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Livro Fernandopolis v2
Livro Fernandopolis v2
II / 2012
Fernandópolis - Nossa História, Nossa Gente
Prefeitura de Fernandópolis - 2012 - vol. II
FERNANDÓPOLIS
NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE
Vol.II
CAPA
Yukio Sugahara(foto)
COORDENAÇÃO
Conselho Editorial
FINANCIAMENTO
Prefeitura de Fernandópolis
Prefeitura de Fernandópolis
Prefeitura de Fernandópolis
ISBN :
Impressão e acabamento:
Gráfica e Editora Anglo S/A
Rua Gibraltar‐ nº 368 / Santo Amaro
São Paulo‐ CEP 04755‐902
PREFEITURA DE FERNANDÓPOLIS/SP
FERNANDÓPOLIS-
v. II - 2012
APRESENTAÇÃO
Importante destacar que as duas obras refletem, e há, de forma real e efetiva, o
sentimento e a participação da população fernandopolense, visto que dela partiram as sugestões e a
elaboração das Biografias e Temas, e as fontes de coleta da maioria das fotos.
Portanto, cumpre-nos externar nossa imensa gratidão a todos que, de alguma forma,
possibilitaram a pesquisa, elaboração e edição deste Volume II, destacando o trabalho de mais de um
ano do Conselho Editorial e Equipe Executiva, responsáveis pelo Projeto deste Livro, bem como às
entidades, instituições, representações comunitárias, famílias e cidadãos, parceiros fundamentais
nesta vitoriosa empreitada cívica.
- Prefeito –
DECRETO Nº 6.235 - DE 15 DE MARÇO DE 2011
(Nomeia o Conselho Editorial).
DECRETA:
I – COORDENADOR GERAL:
II - SECRETÁRIA:
IRACI PINOTTI.
III – MEMBROS DO “CONSELHO EDITORIAL”:
Artigo 3.° - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogando
as disposições em contrário.
Registrada no livro próprio de portarias e publicada na Imprensa Oficial do Município, bem como por
afixação nesta Prefeitura Municipal em lugar de costume e amplo acesso ao público. Data supra.
CONSELHO EDITORIAL
Volume I – 1996
O primeiro volume do livro Fernandópolis - nossa história, nossa gente, lançado em 1996,
historiou, de forma analítica, dos primórdios da região e do município até 1951 – final do governo de
Líbero Silvares, primeiro prefeito eleito.
Volume II – 2012
Neste Volume II, consta a descrição analítica do período de 1952 a 1976 – do 1º governo Edison
Rolim ao de Antenor Ferrari, e a descrição sinótica das gestões 1997/2000 - Armando Farinazzo,
2001/2004 - Newton Camargo/Adilson, 2005/2008 - Rui Okuma/Ana Bim e 2009/2012 - Luiz Vilar.
São abordados 19 Temas, 73 Biografias e a seção Imagens da História(fotos).
Conselho Editorial
PARTE I
A HISTÓRIA
(1952-1976)
DEDICATÓRIAS
A
Osterno, que viveu e conhece esta história;
Adriane, Gisele, Ricardnho, Victor e Ricardo que são filhos da terra e a amam;
E Celso, de outras terras, para que também possa conhecer a nossa história.
Rosinha
Vanda
AGRADECIMENTOS
Funcionários da Câmara:
Vanda Regina de Rezende – Assistente Legislativa
Edna Rosi Tarláo – Assistente Técnico Legislativa
1º cartório Cível
Amauri Piratininga Silva – Diretor
Harlei Barreto Gomes – Oficial maior
Valdice Fernandes de Souza – Agente administrativa
Prefeitura
Bruno Cesar Rosselli Medri – Gerente de Apoio Administrativo e de Normatização
Iara Cristina Fuzari Perez – Assessora de Planejamento
Jéssica Guimarães da Silva – Supervisora de setor
Frederico A. Nossa Garcia – Escriturário
Arquivo Municipal
Júnio
FERNANDÓPOLIS: LIGAÇÕES INTERNAS E EXTERNAS, PERMANÊNCIAS E
RUPTURAS POLÍTICAS
Havia um grande número de partidos políticos, sendo o maior deles o Partido Social
Democrático (PSD). Esse partido esteve ancorado na máquina governamental do Estado Novo,
herdeiro direto dessa estrutura. Os membros que fundaram o partido devem ser vistos “como homens
íntimos ao trato com a coisa pública, ao conhecimento dos canais de ligação com diferentes esferas
do governo” (GOMES, 1994, p. 109).
Segundo Pandolfi (2002), no que se refere ao perfil ideológico do PSD, seria uma
composição dos interesses das oligarquias rurais e dos novos setores urbanos ligados à burocracia
estatal, possuindo o aval do próprio Getúlio Vargas, então presidente da República.
O quadro dos fundadores desse partido conta com vários interventores do Estado Novo tais
como Benedito Valadares (MG), Agamenon Magalhães (PE), Amaral Peixoto (RJ), Pedro Ludovico
(GO), Nereu Ramos (SC) e, entre eles, Fernando Costa (SP), interventor que visita esta região em
1943, promove a união das vilas Brasilândia e Pereira para que, juntas, pudessem ser inseridas como
município na nova divisão territorial do estado de São Paulo, - o que ocorreria em 1944. Em sua
homenagem, a cidade recebeu o seu nome (PESSOTTA et al., 1996, p. 44).
O PSD foi o partido presente em todos os municípios brasileiros nas eleições de 1945,
conseguindo eleger o presidente da República Eurico Gaspar Dutra.
Em Fernandópolis, a influência do partido se fez presente com a nomeação, em 1945, pelo
interventor Fernando Costa, do primeiro prefeito, Gumercindo Ferraz Frota, que, ao tomar posse,
profere um discurso de teor perfeitamente articulado ao ideário varguista. O referido discurso está
relatado em Pessotta et al. (1996, p. 47-49).
Após 100 dias da gestão Gumercindo Ferraz Frota, é nomeado novo prefeito, Miguel Dutra
da Silva, da mesma orientação política, que governa até 1947, quando se afasta para concorrer às
eleições municipais.
O terceiro prefeito nomeado foi Verginaud Mendes Caetano, este já apoiado pelo PSP,
partido de Adhemar de Barros.
Nas eleições de 1947, vence Líbero de Almeida Silvares (PSP), derrotando Miguel Dutra
(PSD) e José Maria Pascoalik (PCB).
Em âmbito nacional, o PSP e o PTB elegem, em 1955, Juscelino Kubistcheck para
presidente da República. Barbosa Lima Sobrinho, Tancredo Neves e Ulisses Guimarães foram alguns
dos importantes políticos que viriam a pertencer ao partido. O PSP, embora nacionalmente colocado
em quarto lugar, foi dominante no estado de São Paulo, tendo como liderança maior Ademar de
Barros, governador do Estado em dois mandatos. Com enorme influência em Fernandópolis, a ponto
de, por ocasião do golpe de 1964, a Câmara Municipal, que apoiava irrestritamente todos os atos do
governo militar, se dividir quando os líderes do PSP reagiram, indignados com a cassação do
mandato político de Ademar de Barros. Foram eleitos por esse partido os prefeitos Líbero de Almeida
Silvares e Percy Waldir Semeghini.
Outro partido importante foi a União Democrática Nacional (UDN). Apresentava um perfil
anti-Vargas, buscando conhecer-se por sua eterna vigilância contra a ditadura, e seu maior
representante foi Eduardo Gomes, tendo, ainda, como integrantes, Afonso Arinos, Carlos Lacerda,
Juracy Magalhães e Magalhães Pinto. A UDN apoiou a candidatura vitoriosa de Janio Quadros em
1960. Em Fernandópolis, em 1951, 1955 e 1959, em coligações com PSB, PSD e PR, apóia as
candidaturas vitoriosas de Edison Rolim, Adhemar Monteiro Pacheco e, novamente, Edison Rolim.
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi o terceiro maior partido da época. Assim como o
PSD, era situado do lado varguista. Foi esse partido que elegeu Getúlio Vargas presidente em 1950 e
João Goulart a vice-presidente em duas eleições seguidas, em 1955 e 1960. Quando ocorreu a
renúncia de Jânio Quadros, em 1961, João Goulart, que havia sido eleito vice-presidente pela
segunda vez, assume a presidência. Em Fernandópolis, na primeira legislatura (1952-1955), o PTB
foi um partido que elegeu cinco vereadores à câmara municipal e, junto aos 5 vereadores do PSP, fez
cerrada oposição à primeira gestão de Edison Rolim, que contava somente com quatro vereadores:
dois do PTN e dois da UDN.
Havia também o Partido Republicano (PR), Partido Democrata Cristão (PDC), Partido
Trabalhista Nacional (PTN), Partido Liberal (PL), Partido Social Trabalhista (PST), Partido Socialista
Brasileiro (PSB), Partido da Representação Popular (PRP), Partido Rural Trabalhista (PRT), todos
eles atuantes na cidade, apoiando, em coligações, candidaturas a prefeitos e elegendo vereadores à
Câmara Municipal, repetindo as coligações em esfera estadual.
A tabela 1 mostra os partidos políticos mais expressivos do período histórico estudado
(1952/76) e sua participação (assinalada com X) nas eleições em Fernandópolis:
18
Havia também, o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Esse foi o mais antigo do país,
fundado em 1922 e legalizado em 1945; entrou em ilegalidade em 1947, mantendo-se, no entanto,
com potencial de reestruturação e organização ao longo do tempo e obtendo a legalidade novamente
em 1979, com a Lei da Anistia. Esse partido era muito forte em Fernandópolis, tendo, em 1949,
organizado um levante agrário (PESSOTTA et al., 1996, p. 62-63, 280-310).
Os líderes do PCB, devido à situação de ilegalidade (do partido), filiavam-se a outros
partidos para poderem atuar politicamente. Esse foi o caso de nomes como Fernando Jacob, Alberto
Senra, José Maria Pascoalik, Antônio Alves dos Santos (Antônio Joaquim), José Antônio de
Figueiredo (Zé Cearense), João Thomaz de Aquino, Osvaldo Felisberto e Gerosino Pereira. Este
último não era político, mas atuante no partido.
É importante destacar que, já nesta década (1950), havia a participação feminina: Idalina
Maldonado, Anita Figueredo, Luiza Alves dos Santos, Avelina Pereira, que pertenciam a uma
Associação Feminina fundada na cidade pelo PCB. Embora a sociedade fernandopolense fosse, à
época, conservadora e, acentuadamente, de tendência machista, havia tentativas de atuação política
feminina, tais como as candidaturas à vereança, em 1956, de D. Leontina Conceição Siqueira
(concorrendo junto com Pacheco), D. Avelina Pereira e Elza Gomes (concorrendo com Neca Verdi).
Nenhuma delas foi vitoriosa, o que revelava o conservadorismo da sociedade de então.
De todos os partidos aqui atuantes, o PCB tinha uma ideologia de esquerda mais bem
definida; os outros ora se moviam de acordo com os interesses pessoais e econômicos, ora seguiam
lideranças locais ou estaduais.
O golpe militar de 1964 extingue todos os partidos políticos, suspendendo as eleições
majoritárias diretas para o executivo estadual e federal, e implanta o bipartidarismo: Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). As eleições municipais
permanecem diretas e os candidatos se movem em torno dos dois partidos (ARENA e MDB). A partir
do ano de 1980, voltou-se ao multipartidarismo, vigorando até os dias de hoje.
A Arena se caracterizou como partido da situação, ou seja, abrigou políticos que apoiavam
o governo e o regime militar. O MDB representou o partido que atuou como oposição consentida. A
adoção do bipartidarismo foi mais um artifício da ditadura a fim de dotar de feições democráticas o
regime autoritário.
EDISON ROLIM (1952/1955)
Nota-se que nenhum dos nomes citados na prévia concorreu ao cargo de prefeito e de
vereador. Só se elegeram Líbero de Almeida Silvares e José, na verdade, João Pimenta.
As eleições realizadas em Fernandópolis em 1951 para o quatriênio 1952/55 foram
disputadas por Edison Rolim (PSB coligado à UDN) para prefeito e Adhemar Monteiro Pacheco
(PDC) para vice-prefeito (figura 4), contra Raimundo Noronha Batista (PSP) para prefeito e de
Manoel de Oliveira Verdi (Neca Verdi, também do PSP), para vice-prefeito.
A convenção do PSP, da qual fazia parte Líbero de Almeida Silvares, lançou como
oponente à chapa acima, Waltrudes Baraldi, presidente da Câmara de vereadores. No entanto, por
oposição da sua esposa, Odete, e de seu pai, Baraldi, não aceitou a indicação1:
O Baraldi tinha sido escolhido pela convenção do PSP pra candidato. Ele estava
muito popular, no auge da popularidade, tanto política, quanto profissional. Por
isso então, estava todo mundo entusiasmado, ele teria sido eleito tranquilamente
se tivesse sido escolhido candidato, e foi escolhido pela convenção (do PSP).
Eu era completamente contra a política em geral, não fui uma companheira ideal
para ele como político, não. Quando chegava a hora da campanha, da eleição, eu
tinha que participar, não podia ficar de braços cruzados e o marido aí
“apanhando”. Então, eu fazia o que podia, no momento. Mas antes, eu fazia tudo
para evitar...
O pai dele também não queria que ele aceitasse...
Me lembro daquela vez. Quem acabou sendo candidato foi aí aquele.... o doutor
Raimundo Noronha, lembra?...
Aí, ficaram todos muito bravos comigo... “O que você fez? acabou com o PSP!
O Líbero lança o Raimundo Noronha Batista [figura 5], filho [era genro] do Selmo
Nazareth, lá de Rio Preto, um advogado, por ser candidato; um cara entojado,
ninguém gostava dele. Perdeu feio. Ganhou o Rolim
1
Entrevista concedida por Odete Baraldi às professoras Rosa Maria Souza da Costa, Áurea Sugahara e
Perpétua Matos Malacrida, em 22 de julho de 1996.
2
Entrevista concedida à profª. Áurea Sugahara, em julho de 1996.
21
O professor Sérgio Cavariani (figura 5) era o orador oficial nos comícios que o PSP
realizava durante a campanha de Raimundo Noronha Batista, para prefeito. Os comícios sempre
encerravam com as palavras de ordem do professor, que ficaram na memória de Joaquim Melero
de Barros:
O período que antecedeu as eleições foi tumultuado, com várias discussões e acusações
de lado a lado, havendo, inclusive, brigas que resultaram em duas mortes. Segundo a Ata da 49ª
sessão da Câmara de Vereadores do dia 09/02/55, o então vereador Antonio Brandini, que havia
rompido com o prefeito Edison Rolim e apoiava a candidatura do vice-prefeito Adhemar Pacheco
para as eleições de 1956, referindo-se aos acontecimentos da campanha passada, disse: “[...] lutei
ao lado dele e, se não morri, foi por obra do acaso como aconteceu com dois pais de famílias que
morreram”.
Também sobre esses mesmos fatos, há os depoimentos de várias outras pessoas, dentre
as quais é citado o de Alberto Senra, relatado por Bizelli (1993, p. 203) em sua dissertação de
mestrado:
[...] eleição dura mesmo foi para prefeito de 1951... Nessa ocasião, disputavam a
prefeitura a turma nossa, do PSP, e a turma do Rolim... o Líbero silvares era presidente
do PSP, amigo do Adhemar de Barros já de longa data. E perdemos a eleição por erro
tático... perdemos para o Rolim que era um tipo simpático, popular, lidava com os
lavradores, era comprador de cereais... Eleições se perde por burrice [...] [na eleição]
acabaram morrendo dois coitados.
O pai dele (do Baraldi) também não queria que ele aceitasse. Tem gente que tem
medo da política, ainda mais lá naquele tempo. Assassinaram um correligionário
[nosso] em frente da [nossa] casa, né, nessa eleição.
23
A COMARCA
A partir da esquerda: 1º - José Beran; 2º (não identificado); 3 º Francisco Arnaldo da Silva; 4º Líbero de
Almeida Silvares (prefeito); 5º (não identificado); 6º (não identificado); 7º (não identificado); 8º
(deputado Paulo Teixeira de Camargo?); 9º Waltrudes Baraldi, presidente da Câmara; 10º João Garcia
Andreo; 11º (não identificado); 12º Wagner Rodrigues Costa; 13º Deputado Yukishigue Tamura.
O juiz Joaquim Rebouças de Carvalho Sobrinho (figura 13) foi muito considerado pela
população por ser o primeiro a ficar morando mais de quatro anos na cidade. Na época, a comarca
ficava isolada dos grandes centros e, em razão disso, apresentava muitas dificuldades; por esta
razão, bem poucos eram os juízes que se sujeitavam a vir para o então considerado “sertão”. O Dr.
Joaquim era solteiro e ficou por aqui cerca de quatro anos, sempre envolvido com o acúmulo de
serviço da comarca e liderando várias campanhas filantrópicas em prol da Santa Casa, Casa da
Criança (hoje Centro Social de Menores) e Igreja Matriz.
Liderou, também, em 1958, uma campanha para aumentar o número de votantes da
comarca que, à época, era de menos de quatro mil eleitores. A comarca de Fernandópolis era
muito extensa abrangendo três municípios, vários distritos e povoados com diminuto número de
eleitores, o que comprova uma verdadeira indiferença do povo do município em se alistar para
exercer o direito do voto.
Através de acordo com o Executivo local, foi traçada a meta de se alcançarem 12.000
eleitores. Usando todos os meios permitidos por lei, facilitou a inscrição dos eleitores, poupando-
lhes tempo, dinheiro e dispensando sua vinda à cidade para tal motivo, uma vez que um
funcionário devidamente autorizado pelo Juiz Eleitoral, acompanhado de um fotógrafo, percorreu
toda a cidade, casa por casa promovendo o alistamento.
Para cada distrito do município também foi nomeado um Juiz Preparador e um fotógrafo,
para que, em datas pré-determinadas, se fizesse a inscrição “in loco”.
A imprensa colaborou fazendo a necessária cobertura publicitária (figura 14). Dísticos
alusivos ao alistamento foram enviados aos jornais pelo Juízo Eleitoral, para divulgação da
campanha do voto:
28
c) as autoridades que estão à frente do Poder Judiciário local se vêem obrigadas a excessivas
horas de trabalho, tendo prejudicados o indispensável repouso e a tranquilidade;
d) há alguns anos, foi criada a 2ª vara Judicial, junto ao Fórum local;
e) recentemente, o governo estadual, na nova lei de Organização Judicial do Estado, extinguiu
praticamente todas as varas judiciais criadas e não instaladas até a data de sua promulgação,
mantendo, em caráter excepcional, apenas as 2ªs varas de Fernandópolis e Americana;
f) Fernandópolis, dada sua condição de cidade centro de região, contribuindo aos cofres públicos
com enorme parcela de tributos, não compensada proporcionalmente pelos serviços públicos
recebidos, não pode abrir mão, de forma alguma, da possibilidade concreta de conseguir, junto ao
Poder Judiciário do estado, a instalação, com urgência, da 2ª Vara Judicial.
Porém, essa conquista só vai ser conseguida no governo de Antenor Ferrari (1973/76)3.
3
Sobre a conquista da 2ª Vara Judicial, conferir explanações do governo de Antenor Ferrari desta seção.
4
Para maiores detalhes sobre a urbanização e equipamentos urbanos oferecidos à população pelo governo
de Edison Rolim, ler o artigo O processo de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, no final
desta.
5
Para maiores informações, ver equipamentos urbanos implantados no espaço onde se formou a cidade de
Fernandópolis (1938/1980), item 3 (telefone), em O processo de formação do espaço urbano em
Fernandópolis até 1980, no final desta seção.
ADHEMAR MONTEIRO PACHECO (1956/1959)
6
Ver também fotos e informações referentes ao processo de formação do espaço urbano, em O processo
de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, no final desta seção.
7
Antes da instalação da ENM, já existia a Escola Técnica de Comércio de Fernandópolis, dos irmãos
Fernando e Cícero Barbosa Lima, funcionando na Avenida Expedicionários Brasileiros. Era uma escola
técnica profissionalizante que formava auxiliares de escritório (5ª a 8ª séries) e técnicos em contabilidade
(1º a 3º colegial). Em 1965, quando o curso normal noturno gratuito passou a funcionar, fechou. Os
alunos protestam e, pressionada, a prefeitura assume a escola nomeando diretor a Cecílio Pistelli, ex-
contador da prefeitura. Através da Lei nº 2/65, criou-se e instalou-se o Colégio Comercial Municipal de
Fernandópolis.
32
Em 27/12/58, pela Lei n. 5075/58, a ENM passa a ser administrada pelo Estado,
unindo-se ao Ginásio Estadual com o nome de Colégio Estadual e Escola Normal de
Fernandópolis.
8
A respeito da Santa Casa, ver mais detalhes na seção de Artigos (Parte II) desta obra.
35
9
Juliano Voltarelli, farmacêutico da Santa Casa.
10
Vera Tripeno Fernandes, enfermeira.
11
A cidade a que o depoente se refere é Itápolis, estado de São Paulo.
12
Dr. Pedro (não identificado).
36
Até então a prefeitura de Fernandópolis tinha que enviar verbas para a Santa Casa
de Misericórdia de São José do Rio Preto, para a de Tanabi e para o leprosário Aimorés, de
Bauru, para que essas recebessem os pacientes enviados pela municipalidade.
Ao longo de todos os anos desde 1956, a Santa Casa tem recebido a atenção de
todas as administrações e, hoje, ela é referência no atendimento de saúde não só da
comunidade de Fernandópolis, mas também da região e dos estados limítrofes13.
Ao colaborar com a construção da Santa Casa, o prefeito Pacheco baseou-se na
experiência obtida quando da construção, em 1949, da Casa de Saúde Nossa Senhora das
Graças (figura 26), hoje, Central da Saúde, localizado na Avenida Milton Terra Verdi, primeiro
hospital de Fernandópolis, em sociedade com os colegas que clinicavam na cidade: Alberto
Senra, Waltrudes Baraldi, Antonio Viçoso Moreira de Resende e Osmar de Almeida Luz.
13
Esta obra contempla um estudo sobre a Santa Casa, sua origem e evolução até os dias atuais. Para
maiores detalhes sobre o hospital, conferir a seção II, de Artigos.
37
Logo após o término de seu mandato, em 1960, Pacheco e os colegas médicos João
de Carvalho, José Anézio Faleiros e o radiologista Nelson Rodrigues Cunha inauguram o
Hospital das Clínicas (figura 27), na Avenida Expedicionários Brasileiros, onde trabalha por
dois anos, afastando-se para exercer seu mandato de deputado estadual.
Para o quadriênio de 1960 a 1963, Edison Rolim (figura 28) é novamente eleito prefeito de
Fernandópolis pela coligação PSD, PR, PDC e UDN, derrotando a coligação do PSP-PRP e PTN,
que apoiou Percy Waldir Semeghini. Para vice-prefeito foi eleito Pedro Malavazzi (figura 29) do PSP.
Os vereadores eleitos para esse quadriênio foram:
A década de 60, que se inicia com o segundo governo de Edison Rolim, já reflete um maior
crescimento demográfico; no entanto, ainda possui uma população rural superior à urbana: 21.157
habitantes na zona rural contra 16.083 habitantes na cidade (IBGE apud BIZELLI, 1993). As
atividades agropecuárias e agrícolas também suplantam às do comércio e indústria.
As Atas das sessões da Câmara do período de 60/63 demonstram a preocupação dos
vereadores de que, em requerimentos e indicações, solicitam providências em referência a reparos
em estradas, pontes, mata-burros.
Pedem também providências para que comerciantes e particulares não deixem detritos e
lixos espalhados pelas calçadas, que o poder público solucione os problemas de cães vadios que
infestam a cidade, que se capine e apedregulhe o campo de aviação.
39
14
Essas lutas estão, em parte, explicadas na seção II desta obra, sob o tema O processo de formação do
espaço urbano em Fernandópolis até 1980.
40
O comércio, dentro da referida década começa também a dar mostra de se estender além
das ruas centrais (São Paulo e Brasil) e, nas avenidas Expedicionários Brasileiros e União (atual
Líbero de Almeida Silvares) começam a se instalar escritórios de advocacia, clínicas médicas,
consultórios odontológicos, concessionária de automóveis, caminhões e tratores, oficinas mecânicas
(BIZELLI, 1993).
Já ocorre um fluxo mediano de carros e ônibus que circulam na cidade, na zona rural e
cidades vizinhas, principalmente os ônibus que transportam os jovens todos os finais de tarde para as
faculdades de São José do Rio Preto, Votuporanga e Jales, uma vez que a cidade demandaria até
1984 para instalar sua primeira instituição de ensino superior, a Faculdade de Enfermagem e
Obstetrícia.
Vários outros benefícios foram realizados, objetivando o desenvolvimento da cidade, tais
como: construção dos prédios do Paço Municipal, na Rua São Paulo, n. 536, e os da Caixa
Econômica Estadual e Banco do Brasil (figuras 32 e 33)
15
Cine Fernandópolis, à época, localizado na esquina da Avenida Expedicionários Brasileiros e Rua São Paulo.
43
O encontro da comissão com o bispo se fazia urgente, uma vez que Jales se havia
antecipado e tomado iniciativas para conseguir tal benefício. A expectativa e esperança de vitória
eram grandes pela realidade da preponderância de Fernandópolis sobre Jales, em todos os setores.
No entanto, no dia 06/03/58, em editorial, o jornal O Município publica (figuras 35 e 36):
Figura 37 O núncio, Dom Armando Lombardi, ladeado por Dr. Eufly Jalles e
sua mãe Inês Jalles.
Fonte: Scheffers, 2007, p. 82.
Figura 38 Dom Lafayete Libânio, bispo de Rio Preto, ao lado da família Jalles na primeira
igreja do município.
Fonte: Revista Interativa, 2010.
Outra surpresa se deu na escolha do bispo da nascente diocese. D. Lafayete era favorável
à escolha do vigário de Jales, padre Ewaldo. No entanto, a escolha do núncio apostólico recaiu sobre
o padre Arthur (figura 39), ex-vigário de Fernandópolis, querido da população por ter batalhado muito
em prol da construção da igreja matriz. Essa escolha ajuda a minimizar um pouco a decepção da
população fernandopolense.
45
Os limites da nova diocese (figura 40) são demarcados pelos rios Grande, Paraná e Tietê,
grande parte da qual pertencia anteriormente à paróquia de Fernandópolis16.
As duas perdas (Diretoria Regional de Ensino e sede do Bispado) fizeram com que as
cobranças se dessem de maneira mais contundente. Se resultado das cobranças ou não, o fato é
que, em outubro de 1961, ocorre a construção da Cadeia Pública e o encaminhamento do projeto de
Lei n. 1.058/61 do deputado Wilson Lapa, solicitando a criação da Delegacia Regional de Polícia (só
conseguida em 1994, mas extinta em 199917). Lutam também pela Criação da Associação Comercial
e Industrial de Fernandópolis, conseguida em 27/10/61; construção do Prédio da Delegacia Regional
Agrícola, onde deveriam funcionar também o Serviço Regional de Classificação de Café, Posto
16
Mais informações sobre a criação da Diocese de Jales encontram-se no livro História e Memória da Paróquia
Santa Rita de Cássia de Fernandópolis (COSTA; MALACRIDA, 2012) (no prelo).
17
No governo Orestes Quércia, o Decreto n. 27.022, de 26 de maio de 1987, criara a Delegacia Seccional de
Polícia, à qual se subordinavam as Delegacias de Polícia de Fernandópolis, Estrela d’Oeste, Guarani d'Oeste,
Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Pedranópolis, Populina, São João das Duas Pontes e Turmalina;
46
Veterinário Regional do Instituto Biológico, Serviço Regional de Conservação do Solo (estas últimas
propostas não se concretizaram).
Em novembro do mesmo ano, ocorre a inauguração da agência local do Banco do Estado
de São Paulo (Banespa) (figuras 41 e 42).
[...] ele não fazia proselitismo, ele não divulgava as idéias políticas dele, era coisa interna,
chamada interna corporis, coisa dele, dentro da casa dele. Alguns amigos, quando vinham
lá do partido comunista, faziam visita ao Dr. Jacob. Mas, no mundo político nosso aqui,
municipal, ele não impunha em momento nenhum as idéias dele de esquerda; o que ele
queria era ser prefeito de Fernandópolis, a paixão dele era ser prefeito, não era, Jorginho?
Então, Rosinha, esse negócio de ideologia, ideologia não existia. Eram valores pessoais,
só. [...] O Jacó era adhemarista roxo... (José Marrara, advogado)
Para mim, o Dr. Fernando Jacó estudou, assim como o Dr. Marrara, na USP. A USP era, e
é, uma das faculdades de Direito mais respeitadas do Brasil. Seu nível intelectual [do
Jacob] era muito elevado para a época e local. Ele se formou e veio prá cá, Marrara se
formou e veio prá cá, e outros da faculdade de direito da USP também vieram pra cá com
idéias novas, mas não eram comunistas. (Jorge Aidar, advogado)
Em entrevista com Marrara, transcrita a seguir, o advogado manifesta sua posição política:
Marrara: Ora, eu não sofri nenhuma repressão durante a Revolução. Eu sempre fui amigo
de pessoas ligadas ao partido comunista: Jacó, Alberto Senra, percebe, mais eu nunca
pertenci a partido comunista nenhum. Eu era amigo desse pessoal comunista, mas nunca
me filiei, desde o tempo de estudante, nada de política de esquerda, nem sabia naquele
tempo o que era esquerda. Era mais é local, a nossa paixão era Fernandópolis. Dr. Jacó
tinha paixão para ser prefeito, tentou duas vezes, não conseguiu...
Marrara: Ele sofreu uma derrota por uma coisa que ele nunca fez: propaganda na vida. Ele
nunca quis inculcar em ninguém a idéia de partido comunista. Se ele tinha essas idéias de
esquerda, era pra ele só.
Rosa: O Senhor era do lado do Pacheco, mas não era muito fanático...
Marrara: Eu sempre fui amigo assim... era irmanado com o Dr. Jacó. O Jacó era uma
cultura...
Para tentar atenuar a campanha organizada contra ele de ser comunista, o que o fazia
perder muitos votos, o seu grupo político, na campanha de 1963, montou uma estratégia, como é
mostrado na entrevista com as historiadoras Maria de Souza Costa e Vanda Aparecida de Lima
Costa:
Marrara: Eles tinham um companheiro do Jacó, chamado Velson Vieira do Nascimento, de
Catanduva. Ele disse: Jacó, eu tenho um amigo lá que é padre, entendeu? Você aceita eu
trazer esse padre para fazer um comício pra você e tirar, mascarar essa pecha de que
você é comunista? Coitado, o Jacó, vendo essa situação, disse: “Eu aceito”. Ele trouxe o
tal de padre Damião que fez o comício. O Luiz Rolim, que é irmão do Edison Rolim, tinha
um bispo que era parente dele, D. Rolim Loureiro. Ele foi a São Paulo e trouxe um jornal
da diocese de São Paulo dizendo que esse tal de Damião nunca foi padre na vida,
entendeu? Então isso aí acabou com a nossa campanha.
[...] Esse padre não era padre nada e veio aqui e fez o comício. O que aconteceu contra
nós foi esse padre que, infelizmente, era falso. Se fosse um padre verdadeiro... (risos).
Aquilo foi uma bomba atômica em cima de nós... (risos)
Embora ele não tenha realizado seu sonho de ter sido eleito prefeito, as denúncias contra
ele nunca arranharam a sua reputação e credibilidade de grande advogado.
Da eleição de 1963, foi eleito Percy Waldir Semeghini para o quadriênio 1964/1968
18
Em sua campanha, Fernando Jacob recebeu a alcunha de Mate Leão, sugerindo aquele “que já vem
queimado”.
PERCY WALDIR SEMEGHINI (1964-1968)
Fernandópolis, terra-moça
Tens progresso sedutor
És "criança-gigante”
Que eu amo com ardor
És “criança-gigante”
Que eu amo com ardor
Tuas brisas tão suaves
Teu céu de tão puro anil
Abrigam estas crianças
A esperança do Brasil
Fernandópolis....
Ó Deus bondoso e justo
Olhai este meu rincão
Fernandópolis este pedaço
Da nossa grande nação.
Fernandópolis...
O segundo governo da década de 1960 (1964/68) foi o do prefeito Percy Waldir Semeghini19
(figura 46), tendo como vice Jacob de Angelis Gaetti (Jacob Vigorelli) (figura 47). Foram eleitos pela
coligação PSP, PR e PTB, derrotando a coligação PDC, PSD, PSB e UDN, que esteve no poder
desde 1952.
As pesquisas realizadas nos mostram, doravante, que, de todas as administrações, esta foi
a mais tumultuada, tanto por acontecimentos locais como pelo golpe de 1964, que trouxe em nível
federal os militares para a vida política, e nela permaneceriam por 21 anos.
Os acontecimentos locais a que nos referimos acima estão relacionados à eleição de Percy
Waldir Semeghini, líder do PSP local. Esta eleição interrompe a exclusividade política da coligação
PDC, PSD, PCB e UDN no poder há 12 anos, e que tinha como líder máximo Adhemar Monteiro
Pacheco, prefeito no quatriênio 1956/1959 e Deputado Estadual desde 1962.
Os vereadores eleitos foram:
Embora com oito vereadores alinhados ao lado do prefeito, as dificuldades para aprovação
dos projetos, que exigiam 2/3 de quórum, eram muitas, pois a oposição, para obstruir a pauta, se
ausentava das reuniões, ora não comparecendo, ora retirando-se do plenário quando havia votações.
As rivalidades partidárias impediam que os políticos percebessem que haviam sido eleitos
para buscar novos empreendimentos e melhorar os já existentes. Projetos, requerimentos e
indicações foram sempre rejeitados pelos oponentes. A situação acusava a oposição de dificultar o
bom andamento dos trabalhos e vice-versa. Elevando ainda mais o clima de rivalidade, o jornal
“Diário da Região”, partidário da oposição, em todas as suas edições tecia críticas ao prefeito e seus
partidários.
19
Percy Waldir Semeghini era popularmente conhecido como “Gato”.
51
A ata da Câmara do dia 03/05/65, decorridos poucos meses da eleição do prefeito Percy, já
registra uma “Ação Popular” de autoria dos vereadores da oposição juntamente com o Deputado
Pacheco contra a Mesa da Câmara e o prefeito. Por outro lado e da mesma ocasião, há um
requerimento dos vereadores da situação hipotecando solidariedade ao prefeito.
Tal Ação Popular, subscrita sob n. 144/65, de 06/04/1965, foi encabeçada por Valério
Angelucci e assinada por Alberto dos Santos, Leodegário Fernandes de Oliveira, Nelson Rodrigues
da Cunha, Arlindo Alves Garcia (todos vereadores à época da ação) e mais Ademar Monteiro
Pacheco, domiciliado em São Paulo, mas com residência em Fernandópolis. Os referidos autores
constituíram como advogado Mauro Viotto, cunhado de Ademar Pacheco, com escritório profissional
na cidade e comarca de Bela Vista do Paraíso, estado do Paraná.
A Ação Popular foi proposta contra o prefeito Percy Waldir Semeghini, a Mesa da Câmara
composta por Gentil Franco de Almeida (presidente) e Wagner Rodrigues Costa (secretário) e contra
a Empresa Comercial Irmãos Martinho, com sede em São Paulo.
Na Ação, a Mesa da Câmara e a Empresa Comercial Irmãos Martinho foram defendidas
pelos advogados José de Almeida Silvares e Jorge Aidar, e o prefeito Percy teve sua defesa
assumida por Luchési Fleury Netto.
O motivo da Ação Popular foi a aprovação (por maioria de votos, inclusive por dois
vereadores, Nelson Rodrigues Cunha e Arlindo Alves Garcia, que a assinaram) do Projeto de Lei
21/64, tornado Lei n. 13/64, autorizando a prefeitura a vender bens móveis (figuras 49 e 50)
pertencentes ao município e considerados inservíveis.
A referida Ação foi considerada procedente com os réus condenados a pagar os custos do
processo e honorários advocatícios estipulados pela Justiça. A prefeitura municipal deveria desfazer
o negócio com a empresa Martinho, e o material seria devolvido à municipalidade que dele disporia
conforme lhe fosse conveniente.
A empresa, porém, não mais foi localizada, tornando impossível cumprir a determinação
judicial. Dessa forma e decorridos os trâmites legais, a Justiça enviou o processo ao Tribunal de
Contas do Estado que a arquivou em 20/12/1979.
Em entrevista descontraída, realizada no dia 14/04/2011, na residência da professora Rosa
Maria Souza da Costa, em companhia da professora Vanda Aparecida de Lima Costa, os senhores
José Marrara e Jorge Aidar, indagados a respeito dos fatos da época, relatam o seguinte:
Rosa: [...] Então, fala aqui (nas atas da Câmara) que quem assinou a ação popular
contra o Percy foi o Pacheco.
Jorge: Foi um parente do Pacheco. Foi um cidadão que era advogado em Londrina,
Paraná. Foi ele que veio e assinou contra o Percy, para tirar o Percy, em nome do
Pacheco e da turma do Pacheco e do Rolim. E essa ação, o Juiz também [...] então
carregaram contra ele.
Rosa: Mas a ação falava o que contra Percy?
Jorge: A ação popular eu não lembro por quê, mas prenderam máquinas, prenderam
tudo.
Rosa: da Prefeitura?
Jorge: Da prefeitura. A administração do Percy foi sofrida.
Rosa: Daí ele teve que deixar a prefeitura, fugir, né?
Jorge: Para não ir preso, porque montaram a prisão do Percy. Então, um parente do
Pacheco montou a ação popular contra o Percy e entraram na Justiça. Eles tinham
uma capacidade, [...] de captação da justiça, oficiais de justiça, Era terrível!
Marrara: Jorge, eu acho que lembro o nome do advogado... se eu falar, você se
lembra? Mauro Viotto.
Jorge: Isso, Mauro Viotto
Rosa: Era parente do Pacheco?
Marrara: Irmão da D. Cidinha.
Vanda: Irmão da mulher do Pacheco.
53
Em muitas outras ocasiões houve discussões acaloradas de parte a parte, com ofensas
pessoais. O clima político da cidade era tão nefasto, repercutindo em toda a comunidade, que, no dia
10/06/65, foi apresentado requerimento com 30 assinaturas de moradores da cidade. Esse
documento apresenta um pedido formal à Câmara solicitando que deixe as discussões de lado e
trabalhe em favor do bem da comunidade, aprovando a autorização para o prefeito firmar contrato
com a Caixa Econômica visando ao asfaltamento de 20.000 m2 de vias públicas. Essa autorização já
havia sido postergada várias vezes e só se realizaria no ano de 1966.
Às rivalidades locais que tinham uma conotação pessoal e partidária somam-se os fatores
ocasionados pelo golpe militar de março de 1964, segundo o qual, logo após tomar o poder, o
governo militar baixou o Ato Institucional n. 01 em 09/04/1964, concedendo ao Exército poderes
excepcionais para cassar mandatos, com suspensão de direitos políticos por dez anos. Foi decretado
Estado de Sítio sem aprovação do Congresso, bem como propostas emendas constitucionais. Já no
dia seguinte à sua decretação (06/04/64), foram suspensos, por dez anos, os direitos políticos de
centenas de pessoas, entre as quais João Goulart, Leonel Brizola, Jânio Quadros e, em junho do
mesmo ano, Juscelino Kubistchek.
Os atos punitivos contra elementos ligados ao governo deposto (João Goulart) foram
ampliados, e generalizou-se por todo o país um clima de medo e delações.
Apesar do clima repressivo com prisões, perseguições e exílio, aconteceram manifestações
de oposição ao regime, realizadas, inicialmente, por estudantes e intelectuais. Nas eleições diretas
para governador, em julho de 1965, a oposição sagrou-se vitoriosa em cinco dos onze estados onde
houve pleito. O poder de oposição se viu ampliado e, devido a esse fato, os militares exigiam um
aumento de medidas repressivas. Como consequência, Castelo Branco decreta o Ato Institucional n.
02/10/1965, que extinguia os partidos políticos e estabelecia eleições indiretas para a presidência da
república. No início de 1966, o Ato Institucional n. 03 (AI 3) estabelece eleições indiretas para
governador e, por um Ato Complementar, cria o bipartidarismo: de um lado, a Aliança Renovadora
Nacional (ARENA), partido da situação, e, de outro, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
reunindo oposicionistas.
As manifestações da oposição continuaram a crescer: intelectuais, estudantes, sindicatos,
clero, imprensa e professores protestavam contra as medidas de arbítrio. A oposição ao governo
partia, também, de elementos ligados a ele e de muitos que haviam aprovado o golpe de março de
1964. Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda romperam, nessa ocasião, com o
governo.
Para manter, perante o povo brasileiro e o mundo, uma aparência democrática, o governo
militar manteve algumas instituições funcionando em todos os níveis (federal, estadual e municipal),
embora precariamente, como os poderes Judiciário e Legislativo, bem como os partidos políticos
como o MDB, atuando como uma oposição consentida.
Os políticos fernandopolenses, de maneira geral, apoiaram o golpe militar, até mesmo por
absoluta falta de alternativa. Na ata do dia 01/04/64, a Câmara Municipal se solidariza com Adhemar
de Barros (governador de São Paulo) pela “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, da qual ele
havia sido o idealizador. No entanto, mais tarde, ao entender que o golpe militar, na verdade, se
constituía em uma ditadura plena de medidas arbitrárias, posicionou-se contrariamente e foi cassado.
Quando, em outubro de 1965, o AI-2 foi decretado, a Câmara de Fernandópolis apoia o ato
e até faz um ofício dirigido ao Presidente Castelo Branco, colocando-se inteiramente ao trabalho em
defesa da “democracia”. O ofício é proposto pela bancada oposicionista e, excepcionalmente, a
situação adere de forma coesa.
No dia 10/11/65, a Câmara se reúne e é apresentado o requerimento n. 45/65, de autoria
dos vereadores Nelson Rodrigues Cunha, Arlindo Alves Garcia, Valério Angelucci, Alberto dos Santos
e Gervik Cassiano, louvando, solidarizando e aplaudindo o Marechal Humberto Castelo Branco e
Juracy Magalhães pela decretação dos Atos Institucionais n. 1 e 2.
Os dois grupos de políticos que até então eram antagônicos filiam-se à ARENA. A situação
passa a ser a ARENA 1 e a oposição a ARENA 2. Não há adesão ao MDB, que atuará na esfera
estadual e federal, com um discurso de oposição ao regime militar e de valorização das conquistas
democráticas.
Dá-se a entender que os políticos locais não percebiam que a situação política dos
municípios não fora alterada; antes, eram utilizados como forma de manter a estabilidade a e a
legitimidade do estado autoritário.
Na verdade, com o golpe militar, inicia-se um período no qual à Câmara estaria reservada o
papel secundário de órgão legitimador das ações do executivo municipal. Nessa época, os poderes
municipais, de maneira geral, eram entendidos como simples provedores de serviços urbanos. Não
eram espaço de representação coletiva, uma vez que todo tipo de manifestação era reprimida. Dessa
54
forma, apoiar o regime militar tornou-se o que deveria ser feito para aqueles que queriam continuar
militando na política.
Vasconcelos (2004, p. 7) considera que:
Se há coesão quanto à aceitação do regime militar autoritário, em esfera local, é cada vez
maior a rivalidade entre os dois grupos políticos.
O ano de 1966 foi repleto de críticas e discussões, mais que nos anteriores, por um fato
que, em princípio, não estava relacionado à política, mas que repercutiu negativamente. Não
bastassem os debates acalorados na Câmara na sessão do dia 10/05/1966, devido a um gasto de
Cr$ 60.000.000 (sessenta milhões e cruzeiros) que o prefeito havia empregado na reforma das
praças da Matriz e Joaquim Antônio Pereira (fonte luminosa), um fato novo e grave acontece. No dia
13/05/1966, uma sentença judicial condenatória, exarada pelo juiz de Direito Alfredo Neglione e
expedido pelo Cartório de Notas e anexos de Fernandópolis contra o prefeito, impede-o de continuar
no cargo.
Pelo requerimento n. 22/66, de 14/05/66, o vice-prefeito Jacob de Angelis Gaetti é
empossado prefeito em sessão extraordinária. A bancada da situação, liderada por Gentil Franco de
Almeida, elogia o governo de Percy e apoia Gaetti, considerando que os acontecimentos ferem mais
a cidade que o próprio Percy. Em nome da situação, o documento agradece ao deputado estadual
Jorge Cury, que, na Assembléia, havia defendido o prefeito eleito e, indiretamente, critica Adhemar
Pacheco, pois, embora fosse de Fernandópolis, nada fez para defender o prefeito. (conforme conta
de ata do dia 20/05/1966 da Câmara municipal).
Nessa mesma sessão, o vereador Wilmar Martins, em nome da oposição, por requerimento,
solicita que seja enviado um manifesto de solidariedade ao Presidente Castelo Branco, por ter
cassado os direitos políticos do líder do PSP, Adhemar de Barros. Os vereadores da situação não
aceitam, havendo acaloradas discussões com os situacionistas, acusados até de serem contra a
política do governo militar. Essa foi a primeira vez em que houve divergências entre os dois grupos
políticos de Fernandópolis com relação aos atos do governo ditatorial imposto ao país pelos militares.
No dia 29/10/66, pelo requerimento n. 47/66, o vereador Gentil Franco de Almeida requer
uma sessão extraordinária da Câmara, objetivando revogar o requerimento n. 22/66, de 14/05/66, que
investira Jacob Gaetti como prefeito.
O requerimento n. 47/66 foi proposto tendo como suporte jurídico Certidão do Cartório do 1º
Ofício de Fernandópolis e, em notas taquigráficas do resultado dos votos dos ministros da 3ª Câmara
do Supremo Tribunal Federal, expedidas pelo DD Presidente no pedido de habeas corpus n. 43.613,
expedido em 27/10/66, que declara extinta a ação penal que havia cassado os direitos políticos do
prefeito Percy.
Na referida sessão extraordinária, estavam presentes todos os vereadores da situação,
assim como os militares capitães Eurides Fortunato de Oliveira, Delegado da 25ª Delegacia do
Recrutamento de Fernandópolis, e Joaquim Carlos de Oliveira, Comandante da 3ª Cia. 17-B-P em
Fernandópolis.
O requerimento de n. 48/66 foi aprovado por unanimidade e Percy volta ao cargo de
prefeito. Na ocasião, a oposição não estava presente e Wagner Rodrigues da Costa, presidente da
Câmara, declara Percy apto a ser reintegrado ao cargo.
A reintegração de Percy ao cargo teve consequências que repercutiram negativamente,
maculando ainda mais a política fernandopolense. Há prisão de vários políticos e pessoas da
comunidade, ordenadas pelo juiz Ayuchi Ammar e executadas pelo oficial de justiça Antonio dos
20
Santos (Tonicão). A respeito das prisões, “Tonicão” relata em entrevista dada à Folha de
Fernandópolis (17/05/2003, p.10B):
Fui cupincha político por 12 anos; 8 anos com o Rolim e 4 anos com o Pacheco. Não
deixei inimigo. Até hoje tenho sentimento de uma coisa. Teve uma ocasião que o juiz
20
A respeito, podem-se conferir detalhes na biografia de Antônio dos Santos (o Tonicão) na seção III desta obra.
55
de Direito Dr. Ayuchi decretou a prisão dos vereadores e do prefeito Percy Waldir
Semeghini. Caiu para mim. Prendi o Capeta, Jorge Aidar, Massuda, Esperancini e,
quando cheguei para prender o Armelindo, ele quis engrossar. Ele morreu de mal
comigo. Mas os outros são meus amigos. Era uma época de política muito ferrenha.
O Jacob Vigorelli era vice do Dr. Percy. O juiz viajou e a Câmara empossou o Percy,
que estava afastado por processo crime. O juiz chegou e decretou a prisão deles.
Eles ficaram numa sela na Delegacia enquanto o Dr. Jacob conseguia um habeas
corpus.
A ata da reunião da Câmara, em sessão ordinária de 01/11/66, relatou que foi submetido à
apreciação dos vereadores o requerimento de n. 49/66, datado do dia 29/10/66, de autoria do prefeito
municipal Percy Semeghini, solicitando 60 (sessenta) dias de licença, estando presentes oito
vereadores; e o requerimento foi aprovado por unanimidade.
Não há documentos ou relatos do que motivou o afastamento. Supõe-se que tenha sido
para afastar-se da perseguição que levou à detenção de alguns políticos partidários seus, inclusive o
presidente da Câmara, Wagner Costa.
A leitura das atas de reunião da Câmara e dos jornais da época demonstra que os anos de
1967 e 1968 não diferem dos três anteriores. São repletos de discussões acaloradas, ofensas,
acusações e agressões. A análise da história de Fernandópolis, feita em documentos, atas, jornais,
fotos e depoimentos de políticos e de pessoas comuns, mostram que, desde seu início, com a
fundação e fusão das duas vilas (Brasilândia e Pereira), vigorou mais a rivalidade que a ideologia.
As rivalidades surgidas nos dois grupos de pioneiros que deram origem a Fernandópolis
acabaram transformando-se em beligerância e persistiram em todas as administrações.
Posteriormente, em 1970, na sessão da Câmara do dia 01/09/1970, já na administração Alvizzi,
diante de mais uma acalorada discussão de vereadores com acusações, Marrara asseverou:
“Vereadores: há necessidade de se dizer que cada cidade nasce sobre influências diversas, mas
Fernandópolis, infelizmente, nasceu sob o signo da discórdia!”. O edil lembrou, também, que
“estávamos precisando de um novo Fernando Costa” para trazer mais concórdia e amizade para a
cidade.
Nem um grupo político nem outro conseguiam entender o sentido de que, em política, pode
e deve haver divergências, mas que, para haver desenvolvimento e progresso, há que se guardarem
as armas dos interesses pessoais e partidários e buscarem estratégias convergentes.
21
Tais notas taquigráficas, apesar das buscas realizadas pelas pesquisadoras em processos (Fórum) e cartórios,
não foram encontradas, podendo, até mesmo, ter sido destruídas com o tempo. Acredita-se, entretanto, em sua
existência pela importância que representam no episódio, uma vez que foi, a partir dessas notas, que o prefeito
Semeghini foi reempossado.
56
Convergir não é aderir, mas buscar alvos comuns. Alvos que, se forem bons para o
desenvolvimento da cidade, serão bons para todos.
Após os sessenta dias de licença, o prefeito Percy reassume suas funções, mas o clima
político continua de guerra, conforme relatado em ata de sessão da Câmara do dia 03/03/67. Mesmo
tendo recebido as visitas do major Expedito Campos, chefe da 6ª CSM de Bauru, e do tenente Pedro
de Moro, das relações públicas da mesma corporação, os vereadores da oposição abandonaram a
sessão. Alegavam que queriam denunciar à comunidade ofensas sofridas em sessão anterior da
Câmara e não conseguiram devido à ausência da Rádio Cultura.
Após ser homenageado pelo prefeito e por alguns dos vereadores, o major Expedito
Campos afirmou (ipsis verbis):
receberam medalhas Humberto Cáfaro, Wandalice Franco Renesto, Célia Coutinho Semeghini e
Carlos Barozzi. Prestigiaram o acontecimento várias autoridades militares e representantes das
câmaras de São José do Rio Preto e Monte Aprazível.
Uma nova ação do deputado Adhemar Pacheco mais uma vez repercute na comunidade
com regozijo da oposição e indignação por parte da situação. Em ata da reunião da Câmara
Municipal, em sessão extraordinária realizada no dia 14/10/1967, os oito vereadores, todos da
situação, presentes à reunião, aprovam o requerimento de n. 52/67, de autoria do vereador Armelindo
Ferrari e outros. O documento visava oficiar o governador do estado, certificando-o de que as
declarações feitas pelo deputado Adhemar Pacheco no jornal da capital “Última Hora” eram
inverídicas. No dia 13/10/67, na página 3 do referido jornal, o deputado Pacheco havia declarado que
Fernandópolis estava em pé de guerra.
O presidente da Câmara de vereadores, Feres Bucater, usando da palavra, disse:
Sei perfeitamente, senhor prefeito municipal, que calou fundo, e que dói
profundamente na alma de nossos adversários e esta Comenda que V. Excelência
recebeu, estas homenagens bem merecidas, desnorteou completamente os nossos
adversários [...]. Hoje nossos adversários não se conformam de perder o mando de
12 (doze) anos.
1964 completo
1965 completo
1966 até 09/05/66 14/05 a 29/10
30/31 de outubro 01/11 até o fim do ano
1967 26/01 a 10/11/67 01/01/67 a 25/01
15/11/ 67 o fim do ano
1968 06/04 ao fim do ano 01/01/ a 06/04
1969 até 31/01/69
Fonte: As autoras, 2011.
22
O cruzeiro novo (NCr$) foi uma moeda que circulou transitoriamente no Brasil no período entre 13 de fevereiro
de 1967 e 14 de maio de 1970.
59
Noêmia Sano foi a primeira delegada do setor e Otávio Barreto, o primeiro supervisor.
O Fernandópolis Jornal estampa o fato (figura 53), com euforia, em sua primeira página:
61
Na época do regime militar no Brasil, a merenda escolar era controlada pelo governo
federal, ou seja, pela Companhia Nacional de Alimentação Escolar (CNAE). Os estados
eram divididos em Representações e essas em Setores. O estado de São Paulo e o Mato
Grosso do Sul constituíam uma única Representação, que era chefiada pelo General Ênio
Graciliano Dorilêo. Nos municípios onde existia um Lions Clube, o General Dorilêo
62
determinou que esse clube de serviços fiscalizasse a merenda. Meu marido era
presidente do Lions Clube (1966/67) e eu fui designada pelo clube para fazer o curso de
Supervisor de Merenda Escolar em São Paulo.
Na época, era prefeito municipal o Dr. Percy Waldir Semeghini, que, nas idas à
Representação em São Paulo, fez muita amizade com o General Dorilêo, que contemplou
Fernandópolis com um Setor Regional, o terceiro a ser criado no estado de São Paulo,
para atender a 34 municípios da região.
Durante a gestão do prefeito Percy, fui nomeada para dirigir o Setor Regional.
Posteriormente, o cargo foi ocupado pelo Tenente Moreira, representante do Exército na
cidade e, no governo de Leonildo Alvizzi, o cargo foi ocupado pela professora Marlene
Aparecida Assalin da Costa, que, por sua vez, foi substituída pela professora Edith Ferrari
Roquete na gestão de Antenor Ferrari. No governo de Milton Leão, novamente assumi o
cargo de chefe do Setor (figura 58).
Durante o governo do prefeito Newton Camargo de Freitas, a CNAE viria a ser extinta em
todo território nacional, e a merenda escolar foi municipalizada.
No ano de 1965, encontram-se realizações importantes tanto para a educação quanto para
o comércio e justiça, com a criação e instalação da Escola Técnica de Comércio Municipal e dos
Escritórios da Junta Comercial do Estado e Procuradoria Judicial. Mesmo sendo particular (paga), a
referida escola atendia a um grande número de jovens de Fernandópolis e região que não podiam
estudar durante o dia porque já trabalhavam. Seu fechamento prejudicaria em muito esse segmento
da população; houve, então, um árduo trabalho do município e do diretor da escola, Cecílio Pistelli,
junto ao Departamento de Ensino Profissional, da Secretaria da Educação, para tratar do
reconhecimento oficial do colégio particular para municipal23.
No ano de 1966, o plano de asfaltamento de 20.000m2, idealizado no ano anterior, foi
concretizado com a simultânea ampliação da rede de água e esgoto em 20.000 metros lineares e
construção de galerias pluviais. Na tentativa de beneficiar o bairro da Brasilândia, foi instalado um
parque infantil e montada a fonte luminosa da praça.
Os dois últimos anos da administração Percy, embora imperando a discórdia que impedia a
realização de sessões na Câmara pela ausência dos vereadores, há uma série de realizações.
Pelo decreto 49245, de 09/02/68, instalou-se a Delegacia de Ensino Elementar de
Fernandópolis.
Na edição de 04/04/68, o Fernandópolis Jornal traz como manchete a instalação e
funcionamento do 2º Ginásio Estadual de Fernandópolis, tendo como diretora substituta Dayse
Malavazzi Bortoluzo. Era governador do estado Abreu Sodré, e administrava o município o vice-
prefeito Jacob de Angelis Gaetti, uma vez que o prefeito estava afastado por processo criminal. O
jornal relata que quem leu a mensagem do governador dando conta da instalação do 2º Ginásio foi o
deputado estadual Adhemar Pacheco do mesmo partido do governador e em oposição ao prefeito
fernandopolense. O deputado, na ocasião, foi bastante elogiado pelos vereadores da oposição pelo
empenho em conseguir essa conquista.
Ainda em abril de 1968, foi entregue oficialmente à comunidade a 2ª pista de acesso à
rodovia estadual Washington Luiz (na extensão que, hoje, se denomina Euclides da Cunha). Embora
a rodovia fosse estadual, o referido acesso foi executado com recursos do município. É do mesmo
período o asfaltamento da avenida da estação ferroviária, facilitando a vida das pessoas que
necessitassem viajar e, principalmente, dos moradores do bairro. E mais importante ainda: permitia o
acesso de doentes à Santa Casa.
A ata de 03/05/68 relata a aprovação da Lei n. 5, autorizando o poder executivo a assinar
contrato com a Companhia Energética do Estado de são Paulo (CESP) para a eletrificação e
iluminação pública do município, beneficiando os bairros: Jardim Progresso, Jardim América, trevo
principal até à Santa Casa, estádio municipal e grupo escolar Afonso Cáfaro (figuras 59, 60 e 61).
23
Esse Colégio criará as raízes para que, mais tarde, se estabelecesse a criação e instalação do que é, hoje
(2012), a Fundação Educacional de Fernandópolis.
65
imprescindível para deixar bem claro o que somos e o que temos aqui em nossa
terra.
Em sessão extraordinária no dia 18/09/68, após muita resistência da oposição, foi aprovada
a Lei nº 26/68, que permitia à prefeitura a assinar empréstimo junto ao governo do estado destinado à
pavimentação asfáltica de diversas ruas e avenidas, num total de 45.760 m2, o que beneficiou um
número significativo de bairros da cidade.
Objetivando a integração e desenvolvimento de toda a região noroeste do estado, o governo
Abreu Sodré inicia o asfaltamento da rodovia Washington Luiz (a a extensão hoje denominada
Euclides da Cunha – SP 320) até Santa Fé do Sul e as negociações para a construção da ponte
sobre o Rio Grande ligando o estado a Minas Gerais, atual Água Vermelha. Construiu ainda os
grupos escolares Afonso Cáfaro, Ivonete e o grupo escolar do bairro Ubirajara.
Jorge Aidar, vereador na época, em entrevista realizada no dia 15/08/2011, confirma foi no
governo Percy que começam os trabalhos para a construção da ponte sobre o Rio Grande, inclusive
com aprovação de verbas.
Já no crepúsculo de sua administração, no final de dezembro de 1968, foi inaugurado o
novo edifício do Fórum (figuras 62 e 63). Essas realizações, em âmbito estadual, repercutiram
positivamente na população.
Figura 64 Formatura da escola de Corte e Costura “Santa Rosa”- 1964. Alunas de três turmas:
Fernandópolis, Jales e Meridiano. Percy como paraninfo. Ao centro, as professoras: de
vestido estampado, Maria Sato de Fernandópolis; à sua direita, Mariquinha de Jales; à
esquerda de Percy, Setsuo Tobita, de Meridiano. Casa na rua Rio de Janeiro, próximo à casa
Sato.
Fonte: Fernandópolis, 1964.
O fim do governo Percy é também o final da década de 1960. Fernandópolis inicia 1969
uma nova administração, adentrando a década de 1970 e já oferecendo à população uma boa
qualidade de vida com quase toda a infraestrutura necessária da rede urbana, resultado,
evidentemente, do somatório de todas as administrações que o precederam.
Como anteriormente já enfatizado, o regime militar que se havia instalado no país a partir de
1964 decreta, em fevereiro de 1966, o Ato Institucional nº 2 (AI2), estabelecendo eleições indiretas
para governador e, através de um ato complementar, cria o bipartidarismo com a ARENA, partido da
situação, e o MDB, oposição que, na verdade, era uma oposição até então consentida.
De fato, com o golpe militar, inicia-se um período no qual à Câmara estaria reservado o
papel secundário de órgão legitimador das ações do Executivo municipal. Nessa época, os poderes
municipais, de maneira geral, eram entendidos apenas como simples provedores de serviços
urbanos. Não eram espaço de representação coletiva, uma vez que todo tipo de manifestação era
reprimida; dessa forma apoiar o regime militar era o que deveria ser feito para aqueles que queriam
continuar militando na política.Para exemplificar a afirmação, há vários exemplos de atitudes tomadas
pela Câmara: sessões extraordinárias solenes em comemoração ao aniversário da Revolução de 31
de março; ofícios de apoio a atos do governo militar referentes a cassações de mandatos e decretos
de Atos Institucionais de exceção.
Nas eleições que se realizaram em final de 1968, os candidatos a prefeito e vice-prefeito
estavam filiados à ARENA1 e ARENA 2, embora tivessem tendências antagônicas. O MDB lança
somente candidatos a vereador.
A ARENA 1 tinha como líder Percy Semeghini, então convalescente de enfermidade
cardíaca; afasta-se da política, e o partido escolhe como candidato a prefeito Dr. Fernando Jacob
(figuras 65 e 66).
Pela ARENA 2, o candidato escolhido foi Leonildo Alvizzi (figura 67), apoiado por Adhemar
Pacheco e Edison Rolim.
69
Figura 67 Alvizzi, Arlindo Alves Garcia e Dr. Adhemar Monteiro Pacheco, em campanha nas eleições de
1968.
Fonte: Fernandópolis Jornal, 1968.
Leonildo Alvizzi (figura 68) é eleito prefeito para o quadriênio 1969/72, tendo como vice-
prefeito Arlindo Alves Garcia (figura 69), que concorreram pela ARENA 2 e receberam 6.343 votos,
contra 4.152 votos conferidos a Fernando Jacob e Antonio Garcia Pelaio, candidatos da ARENA 1,
apoiada pelo MDB, que não lançou candidatos próprios.
Para o poder legislativo, os candidatos da ARENA (1 e 2) somaram, 8.831 votos contra
1.218 conferidos ao MDB. Assim, a câmara foi formada por 12 vereadores da ARENA e somente um
do MDB.
Constituindo a Câmara Municipal (figura 71) são eleitos os vereadores:
24
Figura 70.
25
João Fernandes foi o único vereador eleito pelo MDB.
73
Alvizzi26 governa com maioria na Câmara (figura 71) e a oposição, embora em número
elevado, não é belicosa e combativa como a do governo anterior; por conseguinte existe situação de
melhor governabilidade. Um gesto conciliador deu-se com a aprovação do decreto Legislativo nº 2/69
revogando o ato da Câmara Municipal da administração anterior que havia considerado Adhemar
Monteiro Pacheco, persona non grata em Fernandópolis.
Várias considerações podem ser levantadas a respeito da situação de menor discórdia.
Pode-se supor que a situação de calmaria seja a consequência do descanso que os
políticos se concederam após tanta discórdia no governo anterior, repercutindo e ecoando na
sociedade por meio da imprensa escrita e falada. A oposição anterior, agora como situação, teria
melhores condições de trabalhar.
Considera-se ainda que o governo Alvizzi transcorre sob o clima do “milagre econômico”,
uma vez que o governo federal autoritário procura legitimar-se por meio do crescimento econômico. É
o período em que o Brasil entra na era do ufanismo, do ”Ninguém segura esse país”, do “Brasil
Grande”, do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, slogans propagados pelo governo federal e pelos meios de
comunicação em colaboração com ele.
A respeito dos efeitos do “Milagre econômico”, deve-se considerar o que pensam os “santos
do milagre”:
Quem trabalhava na roça, não vi milagre nenhum. As coisas só tinham valor quando
passava para a mão dos “grandes”. A gente não aguentava segurar os produtos para
esperar o preço. Na época era bom, porque tinha muita gente no sítio, muita cultura: café,
arroz, algodão, milho. Mas se houve milagre, foi por conta de muita reza: não chovia e já
a gente estava na beira do córrego “molhando o santo”. A gente também roubava o santo
do vizinho e só devolvia quando chovia. (Maria de Fátima Seleguim Menegasso:
lembranças da vida no sítio)
26
Em sua campanha política, Leonildo Alvizzi era conhecido pela alcunha de “Farelo”.
74
APRESENTAÇÃO
Com o advento da Revolução de 31 de março de 1964, abriram-se novas
perspectivas para a vida e desenvolvimento dos municípios do Interior do Estado.
A política tributária do Governo abriu novos horizontes para os diferentes municípios,
graças às reformas introduzidas, de início, pelos ex-presidentes Castelo Branco,
Costa e Silva e, atualmente, pelo eminente presidente Emílio Garrastazu Médici.
75
Uma das assertivas do prefeito sobre um comércio vigoroso é facilmente comprovada pela
inversão populacional com predominância da urbana em detrimento da rural. Segundo Bizelli (1993),
há uma população urbana de 28.478 habitantes para 10.572 residentes na zona rural, enfatizando
também o registro de 35 novos loteamentos, totalizando 7.156 lotes.
Boa parte da cidade já pode contar com água, luz, telefone e asfalto, e o prefeito administra
buscando recursos para dotar outros locais da cidade com os referidos benefícios. Constrói um
reservatório de água no Jardim Progresso, faz melhoramentos na Av. Augusto Cavalim (figura 73),
que dá acesso à exposição e no trevo da Brasilândia.
Dando cumprimento ao programa a que se propôs e que tinha como centro o homem em
seus aspectos educacional, sanitário e sócio-cultural, Alvizzi realizou seu governo totalmente voltado
para os setores que permitiam alcançar seus objetivos.
O setor educacional mereceu especial atenção. Nove prédios para abrigar escolas foram
construídos na zona rural e na urbana. Um grupo escolar foi edificado no bairro Boa Vista e grande
76
reforma no Grupo Escolar Afonso Cáfaro foi efetuada para abrigar o ginásio Estadual de
Fernandópolis, bem como a instalação e funcionamento do MOBRAL, já relatado (figura 74).
Foi durante essa administração que um grupo de cidadãos portugueses, tendo à frente
Mario de Matos, construiu a Casa de Portugal (figura 78), um grande empreendimento sócio-
recreativo.
78
Nesse período, continuam as providências para a construção da ponte sobre o Rio Grande
que, na ocasião, foi chamada de Ponte da Integração (figura 79) por facilitar a ligação da região
noroeste paulista com os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
Antenor Ferrari (figura 82) e seu vice Antonio Gonçalves Neto (figura 83) eram da
ARENA 2 e obtiveram 6.381 votos contra Newton Camargo de Freitas e Rubens Dalton Garcia
Stroppa da ARENA 1 que conquistaram 4.961 votos. Para o legislativo não foi eleito nenhum
vereador do MDB. Os vereadores eleitos eram, em sua maioria, filiados à ARENA 2, partido do
prefeito. Apesar de só ter concorrido a ARENA, houve 537 votos em branco e 316 nulos, de
num total de 11.700 O resultado do pleito de 1972 (para a vereança) foi o seguinte:
Vereadores
Milton Edgar Leão (ARENA 1): 1.125
Waldomiro Renesto (ARENA 2): 910
João José de Paula (ARENA): 823
Armando José Farinazzo (ARENA 1): 694
Eduardo Colombano Soler (ARENA 2):609
Raul Gonçalves (ARENA 2): 602
Moacyr Vieira da Costa (ARENA 1): 597
Jorge Aidar (ARENA 2): 533
José Akira Massuda (ARENA): 472
Martinho Fernandes (ARENA): 456
Sakai Yoshida (ARENA): 447
Armando Antonio Salioni (ARENA): 398
Antonio Brandini (ARENA 1): 377
81
27
Antenor Ferrari, em sua campanha política, recebeu a alcunha de “Pavão”.
82
QUANDO...
a Cesp veio para a região para definir seu cronograma expansionista de
obras, com atenção especial para a construção da Usina de Água Vermelha,
a diretoria da empresa, baseada em levantamentos e estudos técnicos,
definiu que as moradias para os engenheiros, nível 5, seriam construídas em
Fernandópolis.
COLOCADAS...
algumas áreas à disposição para construção do núcleo residencial, a escolha
avançou para terras da família Cáfaro. A desapropriação por parte da
prefeitura custou o rompimento de uma amizade de algumas décadas entre
Humberto Cáfaro e o prefeito Antenor Ferrari. Segunda-feira, ainda pela
manhã, Ferrari, emocionado, confessava ao redator da coluna, que Deus, em
tempo, houvera abençoado a reconciliação com seu amigo cursilista.
28
Sobre o que se convencionou chamar de Núcleo da Cesp, ver maiores informações sobre O processo
de formação do espaço urbano em Fernandópolis até 1980, ao final desta seção.
83
29
Para maiores informações, ler sobre Educação na seção de artigos desta obra.
30
Hoje a Fundação Educacional de Fernandópolis mantém as Faculdades Integradas de Fernandópolis
com 32 cursos, a Escola Profissionalizante Dr. Alberto Senra com 9 cursos e o Centro de
Aperfeiçoamento e Pós-Graduação (lato sensu). A Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), hoje
sob a denominação de Círculo dos Trabalhadores Cristãos do Embaré, também se expandiu a partir de
suas origens, mantendo de Medicina, Odontologia, Agronomia, Engenharia Civil entre outros. Em
conjunto, as duas faculdades fazem movimentar particularmente o comércio e o setor imobiliário da
cidade, uma vez que para Fernandópolis acorrem universitários de todo o país, especialmente dos
estados limítrofes ao estado de São Paulo, e aqui se fixam até cumprirem os anos escolares do ensino
superior.
86
No dia 10/03/76, tem início no município, por ordem dos três poderes, campanha para
aumentar para 20.000 o número de eleitores, uma vez que, à época, o número era de 17.000.
A referida campanha utilizava rádio, jornais e facilitava para a população carente tirando
gratuitamente suas fotos. Tal campanha é semelhante à realizada no governo Adhemar
Pacheco (l956/59), encabeçada pelo juiz Joaquim Rebouças de Carvalho Sobrinho, quando
houve um aumento altamente expressivo de 4.119 para 11.542 eleitores.
Ainda no final do governo Ferrari, foi instalado o Corpo de Bombeiros (22/10/76) e,
para agrado dos professores, principalmente os de ensino fundamental, no dia 28/10, foi
inaugurada a Casa do Professor, atual Centro do Professorado Paulista (CPP).
A partir de meados do ano de 1976, inicia-se a campanha política para o pleito
municipal de 1977/81. Pela primeira vez, em Fernandópolis, os dois partidos (MDB e ARENA)
entram na luta pela sucessão municipal e renovação da câmara. A ARENA, ainda persistindo
em uma divisão interna, apresenta 2 sublegendas: na ARENA nº 1, concorrem Percy Waldir
Semeghini para prefeito e para vice Raul Gonçalves; na ARENA 2, concorrem Milton Edgard
Leão para prefeito, apoiado por Antenor Ferrari, e para vice João José de Paula. Note-se que,
na eleição anterior, Antenor Ferrari elegeu-se com forte apoio de Percy Waldir Semeghini.
Pelo MDB concorrem 3 sublegendas: MDB 1, 2 e 3, que apresentam,
respectivamente, os candidatos a prefeito Jair Rodrigues, Walter Leon e Traber Viscard e para
vice, como candidato único para as três sublegendas, Shuiti Torii. Venceu Milton Edgard Leão,
persistindo grande a supremacia da ARENA sobre o MDB, o mesmo acontecendo nas cidades
da região.
Nessa eleição compareceram 15.753 eleitores 13.605 votaram nas duas sublegendas
da Arena e 1.093 se distribuíram nas três sub-legendas do MDB. Todos os vereadores foram
eleitos pelas sublegendas da ARENA, já que o MDB não conseguiu o coeficiente necessário
para compor uma cadeira na câmara.
Os resultados da eleição para prefeito foram os seguintes:
ARENA 1 – Percy Waldir Semeghini e Raul Gonçalves: 6.575 votos
ARENA 2 – Milton Edgard Leão e João José de Paula: 7.851 votos
MDB 1: Jair Rodrigues e Shiuiti Torii; 396 votos
MDB 3: Traber ViscardI Correa e Shiuiti Torii: 113 votos
MDB 2: Valter Vicente Leon e Shiuiti Torii; 93 votos.
Com os resultados do pleito, o candidato a prefeito eleito Milton Edgard Leão e seu
companheiro a vice-prefeito João José de Paula assumiriam o poder executivo para o
quadriênio que se seguiria (1977/1981)
.
PREFEITOS APÓS 1996
(Sinótico)
Foi eleito prefeito obtendo 14.539 votos pela coligação “União para o Progresso de
Fernandópolis”, formada pelo PSDB, PPB, PTB.
31
Os governos anteriores até 1996 já foram lembrados na edição do primeiro volume de Fernandópolis,
nossa história, nossa gente, editado em 1996.
89
Conquistas
1 - Divisão Regional de Assistência e Desenvolvimento Regional (DRADS): engloba 49
municípios;
2 - Regional do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE): sedia 55 municípios.
3 - Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) – Regional.
4 - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Regional): abrange 55 municípios.
5 - Implantação do Banco do Povo.
6 - 4ª Vara de Justiça.
7 - Conselho Regional de Farmácia.
8 - Conselho Regional de Odontologia.
9 - Repasses estaduais em Dinheiro à Santa Casa de Fernandópolis.
Obras estaduais
1 - Lagoas de tratamento de esgoto
2 - Coletor-tronco de esgoto
3 - Perfuração do Poção IV e construção do sistema de resfriamento
4 - Rede de esgoto nos bairros
5 - Infraestrutura: iluminação, galerias, asfalto
6 - Implantação de novo sistema de sinalização no trânsito e colocação de semáforos
7 - Conjuntos Habitacionais: “Albino Mininelle”, “Antonio Marin” e “Sérgio Cavariani”
8 - Passarela sobre a Rodovia Euclides da Cunha
9 - Cobertura das quadras poliesportivas das escolas: Saturnino, Barozzi, Cáfaro, EELAS,
Armelindo Ferrari, Fernando Barbosa Lima e Antônio Tanuri
10 - Construção e reformas em várias escolas, nos bairros:
a) CEMEI Albertina Rosa de Souza – Parque das Nações
b) CEMEI Américo Borin – Brasitânia
c) EMEF Koei Arakaki - Paraíso
d) EMEI Maria Simão - Centro
e) CEMEI Tatiane Cristina dos Santos – Planalto/Vila Veneto
f) CEMEI Wilson Alves Ferraz – Araguaia/Paineiras
11 - Construção de centros comunitários
12 - Construção de campos de futebol, quadras de areias, campos de bocha, campos de
malha, nos bairros
13 - Construção e implantação da Casa da Gestante Dr. Fernando Jacob
14 - I Fórum de Desenvolvimento da Alta Noroeste
15 - Implantação da rede municipal de ensino infantil e fundamental
16 - Instalação da Escola Agrícola Melvin Jones
17 - Ampliação da rede municipal de creches
18 - Conclusão do Teatro Municipal
19 - 1ª Lagoa de Tratamento de Esgoto da Sabesp
20 - Implantação da Faculdade de Direito e Agronomia
90
ADILSON CAMPOS
(01/04/2002 a 2004)
Adilson Campos (figura 90) nasceu em Planalto (SP), em 04/11/1953, filho de Antonio
Rodrigues Campos e de Aparecida Monteolivio Campos. Veio para Fernandópolis em fevereiro
de 1961.
Frequentou as escolas: JAP, Ginásio Estadual e EELAS. Fez o curso Superior de
Matemática em Votuporanga (1974/76) e Direito em Araçatuba (1996/2000).
Iniciou sua vida profissional aos 14 anos de idade ao ingressar na Indústria Elétrica
WTW, em 1968. Trabalhou na COBRAL nos anos de l971/72. Depois, ingressou na Caixa
Econômica do Estado de São Paulo por concurso em 1973, onde permaneceu até fevereiro de
91
1976, quando assumiu suas funções no Banco do Brasil S/A, Agência de Fernandópolis, onde
se aposentou em 1998.
Casou-se em 1977 com Ângela Aparecida Sinibaldi Azadinho Campos, de cujo
matrimônio nasceram os filhos Ane Caroline, André Luiz e Ana Claudia. Tem dois netos: Lucas
e Laura.
São realizações desse período de governo:
- Recuperação de várias pontes, principalmente as das Avenidas Amadeu Bizelli (Avenida 7) e
dos Arnaldos (Avenida 4), destruídas pela enchente ocorrida em 2000 e que prejudicaram o
sistema viário, ilhando a região norte da cidade. Essas obras tiveram início com Camargo e
foram concluídas por Adilson.
- Conquista da Faculdade de Medicina da Unicastelo: trabalho desenvolvido pelo Prefeito
Adilson junto ao Ministro da Educação Cristovão Buarque
- Ampliação da rede de ensino infantil
- Construção da CEMEI Ângelo Finoto
- Implantação da Central da Saúde
- Implantação de Consórcio Intermunicipal da Saúde
- Desapropriação de área para construção de 300 casas populares
- Implantação do Projeto Cultural e Educacional Metal Madeira
- Implantação da Casa-Escola
- Implantação do Projeto Sentinela
- Implantação do Orçamento Participativo
- Elaboração para implantação do Plano Diretor de Fernandópolis
- Implantação do Programa de Modernização da Administração Tributária e da
Gestão dos Setores Sociais Básicos (PMAT), com recursos do BNDES
- Reforma geral da EMEFA “Melvin Jones” – Escola Agrícola
- Implantação do Programa Saúde no Campo
- Implantação da Patrulha Agrícola
- Construção da Casa do Caboclo, no recinto da Exposição
A Câmara foi composta pelos vereadores:
Rui Okuma (figura 91) foi eleito pela coligação “Inovação Já”, composta pelos
partidos: PP, PDT, PTB, PFL,PHS e PSP.
Filho de Masayuki Okuma e Thomico Koga Okuma. Nasceu em 05/05/1950, em
Fernandópolis. Faleceu em 04/02/2006. Propunha grandes planos para a cidade, mas não
pôde ver nenhuma obra sua efetivamente realizada, posto que a morte o colhera um ano após
sua eleição.
Para a Câmara concorreram as seguintes coligações: Inovaçao Já (formada pelo PP,
PDT, PTB, PFL, PHS r PSP), Frente de Renovação Democrática (com o PMDB e PSC),
Aliança Popular (formada pelo PPS e PT), Trabalho e Progresso (com o PP, PTB e PSB) e
Verde Esperança (composta pelo PMN e PV). Os vereadores eleitos foram:
Vice-prefeita eleita em 2005, Ana Maria Matoso Bim (figura 92) assumiu o cargo em
06/02/2006 com o falecimento do prefeito eleito Rui Okuma; completou o seu mandato em
2008.
Filha de Djalma Matoso e de Maria Tereza Soares Matoso, Ana Bim nasceu no Rio
de Janeiro em 13/02/1954. Casou-se com Avenor Esmenio Bim em 21/03/1978 em Nova
Iguaçu (RJ), com quem teve quatro filhos: Alan, Valquíria, Djalma e Camila, e 3 netas (Isabela,
Maria Thereza e Eduarda.
Cursou Estudos Sociais, licenciatura de 1º grau, concluído em 1979, na Faculdade
Regina Coeli (RJ). Formou-se em Serviço Social, Geografia (concluído em 1984, pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Associação Educacional de Jales) e Assistente
Social.
Realizações da gestão de Ana Bim:
Na saúde
1 - Coleta de Sangue nas Unidades de Saúde
2 - Abertura da Farmácia Municipal aos Sábados
3 - Implantou os Serviços Odontológicos em todas as Unidades de Saúde
4 – Construiu a UBS do Paraíso, com setor de Fisioterapia e o CEO( Centro de Especialidades
Odontológicas); um novo prédio da UBS Brasilândia e um novo setor da UBS Pôr-do-Sol.
Reformou/ampliou as Unidades do Ipanema, Uirapuru, Brasitânia, Caic, Ana Luiza, Araguaia,
Santa Bárbara, Vila Regina, Central de Saúde, Cadip, Caps e Cisarf
5 - Construiu o Centro de Zoonose
6 - Firmou convênio com a Unicastelo para criação de Especialidades no Pôr do Sol, aquisição
do Dr. Ônibus.
Na educação
1 - Assinou convênio para Construção da Pró-Infância, no Planalto
2 – Instalação da ETEC em fevereiro de 2006
2 - Conquistou o SESI no Ana Luiza
3 - Implantou o Curso Letra e Vida
4 - Refeições nas Escolas (EMEIS e CEMEIS)
5 - Construiu o CEMEI no Jardim Barbosa (Antonio Maurício)
6 - Reformou e ampliou a Escola das Irmãzinhas (Diretoria de Educação e Escola Especial)
7 - Reformou o CAIC e a Escola Alberto Senra
8 - Criação da Biblioteca Móvel
Infraestrutura
1 - Verbas para as Av. Getúlio Vargas e Raul Gonçalves através da renovação do convenio
com a SABESP
2 - Asfalto e galerias (Ipanema, Uirapuru, Alto das Paineiras, Planalto, Redentor) e asfalto e
recape em várias ruas da cidade, sendo mais de 30 km
3 - Iluminação em vários pontos da cidade
4 - Construiu e centralizou a Unidade de Atendimento ao Público junto ao Paço Municipal
5 - Recuperou o Tiro de Guerra e construiu a Junta do Serviço Militar
6 - Reforma e paisagismo da Avenida Expedicionários Brasileiros e dos Arnaldos
7 - Ampliou e remodelou o Foro local (convênio com o Estado)
Lazer / Social
1 - Construção e reforma da Praça Central com abertura da Av. Milton Terra Verdi
2 - Recuperou o terreno na Represa
3 - Projetou e começou a construir o Parque de Lazer da Represa (calçamento, aterro,
arborização) junto à represa municipal
4 - Firmou convênio com o Estado: Bom de Bola Bom de Escola
5 - Iniciou o Projeto Bem-Te-Vi na área do antigo Zoológico (asfalto, galerias)
6 - Construção de Galpão no Ana Luiza
7 - Criou e implantou o CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) e CREAS (Centro de
Referência Especializado em Assistência Social)
Empregos
1 - Compra de área de 8 (oito) alqueires em continuação ao Parque Industrial para doação aos
microempresários da cidade.
94
A frente pioneira que aqui se fixa é representada, de início, por duas correntes
migratórias, que depois se ampliam: a italiana e a baiana (figura 93).
O imigrante italiano Carlos Barozzi adquiriu terras nesta região em 1930 e 1935,
somando um total de 600 alqueires. Foi na sua propriedade da gleba Marinheiro que ele iria
32
Rosa Maria Souza da Costa, professora, formada em História, e Wanda Aparecida de Lima Costa,
professora, formada em Filosofia, são historiadoras residentes em Fernandópolis e colaboraram,
intensamente, como responsáveis pela composição da seção histórica desta obra.
97
fundar, em 1938, a vila Brasilândia, a qual se expandiu com a vinda de várias famílias italianas.
Muitas adquiriram terras e outras se tornaram arrendatários nas terras de Barozzi.
O migrante baiano Joaquim Antônio Pereira esteve nesta região em 1918, a trabalho,
demarcando terras na região da Cachoeira dos Índios. Dois anos depois, em 1920, retornou
junto a outro migrante baiano, Francisco Arnaldo da Silva, e juntos adquiriram propriedades,
mas retornaram para suas cidades. Somente em 1924 é que Pereira retorna e adquire as
terras, dando-lhes a denominação de Fazenda São José, próxima ao rio Santa Rita. Nessas
terras Pereira fundaria a vila Pereira em 1939.
Tanto Barozzi quanto Pereira fundaram as vilas (figuras 94 e 95) porque perceberam
as vantagens de se criar um povoado para a valorização das terras e forçar a abertura de
estradas, bem como o prolongamento da EFA, facilitando o escoamento de produtos. No dizer
de Corrêa (2002, p. 16),
Segundo relata Bizelli (1993, p. 64), Barozzi doa cerca de 20 alqueires de terra para a
instalação do patrimônio: “Quatro ruas formavam o quadrilátero da praça e, logo em seguida, a
demarcação de quadras e lotes que, lentamente, iam-se irradiando em novas quadras e novos
lotes”. Brasilândia surge com a elevação do cruzeiro onde, posteriormente, se pretendia
construir a igreja do vilarejo.
Em 1939, Joaquim Antonio Pereira escolhe 19 alqueires de sua fazenda São José
para construir o patrimônio. Da mesma forma que Barozzi, o primeiro ato de Pereira foi o de
levantar um cruzeiro e rezar missa, rezada por padre Izidoro no dia 22/05/1939, dia de Santa
Rita de Cássia. Em 1945, o prefeito Miguel Dutra, decretou a data de “22 de Maio” feriado
municipal, em louvor à padroeira da cidade33.
O traçado de Vila Pereira, feito pelo agrimensor Leonardo Posella Segundo, contém
dez avenidas e dez ruas. O povoado cresce rapidamente e seu desenvolvimento é célere.
Embora Barozzi, no contrato com a Companhia Oeste de Terras (COESTER), tenha reservado
terras no trecho da atual Avenida Líbero de Almeida Silvares entre as duas vilas para a
construção de prédios que abrigariam órgãos públicos, antevendo que ali seria o centro da
cidade, na realidade isso não se concretizou, pois, quando ocorreu a união das duas vilas em
1945, Pereira já era hegemônica. Assim é que os primeiros loteadores de Fernandópolis foram
Barozzi e Pereira.
Mesmo antes da criação e instalação do município em 01/01/1945, já estava instalado
e em funcionamento (09/03/1944) o primeiro grupo escolar de vila Pereira (atual JAP), núcleo
onde será formado um novo bairro: o de Vila Aparecida.
Atrás do grupo escolar, onde existia um campinho de futebol e o campo de aviação,
foi erguida uma capelinha em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Essas duas
construções viabilizam o início de um núcleo urbano, atraindo moradores da zona rural que
buscam maior facilidade para a educação dos filhos, uma vez que à nova escola foram
anexadas algumas antigas escolinhas que funcionavam nas zonas rurais.
Pode-se afirmar, com segurança, que o primeiro bairro da nascente Fernandópolis
surgiu em função da educação.
33
Fernandópolis não possui um feriado (cívico) comemorativo do aniversário da cidade, o qual,
normalmente, ocorre na data de elevação de uma cidade à categoria de município. No caso de
Fernandópolis, essa data seria “Primeiro de Janeiro”, uma vez que, em 01/01/1945, Fernandópolis foi
elevada à condição de município. O feriado de 22 de Maio é, pois, religioso e não político ou cívico.
99
34
Para maior detalhamento da construção da Usina de Água Vermelha, consultar artigo específico nesta
seção da obra sob o tema “UHE de Água Vermelha e sua importância para Fernandópolis”.
101
Figura 101 Parte do mapa desenhado por Francisco Leão e Benízio Florêncio Vicente, em 1969. Na foto,
está localizada a estrada da EFA e as empresas Anderson Clayton Corporation, Sanbra, Acco,
Agrimista, IBC e Cagesp.
Fonte: EELAS, 1975.
as companhias de loteamento, e frisar que, que embora possam ser encontradas diferenças
nas estratégias, tanto a prefeitura como o Estado, os particulares e os loteadores têm um
denominador comum que os une: a apropriação da renda ou lucro que possam obter com a
urbanização.
A ação de loteadores se faz sentir em Fernandópolis desde 1945 com a Companhia
Oeste de Terras (Coester) colocando à venda 784 lotes, dos quais 184 são vendidos logo de
início, formando o bairro Coester. Até os anos 1951 aproximadamente, a Coester dominava o
mercado de loteamentos. Nesse ano, passa a sofrer a concorrência da Companhia Construtora
da Casa Própria (CCCP). Segundo Bizelli (1993, p. 97),
Muitas vezes uma só pessoa registrava vários lotes em seu nome e não os colocava
à venda imediatamente. Esperava a valorização para vendê-los com lucro quando toda a
infraestrutura já estivesse servindo o local. Se o total de lotes adquirido fosse em número
elevado, a pessoa, quando os colocava à venda, fazia outro registro em nome diferente a esse
loteamento.
Corrêa (2002, p. 14) afirma que “a especulação fundiária interessa aos proprietários
fundiários porque cria uma escassez de oferta e o aumento de seu preço, possibilitando-lhes
ampliar a renda da terra”.
Quanto ao crescimento dos bairros já criados até fins de 1950, é necessário
esclarecer que o Bairro da Aparecida teve crescimento lento, havendo prolongamento só da
avenida em frente ao Grupo Escolar (atual JAP) e as duas ruas paralelas à praça da Igreja.
Somente a partir da década 60 é que o bairro absorverá um rápido desenvolvimento.
O crescimento mais rápido se dá com o loteamento da Coester, que ligava o centro
da cidade ao bairro da Brasilândia. No entanto, é um crescimento que se localiza no lado
direito da avenida no sentido centro-bairro (figura 104). Do lado esquerdo, além de ser um
terreno com grandes declives localizados e, por isso, cheio de erosões, era limitado também
pela rodovia, que, de alguma forma, também limitava sua expansão.
Figura 107 Ao alto, a região dos loteamentos Jardim América e Santa Helena. Nota-
se que a Avenida 6 não seria aberta, mas acabaria em um parque.
Fonte: Luiz Rolim, 1970. (Acervo particular).
106
Na década de 1970 há vários loteamentos (figura 108): o jardim Paulista com 362
lotes, São Judas Tadeu com 121 lotes e o Eldorado com 131 lotes, que vão preenchendo
alguns espaços que existiam tanto da Coester até a rodovia, como do centro da cidade à
Brasilândia.
Dos loteamentos da década de 1970, o da Companhia Energética de São Paulo
(Cesp), construído entre os anos de 1973 e 1974, terá destaque não só por suas
especificidades, como também por haver impulsionado o desenvolvimento econômico e social
de Fernandópolis.
A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) foi criada em 1966. Desde sua criação
e consolidação, ao lado de estudos que viabilizassem os recursos naturais para geração de
energia e sua distribuição domiciliar, a Cesp forma a Divisão de Arquitetura e Urbanismo,
visando a complementar as complexas atividades de engenharia. A arquitetura praticada pela
Cesp está impregnada pelo sistema de classificação, que garante um tratamento diferenciado
para os funcionários com maior grau de instrução.
Esse sistema é semelhante ao que Foucault (1979) denominou de “sistema de
diferenciações”. É a forma desigual com que indivíduos se apresentam diante de outros
indivíduos. Essas diferenças podem ser de ordem jurídica, econômica, profissional, cultural e
outras, envolvendo sempre uma relação de poder.
Foucault (1979) chama a atenção para o fato de que as relações de poder não devem
ser sempre associadas a aspectos negativos. Considera que o aspecto negativo do poder, sua
107
força destrutiva, não é tudo e talvez não seja o fundamental, ou que, ao menos, é preciso
refletir sobre seu lado positivo, isto é, produtivo e transformador. Ele diz:
Essa fala demonstra que as relações de poder não somente devem ser associadas a
aspectos negativos, mas também que atuam de forma dupla. Se, pelo lado negativo, mostra
uma situação visivelmente heterogênea de poder, com engenheiros e técnicos com melhores
casas, refeitório e clube separados, pelo lado positivo garante acesso a casa, saúde,
educação, alimentação e lazer, a que boa parte dos operários, realmente, não tinham acesso
anteriormente. Mostra também que o objetivo da Cesp era a otimização do trabalho.
Paulo Marchiori, indagado se percebia que a Cesp utilizava um sistema diferenciador,
respondeu que nunca sentiu que houvesse uma diferenciação, pois, desde criança, viveu em
núcleos residenciais da Cesp e, por isso, estava acostumado com esse estilo de vida.
35
Barrageiros – assim eram chamados os funcionários da Companhia Energética de São Paulo (Cesp),
indistintamente do grau ou nível de função que ocupavam na companhia. Para maiores informações,
consultar também o trabalho de Paulo Antônio Marchiori, em seu artigo intitulado “UHE de Água Vermelha
e sua importância para Fernandópolis”, constante da seção B, desta obra.
109
Fernandópolis foi contemplada para abrigar a alta administração da usina, por sua
proximidade das obras e também por oferecer a melhor infraestrutura em relação às demais
cidades da região.
O núcleo de Fernandópolis foi construído entre os anos de 1973 e 1974. Possui uma
configuração diferente dos demais, inspirada num modelo de vila americana. Sua arquitetura é
mais arrojada que os demais, com características próprias: larga avenida com canteiro central,
grandes áreas verdes, fachadas sem gradil totalmente abertas, paisagismo, organização e
distribuição das residências em níveis hierárquicos em concordância com a função
desempenhada pelo funcionário e nível socioeconômico.
À época, foram edificadas 176 casas divididas em 04 (quatro) níveis de acomodação.
A quadra mais estruturada destinada à alta administração possuía 49 casas de alto
padrão, cerca de 250 metros quadrados de área construída, armários fixos embutidos em todas
as dependências e acomodações também para empregados domésticos.
As casas foram montadas pela Madezati, empresa do Rio Grande do Sul, e ofereciam
alto grau de conforto (figuras 112, 113, 114 e 115). Do antigo núcleo residencial da Cesp
surgiram dois bairros: o condomínio Morada do Sol, que abrange a quadra onde foram
construídas as casas dos engenheiros nível 6, e o Jardim Rio Grande que corresponde às
casas níveis 5, 4 e 2.
2
Figura 115 Planta de casa nível 2, com 90,58m de área construída.
Casas da Rua J, quadra 4, Jardim Rio Grande, destinada aos
funcionários que atendiam à alta administração e seus
familiares.
Fonte: Fernandópolis, 1983. (Arquivo municipal)
36
Para construir o núcleo residencial, foram desapropriados da família Cáfaro dois lotes de terrenos da
fazenda Brasitália e doados à CESP: o primeiro (Lei 253, de 02/06/73) com área aproximada de 3,5
alqueires, pelo qual foi paga a Filomena Brandi Cáfaro a quantia de 108.000,00. O segundo, com cerca
de 6,5 alqueires (Lei 323, de 02/05/74) só foi pago pela CESP quando, em 1988, houve o desmonte do
núcleo e a CESP devolveu à família Cáfaro parte do Jardim Rio Grande.
113
A renda per capita nos canteiros de obras era bem superior ao praticado até então na
região, gerando divisas e desenvolvimento para o comércio e a indústria local e regional.
Fernandópolis, especialmente por abrigar os funcionários das mais altas funções e, por
conseguinte, com alto poder aquisitivo, foi impulsionada pelo “boom” causado e viveu grande
momento de euforia e dinamismo proporcionando crescimento e desenvolvimento
generalizado.
37
Ariovaldo Dalto Vieira, na época, era encarregado de obras da Madezati.
38
Humberto Cáfaro Filho, atualmente, é professor na Universidade Círculo de Trabalhadores Cristãos do
Embaré (Unicastelo) e administra o condomínio Brasitália; parte das terras da fazenda Brasitália, de
propriedade da família Cáfaro, foram desapropriadas para a construção do núcleo da Cesp.
114
Por fim, a Hidrelétrica de Água Vermelha ficou pronta e a maior parte dos
funcionários precisavam seguir para o proximo destino, mas muitos já haviam
fincado raizes aqui, outros se aposentaram e não queriam mais ir embora.
Então, montaram uma Associação de Moradores que, juntamente com a
Familia Cáfaro, que até o momento não havia sido ressarcida pela
desapropriação, se juntaram e negociaram um acordo com a Cesp, que
atendeu ao interesse de todos. À familia Cáfaro foram oferecidas três opções
de reparação: uma área próxima à barragem de Água Vermelha, o aeroporto
da usina e uma faixa de terra próxima ao córrego Santa Rita, que foi a
escolhida. Após a sua urbanização, hoje é o bairro Jardim Rio Grande.
