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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI


CAMPUS HERÓIS DO JENIPAPO- CAMPO MAIOR- PI
COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA
LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

IRISDORA CUNHA DOS SANTOS

GERSON KAIO LIMA BORGES

O MERCADO PÚBLICO DE CAMPO MAIOR-PI: SUA REPRESENTAÇÃO PARA


OS PERMISSIONÁRIOS.

A URBANIZAÇÃO LITORÂNEA NAS COMUNIDADES DE


ATALAIA E COQUEIRO NO MUNICIPIO DE LUÍS CORREIA-PI

CAMPO MAIOR-PI
2018
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IRISDORA CUNHA DOS SANTOS

O MERCADO PÚBLICO DE CAMPO MAIOR-PI: SUA REPRESENTAÇÃO


PARA OS PERMISSIONÁRIOS.

Monografia apresentada ao Curso de


Licenciatura Plena em Geografia da
Universidade Estadual do Piauí como
requisito para a obtenção do título de
Licenciado em Geografia.

Orientador. Dr. Antônio José Castelo Branco


Ribeiro.

CAMPO MAIOR- PI
2018
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AGRADECIMENTOS

“Luz que me ilumina o caminho. E que me ajuda a seguir. Sol que brilha à
noite, a qualquer hora, me fazendo sorrir. Claridade, fonte de amor que me acalma e
seduz” meu agradecimento especial a Deus, resumido no trecho da música Luz
Divina de Roberto Carlos e ao Espírito Santo que através dos seus Dons me inspira
e me fortalece nos momentos em que mais preciso.
Agradeço a mim mesma, pela pessoa que me tornei, pelos meus esforços, e
por acreditar que apesar das dificuldades, chegarei onde me for mais cômodo.
À minha querida mamãe, ser de luz, singela, paciente, guerreira, minha
fortaleza e meu refúgio, enfim, exemplo de mulher, por seus ensinamentos e
conselhos, por me fazer forte e acreditar que a vitória irá chegar. Ao meu irmão que
me incentiva dia após dia, e sempre acredita no meu potencial, ao meu pai (in
memória) que sempre acreditou na minha formação.
Ao meu Orientador Prof. Dr. Antônio José Castelo Branco Ribeiro por ter
contribuído nas orientações do meu trabalho, e nos grandes ensinamentos durante
as disciplinas, admiro sua inteligência.
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), por
proporcionar o vínculo e tamanha experiência com a sala de aula, me fazendo
perceber que o ato de ensinar é ao mesmo tempo o de aprender, onde podemos
superar as dificuldades educacionais.
Agradeço também aos meus colegas de turma, que mesmo diante da
diferença de cada um, contribuíram para minha aprendizagem através da nossa
convivência, mas em especial aos amigos do “fundão”: Wesllanya, uma amiga/irmã,
que o destino tratou de nos apresentar novamente no curso, pelo companheirismo
na vida acadêmica e pessoal; à Natália, pelos momentos descontraídos, pelas
estórias engraçadas, pela companhia durante o PIBID; Ao Anderson, com seu
jeitinho meio tímido e responsável, pelos momentos de companheirismo na sala de
aula, nos trabalhos, e no PIBID; Ao Francinaldo, sempre na dele, amigo/irmão muito
além da UESPI; ao Lucas, que apesar de teimoso, carrega uma simplicidade, que
cativa à todos; ao Marcelo, pelas ajudas, pelas digitações, pelo companheirismo,
pelos momentos que me enchia a paciência, enfim, pelos momentos descontraídos,
e ao Gilson, o que dizer dessa pessoa, um guerreiro, batalhador, que também
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carrega uma simplicidade tremenda, que além de tudo se mostrou defensor da


nossa turma, sempre nos representando e lutando por nossos direitos, um grande
amigo. Torço pelo êxito de todos, sentirei saudades.
Aos professores, pelos ensinamentos dessa ciência que me encanta, mais,
além disso, por me tornarem uma pessoa mais crítica, todos ao seu modo,
contribuíram e tanto, para o meu crescimento pessoal e intelectual, mais deixo
registrado o professor Hidelberto Carvalho vulgo “queridão” o apelido faz jus à
pessoa que ele é, obrigada por nos levar além dos muros da sala de aula através
das perfeitas aulas de campo, onde pudemos aliar teoria e prática.
4

“Cada lugar é, à sua maneira, o mundo”.


Milton Santos.
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RESUMO

O presente trabalho objetiva analisar a relação de determinados atores sociais com


seu local de trabalho, a partir das suas percepções e vivências. Além de verificar
como o tempo de permanência contribui para sua identificação com esse espaço, e
como tais aspectos influenciam no senso de pertencimento ou na significação do
mesmo enquanto “espaço vivido”. A pesquisa foi fundamentada nos estudos de
teóricos que fazem a abordagem sobre a temática como Carlos (2007), Holzer
(1997), Santos (2006), Tuan (1983), etc. Tendo como área de estudo o Mercado
Público Municipal Jaime da Paz, em Campo Maior – PI, por ser um espaço não só
de trocas comerciais, mais um local democrático, de convivência social, de
resistência, onde através das relações simbólico-culturais contribuiu para o
entendimento das relações subjetivas do homem, que através de suas vivências o
tornam um lugar. Do ponto de vista da abordagem do problema a pesquisa é do tipo
qualitativa. Para o levantamento e coleta de dados foi realizada pesquisa de campo,
através da aplicação de um roteiro de entrevista junto aos sujeitos da pesquisa, os
Permissionários. Foi possível verificar que os permissionários apresentam e
atribuem sentimento de pertencimento e identidade para com o mercado, através
das percepções, vivências, apropriações, significados e valores, o que significa
espaço vivido, espaço do cotidiano, colaborando assim para a constituição do lugar.

Palavras–Chaves: Lugar. Mercado. Permissionários.


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ABSTRACT

The present work aims to analyze the relationship of certain social actors with their
workplace, based on their perceptions and experiences, as well as to verify how the
permanence time contributes to their identification with this space and how these
aspects influence the sense of belonging or in the meaning of it as "lived space".
The research was based on the studies of theorists who approach the subject as
Carlos (2007), Holzer (1997), Santos (2006), Tuan (1983), etc. Having as study area
the Municipal Public Market Jaime da Paz, in Campo Maior - PI, as a space not only
for trade, but also a democratic place, social coexistence, resistance, where through
symbolic-cultural relations contributed to the understanding of the subjective relations
of man, who through his experiences make him a place. From the point of view of the
problem approach the research is of the qualitative type. For the survey and data
collection, a field survey was carried out, through the application of an interview script
with the subjects of the survey, the Permissionaries. It was possible to verify that the
permission holders present and attribute a sense of belonging and identity to the
market, through perceptions, experiences, appropriations, meanings and values,
which means lived space, space of the daily life, thus collaborating for the
constitution of the place.

Keywords: Place. Marketplace. Permissionaires.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Localização da área de estudo.............................................................. 34


Figura 2 - Vista externa do Mercado Jaime da Paz. ............................................. 35
Figura 3 - Vista lateral do Mercado Jaime da Paz................................................. 35
Figura 4 - CROQUI DA ÁREA INTERNA DO MERCADO. ...................................... 36
Figura 5 - BLOCO DOS CEREAIS. .......................................................................... 37
Figura 6 - BLOCO DE FRUTAS E VERDURAS. ..................................................... 38
Figura 7 - BLOCO DAS REFEIÇÕES. ..................................................................... 39
8

LISTA DE ABREVIATUARAS E SIGLAS

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA


NUTEAD - NÚCLEO DE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA
CODEVASF – COMPANHIA DO DESENVOLVIMENTO DOS VALES DO SÃO
FRANCISCO E PARNAÍBA
SMDR – SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1 - GEOGRAFIA HUMANISTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A


EVOLUÇÃO DESSE CAMPO DE ESTUDO. ............................................................ 13

1.1 Principais estudiosos da Corrente Humanista. ....................................... 15

1.2 Fenomenologia: a base filosófica da Geografia Humanista ................... 20

CAPÍTULO 2 – A COMPREENSÃO DO LUGAR NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA. ..... 24

2.1 Lugar como representação do espaço vivido. ............................................ 27

2.2 O não lugar ..................................................................................................... 30

CAPÍTULO 3 - A ÁREA DE ESTUDO ...................................................................... 32

3.1 Os Mercados Públicos. .................................................................................. 32

3.2 Localização e caracterização do Mercado Público Municipal Jaime da Paz


............................................................................................................................... 33

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 52

APÊNDICE ................................................................................................................ 56
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INTRODUÇÃO

O estudo do lugar tem suas raízes voltadas à Geografia Humanista, está


ancorada na fenomenologia, cuja essência está baseada na subjetividade, ou seja,
nas relações das experiências humanas baseada na intuição, nos sentimentos, no
cotidiano, na vivência, na experiência de mundo, que o leva a obter identidade por
um determinado espaço.
Essa corrente surge da necessidade de renovação desta ciência, visto que,
era contrária à geografia de cunho lógico-positivista, para tanto os geógrafos
buscaram se apoiar em aportes filosóficos para uma aproximação com a geografia
humanista. Dentro desta concepção, o espaço adquire apenas o significado de
espaço vivido, e o lugar passa a ser o elemento de estudo desse campo. Segundo
Santos (2011, pág. 77), “o estudo do espaço envolve, então, os sentimentos
espaciais e as ideias de um povo através da experiência, enquanto o lugar é o
centro de significado e foco de vinculação emocional para o homem”.
De acordo com Ferreira (2000), por muito tempo o conceito de lugar na
Geografia Tradicional foi considerado problemático, porém, o lugar tem se
apresentado como um conceito capaz de ampliar as possibilidades de entendimento
de um mundo cada vez mais contemporâneo que ao mesmo tempo se fragmenta e
se unifica em velocidades cada vez maiores.
O conceito de lugar inicialmente foi associado à ideia de região, sendo
utilizado por La Blache e Sauer, entretanto, não aprofundaram este estudo. Só a
partir da década de 70, é que a Geografia Humanista retoma a discussão deste
conceito associando-o às bases filosóficas da Fenomenologia e do Existencialismo.
A partir da década de 80 o conceito de lugar também passa a ser abordado pela
geografia radical, de base marxista que via o lugar como uma perspectiva regional
sobre o global, das relações entre espaço-tempo e ambiente (FERREIRA, 2000).
Partindo dessas argumentações o mercado público é o lugar em que os
permissionários mantem suas atividades e relações cotidianas, onde este espaço
possui um significado de pertencimento e identidade, ganhando significado e se
constituindo como universo de afetividade, referências e pertencimento para com o
mesmo.
Para o desenvolvimento do estudo, foram realizadas leituras a partir das quais
se delineou o referencial teórico acerca da temática escolhida, por meio de livros e
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dissertações, entre os principais teóricos que fazem a abordagem sobre a temática


