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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

Desenvolvimento de colmeias de abelhas Melipona interrupta Latreille, 1811


(Hymenoptera: Meliponini) sob diferentes temperaturas em condições de laboratório

TATIANE BECKER

Manaus, Amazonas
Março de 2014

i
TATIANE BECKER

Desenvolvimento de colmeias de abelhas Melipona interrupta Latreille, 1811


(Hymenoptera: Meliponini) sob diferentes temperaturas em condições de laboratório

Orientadora: Profa. Dra. Gislene Almeida Carvalho Zilse (INPA)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Entomologia do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas, área de concentração em
Entomologia.

Manaus, Amazonas
Março de 2014

ii
TATIANE BECKER

Desenvolvimento de colmeias de abelhas Melipona interrupta Latreille, 1811


(Hymenoptera: Meliponini) sob diferentes temperaturas em condições de laboratório

Banca Julgadora

Dr. Carlos Alfredo Lopes de Carvalho


(Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)

Dr. Carlos Gustavo Nunes da Silva


(Universidade Federal do Amazonas)

Dra. Elizabeth Franklin Chilson


(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)

iii
Ficha Catalográfica

B395 Becker, Tatiane


Desenvolvimento de colmeias de abelhas Melipona interrupta
Latreille, 1811 (Hymenoptera: Meliponini) sob diferentes
temperaturas em condições de laboratório / Tatiane Becker. ---
Manaus: [s.n], 2014.
xvi, 82 f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2014.


Orientador : Gislene Almeida Carvalho-Zilse.
Área de concentração : Entomologia.

1. Abelhas sem ferrão. 2. Termorregulação. 3. Oviposição.


I. Título.

CDD 595.799

Sinopse:
Estudou-se a influência da alteração artificial da temperatura no
desenvolvimento de colmeias de abelhas sem ferrão Melipona interrupta, quanto a
termorregulação, postura da rainha e segregação de castas, no município de Manaus,
Amazonas.

Palavras-chave: Abelhas sem ferrão, Termorregulação, Oviposição, Segregação de


castas

iv
Dedico aos meus pais..

v
Agradecimentos
Agradeço a Deus por tornar tudo possível.
Aos melhores pais do mundo Lauri e Liane, vovó Norda, Puppe e toda família por
todo amor, carinho, apoio e incentivo que eu recebi.
A minha querida orientadora Gislene pela caminhada de aprendizado e por
acreditar na minha capacidade.
Pedro pela amizade, apoio e coorientação.
Aos amigos e companheiros de laboratório Diego, Mariana, Laís, Thalita, Mayara,
Luciana, André e Hélio. Em especial à Diana por toda paciência, auxílio e afeto.
A Lorena e Henrriete pela ajuda.
Ao Programa de Pós-Graduação em Entomologia e a Capes pela oportunidade e
financiamento.
Aos amigos e colegas da Entomologia. Juci e Vagner pelos cafés e prosas. Sian,
Bia, Boldrini, Antônio e Léo pelo carinho.
As de sempre Amanda e Carol pelos bons momentos... saudade. Também Angélica,
Jéssica e Débora pela amizade. Lili pelos conselhos.
Minha metade Thaís, Camila, Débora, Vanildes, Hevellyn e Lariza saudades.
A todos o meu muito obrigada!

vi
“ Ich lebe den Augenblick
Ich krieg nie genug
Frag mich nicht wie und wann
Schalt den Sommer an
Wie schnell kann sich die Erde drehen
Für mich nie schnell genug
Nur zuschauen ist undenkbar
Völlig sonnenklar

Ich lass mich nicht umdrehen


Will weiter zu weit gehen
Ich bleib einfach so wie ich bin

Ich kriege nie genug vom Leben


Ich kriege nie genug
Da geht noch mehr
Ich will alles auf einmal und nichts nur so halb
Nicht nur warten bis etwas passiert

Ich kriege nie genug vom Leben


Ich kriege nie genug
Bist du dabei
Ich will alles riskieren
Will gewinnen
Nicht verlieren
Immer mehr
Immer mehr
Immer mehr...“

(Nie Genug - Christina Stürmer)

vii
Resumo
As abelhas são importantes agentes polinizadores, em especial, as da tribo Meliponini,
conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão, que tem grande importância para a
polinização da flora nativa. Elas são capazes de regular a temperatura interna dos ninhos.
Esta regulação é essencial para o desenvolvimento da cria e proteção dos adultos a
temperaturas externas extremas, e desta forma, para a sobrevivência da colônia. Na
geração de novos indivíduos, as operárias são encarregadas de construir novas células e
aprovisioná-las com alimento larval, e a rainha é responsável por realizar a postura dos
ovos. Já foram registradas evidências da influência de fatores ambientais na produção de
rainhas e machos ao longo do ano em diferentes espécies de Melipona. Alterações
climáticas afetam os seres vivos, como as abelhas, de diversas formas, cada espécie possui
tolerância diferente às condições ambientais. Assim, este trabalho se propôs a verificar a
influência da temperatura no desenvolvimento de colmeias de Melipona interrupta, com
ênfase na eficiência da termorregulação interna dos ninhos, quantidade de postura realizada
pela rainha e na geração de machos e fêmeas, e de rainhas e operárias. Para cumprir com
estes objetivos foram sorteadas 30 colônias do Meliponário do GPA/INPA em condições
equivalentes de desenvolvimento e separadas em cinco grupos, com seis colmeias cada
sendo um Grupo Controle cujas colmeias foram mantidas em Meliponário à temperatura
ambiente natural e quatro Grupos Tratamento, em laboratório, sob diferentes faixas de
temperatura (induzidas artificialmente) a fim de gerar um gradiente térmico. As
temperaturas foram monitoradas por Termo-higrômetros, a postura foi foto documentada
diariamente e a segregação de sexo e castas observada em discos amostrados ao longo do
tempo. A temperatura média ótima para M. interrupta foi estimada em 30 ºC. Em relação à
termorregulação, foi verificado que quanto mais altas as temperaturas a que as colônias são
expostas (entre 31 ºC e 38 ºC) maior o esforço termorregulatório das abelhas. Porém, a
medida que a temperatura externa se afasta de 30 ºC (para mais ou para menos), menor a
eficiência dessa termorregulação, demonstrando pouca capacidade termorreguladora da
espécie. Da mesma forma foi observado que o aumento da temperatura externa (entre 31
ºC e 38 ºC) causa proporcionalmente a diminuição da postura de ovos realizada pela rainha
e aumento da mortalidade de imaturos. Em temperatura abaixo da ótima, entre 24 ºC e 26
ºC, as abelhas constroem maior número de lâminas fechadas de invólucro ao redor das
crias, afim de termorregular. No entanto, também foi registrada redução do número de
posturas diárias. A alta mortalidade de imaturos causada por temperaturas mais elevadas
que a ótima de 30 ºC alteram o número de indivíduos gerados na colônia e,
consequentemente, a proporção de rainhas, operárias e machos nascidos. Não sendo
comprovado se esta afeta diretamente a segregação em sí. A redução do número de
indivíduos nascidos, causada pelo aumento da temperatura, afeta negativamente a geração
de descendência, e também sua força de trabalho, comprometendo o bom funcionamento e
sobrevivência da colônia. Os resultados deste trabalho nos permitem deduzir que alterações
naturais ou antrópicas que modifiquem a temperatura a que as colônias são expostas,
podem comprometer sua sobrevivência.

viii
Abstract
Colony development of the stingless bee Melipona interrupta Latreille, 1811
(Hymenoptera: Meliponini) under different temperatures in laboratory conditions

Bees are important pollinators, especially of the Meliponini tribe, known as indigenous
stingless bees, which has great importance for the pollination of native flora. They are able
to regulate the internal temperature of the nest. This regulation is essential for the
development and protection of immature and adults from the extreme outside temperatures,
enabling the survival of the colony. On the generation of new individuals, the workers are
tasked to build new cells and provision them with larval food, and the queen is responsible
for laying eggs. Evidences of the influence of environmental factors in the production of
queens and males throughout the year in different species of Melipona have been recorded.
Climate change affect living beings, like bees, in different ways, each species has a
different tolerance to environmental conditions. This study aimed to verify the influence of
temperature on the development of hives of Melipona interrupta, with emphasis on the
efficiency of the nests thermoregulation, amount of posture realized by the queen and the
generation of males and females, queens and workers. To fulfill these objectives the 30
colonies from the Meliponary of GPA/INPA with equivalent development conditions were
separated into five groups, with six hives each. The hives of the control group were kept at
the Meliponary exposed to natural temperature. The four treatment groups were kept in
laboratory under different temperature ranges (artificially induced) to generate a thermal
gradient. Temperatures were monitored by thermo-hygrometers, the posture was daily
photo documented and segregation of gender and caste observed in disks sampled through
time. The optimum average temperature was estimate in 30 ºC for M. interrupta. Relative
to the thermoregulation, it was found that as higher the temperatures at which the colonies
are exposed (between 31 ºC and 38 ºC) the thermoregulatory effort of the bees increased.
However, as the external temperature deviates from 30 ºC (for more or less), the efficiency
of this thermoregulation is lower, showing little thermoregulatory capacity of the species.
Likewise it was observed that increasing the external temperature (between 31 ºC and 38
ºC) causes proportionally decreased egg laying by the queen and increased mortality of
immature. At temperatures below the optimum, between 24 ºC and 26 ºC, the bees build
larger number of closed involucrum blades to regulate the temperature. Also there is a
reduction in the number of daily posture. The high mortality of immature caused by higher
temperatures than the optimum 30 ºC modify the number of the generated individuals in
the colony, and therefore, the proportion of queens, workers and males born. Not being
established whether if the temperature affects directly the segregation itself. The reduction
in the number of births, caused by increasing of the temperature, affects negatively the
generation of offspring, and also its workforce, jeopardizing the proper functioning and
survival of the colony. The results of this study allow us to conclude that natural or
anthropogenic changes that modify the temperature the colonies are exposed, may
compromise their survival.

ix
Sumário

Lista de Tabelas ........................................................................................................... xii


Lista de Figuras .......................................................................................................... xiii
1.1 Introdução.............................................................................................................. 17
1.2 Objetivos ............................................................................................................... 20
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 20
1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 20
1.3 Material e Métodos – descrição dos aspectos gerais do experimento ...................... 21
1.3.1 Material Biológico ........................................................................................... 21
1.3.2 Área de estudo ................................................................................................. 21
1.3.3 Delineamento amostral e montagem do experimento ....................................... 22
1.3.5 Análise estatística ............................................................................................ 25
1.4 Referências bibliográficas ...................................................................................... 26
2.0 Capítulo 01 - Termorregulação em ninhos de Melipona interrupta ............................ 31
2.1 Introdução.............................................................................................................. 32
2.3 Material e Métodos ................................................................................................ 33
2.3.1 Monitoramento das temperaturas ..................................................................... 33
2.3.2 Análise estatística ............................................................................................ 34
2.4 Resultados e Discussão .......................................................................................... 35
2.5 Conclusões............................................................................................................. 48
2.6 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 49
3.0 Capítulo 02 - Oviposição em ninhos de Melipona interrupta ..................................... 52
3.1 Introdução.............................................................................................................. 53
3.3 Material e Métodos ................................................................................................ 54
3.3.1 Monitoramento da postura ............................................................................... 54
3.3.2 Análise estatística ............................................................................................ 54
3.4 Resultados e Discussão .......................................................................................... 55
3.5 Conclusões............................................................................................................. 60
3.6 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 61
4.0 Capítulo 03 - Segregação de sexo e casta em Melipona interrupta ............................. 63
4.1 Introdução.............................................................................................................. 64
4.3 Material e Métodos ................................................................................................ 66

x
4.3.3 Monitoramento da segregação de sexo e castas ................................................ 66
4.3.4 Análise estatística ............................................................................................ 67
4.4 Resultados e Discussão .......................................................................................... 67
4.5 Conclusões............................................................................................................. 78
4.6 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 79
5.0 Considerações Finais ................................................................................................. 82

xi
Lista de Tabelas

Tabela 1: Desenho experimental para o monitoramento da influência da temperatura sobre


o desenvolvimento de colônias de Melipona interrupta em Manaus-AM. ........................ 22
Tabela 2: Valores dos interceptos, inclinações das retas, e P de cada colônia de Melipona
interrupta do Meliponário do GPA/INPA, Manaus – AM, calculados pela análise de
regressão múltipla. .......................................................................................................... 36
Tabela 3: Quantidade de postura realizada diariamente nas colônias de Melipona
interrupta, no experimento em condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM. ...... 56
Tabela 4: Número de rainhas, operárias, machos, larvas e imaturos mortos encontrados em
cada disco amostrado e seus respectivos meses de coleta em colônias de Melipona
interrupta do Grupo Controle, GPA/INPA, Manaus-AM. ................................................ 68
Tabela 5: Segregação de castas observada em colônias de Melipona interrupta, em
condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM, sendo TE = temperatura externa; R =
número de rainhas observadas; O = numero de operárias observadas; χ2 = valores do teste
do Qui-quadrado; P = probabilidade. Os valores de χ2 em negrito são significativos. ...... 69

xii
Lista de Figuras

Figura 1: Caixa-padronizada modulada para criação de abelhas sem ferrão (Carvalho-Zilse


et al. 2005). Foto: Acervo GPA/INPA. ............................................................................ 21
Figura 2: Vista geral do Meliponário do GPA/INPA, Manaus-AM, onde foram mantidas
as colmeias do Grupo Controle à temperatura ambiente. Foto: T. Becker......................... 23
Figura 3: Colmeias dos Grupos Tratamento sob condições de Laboratório. (a) Colmeia
sobre bancada conectada, através da parede, ao ambiente externo por mangueira plástica;
(b) Saída da mangueira pelo lado externo da parede do Laboratório; (c) Vista geral da
parede do Laboratório, pelo lado externo, com marcações das saídas de cada colônia.
Fotos: T. Becker. ............................................................................................................. 23
Figura 4: Esquema ilustrativo das colmeias dos Grupos Tratamento sob condições de
Laboratório. Utilizou-se ar condicionado para o resfriamento do ambiente laboratorial à 25
ºC e lâmpadas incandescentes dentro de caixas de isopor para aquecimento das colmeias
entre 31ºC a 38 ºC. .......................................................................................................... 24
Figura 5: Esquema ilustrativo do aquecimento artificial de uma colmeia, conectada ao
ambiente externo por mangueira, mantida dentro de caixa de isopor com lâmpada
incandescente acoplada à tampa. Detalhe do termo-higrômetro fixado na parede interna da
caixa de isopor para registro da temperatura de exposição da colmeia e, paralelamente, da
temperatura interna da colmeia pelo sensor inserido próximo aos discos de cria. ............. 25
Figura 6: Monitoramento diário das temperaturas externa e interna das colmeias. (a)
Termo-higrômetro com sensor duplo acoplado à colmeia; (b) Detalhe de um dos sensores
do termo-higrômetro inserido próximo aos discos de cria. Fotos: T. Becker. ................... 33
Figura 7: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas
externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias do Grupo Controle (G1)
expostas a temperatura ambiente do Meliponário, GPA/INPA, Manaus - AM. ................ 37
Figura 8: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas
externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias do Grupo G2 expostas
artificialmente a temperatura entre 24 ºC e 26 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus –
AM. ................................................................................................................................ 38
Figura 9: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas
externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias do Grupo G3 expostas

xiii
artificialmente a temperatura entre 31 ºC e 33 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus –
AM. ................................................................................................................................ 39
Figura 10: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas
externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias do Grupo G4 expostas
artificialmente a temperatura entre 34 ºC e 36 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus –
AM. ................................................................................................................................ 40
Figura 11: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas
externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias do Grupo G5 expostas
artificialmente a temperatura entre 36 ºC e 37 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus –
AM. ................................................................................................................................ 41
Figura 12: Correlação entre a temperatura externa média e as regressões entre as
temperaturas internas e externas médias das colônias dos Grupos experimentais
GPA/INPA, Manaus-AM. ............................................................................................... 42
Figura 13: Correlação entre a temperatura externa média e a amplitude da temperatura
interna das colônias dos Grupos experimentais do GPA/INPA, Manaus-AM. .................. 43
Figura 14: Correlação entre as diferenças entre a temperatura interna média de cada
colônia e a temperatura ótima da espécie (29,84 ºC) em função das médias das
temperaturas externas de cada colônia do GPA/INPA, Manaus-AM. ............................... 44
Figura 15: Correlação entre o tempo percentual de sobrevivência de cada colônia
(proporção de tempo, em dias, do total de tempo do experimento) e a temperatura externa
média sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM. ................................... 45
Figura 16: Diferença na construção de invólucro observadas em colônias sob condições de
laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM (a) Presença de invólucro reforçado em colônia
submetida a temperaturas abaixo de 26 ºC; (b) Ausência de invólucro em colônia
submetida a temperaturas acima de 34 ºC. Fotos: T. Becker. ........................................... 46
Figura 17: Vista geral das condições observadas em colônias de Melipona interrupta
expostas artificialmente a temperaturas acima de 34 ºC, em condições de laboratório no
GPA/INPA, Manaus-AM. Foto: T. Becker. ..................................................................... 46
Figura 18: Comportamento de ventilação (sequência de batimento de asas) observado em
operárias de Melipona interrupta em colônias submetidas a temperaturas acima de 34 ºC,
sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM. Fotos: T. Becker. .................. 47

xiv
Figura 19: Fotodocumentação diária do processo de construção de um disco e postura em
Melipona interrupta, sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM. Fotos: T.
Becker. ............................................................................................................................ 54
Figura 20: Correlação entre o número médio de células operculadas por dia em colônias
de Melipona interrupta e a temperatura externa média, sob condições de laboratório no
GPA/INPA, Manaus-AM. ............................................................................................... 57
Figura 21: Regressão simples entre a temperatura externa média (variável independente) e
o número médio de células por disco de cada colônia (variável dependente) do
experimento no GPA/INPA, Manaus-AM. ...................................................................... 58
Figura 22: Discos de cria de Melipona interrupta de colônias do GPA/INPA, Manaus-
AM. (a) Disco com aspecto natural oriundo de colônia do Grupo Controle (G1); (b) Disco
retirado de colônia do Grupo G5 (36 ºC a 38 oC) apresentando deformidades. Fotos: T.
Becker. ............................................................................................................................ 59
Figura 23: Comportamento de operárias adultas retirando os imaturos mortos das células
de cria. (a) Colônia do Grupo G4 (34 ºC a 36 ºC), (b) Colônia do Grupo G5 (36 oC a 38
o
C). Fotos: T. Becker. ...................................................................................................... 59
Figura 24: Processo de retirada de disco com imaturos mortos e alimento ressecado em
uma colônia do Grupo G5 (36oC a 38oC). (a) Disco apresentando deformidades; (b)
Mesmo disco sendo destruído pelas operárias após um mês do início da postura; (c)
Detalhe das operárias concluindo a destruição do mesmo disco após dois meses do início
da postura. Fotos: T. Becker. ........................................................................................... 59
Figura 25: Disco de cria de Melipona interrupta parcialmente desoperculado para
identificação dos indivíduos quanto ao sexo e casta. Foto: T. Becker. .............................. 66
Figura 26: Variação natural da produção total de indivíduos (Rainhas, Operárias e
Machos) nas colônias de Melipona interrupta do Grupo Controle durante o período de
novembro de 2012 a outubro de 2013, no Meliponário do GPA/INPA, Manaus - AM. .... 68
Figura 27: Regressão linear dos valores médios dos χ2 obtidos com a segregação de
operárias e rainhas em todos os discos das colônias de Melipona interrupta em relação a
temperatura externa média, em condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM. A
linha tracejada refere se ao valor limiar de χ2 (3,84), acima do qual as segregações
observadas estão diferentes das esperadas........................................................................ 71
Figura 28: Regressão múltipla relativa a mortalidade de imaturos em colônias de
Melipona interrupta, em condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM. (a)

xv
Regressão parcial entre o número de imaturos mortos e a temperatura externa média; (b)
Regressão parcial entre o número de imaturos mortos e o número total de células. .......... 72
Figura 29: Alteração no tamanho de indivíduos de Melipona interrupta oriundos de
colônias expostas a temperaturas diferentes da ótima em condições de Laboratório,
GPA/INPA, Manaus-AM. (a) Diferença de tamanho em pupas com mesmo tempo de
desenvolvimento em colônia do Grupo G2; (b) Operária com má formação das asas em
colônia do Grupo G4. Fotos: T. Becker. .......................................................................... 73
Figura 30: Regressão múltipla entre o número de rainhas produzidas em colônias de
Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de rainhas e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de rainhas e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de rainhas e o número de imaturos
mortos. ............................................................................................................................ 75
Figura 31: Regressão múltipla entre o número de operárias produzidas em colônias de
Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de operárias e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de operárias e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de operárias e o número de imaturos
mortos. ............................................................................................................................ 76
Figura 32: Regressão múltipla entre o número de machos produzidos em colônias de
Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de machos e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de machos e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de machos e o número de imaturos
mortos. ............................................................................................................................ 77

xvi
1.1 Introdução
Existem cerca de 20.000 espécies de abelhas no mundo, que variam em tamanho,
forma, comportamentos, níveis de sociabilidade, preferências alimentares, dentre outros
(Velthuis, 1997). As abelhas são os principais agentes polinizadores de plantas (Carvalho-
Zilse et al., 2007) e segundo Kerr et al., (2001), um terço da produção alimentícia mundial
depende da visita de animais às flores, sendo as abelhas responsáveis por 38% desta
polinização.
As abelhas da tribo Meliponini (classificação de Camargo e Pedro, 2014) são
conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão, e junto com as abelhas melíferas atingem o
mais alto grau de evolução social (Velthuis, 1997). No Brasil ocorrem cerca de 200
espécies de meliponínios, de grande importância para a polinização da flora nativa e,
consequentemente para a manutenção da fauna e da biodiversidade (Souza et al., 2009).
Merece destaque, o gênero Melipona Illiger, 1806 com o maior número de espécies
descritas da tribo e distribuição exclusiva na região Neotropical que possui grande
importância ecológica e econômica (Camargo e Pedro, 2014; Venturieri et al., 2003; Souza
et al., 2009).
Na região amazônica, há registros de comunidades tradicionais e povos indígenas
utilizando abelhas sem ferrão para produção de mel há décadas (Kerr et al., 1967). A
implantação da criação técnica de abelhas da tribo Meliponini em caixas padronizadas em
meliponários e com manejo adequado, atividade denominada Meliponicultura (Kerr et al.,
1996), proporciona aumento da produção de mel e pólen. Desta forma, alimentos de
qualidade e alto valor nutricional podem ser acrescentados a dieta alimentar da
comunidade (Carvalho-Zilse et al., 2005; Barbosa-Costa et al., 2011). Ao mesmo tempo, a
venda da produção excedente propicia um complemento a renda familiar das populações
rurais (Venturieri et al., 2003; Carvalho-Zilse e Nunes-Silva, 2012). 3
A Meliponicultura também traz benefícios ao ecossistema, uma vez que as abelhas
realizam a polinização das plantas nativas e criadas possibilitando a produção de sementes
férteis e frutos, garantindo o crescimento, a sobrevivência e a diversidade genética da
vegetação nativa e produção de alimentos (Kerr et al., 1999; Kerr et al., 2001). Assim, esta
prática pode ser integrada a outros cultivos, como pomares e lavouras, aumentando a
produção (Kerr et al., 1996; Kerr et al., 2001; Venturieri et al., 2003).
Este serviço ambiental de agentes polinizadores confere às abelhas um papel
essencial na manutenção da biodiversidade e de produção de alimentos no cenário agrícola,

