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Astronomia Náutica

LICENCIATURA EM PILOTAGEM
ESCOLA SUPERIOR NÁUTICA INFANTE D.HENRIQUE

MARIA INÊS COELHO | 13333


ANO LETIVO 2021/2022
Índice
Introdução .................................................................................................................................... 2
1 Sistemas de referência ......................................................................................................... 3
1.1 Sistemas fundamentais de Referência......................................................................... 3
1.2 Os diferentes sistemas de coordenadas astronómicas ............................................... 3
1.3 Transformação de Coordenadas .................................................................................. 8
2 Movimentos da Terra ......................................................................................................... 10
2.1 Movimento de rotação ............................................................................................... 10
2.2 Movimento de translação .......................................................................................... 10
2.3 A precessão e nutação da Terra ................................................................................. 11
3 Princípios básicos de mecânica celeste ............................................................................. 12
3.1 O problema dos dois corpos....................................................................................... 12
3.2 Leis de Kepler .............................................................................................................. 12
3.3 Equação do movimento: problema de dois corpos ................................................... 13
4 O Sistema Solar ................................................................................................................... 14
4.1 Constituição do Sistema Solar .................................................................................... 14
4.2 Movimentos dos planetas e suas órbitas .................................................................. 14
4.3 Movimento translação da Terra, órbita terrestre e estações ano ............................ 15
5 Particularidades relativas a alguns astros ......................................................................... 15
5.1 O Sol ............................................................................................................................ 15
5.2 A Lua............................................................................................................................ 17
5.3 Os planetas: Vénus, Marte, Júpiter, Saturno............................................................. 18
5.4 Estrelas ........................................................................................................................ 18
6 O Tempo.............................................................................................................................. 19
6.1 Conceitos básicos........................................................................................................ 19
6.2 Os sistemas de medição do tempo ............................................................................ 19
6.3 Sistemas de Tempo Rotacional .................................................................................. 20
6.4 Sistemas de Tempo Dinâmico .................................................................................... 20
6.5 Sistemas de Tempo Atómico ...................................................................................... 21
6.6 Tempo Universal Coordenado.................................................................................... 21
6.7 Tempo GPS .................................................................................................................. 21
6.8 Utilização Prática do Tempo: Tempo Legal................................................................ 22
7 Bibliografia .......................................................................................................................... 24
8 Webgrafia ........................................................................................................................... 24

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Introdução

No âmbito da unidade curricular de Astronomia Náutica, foi solicitada a realização do


presente trabalho, que pretende abordar as temáticas fundamentais, para uma correta
e adequada compreensão dos conteúdos lecionados nesta mesma unidade curricular.

Deste modo, irei abordar vários temas de interesse astronómico desde, Sistemas de
Referência, Movimentos da Terra, os princípios básicos da mecânica celeste, uma breve
abordagem ao Sistema Solar, bem como algumas particularidades de alguns astros, e
por fim, conceitos relacionados com O Tempo.

É de notar que o ramo da Astronomia Náutica tem vindo a evoluir face ás


necessidades, promovendo a eficácia e segurança da navegação, sendo por isso uma
área de conhecimento de elevada importância para todos os que a colocam em prática.

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1 Sistemas de referência
1.1 Sistemas fundamentais de Referência

Da mesma forma que se usa o Sistema de Coordenadas Geográficas (Latitude e


Longitude) para determinar a posição de um ponto na superfície da Terra, usa-se um
sistema de coordenadas semelhante para identificar um astro na Esfera Celeste. “Os
Sistemas de Coordenadas utilizados na Navegação Astronómica possuem dois círculos
máximos fundamentais de referência para medida das coordenadas, perpendiculares
entre si.

No caso do Sistema de Coordenadas Geográficas, tais círculos máximos fundamentais


são, como sabemos, o Equador Terrestre (referência para medida das Latitudes) e o
Meridiano de Greenwich ou Primeiro Meridiano (referência para medida das
Longitudes)”1. Já o Sistema de Coordenadas Horárias tem como círculos máximos
fundamentais o Equador Celeste e o Meridiano Celeste do observador. Posteriormente,
iremos abordar os círculos máximos fundamentais e as coordenadas que constituem os
vários Sistemas de Coordenadas Astronómicas.

1.2 Os diferentes sistemas de coordenadas astronómicas

➢ Sistema de Coordenadas Horárias

Este Sistema de Coordenadas Horárias tem como círculos máximos fundamentais o


Equador Celeste e o Meridiano Celeste do observador e é constituído pelo Ângulo
Horário (hl), Ângulo no Polo (P) e Distância Polar (Δ).

Ângulo Horário (hl) - é o arco do Equador Celeste entre um Meridiano Celeste e o Círculo
Horário do astro, medido para oeste, de 000º a 360º. O Ângulo Horário é denominado
Ângulo Horário Local quando a origem é um Meridiano Local qualquer e Ângulo Horário
em Greenwich (AHG) quando a origem é o Meridiano de Greenwich.

1 - Miguens, Altineu Pires (1996) Navegação: A Ciência e a Arte (Vol. II, p.609)

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Ângulo no Polo (P) – É o arco do equador compreendido entre o meridiano superior do
lugar e o meridiano do astro, sentido Leste para Oeste (0°a 180°). Se o astro estiver a W
então Pw = hl, caso esteja em E então Pe = 360 – hl.

Distância Polar (Δ) – É o arco do meridiano compreendido entre o Polo Ascendente e o


astro. Conta-se a partir do Polo Ascendente e possui valores que variam entre 0° e 180°.

Fig.1 – Sistema de Coordenadas Horárias

➢ Sistema de Coordenadas Equatoriais

Os círculos máximos fundamentais de referência deste Sistema de Coordenadas são o


Equador Celeste e o Círculo Horário do Ponto Vernal e as principais coordenadas deste
sistema são a declinação (δ), o ângulo sideral (AS) e Ascensão Reta (AR).

Declinação (δ) – é o arco do meridiano compreendido entre o astro e o equador. Conta-


se do equador até o astro, ou seja, varia de 0 até 90 graus. Assumindo um valor,
respetivamente, positivo ou negativo, conforme o nome da latitude, se for o mesmo ou
um diferente da latitude do observador.

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Ângulo sideral (AS) – é o arco compreendido entre o ponto vernal (γ) e o meridiano do
astro, possuindo valores entre 0 e 360 graus e mede-se no sentido retrógrado a partir
do ponto vernal.

Ascensão reta (AR) – é o arco compreendido entre o ponto vernal (γ) e o meridiano do
astro, possuindo valores entre 0 e 360 graus e mede-se no sentido direto a partir do
ponto vernal.

Fig.2 – Sistema de Coordenadas Equatoriais

➢ Sistema de Coordenadas Horizontais ou Azimutais

Os círculos máximos fundamentais de referência do Sistema de Coordenadas


Horizontais ou Azimutais são o Horizonte (círculo máximo básico) e o Meridiano do lugar
(círculo máximo perpendicular) e este é constituído pela Altura verdadeira (av), Distância
Zenital (ζ), Azimute (Z) e Amplitude.

Altura verdadeira (a/av) – é o ângulo que mede o arco compreendido entre o horizonte
e o astro, contamos o astro no horizonte como sendo 0°, no hemisfério visível assume
valores positivos e no hemisfério invisível assume valores negativos. Os valores máximos
absolutos (90°) são obtidos no zénite ou nadir.

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Distância Zenital (ζ = 90° – a) – é o arco do vertical do astro compreendido entre o zénite
e o astro.

Azimute (Z) – é o arco do horizonte compreendido entre um dos pontos cardeais Norte
ou Sul, tomando como origem, e o vertical do astro. Conta-se de três formas:

• Por quadrantes, de 0 a 90 graus, a partir do ponto cardeal Norte ou Sul, para


Leste ou para Oeste.
• De 0 a 360 graus, a partir do ponto cardeal Norte, para Leste, Sul e Oeste.
• De 0º a 180º, a partir do ponto cardeal do mesmo nome do polo elevado, para
leste ou para Oeste.

Amplitude – é o arco do horizonte compreendido entre o vertical do astro e o ponto


cardeal mais próximo (E ou W).

Fig.3 – Sistema de Coordenadas Horizontais/Azimutais

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Posto isto, podemos resumir os sistemas de coordenadas, os respetivos círculos
máximos e os arcos que as definem, na tabela apresentada em baixo:

Tabela 1 – Tabela Resumo dos Sistemas de Coordenadas

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1.3 Transformação de Coordenadas

“A colatitude do lugar é o complemento da Latitude do observador, que é um dos


elementos do Sistema de Coordenadas Geográficas.

