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Não é razoável interpretar os 144.000 de modo literal, pois os

números em Apocalipse não são literais, mas simbólicos. A Igreja é

representada pelos 7 candelabros (1.20), pelos 24 anciãos (4.4, pois a

Igreja foi erigida sobre o fundamento dos profetas do Antigo Testamento

e dos Apóstolos conforme lemos em Ef 2.20, ou seja, sobre os 12

Patriarcas de Israel e sobre os 12 Apóstolos, que somados são igual a 24;

Deus não possui dois povos, mas apenas um, pois a parede de inimizade

entre gentios e judeus foi derrubada em Cristo, que, de ambos os povos,

fez um só - Ef 2.16); E, agora, vemos esta mesma Igreja sendo descrita

em termos de uma multidão de 144.000 (7.4), composta por homens

castos ou virgens (14.4), 12.000 de cada tribo de Israel (7.5). E, por fim,

a Igreja é também descrita como uma multidão incontável de remidos de

todos os povos, tribos, línguas e nações (7.9).

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Charles Taze Russell, fundador da seita Testemunhas de Jeová,

chegou a conclusão de que apenas 144.000 seriam salvos. Como sua

igreja cresceu a ponto de superar em muito este número, ele reformulou

sua tese, ensinando, agora, que 144.000 irão para o céu e uma grande

multidão de salvos de segunda categoria habitarão um paraíso terrestre.

Eis aí um mero exemplo das complicações advindas de interpretações

literais dos números no Livro de Apocalipse.

Também não dá para interpretar o número 144.000 literalmente

devido as dimensões da Nova Jerusalém, que seriam imensamente

desproporcionais para um número tão reduzido de habitantes (Ap 21.16-

17). E, se fossemos interpretar literalmente, haveríamos de concluir que

apenas homens e, ainda por cima, virgens, (14:4) dentre os hebreus é que

seriam selados. Ficando de fora os homens casados como o Pai Abraão e

Moisés, e todas as mulheres. Algo totalmente fora de cogitação!

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 No livro de Apocalipse, a Igreja é que está em foco e não os judeus.

O Apocalipse foi escrito para consolar e encorajar a Igreja, e que

conforto e ânimo seus membros teriam numa interpretação literal dos

144.000 que contempla apenas os judeus? Por que Jesus concederia

 proteção especial para 144.000 judeus e não para a Sua Igreja (7.3)? Por 

que apenas os 144.000 seriam selados e não também aquela multidão

inumerável de cristãos de todos os povos, tribos, línguas e nações?

À luz do Novo Testamento, a parede de separação entre judeus e

gentios foi derrubada (Ef 2.14) e não poderia estar aqui em Apocalipse

de novo reconstruída através uma visão celestial que separasse Israel da

Igreja. Deus não possui dois povos, mas um só, e dele fazem parte

 judeus e gentios unidos e lavados pelo sangue de Jesus (Ef 2.16). O que

está em vista em Apocalipse é a Igreja da qual Jesus é o Cabeça. Em

Apocalipse 7, temos a igreja sendo descrita de duas formas distintas,

uma como um grupo bem definido, sem tirar e nem por, e também como

uma multidão inumerável.


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A Igreja é denominada de o Israel de Deus, o que determina isto não é

a circuncisão, mas o novo nascimento! "De nada vale ser circuncidado

ou não. O que importa é ser uma nova criação. Paz e misericórdia

estejam sobre todos os que andam conforme essa regra, e também sobre

o Israel de Deus" (Gl 6.16).

E Tiago, como Apóstolo de Cristo, inicia sua Epístola escrita para a

Igreja, referindo-se a ela como as 12 tribos de Israel: "Tiago, servo de

Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações:

Saudações". E Paulo afirma que "... mediante o evangelho, os gentios

são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-

 participantes da promessa em Cristo Jesus" (Ef 3.6).


3.6) . Por isto, o

verdadeiro Israel é a Igreja que é herdeira da promessa feita a Abraão:

"Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os

descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de

Abraão passaram todos a ser filhos de Abr aão.


aão. Ao contrário: “Por meio
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de Isaque a sua descendência será considerada”. Noutras palavras, não

são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa

é que são considerados descendência de Abraão." (Rm 9.6-8). Portanto,

"os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão" (Gl 4.7).