17
todavia as abelhas estão ameaçadas em diversas regiões do mundo (Imperatriz-Fonseca e
Nunes-Silva, 2010). Os principais fatores que, em conjunto, ameaçam as abelhas são a
perda de habitats, causada pela degradação e fragmentação; espécies invasoras; doenças e
parasitas; uso de pesticidas; exploração; e mudanças climáticas (Brown e Paxton, 2009).
Sabe-se que o clima na Terra sempre foi instável, passando por épocas glaciais mais
frias e interglaciais mais quentes que as atuais. As causas desses eventos pré-históricos
sempre foram naturais. Entretanto, a causa das aceleradas alterações climáticas recentes é
essencialmente a interferência antrópica no meio ambiente. O aumento do nível dos
oceanos, mudanças na duração das estações e aumento da temperatura média global são
evidências claras de que a espécie humana está alterando o clima terrestre (Hulme, 2003;
Marengo, 2006; IPCC, 2013). Alterações climáticas afetam os seres vivos de diversas
formas, cada espécie possui tolerância diferente às condições ambientais (Miles, 2003;
Sommer et al., 2010).
Abelhas sem ferrão são capazes de regular a temperatura interna dos ninhos. Esta
regulação é essencial para o desenvolvimento da cria e proteção dos adultos a temperaturas
externas extremas, e desta forma, para a sobrevivência da colônia (Heinrich, 1993; Roldão,
2011). O desenvolvimento da cria em temperaturas não adequadas afeta características
morfológicas e fisiológicas, podendo causar deformidades no corpo e aumento da taxa de
mortalidade da cria (Roldão, 2011; Vollet-Neto et al., 2011).
Entretanto, há registros de grande variação na termorregulação em diferentes
espécies de Melipona (Loli, 2008; Campos et al., 2010). Confirmando os resultados de
Roldão (2011), que verificou a influência da temperatura ambiente na variação da
temperatura interna em colônias de Melipona scutellaris, Vollet-Neto (2011) sugere que a
temperatura dos ninhos de meliponínios varia consideravelmente durante o ano, sendo
estes capazes de suportar uma faixa específica de temperatura.
As Melipona nidificam em ocos de árvores, construindo suas células de cria em
camadas horizontais (discos de cria). Na geração de novos indivíduos, as operárias são
encarregadas de construir novas células e aprovisioná-las com alimento larval, e a rainha é
responsável por realizar a postura dos ovos (Ihering, 1903; Kerr, 1946; Kerr et al., 1996).
Diferentemente de todas as outras abelhas, que constroem células especiais para o
desenvolvimento de rainhas, as abelhas do gênero Melipona constroem todas as células de
cria com formas e tamanhos iguais (Kerr et al., 1996) e recebem o mesmo tipo de
alimento. Com base nisto e na proporção de rainhas e operárias nascidas em colônias de

18
Melipona quadrifasciata, Kerr (1950 e 1974) propôs a diferenciação genético-alimentar de
castas (operárias e rainhas) no gênero Melipona. Onde dois genes, com dois alelos cada,
quando em dupla heterozigose, seriam os responsáveis por gerarem rainhas desde que as
larvas recebam uma quantidade mínima de alimento. Nestas condições, ¼ das fêmeas
nascidas seriam rainhas e ¾ operárias. Entretanto, esta proporção não é comumente
observada na natureza, o que sugere que a expressão destes genes pode ser influenciada
por fatores ambientais, tais como disponibilidade de alimentos, umidade e temperatura.
Evidências da influência de fatores ambientais na produção de rainhas ao longo do
ano em diferentes espécies de Melipona já foram registradas por Kerr (1948). Carvalho
(2000) estudando M. scutellaris em Uberlândia-MG, verificou que de setembro a abril,
meses mais quentes e com melhor florada, há uma produção crescente de rainhas e
machos, em contraste com o período de maio a agosto, coincidente com o inverno, nos
quais há redução no nascimento de rainhas e machos.
Diante do exposto, e dada a importância das abelhas no cenário global, fica
evidente que informações sobre a biologia das abelhas, produção das crias, temperaturas
adequadas ao desenvolvimento e manutenção das colônias de cada espécie, são essenciais
para ações em prol de sua conservação e exploração econômica.
Assim, este trabalho se propôs a estudar a influência da temperatura na regulação
da temperatura interna dos ninhos, na quantidade de postura das colônias e na produção de
machos, rainhas e operárias de Melipona interrupta, espécie comumente criada no estado
do Amazonas, com alto potencial melífero (Barbosa-Costa et al., 2011) e de destaque
como polinizadora da flora nativa (Kerr et al., 2001) e dispersora de sementes (Bacelar-
Lima et al., 2006).

19
1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral


• Verificar a influência da temperatura no desenvolvimento de colmeias de Melipona
interrupta.

1.2.2 Objetivos Específicos


• Verificar a temperatura interna ótima e a eficiência da termorregulação em ninhos
de M. interrupta;
• Investigar a influência do aquecimento ou resfriamento artificial das colmeias sobre
a quantidade de postura realizada pela rainha;
• Comparar a geração de machos e fêmeas, e de rainhas e operárias em colmeias
mantidas em diferentes temperaturas artificiais.

20
1.3 Material e Métodos – descrição dos aspectos gerais do experimento

1.3.1 Material Biológico


As abelhas da espécie Melipona interrupta, popularmente conhecidas como jupará,
possuem distribuição neotropical, sendo abundantes na região amazônica. São abelhas
relativamente grandes, medindo em torno de 1,3 cm (Francini, 2008). A colônia dessa
espécie é constituída, em média, por 3000 operárias, 250 machos e uma rainha fecundada.
A entrada do ninho é característica da espécie, sendo construída com barro e resina (Costa
Pinto, 2007). Esta é uma das principais espécies criadas na Meliponicultura para produção
de mel no Estado do Amazonas (Carvalho-Zilse e Nunes-Silva, 2012) e tem se tornado a
principal espécie em estudos de genética da reprodução de abelhas pela equipe do Grupo
de Pesquisas em Abelhas (GPA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Colônias de M. interrupta mantidas no Meliponário e no Laboratório de Genética do GPA
foram submetidas artificialmente a diferentes temperaturas conforme descrito adiante.

1.3.2 Área de estudo


O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Genética de Abelhas e no
Meliponário do GPA/INPA, o qual forneceu as colmeias utilizadas no experimento. As
abelhas foram mantidas em caixas-padronizadas moduladas (Carvalho-Zilse et al., 2005)
confeccionadas em madeira (Figura 1), de dimensões 7x15x15 cm cada módulo, sem a alça
referente a melgueira.

Figura 1: Caixa-padronizada modulada para criação de abelhas


sem ferrão (Carvalho-Zilse et al., 2005). Foto: Acervo GPA/INPA.

21
1.3.3 Delineamento amostral e montagem do experimento
Foram sorteadas 30 colônias do Meliponário do GPA/INPA com condições
equivalentes de desenvolvimento tendo-se como referência notas entre 5 e 6 (colônias
autossuficientes), de acordo com o padrão de notas estabelecido por Kerr et al. (1996) para
comporem os ensaios experimentais. As colmeias foram aleatoriamente distribuídas em
quatro Grupos Tratamento (com 6 colmeias cada) mantidos sob diferentes faixas de
temperatura, em laboratório, além de um grupo controle cujas colmeias foram mantidas em
Meliponário à temperatura ambiente natural (Tabela 1), afim de gerar um gradiente
térmico. As faixas de temperatura dos Grupos Tratamento foram estabelecidas acima e
abaixo da temperatura média natural de 30 ºC registrada no interior de colônias de
Melipona fasciculata (syn. M. compressipes fasciculata) por Kerr (1996) e considerando-
se o cenário que prevê aquecimento global (IPCC 2013). As colônias não foram analisadas
simultaneamente durante o decorrer do experimento, que teve duração de catorze meses
(agosto/2012 a outubro/2013). O tempo de permanência de cada colônia no experimento
variou de acordo com a sobrevivência.

Tabela 1: Desenho experimental para o monitoramento da influência da temperatura sobre


o desenvolvimento de colônias de Melipona interrupta em Manaus-AM.
Localização das
Ensaios Grupo Nº das colmeias Faixa de temperatura
colmeias
13, 14, 15, Meliponário do
Controle G1 temperatura ambiente
28, 29, 30 GPA/INPA
1, 2, 3,
G2 24 oC a 26 oC
16, 17, 18
6, 7, 8, Laboratório de
G3 31 oC a 33 oC
21, 22, 23 Genética de
Tratamento
4, 5, 12, Abelhas do
G4 34 oC a 36 oC
19, 20, 27 GPA/INPA
9, 10, 11,
G5 36 oC a 38 oC
24, 25, 26

As colmeias do Grupo Controle (G1) foram mantidas no Meliponário do


GPA/INPA (Figura 2), à temperatura ambiente. Termo-higrômetros com sensor duplo

22
foram acoplados à parede externa das colmeias para registro diário das temperaturas
ambiente (externa à colmeia) e interna (sensor inserido dentro da colmeia próximo aos
discos de cria).

Figura 2: Vista geral do Meliponário do GPA/INPA, Manaus-AM, onde foram mantidas


as colmeias de Melipona interrupta do Grupo Controle à temperatura ambiente. Foto: T.
Becker.

As colmeias dos Grupos Tratamento (G2 a G5) foram mantidas sobre bancada em
Laboratório (Figura 3). A cada colmeia foi acoplada uma mangueira de cerca de 40
centímetros conectando a entrada da mesma até o ambiente externo perpassando furo na
parede do laboratório, de maneira que as abelhas tivessem livre acesso ao ambiente natural
externo para forrageamento. Para evitar o ataque de formigas às colmeias, foi colocada
uma mistura de talco e enxofre em pó na base das caixas-padronizadas sobre a bancada.

(a) (b) (c)

Figura 3: Colmeias de Melipona interrupta dos Grupos Tratamento sob condições de


Laboratório. (a) Colmeia sobre bancada conectada, através da parede, ao ambiente externo
por mangueira plástica; (b) Saída da mangueira pelo lado externo da parede do
Laboratório; (c) Vista geral da parede do Laboratório, pelo lado externo, com marcações
das saídas de cada colônia. Fotos: T. Becker.

23
Para manutenção das temperaturas de 24 ºC a 26 ºC, as colmeias do G2 foram
mantidas sobre bancada em Laboratório climatizado com auxilio de ar condicionado à
temperatura ajustada para 25 ºC (Figura 4).

o
32 C

Figura 4: Esquema ilustrativo das colmeias de Melipona interrupta dos Grupos


Tratamento sob condições de Laboratório. Utilizou-se ar condicionado para o resfriamento
do ambiente laboratorial à 25 ºC e lâmpadas incandescentes dentro de caixas de isopor para
aquecimento das colmeias entre 31ºC a 38 ºC.

As colmeias de G3, G4 e G5 também foram mantidas sobre bancada em


Laboratório climatizado para 25 ºC, mas foram aquecidas artificialmente a temperaturas
entre 31 ºC a 38 ºC por serem colocadas dentro de caixas de isopor (44 cm x 35 cm x 40
cm) cobertas com tampas de papelão às quais foram acopladas lâmpadas incandescentes
(25W, 40W, 60W). Termo-higrômetros com sensor duplo foram fixados na parede interna
da caixa de isopor para registro diário das temperaturas ambiente (dentro da caixa de
isopor) e interna (sensor inserido dentro da colmeia próximo aos discos de cria) (Figura 5).
Os métodos de monitoramento das temperaturas, da postura e da segregação de
sexo e castas serão detalhados nos capítulos correspondentes.

24
Figura 5: Esquema ilustrativo do aquecimento artificial de uma colmeia de Melipona
interrupta, conectada ao ambiente externo por mangueira, mantida dentro de caixa de
isopor com lâmpada incandescente acoplada à tampa. Detalhe do termo-higrômetro fixado
na parede interna da caixa de isopor para registro da temperatura de exposição da colmeia
e, paralelamente, da temperatura interna da colmeia pelo sensor inserido próximo aos
discos de cria.

1.3.5 Análise estatística


Todas as análises foram efetuadas no programa estatístico R versão 3.0.2 (R
Development Core Team, 2013), e também serão detalhadas em cada capítulo
correspondente.