estão: Carlos (2007), Holzer (1997), Santos (2006), Tuan (1983), etc.
A pesquisa foi realizada no Mercado Público Municipal Jaime da Paz, em
Campo Maior – PI, por ser um espaço não só de trocas comerciais, mais um local
democrático, de convivência social, de resistência, onde através das relações
simbólico-culturais contribuiu para o entendimento das relações subjetivas do
homem, que através de suas vivências o tornam um lugar.
Para o levantamento e coleta de dados realizou-se a pesquisa de campo que
para Lakatos (2003, pág. 186) “busca informações e/ou conhecimentos acerca de
um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se
queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”.
Além disso, foi aplicado o roteiro de entrevista junto aos sujeitos da pesquisa,
os Permissionários, totalizando 22 entrevistas de forma aleatória e voluntária, a
coleta de dados se deu em três dias também aleatórios, porém, no primeiro dia
foram entrevistados 9 permissionários por meio da descrição das informações onde
foi possível perceber a perda de algumas informações, entretanto, a segunda etapa
e a terceira utilizou-se de gravador de voz, onde as informações foram mais claras.
Por fim, foi feita a transcrição tanto das entrevistas copiadas quanto gravadas e a
análise destas para os resultados e discussões, é importante frisar que as falas dos
entrevistados foram identificadas apenas com as letras do alfabeto.
Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa do tipo
qualitativa, permite à aproximação do real e do sujeito tendo como alicerce os
hábitos, as tendências, as atitudes comportamentais do ser humano, onde o
pesquisador é essencial nesse processo, por participar, compreender e interpretar
os dados pesquisados. (NÚCLEO DE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO ABERTA E A
DISTÂNCIA – NUTEAD, 2010).
O presente trabalho apresenta como objetivo geral analisar a relação dos
permissionários com o mercado enquanto lugar, e como específico: Identificar as
percepções e vivências dos Permissionários em relação ao Mercado; Verificar como
o tempo de permanência contribui para sua identidade com esse lugar;
Compreender o senso de pertencimento ou a significação do Mercado para os
permissionários enquanto “espaço vivido”.
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Está estruturado em 4 capítulos, o primeiro faz considerações sobre a


evolução do campo de estudo da Geografia Humanista, sintetiza sobre os principais
estudiosos dessa corrente, além de abordar sua base filosófica: A Fenomenologia.
No segundo capítulo, são apresentadas considerações sobre o lugar na
ciência geográfica, o sentido de lugar como espaço vivido e uma breve consideração
sobre o não lugar.
O terceiro capítulo apresenta o recorte espacial da pesquisa, o Mercado
Público Municipal Jaime da Paz, iniciando com um breve histórico sobre a origem
dos Mercados e em seguida abordando a localização e a caracterização da área de
estudo.
No quarto capítulo se apresenta a pesquisa empírica, com os resultados
alcançados e sua análise, elucidando o problema proposto. E posteriormente as
considerações finais.
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CAPÍTULO 1 - GEOGRAFIA HUMANISTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A


EVOLUÇÃO DESSE CAMPO DE ESTUDO.

A Geografia Humanista começou a ser elaborada como disciplina, nos


Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial, tendo suas raízes na
Geografia Cultural, onde ambas possuem temas em comum, estando inter-
relacionadas (HOLZER, 1939).
Segundo Claval (1999 apud Corrêa, 2009), a geografia cultural tem seus
primórdios na década de 1890 e vai até 1940, onde priorizava a paisagem cultural e
os gêneros de vida, resultantes das relações entre sociedade e natureza.
Corrêa (2009) coloca que a segunda fase da geografia cultural vai de 1940 a
1970, se retrai frente à força da geografia regional hartshorniana, e à revolução
teórico-quantitativa em um segundo momento, entre 1955 e 1970, com estudos
sobre lógicas locacionais e estudos urbanos. Só a partir da década de 1970, que a
geografia cultural passa por transformações no que diz respeito à epistemologia,
teóricos e metodologias, gerando uma geografia crítica que irá adentrar em diversos
subcampos, tendo como consequência o surgimento, a configuração da geografia
cultural renovada na década de 1980.
A Geografia Humanista apresenta como espelho a Geografia Cultural, que
segundo Corrêa (2000) está baseada nas filosofias do significado, principalmente no
campo filosófico da fenomenologia, sendo contrária à geografia de cunho lógico-
positivista, que dominava até então, pois o seu conhecimento científico era baseado
em dados objetivos, não abarcando os elementos da subjetividade humana.
O foco principal do geógrafo cultural são os significados, e o principal
direcionamento da geografia cultural é a interpretação das representações
construídas por diferentes grupos sociais a partir das suas próprias experiências e
práticas. A corrente humanista também aborda “questões associadas aos
significados e valores humanos relacionados à interpretação das paisagens culturais
e lugares” (CORRÊA, 2009).
Segundo Melo (2009), a geografia humanista surge no contexto da ciência
geográfica pela necessidade de renovação da mesma, sendo resultante da revisão
de conceitos e bases filosóficas da geografia cultural e histórica norte-americana.
Manifesta-se no momento em que o mundo passava por transformações, precisando
ser estudado não por base positivista, mas que acompanhasse tal dinâmica,
14

superando a descrição e a quantificação, além da busca por novas técnicas e


análise geográfica.
O estudo da geografia humanista surge do empenho de geógrafos
interessados em renovar a ciência geográfica procurando abordar a subjetividade
das ações humanas, adotando como base filosófica a fenomenologia existencialista
e o conceito espacial de lugar, na busca de uma aproximação com a “geografia
humanista” (HOLZER, 1939). Sua essência está baseada na subjetividade, na
intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência,
valorizando o singular e não o particular ou o universal, busca a compreensão do
mundo real e não a explicação (CORRÊA, 2009).
Segundo Holzer (1939) resultou de um longo processo de revisão e de
renovação da Geografia Cultural e Histórica norte-americana, baseada nas ideias
sínteses da fenomenologia, do existencialismo, do estruturalismo e idealistas, ou
seja, toda a essência desses postulados filosóficos que se encaixava na geografia
foi valorizada, dentre elas: a valorização do mundo vivido, a experiência e
intencionalidade humanas, o autoconhecimento, a interdisciplinaridade e o
intercâmbio com as humanidades.
Esse movimento não possuía um modelo, surge apenas com sua identidade,
até mesmo porque o apego a algo fixo era condenado pelos humanistas, entretanto,
ainda haviam os que eram contra o surgimento de uma ciência sem método, tanto
que o humanismo foi qualificado de marxista, existencialista ou fenomenológico
(GOMES, 2014).
No Brasil a Geografia Cultural evidencia-se a partir de 1980, onde segundo
Malanski (2014) esta ciência passava por crise paradigmática, foi com a tradução
dos livros “Topofilia” e “Espaço e Lugar” de Yi Fu Tuan, que a Geografia Humanista
passou a ser mais valorizada, contribuindo para os estudos culturais e humanistas.
A partir de 1993 se desenvolve com a criação de núcleos de pesquisa, tal
como o Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Espaço e Cultura do Departamento de
Geografia da UERJ, que edita o periódico Espaço e Cultura, a publicação eletrônica,
Textos NEPEC e a coleção de livros Geografia Cultural (CORRÊA, 2009).
Por conseguinte, a Geografia Humanista no Brasil é um campo recente de
estudo, que foi sendo desenvolvida a partir de estudos de geógrafos que se
interessaram em discutir a difusão dessa corrente através de pesquisas bem atuais.
15

1.1 Principais estudiosos da Corrente Humanista.

Para o entendimento da Geografia Humanista, é preciso conhecer o seu


processo de formação e evolução a partir da escola francesa da geografia através
de Ratzel, que era alemão, entretanto, contribuiu na concepção dos franceses dessa
geografia cultural. Sua influência se deu por princípios que buscavam mapear e
descrever as áreas onde os homens viviam, através do determinismo geográfico,
mas utilizou-se do termo geografia cultural em estudo em 1880, quando argumentou
que “a cultura engloba os utensílios e o know-how que permitem ao homem
apropriar-se do espaço, sob um aspecto mais material”. Todavia, Ratzel apesar de
inserir o homem nos estudos geográficos, ainda o fez como uma ciência natural
(MANNICH, 2013).
Segundo Morais (1998 apud Mannich, 2013), outro geógrafo que influenciou
este campo foi Vidal de La Blache, alicerçado pelas ideias de Ratzel, interessou-se
pelo estudo da relação do homem e a natureza, mas voltando-se as paisagens.
Carl Sauer, também contribuiu para o desenvolvimento da geografia, com
suas concepções de que a relação do homem com o espaço que habita é expressa
através da paisagem cultural. Propunha que o estudo das paisagens poderia ser
delimitado pela Fenomenologia da paisagem, para o entendimento da influência do
homem sobre as transformações que neste ocorre, transformando-a em paisagem
cultural (HOLZER, 1997). A partir dessas ideias a geografia norte-americana se
desprende do determinismo ambiental, ampliando as possibilidades de
desenvolvimento da geografia humana com enfoque cultural (MANNICH, 2013).
Este geógrafo se destaca na geografia cultural por ter delimitado três campos
de estudo para a geografia, são eles: o estudo da terra como meio de processos
físicos; o estudo das formas de vida como sujeito de seu ambiente físico; e o estudo
da diferenciação por áreas ou de habitats da terra, que foi o mais valorizado pelos
geógrafos norte-americanos (HOLZER, 1939).
Conforme Holzer (1939) foi através do artigo de Sauer “The Morfhology of
landscape” (A Morfologia da paisagem) que ele introduziu a fenomenologia no
estudo da paisagem na captação do significado e da riqueza da diferenciação de
áreas, onde observava os objetos contidos na paisagem em suas interrelações,
propondo uma visão holística dos atos do lugar.
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A paisagem serviu, portanto, como sinônimo das relações do homem com o


meio, conforme Holzer: “a paisagem era assim utilizada como uma unidade dialética
da expressão cultural, que se prestava à integração de todos os fenômenos
abordados pela geografia a partir da valorização do habitat do homem” (HOLZER,
1939, pág. 110).
Eric Dardel, na década de 50 através da obra “L’ Homem et La terre: nature
de la réalité géographique” (O homem e a terra: natureza da realidade geográfica)
também contribuiu para os estudos da geografia. Suas ideias eram muito
avançadas, indo além dos limites aceitos pelo pensamento positivista da época
(MANNICHI, 2013). Dardel foi um geógrafo humanista esquecido, porém, com essa
publicação possibilitou que o geógrafo Relph, a utilizasse na década de 70 através
do artigo “Place and Placelessness” (Lugar e Espaço) dando visibilidade ao livro de
Dardel (HOLZER, 1939).
Ainda, segundo Holzer (1939), sua obra associou filosofia à geografia,
baseando-se sobre a ótica fenomenológica ou humanista, considerava que a
geografia não era uma disciplina científica simples, pois o fato da existência humana
não podia ser objetivado pela ciência, exigindo outro tipo de análise.
Dardel procurou uma definição para espaço geográfico e espaço geométrico,
aquele seria homogêneo, uniforme e neutro, e este é único, tem nome próprio, o que
exige uma atitude exploratória que alie ao rigor da ciência a observação pessoal e
poética (HOLZER, 1939). Para ele, era necessário que os homens soubessem se
relacionar geograficamente com o espaço, e tivessem uma percepção do mesmo,
para que em seguida partissem para um estudo formal da geografia. Suas ideias
ultrapassaram as concepções positivistas e tiveram relevância para a geografia
humanista (MANNICHI, 2013).
Já David Lowenthal juntamente com Yi- Fu Tuan foram os pioneiros da
geografia humanista. O primeiro foi influenciador do aparecimento da geografia
comportamental, pois buscou desvendar como funcionava a percepção humana,
vinculando-se então ao pensamento da geografia humana. Para ele a geografia é a
ciência que mais agrega elementos da vida cotidiana, numa visão mais pessoal, que
só é compartilhável em partes e que é passageira (HOLZER, 1939).

