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Apesar de haver escrito tanto sobre os 144 mil, Ellen White nunca os definiu
claramente. A própria Igreja Adventista até hoje não tem uma posição oficial
abrangente sobre o assunto. Embora o Instituto Bíblico de Pesquisas, órgão
oficial da Associação Geral, interprete o número como simbólico[3], a igreja
não determina oficialmente essa compreensão como uma crença.[4] E, apesar
de o Seventh-day Adventist Commentary declarar que, até à época de sua
reedição (1980), os adventistas favoreciam a interpretação de que os 144 mil
são um grupo especial do povo de Deus nos últimos dias – um grupo à parte da
grande multidão[5] –, essa também não era nem é até hoje uma posição
oficial da igreja. O assunto ainda está em estudo, e o que se enfatiza não é
quem são os 144 mil, mas como ser parte deles, como alcançar a salvação.[6]
Por outro lado, se Ellen White condenou discussões inúteis, também encorajou
os adventistas a não desistir de buscar conhecer cada vez mais a Bíblia e as
profecias.[7] Em uma de suas mais fortes declarações, ela afirmou: “A história
da igreja nos ensina que o povo de Deus não deve ficar estereotipado em suas
teorias da fé, mas preparar-se para nova luz, para abrir a verdade revelada
em Sua Palavra.”[7]
Avanços
Nas últimas décadas, diversos estudos envolvendo os 144 mil têm sido
divulgados por meios oficiais da igreja, como o Instituto Bíblico de Pesquisas
da Associação Geral (BRI, sigla em inglês), lançando mais luz sobre o assunto.
Uma importante coleção de materiais sobre Daniel e Apocalipse lançada no
início dos anos 1990 é a série Daniel & Revelation Comitee Series, conhecida
como “Darcom”. Num dos volumes da coleção, um capítulo escrito por
Beatrice Neall, “Sealed Saints and the Tribulation” (“Os Santos Selados e a
Tribulação”) trata diretamente dos 144 mil.[8] Nesse estudo, um ponto
especial pode ser destacado: a relação entre os 144 mil e a “grande multidão”
de Apocalipse 7. Em vez de enfatizar as diferenças entre ambos os grupos, a
autora apresenta diversas “marcas de identificação” entre eles – evidências
de que podem constituir um só grupo. Assim como ela, outros acadêmicos
adventistas, como Ekkehardt Mueller, um dos diretores associados do BRI,
também favorecem essa posição.
Um grupo
Assim como Beatrice Neall, Ekkehart Mueller, em seu artigo “The 144,000 and
the Great Multitude”[9] (“Os 144 mil e a Grande Multidão”), apresenta
argumentos convincentes em favor de que ambos os grupos são um só: (1)
João ouve o número dos selados (144 mil), mas, na sequência, contempla uma
grande multidão (7:4, 9), assim como em 5:5, 6 ele tinha ouvido sobre um
Leão, mas viu um Cordeiro; (2) no capítulo 7, os 144 mil são os justos do
tempo do fim descritos ainda na Terra; a grande multidão é um retrato desse
povo já no Céu; (3) os 144 mil são a descrição do povo de Deus no tempo do
fim, que vai passar pela grande tribulação (representada pela liberação dos
ventos); a grande multidão são os que já passaram pela tribulação (7:3, 14);
(4) os 144 mil são os selados antes da liberação dos ventos (7:3); a grande
multidão logicamente precisou ser selada antes de passar pela grande
tribulação (7:14).[10]
Assim, resta uma dúvida: O que poderia diferenciar os 144 mil da grande
multidão? Haverá dois grupos de justos vivos quando Cristo voltar? Alguns
argumentam que os 144 mil são as “primícias” (Ap 14:4), um grupo especial
em relação à grande multidão. No entanto, “primícias” pode se referir aos
144 mil como os primeiros frutos da “colheita universal de redimidos de todas
as eras”. Diante disso, Mueller conclui que “é melhor entender que os 144 mil
e a grande multidão são o mesmo grupo, visto por diferentes perspectivas”.
Para ele, os 144 mil representam um “termo simbólico”, enquanto a grande
multidão “descreve a realidade”. [12]
O simbolismo dos 144 mil pode encontrar sua realidade na grande multidão
em diversos outros aspectos, entre eles: (1) origem étnica – João ouviu de um
grupo composto por 12 tribos de 12 mil filhos de Israel, mas viu uma multidão
de tribos (7:9); (2) número – João ouviu um número exato, mas viu uma
multidão inumerável (7:4, 9); (3) pureza – os 144 mil são descritos como
puros, sem mancha, assim como a grande multidão, vestida de vestiduras
brancas (14:4. 5; 7:14); (4) proximidade ao Cordeiro – os 144 mil “seguem o
Cordeiro para onde quer que vá”, assim como a grande multidão serve de “dia
e de noite” diante do trono e do Cordeiro (14:4; 7:15, 17); (5) serviço – os 144
mil são “servos de Deus”, e a grande multidão também “serve a Deus” (7:3,
15).
Diante das evidências apresentadas, torna-se ainda mais claro que o número
144 mil é simbólico. O próprio contexto das passagens indica isso: tanto no
capítulo 7:1-8, como em 14:1-5, a linguagem diretamente ligada aos 144 mil
tem forte simbolismo – ventos, quatro anjos, quatro cantos, selamento na
testa, homens virgens, doze tribos de Israel (a maioria extinta, além de a lista
não corresponder à original dos doze patriarcas), etc. É mais coerente
entender os 144 mil das 12 tribos de Israel como que simbolizando a unidade,
perfeição, completude e vastidão da igreja de Deus.[15]
Referências: