto Cáfaro trazer a planta.
1953 Adhemar M. Pacheco Não houve reuniões.
381

1954 Adhemar M. Pacheco Não houve reuniões.


1955 Adhemar M. Pacheco Não houve reuniões.
1956 Adhemar M. Pacheco Não houve reuniões. A data de inauguração do hospital,
26/02/1956, foi informada por Da. Vera/ Dr. Osmar/ Sr.
Juliano (Da. Vera começou a trabalhar no dia 01/03/1959, cf.
relato da mesma)
1957 Adhemar M. Pacheco Até 28/06/1957. Neste dia foram inclusos médicos e
trabalhadores como Sócios Fundadores. Transf. da placa Av.
União (atual Líbero). Queixas contra o atendimento.
Demanda de indigentes.
30/06/57 a 02/59 Américo Messias Santos Até o dia 15/02. Dívidas crescentes. Campanhas. Serviço
funerário para indigentes. Galeria de fotos.
1958 Américo Messias Santos
1959 Américo Messias Santos Até 15/02/1959
02/59 a 21/03/59 Edson Rolim Renunciou por procuração. Nova doação de terras pela
família Cáfaro.
21/03 a 04/04 Luiz Carlos Ramos – Dr. Provedoria provisória.
04/59 a 03/61 Adhemar M. Pacheco Em 04/04, estudou-se dividir o hospital em dois: 1 Filantrópico
e 1 Particular Hosp. N. Sra. Aparecida.
Crise financeira e falta de equipamentos/sucateados.
1960 Adhemar M. Pacheco Busca de recursos na comunidade e governo.
1961 Adhemar M. Pacheco Até 03/61.
21/0361 a 01/74 Theodósio D. Semeghini 26/4 criada a galeria de provedores. 01/06 aprovada
construção da Maternidade.
1962 Theodósio D. Semeghini 18/02. A Administração foi entregue às Irmãs da Providência
GAP.
1963 Theodósio D. Semeghini
1964 Theodósio D. Semeghini
1965 Theodósio D. Semeghini Recebe visita do Governador Adhemar Pereira de Barros no
dia 10/09.
1966 Theodósio D. Semeghini No dia 07/02, aprovado o 1° Regimento do Corpo Clínico.
1967 Theodósio D. Semeghini 26/01 – domingo, foram aprovadas as contas do ano anterior.
1968 Theodósio D. Semeghini
1969 Theodósio D. Semeghini 26/01/69 – inaugurou-se a Maternidade
1970 Theodósio D. Semeghini 10/03 – criou o Depto. De Pessoal
1971 Theodósio D. Semeghini 29/07 – aprova alteração no Regimento do Corpo Clínico
1972 Theodósio D. Semeghini 17/01 – contrata o administrador Geraldo Justo, que se
desligou em 08/10
1973 Theodósio D. Semeghini
1974 Theodósio D. Semeghini Até 20/01/74
01/74 a 01/76 Moacyr Ribeiro
1975 Moacyr Ribeiro Realizou duas reuniões no ano
1976 01/76 a 07/78 Theodósio D. Semeghini 11/12 - Inauguração 1 UTI
1977 Theodósio D. Semeghini Contratou o administrador Antonio José Zaparoli. Término do
berçário
1978 Theodósio D. Semeghini Por força do Dec. Fed. 1.117/62 e Decreto Est. 9.886/77, os
membros da Mesa não podiam ter vínculo/ganhos na
Irmandade (saíram Dr. Theodósio, Dr. Germano, e Sr.
Waldomiro foi eleito para Provedor. Conclusão da lavanderia.
07/78 a 30/01/80 Waldomiro Renesto
1979 Waldomiro Renesto 1ª Reforma do Ambulatório. Construção da cozinha.
1980 01/80 a 22/01/82 Moacyr Ribeiro
1981 Moacyr Ribeiro
1982 01/82 a 01/86 Paulo Fantini
1983 Paulo Fantini Término da 1ª Unidade Pediátrica (antes com a II) + Término
das Unidades V e I
1984 Paulo Fantini 15/02 – Inauguração da Ortopedia/SAME. Reforma do
Pensionista/Administração. Reforma Unidade II.
1985 Paulo Fantini 14/12 Inauguração do Anfiteatro (antiga Capela). Óbito em
22/03/99
1986 01/86 a 02/90 Nagib Aidar
1987 Nagib Aidar
1988 Nagib Aidar Construção da Creche para os filhos de funcionários
1989 Nagib Aidar 11/03 – Inauguração de: UTI, Almoxarifado, Raios-X,
Endoscopia, Ultrassom, Fisioterapia, Laboratório Clínico e
Banco de Sangue.
382

1990 Nagib Aidar Até 01/90


02/90 a 10/90 Waldemar Pereira do Teve que se afastar para fazer curso de delegado Ciretram
Nascimento em SP.
28/08 – Inauguração da 1ª Hemodiálise.
10/90 a 01/98 Pedro Pezzatti
1991 Pedro Pezzatti 16/03 Inauguração da Tomografia
1992 Pedro Pezzatti 08/08 Inauguração ECO,Unidade VI, Central Esterilização,
Reforma da Unidade IV, Reforma V
1993 Pedro Pezzatti
1994 Pedro Pezzatti
1995 Pedro Pezzatti 12/05 – Lançamento Plano de Saúde – que se encerrou em
2001 (foi para UNIMED)
1996 Pedro Pezzatti 14/12 – Inauguração das novas instalações do Centro
Cirúrgico, Centro Obstétrico, Recepção dom Plano de Saúde
e Recepção Central.
21/12 – Inauguração do Núcleo de Hemoterapia.
1997 Pedro Pezzatti Construção do estacionamento com 100 vagas. Reforma da
Unidade VI (pós Centro Cirúrgico)
1998 01/98 a 28/01/02 Antonio José Zaparoli Foi Diretor Administrativo de 01/08/77 a 12/01/98. Início
reforma da Pediatria. Reforma da Creche.
1999 Antonio José Zaparoli 10/09 – Reinauguração da Unidade Pediátrica e início da
reforma e adequação do Serviço de Hemodiálise.
2000 Antonio José Zaparoli Reeleição em 21/01.
Inauguração Serviço Hemodiálise atual em 06/04. Diploma
Médico Honorário.
2001 Antonio José Zaparoli Iniciada em abril a reforma e ampliação do Ambulatório/PS e
iniciada a UTI Neonatal e UTI Pediátrica.
2002 21/01/02 a 27/07/02 Jurandy Pessuto Continuaram as obras de reforma e ampliação do OS. Receb.
$ SUS pedidos provedor anterior. Renúncia em 27/07/2002
alegando questões de fórum íntimo. Assumiu inteiramente Sr.
Titosi Uehara.
2003 08/08/02 a 21/01/04 Pedro Pezzatti Painel de Diretores Clínicos e entrega das novas instalações
do Ambul/PS em 09/08/03 com a presença do Governador
Geraldo Alckmin Filho, Julio Semeghini e Secretário da Saúde
Dr. Barradas Barata (instalação Mamografia em comodato
com a Prefeitura)
2004 23/01/04 a 23/01/05 Antonio José Zaparoli Gravíssima situação financeira e complicada da situação
gerencial.
2005 Antonio José Zaparoli
2006 Até 23/02/07 Antonio José Zaparoli Renunciou
2007 07/03/07 a 17/03/08 José Sequini Júnior Marcos: Informatização, Livro Ouro, Parcerias PF + PJ, MkT,
Reforma UTI, Reforma II, VOLFER
2008 29/02/08 a José Sequini Júnior
28/02/2010
2009 José Sequini Júnior
2010 01/03/2010 a 012 Diomar Pedro Durval Em exercício até fevereiro de 2012
2012 24/02/212 a 2014 Geraldo Silva Carvalho Em exercício na data de publicação desta obra

A funcionária mais antiga e que trabalhou por mais tempo foi Vera Tripeno Fernandes,
enfermeira, de 01/03/1956 a 05/05/2008. O primeiro farmacêutico foi Juliano Voltarelli. O primeiro
Corpo Clínico foi constituído pelos seguintes médicos: Drs. Adhemar Monteiro Pacheco, Labieno
Teixeira de Mendonça, Alberto Serra Filho, Pedro Eustachio, Theodózio Dério Semeghini, Alexandre
Zilenouski, Luiz Carlos Ramos, Maria Aparecida Fontes Ramos, Paulo Sano, Écio Vidotti, Serafim
Martins, Luiz Olavo Fontes, Paulo de Carvalho, Waltrudes Baraldi e Antonio Garcia Pelayo (ata de
31/03/1960).
No início do funcionamento da Santa Casa, a parte de enfermagem era praticada por freiras
chefiadas pela Irmã Margarida, enérgica, inteligente e capaz. Fazia parte das Irmãs da Providência,
além da Irmã Margarida, a Irmã Lourdes.

Documentação legal
- Estatutos – Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas de Fernandópolis Certidão nº 1.435
- Nº no FCES ou CNES: 2.093.324
383

- Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos: Processo MAS-CNAS nº 71.010.000110/2003-51


- Certificado de Isenção de Imposto de Renda: Ministério Fazenda Processo nº 0850/1204-70
- Alvará junto a Vigilância Sanitária: SIVISA nº 351550900-851-000111-1-0
- Registro junto ao CREMESP: nº 03521
- Inscrição Municipal: nº 9307

Credenciamentos/ SUS
- 139 leitos (85,9%) do total de sua capacidade de 162 são contratados pelo SUS.
- Hospital Estratégico do Ministério da Saúde – Integrasus Nível “C”– Portaria nº GM/MS nº 878 de
08/05/2002 anexo II e Hospital Estratégico do SUS/SAS – Portaria GM/MS nº 2.256 de 10/12/2002.
- Referência para internação AIDS – 2 leitos.
- Referência em Gestante de Alto Risco – Nível Secundário – Portaria SAS/MS nº 116 – de
31/03/1999
- Referência em UTI – nível II, Portaria SAS/MS nº 757 de 15/10/2002
- Referência em Neurocirurgia – nível I, Portaria SAS/MS nº 135 de 16/04/1999
- Referência em Terapia Renal Substitutiva – nível II. Portaria SAS/MS nº 773 de 18/10/2002
- Referência em Tratamento Ortopédico (Alta Complexidade em quadril, joelho e tumor ósseo)
- Integra a Central de Regulação Médica e de Vagas do SUS, mantendo UTI Móvel em parceria com
o SUS – desde a sua instalação.

ESPECIALIDADES MÉDICAS (Corpo Clínico com 104 médicos)

Alergologia Dermatologia Otorrinolaringologia

Angiologia Endocrinologia Ortopedia traumatologia

Anestesiologia Ecocardiografia Obstetrícia

Cardiologia Ginecologia Oftalmologia

Cirurgia buco-maxilo-facial Gastroenterologia Pediatria

Cirurgia cabeça e pescoço Hematologia Pneumologia

Cirurgia geral Nefrologia Psiquiatria

Cirurgia plástica Neurocirurgia Radiodiagnóstico

Cirurgia vascular Neurologia Terapia Intensiva

Clínica geral Neurologia infantil Ultrassonografia

Cirs. vídeo assistidas Neonatologia Urologia

SERVIÇOS DE APOIO DIAGNÓSTICO E TERAPIA

Densitometria Óssea Laboratório Clínico


Ecodopplercardiografia Laboratório de Patologia
Endoscopia Digestiva Mamografia
ECG e Ergometria Radiologia médica
Fisioterapia Tomografia compudorizada
Holter 24 horas Ultrassonografia
Hemonúcleo Ressonância
384

DEMONSTRATIVO DE DEMANDA ATENDIDA EM 10 ANOS

INTERNAÇÕES CONSULTAS EMERGÊNCIA PARTOS


ANOS TOTAL SUS % TOTAL SUS % TOTAL SUS %
1997 10.718 7.241 67,56 54.581 47.868 87,70 987 745 75,48
1998 9.747 6.058 62,15 51.845 44.619 86,06 1.021 819 80,22
1999 10.919 6.919 63,37 58.923 49.646 84,26 1.027 807 78,58
2000 11.992 8.185 68,25 63.211 54.635 86,43 966 772 79,92
2001 11.936 8.211 68,79 66.209 58.511 88,37 970 749 77,22
2002 12.389 8.666 69,95 67.413 59.235 87,87 896 682 76,12
2003 13.213 9.306 70,43 68.895 58.626 85,09 915 696 76,06
2004 12.437 8.397 67,52 76.753 64.427 83,94 870 661 75,98
2005 12.397 8.472 68,34 81.796 70.760 86,51 841 654 77,76
2006 12.264 8.029 65,47 84.123 81.327 96,68 783 567 72,41
2007 12.316 8.066 65,50 98.643 81.380 82,50 782 608 77,80
2008 11.145 7.488 67,20 109.292 89,091 81,52 698 440 63,10
2009 11.476 8.022 69,90 109.619 88.563 80,79 674 478 70,92
2010 11.142 7.400 66,41 114.884 91.211 79,39 730 476 65,20
Fonte: SAME SCMF Censos Anuais

ÁREA DE ABRANGÊNCIA

Micro região - Fernandópolis Micro região – Santa Fé do Sul Micro região – Jales

CIDADES POPULAÇÃO
ORD
01 ESTRELA D´OESTE 8.108
02 FERNANDÓPOLIS –sede- 65.095
03 GUARANI D´OESTE 2.113
04 INDIAPORÃ 3.614
05 MACEDÔNIA 3.639
06 MERIDIANO 4.176
07 MIRA ESTRELA 2.552
08 OUROESTE 7.134
09 PEDRANÓPOLIS 2.502
10 POPULINA 4.310
11 SJO DUAS PONTES 2.578
12 SJO DA IRACEMA 1.717
13 TURMALINA 2.125
(total regional) 44.568
385

(total com a sede) 109.663

Projeção da população alvo + invasão espontânea: 420.000 habitantes/SP


1. Microrregião de Fernandópolis, formada por 13 municípios, totalizando 109.663 habitantes.
2. Via Central de Vagas do SUS: atende às demais microrregiões de Santa Fé do Sul, Jales e
Votuporanga.
3. Existe ainda uma invasão de até 20% de usuários vindos de outras regiões e outros estados.

3 UNIDADE AUXILIAR DE ENSINO


Embora a Santa Casa ainda não seja formalmente reconhecida como hospital-escola, há
mais de 20 anos tem cedido as suas instalações para campo de estágio supervisionado para
Instituições de Ensino Superior desta cidade e região.
Atualmente, mantém convênios para receber 2.546 estagiários, distribuídos nos cursos de:
Enfermagem/Obstetrícia, Medicina, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Serviço Social
e Terapia Ocupacional, o que, efetivamente, caracteriza a Santa Casa como um Hospital
Universitário.
A Santa Casa mantém Convênios de Cessão de Campo de Estágio com duas Instituições
de Ensino da cidade, quais sejam:
- Convênio de Cessão de Campo de Estágio para os alunos da Faculdade de Medicina da
Universidade Camilo Castelo Branco desde 2004. O curso de Medicina da Unicastelo graduou
254 médicos até dezembro de 2011
- Convênio de Cessão de Campo de Estágio para os alunos da Fundação Educacional de
Fernandópolis desde 1986.

Nº de alunos/estagiários:

Convênios/nº de
Curso/Graduação
Instituição Estagiários
Enfermagem e Obstetrícia 956
Fisioterapia 336
FEF - Fundação Fonoaudiologia 66
Educacional de Fernandópolis Psicologia 405
Faculdades Integradas de Fernandópolis e
Escola Profissionalizante “Dr. Alberto Senra” Técnico de Enfermagem 350
Nutrição 93
Fonte: SCMF e FEF Serviço Social 107
Terapia Ocupacional 93
386

UNICASTELO – Câmpus VII Medicina (alunado atual) 559

Estrutura acadêmica ofertada às Instituições:


- Anfiteatro com capacidade para 80 lugares (em convênio com a Unimed)
- Sala de Reuniões com aproximadamente 80 m²

4 ESTRUTURA FÍSICA/OPERACIONAL OFERTADA AOS ESTAGIÁRIOS

4.1 Setor de pronto atendimento / pronto socorro 24 horas


- Serviço Social Médico – triagem
- Setor de atendimento ao paciente vítima de acidente trânsito
- Registro de Pacientes
- Sala de emergência com capacidade para atendimento simultâneo A 4 pacientes
- Sala de Cirurgia (onde podem ser realizados procedimentos de pequeno a médio portes),
dotada de dois vestiários com acesso restrito ao paciente somente em macas de
transferência
- 2 Salas de observação (masculino e feminino), com capacidade para oito leitos
- 1 consultório geral para os atendimentos de urgência
- 1 consultório de atendimento ginecológico
- 2 salas de curativo (séptico e asséptico)
- 1 sala para pequenos procedimentos cirúrgicos (sutura, pontos)
- 1 sala para inaloterapia
- 1 sala de serviços de enfermagem
- Banheiros para funcionários
- 1 Banheiro exclusivo para os clientes portadores de alguma limitação ou deficiência
física, adaptado para a segurança e conforto dos usuários
- 1 ampla sala de espera com banheiros masculino e feminino para os clientes
- Acesso exclusivo e imediato para os casos de emergência, com via única sem passagem
prévia pela recepção

4.2 Setor de ortopedia e traumatologia


- 4 consultórios médicos
- 3 salas de gesso
- 2 salas de curativos (séptico e asséptico)

4.3 Ambulatório
- 1 consultório para clínica geral
- 1 consultório para pediatria
- 1 consultório para ginecologia e obstetrícia
- 2 banheiros
- Ampla e confortável sala de espera, com ventilação artificial e televisão

4.4 UTI - Unidade de Terapia Intensiva – Geral – Nível II


- 16 leitos

4.5 TRS (Diálise e Hemodiálise) – Nível II


a) Área física construída de 633,68 m²
Abrigo coberto (acesso para veículos e pessoas)
- Recepção
- 2 banheiros (masc./fem.) para pacientes
- 1 banheiro para deficiente físico
- Sala de espera
- Secretaria
- 2 consultórios médicos
387

- Sala de emergência
- Sala de CAPD
- Sala de DPI
- Copa
- 4 salas de hemodiálise
- Sala para guarda de material
- 3 salas de lavagem de capilar
- Sala de tratamento de água por Osmose Reverso
- Almoxarifado
- 6 WC

4.6 Abastecimento / Insumos


- Setor de dispensação de medicamentos/farmácia (dose unitária)
- Setor de dispensação de medicamentos psicoativos
- Setor de nutrição enteral
- Almoxarifado de impressos e setor gráfico
- Almoxarifado de medicamentos, material e insumos hospitalares
- Sub-almoxarifado de peças e material de manutenção predial
- Sub-almoxarifado de alimentos
- Água: 3 poços semiartesianos

4.7 Serviços auxiliares e de apoio


- SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística
- Central de esterilização
- Lavanderia, rouparia e costura
- SND – Serviço de Nutrição e Dietética + Lactário
- Serviço de limpeza e higienização
- Serviço de manutenção e conservação patrimonial
- Necrotério / morgue
- Serviço de remoções – central de vagas/SUS  UTI móvel
- Gerador com capacidade para atender todo o hospital
- Abastecimento de água: três poços semiartesianos
- AME e Lucy Montoro

4.8 IACOR – Instituto Avançado do Coração


a) ÁREA FISICA construída de 550m²
- Recepção
- Entrada de emergência
- Consultório médico
- Administração
- Copa
- DML (dispensa de material de limpeza)
- Vestiário de funcionários
- Sala de recuperação
- Sala de exames
- Sala de coordenação do aparelho
- Sala de reprocessamento de material

4.9 Outros
- Creche para filhos de funcionários. Acolhe até 60 crianças/dia de zero a seis anos.

DIRETORIA ATUAL

Dr. Geraldo de Carvalho – Provedor


Dr. Luiz Carlos Barros da Costa – Secretário
388

Osvaldo Roberto Ferreira Kobayashi – 1° Tesoureiro


Nelson Luiz Beppu – 2° Tesoureiro
Gilberto Francisco Antunes – 1º Suplente
Amilton Augusto de Carvalho – 2º Suplente

Conselho Fiscal

Octávio Barreto - Presidente


Dr. Moacir Rodrigo Molina – Membro
Dr. Osterno Antônio da Costa – Membro
Antônio Carlos Gonçalves Rezende – Suplente
Carlos Henrique Freitas de Paula – Suplente

Conselho de Administração
Jaime Sebastião Migliorini
Dr. Moacir Pontes
Kosuke Arakaki
Hélio Gazeta
Antônio Luiz Aielo
Sandro Renato de Lima
Alfredo Scarlatti Sobrinho
Alice da Silva Ferrarezi

Direto clínico
Dr. José Maria Nuevo Filho

Diretor técnico
Dr. Mauro Afonso Albuquerque

5 AMBULATÓRIO MÉDICO ESPECIALIZADO (AME)

5.1 Objetivos
Implantação de Ambulatório Médico Especializado na região de Fernandópolis, para a
realização de algumas especialidades médicas, Criando uma rede de referência, com alta
resolutividade, por profissionais diferenciados apoiados por tecnologia avançada.
Produção estimada: 3.491 consultas médicas/mês; 500 consultas não médicas/mês; 7.887
exames/mês nos serviços de apoio diagnóstico.
O AME de Fernandópolis ampliará a rede de serviços de média complexidade voltada para
o Serviço Único de Saúde (SUS) na região, com uma população de abrangência de 110.790
habitantes, segundo estimativa do IBGE (2007). Atenderá aos seguintes municípios: Estrela d’Oeste,
Fernandópolis, Guarani d’Oeste, Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Ouroeste,
Pedranópolis, Populina, São João das Duas Pontes, São João de Iracema e Turmalina.

6 CENTRO DA REDE “LUCY MONTORO”


Fernandópolis, além do AME, atuará como referência no Centro de Reabilitação da Rede
Lucy Montoro, também regido pelos princípios constitucionais que refém o SUS, a Política Nacional
da Pessoa Portadora de Deficiência, instituído em 12/05/2008, através do Decreto 52.773/2008, que
integra a rede de atenção à pessoa com deficiência do SUS/SP, regida pelas disposições contidas no
Decreto n. 55.739, de 27 de abril de 2010. É a implantação de uma rede de assistência à reabilitação
de forma hierarquizada e descentralizada, de acordo com parâmetros do SUS, a Secretaria de
Estado de Saúde e a Secretaria dos Direito da Pessoa com deficiência. Segundo o Art. 2º do Decreto
55.739/10, a Rede Lucy Montoro tem os seguintes objetivos:
I – a padronização e a sistematização de uma rede de atendimento em reabilitação;
II – a consolidação de um processo de gestão de recursos de reabilitação descentralizado
pelo Estado;
III – a identificação, a certificação de qualidade e a aplicação de ajudas técnicas que
viabilizem a melhor qualidade de vida para as pessoas com deficiência;
389

IV – a pesquisa e a prospecção de novas tecnologias a serem implementadas como ajuda


técnica;
VI – a ampliação e o fortalecimento dos recursos de informação e comunicação
disseminando conhecimento sobre o tratamento adequado a ser despedido à pessoa com deficiência.
A Unidade Lucy Montoro em Fernandópolis abrange as Regiões de Saúde de Fernandópolis
(sede), Jales, Santa Fé do Sul e Votuporanga, com um total de 52 municípios e uma população
estimada (TCU) de 436.304 habitantes.
A Santa Casa de Fernandópolis será administradora das unidades AME e Lucy Montoro da
cidade, em virtude de ser OSS e, concorrendo em licitação do governo do estado, foi a vencedora.

7 ASSOCIAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS DA SANTA CASA (VOLFER)


Voluntário é o cidadão que doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não
remunerada para causas de interesse social e comunitário, independente da religião, posição social,
raça ou política.
O objetivo da Volfer é a humanização da Santa Casa de Fernandópolis, propugnado pela
excelência de atendimento a pacientes e acompanhantes, associando a Diretoria do hospital.
Fundação: 24/09/2007.
Eleição e posse da 1° Diretoria: 2705/2008
Diretoria 2010/2011:
Presidente: Wandalice Franco Renesto
Vice - presidente: Vanderlice de Lourdes L. Moreira da Silva
1° Secretária: Laura Maria Borges Mapelli
2° Secretária: Maria de Fátima da Silva Mathias
1° Tesoureira: Rosângela de O. Lima Ferrari
2° Tesoureira: Maria Oliveira Guimarães Papa
Conselho Fiscal:
Presidente: Alice Ferrazi
Membros: Roseli Rosangela Dias Zanelli
Arlete Marinho Lopes de Barros
A atuação da VOLFER se faz em todo o espaço físico da Santa Casa, levando apoio moral,
religioso e até material aos que ali trabalham e aos que precisam de atendimento de saúde.
A Volfer, com a Irmandade da Santa Casa de Fernandópolis, constitui o alicerce para o
melhor funcionamento desse hospital, cujos colaboradores muito se esforçam pelo serviço de
excelência.
Conforme o exposto, a Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis vem, de há muito
tempo, cumprindo sua missão de misericórdia, socorrendo todos quantos a procuram, sem
discriminação, cumprindo a missão dos fundadores e todos os que os sucederam na administração
desse nosocômio.
Agora, como num futuro próximo, como Hospital-Escola, servirá, também, para o preparo de
alunos da área de saúde das nossas universidades.
Oxalá tudo se cumpra, pelo bem de todos quantos procuram a Santa Casa de Misericórdia
de Fernandópolis.

REFERÊNCIA

SANTA CASA. Arquivos da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis. Fernandópolis, 2012.


JUVENTUDE COM HORA MARCADA

Escola Técnica de Fernandópolis (ETEC)

1 INTRODUÇÃO
Embora seja atual, o projeto “Toque de acolher”, idealizado e posto em prática por Evandro
Pelarin, juiz de direito da Vara da Infância e Juventude de Fernandópolis, se justifica por ser uma
medida socioeducativa da maior importância, que atinge diretamente pais e jovens e adolescentes. O
projeto propõe afastar de situações de risco jovens e adolescentes que, mesmo autorizados por pais
a se colocarem nas ruas da cidade, podem enfrentar, a qualquer momento, situações que os
coloquem em contato com vícios, drogas, prostituição, violência etc.
O projeto visa, pois, auxiliar pais e responsáveis no cuidado com os menores que, por
serem menores, geralmente podem não ter ainda a pertinência e a lucidez de ver uma situação de
risco e dela se protegerem. A responsabilidade maior cabe aos pais que, muitas vezes, desconhecem
tais situações ou mesmo pecam por negligência no cuidar dos filhos; o poder público, dessa forma,
vem-lhes em auxílio e orientação e, em segundo momento, bem chamá-los à responsabilidade como
pais responsáveis pela educação e formação dos filhos.
Certamente, Pelarin encontra oposições, mas o número de bem sucedidas incursões em
bares, boates, restaurantes ou quaisquer lugares que possam oferecer algum risco ao jovem têm
revelado resultados altamente positivos, levando a muitas cidades e mesmo estados a apoiarem o
projeto e se posicionarem na mesma direção.

2 TOQUE DE ACOLHER – PROJETO PIONEIRO


Implantado na cidade de Fernandópolis no ano de 2005, o “Toque de acolher”, de
responsabilidade do juiz da vara da infância e juventude da cidade, Evandro Pelarin, visa à retirada
de menores de idade das ruas ou locais públicos (bares, shoppings, boates) após a hora determinada
(23h), a fim de que os jovens não sejam expostos a situações de risco, isto é, uso indevido de drogas
lícitas e/ou ilícitas, prostituição, violência e suas causas e consequências. Também chamado mais
comumente “toque de recolher”, a medida visa única e exclusivamente à proteção dos menores e à
tranquilidade de suas famílias, uma vez que, depois de acolhidos pelos policiais ou pessoas
incumbidas dessa tarefa, cada jovem é levado até sua casa ou até o fórum da cidade, onde deve ser
recebido pelo responsável. Em caso de situação de risco, o responsável já é imediatamente alertado.
Caso o jovem esteja acompanhado de uma pessoa maior de idade e que seja familiar ou outro
parente de primeiro grau, ele não é acolhido e pode permanecer no local enquanto estiver
acompanhado de seu responsável. Atualmente, o “Toque de acolher” tornou-se lei municipal, e deve
ser respeitada em qualquer ponto da cidade. Contudo, a medida não agradou a todos os cidadãos
fernandopolenses, e vários protestos foram realizados para a retirada da lei e, até mesmo, para a
renúncia do juiz.
Uma pesquisa realizada pelos alunos dos terceiros anos da Escola Técnica Estadual de
Fernandópolis (ETEC) em agosto de 2011 constatou que o maior número de insatisfações
relacionadas ao “Toque de acolher” está concentrado entre os jovens de 14 a 18 anos, sendo que,
dos 100 jovens entrevistados, estudantes da própria instituição citada, 25% afirmam ser totalmente
contra a medida e 42% se dizem parcialmente a favor. A justificativa mais apontada por esses jovens
é o ferimento do direito de ir e vir, presente no artigo quinto da Constituição Federal de 1988,
atualmente em vigência no país: “Acho que existem outras maneiras de controlar os jovens sem
privá-los de sua liberdade. Isso é um dever que cabe aos pais, e não às autoridades”, afirmou um dos
adolescentes entrevistados e concluiu: “se tenho assegurado por lei esse direito, quero vivenciá-lo”.
Entre aqueles que aprovam o “Toque de acolher” estão 33% dos entrevistados, número relativamente
baixo quando comparado aos benefícios ocasionados desde a adoção do toque: “Eu sei que consigo
me manter longe das drogas. Fui educado por meus pais assim. Mas existem aqueles que não
391

conseguem. Eles [os menores] deveriam agradecer por terem alguém para olhar por eles e não
abandoná-los, como muitos pais fazem”, disse um dos jovens.
Quando questionados sobre ter vivenciado ou não a medida, 25% dizem ter vivenciado com
amigos ou parentes próximos, 75% dizem nunca ter passado por isso e apenas 5% dizem ter
vivenciado. “Graças a Deus nunca precisei disso”, afirmou ainda.

Figura 1 Menor sendo conduzido à viatura do Conselho Tutelar.


Fonte: ETEC, 2011. (Acervo particular)

Realizada também com os pais e responsáveis dos alunos, a pesquisa revelou uma grande
divergência com relação aos números anteriormente citados. 93% aprovam a medida, enquanto 6%
aprovam com parcialidade e apenas 1% discorda totalmente. “Sempre controlei meu filho em seus
horários de chegar e de sair de casa. Mas os amigos também influenciam com opiniões diferentes.
Como não estou sempre por perto, fico despreocupada sabendo que ele não está se envolvendo com
nada de errado”, disse uma das mães na entrevista.
Questionados, também, sobre ter ou não vivenciado o toque com seus filhos, as respostas,
dessa vez, não divergiram tanto: 16% dizem ter vivenciado com amigos ou parentes próximos, 82%
dizem nunca ter passado por isso e 2% dizem ter vivenciado com seus filhos. A justificativa mais
apontada pelos pais que aprovam a lei é o fato de que, a partir desse trabalho, é possível controlar
melhor os jovens, principalmente aqueles a quem não foram impostos limites a partir da educação
vinda de casa e precisam ser ensinados por terceiros. “Só não concordo com os horários que
começam as festas. Muito tarde não dá certo,” continuou a mãe.
Entre os jovens que aprovam, os motivos mencionados são, principalmente, a ajuda para o
afastamento dos usuários de drogas, evitando a contaminação e o vício de outros jovens, além de
uma diminuição considerável no número de prostituição e acidentes envolvendo menores de idade.
Outros motivos também se fizeram presentes, como a não necessidade de jovens menores
permanecerem nas ruas até horários exagerados. Os índices presentes na pesquisas podem ser
observados nos gráficos de 1 a 6:
392

Gráfico 1 Conhecimento do “Toque de acolher” pelos jovens.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)

Gráfico 2 Aprovação do “Toque de acolher”.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)

Gráfico 3 Vivência o “Toque de acolher”.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)
393

Gráfico 4 Conhecimento do “Toque de acolher” pelos pais.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)

Gráfico 5 Aprovação do “Toque de acolher” pelos pais.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)

Gráfico 6 Vivência do “Toque de acolher” pelos pais.


Fonte: ETEC, 2011. (Dados da pesquisa)
394

É importante destacar que o “Toque de acolher” baseia-se no Estatuto da Criança e do


Adolescente e na própria legislação brasileira, uma vez que, segundo o Artigo 247 do Código Penal,
“Permitir alguém que menor de 18 (dezoito) anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou
vigilância: I - frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
II - frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de
representação de igual natureza [...]” é considerado crime e deve ser punido segundo prevê a lei.
Em entrevista com a jornalista Giovanna Simioli, de São José do Rio Preto, dona do blog
<http://www.gisimioli.blogspot.com>, e, quando questionado sobre a rejeição demonstrada por
algumas pessoas com relação ao “Toque de acolher”, Evandro Pelarin disse que já era esperada tal
reação, pois

[...] o Juiz não decide para agradar às pessoas, menores ou maiores. O Juiz não tem
que fazer ‘média’ com ninguém. O Juiz aplica a lei. E, ao contrário do que muitos
pensam, a lei brasileira é muito boa; não perfeita, evidentemente. Então, o resultado
positivo de nosso trabalho é uma decorrência da aplicação da lei. Se alguns ou
muitos não gostam, paciência. Mas a lei será aplicada, quer gostem ou não. Pois a
lei é feita para o bem das pessoas.

E quanto aos benefícios trazidos pelo toque, afirma, na mesma entrevista, estar satisfeito
com os resultados:

[...] temos números positivos quanto à redução de menores envolvidos com drogas e
bebidas alcoólicas. Também, houve diminuição sensível de crimes cometidos por
adolescentes. Hoje, temos poucos menores presos na Fundação Casa (FEBEM),
em relação ao passado. Ou seja, temos mais adolescentes livres, efetivamente.
Livres da cadeia, livres dos crimes, livres das drogas. Isso tudo me deixa muito
satisfeito.

Figura 2 Evandro Pelarin em entrevista com a jornalista


Giovanna Simioli.
Fonte: Simioli, 2011. (Arquivo ETEC, 2011)

O gráfico 7 demonstra, em números, a diminuição do número de atos infracionais cometidos


por menores.
395

Gráfico 7 Atos infracionais cometidos por jovens e adolescentes em Fernandópolis.


Fonte: Fórum, 2011. (Vara da Infância e Juventude)

Na entrevista, ainda, Simioli indaga se houve algum caso que houvesse emocionado ou
surpreendido o juiz: “Não há um, em especial. No sentido em que você me pergunta, é muito triste ver
uma mãe chorando quando seu filho está tomado pelas drogas. Isso dói muito”, afirmou.
A repercussão do “Toque de acolher” tornou-se tão grande que, atualmente, o deputado
estadual Jooji Hato (PMDB) criou o Projeto de Lei n. 768, baseado na medida adotada por Evandro
Pelarin na cidade de Fernandópolis. A lei estadual proíbe a permanência e entrada de menores de
idade, quando desacompanhados de seus pais ou responsáveis legais, em locais públicos nos
horários compreendidos entre 23h30min e 5h, abrangendo restaurantes, bares, padarias,
lanchonetes, cafés ou afins, danceterias, boates ou afins, lan houses, casas de fliperama ou afins, ou
outros locais de frequência coletiva. No momento, aguarda-se a aprovação da nova lei.
Segundo o deputado Hato (2011),

o álcool, o cigarro, a maconha e diversas outras drogas estão largamente difundidos


na sociedade contemporânea e podem ser facilmente obtidos por quem tem menos
de 18 anos. Além disso, nossas crianças e nossos adolescentes têm sido expostos a
inúmeras situações que oferecem risco à sua integridade física, psicológica e moral:
vandalismo, violência, tráfico e uso indiscriminado de drogas, prostituição, jogos
ilícitos etc. Infelizmente, o honroso esforço de nossos policiais no combate ao crime
ainda não é suficiente para afastar nossas crianças e nossos adolescentes das
situações de risco a que têm sido expostos, já que a criminalidade não é apenas
caso de polícia. Por essa razão, como medida de proteção, propomos diversas
restrições à circulação das crianças e dos adolescentes nas ruas e nos diversos
locais de frequência coletiva do estado, quando não estiverem acompanhados de
mãe, pai ou responsável, no período que vai das 23h30 às 5h.

Contudo, mesmo antes de ser aprovada, a nova legislação já está dividindo a opinião dos
demais deputados estaduais. Sobre a legislação, Pelarin disse não estar muito otimista: “Sei que há
parlamentares simpáticos a essas medidas, mas a maioria provavelmente optará por não criar
antipatias políticas, como é costume no Brasil”.
A polêmica causada pelo “Toque de acolher” foi tamanha que atingiu até residentes de
outras cidades da região e do estado de São Paulo. Por isso, em 2009, quatro anos após a adoção
da medida, Danilo Gentili, repórter do programa CQC, da Rede Bandeirantes de televisão, esteve na
cidade de Fernandópolis para entrevistar o juiz. Apesar de perguntas satíricas e as clássicas
396

“pegadinhas” feitas pelo repórter, Evandro Pelarin manteve sempre o tom bem-humorado,
respondendo com clareza e isenção de ânimos. A entrevista durou cerca de dez minutos.

Figura 3 Danilo Gentilli, do CQC (TV Bandeirantes) entrevista


Dr. Evandro Pelarin.
Fonte: ETEC, 2011. (Acervo particular)

Questionado pelo jornal “Cidadão” de Fernandópolis, Danilo Gentili disse que o motivo que
o levaram a se deslocar cerca de 560 quilômetros da capital para conhecer o “Toque de acolher” foi o
fato de várias cidades do ABC paulista estarem mobilizando-se para adotar a mesma medida. “Como
Fernandópolis já tem a medida há quatro anos, decidimos vir até a cidade”, disse Gentili; e
completou: “Lá é uma loucura, a cidade não para e é muito difícil ver uma criança ou adolescente
sozinho à noite na rua, por isso é difícil opinar sobre o assunto, mas pelo que estamos vendo por
aqui, a maioria é a favor do ‘Toque de Acolher ’”.
A utilização das redes sociais auxilia também para que o juiz se aproxime mais da juventude,
recebendo críticas e sugestões por meio de twitter (@EvandroPelarin), facebook e blog
(http://www.evandropelarin.blogspot.com). Assim, é possível saber qual a opinião das pessoas, bem
como os locais onde haverá menores em situações de risco fora do horário determinado pelo toque.
A adoção do “Toque de acolher” tornou-se muito eficiente e teve repercussão positiva por
toda a região e, até mesmo, por todo o país. Por isso, cidades como Meridiano, Macedônia,
Pedranópolis, Ilha Solteira e até cidades do interior da Bahia têm aderido à medida. Em 2009, o
programa foi apresentado, oficialmente, em Brasília, tendo apoio do então senador Magno Malta.
Além de ter afastado milhares de jovens de situações perigosas e evitado que inúmeros
casos de adolescentes e crianças entrassem para o mundo dos vícios, da morte e da prostituição, o
“Toque de acolher” também significou (e significa) a tranquilidade de milhares de pais e responsáveis,
não só em Fernandópolis, mas também em diversas cidades do país. São poucas as pessoas que se
preocupam com os jovens, nos quais se acredita estar o futuro do país; contudo, aqueles que
demonstram cuidado e carinho para com as crianças e os adolescentes realizam um trabalho
esforçado e, sem dúvida, muito bem feito em Fernandópolis cidade e região.

Colaboração
ETEC – Escola Técnica de Fernandópolis
A EVOLUÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES NA AGRICULTURA DO MUNICÍPIO
DE FERNANDÓPOLIS

João de Souza LIMA

1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 1960 a agricultura brasileira passou por significativas transformações
na sua base produtiva. Essas alterações resultaram do processo de modernização da agricultura,
com o aval e o apoio do Estado, que iria implicar a integração agricultura/indústria, estabelecendo
condições para o desenvolvimento do Complexo Agroindustrial (CAI).
Entretanto, o processo de modernização não atingiu de forma homogênea todas as regiões,
produtos e categorias de produtores do país. Foi mais intenso no Centro/Sul, privilegiou os médios e
grandes produtores e se concentrou, inicialmente, nos produtos destinados ao mercado externo e nas
matérias-primas para a agroindústria.
Foi fundamental para o processo de modernização da agricultura a participação do Estado
com suas políticas de fomento, sobretudo o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). No entanto,
as iniciativas estatais conservaram e intensificaram as características que sempre acompanharam a
agricultura brasileira, como o privilégio aos médios e grandes produtores rurais em detrimento dos
pequenos, estabelecendo condições para a concentração fundiária.
Mesmo que tenha transcorrido de forma heterogênea, o processo de modernização da
agricultura implicou profundas transformações na sua base produtiva, tendo como um dos seus
resultados mais nítidos mudanças nas relações de trabalho e produção no campo. Por um lado,
foram reduzidas as relações de colonato, parceria e arrendamento e, por outro, ampliou-se o trabalho
assalariado.
No estado de São Paulo, o processo de modernização da agricultura se manifestou de
forma bastante intensa. Entretanto, também se caracterizou de forma desigual, tanto em esfera
territorial, quanto em relação à categoria de produtores e tipo de produtos. Nesse sentido, regiões
como a de Campinas, Piracicaba, Araraquara e, sobretudo, Ribeirão Preto, foram as que receberam
os maiores investimentos. Em outras regiões, como o oeste do estado, as transformações foram mais
lentas.
No município de Fernandópolis, localizado no Noroeste Paulista, o processo de
modernização agrícola se manifestou num ritmo bastante lento se comparado ao das regiões mais
desenvolvidas do estado. Isso pode ser atribuído a uma conjuntura de fatores. Em princípio, deve-se
lembrar que o município faz parte de uma das últimas áreas a ser efetivamente ocupada no estado de
São Paulo, vindo a se constituir numa região com desempenho econômico inferior àquele encontrado
em outras regiões do estado, como a de Ribeirão Preto, por exemplo. Contribuiu, também, a
ocupação das unidades produtivas locais, tendo nas pastagens, com a pecuária extensiva, o
predomínio em termos de área ocupada. Nesse setor, os investimentos em técnicas modernas de
produção foram insignificantes. Em relação aos produtos cultivados, sobressaíram, em termos de
área cultivada e de valor da produção, até meados da década de 1985, o café, o milho e o algodão.
Esses produtos também não foram alvos importantes em termos de investimentos em novas técnicas
na base produtiva na referida região.
Mesmo que lentamente, porém, as transformações na agricultura local ocorreram e
reproduziram as características principais da modernização agrícola do país. Dentre elas têm-se a
substituição de produtos cultivados, sobretudo café, algodão e arroz, por outros voltados para a
agroindústria, e as transformações nas relações de trabalho e produção.
Em relação às lavouras, observou-se a decadência de produtos que eram cultivados desde
o início da ocupação efetiva do município de Fernandópolis e a ascensão do cultivo de outros, como


Mestre em Geografia pela UNESP/Presidente Prudente. Docente da rede pública do Estado de São Paulo, do
Colégio Objetivo e da Fundação Educacional de Fernandópolis, São Paulo, Brasil.
398

a laranja, a banana e, principalmente, a cana-de-açúcar. Nas relações de trabalho e produção, ocorre


o declínio dos sistemas de arrendamento156 e, sobretudo, de parceria, muito importantes no início da
ocupação do município, fortalecendo o trabalho do proprietário e do assalariado, especialmente o
trabalhador volante residente na área urbana.

2 INÍCIO DO POVOAMENTO
Três correntes migratórias contribuíram para o início da ocupação do Município de
Fernandópolis, as quais eram representadas por mineiros, baianos e italianos. Os primeiros
157
moradores eram criadores de gado, oriundos do estado de Minas Gerais e se instalaram na região
no final do século XIX. Entretanto, o povoamento efetivo só ocorreu a partir da década de 1920.
A fundação do núcleo urbano ocorreu em 1939 e a emancipação político-administrativa do
município se deu em 1944/1945. A exemplo de toda a região de Fernandópolis, Jales e outros
municípios vizinhos, a criação do núcleo urbano antecedeu a ocupação da área rural. Para Locatel
(2000, p. 49),

a fundação das cidades tinha como objetivo a criação de uma infraestrutura mínima,
pois, rapidamente, surge um pequeno comércio, serrarias, máquinas de
beneficiamento de arroz e de descaroçar algodão, fundamentais para o início das
atividades agrícolas [...].

Segundo Locatel (2000), a partir da montagem dessa pequena infraestrutura, ocorre a


valorização do solo, atraindo a chegada de maior contingente de capital e pessoas que observam o
núcleo urbano como uma possibilidade de progresso. Assim, pode-se notar que a fundação de uma
pequena vila, entre outros aspectos, significava uma estratégia por parte dos fazendeiros loteadores
de terra, visando colocar em prática a especulação imobiliária de seus loteamentos, estabelecendo
preços diferenciados de acordo com a maior ou menor proximidade do terreno em relação ao núcleo
urbano.
O início da ocupação da região contou com a contribuição da chamada “Estrada Boiadeira”,
158
que ligava áreas de criação de gado no Mato Grosso aos mercados consumidores de São Paulo,
fazendo a ligação de Barretos (SP) a Santana do Paranaíba (MS). Essa estrada teria sido concluída
em 1901 e atravessava alguns latifúndios que, posteriormente, passaram a fazer parte do atual
município de Fernandópolis. Por ela transitavam os carros de bois, que trouxeram os primeiros
colonizadores, futuros fundadores do núcleo urbano.
Iniciaram o processo de desbravamento os senhores Joaquim Antônio Pereira, que chegou
à região em 1925, Afonso Cáfaro em 1928, Francisco Arnaldo da Silva em 1929, Américo Messias
em 1936, entre outros. Carlos Barozzi chegaria à região no ano seguinte, em 1937, vindo de Elisiário
(SP).
O cultivo de café teve grande importância para o povoamento do município, sendo as
primeiras plantações realizadas pelas famílias de Afonso Cáfaro (imigrante italiano), em 1928, e
Francisco Arnaldo da Silva (baiano), em 1929. A colonização se acelerou a partir do final da década
de 1930, quando a região, parte integrante da Alta Araraquarense, estava inserida no que Monbeig
159
(1984) definiu como franja pioneira ; tinha como elemento fundamental para a expansão do
povoamento a passagem pelo município, em 1949, da ferrovia Alta Araraquarense que seguia em
direção ao rio Paraná.

156
Em relação ao sistema de arrendamento, ocorre a redução do número de estabelecimentos sob essa
condição, o que significa o declínio dos pequenos produtores arrendatários. No entanto, a partir da década de
1990, volta a ocorrer a expansão da área cultivada em terras arrendadas, fato relacionado à expansão da
lavoura canavieira, ou seja, sob o comando do grande capital.
157
Neste trabalho, a noção de região aparece como a área compreendida pelo município de Fernandópolis e
seus municípios circunvizinhos.
158
Atualmente, Mato Grosso do Sul. No período citado, ainda não havia ocorrido a divisão do estado de Mato
Grosso.
159
Monbeig definia como franja pioneira grandes trechos recobertos inteiramente por florestas nos quais só
viviam alguns caboclos.
399

Como destaca Monbeig (1984), a ferrovia desempenhava papel fundamental para a


instalação de pequenos sitiantes, pois estes, ao contrário dos grandes fazendeiros, não estavam
capitalizados e estruturados para transportar suas colheitas para os centros urbanos e provisões
destes às suas propriedades, através de carros de boi. Assim, boa parte dos pequenos proprietários
aguardava a chegada da estrada de ferro para adquirir seu lote de terra próximo à ferrovia.
Nesse sentido, a ferrovia representou fator de valorização dos lotes próximos à estrada,
determinando a especulação fundiária por parte dos donos de loteamentos que estipulavam os
preços da terra de acordo com a maior ou menor proximidade, não só do centro urbano, mas também
da ferrovia. A composição ferroviária, além de servir como meio de transporte de carga,
proporcionando o escoamento da produção de café, alimentos em grãos e matérias-primas para os
grandes centros, era também a principal forma de deslocamento de passageiros para regiões mais
distantes como São José do Rio Preto, Araraquara e São Paulo.
O município de Fernandópolis faz parte da última região a ser ocupada no estado de São
Paulo, consequentemente, teve sua inserção na economia de mercado de forma tardia. Segundo
Locatel (2000), a colonização tardia pode ser explicada por uma combinação de fatores, destacando-
se entre eles a localização geográfica, relativamente distante dos principais centros de
desenvolvimento do estado, a demora na expansão da ferrovia e as condições naturais adversas,
160
caracterizadas pela baixa fertilidade do solo e o clima pouco favorável ao cultivo do café .
Segundo Monbeig (1984, p.212),

a região compreendia uma área de vastas extensões de matas comumente


conhecidas como glebas cujo objetivo era a especulação que ocorreu através de
divisão sucessiva das glebas e conduziu a dois tipos distintos de propriedades: a
fazenda e o loteamento, este para a instalação de pequenas propriedades.

Comprovando o fato destacado por Monbeig (1984) em relação às glebas e à especulação


imobiliária, através de sua divisão em loteamentos, cita-se a fazenda de Carlos Barozzi, adquirida
junto a Vitor Gabarino, engenheiro residente em Novo Horizonte, dono de um latifúndio que
representava parte da gleba Marinheiro.
Carlos Barozzi residia em Elisiário, na época comarca de Catanduva e, de acordo com
Pessotta et al. (1996), possuía um armazém e era fornecedor de produtos para Gabarino. Como
forma de pagamento, recebia terras da gleba Marinheiro, onde hoje se localiza Brasilândia, um dos
bairros da cidade de Fernandópolis.
Segundo registros efetuados por Pessotta et al. (1996, p. 17) sobre a aquisição do
latifúndio por parte de Gabarino, tem-se:

Arrematação: 31/05/1919. 1º Tabelião de Rio Preto: Vitor Gabarino houve de José


Cardoso da Silva diversos quinhões de terras – Fazenda Barra das Pedras ou
Marinheiro – quinhão 48 (entre outros) dos sucessores de Francisco Adão da Costa.
Área de 31.597 hectares, 48 ares e 55 centiares, livro nº 3 – folhas 71-72 –
Transcrição nº 13.175 – 03-06-1919.

Consta que Carlos Barozzi, além de fazendeiro, era também representante de vendas das
terras do Senhor Gabarino e, à medida que vendia as terras, recebia, a título de comissão, uma
porcentagem em terras ou dinheiro.
Em 1937, Carlos Barozzi, após vender seu armazém, transferiu-se com sua família para a
região que hoje compreende Fernandópolis. Salienta-se que parte de sua fazenda já estava
desbravada, sob o comando de seu filho mais velho Luis Armando Barozzi, cujo trabalho foi de
extrema importância para a expansão dos negócios da família. Com a venda de seu armazém, em
Elisiário, a família Barozzi teria ficado sem capital de giro para aplicar em sua fazenda, fato que
motivou o loteamento de parte de suas terras. Soma-se a isso a possibilidade de multiplicação do
capital a partir da especulação fundiária proporcionada pela venda de pequenos lotes.

160
O clima na região é marcado por elevadas temperaturas e uma longa estação de estiagem que, normalmente,
vai de maio ao final de setembro, o que prejudica os cafeeiros principalmente no período da florada, diminuindo a
possibilidade de boas safras regularmente.
400

De acordo com escrituras lavradas em Cartório de Monte Aprazível, no período entre 1937 e
1942, constata-se a venda de lotes para grande número de pessoas, entre elas:

José Antônio de Souza (20 alqueires), Antônio Acaçá Barrinuevo (20 alqueires),
José Pradella (30 alqueires), Lázaro Custódio de Mello (10 alqueires), Augusto
Tarsinafo (5 alqueires mais data), Ângelo Sartori (1 alqueire e três quartos), Américo
Nitani (10 alqueires mais data), Durvalino José da Cruz (4 alqueires), Antônio
Rodrigues Ferreira (3 alqueires), José Lourenço Félix (2 alqueires mais data), Diogo
Peres Marques (10 alqueires), Jaime de Jesus (1 alqueire mais 33 litros e mais
data), Domingos Vian (33 alqueires), Antônio Alcaça Bella (59 alqueires) [...].
(PESSOTTA et al., 1996, p. 19)

Assim, parte da fazenda da família Barosi foi dividida em pequenas propriedades e se


transformou num polo de atração de colonizadores para a região. Nesse contexto, a colonização do
município de Fernandópolis intercalou, em sua estrutura fundiária, a presença de pequenas, médias e
grandes propriedades. No entanto, as médias e grandes predominaram em relação à área ocupada.

3 AS PRIMEIRAS LAVOURAS CULTIVADAS


A ocupação tardia fez com que a agricultura local já se desenvolvesse fora do contexto do
antigo complexo rural, fundamentado na monocultura de exportação do café. O caráter mercantil da
produção já nasceu inserido na reestruturação da economia brasileira, após a crise de 1929, voltada
para a expansão do mercado interno. Portanto, a ocupação efetiva do município de Fernandópolis se
iniciou no contexto da economia de mercado.
Inicialmente, o município se destacou no cultivo do café, seguido da diversificação dos
gêneros como arroz, feijão, milho, mandioca e outros que, além de servirem como fontes alimentares
de subsistência para o produtor, tinham caráter mercantil. Isso ocorreu, principalmente, nos primeiros
anos de abertura das propriedades, quando a lavoura do café, produto prioritário na atividade
agrícola, ainda estava em fase de formação. Cultivava-se arroz, feijão, milho e, às vezes, até
161
algodão, consorciados com o café, sendo que parte desses produtos se destinava à
comercialização para garantir a renda necessária ao suprimento de outras necessidades básicas dos
produtores, além da alimentação.
A diversificação da produção agrícola era estimulada pela interiorização das relações
capitalistas de produção, que se baseavam na agricultura mais diversificada para atender às
necessidades dos centros urbanos em termos de matérias-primas e alimentos. Nesse sentido, Silva
(1996, p. 18), ao se referir às transformações na agricultura brasileira, com a passagem do complexo
rural aos complexos industriais, salienta que, “do lado da produção, o fato mais importante de 1930 a
1950 foi a diversificação de produtos e, especialmente, a passagem da ênfase do mercado externo
para o mercado interno”.
Para Sorj (1980, p. 16), “a expansão da produção agrícola [...] deve-se fundamentalmente
ao aumento do excedente comercializado pelos pequenos produtores de subsistência, e a expansão
da fronteira agrícola a partir da ocupação de novas áreas”.
Nesse contexto, os cultivos de café, algodão, milho e arroz destacaram-se na produção
agrícola local desde as primeiras décadas de ocupação do município até meados da década de 1980,
quando todas essas lavouras, exceto o milho, tiveram sua importância reduzida. Esse fato se deveu,
por um lado, à expansão das lavouras de laranja, banana, limão, borracha (látex) e, sobretudo, da
cana-de-açúcar e, por outro lado, pela expansão da área de pastagens. Assim, alterou-se
consubstancialmente a dinâmica produtiva da agricultura local, incluindo as relações de trabalho e de
produção.
Em relação às pastagens, convém esclarecer que elas sempre foram predominantes, em
termos de área ocupada, no município. Assim, de acordo com os dados fornecidos pelo Censo
Agrícola de 1960 e os Censos Agropecuários da FIBGE, as pastagens representavam em 1960,

161
Consorciado se refere ao plantio no espaçamento entre as fileiras de pés de café.
401

61,2%; em 1970, 58,8%; em 1980, 63,1%; em 1985, 59,3% e, em 1995/96, 64,9% do total da área
dos estabelecimentos agropecuários162.
Entre os produtos cultivados até o início da década de 1980, quando começa a se implantar
o cultivo da cana-de-açúcar, o café e o algodão são os que possuíram maior importância para a
economia local. Além de garantir a capitalização de boa parte dos produtores, contribuíram
sobremaneira para o mercado de trabalho no campo. Destacou-se, ainda, o cultivo do milho e do
arroz; este último, em grande parte, tinha como principal objetivo a subsistência do produtor,
destinando-se ao comércio somente o excedente produzido.

3.1 A decadência das lavouras tradicionais


A nova dinâmica econômica brasileira, centrada no desenvolvimento industrial,
proporcionou, a partir do início da década de 1960, condições para a modernização da agricultura e
estabeleceu as bases para a integração agricultura / indústria, o que deu origem ao desenvolvimento
do Complexo Agroindustrial (CAI).
Para Sorj (1980, p. 11),

há uma redefinição das relações entre a agricultura e a indústria a partir do


desenvolvimento do complexo agroindustrial. A agricultura passa a se reestruturar a
partir de sua inclusão imediata no circuito de produção industrial, seja como
consumidora de insumos e maquinarias, seja como produtora de matéria-prima para
a sua transformação industrial. Embora se mantenha a transferência de excedentes
do setor agrícola, essa transferência é realizada principalmente pela ação do
complexo agroindustrial, que passa a comandar os processos de produção na
agricultura.

Thomaz Júnior (2002, p. 82) destaca que

a “modernização” da agricultura no Brasil, associada à industrialização da


agricultura e casada com a “revolução verde” – potenciada e dirigida pelo Estado,
via incorporação diferencial e seletiva do “progresso técnico” – intensificou a
integração intersetorial através da constituição e consolidação do CAI, priorizando os
produtos exportáveis, tais como: açúcar, suco de laranja concentrado, soja e seus
derivados. A depender, é claro, das vantagens comparativas entre os preços dos
mercados interno e externo, já que são produtos interligados aos mercados
especulativos das bolsas de valores no comércio mundial de commodities.

Diante desse contexto, alguns produtos destinados ao mercado externo e à transformação


industrial passaram a ser priorizados, acarretando a decadência de algumas lavouras em benefício
de outras. Em Fernandópolis, esse processo, embora tenha ocorrido tardiamente quando comparado
com outras regiões do estado de São Paulo, ficou bem evidente com a decadência do cultivo de
lavouras como a do arroz, algodão e, principalmente, do café, que, atém então, era considerado
como o produto basilar da região. A área cultivada com esses produtos apresentou grande redução a
partir do final da década de 1980, cedendo espaço para a expansão do cultivo de cana-de-açúcar,
laranja e banana, além de outros com menor expressão, como o limão, a borracha (látex) etc.
Na tabela 1, observa-se a área cultivada com as principais lavouras no município de
Fernandópolis no período de 1970 a 2001.

162
Neste trabalho, entenda-se por estabelecimento qualquer propriedade rural produtiva.
402

Tabela 01 Principais lavouras em área cultivada (ha) na agricultura do município de Fernandópolis (SP), de 1970
a 2001
Produto 1970 1980 1985 1995/96 2001
Algodão 3.824 329 2.518 350 400
Amendoim 98 79 27 - -
Arroz 2.172 747 956 110 100
Banana - 1 1 200 850
Borracha (látex) - - - - 226
Café 6.044 5.858 5.727 389 520
Cana 40 93 3.449 5.147 5.115
Feijão 17 135 37 400 250
Laranja 64 311 765 1.133 1.969
Limão - 2 56 50 252
Manga - - 4 27 50
Milho 3.560 3.123 2.880 1.495 4.300
Tangerina - 1 3 64 89
Soja 70 198 52 6 80
Fonte: FIBGE, 1997 (Censos agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96); FIBGE, 2001. (Produção agrícola
municipal – 2001)

Nota-se que os cafezais somavam 6.044 ha em 1970, período auge do cultivo do produto,
passando a ocupar apenas 520 ha em 2001, tendo, portanto, uma redução de 91,4% em sua área
cultivada. Observa-se, também, que, em 1970, o arroz e o algodão ocupavam 2.172 ha e 3.284 ha
respectivamente; já em 2001, as áreas ocupadas por esses produtos foram reduzidas em 95,4% e
87,8% respectivamente, passando a representar 100 ha para o arroz e 400 ha para o algodão.
Enquanto a área ocupada com o café, o algodão e o arroz declinava, outras lavouras tinham
sua área de cultivo expandida. A laranja aumentou de 64 ha em 1970 para 1.969 ha em 2001, tendo
um acréscimo de 96,8%. Cita-se, ainda, o limão, a borracha e a banana que, até 1980, praticamente
inexistiam no município para fins comerciais e, em 2001, respondiam por 252 ha, 226 ha e 850 ha,
respectivamente.Entretanto, o produto que mais se destacou nessa reestruturação da agricultura no
município de Fernandópolis é a cana-de-açúcar, que passou a ser cultivada em grande escala a partir
do início da década de 1980, com a instalação da Destilaria Alcoeste S/A, em 1982. Em 2001, a área
cultivada com a cana, de acordo com os dados da FIBGE (2001), atingia 5.115 ha. Em 2003, de
acordo com os produtores, a lavoura canavieira no município abrangeu aproximadamente 7.500 ha.
A importância da lavoura canavieira na agricultura do município de Fernandópolis pode ser
observada na tabela 2, referente ao valor da produção em 2001.

Tabela 2 Valor da produção, segundo as culturas no Município de Fernandópolis – SP – 2001


Lavouras temporárias Lavouras permanentes
Produto Área cultivada Valor (em mil Produto Área cultivada Valor (em mil
(ha) reais) (ha) reais)
Algodão 400 442 Banana 850 1.501
Arroz 100 37 Borracha (látex) 226 370
Cana-de-açúcar 5.115 10.611 Café 520 1.067
Feijão 250 136 Laranja 1.969 3.818
Mandioca 52 28 Limão 252 123
Melancia 110 528 Manga 50 30
Milho 4.300 2.641 Tangerina 89 44
Soja 80 60 - - -
Total 10.407 14.483 Total 3.956 6.953
Fonte: FIBGE, 2001. (Produção agrícola municipal)

Constata-se que a cana-de-açúcar representou 71,8% do valor da produção das lavouras


temporárias e 50,2% do valor da produção do conjunto de todas as lavouras do município. Destaca-
se, ainda, a decadência da cafeicultura, a qual, no que se refere ao valor da produção, já fora
superada em 2001 pelas lavouras da laranja e da banana.
Com a decadência de algumas lavouras e a ascensão de outras, emergiu “uma
reestruturação social da produção” (MARTINE; BESKOL, 1987, p. 21). Um dos aspectos marcantes
403

dessa reestruturação foi, por um lado, a redução do regime de parceria, comum no cultivo do café,
lavoura que teve sua área sensivelmente reduzida e, por outro, a expansão do trabalho assalariado
volante, bastante empregado nas lavouras de banana, laranja e, com maior amplitude, na cana-de-
açúcar, principalmente no período da safra.
Convém mencionar que a reestruturação social da produção é motivada não só pela
substituição de algumas lavouras por outras. Relaciona-se, também, à tecnificação da base produtiva
com a ampliação dos investimentos de capital em novas técnicas de produção, que implicam
diretamente a redefinição do emprego de mão de obra no campo, já que essas técnicas ampliam o
controle do processo de trabalho por parte do empresário capitalista.

4 ASCENSÃO E DECADÊNCIA DA LAVOURA CAFEEIRA


Observa-se que, no município de Fernandópolis, a lavoura de café não seguiu o modelo das
antigas regiões produtoras do estado, nas quais predominavam a monocultura em grandes unidades
produtivas. A lavoura cafeeira ocupou, basicamente, os pequenos estabelecimentos agrícolas, sendo
a maior parte cultivada com o trabalho familiar. Quanto aos grandes estabelecimentos, estes, desde o
início da ocupação, já eram, em sua maior área, ocupados por pastagens destinadas à pecuária
extensiva.
O início da ocupação efetiva e o desenvolvimento das primeiras lavouras de café
coincidiram exatamente com a crise de 1929, que repercutiu violentamente sobre o setor cafeeiro no
Brasil. De todo modo, salienta-se que a crise não eliminou o ânimo dos agricultores paulistas em
relação ao cultivo das novas lavouras de café. Neste sentido,

a queda nos preços, em 1929, atingiu os fazendeiros quando estavam em vias de


aumentar suas plantações. Ela quebrou, nitidamente, o élan dos colonizadores (...)
que começavam a colher as primeiras safras e mergulhou na confusão os de Val
Paraíso e do far west de Rio Preto, então em pleno desenvolvimento. (...) Mas os
paulistas não renunciaram ao cafeeiro. (...). Esperava-se que os preços
melhorassem e já subia a febre das plantações. Entre 1935 e 1940, quando se
visitavam as derrubadas de São Paulo, era excepcional descobrir as frágeis
armações de paus que protegiam os cafeeiros jovens, (...). A retomada do café é,
portanto, bem nítida, (...). E isso não é somente o resultado de uma boa organização
dos meios de transporte, mas porque lá ainda há muito espaço disponível
(MONBEIG, 1984, p. 255-260).

Assim, a expansão do cultivo levou a cafeicultura até a região na qual se constituiu o


município de Fernandópolis.
Nas médias e grandes propriedades de Fernandópolis em que se desenvolveu a
cafeicultura, foi comum o sistema de empreitada para a formação dos cafezais. Grande parte dos
proprietários adquiria o lote de terra e continuava residindo em suas antigas regiões, só aparecendo
algumas vezes ao ano para acompanhar o desenvolvimento de suas lavouras, que era lento em
função do plantio realizado com as sementes já nas covas definitivas.
O desenvolvimento da lavoura cafeeira em pequenas unidades produtivas estimulava a
163
prática da policultura, pois o pequeno produtor não podia ocupar, inteiramente, seu lote de terra
com o café. Além de ficar na dependência de um único produto, o longo período que a lavoura levaria
para produzir as primeiras safras seria antieconômico, uma vez que o plantio de sementes
diretamente na cova implicaria um período de cinco a seis anos para o início de boas colheitas.
Diante de tal perspectiva, os cafeicultores intercalavam as fileiras de pés de café, durante o
período de formação, com outros gêneros, principalmente arroz, milho e feijão. Além dessa prática,
era necessário que se reservasse uma área para o cultivo de alguma outra lavoura temporária que

163
Esclarece-se que, neste trabalho, o termo “pequeno produtor” se refere à dimensão territorial da unidade
produtiva. Deve-se lembrar que em relação ao montante produzido, independentemente da dimensão da
propriedade, já que, em uma pequena unidade produtiva, se pode conseguir uma grande produção, o que está
diretamente atrelado à maneira como é conduzido o processo produtivo. Por outro lado, existem grandes
unidades produtivas apresentando produções insignificantes, seja em termos de valor, seja em termos do volume
produzido e/ou de área cultivada.
404

pudesse proporcionar o retorno financeiro necessário para o atendimento das necessidades básicas
do agricultor e sua família e, para muitos, garantir a continuidade do pagamento do lote de terra
recém-adquirido.
A cafeicultura se tornou a atividade mais importante na agricultura do município de
Fernandópolis, desde o início de sua ocupação até meados da década de 1980, tendo participação
fundamental na economia local.
A partir da segunda metade da década de 1980, a decadência da lavoura, não só em
Fernandópolis, mas em toda a região do Noroeste Paulista, foi acelerada, tendo como condicionante
um conjunto de fatores. Entre eles, podem-se destacar a concorrência estrangeira em relação à
produção, proporcionando a formação de estoques, derrubando os preços no mercado internacional;
a má qualidade do produto nacional, uma vez que não havia, por parte dos produtores, a
preocupação com o aperfeiçoamento de técnicas, sobretudo por ocasião das colheitas, que
164
pudessem gerar ganhos de qualidade para o consumo ; condições climáticas adversas, culminando
com uma forte geada, em julho de 1975, que atingiu e danificou duramente a maioria dos cafeeiros da
região; e a incidência de pragas, aniquilando as lavouras.
No tocante às condições edafoclimáticas, salienta-se que elas não eram satisfatórias para a
cafeicultura na região. Parece contraditório, quando se afirmou que a lavoura cafeeira se constituiu no
principal produto da agricultura local, desde as primeiras décadas de ocupação do município até por
volta de 1985.
De acordo com depoimento do engenheiro agrônomo, diretor agrícola da CATI/Regional de
Fernandópolis, no início da ocupação do município, o cafeicultor não contava com clima adequado
para a prática de sua atividade, porém, isto em parte era compensado pela fertilidade do solo ainda
pouco explorado. Com o passar dos anos, porém, o solo, em função de suas características físico-
químicas, arenoso e com fertilidade apenas razoável, se foi desgastando rapidamente.
Em relação às características climáticas, as elevadas temperaturas, principalmente, entre
setembro e março, interferem de forma prejudicial na produtividade do café. Ocorre que,
normalmente, nos meses de setembro e outubro, os cafeeiros estão em período de florescimento, e o
forte calor queima parte dos botões, impedindo a fecundação que iria gerar os grãos de café.
Acrescentam-se, ainda, alguns períodos de estiagem prolongada, característica do clima tropical
marcado por verão chuvoso e inverno seco, que acabam por aniquilar as floradas ou até mesmo
derrubando os grãos de café, quando estes ainda estão em fase de formação.
Além dos problemas de ordem edafoclimáticas, desenvolveram-se várias doenças,
implicando a necessidade de aplicação de elevadas doses de defensivos. Para suprir, em parte,
essas deficiências que reduziam a produtividade, seria necessário o investimento em outras técnicas
de produção, não comuns até então, como a utilização de fertilizantes e de sistemas de irrigação.
Paralelamente a esses fatores, pode-se acrescentar a política de contenção de créditos por
parte do governo federal na década de 1980, que retirou os financiamentos subsidiados à agricultura.
Para que se compensasse a queda nos preços do produto, seria necessário o aumento da
produtividade, e isso só seria possível através da recomposição das lavouras por meio da utilização
da técnica de podas ou até mesmo a substituição de antigos por novos cafezais.
Esses procedimentos só seriam colocados em prática mediante novos investimentos, o que
praticamente eliminou a possibilidade da maioria dos agricultores, que já vinham experimentando o
processo de descapitalização em função da baixa produtividade e da queda nos preços do produto.
Dessa forma, a decadência da cafeicultura na região do Noroeste Paulista e no município de
165
Fernandópolis foi iminente . O Censo Agrícola de 1960 indicava a existência de 8.366 ha ocupados

164
Para colher o café, os frutos eram inicialmente derrubados no solo permanecendo por vários dias até serem
recolhidos. Durante esse período, em função da umidade do solo, muitas vezes sob a ocorrência de chuvas, a
qualidade dos frutos era comprometida. Em entrevista concedida ao jornal Diário da Região de São José do Rio
Preto (12/01/2003), um dos sócios da maior corretora de café do Brasil (Escritório Carvalhaes, localizado em
Santos), Eduardo Carvalhaes Júnior, afirmou que, até 1970, o café colhido na região de São José do Rio Preto
era de ótima qualidade. A partir de então, a qualidade do produto caiu demasiadamente. Disse, ainda, que não
saberia explicar os motivos dessa decadência, mas desconfia que a formação dos lagos das hidrelétricas na
região pode ter interferido nas condições climáticas, principalmente na umidade do ar, o que teria afetado a
qualidade do café. Sugere um estudo sobre o caso.
165
O caderno “Agronegócios” do jornal Diário da Região de São José do Rio Preto, de 12/01/2003, trouxe
matéria sobre a decadência do café na região. Na ocasião, o agrônomo chefe da Casa da Agricultura de
405

com a lavoura cafeeira no município e, em 1996, de acordo com o Censo Agropecuário do mesmo
ano, esse montante se reduziu a 389 ha.
A tabela 3 demonstra uma característica marcante na cafeicultura da região e do estado de
São Paulo. Trata-se da irregularidade na produtividade das safras.

Tabela 3 Área cultivada, produção e produtividade do café no município de Fernandópolis e no estado de São
Paulo – 1960 a 1996
Ano 1960 1970 1980 1996
Fernandópolis Fernan- Est. Fernan- Est. S. Paulo Fernan- Est. S. Paulo Fernan- Est. S. Paulo
Est. São Paulo dópolis S. Paulo dópolis dópolis dópolis
Área cultivada (ha) 8.366 1.285.535 6.044 650.877 5.858 821.046 389 214.7333
Total produzido (t) 13.232 1.344.918 3.962 466.757 8.876 793.870 325 340.937
Produtividade (t/ha) 1,58 1,04 0,65 0,71 1,55 0,96 0,84 1,58
Fonte: FIBGE, 1997. (Censo agrícola de 1960; Censos agropecuários de 1970, 1980 e 1995/96)

De acordo com os dados da tabela 1, observa-se que, tanto no estado de São Paulo quanto
no município de Fernandópolis, em 1970, a produtividade reduziu-se em relação a 1960. Em 1996,
porém, em relação a 1980, enquanto no estado houve a elevação da produtividade, em
Fernandópolis houve grande redução. Essa inversão talvez possa ser atribuída ao fato de que a
maioria dos cafezais em produção estivesse já bastante debilitada, já que a substituição de velhas
por novas lavouras, com técnicas que melhorassem a produtividade, era incipiente.
De acordo com os dados da FIBGE, temos para o Município de Fernandópolis, no ano de
1960, uma produtividade média de 26,6 sacas de 60 kg/ha; em 1970 a produtividade reduziu-se para
10,8 sacas/ha; em 1980 a média de produtividade ficou em 25 sacas/ha; já em 1995/96 houve
novamente a redução da produtividade, atingindo 14 sacas/ha.
Para Carvalhaes Junior (2003), quem não conseguir uma produtividade média de 30 sacas
(1.800 kg) por hectare dificilmente irá se sustentar nesse ramo de produção.
De acordo com a tabela 1, no município de Fernandópolis, a produtividade do café para o
período de 1960 a 1996, por ocasião da realização dos censos apresentou a média de 19,1 sacas/ha.
É muito baixa se comparada àquela apontada por Carvalhaes como necessária para a permanência
do agricultor no ramo da cafeicultura, o que ajudaria a explicar a decadência da atividade na região.

5 A CAPITALIZAÇÃO DA AGRICULTURA E AS TRANSFORMAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS


DE TRABALHO E PRODUÇÃO

O desenvolvimento da atividade agrícola no município de Fernandópolis contou com


diversas formas de relações de trabalho e produção, abrangendo o trabalho do proprietário, os
empreiteiros formadores dos primeiros cafezais, colonos parceiros, arrendatários, assalariados
permanentes e, por fim, a expansão do trabalho assalariado volante.
No cultivo do café, inicialmente, além do trabalho familiar do proprietário, o mais comum era
a presença do empreiteiro na formação da lavoura e, posteriormente, o colono, que trabalhava em
regime de parceria.
O empreiteiro se encarregava da derrubada da mata até a entrega do cafezal formado,
normalmente após quatro anos, quando o plantio era realizado com mudas, e cinco a seis anos no
caso da plantação ser efetuada por sementes. Durante o período de formação das lavouras, o
empreiteiro seria um autônomo, tendo que arcar com todas as despesas do sustento de sua família,
bem como da formação do cafezal.
Para Martins (1998, p. 73), essa relação de trabalho na formação dos cafezais despertava
grande interesse por parte dos formadores de café

Guapiaçu, Osmar Figueira, afirmou que a região de São José do Rio Preto, indo de Santa Adélia até Rubinéia,
às margens do rio Paraná, chegou a ter, na fase áurea do café (década de 1970), 180 milhões de pés de café.
Em 2003, segundo o agrônomo, o total estava entre 8 e 10 milhões.
406

porque podiam usufruir amplamente das terras mais férteis das regiões de matas
recém-derrubadas, cultivando gêneros alimentícios necessários à sua sobrevivência,
cujos excedentes eram comercializados seja com o próprio fazendeiro, seja com os
comerciantes das povoações e cidades próximas. A colheita do café no último ou
nos últimos anos de formação da planta acrescentava recursos monetários ao
pagamento final do trabalho.

Salienta-se que essa relação de trabalho e produção estabelecida entre o formador de café
e o dono da propriedade era mais conveniente para este último que receberia, ao final do contrato
entre as partes, o cafezal formado, podendo reproduzir seu capital sem uma relação capitalista com o
colono. Isso se evidenciava porque

a propriedade capitalista da terra assegurava ao fazendeiro a sujeição do trabalho e,


ao mesmo tempo, a exploração não capitalista do trabalhador. Com base no
monopólio sobre a terra, o fazendeiro de fato não empregava o formador do cafezal.
Na prática ele lhe arrendava uma porção do terreno para receber em troca o cafezal
formado. Uma espécie, pois, de renda em trabalho. Durante os quatro anos do
contrato, o colono plantava no terreno os seus cereais, armava o seu rancho e ali
vivia com sua família. O pagamento que recebia pela formação de cada cafeeiro era
inferior ao preço que esse mesmo cafeeiro obteria se a fazenda fosse negociada
pelo fazendeiro. Não era o fazendeiro quem pagava ao trabalhador pela formação
do cafezal. Era o trabalhador quem pagava com cafezal ao fazendeiro o direito de
usar as mesmas terras na produção de alimentos durante a fase da formação. A
principal forma de capital absorvida na formação da fazenda de café era o trabalho –
trabalho que se convertia diretamente em capital constante, no cafezal. (MARTINS,
1998, p. 74)

Para os primeiros trabalhadores formadores de café no município de Fernandópolis, a


exemplo de outras regiões, essa relação de trabalho poderia representar a possibilidade de melhoria
das condições de vida e, às vezes, até a aquisição de alguma terra que, no início da ocupação da
região, ainda estava com o preço relativamente baixo em relação às regiões mais valorizadas do
estado. Isso dependia muito da produção dos cereais consorciados com o café que, além de garantir
a subsistência, poderiam gerar um excedente destinado à comercialização. No final do contrato, o
cafezal era entregue ao proprietário mediante uma quantia em dinheiro.
Com o cafezal formado, surge o colono contratado para a manutenção da lavoura por meio
do sistema de parceria nas colheitas, e a relação contratual (escrita ou verbal) estabelecia diferentes
acordos entre as partes. Esses acordos poderiam estipular desde a meação, que se constituía em
50,0% para cada um – proprietário e colono -, até 30,0%, para este último, quando o proprietário se
encarregava de bancar os custos com os insumos empregados na manutenção da lavoura. Em
relação à área de cultivo, determinava-se a quantia de pés de café, que poderia ser maior ou menor,
de acordo com a quantidade de braços disponíveis para o trabalho na família do colono.
A exemplo do empreiteiro, o colono também poderia cultivar alguns gêneros consorciados
com o café, porém, deveria respeitar as condições normais de produção da lavoura, isto é, a partir do
momento em que esse sistema de cultivo ocasionasse redução na produtividade do cafezal, o o
sistema de consórcio deveria ser abandonado. Quando não fosse possível o cultivo de gêneros
intercalados com o café, era comum o proprietário conceder a exploração de um pequeno trecho de
terra para que o colono pudesse cultivar produtos essenciais para a sua subsistência, o que poderia
implicar a diminuição da porcentagem do café colhido para o colono.
A durabilidade do contrato entre as partes era variável e dependia do entendimento entre
proprietário e colono. Normalmente, tinha a duração de dois ou três anos, podendo ser renovado, o
que dependia muito do grau de confiança mútua e, essencialmente, dos cuidados dispensados pelo
colono ao cafezal. O colono, por sua vez, via-se obrigado a zelar da lavoura com muito esmero, pois
sabia que isso implicaria não só a possibilidade de melhores colheitas, como também a sua
permanência naquela unidade produtiva.
Em grandes propriedades, o sistema de colonato determinava a construção de várias casas,
normalmente alinhadas e muito próximas umas das outras. De acordo com Bizelli (1998, p. 79),
407

nesses pequenos aglomerados, as famílias desenvolviam relações sociais de


vizinhança, solidariedade, amizade – ou inimizade -, organizavam pequenas
atividades festivas como a de “comemoração de dias santos”, principalmente os de
junho (Santo Antônio, São João e São Pedro), realizando novenas e rezando terços,
ou então casamentos.

Em algumas propriedades, ainda segundo Bizelli (1998), ocorria a presença de um


estabelecimento comercial denominado “venda” ou “armazém”, no qual os colonos deveriam realizar
as compras de certos produtos, o que, invariavelmente, os tornava endividados com os seus patrões.
Havia um acordo pré-estabelecido segundo o qual os colonos deveriam assumir o compromisso de
comprar seus produtos na venda da fazenda, e isso era estimulado pela dificuldade de locomoção até
as cidades para realizarem compras, em virtude dos problemas relacionados ao transporte das
mercadorias, já que este dependia quase sempre da tração animal ou da própria força humana.
Assim, era comum o estabelecimento de uma relação de exploração, já que o proprietário
do estabelecimento comercial, que também era o fazendeiro, não deixava escapar a chance de
reproduzir o seu capital, através da elevação dos preços dos produtos vendidos aos seus colonos.
Tal procedimento não colocava risco algum para o patrão, já que o colono, mesmo não podendo
efetuar o pagamento no momento da compra, como ocorria com a maioria, iria fazê-lo no momento
do acerto entre as partes, por ocasião da divisão da colheita. Esse era um fator que, por um lado,
garantia a presença do colono na fazenda, uma vez que este necessitava honrar os seus
compromissos com o patrão e, por outro, deveria, mesmo que forçosamente, estimular o colono a
produzir cada vez mais para livrar-se do endividamento e dependência financeira em relação ao
fazendeiro.
Nas propriedades ocupadas com outros produtos, especialmente o algodão, predominavam,
além do trabalho familiar, o arrendamento e a parceria. Quanto ao arrendamento de terra, ele deveria
ser pago em espécie ou em dinheiro.
O sistema de arrendamento foi muito importante no início do processo de ocupação do
município, quando os médios e, principalmente, os grandes produtores, arrendavam suas
propriedades visando à “abertura” das terras. A maioria desses proprietários estava interessada na
prática da pecuária e, ao arrendar suas terras, estabelecia, na relação contratual, a condição de
receber a pastagem formada.
No caso da parceria, a meação era o acordo que a maior parte dos trabalhadores defendia.