[...] tanto a visão geral do mundo como os ambientes pessoais


transcenderiam, de alguma maneira, a realidade consensual objetiva,
17

ou seja, o que as pessoas percebem compartilhadamente


pertenceria ao mundo “real”, gerando um ajuste imperfeito entre o
mundo exterior e as visões pessoais que são tidas sobre ele
(HOLZER, 1939, pág. 113).

Para Lowenthal, as visões pessoais são singulares, pois cada indivíduo


possui características intrínsecas, ajustando-se ao meio e reagindo aos estímulos de
maneira diferente, estrutura o mundo a partir da sua vivência e sua linguagem se
adapta às visões pessoais que tem do mundo. Tais características fundamentaram
uma nova epistemologia para a geografia, que daria direção à geografia humana.
O geógrafo John Kirtland Wright por meio da “geografia histórica” ou “geosofia
histórica” propôs estudos que explorassem a imaginação que povoa a mente das
pessoas, através da subjetividade, com isso produziriam trabalhos de conhecimento
geográfico, tanto de geógrafos quanto de não geógrafos (HOLZER, 1997). Os
estudos formais ele denominou de sofogeografia e os não formais de geosofia
(HOLZER, 1939).
A geosofia a que se refere Wright se basearia naquilo que as pessoas
compreendem e percebem, onde o seu conhecimento mesmo através do senso
comum, serviria de apoio aos estudos geográficos. Conforme Mannich (2013, pág.
17) “estaria baseada por dois domínios: os estudos formais e os trabalhos não
científicos, que apresentam concepções mais subjetivas do mundo”. Assim, Wright
valorizava a subjetividade, pois argumentava que os geógrafos tinham a capacidade
de utilizar sua imaginação geográfica, mas também a dos outros (HOLZER, 1939).
Yi - Fu Tuan é um dos principais autores da geografia humanista, pelo grande
número de publicações. Em alguns artigos publicados por Tuan, foram exaltadas
características como: a procura da interface com as artes, da base fenomenológica –
existencialista, e da valorização da experiência vivida (HOLZER, 1939). Assim como
outros autores da época, como Lowenthal, que valorizava a memória “como
produtora de imagens provenientes da experiência concreta, e na importância
atribuída a essas impressões pela memória no relacionamento entre o corpo e o
espírito” (HOLZER, 1939, pág. 114).
Conforme Holzer (1939) foi com Edward Relph em 1970, que iniciou sua
observação da fenomenologia como aporte filosófico para com as aproximações
humanistas na geografia. Este método estaria propício para a descrição do mundo
18

cotidiano das experiências imediatas do homem, entretanto, não serviria para a


análise ou explicação do mundo objetivo através do desenvolvimento de teorias.
De acordo com Relph, a fenomenologia foi pouco valorizada pelos geógrafos,
com exceção de Sauer, mas a partir do momento que os mesmos se utilizaram
desta na geografia, as consequências foram: a visão de unificação e integração do
homem com o ambiente, além da crítica ao cientificismo e positivismo que
dominavam a geografia (HOLZER, 1939).
Ainda baseado em Holzer (1939) em 1974, Anne Buttimer publica o livro
“Values in Geography” (Valores em Geografia), onde destaca o existencialismo
como fonte de contribuição filosófica para o estudo dos valores. É a partir deste que
os valores são abordados, pois permeiam todos os nossos atos de vivência e
pensamento, que chegam até nós através da experiência pessoal adquirida, dando
destaque ao indivíduo.
De acordo com Marandola Junior (2005), Anne Buttimer utilizou-se da
Fenomenologia Existencialista, apontado pela autora como o melhor aporte teórico-
conceitual para ser utilizado pela ciência geográfica. Para ela, a fenomenologia
pesquisaria sobre os problemas do conhecimento, e o existencialismo valorizaria as
condutas da vida, colocando a questão da ambivalência entre o ser e a existência,
ambas com o objetivo da “exploração e a compreensão dos significados e dos
valores humanos”.
Segundo Marandola Junior (2005), outro filósofo que contribuiu para reflexões
mais abrangentes para o estudo geográfico foi o francês Maurice Merleau-Ponty,
que utilizou-se de sua Fenomenologia da percepção, a partir de reflexões sobre a
experiência no/do mundo vivenciado pelos indivíduos em sua existência. Para este
filósofo, a Fenomenologia é a filosofia das essências, que são repostas na
existência, que busca compreender o homem e o mundo através da sua
“facticidade”.
Merleau-Ponty, considera que nossa relação com o mundo é uma existência
imbricada com a experiência, além da necessidade da existência do outro, pois o
mundo não é composto apenas por objetos, mas pelos “eus” que não são iguais,
ampliando a subjetividade na intersubjetividade. Por isso, o mundo não é uma
totalidade, por não ser possível abarca-lo ou experienciá-lo totalmente, apenas
vivenciá-lo (MARANDOLA JÚNIOR, 2005).
19

Buttimer, Relph e Tuan foram os principais expoentes da geografia


humanista, eles contribuíram para a exaltação e consolidação da fenomenologia
existencialista e o conceito de lugar.

Assim, geógrafos como Edward Relph, Anne Buttimer e Yi-Fu Tuan,


entre outros, foram buscar principalmente na fenomenologia e no
existencialismo, a base teórica para formular uma concepção de
espaço que se distanciasse consideravelmente das proporções
matemáticas e sistemas de análises propostos pelos geógrafos
quantitativos (BARTOLLY, 2007, pág. 92-93).

Tuan contribuiu significativamente, na adoção da geografia humanista,


principalmente adotando uma identidade própria, seus trabalhos versavam sobre as
atitudes do homem em relação ao ambiente que culminou com a publicação de sua
obra “Topophilia” em 1974 e também no conceito de lugar. Pois, era propício pra o
estudo das características subjetivas da pesquisa e para uma base filosófica
fenomenológica, existencialista e estruturalista, que culminou com o livro “Space and
Place” em 1977(HOLZER, 1939).
Segundo Melo (2009), a fenomenologia teve maior força na década de 1960,
entretanto, Sauer e Dardel já faziam uso da vertente filosófica do existencialismo,
que valoriza a essência do ser. Foi com Relph que a Fenomenologia passou a ser
vista como acessível na geografia. Segundo ele, poderia ser utilizada para descrever
o cotidiano através das experiências humanas, sendo uma possibilidade de base
proveniente da filosofia, para entender as experiências individuais.
De acordo com Holzer (1997), a geografia humanista continuou a sua
expansão durante a década de 80, com diferentes propostas e indo além do público
inicial dos geógrafos culturais e históricos norte-americanos. Com isso ocorreram
algumas discussões, dentre elas: o debate filosófico, que passou a ser específico da
geografia; a questão da validade de paradigmas, pois para os geógrafos o
humanismo era anti-paradigmático; cresceu a controvérsia sobre quais seriam os
temas e os objetivos da geografia humanista; tentativa de aproximação dos
conceitos humanistas e marxistas.
A geografia humanista também teve seus críticos, dentre eles Pickles, que
argumentou que a fenomenologia não havia sido adotada rigorosamente nesse
campo, pois fazia distinções entre “fenomenologia geográfica”, pois o método
fenomenólogico era adotado de forma holística, e a “geografia fenomenólogica”
20

praticada pelos humanistas, onde vários conceitos da geografia tradicional foram


adaptados, levando a um resultado diferente do projeto original da fenomenologia
(HOLZER, 1997).
Esse movimento passou a valorizar o estudo dos costumes e hábitos
marcados no tempo e que sustentam a importância primordial da cultura, geralmente
esquecida pela ciência em sua versão racionalista, valorizou o homem pela sua
capacidade de atribuir valores às coisas, colocando-o como produtor de cultura.
Além disso, resgatou o homem numa nova dimensão, através da alteridade, através
da interação do “eu” e do “outro”, retomou a visão antropocêntrica do saber,
entretanto, considerando que a ação humana não pode se desvirtuar de seu
contexto, seja ele social ou físico (GOMES, 2014).
Ainda segundo Gomes (2014), quanto aos geógrafos, à geografia humanista
o coloca como um portador de observação e interpretação, por ter maior
sensibilidade em compreender a atividade humana, principalmente a que se exerce
espacialmente, com capacidade de interpretar analogias, valores, representações e
identidades que figuram o espaço.
Portanto, a geografia humanista surge da necessidade de novas diretrizes
para a ciência geográfica, pois as abordagens positivistas e científicas já não
atendiam aos direcionamentos dos estudos humanistas, dessa forma surgiu como
uma oportunidade de renovação desta ciência, buscando através da experiência
humana, dá novos sentidos ao espaço através da categoria lugar.

1.2 Fenomenologia: a base filosófica da Geografia Humanista

O termo fenomenologia foi criado em 1964 por J. H. Lambert, recebendo


contribuições de outros filósofos como Kant, Hegel, Husserl e Heidegger (GOMES,
2014). A fenomenologia é dita como uma escola filosófica do qual o pai e mestre é
Edmund Husserl, tem seus primórdios na Alemanha, no final do século XIX e início
do século XX. A etimologia da palavra vem de origem grega, onde “Fenômeno”
designa aquilo que se mostra, que aparece ou parece, já “Logia” deriva da palavra
logos, de pensamento, palavra, ou seja, capacidade de refletir (BELLO, 2006).
Ainda segundo Bello (2006) a palavra fenomenologia, considera a nossa
capacidade de reflexão como seres humanos, sobre um determinado fenômeno ou
21

sobre aquilo que se mostra, seja sobre a coisa física ou abstrata. A compreensão do
fenômeno e o seu sentido, se dá através da filosofia que busca o sentido das coisas.
Argumenta Suertegaray (2005, pág. 29) que “a fenomenologia privilegia o
sujeito do conhecimento, na medida em que nega a consciência como ato
observável, ou como alma, e a considera o ato de construir essências ou
significações” e a conceitua.

Fenomenologia é a descrição de todos os fenômenos ou essências


que aparecem à consciência e que são constituídas pela própria
consciência, isto é, são as significações de todas as realidades,
sejam elas naturais, materiais, ideais ou culturais (SUERTEGARAY,
2005, pág. 30).