A distância polar do astro (p) é, como vimos, obtida da Declinação do astro (quando a
Latitude do observador e a Declinação do astro são de mesmo nome, p = 90º – d; quando
são de nomes contrários, p = 90º + d). A Declinação é um dos elementos do Sistema de
Coordenadas Horárias. A distância zenital do astro (z) é, para qualquer astro acima do
Horizonte, o complemento da altura, isto é, z = 90º – a. A altura, como sabemos, é um
dos elementos do Sistema de Coordenadas Horizontais (ou Azimutais).

O Ângulo no Pólo (t1) é obtido a partir do Ângulo Horário Local (AHL) do astro.
Conforme mostrado, com o astro a Oeste do observador, tem-se t1 = AHL; com o astro
a Leste, tem-se t1 = 360º – AHL. O Ângulo Horário é o outro elemento do Sistema de
Coordenadas Horárias. O Ângulo no Zênite (Z) é convertido em Azimute Verdadeiro do
astro, utilizando regras que serão adiante estudadas. O Azimute Verdadeiro (Az) é o
outro elemento do Sistema de Coordenadas Horizontais (ou Azimutais).

A Longitude do observador é utilizada para transformar o Ângulo Horário em


Greenwich dos astros, tabelado no Almanaque Náutico, em Ângulo Horário Local pois:

Finalmente, o Sistema de Coordenadas Equatoriais ou Uranográficas é usado em


Navegação Astronómica na obtenção do Ângulo Horário em Greenwich das estrelas.
Como vimos, o Almanaque Náutico não informa o AHG das estrelas; em vez disso, tabela
as Ascensões Retas Versas (ARV) das estrelas e o Ângulo Horário em Greenwich do
Ponto Vernal (AHGg). Para obter o AHG das estrelas, usa-se a relação anteriormente
mencionada”2

2 - Miguens, Altineu Pires (1996) Navegação: A Ciência e a Arte (Vol. II, p.621/622)

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→ Triângulo de Posição

As relações entre os diversos sistemas de coordenadas são estabelecidas pelo


triângulo de posição, que é formado pelos arcos do meridiano do lugar, meridiano do
astro e vertical do astro compreendidos entre o polo elevado, o zénite e o astro, cujos
elementos são os seguintes:

Lados: Ângulos
1) PZ = co-latitude do lugar: cϕ = 90 - ϕ 1) P = ângulo no pólo

2) PS = distância polar do astro: Δ = 90 - δ 2) Z = azimute

3) ZS = distância zenital do astro: ζ = 90 – a 3) S = ângulo no astro

A partir destes elementos podemos obter as seguintes fórmulas:

• Altura: sen(X) = sen(P) * cos(ϕ)*cos(δ)*sec (ϕ – δ)

Cosec(a)= sec(ϕ – δ)*sec(X)

• Azimute: cotg(Z)*sec(ϕ) = -tg(ϕ)*cotg(P) + tg(δ)*cosec(P)

Fig.4 – Triângulo de Posição

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2 Movimentos da Terra
Os principais movimentos da Terra são os seguintes:

2.1 Movimento de rotação


“Movimento em torno do eixo da terra, uma vez por dia. A rotação processa-se de
Oeste para Leste. A velocidade de rotação da Terra no Equador é de 900 nós (1.666,8
km/h), pois a esfera terrestre, com uma circunferência de 21.600 milhas náuticas,
completa um giro em torno do seu eixo em 24 horas.”3

2.2 Movimento de translação


Movimento ao redor do Sol, acontece uma vez por ano. A velocidade orbital média da
Terra, no seu movimento anual de translação é de cerca de 57.907 nós (107.244 km/h).

Fig.5 - Principais Movimentos da Terra

3 - Miguens, Altineu Pires (1996) Navegação: A Ciência e a Arte (Vol. II, p.575/576)

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2.3 A precessão e nutação da Terra

Precessão é um movimento em torno do eixo da eclítica, com um período de 25.775


anos. Este movimento não é completamente circular. As variações na posição da Lua
com relação ao Equador Terrestre e o efeito menor de outros astros causam ligeiras
alterações no movimento precessional. O efeito combinado destas variações designa-se
nutação. Assim, podemos definir nutação como sendo a parte irregular da precessão.