25
1.4 Referências bibliográficas

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30
2.0 Capítulo 01

Termorregulação em ninhos de Melipona interrupta

T. Becker
Operária de Melipona interrupta

31
2.1 Introdução
A capacidade de regular a temperatura interna dos ninhos auxiliou no sucesso
ecológico dos insetos sociais, possibilitando desenvolvimento dos indivíduos e manutenção
das atividades mesmo com temperaturas externas adversas (Engels et al., 1995; Jones e
Oldroyd, 2006). Abelhas sem ferrão, assim como as Apis, são capazes de regular a
temperatura interna dos ninhos dentro de faixas específicas (Jones e Oldroyd, 2006),
mantendo um microambiente interno com relativa estabilidade, sujeito a ciclos diários de
variações (Roubik, 2006). O desenvolvimento da cria em temperaturas não adequadas afeta
características morfológicas e fisiológicas, podendo causar deformidades no corpo e
aumento da taxa de mortalidade da cria (Jones e Oldroyd, 2006; Vollet-Neto et al., 2011).
O local escolhido pelas melíponas para nidificação (sempre em cavidades
preexistentes), as características da estrutura do ninho, a construção de invólucro (lâminas
de cerume que envolvem a área de cria presente caracteristicamente em colônias de
abelhas sem ferrão) e a endotermia dos indivíduos (regulação térmica do próprio corpo
sem depender de fatores externos), possibilitam a termorregulação do ninho.
Comportamentos como a ventilação do ninho através do batimento das asas para gerar
fluxo de ar e geração de calor pela ativação dos músculos de voo também contribuem para
manter as condições térmicas ótimas (Nogueira-Neto, 1997; Jones e Oldroyd, 2006;
Roubik, 2006; Vollet-Neto et al., 2011). Entretanto, há registros de grande variação na
termorregulação em diferentes espécies de Melipona influenciadas pela temperatura
ambiente (Jones e Oldroyd, 2006; Campos et al., 2010).
Alterações climáticas, naturais ou causadas por ações antrópicas, afetam os seres
vivos de diversas formas, cada espécie possui tolerância diferente às condições ambientais
(Miles, 2003; Macieira e Proni, 2004; Chown e Nicholson, 2004; Sommer et al., 2010), e
modifica sua resposta aos efeitos da temperatura alterando seu metabolismo e atividades
para se adaptar (Ribeiro et al., 2003; Chown e Nicholson, 2004). Assim, este trabalho se
propôs a estudar a termorregulação de colônias de Melipona interrupta, determinando a
temperatura ótima para a espécie, o efeito da temperatura externa sobre a amplitude
térmica interna e sobre a temperatura interna média.

32
2.3 Material e Métodos
Trinta colmeias de M. interrupta foram utilizadas para monitoramento da
temperatura interna e observação da termorregulação ou possíveis alterações decorrentes
da exposição a diferentes temperaturas, conforme descrito na Tabela 1 da Seção 1.3
Material e Métodos – descrição dos aspectos gerais do experimento (pagina 21).

2.3.1 Monitoramento das temperaturas


As colmeias dos Grupos Tratamento (G2 a G5) foram submetidas a diferentes
temperaturas externas, induzidas artificialmente com auxilio de lâmpadas incandescentes.
Diariamente, as temperaturas foram aferidas com auxilio de termo-higrômetros calibrados,
com sensor duplo, fixados na parede interna das caixas de isopor. Para registro das
temperaturas internas das colmeias um dos sensores do termo-higrômetro foi inserido
dentro da colmeia, junto aos discos de cria (Figura 6). Quando necessário foi feita
manutenção dos sensores retirando se o excesso de cera depositado pelas abelhas.

(a) (b)

Figura 6: Monitoramento das temperaturas externa e interna das colmeias de Melipona


interrupta. (a) Termo-higrômetro com sensor duplo acoplado à colmeia; (b) Detalhe de um
dos sensores do termo-higrômetro inserido próximo aos discos de cria. Fotos: T. Becker.

Desta forma, foram registradas diariamente as variações de temperaturas máxima e


mínima tanto do ambiente externo às colmeias quanto do ambiente interno da colmeia de
maneira a monitorar a capacidade de termorregulação das abelhas sob diferentes condições
de temperatura.

33
2.3.2 Análise estatística
A temperatura ótima para a espécie foi determinada calculando se a média das
temperaturas internas registradas nas colônias do grupo Controle.
A fim de medir a eficiência termorregulatória das colônias, consideramos duas
definições complementares, mostradas por Chown e Nicholson (2004). Segundo a
primeira, uma termorregulação perfeita implica em uma temperatura interna independente
da externa; quanto mais dependente a temperatura interna da externa, menor a capacidade
termorregulatória. Com base nisto, usamos a inclinação de uma regressão entre as
temperaturas diárias interna (variável dependente) e externa (variável independente) à
colônia como medida de termorregulação. A inclinação da reta indica quantos graus a
temperatura interna muda, em média, caso a temperatura externa mude um grau. Para
controlar o efeito de uma possível tendência temporal da temperatura interna sobre essa
medida, nós incluímos o tempo (dias transcorridos desde o início do experimento) como
covariável nesta análise, por meio de regressão múltipla. Já como segunda definição,
assumimos que termorregulação implica em manutenção da temperatura ótima (i.e. que
maximiza a sobrevivência); quanto menor a diferença entre a temperatura interna e a
temperatura ótima, melhor a termorregulação. Assim, calculamos as diferenças entre as
temperaturas internas médias das colônias e a temperatura ótima determinada previamente,
e analisamos tais diferenças em relação à temperatura externa média por meio de regressão
linear.
Também foi realizada regressão linear simples entre o tempo de sobrevivência de
cada colônia, medido pela porcentagem de dias que cada colônia sobreviveu durante o
decorrer do experimento, e a temperatura externa média. À qual foi aplicada um modelo
aditivo generalizado (GAM). O GAM é uma extensão da regressão linear convencional, o
qual não assume uma forma a priori para a relação analisada; ao invés disto, ele estima a
forma da relação diretamente a partir dos dados. Porém, o grau de complexidade permitido
para a forma da relação (k) deve ser especificado. Quanto k =1, a relação é estimada como
uma reta; valores maiores permitem curvas progressivamente mais complexas (Zuur et al.,
2009). Nós assumimos um grau moderado de flexibilidade ao estimar a relação (k = 3), de
modo a sermos capazes de detectar tendências não lineares, como uma curva com um pico
intermediário esperada na relação entre uma função fisiológica e a temperatura (Chown e
Nicholson, 2004), mas sem nos perdermos em excesso de detalhe.

34
2.4 Resultados e Discussão
Com base na análise dos dados obtidos nas colmeias do Grupo Controle durante o
experimento registra-se que a temperatura ótima em colônias de Melipona interrupta gira
em torno de 30 °C, uma vez que a média das temperaturas internas nas colônias foi de
29,845 °C (Tabela 2). Este resultado corrobora o observado por Kerr et al. (1996) em
colônias de M. fasciculata que conseguem manter a temperatura interna média em 29,6 ºC,
e uma variação natural de 26 ºC a 33,5 ºC. Estudando M. quadrifasciata e M. scutellaris,
Loli (2008) e Roldão (2011), respectivamente, verificaram que as temperaturas médias
naturais no interior dos ninhos, próxima aos discos de cria, permanece em torno de 30 ºC.
Tomados juntos, esses dados nos permitem sugerir que 30 ºC é a temperatura interna média
ótima em colmeias das espécies do gênero Melipona.
Considerando-se termorregulação como a capacidade das abelhas em controlar a
temperatura interna da colônia dentro de certo limite (próximo ao ótimo para a espécie)
mesmo quando há variações na temperatura externa do ambiente, podemos afirmar que a
espécie M. interrupta é capaz de termorregular suas colônias. Isto porque as abelhas
conseguiram ajustar e manter a temperatura interna das colônias do Grupo Controle para
cerca de 30 ºC, sendo que esta variou em média de 27,3 ºC a 31,8 ºC, enquanto a
temperatura externa variou em média de 25,4 ºC a 32,4 ºC. A capacidade termorregulatória
garante a manutenção da integridade da estrutura física da colmeia, o processo de postura,
o desenvolvimento de imaturos e sobrevivência dos adultos garantindo a continuidade da
vida colonial. Este resultado corrobora com Carvalho-Zilse et al. (2007), que encontrou
menor variação das temperaturas internas que das externas em colmeias de M. seminigra,
demonstrando a termorregulação também nesta espécie.
Com base na análise dos dados obtidos durante o experimento com o Grupo
Controle e os Grupos Tratamento, verificou-se que a espécie M. interrupta se esforça em
termorregular o microambiente interno de suas colônias, visto que a temperatura interna
variou menos que a externa, o que certamente reflete a dinâmica de ajuste da temperatura
interna pelas abelhas. Esta capacidade de termorregular foi observada em diferentes
proporções nas colônias dos diferentes Grupos Tratamento, não tendo nestes a mesma
eficiência termorregulatória que as do Controle.
Observou-se que a variação da temperatura no interior das colmeias em todos os
Grupos foi menor que a variação da temperatura externa após as análises por regressões
múltiplas das temperaturas internas em relação as externas, controlando o efeito do tempo

35
(Figuras 7, 8, 9, 10 e 11). Os valores dos interceptos, inclinações das retas e valores de “P”
estão listados na Tabela 2. Com base nos valores das inclinações das retas (Temperatura
interna/ Temperatura externa) que significam a variação interna da temperatura para cada
grau modificado da temperatura externa pode-se deduzir que houve diferença no esforço de
termorregulação de cada colônia.

Tabela 2: Valores dos interceptos, inclinações das retas, e P de cada colônia de Melipona
interrupta do Meliponário do GPA/INPA, Manaus – AM, calculados pela análise de
regressão múltipla.
Temp. Temp. Inclinação Inclinação
Nº da Inter- da reta da reta Valor
Grupos externa interna
colmeia cepto (T. interna/ (T. interna/ do P
média média T. externa) Tempo)
15 28,412 30,22 10,804 0,692 -0,002 < 0,001
G1 13 28,699 27,68 13,968 0,507 -0,007 < 0,001
(Controle - 29 29,020 30,97 20,097 0,334 0,006 < 0,001
temperatura
ambiente do 30 29,120 29,93 9,764 0,690 0,002 < 0,001
Meliponário) 14 29,334 30,02 15,474 0,509 -0,003 < 0,001
28 29,682 30,25 20,097 0,334 0,006 < 0,001
01 24,575 26,64 28,993 0,027 -0,039 < 0,001
16 24,692 26,19 13,467 0,499 0,007 < 0,001
G2 03 24,709 27,09 13,610 0,576 -0,005 < 0,001
(24 ºC a 26 ºC) 02 25,015 25,89 10,971 0,708 -0,050 < 0,001
17 25,193 26,36 6,548 0,818 -0,013 < 0,001
18 25,491 25,85 3,883 0,856 0,004 < 0,001
21 31,461 31,35 16,627 0,472 -0,002 < 0,001
07 31,942 31,74 15,705 0,507 -0,001 < 0,001
G3 22 31,958 31,48 15,839 0,495 -0,002 < 0,001
(31 ºC a 33 ºC) 08 32,183 31,96 14,765 0,551 -0,004 < 0,001
06 32,287 32,56 18,029 0,467 -0,008 < 0,001
23 32,322 31,76 12,295 0,601 0,001 < 0,001
27 32,98 33,65 25,747 0,282 -0,040 < 0,001
19 34,362 32,66 22,546 0,293 0,001 < 0,001
G4 20 34,386 33,44 17,405 0,459 0,006 < 0,001
(34 ºC a 36 ºC) 12 34,805 33,41 22,231 0,325 -0,001 < 0,001
04 35,062 33,65 25,788 0,217 0,003 < 0,001
05 35,072 33,27 18,981 0,395 0,006 < 0,001
26 35,92 36,22 25,023 0,285 0,176 0,062
25 36,01 38,50 22,381 0,439 0,058 0,229
G5 24 36,301 34,03 15,580 0,489 0,011 < 0,001
(36 ºC a 38 ºC) 09 36,578 33,61 19,166 0,391 0,004 0,002
10 36,948 34,33 23,703 0,268 0,021 < 0,001
11 37,330 34,39 25,701 0,232 0,001 0,056

36
Colônia 13 Colônia 13 Colônia 14 Colônia 14

2 3
1 2
1 2
0 1 1
0 -1 0 0
-1 -2 -1
-3 -1
-2 -2

-2 0 2 4 6 -100 -50 0 50 100 150 -3 -2 -1 0 1 2 3 -100 -50 0 50 100

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Temp. Interna média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 15 Colônia 15 Colônia 28 Colônia 28