(Humberto Cáfaro Filho)
Figura 118 Centro da cidade onde se observa a Rua São Paulo com
as galerias abertas para o esgoto, desde a praça na
Avenida Amadeu Bizelli até a Avenida Expedicionários
Brasileiros.
Fonte: Casari, 2011. (Acervo particular)
39
Sobre o abastecimento de água, ver Pessotta et al. (org.). Fernandópolis, nossa história, nossa
gente. Fernandópolis : Bom Jesus, 1996. v. 1.
117
piorou ainda mais. Tentando explicar o motivo, Fernando Jacob, em sua coluna Ecos da
Cidade, no jornal O Município, edição de 17/04/58 (CDP/FEF, 2009), comenta:
Qualquer que tenha sido a causa, o desrespeito com o consumidor, que já pagava
muito caro pelo serviço, era evidente.
Novamente, no dia 15/05/58 (O MUNICÍPIO, 1958 apud CDP/FEF, 2009), o advogado
e jornalista volta a reclamar: “Agora, sim, já é preciso acender um fósforo, à noite, dentro de
casa, com a luz acesa. A verdade é que, para desmentir os incréos, a luz ainda encontrou uma
escala inferior, à qual pudesse descer.”
De qualquer maneira, dia 28/07/58 (O MUNICÍPIO, 1958 apud CDP/FEF, 2009),
realizou-se uma sessão extraordinária da Câmara Municipal para a aprovação do Projeto-Lei n.
11/58 que autorizou a Prefeitura Municipal de Fernandópolis a assumir, perante o governo
federal ou seus órgãos, as responsabilidades e exigências legais decorrentes da aquisição da
empresa elétrica, da qual passou a ser sucessora, como concessionária do mesmo serviço.
No dia 13 de dezembro de 1958, foi publicada no Diário Oficial a inauguração, em
janeiro de 1959, da Usina Termoelétrica de Votuporanga, que deveria atender a toda região da
Alta Araraquarense, num total de 350 mil habitantes em, aproximadamente, 30 cidades.
de São Paulo, provocada tanto pela expansão do setor de manufaturas quanto pelo aumento
do uso de eletrodomésticos nas residências.
A eletricidade gerada por uma termoelétrica tinha um alto custo de manutenção e era
muito mais cara do que a energia hidroelétrica. Por isso, foram desativadas e substituídas
pelas hidrelétricas da Cesp, empresa criada em 1966.
Em 02/05/68, a Câmara aprova projeto de Lei nº 9/68, que autoriza o prefeito
municipal, Percy Waldir Semeghini, a celebrar contrato com a Cesp.
A Cesp, por sua vez, em 1999, foi cindida em cinco empresas, sendo três de geração
de energia, uma de transmissão e uma de distribuição, que é a Elektro, formada em
06/01/1998, sendo então uma subsidiária da Cesp que hoje fornece energia para 1.8 (um
milhão e oitocentos mil) clientes em 223 municípios do estado de São Paulo e cinco do Mato
Grosso do Sul. Essa empresa tem, hoje, oito regionais, sendo que uma delas está sediada em
Votuporanga e atende a 65 municípios, entre os quais está o de Fernandópolis.
3.3 Telefone
A Empresa Telefônica de Rio Preto, de propriedade do Sr. Moysés Miguel Haddad,
instalou seu serviço em Fernandópolis em 23/06/1952, de acordo com um contrato feito com a
municipalidade.
A instalação desse serviço era aguardada com ansiedade, porque contribuiria para
menos isolamento da população, uma vez que, até então, as comunicações se davam por
meios mais lentos tais como, cartas, telegramas e rádio.
As fotos das figuras 123 a 130 atestam a participação não só de políticos, como
também da comunidade por ocasião da instalação dos serviços da Empresa e Fernandópolis.
Desde o início, porém, a companhia protegida por um contrato que lhe assegurava
direitos dificilmente rescindíveis não se esforçava para oferecer um serviço satisfatório. Para
começar, já descumpriu o contrato colocando a rede interna da cidade em prazo muito além do
combinado.
Sem ter completado um ano da instalação da rede, a Companhia já entrou em atrito
com o Executivo local, ao exigir o aumento da tarifa em patamares abusivos. O comércio e os
assinantes manifestaram o seu inconformismo por meio de abaixo-assinados. Uma mesa
redonda foi organizada para discutir o assunto e todos apoiaram o prefeito: não haveria
aumento enquanto não melhorasse o serviço oferecido.
Apesar de todo o apoio da população, o Executivo e a Câmara capitularam e
assinaram o aumento de tarifas, levando as pessoas a acreditarem em ameaças de sabotagem
por parte da Companhia.
As ligações interurbanas até 1956 não eram diretas com Rio Preto, havendo uma
retransmissão pelo posto telefônico de Votuporanga. Esse fato pode ser comprovado por ata
da Câmara Municipal de 02/03/1956, quando o vereador Fernando Jacob fala a respeito da
festa dada há alguns dias antes para inaugurar a linha direta de Fernandópolis a São José do
123
Rio Preto; até então o problema não havia sido resolvido, e as ligações continuavam via
Votuporanga, tomando horas para serem completadas.
As instalações, devido a defeitos técnicos, não resistiam à mínima mudança do
tempo, como ventos e chuvas, e entravam em colapso. Além disso, a prestação de serviços
deixava muito a desejar com relação à polidez no atendimento.
Quase vinte anos mais tarde, para solucionar de vez o problema de telefonia em
Fernandópolis, surge a Telecomunicacões de São Paulo (Telesp), em 12 de abril de 1973. A
Telesp foi a empresa operadora de telefonia no estado de São Paulo antes da privatização
desse serviço.
Adotou uma política arrojada, que envolvia a encampação das empresas existentes,
contratação e instalação de terminais e sistemas de transmissão. No início dos anos 70, no
estado de São Paulo, eram 256 empresas de telefonia, mas as companhias municipais e
regionais mal conseguiam sobreviver e muitas abandonaram os já reduzidos investimentos na
área. A Telesp incorporou diversas pequenas empresas municipais ou particulares, com
reduzido número de terminais. Dessa maneira, implantou seus serviços em Fernandópolis,
substituindo o serviço da Telefônica de Rio Preto durante o governo de Antenor Ferrari.
Hoje o município é atendido pela Telefônica, empresa espanhola que comprou a
Telesp em 1998, quando o sistema de telefonia do estado foi privatizado.
40
Sobre os afastamentos do então prefeito Percy, ver período de seu governo diante da administração
municipal (1964-1969), na seção A desta obra.
124
leque, passou a ser em X, proporcionando uma transmissão para 360º, atingindo todos os
pontos altos e baixos da cidade.
O sinal de televisão nos anos 60 e 70 só se propagava no alcance da linha visual, isto
é, o sinal alcançaria o que a visão de uma pessoa posicionada em cima de um morro
alcançasse. Nos morros ou lugares mais elevados, colocava-se uma antena repetidora de
sinais que os enviava, sucessivamente, de morro a morro, até seu destino. Como esses
lugares, dificilmente, possuíam energia elétrica, era necessário agregar um gerador a um motor
a gasolina para o fornecimento de energia necessária para repetir o sinal. Se o motor
“engasgasse” ou a gasolina acabasse, podia-se dar adeus ao sinal. Dificultando ainda mais a
repetição de sinais, colaboravam os problemas provocados por intempéries, tais como chuva,
descargas elétricas e ventos.
Em 1968, a Portaria n. 31/68 substitui a de n. 06/67, formando uma nova comissão,
sempre no sentido de aperfeiçoamento dos sinais de retransmissão. Nesse sentido também, a
ata de 11/05/70 (Câmara Municipal) revela que uma área medindo 80 x 80m dentro da fazenda
São Pedro, pertencente à firma The Sancshare General Investimento Company Limited, foi
recebida, por servidão para uso (usufruir), por tempo indeterminado para instalação de uma
torre de serviço de repetição dos sinais de TV.
Fernandópolis passa, em 1969, a integrar o Consórcio da Rede Tronco de Televisão
Bauru-Lins-Araçatuba, que se encarrega de cuidar da aparelhagem de General Salgado.
Mesmo assim, ocorrem intermitentes falhas técnicas (ata da Câmara Municipal, de 10/10/69).
Antenor Ferrari, fundamentando-se na Lei Municipal 95/70, cria, em 1973, o Conselho
Municipal de Televisão de Fernandópolis (CONTEFE) e, por Portaria n. 321/73, nomeia
Roberto da Silva Rosa para o cargo de presidente da Diretoria Executiva do CONTEFE e, pela
Portaria n. 322/73, nomeia para o Conselho Superior do CONTEFE: Fernando Alegrini, Antonio
Kawakami, Orlando Greco, José Carlos Rodrigues, José Custódio da Silva, Adalberto
Bernardino Pereira, Álvaro Fernandes de Souza, José Pereira do Nascimento e José Humberto
Martins.
Em 1978, uma nova comissão foi formada para julgar as propostas de concorrência
pública para aquisição de retransmissores de televisão, sempre visando ao aperfeiçoamento da
nitidez das imagens para dar à população um entretenimento que concorresse com o rádio e o
cinema.
Atualmente, o sinal de televisão é abrangente, visto que se utilizam potentes
transmissores e satélites que, no início da TV, estavam em estado embrionário.
125
CONCLUSÕES
As autoras
126
REFERÊNCIAS
BORZILLO, Givaldo; SILVA, Henry; COSTA, Rosa Maria de Souza. Projeto Memória. Centro
de Documentação e Pesquisa. Fernandópolis: FEF, 1997.
BURKE, Peter. A escrita da história. São Paulo : Novas Perspectivas (UNESP), 2000.
CASARI, Walter (Depósito das Roupas). Álbum de fotografias (acervo particular), 2011.
EELAS – Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares. Trabalho realizado pelos alunos do 4º
colegial de 1974 (acervo particular). Fernandópolis, 1974.
______. Álbum organizado pela professora Laura Maria Borges Mapelli e alunos do Curso de
Administradores Escolares do IEEF, em 1975 (acervo particular). Fernandópolis, 1975.
______. Ed. de 18/01, 04/04, 07/04 (n. 964), 18/04, 11/07, 18/07, 27/06, 24/10/, 28/10/1968.
Fernandópolis, 1968.
GOMES, A. M. C. (org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro : Relume Dumará,
1994, p. 109.
127
NAPOLITANO, M. O regime militar brasileiro 1964-1985. São Paulo : Atual, 1998. p. 57.
1 INTRODUÇÃO
“O passado não é aquilo que passa,
É aquilo que fica do que passou.”
(Tavares, Flávio)
cidade, em casa, nos quintais, na rua, na escola, no clube, na igreja, no trabalho. Que esses
atores históricos, relacionados neste trabalho, tenham percebido que “relembrar é viajar por
tempos e espaços já vivenciados, experenciados, explorados”, e nós só estamos começando a
reescrever esse tempo.
Nessa época, a maioria dos brinquedos era confeccionada pelas próprias crianças,
como se recordam as “meninas” e o “menino” da UNATI43:
Segundo Joaquim Melero de Barros (2011)44, ele, seus irmãos Miguel e José e vários
45
amigos constituíam a turma da av. 7; construíram um campo de futebol, próximo à rua
Pernambuco (onde hoje está instalada a Casa de Carnes Zanim) e ali todos os dias jogavam
uma pelada, a diversão preferida da garotada:
Na década de 1950, todas as noites, até mais ou menos às 22h, era costume
47
dos meninos da Vila Aparecida reunirem-se na esquina da avenida Dois
43
As meninas da Unati, que estavam presentes na reunião com o objetivo de dar seus depoimentos sobre
a infância e adolescência, no dia 17/01/2012, são senhoras que nasceram de 1939 em diante. São elas:
Marta M. Dinardi Pim, Iraceles de L. Garcia (Celinha), Maria Augusta Bento da Silva, Ormy Sant’Anna
Angeluci, Iracema Guimarães Medrado, Maria Teresinha Prandi, Esmeralda Guimarães Siqueira, Anna
Zendron de Figueiredo – Anita Cearense -, Zenith Zendron de Figueiredo, Ramona A. Peres Fraga, Maria
José Pessuto Cândido e o “menino” Joaquim Melero Barros. A transcrição, a mão para o papel sulfite,
dos depoimentos foi feita pela presidente da UNATI, Maria José Pessuto Cândido, que a enviou para a
profª Péta Matos em janeiro de 2012 e esta a (re)transcreveu para o CP.
44
Depoimento escrito de Joaquim Melero Barros, 75 anos, casado, agricultor, para as professoras Vanda
a
Aparecida de Lima Costa e Rosa Maria Souza da Costa, em junho/julho de 2011. Transcrito pela prof
Rosinha em julho de 2011, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
45
Melero cita o nome dos amigos: Romildo e os irmãos Waltides e Fred, Edmilson A. Bizelli, os irmãos
Tiago e Domingos Oribio, Waldomiro Lopes (Mirim), Júlio Roberto Santana e o irmão Ivo (mais conhecido
por “Ivo fala fina”), Ilson Lemos, os irmãos Albano e Alceu de Abreu Lima, Joaquim Nunes e Moacir, Zé
Bistrigui, Antonio Pereira (Tonico da Loteca) e seu irmão Zé Balau, José e Carlos Guimarães, os irmãos
Fragoso, João Garcia, Orlando da Horta, Benedito e Alcebíades Cubas, Geraldo Forquin, os irmãos
Damasceno Junqueira, Otides, Odair, Ozilmo e Odelício e mais quatro cujos nomes não recordo.
46
(COSTA, 2011) Depoimento de Osterno Antonio da Costa, 69 anos, casado, advogado, que passou a
sua infância e adolescência no Bairro da Aparecida, à sua esposa, profª Rosinha, no dia 02 de setembro
de 2011, em sua residência.
47
Osterno, cita, praticamente, toda a Turma da Vila Aparecida: os irmãos Pessuto (Jurandir, Gilberto,
José e Darci), os irmãos Farinazo (Armando, Adalberto (Pico) e Amilton (Tutu)), José Vicente Gil, Carlos
Okiyama, Benito Molina, os irmãos de Almeida: Arnaldo, Arlei e Ailton de Almeida, Wilson (Bola Sete),
Alicio, Alaor, Rubens Stropa, Murilo Marques, os irmãos Oliveira: José (Zé Ruela) e Orivaldo; Ademar
Soares (Tubá), Gregório, Waldomiro Calente, os irmãos Micheluti (Osmar e Odivaldo), Antonio dos Santos
(Tonhão), Walter dos Santos (Alicate), Gilberto dos Santos (Cascudo), os irmãos Maksumoto (Ioshiro,
Tsuneo e Sadao), Carlos de Almeida (Carlito), os irmãos Rodrigues (Durvalino e Milton), Mário Alves de
131
Hoje, já não se veem as peladas de futebol, jogadas nas ruas mais tranquilas, de
pouco movimento, em terrenos baldios, gramados de jardins públicos e até em algumas
praças. Mas, naquela época, qualquer espaço público vazio e uma bola (mesmo que de pano
ou outro material não contundente) serviam para a prática da pelada.
Um dos meninos da Aparecida era Martin Del Pino48; em seu depoimento, fez
questão de dizer, entre emoção e orgulho: “o Osterno era meu parceiro na bolinha de gude, a
gente jogava no chão de terra do jardim ou na rua que era tranquila”.
Para Wi Corsini, essas brincadeiras aconteciam “ao lado da máquina de arroz N. Sra.
Aparecida (entre a Av. 9 e 10), de sua família, num terreirão onde secavam o café e arroz, com
uma área verde muito grande, com eucaliptos na frente, onde as andorinhas vinham pousar”.49
Além das “peladas”, os pais levavam os/as filhos/as ao campo de futebol para
assistirem às partidas dos times profissionais (figura 2). Segundo Melero, “no ano de 1950,
existiam dois times de futebol, o Fernandópolis Esporte Clube e o América, que disputavam o
Lima, José Rodrigues Arnaldo da Silva (Zezão), os irmãos Leone (Lé, Amilton (Mimi) e Zanone), José
Machado, Walter (Jabuca), Abel, Lourival (Louro), Benedito Pereira (Piché), Baltazar Pereira, José
Nicoleti, Dirceu Moreira da Silva, Baiano, Poranga, os irmãos Batelo (Luiz, José (Zé) e Aparecido (Cido)),
José Coleto (Zezinho), os irmãos Del Pino (Caetano, Martin Del Pino, Jaime Rodrigues (Palito), Messias
Pedrosa), os irmãos Osório Vicente (Cláudio e Ovídio), os irmãos Antonio da Costa (Osterno, Oreste e
Olindo), Valdir (Dilo), Marcos Pagioro, Júlio Pagioro, Tadeo Pagioro, Aderval de Oliveira (Bola), Irmãos
Patéis, José Ramos, Jamanta, João Rodrigues (Janjão), os irmãos Mantovani (Décio, Delvem e Funeco)
e os irmãos Corrêa (Waldomiro (Caboclo) e Clodomiro).
48
Martin Del Pino, 69 anos, casado, comerciante, em entrevista à profª Péta Matos, no dia 9 de fevereiro
a
de 2012. Transcrito pela prof Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
49
Depoimento de Waldevir Corsini, 59 anos, casado, corretor de seguro, à profª Peta Matos, em
29/02/2012.
132
campeonato amador regional. Aqui havia uma grande rivalidade entre o América e o FEC”
(BARROS, 2012).
50
Claudinei Cabreira, redator do jornal TÁ NA MÃO, de Fernandópolis, escreve aos domingos na coluna
História dos Tempos do Botinão (2011/2012).
51
Esse termo “periferia” não existia na época. Ele quer se referir aos bairros que ficavam ao redor do
centro, como o bairro Aparecida. O termo apropriado seria, provavelmente, nos arredores do centro.
133
Nos anos 50, a família de Antônio Martins Fernandes era dona da Sapataria Martins
do centro53. Para muitos era a famosa DIVA (Departamento de Investigação da Vida Alheia),
porque os homens se encontravam para se “atualizarem” das novidades do dia, como fazem
hoje nas padarias União e Bastilha e no barzinho Pequeno Segredo (todos no centro da
cidade). Nos fundos da sapataria, havia um pátio com vários cômodos, utilizados para guardar
o material da loja e a residência do irmão Olívio (bancário), sua esposa Eunice (que exercia ali
dois trabalhos: cabeleireira e costureira) e seu filho Viko Tangoda. Diz Antônio:
no centro havia um frondosa mangueira e era debaixo dela que eu, com
16/17 anos, juntava meus irmãos Francisco, Olívio, José Pedro e os amigos
Osias e Aer Ferreira (filhos do seu Vicente Ferreira da Silva e Da. Generosa),
Jaime e Edson Martins (filhos da Da. Veva e José Martins), Adão Teixeira do
Carmo( Adãozinho), e outros para jogarmos tômbola, baralho, pebolim. Meu
irmão Francisco era o cantador do jogo54.
Morando também nos “arredores” do centro, a profª Delurdes57, lembra que chegou
aqui, com a família, em 1946 e
brincava na rua em frente à fábrica do meu pai - Bebidas União, que produzia
vinagre, cotuba etc. –, localizada no final da Av. 8, próximo à Rua Amazonas.
Jogava bola-queimada, brincava de amarelinha, pulava corda e, cada vez
mais rápido, “o foguinho”.
52
Sol Levante era a marca de óleo, muito consumido à época; hoje, não existe mais.
53
Na Rua Brasil, no quarteirão entre a Av. 8 (Av. Manoel M. Rosa) e a praça Coutinho Cavalcanti (hoje
praça Dr.Fernando Jacob), onde é hoje a Lotérica e a loja de $1,99.
54
Depoimento do Sr. Antônio Martins Fernandes, 78 anos, casado, sapateiro aposentado, à profª Péta
Matos, no dia 29/02/2012.
55
O buracão começava na Av. 6 entre as ruas Paraná e Pará, onde ficava a olaria do pai do Joaquim
Melero; o buracão foi aumentando até chegar à Rua Bahia.
56
Depoimento escrito de Esmeralda Guimarães Siqueira, 71 anos, viúva, aposentada, para a profª Péta
Matos, em janeiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
57
Depoimento de Delurdes Cavalotti Casari, 72 anos, casada, professora aposentada, à profª Péta
Matos, no dia 16 de fevereiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel
a grafia do texto original
134
com minha irmã Maria Adelina, as irmãs Massako. Akiko, Midore e Mitiê
Konishi, e, as irmãs Clarice e Laura Matos, a gente brincava de casinha, nos
fundos da Casa Brasil e casa dos pais das japonesas (do lado esquerdo do
Sotam Hotel) e fazíamos comida de verdade, cozinhando o arroz na lata de
manteiga Aviação. Pra se livrar de nós, minha amiga Peta Matos, que achava
muito monótona e chata essa brincadeira, ia brincar ao lado, no corredor e
59
quintal na loja de meu pai, a Casa Luzitana (onde hoje é o Sotam Hotel),
junto com meus primos Antônio Luís Pereira Alves, Fernando Pereira da
Cunha e meus irmãos Nelito (Manuel Marques Pereira) e Luís Carlos. Ela
dizia que era mais emocionante... mas era difícil não sair com algum
arranhão de lá... vivia ralada. Ali onde se amontoavam as sacarias, eles
brincavam de bandido e mocinho. Nesse quintal havia também grandes
árvores e o inesquecível abacateiro, e todos nós subíamos nelas e ficávamos
sentadas ali, conversando uns com os outros. Íamos também brincar no
coreto, de roda, salva-pega etc.
Mas, geralmente, a gente só ia pra casa quando escurecia. Nossas mães só
gritavam: Pra dentro! E a gente obedecia. Uma aventura inesquecível nesse
quintal, onde havia uma cerca com pé de bucha... desse pé, eu e a Péta
pegávamos, às escondidas da mãe, um pequeno galho e acendíamos para
fumar, isso depois de surrupiar a caixa de fósforo e, ainda, fazíamos pose de
adultas... era uma aventura para nós e muito comum entre a molecada.
58
Depoimento de Ilda Marques Pereira, solteira, 64 anos, por e-mail, à profª Péta Matos, em janeiro de
2012. Manteve-se fiel a grafia do texto original.
59
A Casa Brasil se localizava do lado direito do Sotam Hotel, e a Luzitana ficava onde hoje é o hotel e só
na década de 60 se mudou para o prédio da frente e se transformou no Supermercados Luzitana no local
onde, hoje, está o Supermercado Pejô. Todos na Rua Brasil.
60
Depoimento de Flor de Lis Antonia Carneiro Colombano, viúva, 63 anos, à profª Peta Matos, no dia
06/02/2012. Transcrito pela profa Péta em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
61
Depoimento de Elza Mara Marques de Matos Garcia, casada, 55 anos, fisioterapeuta, à profª Peta
Matos, no dia 21 de janeiro de 2012. Transcrito pela profa Péta em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a
grafia do texto original.
135
O jardim, nos anos 50, tinha também uma fonte luminosa, que era admirada pelas
crianças e seus pais, como também pelos visitantes. A figura 5 mostra, à esquerda da fonte, a
ponte sobre o lago de peixes.
Carmita63, que morava na Avenida 7, esquina com a Rua Espírito Santo, no início dos
anos 50, “brincava na rua de terra de bola-queimada, bétia, salva-pega, com os amigos: os
irmãos Eduardo, Evaristo e Isaura Colombano, João Inácio Pimenta, os irmãos Maria Olinda e
Marcos Gonçalves, Edgar Alberto Senra, José Alberto Maldonado e as irmãs Isa e Vera Marão.
Outras brincadeiras eram realizadas pelo pessoal da UNATI, inclusive com animais
que,
62
Fotos e depoimento de Nelson Toscano Saes, casado, à profª Peta Matos, em julho de 2011. Transcrito
a
pela prof Péta, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel a grafia do texto original.
63
Depoimento de Carmem Gomes Trindade, 70 anos, casada, diretora de escola aposentada, para a
profª Peta Matos, no dia 05/02/2012.
136
Para Celinha64, era uma aventura subir ás árvores: “subia em árvores e pulava de um
galho para o outro, achando que era a Jane (mulher do Tarzan)”. E ri quando rememora essa
aventura. Essa época de “viver” os super-heróis também foi a do Jorge Campagna 65, que,
criança nos anos 70, diz sempre rindo ao lembrar as traquinagens que fazia: “A gente brincava
imitando os super-heróis e o maioral era o Tarzan, com o Boy menino, a Chita, os índios, e
montávamos a cabana nas árvores / mangueiras do quintal. A Jane só raramente aparecia,
quando uma menina ia brincar também”.
Mas ressalva Anna da UNATI, esposa do Sr. Zé Cearense, que havia um outro
motivo para se subir às árvores: “Subir em árvores e ameaçar se jogar daí também era uma
espécie de chantagem que algumas crianças faziam quando queriam ganhar algo que estava
muito difícil” (CÂNDIDO, 2012).
Outra aventura das crianças era andar de bicicleta ou andar a cavalo ou charrete,
como lembra Celinha:
Uma vez fui passear de bicicleta com minhas amigas, as irmãs Maria Inês,
Mariza e Marion Carmelengo e, quando chegou na famosa descida do Gatão,
descobri que minha bicicleta não tinha freio. Desci em alta velocidade,
gritando feito louca. Minha sorte foi que tinha dois pescadores lá em baixo na
ponte, que me ampararam, mas também deram boas gargalhadas pela cena
ridícula que assistiram. Me lembro que era só algum cliente amarrar seu
animal em frente do frigorífico [refere-se ao frigorífico Garcia, de seu pai, avô
e tios, na Brasilândia], que eu, escondida, subia no cavalo e saía galopando
pela cidade; ou então pegava a charrete do cliente e ia passear. Fiquei
famosa por causa disso e todos já sabiam quem tinha sequestrado o tal
cavalo ou a charrete. Só restava aguardarem minha volta, para poderem
seguir seus caminhos. Claro que eu ficava de castigo, mas logo aprontava
outra.
Muitas vezes tive que correr de boi bravo nos pastos e subir em árvores para
me proteger, ou então subia em algum cavalo bravo sem arreio, deixando
meus pais desesperados.
[…] fui com amigas nadar num açude na zona rural da Brasilândia e uma
amiga estava morrendo afogada. Eu mesmo, sem saber nadar, resolvi salvá-
la e quase morremos as duas. [Ela era] uma criança bem moleca e fazia
muitas traquinagens, e era muito alegre, divertida e tinha muitos amigos.
Muitas vezes, os pais que gostavam de pescar, nadar ou só navegar pelo rio,
levavam seus filhos para o Rio Santa Rita, a Cachoeira do Coqueiro, a Cachoeira dos Índios
etc. Na figura 6, “Edison Rolim passeia de barco com os 5 filhos e duas empregadas, na
saudosa e bela Cachoeira dos Índios (hoje Usina de Água Vermelha). Minha mãe, Belkiss, não
foi porque estava esperando o seu último filho, o Olavo”, lembra Rita Rolim66.
64
Celinha, como é conhecida Iraceles de Lourdes Garcia, 68 anos, professora aposentada, uma das
“meninas” da UNATI, enviou seu depoimento por e-mail no dia 11/01/2012 para a profª Péta Matos.
Manteve-se fiel a grafia do texto original.
65
Depoimento de Jorge Campagna (Izildo Jorge Aparecido Campagna), 48 anos, solteiro, cabelereiro, no
a
dia 16/02/2012, para a profª Péta Matos. Transcrito pela prof Péta, mantendo-se fiel a grafia do texto
original.
66
Depoimento de Rita de campos Rolim, casada, moradora em Votuporanga (SP).
137
havia programas de auditório numa Rádio (onde hoje é o Gigantão), que era
também o FEC e minhas irmãs, amigas e eu sempre participávamos só
vendo as apresentações ou mesmo cantando ou recitando poemas. Uma vez
cantei “se a perpétua cheirasse, seria a rainha das flores, mas como a
perpétua não cheira meu bem, perpétua não tem amores”. Como o microfone
era alto e fixo, a gente tinha que subir numa cadeira para alcançá-lo. Já em
casa, o momento mais aguardado era quando meu pai colocava minha irmã
Laurinha em cima da mesa para declamar.
Na década de 50, começou a ter importância o ensino de algum instrumento
musical, do balé e, como meus pais valorizavam o que eles não puderam ter
em criança, resolveram colocar as filhas. A escolha seguia um ritual: minha
irmã Clarice, a primogênita, escolhia primeiro e a opção foi o piano, eu, então,
tinha que ficar no acordeon. A escola particular de música improvisada ficava
no Hotel Central de D. Carmem Garçon Ferreira Bertolote, que também era a
professora; e os exames de final de ano eram feitos no conservatório de
Monte Aprazível. Também ali comecei a aprender balé com uma professora
japonesa, mas muito moleca, larguei logo, mas consegui, pelo menos,
aprender um versinho de música japonesa (figura 7).
Só no inicio dos anos 60 é que surge o Instituto Musical Santa Cecília, sob o
comando do Geraldo Bataglia. O nome do Conservatório é uma homenagem a Santa Cecília,
138
padroeira dos músicos. Segundo Idalina Bataglia67, “a escola, no início, ensinava violão, balé,
acordeão, piano e teclado. Ela foi oficializada em 1964, quando se formou a primeira turma, e o
seu Edison Rolim foi o paraninfo. Chegamos a ter 600 alunos”. A figura 8 mostra o
Conservatório, que se localizava na Rua Brasil, entre as Avenidas 6 e 5, no antigo Banco
Mercantil, hoje Casas Bahia.
Celinha aprendeu, com sua mãe Nair Anselmo Garcia, a cantar e declamar poemas,
o que adorava fazer. Diz ela:
As mães adoravam vestir suas filhinhas com vestidinhos cheios de “frufru”, rendas,
“pingo de chuva” ou poá, bordados de casinha de abelha, fitinhas; eles eram engomados e,
embaixo, o saiotinho cancan para o vestido ficar mais rodado. Enfeitavam-nas com pulseira,
anel, brinquinho, lacinhos na cabeça, os sapatinhos com lacinhos, e a meia soquete branca era
inevitável. Enquanto isso, as meninas que residiam “no sítio” tinham que usar vestidinhos feitos
com os tecidos mais rústicos que os pais compravam para toda a família, por isso levavam a
peça de tecido inteira e só os confeccionavam uma ou duas vezes por ano no máximo: “a
gente quando via as menininhas da cidade com esse vestidinhos, ficava morrendo de vontade
de ter um vestido desses”, lembra Ivone68. Na figura 9, vemos a menina June, com um aninho,
com seu tradicional vestidinho engomado, “convivendo” lado a lado com os tão festejados
sinais da modernidade: o telefone preto, as revistas, o taco de madeira no chão e a foto dos
pais em um porta-retrato.
67
Depoimento de Idalina Miotto Bataglia, 84 anos, viúva, aposentada, à profª Peta Matos, no dia 29 de
fevereiro de 2012.
68
Depoimento de Ivone Scatena Corsini, 55 anos, casada, administradora, à profª Peta Matos, no dia 29
de fevereiro de 2012.
139
As famílias de alto poder aquisitivo também faziam festa de aniversário para seus
filhos e toda a garotada da redondeza comparecia, convidada ou não. Na figura 10, vemos a
festa do menino José Silvares no colo de seu pai, Líbero de Almeida Silvares, na Brasilãndia.
Nos anos 50, principalmente nas cidades do interior, a molecada adorava assistir às
corridas de cavalos, com o comparecimento de grande público. Joaquim Melero esclarece:
nas diversas raias que existiam naquela época, na nossa região, na fazenda
dos Verdi, do Sr. Walter Sócrates do Nascimento Filho (Waltinho), na fazenda
dos Arnaldos, do Sr. Manoel (Rodrigues da Silva – Badeco), do Sr. Manoel
Dutra Santana. Todos esses fazendeiros possuíam seus próprios cavalos. O
Sr. Milton Terra Verdi possuía o cavalo Alegre, o Sr. Florênciano o Estilingue,
o Badeco a égua AVA, o Sr. Jacques Almeida da Silva o Gualicho.
140
Uma das alegrias de infância era a ida ao cinema. Clarice Sousa lembra, com
saudade, quando ia às matinês de domingo à tarde, às 14h, assistir aos filmes do “Mazzaroppi,
Marcelino Pão e Vinho, Tarzan, de Bang-Bang, dentre outros e na Sexta-feira Santa à Paixão
de Cristo”.
Outro lazer das crianças era brincar na estação ferroviária. Nelson Toscano70,
relembrando seus tempos de infância, se refere à escola, e mostra as fotos; diz: “a professora
Da. Lopoldina nos levava para visitar o local das escavações da estação ferroviária... era uma
novidade e sinal de progresso” (figura 12)
69
Fotos e depoimento de Inês Artiolli Rodrigues, casada, a profª Péta Matos, no dia 14/04/2011.
70
Fotos e depoimento de Nelson Toscano Saes, casado, comerciário, à profª Péta Matos, em 14 de abril
de 2011.
141
Figura 12 Visita dos alunos do Grupo Escolar de Fernandópolis, nos anos 40.
Fonte: Nelson Toscano Saes, 2012. (Acervo pessoal)
Além das visitas, as crianças também iam até lá para brincar. Uma fernandopolense,
não identificada no youtube, quando viu postado lá a atual situação da estação ferroviária com
os dizeres “O governo Federal doou para Fernandópolis a área da Estação de Trem, onde será
implantada a "Estação das Artes"71 já com o projeto e o recurso, falta a execução das obras.
Isso merece parabéns” , desabafou ao mesmo tempo lamentando e esperançosa:
71
Estação de Trem de Fernandópolis - 2 – EFA. Enviado, via e-maeil, por J B N Oliveira em 10/05/2011.
Informação "Ifernandopolis.com.br".
142
Outro divertimento da gurizada era ir até a Estação Rodoviária, que ficava na Rua
São Paulo, entre a Av. 7 e 8 (hoje, agência do banco Bradesco). Era uma delícia ficar
“assistindo” às jardineiras chegando e partindo, a movimentação dos passageiros. Mas, os
garotos que mais a frequentavam eram os “paqueros, contratados pelas lojas para fazer
propaganda, e ele ia até a rodoviária arregimentando os fregueses (hoje, menino propaganda)”,
relembra Nelson Toscano Saes.
As jardineiras chegavam pela Rua Rio de Janeiro, onde hoje está o Banco do Brasil
(figura 14), e partiam pela rua São Paulo (figura 15). Observar que o trânsito dos veículos era
ao contrário do que é hoje. Na figura 14, observam-se a garagem e a entrada das jardineiras; à
direita, existia um hotel, cujos banheiros feitos de madeira ficavam no quintal.
Outra opção dos meninos era ser Escoteiro. O escotismo, que surgiu em nossa
cidade na década de 40,
72
S.n.t. Comentário no <www.youtube.com>. Procurar: Estação de Trem de Fernandópolis- 2 – EFA.
Acessado pela profª Péta Matos em 08/02/2012.
143
A noite chegava e, sob a luz da lua, os pais colocavam as cadeiras nas calçadas para
conversarem com os vizinhos, deixando as portas das casas entreabertas, enquanto as
crianças brincavam nas ruas de chão pouco iluminadas. No centro da cidade era a hora,
também, de tomar sorvete no Bar do Babá (rua Brasil, entre as avenidas 7 e 8) ou no Nosso
Bar (ambas de famílias japonesas).
Para alguns pais, cinéfilos, era chegada a hora de irem ao cinema com seus filhos
para assistir a alguma película/filme interessante e permitida para menores de idade. Relembra
Marion Carmelengo74,
meus pais gostavam muito de cinema, por isso, íamos todos os dias, e lá
sentávamos sempre no mesmo lugar. Eu, como era muito pequena, sempre
dormia. Um dia, mais ou menos com 6 anos, esqueci um pé do sapato no
cinema e, como vim no colo do meu pai, ninguém percebeu. No outro dia, lá
foi seu Alvarenga (o gerente) anunciar quem tinha perdido um pé do sapato e
lá fui eu buscá-lo, levei uma bela bronca da minha mãe; nunca mais tirei o
sapato para dormir no cinema.
73
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Escotismo>. Acesso em: 02 fev. 2012.
74
Depoimento escrito de Marion Isabel Carmelengo Chaves, 63 anos, casada, à profª Péta Matos em 28
de janeiro de 2012. Transcrição feita pela professora.
144
Para Dellurdes Casari, como não havia luz onde morava, a noite era a hora de ficar
dentro de casa e, “com a luz da lamparina eu gostava de ler historinhas para minha mãe, que
era semianalfabeta, e ela adorava”.
Rememorando a infância, membros da UNATI dizem:
eu, minhas irmãs, os irmãos Nelito, Luis Carlos, Maria Adelina e Hilda
Pereira, as irmãs Mitiê e Midori, os irmãos Edson e Gilberto Martins76, o
Rubinho Ferreira e outros montavámos o circo num terreno baldio ao lado do
Cine Santa Rita, na Av. 7, e o palito de fósforo era de tamanha importância
na época, que pegavam-no do fogão às escondidas, porque, se a mãe visse
tal delito, era um safanão daqueles. Além disso, o Gilberto dava uma de
cineasta, montando um “cinema” no quintal de sua casa e ali projetava
filminhos na parede, enquanto a gente ficava sentada no chão. Novamente
pagávamos a entrada com palito de fósforo. Provavelmente o palito de
fósforo, como elemento simbólico, representava o único “dinheiro” ao qual a
gurizada tinha acesso, mesmo às escondidas da mãe.
75
Depoimento de Laura Marques de Matos Sousa, 59 anos, casada, à profª Peta Matos, em sua
residência na cidade de Valinhos, no dia 25 de fevereiro de 2012. Transcrito pela profa Péta, mantendo-se
fiel a grafia do texto original.
76
A família de Da. Veva (Genoveva) morava na casa nos fundos da loja de seu marido, José Martins -
Casa Martins -, localizada onde hoje estão a Casa Vidal e o Boticário.
145
Outro lazer muito popular nos anos 1950/60 era proporcionado pelos circos, pelas
touradas e os parques de diversão que, frequentemente, se instalavam em terrenos vagos.
Interessante e informativo o depoimento de Joaquim Melero sobre um entretenimento
que ocorria em nossa cidade e quase totalmente desconhecido – as touradas:
77
Depoimento de Sebastiana Oliveira Carneiro, viúva, funcionária pública aposentada, para a professora
Rosinha Sousa da Costa em outubro de 2011.
146
fazem parte da lembrança de muitas pessoas. Dentro de casa, as meninas brincavam, muitas
vezes, de mamãe e filhinha.
Muitos versinhos eram recitados e representados e, fazendo parte da tradição oral,
foram sendo repassados de uma geração para geração. É o que confirma Marlene78, que viveu
a infância nos anos 70, e se lembra de alguns (mesmo que a letra estivesse errada, era assim
que se dizia):
Nos anos 60, o Lions Clube trouxe para a cidade um grande divertimento para
gurizada, o “Trenzinho da Alegria” (figura 17), que, “percorrendo as principais ruas da cidade
progresso, o Trenzinho levava consigo a alegria das crianças79”.
Conversando com Marlene de Paula, que viveu a infância nos anos 70 e morava
perto do estádio de futebol, ela vai revivendo como brincava no jardim: “aos domingos, a gente
saía da missa, comia pipoca com molho de pimenta e depois ia correr em volta da fonte e
chegava em casa encharcada”. Enquanto as crianças brincavam, os pais ficavam sentados nos
78
Depoimento de Marlene Aparecida de Paula, 42, solteira, à profª Peta Matos, no dia 04 de fevereiro de
2012.
79
Revista O Imparcial e as Debutantes. Fernandópolis, set. 1966. (contracapa)
80
Depoimento de Ivone Maria Basílio Cardoso, 55 anos, casada, gerente comercial, à profª. Péta Matos,
no dia 14 de fevereiro de 2012, na loja O Boticário.
147
bancos apreciando a beleza e o espetáculo que a fonte (figura 18) proporcionava, a música
que dava o tom para o colorido e a dança das águas. Aliás, para as crianças, brincar na fonte
era muito frequente nos anos 50/60.
Também vivendo seu tempo de criança nos anos 70, quando já havia inúmeros
brinquedos eletrônicos, Jorge Campagna ressalva: “mas o autorama era brinquedo de gente
rica”. Já para as crianças com menor condição financeira, a imaginação, a criatividade
“corriam” soltas: “eu brincava era na rua ou no quintal, de bola-queimada, salva-pega etc.
Brincar de circo também era uma alegria. Me lembro do dia em que minha tia deu uma cortina
velha e com ela fiz a cortina do circo… Era o glamour”.
As festas juninas também eram a “curtição” da gurizada. O povo, de maneira geral,
aderia levando prendas que eram leiloadas. Conforme depoimento de D. Odete Baraldi81:
Essas brincadeiras perduraram por várias gerações através da oralidade, bem como
tomar banho de chuva, soltar barquinhos de papel na enxurrada e nela brincar. Brincadeiras
que divertiam as crianças e, hoje, quando os/as entrevistados/as vão recordando essas suas
vivências, percebe-se que elas ainda os/as encantam e são parte da cultura popular.
Mas, a vida da molecada não era só alegria e brincadeira sadia, como mostra o Sr.
Joaquim:
assim como hoje, existiam as turmas do bem e do mal. Uma das turmas do
mal era a do Alemão, que residia na Rua Amazonas, hoje Leonildo Alvizzi.
Era formada por um grupo de menores delinquentes que andavam munidos
de porretes de madeira e, quando se deparavam com alguém de outra turma,
o mesmo era cercado e apanhava ali mesmo.
Essas brincadeiras perduraram por várias gerações e as vemos repetidas
pela geração de 1950/60 por outra turma identificada: a dos meninos
residentes no bairro da Aparecida. (BARROS, 2012)
81
Depoimento de Odete Baraldi, viúva, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M. Malacrida
e Rosa Maria Souza da Costa, em 22/07/1996.
148
O relato de Nelson Toscano Saes confirma: “fui um dos que começaram a trabalhar
muito cedo na casa ‘Ao Preço Fixo’ e ali arrumei o primeiro emprego para o garoto José
Pereira do Nascimento’. Na figura 19, José Pereira é o primeiro da esquerda para a direita e
Nelson é o segundo.
82
Depoimento de Olga Balbo Ferreira Fontes, casada, residente em Votuporanga, a profª Peta Matos, no
dia 02/02/2012. Esse termo foi exaustivamente usado durante o “Estado Novo” (1939 a 1945), do governo
de Getúlio Vargas, e era reproduzido pelos jovens, como fez Olga num discurso de campanha política de
Ademar Pacheco, com 16 anos. À época, Olga cursava o normal no Instituto de educação de
Fernandópolis.
83
Entrevista do Sr. Jaime Guedes Rodrigues para a coluna Observatório: O eterno gerente do FEC.
Jornal Cidadão, 20 nov. 2010, p.11-A. Transcrito pela profa Peta Matos, mantendo-se a grafia do texto
original.
149
seu Miguel me chamou para trabalhar lá. Naquela época, tinha o Big,
considerado o melhor barbeiro da cidade. Era um artista, “desenhava o
cabelo do freguês”. Só que era boêmio e, quando chegava o sábado à tarde,
ele acertava a conta e sumia, só voltava na terça-feira à tarde. Eu aproveitava
e trabalhava aos domingos e às segundas e firmei boa clientela: o juiz de
direito Dr. Rolando, muito sério. Depois chegou o Dr. Joaquim Rebouças, era
bonachão, sorridente. Naquele tempo as gorjetas eram muito boas.
Mas, não eram só os rapazes que enfrentavam o trabalho desde cedo, pois as moças
também o faziam, como confirma Aroni85:
86
eu trabalhei na “Casa Douglas” , de 1950 a 1960, junto com outras moças:
Alberina Van Tol, Cidinha Pezati, Olga Navas, Maria Pomaro e Nair Atíli. Era
uma loja de calçados, conhecida como a casa do ”BOTINÃO”, por expor um
botinão na entrada da loja (figura 20).
84
Depoimento de Mario Pereira, 59 anos, solteiro, comerciário aposentado, à profª Peta Matos, no dia
07/03/2012.
85
Depoimento de Arony Vieira de Carvalho de Souza, 77 anos, casada, à profª Péta Matos, no dia
29/02/2012.
86
A Casa Douglas (antiga Casa Verde) localizava-se na parte esquerda do supermercado Pejô. “A loja
inicialmente pertencia ao sr. Osvaldo Terra, que mais tarde a vendeu para o sr. Lúcio Burguer”. Por fim,
foi vendida para os irmãos Pereira, que montaram ali uma casa de secos e molhados, Casa Luzitana, que
se transformou no Supermercado Luzitana.
150
87
Saiote é a saia curta, de tecido encorpado ou engomado, que as mulheres usam sob o vestido ou outra
saia. É também chamada de “anágua”.
88
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, professora aposentada, à profª. Peta Matos, no dia
04/06/2011. Texto transcrito pela profª. Peta Matos, mantendo-se a grafia original.
151
As festas juninas eram muito frequentadas pelas moças, pois estas, além de serem
um espaço de encontro das famílias, dos amigos que, muitas vezes, iam vestidos a caráter,
promoviam também namoros que se iniciavam com a troca de correios elegantes entre o rapaz
e a moça. Segundo Odete Baraldi:
Além das corridas, nas datas cívicas também eram realizados desfiles grandiosos
(sequência na figura 25), onde não é possível faltar a fanfarra e a(s) baliza(s), que vai(vão) à
frente do desfile abrindo a marcha e, em geral, fazendo demonstrações de destreza, evoluções
153
acrobáticas, manejando um bastão. É o caso de Sueli Artiolli, vestida de baliza na frente de sua
casa com suas irmãs Inês e Josefa e uma conhecida.
Figura 26 Cine Santa Rita, final dos anos 1940/1950 e no ano 1960.
Fonte Joaquim Melero Barros, s/d. (Acervo pessoal); CDP/FEF, 2009.
Na foto da esquerda (figura 26) dos anos 40/50, observamos a jardineira que desce a
Avenida 8 (esse era o sentido do trânsito). A bilheteria é a janela voltada para a Rua Brasil; na
esquina, a porta de entrada e as portas de saída na av. 8. Antes da bilheteria, vemos o Bar
Barbarella, descrito muito bem pelo Domingão89:
O bar tinha um hall grande que ocupava a Agência Caiçara e a Ótica Visão, e
era aberto para a rua Brasil. Nele tinha uma mureta de 1m e 80cm, mais ou
menos, que fechava o hall com elementos vazados. Se a pessoa estivesse
no bar e quisesse ir pro cinema, era só passar pelo hall e entrava lá, e quem
estava no cinema vinha no bar.
Na foto à direita (figura 25, tirada nos anos 60, o bar foi reduzido e, por isso, no lugar
dele vemos a Relojoalheria e Ótica Fernandes de Carlos Fernandes Fontanele (hoje Ótica
Visão). Apenas por curiosidade (embora não seja possível ver), depois dela já era a Gráfica e
Distribuidora de Jornais e Revistas do Dr. Jayme Leone (hoje Agência Caiçara), onde já
trabalhava (e ainda trabalha Mário); em seguida, o Bar Barbarella (onde hoje é a Azália),
esclarece o memorialista Mário da Caiçara. No início do cinema, o carrinho de pipoca ficava do
lado de fora e só mais tarde foi construída uma bombonière; a recepcionista do cinema e
vendedora de bilhetes era Iraci Gazeta, e o porteiro, o Francisco Martins. Os rolos de filmes
chegavam pelo trem, e quem ia até a estação ferroviária buscá-los era o Sr. Pedro Gazeta.
Segundo seu filho, Hélio Gazeta90,
Meu pai ia de carroça até a estação buscar os rolos de filme que vinham de
Rio Preto e se, eventualmente, não conseguia ir até lá para buscá-los, ficava
sem passar o filme. Os cinemas eram do Angelucci, que, depois vendeu para
o Curti de Rio Preto, e o gerente era o Aristóteles Alvarenga.
89
Depoimento de Domingos Azol Fernandes Filho, 64 anos, casado, ótico, à profa Peta Matos, em
08/02/2012.
90
Depoimento de Hélio Gazeta, 73 anos, casado, contador despachante, à profa Peta Matos, em
08/02/2012.
155
a gente vinha a pé (não tinha a Mijoleta), por causa do cine Santa Rita, que
era do Angeluci. Naquela parte onde é a Caiçara era um bar (Barbarella, do
Tarciso), e a gente fazia uma espécie de clube, dançava. Então a vida
começou a vir para Fernandópolis, a parte da sociedade, então a gente vinha
todo domingo, era sagrado, vinha todo mundo para o cinema. Depois que o
Salione comprou a Mijoleta, vinha todo mundo de Mijoleta (o povo pôs o
apelido), porque era circular e então começou e tinha os horários para a
gente vir para Fernandópolis. Era divertido. Era divertido...
A respeito de cinema, quando se passa pela Máquina Santa Rosa, da família Sato
desde 1946 (na Av. dos Arnaldos, entre a rua Rio de Janeiro e Espírito Santo) não se imagina
que, ali, “a colônia japonesa se reunia aí para assistir aos filmes japoneses (figura 28),
sentados nos sacos de arroz, até construir o clube Tókio”, como esclarece Lígia Sato92. Essa
declaração é corroborada Tsueno e Hanami Sano93 (casal), que relembram essa época:
91
Depoimento de Ivone Marques Felipe, solteira, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M.
Malacrida e Rosa Maria Souza da Costa em 24/09/1996. Estava presente, também, sua irmã Aurora
Felippe Basílio, casada.
92
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, à profª. Peta Matos, no dia 04/06/2011.
93
EE Afonso Cáfaro. Portifólio “Programa Viva Japão”. Cáfaro, 2007. A/c de Lídia Katsue Sato Pizzuto.
a
Transcrito pela prof Péta, em 2011, mantendo-se a grafia original.
156
Lá pelos anos 40 e até início dos anos 60, paquerar era sinônimo de caminhar pelas
ruas – o footing – e flertar quando pudesse. Na nossa memória e na da maioria dos
entrevistados, o footing aparece como uma prática comum entre os moradores. No footing,
rapazes e moças, nos seus melhores trajes, exibiam-se e se observavam mutuamente. Os
rapazes quedavam-se perfilados na caçada ou nos passeios do jardim, formando duas paredes
para apreciar o passeio das meninas que, de braços dados, caminhavam entre eles, indo para
lá e para cá. Essa paquera se estendia até, no máximo, às dez horas da noite. Passavam-se
semanas até que o rapaz dirigisse o primeiro “olá” à sua eleita. Portanto, "o footing” era o lugar
do primeiro encontro, dos olhares apaixonados, do bate-papo descontraído, em uma mistura de
espreitada, esperança e encantamento, mas, às vezes, levava à frustração, quando a pessoa
amada não enxergava a quem tanto a admirava.
Em nossa cidade, o melhor lugar para o footing era o jardim e a Rua Brasil (entre as
avenidas. 7 e 8). Era o palco do flerte, do footing, da paquera, onde se cruzavam olhares
inocentes e sorrisos cheios de futuro – propostas que, hoje, não soariam nada indecorosas
157
Por meio das rememorações das “meninas” da UNATI, é possível formar uma
imagem mais precisa desse passeio:
94
Cinta-liga - cinta feminina provida de quatro tiras elásticas, em cujas extremidades há um prendedor de
meias. Nessa época não havia meia-calça.
95
Depoimento de Maria José Brandini Dutra Bandos, casada, à profª Peta Matos, em 307/01/2012.
158
então enviava um filho ou sobrinho para cumprir a função. Os casais apaixonados que “se
sentavam no banco do jardim e ousavam dar algum selinho, sempre tinha um danado de um
moleque que ia atrás do banco e soltava bombinhas, só para assustá-los na hora H”, lembram
as senhoras da UNATI, como se não bastasse a “vela” que, muitas vezes, fazia “vista grossa”
para os pequenos “pecados” (beijinhos, mãos dadas) e fazia a alegria dos apaixonados. O
selinho, na época, era tido como verdadeiro beijo. O presente mais comum que a namorada
ganhava era um bichinho de pelúcia, principalmente os ursinhos.
O ponto alto do romantismo eram as serenatas ansiosamente aguardadas pelas
namoradas nos anos 40/50/60, como esclarece o seresteiro Sr. Martin:
Naquela época, só era permitido namorar até as 22h e, depois, a gente fazia
a seresta nas janelas das namoradas. Meus companheiros eram o Humberto
Rodrigues de Almeida, Arnaldo Lima (Liminha), Eduardo Colombano,
Oswaldo Silva, Zuza. A gente deixava as namoradas em casa e se reunia no
bar, a Paulicéia, em frente ao jardim e planejava as músicas a serem
cantadas. Algumas vezes, a gente ia na casa dos amigos também, sempre a
pé. Eu era o cantor acompanhado de um violão, e os outros acompanhavam
batucando numa caixinha de fósforo ou levando uma garrafa de Cinzano ou
de Cinar (bebida à base de alcachofra).
Lembra-se das músicas que tocavam: “de Nelson Gonçalves, todo o repertório dele,
como “A volta do boêmio”, “Moço”, e Agostinho dos Santos, esse era o Oswaldo que cantava”.
Mas fazer serenata sob a janela da namorada muitas vezes era uma peripécia. Ele conta,
orgulhoso do feito:
Na hora de fazer serenata pra minha namorada (hoje sua esposa Eucledes,
conhecida por Cleide), a gente tinha que escalar um muro para chegar
próximo à janela da amada, porque sua casa ficava no fundo do instituto de
beleza “Primavera”, na Avenida 7, em frente ao bar 7.
A profª Rosinha, revisando este artigo, se lembrou de que Osterno, seu namorado na
época e hoje marido, e seu grupo de amigos, “faziam serenata na sua janela com uma radiola”.
Estavam junto as professoras Vanda e Péta, que recordaram do friozinho no “coração”, na hora
da paquera.
Os jovens, nas décadas de 50 e 60, conviveram muito com os aparelhos de rádio.
Nos anos 60, quase todas as casas tinham pelo menos um receptor de rádio ou um rádio
vitrola, e só os mais ricos possuíam um aparelho de TV em preto e branco. A TV era um objeto
tão sofisticado que, quando a moça se casava, tirava fotos ao seu lado.
Mas, nos anos 40, Ivone, Felipe Basílio (2006), morando na Vila Brasilândia, relembra
algo que acha interessante:
naquela época (1940 a 1950), quase ninguém tinha rádio, rádio era assim
muita novidade. Aí meu pai colocou um alto-falante lá em cima da porta da
loja (Loja Lisboa, na Brasilândia); então, chegava à tarde, lá pelas cinco
horas, por aí, o pessoal chegava da roça, a novela começava às 6h,
tomavam banho e sentavam-se na praça para ouvir as novelas. A praça não
era um jardim, eram umas gramas assim (faz gesto, “mostrando” como era);
o pessoal chegava do serviço e sentava tudo na grama para ouvir as novelas.
Antigamente, quem passava novelas era a Rádio São Paulo e também a
Rádio Tupi.
E Aurora96 complementa:
para ouvir pelo alto-falante, ficavam na praça, ouvindo as novelas pelo alto-
falante. Tinha uma chavinha que, quando a gente queria, passava para a
casa ou se não para a loja, acabava a novela, passava para a casa e todo
mundo ia embora.
96
Depoimento de Aurora Felippe Basílio, casada, para as professoras Áurea Azevedo, Perpétua M. M. M.
Malacrida e Rosa Maria Souza da Costa, em 24/09/1996. Estava presente, também sua irmã Ivone
Marques Felipe.
159
Ivone Felipe destaca: “era acumulador ainda, era bateria”. Elas lembram que, quando
passou o Direito de Nascer, “essa foi uma das últimas (do alto-falante). Essa aí, todo mundo
fechava e todos que tinham rádio iam ver a novela. Depois ela foi feita na televisão”.
Além da rua, do jardim, outro local de lazer e paquera era o clube. O Fernandópolis
Esporte Clube (FEC), localizado na rua Rio de Janeiro (entre as avenidas 7 e 8) era o point
dos jovens (figura 31).
Além dos grandiosos bailes (como se verá adiante), O FEC era local das festas de
casamento, das brincadeiras dançantes às 10h nos domingos e do encontro de namorados.
O Tênis Clube, com suas piscinas e quadras, também era local de encontros de
amigos e namorados. Rememorando o tempo de juventude, Ivoninha conta que ela e sua
turma “iam às brincadeiras dançantes no domingo de manhã e passava as tardes na piscina do
Tênis Clube”.
No final dos anos 50 e começo dos 60, era comum ocorrerem concursos de dança
durante alguns bailes. Celinha Garcia rememora essa época:
“adorava ir a bailes”, levando suas filhas Rose e Sônia e as amigas Cidinha e Vera Tomáz,
relembra sua filha Rose97.
Além dos grandiosos bailes, dos casamentos, o FEC era o point dos jovens, local de
lazer e paquera. Ali se realizavam as “brincadeiras dançantes” dominicais às 10h, os carnavais;
era, também, local de encontro dos namorados, principalmente dos que namoravam às
escondidas dos pais.
Na década de 60, também eram comuns os bailinhos nas residências, como relembra
Rosemarie Chinet. Como seus pais “gostavam de festa, sua casa era, muitas vezes, o point
dos amigos, que iam para conversar, paquerar, dançar, namorar, ao som das músicas do disco
de vinil que tocavam na vitrola ou sonata”.
Os bailes eram frequentes na vila Brasilândia, nos anos 40; relembra Aurora:
A Brasilândia era pequena, era uma família, mas a gente se divertia muito
mais. Depois da casa do Líbero, tinha um barracãozão. Então, chegava o
final de semana, no sábado, a Angelina Barozzi, eu, as irmãs dela, o Tio
Hélio ia daqui, a gente falava: “vamos fazer um baile?” – ”Vamos”. Chamava
as meninas, e esse conjunto do Ferrarezi, (não o fazendeiro), que era uma
família, o pai e os filhos.
A gente dizia: “Seu Luiz, vamos tocar que nós vamos dançar”. “Vamos”. Num
estantinho arrumava o baile, já fazia o baile. O conjunto Musical do Marim
veio depois.
Tinha muito rapaz. E sempre tinha aqueles de que a gente não gostava, que
você tem antipatia. Então tinha um tal de Manuel, que morava pra cima da
nossa casa, os meninos de Jazão (Zezão?), então, a gente conversava
demais. Quando estava no baile e vinha um cara tirar para dançar de que a
gente não gostava, a gente falava: “Não, eu já tenho par”. Ele era o ponto de
apoio.
Saudosa desse tempo, sua irmã Ivone comenta: “É. Eram uns bailes bons”. Mas,
quando questionadas, pela profª Rosinha, se arrumavam os namorados todos ali, elas
continuaram a falar da vida lá e não responderam.
Já nos anos 60, anos dourados, o glamour dos 15 anos era o consequente despertar
da menina-moça para a vida social. As famílias de maior poder aquisitivo, integrantes da “alta
sociedade”, comemoravam essa passagem da menina--moça para a flor-mulher cumprindo
uma série de rituais: festa de aniversário e/ou o baile de debutantes.
O Baile de debutantes98 foi inserido na sociedade fernandopolense pelo Lions Clube,
na década de 60, e continuou nos anos 70. Revestido de luxo e glamour, ele era considerado
uma espécie de ritual de passagem da infância para a vida adulta, quando os pais
apresentavam sua princesa à sociedade, começando, assim, uma nova fase em sua vida. A
partir do seu debut, a jovem moça passava a frequentar reuniões sociais, a usar roupas mais
adultas, fazer o footing e tinha permissão para namorar. Ou seja, literalmente, era uma data
marcada para a menina tornar-se, definitivamente, uma mulher. Formalmente, era seu primeiro
baile.
Normalmente, no baile, à meia noite, a debutante, usando um lindo vestido de gala,
entrava no salão para dançar a valsa com seu pai – tudo para representar que ela deixava de
ser menina para se tornar uma mulher. Além do vestido deslumbrante, o acessório mais
comum usado pela debutante era a tiara, indispensável para a valsa.
O baile de debutante era realizado em conjunto com outras debutantes, no
Fernandópolis Esporte Clube (FEC99); assim, 15 meninas com 15 anos eram apresentadas à
sociedade da época de uma só vez. O baile começava entre 21h e 22h, possibilitando que se
cumprissem todos os rituais.
Baile de Debutantes – um ritual de passagem da menina-moça para a flor-mulher –
seguia uma sequência impecável: 1. Abertura do baile de debutantes; 2. Apresentação da
debutante: a menina-moça, em belo traje de gala e uma rosa na mão, simbolizando o
desabrochar da flor-mulher, era recebida no salão com exclamações dos presentes e dos
97
Depoimento de Rosemarie Chinet, solteira, professora aposentada, à profª Peta Matos, em fevereiro de
2012.
98
Debutante é uma palavra derivada do francês (débutante), que, traduzida, significa estréia ou iniciante.
99
O FEC localizava-se na rua Rio de Janeiro (entre as avenidas 7 e 8), onde hoje é o Banco Itaú, em
frente à agência do Banco do Brasil.
161
4. Apresentação da valsa - A primeira valsa da debutante era com seu pai, que também era o
“padrinho”. Rodopiando pelo salão, ele apresentava a filha à sociedade. Em sua ausência,
podia-se escolher um padrinho para dançar a valsa (podia ser um primo, um irmão mais velho,
um tio, ou o avô). Em muitos bailes, havia também o segundo padrinho (um primo, um irmão
mais velho) para dançar a segunda valsa.
A valsa era a dança oficial desse evento, interpretada pelas mais importantes
orquestras da época: “Orquestra Leopoldo, de Tupã, Orquestra Jasson Tupã, Nelson de Tupã,
Billy Vogue, Ray Coniff”, lembra Clarice M. Sousa. Na figura 36, a debutante June dança a
valsa com seu pai, Jaime S. Migliorini.
163
2. A revista O Imparcial e as Debutantes foi lançada em setembro de 1966, pela primeira vez,
pelo jornal “O Imparcial”, com o apoio do comércio, homenageando as debutantes e o Lions
Clube (figura 38).
100
Domadoras – são assim chamadas as esposas que pertencem ao Lyons Clube.
164
Essa revista retrata e identifica todas as debutantes desse ano (figura 39), e os
presidentes do Lions Clube, Dr. Paulo Sano e esposa, Dra. Noêmia, “saúdam as Debutantes
agradecendo a colaboração de todos que prestigiaram mais uma grande promoção do Lions”.
Para nós, pesquisadoras, essa revista é um achado, porque possibilitou grandemente
identificar as debutantes e suas famílias; na sequência: Alcy Maria Senra, Beatriz T. Franco
Renesto, Vera Lúcia Felipe Basílio, Carmem Liz Ferraz, Marilena A. G. Martins, Regina Célia
Zangaro, Cleuza B. Maciel, Ely Terezinha Martinho, Ivanei A. Malavazzi, Elvira Albuquerque,
Deonice M. Malavazzi, Regina Célia Pacheco, Delizabeth E. Malavazzi, Eudóxia M. Rolim,
Iracema Sisto, Ilda M. Melo, Carmen Yvone Scarlate, Sueli M. Oliveira, Luisa M. Jacinto, Dalva
Silveira, Cláudia M. de Mattos, Márcia Teixeira, Mara Cristina Silva, Rosalinda A. Luchesi, Iara
C. Ovídio, Maria Amélia Benez, Maria Antonieta Garcia, Maria Hercília Cizelli, Maria Tereza
Rodrigues, regina Maris Jorge, Regina Déa Stroppa, Sônia Arantes, Sônia Ferraz, Thelma C.
Pistelli e Ana Rita Moreira, residente em São José do Rio Preto, vindo da maior cidade da
região, oferece um retrato da dimensão desse evento.
165
5. Um novo padrinho – mais tarde, a partir da década de 70, o glamour do baile de debutantes
passaria a ser a presença de um ator de televisão escolhido por elas para abrilhantá-lo,
apadrinhá-las, recepcioná-las e dançar, com cada uma, a primeira valsa.
167
Como vimos, o Baile de Debutantes era um evento temático que cumpria tradições e
rituais, que estavam sempre em renovação. Tais bailes, literalmente, “ferveram” nesse período,
com direito a espaço em colunas sociais. Portanto, representavam um momento único e
especial tanto para a aniversariante quanto para todas as pessoas que participavam da
celebração, que marca uma passagem na vida da adolescente.
Enfim, segundo consta (DEBUTANTE, 2012):
Debutar é ver menina bonita, deixar vestido de chita, tirar do cabelo a fita.
Vestir vestido encantado de baile, todo enfeitado, com as cores dos sonhos
lindos. E, em seus olhinhos, sorrindo, vestir poesia inocente, vestir poesia
que sente nos versos que o coração da menina-flor botão não é mais de uma
qualquer. Pois a noite debutante transformou naquele instante flor-menina em
flor-mulher. [...] é o que faz a brilhante noite ficar na memória.
Nos anos 50/60, realizado o ritual da menina-moça para a flor-mulher, era, para
muitas delas, a hora de participar do concurso de Rainha de Fernandópolis, cujo ápice era a
coroação no Baile de Gala, que era o baile da cidade.
No Baile da Cidade, que ocorria no dia 22 de maio ou no sábado mais próximo a ele,
o glamour ficava por conta da coroação da Rainha da Cidade e das princesas. No filme
Fernandópolis Ano 1959101, constata-se que, na festa em comemoração ao aniversário da
cidade, a Noite de Gala era o acontecimento mais marcante, porque era o momento da
coroação da Rainha de Fernandópolis.
A entrada de cada candidata à rainha no salão do clube FEC era glamourosa, sendo
recebida por seu padrinho. Na figura 44, vemos a candidata Esmeralda sendo apresentada à
sociedade pelo seu padrinho e irmão João Batista Guimarães.
101
Interessante e emocionante assistir ao Filme Fernandópolis Ano 1959, do 20º aniversário da cidade de
Fernandópolis/SP. Filme postado no youtube. Disponível em: <www.youtube.com>. Transcrição feita pela
prof Péta Matos em janeiro de 2012.
169
A senhorinha Esmeralda Guimarães, por ter vivido a grandiosidade dessa época, diz:
“eram diferentes os bailes de antigamente”. No domingo, acontecia o desfile pelas ruas centrais
da cidade e a rainha desfilava num carro alegórico, sendo aclamada pela população.
A Rainha da Cidade era convidada a participar de todos os bailes, eventos
importantes que aconteciam na cidade, durante seu ano de mandato. Ela representava
Fernandópolis aqui e em outras cidades.
Em 1963, foi eleita a candidata Maria Inês Mello como Rainha da Cidade. O baile de
coroação foi realizado no dia 22/05/1963, no FEC. Na figura 46, vemos a rainha Maria Inês
Mello ao lado de seu pai, Nelson Garçom Mello, e, em pé, a princesa Mariza Carmelengo ao
lado de seu pai, Paulo Carmelengo.
Fernandópolis. Esse concurso surgiu na década de 1920 pelos Diários Associados, mas só
participavam as senhoritas da cidade de São Paulo. Segundo o colunista social Roberto
Sécio102, foi só “na década de 1950, no ano de 1954, que o Concurso Miss São Paulo acabou
criando mais glamour e requinte [,] se tornando um concurso de beleza do estado de São
Paulo em que participam as vencedoras dos concursos de beleza municipais”.
No ano de 1967, Fernandópolis participou do concurso Miss São Paulo, cercado de
requinte e elegância, e a eleita para representar nossa cidade foi Celinha Garcia, que ganhou o
título de Missa Simpatia do estado.
Rememorando esse título, Celinha, emocionada e com orgulho por ter vivido esse
momento tão especial em sua vida e de toda a população, escreve:
102
O colunista social Roberto Sécio destaca a história e a origem do Miss São Paulo, no site:
www.robertosecio.net/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=94&Itemid=159. Acesso: set.
2012.
172
E conclui:
Em 1976, novamente nossa cidade se destacou “lá fora”, e quem nos representou foi
a jovem Maria Aparecida Loverbek (figura 51) eleita Miss Fernandópolis.
103
Folheto do Concurso Oficial das Misses: 76 – Miss Rio Preto, Regional e Imprensa – São José do Rio
Preto.
175
No ano de 1967, a colunista social Amélia Rosa começou a promover o “Baile das
Dez Mais” elegantes fernandopolenses, destacando as senhoritas e senhoras da alta
sociedade. Ela não só promovia o baile, como também produzia a “Sociedade em Revista” ou o
“Álbum de Recordações”, com o apoio financeiro do comércio local (figura 56).
176
O “BAILE DAS DEZ MAIS”, realizado em 23 de abril de 1967, nos salões do FEC, foi
abrilhantado pela orquestra Nelson de Tupã. Imperavam os vestidos confeccionados em fino
177
destacaram-se os jovens Valter T. Sano, revelação médica; Armelindo Ferrari Jr., revelação
administrativa industrial; César Aquiles Benfatti, agrônomo; homem de visão, Sebastião Luiz
Sobrinho.
Era uma música voltada para a juventude, que incluía suas batidas
empolgantes, a necessidade de se dançar e o efeito de suas letras: o rock,
mais conhecido como rock'n'roll. Suas letras traziam temas comuns da
adolescência: escola, carros, férias, pais e, o mais importante, amor. Os
principais instrumentos do velho rock'n'roll eram a guitarra, o baixo, o piano, a
bateria e o saxofone. Todos os aspectos da música - sua batida pesada, a
sonoridade, as letras autoabsorvidas e a liberação da loucura - indicavam
104
uma rebeldia dos adolescentes pelos valores e autoridade dos adultos .
A chegada do “Rock”105
D. A. G.
Foi na noite de sexta-feira, dia 25, que os fequianos se reuniram para mais
uma noitada magnífica. Ao som de La Gran Orchestra de Las Américas de
Dante Lencone, decorria o animadíssimo baile. De súbito, inicia-se o Rock,
importado do estrangeiro, abrasileirado nas capitais, conseguiu êle chegar à
nossa cidade. Prontamente, vários pares aderiram a esta dança exótica,
impetuosa, fremente e contagiante. Assistimos a um espetáculo tragicômico.
104
Disponível em: <www.portaldorock.com.br/origensrock1.htm>. Acesso em; 14 fev. 2012.
105
D. A. G. A chegada do “rock”. O Município, 31/07/1958. Transcrito por Liana Scatena Corsini, no dia
08/03/2012, respeitando a grafia do texto original
181
Para completar a revolta, junto com o rock, vindo da Inglaterra, chegou também o
twist, uma das danças mais populares das que surgiram nos Estados Unidos nos anos 60, mas
que infernizavam a vida das elites conservadoras.
Mas nenhum protesto evitou que o rock e o twist acabassem abruptamente com a
ascendência das baladas românticas.
Comentando a chegada do rock e o protesto acima, Inez Zaira106 relembra, com um
misto de saudade e tristeza na voz, que “a vida mudou muito, tudo mudou. Fernandópolis era
uma cidade pequenina, mas tinha glamour”.
O carnaval, que constitui a mais importante festa popular do país, trazendo
“significação muito forte de prazer, satisfação lúdica e sensual, encontro com amigos,
conquistas amorosas, gente bonita e descontraída”, segundo o psicanalista Paulo Sternick,
começou a “agitar” nossa cidade já no final da década de 40 e em diferentes espaços privados
e públicos.
Toda a animação carnavalesca ficava por conta das marchinhas cantadas pelos
foliões. Quem não lembra de Ó abre alas e de tantas outras marchinhas de carnaval: Taí, eu fiz
tudo pra você gostar de mim..., Allah-lá-ô-ô ô ô ô, Ô balancê balance, quero dançar com você,
Ei, você ai, me dá um dinheiro aí, Se você fosse sincera Ô ô ô ô, Aurora, Chiquita bacana, lá
da Martinica, Mamãe, eu quero, entre outras? Essas marchinhas ficaram marcadas na história
dos carnavais e foi graças a elas que o carnaval ganhou “vida”.
Ivone e Aurora Felipe, que moraram na Brasilândia de 1943 a 1951, entrevistadas,
rememoraram suas vivências e experiências na vila. Ali, as pessoas também faziam festas e
carnavais; comenta Ivone Felipe:
Indagada se havia rivalidade e briga entre os rapazes das duas vilas, ela responde:
“não tinha briga”. E retoma as festas: “as festas na Brasilândia sempre eram melhores, as
quermesses davam muito dinheiro, os carnavais eram muito melhores, o conjunto de música
era da Brasilândia, então tudo era na Brasilândia, mas depois tudo passou”.
106
Depoimento de Inez Zaira Risk Martins, 65 anos, casada, à profª Peta Matos, em fevereiro de 2012.
182
Ó abre alas que eu quero passar, Ó abre alas que eu quero passar...107 abrindo alas,
o carnaval chegou também na vila Pereira, mas, devido à inexistência de espaços específicos
para sua realização, os foliões tiveram que “reinventar” espaços para realizá-lo. Segundo a
profª Lídia Sato, ele “era realizado, por exemplo, na máquina de arroz e café da nossa família –
Sato (hoje Máquina Santa Rosa, na Avenida 4) – até porque não tinha um clube próprio”.
Segundo a foliã da época, Albany108, “outros lugares eram também improvisados,
como as padarias, o Cine Santa Rita, quando tiravam as cadeiras para dançar”; mas destaca:
“o primeiro clube de carnaval ficava na Av. 7 (onde hoje é o “Gigantão”)”, depois veio o FEC , o
Tênis Clube e, por fim, na década de 70, a Casa de Portugal. Mas, paralelo ao FEC, o Clube
Tóquio também passou a ser um dos espaços privados das folias de carnaval, como destaca a
propaganda: “Clube Tóquio” promove Carnaval Maioral em 77 (GAZETA, 1977, p. 4).
A figura 64 mostra o carnaval de 1952 ou 1953, realizado no primeiro clube (da Av.
7), e mostra a foto em seu álbum. Albani cita e aponta seus conhecidos foliões, da esquerda
para a direita:
A Sra, Arony cita também: Paulo Nogueira, Alfredo Scarlatti e tantos outros.
Interessante observar a legalidade do lança-perfume nas mãos dos foliões, os confetes e as
serpentinas.
Como Mario de Matos achava que carnaval era imoral (isso até ele dirigir a Casa de
Portugal), sua filha aproveitou a oportunidade para perguntar a Albani: “Havia preconceito da
sociedade em relação aos foliões ou ao carnaval de maneira geral?” E ela responde convicta:
“Não existia preconceito em relação aos que frequentavam o carnaval”
107
Primeira marchinha de carnaval – a Marcha de Carnaval –, composta por Chiquinha Gonzaga, em
1899. Foi ela a mulher que levou a música das ruas para os salões da elite.
108
Depoimento oral de Albani Vieira de Carvalho, viúva, para as profªs. Péta Matos e Rosinha Costa, em
a
25/10/2010. Transcrito pela prof Peta Matos.
183
Mas, se hoje essa festa toda “rola” solta, antigamente ela “era controlada pelos pais
que acompanhavam suas filhas aos bailes de carnaval”, relembra sua filha Rose:
a gente ia com meus pais [Wilson Chinet e sua esposa Celina], que levavam
também algumas amigas, como a Celinha, a Vera e Cidinha Thomaz, cujos
pais não gostavam ou não podiam ir ao carnaval, e eram responsáveis por
elas também. Mas, quem gostava mesmo era meu pai e, muitas vezes, minha
mãe não ia, ela gostava mais dos bailes
Walter Baiá não tinha idade para entrar no carnaval e conta que enchia o
cabelo de confete para parecer que já estava lá dentro e só tinha dado uma
saidinha. “Não tinha jeito”, ele conta. “Você sempre me barrava”. Havia
também jovens que eram folclóricos, como o Carbureto, formava uma dupla
com o Célio Machado. Todo ano, o Célio se vestia de fotógrafo lambe-lambe
e o Carbureto, vestido de mulher, era a “secretária” dele. Era um show.
A Banda dos Irmãos Bortoleto era presença constante tanto nas movimentadas
matinês como nas grandiosas noitadas do reinado de Momo, tocando as marchinhas de
carnaval que animavam todos os foliões, como relembra o Sr. Joaquim Melero:
Não podemos esquecer a Banda dos Irmãos Bortoleto, que animara vários
bailes e principalmente carnavais, a partir de 1947, ora no FEC, onde hoje
está instalado o Gigantão, ora no Cine Santa Rita, às vezes no reservado do
bar do cinema – Barbarella, do Tarciso -, que era bem amplo, na esquina da
rua Brasil com a Manoel Marques Rosa, local onde estão estabelecidas a
agência Caiçara, ótica Visão e Lacqua di Fiori.
Meus pais eram muito alegres, tanto que meu pai foi Rei Momo várias vezes,
e minha mãe organizou por vários anos muitos blocos de carnaval. Fazíamos
uma fantasia para cada noite de carnaval, e era muito divertido, pois tudo era
feito por nós mesmos e na minha casa. A gente se reunia por vários dias,
minha mãe era quem organizava tudo. Todos participavam e era muito bom.
Me lembro que uma vez fizemos uma fantasia de “Negrinhos” e passamos
graxa de sapato nos braços; quando chegamos ao salão, com o contato do
lança-perfume (que na época era permitido), a pele queimava como fogo,
fomos obrigados a ir lavar e tirar. Foi muito engraçado, mas também muito
dolorido, mas no fim foi divertido, pois era carnaval. Sempre ganhávamos o
primeiro lugar.
185
Este foi o primeiro bloco de carnaval (figura 67) organizado por sua mãe, Da. Áurea,
como tantos outros. Ela era uma mulher determinada, responsável, dinâmica, comunicativa,
moderna, alegre e agregadora (figura 68).
nossa turma eram muitos: Hélio Machado, Neno Angeluci, Ismail Queiros,
Moaciar Pantaleão, João Chaves, Lucilia Angeluci, minha tia Vanda (que
vinha de Votuporanga) e muitos outros que agora não me lembro. Tinha,
também, uma outra turma que competia com a gente (figura 69), que era da
família dos Gomes.
186
Albani também era uma grande foliã e sempre organizava os blocos de sua turma. Na
figura 70, vemos a turma da Albany e seu namorado Olímpio Ruvieri (segundo casal à
esquerda), e seu bloco Malandros e Melindrosas, na Casa de Portugal, em 1979.
Não há carnaval sem o REI MOMO, por mais que ele seja glamouroso, com o brilho
dos paetês, as plumas, os confetes, as serpentinas, muita purpurina, o brilho das marchinhas e
da alegria estampada nos rostos dos foliões. Ele surgiu por volta do século XV, quando os
franceses, muito festivos e
Em nossa cidade, o famoso Médico dos Pneus, Paulo Carmelengo (dono de uma
borracharia) (figura 71), reinou brilhantemente nos carnavais como REI MOMO. Sua filha
Marion comenta:
meu Pai reinou no FEC, se não me engano ele participou por dois anos como
Rei Momo. E não houve competição, ele foi convidado pela diretoria do clube.
Na época não havia carnaval de rua, só no clube mesmo, o carnaval de rua
veio muito tempo depois, na época do Corsini.
Essa reportagem foi produzida justamente no dia em que o Rei Momo iniciava a sua
atividade no Tênis Clube e
Mais um memorável Rei Momo foi Alcides Corsini, o famoso “Peru” (1942-1998):
“fernandopolense fanático, desde cedo, Corsini, sempre de sorriso aberto e sincero, era visto
rodeado de amigos”. Para falar sobre ele, a Tribuna Regional (1998, p. 1) noticia sua morte,
com chamada de primeira página: “Fernandópolis perde o maior rei da fantasia e ilusão”.
ele foi o maior rei momo que a cidade conheceu... Nos salões carnavalescos,
todos os anos, era esperada com grande vibração e entusiasmo, a figura
tradicional do consagrado rei momo da cidade. Com sua entrada em cena,
completava-se a apoteótica noite de festa máxima do povo, que se sentia
189
A Rainha de Carnaval que por mais tempo brilhou nas passarelas foi Carmita: “fui
Rainha de Carnaval por sete vezes, de 1963 a 1969” (FOLHA, 1977)109. Dizem que ela sempre
foi linda, simpática e encantava a todos por onde passava. Na figura 75, Carmita está
acompanhada do Rei Momo, Ubiratan Garcia, o Bi.
Mesmo quando não reinava, Carmita participava dos carnavais como foliã e sempre
com uma fantasia (figura 76).
109
Depoimento de Carmem Gomes Trindade, 70 anos, casada, diretora de escola aposentada, à profª
Péta Matos, em 05/03 /2012.
191
Em 1977, foi a vez de Tina Gomes (sobrinha de Carmita) (figura 77) exercer seu
reinado nos salões do Tênis Clube, como escreveu o colunista Social Mirim (GAZETA, 1977, p.
2), em sua coluna,
Olhem só, reflete mais uma linda boneca, com seus longos cabelos loiros. É
a Tina, a alegria do Tênis Clube, sua Rainha de Carnaval, uma menina toda
querida por suas amizades. Esteve na redação, disse de sua alegria, de sua
música feita por Bob Lester, da festa do ano passado, de seus papitos tão
queridos. Nas piscinas do Tênis, só ouvimos seu nome, é compreensiva, é
garota nota 10. Agora, sempre estará de mãos dadas com nossas
promoções.
o ano todo, ao jugo do autoritarismo da classe dominante; e esse é o momento que têm para
esquecer suas obrigações rigidamente cobradas, suas insatisfações, suas frustrações. Afinal, o
lúdico é sustentado pela coreografia, percussão, música, sem qualquer censura prévia (eis a
razão da máscara).
Era o surgimento do Carnaval Popular,
Era o carnaval em diferentes espaços públicos e privados, que dava maior visibilidade
à enorme desigualdade econômica e social existente em nossa cidade. Enquanto a elite
fernandopolense pulava o carnaval em um clube privado, o FEC e outros, envoltos no aroma
do lança-perfume, o povão pulava em um espaço público ou alugado pelo poder público - a
Panela de Pressão -, envolto no aroma do suor e cachaça. Destaca Cabreira (2012):
A turma continuou a sair batucando pelas ruas, com um ou outro bloco que aparecia
casualmente. E ele continua:
110
Local em que está instalada, hoje, a segunda agência do banco do Brasil (ex-Nossa Caixa)
111
Depoimento de Carlos Alberto Fernandes Phelippe, 53 anos, casado, comerciante, à profª Péta Matos,
em 01/03/2012.
193
A rua é o espaço em que o Rei Momo pede passagem, como se observa na figura 79,
onde o reinado era do Corsini.
112
Sobre essas agremiações, mais informações constam da parte histórica.
113
Esclarecimentos de José Antônio Alves da Silva, o Zecão, casado, para a profª Peta Matos, em
29/02/2012.
194
Da turma que transita por esses caminhos, enfoca suas produções literárias:
Bira Toriceli, que tão bem pinta como escreve; Rita Aparecida Bôer, mui
intelepática (cruzamento de inteligente com simpática); Wilson Granella, no
romance, no conto, na crônica é mestre; Tito Montenegro, enveredou nas
cores com barbas e pés... maestro no bim-bom musical... é coringa precioso;
Armando José Farinazo, seus feitos revelam os fatos... de escritos
jornalísticos tem resmas; Zecão (José Antonio Alves da Silva), seria ridículo
não fazer poesia c’a BIO-grafia; João Fileto, poeta e meio. Pintor convicto.
Dá e sobre a turma que transa com pintura, música, artesanato e outros,
destaca: Deise Rodrigues Alves, artista plástica; Eliara Ferreira da Silva,
artista plástica; Odília Alves de Lima, artista plástica; Antonio Sérgio Agustini,
envereda pelo piano e violão, é grande admirador de música erudita,
decoração, escultura e música popular, mas tem a pintura como seu melhor
passatempo; João Lima, escultor e pintor por natureza; Moisés das Graças
Schneider, artista plástico; Elita Maia de Souza, gosta mesmo é de pintura
em tela e trabalhos em madeira; Onivaldo Aprecido Loverde, transa com
pintura e modelagem; Sônia Martins, pintora de apurada técnica e vontade
extrema; Maria Lúcia Brandão Leone, colunista social do Fernandópolis
Jornal, ainda “ataca” de poetisa. (AFA, 1978)
Em fins dos anos 70, alguns universitários remanescentes da AFA e a ala mais jovem
que vinha com mais frequência à cidade resolveram fundar a Associação Universitária
Fernandopolense Roberto Kenjy Myamoto (AUF), e os integrantes da AFA começaram a
colaborar com eles. A AUF promovia “grandes encontros e eventos, como peças de teatro,
shows musicais, palestras, exposições de arte”, relembra o historiador Valdemar Ferreira,
conhecido como Puff, que acabou dando origem à Semana Universitária, lançando publicações
como a Mostra Literária, realizando a Feira do Livro e o Salão de Artes Plásticas, como
aconteceu em 1980, na VIII Semana Universitária (figura 81). Esta semana contou com os
pintores Tito Montenegro e Bira Torricelli e os escultores Onivaldo Loverde e João de Lima.
195
Em paralelo a essas mobilizações estudantis, a profª Sibéria Violin levava a arte para
fora dos muros da escola, como recorda o historiador Valdemar, o Puff114:
lembro-me dos salões de arte que a profª Sibéria Violin promovia em espaços
que estavam desocupados no centro da cidade. Isso é uma coisa que hoje é
moda no mundo inteiro: ocupar espaços desocupados para promover a arte;
ela chegou a usar o prédio do Banco Comercial de São Paulo, com a mostra
de trabalhos dos alunos do Instituto Estadual de Educação.
114
Entrevista concedida pelo historiador Valdemar Ferreira da Silva, o Puff, para a coluna Observatório do
Jornal Cidadão, no dia 11/02/2012, p. 11-A. Fernandópolis. Seu pai, Vicente, tinha um armazém de secos
e molhados – Casa Ferreira - no centro da cidade, na rua Brasil, entre as avenidas. 8 e 9.
196
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARTIGOS E TEMAS
À GUISA DE INTROITO
Como no primeiro volume de Fernandópolis – nossa história, nossa gente, editado em 1996,
o atual abriu espaço à elaboração de temas diversos pertinentes à história da cidade. Tais temas
evocam, necessariamente, relatos ou investigações relacionadas a aspectos atuais da história
passada ou recente de Fernandópolis.
Inicialmente, foi acolhida uma grade de temas que abrangia aspectos da economia, política,
educação, saúde, gente fernandopolense, religião, diversões e tradições, atualidades etc. O Conselho
Editorial, dentre cerca de trinta sugestões e diante da impossibilidade de esgotar-se a abrangência do
trabalho, houve por bem privilegiar alguns que, remota ou recentemente, se ligassem de modo mais
contundente a Fernandópolis, quer pela atualidade, quer pelo próprio valor histórico, quer pelas
preocupações que sugeriram.
Desde o início, contou-se com a cooperação e a participação efetiva do “fazer coletivo”, sem
as quais não se plantaria mais esta semente de discussões. Tarefas foram distribuídas, cooperação
foi conclamada, escolhas foram feitas. Assim nasceu esta seção de artigos e assim se fez.
Nestes artigos115, há que se vislumbrar uma Fernandópolis em sua crescente economia,
que se vê atualizando, acompanhando a globalização e as exigências locais e regionais. Há que se
ver a luta de sua gente em busca de novos caminhos da cultura e do saber, incluindo aí a pesquisa
acadêmica, emergindo como centro de atenção nacional, através de suas universidades e cursos
técnicos. E mais, bem mais: a luta pela preservação de seu patrimônio histórico e cultural; a chegada
da ferrovia como (antigo) meio de transporte coletivo ligando a cidade a tantos outros centros
urbanos; a diversidade religiosa e a fé como âncora de sustentação do espírito; o confronto pacífico
entre a tradição e as transformações (entre o antigo e o novo); o esporte como história e atualidade; a
saúde e o bem-estar físico e emocional como acolhimento e primazia; as preocupações com a
preservação do meio ambiente e suas riquezas naturais; enfim, toda uma gama de pertinências ao
passado e à atualidade de nossa gente.
Tal qual no primeiro volume, mas avançando no relato histórico, nas discussões temáticas e
na vasta apresentação de biografias, além de um conjunto de fotos históricas, este apresenta uma
profusão de ideias e curiosidades, que contagiam e enlevam o espírito de quem ama Fernandópolis.
Embora os artigos se articulem uns com os outros, é conveniente lembrar que cada artigo ou relato
se produziu independentemente, eis por que as ilustrações têm sua numeração também
independente.
115
Cada artigo seguiu numeração própria em relação às figuras, tabelas, gráficos etc.
200
Fundação
A ACIF foi fundada no dia 27 de outubro de 1961, tendo como seu primeiro presidente o
empresário Armelindo Ferrari. A primeira diretoria contava com 43 empresários que tinham como
objetivos, segundo a ata de fundação da entidade, pugnar pelos interesses legítimos das classes que
representava:
1. exercer, junto aos poderes públicos, a sociedades congêneres e a terceiros em geral, a
representação do comércio, da indústria, consoante a lei e os estatutos;
2. desempenhar todas as funções que as leis atribuam ou consistam às sociedades da natureza
desta;
3. organizar e manter serviços de utilidade para seus associados e para as classes representadas;
4. fomentar, entre os comerciantes e industriais, o espírito de solidariedade correspondente à
comunhão de seus interesses;
5. procurar dirigir, amigavelmente, questões porventura surgidas entre as classes ou associados.
Sede
Quando criada, a ACIF funcionava na Avenida Manoel Marques Rosa. Anos depois, a
Associação foi transferida para a Avenida Expedicionários Brasileiros e, atualmente, está localizada
em prédio próprio na Avenida Primo Angelucci, n.º 135. A sede foi construída sobre o terreno doado
pelo prefeito da época, Sr. Antenor Ferrari.
Presidentes
A ACIF só se tornou a entidade forte que se conhece hoje porque homens empreendedores
incorporaram os objetivos da Associação. Por meio de novas ideias, projetos inovadores e muito
trabalho é que a ACIF se consolidou como a casa do empresariado local.
Vale a pena conhecer os empresários que fazem parte desta história:
Gestão 1961/1962
Presidente: Armelindo Ferrari
Gestão 1963/1964
Presidente: Pedro Malavazzi
Gestão 1965/1966
Presidente: Geraldo Roquette
Gestão 1967/1968
Presidente: Newton Camargo
201
Gestão 1969/1986
Presidente: José Carlos Rodrigues
Gestão 1987/1988
Presidente: Antonio Otávio Simões Moita
Gestão 1989/1990
Presidente: Antonio Ribeiro Pereira
Gestão 1991/1992
Presidente: Onivaldo Nogueira Vicente
Gestão 1993/1994
Presidente: Carlos Alberto Rodrigues de Lima
Gestão 1995/1996
Presidente: Luis Antônio Arakaki
Gestão 1997/1998
Presidente: José Sequini Júnior
Gestão 1999/2000
Presidente: Ivan Pedro Martins Veronesi
Gestão 2001/2004
Presidente: Neoclair José Morales
Gestão: 2005/2012
Presidente: Carlos Takeo Sugui
Viabilizar projetos para o desenvolvimento das empresas sempre foi um dos principais
objetivos desses empresários junto a ACIF.
Ano 2011
A ACIF é filiada à Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo
(FACESP) e à Confederação das Associações Empresariais do Brasil (CACB). Oferece mais de 30
serviços aos seus associados, com destaque ao SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), ao
Certificado Digital, à Câmara de Mediação e Arbitragem, ao serviço de Recuperação de Crédito, ao
Programa Empreender, a consultorias, cursos e palestras.
Conta com 820 associados, entre comércio, prestadores de serviços e indústria registrados
em Fernandópolis.
Todo o trabalho desenvolvido e ações com os empresários enfatizam a missão que a ACIF
assumiu desde a sua fundação: representar os interesses dos associados e contribuir para o
desenvolvimento social, cultural e econômico do município.
UHE DE ÁGUA VERMELHA E SUA IMPORTÂNCIA PARA FERNANDÓPOLIS
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho, será destacada a usina de Água Vermelha em seus benefícios, importância
no cenário local, regional e nacional, e suas peculiaridades.
Nessa pequena amostra, elaborada de forma simples, didática, entende-se necessário
relatar um pouco da história da eletricidade no estado e no País, para facilitar o entendimento de
Água Vermelha. Nesse contexto, a construção de UHE de Água Vermelha representa fator importante
de evolução tecnológica, de desenvolvimento local, regional e nacional.
2 ENERGIA ELÉTRICA
Energia elétrica é o movimento dos elétrons no interior de um condutor. Dentre as fontes de
energia elétrica se acham: a eólica, a termelétrica, hidrelétrica e nuclear.
A eólica tem como força motriz a originada pela ação dos ventos sobre pás mecânicas
ligadas diretamente ao o gerador. A termelétrica tem sua força motriz originada da combustão de
diversos tipos de materiais (carvão, diesel, gás etc.) que produz calor movimentando as turbinas e
estas, o gerador. Por seu turno, a força motriz da hidrelétrica provém da água, que movimenta as
turbinas e estas, o gerador. Na nuclear, a força motriz é originada da fissão do átomo de urânio
produzindo grande fonte de calor; esta movimenta as turbinas e, consequentemente, o gerador.
É desnecessário citar as utilizações e a importância, nos dias atuais, da presença quase
imperceptível da energia elétrica nas vidas dos indivíduos, tal é a forma de como ela está inserta no
cotidiano das pessoas e no mundo moderno, administrada por grandes empresas de energia elétrica
com tecnologia de ponta, o que garante bem-estar e dividendos. No entanto, no Brasil, num passado
não muito distante, nem sempre foi assim: pioneiros que se aventuraram a produzir energia elétrica
buscando uma queda d’água razoável que pudesse gerar força motriz e movimentar um gerador
elétrico sucumbiram ante as dificuldades encontradas, pela falta de domínio da técnica, inexperiência,
mercado consumidor e ausência de políticas públicas condizentes.
No Brasil, nas últimas décadas do século XIX, a eletricidade passou a ser produzida e
aplicada na incipiente indústria, na iluminação pública e no serviço de bondes. Nas décadas
seguintes, seu uso se estendeu às residências, estabelecimentos comerciais, ferrovias e metrô, e
também nas áreas rurais, transformando intensamente as formas de produção, modificando os
espaços e o cotidiano das pessoas na cidade e no campo. Investimentos na geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica justificavam pela sua imprescindível disponibilidade como elemento
chave para o desenvolvimento.
Paralelamente a isso tudo, uma gama de novos profissionais foi sendo formada a fim de
atender à demanda, e o trabalho assalariado no Brasil expandiu-se no mesmo contexto em que
disseminou o uso da eletricidade ainda na segunda metade do século XIX, tendo Eloy Chaves (1875-
1964) empresário paulista do setor elétrico como um dos pioneiros.
116
Paulo Antônio Marchiori é Técnico em Eletrotécnica/Operador de US/SE, reside em Fernandópolis na Rua
José Barone, 217. Telefones para contato: 3462-6832 e 9603-1343.
203
grande número para trabalhar nos cafezais paulistas, assalariados, criando um discreto mercado
interno de consumo.
O enriquecimento auferido pelos setores ligados à cafeicultura fomenta, em São Paulo e
outros centros urbanos paulistas, uma apreciável demanda de bens econômicos, estimulando outras
atividades, como a indústria e o comércio. A cafeicultura de exportação expande o mercado
consumidor interno, permite um excedente de capital que será empregado fora da atividade agrícola
e uma cultura empresarial centrada em uma elite de fazendeiros do café, comerciantes e financistas
que se expande para a indústria.
Se a Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra em fins do século XVIII, tinha
como fonte privilegiada a energia do carvão, que movimentava máquinas a vapor e que o Brasil
assimilou de modo apenas passivo como importador; a Segunda Revolução Industrial, um século
depois, definida pela concentração de capitais, uso de energia elétrica e petróleo, aparecimento da
indústria química e elétrica, da siderurgia e pelo íntimo relacionamento entre Ciência, Tecnologia e
Indústria, teve, nos laboratórios de Química e Física, partes integrantes do aparato industrial,
diferente, portanto, da primeira, cujos talentos dos inventores a beneficiaram.