A fenomenologia como campo de conhecimento deu sustentação para o


avanço da geografia humanista através das suas características tais como
subjetividade, intuição, sentimentos, experiências, simbolismos, essas são muito
singulares, entretanto, foram evidenciadas como forma de renovação no estudo da
relação do homem com o espaço, que não eram valorizados pelo conhecimento
científico da área. Tem como uma de suas características, a valorização dos
fenômenos da consciência, que se interessa não pelo mundo físico, mas sim pelo
conhecimento que os indivíduos apreendem (ROCHA, 2002/2003 apud MANNICH,
2013).
Segundo o pensamento Kantiano para o entendimento da fenomenologia, é
necessário raciocinar sobre como o conteúdo empírico de um fenômeno será
compreendido. Para entendermos os fenômenos precisamos de sensibilidade e
compreensão, frente à diversidade fenomenal, além de compreender pela
experiência ao mesmo tempo sensível e racional (GOMES, 2014).
Já na acepção hegeliana, a fenomenologia é construída a partir da
consciência, partindo da percepção simples do mundo, onde depois de internalizada,
ela é incorporada ao intelecto individual para a partir daí ascender ao saber absoluto
e à razão universal. A razão é mediadora para o alcance da consciência (GOMES,
2014).
Conforme Gomes (2014) a fenomenologia para Husserl é definida pela
intuição pura, para ele a racionalidade não pode ser a base do conhecimento, deve-
se procurar a essência das coisas através da consciência pura. De acordo com Bello
22

(2006), Husserl argumenta que para se chegar ao sentido das coisas seria
necessário percorrer um caminho através do método, que se daria por dois
caminhos: a redução eidética e a redução transcendental.
A redução eidética, corresponde ao fato do ser humano ser passível de
compreensão do sentido das coisas, ou seja, somos capazes de deduzir, a essência
das coisas. O sujeito percebe o fenômeno e busca um sentido para o mesmo,
procurando entendê-lo. Já na redução transcendental, Husserl toma o sujeito como
objeto de sua investigação. Diz ele que o sujeito tem consciência das coisas, quando
da nossa percepção, da consciência, da reflexão, sentidas através das sensações,
não só identificadas pelos cinco sentidos, mas que transcendem o mundo físico, que
nos atinge e ao mesmo tempo ocorre essa relação entre nós e o mundo físico
(BELLO, 2006).
De acordo com Melo (2009) a fenomenologia se baseia em princípios e
origens do significado e experiência, que não podem ser percebidos exclusivamente
pela observação e medição, mas sim das nossas vivências de mundo,
contemplando as bases formais do que denominamos geografia. Dentro desta
ciência, a fenomenologia direciona aos geógrafos a serem empáticos, excluindo
suas crenças, ou seja, que se coloque no lugar do sujeito que vivencia o fenômeno.
Segundo Nascimento e Costa (2016) a fenomenologia como método de
abordagem utiliza o sujeito para determinarem o objeto, pois são responsáveis por
constituírem o objeto, a partir do momento que o percebem no seu próprio entorno,
aflorando aí sua subjetividade.
Além disso, a fenomenologia conta com a intencionalidade e a
intersubjetividade fenomenológicas, que não ver os sujeitos de forma isolada, mas
em inter-relação com os demais, além das suas experiências que transcendem o
mundo físico, conforme Melo:

A intersubjetividade acontece quando um corpo se põe em contato


com o exterior e localiza outro corpo e acontece uma relação de
intropatia, ou seja, a relação entre o eu e o outro por mim percebido.
Isso garantiria a objetividade do objeto, já que nela o objeto é
idêntico em sua multiplicidade de aparência para muitos sujeitos: [...]
Há, portanto, uma existência intencional do objeto na consciência, já
que ele só tem sentido de objeto para uma consciência e esta lhe dar
significado ou definir sua essência, o faz a partir de muitas
significações que a consciência resgata e monta. (MELO, 2009, p.
11).
23

Essas características fenomenológicas citadas buscam compreender através


das relações cotidianas a percepção de como os indivíduos se reconhecem.
Entretanto, ambos têm uma visão distinta de um determinado objeto, dando-lhes
diferentes significações, principalmente no que se refere ao espaço.
Por meio da intersubjetividade ocorre à dialética entre o indivíduo e a
subjetividade que é intrínseca dele, num mundo constituído de valores, significados
e experiência pessoais, já a intencionalidade busca a compreensão da essência das
coisas, através da experiência ou consciência de algo (NASCIMENTO; COSTA,
2016).
Conforme Marandola Júnior (2005), ao utilizar a Fenomenologia no estudo
geográfico, a geografia considerou à relação homem-meio, enfocou as relações do
homem com o mundo, e acrescentando o existencialismo possibilitou a exploração
da existência e da experiência humana, argumenta que:

O estudo da experiência humana é uma busca pelo homem, e no


caso da Geografia, uma busca pela sua existência vinculada à sua
referência espacial. A necessidade para entender a dinâmica da
existência e da experiência humana como formas contínuas que
geram o ser e o homem, bem como sua imaginação, imaginário e
percepção, é fundamental para compreender sua relação espacial,
sua geograficidade. (MARANDOLA JUNIOR, 2005, p. 57).

Portanto, a geograficidade se resume em nossas experiências de vida numa


relação espaço-tempo, homem-mundo e homem-lugar que vão sendo construídas
desde o momento em que passamos a compreender as nossas vivências através
das nossas relações interpessoais e com as coisas que estão à nossa volta,
tornando-se lugar de vida. E a fenomenologia é a base teórica que possibilita o
entendimento do lugar, através do sujeito e sua relação com o objeto.
24

CAPÍTULO 2 – A COMPREENSÃO DO LUGAR NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA.

O termo lugar de acordo com a etimologia da palavra tem raízes do latim


significando localis ou lócus que significa lugar, ou seja, todas as materialidades
existentes ocupam um determinado lugar. Considerando que os seres humanos
sempre procuram um lugar para lhe proporcionar um senso de pertencimento, o
lugar é fundamental para suas diversas atividades, produtivas ou não (SÁ, 2016).
Por muito tempo a Geografia tratou o conceito de lugar, segundo esse
contexto, considerando-o sob uma dimensão pontual (localização espacial absoluta),
para que se pudesse ultrapassar tal entendimento o mesmo passou a ser visto sob
duas perspectivas: lugar e experiência e lugar e singularidade (GIOMETTI; PITTON;
ORTIGOZA, 2012).
Conforme Giometti, Pitton e Ortigoza (2012), o lugar como experiência é
resultante das relações dos indivíduos com o ambiente, a partir das experiências
vivenciadas e dos elos afetivos que o levam a se identificar com o mesmo.
Argumentam ainda, que é no lugar através das referências pessoais e os sistemas
de valores que instigam diversas formas de apreensão e construção da paisagem, e
o espaço geográfico.
O lugar como singularidade, resulta das expressões históricas e culturais
vinculadas tanto ao processo de formação quanto da expressão da globalidade
(GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012). Ou seja, o entendimento do lugar como
singularidade, resulta dos acontecimentos históricos e culturais, resultante das
vivências e expressões diárias intrínsecas que vão sendo construídas ao longo do
tempo.
Contudo, segundo Sá (2016) na Geografia através do olhar que enxerga a
ação do homem pelo trabalho, esse termo vai além do sentido de localização, onde
esta foi buscar na Fenomenologia a percepção dos lugares, das coisas e dos
objetos por parte do eu interior, subjetivo, existencial, que geram sentimentos
abstratos através das lembranças, sentimentos de apego ou não, cheiros, amores,
carinhos, existentes como objetos ideais.
Já o conceito de lugar dentro da corrente geográfica da Geografia Tradicional,
segundo Moreira e Hespanhol (2007) esteva baseado no positivismo e na
abordagem descritiva que através dos elementos do meio, utilizava-se do empirismo
raciocinado, partindo da observação para a intuição.
25

Na Geografia tradicional, para o entendimento de lugar, buscava-se


uma definição na qual se levassem em consideração as
especificidades naturais e culturais de uma determinada área e,
ainda, ligava-se à noção de localização e à particularidade das
parcelas do espaço (RIBEIRO, 2015, pág. 112).

Na Geografia Teorético - Quantitativa não era significativo, apesar do conceito


de lugar ser relevante dentro desta ciência, ele só vai se evidenciar na década de
1970, com a Geografia Humanista e com a ascensão da Geografia Cultural
(CORRÊA, 2000).

Para a Geografia humanística, o entendimento de lugar vai além da


simples visão de localização e de individualidade do espaço, pois o
homem, ao lançar sua visão sobre a porção do espaço, já vem
acompanhado de uma carga psicológica e, por consequência, traz a
sua percepção, significados, características e heranças culturais
(RIBEIRO, 2015, pág. 113).

Conforme Santos (1994 apud Moreira e Hespanhol, 2007), na Geografia


Crítica o lugar passou a ser visto como uma construção social, indo além do espaço
vivido da fenomenologia. A ideia de lugar passou a estar relacionada à de espaço
como sinônimos, pois todos os elementos de um lugar se inter-relacionam, e essa
dinâmica de causa e efeito entre os objetos e as ações, produzem uma relação entre
o que já existe internamente e o que passa a se internalizar.

A Geografia Crítica subsidia seus estudos sobre os lugares com


análises mais abrangentes, incorporando a ação dos fenômenos
externos. Já a Geografia Humanística considera os elementos
internos como responsáveis pela construção do lugar. Assim, o lugar
deixa de ser um espaço vivido e passa a ser uma construção
socioespacial evidenciada pela experiência [...] O lugar não deve
estar associado a uma necessidade antropológica e nem a um local
cognitivo, mas na integração das ações e dos atores, dos grupos e
das trocas materiais e imateriais (RIBEIRO, 2015, pág. 125)

Do ponto de vista de Moreira e Hespanhol (2007), baseado no materialismo


dialético, o pensamento de Santos não se restringe apenas ao lugar como espaço
vivido, mas acrescenta o cotidiano e a relação dialética do global e do local, do novo
e do velho. Santos (2006) considera o lugar, argumentando que:
26

No lugar, nosso próximo, se superpõem, dialeticamente, o eixo das


sucessões, que transmite os tempos externos das escalas superiores
e o eixo dos tempos internos, que é o eixo das coexistências, onde
tudo se funde, enlaçando, definitivamente, as noções e as realidades
de espaço e de tempo (SANTOS, 2006, pág. 218).

Já os geógrafos marxistas fizeram crítica ferrenha às abordagens humanistas,


baseadas na fenomenologia e no existencialismo. Pois, apontavam que a visão de
lugar como centro de relações afetivas, de significados e valores psicológicos, era
mais uma forma de desvinculação da análise da dinâmica espacial, de questões
importantes relacionadas aos conflitos sociais e a importância do capitalismo na
produção do espaço (BARTOLY, 2007).
Segundo Bartoly (2007), David Harvey foi um dos críticos a este sentido de
lugar, pois acreditava que seria oportuno para manter os privilégios de uma classe
social sobre determinada área. Porém, o lugar é visto por David Harvey como em
constante transformação, na medida em que os fluxos de capital se infiltram e
renovam o lugar.
Outra evidência do lugar na Geografia foi através do livro “Topofilia” de Yi Fu
Tuan, que possibilitou um primeiro contato com a geografia humanista, dando assim,
uma importante contribuição epistemológica para a geografia. Através deste livro,
possibilitou uma referência tanto aos estudos geográficos quanto para os geógrafos
que tem suas preocupações voltadas às relações com o ambiente, fazendo uma
nova abordagem na relação do homem com a natureza (CISOTTO. 2013).
Com estas correntes, o lugar passou a ser mais debatido, pois a relação do
homem com o meio passou a serem associadas, mas numa relação diferente da
Geografia Clássica. Essas correntes de posições filosóficas diferentes favoreceu
que o conceito de lugar tornou-se evidente (SANTOS, 2010).
De acordo com Amorim e Silva (2016), esta evidência do lugar pode ter sido
influenciada também pelos estudos regionais, já consolidados na Geografia, onde a
sociedade passa a ter um elo com o lugar quando se apropria e se identifica, tendo a
paisagem como elemento dessa relação de pertencimento que as pessoas têm com
o meio natural.