Fig.6 - Precessão e Nutação

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3 Princípios básicos de mecânica celeste
A mecânica celeste é o ramo da astronomia que estuda os movimentos dos corpos
celestes. A principal força determinante dos movimentos celestes é a gravitação,
contudo certos corpos (satélites artificiais, cometas e asteróides) podem sofrer a
influência marcante de forças não gravitacionais, como a pressão de radiação e
o atrito.”4 O objetivo da Mecânica Celeste, como o da Astronomia de posição, é o de
determinar as posições relativas dos astros e suas variações com o tempo.

3.1 O problema dos dois corpos


O problema dos dois corpos consiste em calcular as órbitas destes mesmos dois corpos
sujeitos à ação gravitacional. Para resolver este problema é preciso recorrer ás leis de
Kepler.

3.2 Leis de Kepler


A 1ª lei de Kepler diz-nos que a órbita de um planeta é uma elipse, sendo que o Sol
ocupa um dos focos. Chama-se linha dos ápsides ao maior eixo da elipse. O ponto da
órbita mais próximo do Sol designa-se periélio e o ponto mais afastado designa-se afélio.

A 2ª lei de Kepler refere que o raio vetor Planeta-Sol descreve áreas iguais em tempos
iguais. Assim sendo, a velocidade angular do planeta em torno do Sol não é constante,
tomando o valor máximo no periélio e mínimo no afélio.

Fig.7 - Raio vetor Planeta-Sol

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A 3ª lei define que os quadrados dos tempos gastos pelos planetas, em percorrer as
suas órbitas, são proporcionais aos cubos dos seus semieixos maiores.

3.3 Equação do movimento: problema de dois corpos


As três leis dos movimentos dos planetas estabelecidas por Kepler não são
independentes umas das outras. Newton demonstrou que elas podiam ser todas
deduzidas de uma única lei – a lei da atração universal. Assim, juntando os
conhecimentos de Newton e Kepler é possível deduzir a seguinte equação:

𝑮𝑴𝒎
⃗𝑭 = 𝒎 ∗ 𝒂
⃗ <=> ⃗⃗⃗
𝑭 = − 𝟐 𝒓̂
𝒓

𝒙𝑩 − 𝒙𝑨
𝒂𝑩 − 𝒂𝑨 = −𝑮(𝑴 + 𝒎)
|𝒙𝑩 − 𝒙𝑨 |𝟑

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4 O Sistema Solar
4.1 Constituição do Sistema Solar

O Sistema Solar é constituído pelo Sol, por oito planetas: Mercúrio, Vénus, Terra,
Marte. Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno, e ainda uma grande quantidade de corpos
celestes que orbitam ao redor do Sol. Dentro destes planetas principais, apenas alguns
interessam à navegação, sendo eles: Vénus, Marte, Júpiter e Saturno.

Fig.9 - Representação artística do Sistema Solar

4.2 Movimentos dos planetas e suas órbitas


Cada um dos planetas tem o seu movimento de rotação sobre o próprio eixo , no
sentido Oeste-Leste, assim como a Terra. Para além deste movimento possuem ainda
um movimento de translação em redor do Sol que, à exceção de Júpiter e Saturno, é
também efetuado no sentido Oeste-Leste.

Relativamente ás órbitas destes planetas, estas estão, aproximadamente, no mesmo


plano, inclinadas cerca de 8 graus em relação à eclíptica. Estes movimentos dos planetas
são governados pelas já referidas, Leis de Kepler e Lei da atração universal.

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4.3 Movimento translação da Terra, órbita terrestre e estações ano

O movimento de translação consiste na volta que a Terra executa ao redor do Sol, no


espaço de um ano, e é responsável pela sucessão das estações do ano.

É sabido que o eixo da Terra não está exatamente na vertical (apresenta uma
inclinação de cerca de 23º), o que origina que, aparentemente, o Sol, durante o ano,
suba e desça em relação ao Equador. Este facto é a causa das diferentes estações do ano
e é responsável pela diferente duração dos dias e das noites, que em caso de latitudes
mais elevadas, origina grandes diferenças na duração do período diurno e do período
noturno, incluindo o fenómeno do dia permanente ou da noite permanente, em locais
cuja latitude é superior à do Círculo Polar Ártico ou Antártico.