Para ser meeiro, duas condições eram básicas: de um lado, ter uma família grande
não só em número, mas também com pessoas adultas. De outro, que o proprietário
da terra, por diversas condições particulares, se dispusesse a este tipo de contrato,
como por exemplo, não morar próximo – ser de outra região -, não ter condições de
explorá-la sozinho e não poder contratar colonos, ou ainda ter outras atividades que
não lhe dispensavam tempo suficiente para cuidar da propriedade etc. (BIZELLI,
1998, p. 81)

Essa relação de trabalho alimentava o sonho, quase sempre não realizado, de uma vida
melhor para os trabalhadores. As maiores dificuldades se relacionavam à falta de capital para se
investir na produção, o que levava o parceiro a recorrer ao dono da terra para que este financiasse os
insumos a serem utilizados, e isso elevava a taxa da produção a ser entregue ao proprietário, que de
50,0%, se elevava a 60,0% ou mais. Dessa forma, poucos foram os agricultores, inseridos nessa
relação de trabalho e produção, a conseguir crescimento econômico, garantindo a produção e
reprodução de capital.
Assim, nas primeiras décadas da ocupação do município de Fernandópolis, os sistemas de
arrendamento e, sobretudo, a parceria, em termos de número de estabelecimentos, foram bastante
significativos no contexto da agricultura local. Entretanto, as transformações na dinâmica produtiva do
setor impostas pelo processo de modernização das atividades agrícolas, sob o comando do capital,
estabeleceram a redução dessas relações sociais de trabalho e produção.
408

Tabela 4 Condição do produtor em número e área (ha) dos estabelecimentos agropecuários no município de
Fernandópolis (SP), de 1970 a 1995/96
Estabele-
Produtor 1970 1980 1985 1995/96
cimentos
Nº (%) 539 37,8 550 47,5 651 52,7 706 83,5
Proprietário
Área (%) 36.412 76,4 45.520 80,6 46.036 85,7 43.065 91,7
Nº (%) 298 20,9 45 3,9 58 4,7 52 6,1
Arrendatário
Área (%) 3.084 6,5 1.747 3,1 1.618 3,0 2.661 5,6
Nº (%) 522 36,6 503 43,4 497 40,2 61 7,2
Parceiro
Área (%) 5.037 10,5 4.832 8,5 5.269 9,8 790 1,7
Nº (%) 67 4,7 60 5,2 30 2,4 27 3,2
Ocupante
Área (%) 3.129 6,6 4.350 7,8 780 1,5 459 1,0
Nº (%) 1.426 100,0 1.158 100,0 1236 100,0 846 100,0
Total
Área (%) 47.662 100,0 56.449 100,0 53.693 100,0 46.975 100,0
Fonte: FIBGE, 1997. (Censos agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96)

Com a decadência de algumas lavouras e a ascensão de outras, emergiu “uma


reestruturação social da produção” (MARTINE; BESKOL, 1987, p. 21). Alguns aspectos marcantes
dessa reestruturação foram, por um lado, a redução do regime de parceria, comum no cultivo do café,
lavoura que teve sua área sensivelmente reduzida, e, por outro, a expansão do trabalho assalariado
volante, bastante empregado nas lavouras de banana, laranja e, com maior amplitude, na cana-de-
açúcar, principalmente no período da safra.
Convém mencionar que a reestruturação social da produção é motivada não só pela
substituição de algumas lavouras por outras. Relaciona-se, também, à tecnificação da base produtiva
com a ampliação dos investimentos de capital em novas técnicas de produção, que implicam
diretamente a redefinição do emprego de mão de obra no campo, uma vez que essas técnicas
ampliam o controle do processo de trabalho por parte do empresário capitalista.
Com o avanço da capitalização da agricultura, fortaleceram-se o trabalho familiar do
proprietário e o trabalho assalariado em caráter temporário, dominado em sua maior parte pelos
trabalhadores volantes (boias-frias).
A utilização da mão de obra volante - trabalho temporário - já se fazia presente em
Fernandópolis desde a década de 1960, porém, tal relação de trabalho se intensificou a partir do
início da década de 1970. Nesse período, era grande o deslocamento de trabalhadores, todas as
manhãs, em caminhões e tratores, com destino às lavouras. Entretanto, a procura ocorria com maior
intensidade nos momentos da colheita, sendo o café e o algodão os produtos responsáveis pelo
emprego da maior parte da mão de obra, já que suas colheitas eram totalmente manuais.
Na colheita do algodão ocorria um fenômeno comum não só em Fernandópolis, mas em
todas as regiões em que se apresentava grande área cultivada com a lavoura. Tratava-se da disputa
pela mão de obra, disponível por meio de uma espécie de leilão entre os agricultores no momento da
contratação dos trabalhadores. Esse fato era muito bem explorado pelos trabalhadores que, em
muitas ocasiões, chegavam a trocar de contratante constantemente acompanhando sempre as
melhores ofertas de remuneração do trabalho a ser realizado. Toda essa situação tinha como
condicionante o fato de a colheita do algodão exigir que fosse rapidamente realizada, em virtude de
possíveis perdas, principalmente quando ocorriam períodos chuvosos.
409

Tabela 05 Condição do produtor em número e área (ha) dos estabelecimentos agropecuários no município de
Fernandópolis (SP), de 1970 a 1995/96
Produtor Estabele- 1970 1980 1985 1995/96
cimentos
Proprietário Nº (%) 539 37,8 550 47,5 651 52,7 706 83,5
Área (%) 36.412 76,4 45.520 80,6 46.036 85,7 43.065 91,7
Arrendatário Nº (%) 298 20,9 45 3,9 58 4,7 52 6,1
Área (%) 3.084 6,5 1.747 3,1 1.618 3,0 2.661 5,6
Parceiro Nº (%) 522 36,6 503 43,4 497 40,2 61 7,2
Área (%) 5.037 10,5 4.832 8,5 5.269 9,8 790 1,7
Ocupante Nº (%) 67 4,7 60 5,2 30 2,4 27 3,2
Área (%) 3.129 6,6 4.350 7,8 780 1,5 459 1,0
Total Nº (%) 1.426 100,0 1.158 100,0 1236 100,0 846 100,0
Área (%) 47.662 100,0 56.449 100,0 53.693 100,0 46.975 100,0
Fonte: FIBGE, 1997.( Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96)

6 O PROÁLCOOL E A INSTALAÇÃO DA DESTILARIA ALCOESTE S/A NO MUNICÍPIO DE


FERNANDÓPOLIS
O cultivo da cana-de-açúcar em grande escala no município de Fernandópolis iniciou-se na
década de 1980, com a inauguração da Destilaria Alcoeste S/A em 1982, já na segunda fase da
expansão da lavoura canavieira no estado de São Paulo, com os incentivos do Programa Nacional do
Álcool (Proálcool).
A expansão da lavoura canavieira no estado de São Paulo ocorreu em duas fases distintas.
A primeira, a partir de 1940, contou com o incentivo do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e visava
ampliar a produção de açúcar e garantir o abastecimento dos principais centros consumidores do
país. A segunda fase ocorreu a partir de meados da década de 1970, quando a produção do álcool
como fonte alternativa de combustível foi estimulada e, segundo os mentores do Proálcool, visava
amenizar os impactos provocados pela primeira crise do petróleo (1973).
O incentivo à produção contou com o fomento do governo federal que lançou, através do
Decreto n. 76.593, de 14/11/1975, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), com o objetivo de se
elevar rapidamente a sua produção como alternativa energética em substituição ao petróleo e,
secundariamente, como matéria-prima para a indústria química, além de outras utilidades
(CAMARGO, 1988).
É oportuno destacar ainda que, brevemente, segundo Alves (1991), a origem do Proálcool
foi motivada não só em função da crise do petróleo. Foi colocado em pauta o atendimento aos
interesses dos empresários produtores de açúcar, o qual estava com preços baixos no mercado
internacional a partir de 1973. Essa redução do preço ocorreu no momento em que os empresários
da produção açucareira estavam começando a pagar os investimentos realizados no final da década
de 1960 e começo da década de 1970, visando aumentar a produção, via aumento de produtividade,
através da aplicação de novos procedimentos tecnológicos.
Paralelamente à queda no preço do açúcar no mercado internacional, ocorria a súbita
elevação do preço do petróleo no cenário internacional, onerando sobremaneira a balança comercial
brasileira, tendo como agravante a elevação do montante importado para atender ao aumento do
consumo interno.
Nesse contexto, abriu-se a possibilidade de investir grande volume de capital objetivando
expandir a produção da agroindústria sucroalcooleira, porém, agora as atenções estariam voltadas
em primeiro plano para a produção do álcool como fonte energética, já que o momento favorecia tal
procedimento. Assim,

[...] o programa, que vendia a imagem de ser a saída brasileira para a crise do
petróleo, passa a ser o principal projeto de continuidade do processo de
modernização conservadora da agricultura e o principal instrumento do Estado de
ajuda aos usineiros para superarem a crise a que estavam submetidos. Isto significa
que o Proálcool, ao mesmo tempo em que se constitui num instrumento econômico
de salvação de um setor de atividade, é, também, continuidade e aprofundamento
de um projeto de desenvolvimento da agricultura. (ALVES, 1991, p. 34)
410

Nesse sentido,

o eixo da expansão do Proálcool direcionou-se, desde o início, para a salvação da


lavoura dos empresários sucroalcooleiros, pois materializou-se sobre a implantação
de novas destilarias anexas às usinas e na ampliação e reequipamento das já
existentes, direcionados para a produção de álcool anidro. Pode-se dizer que foi
uma solução para os grandes empresários, principalmente os do Centro/Sul, em
especial para os paulistas, recuperarem o padrão de acumulação do capital, até pelo
fato de terem sido os atores ativos na criação e consolidação do programa
(THOMAZ Jr., 2002, p. 93).

Dentre os resultados da implantação do Proálcool, ocorreu a grande expansão da área


ocupada com cana-de-açúcar que triplicou em São Paulo e duplicou no Nordeste. Em São Paulo,
passou de 619 mil hectares em 1975 para 2 milhões em 1985. No Brasil, a área total aumentou de
1.969.200 ha em 1975, para 2.607.600 ha em 1980 e 4.310.400 ha em 1987 (ALVES, 1991).
Assim, o setor sucroalcooleiro acelerou sobremaneira o seu crescimento, atingindo uma
taxa de 35,8% ao ano em âmbito de Brasil. Quanto ao estado de São Paulo, o crescimento foi de
35,6% ao ano no período de 1975/86, estabelecendo-se como o principal centro alcooleiro nacional.

166
Em São Paulo, os recursos e projetos aprovados para as novas destilarias anexas foram
direcionados, sobretudo, para as Divisões Regionais Agrícolas (DIRAs) de Ribeirão Preto, Campinas
e Bauru. Entretanto, em relação às destilarias autônomas

a maior parte dos recursos, cerca de 80% dos recursos e 70% dos projetos
aprovados, foi direcionada para áreas não tradicionais na canavicultura
(equivalentes fundamentalmente às DIRAS de Araçatuba, São José do Rio Preto e
Presidente Prudente) – consideradas nos aumentos nos documentos oficiais como
Noroeste, Alta Araraquarense e Alta Sorocabana -, tendo à frente também, na
maioria dos casos, empresários não tradicionais na atividade agroindustrial
canavieira. (THOMAZ Jr., 2002, p. 94)

O grande investimento de recursos na aprovação de projetos nas DIRAs de Presidente


Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto foi estratégico. Observando que a expansão territorial
das lavouras de cana ocorria de forma concentrada, ocupando principalmente as áreas tradicionais
açucareiras do leste do estado, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) estabeleceu uma
política especial direcionando os investimentos do Proálcool para outras regiões que, até então, não
apresentavam expressividade na produção de cana.
Nesse sentido, foi lançado, em 1980, o Pro-Oeste, objetivando a expansão da lavoura
canavieira para o Oeste Paulista. Para tanto, o programa contou com o apoio do Programa de
Expansão da Canavicultura para a Produção de Combustível do Estado de São Paulo (Procana).
Segundo Ferreira (1987, p. 109),

o programa denominado “Bases para um Plano de Desenvolvimento do Oeste do


Estado de São Paulo – PRO-OESTE”, desenvolvido pela Secretaria da Agricultura e
Abastecimento, procurou deslocar os recursos do CENAL (Comissão Executiva
Nacional do Álcool) para o Oeste do estado de São Paulo, [...] tendo como meta
alcançar o “equilíbrio” econômico regional.

Assim,

o Planalto Ocidental passou, a partir de 1980, a receber um grande fluxo de


investimento via CENAL, resultando na implantação de novas destilarias autônomas,
com grandes propriedades de cana-de-açúcar e na formação da área

166
Considera-se destilaria anexa quando um empresário que já possuía usina, voltada à produção de açúcar,
montava uma destilaria visando à produção de álcool. As autônomas, por sua vez, eram aquelas cujos
proprietários ainda não estavam inseridos no ramo canavieiro.
411

canavieira/alcooleira do Oeste Paulista – abrangendo Alta Paulista, Noroeste e Alta


Sorocabana (FERREIRA; BRAY, 1984, p. 109).

As áreas consideradas prioritárias pelo Procana foram as Regiões de Presidente Prudente,


Araçatuba, Bauru e Oeste da Região de São José do Rio Preto. Dessa forma, estabeleceram-se as
condições para viabilizar a instalação da destilaria em Fernandópolis.
Em 1982, ocorre a instalação da Destilaria Alcoeste S/A e, consequentemente, foram
cultivadas as primeiras lavouras de cana para a produção de álcool. De acordo com relatos de
fundadores da empresa167, em 1979, funcionários da agência do Banco do Brasil local, pretendendo
viabilizar o financiamento de recursos para a instalação de uma destilaria na região, convidaram
alguns proprietários rurais para conhecerem algumas empresas do setor sucroalcooleiro. Assim,
constituiu-se um grupo de visitantes à Destilaria Água Limpa, em Monte Aprazível e à Univalem, em
Valparaíso.
As visitas provocaram impacto positivo e despertou no grupo a convicção de que seria
viável a implantação de uma destilaria no município de Fernandópolis. A partir de então, constituiu-se
um grupo de cotistas que também deveriam ser produtores de cana, sendo elaborado um projeto
para colocar em prática a ideia de fundação da empresa.
Com o projeto montado, este foi submetido ao parecer do Ministério das Minas e Energia e
do Banco do Brasil, que seria o agente financiador e, a partir do grande interesse na expansão do
Proálcool, aliado à política de incentivo comandada pelos programas Pro-Oeste e Procana, a
aprovação do projeto do financiamento se concretizou, dando a possibilidade de montagem da
destilaria.
Nesse contexto, foi instalada a Destilaria Alcoeste S/A no município de Fernandópolis em
1982, o que levou à expansão da lavoura canavieira na região. De acordo com os Censos
agropecuários da FIBGE (1997), a área cultivada com cana-de-açúcar no município de Fernandópolis
168
em 1985 era de 3.449 ha, em 1996 expandiu-se para 5.147 ha e, em 2001 foi de 5.115 ha .
Entretanto, se somadas as lavouras de cana, cultivadas nos municípios vizinhos – Estrela d’ Oeste,
São João das Duas Pontes, Macedônia entre outros -, a área total estaria em torno de 8.500 ha. Na
Safra 2002/2003, segundo os produtores de cana, o total da área cultivada com o produto na
Microrregião Geográfica de Fernandópolis somaria cerca de 10.000 ha.
Assim, a partir do início da década de 1980, a canavieira se transformou na principal fonte
de emprego para a mão de obra volante na agropecuária local, sobretudo, no período da safra. São
centenas de trabalhadores que aguardam a chegada do período da colheita para tentar o ingresso na
turma dos cortadores de cana. Entretanto, o contingente de trabalhadores ocupados nessa função, a
partir da safra 2001/2002, começa a se reduzir em função da mecanização da colheita que, na safra
2002/2003, já atingia cerca de 40,0% da área cultivada com cana-de-açúcar.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, procurou-se discorrer sobre a evolução da agricultura do município de


Fernandópolis e as implicações impostas pelo processo de modernização da agricultura brasileira em
relação aos produtos cultivados e às relações de trabalho na agricultura local, acentuando o período
de suas origens até o final da década de 1980, quando se inicia um novo período para a lavoura no
município de Fernandópolis, com a chegada, em grande escala e principalmente, da plantação
canavieira.
A partir de 1960 a agricultura brasileira passou a integrar o projeto de industrialização do
país, implicando profundas transformações tanto em relação aos produtos cultivados, quanto nas
relações de produção no campo. Embora o processo de modernização da agricultura tenha sido
167
Inicialmente, destacaram-se como líderes na implantação do projeto os Senhores Hadejair Sebastião de
Oliveira, gerente do Banco do Brasil; João Alfredo de Menezes, engenheiro agrônomo, chefe da Casa da
Agricultura de Fernandópolis; Luis Arakaki, do grupo Arakaki de Fernandópolis; e José Pontes Júnior, presidente
da Associação de Amigos do Município de Fernandópolis.
168
Em entrevistas realizadas com os produtores de cana-de-açúcar, no segundo semestre de 2002, constatou-se
que a área ocupada com essa lavoura no município de Fernandópolis, em 2001, foi bastante superior à aquela
indicada pelo IBGE, 2001 (Produção agrícola municipal). De acordo com os produtores, o total da área plantada
teria superado os 6.000 ha.
412

intenso e dominante nas últimas décadas, este se materializou de maneira heterogênea e excludente
priorizando regiões, produtores e produtos. Em termos regionais, o Centro/Sul do país recebeu os
maiores investimentos, incluindo aí o município de Fernandópolis. Quanto aos produtos cultivados, os
maiores incentivos se destinaram àqueles voltados para a agroindústria e a exportação. Em relação
aos produtores, os grandes proprietários sempre contaram com maiores facilidades para investir na
sua produção, principalmente no que diz respeito ao acesso ao crédito agrícola.
Contudo, uma das mais significativas características da modernização da agricultura
brasileira se refere às transformações nas relações de trabalho e produção no campo. Reduziram-se
os regimes de arrendamento, colonato e parceria, por um lado, e, por outro, expandiu-se a
proletarização do trabalhador rural, ampliando a categoria dos trabalhadores volantes residentes em
sua maior parte nas periferias das áreas urbanas.
Em Fernandópolis, essas transformações se materializaram, porém, num ritmo muito mais
lento em relação a outros centros mais desenvolvidos da agricultura brasileira e paulista. Até o início
da década de 1980, a agricultura do município não apresentou alterações significativas na sua
estrutura produtiva. Ficou dependente da pecuária extensiva e do cultivo de lavouras tradicionais
como café, algodão, milho e arroz, além da laranja que já tinha sua área de cultivo expandida desde o
início da década de 1970. São produtos que foram pouco expressivos em relação aos investimentos
em novas técnicas de produção.
A partir do início da década de 1980 expande-se a lavoura canavieira em virtude da
implantação da Destilaria Alcoeste S/A (1982). Paralelamente ao desenvolvimento da lavoura
canavieira e outras ligadas ao ramo da fruticultura como laranja, banana e limão, começou a declinar
a área ocupada com as lavouras de café, algodão e arroz. Desenvolveu-se, assim, uma nova fase na
agricultura local, marcada pela decadência das lavouras que predominaram no início da ocupação
efetiva do município e a ascensão das culturas características da expansão capitalista no campo.
Dessa forma, mesmo que tardiamente, caracteriza-se na agricultura local a substituição de produtos
cultivados, uma das consequências do processo de modernização da agricultura brasileira.
No tocante às relações sociais de trabalho e produção, a agricultura de Fernandópolis
acompanhou o padrão das transformações na agricultura brasileira e paulista. Ampliaram-se as
relações tipicamente capitalistas, levando à perda de importância especialmente dos regimes de
colonato e parceria. Fortaleceram-se o trabalho do proprietário (familiar) e a proletarização do
trabalhador rural, sobressaindo o trabalho assalariado temporário, o trabalho volante realizado pelos
chamados boias-frias.
Durante as décadas de 1970 e 1980, os trabalhadores volantes da Microrregião Geográfica
de Fernandópolis contavam com as lavouras de café e algodão como as principais empregadoras
dessa mão de obra, tendo nas colheitas o momento de pico na absorção de trabalhadores. A partir de
1982, a lavoura canavieira foi, aos poucos, se transformando na mais importante fonte de emprego
dessa relação de trabalho no campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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trabalhadores assalariados rurais da região canavieira da região de Ribeirão Preto. 1991. Tese
(Doutorado) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1991.

BIZELLI, Edimilson A. Agentes e processos na urbanização do extremo oeste e a cidade de


Fernandópolis. 1998. Tese (Doutorado) – PUC, São Paulo, 1998.

CAMARGO, José Marangoni. Tecnificação da cana-de-açúcar em São Paulo e sazonalidade da


mão de obra. 1988. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Economia e Administração,
Departamento de Economia da USP, PUC, São Paulo,1988.

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413

FERREIRA, Enéas Rente; BRAY, Silvio Carlos. As influências do Proalcool e do Pró-Oeste nas
transformações das áreas canavieiras do estado de São Paulo. Geografia, Rio Claro, v. 9, n. 17–18,
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______. A formação da região canavieira de Araraquara: o papel do Estado e das


agroindústrias de açúcar e do álcool no processo de organização do espaço. 1978. Dissertação
(Mestrado) – IGCE/UNESP, Rio Claro, 1987.

FIBGE - FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo agrícola


de 1960 e censos agropecuários do estado de São Paulo de 1970, 1980, 1985, e 1995/96. Rio de
Janeiro: FIBGE, 1997. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 03 mar. 2002.

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LOCATEL, Celso D. O desenvolvimento da fruticultura paulista e a dinâmica agrícola na região


de Jales (SP). 2000. Dissertação (Mestrado) –FCT/UNESP, Presidente Prudente, 2000.

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produção agrícola. In: MARTINE G.; GARCIA, Ronaldo. C. Os impactos sociais da modernização
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MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis : Vozes, 1981.

MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. Trad. Ary França e Raul de Andrade e
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SORJ, Bernardo. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro : Zahar, 1980.

THOMAZ Jr., Antonio. Por trás dos canaviais, os “nós” da cana: a relação capital x trabalho e o
movimento sindical dos trabalhadores na agroindústria canavieira paulista. São Paulo : Annablume,
2002.
A UMBANDA EM FERNANDÓPOLIS

A Umbanda em Fernandópolis teve início em 1960, com o médium José Lourenço de


Souza (Zezinho). Na época, com apenas 11 anos de idade, impossibilitado de se credenciar na
Federação, realizava seus trabalhos de médium em terreiro de um sítio no Córrego da Capivara.Na
ocasião, Zezinho contava com um cambono (ajudante de seus trabalhos), o Sr. Alcides, que o
cambonou por 10 anos.
Completada a maioridade, o religioso veio para Fernandópolis e abriu um Terreiro na Rua
Pará, 1303, bairro do Estádio. No Terreiro de Umbanda Caboclo Maraca, pioneiro na cidade,
Zezinho prosseguiu com seus trabalhos de médium.
O seu ajudante (Alcides) decide ampliar os trabalhos religiosos dessa vertente afro-
brasileira, abrindo seu próprio terreiro no Bairro Ubirajara. No Terreiro Caboclo Tapayba, Alcides
disseminou seus aprendizados do mestre Zezinho, contando com vários outros médiuns, dentre
eles Dona Dora, Dona Neuza e José Furquim.
A partir dessa iniciativa corajosa dos dois correligionários, o culto aos orixás começa a
ampliar-se com a criação de outros terreiros e até mesmo por meio de vários médiuns que
realizavam os trabalhos em suas residências. Dona Nair Viriato atendia na Rua Bahia e Dona Elza
na Rua Pará. Essa prática domiciliar pode ser constatado ainda hoje.
No ano de 1990, o Sr. Alberto Rocha, outro amante desse sincretismo religioso, inicia
seus trabalhos de médium na Avenida Líbero de Almeida Silvares. Inicialmente um pouco
descaracterizado, pois não se usavam as vestimentas tradicionais e não se acendiam velas. Pode-
se dizer de um trabalho mais kardecista.
Porém, a partir de 1993, com o falecimento do fundador do Centro de Caridade Pae João
da Caridade (nome dado pelo seu idealizador), os trabalhos passam a ser dirigidos pela Sra.
Neuza Ciliano Gasparini, médium iniciada no Centro do Sr. Alcides (Caboclo Tabayba). Nomeada
chefe do Centro, a médium adota a tendência da Umbanda propriamente dita, auxiliada pelo seu
esposo, Pai Pequeno do Terreiro José Furquim.
O Centro de Umbanda Pai João da Caridade ainda é atuante. Ali trabalham vários
médiuns, ogãs e cambonos vindos de outros terreiros. Essa seita ampliou-se bastante em
Fernandópolis. Nos últimos tempos, médiuns desse importante Centro de Caridade, começaram a
abrir seus próprios terreiros, fortalecendo ainda mais essa atividade religiosa que tão bem
caracteriza uma face pouco gloriosa de nossa história, a escravatura.
Os seguidores da Umbanda ainda têm muitos paradigmas a serem quebrados. Prova
disso é que muitos adoradores procuram os trabalhos dos orixás e dos guias de forma velada para
resolver seus problemas de ordem pessoal. O preconceito religioso ainda inibe os admiradores
dessas entidades afro-brasileiras, embora seja possível observar muitos irem tomar passes às
sextas-feiras, bem como procurar suas respectivas igrejas aos domingos.
Entretanto, o culto umbandista continua crescendo e se solidificando. Exemplo disso é a
recente criação do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra
de Fernandópolis, criado em 11 de outubro de 2011 por meio da Portaria Municipal de N.
12.985/2011, em conformidade com a Lei N. 3852, de 24 de agosto de 2011.

Colaboração: Neuza Cimiano, José Lourenço de Souza( Zezinho) e Evandro Luís Inácio169

169
Evandro Luís Inácio é o atual presidente da entidade.
PARTE III

BIOGRAFIAS
APRESENTAÇÃO

Quando iniciamos os trabalhos para a organização do segundo volume do livro


Fernandópolis, nossa história, nossa gente, foi objeto de muita atenção o tópico em que se deveriam
apresentar biografias de personagens que compuseram nossa história. Para tanto, foram
pressupostos os seguintes parâmetros:
“1. Nome: ter sido morador de Fernandópolis / Brasitânia ou possuir fortes vínculos com
nossa história;
2. O falecimento ter ocorrido em data anterior a 31 de dezembro de 2009”.
Pois bem, assim se fez.
Em reunião conjunta com representantes de instituições sociais, escolas e associações de
classe, adrede convidados, os nomes dos futuros biografados foram levantados e encaminhados ao
Conselho Editorial. Posteriormente, essas indicações foram elencadas e, levando-se em conta o
elevado número de indicações, foram elas assumidas por quem as indicou, e mesmo pelas famílias e
membros do Conselho Editorial e Equipe Executiva, para elaboração.
Sabemos que o universo de cidadãos relevantes é grande, e apenas mais uma edição da
obra não o comportaria, uma vez que o rol de nomes expressivos dentro da nossa história – cremo-lo
– é extenso; tivemos, pois, que obedecer a um limite. Esperamos, porém, que outros e outros
volumes de Fernandópolis, nossa história, nossa gente venham e, por certo, tantos outros vultos
serão biografados.
Assim seja!
Biografar:
gravar a vida
nas linhas do mundo
gravetos de tempo
colhidos aqui
juntados ali
acesos acolá...
A vida escolando os passos
escolhendo as marchas
imagens com marcas de suor
nas fotos lembranceiras...
Toda manhã tinha nome
e o dia chamava Futuro
História que ficou pra nós
Histórias pra contar depois.
(Zecão – 03/2012)
417

ADHEMAR MONTEIRO PACHECO

Adhemar Monteiro Pacheco nasceu Ribeirão Preto (SP), em 27 de novembro de 1920, filho
de Abílio Monteiro e de Anina B. Monteiro. Foi casado com Da. Maria Aparecida Viotto Monteiro, com
quem teve seis filhos Regina Helena, Regina Célia, Adhemar Júnior, Carlos Roberto, Regina Silvia e
Fernando José.
Foi médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, turma de
1947. Entre 1946/1947, como acadêmico interno da 3ª turma de Cirurgia de Homens da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo, foi colaborador do professor-doutor Alípio Correa Neto. Entre 1963 e
1968, foi membro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Exerceu a medicina,
também, no Hospital e Maternidade São Cristóvão, localizado no bairro da Mooca, tendo sido seu
vice-diretor clínico e membro da equipe de Ginecologia e Obstetrícia.
Radicado na cidade de Fernandópolis (SP), exerceu a medicina de 1949 a 1969. Com um
grupo de colegas médicos, colaborou na construção da Casa de Saúde Nossa Senhora das Graças,
primeiro hospital da cidade.
Ingressou na política em 14 de outubro de 1951, quando foi eleito vice-prefeito da cidade,
exercendo o cargo entre 1952 a 1955, período em que dirigiu a construção da Santa Casa de
Misericórdia.
170
Em 3 de outubro de 1955, foi eleito Prefeito de Fernandópolis , pela coligação PDC,PSD,
PSB e PDN, exercendo o cargo entre 1956 a 1959. Seu governo foi marcado pelo início do
asfaltamento das vias públicas, pela implantação da Escola Normal Municipal, pela inauguração da
companhia Telefônica de Rio Preto e pela inauguração da Santa Casa de Misericórdia.
Após o término de seu mandato, nas eleições de 4 de outubro de 1959, elegeu-se vereador
à Câmara Municipal de Fernandópolis para a legislatura de 1960 a 1963, sendo seu presidente no
exercício de 1960. Nesse período, junto com outros médicos fernandopolenses, construiu o Hospital
das Clínicas.
Nas eleições de 7 de outubro de 1962, foi eleito deputado estadual com 8.826 votos. Na 5ª
Legislatura, de 1963/1967, foi membro efetivo das Comissões de Saúde e Higiene, Finanças e
suplente na comissão de Divisão Administrativa e Judiciária, Educação e Cultura e na de Economia.
Com a extinção dos partidos políticos e a instauração do bipartidarismo, filiou-se ao
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido pelo qual foi novamente eleito no pleito de 15 de
novembro de 1966, com 10.846 votos, tomando posse na 6ª Legislatura (1967/1971), em 12 de
março de 1967, quando se transferiu para a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Fez parte como
titular das Comissões de Finanças, Saúde e Higiene, da qual foi presidente - tendo recebido e
saudado o cientista Albert Sabin, quando em visita ao Palácio 9 de Julho. Foi, também, suplente nas
Comissões de Assistência Social, Obras Públicas, Transporte e Comunicações.

170
Seu período de governo acha-se relatado na primeira parte (histórica) desta obra.
418

No dia 25 de janeiro de 1968, o Deputado Adhemar Monteiro Pacheco participou das


festividades de transferência da nova sede da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, do
Parque D. Pedro para o Parque do Ibirapuera.
Nas eleições de 15 de novembro de 1970, candidatou-se mais uma vez como Deputado
Estadual pela Arena, obtendo 17.646 votos, mas conquistou apenas uma suplência. Em 1º de agosto
de 1974, assumiu sua cadeira no Palácio 9 de Julho, na vaga aberta pelo falecimento de seu
companheiro de partido Deputado Nesralla Rubez.
No pleito de 15 de novembro de 1974, concorreu novamente ao cargo de Deputado
Estadual, pela Arena, tendo recebido 8.708 votos, obtendo novamente uma suplência. Era primeiro-
secretário da Associação dos Parlamentares do Estado de São Paulo, da qual foi sócio fundador e
presidente.
Faleceu em 1º de agosto de 2005, no Hospital Santa Isabel, em São Paulo, vítima de
insuficiência respiratória.

(Equipe Executiva)
419

ANGELO SARTORI

A Itália, por época da Segunda Guerra Mundial, vivia situação de absoluta miséria, o que
estimulou muitos italianos a fugirem para outros países em busca de melhores condições de vida.
Para a família Sartori não foi diferente. Seu pai, Godofredo Sartori, sua mãe, Maria Tacca, a
irmã mais velha, Fortunata e o tio Luigi Sartori, então com 16 anos, e sua nona Regina Cattai
emigraram para o Brasil em 1895. Vieram a bordo do vapor Pará, e se instalaram na hospedaria dos
Imigrantes no Brás em São Paulo;mais tarde, mudaram-se para uma fazenda de café no distrito de
Santa Eudóxia em São Carlos. Ali nasceram ainda os irmãos Alcebíades, Amábile, Antonio e, por
ultimo, Ângelo Sartori, em 20/02/1904.
Sua mãe faleceu logo em seguida, e ele foi criado pela avó e pelos irmãos. Não frequentou
escolas e, desde cedo, trabalhou com a doma de animais, muito necessários nas lavouras de café;
também era o cocheiro do Cimitrole da fazenda. Ia diariamente à cidade buscar correspondência,
encomendas e levar pessoas, conforme as ordens do feitor. O Cimitrole era puxado por dois cavalos,
tinha 4 rodas secas, madeira com aro de ferro, cobertura, bancos etc.
O café requeria grande quantidade de trabalhadores, e as fazendas construíam as colônias
de casas onde se misturavam, predominantemente, famílias italianas de diversas regiões da Itália
(com dialetos diferentes), espanhóis e, em menor número, outras nacionalidades. A cada ano a
fronteira do café avançava para o interior do Estado de São Paulo e as famílias, após terem cumprido
as exigências contratuais da imigração com o patrão, podiam mudar-se para outra fazenda.
Nos anos 20, o café já cobria a região de Catanduva. O trem ia até Rio Preto e, além de Rio
Preto, era o Sertão. Como muitos colonos fizeram, eles também foram em direção à fronteira:
primeiramente, nas proximidades de Jaboticabal e, em 1924, então com 20 anos, ele e a família
trabalharam em fazenda de café próxima a Itajobi. Nesse mesmo ano, ali se casa com Julia Dini,
também filha de imigrantes italianos, Giovanni Dini e Amália Sgobi. Essa união lhes trouxe nove
filhos: Irineu (1925), Candido (1926), Raul (1927), Armando (1928), Ivo (1930), Osvaldo (1931),
Ângelo (1932), Aurora (1937) e Otávio (1945).
Com a crise de 1929, o café ficou, sem mercado, perdeu preço; os fazendeiros
descapitalizados e os empregados em situação difícil mudavam-se de fazenda em fazenda buscando
espaço para outras culturas como arroz, feijão, milho e algodão. Havia muita insegurança no campo
com roubo dos bens mais importantes dos colonos, que eram porcos e cavalos. Em 1938, Ângelo
morou entre Itajobi e Novo Horizonte, plantou algodão numa antiga pastagem. Ali morava também
seu compadre André Scamatti, um pouco mais velho, que, com vários filhos já rapazes, plantava uma
área muito maior de algodão.
Certo dia, ele e o compadre tomaram a “jardineira” para irem fazer compras em Novo
Horizonte; lá ouviram o alto-falante anunciar a venda de terras na gleba Marinheiro. André se
interessou, já que previa uma boa colheita de algodão, e chamou o Ângelo, mesmo que fosse só para
companhia, pois não tinha idéia de como era entrar no sertão.
Uma jardineira os trouxe até vila Monteiro; de lá, corretores os conduziram até vila
Brasilândia, que estava sendo inaugurada. A Vila se resumia à venda (armazém, que tinha sido
420

transferida da sede da fazenda São Luiz Gonzaga, do Barozzi), alguns ranchos e o cruzeiro. A venda
ficava sob os cuidados do funcionário Ângelo Pablo, que “tocava a roça” onde é hoje a praça; quando
chegava algum freguês, geralmente a cavalo vindo de longe, ele ia atender.
André comprou, então, 64 alqueires de mata no Córrego do Morcego, cerca de 5 km de
Brasilândia, o Ângelo, com menos recursos, comprou uma sobra de terreno de 7 alqueires bem
próximo à área que o Barozzi reservou para a Vila. Para quem toma a Rodovia no trevo de
Brasilândia, no sentido Meridiano, na primeira descida ainda há algumas árvores que denunciam ter
sido o quintal de sua casa, mas não são nem sombra da vida que existiu ali. Em 1958, o traçado da
Euclides da Cunha tomaria a sua casa, que foi desapropriada para dar passagem à rodovia.
Com a venda do algodão colhido no início de 1939, Sartori pagou as terras compradas e
construiu as casas de madeira para buscar a família. Como só havia um caminho no sentido Tanabi,
Monteiro, Brasilândia, essa estrada passava em frente a seu sítio e próxima à sua casa antes de
chegar à vila, então ponto final para quem viesse para estes “sertões”. Assim, ele presenciou todo o
movimento de chegada dos pioneiros que desenvolveram a vila Brasilândia. Naquele ano, também foi
171
inaugurada a vila Pereira e o ponto final passou então para lá .
Ele iniciou a derrubada da mata para plantio de cereais e, assim, instalar a sua célula de
sobrevivência. A melhor parte da terra reservou para o plantio do café, cuja plantação estava proibida
ainda em função da crise de 29. Todos faziam o mesmo: derrubavam as baixadas, a pior parte
reservada para a sobrevivência à espera do café. Os lotes de terrenos tinham pelo menos 10
alqueires; assim, cada um tinha uma clareira onde os novos proprietários residiam. Cabe ressaltar
que as baixadas eram secas e os córregos só surgiram após a derrubada das matas. Também o seu
sitio não tinha córrego e foi após a derrubada das matas, que surgiu o córrego conhecido como do
Gatão.
Brasilândia estava na fazenda do Barozzi, cuja sede era à esquerda da avenida que chega
à exposição, a cerca de 500 metros acima do ginásio Beira Rio. Ali havia uma mina d’água e, por
isso, foi escolhida como local da sede. A fazenda tinha seus limites no perímetro divisor de águas do
Ribeirão Marinheiro com o Ribeirão Santa Rita e Rio São José dos Dourados; portanto os limites da
fazenda por alto se localizavam onde é hoje a Avenida da Saudade, as avenidas Afonso Cáfaro e a
Expedicionários, o Jardim Santa Helena, ou seja, basta observar para qual bacia hidrográfica a água
da chuva corre para conhecer os limites. Falavam os antigos que a fazenda tinha 700 alqueires e foi
adquirida como comissão de vendas dos lotes da Fazenda Marinheiro. Do outro lado do perímetro, da
mesma forma, as terras eram vendidas na gleba Santa Rita por Imobiliária de Olímpia e os
vendedores, Sr. Pereira e sócios, teriam adquirido cerca de 1.000 alqueires. Ainda a partir do
perímetro em direção ao São Jose dos Dourados, havia outra grande propriedade, não ligada a
imobiliárias, do Sr. Afonso Cáfaro.
Assim, dada a localização de sua casa, Sartori passou a conhecer muita gente,
principalmente os da gleba Marinheiro, que ficava antes da chegada à Brasilândia. Alguns mais
arrojados estavam ali havia cinco anos, como os Mininel, Os Barlafante, Os Baccaro, os Zanini etc.,
todos trazidos pelo incansável Luiz Barozzi, filho mais velho de Carlos Barozzi, que, com seu
caminhão, fazia o trajeto Catanduva até a fazenda e dava suporte aos primeiros adquirentes. Outros,
como ele e André, estavam instalando-se. Dentre eles Augusto Tazinaffo, Ângelo Milani, Luiz Buffo,
Gino Gaiovitti, Telesphoro Perez, Guido Gavioli, os Pradella, os Lacerda, Antonio Inácio.
É importante ressaltar que os pioneiros, como mostram os sobrenomes, eram
predominantemente imigrantes italianos ou descendentes que passaram a ser proprietários de terra
pela primeira vez, ou seja, realizavam um sonho acalentado por séculos por seus ancestrais, sonho
impossível de realizar na estrutura fundiária da velha Europa e que, agora, o sertão de Rio Preto lhes
permitia. Mas a vida era difícil e dali das proximidades da Brasilândia, Sartori percebia um problema
que persistia.
Nos anos 1939/1942, enquanto esperavam a liberação da planta do café, as famílias viviam
isoladas. Entre uma e outra havia sempre um bom trecho de mata; as vilas, tanto Brasilândia quanto
Pereira, eram ainda precárias e distantes para as condições existentes, portanto não agregadora de
pessoas. Os italianos sempre viveram, mesmo nos campos, com alta densidade demográfica,

171
O relator toma como ponto de referência a Vila Brasilândia em relação a Fernandópolis; logo, o “lá” se refere
à Vila Pereira.
421

portanto fortaleciam-se na fé e no grupo. Aqui muitos fragilizaram-se espiritualmente no isolamento e


tornaram-se presa de um curandeiro chamado Bernardino, que, em troca das “curas”, cobrava dias
de trabalho em sua propriedade e, com isso, amealhou mais de 200 alqueires de terras. São muitas e
escabrosas as histórias que os antigos dele contam.
Instalado em sua casa de madeira e com os oito filhos, Ângelo Sartori, alem da lavoura,
busca alternativas. Tudo precisava ser feito e a demanda por fretes era grande. Começa com uma
carroça e dois bois e vai aumentando para cinco juntas e mais um carro de bois. No início, puxava
madeira das matas para onde seriam construídas as casas e, depois, para atender pedidos de telhas,
passou a buscá-las em São João do Marinheiro e Cardoso. Saía de madrugada com o carro de bois e
chegava à noite. No trajeto, só havia água para os bois no córrego da Ilha, da Capituva e no
Marinheiro; as demais “baixadas” ainda eram secas, pois as matas absorviam a água. Quando
voltava com o carro carregado com cerca de 1.200 telhas, precisava pousar na estrada; eram dois
dias para pouco mais de 30 km para que pudesse entregar as telhas na propriedade do freguês. Era
preciso levar sacos de milho para os bois, uma caixa de panelas e mantimentos para cozinhar na
estrada e dormir embaixo do carro. Ângelo levava sempre um dos seus meninos com ele, como
Armando (que faz este relato), desde os 11 ou 12 anos de idade, dormiu muitas vezes sob o carro de
boi. A demanda por telhas cresceu tanto, que Sartori chegou a ter 30 carros de boi fazendo fretes;
havia noites em que existiam mais de 100 bois “estacionados” na olaria. Os bois se orientavam pela
sineta pendurada no pescoço de um líder.
Nesse período, enquanto todos só tinham bois de carro, ele amansou uma vaca, a Libânia,
e com ela formava mais uma junta. A maior parte dos fregueses era sitiante, mas, às vezes, as
encomendas eram para casas que começavam a ser erguidas na vila. Esta atividade durou vários
anos, pois mesmo nas vilas os fogões eram a lenha e ela precisava ser recolhida e transportada por
onde não havia estrada. Seus bois foram úteis muitas vezes para tirar os caminhões a gasogênio que
não conseguiam transpor a subida do Gatão na época das chuvas. Outras vezes foi com o carro levar
cereais até Votuporanga, para pegar o trem. Ia até Monteiro e derivava à direita para Votuporanga,
que ficava fora da rota. Cada vez mais Via que a cidade tinha crescido, e dizia que Votuporanga era
um presente do trem que fez ponto final lá por vários anos.
Paralelamente, passou a empreitar matas para derrubar. Havia migrantes que vinham da
Bahia em busca de trabalho; ele ajustou, por ano, vários deles e fez galpão para morarem. Os filhos
faziam o serviço de cortar os cipós e limpar a mata mais fina, e os baianos eram os machadeiros que
derrubavam as árvores grossas. Era um serviço muito exaustivo, que feria as mãos pelo solavanco
dos golpes do machado. Muitas vezes, a Dona Júlia tinha que lhes curar as mãos; também lhes
servia farta comida, pois o sítio produzia bastantes alimentos e tinha cerca de 100 porcos. Os
baianos (camaradas como eram chamados esses agregados) dispensavam à Dona Júlia com
verdadeira veneração.
Por duas ou três vezes bateu à sua casa a Captura, polícia do Estado Novo, requisitando
cavalos para incursões pela região. Eles devolviam os animais exaustos e cheios de pisaduras. Os
antigos contavam que, quando eles pegavam o culpado, ele apanhava tanto que, se sobrevivesse,
não seria mais homem.
Em 1943, abriu a plantação do café e todos queriam derrubar as matas. O café demandava
muita mão de obra: a cada 3 ou 4 alqueires, precisava-se de uma família; cada proprietário dividia o
sítio em partes e arrumava empreiteiros para fazer casa de madeira e plantar café e cereais entre os
cafeeiros. No de 1943, ele estimou que cerca de 1.000 caminhões de mudança passaram diante de
sua casa. O barulho dos machados pipocava por toda parte. No mês de agosto, época das
queimadas, houve dias em que o sol demorava a aparecer tamanha a quantidade de fumaça. À noite,
os clarões de fogo estavam por toda a parte.
Então um fato novo foi motivo de muita alegria nos anos que se seguiram: o muro das
matas não separava mais as propriedades, os cafezais pequenos erguiam-se das covas entre as
toras caídas e enegrecidas pelo fogo, mas tudo estava abaixo da altura dos olhos das pessoas que
se viam e se ouviam. As mulheres, com cestas de comida na cabeça, seguiam para o eito cantando,
outras ouviam e cantavam também. Crianças e cachorros corriam em torno delas. A terra era muito
fértil, a natureza explodia e as pessoas se alegravam. Cada sitio, onde morava o dono isolado, agora
agregava mais algumas famílias de empreiteiros de café. A empreita era por seis anos e toda a
produção era do empreiteiro. Consistia em derrubar a mata, fazer o poço e a casa, plantar o café em
422

covas distante 15 ou 16 palmos uma da outra em ruas alinhadas e plantar cereais entre as ruas. O
café começava a produzir no terceiro ano: no primeiro ano plantavam cinco carreiras de cereal, no
segundo quatro, no terceiro em diante, apenas três. Ao final do sexto ano, ou entregava a empreita e,
com o resultado comprava sua própria terra, ou ficava como arrendatário do café que havia plantado.
Foi assim que a região se cobriu de cafeeiros e de muita gente. Todo sábado, havia baile em alguma
propriedade, a Vila passou a ficar movimentada e o comércio a dinamizar-se.
Ângelo se foi adequando às oportunidades. Houve um período de desabastecimento de
alimentos e combustíveis, o açúcar estava difícil de ser encontrado; então montou um engenho e
passou a fabricar rapadura e melado de cana para vender. Era uma daquelas engenhocas em torno
de cuja moenda giram o boi ou o cavalo. Ele plantou dois alqueires de cana, comprou cana da
vizinhança e deslocou alguns camaradas machadeiros para essa nova atividade. Eram três tachos de
500 litros de garapa no fogo que precisavam ser alimentados dia e noite. Produziu e vendeu muitas
cargas de rapadura. Assim, dada a posição estratégica da sua casa e as várias atividades que
exercia, sempre tinha alguém procurando pelo seu Angelim, como era chamado.
Dona Júlia coordenava tudo em casa. Trabalhava muito. Era muita comida a fazer, roupas a
costurar, animais a tratar, comadres e compadres a atender e muito pedido de bênção às crianças a
responder. Muitas moças que moravam nos sítios distantes paravam na sua casa para se arrumar,
trocar os sapatos, antes de irem para o footing na vila.
Angelim era rígido em casa, como de resto quase todos os pais de famílias numerosas
como a sua; mas era afável com os de fora. Tinha uma personalidade um pouco extravagante,
gostava de chamar a atenção para si; vestia-se sempre com camisa de dois bolsos com três botões
dourados em cada bolso e chapéu de aba larga. Foi um dos primeiros a morar em casa de tijolos fora
da vila, a ter um gramofone, a ter um relógio carrilhão na sala etc. Tinha uma força descomunal e não
levava desaforo para casa. Ele tinha também uma égua de corrida, a Faísca, e o filho Raul e o
sobrinho Ettore eram jockeys muito hábeis. As raias de corrida se localizavam depois da Pereira.
Começava na baixada próximo da antiga rodoviária e mercado municipal e seguia em direção até
onde é hoje o bairro Ubirajara. Por toda a extensão se espalhavam assistentes e apostadores sobre
seus cavalos. Também muitas mulheres apreciavam, e os mais abastados já tinham celas especiais
para mulheres. As proezas da Faísca o deixavam realizado.
Quando os empreiteiros e sitiantes começaram a vender café e ganhar dinheiro, houve
demanda por carrinhos de roda seca ou charretes de rodas de pneu, e ele passou a encomendar e
buscar em Sertãozinho ou Rio Claro e revendera ou cobrar comissão pelo serviço. Despachava de
trem até Votuporanga e depois trazia até a Brasilândia.
Assim, ele interagiu ativamente com aquela gente da região. Viu também a ascensão e a
estagnação da sua Brasilândia. Ele viu os baianos Pereira e os sócios serem muito mais hábeis em
promover o desenvolvimento da Pereira do que Barozzi, eles faziam publicidade das terras da vila
Pereira nos jornais da região de Rio Preto e as pessoas chegavam procurando Pereira.
Luiz Armando, filho mais velho de Barozzi, que praticamente construiu a fazenda e
implementou a Vila, deu suporte aos primeiros moradores indo e vindo com seu caminhão desde
Elisiário e Catanduva e era estimado por todos, casou-se lá, e lá manteve suas raízes. O sogro,
família Stocco, era comerciante de cereais e pessoa influente em Elisiário e Catanduva. Os negócios
aqui ficaram então a cargo do cunhado Líbero de Almeida Silvares, marido de sua irmã, envolvido
também com a política. Com ele, os negócios do Barozzi só retrocederam. Aos poucos, a fazenda foi
sendo vendida, inclusive ele, Angelim, comprou mais um pedaço anexo a seu sítio.
Desde o começo, ele percebeu que as coisas não caminhariam bem quando o Pereira fez a
Vila à beira da fazenda do Barozzi, e o Barozzi construiu o cemitério à beira da Vila Pereira, onde é
hoje a esquina da Rua São Paulo com a Expedicionários (antigo cine Fernandópolis). Desde o
começo houve rusgas entre a rapaziada: os rapazes de Brasilândia não podiam ir sozinhos à Pereira
e vice-versa. A “coisa” esquentou quando tiraram o cartório da Brasilândia e levaram para a Pereira, e
outros comerciantes também se mudaram. Daí, através da Igreja e dos políticos, abriu-se a estrada
que é hoje a Avenida Libero de Almeida Silvares, costurou-se a união das duas vilas por aclamação
após a procissão do encontro: duas procissões, uma vindo de Pereira e outra de Brasilândia, se
cruzaram e as pessoas se cumprimentaram comprometendo-se ao respeito mútuo. Ângelo e Da.
Júlia, os filhos e os empregados todos foram, juntamente com todos da Brasilândia, deram as mãos
na passagem aos habitantes de Pereira, depois todos voltaram para o ponto equidistante entre as
423

duas vilas, ouviram os discursos dos políticos e aclamaram a união com o nome de Fernandópolis em
homenagem ao interventor Fernando Costa. Na presença de todos, colocou-se ali a pedra
fundamental para a construção da Santa Casa.
Ele também logo percebeu que a união tinha a lógica do vencedor de uma guerra que
impõe suas condições ao perdedor. Se era união e Brasilândia foi fundada em 1938, então por que
Fernandópolis foi fundada em 1939? E o pobre do São Luiz Gonzaga, protetor da Brasilândia? E a
Santa Casa? Essas questões morreram com os antigos.
Ângelo Sartori foi sempre fiel à sua Brasilândia. Seus filhos deram-lhe 28 netos, todos se
mudaram, mas ele e Dona Júlia permaneceram na Brasilândia ate falecerem na década de 80.

Colaboração
Armando Sartori
Família Sartori
424

ANTENOR FERRARI

“Alegre, divertido, sem tristezas. Um ótimo orador, que


falava muito bem. Um fabuloso político que lutava pelo
que queria”
(Maria Aparecida)

Antenor Ferrari nasceu no dia 09 de março de 1930, em Santa Adélia, estado de São Paulo.
No final da década de 40, mudou-se para Fernandópolis com seu irmão, Armelindo Ferrari. Nestas
terras, transformaram-se em empresários: abriram uma fábrica de refrigerante.
Em 1945, conheceu a senhora Ida Mantovani, a qual, em 24 julho de 1955, se tornou sua
esposa, e de cuja união nasceram sete filhos, que lhes deram dez netos e uma bisneta.
Sua ânsia por liderança falou mais alto, e a paixão logo o levou à vida política na cidade de
Fernandópolis, principalmente pela convivência e influência do seu amigo Wilson Nogueira Lapa, que
tinha uma intensa participação no município.
Candidatou-se, em 1972, a prefeito de Fernandópolis pelo Partido Social da Democracia
Brasileira (PSDB), tendo como concorrentes ao pleito de prefeito Milton Edgard Leão e Percy Waldir
Semeghini. Nesse ano, foi eleito o sétimo prefeito a comandar a administração do município no
quadriênio de 1973 a 1976.
Em sua carreira como prefeito, dedicou-se, de corpo e alma, como em tudo que realizou na
vida, a bem administrar a cidade. Dona Ida, sua esposa, ressaltou: “Ele gostava de política, ele vivia
de política, ele se entregava de corpo e alma para Fernandópolis”.
A sua política teve como prioridade o bem-estar social e, principalmente, proporcionara
melhoria para a população fernandopolense. Edgard Leon Zambom definiu assim a carreira política
de Antenor Ferrari: “O Plano básico dele era ver a cidade crescer, com emprego para todos e boa
condição de vida. Almejava uma família religiosa, e com moral”. Foi assim que realizou muitos feitos
indispensáveis para o desenvolvimento e crescimento da cidade, na área da educação e
infraestrutura.
172
Em seu mandato , realizou a construção do primeiro “poção” (poço artesiano profundo, do
qual jorram águas quentes de até 59ºC) de Fernandópolis, assinando o convênio com a empresa de
distribuição de água e esgoto, SABESP, que poria um fim ao crônico problema da falta de água na
cidade: em alguns bairros, os moradores ficavam até três meses sem água.
Com a descoberta de águas quentes, criou-se um clube de águas termais na cidade, o
Água Viva Thermas Clube, de cuja inauguração Armelindo fez parte e a partir do qual a cidade ficou
conhecida por suas famosas águas quentes.
Antenor Ferrari teve também uma significativa participação na vinda e na construção da
escola SESI de Fernandópolis.

172
Para maiores detalhes sobre seu governo e suas obras, consultar a parte inicial deste livro.
425

Entre suas conquistas destacam-se, ainda, a criação do 16° Batalhão da Polícia Militar do
Interior, “Corpos de Bombeiros”, e a concepção e luta política pela criação da Fundação Educacional
de Fernandópolis (FEF), que só teve as atividades iniciadas na administração seguinte, de Milton
Edgard Leão. Após seu mandato, foi vereador eleito em 2000 e presidiu a Câmara Municipal de
Fernandópolis.
Depois dessa fase, afastou-se da vida pública e, ultimamente, dedicava-se à administração
de sua propriedade rural no distrito de Brasitânia.
Um homem calmo, dedicado, batalhador, que lutou, na sua vida política, pela melhoria da
população, o crescimento e desenvolvimento da cidade, mantendo a integridade. Infelizmente, o
incêndio de sua casa, provocado por um suposto curto circuito, e apesar de os bombeiros viram em
auxílio para apagar as chamas, consumiu todos os bens materiais da família, sem vítimas.
Faleceu aos 78 anos, no dia 26 de fevereiro de 2009, vítima de parada cardíaca e
complicações decorrentes de problemas renais, na UTI da Santa Casa de Misericórdia de
Fernandópolis.
Foi velado no Palácio 22 maio, sede da Câmara Municipal de Fernandópolis.
Deixou esposa, filhos e netos, causando comoção a todos, que o admiravam como pessoa,
amigo e, principalmente, político, por suas expressivas realizações a todos os fernandopolenses.

Colaboração

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL DE FERNANDÓPOLIS – ETEC


426

ANTONIO ALCAÇA BARRONOVO

Antônio Alcaça Barronuevo (Barrionuevo) nasceu na cidade de São João da Boa Vista (SP),
no dia 5 de maio de 1911, filho de Antonio Alcaça Bella e Cecilia Bella Escobar, ambos nascidos na
Espanha; era filho mais velho de oito irmãos.
Vindo de Catanduva, movido por informações de que na gleba do Marinheiro estavam à
venda terras muito produtivas, aventurou-se pelo sertão, chegando a Fernandópolis em 1937 com 28
anos de idade, juntamente com seu pai. Aqui conheceu a região, encantou-se pela fertilidade das
terras. Na ocasião, seu pai adquiriu 59 alqueires de Carlos Barozzi, e ele, 20 alqueires de terras ainda
a serem desmatadas no ponto onde hoje está o balneário Água Viva Thermas Clube.
Como suas terras ainda tinham de ser desmatadas, arrendou 10 alqueires já desmatados
para o plantio (hoje é a Brasilândia) e começou a cultivar milho, arroz e feijão.
No dia 04 de junho de 1938, casou-se com Maria Casimira Barronovo, filha de Constantino
Ventura e Albina Michaeli, vindos de Portugal para o município de Vila Monteiro (hoje Álvares
Florence); o casal teve 5 filhos: Osvaldo, Valdemar, Augustinho, Jandira e Alzira.
Depois do desmatamento de suas terras, construiu uma casa de pau a pique e mudou-se
para cá em 1938. Plantou, de início, 10.000 pés de café, chegando a ter um total 70.000 pés, embora
também tenha prosseguido com o cultivo de arroz, milho e feijão.
Em 1955, deixou suas terras aos cuidados de seu pai e mudou-se para Maravilha (hoje
Meridiano) ali montou uma oficina de ferreiro e carpintaria. Na oficina confeccionava a maior parte de
suas ferramentas de trabalho, fabricava carros de boi, carroças, móveis, curral e madeiramentos de
casas etc. Também desenvolveu uma extraordinária habilidade com a carpintaria: fazer esculturas e
entalhar quadros; suas obras já foram objeto de desejo de admiradores da arte.
Retornou a Fernandópolis em 1958, indo morar na Rua Bahia. Em sua residência continuou
com suas atividades de ferreiro e carpinteiro; mudou-se, em 1961, novamente para seu sítio no
Córrego da Aldeia, onde deu continuidade ao cultivo de grãos. O mesmo ocorreu com um sitio de 17
alqueires, herdado de seu pai, no Córrego Três Pulos, em Pedranópolis.
Em 1965, retornou para Fernandópolis, indo morar na rua Minas Gerais. Comprou uma
máquina de beneficiamento de arroz na Brasilândia; em 1968, desfez-se da máquina e comprou a
chácara Santo Antônio na Rua Rio de Janeiro, fundos com o Tanino. Ali passou a cultivar uma grande
horta, que fornecia verduras e legumes para mercearias, hotéis. Seu filho Augustinho Cassimiro,
mesmo mudo, era dotado de uma grande inteligência e também vendia os produtos nas ruas com
uma carroça de tração animal; na chácara, também criava porcos para a produção de lingüiça a ser
comercializada.
Em 1969, montou a primeira granja da cidade; nela, em companhia de seus filhos,
Barronuevo, como bom carpinteiro, construiu os barracões e as gaiolas das aves. Chegou a ter 5000
mil aves poedeiras; para essa atividade, contava com equipamento de classificação de ovos, que
eram fornecidos para a cidade e a região.
427

Em 1983, já cansado do trabalho, desfez-se da chácara e se mudou para a Rua Porto


Alegre. Não resistiu, porém: acostumado ao trabalho, retomou as atividades com a oficina,
trabalhando até o dia de sua morte.
Barronuevo era militante partidário da Arena (Aliança Renovadora Nacional), aliado forte do
então prefeito Percy Waldir Semeghini. Atuava principalmente na zona rural, onde tinha grande
conhecimento de eleitores, e transportava-os até a cidade para votar em uma Toyota.
O fato que chamou a atenção da imprensa foi a sua morte e a de sua esposa, com quem
ficou casado por 61 anos. Ele sempre dizia repetidas vezes: “Véia, eu tenho medo de morrer e um dia
deixar você, e você sofrer“.
Após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), Barronuevo foi obrigado a permanecer no
quarto de hospital por alguns dias, tempo em que sua esposa o visitava diariamente. Com o
agravamento da saúde, Barronuevo foi transferido para á UTI, e sua esposa, vendo todo o sofrimento
do companheiro, acabou também sofrendo um AVC, sendo hospitalizada na UTI ao lado de seu
companheiro por 10 dias. Ele faleceu em 31 de agosto de1999 com 89 anos; no momento de sua
morte, sua companheira também sofreu uma crise e, apesar de reanimada pelos médicos, 10 horas
após o enterro do Sr. Antônio, sua esposa também deixou a vida terrena.

Depoimento 1
“Nós comprávamos produtos da chácara do Sr. Antonio Barronuevo como ovos,verduras e linguiça para
vender no estabelecimento. Ela fazia parte da comunidade do Jardim Vila Nova, fundada com a ajuda das
irmãs assuncionistas, que realizavam as quermesses ao lado da capela do Asilo São Vicente de Paula,
na Rua Rio de Janeiro, próximo ao Tanino. O Sr. Antônio Barronuevo era um espanhol muito humano e
caridoso, que doava desde os bambus para fazer a barraca da quermesse a ovos, frangos e verduras
para a comunidade e o asilo. Com seu empreendimento, Sr. Antônio colaborou muito com o
desenvolvimento do bairro.” (Maria Nogueira de Moraes, 78 anos e Jair Pires de Moraes, 83 anos)

Depoimento 2
“Quando vim para Fernandópolis em 1943, que ainda era Vila Pereira, vim morar em um sitio no Córrego
do Gatão, comecei a trabalhar de charreteiro em 1961 [...] conheci muito Antonio Barronovo, eu levava
minha charrete para consertar na oficina dele, ele também fabricava carroças de tração animal e
charretes juntamente com filho Augostinho Cassimiro que era mudo. O Sr. Antonio era uma pessoa muito
boa e prestativa e inteligente, querido por todos.” (José Antunes Lopes, 91 anos)

Depoimento 3
“Eu vim de Nova Granada pra Fernandópolis em 1943 (na época Vila Pereira) em um caminhão movido a
gasogênio pra morar na propriedade do Sr. Antônio Barronuevo, em uma casa de pau a pique para formar
café durante 06 anos.Cheguei a plantar 30.000 pés de café, mas Sr. Antonio mudou-se para Brasilandia,
pois era um carpinteiro nato: fazia carroça, caixão quando morria algum parente e para pessoas que
precisavam. Eles costumavam fazer muita festa no sitio onde tinha muito assado e catira [refere-se ao
catireiro João Barbosa, do Córrego do Pau Roxo). Sr. Antônio era uma pessoa que ajudava muito o
próximo, sendo muito popular”. (Durval Aparecido dos Santos – conhecido como Teodoro, 82 anos)

Colaboração
Adauto Donizeti Cassimiro
Izaura Dominici Arcasse
428

ANTÔNIO DE GÊNOVA

Num tempo de grande escassez de mão de obra qualificada, surgiam bravos homens
dispostos a aprender um ofício e deste fazer sua história de vida. Com algumas ferramentas nas
mãos, as particularidades da mecânica de automóveis e caminhões eram desvendadas por um
cidadão brasileiro que escolhera Fernandópolis para morar. Este homem foi Antônio de Gênova.
Antônio de Gênova nasceu em Dobrada, na região de Matão, interior de São Paulo, no dia 5
de maio de 1925. Era filho de Rubino de Gênova e dona Ida Celestrin de Gênova. Ariranha, também
do interior paulista, foi a cidade onde ele viveu sua infância e adolescência.
Quando jovem, mudou-se com a família para Vila Parisi (SP), em uma fazenda da família
Commar, na qual cultivaria lavouras de café. Foi ali também que ouvira falar, pela primeira vez, de
Vila Pereira, local citado como “região de boa prosperidade”.
A família Gênova fez as malas e veio parar na localidade fundada por Joaquim Antônio
Pereira. Naquela época, 1947, o pai de Antônio de Gênova, seu Rubino, abriu um pequeno comércio
na Avenida Amadeu Bizelli (antiga Avenida Sete) entre as ruas Minas Gerais e Pernambuco. Foi
nesse estabelecimento comercial que ele fez várias amizades e onde trabalhou durante um ano.
Passado esse período, outra profissão foi escolhida: a de frentista de posto de combustíveis.
Por esse tempo, Antônio casou-se com Maria Tereza Stagliano, no dia 10 de novembro de
1949, na Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia. O celebrante do matrimônio foi o Padre Canísio.
Já casado, Antônio trabalhou em vários postos, inclusive no Renê Ferramentas e Irmãos
Fernandópolis, cuja razão social era Azevedo, Ferrari e Cia. Essa empresa estava localizada na rua
Rio Grande do Sul, n° 763.
De frentista de posto a mecânico – esta foi a mais importante mudança profissional na vida
de seu Antônio. Como se destacava em sua ocupação especializada, surgiu o convite para trabalhar
na revendedora Ford (Comercial Fernandópolis de Automóveis Ltda. e, depois, Fermasa
Fernandópolis Máquinas e Veículos S.A.). Já era especialista em mecânica dos veículos Aerowillis e
passou a dominar também a marca Ford.
Após sofrer um acidente no qual fraturara uma perna, seu Antônio tomou uma séria decisão:
pediu demissão e montou sua oficina própria na Rua Pernambuco, no imóvel de número 2087, no
centro de Fernandópolis. Sem ter feito qualquer curso técnico de mecânica, foi durante esse período
que ele teve de desenvolver técnicas próprias para consertar motores de carros, caminhões e ônibus.
Numa época em que não havia comércio de peças para veículos, o jeito era fabricá-las em
tornos ou forjas. E lá ia o seu Antônio à oficina da Família Cecato, cujo patriarca era o seu Américo.
Muitas vezes, até mesmo as ferramentas eram feitas nos tornos, uma vez que a cidade não dispunha
de lojas especializadas.
429

A oficina de seu Antônio de Gênova cresceu, vieram os empregados, mas o proprietário


jamais deixou de fazer a supervisão e inspeção de cada veículo que chegava às suas mãos para ser
restaurado.
Foi uma época de trabalho duro; muitas vezes, trabalhava-se durante todo o final de
semana, para entregar o automóvel no prazo combinado. Eram tempos difíceis, muitas estradas de
terra, o que significava uma grande quantidade de serviços em mecânica. Pode-se afirmar que os
consertos exigiam muita força física dos restauradores.
Mas não era só de trabalho que seu Antônio vivia com sua família. Sua paixão era pescar.
Ficou na memória de seus familiares uma citação que ele sempre repetia: “Deus fez seis dias para eu
trabalhar e um dia para eu ir pescar”. Em todos os domingos, lá ia seu Antônio para a beira de um rio
fisgar alguns peixes.
Outra fala memorável sua:

Ser mecânico é igual a usar uma dentadura nova. Demora pra você aprender a
comer, a mastigar bem o alimento. Quando você se acostumou com a dentadura, aí
alguém muda a comida, e você precisa aprender a mastigar o novo alimento tudo
outra vez.

Ele se referia às constantes mudanças acontecidas na mecânica em geral.

Os anos se passaram, vieram as muitas experiências, as adaptações às mudanças


físicas. Usar óculos parecia chatear aquele trabalhador brasileiro, cujo sangue
italiano o fazia refletir sobre a vida e as suas vicissitudes. “Quando eu comecei a
consertar carros e caminhões em Fernandópolis, muitas vezes eu tinha de trabalhar
até às 22 horas com a luz que era fornecida pelo motor a diesel, o qual gerava a
iluminação para a cidade. Hoje, com tanta luz que tem em Fernandópolis, se eu
tenho de trabalhar à noite, nem com os óculos eu enxergo direito. Eu acho que as
minhas ferramentas é que estão ficando velhas.

Seu Antônio assim dizia ao tecer reflexões pessoais sobre o processo natural da existência
de todo e qualquer indivíduo.
Outra citação sua ficou muito bem registrada na memória de seu filho, Antônio Rubens.
Quando questionado sobre a morte, dizia: “Eu não tenho medo de morrer, o duro é não ter nem
domingo, nem feriado pra pescar, nem uma pinga boa do Jagora pra beber”. Divertia-se com sua
maneira peculiar de encarar a finitude da vida.
Em sua simplicidade e em seu bom humor, seu Antônio dedicou-se à família com muito
esmero. Ele e a esposa, Maria Tereza, cuidaram dos pais dele até os últimos instantes. Os pais eram
filhos de imigrantes italianos, e essa particularidade fez a família especializar-se em pratos típicos.
Aos domingos, no almoço, a macarronada não podia faltar. Era uma das comidas preferidas de Seu
Antônio, que não dispensava a sua taça de vinho tinto. Para acalmar, ele dizia que o seu cigarro de
palha era um “santo remédio”.
Outras de suas paixões gustativas eram comer os peixes pescados por ele, carne de panela
e costela de porco com mandioca, pratos feitos pela esposa, a quem carinhosamente chamava
“Minha velha”.
Com relação aos carros e caminhões, sua grande paixão era o Jipe. E foi num Jipe que se
dirigiu à igreja no dia do seu casamento. Era com esse veículo que ele viajava a Santa Fé do Sul, na
época em que namorava, para encontrar-se com sua amada Maria Tereza. “Esta, em algumas
ocasiões, brincara dizendo que o marido gostava mais do Jipe do que dela”, lembra o filho do casal.
Seu Antônio de Gênova foi um cidadão que ajudou Fernandópolis a crescer, pois
recuperava, restaurava carros, caminhões e ônibus que trafegaram por aquelas ruas, estradas e
avenidas de outrora. Ela tida como uma atividade modesta, mas de grande significado para uma
cidade nascente e em direção ao progresso – detalhes que faziam da cidade uma cidade promissora.
Os veículos do senhor Ademar Monteiro Pacheco, da família Rolim, do doutor Percy Waldir
Semeghine, do senhor Orlando Birolli, do doutor Luís Ramos passaram pelas mãos restauradoras do
Tonhão, o mecânico, como era chamado pelos colegas e moradores da cidade.
430

Tonhão, o mecânico, trabalhou anos a fio naquilo que sabia fazer de melhor: colocar
automóveis para funcionar outra vez e, rodando, os veículos transportaram pessoas e cargas que
ajudaram a construir a cidade. Entre peças, ferramentas, instrumentos e graxas, as mãos habilidosas
consertaram os motores que fizeram Fernandópolis prosperar e se tornar um centro de região.
Mais um trabalhador brasileiro que fez do seu ofício sua arte de viver; alguém que, em sua
simplicidade, escreveu seu nome na história da cidade fundada por Pereira.
No dia 10 de fevereiro de 1992, seu Antônio de Gênova faleceu às 17 horas e 30 minutos
na Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, vítima de um ataque cardiogênico, aos 66 anos. Ele
completaria 67 anos no dia 5 de maio do mesmo ano. Partiu o homem, mas ficou sua obra na
memória daqueles cidadãos primeiros, os quais mudaram a geografia da região noroeste paulista.
Para a família, Tonhão permanece vivo no sentimento de amor que plantou e em cada fala
proferida como alguém que fez do trabalho sua maior lição.

Colaboração
Centro Educacional SESI 405 Fernandópolis
Equipe de trabalho:
Rosicleide Carósio (diretora pedagógica)
Antônio Rubens de Gênova (professor de Geografia)
Luís Henrique Catanoze (professor de Português)
431

ANTONIO DOS SANTOS (TONICÃO)

Antônio dos Santos, natural de Olímpia (SP), filho de Fernando de Oliveira Santos e Julia de
Aguilar Santos, foi o quarto de nove filhos. Casou-se em 1938, em Olímpia, com Anita de Souza
Santos com quem teve seis filhos, dos quais três ainda vivos: Maria Aparecida, Antonio Gilberto e
Nelson Fernando.
Em 1941, veio para Vila Pereira, instalando-se na fazenda Capivara, onde comprou uma
pequena gleba de Joaquim Antônio Pereira, trabalhando, ali, por dois anos. Deixou a gleba, para
trabalhar com beneficiamento de arroz e, mais tarde, em um engenho de aguardente, pois o
proprietário, Hilhostálio, seu irmão, fora convocado para servir o exército brasileiro na Segunda
Guerra Mundial na Itália.
Assim descreve sua vida em Fernandópolis:

Nasci e me criei em Olímpia. O papai veio para cá passear e achava que a gente
devia vir para cá. Compramos um pedaço de terra na Capivara, de Joaquim Antônio
Pereira, e trabalhamos um ano no sítio. Depois compramos uma máquina ali onde é
a Meimei. Ficamos dois anos. Depois fui fazer negócio com terras. Dava para
ganhar bastante. Uma data custava 200 mil réis cedo e à tarde era outro preço.
Quando estourou a guerra (2ª Guerra Mundial em 1945), meu irmão Ostário
[Ilhostário] foi servir e eu tive que tomar conta do engenho que ele havia arrendado
de Joaquim Antônio Pereira. Trabalhei quatro anos fazendo pinga. Ajudei depois
meu irmão Zeca na abertura da estrada de ferro de Meridiano até Fernandópolis e
ainda trabalhei dois anos na máquina do Olívio Dutra. Até que veio o Edson Rolim.
Ele comprou a máquina e me tirou da sacaria. Me deu casa para morar e passou a
comer em casa. Trabalhei com ele uns dois anos quando surgiu a política.
(HISTÓRIAS, 2003, p. 10B)

Sua história “se mistura com a própria história da cidade”. A estrada até Fernandópolis era
“ruim e tinha muito mato. Me lembro quando o interventor Fernando Costa esteve na cidade para unir
Vila Pereira e Brasilândia, para acabar com a rixa. Não podíamos sequer jogar bola na Brasilândia
que vinha briga” (TONICÃO..., 1995).
Na Vila Pereira, foi agricultor, beneficiador de arroz, produtor de pinga de engenho,
colaborador na abertura da estrada de ferro de Meridiano; trabalhou com Edson Rolim na “sacaria”
(em u’a máquina de beneficiamento de arroz onde é, hoje, a Avenida Amadeu Bizelli, próximo ao
bairro Morada do Sol – antigo Núcleo da Cesp).
Antônio dos Santos lembra que, depois da emancipação de Fernandópolis, o Pereira
(Joaquim Antônio Pereira) “ficou tão emocionado, ele tinha problema de coração. Ele viajava para
Olímpia e voltava, sempre de avião, um teco-teco. Ele morreu no ar, de tanta emoção” (TONICÃO...,
1995).
432

Era conhecido como Tonicão, alcunha carinhosa recebida graças à sua estatura. A respeito
do apelido, a Folha de Fernandópolis (TONICÃO..., 1995) publicou, em 22 de maio de 1995: “Se
alguém perguntar na cidade quem é Antônio dos Santos, provavelmente poucos saberão responder.
Mas, se perguntar por Tonicão, a maioria saberá”. O filho Gilberto complementa: “o apelido Tonicão é
devido ao seu tamanho mesmo, ele é muito alto e, em sua época, na flor da idade, não tinha ninguém
que o encarava” (TONICÃO..., 2008, p. 15).
Embora fosse “rígido na criação dos filhos, o oficial tinha seu lado afetivo. Gostava de
promover churrasco e reunir a família e os amigos” (MORRE..., 2009).
Em 1953, foi nomeado Oficial de Justiça da Comarca de Fernandópolis, através de
concurso público, sendo um dos primeiros a assumir o cargo efetivamente, desempenhando essa
função por 35 anos.
Como Oficial de Justiça, dizia que um dos piores serviços a serem desempenhados “era
despejar um pobre coitado de sua casinha velha. Você tem sentimento e sente aquela dor como se
fosse a pessoa. Mas era obrigação da gente” (TONICÃO..., 1955). Assim é relatada uma de suas
histórias como Oficial de Justiça: “Certa vez, ao executar uma ordem judicial de despejo, Tonicão
ficou penalizado com a situação da família despejada e pagou do seu próprio bolso o aluguel de um
caminhão para transportar a mudança até o sítio de um parente dos executados” (MORRE..., 2009).
Tonicão “era temido e respeitado. Nesse período, Tonicão diz que nunca fez inimigo. ‘Tinha
autoridade de Oficial de Justiça, mas respeitava as pessoas” (HISTÓRIAS..., 2003, p. 10-B).
Uma história mirabolante é relatada por Tonicão, quando da transferência do Cartório Civil
da Brasilândia para Vila Pereira: “Aprontamos uma surpresa para o Cartório Civil que ficava na
Brasilândia. Fomos lá em uma noite e arrombamos a porta, pegamos todos os documentos e
trouxemos tudo para Vila Pereira. Desse dia em diante, o Cartório Civil funcionou em Vila Pereira”
(TONICÃO, 2006, p. 6).
Posteriormente, foi nomeado Comissário de Menores da Comarca durante 25 anos, ocasião
em que colaborou na criação e instalação da Guarda Mirim de Fernandópolis.
Como Comissário de Menores, assim relata seu trabalho:

Naquele tempo, a cidade era pequena, por isso era mais fácil trabalhar. Naquele
tempo você chamava a atenção de um menino e ele obedecia. Hoje ele te xinga.
Comissário de Menores precisa ter autoridade. Naquele tempo todo mundo
respeitava Tonicão. Hoje ninguém respeita ninguém. (HISTÓRIAS, 2003, 10-B)

Tonicão era temido pelos jovens da cidade. “É muito difícil hoje você corrigir um jovem, ele
não respeita ninguém. Eu, o Tonicão, já fui respeitado na cidade. Quando falavam ‘olha o Tonicão lá’,
não ficava um moleque nas ruas.” (TONICÃO, 2006, p. 6).
Um fato pitoresco ocorreu com a prisão do então prefeito municipal Waldir Percy Semeghini
e alguns vereadores e companheiros políticos, todos do “lado do Percy” (Capeta, Jorge Aidar,
Massuda, Esperancine, Armelindo Ferrari – o qual “quis engrossar [...] ele morreu mal comigo”), por
determinação do juiz de direito à época, Dr. Ayoche. Embora Dr. Percy, o prefeito, estivesse afastado
por processo, a câmara municipal deu-lhe posse. O prefeito e os vereadores detidos ganharam a
liberdade pela ação do Dr. Fernando Jacob, através de um “habeas corpus” por ele impetrado.
Uma curiosidade ficou marcada em sua vida. Apesar de ser adversário político de Percy
Waldir Semeghini, nunca fora seu inimigo; pelo contrário, Dr. Percy advogou para Tonicão em
diversas ocasiões. Eram mesmo amigos de “cafezinho”. Se lhe perguntassem sobre essa aparente
incoerência, Tonicão respondia: “antes do Dr. Percy chegar a Fernandópolis, eu já era ‘do outro lado’.
E lealdade é lealdade” (MORRE, 2009).
Politicamente, nunca se envolveu em campanhas como candidato a vereador (embora
tivesse sido convidado): queria ficar livre, sem inimigos, embora fosse “do lado do Rolim e do
Pacheco. Eu era adversário político e não inimigo” (TONICÃO, 1995). Todavia, embora se mantivesse
longe do ativismo político, “as reuniões políticas de sua época eram frequentemente realizadas em
sua casa, e Tonicão lembra que conviveu muito tempo com influentes políticos que fizeram a história
de Fernandópolis” (TONICÃO, 2006, p. 6).
Tonicão relata que
433

historicamente, a disputa política durante as décadas de 50 e 60 estava concentrada


em dois nomes, Édson Rolim (MDB) e Percy Waldir Semefhini (ARENA).
Posteriormente, o “pachequismo” marcou época em Fernandópolis, através da
atuação do Dr. Ademar Monteiro Pacheco, que apoiava e seguia sempre ao lado de
Rolim. (TONICÃO, 2006, p. 6)

Em se tratando de alianças políticas, Tonicão (TONICÃO, 2008, p. 15) confessa:

Eu era bate-pau (cupincha político). Fui bate-pau durante 12 anos, 8 com o Rolim e
4 com o Pacheco. Mas eu não estava sozinho, não, meus amigos estavam sempre
comigo, o Nem, o João Pereira Zequinha, Joaquim Nadal, Vicente Ferreira, José
Geraldeli, o Zé Sarapaté, José Roberto Santana, Pedro Burim, entre outros

Segundo o próprio Tonicão, a política da época “era ferrenha”. Pode-se ter uma imagem
dessa política, segundo suas próprias palavras:

Depois de seis meses da Comarca instalada, o prefeito Rolim foi Fórum e foi barrado
pelo Oficial de Justiça, um tal de Benedito Rezador, que estava de porteiro naquele
dia. Não queria deixar o Rolim entrar, porque estava sem paletó. Foi então que,
depois de conversar como Juiz, o Rolim chegou em casa e perguntou se eu queria
ser Oficial de Justiça. Aceitei e ele e o Pacheco, que era seu vice, foram para São
Paulo e tiraram o Benedito Rezador e me colocaram no cargo. Me apresentei ao
Juiz, Dr. Licínio Rocha, e, depois, fiz um concurso que passei em segundo lugar. Fui
nomeado e fiquei 35 anos no cargo.

Trabalhou, incansavelmente, na recuperação de menores e muito ajudou as pessoas menos


favorecidas, razão pela qual angariou uma legião de “compadres e comadres” na cidade e na região.
No ano de 1992, pelos relevantes serviços prestados à comunidade, foi agraciado com a
“Medalha 22 de Maio”, proposta pelo então vereador Braz Roldan.
Em 1983, aos 70 anos, por força da legislação que regia (e rege) o funcionalismo público,
foi aposentado compulsoriamente, encerrando uma profícua carreira de dedicação e trabalho à
população fernandopolense.
Faleceu em 18 de outubro de 2009, em Fernandópolis, aos 96 anos de idade.

REFERÊNCIAS

HISTÓRIAS do Tonicão. Folha de Fernandópolis. 17 maio 2003, p. 10-B. (Personagem).

MORRE aos 96 Tonicão, 1º oficial de justiça. O Cidadão. 24 out 2009. (Memória)

TONICÃO completa 95 anos de idade e 67 de Fernandópolis. Diário Regional. 22 maio 2008, p. 15.
(Bate-pau histórico)

TONICÃO é o primeiro oficial de justiça de Fernandópolis. Jornal do Interior. 04 fev. 2006, p. 6.


(Nossa terra nossa gente)

TONICÃO, o oficial de justiça que prendeu prefeito e vereadores. folha de Fernandópolis. 22 maio
1995. Caderno B.

Colaboração
Antônio Gilberto dos Santos
Amadeu Jesus Pessotta
434

ANTONIO FONTES GOMES

Antônio Fontes Gomes nasceu em Nova Granada aos 3 de setembro de 1927, filho de
Pedro Fontes Parra e Daniela Gomes Estevão.
Com vinte e um anos de idade (1948), veio para Brasitânia onde fixou residência e passou a
trabalhar como comerciante. Casou-se em 1951 com Lídia Redondo Fontes e, desse enlace,
nasceram duas filhas: Sonia Marli Fontes Ventura e Rosilene Fontes de Arruda, as quais lhes deram
quatro netos.
Homem íntegro, amante do trabalho e sem vícios, residiu por 58 anos em Brasitânia,
sempre lutando por melhorias para a população local.
Ingressou na carreira política como vereador em 1956 representando o distrito de
Brasitânia, na gestão de Ademar Monteiro Pacheco, sempre esteve voltado para a comunidade local;
lutou pela vinda do Cartório de Registro Civil em 1958 e pela implantação de um Posto Telefônico,
fatos marcantes para o distrito.
Seu caráter e sua popularidade o levaram à conquista do cargo na Câmara Municipal, numa
época em que vereador não tinha remuneração nem ajuda de custo para despesas próprias da
função. Ser vereador e lutar pelos seus munícipes era, sim, um ato de doação, e Gomes incorporava
tal sentimento de alteridade.
Sempre muito esforçado, procurava ajudar a comunidade lutando por conquistas para
beneficiar a população; colocava à disposição seu próprio veículo para o socorro aos doentes numa
época em que o distrito não contava com telefone nem ambulância.
Assim comentou Arlindo França, munícipe fernandopolense:

Como vereador, lutou com dificuldades tentando trazer melhorias para o distrito. Mas
não media esforços, quando as máquinas vinham arrumar as estradas, fazia
questão de acompanhar os trabalhos até o fim. Fora da Câmara, continuava
empenhado, lutando por asfalto, iluminação e telefonia.

Em depoimento, a filha Sonia Marly Fontes Ventura asseverou:

Foi um pai maravilhoso, sempre presente.Tínhamos muito carinho por ele, nos
ensinou a ter respeito pelos outros e que a honestidade é um grande valor na vida
de uma pessoa.
Teve pouco estudo, mas mesmo assim entrou na política objetivando lutar para
melhorar nosso distrito.
Para nosso orgulho, conseguiu muito por Brasitânia, e a nossa família e toda a
comunidade vivenciaram essa grande conquista
435

Faleceu em 22 de março de2006 aos 72 anos e deixou seu nome escrito na história do
distrito. Suas conquistas continuam até hoje beneficiando a população e suas atitudes de
solidariedade e altruísmo continuam na memória daqueles que conviveram com ele.

COMISSÃO RESPONSÁVEL PELA BIOGRAFIA

Maria de Lourdes P. S. Pussoli - Diretor de Escola


Aidi Donadelo Teixeira Nubiato - Coordenador
Irene Luiza do Carmo Scatena – Professor de História
Edilson César Mariano Trindade – Professor de Geografia
Andreza Maria dos Santos Campoli – Professor de Língua Portuguesa
436

ANTONIO FRANÇA

Descendente de alemães e austríacos, Antonio França nasceu em Ituverava, interior do


estado de São Paulo, em 27 de outubro de 1917. Casou-se com Carolina de Menezes França em
12/12/1943, e desse enlace nasceram os filhos Humberto, Ulisses e Antonio Carlos de Menezes
França. Sua descendência se amplia com os netos Rita, Ilara, Laura, Bárbara, Caio, Pedro Hugo,
Cristiano e Henrique e os bisnetos Leonardo e Helena. Sua esposa foi professora normalista e
instrutora de ioga durante muito tempo.
Seu pai, Humberto França, e sua mãe, Catarina Bombig França, eram donos de uma livraria
e um jornal, “Tribuna de Ituverava”. Embora nesse contexto de escrita e leitura, o emérito cartorário
fernandopolense cursou apenas o primeiro ano escolar. Por outro lado, pela sua competência de
autoaprendiz, fez brilhante carreira no mundo das letras e palavras. Começou humildemente como
anunciante de cinema, carregando cartazes na frente e nas costas. No cinema, assistia aos filmes por
detrás da tela, molhando-a para que não pegasse fogo, pois a luz era muito forte. Com isso,
aprendeu a ler até mesmo de trás para a frente.
Foi engraxate e carpinteiro, ofício que aprendeu quando empregado de André Vidal (pai de
Wilson Vidal, outro importante cidadão fernandopolense), vindo até mesmo a fazer esquifes (caixão
de defunto).
Começou na carreira cartorária também com humildade. Trabalhou como faxineiro e ali
aprendeu datilografia, em que as máquinas eram colocadas sobre caixas de madeira. Passou pelas
funções de auxiliar, escrevente e, finalmente, oficial.
O primeiro cartório do qual foi responsável era em São Luiz do Paraitinga (SP). Depois de
um concurso, Antônio França pôde escolher um novo cartório. De três vagas disponíveis
(Fernandópolis, Jales e Votuporanga), escolheu Fernandópolis, antes mesmo da instalação da
comarca em 1953, pois foi em seu cartório que se deu a assinatura da ata da instalação. A escolha
deveu-se a dois motivos: França já conhecia a região, para onde sempre vinha pescar na Cachoeira
dos Índios, com a sua turma de Ituverava, e por entender que Fernandópolis era a cidade com maior
possibilidade de crescimento na região.
Quando Antonio França veio para cá, trouxe consigo para trabalhar no cartório Luiz França,
José Paulo França, Wilson Garcia Vidal, João Alberto Teles Franco e Moacyr Molina. Seu cartório era
de registro de imóveis, mas centralizava também a parte civil, criminal e eleitoral. Ele próprio
datilografava os júris. Trabalhou cerca de 50 anos em cartório, tendo-se aposentado em 1988, com
aposentadoria compulsória, por idade.
173
É de João Alberto Teles Franco este depoimento :

[...] quando fui convidado pelo Sr. A. França para que viesse a trabalhar em
Fernandópolis, como não tinha experiência de nada de cartório, não fiquei muito

173
Depoimento escrito dirigido a Dr. Jesiel Bruzadeli Macedo em fevereiro de 2012.
437

animado. Ele disse que com o tempo a gente ia se entrosando com o trabalho, então
aceitei esta batalha. [...] Como não tinha conhecimento [na cidade], peguei uma
charrete e pedi que me levasse à sua residência, que era dois quarteirões da
rodoviária, quando fui recebido com alegria e carinho pelos seus irmãos Luiz Franco
e José Paulo França.

França lia muito e assinava vários jornais, principalmente a Folha de São Paulo e o
Estadão. É de João Alberto que vem outro depoimento: “O Sr. Antonio França era uma pessoa que lia
muitos livros, jornais, normas de serviço, diário oficial, tinha grande conhecimento com a área jurídica
e um grande relacionamento com juízes, promotores, desembargadores”.
Gostava de passar as férias pescando no Pantanal na companhia de amigos ilustres:
Scalope, Antenor Ferrari, Germano Hernandes, Vigorelli, Milton Camargo, Alvizi e outros. Ao voltar,
costumava fazer reuniões em sua casa para passar os slides da pescaria.
Quando foi construída a sede social do FEC na Rua Rio de Janeiro, Antonio França era o
presidente da entidade, tendo sido responsável pela sua arquitetura e pela sua acústica perfeita (a
melhor da araraquarense). A inauguração do clube se deu em grande estilo, com a orquestra Cassino
de Sevilha.
França foi presidente da Guarda Mirim na época do juiz Antero Lichoto.
Fez parte da diretoria da APAE e do Parque São Vicente de Paulo, embora tenha
enfrentado muitas dificuldades por questões políticas: era pachequista, plataforma política de
tendências negativistas na cidade.
Antonio França faleceu no dia 23 de maio de 1993, aos 75 anos de idade.

Colaboração
Família França
438

ANTÔNIO OTÁVIO SIMÕES MOITA

Antônio Octávio Simões Moita nasceu em São José do Rio Preto, no dia 26 de dezembro de
1938. O pai, Aparício, foi um pioneiro na urbanização do noroeste paulista; a mãe, Iolanda, a primeira
bibliotecária da cidade. Antônio Octávio nunca foi chamado assim. O apelido, Tota, foi dado pela
irmã, Edna, ainda na infância. Depois de formado, muitos passaram a chamá-lo de Doutor Moita, mas
não eram poucos os que se referiam a ele como Doutor Tota.
Formou-se em Direito em 1966, no Instituto Toledo de Ensino, em Bauru. Já advogado,
trabalhou no escritório do renomado criminalista Dr. Fernando Jacob, junto com o também advogado
Dr. João Fachim. Nesse período, fez dois dos maiores amigos de toda a vida.
Tota foi muitas coisas nessa vida, mas por uma coincidência dessas que vêm do além, o
Direito o encontrou e ele o encontrou também. A partir de formado, toda sua vida passou um pouco
pelo Direito. Conheceu a Martha Flora, sua esposa, ao advogar para ela; o ramo de frigoríficos, ao
livrar os sócios Cláudio Rodante e João Matioli de uma multa vultosa. Era sempre o advogado. Às
vezes, em uma conversa com os filhos, irmãos, cunhados ou amigos, dizia: “Isso eu te digo como
advogado”, e vinha então uma sentença cheia de bons conselhos jurídicos sobre qualquer tema.
Jus est ars boni et aequi (O direito é a ciência do bom e do justo) era uma frase que
adorava citar. Era essa eloquência, cheia de informalidade, que o tornava confiável, e assim, à
medida que mostrava familiaridade com a lei e os preceitos legais, acabava sendo imprescindível.
Antes, porém, quis muito ser engenheiro. Foi para São Paulo onde trabalhava em um banco
alemão como contínuo de dia e à noite fazia o científico. Nos finais de semana, ajudava na mercearia
de seu tio preferido, o Tidinho. O curso puxado e a rotina pesada acabaram trazendo o jovem Tota de
volta à amada Fernandópolis, onde prestou exames para a Escola de Comércio e, depois, foi ser
coletor.
A curiosidade vocacional sempre o levou a experimentar desafios diversos. Foi auxiliar
prático de dentista, desenhista no escritório de Nagib Aidar e custeou seus estudos em Direito
trabalhando na Coletoria da Fazenda Estadual. Impossível aqui lembrar o nome de todos os amigos
da repartição, mas foi um período da vida que ele sempre lembrou com muito prazer.
Em 1984, durante a Expô Fernandópolis, presidida pelo Sr. Cláudio Rodante, auxiliou o
sócio e amigo e, juntos, fizeram uma festa que foi um dos marcos da cidade. Trouxe grandes
cantores, construiu o primeiro palco de frente para arena, bem como boxes para os comerciantes
instalarem suas lojas. A Expô foi gratuita, porém, Dr. Moita sempre acreditou na profissionalização da
festa, em uma comissão permanente que gerisse o parque o ano inteiro a fim de aproveitá-lo; afinal
como ele mesmo dizia, era um grande desperdício não utilizá-lo.
Foi sob sua liderança, em 1987, que o Projeto Participação da Rede Globo de televisão
trouxe à cidade vários atores famosos. Foram montados pedágios, e os artistas arrecadaram fundos
suficientes para o início da construção da APAE Rural em Fernandópolis.
439

Como empresário, lutou para que a classe patronal do comércio e da indústria possuísse
uma sede própria que abrisse caminho para eventos, palestras e cursos, engendrando um projeto
maior, que era a implementação de cursos profissionalizantes na cidade. O sonho foi realizado
quando presidiu a ACIF. Dentro do setor de frigoríficos, teve importante participação na entidade de
classe estadual, tendo sido vice-presidente do Sindicato do Frio.
Politicamente, sempre se posicionou e se reposicionou. Entusiasmado com Jânio Quadros,
tinha debates acalorados com o pai, Aparício, ademarista convicto. Quando Jânio renunciou, era
obrigado a escutar o deboche paterno, através dos versos anedóticos: “ontem alegria imensa, hoje
mágoa profunda; ontem a vassoura no peito, hoje o cabo...”. Depois, tornou-se crítico e opositor do
regime militar. Junto com o cunhado e amigo Raul Gonçalves, esteve sempre à frente do MDB
municipal, lutando pela redemocratização do país.
A preocupação em assistir os mais necessitados sempre esteve presente na vida de Tota.
Foi um dos grandes filantropos desta cidade. Raras entidades locais deixaram de ser auxiliadas por
ele. A filantropia, entretanto, não era uma característica individual, antes, toda a sua família,
notadamente a mãe, Iolanda, já apresentava preocupações humanistas.
O resto todo contamos aí em cima. Meu pai decerto ficaria satisfeito de ver sua biografia
contada assim, pois detestava qualquer tipo de cronologia.

Colaboração

Antônio Octávio Simões Moita Filho, com auxílio dos irmãos e da mãe
440

APOLINÁRIO DE MATTOS

A família Mattos chega a Fernandópolis em 6 de abril de 1946 e se instala na Rua Paraíba,


896, cujos derredores vêm a se tornar seu polo empresarial.
Apolinário de Mattos nasceu na freguesia de Tourigo, conselho de Tondela, distrito de
Viseu, Portugal, aos 22 dias do mês de novembro de 1894. Em Portomar Mira, também Portugal,
conheceu Maria Dolores Pires de Mattos, com quem se casou no dia 04/08/1917. O casal gerou 14
filhos, dos quais 10 (5 casais) vingaram e fizeram sua descendência, hoje 15 netos, cerca de 10
bisnetos e 1 tataraneto. Em segundas núpcias, Apolinário casou-se com Maria da Conceição Mattos
em 20/11/1958, em Jaraguá, São Paulo, de cujo consórcio não houve descendentes.
A rota desse heroico português e sua família passa pelas cidades de São Paulo, Lins,
Marília (“Alto Cafezal”, na época) e Mirassol, mas vem criar raízes em Vila Pereira. No interior
paulista, trabalhou com o benefício e comércio de café.
Na verdade, os filhos José e Luís de Mattos vieram à frente como batedores, chegando a
Vila Pereira no dia 9 de março de 1946, trocando o conforto da luz elétrica (geladeira, rádio e vitrola)
e água encanada pelo o lampião Aladin e pequenos candeeiros e lamparinas e pela cisterna.
Alojaram-se em casas de chão batido na Avenida 7, vizinhos da família Alvizzi, também
desbravadores.
Idealista e de espírito aventureiro, este ousado empreendedor fernandopolense associou-se
a outro eminente empresário, João Birolli, para marcarem época no comércio de benefício de café e
arroz e na produção de fubá na cidade e região. Proprietários de empresa do ramo em Mirassol,
ampliaram seus negócios em Fernandópolis, comprando a máquina de benefício de arroz (tocada a
vapor) e o moinho de fubá de Amadeu Bizelli, cujas instalações abrangiam todo um quarteirão da Rua
Paraíba, entre as avenidas 7 e 8.
Fundador do aeroclube de Mirassol, fez curso de piloto privado e chegou a voar em um
Teco-teco Tapis. Só não foi “brevetado” porque tinha a cidadania portuguesa, e era época da II
Guerra Mundial.
Os Mattos marcaram história nos feitos sociais, filantrópicos e culturais na cidade de
Fernandópolis. Repetindo feitos altruístas da cidade de Mirassol, Apolinário de Mattos esteve à frente
da fundação da Santa Casa, da qual foi seu primeiro provedor (02/1948 a 02/1949), e da Associação
Comercial, Industrial e Agrícola das duas cidades. Foi fundador do Centro Espírita Redentor do
Racionalismo Cristão, cujo primeiro presidente foi seu filho Luís de Mattos. O próprio Apolinário foi
presidente dessa entidade de 1965 a 1970.
Tanto Apolinário como Luís foram veneráveis e oradores da Loja Maçônica Benjamin Reis.
A filha Wanda (residente em Fernandópolis durante 13 anos) relata que, quando o pai entra para a
441

maçonaria, a família ofereceu um grande banquete para colaboradores ilustres de Fernandópolis:


Luís Antônio Baraldi, Saturnino Leon, José Scarlate, Manoel Marques Rosa e Miguel Martins.
Emocionada e agradecida, relata ainda que a cirurgia, o tratamento e a estadia no hospital (Santa
Casa), mais o velório e o sepultamento não custaram nada à família.
Apolinário era fotógrafo amador, tinha seu próprio laboratório, era ampliador e registrou, em
fotos, a exuberante safra de arroz de 1946. A máquina beneficiadora trabalhava em dois turnos e os
grãos acabaram por ser armazenados em terreiros e pilhas cobertas por encerados de caminhão.
A amizade e a parceria entre as famílias Mattos e Birolli eram seladas nas reuniões culturais
e nos serões. O engenheiro da Diesel Theodoro Becker, que vinha a Fernandópolis para dar
manutenção ao maquinário, era exímio violinista e hospedava-se na casa paroquial, acolhido pelos
seus colegas de colégio Padres Canisio e Hugo, também violinista e amante da fotografia. Assim, a
amizade entre todos se fortalecia via trabalho e cultura.
Diante das dificuldades da época, esses verdadeiros bandeirantes do noroeste paulista
sempre usaram de muita criatividade e bom senso para alcançarem seus objetivos. Para tocar a
máquina de benefício de café (marca Tonani), adquiriram um motor a diesel, trazido da cidade de
Catanduva, acompanhado de um competente engenheiro, Theodoro Becker, e seu ajudante Pedro
Arakaki. Conforme relato da filha Wanda de Mattos Radetic, a inventividade ajudava na sobrevivência
com o mínimo de conforto:

[...] o José criou um fogão feito em ferro, com uma moega, alavanca e grelha que,
encaixado à boca de fogão de lenha, possibilitava cozinharmos com palha de café, e
muito bem. Na década de 40, sem saber, o espírito ecológico já emergia deixando
de queimar madeira. Comprou um motorzinho francês Bernard movido a gasolina,
uma bomba d’água e um dínamo. Fez um encanamento rudimentar e instalação
elétrica, e de dia colocávamos a correia na bomba que puxava a água da cisterna e
enchia a caixa instalada sobre dois pilares de aroeira e servia a casa, inclusive com
água quente, aquecida nas serpentinas colocadas no fogão, e à noite mudávamos a
correia para o dínamo e então tínhamos luz elétrica até nos recolhermos para
dormir.

A região era próspera. A Vila Pereira crescia e os negócios no ramo de cereais se


ampliavam: Guilherme Cechini construiu uma tulha para armazenamento de café, e os carros de boi
transportavam diuturnamente os grãos. O café beneficiado era transportado de caminhão para
Votuporanga, que já contava com a linha férrea, de onde era encaminhado para o porto de Santos.
Apolinário Mattos sempre atuou com grandes exportadores do mercado santista, levando nossos
produtos para o exterior.
Dos filhos, Luís Domingues Pires de Mattos contribuiu bastante com Fernandópolis,
participando da fundação do Lions Cube, do Lar Melvin Jones e do Banco de Olhos. José de Mattos
era o braço de direito de Apolinário, cuidando, com habilidade e esmero, da maquinaria da empresa.
Romeu de Mattos, professor, foi membro do Rotary Clube e dirigente do CPP. Uma família altruísta
que deixou sua contribuição para a cidade.
Maria Dolores Pires de Mattos, que nascera em 27/07/1892 em Portomar Mira, em Portugal,
faleceu no dia 17 de agosto de 1956, em Fernandópolis. Todas as despesas das exéquias foram
sustentadas pela maçonaria, que doou também um jazigo perpétuo no Cemitério da Saudade.
Em março de 1984, Apolinário de Mattos foi submetido a uma cirurgia, devido a uma
obstrução do intestino, na Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, onde permaneceu internado
por 20 dias. Veio a falecer no dia 2803/1984, aos 89 anos. Muitos de seus feitos permanecem ativos
e na memória grata dos fernandopolenses.

Colaboração
Vanda Mattos Radetic
442

ARISTÓTELES ALVARENGA

Aristóteles Alvarenga, descendente dos Alvarengas da Inconfidência Mineira, nasceu em


São José do Rio Preto (SP), filho de José Augusto Alvarenga e Benedicta Cândida de Jesus. Embora
tenha nascido em 25 de fevereiro de 1929, só foi registrado e 16 de novembro de 1929 pelo pai.
Do casamento com Neide Monti Alvarenga, em 29 de junho de 1950, em sua cidade natal,
nasceram José Roberto Alvarenga, em 1951, hoje casado com Marisa Brasilina Gandorphi
Alvarenga; Aristóteles Renato Alvarenga em 1952 (ainda solteiro); e Rosemberg Alvarenga, em 1960,
hoje casado com Sonia Regina Brait Alvarenga. Os enlaces matrimoniais de seus filhos lhe deram
cinco netos/as.
Iniciou seu trabalho no cinema aos 7 anos, pois queria ganhar “dim dim” e ajudar sua mãe.
Começou indo buscar, na estação de trem de São José do Rio Preto, as latas em que vinham
acondicionados os filmes.e as despachava para outras cidades. O Sr. Antônio Curti era proprietário
dos cines de São José do Rio Preto, Olímpia, Barretos, Cedral, Mirassol, Tanabi, Cosmorana,
Votuporanga (dois cinemas), Fernandópolis (dois cinemas), Estrela d’Oeste, Jales e Santa Fé do Sul.
Trabalhando para Curti, varria o cinema, limpava a poltronas e, como era muito observador,
logo começou a se interessar pela cabine de onde eram projetados os filmes.
O Sr. Polaquini, gerente geral do cinema de Rio Preto, vendo o seu interesse pelo cinema,
começou a ensiná-lo a projetar o filme; embora contasse apenas 10 anos, logo se familiarizou com a
máquina de projeção. Ali trabalhou até 1950, quando se casou.
Como o trabalho no cinema não lhe retornasse o suficiente para manter a nova vida,
começou a trabalhar no Expresso Salomé como viajante e organizador de transporte de cargas.
Convidado pelo Sr. Curti, em 1953, veio para Fernandópolis com a família, a fim de realizar
uma experiência por três meses como gerente do Cine Santa Rita, na esquina da Rua Brasil com
Manoel Marques Rosa (o local, hoje, serve de ponto de comércio), na época, de propriedade dos
irmãos Angelucci.
Por essa época, segundo lembra Da. Neide, as ruas eram de terra e só existia calçamento
de paralelepípedos na Rua Brasil, em frente da Casa Matos e Casa Lisboa. Conta, também, que
havia uma capelinha onde e hoje a Igreja Matriz; não havia jardim: ali, apenas se espraiava um pátio
de terra.
Não havia poço de água potável; na verdade, havia um único poço para as famílias e, ainda,
com água salobra e contaminada por fossas. O resultado eram constantes contaminações dos
moradores; seu próprio filho Renato ficou doente (tinha 9 meses) com amebas, e o médico de então,
Dr. Alberto Senra, se viu na impossibilidade de proceder à transfusão de sangue (por não haver
doador) e teve de ir a Rio Preto tratar-se. Também não existiam frutas (maçã, laranja, mamão) para
oferecer às crianças. Da mesma forma, lembra que havia apenas um carro de praça (táxi), que
costuma ir até Brasilândia e a estação por uma estrada de terra batida, margeada por capinzal.
443

Participou ativamente da construção do Cine Fernandópolis, situado na Avenida


Expedicionários Brasileiros, na confluência com a Rua São Paulo. Trabalhou na empresa até o
encerramento das atividades dos dois cinemas. O cine foi construído dentro de uma grande chácara
e inaugurado com grande festa e contou com a presença de fanfarra.
De posse dos dois cinemas em Fernandópolis, o Sr. Curti transformou Aristóteles Alvarenga
em seu gerente; Alvarenga se tornaria, também, supervisor dos cinemas da região.
“Seu” Alvarenga, como era popularmente conhecido, era lembrado pelo seu carisma,
cordialidade e prontidão com que recebia as pessoas. Sempre sorrindo, transparecia calma e
gentileza.
Gostava de participar (e o fez ativamente) dos desfiles de comemoração do aniversário da
cidade e do carnaval; costuma distribuir ingressos para as crianças frequentarem as matinês, a fim de
que conhecessem o que era um cinema: segundo Alvarenga, era uma atitude educativa que,
também, retirava as crianças da rua. Costumava, igualmente, promover sessões relâmpago com o
intuito de atrair pessoas para o cinema, com ingressos mais baratos.
Participava sempre das quermesses destinadas a construir a Igreja Matriz. Nelas, Alvarenga
se transformava em um dos leiloeiros das prendas produzidas por Da. Neide e suas companheiras
(frango frito, bolos, assados, quitutes). Da. Neide lembra que, só após a construção da Igreja Matriz,
foi demolida a capela e o barracão existente ao lado da Igreja Matriz.
Foi dele a ideia de promover o carnaval popular. Fernandópolis nunca tinha contado com
carnaval, e Alvarenga, junto com alguns companheiros, propôs-se organizar um baile de carnaval,
descendo a Rua Pernambuco; a festa foi um sucesso. A partir desse embrião, teve a ideia de juntar
dinheiro para comprar um terreno e realizar um baile em local apropriado, com um diretoria e ele à
frente. Fundaram o Tênis Clube.
Foi sócio fundador do Fernandópolis Esporte Clube (FEC), sito no prédio da Rua Rio de
Janeiro, atual Unibanco/Itaú. Também participava das atividades da Associação Desportiva de
Fernandópolis (ADF, na Rua Rio de Janeiro, próxima ao Fórum atual) local de lazer e encontro das
crianças, jovens e adultos, especialmente para a diversão nas piscinas e quadras do clube. Os dois
clubes, o FEC e ADF, seriam fundidos e, mais tarde, também receberiam o Uirapuru Tênis Clube.
Vindo de família espírita, frequentava o Centro de Seu Bento, onde “dava passes” e,
posteriormente, a Associação Espírita Pátria do Evangelho (Meimei), em que colaborava com
almoços e “passes”.
Da. Neide conta que havia muita criança que pedia comida na rua. Ela costumava fazer
uma “panelona” de sopa e distribuía no portão de baixo do cine Fernandópolis; “seu” Alvarenga vinha
ajudá-la na distribuição da sopa. Foi aí que nasceu a ideia de, com outros companheiros, fundarem a
Casa da Sopa no Jardim Planalto. Prestativo, dinâmico, generoso e solidário, foi assim, por muito
tempo, voluntário ativo da Casa, onde se via trabalhando constantemente em favor dos menos
favorecidos e atendendo à comunidade local. Sempre se caracterizou pelo jeito expansivo e
sorridente, que o tornou uma figura muito conhecida na cidade.
Seu falecimento ocorreu em 28 de julho de 1995, após sucessivas paradas cardíacas.
Alvarenga deixou um legado de exemplo de homem de bem, altruísta, dinâmico e de fácil
relacionamento.

Colaboração
Família Alvarenga
444

ARMELINDO FERRARI

Armelindo Ferrari nasceu no dia quatro de junho de 1923, na cidade de Ariranha, São
Paulo. Era filho de Amélia Cappi Ferrari e Pedro Ferrari. Tinha treze irmãos: Regina, Angelina,
Cezarino, Disolina, Carlos, Pascoalina, Maria, Helena, Luiza, Adélia, Leonor, Antenor e Altair.
Em 1943, com 18 anos, chegou a Fernandópolis com sua família.
Em 1945, Armelindo Ferrari e os irmãos fundaram, onde é hoje a Avenida Manuel Marques
Rosas, a “Fábrica de Bebidas São Pedro”, fonte de trabalho para grande parte da pequena população
local. Tinha como lema o dinamismo, a responsabilidade, o trabalho e o progresso.
No ano de 1950, casou-se com Maria Aparecida de Almeida Ferrari. Com ela teve sete
filhos: Pedro Ferrari Neto, Paulo Roberto Ferrari, Armelindo Ferrari Junior, Tânia Regina Ferrari,
Telma Regina Ferrari, Carlos César Ferrari e Thaís Regina Ferrari.
Com a família constituída, Armelindo Ferrari sente necessidade de lutar pela cidade onde
mora. Começa, então, sua militância política. Foi vereador na Câmara Municipal de Fernandópolis
durante 12 anos, secretário da Câmara Municipal no ano de 1969, prefeito municipal no quadriênio
174
1973-1976 , fundador e presidente da Associação Comercial e Industrial de Fernandópolis, primeiro
presidente do Mobral e membro da Diretoria do Rotary Clube de Fernandópolis.
Em 1968, participou do Cursilho de Cristandade e, no ano de 1969, foi tesoureiro do Partido
da Aliança Renovadora Nacional (Arena).
Homem desprendido e ansioso pelo progresso de Fernandópolis, doou um terreno para a
construção da EEPSG Antônio Tanuri e um quarteirão para a construção da Igreja São Pedro.
Além do bom desempenho como homem público e como empresário, Armelindo Ferrari teve
outro grande mérito: foi ótimo chefe de família. Passou a todos os seus filhos o senso do trabalho, da
dignidade e da amizade. Era um homem sério, calmo, controlado e muito religioso.
Faleceu no dia 31 de janeiro de 1972, com 49 anos.
Em homenagem ao seu desempenho como cidadão e político da sociedade local e pela
contribuição ao progresso de Fernandópolis, em 25 de agosto de 1980, a escola EEPG do Jardim
Guanabara, passou a ser chamada EEPG Armelindo Ferrari.

Colaboração
Diná Ruy Cogo
Maria Elisa Pinheiro
Ana Angélica Neves de Oliveira
Soleni Teixeira Lima Risssato

174
Para saber de sua gestão como prefeito de Fernandópolis, consultar a parte histórica (Parte A) desta obra.
445

BERNARDO PESSUTO

Aos seis dias do mês de junho de 1906, nascia na Itália, na comunidade de Piavon,
Província de Treviso, um meninozinho que, na pia batismal, receberia o nome de Bernardo, o sexto
filho do casal Mansuetto Pessuto e Emília Dorzetto Pessuto.
Tinha nove irmãos: Carlos, Margarida, Innocenty, Ottorino, Pásgua, Maria, Gemma, Antonia
e Adolfo. Viviam em uma área da zona rural, morando em uma casa bem grande, em verdadeira
comunidade: eram mais de 60 familiares na mesma casa. O lema era: “um por todos e todos por um”.
Lavravam a terra e dela colhiam tudo para a subsistência da família toda. Enquanto alguns
iam para a roça, outros cuidavam da casa, outros fiavam e teciam roupas para todos. Faziam até
seus sapatos.
A melhor e a mais sagrada hora era quando todos se reuniam ao redor da grande mesa
para o alimento. Aí tinham tudo do melhor e feito com carinho: a gostosa polenta com polastro
(frango), “La Pasta” (macarrão da mama), Caneloni, Rondeli, Pizza. A mesa sempre foi motivo de
reunião.
O menino Bernardo crescia como qualquer moleque: brincava, aprendia lições, fazia
travessuras. Tudo ia bem, quando estoura a Primeira Guerra Mundial, a de 1914, e a família Pessuto
se vê obrigada a partir da terra querida, à procura de novos dias que lhe trouxessem paz e
segurança.
Assim, partem para o Brasil em longa viagem de navio e começam a trabalhar em lavouras
de café na região de Ribeirão Preto. Nessa ocasião, Bernardo contava com 8 anos.
Depois de algum tempo em Ribeirão Preto, mudaram para a região de Cedral, onde
encontrou aquela que, futuramente, seria sua esposa, Anna Colli, conhecida como Alemãzinha, e
com ela formaria uma família.
Levou a vida como qualquer jovem: trabalhos, passeios, bailes. E foi num desses “bailes da
roça” que pediu a jovem Anna em casamento e aos 15 de fevereiro de 1930, a Igreja São Luiz de
Cedral, recebe-os para selar um compromisso de amor.
Nesse dia, começaram uma vida de muitos sacrifícios, lutas e dificuldades, mas sempre
recompensada pelo amor que os unia. Dessa união nasceram os filhos: Luiz, Walter, Gilberto, Darcy,
Jurandy, José e Maria José, que hoje se orgulham de ter vindo de um lar simples, mas muito bem
alicerçado.
Bernardo Pessuto, antes de se instalar definitivamente em Fernandópolis, tentou fixar
residência em vários lugares, mas foi aqui fixou morada: adotou Fernandópolis como se fosse sua
pátria verdadeira e a que amou e defendeu.
Colaborou para o seu engrandecimento. Seu sítio de café deu lugar ao asfalto, a lojas,
bares, igreja, escola. Doou o terreno da Igreja São Bernardo, da Praça, do Centro Comunitário e da
Escola Prof. Ivonete Amaral Silva Rosa e metade do cemitério da Consolação.
446

Deu total apoio ao time da casa ABE (Associação Bancária de Esportes), que nasceu dentro
da sua casa, conforme ata registrada no cartório e que posteriormente viria a ser o FFC.
Muito trabalhou arrecadando fundos para construir a Capela de Nossa Senhora Aparecida e
a Igreja Matriz Santa Rita de Cássia. Usava seu caminhão Ford 36 para arrecadar prendas nos sítios
para posteriores leilões. Seu caminhão vinha lotado de café, milho, arroz e outras prendas, e teve
como companheiros nesta jornada o bispo Dom Arthur Horsthuis e os senhores Baitelo, Michelutti,
Gavioli, Brandini, Romeu Soares, João Cavallin, José Leone, Armando Farinazzo, Gabriel Costa,
Raul Frota, Rodolfo Benfati, Leontino Moura.
Nessas andanças levava consigo um cachorrinho bassê pretinho de nome: Bidú. Era seu
amigo fiel.
Tinha como “hobby” caçar pacas com seus amigos, e o cachorrinho Bidú mostrava-se
sempre bom caçador.
Outro “hobby” que os filhos não esquecem é que, por ocasião da Páscoa, a sua esposa
tingia ovos de galinhas, cozinhando-os; ele e o amigo Michelutti passavam horas acertando
moedinhas nos ovos. O vencedor levava para casa os ovos rachados e os filhos torciam muito, pois
os ovos que ele ganhava, os filhos comiam. Era a Páscoa!
Recebeu várias homenagens em vida, sendo uma das mais importantes a concessão da
Medalha 22 de Maio no dia 12 de maio de 1982, pelos relevantes serviços prestados à comunidade.
Entre as homenagens recebidas post mortem está o nome da Cohab Bernardo Pessuto.
Deixou aqui uma família grande: 7 filhos (1 falecido ainda criança), 6 noras, 1 genro, 37
netos e 27 bisnetos, que procuram sempre honrar seu nome.
Os filhos herdaram o gosto de sentar à mesa para comer com prazer a boa comida italiana,
e conversar tomando um bom vinho, guardando sempre as tradições. E uma das tradições que
jamais deixaram morrer é a de comer “Crostolli” ou “Latuggui”, toda terça-feira de carnaval.
A família lembra também que o pai encomendava um vinho fino e precioso, que chegava
em uma cartola do Rio Grande do Sul, para algumas famílias italianas. Quando chegava essa cartola,
era verdadeira festa. A cartola, porém, durava meses, pois o vinho era degustado com muita regra.
Bernardo morreu aos 26 de fevereiro de 1987, e Anna, aos 22 de setembro de 1995.
Bernardo e Anna continuam vivos no coração das pessoas que conviveram com eles; e
mais: não poderiam ser esquecidos, principalmente Bernardo, porque existe uma comunidade e um
bairro com seu nome.
Se Bernardo estivesse vivo, hoje, muito se orgulharia de ver Fernandópolis, o progresso do
bairro, que um dia foi seu sítio, a beleza da Praça São Bernardo e da Igreja, o forte trabalho daquela
comunidade, o dinamismo da nossa terra impregnada pela força jovem. Deixou registrado, nos anais
da nossa história, exemplos de dignidade, amor à família, amor e serviço ao próximo e a grande
paixão por esta cidade.

Colaboração
Maria José Pessuto Cândido
447

CENAFONTE CECATTO

Cenafonte Cecatto nasceu em Vila Bomfim, região de Ribeirão Preto (SP), em 11 de


outubro de 1907, filho de Guiseppe Cecatto e de Domingas Bellon, naturais da Província Treviso,
Itália. A família mudou-se para o Vilarejo de Ingás, distrito de Nova Granada e, junto com os irmãos,
trabalharam na lavoura de café. Viria, também, a dedicar-se a serviços de carpintaria.
Conheceu Felisbela de Souza, com quem se casou em 12 de outubro de 1935. Tiveram
cinco filhos: Rumildo, Waltides, Zulmira, Onelso e Onilce.
Em início de agosto de 1942, mudou-se para Vila Pereira com seus três irmãos: Adelino,
Silvestre e Eduardo (que continuaram com o trabalho nas lavouras de café).
Cenafonte, dedicado aos serviços de carpintaria, sentiu necessidade de estabelecer uma
oficina e optou pela saída da estrada principal, na época, para Jales-Santa Fé do Sul e Mato Grosso.
Montada a pequena oficina, além dos serviços de carpintaria, passou a trabalhar com
ferraria. Com as duas atividades, o serviço aumentou na oficina, o que fez com que seus irmãos
viessem a trabalhar junto na atividade de consertos.
Logo passou a fabricar carroções e carroças, usados no transporte da época: charretes de
uso urbano e rural. Também fabricou as ferragens e o madeiramento de muitas construções, entre
elas a da Santa Casa de Misericórdia e o Matadouro Municipal.
A maioria de suas máquinas, usadas no preparo da madeira, foram montadas por ele
mesmo com as peças principais fundidas em São José do Rio Preto, as quais funcionavam dispostas
ao longo de uma transmissão, acionada por um motor a diesel (ainda funciona no mesmo sistema
com motor elétrico), no mesmo barracão construído com incentivo do seu amigo Afonso Cáfaro, que
produzia tijolos. A oficina continua no mesmo local, com atividades de concerto, onde ainda
trabalham seu filho mais velho e o caçula.
Em Fernandópolis, nasceram mais três filhos: Maria Aparecida, Ruty e Roberto, sendo
gêmeos os dois caçulas, completando a família dom oito filhos.
Cenafonte Cecatto era conhecido por seu nome de batismo “Américo”. Era uma pessoa
solidária; católico, participava de todas as atividades da igreja. Muito prestativo com as entidades:
fazia, de todo o coração, trabalhos para a Igreja, escolas, Santa Casa (para a qual, muitas vezes,
procurado por médicos, cedia “seu cilindro de oxigênio” em casos de emergência). O curioso é que,
entre suas diversas habilidades, destacava-se por aplicar injeção (para o que era muito procurado).
Considerava-se um pequeno esportista, cujo jogo predileto era bocha, esporte em que se
destacou entre os bons jogadores da época.
Cenafonte (Américo) conquistou muitos amigos e sempre se mostrou um pai dedicado, que
tudo fazia pelos filhos.
Ele amou esta cidade, por isso era sempre presente. O que ele pôde fazer por ela, ele o fez.
Tem-se a certeza de que Fernandópolis e a família eram tudo para ele. Deixou-nos no dia 25 de
março de 1984.

Colaboração
Escola Estadual Afonso Cafaro
DEODATO ANTONIO PEREIRA 447-B

DEODATO ANTONIO PEREIRA nasceu em Olímpia (SP) em 17 de junho de 1905.


Filho de Joaquim Antonio Pereira e de Dna. Ana Maria de Jesus, o menino curioso e
irrequieto, buscador de sonhos e conhecimentos, foi encaminhado por seu pai, às melhores
escolas do Estado. Estudou no Colégio Marista “Champagnhat” em Franca.
Formou-se pela Escola “Caetano de Campos” da Capital.
Nessa casião, no ano de 1932, jovem e idealista, aliou-se à frente do Movimento
Revolucionário, partindo, então, para o campo de batalha, para defender a nossa Constituição.
Com a finalidade de agradar ao seu pai, a seu pedido, esteve na cidade do Rio de
Janeiro, onde iniciou o Curso de Medicina. Todavia, percebendo que essa não era a sua
vocação, ingressou no Magistério, dedicando-se de corpo e alma.
Foi um grande didata. Gostava muito de leitura, seu grande passatempo. Leu quase
todos os clássicos da nossa Literatura.
Outro “hobby” do professor Deodato era a prática da caminhada. Muito antes do
Cooper, o “velho mestre”, levantava-se às cinco (05) horas da manhã e percorria as ruas e
campos, num trajeto de aproximadamente doze (12) quilômetros diários.Dizia:- Saio bem cedo
para ver, no campo, o maior espetáculo da Terra, que é o nascer do Sol.
Fazia, então, as suas preces e agradecia ao Criador, o majestoso presente.
Casou-se com a Professora Julieta de Rosis Batauz e dessa feliz união conjugal
tiveram cinco (05) filhos: Martha Maria Pereira, Ana Maria Pereira, Leda Maria Pereira, Regina
Maria Pereira e Marco Antonio Pereira. Ambos lecionaram na cidade de Olímpia (SP), onde se
aposentaram.
Deodato sempre que podia, acompanhava seu pai Joaquim Antonio Pereira, fazendo o
desbravamento do sertão e iniciando a povoação da “Vila Pereira”.
Durante muitos anos, o Professor Deodato participou das comemorações do aniversário
de Fernandópolis (SP), sendo o porta-voz oficial da família Pereira.
Com o falecimento do seu pai, o professor Deodato Antonio Pereira, na condição de
filho mais experiente, teve a enorme incumbência de gerir o grande patrimônio deixado pelo
genitor, tendo sido, inclusive, admitido como inventariante do complexo Espólio, composto de
inúmeros bens imóveis. Assim, nas décadas de cinqüenta (50) e sessenta (60), o Professor
Deodato, acompanhado do advogado olimpiense, Dr. Jerônimo de Almeida, ia até ao Cartório
de Tanabí (SP), a fim de legalizar as escrituras dos lotes doados ou vendidos por seu pai.
O Professor Deodato teve uma saúde invejável que lhe permitiu viver até aos cem
(100) anos.
A Câmara Municipal de Olímpia outorgou-lhe o honroso título de “CIDADÃO
OLIMPIENSE” pelos relevantes serviços prestados à Educação.
Por esse motivo, a Câmara Municipal de Fernandópolis aprovou, na Sessão Ordinária
de 09 de agosto de 2005, o requerimento n° 278/2005, de autoria do Vereador José Carlos
Zambon, outorgando-lhe uma “MOÇÃO DE APLAUSOS”.
No dia 21 de fevereiro de 2006 faleceu o “mestre” Deodato Antonio Pereira e, treze (13)
dias depois, em 06 de março, sua esposa Julieta também veio a óbito. Portanto, juntos,
fecharam um ciclo de trabalho, amor e companheirismo.

Biografia feita pela filha MARTHA MARIA PEREIRA


JOSÉ BATISTA DE LACERDA 447-C

Nasceu no dia 21 de janeiro de 1914 em Caxambú, Minas Gerais, filho de João


Batista de Lacerda e Luciana Maria de Jesus Lacerda.

Ficou órfão de mãe aos nove anos de idade. Por problemas de saúde, obtidos pela
profissão (seu pai trabalhava em mina de carvão em Volta Redonda, RJ), viúvo, resolveu
mudar-se para terras paulistas onde o clima era quente e seco.

Em 1924, junto de seu pai, veio para Mundo Novo, hoje Urupês, interior paulista.
Estudava na escola da cidade e ajudava na carpintaria, ofício que aprendeu com o pai,
construindo telhados, móveis para as casas de fazendas (colônias) dessa região.

Em 1930, seu pai, João Batista de Lacerda, casou-se com Maria Lacerda, e ele
passou a morar sozinho, trabalhando como carpinteiro nas fazendas de cidades vizinhas.

No início de 1934, num dos percursos pelas fazendas vizinhas a Catanduva,


conheceu uma jovem de 15 anos, caçula do casal Joaquim Custódio Carneiro e Vitória Avelina
Ribeiro, e oficializou noivado com Benedita no meio do ano.

No dia 11 de outubro de 1934, uniu-se em matrimônio com Benedita Custódio


Carneiro e instalou-se em Mundo Novo por pouco tempo, seguindo para Vila Monteiro (hoje
Álvares Florence) na zona rural onde comprou um sítio com lavoura de café e uma vendinha de
beira de estrada para atender aos sitiantes e moradores do lugar.Gostava da vida na zona
rural, mas tinha pretensão de iniciar no comércio de secos e molhados.

Certa vez, veio comprar porcos nessa região (Fernandópolis). Quando passou por
uma fazenda num ponto, onde as pessoas trocavam ideias e faziam negócios, conheceu o Sr.
Carlos Barozzi. Uma grande amizade uniu o mineiro e o italiano, e dela surgiu a ideia de se
instalar nessas redondezas. Foi para Mundo Novo contar para seu pai sobre essa região e a
pretensão de comprar terras por aqui.

Em 30 de julho de 1935, por intermédio do Sr. Carlos Barozzi, proprietário da


Fazenda Marinheiro, comprou terras do Sr. Vitor Garbarino. As terras eram mata bruta;
desbravou-as para formar o sítio do Córrego do Pau-Roxo. Seu pai e seu sogro compraram
sítios anexos ao seu.

Em 30 de outubro de 1935, nasceu seu primogênito, Lázaro, em Vila Monteiro


(Álvares Florence) e, no final desse mesmo ano, veio morar na região de Fernandópolis.
Conseguiu reunir todos os familiares num só lugar e para ele era a maior felicidade.

No Sítio nasceram três dos seus onze filhos: Luís, que veio a falecer com dois anos
de idade, Sebastiana, uma encantadora menina que deixou os olhos de José brilhando de
satisfação, mas, por pouco tempo, durou uma semana vida; e Lourdes, a menina que tanto
esperavam (hoje, professora aposentada em Biologia e residente em Santa Fé do Sul). A
alegria voltou a reinar naquele sítio, próximo à Vila, de cuja vida social fazia parte em todos os
projetos para a melhoria da vila: aumentava o comércio com farmácia, armazéns, quitandas e
bazares. Vendo o progresso chegar, crescia a vontade de se instalar na vila e trabalhar no
ramo de Secos e molhados.

Lourdes, ainda bebê e com problemas de saúde, fez com que fixassem moradia
definitiva na Brasilândia, para ficar mais próxima dos recursos médicos e farmacêuticos.
Construiu uma casa espaçosa com grande quintal e pomar formado com o comércio na frente
da casa, situado (hoje, 2011) na Av. Carlos Barozzi. Seus irmãos também vieram para a vila,
onde o Sr. João vendeu o sítio e comprou uma chácara, atualmente na Av. Catanduva e, com o
restante do dinheir, instalou uma sorveteria para os outros filhos Joaquim e Augostinho
trabalharem; Bernardina casou-se com Natalino Pradela e foi morar no sítio.

José se ocupava com os afazeres do sítio e com a política do vilarejo que recebeu o
nome de Brasilândia. Reunia-se sempre com os amigos: Carlos Barozzi, Líbero de Almeida
Silvares, José Marinho Lopes, Pedro Malavazzi e Carlos Felipe.

A igreja foi construída por Ludovino na área central da vila. José, muito devoto do
catolicismo, junto com o pai João, construiu, no meio da mata, quatro cruzeiros (marcos)
colocados no cemitério antigo, construído na divisa das fazendas Marinheiro (propriedade de
Carlos Barozzi) e Santa Rita (Joaquim Antônio Pereira), que doaram as terras para fazer o
cemitério (antigo cine Fernandópolis, atualmente situado na Avenida Expedicionários
Brasileiros, esquina com a Rua São Paulo). Esses marcos fizeram a história de José Batista
Lacerda, cada um em local considerado progresso: um na igreja da Brasilândia, outro no
cemitério antigo, outro na igreja matriz de Vila Pereira e o outro na Avenida União (hoje Líbero
de Almeida Silvares), que uniu as Vilas Brasilândia e Pereira. Atualmente esse marco é de
concreto, o antigo (de madeira em forma de cruz) foi levado para o novo cemitério construído
nos arredores da cidade.

No ano seguinte à fundação de Fernandópolis, alguns comerciantes instalaram seus


comércios na Brasilândia. O primeiro comércio foi do Sr. Líbero de Almeida Silvares (armazém
e depósito de algodão e arroz); o segundo comércio foi de José Marinho Lopes, que instalou
uma loja de armarinhos; o terceiro foi de Pedro Malavazzi (secos e molhados); e o quarto
comércio foi de Carlos Felipe (loja de tecidos).

Em 1945, José construiu seu sonhado comércio: Casa Lacerda – Secos e Molhados,
que durou seis anos (nesse tempo nasceram: Líria Aparecida, hoje aposentada em Letras;
Levi, hoje aposentado em Biologia; e Laura, licenciada em Biologia e Pedagogia e, atualmente,
ministra suas aulas na EELAS - Sala de Leitura. Em 1951, instalou uma fábrica de tamancos,
parte de cuja produção era transportada em caminhão para todas as regiões do Brasil (conta
ele que até para o Rio Grande do Sul). Nessa época, nasceram mais dois filhos: João (neto) e
Joaquim (morreu logo ao nascer). Como tinha que viajar muito, deixar a família sem sua
presença, esse trabalho durou apenas dois anos. Foi, então, que construiu uma casa com o
comércio na frente, próximo à praça da igreja São Luiz Gonzaga, denominada Casa Lacerda –
Secos e molhados e Tecidos, que perduraria de 1953 a 1957; adquiriu ainda um sítio próximo
ao Água Viva Thermas Clube, cujos produtos abasteciam a família numerosa que tinha. Em
1955, nasce mais uma filha, que recebeu o nome de Maria Lúcia, hoje, bibliotecária da
Biblioteca Pública Municipal.

Em 1958, nasce mais uma filha, Lucília Maria, e muda-se para Fernandópolis, para
ficar mais perto do Ginásio Estadual de Fernandópolis, onde é hoje o 16.º Batalhão da Polícia
Militar, pois lá suas filhas mais velhas estudavam.

Inaugurou a construção do armazém, com depósito ao lado, a casa do seu filho


Lázaro e sua casa sobre o armazém no início de 1959 até 1964, situado no centro de
Fernandópolis na Rua Brasil, 1225, próximo à praça Fernando Jacob. Nesse período, foi
candidato a vereador, quando Dr. Percy Waldir Semeghini se elegeu prefeito municipal.
De 1964 a 1966, empregou seu capital na compra de uma fazenda em São
Francisco, região de Jales, e passou a vender café. Comprou, em 1966, a Padaria Popular,
comércio existente até hoje na Av. Amadeu Bizelli, 884; tinha um desmanche de farinha de
500kg por dia e Supergasbrás Lacerda & Cia, em junho de 1969, na Av. Amadeu Bizelli, 876,;
tal era sua popularidade no comércio da cidade e de nome honrado, que durou até 1972,
mudando de comércio, de 1973 até 1977, com a Casa dos Pintores e Materiais para
Construção na Rua São Paulo, 1065.

Voltou para Brasilândia em agosto de 1978 com o comércio de Casa de Carnes e


Mercearia São Luís até 1983, quando foi ganhador do segundo prêmio na Loteria Federal.
Resolveu, então, sonhador como sempre, descansar e levar a esposa para uma viagem que
ficou inesquecível em suas mentes – o lugar onde se casaram (Urupês) – para recordar os
belos tempos. Outras viagens se sucederam como férias merecidas após longos anos de luta e
trabalho para cuidar de uma grande família.

Em 11 de outubro de 1984, comemoraram as bodas de ouro – novo juramento de


casados na Igreja Matriz, junto de seus familiares queridos, convidados, amigos e parentes. Foi
uma festança que durou 3 dias esbanjando alegria e satisfação.

Enquanto isso, o pequeno grande homem José construiu uma casa numa grande
propriedade no Bairro da Brasilândia e disse: “- Aqui comecei minha aventura no trabalho e
aqui terminarei meus dias, nessa casa receberei meus filhos, netos, bisnetos, parentes e
amigos”. Gostava da vida do campo, por isso em todas as casas que construía fazia um
formava pomar de árvores frutíferas variadas, embelezando o quintal com os passarinhos,
borboletas voando e entrelaçando entre as flores do jardim e a horta que florescia a cada
estação. Ali criou galinhas, angolas, patos, porcos, que eram a alegria dos netos que, nos finais
de semana, passavam brincando entre as árvores e os animais domésticos.

Em 14 de setembro de 1990, na gestão de Milton Edgar Leão, recebeu o título de


Cidadão Fernandopolense na Câmara Municipal, foi homenageado por amigos, familiares
(esposas, filhos, netos e bisnetos), indicado pelo vereador e amigo José Nogueira.

Em 1998, no seu aniversário, realizou uma grande festa, convidando todos os seus
familiares, parentes e amigos para comemorar os seus 84 anos de vida digna, de dever
cumprido. Logo depois, ficou doente e, em 19 de julho de 1998, fechou os olhos para sempre
para essa terra que ele tanto amou e se encantou.

José Batista de Lacerda contribuiu para o progresso da cidade como comerciante e


cidadão; foi um dos pioneiros que chegaram a esta cidade, deixando exemplos de vida
honrada e digna de trabalhador com uma sabedoria autêntica de um jovem sonhador que
pretendia seguir a carreira de comércio, constituir uma família numerosa, preservando a união
e o amor na aplicação de uma firme vontade de “burilamento” do próprio caráter, conforme os
ensinamentos adquiridos a partir de sua religiosidade e das experiências vividas na trajetória
de sua existência.

E. E. JOAQUIM ANTÔNIO PEREIRA

Colaboração

Laura Lacerda dos Reis

Ivonice Aparecida de Mattias Alduino

Janir de Matos Cassiano Gimenes Rodrigues

Maria Emily Damien Codenhoto

Marcos Euclides Bonassi


448

CEZAR DUARTE AZADINHO

Cezar Duarte Azadinho nasceu na cidade de Vera Cruz, estado de São Paulo, no dia 22 de
janeiro de 1931, filho de Francisco Duarte Azadinho e Cecília Duarte Azadinho. Permaneceu em Vera
Cruz até 1940, quando sua família se mudou para Tanabi (SP).
Em Tanabi, continuou seus estudos primários e, posteriormente, passou a estudar no
Colégio Dom Bosco na cidade de Monte Aprazível (SP). Ao completar 18 anos, foi convocado para
servir o exército brasileiro, fazendo o curso na cidade de Caçapava.
Após o período do exército, iniciou sua atividade profissional na Secretaria da Agricultura,
prestando serviços no Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura, na cidade de São
Paulo, no Parque da Água Branca.
Após anos de serviço e já na condição de funcionário público estadual, passou a prestar
serviço na Secretaria da Fazenda na cidade de São Paulo, de onde foi removido para a cidade de
Presidente Prudente e, posteriormente, para São José do Rio Preto, ambas no estado de São Paulo.
Em 31 de janeiro de 1954, casou-se com Dozolimar Sinibaldi Azadinho, de cuja união
resultou o nascimento de seis filhos: Francisco Octávio, Ângela, Dozolina, Dulce, Dirce e Cecília.
No ano de 1959, Cezar foi transferido para Fernandópolis, onde assumiu o cargo de coletor
estadual, desempenhando-o, com brilhantismo e honestidade, até 1981, quando foi promovido para o
cargo de inspetor de arrecadação, em que se aposentou em 1986.
Sua iniciação na maçonaria ocorreu em agosto de 1961, na Loja Maçônica Benjamin Reis
de Fernandópolis, em que desempenhou diversos cargos. Atuou, também, na Loja Maçônica Castro
Alves e, juntamente com outros maçons, fundou a Loja Fraternidade Fernandopolense em que
exerceu diversos cargos, ali permanecendo até seu falecimento. Participou também da fundação da
Loja Maçônica União Fraterna Vale do Rio Grande da cidade de Indiaporã (SP).
Foi presidente do Centro Social de Menores, cuja posse no cargo se deu em 11 de
setembro de 1980; posteriormente, em 21 de março de 1995, foi eleito membro do Conselho
Deliberativo. Durante o período de atuação nessa casa, conseguiu grandes feitos à entidade e aos
menores que ali frequentavam.
Foi presidente também do Conselho Tutelar de Fernandópolis, cargo que exerceu com
eficiência e dinamismo.
Faleceu em 23 de setembro de 1997, em Fernandópolis, onde foi sepultado, Era
considerado por familiares e amigos um grande amigo, uma pessoa terna, amorosa e humana,
voltada sempre para bem-estar do próximo.
Em virtude dos relevantes serviços prestados à comunidade fernandopolense e, por
iniciativa da Prefeitura e Câmara Municipal de Fernandópolis, a praça onde se localizam a Biblioteca
e o Teatro Municipal recebeu o nome de “Praça Cezar Duarte Azadinho”, em maio de 1999.
449

Uma das ruas no Residencial Terra Nostra também recebeu seu nome, homenagem, mais
uma vez, que lhe foi tributada pelos dirigentes da cidade de Fernandópolis em reconhecimento ao
homem dinâmico e correto que sempre foi. Cezar foi um exemplo de honestidade, seriedade,
solidariedade e amizade.

Colaboração
Associação de Amigos de Fernandópolis (AAMF)
450

ECIO VIDOTTI

Écio Vidoti nasceu em 25 de julho de 1923, em Paraíso, cidade localizada nas proximidades
de Catanduva, (SP). Foi criado na área rural do município em uma grande família de imigrantes
italianos, cercado de irmãos, primos e sobrinhos. Como caçula de 13 irmãos, teve o privilégio de
tornar realidade o sonho dos pais imigrantes de ter um filho médico.
Após sacrifícios pessoais, que incluiu residir em São Paulo, trabalhando na antiga Light,
então a empresa responsável pela distribuição de energia elétrica, conseguiu ingressar, em 1947,
naquela que, na época, era uma das principais Faculdades de Medicina do país, a Faculdade
Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro era então a Capital da República e, dessa
época, restaram belas histórias, tanto de sua primorosa formação profissional, quanto de suas
atividades de lazer e esportes, que incluem um período como atleta de remo do Clube Botafogo de
Futebol e Regatas.
Sua formatura se realizou no magnífico Teatro Nacional, no ano de 1952.
Nesse período, ainda como estudante de Medicina, começou a viver uma linda história de
amor com uma jovem professora primária, a Sra. Iliete Zucchi, que, por uma daquelas situações que
só o destino explica, veio a lecionar na Escola Rural instalada nas terras de propriedade de sua
família.
Após sua formatura, o casamento foi um passo natural, e este ocorreu em 01 de julho de
1953.
Como médico, exerceu a profissão, inicialmente, em Monte Azul Paulista, bem próximo a
Paraíso, onde residiam familiares de ambos. Depois, os desafios profissionais o levaram até Ariranha,
também no interior paulista, onde suas qualidades profissionais, sua empatia e sua liderança nata já
se destacaram, aproximando-o também da política.
Todavia, buscando melhores oportunidades profissionais e entendendo, sobretudo, que o
papel do médico é o de levar seus serviços para regiões menos atendidas, o casal mudou-se para
Fernandópolis em janeiro de 1957, meses antes do nascimento de seu primeiro filho. A cidade foi
indicada ao casal por um grande amigo, que, já naquela época, via o grande potencial de
desenvolvimento que a cidade oferecia.
Em Fernandópolis, exerceu, inicialmente, a função de pediatra no então Posto de
Puericultura. Nesse período, a demanda de atendimento era muito grande, e o atendimento médio
diário chegava a 60 crianças, sendo que todas recebiam indistintamente sua atenção e carinho que
sempre foram qualidades que procurou praticar durante sua longa carreira profissional. .
Com a unificação dos serviços de saúde, passou a atender no Centro de Saúde de
Fernandópolis, exercendo, pó muitos anos diferentes cargos e funções, tendo atuado como
dermatologista, clínico geral, além de ter exercido função de chefia da unidade por vários anos.
Participou, ainda, da implantação da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, da qual
foi Diretor Clínico. Sua preocupação com a consolidação dos serviços médicos na cidade envolveu
também o estímulo a que vários profissionais viessem para a cidade, o fez com que ele se tornasse
451

Presidente da Associação de Medicina da cidade. Em sua gestão, foram concebidas, aprovadas e


executadas as obras de instalação do Clube dos Médicos de Fernandópolis.
Mantinha, igualmente, atendimento em consultório, desde sua chegada em 1957 até sua
aposentadoria em 1984, como clinico geral e pediatra. Inicialmente, seu consultório estava instalado
na Rua São Paulo, onde residia e criou seus filhos por vários anos. Posteriormente, instalou seu
consultório na esquina da Av. Amadeu Bizelli com a Rua Rio de Janeiro.
Visando ampliar suas atividades filantrópicas, participou da criação do Lions Clube de
Fernandópolis, tendo ocupado o cargo de Presidente por dois mandatos. Pode-se destacar como
uma realização importante a criação do Lar de Menores Melvin Jones, um orfanato voltado ao
atendimento de meninas desamparadas.
Ainda como legado social e filantrópico, destaca-se o incentivo direto à criação da
Associação Antialcoólica de Fernandópolis. Seu papel foi reconhecido pela instituição, que o
homenageou no ano de 2004.
Não menos importante foi seu papel como um dos mentores da criação da Fundação
Educacional de Fernandópolis, tendo sido membro da diretoria por vários anos, inclusive quando os
primeiros cursos superiores foram autorizados.
Nesse período, novamente a política o atraiu, e sua candidatura a vereador no ano de 1975 foi
coroada com uma expressiva votação, tendo sido eleito como o vereador mais votado daquela legislatura,
exercendo o mandato por seis anos.
Faleceu em 23 de marco de 2005, com pouco menos de 82 anos de idade, deixando um
legado inestimável de cidadania, honestidade e ética, qualidades que foram praticadas
permanentemente tanto em sua vida profissional, quanto como amigo e pai de família.

Colaboração
Família Vidoti
452

EDISON ROLIM

“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.


Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”
(Cora Coralina)

Foi paixão à primeira vista! E foi essa paixão que levou Edison a fixar residência em
Fernandópolis, depois de muitas andanças pelo interior do estado, com seu primo irmão Olavo
Fleury. Andanças que começaram quando saiu de São Paulo, onde morava com a família e cursava
Direito na Universidade São Francisco. “Conheceu Fernandópolis ficando completamente
apaixonado”, diz emocionada sua filha Rita. Mudou-se, solteiro, para Fernandópolis em 1947 e
começou a trabalhar no ramo do café, que estava em pleno desenvolvimento na região na época e,
mais tarde, também com gado holandês.
Edison já era um rapaz do interior, natural de Cerqueira César, cidade localizada a
aproximados 300 km da capital paulista, na região Sudoeste do estado. Nasceu no dia 22 de março
de 1923, filho do farmacêutico Antônio Augusto de Arruda Rolim e da artista plástica Antônia Maria
Leite Rolim. Passou sua infância em Cerqueira César, depois foi para Botucatu estudar e, mais tarde,
mudou-se com a família para o Jardim Paulista em São Paulo.
Mesmo nascendo na "Cidade que faz amigos" (slogan do município), escolheu
Fernandópolis, a “Cidade Progresso”, por paixão. Já com seus negócios progredindo, em agosto de
1950, conheceu a professora Belkiss de Arruda Campos, que havia acabado de chegar à cidade para
lecionar. Foi paixão à primeira vista. Da. Belkiss ficou vinte dias na cidade morando na residência do
Sr. José Beran, sendo removida para São Carlos, sua cidade natal. Mesmo com a enorme distância
na época, o amor só foi crescendo. Em novembro daquele ano, pediu-a em casamento, cuja
cerimônia se deu em 29 de janeiro de 1951.
1951... “foi um ano de glórias! Casamento em janeiro, eleito prefeito em outubro e, em
novembro, nasce à primeira filha, Eudóxia Maria”, diz sua filha Rita.
Edison Rolim e Dona Belkiss tiveram seis filhos: Eudóxia Maria, Antonia Maria, Ana Maria,
Edison Filho, Rita Maria e Olavo. Dos filhos vieram nove netos: Lívia Maria, Edison Neto, José Neto,
Belkiss, Rodrigo, Luiz Antonio, Renato, Flávia e Júlia. Moraram na Avenida Expedicionária Brasileiros
por mais de 40 anos, por coincidência, avenida aberta por ele mesmo, em um dos seus mandatos.
Enquanto administrava seus negócios, Rolim também entrou para a política
fernandopolense, como candidato a prefeito em 1951. Diz D. Belkiss: “ao longo de minha vida de
esposa e mãe, assisti à primeira luta, quando o povo de Fernandópolis elegeu meu marido prefeito”.
Empossado em 1º de janeiro de 1952, “dedicou-se de corpo e alma a Fernandópolis”, relembra Rita.
No período de sua gestão, conseguiu inúmeras melhorias, destaca seu neto, o jornalista
175
José Neto , de Votuporanga: a construção da Estação Ferroviária (EFA), iniciou a construção da

175
José Rodrigues Martinez Neto. Fernandópolis pisa no seu passado e derrapa no seu futuro. Folha de
Fernandópolis, p. A2, 14 abr. 2007. Transcrito pela profa Peta Matos, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel à
grafia do texto original.
453

Santa Casa de Misericórdia, conseguiu a Escola Técnica de Comércio com os cursos Comercial
Básico e Técnico em Contabilidade, instalação da comarca de Fernandópolis em 25 de maio de 1953
(depois da promulgação da Lei 1940); em 3 de dezembro de 1952, a inauguração do Posto
Telefônico da Companhia Telefônica de São José do Rio Preto, implantou a estrada municipal
Fernandópolis-Macedônia; em 14 de agosto de 1955, entra no ar a Rádio Cultura de Fernandópolis
do radialista Moacir Ribeiro.
176
A vida de esposa de prefeito também não era fácil, desabafa emocionada D. Belkiss :

quantas lágrimas tive de derramar! Quantas vezes, meu marido se despedia de mim
e de nossas filhinhas e partia para S. Paulo, a fim de tratar de assuntos da
administração, deixando-nos saudosas, e os adversários espalhavam a notícia de
que ele havia fugido ou estava preso. Como eram dolorosas, minhas amigas, a um
coração de mãe e esposa extremosa aquelas calúnias.

De 1956 a 1959, foi vereador. O número de votos que obteve foi tão expressivo, que só foi
superado depois de mais de uma década. Em 1959, lança-se novamente candidato a prefeito, e sua
esposa escreve uma carta A todas as mães, justificando seu apoio ao marido, mesmo após tanto
sofrimento, e sua ausência na campanha do marido:

[...] ao ser escolhido o sucessor do Dr. Adhemar, novamente fui sacudida nos
sentimentos mais profundos de mãe e de esposa, e não tive outro jeito senão me
conformar e permitir que novamente meu marido se dedicasse a Fernandópolis e
seu povo. E não me arrependo porque confio nele, na sua honestidade, na sua
sinceridade de propósitos, no seu desejo mais profundo de melhor servir
Fernandópolis, sem modificar a sua maneira de viver e de agir, de pensar em
relação ao lar. E tenho a esperança de que, com a ajuda de Deus, o povo de
Fernandópolis dará a ele a vitória que já é esperada... [E continua sua justificativa:]
Sou professora e leciono, não poderia, de forma alguma, abandonar meus queridos
alunos por causa da campanha política... tenho, por outro lado, meu lar que tanto
adoro e minhas quatro filhinhas e um filhinho... não poderia abandoná-los. Esse o
motivo de separar uns minutinhos do meu dia para visitar as famílias
fernandopolenses apenas atravéz do rádio [...]

E faz um apelo:

[...] quero fazer um apelo às mães... as mulheres desta Fernandópolis maravilhosa,


no sentido de que vocês sintam em mim o desejo supremo de receber como mãe e
como esposa, na demonstração de confiança que vocês, seus pais, maridos, noivos
e filhos darão no dia 1 de outubro elegendo meu marido Edison Rolim para prefeito e
o Sr. Pedro Malavazzi para Vice-Prefeito, o desejo supremo de receber, como disse,
o desagravo que minha condição de esposa e mãe mereceu, contra todas as
calúnias e injúrias que foram assacadas contra meu marido naqueles quatro anos de
triste memória para mim, mas de satisfação para vocês que viram Fernandópolis
progredir, e a certeza de que nos próximos quatro anos, as famílias de
Fernandópolis continuarão a viver em pás e o nosso município continuará a
progredir, porque agora num ambiente diferente com uma Câmara de vereadores
mais interessada no progresso de Fernandópolis, meu marido Edison Rolim poderá
fazer muito mais pelo povo e pelo município. A todos vocês, a minha gratidão, o meu
reconhecimento, o meu muito obrigado [...]

Em 1960, foi empossado novamente prefeito e com a mesma dedicação de sempre,


conseguiu mais melhorias como: a instalação do Banco do Brasil, construção do prédio do Paço
Municipal, criação de órgãos públicos (descentralizando-os de Votuporanga), criação da 15ª região
administrativa do estado de São Paulo em Fernandópolis com a efetiva instalação da DR-15 Regional

176
Belkiss de Arruda Campos Rolim, viúva, em carta aberta às Mães Fernandopolenses, escrita em 1959. Essa
a
carta se encontra em posse de sua filha Rita M. C. R. Rodrigues. Texto transcrito pela prof Peta Matos, em
fevereiro de 2012, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
454

da Secretaria da Fazenda (sendo cedido o prédio do Paço Municipal), lançou a pedra fundamental da
maternidade da Santa Casa, obteve aprovação e verbas estaduais para a construção dos armazéns
da CEAGESP, construção do novo prédio do Instituto Estadual de Fernandópolis Líbero de Almeida
Silvares, construção do IBC (as três últimas foram conseguidas por Edison Rolim e concluídas na
gestão do prefeito seguinte Dr. Percy Waldir Semeghini).
Relembra a profª Lídia Sato:

o prefeito Rolim abriu uma Escola de Corte e Costura Municipal, no prédio da família
Sato (hoje Máquina Santa Rosa). A diretora era Maria Sato Higuti, que também
ministrava o curso. Após o curso, as alunas recebiam o diploma obedecendo todo o
ritual de uma formatura: tinham padrinhos, iam às autoridades, a família e amigos.
177
Era chique!

Na época, a inauguração dessa escola veio atender às necessidades do comércio de


tecidos, que estava em plena expansão, e ao crescente aumento da população e as mães que
objetivavam tornar suas filhas virtuosas na arte de serem esposas e mães.
Rolim foi um político de grande expressão na região. Recebeu em sua residência
governadores, como Laudo Natel, Lucas Nogueira Garcez e outros; deputados estaduais e federais
como Maurício Goulart, Amaral Furlan, Dias Menezes, Pacheco Clóvis Almeida Prado, Brasílio
Machado Neto e outros; senadores como Lino de Mattos, Áurea Maura Andrade e outros; e também o
Presidente da República, seu compadre, Jânio da Silva Quadros (este batizou seu filho Nenê Rolim).
Costumava dizer que se afastou da política a pedido de Da. Belkiss e deixou de vez a
política, em 1975, porque, na época, faleceu sua filha Eudóxia e ele recebeu apoio de todos;assim
não poderia jamais ser contra alguém. Mas, nunca deixou os bastidores. Na época da construção da
Usina da Água Vermelha, acompanhou tudo recebendo engenheiros em sua residência. Participou
também da inauguração da Ponte Rodo-ferroviária que une os estados de São Paulo e Mato Grosso
do Sul, e dizia que, apesar de a construção ser nova, o projeto era antigo.
Era alegre, solidário, extremamente cativante, festeiro, gostava de reunir os amigos em
casa para tomar cerveja e jogar conversa fora. Como sua casa ficava na avenida, os jovens a
transformaram, como lembra a profª Péta Matos

point de encontro, porque seu Edison e da. Belkiss deixavam os portões da garagem
abertos para eles ficarem paquerando, conversando ao som do rádio do carro no
mais alto volume. Nós, que passávamos por ali de carro, víamos, pela grande janela
de sua casa, o casal numa mesa redonda cada um com seu baralho jogando
paciência, com sua cerveja e seu cigarro, sem se importarem com tamanha
barulheira. Impressionante, ao contrário da maioria dos casais idosos, eles
adoravam essa movimentação. Tanto que os vizinhos perturbados com o agito da
moçada fizeram vários abaixo-assinados para que os jovens saíssem de lá e eles
nunca assinaram.

Observando o acervo de fotos da família, percebe-se que Edison gostava de levar a família
até a Cachoeira dos Índios, andar de barco e brincar; de viajar, principalmente para o litoral paulista
e, interessante para a época, registrava todos os acontecimentos com sua máquina fotográfica.
Comemorava os aniversários dos filhos, participava de todos os eventos sociais, possibilitando às
suas filhas debutarem aos 15 anos, com todo o “glamour” da época. Deixou fotos preciosas e
memoráveis. Faleceu no dia 14 de março de 2004, “deixando um vazio enorme... ele era ímpar”, diz
Rita emocionada.
José Neto, em artigo publicado em jornal, escreve:

[...] Fernandópolis teve um rápido crescimento e logo se tornou uma das mais
importantes cidades do noroeste paulista, onde homens de bem tocavam a cidade
com seu coração, e pensavam realmente no bem-estar da população. Muitos desses
homens já se foram, para a tristeza de Fernandópolis, que de um passado glorioso

177
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, professora aposentada, à profª. Péta Matos, no dia
04/06/2011.
455

hoje pena e sonha com um futuro tão bom quanto seu passado. Um desses homens
que ajudou Fernandópolis foi Edson Rolim [...] Morador da Avenida Expedicionários,
residiu na mesma por mais de 40 anos e, depois de sua morte, como mais justa
homenagem a esse homem que tanto fez pela cidade, o nome dessa avenida seja
Edson Rolim, mas não. Hoje, comandada por homens de pouca expressão e pouca
visão, Fernandópolis pisa no seu passado deixando para trás o que de bom ele fez,
causando tristeza à família do ex-prefeito [...] Mas, mesmo nesse lamento,
percebemos a esperança: Fernandópolis deve lembrar-se dele e usar as lições
aprendidas para melhorar e crescer, e quem sabe voltar a ser a tão grandiosa
Fernandópolis de nomes inesquecíveis como Edson Rolim.

Edison Rolim, nome de um brasileiro e paulista que se apaixonou à primeira vista por
Fernandópolis e a “adotou” como sua terra e de sua família. Um homem que ajudou a escrever a
história de Fernandópolis.

Colaboração
Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida, 61 anos, viúva, é historiadora, professora Me. em
História Social e empresária. É conhecida como profª Péta Matos.

Rita Maria de Campos Rolim Rodrigues, 54 anos, casada, residente em Votuporanga.


456

ELÁDIA ESSER (DONA MARIA)

Nasceu em 18 de fevereiro de 1912 na região de São Borja (RS), filha de pai gaúcho e mãe
francesa. Estudou durante a infância em Montevidéu, fato que lhe proporcionou condições para
expressar-se muito bem em castelhano. Era conhecida em Fernandópolis como Dona Maria, Maria
Alemoa e Maria Pipa, pois o marido John, um alemão, era chamado de Pipo. Segundo relato de
pessoas que a conheceram, Eládia era mulher muito culta.
Juntamente com o marido, de Araçatuba, onde investiram no ramo de frigoríficos, veio para
Fernandópolis no final da década de 1940 para montar o frigorífico Esser, situado, na época, duas
quadras abaixo do Cine São José e acima do Ferro Velho São Paulo. Diversificando a produção,
processava a carne na confecção de linguiça, mortadela, chouriço, pancetas, salames, defumados
etc. A comercialização dos produtos tinha como mercado as regiões de Jales, Votuporanga e Santa
Fé do Sul. O transporte, realizado em furgões, era dificultado pelas péssimas condições das estradas,
naqueles tempos todas sem pavimentação. Como aspecto a ser destacado, tem-se o fato de Dona
Maria ter sido a primeira motorista de Fernandópolis, algo que lhe conferia muito orgulho.
Jonh e Dona Maria não tiveram filhos consanguíneos, fato que os levou a adotar a menina
Claudina Tereza Singh, filha de Takar Singh, um indiano que possuía um empório na esquina das
ruas Espírito Santo com Francisco Costa. Claudina casou-se com Custódio Camargo, motorista
empregado do frigorífico, tendo Dona Maria como madrinha do casamento e, posteriormente,
madrinha dos seis filhos do casal.
Com a morte do marido, Dona Maria e família venderam o frigorífico e, em meados de 1957,
adquiriram um bar que funcionava também como lanchonete e sorveteria, situado numa das esquinas
da Praça Brasil, abaixo do Auto Peças Mãe Preta, no final da Rua Rio Grande do Sul, entroncamento
da Expedicionários Brasileiros com a Afonso Cáfaro. Posteriormente, venderam o bar e compraram
uma chácara no final da Rua São Paulo.
Após a venda do bar, mudaram completamente o ramo de negócios, adquirindo dois
caminhões, um Ford F5 e um Studbaker, e se estabeleceram no ramo de transporte de cereais,
sobretudo café, das fazendas Pau Roxo, córregos do Gatão, da Capivara, Marinheiro, Água Limpa e
outros. O produto era transportado para as máquinas de beneficiamento e, posteriormente, para São
José do Rio Preto.
Dona Maria contava com grande conhecimento e amizade com as tradicionais famílias de
Fernandópolis, como Geraldo Roquete, Fernando Jacob, Chichina, Alvizi, Semeghini, Cáfaro, Birolli,
Mardegan, Bastos Salioni, Ferrari, Marques Rosa, Bim do Ferro Velho, Del Grossi, Barozi, Baroni,
Bortolozzo, Delarobe entre outras.
Em 1962, vivenciando um período de grande endividamento, desfez-se praticamente de
tudo o que possuía. O fato de ser muito conhecida levou o Sr. Américo Messias, proprietário de uma
fazenda no Córrego da Capivara, a convidá-la para montar um empório de secos e molhados, dotado
de um campo de bochas. Assim, ela se estabeleceu, tocando o estabelecimento com uma prática
muito comum naquele período. Vendia os produtos por meio de um acordo com os clientes: o
457

pagamento das contas (“fiados”) era realizado somente por ocasião da safra de café. Destaca-se que,
aos domingos, os clientes, em sua maioria constituída por colonos de café, se divertiam no campo de
bochas e, em muitas ocasiões, o lazer se estendia até o final da tarde quando comemoravam as
vitórias do São Paulo Futebol Clube da Fazenda Capivara.
Em 1968, vendeu o único comércio existente no trajeto do Ubirajara até a Água Limpa e o
Caxi, comprando, em seguida, do Sr. Orozimbo Ribeiro, o Bar Ubirajara. Neste estabelecimento,
Dona Maria acordava por volta das 4h30min para preparar o almoço de boias frias que seguiam de
pau de arara (caminhões) para a cata do algodão e outros serviços da região. Aos domingos, seu
estabelecimento era ponto de encontro, durante o qual os “gatos” (assim chamados aqueles que
arrebanhavam e contratavam os boias frias) efetuavam os pagamentos da semana de serviços aos
boias frias.
Dona Maria (Eládia Esser) foi uma das primeiras comerciantes de Fernandópolis. É
considerada por todos que a conheceram como uma mulher de fibra, baluarte de uma época única.
Pode-se dizer que seu maior intento foi amar e unir a família. Conseguiu. Numa época em que os
valores sócio-culturais induziam para uma organização essencialmente patriarcal, conseguiu grande
destaque no universo feminino. Sem dúvida, pode ser considerada um ícone na sociedade
fernandopolense da época.

Colaboração
Eliane Alves Corrêa
Dirce Aparecida Della Rovere
João Lima
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EURICO GIMENES MARTINS

Eurico Gimenes Martins, “fernandopolense de coração”, nasceu em Birigui (SP), em 08 de


setembro de 1932, filho de André Gimenes Losano e Ana Martins. De família humilde, mas devotada
ao trabalho, teve, em toda sua infância, o carinho e o amparo dos pais, formando uma família unida e
feliz, em que pesassem as dificuldades e necessidades do cotidiano.
Estudou em Birigui até o secundário (hoje, ensino médio), mas só viria a concluir seus
estudos em Ciências Contábeis na antiga Escola de Comércio de Fernandópolis, cidade que
escolheria para morar e onde prestaria serviços de contabilidade ao comércio.
Desde criança (sete anos) e por toda sua juventude, Eurico sempre se dedicou ao trabalho.
Jovem ainda, ele desempenhou diversas funções em sua cidade natal, tais como alfaiate; depois,
como escriturário da empresa algodoeira Anderson Clayton serviria em Birigui, Pereira Barreto,
Valparaíso, Votuporanga, Ribeirão Preto e Fernandópolis e, mais adiante, prestaria serviços para a
Sanbra em Jales.
Estando a serviço da Anderson Clayton em Valparaíso (SP), ali conheceu Jane Teresa
Brasil Gimenes, com quem se casou em 1960 e teve dois filhos, Alírio e Mirtila.
Cessadas as atividades da Anderson Clayton, Eurico decidiu voltar a residir em
Fernandópolis. Aqui se tornou escriturário da Cobral, antiga empresa algodoeira. Foi convidado a ser
administrador da Cooperativa de Cafeicultores e, posteriormente, funcionário da Coferauto (empresa
no ramo de revenda de automóveis), de onde sairia para adquirir, em 1967, do Sr. Osvaldo Michelutti,
o mais antigo escritório de contabilidade de Fernandópolis, o escritório “Bandeirantes” (sediado na
Avenida Milton Terra Verdi, onde hoje está instalada a Feltrin), primeira empresa de prestação de
serviços de contabilidade em Fernandópolis. Para expansão e melhores condições de trabalho, mais
tarde adquiriu um prédio (antigo açougue Bonassi) e o demoliu para a construção de sobrado na Rua
Brasil, 1894, no centro da cidade, em frente à praça Joaquim Antônio Pereira, onde instalaria seu
escritório de contabilidade, mantendo o antigo nome Bandeirantes, e com o qual permaneceria até
sua morte (CHARME, 2001).
Com o Escritório Bandeirantes, Eurico se projetou como eficiente contador, tornando-se um
dos principais profissionais que a cidade teve no ramo. Sua dedicação ao trabalho lhe rendeu, em
1976, a escolha pela sociedade e pela mídia fernandopolenses (Tênis clube, Rádio Difusora e Gazeta
da Região) como o “Contador do Ano”, título que muito o honrou e que soube honrar – homenagem
justa que lhe foi outorgada pelo modelo de profissional que era, visando sempre ao interesse do
cliente, tendo como escopo de sua atuação a precisão e ética profissional.
Afeito ao trabalho, Eurico – pioneiro no ramo de contabilidade – foi um dos fundadores e o
primeiro presidente da Associação Comercial de Fernandópolis (ACIF), exercendo o cargo por três
anos sucessivos. Foi, também, um dos fundadores da Associação dos Contabilistas da Região de
Fernandópolis, e seu primeiro presidente, conforme comprova Ata número Um da Associação e
requerimento de registro de Ata e Estatuto da Associação no Cartório Civil de Registro das Pessoas
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Jurídicas da Comarca de Fernandópolis (11.11.1975). Foi, igualmente, durante doze anos (período de
06.12.1976 a 30.01.1989), Delegado Regional dos contabilistas do estado de São Paulo (como
consta de fotos e certidão do CRC-SP), representando Fernandópolis em diversos congressos e
simpósios do seu principal ramo de atividade – a contabilidade –, trazendo, sempre, inovações para
as empresas aqui sediadas. Sempre soube colaborar com as entidades sindicais representativas da
classe econômico-contábil (CHARME, 2001).
Não lhe bastando essas atividades profissionais, que lhe atraíram boas e duradouras
amizades, Eurico incentivou e presidiu um grupo que construiu o primeiro edifício da cidade, o
Condomínio Edifício Fernandópolis, na rua Espírito Santo, 1237, com ele abrindo caminho para que
outros grupos empreendedores se sentissem estimulados a construir novos prédios em
Fernandópolis. Começava com ele a verticalização imobiliária da cidade.
Dessa forma, atuava em diversos setores no desenvolvimento da cidade. Trouxe, com seu
espírito empreendedor, progresso para Fernandópolis, construindo, gerando empregos e, a par disto,
participando sempre de promoções sociais da cidade, contribuindo, inclusive, com diversas entidades
filantrópicas e com carentes a quem nunca deixou de ajudar.
Após seu falecimento em 1998, a Lei n. 2.436, de 13 de maio de 1999, aprovada pela
Câmara Municipal e sancionada pelo então prefeito municipal, Sr. Armando José Farinazzo,
transformou o Parque Industrial I do município em Parque Industrial “Eurico Gimenes Martins”
(FERNANDÓPOLIS, 1999), cuja proposta se deve à manifestação dos inúmeros amigos e à
aprovação, por unanimidade, dos ilustres vereadores da Câmara Municipal cujos membros, no
passado, houveram contato de amizade ou profissional com o homenageado e reconheceram nele o
homem de valor e o cidadão e profissional que sempre foi.
Em relação à nova denominação do Parque Industrial I, a Gazeta da Região publicou, em
25 de maio de 1999, ofício enviado por Jane Teresa Brasil Gimenes à Câmara Municipal em que
consta (FAMÍLIA, 1999):

[...] Para mim, esposa do homenageado, e para meus filhos, a lembrança de seu
nome para o Parque Industrial I é uma lisonja ímpar e, em que pese o lado pessoal
com que falo, uma homenagem justa àquele que, embora não tendo nascido em
Fernandópolis, aqui construiu sua vida e amou esta terra que adotou de coração.
Eurico, se teve, de um lado, o prazer de aqui ter vivido a maior parte de sua
existência – e a viveu com ardor e esperança de quem crê numa grande cidade –,
por outro lado, contribuiu, com certeza, para o seu progresso e participou de sua
vida social, partilhando a esperança, a fé e a alegria com os munícipes
fernandopolenses.
É mérito seu. É honra nossa ter seu nome estampado como denominação oficial do
Parque Industrial I.
Sentimo-nos – repito – lisonjeados e externamos nossa gratidão imensa aos
Excelentíssimos Vereadores que, unanimemente, tornaram possível essa
homenagem, em particular, ao ilustre edil Luís Antônio Pessuto, autor do projeto ora
aprovado.

Ainda em relação ao parque industrial, em ofício especial encaminhado ao então prefeito


Farinazzo, Jane Teresa refere a denominação do Parque Industrial I “Eurico Gimenes Martins” como
“uma justa homenagem àquele que, por certo, amou esta cidade com o ardor de um jovem coração e
a crença de um adulto, nela constituiu família, de seu crescimento participou ativamente nos 35 anos
que aqui viveu e ajudou a construir seu progresso”. Ainda para Jane, “acima da saudade que nos
deixou sua ausência, a denominação do parque industrial nos é uma honra e nos agracia com o
reconhecimento público de toda sua obra e amor a esta terra” (GIMENES, 2011a).
Na vida pessoal, sempre sorrindo, falando alto, gesticulando, Eurico carreava amigos para
junto de si. A Charme (2001) lembrou: “era leal, companheiro. Sempre via a vida de uma maneira
positiva e nunca dispensava um bom bate-papo e uma boa pescaria [seu ‘hobby’ e diversão preferida]
e viagens ao redor do mundo”. Era comum vê-lo distribuindo peixes, sempre “os melhores”, para os
amigos e com eles dividir os frutos e as alegrias de suas pescarias; também era comum vê-lo repartir,
entre familiares, amigos e conhecidos (a quem chamava de “simpatia”), as “saborosas mangas e
mamões” que colhia à margem das estradas e rodovias.
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Era conhecido como “Balaio”, epíteto carinhoso emprestado pelos amigos e pela família:
aquele cujo coração parece comportar o mundo e recebe a todos com igual carinho e afeição. É dele
também a expressão carinhosa “catigoria”, cunhada para referir um bom desempenho ou uma atitude
positiva, um sinal de aprovação e incentivo aos amigos.
Em depoimento, Mirtila (sua filha), emocionada, confidencia (GIMENESb, 2011):

[...] certamente ele está feliz. Feliz porque realmente adorava Fernandópolis e nela
acreditava, e porque este acontecimento (publicação de biografia] mobilizou
corações e lembranças, trazendo-nos à tona que as atitudes e as intenções são
muito mais valiosas do que o que podemos construir em tijolos. O progresso maior e
mais valioso que ele trouxe foi para os fernandopolenses, com a sua mensagem de
bem viver, de bem querer, de bem amar e de bem sofrer.
Sim, porque podemos mal sofrer e bem sofrer; ele foi o exemplo real do bem sofrer
em sua passagem final.
[...] envaidecida especialmente por ter tido o privilégio de tê-lo como pai, como
melhor amigo, como instrutor, como ombro que trouxe o aconchego, como ouvidos
que ouviram com o coração.
E ele era assim com todas as pessoas que conhecia, especialmente com os
Fernandopolenses. Essa era a sua marca maior. Ele incentivava o progresso das
pessoas, dava sempre um empurrãozinho discreto.

Em Fernandópolis, onde fixara residência em 1960, Eurico formou sua família, solidificou
sua vida; aqui, Eurico foi exemplo de trabalho, de homem que crê na cidade e participa ativamente de
seu progresso, incentivando, gerenciando, atuando na vida da cidade; e, finalmente, deixando seu
nome como marca de fé, de trabalho, de crença no progresso da terra que escolheu por adoção e
que sempre amou.
Eurico, em seus últimos dias, em que pesasse seu sofrer, era o espelho de vida bem vivida,
de missão concretizada no bem-viver.

Ele nunca se deixou abater, nunca se lamentou pelos reveses que a vida lhe
impusera. Ele, que tinha a certeza de sua brevidade entre nós, era o primeiro a
proclamar a vida, a alegria de viver, a doação de si e o querer ver os outros alegres.
Muitas vezes lastimamos as nossas dores... ele jamais lastimou as suas! Ele nunca
quis que alguém chorasse, muito menos pediu que o fizesse; mas pediu que sorrisse
e vivesse a vida com alegria, esperança e autenticidade. Eu o admirava por isso.
(Anônimo, amigo da família)

Eurico faleceu em 31 de janeiro de 1998, com 64 anos de idade, deixando exemplo de uma
vida pródiga em realizações, contribuindo para o progresso da cidade, dividindo sua esperança e
alegria com os munícipes fernandopolenses. A Câmara Municipal de Fernandópolis consignou, em
ata dos trabalhos, “voto de profundo pesar pelo passamento do Senhor Eurico Gimenes Martins”, o
que causou “[...] imenso pesar entre toda a comunidade fernandopolense” (FERNANDÓPOLIS,
1998).

REFRÊNCIAS

CONSELHO Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Certidão: Eurico Gimenes Martins.
Disponível em: <www.crcsp.org.br>. Acesso em: 24 maio 2001.

FAMÍLA do saudoso Eurico Gimenes Martins agradece aos vereadores pela denominação do Parque
Industrial I de Fernandópolis. Gazeta da Região, ano 30, ed. 7.915, 25 maio 1999.

FERNANDOPOLENSE de coração. Revista Charme, edição especial de fim de ano, n. 17, dez. 2001.

FERNANDÓPOLIS. Câmara Municipal de Fernandópolis. Requerimento n. 16/98. Fernandópolis,


Câmara Municipal, 17 fev. 1998.
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______. Câmara Municipal de Fernandópolis. Projeto de Lei 22/99. Dispõe sobre denominação do
Parque Industrial I de Fernandópolis. Fernandópolis, Câmara Municipal, 27 maio 1999.

GIMENES, Jane Teresa Brasil. Arquivo pessoal. Fernandópolis, jun. 2011a.

GIMENES, Mirtila Brasil. Depoimento (2011). Comunicação pessoal on line (e-mail) a membro da
Equipe Executiva. São Paulo, jul. 2011b.

Colaboração
Jane Teresa Brasil Gimenes
Mirtila Brasil Gimenes
Alírio Brasil Gimenes
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FLÁVIO DE LIMA

Filho de João Ricardo de Lima e Humbelina Ricardo de Lima, nasceu em 21 de dezembro


de 1921, no município de Mirassol (SP). Vindo de Nhandeara, em abril de 1949, chegava a
Fernandópolis Flávio de Lima e família
À época, seu primeiro endereço foi uma chácara arrendada do Sr. José de Almeida, onde
hoje é o bairro Uirapuru. Flávio de Lima chegou à cidade aos 27 anos de idade com a esposa,
Almerinda Flávio de Lima, e seus dois filhos mais velhos, Odiceia, então com dois anos, e Odmilson,
com um ano de idade. Trabalhou na compra e venda de gado e chegou a fornecer leite para várias
famílias e estabelecimentos comerciais, entre eles, a Sorveteria do Babá, localizada entre as ruas
Espírito Santo e Sergipe.
Além de criar gado para venda e comercializar leite, Flávio de Lima também alugava áreas
de pasto na chácara que arrendara. A princípio, arrendava propriedades rurais, mas, posteriormente,
adquiriu suas próprias terras, tanto que, em meados do ano de 1954, comprou uma chácara, onde
hoje é o bairro Bom Jesus. A propriedade, numa área de 4,5 alqueires, foi loteada para a venda de
terrenos em 1961. Durante a venda dos lotes, doou uma área para a construção de uma Capela em
louvor a São Bom Jesus, de quem era devoto. No local que seria a capela, porém, foi construída uma
praça com o nome do bairro, “Bom Jesus”, entre as ruas Fernando Costa, João Cândido Filho, Bom
Jesus e Travessa da Glória. Do loteamento Bom Jesus, surgiram inúmeras residências e
estabelecimentos comerciais que abastecem um importante bairro de Fernandópolis. No local, há
uma rua com seu nome, em homenagem à sua trajetória no município.
Foi, ainda, proprietário de um sítio de 16 alqueires em Santa Isabel do Marinheiro, que
adquiriu em 1962
De família religiosa, participava ativamente – doando prendas e gado para os leilões – das
tradicionais quermesses que arrecadaram fundos para a construção das Igrejas Aparecida e Matriz.
Com o tempo, porém, Flávio de Lima deixou a zona rural, fixando moradia na cidade de
Fernandópolis, onde faleceu em 1992, aos 70 anos. Flávio de Lima deixou três “filhos de sangue”,
Odiceia, Odmilson e Odineia, e dois filhos adotivos, Luiz e Irene Jacinto. Outros dois filhos naturais,
Odagmar e Odjalma, já haviam falecido antes de sua morte.
Atualmente, Odiceia Railda de Lima Pereira é Oficial de Justiça aposentada; Odmilson Luiz
Lima foi Policial Civil, aposentando-se como Chefe dos Investigadores da Delegacia de Investigações
sobre Entorpecentes (DISE) de Fernandópolis; Odneia Margarida de Lima Oliva foi proprietária da
Sorveteria Sônia, na Avenida Amadeu Bizelli, que chegou a ter duas filiais. Atualmente, com 88 anos,
Almerinda Flávio de Lima reside no Residencial Benez, tem 18 netos e 19 bisnetos, que dão
continuidade à história de Flávio de Lima.

Colaboração
AMEF
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FLORENTINO ZACARIAS

Saiu do lar paterno aos 14 anos de idade, viveu nos vícios, aprofundou-se nas coisas deste
mundo; era viciado em bebidas alcoólicas. Em uma tarde de domingo, mesmo embriagado na
sarjeta, ouviu o Evangelho através de um grupo de irmãos que realizavam um culto ao ar livre;
aceitou Jesus como seu Salvador.
A partir desse momento, começou a transformar-se. No dia 4 de fevereiro de 1933 desceu
às águas batismais pelo pastor Hilário J. Ferreira, na cidade de Itajubá (MG). Foi ordenado pastor
pelo Pr. Cícero Canuto de Lima (Belém, SP), em 4 de junho de 1937.
Em 1939, contraiu o matrimônio com a jovem missionária Maria Velozo Zacarias,
batalhadora incansável, fiel, dedicada. Dessa união nasceram 19 filhos dos quais 4 já faleceram
(Damares, Paulo, Júnia e Marta). Permanecem vivos Débora, Elizeu, Dorcas, Rachel, Rute, MÍria,
Silas, Jediel, Hulda, Ester, Jedida, Gina, Rubens, Lucas e Vasni. Hoje, a família é composta por 15
filhos, 3 noras, Rute Rodrigues (in memorian), 104 netos, 44 bisnetos e 4 tataranetos.
Espiritualmente, a família é composta por Pr. Elizeu Velozo Zacarias, Pr. Alairton C. de
Oliveira, Evangelista Nelson T. da Silva, vários presbíteros, diáconos, cantores, cooperadores,
dirigentes de círculo da oração, superintendentes de Escola Bíblica Dominical (EBD), professores de
EBD, músicos, secretários, tesoureiros, maestros, coordenadores de eventos, coordenadores de
comissão de visitas, entre outros.
O Pr. Florentino Zacarias teve oportunidade de conviver com o irmão Daniel Berg, que
sempre dizia essa frase: “Zacarias, Jesus salva, cura, batiza com Espírito Santo e levará para o céu”.
Dedicou-se integralmente à obra do Senhor, passando lutas, perseguições, enfermidade, prisões, as
em todas as provas foi mais que vencedor.
Seus primeiros anos de ministério foram nas cidades de Itajubá, Guaxupé, Brazópolis,
Piranguinho e São Sebastião do Paraíso, todos em Minas Gerais. Espelhou-se na pessoa do Pr.
Cícero Canuto de Lima, do qual seguiu os exemplos e conselhos, suas definições. Também teve a
honra de conhecer a irmã Celina de Albuquerque, a primeira irmã batizada com o Espírito Santo no
Brasil. Sentia tanta paixão pelo seu trabalho, mesmo que a família ficasse em segundo plano. Várias
experiências ele adquiriu em Minas Gerais, porém, o mais importante foi se formou um homem
simples, humilde, analfabeto, que apreendeu a leitura através da Bíblia Sagrada.
Em 1948, mudou-se para Fernandópolis, trazido pelo pastor Luís Santiago, que pastoreava
a igreja de Votuporanga. Aqui, foi recepcionado pela família Antoniolli, Hermínio, Luís, Otaviano,
Candeia, entre outras. Em Fernandópolis, não havia Casa Pastoral, mas apenas a igrejinha que
comportava cerca de quinze pessoas: foi ali que começou seu trabalho. A primeira residência foi na
Rua 10, casa do Toninho Sapateiro, ponto de referência na época.
O primeiro templo foi inaugurado em 1950, de pau a pique, na cidade de Meridiano. Entre
1950 e 1952, abriu congregações em Jales, Aspásia, Salete, Urânia, Santa fé do Sul, Rubinéia, Santa
Albertina. Fundou o templo em Macedônia e São João das Duas Pontes.
Seu transporte, na maioria das vezes, era a pé até 50 km. Sua alimentação: frutas das
matas; dormia à beira de rios; sol, chuva, vento, tempestade e calor eram seus companheiros. Mas
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nunca deixou de realizar seus compromissos por mais difícil que fosse o lugar. Para ajudá-lo em sua
obra, trouxe o Pr. Alcides Pereira de Souza, de Tupã (SP).
As dificuldades eram muitas, e até mesmo sua esposa Maria Veloso Zacarias o ajudava,
inclusive distribuindo mantimentos que recebiam através dos missionários dos Estados Unidos da
América. Sua casa era hotel, alojamento, hospital, escola e até velório.
A casa pastoral de Fernandópolis fazia fundo com a casa dos padres católicos, com quem
tinha uma convivência muito boa. Em Fernandópolis, as datas comemorativas religiosas eram
celebradas pelos evangélicos da cidade toda, reuniam-se todas as denominações para as
celebrações.
Realizou centenas de casamentos, inaugurações de novos templos e casa pastoral. Viajava
de estado em estado, participando de escolas bíblicas, festividades, convenções, enfim, dedicou-se
ao ministério integralmente. Muitos irmãos, pela sua palavra, se tornaram-se, pastores, evangelistas,
missionários, presbíteros, diáconos, cooperadores, maestros, músicos, escritores, fundadores e
professores de instituto bíblico, escola dominical.
Em 1956, o trabalho expandiu-se para o estado de Mato Grosso do Sul, nas cidades de
Aparecida do Taboado, Paranaíba e Cassilândia. Também para Cerra da Moranga e Costa Rica(MS),
Estrela da Barra (MG) e Itajá (MG).
Estrategicamente, para melhor locomoção e atendimento ao trabalho, transferiu-se para a
cidade de Jales (SP) em 1º de janeiro de 1963, foi criada a personalidade jurídica da igreja,
abrangendo todas essas cidades.
Apesar de muitas lutas, sofrimentos, decepções, enfermidades, batalhou nesse campo até o
ano de 1981. Devido a seu estado de saúde agravado, foi jubilado passando, e a presidência do
campo para seu filho na fé, Pr. Sebastião Umbelino de Oliveira, para dar sequência a seu trabalho
No dia 19 de agosto de 1993, aprouve Deus cumprir em sua vida o que disse o apóstolo
Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé, agora me resta a coroa da vida do
qual Jesus, o justo juiz, me dará naquele dia”. Seu corpo foi velado no templo da Igreja de sede, em
Jales, ministério Belém. Fernandópolis prestou homenagem à família com moção de pesares. Por
iniciativa do Sargento Bezerra de Fernandópolis, há uma viela que se chama Pr. Florentino Zacarias
e, em Jales, por aprovação dos vereadores, há um viaduto com o nome Pr. Florentino Zacarias.

Colaboração
Gina C. Zacarias da Silva
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FRANCISCO LEÃO

Francisco Leão nasceu em 14 de julho de 1918, em Monte Azul Paulista (SP), filho de
Saturnino Leon Arroyo e Radegundes Gallego Serrano. Agrimensor e pecuarista, trabalhou nas lides
do café, borracha e gado em Fernandópolis/SP e Barra do Bugres (MT).
Chegou a Fernandópolis em 1937 com os pais, um irmão e quatro irmãs, vindos de Olímpia
(SP), para trabalhar na lavoura, trazidos por Joaquim Antônio Pereira. Inicialmente, instalaram-se
num rancho de pau a pique ao lado do atual trevo da Água Vermelha. Sem perspectivas para
progredir dessa forma, partiu para capital (São Paulo) para trabalhar e estudar.
Todavia, em 1939, retornaria em definitivo a Fernandópolis, atendendo convite do “velho”
Pereira, fincando, assim, suas raízes nesta terra que ele aprendeu a amar, respeitar, defender,
enaltecer e, em acordo com sua vontade, seria sua eterna moradia. Na ocasião, já como agrimensor,
satisfez ao pedido do futuro fundador da Vila Pereira: fora fincar os quatro marcos da primeira
esquina em plena mata (atual esquina da Rua Brasil com a Avenida Manoel Marques Rosa). Surgiu
aí o diálogo que ele sempre repetia e que muito o emocionava, pois os olhos marejados não
ocultavam o brilho da alegria de ter acertado sua previsão: “Você acha que vai virar uma vila?”
(perguntou Pereira) – “O senhor nem imagina o tamanho da cidade que vai nascer daqui.” (respondeu
Chico Leão, como era conhecido e chamado).
Conheceu uma das filhas de Francisco Arnaldo da Silva, Raymunda, a quem muito amou.
Casaram-se em 1943, tendo Joaquim Antonio Pereira como padrinho de Chiquinho Leão e dona
Raymunda, como ficou conhecida esta que foi sua inseparável companheira até setembro de 1996,
data de seu falecimento. Tiveram quatro filhos, todos formados: Maureen, professora, vice-prefeita de
São José do Rio Preto (2001/2004) e secretária municipal da mulher (2005/2008); Milton, advogado e
professor, vereador e prefeito municipal de Fernandópolis em duas oportunidades; Marly, professora
e comerciante; e Miriam, professora. Chico Leão sentia muito orgulho pelo fato de seus filhos terem
cumprido, à risca, sua exigência de estudo como lastro da constituição familiar, sendo a família a
instituição que ele mais preservou. Sua alegria completou-se com o nascimento de quatro netos,
cinco netas e três bisnetos.
Foi Chiquinho Leão que Iniciou o traçado da Vila Pereira na (atual) esquina da Rua Brasil
com a Avenida Manoel Marques Rosa, demarcada em 1937; além de recortar todas as ruas da sede,
localizava as famílias nos lotes doados e, como procurador de Pereira, outorgava as respectivas
escrituras. Posteriormente, foi autor dos projetos de arruamento e fundação dos Distritos de
Brasitânia e Arabá e dos futuros municípios de Populina, São João das Duas Pontes, Dolcinópolis,
Guarani d’Oeste e Ouroeste (ainda parte integrante da Fazendo Veloso). Foi autor dos projetos que
criaram o Parque Vila Nova, Estádio, Jardim Santista, Jardim dos Arnaldos, Bela Vista e outros.
Como se não bastasse toda sua atuação nesta extensa região, Chico Leão também fundou a vila
Nova Fernandópolis, atual distrito de Barra do Bugres, no estado de Mato Grosso. Além da prestação
de serviços de agrimensura na região, aceitou o convite dos irmãos Veloso para transferir-se para
Carapicuíba onde comandou toda a medição e traçou as linhas mestras do loteamento denominado
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Jardim Planalto, localizado em Vila Dirce. Ausentou-se de Fernandópolis, esta única vez com toda a
sua família, por aproximadamente cinco anos a partir de janeiro de 1953.
Na política, desempenhou inúmeras outras tarefas: efetuou, a partir de 1939 (como
procurador do fundador da Vila Pereira), o assentamento de famílias nos lotes doados pelo “velho”
Pereira; foi Delegado de Polícia nomeado, em duas oportunidades; secretário da junta de instalação
do município de Fernandópolis em 22 de maio de 1945; foi vereador na primeira legislatura
(1948/1951); secretário da ata de instalação do município de Jales no início da década de 1950, a
convite do próprio fundador daquela cidade, Dr. Euphly Jalles (este chegou a ser vereador e ter
assento na Câmara Municipal de Fernandópolis). Foi “pachequista” de quatro costados, porém um
leal e aguerrido defensor de uma atuação unificada de todas as alas políticas, visando sempre ao
bem de sua querida Fernandópolis. Lutava como um verdadeiro “leão” pelas causas adotadas pelos
companheiros políticos, porém, jamais guardou mágoas ou rancores de seus adversários, por quem
sempre era admirado e respeitado. Mostrou altivez e desprendimento ao alugar sua própria
residência, no período em que se transferiu para Carapicuíba (SP), para o Dr. Percy Semeghini (o
principal e mais ferrenho adversário do Dr. Pacheco), para que ali montasse sua residência e seu
escritório. Foi também coordenador de três campanhas vitoriosas para a Prefeitura de Fernandópolis:
uma com Leonildo Alvizi (1972) e duas com seu filho Milton Leão (1976 e 1988). Durante as décadas
de 1970 e 1980, foi colaborador e participou como orador em palestras e comícios realizados em
campanhas municipais na cidade de Barra do Bugres (/MT), região em que foi proprietário de terras
desde a década de 1960.
Desde os primórdios da pequena Vila Pereira, com expansão e consolidação muito lentas
diante do surgimento, poucos meses antes, da contígua Vila Brasilândia (fundada pelo futuro amigo
“Barozzi”), Chiquinho Leão sempre foi figura proeminente em todas as atividades sociais. Foi membro
fundador e atuante da Loja Maçônica Benjamin Reis (chegando a Venerável), Santa Casa de
Misericórdia, Cooperativa dos Cafeicultores, Lions Clube de Fernandópolis, Fernandópolis Esporte
Clube (FEC) e Associação Desportiva Fernandopolense (ADF).
Em reconhecimento por seus valiosos atos pelo desenvolvimento do município, desde a sua
fundação, foi agraciado, em 1990, com o título de cidadão fernandopolense. Também recebeu, na
década de 1990, o título de cidadão Barrabugrense junto com Olacyr de Moraes, na época
considerado o maior produtor mundial de soja.
Em 1961, juntamente com seu amigo Gabriel Navarro Alonso, Chiquinho Leão adquiriu uma
grande gleba de terras na região de Barra do Bugres (MT), próximo do rio Sepetuba, distante cerca
de 200 quilômetros da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Com seu espírito
desbravador e colonizador, começou a idealizar o surgimento de um povoado, que mais tarde batizou
como Nova Fernandópolis, nome dado pelo amor que sempre nutriu pela “sua” cidade. Para
concretizar seus sonhos naquela região, levou inúmeras famílias de Fernandópolis e de localidades
vizinhas a adquirir lotes na Nova Fernandópolis, para que firmassem suas moradias; dessa forma, ali
se iniciou a colonização. Para deslocar essas famílias de Fernandópolis e região para o novo
povoado no estado de Mato Grosso, as viagens eram feitas em vários dias sucessivos devido à
precariedade das estradas; tais viagens eram realizadas sempre na companhia de sua esposa
Raymunda, utilizando-se diversos veículos, tais como Jeep (Candango), perua Kombi, caminhonete
(Chevrolet C-10) e automóvel (Fiat 147). Como reconhecimento de seu espírito bandeirante e
crescimento do povoado que veio a tornar-se mais tarde Distrito, uma escola e o Posto de Saúde
local receberam o nome de sua querida esposa Raymunda, o que o encheu de orgulho. Em parte da
gleba de terras adquirida, Chiquinho Leão formou uma fazenda para criação de gado de corte e se
tornou, posteriormente, um dos pioneiros na região na cultura de seringueira (extração de látex).
No início da década de 90, surgiu um movimento em Barra do Bugres (/MT) para
implantação de uma usina de açúcar e álcool, fato que o motivou a dar sua colaboração. Após
constituição de uma comissão formada por prefeito, vereadores, políticos e figuras expressivas locais,
Chico Leão convidou-os a visitar a então recém-instalada Usina Alcoeste de Fernandópolis, já em
pleno funcionamento. Foram recepcionados atenciosamente pelos diretores do Grupo Arakaki, que
forneceu toda a documentação e informação necessária para a concretização da idéia em Barra do
Bugrres. Graças à sua interferência em forma de convite, nasceu a “Barralcool” naquele município do
longínquo meio-oeste do estado de Mato Grosso.
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Após a morte de sua inseparável companheira de viagens, com idade avançada e com
problemas de visão (o que muito o incomodava, vez que era um voraz leitor de jornal), Chiquinho
capitulou e resolveu vender suas terras naquela região.
Mesmo com a saúde debilitada, Chiquinho continuava a vibrar com ao crescimento de “sua”
Fernandópolis, principalmente quando lhe mostraram os novos bairros Canaã, Ana Luiza, Santo
Afonso, Santa Rosa, Vila Universitária. Entusiasmou-se com a transformação de Fernandópolis em
pólo educacional, com a chegada da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) e com a
Fundação Educacional de Fernandópolis, as quais, juntas, mantinham vários cursos e acenavam com
a instalação de tantos outros. Afirmava, com o maior orgulho, que o Shopping Center era para cidade
grande, mas ficou estupefato e chorou emocionado quando sua filha Miriam o levou para conhecer a
grandiosidade e o visual da recém-inaugurada Secol.
Homem de visão progressista e futurista, o velho “Leão” reconheceu, nessa oportunidade,
que sua previsão em diálogo com o amigo Pereira lá nos idos de 1937, naquela antiga esquina, se
havia concretizado muito além do esperado.
Chiquinho Leão foi um grande homem, honrado, trabalhador, corajoso e firme nas decisões,
mas sempre leal, educado e carinhoso com as pessoas. Era um grande “papo” com incontáveis e
curiosos casos, desde o início da Vila Pereira e das viagens ao estado de Mato Grosso. Sua maior
virtude era a raríssima capacidade de saber ouvir, já que, além da enorme paciência, interagia com
seu interlocutor com participação atenciosa no diálogo. Após seu falecimento em 06 de novembro de
2005, Francisco Leão foi homenageado pela Câmara Municipal, que outorgou seu nome ao Parque
Industrial II.

Colaboração
Marco Antônio Leão Soares
Mirian de Almeida Leão
Maureen de Almeida Leão Cury
468

FRANCISCO SEGATO

Francisco Segato, filho de Jovanna Capello e Francesco Segato, nasceu no dia 01 de


dezembro de 1904 na comunidade de Borgo Valsugana, nos Alpes da província de Trento, região
norte da Itália. Pessoa contida, reservada e de pouca conversa, gostava de ler jornais (em especial o
“Estado de São Paulo”); interessava-se muito por assuntos da área de saúde e artes. Pedreiro de
ofício e empresário da construção civil foi proprietário da extinta Fábrica de Ladrilhos São João,
empresa que confeccionava artefatos de cimentos em geral, localizada na esquina da Avenida
Expedicionários Brasileiros e Rua Rio de Janeiro.
Ainda menino, perdeu o pai em combate de guerra e, mais tarde, teve os irmãos Felice e
Enrico também convocados para combate já no final da Primeira Guerra Mundial.
Motivado por perdas e sofrimentos extremos, próximos à miséria, resolveu, junto com a mãe
e os dois irmãos combatentes, recomeçar a vida no Brasil, ficando ainda na Itália um irmão e duas
irmãs casadas.
Chegou ao Brasil a bordo do navio Garibaldi, no dia 02 de janeiro de 1922, desembarcando
no Porto de Santos; contava, então, 17 anos, veio morar na cidade de São Paulo e trabalhar na
construção civil.
Posteriormente, mudou-se para Potirendaba (SP), trabalhando como pedreiro. Casou-se
com Ângela Greco (nascida em 1910, na cidade de Brodoski-SP), e tiveram os filhos João,
Aparecida, Miguel, Domingas, Salvador e Tereza.
Em 1943, decidido a mudar-se de Potirendaba, veio para o então vilarejo de Brasilândia,
trazendo a esposa e os filhos; passou a morar em casa de pau a pique, trabalhava na construção de
casas, fogões e fornos a lenha. Consta que os trabalhos, quando menores, eram trocados por
alimentos (galinha, porco, arroz, banha, feijão etc.), praticando, com freqüência, o escambo.
Por volta de 1946, incentivou o cunhado Litério Greco, com quem tinha bom
relacionamento, a mudar-se para a Vila Brasilândia, onde estabeleceu a primeira sorveteria daquela
localidade.
Devido às dificuldades encontradas na Vila Brasilândia e à grande demanda de trabalhos na
Vila Pereira, acabou por mudar-se para esta, que prosperava rapidamente. Na vila Pereira, nasceu o
caçula Adilson, e iniciou os filhos João e Miguel no ofício da construção como serventes de pedreiro.
Em 1952, acreditando no crescimento da cidade de Fernandópolis, estabeleceu a Fábrica
de ladrilhos São João, nome dado em homenagem a João Batista, santo de sua devoção.
Juntamente com os filhos, trabalhavam na confecção de artefatos de cimentos, dentre tantos:
imagens de santos, túmulos e capelas, caixas d’ água, tanques e batentes para tanques, tubos de
poços d’ água e foças, pias de cozinhas, elementos vazados, pergolados, muros de placas e casas
de placas pré-fabricadas, pisos e paredes de granilites, bancos de cimentos e, em especial, os
ladrilhos que formavam belas imagens e mosaicos multicoloridos, valorizando os pisos de residências
e estabelecimentos comerciais, além dos entalhes feitos caprichosamente pelo Sr. Alcides, um
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funcionário quase pessoa da família, simples e de pouco estudo, mas que desenhava e fazia das
letras uma beleza rara como poucos, cuja obra pode ser encontrada em bancos de jardim e lápides
dentre tantos. Caprichoso que era, Francisco procurava desenvolver formas para as peças de
cimentos por clientes solicitadas, gostava de passar horas das manhãs de domingos a imaginar
peças e trabalhar, artesanalmente, o que vinha a ser os moldes das matérias-primas; também usava
as horas vagas para fazer as tintas a óleo, com corante em pó e óleo de linhaça, que usaria na
pintura das peças confeccionadas.
Gozava de boa amizade com o Padre Canísio, o que acabou por motivar o interesse voltado
para a confecção de imagens sacras; trabalhou também na construção da Igreja Matriz de Santa Rita
de Cássia nos assentamentos dos ladrilhos que formam os mosaicos do piso, confeccionou as bases
das imagens sacras e altares, além de algumas das imagens lá expostas e das paredes de granilite
amarelas e pretas que envolvem os pilares e as laterais internas.
Dentre muitas de suas obras, pode-se atribuir a antiga e extinta rodoviária (onde hoje está
localizado o Banco Bradesco), além dos prédios vizinhos da Capeta Loterias e da esquina entre a rua
São Paulo e avenida Amadeu Bizeli. Construiu, também, o prédio da residência e consultório do Dr.
Valtrudes Baraldi (médico fernandopolense) e do comércio à sua frente na praça central da cidade.
Trabalhou na construção da extinta algodoeira Sambra e na elevação de vários templos religiosos,
dentre os quais das matrizes de Riolândia e Américo de Campos, além de adornos e pisos de
granilite em Lojas Maçônicas diversas. Ainda na edificação de casas e prédios comerciais, trabalhou
em parceria, por diversas vezes, com o pedreiro Salvador Arquioli (conhecido de Líbero), os quais
tinham estreito relacionamento profissional.
É possível encontrar, ainda, nas antigas residências ou lojas de comércio, os belos pisos de
ladrilho, além de tanques, pias ou pisos de granilite,, bem como caixas d’ água distribuídas pela
cidade. No cemitério da Saudade é frequente encontrar capelinhas, imagens de santos e anjinhos de
guarda, além de túmulos e trechos bíblicos entalhados em lápides produzidos por Segato.
Para a praça da matriz, confeccionou os bancos de cimento com escritas e desenhos
entalhados caprichosamente, que denunciam terem sidos doados pelos primeiros comerciantes e
moradores da cidade, ficando lá até há pouco tempo, sendo retirados na construção da nova praça
no governo municipal de Ana Matoso Bim; há, porém, alguns remanescentes dessas peças nas
praças da Brasilândia e da Vila Aparecida, além dos longos bancos de granilite ao redor da igreja de
Santa Rita de Cássia, que lá estão há décadas.
Faleceu no dia 03 de novembro de 1973, com 69 anos, vitimado por complicações em
consequência de tumor pulmonar (carcinoma broncogênico), adquirido em virtude do uso inveterado
de cigarro.
O nome Francisco Segato, pode ser lembrado e encontrado em uma rua da Cohab Antonio
Brandini na cidade de Fernandópolis, cidade que escolheu de coração para viver, criar os filhos,
morrer e ser sepultado.

Colaboração
Paulo Roberto Fantini
470

GENTIL FRANCO DE ALMEIDA

Gentil Franco de Almeida nasceu no dia 12 de maio de 1930 na cidade de Bragança


Paulista, SP, filho de Cezarino Franco de Almeida e Anna Maria de Jesus. Ele teve uma infância
muito sofrida, pois perdeu seu pai com apenas um ano de idade e, aos seis anos, já trabalhava para
ajudar sua mãe. Estudou somente até o 3º ano primário, mas tinha uma sabedoria que muitas
pessoas com ensino superior não apresentavam.
Saiu de casa aos 16 anos para trabalhar na cidade de Socorro. Mais tarde foi indicado por
um amigo para trabalhar em São Paulo na multinacional Mackmilam (companhia importadora de
petróleo) e depois trabalhou na Lumaq S/A (lubrificantes e máquinas), em ambas atuando como
vendedor viajante. Viajava pelo interior de São Paulo e, em uma dessas viagens, na cidade de
Olímpia, conheceu e começou a namorar a jovem Lázara Rodrigues Magro, com quem veio a se
casar no dia 08 de abril de 1956.
Após o casamento, morou na cidade de São José do Rio Preto, pois ainda trabalhava na
Lumaq S/A como viajante.
Em seguida, mudou para Fernandópolis e tiveram quatro filhos: Marta Cristina, Gilza
Cristina, Gentil Filho e Ricardo Franco de Almeida. Começou a construir seu patrimônio com a
Eletrogil, loja de materiais elétricos; depois montou sua fábrica de postes de concreto e fez a
eletrificação rural em várias fazendas da região.
Tinha nas veias o sangue político; foi vereador de janeiro de1960 a dezembro de 1973,
tendo sido presidente da Câmara no biênio 1964/1965. Fez inúmeras conquistas para o
desenvolvimento de Fernandópolis junto a governadores e deputados da sua época.
Adorava tocar violão e cantar boleros, tangos, mesmo sem nunca ter frequentado uma
escola musical. Apesar de seu jeito sistemático e sério, foi um excelente pai e deu a todos os seus
filhos uma formação superior, com o sacrifício de seu trabalho.
Aos cinquenta e nove anos, sofreu um AVCc. (derrame cerebral) e ficou sem condições de
dar sequência ao seu trabalho, passando a empresa para seus filhos.
Seus últimos vinte anos de vida foram uma grande provação, pois era uma pessoa muito
ativa, não tinha horário para trabalhar e, com a doença, ficou dependendo dos cuidados de sua
família. Após ter sofrido mais dois AVCs, teve um infarto e veio a falecer no dia 06 de maio de 2009,
com 78 anos de idade.
Deixou, como exemplo de vida, que o ser humano pode superar todas as dificuldades que a
vida lhe apresenta e lutar com todas as suas forças para tornar-se um ser respeitado, honesto e de
caráter como foi. Deixou em nossos corações muita saudade, mas temos certeza de que Deus, como
Pai, saberá amparar esse filho que retornou para junto de Si.

Colaboração
Gentil Filho - 97846467 / 3442-3027
Gilza Cristina Miotto - 97843535 / 3442-5694
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GERALDO BATAGLIA

Geraldo Bataglia nasceu na cidade de Itápolis no dia 29 de outubro de 1927. Desde os dez
anos de idade, estudava música e se destacava com interesse pela sanfona (acordeão). Era morador
da cidade de Itajobi (sítio Lagoa Limpa), quando conheceu Idalina Minhotto, moradora também dessa
cidade.
Idalina mudou-se para Estrela d´Oeste, onde se casaram no dia 02 de outubro de 1949 e
voltaram a viver em Itajobi. Lá, Geraldo Bataglia trabalhava como lavrador e Idalina como dona de
casa. Em nenhum momento, ele deixou de estudar música. Todo sábado tocava nos bailes da região
com o grupo de quatro irmãos (Geraldo, Elpídio, Olício e Olívio), também músicos, chamando-os de
Irmãos Bataglia, motivo de orgulho para os pais Sr. Cliante e Sra. Teresa. Geraldo e Idalina (sua
eterna companheira e secretária) tiveram três filhas em Itajobi: Terezinha Bataglia, atualmente
morando em Votuporanga onde tem uma Escola de Música; Neusa Bataglia, que ministrou aulas
junto com seu pai por muitos anos; e Ivete Bataglia, que, depois de formada em música pelo seu pai,
seguiu carreira em São Paulo, capital do estado, onde chegou a gravar algumas músicas.
No dia 18 de fevereiro de 1960, a convite da família Antonio Santílio (dono de uma fábrica
de carroças), mudou-se para Fernandópolis com o propósito de ensinar música (onde sua filha havia
tomado algumas aulas com Geraldo e ficou encantada com seus ensinamentos em música). Formado
na Escola de Música Santa Cecília em Catanduva, daí o nome de sua escola em Fernandópolis, abriu
somente uma sala, então alugada, para ministrar aulas de acordeão, violino, violão e piano. Com o
tempo, o número de alunos aumentou tanto, que houve necessidade de ampliar o prédio, chegando a
600 alunos com treze profissionais trabalhando sempre sob a orientação da Escola de Catanduva.
Muitas pessoas de Fernandópolis e região estudaram música com Geraldo. Sua dedicação e
serenidade faziam com que os pais incluíssem na educação de seus filhos as aulas de música,
valorizando a cultura do país.
O que Seu Geraldo (como era chamado) mais gostava de fazer era trabalhar com a música
e mostrar, nas audições que sempre realizava em Fernandópolis, sua capacidade e competência
sobre seu trabalho.
Torcedor fanático do Palmeiras Futebol Clube, gostava de ouvir os jogos no seu radinho de
pilha. Geraldo gostava também de trocar idéias com alguns amigos íntimos sobre a política local.
Cursilhista, rotariano, participou da diretoria do Abrigo São Vicente de Paula, de
Fernandópolis; recebeu o título de cidadão fernandopolense no dia 17 de dezembro de 2000, pelo
que se sentiu muito orgulhoso e reconhecido. Recebeu quatorze certificados de primeiro lugar
regional de Escola de Música. Foi-lhe concedido, por unanimidade, o título de Cidadão Maçônico no
dia 19 de junho de 1998, tendo em consideração os relevantes e enobrecedores serviços prestados à
comunidade local. Recebeu vários certificados do Instituto Reuters de Sociologia e Estatística –
Prêmio TOP Quality –, por ser notoriamente reconhecido pela opinião pública como representante
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que desempenhava, com qualidade, suas atividades como Diretor, Professor e Educador Musical
pela pesquisa realizada pelo Instituto.
Durante os quarenta e seis anos que Geraldo e Idalina estiveram à frente da Escola Musical
Santa Cecília de Fernandópolis, outorgaram mais de mil diplomas (alunos formados), sem contar os
que não encerraram os anos conforme os instrumentos que estudavam, porque tiveram que
abandonar os estudos da música para fazer faculdade em outra cidade, já que, à época, a cidade e
região não contavam com faculdades.
Já aposentado e tendo arrendado sua Escola para outros profissionais da área, Geraldo
faleceu de embolia e trombose no dia 09 de fevereiro de 2007.

Colaboração
Sueleni Ap. Miotto Samenzati – Professora e sobrinha
Idalina Minhotto Bataglia – Esposa
473

GERALDO ROQUETTE

Nasceu no dia 18 de agosto de 1918, na cidade de Santa Rita de Paranaíba, hoje Itumbiara,
estado de Goiás, filho de Pedro Antonio Roquette e Beny De Genettes Roquette.
Perdendo o pai os oito anos de idade, começou cedo a enfrentar a rudeza e a hostilidade
da vida. Sua mãe e seus oito irmãos se mudaram para São José do Rio Preto (SP), iniciando uma
vida bem diferente: todos os filhos tiveram que começar a trabalhar, foram empregados no comércio
e sua mãe trabalhava como colaboradora no jornal da cidade e como modista.
Geraldo Roquette teve como seu primeiro emprego, a Drogasil (firma distribuidora de
medicamentos). Após ter começado como entregador de pacotes, por seu esforço e interesse ali
progrediu, chegando a ocupar o cargo de gerente da empresa.
Em 1939, graduou-se como perito contador pela Faculdade de Comércio Dom Pedro II,
profissão que nunca exerceu, pois Geraldo mostrou-se um grande comerciante e, como tal,
despontou-se.
No dia 7 de setembro de 1942, casou-se com Edith Ferrari Roquette, de cuja união
nasceram Pedro, Dulce Regina, Geraldinho, Dulcinéia e as gêmeas Maria Regina e Maria Nilza,
todos criados e educados em Fernandópolis.
Sua vida profissional sempre foi marcada pelo otimismo, dinamismo, coragem e arrojo de
um bom comerciante, foi um batalhador, empreendedor e desbravador destemido.
Em 1943 mudou-se para Magda, deixando o conforto de São José do Rio Preto, para
enfrentar os desafios de uma cidade em formação. Lá desempenhou a função de gerente da
algodoeira “Casa Verde”, iniciando assim uma vida nova e novos desafios. Graças à sua facilidade de
comunicação, sua liderança e bons relacionamentos, promoveu muitos eventos para angariar fundos
para construção da Igreja e Grupo Escolar da cidade, que ora se formava.
Em 1945, Geraldo mudou-se para Monte Aprazível, para atender à grande expansão da
empresa, abrindo, assim, uma lacuna que foi muito sentida e lamentada pelo povo. Nessa saída
recebeu significativas homenagens que ficaram para sempre na memória e no coração amoroso de
Geraldo.
Sua visão de futuro e seu caráter empreendedor, nessa ocasião, vislumbravam a
possibilidade de instalar-se em Fernandópolis, cidade que se mostrava uma célula viva no oeste
paulista. Surge aí a brilhante idéia: montar uma sociedade com o irmão caçula, deixando de ser
empregado para ser proprietário do primeiro de outros postos de gasolina na região central de
Fernandópolis, aonde chega em 1948. Em seguida, traz sua família, com o firme propósito de fincar
raízes na cidade, que amou, defendeu, propagou e para cujo desenvolvimento contribuiu.
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Na intersecção das avenidas Brasil e Expedicionários Brasileiros, ponto estratégico para


bons negócios, surge a sua primeira propriedade. Mais uma vez brilha seu espírito dinâmico e
progressista: além do posto abriu uma grande oficina mecânica, cujo gerente era o “Chichinha”, seu
parceiro; uma revenda dos veículos Willyans do Brasil e Mercedes Bens, logo se destacando nos
índices dos grandes revendedores. E mais: dando vazão ao dinamismo, abriu uma loja de produtos
das linhas brancas (geladeiras, fogões, máquinas de costura “Elgin” e outros inúmeros produtos).
Entre os antigos moradores de Fernandópolis, todos tiveram uma geladeira “Gelomatic” e/ou um
fogão “São Pedro”, comprados na Loja Roquette.
Grande incentivador de eventos e campanhas para promover o nome de Fernandópolis no
panorama nacional, dizia sempre que tinha o maior orgulho de ser “fernandopolense da gema”.
Não descuidava, porém, de sua vida social. Integrava quadros associativos e
representativos de variados setores da sociedade, tendo como objetivo a divulgação e a melhoria de
Fernandópolis. Nesse sentido, fez parte da Sociedade Rural do Fernandópolis Esporte Clube (FEC),
da Associação Desportiva de Fernandópolis (ADF, da qual foi um dos fundadores), da Associação
“Casa de Portugal” e da Associação Comercial, sendo seu presidente por dez anos.
Sua vida transparente, alegre, festiva e presente foi admirada por todos os
Fernandopolenses, que tiveram o privilégio de conhecê-lo e conviver com ele.. Esteve sempre
presente nos acontecimentos marcantes da cidade.
Na política, participou ativamente, porém nunca como candidato; preferia ficar nos
bastidores financiando campanhas, doando combustíveis e arrebanhando amigos eleitores; era um
apaixonado por Dr. Adhemar de Barros. Nas eleições para prefeito da cidade, fazia do seu posto de
combustível um verdadeiro quartel general das campanhas dos seus amigos candidatos: Manoel de
Oliveira Verdi, Percy Waldir Semeghini e Antenor Ferrari. Muitas vezes foi derrotado, mas sempre
teve muito “jogo de cintura” para sair das mais variadas situações.
Aqui cabe registrar um fato interessante e divertido. Geraldo era amigo inseparável do ex-
prefeito Edson Rolim, porém sempre foram adversários políticos: Geraldo era “adhemarista roxo” e
Rolim, “janista roxo”. Durante o período de campanha política, para que não houvesse discussão,
eles se separavam, cada um fazia sua campanha da forma como bem quisesse. Findo o período da
campanha, voltavam a se encontrar para, juntos, tomar uma “cervejinha” (coisa de que gostavam
muito!) sem ofensas ou desagravos.
Católico fervoroso – de comunhão semanal e defensor da sua fé –, foi grande parceiro na
construção da Igreja Matriz: participou com inúmeras doações. Na ocasião, para arrecadar fundos,
faziam-se jantares que ficaram famosos; Geraldo estava sempre presente ao lado da esposa Edith.
Aos domingos, Geraldo colocava seu terno de tropical inglês brilhante (moda da época), ia à
missa e, depois, abria seu posto de gasolina que era seu grande orgulho e dizia que o domingo era
dia de graça e deveria ser tratado como tal.
Na educação, através da sua companheira Edith (educadora nata), colaborou com a
construção do GEJAP (Grupo Escolar Joaquim Antonio Pereira), como se chamava na época, uma
das primeiras escolas de Fernandópolis construída pelos fernandopolenses; até hoje é o orgulho de
todos que por lá passam.
No esporte, patrocinava competições esportivas de todas as modalidades, inclusive,
oferecendo transporte de atletas dos times de basquete. No futebol, fez parte da diretoria do FFC.
Sãopaulino apaixonado, era fã do Gerson (jogador do São Paulo) e do Martins (jogador do FFC);
acompanhava os jogos torcendo muito.
No comércio, Geraldo foi brilhante, vitorioso, chegando, em1956, a possuir seis postos na
região. Por volta dos anos de 1960, sofreu um grande golpe: um negócio mal feito o obrigaria a
requerer concordata. O sócio e irmão José Maria Roquette (Zé Roquette) deixou tudo e se mudou
para a capital. Geraldo, no entanto, continuou firme, enfrentando todos os obstáculos na cidade.
Esse fato foi marcante na sua vida, mas Geraldo deixou uma grande lição e belo exemplo
de humildade e obstinação: foi ser empregado de quem tinha sido patrão. Trabalhou com seus
cunhados, Renê Ferrari e Moacyr Ferrari: os aprendizes conseguiram superar o professor, mas, com
otimismo, Geraldo recomeçou tudo.
O tempo passou. Sempre batalhador, corajoso e ambicioso, Geraldo conseguiu arrendar um
posto e novamente foi cuidar do que era só seu. Iniciava aí uma nova batalha; mais tarde construiu
um moderníssimo posto na Avenida Expedicionários Brasileiros.
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Geraldo trazia alegria: fazia brincadeiras com todos; tinha como hábito, toda tarde após o
encerramento do expediente, fazer seu “happy hour” no Nosso Bar ou em outro bar da redondeza.
Numa dessas tardes, além da cervejinha bem gelada, pediu torresmo; foi avisado de que o torresmo
havia acabado, colocado que fora na “quentinha” a ser levada para os presos. Geraldo, mais que
depressa, tirou dinheiro da carteira e solicitou ao garçom que comprasse bifes para substituir os
torresmos das “quentinhas”. Assim, os presos, naquele dia, comeram bifes de “filet mignon” no lugar
dos torresmos. Esse era o cidadão Geraldo Roquette.
Outro fato, que mostra bem sua personalidade: todo ano, no “Dia das Mães”, Geraldo, além
de comprar presentes para os filhos presentearem sua mãe, comprava presentes para seus
funcionários presentearem suas respectivas mães; para ele, era uma alegria ver um sorriso
estampado nos rostos daqueles que colaboravam tanto com ele.
Geraldo era um benemérito nato e tinha maior orgulho de ter o sangue tipo “O” negativo:
sempre que solicitado, fazia suas doações!
No auge da vida útil como cidadão fernandopolense, porém, com seus cinquenta e dois
anos, teve sua vida ceifada brutalmente: devido à cobrança de uma dívida, foi emboscado numa das
estradas no município de São João das Duas Pontes. Junto com ele, estava seu grande amigo
Orlando Ribeiro, que também morreu. Homens de paz, ambos não portavam qualquer arma para se
defender.
Os familiares perderam, estupidamente, seu líder, seu ídolo, seu paizão que jamais será
esquecido pelos bons exemplos que deixou. Seus colaboradores perderam seu chefe humanitário,
atencioso e respeitoso, restando um vazio imenso. Perdeu Fernandópolis seu grande cidadão,
homem dinâmico, cooperador e construtor de uma cidade melhor.
Curiosamente, antes de sua morte, a Associação Comercial perdeu seu líder. Como
escreveu o editor do Jornal Gazeta da Região (10 set. 1992): “Geraldo Roquette é a expressão viva
de um cidadão fernandopolense que sempre abraçou e amou todas as suas justas causas, que
poderia ter feito à ACIF muito mais do que pôde fazer, se não estivesse só. Geraldo foi um homem
só. Realizou o que poderia realizar um homem só, ao lado de Deus”.
Geraldo Roquette se foi no dia 15 de setembro de 1972, mas deixou como legado seus
bons exemplos à sua família, aos seus empregados e aos seus amigos.

Colaboração
Wônia Aparecida Franco Gomes
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HUMBERTO CÁFARO

Humberto Cáfaro era o filho mais novo de oito irmãos. Como era o caçula, era o grande
companheiro da mãe, ajudava nas tarefas caseiras e desfrutava, a maior parte do seu tempo, da sua
companhia.
À época, seu pai, Afonso Cáfaro, estava em Fernandópolis, implantando a cultura do café
em suas terras. Afonso era um homem que acreditava na instituição familiar e em todas as suas
decisões pesavam os valores da família. Por isso, quando se enveredou pelo sertão paulista, deixou
todos os filhos aos cuidados de sua esposa, para que pudessem, na capital, ter uma educação e
formação profissional da melhor qualidade.
Assim, Humberto passou sua primeira infância ajudando a mãe a cuidar dos irmãos mais
velhos, ao mesmo tempo em que era cuidado e amparado por todos. Essa relação criou um vinculo
que Humberto carregou até o fim da vida: sentia-se responsável por irmãos e sobrinhos, participava
diretamente de suas vidas, intercedia sempre que julgava necessário, dava conselhos e reprimendas;
foi assim a vida toda, enquanto a saúde lhe permitiu.
Filho de imigrantes italianos da cidade de Torraca, província de Salerno, Humberto nasceu
em 1928, em Guapiaçu, próxima a São José do Rio Preto (SP). Ali seu pai tinha uma beneficidora de
café e um sítio. Em 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, surgiu a primeira crise econômica
de ordem global e, por isso. o patriarca se viu obrigado a dedicar mais tempo à “abertura” das terras
em Fernandópolis, onde já havia iniciado o primeiro plantio de café da região. Com a Revolução
Constitucionalista de 1932, todos viveram momentos de apreensão. Ainda na década de trinta, devido
à crise mundial, a cidade começa a receber várias levas de imigrantes, boa parte vinda das fazendas
de café, outra parte diretamente dos navios do porto de Santos.
A formação de Humberto Cáfaro se fundamentou na fé e nos estudos. Com apenas seis
anos de idade, enfrentou a prova de admissão para ingressar no colégio Dino Bueno dirigido pelas
freiras vicentinas, cujos hábitos influenciaram sua fé e, por toda a vida, participou de movimentos da
igreja: inicialmente da congregação mariana, foi cursilhista e até ministro da eucaristia.
Ao terminar o primário, transfere-se para a Escola Estadual Caetano de Campos para
realizar o período ginasial e o curso científico (que correspondia ao atual colegial). Entretanto, o curso
científico era específico para quem queria fazer faculdade de Ciências Exatas. Em que pesassem as
dificuldades impostas pela época à família, seu pai sempre se preocupou com a boa educação dos
filhos, e os colégios frequentados por Humberto Cáfaro eram considerados os melhores na época.
Apesar da distância que os separava, pai e filho estavam sempre em contato. Com oito
anos de idade, Humberto Cáfaro veio, pela primeira vez, a Fernandópolis e, sem saber, participou de
um momento histórico da vila que surgia. Inicialmente, a jornada foi de trem de São Paulo até São
José do Rio; daí adiante, seguiu com um amigo da família, o Sr. João Birolli, que ia de carro conhecer
o povoado nascente. Além da novidade, que era ter um carro na vila que seria Fernandópolis, a vinda
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de Birolli era muito esperada, pois ele era um próspero fazendeiro com muito recurso financeiro para
investir na região e, assim, “acelerar a chegada do progresso”. Anteriormente, as únicas conduções
que vinham para a região, além daquelas de tração animal, eram os caminhões, em sua maioria o
“Ford Bigode”. A viagem era muito lenta, pois dependia de um grupo de mateiros que iam abrindo
caminho com foice e machado, alguns adaptavam uma lâmina no parachoque do veículo; o trânsito
era tão escasso que, com o tempo, a mata fechava novamente e escondia a picada. No período da
guerra (Segunda Guerra Mundial), o problema era a falta de gasolina e os veículos tiveram que ser
transformados para uso de gasogênio, pois a região dependia do transporte. Assim como a família de
Humberto Cáfaro, muitas outras usavam do mesmo artifício para enviar dinheiro para os grandes
centros, escondendo as notas no meio dos sacos de mantimentos produzidos aqui.
Já com dez anos, Humberto Cáfaro também participaria de mais um momento importante
para Fernandópolis. Ao iniciarem as férias, ele veio para o sertão, dessa vez acompanhando do pai.
Embarcaram na primeira jardineira que chegou à cidade: era tarde da noite, na vila todos dormiam,
chegava assim a primeira jardineira a Brasilândia, mas até a fazenda Santa Rita ainda havia uma
jornada de mais de 5 km por picadas a serem vencidas a pé, no meio da mata, onde eram comuns os
animais selvagens, entre eles, a temida onça pintada.
Essas viagens ocorriam sempre nos períodos de férias, pois o resto do tempo era dedicado
aos estudos. Humberto tinha feito um compromisso para entrar na melhor faculdade de engenharia
da época, e isto exigia muito esforço. Em 1947, casou sua irmã Arlinda; era a última mulher solteira
entre os irmãos. Depois, sua mãe mudou-se para Fernandópolis em sua nova residência, para poder
ficar junto do marido. Humberto, no último ano do científico, passou a residir com a irmã Rosa e a se
dedicar ainda mais aos estudos para conseguir uma vaga na Politécnica. Durante o período de férias,
vinha a Fernandópolis, mas manter a rotina de estudos não lhe era fácil, pois não havia energia
elétrica e tinha de ser à luz de velas: além da dificuldade de enxergar as pequenas letras tarde da
noite, por vezes teve os pelos das sobrancelhas queimados pela pequena chama. Finalmente, o
esforço foi compensado.
Início de 1947. Uma cena marcou a história da família que sua mãe sempre contava para
todos os filhos e netos. Seu pai Afonso voltou da cidade a cavalo, gritava da porteira na entrada da
fazenda: “Filomena, o Humberto passou, ele passou“. Assim, Humberto cumpria uma promessa feita
à mãe com apenas 10 anos de idade: “Hei de dar esta alegria a minha mãe”.
Iniciava, dessa forma, sua vida universitária. No primeiro ano, porém, teve de se apresentar
ao serviço militar, obrigatório a todo jovem que completasse 18 anos. O exército brasileiro, todavia,
oferecia aos universitários a oportunidade de frequentar o Centro de Preparação de Oficiais da
Reserva (CPOR), um treinamento de meio período que, apesar de sobrecarregar, não obrigava o
universitário a interromper seus estudos.
Na Politécnica teve oportunidade de praticar esportes, que eram uma de suas paixões. Foi
da seleção de atletismo da Poli na modalidade dos 400 m com barreiras e da equipe de basquete. Do
convívio com autoridades da Poli, surgiu a amizade com Lucas Nogueira Garcez que. apoiado por
Ademar de Barros, foi governador de 1951 a 1955 e estiveram em na região de Fernandópolis no
período da campanha eleitoral. Logo que assumiu, Garcez afastou-se de Barros e demonstrou
qualidades raras em políticos, mesmo nos tempos atuais: honesto e empreendedor, trouxe muitos
benefícios a São Paulo e a Fernandópolis. Mais tarde, quando Humberto já morava em
Fernandópolis, esse relacionamento facilitou o acesso ao governo do estado, inclusive proporcionou
uma visita do governador a Fernandópolis para a inauguração da Avenida Afonso Cáfaro, área doada
pela família ao município para a via de acesso à estação ferroviária. Desse modo, despertou na
comunidade, o reconhecimento pelo seu trabalho. Foi convidado, por duas vezes, a lançar-se como
prefeito e, em uma delas, na qualidade de candidato único. Também recebeu, em 1991, a “Medalha
22 de Maio”, uma honraria só atribuída aos fernandopolenses que se destacam na cidade pelos seus
feitos. Mas Humberto tinha uma filosofia de vida muito bem definida: ajudar sempre a todos que
necessitassem e aparecer o menos possível. Acabou por rejeitar a proposta.
O ano de 1951 foi marcante para Humberto: ele terminou a faculdade de Engenharia Civil
na Poli e, ao concluir o curso, já tinha várias propostas de emprego (mesmo antes de formatura já
trabalhava como calculista); o seu bom desempenho na universidade chamara atenção de um dos
professores que o convidara para trabalhar em sua empresa. Era Roberto Rossi Zuccolo,
pesquisador na área de concreto, pretendido fundador do Escritório Técnico de Estruturas de
478

Concreto Ltda., um dos maiores escritórios de São Paulo que chegou a realizar mais de duas mil
obras.
Entretanto, em Fernandópolis, seu pai, fragilizado pelo diabete, já não tinha o mesmo vigor
para administrar os negócios de família. Humberto, motivado por uma dívida de gratidão e vendo a
oportunidade de passar junto do pai os últimos anos que restavam, não pensou duas vezes. Abriu
mão de uma carreira promissora de engenheiro na capital e mudou-se para o interior. A mudança não
foi só de endereço; as condições de vida eram muito diferentes para um jovem acostumado à capital:
não havia eletricidade, a iluminação era a lamparina de querosene (que deixava o nariz preto de
fuligem), o banho era no chuveiro Tiradentes com a água aquecida no fogão a lenha.
Na fazenda, ele ajudava a administrar os negócios, mas acompanhava as atividades diárias
como um fiscal; os cafezais exigiam muita mão de obra e uma logística para lidar com as pessoas, as
plantas e o manejo adequado a cada época do ano. Com o seu conhecimento, investiu em máquinas
especiais para beneficiamento, produzia café de qualidade superior, estocava e acompanhava as
variações de preço para vender na hora certa. Na pecuária, assumiu a função do pai na entrega de
leite na cidade, ia a cavalo de casa em casa fazendo entregas pessoalmente; entre seus clientes
estavam Waltrudes Baraldi, José da Cunha, Jaime Leone, Bar do Arruda, Cássio Vendramine, família
Roquete, Apolinário de Matos e outros. Na pecuária investiu em tecnologias que aumentaram a
produtividade, como a introdução da raça nelore, comprando matrizes de criadores renomados como
Nenê Figueiredo e Rubico de Carvalho. O gado leiteiro também recebeu melhoramento genético com
o cruzamento de reprodutores da raça holandesa; a produtividade praticamente dobrou em pouco
tempo. Mais tarde, já na década de 70, surgiram na região dois jovens veterinários, João Barbudo e
Brígido, com a proposta de introduzir a “inseminação artificial”. Os primeiros cursos eram ministrados
a produtores de toda a região gratuitamente, foram realizados no “Curral da Fazenda Santa Rita”, e
os resultados foram impressionantes.
A fazenda produzia, também, milho, arroz, às vezes pipoca e amendoim, mas, até meados
da década de 70, a produção de tijolos era responsável por boa parte da receita, além de ter um
significado importante no contexto cultural da época, pois quem comprava tijolos estava certificando a
intenção de fincar raízes no município.
Fernandópolis da década de 50, porém, também oferecia uma vida social para o jovem
engenheiro que, acostumado à vida da metrópole, se adaptava à nova realidade. Uma de suas
principais distrações era participar dos bailes realizados no FEC, único clube social à época. Ele
sempre contava histórias dessa época e se divertia.
O jogo de basquete era outra de suas paixões. Encontrava-se com os amigos na única
quadra da cidade na esquina das ruas Amadeu Bizzeli com a Rio de Janeiro, para as disputadas
partidas; eram seus colegas Dalvo Guedes, Querton Ribamar, Ladislau de Oliveira, Alfredo Scarlatti,
Prof. Ailton, Bizzelli, Otávio, João Gomes e outros.
Apesar do basquete e dos bailes, Humberto achava que aquilo era pouco. Ele já pensava
no futuro: a cidade estava crescendo, e os jovens precisavam de mais opções de esporte e lazer;
assim, surgiu a idéia de fundar o primeiro clube com piscinas.
Com o apoio dos amigos, fundou a Associação Desportiva Fernandopolense (ADF),
inaugurada em 1962; seria a primeira piscina de Fernandópolis. Foram várias viagens a São Paulo,
visitando clubes e buscando equipamentos, ferramentas e pessoal capacitado para fazer a única
piscina da cidade que atendesse às exigências da Federação Paulista de Natação (FPN) para provas
de natação. A piscina foi inaugurada pelo recordista mundial dos 100 m livres, Manuel dos Santos,
em 1961. Quando se instalou a primeira academia de Judô em Fernandópolis, ele se matriculou
como aluno e, mais tarde, fez parte da primeira diretoria da Associação de Judô Fernandopolense. O
mesmo ocorreu com a primeira academia de Karatê, que foi patrocinada por ele durante
aproximadamente seis meses.
Em 1957, seu pai, devido ao diabete, já havia amputado parte da perna. A situação se foi
agravando até que, em 28 de janeiro, ele falece. Foi uma época muito difícil para Humberto, pois ele
teve que assumir de vez a responsabilidade da administração dos negócios da família e conviver
diariamente com as obras do pai. Tudo lhe trazia lembranças felizes e, ao mesmo tempo, dolorosas
pela perda tão sentida. Como era costume na época, “guardou” luto durante um ano: não participava
de festas, bailes, e usava uma tarja preta nas camisas e ternos.
479

Mas a ausência do pai não deixou somente dor; o exemplo de vida altruísta de Sr. Afonso
foi seguido por Humberto, e o seu engajamento ultrapassou as atividades sociais e assumiu
compromissos benemerentes. A Santa Casa de Fernandópolis foi sempre alvo de suas ações:
participou da mesa diretora; doava produtos da fazenda, doou o primeiro aquecedor central, roupas
de cama, e participava de todas as campanhas para ajudar as freiras. Na época da construção,
ofereceu a planta do hospital desenhada por ele e, anos mais tarde, doou mais uma área para
ampliação nos fundos da Santa Casa. O Asilo, cujo terreno fora doado pelo seu pai, também recebia
a mesma atenção: todo ano, doava novilhas para o leilão e atendia às solicitações dos diretores. A
crença na fé católica fez com que sempre ajudasse os movimentos da Igreja desde sua juventude:
quando vinha passar as férias na fazenda, ajudava com as próprias mãos a descarregar dos carros
de boi os tijolos doados pelo pai, trabalhava nas quermesses servindo aos fiéis; mais tarde, doou
parte dos vitrais da igreja, e sua mãe ofereceu a rosácea na porta central para atender ao pedido do
padre Eduardo. Em 1972, iniciou-se no movimento do Cursilho em Jales e, por 20 anos, assumiu um
compromisso semanal de responsabilidade: passou a participar da organização e proferir palestras
em todos os encontros, cujo tema predileto era “Relacionamento Familiar”.
O compromisso das viagens semanais fez com que compartilhasse o espaço da sua
Veraneio (veiculo da época com muitos lugares) com moradores de Brasilândia. Nesse grupo, fez
grandes amigos que o acompanharam a vida toda. Entretanto, com o tempo, o problema de visão se
foi agravando, até que as viagens noturnas começaram a ficar perigosas e, assim, teve de abandonar
sua grande vocação. Por anos ainda, conseguiu atuar na paróquia de Fernandópolis como ministro
da Eucaristia: todo domingo entregava a hóstia aos paroquianos, até que a falta de visão também o
impediu de dar continuidade a esse ato de fé.
A aproximação com algumas comunidades era consequência das atividades em que se
envolvia. Um exemplo disso foi a aproximação com a comunidade nipônica de Fernandópolis ocorrida
devido ao “Rádio Taisso”. Por gostar de atividades físicas, ingressou no grupo que praticava este tipo
de exercício, sempre pelas manhãs bem cedo, antes de iniciar sua jornada de trabalho, a princípio na
praça da matriz e depois no Clube Tokio. A integração com os colegas era grande, pois ele nutria
muita admiração pelos princípios e pela colônia: pontualidade, compromisso, respeito eram
demonstrados nas atitudes cotidianas. Assim, cultivou grandes amigos, por doze anos, no Rádio
Taisso, Frequentemente, era visto com o uniforme branco. Quando voltava para casa e passava na
padaria pela manhã, fazia questão de mostrar sua carteirinha de instrutor e cumprimentava os amigos
com uma reverência típica da cultura japonesa.
Devido ao trabalho da fazenda, desde que chegou a Fernandópolis, empenhava-se para
aprender a dinâmica da produção agrícola, estava sempre procurando fazer cursos e apoiava-se na
assistência dada pela “Casa da Agricultura” e seu amigo agrônomo Meneses; também participava do
Sindicato Rural compondo, por diversas vezes, a diretoria. Esse engajamento com o sindicato o levou
a participar da comissão organizadora da primeira Exposição Agropecuária de Fernandópolis em
1967 – evento que tinha propósitos muito diferentes dos atuais: à época, o governo fomentava a
pecuária com financiamentos, pois a cafeicultura estava em declínio e a exposição era um evento
específico do agronegócio. Entretanto, para que o evento fosse um sucesso, deveria contar com a
presença de criadores renomados. O engenheiro agrônomo João Alfredo de Meneses coordenava as
ações, e Humberto e seus companheiros – como Aluisio Coimbra, Joaquim Alves, José Belucio, João
Rodrigues Júnior e outros – iniciaram uma peregrinação visitando grandes nomes da pecuária
brasileira. O resultado foi um sucesso e o evento não parou de crescer, transformando-se no que é
hoje, mesmo que completamente diferente de seu início; mas foi a semente plantada naquela época
que culminou com uma das maiores exposições do Brasil.
Humberto não se envolvia apenas em projetos ligados diretamente ao seu ramo de
atividade; trabalhava, também, em favor de projetos que poderiam trazer o progresso para
Fernandópolis, por isso fez parte da comissão que trouxe o sinal de televisão para o município.
Também participou de um dos projetos que ainda hoje impulsiona e economia do município,
a implantação da Alcoeste. Na época, o governo incentivava a construção de destilarias para atender
à demanda do “Pró-Álcool”. O Banco do Brasil financiava 90% do valor do projeto com juros
subsidiados, as usinas obrigatoriamente deveriam ser empresas cooperativas; em Fernandópolis,
eram 20 sócios. Os donos plantavam a cana e recebiam pela venda do álcool. Foi um momento de
grande euforia na cidade, pois a comunidade agrícola estava engajada num projeto comunitário que
480

traria recursos financeiros para toda a região. Na realidade, as maiores obras de benemerência foram
para com os mais humildes: era comum levar doentes para serem tratados nos grandes centros,
principalmente em São Paulo no Hospital das Clínicas (HC). Alguns ficavam hospedados na casa de
suas irmãs até se recuperarem e poderem voltar. Muitos desses atos de amor ao próximo só ficaram
conhecidos após o falecimento de Humberto. Pessoas agradeciam por ajuda das mais diversas
formas, de conselhos a ajudas financeiras. Era um homem discreto com amigos e desconhecidos;
nem mesmo a família sabia de todos a quem ajudara, pois para ele o que contava era o ato de
caridade.
Humberto sempre teve pelo seu trabalho um respeito e dedicação que iam além da fonte de
renda e sustento de sua família, pois ele trabalhava na terra que herdara de seu pai e vira as
dificuldades que ele tinha passado para deixá-las como segurança financeira de que as próximas
gerações precisariam.
Entretanto as terras da família estavam limitando o crescimento de Fernandópolis. Homem
de visão empreendedora e espírito inquieto, sempre acreditou em mudanças e iniciou a urbanização
das áreas limítrofes com a cidade. A principio, ajudou seu cunhado Antonio Zanine a lançar o
loteamento “Rosa Amarela”, depois o “Jardim Pôr do Sol”; mais tarde, com seu amigo Walter Benes,
os bairros “Santo Afonso” e “Santa Filomena”, uma homenagem a seus pais, inclusive com direito à
doação de uma área para construção de uma igreja localizada no ponto mais alto loteamento. Por
fim, o projeto mais inovador, já contando com a ajuda dos filhos José Afonso e Humberto e um grupo
de profissionais de confiança, João Carlos, Fernando Cicarelli, Ribeiro: o “Condomínio Brasitália”.
Como Fernandópolis ainda não tinha loteamentos fechados, foi preciso criar leis que envolvessem o
plano diretor a questões ambientais. Humberto, porém, não conseguiu ver a obra concluída e
inaugurada somente dois anos após sua morte.
O trabalho com a terra acabou revelando outra faceta desse homem empreendedor. Numa
época em que o desmatamento era financiado e incentivado pelo governo, ele foi capaz de perceber
que tal conceito de progresso estava errado e, por conta própria, começou a implantar a preservação
ambiental a seu modo. Inicialmente, proibiu toda caça e pesca nas áreas da família; percebeu que,
mantendo a floresta nas margens dos rios, protegia os mananciais e, nas áreas mais altas, evitava o
início das erosões. A manutenção das matas ia contra o manejo das atividades agrícolas da época
em que se dizia “desmatar é progresso”; era a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil. Ele, então,
observou que a preservação das matas manteria um estoque de matéria-prima para as construções
de benfeitorias em madeira por tempo indeterminado. Além disso, a preservação da mata também
preservaria a microfauna regional; próxima às áreas preservadas havia menos danos causados por
ataques de pragas às plantações e menos doenças nos animais causadas principalmente por
ectoparasitas. Humberto se revelava um ambientalista bem antes de essa palavra estar na moda;
junto com seus filhos, recuperou mais de 20% das propriedades da família com matas de
preservação permanente, plantou mais de 50 mil espécies nativas e deixou uma grande área de
reflorestamento com mais de 200 mil árvores de eucalipto para ser explorado comercialmente no
futuro.
A constituição da família, com certeza, foi a maior paixão de sua vida. Amigo da família
Scarlatti desde os tempos de Guapiaçau, José Scarlatti tinha trabalhado com seu pai Afonso, a
Professora Yvone era amiga e companheira de passeios na praça; mas, quando conheceu a “Cida
Scarlatti”, descobriu o amor de sua vida. Da amizade, surgiu o namoro, depois o noivado e, no dia 22
de fevereiro de 1960, casaram-se na matriz. A cerimônia foi realizada pelo bispo, e os festejos foram
realizados na sede da Fazenda Santa Rita, um grande evento. A lua de mel foi uma viagem de
camionete de Fernandópolis a Cabo Frio, uma aventura digna da nova família. No dia 01 de janeiro
de 1962, nascia o primogênito Humberto Cáfaro Filho; dois anos depois, Maria Stella Cáfaro, depois o
José Afonso Cáfaro e a caçula Luciana Cáfaro. Pouco antes do casamento, Humberto fora
diagnosticado como diabético; contou à sua noiva e perguntou se ela ainda o aceitaria assim, mas o
amor que unia o casal já estava consolidado. Assim, juntos, os dois passaram uma vida de alegrias e
batalhas e desfrutaram cada momento sem esquecerem a batalha travada contra o diabete.
Humberto, sempre muito regrado, cuidava da saúde com a mesma seriedade com que fazia
tudo na vida. Viveu com qualidade de vida seus 79 anos. Já bem debilitado, no dia 24 de março de
2008 pediu a seu filho Zeca (José Afonso) que o levasse para ver a Fazenda do São Pedro, sentiu-se
481

mal e foi levado à Santa Casa. Lá foi atendido pelo seu amigo Nilson Abdala, mas seu coração não
resistiu e parou. Relata seu filho Humberto:

Nunca vou esquecer esse dia, talvez o dia mais triste de minha vida. Mas, passado o
choque, comecei a ver as pessoas chegando ao velório, comecei a lembrar de tudo
que ele fez e a obra de uma vida que nos deixou; por isso eu, que sou filho, fiz
questão de registrar sua historia, pois alivia minha dor e compartilho um legado de
bons exemplos.