Forma-se no mundo uma sociedade urbana, cujas fontes de energia principais eram o
petróleo e a energia elétrica. Na mesma época, ocorreu, no Brasil, certo processo de industrialização,
também com o emprego da eletricidade.
Embora fossem instaladas usinas termoelétricas e hidrelétricas, estas últimas se vão
impondo como modelo apropriado de um País com pouca disponibilidade de carvão mineral e
petróleo, mas abundante em recursos hídricos.
Ainda no final do século XIX, empresas pequenas de capital nacional e âmbito local,
empresários e até fazendeiros instalaram pequenas termelétricas e hidrelétricas para uso pessoal,
industrial em fábricas de tecidos, mineração e iluminação.
Na primeira metade do século XX, ocorre forte desnacionalização do setor, com a chegada
do grupo anglo-canadense Light & Power e, depois, American & Foreign Power (Amforp) a partir dos
anos de 1920. Essas multinacionais instalaram subsidiárias e assumiram o controle de empresas
brasileiras, configurando um domínio quase completo da eletricidade no País, que duraria até o fim da
Segunda Guerra Mundial.
A partir da criação da Cia. Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) pelo Governo Federal
em 1948, organizaram-se várias empresas estatais e da União.
- 1948 – inicio da estatização, com a criação da Cia. Hidroelétrica do São Francisco (CHESF);
- 1956 – no âmbito estadual, foi apresentado o Plano de Eletrificação do Estado de São Paulo,
prevendo esforços paralelos do governo estadual e iniciativa privada. Anteriormente, o governo
paulista já vinha adotando importantes medidas, criando;
- 1953 - Uselpa – Usinas Elétricas do Paranapanema S.A, a primeira estatal paulista de energia
criada pelo governador Lucas Nogueira Garcez;
- 1955 – Cherp – Cia. Hidroelétrica do Rio Pardo S.A. (estatal);
- 1961 – Celusa – Centrais Elétricas de Urubupungá S.A. (estatal);
- 1962 – Belsa – Bandeirante de Eletricidade S.A. (estatal);
- 1963 – Comepa – Cia. Melhoramentos de Paraíbuna (estatal).
Essas cinco empresas estatais e mais seis outras deram origem às Centrais Elétricas de
São Paulo (CESP) em 1966. A CPFL e a São Paulo Light também passaram por processo
semelhante de estatização.
É nesse cenário que ocorre, de fato, um desenvolvimento forte no setor elétrico patrocinado
todo ele pelo Estado e onde ocorre a construção de grandes usinas hidrelétricas.
2.3 Termelétricas
Com a estatização do setor elétrico, o Estado passa a investir massiçamente no setor, num
projeto idealizado ainda na década anterior. O objetivo, no primeiro momento, era levar energia às
“áreas escuras” do estado de São Paulo; tem-se início a construção de quatro termelétricas, pelo
DAEE, e, posteriormente, transferidas para a Uselpa:
a) Usina Termelétrica Itapetininga (Itapetininga)
Potência 1.000kW
Inaugurada em 1956
Desativada em 1960, após funcionar precariamente, e a região passou a ser abastecida pela Usina
de Salto Grande;
b) Usina Termelétrica Engenheiro Loyola (Juquiá)
Local: Juquiá, Vale do Ribeira
Potência 10.000 kW
Inaugurada em 1959
Em 1966 começava o processo de desativação e funcionou esporadicamente até 1970;
2.4 Hidrelétricas
São apresentadas, a seguir, as bacias hídricas do estado de São Paulo com suas usinas
hidrelétricas:
a) Bacia do Rio Pardo: DAEE/Cherp/Cesp
- Usina Limoeiro, iniciada em 1953 e concluída em 1966, potência de 32.200 kW;
- Euclides da Cunha, iniciada em 1954 e concluída em 1965, potência 109.000 kW;
- Caconde, iniciada em 1959 e concluída 1966, potência 80.400 kW.
Em 1949, Lucas Nogueira Garcez, secretário de Viação e Obras Públicas, determinava que
se implementassem estudos de aproveitamento múltiplo do médio Tietê, que incluía controle de
enchentes, navegação fluvial e projetos de irrigação, inspirado num modelo americano.
Eleito governador (1951/1955), Garcez criou o Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE), que organiza os serviços regionais do Vale do Tietê, Vale do Ribeira e Vale do Paraíba.
b) Médio Tietê: DAEE/Cherp/Cesp
- Usina de Barra Bonita, iniciada em 1957 concluída em 1964, potência de 141.000 kW; possui uma
eclusa de navegação concluída em 1973;
- Usina Álvaro de Souza Lima (Bariri), iniciada em 1959 e concluída em 1969, potência de 143.000
kW; sua eclusa foi concluída em 1966;
- Usina de Ibitinga, iniciada em 1963 e concluída em 1969 pela CESP, com potência de 131.490 kW;
Sua eclusa foi concluída em 1986;
- Usina Mario Lopes Leão (Promissão), iniciada em 1966 e concluída em 1977, com potência de
264.000 kW; como as demais, possui eclusa de navegação que entrou em operação em 1986.
208
Desde 1960, a Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo (CHERP) passou a ser responsável
por um amplo programa de integração regional que incluía irrigação, navegação e reflorestamento
numa grande área do Estado.
c) Baixo Tietê: Cesp
- Usina de Nova Avanhandava, concluída em 1985, com uma potência de 347.000 kW; possui eclusa
de navegação em operação;
- Usina de Três Irmãos, em operação desde 1990, com uma potência de 807, 500 kW.
d) Bacia do Rio Paranapanema – Uselpa/Cesp
- Usina Armando A. Laydener (Jurumirim), concluída em 1962, com potência de 97.750 kW;
- Usina Xavantes, concluída em 1971, com potência de 414.000 kW;
- Usina Lucas Nogueira Garcez (Salto Grande), concluída em 1960, tem uma potência de 70.380 kW;
- Usina Capivara, concluída em 1978, com potência de 640.000 kW;
- Usina Taquaruçu, concluída em 1990, com potência de 526.000 kW;
- Usina de Rosana, inaugurada em 1987, tem potência de 353.000 kW;
- Canoas I, com potência de 81.000 kW; e
- Canoas II, com potência de 72.000 kW.
e) Bacia do Rio Paraíba - Comepa/Cesp
- Usina Jaguari, concluída em 1973, tem potência de 27.600 kW;
- Usina Paraíbuna, concluída em 1978, com potência de 86.000 kW.
f) Bacia do Rio Paraná – Celusa/Cesp
- Usina Engenheiro Souza Dias (Jupiá), concluída em 1975, possui potência 1.551.000 kW;
- Usina de Ilha Solteira, concluída em 1978, com potência de 3.344.000 kW;
- Usina de Porto Primavera, com potência 1.430.000 kW;
g) Bacia do Rio Grande – Cesp
- Usina José Ermírio de Moraes (Água Vermelha), concluída em 1979, apresenta potência de
1.396.000 kW.
Apesar de as estatais desenvolverem o setor elétrico, com a construção de grandes usinas,
e atuarem nas diversas bacias hidrográficas do estado de São Paulo, essas operavam independente
umas das outras, cada qual com características e recursos próprios. Era uma desnecessária
multiplicidade de esforços que provoca altos custos e prejuízos para o Estado.
Assim, em 05 de dezembro de 1966, visando a facilitar as transações com agentes
financeiros e fortalecer as empresas e o Estado, foram constituídas as Centrais Elétricas de São
Paulo S.A. (Cesp), somatória de 11 (onze) empresas paulistas de eletricidade: Usinas Elétricas do
Paranapanema S.A. (USELPA), Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo (CHERP), Centrais Elétricas de
Urubupungá (CELUSA), Bandeirantes de Eletricidade S.A. (BELSA), Companhia Melhoramentos de
Paraíbuna (COMEPA), Companhia Luz e Força de Tatui, Empresas Luz e Força Elétrica de Tietê
S.A., Central Elétrica de Rio Claro, Empresa Melhoramentos de Mogi Guaçú S.A., Companhia Luz e
Força de Jacutinga S.A. e Empresa Força e Luz de Mogi Mirim S.A.
Em 1975, o Estado aumentou sua atuação nessa área com a aquisição do controle
acionário da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)
Em 1977, com atuação em diversas áreas energéticas, a Cesp mudou seus estatutos,
alterando a razão social para Companhia Energética de São Paulo (Cesp).
3 USINA HIDRELÉTRICA
A construção de uma grande usina hidrelétrica envolve vários aspectos e estudos auxiliares
que dão subsídios para o projeto, tais como: vazão média da bacia hidrográfica, altura da queda
d’água do rio, o tipo da barragem, segurança na operação da usina, área a ser inundada, população
atingida, desapropriações, garantia do fornecimento, impacto no meio ambiente, além de estudos da
decamilenar, que corresponde às precipitações pluviométricas de grande vulto que ocorrem a cada
50 (cinquenta) anos e determinam a capacidade de vazão dos vertedouros para controle de cheias,
entre outros.
O princípio básico de uma usina hidrelétrica funciona através da água de um rio que é
represada, pela construção de uma barragem. Essa água represada constitui uma força e é
conduzida por meio de grandes tubulações até uma turbina (roda com pás) que gira. Por sua vez, a
turbina está ligada a um gerador de energia elétrica, através de um eixo. O gerador entra em
209
Ao lado da cachoeira, na parte baixa, lado direito do rio, existia também uma casa de
veraneio que era do governo do estado desde a década de 40; contava com uma miniusina
hidrelétrica (PCH), que fornecia energia elétrica para o local. Era conhecida como a Casa do
Adhemar numa alusão ao governador do estado na época e que perdurou até os finais da década de
setenta, quando foi desativada para abrigar as subestações elevatórias e de interligação. Vestígios da
miniusina estão presentes até hoje no local.
O nome fantasia Água Vermelha deriva de um córrego afluente do Rio Grande existente
próximo dali, de águas muito barrentas, de tons avermelhado; é o córrego da água vermelha
Água Vermelha foi toda ela construída pela Cia Energética do Estado de São Paulo (Cesp),
grande estatal de energia elétrica paulista, empresa originária da união de várias empresas estatais
no período conhecido como estatização do setor elétrico. Com uma potência instalada de 1.396.000
kW, está interligada ao anel energético da Grande São Paulo através de três subestações: uma de
138 kV, uma de 440 kV e outra de 550 kV, esta última com linhas de transmissão de extra alta tensão
em 550 kV, interligando-se com a Usina de São Simão (Cemig) e a Usina de Marimbondo (Furnas).
Possui, ainda, três linhas de transmissão em extra alta tensão de 440 kV, que a interligam
com a Usina de Ilha Solteira e as subestações de Araraquara e Ribeirão Preto e, de lá, para outros
centros consumidores.
A subestação de 138 kV faz as interligações regionais com duas linhas para a subestação
de Votuporanga e duas linhas para subestação de Jales.
Água Vermelha é a quarta maior usina hidrelétrica do estado de São Paulo. Seus
equipamentos elétricos foram importados da França; empresas francesas constituíram um consórcio
para desenvolvimento do projeto com tecnologia avançada, e foi a primeira hidrelétrica totalmente
automatizada e supervisionada por computadores. Sua construção teve início em outubro de 1973
(obras civis) e inaugurou o primeiro grupo gerador em 22 de agosto de 1978, com a presença do
Presidente da República e, em 13 de dezembro de 1979, o sexto e último grupo entrou em operação;
um tempo recorde para a época.
Seu reservatório abrange uma área de 650 kM/2, com um volume de 11 (onze) bilhões de
metros cúbicos de água, ocorrendo desde a usina até a jusante da Usina de Marimbondo em
Fronteira (Minas Gerais).
213
Opera na cota máxima de 383,30 metros e em cota mínima de 373,30 metros em relação ao
nível do mar. Possui 06 (seis) grupos turbina/gerador com potência nominal de 232.600 kW cada,
perfazendo 1.396.000 kW.
Más, além dos benefícios da energia elétrica gerada por Água Vermelha, as obras da usina
trouxeram desenvolvimento à vida das comunidades á sua volta.
Localidades como Indiaporã, Guarani d’Oeste, Mira Estrela, Ouroeste, Fernandópolis,
Campina Verde (MG) e Iturama (MG) foram diretamente beneficiados com a implantação de 130 km
de estradas municipais, 170 km de estradas de ligação, 210 km de linhas de transmissão de alta
tensão e 140 km de linhas telefônicas.
Soma-se a isso a construção de vilas residenciais, escolas, hospital, áreas de lazer e clubes
recreativos, proporcionando melhores condições de infraestrutura social, novos empregos e novas
fontes de renda para a população da região.
REFERÊNCIAS
Na década 1930, em plena expansão dos movimentos de ocupação do que mais tarde vai
ser chamado de sertão paulista, surgem os povoados de Vila Pereira, fundada por Joaquim Antonio
Pereira, e Vila Brasilândia, por Carlos Barozzi.
O final da década de 1930 e início da década de 1940 foram marcantes, pois é nessa fase
que ocorre a formação de Brasilândia e Vila Pereira, pertencentes ao município de Tanabi, sendo
criadas em cada uma das comunidades uma Escola Rural, com controle e sede em Tanabi. É nesse
período que, segundo relato já registrado em edição anterior da obra Fernandópolis, nossa história,
nossa gente (PESSOTTA et al., 1996, p. 36), surgem os pioneiros na área da educação no município,
como os professores Antônio Tanuri e a professora Antonieta Moura Nogueira.
Em março de 1944, antes da criação do município de Fernandópolis, é criada a primeira
escola da Vila Pereira, denominada de 1º Grupo Escolar de Vila Pereira, que, com a emancipação do
município em 1944, passa a chamar-se Grupo Escolar Joaquim Antonio Pereira (GEJAP).
Recentemente, a educação no estado de São Paulo tem passado por um processo de
descentralização e, por ela, de municipalização do ensino, o que tem alterado o panorama do vínculo
das escolas e sua consequente supervisão.
O que se apresenta a seguir é um relato da história e das principais ações levadas a efeito
no setor da educação no município de Fernandópolis, de suas origens à atualidade.
117
Maiores detalhes sobre a escola, conferir no primeiro volume de Fernandópolis, nossa história, nossa gente
(PESSOTTA et al., 1996).
219
Em 1968, foi criada uma classe especial de deficiente auditivo e transformada em sala de
Recurso – Deficiente Auditivo.
Em 1970, através do Decreto nº 52.375, foi novamente criada e instalada como GEG
(Grupo Escolar Ginásio).
Novamente, em 1975, pelo Decreto nº 6907/75 e Resolução SE nº 22/76, a unidade tem
alterada sua denominação para EE de 1º grau. Em 1980, a escola recebeu a criação de uma classe
especial – deficientes mentais.
Durante todo esse período, esta unidade escolar pode contar com diretores dinâmicos, tais
como Wônia Aparecida Franco Gomes e Wandalice Franco Renesto; a professora Wandalice
conduziu a UE por mais de 30 anos, tendo como ponto alto de sua administração a festa das
Bonecas Vivas, evento social muito importante para a cidade. Dirigiram, também, essa UE as
professoras Shirley da Silva Navarro, Carmem Gomes da Trindade, Maria de Lourdes Davanzo,
Clarice Guarnieri Soares e, atualmente, Margaret Loide Bariani Brumati, tendo como vice-diretora Iara
Teresinha Molina Martinez e coordenadora pedagógica a professora Cleonice Aparecida Machado
Scalise.
Marques, Idelma, Neusa, Hélio Tovatti, Rosária, Nair Anselmo, Sebastiana, Zoraide, Raimundo, entre
tantos; alunos destacaram-se, também, tanto na escola quanto na vida: Ivan Rossi (engenheiro),
Maria Massami Miachita (dentista), Luzia Satie Oyafuzo (dentista), Mariana Hideko Anabuki
(enfermeira, USP), Oscar Toshio Kume (médico acupunturista), Vanderlei Augusto Simonato
(engenheiro), Elena Maria Beline (bancária), Ireni Toshiko Okamura (enfermeira), Júlio Semeghini
(deputado federal, foi presidente do grêmio estudantil – bem atuante), Luiz Antônio Fleury Filho (ex-
governador) e outros tantos, nas mais variadas profissões.
Atualmente, na direção da escola encontra-se Maria de Lourdes Avanzo e, na vice-direção,
o professor Paulo Marcos da Silva; atuando junto a eles, as coordenadoras Régia Maria Longo de
Souza e Meiri Aparecida Pinheiro Lopes, a secretária Ivone Aparecida Ferro Albuquerque e um corpo
docente formado por cinquenta e sete (57) professores, que atendem setecentos e sessenta e quatro
(764) alunos nos três períodos de aula. Além desses, há dezesseis (16) funcionários, entre secretária,
inspetores de alunos e serviços gerais, que mantêm a tradição de competência e limpeza.
O antigo Ginásio Estadual de Fernandópolis, nascido de um modesto salão, transformou-se
na conhecida EELAS, que, no dia 23 de março de 2011, completou sessenta e um anos de trabalho.
A Escola Líbero de Almeida Silvares se destaca, também, pela imponente estrutura física (construído
na gestão do prefeito Percy Waldir Semeghini), cuja beleza envaidece seu povo: a grande maioria da
sociedade fernandopolense passou pelos seus bancos escolares onde iniciou a sua história de
sucesso e, com entusiasmo, todos se orgulham de dizer: “Fui aluno(a) da EELAS, nela adquiri grande
parte de tudo que sou”.
Escola SESI
Com o desejo de estabelecer uma contribuição concreta para a promoção da justiça social e
do bem-estar dos trabalhadores, um grupo de empresários, capitaneado por Roberto Simonsen e
Euvaldo Lodi, se reúne em São Paulo e lança a Carta da Paz Social como primeiro passo para
humanizar as relações entre trabalho e capital, criando atividades de interesse imediato do
trabalhador.
Em 25 de junho de 1946, o Presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra, cria o
Serviço Social da Indústria (SESI). Está lançada a semente de um dos projetos sociais mais
significativos já criados pelo setor privado.
Vinculado à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o SESI paulista
demonstra capacidade da iniciativa privada de edificar o futuro com consciência social e noção de
desenvolvimento. Esse trabalho é feito de modo integrado com o Instituto Roberto Simonsen (IRS) e
o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que compõem a constelação das entidades
máximas do empresariado paulista.
O Centro Educacional SESI – 405 de Fernandópolis realiza atividades educativas, visando a
sociabilizar crianças, jovens e adultos, transformando-os em cidadãos atuantes.
Iniciou suas atividades educacionais em Fernandópolis em 1974, na Avenida Afonso
Cáfaro, no prédio da Igreja Presbiteriana Independente, na gestão de Antenor Ferrari. A unidade
SESI Fernandópolis funcionou, também, na Avenida Américo Messias dos Santos, nº 157 – Centro;
atualmente atende em um prédio próprio, com adequações modernas e com toda tecnologia,
garantindo qualidade, modernidade, eficiência no trabalho. O SESI oferece educação nos três
períodos: manhã, ensino fundamental de 6º ao 9º ano e ensino médio; à tarde, ensino fundamental de
1º ao 5º ano; e à noite, a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A Escola SESI possui um quadro de funcionários e de professores qualificados e oferece
condições para que os mesmos realizem formação semestralmente por área de atuação,
aprimorando seus conhecimentos a fim de proporcionarem aos alunos uma educação que se
aproxima da ideal.
224
Hoje (2012), a escola soma 377 alunos no período diurno e 864 alunos na EJA, período
noturno. A clientela ainda é mista, e aproximadamente 53% dos alunos são beneficiários das
indústrias, ou seja, são filhos (as) de funcionários (as) da indústria contribuinte do SESI.
O Centro Educacional SESI 405 está jurisdicionado à Diretoria de Ensino de São José do
Rio Preto, que conta com 8 unidades escolares, localizadas nos seguintes municípios: Fernandópolis,
Votuporanga, José Bonifácio, Catanduva, Barretos e 3 unidades em São José do Rio Preto. No
estado de São Paulo somam aproximadamente 223 Centros Educacionais e 55 CATs – Centro de
Atividades
O SESI trabalha de maneira que, propondo limites e valorizando atitudes humanistas,
reduza a indisciplina na escola, na família e na sociedade, atingindo, assim, os objetivos de progresso
contínuo e mudanças constantes, para que ocorra uma efetiva e significativa educação.
classes de Pré, e mais quarenta e seis alunos de primeiro ano, organizados em duas classes
pertencentes à EMEF Koei Arakaki. O CEMEI atende, ainda, em período integral, a crianças cujos
pais trabalham o dia todo.
especiais. A escola está sob a direção da professora Roselene Miotto de Abreu e da orientadora
educacional Maria Inês de Jesus Germano.
Colégio COOPERE
O Colégio Coopere é uma escola criada em sistema de cooperativa, formada por pais do
município. Para o seu funcionamento pedagógico foi realizado um convênio com o sistema
educacional privado ETAPA, atuando tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. Teve
como um dos fundadores o cirurgião dentista Jesiel Bruzadeli Macedo, que ocupou o cargo de 1º
presidente da cooperativa de ensino. Funciona na Avenida Afonso Cáfaro, no Jardim Higienópolis.
Por ser um sistema diferenciado e inédito de organização de ensino até o momento de sua
formação, mantém valores importantes para a formação de crianças e jovens, o que é reforçado
pelos envolvidos.
Em 1991, alguns pais fernandopolenses, em busca de uma alternativa melhor para o ensino
de seus filhos, decidiram criar a sua própria escola. O modelo fora o de uma cooperativa de ensino,
que até então não existia no estado de São Paulo. Hoje, dezenove anos depois, a ousadia desse
grupo é motivo de orgulho para Fernandópolis. O empreendimento teve tanto sucesso que foi copiado
por mais de cinquenta outras escolas. E a trajetória de seus alunos nesse intervalo provou, mais uma
vez, a eficiência da capacidade empreendedora da cidade.
229
O Colégio Coopere, instalado em uma área de 10 mil m2 com muito verde, mantém um
número reduzido de alunos por classe, ensino fundamental sem apostilas, ênfase em leitura e
matemática, participação ativa dos pais; todas essas características dão o tom no ambiente
escolar que busca formar adultos responsáveis e solidários. O comando da escola está com Adriana
Macedo na presidência, Dirce Vieira na direção, Áurea Maria de Azevedo na coordenação do ensino
médio e Elenice Marques Ferreira na coordenação do fundamental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Colaboração
Marcos Euclides Bonassi
Professor e pedagogo.
Professor na EE Joaquim Antonio Pereira
230
Caracterização
A Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF), pessoa jurídica de direito privado, com
sede e foro na cidade de Fernandópolis/SP, foi criada pela Lei Municipal n. 462, de 25/11/76. Com a
anexação de terreno e prédios doados pela Prefeitura em 1986, a Fundação Educacional de
Fernandópolis teve seu endereço alterado para Avenida Teotônio Vilela S/N, Câmpus Universitário.
231
Histórico
Desde meados da década de 1960, o Poder Público Municipal de Fernandópolis mantinha
uma escola (Colégio Comercial) dedicada a oferecer cursos profissionalizantes à população (Lei
Municipal n. 462, de 25/11/1962). Em fins da década de 1970, começou-se a cogitar o
estabelecimento de uma instituição de ensino superior na cidade. Diante disso, houve um avanço na
proposta original, pois, mediante ações da mantenedora (Fundação Educacional de Fernandópolis),
foi promovida a instalação do curso superior de Enfermagem e Obstetrícia de Fernandópolis, em
1984. Com o curso, foram também organizados os primeiros laboratórios do que viria a ser as FIFE:
Anatomia, Microscopia e de Enfermagem.
O início das atividades do curso de Enfermagem e Obstetrícia não implicou o encerramento
da preocupação com a formação profissionalizante até então mantida pelo Colégio Comercial. Muito
pelo contrário, ela continuou a existir, já que tal estabelecimento de ensino foi substituído pela Escola
Profissionalizante Dr. Alberto Senra, autorizada a funcional pelo Parecer CE n. 108/87. Tal com as
FIFE, a Escola Profissionalizante Dr. Alberto Senra passou a ser mantida pela Fundação Educacional
de Fernandópolis. Atualmente, esse estabelecimento de ensino presta serviços importantes à
comunidade local e regional, ao oportunizar uma dezena de cursos, caso de Técnico em Informática,
Técnico em Enfermagem, Técnico em Segurança no Trabalho, entre outros.
Anos após, mais precisamente em 1989, foi criada e instalada a Faculdade de Ciências e
Letras de Fernandópolis, que passou a abrigar cursos de Letras, História e Geografia, postos em
funcionamento em 1990, que ampliam a estrutura e aumentam as possibilidades de crescimento da
Instituição.
Anos após a instalação desses cursos - e justamente em decorrência deles - é que seriam
criados outros dois laboratórios (de Línguas e de Geologia, vinculados aos cursos de Letras e de
Geografia, respectivamente), bem como o Centro de Documentação e Pesquisa (surgido em 2005,
atrelado ao curso de História).
Entre 1984 e 1992, a Fundação atravessa períodos de extrema dificuldade, tanto no setor
administrativo como no pedagógico. Com apenas quatro cursos superiores, sua sobrevivência era
cada vez mais conturbada pela falta de recursos financeiros. Contudo, um ano depois, a Fundação
não só apaga essa imagem, como multiplica seus projetos. De um lado, organiza-se
administrativamente e, de outro, começa a dar ênfase ao campo da cultura, propondo ao Conselho
Estadual de Educação a criação de novos cursos: Ciências Econômicas, Pedagogia e Farmácia -
Habilitação Farmacêutico Bioquímico. Além disso, por proposta da Presidência da Fundação, é criado
o Centro de Aperfeiçoamento e Pós-graduação CAP-FEF e implementado um conjunto de iniciativas
para melhorar a infraestrutura disponível. Por essa época, a Fundação assiste a um novo
reaparelhamento da infraestrutura de suas Faculdades, tendo em vista a criação dos laboratórios de
Pedagogia, Multidisciplinar, de Análises Clínicas e da Farmácia-Escola.
Em 1994, frente à aprovação das propostas de instalação de novos cursos, a unificação das
duas Faculdades já em funcionamento configurou-se oportuna e necessária, resultando na criação
dos Estabelecimentos de Ensino Superior Integrados de Fernandópolis (EESIF), mantidos pela
Fundação. A unificação das duas Faculdades aconteceu mediante Ato Administrativo baixado pela
ex-presidente da Fundação, Dra. Brígida do Amaral Botelho Prudêncio, Portaria FEF n. 76/96,
prevista no Artigo 4º da Lei n. 1984, de 20/12/1994, sendo o referido ato homologado pelo Conselho
de Curadores em reunião de 04 de dezembro de 1996.
Com a unificação das duas Faculdades, foram eleitos um Diretor e um Vice-Diretor
Pedagógico. Para isso, a Diretoria Executiva reuniu-se e elegeu o Professor Durval Aparecido
Ramanholi e Professora Alba Regina de Abreu Lima Catelani, respectivamente Diretor e Vice-Diretora
Pedagógica, que tiveram suas escolhas referendadas na mesma reunião de 04/12/96. Para a
escolha, a Diretoria Executiva baseou-se na Deliberação CEE 05/96, de 27/06/96, e no Regimento
Unificado para os Estabelecimentos de Ensino Superior Integrados de Fernandópolis. A escolha foi
realizada mediante lista tríplice enviada à Diretoria Executiva pelas Faculdades, conforme Ata e
Ofício nº 034/96 e nº 069/96.
Mais do que um registro histórico, a unificação e as formas adotadas para a escolha dos
novos dirigentes acadêmicos revelam traços marcantes da Fundação Educacional de Fernandópolis,
que merecem destaque: a capacidade de planejar para o futuro e o respeito ao profissional
qualificado para o exercício da gestão acadêmica.
232
A demanda por novos cursos leva a Fundação a ampliar seu quadro com a implantação dos
cursos de Tecnologia em Processamento de Dados (1998, transformado em Sistemas de Informação
em 2001), Engenharia de Alimentos (1999) e Fisioterapia (1998). Em abril de 1999, três processos
foram montados e enviados ao Conselho Estadual de Educação (CEE), solicitando a criação dos
cursos de Ciências Biológicas - Modalidade Médica e Licenciatura, Psicologia - Formação de
Psicólogos e Fonoaudiologia, todos autorizados.
Já que tais cursos requeriam determinados laboratórios, investe-se mais ainda em
infraestrutura física e tecnológica. Assiste-se, assim, com a criação desses novos cursos, a
aplicações sensíveis em infraestrutura física e tecnológica (Laboratórios de Informática, Clínica de
Fisioterapia, de Audiologia e de Psicologia, Laboratórios de Produtos de Origem Animal, de Produtos
de Origem Vegetal, de Hidráulica e Fenômenos de Transportes e de Análise Sensorial).
Em 2003, o credenciamento das Faculdades Integradas de Fernandópolis (FIFE), por
transformação da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia e da Faculdade de Ciências e Letras, bem
como a aprovação do seu Regimento Unificado, pela Portaria MEC nº. 3.753, de 12/12/2003,
consolida a inserção da instituição de ensino superior no Sistema Federal de Ensino e põe fim a um
período de instabilidade, quando a Instituição não pertencia nem ao Sistema Estadual nem ao
Federal de Ensino. E isso só foi resolvido mediante ação da Mantenedora junto à Justiça Federal.
A partir de 2003, atendendo às solicitações da Fundação Educacional de Fernandópolis
(FEF), sob a Presidência do Sr. Luiz Vilar de Siqueira, o MEC deliberou atos para a autorização de
Funcionamento dos Cursos de Administração - Bacharelado, com a Habilitação em Marketing,
Engenharia Ambiental, Ciências Contábeis, Terapia Ocupacional, Nutrição, Serviço Social, Química –
Licenciatura, Física – Licenciatura, Matemática – Licenciatura, Educação Física – Licenciatura,
Filosofia – Licenciatura, Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, hoje em plena atividade, com
exceção dos Cursos de Física e Filosofia.
É importante atentar para as consequências positivas que tais cursos geraram, entre outras
coisas, no que se refere à infraestrutura das FIFE. A implantação desses cursos motivou a criação de
espaços técnicos e acadêmicos como: Empresa Júnior, Laboratórios de Mídia, Laboratório de
Resíduos, Laboratório de Solos, Laboratório de Física, Núcleo de Atendimento Social, Rádio e
Televisão, Laboratório de Nutrição e Técnicas Dietéticas, Laboratório de Matemática e Terapia
Ocupacional, Sala de Ginástica Espelhada, entre outros.
A partir da implantação dos seus 32 cursos, as Faculdades Integradas de Fernandópolis
(FIFE) experimentam momentos de crescimento e evolução de desempenho muito positivos, que lhe
conferem a condição de Instituição consolidada em Fernandópolis e na região e que a credencia para
pleitear um novo modelo de organização acadêmica, mais compatível com o atual estágio de
desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão.
Atualmente, além de um projeto educativo bem sucedido, a Fundação Educacional de
Fernandópolis (FEF) não tem descuidado de prover a infraestrutura necessária ao desenvolvimento
acadêmico e à ampliação de sua relação com a comunidade.
2
As Faculdades Integradas dispõem de área física construída que ultrapassa os 20.000 m ,
composta por edificações dotadas de todas as facilidades materiais para proporcionarem ensino de
excelência.
A Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) e as Faculdades Integradas de
Fernandópolis (FIFE) apresentam ao Ministério da Educação proposta de transformação em Centro
Universitário e, para tanto, apresentam o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do Centro
Universitário de Fernandópolis - período 2012-2016, em continuidade à política expansionista do
ensino superior da Instituição na região em que se localiza.
As Faculdades Integradas de Fernandópolis têm como missão a promoção da Educação,
em nível superior, visando à formação de cidadãos imbuídos de valores éticos que, com competência
profissional, possam atuar no seu contexto social de forma comprometida com a construção de uma
sociedade mais justa, solidária e integrada ao meio ambiente. Na missão institucional, três focos
orientam as ações: o primeiro é o da cidadania, entendida como consciência de pertencer a uma
comunidade e também como responsabilidade partilhada; o segundo é o da produção do fazer
científico e tecnológico; e o terceiro é a autonomia intelectual dos alunos, como elemento central e
diferencial para integrar teoria e prática.
233
Colaborçaão
Roseli Soler Aparecida Bortoloto
235
UNICASTELO FERNANDÓPOLIS
A Unicastelo iniciou suas atividades em Fernandópolis no mês de julho de 1995, com duas
turmas: uma do curso de Agronomia com 50 alunos e outra de Medicina Veterinária com 100 alunos.
Os cursos estavam instalados provisoriamente no câmpus da FEF, que cedeu um bloco para as salas
de aula, secretaria e laboratórios. Também nesse bloco havia uma sala com 18 gabinetes dentários
completos, pois, na época, o presidente da mantenedora, Prof. João Maurício Alves, havia planejado
iniciar o câmpus com o curso de Odontologia, sonho que só se realizou 13 anos mais tarde.
A Direção Geral do câmpus ficou a cargo da Profª Denigrace Barbosa Lisboa, que veio do
câmpus de São Paulo e mudou-se com a família para Fernandópolis. Em fevereiro de 1996, tiveram
início os primeiros cursos noturnos: Administração de Empresas, Comércio Exterior e Ciências
Contábeis.
Em 1997, com o início dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Química e Direito, o
espaço da Fundação já não era suficiente. Para poder alocar aproximadamente 500 alunos, alguns
cursos foram transferidos para a Escola Melvin Jones, instalações originariamente planejadas para
abrigar uma creche.
Em 1998, o curso de Medicina Veterinária precisava iniciar as aulas práticas. Como o
Hospital Veterinário não estivesse pronto, foram cedidas as instalações da Fazenda Brasitália. Em
um antigo armazém de café próximo à via de acesso ao câmpus, os alunos da primeira turma foram
acomodados em uma sala de aula; foram, igualmente, montados os consultórios e laboratórios e,
assim, deu-se início ao atendimento aos pequenos animais.
A estrutura de currais e piquetes foram adaptadas e, assim, trabalhava-se com os animais
de grande porte, realizando aulas práticas e atendimento ao público.
Em 1999, foi concluído pronto o Hospital Veterinário, segundo os próprios professores,
provavelmente, o maior do Brasil em área construída. O início dos atendimentos teve uma grande
repercussão regional: vinham criadores pecuaristas de toda a região, e as aulas práticas produziram
o atendimento itinerante que levava alunos e professores às propriedades rurais.
Em 2000, a Universidade inaugura o complexo de salas de aulas, uma construção integrada
à paisagem rural: 20 amplas salas de aula, direcionadas a um enorme pátio central e localizadas
entre duas matas, recebem os alunos para iniciarem as atividades do Câmpus da Unicastelo
Fernandópolis ou Câmpus VII, como então era chamado. Também nesse ano, foi inaugurado o
Núcleo de Prática Jurídica, com a instalação do juizado especial cível, escritório jurídico e setor de
conciliação, com mais de 6.000 atendimentos gratuitos ao ano.
A grande conquista da Universidade, que muda a economia de Fernandópolis, foi a vinda do
curso de Medicina em 2003. O curso tem seu início após um vestibular em que estiveram presentes
alunos da FAMERP de São José do Rio Preto, tentando tumultuar e anular o processo de seleção da
primeira turma. Posteriormente, o processo seletivo passa a ser realizado pela VUNESP, dando mais
transparência e credibilidade ao vestibular do curso de Medicina.
Em 2007, tem início o curso de Odontologia, e as salas de aula e os seus laboratórios de
atendimento são instalados no Shopping Fernandópolis. A partir dessa estratégia, a população
carente de toda a região passa a receber atendimento odontológico gratuito com aproximadamente
200 pacientes por mês. Todas essas ações colaboraram para que o curso obtivesse, logo em sua
primeira avaliação pelo MEC, a nota máxima.
Em 2008, fica pronta, na Santa Casa de Fernandópolis, a reforma de duas alas destinadas
inteiramente ao SUS e UBS do Jardim Pôr do Sol; também ganha uma reforma e ampliação, com
todas as despesas efetuadas pela mantenedora para receber os alunos do internato e residência.
Em 2010, têm início os cursos de Pós-Graduação, mestrado e doutorado em Engenharia
Biomédica: foi o primeiro curso stricto sensu a ser oferecido por uma instituição particular na região.
Em 2011, o câmpus de Fernandópolis encerra suas atividades letivas com
aproximadamente 3.000 alunos regularmente matriculados. São os seguintes os cursos mantidos
pela Unicastelo:
236
Colaboração
Humberto Cáfaro Filho
Wônia Aparecida Franco Gomes
ESPIRITISMO EM FERNANDÓPOLIS
1 INTRODUÇÃO
Fernandópolis, em sua formação inicial, teve instituída (consensualmente) a religião católica
como oficial. Com o crescimento da cidade e a concepção da liberdade religiosa, começaram a
instalar-se, oficialmente, diversos cultos religiosos, bem como doutrinas ligadas à prestação de
serviços comunitários e orientação espiritual.
Foi nesse contexto que, aos poucos e com a participação de dedicados fernandopolenses,
surgiram os adeptos da doutrina espírita que logo se propagaria sob diversas denominações.
2 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO
Aos 22 de novembro de 1955, um grupo de adeptos da Doutrina Espírita se reuniu na
residência de Sr. Antonio Martins Barbieri, na rua Brasil, nº 1089, em Fernandópolis (SP), para fundar
o Centro Espírita “Pátria do Evangelho”, estabelecendo os estatutos dessa sociedade.
Estavam presentes os seguintes membros: Bento Teixeira do Carmo, Ludovina Teixeira da
Silva, Angelina Grecco Segato, Salistory Lucio de Lima, Antonio Balieiro Pessoa, Arminda Gonçalves
Balieiro, Francisco Martins Fernandes, Maria Dutra de Souza, Antonio Bim, Antonio Lozapio,
Francisco Lozapio, Elza Luiza Mantay, Iracy Chiarello, José Martins Fernandes, Maximiano Dutra,
Zózimo Gonçalves, Leopoldo Ribeiro Aguiar, Rosa Prisca, Vitório Petini, Irinéia Petini e o Sr. Antonio
Martins Barbieri.
A Diretoria ficou assim constituída a primeira Sociedade Espírita: Presidente: Bento Teixeira
do Carmo, Vice-presidente: Rosa Prisca, 1º Secretário: Antonio Martins Barbieri, 2º Secretário:
Zózimo Gonçalves, 1º Tesoureiro: Antonio Balieiro Pessoa, 2º Tesoureiro: Francisco Lozapio; Diretor
de Estudos: Maria Dutra de Souza e Diretor de Assistência Social: Antonio Bim.
Posteriormente, a sociedade passou a ser presidida pelo Sr. Nestor João Masotti, atual
presidente da Federação Espírita Brasileira, sediada em Brasília.
Em 1965, formou-se uma comissão constituída pelos seguintes membros: Nestor João
Masotti, Dr. José Milton Martins, Cel. Benedicto Vicente Mapelli, Geraldo Silva de Carvalho e Bento
Teixeira do Carmo para reformularem os estatutos da entidade, que passou a ser denominada
Associação Espírita Beneficente “Pátria do Evangelho”, constituída pelos departamentos Centro
Espírita “Pátria do Evangelho” e Casa da Criança “Meimei”.
São finalidades do Centro Espírita:
a) Divulgar e levar a Doutrina Espírita à comunidade, por todos os meios, tais como: biblioteca,
livraria, fitateca, feira do livro espírita, exposições doutrinárias, bem como quaisquer outros recursos
de difusão, que estejam sob a anuência desse departamento;
b) Manter cursos de estudos e estimular a prática da Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto:
religioso, filosófico e científico, tendo como base fundamental as obras de Allan Kardec e obras
subsidiárias que não divirjam delas mesmas;
c) Prestar assistência a todos que busquem a Casa Espírita, necessitando do conforto espiritual, sem
quaisquer tipos de distinções.
De acordo com os estatutos da Associação, são suas finalidades:
a) Trabalhar, sem sectarismo pessoal ou de grupo e sem partidarismo político, pela efetivação da
fraternidade humana e pelo conhecimento e prática do bem, do belo, da justiça, do amor e da
verdade, inspirando-se, especialmente, no Evangelho de Jesus;
b) Fundar e manter obras de caráter filantrópico e beneficente de natureza educacional, cultural e
assistencial, tais como as de amparo à infância, à juventude, aos enfermos, à velhice necessitada,
enfim, a todos, assistindo-os sem distinção de classe sexo, cor ou raça, nacionalidade ou religião.
Foi realizada uma festa junina na fazenda Caçula em Meridiano (SP), de propriedade do Sr.
Olívio de Carvalho em 27/06/1970 para levantamento de fundos e aquisição do terreno na av. Primo
Angelucci, onde funcionou o Departamento Casa da Criança “Meimei”, dedicado à assistência social
à infância. Funcionou como Creche, em regime de semi-internato, para crianças carentes de 1 a 8
anos.
Devido a mudanças estabelecidas pela Secretaria da Educação, passou a se chamar Lar
“Meimei”, atendendo a crianças para reforço escolar e berçário, com idades de 1 a 12 anos.
238
Além dessa atividade, há também cursos para gestantes, assistência a famílias e aos mais
diversos atendimentos conforme solicitação.
A partir dessa Instituição, foram-se formando outros grupos interessados em fundar centros
espíritas nos bairros da cidade, tais como:
● Associação Espírita Beneficente “Abrigo aos Aflitos”, situada na av. dos Melros, n° 206, no
bairro Jardim Araguaia.
Participaram da Assembléia da fundação da entidade as seguintes pessoas: Otacília Duarte
Vieira, Anna Zendron de Figueiredo, Nair Enedina de Jesus, Carlos Antônio Marques Dias, Ana Maria
Piva, Anselmo Roberto Barreto, Aurizia Teixeira Charmone, Antônio Balieiro, Herculano Rocha Neto,
Danilo Alves de Lima, Creusa Honório de Jesus, Benedito de Oliveira, Antônio Martins Barbieri,
Antônia do Amaral Terra Ferraz, Etelvino Francisco de Oliveira, Ernesto Dias, Vicente de Paulo
Gonçalves e Lazara de Souza Carneiro.
A Diretoria dessa Instituição, fundada em 10/06/1979, constou dos seguintes membros:
Presidente: Raimundo de Souza Medrado, Vice-presidente: Quirino Cesário Vieira, 1ª Secretária:
Valdenira Custódio Medrado Dias, 2ª Secretária: Zenith Zendron de Figueiredo, 1º Tesoureiro:
Marcilio Vilela Ogel, 2º Tesoureiro: Aparecido Duarte Vieira e Bibliotecária: Hermenegilda Rodrigues
de Almeida.
Além das atividades doutrinárias normais, há um trabalho de assistência social voltado para
a infância carente.
Em 10 de junho de 1979, foi igualmente fundada a Casa da Criança “Auta de Souza”, com a
finalidade de atendimento às famílias carentes e respectivas crianças.
● Associação Espírita Beneficente “André Luiz”, sediada na Rua Guilherme Bim, nº 150 no bairro da
Brasilândia.
Foi idealizada pelo Sr. Zózimo Gonçalves na década de 40, quando ele e sua esposa D.
Amélia vieram residir naquele bairro. Frequentou inicialmente o Centro Espírita “Pátria do Evangelho”,
juntamente com Sr. Bento Teixeira do Carmo. Em função das dificuldades de locomoção daquele
bairro, decidiu fundar um grupo denominado Centro Espírita “Fé, Amor e Caridade”, funcionando até
meados de l954, na Av. Vinte e Nove, nº 710, atendendo aos moradores do bairro e da zona rural.
Na década de 70, morando no estado do Paraná, Zózimo manifestou ao seu filho Edegardo
o desejo de retornar a Fernandópolis e, por volta de 1986, formou um grupo de mulheres lideradas
por D. Amélia, dando assistência aos necessitados e, em 09 de outubro de 1989, fundou-se a
Associação Espírita “André Luiz”, conforme consta nos atuais estatutos da sociedade.
Além das atividades doutrinárias realizadas durante a semana, a entidade, aos sábados,
distribui a sopa fraterna e cestas básicas.
● Associação Espírita Beneficente “Missionários da Luz”: fundada em 07 de fevereiro de 1985 com o
nome Centro Espírita “Luz”, situada na Rua Argentina, nº 180, Parque das Nações, tendo como
presidente D. Laíde Sango de Oliveira e vice-presidente D. Maria Aparecida Manselha.
Em março de 1985, a diretoria resolveu modificar o nome para Instituição Espírita “Luz”. No
período de 1986 a 1993, foi presidente o Sr. João Batista Domiciano; em 1989, a instituição mudou-
se para a rua Itália, nº 80, Jd. Acapulco, onde permanece até hoje.
Em 21 de novembro de 1993, Wilson José Granella assume a presidência e, em 13 de
agosto de 1999, é criada a Associação Filantrópica “Henri Pestalozzi”, que atende na área de
Assistência Social.
Em 15 de dezembro de 1999, a Instituição passa a chamar-se Associação Espírita
Beneficente “Missionários da Luz”, e, em 14 de abril de 2000, muda o nome novamente para
Associação Espírita “Missionários da Luz”.
A partir de 2004, a Pestalozzi abriga o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETEI).
Outras instituições viriam a se formar:
● A Associação Espírita Amantes da Verdade – Jesus e Kardec;
● Grupo Espírita do Caminho Associação Espírita Beneficente “Encontro da Paz”;
● Associação Espírita Beneficente “Caminho da Esperança” – iniciou suas atividades em maio de
2005, com o estudo doutrinário, sob a inspiração da Sra. Ana Jaicy Guimarães, escritora e oradora,
divulgadora da doutrina espírita e dirigente do Grupo Caminho da Esperança na cidade do Rio de
Janeiro;
239
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, os grupamentos espíritas, basicamente, têm suas atenções voltadas para a
prestação de serviços assistenciais, além de prestarem orientação espiritual a adeptos da
comunidade.
A assistência espiritual continua sendo a essência da doutrinação espírita, levando conforto
a pessoas em situações de dor e desamparo. Simultaneamente, as instituições espíritas, como um
todo, se voltam também para a assistência material aos menos favorecidos, em especial à infância
carente, desprotegida ou em situação de risco.
Colaboração
Associações Espíritas
ANTIGAS VIAS DE COMUNICAÇÃO E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO NOROESTE
PAULISTA
1 INTRODUÇÃO
Historicamente, o noroeste paulista é uma região de ocupação recente, cujo processo
se deu por meio de duas fronteiras - demográfica e econômica -, por meio de uma frente
pioneira de expansão em busca de uma economia lucrativa, que via, no plantio do café, na
pecuária (escoamento de bovinos para o abastecimento de frigoríficos paulistas) e na
policultura fontes de riqueza que garantissem maior rentabilidade e transformasse o sertão de
São Paulo em um centro economicamente ativo. Tal centro ganhava outros mercados
consumidores em estados vizinhos, com a expansão da malha ferroviária e a incorporação
crescente de novos espaços à economia paulista. Esse fato acelerou o surgimento de cidades
e mudou o panorama do interior com a criação de vários municípios, além de desenvolver
grandes centros urbanos regionais, como São José do Rio Preto.
Visando à ocupação do interior e à produtividade, o governo incentivava as pessoas a
comprarem as então terras devolutas, barateando-as e possibilitando a especulação agrária.
A demarcação das glebas no extremo noroeste paulista decorreu do avanço da
fronteira agrícola, que tinha, nessa região, uma nova área para o cultivo do café, uma vez que
outras áreas no estado de São Paulo já apresentavam desgaste pelo uso excessivo do solo na
cultura cafeeira, além da valorização de terras que levou à sua especulação.
Para se estabelecer nas regiões do extremo noroeste paulista, era necessária a
abertura de estradas, que facilitassem a locomoção de pessoas e o escoamento de produtos
para outras localidades, revelando uma necessidade defendida, desde 1867, por Alfredo
d’Escragnolle de Taunnay: a abertura de uma estrada oficial de Jaboticabal até as barrancas do
rio Paraná, no Porto do Taboado (figura 1)
118
Wilie Schio Barbosa, professor de História, responsável pela pesquisa e redação; Adauto Donizeti
Cassimiro é colaborador na produção do artigo.
241
A demanda por melhores mercados para seus produtos foi o que moveu a busca de
uma travessia sem perigos para as boiadas que vinham de Mato Grosso do Sul e Goiás para os
comerciantes paulistas (figura 2). Assim, tanto a Estrada do Taboado (que partia de
Jaboticabal, passava por Olímpia, São José do Rio Preto, Mirassol, Tanabi até chegar ao Porto
do Taboado) como outras “boiadeiras” tinham a mesma finalidade: dar passagem para o gado
(digura 3), contribuindo para que surgissem pequenos povoados e vilarejos, a exemplo de Vila
Carvalho, localizada no município de Votuporanga, sendo durante muito tempo um próspero
243
povoado que foi um “centro boiadeiro e do criatório regional foi, aos poucos, desaparecendo,
esmagada pelo latifúndio e pela decadência da Estrada Boiadeira”. (COSTA, 1979, p. 46)
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Esta seção descreve como é e como evoluiu a paisagem do município de Fernandópolis,
desde sua fundação em 1944, sendo, para isto, subdividido em quatro itens.
O primeiro item traz a “Localização e Características de Fernandópolis” e tem por objetivo
caracterizar, sobretudo, aspectos dos recursos naturais do município, tais como características
edafoclimáticas, do relevo e dos recursos hídricos superficiais. Para tanto, foram utilizados dados
cartográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Imagens do Radar ASTER
(Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer), de resolução espacial de 30
metros, de propriedade da NASA (United States National Aeronautics and Space Administration) e da
METI (Ministry of Economy, Trade, and Industry of Japan), além de dados de pesquisa do instituições
nacionais e de trabalhos de conclusão de cursos da UNICASTELO e da Fundação Educacional de
Fernandópolis.
O segundo item, “Histórico dos Limites Municipais de Fernandópolis”, tem como objetivo
descrever e identificar a evolução dos limites territoriais do município desde a sua fundação em 1944.
Para este item, além da base cartográfica vetorizada do IBGE que foi utilizada para definir os limites
municipais, também foi utilizado o seu acervo de documentação territorial dos municípios.
Os terceiro e quarto itens, “Evolução da Área Urbana de Fernandópolis” e “Evolução da
Área Rural de Fernandópolis”, têm como objetivo apresentar as principais modificações ocorridas no
uso e ocupação do solo nos últimos 30 anos. Cabe ressaltar que essa análise foi realizada somente
com o auxílio dos seguintes materiais: (1) fotografias aéreas realizadas nos dias 31 de julho e 28 de
agosto de 1979, pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) (folhas 01-2559 a 01-2570, 02-
2547 a 02-2556, 03-2523 a 03-2531, 04-5749 a 04-5756, 05-5723 a 05-5730); (2) fotografias aéreas
realizadas em outubro de 1985, pelo Instituto de Geografia e Cartografia (IGC) (folhas 8-26 a 8-31, 9-
27 a 9-31, 10-29 a 10-33, 11-32 e 11-33, 11A-01 a 11A-05, 12-32 a 12-37, 13-37 a 13-40, 14A-04 e
14A-05, 15-30 e 15-31); (3) imagem do satélite LANDSAT 1, sensor MSS, bandas 4, 5 e 7, de
resolução espacial de 80 m, com data de 20 de agosto de 1973, disponível no banco de dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); (4) imagens do satélite CBERS 2B, sensor HRC,
com data de 11 de setembro de 2008; (5) imagens de satélite disponíveis no software Google Earth,
versão 6.1.0.5001. As fotografias aéreas foram digitalizadas com o auxílio de escâner. Em seguida,
tanto as fotografias digitalizadas como as imagens de satélite, foram todas georreferenciadas no
Datum SIRGAS 2000.
Somente foi possível concluir esse capítulo com o auxílio dos professores Amadeu Jesus
Pessotta (que proporcionou a oportunidade) e José Alberto Felipe Basílio (que cedeu as fotografias
aéreas antigas). Também foi auxiliado pelos Engenheiros da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI) do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Fernandópolis, Carlos Roberto de
Oliveira e Mauro Macchi, que auxiliaram na identificação de algumas culturas. Outras importantes
instituições que contribuíram indiretamente para este trabalho foram a Unicastelo e a Fundação
Educacional de Fernandópolis.
119
Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2001.
Mestre em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2004. Formação
Continuada em Georreferenciamento de Imóveis Rurais pela Faculdade de Agrimensura de Pirassununga
(FEAP) em 2005 e credenciado no INCRA para serviços de Georreferenciamento de Imóveis Rurais. Doutor em
Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Ilha Solteira em 2008. Atualmente, é professor do
Curso de Graduação em Agronomia e Coordenador do Curso de Pós-Graduação Mestrado em Ciências
Ambientais da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO) de Fernandópolis; é professor do Curso de
Graduação em Engenharia Ambiental e Coordenador Geral do Departamento de Pós-Graduação, Pesquisa e
Extensão da Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) e consultor e responsável técnico da Empresa
Agroprecisão Engenharia e Georreferenciamento Ltda. de Ilha Solteira (SP).
247
7.779.384,961 m
SP
527
560.886,192 m
MACEDÓNIA
SP
543
FERNANDÓPOLIS
2 USINA
ALCOESTE
FERNANDÓPOLIS
590.474,325 m
USINA
MERIDIANO 3
7.735.275,820 m
Tabela 1 Balanço hídrico climatológico normal ponderado para o município de Fernandópolis (SP)
P ETP ARM ETR DEF EXC
Mês
(mm)
Jan 240 158 100 158 0 83
Fev 196 137 100 137 0 59
Mar 164 136 100 136 0 27
Abr 78 105 76 102 4 0
Mai 56 74 64 68 5 0
Jun 28 64 44 47 17 0
Jul 15 67 26 33 34 0
Ago 16 90 12 30 61 0
Set 58 115 7 63 52 0
Out 117 153 5 119 34 0
Nov 138 148 4 138 10 0
Dez 215 161 59 161 0 0
Total 1321 1409 - 1192 217 169
OBS: P (precipitação média); ETP (evapotranspiração potencial); ARM (armazenamento de água no solo); ETR
(evapotranspiração real); DEF (deficiência hídrica de água no solo); EXC (excedente hídrico).
Fonte: Lima et al., 2009.
248
460-480 m
21.43%
Com relação à declividade, o município apresenta a maior parte de seu território (81,67%)
com declividades entre 2 a 10%, sendo a classe predominante de 5 a 10% de declividade (figura 4).
250
15,0-20,0 20,0-50,0
0.92% 0.05%
10,0-15,0 0,0-2,0
9.73% 7.63%
2,0-5,0
37.23%
5,0-10,0
44.44%
Sub-bacias do Município:
Figura 5 Sub-bacias que compõe os recursos hídricos superficiais do município de Fernandópolis (SP).
Fonte: O autor, 2012.
Fernando Costa (Interventor Federal do estado de São Paulo) visita as vilas e sugere a sua união,
1943
que, em sua homenagem, receberam o nome de Fernandópolis.
Fernandópolis desmembra-se dos municípios de Tanabi e Pereira Barreto, elevado a categoria de
1944 município, com sede na antiga Vila Pereira e têm como distritos Jales (povoado de Jales) e
Pedranópolis (povoado de Pedranópolis).
São criados os distritos de Indiaporã (povoado de Indianápolis), Macedônia e Meridiano. Jales é
1948 desmembrada e elevada à categoria de município. Também é desmembrado o distrito de Estrela
d'Oeste, que é elevado à categoria de município.
O município é constituído de 5 distritos (Fernandópolis, Indiaporã, Macedônia, Meridiano e
1950
Pedranópolis).
É criado o distrito de Guarani d'Oeste e desmembrado o distrito de Indiaporã, que é elevado à
1953
categoria de município.
O município é constituído de 5 distritos (Fernandópolis, Guarani d’Oeste, Macedônia, Meridiano e
1955
Pedranópolis)
É criado o distrito de Brasitânia e desmembrados os distritos de Guarani d'Oeste e Meridiano, que
1959
são elevados à categoria de município.
1960 O município é constituído de 4 distritos (Fernandópolis, Brasitânia, Macedônia e Pedranópolis).
1964 Desmembra-se dos municípios de Macedônia e Pedranópolis, elevados à categoria de município.
1968 O município é constituído de dois distritos (Fernandópolis e Brasitânia), até o presente momento.
Quadro 1 Sequência de eventos na evolução dos limites municipais de Fernandópolis, da sua fundação até os
dias atuais
Fonte: O autor, 2012.
Figura 6 Evolução dos limites territoriais de Fernandópolis, desde a sua fundação até o atual.
Fonte: O autor, 2012.
Pensa, Aspásia, Santa Rita d’Oeste, Nova Canaã Paulista, Santa Clara d'Oeste, Ouroeste, São João
das Duas Pontes, Populina e Turmalina.
A maior redução de área municipal se deu no ano de 1948 em função do desmembramento
do município de Jales (de onde, indiretamente, se desmembraram 17 dos 22 municípios
anteriormente citados) (figura 7).
Área (km2)
7000
5819.416
6000
5000
4000
3000
2018.353
2000 1738.887
1138.646
1000 549.551
0
1944 1948 1953 1959 1964
Ano
Figura 7 Evolução da municipal do município de Fernandópolis, com os desmembramentos ocorridos desde a
sua fundação em 1944.
Fonte: O autor, 2012.
Brasilândia
Centro
Coester
Higienópolis
Figura 8 Detalhe das Vilas Pereira e Brasilândia nos locais atuais do município de Fernandópolis (“a” e “b”).
Fonte: O autor, 2012.
254
O território da Vila Pereira, que apresentava uma área aproximada de 77 ha, estaria
atualmente compreendida pelos bairros Centro, Coester e Higienópolis (figura 8a). Já a Vila
Brasilândia, com uma área aproximada de 39 ha, compreenderia atualmente os bairros Brasilândia e
Jardim Brasilândia (figura 8b).
Desde 1944, a área urbana120 cresceu a uma taxa média aproximada de 1,6% por ano (que
corresponde a aproximadamente 26 ha / ano), passando de 115,73 ha, em 1944, para 1776,20 ha em
2008 (figura 9).
a b
2000
1500
1000
743.59
614.76
500
115.73
0
1944 1979 1985 2008
1944
Ano
1979
1985
2008
Figura 9 Evolução dos limites da área urbana (a) e do tamanho da área (b) do município de Fernandópolis.
Fonte: O autor, 2012.
Pode-se observar que a expansão da área urbana se deu para todas as direções, com
exceção da direção Leste. Em 1979, a área urbana já se havia expandido pouco mais de 5 vezes em
tamanho em relação a 1944, distribuída em um total de aproximadamente 75 bairros ocupados por
casas. Naquela época, os limites da área urbana eram definidos pelos bairros Jardim Planalto,
Corinto, Jardim Santista, Jardim Rio Grande, Jardim Independente, Vila Regina, Parque Vila Nova,
Boa Vista, São João, São Cristovão, Jardim Santa Helena e Jardim Eldorado (figuras 10 e 11).
120
Sobre a expansão urbana de Fernandópolis, conferir também “O processo de formação do espaço urbano em
Fernandópolis até 1980”, elaborado pelas professoras Rosa Maria Souza da Costa e Vanda Aparecida de Lima
Costa, constante da Parte B, Artigos, desta obra.
255
Figura 11 Detalhe dos bairros Morada do Sol e Jardim Rio Grande em 1979 (a esquerda) e em 2004 (a direita).
Fonte: O autor, 2012.
Em relação aos limites urbanos atuais, a área urbana de 1979 aumentou quase 3 vezes
(chegando aos seus atuais de 1.776,20 ha), distribuída em um total de 118 bairros ocupados por
casas. A expansão ocorreu de tal forma, que os atuais limites urbanos são definidos pelos Conjuntos
Habitacionais Albino Minineli e Bernardo Pessuto ao Sul, Residenciais Antonia Frando e Parque
Universitário ao Sudoeste, jardins Redentor e Ipanema ao Oeste, Jardim Uirapuru e Vila Maria ao
Noroeste, e Jardim Paraíso, Residencial Alto das Paineiras e Terra Verde ao Norte (figura 12).
a b
257
c d
Jardim Jardim
Impanema Impanema
Jardim
Jardim
Redentor
Redentor
e f
Residencial
Residencial Terra Verde
Terra Verde
Figura 12 Bairros do município de Fernandópolis em 1979 (“a”, “c” e “e”) e em 2008 (“b”, “d” e “f”).
Fonte: O autor, 2012.
Outro aspecto a se destacar foi a alteração que a represa municipal sofreu com a evolução
da área urbana (figura 13).
a b
a b
c d
Figura 14 Detalhes das áreas da FEF e UNICASTELO (Fazenda Santa Rita) em 1979 (“a” e “c”) e em 2008 (“b”
e “d”).
Fonte: O autor, 2012.
E, finalmente, o local onde, atualmente, está o Shopping Center Fernandópolis, em 1979, não
passava de mais uma área de pastagem NAs margens da área urbana (figura 15).
259
a b
121684
116436
120000
100000
80000
60000
40000
21660 18238
20000 13868
6535 4856 3640
2914 1375 1171
0
Na figura 17 pode-se ter uma visão geral da área total e urbana do município de
Fernandópolis por imagem de satélite de 1973.
a b
Figura 17 Detalhe da área total e urbana de Fernandópolis por imagem de satélite datada de 20 de agosto de
1973.
Fonte: O autor, 2012.
Embora a resolução espacial não permita a identificação visual dos alvos, é possível notar
as áreas de coloração verde na imagem que, em função da época em que foi realizada,
possivelmente sejam áreas de matas e da cultura do cafeeiro (vegetações mais densas).
No ano de 1985, as áreas de vegetação natural (matas nativas) já representavam pequena
parcela do município de Fernandópolis, com um total aproximado de 3.800 ha (6,9% da área total) e
se concentravam, sobretudo, nas áreas de preservação permanente e em pequenos fragmentos
isolados (figura 18).
261
a b
Figura 19 Áreas de matas nativas no município de Fernandópolis em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.
a b
c D
Figura 20 Fragmento de mata de 2 ha em 1985 (a) e mesmo local em 2008 (b). Local com mata ciliar em 1985
(c) e mesmo local com vegetação de várzea em 2008 (d), podendo ser verificada em função da
rugosidade apresentada.
Fonte: O autor, 2012.
a b
Figura 21 Distribuição das áreas ocupadas por cana-de-açúcar em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.
a b
Figura 22 Distribuição das áreas ocupadas por café em 1985 (a) e em 2008 (b).
Fonte: O autor, 2012.
Área de Café
Área de
culturas anuais
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pode ser verificada, a evolução da paisagem do município de Fernandópolis, tanto na
área urbana quanto rural, sofreu uma significativa mudança.
A área urbana evoluiu muito rapidamente, ocupando as áreas de algumas das principais
culturas agrícolas (pastagens, café e culturas anuais). Se for considerado um crescimento linear,
espera-se que, em 2050, a área urbana do município chegue a aproximadamente 2.500 ha, ou seja,
um aumento de 40%.
Já na área rural, podem-se verificar modificações marcantes no uso e ocupação do solo.
Culturas antes importantes, como as culturas do algodão, milho e do cafeeiro, perderam espaço
principalmente para a cultura da cana-de-açúcar. As áreas de vegetação nativa se reduziram,
sobretudo, nas áreas de preservação permanente e em pequenos fragmentos isolados. Nos próximos
20 a 30 anos, considerando a atual expansão em que o setor sucroalcooleiro se encontra, é de se
esperar que as áreas de cana-de-açúcar no município alcancem 20.000 ha. Quanto às áreas de
121
Maiores informações sobre esse assunto, ler também o artigo sobre “A evolução e as transformações na
agricultura do município de Fernandópolis, do professor João de Souza Lima, na Parte B, seção Artigos, desta
obra.
266
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CESP – Companhia Energética de São Paulo. Aerolevantamentos de 1979: folhas de 01-2559 a 01-
2570, 02-2547 a 02-2556, 03-2523 a 03-2531, 04-5749 a 04-5756, 05-5723 a 05-5730. São Paulo:
CESP, 1979.
______. Downloads em geociências: malhas municipais digitais. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível
em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: jun. 2011.
IEA – Instituto de Economia Agrícola. Área e produção dos principais produtos da agropecuária.
São Paulo: IEA, 2011. Disponível em: <www.iea.sp.gov.br/out/index.php#>. Acesso em: jun. 2011.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de imagens CBRES. São José dos
Campos: INPE, 2011. Disponível em: <www.dgi.inpe.br/CDSR/>. Acesso: maio 2011.
LIMA, F. B. de; VANZELA, L. S.; MARINHO, M. de A.; SANTOS, G. O. Balanço hídrico climatológico
normal ponderado para o município de Fernandópolis (SP). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
AGROMETEOROLOGIA, 16, 2009, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: SBAGRO, 2009.
NASA – United States National Aeronautics and Space Administration. ASTER Global Digital
Elevation Map Announcement. Pasadena: NASA, 2010. Disponível em:
<www.asterweb.jpl.nasa.gov/gdem.asp>. Acesso em: ago. 2011.
OLIVEIRA, J. B.; CAMARGO, M. N.; ROSSI, M.; CALDERANO FILHO, B. Mapa pedológico do
estado de São Paulo: legenda expandida. Campinas: Instituto Agronômico/ EMBRAPA Solos,
1999. 64p.
SÃO PAULOS (estado). Municípios e distritos do estado de São Paulo. São Paulo: IGC, 1995.
208p.
A FERROVIA EM FERNANDÓPOLIS
1 INTRODUÇÃO
A Baronesa (figura 1) era o nome da locomotiva do primeiro trem a circular no Brasil; na sua
primeira viagem, no dia 30 de abril de 1854, percorreu a distância de 14 km num percurso que ligava
a Baía de Guanabara a Raiz da Serra em Petrópolis no Rio de Janeiro. Irineu Evangelista de Souza,
o Barão de Mauá (depois visconde) (figura 2), foi o responsável pela construção dessa ferrovia
através da concessão Do imperador D. Pedro II, conhecida por Estrada de Ferro Petrópolis ou
Estrada de Ferro Mauá.
3 A FERROVIA EM FERNANDÓPOLIS
Em 21 de agosto de 1948, Fernandópolis assiste à chegada do “trem de ferro” trazendo o
governador Ademar de Barros, mas a chegada do trem de passageiro ocorreu em 16 de dezembro de
1949.
A ferrovia trouxe para o desenvolvimento de Fernandópolis, em termos de comunicação:
a) o telégrafo (figura 3), que, apenas com duas teclas e uma campainha, transmitia e recebia
mensagens, telegramas, cartas de todos os tipos. Foi o primeiro a introduzir as linhas telegráficas no
mundo inteiro, baseadas no sistema de pontos e traços na codificação das mensagens;
b) o seletivo (figura 4), um telefone especial que permitia a um centro de controle chamar qualquer
estação de seu trecho e se comunicar, simultaneamente, com todas as estações;
c) o “staff” eletromecânico (figura 5), um aparelho destinado a licenciamento de trens em linha
singela, por meio de bastão piloto; geralmente, tais bastões metálicos (denominados de estafe)
eram fixados em arcos de couro, revestidos de arame, com pequenas aberturas onde se
introduziam recomendações especiais aos maquinistas. Tais bastões se alojavam nos
convencionais aparelhos de estafe elétrico e só eram liberados através de complicados processos
de correntes magnéticas. Para o nosso controle, identifiquemos três estações, adotando-as de três
símbolos: a-b-c. Agora, substituamos as três letras referenciais por nomes próprios simplesmente
que, na realidade, são as estações de: Votuporanga, FERNANDÓPOLIS e Estrela do Oeste,
situados na linha tronco da Estrada de Ferro Araraquarense (379 quilômetros). Dessa forma, um
eventual trem, ao circular por Votuporanga (1ª estação), conduz dessa estação o estafe para
Fernandópolis (2ª estação) e desta para Estrela do Oeste (3ª estação) configurada no circuito. E,
assim, sucessivamente, até se chegar ao fim da linha.
A estação de Fernandópolis dispunha de dois aparelhos de estafe: um para expedir trens
para o lado da estação da direita e outro para atender à estação da esquerda, em sentido
completamente oposto. Cada aparelho de estafe elétrico é equipado com fone e manivela que, uma
vez acionada manualmente, gera um circuito magnético que libera prontamente o bastão de estafe.
Após a retirada do citado bastão, através de um orifício, o próprio mostrador do aparelho acusa: “linha
impedida”. Considerando que cada estafe, fora do aparelho, representa um trem a entrar em
circulação, é óbvio que tanto a estação que concedeu o estafe como a que recebeu têm o mecanismo
de seus aparelhos bloqueados implacavelmente. A situação só se reverte quando o próprio trem leva
o estafe até a estação vizinha, ou, por uma circunstância especial, o bastão retorna ao próprio
aparelho da estação de procedência. Exemplificando: se um determinado trem sofresse um
descarrilamento em pleno trecho, à noite, visto que o bastão de estafe estava na máquina em poder
do maquinista, não há perigo de qualquer choque, porque o aparelho estava bloqueado e, por essa
razão, não liberaria outro similar, mesmo que o telegrafista de plantão estivesse sonâmbulo.
269
Figura 3 Telégrafo
Figura 4 Seletivo
malha da Estrada de Ferro Araraquara à da Linha Tronco da Companhia Paulista (ligada à Rede
Ferroviária Federal – figura 6), que possuía bitola de 1,60m (chamada de bitola larga).
Nos anos 1960, foram adquiridos carros Budd de aço inox, com diversas pinturas. Passou a
haver composições com carros-dormitório; tanto estas composições (no caso do diurno) quanto o
carro-restaurante e o carro-salão paravam em Jales, seguindo até o final da linha sem esses carros.
Outros afirmam que, no trem noturno, os carros seguiam até Presidente Vargas, incluindo as
poltronas-leito.
Um dos fatores primordiais para o desenvolvimento da ferroviária foi o transporte das
turbinas para a construção da Usina de Água Vermelha no final dos anos 70. Assim, a ferrovia teve
efeitos duradouros em todo o processo econômico: os mercados para produtos manufaturados e
matérias-primas se ampliaram de modo extraordinário; reduziram-se os custos de produção, com a
maior eficiência e alcance da distribuição e, devido ao crescimento do volume de vendas, os lucros
dispararam.
Segundo um horário da EFA de 1970, no "apagar das luzes", havia três trens diários de ida
e três de volta (figura 7 a 9): um diurno de luxo, em aço inox, ligando a estação da Luz a Presidente
Vargas com carros Budd-Mafersa; um noturno da Luz a São José do Rio Preto, em aço carbono
(figura 8), que deviam ser os "SAMDU"; e um misto diurno, com carros de madeira e vagões de carga
para mudanças e pequenas cargas, ligando Araraquara a Presidente Vargas. Este era o afamado
"Trem Barateiro", apelidado de "oficial" (figura 9).
Em 1990, a ferrovia apresentou dados que, apesar de não falarem por si, levantam
questões intrigantes. A ferrovia reduz o número de funcionários, a extensão das linhas, o número de
locomotivas, a frota de carros de passageiros e também o número de vagões.
Desde 1997, o trem de passageiros não passa em Fernandópolis e, desde então, o prédio
da estação ferroviária permanece abandonado. Todavia os trens de carga (figura 11) continuam, pois
a Linha Tronco foi ligada à nova linha da Ferronorte, em 29 de maio de 1998, quando foi inaugurada
a Ponte Rodoferroviária sobre o Rio Paraná, a qual liga os estados brasileiros de Mato Grosso do Sul
e São Paulo, unindo a cidade sul-matogrossense de Aparecida do Taboado à cidade paulista de
Rubinéia.
Em maio de 2006, a Brasil Ferrovias foi fundida à América Latina Logística (ALL). A compra
foi efetuada por um processo de troca de ações entre os controladores das empresas e os da ALL
(FERRONORTE, 2012). A ALL é responsável pelo escoamento de parte da soja produzida no Oeste
do País.
A distribuição física das unidades armazenadoras da Companhia de Entreposto e Armazéns
Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), responsável pela armazenagem e distribuição de
produtos (especialmente grãos a granel e açúcar), no contexto do modal ferroviário do estado está
contemplada da seguinte forma (quadro 1):
274
REFERÊNCIA
Colaboração
Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola “Melvin Jones”
Autora: Mary Ângela Veríssimo Segura Joaquim – Professora
Colaboradores:
José Carlos Joaquim – Diretor de Escola
Claudia Malavazzi Trovatti Custódio – Orientadora Educacional
Rodrigo Alves Dionísio – Professor de Informática
FFC E SUA HISTÓRIA
O campeonato paulista da Quarta Divisão de então era disputado em duas chaves: interior e
capital. No ano de 1964, a ABE chegou à final do torneio contra a equipe do São José, da cidade de
São José dos Campos. Na primeira partida, no estádio municipal John Kennedy, em Fernandópolis,
posteriormente alterado para Cláudio Rodante em 1987, a Associação Bancária de Esportes perdeu
pelo placar de 1 x 2. Na segunda partida, no Vale do Paraíba, a partida terminou empatada em 0 x 0,
resultado que deu o título de campeão à equipe do São José.
Naquele mesmo ano (1964), o Palmeiras, do craque Ademir da Guia, esteve em
Fernandópolis disputando um amistoso contra o time da casa (a ABE); a partida terminou no empate
de 1 x 1. Graças às defesas milagrosas do goleiro fernandopolense Olavo, o time da capital paulista o
contratou, levando-o, inclusive, embora no mesmo ônibus que trouxe a equipe palestrina para
Fernandópolis.
Na época, surgia, também, o nome de um dos maiores ídolos da torcida Fernandópolis,
‘Téia’. Ao conseguir fazer ótimas partidas pelo Fernandópolis, transferiu-se para o São Paulo Futebol
Clube.
276
Ao perceber que o futebol conseguia mostrar positivamente o município para todo o estado
de São Paulo, em 1965, após uma assembléia com os envolvidos no projeto, a Associação Bancária
de Esportes mudou o nome para Fernandópolis Futebol Clube, única e exclusivamente para divulgar
ainda mais a cidade. As cores do uniforme também foram trocadas pelo azul e branco, porém, o
símbolo permaneceu o mesmo (uma águia de asas abertas), mas com as novas siglas FFC.
Por motivos financeiros, nos anos de 1969 e 1970, o Fernandópolis Futebol Clube se
afastou das competições oficiais, retornando em 1971 para participar do “Paulista da Terceira
Divisão”, campeonato em que permaneceu realizando campanhas razoáveis até 1976. Com uma
nova reformulação feita pela Federação Paulista de Futebol (FPF), vários times que disputavam a
Terceira Divisão foram transferidos para a Quarta Divisão, fato ocorrido com o próprio Fernandópolis.
O ano de 1979 reservou muitas alegrias aos torcedores que, para o evento, lotavam o
estádio municipal. A equipe sagrou-se campeão paulista da Quarta Divisão com um time invejava
pela qualidade dos seus atletas. Foi justamente nesse ano que todos vibraram com as jogadas
magníficas de Noronha, Bereco, Chico Amorim, Jorginho, Da Silva, Ari, Xisté, Zé Roberto e a dupla
infernal, Carlos Silva e Tato, que conseguiram realizar uma campanha que, dos trinta jogos, resultou
21 vitórias, 06 empates e apenas 03 derrotas.
Nos anos seguintes, a equipe participou da Terceira Divisão do futebol paulista, sempre
disputando jogos emocionantes que atraíam grande público ao estádio. Esse torneio também era
chamado de “Divisão Intermediária”. Em janeiro de 1981, a equipe recebeu em seus domínios o
tradicional time do Santos, em jogo amistoso que terminou em 1 x 1. Essa partida serviu para pagar
parte do salário do craque Carlos Silva, que se havia transferido do FFC para o time da baixada
santista. Alguns anos depois, em 1985, o Fefecê, carinhosamente chamado assim pelos cronistas
esportistas do estado de São Paulo, recebeu a equipe do São Paulo Futebol Clube, que, naquele
ano, havia sido campeão paulista da “A1”. O jogo terminou em 1 x 1 e reuniu vários astros do futebol,
tais como Muller; Silas, Pita, Nelsinho, todos comandados pelo técnico tricolor Cilinho.
Em 1987, o clube continuou realizando seus jogos no mesmo estádio, que passou, porém, a
ter outro nome. Até então homenageando o ex-presidente norte-americano John Kennedy, o estádio
municipal passou a se chamar Cláudio Rodante, grande esportista da cidade, apaixonado pela “Águia
de sangue azul’. O que muitos não lembram é que a história do estádio municipal começou em 25 de
280
maio de 1953, quando foi inaugurado numa partida entre o Fernandópolis Esporte Clube 3 x 2 Uchôa;
até então, o estádio era utilizado apenas para práticas esportivas amadoras. Só foi utilizado de forma
profissional com o surgimento da ABE e, posteriomente, FFC.
Entre 1995 e 1996, o Fernandópolis disputou a série A3 do futebol paulista obtendo ótimas
colocações (5º e 6º lugares respectivamente), mas, em 1997, a equipe realizou uma campanha
trágica, que o rebaixou novamente para a série B1A. Esse foi o primeiro rebaixamento que o Fefecê
sofreu dentro de campo.
Em 2002, a FPF reformulou novamente a competição, unificando as série B1A, B1B e B1C,
numa única competição chamada Segunda Divisão. Nesse ano, vários times tiveram a oportunidade
de subir para a primeira divisão, mas o Fernandópolis não aproveitou a chance e continuou
“amargando” até o seu cinquentenário, comemorado em novembro de 2011, o Campeonato Paulista
da Segunda Divisão.
Durante o trabalho de pesquisa e levantamento histórico sobre o Fernandópolis Futebol
Clube, efetuada pelo empresário Gilmar Fúria Gavioli, uma enquete foi realizada com alguns
cronistas esportivos da cidade, que viveram intensamente o clube. Eles formaram a seleção de todos
os tempos do Fefecê:
Os jornalistas esportivos que participaram da enquete foram: Darci Araújo; Vic Renesto,
Ivan Gomes, Toninho Alves, Fred Jorge, Paulo Alves, Alaerte Vidali, Natanael Coelho e Antonio Olívio
Vono.
122
Rosa Maria Souza da Costa (conhecida como profª. Rosinha) e a Ms. Perpétua Maria Marques Matos
Malacrida (conhecida como profª. Péta Matos), são professoras e historiadoras.
285
novenas, nas missões123, no catecismo, nos funerais e em outras expressões de religiosidade. Era o
padre acolhido com apreço e carinho, tal a reverência que se lhe dispensava nos bairros e fazendas
que percorria numa ação de visita. Batizava, pregava, celebrava, presidia matrimônios, atendia
confissões e abençoava.
O advento da República (1889) provocou mudanças profundas na atuação da Igreja
Católica no Brasil. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1891, determinou a
separação entre a Igreja e o Estado, o fim efetivo do sistema do padroado e garantiu plena liberdade
religiosa a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país.
Assim, a Igreja perdeu a exclusividade de ser a religião oficial do Estado, mas ganhou em
liberdade de ação eclesiástica, reestruturando-se e redirecionando suas práticas para uma nova
identidade institucional, a fim de impedir que outras religiões, como o protestantismo, se alastrassem
protegidas agora pela legislação vigente. Para realizar a reforma, a Cúria Romana trabalhou em três
setores: criação de novas dioceses, reforma das antigas ordens religiosas e o envio de novas
congregações masculinas e femininas para o Brasil.
É nesse contexto que, em 1929, foi criada a Diocese de Rio Preto, e nomeado seu primeiro
bispo, Dom Lafayette Libânio (1886- 979). Uma de suas ações foi convidar os padres assuncionistas
holandeses, que chegaram ao Brasil para colaborar com o episcopado na atividade pastoral e
“fortalecer o processo de romanização da Igreja no Brasil, pois esses religiosos já estavam
aglutinados pelo espírito romanizador” (AMARAL, 2005).
A alguns padres assuncionistas, em 1947, D. Lafayette ofereceu a distante paróquia de
Fernandópolis, criada em 1943 e ainda não instituída, com o objetivo de cumprir as determinações de
Roma. Pela Bula da criação, a Diocese de Rio Preto constava de 15 paróquias, dentre elas a de
Tanabi, em cujo município, entre 1938/1939, foram fundadas as vilas Brasilândia e Pereira, que
deram origem à cidade de Fernandópolis.
Joaquim A. Pereira, fundador da Vila Pereira, ordenou a derrubada da mata central e, em
lugar previamente escolhido, onde é hoje a Praça da Matriz, foi erigido o Cruzeiro e rezada a primeira
missa, no dia 22 de maio de 1939. Hoje, o dia 22 de Maio, dia de adoração à Santa Rita de Cássia, é
também a data comemorativa do aniversário da cidade.
123
Missão é um tempo especial de evangelização numa comunidade ou numa paróquia e envolve pregação,
celebração e fraternidade.
286
Perto do local do Cruzeiro, foi erguida uma pequena e simples casa, local de encontros dos
moradores para a realização de devoções como novenas e terços rezados sempre por leigos como
D. Maria Cândida, Américo Messias dos Santos, Carrinho Medeiro e outros. Ali também,
ocasionalmente, eram celebradas missas pelo padre Vítor, vindo da Vila Monteiro (hoje Álvares
Florence), para dar assistência religiosa ao povoado que nascia, já que aqui não havia padre
residente.
Em 1941, foi construída a capelinha em honra à padroeira da Vila, Santa Rita de Cássia, da
qual o fundador Joaquim A. Pereira era devoto. A cruz e o sino foram doados por ele e trazidos de
Monte Verde Paulista, hoje Cajobi (SP). Na ocasião da inauguração da capela, houve a primeira visita
pastoral à região feita por D. Lafayette Libânio.
D. Ana Zanqueta, paroquiana, lembra que “a primeira capelinha era amarela, simples e bem
acabada, a porta era de madeira”. Destaca que “os primeiros catequistas foram seu Benedito
(mariano) e Maria Ferreira (filha de Maria)124”.
Segundo Silva Júnior125,
Revendo a história de nossa capela, Santa Rita de Cássia, concordamos com Silva Júnior
porque ela realmente constituiu o eixo simbólico da povoação de Vila Pereira.
Em 23 de dezembro de 1943, foi criada, oficialmente, a Paróquia de Santa Rita de Cássia
de Fernandópolis, separada da de São João Batista, de Monteiro. A partir daí, alguns sacerdotes
daquela paróquia responderam pela Capela, vindos de quando em quando, como foi o caso de Frei
Gonçalves. Foi ele que, “em 1943, criou a 1ª Congregação Mariana de Vila Pereira” (HISTÓRICO,
2010).
Apesar de criada em 1943, a Paróquia só foi instituída em 1947, quando aqui chegaram
para dirigi-la os padres assuncionistas holandeses. Estes estiveram na cidade por 35 anos, de 1947 a
1983, em um trabalho de catequese, de pastoral, educação e construção da igreja matriz. A partir de
1984 até hoje, a paróquia passou a ser dirigida pelos padres diocesanos.
Em 1947, padre Canísio Van Herkhuizen e seu cooperador padre Walter Pasmans entram
para a história de Fernandópolis. Pe. Canísio, nomeado pelo bispo, veio para assumir o cargo de
124
.Depoimento de Ana Zanqueta, 82 anos, para Maria José Brandini Dutra Bandos, no dia 30/03/2011. Ela
pertenceu a Legião de Maria, ao Sagrado Coração e faz parte dos grupos de oração.
125
SILVA JUNIOR, Agenor Soares. Nas sombras da cruz: a Igreja Católica e o desenvolvimento urbano no
Ceará (1870-1920). Revista Historiar, jan./jun. 2009. Disponível em:
<www.uvanet.br/revistahistoriar/janjun2009/07>. Acesso em: 03 maio 2010.
287
primeiro vigário ou “fabriqueiro da parochia de Santa Rita”, como consta no documento oficial, e aqui
permaneceu até 1954. Depois chegaram os padres: José Jansen (holandês), Armando e Mateus
(irmãos de padre Canísio). Todos eles, além de celebrarem missa na capela, “celebravam missas na
Brasilândia e nas capelas da zona rural. As missas eram celebradas todos os dias às 6 horas da
manhã em latim e respondidas pelos coroinhas, enquanto os fiéis rezavam o terço” (BANDOS, 2010).
Quando Padre Canísio chegou à cidade,
Até a década de 50 ou 60, os padres eram figuras indispensáveis nas cerimônias públicas,
como festividades municipais, estaduais e nacionais, nas inaugurações de obras da prefeitura (como
o jardim da praça), na construção da Santa Casa de Misericórdia etc., relacionando-se com as
autoridades políticas. Uma inauguração não estaria completa sem a bênção do recinto por parte do
bispo ou do padre. As autoridades políticas também se faziam presentes (e ainda hoje o fazem) nas
festividades religiosas, na recepção a um padre que chegava à cidade etc. Os fiéis tinham por
costume, quando inauguravam um estabelecimento comercial, industrial ou construíam sua casa,
chamar autoridades religiosas e políticas, os radialistas, a família, os amigos e a população em geral
para a cerimônia. Era o padre que fazia a bênção do local.
Também era e é constante a presença dos padres com os fiéis na organização das
tradicionais festividades religiosas. Algumas festas são marcantes em nossa igreja: de São Sebastião
em janeiro, de São Cristóvão e do Motorista no dia 25 de julho, de Santa Rita de Cássia no dia 22 de
maio e de Nossa Senhora Aparecida no dia 12 de outubro, do nascimento de Jesus – Natal.
Os assuncionistas fizeram um trabalho que irradiava de Fernandópolis e exigia um esforço
de equipe. Em sua visita pastoral em 1952, Dom Lafayette escreveu: “Ao Revmo. Padre Canísio e
seus auxiliares devemos a vida espiritual nessa vasta paróquia” (PESSOTTA, 1996, p. 132).
Assegurada a vida espiritual na paróquia pelos assuncionistas, era necessário mantê-la
“viva” com os padres diocesanos que vieram para substituí-los em 1983. Esses padres dirigem a
paróquia até hoje e também tiveram e têm um papel relevante em nossa comunidade.
Em 1982, foi nomeado para a Diocese de Jales (criada em 1960), à qual pertence nossa
paróquia o bispo Dom Demétrio Valentini, e “com ele a Diocese entrou num processo pastoral
participativo em sintonia com as Diretrizes Pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB)“.
Nesse contexto, os primeiros padres diocesanos chegaram à nossa paróquia em 1984, com
uma nova mentalidade religiosa alicerçada na Teologia da Libertação. Segundo a profª. Maria Isabel
Bizelli Vidal126, responsável pelo livro de batismo da igreja, “a teologia da libertação começou na
igreja com o Pe. Sardinha (Antonio de Jesus Sardinha), primeiro vigário diocesano de nossa
paróquia, chegando aqui em 1984 e permanecendo até 1991. Atua até hoje em nossa diocese127.
Chegaram depois outros padres também dessa corrente: o coordenador da paróquia, Pe. Geraldo
José da Silva (1986 a 1998), Pe. Geraldo Trindade (1991 a 1998) e Pe. Mario Roberto R. Faria. (1991
a 2004)”.
A criação das Comunidades Eclesiais de Base (CEB)128 talvez tenha sido uma das formas
mais eficazes da atuação dos padres ligados à teologia, na comunidade fernandopolense que, com o
apoio das irmãs, principalmente irmã Lurdes e irmã Terezinha, visitavam os bairros, incentivavam os
moradores católicos a criarem as suas comunidades que, depois de constituídas, continuavam a
caminhar com os próprios moradores. Hoje nossa paróquia é constituída por 23 Comunidades
Eclesiais de Base129 em vários bairros, agrupadas em três núcleos.
Após o Concílio Vaticano II (1962-1965), que provocou inúmeras mudanças na igreja e nas
ações dos religiosos (a missa passou a ser rezada em português, os padres passaram a rezá-la de
frente para os fiéis etc.) e dos fiéis, tornou-se muito valorizada a ação desses leigos na Igreja. Hoje,
homens, mulheres, jovens e até crianças têm um papel importante de evangelização e de
contribuição para que a Igreja alcance a sua missão. O que para nós demonstrou bem essa
correlação foi o depoimento da ministra leiga, Eulália Sartori: “Antes você assistia à missa e hoje você
130
participa ”.
Nessa perspectiva, foram criadas diversas Pastorais como: a Matrimonial, a Litúrgica, da
Promoção Humana, dos Quarteirões, do Centro da Promoção da Mulher (CPM), da Vocacional
126
Maria Isabel Bizelli, em sua casa, numa conversa informal com a profª. Péta Matos, em março de 2011.
127
Pesquisa feita no site da Diocese de Jales. Disponível em:
<www.diocesedejales.org.br/portal/presbiteros.php>. Acesso em: 14 abr. 2011.
128
As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) são comunidades ligadas principalmente à Igreja Católica que,
incentivadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), se espalharam principalmente nos anos 1970 e 80 no Brasil e
na América Latina.
129
Sobre as Comunidades Eclesiais de Base em Fernandópolis, acessar:
<www.microservicenet.com.br/Srita/Comunidades>.
130
Depoimento de Eulália Malaquias Leonel Sartori, 67 anos, casada, à profª. Peta Matos, na Sacristia da igreja,
em 31 de março de 2011.
289
Onipotente e Eterno Deus, que concedestes inúmeras graças à Vossa serva Santa
Rita de Cássia, concedei também a mim perseverança na oração e na caridade.
Que eu enfrente as tribulações desta vida com renovado espírito de oração e prática
sacramental. Por Cristo Senhor. Amém. Santa Rita de Cássia, rogai por nós.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Inez Maria Bitencourt do. Entre rupturas e permanências: a igreja católica na região de
Dourados (1943–1971). 2005. Dissertação. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Câmpus de
Dourados, 2005. Disponível em: <www.ufgd.edu.br/.../dissertacao-de-inez-maria-bitencourt-do-
amaral>. Acesso em: 20 abr. 2010.
BANDOS, Maria José Brandini Dutra. Anotações. Acesso em: abr. 2010.
PESSOTTA, Amadeu Jesus et al. Fernandópolis - nossa história, nossa gente. Fernandópolis : Bom
Jesus, 1996.
131
Para maiores informações sobre o interessante trabalho da COFASP, acessar o site: <www.cofasp.org.br/>.
IGREJAS EVANGÉLICAS EM FERNANDÓPOLIS
1 INTRODUÇÃO
Em 1943, quando um ato político uniu as duas vilas (Vila Pereira e Brasilândia) que deram
origem a Fernandópolis, os evangélicos já estavam presentes e atuantes no município. De maneira
tímida e sem grandes representações, realizavam cultos, reuniões de oração e mesmo batismos. Na
época não havia energia elétrica, nem ruas asfaltadas, e a maioria da população morava na zona
rural, embora isto não fosse empecilho para frequentar os locais de cultos.
Após a união das vilas, as igrejas se foram fortalecendo na medida da perseverança e fé. A
igreja católica exercia domínio cultural e religioso, e se tornar um crente era uma decisão difícil, pois
quase sempre sua fé era discriminada não pela igreja Católica, mas pelos habitantes como um todo –
herança provável de cismas ocorridos no passado (Reforma Protestante de Martinho Lutero) e das
cristalizações da tradição católica apostólica romana. Os chamados protestantes enfrentaram muitas
adversidades devido à doutrina confrontante com católicos e com os costumes. A crença dos
evangélicos em ter a bíblia como regra de fé única, a abolição de imagens de adoração, dentre
outras, renderam muitos debates e animosidades entre as pessoas que criam, principalmente, na
tradição romana.
Os poucos locais de cultos se resumiam a casas dos que professavam a fé que, unidos,
foram juntando forças para adquirir terrenos e construir templos. As construções aconteciam,
principalmente, em mutirão nos finais de semana, assim como acontece nos dias atuais.
Precisar datas para a primeira igreja evangélica é difícil, porém, sabe-se que, em 1939, já
existiam famílias evangélicas na Vila Pereira. A presença de missionários e pastores representando
as várias denominações, vindos de cidades maiores, davam assistência (espiritual e material) às
famílias residentes na cidade.
As igrejas alugaram salões com o intuito de estabelecer locais mais adequados e, aos
poucos, se foram fortalecendo.
Nas décadas vindouras, as denominações de várias tendências se fixaram na cidade. Em
1993 (portanto, nos primórdios da cidade), foi criada a Associação de Ministros Evangélicos com o
intuito de congregar várias igrejas. Outras instituições se fortaleceram, tais como a Associação dos
Homens de Negócio do Evangelho Pleno (Adhonep), que promove eventos para a divulgação do
evangelho, e os Gideões Internacionais, que distribuem bíblias e funcionam como um braço
estendido das igrejas.
Hoje, em novembro de 2011, existem cerca de 50 templos e outros locais de cultos
132
distribuídos entre aproximadamente 30 denominações diferentes .
132
Em junho de 2011, uma das propostas sugeridas ao Conselho Editorial desta obra foi a inserção, em suas
páginas, da origem e atual funcionamento das Igrejas Evangélicas em Fernandópolis, ao que prontamente o
Conselho acatou por reconhecer a importância que tais igrejas tiveram – e muito – para o crescimento da
Fernandópolis. Embora todas primem pelo seu trabalho apostólico ou doutrinário, algumas das igrejas
evangélicas também se destacam pelo trabalho social, educacional e de assistência social. Porquanto se deva
respeitar a “diversidade religiosa”, reconhece-se, acima de tudo, a importância que tiveram na conjugação de
esforços pela busca por construir uma comunidade mais sadia e fraterna. Assim, apresentam-se, neste trabalho,
relatos ou históricos dessas igrejas, elaborados por ou sob a responsabilidade das próprias igrejas ou de seus
pastores. À Equipe Executiva coube a reorganização deste trabalho e a adequação textual para publicação, além
de alterações no texto original adequadas a torná-lo mais claro (didático) e acessível.
291
Deus nesta cidade. As primeiras famílias eram formadas por Angelim Nossa, Bernardino Nossa,
Cezar Covre, Guido Lavezzo, Luiz Maiolo, Orlando Mantelli, Orlando Bariani etc.
Com o crescimento da igreja, houve a necessidade de ampliar a tenda, alongar as estacas.
Em 1982, iniciou-se uma nova construção no mesmo local, sob a liderança do Pr. Dirceu Nunes de
Faria e do irmão Ovídio Pedro Martins. Em 18.06.1983, foi inaugurado o novo templo. Após alguns
anos, em 16.06.2001, na administração do Pr. Osi Freschi Ferreira, o templo foi reinaugurado com
alterações internas e ampliação nas demais dependências.
Hoje, temos filhos, netos e bisnetos dos patriarcas da Igreja de Fernandópolis exercendo
liderança na igreja local e nas diversas igrejas do País. Os pastores que por aqui passaram foram
Davino Mendes, José Pereira Mendes, Davino Mendes (2ª Gestão), Vicente Muniz Falcão, Manoel
Correia, Jonatã Muniz Falcão, José da Costa Menezes, Junílio da Silveira, José Francisco Barros,
Marcelino Deúngaro, Dirceu Nunes de Faria, Marcelino Deúngaro (2ª Gestão) e Osi Freschi Ferreira,
que, por quase onze anos, tem exercido o pastorado da Igreja na Rua Rio Grande do Sul.
Por dois anos (2006 e 2007), contamos com a ajuda do Pr. Janir da Silva Gói, que, hoje,
lidera a 1ª Igreja em São J. Rio Preto.
A igreja mãe de Fernandópolis gerou outras igrejas na região. No final do ano de 2000, houve
a inauguração da 2ª Igreja Adventista da Promessa em Fernandópolis, situada na Vila Veneto. Em
agosto de 2007, foi inaugurada mais uma Igreja na cidade de Meridiano, que abriga cerca de 100
adeptos.
Os fiéis da Igreja Adventista da Promessa se sentem orgulhosos pelo reconhecimento da
comunidade local devido ao trabalho espiritual por ela realizado
Fernandópolis, 16 de junho de 2012.
para a construção. O Pr. Ilson Donizete de Oliveira, mestre de obras, dava as diretrizes a serem
seguidas. Durante a construção, os membros da igreja sede passaram a realizar seus cultos na
congregação de Brasilândia.
Em 06 de maio de 1995, a igreja passou a ser presidida pelo Pr. Pedro Raimundo da
Rocha, de Piracicaba (SP) em cuja administração a igreja voltou a congregar no templo central, sem
piso, forro e ainda com bancos antigos. Em 21 de fevereiro de 1997, o Pr. Valdeni Carneiro de
Oliveira foi empossado como interventor da igreja, em que ficou apenas 19 dias como pastor. Esse
fato ocorreu por determinação do Ministério do Belém em São Paulo, que interveio na saída do Pr.
Pedro Rocha. Com a chegada do Pr. José Soares de Melo Filho, mais conhecido como Pr. Zezito, em
12 de março de 1997, várias congregações foram reformadas.
Em 31 de julho de 1998, assume a presidência da igreja o Pr. Leonardo Benedito Garcia,
que prosseguiu vários trabalhos iniciados. Destacam-se, nesse período, os acabamentos do templo
da igreja sede: a colocação de piso, forro e a compra de novos bancos, além da aquisição da
congregação do Bairro Palma Mininel. A sua administração foi até o dia 16 de abril de 2004, quando
chega a Fernandópolis o Pr. João Barbosa da Silva.
O Pr. Barbosa, eloquente pregador, priorizou a renovação de frentes de trabalho. No ano de
2005, foi realizado o 1º Encontro de Adoração e Santificação no Recinto de Exposições da cidade.
Tal evento marcou a cidade e a região com a presença de muitas caravanas do estado e a presença
estimada de 10 mil pessoas e contou com a presença de principais pregadores e cantores do Brasil
de então. Nesse período foi adquirida uma área de cerca de 1700 m2 na Rua Minas Gerais, com o
projeto de construção de uma nova sede.
A igreja passou a ser presidida pelo Pr. Elias Evangelista de Farias a partir de 31 de Abril de
2008, de Mirassol (SP). Em sua gestão, adquiriram-se novos terrenos, ampliando, reformando e
construindo templos dos quais cinco foram inaugurados em três anos e meio de administração.
Também foi adquirido um ônibus para a congregação.
Hoje, a igreja conta com 11 templos próprios na cidade, 4 em cidades da região, além de
outros 12 locais de cultos. Passados 68 anos de sua fundação, a igreja agradece a Deus pela história
de lutas e vitórias.
José Jairo Gândara, que se estabeleceu como seu presidente. Após seu falecimento, em 02 de maio
de 1968, a presidência da Igreja passou a um jovem pastor, o Sr. Edson Marques de Farias.
No ano de 1973, em 07 de setembro, o Pr. Edson declarou com ousadia: “O Senhor nosso
Deus, que nos tem orientado na realização de sua obra nos fará sair do anonimato para fazer uma
grande obra evangelística pentecostal no Brasil inteiro”. Hoje, essa palavra se cumpre fielmente, pois
a Igreja Formosa tem sua extensão em vários estados do Brasil e Paraguai. E, através do “Grupo
Musical Formosa”, a Igreja é conhecida em todo o Brasil e em vários outros países.
Com a fusão dos ministérios, em 01 de janeiro de 1974, o nome da Igreja foi modificado
para “Igreja Pentecostal Maravilhas de Jesus”.
Com o falecimento do Pr. Edson em 1974, a presidência da Igreja passa a ser exercida pelo
Pr. Ostílio Xavier de Souza, que a dirige até os dias atuais.
No dia primeiro de maio de 1983, o nome do ministério foi novamente alterado a pedido do
Pr. Leonel da Silva, e passou a chamar-se “Igreja Evangélica Pentecostal Formosa”.
Em Fernandópolis, a Igreja Formosa foi fundada no ano de 1972, pelo Pr. José Dias
Cardoso. Hoje como dirigente local está o Pr. José Ferreira Duarte, desde 1983. A Igreja está
localizada na Av. São José do Rio Preto, n° 527, bairro Coester.
O trabalho presbiteriano foi iniciado em Fernandópolis em 1946 por Cândido Odor dos
Santos, contando com Manoel Pontes, Zacarias José Fernandes, Gabriel Batista Diniz e seus
familiares, além das famílias Navarro e Pierre.
A partir de 1947, o Pr. Joaquim Rodrigues Mourão tornou-se o primeiro pastor da nova
igreja. Em 1948, ela foi enriquecida com a chegada do irmão Gastão Vieira e família.
Não podem ser esquecidos outros próceres como Américo Luiz Vieira, Joaquim Rodrigues
Mourão, Orlando de Oliveira Rosa, Elias Gabriel, José Calixto da Silva e Nelson do Nascimento, que,
em 25 de agosto de 1968, promoveu a Organização Eclesiástica da Igreja que, por longos 40 ou 50
anos, permaneceu na Av. Manoel Marques Rosa, 1013.
Esse resumo foi preparado pelo Pr. Daniel Custódio da Silva, que pastoreou a igreja de
1981 a 1984; depois, em uma segunda etapa, pastoreia a mesma igreja desde 1992 até o presente.
As palavras chaves que norteiam a igreja podem ser: pioneirismo, amor, sonho, fidelidade,
fé e trabalho.
A igreja não veio para espoliar a cidade, o povo, mas veio com a finalidade específica de
declarar a Fé em Jesus Cristo, pagando, ela mesma, por esse esforço. Sua Declaração de Fé
encontra-se resumida na Confissão de Fé de Westminster, aceita e acatada pelas Igrejas
Reformadas (calvinistas) no mundo todo.
Registra-se que a Igreja Presbiteriana do Brasil completou seu sesquicentenário no Brasil
em 12 de agosto de 2009; em 09 de julho último (2012) foi comemorado, em todo o mundo, o
nascimento de João Calvino, francês de naturalidade, que adotou Genebra como sua cidade do
coração. A igreja em Fernandópolis, em 2009, completou 41 anos de organização eclesiástica.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela síntese do histórico das igrejas evangélicas, é possível destacar seu trabalho de
evangelização e de solidariedade. Muitas delas desenvolvem um trabalho de cunho acentuadamente
social, além de seu trabalho doutrinário.
Outras vertentes religiosas surgem de ano para ano. De um modo geral, embora se iniciem
de forma incipiente, elas buscam, gradualmente, espaço para a elaboração e divulgação de “sua
verdade”. Os templos se disseminam, os adeptos também. O certo é que parece haver, nos corações
humanos, espaços para todos professarem e comungarem sua fé.
Colaboração
Associação das Igrejas Evangélicas de Fernandópolis
O ESPORTE AMADOR EM FERNANDÓPOLIS
Dedicatória
1 INTRODUÇÃO - JUSTIFICATIVA
Proposto o trabalho pela Câmara Municipal, uma monografia sobre Fernandópolis, resolvi
participar por várias razões:
a) A oportunidade é ótima para conhecer mais sobre a minha cidade. Conhecendo melhor
os homens, os acontecimentos, as vitórias e fracassos de nosso povo, a gente se sente mais
ajustado, mais fernandopolense e mais feliz.
b) Houve, também, a oportunidade para a aplicação do método da pesquisa, principalmente
a entrevista. Para realizar o trabalho, foram realizadas 22 entrevistas.
c) Contribuir, conseguindo informações valiosas, aproveitando fontes ainda existentes, para
a história do esporte em nossa cidade.
d) Escolhi o esporte, por ser um campo aberto, de que ainda não há nada registrado e
complementar a história desta urbe.
Este trabalho pretende ser um ponto de partida, uma motivação para que o assunto seja
mais plenamente estudado, deixando, portanto, de esgotá-lo. É o resultado da colaboração valiosa
dos antigos e atuais esportistas de nossa terra, aos quais agradeço.
133
“O Esportista”
133
O Esportista é o pseudônimo de um atleta da época, cujo nome permanece no anonimato, em que pesem os
esforços empreendidos para sua identificação. A própria Câmara Municipal, à época patrocinadora do concurso
de monografias e trabalhos sobre o esporte amador em Fernandópolis, não detém o registro do nome de seu
autor. Este trabalho, escrito provavelmente em meados de 1978, chegou às mãos da Equipe Executiva
responsável pela preparação deste livro recentemente (nos dias finais de fevereiro de 2012): o trabalho está
encadernado, com fotos originais, embora desgastadas pelo tempo. Para a publicação, a Equipe Executiva
efetuou, portanto, algumas adaptações a fim de ajustá-lo a uma redação final e apresenta chamadas para melhor
orientar o leitor ora no tempo em que os fatos ocorreram, ora para situá-lo dentro da história atual. A Equipe
Executiva teve o cuidado de preservar, tanto quanto possível, a redação original, bem como se esmerou em
manter a aura esportiva que envolveu aquele momento da história do esporte amador em Fernandópolis. O
texto, continuamente, convida o leitor a remontar ao ano de 1978 (quando foi elaborado o trabalho e se passou a
maioria dos fatos então recentes) ou anos anteriores e evocar lembranças.
Ao Esportista desconhecido rendemos a nossa mais elevada gratidão pelo registro de um pouco da história de
Fernandópolis e de sua gente.
299
Esse esporte começou a ter destaque apenas em 1952, quando só havia um time na
cidade. Por esse tempo, as moças que jogavam eram muito incentivadas por uma senhora, já
casada, vinda de São Carlos: Elsa Buso.
Quando da participação do time de Fernandópolis nos Jogos Abertos em Sorocaba, em
1956, foram as próprias atletas que arrecadaram o dinheiro para as despesas da viagem.
Jogavam nessa época as seguintes atletas: Elza Gomes, Eva Gomes, Elza Buso, Erotides
Ferraz, Ivani Ferraz, Miriam Terra Verdi, Sidinei Del Grossi, Mirtes Terra Verd e Iara, a moça que
tinha vindo do Corínthians Paulista.
A primeira participação de Fernandópolis em algo importante foi nos Jogos do Interior
(Sorocaba). Segundo o técnico da equipe à época, Sr. Sérgio Cavariani, o time de Fernandópolis
estava com o melhor uniforme dentre os municípios do estado de São Paulo, um uniforme caro e
usado apenas por seleções famosas.
Por infortúnio, o time fernandopolense, logo no início, enfrentou a seleção de Sorocaba, que
tinha cinco atletas da seleção brasileira da época. A derrota foi inevitável, mas, segundo o técnico da
equipe, Fernandópolis não se deixou abalar pelo resultado, lutando o tempo todo.
134
Por se tratar de um texto escrito em meados de 1978, foram propostas algumas atualizações (elaboradas
pela Equipe Executiva) colocadas entre colchetes, que possibilitam melhor compreensão temporal ou
informacional.
300
Figura 1 Desfile das equipes, 1957. A partir da esquerda: 1 - Desfile da delegação de Fernandópolis em
Votuporanga, 1956; 2 Desfile da delegação de basquete feminino em Fernandópolis em 1956
em Fernandópolis; 3 - Desfile do time de basquetebol feminino nos Jogos de Sorocaba, 1956; 4
- Desfile do time de basquetebol masculino nos Jogos abertos de Sorocaba; 5 Centro: Time de
basquetebol feminino na antiga quadra local da atual Caixa econômica estadual (hoje, Banco
do Brasil).
Fonte: O Esportista, 1978.
Em 1959, havia também um time em nossa cidade composto por jogadoras de diversas
escolas, principalmente do Instituto Estadual de Educação de Fernandópolis [IEEF, atual EELAS]. O
técnico dessas atletas também era o prof. Sérgio Cavariani, e o time era composto, entre outras,
pelas seguintes atletas: Maria José Estropa, Elza Gomes, Erotides Ferraz, Edna Maria Ferraz
(falecida recentemente), Dirce Biancardo, Marinez (falecida), Dirlei Malavazzi e Antonieta [ex-zeladora
da EELAS, também falecida].
Neste mesmo ano (1959), a equipe fernandopolense conquistou o terceiro lugar nos jogos
Intercolegiais.
Participaram também dos Jogos Abertos do Interior realizados em Santo André.
Em homenagem a ex-jogadora e uma das mulheres que mais incentivou o basquete
feminino e até masculino da EELAS, portanto incentivando também o basquete em nossa cidade, a
senhora Antonieta (zeladora da EELAS), que treinou e ainda colabora com a equipe desta escola,
colocamos aqui a sua fotografia (figura 2)
301
Daí por diante, o basquete passou a ter mais e mais pessoas interessadas, progredindo aos
poucos.
Já em 1966, nossa cidade participava de muitas partidas amistosas com cidades vizinhas.
Por esse tempo, jogamos dezoito partidas amistosas das quais perdemos apenas três. Fernandópolis
chegou mesmo a jogar nesta época com a seleção feminina do Uruguai.
A atual escola EELAS chegou, em 1969, a conquistar para nossa cidade o Campeonato do
Interior do estado, juntamente com o estadual. Foi, realmente, um grandioso feito do nosso basquete,
que passou a ser conhecido até no cenário estadual. O técnico da época era o senhor Anésio Soares
Pereira, atualmente, técnico no Automóvel Clube de São José do Rio Preto.
Mas também um senhor, que havia sido jogador até da seleção brasileira quando esta
conquistou o vice-campeonato do mundo na Alemanha, o Dr. Querton Ribamar (figura 3), foi muito
dedicado ao basquete em nossa cidade, tanto no masculino (equipe de que participou como jogador),
quanto no feminino, dando orientação às atletas e mesmo treinando-as sem receber nenhum salário
por isso.
As atletas que jogaram nesse ano [1969] foram as seguintes: Cibeli do Carmo Bertuci,
Mariângela Ferreira Júlio, Maria aparecida Salioni, “Melô”, Sônia Arantes, Uzenir Maria da Silva e
Célia Salione
valor, pois cada vez mais se revela como o melhor time atual (juvenil) da nossa cidade. Em 1976,
chegou mesmo a vencer o campeonato interdelegacias, o campeonato regional, realizado em São
José do Rio Preto e conquistou o nono lugar no campeonato estadual, realizado na capital.
Os nomes das atletas desse ano eram: Lílian Mara Gomes, Lia Clemêncio do Nascimento,
Elizabeth Sugahara, Mari Ângela Garcia, Maria Iza Zanovelo, Sandra Cavazini, Maria Cristina Gomes
França, Dolores Ap. Peres, Rosa Maria Vantol Cavalin, Maria Alice, Mara e Lígia Peres. A figura 8
mostra a equipe vencedora de 1976.
BASQUETE MASCULINO
Hoje em dia o esporte é mais acessível, mas, naqueles tempos, tudo parecia mais difícil,
embora, graças a pessoas de boa vontade, conseguimos há algum tempo chegar aonde estamos.
Antigamente, não havia muita diversão; esta foi uma das razões que levaram um grupo de
pessoas a formar um time de basquetebol.
Naquela época, chegava a Fernandópolis o Dr. Humberto Cáfaro, recém-formado em
engenharia, que já jogava na faculdade; o professor Armando Glaucos dos Santos, o Dr. Sérgio
Cavariani, Sr. Otávio Gomes, seu irmão João Gomes, Ladislau (Banco Bandeirantes), Hélio
Maldonado, Osmundo Dias de Oliveira, (proprietário da Agência Caiçara), Dalvo Guedes e Alfredo
Escarlate, que resolveram construir a primeira quadra de basquetebol municipal, com o terreno
comprado pelo Dr. Humberto Cáfaro do Sr. Raimundo Noronha, por 30 contos de réis, sob a condição
de que ali fosse construída a quadra, devido ao ponto privilegiado do terreno.
A quadra foi construída por eles próprios com muito sacrifício: toda tarde se reuniam para o
trabalho: construir uma quadra de terra, com as primeiras tabelas feitas de madeira. Foi assim que se
iniciou o do basquetebol; para essa mesma quadra, o Dr. Humberto Cáfaro conseguiu trazer o time
do Palmeiras.
306
Como primeiro técnico destacava-se o Dr. Sérgio Cavariani. Mais tarde foram chegando os
primeiros professores de Educação física: Baldan e Airton Gomes, que também jogaram muito tempo.
Em seguida, partiram para a disputa dos jogos estaduais, com muita dificuldade, pois tudo que era
necessário para o time eles próprios que adquiriam às suas expensas.
A primeira quadra de cimento foi edificada no Ginásio Estadual pelo prefeito Adhemar
Monteiro Pacheco. Fora construída para sediar os primeiros jogos Intercolegiais aqui realizados,
durante 12 dias, com a participação de 18 cidades.
Os jogos eram regionais e as equipes com as quais Fernandópolis competia eram apenas
das cidades vizinhas, pois nosso setor era sub-regional.
A idéia de construir um clube recreativo foi cada vez mais debatida, até que se decidiu
135
construir a ADF, hoje Tênis Clube de Fernandópolis , formado apenas pela piscina e uma quadra de
basquetebol; mais tarde sofreu as transformações que se apresentam hoje: a quadra de tênis foi
ampliada, construíram-se outras piscinas, bocha, campo de futebol e outras modalidades que
surgiram posteriormente. Para a inauguração da piscina, no dia 22 de maio de 1962, veio o recordista
mundial de nado livre, Manoel dos Santos.
Posteriormente, chegou a Fernandópolis o Dr. Querton Ribamar, craque da seleção
brasileira de basquete, vice-campeão na Alemanha.
Chegou a nossa cidade no ano de 1960 e encontrou uma nova equipe de estudantes que,
incentivados pelos anteriores; começaram a ser treinados continuamente pelo Dr. Querton no Instituto
de Educação [atual 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Como Dr. Querton finha
grande conhecimento no assunto, treinava-os a fim de aprimorarem a técnica e o condicionamento
físico.
A equipe era formada por Mário Mantovani, Wilson Saravali, Eugênio Jurandir Rossato (hoje
professor de Educação Física), José Carlos Trovati (Chuca, do Banco do Estado de São Paulo),
Valtinho (gerente da Caixa Federal), Rubens Ferreira, José Alberto Brandini (também professor de
Educação física).
Foram esses que fizeram a primeira viagem com o Dr. Querton a Jales. No ano seguinte,
começou o troféu Bandeirantes, e Fernandópolis, com uma equipe maior, conseguia tornar-se
campeã de 1961 a 1966 (figura 9) sucessivamente.
Dessa equipe já fazia parte o prefeito municipal Milton Edgard Leão, que, em um jogo em
Araraquara, quebrou o pé e, por uma semana, seus amigos o carregavam para assistir aos jogos,
devido a ele ser o mais novo, cerca de 15 anos.
135
O Tênis Clube de Fernandópolis, atualmente [2012], está desativado, e só restam escombros do brilho e
importância que um dia teve o clube. Ele ainda se situa na Rua Rio de Janeiro, próximo ao Fórum (observações
da Equipe Executiva).
307
Em 1971, o professor Mário Aldo Tonissi (Mará) vem para Fernandópolis e começa a treinar
um time mirim, no Coronel, onde iniciava como professor de Educação Física.
Faziam parte do time o Murilo, Dado, Beto, Valter, Fernando Carneiro, Siqueira, Paulo
Semeghini, Flávio Sano e outros.
Todo ano começava um trabalho novo: saiam uns, apareciam outros. Já no ano seguinte,
entraram para o time o Tiquinho, Maurinho, Coquinho, Chiquinho e, no outro ano, Mário César
Bortoluzzo. E, assim, continuou sucessivamente até nos dias de hoje, formando o time da cidade.
308
Desde 1971, Fernandópolis participa dos jogos colegiais, sendo vencedor municipal e, em
1973, foi vencedor intermunicipal.
Nessa faixa etária, o campeonato de que Fernandópolis participou foi o campeonato
colegial de esportes, Troféu Estímulo (promovido pelo Sr. Joel), Troféu Bandeirantes, Jogos
Regionais e Jogos Abertos.
Sucessivamente, o time se foi modificando, até chegar à equipe que jogava até o ano
passado [1977], composta por Beto, Marlon, Mário César, Siqueira, Joaquim, Tim Ferrari, Toninho e
outros mais.
Atualmente [1978], o Coronel está formando uma equipe pré-mirim, da qual podem surgir
talentos para fazerem parte do mirim; o mirim ainda está em formação, e o infantil é um time
praticamente formado e já disputou esse ano o campeonato colegial.
Fernandópolis, de uns anos para cá, tem recebido um apoio imenso no esporte amador,
principalmente no basquete, um esporte normalmente praticado aqui. O apoio dado pelo prefeito é
considerável, nomeando o professor Mará como técnico das duas equipes, masculino e feminino, a
fim de que fosse formada uma equipe à altura de Fernandópolis, para que a cidade pudesse ser bem
representada nos IX Jogos da Zona Norte, a serem realizados aqui entre 1º e 9 de julho [1978].
Para representar Fernandópolis nesses jogos, foram buscados em Catanduva dois
jogadores, o Pantera e o Edmar, e o Júlio de Brasília; foram também a Anabá e de lá foram trazidos
quatro atletas: Fernando, Marlan, Miller e Lourenço, que jogam com jogadores daqui (Tiquinho,
Marlon, Tim Ferrari, Toninho, Nagibe, Pleba, Beto e outros).
Atualmente, o esporte fernandopolense está tendo um impulso muito grande, graças a um
trabalho iniciado na prefeitura de Fernandópolis e, no basquete masculino (figura 13), Fernandópolis
está muito bem representado em condições de partir para a conquista de campeão.
FUTEBOL AMADOR
136
Equipes catadas são equipes formadas e escolhidas aleatoriamente, sem nenhum histórico razoável de
prática de futebol.
137
Não se deve esquecer que esta narrativa se passa em 1978.
310
Os clubes amadores das cidades são a ela filiados e por ela dirigidos. Os atletas dos times
são registrados na Federação Paulista de Futebol, o que garante aos clubes os seus direitos de
passe sobre os jogadores.
O primeiro presidente da Liga foi o Dr. Valdemar Oliveira Rocha, escolhido pelos dirigentes
dos clubes.
A Liga é regida por estatutos; sua diretoria é formada por um presidente e um vice-
presidente, primeiro e segundo tesoureiros e primeiro e segundo secretários; um conselho fiscal que
zela pelo correto funcionamento e também uma junta disciplinar e esportiva.
Cuida da elaboração das tabelas, horários dos campeonatos e tem um departamento de
árbitros responsáveis pelas arbitragens.
Os primeiros times que apareceram em nossa cidade foram: Brasilândia Esporte Clube,
Dourado Futebol Clube, Clube Recreativo Vasco da Gama (figura 14), SPFC, Cacique F. C., Santos
F. C., Flamengo F. C. e Palmeiras F. C.
O futebol amador disputa a Copa Arizona. Este é um campeonato organizado pelo jornal “A
Gazeta Esportiva de São Paulo”, cuja finalidade é o desenvolvimento do futebol amador em todo o
país.
Graças aos esforços da Liga Fernandopolense de Futebol, do Departamento Esportivo da
Rádio Cultura e da CME, a Copa Arizona é realizada já há cinco anos em Fernandópolis, tendo seu
campeão invicto o Vasco da Gama.
A Copa Arizona é disputada por mais de 5.000 clubes de cidades diferentes. Cada cidade
forma uma chave de 32 clubes, que vão jogando entre si, até que sejam reduzidos a 2 finalistas, os
quais, por sua vez, vão formar as chaves estaduais com campeões de outras cidades, até surgir o
campeão estadual que irá disputar a chave nacional da qual surgirá o campeão nacional.
O campeão nacional, além de ser premiado com medalhas de ouro para os atletas e um
troféu de 1,50 de altura, ganha também uma viagem ao exterior com tudo pago.
No ano passado o vencedor nacional da Copa Arizona foi o Colorado F. C., do estado do
Paraná (Curitiba), que fez uma excursão para a Argentina.
311
.
Figura 15 Ajax Futebol Clube, 1978.
Fonte: O Esportista, 1978.
312
O XADREZ EM FERNANDÓPOLIS
O xadrez, que se caracteriza por ser jogo de muito raciocínio e criatividade, praticamente
iniciou-se em Fernandópolis a por volta de 1962. Antes disso, não temos informações mais precisas,
pois, praticamente, se fosse realidade alguma partida, deveria ser por simples passatempo e sem
uma relevância especial.
O xadrez começou aqui em uma reunião de enxadristas que, segundo um dos participantes
desse tempo, não se poderia definir como um clube de xadrez, mas era um lugar (no antigo prédio da
Sabesp, agora local da Associação Antialcoólica e LBA) onde se realizavam partidas entre
entusiastas do esporte, sem qualquer aspiração mais elevada.
Podemos destacar como um grande incentivador do xadrez em Fernandópolis o Sr. José
Jorge, que, no princípio desse seleto “clube”, juntamente com os pioneiros promoveu uma campanha
para comprarem mesas, a fim de que os participantes daquela casa pudessem ter um local um pouco
mais apropriado. Depois de algum tempo, o local mudou-se para as dependências do atual salão de
festas do Tênis Clube [hoje, 2012, desativado].
Depois disso, as principais atividades relacionadas com o xadrez foram mais divulgadas e
incentivadas dentro da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Essas atividades foram ao estilo
de torneios de xadrez que contaram com cerca de quatro ou cinco edições.
Daí se elaborou, com o apoio da prefeitura municipal, da imprensa falada e escrita e da
AABB, um 1º Campeonato Municipal de Xadrez. Esse campeonato realizou-se no ano de 1974, para
o qual foram convidados todos os enxadristas que quisessem participar do campeonato. Os
vencedores do certame foram: Roberto Hideo Sano (1º lugar), José Cláudio de Campos (2º lugar),
Litério João Greco (3º lugar) e Sérgio Luís Mazon (4º lugar).
Esteve em Fernandópolis, na época, o campeão brasileiro de xadrez, Alexandre Sorim
Segal, a fim de prestigiar e divulgar o esporte.
Ainda em referência a esse campeonato, contou com 64 jogadores, divididos em 16 grupos
de 4 jogadores cada, classificando-se um de cada chave; foram, então, divididos em 4 grupos de que
saíram os quatro finalistas. Alexandre Segal, além de proferir uma palestra no auditório da AABB,
também jogou uma simultânea com 34 jogadores, dos quais venceu 32 e empatou duas. Os
felizardos dos empates foram: João Américo Garcia e José Cândido de Freitas.
315
Em janeiro de 1975, foi realizado o torneio de Verão ou de férias, que contou com a
participação de 34 enxadristas. Esse torneio foi de muito sucesso e consagrou-se campeão o jogador
João Américo da Silva e tendo Sérgio Mazon como vice-campeão.
Prosseguiram-se, assim, as atividades do xadrez em nossa cidade e podemos chamar essa
época, compreendida entre 1974-1976, de época de ouro desse esporte em Fernandópolis.
Em junho de 1975, foi realizado o torneio de classificação para os Jogos Abertos, cujo
campeão foi José Cândido de Freitas. O torneio trouxe, também, algumas revelações: Marcos
Agostinho de Freitas, Litério João Greco, Sérgio Saldanha Miranda da Silva e Sérgio Cesar da Silva.
Pouco tempo depois, foi realizado o II Campeonato de Xadrez de Fernandópolis, de 1975 a
1976. Esse campeonato foi realizado com a colaboração da AABB, prefeitura e imprensa
fernandopolense.
Por esse campeonato sagrou-se campeão e vice os enxadristas: José Cândido de Freitas
(1º lugar) e Eeroberto Hideo Sano (2º lugar).
Nesse ínterim, foram também realizados os VI Jogos Regionais da Zona Norte, em julho de
1975, quando Fernandópolis conseguiu um lugar muito significativo, ou seja, o 7º, o que honrou muito
os enxadristas fernandopolenses.
Tornaram-se comuns, também, disputas em cidades vizinhas como Votuporanga, São José
do Rio Preto, Matão e Araraquara.
A AFA também chegou a organizar, durante a sua Semana Universitária (cujo diretor, à
época, era José Alves da Silva), um torneio de xadrez.
Após a realização de todas essas atividades relacionadas com o xadrez em Fernandópolis,
infelizmente, o esporte foi decrescendo consideravelmente.
Algumas causas são apontadas para o fato: a ida para outras cidades de vários jogadores
bons de Fernandópolis; ou por ser o xadrez um jogo individual, que exige muito esforço mental do
enxadrista, e tenha sido abandonado para dar lugar a outras modalidades esportivas realizadas em
conjunto; ou por falta de maior apoio de pessoas ligadas ao esporte em Fernandópolis; ou por
carência de torneios e promoções, falta de incentivo aos novos valores que surgiam etc. Esse esporte
poderia ter dado destaque a Fernandópolis no cenário regional, estadual e mesmo nacional.
NATAÇÃO
A natação em Fernandópolis é um esporte que ficou muito esquecido, não havendo equipes
formadas e treinadas. Era ligeiramente ativada em épocas de competições. Concorria muito para isso
a falta de instrutores e divulgação do esporte.
Por volta de 1970, aqui morou um campeão sul-americano, Milton Buzzin, que treinou
equipes e organizou campeonatos infantis, procurando incentivar a juventude para aquele esporte.
Para um desses campeonatos, treinou uma equipe de “agualoucos”, que fez grande sucesso.
Atualmente, estão formando-se equipes nas escolas e os resultados já se fazem sentir com
as vitórias da equipe do Coronel (escola) em Estrela d´Oeste e São José do Rio Preto.
TÊNIS DE MESA
Começou com uma demonstração de uma equipe de São José do Rio Preto, formada por
três elementos: Guaraci, Carlinhos e Archati, dando orientação sobre regras de pingue-pongue, que
passou para tênis de mesa para alguns rapazes de Fernandópolis.
Aqui, o esporte foi iniciado por três elementos, grandes “prestigiadores” e participantes do
tênis de mesa: Antonio Angelucci, Oswaldo José de Almeida e Paulo Tomás de Souza (Pauleta).
Participaram de vários campeonatos, sendo o primeiro denominado Troféu Bandeirantes,
ocasião em que Fernandópolis foi representada pelos jogadores Toninho, Baixinho e Pauleta. O
campeonato ocorreu em Rio Preto em 1960. Também participaram dos Jogos Abertos de Santo
André, São Caetano do Sul, Araraquara, Catanduva e Jales.
Nossa equipe sagrou-se campeã da Alta Araraquarense nos anos de 1967 aqui em
Fernandópolis, em Catanduva em 1969 e em Araraquara em 1970, tornando-se, portanto, a equipe
tricampeã da modalidade na Araraquarense.
316
Vários atletas participaram do tênis de mesa, tais como: Toninho, Baixinho, Pauleta, José
Carlos Ferrari, Nestor Sano, Tochinha, Haruó, Cabelinho e Haruzi. Treinavam no Fernandópolis
Esporte Clube (FEC) e no Clube Tóquio.
De Fernandópolis se destacou o atleta Nestor Sano (hoje médico), que teve participação
nas divisões mais altas do tênis de mesa do estado de São Paulo.
TÊNIS DE CAMPO
ATLETISMO
Colônia Japonesa
O atletismo em Fernandópolis existe desde o ano de 1948, praticado nos seguintes locais:
Bairro do Rodeio, Meridiano e na sede do município que era o grande núcleo agrícola da colônia
japonesa naquela época.
Na cidade, a prática do atletismo se intensificou com a fundação da Associação Cultural e
Esportiva de Fernandópolis, em 17 de julho de 1949 (figura 21), sendo seu primeiro presidente o Sr.
Akio Yoshida, assessorado por Sadao Koguchi, Shogiro Konischi e Tsunehissa Sano.
O esporte, além de constituir um meio de recreação, é u’a maneira específica de integração
dos jovens e adultos da Colônia.
Entre os muitos incentivadores e praticantes do esporte estão: Nobuyoshi Nakai, Tkashi
Sinya, Koichi Ikeda, Guiiti Nagaya, Shogiro Konischi, Kazuo Kawahara, Tsunehissa Sano, Kasuo Aoki
e Suguru Ushida.
Fernandópolis, representada pela Associação Cultural e Esportiva, conquistou vários troféus
nas modalidades de corrida em extensão, de 5.000m e 800m rasos, conquistado por Kiniti Kudo
(figura 22).
O atletismo da colônia japonesa, atualmente (1978), encontra-se numa fase de
138
reestruturação devido à grande evasão de jovens que vão estudar em outras cidades .
138
Sobre essa evasão de jovens fernandopolenses a fim de estudarem em faculdades de outras cidades já
foram elaborados comentários na parte histórica desta obra, gestão de Antenor Ferrari.
317
Tivemos, no fim do ano que passou [1977], provas para que fossem escolhidos dois
representantes da região e até dos estados vizinhos para a corrida de São Silvestre (figura 23), que
318
BASEBOL
O basebol iniciou-se em 1953 e contou com bastante participação nos Jogos Abertos do
Oeste Paulista, que, mais tarde, se tornaram os Jogos Abertos da Alta Araraquarense.
Após os Jogos Abertos, eram selecionados os melhores jogadores de cada cidade da
região: Fernandópolis, Votuporanga, Jales, Santa Fé do Sul e Urânia; daí partiam para o campeonato
estadual, do qual sempre saíam classificados.
Os participantes fernandopolenses eram: Fernando Uetanabara, seu irmão Natal
Uetanabara, Arnaldo Sano, Mário Kogushi, Nestor Sano, Tochinha, Takashi Kuroda, seu irmão
Toninho Kuroda, Sebastião Tanamashi, Kazu Babá, Titosi Uehara, Minori Shigaki, que tinham Tamaia
como técnico.
Tinha seu campo na Vila Aparecida (figura 24), cedido pela prefeitura, o qual, mais tarde, se
mudou para outro local, onde é hoje a CESP.
139
A figura consta de uma cópia afixada no próprio trabalho d’O Esportista.
319
A verba em dinheiro de que precisavam para o uniforme e material para o jogo era
conseguida através da Associação Cultural de Esporte de Fernandópolis (ACEF), pela Prefeitura e
pela Comissão de Esporte de Fernandópolis; mesmo assim não conseguiram superar a crise, pois
esse esporte era muito caro e, em consequência, o número de seus participantes começou a reduzir-
se e, em 1963, se extinguiu o basebol em Fernandópolis, justamente o que ocorreu em outras
cidades da região pelo mesmo motivo.
CONCLUSÃO
Estudando a história do esporte amador de Fernandópolis, não há como não ficamos felizes
por conhecer tantos triunfos das nossas equipes.
Os esportes coletivos, até o presente [1978], maior destaque do que os individuais, uma vez
que encontramos poucos incentivos para estas modalidades esportivas.
No próximo mês de julho, as nossas forças esportivas serão testadas nos IX Jogos da Zona
Norte. Estamos preparados para receber as equipe dignamente e disputar com eles boas
classificações.
Para esses nossos visitantes, temos a mensagem do nosso prefeito Milton Leão: “A cidade
é de vocês, cidade das crianças felizes, da família unida e da juventude sadia”
“O Esportista”
O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DE FERNANDÓPOLIS,
TESTEMUNHOS DA MEMÓRIA
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar o conceito de patrimônio cultural e sua evolução
conceitual, bem como conhecer as leis que dão fundamento legal para as ações de sua preservação. Pretende,
ainda, destacar que a amplitude e abrangência do conceito de patrimônio, disposto na Constituição, em leis
estaduais e leis municipais, se têm constituído simplesmente em um desafio que só se efetivará por meio da
educação e envolvimento do poder público e toda a comunidade. Embasado nesses conceitos, procurou-se
analisar a situação em que se encontra o Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de Fernandópolis.
1 INTRODUÇÃO
O amplo entendimento do conceito de patrimônio cultural e sua abrangência não têm vindo
acompanhados, no Brasil, por uma reflexão sobre as maneiras ou formas de gestão e de proteção
desse patrimônio. As consequencias disso são, além da destruição, as incompreensões sobre o
papel dos órgãos oficiais de preservação e a dificuldade de as cidades e grupos de indivíduos
identificarem e protegerem seu patrimônio.
De acordo com Silva e Silva (2006), pode-se definir patrimônio histórico-cultural como o
complexo de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques nacionais de
determinado país ou região que possuem valor histórico e artístico e compõem um determinado
entorno ambiental de valor patrimonial. Esses autores consideram que aquele conceito abrange
também a produção emocional, ou seja, tudo o que permite ao homem conhecer a si mesmo e ao
mundo que o cerca.
Santos (2001) considera que a palavra patrimônio está historicamente associada ou à
noção do sagrado, ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de família.
A idéia de um patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua identidade e, como tal,
merecedor de proteção, nasce no final do século XVIII e início do século XIX, com a visão moderna
de história e de cidade. Preservar o passado sempre foi uma necessidade inconsciente ou consciente
do ser humano, mas somente nos fins dos séculos XIX e XX é que o Estado passou a estimular a
produção de leis de conservação e restauração do patrimônio histórico e cultural, transformando-se
em uma problemática mundial.
Pellegrini (1997) esclarece que o professor francês Hugues de Varine-Boham divide o
patrimônio cultural em três grupos: elementos naturais como os rios, as matas, as praias; elementos
do saber, as técnicas e artes, que o homem utiliza para sobreviver, como saber cozinhar, desenhar,
transformar, dançar, esculpir; e bens culturais, que surgem a partir dos outros dois grupos, como
objetos, artefatos e construções. E ainda: que os bens se dividem em móveis, que são setoriais e
possíveis de serem colecionados como fotografias, selos, lendas, músicas; festas populares; e
imóveis, que são edificações, como igrejas, residências, forte, prédios, ruas cidades.
Pelo que foi enfatizado, patrimônio cultural é bem de todos e deve ser preservado. Para
tanto é necessário que se estabeleçam seus limites físicos e conceituais, as regras e as leis para que
isso aconteça.
o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
[...] uma evolução conceitual que nos faz compreender patrimônio cultural incluindo
não apenas artefatos da elite, mas também os de grupos minoritários (indígenas,
negros, ciganos e outros) e os estratos populacionais não privilegiados. Realmente,
na seleção e na preservação de bens representativos, não interessa exclusivamente
a cãs-grandes, mas também à senzala; não apenas às mansões dos barões do café
ou dos primeiros industriais, mas também humildes conjuntos residenciais de
colonos e de primeiros trabalhadores da indústria, bem como interessa registrar o
artesanato pobre rural e urbano, as modas de viola, o processo evolutivo da
macumba/ umbanda (passado de caso de polícia para culto religioso reconhecido e
até procurado pela elite), a medicina tradicional popular, a chamada arte plumária e
as pinturas corporais indígenas, os movimentos reivindicatórios de operários etc.
(PELLEGRINI FILHO, 1993, p.106-107).
Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...]
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe; à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má fé, isento das custas judiciais e do ônus da
sucumbência.
Há ainda o artigo 215 (BRASIL, 1988), que dispõe que o Estado fica responsável por
promover e divulgar as manifestações culturais, com a preocupação de abranger toda a formação
étnica diversificada brasileira.
No Artigo 216 (BRASIL, 1988), encontra-se uma alusão na definição do que deve ser
considerado patrimônio:
Art. 23. É competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios: [...]
III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico e cultural.
É, pois, não só dever da União, dos estados e dos municípios a proteção de todo o
patrimônio histórico e cultural; à sociedade cabe, igualmente, zelar pelo cumprimento da legislação
para preservação e contribuir para que tal zelo e proteção de fato ocorram.
das cidades, porém, a questão do patrimônio cultural não foi compreendida, aceita, priorizada.
Ausentes na maioria das políticas públicas de planejamento territorial e dos planos de gestão
municipal, o patrimônio tem sido relegado à responsabilidade do Estado ou da União e
completamente divorciado do planejamento das cidades.
Acredita-se que isso ocorreu por fatores tais como: descontinuidade administrativa,
inexistência de políticas culturais locais, falta de incentivo na formação de técnicos na área,
suscetibilidade às pressões de grupos da comunidade, forte jogo de interesses imobiliários, aceitação
generalizada de uma noção de progresso e desenvolvimento associado à verticalização e instauração
de processos de renovação contínuo das cidades sobre elas mesmas.
Tais fatores podem esclarecer o fato de as cidades do interior paulista estarem, como diz
Levi Strauss (1985), “passando do frescor à decrepitude sem conseguirem ser antigas”.
Fernandópolis não difere das muitas outras cidades do interior paulista. Pouco tem sido feito
com relação à preservação do patrimônio histórico.
O que existe, de fato, mas com pouca eficácia com relação ao patrimônio Histórico e
Cultural e Ambiental, são: Lei nº 1082, de 1986; lei Orgânica do Município, 1990; e o Plano Diretor, de
2004.
A Lei nº 1082/86, na seção III, Art.11, relaciona alguns imóveis como patrimônio de
importância histórica, turística e arquitetônica, alvos de preservação pelo município:
Pelo que se pode observar, atualmente, na cidade, muito pouco, ou quase nada se
respeitou da lei. Os imóveis relacionados que restaram não devem, por certo, sua preservação pelo
esforço ou fiscalização da Prefeitura.
Em 2006, foi elaborada a Lei nº 3.105, de autoria do vereador Warley Campanha, que
deixou de vigorar depois de sofrer uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) proposta pelo
poder Executivo, alegando erro de origem, uma vez que fora proposta pelo Legislativo quando
deveria ter sido proposta pelo Executivo. Nessa Lei, há referência da necessidade de o Poder
Executivo Municipal criar uma Equipe Técnica e o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico,
Cultural e Ambiental com competência para organizar, tombar, conservar, defender e divulgar o
referido patrimônio.
Ainda hoje (ano de 2010), a Equipe Técnica e Conselho Municipal não foram formalizados.
Deve-se destacar que o único patrimônio tombado em Fernandópolis é o prédio da antiga escola
“Sólon da Silva Varginha”, onde hoje funciona uma ETEC (escola profissionalizante de ensino médio).
324
O referido prédio é obra do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, que construiu, entre outras obras,
a Escola Paulista de Arquitetura da USP, o Hospital São Lucas em Curitiba e o Estádio do Morumbi
em São Paulo. Toda a sua obra foi tombada na década de 1990 pelo Condephat, sendo, portanto, o
resultado de uma ação do Estado e não do Município.
Neste texto, os bens patrimoniais citados foram selecionados pelas autoras; nada impede,
todavia, que alguns não sejam considerados e que outros sejam incluídos, uma vez que:
Segundo o referido Plano diretor (figura 1), o poder público implementará políticas sociais
partindo dos princípios e objetivos a seguir discriminados:
Figura 1 Mapa do municíio de Fernandóplolis, com a localização dos patrimînios históricos e naturais,
segundo o Plano Diretor da cidade:
*1- Igreja da Brasilândia; 2- Praça Joaquim Antonio Pereira; 3 - Lago da Sabesp; 4 - Museu Histórico Municipal; 5 -
Imóvel residencial (demolida); 6 - Imóvel residencial particular; 7 - Edifício Fernandópolis; 8 - Quadra 53,
antiga rádio (descaracterizada); 9 - Estação de trem; 10 - Hospedaria (demolida); 11- Edifício Quebracho
Marruco; 12 - Capela/Casa Paroquial; 13 - Sede da Fazenda Brasitália; 14 - Mercado Municipal.
Fonte: Fernandópolis, 2004.
Figura 2 Igreja (1944) da paróquia São Luiz Figura 3 Igreja matriz da paróquia Santa Rita
Gonzaga e praça do bairro de Brasilândia. de Cássia (2009?)
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009.
4.3.2 Monumentos
As autores elencaram alguns monumentos na cidade, ainda presentes, outros já demolidos:
Foto 1 Foto 2
Foto 3 Foto 4
Foto 5
140
Humberto Perinelli Neto foi professor e coordenador do curso de História na Fundação Educacional de
Fernandópolis, 2009. Embora ainda existam os imóveis das fotos (em 2011), eles aparecem sem identificação.
332
Figura 36 Poção nº 1 Aquífero Guarani. Figura 37 Sítio paleontológico – zona rural de Fernandópolis.
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: Oliveira, 2008. (Acervo pessoal)
Figura 39 “Colônia do Peres”, travessa, s/d Figura 40 Hotel Central (Av. Amadeu Bizelli)
Fonte: CDP/FEF, 2009. Fonte: CDP/FEF, 2009
Figura 41 Residências na Rua Espírito Santo, Figura 42 Fonte luminosa – Pr. da Matriz.
esquina com Avenida dos Arnaldos. Fonte: Rose Marchi Panoramio, s/d.
Fonte: CDP/FEF, 2009
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deve-se considerar que a preservação do patrimônio cultural não é só dever dos entes
políticos, mas também da efetiva participação dos cidadãos buscando audiências, incentivando
debates, conferências e levantando questões que envolvam a proteção dos bens culturais,
Como bem enfatizado por Costa (2009),
RFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo :
Revista dos Tribunais, 2003.
COSTA, Rosa Maria Souza da. Olhar o passado e agir no presente para construir o futuro. Jornal O
Cidadão, ed. 22 maio 2009.
PELLEGRINI FILHO, Américo. Ecologia, cultura e turismo. 7. ed. Campinas : Papirus, 1993.
OLIVEIRA, Carlos Maia de Oliveira. Fotos – sítio paleontológico em Fernandópolis. 2008. (Acervo
pessoal)
PESSOTTA, Amadeu et al. (org). Fernandópolis, nossa história, nossa gente. Fernandópolis : Bom
Jesus, 1996.
RIO PRETO. Álbum ilustrado da comarca de Rio Preto. São José do Rio Preto, 1929.
SANTOS, C. R. Novas fronteiras e novos pactos para o patrimônio cultural - São Paulo em
perspectiva. São Paulo :Fundação SEADE, v. 15, n. 2, abr./jun. 2001.
SILVA, K.V; SILVA, M H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo : Contexto, 2006.
A PRÉ-HISTÓRIA DE FERNANDÓPOLIS E REGIÃO
1 INTRODUÇÃO
A região de Fernandópolis é considerada um ecótone, ou seja, uma zona de transição entre
dois biomas importantes - a Mata Atlântica e o Cerrado. As evidências ecológicas são a presença de
espécies vegetais e animais pertencentes aos dois ambientes, como bromélias, orquídeas, figueiras,
ipê-amarelo, ipê-rosa, farinha seca, aroeira, goiabeira, tatu-canastra, macaco bugio e prego,
capivaras, tamanduá-bandeira, seriema e muitos outros exemplares da fauna e flora.
O relevo é colinoso (nota-se facilmente este fato ao percorrer a rodovia Euclides da Cunha
com seus declives e aclives) e o clima é tropical semi-úmido com inverno seco e verão chuvoso, com
precipitações anuais médias em torno de 1.362 mm. As temperaturas médias, mínimas e máximas,
atingem, respectivamente, 17º C e 33,5ºC, com oscilações bruscas durante o ano
(FERNANDÓPOLIS, 2002).
O que poucos imaginam é que, há aproximadamente 85 milhões de anos, em um período
geológico chamado Cretáceo Superior, o cenário ambiental na região era completamente diferente,
com a presença de répteis como tartarugas e crocodilos, distintos da morfologia dos atuais,
dinossauros herbívoros e carnívoros, mamíferos exclusivamente de pequeno porte, escassos e
fossoriais (viviam em tocas subterrâneas) e baixa biodiversidade de aves, que eram primitivas e um
pouco diferentes das atuais. A paisagem, por sua vez, era caracterizada pela ausência de gramíneas
e plantas frutíferas, com o predomínio de uma vegetação que lembrava extensas florestas de
gimnospermas (atuais pinheiros e cicas); havia presença de um imenso lago denominado pelos
geólogos de Paleolago Araçatuba (originou um grupo rochoso atual chamado de Formação
Araçatuba) e rios meandrantes (repletos de curvas) que originaram um grupo rochoso predominante
na região chamado de Formação Adamantina, popularmente conhecida com piçarra, encontrada em
perfurações de poços e cisternas e em afloramentos (conjunto de rochas expostas na superfície) que
se espraiam pelas pastagens de fazendas e barrancos de rodovias, em especial em áreas marcadas
por processos erosivos; o clima era semi-árido a árido, ou seja, com temperaturas médias mais
elevadas que as verificadas atualmente. Foram encontradas provas, geológicas e paleontológicas, da
existência deste cenário paleoambiental, como a descoberta de inúmeros fósseis (animais e plantas
“petrificadas”) associados a moldes de cristais salinos e cimentação carbonática nas rochas
sedimentares (“piçarra”) em toda a região (CANDEIRO, 2005; BATEZELLI et al., 2003; FERNANDES,
1998; SOARES et al., 1980).
Tanto a paisagem do Cretáceo Superior como a atual da região de Fernandópolis são
consequências de um fenômeno vulcânico (derrame de lavas basálticas) e tectônico (deslocamento
de grandes placas rochosas na superfície do planeta) que abrangeu toda a região centro-sul do Brasil
e se estendeu ao longo das fronteiras com o Paraguai, Uruguai e Argentina. Este evento geológico
ocorreu no Cretáceo Inferior (entre 137 e 127 milhões de anos atrás) e está relacionado com a
separação do supercontinente Gondwana142 e a formação do oceano Atlântico-sul (MILANI, 1997).
Desde 1905 até os dias atuais, estudos geológicos e paleontológicos conduzidos por
diversas instituições de pesquisa, como Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São
Paulo (DAEE), a antiga Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, atual Instituto
141
Graduado em Odontologia pela UNESP de Araçatuba em 1994; graduado em Ciências Biológicas,
Licenciatura Plena pelas Faculdades Integradas de Fernandópolis, mantidas pela Fundação Educacional de
Fernandópolis (FEF) em 2003; Mestre em Microbiologia pela UNESP de Jaboticabal em 2002; Doutor em
Geologia Regional pela UNESP de Rio Claro em 2008. Atualmente, é professor de Paleontologia e Microbiologia
na FEF e Microbiologia na Unicastelo – câmpus de Fernandópolis; é pesquisador do CNPq na área de
Paleontologia e orienta projetos de iniciação científica em Microbiologia na Unicastelo – câmpus de
Fernandópolis e na FEF; presidente do Comitê de Ética e Pesquisa da FEF. Professor EBTT do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS) - Câmpus de Três Lagoas. E-mail:
edumaiaoli@yahoo.com.br
142
Pronuncia-se gonduana.
339
Geológico, a Universidade Estadual Paulista (UNESP), em especial o câmpus de Rio Claro (SP), a
Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), vêm pesquisando os detalhes geológicos das formações
rochosas do estado de São Paulo, incluindo a região em que se localiza Fernandópolis; atualmente, a
UNESP de Rio Claro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu de Paleontologia de
Monte Alto (SP), a USP (câmpus da capital paulista e de Ribeirão Preto) e, mais recentemente, a
Fundação Educacional de Fernandópolis, em conjunto com pesquisadores da Universidade de
Brasília e Universidade de Bristol (Inglaterra), conduzem pesquisas que já levantaram importantes
informações sobre a fauna pré-histórica da região de Fernandópolis e cidades próximas, como Jales,
General Salgado e Auriflama (OLIVEIRA et al.; 2011; OLIVEIRA, 2007; SANTUCCI; BERTINI, 2001;
ARRUDA, 2004; FERNANDES, 1998; BRANDT NETO et al., 1990; MEZZALIRA, 1989; SOARES et
al., 1980; PRICE, 1945).
Portanto, as conclusões e inferências sobre o cenário ecológico pretérito da região,
incluindo alguns exemplares da fauna e flora, estão embasadas em intensas pesquisas de diversas e
renomadas instituições acadêmicas e autarquias federais do País, bem como do exterior.
Ao conhecer a evolução geológica e paleontológica regionais, compreendem-se os
processos de formação de seu solo, formações rochosas e mananciais de água, que determinam a
qualidade da flora local e, ademais, desperta a curiosidade geral a respeito dos espécimes animais
que viveram por aqui há milhões de anos, em uma época em que nem o mais primitivo dos ancestrais
humanos existia no planeta.
143
Rachaduras.
340
O peso desse volume gigantesco de basalto promoveu a formação de uma bacia (depressão
na superfície), originando a unidade geológica composta por rochas sedimentares denominada de
Bacia Bauru (figura 22), que compreende toda a região de Fernandópolis, estados e alguns países
vizinhos.
Essa depressão (Bacia Bauru) começou a receber sedimentos (areia, argila e silte) de suas
bordas, formando o conjunto de rochas sedimentares chamado de Grupo Bauru, no qual os
341
paleontólogos encontram os inúmeros fósseis na região noroeste do estado de São Paulo, incluindo
Fernandópolis (figura 3) (FERNANDES; COIMBRA, 1996).
Ao longo de milhões de anos, a erosão promovida pelas águas das chuvas, ácidos
orgânicos de liquens, ação do vento e outros agentes naturais foram desgastando essas rochas
(basalto da Formação Serra Geral e rochas do Grupo Bauru) e colaboraram com a formação do solo
nesta região; esse solo extremamente foi explorado no passado na produção de café, sem reposição
de elementos orgânicos e de forma precípua, e, atualmente, serve as pastagens na criação de gado
bovino, no plantio de cana-de-açúcar, seringueiras, laranjais e outras culturas. A produção de café,
nas décadas de 30 e 40 do século XX, desenvolveu-se muito bem devido à presença de um solo fértil
e estimulou a fundação de cidades como Fernandópolis, Jales, Votuporanga e muitas outras; no
intuito de expandir as fronteiras agrícolas, o governo construiu a estrada de ferro (antiga Estrada de
Ferro Araraquarense – EFA), que corta a região e colaborou com o rápido desenvolvimento desses
municípios. Já naquela época, quando tais cidades foram fundadas, à medida que construíam a
referida estrada de ferro, operários encontravam fósseis de dinossauros e crocodilos pré-históricos
após o rompimento dos paredões de rochas situados pelo caminho (MEZZALIRA, 1989).
É interessante notar que a formação do solo nesta região se relaciona diretamente com o
processo de separação da América do Sul do continente africano, ocorrida há mais de 125 milhões
de anos. Na figura 4, observa-se uma concepção artística de como era a provável paisagem regional
no Cretáceo Superior (85 milhões de anos atrás), onde hoje é a zona rural de Fernandópolis. À frente
na imagem, observa-se um animal da fauna daquela época, o crocodilo Baurusuchus144, cujas
características serão detalhadas mais adiante, e, ao fundo, um rio meandrante145, comum na região
naquele período geológico, cujos sedimentos formaram os inúmeros afloramentos de rochas
144
Baurusuchus - pronuncia-se baurusucus.
145
Meandrante - rio cujo curso é caracterizado por curvas acentuadas.
342
sedimentares do tipo arenito146 (figura 5). Verifica-se, também, a ausência de grama na relva – este
tipo de vegetação era inexistente naquele tempo.
146
Arenito - em nossa região, ele é conhecido como piçarra.
147
Rocha sedimentar - nesse tipo de rocha encontram-se os fósseis em Fernandópolis e região.
343
148
Litificou - transformou-se em rocha.
344
Os fósseis geralmente são representados por diversos tipos de ossos, dentes, conchas e
carapaças pertencentes a animais pré-históricos, mas também podem apresentar-se na forma de
icnofósseis (evidências de atividades biológicas), não constituindo, portanto, partes do animal pré-
histórico, mas vestígios de sua fisiologia ou comportamento, como ovos, fezes fossilizadas
(coprólitos), pedras utilizadas para aumentar o atrito com o alimento no tubo digestório (gastrólitos),
marcas de descanso, de ataque ou defesa (impressões de dentadas em ossos) e outras evidências.
Quando uma pessoa pega um fóssil pela primeira vez, tem a impressão de estar segurando
uma pedra, pois as peças fossilizadas contêm minerais próprios provenientes da rocha que as
circundam.
Os fósseis são preservados em rochas sedimentares, como já referido, portanto, a idade de
constituição desse tipo de rocha coincide com a idade aproximada da morte do animal que se
fossilizou, por isso os paleontólogos conhecem o tempo estimado de um exemplar fóssil. Como na
região as rochas sedimentares são do Cretáceo Superior (idade aproximada de 85 milhões de anos),
todos os fósseis regionais têm essa idade149.
É certo que existiram outros animais e plantas pré-históricos na região além dos
apresentados nesta seção, porém, as rochas que os preservaram ou já foram erodidas (processo que
destrói as rochas e os fósseis), ou estão abaixo daquelas que se encontram expostas na superfície e,
portanto, inacessíveis aos paleontólogos. Portanto, os fósseis aqui apresentados são aqueles que
foram preservados em rochas que estão expostas na superfície do solo em afloramentos, em cortes
de rodovias e ferrovias locais, espalhadas nas pastagens e lavouras da zona rural ou nas paredes de
cisternas e poços.
É importante ressaltar que os fósseis não podem ser vendidos, guardados como objetos de
coleção particular ou de decoração, ou, ainda, coletados por pessoas que não tenham autorização
expedida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), pois, segundo a Constituição
brasileira, os fósseis pertencem à União, inclusive os encontrados em propriedades particulares.
Qualquer pessoa que descobrir um espécime fóssil deve avisar pesquisadores capacitados a coletá-
los, para evitar a sua destruição no ato da prospecção150 e, assim, manter a sua integridade, podendo
então ser objeto de pesquisa, publicação científica e uso didático em aulas de Paleontologia,
Geografia e Geologia e também ser admirado em exposições de museus.
149
Na verdade, existem também outros métodos científicos para se obter a idade de um fóssil ou de uma rocha,
mas a explicação detalhada desses métodos ultrapassa os objetivos deste trabalho, podendo ser obtida em
Rohn (2004) e Labouriau (1994).
150
Extração.
345
Além das placas dérmicas, naquela oportunidade, outros ossos fossilizados foram
encontrados como tíbia, fíbulas (figura 10) e vértebras (figura 11).
Figura 10 Tíbia (seta vermelha) e partes de fíbula (setas amarelas) de crocodilos pré-
históricos encontrados em Fernandópolis (SP).
Fonte: O autor, 2011. (Arquivo particular)
Figura 12 Concepção artística do crocodilo pré-histórico, pertencente ao gênero Baurusuchus, que habitou a
região há 85 milhões de anos.
Fonte: Elias, 2010.
Observe-se, na figura 12, que esse crocodilo difere dos espécimes atuais em muitos
aspectos, pois o Baurusuchus apresentava os membros locomotores retos, longos e postados abaixo
do corpo (nos atuais, tais membros são curtos e lateralizados), crânio achatado lateralmente, com
olhos lateralizados, presença de dentes apenas na região anterior da maxila e mandíbula (nos atuais
o crânio apresenta-se achatado dorsoventralmente, os dentes se espalham por toda a maxila e
mandíbula e os olhos situam-se no topo da cabeça) e as narinas situam-se na extremidade do
focinho e em posição terminal (nos crocodilos atuais as narinas ficam na região anterior e no topo do
focinho). Esse crocodilo apresentava hábitos terrestres e não semiaquáticos como os exemplares
atuais e atingia, aproximadamente, quatro metros de comprimento (CARVALHO et al., 2005;
BRANDT-NETO et al., 90, 91, 92). A figura 13 mostra esses detalhes morfológicos, do animal em vida
e de seu esqueleto, em imagens de Baurusuchus pachecoi.
349
Outro crânio desse gênero de crocodilo foi descoberto em 2005 pelo professor João Tadeu
Arruda em General Salgado (SP) (CARVALHO et al., 2005), além de um esqueleto quase completo
350
(ARRUDA et al., 2004) e referem-se à espécie Baurusuchus salgadoensis – a escolha de seu nome
científico foi uma homenagem àquela cidade (figuras 15 e 16). Essa foi a segunda espécie desse
gênero de crocodilo descoberta na região e, embora sua morfologia seja muito parecida com a de um
Baurusuchus pachecoi, alguns detalhes anatômicos são distintos, o que permitiu àqueles
pesquisadores criar o nome de uma nova espécie crocodiliana.
Em março de 2011 foi publicado um artigo científico (OLIVEIRA, 2011), por um grupo de
pesquisadores da FEF (Fernandópolis), UnB (Brasília), Rio Claro (UNESP) e Universidade de Bristol
(Inglaterra) que descreveu um novo oogênero e ooespécie de fóssil, denominado de Bauruoolithus
fragilis. Trata-se de ovos e cascas de ovos de crocodilo Baurusuchus descobertos em dezenas de
ninhos representados na figura 19 (OLIVEIRA et al., 2008, 2011).
151
Pronuncia-se sfagessaurus.
356
Esse crocodilo media dois metros de comprimento e estima-se que pesava 120 quilos.
Possuía patas com garras fortes, como um tatu, seu crânio era largo, o focinho era curto e estreito,
várias placas dérmicas se espalhavam por suas costas, como uma armadura, e serviam para
152
Pronuncia-se goniofolis.
153
Pronuncia-se maquimossaurus.
154
Pronuncia-se armadilossucus arrudai.
357
proteger o animal contra ataques de predadores. Sua dentição era adaptada a uma alimentação
onívora (figura 27).
Além de São José do Rio Preto, foram noticiadas descobertas desse dinossauro em
Araçatuba, Mirassol, fazenda São Vicente (a 10 km de Ibirá), Votuporanga e Pedreira Santo Antônio
(a 5 km de Bálsamo), entre os anos de 1962 e 1987 (MEZZALIRA, 1989).
Em 2008, foram encontrados fragmentos ósseos e uma costela de 1,20 m de comprimento
de titanossauro (figura 31) em um sítio próximo à cidade de Auriflama (SP). Essa costela, atualmente,
se encontra depositada no acervo paleontológico da Fundação Educacional de Fernandópolis.
Figura 31 A – Imagem fotográfica de uma costela de titanossauro com 1,20 m de comprimento (seta vermelha);
B – reconstrução de um esqueleto de titanossauro (notar a referida costela destacada em amarelo em sua
posição original no esqueleto).
Fonte: O autor, 2011 (imagem A); Santucci, 2011 (imagem B).
Ainda não há relatos de ossos fossilizados desses pequenos dinossauros carnívoros, mas
Anelli (2010) descreve um pouco de sua anatomia a partir da análise de esqueletos encontrados em
outras localidades, como os terópodos manirraptores (figura 33), que constituem um grupo de
dinossauros predadores com alguns exemplares fósseis encontrados no distrito de Peirópolis,
Uberaba (MG).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fauna local, com certeza, era bem mais diversificada que a revelada nos estudos
paleontológicos, porém, como a formação de fósseis é um fenômeno raro, o registro fossilífero é
bastante escasso e lacunar; por isso, os paleontólogos comemoram quando descobrem esqueletos
bem preservados - o que já ocorreu por diversas vezes na região, especialmente com crocodilos.
Devido a esses fósseis, cidades como Fernandópolis, General Salgado e Jales são conhecidas
internacionalmente na comunidade científica, através do trabalho de seus pesquisadores.
Com o avanço das pesquisas em Fernandópolis e região, torna-se importante a criação de
um museu que, além de preservar esse patrimônio pré-histórico de valor científico e cultural em seus
locais de origem, pode tornar-se uma opção de lazer para a população local.
Ressalte-se que os fósseis são como janelas que revelam cenários ecológicos de um
passado tão distante que mexe com a imaginação, despertando a curiosidade. Animais como
crocodilos pré-históricos e, principalmente dinossauros, apresentam um apelo muito forte junto ao
público em geral, sobretudo em crianças, cujo brilho nos olhos provocado ao ver um esqueleto
verdadeiro de dinossauro vale qualquer esforço de um pesquisador ou de uma autoridade que se
empenhe em criar acervos paleontológicos.
REFERÊNCIAS
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ARID, F. M. A ocorrência de um jazigo fossilífero nos arredores de São José do Rio Preto. Ci. e Cult.,
São Paulo, v. 15, n. 3, p. 172, 1962.
ARID, F. M.; VIZOTTO, L. D. Crocodilídeos fósseis nas proximidades de Santa Adélia (SP). Ci. e
Cult., São Paulo, v. 17, n. 2, p.138-139, 1965.
BATEZELLI, A. et al. Análise estratigráfica à Formação Araçatuba (Grupo Bauru – Ks) no centro-
oeste do estado de São Paulo. São Paulo : UNESP, Geociências, v. 22, n. especial, p. 5-19, 2003.
362
______. Questions about geology and vertebrate paleontology of the Santo Anastácio and
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RIBEIRÃO SANTA RITA
1 INTRODUÇÃO
Vive-se em um momento histórico, em que todo o engenhoso emaranhado de produção de
técnicas governadas pela informação produz e recria rapidamente, por conta da globalização, um
intenso processo de competitividade, consumo e confusão dos espíritos que, segundo Santos (2007),
“constituem um baluarte do presente estado de coisas. A competitividade comanda nossas formas de
ação, o consumo comanda nossas formas de inação. E a confusão dos espíritos impede o nosso
entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade, e de cada um de nós mesmos”.
O autor prossegue: os períodos da história são antecedidos e sucedidos por crises e, como
período e como crise, a época atual mostra-se como uma coisa nova, cada um com variáveis e
características que estão continuamente chocando-se e exigindo novas definições.
Nunca se falou tanto das questões problemáticas pertinentes ao meio ambiente como se
tem discutido nas últimas décadas do século passado e na primeira década do atual século. Isso é
reflexo do desenvolvimento econômico promovido pelo sistema capitalista que, no âmago da
cumulação de capital e bem-estar da minoria, por vezes sem a devida respeitabilidade ambiental e
natural, cria impactos de proporções absurdas: desmatamentos, assoreamentos, poluição
atmosférica, hídrica e ambiental, aquecimento global, laterização de solos, voçorocas e lixiviação
155
Pesquisa (original) apresentada pelo professor Judá Vieira de Oliveira, acompanhado dos alunos Augusto
Nunes Bichof, João Victor de Gênova, José Eduardo Cardoso e Maria Beatriz Gaviolle, à Secretaria de Meio
Ambiente e/ou Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal de Fernandópolis (SP), 2011. Foram efetuadas
revisões e adaptações para publicação; mantiveram-se, porém, suas fontes e, sempre que possível, o texto
original.
366
entre outros. Daí a necessidade de diferentes formas de planejamento territorial para controlar os
conflitos que, juntamente com as contradições do pensamento econômico, ainda segundo Santos
(2007), se manifestam no território em que se dão as relações sociais, ou seja, as relações
econômicas, envolvendo economia, ambiente, natureza e cultura. O autor é categórico: o território é o
chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e sentimento de pertencer àquilo que
pertence aos seres humanos. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e
espirituais e da vida, sobre as quais ela influi.
Debates e embates sobre economia e natureza globalizaram-se com a Eco-92 realizada no
Rio de Janeiro (RJ). De lá para cá, percebe-se que o grau de conscientização cresceu em todo o
globo, no entanto, patenteia-se, também, certa banalização com o tema invocando conceitos como
consciência ambiental, qualidade ambiental e educação ambiental, exemplos de vocabulários que
têm sido associados às noções de ética, conservação, preservação e, mais recentemente, de
recuperação, sem um apontamento claro no sentido de distinguir natureza de ambiente, como
asseveram Oliveira e Herrmann (2009).
Ainda para Oliveira e Herrmann (2009, p. 148), natureza e ambiente são conceitos distintos.
2 FUNDAMENTAÇÃO DA PESQUISA
A arquitetura das inquietações temáticas requer, ainda que sucintamente, o cruzamento de
dois percursos diferentes de leitura: a reflexão sobre a legislação estadual e municipal sobre recursos
hídricos e uma reflexão crítica de pesquisadores da questão ambiental.
O espaço rural e o espaço urbano fazem parte de uma paisagem juntamente com outros
conteúdos tais como rios, montanhas, florestas, lagos, morros etc., podendo ser mais de caráter
natural ou mais de caráter humano (espaço físico alterado pelo trabalho), mais organizado (energia,
estradas, avenidas, saneamento etc.) ou de menor organização de acordo com o capital, a cultura, a
época e a circunstância dos agentes construtores, o que lhe confere aspectos bastante
heterogêneos. Essa paisagem é a microbacia.
Uma bacia hidrográfica corresponde, na verdade, a uma determinada área drenada por um
rio principal e seus afluentes (bacia autônoma ou principal) ou a uma região banhada por um conjunto
de pequenas bacias que, agrupadas, constituem uma bacia maior (bacia secundária ou agrupada). Já
a microbacia é uma bacia menor, também drenada por ribeirões, riachos, córregos e seus afluentes
(tributários).
Na região da microbacia, toda água pluvial que cai na superfície da terra e sobre os
espigões ou serras drena para o leito principal, interligando, em profunda dependência, todos os seus
agentes: a água, o solo, os vegetais, os animais silvestres ou domesticados, a agricultura, a cidade e
o homem que mora e trabalha nela. São biomas frágeis e se apresentam vulneráveis às ações
antrópicas, o que requer balizá-las como unidades importantíssimas para o planejamento do uso e
conservação ambiental.
O município de Fernandópolis possui instrumentos de regulação e controle de ocupação e
uso do solo como a Lei de Zoneamento, Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) ou Plano Diretor
de Desenvolvimento Integrado (PDDI), instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. Por essa razão, o município tem
aparato normativo e institucional de gestão de uso e ocupação do solo, o que lhe confere
possibilidades formais capazes de instrumentalizar suas ações num balizamento da regulação não
somente do espaço rural ou urbano, mas de toda sua configuração, uma vez que sua população
absoluta ultrapassa os sessenta mil habitantes.
O município é amparado ainda pela Lei Estadual 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que
estabelece normas de orientação à política estadual de recursos hídricos, bem como ao sistema
integrado de gerenciamento de recursos hídricos, e pela Lei Municipal Complementar n. 51, de 23 de
outubro de 2006, que institui o Plano Diretor Participativo do Município de Fernandópolis, estabelece
as diretrizes gerais de política de desenvolvimento urbano e rural e dá outras providências.
O Artigo 1º da Lei 7.663 institui que a política estadual de recursos hídricos se desenvolverá
de acordo com os critérios e princípios adotados por essa lei. Seu Artigo 2º anota que a política
estadual de recursos hídricos tem por objetivo assegurar que a água, recurso natural essencial à
vida, ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar social, possa ser controlada e utilizada, em
padrões de qualidade satisfatórios, por seus usurários atuais e pelas gerações futuras, em todo o
território do estado de São Paulo. No Artigo 28º, Parágrafo 4º, a lei aponta para o apoio que os
municípios podem dar ao Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI) na
sua atuação descentralizada.
368
No Capítulo II, a mesma lei aborda os diversos tipos de participação dos municípios quando
diz que o Estado incentivará a formação de consórcios intermunicipais nas bacias ou regiões críticas,
cujos gerenciamentos de recursos hídricos devem ser feitos segundo diretrizes e objetivos especiais
e estabelecerá convênios de mútua cooperação e assistência com os mesmos. Também ordena que
o Estado poderá delegar aos municípios que organizem, técnica e administrativamente, o
gerenciamento de recursos hídricos de interesse exclusivamente local, compreendendo, dentre
outros, os de bacias hidrográficas que se situem exclusivamente no território do município e os
aquíferos subterrâneos situados em áreas urbanas.
É amparado, também, pelo Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que
se contemplem dezesseis diretrizes que deverão nortear a política urbana a ser implementada pelo
município, através, inicialmente, do Plano Diretor, conforme observa Mukai (2010, p. 47).
Assim, cabe à prefeitura a responsabilidade da gestão em quaisquer circunstâncias, desta e
muitas outras matérias pertinentes à administração pública municipal, apesar de o Decreto n. 10.755,
de 22 de novembro de 1977, dispor sobre o enquadramento dos corpos de água receptores, na
classificação prevista no Decreto n. 8.468, de 8 de setembro de 1976, ou seja: os corpos de água
receptores do território do Estado, bem como as respectivas bacias ou sub-bacias que compreendem
seus formadores e/ou afluentes, ficam enquadrados na forma determinada no anexo ao Decreto, em
obediência à classificação prevista no Artigo 7º do Decreto n. 8.468, de 8 de setembro de 1976. Vale
ressaltar que a classificação mencionada coloca o Ribeirão Santa Rita na Classe quatro, no entanto,
segundo o CONAMA (BRASIL, 2005), todas as nascentes fazem parte da Classe um, que abrange as
águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à
preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e c) à preservação dos ambientes
aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. Podem-se, todavia, fixar outros limites
para os parâmetros de afluentes de qualquer natureza lançados nos corpos de água.
Isso aponta para uma flexibilidade legal e, ao mesmo tempo, acende uma luz para a
solicitação, junto a quem de direito, por uma mudança na classificação do Ribeirão Santa Rita para
uma classe que lhe possibilite maior segurança quanto à sua preservação.
Relativamente aos mananciais – preocupação maior deste trabalho –, está muito claro na
Resolução CONAMA (BRASIL, 2005) que todas as nascentes, uma vez contempladas como Classe
um, não podem receber nenhum tipo de efluente, tratado ou não. Fica claro, ainda, que nenhum
manancial pode ser assoreado, degradado, não importando qual seja(m) a (s) causa(s).
Nas palavras de Mukai (2010, p. 12), “o município no Brasil tem autonomia legislativa
administrativa e financeira, o que o torna uma das esferas de Governo da Federação Brasileira”,
ainda segundo o autor, contrariando a Lei Nacional de Política Ambiental n 6.938/81, que dá
competência monopolística aos estados-membros para o licenciamento e demais aspectos da
proteção ambiental. Neste caso, caberia à União e aos municípios atuarem supletivamente nessas
áreas, exigindo outras licenças. Para o autor, tratava-se de uma inconstitucionalidade aberrante, que
violentava a Federação e que durou por vinte e oito anos sem que ninguém se insurgisse
judicialmente contra isso até ser revogada com a edição da Lei nº. 10.257/2001, que contemplou
dezesseis diretrizes a serem observadas e previstas, obrigatoriamente, no Plano Diretor das Cidades
com mais de vinte mil habitantes. Quatro ou cinco dessas diretrizes dizem respeito à proteção e à
preservação do meio ambiente pelo município.
É importante salientar que implementação eficaz da legislação requer o apoio da Cetesb, da
Polícia Ambiental, da Promotoria Pública, da Guarda Municipal, da Polícia Militar, da iniciativa
privada, do Ibama e da comunidade, tornando-se indispensável quando há pretensão de construir um
espaço geográfico fundamentado na respeitabilidade ambiental e social.
Também é verdade que a complexidade do uso do solo, no que tange às especificidades
daquilo que é campo e daquilo que é cidade, deixa, a todo instante, mais tênues as áreas limítrofes
graças às diversas maneiras de como se dá o processo que, em todo momento, passa por
transformações assediadas, principalmente, pelo segmento imobiliário, o que torna mais complexa a
regulação do uso e ocupação do solo. Ainda: tratar área rural como estoque de espaço a ser
urbanizado tem sido uma constante e, muitas vezes, ocorre sem se considerar a necessidade de
preservação do patrimônio natural e cultural.
369
2.1 Metodologia
Inicialmente, torna-se imprescindível esclarecer que uma pesquisa científica requer tempo
para mergulhar na literatura sobre o assunto a ser investigado, além de um amplo contato com o caso
(área) a ser estudado. Todavia, dadas as “condições”, sobretudo do limite de tempo para se efetuar
tarefa de tamanha envergadura, reitera-se que o que ora se apresenta como “investigação” é
bastante preliminar.
Entretanto, mesmo diante dos limites, procedeu-se à investigação por meio dos seguintes
passos: levantamento bibliográfico sobre o tema a ser pesquisado; levantamento da legislação sobre
os mananciais; visitas ao local para verificação da ocupação do solo; entrevistas com moradores do
entorno dos mananciais; registro de imagens da área fotografadas e filmadas; recuperação de
imagens antigas da área estudada; entrevistas com autoridades locais; entrevistas com antigos
proprietários da área pertinente aos mananciais.
É imprescindível destacar que a participação dos alunos neste trabalho de investigação
restringiu-se às visitas no local contemplado como objeto de estudo. O levantamento bibliográfico,
bem como a redação do presente texto, ficou por conta e responsabilidade do professor. Os dados
coletados foram analisados a partir do referencial teórico adotado (COELHO, 2009).
Em linhas gerais, esses são os procedimentos adotados para o desenvolvimento da
pesquisa.
Neste trabalho, trata-se do caso específico dos mananciais do Ribeirão Santa Rita no
município de Fernandópolis (SP).
Fernandópolis está localizada na latitude de 20°17’02’’sul e na longitude de 50°14’47’’oeste,
estando em uma altitude de 535, no noroeste paulista (figura 1). Vive, principalmente, das atividades
do agronegócio, comércio e prestação de serviços nos campos da saúde e educação.
370
Para compreensão, a formação do conteúdo geográfico (espaço rural e espaço urbano) não
pode ser compreendida separando-se um aspecto do outro, porque eles se entrelaçam sob duas
importantes abordagens: a dicotômica, que dá ênfase às diferenças que se estabelecem entre esses
dois espaços, sendo o campo pensado como algo de contrafação à cidade, e a continuum, que atenta
para a área de contato entre atividades rurais e a chegada da cidade, ou seja, onde ocorre a
aproximação rural e a realidade urbana.
Ainda: é onde ocorrem conflitos típicos do meio geográfico que, rapidamente, se
metamorfoseia, incrementado por gamas cada vez maiores de informação que Santos (2005, p. 88)
chamou de meio “técnico-cintífico-informacional”.
É nesse campo continuum que este trabalho permeia. No entanto, é de mesma
responsabilidade destacar que, na construção da história econômica do município de Fernandópolis,
a área de mananciais do Ribeirão Santa Rita sempre sofreu algum tipo de impacto promovido ora
pela cafeicultura, ainda que como viveiro de mudas e produção de hortaliças que exigiram um menor
grau de desmatamento da área, ora pela pecuária que determinou o maior desmatamento da região,
o que lhe é pertinente quando do manejo do solo para preparação de pastagem (neste caso, a
braquiária), pastagem (figura 2) até então presente na área dos mananciais, sugerindo que até a
mata ciliar fosse profundamente alterada e, em muitos pontos, como da nascente principal,
totalmente destruída.
371
Esse uso inadequado do solo, ao longo dos anos, permitiu um paulatino e gradativo
estrangulamento desses mananciais, localizados tanto fora como dentro da configuração do asilo São
Vicente de Paulo em Fernandópolis.
A nascente localizada dentro da área do asilo, segundo moradores mais antigos do local,
resistiu às agressões agrárias, porém, não sobreviveu à expansão urbana. Com o surgimento do
bairro Corinto, desencadeou-se a morte da fonte devido à rede pluvial, cuja tubulação encerra a
alguns metros acima no encontro da Rua São Jerônimo com a Rua das Nações (figura 3), lançando
águas, por vezes poluídas (análise de água n.1), sem escada de dissipação, isto é, técnica de
engenharia que inibe processo de assoreamento e evita o surgimento de voçoroca (figura 4),
estrangulando, sedimentando e compactando a nascente (figura 5).
372
Figura 3 Galeria pluvial que leva águas poluídas diretamente para o Ribeirão Santa Rita,
principalmente no período chuvoso (setembro/verão).
Fonte: O autor, 2011.
Figura 4 Voçoroca produzida, segundo moradores do Asilo são Vicente de Paulo, pela erosão pluvial
graças à galeria (figura 3), erosão que causou, segundo os mesmos moradores, a morte da
nascente principal do Ribeirão Santa Rita.
Fonte: O autor, 2011.
373
A área do entorno dos mananciais do Ribeirão Santa Rita, exceto o espaço relativo ao asilo
São Vicente de Paulo, encontra-se ocupada por bairros residenciais, heterogêneos, do ponto de vista
socieconômico, e áreas comerciais, como mostra a figura 6:
Figura 6 Bairros que surgiram e crescem no entorno dos mananciais do Ribeirão Santa Rita.
Fonte: O autor, 2011.
Ao longo da Avenida Afonso Cáfaro, foi encontrada outra nascente no lado direito da
avenida, sentido centro-bairro. Uma terceira nascente, mais a jusante, bordeada pelos bairros
Residencial Santo Afonso e Residencial Santa Filomena, margem esquerda, e uma quarta, ao sul do
Minidistrito Industrial e Comercial, fundo da Santa Casa, na margem direita.
A nascente no lado da Avenida Afonso Cáfaro, por ser a mais montante dos atuais
mananciais, batizada desse momento em diante como a primeira, uma vez que a primeira de fato
374
morreu, constitui-se, hoje, a mais importante das fontes do Ribeirão Santa Rita. Sua situação quanto
à sobrevivência é preocupante. Embora seja área de Área de Preservação Permanente (APP),
contemplando trinta metros de raio (o Ribeirão não ultrapassa dez metros de largura) e estando
protegida por cerca, a alguns metros do olho d’água principal registra-se a presença de entulhos,
lixos domésticos em sacos plásticos, sofás, garrafas pet e, um pouco mais afastada, obras de
engenharia que recuperam a pista da Avenida Afonso Cáfaro, além da tubulação de esgoto
pertencente à empresa de saneamento básico que presta serviços de saneamento à cidade.
Quando essa nascente forma seu curso de água, correndo cerca de cem metros, encontra o
antigo curso da nascente destruída que ficava na área do asilo, cujas águas, que descem por ele, são
águas de efluentes carregadas de poluentes conforme corrobora a análise do Boletim Analítico n.
21682/11 (em anexo) e, assim, nasce, de forma lamentável, o principal curso d’água do Ribeirão
Santa Rita.
No percurso percorrido pelo Ribeirão Santa Rita, ainda como um pequeno veio de água, até
receber águas da terceira nascente, hoje a mais volumosa e mais fácil de ser preservada e, de uma
quarta, tão degradada quanto a primeira, ele se avoluma um pouco mais e apresenta, em
determinados trechos, presença de vida animal. Foram observados acanhados cardumes de
pequenos peixes e berçários de girinos. Também se observaram alguns vegetais hidrófilos, caso de
samambaias, vislumbrando uma perspectiva de recuperação desse bioma. No entanto, viu-se
também que, bem frontal à área onde a segunda nascente deságua (margem esquerda), desemboca
uma enxurrada de água com efluentes, provavelmente carregada de produtos químicos utilizados
como agentes de limpeza voltando a poluir o leito principal, águas lançadas em direção ao leito do
Ribeirão, fora das especificações da engenharia, pois não apresenta, também, escada de dissipação.
Há um charco malcheiroso nessa região, área da segunda nascente, nascente tão degradada quanto
a primeira.
Na terceira nascente, foi identificada uma situação melhor no que tange à poluição e
assoreamento. Ela está mais protegida por vegetais ciliares, alguns arbustivos de pequeno porte,
outros rasteiros, formando um emaranhado sobre a área das minas d’água. Agora, no seu entorno
imediato, não há mata ciliar arbórea, porém, já existe um trabalho de rearborização (há muitas
espécies plantadas), o que é bastante positivo. No entanto, encontrou-se nela um duto instalado,
sugerindo que a mesma esteja sendo utilizada como fonte de abastecimento para algum segmento
econômico.
Além da poluição, existem outros agentes de degradação que sufocam os mananciais do
Ribeirão Santa Rita: o assoreamento, a lixiviação, apesar da presença e aparente proteção da tão
frágil mata ciliar, dentro da APP; fora dela, a impermeabilização dos solos, fruto do excesso de
calçamento provocado pela urbanização que sufoca o Santa Rita.
Na área de investigação, é bastante perceptível o assoreamento. Ao longo do leito
investigado, há várias áreas de barrancos desmoronados, sugerindo ação erosiva, mais grave no
período de maior índice de chuvas (verão), de um lado, quando o leito do Ribeirão se torna mais
caudaloso; de outro, a fragilidade da mata ciliar, na maior porção do curso analisado, não apresenta
qualquer espécie natural junto ao veio de água num raio de dois a três metros, mas braquiária,
todavia, insuficiente e inadequada para combater a erosão.
Outra fragilidade da mata ciliar, que acelera o assoreamento e permite a lixiviação do solo,
está presente no desfalque de espécies que a compõem. A ausência de vegetais limita sua
capacidade de retenção de materiais erosivos sólidos, oriundos, principalmente, dos espigões,
comprometendo a microbacia. A mata ciliar tem papel muito importante: o da proteção.
A situação revelada pelo Ribeirão Santa Rita configura-se em mais um exemplo da triste
realidade provocada pela expansão urbana junto ao quadro natural.
A concentração urbana brasileira é, atualmente, da ordem de 85%. O seu desenvolvimento
tem sido realizado de forma pouco planejada, com grandes conflitos institucionais e tecnológicos.
Ainda: os principais problemas estão relacionados com inundações e impactos ambientais. A
tendência atual do limitado planejamento urbano integrado está levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedade.
Pelo que se sabe e se vê na mídia, nas últimas décadas, não só regiões metropolitanas
passaram a sofrer uma gigantesca disseminação de problemas pertinentes ao saneamento básico e
à degradação de seus recursos naturais devido a lançamento de efluentes domésticos e industriais,
375
Ocupados, hoje, por uma série de bairros (Santo Afonso, Santa Filomena, Pôr do sol,
Brasitália, Jardim Universitário etc.) e traçados por diversas vias rodoviárias, logo, com seus solos
376
4 CONCLUSÕES
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1 HISTÓRICO
Em 01/01/1948, um grupo de pessoas benfeitoras da cidade se reuniu com o objetivo de
fundar a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, que se encarregaria da criação
de um hospital para a vila que crescia.
Dessa reunião nasceu a 1° comissão encarregada de angariar donativos para a Santa
Casa, a saber:
Comissão de Obras: Apolinário de Matos, Francisco Arnaldo da Silva, Amadeu Bizelli, Augusto Pereira Bastos,
Augusto Fasiera Junior, Antonio Augusto Fernandes, Vitório Frana Luiz, Dr. Jayme B. Leone, Dr. Waltrudes
Baraldi, Dr. Antonio Viçozo Rezende, Dr. Waldyr Souza, Guilherme Cechini, Afonso Cáfaro, João Garcia Andréa,
José Almeiro, Amadeu Sagliane, Américo Messias dos Santos, Francisco Hernandes Moreira, Manoel Rodrigues
da Silva, Arnaldo Rodrigues Neto, Severiano França, João Biroli, Carlos Barozzi, Emílio Mininelli, José Gimenez
Navarro, Olívio Cetembrini, Luiz Saravalli, José Marques Toledo, Antonio Carvalho Souza, João Batista Dolci,
Manoel Marques Rosa, Manoel Victorino Seixas, Fioravante Tazinafa, francisco Macedo, Antonio Brandini,
Santiago Vicente, João Gonçalves de Souza, Dr. Mario Parini, João Batista Alves, Cezário Ferrari, Domingos
Pistelo, Mário Bortolozo, Thomaz Rigueiro, Maximiano Dutra, Agide Bariani, Lindo Luchese, Izaías Ferreira,
Senzi Koga, Gessis Milaré, Alcides Oliveira, André Malavazi, Antonio Gonçalves Neto, José da Silva, Luiz Russo,
Antonio Alves dos Santos, Orazimbo Ribeiro, Antonio Masson, Antonio Baptista dos Santos, Benedito Rastelli,
Antonio Baptista Filho, Sebastião Figueira, Antonio Miguel de Mendonça, José Honário, Antonio MarinhoAlves,
Antonio Amaro, Santo Cavaloti, Manoel Ferreira Melo, Antonio Menezes, Mineronio Caetano de Souza, Antonio
Hernandes, Ângelo Del Grossi, Marcolino Antonio de Moraes, José Gregorini, José Marinho Lopes, Francisco
Leão, Vitor Pavarini, João Vieira Pontes, João Fontes, José Batista Lacerda, João Betiol, Primo Angeluci, Paulo
Pereira Bento, Ângelo Zanata, José Pinati, Moisés Abdala, Joel Granja, José Catelani, Manoel Lopes da Silva,
Antonio Pereira Salgueiro, Cássio Vendramini, José Maldonado, Joaquim Pires, Antonio Campiolo, Joaquim
Pereira da Costa, Aristides Andrade Vidali, J. A. Blaya, Irmãos Alvizi, Saturnino Leão, Alcides Martinelli, Joaquim
Vergueiro, Cecílio Ramos. O construtor encarregado foi o Sr. Salvador Artioli (vulgo Líbero).
A comissão saiu a campo para angariar donativos. Conseguiu um terreno doado pela
Coester (ata de 06/04/1948) que não serviu. Apesar dos esforços, só em 1952 (ata de 14/03/1952)
com a doação de novo terreno pelo benemérito Afonso Cáfaro é que se deu início à construção da
Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, cuja pedra fundamental foi lançada em 22/06/1952
com as presenças de D. Lafaiete Libâneo, Bispo de São José do Rio Preto, autoridades e missa
campal. A planta foi arquitetada pelo Dr. Humberto Cáfaro, engenheiro.
Na ata de 14/03/1952, ainda consta a convocação para que os doadores de fundos já
angariados se apresentassem a fim de se contabilizar corretamente o montante arrecadado.
A funcionária mais antiga e que trabalhou por mais tempo foi Vera Tripeno Fernandes,
enfermeira, de 01/03/1956 a 05/05/2008. O primeiro farmacêutico foi Juliano Voltarelli. O primeiro
Corpo Clínico foi constituído pelos seguintes médicos: Drs. Adhemar Monteiro Pacheco, Labieno
Teixeira de Mendonça, Alberto Serra Filho, Pedro Eustachio, Theodózio Dério Semeghini, Alexandre
Zilenouski, Luiz Carlos Ramos, Maria Aparecida Fontes Ramos, Paulo Sano, Écio Vidotti, Serafim
Martins, Luiz Olavo Fontes, Paulo de Carvalho, Waltrudes Baraldi e Antonio Garcia Pelayo (ata de
31/03/1960).
No início do funcionamento da Santa Casa, a parte de enfermagem era praticada por freiras
chefiadas pela Irmã Margarida, enérgica, inteligente e capaz. Fazia parte das Irmãs da Providência,
além da Irmã Margarida, a Irmã Lourdes.
Documentação legal
- Estatutos – Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas de Fernandópolis Certidão nº 1.435
- Nº no FCES ou CNES: 2.093.324
383
Credenciamentos/ SUS
- 139 leitos (85,9%) do total de sua capacidade de 162 são contratados pelo SUS.
- Hospital Estratégico do Ministério da Saúde – Integrasus Nível “C”– Portaria nº GM/MS nº 878 de
08/05/2002 anexo II e Hospital Estratégico do SUS/SAS – Portaria GM/MS nº 2.256 de 10/12/2002.
- Referência para internação AIDS – 2 leitos.
- Referência em Gestante de Alto Risco – Nível Secundário – Portaria SAS/MS nº 116 – de
31/03/1999
- Referência em UTI – nível II, Portaria SAS/MS nº 757 de 15/10/2002
- Referência em Neurocirurgia – nível I, Portaria SAS/MS nº 135 de 16/04/1999
- Referência em Terapia Renal Substitutiva – nível II. Portaria SAS/MS nº 773 de 18/10/2002
- Referência em Tratamento Ortopédico (Alta Complexidade em quadril, joelho e tumor ósseo)
- Integra a Central de Regulação Médica e de Vagas do SUS, mantendo UTI Móvel em parceria com
o SUS – desde a sua instalação.
ÁREA DE ABRANGÊNCIA
Micro região - Fernandópolis Micro região – Santa Fé do Sul Micro região – Jales
Nº
CIDADES POPULAÇÃO
ORD
01 ESTRELA D´OESTE 8.108
02 FERNANDÓPOLIS –sede- 65.095
03 GUARANI D´OESTE 2.113
04 INDIAPORÃ 3.614
05 MACEDÔNIA 3.639
06 MERIDIANO 4.176
07 MIRA ESTRELA 2.552
08 OUROESTE 7.134
09 PEDRANÓPOLIS 2.502
10 POPULINA 4.310
11 SJO DUAS PONTES 2.578
12 SJO DA IRACEMA 1.717
13 TURMALINA 2.125
(total regional) 44.568
385
Nº de alunos/estagiários:
Convênios/nº de
Curso/Graduação
Instituição Estagiários
Enfermagem e Obstetrícia 956
Fisioterapia 336
FEF - Fundação Fonoaudiologia 66
Educacional de Fernandópolis Psicologia 405
Faculdades Integradas de Fernandópolis e
Escola Profissionalizante “Dr. Alberto Senra” Técnico de Enfermagem 350
Nutrição 93
Fonte: SCMF e FEF Serviço Social 107
Terapia Ocupacional 93
386
4.3 Ambulatório
- 1 consultório para clínica geral
- 1 consultório para pediatria
- 1 consultório para ginecologia e obstetrícia
- 2 banheiros
- Ampla e confortável sala de espera, com ventilação artificial e televisão
- Sala de emergência
- Sala de CAPD
- Sala de DPI
- Copa
- 4 salas de hemodiálise
- Sala para guarda de material
- 3 salas de lavagem de capilar
- Sala de tratamento de água por Osmose Reverso
- Almoxarifado
- 6 WC
4.9 Outros
- Creche para filhos de funcionários. Acolhe até 60 crianças/dia de zero a seis anos.
DIRETORIA ATUAL
Conselho Fiscal
Conselho de Administração
Jaime Sebastião Migliorini
Dr. Moacir Pontes
Kosuke Arakaki
Hélio Gazeta
Antônio Luiz Aielo
Sandro Renato de Lima
Alfredo Scarlatti Sobrinho
Alice da Silva Ferrarezi
Direto clínico
Dr. José Maria Nuevo Filho
Diretor técnico
Dr. Mauro Afonso Albuquerque
5.1 Objetivos
Implantação de Ambulatório Médico Especializado na região de Fernandópolis, para a
realização de algumas especialidades médicas, Criando uma rede de referência, com alta
resolutividade, por profissionais diferenciados apoiados por tecnologia avançada.
Produção estimada: 3.491 consultas médicas/mês; 500 consultas não médicas/mês; 7.887
exames/mês nos serviços de apoio diagnóstico.
O AME de Fernandópolis ampliará a rede de serviços de média complexidade voltada para
o Serviço Único de Saúde (SUS) na região, com uma população de abrangência de 110.790
habitantes, segundo estimativa do IBGE (2007). Atenderá aos seguintes municípios: Estrela d’Oeste,
Fernandópolis, Guarani d’Oeste, Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Ouroeste,
Pedranópolis, Populina, São João das Duas Pontes, São João de Iracema e Turmalina.
REFERÊNCIA
1 INTRODUÇÃO
Embora seja atual, o projeto “Toque de acolher”, idealizado e posto em prática por Evandro
Pelarin, juiz de direito da Vara da Infância e Juventude de Fernandópolis, se justifica por ser uma
medida socioeducativa da maior importância, que atinge diretamente pais e jovens e adolescentes. O
projeto propõe afastar de situações de risco jovens e adolescentes que, mesmo autorizados por pais
a se colocarem nas ruas da cidade, podem enfrentar, a qualquer momento, situações que os
coloquem em contato com vícios, drogas, prostituição, violência etc.
O projeto visa, pois, auxiliar pais e responsáveis no cuidado com os menores que, por
serem menores, geralmente podem não ter ainda a pertinência e a lucidez de ver uma situação de
risco e dela se protegerem. A responsabilidade maior cabe aos pais que, muitas vezes, desconhecem
tais situações ou mesmo pecam por negligência no cuidar dos filhos; o poder público, dessa forma,
vem-lhes em auxílio e orientação e, em segundo momento, bem chamá-los à responsabilidade como
pais responsáveis pela educação e formação dos filhos.
Certamente, Pelarin encontra oposições, mas o número de bem sucedidas incursões em
bares, boates, restaurantes ou quaisquer lugares que possam oferecer algum risco ao jovem têm
revelado resultados altamente positivos, levando a muitas cidades e mesmo estados a apoiarem o
projeto e se posicionarem na mesma direção.
conseguem. Eles [os menores] deveriam agradecer por terem alguém para olhar por eles e não
abandoná-los, como muitos pais fazem”, disse um dos jovens.
Quando questionados sobre ter vivenciado ou não a medida, 25% dizem ter vivenciado com
amigos ou parentes próximos, 75% dizem nunca ter passado por isso e apenas 5% dizem ter
vivenciado. “Graças a Deus nunca precisei disso”, afirmou ainda.
Realizada também com os pais e responsáveis dos alunos, a pesquisa revelou uma grande
divergência com relação aos números anteriormente citados. 93% aprovam a medida, enquanto 6%
aprovam com parcialidade e apenas 1% discorda totalmente. “Sempre controlei meu filho em seus
horários de chegar e de sair de casa. Mas os amigos também influenciam com opiniões diferentes.
Como não estou sempre por perto, fico despreocupada sabendo que ele não está se envolvendo com
nada de errado”, disse uma das mães na entrevista.
Questionados, também, sobre ter ou não vivenciado o toque com seus filhos, as respostas,
dessa vez, não divergiram tanto: 16% dizem ter vivenciado com amigos ou parentes próximos, 82%
dizem nunca ter passado por isso e 2% dizem ter vivenciado com seus filhos. A justificativa mais
apontada pelos pais que aprovam a lei é o fato de que, a partir desse trabalho, é possível controlar
melhor os jovens, principalmente aqueles a quem não foram impostos limites a partir da educação
vinda de casa e precisam ser ensinados por terceiros. “Só não concordo com os horários que
começam as festas. Muito tarde não dá certo,” continuou a mãe.
Entre os jovens que aprovam, os motivos mencionados são, principalmente, a ajuda para o
afastamento dos usuários de drogas, evitando a contaminação e o vício de outros jovens, além de
uma diminuição considerável no número de prostituição e acidentes envolvendo menores de idade.
Outros motivos também se fizeram presentes, como a não necessidade de jovens menores
permanecerem nas ruas até horários exagerados. Os índices presentes na pesquisas podem ser
observados nos gráficos de 1 a 6:
392
[...] o Juiz não decide para agradar às pessoas, menores ou maiores. O Juiz não tem
que fazer ‘média’ com ninguém. O Juiz aplica a lei. E, ao contrário do que muitos
pensam, a lei brasileira é muito boa; não perfeita, evidentemente. Então, o resultado
positivo de nosso trabalho é uma decorrência da aplicação da lei. Se alguns ou
muitos não gostam, paciência. Mas a lei será aplicada, quer gostem ou não. Pois a
lei é feita para o bem das pessoas.
E quanto aos benefícios trazidos pelo toque, afirma, na mesma entrevista, estar satisfeito
com os resultados:
[...] temos números positivos quanto à redução de menores envolvidos com drogas e
bebidas alcoólicas. Também, houve diminuição sensível de crimes cometidos por
adolescentes. Hoje, temos poucos menores presos na Fundação Casa (FEBEM),
em relação ao passado. Ou seja, temos mais adolescentes livres, efetivamente.
Livres da cadeia, livres dos crimes, livres das drogas. Isso tudo me deixa muito
satisfeito.
Na entrevista, ainda, Simioli indaga se houve algum caso que houvesse emocionado ou
surpreendido o juiz: “Não há um, em especial. No sentido em que você me pergunta, é muito triste ver
uma mãe chorando quando seu filho está tomado pelas drogas. Isso dói muito”, afirmou.
A repercussão do “Toque de acolher” tornou-se tão grande que, atualmente, o deputado
estadual Jooji Hato (PMDB) criou o Projeto de Lei n. 768, baseado na medida adotada por Evandro
Pelarin na cidade de Fernandópolis. A lei estadual proíbe a permanência e entrada de menores de
idade, quando desacompanhados de seus pais ou responsáveis legais, em locais públicos nos
horários compreendidos entre 23h30min e 5h, abrangendo restaurantes, bares, padarias,
lanchonetes, cafés ou afins, danceterias, boates ou afins, lan houses, casas de fliperama ou afins, ou
outros locais de frequência coletiva. No momento, aguarda-se a aprovação da nova lei.
Segundo o deputado Hato (2011),
Contudo, mesmo antes de ser aprovada, a nova legislação já está dividindo a opinião dos
demais deputados estaduais. Sobre a legislação, Pelarin disse não estar muito otimista: “Sei que há
parlamentares simpáticos a essas medidas, mas a maioria provavelmente optará por não criar
antipatias políticas, como é costume no Brasil”.
A polêmica causada pelo “Toque de acolher” foi tamanha que atingiu até residentes de
outras cidades da região e do estado de São Paulo. Por isso, em 2009, quatro anos após a adoção
da medida, Danilo Gentili, repórter do programa CQC, da Rede Bandeirantes de televisão, esteve na
cidade de Fernandópolis para entrevistar o juiz. Apesar de perguntas satíricas e as clássicas
396
“pegadinhas” feitas pelo repórter, Evandro Pelarin manteve sempre o tom bem-humorado,
respondendo com clareza e isenção de ânimos. A entrevista durou cerca de dez minutos.
Questionado pelo jornal “Cidadão” de Fernandópolis, Danilo Gentili disse que o motivo que
o levaram a se deslocar cerca de 560 quilômetros da capital para conhecer o “Toque de acolher” foi o
fato de várias cidades do ABC paulista estarem mobilizando-se para adotar a mesma medida. “Como
Fernandópolis já tem a medida há quatro anos, decidimos vir até a cidade”, disse Gentili; e
completou: “Lá é uma loucura, a cidade não para e é muito difícil ver uma criança ou adolescente
sozinho à noite na rua, por isso é difícil opinar sobre o assunto, mas pelo que estamos vendo por
aqui, a maioria é a favor do ‘Toque de Acolher ’”.
A utilização das redes sociais auxilia também para que o juiz se aproxime mais da juventude,
recebendo críticas e sugestões por meio de twitter (@EvandroPelarin), facebook e blog
(http://www.evandropelarin.blogspot.com). Assim, é possível saber qual a opinião das pessoas, bem
como os locais onde haverá menores em situações de risco fora do horário determinado pelo toque.
A adoção do “Toque de acolher” tornou-se muito eficiente e teve repercussão positiva por
toda a região e, até mesmo, por todo o país. Por isso, cidades como Meridiano, Macedônia,
Pedranópolis, Ilha Solteira e até cidades do interior da Bahia têm aderido à medida. Em 2009, o
programa foi apresentado, oficialmente, em Brasília, tendo apoio do então senador Magno Malta.
Além de ter afastado milhares de jovens de situações perigosas e evitado que inúmeros
casos de adolescentes e crianças entrassem para o mundo dos vícios, da morte e da prostituição, o
“Toque de acolher” também significou (e significa) a tranquilidade de milhares de pais e responsáveis,
não só em Fernandópolis, mas também em diversas cidades do país. São poucas as pessoas que se
preocupam com os jovens, nos quais se acredita estar o futuro do país; contudo, aqueles que
demonstram cuidado e carinho para com as crianças e os adolescentes realizam um trabalho
esforçado e, sem dúvida, muito bem feito em Fernandópolis cidade e região.
Colaboração
ETEC – Escola Técnica de Fernandópolis
A EVOLUÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES NA AGRICULTURA DO MUNICÍPIO
DE FERNANDÓPOLIS
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 1960 a agricultura brasileira passou por significativas transformações
na sua base produtiva. Essas alterações resultaram do processo de modernização da agricultura,
com o aval e o apoio do Estado, que iria implicar a integração agricultura/indústria, estabelecendo
condições para o desenvolvimento do Complexo Agroindustrial (CAI).
Entretanto, o processo de modernização não atingiu de forma homogênea todas as regiões,
produtos e categorias de produtores do país. Foi mais intenso no Centro/Sul, privilegiou os médios e
grandes produtores e se concentrou, inicialmente, nos produtos destinados ao mercado externo e nas
matérias-primas para a agroindústria.
Foi fundamental para o processo de modernização da agricultura a participação do Estado
com suas políticas de fomento, sobretudo o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). No entanto,
as iniciativas estatais conservaram e intensificaram as características que sempre acompanharam a
agricultura brasileira, como o privilégio aos médios e grandes produtores rurais em detrimento dos
pequenos, estabelecendo condições para a concentração fundiária.
Mesmo que tenha transcorrido de forma heterogênea, o processo de modernização da
agricultura implicou profundas transformações na sua base produtiva, tendo como um dos seus
resultados mais nítidos mudanças nas relações de trabalho e produção no campo. Por um lado,
foram reduzidas as relações de colonato, parceria e arrendamento e, por outro, ampliou-se o trabalho
assalariado.
No estado de São Paulo, o processo de modernização da agricultura se manifestou de
forma bastante intensa. Entretanto, também se caracterizou de forma desigual, tanto em esfera
territorial, quanto em relação à categoria de produtores e tipo de produtos. Nesse sentido, regiões
como a de Campinas, Piracicaba, Araraquara e, sobretudo, Ribeirão Preto, foram as que receberam
os maiores investimentos. Em outras regiões, como o oeste do estado, as transformações foram mais
lentas.
No município de Fernandópolis, localizado no Noroeste Paulista, o processo de
modernização agrícola se manifestou num ritmo bastante lento se comparado ao das regiões mais
desenvolvidas do estado. Isso pode ser atribuído a uma conjuntura de fatores. Em princípio, deve-se
lembrar que o município faz parte de uma das últimas áreas a ser efetivamente ocupada no estado de
São Paulo, vindo a se constituir numa região com desempenho econômico inferior àquele encontrado
em outras regiões do estado, como a de Ribeirão Preto, por exemplo. Contribuiu, também, a
ocupação das unidades produtivas locais, tendo nas pastagens, com a pecuária extensiva, o
predomínio em termos de área ocupada. Nesse setor, os investimentos em técnicas modernas de
produção foram insignificantes. Em relação aos produtos cultivados, sobressaíram, em termos de
área cultivada e de valor da produção, até meados da década de 1985, o café, o milho e o algodão.
Esses produtos também não foram alvos importantes em termos de investimentos em novas técnicas
na base produtiva na referida região.
Mesmo que lentamente, porém, as transformações na agricultura local ocorreram e
reproduziram as características principais da modernização agrícola do país. Dentre elas têm-se a
substituição de produtos cultivados, sobretudo café, algodão e arroz, por outros voltados para a
agroindústria, e as transformações nas relações de trabalho e produção.
Em relação às lavouras, observou-se a decadência de produtos que eram cultivados desde
o início da ocupação efetiva do município de Fernandópolis e a ascensão do cultivo de outros, como
Mestre em Geografia pela UNESP/Presidente Prudente. Docente da rede pública do Estado de São Paulo, do
Colégio Objetivo e da Fundação Educacional de Fernandópolis, São Paulo, Brasil.
398
2 INÍCIO DO POVOAMENTO
Três correntes migratórias contribuíram para o início da ocupação do Município de
Fernandópolis, as quais eram representadas por mineiros, baianos e italianos. Os primeiros
157
moradores eram criadores de gado, oriundos do estado de Minas Gerais e se instalaram na região
no final do século XIX. Entretanto, o povoamento efetivo só ocorreu a partir da década de 1920.
A fundação do núcleo urbano ocorreu em 1939 e a emancipação político-administrativa do
município se deu em 1944/1945. A exemplo de toda a região de Fernandópolis, Jales e outros
municípios vizinhos, a criação do núcleo urbano antecedeu a ocupação da área rural. Para Locatel
(2000, p. 49),
a fundação das cidades tinha como objetivo a criação de uma infraestrutura mínima,
pois, rapidamente, surge um pequeno comércio, serrarias, máquinas de
beneficiamento de arroz e de descaroçar algodão, fundamentais para o início das
atividades agrícolas [...].
156
Em relação ao sistema de arrendamento, ocorre a redução do número de estabelecimentos sob essa
condição, o que significa o declínio dos pequenos produtores arrendatários. No entanto, a partir da década de
1990, volta a ocorrer a expansão da área cultivada em terras arrendadas, fato relacionado à expansão da
lavoura canavieira, ou seja, sob o comando do grande capital.
157
Neste trabalho, a noção de região aparece como a área compreendida pelo município de Fernandópolis e
seus municípios circunvizinhos.
158
Atualmente, Mato Grosso do Sul. No período citado, ainda não havia ocorrido a divisão do estado de Mato
Grosso.
159
Monbeig definia como franja pioneira grandes trechos recobertos inteiramente por florestas nos quais só
viviam alguns caboclos.
399
Consta que Carlos Barozzi, além de fazendeiro, era também representante de vendas das
terras do Senhor Gabarino e, à medida que vendia as terras, recebia, a título de comissão, uma
porcentagem em terras ou dinheiro.
Em 1937, Carlos Barozzi, após vender seu armazém, transferiu-se com sua família para a
região que hoje compreende Fernandópolis. Salienta-se que parte de sua fazenda já estava
desbravada, sob o comando de seu filho mais velho Luis Armando Barozzi, cujo trabalho foi de
extrema importância para a expansão dos negócios da família. Com a venda de seu armazém, em
Elisiário, a família Barozzi teria ficado sem capital de giro para aplicar em sua fazenda, fato que
motivou o loteamento de parte de suas terras. Soma-se a isso a possibilidade de multiplicação do
capital a partir da especulação fundiária proporcionada pela venda de pequenos lotes.
160
O clima na região é marcado por elevadas temperaturas e uma longa estação de estiagem que, normalmente,
vai de maio ao final de setembro, o que prejudica os cafeeiros principalmente no período da florada, diminuindo a
possibilidade de boas safras regularmente.
400
De acordo com escrituras lavradas em Cartório de Monte Aprazível, no período entre 1937 e
1942, constata-se a venda de lotes para grande número de pessoas, entre elas:
José Antônio de Souza (20 alqueires), Antônio Acaçá Barrinuevo (20 alqueires),
José Pradella (30 alqueires), Lázaro Custódio de Mello (10 alqueires), Augusto
Tarsinafo (5 alqueires mais data), Ângelo Sartori (1 alqueire e três quartos), Américo
Nitani (10 alqueires mais data), Durvalino José da Cruz (4 alqueires), Antônio
Rodrigues Ferreira (3 alqueires), José Lourenço Félix (2 alqueires mais data), Diogo
Peres Marques (10 alqueires), Jaime de Jesus (1 alqueire mais 33 litros e mais
data), Domingos Vian (33 alqueires), Antônio Alcaça Bella (59 alqueires) [...].
(PESSOTTA et al., 1996, p. 19)
161
Consorciado se refere ao plantio no espaçamento entre as fileiras de pés de café.
401
61,2%; em 1970, 58,8%; em 1980, 63,1%; em 1985, 59,3% e, em 1995/96, 64,9% do total da área
dos estabelecimentos agropecuários162.
Entre os produtos cultivados até o início da década de 1980, quando começa a se implantar
o cultivo da cana-de-açúcar, o café e o algodão são os que possuíram maior importância para a
economia local. Além de garantir a capitalização de boa parte dos produtores, contribuíram
sobremaneira para o mercado de trabalho no campo. Destacou-se, ainda, o cultivo do milho e do
arroz; este último, em grande parte, tinha como principal objetivo a subsistência do produtor,
destinando-se ao comércio somente o excedente produzido.
162
Neste trabalho, entenda-se por estabelecimento qualquer propriedade rural produtiva.
402
Tabela 01 Principais lavouras em área cultivada (ha) na agricultura do município de Fernandópolis (SP), de 1970
a 2001
Produto 1970 1980 1985 1995/96 2001
Algodão 3.824 329 2.518 350 400
Amendoim 98 79 27 - -
Arroz 2.172 747 956 110 100
Banana - 1 1 200 850
Borracha (látex) - - - - 226
Café 6.044 5.858 5.727 389 520
Cana 40 93 3.449 5.147 5.115
Feijão 17 135 37 400 250
Laranja 64 311 765 1.133 1.969
Limão - 2 56 50 252
Manga - - 4 27 50
Milho 3.560 3.123 2.880 1.495 4.300
Tangerina - 1 3 64 89
Soja 70 198 52 6 80
Fonte: FIBGE, 1997 (Censos agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96); FIBGE, 2001. (Produção agrícola
municipal – 2001)
Nota-se que os cafezais somavam 6.044 ha em 1970, período auge do cultivo do produto,
passando a ocupar apenas 520 ha em 2001, tendo, portanto, uma redução de 91,4% em sua área
cultivada. Observa-se, também, que, em 1970, o arroz e o algodão ocupavam 2.172 ha e 3.284 ha
respectivamente; já em 2001, as áreas ocupadas por esses produtos foram reduzidas em 95,4% e
87,8% respectivamente, passando a representar 100 ha para o arroz e 400 ha para o algodão.
Enquanto a área ocupada com o café, o algodão e o arroz declinava, outras lavouras tinham
sua área de cultivo expandida. A laranja aumentou de 64 ha em 1970 para 1.969 ha em 2001, tendo
um acréscimo de 96,8%. Cita-se, ainda, o limão, a borracha e a banana que, até 1980, praticamente
inexistiam no município para fins comerciais e, em 2001, respondiam por 252 ha, 226 ha e 850 ha,
respectivamente.Entretanto, o produto que mais se destacou nessa reestruturação da agricultura no
município de Fernandópolis é a cana-de-açúcar, que passou a ser cultivada em grande escala a partir
do início da década de 1980, com a instalação da Destilaria Alcoeste S/A, em 1982. Em 2001, a área
cultivada com a cana, de acordo com os dados da FIBGE (2001), atingia 5.115 ha. Em 2003, de
acordo com os produtores, a lavoura canavieira no município abrangeu aproximadamente 7.500 ha.
A importância da lavoura canavieira na agricultura do município de Fernandópolis pode ser
observada na tabela 2, referente ao valor da produção em 2001.
dessa reestruturação foi, por um lado, a redução do regime de parceria, comum no cultivo do café,
lavoura que teve sua área sensivelmente reduzida e, por outro, a expansão do trabalho assalariado
volante, bastante empregado nas lavouras de banana, laranja e, com maior amplitude, na cana-de-
açúcar, principalmente no período da safra.
Convém mencionar que a reestruturação social da produção é motivada não só pela
substituição de algumas lavouras por outras. Relaciona-se, também, à tecnificação da base produtiva
com a ampliação dos investimentos de capital em novas técnicas de produção, que implicam
diretamente a redefinição do emprego de mão de obra no campo, já que essas técnicas ampliam o
controle do processo de trabalho por parte do empresário capitalista.
163
Esclarece-se que, neste trabalho, o termo “pequeno produtor” se refere à dimensão territorial da unidade
produtiva. Deve-se lembrar que em relação ao montante produzido, independentemente da dimensão da
propriedade, já que, em uma pequena unidade produtiva, se pode conseguir uma grande produção, o que está
diretamente atrelado à maneira como é conduzido o processo produtivo. Por outro lado, existem grandes
unidades produtivas apresentando produções insignificantes, seja em termos de valor, seja em termos do volume
produzido e/ou de área cultivada.
404
pudesse proporcionar o retorno financeiro necessário para o atendimento das necessidades básicas
do agricultor e sua família e, para muitos, garantir a continuidade do pagamento do lote de terra
recém-adquirido.
A cafeicultura se tornou a atividade mais importante na agricultura do município de
Fernandópolis, desde o início de sua ocupação até meados da década de 1980, tendo participação
fundamental na economia local.
A partir da segunda metade da década de 1980, a decadência da lavoura, não só em
Fernandópolis, mas em toda a região do Noroeste Paulista, foi acelerada, tendo como condicionante
um conjunto de fatores. Entre eles, podem-se destacar a concorrência estrangeira em relação à
produção, proporcionando a formação de estoques, derrubando os preços no mercado internacional;
a má qualidade do produto nacional, uma vez que não havia, por parte dos produtores, a
preocupação com o aperfeiçoamento de técnicas, sobretudo por ocasião das colheitas, que
164
pudessem gerar ganhos de qualidade para o consumo ; condições climáticas adversas, culminando
com uma forte geada, em julho de 1975, que atingiu e danificou duramente a maioria dos cafeeiros da
região; e a incidência de pragas, aniquilando as lavouras.
No tocante às condições edafoclimáticas, salienta-se que elas não eram satisfatórias para a
cafeicultura na região. Parece contraditório, quando se afirmou que a lavoura cafeeira se constituiu no
principal produto da agricultura local, desde as primeiras décadas de ocupação do município até por
volta de 1985.
De acordo com depoimento do engenheiro agrônomo, diretor agrícola da CATI/Regional de
Fernandópolis, no início da ocupação do município, o cafeicultor não contava com clima adequado
para a prática de sua atividade, porém, isto em parte era compensado pela fertilidade do solo ainda
pouco explorado. Com o passar dos anos, porém, o solo, em função de suas características físico-
químicas, arenoso e com fertilidade apenas razoável, se foi desgastando rapidamente.
Em relação às características climáticas, as elevadas temperaturas, principalmente, entre
setembro e março, interferem de forma prejudicial na produtividade do café. Ocorre que,
normalmente, nos meses de setembro e outubro, os cafeeiros estão em período de florescimento, e o
forte calor queima parte dos botões, impedindo a fecundação que iria gerar os grãos de café.
Acrescentam-se, ainda, alguns períodos de estiagem prolongada, característica do clima tropical
marcado por verão chuvoso e inverno seco, que acabam por aniquilar as floradas ou até mesmo
derrubando os grãos de café, quando estes ainda estão em fase de formação.
Além dos problemas de ordem edafoclimáticas, desenvolveram-se várias doenças,
implicando a necessidade de aplicação de elevadas doses de defensivos. Para suprir, em parte,
essas deficiências que reduziam a produtividade, seria necessário o investimento em outras técnicas
de produção, não comuns até então, como a utilização de fertilizantes e de sistemas de irrigação.
Paralelamente a esses fatores, pode-se acrescentar a política de contenção de créditos por
parte do governo federal na década de 1980, que retirou os financiamentos subsidiados à agricultura.
Para que se compensasse a queda nos preços do produto, seria necessário o aumento da
produtividade, e isso só seria possível através da recomposição das lavouras por meio da utilização
da técnica de podas ou até mesmo a substituição de antigos por novos cafezais.
Esses procedimentos só seriam colocados em prática mediante novos investimentos, o que
praticamente eliminou a possibilidade da maioria dos agricultores, que já vinham experimentando o
processo de descapitalização em função da baixa produtividade e da queda nos preços do produto.
Dessa forma, a decadência da cafeicultura na região do Noroeste Paulista e no município de
165
Fernandópolis foi iminente . O Censo Agrícola de 1960 indicava a existência de 8.366 ha ocupados
164
Para colher o café, os frutos eram inicialmente derrubados no solo permanecendo por vários dias até serem
recolhidos. Durante esse período, em função da umidade do solo, muitas vezes sob a ocorrência de chuvas, a
qualidade dos frutos era comprometida. Em entrevista concedida ao jornal Diário da Região de São José do Rio
Preto (12/01/2003), um dos sócios da maior corretora de café do Brasil (Escritório Carvalhaes, localizado em
Santos), Eduardo Carvalhaes Júnior, afirmou que, até 1970, o café colhido na região de São José do Rio Preto
era de ótima qualidade. A partir de então, a qualidade do produto caiu demasiadamente. Disse, ainda, que não
saberia explicar os motivos dessa decadência, mas desconfia que a formação dos lagos das hidrelétricas na
região pode ter interferido nas condições climáticas, principalmente na umidade do ar, o que teria afetado a
qualidade do café. Sugere um estudo sobre o caso.
165
O caderno “Agronegócios” do jornal Diário da Região de São José do Rio Preto, de 12/01/2003, trouxe
matéria sobre a decadência do café na região. Na ocasião, o agrônomo chefe da Casa da Agricultura de
405
com a lavoura cafeeira no município e, em 1996, de acordo com o Censo Agropecuário do mesmo
ano, esse montante se reduziu a 389 ha.
A tabela 3 demonstra uma característica marcante na cafeicultura da região e do estado de
São Paulo. Trata-se da irregularidade na produtividade das safras.
Tabela 3 Área cultivada, produção e produtividade do café no município de Fernandópolis e no estado de São
Paulo – 1960 a 1996
Ano 1960 1970 1980 1996
Fernandópolis Fernan- Est. Fernan- Est. S. Paulo Fernan- Est. S. Paulo Fernan- Est. S. Paulo
Est. São Paulo dópolis S. Paulo dópolis dópolis dópolis
Área cultivada (ha) 8.366 1.285.535 6.044 650.877 5.858 821.046 389 214.7333
Total produzido (t) 13.232 1.344.918 3.962 466.757 8.876 793.870 325 340.937
Produtividade (t/ha) 1,58 1,04 0,65 0,71 1,55 0,96 0,84 1,58
Fonte: FIBGE, 1997. (Censo agrícola de 1960; Censos agropecuários de 1970, 1980 e 1995/96)
De acordo com os dados da tabela 1, observa-se que, tanto no estado de São Paulo quanto
no município de Fernandópolis, em 1970, a produtividade reduziu-se em relação a 1960. Em 1996,
porém, em relação a 1980, enquanto no estado houve a elevação da produtividade, em
Fernandópolis houve grande redução. Essa inversão talvez possa ser atribuída ao fato de que a
maioria dos cafezais em produção estivesse já bastante debilitada, já que a substituição de velhas
por novas lavouras, com técnicas que melhorassem a produtividade, era incipiente.
De acordo com os dados da FIBGE, temos para o Município de Fernandópolis, no ano de
1960, uma produtividade média de 26,6 sacas de 60 kg/ha; em 1970 a produtividade reduziu-se para
10,8 sacas/ha; em 1980 a média de produtividade ficou em 25 sacas/ha; já em 1995/96 houve
novamente a redução da produtividade, atingindo 14 sacas/ha.
Para Carvalhaes Junior (2003), quem não conseguir uma produtividade média de 30 sacas
(1.800 kg) por hectare dificilmente irá se sustentar nesse ramo de produção.
De acordo com a tabela 1, no município de Fernandópolis, a produtividade do café para o
período de 1960 a 1996, por ocasião da realização dos censos apresentou a média de 19,1 sacas/ha.
É muito baixa se comparada àquela apontada por Carvalhaes como necessária para a permanência
do agricultor no ramo da cafeicultura, o que ajudaria a explicar a decadência da atividade na região.
Guapiaçu, Osmar Figueira, afirmou que a região de São José do Rio Preto, indo de Santa Adélia até Rubinéia,
às margens do rio Paraná, chegou a ter, na fase áurea do café (década de 1970), 180 milhões de pés de café.
Em 2003, segundo o agrônomo, o total estava entre 8 e 10 milhões.
406
porque podiam usufruir amplamente das terras mais férteis das regiões de matas
recém-derrubadas, cultivando gêneros alimentícios necessários à sua sobrevivência,
cujos excedentes eram comercializados seja com o próprio fazendeiro, seja com os
comerciantes das povoações e cidades próximas. A colheita do café no último ou
nos últimos anos de formação da planta acrescentava recursos monetários ao
pagamento final do trabalho.
Salienta-se que essa relação de trabalho e produção estabelecida entre o formador de café
e o dono da propriedade era mais conveniente para este último que receberia, ao final do contrato
entre as partes, o cafezal formado, podendo reproduzir seu capital sem uma relação capitalista com o
colono. Isso se evidenciava porque
Para ser meeiro, duas condições eram básicas: de um lado, ter uma família grande
não só em número, mas também com pessoas adultas. De outro, que o proprietário
da terra, por diversas condições particulares, se dispusesse a este tipo de contrato,
como por exemplo, não morar próximo – ser de outra região -, não ter condições de
explorá-la sozinho e não poder contratar colonos, ou ainda ter outras atividades que
não lhe dispensavam tempo suficiente para cuidar da propriedade etc. (BIZELLI,
1998, p. 81)
Essa relação de trabalho alimentava o sonho, quase sempre não realizado, de uma vida
melhor para os trabalhadores. As maiores dificuldades se relacionavam à falta de capital para se
investir na produção, o que levava o parceiro a recorrer ao dono da terra para que este financiasse os
insumos a serem utilizados, e isso elevava a taxa da produção a ser entregue ao proprietário, que de
50,0%, se elevava a 60,0% ou mais. Dessa forma, poucos foram os agricultores, inseridos nessa
relação de trabalho e produção, a conseguir crescimento econômico, garantindo a produção e
reprodução de capital.
Assim, nas primeiras décadas da ocupação do município de Fernandópolis, os sistemas de
arrendamento e, sobretudo, a parceria, em termos de número de estabelecimentos, foram bastante
significativos no contexto da agricultura local. Entretanto, as transformações na dinâmica produtiva do
setor impostas pelo processo de modernização das atividades agrícolas, sob o comando do capital,
estabeleceram a redução dessas relações sociais de trabalho e produção.
408
Tabela 4 Condição do produtor em número e área (ha) dos estabelecimentos agropecuários no município de
Fernandópolis (SP), de 1970 a 1995/96
Estabele-
Produtor 1970 1980 1985 1995/96
cimentos
Nº (%) 539 37,8 550 47,5 651 52,7 706 83,5
Proprietário
Área (%) 36.412 76,4 45.520 80,6 46.036 85,7 43.065 91,7
Nº (%) 298 20,9 45 3,9 58 4,7 52 6,1
Arrendatário
Área (%) 3.084 6,5 1.747 3,1 1.618 3,0 2.661 5,6
Nº (%) 522 36,6 503 43,4 497 40,2 61 7,2
Parceiro
Área (%) 5.037 10,5 4.832 8,5 5.269 9,8 790 1,7
Nº (%) 67 4,7 60 5,2 30 2,4 27 3,2
Ocupante
Área (%) 3.129 6,6 4.350 7,8 780 1,5 459 1,0
Nº (%) 1.426 100,0 1.158 100,0 1236 100,0 846 100,0
Total
Área (%) 47.662 100,0 56.449 100,0 53.693 100,0 46.975 100,0
Fonte: FIBGE, 1997. (Censos agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96)
Tabela 05 Condição do produtor em número e área (ha) dos estabelecimentos agropecuários no município de
Fernandópolis (SP), de 1970 a 1995/96
Produtor Estabele- 1970 1980 1985 1995/96
cimentos
Proprietário Nº (%) 539 37,8 550 47,5 651 52,7 706 83,5
Área (%) 36.412 76,4 45.520 80,6 46.036 85,7 43.065 91,7
Arrendatário Nº (%) 298 20,9 45 3,9 58 4,7 52 6,1
Área (%) 3.084 6,5 1.747 3,1 1.618 3,0 2.661 5,6
Parceiro Nº (%) 522 36,6 503 43,4 497 40,2 61 7,2
Área (%) 5.037 10,5 4.832 8,5 5.269 9,8 790 1,7
Ocupante Nº (%) 67 4,7 60 5,2 30 2,4 27 3,2
Área (%) 3.129 6,6 4.350 7,8 780 1,5 459 1,0
Total Nº (%) 1.426 100,0 1.158 100,0 1236 100,0 846 100,0
Área (%) 47.662 100,0 56.449 100,0 53.693 100,0 46.975 100,0
Fonte: FIBGE, 1997.( Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985 e 1995/96)
[...] o programa, que vendia a imagem de ser a saída brasileira para a crise do
petróleo, passa a ser o principal projeto de continuidade do processo de
modernização conservadora da agricultura e o principal instrumento do Estado de
ajuda aos usineiros para superarem a crise a que estavam submetidos. Isto significa
que o Proálcool, ao mesmo tempo em que se constitui num instrumento econômico
de salvação de um setor de atividade, é, também, continuidade e aprofundamento
de um projeto de desenvolvimento da agricultura. (ALVES, 1991, p. 34)
410
Nesse sentido,
166
Em São Paulo, os recursos e projetos aprovados para as novas destilarias anexas foram
direcionados, sobretudo, para as Divisões Regionais Agrícolas (DIRAs) de Ribeirão Preto, Campinas
e Bauru. Entretanto, em relação às destilarias autônomas
a maior parte dos recursos, cerca de 80% dos recursos e 70% dos projetos
aprovados, foi direcionada para áreas não tradicionais na canavicultura
(equivalentes fundamentalmente às DIRAS de Araçatuba, São José do Rio Preto e
Presidente Prudente) – consideradas nos aumentos nos documentos oficiais como
Noroeste, Alta Araraquarense e Alta Sorocabana -, tendo à frente também, na
maioria dos casos, empresários não tradicionais na atividade agroindustrial
canavieira. (THOMAZ Jr., 2002, p. 94)
Assim,
166
Considera-se destilaria anexa quando um empresário que já possuía usina, voltada à produção de açúcar,
montava uma destilaria visando à produção de álcool. As autônomas, por sua vez, eram aquelas cujos
proprietários ainda não estavam inseridos no ramo canavieiro.
411
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
intenso e dominante nas últimas décadas, este se materializou de maneira heterogênea e excludente
priorizando regiões, produtores e produtos. Em termos regionais, o Centro/Sul do país recebeu os
maiores investimentos, incluindo aí o município de Fernandópolis. Quanto aos produtos cultivados, os
maiores incentivos se destinaram àqueles voltados para a agroindústria e a exportação. Em relação
aos produtores, os grandes proprietários sempre contaram com maiores facilidades para investir na
sua produção, principalmente no que diz respeito ao acesso ao crédito agrícola.
Contudo, uma das mais significativas características da modernização da agricultura
brasileira se refere às transformações nas relações de trabalho e produção no campo. Reduziram-se
os regimes de arrendamento, colonato e parceria, por um lado, e, por outro, expandiu-se a
proletarização do trabalhador rural, ampliando a categoria dos trabalhadores volantes residentes em
sua maior parte nas periferias das áreas urbanas.
Em Fernandópolis, essas transformações se materializaram, porém, num ritmo muito mais
lento em relação a outros centros mais desenvolvidos da agricultura brasileira e paulista. Até o início
da década de 1980, a agricultura do município não apresentou alterações significativas na sua
estrutura produtiva. Ficou dependente da pecuária extensiva e do cultivo de lavouras tradicionais
como café, algodão, milho e arroz, além da laranja que já tinha sua área de cultivo expandida desde o
início da década de 1970. São produtos que foram pouco expressivos em relação aos investimentos
em novas técnicas de produção.
A partir do início da década de 1980 expande-se a lavoura canavieira em virtude da
implantação da Destilaria Alcoeste S/A (1982). Paralelamente ao desenvolvimento da lavoura
canavieira e outras ligadas ao ramo da fruticultura como laranja, banana e limão, começou a declinar
a área ocupada com as lavouras de café, algodão e arroz. Desenvolveu-se, assim, uma nova fase na
agricultura local, marcada pela decadência das lavouras que predominaram no início da ocupação
efetiva do município e a ascensão das culturas características da expansão capitalista no campo.
Dessa forma, mesmo que tardiamente, caracteriza-se na agricultura local a substituição de produtos
cultivados, uma das consequências do processo de modernização da agricultura brasileira.
No tocante às relações sociais de trabalho e produção, a agricultura de Fernandópolis
acompanhou o padrão das transformações na agricultura brasileira e paulista. Ampliaram-se as
relações tipicamente capitalistas, levando à perda de importância especialmente dos regimes de
colonato e parceria. Fortaleceram-se o trabalho do proprietário (familiar) e a proletarização do
trabalhador rural, sobressaindo o trabalho assalariado temporário, o trabalho volante realizado pelos
chamados boias-frias.
Durante as décadas de 1970 e 1980, os trabalhadores volantes da Microrregião Geográfica
de Fernandópolis contavam com as lavouras de café e algodão como as principais empregadoras
dessa mão de obra, tendo nas colheitas o momento de pico na absorção de trabalhadores. A partir de
1982, a lavoura canavieira foi, aos poucos, se transformando na mais importante fonte de emprego
dessa relação de trabalho no campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHAES, Eduardo. Região de São José do Rio Preto já teve 180 milhões de pés de café.
Jornal Diário da Região (Caderno de agronegócios), São José do Rio Preto, 12 jan. 2003.
413
FERREIRA, Enéas Rente; BRAY, Silvio Carlos. As influências do Proalcool e do Pró-Oeste nas
transformações das áreas canavieiras do estado de São Paulo. Geografia, Rio Claro, v. 9, n. 17–18,
p. 101–113, out. 1984.
______. Produção agrícola municipal de 2000 e 2001. Rio de Janeiro: FIBGE, 2001. Disponível
em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 05 mar. 2002.
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. Trad. Ary França e Raul de Andrade e
Silva. São Paulo : Hucitec-Polis, 1984.
PESSOTTA, Amadeu J. et al. Fernandópolis nossa terra, nossa gente. Fernandópolis : Bom Jesus,
1996.
SILVA, J. Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas : UNICAMP/IE, 1996.
SORJ, Bernardo. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro : Zahar, 1980.
THOMAZ Jr., Antonio. Por trás dos canaviais, os “nós” da cana: a relação capital x trabalho e o
movimento sindical dos trabalhadores na agroindústria canavieira paulista. São Paulo : Annablume,
2002.
A UMBANDA EM FERNANDÓPOLIS
Colaboração: Neuza Cimiano, José Lourenço de Souza( Zezinho) e Evandro Luís Inácio169
169
Evandro Luís Inácio é o atual presidente da entidade.
PARTE III
BIOGRAFIAS
APRESENTAÇÃO
Adhemar Monteiro Pacheco nasceu Ribeirão Preto (SP), em 27 de novembro de 1920, filho
de Abílio Monteiro e de Anina B. Monteiro. Foi casado com Da. Maria Aparecida Viotto Monteiro, com
quem teve seis filhos Regina Helena, Regina Célia, Adhemar Júnior, Carlos Roberto, Regina Silvia e
Fernando José.
Foi médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, turma de
1947. Entre 1946/1947, como acadêmico interno da 3ª turma de Cirurgia de Homens da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo, foi colaborador do professor-doutor Alípio Correa Neto. Entre 1963 e
1968, foi membro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Exerceu a medicina,
também, no Hospital e Maternidade São Cristóvão, localizado no bairro da Mooca, tendo sido seu
vice-diretor clínico e membro da equipe de Ginecologia e Obstetrícia.
Radicado na cidade de Fernandópolis (SP), exerceu a medicina de 1949 a 1969. Com um
grupo de colegas médicos, colaborou na construção da Casa de Saúde Nossa Senhora das Graças,
primeiro hospital da cidade.
Ingressou na política em 14 de outubro de 1951, quando foi eleito vice-prefeito da cidade,
exercendo o cargo entre 1952 a 1955, período em que dirigiu a construção da Santa Casa de
Misericórdia.
170
Em 3 de outubro de 1955, foi eleito Prefeito de Fernandópolis , pela coligação PDC,PSD,
PSB e PDN, exercendo o cargo entre 1956 a 1959. Seu governo foi marcado pelo início do
asfaltamento das vias públicas, pela implantação da Escola Normal Municipal, pela inauguração da
companhia Telefônica de Rio Preto e pela inauguração da Santa Casa de Misericórdia.
Após o término de seu mandato, nas eleições de 4 de outubro de 1959, elegeu-se vereador
à Câmara Municipal de Fernandópolis para a legislatura de 1960 a 1963, sendo seu presidente no
exercício de 1960. Nesse período, junto com outros médicos fernandopolenses, construiu o Hospital
das Clínicas.
Nas eleições de 7 de outubro de 1962, foi eleito deputado estadual com 8.826 votos. Na 5ª
Legislatura, de 1963/1967, foi membro efetivo das Comissões de Saúde e Higiene, Finanças e
suplente na comissão de Divisão Administrativa e Judiciária, Educação e Cultura e na de Economia.
Com a extinção dos partidos políticos e a instauração do bipartidarismo, filiou-se ao
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido pelo qual foi novamente eleito no pleito de 15 de
novembro de 1966, com 10.846 votos, tomando posse na 6ª Legislatura (1967/1971), em 12 de
março de 1967, quando se transferiu para a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Fez parte como
titular das Comissões de Finanças, Saúde e Higiene, da qual foi presidente - tendo recebido e
saudado o cientista Albert Sabin, quando em visita ao Palácio 9 de Julho. Foi, também, suplente nas
Comissões de Assistência Social, Obras Públicas, Transporte e Comunicações.
170
Seu período de governo acha-se relatado na primeira parte (histórica) desta obra.
418
(Equipe Executiva)
419
ANGELO SARTORI
A Itália, por época da Segunda Guerra Mundial, vivia situação de absoluta miséria, o que
estimulou muitos italianos a fugirem para outros países em busca de melhores condições de vida.
Para a família Sartori não foi diferente. Seu pai, Godofredo Sartori, sua mãe, Maria Tacca, a
irmã mais velha, Fortunata e o tio Luigi Sartori, então com 16 anos, e sua nona Regina Cattai
emigraram para o Brasil em 1895. Vieram a bordo do vapor Pará, e se instalaram na hospedaria dos
Imigrantes no Brás em São Paulo;mais tarde, mudaram-se para uma fazenda de café no distrito de
Santa Eudóxia em São Carlos. Ali nasceram ainda os irmãos Alcebíades, Amábile, Antonio e, por
ultimo, Ângelo Sartori, em 20/02/1904.
Sua mãe faleceu logo em seguida, e ele foi criado pela avó e pelos irmãos. Não frequentou
escolas e, desde cedo, trabalhou com a doma de animais, muito necessários nas lavouras de café;
também era o cocheiro do Cimitrole da fazenda. Ia diariamente à cidade buscar correspondência,
encomendas e levar pessoas, conforme as ordens do feitor. O Cimitrole era puxado por dois cavalos,
tinha 4 rodas secas, madeira com aro de ferro, cobertura, bancos etc.
O café requeria grande quantidade de trabalhadores, e as fazendas construíam as colônias
de casas onde se misturavam, predominantemente, famílias italianas de diversas regiões da Itália
(com dialetos diferentes), espanhóis e, em menor número, outras nacionalidades. A cada ano a
fronteira do café avançava para o interior do Estado de São Paulo e as famílias, após terem cumprido
as exigências contratuais da imigração com o patrão, podiam mudar-se para outra fazenda.
Nos anos 20, o café já cobria a região de Catanduva. O trem ia até Rio Preto e, além de Rio
Preto, era o Sertão. Como muitos colonos fizeram, eles também foram em direção à fronteira:
primeiramente, nas proximidades de Jaboticabal e, em 1924, então com 20 anos, ele e a família
trabalharam em fazenda de café próxima a Itajobi. Nesse mesmo ano, ali se casa com Julia Dini,
também filha de imigrantes italianos, Giovanni Dini e Amália Sgobi. Essa união lhes trouxe nove
filhos: Irineu (1925), Candido (1926), Raul (1927), Armando (1928), Ivo (1930), Osvaldo (1931),
Ângelo (1932), Aurora (1937) e Otávio (1945).
Com a crise de 1929, o café ficou, sem mercado, perdeu preço; os fazendeiros
descapitalizados e os empregados em situação difícil mudavam-se de fazenda em fazenda buscando
espaço para outras culturas como arroz, feijão, milho e algodão. Havia muita insegurança no campo
com roubo dos bens mais importantes dos colonos, que eram porcos e cavalos. Em 1938, Ângelo
morou entre Itajobi e Novo Horizonte, plantou algodão numa antiga pastagem. Ali morava também
seu compadre André Scamatti, um pouco mais velho, que, com vários filhos já rapazes, plantava uma
área muito maior de algodão.
Certo dia, ele e o compadre tomaram a “jardineira” para irem fazer compras em Novo
Horizonte; lá ouviram o alto-falante anunciar a venda de terras na gleba Marinheiro. André se
interessou, já que previa uma boa colheita de algodão, e chamou o Ângelo, mesmo que fosse só para
companhia, pois não tinha idéia de como era entrar no sertão.
Uma jardineira os trouxe até vila Monteiro; de lá, corretores os conduziram até vila
Brasilândia, que estava sendo inaugurada. A Vila se resumia à venda (armazém, que tinha sido
420
transferida da sede da fazenda São Luiz Gonzaga, do Barozzi), alguns ranchos e o cruzeiro. A venda
ficava sob os cuidados do funcionário Ângelo Pablo, que “tocava a roça” onde é hoje a praça; quando
chegava algum freguês, geralmente a cavalo vindo de longe, ele ia atender.
André comprou, então, 64 alqueires de mata no Córrego do Morcego, cerca de 5 km de
Brasilândia, o Ângelo, com menos recursos, comprou uma sobra de terreno de 7 alqueires bem
próximo à área que o Barozzi reservou para a Vila. Para quem toma a Rodovia no trevo de
Brasilândia, no sentido Meridiano, na primeira descida ainda há algumas árvores que denunciam ter
sido o quintal de sua casa, mas não são nem sombra da vida que existiu ali. Em 1958, o traçado da
Euclides da Cunha tomaria a sua casa, que foi desapropriada para dar passagem à rodovia.
Com a venda do algodão colhido no início de 1939, Sartori pagou as terras compradas e
construiu as casas de madeira para buscar a família. Como só havia um caminho no sentido Tanabi,
Monteiro, Brasilândia, essa estrada passava em frente a seu sítio e próxima à sua casa antes de
chegar à vila, então ponto final para quem viesse para estes “sertões”. Assim, ele presenciou todo o
movimento de chegada dos pioneiros que desenvolveram a vila Brasilândia. Naquele ano, também foi
171
inaugurada a vila Pereira e o ponto final passou então para lá .
Ele iniciou a derrubada da mata para plantio de cereais e, assim, instalar a sua célula de
sobrevivência. A melhor parte da terra reservou para o plantio do café, cuja plantação estava proibida
ainda em função da crise de 29. Todos faziam o mesmo: derrubavam as baixadas, a pior parte
reservada para a sobrevivência à espera do café. Os lotes de terrenos tinham pelo menos 10
alqueires; assim, cada um tinha uma clareira onde os novos proprietários residiam. Cabe ressaltar
que as baixadas eram secas e os córregos só surgiram após a derrubada das matas. Também o seu
sitio não tinha córrego e foi após a derrubada das matas, que surgiu o córrego conhecido como do
Gatão.
Brasilândia estava na fazenda do Barozzi, cuja sede era à esquerda da avenida que chega
à exposição, a cerca de 500 metros acima do ginásio Beira Rio. Ali havia uma mina d’água e, por
isso, foi escolhida como local da sede. A fazenda tinha seus limites no perímetro divisor de águas do
Ribeirão Marinheiro com o Ribeirão Santa Rita e Rio São José dos Dourados; portanto os limites da
fazenda por alto se localizavam onde é hoje a Avenida da Saudade, as avenidas Afonso Cáfaro e a
Expedicionários, o Jardim Santa Helena, ou seja, basta observar para qual bacia hidrográfica a água
da chuva corre para conhecer os limites. Falavam os antigos que a fazenda tinha 700 alqueires e foi
adquirida como comissão de vendas dos lotes da Fazenda Marinheiro. Do outro lado do perímetro, da
mesma forma, as terras eram vendidas na gleba Santa Rita por Imobiliária de Olímpia e os
vendedores, Sr. Pereira e sócios, teriam adquirido cerca de 1.000 alqueires. Ainda a partir do
perímetro em direção ao São Jose dos Dourados, havia outra grande propriedade, não ligada a
imobiliárias, do Sr. Afonso Cáfaro.
Assim, dada a localização de sua casa, Sartori passou a conhecer muita gente,
principalmente os da gleba Marinheiro, que ficava antes da chegada à Brasilândia. Alguns mais
arrojados estavam ali havia cinco anos, como os Mininel, Os Barlafante, Os Baccaro, os Zanini etc.,
todos trazidos pelo incansável Luiz Barozzi, filho mais velho de Carlos Barozzi, que, com seu
caminhão, fazia o trajeto Catanduva até a fazenda e dava suporte aos primeiros adquirentes. Outros,
como ele e André, estavam instalando-se. Dentre eles Augusto Tazinaffo, Ângelo Milani, Luiz Buffo,
Gino Gaiovitti, Telesphoro Perez, Guido Gavioli, os Pradella, os Lacerda, Antonio Inácio.
É importante ressaltar que os pioneiros, como mostram os sobrenomes, eram
predominantemente imigrantes italianos ou descendentes que passaram a ser proprietários de terra
pela primeira vez, ou seja, realizavam um sonho acalentado por séculos por seus ancestrais, sonho
impossível de realizar na estrutura fundiária da velha Europa e que, agora, o sertão de Rio Preto lhes
permitia. Mas a vida era difícil e dali das proximidades da Brasilândia, Sartori percebia um problema
que persistia.
Nos anos 1939/1942, enquanto esperavam a liberação da planta do café, as famílias viviam
isoladas. Entre uma e outra havia sempre um bom trecho de mata; as vilas, tanto Brasilândia quanto
Pereira, eram ainda precárias e distantes para as condições existentes, portanto não agregadora de
pessoas. Os italianos sempre viveram, mesmo nos campos, com alta densidade demográfica,
171
O relator toma como ponto de referência a Vila Brasilândia em relação a Fernandópolis; logo, o “lá” se refere
à Vila Pereira.
421
covas distante 15 ou 16 palmos uma da outra em ruas alinhadas e plantar cereais entre as ruas. O
café começava a produzir no terceiro ano: no primeiro ano plantavam cinco carreiras de cereal, no
segundo quatro, no terceiro em diante, apenas três. Ao final do sexto ano, ou entregava a empreita e,
com o resultado comprava sua própria terra, ou ficava como arrendatário do café que havia plantado.
Foi assim que a região se cobriu de cafeeiros e de muita gente. Todo sábado, havia baile em alguma
propriedade, a Vila passou a ficar movimentada e o comércio a dinamizar-se.
Ângelo se foi adequando às oportunidades. Houve um período de desabastecimento de
alimentos e combustíveis, o açúcar estava difícil de ser encontrado; então montou um engenho e
passou a fabricar rapadura e melado de cana para vender. Era uma daquelas engenhocas em torno
de cuja moenda giram o boi ou o cavalo. Ele plantou dois alqueires de cana, comprou cana da
vizinhança e deslocou alguns camaradas machadeiros para essa nova atividade. Eram três tachos de
500 litros de garapa no fogo que precisavam ser alimentados dia e noite. Produziu e vendeu muitas
cargas de rapadura. Assim, dada a posição estratégica da sua casa e as várias atividades que
exercia, sempre tinha alguém procurando pelo seu Angelim, como era chamado.
Dona Júlia coordenava tudo em casa. Trabalhava muito. Era muita comida a fazer, roupas a
costurar, animais a tratar, comadres e compadres a atender e muito pedido de bênção às crianças a
responder. Muitas moças que moravam nos sítios distantes paravam na sua casa para se arrumar,
trocar os sapatos, antes de irem para o footing na vila.
Angelim era rígido em casa, como de resto quase todos os pais de famílias numerosas
como a sua; mas era afável com os de fora. Tinha uma personalidade um pouco extravagante,
gostava de chamar a atenção para si; vestia-se sempre com camisa de dois bolsos com três botões
dourados em cada bolso e chapéu de aba larga. Foi um dos primeiros a morar em casa de tijolos fora
da vila, a ter um gramofone, a ter um relógio carrilhão na sala etc. Tinha uma força descomunal e não
levava desaforo para casa. Ele tinha também uma égua de corrida, a Faísca, e o filho Raul e o
sobrinho Ettore eram jockeys muito hábeis. As raias de corrida se localizavam depois da Pereira.
Começava na baixada próximo da antiga rodoviária e mercado municipal e seguia em direção até
onde é hoje o bairro Ubirajara. Por toda a extensão se espalhavam assistentes e apostadores sobre
seus cavalos. Também muitas mulheres apreciavam, e os mais abastados já tinham celas especiais
para mulheres. As proezas da Faísca o deixavam realizado.
Quando os empreiteiros e sitiantes começaram a vender café e ganhar dinheiro, houve
demanda por carrinhos de roda seca ou charretes de rodas de pneu, e ele passou a encomendar e
buscar em Sertãozinho ou Rio Claro e revendera ou cobrar comissão pelo serviço. Despachava de
trem até Votuporanga e depois trazia até a Brasilândia.
Assim, ele interagiu ativamente com aquela gente da região. Viu também a ascensão e a
estagnação da sua Brasilândia. Ele viu os baianos Pereira e os sócios serem muito mais hábeis em
promover o desenvolvimento da Pereira do que Barozzi, eles faziam publicidade das terras da vila
Pereira nos jornais da região de Rio Preto e as pessoas chegavam procurando Pereira.
Luiz Armando, filho mais velho de Barozzi, que praticamente construiu a fazenda e
implementou a Vila, deu suporte aos primeiros moradores indo e vindo com seu caminhão desde
Elisiário e Catanduva e era estimado por todos, casou-se lá, e lá manteve suas raízes. O sogro,
família Stocco, era comerciante de cereais e pessoa influente em Elisiário e Catanduva. Os negócios
aqui ficaram então a cargo do cunhado Líbero de Almeida Silvares, marido de sua irmã, envolvido
também com a política. Com ele, os negócios do Barozzi só retrocederam. Aos poucos, a fazenda foi
sendo vendida, inclusive ele, Angelim, comprou mais um pedaço anexo a seu sítio.
Desde o começo, ele percebeu que as coisas não caminhariam bem quando o Pereira fez a
Vila à beira da fazenda do Barozzi, e o Barozzi construiu o cemitério à beira da Vila Pereira, onde é
hoje a esquina da Rua São Paulo com a Expedicionários (antigo cine Fernandópolis). Desde o
começo houve rusgas entre a rapaziada: os rapazes de Brasilândia não podiam ir sozinhos à Pereira
e vice-versa. A “coisa” esquentou quando tiraram o cartório da Brasilândia e levaram para a Pereira, e
outros comerciantes também se mudaram. Daí, através da Igreja e dos políticos, abriu-se a estrada
que é hoje a Avenida Libero de Almeida Silvares, costurou-se a união das duas vilas por aclamação
após a procissão do encontro: duas procissões, uma vindo de Pereira e outra de Brasilândia, se
cruzaram e as pessoas se cumprimentaram comprometendo-se ao respeito mútuo. Ângelo e Da.
Júlia, os filhos e os empregados todos foram, juntamente com todos da Brasilândia, deram as mãos
na passagem aos habitantes de Pereira, depois todos voltaram para o ponto equidistante entre as
423
duas vilas, ouviram os discursos dos políticos e aclamaram a união com o nome de Fernandópolis em
homenagem ao interventor Fernando Costa. Na presença de todos, colocou-se ali a pedra
fundamental para a construção da Santa Casa.
Ele também logo percebeu que a união tinha a lógica do vencedor de uma guerra que
impõe suas condições ao perdedor. Se era união e Brasilândia foi fundada em 1938, então por que
Fernandópolis foi fundada em 1939? E o pobre do São Luiz Gonzaga, protetor da Brasilândia? E a
Santa Casa? Essas questões morreram com os antigos.
Ângelo Sartori foi sempre fiel à sua Brasilândia. Seus filhos deram-lhe 28 netos, todos se
mudaram, mas ele e Dona Júlia permaneceram na Brasilândia ate falecerem na década de 80.
Colaboração
Armando Sartori
Família Sartori
424
ANTENOR FERRARI
Antenor Ferrari nasceu no dia 09 de março de 1930, em Santa Adélia, estado de São Paulo.
No final da década de 40, mudou-se para Fernandópolis com seu irmão, Armelindo Ferrari. Nestas
terras, transformaram-se em empresários: abriram uma fábrica de refrigerante.
Em 1945, conheceu a senhora Ida Mantovani, a qual, em 24 julho de 1955, se tornou sua
esposa, e de cuja união nasceram sete filhos, que lhes deram dez netos e uma bisneta.
Sua ânsia por liderança falou mais alto, e a paixão logo o levou à vida política na cidade de
Fernandópolis, principalmente pela convivência e influência do seu amigo Wilson Nogueira Lapa, que
tinha uma intensa participação no município.
Candidatou-se, em 1972, a prefeito de Fernandópolis pelo Partido Social da Democracia
Brasileira (PSDB), tendo como concorrentes ao pleito de prefeito Milton Edgard Leão e Percy Waldir
Semeghini. Nesse ano, foi eleito o sétimo prefeito a comandar a administração do município no
quadriênio de 1973 a 1976.
Em sua carreira como prefeito, dedicou-se, de corpo e alma, como em tudo que realizou na
vida, a bem administrar a cidade. Dona Ida, sua esposa, ressaltou: “Ele gostava de política, ele vivia
de política, ele se entregava de corpo e alma para Fernandópolis”.
A sua política teve como prioridade o bem-estar social e, principalmente, proporcionara
melhoria para a população fernandopolense. Edgard Leon Zambom definiu assim a carreira política
de Antenor Ferrari: “O Plano básico dele era ver a cidade crescer, com emprego para todos e boa
condição de vida. Almejava uma família religiosa, e com moral”. Foi assim que realizou muitos feitos
indispensáveis para o desenvolvimento e crescimento da cidade, na área da educação e
infraestrutura.
172
Em seu mandato , realizou a construção do primeiro “poção” (poço artesiano profundo, do
qual jorram águas quentes de até 59ºC) de Fernandópolis, assinando o convênio com a empresa de
distribuição de água e esgoto, SABESP, que poria um fim ao crônico problema da falta de água na
cidade: em alguns bairros, os moradores ficavam até três meses sem água.
Com a descoberta de águas quentes, criou-se um clube de águas termais na cidade, o
Água Viva Thermas Clube, de cuja inauguração Armelindo fez parte e a partir do qual a cidade ficou
conhecida por suas famosas águas quentes.
Antenor Ferrari teve também uma significativa participação na vinda e na construção da
escola SESI de Fernandópolis.
172
Para maiores detalhes sobre seu governo e suas obras, consultar a parte inicial deste livro.
425
Entre suas conquistas destacam-se, ainda, a criação do 16° Batalhão da Polícia Militar do
Interior, “Corpos de Bombeiros”, e a concepção e luta política pela criação da Fundação Educacional
de Fernandópolis (FEF), que só teve as atividades iniciadas na administração seguinte, de Milton
Edgard Leão. Após seu mandato, foi vereador eleito em 2000 e presidiu a Câmara Municipal de
Fernandópolis.
Depois dessa fase, afastou-se da vida pública e, ultimamente, dedicava-se à administração
de sua propriedade rural no distrito de Brasitânia.
Um homem calmo, dedicado, batalhador, que lutou, na sua vida política, pela melhoria da
população, o crescimento e desenvolvimento da cidade, mantendo a integridade. Infelizmente, o
incêndio de sua casa, provocado por um suposto curto circuito, e apesar de os bombeiros viram em
auxílio para apagar as chamas, consumiu todos os bens materiais da família, sem vítimas.
Faleceu aos 78 anos, no dia 26 de fevereiro de 2009, vítima de parada cardíaca e
complicações decorrentes de problemas renais, na UTI da Santa Casa de Misericórdia de
Fernandópolis.
Foi velado no Palácio 22 maio, sede da Câmara Municipal de Fernandópolis.
Deixou esposa, filhos e netos, causando comoção a todos, que o admiravam como pessoa,
amigo e, principalmente, político, por suas expressivas realizações a todos os fernandopolenses.
Colaboração
Antônio Alcaça Barronuevo (Barrionuevo) nasceu na cidade de São João da Boa Vista (SP),
no dia 5 de maio de 1911, filho de Antonio Alcaça Bella e Cecilia Bella Escobar, ambos nascidos na
Espanha; era filho mais velho de oito irmãos.
Vindo de Catanduva, movido por informações de que na gleba do Marinheiro estavam à
venda terras muito produtivas, aventurou-se pelo sertão, chegando a Fernandópolis em 1937 com 28
anos de idade, juntamente com seu pai. Aqui conheceu a região, encantou-se pela fertilidade das
terras. Na ocasião, seu pai adquiriu 59 alqueires de Carlos Barozzi, e ele, 20 alqueires de terras ainda
a serem desmatadas no ponto onde hoje está o balneário Água Viva Thermas Clube.
Como suas terras ainda tinham de ser desmatadas, arrendou 10 alqueires já desmatados
para o plantio (hoje é a Brasilândia) e começou a cultivar milho, arroz e feijão.
No dia 04 de junho de 1938, casou-se com Maria Casimira Barronovo, filha de Constantino
Ventura e Albina Michaeli, vindos de Portugal para o município de Vila Monteiro (hoje Álvares
Florence); o casal teve 5 filhos: Osvaldo, Valdemar, Augustinho, Jandira e Alzira.
Depois do desmatamento de suas terras, construiu uma casa de pau a pique e mudou-se
para cá em 1938. Plantou, de início, 10.000 pés de café, chegando a ter um total 70.000 pés, embora
também tenha prosseguido com o cultivo de arroz, milho e feijão.
Em 1955, deixou suas terras aos cuidados de seu pai e mudou-se para Maravilha (hoje
Meridiano) ali montou uma oficina de ferreiro e carpintaria. Na oficina confeccionava a maior parte de
suas ferramentas de trabalho, fabricava carros de boi, carroças, móveis, curral e madeiramentos de
casas etc. Também desenvolveu uma extraordinária habilidade com a carpintaria: fazer esculturas e
entalhar quadros; suas obras já foram objeto de desejo de admiradores da arte.
Retornou a Fernandópolis em 1958, indo morar na Rua Bahia. Em sua residência continuou
com suas atividades de ferreiro e carpinteiro; mudou-se, em 1961, novamente para seu sítio no
Córrego da Aldeia, onde deu continuidade ao cultivo de grãos. O mesmo ocorreu com um sitio de 17
alqueires, herdado de seu pai, no Córrego Três Pulos, em Pedranópolis.
Em 1965, retornou para Fernandópolis, indo morar na rua Minas Gerais. Comprou uma
máquina de beneficiamento de arroz na Brasilândia; em 1968, desfez-se da máquina e comprou a
chácara Santo Antônio na Rua Rio de Janeiro, fundos com o Tanino. Ali passou a cultivar uma grande
horta, que fornecia verduras e legumes para mercearias, hotéis. Seu filho Augustinho Cassimiro,
mesmo mudo, era dotado de uma grande inteligência e também vendia os produtos nas ruas com
uma carroça de tração animal; na chácara, também criava porcos para a produção de lingüiça a ser
comercializada.
Em 1969, montou a primeira granja da cidade; nela, em companhia de seus filhos,
Barronuevo, como bom carpinteiro, construiu os barracões e as gaiolas das aves. Chegou a ter 5000
mil aves poedeiras; para essa atividade, contava com equipamento de classificação de ovos, que
eram fornecidos para a cidade e a região.
427
Depoimento 1
“Nós comprávamos produtos da chácara do Sr. Antonio Barronuevo como ovos,verduras e linguiça para
vender no estabelecimento. Ela fazia parte da comunidade do Jardim Vila Nova, fundada com a ajuda das
irmãs assuncionistas, que realizavam as quermesses ao lado da capela do Asilo São Vicente de Paula,
na Rua Rio de Janeiro, próximo ao Tanino. O Sr. Antônio Barronuevo era um espanhol muito humano e
caridoso, que doava desde os bambus para fazer a barraca da quermesse a ovos, frangos e verduras
para a comunidade e o asilo. Com seu empreendimento, Sr. Antônio colaborou muito com o
desenvolvimento do bairro.” (Maria Nogueira de Moraes, 78 anos e Jair Pires de Moraes, 83 anos)
Depoimento 2
“Quando vim para Fernandópolis em 1943, que ainda era Vila Pereira, vim morar em um sitio no Córrego
do Gatão, comecei a trabalhar de charreteiro em 1961 [...] conheci muito Antonio Barronovo, eu levava
minha charrete para consertar na oficina dele, ele também fabricava carroças de tração animal e
charretes juntamente com filho Augostinho Cassimiro que era mudo. O Sr. Antonio era uma pessoa muito
boa e prestativa e inteligente, querido por todos.” (José Antunes Lopes, 91 anos)
Depoimento 3
“Eu vim de Nova Granada pra Fernandópolis em 1943 (na época Vila Pereira) em um caminhão movido a
gasogênio pra morar na propriedade do Sr. Antônio Barronuevo, em uma casa de pau a pique para formar
café durante 06 anos.Cheguei a plantar 30.000 pés de café, mas Sr. Antonio mudou-se para Brasilandia,
pois era um carpinteiro nato: fazia carroça, caixão quando morria algum parente e para pessoas que
precisavam. Eles costumavam fazer muita festa no sitio onde tinha muito assado e catira [refere-se ao
catireiro João Barbosa, do Córrego do Pau Roxo). Sr. Antônio era uma pessoa que ajudava muito o
próximo, sendo muito popular”. (Durval Aparecido dos Santos – conhecido como Teodoro, 82 anos)
Colaboração
Adauto Donizeti Cassimiro
Izaura Dominici Arcasse
428
ANTÔNIO DE GÊNOVA
Num tempo de grande escassez de mão de obra qualificada, surgiam bravos homens
dispostos a aprender um ofício e deste fazer sua história de vida. Com algumas ferramentas nas
mãos, as particularidades da mecânica de automóveis e caminhões eram desvendadas por um
cidadão brasileiro que escolhera Fernandópolis para morar. Este homem foi Antônio de Gênova.
Antônio de Gênova nasceu em Dobrada, na região de Matão, interior de São Paulo, no dia 5
de maio de 1925. Era filho de Rubino de Gênova e dona Ida Celestrin de Gênova. Ariranha, também
do interior paulista, foi a cidade onde ele viveu sua infância e adolescência.
Quando jovem, mudou-se com a família para Vila Parisi (SP), em uma fazenda da família
Commar, na qual cultivaria lavouras de café. Foi ali também que ouvira falar, pela primeira vez, de
Vila Pereira, local citado como “região de boa prosperidade”.
A família Gênova fez as malas e veio parar na localidade fundada por Joaquim Antônio
Pereira. Naquela época, 1947, o pai de Antônio de Gênova, seu Rubino, abriu um pequeno comércio
na Avenida Amadeu Bizelli (antiga Avenida Sete) entre as ruas Minas Gerais e Pernambuco. Foi
nesse estabelecimento comercial que ele fez várias amizades e onde trabalhou durante um ano.
Passado esse período, outra profissão foi escolhida: a de frentista de posto de combustíveis.
Por esse tempo, Antônio casou-se com Maria Tereza Stagliano, no dia 10 de novembro de
1949, na Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia. O celebrante do matrimônio foi o Padre Canísio.
Já casado, Antônio trabalhou em vários postos, inclusive no Renê Ferramentas e Irmãos
Fernandópolis, cuja razão social era Azevedo, Ferrari e Cia. Essa empresa estava localizada na rua
Rio Grande do Sul, n° 763.
De frentista de posto a mecânico – esta foi a mais importante mudança profissional na vida
de seu Antônio. Como se destacava em sua ocupação especializada, surgiu o convite para trabalhar
na revendedora Ford (Comercial Fernandópolis de Automóveis Ltda. e, depois, Fermasa
Fernandópolis Máquinas e Veículos S.A.). Já era especialista em mecânica dos veículos Aerowillis e
passou a dominar também a marca Ford.
Após sofrer um acidente no qual fraturara uma perna, seu Antônio tomou uma séria decisão:
pediu demissão e montou sua oficina própria na Rua Pernambuco, no imóvel de número 2087, no
centro de Fernandópolis. Sem ter feito qualquer curso técnico de mecânica, foi durante esse período
que ele teve de desenvolver técnicas próprias para consertar motores de carros, caminhões e ônibus.
Numa época em que não havia comércio de peças para veículos, o jeito era fabricá-las em
tornos ou forjas. E lá ia o seu Antônio à oficina da Família Cecato, cujo patriarca era o seu Américo.
Muitas vezes, até mesmo as ferramentas eram feitas nos tornos, uma vez que a cidade não dispunha
de lojas especializadas.
429
Ser mecânico é igual a usar uma dentadura nova. Demora pra você aprender a
comer, a mastigar bem o alimento. Quando você se acostumou com a dentadura, aí
alguém muda a comida, e você precisa aprender a mastigar o novo alimento tudo
outra vez.
Seu Antônio assim dizia ao tecer reflexões pessoais sobre o processo natural da existência
de todo e qualquer indivíduo.
Outra citação sua ficou muito bem registrada na memória de seu filho, Antônio Rubens.
Quando questionado sobre a morte, dizia: “Eu não tenho medo de morrer, o duro é não ter nem
domingo, nem feriado pra pescar, nem uma pinga boa do Jagora pra beber”. Divertia-se com sua
maneira peculiar de encarar a finitude da vida.
Em sua simplicidade e em seu bom humor, seu Antônio dedicou-se à família com muito
esmero. Ele e a esposa, Maria Tereza, cuidaram dos pais dele até os últimos instantes. Os pais eram
filhos de imigrantes italianos, e essa particularidade fez a família especializar-se em pratos típicos.
Aos domingos, no almoço, a macarronada não podia faltar. Era uma das comidas preferidas de Seu
Antônio, que não dispensava a sua taça de vinho tinto. Para acalmar, ele dizia que o seu cigarro de
palha era um “santo remédio”.
Outras de suas paixões gustativas eram comer os peixes pescados por ele, carne de panela
e costela de porco com mandioca, pratos feitos pela esposa, a quem carinhosamente chamava
“Minha velha”.
Com relação aos carros e caminhões, sua grande paixão era o Jipe. E foi num Jipe que se
dirigiu à igreja no dia do seu casamento. Era com esse veículo que ele viajava a Santa Fé do Sul, na
época em que namorava, para encontrar-se com sua amada Maria Tereza. “Esta, em algumas
ocasiões, brincara dizendo que o marido gostava mais do Jipe do que dela”, lembra o filho do casal.
Seu Antônio de Gênova foi um cidadão que ajudou Fernandópolis a crescer, pois
recuperava, restaurava carros, caminhões e ônibus que trafegaram por aquelas ruas, estradas e
avenidas de outrora. Ela tida como uma atividade modesta, mas de grande significado para uma
cidade nascente e em direção ao progresso – detalhes que faziam da cidade uma cidade promissora.
Os veículos do senhor Ademar Monteiro Pacheco, da família Rolim, do doutor Percy Waldir
Semeghine, do senhor Orlando Birolli, do doutor Luís Ramos passaram pelas mãos restauradoras do
Tonhão, o mecânico, como era chamado pelos colegas e moradores da cidade.
430
Tonhão, o mecânico, trabalhou anos a fio naquilo que sabia fazer de melhor: colocar
automóveis para funcionar outra vez e, rodando, os veículos transportaram pessoas e cargas que
ajudaram a construir a cidade. Entre peças, ferramentas, instrumentos e graxas, as mãos habilidosas
consertaram os motores que fizeram Fernandópolis prosperar e se tornar um centro de região.
Mais um trabalhador brasileiro que fez do seu ofício sua arte de viver; alguém que, em sua
simplicidade, escreveu seu nome na história da cidade fundada por Pereira.
No dia 10 de fevereiro de 1992, seu Antônio de Gênova faleceu às 17 horas e 30 minutos
na Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, vítima de um ataque cardiogênico, aos 66 anos. Ele
completaria 67 anos no dia 5 de maio do mesmo ano. Partiu o homem, mas ficou sua obra na
memória daqueles cidadãos primeiros, os quais mudaram a geografia da região noroeste paulista.
Para a família, Tonhão permanece vivo no sentimento de amor que plantou e em cada fala
proferida como alguém que fez do trabalho sua maior lição.
Colaboração
Centro Educacional SESI 405 Fernandópolis
Equipe de trabalho:
Rosicleide Carósio (diretora pedagógica)
Antônio Rubens de Gênova (professor de Geografia)
Luís Henrique Catanoze (professor de Português)
431
Antônio dos Santos, natural de Olímpia (SP), filho de Fernando de Oliveira Santos e Julia de
Aguilar Santos, foi o quarto de nove filhos. Casou-se em 1938, em Olímpia, com Anita de Souza
Santos com quem teve seis filhos, dos quais três ainda vivos: Maria Aparecida, Antonio Gilberto e
Nelson Fernando.
Em 1941, veio para Vila Pereira, instalando-se na fazenda Capivara, onde comprou uma
pequena gleba de Joaquim Antônio Pereira, trabalhando, ali, por dois anos. Deixou a gleba, para
trabalhar com beneficiamento de arroz e, mais tarde, em um engenho de aguardente, pois o
proprietário, Hilhostálio, seu irmão, fora convocado para servir o exército brasileiro na Segunda
Guerra Mundial na Itália.
Assim descreve sua vida em Fernandópolis:
Nasci e me criei em Olímpia. O papai veio para cá passear e achava que a gente
devia vir para cá. Compramos um pedaço de terra na Capivara, de Joaquim Antônio
Pereira, e trabalhamos um ano no sítio. Depois compramos uma máquina ali onde é
a Meimei. Ficamos dois anos. Depois fui fazer negócio com terras. Dava para
ganhar bastante. Uma data custava 200 mil réis cedo e à tarde era outro preço.
Quando estourou a guerra (2ª Guerra Mundial em 1945), meu irmão Ostário
[Ilhostário] foi servir e eu tive que tomar conta do engenho que ele havia arrendado
de Joaquim Antônio Pereira. Trabalhei quatro anos fazendo pinga. Ajudei depois
meu irmão Zeca na abertura da estrada de ferro de Meridiano até Fernandópolis e
ainda trabalhei dois anos na máquina do Olívio Dutra. Até que veio o Edson Rolim.
Ele comprou a máquina e me tirou da sacaria. Me deu casa para morar e passou a
comer em casa. Trabalhei com ele uns dois anos quando surgiu a política.
(HISTÓRIAS, 2003, p. 10B)
Sua história “se mistura com a própria história da cidade”. A estrada até Fernandópolis era
“ruim e tinha muito mato. Me lembro quando o interventor Fernando Costa esteve na cidade para unir
Vila Pereira e Brasilândia, para acabar com a rixa. Não podíamos sequer jogar bola na Brasilândia
que vinha briga” (TONICÃO..., 1995).
Na Vila Pereira, foi agricultor, beneficiador de arroz, produtor de pinga de engenho,
colaborador na abertura da estrada de ferro de Meridiano; trabalhou com Edson Rolim na “sacaria”
(em u’a máquina de beneficiamento de arroz onde é, hoje, a Avenida Amadeu Bizelli, próximo ao
bairro Morada do Sol – antigo Núcleo da Cesp).
Antônio dos Santos lembra que, depois da emancipação de Fernandópolis, o Pereira
(Joaquim Antônio Pereira) “ficou tão emocionado, ele tinha problema de coração. Ele viajava para
Olímpia e voltava, sempre de avião, um teco-teco. Ele morreu no ar, de tanta emoção” (TONICÃO...,
1995).
432
Era conhecido como Tonicão, alcunha carinhosa recebida graças à sua estatura. A respeito
do apelido, a Folha de Fernandópolis (TONICÃO..., 1995) publicou, em 22 de maio de 1995: “Se
alguém perguntar na cidade quem é Antônio dos Santos, provavelmente poucos saberão responder.
Mas, se perguntar por Tonicão, a maioria saberá”. O filho Gilberto complementa: “o apelido Tonicão é
devido ao seu tamanho mesmo, ele é muito alto e, em sua época, na flor da idade, não tinha ninguém
que o encarava” (TONICÃO..., 2008, p. 15).
Embora fosse “rígido na criação dos filhos, o oficial tinha seu lado afetivo. Gostava de
promover churrasco e reunir a família e os amigos” (MORRE..., 2009).
Em 1953, foi nomeado Oficial de Justiça da Comarca de Fernandópolis, através de
concurso público, sendo um dos primeiros a assumir o cargo efetivamente, desempenhando essa
função por 35 anos.
Como Oficial de Justiça, dizia que um dos piores serviços a serem desempenhados “era
despejar um pobre coitado de sua casinha velha. Você tem sentimento e sente aquela dor como se
fosse a pessoa. Mas era obrigação da gente” (TONICÃO..., 1955). Assim é relatada uma de suas
histórias como Oficial de Justiça: “Certa vez, ao executar uma ordem judicial de despejo, Tonicão
ficou penalizado com a situação da família despejada e pagou do seu próprio bolso o aluguel de um
caminhão para transportar a mudança até o sítio de um parente dos executados” (MORRE..., 2009).
Tonicão “era temido e respeitado. Nesse período, Tonicão diz que nunca fez inimigo. ‘Tinha
autoridade de Oficial de Justiça, mas respeitava as pessoas” (HISTÓRIAS..., 2003, p. 10-B).
Uma história mirabolante é relatada por Tonicão, quando da transferência do Cartório Civil
da Brasilândia para Vila Pereira: “Aprontamos uma surpresa para o Cartório Civil que ficava na
Brasilândia. Fomos lá em uma noite e arrombamos a porta, pegamos todos os documentos e
trouxemos tudo para Vila Pereira. Desse dia em diante, o Cartório Civil funcionou em Vila Pereira”
(TONICÃO, 2006, p. 6).
Posteriormente, foi nomeado Comissário de Menores da Comarca durante 25 anos, ocasião
em que colaborou na criação e instalação da Guarda Mirim de Fernandópolis.
Como Comissário de Menores, assim relata seu trabalho:
Naquele tempo, a cidade era pequena, por isso era mais fácil trabalhar. Naquele
tempo você chamava a atenção de um menino e ele obedecia. Hoje ele te xinga.
Comissário de Menores precisa ter autoridade. Naquele tempo todo mundo
respeitava Tonicão. Hoje ninguém respeita ninguém. (HISTÓRIAS, 2003, 10-B)
Tonicão era temido pelos jovens da cidade. “É muito difícil hoje você corrigir um jovem, ele
não respeita ninguém. Eu, o Tonicão, já fui respeitado na cidade. Quando falavam ‘olha o Tonicão lá’,
não ficava um moleque nas ruas.” (TONICÃO, 2006, p. 6).
Um fato pitoresco ocorreu com a prisão do então prefeito municipal Waldir Percy Semeghini
e alguns vereadores e companheiros políticos, todos do “lado do Percy” (Capeta, Jorge Aidar,
Massuda, Esperancine, Armelindo Ferrari – o qual “quis engrossar [...] ele morreu mal comigo”), por
determinação do juiz de direito à época, Dr. Ayoche. Embora Dr. Percy, o prefeito, estivesse afastado
por processo, a câmara municipal deu-lhe posse. O prefeito e os vereadores detidos ganharam a
liberdade pela ação do Dr. Fernando Jacob, através de um “habeas corpus” por ele impetrado.
Uma curiosidade ficou marcada em sua vida. Apesar de ser adversário político de Percy
Waldir Semeghini, nunca fora seu inimigo; pelo contrário, Dr. Percy advogou para Tonicão em
diversas ocasiões. Eram mesmo amigos de “cafezinho”. Se lhe perguntassem sobre essa aparente
incoerência, Tonicão respondia: “antes do Dr. Percy chegar a Fernandópolis, eu já era ‘do outro lado’.
E lealdade é lealdade” (MORRE, 2009).
Politicamente, nunca se envolveu em campanhas como candidato a vereador (embora
tivesse sido convidado): queria ficar livre, sem inimigos, embora fosse “do lado do Rolim e do
Pacheco. Eu era adversário político e não inimigo” (TONICÃO, 1995). Todavia, embora se mantivesse
longe do ativismo político, “as reuniões políticas de sua época eram frequentemente realizadas em
sua casa, e Tonicão lembra que conviveu muito tempo com influentes políticos que fizeram a história
de Fernandópolis” (TONICÃO, 2006, p. 6).
Tonicão relata que
433
Eu era bate-pau (cupincha político). Fui bate-pau durante 12 anos, 8 com o Rolim e
4 com o Pacheco. Mas eu não estava sozinho, não, meus amigos estavam sempre
comigo, o Nem, o João Pereira Zequinha, Joaquim Nadal, Vicente Ferreira, José
Geraldeli, o Zé Sarapaté, José Roberto Santana, Pedro Burim, entre outros
Segundo o próprio Tonicão, a política da época “era ferrenha”. Pode-se ter uma imagem
dessa política, segundo suas próprias palavras:
Depois de seis meses da Comarca instalada, o prefeito Rolim foi Fórum e foi barrado
pelo Oficial de Justiça, um tal de Benedito Rezador, que estava de porteiro naquele
dia. Não queria deixar o Rolim entrar, porque estava sem paletó. Foi então que,
depois de conversar como Juiz, o Rolim chegou em casa e perguntou se eu queria
ser Oficial de Justiça. Aceitei e ele e o Pacheco, que era seu vice, foram para São
Paulo e tiraram o Benedito Rezador e me colocaram no cargo. Me apresentei ao
Juiz, Dr. Licínio Rocha, e, depois, fiz um concurso que passei em segundo lugar. Fui
nomeado e fiquei 35 anos no cargo.
REFERÊNCIAS
TONICÃO completa 95 anos de idade e 67 de Fernandópolis. Diário Regional. 22 maio 2008, p. 15.
(Bate-pau histórico)
TONICÃO, o oficial de justiça que prendeu prefeito e vereadores. folha de Fernandópolis. 22 maio
1995. Caderno B.
Colaboração
Antônio Gilberto dos Santos
Amadeu Jesus Pessotta
434
Antônio Fontes Gomes nasceu em Nova Granada aos 3 de setembro de 1927, filho de
Pedro Fontes Parra e Daniela Gomes Estevão.
Com vinte e um anos de idade (1948), veio para Brasitânia onde fixou residência e passou a
trabalhar como comerciante. Casou-se em 1951 com Lídia Redondo Fontes e, desse enlace,
nasceram duas filhas: Sonia Marli Fontes Ventura e Rosilene Fontes de Arruda, as quais lhes deram
quatro netos.
Homem íntegro, amante do trabalho e sem vícios, residiu por 58 anos em Brasitânia,
sempre lutando por melhorias para a população local.
Ingressou na carreira política como vereador em 1956 representando o distrito de
Brasitânia, na gestão de Ademar Monteiro Pacheco, sempre esteve voltado para a comunidade local;
lutou pela vinda do Cartório de Registro Civil em 1958 e pela implantação de um Posto Telefônico,
fatos marcantes para o distrito.
Seu caráter e sua popularidade o levaram à conquista do cargo na Câmara Municipal, numa
época em que vereador não tinha remuneração nem ajuda de custo para despesas próprias da
função. Ser vereador e lutar pelos seus munícipes era, sim, um ato de doação, e Gomes incorporava
tal sentimento de alteridade.
Sempre muito esforçado, procurava ajudar a comunidade lutando por conquistas para
beneficiar a população; colocava à disposição seu próprio veículo para o socorro aos doentes numa
época em que o distrito não contava com telefone nem ambulância.
Assim comentou Arlindo França, munícipe fernandopolense:
Como vereador, lutou com dificuldades tentando trazer melhorias para o distrito. Mas
não media esforços, quando as máquinas vinham arrumar as estradas, fazia
questão de acompanhar os trabalhos até o fim. Fora da Câmara, continuava
empenhado, lutando por asfalto, iluminação e telefonia.
Foi um pai maravilhoso, sempre presente.Tínhamos muito carinho por ele, nos
ensinou a ter respeito pelos outros e que a honestidade é um grande valor na vida
de uma pessoa.
Teve pouco estudo, mas mesmo assim entrou na política objetivando lutar para
melhorar nosso distrito.
Para nosso orgulho, conseguiu muito por Brasitânia, e a nossa família e toda a
comunidade vivenciaram essa grande conquista
435
Faleceu em 22 de março de2006 aos 72 anos e deixou seu nome escrito na história do
distrito. Suas conquistas continuam até hoje beneficiando a população e suas atitudes de
solidariedade e altruísmo continuam na memória daqueles que conviveram com ele.
ANTONIO FRANÇA
[...] quando fui convidado pelo Sr. A. França para que viesse a trabalhar em
Fernandópolis, como não tinha experiência de nada de cartório, não fiquei muito
173
Depoimento escrito dirigido a Dr. Jesiel Bruzadeli Macedo em fevereiro de 2012.
437
animado. Ele disse que com o tempo a gente ia se entrosando com o trabalho, então
aceitei esta batalha. [...] Como não tinha conhecimento [na cidade], peguei uma
charrete e pedi que me levasse à sua residência, que era dois quarteirões da
rodoviária, quando fui recebido com alegria e carinho pelos seus irmãos Luiz Franco
e José Paulo França.
França lia muito e assinava vários jornais, principalmente a Folha de São Paulo e o
Estadão. É de João Alberto que vem outro depoimento: “O Sr. Antonio França era uma pessoa que lia
muitos livros, jornais, normas de serviço, diário oficial, tinha grande conhecimento com a área jurídica
e um grande relacionamento com juízes, promotores, desembargadores”.
Gostava de passar as férias pescando no Pantanal na companhia de amigos ilustres:
Scalope, Antenor Ferrari, Germano Hernandes, Vigorelli, Milton Camargo, Alvizi e outros. Ao voltar,
costumava fazer reuniões em sua casa para passar os slides da pescaria.
Quando foi construída a sede social do FEC na Rua Rio de Janeiro, Antonio França era o
presidente da entidade, tendo sido responsável pela sua arquitetura e pela sua acústica perfeita (a
melhor da araraquarense). A inauguração do clube se deu em grande estilo, com a orquestra Cassino
de Sevilha.
França foi presidente da Guarda Mirim na época do juiz Antero Lichoto.
Fez parte da diretoria da APAE e do Parque São Vicente de Paulo, embora tenha
enfrentado muitas dificuldades por questões políticas: era pachequista, plataforma política de
tendências negativistas na cidade.
Antonio França faleceu no dia 23 de maio de 1993, aos 75 anos de idade.
Colaboração
Família França
438
Antônio Octávio Simões Moita nasceu em São José do Rio Preto, no dia 26 de dezembro de
1938. O pai, Aparício, foi um pioneiro na urbanização do noroeste paulista; a mãe, Iolanda, a primeira
bibliotecária da cidade. Antônio Octávio nunca foi chamado assim. O apelido, Tota, foi dado pela
irmã, Edna, ainda na infância. Depois de formado, muitos passaram a chamá-lo de Doutor Moita, mas
não eram poucos os que se referiam a ele como Doutor Tota.
Formou-se em Direito em 1966, no Instituto Toledo de Ensino, em Bauru. Já advogado,
trabalhou no escritório do renomado criminalista Dr. Fernando Jacob, junto com o também advogado
Dr. João Fachim. Nesse período, fez dois dos maiores amigos de toda a vida.
Tota foi muitas coisas nessa vida, mas por uma coincidência dessas que vêm do além, o
Direito o encontrou e ele o encontrou também. A partir de formado, toda sua vida passou um pouco
pelo Direito. Conheceu a Martha Flora, sua esposa, ao advogar para ela; o ramo de frigoríficos, ao
livrar os sócios Cláudio Rodante e João Matioli de uma multa vultosa. Era sempre o advogado. Às
vezes, em uma conversa com os filhos, irmãos, cunhados ou amigos, dizia: “Isso eu te digo como
advogado”, e vinha então uma sentença cheia de bons conselhos jurídicos sobre qualquer tema.
Jus est ars boni et aequi (O direito é a ciência do bom e do justo) era uma frase que
adorava citar. Era essa eloquência, cheia de informalidade, que o tornava confiável, e assim, à
medida que mostrava familiaridade com a lei e os preceitos legais, acabava sendo imprescindível.
Antes, porém, quis muito ser engenheiro. Foi para São Paulo onde trabalhava em um banco
alemão como contínuo de dia e à noite fazia o científico. Nos finais de semana, ajudava na mercearia
de seu tio preferido, o Tidinho. O curso puxado e a rotina pesada acabaram trazendo o jovem Tota de
volta à amada Fernandópolis, onde prestou exames para a Escola de Comércio e, depois, foi ser
coletor.
A curiosidade vocacional sempre o levou a experimentar desafios diversos. Foi auxiliar
prático de dentista, desenhista no escritório de Nagib Aidar e custeou seus estudos em Direito
trabalhando na Coletoria da Fazenda Estadual. Impossível aqui lembrar o nome de todos os amigos
da repartição, mas foi um período da vida que ele sempre lembrou com muito prazer.
Em 1984, durante a Expô Fernandópolis, presidida pelo Sr. Cláudio Rodante, auxiliou o
sócio e amigo e, juntos, fizeram uma festa que foi um dos marcos da cidade. Trouxe grandes
cantores, construiu o primeiro palco de frente para arena, bem como boxes para os comerciantes
instalarem suas lojas. A Expô foi gratuita, porém, Dr. Moita sempre acreditou na profissionalização da
festa, em uma comissão permanente que gerisse o parque o ano inteiro a fim de aproveitá-lo; afinal
como ele mesmo dizia, era um grande desperdício não utilizá-lo.
Foi sob sua liderança, em 1987, que o Projeto Participação da Rede Globo de televisão
trouxe à cidade vários atores famosos. Foram montados pedágios, e os artistas arrecadaram fundos
suficientes para o início da construção da APAE Rural em Fernandópolis.
439
Como empresário, lutou para que a classe patronal do comércio e da indústria possuísse
uma sede própria que abrisse caminho para eventos, palestras e cursos, engendrando um projeto
maior, que era a implementação de cursos profissionalizantes na cidade. O sonho foi realizado
quando presidiu a ACIF. Dentro do setor de frigoríficos, teve importante participação na entidade de
classe estadual, tendo sido vice-presidente do Sindicato do Frio.
Politicamente, sempre se posicionou e se reposicionou. Entusiasmado com Jânio Quadros,
tinha debates acalorados com o pai, Aparício, ademarista convicto. Quando Jânio renunciou, era
obrigado a escutar o deboche paterno, através dos versos anedóticos: “ontem alegria imensa, hoje
mágoa profunda; ontem a vassoura no peito, hoje o cabo...”. Depois, tornou-se crítico e opositor do
regime militar. Junto com o cunhado e amigo Raul Gonçalves, esteve sempre à frente do MDB
municipal, lutando pela redemocratização do país.
A preocupação em assistir os mais necessitados sempre esteve presente na vida de Tota.
Foi um dos grandes filantropos desta cidade. Raras entidades locais deixaram de ser auxiliadas por
ele. A filantropia, entretanto, não era uma característica individual, antes, toda a sua família,
notadamente a mãe, Iolanda, já apresentava preocupações humanistas.
O resto todo contamos aí em cima. Meu pai decerto ficaria satisfeito de ver sua biografia
contada assim, pois detestava qualquer tipo de cronologia.
Colaboração
Antônio Octávio Simões Moita Filho, com auxílio dos irmãos e da mãe
440
APOLINÁRIO DE MATTOS
[...] o José criou um fogão feito em ferro, com uma moega, alavanca e grelha que,
encaixado à boca de fogão de lenha, possibilitava cozinharmos com palha de café, e
muito bem. Na década de 40, sem saber, o espírito ecológico já emergia deixando
de queimar madeira. Comprou um motorzinho francês Bernard movido a gasolina,
uma bomba d’água e um dínamo. Fez um encanamento rudimentar e instalação
elétrica, e de dia colocávamos a correia na bomba que puxava a água da cisterna e
enchia a caixa instalada sobre dois pilares de aroeira e servia a casa, inclusive com
água quente, aquecida nas serpentinas colocadas no fogão, e à noite mudávamos a
correia para o dínamo e então tínhamos luz elétrica até nos recolhermos para
dormir.
Colaboração
Vanda Mattos Radetic
442
ARISTÓTELES ALVARENGA
Colaboração
Família Alvarenga
444
ARMELINDO FERRARI
Armelindo Ferrari nasceu no dia quatro de junho de 1923, na cidade de Ariranha, São
Paulo. Era filho de Amélia Cappi Ferrari e Pedro Ferrari. Tinha treze irmãos: Regina, Angelina,
Cezarino, Disolina, Carlos, Pascoalina, Maria, Helena, Luiza, Adélia, Leonor, Antenor e Altair.
Em 1943, com 18 anos, chegou a Fernandópolis com sua família.
Em 1945, Armelindo Ferrari e os irmãos fundaram, onde é hoje a Avenida Manuel Marques
Rosas, a “Fábrica de Bebidas São Pedro”, fonte de trabalho para grande parte da pequena população
local. Tinha como lema o dinamismo, a responsabilidade, o trabalho e o progresso.
No ano de 1950, casou-se com Maria Aparecida de Almeida Ferrari. Com ela teve sete
filhos: Pedro Ferrari Neto, Paulo Roberto Ferrari, Armelindo Ferrari Junior, Tânia Regina Ferrari,
Telma Regina Ferrari, Carlos César Ferrari e Thaís Regina Ferrari.
Com a família constituída, Armelindo Ferrari sente necessidade de lutar pela cidade onde
mora. Começa, então, sua militância política. Foi vereador na Câmara Municipal de Fernandópolis
durante 12 anos, secretário da Câmara Municipal no ano de 1969, prefeito municipal no quadriênio
174
1973-1976 , fundador e presidente da Associação Comercial e Industrial de Fernandópolis, primeiro
presidente do Mobral e membro da Diretoria do Rotary Clube de Fernandópolis.
Em 1968, participou do Cursilho de Cristandade e, no ano de 1969, foi tesoureiro do Partido
da Aliança Renovadora Nacional (Arena).
Homem desprendido e ansioso pelo progresso de Fernandópolis, doou um terreno para a
construção da EEPSG Antônio Tanuri e um quarteirão para a construção da Igreja São Pedro.
Além do bom desempenho como homem público e como empresário, Armelindo Ferrari teve
outro grande mérito: foi ótimo chefe de família. Passou a todos os seus filhos o senso do trabalho, da
dignidade e da amizade. Era um homem sério, calmo, controlado e muito religioso.
Faleceu no dia 31 de janeiro de 1972, com 49 anos.
Em homenagem ao seu desempenho como cidadão e político da sociedade local e pela
contribuição ao progresso de Fernandópolis, em 25 de agosto de 1980, a escola EEPG do Jardim
Guanabara, passou a ser chamada EEPG Armelindo Ferrari.
Colaboração
Diná Ruy Cogo
Maria Elisa Pinheiro
Ana Angélica Neves de Oliveira
Soleni Teixeira Lima Risssato
174
Para saber de sua gestão como prefeito de Fernandópolis, consultar a parte histórica (Parte A) desta obra.
445
BERNARDO PESSUTO
Aos seis dias do mês de junho de 1906, nascia na Itália, na comunidade de Piavon,
Província de Treviso, um meninozinho que, na pia batismal, receberia o nome de Bernardo, o sexto
filho do casal Mansuetto Pessuto e Emília Dorzetto Pessuto.
Tinha nove irmãos: Carlos, Margarida, Innocenty, Ottorino, Pásgua, Maria, Gemma, Antonia
e Adolfo. Viviam em uma área da zona rural, morando em uma casa bem grande, em verdadeira
comunidade: eram mais de 60 familiares na mesma casa. O lema era: “um por todos e todos por um”.
Lavravam a terra e dela colhiam tudo para a subsistência da família toda. Enquanto alguns
iam para a roça, outros cuidavam da casa, outros fiavam e teciam roupas para todos. Faziam até
seus sapatos.
A melhor e a mais sagrada hora era quando todos se reuniam ao redor da grande mesa
para o alimento. Aí tinham tudo do melhor e feito com carinho: a gostosa polenta com polastro
(frango), “La Pasta” (macarrão da mama), Caneloni, Rondeli, Pizza. A mesa sempre foi motivo de
reunião.
O menino Bernardo crescia como qualquer moleque: brincava, aprendia lições, fazia
travessuras. Tudo ia bem, quando estoura a Primeira Guerra Mundial, a de 1914, e a família Pessuto
se vê obrigada a partir da terra querida, à procura de novos dias que lhe trouxessem paz e
segurança.
Assim, partem para o Brasil em longa viagem de navio e começam a trabalhar em lavouras
de café na região de Ribeirão Preto. Nessa ocasião, Bernardo contava com 8 anos.
Depois de algum tempo em Ribeirão Preto, mudaram para a região de Cedral, onde
encontrou aquela que, futuramente, seria sua esposa, Anna Colli, conhecida como Alemãzinha, e
com ela formaria uma família.
Levou a vida como qualquer jovem: trabalhos, passeios, bailes. E foi num desses “bailes da
roça” que pediu a jovem Anna em casamento e aos 15 de fevereiro de 1930, a Igreja São Luiz de
Cedral, recebe-os para selar um compromisso de amor.
Nesse dia, começaram uma vida de muitos sacrifícios, lutas e dificuldades, mas sempre
recompensada pelo amor que os unia. Dessa união nasceram os filhos: Luiz, Walter, Gilberto, Darcy,
Jurandy, José e Maria José, que hoje se orgulham de ter vindo de um lar simples, mas muito bem
alicerçado.
