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Relato de Experiência / report of experience / relato de experimento

Tempo de assistência de enfermagem como indicador


de gestão de pessoas
Nursing support time as a people management indicator
Tiempo de asistencia de enfermería como indicador de gestión de personas

Alda Valéria Neves Soares* Antonio Fernandes Costa Lima****


Karin Emília Rogenski** Tânia Regina Sancinetti*****
Fernanda Maria Togeiro Fugulin*** Raquel Rapone Gaidzinski******

Resumo: Este relato de experiência tem por objetivo demonstrar a utilização da variável tempo de assistência de enfermagem como
indicador de gestão de pessoas. Para obtenção e avaliação sistematizada dos dados foi construída uma planilha eletrônica no programa
Microsoft Office Excel utilizando as equações propostas no método de dimensionamento de pessoal de Gaidzinski. Os dados referentes
ao tempo de assistência, segundo a categoria de cuidados, foram comparados com o padrão estabelecido pela Resolução COFEN No.
293/04 possibilitando ao gestor do serviço de enfermagem monitorar a adequação quantitativa e qualitativa do quadro existente. As
informações provenientes do indicador tempo médio de assistência subsidiam a proposição de intervenções que garantam a melhoria
da qualidade assistencial e a segurança dos pacientes e dos profissionais de enfermagem.
Palavras-chave: Enfermagem. Gerenciamento do tempo. Gestão de Pessoal.
Abstract: This experience report aimed at showing the use of the variable on nursing support time as a people management indicator. To
obtain and systematically evaluate the data, one created an Excel worksheet and used the equations proposed in the Gaidzinski’s method
on personnel size. The support time data according to the care category were compared to the standard established by COFEN (Federal
Nursing Council) Resolution N. 293/04, allowing the nursing service manager to monitor the qualitative and quantitative compliance
of the existing picture. The information derived from the indicator on average support time subsidizes the proposition of interventions
that assure the support quality improvement and the safety of patients and nursing professionals.
Keywords: Nursing. Time Management. Personnel Management.
Resumen: Este relato de experiencia tuvo por objetivo demostrar la utilización de la variable tiempo de asistencia de enfermería como
indicador de gestión de personas. Para obtención y evaluación sistematizada de los datos fue construida una planilla electrónica en el
programa Microsoft Office Excel utilizando las ecuaciones propuestas en el método de dimensionamiento de personal de Gaidzinski.
Los datos referentes al tiempo de asistencia, según la categoría de cuidados fueron comparados con el estándar establecido por la
Resolución COFEN N. 293/04 posibilitando al gestor del servicio de enfermería monitorear la adecuación cuantitativa y cualitativa del
cuadro existente. Las informaciones provenientes del indicador tiempo medio de asistencia subsidian la proposición de intervenciones
que garanticen la mejoría de la calidad asistencial y la seguridad de los pacientes y de los profesionales de enfermería.
Palabras-llave: Enfermería. Administración del Tiempo. Administración de Personal.

Introdução condições de trabalho que possi- pacientes/clientes e as condições


bilitem o exercício apropriado de de trabalho aos profissionais de sua
A qualidade da assistência de suas funções e o atendimento das equipe tem sido dificultada tanto
enfermagem pressupõe a ade- necessidades e expectativas dos pela deficiência numérica quan-
quação quantitativa e qualitativa pacientes/clientes1. Entretanto, a to pela composição deficitária da
de profissionais de enfermagem, responsabilidade dos gestores de equipe de enfermagem.
o investimento em sua capacita- serviços de enfermagem em asse- Essa dificuldade, compartilhada
ção, bem como o oferecimento de gurar a qualidade assistencial aos por enfermeiros do mundo todo,

* Doutora em Enfermagem. Enfermeira Diretora da Divisão Materno-Infantil do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).
E-mail: aldavns@hu.usp.br
** Mestre em Enfermagem. Enfermeira da Clínica pediátrica do HU-USP.
*** Professora Associada do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).
**** Professor Doutor do Departamento de Orientação Profissional da EEUSP.
***** Doutora em Enfermagem. Enfermeira Diretora da Divisão de Pacientes Externos do HU-USP.
****** Professora Titular do Departamento de Orientação Profissional da EEUSP.

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Tempo de assistência de enfermagem como indicador de gestão de pessoas

impulsiona o empreendimento de versidade de São Paulo (HU-USP), neonatos que apresentam necessi-
esforços no sentido de desenvolver considerando a necessidade de dades de cuidados intensivos. As Cl
e apoiar medidas que auxiliem os implementar estratégias que pos- Méd e Cl Cir são constituídas por
administradores das instituições de sibilitassem avaliar os resultados 88 leitos, compreendendo: 28 leitos
saúde, os órgãos governamentais das ações desenvolvidas, propôs a para cuidados de alta dependência
e a própria sociedade a compreen- construção de indicadores relacio- de enfermagem, 44 para cuidados
derem o significado que envolve o nados à gestão de pessoas, passíveis intermediários e 16 para cuidados
quadro de profissionais de enfer- de serem estudados e comparados mínimos. A Ped conta com 36 lei-
magem. com os padrões internos e externos tos, dos quais 6 destinam-se aos
Verifica-se, principalmente à Instituição, elegendo o ‘tempo pacientes de cuidados alta depen-
no contexto internacional, o de- médio de assistência de enferma- dência de enfermagem e 30 a pa-
senvolvimento de pesquisas que gem’ como indicador que permite cientes de cuidados intermediários.
evidenciam a relação direta entre avaliar a carga de trabalho das suas O AC possui 52 leitos de cuidados
a conformidade de pessoal de en- Unidades. intermediários. A Neo possui 24
fermagem e os resultados apre- Acredita-se que o presente leitos destinados a recém-nascidos
sentados pelos pacientes e pelos estudo contribui para o gerencia- classificados como cuidados semi-
trabalhadores dessa área. Esses es- mento dos profissionais de enfer- intensivos.
tudos demonstram que uma con- magem, por demonstrar a utilização O ‘tempo médio de assistência
formação mais adequada da equipe de instrumentos que favorecem o de enfermagem’, segundo os tipos
de enfermagem está associada com desenvolvendo de conhecimentos, de cuidados, foi obtido por meio
menores taxas de mortalidade, com habilidades e competências que das seguintes etapas:
a redução do número médio de permitem alocar, distribuir e con-
dias de permanência dos pacientes trolar o quadro de enfermagem nos 1ª Etapa: Levantamento das
nas instituições hospitalares, com Serviços de Saúde. informações
a diminuição dos índices de ocor- Para identificar o tempo mé-
rências de eventos adversos e de Objetivo dio diário de assistência de enfer-
infecção hospitalar2,3,4. magem despendido aos pacientes
Indicam, também, que a ina- Demonstrar a utilização da va- das unidades de internação, de
dequação numérica e qualitativa riável tempo médio de assistência forma sistematizada, as enfermei-
de pessoal influencia, diretamen- de enfermagem, segundo os tipos ras registraram diariamente as
te, a saúde dos profissionais de de cuidados, como indicador de variáveis: quantidade de leitos dis-
enfermagem, aumentando o risco gestão de pessoas. poníveis, quantidade de pacientes,
de exaustão emocional, estresse, quantidade de enfermeiros e de
insatisfação no trabalho e bur- Método técnico-auxiliares de enfermagem
nout, com consequentes reflexos em atividade em todos os turnos de
nos índices de absenteísmo e de Trata-se do relato da experiên- trabalho.
rotatividade5,6,7. cia desenvolvida nas unidades de Ao final de cada mês, foi cal-
A preocupação com a quali- internação do HU-USP: Clínica culada a média diária de pacientes
dade, definida, no setor saúde, Médica (Cl Méd), Clínica Cirúrgi- atendidos e dos profissionais de
como um conjunto de atributos ca (Cl Cir), Alojamento Conjunto enfermagem em atividade. Esses
que inclui um nível de excelên- (AC), Pediatria (Ped), Neonatolo- valores foram inseridos em uma
cia profissional, o uso eficiente de gia (Neo), Terapia Intensiva (TI) planilha eletrônica, que operacio-
recursos, um mínimo de risco ao e Semi-Intensiva Adulto (S-I A) e naliza o cálculo referente ao tem-
paciente/cliente, um alto grau de Terapia Intensiva Pediátrica e Neo- po médio diário de assistência (em
satisfação por parte dos usuários natal (TIPN), no período de janeiro horas de cuidado) despendido a
e a observação dos valores sociais a julho de 2008. cada paciente pelos profissionais de
existentes8, desponta no cenário A TI e S-I A dispõem de 20 lei- enfermagem, a partir da equação
atual indicando a necessidade im- tos, sendo 12 leitos destinados a pa- proposta no método de dimensio-
periosa de transformação da prática cientes que necessitam de cuidados namento de pessoal de Gaidzinski9.
gerencial. intensivos e 8 a pacientes de cuida- O referido método é o mais utiliza-
A partir dessa perspectiva, o dos semi-intensivos. A TIPN possui do no cenário brasileiro e permite
Departamento de Enfermagem 16 leitos, dos quais 10 são destina- calcular o quantitativo e o qualitati-
do Hospital Universitário da Uni- dos aos pacientes pediátricos e 6 aos vo de profissionais de enfermagem

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Tempo de assistência de enfermagem como indicador de gestão de pessoas

a partir da identificação e análise Méd, Cl Cir, AC e Ped. Nessas uni- cuidados mínimos e intermediá-
das seguintes variáveis: carga de dades, há leitos para esses três tipos rios: 33% a 37% de enfermeiros
trabalho da unidade, Índice de Se- de cuidados, e a mesma equipe de (mínimo de seis) e 73% de técni-
gurança Técnica e tempo efetivo de enfermagem presta assistência, in- cos e auxiliares de enfermagem;
trabalho dos profissionais de enfer- distintamente, aos pacientes que se cuidados semi-intensivos: 42% a
magem. encontram internados. 46% de enfermeiros e os demais
A equação indicada pela auto- técnicos e auxiliares de enferma-
ra9, para a identificação das horas 2ª Etapa: Determinação do tempo gem; cuidados intensivos: 52% a
média de cuidados fornecidos aos médio padrão de assistência, 56% de enfermeiros e os demais
pacientes, e utilizada neste estudo segundo os tipos de cuidados técnicos de enfermagem.
está apresentada a seguir: Para tornar possível a avaliação Neste estudo adotou-se, como
desse indicador, foi adotado, como padrão, os percentuais mínimos das
padrão de referência, o tempo (em proporções indicadas pelo COFEN,
horas) médio de assistência e a pro- conforme demonstrado a seguir:
porção da categoria profissional, Unidades com leitos de cuidados inten-
propostas na Resolução COFEN sivos: 9,3 horas para enfermeiros e
Onde: No. 293/0412 nas 24 horas, segun- 8,6 para técnico-auxiliares de en-
h = tempo médio diário de assistên- do os tipos de cuidados do Sistema
k
fermagem; Unidades com leitos de cui-
cia de enfermagem, por paciente, de Classificação de Pacientes de Fu- dados semi-intensivos: 3,9 horas para
despendido pelos profissionais da gulin, et al13: 3,8 horas de enferma- enfermeiros e 5,5 para técnico-au-
categoria profissional k; gem, por paciente, na assistência xiliares de enfermagem; Unidades
q = quantidade média de pessoal mínima ou autocuidado; 5,6 horas
k
mistas, ou seja, que apresentam lei-
de enfermagem da categoria K; de enfermagem, por paciente, na tos com pacientes de cuidados de
k = categoria profissional (enfer- assistência intermediária; 9,4 horas alta dependência de enfermagem,
meiro; técnico/auxiliar de enfer- de enfermagem, por paciente, na intermediários e mínimos, atendi-
magem); assistência semi-intensiva e de alta dos pela mesma equipe de enfer-
t = jornada diária de trabalho da dependência de enfermagem; 17,9
k
magem. Para encontrar o tempo
categoria profissional k; horas de enfermagem, por pacien- padrão, foi necessário agrupar o
n = quantidade média diária de pa- te, na assistência intensiva. número de leitos esperados para
cientes assistidos. Diante da falta de parâmetros cada tipo de cuidado nessas unida-
O tempo de trabalho diário oficiais para o tempo de assistência des e multiplicar pelo número de
dos profissionais de enfermagem aos pacientes de alta dependência horas de assistência, estabelecido
(t ) dessas Unidades corresponde
k
de enfermagem, foi considerado por esta Resolução12: cuidados mí-
a seis horas. No entanto, como os como padrão desse tipo de cuida- nimos: 8 leitos na Cl Méd e 8 leitos
profissionais, durante a jornada, do o valor atribuído e a proporção na Cl Ci: 16 leitos x 3,8 horas = 60,8
realizam pausas no trabalho para o da categoria profissional indicados horas; cuidados Intermediários: 22
atendimento das necessidades pes- pela Resolução COFEN n. 293/0412, leitos na Cl Méd, 22 leitos na Cl Cir,
soais (alimentação, confraterniza- para cuidados semi-intensivos (9,4 30 leitos na Ped e 52 no AC: 126
ção, higiene, etc), considerou-se, horas). leitos x 5,6 horas = 705,6 horas;
como tempo efetivo de trabalho o Um recente estudo14 evidenciou cuidados Alta Dependência de En-
percentual, aceito internacional- que as horas médias de assistência fermagem: 14 leitos na Cl Méd, 14
mente, de 85% da jornada10. preconizadas pelo COFEN possibi- leitos na Cl Cir e 6 leitos na Ped: 34
Como o indicador tempo de as- litam atender as necessidades as- leitos x 9,4 = 319,6 horas;
sistência por paciente proposto pe- sistenciais dos pacientes, segundo
Total de horas = 60,8 + 705,6 +
la literatura11 refere-se aos tipos de os tipos de cuidados, e constituem
319,6 = 1086 horas
cuidado das unidades de internação, importante referencial para o di-
Total de leitos = 176
foi necessário agrupar as unidades mensionamento de profissionais
1086 ÷ 176 = 6,2 (horas de assis-
da Instituição campo de estudo, da de enfermagem nas instituições
tência de enfermagem como tempo
seguinte maneira:cuidados Inten- hospitalares.
padrão para as Unidades mistas).
sivos: TI-A, TIPN; cuidados Semi- A distribuição percentual do to-
Intensivos: S-I A e Neo; cuidados tal de profissionais de enfermagem, No que se refere à distribuição
de Alta Dependência de Enferma- segundo a referida Resolução12, percentual das horas de assistência
gem-Intermediários-Mínimos: Cl considera as seguintes proporções: entre as categorias profissionais,

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Tempo de assistência de enfermagem como indicador de gestão de pessoas

procedeu-se conforme indicação Figura 1. Distribuição do tempo (em horas) médio de cuidados
da Resolução12, que preconiza a intensivos, despendido pela equipe de enfermagem, no HU-USP, período
observação do tipo de cuidado de janeiro a julho de 2008. São Paulo, 2008
prevalente. Portanto, como os ti-
pos de cuidados prevalentes nessas
unidades foram cuidados interme-
diários (705,6 horas), adotou-se o
percentual de 33% (2 horas) para
enfermeiros e 67% (4,2 horas)
para técnicos/ auxiliares de enfer-
magem.
A divulgação do presente es-
tudo foi autorizada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do HU-USP.

Resultados
As figuras apresentadas permi-
tem verificar o comportamento do
tempo médio (em horas) de assis-
tência de enfermagem, segundo os
tipos de cuidados: intensivos; se-
mi-intensivos e alta dependência/
intermediários/mínimos encon-
trados nas unidades de internação Figura 2. Distribuição do tempo médio (em horas) de cuidados semi-
do HU-USP, em relação aos tempos intensivos despendidos pela equipe de enfermagem do HU-USP, período
de janeiro a julho de 2008. São Paulo, 2008
médios considerados padrão de re-
ferência12.
O tempo médio de cuidados
despendidos aos pacientes, nas 24
horas, segundo as diferentes cate-
gorias de cuidado, estão retratados
nas figuras 1, 2 e 3:

Discussão
Observa-se que o tempo médio
de cuidados intensivos mostrou-
se, durante todo período estuda-
do, inferior ao tempo padrão (17,9
horas), com declínio acentuado
nos meses de março, abril e maio.
A média de tempo de cuidados in-
tensivos, considerando o período
analisado, foi de 14,8 horas, por-
tanto, em média, houve menos
3,1 horas de assistência para cada
paciente desse tipo de cuidado na
Instituição.
Em relação ao tempo médio de horas), segundo o COFEN12, pois na técnico-auxiliares de enfermagem,
cuidados intensivos prestados por realidade estudada a média obtida observa-se que o tempo médio de
enfermeiros, verifica-se que per- foi de apenas 5 horas, por pacien- cuidados intensivos encontra-se
maneceu abaixo do esperado (9,3 te. Em contrapartida, quanto aos acima (9,8 horas) do estabelecido

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Tempo de assistência de enfermagem como indicador de gestão de pessoas