Colaboração
Humberto Cáfaro Filho
482

IRMÃ MARGARIDA

Irmã Margarida178 – assim a chamávamos abrasileirando seu nome francês, que era
Marguerite Gaulier – nasceu na Nièvre, em 27 de novembro de 1921. Era a segunda da família de
quatro irmãs e dois irmãos. Apesar da distância de suas irmãs, que moravam em Nevers, elas
sempre permaneceram unidas. Fez seus votos de freira em 29 de julho de 1949.
Marguerite viveu seus primeiros anos na região parisiense em diferentes comunidades
como trabalhadora familiar; depois em Paris, durante seis anos, após formar-se enfermeira.
Ela amava sua profissão e, como uma amiga, “ela escutava, percebia as angústias às quais
ela levava um grande apoio, com toda energia e a gentileza que a caracterizava”.
Durante 11 anos, em Petit Quevilly, depois 16 anos no Havre, Marguerite se engajou com
os mais pobres, sobretudo os migrantes, os doentes de alcoolismo e familiares. Ela criou o
movimento “VIDA LIVRE” no Havre.
Quantos se lembram dela! Eis alguns testemunhos de pessoas que conviveram com Irmã
Margarida:

Em 1983, eu fui acolhida por Marguerite e, com sua ajuda, nós abrimos uma
organização “Mulheres”. Você me ensinou a me reconstruir e arrastar outros.

Marguerite nos compreendia e nos aceitava. Não vendo senão o melhor de nós
mesmas, maravilhada das qualidades e competências que ela podia encontrar em
nós. Um sorriso, uma palavra, um sinal de amizade, tudo era para ela delicadezas. A
todos, ela fazia confiança, ajudando-os a ter confiança em si mesmos. Quantos
acompanhamentos e encorajamentos ela prodigalizou.

Chegou a Fernandópolis como “Superiora” das Irmãs da Nossa Senhora da Assunção em


16 de setembro de 1960. Aprendeu nossa língua com a professora Edith Ferrari Roquette, na década
de 60.
Por ser formada na área de enfermagem, participou dos trabalhos da Santa Casa de
Misericórdia e, juntamente com outras irmãs, cuidava dos doentes, humanizando e espiritualizando o
hospital, onde se vivem, contraditoriamente, momentos tristes e alegres.
Além do trabalho evangelizador ela visitava famílias carentes, cuidava dos doentes e
gestantes no domicílio de cada um. Promovia cursos em sua casa (casa das irmãs Assuncionistas)
com Pe. José Jansen e alguns professores. Ministrava cursos de catequese, trabalhava com a
juventude, envolvia-se nos trabalhos dos sindicatos. Dinamismo e serviço eram seus talentos.
Aos domingos, Madre Margarida passava pela casa de alguns leigos e iam para os sítios
dar catequese. Também aos domingos, na Brasilândia, após a missa, ela e Irmã Lourdes, distribuíam

178
Irmã Margarida aparece no centro da foto, atrás da garota. Da esquerda para a direita, é a terceira irmãzinha.
483

pães às famílias carentes. Eram pães doados por Sr. Sebastião Marinho Lopes, que tinha padaria na
Brasilândia. Também, Irmã Lourdes, sua companheira (hoje com 90 anos), lembra que saíam pelos
bairros em uma carroça, distribuindo pães para matar a fome dos carentes, que sabiam a hora exata
que as irmãs por ali iriam passar.
Nos anos seguintes, irmã Margarida contou com o valioso trabalho do Sr. Romeu Soares,
que, como motorista, estava sempre pronto a transportá-la, juntamente com outras irmãs, para os
trabalhos diversos na periferia.
Importante também relatar o acompanhamento de irmã Margarida e Pe. José Jansen no
grupo de jovens nisseis “Estrela da Manhã”, que trabalhavam pela Igreja de Fernandópolis. Esses
jovens se reuniam semanalmente nos fundos da Igreja, presididos pela professora Tomiko Arakaki, e
ali faziam orações, a leitura de um jornal nissei cristão, que vinha de Bauru, estudo da bíblia,
arrecadação de roupas e alimentos para os mais necessitados; participavam de todas atividades da
igreja, quermesses, enfeites de rua nas procissões de Corpus Christi. O grupo atuou durante muitos
anos na igreja e veio acabar porque os jovens migraram de Fernandópolis para estudar em outras
cidades, e irmã Margarida também se foi embora para a França.
Em 1991, sua saúde começou a alterar e irmã Marguerite teve que deixar a comunidade do
Havre para Songeons e, depois de um longo período acamada, veio a falecer no ano de 2005.
Embora não fosse brasileira, instalara-se no Brasil para seu trabalho evangelizador e nos deixou um
legado primoroso de humanismo, dinamismo e liderança cristã.

Colaboração
Maria José Mazi Brandini
484

JAYME BAPTISTA LEONE

Jayme Baptista Leone nasceu no bairro da Boa Viagem, em Salvador (BA), em 6 de


setembro de1913, filho de Maria Arlinda Leone e Arthur Benevuto Leone.
De família humilde, seu pai era barbeiro, e sua mãe tecelã na fábrica de tecidos Boa
Viagem. Nesse período ele e sua família moravam nas casas da própria fábrica, denominadas de Vila
Operária.
Muito estudioso, fez o primário, o ginasial e parte da faculdade com bolsa paga pela fábrica,
pois, segundo Luis Tarquírio (dono da fábrica), sua inteligência não poderia ser perdida.
No final do quarto ano da faculdade, a fábrica entrou em falência. Para que pudesse
concluir seu curso, foi nesse período custeado por um de seus professores, Adriano, e por seu irmão
mais velho, João Baptista Leone.
Foi um período de longa batalha, pois, nessa época, só tinha uma troca de roupa lavada à
noite para que pudesse usar no dia seguinte e só fazia uma refeição por dia, geralmente o bolinho de
“estudante“, tradicional iguaria da culinária baiana.
Formado, surgiu o grande dilema de como trabalhar, já que a família não tinha como montar
um consultório. Junto com seu irmão João Baptista, que, na época, tinha amigos na maçonaria,
decidiram que para fazer carreira e ganhar algum dinheiro só se viessem ao estado de São Paulo.
Escreveram, então, para Sellman Nazarethe, em São José do Rio Preto, que respondeu
dizendo: “Mandem-me o jovem“.
Com a ajuda de. Sellman, primeiro ele se instalou em Braúna e, logo depois, mudou-se para
Schmith (em 1938).
No final de 1939, teve notícias de uma vila muito próspera e foi convidado para vir conhecê-
la (hoje a cidade de Votuporanga). Ali, teve notícias de outra vila que estava surgindo ali perto e que
também era muito próspera (Vila Pereira).
Aqui chegando, encantou-se com o que viu e, no segundo dia, já havia alugado um imóvel
para poder clinicar e tornar-se grande amigo de Joaquim Antônio Pereira.
Ainda solteiro nessa época, voltou a Schmith para pegar suas “tralhas” e dizer à jovem
“Idalina” que estava vindo a Vila Pereira para trabalhar e ganhar algum dinheiro para que pudessem
casar-se.
Em 1941, casou-se com Idalina Bueno Brandão, em São José do Rio Preto. Tiveram seis
filhos: Marah Angélica, João Baptista (in memoriam), Flávio Baptista (in memoriam), Cyro Baptista
(médico residente em Rondonópolis - MT) Maria Lúcia (residente em Ilha Solteira) e Maria Izabel
(residente em Limeira - SP).
Em 1941, torna-se o primeiro jornalista da cidade, editando o Fernandópolis Jornal e, em
seguida, monta a primeira gráfica da cidade.
485

Como médico, seu trabalho foi árduo, pois, muitas vezes, tinha de sair à noite, geralmente a
cavalo, para atender pacientes, cruzando, também, com “onças” no meio da mata.
De uma dedicação ímpar ao paciente, muitas vezes o colocava em sua casa para ministrar,
com a ajuda de sua esposa, a medicação na hora certa.
Posteriormente, foi médico do posto de puericultura volante da cidade, juntamente com
Valtrudes Baraldi.
Homem culto, ele gostava de música e de leitura; muito dedicado a família, procurava
sempre dar o melhor a seus filhos.
Embora rígido no convívio familiar, não deixava que nada faltasse à família. Em sua visão
futurista, quando ainda não havia energia elétrica na cidade, na sua residência instalou um gerador
usado para operar a gráfica.
Para os filhos procurava dar a melhor escola, aprendizado musical e viagens de
conhecimento, como a de sair de Fernandópolis com destino a Santos, para que os meninos
conhecessem o porta-aviões Minas Gerais, que tinha sido comprado há pouco pelo país. Para quem
nada teve na infância e juventude, aos filhos tudo deu: cultura, educação e princípios morais.
Homem apaixonado pela cidade, muito lutou por seu desenvolvimento: participava de
quermesses da paróquia, lutou para a criação do campo de aviação, pela construção da Santa Casa,
entre tantas outras ações como cidadão e como médico.
Como jornalista, combativo que era, a muitos desagradou, pois o seu compromisso com os
eleitores era fundamental e, para tanto, era imparcial, divulgando realmente os fatos acontecidos no
município com total isenção de critérios pessoais.
Deixando de clinicar cedo, dedicou-se somente à sua empresa, mas nem por isso deixou de
acompanhar o crescimento da cidade. Sabia exatamente o que estava acontecendo, quantos bairros
novos estavam surgindo e quantas casas havia em construção.
Também teve seu lado “poeta“, de cujo exemplo se tem esta quadrinha:

Lembro a promessa mentirosa


Que fez nascer a minha dor
E esta alegria dolorosa
De padecer por seu amor...

Faleceu em 12 de agosto de 2003, sem ter visto realizado o seu grande sonho: a instalação
da Faculdade de Medicina, na cidade.

Colaboração
Maria Angélica Leone
486

JESUS MELEIRO DE BARROS

“A escola tinha que ser aberta para os alunos e


comunidade, não deveriam existir muros, pois,
deixando os alunos usarem a escola, eles
cuidam dela com carinho.”

(Jesus Meleiro de Barros)

Jesus Meleiro de Barros nasceu em 06 de agosto de 1938, na cidade de Álvares Florence


(SP), e faleceu em 27 de fevereiro de 2007, na cidade de Fernandópolis, vítima de complicações do
diabetes.
Filho de José Meleiro de Barros e Antonia Lopes Barros, Meleiro era o quarto filho de nove
irmãos. Veio para a cidade de Fernandópolis com apenas dois anos de idade e aqui permaneceu até
o dia de seu falecimento.
Iniciou seus estudos no Grupo Escolar de Fernandópolis, atual Escola Estadual Joaquim
Antonio Pereira (JAP), recebendo o certificado de habilitação do curso primário em 14 de dezembro
de 1952, por mãos do diretor Olívio Araújo.
Em 1953, prestou exame de admissão para cursar o ginasial, no Ginásio Estadual de
Fernandópolis, atual Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares, e, logo em seguida, ingressou na
Escola Normal Municipal de Fernandópolis, no curso de formação de professores primários,
concluído em 1959.
Jesus Meleiro era um homem que gostava de estudar. Quis aperfeiçoar-se nos estudos na
cidade de Tanabi, mas seus pais não concordaram com a idéia, uma vez que Tanabi era uma cidade
distante e temiam que ele se aventurasse por lugares longínquos.
No entanto, seus pais não conseguiram dissuadi-lo da idéia de dar continuidade aos
estudos, culminado com um “briga” e sua saída momentânea de casa. Como não queria pedir
dinheiro aos pais para manter-se, começou a escrever epitáfios em jazigos para arrecadar uns
“trocados”, além de dar aulas em substituição.
E lá se foi o jovem sedento de conhecimentos em direção à cidade de Tanabi, para realizar
o curso de aperfeiçoamento no Colégio Estadual e Escola Normal de Tanabi, em 1962, conquistando
o diploma de habilitação para o magistério (na conformidade da lei).
Ainda no decorrer do ano 1962, prestou concurso para professor primário, efetivando-se na
cidade de Palmeira d’Oeste em uma escola isolada na Fazenda Santana. Além de exercer a função
de docente, desempenhava a de diretor, faxineiro, caseiro, merendeiro e até rachava lenha para a
cozinha.
Morava numa casa ao lado da escola com mais quatro professoras e vinha mensalmente
para Fernandópolis, situação que perdurou por dois anos.
487

O professor primário sempre se preocupou com o bem-estar das crianças e, inconformado


porque essas não tinham onde brincar no recreio, realizou uma quermesse para angariar recursos
financeiros, visando à construção de um galpão, o que conseguiu antes de sua saída de Palmeira
d’Oeste.
De volta a Fernandópolis, conhece a sua futura esposa – Arlete Marinho Lopes –, com
quem se casa em 21/02/1965, na Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia.
Dessa união nasceram três filhos: Valéria Cristina, Marco Antônio e Sérgio Luís. Sempre foi
um pai presente e, como gostasse muito de pescar, vivia às margens de rios nos finais de semana;
por conta disso, ensinou seus filhos a nadar desde cedo.
Preocupado com o sucesso dos que o cercavam, sempre incentivou a todos no estudo;
entretanto, nunca interferiu na escolha profissional de seus filhos, deixando-os livres para cada um
seguir seu caminho.
Sua esposa Arlete iniciou o ensino médio após o casamento e, em 1974, na cidade de São
Paulo, cursou Educação Artística. Sobre isso, comenta: “Foi uma época difícil, eu tinha três filhos
pequenos, mas o Jesus não me deixava desistir, me incentivava sempre e cuidava dos nossos filhos
na minha ausência”.
Jesus Meleiro sempre procurou atualizar-se e, em 17 de dezembro de 1965, recebe o
diploma do curso de “Administradores Escolares”, realizado no Instituto de Educação de
Fernandópolis, conferindo-lhe o diploma de habilitação para o magistério primário.
Ainda no ano de 1966, na cidade de São José do Rio Preto, o educador incansável
frequenta o Curso de Treinamento para Exames de Suficiência da CADES, na disciplina de Ciências,
setor “A 2”.
Em 22 de março de 1968, recebeu seu diploma em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Mogi das Cruzes, estado de São Paulo, curso realizado com muito empenho,
dedicação, sacrifício e bom humor, ao lado de seus amigos e colegas.
Foi alfabetizador em Estrela d’Oeste; professor dedicado, adorava lecionar. Realizava
muitas experiências com os alunos, como instrutor de práticas agrícolas (horta e criação de coelhos)
e chegou a iniciar uma graduação em Ciências na Faculdade de Jales; contudo, passou no concurso
para provimento do cargo de diretor e não concluiu o curso.
Ingressou como diretor de escola em 30 de dezembro de 1971, em Santa Clara d’Oeste; em
seguida removeu-se para a cidade de Indiaporã até sua remoção definitiva, em 21 de fevereiro de
1973, para o Colégio Estadual de Fernandópolis, que funcionava na EE Afonso Cáfaro, aguardando o
término da construção de prédio próprio, concluído em 24 de julho de 1973, na rua Bahia, nº 265,
Jardim Bela Vista.
Pela Resolução SE n. 22, de 26/01/1976, publicada no DOE de 27/01/1976, houve a fusão
do Colégio Estadual de Fernandópolis com o GESC “Vila Nova” de Fernandópolis, e a escola passou
a ser denominada “Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus”, atualmente Escola Estadual
“Saturnino Leon Arroyo”, onde o professor Jesus Meleiro foi diretor por dezoito anos, até 06 de abril
de 1991.
Desempenhou a função de diretor com zelo e dedicação, sempre acreditando em seus
ideais, pois para ele não deveriam existir muros e portões nas escolas. Como dizia, “Os alunos têm
que ter consciência da necessidade de permanecerem na escola e da sua importância em suas
vidas”.
Jesus Meleiro era um homem ético e educador responsável, preocupado com o
desenvolvimento e o progresso da cidade, qualidades que o levaram a participar da vida pública
desta terra que tanto amava.
Foi eleito vereador à Câmara Municipal de Fernandópolis em 15 de novembro de 1976, pela
legenda da “Aliança Renovadora Nacional” (ARENA), com 748 (setecentos e quarenta e oito) votos
nominais, ficando-lhe assegurado o quarto lugar entre os eleitos pela referida legenda.
Conforme termo de posse dos vereadores, em 1º de fevereiro de 1977, na sede da Câmara
Municipal de Fernandópolis, em sessão solene, instalou-se a 8ª legislatura de 1977-1983, ocasião em
que se prestou compromisso regimental e os vereadores eleitos tomaram posse e foram diplomados,
na gestão do Senhor Prefeito Milton Edgard Leão, que o tinha mais como um irmão.
488

Em 10 de maio de 1982, Jesus Meleiro propõe a concessão da medalha “22 de Maio”,


outorgada pela Câmara Municipal, ao Sr. Antônio de Freitas, sendo aprovada pelo plenário como
forma de agradecimento aos serviços por ele prestado.
Empenhado com o desenvolvimento de Fernandópolis, Jesus Meleiro de Barros e o
delegado agrícola, Sr. João Alfredo de Menezes, acompanharam o então prefeito Milton Edgard Leão
até o Ministério da Agricultura, em Brasília, para protocolar o projeto de criação da destilaria
Alcooeste pela Proequipe. Contribuiu também, decisivamente, para a aprovação, pelo Conselho
Estadual de Educação, do Curso de Enfermagem e Obstetrícia da Fundação Educacional de
Fernandópolis, juntamente com o professor Eulálio Gruppi, época em que era membro do Conselho
Estadual de Educação.
Entretanto, Jesus Meleiro não deu continuidade à vida política, pois teve decepções com
alguns companheiros e não se conformava com certas atitudes que pudessem comprometer e
atravancar o crescimento da sua querida Fernandópolis.
Jesus Meleiro de Barros era um homem íntegro, honesto e altruísta, não media esforços
para ajudar a quem até ele se achegasse. Dessa forma, foi-lhe concedida a “Medalha Fernandópolis”,
pelos relevantes serviços prestados à administração pública e à comunidade, conforme decreto nº
1.763, de 12 de maio de 1982, na gestão do prefeito Milton Edgard Leão, que se lembra do amigo
com carinho:

Jesus Meleiro foi um vereador leal, moço correto, extremamente amoroso, sensível
demais e participativo na Câmara, juntamente com o Armando Farinazzo, tomando
decisões importantes para o desenvolvimento de Fernandópolis.

Além de bom piadista, era um exímio pescador de rãs e peixes, sendo premiado, inclusive,
com um troféu de rã, pelo seu cunhado Edson, por ser o melhor pescador de rãs da região.
Um grande amigo seu, Blademir Selotto, comenta:

Zuis era uma pessoa muito amiga, gostava de contar piadas, era brincalhão e,
durante esses vinte anos que frequentou a minha leiteria, não arrumou inimigo
algum (emociona-se). Sinto saudades do Zuis.

Sua esposa, Arlete, menciona que Jesus tinha muitos amigos de pescaria, gostava de
cozinhar, criar e improvisar pratos; e tudo que lhe fosse designado para fazer na pescaria – lavar,
cozinhar, arrumar –, fazia satisfeito.
Certa vez Jesus Meleiro fez uma peixada em um rancho (sua esposa lhe havia ensinado),
recebendo diversos elogios. Algumas semanas depois, em reunião em sua residência, sua esposa é
quem preparou a peixada e um amigo exclama: “Nossa Jesus, você ensinou direitinho sua esposa a
fazer o peixe”. Após a saída dos amigos, Jesus e a esposa deram boas gargalhadas sobre o
episódio.
Em conversa com o amigo Ramon Carmona, diz que:

Conheci o amigo Jesus e destaco sua perspicaz luta encetada para progredir na
carreira [...], sua persistência nos estudos e sua dedicação ao trabalho; foi sempre
um exemplo a ser seguido.

Educador incansável, após árduos anos de trabalho, aposenta-se em 06 de abril de 1991 e,


merecidamente, passa a desfrutar do bom convívio da família e amigos.
Descendente de espanhol, era afetivo e carinhoso, relatam os filhos:

Cheio de carisma, uma pessoa que se fazia amar rapidamente, encontrava alegria
em tudo que fazia. Como educador, era preocupado com a formação total dos
alunos e a escola era continuação da nossa casa. (Valéria, Marco e Sérgio)

Sua esposa relembra os bons momentos de convivência em que construíram uma família.
“Jesus era um sonhador que tinha facilidade de fazer amizades, alegria de viver e bondade infinita”.
489

No dia 27 de fevereiro de 2007, morre aos 68 anos de idade, em consequência de


complicações do diabetes, e foi sepultado em Fernandópolis.
Como uma singela homenagem a este educador, no dia 26 de outubro de 2007, a Escola
Estadual Saturnino Leon Arroyo nomeia a sala ambiente de informática de “Jesus Meleiro de Barros”.
Acredita-se que esse espaço representa o seu pensamento inovador, crente nas mudanças
tecnológicas e científicas, e na escola como o instrumento mediador capaz de transformar o homem.

Escola Estadual “Saturnino Leon Arroyo”

Colaboração

Carlos Antônio de Jesus Cabral – Diretor de escola


Valdelice Maria Gonçalves – Vice-diretora de escola
Ademir Couto Ângelo – Pofessor-coordenador
Valdinéia T. Nunes Rossanese- Professora-coordenadora
Eliana Martins Jacob F. de Almeida – Professora de Português
Margarete Ferreira Lopes – Sala de Leitura
Marivalda Permegiani Vilarinho – Sala de Leitura
490

JOSÉ BORGES

José Borges, nascido em 12 de dezembro de 1913, na cidade de Itápolis, Estado de São


Paulo, filho de Joaquim Borges e Maria Rosa de Oliveira Borges, cursou o primeiro grau incompleto.
Sua infância e inicio de adolescência viveu com seus pais e residiu na zona rural na região de
Itápolis.
Aos 12 anos de idade, quando perdeu o seu pai, mesmo enfrentando grandes dificuldades,
foi em busca de seus ideais. De acordo com entrevistas com familiares, o senhor José Borges foi um
jovem guerreiro, batalhador, interessado em construir uma vida melhor e digna para a sua família.
Não media esforços e, para dar conforto e estabilidade à sua família, desempenhava qualquer tipo de
atividade.
Ainda na sua juventude, veio a residir na região de Mirassol no estado de São Paulo,
começando uma nova etapa de sua vida profissional no Frigorífico Anglo da família Matarazzo. Nessa
época, habilitou-se como cocheiro urbano pela Diretoria do Serviço de Trânsito do Estado de São
Paulo, de acordo o artigo 55 do Decreto 9149, de 5 de março de 1938, da República Federativa dos
Estados Unidos do Brasil, e recebeu sua carteira de habilitação em 20 de junho de 1939. Contava,
então, com 26 anos de idade.
Iniciava, assim, uma nova jornada de trabalho como cocheiro urbano no transporte de couro
na região de São José do Rio Preto, Mirassol, Tanabi, Votuporanga, Fernandópolis, General Salgado
e outras “cidades” próximas. Nesse período, José Borges casou-se com a senhora Elídia Pinheiro
Borges e constituiu uma família de sete filhos: Onivaldo José Borges, Willian Luiz Borges, Cleuza
Luzia Borges, Edvanda de Lourdes Borges, José Borges Filho, Maria Aparecida Borges e Neusa
Elídia Borges. Hoje, a família cresceu e conta com genros e noras, netos e netas, bisnetos e bisnetas:
são 62 integrantes da família do senhor José Borges.
Em 13 de novembro de 1946 recebeu sua carteira de habilitação como motorista
profissional e iniciou uma nova atividade profissional como caminhoneiro no transporte de tijolos para
a olaria Providência na região da União Paulista, estado de São Paulo, tornando-se um dos primeiros
carreteiros da Alta Araraquarense. Foi bem sucedido nessa profissão e percorreu estradas,
ultrapassou fronteiras em vários estados do País no transporte de mercadorias para o comércio de
Mirassol pela “Empresa Mardegan & Cia Atacados e Varejos”.
Apesar da família numerosa, o senhor José Borges sempre buscava dar-lhe o melhor
conforto, a melhor qualidade de vida e, em 1963, foi motivado a mudar-se para Fernandópolis, uma
cidade em ascensão, com um progresso promissor. Aqui trabalhou como autônomo com o seu
próprio caminhão no transporte de materiais para a construção do então CEAGESP de
Fernandópolis. Com economias reservadas por alguns anos, interessou-se por enfrentar uma nova
atividade profissional, obter o seu próprio comércio, já que se vivia, segundo ele, uma época
promissora para esse tipo de atividade comercial. Pesquisou, gostou e se interessou pelo Bairro
Brasilândia, também em ascensão populacional e comercial.
O bairro contava com uma boa infraestrutura para a época: uma escola estadual de 1º e 2º
graus (que viria a ser a EEPSG Carlos Barozzi), igrejas, uma belíssima praça e um comércio bem
491

sucedido. No ano de 1967, José Borges construiu seu próprio comércio: o “Empório São João”, vindo
a residir com sua família no bairro, onde seus filhos mais novos estudaram.
Com o passar dos anos, o comércio cresceu e passou a Mini Mercado Brasilândia. O
senhor Borges ensinou e envolveu os filhos nessa atividade comercial – o comércio existe no bairro
até os dias de hoje, mas apenas o prédio é da família Borges.
Qualificar a personalidade do senhor José Borges não é difícil: foi um pai exigente, de
caráter íntegro; passou valores essenciais de família, de amor e união no enfrentamento de
obstáculos que surgem e como ultrapassá-los com perseverança, ideologia e muita garra. Compunha
uma família unida sempre, nas alegrias e nas horas difíceis. Batalhou por uma formação integral dos
filhos (moral, espiritual e intelectual). Viveu para servir a família e a comunidade.
Aos 25 dias do mês de agosto de 1997, aos oitenta e seis anos de idade, veio a falecer,
deixando bons exemplos de vida e de cidadão, e muita saudade. Seu nome foi atribuído à rua “JOSÉ
BORGES” no bairro Parque Universitário em Fernandópolis, uma justa e singela homenagem a quem
sempre confiou nos desígnios desta cidade, que amava de coração.

Colaboração
Escola Estadual Carlos Barozzi
492

JOSÉ INOCÊNCIO LOPES BIÚDES

Sr. José Inocêncio Lopes Biúdes, nascido no dia 02 de janeiro 1903 na cidade de Múrcia
(Espanha), filho de Antonio Lopes Veler e Manoela Biúdes Oliveira, migrou, de navio, para o Brasil
em 1910. Chegou ao porto da cidade de Santos com seus irmãos João, Antonio e Isabel, e se
destinaram às cidades de Pirangi e Monte Alto, interior do estado de São Paulo, trabalhando junto
aos cafeicultores que, à época, eram a maioria na zona rural da região. Ali cresceu e contraiu
matrimônio com a Srª Adélia Tafeli, filha de Irineu Tafelli e Celestina Maria Tafelli, na cidade vizinha
de Ariranha (SP).
Mudou-se para Fernandópolis em dezembro de 1942, quando aqui ainda era “semi-sertão”,
instalando-se na Avenida Manoel Marques Rosa (antiga Av. Oito), n. 611, centro, onde criou seus
nove filhos (Maria, Manoela, Isabel, Rosa, Antonia, Antonio, Irineu, Sonia e José). No mesmo
endereço residiu até seu falecimento em 22 de agosto de 1996.
Em 1948, recebeu em seu imóvel o primeiro aparelho telefônico da cidade com a instalação
da primeira empresa de telefonia na cidade, a “Telefônica Rio Preto”. Trabalhou como corretor, sendo
um dos pioneiros. Participou intensamente da formação da cidade onde, entre outros feitos,
colaborou ativamente na construção da Igreja Matriz e, desde a primeira festa anual da “Exposição
Agropecuária, em 1968 até 1983, ali media e administrava os terrenos do recinto.
Era um homem prático, de decisões rápidas, zeloso com os amigos, muitos amigos de
Fernandópolis. Trazia consigo “seus inseparáveis guardassol e uma bolsa de couro, na qual trazia
sempre uma trena para medir os terrenos que vendia, corretor que era, além de uma caderneta para
anotações, lápis e borracha”. (FOLHA..., 1996).
Homem de bons costumes e distinta conduta, Biúdes estava sempre pronto a acolher novos
amigos. Era conhecido como “Sêo José Lopes” ou “Zé Biúdes”, assim carinhosamente chamado por
Valdomiro Renesto e amigos. Em singela homenagem feita pela ocasião de seu falecimento, foi
lembrado pelo seu amigo Renesto em depoimento publicado na Folha de Fernandópolis em 31 de
agosto de 1996:

MORREU JOSÉ LOPES BIUDES


O AMIGO DE FERNANDÓPOLIS.

Amigos que ficamos, sempre tivemos por José Inocêncio Lopes Biúdes grande
estima e admiração. Homem sério, educado, correto e honesto, teve sempre o
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respeito dos Fernandopolenses, principalmente dos mais antigos. Sêo José


colaborou por muitos anos na realização da Expô local, fosse quem fosse o prefeito.
Sempre chamado pelos prefeitos para proceder a avaliações de imóveis, nunca
praticou qualquer ato de corrupção. Ainda um dia desses, ouvi isto do José Mota
Neto: Sêo José foi um homem útil na formação de Fernandópolis.

Colaboração
Família Biúdes
494

JOSÉ MARIA ALVES

Filho primogênito do casal Mário Alves Boaventura e Elvira Maria, nasceu no dia 01 de
agosto de 1937, no povoado de Quebrada, pertencente à Freguesia do Carvoeiro, em Portugal
Atingindo idade para trabalhar, passou a ajudar os pais nas atividades rurais que
desenvolviam no cultivo de milho, oliveiras, entre outras, e da criação de cabras.
Seus estudos não foram além do quarto ano primário. Permaneceu junto à família até aos
18 anos.
Como acontecia com a maioria dos jovens de sua região, emigrou para o Brasil em busca
de um futuro mais promissor, radicando-se, inicialmente, na cidade de Araraquara, por volta de 1955.
Contando com a ajuda de patrícios, emprega-se na empresa Dias Martins (então, a maior atacadista
no ramo de secos e molhados do Brasil, naqueles idos), onde passa a exercer as funções de
caixeiro-viajante.
Decorridos alguns anos e tendo amealhado algumas economias, levado por seu dinamismo
e o sonho de uma feliz independência econômica, e contando, nesta altura, com a companhia de seu
irmão Adelino, que para o Brasil também emigrara, transferiram-se para Fernandópolis. Aqui
chegando em abril de 1963, adquiriram a Padaria União (que se localizava, à época, um pouco
abaixo do local onde se acha hoje o estabelecimento comercial da família), no sentido da Avenida
Líbero de Almeida Silvares.
Já com a vida razoavelmente estabilizada, decidiu contrair núpcias com Vilma Gattás, o que
aconteceu no dia 29 de maio de 1966, cujo ato firmou as bases de uma sólida e feliz família.
Dessa união nasceram os filhos: Ana Paula Gattas Alves, Mário Augusto Gattas Alves,
Fabiana Gattas Alves e Fábio Gattas Alves.
Alguns anos mais tarde, contando com algum tempo disponível na padaria, o que lhe
permitiria dedicar-se a outras atividades, seu idealismo começou a manifestar-se à procura de realizar
algo para a cidade. Nessa ocasião, o Sr. Mário de Mattos havia viajado para Portugal e tivera um
encontro com o Presidente da TAP (Transportes Aéreos Portugueses), com quem trocou idéias sobre
a construção de um clube social e esportivo que levasse o timbre da comunidade portuguesa
radicada na cidade, mas que congregasse, também, as demais pessoas interessadas em participar.
Após reuniões com seus “patrícios” que lideravam a colônia na cidade, decidiu-se fundar a Casa de
Portugal, o que ocorreu em fins da década de 1960. Isto veio preencher o espaço que o Zé Maria
buscava. Abraçou a causa com seu brilhante espírito de trabalho e de realizador, destacando-se
como o mais operoso na consecução do projeto. Exerceu, no clube, a presidência em duas gestões
(1978/1979 e 1984/1985), além de desempenhar outras funções nas diretorias desde a sua fundação
até que seu estado de saúde lhe permitisse. Quis, entretanto, o infortúnio, testar sua capacidade de
resistência, ousadia e fé.
495

No mês de outubro de 1968, para desespero seu, de seu irmão Adelino e família, todos
presenciavam, assombrados e incrédulos, um incêndio em seu estabelecimento comercial, que o
destruiu por completo. Como era de se esperar, seu espírito guerreiro, força de vontade, firmeza
psicológica e a fé que sempre o alimentou redobraram-lhe os ânimos, pois, dentro de 30 dias, lá
estavam ele e Adelino reinaugurando sua padaria totalmente remodelada.
Com o tempo já apagando de sua mente o infausto acontecimento em seu estabelecimento
comercial, sentiu que gerir seus negócios comerciais e as atividades do clube ainda era pouco para
seu dinamismo.
Resolveu participar mais da comunidade e buscou fazer parte de entidades filantrópicas e
de serviços onde pudesse contribuir com seu trabalho em prol daqueles que necessitassem,
harmonizando, assim, com o que seu espírito requeria. Assim, aceitou o convite feito pelo Lions
Clube de Fernandópolis para integrar seu quadro social; concretizou sua admissão no ano de 1971.
Dentro dos objetivos e atividades do Clube, ali encontrou o terreno fértil para expansão de seus
ideais: o engrandecimento da cidade e o bem-estar de sua população.
A pedido do Presidente do Lions, José Maria assume a Presidência do Lar de Menores
Melvin Jones (administração 1974/1975), onde executa um trabalho dos mais elogiáveis.
No Lions, em todas as administrações, foi sempre convidado a exercer cargo na Diretoria,
convites dos quais nunca se furtou, inclusive tendo exercido sua Presidência entre 1981/1982, cuja
atuação foi sempre destacada.
Pela maneira desprendida e desinteressada, sobretudo política, que vinha demonstrando
nas questões relacionadas com os interesses da cidade, a Loja Maçônica Benjamin Reis convidou-o
a participar dela, o que se deu no dia 6 de dezembro de 1975. Nessa entidade, desempenhou quase
todos os cargos e jamais disse não quando solicitado a assumi-los, quer na condição de Venerável-
Mestre, quer como membro da Diretoria. Exerceu o cargo de Venerável-Mestre em 1985/1986. Sua
participação como maçom foi de grande utilidade: dotado de brilhantes idéias, tinha sempre alguma
proposição a fazer no sentido de ajudar algum projeto de interesse da cidade ou no campo social.
Em 1978, adquiriu, do Bradesco, o prédio onde hoje se acha instalada a tradicional Padaria
União, para lá transferindo suas atividades comerciais, onde labutou até ser acometido de doença
que o impossibilitou de continuar à frente de seus negócios.
As desavenças políticas foram, sempre, fator de preocupação para aqueles que vivem e
lutam em uma comunidade, quando veem que ela está sendo mais negativa que produtiva. Sua
preocupação pelos interesses da cidade estava quase acima de suas próprias atividades particulares.
No final dos anos setenta, a política partidária local passava por uma fase de desarmonia e
conturbação muito grande, levando a cidade a uma clara decadência. Foi, então, que ele, mais uma
vez, decidiu intervir na tentativa de apaziguar e harmonizar o quadro político local. Contando com o
apoio da Loja Maçônica Benjamin Reis, após esta acatar sua proposição, seus membros destacaram
os irmãos maçons Luiz Baraldi, Agnaldo Pavarini, José Pontes Jr. e Moacyr Molina, para que, com
ele, tratassem, junto às outras entidades de classe, da criação de uma associação político-apartidária
com o objetivo de atuar junto às forças políticas locais, a fim de serenarem os ânimos bastante
exaltados, que geravam, em consequência, graves entraves ao desenvolvimento da cidade.
Felizmente, sua idéia logrou êxito e, no dia 10 de abril de 1979, graças à união de todas as
entidades de classe do município de Fernandópolis, foi fundada a almejada associação, tendo sido
eleito o Sr. José Pontes Jr. seu primeiro Presidente. A fundação da entidade foi de uma valia
extraordinária para o município, pois, além de contribuir para a harmonia política na cidade, propiciou
a conquista de grandes melhoramentos para o município. José Maria, como seu idealizador, viria,
mais tarde, ocupar sua presidência por três vezes (1987/1988. 1991/1992 e 1995/1996).
Esclareça-se que José Maria, mesmo quando não ocupando a presidência, nunca deixou de
participar da entidade, levando a todas as reuniões suas idéias e participando, ativamente, de todas
as suas grandes deliberações. Foi o mais assíduo de seus membros, só deixando de fazê-lo quando
a doença o impediu. É, sem sombra de dúvida, a figura expoente da Associação de Amigos do
Município de Fernandópolis.
Entre as grandes obras e outros melhoramentos que Fernandópolis conseguiu contando
com sua participação efetiva (como Presidente da Associação ou como seu membro), podem-se
destacar: viabilização dos primeiros edifícios de Fernandópolis, da instalação da Destilaria Alcoeste e
da iluminação artificial do estádio municipal; criação do Museu da Imagem e do Som; reivindicação,
496

junto ao governo estadual, da implantação da terceira faixa da Rodovia Euclides da Cunha e da


regionalização de compras pelos órgãos estaduais e estatais; instalação do Colégio Objetivo de
Fernandópolis e do Distrito de Distribuição da CESP; reabertura do escritório de atendimento
comercial da Telesp em Fernandópolis; cessão, em comodato, pelo DAEE de um grupo gerador de
energia para a Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis; eletrificação do Distrito Industrial II;
ligação asfáltica entre os municípios de São João das Duas Pontes e General Salgado; asfaltamento
do aeroporto municipal local; colocação de placas com identificação de nomes das ruas da cidade,
favorecendo àqueles que demandavam seu uso.
Impressionados com a capacidade e força de trabalho de José Maria, as forças políticas
constituídas da cidade de Iturama, aliados a membros da maçonaria daquela cidade, contando com o
fato de José ser maçom, procuraram valer-se de seus préstimos e de sua experiência, para
reivindicarem a pavimentação das rodovias que ligam, hoje, Iturama ao Canal de São Simão e
Iturama a Porto Alencastro. Com sua participação, a campanha saiu vitoriosa e os mineiros viram sua
cidade ligada aos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, pelo que
ficaram eternamente gratos à pessoa do José Maria.
Com esse gesto de colaboração, adicionou mais uma importante conquista ao rol das que já
havia, até então, realizado. Essa foi uma demonstração de que ele estava sempre à disposição para
trabalhar pelas boas causas que fossem de interesse da coletividade, não importando de que local ou
região provinham. Seu reconhecimento por este País, que tão bem o acolheu, era tanto, que decidiu
solicitar sua cidadania brasileira. Assim, no dia 22 de junho de 1982, tem seu desejo conquistado,
passando a ser português de nascimento e brasileiro por opção e coração.
Como reconhecimento da cidade por tudo quanto já havia feito por ela, o Poder Legislativo
de Fernandópolis, em decisão unânime, veio a agraciá-lo, em 1991, com a Medalha 22 de Maio e, em
21 de dezembro daquele mesmo ano, com o Título de Cidadão Fernandopolense, sacramentando,
assim, a sua situação de fernandopolense de fato e de direito. Igualmente, pelo trabalho desenvolvido
na obtenção da terceira faixa da Rodovia Euclides da Cunha, o governo de nosso estado prestou-lhe
a devida homenagem ao atribuir seu nome ao pontilhão sobre a referida rodovia, o qual liga o Bairro
de Brasilândia à vicinal que demanda Pedranópolis.
Em 2005, a Loja Maçônica Castro Alves II no. 273, de Fernandópolis, prestou homenagem
a José Maria Alves, com o título de Grande Benfeitor. Nessa época o homenageado já se achava
gravemente doente, fato que o impediu de comparecer à cerimônia. Assim, foi ele representado pela
esposa, filhos e demais familiares.
Após padecer de uma doença degenerativa do cérebro, por cerca de dois anos, veio a
falecer no dia 07 de dezembro de 2006, deixando uma lacuna irreparável na luta pelas causas
fernandopolenses.

Colaboração
Associação de Amigos de Fernandópolis (AAMF)
497

JOSÉ MILTON MARTINS

Mineiro que, em 26 de outubro de 1933, nascia em Poços de Caldas, formou-se na


Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto nos idos de 1962, com muito esforço, trabalhando
como garçom no restaurante do Bosque e na pensão de universitários mantida pelos seus pais, Sr.
Manoel e D. Laurinda, na qual moraram, posteriormente, vários cidadãos fernandopolenses.
No ano seguinte à sua formatura, chegou a Fernandópolis, então denominada “sertão” da
região de São José do Rio Preto. De imediato, passou a exercer Pediatria Clínica em seu consultório
e na Santa Casa de Misericórdia, que até então contava com poucos clínicos e cirurgiões para o
atendimento infantil.
Assíduo às reuniões mensais do Corpo Clínico, foi secretário da Direção Clínica de 1966 até
1970. De 1969 a 1985 assumiu a Chefia da Pediatria, retornando ao cargo de 1999 a 2003.
Prestou atendimento Pediátrico ambulatorial no CS-1 Dr. Luiz Carlos Ramos; deu
assistência na Casa de Saúde “Nossa Senhora das Graças”, denominada após alguns anos de
Hospital Regional por ter sido transformado em Sociedade Médica, da qual fez parte.
Atuou, ainda, nas UBS-COHAB Antonio Brandini e Pôr do Sol, realizando com extrema
competência e dedicação, durante anos, atendimento domiciliar na UNIMED, unidade de
Fernandópolis, tendo sido também Diretor Municipal da Saúde.
Participativo como sempre foi, atendeu aos chamados para repassar seus conhecimentos
como docente nos cursos de Fisioterapia e Fonoaudiologia da FEF e Preceptoria do Internato de
Pediatria da Faculdade de Medicina UICASTELO.
Aos 70 anos, quando da aposentadoria compulsória do Serviço Público, decidiu abraçar o
Programa “Saúde da Família” no bairro Jardim Ipanema. Ainda aos 72 anos, qual um jovem
universitário, enfrentou um curso de pós-graduação em Medicina de Família para melhor atender os
idosos.
Teve formação espírita e frequentava a mocidade do movimento espírita de Ribeirão Preto
(SP), onde conheceu sua esposa Regina, quando ainda estudante do curso de Medicina.
Após o período de adaptação em Fernandópolis, filiou-se ao Centro Espírita “Pátria do
Evangelho”, estudando com o grupo iniciante o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que foi sua linha
mestra durante toda a vida.
Participou ativamente na reestruturação do novo Estatuto que transformou a sociedade na
Associação Espírita Beneficente “Pátria do Evangelho”, em 1965, no local onde funciona até hoje
prestando serviços à sociedade fernandopolense no campo da assistência social.
Nessa ocasião, também foi criado o Departamento Casa da Criança “Meimei”, que
funcionou como creche (assistindo menores carentes em regime de semi-internato), na qual o Dr.
498

José Milton deu assistência gratuita por muitos anos juntamente com sua esposa D. Regina, que até
hoje permanece ativa, colaborando com o curso para gestantes, que funciona também anexo.
Como espírita, como chefe de família ou como profissional, sempre foi detalhista, exigente,
porém ético e fraterno tanto na convivência com os colegas quanto com os amigos, clientes ou
familiares.
Foi um leitor assíduo das obras espíritas, tendo formado uma respeitável biblioteca em seu
lar, proporcionando-lhe constante atualização com os conhecimentos. No campo da arte, adotou o
clarinete e o saxofone como seus instrumentos preferidos e, nos momentos de lazer, dedicava-se à
música.
Foi grande colaborador nas campanhas promocionais da Casa da Criança “Meimei”,
ensinando sempre aos filhos a filantropia e amor ao próximo.
Teve quatro filhos: Lívia, Junior, Ricardo e Carlos Alberto; assumiu dois netos a quem
proporcionou toda a assistência de que necessitaram até sua morte em 28 de julho de 2008.
Estará sempre nas lembranças dos fernandopolenses como um exemplo a ser seguido
como retidão de conduta, dando os testemunhos de sua fé.

Colaboração
Maria Aparecida Godoy Seco
Geraldo Silva de Carvalho (Dr.)
Lívia Martins Del Grossi
Colégio Cidade de Fernandópolis- Anglo
499

JOSÉ FERREIRA DE SOUZA (ZÉ QUIRINO)

José Ferreira de Souza, nascido em 15 de abril de 1918, na Aldeia dos Índios (MG), é filho
de Quirino Luis Ferreira (1894, nascido nas “casinhas, perto de Sâo José do Rio Preto”) e de Rita
Cândida de Jesus (1899, natural de Campos Geraes - MG), família de lavradores, constituída de 12
irrriâos: Bertolino (que morreu logo após o nascimento), José Ferreira de Souza (Zé Quirino), Ana
Rita, Ana (Siana), Maria Rita, Luiza, Felícia, Mariana, Joaquim Ferreira de Souza, Antônio Ferreira de
Souza, Eliza Cândido de Jesus, Jogo Ferreira de Souza e Miguel Ferreira de Souza.
Era de família com habilidades artísticas: a mãe, Dona Rita, gostava de cantar música
sertaneja “caipira” para os filhos; Mariana, Felícia e Ana (Siana) cantavam e tocavam viola; Joaquim
tocava violão; Antonio cantava; Jogo e Miguel tocavam e cantavam, os únicos a seguiram carreira na
música sertaneja, formando a dupla Quintino (Miguel) e Qurino (João), que tocavam em rádios e cujo
primeiro contrato data de 1960.
Em 1963, depois da vitória em um concurso, gravaram seu primeiro disco, todo ele de
música sertaneja caipira, mesmo ano em que gravaram o segundo disco, este de Folia de Reis:

Quanto a Zé Quirino, apesar de sistemático e nervoso, tocava viola, compunha


versos e recortados de catira que foram e ainda são muito usados em Minas Gerais,
Goiás e So Paulo. Entre suas composições estão: A vida de casado é boa até na
hora de namorar, É um amor que não tem jeito, Depois que casa tá satisfeito,
179
Passados uns dias é que põe defeito e A contrariedade é de todo jeito .

Em 1921, ele e sua família migraram para a Vila Fátima (Fazenda dos Velosos), no córrego
da Santa Rita. Devido ao “mal do século”, a maleita que segundo Maria Rita, “dava até nos paus”, a
mãe pedia a Quirino que vendesse suas terras e fosse embora. O pai, enérgico, disse que não podia
esperar e deveriam ir embora; caso contrário, todos morreriam de malária. Assim foi deito:
abandonaram o Rancho, deixando para trá 1.000 alqueires de terra.
Em05 de setembro de 1932, a família migrou para a Fazenda dos Ingleses, onde viviam
reprimidos e com muito medo da revolução que estourava no período; qualquer movimento estranho,
segundo Maria Rita, prevalecia o “grito”: “CorreI Lá vêm os Homens” (do governo). Quando isso
acontecia, todos adentravam na mata, os filhos mais velhos carregavam os mais novos; ali corriam e
enrolavam-se nos cipós, ficando escondidos até se sentirem confiantes para retomar suas vidas.
Em 1940, com muita labuta (cultivo de roça e condução de carro de boi), a família Quirino
comprou uma propriedade rural em Brasltânia, no Córrego do Pulador, denominado Sítio Santa Rita,
que foi a principal fonte de renda da família, onde, até hoje, vivem João e Miguel (Quintino e Quirino).

179
Depoimento de Miguel Ferreira de Souza, nov. 2011. Recorte feito por Zé Quirino..
500

Nesse ano, Ze Quirino já formava uma vida independente. Mesmo com uma habilidade
artística aflorada para tocar e compor, não seguiu carreira, pois seus interesses estavam voltados
para a política e formação da família: por toda a vida, teve seus filhos como braço direito na labuta e
nas conquistas.
Em 1933, José Quirino conheceu sua eterna namorada, Sra. Vitalina Paula de Souza,
nascida em 1923, na Fazenda São Pedro, município de Fernandópolis, filha de Joaquim Ramos da
Silva (natural de Vila Carvalho, SP) e de Edviges Paula de Jesus (natural de Macaubal, SP). Ela era
de família de pecuaristas, que haviam migrado para a cidade de Fernandópolis na Fazenda São
Pedro, que, geograficamente, ia da estação de trem ate o Rio São Jose; a principal renda da
propriedade era a agricultura e pecuária. Em 1939, Zé Quirino se casou com Dona Vitalina. No ano
de 1940, recebeu do seu sogro autorização para construir o Rancho que, segundo Dona Vitalina, foi a
primeira casa sede construída de sapé.
Do enlace, nasceram os filhos Marcília Paula de Souza (1940), Quirino Ferreira de Souza
(1942), Antonio Ferreira de Souza (1944), Maria Paula de Souza (1946), Jose Ferreira de Souza Filho
(1948).
Também foi em 1940 que Quirino iniciou a criação de gado de corte e leite, da raça zebu, e
cultivo do arroz, sendo a principal fonte de renda da família. Em seguida, vieram milho, feijão,
algodão, suínos e caprinos. Em 1945, ocorreu a derrubada da mata com machado e foice para a
plantação da lavoura de café, que era muito bem tratada com adubos e cuidada com carinho pela
família de agricultores, produzindo café da melhor qualidade, que se tornaria a segunda principal
renda da família e ofereceria emprego para população local.
Em 1.945 a modernidade e o conforto passam a fazer parte da fazenda e beneficiar a
família com a construção da primeira casa de tijolos.
Em 1948, após a morte Dona Edvirges, Dona Vitalina e Sr. Zé Quirino recebem a escritura
de 40 alqueires, cujas terras foram denominadas Fazenda Quirino; mais tarde, adquiriram mais 45
alqueires, totalizando 85 alqueires. Durante décadas, o casal criou seus filhos, netos e beneficiaram
muitas famílias com empregos gerados pela agricultura e pecuária por ele cultivada.
Não se ao certo o ano, mas, por volta de 1949 a 1950, segundo relata seu filho Quirino, Sr.
Zé Quirino, muito preocupado com a educação de seus filhos e família resolver construir uma escola
de madeira, para a qual contratou um professor particular de nome Antônio, que alfabetizava seus
filhos Marcília, Quirino e Antônio e seus sobrinhos Joaquim e Saldanha; muitas vezes, a aula era
dada à noite, porque tinham que trabalhar na roça durante o dia.
Até esse período, a família contava com o transporte de cavalo e de carro de boi, que
levavam dias para fazer o trajeto até São Jose do Rio Preto para compras e abastecer as prateleiras
de D. Vitalina; quando não se tinha dinheiro, fazia-se escambo.
Em 1950, a modernidade novamente dá sinais na Fazenda Quirino. Sr. Jose Quirino
comprou seu primeiro automóvel, um Jipe, do Sr. Neca Verdi. Por ser um homem sistemático, de
coragem, e portar um veículo, foi titulado inspetor, contrariando dona Vitalina; Nessa época, quando
se tratava de segurança, não existia policia; a função e o objetivo do inspetor era manter a ordem na
cidade, razão pela qual, em uma briga, o Sr. Zé Quirino levou uma facada e abandonou o titulo.
Em 1951, com os negócios indo bem e a modernidade chegando à cidade, adquire sua
primeira caminhonete, uma Chevrolet, e o primeiro trator da concessionária Arakaki, o que facilita a
labuta na fazenda.
Neste período (1950-1951), vendo a comunidade do Córrego do Coqueiro crescendo e a
necessidade de alfabetizar os filhos, convoca a comunidade e doa um espaço na fazenda. Junto com
seus filhos e com a comunidade constroem uma escola moderna de tijolos, que atendia a alunos para
alfabetização de primeira a quarta série O local também era cedido para a saúde quando havia
campanhas de vacinação. Após a construção da escola, o Prefeito Edison Rolim nomeou como
professora Nelita (Luíza Belim) e como merendeira escolar Dona Vitalina, que, por toda existência da
escola fazia sopa para as crianças. Isto lhe rendeu sua aposentadoria. A preservação do prédio
escolar era mantida pelo Sr. Zé Quirino. Conta sua neta Luciane que a professora mandava recado
para o avô que roçasse ao redor da escola. Assim era feito e os alunos da comunidade limpavam o
pátio, lavavam a escola, mantinham-na impecável. Luciane ainda relata que era divertido quando
acabavam as aulas, e ela e sua suas primas Márcia e Rita acalentavam umobjtivo: alfabetizar a avó
501

Vitalina. Acreditam ter conseguido ensiná-la, pelo menos, a escrever o próprio nome. A escola da
Fazenda Quirino alfabetizou filhos, netos, sobrinhos e a comunidade local.
Em 1958, Zé construiu a casa sede, moderna para o período: trazia o conforto da energia
elétrica, fator preponderante para o progresso e uso do aparelho de televisão, com programas do
canal 4. Essa casa é a sede oficial que se mantém até hoje preservada na Fazenda Quirino.
Em 1960, Quirino se tornou o maior comerciante de leite de alta qualidade vendido nas ruas
da cidade, ao lado de sua filha Maria Paula, que administrava o financeiro, e seu filho José Quirino
Filho, que dirigia o carro. Mantinha uma clientela invejável. Neste mesmo, Ana construiu uma tulha
para armazenamento de café. Foi um ano promissor, com dinheiro para mudar a vida da família.
Ainda neste ano, adquiriu um carro zero: um Regente importado da Inglaterra. Com a alta do café, a
família prosperava e investia em máquinas e equipamentos modernos para labutar.
Um fato lembrado pelo filho Quirino era que o Sr. Zé Quirino, além de zelar pela família,
zelava pela comunidade do Coqueiro, pois, quando a estrada se tornava intransitável e a prefeitura
não tinha como arrumar, o pai reunia a comunidade e arrumava a estrada com enxadas e pás e,
quando possível, colocava seu maquinário à disposição.
Já próximo dos anos 70, investiu na laranja. Este investimento contribui para aquisição de
uma propriedade em Minas Gerais, a Fazenda Três Irmãos na vila União, propriedade
exclusivamente destinada à engorda de gado de corte.
Em 1975, uma forte geada matou a plantação de café, prejudicando a produção. Foi
necessário reformar o cafezal, que demorou dois anos para produzir (1977) novamente: pouca safra
e preço bom, mas não o suficiente para cobrir os prejuízos.
O ano de 1976 foi de muita produção de arroz, o que fez amenizar a falta do café e
equilibrou a defasagem financeira ocasionada pelo café.
Em 1980, com a crise do café e uma forte seca de aproximadamente três anos, houve
produção quase nula de café. Desanimado com sucessivos prejuízos, arrancou todo o cafezal e
plantou laranja, ótimo investimento para a época. "Faziam-se contratos de venda da laranja de 30.000
caixas e, no final da colheita, entregavam-se 40.000 caixas", diz Quirino.
Em 1996, ocorre a venda da Fazenda Três Irmãos, para cobrir a dívida que se acumulava
ano após ano nos bancos.
Zé Quirino faleceu em 19 de agosto de 2004, aos 86 anos, devido à falência de múltiplos
órgãos, devido a causas diversas, deixando sua eterna Vitalina, seus cinco filhos, quinze netos e
dezessete bisnetos.
Não se pode esquecer em sua historia que a "Primeira Picada" na cidade de Fernandópolis
para a construção de ranchos foi feita pelo Sr. Quirino Luis Ferreira e seu filho Jose Ferreira de
Souza (Zé Quirino). O termo “picada” mencionado por Maria Rita, na época significava derrubada da
mata para abrir caminhos, ruas e lotes, que eram doados pelo Sr. Joaquim Antonio Pereira para a
construção dos ranchos, ou seja, as primeiras casas que constituíram a Vila Pereira.
Outro fato lembrado pelos familiares foi a influência política do Sr. José, que, por duas
vezes, assumiu o cargo de suplente de vereador. Sua motivação pela política estava na luta pelos
benefícios à população de Fernandópolis. É importante lembrar que sua maior luta era preservar e
manter a ordem das estradas, oferecer emprego, saúde e educação; era um homem sempre muito
participativo dos eventos sociais, com doação de prendas e dotes para quermesses promovidas pela
igreja, escola, asilos, creches, folia de reis, entre outros.
Dona Vitalina, guerreira, orgulho e exemplo de vida da família e da população
fernandopolense, ainda reside na Fazenda Quirino, na companhia de sua filha Marcília. Em 21 de
novembro de 2011, completou seus 88 anos. É uma pessoa admirável e apresenta lucidez fora do
comum, carrega em sua memória os bons tempos ao lodo do seu eterno José; faz crochê, borda
lindos guardanapos para as noras, netos, bisnetos, amigos, entre outros, e transforma essa atividade
em uma fonte de diversão e remuneração.

Colaboração
Luciane Sousa Galbiatti
Equipe Executiva (texto)
502

LAURA VIEIRA DE AZEVEDO

Por meio das experiências particulares se abrem possibilidades


para a compreensão de situações que transcendem uma vida.

Resgatar uma história de vida possibilita a compreensão de um mundo. Nele identificamos o


passado sempre presente nos espaços vividos, sejam eles a casa, a escola, a comunidade, o
trabalho. Por meio desse resgate podemos extrair indagações significativas que se corroboram para a
compreensão do processo de construção da nossa identidade e da nossa humanidade. Tais
elementos são construídos na interação entre o que somos ou desejamos ser e o reconhecimento
concedido pelos outros. A identidade é o revestimento abstrato, particular e profundamente infenso à
possibilidade de existência de outrem no complexo mundo humano. Com essas considerações, podemos
esclarecer as razões que nos levam a escrever sobre a história de uma vida.
Ao nos debruçarmos sobre a história de vida de Laura Vieira de Azevedo, mulher comum, que viveu a
maior parte da sua vida em Fernandópolis, buscamos perscrutar a experiência que ela encerra.
Laura Vieira de Azevedo, filha de um pequeno comerciante, Antonio Vieira, e de Áurea Rita de
Jesus, nasceu em Lins (SP), em 11 de março de 1933. Foi a segunda filha de três que o casal concebeu. Havia
ainda dois meio-irmãos, um por parte do pai e outro por parte da mãe.
De família simples, leva uma vida pacata naquela cidade do interior, mas com momentos de grandes
dificuldades financeiras. O pai foi preso durante o Estado Novo acusado de ser comunista. Dona Hilda Vieira
180
Missi , irmã mais velha lembra:

Foram nove meses muito difíceis, passamos dificuldades, até faltava o que comer.
Só não foi pior porque havia um casal, eram vizinhos, amigos da famíla, a Dona
Conceição e o ‘seo’ Raimundo, que dava comida a toda a família, à noite. Mesmo
assim, lembro dela sempre alegre, esperta, era muito inteligente, aprendeu a ler
muito cedo

Laura conclui seus primeiros estudos em 1947, no Primeiro Grupo Escolar de Lins. Foi uma jovem
ativa e participativa, segundo Dona Hilda: “Era muito amorosa e carinhosa com a gente, gostava de ir aos bailes
(risos), eu fazia os vestidos no corpo dela, para ela ir ao baile”.
Diplomomou-se no Curso Normal do Instituto Americano de Lins, em 1951. A partir de então, passa a
exercer o magistério primário.
Casa-se, em 1956, com Antonio Nogueira de Azevedo, companheiro com quem viveria até a sua
morte. Com ele deu vida a quatro mulheres: Sandra, Áurea, Rosana e Mary. Para eles dedicou esforços de uma
existência. Em uma de suas anotações, de 28 de janeiro de 1992, ela faz um pequeno retrospecto:

Deixa-me escrever, para contar um pouco de tudo que achei que valeu a pena.

180
Hilda Vieira Missi, 81 anos, reside em Promissão, SP, deu depoimento em 27 de julho de 2011.
503

Meu amor por estes filhos que são um pedaço de mim, meu amor pelo Antônio, que
conseguiu passar a ponte do desespero, mas carregando-o pela mão. Às vezes paro
e me pergunto: Por que tudo isso? Seria mais fácil seguir sozinha, mas não. É esta a
minha missão e é ele que eu quero ao final! Até um dia.
Meu amor é muito grande, pelo menos por esses entes que eu amo tanto. É um
amor tão grande que chega subir ao infinito. Como é bom amar!?!

Tudo nela lembra a mulher forte e batalhadora. Assim é lembrada pelas pessoas com quem conviveu:
“Mamãe foi uma mulher forte e que nos capacitou para a vida com suas palavras de carinho e sua força para
viver”. Essa é uma imagem que tenho e preciso dizer. Em setembro de 1997, ela assim me escreveu: “Você está
acima de todas as torpezas da vida, porque você é simples, você é boa, porque tem firmeza de pensamento e
força vai levá-la ao seu ideal e afinal vencerás...”
181
Dona Eglis Viscardi , amiga de longos anos diz: “Ela sempre estava alegre, irradiava alegria, a gente
sabia que sua vida não era fácil, mas ela sempre tinha uma palavra de conforto para nos dar” (23 de julho de
2011).
182
Também a senhora Jane assim expressou suas lembranças e sentimentos: “[...] ainda sinto a
presença da Laura, sempre que me lembro de seu humor brejeiro, alegre, sua simpatia contagiante [...] uma
amiga para toda a vida”.
183
Acrescenta a amiga-irmã Diney : “Encontrei nela uma irmã que eu não tive... divertida e bondosa.
Tenho ela como exemplo, foi uma heroína”.
Lembro-me, desde sempre, de Laura cantando em casa, na escola. Após a sua aposentadoria, foi
presença constante no coral “Rimas e Cantos” do CPP. Participou dele desde a sua formação até quando “foi
integrar o coral dos anjos”, como declararam suas colegas de canto: “A Laura foi uma das principais que
incentivou, que deu força para que este coral fosse em frente [...] Todos os jantares de finais de ano nós
184
lembramos dela porque era ela que fazia as mensagens para nós ”.
Três elementos marcam sua vida de forma indelével e ela mesma os enfatizava como formadores do
seu jeito de existir: ser mãe, ser professora e ser espiritualista.
A mãe maravilhosa e incansável que foi, eu o sei, mas é interessante notar como esse seu aspecto se
185
fez notar pelas pessoas de fora do grupo familiar. Disse assim Dona Vônia : “Era muito apegada à família, a
luta dela para dar um nível melhor de vida pra vocês... vocês se lembram, mas eu fui testemhunha.
Era de uma dediação às filhas muito grande”.
A percepção de sua maternidade ficou poeticamente registrada num caderno de anotações:

Eu sou a terra. Em mim foram plantadas sementes, quatro sementes maravilhosas,


que eu acolhi com todo amor, que embalei em meus abraços aconchegantes, com
muito carinho, com todo cuidado. Hoje as sementes cresceram, se transformaram
em árvores, já dando frutos maravilhosos, como as sementes que em mim foram
plantadas. Hoje já estou ficando cansada e as árvores em mim plantadas já estão
ficando autossuficientes, já estão se desligando deste cordão com que as prendi
junto a mim... talvez eu já não seja tão necessária como há tempos idos. Mas agora,
eu estou precisando dessas sementes que me deram força para chegar aqui, agora
sou eu que necessito dos seus braços cheios de amor, sou eu que necessito desses
braços para me embalar e cantar uma canção de ninar.

Graças às novas perspectivas históricas que valorizam a micro-história e a história oral, podemos
resgatar a vivência dessa mulher comum que, em outras épocas, não teria a qualidade de agente da
História, mas que se nos apresenta com experiências únicas e que ajudou a formar homens e
mulheres na cidade de Fernandópolis, desde a década de 50, quando escolheu esta cidade para
viver e trabalhar até o fim da sua vida.

181
Eglis Viscardi, moradora de Fernandópolis, deu seu depoimento na sua residência, em 23 de julho de 2011.
182
Jane Teresa Brasil Gimenez, 69, reside em Fernandópolis, deu o seu depoimento 26 de julho de 2011.
183
Sidney Pereira Del Grossi, 74, reside em Fernandópolis, deu seu depoimento também em 26 de julho de
2011.
184
As colegas do coral, que deram depoimento, não quiseram identificar-se individualmente, disseram preferir
falar em nome do grupo.
185
Vônia Frano Gomes, em depoimento concedido em 24 de julho de 2011, na sua residência, na cidade de
Fernandópolis.
504

Como é intensa a imagem da professora que, com orgulho, construiu e ostentou durante toda a vida!
Lembro-me dela falando o quanto era importante ser professora e como essa era uma profissão
significativamente abraçada.
Nesse aspecto, era uma mulher do seu tempo. Penso na figura da normalista que se orgulhava da sua
condição num momento em que se faz notar o aumento do nível de escolaridade da população e a educação
para as camadas menos favorecidas passa a ser valorizada.
Naquele tempo, as normalistas eram apreciadas e respeitadas pelo papel de propagadoras do
conhecimento. Nelas, os sonhos de progresso e esperança eram depositados, e as famílias se orgulhavam de
ter uma filha fazendo o curso normal. A ênfase na educação da futura professora se encontrava na construção
186
do caráter porque seria a educadora das gerações futuras. A esse respeito o depoimento de Dona Esmeralda ,
colega de luta sindical, é esclarecedor: “[...] a colaboração da professora na comunidade a que ela passava a
pertencer influenciava a todos com o jeito de falar, de comer, de tratar as pessoas. A professora dava exemplos”.
Em suas anotações esparsas, por vezes, encontramos referências a esse respeito. Assim ela diz
sobre a profissão de professora:

[...] essa profissão que apesar de tudo e acima de quase tudo amamos, mesmo
sabendo que, não recebendo recompensas materiais e sofrendo injustiças, lá, bem
no fundinho do coração, estaremos cumprindo nosso dever e recebendo aquela
satisfação pessoal que só mesmo um professor pode sentir e nos incita a continuar
a luta. (15 de outubro de 1995)

A concepção da professora ficou inscrita no seu discurso de aposentadoria, assim:

Lins, 22 de dezembro de 1951. Uma jovem, 18 anos, um diploma na mão, cheia de


esperanças e o mundo inteiro para descobrir. [...] Saiu caminhando pela estrada a
fora, com todo o entusiasmo da juventude, sem imaginar que, na estrada da vida,
econtraria pedras difíceis de transpor, espinhos que feririam, sangrariam e deixariam
cicatrizes. Mas como foi bom! Porque esta jovem amou a profissão que abraçou, e
somente com amor se consegue superar os revezes da vida e só o amor tem as
chaves das entradas e saídas de todas as portas do mundo. Foi através desse
trabalho que essa jovem foi se realizando humana e espiritualmente, amando cada
alma que lhe foi confiada, tal como ela realmente era. [...] É isto, pois o que pode
passar para vocês esta jovem de 52 anos, que ama a vida e sempre amou a
profissão que escolheu há 34 anos... (dezembro de 1985)

E foi dessa forma que ela encaminhou sua vida auxiliando a construção de várias gerações
de fernandopolenses. A dedicação e compromisso com os quais direcionou suas ações foram
motivos de admiração das pessoas com quem trabalhou. Dona Zuleica187 é uma dessas pessoas com
quem lecionou no Grupo Escolar da Brasilândia, hoje “Carlos Barozzi”, desde que chegou a esta
cidade. Ela expõe suas impressões: “Lembro da Laura sempre assim... simpática, falante, alegre. E
ela era tão boa professora, tão eficiente. Tanto é que eu quis que ela fosse professora de uma das
minhas filhas [...] Minha filha Maria Cristina foi aluna dela...”
Outro depoimento esclarecedor de seu papel de educadora foi dado pela Dona Vônia,
diretora e amiga desde quando chegou à cidade:

Ela era excelente professora, principalmente de Matemática e Ciências... era


engraçado, eu estou me lembrando: ela sempre fez com todos os alunos dela
aquele tubo que faz a decomposição da luz... o prisma, e toda criança se encantava
porque aquilo era uma coisa mágica. Era a maneira de ela ensinar, era muito
prática, ela ensinava. Vamos supor as áreas, fazendo o metro quadrado e passando
o barbante. Ela era muito caprichosa, muito interessada [...]. Tinha um dom artístico!
Nas feiras de ciências, ela fazia trabalho com os alunos muito interessantes. Numa
dessas feiras, a turma dela ficou encarregada da metamorfose do sapo. E foi uma
coisa engraçada, foi aqui na quadra da EELAS; então, os alunos de manhã traziam
a água e modificavam as caixas o tempo todo, os que vinham visitar a feira viam

186
Esmeralda Guimarães Siqueira, 71, residente em Fernandópolis e dirigente da APAMPESP.
187
Zuleica Guimarães Esteves Scalope, depoimento concedido em sua residência, na cidade de Fernandópolis,
em 28 de julho de 2011.
505

toda a metamorfose do sapo; quando desmontaram a feira, o que tinha de sapo e


perereca! (risos) sobrou sapo e perereca pra todo lado!

A perda da mãe, em 1963, foi um dos golpes mais duros pelos quais passou, situação que,
se de um lado foi de profundo desespero, de outro foi um processo de renovação desdobrando-se em
preceitos sumamente proveitosos para o desenvolvimento de sua espiritualidade. Dizia que, pela
vontade de vencer a dor e a necessidade de estar forte para cuidar das quatro filhas ainda
pequeninas, a caçula ainda bebê, quando tudo parecia desmoronar, foi ganhando a convicção de que
o pensamento é força criadora. Sobre isso escreveu em 1997:

A humanidade não teria chegado onde está se sempre deixasse que o medo ditasse
as suas ações. Não estou dizendo que é errado ter medo, mas apenas que é
perigoso permitir que o medo controle nossas vidas. [...] Mas o que acredito
pessoalmente é que cada pessoa pode se livrar do medo pela compreensão honesta
da própria espiritualidade, reconhecendo-a e alcançando uma percepção superior, o
que teria um efeito espantoso.

Com base nesses preceitos, pautou sua vida e influenciou a vida das pessoas com quem
conviveu. “Ter tido o privilégio de conviver com essa mulher, esse espírito de luz que foi a mamãe, fez
de todos nós pessoas melhores” diz Mary188, a caçula das quatro filhas.
A partir desses acontecimentos, passa a ser componente do Racionalismo Cristão, de cujos
trabalhos ali desenvolvidos participou até sua morte. Sobre a sua atuação, Dona Eglis Viscardi
afirma: “Foi uma grande colaboradora. Juntas fundamos a escolinha do Racionalismo para os filhos
dos frequentadores. Era um sonho dela, e nós conseguimos realizar. Outras coisas que ela
imaginava implantar só foram acontecer após sua morte”.
Laura Vieira de Azevedo dizia com convicção que ser Racionalista Cristã foi um marco na
sua vida. Dona Zuleica guarda esta lembrança: “[...] todas as vezes que eu passo na frente do
Racionalismo Cristão, eu me lembro dela... porque ela falava, comentava. Foi muito importante para
ela, que me faz lembrar”.
Mesmo depois de aposentada, leva uma vida ativa e politicamente engajada na
APAMPESP, onde foi Conselheira. Sua atuação foi marcante, segundo Dona Esmeralda: “Ela fez um
importante trabalho de luta, sempre disposta, de moral incontestável, pronta para tudo, foi uma
colaboradora que fez a diferença”.
189
Tais declarações foram corroboradas pelo depoimento de dona Maria Augusta , também
colega de luta:

[...] teve uma atuação inesquecível, marcada pelo entusiasmo, bom humor,
positivismo e competência. [...] Nunca ouvimos um não... fosse para participa, na
capital, das reuniões ou manifestações para o professor aposentado.. [...] O mesmo
destemor que demonstrou na luta pela edificação de sua família, no exercício da
missão educativa, demonstrou com igual intensidade nas lutas em favor dos
colegas.

Seu senso de justiça e solidariedade foram a marca do seu modo de existir neste mundo,
“ela dava uma assistência muito grande pro aluno, ela se preocupava, muita roupa de vocês ela trazia
pra ajudar a vestir muita criança. Então aquela parte social era o “must” dela”, disse a Dona Vônia,
que ainda completa:

O aspecto humano da Laura era muito característico; ela se preocupava com


pessoas, ela era educadora das gentes (sic)... foi com você que eu falei... que queria
encontrar um menino? Aquele do pezinho torto, que ela ajudou, é o Jorge, mas se
você for na Brasilândia e falar que é filha da dona Laura, aquela geração tem muito
o que contar.... a sua mãe era uma alma boa. Ela era abnegada, bastante
abnegada; se existe um adjetivo que cai bem na Laura é dedicação e abnegação

188
Mary Ane Nogueira de Azevedo, filha mais nova da biografada e residente em São Paulo.
189
Maria Augusta Bento Silva em carta depoimento, escrita para Antônio Nogueira de Azevedo.
506

sempre, a vocês [as filhas], ao trabalho. A Laura foi para a cidade o exemplo de
educadora, se vocês tivessem oportunidade de pesquisar, iriam descobrir uma
legião de “Jorges” que ela ajudou, sempre anonimamente.

Aspecto que ficou assim patenteado nos seus escritos:

Quando o homem na Terra conhecer o verdadeiro potencial de uma vibração de


amor, de um gesto de fraternidade, de uma palavra de consolo e de perdão,
movimentará essa energia, que está dentro dele mesmo, para transformar a si
mesmo e o mundo que o cerca. O amor é a única sementeira que produz
eternamente.

Laura Vieira de Azevedo faleceu em Fernandópolis em 06 de março de 2006, com 72 anos.


Soube morrer amando, orgulhosa e valente. Exatamente como a mulher que foi.

Comissão para elaboração da biografia

Escola: Colégio Coopere


Elaboração: Áurea Maria de Azevedo Sugahara, filha da biografada, professora e coordenadora
pedagógica do Colégio
Depoimentos colhidos por: Sandra Aparecida Nogueira de Azevedo e Mary Ane Nogueira de
Azevedo, ambas filhas da biografada

Depoimentos:

Áurea Maria de Azevedo Sugahara


Colegas do Coral do CPP
Eglis Viscardi
Esmeralda Guimarães Siqueira
Hilda Vieira Missi
Jane Teresa Brasil Gimenes
Maria Augusta Bento Silva
Mary Ane Nogueira de Azevedo
Sidney Pereira Del Grossi
Vônia Franco Gomes
Zuleica Guimarães Esteves Scalope
507

LUCAS LANINI

Lucas Lanini nasceu em 16 de maio de 1942, na zona rural do Córrego das Pedras, em
Fernandópolis. Foi registrado em Álvares Florence, uma vez que, em Fernandópolis,não havia
Cartório de Registro Civil.
Filho do lavrador Humberto Zanini e da lavadeira Luzia Custódio, família de classe média
baixa, mudou-se para a vila Brasilândia aos seis anos de idade, onde estudou no Grupo Escolar
Brasilândia até a quarta série do ensino fundamental.
Com dezoito anos (1960), estudou desenho artístico por correspondência e, aos vinte e um,
casou-se com a costureira Aparecida Francisca Gonçalves Lanini no dia 27 de julho de 1963, na
igreja matriz Santa Rita de Cássia em Fernandópolis. A união trouxe ao casal quatro filhos, que lhe
deram seis netos.
Os filhos nasceram em Fernandópolis e permaneceram morando aqui.
Lucas Lanini começou a trabalhar como servente de pedreiro aos 14 anos na Brasilândia e,
com 16 anos, ainda muito jovem, tornou-se pintor.
Em 1968, mudou-se com sua família para São Paulo em busca de uma vida melhor
desempenhando a profissão de pintor. Mas, dois anos depois, retornaria a Fernandópolis, aqui
estabelecendo moradia na Brasilândia, trabalhando como pintor.
Religioso e católico fervoroso, Lucas Lanini, com nove anos de idade, iniciara sua missão
como coroinha na igreja, época em que a missa ainda era celebrada em latim. Com o tempo, tornou-
se presidente dos Marianos (congregação que reuni jovens e adultos), catequista de crianças e
adultos.
Muito popular no bairro, Lucas seguia os ensinamentos religiosos com fervor e passava a
rezar terços todas as noites na igreja São Luiz Gonzaga, tornando-se, assim, membro oficial daquela
paróquia. Ministrava curso de batismo nas comunidades rurais, participou de vários cursilhos; foi
autorizado a realizar casamentos, batizados e celebrações. Foi, ainda, presidente do Apostolado da
Oração, ministro, visitava os doentes levando comunhão às residências, fazia a benção pelos mortos.
Em 2008, Lucas Lanini iniciou uma parceria com a escola EE Carlos Barozzi, bairro da
Brasilândia, onde desempenhava trabalho de orientação às crianças sobre conceitos de: respeito,
família, amor e solidariedade.
O último dia de trabalho na escola foi 14 de maio de 2008: nessa mesma noite, veio a
falecer (morte súbita) em sua residência.
Seu trabalho frutificou, servindo de modelo para a comunidade local e amigos que
angariava. Foi exemplo de retidão de caráter e dedicação ao próximo, à religiosidade e lealdade à
família e aos amigos.

Colaboração
Ivonice Brigo Borges
Jaqueline Cristina Caineli Bortoluzzo
Maria Adelina Marques Pereira Colombano
508

LUIZ FERRAREZI

Luiz Ferrarezi nasceu no município de Olímpia, estado de São Paulo, na Fazenda Olhos
d’água, em 19 de dezembro de 1931, tendo como pais Ignez Cervato Ferrarezi e Antônio Ferrarezi, e
mais nove irmãos. Embora numerosa, a família preservava sempre a união de todos em datas
comemorativas.
Educado que fora em uma sólida formação moral e religiosa, sempre antes da refeição, os
pais exigiam uma oração de agradecimento pelo alimento à mesa. Sua mãe foi uma companheira
muito presente.
Cursou até a terceira série primária na fazenda São Sebastião, no bairro Jacutinga,
município de Guararapes, estado de São Paulo. O fato de não ter avançado nos estudos, porém, não
o impediu de se destacar como exímio agropecuarista e empreendedor.
Em 18 de dezembro de 1958, casou-se com Alice da Silva em Araçatuba, mudando-se, logo
depois, para a Fazenda Santa Rita de Cássia, município de Pedranópolis. Dessa união, nasceram os
filhos Luiz Ferrarezi Júnior, Suzete Angélica Ferrarezi Izaias, Antônio Ferrarezi Neto e Lenise Regina
Ferrarezi Abdala.
“Grande amigo, além de pai. Era enérgico com os filhos, porém, amoroso”, comenta a
esposa Alice Ferrarezi. “No dia da entrega de boletins, se reunia com os filhos, questionava as notas
e enfatizava o que poderia ser melhorado”, acrescenta.
Além de participar da vida escolar dos filhos, Ferrarezi sempre esteve presente nas
comemorações e festividades. Foi patrono das escolas de Pedranópolis (SP) e de Meridiano (SP), do
Jubileu de Prata da Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares de Fernandópolis (1975) e membro
da Associação de Pais e Mestres (APM) da escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva, também de
Fernandópolis. Em sua fazenda, a primeira ação importante foi a construção de uma escola, que teve
como educadoras D. Albertina Rosa de Souza e sua esposa Alice Ferrarezi.
Exímio empreendedor e homem de muita fé, Ferrarezi participava de todas as atividades da
fazenda, conhecia todos os detalhes e, com afinco, realizava todo tipo de trabalho, trocando peças do
trator ou simplesmente cuidando dos animais. “Para ele tudo era pra já, tinha muita pressa, não
falava em velhice, tudo era logo e imediato”, diz a esposa.
Resultado de tanta dedicação, sua fazenda tornou-se modelo de organização e eficiência,
com muitas benfeitorias. Construiu casas, escola, capela e rede elétrica, poço artesiano, currais,
barracões, terreiros para secagem de café.
Na execução de seu trabalho, recebeu o prêmio “Produtor Modelo da Agricultura do Estado
de São Paulo” e “Troféu Pecuarista do Ano” em 1975 e 1976.
Em 1977, foi presidente da primeira Festa de Peão de Fernandópolis, evento que ocorria
posteriormente à Exposição Agropecuária da cidade. Por essa época, a arena ainda era fechada com
lascas e os assentos, rústicos e de madeira.
509

Além de suas atividades como fazendeiro empreendedor, foi acionista de frigoríficos em


Fernandópolis, Imperatriz (Maranhão) e Votuporanga. Sempre colaborou com as entidades
filantrópicas, não dando relevância à religião que professavam.
Quanto à política, não se vinculou a partido algum, nem se envolvia com questões políticas;
era, porém, amigo de todos os políticos e ajudava quando solicitado e quando se tratasse de
benefício direto para Fernandópolis. Como exemplo, em 1976, hospedou, em sua casa, o
desembargador Dr. Henrique Augusto Machado, do Tribunal de Justiça de São Paulo, sua esposa
Olga Dias Baptista Machado e sua filha Dra. Suzana, oportunidade em que Fernandópolis
reivindicava a instalação da segunda vara judicial.
Luiz Ferrarezi amava o que fazia; era extremamente dedicado à criação de gado e às
culturas de café, milho, algodão, amendoim, arroz, laranja e maracujá.
Uma característica marcante de seu caráter era a humildade. Sempre à tarde, depois do
trabalho, sentava-se com os funcionários da fazenda para longas conversas ou para ouvir músicas
caipiras. Extremamente receptivo, não tinha formalidade na interação social.
Um hábito muito salutar que praticava era levar os filhos para conhecerem cada detalhe da
fazenda: um açude, um lugar agradável, que era seguido de um piquenique, sempre com a família
reunida.
O maior desejo de Luiz Ferrarezi era a construção da Capela Santa Rita na fazenda. Um
aspecto importante nesta construção foi a edificação do seu próprio túmulo no subsolo da capela,
onde foi sepultado três meses após a inauguração.
Luiz Ferrarezi morreu no dia 3 de agosto de 1980, com 48 anos de idade, vítima de acidente
automobilístico na Rodovia Euclides da Cunha. Sua morte causou grande repercussão e o prefeito da
época, Dr. Milton Edgard Leão, decretou luto oficial por três dias no município.
Como homenagem póstuma, a Câmara Municipal de Fernandópolis outorgou a Luiz
Ferrarezi a Medalha 22 de Maio e aprovou projetos perpetuando seu nome na arena de rodeios do
Recinto de Exposição Dr. Percy Waldir Semeghini e em uma das ruas do Residencial Nova Canaã.
Para os filhos deixou o seu grande legado: honestidade, responsabilidade e humildade.