O sentimento de simpatia, estabelecido entre o geógrafo e a região


que ele estuda, é um dos elementos centrais da concepção
monográfica compartilhada pelos defensores do espaço vivido. A
região, que define, ao mesmo tempo, um espaço de pertencimento e
27

de inclusão a uma comunidade dada, inscreve também a


inteligibilidade do sentimento regional vivido pelos signos identitários
(GOMES, 2014, pág. 319).

Conforme Gomes (2014), o geógrafo já estabelecia simpatia para com a


região, considerando-a como elemento central para as descrições e pelos
defensores do espaço vivido, ou seja, a partir das teses regionais, já se
apresentavam traços do humanismo na geografia há muito tempo.
Segundo Carlos (2007, p. 23), “concomitante ao desenvolvimento da ciência
geográfica a noção de lugar evolui e se transforma por uma necessidade imposta
pelas transformações do mundo”. A noção de lugar tem se desenvolvido ao longo
das discussões geográficas, antes vista apenas como localização, tem evoluído à
medida que ocorre às transformações no mundo, entretanto, mantendo sua
essência, como espaço mais próximo do sujeito.

2.1 Lugar como representação do espaço vivido.

O início dos estudos sobre o espaço vivido se desenvolveu na França, sem


nenhuma relação com o humanismo fenomenológico, estando mais relacionado com
as ciências sociais do que com uma corrente filosófica. Sua base é oriunda das
bibliografias francesas, sobretudo de Vidal de La Blache e de Pierre Deffontaines
(GOMES, 2014).
Segundo Gomes (2014), a noção de espaço vivido foi renovada por Armand
Frémont, que tomou o espaço como uma dimensão da experiência humana dos
lugares, dando atenção especial às redes de valores e de significações materiais e
afetivas.
A ciência geográfica a partir do estudo do espaço vivido procura abordar a
singularidade e a individualidade dos espaços estudados, além disso, objetiva
fornecer um quadro interpretativo às realidades vividas espacialmente, este é uma
dimensão simbólica fundamental na existência humana (GOMES, 2014).
Segundo Suertergaray (2005), para a compreensão do espaço vivido, três
conceitos são essenciais: espaço, paisagem e lugar. O espaço não é o concebido
geometricamente, mas é o espaço vivido, experienciado. O que limita a superfície do
lugar experienciado é a paisagem, e por fim, o lugar, que abriga o centro de
28

significados expressando, tanto localização quanto o tipo de experiência com o


mundo.
O mundo vivido também abriga as interconexões com os elementos
geográficos, são espaços inter-relacionados, que se conecta com a dimensão
natural, social e cultural, além da fusão com espaços de imaginação e projeção. “É
um espaço concreto, porque vivido é único e não único persistente e mutável, faz
parte de nós e está à parte de nós” (SUERTEGARAY, 2005, pág. 31).
O lugar não deve ser compreendido simplesmente como territórios delimitados
com características “essenciais” “eternas” que de uma forma crescem do solo, mas
no entendimento da identidade do lugar também como produto de suas relações
com os outros (MASSEY, 2017, p. 230).
Segundo Tuan (1979, apud Côrrea, 2009) o espaço é compreendido, a partir
das experiências vivenciadas por um grupo ou povo, considerando sua afetividade
espacial. Para este autor, o lugar é como se fosse um “corpo”, uma “alma” que
transmite sentimentos às pessoas que lhe são mais próximas, oferecendo-lhes um
sentido, uma apreciação visual ou estética pelos sentidos, um campo de
representações simbólicas.
De acordo com Carlos (2007), o lugar representa o cenário da reprodução da
vida e pode ser avaliado conforme a tríade habitante – identidade – lugar, pois é a
partir das relações que se estabelecem diariamente, nos modos de uso, nas
condições mais simplórias, que o espaço é passível de ser sentido, pensado,
apropriado e vivido através do corpo.
O corpo é uma dimensão da nossa capacidade de sentir e se apropriar do
espaço, conforme seus modos de uso, como descrito por Carlos (2007, p.18):

[...] A nossa existência tem uma corporeidade, pois agimos através


do corpo. Ele nos dá acesso ao mundo, [...] é o nó vital, imediato
visto, pela sociedade como fonte e suporte de toda cultura. Modos de
aproximação da realidade, produto modificado pela experiência do
meio, da relação com o mundo, relação múltipla de sensação e de
ação, mas também de desejo e, por consequência de identificação
com a projeção sobre o outro. Abre-se aqui, a perspectiva da análise
do vivido através do uso, pelo corpo.

Para este autor, o corpo tem grande relevância na nossa relação com o
espaço, e isso se dá a partir das nossas sensações pelos órgãos do sentido em que
através deles podemos conhecer a nossa realidade. Tuan (1980) expõe no livro
29

Topofilia como os sentidos (visão, olfato, audição, tato) influenciam na maneira de


como o homem reconhece o mundo, pois cada um possui uma função que o permite
a compreensão espacial.
De acordo com Tuan (1983), é através da experiência que o indivíduo conhece
e constrói a realidade, seja através dos órgãos do sentido que são diretos e
passivos, como também pela percepção visual e a maneira de simbolização,
guiados pela emoção.
Tais considerações explicam como a relação do espaço e do lugar ocorrem.
Segundo Vialli (2006), esta relação ocorre a partir das experiências em que o
homem vai construindo seu imaginário, e a partir destas, será capaz de analisar,
interpretar e revelar as percepções do espaço.

[...] Isso porque o lugar é, em sua essência, produção humana, visto


que se reproduz na relação entre espaço e sociedade, o que significa
criação, estabelecimento de uma identidade entre comunidade e
lugar, identidade essa que se dá por meio de formas de apropriação
para a vida. O lugar é produto das relações humanas, entre homem e
natureza, tecido por relações sociais que se realizam no plano de
vivido, o que garante a construção de uma rede de significados e
sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora
produzindo a identidade. Aí o homem se reconhece porque aí vive. O
sujeito pertence ao lugar como este a ele, pois a produção do lugar
se liga indissociavelmente à produção da vida [...] (CARLOS, 2007,
p. 67).

Sendo o mundo vivido, a representação das experiências e o sentido que


damos a ele, estando associado a sentimentos de prazer e desprazer. Conforme
Suertegaray (2005), não é de se estranhar pessoas que por diversos motivos não
vivenciam ou vivenciam a força dos lugares sejam eles atraentes ou repulsivos (SÁ,
2016). Atraentes pela relação de proximidade e identidade por um dado lugar e
repulsivo porque o sujeito nega o espaço que ocupa cotidianamente.
Sob esta perspectiva, de acordo com Nascimento (2012), Tuan elaborou os
conceitos de topofilia e topofobia, aquele relacionado ao sentimento de afeição entre
a pessoa e o lugar, e este relacionado às experiências negativas ou repulsa dos
lugares.

A topofobia, em processo inverso à topofilia, representa um


sentimento de aversão a um determinado lugar, desconforto,
sensação de insegurança ou desajustes, presença que se sente
30

invadida em sua internalidade pelo mundo exterior, representado por


um certo lugar topofibizado. A topofobia pode se dar como advinda
de fora, enquadrando aos padrões de percepção do indivíduo a
algum lugar e, sempre que algum se inscrever neste perfil, será
topofibizado. Pode, entretanto, acontecer que, por circunstâncias
fortuitas, um determinado lugar, em função de mudanças na visão de
mundo do indivíduo deixe a condição de topofílico e passe à situação
inversa (BARRETO, 2004, pág. 42-43).

Mesmo quando há negação dos lugares, este não pode ser desconsiderado,
pois mesmo os indivíduos esboçando tais reações, o mesmo continua oferecendo
uma relação entre o sujeito e o seu espaço.

Assim como Tuan, Relph considera os sentimentos de repulsa e


negação aos lugares. De acordo com sua compreensão, isso não
significa a desconstrução do lugar, o que ele denominou “des-
lugarização” que ocorre quando o lugar perde a sua principal função:
ligação entre o sujeito e o espaço (NASCIMENTO, 2012, p. 32).

Segundo Tuan (1983), na sociedade moderna, devido à sua grande


instabilidade é difícil estabelecer uma sensação de lugar, pois devido sua
movimentação constante, não há tempo para fixar raiz. Tal instabilidade resulta do
processo tecnológico, com fluxos cada vez mais intensos, que encurtam as
distâncias e provocam o surgimento dos “não lugares”. Consequentemente, ocorre a
redução do tempo, mas não a supressão dos lugares.

2.2 O não lugar

Os debates em torno do não lugar ainda são escassos, no que diz respeito ao
desafio conceitual e metodológico para as ciências sociais, principalmente para a
geografia. Em 1976, Edward Relph, foi o único autor que promoveu uma reflexão
mais atenta sobre o não lugar, só em 1996 é que o antropólogo Marc Augé
apresentou um trabalho específico para este tema (BARTOLY, 2007).
Para Tuan (1983), o “não lugar” pode ser caracterizado como um novo espaço
baseado na não-identidade e no não-reconhecimento deste espaço. Este autor
argumenta também que o não-lugar não pode se definir nem como identitário, nem
como relacional, nem como histórico. Já para Bartoly, “o fenômeno do não lugar é a
erradicação casual de lugares significativos e a produção estandardizada de
31

paisagens que resultam de uma insensibilidade em relação à insignificância do


lugar” (BARTOLY, 2007, pág. 128).
Como exemplo de não lugar Carlos (2007), cita a figura do viajante, em que
este somente de passagem, não terá uma relação, uma identidade com um
determinado espaço, apenas terá uma visão fragmentada daquilo que vê, em
momento instantâneo organizados confusa e fragmentariamente em sua memória.
Desta forma, as relações de identidade com certos espaços são cada vez
menores, devido à constância e rapidez com que as pessoas se deslocam,
ameaçando de certa maneira o lugar humanista. Entretanto, o não lugar não pode
ser considerado como antítese do lugar, neste caso, os sujeitos apenas não
conseguem estabelecer vínculos afetivos (BARTOLY, 2007).
Segundo Bartoly (2007), por esse motivo é que a ideia de identidade é a que
mais se aproxima e expressa à essência do lugar, ou seja, o indivíduo carrega
consigo um alto grau de identificação com o local que ele convive.
A identidade com o lugar pode ser estabelecida tanto individualmente quanto
coletivamente, e essa identidade se dá de maneira consciente “em que
determinadas intenções e preferências apontam para um ou outro formato da
identidade” ou inconsciente “em que há uma reflexão prévia, ou intenções
claramente estabelecidas quanto ao formato da identidade que se está formulando”
(BARTOLY, 2007, pág. 106).
Portanto, dentro da perspectiva humanista, os locais que não mantemos
vínculos, mesmo estando neles em algum momento, seriam conceituados como
espaço, e não como não lugar.
32