Há que se reconhecer que os 144.000 castos sejam, de fato, uma

representação da Igreja do Senhor Jesus Cristo pela qual ele morreu para

santificá-la e apresentá-la imaculada a Deus: "... assim como Cristo

amou a igreja e entregou- se por ela para santificá- la, tendo-a purificado

 pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo

como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas

santa e inculpável (Ef 5.25-27).

Como o Livro de Apocalipse foi escrito para a Igreja e não para

Israel, e também porque se trata de uma literatura apocalíptica repleta de

figuras de linguagem, é natural que se conclua que os 144.000 (Ap 7 e

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14) sejam uma ilustração da Igreja, pois além de todos os argumentos já

apresentados, temos também que as descrições dos 144.000 acabam por 

reforçar ainda mais esta interpretação, pois a expressão "até que selemos

as testas dos servos do nosso Deus” (7.4) indica que os 144.000 sejam

uma clara referência a Igreja como um todo, pois sabemos que os salvos

da Igreja é que são descritos como os selados (Ef 1.13; 4.30); e também

é óbvio que os "servos do nosso Deus" no Novo Testamento só podem

ser uma referência a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, tanto que os

Apóstolos de Cristo, Paulo e Tiago, se apresentam exatamente como

"servos de Deus" (Tt 1.1 e Tg 1.1); Mesmo no Livro do Apocalipse os

membros da Igreja ou os salvos em Cristo que desfrutaram a eternidade

na Nova Jerusalém são chamados de servos (Ap 22.3-9; Ap 19.10).

Repare que é claramente dito que o Senhor enviou o seu anjo para

mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer, e

sabemos que a revelação do Apocalipse foi dada as Sete Igrejas (Ap

22.3).

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Os mártires cristãos, vencedores da Besta, cantarão o cântico de

Moisés e o do Cordeiro. Pois a igreja congrega em si mesma ambos os

 povos, judeus e gentios (Ef 2), de modo que os cânticos de vitória das

duas Páscoas estão em sintonia sendo entoados pelo povo de Deus que é

a Igreja em louvor ao único e verdadeiro Messias que é o Rei das

 Nações (Ap 15.3).

Portanto, não há motivo para concluirmos que o uso da expressão

"servos do Senhor" seja um indicativo do povo de Israel, pois os da

Igreja é que são assim também nomeados no Novo Testamento. A Igreja

é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio

a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta

originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm

2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta

mesma Oliveira. Neste sentido, há muito mais continuidade do que

descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no

 plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14).
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O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira

verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro

herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3.1s). E

não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao

número de tribos de Israel. A Igreja é agora “o Israel de Deus” (Gl 6.16),

composta por judeus (o remanescente de Israel, os judeus que aceitam o

Cristo) e por gentios crentes (Ef 2).

Além disto, Apocalipse 14.1 descreve os 144.000 como estando ao

lado do Cordeiro, trazendo escritos na testa o nome dele, o que confirma

tratar-se de um grupo cristão de seguidores de Jesus Cristo, pois também

é dito que eles "seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá" (14.4). Os

144.000 também são descritos como aqueles que "haviam sido

comprados da terra", e sabemos bem que os remidos da Igreja é que

"foram comprados por alto preço" (1 Co 6.20; 7.23).

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Portanto, doze é o número usado para representar o povo de Deus,

tanto no Antigo como no Novo Testamento. São Doze Tribos no Antigo

e Doze Apóstolos no Novo. Sabemos também que o número mil

representa plenitude como vemos em Apocalipse 20 e no Salmo 84:10:

"Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar"; E, até mesmo

em expressões corriqueiras se percebe este uso do mil, tais como: "mil

vezes mais" e "eu já ti falei mil vezes". Sendo assim, é bastante lógico

concluir que o que o número 144.000 (12 X 12 X 1.000) está sendo

utilizado para representar a totalidade do povo de Deus, a soma dos

remidos do Antigo e do Novo Testamento, que também são

representados pelos 24 anciãos e pelos sete candelabros.

Bispo José Ildo Swartele de Mello

http://www/escatologiacrista.blogspot.com

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