Bernardo Pessuto, antes de se instalar definitivamente em Fernandópolis, tentou fixar
residência em vários lugares, mas foi aqui fixou morada: adotou Fernandópolis como se fosse sua
pátria verdadeira e a que amou e defendeu.
Colaborou para o seu engrandecimento. Seu sítio de café deu lugar ao asfalto, a lojas,
bares, igreja, escola. Doou o terreno da Igreja São Bernardo, da Praça, do Centro Comunitário e da
Escola Prof. Ivonete Amaral Silva Rosa e metade do cemitério da Consolação.
446
Deu total apoio ao time da casa ABE (Associação Bancária de Esportes), que nasceu dentro
da sua casa, conforme ata registrada no cartório e que posteriormente viria a ser o FFC.
Muito trabalhou arrecadando fundos para construir a Capela de Nossa Senhora Aparecida e
a Igreja Matriz Santa Rita de Cássia. Usava seu caminhão Ford 36 para arrecadar prendas nos sítios
para posteriores leilões. Seu caminhão vinha lotado de café, milho, arroz e outras prendas, e teve
como companheiros nesta jornada o bispo Dom Arthur Horsthuis e os senhores Baitelo, Michelutti,
Gavioli, Brandini, Romeu Soares, João Cavallin, José Leone, Armando Farinazzo, Gabriel Costa,
Raul Frota, Rodolfo Benfati, Leontino Moura.
Nessas andanças levava consigo um cachorrinho bassê pretinho de nome: Bidú. Era seu
amigo fiel.
Tinha como “hobby” caçar pacas com seus amigos, e o cachorrinho Bidú mostrava-se
sempre bom caçador.
Outro “hobby” que os filhos não esquecem é que, por ocasião da Páscoa, a sua esposa
tingia ovos de galinhas, cozinhando-os; ele e o amigo Michelutti passavam horas acertando
moedinhas nos ovos. O vencedor levava para casa os ovos rachados e os filhos torciam muito, pois
os ovos que ele ganhava, os filhos comiam. Era a Páscoa!
Recebeu várias homenagens em vida, sendo uma das mais importantes a concessão da
Medalha 22 de Maio no dia 12 de maio de 1982, pelos relevantes serviços prestados à comunidade.
Entre as homenagens recebidas post mortem está o nome da Cohab Bernardo Pessuto.
Deixou aqui uma família grande: 7 filhos (1 falecido ainda criança), 6 noras, 1 genro, 37
netos e 27 bisnetos, que procuram sempre honrar seu nome.
Os filhos herdaram o gosto de sentar à mesa para comer com prazer a boa comida italiana,
e conversar tomando um bom vinho, guardando sempre as tradições. E uma das tradições que
jamais deixaram morrer é a de comer “Crostolli” ou “Latuggui”, toda terça-feira de carnaval.
A família lembra também que o pai encomendava um vinho fino e precioso, que chegava
em uma cartola do Rio Grande do Sul, para algumas famílias italianas. Quando chegava essa cartola,
era verdadeira festa. A cartola, porém, durava meses, pois o vinho era degustado com muita regra.
Bernardo morreu aos 26 de fevereiro de 1987, e Anna, aos 22 de setembro de 1995.
Bernardo e Anna continuam vivos no coração das pessoas que conviveram com eles; e
mais: não poderiam ser esquecidos, principalmente Bernardo, porque existe uma comunidade e um
bairro com seu nome.
Se Bernardo estivesse vivo, hoje, muito se orgulharia de ver Fernandópolis, o progresso do
bairro, que um dia foi seu sítio, a beleza da Praça São Bernardo e da Igreja, o forte trabalho daquela
comunidade, o dinamismo da nossa terra impregnada pela força jovem. Deixou registrado, nos anais
da nossa história, exemplos de dignidade, amor à família, amor e serviço ao próximo e a grande
paixão por esta cidade.
Colaboração
Maria José Pessuto Cândido
447
CENAFONTE CECATTO
Colaboração
Escola Estadual Afonso Cafaro
DEODATO ANTONIO PEREIRA 447-B
Ficou órfão de mãe aos nove anos de idade. Por problemas de saúde, obtidos pela
profissão (seu pai trabalhava em mina de carvão em Volta Redonda, RJ), viúvo, resolveu
mudar-se para terras paulistas onde o clima era quente e seco.
Em 1924, junto de seu pai, veio para Mundo Novo, hoje Urupês, interior paulista.
Estudava na escola da cidade e ajudava na carpintaria, ofício que aprendeu com o pai,
construindo telhados, móveis para as casas de fazendas (colônias) dessa região.
Em 1930, seu pai, João Batista de Lacerda, casou-se com Maria Lacerda, e ele
passou a morar sozinho, trabalhando como carpinteiro nas fazendas de cidades vizinhas.
Certa vez, veio comprar porcos nessa região (Fernandópolis). Quando passou por
uma fazenda num ponto, onde as pessoas trocavam ideias e faziam negócios, conheceu o Sr.
Carlos Barozzi. Uma grande amizade uniu o mineiro e o italiano, e dela surgiu a ideia de se
instalar nessas redondezas. Foi para Mundo Novo contar para seu pai sobre essa região e a
pretensão de comprar terras por aqui.
No Sítio nasceram três dos seus onze filhos: Luís, que veio a falecer com dois anos
de idade, Sebastiana, uma encantadora menina que deixou os olhos de José brilhando de
satisfação, mas, por pouco tempo, durou uma semana vida; e Lourdes, a menina que tanto
esperavam (hoje, professora aposentada em Biologia e residente em Santa Fé do Sul). A
alegria voltou a reinar naquele sítio, próximo à Vila, de cuja vida social fazia parte em todos os
projetos para a melhoria da vila: aumentava o comércio com farmácia, armazéns, quitandas e
bazares. Vendo o progresso chegar, crescia a vontade de se instalar na vila e trabalhar no
ramo de Secos e molhados.
Lourdes, ainda bebê e com problemas de saúde, fez com que fixassem moradia
definitiva na Brasilândia, para ficar mais próxima dos recursos médicos e farmacêuticos.
Construiu uma casa espaçosa com grande quintal e pomar formado com o comércio na frente
da casa, situado (hoje, 2011) na Av. Carlos Barozzi. Seus irmãos também vieram para a vila,
onde o Sr. João vendeu o sítio e comprou uma chácara, atualmente na Av. Catanduva e, com o
restante do dinheir, instalou uma sorveteria para os outros filhos Joaquim e Augostinho
trabalharem; Bernardina casou-se com Natalino Pradela e foi morar no sítio.
José se ocupava com os afazeres do sítio e com a política do vilarejo que recebeu o
nome de Brasilândia. Reunia-se sempre com os amigos: Carlos Barozzi, Líbero de Almeida
Silvares, José Marinho Lopes, Pedro Malavazzi e Carlos Felipe.
A igreja foi construída por Ludovino na área central da vila. José, muito devoto do
catolicismo, junto com o pai João, construiu, no meio da mata, quatro cruzeiros (marcos)
colocados no cemitério antigo, construído na divisa das fazendas Marinheiro (propriedade de
Carlos Barozzi) e Santa Rita (Joaquim Antônio Pereira), que doaram as terras para fazer o
cemitério (antigo cine Fernandópolis, atualmente situado na Avenida Expedicionários
Brasileiros, esquina com a Rua São Paulo). Esses marcos fizeram a história de José Batista
Lacerda, cada um em local considerado progresso: um na igreja da Brasilândia, outro no
cemitério antigo, outro na igreja matriz de Vila Pereira e o outro na Avenida União (hoje Líbero
de Almeida Silvares), que uniu as Vilas Brasilândia e Pereira. Atualmente esse marco é de
concreto, o antigo (de madeira em forma de cruz) foi levado para o novo cemitério construído
nos arredores da cidade.
Em 1945, José construiu seu sonhado comércio: Casa Lacerda – Secos e Molhados,
que durou seis anos (nesse tempo nasceram: Líria Aparecida, hoje aposentada em Letras;
Levi, hoje aposentado em Biologia; e Laura, licenciada em Biologia e Pedagogia e, atualmente,
ministra suas aulas na EELAS - Sala de Leitura. Em 1951, instalou uma fábrica de tamancos,
parte de cuja produção era transportada em caminhão para todas as regiões do Brasil (conta
ele que até para o Rio Grande do Sul). Nessa época, nasceram mais dois filhos: João (neto) e
Joaquim (morreu logo ao nascer). Como tinha que viajar muito, deixar a família sem sua
presença, esse trabalho durou apenas dois anos. Foi, então, que construiu uma casa com o
comércio na frente, próximo à praça da igreja São Luiz Gonzaga, denominada Casa Lacerda –
Secos e molhados e Tecidos, que perduraria de 1953 a 1957; adquiriu ainda um sítio próximo
ao Água Viva Thermas Clube, cujos produtos abasteciam a família numerosa que tinha. Em
1955, nasce mais uma filha, que recebeu o nome de Maria Lúcia, hoje, bibliotecária da
Biblioteca Pública Municipal.
Em 1958, nasce mais uma filha, Lucília Maria, e muda-se para Fernandópolis, para
ficar mais perto do Ginásio Estadual de Fernandópolis, onde é hoje o 16.º Batalhão da Polícia
Militar, pois lá suas filhas mais velhas estudavam.
Enquanto isso, o pequeno grande homem José construiu uma casa numa grande
propriedade no Bairro da Brasilândia e disse: “- Aqui comecei minha aventura no trabalho e
aqui terminarei meus dias, nessa casa receberei meus filhos, netos, bisnetos, parentes e
amigos”. Gostava da vida do campo, por isso em todas as casas que construía fazia um
formava pomar de árvores frutíferas variadas, embelezando o quintal com os passarinhos,
borboletas voando e entrelaçando entre as flores do jardim e a horta que florescia a cada
estação. Ali criou galinhas, angolas, patos, porcos, que eram a alegria dos netos que, nos finais
de semana, passavam brincando entre as árvores e os animais domésticos.
Em 1998, no seu aniversário, realizou uma grande festa, convidando todos os seus
familiares, parentes e amigos para comemorar os seus 84 anos de vida digna, de dever
cumprido. Logo depois, ficou doente e, em 19 de julho de 1998, fechou os olhos para sempre
para essa terra que ele tanto amou e se encantou.
Colaboração
Cezar Duarte Azadinho nasceu na cidade de Vera Cruz, estado de São Paulo, no dia 22 de
janeiro de 1931, filho de Francisco Duarte Azadinho e Cecília Duarte Azadinho. Permaneceu em Vera
Cruz até 1940, quando sua família se mudou para Tanabi (SP).
Em Tanabi, continuou seus estudos primários e, posteriormente, passou a estudar no
Colégio Dom Bosco na cidade de Monte Aprazível (SP). Ao completar 18 anos, foi convocado para
servir o exército brasileiro, fazendo o curso na cidade de Caçapava.
Após o período do exército, iniciou sua atividade profissional na Secretaria da Agricultura,
prestando serviços no Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura, na cidade de São
Paulo, no Parque da Água Branca.
Após anos de serviço e já na condição de funcionário público estadual, passou a prestar
serviço na Secretaria da Fazenda na cidade de São Paulo, de onde foi removido para a cidade de
Presidente Prudente e, posteriormente, para São José do Rio Preto, ambas no estado de São Paulo.
Em 31 de janeiro de 1954, casou-se com Dozolimar Sinibaldi Azadinho, de cuja união
resultou o nascimento de seis filhos: Francisco Octávio, Ângela, Dozolina, Dulce, Dirce e Cecília.
No ano de 1959, Cezar foi transferido para Fernandópolis, onde assumiu o cargo de coletor
estadual, desempenhando-o, com brilhantismo e honestidade, até 1981, quando foi promovido para o
cargo de inspetor de arrecadação, em que se aposentou em 1986.
Sua iniciação na maçonaria ocorreu em agosto de 1961, na Loja Maçônica Benjamin Reis
de Fernandópolis, em que desempenhou diversos cargos. Atuou, também, na Loja Maçônica Castro
Alves e, juntamente com outros maçons, fundou a Loja Fraternidade Fernandopolense em que
exerceu diversos cargos, ali permanecendo até seu falecimento. Participou também da fundação da
Loja Maçônica União Fraterna Vale do Rio Grande da cidade de Indiaporã (SP).
Foi presidente do Centro Social de Menores, cuja posse no cargo se deu em 11 de
setembro de 1980; posteriormente, em 21 de março de 1995, foi eleito membro do Conselho
Deliberativo. Durante o período de atuação nessa casa, conseguiu grandes feitos à entidade e aos
menores que ali frequentavam.
Foi presidente também do Conselho Tutelar de Fernandópolis, cargo que exerceu com
eficiência e dinamismo.
Faleceu em 23 de setembro de 1997, em Fernandópolis, onde foi sepultado, Era
considerado por familiares e amigos um grande amigo, uma pessoa terna, amorosa e humana,
voltada sempre para bem-estar do próximo.
Em virtude dos relevantes serviços prestados à comunidade fernandopolense e, por
iniciativa da Prefeitura e Câmara Municipal de Fernandópolis, a praça onde se localizam a Biblioteca
e o Teatro Municipal recebeu o nome de “Praça Cezar Duarte Azadinho”, em maio de 1999.
449
Uma das ruas no Residencial Terra Nostra também recebeu seu nome, homenagem, mais
uma vez, que lhe foi tributada pelos dirigentes da cidade de Fernandópolis em reconhecimento ao
homem dinâmico e correto que sempre foi. Cezar foi um exemplo de honestidade, seriedade,
solidariedade e amizade.
Colaboração
Associação de Amigos de Fernandópolis (AAMF)
450
ECIO VIDOTTI
Écio Vidoti nasceu em 25 de julho de 1923, em Paraíso, cidade localizada nas proximidades
de Catanduva, (SP). Foi criado na área rural do município em uma grande família de imigrantes
italianos, cercado de irmãos, primos e sobrinhos. Como caçula de 13 irmãos, teve o privilégio de
tornar realidade o sonho dos pais imigrantes de ter um filho médico.
Após sacrifícios pessoais, que incluiu residir em São Paulo, trabalhando na antiga Light,
então a empresa responsável pela distribuição de energia elétrica, conseguiu ingressar, em 1947,
naquela que, na época, era uma das principais Faculdades de Medicina do país, a Faculdade
Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro era então a Capital da República e, dessa
época, restaram belas histórias, tanto de sua primorosa formação profissional, quanto de suas
atividades de lazer e esportes, que incluem um período como atleta de remo do Clube Botafogo de
Futebol e Regatas.
Sua formatura se realizou no magnífico Teatro Nacional, no ano de 1952.
Nesse período, ainda como estudante de Medicina, começou a viver uma linda história de
amor com uma jovem professora primária, a Sra. Iliete Zucchi, que, por uma daquelas situações que
só o destino explica, veio a lecionar na Escola Rural instalada nas terras de propriedade de sua
família.
Após sua formatura, o casamento foi um passo natural, e este ocorreu em 01 de julho de
1953.
Como médico, exerceu a profissão, inicialmente, em Monte Azul Paulista, bem próximo a
Paraíso, onde residiam familiares de ambos. Depois, os desafios profissionais o levaram até Ariranha,
também no interior paulista, onde suas qualidades profissionais, sua empatia e sua liderança nata já
se destacaram, aproximando-o também da política.
Todavia, buscando melhores oportunidades profissionais e entendendo, sobretudo, que o
papel do médico é o de levar seus serviços para regiões menos atendidas, o casal mudou-se para
Fernandópolis em janeiro de 1957, meses antes do nascimento de seu primeiro filho. A cidade foi
indicada ao casal por um grande amigo, que, já naquela época, via o grande potencial de
desenvolvimento que a cidade oferecia.
Em Fernandópolis, exerceu, inicialmente, a função de pediatra no então Posto de
Puericultura. Nesse período, a demanda de atendimento era muito grande, e o atendimento médio
diário chegava a 60 crianças, sendo que todas recebiam indistintamente sua atenção e carinho que
sempre foram qualidades que procurou praticar durante sua longa carreira profissional. .
Com a unificação dos serviços de saúde, passou a atender no Centro de Saúde de
Fernandópolis, exercendo, pó muitos anos diferentes cargos e funções, tendo atuado como
dermatologista, clínico geral, além de ter exercido função de chefia da unidade por vários anos.
Participou, ainda, da implantação da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, da qual
foi Diretor Clínico. Sua preocupação com a consolidação dos serviços médicos na cidade envolveu
também o estímulo a que vários profissionais viessem para a cidade, o fez com que ele se tornasse
451
Colaboração
Família Vidoti
452
EDISON ROLIM
Foi paixão à primeira vista! E foi essa paixão que levou Edison a fixar residência em
Fernandópolis, depois de muitas andanças pelo interior do estado, com seu primo irmão Olavo
Fleury. Andanças que começaram quando saiu de São Paulo, onde morava com a família e cursava
Direito na Universidade São Francisco. “Conheceu Fernandópolis ficando completamente
apaixonado”, diz emocionada sua filha Rita. Mudou-se, solteiro, para Fernandópolis em 1947 e
começou a trabalhar no ramo do café, que estava em pleno desenvolvimento na região na época e,
mais tarde, também com gado holandês.
Edison já era um rapaz do interior, natural de Cerqueira César, cidade localizada a
aproximados 300 km da capital paulista, na região Sudoeste do estado. Nasceu no dia 22 de março
de 1923, filho do farmacêutico Antônio Augusto de Arruda Rolim e da artista plástica Antônia Maria
Leite Rolim. Passou sua infância em Cerqueira César, depois foi para Botucatu estudar e, mais tarde,
mudou-se com a família para o Jardim Paulista em São Paulo.
Mesmo nascendo na "Cidade que faz amigos" (slogan do município), escolheu
Fernandópolis, a “Cidade Progresso”, por paixão. Já com seus negócios progredindo, em agosto de
1950, conheceu a professora Belkiss de Arruda Campos, que havia acabado de chegar à cidade para
lecionar. Foi paixão à primeira vista. Da. Belkiss ficou vinte dias na cidade morando na residência do
Sr. José Beran, sendo removida para São Carlos, sua cidade natal. Mesmo com a enorme distância
na época, o amor só foi crescendo. Em novembro daquele ano, pediu-a em casamento, cuja
cerimônia se deu em 29 de janeiro de 1951.
1951... “foi um ano de glórias! Casamento em janeiro, eleito prefeito em outubro e, em
novembro, nasce à primeira filha, Eudóxia Maria”, diz sua filha Rita.
Edison Rolim e Dona Belkiss tiveram seis filhos: Eudóxia Maria, Antonia Maria, Ana Maria,
Edison Filho, Rita Maria e Olavo. Dos filhos vieram nove netos: Lívia Maria, Edison Neto, José Neto,
Belkiss, Rodrigo, Luiz Antonio, Renato, Flávia e Júlia. Moraram na Avenida Expedicionária Brasileiros
por mais de 40 anos, por coincidência, avenida aberta por ele mesmo, em um dos seus mandatos.
Enquanto administrava seus negócios, Rolim também entrou para a política
fernandopolense, como candidato a prefeito em 1951. Diz D. Belkiss: “ao longo de minha vida de
esposa e mãe, assisti à primeira luta, quando o povo de Fernandópolis elegeu meu marido prefeito”.
Empossado em 1º de janeiro de 1952, “dedicou-se de corpo e alma a Fernandópolis”, relembra Rita.
No período de sua gestão, conseguiu inúmeras melhorias, destaca seu neto, o jornalista
175
José Neto , de Votuporanga: a construção da Estação Ferroviária (EFA), iniciou a construção da
175
José Rodrigues Martinez Neto. Fernandópolis pisa no seu passado e derrapa no seu futuro. Folha de
Fernandópolis, p. A2, 14 abr. 2007. Transcrito pela profa Peta Matos, em fevereiro de 2012, mantendo-se fiel à
grafia do texto original.
453
Santa Casa de Misericórdia, conseguiu a Escola Técnica de Comércio com os cursos Comercial
Básico e Técnico em Contabilidade, instalação da comarca de Fernandópolis em 25 de maio de 1953
(depois da promulgação da Lei 1940); em 3 de dezembro de 1952, a inauguração do Posto
Telefônico da Companhia Telefônica de São José do Rio Preto, implantou a estrada municipal
Fernandópolis-Macedônia; em 14 de agosto de 1955, entra no ar a Rádio Cultura de Fernandópolis
do radialista Moacir Ribeiro.
176
A vida de esposa de prefeito também não era fácil, desabafa emocionada D. Belkiss :
quantas lágrimas tive de derramar! Quantas vezes, meu marido se despedia de mim
e de nossas filhinhas e partia para S. Paulo, a fim de tratar de assuntos da
administração, deixando-nos saudosas, e os adversários espalhavam a notícia de
que ele havia fugido ou estava preso. Como eram dolorosas, minhas amigas, a um
coração de mãe e esposa extremosa aquelas calúnias.
De 1956 a 1959, foi vereador. O número de votos que obteve foi tão expressivo, que só foi
superado depois de mais de uma década. Em 1959, lança-se novamente candidato a prefeito, e sua
esposa escreve uma carta A todas as mães, justificando seu apoio ao marido, mesmo após tanto
sofrimento, e sua ausência na campanha do marido:
[...] ao ser escolhido o sucessor do Dr. Adhemar, novamente fui sacudida nos
sentimentos mais profundos de mãe e de esposa, e não tive outro jeito senão me
conformar e permitir que novamente meu marido se dedicasse a Fernandópolis e
seu povo. E não me arrependo porque confio nele, na sua honestidade, na sua
sinceridade de propósitos, no seu desejo mais profundo de melhor servir
Fernandópolis, sem modificar a sua maneira de viver e de agir, de pensar em
relação ao lar. E tenho a esperança de que, com a ajuda de Deus, o povo de
Fernandópolis dará a ele a vitória que já é esperada... [E continua sua justificativa:]
Sou professora e leciono, não poderia, de forma alguma, abandonar meus queridos
alunos por causa da campanha política... tenho, por outro lado, meu lar que tanto
adoro e minhas quatro filhinhas e um filhinho... não poderia abandoná-los. Esse o
motivo de separar uns minutinhos do meu dia para visitar as famílias
fernandopolenses apenas atravéz do rádio [...]
E faz um apelo:
176
Belkiss de Arruda Campos Rolim, viúva, em carta aberta às Mães Fernandopolenses, escrita em 1959. Essa
a
carta se encontra em posse de sua filha Rita M. C. R. Rodrigues. Texto transcrito pela prof Peta Matos, em
fevereiro de 2012, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
454
da Secretaria da Fazenda (sendo cedido o prédio do Paço Municipal), lançou a pedra fundamental da
maternidade da Santa Casa, obteve aprovação e verbas estaduais para a construção dos armazéns
da CEAGESP, construção do novo prédio do Instituto Estadual de Fernandópolis Líbero de Almeida
Silvares, construção do IBC (as três últimas foram conseguidas por Edison Rolim e concluídas na
gestão do prefeito seguinte Dr. Percy Waldir Semeghini).
Relembra a profª Lídia Sato:
o prefeito Rolim abriu uma Escola de Corte e Costura Municipal, no prédio da família
Sato (hoje Máquina Santa Rosa). A diretora era Maria Sato Higuti, que também
ministrava o curso. Após o curso, as alunas recebiam o diploma obedecendo todo o
ritual de uma formatura: tinham padrinhos, iam às autoridades, a família e amigos.
177
Era chique!
point de encontro, porque seu Edison e da. Belkiss deixavam os portões da garagem
abertos para eles ficarem paquerando, conversando ao som do rádio do carro no
mais alto volume. Nós, que passávamos por ali de carro, víamos, pela grande janela
de sua casa, o casal numa mesa redonda cada um com seu baralho jogando
paciência, com sua cerveja e seu cigarro, sem se importarem com tamanha
barulheira. Impressionante, ao contrário da maioria dos casais idosos, eles
adoravam essa movimentação. Tanto que os vizinhos perturbados com o agito da
moçada fizeram vários abaixo-assinados para que os jovens saíssem de lá e eles
nunca assinaram.
Observando o acervo de fotos da família, percebe-se que Edison gostava de levar a família
até a Cachoeira dos Índios, andar de barco e brincar; de viajar, principalmente para o litoral paulista
e, interessante para a época, registrava todos os acontecimentos com sua máquina fotográfica.
Comemorava os aniversários dos filhos, participava de todos os eventos sociais, possibilitando às
suas filhas debutarem aos 15 anos, com todo o “glamour” da época. Deixou fotos preciosas e
memoráveis. Faleceu no dia 14 de março de 2004, “deixando um vazio enorme... ele era ímpar”, diz
Rita emocionada.
José Neto, em artigo publicado em jornal, escreve:
[...] Fernandópolis teve um rápido crescimento e logo se tornou uma das mais
importantes cidades do noroeste paulista, onde homens de bem tocavam a cidade
com seu coração, e pensavam realmente no bem-estar da população. Muitos desses
homens já se foram, para a tristeza de Fernandópolis, que de um passado glorioso
177
Depoimento de Lídia Katsue Sato Pizzuto, casada, professora aposentada, à profª. Péta Matos, no dia
04/06/2011.
455
hoje pena e sonha com um futuro tão bom quanto seu passado. Um desses homens
que ajudou Fernandópolis foi Edson Rolim [...] Morador da Avenida Expedicionários,
residiu na mesma por mais de 40 anos e, depois de sua morte, como mais justa
homenagem a esse homem que tanto fez pela cidade, o nome dessa avenida seja
Edson Rolim, mas não. Hoje, comandada por homens de pouca expressão e pouca
visão, Fernandópolis pisa no seu passado deixando para trás o que de bom ele fez,
causando tristeza à família do ex-prefeito [...] Mas, mesmo nesse lamento,
percebemos a esperança: Fernandópolis deve lembrar-se dele e usar as lições
aprendidas para melhorar e crescer, e quem sabe voltar a ser a tão grandiosa
Fernandópolis de nomes inesquecíveis como Edson Rolim.
Edison Rolim, nome de um brasileiro e paulista que se apaixonou à primeira vista por
Fernandópolis e a “adotou” como sua terra e de sua família. Um homem que ajudou a escrever a
história de Fernandópolis.
Colaboração
Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida, 61 anos, viúva, é historiadora, professora Me. em
História Social e empresária. É conhecida como profª Péta Matos.
Nasceu em 18 de fevereiro de 1912 na região de São Borja (RS), filha de pai gaúcho e mãe
francesa. Estudou durante a infância em Montevidéu, fato que lhe proporcionou condições para
expressar-se muito bem em castelhano. Era conhecida em Fernandópolis como Dona Maria, Maria
Alemoa e Maria Pipa, pois o marido John, um alemão, era chamado de Pipo. Segundo relato de
pessoas que a conheceram, Eládia era mulher muito culta.
Juntamente com o marido, de Araçatuba, onde investiram no ramo de frigoríficos, veio para
Fernandópolis no final da década de 1940 para montar o frigorífico Esser, situado, na época, duas
quadras abaixo do Cine São José e acima do Ferro Velho São Paulo. Diversificando a produção,
processava a carne na confecção de linguiça, mortadela, chouriço, pancetas, salames, defumados
etc. A comercialização dos produtos tinha como mercado as regiões de Jales, Votuporanga e Santa
Fé do Sul. O transporte, realizado em furgões, era dificultado pelas péssimas condições das estradas,
naqueles tempos todas sem pavimentação. Como aspecto a ser destacado, tem-se o fato de Dona
Maria ter sido a primeira motorista de Fernandópolis, algo que lhe conferia muito orgulho.
Jonh e Dona Maria não tiveram filhos consanguíneos, fato que os levou a adotar a menina
Claudina Tereza Singh, filha de Takar Singh, um indiano que possuía um empório na esquina das
ruas Espírito Santo com Francisco Costa. Claudina casou-se com Custódio Camargo, motorista
empregado do frigorífico, tendo Dona Maria como madrinha do casamento e, posteriormente,
madrinha dos seis filhos do casal.
Com a morte do marido, Dona Maria e família venderam o frigorífico e, em meados de 1957,
adquiriram um bar que funcionava também como lanchonete e sorveteria, situado numa das esquinas
da Praça Brasil, abaixo do Auto Peças Mãe Preta, no final da Rua Rio Grande do Sul, entroncamento
da Expedicionários Brasileiros com a Afonso Cáfaro. Posteriormente, venderam o bar e compraram
uma chácara no final da Rua São Paulo.
Após a venda do bar, mudaram completamente o ramo de negócios, adquirindo dois
caminhões, um Ford F5 e um Studbaker, e se estabeleceram no ramo de transporte de cereais,
sobretudo café, das fazendas Pau Roxo, córregos do Gatão, da Capivara, Marinheiro, Água Limpa e
outros. O produto era transportado para as máquinas de beneficiamento e, posteriormente, para São
José do Rio Preto.
Dona Maria contava com grande conhecimento e amizade com as tradicionais famílias de
Fernandópolis, como Geraldo Roquete, Fernando Jacob, Chichina, Alvizi, Semeghini, Cáfaro, Birolli,
Mardegan, Bastos Salioni, Ferrari, Marques Rosa, Bim do Ferro Velho, Del Grossi, Barozi, Baroni,
Bortolozzo, Delarobe entre outras.
Em 1962, vivenciando um período de grande endividamento, desfez-se praticamente de
tudo o que possuía. O fato de ser muito conhecida levou o Sr. Américo Messias, proprietário de uma
fazenda no Córrego da Capivara, a convidá-la para montar um empório de secos e molhados, dotado
de um campo de bochas. Assim, ela se estabeleceu, tocando o estabelecimento com uma prática
muito comum naquele período. Vendia os produtos por meio de um acordo com os clientes: o
457
pagamento das contas (“fiados”) era realizado somente por ocasião da safra de café. Destaca-se que,
aos domingos, os clientes, em sua maioria constituída por colonos de café, se divertiam no campo de
bochas e, em muitas ocasiões, o lazer se estendia até o final da tarde quando comemoravam as
vitórias do São Paulo Futebol Clube da Fazenda Capivara.
Em 1968, vendeu o único comércio existente no trajeto do Ubirajara até a Água Limpa e o
Caxi, comprando, em seguida, do Sr. Orozimbo Ribeiro, o Bar Ubirajara. Neste estabelecimento,
Dona Maria acordava por volta das 4h30min para preparar o almoço de boias frias que seguiam de
pau de arara (caminhões) para a cata do algodão e outros serviços da região. Aos domingos, seu
estabelecimento era ponto de encontro, durante o qual os “gatos” (assim chamados aqueles que
arrebanhavam e contratavam os boias frias) efetuavam os pagamentos da semana de serviços aos
boias frias.
Dona Maria (Eládia Esser) foi uma das primeiras comerciantes de Fernandópolis. É
considerada por todos que a conheceram como uma mulher de fibra, baluarte de uma época única.
Pode-se dizer que seu maior intento foi amar e unir a família. Conseguiu. Numa época em que os
valores sócio-culturais induziam para uma organização essencialmente patriarcal, conseguiu grande
destaque no universo feminino. Sem dúvida, pode ser considerada um ícone na sociedade
fernandopolense da época.
Colaboração
Eliane Alves Corrêa
Dirce Aparecida Della Rovere
João Lima
458
Jurídicas da Comarca de Fernandópolis (11.11.1975). Foi, igualmente, durante doze anos (período de
06.12.1976 a 30.01.1989), Delegado Regional dos contabilistas do estado de São Paulo (como
consta de fotos e certidão do CRC-SP), representando Fernandópolis em diversos congressos e
simpósios do seu principal ramo de atividade – a contabilidade –, trazendo, sempre, inovações para
as empresas aqui sediadas. Sempre soube colaborar com as entidades sindicais representativas da
classe econômico-contábil (CHARME, 2001).
Não lhe bastando essas atividades profissionais, que lhe atraíram boas e duradouras
amizades, Eurico incentivou e presidiu um grupo que construiu o primeiro edifício da cidade, o
Condomínio Edifício Fernandópolis, na rua Espírito Santo, 1237, com ele abrindo caminho para que
outros grupos empreendedores se sentissem estimulados a construir novos prédios em
Fernandópolis. Começava com ele a verticalização imobiliária da cidade.
Dessa forma, atuava em diversos setores no desenvolvimento da cidade. Trouxe, com seu
espírito empreendedor, progresso para Fernandópolis, construindo, gerando empregos e, a par disto,
participando sempre de promoções sociais da cidade, contribuindo, inclusive, com diversas entidades
filantrópicas e com carentes a quem nunca deixou de ajudar.
Após seu falecimento em 1998, a Lei n. 2.436, de 13 de maio de 1999, aprovada pela
Câmara Municipal e sancionada pelo então prefeito municipal, Sr. Armando José Farinazzo,
transformou o Parque Industrial I do município em Parque Industrial “Eurico Gimenes Martins”
(FERNANDÓPOLIS, 1999), cuja proposta se deve à manifestação dos inúmeros amigos e à
aprovação, por unanimidade, dos ilustres vereadores da Câmara Municipal cujos membros, no
passado, houveram contato de amizade ou profissional com o homenageado e reconheceram nele o
homem de valor e o cidadão e profissional que sempre foi.
Em relação à nova denominação do Parque Industrial I, a Gazeta da Região publicou, em
25 de maio de 1999, ofício enviado por Jane Teresa Brasil Gimenes à Câmara Municipal em que
consta (FAMÍLIA, 1999):
[...] Para mim, esposa do homenageado, e para meus filhos, a lembrança de seu
nome para o Parque Industrial I é uma lisonja ímpar e, em que pese o lado pessoal
com que falo, uma homenagem justa àquele que, embora não tendo nascido em
Fernandópolis, aqui construiu sua vida e amou esta terra que adotou de coração.
Eurico, se teve, de um lado, o prazer de aqui ter vivido a maior parte de sua
existência – e a viveu com ardor e esperança de quem crê numa grande cidade –,
por outro lado, contribuiu, com certeza, para o seu progresso e participou de sua
vida social, partilhando a esperança, a fé e a alegria com os munícipes
fernandopolenses.
É mérito seu. É honra nossa ter seu nome estampado como denominação oficial do
Parque Industrial I.
Sentimo-nos – repito – lisonjeados e externamos nossa gratidão imensa aos
Excelentíssimos Vereadores que, unanimemente, tornaram possível essa
homenagem, em particular, ao ilustre edil Luís Antônio Pessuto, autor do projeto ora
aprovado.
Era conhecido como “Balaio”, epíteto carinhoso emprestado pelos amigos e pela família:
aquele cujo coração parece comportar o mundo e recebe a todos com igual carinho e afeição. É dele
também a expressão carinhosa “catigoria”, cunhada para referir um bom desempenho ou uma atitude
positiva, um sinal de aprovação e incentivo aos amigos.
Em depoimento, Mirtila (sua filha), emocionada, confidencia (GIMENESb, 2011):
[...] certamente ele está feliz. Feliz porque realmente adorava Fernandópolis e nela
acreditava, e porque este acontecimento (publicação de biografia] mobilizou
corações e lembranças, trazendo-nos à tona que as atitudes e as intenções são
muito mais valiosas do que o que podemos construir em tijolos. O progresso maior e
mais valioso que ele trouxe foi para os fernandopolenses, com a sua mensagem de
bem viver, de bem querer, de bem amar e de bem sofrer.
Sim, porque podemos mal sofrer e bem sofrer; ele foi o exemplo real do bem sofrer
em sua passagem final.
[...] envaidecida especialmente por ter tido o privilégio de tê-lo como pai, como
melhor amigo, como instrutor, como ombro que trouxe o aconchego, como ouvidos
que ouviram com o coração.
E ele era assim com todas as pessoas que conhecia, especialmente com os
Fernandopolenses. Essa era a sua marca maior. Ele incentivava o progresso das
pessoas, dava sempre um empurrãozinho discreto.
Em Fernandópolis, onde fixara residência em 1960, Eurico formou sua família, solidificou
sua vida; aqui, Eurico foi exemplo de trabalho, de homem que crê na cidade e participa ativamente de
seu progresso, incentivando, gerenciando, atuando na vida da cidade; e, finalmente, deixando seu
nome como marca de fé, de trabalho, de crença no progresso da terra que escolheu por adoção e
que sempre amou.
Eurico, em seus últimos dias, em que pesasse seu sofrer, era o espelho de vida bem vivida,
de missão concretizada no bem-viver.
Ele nunca se deixou abater, nunca se lamentou pelos reveses que a vida lhe
impusera. Ele, que tinha a certeza de sua brevidade entre nós, era o primeiro a
proclamar a vida, a alegria de viver, a doação de si e o querer ver os outros alegres.
Muitas vezes lastimamos as nossas dores... ele jamais lastimou as suas! Ele nunca
quis que alguém chorasse, muito menos pediu que o fizesse; mas pediu que sorrisse
e vivesse a vida com alegria, esperança e autenticidade. Eu o admirava por isso.
(Anônimo, amigo da família)
Eurico faleceu em 31 de janeiro de 1998, com 64 anos de idade, deixando exemplo de uma
vida pródiga em realizações, contribuindo para o progresso da cidade, dividindo sua esperança e
alegria com os munícipes fernandopolenses. A Câmara Municipal de Fernandópolis consignou, em
ata dos trabalhos, “voto de profundo pesar pelo passamento do Senhor Eurico Gimenes Martins”, o
que causou “[...] imenso pesar entre toda a comunidade fernandopolense” (FERNANDÓPOLIS,
1998).
REFRÊNCIAS
CONSELHO Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Certidão: Eurico Gimenes Martins.
Disponível em: <www.crcsp.org.br>. Acesso em: 24 maio 2001.
FAMÍLA do saudoso Eurico Gimenes Martins agradece aos vereadores pela denominação do Parque
Industrial I de Fernandópolis. Gazeta da Região, ano 30, ed. 7.915, 25 maio 1999.
FERNANDOPOLENSE de coração. Revista Charme, edição especial de fim de ano, n. 17, dez. 2001.
______. Câmara Municipal de Fernandópolis. Projeto de Lei 22/99. Dispõe sobre denominação do
Parque Industrial I de Fernandópolis. Fernandópolis, Câmara Municipal, 27 maio 1999.
GIMENES, Mirtila Brasil. Depoimento (2011). Comunicação pessoal on line (e-mail) a membro da
Equipe Executiva. São Paulo, jul. 2011b.
Colaboração
Jane Teresa Brasil Gimenes
Mirtila Brasil Gimenes
Alírio Brasil Gimenes
462
FLÁVIO DE LIMA
Colaboração
AMEF
463
FLORENTINO ZACARIAS
Saiu do lar paterno aos 14 anos de idade, viveu nos vícios, aprofundou-se nas coisas deste
mundo; era viciado em bebidas alcoólicas. Em uma tarde de domingo, mesmo embriagado na
sarjeta, ouviu o Evangelho através de um grupo de irmãos que realizavam um culto ao ar livre;
aceitou Jesus como seu Salvador.
A partir desse momento, começou a transformar-se. No dia 4 de fevereiro de 1933 desceu
às águas batismais pelo pastor Hilário J. Ferreira, na cidade de Itajubá (MG). Foi ordenado pastor
pelo Pr. Cícero Canuto de Lima (Belém, SP), em 4 de junho de 1937.
Em 1939, contraiu o matrimônio com a jovem missionária Maria Velozo Zacarias,
batalhadora incansável, fiel, dedicada. Dessa união nasceram 19 filhos dos quais 4 já faleceram
(Damares, Paulo, Júnia e Marta). Permanecem vivos Débora, Elizeu, Dorcas, Rachel, Rute, MÍria,
Silas, Jediel, Hulda, Ester, Jedida, Gina, Rubens, Lucas e Vasni. Hoje, a família é composta por 15
filhos, 3 noras, Rute Rodrigues (in memorian), 104 netos, 44 bisnetos e 4 tataranetos.
Espiritualmente, a família é composta por Pr. Elizeu Velozo Zacarias, Pr. Alairton C. de
Oliveira, Evangelista Nelson T. da Silva, vários presbíteros, diáconos, cantores, cooperadores,
dirigentes de círculo da oração, superintendentes de Escola Bíblica Dominical (EBD), professores de
EBD, músicos, secretários, tesoureiros, maestros, coordenadores de eventos, coordenadores de
comissão de visitas, entre outros.
O Pr. Florentino Zacarias teve oportunidade de conviver com o irmão Daniel Berg, que
sempre dizia essa frase: “Zacarias, Jesus salva, cura, batiza com Espírito Santo e levará para o céu”.
Dedicou-se integralmente à obra do Senhor, passando lutas, perseguições, enfermidade, prisões, as
em todas as provas foi mais que vencedor.
Seus primeiros anos de ministério foram nas cidades de Itajubá, Guaxupé, Brazópolis,
Piranguinho e São Sebastião do Paraíso, todos em Minas Gerais. Espelhou-se na pessoa do Pr.
Cícero Canuto de Lima, do qual seguiu os exemplos e conselhos, suas definições. Também teve a
honra de conhecer a irmã Celina de Albuquerque, a primeira irmã batizada com o Espírito Santo no
Brasil. Sentia tanta paixão pelo seu trabalho, mesmo que a família ficasse em segundo plano. Várias
experiências ele adquiriu em Minas Gerais, porém, o mais importante foi se formou um homem
simples, humilde, analfabeto, que apreendeu a leitura através da Bíblia Sagrada.
Em 1948, mudou-se para Fernandópolis, trazido pelo pastor Luís Santiago, que pastoreava
a igreja de Votuporanga. Aqui, foi recepcionado pela família Antoniolli, Hermínio, Luís, Otaviano,
Candeia, entre outras. Em Fernandópolis, não havia Casa Pastoral, mas apenas a igrejinha que
comportava cerca de quinze pessoas: foi ali que começou seu trabalho. A primeira residência foi na
Rua 10, casa do Toninho Sapateiro, ponto de referência na época.
O primeiro templo foi inaugurado em 1950, de pau a pique, na cidade de Meridiano. Entre
1950 e 1952, abriu congregações em Jales, Aspásia, Salete, Urânia, Santa fé do Sul, Rubinéia, Santa
Albertina. Fundou o templo em Macedônia e São João das Duas Pontes.
Seu transporte, na maioria das vezes, era a pé até 50 km. Sua alimentação: frutas das
matas; dormia à beira de rios; sol, chuva, vento, tempestade e calor eram seus companheiros. Mas
464
nunca deixou de realizar seus compromissos por mais difícil que fosse o lugar. Para ajudá-lo em sua
obra, trouxe o Pr. Alcides Pereira de Souza, de Tupã (SP).
As dificuldades eram muitas, e até mesmo sua esposa Maria Veloso Zacarias o ajudava,
inclusive distribuindo mantimentos que recebiam através dos missionários dos Estados Unidos da
América. Sua casa era hotel, alojamento, hospital, escola e até velório.
A casa pastoral de Fernandópolis fazia fundo com a casa dos padres católicos, com quem
tinha uma convivência muito boa. Em Fernandópolis, as datas comemorativas religiosas eram
celebradas pelos evangélicos da cidade toda, reuniam-se todas as denominações para as
celebrações.
Realizou centenas de casamentos, inaugurações de novos templos e casa pastoral. Viajava
de estado em estado, participando de escolas bíblicas, festividades, convenções, enfim, dedicou-se
ao ministério integralmente. Muitos irmãos, pela sua palavra, se tornaram-se, pastores, evangelistas,
missionários, presbíteros, diáconos, cooperadores, maestros, músicos, escritores, fundadores e
professores de instituto bíblico, escola dominical.
Em 1956, o trabalho expandiu-se para o estado de Mato Grosso do Sul, nas cidades de
Aparecida do Taboado, Paranaíba e Cassilândia. Também para Cerra da Moranga e Costa Rica(MS),
Estrela da Barra (MG) e Itajá (MG).
Estrategicamente, para melhor locomoção e atendimento ao trabalho, transferiu-se para a
cidade de Jales (SP) em 1º de janeiro de 1963, foi criada a personalidade jurídica da igreja,
abrangendo todas essas cidades.
Apesar de muitas lutas, sofrimentos, decepções, enfermidades, batalhou nesse campo até o
ano de 1981. Devido a seu estado de saúde agravado, foi jubilado passando, e a presidência do
campo para seu filho na fé, Pr. Sebastião Umbelino de Oliveira, para dar sequência a seu trabalho
No dia 19 de agosto de 1993, aprouve Deus cumprir em sua vida o que disse o apóstolo
Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé, agora me resta a coroa da vida do
qual Jesus, o justo juiz, me dará naquele dia”. Seu corpo foi velado no templo da Igreja de sede, em
Jales, ministério Belém. Fernandópolis prestou homenagem à família com moção de pesares. Por
iniciativa do Sargento Bezerra de Fernandópolis, há uma viela que se chama Pr. Florentino Zacarias
e, em Jales, por aprovação dos vereadores, há um viaduto com o nome Pr. Florentino Zacarias.
Colaboração
Gina C. Zacarias da Silva
465
FRANCISCO LEÃO
Francisco Leão nasceu em 14 de julho de 1918, em Monte Azul Paulista (SP), filho de
Saturnino Leon Arroyo e Radegundes Gallego Serrano. Agrimensor e pecuarista, trabalhou nas lides
do café, borracha e gado em Fernandópolis/SP e Barra do Bugres (MT).
Chegou a Fernandópolis em 1937 com os pais, um irmão e quatro irmãs, vindos de Olímpia
(SP), para trabalhar na lavoura, trazidos por Joaquim Antônio Pereira. Inicialmente, instalaram-se
num rancho de pau a pique ao lado do atual trevo da Água Vermelha. Sem perspectivas para
progredir dessa forma, partiu para capital (São Paulo) para trabalhar e estudar.
Todavia, em 1939, retornaria em definitivo a Fernandópolis, atendendo convite do “velho”
Pereira, fincando, assim, suas raízes nesta terra que ele aprendeu a amar, respeitar, defender,
enaltecer e, em acordo com sua vontade, seria sua eterna moradia. Na ocasião, já como agrimensor,
satisfez ao pedido do futuro fundador da Vila Pereira: fora fincar os quatro marcos da primeira
esquina em plena mata (atual esquina da Rua Brasil com a Avenida Manoel Marques Rosa). Surgiu
aí o diálogo que ele sempre repetia e que muito o emocionava, pois os olhos marejados não
ocultavam o brilho da alegria de ter acertado sua previsão: “Você acha que vai virar uma vila?”
(perguntou Pereira) – “O senhor nem imagina o tamanho da cidade que vai nascer daqui.” (respondeu
Chico Leão, como era conhecido e chamado).
Conheceu uma das filhas de Francisco Arnaldo da Silva, Raymunda, a quem muito amou.
Casaram-se em 1943, tendo Joaquim Antonio Pereira como padrinho de Chiquinho Leão e dona
Raymunda, como ficou conhecida esta que foi sua inseparável companheira até setembro de 1996,
data de seu falecimento. Tiveram quatro filhos, todos formados: Maureen, professora, vice-prefeita de
São José do Rio Preto (2001/2004) e secretária municipal da mulher (2005/2008); Milton, advogado e
professor, vereador e prefeito municipal de Fernandópolis em duas oportunidades; Marly, professora
e comerciante; e Miriam, professora. Chico Leão sentia muito orgulho pelo fato de seus filhos terem
cumprido, à risca, sua exigência de estudo como lastro da constituição familiar, sendo a família a
instituição que ele mais preservou. Sua alegria completou-se com o nascimento de quatro netos,
cinco netas e três bisnetos.
Foi Chiquinho Leão que Iniciou o traçado da Vila Pereira na (atual) esquina da Rua Brasil
com a Avenida Manoel Marques Rosa, demarcada em 1937; além de recortar todas as ruas da sede,
localizava as famílias nos lotes doados e, como procurador de Pereira, outorgava as respectivas
escrituras. Posteriormente, foi autor dos projetos de arruamento e fundação dos Distritos de
Brasitânia e Arabá e dos futuros municípios de Populina, São João das Duas Pontes, Dolcinópolis,
Guarani d’Oeste e Ouroeste (ainda parte integrante da Fazendo Veloso). Foi autor dos projetos que
criaram o Parque Vila Nova, Estádio, Jardim Santista, Jardim dos Arnaldos, Bela Vista e outros.
Como se não bastasse toda sua atuação nesta extensa região, Chico Leão também fundou a vila
Nova Fernandópolis, atual distrito de Barra do Bugres, no estado de Mato Grosso. Além da prestação
de serviços de agrimensura na região, aceitou o convite dos irmãos Veloso para transferir-se para
Carapicuíba onde comandou toda a medição e traçou as linhas mestras do loteamento denominado
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Jardim Planalto, localizado em Vila Dirce. Ausentou-se de Fernandópolis, esta única vez com toda a
sua família, por aproximadamente cinco anos a partir de janeiro de 1953.
Na política, desempenhou inúmeras outras tarefas: efetuou, a partir de 1939 (como
procurador do fundador da Vila Pereira), o assentamento de famílias nos lotes doados pelo “velho”
Pereira; foi Delegado de Polícia nomeado, em duas oportunidades; secretário da junta de instalação
do município de Fernandópolis em 22 de maio de 1945; foi vereador na primeira legislatura
(1948/1951); secretário da ata de instalação do município de Jales no início da década de 1950, a
convite do próprio fundador daquela cidade, Dr. Euphly Jalles (este chegou a ser vereador e ter
assento na Câmara Municipal de Fernandópolis). Foi “pachequista” de quatro costados, porém um
leal e aguerrido defensor de uma atuação unificada de todas as alas políticas, visando sempre ao
bem de sua querida Fernandópolis. Lutava como um verdadeiro “leão” pelas causas adotadas pelos
companheiros políticos, porém, jamais guardou mágoas ou rancores de seus adversários, por quem
sempre era admirado e respeitado. Mostrou altivez e desprendimento ao alugar sua própria
residência, no período em que se transferiu para Carapicuíba (SP), para o Dr. Percy Semeghini (o
principal e mais ferrenho adversário do Dr. Pacheco), para que ali montasse sua residência e seu
escritório. Foi também coordenador de três campanhas vitoriosas para a Prefeitura de Fernandópolis:
uma com Leonildo Alvizi (1972) e duas com seu filho Milton Leão (1976 e 1988). Durante as décadas
de 1970 e 1980, foi colaborador e participou como orador em palestras e comícios realizados em
campanhas municipais na cidade de Barra do Bugres (/MT), região em que foi proprietário de terras
desde a década de 1960.
Desde os primórdios da pequena Vila Pereira, com expansão e consolidação muito lentas
diante do surgimento, poucos meses antes, da contígua Vila Brasilândia (fundada pelo futuro amigo
“Barozzi”), Chiquinho Leão sempre foi figura proeminente em todas as atividades sociais. Foi membro
fundador e atuante da Loja Maçônica Benjamin Reis (chegando a Venerável), Santa Casa de
Misericórdia, Cooperativa dos Cafeicultores, Lions Clube de Fernandópolis, Fernandópolis Esporte
Clube (FEC) e Associação Desportiva Fernandopolense (ADF).
Em reconhecimento por seus valiosos atos pelo desenvolvimento do município, desde a sua
fundação, foi agraciado, em 1990, com o título de cidadão fernandopolense. Também recebeu, na
década de 1990, o título de cidadão Barrabugrense junto com Olacyr de Moraes, na época
considerado o maior produtor mundial de soja.
Em 1961, juntamente com seu amigo Gabriel Navarro Alonso, Chiquinho Leão adquiriu uma
grande gleba de terras na região de Barra do Bugres (MT), próximo do rio Sepetuba, distante cerca
de 200 quilômetros da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Com seu espírito
desbravador e colonizador, começou a idealizar o surgimento de um povoado, que mais tarde batizou
como Nova Fernandópolis, nome dado pelo amor que sempre nutriu pela “sua” cidade. Para
concretizar seus sonhos naquela região, levou inúmeras famílias de Fernandópolis e de localidades
vizinhas a adquirir lotes na Nova Fernandópolis, para que firmassem suas moradias; dessa forma, ali
se iniciou a colonização. Para deslocar essas famílias de Fernandópolis e região para o novo
povoado no estado de Mato Grosso, as viagens eram feitas em vários dias sucessivos devido à
precariedade das estradas; tais viagens eram realizadas sempre na companhia de sua esposa
Raymunda, utilizando-se diversos veículos, tais como Jeep (Candango), perua Kombi, caminhonete
(Chevrolet C-10) e automóvel (Fiat 147). Como reconhecimento de seu espírito bandeirante e
crescimento do povoado que veio a tornar-se mais tarde Distrito, uma escola e o Posto de Saúde
local receberam o nome de sua querida esposa Raymunda, o que o encheu de orgulho. Em parte da
gleba de terras adquirida, Chiquinho Leão formou uma fazenda para criação de gado de corte e se
tornou, posteriormente, um dos pioneiros na região na cultura de seringueira (extração de látex).
No início da década de 90, surgiu um movimento em Barra do Bugres (/MT) para
implantação de uma usina de açúcar e álcool, fato que o motivou a dar sua colaboração. Após
constituição de uma comissão formada por prefeito, vereadores, políticos e figuras expressivas locais,
Chico Leão convidou-os a visitar a então recém-instalada Usina Alcoeste de Fernandópolis, já em
pleno funcionamento. Foram recepcionados atenciosamente pelos diretores do Grupo Arakaki, que
forneceu toda a documentação e informação necessária para a concretização da idéia em Barra do
Bugrres. Graças à sua interferência em forma de convite, nasceu a “Barralcool” naquele município do
longínquo meio-oeste do estado de Mato Grosso.
467
Após a morte de sua inseparável companheira de viagens, com idade avançada e com
problemas de visão (o que muito o incomodava, vez que era um voraz leitor de jornal), Chiquinho
capitulou e resolveu vender suas terras naquela região.
Mesmo com a saúde debilitada, Chiquinho continuava a vibrar com ao crescimento de “sua”
Fernandópolis, principalmente quando lhe mostraram os novos bairros Canaã, Ana Luiza, Santo
Afonso, Santa Rosa, Vila Universitária. Entusiasmou-se com a transformação de Fernandópolis em
pólo educacional, com a chegada da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) e com a
Fundação Educacional de Fernandópolis, as quais, juntas, mantinham vários cursos e acenavam com
a instalação de tantos outros. Afirmava, com o maior orgulho, que o Shopping Center era para cidade
grande, mas ficou estupefato e chorou emocionado quando sua filha Miriam o levou para conhecer a
grandiosidade e o visual da recém-inaugurada Secol.
Homem de visão progressista e futurista, o velho “Leão” reconheceu, nessa oportunidade,
que sua previsão em diálogo com o amigo Pereira lá nos idos de 1937, naquela antiga esquina, se
havia concretizado muito além do esperado.
Chiquinho Leão foi um grande homem, honrado, trabalhador, corajoso e firme nas decisões,
mas sempre leal, educado e carinhoso com as pessoas. Era um grande “papo” com incontáveis e
curiosos casos, desde o início da Vila Pereira e das viagens ao estado de Mato Grosso. Sua maior
virtude era a raríssima capacidade de saber ouvir, já que, além da enorme paciência, interagia com
seu interlocutor com participação atenciosa no diálogo. Após seu falecimento em 06 de novembro de
2005, Francisco Leão foi homenageado pela Câmara Municipal, que outorgou seu nome ao Parque
Industrial II.
Colaboração
Marco Antônio Leão Soares
Mirian de Almeida Leão
Maureen de Almeida Leão Cury
468
FRANCISCO SEGATO
funcionário quase pessoa da família, simples e de pouco estudo, mas que desenhava e fazia das
letras uma beleza rara como poucos, cuja obra pode ser encontrada em bancos de jardim e lápides
dentre tantos. Caprichoso que era, Francisco procurava desenvolver formas para as peças de
cimentos por clientes solicitadas, gostava de passar horas das manhãs de domingos a imaginar
peças e trabalhar, artesanalmente, o que vinha a ser os moldes das matérias-primas; também usava
as horas vagas para fazer as tintas a óleo, com corante em pó e óleo de linhaça, que usaria na
pintura das peças confeccionadas.
Gozava de boa amizade com o Padre Canísio, o que acabou por motivar o interesse voltado
para a confecção de imagens sacras; trabalhou também na construção da Igreja Matriz de Santa Rita
de Cássia nos assentamentos dos ladrilhos que formam os mosaicos do piso, confeccionou as bases
das imagens sacras e altares, além de algumas das imagens lá expostas e das paredes de granilite
amarelas e pretas que envolvem os pilares e as laterais internas.
Dentre muitas de suas obras, pode-se atribuir a antiga e extinta rodoviária (onde hoje está
localizado o Banco Bradesco), além dos prédios vizinhos da Capeta Loterias e da esquina entre a rua
São Paulo e avenida Amadeu Bizeli. Construiu, também, o prédio da residência e consultório do Dr.
Valtrudes Baraldi (médico fernandopolense) e do comércio à sua frente na praça central da cidade.
Trabalhou na construção da extinta algodoeira Sambra e na elevação de vários templos religiosos,
dentre os quais das matrizes de Riolândia e Américo de Campos, além de adornos e pisos de
granilite em Lojas Maçônicas diversas. Ainda na edificação de casas e prédios comerciais, trabalhou
em parceria, por diversas vezes, com o pedreiro Salvador Arquioli (conhecido de Líbero), os quais
tinham estreito relacionamento profissional.
É possível encontrar, ainda, nas antigas residências ou lojas de comércio, os belos pisos de
ladrilho, além de tanques, pias ou pisos de granilite,, bem como caixas d’ água distribuídas pela
cidade. No cemitério da Saudade é frequente encontrar capelinhas, imagens de santos e anjinhos de
guarda, além de túmulos e trechos bíblicos entalhados em lápides produzidos por Segato.
Para a praça da matriz, confeccionou os bancos de cimento com escritas e desenhos
entalhados caprichosamente, que denunciam terem sidos doados pelos primeiros comerciantes e
moradores da cidade, ficando lá até há pouco tempo, sendo retirados na construção da nova praça
no governo municipal de Ana Matoso Bim; há, porém, alguns remanescentes dessas peças nas
praças da Brasilândia e da Vila Aparecida, além dos longos bancos de granilite ao redor da igreja de
Santa Rita de Cássia, que lá estão há décadas.
Faleceu no dia 03 de novembro de 1973, com 69 anos, vitimado por complicações em
consequência de tumor pulmonar (carcinoma broncogênico), adquirido em virtude do uso inveterado
de cigarro.
O nome Francisco Segato, pode ser lembrado e encontrado em uma rua da Cohab Antonio
Brandini na cidade de Fernandópolis, cidade que escolheu de coração para viver, criar os filhos,
morrer e ser sepultado.
Colaboração
Paulo Roberto Fantini
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Colaboração
Gentil Filho - 97846467 / 3442-3027
Gilza Cristina Miotto - 97843535 / 3442-5694
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GERALDO BATAGLIA
Geraldo Bataglia nasceu na cidade de Itápolis no dia 29 de outubro de 1927. Desde os dez
anos de idade, estudava música e se destacava com interesse pela sanfona (acordeão). Era morador
da cidade de Itajobi (sítio Lagoa Limpa), quando conheceu Idalina Minhotto, moradora também dessa
cidade.
Idalina mudou-se para Estrela d´Oeste, onde se casaram no dia 02 de outubro de 1949 e
voltaram a viver em Itajobi. Lá, Geraldo Bataglia trabalhava como lavrador e Idalina como dona de
casa. Em nenhum momento, ele deixou de estudar música. Todo sábado tocava nos bailes da região
com o grupo de quatro irmãos (Geraldo, Elpídio, Olício e Olívio), também músicos, chamando-os de
Irmãos Bataglia, motivo de orgulho para os pais Sr. Cliante e Sra. Teresa. Geraldo e Idalina (sua
eterna companheira e secretária) tiveram três filhas em Itajobi: Terezinha Bataglia, atualmente
morando em Votuporanga onde tem uma Escola de Música; Neusa Bataglia, que ministrou aulas
junto com seu pai por muitos anos; e Ivete Bataglia, que, depois de formada em música pelo seu pai,
seguiu carreira em São Paulo, capital do estado, onde chegou a gravar algumas músicas.
No dia 18 de fevereiro de 1960, a convite da família Antonio Santílio (dono de uma fábrica
de carroças), mudou-se para Fernandópolis com o propósito de ensinar música (onde sua filha havia
tomado algumas aulas com Geraldo e ficou encantada com seus ensinamentos em música). Formado
na Escola de Música Santa Cecília em Catanduva, daí o nome de sua escola em Fernandópolis, abriu
somente uma sala, então alugada, para ministrar aulas de acordeão, violino, violão e piano. Com o
tempo, o número de alunos aumentou tanto, que houve necessidade de ampliar o prédio, chegando a
600 alunos com treze profissionais trabalhando sempre sob a orientação da Escola de Catanduva.
Muitas pessoas de Fernandópolis e região estudaram música com Geraldo. Sua dedicação e
serenidade faziam com que os pais incluíssem na educação de seus filhos as aulas de música,
valorizando a cultura do país.
O que Seu Geraldo (como era chamado) mais gostava de fazer era trabalhar com a música
e mostrar, nas audições que sempre realizava em Fernandópolis, sua capacidade e competência
sobre seu trabalho.
Torcedor fanático do Palmeiras Futebol Clube, gostava de ouvir os jogos no seu radinho de
pilha. Geraldo gostava também de trocar idéias com alguns amigos íntimos sobre a política local.
Cursilhista, rotariano, participou da diretoria do Abrigo São Vicente de Paula, de
Fernandópolis; recebeu o título de cidadão fernandopolense no dia 17 de dezembro de 2000, pelo
que se sentiu muito orgulhoso e reconhecido. Recebeu quatorze certificados de primeiro lugar
regional de Escola de Música. Foi-lhe concedido, por unanimidade, o título de Cidadão Maçônico no
dia 19 de junho de 1998, tendo em consideração os relevantes e enobrecedores serviços prestados à
comunidade local. Recebeu vários certificados do Instituto Reuters de Sociologia e Estatística –
Prêmio TOP Quality –, por ser notoriamente reconhecido pela opinião pública como representante
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que desempenhava, com qualidade, suas atividades como Diretor, Professor e Educador Musical
pela pesquisa realizada pelo Instituto.
Durante os quarenta e seis anos que Geraldo e Idalina estiveram à frente da Escola Musical
Santa Cecília de Fernandópolis, outorgaram mais de mil diplomas (alunos formados), sem contar os
que não encerraram os anos conforme os instrumentos que estudavam, porque tiveram que
abandonar os estudos da música para fazer faculdade em outra cidade, já que, à época, a cidade e
região não contavam com faculdades.
Já aposentado e tendo arrendado sua Escola para outros profissionais da área, Geraldo
faleceu de embolia e trombose no dia 09 de fevereiro de 2007.
Colaboração
Sueleni Ap. Miotto Samenzati – Professora e sobrinha
Idalina Minhotto Bataglia – Esposa
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GERALDO ROQUETTE
Nasceu no dia 18 de agosto de 1918, na cidade de Santa Rita de Paranaíba, hoje Itumbiara,
estado de Goiás, filho de Pedro Antonio Roquette e Beny De Genettes Roquette.
Perdendo o pai os oito anos de idade, começou cedo a enfrentar a rudeza e a hostilidade
da vida. Sua mãe e seus oito irmãos se mudaram para São José do Rio Preto (SP), iniciando uma
vida bem diferente: todos os filhos tiveram que começar a trabalhar, foram empregados no comércio
e sua mãe trabalhava como colaboradora no jornal da cidade e como modista.
Geraldo Roquette teve como seu primeiro emprego, a Drogasil (firma distribuidora de
medicamentos). Após ter começado como entregador de pacotes, por seu esforço e interesse ali
progrediu, chegando a ocupar o cargo de gerente da empresa.
Em 1939, graduou-se como perito contador pela Faculdade de Comércio Dom Pedro II,
profissão que nunca exerceu, pois Geraldo mostrou-se um grande comerciante e, como tal,
despontou-se.
No dia 7 de setembro de 1942, casou-se com Edith Ferrari Roquette, de cuja união
nasceram Pedro, Dulce Regina, Geraldinho, Dulcinéia e as gêmeas Maria Regina e Maria Nilza,
todos criados e educados em Fernandópolis.
Sua vida profissional sempre foi marcada pelo otimismo, dinamismo, coragem e arrojo de
um bom comerciante, foi um batalhador, empreendedor e desbravador destemido.
Em 1943 mudou-se para Magda, deixando o conforto de São José do Rio Preto, para
enfrentar os desafios de uma cidade em formação. Lá desempenhou a função de gerente da
algodoeira “Casa Verde”, iniciando assim uma vida nova e novos desafios. Graças à sua facilidade de
comunicação, sua liderança e bons relacionamentos, promoveu muitos eventos para angariar fundos
para construção da Igreja e Grupo Escolar da cidade, que ora se formava.
Em 1945, Geraldo mudou-se para Monte Aprazível, para atender à grande expansão da
empresa, abrindo, assim, uma lacuna que foi muito sentida e lamentada pelo povo. Nessa saída
recebeu significativas homenagens que ficaram para sempre na memória e no coração amoroso de
Geraldo.
Sua visão de futuro e seu caráter empreendedor, nessa ocasião, vislumbravam a
possibilidade de instalar-se em Fernandópolis, cidade que se mostrava uma célula viva no oeste
paulista. Surge aí a brilhante idéia: montar uma sociedade com o irmão caçula, deixando de ser
empregado para ser proprietário do primeiro de outros postos de gasolina na região central de
Fernandópolis, aonde chega em 1948. Em seguida, traz sua família, com o firme propósito de fincar
raízes na cidade, que amou, defendeu, propagou e para cujo desenvolvimento contribuiu.
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Geraldo trazia alegria: fazia brincadeiras com todos; tinha como hábito, toda tarde após o
encerramento do expediente, fazer seu “happy hour” no Nosso Bar ou em outro bar da redondeza.
Numa dessas tardes, além da cervejinha bem gelada, pediu torresmo; foi avisado de que o torresmo
havia acabado, colocado que fora na “quentinha” a ser levada para os presos. Geraldo, mais que
depressa, tirou dinheiro da carteira e solicitou ao garçom que comprasse bifes para substituir os
torresmos das “quentinhas”. Assim, os presos, naquele dia, comeram bifes de “filet mignon” no lugar
dos torresmos. Esse era o cidadão Geraldo Roquette.
Outro fato, que mostra bem sua personalidade: todo ano, no “Dia das Mães”, Geraldo, além
de comprar presentes para os filhos presentearem sua mãe, comprava presentes para seus
funcionários presentearem suas respectivas mães; para ele, era uma alegria ver um sorriso
estampado nos rostos daqueles que colaboravam tanto com ele.
Geraldo era um benemérito nato e tinha maior orgulho de ter o sangue tipo “O” negativo:
sempre que solicitado, fazia suas doações!
No auge da vida útil como cidadão fernandopolense, porém, com seus cinquenta e dois
anos, teve sua vida ceifada brutalmente: devido à cobrança de uma dívida, foi emboscado numa das
estradas no município de São João das Duas Pontes. Junto com ele, estava seu grande amigo
Orlando Ribeiro, que também morreu. Homens de paz, ambos não portavam qualquer arma para se
defender.
Os familiares perderam, estupidamente, seu líder, seu ídolo, seu paizão que jamais será
esquecido pelos bons exemplos que deixou. Seus colaboradores perderam seu chefe humanitário,
atencioso e respeitoso, restando um vazio imenso. Perdeu Fernandópolis seu grande cidadão,
homem dinâmico, cooperador e construtor de uma cidade melhor.
Curiosamente, antes de sua morte, a Associação Comercial perdeu seu líder. Como
escreveu o editor do Jornal Gazeta da Região (10 set. 1992): “Geraldo Roquette é a expressão viva
de um cidadão fernandopolense que sempre abraçou e amou todas as suas justas causas, que
poderia ter feito à ACIF muito mais do que pôde fazer, se não estivesse só. Geraldo foi um homem
só. Realizou o que poderia realizar um homem só, ao lado de Deus”.
Geraldo Roquette se foi no dia 15 de setembro de 1972, mas deixou como legado seus
bons exemplos à sua família, aos seus empregados e aos seus amigos.
Colaboração
Wônia Aparecida Franco Gomes
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HUMBERTO CÁFARO
Humberto Cáfaro era o filho mais novo de oito irmãos. Como era o caçula, era o grande
companheiro da mãe, ajudava nas tarefas caseiras e desfrutava, a maior parte do seu tempo, da sua
companhia.
À época, seu pai, Afonso Cáfaro, estava em Fernandópolis, implantando a cultura do café
em suas terras. Afonso era um homem que acreditava na instituição familiar e em todas as suas
decisões pesavam os valores da família. Por isso, quando se enveredou pelo sertão paulista, deixou
todos os filhos aos cuidados de sua esposa, para que pudessem, na capital, ter uma educação e
formação profissional da melhor qualidade.
Assim, Humberto passou sua primeira infância ajudando a mãe a cuidar dos irmãos mais
velhos, ao mesmo tempo em que era cuidado e amparado por todos. Essa relação criou um vinculo
que Humberto carregou até o fim da vida: sentia-se responsável por irmãos e sobrinhos, participava
diretamente de suas vidas, intercedia sempre que julgava necessário, dava conselhos e reprimendas;
foi assim a vida toda, enquanto a saúde lhe permitiu.
Filho de imigrantes italianos da cidade de Torraca, província de Salerno, Humberto nasceu
em 1928, em Guapiaçu, próxima a São José do Rio Preto (SP). Ali seu pai tinha uma beneficidora de
café e um sítio. Em 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, surgiu a primeira crise econômica
de ordem global e, por isso. o patriarca se viu obrigado a dedicar mais tempo à “abertura” das terras
em Fernandópolis, onde já havia iniciado o primeiro plantio de café da região. Com a Revolução
Constitucionalista de 1932, todos viveram momentos de apreensão. Ainda na década de trinta, devido
à crise mundial, a cidade começa a receber várias levas de imigrantes, boa parte vinda das fazendas
de café, outra parte diretamente dos navios do porto de Santos.
A formação de Humberto Cáfaro se fundamentou na fé e nos estudos. Com apenas seis
anos de idade, enfrentou a prova de admissão para ingressar no colégio Dino Bueno dirigido pelas
freiras vicentinas, cujos hábitos influenciaram sua fé e, por toda a vida, participou de movimentos da
igreja: inicialmente da congregação mariana, foi cursilhista e até ministro da eucaristia.
Ao terminar o primário, transfere-se para a Escola Estadual Caetano de Campos para
realizar o período ginasial e o curso científico (que correspondia ao atual colegial). Entretanto, o curso
científico era específico para quem queria fazer faculdade de Ciências Exatas. Em que pesassem as
dificuldades impostas pela época à família, seu pai sempre se preocupou com a boa educação dos
filhos, e os colégios frequentados por Humberto Cáfaro eram considerados os melhores na época.
Apesar da distância que os separava, pai e filho estavam sempre em contato. Com oito
anos de idade, Humberto Cáfaro veio, pela primeira vez, a Fernandópolis e, sem saber, participou de
um momento histórico da vila que surgia. Inicialmente, a jornada foi de trem de São Paulo até São
José do Rio; daí adiante, seguiu com um amigo da família, o Sr. João Birolli, que ia de carro conhecer
o povoado nascente. Além da novidade, que era ter um carro na vila que seria Fernandópolis, a vinda
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de Birolli era muito esperada, pois ele era um próspero fazendeiro com muito recurso financeiro para
investir na região e, assim, “acelerar a chegada do progresso”. Anteriormente, as únicas conduções
que vinham para a região, além daquelas de tração animal, eram os caminhões, em sua maioria o
“Ford Bigode”. A viagem era muito lenta, pois dependia de um grupo de mateiros que iam abrindo
caminho com foice e machado, alguns adaptavam uma lâmina no parachoque do veículo; o trânsito
era tão escasso que, com o tempo, a mata fechava novamente e escondia a picada. No período da
guerra (Segunda Guerra Mundial), o problema era a falta de gasolina e os veículos tiveram que ser
transformados para uso de gasogênio, pois a região dependia do transporte. Assim como a família de
Humberto Cáfaro, muitas outras usavam do mesmo artifício para enviar dinheiro para os grandes
centros, escondendo as notas no meio dos sacos de mantimentos produzidos aqui.
Já com dez anos, Humberto Cáfaro também participaria de mais um momento importante
para Fernandópolis. Ao iniciarem as férias, ele veio para o sertão, dessa vez acompanhando do pai.
Embarcaram na primeira jardineira que chegou à cidade: era tarde da noite, na vila todos dormiam,
chegava assim a primeira jardineira a Brasilândia, mas até a fazenda Santa Rita ainda havia uma
jornada de mais de 5 km por picadas a serem vencidas a pé, no meio da mata, onde eram comuns os
animais selvagens, entre eles, a temida onça pintada.
Essas viagens ocorriam sempre nos períodos de férias, pois o resto do tempo era dedicado
aos estudos. Humberto tinha feito um compromisso para entrar na melhor faculdade de engenharia
da época, e isto exigia muito esforço. Em 1947, casou sua irmã Arlinda; era a última mulher solteira
entre os irmãos. Depois, sua mãe mudou-se para Fernandópolis em sua nova residência, para poder
ficar junto do marido. Humberto, no último ano do científico, passou a residir com a irmã Rosa e a se
dedicar ainda mais aos estudos para conseguir uma vaga na Politécnica. Durante o período de férias,
vinha a Fernandópolis, mas manter a rotina de estudos não lhe era fácil, pois não havia energia
elétrica e tinha de ser à luz de velas: além da dificuldade de enxergar as pequenas letras tarde da
noite, por vezes teve os pelos das sobrancelhas queimados pela pequena chama. Finalmente, o
esforço foi compensado.
Início de 1947. Uma cena marcou a história da família que sua mãe sempre contava para
todos os filhos e netos. Seu pai Afonso voltou da cidade a cavalo, gritava da porteira na entrada da
fazenda: “Filomena, o Humberto passou, ele passou“. Assim, Humberto cumpria uma promessa feita
à mãe com apenas 10 anos de idade: “Hei de dar esta alegria a minha mãe”.
Iniciava, dessa forma, sua vida universitária. No primeiro ano, porém, teve de se apresentar
ao serviço militar, obrigatório a todo jovem que completasse 18 anos. O exército brasileiro, todavia,
oferecia aos universitários a oportunidade de frequentar o Centro de Preparação de Oficiais da
Reserva (CPOR), um treinamento de meio período que, apesar de sobrecarregar, não obrigava o
universitário a interromper seus estudos.
Na Politécnica teve oportunidade de praticar esportes, que eram uma de suas paixões. Foi
da seleção de atletismo da Poli na modalidade dos 400 m com barreiras e da equipe de basquete. Do
convívio com autoridades da Poli, surgiu a amizade com Lucas Nogueira Garcez que. apoiado por
Ademar de Barros, foi governador de 1951 a 1955 e estiveram em na região de Fernandópolis no
período da campanha eleitoral. Logo que assumiu, Garcez afastou-se de Barros e demonstrou
qualidades raras em políticos, mesmo nos tempos atuais: honesto e empreendedor, trouxe muitos
benefícios a São Paulo e a Fernandópolis. Mais tarde, quando Humberto já morava em
Fernandópolis, esse relacionamento facilitou o acesso ao governo do estado, inclusive proporcionou
uma visita do governador a Fernandópolis para a inauguração da Avenida Afonso Cáfaro, área doada
pela família ao município para a via de acesso à estação ferroviária. Desse modo, despertou na
comunidade, o reconhecimento pelo seu trabalho. Foi convidado, por duas vezes, a lançar-se como
prefeito e, em uma delas, na qualidade de candidato único. Também recebeu, em 1991, a “Medalha
22 de Maio”, uma honraria só atribuída aos fernandopolenses que se destacam na cidade pelos seus
feitos. Mas Humberto tinha uma filosofia de vida muito bem definida: ajudar sempre a todos que
necessitassem e aparecer o menos possível. Acabou por rejeitar a proposta.
O ano de 1951 foi marcante para Humberto: ele terminou a faculdade de Engenharia Civil
na Poli e, ao concluir o curso, já tinha várias propostas de emprego (mesmo antes de formatura já
trabalhava como calculista); o seu bom desempenho na universidade chamara atenção de um dos
professores que o convidara para trabalhar em sua empresa. Era Roberto Rossi Zuccolo,
pesquisador na área de concreto, pretendido fundador do Escritório Técnico de Estruturas de
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Concreto Ltda., um dos maiores escritórios de São Paulo que chegou a realizar mais de duas mil
obras.
Entretanto, em Fernandópolis, seu pai, fragilizado pelo diabete, já não tinha o mesmo vigor
para administrar os negócios de família. Humberto, motivado por uma dívida de gratidão e vendo a
oportunidade de passar junto do pai os últimos anos que restavam, não pensou duas vezes. Abriu
mão de uma carreira promissora de engenheiro na capital e mudou-se para o interior. A mudança não
foi só de endereço; as condições de vida eram muito diferentes para um jovem acostumado à capital:
não havia eletricidade, a iluminação era a lamparina de querosene (que deixava o nariz preto de
fuligem), o banho era no chuveiro Tiradentes com a água aquecida no fogão a lenha.
Na fazenda, ele ajudava a administrar os negócios, mas acompanhava as atividades diárias
como um fiscal; os cafezais exigiam muita mão de obra e uma logística para lidar com as pessoas, as
plantas e o manejo adequado a cada época do ano. Com o seu conhecimento, investiu em máquinas
especiais para beneficiamento, produzia café de qualidade superior, estocava e acompanhava as
variações de preço para vender na hora certa. Na pecuária, assumiu a função do pai na entrega de
leite na cidade, ia a cavalo de casa em casa fazendo entregas pessoalmente; entre seus clientes
estavam Waltrudes Baraldi, José da Cunha, Jaime Leone, Bar do Arruda, Cássio Vendramine, família
Roquete, Apolinário de Matos e outros. Na pecuária investiu em tecnologias que aumentaram a
produtividade, como a introdução da raça nelore, comprando matrizes de criadores renomados como
Nenê Figueiredo e Rubico de Carvalho. O gado leiteiro também recebeu melhoramento genético com
o cruzamento de reprodutores da raça holandesa; a produtividade praticamente dobrou em pouco
tempo. Mais tarde, já na década de 70, surgiram na região dois jovens veterinários, João Barbudo e
Brígido, com a proposta de introduzir a “inseminação artificial”. Os primeiros cursos eram ministrados
a produtores de toda a região gratuitamente, foram realizados no “Curral da Fazenda Santa Rita”, e
os resultados foram impressionantes.
A fazenda produzia, também, milho, arroz, às vezes pipoca e amendoim, mas, até meados
da década de 70, a produção de tijolos era responsável por boa parte da receita, além de ter um
significado importante no contexto cultural da época, pois quem comprava tijolos estava certificando a
intenção de fincar raízes no município.
Fernandópolis da década de 50, porém, também oferecia uma vida social para o jovem
engenheiro que, acostumado à vida da metrópole, se adaptava à nova realidade. Uma de suas
principais distrações era participar dos bailes realizados no FEC, único clube social à época. Ele
sempre contava histórias dessa época e se divertia.
O jogo de basquete era outra de suas paixões. Encontrava-se com os amigos na única
quadra da cidade na esquina das ruas Amadeu Bizzeli com a Rio de Janeiro, para as disputadas
partidas; eram seus colegas Dalvo Guedes, Querton Ribamar, Ladislau de Oliveira, Alfredo Scarlatti,
Prof. Ailton, Bizzelli, Otávio, João Gomes e outros.
Apesar do basquete e dos bailes, Humberto achava que aquilo era pouco. Ele já pensava
no futuro: a cidade estava crescendo, e os jovens precisavam de mais opções de esporte e lazer;
assim, surgiu a idéia de fundar o primeiro clube com piscinas.
Com o apoio dos amigos, fundou a Associação Desportiva Fernandopolense (ADF),
inaugurada em 1962; seria a primeira piscina de Fernandópolis. Foram várias viagens a São Paulo,
visitando clubes e buscando equipamentos, ferramentas e pessoal capacitado para fazer a única
piscina da cidade que atendesse às exigências da Federação Paulista de Natação (FPN) para provas
de natação. A piscina foi inaugurada pelo recordista mundial dos 100 m livres, Manuel dos Santos,
em 1961. Quando se instalou a primeira academia de Judô em Fernandópolis, ele se matriculou
como aluno e, mais tarde, fez parte da primeira diretoria da Associação de Judô Fernandopolense. O
mesmo ocorreu com a primeira academia de Karatê, que foi patrocinada por ele durante
aproximadamente seis meses.
Em 1957, seu pai, devido ao diabete, já havia amputado parte da perna. A situação se foi
agravando até que, em 28 de janeiro, ele falece. Foi uma época muito difícil para Humberto, pois ele
teve que assumir de vez a responsabilidade da administração dos negócios da família e conviver
diariamente com as obras do pai. Tudo lhe trazia lembranças felizes e, ao mesmo tempo, dolorosas
pela perda tão sentida. Como era costume na época, “guardou” luto durante um ano: não participava
de festas, bailes, e usava uma tarja preta nas camisas e ternos.
479
Mas a ausência do pai não deixou somente dor; o exemplo de vida altruísta de Sr. Afonso
foi seguido por Humberto, e o seu engajamento ultrapassou as atividades sociais e assumiu
compromissos benemerentes. A Santa Casa de Fernandópolis foi sempre alvo de suas ações:
participou da mesa diretora; doava produtos da fazenda, doou o primeiro aquecedor central, roupas
de cama, e participava de todas as campanhas para ajudar as freiras. Na época da construção,
ofereceu a planta do hospital desenhada por ele e, anos mais tarde, doou mais uma área para
ampliação nos fundos da Santa Casa. O Asilo, cujo terreno fora doado pelo seu pai, também recebia
a mesma atenção: todo ano, doava novilhas para o leilão e atendia às solicitações dos diretores. A
crença na fé católica fez com que sempre ajudasse os movimentos da Igreja desde sua juventude:
quando vinha passar as férias na fazenda, ajudava com as próprias mãos a descarregar dos carros
de boi os tijolos doados pelo pai, trabalhava nas quermesses servindo aos fiéis; mais tarde, doou
parte dos vitrais da igreja, e sua mãe ofereceu a rosácea na porta central para atender ao pedido do
padre Eduardo. Em 1972, iniciou-se no movimento do Cursilho em Jales e, por 20 anos, assumiu um
compromisso semanal de responsabilidade: passou a participar da organização e proferir palestras
em todos os encontros, cujo tema predileto era “Relacionamento Familiar”.
O compromisso das viagens semanais fez com que compartilhasse o espaço da sua
Veraneio (veiculo da época com muitos lugares) com moradores de Brasilândia. Nesse grupo, fez
grandes amigos que o acompanharam a vida toda. Entretanto, com o tempo, o problema de visão se
foi agravando, até que as viagens noturnas começaram a ficar perigosas e, assim, teve de abandonar
sua grande vocação. Por anos ainda, conseguiu atuar na paróquia de Fernandópolis como ministro
da Eucaristia: todo domingo entregava a hóstia aos paroquianos, até que a falta de visão também o
impediu de dar continuidade a esse ato de fé.
A aproximação com algumas comunidades era consequência das atividades em que se
envolvia. Um exemplo disso foi a aproximação com a comunidade nipônica de Fernandópolis ocorrida
devido ao “Rádio Taisso”. Por gostar de atividades físicas, ingressou no grupo que praticava este tipo
de exercício, sempre pelas manhãs bem cedo, antes de iniciar sua jornada de trabalho, a princípio na
praça da matriz e depois no Clube Tokio. A integração com os colegas era grande, pois ele nutria
muita admiração pelos princípios e pela colônia: pontualidade, compromisso, respeito eram
demonstrados nas atitudes cotidianas. Assim, cultivou grandes amigos, por doze anos, no Rádio
Taisso, Frequentemente, era visto com o uniforme branco. Quando voltava para casa e passava na
padaria pela manhã, fazia questão de mostrar sua carteirinha de instrutor e cumprimentava os amigos
com uma reverência típica da cultura japonesa.
Devido ao trabalho da fazenda, desde que chegou a Fernandópolis, empenhava-se para
aprender a dinâmica da produção agrícola, estava sempre procurando fazer cursos e apoiava-se na
assistência dada pela “Casa da Agricultura” e seu amigo agrônomo Meneses; também participava do
Sindicato Rural compondo, por diversas vezes, a diretoria. Esse engajamento com o sindicato o levou
a participar da comissão organizadora da primeira Exposição Agropecuária de Fernandópolis em
1967 – evento que tinha propósitos muito diferentes dos atuais: à época, o governo fomentava a
pecuária com financiamentos, pois a cafeicultura estava em declínio e a exposição era um evento
específico do agronegócio. Entretanto, para que o evento fosse um sucesso, deveria contar com a
presença de criadores renomados. O engenheiro agrônomo João Alfredo de Meneses coordenava as
ações, e Humberto e seus companheiros – como Aluisio Coimbra, Joaquim Alves, José Belucio, João
Rodrigues Júnior e outros – iniciaram uma peregrinação visitando grandes nomes da pecuária
brasileira. O resultado foi um sucesso e o evento não parou de crescer, transformando-se no que é
hoje, mesmo que completamente diferente de seu início; mas foi a semente plantada naquela época
que culminou com uma das maiores exposições do Brasil.
Humberto não se envolvia apenas em projetos ligados diretamente ao seu ramo de
atividade; trabalhava, também, em favor de projetos que poderiam trazer o progresso para
Fernandópolis, por isso fez parte da comissão que trouxe o sinal de televisão para o município.
Também participou de um dos projetos que ainda hoje impulsiona e economia do município,
a implantação da Alcoeste. Na época, o governo incentivava a construção de destilarias para atender
à demanda do “Pró-Álcool”. O Banco do Brasil financiava 90% do valor do projeto com juros
subsidiados, as usinas obrigatoriamente deveriam ser empresas cooperativas; em Fernandópolis,
eram 20 sócios. Os donos plantavam a cana e recebiam pela venda do álcool. Foi um momento de
grande euforia na cidade, pois a comunidade agrícola estava engajada num projeto comunitário que
480
traria recursos financeiros para toda a região. Na realidade, as maiores obras de benemerência foram
para com os mais humildes: era comum levar doentes para serem tratados nos grandes centros,
principalmente em São Paulo no Hospital das Clínicas (HC). Alguns ficavam hospedados na casa de
suas irmãs até se recuperarem e poderem voltar. Muitos desses atos de amor ao próximo só ficaram
conhecidos após o falecimento de Humberto. Pessoas agradeciam por ajuda das mais diversas
formas, de conselhos a ajudas financeiras. Era um homem discreto com amigos e desconhecidos;
nem mesmo a família sabia de todos a quem ajudara, pois para ele o que contava era o ato de
caridade.
Humberto sempre teve pelo seu trabalho um respeito e dedicação que iam além da fonte de
renda e sustento de sua família, pois ele trabalhava na terra que herdara de seu pai e vira as
dificuldades que ele tinha passado para deixá-las como segurança financeira de que as próximas
gerações precisariam.
Entretanto as terras da família estavam limitando o crescimento de Fernandópolis. Homem
de visão empreendedora e espírito inquieto, sempre acreditou em mudanças e iniciou a urbanização
das áreas limítrofes com a cidade. A principio, ajudou seu cunhado Antonio Zanine a lançar o
loteamento “Rosa Amarela”, depois o “Jardim Pôr do Sol”; mais tarde, com seu amigo Walter Benes,
os bairros “Santo Afonso” e “Santa Filomena”, uma homenagem a seus pais, inclusive com direito à
doação de uma área para construção de uma igreja localizada no ponto mais alto loteamento. Por
fim, o projeto mais inovador, já contando com a ajuda dos filhos José Afonso e Humberto e um grupo
de profissionais de confiança, João Carlos, Fernando Cicarelli, Ribeiro: o “Condomínio Brasitália”.
Como Fernandópolis ainda não tinha loteamentos fechados, foi preciso criar leis que envolvessem o
plano diretor a questões ambientais. Humberto, porém, não conseguiu ver a obra concluída e
inaugurada somente dois anos após sua morte.
O trabalho com a terra acabou revelando outra faceta desse homem empreendedor. Numa
época em que o desmatamento era financiado e incentivado pelo governo, ele foi capaz de perceber
que tal conceito de progresso estava errado e, por conta própria, começou a implantar a preservação
ambiental a seu modo. Inicialmente, proibiu toda caça e pesca nas áreas da família; percebeu que,
mantendo a floresta nas margens dos rios, protegia os mananciais e, nas áreas mais altas, evitava o
início das erosões. A manutenção das matas ia contra o manejo das atividades agrícolas da época
em que se dizia “desmatar é progresso”; era a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil. Ele, então,
observou que a preservação das matas manteria um estoque de matéria-prima para as construções
de benfeitorias em madeira por tempo indeterminado. Além disso, a preservação da mata também
preservaria a microfauna regional; próxima às áreas preservadas havia menos danos causados por
ataques de pragas às plantações e menos doenças nos animais causadas principalmente por
ectoparasitas. Humberto se revelava um ambientalista bem antes de essa palavra estar na moda;
junto com seus filhos, recuperou mais de 20% das propriedades da família com matas de
preservação permanente, plantou mais de 50 mil espécies nativas e deixou uma grande área de
reflorestamento com mais de 200 mil árvores de eucalipto para ser explorado comercialmente no
futuro.
A constituição da família, com certeza, foi a maior paixão de sua vida. Amigo da família
Scarlatti desde os tempos de Guapiaçau, José Scarlatti tinha trabalhado com seu pai Afonso, a
Professora Yvone era amiga e companheira de passeios na praça; mas, quando conheceu a “Cida
Scarlatti”, descobriu o amor de sua vida. Da amizade, surgiu o namoro, depois o noivado e, no dia 22
de fevereiro de 1960, casaram-se na matriz. A cerimônia foi realizada pelo bispo, e os festejos foram
realizados na sede da Fazenda Santa Rita, um grande evento. A lua de mel foi uma viagem de
camionete de Fernandópolis a Cabo Frio, uma aventura digna da nova família. No dia 01 de janeiro
de 1962, nascia o primogênito Humberto Cáfaro Filho; dois anos depois, Maria Stella Cáfaro, depois o
José Afonso Cáfaro e a caçula Luciana Cáfaro. Pouco antes do casamento, Humberto fora
diagnosticado como diabético; contou à sua noiva e perguntou se ela ainda o aceitaria assim, mas o
amor que unia o casal já estava consolidado. Assim, juntos, os dois passaram uma vida de alegrias e
batalhas e desfrutaram cada momento sem esquecerem a batalha travada contra o diabete.
Humberto, sempre muito regrado, cuidava da saúde com a mesma seriedade com que fazia
tudo na vida. Viveu com qualidade de vida seus 79 anos. Já bem debilitado, no dia 24 de março de
2008 pediu a seu filho Zeca (José Afonso) que o levasse para ver a Fazenda do São Pedro, sentiu-se
481
mal e foi levado à Santa Casa. Lá foi atendido pelo seu amigo Nilson Abdala, mas seu coração não
resistiu e parou. Relata seu filho Humberto:
Nunca vou esquecer esse dia, talvez o dia mais triste de minha vida. Mas, passado o
choque, comecei a ver as pessoas chegando ao velório, comecei a lembrar de tudo
que ele fez e a obra de uma vida que nos deixou; por isso eu, que sou filho, fiz
questão de registrar sua historia, pois alivia minha dor e compartilho um legado de
bons exemplos.
Colaboração
Humberto Cáfaro Filho
482
IRMÃ MARGARIDA
Irmã Margarida178 – assim a chamávamos abrasileirando seu nome francês, que era
Marguerite Gaulier – nasceu na Nièvre, em 27 de novembro de 1921. Era a segunda da família de
quatro irmãs e dois irmãos. Apesar da distância de suas irmãs, que moravam em Nevers, elas
sempre permaneceram unidas. Fez seus votos de freira em 29 de julho de 1949.
Marguerite viveu seus primeiros anos na região parisiense em diferentes comunidades
como trabalhadora familiar; depois em Paris, durante seis anos, após formar-se enfermeira.
Ela amava sua profissão e, como uma amiga, “ela escutava, percebia as angústias às quais
ela levava um grande apoio, com toda energia e a gentileza que a caracterizava”.
Durante 11 anos, em Petit Quevilly, depois 16 anos no Havre, Marguerite se engajou com
os mais pobres, sobretudo os migrantes, os doentes de alcoolismo e familiares. Ela criou o
movimento “VIDA LIVRE” no Havre.
Quantos se lembram dela! Eis alguns testemunhos de pessoas que conviveram com Irmã
Margarida:
Em 1983, eu fui acolhida por Marguerite e, com sua ajuda, nós abrimos uma
organização “Mulheres”. Você me ensinou a me reconstruir e arrastar outros.
Marguerite nos compreendia e nos aceitava. Não vendo senão o melhor de nós
mesmas, maravilhada das qualidades e competências que ela podia encontrar em
nós. Um sorriso, uma palavra, um sinal de amizade, tudo era para ela delicadezas. A
todos, ela fazia confiança, ajudando-os a ter confiança em si mesmos. Quantos
acompanhamentos e encorajamentos ela prodigalizou.
178
Irmã Margarida aparece no centro da foto, atrás da garota. Da esquerda para a direita, é a terceira irmãzinha.
483
pães às famílias carentes. Eram pães doados por Sr. Sebastião Marinho Lopes, que tinha padaria na
Brasilândia. Também, Irmã Lourdes, sua companheira (hoje com 90 anos), lembra que saíam pelos
bairros em uma carroça, distribuindo pães para matar a fome dos carentes, que sabiam a hora exata
que as irmãs por ali iriam passar.
Nos anos seguintes, irmã Margarida contou com o valioso trabalho do Sr. Romeu Soares,
que, como motorista, estava sempre pronto a transportá-la, juntamente com outras irmãs, para os
trabalhos diversos na periferia.
Importante também relatar o acompanhamento de irmã Margarida e Pe. José Jansen no
grupo de jovens nisseis “Estrela da Manhã”, que trabalhavam pela Igreja de Fernandópolis. Esses
jovens se reuniam semanalmente nos fundos da Igreja, presididos pela professora Tomiko Arakaki, e
ali faziam orações, a leitura de um jornal nissei cristão, que vinha de Bauru, estudo da bíblia,
arrecadação de roupas e alimentos para os mais necessitados; participavam de todas atividades da
igreja, quermesses, enfeites de rua nas procissões de Corpus Christi. O grupo atuou durante muitos
anos na igreja e veio acabar porque os jovens migraram de Fernandópolis para estudar em outras
cidades, e irmã Margarida também se foi embora para a França.
Em 1991, sua saúde começou a alterar e irmã Marguerite teve que deixar a comunidade do
Havre para Songeons e, depois de um longo período acamada, veio a falecer no ano de 2005.
Embora não fosse brasileira, instalara-se no Brasil para seu trabalho evangelizador e nos deixou um
legado primoroso de humanismo, dinamismo e liderança cristã.
Colaboração
Maria José Mazi Brandini
484
Como médico, seu trabalho foi árduo, pois, muitas vezes, tinha de sair à noite, geralmente a
cavalo, para atender pacientes, cruzando, também, com “onças” no meio da mata.
De uma dedicação ímpar ao paciente, muitas vezes o colocava em sua casa para ministrar,
com a ajuda de sua esposa, a medicação na hora certa.
Posteriormente, foi médico do posto de puericultura volante da cidade, juntamente com
Valtrudes Baraldi.
Homem culto, ele gostava de música e de leitura; muito dedicado a família, procurava
sempre dar o melhor a seus filhos.
Embora rígido no convívio familiar, não deixava que nada faltasse à família. Em sua visão
futurista, quando ainda não havia energia elétrica na cidade, na sua residência instalou um gerador
usado para operar a gráfica.