1.5 1.0 1.0


2
1.0 0.5 0.5
1
0.5 0.0
0 -0.5 0.0
0.0
-1 -0.5 -1.0 -0.5
-2 -1.0 -1.5 -1.0

-3 -2 -1 0 1 2 -100 -50 0 50 100 -2 -1 0 1 2 3 -20 -10 0 10 20 30

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 29 Colônia 29 Colônia 30 Colônia 30

1.5 1.0
1.0 1.0
1.0
0.5 0.5 0.5 0.5
0.0 0.0
-0.5 0.0
-0.5 0.0
-1.0 -0.5 -1.0
-1.5 -1.0 -1.5 -0.5
-2.0
-2 -1 0 1 2 3 -20 -10 0 10 20 30 -2 -1 0 1 -30 -10 0 10 20 30 40

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)
Figura 7: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias
de Melipona interrupta do Grupo Controle (G1) expostas a temperatura ambiente no Meliponário, GPA/INPA, Manaus - AM.
37
Colônia 01 Colônia 01 Colônia 02 Colônia 02

4
4
2 1
2
1 2
0
0 0 0
-1
-1 -2 -2
-2
-2
-2 -1 0 1 2 -50 0 50 -2 -1 0 1 -60 -20 0 20 40 60

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 03 Colônia 03 Colônia 16 Colônia 16

3 1.0
2 2
1 0.5
1 1
0 0 0 0.0
-1 -0.5
-1
-2 -1
-2 -3 -1.0
-3 -4 -2 -1.5
-2 0 2 4 -150 -50 0 50 100 -2 -1 0 1 2 -60 -40 -20 0 20 40 60

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 17 Colônia 17 Colônia 18 Colônia 18

1.0
2
2 1
1 0.5
0 1
0 0.0
-1 0
-2 -1 -1 -0.5
-3 -2 -2
-2 -1 0 1 -60 -20 0 20 40 60 -1.5 -0.5 0.0 0.5 1.0 -30 -10 0 10 20 30 40

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)
Figura 8: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias
de Melipona interrupta do Grupo G2 expostas artificialmente a temperatura entre 24 ºC e 26 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus – AM.
38
Colônia 06 Colônia 06 Colônia 07 Colônia 07
2 1.5
2 1 1.0
1
1 0.5
0 0
0 0.0
-1 -1 -0.5
-1
-2 -2 -1.0
-2
-1.5
-3 -2 -1 0 1 2 3 4 -60 -20 0 20 40 60 -3 -2 -1 0 1 2 -150 -50 0 50 100

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 08 Colônia 08 Colônia 21 Colônia 21

1 1 1.0
0.5 0.5
0 0 0.0
-1 -1 -0.5 0.0
-2 -1.0
-2 -1.5 -0.5
-3 -2.0
-3
-3 -2 -1 0 1 2 3 -150 -50 0 50 100 150 -3 -2 -1 0 1 2 -60 -40 -20 0 20 40 60

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 22 Colônia 22 Colônia 23 Colônia 23

1.0 0.5
1 0.5 0.5
0 0.0 0.0 0.0
-0.5 -0.5
-1 -0.5 -1.0
-1.0 -1.5 -1.0
-2 -2.0 -1.5
-2 -1 0 1 2 3 4 -60 -20 0 20 40 60 -2 -1 0 1 2 3 -60 -20 0 20 40 60

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)
Figura 9: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias
de Melipona interrupta do Grupo G3 expostas artificialmente a temperatura entre 31 ºC e 33 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus – AM.

39
Colônia 04 Colônia 04 Colônia 05 Colônia 05

2
2 1.5 1
1 1 1.0
0 0 0.5 0
-1 0.0
-1 -0.5 -1
-2 -2 -1.0
-3 -1.5 -2
-3
-2 -1 0 1 2 -50 0 50 -3 -2 -1 0 1 2 -50 0 50

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 12 Colônia 12 Colônia 19 Colônia 19

1.5
1.0 1.0 1.5
1 0.5
0.5 1.0
0 0.0 0.0
-0.5 0.5
-0.5 0.0
-1 -1.0
-1.0
-2 -1.5 -1.5 -0.5
-2.0 -2.0 -1.0

-4 -2 0 2 4 -100 -50 0 50 100 -4 -3 -2 -1 0 1 2 -40 -20 0 20 40

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 20 Colônia 20 Colônia 27 Colônia 27

2
1 1.0 1 1
0 0.5 0 0
-1 0.0
-1 -1
-0.5
-2 -2
-1.0 -2
-3 -1.5 -3
-3
-4 -3 -2 -1 0 1 2 -40 -20 0 20 40 -4 -3 -2 -1 0 1 2 -30 -10 0 10 20 30

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)
Figura 10: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias
de Melipona interrupta do Grupo G4 expostas artificialmente a temperatura entre 34 ºC e 36 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus – AM.

40
Colônia 09 Colônia 09 Colônia 10 Colônia 10
1.0 2
0.5 0.5 1 1
0.0 0.0 0 0

-0.5 -0.5 -1 -1

-1.0 -1.0 -2 -2

-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 -40 -20 0 20 -2 -1 0 1 -30 -10 0 10 20 30

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 11 Colônia 11 Colônia 24 Colônia 24

1.5 1.5 2
1.0 1.0 1 1
0.5 0
0.5 0
-1
0.0 0.0 -1
-2
-0.5 -0.5 -3 -2
-1.0 -1.0 -4

-2 -1 0 1 -30 -20 -10 0 10 20 30 -4 -2 0 2 -60 -20 0 20 40 60

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)

Colônia 25 Colônia 25 Colônia 26 Colônia 26

1.0 1.0 0.5 0.5


0.5 0.5
0.0 0.0
0.0 0.0 -0.5
-0.5 -0.5 -0.5 -1.0
-1.0
-1.0 -1.0 -1.5
-1.5 -2.0
-1.5
-2.0 -1.0 0.0 1.0 -4 -2 0 2 4 -1.5 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 -4 -2 0 2 4

Temp. Interna média (resíduos)


Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)
Temp. Interna média (resíduos)

Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos) Temp. externa média (resíduos) Tempo (resíduos)
Figura 11: Regressões múltiplas entre as temperaturas internas médias e as temperaturas externas médias, controlando o efeito do tempo, das colônias
de Melipona interrupta do Grupo G5 expostas artificialmente a temperatura entre 36 ºC e 37 ºC, em Laboratório, GPA/INPA, Manaus – AM.

41
A regressão simples das inclinações das retas (medida do esforço da
termorregulação) em função das temperaturas externas médias de cada colônia (Figura 12)
resultou em uma correlação negativa (y = 1,139 - 0,022.x, P = 0,006 e r2 = 0,243). Com
base nisto, registra-se que o esforço para termorregular aumenta a medida que a
temperatura externa é elevada. Desta forma, podemos dizer que as abelhas tem maior
necessidade de regular as temperaturas mais altas do que as mais baixas em referência a
ótima de 30 ºC.

0.8
Inclinação da regressão T.in. ~ T.ex.

0.6

0.4

0.2

0.0
26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 12: Correlação entre a temperatura externa média e as regressões entre as
temperaturas internas e externas médias das colônias de Melipona interrupta de todos os
Grupos GPA/INPA, Manaus-AM.

Corroborando os resultados apresentados anteriormente, a regressão simples das


médias das amplitudes térmicas (Figura 13) resultou em uma correlação negativa (y =
10,419 - 0,187.x, P = 0,002 e r2 = 0,303). Isso significa que houve menor variação térmica
nas colônias expostas a temperaturas mais altas, revelando dificuldade das abelhas em
baixar a temperatura interna.

42
9

Amplitude da temperatura interna (°C) 8

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 13: Correlação entre a temperatura externa média e a amplitude da temperatura
interna das colônias de Melipona interrupta de todos os Grupos, GPA/INPA, Manaus-AM.

No entanto, esse maior esforço em termorregular não foi eficiente, visto que as
colônias expostas às temperaturas acima de 34 ºC não conseguiram baixar as temperaturas
internas para temperaturas próximas da ótima para a espécie.
A regressão simples entre a diferença entre a média da temperatura interna de cada
colônia e a temperatura ótima da espécie (29,84 ºC) em função das temperaturas externas
médias de cada colônia (Figura 14) definiu forte correlação positiva (y = 8,391 + 0,730.x,
P < 0,001 e r2 = 0,885). Isto significa que as colônias dos Grupos Tratamento não
mantiveram as temperaturas internas próximas à ótima (30 ºC), e a medida que a
temperatura externa se afasta de 30 ºC (para mais ou para menos), menor a
termorregulação. Quanto maior a diferença entre as temperaturas internas médias das
colônias e a temperatura ótima, menor é a termorregulação exercida pelas abelhas. Assim,
percebemos que esta espécie possui pouca capacidade termorreguladora, o que deve ser
levado em conta pelos meliponicultores na escolha do local da criação.

43
Temperatura interna média - Temperatura ótima (°C)
8

-2

-4

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 14: Correlação entre as diferenças entre a temperatura interna média de cada
colônia de Melipona interrupta e a temperatura ótima da espécie (29,84 ºC) em função das
médias das temperaturas externas, GPA/INPA, Manaus-AM.

Analisando os dados de sobrevivência das colônias, observou-se diferentes tempos


percentuais de sobrevivência entre as colônias dos Grupos Tratamento em relação ao
Grupo Controle. A análise por regressão linear simples das porcentagens de sobrevivência
das colônias (proporção de tempo, em dias, do total de tempo do experimento) em relação
às temperaturas externas médias resultou em uma correlação explicada por uma curva (F =
21,23, P < 0,001 e r2 = 0,667) que representa a maior porcentagem de sobrevivência das
colônias mantidas em temperaturas próximas a 30 ºC (Figura 15).
As colônias do Grupo Controle (G1) alcançaram 100% de sobrevivência. Colônias
expostas a temperaturas inferiores que 26 ºC (Grupo G2) sobreviveram, em média, 60% do
tempo de duração do experimento enquanto as colônias de G3 (32 ºC), em média,
sobreviveram 80% do tempo de duração do experimento. Colônias expostas acima de 34
ºC (G4 e G5) apresentaram as menores porcentagens de sobrevivência, sendo em torno de
40% e 20%, respectivamente.

44
Desviando esforço e energia da realização de atividades como reprodução e
alimentação a fim de tentar regular a temperatura, as colônias diminuem seu crescimento e
desenvolvimento. Levando à diminuição de indivíduos, que por sua vez, não conseguem
manter as funções básicas, e acaba culminado com a morte da colônia.

100

80
Sobrevivência (%)

60

40

20

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 15: Correlação entre o tempo percentual de sobrevivência de cada colônia de
Melipona interrupta (proporção de tempo, em dias, do total de tempo do experimento) e a
temperatura externa média sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM.

As colônias expostas às temperaturas frias, como estratégia termorregulatória,


construíram diversas camadas de invólucro ao redor dos discos de cria (Figura 16 (a)),
como já foi relatado por Pick e Blochtein (2002) em Plebeia saiqui. O cerume possui
propriedades termorregulatórias importantes para manutenção da sobrevivência da colônia,
desenvolvimento da cria e armazenamento de alimento (Buchwald, et al., 2008).Também
notou-se redução das atividades e certa letargia das abelhas, como descrito por Pick e
Blochtein (2002).

45
Colônias expostas às temperaturas mais altas que a ótima (Grupos G3, G4 e G5)
não construíram invólucro ou construíram menor número de lâminas de invólucro, as quais
não foram completamente fechadas durante o período do experimento (Figura 16 (b)). Nas
colônias dos Grupos G4 e G5 (>34 ºC) foi possível observar claramente os efeitos da
temperatura, tais como morte de imaturos e adultos, levando, consequentemente, a morte
da colônia como um todo (Figura 17). Duas colônias expostas a 37 ºC entraram em
colapso, e todos os indivíduos estavam mortos em apenas 10 dias depois do início da
exposição a alta temperatura.

(a) (b)

Figura 16: Estratégias de termorregulação observadas em colônias de Melipona interrupta


sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM. (a) Presença de invólucro
reforçado em colônia submetida a temperaturas abaixo de 26 ºC; (b) Ausência de invólucro
em colônia submetida a temperaturas acima de 34 ºC. Fotos: T. Becker.