Fig.10 - Efeitos da inclinação do eixo da Terra

5 Particularidades relativas a alguns astros


5.1 O Sol

O Sol constitui cerca de 99% da massa do Sistema Solar, e é em torno desta estrela
central que orbitam todos os outros corpos. Encontra-se a uma distância de,
aproximadamente, 150 milhões de quilómetros da Terra e possui uma massa 332 900
vezes maior do que o planeta no qual habitamos.

Existem algumas particularidades de interesse astronómico por parte desta estrela.


Uma delas é a Declinação, ou por outras palavras, a elevação em relação ao Equador.

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A Declinação do Sol varia entre 23º27´N e 23º27´S, valores de latitudes que
correspondem ao Trópico de Câncer e ao Trópico de Capricórnio, respetivamente.

Aos momentos em que o Sol cruza o Equador, designamos de Equinócios da Primavera


e do Outono, por outro lado, quando o Sol atinge os Trópicos, chamamos de Solstícios
de Verão e de Inverno.

Relativamente ao nascimento e ao ocaso desta estrela, estes podem dar-se em


quadrantes diferentes, dependendo da estação do ano. Assim, no Verão, quando o dia
é maior do que a noite, o Sol nasce no quadrante NE e põe-se no quadrante NW. Já no

Inverno, em que se dá o contrário, e o dia é menor que a noite, O Sol nasce no quadrante
SE e põe-se no quadrante SW.

Fig.11 - Nascimento e ocaso do Sol no Verão

Assim que o Sol cruza o meridiano do lugar, atinge a sua altura máxima e, para as
nossas latitudes, encontra-se no azimute 180º. Nesse instante diz-se que o Sol está na
passagem meridiana e a hora solar é 12 horas.

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5.2 A Lua

A Lua é um satélite natural, gira sobre si própria, gira à volta da Terra e,


consequentemente, do Sol. O sentido destas rotações dá-se no sentido de Oeste para
Leste. No que toca à posição e aspeto, apresenta grandes e rápidas variações, o que,
apesar de não impedir a sua utilização na navegação astronómica, acaba por tornar os
cálculos mais complexos.

Dado que os períodos de rotação e de revolução da Lua são idênticos, esta apresenta
sempre a mesma face voltada para a Terra. No entanto, é possível observar um pouco
mais de metade da sua superfície devido à libração, que é a oscilação aparente que faz
variar a parte visível de um planeta. Assim como a Terra, a Lua também possui um
movimento de precessão, cuja duração é de cerca de 18 anos, e que é a principal causa
da nutação da Terra. Como consequência do movimento da Lua em relação à Terra e ao
Sol, esta pode encontrar-se em oposição, quadratura ou conjunção com o planeta que
habitamos. Assim, a face da Lua iluminada pelo Sol ocupa diferentes posições
relativamente ao observador terrestre. Estes aspetos denominam-se fases,
reproduzem-se periodicamente e sempre pela mesma ordem.

Fig.12 - Fases da Lua

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5.3 Os planetas: Vénus, Marte, Júpiter, Saturno

Nem todos os planetas são úteis na navegação astronómica. Na prática só usamos os


que são mais visíveis, por estarem mais próximos da Terra, ou por terem elevadas
dimensões. Estes planetas são precisamente: Vénus. Marte, Júpiter e Saturno, e serão,
de seguida, abordadas algumas características de cada um destes planetas.

Vénus – possui a órbita que mais se aproxima de uma circunferência e uma atmosfera
densa, que torna mais difícil a sua observação. A duração do seu movimento de
translação é de 2225 dias e não possui satélites.

Marte – Tem uma atmosfera difusa, dois pequenos satélites, e apresenta capas polares
de um tom esbranquiçado.

Júpiter – É o maior dos planetas, possui 12 satélites e, à semelhança de Vénus, tem uma
atmosfera densa. O seu período de rotação é o mais curto, o que faz com que apresente
um grande achatamento polar.

Saturno – Possui anéis, uma atmosfera densa e 9 satélites.