Para os filhos procurava dar a melhor escola, aprendizado musical e viagens de
conhecimento, como a de sair de Fernandópolis com destino a Santos, para que os meninos
conhecessem o porta-aviões Minas Gerais, que tinha sido comprado há pouco pelo país. Para quem
nada teve na infância e juventude, aos filhos tudo deu: cultura, educação e princípios morais.
Homem apaixonado pela cidade, muito lutou por seu desenvolvimento: participava de
quermesses da paróquia, lutou para a criação do campo de aviação, pela construção da Santa Casa,
entre tantas outras ações como cidadão e como médico.
Como jornalista, combativo que era, a muitos desagradou, pois o seu compromisso com os
eleitores era fundamental e, para tanto, era imparcial, divulgando realmente os fatos acontecidos no
município com total isenção de critérios pessoais.
Deixando de clinicar cedo, dedicou-se somente à sua empresa, mas nem por isso deixou de
acompanhar o crescimento da cidade. Sabia exatamente o que estava acontecendo, quantos bairros
novos estavam surgindo e quantas casas havia em construção.
Também teve seu lado “poeta“, de cujo exemplo se tem esta quadrinha:
Faleceu em 12 de agosto de 2003, sem ter visto realizado o seu grande sonho: a instalação
da Faculdade de Medicina, na cidade.
Colaboração
Maria Angélica Leone
486
Jesus Meleiro foi um vereador leal, moço correto, extremamente amoroso, sensível
demais e participativo na Câmara, juntamente com o Armando Farinazzo, tomando
decisões importantes para o desenvolvimento de Fernandópolis.
Além de bom piadista, era um exímio pescador de rãs e peixes, sendo premiado, inclusive,
com um troféu de rã, pelo seu cunhado Edson, por ser o melhor pescador de rãs da região.
Um grande amigo seu, Blademir Selotto, comenta:
Zuis era uma pessoa muito amiga, gostava de contar piadas, era brincalhão e,
durante esses vinte anos que frequentou a minha leiteria, não arrumou inimigo
algum (emociona-se). Sinto saudades do Zuis.
Sua esposa, Arlete, menciona que Jesus tinha muitos amigos de pescaria, gostava de
cozinhar, criar e improvisar pratos; e tudo que lhe fosse designado para fazer na pescaria – lavar,
cozinhar, arrumar –, fazia satisfeito.
Certa vez Jesus Meleiro fez uma peixada em um rancho (sua esposa lhe havia ensinado),
recebendo diversos elogios. Algumas semanas depois, em reunião em sua residência, sua esposa é
quem preparou a peixada e um amigo exclama: “Nossa Jesus, você ensinou direitinho sua esposa a
fazer o peixe”. Após a saída dos amigos, Jesus e a esposa deram boas gargalhadas sobre o
episódio.
Em conversa com o amigo Ramon Carmona, diz que:
Conheci o amigo Jesus e destaco sua perspicaz luta encetada para progredir na
carreira [...], sua persistência nos estudos e sua dedicação ao trabalho; foi sempre
um exemplo a ser seguido.
Cheio de carisma, uma pessoa que se fazia amar rapidamente, encontrava alegria
em tudo que fazia. Como educador, era preocupado com a formação total dos
alunos e a escola era continuação da nossa casa. (Valéria, Marco e Sérgio)
Sua esposa relembra os bons momentos de convivência em que construíram uma família.
“Jesus era um sonhador que tinha facilidade de fazer amizades, alegria de viver e bondade infinita”.
489
Colaboração
JOSÉ BORGES
sucedido. No ano de 1967, José Borges construiu seu próprio comércio: o “Empório São João”, vindo
a residir com sua família no bairro, onde seus filhos mais novos estudaram.
Com o passar dos anos, o comércio cresceu e passou a Mini Mercado Brasilândia. O
senhor Borges ensinou e envolveu os filhos nessa atividade comercial – o comércio existe no bairro
até os dias de hoje, mas apenas o prédio é da família Borges.
Qualificar a personalidade do senhor José Borges não é difícil: foi um pai exigente, de
caráter íntegro; passou valores essenciais de família, de amor e união no enfrentamento de
obstáculos que surgem e como ultrapassá-los com perseverança, ideologia e muita garra. Compunha
uma família unida sempre, nas alegrias e nas horas difíceis. Batalhou por uma formação integral dos
filhos (moral, espiritual e intelectual). Viveu para servir a família e a comunidade.
Aos 25 dias do mês de agosto de 1997, aos oitenta e seis anos de idade, veio a falecer,
deixando bons exemplos de vida e de cidadão, e muita saudade. Seu nome foi atribuído à rua “JOSÉ
BORGES” no bairro Parque Universitário em Fernandópolis, uma justa e singela homenagem a quem
sempre confiou nos desígnios desta cidade, que amava de coração.
Colaboração
Escola Estadual Carlos Barozzi
492
Sr. José Inocêncio Lopes Biúdes, nascido no dia 02 de janeiro 1903 na cidade de Múrcia
(Espanha), filho de Antonio Lopes Veler e Manoela Biúdes Oliveira, migrou, de navio, para o Brasil
em 1910. Chegou ao porto da cidade de Santos com seus irmãos João, Antonio e Isabel, e se
destinaram às cidades de Pirangi e Monte Alto, interior do estado de São Paulo, trabalhando junto
aos cafeicultores que, à época, eram a maioria na zona rural da região. Ali cresceu e contraiu
matrimônio com a Srª Adélia Tafeli, filha de Irineu Tafelli e Celestina Maria Tafelli, na cidade vizinha
de Ariranha (SP).
Mudou-se para Fernandópolis em dezembro de 1942, quando aqui ainda era “semi-sertão”,
instalando-se na Avenida Manoel Marques Rosa (antiga Av. Oito), n. 611, centro, onde criou seus
nove filhos (Maria, Manoela, Isabel, Rosa, Antonia, Antonio, Irineu, Sonia e José). No mesmo
endereço residiu até seu falecimento em 22 de agosto de 1996.
Em 1948, recebeu em seu imóvel o primeiro aparelho telefônico da cidade com a instalação
da primeira empresa de telefonia na cidade, a “Telefônica Rio Preto”. Trabalhou como corretor, sendo
um dos pioneiros. Participou intensamente da formação da cidade onde, entre outros feitos,
colaborou ativamente na construção da Igreja Matriz e, desde a primeira festa anual da “Exposição
Agropecuária, em 1968 até 1983, ali media e administrava os terrenos do recinto.
Era um homem prático, de decisões rápidas, zeloso com os amigos, muitos amigos de
Fernandópolis. Trazia consigo “seus inseparáveis guardassol e uma bolsa de couro, na qual trazia
sempre uma trena para medir os terrenos que vendia, corretor que era, além de uma caderneta para
anotações, lápis e borracha”. (FOLHA..., 1996).
Homem de bons costumes e distinta conduta, Biúdes estava sempre pronto a acolher novos
amigos. Era conhecido como “Sêo José Lopes” ou “Zé Biúdes”, assim carinhosamente chamado por
Valdomiro Renesto e amigos. Em singela homenagem feita pela ocasião de seu falecimento, foi
lembrado pelo seu amigo Renesto em depoimento publicado na Folha de Fernandópolis em 31 de
agosto de 1996:
Amigos que ficamos, sempre tivemos por José Inocêncio Lopes Biúdes grande
estima e admiração. Homem sério, educado, correto e honesto, teve sempre o
493
Colaboração
Família Biúdes
494
Filho primogênito do casal Mário Alves Boaventura e Elvira Maria, nasceu no dia 01 de
agosto de 1937, no povoado de Quebrada, pertencente à Freguesia do Carvoeiro, em Portugal
Atingindo idade para trabalhar, passou a ajudar os pais nas atividades rurais que
desenvolviam no cultivo de milho, oliveiras, entre outras, e da criação de cabras.
Seus estudos não foram além do quarto ano primário. Permaneceu junto à família até aos
18 anos.
Como acontecia com a maioria dos jovens de sua região, emigrou para o Brasil em busca
de um futuro mais promissor, radicando-se, inicialmente, na cidade de Araraquara, por volta de 1955.
Contando com a ajuda de patrícios, emprega-se na empresa Dias Martins (então, a maior atacadista
no ramo de secos e molhados do Brasil, naqueles idos), onde passa a exercer as funções de
caixeiro-viajante.
Decorridos alguns anos e tendo amealhado algumas economias, levado por seu dinamismo
e o sonho de uma feliz independência econômica, e contando, nesta altura, com a companhia de seu
irmão Adelino, que para o Brasil também emigrara, transferiram-se para Fernandópolis. Aqui
chegando em abril de 1963, adquiriram a Padaria União (que se localizava, à época, um pouco
abaixo do local onde se acha hoje o estabelecimento comercial da família), no sentido da Avenida
Líbero de Almeida Silvares.
Já com a vida razoavelmente estabilizada, decidiu contrair núpcias com Vilma Gattás, o que
aconteceu no dia 29 de maio de 1966, cujo ato firmou as bases de uma sólida e feliz família.
Dessa união nasceram os filhos: Ana Paula Gattas Alves, Mário Augusto Gattas Alves,
Fabiana Gattas Alves e Fábio Gattas Alves.
Alguns anos mais tarde, contando com algum tempo disponível na padaria, o que lhe
permitiria dedicar-se a outras atividades, seu idealismo começou a manifestar-se à procura de realizar
algo para a cidade. Nessa ocasião, o Sr. Mário de Mattos havia viajado para Portugal e tivera um
encontro com o Presidente da TAP (Transportes Aéreos Portugueses), com quem trocou idéias sobre
a construção de um clube social e esportivo que levasse o timbre da comunidade portuguesa
radicada na cidade, mas que congregasse, também, as demais pessoas interessadas em participar.
Após reuniões com seus “patrícios” que lideravam a colônia na cidade, decidiu-se fundar a Casa de
Portugal, o que ocorreu em fins da década de 1960. Isto veio preencher o espaço que o Zé Maria
buscava. Abraçou a causa com seu brilhante espírito de trabalho e de realizador, destacando-se
como o mais operoso na consecução do projeto. Exerceu, no clube, a presidência em duas gestões
(1978/1979 e 1984/1985), além de desempenhar outras funções nas diretorias desde a sua fundação
até que seu estado de saúde lhe permitisse. Quis, entretanto, o infortúnio, testar sua capacidade de
resistência, ousadia e fé.
495
No mês de outubro de 1968, para desespero seu, de seu irmão Adelino e família, todos
presenciavam, assombrados e incrédulos, um incêndio em seu estabelecimento comercial, que o
destruiu por completo. Como era de se esperar, seu espírito guerreiro, força de vontade, firmeza
psicológica e a fé que sempre o alimentou redobraram-lhe os ânimos, pois, dentro de 30 dias, lá
estavam ele e Adelino reinaugurando sua padaria totalmente remodelada.
Com o tempo já apagando de sua mente o infausto acontecimento em seu estabelecimento
comercial, sentiu que gerir seus negócios comerciais e as atividades do clube ainda era pouco para
seu dinamismo.
Resolveu participar mais da comunidade e buscou fazer parte de entidades filantrópicas e
de serviços onde pudesse contribuir com seu trabalho em prol daqueles que necessitassem,
harmonizando, assim, com o que seu espírito requeria. Assim, aceitou o convite feito pelo Lions
Clube de Fernandópolis para integrar seu quadro social; concretizou sua admissão no ano de 1971.
Dentro dos objetivos e atividades do Clube, ali encontrou o terreno fértil para expansão de seus
ideais: o engrandecimento da cidade e o bem-estar de sua população.
A pedido do Presidente do Lions, José Maria assume a Presidência do Lar de Menores
Melvin Jones (administração 1974/1975), onde executa um trabalho dos mais elogiáveis.
No Lions, em todas as administrações, foi sempre convidado a exercer cargo na Diretoria,
convites dos quais nunca se furtou, inclusive tendo exercido sua Presidência entre 1981/1982, cuja
atuação foi sempre destacada.
Pela maneira desprendida e desinteressada, sobretudo política, que vinha demonstrando
nas questões relacionadas com os interesses da cidade, a Loja Maçônica Benjamin Reis convidou-o
a participar dela, o que se deu no dia 6 de dezembro de 1975. Nessa entidade, desempenhou quase
todos os cargos e jamais disse não quando solicitado a assumi-los, quer na condição de Venerável-
Mestre, quer como membro da Diretoria. Exerceu o cargo de Venerável-Mestre em 1985/1986. Sua
participação como maçom foi de grande utilidade: dotado de brilhantes idéias, tinha sempre alguma
proposição a fazer no sentido de ajudar algum projeto de interesse da cidade ou no campo social.
Em 1978, adquiriu, do Bradesco, o prédio onde hoje se acha instalada a tradicional Padaria
União, para lá transferindo suas atividades comerciais, onde labutou até ser acometido de doença
que o impossibilitou de continuar à frente de seus negócios.
As desavenças políticas foram, sempre, fator de preocupação para aqueles que vivem e
lutam em uma comunidade, quando veem que ela está sendo mais negativa que produtiva. Sua
preocupação pelos interesses da cidade estava quase acima de suas próprias atividades particulares.
No final dos anos setenta, a política partidária local passava por uma fase de desarmonia e
conturbação muito grande, levando a cidade a uma clara decadência. Foi, então, que ele, mais uma
vez, decidiu intervir na tentativa de apaziguar e harmonizar o quadro político local. Contando com o
apoio da Loja Maçônica Benjamin Reis, após esta acatar sua proposição, seus membros destacaram
os irmãos maçons Luiz Baraldi, Agnaldo Pavarini, José Pontes Jr. e Moacyr Molina, para que, com
ele, tratassem, junto às outras entidades de classe, da criação de uma associação político-apartidária
com o objetivo de atuar junto às forças políticas locais, a fim de serenarem os ânimos bastante
exaltados, que geravam, em consequência, graves entraves ao desenvolvimento da cidade.
Felizmente, sua idéia logrou êxito e, no dia 10 de abril de 1979, graças à união de todas as
entidades de classe do município de Fernandópolis, foi fundada a almejada associação, tendo sido
eleito o Sr. José Pontes Jr. seu primeiro Presidente. A fundação da entidade foi de uma valia
extraordinária para o município, pois, além de contribuir para a harmonia política na cidade, propiciou
a conquista de grandes melhoramentos para o município. José Maria, como seu idealizador, viria,
mais tarde, ocupar sua presidência por três vezes (1987/1988. 1991/1992 e 1995/1996).
Esclareça-se que José Maria, mesmo quando não ocupando a presidência, nunca deixou de
participar da entidade, levando a todas as reuniões suas idéias e participando, ativamente, de todas
as suas grandes deliberações. Foi o mais assíduo de seus membros, só deixando de fazê-lo quando
a doença o impediu. É, sem sombra de dúvida, a figura expoente da Associação de Amigos do
Município de Fernandópolis.
Entre as grandes obras e outros melhoramentos que Fernandópolis conseguiu contando
com sua participação efetiva (como Presidente da Associação ou como seu membro), podem-se
destacar: viabilização dos primeiros edifícios de Fernandópolis, da instalação da Destilaria Alcoeste e
da iluminação artificial do estádio municipal; criação do Museu da Imagem e do Som; reivindicação,
496
Colaboração
Associação de Amigos de Fernandópolis (AAMF)
497
José Milton deu assistência gratuita por muitos anos juntamente com sua esposa D. Regina, que até
hoje permanece ativa, colaborando com o curso para gestantes, que funciona também anexo.
Como espírita, como chefe de família ou como profissional, sempre foi detalhista, exigente,
porém ético e fraterno tanto na convivência com os colegas quanto com os amigos, clientes ou
familiares.
Foi um leitor assíduo das obras espíritas, tendo formado uma respeitável biblioteca em seu
lar, proporcionando-lhe constante atualização com os conhecimentos. No campo da arte, adotou o
clarinete e o saxofone como seus instrumentos preferidos e, nos momentos de lazer, dedicava-se à
música.
Foi grande colaborador nas campanhas promocionais da Casa da Criança “Meimei”,
ensinando sempre aos filhos a filantropia e amor ao próximo.
Teve quatro filhos: Lívia, Junior, Ricardo e Carlos Alberto; assumiu dois netos a quem
proporcionou toda a assistência de que necessitaram até sua morte em 28 de julho de 2008.
Estará sempre nas lembranças dos fernandopolenses como um exemplo a ser seguido
como retidão de conduta, dando os testemunhos de sua fé.
Colaboração
Maria Aparecida Godoy Seco
Geraldo Silva de Carvalho (Dr.)
Lívia Martins Del Grossi
Colégio Cidade de Fernandópolis- Anglo
499
José Ferreira de Souza, nascido em 15 de abril de 1918, na Aldeia dos Índios (MG), é filho
de Quirino Luis Ferreira (1894, nascido nas “casinhas, perto de Sâo José do Rio Preto”) e de Rita
Cândida de Jesus (1899, natural de Campos Geraes - MG), família de lavradores, constituída de 12
irrriâos: Bertolino (que morreu logo após o nascimento), José Ferreira de Souza (Zé Quirino), Ana
Rita, Ana (Siana), Maria Rita, Luiza, Felícia, Mariana, Joaquim Ferreira de Souza, Antônio Ferreira de
Souza, Eliza Cândido de Jesus, Jogo Ferreira de Souza e Miguel Ferreira de Souza.
Era de família com habilidades artísticas: a mãe, Dona Rita, gostava de cantar música
sertaneja “caipira” para os filhos; Mariana, Felícia e Ana (Siana) cantavam e tocavam viola; Joaquim
tocava violão; Antonio cantava; Jogo e Miguel tocavam e cantavam, os únicos a seguiram carreira na
música sertaneja, formando a dupla Quintino (Miguel) e Qurino (João), que tocavam em rádios e cujo
primeiro contrato data de 1960.
Em 1963, depois da vitória em um concurso, gravaram seu primeiro disco, todo ele de
música sertaneja caipira, mesmo ano em que gravaram o segundo disco, este de Folia de Reis:
Em 1921, ele e sua família migraram para a Vila Fátima (Fazenda dos Velosos), no córrego
da Santa Rita. Devido ao “mal do século”, a maleita que segundo Maria Rita, “dava até nos paus”, a
mãe pedia a Quirino que vendesse suas terras e fosse embora. O pai, enérgico, disse que não podia
esperar e deveriam ir embora; caso contrário, todos morreriam de malária. Assim foi deito:
abandonaram o Rancho, deixando para trá 1.000 alqueires de terra.
Em05 de setembro de 1932, a família migrou para a Fazenda dos Ingleses, onde viviam
reprimidos e com muito medo da revolução que estourava no período; qualquer movimento estranho,
segundo Maria Rita, prevalecia o “grito”: “CorreI Lá vêm os Homens” (do governo). Quando isso
acontecia, todos adentravam na mata, os filhos mais velhos carregavam os mais novos; ali corriam e
enrolavam-se nos cipós, ficando escondidos até se sentirem confiantes para retomar suas vidas.
Em 1940, com muita labuta (cultivo de roça e condução de carro de boi), a família Quirino
comprou uma propriedade rural em Brasltânia, no Córrego do Pulador, denominado Sítio Santa Rita,
que foi a principal fonte de renda da família, onde, até hoje, vivem João e Miguel (Quintino e Quirino).
179
Depoimento de Miguel Ferreira de Souza, nov. 2011. Recorte feito por Zé Quirino..
500
Nesse ano, Ze Quirino já formava uma vida independente. Mesmo com uma habilidade
artística aflorada para tocar e compor, não seguiu carreira, pois seus interesses estavam voltados
para a política e formação da família: por toda a vida, teve seus filhos como braço direito na labuta e
nas conquistas.
Em 1933, José Quirino conheceu sua eterna namorada, Sra. Vitalina Paula de Souza,
nascida em 1923, na Fazenda São Pedro, município de Fernandópolis, filha de Joaquim Ramos da
Silva (natural de Vila Carvalho, SP) e de Edviges Paula de Jesus (natural de Macaubal, SP). Ela era
de família de pecuaristas, que haviam migrado para a cidade de Fernandópolis na Fazenda São
Pedro, que, geograficamente, ia da estação de trem ate o Rio São Jose; a principal renda da
propriedade era a agricultura e pecuária. Em 1939, Zé Quirino se casou com Dona Vitalina. No ano
de 1940, recebeu do seu sogro autorização para construir o Rancho que, segundo Dona Vitalina, foi a
primeira casa sede construída de sapé.
Do enlace, nasceram os filhos Marcília Paula de Souza (1940), Quirino Ferreira de Souza
(1942), Antonio Ferreira de Souza (1944), Maria Paula de Souza (1946), Jose Ferreira de Souza Filho
(1948).
Também foi em 1940 que Quirino iniciou a criação de gado de corte e leite, da raça zebu, e
cultivo do arroz, sendo a principal fonte de renda da família. Em seguida, vieram milho, feijão,
algodão, suínos e caprinos. Em 1945, ocorreu a derrubada da mata com machado e foice para a
plantação da lavoura de café, que era muito bem tratada com adubos e cuidada com carinho pela
família de agricultores, produzindo café da melhor qualidade, que se tornaria a segunda principal
renda da família e ofereceria emprego para população local.
Em 1.945 a modernidade e o conforto passam a fazer parte da fazenda e beneficiar a
família com a construção da primeira casa de tijolos.
Em 1948, após a morte Dona Edvirges, Dona Vitalina e Sr. Zé Quirino recebem a escritura
de 40 alqueires, cujas terras foram denominadas Fazenda Quirino; mais tarde, adquiriram mais 45
alqueires, totalizando 85 alqueires. Durante décadas, o casal criou seus filhos, netos e beneficiaram
muitas famílias com empregos gerados pela agricultura e pecuária por ele cultivada.
Não se ao certo o ano, mas, por volta de 1949 a 1950, segundo relata seu filho Quirino, Sr.
Zé Quirino, muito preocupado com a educação de seus filhos e família resolver construir uma escola
de madeira, para a qual contratou um professor particular de nome Antônio, que alfabetizava seus
filhos Marcília, Quirino e Antônio e seus sobrinhos Joaquim e Saldanha; muitas vezes, a aula era
dada à noite, porque tinham que trabalhar na roça durante o dia.
Até esse período, a família contava com o transporte de cavalo e de carro de boi, que
levavam dias para fazer o trajeto até São Jose do Rio Preto para compras e abastecer as prateleiras
de D. Vitalina; quando não se tinha dinheiro, fazia-se escambo.
Em 1950, a modernidade novamente dá sinais na Fazenda Quirino. Sr. Jose Quirino
comprou seu primeiro automóvel, um Jipe, do Sr. Neca Verdi. Por ser um homem sistemático, de
coragem, e portar um veículo, foi titulado inspetor, contrariando dona Vitalina; Nessa época, quando
se tratava de segurança, não existia policia; a função e o objetivo do inspetor era manter a ordem na
cidade, razão pela qual, em uma briga, o Sr. Zé Quirino levou uma facada e abandonou o titulo.
Em 1951, com os negócios indo bem e a modernidade chegando à cidade, adquire sua
primeira caminhonete, uma Chevrolet, e o primeiro trator da concessionária Arakaki, o que facilita a
labuta na fazenda.
Neste período (1950-1951), vendo a comunidade do Córrego do Coqueiro crescendo e a
necessidade de alfabetizar os filhos, convoca a comunidade e doa um espaço na fazenda. Junto com
seus filhos e com a comunidade constroem uma escola moderna de tijolos, que atendia a alunos para
alfabetização de primeira a quarta série O local também era cedido para a saúde quando havia
campanhas de vacinação. Após a construção da escola, o Prefeito Edison Rolim nomeou como
professora Nelita (Luíza Belim) e como merendeira escolar Dona Vitalina, que, por toda existência da
escola fazia sopa para as crianças. Isto lhe rendeu sua aposentadoria. A preservação do prédio
escolar era mantida pelo Sr. Zé Quirino. Conta sua neta Luciane que a professora mandava recado
para o avô que roçasse ao redor da escola. Assim era feito e os alunos da comunidade limpavam o
pátio, lavavam a escola, mantinham-na impecável. Luciane ainda relata que era divertido quando
acabavam as aulas, e ela e sua suas primas Márcia e Rita acalentavam umobjtivo: alfabetizar a avó
501
Vitalina. Acreditam ter conseguido ensiná-la, pelo menos, a escrever o próprio nome. A escola da
Fazenda Quirino alfabetizou filhos, netos, sobrinhos e a comunidade local.
Em 1958, Zé construiu a casa sede, moderna para o período: trazia o conforto da energia
elétrica, fator preponderante para o progresso e uso do aparelho de televisão, com programas do
canal 4. Essa casa é a sede oficial que se mantém até hoje preservada na Fazenda Quirino.
Em 1960, Quirino se tornou o maior comerciante de leite de alta qualidade vendido nas ruas
da cidade, ao lado de sua filha Maria Paula, que administrava o financeiro, e seu filho José Quirino
Filho, que dirigia o carro. Mantinha uma clientela invejável. Neste mesmo, Ana construiu uma tulha
para armazenamento de café. Foi um ano promissor, com dinheiro para mudar a vida da família.
Ainda neste ano, adquiriu um carro zero: um Regente importado da Inglaterra. Com a alta do café, a
família prosperava e investia em máquinas e equipamentos modernos para labutar.
Um fato lembrado pelo filho Quirino era que o Sr. Zé Quirino, além de zelar pela família,
zelava pela comunidade do Coqueiro, pois, quando a estrada se tornava intransitável e a prefeitura
não tinha como arrumar, o pai reunia a comunidade e arrumava a estrada com enxadas e pás e,
quando possível, colocava seu maquinário à disposição.
Já próximo dos anos 70, investiu na laranja. Este investimento contribui para aquisição de
uma propriedade em Minas Gerais, a Fazenda Três Irmãos na vila União, propriedade
exclusivamente destinada à engorda de gado de corte.
Em 1975, uma forte geada matou a plantação de café, prejudicando a produção. Foi
necessário reformar o cafezal, que demorou dois anos para produzir (1977) novamente: pouca safra
e preço bom, mas não o suficiente para cobrir os prejuízos.
O ano de 1976 foi de muita produção de arroz, o que fez amenizar a falta do café e
equilibrou a defasagem financeira ocasionada pelo café.
Em 1980, com a crise do café e uma forte seca de aproximadamente três anos, houve
produção quase nula de café. Desanimado com sucessivos prejuízos, arrancou todo o cafezal e
plantou laranja, ótimo investimento para a época. "Faziam-se contratos de venda da laranja de 30.000
caixas e, no final da colheita, entregavam-se 40.000 caixas", diz Quirino.
Em 1996, ocorre a venda da Fazenda Três Irmãos, para cobrir a dívida que se acumulava
ano após ano nos bancos.
Zé Quirino faleceu em 19 de agosto de 2004, aos 86 anos, devido à falência de múltiplos
órgãos, devido a causas diversas, deixando sua eterna Vitalina, seus cinco filhos, quinze netos e
dezessete bisnetos.
Não se pode esquecer em sua historia que a "Primeira Picada" na cidade de Fernandópolis
para a construção de ranchos foi feita pelo Sr. Quirino Luis Ferreira e seu filho Jose Ferreira de
Souza (Zé Quirino). O termo “picada” mencionado por Maria Rita, na época significava derrubada da
mata para abrir caminhos, ruas e lotes, que eram doados pelo Sr. Joaquim Antonio Pereira para a
construção dos ranchos, ou seja, as primeiras casas que constituíram a Vila Pereira.
Outro fato lembrado pelos familiares foi a influência política do Sr. José, que, por duas
vezes, assumiu o cargo de suplente de vereador. Sua motivação pela política estava na luta pelos
benefícios à população de Fernandópolis. É importante lembrar que sua maior luta era preservar e
manter a ordem das estradas, oferecer emprego, saúde e educação; era um homem sempre muito
participativo dos eventos sociais, com doação de prendas e dotes para quermesses promovidas pela
igreja, escola, asilos, creches, folia de reis, entre outros.
Dona Vitalina, guerreira, orgulho e exemplo de vida da família e da população
fernandopolense, ainda reside na Fazenda Quirino, na companhia de sua filha Marcília. Em 21 de
novembro de 2011, completou seus 88 anos. É uma pessoa admirável e apresenta lucidez fora do
comum, carrega em sua memória os bons tempos ao lodo do seu eterno José; faz crochê, borda
lindos guardanapos para as noras, netos, bisnetos, amigos, entre outros, e transforma essa atividade
em uma fonte de diversão e remuneração.
Colaboração
Luciane Sousa Galbiatti
Equipe Executiva (texto)
502
Foram nove meses muito difíceis, passamos dificuldades, até faltava o que comer.
Só não foi pior porque havia um casal, eram vizinhos, amigos da famíla, a Dona
Conceição e o ‘seo’ Raimundo, que dava comida a toda a família, à noite. Mesmo
assim, lembro dela sempre alegre, esperta, era muito inteligente, aprendeu a ler
muito cedo
Laura conclui seus primeiros estudos em 1947, no Primeiro Grupo Escolar de Lins. Foi uma jovem
ativa e participativa, segundo Dona Hilda: “Era muito amorosa e carinhosa com a gente, gostava de ir aos bailes
(risos), eu fazia os vestidos no corpo dela, para ela ir ao baile”.
Diplomomou-se no Curso Normal do Instituto Americano de Lins, em 1951. A partir de então, passa a
exercer o magistério primário.
Casa-se, em 1956, com Antonio Nogueira de Azevedo, companheiro com quem viveria até a sua
morte. Com ele deu vida a quatro mulheres: Sandra, Áurea, Rosana e Mary. Para eles dedicou esforços de uma
existência. Em uma de suas anotações, de 28 de janeiro de 1992, ela faz um pequeno retrospecto:
Deixa-me escrever, para contar um pouco de tudo que achei que valeu a pena.
180
Hilda Vieira Missi, 81 anos, reside em Promissão, SP, deu depoimento em 27 de julho de 2011.
503
Meu amor por estes filhos que são um pedaço de mim, meu amor pelo Antônio, que
conseguiu passar a ponte do desespero, mas carregando-o pela mão. Às vezes paro
e me pergunto: Por que tudo isso? Seria mais fácil seguir sozinha, mas não. É esta a
minha missão e é ele que eu quero ao final! Até um dia.
Meu amor é muito grande, pelo menos por esses entes que eu amo tanto. É um
amor tão grande que chega subir ao infinito. Como é bom amar!?!
Tudo nela lembra a mulher forte e batalhadora. Assim é lembrada pelas pessoas com quem conviveu:
“Mamãe foi uma mulher forte e que nos capacitou para a vida com suas palavras de carinho e sua força para
viver”. Essa é uma imagem que tenho e preciso dizer. Em setembro de 1997, ela assim me escreveu: “Você está
acima de todas as torpezas da vida, porque você é simples, você é boa, porque tem firmeza de pensamento e
força vai levá-la ao seu ideal e afinal vencerás...”
181
Dona Eglis Viscardi , amiga de longos anos diz: “Ela sempre estava alegre, irradiava alegria, a gente
sabia que sua vida não era fácil, mas ela sempre tinha uma palavra de conforto para nos dar” (23 de julho de
2011).
182
Também a senhora Jane assim expressou suas lembranças e sentimentos: “[...] ainda sinto a
presença da Laura, sempre que me lembro de seu humor brejeiro, alegre, sua simpatia contagiante [...] uma
amiga para toda a vida”.
183
Acrescenta a amiga-irmã Diney : “Encontrei nela uma irmã que eu não tive... divertida e bondosa.
Tenho ela como exemplo, foi uma heroína”.
Lembro-me, desde sempre, de Laura cantando em casa, na escola. Após a sua aposentadoria, foi
presença constante no coral “Rimas e Cantos” do CPP. Participou dele desde a sua formação até quando “foi
integrar o coral dos anjos”, como declararam suas colegas de canto: “A Laura foi uma das principais que
incentivou, que deu força para que este coral fosse em frente [...] Todos os jantares de finais de ano nós
184
lembramos dela porque era ela que fazia as mensagens para nós ”.
Três elementos marcam sua vida de forma indelével e ela mesma os enfatizava como formadores do
seu jeito de existir: ser mãe, ser professora e ser espiritualista.
A mãe maravilhosa e incansável que foi, eu o sei, mas é interessante notar como esse seu aspecto se
185
fez notar pelas pessoas de fora do grupo familiar. Disse assim Dona Vônia : “Era muito apegada à família, a
luta dela para dar um nível melhor de vida pra vocês... vocês se lembram, mas eu fui testemhunha.
Era de uma dediação às filhas muito grande”.
A percepção de sua maternidade ficou poeticamente registrada num caderno de anotações:
Graças às novas perspectivas históricas que valorizam a micro-história e a história oral, podemos
resgatar a vivência dessa mulher comum que, em outras épocas, não teria a qualidade de agente da
História, mas que se nos apresenta com experiências únicas e que ajudou a formar homens e
mulheres na cidade de Fernandópolis, desde a década de 50, quando escolheu esta cidade para
viver e trabalhar até o fim da sua vida.
181
Eglis Viscardi, moradora de Fernandópolis, deu seu depoimento na sua residência, em 23 de julho de 2011.
182
Jane Teresa Brasil Gimenez, 69, reside em Fernandópolis, deu o seu depoimento 26 de julho de 2011.
183
Sidney Pereira Del Grossi, 74, reside em Fernandópolis, deu seu depoimento também em 26 de julho de
2011.
184
As colegas do coral, que deram depoimento, não quiseram identificar-se individualmente, disseram preferir
falar em nome do grupo.
185
Vônia Frano Gomes, em depoimento concedido em 24 de julho de 2011, na sua residência, na cidade de
Fernandópolis.
504
Como é intensa a imagem da professora que, com orgulho, construiu e ostentou durante toda a vida!
Lembro-me dela falando o quanto era importante ser professora e como essa era uma profissão
significativamente abraçada.
Nesse aspecto, era uma mulher do seu tempo. Penso na figura da normalista que se orgulhava da sua
condição num momento em que se faz notar o aumento do nível de escolaridade da população e a educação
para as camadas menos favorecidas passa a ser valorizada.
Naquele tempo, as normalistas eram apreciadas e respeitadas pelo papel de propagadoras do
conhecimento. Nelas, os sonhos de progresso e esperança eram depositados, e as famílias se orgulhavam de
ter uma filha fazendo o curso normal. A ênfase na educação da futura professora se encontrava na construção
186
do caráter porque seria a educadora das gerações futuras. A esse respeito o depoimento de Dona Esmeralda ,
colega de luta sindical, é esclarecedor: “[...] a colaboração da professora na comunidade a que ela passava a
pertencer influenciava a todos com o jeito de falar, de comer, de tratar as pessoas. A professora dava exemplos”.
Em suas anotações esparsas, por vezes, encontramos referências a esse respeito. Assim ela diz
sobre a profissão de professora:
[...] essa profissão que apesar de tudo e acima de quase tudo amamos, mesmo
sabendo que, não recebendo recompensas materiais e sofrendo injustiças, lá, bem
no fundinho do coração, estaremos cumprindo nosso dever e recebendo aquela
satisfação pessoal que só mesmo um professor pode sentir e nos incita a continuar
a luta. (15 de outubro de 1995)
E foi dessa forma que ela encaminhou sua vida auxiliando a construção de várias gerações
de fernandopolenses. A dedicação e compromisso com os quais direcionou suas ações foram
motivos de admiração das pessoas com quem trabalhou. Dona Zuleica187 é uma dessas pessoas com
quem lecionou no Grupo Escolar da Brasilândia, hoje “Carlos Barozzi”, desde que chegou a esta
cidade. Ela expõe suas impressões: “Lembro da Laura sempre assim... simpática, falante, alegre. E
ela era tão boa professora, tão eficiente. Tanto é que eu quis que ela fosse professora de uma das
minhas filhas [...] Minha filha Maria Cristina foi aluna dela...”
Outro depoimento esclarecedor de seu papel de educadora foi dado pela Dona Vônia,
diretora e amiga desde quando chegou à cidade:
186
Esmeralda Guimarães Siqueira, 71, residente em Fernandópolis e dirigente da APAMPESP.
187
Zuleica Guimarães Esteves Scalope, depoimento concedido em sua residência, na cidade de Fernandópolis,
em 28 de julho de 2011.
505
A perda da mãe, em 1963, foi um dos golpes mais duros pelos quais passou, situação que,
se de um lado foi de profundo desespero, de outro foi um processo de renovação desdobrando-se em
preceitos sumamente proveitosos para o desenvolvimento de sua espiritualidade. Dizia que, pela
vontade de vencer a dor e a necessidade de estar forte para cuidar das quatro filhas ainda
pequeninas, a caçula ainda bebê, quando tudo parecia desmoronar, foi ganhando a convicção de que
o pensamento é força criadora. Sobre isso escreveu em 1997:
A humanidade não teria chegado onde está se sempre deixasse que o medo ditasse
as suas ações. Não estou dizendo que é errado ter medo, mas apenas que é
perigoso permitir que o medo controle nossas vidas. [...] Mas o que acredito
pessoalmente é que cada pessoa pode se livrar do medo pela compreensão honesta
da própria espiritualidade, reconhecendo-a e alcançando uma percepção superior, o
que teria um efeito espantoso.
Com base nesses preceitos, pautou sua vida e influenciou a vida das pessoas com quem
conviveu. “Ter tido o privilégio de conviver com essa mulher, esse espírito de luz que foi a mamãe, fez
de todos nós pessoas melhores” diz Mary188, a caçula das quatro filhas.
A partir desses acontecimentos, passa a ser componente do Racionalismo Cristão, de cujos
trabalhos ali desenvolvidos participou até sua morte. Sobre a sua atuação, Dona Eglis Viscardi
afirma: “Foi uma grande colaboradora. Juntas fundamos a escolinha do Racionalismo para os filhos
dos frequentadores. Era um sonho dela, e nós conseguimos realizar. Outras coisas que ela
imaginava implantar só foram acontecer após sua morte”.
Laura Vieira de Azevedo dizia com convicção que ser Racionalista Cristã foi um marco na
sua vida. Dona Zuleica guarda esta lembrança: “[...] todas as vezes que eu passo na frente do
Racionalismo Cristão, eu me lembro dela... porque ela falava, comentava. Foi muito importante para
ela, que me faz lembrar”.
Mesmo depois de aposentada, leva uma vida ativa e politicamente engajada na
APAMPESP, onde foi Conselheira. Sua atuação foi marcante, segundo Dona Esmeralda: “Ela fez um
importante trabalho de luta, sempre disposta, de moral incontestável, pronta para tudo, foi uma
colaboradora que fez a diferença”.
189
Tais declarações foram corroboradas pelo depoimento de dona Maria Augusta , também
colega de luta:
[...] teve uma atuação inesquecível, marcada pelo entusiasmo, bom humor,
positivismo e competência. [...] Nunca ouvimos um não... fosse para participa, na
capital, das reuniões ou manifestações para o professor aposentado.. [...] O mesmo
destemor que demonstrou na luta pela edificação de sua família, no exercício da
missão educativa, demonstrou com igual intensidade nas lutas em favor dos
colegas.
Seu senso de justiça e solidariedade foram a marca do seu modo de existir neste mundo,
“ela dava uma assistência muito grande pro aluno, ela se preocupava, muita roupa de vocês ela trazia
pra ajudar a vestir muita criança. Então aquela parte social era o “must” dela”, disse a Dona Vônia,
que ainda completa:
188
Mary Ane Nogueira de Azevedo, filha mais nova da biografada e residente em São Paulo.
189
Maria Augusta Bento Silva em carta depoimento, escrita para Antônio Nogueira de Azevedo.
506
sempre, a vocês [as filhas], ao trabalho. A Laura foi para a cidade o exemplo de
educadora, se vocês tivessem oportunidade de pesquisar, iriam descobrir uma
legião de “Jorges” que ela ajudou, sempre anonimamente.
Depoimentos:
LUCAS LANINI
Lucas Lanini nasceu em 16 de maio de 1942, na zona rural do Córrego das Pedras, em
Fernandópolis. Foi registrado em Álvares Florence, uma vez que, em Fernandópolis,não havia
Cartório de Registro Civil.
Filho do lavrador Humberto Zanini e da lavadeira Luzia Custódio, família de classe média
baixa, mudou-se para a vila Brasilândia aos seis anos de idade, onde estudou no Grupo Escolar
Brasilândia até a quarta série do ensino fundamental.
Com dezoito anos (1960), estudou desenho artístico por correspondência e, aos vinte e um,
casou-se com a costureira Aparecida Francisca Gonçalves Lanini no dia 27 de julho de 1963, na
igreja matriz Santa Rita de Cássia em Fernandópolis. A união trouxe ao casal quatro filhos, que lhe
deram seis netos.
Os filhos nasceram em Fernandópolis e permaneceram morando aqui.
Lucas Lanini começou a trabalhar como servente de pedreiro aos 14 anos na Brasilândia e,
com 16 anos, ainda muito jovem, tornou-se pintor.
Em 1968, mudou-se com sua família para São Paulo em busca de uma vida melhor
desempenhando a profissão de pintor. Mas, dois anos depois, retornaria a Fernandópolis, aqui
estabelecendo moradia na Brasilândia, trabalhando como pintor.
Religioso e católico fervoroso, Lucas Lanini, com nove anos de idade, iniciara sua missão
como coroinha na igreja, época em que a missa ainda era celebrada em latim. Com o tempo, tornou-
se presidente dos Marianos (congregação que reuni jovens e adultos), catequista de crianças e
adultos.
Muito popular no bairro, Lucas seguia os ensinamentos religiosos com fervor e passava a
rezar terços todas as noites na igreja São Luiz Gonzaga, tornando-se, assim, membro oficial daquela
paróquia. Ministrava curso de batismo nas comunidades rurais, participou de vários cursilhos; foi
autorizado a realizar casamentos, batizados e celebrações. Foi, ainda, presidente do Apostolado da
Oração, ministro, visitava os doentes levando comunhão às residências, fazia a benção pelos mortos.
Em 2008, Lucas Lanini iniciou uma parceria com a escola EE Carlos Barozzi, bairro da
Brasilândia, onde desempenhava trabalho de orientação às crianças sobre conceitos de: respeito,
família, amor e solidariedade.
O último dia de trabalho na escola foi 14 de maio de 2008: nessa mesma noite, veio a
falecer (morte súbita) em sua residência.
Seu trabalho frutificou, servindo de modelo para a comunidade local e amigos que
angariava. Foi exemplo de retidão de caráter e dedicação ao próximo, à religiosidade e lealdade à
família e aos amigos.
Colaboração
Ivonice Brigo Borges
Jaqueline Cristina Caineli Bortoluzzo
Maria Adelina Marques Pereira Colombano
508
LUIZ FERRAREZI
Luiz Ferrarezi nasceu no município de Olímpia, estado de São Paulo, na Fazenda Olhos
d’água, em 19 de dezembro de 1931, tendo como pais Ignez Cervato Ferrarezi e Antônio Ferrarezi, e
mais nove irmãos. Embora numerosa, a família preservava sempre a união de todos em datas
comemorativas.
Educado que fora em uma sólida formação moral e religiosa, sempre antes da refeição, os
pais exigiam uma oração de agradecimento pelo alimento à mesa. Sua mãe foi uma companheira
muito presente.
Cursou até a terceira série primária na fazenda São Sebastião, no bairro Jacutinga,
município de Guararapes, estado de São Paulo. O fato de não ter avançado nos estudos, porém, não
o impediu de se destacar como exímio agropecuarista e empreendedor.
Em 18 de dezembro de 1958, casou-se com Alice da Silva em Araçatuba, mudando-se, logo
depois, para a Fazenda Santa Rita de Cássia, município de Pedranópolis. Dessa união, nasceram os
filhos Luiz Ferrarezi Júnior, Suzete Angélica Ferrarezi Izaias, Antônio Ferrarezi Neto e Lenise Regina
Ferrarezi Abdala.
“Grande amigo, além de pai. Era enérgico com os filhos, porém, amoroso”, comenta a
esposa Alice Ferrarezi. “No dia da entrega de boletins, se reunia com os filhos, questionava as notas
e enfatizava o que poderia ser melhorado”, acrescenta.
Além de participar da vida escolar dos filhos, Ferrarezi sempre esteve presente nas
comemorações e festividades. Foi patrono das escolas de Pedranópolis (SP) e de Meridiano (SP), do
Jubileu de Prata da Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares de Fernandópolis (1975) e membro
da Associação de Pais e Mestres (APM) da escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva, também de
Fernandópolis. Em sua fazenda, a primeira ação importante foi a construção de uma escola, que teve
como educadoras D. Albertina Rosa de Souza e sua esposa Alice Ferrarezi.
Exímio empreendedor e homem de muita fé, Ferrarezi participava de todas as atividades da
fazenda, conhecia todos os detalhes e, com afinco, realizava todo tipo de trabalho, trocando peças do
trator ou simplesmente cuidando dos animais. “Para ele tudo era pra já, tinha muita pressa, não
falava em velhice, tudo era logo e imediato”, diz a esposa.
Resultado de tanta dedicação, sua fazenda tornou-se modelo de organização e eficiência,
com muitas benfeitorias. Construiu casas, escola, capela e rede elétrica, poço artesiano, currais,
barracões, terreiros para secagem de café.
Na execução de seu trabalho, recebeu o prêmio “Produtor Modelo da Agricultura do Estado
de São Paulo” e “Troféu Pecuarista do Ano” em 1975 e 1976.
Em 1977, foi presidente da primeira Festa de Peão de Fernandópolis, evento que ocorria
posteriormente à Exposição Agropecuária da cidade. Por essa época, a arena ainda era fechada com
lascas e os assentos, rústicos e de madeira.
509
Colaboração
Letícia de Moraes Ribeiro Cabreira
Fábio Augusto Papa Vizelli
510
Filho do Sr. José Rodrigues da Silva e Sra. Umbelina Rodrigues, Manuel Rodrigues da
Silva, cognominado o Badeco, nasceu no vilarejo de Lambari, distrito de Olímpia, interior de São
Paulo; filho de trabalhadores das lavouras de café, juntamente com vários irmãos, vivenciou uma
infância muito pobre.
Começou a trabalhar com gado ainda jovem, como peão de boiadeiros, chegando a ser
dono de comitivas. Em Olímpia, casou-se com a Sra. Margarida Pereira, filha caçula de Joaquim
Antônio Pereira. Criaram dois filhos, sendo um biológico, Ubirajara Rodrigues da Silva, conhecido
como Bira, e outro adotivo, Ubiraci Rodrigues da Silva, ambos já falecidos.
Conhecido como Badeco, José Rodrigues e sua esposa mudaram-se para Fernandópolis
em 1941, já proprietários de terra, com uma área que abrangia onde hoje se situam o antigo Tênis
Clube, Jardim do Trevo e Bairro Ubirajara, nome dado ao bairro em homenagem a seu filho biológico.
Uma de suas características marcantes era participar de festas e leilões. Por ocasião dos
eventos, levava em sua caminhonete prendas a serem leiloadas. Segundo relatos de pessoas que o
conheceram, festejava a noite toda, arrematando prendas, muitas vezes, a custo alto, inclusive para
presentear seus amigos. Era um dos mais importantes colaboradores de eventos da cidade e região,
sobretudo da igreja. Esse ambiente festivo fazia parte do cotidiano de sua casa, sempre ponto de
recepção de pessoas carentes; acolhia a muitos, caracterizando-se praticamente uma espécie de pai
adotivo de vários filhos, incluindo crianças e adultos.
Badeco tinha grande interesse pelo gado leiteiro, o que o levou a ser um dos primeiros
criadores das raças gir e cruzado em sua fazenda situada a oito quilômetros no sentido
Fernandópolis-Brasitânia, atravessada pelas águas do ribeirão Capivara. Criava também cavalos da
raça manga larga chegando, na década de 1970, a construir uma pista de corrida de cavalo em sua
propriedade onde eram efetuadas apostas. Com espírito festivo e otimista, foi um dos pioneiros na
organização da Exposição Agropecuária de Fernandópolis, transformando-se em expositor de gado.
Em 1987, sofreu o primeiro acidente vascular cerebral (AVC), que lhe trouxe sequelas que o
prejudicavam a caminhar; viu-se na contingência de se afastar das atividades da fazenda. Em 1990,
sofreu o segundo AVC, agravando o seu estado de saúde, e teve de permanecer acamado até seus
últimos dias. Veio a falecer em 23 de agosto de 1991e foi sepultado no Cemitério da Saudade.
Com um enorme círculo de amigos, era considerado uma pessoa de sorte, corajosa,
ambiciosa e determinada. Sem dúvida, fez parte daqueles que se destacaram na construção da
história dessa cidade.
Colaboração
João de Souza Lima
511
Colaboração
Família Magro
512
Naquela gelada manhã de julho de 1932, José Benedito de Carvalho Mello, o Zezo, acordou
assustado com o enorme barulho que vinha das ruas: latões de lixo sendo arremessados, vidraças
sendo quebradas e gente, muita gente gritando palavras que, para ele, pareciam desconexas. Zezo,
mineiro da cidade de Caldas, logo percebeu o que se passava. Há dias vinha sendo hostilizado nas
ruas, sentia as pessoas olhando-o de uma maneira diferente, desconfiadas. Acordou sua esposa
Maria do Carmo Bucci Mello, a Zoquinha, grávida de sete meses, e pediu que se arrumasse
rapidamente, pois iriam viajar para Minas Gerais, para sua terra. A esposa, assustada, acordou a
pequena Magali, filha do casal, e logo se colocaram prontas para a viagem.
Comerciante do ramo fotográfico na Cidade de Mogi Mirim (SP), o mineiro Zezo era mais
uma das vítimas da Revolução Constitucionalista de 1932, que colocou, em lados opostos, mineiros e
paulistas. Temendo represálias por sua naturalidade, Zezo resolveu ir com a família para Minas
Gerais esperar que as hostilidades cessassem e, na hipótese de uma guerra, evitar ter de atirar
contra seus irmãos.
Após uma viagem difícil devido ao clima de guerra instalado na região, a família chega a
Caldas (MG), onde permaneceriam por algum tempo.
Em 17 de setembro daquele ano, nasce a segunda filha do casal, Maridéa das Dores Mello,
que vive seus primeiros dias na tranquila cidade mineira.
Com o fim da revolução constitucionalista, que opôs o estado de São Paulo ao Governo de
Getúlio Vargas e contabilizou mais de 2.000 mortos e centenas de feridos, a paz e a normalidade
voltaram às fronteiras paulistas e mineiras. Cessadas as hostilidades entre irmãos brasileiros, as
famílias retomam suas atividades de rotina.
Maridéa inicia seus estudos na paulista Mogi Mirim. Alguns anos mais tarde, Zezo, seu pai,
é admitido como funcionário da Companhia Telefônica Paulista e a família, agora com mais duas
filhas, Marilde e Mariley, se muda para Piracicaba (SP). No final da década de 1940, Zezo é
transferido para Araraquara, onde comanda o escritório da Companhia Telefônica Paulista na região.
Nessa época, após terminar o curso Normal, Maridéa se torna professora substituta na
Escola Carlos Batista Magalhães. Logo, porém, ingressaria na Coletoria Federal, onde iniciaria sua
carreira de funcionária pública federal.
No ano de 1953, a jovem Maridéa conhece o estudante de odontologia Horácio Carnelossi.
Proveniente de Ariranha (SP), Horácio era mais um jovem que vinha estudar na conceituada
190
Márcio Mello Carnelossi é filho de Maridéia Carnelossi.
513
O presente trabalho tem por objetivo, não apenas escrever a história de vida de Mario de
Matos, mas principalmente, demonstrar a articulação entre memória e biografia através de seus
poemas: Um dia hei de voltar! e Nossas bodas de ouro, que demonstram como os aspectos
memorialísticos dos mais variados fatos vividos por ele se refletiram em sua modestíssima produção
literária. Pretende-se, assim, resgatar, através da sua narrativa, dados autobiográficos que reportam
acontecimentos vivenciados por ele, bem como fatos históricos e lugares que influenciaram na sua
trajetória, complementando com depoimentos orais e escritos de amigos e família.
Admirador de Camões, Mario amava fazer poesia e escrever sobre diferentes assuntos: as
lembranças de sua infância e adolescência na terrinha, sobre seu país de coração e seus “heróis”,
seu cotidiano aqui e na terrinha, suas viagens. Escreveu vários artigos que foram publicados pela
imprensa local, por publicações da Casa de Portugal, pela imprensa portuguesa e incontáveis cartas
191
para seus parentes, amigos e autoridades .
191
Suas lembranças, poemas, artigos etc. estão em suas agendas e folhas de papel, escritos a lápis, e seus
documentos, envelopados e/ou emoldurados, sob os cuidados de sua filha profª. Péta Matos.
515
O Brasil é gigante
Como ele não há igual
A terra que eu escolhi
Filho de Portugal
Foi um triste adeus do jovem Mario à família quando resolveu navegar além-mar para
alcançar seus sonhos de prosperidade no Brasil, mas nunca esqueceu a terrinha, como
carinhosamente chamava sua terra natal. Tanto que diversas vezes, e na companhia de sua esposa,
Maria, vivenciou as experiências de “volta à terra de seus antepassados”, para visitar os parentes,
comer sardinha assada regada no azeite, como dizia orgulhoso.
192
Em 14 de fevereiro de 1924, nasceu Mario, na aldeia dos “Degolados”, em Portugal . Filho
193
de José de Matos e Perpétua Marques, teve apenas uma irmã, Sofia Marques . Era comum, em seu
povoado, que os jovens, para ajudar a família, ao final do quarto ano primário na escola da vila,
começassem a trabalhar; com ele não foi diferente, descreve: “a vida nos era bastante difícil,
trabalhava-se bastante e se ganhava pouco... mas coisas boas havia entre nós, muito amor e
respeito. Comida há mesa nunca nos faltou”194.
Como a região da Beira Baixa, onde morava, era pobre, os/as jovens com quatorze anos e
sem perspectiva de trabalho, eram contratados por um manajeiro (para nós o “gato”) para
trabalharem nos campos da charneca (grandes propriedades de terras), como disse em entrevista à
sua neta Larissa195. Na dissertação de mestrado, sua filha Perpétua relata esse tempo de trabalho
fora de casa, tanto de seu pai como de sua mãe:
192
Degolados é uma aldeia localizada na Freguesia do Carvoeiro, Conselho de Mação, região da Beira Baixa,
em Portugal. Recebeu esse nome porque um padre foi degolado no local.
193
O costume português era registrar o filho com o sobrenome do pai e a filha com o sobrenome da mãe.
194
MATOS, Mario. Memórias escritas em folhas de sulfite, s/d, e em diferentes agendas. Respeito a grafia do
texto original.
195
MALACRIDA, Larissa de Matos. Eis o meu eu! Autobiografia para a disciplina “Humanidades”, da escola Liceu
Albert Einstein, Ribeirão Preto (SP), 1997.
196
Além das lembranças que tenho das histórias contadas pelos meus pais sobre suas vidas, também utilizei um
texto escrito por meu pai Mario de Matos (s/d). Foi transcrito respeitando a grafia do texto original.
516
Aos quinze anos, relembra Mario, “comecei a pensar em vir para o Brasil aonde eu tenho
um tio ou também para a África, terra de Portugal”. E continua: “vivíamos tempos difíceis”: além das
dificuldades de trabalho na região, Portugal encontrava-se sob o regime ditatorial de António de O.
Salazar, ao mesmo tempo em que enfrentava as turbulências da 2ª guerra mundial. Sonhos cada vez
mais acalentados e a opção pelo Brasil venceram, incentivado por um professor que dizia ser este um
país de paz e por estar aqui seu tio Álvaro e família, o que facilitaria sua adaptação e abrandaria as
saudades. E relembra: “passado mais uns tempos [1940], chega para meu pai uma carta de seu
irmão Álvaro, me oferecendo a oportunidade a qual tanto eu esperava, dizia ele: preciso de um rapaz
e me lembrei do teu Mario, se tiveres vontade de que venha para cá mandarei todos os documentos
necessários, ou seja, carta de chamada”. Esta demorou a ser aprovada, mas, em 1942, aos 18 anos,
ele consegue embarcar. Assim ele relatou sua despedida: “é o dia de partir, última noite e ninguém
dorme. Levantamos cedo, casa cheia para as despedidas – deixei os Degolados, muita tristeza, os
gritos da mamãe e lágrimas – chegada ao Carvoeiro, ela lá está para o adeus [refere-se à sua
namorada Maria Marques]. Chegou a hora, muita dôr mas tinha de ir. Adeus, a esperança de voltar...”
Da sua terrinha, o jovem Mario partiu para alcançar seus sonhos de prosperidade, além-
mar. Em dezoito de abril de 1942, embarcou em Lisboa, no navio Serpa Pinto, desembarcando no
porto de Santos. De lá, foi de trem até São José do Rio Preto, mas, lembra-se, “cansei de andar de
comboio” e depois de ônibus até Mirassolândia, onde seus tios moravam. Sonho realizado! Lá
começou a trabalhar na loja do tio e era muito assediado pelas senhoritas por ser novo na região. Em
1944, este abriu uma loja em Votuporanga e lá foi ele com seus tios (Álvaro e Maria) e primos
(Armando, Milton, Elza e Hilda). Ali começavam novas vivências e novas experiências.
Um passado de saudades,
A nossa vida conjugal
Cincoenta anos vividos
Nascidos em Portugal.
197
MALACRIDA, Perpétua Maria Marques de Matos. “Introdução”. In: ______.O Assentamento Santa Rita:
lutando pela terra e construindo vivências. Dissertação de mestrado em História Social, Universidade Federal de
Uberlândia (MG), 2002, p. 18-19.
517
Esse poema foi recitado por Mario à sua esposa Maria em suas bodas de ouro celebradas
em grande estilo no dia 13/07/1997. No almoço, reuniram familiares na cobertura do Edifício Mario de
Matos, onde moravam e, à noite, foi realizada a missa na Igreja da Aparecida, sendo o casal
abençoado pelo bispo D. Demétrio, que chegou de surpresa e, após a bênção, comemoraram com a
família e amigos no salão da Casa de Portugal, que ele idealizou e fundou. Em 1946, chegou ao
Brasil Maria, sua namorada do grupo escolar, em companhia de seus pais, e foi direto para Bálsamo
onde morava sua família. Seu Mario, já sabendo, por carta, de sua vinda, foi visitá-la e, ao se
reencontrarem, o amor reacendeu e voltaram a namorar. Em 13/07/1947, casaram-se na Igreja Matriz
de Bálsamo, e foram morar em Votuporanga.
Em 05/10/1947, Mario foi transferido para Fernandópolis, gerenciar a filial da loja de seu tio.
Em 01/01/1951, este expandiu as lojas na região e propôs ao sobrinho: “ou tu compras a loja ou
entras na sociedade com meus filhos”. Depois de estudar muito bem essas propostas com sua
esposa, resolveram comprá-la; não era só o estoque, mas também o prédio que tinha pequena casa
nos fundos, onde moravam e, assim, o trabalho triplicou, embora fosse auxiliado por sua esposa, que
198
também fazia o trabalho doméstico. Relembra seu funcionário Nelson Toscano : “foram tempos de
muito trabalho, que começava de manhã e ia até a noitinha, de segunda a segunda, sem descanso,
até aos domingos e feriados as lojas abriam”. E conta um fato histórico e interessante:
Em 1954 a loja era pequena, 3 portas num salão de 7/9 metros, ele tinha 2
empregados portugueses, seu primo João Martins e seu cunhado Ernesto Dias. Foi
quando saiu uma “lei dos dois terços”: uma firma só podia ter um empregado
estrangeiro se tivesse 2 brasileiros. Seu Mario abriu uma filial em Santa Clara, uma
casa de secos e molhados, e para lá foram os dois e para substituí-los entrei eu e o
Nabor Saravali. Pensando em aumentar a loja, em fins de 57, ele comprou a casa
dos Retalhos do Pedro Mantelli e dividiu a loja em duas: uma nessa casa e a outra
no prédio dos Pessutos, na rua Brasil, esquina da Paulo Saravalli. Em 1958,
começou a construção do prédio: loja embaixo e residência em cima e, em
12/10/1958, inauguramos a loja, uma das melhores da cidade – a Casa Matos.
Recorda também que a “loja tinha um ‘paquero’, como toda loja na época. Era o rapaz
contratado para fazer propaganda que ia até a rodoviária arregimentando os fregueses. O paquero da
loja era o Baianinho”. Além dele, o Zé Ariranha ou o Nelson, saíam pela região fazendo a propaganda
da loja.
Pretendendo separar tecidos de calçados, lembra Nelson, “em 1960, ele comprou um
terreno em frente à loja e construiu a loja de tecidos”, passando, assim, a ter duas lojas: Casa Matos
Calçados e Casa Matos Tecidos. Iniciou a prática de promover o sorteio de um fusca para seus
fregueses, todos os anos e em grande estilo: a rua era fechada e em cima de um caminhão,
comemoravam com bandas musicais ou cantores, a imprensa presente e a população assistindo ao
espetáculo e, finalmente, o sorteio... Era uma festa. Em cima dessa loja, construiu um prédio de três
andares: o Sotam Hotel. Sotam, nome que significa Matos, lido de trás para a frente. No hotel, Mario
colocou o primeiro PBX, o primeiro elevador da região, o primeiro piso de taco com sinteco, motivo de
orgulho para ele, pois era alvo de olhares admirados da população. O elevador chegou ao alto do
carro de bombeiro e em carreata, o que demonstrava sua importância. Tanto que, no dia da abertura
do hotel, ele manteve as portas abertas, não só para receber os primeiros hóspedes, mas também
para a visitação da população que se admirava com essas novas tecnologias, mas era o elevador o
máximo do luxo e da modernidade.
Na década de 70, construiu uma residência contemporânea na Av. Expedicionários (esquina
com a Rua Espírito Santo) e para lá mudou, enquanto a antiga se transformava no Sotam
Restaurante (o primeiro da região a ter uma culinária refinada e de qualidade). Nos anos 80, comprou
um sítio para o lazer da família e, em 1986, realizou seu maior sonho: presentear suas filhas com um
apartamento para cada uma, no prédio construído por ele, de cinco andares, sendo o último uma
cobertura com salão de festas, piscina, sauna e churrasqueira. Em sua homenagem, recebeu o nome
198
Depoimento escrito e oral de Nelson Toscano Saes, casado, comerciário aposentado, para a profª Péta
Matos, em 2011. Ele trabalhou com sr. Mario de 10/05/1954 até 10/04/1985. Transcrito pela profa Peta Matos,
mantendo-se fiel à grafia do texto original.
518
de Edifício Mario de Matos. Além disso, construiu uma casa para seu sobrinho Antônio, comprou uma
casa para sua irmã e família, além de outros prédios.
Percebe-se assim que a compra da primeira loja foi o início de uma extraordinária carreira
empresarial, como confirma o Nelson:
O casal formou sua família com as quatro filhas: Clarice, Perpétua Maria (a Péta), Laura e
Elza Mara, todas nascidas em Fernandópolis. Clarice se casou com Álvaro F. de Souza e tiveram três
filhos: Fernando, Patrícia e Daniela; Péta, com Anésio B. Malacrida e têm dois filhos: Leonardo e
Larissa; , com Rafael B. de Souza e têm três filhos: Rafael Jr., Priscilla e Eduardo; e Elza com
Orlando S. Garcia e têm três filhos: Tatiana, Julianna e Luciana. Tiveram 11 netos e 10 bisnetos. E
dizia: “quem tem filhas, come bolinhos”, ou seja, está sempre amparado.
E toda sua influência sobre a família é resumida pelo neto e afilhado Leonardo: “a presença
constante dos meus avós maternos foram cruciais para compor a minha origem, parte da minha
personalidade e por ter adquirido a dupla nacionalidade, comprovado pelo passaporte e o cartão de
cidadão. português. Desde pequeno, é ‘pois pois pra cá’, ‘pois pois pra lá’, ‘gajo não faz isso’, ‘gajo
199
não faz aquilo’”. E conclui em um poema dedicado ao avô :
vô
vozinho
se eu soubesse
que tudo
era só te ouvir.
Em 1959, chegou de Portugal seu sobrinho Antônio com 12 anos, para morar e trabalhar
com ele, passando a ser tratado como filho, tanto que se tornou também herdeiro de seus bens. Já
moravam com eles os sogros, Clarice e Vicente Dias. Em seu lar, o casal acolheu também, em
períodos diferentes, a mãe Perpétua, a irmã Sofia e o cunhado João, além dos primos Álvaro Matos
de Santa Albertina (já no 2º dia de casado) e Hilda (filha de seu tio Álvaro), seu afilhado Mario Martins
e funcionários, como o Silvério.
O casal era muito comunicativo, alegre, festeiro e solidário. Sua casa era “uma casa
portuguesa com certeza”, vivia o dia todo cheia de gente: eram amigos, parentes, funcionários, seus
fregueses, hóspedes, muitas vezes para uma “partidinha de truco” e, por isso, a mesa de refeição
estava sempre cheia de quitutes, “tocando, ao fundo, os fados de Roberto Leal E é tudo isso que faz
desses instantes, momentos memoráveis”, relembra Léo.
Pela receptividade natural que possuía, o casal era muito requisitado para padrinhos de
batizados ou casamentos. Autoridades portuguesas também foram recepcionadas em sua residência,
como o ex-presidente do Conselho de Ministros de Portugal (1968-1974), Marcelo Caetano
(independentemente de divergências políticas); os Cônsules Honorários de Portugal em Rio Preto:
Bento Abelaira Gomes e, mais tarde, Diogo M. V. Lobo; os Cônsules de Portugal em São Paulo,
Fernando P. dos Santos (1981), Rui Assis (1984) e o Domingos F. Vidal; e Maria Alcina Ventura, que
ocupava alto cargo na sede da Comunidade Européia, na Bélgica.
200
Conversando com seu genro Orlando Garcia , o Dr. Lorca (cardiologista em Rio Preto)
disse que “seu Mario era sempre o articulador da colônia portuguesa na região, inclusive quando
requisitaram seus préstimos para arrecadar fundos para a construção da Beneficência Portuguesa”.
Segundo sua sobrinha Liana201,
199
Leonardo de Matos Malacrida, casado, comerciante, via e-mail, no ano de 2011. Transcrito pela profa Peta
Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
200
Orlando S. Garcia esteve com Dr. Lorca em janeiro de 2012, em S. J. do Rio Preto.
201
Depoimento de Liana Marina B. Guimarães de Matos, esposa de Antonio Marques de Matos, para sua prima
Péta Matos, por e-mail, em 26 de agôsto de 2011. Transcrito pela profa Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do
texto original.
519
tio Mario foi um homem feliz, personalidade marcante, de carater, de fibra. Viveu
intensamente, mesmo nos seus momentos dificeis levava a vida com muita
sabedoria. Tivemos, eu e Toninho, uma convivência muito gostosa. Ele adorava
reunir a familia e os amigos. Dançar, e ouvir músicas portuguesas era o seu fraco e
o fado... Como me lembro bem das festas que fazia em sua residência na Avenida
Expedicionarios: era só alegria, ele satisfeito por ver a família toda reunida e, se
faltasse um, queria saber o motivo. A família ia aumentando e fazia questao de ver
todos juntos.
Era um viageiro e cantador... Mario adorava viajar: em todas as férias das filhas, levava a
família para passear (Thermas de Lindóia, Santos, Thermas de Ibirá, São Lourenço etc.), atitude
pouco comum na época, chegando a levá-las para conhecer sua terrinha, a Espanha, a França e a
Ilha da Madeira. Durante as viagens com a família, ele sempre ia cantando as modinhas portuguesas,
enquanto dirigia. Em casa, adorava ouvir músicas portuguesas, assistir à TV portuguesa (RTP),
muitas vezes, dançando com D. Maria, as filhas e netas e assinava vários jornais portugueses,
inclusive enviava sempre notícias dos “patrícios” daqui e da Casa de Portugal.
Era também muito emotivo, tanto que sua mãe dizia, quando ele era criança: “é bonito, mas
muito chorão”. Era muito otimista, por exemplo, acreditava que “o Brasil será muito em breve uma das
grandes potências do mundo”; “que todas as pessoas poderiam se tornar boas pessoas”. Era um
defensor árduo de Fernandópolis e de seu desenvolvimento.
Educava suas filhas ensinando valores, limites e fazendo exigências, mas sempre as
incentivava a viajar sozinhas, estudar fora, para aprenderem a assumir suas vidas no futuro. A única
que o desafiava por problemas de família, namorado etc. era a segunda, que acabava apanhando...
dizem que os dois tinham o mesmo gênio. Apesar de sua braveza, quando os netos foram chegando,
ele também foi relaxando e, nas festas da família, chegava a imitar seus netos usando fantasias
também. A alegria e “palhaçadas” rolavam soltas.
Preocupado com a educação das filhas, já que era frustrado por não ter tido a oportunidade
de estudar (inclusive o inglês), em 1959, começou a enviar suas filhas para estudarem no colégio
interno, das madres agostinianas, em Taquaritinga. Lá, Clarice, Péta e Laura fizeram a admissão (tipo
de cursinho e vestibular para entrar na 1ª série ginasial) junto com o 2º semestre do 4º ano do grupo
e o ginásio (4 anos), e Elza foi estudar em Rio Preto e, depois, São Paulo.
202
Sua neta e afilhada Juliana , se refere a ele como
nosso Mestre de vida!!! nossa figura ilustre... meu avô, que saudade de tomar um
vinho com você e conversar sobre a vida, abrir meu coração e ouvir seus
ensinamentos... te amo eternamente meu avô, padrinho e amigo!! onde estiver,
receba aquele beijo com carinho nessa sua carequinha!
Ele é um dos meus melhores amigos. Se alguém falar mal do Mario de Matos, eu
brigo com ele. E um homem honestíssimo! Às vezes, as coisas não são como a
gente quer, mas o Mario de Matos deixou o sangue dele aqui em Fernandópolis...
Ele é um homem privilegiado, mas devia ser mais. Se ele soubesse que tinha um
patrício lá em Santa Albertina doente, ele ia... onde tivesse um doente, ele ia lá. Ele
203
repartia o que tinha! Dizia: “Ah, você precisa, vamos lá, vou te dar!
202
Depoimento de Julianna de Matos Garcia à sua tia Peta Matos, por e-mail, em 2011. Transcrito pela profa
Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
203
Depoimento do sr. João Santo, português, às professoras Áurea Azevedo e Péta Matos, em julho de 1996.
a
Transcrito pela prof Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
520
- Em 15 de dezembro de 1981, na cidade de Araçatuba, foi agraciado, dentre vários cidadãos ilustres
do estado de São Paulo, com a “Medalha do Sesquicentenário da Polícia Militar de São Paulo”;
- Em 1982, Sr Mario e esposa receberam convite do governador do estado de São Paulo, Paulo
Maluf, para participar de uma recepção no Palácio dos Bandeirantes, em homenagem ao Sr. André
G. Pereira, Ministro dos Negócios Estrangeiros da república Portuguesa;
- Participou, junto com seu amigo João Santo e seu genro Álvaro, do primeiro voo de São Paulo a
Brasília da empresa aérea TAP (Transportes Aéreos Portugueses) como convidados especiais;
- Em 04/03/1985, recebeu o título de Sócio Benemérito Remido da Casa de Portugal de São José do
Rio Preto;
- Em março de 1991, recebeu o Certificado de Reconhecimento, no 1º Encontro Luso-Brasileiro dos
Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, realizado na Casa de Portugal de Bauru;
- Em 19/08/1996, recebeu um certificado da Câmara Municipal de Cintra, Portugal;
- Em 1984, o Exmo. Sr. Presidente da República de Portugal, Ramalho Eanes, outorgou-lhe o título
honorífico de “Comendador de Portugal”, com a Comenda Infante D. Henrique – 1º Rei de Portugal.
Este título foi-lhe entregue em sessão solene na Casa de Portugal, pelas mãos do Exmo. Sr. Cônsul
de Portugal, Dr. Rui Assis.
204
Depoimento da profª Maria Augusta Bento Silva à profª Peta Matos, por e-mail em 2011. Transcrito pela profa
Peta Matos, mantendo-se fiel à grafia do texto original.
205
In: Certificados de Títulos com que Sr. Mario foi agraciado no Brasil.
521
Importante destacar que Mario seja, talvez, o único “cidadão fernandopolense” e do interior
de Rio Preto agraciado com o título de Comendador, do governo português, por seu trabalho em prol
da comunidade portuguesa no Brasil, orgulho de toda sua família. Esse título, na maioria das vezes,
era comprado, porque era símbolo de poder, status.
Interessante observar que, enquanto descrevíamos a trajetória de vida e as experiências
vivenciadas por Mario, não dava para fazê-lo sem falar também de sua esposa Maria, fiel
companheira. Ela faleceu no ano de 2000 e ele no ano de 2006. Falar sobre Mario de Matos é fácil,
porque deixou um legado de “memórias” extenso e de suma importância para a história de
Fernandópolis. Assim ele se expressava em vida:
“Eu amo Portugal. Foi lá que eu nasci e vivi a minha adolescência, e adoro o Brasil que me acolheu de
braços abertos... Como fernandopolense que sou, sempre agradeço a Deus em poder ter participado do grande
progresso de nossa cidade e de poder pertencer à acolhedora comunidade fernandopolense."
Colaboração
Escola Estadual Armelindo Ferrari
Vice-diretor: Diná Ruy Cogo
Professor Coordenador do Ensino Fundamental: Maria Elisa Pinheiro
Professor Coordenador do Ensino Médio: Ana Angélica Neves de Oliveira Ferreira
Professora de História: Soleni Teixeira Lima Rissato
Professora Ms em História Social: Perpétua Maria Marques de Matos Malacrida
522
Colaboração
Geraldo Silva Carvalho
524
realizou o casamento dela com o noivo desprezado (essa era a filosofia da família japonesa
tradicional). O casal está vivo até hoje, junto, residindo em Araras (SP).
Mataso Kuroda foi líder estimado e valorizado por onde passou: Guatapará, Penápolis,
Guaraçaí, Alto Pimenta, Andradina, Araçatuba e Fernandópolis.
Apesar de budista, de elevado espírito comunitário, promovia mutirões de batizados,
congregando as famílias japonesas na Igreja Católica. Partia do princípio de que as crianças nascidas
e criadas no Brasil deveriam pertencer à religião da maioria do país, a católica.
A Fernandópolis chegou em 1953 e radicou-se no bairro Aparecida por dois anos; comprou
uma casa na Rua Minas Gerais, 1214, de Orlando Birolli, para onde se mudou e morou até sua
morte. Sua família permanece ali até hoje.
Presidia a Associação Cultural e Esportiva de Fernandópolis, à época, o Sr. Tsuneshi
Sano, quando o grande líder passou a ajudá-lo na construção do prédio. Foi o iniciador do “gate-Ball”
e do “base-ball”, jogos exercitados, primeiro, em um campo requisitado pela Cesp (Centrais Elétricas
de São Paulo), criada pelo advento dos barrageiros que se instalaram ali próximo. O prefeito da
época, Antenor Ferrari, para ajustar a situação, doou à colônia japonesa (diga-se Kuroda) terreno
onde hoje está o clube de campo da Associação Cultural e Esportiva de Fernandópolis (ACEF),
próximo ao Beira Rio (parque esportivo da cidade). Valioso patrimônio, agasalha filhos, netos e
bisnetos dos pioneiros japoneses, e garante a prática desportiva da tradição nipônica.
Uma passagem curiosa marcou esse período: Kuroda era tão exigente, que dormia com os
atletas, na concentração, às vésperas dos jogos, impedindo-os de fugir para bailes ou festas. Num
campeonato em Urânia, em represália, os atletas roubaram o cobertor do chefe Kuroda. Era noite
fria. O chefe deu o troco: ao preparar o café da manhã, colocou sal em lugar de açúcar para castigar
os primeiros a serem servidos. Curioso? Qual foi o primeiro? Arnaldo Sano que conte!
Mataso Kuroda foi um dos fundadores da Agrimista, cooperativa agrícola formada por
sócios de origem japonesa em Fernandópolis e na região como Nakai, Sugahara, Kuroda, Kume,
Ikeda, Okagima, e outros.
Incentivava os acontecimentos sociais brasileiros como o carnaval com participação de
nisseis e sanseis e toda sua família.
Quando da visita ao Brasil do Príncipe Ahihito e da Princesa Michico, recém-casados,
Kuroda levou uma caravana de idosos japoneses de Fernandópolis à recepção no Pacaembu (SP) e
foi o orador que saudou os visitantes em nome da alta araraquarense e noroeste do estado de São
Paulo. Era na comemoração dos 50 anos da imigração japonesa ao Brasil. Ainda: na recepção da
Sociedade Brasileira Cultural Japonesa (Bunkyo) no Bairro da Liberdade (São Paulo, capital),
entidade que Mataso Kuroda ajudou a fundar e onde foi diretor assistencial de 1971 a 1973, o
príncipe agradeceu pessoalmente ao biografado, oferecendo uma peça pintada a ouro que a família
guarda com carinho até hoje.
Kuroda foi fundador da Associação das Crianças Excepcionais de São Paulo (Kodomono
Sono), só para crianças de origem nipônica.
Em Fernandópolis, criou a escola de língua japonesa para sanseis e nisseis, resguardando
a cultura nipônica cujo primeiro professor foi o Sr. Osaka. Funcionava junto à Associação Cultural e
Esportiva de Fernandópolis (Kaikan), tendo como primeira diretora a Dra. Noêmia Ogata Sano. Foi
Kuroda, também, diretor regional da alta mogiana e alta araraquarense (1969-1971) do Bunkyo, onde
exerceu o cargo de diretor assistencial.
Em 1968, recebeu da Câmara Municipal o titulo de Cidadão Honorário de Fernandópolis
pela sua dedicação e espírito de fraternidade, traçando uma linha de união entre as colônias nipo-
brasileiras, numa orientação sábia e admirável. “Pobre, sem qualquer pretensão, dentro daquela
humildade que sempre o destacou no seio de nossa gente”, assim reportou o jornal O Imparcial em
sua edição de 30 de março de 1968. A sessão solene contou com a presença do então deputado Dr.
Roberto Rolemberg, amigo do homenageado.
Ainda em 1968, por ocasião da visita a Fernandópolis do Governador da Província de Iwate
(Japão), Sr. Todashi Chida, acompanhado do secretário de agricultura, Sr. Juichi Sato, e do subchefe
de reportagens da rádio Iwate, Dr. Seishi Kuno, a convite do presidente Mataso Kuroda, via Tonami
Sugahara, que visitava o Japão, houve importante recepção, primeiramente no gabinete do prefeito
municipal Percy Waldir Semeghini. O governador japonês recebeu uma medalha de ouro com o
brasão da nossa cidade, única do interior paulista a receber tão ilustre visita, e o titulo de Cidadão
526
Colaboração
Wandalice Franco Renesto
Professora aposentada
206
FERNANDÓPOLIS Jornal. Edição de 20 de julho de 1975.
527
MERCIOL VISCARDI
Merciol Viscardi, mais conhecido como “Lolão”, que empresta seu nome ao “Centro Cultural
e Teatro” de nossa cidade, nasceu em Fernandópolis em 8 de julho de 1953. Filho caçula do casal
Dionízio Viscardi e Natividade Canhada Viscardi, de tradicional família fernandopolense, Merciol
sempre foi o “xodó” dos irmãos Euvidio Viscardi, Paulo Viscardi Neto e Alexandrina Viscardi da Silva.
Do convívio com a assistente social Lucinéia Oliveira Figueiredo, nasceu a filha Júlia Figueiredo
Viscardi, em 26 de julho de 1989.
Jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo no ano de
1980, Merciol iniciou seus estudos no Grupo Escolar Afonso Cáfaro de Fernandópolis em 1960,
concluindo a 8ª série do curso ginasial no Instituto de Educação Estadual em 1968 e o curso colegial
em 1971, no Colégio e Escola Normal São José, em Ribeirão Preto (SP).
Cronista, poeta e filósofo por excelência, Lolão foi um investigador nato do comportamento
humano e suas nuances, visto, sempre, pelo foco do Racionalismo Cristão, doutrina espiritualista
praticada há muitas décadas por sua família. Paralelo ao desenvolvimento dessa vertente, Merciol
Viscardi embrenhou-se também pelo caminho do conhecimento “prático”, atitude refletida nas
inúmeras participações em cursos, concursos, seminários, congressos, programas
socioeducacionais, dos quais se destacam: Curso de Direito (1975-1977), na Universidade de São
Paulo; “II Seminário de Marketing – A Conquista do Mercado”, na Fundação Getúlio Vargas (1975);
Curso de Qualificação Profissional de Letrista e Curso de Suprimento de Técnicas de Composição de
Cartazes/ Serigrafia/ Suprimento da Arte Final e Lay Out – SENAC (1976); Participação na VIII
Semana de Estudo de Jornalismo – USP/ECA (1979); participação, como estudante, do Projeto
Rondon, em 1975 em Marabá (PA) e, no ano de 1978, em Livramento de Nossa Senhora (BA).
Ligado a vários movimentos culturais, em que disseminava e debatia a “interiorização da
cultura e apoio aos valores locais e regionais”, Merciol participou de diversos concursos em âmbito
nacional, entre os quais se destacam: II Concurso Freitas Bastos de Poesia (1986), II Concurso de
Contos e Poesia de Itanhaém (1986), I Concurso Nacional de Poesia de Campos do Jordão (1986),
IV Concurso de Poesia de São Luiz de Paraitinga (1984), 1º Concurso de Contos e Poesia de
Votuporanga (1984), 1º Concurso Paulista de Textos Populares (1986 e 1987), entre outros.
Segundo o jornalista Vic Renesto, amigo pessoal de Lolão e co-autor de suas investidas
culturais, “a grande fase da vida de Merciol Viscardi se situa entre 1973 e 1976, quando participou da
diretoria da Associação Fernandópolis Acadêmica (AFA), entidade que realizava a Semana
Universitária de Fernandópolis. Fundada por abnegados universitários, entre eles Luiz Alberto
Scalloppe, Darci Araújo, Luis Carlos Martins, Milton Zambon, a AFA realizava, no mês de julho, uma
série de shows, palestras, apresentações teatrais e musicais, além de seminários que marcaram
época. A entidade trouxe gente do calibre de João Bosco, Plínio Marcos, Grupo Tarancón, Tom Zé,
528
Conjunto Atlântico, Teatro de Cordel de Vic Militello. Na época, Lolão era o Diretor de Divulgação da
AFA. Na verdade era “pau pra toda obra”.
Importunava o Prefeito Antenor Ferrari. Morando São Paulo, quando o Prefeito chegava à
cidade, dele exigia que o acompanhasse à Secretaria de Cultura do Estado, para reivindicar verbas
para a Semana Universitária.
Foi também um grande incentivador das artes locais e regionais. Organizou várias mostras
dos pintores Bira Torricelli e Tito Montenegro e dos escultores João Lima, Onivaldo e Pedro Loverde,
além de divulgar os lançamentos de livros de Wilson Granella, Bento Celso da Rocha e outros.
Nos corredores da USP, nas antessalas dos consulados, nos gabinetes (com o Deputado
Carolo), nas secretarias, Lolão garimpava cultura para enriquecer Fernandópolis. Tinha, na AFA, a
ponte para essa transferência, ou mais, para a interferência de cultura para nossa gente. E muita
gente entendeu, e se rendeu, e mudou seu comportamento. O sonho das artes na rua, da biblioteca
popular, da população vendo, vendo-se, comovendo-se, movimentando-se, exalava pelos poros de
Lolão.
Em seu livro “Coletânea de Artigos”, publicado em 1985, pelo Mirante Arte Editorial, Merciol
Viscardi prega a necessidade, na época, de
Colaboração
Loja Maçônica Benjamim Reis (entidade responsável):
Alexandrina Viscardi da Silva
Elaine de Araújo Silva
José Antonio Alves da Silva (Zecão)
Vic Renesto (Jornal O Cidadão)
529
Colaboração
Helena Maria Bernardinelli Camargo de Freitas
530
O carisma de uma pessoa escolhida e enviada por Deus para fazer o bem deixa marcas
profundas na vida das pessoas que tiveram a alegria de com ela conviver.
Padre Damião Van Der Zanden era essa pessoa: carismático, bondoso, digno. Holandês,
nasceu em 1930 e chegou ao Brasil como padre em 1957.
Fez um belíssimo trabalho na cidade de Espírito Santo do Pinhal, onde era conhecido como
o Padre do Seminário. Do ex-seminarista Roberto Sarteschi, foi colhido o seguinte depoimento:
com um imenso coração de muita paz com os seus seminaristas, para os quais
ajeitou madrinhas pinhalenses, senhoras que se dispuseram a lavar e passar a
roupa de todos os alunos. Toda semana, ao lavar e buscar as roupas sempre com
um sorriso, havia um cafezinho ou um “a bênção, padre”.
Quando visitava as fazendas e sítios da zona rural, era na maioria das vezes para pedir
alimentos, a fim de sustentar e equilibrar os escassos estoques de comida necessária para alimentar
40 meninos ou mais. Sarteschi continua:
Tenho certeza de que ficou muitas vezes sem comer, para dar o que comer para
seus alunos.
Sempre fazíamos passeios a pé, com ele à frente, rezando, brincando, mostrando a
natureza, cantando. Toda quinta-feira à tarde, caminhávamos 8 km para nadar na
piscina da fazenda do Sr. Jaime Leme. Nessas caminhadas, além de nos ensinar a
rezar e nadar, nos ensinava a viver com alegria, ainda que, muitas vezes, na nossa
idade não entendíamos essas maravilhas.
Contudo, não deixamos de colaborar com sua alegria e seu apostolado: quantas vezes,
mesmo de batina preta com seu cinto de couro, documentos etc., o querido padre foi atirado na
piscina, fazendo a alegria de toda a molecada. “Isso só é comum entre filho e pai”, ainda relembra
Sarteschi.
Hoje se sabe o quanto ele foi pai, um pai de verdade, um pai de amor, de disciplina, de
exemplo, de caráter e de responsabilidade. Os alunos que vieram de São Paulo (Capital), como
Roberto Sarteschi, foram conquistados por esse exemplo e por sua bondade. O ex-seminarista
depõe:
Viemos para o seminário porque queríamos ser iguais a ele. Aqueles que vieram do
Interior, principalmente da região de Jales, chegaram em um Jeep Willys de capota,
lotado de malas e muita poeira. Foram sete alunos entregues pelos seus pais a um
padre que lhes transmitia amor e confiança de que seus filhos seriam, no futuro,
homens de coragem e de caráter iguais a ele.
531
Padre Damião era calmo, sempre sorridente, parecia não se esgotar em sua alegria
pela vida. Bondoso ao extremo, um pai que externava confiança, humildade e
fortaleza. Procurava ensinar, nunca reprimir: nunca o vi zangado e, mesmo quando
nos chamava às falas por alguma peraltice que fazíamos (e, confesso, eu era um
capetinha em forma de gente), fazia-o com amor. O seminário nos ensinou a rezar, a
estudar, a dar valor ao trabalho, a respeitar os semelhantes, a amar a família; mas
nos ensinou, principalmente, a sermos bons, obedientes, castos ao olhar o mundo
com compreensão, com humildade e certa candura. O Padre Damião foi a real
encarnação de tudo isso. Tenho muita saudade dele.
No dia 16 de fevereiro de 2007, Deus o convocou para fazer parte da milícia celestial dos
anjos do Senhor. Faleceu no Brasil, onde ele realizou sua mais digna obra, longe de sua terra natal, e
encontra-se enterrado no Cemitério de Pinhal, em terreno pertencente ao que fora o Seminário
Assuncionista de Pinhal.
Seu corpo aqui ficou plantado, pois foi no Brasil que ele semeou o Evangelho.
Que legado e que bem esse sacerdote nos deixou! Fernandópolis não haverá de esquecer
esse ilustre cidadão que deu sua vida para o bem, sem querer nada em troca.
Seu sorriso, sua alegria, seu abraço, seu ombro amigo, sua paciência, sua palavra ficarão
para sempre em nossos corações.
REFERÊNCIAS
SCHEFFERS, Kees. Os assuncionistas no Brasil / 1935 – 2000. Trad. Emanuel Van Der Stappen e
Esther Blanke Arantes. Graf Eindhoven Adolfstraat 29, 2007.
Colaboração
Maria José Pessuto Cândido
533
A Profª Maria Manela, que teve oportunidade de conviver mais tempo com Padre Hugo,
relata: “quando pensamos no Padre Hugo, o vemos entre as crianças, pois seu carinho era grande
por elas. Estava sempre rodeado por elas, como a repetir o evangelho que diz ‘Deixa vir a mim as
criancinhas, pois delas é o reino dos céus’”.
Lançou um horário de “missa das crianças”, rezada em latim e traduzida pela Professora M.
Manela. Os bancos eram reservados a elas, que entravam em filas na igreja para aí se assentarem.
Entravam cantando hinos, que eram muito bem ensaiados. Resgata a lembrança um canto que dizia
“Dei o meu coraçãozinho a Jesus, meu Salvador, ficará assim guardadinho, guardadinho e com meu
Senhor, ficará com meu Senhor”.
As crianças eram bem preparadas por ele e pelos catequistas para a Primeira Eucaristia;
após essa fase, iam para a “Cruzadinha”, em que vestiam uniforme e participavam de ações da
comunidade.
Trazia sempre no bolso vários santinhos e, ao tomar sua benção, as crianças beijavam a
mão do Padre Hugo, que logo se abria para distribuir santinhos.
Sebastiana, outra paroquiana, lembra:
Quando fiquei viúva, com dificuldades para controlar a disciplina dos meus sete
filhos, fui à igreja me aconselhar com Padre Hugo, que me disse:
― Se eles fossem doentes e não pudessem brincar e gritar, você gostaria? Deixe
então, que eles baguncem e faça você também parte das brincadeiras deles. A sua
casa não é enfeite.
Ela entendeu e passou a agir assim; foi quando tudo melhorou. Simples e sábio conselho
para os nossos dias!
Dava muito valor à catequese infantil e sabia atrair a meninada com saudáveis piqueniques
(na Cachoeirinha do Neca Verde e Rio Santa Rita no Cavalim), onde fazia entregas e sorteios de
pequenos mimos que trazia de sua terra Natal, quando lá visitava seus familiares “para matar a
saudade”. Muitas famílias de Fernandópolis ainda conservam, entre seus pertences de valor
estimativo, os pequenos tamanquinhos que de lá trazia.
Construiu um verdadeiro complexo ao lado da Capelinha de Nossa Senhora Aparecida,
onde havia um campinho de futebol e hoje é o Centro Pastoral.
A obra era toda cercada por um alambrado de tela, dentro da qual havia uma casa de
caseiro (onde inicialmente morou Salia, viúva, com suas filhas Marta e Terezinha e, posteriormente,
morou a família de Armando Farinazzo), salas para catequese, salas de jogos juvenis, parque infantil.
Por algum tempo, emprestou uma sala para a Professora Wandalice Franco Renesto, pois o JAP, sua
escola de origem, estava em reforma.
Reforçando sua amizade com Wandalice, Padre Hugo conta-lhe a intenção de compor um
hino a Fernandópolis, pois gostaria de ensinar a seus catequizandos civismo e amor à cidade. Em
1954, Professora Wandalice foi solicitada por ele a fazer parceria neste Projeto Musical, o qual
desenvolveram com muita sabedoria. A Professora Wandalice compôs a letra, e Padre Hugo compôs
a música.
Assim os alunos catequizandos passaram a cantar com o Padre Hugo, tocando no órgão
este belíssimo hino que hoje, patrioticamente, entoamos nos eventos cívicos e em todas as escolas.
Em final de 1959, Padre Hugo despede-se de Fernandópolis, deixando marcas de um
evangelizador dinâmico, culto, alegre, carismático.
Em 1960, chega a Governador Valadares (MG) e, seguindo os princípios de sua
congregação que pregava a solidariedade com os simples, os humildes, com os nichos da
criminalidade, na periferia ou no campo e acompanhado pelo Padre Lamberto (o padre que projetou a
Igreja Matriz Santa Rita de Cássia), em seis meses construiu a “Cidade dos Meninos”, uma escola
que acolhia meninos que tinham passagem pela polícia, pequenos infratores. Aí construiu uma
carpintaria onde se faziam brinquedos cuja venda ajudava na manutenção, com apoio do Lyons Club.
De volta a São Paulo (capital), Padre Hugo trabalhou durante algum tempo na Organização
de Auxílio Fraterno (OAF). Junto com freiras e outros padres formavam um grupo que passava de
noite, entre 22h30min e 2h00, pelas ruas da cidade, buscando localizar e ajudar os “sem-teto”.
535
Permaneceu no Brasil de 1953 a 1970, quando voltou para Holanda e lá foi Capelão do
Exército Francês, onde era sumamente valorizado e respeitado.
Sempre acolheu, com grande carinho, seus colegas padres holandeses do Brasil, quando
em visita à Terra Natal. Morreu e foi enterrado na Holanda
Colaboração
Maria José Pessuto Cândido
Depoimentos de paroquianos: Maria José Brandini Dutra (Mazzi), Sebastiana de Oliveira e Wandalice
Franco Renesto
SCHEFFERS, Kess. Os Assuncionistas no Brasil 1935-2007. Tradução Emanuel Van Der Stappen
e Esther Blanke Arantes. Graf Eindhoven Adolfstraat 29, 2007.
536
PAULO FANTINI
Paulo Fantini, filho de Angelo Fantini e Leopoldina Veragini, nasceu na zona rural da cidade
de Cedral (SP) no dia 25 de agosto de 1939. Menino pobre, filho de imigrantes Italianos, ainda
criança iniciou suas atividades nas lavouras de café, onde moravam em uma das muitas colônias
espalhadas pelo interior paulista. Consta que andava cerca de sete quilômetros a pé para estudar em
uma escola da zona rural, onde cursou até o 4º ano. Ainda menino, dizia aos pais que iria embora da
vida na roça e um dia teria um avião, encantado ficava quando via o céu ser cortado por um
aeroplano.
Então adolescente, convenceu os pais e os irmãos (3 mulheres e 2 homens) a se mudarem
para Fernandópolis, que vivia em franca ascensão. Aqui chegando, iniciou seus trabalhos no extinto
“Posto de Gasolina do Roquete”.
Dedicado em seus propósitos, gostava de ler e estudar, sendo aprovado em concurso para
o Banco do Brasil e Escrivão de Polícia no final da década de 50. Impulsionado pelo desejo de ser
policial e ter melhor remuneração, fez a escolha na época. Iniciando os trabalhos no dia 25 de maio
de 1960 na Cadeia Pública da Cidade de Indiaporã como Escrivão de Polícia, era subordinado ao Dr.
Américo Vasconcelos, Delegado de Polícia de Fernandópolis.
Em 15 de dezembro de 1963, casou-se com Tereza Judith Segatto Fantini no, e tiveram os
filhos Paulo e Sandra.
Além de funcionário público, nas horas de folga vendia adubo e plantava lavoura como
“meeiro”; ainda nessa década, iniciou uma sociedade adquirindo uma Agência Funerária com o
Escriturário e hoje Advogado José Pontes.
No final da década de 60, junto com o parceiro e amigo Valdemar Sanches Peres, Escrivão
de Polícia em Guarani d´Oeste, veio trabalhar na Delegacia de Polícia de Fernandópolis,
comandados pelo Delegado Dr. Nelson Vani e, posteriormente, pelo Dr. Divino Domiciano da Silva.
Consta que, além de escrivães, faziam as vezes da polícia técnica, indo aos locais mais diversos
(cidades, zona rural e rodovias), assessorados pelos colaboradores desenhista (ad hoc) Sr. Neves e
fotógrafo (ad hoc) Sr. Lourival Marcondes, independentemente de hora e tempo.