Figura 17: Vista geral das condições observadas em colônias de Melipona interrupta
expostas artificialmente a temperaturas acima de 34 ºC, em condições de laboratório no
GPA/INPA, Manaus-AM. Foto: T. Becker.
46
Outra estratégia observada para termorregulação em colônias com temperaturas
acima de 31 ºC (Grupos G3, G4 e G5) foi o comportamento de ventilação realizado pelas
operárias (Figura18).

Figura 18: Comportamento de ventilação (sequência de batimento de asas) observado em


operárias de Melipona interrupta em colônias submetidas a temperaturas acima de 34 ºC,
sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM. Fotos: T. Becker.

A existência de uma temperatura ótima dentro da faixa de temperatura a qual as


abelhas estão sujeitas atualmente (Grupo Controle) indica adaptação ao regime térmico
contemporâneo. Assim, caso esta espécie não evolua em resposta à mudança do clima, é de
se esperar um aumento da mortalidade das colônias ao longo do século.

47
2.5 Conclusões
Neste trabalho a temperatura ótima (que maximiza a sobrevivência das colônias)
para a espécie Melipona interrupta foi estimada em torno de 30 ºC.
Em relação à termorregulação, concluímos que quanto mais altas as temperaturas a
que as colônias de M. interrupta são expostas maior o esforço termorregulatório das
abelhas. Porém, a medida que a temperatura externa se afasta de 30 ºC (para mais ou para
menos), menor a eficiência dessa termorregulação, demonstrando pouca capacidade
termorreguladora da espécie, o que compromete a sobrevivência das colônias.

48
2.6 Referências Bibliográficas

Buchwald, R.; Breed, M. D.; Greenberg, A. R. 2008. The thermal properties of beeswaxes:
unexpected findings. The Journal of Experimental Biology, 211(1): 121–127.

Campos, F.S., Gois, G.C. e Carneiro, G.G. 2010. Colonial thermoregulation in stingless
bees (Hymenoptera, Apidae, Meliponini). PUBVET, Ed. 129, Art. 872, 4 (24): 1-18.

Carvalho-Zilse, G. A.; Porto, E. L.; Silva, C. G. N.; Pinto, M. F. C. 2007. Flight activities
in Melipona seminigra workers (Hymenoptera : Apidae) in Amazonia. Bioscience
Jornal. 23(1): 94–99 (in Portuguese).

Chown, S. L.; Nicholson, S. W. 2004. Insect Physiological Ecology: Mechanisms and


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51
3.0 Capítulo 02

Oviposição em ninhos de Melipona interrupta

T. Becker
Rainha de Melipona interrupta ovipositando

52
3.1 Introdução
Colônias de abelhas sem ferrão são constituídas por centenas a milhares de
indivíduos de acordo com a espécie (Kerr et al., 1996). Tal população pode sofrer
flutuação numérica em virtude da disponibilidade de alimento, assim como da capacidade
de postura da rainha (Barbosa-Costa e Carvalho-Zilse, 2013). A formação de novos
indivíduos é importante para manter o funcionamento da colônia conservando seu tamanho
populacional, e assim possibilitar a manutenção de atividades básicas, como coleta e
armazenamento de alimento, limpeza do ninho e reprodução (Barbosa-Costa e Carvalho-
Zilse, 2013).
A produção de indivíduos se inicia com a construção de novas células nas margens
dos discos, então, algumas operárias realizam o processo de aprovisionamento massal
destas células com alimento larval (uma mistura de mel, pólen e geleia real). Neste
processo, supervisionado pela rainha, as operárias regurgitam o alimento em uma célula
recém construída. Em seguida, geralmente, uma operária bota um ovo trófico (não
fecundado), o qual é comido pela rainha que pode se alimentar também do alimento
regurgitado (este processo pode ser repetido). Em seguida, a rainha realiza a postura de um
ovo sobre o alimento e, imediatamente uma operária opercula a célula de cria (Ihering,
1903; Kerr, 1946; Kerr et al., 1996).
Apesar das abelhas sem ferrão serem capazes de manter a temperatura dos ninhos
dentro de certos limites, alguns estudos indicam que a variação da temperatura interna
influenciada pela temperatura externa afeta este processo de aprovisionamento e
oviposição (Sakagami, 1982). Alguns meliponínios interrompem seu desenvolvimento ou a
atividade reprodutiva em temperaturas frias, durante os meses de inverno, como Plebeia
julianii Moure, 1962 (Jullani, 1967), Plebeia saiqui (Holmberg) (Pick e Blochtein, 2002) e
Plebeia remota (Holmberg) (Ribeiro et al., 2003), e retomam as atividades na primavera
(Pick e Blochtein, 2002; Ribeiro et al., 2003; Vollet-Neto et al., 2011). Já para
temperaturas mais altas, acima de 35 oC, Kerr et al. (1966) também verificaram que a
rainha de Melipona quadrifasciata anthidioides cessa a postura.
Deste modo, este trabalho se propõe a analisar a influência de diferentes
temperaturas externas sobre a quantidade de postura realizada pela rainha em colônias de
Melipona interrupta, sob condições de laboratório.

53
3.3 Material e Métodos
Trinta colmeias de M. interrupta foram utilizadas para monitoramento diário da
postura das rainhas em colônias submetidas artificialmente a diferentes temperaturas,
conforme descrito na Seção 1.3 Material e Métodos – descrição dos aspectos gerais do
experimento e Tabela 1 (pagina 21).

3.3.1 Monitoramento da postura


Todas as colmeias foram monitoradas diariamente para registro das posturas por
foto-documentação utilizando-se máquina fotográfica digital (Figura 19). A visualização
foi realizada através de placa de vidro colocada sobre a módulo superior da colmeia
(sobreninho) permitindo assim o registro da evolução da postura sem abertura e
consequente alteração térmica das colmeias. Todas as colmeias foram protegidas da luz
usando-se, acima da placa de vidro, uma tampa de EVA e, sobre esta, a tampa de madeira
componente da caixa-padronizada.

Figura 19: Fotodocumentação diária do processo de construção de um disco e postura em


colônias de Melipona interrupta, sob condições de laboratório no GPA/INPA, Manaus-
AM. Fotos: T. Becker.

As fotos foram analisadas e os dados registrados em “croquis dos discos de cria


individuais” possibilitando a quantificação da taxa de crescimento de cada colônia de cada
Grupo.

3.3.2 Análise estatística


Para a comparação da quantidade de ovos postos pelas rainhas, medida pela
quantidade média de células operculadas diariamente ao longo do experimento, sob as
diferentes temperaturas foi aplicada uma regressão linear simples. À qual foi aplicada um
modelo aditivo generalizado (GAM). O GAM é uma extensão da regressão linear
convencional, o qual não assume uma forma a priori para a relação analisada; ao invés

54
disto, ele estima a forma da relação diretamente a partir dos dados. Porém, o grau de
complexidade permitido para a forma da relação (k) deve ser especificado. Quanto k =1, a
relação é estimada como uma reta; valores maiores permitem curvas progressivamente
mais complexas (Zuur et al., 2009). Nós assumimos um grau moderado de flexibilidade ao
estimar a relação (k = 3), de modo a sermos capazes de detectar tendências não lineares,
como a relação entre uma função fisiológica e a temperatura (Chown e Nicholson, 2004),
mas sem nos perdermos em excesso de detalhe. Os dados de colônias onde não foi possível
realizar pelo menos de 15 dias de observação da postura não foram utilizados nas análises.
Também se analisou, por regressão linear simples, possíveis alterações no tamanho
dos discos (medidos pelo número médio de células operculadas por disco de cada colônia)
em função da alteração da temperatura externa a que estavam expostas artificialmente.

3.4 Resultados e Discussão


A análise por regressão linear simples da quantidade diária de ovos postos pela
rainha (Tabela 3) em diferentes condições de temperatura resultou em uma correlação
explicada por uma curva (F = 5,685, P = 0,010, r2 = 0,326). Ou seja, a maior quantidade de
postura das rainhas ocorreu no Grupo Controle, seguido pelos grupos expostos a
temperaturas próximas a 30 ºC (Grupos G2 e G3) enquanto em temperaturas acima de 34
ºC (G4 e G5) a postura diminuiu (Figura 20).
Apesar da nítida relação entre a diminuição da postura da rainha e o aumento da
temperatura, apresentada na Figura 20, não foi evidenciada correlação entre o efeito da
temperatura externa média (variável independente) sobre o tamanho dos discos (variável
dependente) (y = 192,305 - 2,769.x, P = 0,202, r2 = 0,073) por análise de regressão linear
simples (Figura 21). O que significa que o tamanho dos discos construídos nas colônias
dos diferentes Grupos não variou significativamente. Ou seja, o tamanho dos discos
permaneceu equivalente entre as colônias dos Grupos analisados, no entanto nos Grupos
Tratamento os discos de cria levaram mais tempo para serem construídos que no Grupo
Controle. Portanto, mesmo levando mais tempo para construção dos discos esses dados
evidenciam que há um certo padrão de tamanho de disco de cria característico para a
espécie M. interrupta.

55
Tabela 3: Quantidade de postura realizada diariamente nas colônias de Melipona
interrupta, com mais de 15 dias de observações no experimento em condições de
Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM.
Nº da Nº de dias de Nº de células de Nº de
Grupos
colônia observação postura células/Dia

G1 (Controle - 15 36 846 23,5


temperatura ambiente do 13 30 478 15,933
Meliponário) 14 61 780 12,787
1 20 340 17
16 54 156 2,889
G2 (24 ºC a 26 ºC)
3 42 260 6,190
17 96 332 3,458
21 60 318 5,3
7 103 776 7,534
22 88 676 7,682
G3 (31 ºC a 33 ºC)
8 140 956 6,829
6 62 201 3,242
23 90 568 6,311
19 66 445 6,742
20 35 205 5,857
G4 (34 ºC a 36 ºC) 12 88 711 8,080
4 66 192 2,909
5 70 185 2,643
24 28 110 3,929
9 28 46 1,643
G5 (36 ºC a 38 ºC)
10 29 100 3,448
11 33 111 3,364

Podemos inferir que esse maior tempo gasto na construção de discos nos Grupos
Tratamento ocasiona menor geração populacional. O que, com o tempo, diminui
consideravelmente o total de indivíduos da colônia e prejudica seu bom funcionamento.
As espécies de Melipona costumeiramente organizam as células de cria em
camadas horizontais uniformes (discos de cria), com a mesma altura relativa e tamanho
(Kerr et al., 1996). As abelhas das colmeias expostas a temperaturas acima de 34 oC (G4 e
G5) construíram discos de aspecto não característico, com deformações. As abelhas
depositaram cera em maior quantidade na borda das células de cria levando a um aspecto
grosseiro, não uniforme. Também construíram células de tamanho visivelmente diferentes
e de maneira não uniforme, ou seja, dispostas em diferentes altura (Figura 22). Nas
56
colônias do Grupo G2 (24 oC a 26 ºC) não se observou irregularidade na construção dos
discos de cria.

20
Células construídas por dia

15

10

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 20: Correlação entre o número médio de células construídas por dia em colônias de
Melipona interrupta e a temperatura externa média, sob condições de laboratório no
GPA/INPA, Manaus-AM.

A alta temperatura alterou a consistência da cera, deixando-a com aspecto


amolecido (Grupos G4 e G5) o que pode ter sido causa da variação de tamanho e altura das
células. A deposição extra de cera nas bordas da célula de cria pode representar uma
tentativa das abelhas em manter a temperatura interna das células próxima ao ideal para
seu desenvolvimento, a fim de tentar manter os imaturos vivos. Entretanto, essa adaptação
não impediu a alta mortalidade de imaturos, que será abordada no capítulo a seguir. Ainda,
pode significar alterações fisiológicas nos indivíduos adultos alterando sua capacidade de
construir discos de forma e tamanho característicos.

57
Média de células por disco

150

100

50

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)


Figura 21: Regressão simples entre a temperatura externa média (variável independente) e
o número médio de células por disco de cada colônia de Melipona interrupta (variável
dependente) do experimento no GPA/INPA, Manaus-AM.

Em muitos casos, nas colônias do Grupo G5 (35 oC e 37 oC) observou-se o


comportamento das operárias de retirar os imaturos mortos em células ainda com alimento
(Figura 23). Geralmente, o alimento estava ressecado, os imaturos eram retirados pelas
abelhas pouco tempo após a postura dos ovos e o disco completamente eliminado. Este
processo demandou grande gasto de energia para as colônias, que já estavam enfraquecidas
em decorrência desta diminuição populacional (Figura 24), o que culminou na morte de
quase todas as colônias deste Grupo em menos de três meses após serem inseridas no
experimento.