Colaboração
Letícia de Moraes Ribeiro Cabreira
Fábio Augusto Papa Vizelli
510

MANOEL RODRIGUES DA SILVA (BADECO)

Filho do Sr. José Rodrigues da Silva e Sra. Umbelina Rodrigues, Manuel Rodrigues da
Silva, cognominado o Badeco, nasceu no vilarejo de Lambari, distrito de Olímpia, interior de São
Paulo; filho de trabalhadores das lavouras de café, juntamente com vários irmãos, vivenciou uma
infância muito pobre.
Começou a trabalhar com gado ainda jovem, como peão de boiadeiros, chegando a ser
dono de comitivas. Em Olímpia, casou-se com a Sra. Margarida Pereira, filha caçula de Joaquim
Antônio Pereira. Criaram dois filhos, sendo um biológico, Ubirajara Rodrigues da Silva, conhecido
como Bira, e outro adotivo, Ubiraci Rodrigues da Silva, ambos já falecidos.
Conhecido como Badeco, José Rodrigues e sua esposa mudaram-se para Fernandópolis
em 1941, já proprietários de terra, com uma área que abrangia onde hoje se situam o antigo Tênis
Clube, Jardim do Trevo e Bairro Ubirajara, nome dado ao bairro em homenagem a seu filho biológico.
Uma de suas características marcantes era participar de festas e leilões. Por ocasião dos
eventos, levava em sua caminhonete prendas a serem leiloadas. Segundo relatos de pessoas que o
conheceram, festejava a noite toda, arrematando prendas, muitas vezes, a custo alto, inclusive para
presentear seus amigos. Era um dos mais importantes colaboradores de eventos da cidade e região,
sobretudo da igreja. Esse ambiente festivo fazia parte do cotidiano de sua casa, sempre ponto de
recepção de pessoas carentes; acolhia a muitos, caracterizando-se praticamente uma espécie de pai
adotivo de vários filhos, incluindo crianças e adultos.
Badeco tinha grande interesse pelo gado leiteiro, o que o levou a ser um dos primeiros
criadores das raças gir e cruzado em sua fazenda situada a oito quilômetros no sentido
Fernandópolis-Brasitânia, atravessada pelas águas do ribeirão Capivara. Criava também cavalos da
raça manga larga chegando, na década de 1970, a construir uma pista de corrida de cavalo em sua
propriedade onde eram efetuadas apostas. Com espírito festivo e otimista, foi um dos pioneiros na
organização da Exposição Agropecuária de Fernandópolis, transformando-se em expositor de gado.
Em 1987, sofreu o primeiro acidente vascular cerebral (AVC), que lhe trouxe sequelas que o
prejudicavam a caminhar; viu-se na contingência de se afastar das atividades da fazenda. Em 1990,
sofreu o segundo AVC, agravando o seu estado de saúde, e teve de permanecer acamado até seus
últimos dias. Veio a falecer em 23 de agosto de 1991e foi sepultado no Cemitério da Saudade.
Com um enorme círculo de amigos, era considerado uma pessoa de sorte, corajosa,
ambiciosa e determinada. Sem dúvida, fez parte daqueles que se destacaram na construção da
história dessa cidade.
Colaboração
João de Souza Lima
511

MANOEL RODRIGUES MAGRO

Manoel Rodrigues Magro nasceu em 29 de março de 1909, em Pitangueiras (SP).


Ainda jovem, mudou-se com a família, seu pai Antonio Rodrigues Magro e sua mãe Maria
da Conceição Magro para a cidade de Olímpia (SP). Trabalhava com seu pai como carpinteiro e,
mais tarde, tornou-se um grande empresário no ramo de móveis finos artísticos. Tinha como cliente a
nata da sociedade olimpiense.
Em 1933 casou-se com Alzira Pereira, filha de Joaquim Antonio Pereira e Ana Maria de
Jesus.
Passou, então, a ser o genro de admiração e confiança do senhor Pereira, o qual lhe
confiou construir e fazer todo o madeiramento da primeira capela, onde hoje está a igreja matriz
Santa Rita de Cássia. Contribuiu para a construção da primeira residência de seu sogro, localizada
na Rua Paulo Saravali esquina com a Rua São Paulo.
O casal teve três filhos: Lázara, Joaquim e Antonio, em homenagem ao avô paterno.
Lázara R. Magro formou-se em Olímpia e veio para Fernandópolis no ano de 1955; casou-
se com Gentil Franco Almeida em 1956. Joaquim Rodrigues Magro faleceu em Olímpia com nove
anos de idade. Antonio Rodrigues Magro, o terceiro filho, nasceu em Olímpia em 1948, reside agora
em Fernandópolis e é casado com Neide Visite Magro.
Manoel Rodrigues Magro veio de mudança para Fernandópolis no ano de 1949, pois foi
feita a partilha das terras.
Aí começou a luta de Manoel, uma pessoa simples, mas de um caráter impar. Ele era um
ser humano como poucos; a bondade, o caráter e a honradez eram a sua bandeira. Participou dos
grandes leilões na praça da matriz, das cavalgadas de São Sebastião. A maior alegria para ele e a
esposa era receber, em seu “Sitio São Benedito”, as Folias de Reis, que todo ano eram recebidas
com grandes festas.
Contador de estórias e piadas, Manoel adorava cantar músicas de viola, acompanhado pelo
violão e voz do genro Gentil Franco de Almeida. Não tinha escolaridade, a não ser o segundo ano
primário, mas era inteligente e fazia contas como ninguém. Chegou a ser vice-prefeito em eleição
com Percy, mas se decepcionou.
Em maio do ano de1983, realizou suas “Bodas de Ouro” com uma missa na Igreja da
Brasilândia e um almoço no sítio para mais de cem amigos e familiares. Assim foi a vida de um
personagem, que fez com dignidade a alegria dos filhos, netos e bisnetos.
Faleceu em 11 de janeiro de 1992.

Colaboração
Família Magro
512

MARIDÉA DAS DORES MELLO CARNELOSSI

Márcio Mello Carnelossi190

Naquela gelada manhã de julho de 1932, José Benedito de Carvalho Mello, o Zezo, acordou
assustado com o enorme barulho que vinha das ruas: latões de lixo sendo arremessados, vidraças
sendo quebradas e gente, muita gente gritando palavras que, para ele, pareciam desconexas. Zezo,
mineiro da cidade de Caldas, logo percebeu o que se passava. Há dias vinha sendo hostilizado nas
ruas, sentia as pessoas olhando-o de uma maneira diferente, desconfiadas. Acordou sua esposa
Maria do Carmo Bucci Mello, a Zoquinha, grávida de sete meses, e pediu que se arrumasse
rapidamente, pois iriam viajar para Minas Gerais, para sua terra. A esposa, assustada, acordou a
pequena Magali, filha do casal, e logo se colocaram prontas para a viagem.
Comerciante do ramo fotográfico na Cidade de Mogi Mirim (SP), o mineiro Zezo era mais
uma das vítimas da Revolução Constitucionalista de 1932, que colocou, em lados opostos, mineiros e
paulistas. Temendo represálias por sua naturalidade, Zezo resolveu ir com a família para Minas
Gerais esperar que as hostilidades cessassem e, na hipótese de uma guerra, evitar ter de atirar
contra seus irmãos.
Após uma viagem difícil devido ao clima de guerra instalado na região, a família chega a
Caldas (MG), onde permaneceriam por algum tempo.
Em 17 de setembro daquele ano, nasce a segunda filha do casal, Maridéa das Dores Mello,
que vive seus primeiros dias na tranquila cidade mineira.
Com o fim da revolução constitucionalista, que opôs o estado de São Paulo ao Governo de
Getúlio Vargas e contabilizou mais de 2.000 mortos e centenas de feridos, a paz e a normalidade
voltaram às fronteiras paulistas e mineiras. Cessadas as hostilidades entre irmãos brasileiros, as
famílias retomam suas atividades de rotina.
Maridéa inicia seus estudos na paulista Mogi Mirim. Alguns anos mais tarde, Zezo, seu pai,
é admitido como funcionário da Companhia Telefônica Paulista e a família, agora com mais duas
filhas, Marilde e Mariley, se muda para Piracicaba (SP). No final da década de 1940, Zezo é
transferido para Araraquara, onde comanda o escritório da Companhia Telefônica Paulista na região.
Nessa época, após terminar o curso Normal, Maridéa se torna professora substituta na
Escola Carlos Batista Magalhães. Logo, porém, ingressaria na Coletoria Federal, onde iniciaria sua
carreira de funcionária pública federal.
No ano de 1953, a jovem Maridéa conhece o estudante de odontologia Horácio Carnelossi.
Proveniente de Ariranha (SP), Horácio era mais um jovem que vinha estudar na conceituada

190
Márcio Mello Carnelossi é filho de Maridéia Carnelossi.
513

Faculdade de Odontologia e Farmácia de Araraquara. Os jovens namoram, ficam noivos e se casam


em 20 de dezembro de 1959.
Alguns meses antes de se casar, porém, Horácio transfere seu consultório odontológico de
São Paulo, onde trabalhara desde sua formatura em 1955, para Fernandópolis, cidade de pequeno
porte no Noroeste paulista que, na visão do jovem cirurgião dentista, tinha excelentes perspectivas
futuras.
Maridéa é, então, transferida para cuidar da Agência da Receita Federal de Valentim Gentil
(SP), cidade próxima a Fernandópolis, tendo trabalhado ali até meados de 1969, quando, finalmente,
foi transferida para Fernandópolis.
A vida do casal segue seu rumo na tranquila Fernandópolis e logo vêm os filhos Marcio
(1960), Marici (1962) e Marise (1964).
Em 18 de junho de 1964, juntamente com os casais amigos Geni e Jaime Migliorini,
Ernestina e Osmundo Dias de Oliveira, Noêmia e Paulo Sano, Eliete e Écio Vidotti, Angelina e Luis
Arakaki, entre outros, fundam o Lions Clube de Fernandópolis.
Maridéa participa ativamente da vida do clube e de suas várias promoções; particularmente,
as que mais lhe dão prazer são as promoções ligadas à implantação do Lar de Menores para
meninas carentes, que se chamaria Melvin Jones. Hoje desativado, suas edificações, levantadas
com o árduo trabalho dos companheiros Leões, foi doada à Prefeitura Municipal, que implantou a
Escola Municipal (EMEFA) Melvin Jones.
Pela dedicação do casal ao Leonismo, Horácio toma posse em junho de 1994 como
Governador do Lions Clube distrito L-17. O casal Horácio e Maridéa percorre todos os 66 clubes que
compõem o distrito durante o ano Leonístico 94/95, levando sempre uma palavra de incentivo ao
“servir desinteressado”, lema maior de Lions Clube Internacional.
Na loja Maçônica Benjamim Reis, ao lado do Maçon Horácio, Maridéa também traz seu
entusiasmo e alegria, sempre participando ativamente das promoções da Loja.
Quando Horácio assumiu a presidência da Associação dos Amigos do Município de
Fernandópolis, no inicio dos anos 80, Maridéa se fez presente dando apoio e incentivando o marido.
Em 26 de novembro de 1999, sob a presidência do engenheiro Alcides Luis Semenzati, a
Câmara Municipal de Fernandópolis lhe confere o título de “Cidadã Fernandopolense” pelos inúmeros
serviços prestados à comunidade de Fernandópolis.
Maridéa se aposenta como auditor-fiscal da Receita Federal do Brasil em 1994, porém,
incansável e com muita energia para se dedicar aos menos favorecidos, junto com seu marido
passam a fazer parte da Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer (AVCC), ocupando o
cargo de tesoureira, sem, contudo, abandonar suas atividades no Lions Clube de Fernandópolis e na
Loja Maçônica Benjamim Reis.
Maridéa das Dores Mello Carnelossi faleceu em 27 de outubro de 2009 na sua – por adoção
e carinho – Fernandópolis, solo onde se encontra sepultada, deixando cheios de orgulho seus filhos
Márcio, Marici e Marise, seu genro Waldir, sua nora Karina, seus netos Camila e Matheus, seu
querido Horácio e uma infindável quantidade de amigos.
514

MÁRIO DE MATOS (COMENDADOR)

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Fernando Pessoa

O presente trabalho tem por objetivo, não apenas escrever a história de vida de Mario de
Matos, mas principalmente, demonstrar a articulação entre memória e biografia através de seus
poemas: Um dia hei de voltar! e Nossas bodas de ouro, que demonstram como os aspectos
memorialísticos dos mais variados fatos vividos por ele se refletiram em sua modestíssima produção
literária. Pretende-se, assim, resgatar, através da sua narrativa, dados autobiográficos que reportam
acontecimentos vivenciados por ele, bem como fatos históricos e lugares que influenciaram na sua
trajetória, complementando com depoimentos orais e escritos de amigos e família.
Admirador de Camões, Mario amava fazer poesia e escrever sobre diferentes assuntos: as
lembranças de sua infância e adolescência na terrinha, sobre seu país de coração e seus “heróis”,
seu cotidiano aqui e na terrinha, suas viagens. Escreveu vários artigos que foram publicados pela
imprensa local, por publicações da Casa de Portugal, pela imprensa portuguesa e incontáveis cartas
191
para seus parentes, amigos e autoridades .

UM DIA HEI DE VOLTAR!


Adeus Portugal, adeus!
Para um filho teu eu vou
Conhecer este gigante
Que sempre me apaixonou

Quando deixei minha casa


Vi minha mãe a chorar
Não chores, não chores mãezinha
Um dia hei de voltar!

Ao abraçar o meu pai,


Senti grande emoção
O calor dos teus beijos
Ficam em meu coração

191
Suas lembranças, poemas, artigos etc. estão em suas agendas e folhas de papel, escritos a lápis, e seus
documentos, envelopados e/ou emoldurados, sob os cuidados de sua filha profª. Péta Matos.
515

O Brasil é gigante
Como ele não há igual
A terra que eu escolhi
Filho de Portugal

Foi uma benção de Deus


Que um dia lá voltei!
Rever meu Portugal e
A gente que lá deixei!

Foi um triste adeus do jovem Mario à família quando resolveu navegar além-mar para
alcançar seus sonhos de prosperidade no Brasil, mas nunca esqueceu a terrinha, como
carinhosamente chamava sua terra natal. Tanto que diversas vezes, e na companhia de sua esposa,
Maria, vivenciou as experiências de “volta à terra de seus antepassados”, para visitar os parentes,
comer sardinha assada regada no azeite, como dizia orgulhoso.
192
Em 14 de fevereiro de 1924, nasceu Mario, na aldeia dos “Degolados”, em Portugal . Filho
193
de José de Matos e Perpétua Marques, teve apenas uma irmã, Sofia Marques . Era comum, em seu
povoado, que os jovens, para ajudar a família, ao final do quarto ano primário na escola da vila,
começassem a trabalhar; com ele não foi diferente, descreve: “a vida nos era bastante difícil,
trabalhava-se bastante e se ganhava pouco... mas coisas boas havia entre nós, muito amor e
respeito. Comida há mesa nunca nos faltou”194.
Como a região da Beira Baixa, onde morava, era pobre, os/as jovens com quatorze anos e
sem perspectiva de trabalho, eram contratados por um manajeiro (para nós o “gato”) para
trabalharem nos campos da charneca (grandes propriedades de terras), como disse em entrevista à
sua neta Larissa195. Na dissertação de mestrado, sua filha Perpétua relata esse tempo de trabalho
fora de casa, tanto de seu pai como de sua mãe:

eles eram obrigados a viver como migrantes temporários na Província do Alentejo,


região de grandes latifúndios, produtora de trigo, cevada, centeio, aveia, oliveiras,
azinheiras, além do rebanho de ovelhas, porcos, bois. O manajeiro, geralmente,
levava um grupo de vinte a trinta jovens para a fazenda. A primeira parte do caminho
(14 km) até o rio Tejo era feita a pé. Quem tinha burricos levava os sacos, os
caixotes com mantimentos em cima deles, e quem não os tinha levava nas costas
até o rio, que atravessavam em pequenos barcos até a outra margem, na Estação
da Meeira. Lá, muitas vezes dormiam em cima dos caixotes à espera “dos carros
puchados a cavalos por um cocheiro, à distância de 80 km... umas 10 a 12 horas de
viagem... em todo o percurso nós nos adivirtiamos a cantar e nos momentos em que
se dava descanso aos animais, fazíamos os nossos bailaricos ao centro da estrada,
196
toda ela alcatroada (asfaltada), como lá se diz”, relata meu pai.
A maioria das propriedades tinha a sua sede dentro de uma quinta – o centro da
fazenda -, onde morava o feitor (administrador). Os proprietários (fidalgos) moravam
na cidade. Um dos pavimentos da fazenda era a moradia dos trabalhadores e do
manajeiro, que ficava responsável por eles e pelo seu rebanho. Esse pavimento,
onde os trabalhadores só ficavam à noite, não tinha divisões, “era só quatro
paredes”, não havia janelas, e o piso era de cimento; ao lado de uma parede havia
“muitos molhos de palha de trigo moída a qual fazíamos a nossa cama, aonde ali
dormíamos todo o tempo, em cima da palha, sem travesseiro e sem lençol, só com o
cobertor”, descreve meu pai. Os homens dormiam de um lado e as mulheres de
outro. Encostada a uma parede, estava a fogueira em cima do piso, acesa à tardinha
pelo manajeiro e, ao redor, todos tinham seu espaço para por a sua panela e fazer a

192
Degolados é uma aldeia localizada na Freguesia do Carvoeiro, Conselho de Mação, região da Beira Baixa,
em Portugal. Recebeu esse nome porque um padre foi degolado no local.
193
O costume português era registrar o filho com o sobrenome do pai e a filha com o sobrenome da mãe.
194
MATOS, Mario. Memórias escritas em folhas de sulfite, s/d, e em diferentes agendas. Respeito a grafia do
texto original.
195
MALACRIDA, Larissa de Matos. Eis o meu eu! Autobiografia para a disciplina “Humanidades”, da escola Liceu
Albert Einstein, Ribeirão Preto (SP), 1997.
196
Além das lembranças que tenho das histórias contadas pelos meus pais sobre suas vidas, também utilizei um
texto escrito por meu pai Mario de Matos (s/d). Foi transcrito respeitando a grafia do texto original.
516

sua comida, quando chegavam do campo. “A comida traziamos de casa: farinha,


batatas, arrôs (sic), pão, carnes e azeite, quando acabava íamos comprar na
cidade”. Trabalhavam todos os dias, de sol a sol, sem descanso até ao término da
temporada. Muitas vezes, chegavam com a roupa toda molhada da chuva,
colocavam-na “em roda da parede” e ali ela enxugava durante toda a noite, para ser
usada no dia seguinte. “O pagamento era feito só no fim da temporada, mas com
retiradas quando preciso; quando retornavam para a casa, “aos nossos pais
entregávamos todo o ganho”. Meu pai ainda se lembra de que eles eram chamados,
197
pela gente da cidade, de “ratinhos” .

Aos quinze anos, relembra Mario, “comecei a pensar em vir para o Brasil aonde eu tenho
um tio ou também para a África, terra de Portugal”. E continua: “vivíamos tempos difíceis”: além das
dificuldades de trabalho na região, Portugal encontrava-se sob o regime ditatorial de António de O.
Salazar, ao mesmo tempo em que enfrentava as turbulências da 2ª guerra mundial. Sonhos cada vez
mais acalentados e a opção pelo Brasil venceram, incentivado por um professor que dizia ser este um
país de paz e por estar aqui seu tio Álvaro e família, o que facilitaria sua adaptação e abrandaria as
saudades. E relembra: “passado mais uns tempos [1940], chega para meu pai uma carta de seu
irmão Álvaro, me oferecendo a oportunidade a qual tanto eu esperava, dizia ele: preciso de um rapaz
e me lembrei do teu Mario, se tiveres vontade de que venha para cá mandarei todos os documentos
necessários, ou seja, carta de chamada”. Esta demorou a ser aprovada, mas, em 1942, aos 18 anos,
ele consegue embarcar. Assim ele relatou sua despedida: “é o dia de partir, última noite e ninguém
dorme. Levantamos cedo, casa cheia para as despedidas – deixei os Degolados, muita tristeza, os
gritos da mamãe e lágrimas – chegada ao Carvoeiro, ela lá está para o adeus [refere-se à sua
namorada Maria Marques]. Chegou a hora, muita dôr mas tinha de ir. Adeus, a esperança de voltar...”
Da sua terrinha, o jovem Mario partiu para alcançar seus sonhos de prosperidade, além-
mar. Em dezoito de abril de 1942, embarcou em Lisboa, no navio Serpa Pinto, desembarcando no
porto de Santos. De lá, foi de trem até São José do Rio Preto, mas, lembra-se, “cansei de andar de
comboio” e depois de ônibus até Mirassolândia, onde seus tios moravam. Sonho realizado! Lá
começou a trabalhar na loja do tio e era muito assediado pelas senhoritas por ser novo na região. Em
1944, este abriu uma loja em Votuporanga e lá foi ele com seus tios (Álvaro e Maria) e primos
(Armando, Milton, Elza e Hilda). Ali começavam novas vivências e novas experiências.

NOSSAS BODAS DE OURO (13/07/1997)

Ó Maria vem cá hoje,


Não deixeis para depois
Mas o dia é de todos,
Terminando só nós dois.

Me parece que foi ontem,


Que nosso amor começou
Aquele teu geito brejeiro
Meu coração conquistou.

Um passado de saudades,
A nossa vida conjugal
Cincoenta anos vividos
Nascidos em Portugal.

As filhas, genros e netos


Agradeço de coração
Aos nossos amigos e primos
A nossa admiração

197
MALACRIDA, Perpétua Maria Marques de Matos. “Introdução”. In: ______.O Assentamento Santa Rita:
lutando pela terra e construindo vivências. Dissertação de mestrado em História Social, Universidade Federal de
Uberlândia (MG), 2002, p. 18-19.
517

Esse poema foi recitado por Mario à sua esposa Maria em suas bodas de ouro celebradas
em grande estilo no dia 13/07/1997. No almoço, reuniram familiares na cobertura do Edifício Mario de
Matos, onde moravam e, à noite, foi realizada a missa na Igreja da Aparecida, sendo o casal
abençoado pelo bispo D. Demétrio, que chegou de surpresa e, após a bênção, comemoraram com a
família e amigos no salão da Casa de Portugal, que ele idealizou e fundou. Em 1946, chegou ao
Brasil Maria, sua namorada do grupo escolar, em companhia de seus pais, e foi direto para Bálsamo
onde morava sua família. Seu Mario, já sabendo, por carta, de sua vinda, foi visitá-la e, ao se
reencontrarem, o amor reacendeu e voltaram a namorar. Em 13/07/1947, casaram-se na Igreja Matriz
de Bálsamo, e foram morar em Votuporanga.
Em 05/10/1947, Mario foi transferido para Fernandópolis, gerenciar a filial da loja de seu tio.
Em 01/01/1951, este expandiu as lojas na região e propôs ao sobrinho: “ou tu compras a loja ou
entras na sociedade com meus filhos”. Depois de estudar muito bem essas propostas com sua
esposa, resolveram comprá-la; não era só o estoque, mas também o prédio que tinha pequena casa
nos fundos, onde moravam e, assim, o trabalho triplicou, embora fosse auxiliado por sua esposa, que
198
também fazia o trabalho doméstico. Relembra seu funcionário Nelson Toscano : “foram tempos de
muito trabalho, que começava de manhã e ia até a noitinha, de segunda a segunda, sem descanso,
até aos domingos e feriados as lojas abriam”. E conta um fato histórico e interessante:

Em 1954 a loja era pequena, 3 portas num salão de 7/9 metros, ele tinha 2
empregados portugueses, seu primo João Martins e seu cunhado Ernesto Dias. Foi
quando saiu uma “lei dos dois terços”: uma firma só podia ter um empregado
estrangeiro se tivesse 2 brasileiros. Seu Mario abriu uma filial em Santa Clara, uma
casa de secos e molhados, e para lá foram os dois e para substituí-los entrei eu e o
Nabor Saravali. Pensando em aumentar a loja, em fins de 57, ele comprou a casa
dos Retalhos do Pedro Mantelli e dividiu a loja em duas: uma nessa casa e a outra
no prédio dos Pessutos, na rua Brasil, esquina da Paulo Saravalli. Em 1958,
começou a construção do prédio: loja embaixo e residência em cima e, em
12/10/1958, inauguramos a loja, uma das melhores da cidade – a Casa Matos.

Recorda também que a “loja tinha um ‘paquero’, como toda loja na época. Era o rapaz
contratado para fazer propaganda que ia até a rodoviária arregimentando os fregueses. O paquero da
loja era o Baianinho”. Além dele, o Zé Ariranha ou o Nelson, saíam pela região fazendo a propaganda
da loja.
Pretendendo separar tecidos de calçados, lembra Nelson, “em 1960, ele comprou um
terreno em frente à loja e construiu a loja de tecidos”, passando, assim, a ter duas lojas: Casa Matos
Calçados e Casa Matos Tecidos. Iniciou a prática de promover o sorteio de um fusca para seus
fregueses, todos os anos e em grande estilo: a rua era fechada e em cima de um caminhão,
comemoravam com bandas musicais ou cantores, a imprensa presente e a população assistindo ao
espetáculo e, finalmente, o sorteio... Era uma festa. Em cima dessa loja, construiu um prédio de três
andares: o Sotam Hotel. Sotam, nome que significa Matos, lido de trás para a frente. No hotel, Mario
colocou o primeiro PBX, o primeiro elevador da região, o primeiro piso de taco com sinteco, motivo de
orgulho para ele, pois era alvo de olhares admirados da população. O elevador chegou ao alto do
carro de bombeiro e em carreata, o que demonstrava sua importância. Tanto que, no dia da abertura
do hotel, ele manteve as portas abertas, não só para receber os primeiros hóspedes, mas também
para a visitação da população que se admirava com essas novas tecnologias, mas era o elevador o
máximo do luxo e da modernidade.
Na década de 70, construiu uma residência contemporânea na Av. Expedicionários (esquina
com a Rua Espírito Santo) e para lá mudou, enquanto a antiga se transformava no Sotam
Restaurante (o primeiro da região a ter uma culinária refinada e de qualidade). Nos anos 80, comprou
um sítio para o lazer da família e, em 1986, realizou seu maior sonho: presentear suas filhas com um
apartamento para cada uma, no prédio construído por ele, de cinco andares, sendo o último uma
cobertura com salão de festas, piscina, sauna e churrasqueira. Em sua homenagem, recebeu o nome

198
Depoimento escrito e oral de Nelson Toscano Saes, casado, comerciário aposentado, para a profª Péta
Matos, em 2011. Ele trabalhou com sr. Mario de 10/05/1954 até 10/04/1985. Transcrito pela profa Peta Matos,
mantendo-se fiel à grafia do texto original.
518

de Edifício Mario de Matos. Além disso, construiu uma casa para seu sobrinho Antônio, comprou uma
casa para sua irmã e família, além de outros prédios.
Percebe-se assim que a compra da primeira loja foi o início de uma extraordinária carreira
empresarial, como confirma o Nelson:

Vemos nestas lembranças que Mario de Matos foi um grande empreendedor, um


bom patrão e um bom amigo, não esquecendo também de sua esposa dona Maria,
pequena na estatura, mais grande de coração. Sua casa tinha muitas festas e nunca
deixou de convidar nem um de seus empregados e passava de 30.

O casal formou sua família com as quatro filhas: Clarice, Perpétua Maria (a Péta), Laura e
Elza Mara, todas nascidas em Fernandópolis. Clarice se casou com Álvaro F. de Souza e tiveram três
filhos: Fernando, Patrícia e Daniela; Péta, com Anésio B. Malacrida e têm dois filhos: Leonardo e
Larissa; , com Rafael B. de Souza e têm três filhos: Rafael Jr., Priscilla e Eduardo; e Elza com
Orlando S. Garcia e têm três filhos: Tatiana, Julianna e Luciana. Tiveram 11 netos e 10 bisnetos. E
dizia: “quem tem filhas, come bolinhos”, ou seja, está sempre amparado.
E toda sua influência sobre a família é resumida pelo neto e afilhado Leonardo: “a presença
constante dos meus avós maternos foram cruciais para compor a minha origem, parte da minha
personalidade e por ter adquirido a dupla nacionalidade, comprovado pelo passaporte e o cartão de
cidadão. português. Desde pequeno, é ‘pois pois pra cá’, ‘pois pois pra lá’, ‘gajo não faz isso’, ‘gajo
199
não faz aquilo’”. E conclui em um poema dedicado ao avô :


vozinho
se eu soubesse
que tudo
era só te ouvir.

Em 1959, chegou de Portugal seu sobrinho Antônio com 12 anos, para morar e trabalhar
com ele, passando a ser tratado como filho, tanto que se tornou também herdeiro de seus bens. Já
moravam com eles os sogros, Clarice e Vicente Dias. Em seu lar, o casal acolheu também, em
períodos diferentes, a mãe Perpétua, a irmã Sofia e o cunhado João, além dos primos Álvaro Matos
de Santa Albertina (já no 2º dia de casado) e Hilda (filha de seu tio Álvaro), seu afilhado Mario Martins
e funcionários, como o Silvério.
O casal era muito comunicativo, alegre, festeiro e solidário. Sua casa era “uma casa
portuguesa com certeza”, vivia o dia todo cheia de gente: eram amigos, parentes, funcionários, seus
fregueses, hóspedes, muitas vezes para uma “partidinha de truco” e, por isso, a mesa de refeição
estava sempre cheia de quitutes, “tocando, ao fundo, os fados de Roberto Leal E é tudo isso que faz
desses instantes, momentos memoráveis”, relembra Léo.
Pela receptividade natural que possuía, o casal era muito requisitado para padrinhos de
batizados ou casamentos. Autoridades portuguesas também foram recepcionadas em sua residência,
como o ex-presidente do Conselho de Ministros de Portugal (1968-1974), Marcelo Caetano
(independentemente de divergências políticas); os Cônsules Honorários de Portugal em Rio Preto:
Bento Abelaira Gomes e, mais tarde, Diogo M. V. Lobo; os Cônsules de Portugal em São Paulo,
Fernando P. dos Santos (1981), Rui Assis (1984) e o Domingos F. Vidal; e Maria Alcina Ventura, que
ocupava alto cargo na sede da Comunidade Européia, na Bélgica.
200
Conversando com seu genro Orlando Garcia , o Dr. Lorca (cardiologista em Rio Preto)
disse que “seu Mario era sempre o articulador da colônia portuguesa na região, inclusive quando
requisitaram seus préstimos para arrecadar fundos para a construção da Beneficência Portuguesa”.
Segundo sua sobrinha Liana201,

199
Leonardo de Matos Malacrida, casado, comerciante, via e-mail, no ano de 2011. Transcrito pela profa Peta
Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
200
Orlando S. Garcia esteve com Dr. Lorca em janeiro de 2012, em S. J. do Rio Preto.
201
Depoimento de Liana Marina B. Guimarães de Matos, esposa de Antonio Marques de Matos, para sua prima
Péta Matos, por e-mail, em 26 de agôsto de 2011. Transcrito pela profa Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do
texto original.
519

tio Mario foi um homem feliz, personalidade marcante, de carater, de fibra. Viveu
intensamente, mesmo nos seus momentos dificeis levava a vida com muita
sabedoria. Tivemos, eu e Toninho, uma convivência muito gostosa. Ele adorava
reunir a familia e os amigos. Dançar, e ouvir músicas portuguesas era o seu fraco e
o fado... Como me lembro bem das festas que fazia em sua residência na Avenida
Expedicionarios: era só alegria, ele satisfeito por ver a família toda reunida e, se
faltasse um, queria saber o motivo. A família ia aumentando e fazia questao de ver
todos juntos.

Era um viageiro e cantador... Mario adorava viajar: em todas as férias das filhas, levava a
família para passear (Thermas de Lindóia, Santos, Thermas de Ibirá, São Lourenço etc.), atitude
pouco comum na época, chegando a levá-las para conhecer sua terrinha, a Espanha, a França e a
Ilha da Madeira. Durante as viagens com a família, ele sempre ia cantando as modinhas portuguesas,
enquanto dirigia. Em casa, adorava ouvir músicas portuguesas, assistir à TV portuguesa (RTP),
muitas vezes, dançando com D. Maria, as filhas e netas e assinava vários jornais portugueses,
inclusive enviava sempre notícias dos “patrícios” daqui e da Casa de Portugal.
Era também muito emotivo, tanto que sua mãe dizia, quando ele era criança: “é bonito, mas
muito chorão”. Era muito otimista, por exemplo, acreditava que “o Brasil será muito em breve uma das
grandes potências do mundo”; “que todas as pessoas poderiam se tornar boas pessoas”. Era um
defensor árduo de Fernandópolis e de seu desenvolvimento.
Educava suas filhas ensinando valores, limites e fazendo exigências, mas sempre as
incentivava a viajar sozinhas, estudar fora, para aprenderem a assumir suas vidas no futuro. A única
que o desafiava por problemas de família, namorado etc. era a segunda, que acabava apanhando...
dizem que os dois tinham o mesmo gênio. Apesar de sua braveza, quando os netos foram chegando,
ele também foi relaxando e, nas festas da família, chegava a imitar seus netos usando fantasias
também. A alegria e “palhaçadas” rolavam soltas.
Preocupado com a educação das filhas, já que era frustrado por não ter tido a oportunidade
de estudar (inclusive o inglês), em 1959, começou a enviar suas filhas para estudarem no colégio
interno, das madres agostinianas, em Taquaritinga. Lá, Clarice, Péta e Laura fizeram a admissão (tipo
de cursinho e vestibular para entrar na 1ª série ginasial) junto com o 2º semestre do 4º ano do grupo
e o ginásio (4 anos), e Elza foi estudar em Rio Preto e, depois, São Paulo.
202
Sua neta e afilhada Juliana , se refere a ele como

nosso Mestre de vida!!! nossa figura ilustre... meu avô, que saudade de tomar um
vinho com você e conversar sobre a vida, abrir meu coração e ouvir seus
ensinamentos... te amo eternamente meu avô, padrinho e amigo!! onde estiver,
receba aquele beijo com carinho nessa sua carequinha!

Era solidário, tinha prazer em “ajudar financeiramente ou com aconselhamento seus


parentes e amigos, que sempre o procuravam”, revela sua segunda filha, mas me pedia segredo.
Confirma seu amigo João Santo:

Ele é um dos meus melhores amigos. Se alguém falar mal do Mario de Matos, eu
brigo com ele. E um homem honestíssimo! Às vezes, as coisas não são como a
gente quer, mas o Mario de Matos deixou o sangue dele aqui em Fernandópolis...
Ele é um homem privilegiado, mas devia ser mais. Se ele soubesse que tinha um
patrício lá em Santa Albertina doente, ele ia... onde tivesse um doente, ele ia lá. Ele
203
repartia o que tinha! Dizia: “Ah, você precisa, vamos lá, vou te dar!

202
Depoimento de Julianna de Matos Garcia à sua tia Peta Matos, por e-mail, em 2011. Transcrito pela profa
Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
203
Depoimento do sr. João Santo, português, às professoras Áurea Azevedo e Péta Matos, em julho de 1996.
a
Transcrito pela prof Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
520

Sua comadre Maria Augusta204 também comentou: “foi um companheiro insubstituível, um


amigo presente. Para ele nem a hora nem a distância eram empecilhos para se solidarizar... Tanto
nos momentos difíceis, como nas alegrias sabia, como ninguém, compartilhar”.
Era fiel, ético, leal e companheiro. Amava plantas e cuidar de jardins era seu forte, inclusive
de amigos, do hotel e os da Casa de Portugal.
Nos seus 59 anos de trabalho e dedicação a Fernandópolis, recebeu diversas honrarias205
que relacionamos a seguir:
- Em 1969 fundou, com seus amigos portugueses, a Casa de Portugal. Por seis vezes teve a honra
de ser presidente, sendo agraciado com o título de “Sócio Benemérito” em 1984 e “Presidente
Vitalício” (Presidente de Honra) em 1993. Segundo sua filha Péta Matos, “a primeira idéia de meu pai
foi construir aqui um hospital, a Beneficência Portuguesa, mas quando foi buscar o apoio da
Beneficência de Rio Preto, seus diretores o convenceram a não fazê-lo, devido a proximidade das
cidades, não havendo necessidade de outra na região. Ledo engano! Isso sempre o entristeceu,
mesmo depois do clube que era motivo de orgulho”.
- Em 1965, a Associação Comercial lhe prestou significativa homenagem, outorgando-lhe o título de
“Comerciante do Ano”;
- Em 15/06/1969, recebeu o título de “Sócio Fundador da Casa de Portugal de Fernandópolis”;
- Foi homenageado pelo Tênis Clube em parceria com o jornal Gazeta da Região e Rádio Difusora de
Fernandópolis, como “ilustre cidadão Presidente da Casa de Portugal”, em 13 de setembro de 1975;
- Em 1978, foi homenageado pela Loja Maçônica Benjamim Reis;
- Em 1985, na noite de 30 de janeiro, recebeu da Câmara Municipal de Fernandópolis, o título de
“Cidadão Fernandopolense”;
- Em 1994, no dia 01 de junho, o Rotary Clube de Fernandópolis lhe prestou uma homenagem
concedendo-lhe o título de “Sócio Honorário”;
- Em 22 de maio de 2001, a Câmara Municipal de Fernandópolis o homenageou com a “Medalha 22
de Maio”.
Foi também Sócio Fundador do FEC, do Tênis Clube, do Uirapuru Tênis Clube e da Água
Viva Thermas Clube.
Além dessas honrarias recebidas na cidade, Mario também foi agraciado com outras, a
maioria citada abaixo:
- Em 1967, recebeu o título de Sócio Remido da Beneficência Portuguesa de São José do Rio Preto;

- Em 15 de dezembro de 1981, na cidade de Araçatuba, foi agraciado, dentre vários cidadãos ilustres
do estado de São Paulo, com a “Medalha do Sesquicentenário da Polícia Militar de São Paulo”;
- Em 1982, Sr Mario e esposa receberam convite do governador do estado de São Paulo, Paulo
Maluf, para participar de uma recepção no Palácio dos Bandeirantes, em homenagem ao Sr. André
G. Pereira, Ministro dos Negócios Estrangeiros da república Portuguesa;
- Participou, junto com seu amigo João Santo e seu genro Álvaro, do primeiro voo de São Paulo a
Brasília da empresa aérea TAP (Transportes Aéreos Portugueses) como convidados especiais;
- Em 04/03/1985, recebeu o título de Sócio Benemérito Remido da Casa de Portugal de São José do
Rio Preto;
- Em março de 1991, recebeu o Certificado de Reconhecimento, no 1º Encontro Luso-Brasileiro dos
Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, realizado na Casa de Portugal de Bauru;
- Em 19/08/1996, recebeu um certificado da Câmara Municipal de Cintra, Portugal;
- Em 1984, o Exmo. Sr. Presidente da República de Portugal, Ramalho Eanes, outorgou-lhe o título
honorífico de “Comendador de Portugal”, com a Comenda Infante D. Henrique – 1º Rei de Portugal.
Este título foi-lhe entregue em sessão solene na Casa de Portugal, pelas mãos do Exmo. Sr. Cônsul
de Portugal, Dr. Rui Assis.

204
Depoimento da profª Maria Augusta Bento Silva à profª Peta Matos, por e-mail em 2011. Transcrito pela profa
Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
205
In: Certificados de Títulos com que Sr. Mario foi agraciado no Brasil.
521

Importante destacar que Mario seja, talvez, o único “cidadão fernandopolense” e do interior
de Rio Preto agraciado com o título de Comendador, do governo português, por seu trabalho em prol
da comunidade portuguesa no Brasil, orgulho de toda sua família. Esse título, na maioria das vezes,
era comprado, porque era símbolo de poder, status.
Interessante observar que, enquanto descrevíamos a trajetória de vida e as experiências
vivenciadas por Mario, não dava para fazê-lo sem falar também de sua esposa Maria, fiel
companheira. Ela faleceu no ano de 2000 e ele no ano de 2006. Falar sobre Mario de Matos é fácil,
porque deixou um legado de “memórias” extenso e de suma importância para a história de
Fernandópolis. Assim ele se expressava em vida:

“Eu amo Portugal. Foi lá que eu nasci e vivi a minha adolescência, e adoro o Brasil que me acolheu de
braços abertos... Como fernandopolense que sou, sempre agradeço a Deus em poder ter participado do grande
progresso de nossa cidade e de poder pertencer à acolhedora comunidade fernandopolense."

Colaboração
Escola Estadual Armelindo Ferrari
Vice-diretor: Diná Ruy Cogo
Professor Coordenador do Ensino Fundamental: Maria Elisa Pinheiro
Professor Coordenador do Ensino Médio: Ana Angélica Neves de Oliveira Ferreira
Professora de História: Soleni Teixeira Lima Rissato
Professora Ms em História Social: Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida
522

MARTHA PAGIORO DO NASCIMENTO

Martha Pagioro do Nascimento nasceu na cidade de Guairá, estado de São Paulo, em


20/08/1932, filha de Sr. Alberto Pagioro e D. Carolina Maria de Jesus. Perto de completar dezoito
anos, contraiu matrimônio com Antonio Pinheiro do Nascimento em 29/07/50 na cidade de Indiaporã
(SP). Em 1951, passou a morar em São José do Rio Preto, onde nasceu seu filho Ademir. No ano
seguinte, voltou para Indiaporã e, em 1954, mudou-se para Riolândia, onde nasceu seu filho Gilmar.
Retornando a Indiaporã em 1955, nasceu sua filha Luzia.
Em 1962, a família passou a morar em Fernandópolis em frente à sede do Centro Espírita
“Pátria do Evangelho”, na Rua Rio de Janeiro (centro), onde iniciou seus conhecimentos da Doutrina
Espírita. Na época, o Sr. Nestor João Masotti era o presidente da Associação que se encontrava em
fase de reorganização de estatutos.
Martha frequentou reuniões de estudos e reuniões mediúnicas, iniciando-se nos trabalhos
de passes e aproximando os filhos das aulas de Evangelização.
Em 1965, adotou um menino, que passou a se chamar Ailton Pinheiro do Nascimento.
Quatro anos mais tarde (1969), por questões financeiras, o casal teve de seguir para uma
fazenda em Aparecida do Taboado (MT), deixando os filhos com parentes em Fernandópolis, mas,
em 1970, Martha decidiu por retornar mesmo sozinha para poder reunir os filhos novamente.
Aqui começa, em 1971, a fase muito importante de sua vida pelo trabalho desenvolvido
junto à Associação Espírita Beneficente “Pátria do Evangelho” e, em especial, no Departamento Casa
da Criança “Meimei”, que havia acabado de ser criado com o objetivo de atender a crianças carentes
em regime de semi-internato (creche), tendo sido contratada como funcionária para o cargo de
Diretora desse Departamento. Martha desenvolveu um trabalho de dedicação permanente,
incorporando essas crianças como seus filhos e mantendo um contato íntimo com as famílias
assistidas e com os colaboradores da casa ou com todos aqueles voluntários externos do movimento
espírita.
Tornou-se figura extremamente conhecida pela sua bondade, delicadeza no trato com as
pessoas, firmeza na doutrina, sabendo contornar situações difíceis que surgiam normalmente nos
grupos de trabalhos.
Em 1979, adotou uma menina de 4 anos de idade, que recebeu o nome de Helena Pinheiro
do Nascimento, incorporando-a ao seu grupo familiar.
Até l998, foi funcionária, afastando-se do cargo, mas mantendo-se firme como voluntária
nos trabalhos assistenciais que foram ampliados por essa ocasião.
Tornou-se pessoa muito conhecida e respeitada, apesar da humildade que foi sua principal
característica por toda a vida, porém, mantendo-se firme em suas decisões, denotando personalidade
e um caráter nobre.
523

Em 21/01/98, desencarna seu filho Gilmar, companheiro fiel da doutrina, em um acidente de


carro próximo a Jales (SP), deixando a esposa ainda grávida cuja filha não chegou a conhecer. Esta
netinha, de nome Débora, hoje moça, continua persistente na frequência ao Centro até os dias de
hoje.
Martha desencarnou por traumatismo craniano em um pequeno acidente em seu lar em
20/12/2001, deixando uma lembrança muito agradável a todas as pessoas que a conheceram; pode-
se dizer que foi uma grande representante da doutrina dos Espíritos pelos testemunhos de fé,
dedicação e solidariedade que foi sempre sua tônica de vida.

Colaboração
Geraldo Silva Carvalho
524

MATASO KURODA (COMENDADOR)

Mataso Kuroda, nascido em Kumamoto, Japão, aos 4 de novembro de 1899, chegou ao


Brasil em três de agosto de 1921 com a esposa Taka e a filha Shigueno. Recebido carinhosamente
na hospedaria dos imigrantes, com passaporte n. 2259 expedido por “The Imperial Japonese
Government”, viajou de primeira classe, através do prêmio concedido pelo governo japonês, por
ocasião das bodas de casamento do imperador Hirohito, aos japoneses que se salientavam e
desejavam emigrar para o Brasil. Foi uma verdadeira viagem de lua de mel, pelas fotos que se
conhecem, como a do casal e a filha passeando de trole em Cingapura.
Além de Shigueno, casada com Toshio Ikeda, tiveram outros filhos: Maria (falecida), casada
com Paulo Minakami; João, casado com Iracema; Floriza (falecida), casada com Luiz tobace; Mario,
casado com Zenaide; Eurica, casada com Issao Abe; e Antonio, Amélia e Takashi, solteiros; Joaquim,
casado com Massae; Roberto, casado com Margarida. Deixou 28 netos e muitos bisnetos.
No Brasil, instalou sua primeira residência em Guatapará (SP), próximo a Ribeirão Preto
(SP) e o Rio Turvo (SP). Tornou-se agricultor e chefe consultor da colônia japonesa imigrante com
apenas 22 anos de idade.
Participou como trans portador dos soldados paulistas na Revolução de 1932, de Jupiá a
Bauru, com caminhão “cabeça de cavalo”, tendo recebido dois bônus de guerra (duas notas de conto
de réis) do governo paulista.
Presidente da Associação de Sumô em Guaraçaí (SP), foi lutador e criou a escola onde
ensinava português e japonês em 1945 /1946, tempos da Segunda Guerra Mundial. Ocorreu em
Andradina a experiência que marcou o patriotismo pela pátria que o recebeu de braços abertos, o
Brasil. Ele acreditava na derrota do Japão ao final da guerra e aconselhava seus patrícios a também
acreditar. Foi por isso perseguido pela Shindo Hemei, grupo extremista contrário.
Em 18 de junho de 1948, o Ministério das Relações Exteriores do Japão reconheceu o
trabalho de Kuroda na integração de Brasil e Japão e conferiu-lhe honrosa homenagem e diploma. A
imprensa japonesa diplomou-o em 1964 como “Desbravador e coordenador da colônia japonesa no
Brasil”.
Kuroda fez parte da Aliança Cultural Brasil Japão de São Paulo, que o homenageou com
importante diploma em 11 de abril de 1966. De Araçatuba recebeu honraria em 1970 pelo seu
trabalho espiritual com japoneses residentes na região. Chefe graduado da Associação Budista do
Brasil, também mereceu vários outros diplomas graças à integração no desenvolvimento religioso da
colônia japonesa.
Era o casamenteiro da colônia japonesa e “ajeitou” a união de mais de duzentos casais
nipônicos, dos quais há muitas estórias. A mais jocosa talvez seja aquela da noiva que, vestida a
caráter, fugiu em plena cerimônia. Kuroda não teve dúvidas: chamou a cozinheira do evento e
525

realizou o casamento dela com o noivo desprezado (essa era a filosofia da família japonesa
tradicional). O casal está vivo até hoje, junto, residindo em Araras (SP).
Mataso Kuroda foi líder estimado e valorizado por onde passou: Guatapará, Penápolis,
Guaraçaí, Alto Pimenta, Andradina, Araçatuba e Fernandópolis.
Apesar de budista, de elevado espírito comunitário, promovia mutirões de batizados,
congregando as famílias japonesas na Igreja Católica. Partia do princípio de que as crianças nascidas
e criadas no Brasil deveriam pertencer à religião da maioria do país, a católica.
A Fernandópolis chegou em 1953 e radicou-se no bairro Aparecida por dois anos; comprou
uma casa na Rua Minas Gerais, 1214, de Orlando Birolli, para onde se mudou e morou até sua
morte. Sua família permanece ali até hoje.
Presidia a Associação Cultural e Esportiva de Fernandópolis, à época, o Sr. Tsuneshi
Sano, quando o grande líder passou a ajudá-lo na construção do prédio. Foi o iniciador do “gate-Ball”
e do “base-ball”, jogos exercitados, primeiro, em um campo requisitado pela Cesp (Centrais Elétricas
de São Paulo), criada pelo advento dos barrageiros que se instalaram ali próximo. O prefeito da
época, Antenor Ferrari, para ajustar a situação, doou à colônia japonesa (diga-se Kuroda) terreno
onde hoje está o clube de campo da Associação Cultural e Esportiva de Fernandópolis (ACEF),
próximo ao Beira Rio (parque esportivo da cidade). Valioso patrimônio, agasalha filhos, netos e
bisnetos dos pioneiros japoneses, e garante a prática desportiva da tradição nipônica.
Uma passagem curiosa marcou esse período: Kuroda era tão exigente, que dormia com os
atletas, na concentração, às vésperas dos jogos, impedindo-os de fugir para bailes ou festas. Num
campeonato em Urânia, em represália, os atletas roubaram o cobertor do chefe Kuroda. Era noite
fria. O chefe deu o troco: ao preparar o café da manhã, colocou sal em lugar de açúcar para castigar
os primeiros a serem servidos. Curioso? Qual foi o primeiro? Arnaldo Sano que conte!
Mataso Kuroda foi um dos fundadores da Agrimista, cooperativa agrícola formada por
sócios de origem japonesa em Fernandópolis e na região como Nakai, Sugahara, Kuroda, Kume,
Ikeda, Okagima, e outros.
Incentivava os acontecimentos sociais brasileiros como o carnaval com participação de
nisseis e sanseis e toda sua família.
Quando da visita ao Brasil do Príncipe Ahihito e da Princesa Michico, recém-casados,
Kuroda levou uma caravana de idosos japoneses de Fernandópolis à recepção no Pacaembu (SP) e
foi o orador que saudou os visitantes em nome da alta araraquarense e noroeste do estado de São
Paulo. Era na comemoração dos 50 anos da imigração japonesa ao Brasil. Ainda: na recepção da
Sociedade Brasileira Cultural Japonesa (Bunkyo) no Bairro da Liberdade (São Paulo, capital),
entidade que Mataso Kuroda ajudou a fundar e onde foi diretor assistencial de 1971 a 1973, o
príncipe agradeceu pessoalmente ao biografado, oferecendo uma peça pintada a ouro que a família
guarda com carinho até hoje.
Kuroda foi fundador da Associação das Crianças Excepcionais de São Paulo (Kodomono
Sono), só para crianças de origem nipônica.
Em Fernandópolis, criou a escola de língua japonesa para sanseis e nisseis, resguardando
a cultura nipônica cujo primeiro professor foi o Sr. Osaka. Funcionava junto à Associação Cultural e
Esportiva de Fernandópolis (Kaikan), tendo como primeira diretora a Dra. Noêmia Ogata Sano. Foi
Kuroda, também, diretor regional da alta mogiana e alta araraquarense (1969-1971) do Bunkyo, onde
exerceu o cargo de diretor assistencial.
Em 1968, recebeu da Câmara Municipal o titulo de Cidadão Honorário de Fernandópolis
pela sua dedicação e espírito de fraternidade, traçando uma linha de união entre as colônias nipo-
brasileiras, numa orientação sábia e admirável. “Pobre, sem qualquer pretensão, dentro daquela
humildade que sempre o destacou no seio de nossa gente”, assim reportou o jornal O Imparcial em
sua edição de 30 de março de 1968. A sessão solene contou com a presença do então deputado Dr.
Roberto Rolemberg, amigo do homenageado.
Ainda em 1968, por ocasião da visita a Fernandópolis do Governador da Província de Iwate
(Japão), Sr. Todashi Chida, acompanhado do secretário de agricultura, Sr. Juichi Sato, e do subchefe
de reportagens da rádio Iwate, Dr. Seishi Kuno, a convite do presidente Mataso Kuroda, via Tonami
Sugahara, que visitava o Japão, houve importante recepção, primeiramente no gabinete do prefeito
municipal Percy Waldir Semeghini. O governador japonês recebeu uma medalha de ouro com o
brasão da nossa cidade, única do interior paulista a receber tão ilustre visita, e o titulo de Cidadão
526

Fernandopolense. Acompanhado de autoridades, no local destinado ao campo de basebol da colônia


japonesa, o governador Tadashi Chida lançou a pedra fundamental do hoje clube de campo da
Associação Cultural e Esportiva de Fernandópolis (ACEF). Foi tradutor nas solenidades Dr. Masato
Ninomiya, hoje professor da USP, e que, àquela época, contava 17 anos e era acadêmico de direito.
Mataso Kuroda era reconhecido no Japão como cidadão muito importante, merecedor de
grandes honrarias, como o título de Comendador, no ano de 1973, com o qual apenas outras cinco
pessoas no Brasil tinham sido agraciadas pelo governo japonês, pelos serviços prestados à colônia
nipônica do Brasil.
Justamente no dia de sua morte em 26 de janeiro de 1975, por coincidência, o governo
japonês assinava a concessão de uma das mais altas condecorações a Mataso Kuroda, a do
“Tesouro Sagrado” em quinto grau, só entregue a presidentes de países, ministros de estado,
senadores, prefeitos ou pessoas que, como Kuroda, eram devotas, abnegadas, cidadãos exemplares.
A referida honraria foi entregue pelo Cônsul Geral do Japão, Massao Ito, à família no dia 21 de março
daquele ano, no salão nobre do consulado japonês na capital bandeirante, com as presenças de
Wandalice Franco Renesto – representando o Sr Prefeito de Fernandópolis, Antenor Ferrari –, Dr.
Sakae Yoshida, representante da Câmara Municipal, e Teichiro Sugahara pela ACEF. Também
206
recebeu a comenda José Bonifácio do Brasil, de grande significado (FERNANDÓPOLIS, 1975 ).
Pelo relato e indicação da comissão do segundo livro “Fernandópolis - nossa terra, nossa
gente”, fica nossa homenagem a Mataso Kuroda, imigrante japonês que passou por tantas cidades e
fixou residência em Fernandópolis, sempre servindo aos patrícios, orientando-lhes que, ”do oriente ou
do ocidente, os homens devem ser irmãos, agir com fraternidade, respeitar a Deus e as leis do país
onde residem”.
A comunidade japonesa do Brasil só se engrandeceu com a vida e o trabalho de Mataso
Kuroda.

Colaboração
Wandalice Franco Renesto
Professora aposentada

206
FERNANDÓPOLIS Jornal. Edição de 20 de julho de 1975.
527

MERCIOL VISCARDI

Merciol Viscardi, mais conhecido como “Lolão”, que empresta seu nome ao “Centro Cultural
e Teatro” de nossa cidade, nasceu em Fernandópolis em 8 de julho de 1953. Filho caçula do casal
Dionízio Viscardi e Natividade Canhada Viscardi, de tradicional família fernandopolense, Merciol
sempre foi o “xodó” dos irmãos Euvidio Viscardi, Paulo Viscardi Neto e Alexandrina Viscardi da Silva.
Do convívio com a assistente social Lucinéia Oliveira Figueiredo, nasceu a filha Júlia Figueiredo
Viscardi, em 26 de julho de 1989.
Jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo no ano de
1980, Merciol iniciou seus estudos no Grupo Escolar Afonso Cáfaro de Fernandópolis em 1960,
concluindo a 8ª série do curso ginasial no Instituto de Educação Estadual em 1968 e o curso colegial
em 1971, no Colégio e Escola Normal São José, em Ribeirão Preto (SP).
Cronista, poeta e filósofo por excelência, Lolão foi um investigador nato do comportamento
humano e suas nuances, visto, sempre, pelo foco do Racionalismo Cristão, doutrina espiritualista
praticada há muitas décadas por sua família. Paralelo ao desenvolvimento dessa vertente, Merciol
Viscardi embrenhou-se também pelo caminho do conhecimento “prático”, atitude refletida nas
inúmeras participações em cursos, concursos, seminários, congressos, programas
socioeducacionais, dos quais se destacam: Curso de Direito (1975-1977), na Universidade de São
Paulo; “II Seminário de Marketing – A Conquista do Mercado”, na Fundação Getúlio Vargas (1975);
Curso de Qualificação Profissional de Letrista e Curso de Suprimento de Técnicas de Composição de
Cartazes/ Serigrafia/ Suprimento da Arte Final e Lay Out – SENAC (1976); Participação na VIII
Semana de Estudo de Jornalismo – USP/ECA (1979); participação, como estudante, do Projeto
Rondon, em 1975 em Marabá (PA) e, no ano de 1978, em Livramento de Nossa Senhora (BA).
Ligado a vários movimentos culturais, em que disseminava e debatia a “interiorização da
cultura e apoio aos valores locais e regionais”, Merciol participou de diversos concursos em âmbito
nacional, entre os quais se destacam: II Concurso Freitas Bastos de Poesia (1986), II Concurso de
Contos e Poesia de Itanhaém (1986), I Concurso Nacional de Poesia de Campos do Jordão (1986),
IV Concurso de Poesia de São Luiz de Paraitinga (1984), 1º Concurso de Contos e Poesia de
Votuporanga (1984), 1º Concurso Paulista de Textos Populares (1986 e 1987), entre outros.
Segundo o jornalista Vic Renesto, amigo pessoal de Lolão e co-autor de suas investidas
culturais, “a grande fase da vida de Merciol Viscardi se situa entre 1973 e 1976, quando participou da
diretoria da Associação Fernandópolis Acadêmica (AFA), entidade que realizava a Semana
Universitária de Fernandópolis. Fundada por abnegados universitários, entre eles Luiz Alberto
Scalloppe, Darci Araújo, Luis Carlos Martins, Milton Zambon, a AFA realizava, no mês de julho, uma
série de shows, palestras, apresentações teatrais e musicais, além de seminários que marcaram
época. A entidade trouxe gente do calibre de João Bosco, Plínio Marcos, Grupo Tarancón, Tom Zé,
528

Conjunto Atlântico, Teatro de Cordel de Vic Militello. Na época, Lolão era o Diretor de Divulgação da
AFA. Na verdade era “pau pra toda obra”.
Importunava o Prefeito Antenor Ferrari. Morando São Paulo, quando o Prefeito chegava à
cidade, dele exigia que o acompanhasse à Secretaria de Cultura do Estado, para reivindicar verbas
para a Semana Universitária.
Foi também um grande incentivador das artes locais e regionais. Organizou várias mostras
dos pintores Bira Torricelli e Tito Montenegro e dos escultores João Lima, Onivaldo e Pedro Loverde,
além de divulgar os lançamentos de livros de Wilson Granella, Bento Celso da Rocha e outros.
Nos corredores da USP, nas antessalas dos consulados, nos gabinetes (com o Deputado
Carolo), nas secretarias, Lolão garimpava cultura para enriquecer Fernandópolis. Tinha, na AFA, a
ponte para essa transferência, ou mais, para a interferência de cultura para nossa gente. E muita
gente entendeu, e se rendeu, e mudou seu comportamento. O sonho das artes na rua, da biblioteca
popular, da população vendo, vendo-se, comovendo-se, movimentando-se, exalava pelos poros de
Lolão.
Em seu livro “Coletânea de Artigos”, publicado em 1985, pelo Mirante Arte Editorial, Merciol
Viscardi prega a necessidade, na época, de

uma transformação (ou revolução) da pequena burguesia, com a consequente


interiorização, descentralização, democratização de capital, desenvolvimento do
ensino, maior autonomia aos municípios e, acima de tudo, uma necessária e ampla
modernização do pensamento político das pessoas. A solução para os grandes
problemas do país, está no interior: na ocupação dos grandes espaços vazios, no
remanejamento de verbas e mão de obra, em especial na e para a agricultura e
agro-indústria.

Concomitantemente às suas atividades socioculturais, Merciol iniciou sua carreira


profissional em 1977, como colaborador do Jornal de Bela Vista, em São Paulo. De 1978 a 1979,
trabalhou no Programa de Informação em Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciências e
Tecnologia de São Paulo e, em 1980, no Serviço Social da Indústria. Em 1981, esteve em Paranaíba
(MS), onde trabalhou como editor do jornal Correio do Bolsão e, em 1983, foi Assessor Parlamentar
na Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul, servindo no gabinete do Deputado Daladier Agi.
Escreveu, ainda, para diversos jornais de Fernandópolis e região, além dos jornais “A Razão” do Rio
de Janeiro e “O Patologista”, de São José do Rio Preto (SP). Na década de 90, retornou a São Paulo,
onde chegou a disputar uma eleição para vereador pelo Partido Humanista (PH).
Em 14 de abril de 1997, Lolão decidiu sua sentença. Era dono de sua própria cabeça. Para
ele, a vida era o saber, mas o saber pensado e vivido, aplicado e repartido. Sobre o fato, disse Vic
Renesto: “sua morte, aos 43 anos, chocou seus contemporâneos, especialmente pelo ato em si – o
suicídio – já que Merciol ‘Lolão’ Viscardi sempre foi a antítese de qualquer manifestação de violência”.
Disse Merciol Viscardi: “Só quem luta por uma causa nobre e digna sabe o quanto difícil é
realizá-la”.

Colaboração
Loja Maçônica Benjamim Reis (entidade responsável):
Alexandrina Viscardi da Silva
Elaine de Araújo Silva
José Antonio Alves da Silva (Zecão)
Vic Renesto (Jornal O Cidadão)
529

NEWTON CAMARGO DE FREITAS

Newton Camargo Freitas nasceu em 05 de novembro de 1927, na cidade de São Carlos, no


Estado de São Paulo. Filho de Ernesto Camargo Freitas e Maria Name Camargo Freitas, viveu parte
de sua infância e juventude nas cidades paulistas de Jaú e Dourado, vindo a residir em São José do
Rio Preto, onde se formou contador pela escola Dom Pedro, nessa cidade. Depois de formado, foi
gerente geral da fábrica da Coca-Cola de São José do Rio Preto em meados dos anos 40. Conheceu
sua futura esposa, Gladys Salomão, em São José do Rio Preto, mas se casaram em Taquaritinga,
cidade natal de Gladys, no dia 16 de dezembro de 1951. Dessa união nasceram quatro filhos
(Newton Camargo Freitas Junior, Luis Fernando Camargo Freitas, Júlio César Camargo Freitas e
Ernesto Camargo Freitas Neto) e oito netos.
Posteriormente, passou a trabalhar como inspetor de seguro, na seguradora Porto Seguro.
Conheceu nossa região quando foi designado para fazer a inspeção no conhecido incêndio
da Casas Seixas. Instalou-se definitivamente em Fernandópolis em 1954, quando adquiriu a Máquina
de Benefício de Café São Judas Tadeu, no bairro da Brasilândia. Em 1966, foi presidente do
Fernandópolis Futebol Clube. De 1967 a 1968, foi presidente da Associação Comercial e Industrial de
Fernandópolis (ACIF. Em 1968 adquiriu uma fazenda no município de Macedônia. Foi diretor da
Cooperativa de Cafeicultores de Fernandópolis e candidato a prefeito em 1972, porém não foi eleito.
Newton Camargo viria ainda a disputar novas eleições, quando, pela primeira vez, foi eleito para o
quadriênio 1982-1986.
Teve também fazenda em Minas Gerais, no município de Limeira d’Oeste e em Goiás, no
Município de Jataí.
Candidatou-se novamente a prefeito em 1982, sendo então eleito e ficando no cargo até
1988, período em que executou obras de grande importância para Fernandópolis como a construção
do terminal rodoviário, do fórum e da câmara municipal. Deu continuidade à construção da Fundação
Educacional de Fernandópolis, até o reconhecimento do curso de Enfermagem e Obstetrícia.
Construiu a Avenida Raul Gonçalves, a Escola CAIC e vários postos médicos e odontológicos. A
cozinha piloto também foi inaugurada em sua gestão e instalou a indústria de leite novamente na
Brasilândia, além de mais de inúmeras outras obras e conquistas.
Foi prefeito pelo segundo mandato de 2001 a 2004, quando doou o terreno e ajudou na
construção da AVCC. Todavia não cumpriu todo seu mandato, pois faleceu no dia 29 de março de
2002.

Colaboração
Helena Maria Bernardinelli Camargo de Freitas
530

PADRE DAMIÃO VAN DER ZANDEN

O carisma de uma pessoa escolhida e enviada por Deus para fazer o bem deixa marcas
profundas na vida das pessoas que tiveram a alegria de com ela conviver.
Padre Damião Van Der Zanden era essa pessoa: carismático, bondoso, digno. Holandês,
nasceu em 1930 e chegou ao Brasil como padre em 1957.
Fez um belíssimo trabalho na cidade de Espírito Santo do Pinhal, onde era conhecido como
o Padre do Seminário. Do ex-seminarista Roberto Sarteschi, foi colhido o seguinte depoimento:

com um imenso coração de muita paz com os seus seminaristas, para os quais
ajeitou madrinhas pinhalenses, senhoras que se dispuseram a lavar e passar a
roupa de todos os alunos. Toda semana, ao lavar e buscar as roupas sempre com
um sorriso, havia um cafezinho ou um “a bênção, padre”.

Quando visitava as fazendas e sítios da zona rural, era na maioria das vezes para pedir
alimentos, a fim de sustentar e equilibrar os escassos estoques de comida necessária para alimentar
40 meninos ou mais. Sarteschi continua:

Tenho certeza de que ficou muitas vezes sem comer, para dar o que comer para
seus alunos.
Sempre fazíamos passeios a pé, com ele à frente, rezando, brincando, mostrando a
natureza, cantando. Toda quinta-feira à tarde, caminhávamos 8 km para nadar na
piscina da fazenda do Sr. Jaime Leme. Nessas caminhadas, além de nos ensinar a
rezar e nadar, nos ensinava a viver com alegria, ainda que, muitas vezes, na nossa
idade não entendíamos essas maravilhas.

Contudo, não deixamos de colaborar com sua alegria e seu apostolado: quantas vezes,
mesmo de batina preta com seu cinto de couro, documentos etc., o querido padre foi atirado na
piscina, fazendo a alegria de toda a molecada. “Isso só é comum entre filho e pai”, ainda relembra
Sarteschi.
Hoje se sabe o quanto ele foi pai, um pai de verdade, um pai de amor, de disciplina, de
exemplo, de caráter e de responsabilidade. Os alunos que vieram de São Paulo (Capital), como
Roberto Sarteschi, foram conquistados por esse exemplo e por sua bondade. O ex-seminarista
depõe:

Viemos para o seminário porque queríamos ser iguais a ele. Aqueles que vieram do
Interior, principalmente da região de Jales, chegaram em um Jeep Willys de capota,
lotado de malas e muita poeira. Foram sete alunos entregues pelos seus pais a um
padre que lhes transmitia amor e confiança de que seus filhos seriam, no futuro,
homens de coragem e de caráter iguais a ele.
531

Quanta alegria, quantos ensinamentos, quanto canto gregoriano, quantas cantigas


internacionais e versos e cantos de um português caipira, até uma opereta que encerrava as
apresentações feitas no clube Comercial, no Lar da Terceira Idade, em Águas de Prata, na Holambra.
Segundo outro depoimento, do também ex-seminarista e agora professor Amadeu Jesus
Pessotta, de Fernandópolis, “Padre Damião, quando cantava, tinha a voz canora de um rouxinol. Era
suave, terna, tremulante. Ecoava, espalhava-se adoçando o espaço”. Padre Damião também criou
(música e letra), junto com Padre Teodoro, uma canção singela chamada “Trenzinho de Pinhal”, que
os seminaristas sempre cantavam.
Para Amadeu Pessotta, o Padre Damião foi uma luz em sua vida:

Em 1962, apareceu, em Fernandópolis, um Padre chamado Damião. Trazia por


missão divulgar a Fé, mas também as ações dos padres assuncionistas no Brasil,
especialmente o trabalho que realizavam em Pinhal. Pregava maravilhas do
seminário: lazer, estudo (muito estudo!), oração e ensinamentos religiosos para a
formação de padres e, principalmente, cidadãos íntegros. Não vacilei: arrumei
minhas malas, com os poucos apetrechos de que eu pude dispor, e lá estava eu, em
janeiro de 1963, com onze anos, como seminarista.

No ano de 1964, Padre Damião chega a Fernandópolis e, aqui, foi especialmente


encarregado do trabalho com a juventude. Não vacilou. Montou uma Escola Vocacional e se tornou
seu diretor.
O espaço utilizado situava-se onde hoje está instalada a “Charitas Paroquial” atrás da Igreja
Matriz, ao lado do Correio.
Contando com o trabalho da Professora Neusa Maria de Carvalho, preparavam 30 meninos
das últimas classes da Escola Fundamental para o ensino ginasial e dava-lhes, ao mesmo tempo, a
orientação vocacional.
Todos os dias das 14h00 às 17h00 havia os encontros nesse salão paroquial, com
orientação de estudos, recreio, aulas de reforço e oração comunitária.
Havia, também, alguns momentos abertos à comunidade para lazer, futebol, pingue-
pongue, festas juninas, teatros. Os meninos não precisavam ter a vontade de ser padre, embora os
padres alimentassem esperanças de que, dali, sairiam vocações. Desse tempo de Escola Vocacional,
temos o Padre Paulo Fileto e o Padre Donizete.
Padre Damião foi também um grande incentivador dos catequistas. Formava na fé e
chegava até “diplomar” catequistas, preparando-os para atuar com as crianças e adolescentes.
Padre Damião contava também com a força e o trabalho das Irmãzinhas da Assunção.
Formou uma equipe de “Coroinhas” para ajudar nas missas. Orientava-os, explicando todo
o significado da liturgia e dos símbolos utilizados nas celebrações. Ensinava-os a cantar,
acompanhando-os com o órgão e a responder algumas partes da missa em latim. Os coroinhas
usavam uma vestimenta branca com uma grande gola vermelha e repetiam sempre o refrão: “Jesus
precisa de pessoas para sua Seara”.
Nas suas palestras, fazia orientação sobre “Controle da Natalidade” e dava como exemplo
sua própria mãe que, quando dele engravidou, e já era mãe de muitos filhos, ficou doente e foi
aconselhada a abortar, mas ela não aceitou tal conselho. Não morreu, e deu à luz o Padre Damião.
Ele visitava sempre as famílias e levava-lhes conforto, principalmente para os doentes.
Levava-lhe a “extrema-unção” (hoje, unção dos enfermos) para as pessoas à beira da morte e
sempre voltava aos lares para confortar os familiares. Quantos nonos e nonas receberam de suas
mãos a bênção final de suas vidas!
Permaneceu aqui até o ano de 1974, quando partiu para Mogi-Guaçu, deixando-nos com
muitas lágrimas e saudade.
Trabalhou em Mogi-Guaçu de 1975 a 1981, quando novamente volta para Fernandópolis e
aqui permaneceu como vigário. Um cronograma de seu trabalho denso pode ser assim posto:
 De 1984 a 1989, atua na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em São João da Boa Vista
(SP);
 De 1989 a 1994, vigário na Paróquia Nossa Senhora Bom Pastor em São
Paulo (SP);
 De 1995 a 2000, trabalhou no Seminário de Espírito Santo do Pinhal (SP);
532

 De início de 2000 ao final do mesmo ano, na Paróquia São Sebastião da Mota, em


Eugenópolis - SP);
 De 2002 a 2006 – torna-se Superior da Comunidade de Pinhal.
Foi assim que, com seu sotaque holandês e muita alegria, passou a conquistar tantos
corações de paroquianos.
Como religioso, sempre honrou de corpo e alma os seus votos de pobreza, obediência e
castidade, seguindo fielmente o lema assuncionista Adveniat Regnun Tuum (A.R.T.), ou seja, “Venha
a nós o vosso reino”. Em depoimento, Amadeu Pessotta se emociona:

Padre Damião era calmo, sempre sorridente, parecia não se esgotar em sua alegria
pela vida. Bondoso ao extremo, um pai que externava confiança, humildade e
fortaleza. Procurava ensinar, nunca reprimir: nunca o vi zangado e, mesmo quando
nos chamava às falas por alguma peraltice que fazíamos (e, confesso, eu era um
capetinha em forma de gente), fazia-o com amor. O seminário nos ensinou a rezar, a
estudar, a dar valor ao trabalho, a respeitar os semelhantes, a amar a família; mas
nos ensinou, principalmente, a sermos bons, obedientes, castos ao olhar o mundo
com compreensão, com humildade e certa candura. O Padre Damião foi a real
encarnação de tudo isso. Tenho muita saudade dele.

No dia 16 de fevereiro de 2007, Deus o convocou para fazer parte da milícia celestial dos
anjos do Senhor. Faleceu no Brasil, onde ele realizou sua mais digna obra, longe de sua terra natal, e
encontra-se enterrado no Cemitério de Pinhal, em terreno pertencente ao que fora o Seminário
Assuncionista de Pinhal.
Seu corpo aqui ficou plantado, pois foi no Brasil que ele semeou o Evangelho.
Que legado e que bem esse sacerdote nos deixou! Fernandópolis não haverá de esquecer
esse ilustre cidadão que deu sua vida para o bem, sem querer nada em troca.
Seu sorriso, sua alegria, seu abraço, seu ombro amigo, sua paciência, sua palavra ficarão
para sempre em nossos corações.

REFERÊNCIAS

DEPOIMENTOS: Amadeu Jesus Pessotta e Roberto Sarteschi (ex-seminaristas) e paroquianos.

REVISTA Jubileu de Ouro. Assuncionistas. Espírito Santo do Pinhal, fev. 2007.

SCHEFFERS, Kees. Os assuncionistas no Brasil / 1935 – 2000. Trad. Emanuel Van Der Stappen e
Esther Blanke Arantes. Graf Eindhoven Adolfstraat 29, 2007.

Colaboração
Maria José Pessuto Cândido
533

PADRE HUGO VAN TUIYL

Padre Hugo nasceu na Holanda.


Formou-se padre pela Ordem dos Assuncionistas e veio para o Brasil no ano de 1953, ano
que chegou a Fernandópolis.
Aqui chegando, pouco sabia falar Português e foi com a Profª Wandalice Franco Renesto
que aprendeu a se comunicar e conhecer a nossa língua.
Aulas de direção de automóvel, ele tomava com o Sr. Bernardo Pessuto, que ensinou
também todos os outros padres holandeses a dirigirem.
Andava sempre de batina branca, e tinha especial predileção pelas crianças, as quais
evangelizava através da música. Era músico exímio e tocava vários instrumentos de corda, acordeão,
órgão, piano.
Participava das festas juninas, batizados, aniversários e casamentos em Fernandópolis e
região, celebrando e alegrando os convidados com o som de sua sanfona, com sotaque holandês e
português estropiado. Tocava musica raiz, sertaneja mesmo. Era popular e amava o povo brasileiro,
em especial, o caipira.
“Além das qualidades musicais, também gostava de teatro e, junto com a professora ‘Bitu’
da Escola JAP (Joaquim Antônio Pereira), ensaiava as crianças para as apresentações que sempre
aconteciam no clube da cidade (onde hoje está localizada a Loja Gigantão)”, conta-nos Mazi (Profª
Maria José Brandini Dutra), que teve seus dotes teatrais despertados por ele. Mazi andava
quilômetros a pé, pois morava em um sítio, para vir até a cidade ensaiar com Padre Hugo. Lembra
ainda da alegria dele quando brincava com as crianças correndo atrás de túnica preta; Padre Hugo
tirava sua cinta para fingir que batia nas crianças.
A Radiolar (loja de discos no centro da cidade) tinha um piano que ficava à disposição dos
clientes; Padre Hugo era um dos que sempre frequentava a loja para tocar, e o povo ficava em frente
ouvindo os acordes de suas melodias.
Padre Jarbas Brandini lembra-se dele com carinho, pois, quando era seminarista em São
José do Rio Preto, o ensinou a tocar órgão à moda holandesa (KLAVASKIBO). Aprendeu com ele, na
década de 50, lindos cantos gregorianos.
534

A Profª Maria Manela, que teve oportunidade de conviver mais tempo com Padre Hugo,
relata: “quando pensamos no Padre Hugo, o vemos entre as crianças, pois seu carinho era grande
por elas. Estava sempre rodeado por elas, como a repetir o evangelho que diz ‘Deixa vir a mim as
criancinhas, pois delas é o reino dos céus’”.
Lançou um horário de “missa das crianças”, rezada em latim e traduzida pela Professora M.
Manela. Os bancos eram reservados a elas, que entravam em filas na igreja para aí se assentarem.
Entravam cantando hinos, que eram muito bem ensaiados. Resgata a lembrança um canto que dizia
“Dei o meu coraçãozinho a Jesus, meu Salvador, ficará assim guardadinho, guardadinho e com meu
Senhor, ficará com meu Senhor”.
As crianças eram bem preparadas por ele e pelos catequistas para a Primeira Eucaristia;
após essa fase, iam para a “Cruzadinha”, em que vestiam uniforme e participavam de ações da
comunidade.
Trazia sempre no bolso vários santinhos e, ao tomar sua benção, as crianças beijavam a
mão do Padre Hugo, que logo se abria para distribuir santinhos.
Sebastiana, outra paroquiana, lembra:

Quando fiquei viúva, com dificuldades para controlar a disciplina dos meus sete
filhos, fui à igreja me aconselhar com Padre Hugo, que me disse:
― Se eles fossem doentes e não pudessem brincar e gritar, você gostaria? Deixe
então, que eles baguncem e faça você também parte das brincadeiras deles. A sua
casa não é enfeite.