Na década de 70, nasceu o filho Cleber, e, prosperando nas atividades comerciais da
Indústria de Urnas e Cadeiras, Agência Funerária e fazenda em Goiás, não encontrou outra
alternativa a não ser deixar a carreira de Policial Civil que tanto almejara.
537
Colaboração
Paulo Roberto Fantini (filho)
538
PEDRO BONASSI
lugar para criar raízes e, finalmente, poder alcançar seus objetivos, muda-se com sua família para a
região no ano de 1946.
Inicialmente, vai morar em uma pequena residência e arrenda um estabelecimento
comercial (açougue) de um morador do local, o Sr. Garcia Rodrigues Filho, apelidado de Fiuca, no
Bairro Brasilândia. Este, por sua vez, segundo depoimentos de seu filho Adorocidio Rodrigues,
também tinha vindo como migrante, em 1943, do município de Poloni para o Bairro Brasilândia. Seu
pai adquire alguns imóveis e se estabelece como comerciante de um bar e uma pensão, onde abriga
professoras que trabalham em escolas rurais e do bairro. Entre os imóveis adquiridos, torna-se
também proprietário de um salão comercial, no qual Pedro Bonassi dá início à sua atividade
comercial. Fica ali pouco tempo (seis meses apenas). Com dificuldade em se manter estabelecido e
com uma família grande, surge a oportunidade de arrendar um pequeno filão de terras localizadas na
propriedade de Joaquim Antônio Pereira. Essas eram cultivadas por outro tradicional morador e
desbravador, o Sr. Pedro Catelani, que pretendia mudar-se para a Vila e trabalhar com o ramo de
carvoaria e madeira para a queima nos fogões a lenha, utilizados em grande escala por moradores,
na época.
Ao ocupar esse arrendamento, volta a dedicar-se ao cultivo da terra com o plantio de
culturas de arroz, milho, feijão e outros produtos agrícolas, pois, com o crescimento e aumento do
número de migrantes para a região, aumenta também a necessidade de abastecimento com
alimentos, para respaldar a produção cafeeira no noroeste paulista.
A facilidade em adquirir novas amizades faz com que seu círculo de relacionamento seja
ampliado e, como grande observador, logo compreende a possibilidade de voltar a atuar como
comerciante. A cidade está em pleno crescimento. Com sua emancipação, novas estruturas
começam a surgir: a estrada de ferro, tão reivindicada pela região, chega ao município, e até mesmo
seus filhos, Euclydes e Alcides, foram trabalhar na sua construção. Euclydes, um de seus filhos,
comenta que a abertura da estrada foi difícil, pois os aterros e a retirada de terra eram feitos com
ferramentarias simples como pás e picaretas, utilizando um grande contingente de trabalhadores.
Esses trabalhavam com um carrinho de tração animal, carregando e descarregando terras para abrir
os morros e fazer os aterros necessários, pois o terreno tinha que ficar nivelado para a construção da
estrada de ferro, que utilizou de uma área denominada espigão (terreno mais alto em relação ao seu
entorno) para a sua construção.
Com sua visão empreendedora, retorna à cidade e vai morar em uma chácara no entorno
da área urbana, então de propriedade da Sra. Maria Simão; ali monta seu comércio varejista de
carnes na antiga Av. Cinco, hoje Av. Paulo Saravalli, onde, juntamente com seus filhos, João Baptista
e Alcides, iniciam sua promissora carreira de comerciante.
Em pouco tempo, amplia sua atividade com a montagem de mais uma unidade comercial,
onde coloca seus filhos Euclydes e Antônio. Com o sucesso de suas atividades comerciais, adquire
uma área, no perímetro urbano, de aproximadamente 10 mil metros quadrados, onde constrói sua
moradia e uma estrutura de apoio à atividade comercial por ele desenvolvida. Essa propriedade foi
construída em 1950 e ainda é de sua única filha, residente em outro imóvel, também construído
nesse terreno para abrigar um de seus filhos, que estava para se casar com sua nora, Alcita. Esta,
em depoimento, comentou que, certo dia, estava observando a construção e foi surpreendida por seu
padrinho com o seguinte comentário "Oi, filha, está namorando a construção?". Nessa residência,
acrescentaram-se à sua família os dois últimos filhos, Osvaldo Bonassi e Paulo Francisco Bonassi,
este último portador da síndrome de Down.
Num período de poucos recursos médicos no município, o casal busca tratamento para o
filho em cidades com melhores estruturas médicas, tentando oferecer o melhor ao filho, pensando em
possibilitar-lhe a sua integração social, o que fizeram com grande sucesso.
Outro momento difícil em sua vida foi a perda do filho mais velho, Francisco Antônio, cabo
das Forças Aéreas Brasileiras, antiga FAB, em 1956. Por motivos até hoje não esclarecidos, entra em
depressão profunda e, apesar dos esforços do pai, buscando recursos médicos em especialistas na
cidade de Campinas, vem a falecer. Foi encontrado morto nas proximidades de um abatedouro no
estado do Rio Grande do Sul e identificado por documentos escritos de seu próprio punho.
Apesar desse período conturbado, com o sucesso de seus empreendimentos e com a
intenção de voltar à suas raízes, compra, em 1956, sua primeira propriedade no município, nas
proximidades da área urbana entre o município de Fernandópolis e seu distrito, na época,
540
denominado Pedranópolis. A propriedade era situada entre os córregos das Pedras e do Gatão, com
uma área de 15 alqueires, incorporando, posteriormente, a essa propriedade, outra área de 10
alqueires, vizinha à sua, pertencente ao Benedito Pradéla, e ainda outra área de 11 alqueires.
Então, resolve morar na propriedade para poder administrar melhor seu negócio. Nesse
mesmo período, amplia seus investimentos rurais, adquirindo outra propriedade. Esta, porém, fora do
estado de São Paulo, no estado de Goiás, no antigo município de Críchas, hoje denominado Mundo
Novo. Eram terras de excelente qualidade, nas quais inicia a criação de gado de corte.
Para poder cuidar melhor de seus negócios rurais, repassa a administração comercial dos
açougues para seus filhos, os quais, em pouco tempo, expandem suas possibilidades e passam a
administrar cada um o seu próprio comércio, com outros filhos também montando os seus. Durante
determinado período, a família gera certo domínio no ramo da comercialização de carnes no
município, chegando dois de seus filhos, em sociedade, a comprarem um frigorífico de embutidos,
denominando-o Frigorífico Bonassi. Este abastecia a região e as localidades próximas dos estados
vizinhos de Minas Gerais e Mato Grosso, nos finais da década de 1950 e meados da década de
1960.
Essa expansão comercial, devido à crise na economia do país no governo Castelo Branco e
à dificuldade na importação dos insumos e condimentos não produzidos no Brasil, necessários na
produção, torna-se insustentável. Chegam, também, a crise política e a implantação do Regime
militar na “Terra de Santa Cruz”. Essa situação força-os a vender o empreendimento para os Srs.
João Matiole e Claudio Rodante, para saldar seus compromissos. Nesse momento, o patriarca Pedro
Bonassi, homem de caráter firme, vem em auxílio de seus filhos e vende parte de seus bens em
nome da reputação formada pela família em sua história de vida no município.
Em meados da década de 1960, volta a sofrer outra grande perda: seu filho Braz descobre
que está acometido de um câncer no estômago. Pelo estado avançado da enfermidade, apesar do
tratamento, sobrevive apenas cerca de um ano, vindo a falecer em 18 de fevereiro de 1966.
Sempre firme em sua jornada, busca forças na família. O destino, porém, lhe vai trazer mais
sofrimento: três anos após a morte de seu filho Braz, falece sua esposa, Santa Polônio Bonassi, em
16 de abril de 1969, com apenas 62 anos de idade. Esta havia sentido muito a perda de seu filho
Braz, pois este, apesar de já ter constituído família (dois filhos e com a mulher grávida da terceira
filha) e de possuir uma popularidade muito grande junto à população, era muito presente em sua vida.
A partir desse momento, resolve mudar sua forma de viver. Aos poucos, passa o comando
de sua propriedade rural ao filho mais velho. Posteriormente, vai morar com o filho Antônio e sua
família, que o acolhem com carinho.
Pedro Bonassi se aposenta e, com a idade avançando, começa a apresentar
consequências de tanta luta em seus caminhos. O bravo cidadão fernandopolense vem a falecer em
27 de janeiro de 1986, com 81 anos bem vividos por este sertão.
Colaboração
Marcos Euclides Bonassi
541
Querton Ribamar Prado de Souza, filho do casal Adolfo Cândido de Souza e Arlinda Prado
de Souza, nasceu na cidade de Mirassol no dia 23 de julho de 1929. São seus irmãos: Terezinha
Fernandes, Imaculada Trevisan e Rosinha Costa.
O ensino fundamental Querton cursou em Mirassol e o ensino médio em Rio Preto e
Campinas. Sua transferência para o colégio Ateneu Paulista de Campinas deu-se pelo convite do
colégio que lhe proporcionaria, gratuitamente, os estudos investindo num jovem que já despontava no
basquete.
Serviu o Exército em Campo Grande (MS), onde também se destacou como jogador de
basquete. Ao término do serviço obrigatório em 1952, retorna à sua terra natal e prepara-se para sua
vida universitária. Opta pelo curso de odontologia e ingressa na Faculdade de Farmácia e
Odontologia de Ribeirão Preto (USP).
Ao término do curso, clinicou em Mirassol e Neves Paulista. Mesmo estudando e depois
clinicando, dedicava-se brilhantemente ao esporte e tinha enorme reconhecimento.
No ano de 1956, ainda em Mirassol, casa-se com Maria Aparecida Trevisan (Bila) e do feliz
enlace nascem os filhos: Maira, Querton, Eduardo (falecido) e Patrícia. Seus filhos lhe deram os
netos: Kaira, Noellen, Querton Neto, Jorge Henrique, Eduardo e Leonardo.
Em 1958, Fernandópolis teria a honra de receber um ilustre morador, já com fama
internacional e um profissional competente, que desempenhará suas funções, durante 25 anos, no
então grupo escolar Coronel Francisco Arnaldo da Silva. Presta serviços também nas escolas
Joaquim Antonio Pereira, Solon da Silva Varginha e nas cidades de Populina e Guarani d´Oeste.
A seu respeito, Wandalice Franco Renesto, então diretora da escola Coronel, e Dr. Scalope,
dentista seu contemporâneo aqui residente, assim se referem:
Fomos amigos por muitos anos, numa convivência repleta de respeito tanto na
nossa vida particular quanto, e principalmente, na vida profissional.
Lembro-me de uma passagem que muito me marcou, mostrando Querton como um
profissional que não se limitava simplesmente a exercer sua profissão, mas se
preocupava, também, com a adaptação das crianças à escola: Rogério, meu filho,
nos primeiros dias de aula, chorava não querendo permanecer na escola. Querton o
leva para o consultório durante vários dias e, com habilidade, consegue a adaptação
do meu filho, sem grandes traumas.
Dr. Scalope
Como bom profissional e excelente esportista, tinha muito desenvolvida sua cidadania,
exercendo-a na militância política como vereador na legislatura de 1959/1963. Era a melhor forma
que ele vislumbrava para criar oportunidades ao esporte amador da cidade.
Em 1972, recebeu da Câmara Municipal o título de “Cidadão Benemérito”, pelos grandes
serviços prestados à cidade (Resolução n. 06/72, de 21/11/1972).
Em 05/12/1974, foi iniciado ao Grande Oriente de São Paulo, na Loja Maçônica, Castro
Alves II, de Fernandópolis.
Com relação ao esporte, destaque maior na vida de Querton, que tanto beneficiou dezenas
de jovens em nossa cidade, muito há o que ser dito.
Começa ainda menino, quando cursava o ensino fundamental, sua carreira no basquete
pelo Tupã Clube de Mirassol. No ano de 1945, com apenas 16 anos, disputa os Jogos Abertos do
Interior na cidade de Campinas que, posteriormente, o convidará a estudar exatamente por suas
qualidades como jogador de basquete.
No ano de 1948, disputa, em Santos, os Jogos Abertos do Interior. Seu desempenho
rendeu-lhe o título de “Cestinha de Ouro”,pois convertera o maior número de pontos nas cinco
partidas disputadas. Com o seu 1,70m, ele demonstra que a pouca altura não é empecilho quando o
esforço e a competência são maiores.
Em 1952, cursando Odontologia na universidade de Ribeirão Preto, concilia estudos e
esporte e sagra-se campeão dos Jogos Abertos. Todo o seu desempenho anterior somado ao êxito
dos últimos jogos e apresentando uma excelente forma física lhe rende a convocação, em 1953, para
fazer parte da seleção Brasileira Universitária, que competiria na cidade de Dortmund, na Alemanha.
A seleção brasileira sagra-se vice-campeã do mundo, tendo Querton desempenhado, com
destaque, seu papel de exímio cestinha.
Em reconhecimento ao seu desempenho na Seleção recebeu da Confederação Brasileira
de Desportos Universitários, em fevereiro de 1954, ofício de agradecimento enviado pelo secretário
geral Jorge Ferreira Cavalcante.
Após sua chegada a Fernandópolis em 1958, incentivou a prática de esporte entre os
jovens, ocasionando a formação de equipes, tanto masculina quanto feminina, que disputavam
campeonatos entre si, entre cidades da região e do estado. Em 1959, Fernandópolis e sua equipe de
basquete participam dos Jogos Abertos de Santo André e, em 1960, dos Jogos Regionais em
Mirassol. A equipe fernandopolense era composta por: Virgulino, Mário Mantovani, Irineu Salioni,
Jurandir Rossato, Wilson Mantovani, José Carlos Trovati, Rubens Ferreira, Walter Castro, José
Martins, que tinham em Querton o exemplo que todos queriam seguir.
Em seu depoimento, Jurandir Rossato comenta:
As equipes, sempre formadas por seu incentivo e exemplo, participaram, em 1962, dos
Jogos Abertos de São Caetano do Sul com os atletas: Zezão, Irineu, Jura, Walter Saravalli, Octávio
543
Gomes, José Carlos Ferrari, Milton Leão e Manoel Sobrinho. Em 1965, a equipe fernandopolense
leva para os Jogos Regionais de Mirassol a equipe composta por: Victor Hugo, Nilson Abdala,
Adonai, Amilton, Jura, Rubinho Ikeda, Satinho, Kuroda, Élcio Canhada,Tico e Uzenir.
Treinou também várias equipes femininas, cujas jogadoras eram originárias de equipes
escolares e que formavam uma seleção da cidade e, nessa condição, participavam de disputas
regionais e estaduais207.
Em todos os jogos de que a equipe feminina participava, havia uma exigência dos pais:
suas filhas só viajariam se Bila, esposa de Querton as acompanhasse.
Personalidade atuante, Querton desempenhava sua profissão cuidando da saúde bucal de
crianças e jovens e, no esporte, cuidando da saúde física e mental, encaminhando-os para uma vida
saudável e produtiva.
O reconhecimento da importância do papel que desempenhou, durante décadas, para a
formação física, moral e social de jovens fernandopolenses foi amplamente reconhecida ainda em
vida, o que lhe deve ter trazido felicidade e paz por entender que soube bem desenvolver, com
esforço e dedicação, os dons de agilidade e destreza dados por Deus.
Assim é que, em 1975, Antenor Ferrari, então prefeito municipal, visando da desenvolver o
esporte amador na cidade, cria a Comissão Municipal de Esportes, nomeando-o seu presidente. A
nomeação repercute positivamente na sociedade e o jornal Folha de Fernandópolis (1975) assim
relata o fato:
No ano de 1981, numa feliz iniciativa do então prefeito Milton Edgard Leão, ex-atleta
orientado por Querton, lhe concedeu, pelo Decreto n. 1639, de 08/08/1981, uma das maiores
homenagens que só grandes homens merecem: seu trabalho junto aos jovens leva o prefeito a dar
seu nome, ainda em vida, a um conjunto esportivo, conhecido como Beira Rio e que passa a se
chamar “Conjunto Esportivo Dr. Querton Ribamar Prado de Souza”. O referido decreto considerava a
dedicação de Querton a todas as modalidades de esporte amador e sua participação como
incentivador da juventude esportiva.
Em entrevista à professora Rosa Maria da Costa (2m 26/09/2011), Milton Edgard Leão
assim relata o diálogo que teve com seu amigo Mantovani:
Milton: Quando fiz melhoramentos no ginásio de esporte conhecido como Beira Rio,
o Mário Mantovani foi ao meu gabinete e perguntou:
[Mantovani]: Milton, por que você não põe o nome do Borba [Querton] no ginásio?
Ele merece. Quem é que vai homenageá-lo se não nós do basquete?
Milton: Mas será que pode por nome de gente viva?
[Mantovani]: Vamos pôr e ver o que vira.
Milton: E ninguém questionou. Lembro do Borba lá no ginásio de esporte do
Batalhão... a turma o adorava... tinha um carinho muito grande por ele.
Tio Querton, aprendemos a lhe admirar, primeiro nas quadras de basquete, depois
na sua profissão, a mesma que eu, Wilson, escolhi, influenciado pela sua atuação.
Nós tentamos seguir seus passos no esporte e, se não atingimos todas as glórias
por você alcançadas, achamos que também não o decepcionamos. Na Odontologia,
sim, procuramos tê-lo como espelho e dizer com orgulho que somos seus sobrinhos.
207
Conferir mais informações sobre o esporte amador em Fernandópolis, na seção B (artigos) desta obra.
544
Concordamos com muita alegria pela sua indicação, pois sempre reconhecemos o
seu valor e seus grandes méritos. [...] Ela representa o reconhecimento àqueles que,
pelo seu esforço e pelo comportamento ético e responsável, conseguiram se
destacar entre os 70.000 profissionais de São Paulo.
No ano de 2009, outra homenagem lhe foi prestada pela Associação de Pais e Amigos do
Basquete (APAB), quando foi reconhecido como “Atleta Símbolo de Fernandópolis”.
Na ocasião, o professor Eugênio Jurandir Rossato, integrante de todas as equipes
orientadas por ele, agradece em seu nome e em nome dos atletas Wilson Mantovani, Mário
Mantovani, Valter Saravali, José Carlos Trovati, Rubens Ferreira, Élcio Canhada, Irineu Salioni e
Valter Castro, as seis vitórias consecutivas nas disputas enfrentadas entre os anos de 1960/66, que
lhes deram o Troféu Bandeirantes do Estado de São Paulo.
Outras inúmeras homenagens lhe foram prestadas por escolas, por jornais e revistas.
Nos anos finais de sua vida, sem nunca ter esquecido o esporte, praticava bocha, que
jogava com seus grandes amigos João da Bocha, Manuel e Roberto, que, ao relembrá-lo, assim se
expressam:
Você pode sonhar, criar e construir as idéias mais maravilhosas do mundo, mas são
necessárias pessoas para fazer esses sonhos virarem realidade. E isso foi o que
aconteceu durante o tempo que obtivemos ao lado um do outro a nossa mais
sincera amizade. Hoje, faço votos de que tenhas alcançado um lugar sereno onde
possas viver ao lado do Senhor. Pois aqui ficou a saudade e a certeza de que um
dia iremos nos encontrar novamente.
(Dos seus amigos João da Bocha, Manuel e Roberto)
Amélia Rosa, amiga de uma longa vida, conta como conheceu e passou a partilhar da
amizade de Querton e da sua família:
Foi meu primeiro patrão!!! Tinha apenas 13 anos (naquela época “de menor” podia e
devia trabalhar!), quando fui contratada para trabalhar no seu consultório dentário,
localizado no andar de cima do prédio da “Riachuelo”, como sua ”instrumentadora”,
função que eu descobri aos poucos, graças à sua paciência em me orientar.
Nessa época, quase todos os dias, a Da. Bila (sua esposa) e a Maira (sua filhinha)
iam à tarde esperá-lo ao fim do trabalho, para irem juntos pra casa, atitude que
aprendi a admirar.
Depois soube que o “Dr. Querton” era jogador de “basquete internacional”; tinha até
troféu que havia ganho na Alemanha jogando pela seleção brasileira e que, em
Mirassol, cidade de onde viera, fazia parte do famoso Tupã Clube.
Mais tarde, quando conheci o Magrão (com quem me casei), soube que eles
jogavam basquete juntos em Mirassol e que eram amigos “esportistas”. Surpresas
do destino ou programação espiritual? Aliás, na década de 80, quando Magrão foi
Secretário de esporte da prefeitura de Fernandópolis e a cidade sediou os Jogos
Abertos do Estado de São Paulo, o ”Dr. Querton” foi o “atleta símbolo dos jogos”,
acendendo a pira olímpica.
Homenagem justa e merecida a um homem que soube granjear amizades queridas.
Foi muito estimado e admirado pela sua bondade no trato com as pessoas, pelos
“alunos de basquete” e “ alunos do Coronel”.
Nossa eterna admiração e nosso abraço com muito carinho!!!
Amélia Rosa
Bila, sua esposa, que durante 53 anos compartilhou de sua vida, assim se expressa: “Se a
metade dos casais do mundo vivesse bem e felizes como eu e o Querton, teríamos, com certeza, um
mundo melhor”.
No ano de 2009, debilitado por problemas hepáticos, foi internado na Santa Casa de
Fernandópolis onde permaneceu por uma semana, indo a óbito no dia 28/04/2009.
Sua morte repercutiu com grande pesar em Fernandópolis, Mirassol e toda a região.
REFERÊNCIAS
Equipe de trabalho
Camila Moretti Mininel – Professora de Português
Cleonice Aparecida Machado Scalise – Professora Coordenadora
Iara Teresinha Molina Martinez – Vice-Diretora
547
Na década de 60, Fernandópolis ganhou mais um cidadão ilustre, que marcou a história da
cidade com gestos de amor ao próximo e muita solidariedade: Raimundo de Souza Medrado, o "seu
Raimundo".
Nascido na cidade de Juazeiro, no estado da Bahia, Filho de Anísio de Souza Medrado e de
Isabel das Neves Medrado, ficou órfão dos pais ainda muito criança.
Veio para o estado de São Paulo, região de Guaraci e Onda Verde, interior do estado,
acompanhado por seus avós paternos, responsáveis pela sua criação e educação. Assim como a
maioria dos nordestinos, vieram em busca de melhores condições de vida.
Em 1942, aceitando o convite de Joaquim Antonio Pereira, vieram para Fernandópolis,
então Vila Pereira, quando começavam erguer as primeiras casas. Foi uma passagem rápida, porém
o tempo suficiente para preparar seu retorno mais tarde e sua instalação definitiva.
Quando completou os seus 20 anos de idade, por necessidade, providenciou seu próprio
registro de nascimento, que, até então, não possuía.
Escolheu como data de nascimento o dia 10 de maio de 1922, justificando ser uma
homenagem a sua mãe, com quem não teve oportunidade de conviver, e considerando que o Dia das
Mães quase sempre era comemorado nessa data.
No dia 08 de setembro de 1948, casou-se pela primeira vez, com Adélia Custódio da
Cunha, em Dolcinópolis, Distrito de Jales e, dessa união, nasceram os seis filhos do casal.
Em 1951, Raimundo passou por momentos de inquietações e grandes dificuldades, quando
foi acometido de tuberculose pulmonar. Além do problema de saúde, enfrentou muitos transtornos,
inclusive de ordem financeira.
Na época, Dona Adélia, sua esposa, foi quem o encorajou a buscar tratamento de saúde,
uma vez que a doença aterrorizava a população em geral e muitas pessoas morreram por falta de
recursos e informação sobre os tratamentos e possibilidades de cura.
Foi buscar socorro no hospital para tuberculosos em Santa Rita do Passa Quatro e lá
permaneceu internado por três longos anos, que marcaram significativamente a mudança na vida de
"Seu Raimundo".
Com o apoio da esposa, mulher dedicada, religiosa e de muita fé, que lutava para ajudar na
recuperação do marido, aceitou buscar também o tratamento espiritual. Através da leitura de uma das
obras escritas por Allan Kardec, descobriu que o Espiritismo provava "de maneira patente e irrefutável
a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade pós-morte, sua imortalidade, as
penas e as recompensas futuras".
Assim, depois do longo período de tratamento e internação, Raimundo descobriu que muito
podia fazer pelo próximo. E ali mesmo, dentro do hospital, passou a ajudar aqueles que estavam em
condições mais delicadas.
548
Já com cabelos grisalhos, corpo franzino e o coração cheio de amor, insistia em continuar o
seu trabalho. Nesse momento, contava com o apoio e a companhia de Elisse Pradela Medrado, sua
segunda esposa, que dedicou a Raimundo muito carinho e atenção até os últimos dias de sua vida.
Raimundo de Souza Medrado, funcionário público aposentado, com saúde fragilizada e o
corpo quase sem forças, lutava contra as marcas de sua doença do passado. Continuava recebendo
a todos, visitando os pacientes nos hospitais ou familiares em seus lares, atendendo a todos, sem
distinção, com passes restauradores, palavras de consolo e recordando os bons ensinamentos de
Jesus.
Todavia, depois de algumas internações lutando pela própria vida para poder continuar o
seu trabalho eterno de ajuda e amor ao próximo, no dia 22 de maio de 2001, faleceu num dos leitos
da Santa Casa de Misericórdia, em Fernandópolis, de doença pulmonar crônica.
Além de uma família maravilhosa e de muitos amigos, Raimundo deixou uma bonita lição de
vida, com muito amor e solidariedade ao próximo. Atualmente, a comunidade do bairro Jardim
Araguaia, juntamente com a população de Fernandópolis e até de cidades vizinhas, desfrutam da
obra grandiosa do mestre e amigo.
A Casa da Sopa "Auta de Souza" continua edificada anexa ao Centro Espírita Abrigo aos
Aflitos, no Jardim Araguaia e comandada agora pelos familiares e amigos de "Seu Raimundo", que
estão dando continuidade às atividades, dando alimento, conforto e educação espiritual, orientação
para a vida e para o trabalho.
Colaboração
Escola Estadual Fernando Barbosa Lima
550
Romeo Soares da Silva nasceu no dia 10 de agosto de 1906, na cidade de Amparo (SP),
filho de Ataliba Soares da Silva e Otilia Wat.
Desde criança participava de atividades da comunidade e foi escoteiro aos nove anos. Sua
formação acadêmica de seleiro foi concluída no Liceu de Campinas. No início de sua carreira, abriu
uma oficina de selaria que, mais tarde, cedeu a um irmão. Logo em seguida, abriu um açougue e
progrediu, vindo a atuar no comércio de aves, ovos e animais de pequeno porte.
Romeo casou-se com Thereza Barbante na cidade de Posse da Ressaca (SP), no dia 15 de
maio de 1929, de cuja união teve os filhos: Milton Walter Soares, Maércio Wilton Soares e Maria
Lucia Soares. O filho Milton casou-se com Dirce Velo e tiveram o filho Milton; Maércio Wilton casou-
se com Clarice Guarnier, e tiveram quatro filhos, Maércio Wilton, Marcos (in memoriam), Mauro César
e Marcelo César; Maria Lucia se casou com Aguinaldo Francescheti, e tiveram um filho, Romeu
Aguinaldo. Sr. Romeo teve seis netos e treze bisnetos.
Romeo Soares fixou residência em Fernandópolis em 05 de julho de 1950; associou-se à
Avícola Santista que abastecia hotéis, navios e cassinos na capital São Paulo, Santos e Rio de
Janeiro. Teve atuação no comércio de compra e venda de aves, ovos e animais de granja em geral,
cuja atividade levou o nome de Fernandópolis, por meio século, até as cidades de São Paulo, Santos
e Rio de Janeiro. Os produtos do seu comércio, no início, eram transportados por via férrea; com a
chegada da rodovia a Fernandópolis, o transporte era feito por uma frota de caminhões que
chegaram a transportar seis mil dúzias de ovos caipiras e mais de dez mil aves por semana.
Desde que aqui chegou, atuou intensamente em todas as áreas sociais em favor do
desenvolvimento de Fernandópolis, como ajuda expressiva na construção da Igreja Matriz Santa Rita
de. Fez a doação do terreno e ajudou na construção do prédio onde se instalaram as Irmãzinhas da
Assunção. Foi reconhecido e diplomado pela Diocese e Vaticano por ter presidido e comandado as
obras. Hoje, no referido prédio, funciona a Diretoria de Educação Municipal, Centro de Formação dos
Profissionais de Educação e o Núcleo de Tecnologia Educacional de Fernandópolis “Romeo Soares
da Silva”.
Sua atuação na área social deixou expressiva colaboração na construção da Santa Casa de
Misericórdia de Fernandópolis.
Criou e presidiu a primeira Guarda Mirim de Fernandópolis, cujos “guardinhas”, na época,
auxiliavam no trânsito, pois não havia semáforos e o trânsito era intenso. A cidade estava em pleno
551
Lana Lucchese
Coordenadora Pedagógica
552
RUI OKUMA
(1950 – 2006)
Vindo do Japão em 1929 com apenas 06 anos de idade, o imigrante Massayuki Okuma
(Paulo, no Brasil) chega ao Brasil. Em 1949, casa-se com Thomiko Koga Okuma e se estabelece na
zona rural de Fernandópolis.
Um ano depois, em cinco de maio de 1950, nasce o primogênito do casal, Massanobu
Okuma, Batizado por sua madrinha com o nome de Rui, em virtude da tradição oriental.
Rui teve uma infância obediente aos pais e de cuidados com as três irmãs e os quatro
irmãos mais novos: Nobuco, Katsuyuki, Takashi, Hideo, Leico, Midori e Issamu. Rui, o filho mais
velho, tinha de ser, pela tradição japonesa (e era), o exemplo para todos os irmãos.
Dedicados à lavoura, principalmente no cultivo de café, mamão baiano e, posteriormente, à
laranja, todos estudavam por vezes em escolas rurais, a exemplo da Escola Mista Estadual Fazenda
Santa Adélia. Após o antigo curso de admissão, Rui dirigia-se para a cidade (frequentemente de
bicicleta ou até mesmo a pé), a fim de cursar o ginásio e concluír o segundo grau (na Escola Estadual
Líbero de Almeida Silvares – EELAS). Isso estimulou todos os irmãos, pois, embora o genitor os
encaminhasse para o trabalho na terra, incentivava-os aos estudos.
Despertada sua aptidão para a área das Ciências Exatas e com objetivo de preparar-se
para cursar uma Universidade Pública, Rui, ainda jovem, transfere-se para a capital paulista. É
aprovado nos exames vestibulares da FUVEST e ingressa na Unicamp, em Campinas (SP). Na
década de 1970, especializou-se como engenheiro mecânico, na sequência como engenheiro civil em
outra faculdade (PUC), e, posteriormente, interessou-se por Engenharia da Medicina de Segurança
do Trabalho, conquistando mais uma qualificação na Unicamp, em Campinas.
No período em que residia em Campinas, Rui associou aos estudos o projeto de montar um
centro de distribuição de produtos cultivados no pequeno sítio da família, a fim de agregar valor à
mercadoria. Esse projeto foi acatado pelo pai, que logo adquiriu um box no entreposto de
mercadorias Ceasa e enviou três irmãos para auxiliá-lo: Paulo, Luis e Roberto.
Paralelamente, Rui Okuma dedicou-se à usinagem de peças, como engenheiro mecânico,
Na construção civil, trabalhou em grandes empresas na cidade de Campinas, inclusive na General
Eletric (GE).
O entreposto, dado ao trabalho sério, obteve muita credibilidade comercial. Houve, então, a
necessidade de ampliação, e a família estendeu a área de cultivo, comprando mais terras, o que
aumentou consideravelmente a produção.
Essa fase acarretou trabalho excessivo para o Sr. Paulo, o pai, visto que, nesse momento,
todos os filhos estavam em Campinas, cursando faculdades. Os irmãos Rui (Massanobu) e Paulinho
(Katsuyuki) perceberam a necessidade de retornar a Fernandópolis, a fim de auxiliar o pai na área
553
produtiva. Depois de algum tempo, tornaram-se um dos maiores citricultores do estado de São Paulo,
comercializando frutas para diversas localidades.
No retorno a Fernandópolis, Rui apaixonou-se por Mitie Matsunaga, uma jovem cujos pais
tinham estreitas relações com a família Okuma, por isso o consentimento para a união era mais que
evidente. Em 1989, acontece o casamento, quando Rui já estava com seus 39 anos. Do matrimônio
nasce Jaquelini, a única filha do casal.
A visão administrativa e o apoio ao trabalhador rural permitiram que Okuma lançasse base
para presidir o Sindicato Rural de Fernandópolis de 1996 a 2004, quando implementou diversas
mudanças importantes. Dentre os projetos desenvolvidos em sua administração, estava o programa
“Promovendo a Saúde do Campo”, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR), através do qual trabalhadores do campo recebiam assistência médica.
Também foi a Diretoria do Sindicato sob o seu comando que deu início à Central de
Agronegócios, que faz a comercialização de implementos e produtos veterinários para os produtores.
Rui abriu ainda o Centro de Capacitação Rural e realizou uma série de parcerias com órgãos, com a
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e com o Serviço de Atendimento Integrado
(SAI), para a capacitação de produtores rurais, transformando, assim, o sindicato em uma central de
apoio ao trabalhador do campo.
Outra marca da administração de Rui Okuma foi a inauguração do Centro de Eventos Fábio
Meirelles - pavilhão rural do Recinto de Exposições.
Mas a vida lhe reservou uma surpresa não muito agradável: um problema renal que o
obrigou a fazer transplante de rim - órgão doado por um dos seus irmãos.
Ainda assim, Rui continuou com as atividades agrícolas e também à frente do Sindicato
Rural. Participava de muitas feiras de produtores e chegou a ser vice-presidente da Federação
Agrícola do Estado de São Paulo (FAESP). Era também um excelente desportista: montou e presidiu
a equipe Manchester de futebol, que, sob sua coordenação, foi campeã de inúmeros torneios.
Um importante passo de Rui Okuma rumo à prefeitura foi a bem sucedida presidência da
Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Fernandópolis em 2003. Ele assumiu o cargo a
convite do então prefeito Adílson Campos.
Foi na Expô 2003, que a festa de Fernandópolis passou a integrar o Circuito Nacional de
Rodeios e bateu recorde de participação de empresas, com a exposição de quatro grandes
fabricantes e revendedoras do ramo de implementos agrícolas. A renda foi revertida para a AVCC, o
que ajudou na construção do futuro Hospital do Câncer.
Em 2004, Rui Okuma decidiu assumir uma tarefa mais árdua: candidatar-se às eleições
municipais, em uma das reuniões que mudaria definitivamente o rumo de sua vida. O Partido
Progressista (PP), do qual era presidente em Fernandópolis, anunciou, por meio do deputado federal
Vadão Gomes, que era uma questão de honra apresentar um candidato para disputar a prefeitura da
cidade nas eleições que aconteceriam no ano seguinte. Foi na sede do Frigoestrela, em Estrela
d’Oeste, que Okuma liderou uma comitiva fernandopolense para tratar do assunto.
Embora a convenção fosse acontecer somente quatro meses depois, o nome de Okuma já
estava definido. No dia 20 de julho de 2004, o PDT e o PHS indicaram a vereadora Ana Bim para ser
a vice na chapa de Rui Okuma (PP). O advogado Jorge Aidar, pedetista histórico, chamou a
coligação de “Inovação” – nome e slogan da campanha. Rui Okuma esteve na convenção dos
pedetistas e ouviu a sua futura vice declarar que reagiria aos ataques dos adversários com “trabalho
e proposta de governo”.
Rui Okuma venceu as eleições municipais de 03 de outubro de 2004, atraindo 35,48% dos
eleitores. Recebeu 12.826 votos, 1949 a mais que o segundo colocado, Santa Rosa (PSC), que teve
10.877 e 2.499 votos sobre o terceiro colocado, Armando Farinazzo (PSDB), que atingiu 10.327
votos.
A composição do poder Legislativo de Fernandópolis foi a seguinte, com a eleição de 2004:
Alaor Pereira Marques (PFL); Pedro Ribeiro de Toledo (PV); Maíza Rio (PMDB); Warley Campanha
de Araújo (PFL); Etore José Baroni (PSDB); Milton César Bortoleto (PSDB); José Carlos Zambon
(PL); Manoel Sobrinho Neto Júnior (PT); Francisco Albuquerque (PP) e Ademir José de Almeida
(PMDB).
Okuma anunciou que pretendia convocar as lideranças da cidade para uma parceria forte
em favor de Fernandópolis. Comemorou a vitória nas urnas lançando um projeto de união, enalteceu
554
o trabalho da vice Ana Bim, que considerou uma guerreira e agradeceu a confiança da população. A
esposa Mitie e a filha Jaquelini estavam ao seu lado. Entusiasmado com a vitória, Rui disse que, se
dependesse dele, começaria a montar o governo no dia seguinte: “Quando nós dissemos ‘a nova
vontade do povo’, nós queremos todos envolvidos num único pensamento, que é Fernandópolis. Não
sou político, e nós temos uma gratidão muito grande com esse povo. O único pensamento será
Fernandópolis!”
Dentre os projetos do governo de Okuma estavam: melhoria do asfalto de Fernandópolis; a
construção do Parque Ecológico; a revitalização do centro da cidade; a construção do anel viário e da
Vila Olímpica; atrair empresas visando à implementação de um Posto de Atendimento ao
Empreendedor, do Instituto Paula Souza; melhoria de verbas para a Santa Casa e Associação de
Voluntários em Combate contra o Câncer (AVCC), além da recuperação rápida dos bairros mais
atingidos por fortes chuvas.
Alguns projetos foram desenvolvidos: a renegociação para a renovação do contrato de
saneamento com a Sabesp na cidade; a reinauguração da agência do Banco do Brasil de
Fernandópolis, cujo trabalho na cidade Okuma ressaltou, afirmando que os empresários locais se
beneficiariam com as novas linhas de crédito aprovadas; anúncio de Paulo Birolli ao cargo da
presidência da Expô 2006, enfrentando lideranças e opiniões partidárias contrárias. Entre as
derradeiras realizações de Okuma está a privatização da Expô, que ele pretendia aplicar em 2007, a
qual foi a mais polêmica da sua curta história política na cidade.
No entanto a população fernandopolense foi pega de surpresa com a notícia inesperada do
falecimento do prefeito Massanobu Rui Okuma em 4 de fevereiro de 2006. Okuma faleceu vítima de
duas paradas cardio-respiratórias consecutivas, não havendo possibilidade de ressuscitação pela
equipe médica do Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto.
Segundo a assessoria de imprensa do HB, desde que deu entrada no hospital, o prefeito
recebeu acompanhamento da equipe médica interdisciplinar, incluindo profissionais dos setores de
cardiologia e nefrologia, devido ao problema nos rins.
A chegada do corpo de Okuma a Fernandópolis foi marcada por muita tristeza e pesar. Sua
urna foi colocada em um dos caminhões do Corpo de Bombeiros para percorrer alguns trechos da
cidade em sinal de despedida. Acenos e muita emoção tomaram conta das ruas, enquanto o carro
seguia para a Câmara Municipal, num cortejo acompanhado por 300 veículos, pois lá aconteceria o
velório. O cortejo contou ainda com a presença de 12 policiais militares e seis viaturas, três
caminhões do Corpo de Bombeiros com 7 profissionais. O percurso foi acompanhado por cerca de
1,4 mil pessoas e, até o início da noite, quatro mil munícipes haviam passado pela Câmara Municipal.
Esse era o Rui Okuma: carismático, principalmente com as crianças; um homem muito
trabalhador, que, com o seu jeito singelo, conquistou o carinho de todos e a confiança daqueles que o
elegeram Presidente de uma das maiores festas agropecuárias, comerciais e industriais e Prefeito do
município de Fernandópolis, porque apostavam no seu dom de administrar.
Rui gostava de repetir um ditado popular, como se lhe fosse uma idéia filosófica que define
o seu jeito atuante e dinâmico de ser diante da vida: “Não adianta ficar só reclamando, se não der a
cara a tapa”.
3 Até onde a senhora sabe, Okuma tinha algum filósofo, político ou pessoa em que se
inspirava? Quem?
Como eu citei acima, Rui era diversificado, não tinha um filósofo ou político determinado.
Gostava de ler tudo: livros de piadas, política, romances, cruzadinhas, jornais e revistas. Ele gostava
de rascunhar o que lia.
4 Sabemos que todos os seres humanos se defrontam com obstáculos no decorrer de suas
vidas. Existiu algum obstáculo ou acontecimento que moldou o caráter de Okuma, transformando-o
como pessoa?
Não foi um obstáculo, mas uma opção o seu retorno a Fernandópolis para comandar a
fazenda. Trabalhando com pessoas humildes e trabalhadoras, engrandeceu ainda mais o seu caráter.
Era uma pessoa enérgica quando necessário, mas humilde e amiga de todos: “dançava conforme a
música”. Ele era “pai” e “amigo” de seus funcionários.
5 Em sua opinião, o que significa Rui Okuma para o município de Fernandópolis, como
político e empreendedor?
O Rui para o município... acredito que deixou uma grande lacuna, pois, como político, ele
acreditava na “Renovação”, na transparência, no trabalho e na honestidade. Ele sempre dizia que
não vivemos sem a política, pois ela é uma constante em nossas vidas. Se regida com a verdade, é
muito digna. Como empreendedor, era uma pessoa de visão ampla e com muito “jogo de cintura”.
7 Existiu algum projeto que ele fez menção de realizar e informou a família, mas a imprensa
não divulgou? Qual era o seu principal desejo ou sonho?
Sim, um grande projeto. Uma distribuidora da Petrobrás que, infelizmente, não pôde ser
divulgado e muito menos realizado. O seu sonho era poder contribuir para a melhoria e progresso do
seu município, ajudando, assim, um pouco o seu povo e o planeta.
Colaboração
THEODÓSIO SEMEGHINI
Colaboração
Escola Técnica Estadual de Fernandópolis
557
WALDOMIRO RENESTO
Além do futebol, seu outro lazer nas horas vagas era ouvir Chico Alves, Nelson Gonçalves e outros
grandes cantores do passado.
Nas suas horas livres, dedicava-se à filantropia, à assistência social e sempre colaborou
com as campanhas das Igrejas de Fernandópolis, com especial dedicação à Igreja Matriz de Santa
Rita. Com a ajuda de amigos, construiu uma torre e instalou o relógio da Praça da Matriz. Como
cristão autêntico, esteve à frente de outros movimentos em prol da cidade.
Na administração de Percy Waldir Semeghini pediu ao deputado Dr. Ademar de Barros, seu
amigo particular, a indicação ao Alto Comando da Polícia Militar para a instalação do 16º Batalhão de
Polícia Militar do Interior em Fernandópolis; lutou pela criação da Delegacia de Ensino de
Fernandópolis, ao lado do então prefeito; foi padrinho da instalação, no antigo Instituto de Educação
de Fernandópolis, dos cursos de Aperfeiçoamento e Administradores Escolares, em nível de pós-
graduação do antigo Curso Normal de Professores Primários.
Em 1970, conheceu o antigo asilo, situado numa região úmida da cidade e passa a ser um
dos Confrades Vicentinos, “Filho de Vicente, com um filho também Vicente, trago comigo o
chamamento para a caridade de São Vicente de Paulo”. Foi quando, juntamente com outros
Vicentinos, lutou para conseguir uma área mais salubre para abrigar os idosos. Da ideia à
concretização, muitas campanhas, almoços e leilões de gados foram realizados.
Contando com a característica solidariedade da população e o trabalho voluntário dos
Vicentinos, sob a Presidência de Waldomiro Renesto, grandes obras foram realizadas no Parque
Residencial São Vicente de Paulo de Fernandópolis, Núcleo Santa Rita e o Recanto do Tamburi.
Durante 30 anos de sua vida, foi um construtor de obras benemerentes aos velhinhos que viveram e
vivem até hoje.
Em 15 de novembro de 1972, Waldomiro Renesto foi eleito vereador. Como político, sempre
procurou carrear suas forças para o bem comum. De 1973 a 1976 atuou como vereador e também
presidente da Câmara Municipal de Fernandópolis; lutou por grandes causas: autoria da lei que criou
a Fundação Educacional de Fernandópolis; autor da lei que criou a “Medalha 22 de Maio”, com a qual
são agraciadas pessoas credoras de reconhecimento público, pelos serviços prestados à comunidade
fernandopolense; juntamente com José Beran, Nagib Aidar e Roberto Teixeira, encabeçou lutas em
favor da construção da usina hidrelétrica de Água Vermelha, da construção da Rodovia Percy Waldir
Semeghini, criação do Projeto de Desenvolvimento Industrial (PRODEI), tendo sido instaladas quinze
indústrias; criou e instalou uma Biblioteca Pública na Câmara Municipal de Fernandópolis, com 3.500
volumes; estabeleceu a proporção de um táxi para cada mil habitantes, regularizando assim, a
situação dos taxistas.
Em 1975, presidiu a VIII Exposição Agropecuária e Industrial de Fernandópolis. Como
provedor da Santa Casa de Misericórdia, juntamente com outros voluntários, deu grande impulso
àquele hospital, construindo e mecanizando lavanderias e cozinha. Dotou todos os quartos de
oxigênio, através da “Central de Ar Comprimido”; instalou o Pronto Socorro da Santa Casa; adquiriu
Raios-X portáteis; por sua interveniência, a Secretaria de Saúde aprovou o processo da Unidade de
Pediatria.
Em 1989, Waldomiro Renesto presidiu o Programa do Cinquentenário de Fernandópolis:
Março: Abertura oficial;
Abril: Valorização do esporte com torneio de basquete e julgamento do Concurso do
Projeto Arquitetônico do Monumento do Cinquentenário;
Maio: Reconstituição da cena da união ocorrida meio século antes, ao meio do
caminho, defronte ao 16º Batalhão da Polícia Militar de Fernandópolis, quando as comunidades de
Vila Pereira e as comunidades da Brasilândia se harmonizaram pelo crescimento comum, por
sugestão do Governador Fernando Costa; os festejos da Exposição Agropecuária com várias
atrações: baile country, campeonato de karatê, shows diversos, balonismo, alvorada;
Julho: Campeonato paulista de judô; Jogos Regionais, com a participação de 127
cidades;
Setembro: publicação do Livro sobre a memória de Fernandópolis.
Homenagens recebidas em vida:
- Em1994, recebeu o título de “Honra ao Mérito” da Loja Maçônica Benjamin Reis;
- Em 2001, recebeu o Título de “Cidadão Fernandopolense”, fruto de projeto do vereador
Antenor Ferrari, na época em que era presidente da Câmara o Dr. Francisco Affonso de Albuquerque;
559
Seu Waldomiro sempre foi um grande amigo, homem íntegro, sábio, procurava
resolver todas as situações com muito amor e perseverança, tendo em vista o bem-
estar e a qualidade de vida dos idosos que viviam no Parque Residencial São
Vicente de Paulo.
(Angelo Segura Segura – Amigo e Confrade Vicentino)
GRUPO DE TRABALHO
Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola Melvin Jones
Texto:
Mary Ângela Veríssimo Segura Joaquim – Professora
Colaboradores
José Carlos Joaquim – Diretor de Escola
Claudia Malavazzi Trovatti Custódio – Orientadora Educacional
Rodrigo Alves Dionísio – Professor de Informática
PATRONOS DE ESCOLAS
MUNICIPAIS DE
FERNANDÓPOLIS
561
Colaboração
Iramaia Cristiane de Oliveira e Lopes
562
AMÉRICO BORIN
Colaboração
Marta Carta Nunes
563
ANGELO FINOTO
Colaboração
João Finoto
564
Colaboração
Luís Henrique da Silva
Simone de Campos Viana
Josiane Faria Borin Ferreira
566
A história de Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo começa próximo à cidade de São José do
Rio Preto (SP), lugar que seus pais, Pedro Malavazzi e Anna Juste Malavazzi, escolheram para o seu
nascimento, ocorrido em 02 de abril de 1940.
Descendente de avós maternos imigrantes e de paternos, originários de terras, também,
estrangeiras, teve suas raízes na cidade de Guapiaçu, onde permaneceu por curto tempo de sua
vida. Em 1943, com apenas 3 anos de vida e com as duas irmãs Doralyce e Dirley, veio morar em
Fernandópolis.
Instalou-se, provisoriamente, na Avenida Líbero de Almeida Silvares, no então vilarejo
Brasilândia. Logo depois, a família mudou-se para a esquina do largo da igreja, em carroção de boi,
ajudada por amigos que aqui também aportaram em busca de oportunidades. A nova morada,
embora desconfortável, tinha a vantagem da proximidade da “venda” do pai, em tempos (945) de
muito racionamento e conversas de Constituinte, redemocratização e transição político-social.
Já na escola pública, dividia seus afetos com mais três irmãos: Deonice, Delizabeth e Luiz
Alberto. A família se completa e os irmãos convivem sob o olhar e gestos ternos e generosos da “irmã
mais velha”. Foi aquela que, por toda a sua vida, de todos cuidava, ora nas tarefas escolares, ora nas
escolhas de leituras, nas comemorações e alegrias, nas decepções e dissabores.
Casou-se, em julho de 1960, com Mário Bortoluzo, com quem teve quatro filhos, dos quais
se orgulhava: Mário César, Kátia Liz, Adriana Liz e Paulo Henrique.
Nas décadas de 1980/1990 e nos anos iniciais do século XXI, teve a felicidade de conviver
com a alegria e carinho de quase todos os seus netos: Marina, Felipe, Amanda, Pedro, Ana Carolina,
Gabriel, Clara, André e Henrique.
Dayse seguia a máxima de Shakespeare (em Henrique VIII: “O que eu sou é o que me faz
viver”.
Em qualquer lugar e hora, escola era a palavra pronunciada, em tom muito especial. Talvez,
o imaginário de escola que a movia se tenha construído na primeira infância, fruto da observação
curiosa das vivências muito próximas do pequeno e vizinho Grupo Escolar Brasilândia.
Sem muros, o visível era o corre-corre de crianças felizes, as brincadeiras de “salva pega”,
as rodas cantadas, o “lenço atrás”, a merenda quentinha e cheirosa, o giz colorido rabiscando as
lousas, a sineta tocando e aglutinando os alunos de par em par, a destacada e temida figura do
diretor de terno e a elegância das professoras. Certamente, esse cenário foi a “varinha mágica” do
seu encantamento infantil pelas primeiras letras, cujas marcas permaneceram na maioridade.
O início de 1948 proporcionou-lhe o encontro com “A pata nada” e o ir e vir na dinâmica do
aprender ler/escrever/contar. Nas férias escolares, a Cartilha Sodré era a sua companheira de
567
viagens que fazia á casa dos avós Natividade/Sebastião Juste, dos tios Emílio e Olívio Juste (tios
brincalhões) e da querida e companheira tia Ernestina, os quais a mimavam com muito carinho.
Foi o Ginásio Estadual, recentemente criado, que a abrigou na continuidade de sua
trajetória estudantil no ano de 1952, após a aprovação no obrigatório e seletivo exame de admissão.
Nesse percurso, apaixona-se pelas histórias das cortes e das rainhas e, à luz de vela, à noite,
debruça-se nas leituras preferidas.
No mesmo período, viu-se aflorar o seu senso estético, apesar de a arte, na escola, se ter
apresentado de forma fria e fragmentada nas disciplinas voltadas ao “ensino” do Desenho e da
Música. Em várias expressões, o universo das artes e a sensibilidade estavam sempre presentes: em
alguns momentos eram os rápidos esboços de desenhos que se transformavam em cenários,
pincelados a mão; em outras, a tela virgem que, emoldurada, fazia saltar a vegetação e a natureza
dos animais. Vez por outra, a captação de uma perspectiva decidia que o leve rabisco virasse gente,
lugar, objeto ou, simplesmente, ressaltasse a expressão de um rosto conhecido.
Em 1957, inicia a carreira de professora no Grupo Escolar de sua iniciação, sob a
orientação da então diretora professora Wônia Aparecida Franco; ali permaneceu até 1959, na
condição de “leiga”, como aluna do Curso de Formação de Professores Primários. Formou-se, pela
Escola Normal Municipal de Fernandópolis no final de 1959.
Como era comum na época, candidatou-se ao cargo de Professor Voluntário do Serviço de
Educação de Adultos (1958). Uma das vagas do Grupo Escolar Brasilândia foi-lhe concedida e,
assim, teve a oportunidade de desenvolver ensinamentos de alfabetização.
Aluna ainda, inaugura, no início de 1959, a permanente e ininterrupta trajetória profissional.
Primeiramente, no cargo de professora municipal, na Escola do 1º Recanto Infantil de Brasilândia,
localizada no largo da matriz. Pela primeira vez, o bairro acolhia as crianças pré-escolares sob os
cuidados de um “preceptor”.
Apesar de uma formação não específica, desempenha, a partir de março de 1960, funções
de escriturária no Colégio Estadual e Escola Normal de Fernandópolis. Mas o locus de ação seria,
mais uma vez, a escola, o que lhe garantiu uma visão abrangente da complexa e desafiadora
educação pública.
Fazendo parte do setor administrativo do Colégio Estadual e Escola Normal de
Fernandópolis, mais tarde Instituto de Educação, ocupou, por diversas vezes, as funções de
secretária, em substituição ao titular, Sr. Sérgio Cavariani, o qual assumia, com regularidade e
competência, o cargo vago de diretor.
Agregado às modalidades de ensino já existentes, instala-se, a partir de 1963, o Curso
Primário Anexo (Escola de Aplicação) ao Instituto de Educação, que serviria de laboratório às
experiências didático-pedagógicas aos alunos da Escola Normal. Com ele, ampliava seus
conhecimentos sobre as diretrizes que regulamentavam a escola primária, em complemento aos já
adquiridos com os demais níveis de ensino.
Em meados de 1966, por injunções de ordem político-partidária, teve a sua sede de
exercício “mudada por redistribuição” para o Colégio Estadual de Buritama. Reconhecido o
despotismo da decisão, o ato foi tornado sem efeito dois meses depois, o que lhe garantiu o retorno à
sede de origem.
Designada, em 02 de abril de 1968, pelo Delegado de Ensino Secundário e Normal,
professor Odair Aluizio Tortorello, assumiu a direção da mais recente escola criada na cidade, o
então Ginásio Estadual de Fernandópolis, com a incumbência de estruturá-lo para a concretização
das condições necessárias ao seu funcionamento. Alicerçada no afinado conhecimento que tinha
sobre a legislação que normatizava o sistema de ensino paulista e a que regia a vida de professores
e alunos, organizou-o com critério e profissionalismo.
Reuniu equipes competentes, cujos membros fizeram parte de suas recordações, tais como
Amelinha Alcântara Guerra, Léo Mirabelli, Jacyntha Nogueira Garcia, Cleudes Ferreira da Silva, Maria
Sílvia Sales, Dirce Biancardo, João Sayeg, Genir Brandini e muitos outros. Aí permaneceu como
diretora, até o início de 1972, ocasião em que finalizava o curso de Pedagogia.
Data desse período a especial lembrança do nascimento de seu último herdeiro, Paulo
Henrique, que ficou, na época, conhecido de todos na escola.
568
Os anos transcorridos entre 1973 e 1980 foram lembrados com saudade. Nessa época, teve
o privilégio de conviver com grandes e inesquecíveis amigos e colaboradores: Laura Maria Borges
Mapelli, Dagmar de Freitas Pinho, Rui Balbo, Ramon Carmona, Dalva Cano Serradilha Rodrigues,
Roza Gonçalves Pimenta, Silde Colagrossi Picini, Aldo Moscardini, Ivone Aparecida Ferro
Albuquerque, Rosa Maria Souza da Costa, Maria Aparecida Trevisan Souza (Bila), Élio Trovatti, Iuri
Narita, Amadeu Jesus Pessotta, Valdir Martins da Silva, Liana Marina Brisighelo G. Matos, Antonieta
Tazinafo, Valdemir Dias Brasil e muitos outros.
O cotidiano escolar foi deixado, em meados de 1981, para ingressar no cargo de Supervisor
de Ensino. Com curta passagem pela cidade de Americana regressou, no ano seguinte, à atual
Diretoria de Ensino, com um acumulado “capital” para lidar com o ensino de todo os níveis e
modalidades.
O trabalho, levado a efeito nas áreas do Ensino Profissionalizante, Educação Pré-Escolar e
Formação de Professores, trouxe desenvolvimento para a cidade. Todo o seu conhecimento foi
voltado para a conquista de modernas possibilidades de avanços na esfera educacional. Dentre
outras, as que mereceram maior dedicação, por longos anos, foram as capacitações para os
professores da Educação Infantil que se realizavam com a presença de especialistas da Secretaria
de Estado da Educação, tais como: 1983 – Aprender Sorrindo; 1984 – Orientação da Proposta
Curricular na Pré-Escola; 1985 – “48º Encontro Regional de Educação Pré – Escolar”; 1986 -
Encontro Municipal Pré–Escolar.
569
A Direção da EE. “Líbero de Almeida Silvares” vem, pelo presente, informar que foi
proposto ao Conselho de Escola menção honrosa com a finalidade de homenagear
a Senhora Dayse Liney Malavazzi Bortoluzo, uma das personalidades que mais
contribuiu para o crescimento desta instituição quando do exercício de suas
atividades, como aluna do curso de Formação de Professores Primários, como
Secretária de Escola e como Supervisora de Ensino.
Tal proposição fará com que esta unidade escolar possa deixar registrado no
Laboratório de Informática o nome da homenageada como fruto dos anseios que era
ver e lançar nossa comunidade estudantil no mundo da informática, da Internet e no
mundo moderno da tecnologia.
Dayse
Tive a honra e o privilégio de trabalhar com Dayse.
Ela era uma pessoa singela, cuja presença fazia sentir-se naturalmente, sem alarde,
mas, tão somente por seu jeito de ser, nas palavras, nos gestos, enfim, na vida.
Seu porte e sua personalidade eram brilhantes, sempre atenta à evolução dos fatos,
essencialmente nos avanços educacionais.
Lamentava - e sofria - com a falta de opções aos jovens fernandopolenses, questão
à qual se dedicou com notável equilíbrio. Quando Deus a levou desta vida,
certamente reservou a ela um lugar especial, sereno.
570
Para nós todos, restou um vazio silencioso, avantajado, não por sua presença física,
mas, espiritual.
Este papel é muito pequeno para abrigar a grandiosidade de Dayse como ser
humano. Mas, junto a outros fragmentos, poderá ajudar a compor a sua figura como
mãe, esposa, filha, educadora e amiga.
Por todo o sempre.
(Armando José Farinazzo. São Paulo, 04 de julho de 2011)
Dayse
De temperamento sereno e conciliador, era sempre um momento agradável
conversar com a Dayse. Seu jeitinho simpático e amistoso de sempre procurar ver o
lado positivo das coisas nos convencia de que não precisávamos nos desesperar
diante dos problemas e adversidades da vida, em vista do caráter passageiro e
transitório das dificuldades a que todos estamos sujeitos.
De certo modo, a Dayse foi a artista da família. Ainda jovem, expressou sua
sensibilidade artística pintando vários quadros, inspirados nos motivos do ambiente
onde morávamos, no bairro Brasilândia, que, na época, exibia uma paisagem mais
natural, menos urbana.
Lembro-me de que alguns meses antes de nos deixar, por pura provação, dei-lhe de
presente um cavalete, um estojo de tintas e alguns pincéis e, não obstante as
dificuldades impostas pela enfermidade, surpreendeu a todos, legando-nos um belo
quadro, que passou a compor um mosaico de parede de sua casa.
(Luiz Alberto Malavazzi – irmão)
extrema competência. Era dinâmica, sábia, resolvia todo tipo de problema com
calma, suavidade e um grande sorriso nos lábios.
(Fernandópolis, 18 de julho de 2011)
A mãe
Silenciosa, otimista, serena, dedicada ao trabalho e às pessoas.
Moderna, na maioria das vezes, e conservadora na preservação dos valores
humanos e familiares.
Idealista e comprometida com as questões da educação.
Ensinou-nos a ter coragem e fé em Deus.
Deixou-nos cedo pelo muito que tínhamos a aprender com ela.
(Seus filhos: Mário Cesar, Kátia Liz, Adriana Liz, Paulo Henrique)
Por último neste espaço, também os agradecimentos a todos que tornaram possível a
composição do presente texto, fornecendo dados ou mesmo relembrando fatos e acontecimentos, em
especial à Secretária de Educação Municipal, professora Darci Aparecida da Silva Marin, à
professora Maria de Lourdes Santo, à Diretoria de Ensino na pessoa de Sandra Regina Fernandes,
suas colaboradoras e Dona Luzia Rita de Souza. À Escola Líbero de Almeida Silvares, nas pessoas
de Ivone Ferro Albuquerque e Maria Donizete Damatto.
Colaboração
Família Malavazzi
Odete Sebastiana Agustini Scarlatti
572
Ivonete Amaral da Silva Rosa nasceu em 05 de abril de 1933 na cidade de Bálsamo (SP).
Filho de Avelino da Silva Rosa e Aidê Amaral da Silva, era o caçula de uma família de cinco irmãos.
Iniciou seus estudos primários em Mirassol no grupo Escolar Professor Edmar Neves,
tendo-o concluído em 1945. Frequentou, em seguida, o curso ginasial e o Curso Normal para
formação de professores, conlcindo-o em 1952. Tão logo formado, iniciou sua carreira substituindo
professores em diversas localidades. Ingressou no magistério como professor efetivo em Palmeira do
Oeste, em 1956.
Quatro anos mais tarde, em 1960, foi aprovado em concurso para Diretor de Escola, tendo
seu ingresso no cargo em Neves Paulista.
Nos anos de 1961 e 1962, comissionado, frequentou, no período noturno, o Curso de
Administradores Escolares em São José do Rio Preto, ao mesmo tempo em que, no período diurno,
participava do Curso de Aperfeiçoamento de Professores Primários em Mirassol.
Em 1962, removeu-se para o Grupo Escolar da Brasilândia em Fernandópolis, assumindo,
em 1963, a direção desta escola.
Ivonete sempre foi um homem amável, generoso no trato com as pessoas, dono de uma
personalidade marcante pela grandeza de espírito, fibra, honestidade, serenidade, senso de humor e
muito otimismo. Sobressaia de modo impressionante em todas as situações, jamais perdendo a
calma nas ocasiões mais difíceis.
Amava os familiares; bom filho, teve em seus irmãos os seus melhores amigos. Gostava do
convívio familiar, foi bom marido e pai amantíssimo.
Acreditava em Deus. Em sua adolescência pertenceu à “Congregação dos Marianos”, de
cuja bandinha participou como um dos músicos. Como apreciava música, aprofundou seus
conhecimentos iniciados na escola e aprendeu a tocar violino.
Foi educador nato, plenamente ajustado à profissão de ensinar, sempre benquisto dentro da
escola. Amigo dos professores, alunos, corpo administrativo, tratava a todos com educação, muitas
vezes se apresentava para o trabalho junto com os serventes nas tarefas mais humildes da escola.
Era aberto para o diálogo com os alunos. Prezava sobremaneira a convivência harmoniosa de todos
os professores e alunos visando ao bom aproveitamento no ensino e aprendizagem. Gostava da
escola alegre com o canto dos alunos antes das aulas. Incentivava jogos, brincadeiras orientadas
pelos mestres.
Criou, no Grupo Escolar de Brasilândia, um pequeno “Pelotão de Escoteiros” que
acompanhava a bandinha da escola.
573
Em 1964, deixou Fernandópolis, removido que fora para Guaraci. Por essa época, o
professor Ivonete achava-se muito enfermo, com problemas renais. Todavia, demonstrava
serenidade impressionante durante sua enfermidade.
Faleceu em 16 de maio de 1965 na cidade de Mirassol, com apenas 32 anos de idade.
Em 1968, o Grupo Escolar (Gesc) do Bairro da estação em Fernandópolis recebeu a
denominação de Gesc “Professor Ivonete Amaral da Silva Rosa”, através da Lei 10.174, de 23 de
julho de 1968, por indicação do Deputado Solon Borges dos Reis em homenagem ao conceituado
professor e diretor.
Embora tenha permanecido pouco tempo entre nós, foi possível verificar toda sua
grandeza de alma e do seu magnífico trabalho em prol da educação. Atualmente, sua viúva, Edir
Lopes da Silva Rosa, reside em Mirassol e seus filhos Edgar, Luciano, Alexandre e Mauricio, em São
Paulo; todos se encontram formados. Dona Edir e seus filhos sentem-se orgulhos pelo esposo e pai
Ivonete, que não foi só professor na arte de ensinar, de administrar. Foi, principalmente, professor na
arte de viver. Deixou, em tão pouco tempo de vida, a vivência plena de uma existência imensa...
Equipe de trabalho
EMEF Professor Ivonete Amaral da Silva Rosa.
Gestores
Maria Elisa Bazeia Migliorini
Maria José Carneiro Fachin
Elda Luiza Oliveira Vilar
Professores
Sandra Cristina Jodas Badaró
Terezinha Elisabet Fenti Damasceno
Colaboradores
Edir Lopes da Silva Rosa – esposa
Roseli Marçal Guidoti
574
JOSÉ BELÚCIO
José Belúcio foi um homem muito simples, de postura íntegra. Não era dado à política,
porém sempre fez questão de apoiar Dr. Percy Valdir Semeghini e o Sr. Antenor Ferrari, pelos quais
tinha muita admiração e respeito. Carismático, possuía muitos amigos; tinha alma caridosa, sempre
preocupado com os menos afortunados, sentia prazer em servir os que por ele procurassem pedindo
ajuda; se desempregados, levava-os para a fazenda, dava-lhes emprego e comida. Era religioso,
frequentava a Igreja Católica aos domingos e sempre consagrou o dízimo.
Seus filhos afirmam que, como pai, embora rígido, era afetuoso, amoroso e companheiro.
Possuía uma característica incomum: “quanto mais bravo estava mais baixo falava...”. Ainda disseram
ter herdado do pai o que para ele era o mais importante na vida: o caráter e, dentro do seu perfil, o
mais importante era honrar os compromissos assumidos. Ressaltam ainda que o pai, apesar de
pouquíssima escolaridade, possuía um caderno de contas, no qual registrava tudo que comprava,
vendia, pagava ou emprestava, sem se esquecer de nada.
A vida seguia e ele sempre muito orgulhoso dos filhos, por vê-los estudando e construindo
uma futura carreira profissional. Feliz de fato ficou quando a filha Miriam foi eleita primeira rainha de
rodeio de Fernandópolis.
Nem tudo, porém, são flores. Em 26 de novembro de 1972, sofreu um AVC, foi operado no
Rio de Janeiro, em caráter de urgência, por um médico que, na época, era professor de seu filho
Aladim, que cursava faculdade de medicina na Cidade Maravilhosa. Pode-se dizer que este foi o
maior obstáculo de sua vida e a sua maior luta, pois precisava vencer a doença. Após a cirurgia, uma
sequela (perda de movimentos em uma das pernas) o levou a usar muletas; e também a perda
significativa da visão impediu-o de dirigir e cavalgar, ficando totalmente dependente de motoristas e
de sua esposa para levá-lo aos lugares desejados.
Lutador nato, comprou um jipe para ficar na fazenda e passou a usá-lo na fiscalização da
propriedade, acompanhar a lida com o gado e com a plantação. Assim, foi tomando as rédeas do
trabalho paulatinamente. Um ano depois, já ia à fazenda e de lá voltava sozinho. Com isso, deixava
sua esposa e filhos bastante preocupados; mas, como afirmou dona Delvina, “o Zé nunca foi de ficar
parado”. E essa sua luta foi uma verdadeira história de superação, como afirmou sua filha Diná.
Em 19 de julho de 1982, aos 56 anos, José Belúcio foi para a fazenda trabalhar e lá se
sentiu mal. Mesmo assim, quis percorrer toda a fazenda, como se estivesse despedindo-se dela.
Depois passou por Carneirinho, deixou tudo acertado, recebeu o que precisava e veio para
Fernandópolis, com o auxílio de um caminhoneiro, pois não se sentia bem o suficiente para dirigir.
Chegando aqui, foi ao barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba. Segundo o barbeiro, José Belúcio fez
uma brincadeira: “Capricha na barba e no corte, pois, se eu morrer hoje, quero chegar no céu bem
bonito”. E, ao terminar a frase, mais uma vez se sentiu mal. Rapidamente encaminharam-no para a
Santa Casa. Foi um esforço vão, pois perdeu a vida antes que lá chegasse.
Os familiares e todo o município sentiram muito sua partida. José Belúcio deixou três filhos.
E, se hoje estivesse vivo, teria cinco netos e quatro bisnetos.
José Belúcio recebeu muitas homenagens. Uma delas foi ter seu nome dado a uma escola
estadual, ETI “José Belúcio”, que, atualmente, se situa na Rua Benedita Cruz, 777, no bairro Minineli.
No mesmo local, também se encontram documentos originais, pertences pessoais doados pela
família, que compõem um pequeno acervo em exposição contínua.
Colaboração
Fabíola Renata Tavares Luz
Vera Márcia Rocca Bortoluzo
576
Faleceu de infarto fulminante em 18 de maio de 1992, aos 45 anos de idade, quando estava
em trabalho dentro de sala de aula. Em sua homenagem, teve seu nome indicado e aprovado por
unanimidade para compor o nome da escola de que é patrono.
Colaboração
Tânia Maria Josué Gonçalves
577
JOSÉ ZANTEDESCHI
Zantedeschi foi pessoa simples, que viveu para a família e o trabalho; de reputação
imaculada. Era portador de diabete, por isso tinha que fazer dieta alimentar, e sempre reclamava de
quando era jovem e podia comer sem restrições, não tinha dinheiro para comprar o que queria. Na
velhice tinha dinheiro para comprar as coisas, mas não tinha saúde para comer o que queria.
Faleceu no dia 18 de abril de 1995 com 83 anos, de falência generalizada dos órgãos.
Colaboração
Rosilene Miotto de Abreu
Marli Aparecida Almeida da Silveira Souza
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KOEI ARAKAKI
Koei Arakaki nasceu na cidade de Shuri, então capital da Ilha de Okinawa, localizada no
extremo sul do Japão, em 11 de janeiro de 1903.
Em 29 de dezembro de 1918, com 15 anos, realizou seu sonho e desembarcou no Brasil
em uma viagem que demorava, na época, em torno de noventa dias no navio Hawai Marú,
juntamente com um irmão mais velho, Saburô Arakaki, que já era casado e veio com a esposa Koshi.
Vieram para Descalvado (SP), onde sua primeira atividade foi trabalhar como colono na
cultura de café no interior paulista. Como todo imigrante, sofreu as dificuldades e a exploração de
estar em um país de língua e costumes totalmente diferentes. Mudou-se para a zona rural da região
de Catanduva (SP), o distrito de Vila Elisiário, fazenda São Bento, onde ele e seus familiares se
dedicaram à cultura do algodão. Nessa época, passou por várias outras fazendas da região
(Pindorama, Vila Roberto, Vila Salgado, fazenda Fadiga), sempre explorando as culturas de algodão
e café, como colono e arrendatário.
Em 1926, com 23 anos, casou-se por procuração com a Sra. Nahi Shimabukuro, só a
conhecendo pessoalmente em 1927, quando chegou ao Brasil juntamente com o irmão caçula do Sr.
Koei. O casal teve sete filhos, quatro homens e três mulheres.
Em 1953, passou por uma terrível experiência. Com suas economias, decidiu transferir-se
para o Paraná junto com a família, tendo adquirido umas glebas de terra na região norte daquele
estado. Foi uma decepção, pois o corretor vendeu uma coisa e entregou outra. A gleba não tinha
valor algum. Ficaram lá por cerca de vinte dias, perderam tudo e voltaram de mãos “abanando” (sem
nada).
Ele e sua família passaram por tempos difíceis. Com muito esforço, plantaram algodão na
Vila Elisiário, mas, novamente, perderam tudo com a chegada da guerra. Mesmo assim, sem
esmorecer, conseguiu reerguer-se.
Já em 1948, mudou-se com a família para Catanduva, a fim de estudar os filhos e
aprenderem outras profissões.
Anos mais tarde, dois de seus filhos resolveram montar uma oficina em Fernandópolis e,
seis anos depois, compraram uma casa para o Sr. Koei e o chamaram para morar em Fernandópolis
com o restante da família. Aqui, enfim, encontraram uma vida mais tranquila e feliz. O sonho de
infância de um país chamado Brasil, promissor, com fartura e oportunidades enfim se realizou.
O Sr. Koei Arakaki faleceu em Fernandópolis em 05 de outubro de 1978; contava, então,
com 75 anos. Sua esposa viria a falecer em 02 de maio de 1996, com 87 anos.
Em sua homenagem, Fernandópolis tributou uma escola municipal com seu nome, a EMEF
“Koei Arakaki”, uma sala oficina na APAE, uma Rua no Jardim Paraíso e a biblioteca da Fundação
Educacional de Fernandópolis.
Colaboração
Escola Koei Arakaki
580
Era o ano de 1953. Nas primeiras horas do dia 21 de agosto veio ao mundo a menina Maria
Tereza, na cidade de Araraquara. Seus orgulhosos papais, José Pereira dos Santos Filho e Maria
Aparecida Garcia dos Santos, exibiam a filha primogênita para todos como um grande presente de
Deus.
Viveu em Araraquara até 10 meses, vindo morar em Fernandópolis, aqui vivendo toda sua
infância, adolescência e idade adulta.
Maria Tereza foi sempre uma criança adorável e querida por todos. Vivia cercada pelo
carinho de seus irmãos gêmeos José Paulo e José Roberto, José Manoel e Maria Olívia.
Foi sempre orientada a seguir uma religião. Fez sua primeira comunhão no dia 21/06/1962
na igreja matriz Santa Rita de Cássia e participava da coroação de Nossa Senhora vestida de anjo.
Também não dispensava a alegria de participar das danças na sua escola.
Formou-se jovenzinha dinâmica, obediente aos seus pais, sempre muito organizada e
corretíssima em todas as suas ações.
Aluna estudiosa, concluiu, em 1964, o quarto ano primário; em 1969, o ginásio e, em 1972,
formou-se professora primária, embora nunca tenha querido exercer essa função.
Optou por trabalhar na “Ótica Moderna”, onde se tornou o braço direito do papai José.
Costumava receber os clientes sempre com um sorriso nos lábios. Aí trabalhou desde os 13 anos,
desempenhando sua função de comerciante com muita eficiência e dignidade.
Gostava de música; embora formada em acordeão, não gostava muito desse instrumento,
mas sempre agradava aos avós tocando “Saudades de Matão”. Aprendeu também tocar teclado e,
assim, alegrava as festas da família.
No ano de 1975, dia 13 de dezembro, na igreja matriz Santa Rita de Cássia, Maria Tereza
recebeu por seu esposo Sérgio Nicoleti. Desse matrimônio vieram-lhe três filhos maravilhosos:
Camila dos Santos Nicoleti (24/05/77), hoje, cirurgiã dentista atuando em Fernandópolis; Jamile dos
Santos Nicoleti (03/02/1980), arquiteta; e Sérgio dos Santos Nicoleti (19/03/1984), engenheiro
ambiental.
Viveu toda sua vida com dedicação e amor à sua família, ao trabalho e, nas horas de folga,
dedicava seu tempo na catequese infantil. Dava aulas de religião em preparo à primeira comunhão,
demonstrando grande afeição às crianças e muito jeito em lidar com elas. Era participante assídua do
grupo de quarteirão.
Foi presidente do Rotary “Casa da Amizade”, atuando na guarda mirim, promovendo e
participando de eventos significativos para o clube e para a sociedade.
Seu esposo Sérgio, membro da Diretoria Social da Casa de Portugal, sempre contava com
o apoio de Maria Tereza para desenvolver seu trabalho. Em um desses momentos, quando
trabalhava na preparação de cestas de Natal para os menos afortunados, foi que Maria Tereza viveu
seus últimos momentos nesta vida.
581
Preparava-se para o nascimento de Jesus, quando foi chamada para viver uma nova vida, a
que só fazem jus aqueles que viveram como Maria Tereza. Esse era o dia 10 de dezembro de 1995.
Maria Tereza nos deixou exemplos a serem seguidos: boa filha, irmã sempre presente,
esposa exemplar, mãe dedicadíssima, estudiosa, trabalhadora, alegre e decidida.
Colaboração
Maria Teresa Peruchi Marinelli
582
MELVIN JONES
Melvin Jones nasceu no dia 13 de janeiro de 1879, em um posto de armas chamado Fort
Thomas, no estado do Arizona, Estados Unidos, filho de capitão do Exército John Calvin Jones e Sra
Ludia Gibler Jones. No estado do Arizona, foi educado por tutores particulares; o restante de sua
infância passou no estado do Missouri, onde frequentou colégios secundários em Dakota e St. Louis,
indo depois para Quincy, no estado de Illionois, onde cursou a Union Busines College, transferindo-
se, posteriormente, para o Chaddoch College, onde estudou advocacia.
Transferiu moradia para Chicago. Ali entrou para o escritório de Johnson & Hranggins
Insurance Brokers. Dedicando-se ao emprego, logo se tornou profundo conhecedor do ramo de
seguro. Isto fez com que ele, mais tarde, organizasse sua própria empresa, a Melvin Jones Insurance
Agency.
Casou-se em 1909 com Rose Amanda Freeman, que, na época, era uma conhecida
campeã norte-americana de golfe.
Em março de 1913, aos 34 anos, Melvin foi convidado para ingressar no prestigioso “The
Bunisess Circle” (Círculo de Negócio) de Chicago. O círculo era constituído por um grupo de homens
que se dedicavam à promoção da reciprocidade comercial e profissional. Em janeiro de 1914,
introduziu idéias inovadoras naquele clube de operações.
De certa feita, notando a apatia cada vez mais crescente de seus companheiros de clube,
Melvin se perguntou: “Que tal se esses homens que são bem sucedidos graças à energia, inteligência
e ambição usassem seu talento em prol da comunidade?” Esse pensamento aliava-se à sua filosofia
pessoal de que ninguém avança na vida se não começar a fazer alguma coisa pelo próximo. Ele tinha
a consciência de que a força coletiva de outros clubes, semelhantes ao seu, poderia ser
encaminhada para servir, desinteressadamente, a pessoas mais necessitadas.
Durante o ano de 1916, com o apoio de seu Clube, Melvin Jones, juntamente com sua
esposa Rose, escreveram para homens de outros clubes existentes nos Estados Unidos, pedindo-
lhes que formassem uma Associação Nacional cujo primeiro interesse seria o de servir aos outros ao
invés de servir aos seus sócios. Nos dias, 8, 9 e 10 de outubro de 1917, no Hotel Adolphus, em
Dallas, Texas, foi realizada a 1ª Convenção, ao final da qual, estava fundada a Associação
Internacional de Lions Clubes.
O fundador da Associação também foi reconhecido como líder por outras entidades. Uma
das maiores honras para Melvin Jones foi em 1945, quando ele representou Lions Clubs International
como consultor na Conferência de São Francisco, Califórnia, quando foi criada a Organização das
Nações Unidas (ONU).
Em novembro de 1918, Melvin Jones edita o primeiro exemplar do “The Club Magazin”, com
28 páginas e em forma de bolso, que seria a precursora da futura revista “The Lions”.
Em 21 de junho de 1956, dois anos após a morte de Rose Freeman, sua esposa, Melvin
Jones casou-se com Lílian M. Radigan.
583
Melvin Jones faleceu no dia 1º de junho de 1961, aos 82 anos de idade, em Floosmoor,
subúrbio de Chicago. Seu corpo foi velado durante quatro dias na Tain Chapel, sendo sepultado no
dia 5 de junho no Mount Hope Cementery.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Agrícola “Melvin Jones” recebeu seu nome, pois
o terreno em que ela se localiza pertencia ao Lions Clube de Fernandópolis, que tem Melvin Jones
como seu fundador internacional.
Colaboração
Equipe da Escola Melvin Jones
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MIGUEL RISK
Miguel Risk nasceu em Pitangueiras (SP) em 10 de fevereiro de 1908. Filho de João Risk e
Zaira Yunes Risk, ambos imigrantes libaneses. Casou-se em 1931 com Jenny Rocha Risk, com quem
teve uma filha, Inês Zaíra Rocha Risk Martins, esposa de Sérgio Noel Martins.
Teve três netos: Sérgio Eduardo Risk Martins, casado com Silvana Pires Nunes Martins,
pais dos bisnetos Sérgio Eduardo Risk Martins Júnior e Rodrigo Nunes Martins; Paulo Henrique Risk
Martins, casado com Loriza Brandão dos Reis Martins, pais dos bisnetos Paulo Henrique Risk Martins
e Beatriz Risk Martins; e Marinês Risk Martins, mãe do bisneto Victor Martins Navarro.
Cursou o primário no Colégio Marista (internato); ali adquiriu ampla cultura pessoal;
aprendeu a falar algumas línguas, entre elas o francês, espanhol e o árabe, sua língua familiar.
Cursou Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo, câmpus de Ribeirão Preto
(SP) e formou-se no ano de 1930. Na cidade de São Paulo, fez curso de especialização no Instituto
Oswaldo Cruz e iniciou sua carreira profissional em Poços de Caldas (MG) em um Laboratório de
Análises Clínicas.
Por motivos familiares, transferiu-se para a cidade de Pitangueiras (SP), cidade em que
exerceu várias funções: farmacêutico, comerciante e bancário. Além de participar ativamente da vida
social local, pertenceu a diversas instituições filantrópicas, tornando-se ele um verdadeiro filantropo.
Como religioso, era pessoa caridosa e abnegada.
Colecionador e amante da literatura brasileira e mundial, foi fundador da Biblioteca
Municipal de Pitangueiras à qual doou grande parte de seu acervo.
Em 1967, transferiu-se para Fernandópolis (SP) como gerente do União de Bancos. E, aqui,
manteve as mesmas características que lhe eram peculiares. Pertenceu à Loja Maçônica Benjamim
Reis, Miguel Risk foi sócio honorário do Rotary Clube por vários anos, presidente do Albergue
Noturno e chefe de gabinete da prefeitura nas gestões de Antenor Ferrari e Milton Edgard Leão.
Suas amizades políticas anteriores ao seu cargo público lhe deram qualificação para
trabalhar pelo engrandecimento de Fernandópolis, cidade que ele amou como sua terra natal.
Com perfil humanista, uma de suas características marcantes era ser formador de caráter,
pelo exemplo, e sempre com uma palavra de alento aos que se privilegiaram de com ele conviver.
Sua permanência entre nós trouxe contribuições e lições valiosas de como viver melhor. Faleceu no
dia 19 de agosto de 1993, aos 85 anos de idade.
Colaboração
Iuri Zaira
Sérgio Noel Martins
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RENATO ZOCCA
então a ser denominada EMEI “Professor Renato Zocca”, fazenda, dessa forma, uma justa
homenagem à sua memória pelo trabalho com a educação em Fernandópolis.
Colaboração
EMEI Prof. RENATO ZOCCA
Equipe de trabalho
Isabel Cristina Bertonha de Assis
(Diretora da EMEI professor Renato Zocca)
Claudenice Permigiane Zocca
(Esposa do José Carlos Zocca Neto, filho)
José carlos Zocca Neto
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No dia 14 de janeiro de 1986, nasceu uma linda menina, filha de José Oliveira dos Santos e
Vera Lúcia Belentani dos Santos, irmã de Jéferson Fernando dos Santos.
Tatiani foi uma criança muito esperada, embora desde pequena já começasse o seu
sofrimento. Aos dez meses de vida é diagnosticado problema em seu rim. Com idas e vindas a São
José do Rio Preto, no dia 28 de janeiro de 1987, contando, portanto, apenas um ano de vida, teve
seu rim direito extraído.
O tempo passou, e essa menina de lábios vermelhos, cabelos negros e pele branquinha
começava a dar seus primeiros passinhos, sempre acompanhada de seus pais. Gostava de brincar e
era feliz: tinha um sorriso largo e acolhedor.
Era menina que exalava ternura e meiguice. Boa aluna, estudiosa, tinha sonhos para a vida
e se esforçava por consegui-los, passo a passo.
No entanto, a vida lhe reservara surpresas. Aos 11 anos, passa novamente por exames de
rotinha, quando é diagnosticada uma anemia; a menina teria que passar por transfusão de sangue.
Com tristeza e apreensão, no dia 14 de junho de 1997, ela nos deixa e vai habitar outro plano.
As autoridades de Fernandópolis se sensibilizaram com o sofrimento da família. Diante do
quadro de dor e de fatalidade, o vereador Luís Pessutto quis, em nome de todas as crianças-anjo
como Tatiani, homenageá-la, atribuindo seu nome a uma escola de Educação Infantil que, à época,
estava em construção.
Em 12 de maio de 2000, foi inaugurada a escola que estampa seu nome: EMEI Tatiani
Cristina dos Santos.
A comunidade do bairro, professores e funcionários agradecem a seus pais e irmão a honra
de, apesar de pouco tempo, poderem ter privado da companhia de Tatiani, “uma flor entre as flores
da escola”.
Em 2007, com o envolvimento dos alunos, pais, funcionários e professores, foi realizado um
sonho: o Hino da Escola, homenageando a inspiradora e patronesse do estabelecimento de ensino.
HINO DA ESCOLA
A cada alvorecer
Ao romper o dia
A querida escola encontrar
Seus encinamentos
E contentamento
A mensagem vem nos ensinar
EMEI Tatiani Cristina dos Santos
Faz jus ao seu nome
588
Colaboração
Ângela Maria Soares Beraldo
589
Wilson Alves Ferraz foi um empreendedor, hábil homem de negócios, autodidata, que se
permitia transitar em várias atividades como comerciante, diretor de empresas e agro-pecuarista. Na
educação e na cultura, porém, tinha seus mais altos ideais e um valor inestimável, costumando dizer:
sem educação não haverá chances para o futuro.
Pode ser considerado um pioneiro, tendo-se estabelecido em Fernandópolis como
comerciante na década de 50, vilarejo que, àquela época, era conhecido como Vila Pereira. Como
forte liderança e provedor por natureza tanto da família quanto da sociedade, deixou um legado de
exemplo de retidão moral e valores humanos.
Era um homem determinado e de idéias. Autodidata, pode-se dizer que era um “educador
nato”, por seu exemplo moral e de firme determinação. Por força de sua forte personalidade e
empreendedorismo, era muito respeitado e exercia forte liderança nas áreas comercial, social e
comunitária em Fernandópolis.
Foi exemplo de homem digno e batalhador, que construiu sua história com suas próprias
mãos, apoiado na sua capacidade de trabalho e inteligência nata. Portador de valores e ideias
socialistas, contribuiu para semear valores democráticos no difícil período da ditadura militar de 1964.
Nasceu em 18 de setembro de 1924, na família humilde do comerciante Joaquim Custódio
Ferraz e Etelvina Alves Toledo. Foi registrado somente em 30 de abril de 1925 no cartório do então
vilarejo de Guaraci, situado ao oeste do estado de São Paulo.
Longe da prosperidade das famílias paulistas latifundiárias abastadas da época, sendo
primeiro filho de um pequeno comerciante e mãe analfabeta, ambos espanhóis, passou parte de sua
infância em meio rural e frequentou a escola primária em escolinha de extensão rural.
Referindo-se bem humorado à sua infância humilde e ressaltando a importância que dava
aos estudos e à escola, costumava dizer que sua babá havido sido uma égua muito mansa, chamada
Campolina, que possibilitava a ele e sua irmã mais velha Elite freqentarem o curso primário em escola
rural. Sentia-se realizado por ter tido a oportunidade de cursar uma escola que era seu maior ideal.
Com nove anos, já teve de trabalhar para ajudar no sustento da família. Como segundo
filho, mas sendo o primeiro do sexo masculino, tinha, perante a família, que arcar com a
responsabilidade de contribuir para o provimento da casa.
Foi assim que, desde cedo, sem opção de frequentar a escola, aprendeu a ser um
estudante autodidata. Sua “escola de comércio” passou a ser o estabelecimento do Sr. Isaac na
cidade de Guaraci, que, como um verdadeiro mestre e protetor, o incentivou a aprender matemática,
590
português, geografia, comércio e geopolítica, através de leitura dos jornais na época da Segunda
Guerra Mundial; seus conhecimentos de geografia eram mesmo surpreendentes.
A experiência de uma espécie de “escola do comércio” o preparou para exercer,
posteriormente, um papel crucial de provedor. Homem feito, continuou sua carreira de vendedor do
ramo de tecidos em São José do Rio Preto, trabalhando nas Casas Bueno e, mais tarde, na rede de
lojas Riachuelo, tornando-se gerente da filial em Fernandópolis em 1950, onde conheceu a
professora Antônia do Amaral Terra Ferraz com quem se casou e veio a constituir família.
Com o desaparecimento súbito de seu pai, aos 54 anos, assumiu o esteio de toda a família
paterna; apoiou firmemente sua mãe ajudando a encaminhar seu irmão caçula e suas quatro irmãs
mais novas a estudos até todos se formarem.
O casal era ímpar e vivia em clima de grande respeito mútuo e harmonia; embora ambos
tivessem idéias aparentemente antagônicas, eles se mostraram complementares no tempo:
socialismo e espiritualidade. Não gostava de se retirar em férias e sua maior dedicação era voltada à
família e ao trabalho que, segundo sempre dizia, considerava uma verdadeira terapia. O casal teve
três filhas: Carmem, Sônia e Tânia. Posteriormente, juntou-se à família Arminda, que, com apenas
nove anos, trouxe amizade e ajudava no cuidado das filhas, totalmente integrada à dinâmica familiar,
praticamente uma filha adotiva e por todos estimada.
As filhas, enviadas para São Paulo, receberam completo apoio para que estudassem em
boas escolas e se diplomassem, enfim, se preparassem para uma vida e um futuro melhor.
Ferraz influenciou fortemente a educação de suas filhas. Conhecia profundamente a
geografia e apoiava viagens ao exterior; visionário, sonhava com a possibilidade de um futuro, em
que a mulher fosse respeitada como cidadã e respeitada profissionalmente. Apoiava a mulher no
exercício da cidadania e a contribuir efetivamente para a sociedade como verdadeira autora de seu
destino.
Assim, zelando e investindo na educação na condição de provedor da família, viu tudo
prosperar e pode acompanhar algumas gerações se diplomarem no campo da pedagogia, sociologia,
medicina e odontologia.
Mas sua grande vocação era para negócios e administração. Foi gerente das lojas
Riachuelo em Fernandópolis por cerca de trinta anos consecutivos, imprimindo-lhe identidade própria.
Era conhecido como “Wilson da Riachuelo”. Seu estilo de administração, dedicação e eficiente
gerência eram grandemente elogiados pela diretoria da empresa, que o agraciou com uma excelente
gratificação em sua aposentadoria aos 55 anos de idade, no final da década de 70.
Fundou a Indústria Elétrica WTW (uma próspera indústria do ramo da produção de
transformadores elétricos), em sociedade com seu cunhado e amigo Tasso do Amaral Botelho na
década de 70.
A partir de então, passou a investir e dedicar-se integralmente à sua propriedade em
Aparecida do Taboado. Inovando em seu estilo de gerência eficiente e tratamento especial de seus
funcionários, transformou a “Fazenda Lajeado” em uma próspera empresa no ramo da agropecuária
até o final de sua vida.
Idealizou também, na mesma época, o empreendimento imobiliário Jardim Araguaia, que se
transformou no Bairro Araguaia. Entre seus empreendimentos está a criação do pastifício
Fernandópolis em Brasilândia, na década de 60.
Na vida comunitária, foi presidente social do FEC, pertenceu à diretoria do Lions Clube,
ambas na década de 50. Corintiano, apaixonado pelo futebol, foi membro da diretoria do time do
Fernandópolis Esporte Clube na década de 80.
Por ocasião da realização das Olimpíadas em Moscou, no ano de 1980, teve a oportunidade
de ver realizado o mais acalentado sonho de sua vida: viajar ao exterior para conhecer a então União
Soviética. Conheceu, também, Paris, Londres e Madri. Emocionou-se ao visitar o memorial de Lênin
na Praça Vermelha de Moscou; respeitava a história e acreditava que o mundo socialista era
possível.
Ferraz encantou a todos com os relatos a cerca do mundo socialista, que pode ver de perto.
Acreditava firmemente que um dia o veria predominar no mundo sobre o excludente e injusto sistema
capitalista.
A queda do Muro de Berlim em 1989 e o anúncio do fim da União soviética foram-lhe um
duro golpe. Os ideais socialistas no mundo estavam fortemente abalados. Seu sonho de uma
591
transformação social, que corrigisse as injustiças sociais, e que queria para o Brasil e para o mundo,
sofreu forte abalo.
Seu legado de esperança por um grande futuro para o Brasil continua vivo. Através do
CEMEI que leva seu nome, Wilson Alves Ferraz pôde continuar inspirando uma educação baseada
em valores humanos para as novas gerações. Graças aos seus dedicados professores, é possível
renovar tais ideais na formação dos pequenos cidadãos do futuro.
Ademais, ter o nome de Wilson Alves Ferraz como patrono da escola é uma honra e orgulho
para toda a família: representa, de modo ímpar, a possibilidade de renovação e certeza de que seus
valores e ideais se perpetuam – uma herança viva, não somente para a família, mas também para
toda a coletividade, com renovada esperança e crença na educação e no potencial humano.
Que seu exemplo como patrono possa continuar inspirando a vocação e dedicação de seus
professores, funcionários e alunos. Que seu exemplo possa seguir servindo de estímulo constante
para a participação ativa da comunidade de Fernandópolis, para o exercício da educação como
direito social inalienável e para a elevação das consciências a semearem lideranças lúcidas que se
constituirão nos cidadãos e cidadãs do futuro.
Wilson Ferraz faleceu precocemente aos 67 anos em Fernandópolis, em 30 de julho de
1992. Sua perda deixou profundo pesar entre amigos e familiares, especialmente sua viúva, as três
filhas e os seis netos.
Colaboração
Sônia Maria Terra Ferraz
Brasília, 26 de janeiro de 2009
592
PARTE IV
IMAGENS DA HISTÓRIA
593
IMAGENS DA HISTÓRIA
Essas foram as intenções quando adicionamos uma quarta seção nesta obra - IMAGENS
DA HISTÓRIA, enriquecendo A HISTÓRIA, TEMAS e BIOGRAFIAS, já existentes.
Esclarecemos que foi dada preferência às fotos referentes aos períodos já pesquisados e
descritos analiticamente neste Volume II e no Volume I, de 1996.
Mais de 1.000 fotos foram analisadas. Sem desmerecimento às demais, selecionamos
cerca de 300, considerando a importância e as que possibilitaram melhor e mais rápida identificação.
Para isso, o Conselho Editorial foi criterioso, convidando, inclusive, conhecedores e antigos
moradores para auxílio na cronologia e significação de cada foto. Mesmo assim, sabemos que haverá
correções a serem feitas, e contamos com elas!
Ansiamos, com isso, por estimular uma crescente participação dos fernandopolenses,
permitindo que outras centenas de imagens façam parte das futuras edições, e que fiquem guardadas
e perenizadas em cada lar desta cidade.
Conselho Editorial
AGRADECIMENTOS
IMAGENS DA HISTÓRIA
NOSSA GENTE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
A CIDADE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
FATOS E ACONTECIMENTOS
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1950 a 1959 -
NOSSA GENTE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1950 a 1959 -
A CIDADE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1950 a 1959 -
FATOS E ACONTECIMENTOS
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1960 a 1969 -
NOSSA GENTE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1960 a 1969 -
A CIDADE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- 1960 a 1969 -
FATOS E ACONTECIMENTOS
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- Acima de 1970 -
NOSSA GENTE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- Acima de 1970 -
A CIDADE
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IMAGENS DA HISTÓRIA
- Acima de 1970 -
FATOS E ACONTECIMENTOS
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FERNANDÓPOLIS
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INDICE
APRESENTAÇÃO, 3
PARTE I – A HISTÓRIA, 13
FERNANDÓPOLIS
NOSSA HISTÓRIA, NOSSA GENTE
Vol.II