58
(a) (b)

Figura 22: Discos de cria de Melipona interrupta de colônias do GPA/INPA, Manaus-


AM. (a) Disco com aspecto natural oriundo de colônia do Grupo Controle (G1); (b) Disco
retirado de colônia do Grupo G5 (36 ºC a 38 oC) apresentando deformidades. Fotos: T.
Becker.

(a) (b)

Figura 23: Comportamento de operárias adultas de Melipona interrupta retirando os


imaturos mortos das células de cria. (a) Colônia do Grupo G4 (34 ºC a 36 ºC), (b) Colônia
do Grupo G5 (36 oC a 38 oC). Fotos: T. Becker.

(a) (b) (c)

Figura 24: Processo de retirada de disco com imaturos mortos e alimento ressecado em
uma colônia de Melipona interrupta do Grupo G5 (36 oC a 38 oC). (a) Disco apresentando
deformidades; (b) Mesmo disco sendo destruído pelas operárias após um mês do início da
postura; (c) Detalhe das operárias concluindo a destruição do mesmo disco após dois
meses do início da postura. Fotos: T. Becker.

59
3.5 Conclusões
O aumento da temperatura externa (entre 31 ºC e 38 ºC) causa proporcionalmente a
diminuição da postura de ovos realizada pela rainha em colônias de M. interrupta. Do
mesmo modo, quanto maior a temperatura a que as colônias foram expostas maiores as
deformações observadas na construção dos discos e maior número de imaturos mortos
registrado.
Em temperaturas entre 24 ºC e 26 ºC também houve redução do número de posturas
diárias, no entanto, os discos tinham aparência normal.
A diminuição da postura realizada pela rainha causa redução da população total de
abelhas, o que pode originar problemas para a colônia. A redução da força de trabalho para
execução das funções básicas de manutenção da colmeia, como a termorregulação,
enfraquece e até diminui a sobrevivência da mesma.

60
3.6 Referências Bibliográficas

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62
4.0 Capítulo 03

Segregação de sexo e casta em Melipona interrupta

T. Becker
Pupas de Melipona interrupta em disco desoperculado

63
4.1 Introdução
Uma colônia de abelhas geralmente é constituída de uma rainha fecundada,
algumas centenas de operárias e, ocasionalmente, dezenas de machos. A rainha é
responsável por botar ovos, e assim, gerar novos indivíduos. Da totalidade destes é
esperado que nasça ao menos 85% de fêmeas até 15% de machos dependendo da época do
ano (Kerr et al., 1996). Dentre as fêmeas, existem duas castas: rainhas e operárias.
Contudo os mecanismos de geração de novas rainhas são distintos entre as diferentes
espécies de abelhas. Na literatura (Kerr et al., 1966; Kerr et al., 1996; Nogueira-Neto,
1997) encontramos a proposição de três modelos gerais descritos a seguir.
Em Apini (Apis mellifera) as abelhas constroem células maiores denominadas
realeiras. A larva presente na realeira é alimentada com geleia real enquanto as larvas de
células normais recebem uma “papa de abelha” rica em mel e pólen e se desenvolvem em
operárias. Portanto, o mecanismo de geração de rainha é alimentar e se dá em
consequência da qualidade do alimento recebido pela larva (mecanismo alimentar
qualitativo).
Em espécies de abelhas sem ferrão (com exceção do gênero Melipona) as abelhas
também constroem realeiras, nas quais larvas recebem o mesmo alimento aprovisionado
nas outras células, no entanto em maior quantidade. Desta forma, as rainhas são produzidas
por um mecanismo alimentar quantitativo.
Em abelhas do gênero Melipona, as células de cria possuem forma e tamanho iguais
(Kerr et al., 1996) e são aprovisionadas com a mesma quantidade e qualidade de alimento
(mel + pólen + geleia real). Assim, o mecanismo de geração de rainhas é genético-
alimentar, ou seja, depende de pré-disposição genética da larva que deve receber alimento
suficiente para completo desenvolvimento em rainha.
O mecanismo genético-alimentar de produção de rainhas em abelhas Melipona foi
proposto por Kerr (1950 e 1974). Neste modelo, dois genes, com dois alelos cada, quando
em dupla heterozigose, seriam os responsáveis por gerarem rainhas, desde que as larvas
recebam uma quantidade mínima de alimento. Nestas condições, ¼ das fêmeas nascidas
em uma colônia seriam rainhas e ¾ operárias. Contudo, esta proporção de três operárias
para uma rainha não é comumente observada na natureza, o que sugere que a expressão
destes genes pode ser influenciada por fatores ambientais, tais como disponibilidade de
alimentos e temperatura (Brito et al., 2013).

64
Em resposta a fatores ambientais, como a temperatura, as abelhas, como todos os
organismos, podem sofrer alterações fenotípicas, modificando características morfologicas,
fisiologicas e até de comportamento (Silva et al., 2009). Indícios já foram observados em
estudos com a espécie Melipona quadrifasciata anthidioides (Kerr et al., 1966), na qual foi
verificada a diminuição do nascimento de rainhas em temperaturas elevadas. Em trabalhos
com Melipona scutellaris, Carvalho (2000) e Nunes-Silva et al. (2006) submeteram larvas
a choques de temperaturas e observaram a diminuição drástica da produção de rainhas,
evidenciando que o aumento de temperatura altera a expressão gênica quanto a segregação
de castas nesta espécie.
A termorregulação interna do ninho em espécies de abelhas sem ferrão varia
bastante (Moo-Valle et al., 2004), entretanto, se conhece que temperaturas muito altas
podem afetar a metamorfose da cria e consequentemente aumento da mortalidade (Couto e
Camillo, 2007; Lopes et al., 2011).
Assim, este trabalho se propôs a comparar a geração de machos e fêmeas, e de
rainhas e operárias em colmeias de Melipona interrupta mantidas em diferentes
temperaturas externas à colônia, sob condições de laboratório.

65
4.3 Material e Métodos
Trinta colmeias de M. interrupta foram utilizadas para investigar a produção de
machos e fêmeas e de operárias e rainhas em colônias submetidas artificialmente a
diferentes temperaturas, conforme descrito na Seção 1.3 Material e Métodos – descrição
dos aspectos gerais do experimento e Tabela 1 (pagina 21).

4.3.3 Monitoramento da segregação de sexo e castas


Para verificar a influência da temperatura na geração de novos indivíduos, discos de
cria foram retirados das colmeias com aproximadamente 30 dias após o inicio da postura,
tempo estimado para que os indivíduos alcancem a fase de pupa (Silva, 2008) na qual é
possível a identificação do sexo e casta. Os alvéolos dos discos de cria foram
desoperculados (Figura 25) e os imaturos identificados visualmente quanto ao sexo e casta
sob estereomicroscópio. Foram observadas características morfológicas de diferenciação
tais como tamanho dos olhos; distância interorbital; presença ou ausência de corbícula na
tíbia do 3º par de pernas; bifurcação ou não das unhas, dentre outros, segundo Silveira et
al. (2002).
Após a identificação dos indivíduos, estes foram mantidos em estufa a 30 ºC
(temperatura média natural das colmeias, de acordo com Kerr (1996)) para completo
desenvolvimento do indivíduo até sua emersão.

Figura 25: Disco de cria de Melipona interrupta


parcialmente desoperculado para identificação dos
indivíduos quanto ao sexo e casta. Foto: T. Becker.

66
4.3.4 Análise estatística
Assumimos aqui que a segregação esperada em um dado período seria aquela
observada em colônias sob condições de normalidade (Grupo Controle). Dessa forma, a
segregação de sexo (razão entre as frequências de machos e fêmeas) e castas (razão entre
as frequências de operárias e rainhas) observada em cada disco amostrado das colônia dos
grupos tratamento em um dado trimestre foi comparada à segregação obtida nas colônias
do Grupo Controle no mesmo trimestre usando-se o teste Qui-quadrado (χ2). Isso devido ao
fato da segregação em M. interrupta variar ao longo do ano (Brito et al., 2013). Também,
pela estimativa, com base na experiência da Equipe do Grupo de Pesquisas em Abelhas, de
que as abelhas completam a construção de um disco de cria em aproximadamente 30 dias
usando para isso alimento armazenado há pelo menos um mês. Ainda, que o tempo de
desenvolvimento do disco até pupa é cerca de 30 dias. Assim, optou-se, por considerar a
segregação trimestral. Os valores de χ2 obtidos foram então submetidos a análise por
regressão linear simples tendo a temperatura como variável independente, a fim de testar
seu efeito sobre a segregação.
Ainda, analisou-se por regressão linear múltipla a quantidade de imaturos mortos
em função da temperatura externa média, controlando-se o efeito do tamanho dos discos.
Também foram feitas regressões múltiplas das quantidades totais de rainhas e operárias em
relação à temperatura externa média, controlando-se o efeito do tamanho dos discos e do
número de imaturos mortos. Todas as regressões pretenderam averiguar alterações
decorrentes da modificação da temperatura externa.

4.4 Resultados e Discussão


Observou-se que a segregação tanto de sexo quanto de casta variou ao longo do
tempo nas colônias do Grupo Controle (Figura 26). Foi registrada maior quantidade de
operárias nos meses de agosto e setembro (média de 122 (90,70%)). A quantidade de
operárias, em média, no restante do ano foi de 71. O maior registro de machos e rainhas
ocorreu em agosto (máximo de 108 (35,41%) e 18 indivíduos (9,57%), respectivamente).
Enquanto as menor quantidade média de machos foram registradas em outubro (0), e de
rainhas em março e outubro (média de 5 (5,54%)) (Tabela 4).

67
Rainhas
Operárias
Indivíduos
150 Machos

100

50

Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Mês
Figura 26: Variação natural da produção total de indivíduos (Rainhas, Operárias e
Machos) nas colônias de Melipona interrupta do Grupo Controle durante o período de
novembro de 2012 a outubro de 2013, no Meliponário do GPA/INPA, Manaus - AM.

Tabela 4: Número de rainhas, operárias, machos, larvas e imaturos mortos encontrados em


cada disco amostrado e seus respectivos meses de coleta em colônias de Melipona
interrupta do Grupo Controle, GPA/INPA, Manaus-AM.
Grupos Temp. Média Colônia Disco Mês R O M Larvas Imaturos Mortos
G1 28,41 15 2 Fev 10 60 32 0 0
(Controle) 28,41 15 1 Nov 16 80 61 2 0
28,70 13 2 Mar 4 90 1 0 0
28,70 13 3 Jun 6 86 0 0 0
28,70 13 1 Nov 9 47 35 0 0
29,02 29 1 Set 9 173 0 0 3
29,12 30 1 Ago 17 90 25 0 1
29,12 30 2 Out 5 116 0 0 0
29,33 14 3 Jun 7 62 10 17 0
29,33 14 1 Nov 0 37 28 0 0
29,33 14 2 Mar 6 67 28 0 1
29,68 28 1 Ago 18 170 108 0 9
29,68 28 2 Set 4 55 18 0 0

68
Essa variação natural da produção de machos e fêmeas e de rainhas e operárias em
colônias já foi observada por Kerr (1948) em diversas espécies de Melipona, o qual
registrou uma variação na porcentagem de rainhas nascidas durante o ano. Igualmente,
Carvalho (2000) estudando M. scutellaris em Uberlândia-MG, verificou que de setembro a
abril, meses mais quentes e com melhor florada, há uma produção crescente de rainhas e
machos, em contraste com o período de maio a agosto, coincidente com o inverno, nos
quais há redução no nascimento de rainhas e machos.
Diante desta variação natural, optou-se por prosseguir as análises comparativas das
segregações de castas em colônias dos Grupos Tratamento com base na segregação
trimestral observada em colônias do Grupo Controle utilizando-se o teste χ2 (Tabela 5).