Fig.13 – Vénus, Marte, Júpiter e Saturno

5.4 Estrelas

Pode ser definida como um grande objeto astronómico luminoso formado pela
condensação de gases, e embora o seu movimento seja mínimo, a rotação da Terra
provoca, nestes astros, um movimento aparente semelhante ao do Sol, que deve ser
considerado para questões de navegação astronómica.

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Desta forma, as estrelas parecem mover-se no sentido de Este para Oeste, havendo,
conforme a latitude do observador e a posição deste astro, três possibilidades, sendo
elas:

➢ estrelas que se encontram sempre acima do horizonte, como a estrela Polar;


➢ estrelas que se encontram sempre abaixo do horizonte;
➢ estrelas que tem nascimento e ocaso, tal como o Sol.

6 O Tempo
6.1 Conceitos básicos

Desde a Antiguidade que se sentiam dificuldades na medição e manutenção da hora


exacta a bordo, que dependerá da posição do Sol em relação ao observador. Deste
modo, se o Sol estiver a cruzar o meridiano de lugar, deveriam ser 12 horas (meio-dia).
Caso contrário, se estiver a passar no lado oposto do meridiano, deveria ser meia-noite.
Contudo, a complexidade do movimento do Sol não permite que estas situações sejam
assim tão simples.

6.2 Os sistemas de medição do tempo

“Na medição do tempo, consideram-se os arcos expressos em horas e suas divisões


sexagesimais, tomando, para o efeito, a circunferência completa equivalente a 24h.

Um dia do astro será definido como o intervalo de tempo decorrido entre duas
passagens consecutivas do astro pelo meridiano de lugar. Uma hora do astro constitui o
intervalo de tempo que o meridiano do astro gasta em percorrer 15˚ do equador.

Segundo o astro que se considera, assim teremos diversas espécies de tempos e de


dias: siderais, solares, lunares e planetários. Em Navegação usam-se apenas três
espécies de tempo. Sideral, solar verdadeiro e solar médio.”4

4 – E. Da Silva Gameiro – Astronomia Náutica (Cap.5, p.53)

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6.3 Sistemas de Tempo Rotacional

Tanto a hora solar quanto a sideral são exemplos de sistemas de medida de tempo
baseados no movimento de rotação da Terra, sendo, portanto, chamados de sistemas
de tempo rotacional.

➢ Tempo Universal (UT) - a unidade de duração representa o dia solar, definido


para ser o mais uniforme possível, mesmo tendo em vista as variações no
movimento de rotação da Terra.
➢ Tempo Sideral (TS) - a unidade de duração é o período da rotação da Terra
utilizando como referência um ponto aproximadamente fixo com respeito às
estrelas.

Contudo, o tempo rotacional não é uniforme. As principais causas das irregularidades


deste sistema são o movimento dos pólos e a variação na velocidade de rotação da
Terra:

a) Movimento do pólo: a não coincidência do eixo de rotação da Terra com o eixo


principal de inércia faz com que apareça um movimento denominado de "nutação livre".
Como se trata de movimento relativo, pode-se dizer que há um deslocamento dos pólos
terrestres em relação a um sistema fixo na superfície da Terra, o qual se denomina de
"movimento do pólo".

b) Variação secular da velocidade de rotação da Terra: ocorrem variações na velocidade


de rotação da Terra que implicam variações nos intervalos de tempo rotacional.

6.4 Sistemas de Tempo Dinâmico

O Tempo Dinâmico (TD) foi definido para a substituição do tempo das efemérides, na
prática, devido ao facto deste ser teoricamente definido mais "impossível" de ser
obtido. A unidade de duração é baseada no movimento orbital da Terra, da Lua ou dos
Planetas.

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6.5 Sistemas de Tempo Atómico

Existem dois tipos de sistemas de tempo atómico:

➢ Tempo Atômico Internacional (TAI) é a coordenada de localização temporal


estabelecida pelo BIH (Bureau Internacional da Hora), com base nas indicações
de relógios atômicos em funcionamento em diversos estabelecimentos. A
unidade de duração corresponde a um número definido de comprimentos de
onda de radiação de um determinado isótropo, ou seja, baseado nas
propriedades quânticas de um átomo.
➢ Tempo Universal Coordenado (UTC) é um sistema de tempo atômico que sofre
correções periódicas para manter-se em consonância com o tempo universal.