CAPÍTULO 3 - A ÁREA DE ESTUDO

3.1 Os Mercados Públicos.

Os mercados públicos estão presentes em quase todas as cidades. As suas


dependências são encontrados gêneros alimentícios, utensílios, frutas, hortaliças,
produtos artesanais e de uso pessoal, dentre outros. São vistos como espaços de
comercialização, de convívio e de trocas entre a população ao qual está inserido.
Segundo Ferreira (2000), o conceito de mercado se traduz em: 1. Lugar onde
se comerciam gêneros alimentícios e outras mercadorias. 2. Qualquer situação em
que compradores e vendedores em potencial entram em contato.
O mercado se configura como um espaço de todos, pois como espaço público
possibilita não só trocas comerciais, mas permite relações sociais através da
convivência social, caracterizando-se como espaço popular, por atender gostos
ecléticos de todas as classes sociais (SOARES, 2009).
Segundo Soares (2009) os mercados surgiram na época das grandes
explorações e descobrimentos (séculos XVI e XVII), e foram introduzidos no Brasil
por colonizadores portugueses, muitos deles nasceram próximos das freguesias
(paróquia), geralmente cercados por feiras. Com o crescimento populacional, urbano
e o aumento das produções locais, esses espaços se transformaram em pontos
centrais e de fácil acesso à população, passando a consolidar-se como lugar
permanente nas cidades, tem caráter fundamentalmente públicos, em que convivem
o comércio e as atividades coletivas, tendo assim sua essência preservada.
A partir do final do século XIX, ocorreu a construção dos primeiros mercados
cobertos brasileiros, arquitetados por engenheiros brasileiros e estrangeiros, em
locais onde se reuniam aglomerados de feirantes e vendedores ambulantes, com o
intuito de organizar o comércio local, obedecendo a uma tendência de construção de
grandes espaços públicos (fábricas, estações de trem, manicômios e hospitais),
iniciada na Europa no final do século XVIII (SOARES, 2009).
Os mercados brasileiros incluem características intrínsecas, geralmente
possuem um vão livre coberto por um grande teto – comum a todos os mercados –,
algumas adaptações às nossas condições climáticas, como uma construção com
todas laterais abertas para as ruas, permitindo a iluminação e a ventilação do
ambiente no caso dos edifícios situados nas regiões mais quentes do País.
33

Com múltiplas utilidades, os mercados de norte a sul do Brasil são


geralmente constituídos por grandes vãos, com pavilhões
articulados entre si e organizados segundo o gênero de comércio:
carnes, aves, peixes e frios; frutas, verduras, legumes, cereais e
especiarias; artesanato, artigos religiosos, ervas medicinais,
armarinho e serviços; comidas típicas, petiscos e bebidas, etc. –
produtos esses negociados em inúmeros compartimentos (ou
boxes). Eventualmente existem também barracas externas
espalhadas nas calçadas do pátio que rodeia os mercados. Os
serviços oferecidos no seu entorno, geralmente surgidos de forma
espontânea, também contribuem para geração de fluxos
necessários à dinâmica do mercado (SOARES, 2009. p.13).

Quanto ao processo econômico, a partir do século XX, no caso dos mercados


públicos, ocorreu uma ruptura com a estrutura comercial utilizada no passado, por
haver atualmente concorrentes para estes, como os supermercados, os
hipermercados e os shoppings centers (Gueiss & Gastal 2007), e que segundo
Soares (2009) estes setores investiram na gestão, na definição dos espaços físicos,
no uso de recursos tecnológicos, nas estratégias de marketing.

Com a entrada do grande capital nesse setor de abastecimento,


não só quase desapareceram da paisagem urbana os pequenos
estabelecimentos varejistas de alimentos, como também os
mercados públicos perdem sua função reguladora e distribuidora
para pequenos comerciantes. (PINTAUDI, 2011.p. 172).

Apesar das transformações ocorridas no âmbito social, econômico e


principalmente cultural, desde o surgimento dos mercados até a
contemporaneidade, esses lugares ainda sobrevivem no tempo e no espaço,
podendo ser considerados como “primogênitos” do comércio varejista. Conforme
aponta Soares (2009), alguns mercados passaram por processos de restauração,
com o cuidado de preservar a arquitetura e a aparência originais; outros passaram
por reformas profundas para melhorar as condições de higiene, de segurança e de
acessibilidade e oferecer maior conforto aos seus frequentadores.

3.2 Localização e caracterização do Mercado Público Municipal Jaime da Paz

O Mercado Municipal Jaime da Paz localiza-se no município de Campo Maior,


situado na região Norte do Estado do Piauí. A sede municipal tem as coordenadas
34

geográficas de 04º 49’ 40” de latitude sul e 42º 10’ 07” de longitude oeste de
Greenwich.

Figura 1 - Localização da área de estudo.

FONTE: SANTOS, 2017.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017),


o município possui uma população estimada de 46. 082 habitantes e uma densidade
demográfica de 26,96 hab/km², sendo 33. 521 de população residente urbana e 11.
656 de população residente rural. O município abrange uma área de 1.675, 713 Km².
O Mercado Municipal localiza-se na Rua Senador José Eusébio no centro de
Campo Maior. O poder público municipal realizou uma reforma com recursos da
Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba - Codevasf,
que foi entregue no ano de 2007, levando o nome de um ex-prefeito da cidade,
Jaime da Paz.
35

Figura 2 - Vista externa do Mercado Jaime da Paz.

FONTE: SANTOS, 2017.

Figura 3 - Vista lateral do Mercado Jaime da Paz.

FONTE: SANTOS, 2017.

É administrado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural – SMDR.


Funciona semanalmente de domingo à sábado de 04:00h às 18:00h, e a
movimentação dos permissionários, compradores e transeuntes se dá a partir das
05:00h às 18:00h.
Considerando o prédio 2 como área de estudo, conforme a figura 4, o
Mercado é referência na comercialização de produtos hortifrutigranjeiros, peixes,
especiarias, cereais, além de produtos artesanais, pontos comerciais, bares,
pequenos restaurantes que oferecem comida caseira, além de muitos outros artigos,
produtos e serviços. É constituído por três blocos, divididos em: bloco dos cereais,
bloco das refeições e bloco das frutas e verduras, de acordo com as figuras 5, 6 e 7.
36

Figura 4 - CROQUI DA ÁREA INTERNA DO MERCADO.

FONTE: SANTOS, 2017.

Segundo SMDR (2017), a partir da organização nos cadastros dos


permissionários no corrente ano, o mercado conta com um total de 420
permissionários cadastrados, mas na área de estudo estão cadastrados cerca de
250.
37

Figura 5 - BLOCO DOS CEREAIS.

FONTE: SMDR, 2017


38

Figura 6 - BLOCO DE FRUTAS E VERDURAS.

FONTE: SMDR, 2017.


39

Figura 7 - BLOCO DAS REFEIÇÕES.

FONTE: SMDR, 2017.

O Mercado tem como gestores: um diretor o Sr. Lisboa, um


Coordenador/Supervisor o Sr. Veloso, uma Secretária a Sra. Joaquina. O diretor tem
como atribuições: conduzir as atividades relacionadas à administração junto ao
quadro de pessoal e recursos humanos, estreito relacionamento com os
permissionários, bem como, com os fornecedores e clientes/usuários do Mercado
Público Municipal, orientar e acompanhar a limpeza e a conservação do Patrimônio
Público. Além de, solicitar reparos e melhorias das instalações prediais; orientar o
desenvolvimento e execução de programas de ação voltados para a contínua
racionalização e otimização das atividades de apoio administrativo do Mercado
40

Público Municipal, visando o aumento de eficiência e a redução de custos (SMDR,


2017).
Ainda, baseado na SMDR (2017), o coordenador tem como atribuições:
determinar aos colaboradores os objetivos e metas a serem alcançados no
desenvolvimento das atividades pelos quais são responsáveis; coordenar e
acompanhar as execuções de cada serviço realizado no Mercado Público Municipal,
assessorar a Diretoria na condução do Mercado, coordenar as atividades do
Mercado Público junto aos permissionários, fornecedores e clientes, promover
contatos e entendimentos com ambas as partes. Ainda deve submeter a Diretoria,
todo e qualquer assunto referente ao Mercado Público de Campo Maior , para que
juntos possam está buscando soluções ao Sr. Prefeito Municipal , através da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural-SMDR .
Já a função da Secretária é fazer anotações de agenda e compromissos de
atividades do Mercado Público, sempre encaminhar a Diretoria; organizar arquivos,
recepcionar os permissionários, fornecedores e clientes; auxiliar a diretoria em
serviços diversos; planejar e organizar festas e eventos; realizar registro em Ata de
reuniões sobre o Mercado; repassar informações mensais do Livro de Ponto dos
colaboradores do Mercado Público Municipal (SMDR, 2017).
Os Permissionários têm como atribuições: zelar pela conservação do
Patrimônio Público; manter o ambiente limpo e harmonioso; cumprir seus deveres,
estabelecidos no regimento interno; contribuir mensalmente com suas contribuições
junto à arrecadação municipal, pela manutenção e conservação do Patrimônio
Público, bem como contribuir com as despesas de energias, água e limpeza do
órgão (SMDR, 2017).
O mercado é mais que um ponto de troca de mercadorias ou de serviços, é
também ponto de encontro, lugar da conversa diária, de informações, ainda é um
local de singularidade para os moradores da cidade e da zona rural, principalmente
nos dias de “feira” e finais de semana, onde há maior movimentação de clientes,
pode ser considerado também ambiente de lazer e descontração, revelando assim a
importância do nível do lugar como plano do vivido.
41

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante do roteiro aplicado aos permissionários, os primeiros questionamentos,


permitiram traçar um perfil de como essas pessoas começaram a trabalhar neste
local, há quanto tempo estão trabalhando, e sua rotina diária. Posteriormente, foram
realizadas questões voltadas para ao ambiente físico do mercado, buscando
compreender como a morfologia da paisagem pode interferir na identidade com o
lugar e por fim, aliando informações obtidas através de todas as perguntas, as
últimas perguntas buscaram responder aos problemas e objetivos da pesquisa,
analisar como o mercado é percebido pelos permissionários.
A primeira indagação questionava o porquê dos entrevistados terem optado
em trabalhar no mercado público? Analisando os argumentos, a maioria respondeu
que é principalmente por não haver outra opção de trabalho.
a) “É porque é a única opção que tem trabalho aqui há 21 anos e trabalho nas feiras
também, mas eu fico mais é aqui né, porque é meu pontozim de comércio”.
Além desse argumento, outros foram colocados, tais como: “porque enjoou de
trabalhar como empregado”, “porque queria trabalhar por conta própria”, “pela
necessidade”, “por falta de oportunidade no mercado de trabalho”, “pela falta de
estudo”, “porque trabalha desde criança”. De acordo com os entrevistados a seguir,
constata-se tais respostas:
b) “Tem mais movimento, mais sossego, no mercado central entra muita gente, optei
em trabalhar pra mim mesmo, sossego, trabalhar pra outro é ruim demais”.
Neste discurso, compreende-se que o permissionário escolheu trabalhar no
mercado devido à comodidade do ambiente, que provavelmente lhe permita vender
mais nos dias de maior movimentação, além de ser dono do seu próprio negócio.
c) “trabalhei vinte a trinta anos no mundo, quando chegou a idade não foi possível
trabalhar em outra coisa, nenhuma empresa me quer mais, escolhi o mercado, é
mais prático, faz menos força, compro e vendo, ganho um trocado e vou levando a
vida”.
Este outro permissionário, optou em trabalhar no mercado por não ter mais
condições de exercer outra atividade, argumentando que seu trabalho nesse ramo é
mais prático, exigindo menos esforço físico, e mesmo ganhando pouco, sobrevive
com o que lucra.
42

d) “Porque aqui é o meio da gente se divertir, se distrair um pouco entendeu ganhar


um lucrozinho, emprego ai fora tá muito difícil nos dias de hoje, entendeu, então, a
gente não opta, é a necessidade entendeu, que obriga a gente a trabalhar aqui, mais
é bom, não é ruim a gente acaba se acostumando”.
Com este discurso, compreende-se que o entrevistado, considera o mercado
como local de diversão e distração. No entanto, a opção em trabalhar no mercado
vem da necessidade de emprego, e através da experiência acabou se acostumando
com o ambiente.
Já em relação ao segundo questionamento, houve a necessidade de saber o
tempo em que os permissionários trabalham no mercado. De acordo com a análise
das entrevistas, o tempo de permanência deles varia de 6 meses há 48 anos
trabalhando nesse ramo. Alguns citaram em suas falas que trabalham desde o
primeiro mercado, que se localizava onde hoje funciona o prédio da Prefeitura.
Conforme Tuan (1983), fazendo uma relação entre experiência e tempo, o
mesmo argumenta que não há um tempo fixo para se estabelecer um sentimento
por um determinado lugar, pois esta relação ocorre a partir das experiências,
repetidas cotidianamente, que envolve ainda vistas, sons e cheiros, um equilíbrio
entre ritmos naturais e artificiais. É o caso dos entrevistados a seguir, onde através
das suas falas, percebe-se a diferença de tempo em que estão trabalhando neste
ambiente, o entrevistado (e) com apenas seis meses e o entrevistado (f) com muito
mais tempo.
E há quanto tempo que você tá trabalhando aqui?
e) “tem 6 meses, que eu tô trabalhando aqui”.
f) “quando eu comecei trabalhar fazendo feira aqui, o mercado ainda era onde é a
prefeitura, mais eu tava no interior, mas eu vou contar só do tempo que eu vim pra
cá mesmo”.
Citando o filósofo James K. Feibleman, Tuan (1983), argumenta que a afeição
por um lugar pode se dá por uma breve experiência, de forma que seja intensa,
onde o filósofo argumenta que “a importância dos acontecimentos na vida de
qualquer pessoa está mais diretamente relacionada com sua intensidade do que
com a sua extensão”.
Quanto à rotina diária desses permissionários acontece geralmente de
domingo a domingo, onde apenas alguns não trabalham nos finais de semana ou
feriados, ou trabalham somente até às 12:00 h. O horário dos permissionários no
43

mercado durante a semana variam entre 05:00 h da manhã às 17:00 h da tarde,


dependendo também do movimento da feira, além disso, ocorre o recebimento de
mercadorias, e no caso das permissionárias dos restaurantes, necessitam fazer a
limpeza do Box, após as vendas já na parte da tarde.
Já em relação ao questionamento de como estes permissionários começaram
a trabalhar no mercado, esteve na maioria das argumentações associado ao
primeiro questionamento, ou seja, associado ao motivo de terem escolhido trabalhar
naquele ambiente.
Entretanto, dentre os motivos do início da ida desses permissionários, estão:
por conta própria, ou porque tinham familiares ou pessoas próximas, que já
trabalhavam no mercado e os incentivaram a comprar uma “banca” (ponto comercial
ou Box); pela experiência no trabalho com vendas, comércio e feiras. No caso das
mulheres, geralmente está associado ao marido que já trabalhava antes de
casarem, por falta de estudo e oportunidade no mercado de trabalho, onde acabam
seguindo o mesmo ramo; e por fim, os filhos que, desde criança ou adolescentes
começaram a ir ajudar o pai ou a mãe, ou alguém da família que já estava no ramo.
Conforme os entrevistados a seguir:
g) “Agora como eu te falei, eu trabalhei na feira, na barraquinha de roupa, depois eu
vim pra dento do mercado, comprei uma banquinha aqui de cereais, não deu, não
era meu forte, voltei pra roupa de novo, agora aqui eu tenho 5 anos, aqui dentro
desse ponto, é 5”.
h) “A cumade Dica, do Sr. Augusto, ela tinha uma banca ali na frente, ai ela me
perguntou: cumude tu quer trabalhar ali no mercado? Eu vou ver se eu ajeito uma
banca lá pra tu, lá no mercado tem um bucado de banca, tu vai eu vou te amostrar lá
e tu fala com o Antenor, que era responsável aqui do mercado. Ai eu falei com ele, ai
eu vim pra cá, ai vem vindo gente de lá pra cá”.
i) “Foi meu tio trabalhava aqui, aí eu tava sem fazer nada, ai ele não, pois vai
trabalhar comigo até meio dia, depois você vai estudar de tarde, ai comecei assim, ai
ficou até hoje”.
Todos os entrevistados tiveram uma motivação para iniciar a atividade de
permissionários no mercado, seja por uma atividade iniciada no comércio, ou por
pessoas que já trabalhavam na feira, que mostraram e deram oportunidades aos
mesmos.
44

Em relação ao questionamento de se sentir bem ou não, no seu local de


trabalho, a maioria respondeu que se sentem bem. Outros, que estão nessa
obrigação por ser o seu local de trabalho, de onde vem o seu sustento e/ou não ter
outra opção de trabalho, entretanto, uma minoria deu tal resposta.
É o caso deste permissionário que permanece no ramo porque foi o seu
primeiro e único meio de trabalho, além de tirar seu sustento do lucro das vendas. j)
“o jeito é sentir, porque é o meio de vida viu, porque desde que eu entrei aqui, num
teve outro mêi de vida não, ai minha muié faleceu, e fiquei todo tempo trabaiando”.
Já nos argumentos (k) e (l) compreende-se o gostar do ambiente, devido á
oportunidade de fazer amizades, do trabalho com o público e o gostar do que faz: k)
“eu me sinto, gosto de todo mundo, gosto de fazer amizade, a gente lhe dá muito
com o público aqui, é bom demais, conhece muita gente”.
l) “Me sinto muito bem. Eu gosto muito do meu local. Eu amo o meu trabalho. Eu
amo minha comida. Eu me sinto muito bem, meu local de trabalho é muito bom”.
A partir desses argumentos, foi possível notar aspectos que relacionavam o
sentimento do indivíduo com o ambiente e sua afetividade com este espaço.
Quanto ao bem-estar dos permissionários no que diz respeito ao ambiente
físico e estrutural do mercado, além das transformações e diferenças sentidas no
momento atual e anteriores, das situações que os agradam e lhes desagradam, os
mesmos argumentaram aspectos positivos e negativos no ambiente interno do
mercado.
m) “Quando cheguei aqui era no relento, coberto de papelão, melhorou, trabalhava
no sol, não importa quem fez, só é ruim a quentura no verão, não tem ar
condicionado”.
n) “A transformação aqui foi ótima. Eu gostei daqui da transformação, mais a gente
precisa mesmo do ventilador. Muito bonito essas paisagens, eu adoro a minha, eu
amei a minha. Aqui me chamam de “rainha do cuscuz”, por isso que botaram essa”.
Diante das entrevistas, são notáveis as transformações ocorridas no ambiente
físico do mercado, principalmente quanto à nova estrutura, que para os
permissionários permitiu melhores condições de trabalho. Pois, segundo eles, antes
da atual estrutura, o ambiente apresentava condições inadequadas de
funcionamento, como esgoto a céu aberto, lixo e não possuía cobertura.
o) “O que agrada é quando a feira tá boa, o que desagrada é o calor que é grande,
se tivesse ventilador era bom, mas ainda sem ventilador é bom”.
45

p) “desagrada é assim, a falta de higiene no banheiro, que não tem muito, às vezes
a gente não aguenta aqui, de tanto mau cheiro, e a limpeza é péssima, muitas
coisas é ruim aqui dentro, quer dizer não é os funcionários né”.
Segundo Bartoly (2007), a relação com determinado lugar envolve a
morfologia da paisagem, com o ambiente, pois este não é apenas um cenário, mas
um protagonista da experiência, da identidade e construção do lugar, ou seja, os
aspectos visuais são fundamentais na definição da identidade do lugar.
Todos esses fatores influenciam na identidade do indivíduo com o lugar, na
medida em que os órgãos do sentido contribuem para que o homem sinta um
determinado ambiente através da experiência (TUAN, 1983).
O último bloco de perguntas possui questionamentos simples que
complementam as perguntas anteriores, uma delas procura saber se além do
permissionário entrevistado existe outros membros da família no mesmo ambiente.
Através das entrevistas, foi possível deduzir que a maioria dos permissionários
possui alguém da família trabalhando no mercado (mãe, pai, filhos, primos,
cunhados) geralmente no mesmo bloco, estreitando laços familiares num mesmo
ambiente.
q) tem meu esposo e meu filho, na venda dos peixes, e minha filha que me ajuda
aqui, a mais velha, ai depois que eu adoeci, tive problema, pra ficar trabalhando
muito só, eu peguei muita anestesia, quando eu luto muito, eu incho minhas junta,
ela vem me ajudar, só não vem final de semana.
Além disso, o mercado é uma porta de entrada para aqueles familiares que
estão desempregados e acabam achando oportunidade de ajudar, substituir ou
mesmo iniciar a atividade dentro deste ambiente.
Quanto ao quesito segurança, liberdade e tranquilidade neste ambiente,
muitos reclamaram da segurança, que consequentemente, recai na tranquilidade,
conforme uma das entrevistas, mas citada por muitos, sendo a liberdade pouco
citada.
r) nenhum pouco, porque roubam as coisas, eles colocam vigia é um dia e outro
não, é como se você deixasse realmente liberado, entendeu.
A principal reclamação é a falta de segurança, apesar de haver pessoas em
dias alternados fazendo a ronda no ambiente interno e externo do mercado,
segundo eles, essa ausência favorece pequenos furtos dentro do mercado,
principalmente no turno da noite no bloco da praça de alimentação, além de
46