Figura 3. Distribuição do tempo médio (em horas) de cuidados de alta põem a equipe de enfermagem, os
dependência, intermediários e mínimos despendidos pela equipe de resultados apontados na presente
enfermagem do HU-USP, período de janeiro a julho de 2008. pesquisa corroboram os dados de
São Paulo, 2008 outro estudo15 que demonstrou
que a proporção de horas atribuí-
das aos enfermeiros, nas institui-
ções hospitalares brasileiras, são
inferiores àquelas atribuídas aos
técnico-auxiliares de enfermagem
e que ainda está muito distante da-
quilo que atualmente é preconiza-
do pelo COFEN. Assim, verifica-se
que os valores da proporção quali-
tativa da equipe de enfermagem,
adotados como padrão, ainda se
constitui uma meta a ser alcança-
da tanto nessa realidade quanto na
maioria das instituições de saúde
brasileiras.
Um estudo desenvolvido com
pacientes internados em 799 hos-
pitais dos Estados Unidos corre-
lacionou o número de horas de
enfermagem com a qualidade dos
cuidados prestados, concluindo
que o maior número de horas de
pelo COFEN12 (8,6 horas). Isso é mais elevado (6,5 horas) do que o cuidados prestados pelos enfermei-
decorrência do quantitativo de téc- padrão (5,5 horas). ros está associado à diminuição do
nico-auxiliares de enfermagem no O tempo médio de assistência, tempo de internação e do índice de
HU-USP ser maior, em detrimento prestado pela equipe de enferma- eventos adversos, bem como di-
do quantitativo de enfermeiros. gem das unidades de Cl Méd, Cl minuição da taxa de mortalidade
O tempo médio de cuidados Cir, Ped e AC, que possuem pa- decorrente desses eventos2.
semi-intensivos mostrou-se in- cientes de cuidados de alta depen-
ferior ao padrão de referência do dência, intermediários e mínimos, Conclusão
COFEN 12 (9,4 h), nos meses de mostrou-se inferior (5,1 horas, em
janeiro, fevereiro, março e abril, média, no período) em comparação O tempo médio de assistência
seguido de equiparação no mês ao padrão de referência (6,2 h). Em de enfermagem, segundo o tipo de
de maio e crescente elevação nos relação à distribuição do tempo de cuidados despendido aos pacien-
meses subsequentes. Dessa forma, assistência entre as categorias en- tes constitui um indicador objetivo
o tempo médio de cuidados semi- fermeiros e técnico-auxiliares de para a avaliação do quantitativo e
intensivos, no período em estudo enfermagem, constatou-se, nes- qualitativo dos profissionais de en-
(9,2 horas), esteve muito próximo ses cuidados, que esteve próxima fermagem das unidades de inter-
do tempo padrão (9,4 horas). (4 horas em média no período) ao nação de instituições hospitalares.
Entretanto, o tempo médio de estabelecido pelo COFEN12 (4,2 A avaliação desse indicador torna
assistência da categoria enfermei- horas), em prejuízo à categoria de possível estabelecer comparações
ro manteve-se sempre abaixo (2,7 enfermeiros, que mantiveram o com o tempo de cuidado padrão
horas em média no período), em tempo sempre abaixo (1,1 horas) proposto pelo COFEN, que propõe
relação ao padrão estabelecido (3,9 do tempo esperado (2 horas): uma tempos de cuidados intensivos,
horas), pelo mesmo motivo con- hora a menos, em média, por pa- semi-intensivos, intermediários e
siderado anteriormente. O tempo ciente, nas 24 horas. mínimos.
médio de assistência dos técnico- No que diz respeito à distribui- No presente relato de expe-
auxiliares de enfermagem man- ção da carga de trabalho entre as riência, observou-se que as horas
teve-se, evidentemente, sempre categorias profissionais que com- de assistência de enfermagem re-

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Tempo de assistência de enfermagem como indicador de gestão de pessoas

ferente aos pacientes de cuidados de cuidado, facilita a comparação ministração de medicamentos, de


intensivos são significativamente das horas de cuidado de enferma- pneumonia associada à ventilação
inferiores às estabelecidas pelo pa- gem entre instituições similares. mecânica, entre outros efeitos ad-
drão COFEN, sinalizando a neces- As informações obtidas, em versos, evidenciando a qualidade e
sidade de verificar a qualidade dos relação ao tempo de cuidado, en- a segurança da assistência de enfer-
processos assistencias, bem como quanto instrumento gerencial magem prestada.
os efeitos da redução dessas horas possibilita avaliar as condições A análise sistemática desse indi-
na saúde e na qualidade de vida no de recursos humanos existentes cador permite, também, controlar
trabalho da equipe de enfermagem e, ainda, correlacioná-las com os as áreas de maior risco, com o obje-
que presta esses cuidados. indicadores do processo assisten- tivo de intensificar atitudes e propor
A metodologia apresentada cial, tais como: incidência de úlce- melhorias contínuas que demons-
para operacionalizar a mensuração ra por pressão, de quedas, de não trem maior cuidado no desenvolvi-
dos tempos de assistência, por tipo conformidade relacionada à ad- mento das atividades profissionais.

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Recebido em 18 de abril de 2011


Aprovado em 27 de maio de 2011

O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(3):344-349. 349

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