6.6 Tempo Universal Coordenado

Quando comparado com o Tempo Atómico Internacional, verifica-se que este não é
uniforme. A razão que explica este fato é o de que a Terra não é rígida, havendo um
movimento elástico mesmo nas partes "sólidas". Este movimento faz com que o eixo de
rotação da Terra não intercepte a crosta sempre no mesmo ponto. Por outras palavras,
o denominado "movimento dos pólos", causa uma variação na posição dos meridianos,
que, consequentemente, causa mudanças na latitude e longitude do lugar.

Este sistema é a escala de tempo mantida pelo BIPM (Escritório Internacional de Pesos
e Medidas) com a participação do IERS (International Earth Rotation Service), e que
forma a base de uma disseminação coordenada de frequências padrão e sinais horários.
O UTC é calculado através da média ponderada das horas de 200 a 300 relógios atómicos
espalhados pelo mundo e possui a mesma marcha que o Tempo Atómico Internacional,
diferindo dele por um número inteiro de segundos.

6.7 Tempo GPS


Este sistema possui 24 satélites em órbita, cada um com dois ou três relógios atómicos
controlados ao minuto, com grande rigor, pelo Departamento de Defesa dos EUA, que
define a 'Hora GPS' através das médias ponderadas das horas de todos esses satélites.

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Esta hora está desfasada em 14 segundos da 'Hora UTC' (Tempo Universal Coordenado),
padrão da hora mundial definido pelo IERS (International Earth Rotation Service). Esta
diferença de 14 segundos deve-se ao facto de a força da gravidade da Terra ser menor
aos 20.200 km de altitude a que se encontram os satélites, o que faz com que o tempo
passe mais depressa - um efeito explicado pela Teoria da Relatividade Geral de Einstein.

Para acertarem a hora, os relógios atómicos do Observatório Astronómico de Lisboa


fazem uma média ponderada das horas que lhes são enviadas por, pelo menos, oito
satélites da rede observáveis do território nacional.

6.8 Utilização Prática do Tempo: Tempo Legal

Após tantos sistemas de medição de tempo, a questão que se levanta é: qual a hora
que marcamos no relógio? Esta pergunta procede à medida que se adicionam ainda mais
sistemas, mas a resposta a esta questão é que a Hora Legal (HL) é a hora do relógio.
Esta hora legal é baseada no movimento do Sol Médio, mas obedece a várias
conveniências geo-políticas. A hora solar média M varia continuamente com a longitude,
ou seja, a hora solar média no Norte de Portugal difere da hora solar média no Sul do
país em alguns minutos. Assim, existe a necessidade de se padronizar a hora em grandes
regiões, surgindo assim os chamados fusos horários, que partilham a mesma hora legal.

Pela convenção dos fusos horários (F), a superfície da Terra é dividida em 24 fusos,
compreendendo um domínio de 15° de longitude cada. O primeiro fuso (F=0h) é aquele
cujo centro contém o meridiano de Greenwich (λ = 0°). Contrariamente ao que fazemos
com a longitude, a oeste de Greenwich os fusos são contados negativamente. Podemos
visualizar uma representação esquemática dos fusos horários na figura abaixo. Nela
vemos, em linhas tracejadas, o meridiano de Greenwich, correspondente ao fuso F=0h.
Na direção leste, temos contados os fusos positivos, até F=+12h, junto à linha de
mudança de data (λ=+/-180°). A oeste, temos os fusos negativos, sendo que novamente
F=-12h encontra-se imediatamente a leste da linha internacional de mudança de data.

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Fig.13 - Fusos Horários

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7 Bibliografia

“Navegação: a Ciência e a Arte, Vol. II – Navegação Astronómica e derrotas” - Altineu

“Astronomia Náutica” – E. Da Silva Gameiro

“Navegação Astronómica para os Patrões de Alto Mar” – Amílcar José Oliveira

8 Webgrafia

https://tucannus.com.br/wp-content/uploads/2017/05/23.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mec%C3%A2nica_celeste

https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela

https://www.if.ufrgs.br/oei/santiago/fis2005/textos/timesist.htm

http://www.cartografica.ufpr.br/docs/Nadal/apostiladeTEMPO1.pdf

https://expresso.pt/sociedade/como-os-satelites-gps-controlam-o-tempo=f281860

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