marginais que vez ou outra perambulam por dentro do mercado durante o dia, e
costumam abordar os clientes.
s) “muitas vezes que a gente tá com bastante cliente, sentado, ai vem um desses
pessoal que não tem o que fazer, esses bêbados, essas pessoas pedindo,
drogados, vezes se chega perto do cliente. A gente tem que as vezes ser mais
grosseira, porque eles pode sair, pro cliente ficar mais à vontade, tudo isso
desagrada a gente né, desagrada o cliente também, se ele chegar num ambiente
desse, se ele não for bem tratado, acompanhado pela gente, ele não volta mais”.
Entretanto, compreendem que tais ocorrências se dão por ser o mercado um
local público, tais acontecimentos acabam desagradando os permissionários.
A penúltima questão buscou saber como os permissionários relacionam-se
entre si, conforme as entrevistas, a relação entre eles é boa.
t) “É muito bom, graças a Deus! Eu acho muito bom! todos são amigos né? amizade,
um ajuda um ao outro, quando um não tem uma mercadoria a gente vai pegar do
outro, não tem esse negócio de dizer: não vou pegar coisa do outro fulano por eu
não gosto, é bom um local que a gente trabalha, que todo mundo é amigo né”.
u) “uns é bom, outros não, é como vizim ruim aqui, é pra ser uma família, mas não
parece”.
É possível deduzir que a maior parte dos permissionários, possuem boas
relações de afetividade e amizade entre si, principalmente no bloco de cereais e de
frutas. Porém, através das falas compreende-se que existem pequenos atritos entre
algumas pessoas, que foram mais evidentes no bloco da praça de alimentação.
E por fim, o último questionamento da entrevista, o que o mercado representa
para os permissionários? Para todos os entrevistados sem exceção, o mercado
representa local que os permissionários prestam seu serviço, além disso, local por
meio do qual tiram seu sustento para sobrevivência e de onde adquiriram seus bens.
v) “é quase tudo, porque eu trabalho aqui dentro, e retiro o pão de cada dia, daqui,
do meu local de trabalho”.
w) o mercado representa tudo que eu tenho hoje, porque tudo que eu tenho, é
graças ao meu trabalho aqui, tirado das feiras, dos clientes, se não fosse os clientes
eu não tinha nada.
Mas, além disso, o mercado para muitos permissionários representa a
extensão das suas casas, pois passam a maior parte do seu dia naquele ambiente.
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x) “o mercado hoje é tudo, passo meu dia quase todo aqui, a minha casa é
basicamente aqui, basicamente é tudo”.
y) É bom porque a gente trabalha, tem um dinheirinho da gente, a gente vende fiado,
vende a dinheiro, todo dia tem o dinheirinho pra gente comprar a comida, a água, eu
almoço bem aqui no mercado, eu só tem de fazer minha jantinha em casa.
O mercado representa ainda, local de terapia, por proporcionar momentos
descontraídos nas relações permissionários-clientes; permissionário-transeuntes;
permissionário-permissionário; conforme argumentado:
z) “Ele representa paz, tranquilidade, às vezes eu esqueço meus problemas de
casa. Aqui eu me distraio, a gente ri sem querer, a gente vê as pessoas, as vezes, a
gente ver as pessoas que a gente gosta, ai elas sentam aqui, conversam com a
gente, se distrai, esquecendo realmente dos problemas que importa, a gente acaba
esquecendo as coisas. Acho muito bom, acho muito tranquilo, tirando essas partes
negativa, que eu lhe contei há pouco tempo, eu acho muito agradável o mercado. Eu
acho que se melhorasse algumas coisas aqui, o mercado se tornaria mais agradável
ainda, entendeu, eu tenho um prazer de trabalhar aqui, porque toda vez que eu
venho aqui eu sei, que se eu tiver algum problema, quando eu chegar aqui, eu vou
esquecer o problema, meus clientes acaba me distraindo, as pessoas passando
toda hora, a gente conversa com um com outro e acaba esquecendo realmente os
problemas e vai acalmando, é muito bom, eu acho bom, muito bom”.
Representa ainda uma extensão da família, na medida em que proporciona
novas relações, mantém as velhas, permitindo estreitá-las afetivamente entre as
pessoas que lá trabalham e frequentam.
a.a) “uma família, pra mim aqui é uma família, tanto o povo, como meus freguês que
vem, ave maria, é uma família. Eu acabo assim, criando um laço, que tem freguês
aqui, que meu Deus, eu considero parente, com todo mundo”.
Segundo Bartoly (2007, pág. 103), “através da experiência no espaço, do
reconhecimento de referenciais de localização, e da própria vivência com outras
pessoas, constrói-se um espaço familiar”.
b.b) “é como se fosse uma casa pra mim, porque eu vivo mais aqui do quê em casa,
eu acho bom aqui, a gente conversa né, conhece pessoas, amizade”.
c.c) “Ah minha fia, quando eu num venho, eu fico doente em casa, (risos), pra mim o
dia não passa nunca. Aqui a gente brinca, a gente conversa, se diverte, chega aqui
uma pessoa conversa com a gente, passa o dia que a gente nem vê”.
48

d.d) “olha é o seguinte: é um ponto turístico, porque mercado público da cidade, ele
além de ser um ponto bom, porque ele agora ele tá bem arrumado, ele representa,
uma cultura de saída, porque aqui tem legumes né, então, isso é importação, que
expande, que vai pra fora. Tem pessoas de São Paulo que passa aqui, de Brasília,
de todo lugar, então eu acho que representa uma coisa muito importante, por isso
que eu te falo, se fosse mais organizado, teria mais venda, se fosse questão de
limpeza, de segurança, de alguma ventilação”.
São várias as representações do mercado, de acordo com os argumentos dos
permissionários, desde local para sobrevivência, a local propício para ponto turístico.
Ou seja, de acordo com Bartoly (2007, pág. 123) “cada indivíduo possui suas
impressões, históricas e experiências concernentes a um lugar”.
No Mercado Público Jaime da Paz no que diz respeito aos atributos físicos e
objetos, citando Ribeiro (2015, pág. 126-127), “é possível presenciar os pares
dialéticos: o novo e o velho, o tradicional e o moderno, o exógeno e endógeno, as
mudanças e as permanências”. É dotado de características que lhe permitem
contracenar com o moderno, entretanto, mantém sua forma de comércio que ainda
resiste no tempo.
O mercado para os permissionários pode ser também caracterizado de
acordo com o argumento de Carlos (2007), parafraseando-a: é o lugar que o
permissionário habita dentro da cidade, está ligado ao seu cotidiano e ao seu modo
de vida, pois dentro do mercado ele se locomove, trabalha, anda, é uma extensão de
sua casa, é um circuito de compras, dos passeios, ou seja, ele se apropriou daquela
forma, e a partir das suas vivências vai ganhando significado através do uso e das
suas possibilidades.
O sentimento topofílico pelo mercado não foi identificado no último
questionamento, mas sim, em algumas expressões dos permissionários ao longo das
entrevistas, quando expressavam seus sentimentos pelo ambiente e nas conversas
informais, sobre como eles se sentiam quando não comparecia aquele ambiente,
como se pode perceber nos seguintes relatos: “mais eu gosto do meu lugar” “eu amo
aqui” “sinto falta do movimento” “Ôooo, mermazinha a gente se lembra, mas antes
tivesse lá no meu lugarzinho, né, falta demais”, “É, sinto, eu sinto falta, porque eu
digo: Meu Deus hoje eu não vou trabalhar”, “é como se fosse uma casa pra mim”,
“aqui é a casa da gente”, “meu local de trabalho é muito bom”, “Ah minha fia, eu fico
doente em casa”.
49

“Topofilia” descreve uma sensação que pode não ser a mais forte
das emoções humanas, de fato, muitas pessoas se sentem
totalmente indiferente em relação aos ambientes que moldam suas
vidas, mas quando ativado ele tem poder de elevar um lugar para
tornar-se o portador de eventos emocionalmente carregados ou para
ser percebido como símbolo (CISOTTO, 2012, pág. 95).

Por fim, os permissionários apresentaram e atribuíram sentimento de


pertencimento e identidade para com o mercado, através das percepções, vivências,
apropriações, significados e valores, o que significa espaço vivido, espaço do
cotidiano, colaborando assim para a constituição do lugar.
50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante evidenciar que o Mercado Público Jaime da Paz, ainda faz a


diferença para os moradores da cidade e da zona rural, que permanecem com o
hábito de fazer suas compras neste ambiente tão singular, principalmente nos dias
de maior movimento, que o possibilita permanecer como principal centro de
comércio na cidade de Campo Maior, tal aspecto lhe atribui vitalidade.
Por ser um espaço democrático, de convivência social, abrange uma grande
diversidade de pessoas das mais diversas personalidades, que interagem e circulam
naquele lugar com os mais diversos interesses.
Fazendo uma relação com o conceito de lugar, entendido como local que se
estabelece experiências e identidade com o espaço, o mercado está inserido nessa
lógica, de acordo com os argumentos dos permissionários, mesmo que de maneira
consciente ou inconsciente.
A pesquisa proporcionou através das experiências elencadas na percepção
de cada sujeito, constatar que cada indivíduo percebe o espaço de acordo com suas
vivências, são percepções individuais. Se considerarmos o tempo de permanência de
muitos permissionários naquele ambiente, cada um emitiu uma opinião particular, mas
ao mesmo tempo, uma mesma opinião se tornava coletiva, a de que o mercado fazia
parte do seu cotidiano.
Tal argumento se constata nas entrevistas, onde mesmo quando os
permissionários afirmam que estão naquele ambiente por opção, ou seja, dotados de
interesses predeterminados ou de uma intencionalidade acabam se contradizendo,
quando colocam que se sentem bem, que sente falta quando não é possível ir
trabalhar, que o ambiente é agradável, que tem prazer em trabalhar, que criam laços
de amizade e afetividade com os demais e com os fregueses, que é como uma casa,
enfim, fortalecem o sentimento de pertencimento com aquele lugar.
Percebeu-se que o Mercado é valorizado pelos permissionários por seus
aspectos estruturais, porém, os permissionários clamam por melhores condições de
trabalho, através da higienização nos banheiros, segurança, fiscalização, menores
taxas, alguns reparos nas instalações hidráulicas. Além de melhor conforto
ambiental, através de climatizadores de ar, pois apesar de se encontrarem
habituados a este ambiente, reclamam do desconforto ambiental quanto à
temperatura.
51

Através dos resultados encontrados há permissionários que acreditam no


potencial turístico do Mercado, argumentam que este local seria mais frequentado,
se fosse divulgado como ponto de cultura.
52

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56

APÊNDICE
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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADO JUNTO AOS


PERMISSONÁRIOS
LOCAL: MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL JAIME DA PAZ - CAMPO MAIOR/PI

1º) POR QUE O SENHOR (A) OPTOU EM TRABALHAR NO MERCADO?


2º) HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ TRABALHA NO MERCADO?
3º) COMO É SUA ROTINA DIÁRIA (horários, dias)?
4º) COMO VOCÊ INICIOU SUA VINDA PARA ESTE LOCAL?
5º) VOCÊ SE SENTE BEM EM SEU LOCAL DE TRABALHO?
6º) VOCÊ ACOMPANHOU ALGUMA TRANSFORMAÇÃO NO AMBIENTE FÍSICO
OU ESTRUTURAL DO MERCADO?
7º) QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS SENTIDAS EM RELAÇÃO HÁ ANOS
ANTERIORES?
8º) COM RELAÇÃO A ESTE AMBIENTE, CITE ALGUMAS SITUAÇÕES QUE LHE
AGRADAM E OUTRAS QUE LHE DESAGRADAM?
9º) HÁ OUTROS MEMBROS DE SUA FAMÍLIA TRABALHANDO AQUI?
10º) VOCÊ CONSIDERA ESTE LOCAL SEGURO, PASSÍVEL DE LIBERDADE E
TRANQUILIDADE?
11º) COMO É SUA RELAÇÃO COM OS DEMAIS PERMISSIONÁRIOS?
12º) O QUE O MERCADO REPRESENTA PARA VOCÊ?

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