Tabela 5: Segregação de castas observada em colônias de Melipona interrupta, em


condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM, sendo TE = temperatura externa; R =
número de rainhas observadas; O = número de operárias observadas; χ2 = valores do teste
do Qui-quadrado; P = probabilidade. Os valores de χ2 em negrito são significativos.
TE Nº do
Grupos Colônia R O χ2 P
Média Disco
G1 24,57 1 32 6 37 7,257 0,007
24,57 1 50 11 110 6,871 0,009
25,49 18 36 6 52 3,488 0,062
25,19 17 27 1 3 3,368 0,066
25,19 17 12 9 132 2,543 0,111
24,71 3 4 2 45 1,049 0,306
24,71 3 33 2 59 0,381 0,537
25,19 17 28 1 35 0,374 0,541
25,02 2 51 8 38 0,325 0,569
24,71 3 41 5 43 0,325 0,569
24,69 16 18 5 55 0,300 0,584
24,69 16 35 2 52 0,191 0,662
G2 29,33 14 48 0 37 6,871 0,009
29,12 30 26 17 90 5,370 0,020
28,41 15 3 10 60 3,152 0,076
28,70 13 6 4 90 2,099 0,147
28,70 13 10 6 86 1,549 0,213
29,68 28 30 4 55 0,393 0,531
28,70 13 47 9 47 0,325 0,569
28,41 15 49 16 80 0,325 0,569
29,12 30 40 5 116 0,192 0,661
29,68 28 25 18 170 0,168 0,682
29,33 14 11 7 62 0,009 0,923
29,33 14 7 6 67 0,003 0,956

69
TE Nº do
Grupos Colônia R O χ2 P
Média Disco
G2 29,02 29 31 9 173 0,001 0,973
G3 32,98 27 39 10 67 10,341 0,001
31,46 21 37 3 10 8,943 0,003
31,94 7 42 24 87 6,871 0,009
32,18 8 54 3 51 6,871 0,009
32,18 8 34 11 100 5,633 0,018
31,94 7 16 6 18 5,370 0,020
31,96 22 29 8 70 4,537 0,033
32,32 23 38 7 90 1,003 0,317
31,94 7 2 5 41 0,365 0,546
32,29 6 53 4 15 0,325 0,569
32,18 8 17 5 45 0,013 0,908
31,96 22 21 10 49 0,009 0,923
G4 34,80 12 5 13 37 20,129 1e-05
34,80 12 9 11 22 18,308 2e-05
34,80 12 46 4 40 6,871 0,009
34,36 19 22 0 11 2,543 0,111
34,39 20 24 1 2 1,664 0,197
34,36 19 20 1 5 1,549 0,213
G5 36,95 10 44 0 3 6,871 0,009
36,30 24 13 6 25 2,586 0,108
36,30 24 14 1 2 1,664 0,197
35,07 5 1 2 9 1,368 0,242
36,30 24 15 1 13 0,168 0,682
35,07 5 8 1 12 0,008 0,927

Não foi observada correlação significativa a partir da análise, por regressão


simples, entre as médias dos valores de χ2 de todos os discos de cada colônia e a
temperatura externa média das colônias (y = - 5,393 + 0,284.x, P = 0,149, r2 = 0,088)
(Figura 27). Onde aproximadamente metade das colônias expostas a temperaturas acima de
32 ºC tiveram médias de segregações diferentes das encontradas nos controles.
A influência da temperatura sobre a segregação já foi registrada em colonias de
Melipona quadrifasciata anthidioides (Kerr et al., 1966), nas quais houve diminuição do
nascimento de rainhas em temperaturas elevadas (33 e 34 ºC), comprometendo a
sobrevivência da colônia, uma vez que apenas a rainha gera descendentes férteis. Em
trabalhos com Melipona scutellaris, Carvalho (2000) e Nunes-Silva et al. (2006)
submeteram larvas a choques de temperaturas (de 42 ºC) e observaram a diminuição

70
drástica na produção de rainhas, evidenciando que o aumento de temperatura inibe o
desenvolvimento de rainhas nesta espécie.

15

10
Qui-quadrado

26 28 30 32 34 36

Temperatura externa média (°C)

Figura 27: Regressão linear dos valores médios dos χ2 obtidos com a segregação de
operárias e rainhas em todos os discos das colônias de Melipona interrupta em relação a
temperatura externa média, em condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM. A
linha tracejada refere-se ao valor limiar de χ2 (3,84), acima do qual as segregações
observadas estão diferentes das esperadas.

No decorrer do experimento, no entanto, percebeu-se elevado percentual de


imaturos mortos (mais de 70%) nas colônias expostas a temperaturas acima de 34 ºC
(Capítulo 1), o que trouxe implicações drásticas para as colônias, com a rápida diminuição
dos seus indivíduos. Enquanto nas colônias expostas a temperaturas abaixo de 26 ºC foi
observada menor mortalidade (menos que 10%). Nessas temperaturas também se verificou
que houve atraso no desenvolvimento dos imaturos, que levaram cerca de 40 dias para
alcançar a fase de pupa (desde a postura), ou seja, tempo maior que os 30 dias estimados
conforme registrado por Silva (2008) em condições naturais.

71
A influência do aumento da temperatura externa (variável independente) na alta
mortalidade de imaturos (variável dependente) pode ser comprovada pela regressão
múltipla, que resultou em uma correlação positiva, controlando-se o efeito do tamanho dos
discos (y = 121,04 + 4,31.Texterna + 0,07.Ncélulas, P<0,001, R2 = 0,411), (Figura 28 (a)).

(a)

(b)

Figura 28: Regressão múltipla relativa a mortalidade de imaturos em colônias de


Melipona interrupta, em condições de Laboratório, GPA/INPA, Manaus-AM. (a)
Regressão parcial entre o número de imaturos mortos e a temperatura externa média; (b)
Regressão parcial entre o número de imaturos mortos e o número total de células.

Com base nestes resultados observa-se uma maior tolerância das abelhas a
temperaturas abaixo (menores que 28 ºC) do que acima (maiores que 32 ºC) da temperatura
ótima (aproximadamente 30 ºC), como ocorre para a maioria dos organismos,
especialmente as abelhas (Lopes et al., 2011). O desenvolvimento dos imaturos pode ser
comprometido pela exposição a temperaturas fora da sua faixa tolerada causando

72
problemas na metamorfose e alta taxa de mortalidade (Couto e Camillo, 2007; Lopes et al.,
2011) como pôde ser observado durante este experimento (Figura 29).

(a) (b)

Figura 29: Alteração no tamanho de indivíduos de Melipona interrupta oriundos de


colônias expostas a temperaturas diferentes da ótima em condições de Laboratório,
GPA/INPA, Manaus-AM. (a) Diferença de tamanho em pupas com mesmo tempo de
desenvolvimento em colônia do Grupo G2; (b) Operária com má formação das asas em
colônia do Grupo G4. Fotos: T. Becker.

A fim de verificar se a alta taxa de mortalidade afetou as segregações observadas


foi realizada análise por regressão múltipla do efeito da temperatura externa (variável
independente) sobre o número de rainhas (variável dependente), controlando-se o efeito do
tamanho dos discos e do número de imaturos mortos (y = 0,125, + 0,057.Texterna +
0,059.Ncélulas - 0,086.Imortos, P = <0,001, R2 = 0,700). Não foi registrada correlação
significativa (Figura 30 (a)).
Da mesma forma, a regressão múltipla quanto ao efeito da temperatura externa
(variável independente) sobre o número de operárias (variável dependente), controlando-se
o efeito do tamanho dos discos e do número de imaturos mortos (y = 12,596, -
0,376.Texterna + 0,702.Ncélulas - 0,737.Imortos, P = <0,001, R2 = 0,915), também não resultou
em uma correlação significativa (Figura 31 (a)).
Igualmente, na regressão múltipla quanto ao efeito da temperatura externa (variável
independente) sobre o número de machos (variável dependente), controlando-se o efeito do
tamanho dos discos e do número de imaturos mortos (y = -23,807, + 0,561.Texterna +
0,197.Ncélulas - 0,196.Imortos, P = <0,001, R2 = 0,404), a correlação resultante também não foi
significativa (Figura 32 (a)).
Com base nos resultados deste estudo, deduzimos que tanto o número de rainhas
quanto o de operárias e machos não são afetados diretamente pela temperatura externa à
colônia. No entanto, são alterados pelo número de imaturos mortos e pelo tamanho dos

73
discos (excluindo-se o fator tempo). Estes sim sofrem interferência direta da temperatura
externa da colônia, como pode ser verificado nas regressões parciais entre o número de
rainhas, operárias e machos e o número total de células (Figuras 30 (b), 31 (b) e 32 (b)) e
de imaturos mortos (Figuras 30 (c) e 31 (c)).
Deste modo, a temperatura externa, acima de 30 ºC, eleva a mortalidade de
imaturos e reduz o número total de células em colônias de M. interrupta,
consequentemente levando à redução do número de nascimento de rainhas, operárias e
machos. Assim, podemos inferir que a temperatura tem influência indireta negativa na
geração dos indivíduos de colônias de Melipona interrupta. Portanto, o aumento de
temperatura previsto pelo IPCC (2013) é preocupante na questão da manutenção destes
polinizadores, uma vez que pode reduzir a geração de indivíduos reprodutivos.

74
(a)

(b)

(c)

Figura 30: Regressão múltipla entre o número de rainhas produzidas em colônias de


Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de rainhas e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de rainhas e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de rainhas e o número de imaturos
mortos.

75
(a)

(b)

(c)

Figura 31: Regressão múltipla entre o número de operárias produzidas em colônias de


Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de operárias e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de operárias e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de operárias e o número de imaturos
mortos.

76
Número de machos (resíduos)
(a)

30 P = 0,449
20
10
0
-10
-20
-30
-6 -4 -2 0 2 4
Temperatura externa média (resíduos)
Número de machos (resíduos)

(b)

50 P < 0,001
40
30
20
10
0
-10
-50 0 50 100
Número total de células (resíduos)
Número de machos (resíduos)

(c)

30 P = 0,080

20
10
0
-10
-20

-20 0 20 40
Número de imaturos mortos (resíduos)
Figura 32: Regressão múltipla entre o número de machos produzidos em colônias de
Melipona interrupta, em condições de Laboratório no GPA/INPA, Manaus-AM, em
relação a temperatura externa média, controlando-se o efeito do número total de células e
do número de imaturos mortos. (a) Regressão parcial entre o número de machos e a
temperatura externa média; (b) Regressão parcial entre o número de machos e o número
total de células; (c) Regressão parcial entre o número de machos e o número de imaturos
mortos.

77
4.5 Conclusões
Concluímos que temperaturas mais elevadas que a ótima de 30 ºC prejudicam as
colônias de Melipona interrupta, e provavelmente de outros meliponínios, aumentando a
mortalidade de imaturos, alterando o número de indivíduos gerados na colônia e,
consequentemente, a proporção de rainhas, operárias e machos nascidos. Não sendo
comprovado se esta afeta diretamente a segregação em sí.
A redução do número de indivíduos nascidos, causada pelo aumento da
temperatura, afeta negativamente a geração de descendência, papel exercido pela rainha, e
também sua força de trabalho, no caso as operárias, comprometendo o bom funcionamento
e sobrevivência da colônia.

78
4.6 Referências Bibliográficas

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79
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253 pp (in Portuguese).

81
5.0 Considerações Finais

A medida que a temperatura externa se afasta de 30 ºC (para mais ou para menos),


menor é a eficiência da termorregulação da colônia e a postura de ovos realizada pela
rainha. Todavia, o aumento da temperatura parece ser mais prejudicial que a sua
diminuição, uma vez que quanto mais altas as temperaturas a que as colônias de M.
interrupta são expostas, maior o esforço termorregulatório das abelhas, maior número de
imaturos mortos e maiores as deformações observadas na construção dos discos.
A diminuição da postura da rainha, juntamente com a elevada mortalidade dos
imaturos reduz o número de indivíduos nascidos, e com o tempo, reduz consideravelmente
a população total da colônia. Isto compromete a geração de descendência, papel exercido
pela rainha e pelos machos, e também sua força de trabalho, no caso as operárias, que não
conseguem executar as funções básicas necessárias para a sobrevivência, levando a colônia
à morte.
Tomados juntos, os resultados deste trabalho nos permitem deduzir que alterações
naturais ou antrópicas que modifiquem a temperatura a que as colônias de M. interrupta
são expostas, principalmente elevando-as, podem comprometer a sobrevivência da espécie.

82

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