Ela entendeu e passou a agir assim; foi quando tudo melhorou. Simples e sábio conselho
para os nossos dias!
Dava muito valor à catequese infantil e sabia atrair a meninada com saudáveis piqueniques
(na Cachoeirinha do Neca Verde e Rio Santa Rita no Cavalim), onde fazia entregas e sorteios de
pequenos mimos que trazia de sua terra Natal, quando lá visitava seus familiares “para matar a
saudade”. Muitas famílias de Fernandópolis ainda conservam, entre seus pertences de valor
estimativo, os pequenos tamanquinhos que de lá trazia.
Construiu um verdadeiro complexo ao lado da Capelinha de Nossa Senhora Aparecida,
onde havia um campinho de futebol e hoje é o Centro Pastoral.
A obra era toda cercada por um alambrado de tela, dentro da qual havia uma casa de
caseiro (onde inicialmente morou Salia, viúva, com suas filhas Marta e Terezinha e, posteriormente,
morou a família de Armando Farinazzo), salas para catequese, salas de jogos juvenis, parque infantil.
Por algum tempo, emprestou uma sala para a Professora Wandalice Franco Renesto, pois o JAP, sua
escola de origem, estava em reforma.
Reforçando sua amizade com Wandalice, Padre Hugo conta-lhe a intenção de compor um
hino a Fernandópolis, pois gostaria de ensinar a seus catequizandos civismo e amor à cidade. Em
1954, Professora Wandalice foi solicitada por ele a fazer parceria neste Projeto Musical, o qual
desenvolveram com muita sabedoria. A Professora Wandalice compôs a letra, e Padre Hugo compôs
a música.
Assim os alunos catequizandos passaram a cantar com o Padre Hugo, tocando no órgão
este belíssimo hino que hoje, patrioticamente, entoamos nos eventos cívicos e em todas as escolas.
Em final de 1959, Padre Hugo despede-se de Fernandópolis, deixando marcas de um
evangelizador dinâmico, culto, alegre, carismático.
Em 1960, chega a Governador Valadares (MG) e, seguindo os princípios de sua
congregação que pregava a solidariedade com os simples, os humildes, com os nichos da
criminalidade, na periferia ou no campo e acompanhado pelo Padre Lamberto (o padre que projetou a
Igreja Matriz Santa Rita de Cássia), em seis meses construiu a “Cidade dos Meninos”, uma escola
que acolhia meninos que tinham passagem pela polícia, pequenos infratores. Aí construiu uma
carpintaria onde se faziam brinquedos cuja venda ajudava na manutenção, com apoio do Lyons Club.
De volta a São Paulo (capital), Padre Hugo trabalhou durante algum tempo na Organização
de Auxílio Fraterno (OAF). Junto com freiras e outros padres formavam um grupo que passava de
noite, entre 22h30min e 2h00, pelas ruas da cidade, buscando localizar e ajudar os “sem-teto”.
535

Permaneceu no Brasil de 1953 a 1970, quando voltou para Holanda e lá foi Capelão do
Exército Francês, onde era sumamente valorizado e respeitado.
Sempre acolheu, com grande carinho, seus colegas padres holandeses do Brasil, quando
em visita à Terra Natal. Morreu e foi enterrado na Holanda

Colaboração
Maria José Pessuto Cândido

Depoimentos de paroquianos: Maria José Brandini Dutra (Mazzi), Sebastiana de Oliveira e Wandalice
Franco Renesto

Os Assuncionistas. Revista Jubileu de Ouro Espírito Santo do Pinhal, fev. 2007.

SCHEFFERS, Kess. Os Assuncionistas no Brasil 1935-2007. Tradução Emanuel Van Der Stappen
e Esther Blanke Arantes. Graf Eindhoven Adolfstraat 29, 2007.
536

PAULO FANTINI

Paulo Fantini, filho de Angelo Fantini e Leopoldina Veragini, nasceu na zona rural da cidade
de Cedral (SP) no dia 25 de agosto de 1939. Menino pobre, filho de imigrantes Italianos, ainda
criança iniciou suas atividades nas lavouras de café, onde moravam em uma das muitas colônias
espalhadas pelo interior paulista. Consta que andava cerca de sete quilômetros a pé para estudar em
uma escola da zona rural, onde cursou até o 4º ano. Ainda menino, dizia aos pais que iria embora da
vida na roça e um dia teria um avião, encantado ficava quando via o céu ser cortado por um
aeroplano.
Então adolescente, convenceu os pais e os irmãos (3 mulheres e 2 homens) a se mudarem
para Fernandópolis, que vivia em franca ascensão. Aqui chegando, iniciou seus trabalhos no extinto
“Posto de Gasolina do Roquete”.
Dedicado em seus propósitos, gostava de ler e estudar, sendo aprovado em concurso para
o Banco do Brasil e Escrivão de Polícia no final da década de 50. Impulsionado pelo desejo de ser
policial e ter melhor remuneração, fez a escolha na época. Iniciando os trabalhos no dia 25 de maio
de 1960 na Cadeia Pública da Cidade de Indiaporã como Escrivão de Polícia, era subordinado ao Dr.
Américo Vasconcelos, Delegado de Polícia de Fernandópolis.
Em 15 de dezembro de 1963, casou-se com Tereza Judith Segatto Fantini no, e tiveram os
filhos Paulo e Sandra.
Além de funcionário público, nas horas de folga vendia adubo e plantava lavoura como
“meeiro”; ainda nessa década, iniciou uma sociedade adquirindo uma Agência Funerária com o
Escriturário e hoje Advogado José Pontes.
No final da década de 60, junto com o parceiro e amigo Valdemar Sanches Peres, Escrivão
de Polícia em Guarani d´Oeste, veio trabalhar na Delegacia de Polícia de Fernandópolis,
comandados pelo Delegado Dr. Nelson Vani e, posteriormente, pelo Dr. Divino Domiciano da Silva.
Consta que, além de escrivães, faziam as vezes da polícia técnica, indo aos locais mais diversos
(cidades, zona rural e rodovias), assessorados pelos colaboradores desenhista (ad hoc) Sr. Neves e
fotógrafo (ad hoc) Sr. Lourival Marcondes, independentemente de hora e tempo.
Na década de 70, nasceu o filho Cleber, e, prosperando nas atividades comerciais da
Indústria de Urnas e Cadeiras, Agência Funerária e fazenda em Goiás, não encontrou outra
alternativa a não ser deixar a carreira de Policial Civil que tanto almejara.
537

Ainda no começo da década de 70, ingressou como aluno no Aeroclube de Fernandópolis,


na função de Secretário; brevetou em dia 15 de dezembro de 1972, quando adquirira seu primeiro
avião, um modelo Cessna 140.
Entusiasta e amante da aviação, tinha o Aeroclube de Fernandópolis como uma das
grandes paixões, assumindo o cargo de presidente por quatro mandatos e brevetando mais de 50
pilotos, dos quais muitos seguiram a carreira de aeronauta. Aguerrido pela causa, buscou associados
e conseguiu a aquisição de nove aeronaves para instrução e formação, além de viagens e voos
panorâmicos. Com sua equipe, organizou um verdadeiro clube aéreo reconhecido no interior paulista.
Eram comuns promoções e eventos, e mantinha estreito relacionamento com o Coronel Braga, da
Esquadrilha da Fumaça, sendo frequente ocorrerem shows aéreos nos sábados à tarde ou domingos
de manhã. Ainda na aviação, teve como grande parceiro o Comandante Eduardo Borges, instrutor e
amigo, além de afetuosa amizade com Sr. José Neris (“seu Zé”), Miguel Alves Souza, Brás Peruchi
dentre outros.
Apaixonado pelo futebol amador, acabou por se render e aceitar o convite para a diretoria
feito pelo amigo Sr. Fernando Sixto, o Presidente Campeão do Fernandópolis Futebol Clube, o
Fefecê. Posteriormente, acabou por presidir o Fefecê durante a administração do Prefeito Newton
Camargo de Freitas, criando a “cadeira cativa” numerada.
Gozava de boa amizade com os médicos Osmar de Almeida Luz, Orleans Ramos, Paulo
Conrado, Wanderlei Magalhães, dentre outros, e acabou sendo empossado no cargo de Provedor da
Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis por dois mandatos (1982-1985). Consta que como
Provedor lutou pela reformulação e estruturação do ambulatório da Ortopedia, cozinha industrial,
enfermarias e ala administrativa; acreditava que o funcionário (colaborador) bem remunerado
desempenhava melhor suas funções, majorando o “maior salário mínimo” da cidade, além gratificar
com bônus em dinheiro os funcionários exemplares.
Paulo Fantini faleceu no dia 22 de março de 1999, após procedimento para
revascularização cardíaca no Hospital Beneficência Portuguesa em São José do Rio Preto (SP).
Dentre os reconhecimentos, o jornal Na Hora, em edição de 27 de maio de 1984,
reconhece: “Administrador do ano: Paulo Fantini – A sua reeleição para a Provedoria da Santa Casa,
e por unanimidade, registra uma acontecimento notável na Administração [...] Ampliando o patrimônio
da Santa Casa, hoje uma questão de orgulho para os Fernandopolenses”. O mesmo jornal, na edição
de 25 de setembro de 1985, informa que “Paulo Fantini recebe o primeiro título honorífico: Na reunião
dos Homens de Imprensa, realizada no dia 21 de setembro, o cidadão Paulo Fantini recebeu por
unanimidade e votos dos presentes o Título de Sócio Honorário da Associação de Imprensa de
Fernandópolis”.
Recebeu a Medalha 22 de Maio durante o 2º mandato do Prefeito Milton Edgard Leão
(1989-1992).
Em 15 de abril de 2002, por autoria do Vereador Milton César Bortoleto, na administração
do Prefeito Adilsom Campos, a Lei n° 2.693 denomina o Saguão de Embarque “Paulo Fantini”, no
Aeroporto Municipal em homenagem póstuma.

Colaboração
Paulo Roberto Fantini (filho)
538

PEDRO BONASSI

Desbravador dos sertões paulistas em um período marcante da história do Brasil: início da


implantação da ordem do sistema republicano, durante o qual a principal fonte econômica vinha da
produção do café, que se expandia para o interior paulista. O governo estimulava a busca de mão de
obra em países europeus nos finais do século XIX e início do século XX. É exatamente nessa fase
que nasce Pedro Bonassi, no dia 28 de agosto de 1905.
Em depoimento dado por Pedro Bonassi Filho, o qual fez levantamentos sobre a origem de
seus pais e antepassados junto ao consulado italiano e ao Museu do Imigrante, este constata, por
meio de registros, que seu pai era filho de imigrante italiano, Sr. Giovane Baptista Bonazzi,
reconhecido nominalmente no Brasil como João Bonassi.
Originário da cidade de Mariloro na região de Mantov (Mântua), nordeste italiano, agricultor,
Giovane se depara com a propaganda promovida pelo governo brasileiro e vem para o país em 1893
com a esposa e mais dois filhos, um de 8 anos e outro de 10 anos, desembarcando no porto de
Santos. A esposa veio a falecer assim que chega ao país, devido às condições da viagem na época e
perde contato com os filhos, pois era comum na época ocorrer que imigrantes de uma mesma família
se deslocassem para frentes de trabalhos em regiões diferentes.
Viúvo, Bonassi conhece a brasileira Marina Pereira de Oliveira; casam-se em Santos e se
deslocam para a região de Jaú, para trabalhar nas culturas de café, onde vai constituir uma nova
família com 7 filhos, 4 mulheres e 3 homens, entre eles Pedro Bonassi.
Nascido no vilarejo de Bacaina, em Agosto de 1905, Pedro Bonassi, em sua juventude,
conhece e se enamora por Santa Polônio, com a qual vem a constituir família. Nesse município, teve
seus primeiros filhos, e o primogênito, José Bonassi, vem a falecer logo após o seu nascimento. Sua
esposa deu à luz, ainda nessa região, a mais dois filhos, Francisco Antônio Bonassi e João Baptista
Bonassi.
Como trabalhador agrícola e desbravador, em busca de melhores condições de vida e com
o incentivo do governo, Pedro Bonassi vê nova oportunidade na região de Novo Horizonte, mais
exatamente no distrito Novorizontino denominado de Vale Formoso, no qual aumenta sua família,
com o nascimento de Euclydes Bonassi, Aparecida Bonassi (sua única filha), Antônio Bonassi, Bráz
Bonassi, José Bonassi II e Davino Bonassi, sendo que estes dois últimos também vieram a falecer, o
primeiro logo após o nascimento e o segundo com dois anos.
Em 1944, muda-se para o município de Guaraçaí, em busca de um futuro melhor. Ali nasce
Pedro Bonassi Filho, onde permaneceram pouco tempo. Nosso biografado segue em busca de um
pedaço de chão neste imenso território, no qual poderia estabelecer-se e, enfim, sobreviver com
dignidade, promovendo o bem-estar de sua família.
Fica sabendo, por meio de divulgações, de uma empresa imobiliária que estimulava a
ocupação de uma região localizada no oeste da comarca de São José do Rio Preto, área pertencente
ao município de Tanabi, com o nome de Vila Pereira. A região estava em pleno desenvolvimento
devido à ampliação da criação de gado nos estados vizinhos de Mato Grosso e Minas Gerais. Para o
escoamento desses animais, é aberta uma estrada, ligando o interior de São Paulo a esses estados,
denominada Boiadeira, que cortava as proximidades de Vila Pereira. Assim, em busca de um novo
539

lugar para criar raízes e, finalmente, poder alcançar seus objetivos, muda-se com sua família para a
região no ano de 1946.
Inicialmente, vai morar em uma pequena residência e arrenda um estabelecimento
comercial (açougue) de um morador do local, o Sr. Garcia Rodrigues Filho, apelidado de Fiuca, no
Bairro Brasilândia. Este, por sua vez, segundo depoimentos de seu filho Adorocidio Rodrigues,
também tinha vindo como migrante, em 1943, do município de Poloni para o Bairro Brasilândia. Seu
pai adquire alguns imóveis e se estabelece como comerciante de um bar e uma pensão, onde abriga
professoras que trabalham em escolas rurais e do bairro. Entre os imóveis adquiridos, torna-se
também proprietário de um salão comercial, no qual Pedro Bonassi dá início à sua atividade
comercial. Fica ali pouco tempo (seis meses apenas). Com dificuldade em se manter estabelecido e
com uma família grande, surge a oportunidade de arrendar um pequeno filão de terras localizadas na
propriedade de Joaquim Antônio Pereira. Essas eram cultivadas por outro tradicional morador e
desbravador, o Sr. Pedro Catelani, que pretendia mudar-se para a Vila e trabalhar com o ramo de
carvoaria e madeira para a queima nos fogões a lenha, utilizados em grande escala por moradores,
na época.
Ao ocupar esse arrendamento, volta a dedicar-se ao cultivo da terra com o plantio de
culturas de arroz, milho, feijão e outros produtos agrícolas, pois, com o crescimento e aumento do
número de migrantes para a região, aumenta também a necessidade de abastecimento com
alimentos, para respaldar a produção cafeeira no noroeste paulista.
A facilidade em adquirir novas amizades faz com que seu círculo de relacionamento seja
ampliado e, como grande observador, logo compreende a possibilidade de voltar a atuar como
comerciante. A cidade está em pleno crescimento. Com sua emancipação, novas estruturas
começam a surgir: a estrada de ferro, tão reivindicada pela região, chega ao município, e até mesmo
seus filhos, Euclydes e Alcides, foram trabalhar na sua construção. Euclydes, um de seus filhos,
comenta que a abertura da estrada foi difícil, pois os aterros e a retirada de terra eram feitos com
ferramentarias simples como pás e picaretas, utilizando um grande contingente de trabalhadores.
Esses trabalhavam com um carrinho de tração animal, carregando e descarregando terras para abrir
os morros e fazer os aterros necessários, pois o terreno tinha que ficar nivelado para a construção da
estrada de ferro, que utilizou de uma área denominada espigão (terreno mais alto em relação ao seu
entorno) para a sua construção.
Com sua visão empreendedora, retorna à cidade e vai morar em uma chácara no entorno
da área urbana, então de propriedade da Sra. Maria Simão; ali monta seu comércio varejista de
carnes na antiga Av. Cinco, hoje Av. Paulo Saravalli, onde, juntamente com seus filhos, João Baptista
e Alcides, iniciam sua promissora carreira de comerciante.
Em pouco tempo, amplia sua atividade com a montagem de mais uma unidade comercial,
onde coloca seus filhos Euclydes e Antônio. Com o sucesso de suas atividades comerciais, adquire
uma área, no perímetro urbano, de aproximadamente 10 mil metros quadrados, onde constrói sua
moradia e uma estrutura de apoio à atividade comercial por ele desenvolvida. Essa propriedade foi
construída em 1950 e ainda é de sua única filha, residente em outro imóvel, também construído
nesse terreno para abrigar um de seus filhos, que estava para se casar com sua nora, Alcita. Esta,
em depoimento, comentou que, certo dia, estava observando a construção e foi surpreendida por seu
padrinho com o seguinte comentário "Oi, filha, está namorando a construção?". Nessa residência,
acrescentaram-se à sua família os dois últimos filhos, Osvaldo Bonassi e Paulo Francisco Bonassi,
este último portador da síndrome de Down.
Num período de poucos recursos médicos no município, o casal busca tratamento para o
filho em cidades com melhores estruturas médicas, tentando oferecer o melhor ao filho, pensando em
possibilitar-lhe a sua integração social, o que fizeram com grande sucesso.
Outro momento difícil em sua vida foi a perda do filho mais velho, Francisco Antônio, cabo
das Forças Aéreas Brasileiras, antiga FAB, em 1956. Por motivos até hoje não esclarecidos, entra em
depressão profunda e, apesar dos esforços do pai, buscando recursos médicos em especialistas na
cidade de Campinas, vem a falecer. Foi encontrado morto nas proximidades de um abatedouro no
estado do Rio Grande do Sul e identificado por documentos escritos de seu próprio punho.
Apesar desse período conturbado, com o sucesso de seus empreendimentos e com a
intenção de voltar à suas raízes, compra, em 1956, sua primeira propriedade no município, nas
proximidades da área urbana entre o município de Fernandópolis e seu distrito, na época,
540

denominado Pedranópolis. A propriedade era situada entre os córregos das Pedras e do Gatão, com
uma área de 15 alqueires, incorporando, posteriormente, a essa propriedade, outra área de 10
alqueires, vizinha à sua, pertencente ao Benedito Pradéla, e ainda outra área de 11 alqueires.
Então, resolve morar na propriedade para poder administrar melhor seu negócio. Nesse
mesmo período, amplia seus investimentos rurais, adquirindo outra propriedade. Esta, porém, fora do
estado de São Paulo, no estado de Goiás, no antigo município de Críchas, hoje denominado Mundo
Novo. Eram terras de excelente qualidade, nas quais inicia a criação de gado de corte.
Para poder cuidar melhor de seus negócios rurais, repassa a administração comercial dos
açougues para seus filhos, os quais, em pouco tempo, expandem suas possibilidades e passam a
administrar cada um o seu próprio comércio, com outros filhos também montando os seus. Durante
determinado período, a família gera certo domínio no ramo da comercialização de carnes no
município, chegando dois de seus filhos, em sociedade, a comprarem um frigorífico de embutidos,
denominando-o Frigorífico Bonassi. Este abastecia a região e as localidades próximas dos estados
vizinhos de Minas Gerais e Mato Grosso, nos finais da década de 1950 e meados da década de
1960.
Essa expansão comercial, devido à crise na economia do país no governo Castelo Branco e
à dificuldade na importação dos insumos e condimentos não produzidos no Brasil, necessários na
produção, torna-se insustentável. Chegam, também, a crise política e a implantação do Regime
militar na “Terra de Santa Cruz”. Essa situação força-os a vender o empreendimento para os Srs.
João Matiole e Claudio Rodante, para saldar seus compromissos. Nesse momento, o patriarca Pedro
Bonassi, homem de caráter firme, vem em auxílio de seus filhos e vende parte de seus bens em
nome da reputação formada pela família em sua história de vida no município.
Em meados da década de 1960, volta a sofrer outra grande perda: seu filho Braz descobre
que está acometido de um câncer no estômago. Pelo estado avançado da enfermidade, apesar do
tratamento, sobrevive apenas cerca de um ano, vindo a falecer em 18 de fevereiro de 1966.
Sempre firme em sua jornada, busca forças na família. O destino, porém, lhe vai trazer mais
sofrimento: três anos após a morte de seu filho Braz, falece sua esposa, Santa Polônio Bonassi, em
16 de abril de 1969, com apenas 62 anos de idade. Esta havia sentido muito a perda de seu filho
Braz, pois este, apesar de já ter constituído família (dois filhos e com a mulher grávida da terceira
filha) e de possuir uma popularidade muito grande junto à população, era muito presente em sua vida.
A partir desse momento, resolve mudar sua forma de viver. Aos poucos, passa o comando
de sua propriedade rural ao filho mais velho. Posteriormente, vai morar com o filho Antônio e sua
família, que o acolhem com carinho.
Pedro Bonassi se aposenta e, com a idade avançando, começa a apresentar
consequências de tanta luta em seus caminhos. O bravo cidadão fernandopolense vem a falecer em
27 de janeiro de 1986, com 81 anos bem vividos por este sertão.

Colaboração
Marcos Euclides Bonassi
541

QUERTON RIBAMAR PRADO DE SOUZA

Querton Ribamar Prado de Souza, filho do casal Adolfo Cândido de Souza e Arlinda Prado
de Souza, nasceu na cidade de Mirassol no dia 23 de julho de 1929. São seus irmãos: Terezinha
Fernandes, Imaculada Trevisan e Rosinha Costa.
O ensino fundamental Querton cursou em Mirassol e o ensino médio em Rio Preto e
Campinas. Sua transferência para o colégio Ateneu Paulista de Campinas deu-se pelo convite do
colégio que lhe proporcionaria, gratuitamente, os estudos investindo num jovem que já despontava no
basquete.
Serviu o Exército em Campo Grande (MS), onde também se destacou como jogador de
basquete. Ao término do serviço obrigatório em 1952, retorna à sua terra natal e prepara-se para sua
vida universitária. Opta pelo curso de odontologia e ingressa na Faculdade de Farmácia e
Odontologia de Ribeirão Preto (USP).
Ao término do curso, clinicou em Mirassol e Neves Paulista. Mesmo estudando e depois
clinicando, dedicava-se brilhantemente ao esporte e tinha enorme reconhecimento.
No ano de 1956, ainda em Mirassol, casa-se com Maria Aparecida Trevisan (Bila) e do feliz
enlace nascem os filhos: Maira, Querton, Eduardo (falecido) e Patrícia. Seus filhos lhe deram os
netos: Kaira, Noellen, Querton Neto, Jorge Henrique, Eduardo e Leonardo.
Em 1958, Fernandópolis teria a honra de receber um ilustre morador, já com fama
internacional e um profissional competente, que desempenhará suas funções, durante 25 anos, no
então grupo escolar Coronel Francisco Arnaldo da Silva. Presta serviços também nas escolas
Joaquim Antonio Pereira, Solon da Silva Varginha e nas cidades de Populina e Guarani d´Oeste.
A seu respeito, Wandalice Franco Renesto, então diretora da escola Coronel, e Dr. Scalope,
dentista seu contemporâneo aqui residente, assim se referem:

Quem conheceu o célebre moço desportista, campeão de basquete, que


orgulhosamente defendeu as cores nacionais pelo mundo, não tem idéia do “homem
coração” que foi o Dr. Querton Ribamar. Dentro de uma escola, ele era o “pai”
carinhoso que atendia os problemas de saúde de todos os alunos: Ora levando a
criança febril ao médico, ora acompanhado às disputas regionais ou nacionais.
Estava sempre alerta para colaborar na educação integral daquele alunado. Seu
carrinho (acho que nunca teve um carro zero km) era o transporte certo, na hora
certa! Por tudo que foi de bom cidadão, hoje lhe dizemos: Muito obrigado, Dr.
Querton! Que Deus o recompense.
Wandalice Franco Renesto
542

Fomos amigos por muitos anos, numa convivência repleta de respeito tanto na
nossa vida particular quanto, e principalmente, na vida profissional.
Lembro-me de uma passagem que muito me marcou, mostrando Querton como um
profissional que não se limitava simplesmente a exercer sua profissão, mas se
preocupava, também, com a adaptação das crianças à escola: Rogério, meu filho,
nos primeiros dias de aula, chorava não querendo permanecer na escola. Querton o
leva para o consultório durante vários dias e, com habilidade, consegue a adaptação
do meu filho, sem grandes traumas.
Dr. Scalope

Como bom profissional e excelente esportista, tinha muito desenvolvida sua cidadania,
exercendo-a na militância política como vereador na legislatura de 1959/1963. Era a melhor forma
que ele vislumbrava para criar oportunidades ao esporte amador da cidade.
Em 1972, recebeu da Câmara Municipal o título de “Cidadão Benemérito”, pelos grandes
serviços prestados à cidade (Resolução n. 06/72, de 21/11/1972).
Em 05/12/1974, foi iniciado ao Grande Oriente de São Paulo, na Loja Maçônica, Castro
Alves II, de Fernandópolis.
Com relação ao esporte, destaque maior na vida de Querton, que tanto beneficiou dezenas
de jovens em nossa cidade, muito há o que ser dito.
Começa ainda menino, quando cursava o ensino fundamental, sua carreira no basquete
pelo Tupã Clube de Mirassol. No ano de 1945, com apenas 16 anos, disputa os Jogos Abertos do
Interior na cidade de Campinas que, posteriormente, o convidará a estudar exatamente por suas
qualidades como jogador de basquete.
No ano de 1948, disputa, em Santos, os Jogos Abertos do Interior. Seu desempenho
rendeu-lhe o título de “Cestinha de Ouro”,pois convertera o maior número de pontos nas cinco
partidas disputadas. Com o seu 1,70m, ele demonstra que a pouca altura não é empecilho quando o
esforço e a competência são maiores.
Em 1952, cursando Odontologia na universidade de Ribeirão Preto, concilia estudos e
esporte e sagra-se campeão dos Jogos Abertos. Todo o seu desempenho anterior somado ao êxito
dos últimos jogos e apresentando uma excelente forma física lhe rende a convocação, em 1953, para
fazer parte da seleção Brasileira Universitária, que competiria na cidade de Dortmund, na Alemanha.
A seleção brasileira sagra-se vice-campeã do mundo, tendo Querton desempenhado, com
destaque, seu papel de exímio cestinha.
Em reconhecimento ao seu desempenho na Seleção recebeu da Confederação Brasileira
de Desportos Universitários, em fevereiro de 1954, ofício de agradecimento enviado pelo secretário
geral Jorge Ferreira Cavalcante.
Após sua chegada a Fernandópolis em 1958, incentivou a prática de esporte entre os
jovens, ocasionando a formação de equipes, tanto masculina quanto feminina, que disputavam
campeonatos entre si, entre cidades da região e do estado. Em 1959, Fernandópolis e sua equipe de
basquete participam dos Jogos Abertos de Santo André e, em 1960, dos Jogos Regionais em
Mirassol. A equipe fernandopolense era composta por: Virgulino, Mário Mantovani, Irineu Salioni,
Jurandir Rossato, Wilson Mantovani, José Carlos Trovati, Rubens Ferreira, Walter Castro, José
Martins, que tinham em Querton o exemplo que todos queriam seguir.
Em seu depoimento, Jurandir Rossato comenta:

Chegou à cidade de Fernandópolis na década de 50 (1958-59), onde começou a


ensinar basquetebol em uma quadra de saibro (a bola era de couro), onde foi a
Caixa Estadual e, hoje, é Banco do Brasil.
Na década de 60, teve a melhor equipe da região, que hoje seria considerada
equipe de qualidade especial, uma equipe profissional nacional. Era como um pai
para os atletas, pois até a condução para irmos jogar fora era ele quem financiava.
O mesmo foi condecorado atleta da década e foi vice-campeão universitário pela
copa Universitária do Mundo em Dortmund, Alemanha.
Jurandir Rossato (Jura)

As equipes, sempre formadas por seu incentivo e exemplo, participaram, em 1962, dos
Jogos Abertos de São Caetano do Sul com os atletas: Zezão, Irineu, Jura, Walter Saravalli, Octávio
543

Gomes, José Carlos Ferrari, Milton Leão e Manoel Sobrinho. Em 1965, a equipe fernandopolense
leva para os Jogos Regionais de Mirassol a equipe composta por: Victor Hugo, Nilson Abdala,
Adonai, Amilton, Jura, Rubinho Ikeda, Satinho, Kuroda, Élcio Canhada,Tico e Uzenir.
Treinou também várias equipes femininas, cujas jogadoras eram originárias de equipes
escolares e que formavam uma seleção da cidade e, nessa condição, participavam de disputas
regionais e estaduais207.
Em todos os jogos de que a equipe feminina participava, havia uma exigência dos pais:
suas filhas só viajariam se Bila, esposa de Querton as acompanhasse.
Personalidade atuante, Querton desempenhava sua profissão cuidando da saúde bucal de
crianças e jovens e, no esporte, cuidando da saúde física e mental, encaminhando-os para uma vida
saudável e produtiva.
O reconhecimento da importância do papel que desempenhou, durante décadas, para a
formação física, moral e social de jovens fernandopolenses foi amplamente reconhecida ainda em
vida, o que lhe deve ter trazido felicidade e paz por entender que soube bem desenvolver, com
esforço e dedicação, os dons de agilidade e destreza dados por Deus.
Assim é que, em 1975, Antenor Ferrari, então prefeito municipal, visando da desenvolver o
esporte amador na cidade, cria a Comissão Municipal de Esportes, nomeando-o seu presidente. A
nomeação repercute positivamente na sociedade e o jornal Folha de Fernandópolis (1975) assim
relata o fato:

O presidente nomeado para a Comissão Municipal de Esportes, Querton Ribamar


Prado de Souza, segundo as opiniões gerais, é o nome certo para o lugar certo.
Tem larga experiência no setor, tendo sido atleta por vários anos, além de ser
profundo conhecedor dos problemas do esporte amador de nossa cidade. Querton,
inclusive, já pertenceu à Seleção Paulista Universitária de Basquetebol.

No ano de 1981, numa feliz iniciativa do então prefeito Milton Edgard Leão, ex-atleta
orientado por Querton, lhe concedeu, pelo Decreto n. 1639, de 08/08/1981, uma das maiores
homenagens que só grandes homens merecem: seu trabalho junto aos jovens leva o prefeito a dar
seu nome, ainda em vida, a um conjunto esportivo, conhecido como Beira Rio e que passa a se
chamar “Conjunto Esportivo Dr. Querton Ribamar Prado de Souza”. O referido decreto considerava a
dedicação de Querton a todas as modalidades de esporte amador e sua participação como
incentivador da juventude esportiva.
Em entrevista à professora Rosa Maria da Costa (2m 26/09/2011), Milton Edgard Leão
assim relata o diálogo que teve com seu amigo Mantovani:

Milton: Quando fiz melhoramentos no ginásio de esporte conhecido como Beira Rio,
o Mário Mantovani foi ao meu gabinete e perguntou:
[Mantovani]: Milton, por que você não põe o nome do Borba [Querton] no ginásio?
Ele merece. Quem é que vai homenageá-lo se não nós do basquete?
Milton: Mas será que pode por nome de gente viva?
[Mantovani]: Vamos pôr e ver o que vira.
Milton: E ninguém questionou. Lembro do Borba lá no ginásio de esporte do
Batalhão... a turma o adorava... tinha um carinho muito grande por ele.

No ano de 2003 recebe a “Medalha 22 de Maio” e, na sessão que o homenageava, é lida


uma emocionante carta de seus sobrinhos Wilson e Paulo Trevisan:

Tio Querton, aprendemos a lhe admirar, primeiro nas quadras de basquete, depois
na sua profissão, a mesma que eu, Wilson, escolhi, influenciado pela sua atuação.
Nós tentamos seguir seus passos no esporte e, se não atingimos todas as glórias
por você alcançadas, achamos que também não o decepcionamos. Na Odontologia,
sim, procuramos tê-lo como espelho e dizer com orgulho que somos seus sobrinhos.

207
Conferir mais informações sobre o esporte amador em Fernandópolis, na seção B (artigos) desta obra.
544

A homenagem recebida em 12/11/2008 revela o homem íntegro que se destaca no esporte,


mas que não esquece sua profissão e a desempenha com dedicação. Nessa data recebe a
“Comenda e a Medalha Tiradentes”, do Conselho Regional de Odontologia. A referida honraria é
oferecida com a finalidade de homenagear aqueles que contribuíram para o progresso e a projeção
da Odontologia e, também, como reconhecimento àqueles que, pelo seu esforço e comportamento
ético e responsável, conseguiram destacar-se entre milhares de profissionais no estado de São
Paulo. O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, em ofício do presidente a ele dirigido,
assim se expressa:

Concordamos com muita alegria pela sua indicação, pois sempre reconhecemos o
seu valor e seus grandes méritos. [...] Ela representa o reconhecimento àqueles que,
pelo seu esforço e pelo comportamento ético e responsável, conseguiram se
destacar entre os 70.000 profissionais de São Paulo.

No ano de 2009, outra homenagem lhe foi prestada pela Associação de Pais e Amigos do
Basquete (APAB), quando foi reconhecido como “Atleta Símbolo de Fernandópolis”.
Na ocasião, o professor Eugênio Jurandir Rossato, integrante de todas as equipes
orientadas por ele, agradece em seu nome e em nome dos atletas Wilson Mantovani, Mário
Mantovani, Valter Saravali, José Carlos Trovati, Rubens Ferreira, Élcio Canhada, Irineu Salioni e
Valter Castro, as seis vitórias consecutivas nas disputas enfrentadas entre os anos de 1960/66, que
lhes deram o Troféu Bandeirantes do Estado de São Paulo.
Outras inúmeras homenagens lhe foram prestadas por escolas, por jornais e revistas.
Nos anos finais de sua vida, sem nunca ter esquecido o esporte, praticava bocha, que
jogava com seus grandes amigos João da Bocha, Manuel e Roberto, que, ao relembrá-lo, assim se
expressam:

Você pode sonhar, criar e construir as idéias mais maravilhosas do mundo, mas são
necessárias pessoas para fazer esses sonhos virarem realidade. E isso foi o que
aconteceu durante o tempo que obtivemos ao lado um do outro a nossa mais
sincera amizade. Hoje, faço votos de que tenhas alcançado um lugar sereno onde
possas viver ao lado do Senhor. Pois aqui ficou a saudade e a certeza de que um
dia iremos nos encontrar novamente.
(Dos seus amigos João da Bocha, Manuel e Roberto)

Durante toda a minha vida,


Muitas pessoas passaram por mim, dia após dia.
Mas somente algumas dessas pessoas,
Ficarão para sempre em minha memória.

Essas pessoas são ditas amigas,


E as levarei para sempre em meu coração,
Às vezes pelo simples fato de terem cruzado meu caminho.
Uma única palavra de conforto quando precisei
Ou por ter-me dado um minuto de sua atenção,
E me ouvido falar de minhas angústias,
Medos, vitórias, derrotas...

Às vezes, por terem confiado em mim,


E me contado também seus problemas,
Angústias, vitórias, derrotas...
Isso é ser amigo. É ouvir, é confiar, é amar.
E amigos de verdade
Ficam para sempre em nossos corações,
Assim como pegadas na alma, que são indestrutíveis.

E você, meu amigo Querton Ribamar,


545

Você foi especial e importante para mim.


Sua amizade tivera para mim um valor enorme,
E nada que eu possa dizer,
Poderia ser tão especial ou mais significativo
De que sua amizade.
(Amélia Rosa)

Amélia Rosa, amiga de uma longa vida, conta como conheceu e passou a partilhar da
amizade de Querton e da sua família:

Foi meu primeiro patrão!!! Tinha apenas 13 anos (naquela época “de menor” podia e
devia trabalhar!), quando fui contratada para trabalhar no seu consultório dentário,
localizado no andar de cima do prédio da “Riachuelo”, como sua ”instrumentadora”,
função que eu descobri aos poucos, graças à sua paciência em me orientar.
Nessa época, quase todos os dias, a Da. Bila (sua esposa) e a Maira (sua filhinha)
iam à tarde esperá-lo ao fim do trabalho, para irem juntos pra casa, atitude que
aprendi a admirar.
Depois soube que o “Dr. Querton” era jogador de “basquete internacional”; tinha até
troféu que havia ganho na Alemanha jogando pela seleção brasileira e que, em
Mirassol, cidade de onde viera, fazia parte do famoso Tupã Clube.
Mais tarde, quando conheci o Magrão (com quem me casei), soube que eles
jogavam basquete juntos em Mirassol e que eram amigos “esportistas”. Surpresas
do destino ou programação espiritual? Aliás, na década de 80, quando Magrão foi
Secretário de esporte da prefeitura de Fernandópolis e a cidade sediou os Jogos
Abertos do Estado de São Paulo, o ”Dr. Querton” foi o “atleta símbolo dos jogos”,
acendendo a pira olímpica.
Homenagem justa e merecida a um homem que soube granjear amizades queridas.
Foi muito estimado e admirado pela sua bondade no trato com as pessoas, pelos
“alunos de basquete” e “ alunos do Coronel”.
Nossa eterna admiração e nosso abraço com muito carinho!!!
Amélia Rosa
Bila, sua esposa, que durante 53 anos compartilhou de sua vida, assim se expressa: “Se a
metade dos casais do mundo vivesse bem e felizes como eu e o Querton, teríamos, com certeza, um
mundo melhor”.
No ano de 2009, debilitado por problemas hepáticos, foi internado na Santa Casa de
Fernandópolis onde permaneceu por uma semana, indo a óbito no dia 28/04/2009.
Sua morte repercutiu com grande pesar em Fernandópolis, Mirassol e toda a região.

REFERÊNCIAS

DOCUMENTAÇÃO. Arquivo de família. Fernandópolis, jul. 2011.

FAMÍLIA. Carta dos sobrinhos. Arquivo pessoal, 2011.

FERNANDÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Fernandópolis. Decreto n. 1639, de 08 de agosto de


1981. Dispõe sobre a denominação do conjunto esportivo Beira Rio, que passa a chamar-se Dr.
Querton Ribamar Prado de Souza. Fernandópolis, Diário Oficial do Município, 1981.

JOÃO da Bocha, Roberto e Manuel, Depoimento. Fernandópolis, fev. 2012.

LEÃO, Milton Edgard . Entrevista. Fernandópolis, 26 nov. 2011.

NOGUEIRA, Amélia Rosa Sanfelice. Depoimento. Fernandópolis, fev. 2012.

RENESTO, Wandalice Franco. Depoimento. Fernandópolis, fev. 2012.

ROSSATO, Eugênio Jurandir. Entrevista. Fernandópolis, jul. 2011/fev. 2012.


546

SCALOPE, Alberto. Depoimento. Fernandópolis, fev. 2012.

TREVIZAN, Maria Aparecida. Entrevista. Fernandópolis, jul. 2011.

Responsáveis pela pesquisa e redação:


EMEF Cel. Francisco Arnaldo da Silva

Equipe de trabalho
Camila Moretti Mininel – Professora de Português
Cleonice Aparecida Machado Scalise – Professora Coordenadora
Iara Teresinha Molina Martinez – Vice-Diretora
547

RAIMUNDO DE SOUZA MEDRADO

Na década de 60, Fernandópolis ganhou mais um cidadão ilustre, que marcou a história da
cidade com gestos de amor ao próximo e muita solidariedade: Raimundo de Souza Medrado, o "seu
Raimundo".
Nascido na cidade de Juazeiro, no estado da Bahia, Filho de Anísio de Souza Medrado e de
Isabel das Neves Medrado, ficou órfão dos pais ainda muito criança.
Veio para o estado de São Paulo, região de Guaraci e Onda Verde, interior do estado,
acompanhado por seus avós paternos, responsáveis pela sua criação e educação. Assim como a
maioria dos nordestinos, vieram em busca de melhores condições de vida.
Em 1942, aceitando o convite de Joaquim Antonio Pereira, vieram para Fernandópolis,
então Vila Pereira, quando começavam erguer as primeiras casas. Foi uma passagem rápida, porém
o tempo suficiente para preparar seu retorno mais tarde e sua instalação definitiva.
Quando completou os seus 20 anos de idade, por necessidade, providenciou seu próprio
registro de nascimento, que, até então, não possuía.
Escolheu como data de nascimento o dia 10 de maio de 1922, justificando ser uma
homenagem a sua mãe, com quem não teve oportunidade de conviver, e considerando que o Dia das
Mães quase sempre era comemorado nessa data.
No dia 08 de setembro de 1948, casou-se pela primeira vez, com Adélia Custódio da
Cunha, em Dolcinópolis, Distrito de Jales e, dessa união, nasceram os seis filhos do casal.
Em 1951, Raimundo passou por momentos de inquietações e grandes dificuldades, quando
foi acometido de tuberculose pulmonar. Além do problema de saúde, enfrentou muitos transtornos,
inclusive de ordem financeira.
Na época, Dona Adélia, sua esposa, foi quem o encorajou a buscar tratamento de saúde,
uma vez que a doença aterrorizava a população em geral e muitas pessoas morreram por falta de
recursos e informação sobre os tratamentos e possibilidades de cura.
Foi buscar socorro no hospital para tuberculosos em Santa Rita do Passa Quatro e lá
permaneceu internado por três longos anos, que marcaram significativamente a mudança na vida de
"Seu Raimundo".
Com o apoio da esposa, mulher dedicada, religiosa e de muita fé, que lutava para ajudar na
recuperação do marido, aceitou buscar também o tratamento espiritual. Através da leitura de uma das
obras escritas por Allan Kardec, descobriu que o Espiritismo provava "de maneira patente e irrefutável
a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade pós-morte, sua imortalidade, as
penas e as recompensas futuras".
Assim, depois do longo período de tratamento e internação, Raimundo descobriu que muito
podia fazer pelo próximo. E ali mesmo, dentro do hospital, passou a ajudar aqueles que estavam em
condições mais delicadas.
548

Ajudava a todos os pacientes e, dessa forma, aprendeu as técnicas de enfermagem. Depois


de passar por vários momentos críticos no seu quadro de saúde, foi curado. Acreditava, então, na
intervenção do Mundo Maior no seu processo de recuperação.
Quando saiu do pequeno hospital em Santa Rita do Passo Quatro, já tinha constituído ali
um grupo de amigos e implantado, no local, um pequeno núcleo espírita.
Segundo familiares, Raimundo "tinha que passar pela doença para se desprender de alguns
valores materiais e perceber a grandiosidade do mundo espiritual".
Morando em Jales, Raimundo, ao lado de um grupo de amigos, fundou um Centro Espírita e
o Albergue Noturno e, sem medir esforços, comandou as duas entidades por vários anos.
Na década de 60, passou a residir definitivamente em Fernandópolis.
Com a família formada e exercendo o cargo de Inspetor de Alunos no Instituto de Educação
de Fernandópolis, atual Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares, deu continuidade ao seu
trabalho de ajuda ao próximo, procurando oferecer apoio espiritual, melhorando a qualidade de vida
de cada um e, inclusive, encaminhando para o trabalho.
Raimundo Medrado, cuja infância foi de muito sofrimento, chegando até passar fome, na
busca incansável de querer amparar as crianças carentes e suas respectivas famílias, principalmente
as mães, desenvolve, junto com Bento Teixeira do Carmo e outros de ideal espírita, várias atividades
na Associação Beneficente Pátria do Evangelho.
Em 1972, buscando melhorar o grau de escolaridade, matriculou-se no Instituto de
Educação Estadual de Fernandópolis, onde trabalhava como funcionário público em dois períodos,
estudando no outro.
Enquanto estava na escola, trabalhando ou estudando, aproveitava para aconselhar os
jovens, ouvindo seus desabafos e orientando-os com carinho, usando sempre palavras de fé e
otimismo, apoiando-se sempre nos ensinamentos do espiritismo.
Porém, desistiu dos estudos para poder desenvolver seus trabalhos filantrópicos junto às
crianças e famílias carentes. Durante suas visitas, passando pelo bairro Jardim Araguaia, segundo
depoimentos dos familiares, pressentiu que, nesse local, deveria edificar suas obras, que também
eram seu grande sonho: a casa da sopa, para alimentar as crianças e o clube das mães, para
atender as grávidas na confecção de enxoval para bebês.
No ano de 1980, realizando um sonho, em compensação às lembranças dos momentos de
fome da sua infância, iniciou a edificação da Casa da Sopa "Auta de Souza", anexa ao Centro
Espírita Abrigo aos Aflitos, no Jardim Araguaia, para amenizar a fome das crianças e das famílias
carentes.
O Doutor Evaldo Garcia Terra, que, além de médico, era amigo íntimo de Raimundo,
considerava-o uma pessoa especial, que ajudava a todos, principalmente as crianças, sem fazer
distinção alguma. Segundo ele, para Raimundo, "ninguém pode perder a esperança, por mais difícil
que seja o caso".
Ao percorrer o Jardim Araguaia para pedir informações sobre essa figura tão querida, todos
são unânimes em afirmar o quanto Raimundo ajudou as crianças, os jovens e as famílias da
comunidade, com palavras de conforto, alimentos necessários, roupas, calçados, visitas, enfim,
encaminhando para o trabalho e para o crescimento espiritual.
O seu trabalho se estendeu para além da comunidade local, chegando a outros bairros,
atendendo pessoas e famílias de vários cantos de Fernandópolis e, mesmo contra a sua vontade, o
reconhecimento foi transformado em homenagens.
Em 13 de maio de 1991, recebeu a medalha "22 de Maio" pelos relevantes serviços
prestados à comunidade, homenagem que foi outorgada em sessão solene junto às comemorações
do aniversário da cidade, no dia 22 de maio do mesmo ano. A referida homenagem foi proposta pelo
vereador Aparecido Duarte Vieira e aprovada por unanimidade pela Câmara. Sem medir esforços,
continuou sua caminhada, trabalhando em prol de todos.
Não tardou outra homenagem pelos relevantes serviços prestados à comunidade. No dia 30
de outubro de 1997, recebeu, do Rotary Clube de Fernandópolis "Vinte e Dois de Maio", o Certificado
de Honra ao Mérito, como Profissional do Ano. Ele não gostava dessas situações, porque entendia
que todo o seu trabalho era de ajuda e amor ao próximo e que o reconhecimento viria do Mundo
Espiritual.
549

Já com cabelos grisalhos, corpo franzino e o coração cheio de amor, insistia em continuar o
seu trabalho. Nesse momento, contava com o apoio e a companhia de Elisse Pradela Medrado, sua
segunda esposa, que dedicou a Raimundo muito carinho e atenção até os últimos dias de sua vida.
Raimundo de Souza Medrado, funcionário público aposentado, com saúde fragilizada e o
corpo quase sem forças, lutava contra as marcas de sua doença do passado. Continuava recebendo
a todos, visitando os pacientes nos hospitais ou familiares em seus lares, atendendo a todos, sem
distinção, com passes restauradores, palavras de consolo e recordando os bons ensinamentos de
Jesus.
Todavia, depois de algumas internações lutando pela própria vida para poder continuar o
seu trabalho eterno de ajuda e amor ao próximo, no dia 22 de maio de 2001, faleceu num dos leitos
da Santa Casa de Misericórdia, em Fernandópolis, de doença pulmonar crônica.
Além de uma família maravilhosa e de muitos amigos, Raimundo deixou uma bonita lição de
vida, com muito amor e solidariedade ao próximo. Atualmente, a comunidade do bairro Jardim
Araguaia, juntamente com a população de Fernandópolis e até de cidades vizinhas, desfrutam da
obra grandiosa do mestre e amigo.
A Casa da Sopa "Auta de Souza" continua edificada anexa ao Centro Espírita Abrigo aos
Aflitos, no Jardim Araguaia e comandada agora pelos familiares e amigos de "Seu Raimundo", que
estão dando continuidade às atividades, dando alimento, conforto e educação espiritual, orientação
para a vida e para o trabalho.

Colaboração
Escola Estadual Fernando Barbosa Lima
550

ROMEO SOARES DA SILVA

Romeo Soares da Silva nasceu no dia 10 de agosto de 1906, na cidade de Amparo (SP),
filho de Ataliba Soares da Silva e Otilia Wat.
Desde criança participava de atividades da comunidade e foi escoteiro aos nove anos. Sua
formação acadêmica de seleiro foi concluída no Liceu de Campinas. No início de sua carreira, abriu
uma oficina de selaria que, mais tarde, cedeu a um irmão. Logo em seguida, abriu um açougue e
progrediu, vindo a atuar no comércio de aves, ovos e animais de pequeno porte.
Romeo casou-se com Thereza Barbante na cidade de Posse da Ressaca (SP), no dia 15 de
maio de 1929, de cuja união teve os filhos: Milton Walter Soares, Maércio Wilton Soares e Maria
Lucia Soares. O filho Milton casou-se com Dirce Velo e tiveram o filho Milton; Maércio Wilton casou-
se com Clarice Guarnier, e tiveram quatro filhos, Maércio Wilton, Marcos (in memoriam), Mauro César
e Marcelo César; Maria Lucia se casou com Aguinaldo Francescheti, e tiveram um filho, Romeu
Aguinaldo. Sr. Romeo teve seis netos e treze bisnetos.
Romeo Soares fixou residência em Fernandópolis em 05 de julho de 1950; associou-se à
Avícola Santista que abastecia hotéis, navios e cassinos na capital São Paulo, Santos e Rio de
Janeiro. Teve atuação no comércio de compra e venda de aves, ovos e animais de granja em geral,
cuja atividade levou o nome de Fernandópolis, por meio século, até as cidades de São Paulo, Santos
e Rio de Janeiro. Os produtos do seu comércio, no início, eram transportados por via férrea; com a
chegada da rodovia a Fernandópolis, o transporte era feito por uma frota de caminhões que
chegaram a transportar seis mil dúzias de ovos caipiras e mais de dez mil aves por semana.
Desde que aqui chegou, atuou intensamente em todas as áreas sociais em favor do
desenvolvimento de Fernandópolis, como ajuda expressiva na construção da Igreja Matriz Santa Rita
de. Fez a doação do terreno e ajudou na construção do prédio onde se instalaram as Irmãzinhas da
Assunção. Foi reconhecido e diplomado pela Diocese e Vaticano por ter presidido e comandado as
obras. Hoje, no referido prédio, funciona a Diretoria de Educação Municipal, Centro de Formação dos
Profissionais de Educação e o Núcleo de Tecnologia Educacional de Fernandópolis “Romeo Soares
da Silva”.
Sua atuação na área social deixou expressiva colaboração na construção da Santa Casa de
Misericórdia de Fernandópolis.
Criou e presidiu a primeira Guarda Mirim de Fernandópolis, cujos “guardinhas”, na época,
auxiliavam no trânsito, pois não havia semáforos e o trânsito era intenso. A cidade estava em pleno
551

desenvolvimento, e a referida guarda tinha como comandante o Sargento Campos. A entidade


acolhia meninos carentes que trabalhavam e recebiam boas orientações.
Senhor Romeo presidiu a comissão que conquistou a transmissão de televisão para
Fernandópolis e, junto com engenheiros e técnicos, localizou o melhor lugar, ou seja, o ponto
estratégico para as torres de transmissão na época, e que permanece até os dias atuais. Comprou o
terreno da área de instalação e doou à Prefeitura, mantendo, por vários anos, por conta própria, um
técnico permanente para assistência.
Atuou, sem medir esforços, nas obras de caridade como Abrigo dos Idosos São Vicente de
Paula, Albergue Noturno e tantas outras, com afinco e dedicação total, contribuindo com doações em
dinheiro e com o seu trabalho.
Foi incansável em favor do desenvolvimento de Fernandópolis, sempre acreditando na
melhoria e progresso da cidade.
Faleceu com noventa e oito anos de idade, no dia 27 de maio de 2004. Romeo Soares não
foi esquecido pelos que conheceram seu trabalho junto à comunidade fernandopolense, sendo
lembrado pela Câmara Municipal de Fernandópolis recebendo um voto de profundo pesar pelo
passamento.

Equipe de pesquisa e redação


Escola Municipal João Garcia Andrêo

Eliana Bernadete Galvão Marchini


Diretora de Escola

Maria Lúcia Trabuco Belotti


Vice-Diretora

Lana Lucchese
Coordenadora Pedagógica
552

RUI OKUMA
(1950 – 2006)

Vindo do Japão em 1929 com apenas 06 anos de idade, o imigrante Massayuki Okuma
(Paulo, no Brasil) chega ao Brasil. Em 1949, casa-se com Thomiko Koga Okuma e se estabelece na
zona rural de Fernandópolis.
Um ano depois, em cinco de maio de 1950, nasce o primogênito do casal, Massanobu
Okuma, Batizado por sua madrinha com o nome de Rui, em virtude da tradição oriental.
Rui teve uma infância obediente aos pais e de cuidados com as três irmãs e os quatro
irmãos mais novos: Nobuco, Katsuyuki, Takashi, Hideo, Leico, Midori e Issamu. Rui, o filho mais
velho, tinha de ser, pela tradição japonesa (e era), o exemplo para todos os irmãos.
Dedicados à lavoura, principalmente no cultivo de café, mamão baiano e, posteriormente, à
laranja, todos estudavam por vezes em escolas rurais, a exemplo da Escola Mista Estadual Fazenda
Santa Adélia. Após o antigo curso de admissão, Rui dirigia-se para a cidade (frequentemente de
bicicleta ou até mesmo a pé), a fim de cursar o ginásio e concluír o segundo grau (na Escola Estadual
Líbero de Almeida Silvares – EELAS). Isso estimulou todos os irmãos, pois, embora o genitor os
encaminhasse para o trabalho na terra, incentivava-os aos estudos.
Despertada sua aptidão para a área das Ciências Exatas e com objetivo de preparar-se
para cursar uma Universidade Pública, Rui, ainda jovem, transfere-se para a capital paulista. É
aprovado nos exames vestibulares da FUVEST e ingressa na Unicamp, em Campinas (SP). Na
década de 1970, especializou-se como engenheiro mecânico, na sequência como engenheiro civil em
outra faculdade (PUC), e, posteriormente, interessou-se por Engenharia da Medicina de Segurança
do Trabalho, conquistando mais uma qualificação na Unicamp, em Campinas.
No período em que residia em Campinas, Rui associou aos estudos o projeto de montar um
centro de distribuição de produtos cultivados no pequeno sítio da família, a fim de agregar valor à
mercadoria. Esse projeto foi acatado pelo pai, que logo adquiriu um box no entreposto de
mercadorias Ceasa e enviou três irmãos para auxiliá-lo: Paulo, Luis e Roberto.
Paralelamente, Rui Okuma dedicou-se à usinagem de peças, como engenheiro mecânico,
Na construção civil, trabalhou em grandes empresas na cidade de Campinas, inclusive na General
Eletric (GE).
O entreposto, dado ao trabalho sério, obteve muita credibilidade comercial. Houve, então, a
necessidade de ampliação, e a família estendeu a área de cultivo, comprando mais terras, o que
aumentou consideravelmente a produção.
Essa fase acarretou trabalho excessivo para o Sr. Paulo, o pai, visto que, nesse momento,
todos os filhos estavam em Campinas, cursando faculdades. Os irmãos Rui (Massanobu) e Paulinho
(Katsuyuki) perceberam a necessidade de retornar a Fernandópolis, a fim de auxiliar o pai na área
553

produtiva. Depois de algum tempo, tornaram-se um dos maiores citricultores do estado de São Paulo,
comercializando frutas para diversas localidades.
No retorno a Fernandópolis, Rui apaixonou-se por Mitie Matsunaga, uma jovem cujos pais
tinham estreitas relações com a família Okuma, por isso o consentimento para a união era mais que
evidente. Em 1989, acontece o casamento, quando Rui já estava com seus 39 anos. Do matrimônio
nasce Jaquelini, a única filha do casal.
A visão administrativa e o apoio ao trabalhador rural permitiram que Okuma lançasse base
para presidir o Sindicato Rural de Fernandópolis de 1996 a 2004, quando implementou diversas
mudanças importantes. Dentre os projetos desenvolvidos em sua administração, estava o programa
“Promovendo a Saúde do Campo”, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR), através do qual trabalhadores do campo recebiam assistência médica.
Também foi a Diretoria do Sindicato sob o seu comando que deu início à Central de
Agronegócios, que faz a comercialização de implementos e produtos veterinários para os produtores.
Rui abriu ainda o Centro de Capacitação Rural e realizou uma série de parcerias com órgãos, com a
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e com o Serviço de Atendimento Integrado
(SAI), para a capacitação de produtores rurais, transformando, assim, o sindicato em uma central de
apoio ao trabalhador do campo.
Outra marca da administração de Rui Okuma foi a inauguração do Centro de Eventos Fábio
Meirelles - pavilhão rural do Recinto de Exposições.
Mas a vida lhe reservou uma surpresa não muito agradável: um problema renal que o
obrigou a fazer transplante de rim - órgão doado por um dos seus irmãos.
Ainda assim, Rui continuou com as atividades agrícolas e também à frente do Sindicato
Rural. Participava de muitas feiras de produtores e chegou a ser vice-presidente da Federação
Agrícola do Estado de São Paulo (FAESP). Era também um excelente desportista: montou e presidiu
a equipe Manchester de futebol, que, sob sua coordenação, foi campeã de inúmeros torneios.
Um importante passo de Rui Okuma rumo à prefeitura foi a bem sucedida presidência da
Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Fernandópolis em 2003. Ele assumiu o cargo a
convite do então prefeito Adílson Campos.
Foi na Expô 2003, que a festa de Fernandópolis passou a integrar o Circuito Nacional de
Rodeios e bateu recorde de participação de empresas, com a exposição de quatro grandes
fabricantes e revendedoras do ramo de implementos agrícolas. A renda foi revertida para a AVCC, o
que ajudou na construção do futuro Hospital do Câncer.
Em 2004, Rui Okuma decidiu assumir uma tarefa mais árdua: candidatar-se às eleições
municipais, em uma das reuniões que mudaria definitivamente o rumo de sua vida. O Partido
Progressista (PP), do qual era presidente em Fernandópolis, anunciou, por meio do deputado federal
Vadão Gomes, que era uma questão de honra apresentar um candidato para disputar a prefeitura da
cidade nas eleições que aconteceriam no ano seguinte. Foi na sede do Frigoestrela, em Estrela
d’Oeste, que Okuma liderou uma comitiva fernandopolense para tratar do assunto.
Embora a convenção fosse acontecer somente quatro meses depois, o nome de Okuma já
estava definido. No dia 20 de julho de 2004, o PDT e o PHS indicaram a vereadora Ana Bim para ser
a vice na chapa de Rui Okuma (PP). O advogado Jorge Aidar, pedetista histórico, chamou a
coligação de “Inovação” – nome e slogan da campanha. Rui Okuma esteve na convenção dos
pedetistas e ouviu a sua futura vice declarar que reagiria aos ataques dos adversários com “trabalho
e proposta de governo”.
Rui Okuma venceu as eleições municipais de 03 de outubro de 2004, atraindo 35,48% dos
eleitores. Recebeu 12.826 votos, 1949 a mais que o segundo colocado, Santa Rosa (PSC), que teve
10.877 e 2.499 votos sobre o terceiro colocado, Armando Farinazzo (PSDB), que atingiu 10.327
votos.
A composição do poder Legislativo de Fernandópolis foi a seguinte, com a eleição de 2004:
Alaor Pereira Marques (PFL); Pedro Ribeiro de Toledo (PV); Maíza Rio (PMDB); Warley Campanha
de Araújo (PFL); Etore José Baroni (PSDB); Milton César Bortoleto (PSDB); José Carlos Zambon
(PL); Manoel Sobrinho Neto Júnior (PT); Francisco Albuquerque (PP) e Ademir José de Almeida
(PMDB).
Okuma anunciou que pretendia convocar as lideranças da cidade para uma parceria forte
em favor de Fernandópolis. Comemorou a vitória nas urnas lançando um projeto de união, enalteceu
554

o trabalho da vice Ana Bim, que considerou uma guerreira e agradeceu a confiança da população. A
esposa Mitie e a filha Jaquelini estavam ao seu lado. Entusiasmado com a vitória, Rui disse que, se
dependesse dele, começaria a montar o governo no dia seguinte: “Quando nós dissemos ‘a nova
vontade do povo’, nós queremos todos envolvidos num único pensamento, que é Fernandópolis. Não
sou político, e nós temos uma gratidão muito grande com esse povo. O único pensamento será
Fernandópolis!”
Dentre os projetos do governo de Okuma estavam: melhoria do asfalto de Fernandópolis; a
construção do Parque Ecológico; a revitalização do centro da cidade; a construção do anel viário e da
Vila Olímpica; atrair empresas visando à implementação de um Posto de Atendimento ao
Empreendedor, do Instituto Paula Souza; melhoria de verbas para a Santa Casa e Associação de
Voluntários em Combate contra o Câncer (AVCC), além da recuperação rápida dos bairros mais
atingidos por fortes chuvas.
Alguns projetos foram desenvolvidos: a renegociação para a renovação do contrato de
saneamento com a Sabesp na cidade; a reinauguração da agência do Banco do Brasil de
Fernandópolis, cujo trabalho na cidade Okuma ressaltou, afirmando que os empresários locais se
beneficiariam com as novas linhas de crédito aprovadas; anúncio de Paulo Birolli ao cargo da
presidência da Expô 2006, enfrentando lideranças e opiniões partidárias contrárias. Entre as
derradeiras realizações de Okuma está a privatização da Expô, que ele pretendia aplicar em 2007, a
qual foi a mais polêmica da sua curta história política na cidade.
No entanto a população fernandopolense foi pega de surpresa com a notícia inesperada do
falecimento do prefeito Massanobu Rui Okuma em 4 de fevereiro de 2006. Okuma faleceu vítima de
duas paradas cardio-respiratórias consecutivas, não havendo possibilidade de ressuscitação pela
equipe médica do Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto.
Segundo a assessoria de imprensa do HB, desde que deu entrada no hospital, o prefeito
recebeu acompanhamento da equipe médica interdisciplinar, incluindo profissionais dos setores de
cardiologia e nefrologia, devido ao problema nos rins.
A chegada do corpo de Okuma a Fernandópolis foi marcada por muita tristeza e pesar. Sua
urna foi colocada em um dos caminhões do Corpo de Bombeiros para percorrer alguns trechos da
cidade em sinal de despedida. Acenos e muita emoção tomaram conta das ruas, enquanto o carro
seguia para a Câmara Municipal, num cortejo acompanhado por 300 veículos, pois lá aconteceria o
velório. O cortejo contou ainda com a presença de 12 policiais militares e seis viaturas, três
caminhões do Corpo de Bombeiros com 7 profissionais. O percurso foi acompanhado por cerca de
1,4 mil pessoas e, até o início da noite, quatro mil munícipes haviam passado pela Câmara Municipal.
Esse era o Rui Okuma: carismático, principalmente com as crianças; um homem muito
trabalhador, que, com o seu jeito singelo, conquistou o carinho de todos e a confiança daqueles que o
elegeram Presidente de uma das maiores festas agropecuárias, comerciais e industriais e Prefeito do
município de Fernandópolis, porque apostavam no seu dom de administrar.
Rui gostava de repetir um ditado popular, como se lhe fosse uma idéia filosófica que define
o seu jeito atuante e dinâmico de ser diante da vida: “Não adianta ficar só reclamando, se não der a
cara a tapa”.

Entrevista com Mitie Okuma (esposa de Rui Okuma)


A esposa Mitiê, gentilmente, concedeu esta entrevista à Revista Charme em sua casa, a
qual proporcionou saber um pouco mais sobre esse grande homem, que foi Rui Okuma.

1 Como a senhora define o Rui como marido e pai?


Mitie: Rui, como marido, foi uma pessoa amorosa, inteligente e trabalhadora. Era
extremamente determinado. Como todo ser humano, tinha qualidades e defeitos e, como todo casal,
tínhamos nossas diferenças, mas nada intolerável.
Jaquelini (filha do casal): Ele foi um pai maravilhoso, sempre presente, carinhoso,
atencioso e, principalmente, um verdadeiro amigo. Apenas com um olhar já nos compreendíamos.
Tenho orgulho de ser filha de Rui Okuma, pois todos puderam conhecer um pouco do seu caráter e
admirá-lo por isso. Posso dizer que sinto muito a sua ausência, mas sua memória sempre estará
presente em minha vida.
555

2 Em suas horas de lazer, ele gostava de se dedicar a quê?


O Rui teve várias fases de lazer. Era diversificado. Quando mais jovem, dedicou-se,
intensamente, ao futebol, rodinhas com amigos em barzinhos (cervejinhas). Mais adulto, gostava
muito de ler, ouvir músicas e era fã de Roberto Carlos.

3 Até onde a senhora sabe, Okuma tinha algum filósofo, político ou pessoa em que se
inspirava? Quem?
Como eu citei acima, Rui era diversificado, não tinha um filósofo ou político determinado.
Gostava de ler tudo: livros de piadas, política, romances, cruzadinhas, jornais e revistas. Ele gostava
de rascunhar o que lia.

4 Sabemos que todos os seres humanos se defrontam com obstáculos no decorrer de suas
vidas. Existiu algum obstáculo ou acontecimento que moldou o caráter de Okuma, transformando-o
como pessoa?
Não foi um obstáculo, mas uma opção o seu retorno a Fernandópolis para comandar a
fazenda. Trabalhando com pessoas humildes e trabalhadoras, engrandeceu ainda mais o seu caráter.
Era uma pessoa enérgica quando necessário, mas humilde e amiga de todos: “dançava conforme a
música”. Ele era “pai” e “amigo” de seus funcionários.

5 Em sua opinião, o que significa Rui Okuma para o município de Fernandópolis, como
político e empreendedor?
O Rui para o município... acredito que deixou uma grande lacuna, pois, como político, ele
acreditava na “Renovação”, na transparência, no trabalho e na honestidade. Ele sempre dizia que
não vivemos sem a política, pois ela é uma constante em nossas vidas. Se regida com a verdade, é
muito digna. Como empreendedor, era uma pessoa de visão ampla e com muito “jogo de cintura”.

6 Okuma dialogava acerca de política com a família?


Sim, pois mesmo não atuando na área, estava sempre em contato com pessoas ligadas a
ele. Na verdade, ele sempre amou a política.

7 Existiu algum projeto que ele fez menção de realizar e informou a família, mas a imprensa
não divulgou? Qual era o seu principal desejo ou sonho?
Sim, um grande projeto. Uma distribuidora da Petrobrás que, infelizmente, não pôde ser
divulgado e muito menos realizado. O seu sonho era poder contribuir para a melhoria e progresso do
seu município, ajudando, assim, um pouco o seu povo e o planeta.

Colaboração

Organização: equipe do Colégio Incentivo COC de Fernandópolis – Ensino Médio

Levantamento histórico e redação


Professor Wilie Schio Barbosa – assessor da diretora profª Sibéria Aparecida Violin
Revisão: Profª Amélia Alcântara Guerra
556

THEODÓSIO SEMEGHINI

Theodósio Dério Semeghini nasceu em 14 de abril de 1930, na cidade de Itápolis (SP) e


faleceu no dia 16 de março de 2006, com 75 anos, vítima de uma broncopneumonia. Anteriormente,
há mais de dez anos, ele já havia afastado da medicina devido a um derrame cerebral.
O médico veio para Fernandópolis na década de 50, após a conclusão do ensino superior.
Formado em medicina, especializou-se na área de otorrinolaringologia.
Sempre dedicado aos estudos, desde criança, Theodósio destacava-se como primeiro da
turma, por sua grande convicção e empenho nos estudos.
Theodósio Dério Semeghini foi muito importante para o desenvolvimento de Fernandópolis:
devido a seu amplo conhecimento na medicina, era capaz de influenciar outros profissionais, além de
ter sido um dos pioneiros da medicina local.
Um de seus primeiros desafios foi quando se tornou provedor da Santa Casa de
Misericórdia de Fernandópolis durante 17 anos: seu mandato se iniciou em 1961 e findou em 1974,
retornando em 1976. Porém deixara o cargo em 1978, legando uma significativa parcela sua de
contribuição tanto para o crescimento, quanto para a melhoria em relação aos recursos do hospital.
O centro cirúrgico da Santa Casa recebeu o nome do médico como homenagem justa. Foi
também reconhecido pelo hospital como médico efetivo da Clínica Otorrinolaringológica, médico
chefe da Clínica Otorrinolaringológica e médico Honorário do Corpo Clínico. Também foi um dos
fundadores da Unimed em 1983, incialmente com o cargo de presidente.
Principais contribuições de Theodósio Semeghini:
- Fundou o SANDU (projeto que durou um curto tempo);
- Participou 20 anos na provedoria da Santa Casa: 03/1961 a 01/1974, de 01/1976 a
07/1978;
- Foi presidente da FEF (Fundação Educacional de Fernandópolis);
-Trouxe o curso de Farmácia e Biomedicina para a FEF;
- Fundou o Rotary Club em 31 de outubro de 1985;
- Fundou o Hospital Regional;
- Fundou o Tênis Clube. O Uirapuru Tênis Clube nasceu da fusão da Associação Desportiva de
Fernandópolis (ADF) com o Uirapuru Clube de Campo e o Tênis Clube. Durante décadas, o clube foi uma
referência social e esportiva da comunidade de Fernandópolis.
Theodósio sempre será lembrado pelos fernandopolenses como um cidadão de bem,
extremamente atencioso, que trabalhou pela comunidade e, acima de tudo, como médico de
extremada competência.

Colaboração
Escola Técnica Estadual de Fernandópolis
557

WALDOMIRO RENESTO

A 13 de novembro de 1922, em Itápolis, estado de São Paulo, nasce o filho de Vicente


Renesto e Ignez Rossi Renesto. Recebe o nome de Waldomiro Renesto, único filho varão numa
família com seis filhas mulheres; torna-se independente desde cedo. Cursa o primário em Borborema
e o ginasial em Itápolis.
Aos 15 anos já trabalhava no Cartório de Registro Civil de Borborema e, de madrugada,
ordenhava algumas vacas de propriedade de seus pais. Vendia o leite e entregava o dinheiro à sua
mãe, de quem herdou os traços físicos e morais.
Desde criança, possuía uma personalidade forte e, como todo adolescente, gostava de
jogar futebol. Os companheiros daquele tempo o elogiam até hoje: “Waldomiro era um bom jogador”,
disse o maçom Paulo Falzeta, jornalista de Novo Horizonte (SP). Waldomiro, com apenas 16 anos, foi
diretor do Avante Futebol Clube de Borborema, cujo campo conseguiu cercar.
Em Itápolis, no dia 28 de dezembro de 1947, contraiu núpcias com Wandalice Franco
Renesto e dessa união nasceram dois filhos: Beatriz Terezinha Franco Renesto e Vicente de Paulo
Franco Renesto.
Waldomiro Renesto e família fincaram raízes em Fernandópolis no ano de 1952, pois
trabalhava como Tabelião no Cartório de Registro Civil na vizinha cidade de Macedônia (SP).
De 1954 a 1992 foi um zeloso Serventuário da Justiça. Estudioso, acompanhou sempre a
evolução da Justiça, não se descurando das leis, a fim de defender sempre o patrimônio e o direito
dos clientes, do 2º Cartório de Notas de Fernandópolis, onde se aposentou compulsoriamente aos 70
anos. “Não me aposentei por requerimento, me sobravam anos para isso, mas por força da Lei”,
costumava dizer.
Como chefe de família, procurou dar aos filhos uma boa formação educacional, missão em
que se saiu muito bem, pois seus filhos conseguiram alcançar êxito em todos os setores. Beatriz é
médica em São Paulo, exercendo com dignidade sua missão; Vic Renesto é formado em direito e
jornalismo e, hoje, é editor chefe do Jornal Cidadão de Fernandópolis. “Bê”, como ele chamava a
primogênita, é casada com Luiz Alberto Bezerra Martins, que lhe deram três netas: Mônica, Roberta e
Fernanda, “essa última tendo sido batizada em homenagem à cidade que o avô tanto ama -
Fernandópolis”, frase escrita por seu Waldomiro; e “Vic” casado com a Regiane da Graça Dores
Renesto, de cujo casamento nasceram seus netos Márcio Vinicius e Vanessa.
“Ele sempre serviu Fernandópolis, sem jamais servir-se dela” (Vic Renesto)
Esportista que era, presidiu, em Fernandópolis, o Cacique Atlético Clube, de grandes
vitórias e alegrias para nossa cidade. Muitos Jovens tiveram oportunidade nesse time: Du, Valtão,
Oraci, Milton Gaetano, Carabina, Baguá, Piorra e Orlandinho. Era torcedor do Palmeiras e do Fefecê.
558

Além do futebol, seu outro lazer nas horas vagas era ouvir Chico Alves, Nelson Gonçalves e outros
grandes cantores do passado.
Nas suas horas livres, dedicava-se à filantropia, à assistência social e sempre colaborou
com as campanhas das Igrejas de Fernandópolis, com especial dedicação à Igreja Matriz de Santa
Rita. Com a ajuda de amigos, construiu uma torre e instalou o relógio da Praça da Matriz. Como
cristão autêntico, esteve à frente de outros movimentos em prol da cidade.
Na administração de Percy Waldir Semeghini pediu ao deputado Dr. Ademar de Barros, seu
amigo particular, a indicação ao Alto Comando da Polícia Militar para a instalação do 16º Batalhão de
Polícia Militar do Interior em Fernandópolis; lutou pela criação da Delegacia de Ensino de
Fernandópolis, ao lado do então prefeito; foi padrinho da instalação, no antigo Instituto de Educação
de Fernandópolis, dos cursos de Aperfeiçoamento e Administradores Escolares, em nível de pós-
graduação do antigo Curso Normal de Professores Primários.
Em 1970, conheceu o antigo asilo, situado numa região úmida da cidade e passa a ser um
dos Confrades Vicentinos, “Filho de Vicente, com um filho também Vicente, trago comigo o
chamamento para a caridade de São Vicente de Paulo”. Foi quando, juntamente com outros
Vicentinos, lutou para conseguir uma área mais salubre para abrigar os idosos. Da ideia à
concretização, muitas campanhas, almoços e leilões de gados foram realizados.
Contando com a característica solidariedade da população e o trabalho voluntário dos
Vicentinos, sob a Presidência de Waldomiro Renesto, grandes obras foram realizadas no Parque
Residencial São Vicente de Paulo de Fernandópolis, Núcleo Santa Rita e o Recanto do Tamburi.
Durante 30 anos de sua vida, foi um construtor de obras benemerentes aos velhinhos que viveram e
vivem até hoje.
Em 15 de novembro de 1972, Waldomiro Renesto foi eleito vereador. Como político, sempre
procurou carrear suas forças para o bem comum. De 1973 a 1976 atuou como vereador e também
presidente da Câmara Municipal de Fernandópolis; lutou por grandes causas: autoria da lei que criou
a Fundação Educacional de Fernandópolis; autor da lei que criou a “Medalha 22 de Maio”, com a qual
são agraciadas pessoas credoras de reconhecimento público, pelos serviços prestados à comunidade
fernandopolense; juntamente com José Beran, Nagib Aidar e Roberto Teixeira, encabeçou lutas em
favor da construção da usina hidrelétrica de Água Vermelha, da construção da Rodovia Percy Waldir
Semeghini, criação do Projeto de Desenvolvimento Industrial (PRODEI), tendo sido instaladas quinze
indústrias; criou e instalou uma Biblioteca Pública na Câmara Municipal de Fernandópolis, com 3.500
volumes; estabeleceu a proporção de um táxi para cada mil habitantes, regularizando assim, a
situação dos taxistas.
Em 1975, presidiu a VIII Exposição Agropecuária e Industrial de Fernandópolis. Como
provedor da Santa Casa de Misericórdia, juntamente com outros voluntários, deu grande impulso
àquele hospital, construindo e mecanizando lavanderias e cozinha. Dotou todos os quartos de
oxigênio, através da “Central de Ar Comprimido”; instalou o Pronto Socorro da Santa Casa; adquiriu
Raios-X portáteis; por sua interveniência, a Secretaria de Saúde aprovou o processo da Unidade de
Pediatria.
Em 1989, Waldomiro Renesto presidiu o Programa do Cinquentenário de Fernandópolis:
 Março: Abertura oficial;
 Abril: Valorização do esporte com torneio de basquete e julgamento do Concurso do
Projeto Arquitetônico do Monumento do Cinquentenário;
 Maio: Reconstituição da cena da união ocorrida meio século antes, ao meio do
caminho, defronte ao 16º Batalhão da Polícia Militar de Fernandópolis, quando as comunidades de
Vila Pereira e as comunidades da Brasilândia se harmonizaram pelo crescimento comum, por
sugestão do Governador Fernando Costa; os festejos da Exposição Agropecuária com várias
atrações: baile country, campeonato de karatê, shows diversos, balonismo, alvorada;
 Julho: Campeonato paulista de judô; Jogos Regionais, com a participação de 127
cidades;
 Setembro: publicação do Livro sobre a memória de Fernandópolis.
Homenagens recebidas em vida:
- Em1994, recebeu o título de “Honra ao Mérito” da Loja Maçônica Benjamin Reis;
- Em 2001, recebeu o Título de “Cidadão Fernandopolense”, fruto de projeto do vereador
Antenor Ferrari, na época em que era presidente da Câmara o Dr. Francisco Affonso de Albuquerque;
559

- Em 2003, seu nome se torna Patrono da Biblioteca da Câmara Municipal de


Fernandópolis;
- Em 2006, em um gesto espontâneo, “Os Amigos de Waldomiro” reafirmam a grande
amizade, respeito e reconhecimento pelos relevantes serviços prestados como 2º Tabelião nesta
cidade por quatro décadas, como dirigente maior do Parque Residencial São Vicente de Paulo por
dezenas de anos, como excelente político, homem público e um dos maiores líderes desta
comunidade.
Waldomiro Renesto faleceu em dia 31 de agosto de 2007, e foi sepultado no Cemitério da
Saudade em Fernandópolis.
Eis a vida de um homem simples, honesto, trabalhador e útil à comunidade em que viveu.
Com certeza, deixou muitas saudades, sentidas pelos familiares, pelos idosos que vivem no Parque
São Vicente de Paula e no Núcleo Residencial Santa Rita, pelos Confrades Vicentinos e demais
amigos.

Seu Waldomiro sempre foi um grande amigo, homem íntegro, sábio, procurava
resolver todas as situações com muito amor e perseverança, tendo em vista o bem-
estar e a qualidade de vida dos idosos que viviam no Parque Residencial São
Vicente de Paulo.
(Angelo Segura Segura – Amigo e Confrade Vicentino)

Tenho muitas saudades do Sr. Waldomiro. Ele sempre ajudou eu e o “Menino” –


como ela chamava seu marido o Sr. Avelino – nas horas tristes e alegres. Guardo
ótimas recordações.
(Mariana Jesus Pereira, 101 anos, moradora do Parque Residencial São Vicente de
Paulo, desde 30/06/1964)

GRUPO DE TRABALHO
Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola Melvin Jones
Texto:
Mary Ângela Veríssimo Segura Joaquim – Professora

Colaboradores
José Carlos Joaquim – Diretor de Escola
Claudia Malavazzi Trovatti Custódio – Orientadora Educacional
Rodrigo Alves Dionísio – Professor de Informática
PATRONOS DE ESCOLAS
MUNICIPAIS DE
FERNANDÓPOLIS
561

ALBERTINA ROZA DE SOUZA GARCIA

Albertina Roza de Souza Garcia nasceu na cidade de Tabapuã (SP), em 24 de agosto de


1943.
De 1952 a 1955 fez o curso primário no Grupo Escolar “Prof. Edmur Neves”, na cidade de
Mirassol (SP), tornando-se um dos expoentes como aluna, sempre se classificando com a primeira de
sua turma. No último ano, fez jus ao Prêmio de Bronze, Estrela do Mérito e ao respectivo Diploma de
Honra da Fundação Candido Brasil Estrela, que lhe foram entregues solenemente no salão Paraguai
São Francisco, em 13 de dezembro de 1955.
Foi professora, diretora e supervisora. Realizava constantes trabalhos com a comunidade,
inclusive palestras; era membro ativo da igreja católica. Seu histórico de vida revela um longo
caminho no setor educacional: foi professora na EEPSG “Francisco Alves de Oliveira” em Estrela
d’Oeste (1968), na EEPSG “Saturnino Leão Arroyo” em Fernandópolis (1975), Coordenadora
Pedagógica em Mira Estrela na EEPSG “Paschoal de Astrequini” (1978), Diretora de escola da
EEPSG “Donato Marcelo Balto” em em Meridiano (1979), Supervisora de ensino na DE de
Fernandópolis (1986), Coordenadora de Área do SEROP de Fernandópolis (de 1970 a 1974).
Na área de Estudos Sociais, junto ao SEROP exerceu trabalho no MOBRAL como
supervisora de área na microrregião de Fernandópolis (de 1970 a 1974), que compreendia os
municípios de Meridiano, Estrela d’Oeste, São João das Duas Pontes, Indiaporã, Mira Estrela e
Fernandópolis. Em 1970/1971, realizou o curso de Administrador Escolar na EEPSG “Líbero de
Almeida Silvares“ em Fernandópolis e, em 1972/1973, concluiu a licenciatura plena em Pedagogia
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jales, em Jales (SP).
Embora gravemente enferma, mas muito determinada, não deixou de executar seus
trabalhos com a comunidade. Faleceu em 09 de setembro de 1996, deixando exemplos de amor e
solidariedade.

Colaboração
Iramaia Cristiane de Oliveira e Lopes
562

AMÉRICO BORIN

Em maio de 1999, a CEMEI “Américo Borin” recebeu esse nome em homenagem ao


cidadão brasitaniense, nascido em 20 de junho de 1923, na cidade de Mirassol (SP), filho de Tomas
Borin e Ilda Borin.
Concluiu apenas o curso primário (Ensino Fundamental – Ciclo I). Casou-se em 28 de julho
de 1945 com Diva Cova, com quem teve dez filhos (cinco falecidos precocemente). Era agricultor,
sitiante e religioso – Congregação Cristã do Brasil. Sempre foi uma pessoa sistemática, mas muito
alegre.
Gostava de ajudar a comunidade, principalmente na área da saúde e na lavoura. O terreno
da SABESP foi uma doação feita por ele, pois se preocupava com o bem-estar da comunidade e
objetivava que todos tivessem acesso à água de qualidade.
Seu maior interesse era o trabalho e a família. Nos últimos anos, embora acometido de
doença grave, ainda gerenciava sua lavoura e buscava à família todo o conforto, atendimento e
proteção.
Américo Borin faleceu de leucemia no dia primeiro de março de 1982 no Distrito de
Brasitânia.

Colaboração
Marta Carta Nunes
563

ANGELO FINOTO

Ângelo Finoto nasceu em Neves Paulista (SP), em 15 de janeiro de 1928.


Filho de família humilde, desde criança sempre trabalhou em companhia dos pais. Dentre
as várias profissões em que desenvolveu atividades, a de pedreiro foi a que mais tempo exerceu e a
que o marcou por toda a vida. Na verdade, aprendeu, na prática do dia a dia, todos os ofícios que
viria a exercer em sua vida, desde criança até a idade adulta.
Ainda em Neves Paulista, casou-se e teve cinco filhos.
Com 31 anos de idade, mudou-se de sua cidade natal para Fernandópolis, primeiramente
estabelecendo-se no bairro Brasilândia, onde permaneceu por algum tempo; depois, mudou-se para
a Rua 20, bairro Coester, e, mais tarde, para o bairro Boa Vista, onde permaneceu até sua morte no
ano de 1980.
Como homenagem a esse trabalhador, assim como a tantos outros trabalhadores humildes
que compuseram a história da cidade, a Câmara de Vereadores, em requerimento de seu filho, então
com assento naquela casa, decidiu prestar-lhe homenagem, emprestando seu nome à EMEI Ângelo
Finoto.

Colaboração
João Finoto
564

ANTÔNIO MAURÍCIO DA SILVA

Antônio Maurício da Silva nasceu na Bahia, fazenda Cansanção de sua família, em


02/12/1915, onde passou sua infância até os 14 anos de idade. Antônio decidiu, então, conhecer a
cidade de Salvador, capital baiana.
Lá, Maurício teve seu primeiro emprego em uma empresa de piaçava (vassoura). Ao
completar 15 anos, ele deixou seu emprego e veio para o estado de São Paulo de navio, até a cidade
de Pirapora na divisa com são Paulo, onde começou a trabalhar como lenhador pelo interior do
estado. Passou por diversas cidades até chegar à fazenda de Wilson Lapa para trabalhar em sua
fazenda, conhecida Vaquinha.
Ali conheceu Maria Prates e acabaram casando-se em 1944. O casal teve sua primeira filha
no ano de 1945. Maurício permaneceu dois anos na fazenda e acabou mudando-se para Ouroeste,
onde permaneceu por mais de doze anos. Teve mais sete filhos: Antonia, Maria, Osmar, Reinaldo,
Guiomar, Renê, Lurdes.
Veio para Fernandópolis para tomar conta de um sitio no Jardim Paulista. É considerado o
fundador do bairro. Ali, para sua felicidade, seu Antônio teve duas grandes conquistas: o seu terreno
e seus filhos Paulo, Margarete, Luís Henrique (Rico), Marcos. No bairro, seus familiares permanecem
até hoje.
Antônio Maurício teve um papel muito importante no desenvolvimento do bairro, construindo
uma história de relevância e admiração. Maurício, como era chamado pelos moradores da sua época,
abriu os braços para ajudar os novos moradores que chegavam e, sem olhar para as suas
dificuldades, Maurício dava lição de vida para aqueles moradores e os ajudava a construir suas casas
de taboca revestidas com saibro. Como água era difícil de ser obtida, já que o bairro não possuía
água encanada, Maurício furava os poços. “Seu” Antônio começou a organizar os moradores locais e
formar grupos para se socorrerem uns aos outros em um trabalho comunitário, formando mutirões.
Contou com a ajuda das Irmãzinhas da Assunção, que passaram a organizar as mulheres e dar
cursos de culinária e preparar remédios caseiros. Com essa organização, surgiu a comunidade do
Jardim Paulista.
As mulheres faziam pinturas de guardanapo, tricô, crochê, pinturas em garrafas; realizavam-
se quermesse e todo o dinheiro arrecadado era investido em materiais para substituir as casas de
madeira e de barro por casa de alvenaria; dos trabalhos de construção também participavam as
mulheres. Dona Maria, sua esposa, cuidava da alimentação e ele auxiliava na construção do mutirão.
Maurício educou seis filhos orientados pela sua vocação: todos eles realizam trabalhos
comunitários.
Sr. Antônio foi acometido de um câncer que o levou ao leito. Mesmo assim, tornou-se
exemplo de luta e não se entregou. Mesmo no leito, aconselhava os jovens a lutarem por um mundo
mais justo, porque achava que a união – da qual deu mostras em vida – faz a força. Este foi seu
grande exemplo.
565

Antônio Maurício faleceu em 05 de dezembro de 1995. Em reconhecimento público (com


s752 assinaturas à indicação), foi homenageado com nome à escola modelo CEMEI Antônio
Maurício da Silva.

Colaboração
Luís Henrique da Silva
Simone de Campos Viana
Josiane Faria Borin Ferreira
566

DAYSE LINEY MALAVAZZI BORTOLUZO

A história de Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo começa próximo à cidade de São José do
Rio Preto (SP), lugar que seus pais, Pedro Malavazzi e Anna Juste Malavazzi, escolheram para o seu
nascimento, ocorrido em 02 de abril de 1940.
Descendente de avós maternos imigrantes e de paternos, originários de terras, também,
estrangeiras, teve suas raízes na cidade de Guapiaçu, onde permaneceu por curto tempo de sua
vida. Em 1943, com apenas 3 anos de vida e com as duas irmãs Doralyce e Dirley, veio morar em
Fernandópolis.
Instalou-se, provisoriamente, na Avenida Líbero de Almeida Silvares, no então vilarejo
Brasilândia. Logo depois, a família mudou-se para a esquina do largo da igreja, em carroção de boi,
ajudada por amigos que aqui também aportaram em busca de oportunidades. A nova morada,
embora desconfortável, tinha a vantagem da proximidade da “venda” do pai, em tempos (945) de
muito racionamento e conversas de Constituinte, redemocratização e transição político-social.
Já na escola pública, dividia seus afetos com mais três irmãos: Deonice, Delizabeth e Luiz
Alberto. A família se completa e os irmãos convivem sob o olhar e gestos ternos e generosos da “irmã
mais velha”. Foi aquela que, por toda a sua vida, de todos cuidava, ora nas tarefas escolares, ora nas
escolhas de leituras, nas comemorações e alegrias, nas decepções e dissabores.
Casou-se, em julho de 1960, com Mário Bortoluzo, com quem teve quatro filhos, dos quais
se orgulhava: Mário César, Kátia Liz, Adriana Liz e Paulo Henrique.
Nas décadas de 1980/1990 e nos anos iniciais do século XXI, teve a felicidade de conviver
com a alegria e carinho de quase todos os seus netos: Marina, Felipe, Amanda, Pedro, Ana Carolina,
Gabriel, Clara, André e Henrique.
Dayse seguia a máxima de Shakespeare (em Henrique VIII: “O que eu sou é o que me faz
viver”.
Em qualquer lugar e hora, escola era a palavra pronunciada, em tom muito especial. Talvez,
o imaginário de escola que a movia se tenha construído na primeira infância, fruto da observação
curiosa das vivências muito próximas do pequeno e vizinho Grupo Escolar Brasilândia.
Sem muros, o visível era o corre-corre de crianças felizes, as brincadeiras de “salva pega”,
as rodas cantadas, o “lenço atrás”, a merenda quentinha e cheirosa, o giz colorido rabiscando as
lousas, a sineta tocando e aglutinando os alunos de par em par, a destacada e temida figura do
diretor de terno e a elegância das professoras. Certamente, esse cenário foi a “varinha mágica” do
seu encantamento infantil pelas primeiras letras, cujas marcas permaneceram na maioridade.
O início de 1948 proporcionou-lhe o encontro com “A pata nada” e o ir e vir na dinâmica do
aprender ler/escrever/contar. Nas férias escolares, a Cartilha Sodré era a sua companheira de
567

viagens que fazia á casa dos avós Natividade/Sebastião Juste, dos tios Emílio e Olívio Juste (tios
brincalhões) e da querida e companheira tia Ernestina, os quais a mimavam com muito carinho.
Foi o Ginásio Estadual, recentemente criado, que a abrigou na continuidade de sua
trajetória estudantil no ano de 1952, após a aprovação no obrigatório e seletivo exame de admissão.
Nesse percurso, apaixona-se pelas histórias das cortes e das rainhas e, à luz de vela, à noite,
debruça-se nas leituras preferidas.
No mesmo período, viu-se aflorar o seu senso estético, apesar de a arte, na escola, se ter
apresentado de forma fria e fragmentada nas disciplinas voltadas ao “ensino” do Desenho e da
Música. Em várias expressões, o universo das artes e a sensibilidade estavam sempre presentes: em
alguns momentos eram os rápidos esboços de desenhos que se transformavam em cenários,
pincelados a mão; em outras, a tela virgem que, emoldurada, fazia saltar a vegetação e a natureza
dos animais. Vez por outra, a captação de uma perspectiva decidia que o leve rabisco virasse gente,
lugar, objeto ou, simplesmente, ressaltasse a expressão de um rosto conhecido.
Em 1957, inicia a carreira de professora no Grupo Escolar de sua iniciação, sob a
orientação da então diretora professora Wônia Aparecida Franco; ali permaneceu até 1959, na
condição de “leiga”, como aluna do Curso de Formação de Professores Primários. Formou-se, pela
Escola Normal Municipal de Fernandópolis no final de 1959.
Como era comum na época, candidatou-se ao cargo de Professor Voluntário do Serviço de
Educação de Adultos (1958). Uma das vagas do Grupo Escolar Brasilândia foi-lhe concedida e,
assim, teve a oportunidade de desenvolver ensinamentos de alfabetização.
Aluna ainda, inaugura, no início de 1959, a permanente e ininterrupta trajetória profissional.
Primeiramente, no cargo de professora municipal, na Escola do 1º Recanto Infantil de Brasilândia,
localizada no largo da matriz. Pela primeira vez, o bairro acolhia as crianças pré-escolares sob os
cuidados de um “preceptor”.
Apesar de uma formação não específica, desempenha, a partir de março de 1960, funções
de escriturária no Colégio Estadual e Escola Normal de Fernandópolis. Mas o locus de ação seria,
mais uma vez, a escola, o que lhe garantiu uma visão abrangente da complexa e desafiadora
educação pública.
Fazendo parte do setor administrativo do Colégio Estadual e Escola Normal de
Fernandópolis, mais tarde Instituto de Educação, ocupou, por diversas vezes, as funções de
secretária, em substituição ao titular, Sr. Sérgio Cavariani, o qual assumia, com regularidade e
competência, o cargo vago de diretor.
Agregado às modalidades de ensino já existentes, instala-se, a partir de 1963, o Curso
Primário Anexo (Escola de Aplicação) ao Instituto de Educação, que serviria de laboratório às
experiências didático-pedagógicas aos alunos da Escola Normal. Com ele, ampliava seus
conhecimentos sobre as diretrizes que regulamentavam a escola primária, em complemento aos já
adquiridos com os demais níveis de ensino.
Em meados de 1966, por injunções de ordem político-partidária, teve a sua sede de
exercício “mudada por redistribuição” para o Colégio Estadual de Buritama. Reconhecido o
despotismo da decisão, o ato foi tornado sem efeito dois meses depois, o que lhe garantiu o retorno à
sede de origem.
Designada, em 02 de abril de 1968, pelo Delegado de Ensino Secundário e Normal,
professor Odair Aluizio Tortorello, assumiu a direção da mais recente escola criada na cidade, o
então Ginásio Estadual de Fernandópolis, com a incumbência de estruturá-lo para a concretização
das condições necessárias ao seu funcionamento. Alicerçada no afinado conhecimento que tinha
sobre a legislação que normatizava o sistema de ensino paulista e a que regia a vida de professores
e alunos, organizou-o com critério e profissionalismo.
Reuniu equipes competentes, cujos membros fizeram parte de suas recordações, tais como
Amelinha Alcântara Guerra, Léo Mirabelli, Jacyntha Nogueira Garcia, Cleudes Ferreira da Silva, Maria
Sílvia Sales, Dirce Biancardo, João Sayeg, Genir Brandini e muitos outros. Aí permaneceu como
diretora, até o início de 1972, ocasião em que finalizava o curso de Pedagogia.
Data desse período a especial lembrança do nascimento de seu último herdeiro, Paulo
Henrique, que ficou, na época, conhecido de todos na escola.
568

No mesmo ano de sua designação na função de diretor, após aprovação em concurso


público, assume o cargo de secretária efetiva, no Ginásio Estadual Sílvio Miotto, em Estrela d’Oeste,
deixando-o em substituição para dar continuidade ao trabalho de diretora, recentemente assumido.
Vale lembrar que o cargo de secretário de escola, até o final de 1985, pertencia ao quadro
do magistério e, nessa condição, ocupava o primeiro lugar na escala de qualquer substituição de
cargo de diretor de escola.
De volta ao “ninho”, em 1973, no então Instituto de Educação de Fernandópolis, vivenciou,
no ano seguinte, a sua transformação em Escola Estadual de 1º e 2º Graus Líbero de Almeida
Silvares, juntamente com a grande mudança ocorrida nos currículos do ensino médio. Introduziam-se,
no 2º grau, as áreas de conhecimentos, incluindo a formação profissional.
A partir de 1976, os alunos da cidade e região já podiam almejar novos empregos, cursando
as inúmeras habilitações profissionais que se dividiam em básicas, parciais e plenas, abrangendo os
vários setores da atividade econômica.
Quando a questão era oferecer mais opções de cursos aos jovens fernandopolenses,
debruçava-se, juntamente com a direção da escola, em trabalho de organização e reivindicação junto
aos órgãos superiores. Assim foi com a Habilitação Profissional para o Magistério, com destaque para
a Especialização em Educação Pré-Escolar, e com a Habilitação de Técnico em Contabilidade,
dentre muitas outras.
A complexidade da escola sempre foi um desafio à sua inteligência e responsabilidade. Sem
qualquer sinal de irritação e com sensibilidade, atendia às excessivas solicitações. Para todos que a
procuravam, professores, alunos, pais, direção, a resposta era sempre serena e otimista. Para melhor
expressar o seu perfil profissional, cita-se a avaliação apresentada pelo seu diretor, professor Mauro
Durante, aos órgãos superiores, ocasião de posse e exercício no cargo de secretária efetiva:

A conduta e capacidade de trabalho da Sra. Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo, neste


estabelecimento de ensino, tem sido excelente. [...]
Está sempre de bom humor, alegre e prestativa, atendendo com delicadeza a todos
que a procuram na secretaria do estabelecimento. É de uma sociabilidade notável.
[...]
Sempre se demonstrou estável no seu trabalho e apresentando uma produção útil
no desempenho de qualquer função que lhe é atribuída. Sempre trabalhou com
serviços de grandes responsabilidades, compreendendo os de escrituração de
notas, atas, documentação de alunos e professores, além da correspondência. Seu
grau de adaptação a esses serviços foi perfeito, desempenhando-os com destreza e
eficiência.

Os anos transcorridos entre 1973 e 1980 foram lembrados com saudade. Nessa época, teve
o privilégio de conviver com grandes e inesquecíveis amigos e colaboradores: Laura Maria Borges
Mapelli, Dagmar de Freitas Pinho, Rui Balbo, Ramon Carmona, Dalva Cano Serradilha Rodrigues,
Roza Gonçalves Pimenta, Silde Colagrossi Picini, Aldo Moscardini, Ivone Aparecida Ferro
Albuquerque, Rosa Maria Souza da Costa, Maria Aparecida Trevisan Souza (Bila), Élio Trovatti, Iuri
Narita, Amadeu Jesus Pessotta, Valdir Martins da Silva, Liana Marina Brisighelo G. Matos, Antonieta
Tazinafo, Valdemir Dias Brasil e muitos outros.
O cotidiano escolar foi deixado, em meados de 1981, para ingressar no cargo de Supervisor
de Ensino. Com curta passagem pela cidade de Americana regressou, no ano seguinte, à atual
Diretoria de Ensino, com um acumulado “capital” para lidar com o ensino de todo os níveis e
modalidades.
O trabalho, levado a efeito nas áreas do Ensino Profissionalizante, Educação Pré-Escolar e
Formação de Professores, trouxe desenvolvimento para a cidade. Todo o seu conhecimento foi
voltado para a conquista de modernas possibilidades de avanços na esfera educacional. Dentre
outras, as que mereceram maior dedicação, por longos anos, foram as capacitações para os
professores da Educação Infantil que se realizavam com a presença de especialistas da Secretaria
de Estado da Educação, tais como: 1983 – Aprender Sorrindo; 1984 – Orientação da Proposta
Curricular na Pré-Escola; 1985 – “48º Encontro Regional de Educação Pré – Escolar”; 1986 -
Encontro Municipal Pré–Escolar.
569

Com determinação e visão no futuro, sugeriu, buscou recursos e implantou, em 1992, o


primeiro Curso de Informática - Processamento de Dados, na EE Líbero de Almeida Silvares e os
computadores que formaram o tão almejado Laboratório de uso para os alunos.
Anos depois, por proposição do então Diretor, Professor Valdemir Dias Brasil e aprovação
do Conselho de Escola, recebeu a homenagem de ter o seu nome registrado na escola, na Sala
Ambiente de Informática, com os dizeres:

A Direção da EE. “Líbero de Almeida Silvares” vem, pelo presente, informar que foi
proposto ao Conselho de Escola menção honrosa com a finalidade de homenagear
a Senhora Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo, uma das personalidades que mais
contribuiu para o crescimento desta instituição quando do exercício de suas
atividades, como aluna do curso de Formação de Professores Primários, como
Secretária de Escola e como Supervisora de Ensino.
Tal proposição fará com que esta unidade escolar possa deixar registrado no
Laboratório de Informática o nome da homenageada como fruto dos anseios que era
ver e lançar nossa comunidade estudantil no mundo da informática, da Internet e no
mundo moderno da tecnologia.

O Curso Técnico de Processamento de Dados foi, na história de Fernandópolis, um marco


na preparação/certificação de jovens para um trabalho mais qualificado.
Sua contribuição aconteceu em outras oportunidades por ficar sempre atenta às inovações
que pudessem promover inovações educativas. Ao vislumbrar possibilidades, era destemida, liderava
e criava fatos novos, sem alardes.
Participou, ativamente, na reivindicação de instalação do Centro Específico de Formação e
Aperfeiçoamento para o Magistério (CEFAM), no ano de 1993, com funcionamento a partir de 1994,
vinculado à EE Líbero de Almeida Silvares.
No percurso de educadora, desempenhou, também, as funções de Professor “ACT” em
várias escolas, jurisdicionadas à DE, nos anos de 1970, e professora da Educação Superior, na
Fundação Educacional de Fernandópolis, na década de 1980.
Como exemplar normalista, destacou-se nas atividades que realizou e, por isso, foi
admirada em vida e, não mais entre os vivos, honrada com a distinção de ter o seu nome gravado em
uma instituição que, por ser escola, muito querida seria por ela.
Neste espaço, em que ficou delineado mais um memorial do que biografia, a finalização se
dá na forma de expressões de pessoas próximas e queridas que a conheceram, na convivência em
família ou no trabalho.

Quem era ela para mim?


Ainda pequena pensava: "quando crescer quero ser como ela".
Com sua bondade ensinou-me a amar.
Chorei muito quando se casou.
A grande diferença de idade, fez dela, outra mãe para mim.
Sua presença foi sempre muito amorosa. Generosa e compreensível com todos.
Conhecia, como ninguém, os segredos da alma. Tinha sabedoria de vida.
Não fazia queixas ou lamentos, era antes uma fonte de auxílio para tantos que a
procuravam.
Discrição e prudência. Essa era a Dayse que conheci.
(Deonice Maria Malavazzi de Abreu – irmã)

Dayse
Tive a honra e o privilégio de trabalhar com Dayse.
Ela era uma pessoa singela, cuja presença fazia sentir-se naturalmente, sem alarde,
mas, tão somente por seu jeito de ser, nas palavras, nos gestos, enfim, na vida.
Seu porte e sua personalidade eram brilhantes, sempre atenta à evolução dos fatos,
essencialmente nos avanços educacionais.
Lamentava - e sofria - com a falta de opções aos jovens fernandopolenses, questão
à qual se dedicou com notável equilíbrio. Quando Deus a levou desta vida,
certamente reservou a ela um lugar especial, sereno.
570

Para nós todos, restou um vazio silencioso, avantajado, não por sua presença física,
mas, espiritual.
Este papel é muito pequeno para abrigar a grandiosidade de Dayse como ser
humano. Mas, junto a outros fragmentos, poderá ajudar a compor a sua figura como
mãe, esposa, filha, educadora e amiga.
Por todo o sempre.
(Armando José Farinazzo. São Paulo, 04 de julho de 2011)

Dayse
De temperamento sereno e conciliador, era sempre um momento agradável
conversar com a Dayse. Seu jeitinho simpático e amistoso de sempre procurar ver o
lado positivo das coisas nos convencia de que não precisávamos nos desesperar
diante dos problemas e adversidades da vida, em vista do caráter passageiro e
transitório das dificuldades a que todos estamos sujeitos.
De certo modo, a Dayse foi a artista da família. Ainda jovem, expressou sua
sensibilidade artística pintando vários quadros, inspirados nos motivos do ambiente
onde morávamos, no bairro Brasilândia, que, na época, exibia uma paisagem mais
natural, menos urbana.
Lembro-me de que alguns meses antes de nos deixar, por pura provação, dei-lhe de
presente um cavalete, um estojo de tintas e alguns pincéis e, não obstante as
dificuldades impostas pela enfermidade, surpreendeu a todos, legando-nos um belo
quadro, que passou a compor um mosaico de parede de sua casa.
(Luiz Alberto Malavazzi – irmão)

Laura Maria Borges Mapelli


Conheci a biografada Dayse, na década de 1960. Éramos jovens, em início de vida
profissional. Eu no magistério, atuando como professora de Educação, e Dayse
como Secretária de Escola.
Embora atuando num cargo administrativo, demonstrava interesse pela área do
magistério. Estava sempre atenta aos livros adotados, às técnicas e metodologias
aplicadas no Curso Primário Anexo, junto ao Instituto de Educação, que era o
laboratório didático do curso.
Quando o curso da Pré-Escola, uma especialização na formação para o magistério,
foi autorizado a funcionar no antigo Instituto de Educação, hoje Escola Estadual
Líbero de Almeida Silvares, Dayse passou a compartilhar e opinar sobre as
atividades desenvolvidas. Incentivava e facilitava a frequência dos professores e
alunos às palestras e capacitações de aprimoramento pedagógico.
Seu idealismo crescia junto ao aperfeiçoamento profissional. Cursou a faculdade de
Pedagogia, prestou concurso para Supervisor de Ensino e atuou vários anos na
Delegacia de Ensino, hoje Diretoria de Ensino.
Como supervisora, foi a grande incentivadora de nossa participação em congressos,
simpósios e oficinas sobre as modernas práticas docentes da educação pré-escolar.
Esses eventos eram realizados, na maioria das vezes, na cidade de São Paulo, e
era ela que providenciava as inscrições dos professores, organizava as viagens e
buscava alojamentos. No regresso, colaborava na elaboração de relatórios, que
seriam utilizados como recursos na melhoria do desempenho didático dos
professores.
Seu entusiasmo, incentivo e participação fizeram com que Fernandópolis fosse a
cidade do interior que mais esteve presente nos eventos referentes à pré-escola.
Dessa forma, ela ofereceu aos professores e alunos as oportunidades de
conhecerem e debaterem as teorias/práticas pedagógicas que melhor se
adequassem à pré-escola.
Deixamos o nosso reconhecimento e admiração pela Dayse, pelo incentivo e
empenho em nos oferecer condições de aprimoramento profissional e pessoal.
Admiração, também, pela crença que depositava na educação, valorizando, como
poucos, a primeira etapa do desenvolvimento infantil.
(Fernandópolis, 20 de julho de 2011)

Odete Sebastiana Agustini Scarlatti


A professora Dayse ocupou o cargo de supervisora na Escola Estadual Líbero de
Almeida Silvares durante os anos de 1988 a 2000 e desenvolveu seu trabalho com
571

extrema competência. Era dinâmica, sábia, resolvia todo tipo de problema com
calma, suavidade e um grande sorriso nos lábios.
(Fernandópolis, 18 de julho de 2011)

A mãe
Silenciosa, otimista, serena, dedicada ao trabalho e às pessoas.
Moderna, na maioria das vezes, e conservadora na preservação dos valores
humanos e familiares.
Idealista e comprometida com as questões da educação.
Ensinou-nos a ter coragem e fé em Deus.
Deixou-nos cedo pelo muito que tínhamos a aprender com ela.
(Seus filhos: Mário Cesar, Kátia Liz, Adriana Liz, Paulo Henrique)

Por último neste espaço, também os agradecimentos a todos que tornaram possível a
composição do presente texto, fornecendo dados ou mesmo relembrando fatos e acontecimentos, em
especial à Secretária de Educação Municipal, professora Darci Aparecida da Silva Marin, à
professora Maria de Lourdes Santo, à Diretoria de Ensino na pessoa de Sandra Regina Fernandes,
suas colaboradoras e Dona Luzia Rita de Souza. À Escola Líbero de Almeida Silvares, nas pessoas
de Ivone Ferro Albuquerque e Maria Donizete Damatto.

Colaboração
Família Malavazzi
Odete Sebastiana Agustini Scarlatti
572

IVONETE AMARAL DA SILVA ROSA

Ivonete Amaral da Silva Rosa nasceu em 05 de abril de 1933 na cidade de Bálsamo (SP).
Filho de Avelino da Silva Rosa e Aidê Amaral da Silva, era o caçula de uma família de cinco irmãos.
Iniciou seus estudos primários em Mirassol no grupo Escolar Professor Edmar Neves,
tendo-o concluído em 1945. Frequentou, em seguida, o curso ginasial e o Curso Normal para
formação de professores, conlcindo-o em 1952. Tão logo formado, iniciou sua carreira substituindo
professores em diversas localidades. Ingressou no magistério como professor efetivo em Palmeira do
Oeste, em 1956.
Quatro anos mais tarde, em 1960, foi aprovado em concurso para Diretor de Escola, tendo
seu ingresso no cargo em Neves Paulista.
Nos anos de 1961 e 1962, comissionado, frequentou, no período noturno, o Curso de
Administradores Escolares em São José do Rio Preto, ao mesmo tempo em que, no período diurno,
participava do Curso de Aperfeiçoamento de Professores Primários em Mirassol.
Em 1962, removeu-se para o Grupo Escolar da Brasilândia em Fernandópolis, assumindo,
em 1963, a direção desta escola.
Ivonete sempre foi um homem amável, generoso no trato com as pessoas, dono de uma
personalidade marcante pela grandeza de espírito, fibra, honestidade, serenidade, senso de humor e
muito otimismo. Sobressaia de modo impressionante em todas as situações, jamais perdendo a
calma nas ocasiões mais difíceis.
Amava os familiares; bom filho, teve em seus irmãos os seus melhores amigos. Gostava do
convívio familiar, foi bom marido e pai amantíssimo.
Acreditava em Deus. Em sua adolescência pertenceu à “Congregação dos Marianos”, de
cuja bandinha participou como um dos músicos. Como apreciava música, aprofundou seus
conhecimentos iniciados na escola e aprendeu a tocar violino.
Foi educador nato, plenamente ajustado à profissão de ensinar, sempre benquisto dentro da
escola. Amigo dos professores, alunos, corpo administrativo, tratava a todos com educação, muitas
vezes se apresentava para o trabalho junto com os serventes nas tarefas mais humildes da escola.
Era aberto para o diálogo com os alunos. Prezava sobremaneira a convivência harmoniosa de todos
os professores e alunos visando ao bom aproveitamento no ensino e aprendizagem. Gostava da
escola alegre com o canto dos alunos antes das aulas. Incentivava jogos, brincadeiras orientadas
pelos mestres.
Criou, no Grupo Escolar de Brasilândia, um pequeno “Pelotão de Escoteiros” que
acompanhava a bandinha da escola.
573

Em 1964, deixou Fernandópolis, removido que fora para Guaraci. Por essa época, o
professor Ivonete achava-se muito enfermo, com problemas renais. Todavia, demonstrava
serenidade impressionante durante sua enfermidade.
Faleceu em 16 de maio de 1965 na cidade de Mirassol, com apenas 32 anos de idade.
Em 1968, o Grupo Escolar (Gesc) do Bairro da estação em Fernandópolis recebeu a
denominação de Gesc “Professor Ivonete Amaral da Silva Rosa”, através da Lei 10.174, de 23 de
julho de 1968, por indicação do Deputado Solon Borges dos Reis em homenagem ao conceituado
professor e diretor.
Embora tenha permanecido pouco tempo entre nós, foi possível verificar toda sua
grandeza de alma e do seu magnífico trabalho em prol da educação. Atualmente, sua viúva, Edir
Lopes da Silva Rosa, reside em Mirassol e seus filhos Edgar, Luciano, Alexandre e Mauricio, em São
Paulo; todos se encontram formados. Dona Edir e seus filhos sentem-se orgulhos pelo esposo e pai
Ivonete, que não foi só professor na arte de ensinar, de administrar. Foi, principalmente, professor na
arte de viver. Deixou, em tão pouco tempo de vida, a vivência plena de uma existência imensa...

Equipe de trabalho
EMEF Professor Ivonete Amaral da Silva Rosa.

Gestores
Maria Elisa Bazeia Migliorini
Maria José Carneiro Fachin
Elda Luiza Oliveira Vilar

Professores
Sandra Cristina Jodas Badaró
Terezinha Elisabet Fenti Damasceno

Colaboradores
Edir Lopes da Silva Rosa – esposa
Roseli Marçal Guidoti
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JOSÉ BELÚCIO

José Belúcio nasceu em 16 de dezembro de 1926 na cidade de Palestina, estado de São


Paulo. Era filho de João Belúcio e de Jesuína Maria Belúcio. Morava em uma fazenda, onde, desde
pequeno, trabalhava na lavoura com o pai e mais cinco irmãos. Já era adolescente quando resolveu
alfabetizar-se, mas frequentou a escola por apenas quatro meses no período noturno, pois precisava
acordar muito cedo para o trabalho com a terra. Mas, para surpresa de todos, José Belúcio aprendeu
a escrever e a fazer contas como ninguém.
Aos vinte e dois anos (1948), veio para Fernandópolis, com a promessa da terra fértil e
progressiva. Comprou uma boiada e um pequeno pedaço de terra para o cultivo de grãos. Neste
ínterim, vivia dividido entre Fernandópolis e Américo de Campos, pois lá estava sua amada, Delvina
Raglio.
Em 30 de abril de 1950, casa-se com Dona Delvina Raglio Belúcio, mudando-se para cá, no
mesmo dia de seu casamento. Em Fernandópolis passou sua lua de mel e morou até o fim de seus
dias.
José Belúcio e dona Delvina Belúcio tiveram três filhos: Diná Maria Belúcio, Aladim Antonio
Belúcio e Miriam Belúcio, aos quais se dedicaram e formaram.
Mas a vida não foi tão fácil assim. Havia muito trabalho na fazenda, por isso saía de casa na
madrugada e só voltava quando a noite caía; na maioria das vezes, só voltava no dia seguinte.
Como agropecuarista, cultivava o milho e o arroz; seu fascínio, porém, sempre foi o gado.
Essa paixão lhe rendeu inúmeras premiações, pois se tratava de gado de raça (gir e nelore). Ele foi
um dos maiores expositores da exposição agropecuária de Fernandópolis e de toda a região da alta-
araraquarense.
José Belúcio, aventureiro nato, possuiu dois aviões, que ele mesmo pilotava. Não tinha
brevê por falta de estudos, mas ia à fazenda e de lá voltava voando, frequentemente. Contratava um
piloto apenas quando precisava mudar a rota. Mas, em meados de 1960, seus negócios fracassaram
e sofreu sua terceira decadência financeira (já havia sofrido duas decadências financeiras
anteriormente). Acabou por falir, perdendo todo o gado e sua produção de grãos, restando-lhe
apenas a terra, a qual, posteriormente, vendeu.
Apesar dos fracassos financeiros, nunca desanimou ou perdeu a coragem. Com o dinheiro
das terras que vendeu aqui, foi para a cidade de Carneirinho (MG), onde comprou uma fazenda. Ali
reconstituiu seus sonhos com as plantações de milho e arroz e, principalmente, criando gado. Mesmo
com terras em outro estado, manteve sua residência neste município, o que o levava a viajar quase
todos os dias.
575

José Belúcio foi um homem muito simples, de postura íntegra. Não era dado à política,
porém sempre fez questão de apoiar Dr. Percy Valdir Semeghini e o Sr. Antenor Ferrari, pelos quais
tinha muita admiração e respeito. Carismático, possuía muitos amigos; tinha alma caridosa, sempre
preocupado com os menos afortunados, sentia prazer em servir os que por ele procurassem pedindo
ajuda; se desempregados, levava-os para a fazenda, dava-lhes emprego e comida. Era religioso,
frequentava a Igreja Católica aos domingos e sempre consagrou o dízimo.
Seus filhos afirmam que, como pai, embora rígido, era afetuoso, amoroso e companheiro.
Possuía uma característica incomum: “quanto mais bravo estava mais baixo falava...”. Ainda disseram
ter herdado do pai o que para ele era o mais importante na vida: o caráter e, dentro do seu perfil, o
mais importante era honrar os compromissos assumidos. Ressaltam ainda que o pai, apesar de
pouquíssima escolaridade, possuía um caderno de contas, no qual registrava tudo que comprava,
vendia, pagava ou emprestava, sem se esquecer de nada.
A vida seguia e ele sempre muito orgulhoso dos filhos, por vê-los estudando e construindo
uma futura carreira profissional. Feliz de fato ficou quando a filha Miriam foi eleita primeira rainha de
rodeio de Fernandópolis.
Nem tudo, porém, são flores. Em 26 de novembro de 1972, sofreu um AVC, foi operado no
Rio de Janeiro, em caráter de urgência, por um médico que, na época, era professor de seu filho
Aladim, que cursava faculdade de medicina na Cidade Maravilhosa. Pode-se dizer que este foi o
maior obstáculo de sua vida e a sua maior luta, pois precisava vencer a doença. Após a cirurgia, uma
sequela (perda de movimentos em uma das pernas) o levou a usar muletas; e também a perda
significativa da visão impediu-o de dirigir e cavalgar, ficando totalmente dependente de motoristas e
de sua esposa para levá-lo aos lugares desejados.
Lutador nato, comprou um jipe para ficar na fazenda e passou a usá-lo na fiscalização da
propriedade, acompanhar a lida com o gado e com a plantação. Assim, foi tomando as rédeas do
trabalho paulatinamente. Um ano depois, já ia à fazenda e de lá voltava sozinho. Com isso, deixava
sua esposa e filhos bastante preocupados; mas, como afirmou dona Delvina, “o Zé nunca foi de ficar
parado”. E essa sua luta foi uma verdadeira história de superação, como afirmou sua filha Diná.
Em 19 de julho de 1982, aos 56 anos, José Belúcio foi para a fazenda trabalhar e lá se
sentiu mal. Mesmo assim, quis percorrer toda a fazenda, como se estivesse despedindo-se dela.
Depois passou por Carneirinho, deixou tudo acertado, recebeu o que precisava e veio para
Fernandópolis, com o auxílio de um caminhoneiro, pois não se sentia bem o suficiente para dirigir.
Chegando aqui, foi ao barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba. Segundo o barbeiro, José Belúcio fez
uma brincadeira: “Capricha na barba e no corte, pois, se eu morrer hoje, quero chegar no céu bem
bonito”. E, ao terminar a frase, mais uma vez se sentiu mal. Rapidamente encaminharam-no para a
Santa Casa. Foi um esforço vão, pois perdeu a vida antes que lá chegasse.
Os familiares e todo o município sentiram muito sua partida. José Belúcio deixou três filhos.
E, se hoje estivesse vivo, teria cinco netos e quatro bisnetos.
José Belúcio recebeu muitas homenagens. Uma delas foi ter seu nome dado a uma escola
estadual, ETI “José Belúcio”, que, atualmente, se situa na Rua Benedita Cruz, 777, no bairro Minineli.
No mesmo local, também se encontram documentos originais, pertences pessoais doados pela
família, que compõem um pequeno acervo em exposição contínua.

Colaboração
Fabíola Renata Tavares Luz
Vera Márcia Rocca Bortoluzo
576

JOSÉ CARDOSO TAVARES

José Cardoso Tavares nasceu de família humilde em 7 de dezembro de 1946 em


Jacilândia, distrito de Votuporanga, filho de Acácio Torres Tavares (nascido em Envendos, Portugal)
e Júlia Maria Cardoso Tavares (nascida em Abrantes, Portugal). Em 1975, contrai núpcias em
Brasitânia (distrito de Fernandópolis) com Mara Elizabeth Rodrigues Tavares, nascida em Itápolis
(SP), de cuja união nasceram José Acácio Rodrigues Tavares (hoje casado e com um filho) e Jomara
Rodrigues Tavares (casada, com dois filhos).
José Cardoso fez seus estudos primários (ensino fundamental) no Grupo Escolar de
Brasitânia em 1959. Continuou seus estudos no Colégio Estadual de Guarani d’Oeste, onde concluiu
o 1º ciclo (curso ginasial). Prestou exames supletivos (madureza) no Colégio São Bento de
Araraquara; aprovado, habilitou-se a frequentar curso superior. Buscaria, na cidade mineira de
Machado, na Fundação Educacional Sul Mineira, a licenciatura em Letras (Português – Inglês -
Francês) em 1972. Também concluiu o curso de formação de professores primários em Valentim
Gentil (SP), que o habilitava a lecionar no ensino fundamental.
A família Cardoso Tavares consagrou-se como um marco no comércio de secos e molhados
do distrito de Brasitânia, onde o patriarca manteve uma grande loja (Casa Portuguesa) durante toda
sua vida. Ali o próprio José Cardoso prestava sua colaboração para o sustento da casa. Destacam-se
na memória dos habitantes do distrito os jogos da seleção brasileira na década de 70: a televisão era
novidade e o Sr. Acácio colocava um aparelho na frente da loja, onde grande parte da população
local se reunia para assistir aos jogos.
Cardoso gostava de automóveis e era amante da velocidade. Ainda em estrada de chão
batido, quebrava seus próprios recordes no trajeto de Brasitânia a Fernandópolis, desfrutando dos
arroubos de uma juventude cheia de energia e vontade de viver.
A vida de José Cardoso Tavares sempre foi eivada de buscas pela sua formação e pelo
trabalho. Ainda criança teve que se deslocar de cidade para concluir seus estudos. Era cordial,
amável com as pessoas. Pai carinhoso, expresso em depoimento da filha Jomara:

[...] um pai maravilhoso, um homem honesto, trabalhador, com um coração voltado a


ajudar o próximo. [...] falecido muito cedo, mas que deixou valores e lembranças
importantíssimas à sua família, [para quem] o estudo era a coisa mais importante a
deixar para os filhos [...] foi um homem que acreditava na vitória das pessoas e não
hesitava em ajudá-las a obter essa vitória.

Faleceu de infarto fulminante em 18 de maio de 1992, aos 45 anos de idade, quando estava
em trabalho dentro de sala de aula. Em sua homenagem, teve seu nome indicado e aprovado por
unanimidade para compor o nome da escola de que é patrono.

Colaboração
Tânia Maria Josué Gonçalves
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JOSÉ ZANTEDESCHI

José Zantedeschi nasceu em Descalvado – SP no dia 20 de dezembro de 1911, onde


morou até os sete anos de idade, após esse período fixou residência em Pindorama – SP.
Filho de imigrantes italianos que vieram para o Brasil em 1900. Era uma família numerosa
ao qual possuía seis irmãos.
Estudava em uma escola da zona rural, e com nove anos já trabalhava para ajudar em
casa. Fez apenas o primeiro grau.
Teve uma infância e juventude de muita pobreza e muito trabalho, e de trabalho nunca teve
medo. Com quatorze anos começou a trabalhar em uma oficina mecânica em Catanduva, onde
passou a residir após casado e sempre se orgulhou em dizer que tinha autorização legal para dirigir
com quatorze anos, pois seu patrão se responsabilizou perante a Lei e conseguiu uma habilitação
provisória.
Foi criado sob rígida disciplina religiosa. Temente a Deus, era católico fervoroso. E sempre
foi assim: “Domingo é dia de missa!”.
Casou-se no dia 23 de fevereiro de 1938 com Tercília Antonella e dessa união nasceram
cinco filhos: Maria Aparecida, graduada em Pedagogia e Professora de piano; Francisco Augusto,
Engenheiro mecânico; Luiz Adilson, Engenheiro mecânico; José Haroldo, Engenheiro civil; Maria Rita,
graduada em Pedagogia, Enfermagem e Professora de piano.
Em 1965 veio com a família para Fernandópolis, onde em sociedade com Luiz Arakaki abriu
uma pequena oficina mecânica que tinha apenas como funcionários seus dois filhos mais velhos. A
firma cresceu e hoje emprega cerca de cem pessoas.
Usou sapato pela primeira vez aos dezessete anos, antes usava alpercatas. Foi pela
primeira vez com esta idade para Campinas com o intuito de tratar dos olhos, pois era míope e
começou a usar óculos de lentes grossas do tipo “fundo de garrafa”, mas esse problema nunca o
impediu de ser trabalhador. Era considerado o melhor mecânico da região e também agropecuarista
de médio porte.
De personalidade forte e honestidade incontestável, conquistava amizade e respeito de
todos.
Em 22 de maio de 1992 recebeu a medalha 22 de maio conferida pela Câmara Municipal de
Fernandópolis e em 24 de setembro de 1993 recebeu o título de Cidadão Fernandopolense.
Gostava de contar passagens de sua vida, tinha uma memória retrógrada invejável.
Ao longo de sua vida nunca soube o que era férias, seu divertimento era pescar nos finais
de semana. Histórias de pescaria não faltavam em seu repertório, e nas mesmas, o peixe maior
sempre escapava ou a água estava fria ou até barrenta... Sempre arrumava uma desculpa por pegar
poucos peixes.
578

Zantedeschi foi pessoa simples, que viveu para a família e o trabalho; de reputação
imaculada. Era portador de diabete, por isso tinha que fazer dieta alimentar, e sempre reclamava de
quando era jovem e podia comer sem restrições, não tinha dinheiro para comprar o que queria. Na
velhice tinha dinheiro para comprar as coisas, mas não tinha saúde para comer o que queria.
Faleceu no dia 18 de abril de 1995 com 83 anos, de falência generalizada dos órgãos.

Colaboração
Rosilene Miotto de Abreu
Marli Aparecida Almeida da Silveira Souza
579

KOEI ARAKAKI

Koei Arakaki nasceu na cidade de Shuri, então capital da Ilha de Okinawa, localizada no
extremo sul do Japão, em 11 de janeiro de 1903.
Em 29 de dezembro de 1918, com 15 anos, realizou seu sonho e desembarcou no Brasil
em uma viagem que demorava, na época, em torno de noventa dias no navio Hawai Marú,
juntamente com um irmão mais velho, Saburô Arakaki, que já era casado e veio com a esposa Koshi.
Vieram para Descalvado (SP), onde sua primeira atividade foi trabalhar como colono na
cultura de café no interior paulista. Como todo imigrante, sofreu as dificuldades e a exploração de
estar em um país de língua e costumes totalmente diferentes. Mudou-se para a zona rural da região
de Catanduva (SP), o distrito de Vila Elisiário, fazenda São Bento, onde ele e seus familiares se
dedicaram à cultura do algodão. Nessa época, passou por várias outras fazendas da região
(Pindorama, Vila Roberto, Vila Salgado, fazenda Fadiga), sempre explorando as culturas de algodão
e café, como colono e arrendatário.
Em 1926, com 23 anos, casou-se por procuração com a Sra. Nahi Shimabukuro, só a
conhecendo pessoalmente em 1927, quando chegou ao Brasil juntamente com o irmão caçula do Sr.
Koei. O casal teve sete filhos, quatro homens e três mulheres.
Em 1953, passou por uma terrível experiência. Com suas economias, decidiu transferir-se
para o Paraná junto com a família, tendo adquirido umas glebas de terra na região norte daquele
estado. Foi uma decepção, pois o corretor vendeu uma coisa e entregou outra. A gleba não tinha
valor algum. Ficaram lá por cerca de vinte dias, perderam tudo e voltaram de mãos “abanando” (sem
nada).
Ele e sua família passaram por tempos difíceis. Com muito esforço, plantaram algodão na
Vila Elisiário, mas, novamente, perderam tudo com a chegada da guerra. Mesmo assim, sem
esmorecer, conseguiu reerguer-se.
Já em 1948, mudou-se com a família para Catanduva, a fim de estudar os filhos e
aprenderem outras profissões.
Anos mais tarde, dois de seus filhos resolveram montar uma oficina em Fernandópolis e,
seis anos depois, compraram uma casa para o Sr. Koei e o chamaram para morar em Fernandópolis
com o restante da família. Aqui, enfim, encontraram uma vida mais tranquila e feliz. O sonho de
infância de um país chamado Brasil, promissor, com fartura e oportunidades enfim se realizou.
O Sr. Koei Arakaki faleceu em Fernandópolis em 05 de outubro de 1978; contava, então,
com 75 anos. Sua esposa viria a falecer em 02 de maio de 1996, com 87 anos.
Em sua homenagem, Fernandópolis tributou uma escola municipal com seu nome, a EMEF
“Koei Arakaki”, uma sala oficina na APAE, uma Rua no Jardim Paraíso e a biblioteca da Fundação
Educacional de Fernandópolis.
Colaboração
Escola Koei Arakaki
580

MARIA TEREZA GARCIA DOS SANTOS NICOLETI

Era o ano de 1953. Nas primeiras horas do dia 21 de agosto veio ao mundo a menina Maria
Tereza, na cidade de Araraquara. Seus orgulhosos papais, José Pereira dos Santos Filho e Maria
Aparecida Garcia dos Santos, exibiam a filha primogênita para todos como um grande presente de
Deus.
Viveu em Araraquara até 10 meses, vindo morar em Fernandópolis, aqui vivendo toda sua
infância, adolescência e idade adulta.
Maria Tereza foi sempre uma criança adorável e querida por todos. Vivia cercada pelo
carinho de seus irmãos gêmeos José Paulo e José Roberto, José Manoel e Maria Olívia.
Foi sempre orientada a seguir uma religião. Fez sua primeira comunhão no dia 21/06/1962
na igreja matriz Santa Rita de Cássia e participava da coroação de Nossa Senhora vestida de anjo.
Também não dispensava a alegria de participar das danças na sua escola.
Formou-se jovenzinha dinâmica, obediente aos seus pais, sempre muito organizada e
corretíssima em todas as suas ações.
Aluna estudiosa, concluiu, em 1964, o quarto ano primário; em 1969, o ginásio e, em 1972,
formou-se professora primária, embora nunca tenha querido exercer essa função.
Optou por trabalhar na “Ótica Moderna”, onde se tornou o braço direito do papai José.
Costumava receber os clientes sempre com um sorriso nos lábios. Aí trabalhou desde os 13 anos,
desempenhando sua função de comerciante com muita eficiência e dignidade.
Gostava de música; embora formada em acordeão, não gostava muito desse instrumento,
mas sempre agradava aos avós tocando “Saudades de Matão”. Aprendeu também tocar teclado e,
assim, alegrava as festas da família.
No ano de 1975, dia 13 de dezembro, na igreja matriz Santa Rita de Cássia, Maria Tereza
recebeu por seu esposo Sérgio Nicoleti. Desse matrimônio vieram-lhe três filhos maravilhosos:
Camila dos Santos Nicoleti (24/05/77), hoje, cirurgiã dentista atuando em Fernandópolis; Jamile dos
Santos Nicoleti (03/02/1980), arquiteta; e Sérgio dos Santos Nicoleti (19/03/1984), engenheiro
ambiental.
Viveu toda sua vida com dedicação e amor à sua família, ao trabalho e, nas horas de folga,
dedicava seu tempo na catequese infantil. Dava aulas de religião em preparo à primeira comunhão,
demonstrando grande afeição às crianças e muito jeito em lidar com elas. Era participante assídua do
grupo de quarteirão.
Foi presidente do Rotary “Casa da Amizade”, atuando na guarda mirim, promovendo e
participando de eventos significativos para o clube e para a sociedade.
Seu esposo Sérgio, membro da Diretoria Social da Casa de Portugal, sempre contava com
o apoio de Maria Tereza para desenvolver seu trabalho. Em um desses momentos, quando
trabalhava na preparação de cestas de Natal para os menos afortunados, foi que Maria Tereza viveu
seus últimos momentos nesta vida.
581

Preparava-se para o nascimento de Jesus, quando foi chamada para viver uma nova vida, a
que só fazem jus aqueles que viveram como Maria Tereza. Esse era o dia 10 de dezembro de 1995.
Maria Tereza nos deixou exemplos a serem seguidos: boa filha, irmã sempre presente,
esposa exemplar, mãe dedicadíssima, estudiosa, trabalhadora, alegre e decidida.

Colaboração
Maria Teresa Peruchi Marinelli
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MELVIN JONES

Melvin Jones nasceu no dia 13 de janeiro de 1879, em um posto de armas chamado Fort
Thomas, no estado do Arizona, Estados Unidos, filho de capitão do Exército John Calvin Jones e Sra
Ludia Gibler Jones. No estado do Arizona, foi educado por tutores particulares; o restante de sua
infância passou no estado do Missouri, onde frequentou colégios secundários em Dakota e St. Louis,
indo depois para Quincy, no estado de Illionois, onde cursou a Union Busines College, transferindo-
se, posteriormente, para o Chaddoch College, onde estudou advocacia.
Transferiu moradia para Chicago. Ali entrou para o escritório de Johnson & Hranggins
Insurance Brokers. Dedicando-se ao emprego, logo se tornou profundo conhecedor do ramo de
seguro. Isto fez com que ele, mais tarde, organizasse sua própria empresa, a Melvin Jones Insurance
Agency.
Casou-se em 1909 com Rose Amanda Freeman, que, na época, era uma conhecida
campeã norte-americana de golfe.
Em março de 1913, aos 34 anos, Melvin foi convidado para ingressar no prestigioso “The
Bunisess Circle” (Círculo de Negócio) de Chicago. O círculo era constituído por um grupo de homens
que se dedicavam à promoção da reciprocidade comercial e profissional. Em janeiro de 1914,
introduziu idéias inovadoras naquele clube de operações.
De certa feita, notando a apatia cada vez mais crescente de seus companheiros de clube,
Melvin se perguntou: “Que tal se esses homens que são bem sucedidos graças à energia, inteligência
e ambição usassem seu talento em prol da comunidade?” Esse pensamento aliava-se à sua filosofia
pessoal de que ninguém avança na vida se não começar a fazer alguma coisa pelo próximo. Ele tinha
a consciência de que a força coletiva de outros clubes, semelhantes ao seu, poderia ser
encaminhada para servir, desinteressadamente, a pessoas mais necessitadas.
Durante o ano de 1916, com o apoio de seu Clube, Melvin Jones, juntamente com sua
esposa Rose, escreveram para homens de outros clubes existentes nos Estados Unidos, pedindo-
lhes que formassem uma Associação Nacional cujo primeiro interesse seria o de servir aos outros ao
invés de servir aos seus sócios. Nos dias, 8, 9 e 10 de outubro de 1917, no Hotel Adolphus, em
Dallas, Texas, foi realizada a 1ª Convenção, ao final da qual, estava fundada a Associação
Internacional de Lions Clubes.
O fundador da Associação também foi reconhecido como líder por outras entidades. Uma
das maiores honras para Melvin Jones foi em 1945, quando ele representou Lions Clubs International
como consultor na Conferência de São Francisco, Califórnia, quando foi criada a Organização das
Nações Unidas (ONU).
Em novembro de 1918, Melvin Jones edita o primeiro exemplar do “The Club Magazin”, com
28 páginas e em forma de bolso, que seria a precursora da futura revista “The Lions”.
Em 21 de junho de 1956, dois anos após a morte de Rose Freeman, sua esposa, Melvin
Jones casou-se com Lílian M. Radigan.
583

Melvin Jones faleceu no dia 1º de junho de 1961, aos 82 anos de idade, em Floosmoor,
subúrbio de Chicago. Seu corpo foi velado durante quatro dias na Tain Chapel, sendo sepultado no
dia 5 de junho no Mount Hope Cementery.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola “Melvin Jones” recebeu seu nome, pois
o terreno em que ela se localiza pertencia ao Lions Clube de Fernandópolis, que tem Melvin Jones
como seu fundador internacional.

Colaboração
Equipe da Escola Melvin Jones
584

MIGUEL RISK

Miguel Risk nasceu em Pitangueiras (SP) em 10 de fevereiro de 1908. Filho de João Risk e
Zaira Yunes Risk, ambos imigrantes libaneses. Casou-se em 1931 com Jenny Rocha Risk, com quem
teve uma filha, Inês Zaíra Rocha Risk Martins, esposa de Sérgio Noel Martins.
Teve três netos: Sérgio Eduardo Risk Martins, casado com Silvana Pires Nunes Martins,
pais dos bisnetos Sérgio Eduardo Risk Martins Júnior e Rodrigo Nunes Martins; Paulo Henrique Risk
Martins, casado com Loriza Brandão dos Reis Martins, pais dos bisnetos Paulo Henrique Risk Martins
e Beatriz Risk Martins; e Marinês Risk Martins, mãe do bisneto Victor Martins Navarro.
Cursou o primário no Colégio Marista (internato); ali adquiriu ampla cultura pessoal;
aprendeu a falar algumas línguas, entre elas o francês, espanhol e o árabe, sua língua familiar.
Cursou Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo, câmpus de Ribeirão Preto
(SP) e formou-se no ano de 1930. Na cidade de São Paulo, fez curso de especialização no Instituto
Oswaldo Cruz e iniciou sua carreira profissional em Poços de Caldas (MG) em um Laboratório de
Análises Clínicas.
Por motivos familiares, transferiu-se para a cidade de Pitangueiras (SP), cidade em que
exerceu várias funções: farmacêutico, comerciante e bancário. Além de participar ativamente da vida
social local, pertenceu a diversas instituições filantrópicas, tornando-se ele um verdadeiro filantropo.
Como religioso, era pessoa caridosa e abnegada.
Colecionador e amante da literatura brasileira e mundial, foi fundador da Biblioteca
Municipal de Pitangueiras à qual doou grande parte de seu acervo.
Em 1967, transferiu-se para Fernandópolis (SP) como gerente do União de Bancos. E, aqui,
manteve as mesmas características que lhe eram peculiares. Pertenceu à Loja Maçônica Benjamim
Reis, Miguel Risk foi sócio honorário do Rotary Clube por vários anos, presidente do Albergue
Noturno e chefe de gabinete da prefeitura nas gestões de Antenor Ferrari e Milton Edgard Leão.
Suas amizades políticas anteriores ao seu cargo público lhe deram qualificação para
trabalhar pelo engrandecimento de Fernandópolis, cidade que ele amou como sua terra natal.
Com perfil humanista, uma de suas características marcantes era ser formador de caráter,
pelo exemplo, e sempre com uma palavra de alento aos que se privilegiaram de com ele conviver.
Sua permanência entre nós trouxe contribuições e lições valiosas de como viver melhor. Faleceu no
dia 19 de agosto de 1993, aos 85 anos de idade.

Colaboração
Iuri Zaira
Sérgio Noel Martins
585

RENATO ZOCCA

Renato Zocca nasceu no município de Piracicaba, estado de São Paulo, no dia 06 de


Janeiro de 1923. Eram seus pais José Carlos Zocca e Amábile Pessoto Zocca. Teve uma infância
feliz junto aos irmãos Yolanda, Bruno, Ida e Fúlvio.
Cursou primário em Piracicaba onde residia. No ano de 1944, concluiu o curso Técnico de
Guarda-Livro (hoje “contador”), na Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo, em Piracicaba.
Durante esse período, foi comerciante nessa cidade.
No ano de 1950, casou-se com a professora Elza Basso em São João da Bocaina,
passando a residir na cidade de Jaú. Em 1951, nasce o filho José Carlos Zocca Neto, hoje médico
atuante em Fernandópolis.
Em 1956, terminou o curso de Formação Profissional do Professor, habilitação para o
magistério público, na Escola Normal Livre Horácio Berlinck, em Jaú. Durante esse período, embora
trabalhasse como comerciante, assumiu uma substituição para lecionar no Grupo Escolar de Barra
Bonita.
1959 foi o ano de sua efetivação por concurso público para ministrar aula na Escola de Vila
Dallas em Palmeira D’Oeste. No ano seguinte, foi removido para a cidade de Macedônia e, depois,
transferido para o Grupo Escolar Joaquim Antonio Pereira (JAP); a partir de então, fixou residência
em Fernandópolis.
Sempre atuando no magistério e fazendo cursos, trabalhando no primário, foi convidado
para dar aulas de “Trabalhos Manuais” no Ginásio Estadual Líbero de Almeida Silvares (atual
EELAS), onde se efetivou.
Em 1964 fez o curso de Administradores Escolares, em Fernandópolis. A licenciatura em
Pedagogia viria em 1972, pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) em São Paulo.
No ano seguinte (1973), concluiu o curso de Artes Práticas na UNAERP de Ribeirão Preto.
Também na UNAERP, frequentou o curso de Especialização em Educação Didática Geral (1974).
Dois anos mais tarde (1976), licenciou-se em Estudos Sociais (licenciatura plena) pelas
Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Jales e, nessa mesma Faculdade, em 1979, concluiu a
licenciatura em História.
Trabalhando na atual EELAS, aposentou-se no ano de 1989.
Por ter sido uma pessoa íntegra, um cidadão atuante e excelente professor, no ano de
2000, foi-lhe outorgada a homenagem “Medalha 22 de Maio”, sendo, assim, reconhecido o valor do
Professor Renato Zocca na sociedade fernandopolense.
Renato Zocca veio a falecer no dia 29 de dezembro de 2002, com 79 anos, vítima de infarto
agudo, quando faltavam apenas duas semanas para completar oitenta anos.
Reconhecendo seu trabalho como brilhante professor e valoroso cidadão, Renato Zocca
tem seu nome perpetuado em uma instituição de ensino infantil: de acordo com o Decreto nº 2.879,
de 18 de março de 2004: a EMEI Reino da Alegria passou a denominar-se EMEI Reino da Alegria
“Professor Renato Zocca”. No ano de 2009, pelo Decreto nº 3.501, de 15 de julho de 2009, passou
586

então a ser denominada EMEI “Professor Renato Zocca”, fazenda, dessa forma, uma justa
homenagem à sua memória pelo trabalho com a educação em Fernandópolis.

Colaboração
EMEI Prof. RENATO ZOCCA

Equipe de trabalho
Isabel Cristina Bertonha de Assis
(Diretora da EMEI professor Renato Zocca)
Claudenice Permigiane Zocca
(Esposa do José Carlos Zocca Neto, filho)
José carlos Zocca Neto
587

TATIANI CRISTINA DOS SANTOS

No dia 14 de janeiro de 1986, nasceu uma linda menina, filha de José Oliveira dos Santos e
Vera Lúcia Belentani dos Santos, irmã de Jéferson Fernando dos Santos.
Tatiani foi uma criança muito esperada, embora desde pequena já começasse o seu
sofrimento. Aos dez meses de vida é diagnosticado problema em seu rim. Com idas e vindas a São
José do Rio Preto, no dia 28 de janeiro de 1987, contando, portanto, apenas um ano de vida, teve
seu rim direito extraído.
O tempo passou, e essa menina de lábios vermelhos, cabelos negros e pele branquinha
começava a dar seus primeiros passinhos, sempre acompanhada de seus pais. Gostava de brincar e
era feliz: tinha um sorriso largo e acolhedor.
Era menina que exalava ternura e meiguice. Boa aluna, estudiosa, tinha sonhos para a vida
e se esforçava por consegui-los, passo a passo.
No entanto, a vida lhe reservara surpresas. Aos 11 anos, passa novamente por exames de
rotinha, quando é diagnosticada uma anemia; a menina teria que passar por transfusão de sangue.
Com tristeza e apreensão, no dia 14 de junho de 1997, ela nos deixa e vai habitar outro plano.
As autoridades de Fernandópolis se sensibilizaram com o sofrimento da família. Diante do
quadro de dor e de fatalidade, o vereador Luís Pessutto quis, em nome de todas as crianças-anjo
como Tatiani, homenageá-la, atribuindo seu nome a uma escola de Educação Infantil que, à época,
estava em construção.
Em 12 de maio de 2000, foi inaugurada a escola que estampa seu nome: EMEI Tatiani
Cristina dos Santos.
A comunidade do bairro, professores e funcionários agradecem a seus pais e irmão a honra
de, apesar de pouco tempo, poderem ter privado da companhia de Tatiani, “uma flor entre as flores
da escola”.
Em 2007, com o envolvimento dos alunos, pais, funcionários e professores, foi realizado um
sonho: o Hino da Escola, homenageando a inspiradora e patronesse do estabelecimento de ensino.

HINO DA ESCOLA

A cada alvorecer
Ao romper o dia
A querida escola encontrar
Seus encinamentos
E contentamento
A mensagem vem nos ensinar
EMEI Tatiani Cristina dos Santos
Faz jus ao seu nome
588

Formando vencedores (bis)


Escola dedicada
Visando à educação
Formando criancinhas
em grandes cidadãos.
Escola adornada
Segundo lar então
Formado as crianças
Pro futuro da Nação.
EMEI Tatiani Cristina dos Santos
Faz jus ao seu nome
Formando vencedores (bis)

Letra: alunos, pais, funcionários e professores do ano letivo de 2007.


Música: Ana Paula Pessopane dos Santos

Colaboração
Ângela Maria Soares Beraldo
589

WILSON ALVES FERRAZ

Wilson Alves Ferraz foi um empreendedor, hábil homem de negócios, autodidata, que se
permitia transitar em várias atividades como comerciante, diretor de empresas e agro-pecuarista. Na
educação e na cultura, porém, tinha seus mais altos ideais e um valor inestimável, costumando dizer:
sem educação não haverá chances para o futuro.
Pode ser considerado um pioneiro, tendo-se estabelecido em Fernandópolis como
comerciante na década de 50, vilarejo que, àquela época, era conhecido como Vila Pereira. Como
forte liderança e provedor por natureza tanto da família quanto da sociedade, deixou um legado de
exemplo de retidão moral e valores humanos.
Era um homem determinado e de idéias. Autodidata, pode-se dizer que era um “educador
nato”, por seu exemplo moral e de firme determinação. Por força de sua forte personalidade e
empreendedorismo, era muito respeitado e exercia forte liderança nas áreas comercial, social e
comunitária em Fernandópolis.
Foi exemplo de homem digno e batalhador, que construiu sua história com suas próprias
mãos, apoiado na sua capacidade de trabalho e inteligência nata. Portador de valores e ideias
socialistas, contribuiu para semear valores democráticos no difícil período da ditadura militar de 1964.
Nasceu em 18 de setembro de 1924, na família humilde do comerciante Joaquim Custódio
Ferraz e Etelvina Alves Toledo. Foi registrado somente em 30 de abril de 1925 no cartório do então
vilarejo de Guaraci, situado ao oeste do estado de São Paulo.
Longe da prosperidade das famílias paulistas latifundiárias abastadas da época, sendo
primeiro filho de um pequeno comerciante e mãe analfabeta, ambos espanhóis, passou parte de sua
infância em meio rural e frequentou a escola primária em escolinha de extensão rural.
Referindo-se bem humorado à sua infância humilde e ressaltando a importância que dava
aos estudos e à escola, costumava dizer que sua babá havido sido uma égua muito mansa, chamada
Campolina, que possibilitava a ele e sua irmã mais velha Elite freqentarem o curso primário em escola
rural. Sentia-se realizado por ter tido a oportunidade de cursar uma escola que era seu maior ideal.
Com nove anos, já teve de trabalhar para ajudar no sustento da família. Como segundo
filho, mas sendo o primeiro do sexo masculino, tinha, perante a família, que arcar com a
responsabilidade de contribuir para o provimento da casa.
Foi assim que, desde cedo, sem opção de frequentar a escola, aprendeu a ser um
estudante autodidata. Sua “escola de comércio” passou a ser o estabelecimento do Sr. Isaac na
cidade de Guaraci, que, como um verdadeiro mestre e protetor, o incentivou a aprender matemática,
590

português, geografia, comércio e geopolítica, através de leitura dos jornais na época da Segunda
Guerra Mundial; seus conhecimentos de geografia eram mesmo surpreendentes.
A experiência de uma espécie de “escola do comércio” o preparou para exercer,
posteriormente, um papel crucial de provedor. Homem feito, continuou sua carreira de vendedor do
ramo de tecidos em São José do Rio Preto, trabalhando nas Casas Bueno e, mais tarde, na rede de
lojas Riachuelo, tornando-se gerente da filial em Fernandópolis em 1950, onde conheceu a
professora Antônia do Amaral Terra Ferraz com quem se casou e veio a constituir família.
Com o desaparecimento súbito de seu pai, aos 54 anos, assumiu o esteio de toda a família
paterna; apoiou firmemente sua mãe ajudando a encaminhar seu irmão caçula e suas quatro irmãs
mais novas a estudos até todos se formarem.
O casal era ímpar e vivia em clima de grande respeito mútuo e harmonia; embora ambos
tivessem idéias aparentemente antagônicas, eles se mostraram complementares no tempo:
socialismo e espiritualidade. Não gostava de se retirar em férias e sua maior dedicação era voltada à
família e ao trabalho que, segundo sempre dizia, considerava uma verdadeira terapia. O casal teve
três filhas: Carmem, Sônia e Tânia. Posteriormente, juntou-se à família Arminda, que, com apenas
nove anos, trouxe amizade e ajudava no cuidado das filhas, totalmente integrada à dinâmica familiar,
praticamente uma filha adotiva e por todos estimada.
As filhas, enviadas para São Paulo, receberam completo apoio para que estudassem em
boas escolas e se diplomassem, enfim, se preparassem para uma vida e um futuro melhor.
Ferraz influenciou fortemente a educação de suas filhas. Conhecia profundamente a
geografia e apoiava viagens ao exterior; visionário, sonhava com a possibilidade de um futuro, em
que a mulher fosse respeitada como cidadã e respeitada profissionalmente. Apoiava a mulher no
exercício da cidadania e a contribuir efetivamente para a sociedade como verdadeira autora de seu
destino.
Assim, zelando e investindo na educação na condição de provedor da família, viu tudo
prosperar e pode acompanhar algumas gerações se diplomarem no campo da pedagogia, sociologia,
medicina e odontologia.
Mas sua grande vocação era para negócios e administração. Foi gerente das lojas
Riachuelo em Fernandópolis por cerca de trinta anos consecutivos, imprimindo-lhe identidade própria.
Era conhecido como “Wilson da Riachuelo”. Seu estilo de administração, dedicação e eficiente
gerência eram grandemente elogiados pela diretoria da empresa, que o agraciou com uma excelente
gratificação em sua aposentadoria aos 55 anos de idade, no final da década de 70.
Fundou a Indústria Elétrica WTW (uma próspera indústria do ramo da produção de
transformadores elétricos), em sociedade com seu cunhado e amigo Tasso do Amaral Botelho na
década de 70.
A partir de então, passou a investir e dedicar-se integralmente à sua propriedade em
Aparecida do Taboado. Inovando em seu estilo de gerência eficiente e tratamento especial de seus
funcionários, transformou a “Fazenda Lajeado” em uma próspera empresa no ramo da agropecuária
até o final de sua vida.
Idealizou também, na mesma época, o empreendimento imobiliário Jardim Araguaia, que se
transformou no Bairro Araguaia. Entre seus empreendimentos está a criação do pastifício
Fernandópolis em Brasilândia, na década de 60.
Na vida comunitária, foi presidente social do FEC, pertenceu à diretoria do Lions Clube,
ambas na década de 50. Corintiano, apaixonado pelo futebol, foi membro da diretoria do time do
Fernandópolis Esporte Clube na década de 80.
Por ocasião da realização das Olimpíadas em Moscou, no ano de 1980, teve a oportunidade
de ver realizado o mais acalentado sonho de sua vida: viajar ao exterior para conhecer a então União
Soviética. Conheceu, também, Paris, Londres e Madri. Emocionou-se ao visitar o memorial de Lênin
na Praça Vermelha de Moscou; respeitava a história e acreditava que o mundo socialista era
possível.
Ferraz encantou a todos com os relatos a cerca do mundo socialista, que pode ver de perto.
Acreditava firmemente que um dia o veria predominar no mundo sobre o excludente e injusto sistema
capitalista.
A queda do Muro de Berlim em 1989 e o anúncio do fim da União soviética foram-lhe um
duro golpe. Os ideais socialistas no mundo estavam fortemente abalados. Seu sonho de uma
591

transformação social, que corrigisse as injustiças sociais, e que queria para o Brasil e para o mundo,
sofreu forte abalo.
Seu legado de esperança por um grande futuro para o Brasil continua vivo. Através do
CEMEI que leva seu nome, Wilson Alves Ferraz pôde continuar inspirando uma educação baseada
em valores humanos para as novas gerações. Graças aos seus dedicados professores, é possível
renovar tais ideais na formação dos pequenos cidadãos do futuro.
Ademais, ter o nome de Wilson Alves Ferraz como patrono da escola é uma honra e orgulho
para toda a família: representa, de modo ímpar, a possibilidade de renovação e certeza de que seus
valores e ideais se perpetuam – uma herança viva, não somente para a família, mas também para
toda a coletividade, com renovada esperança e crença na educação e no potencial humano.
Que seu exemplo como patrono possa continuar inspirando a vocação e dedicação de seus
professores, funcionários e alunos. Que seu exemplo possa seguir servindo de estímulo constante
para a participação ativa da comunidade de Fernandópolis, para o exercício da educação como
direito social inalienável e para a elevação das consciências a semearem lideranças lúcidas que se
constituirão nos cidadãos e cidadãs do futuro.
Wilson Ferraz faleceu precocemente aos 67 anos em Fernandópolis, em 30 de julho de
1992. Sua perda deixou profundo pesar entre amigos e familiares, especialmente sua viúva, as três
filhas e os seis netos.
Colaboração
Sônia Maria Terra Ferraz
Brasília, 26 de janeiro de 2009
592

PARTE IV

IMAGENS DA HISTÓRIA
593

IMAGENS DA HISTÓRIA

“Uma imagem vale por mil palavras...”

Além de leitor, espectador; mais do que apreciador, guardião.


Não só ver, se envolver, viver...

Essas foram as intenções quando adicionamos uma quarta seção nesta obra - IMAGENS
DA HISTÓRIA, enriquecendo A HISTÓRIA, TEMAS e BIOGRAFIAS, já existentes.
Esclarecemos que foi dada preferência às fotos referentes aos períodos já pesquisados e
descritos analiticamente neste Volume II e no Volume I, de 1996.
Mais de 1.000 fotos foram analisadas. Sem desmerecimento às demais, selecionamos
cerca de 300, considerando a importância e as que possibilitaram melhor e mais rápida identificação.
Para isso, o Conselho Editorial foi criterioso, convidando, inclusive, conhecedores e antigos
moradores para auxílio na cronologia e significação de cada foto. Mesmo assim, sabemos que haverá
correções a serem feitas, e contamos com elas!
Ansiamos, com isso, por estimular uma crescente participação dos fernandopolenses,
permitindo que outras centenas de imagens façam parte das futuras edições, e que fiquem guardadas
e perenizadas em cada lar desta cidade.

Conselho Editorial
AGRADECIMENTOS

Àqueles que possibilitaram a elaboração desta parte IV – IMAGENS DA HISTÓRIA.São


muitos, quase quanto o número de fotos. Assim, através dos relacionados abaixo, estendemos nossa
gratidão, também, aos não citados.

AAMF- Associação de Amigos do Município de Fernandópolis


Acervo Fernandópolis Jornal
Albaní Ribeiro de Carvalho
Câmara de Veradores de Fernandópolis
Casa de Portugal
Edgar Pagnossi
Elaine Siqueira
Família Antonio França
Família Aristóteles Alvarenga
Família Cáfaro
Família Edison Rolim
Família Flávio Batista Leone
Família Francisco Leão
Família Geraldo Roquette
Família Jayme Leone
Família Lourival Marcondes
Família Sano
Família Sato
FEF – Centro de Documentação e Pesquisa
Flávio Henrique Seccatto Leone
Jayme Eduardo Seccatto Leone
Joaquim Melero de Barros
Jornal do Interior
Maria Angélica Leone “Mariá“
Maria José Pessuto
Miguel Kobayashi – Foto Primavera
Museu Carlos Barozzi
Paróquia Santa Rita de Cássia
Romildo Cecato
Waldomiro Spanghero
Warner Casari
Yukio Sugahara (foto Capa)
595

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Das origens a 1949 -

NOSSA GENTE
596
597
598
599
600
601
602
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608
609
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611

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Das origens a 1949 -

A CIDADE
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624
625

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Das origens a 1949 -

FATOS E ACONTECIMENTOS
626
627
628
629
630
631

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1950 a 1959 -

NOSSA GENTE
632
633
634
635
636
637
638
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647
648

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1950 a 1959 -

A CIDADE
649
650
651
652
653
654
655
656
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661
662
663
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665
666
667

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1950 a 1959 -

FATOS E ACONTECIMENTOS
668
669
670
671
672
673
674
675
676
677
678
679

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1960 a 1969 -

NOSSA GENTE
680
681
682
683
684
685
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687
688
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690
691
692
693
694

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1960 a 1969 -

A CIDADE
695
696
697
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707

IMAGENS DA HISTÓRIA

- 1960 a 1969 -

FATOS E ACONTECIMENTOS
708
709
710
711
712
713
714
715

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Acima de 1970 -

NOSSA GENTE
716
717
718
719
720
721
722
723
724
725
726
727
728

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Acima de 1970 -

A CIDADE
729
730
731
732
733
734
735
736

IMAGENS DA HISTÓRIA

- Acima de 1970 -

FATOS E ACONTECIMENTOS
737
738
739
740
741
742
743
744
745
746
747
748
749
750

FERNANDÓPOLIS
HOJE
751
752
753
754
755
756
757
758
759
760
761
INDICE

APRESENTAÇÃO, 3

PARTE I – A HISTÓRIA, 13

FERNANDÓPOLIS: LIGAÇÕES INTERNAS E EXTERNAS, PERMANÊNCIAS E


RUPTURAS POLÍTICAS, 16

EDISON ROLIM (1952/1955), 19


A comarca, 24
Outros feitos do primeiro governo Rolim, 29

ADHEMAR MONTEIRO PACHECO (1956/1959), 30

EDISON ROLIM (1960-1963), 38

PERCY WALDIR SEMEGHINI (1964-1968), 49


Realizações do governo Percy, 59
Perspectiva de uma nova era para Fernandópolis: eventos culturais e
esportivos, apresentações intelectuais, esportivas e artísticas, 69

LEONILDO ALVIZZI (1969/1972), 72

ANTENOR FERRARI (1973/76), 80

PREFEITOS APÓS 1996 (sinótico), 88

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM FERNANDÓPOLIS ATÉ 1980, 96

TEMPOS DE CRIANÇA E DA JUVENTUDE “SADIA” EM FERNANDÓPOLIS:


CONSTRUINDO VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS (dos anos 40 aos anos 70 ), 128

PARTE II – ARTIGOS E TEMAS, 198


Associação Comercial e Industrial de Fernandópolis (ACIF), 200
UHE de Água Vermelha e sua importância para Fernandópolis, 202
Educação em Fernandópolis, 218
Espiritismo em Fernandópolis, 237
Antigas vias de comunicação e suas transformações no noroeste paulista, 240
Evolução da paisagem do município de Fernandópolis (SP), 246
Ferrovia em Fernandópolis, 267
FFC e sua história, 275
A Igreja Santa Rita de Cássia de Fernandópolis, 284
Igrejas Evangélicas em Fernandópolis, 290
O esporte amador em Fernandópolis, 298
O patrimônio histórico e cultural de Fernandópolis, testemunhos da memória, 320
A pré-história de Fernandópolis e região, 338
Ribeirão Santa Rita, 365
Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis 379
Juventude com hora marcada, 390
A evolução e as transformações na agricultura do município de Fernandópolis, 397
A Umbanda em Fernandópolis, 414
PARTE III – BIOGRAFIAS, 415
Adhemar Monteiro Pacheco, 417
Angelo Sartori, 419
Antenor Ferrari, 424
Antonio Alcaça Barronovo, 426
Antônio de Gênova, 428
Antonio dos Santos (Tonicão), 431
Antonio Fontes Gomes, 434
Antonio França, 436
Antônio Otávio Simões moita, 438
Apolinário de Mattos, 440
Aristóteles Alvarenga, 442
Armelindo Ferrari, 444
Bernardo Pessuto, 445
Cenafonte Cecatto, 447
Cezar Duarte Azadinho, 448
Deodato Antonio Pereira, 447-B
Écio Vidotti, 450
Edison Rolim, 452
Eládia Esser (Dona Maria), 456
Eurico Gimenes Martins, 458
Flávio de Lima, 462
Florentino Zacarias 463
Francisco Leão, 465
Francisco Segato, 468
Gentil Franco de Almeida, 470
Geraldo Bataglia, 471
Geraldo Roquette, 473
Humberto Cáfaro, 476
Irmã Margarida, 482
Jayme Baptista Leone, 484
Jesus Meleiro de Barros, 486
José Batista Lacerda, 447-C
José Borges, 490
José Inocêncio Lopes Biúdes, 492
José Maria Alves, 494
José Milton Martins, 497
José Ferreira de Souza (Zé Quirino), 499
Laura Vieira de Azevedo, 502
Lucas Lanini, 507
Luiz Ferrarezi, 508
Manoel Rodrigues da Silva (Badeco), 510
Manoel Rodrigues Magro, 511
Maridéa das Dores Mello Carnelossi, 512
Mário de Matos (Comendador), 514
Martha Pagioro do Nascimento, 522
Mataso Kuroda (Comendador), 524
Merciol Viscardi, 527
Newton Camargo de Freitas, 529
Padre Damião Van Der Zanden, 530
Padre Hugo Van Tuiyl, 533
Paulo Fantini, 536
Pedro Bonassi, 538
Querton Ribamar Prado de Souza, 541
Raimundo de Souza Medrado, 547
Romeo Soares da Silva, 550
Rui Okuma, 552
Theodósio Semeghini, 556
Waldomiro Renesto, 557

PATRONOS DE ESCOLAS MUNICIPAIS DE FERNANDÓPOLIS , 560

Albertina Roza de Souza Garcia, 561


Américo Borin, 562
Ângelo Finoto, 563
Antônio Maurício da Silva, 564
Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo, 566
Ivonete Amaral da Silva Rosa, 572
José Belúcio, 574
José Cardoso Tavares, 576
José Zantedeschi, 577
Koei Arakaki, 579
Maria Tereza Garcia dos Santos Nicoleti, 580
Melvin Jones, 582
Miguel Risk, 584
Renato Zocca, 585
Tatiani Cristina dos Santos, 587
Wilson Alves Ferraz, 589

PARTE IV – IMAGENS DA HISTÓRIA , 592

Das origens a 1949: - Nossa Gente, 595


- A Cidade, 611
- Fatos & Acontecimentos, 625

1950 a 1959: - Nossa Gente, 631


- A Cidade, 648
- Fatos & Acontecimentos, 667

1960 a 1969: - Nossa Gente, 679


- A Cidade, 694
- Fatos & Acontecimentos, 707

Acima de 1970: - Nossa Gente, 715


- A Cidade, 728
- Fatos & Acontecimentos, 736

Fernandópolis, hoje, 750


FERNANDÓPOLIS - NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE - Vol. II / 2012
Fernandópolis - Nossa História, Nossa Gente
Prefeitura de Fernandópolis - 2012 - vol. II

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NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE
Vol.II

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