Você está na página 1de 9

Avivamento – As perspectivas de Jonathan Edwards e Charles Finney

Em muitos círculos evangélicos atuais, quando se fala em “avivamento”, pensa-se em uma grande
campanha evangelística, com várias reuniões especiais, com um convidado especial e com uma
música especial. Este é o sentido que se associou a este vocábulo no século XIX. As grandes
campanhas evangelísticas de Charles G. Finney (1792-1875), Dwight L. Moody (1837-1899) e
Reuben A. Torrey (1856-1928), bem como as de outros evangelistas do gênero, exerceram papel
decisivo na sedimentação deste modo de pensar. Para outros, “avivamento” seria um “borbulhar de
entusiasmo na igreja”, um excitamento, um cantar empolgante, um louvor diferente e, até mesmo, um
tipo de histeria emocional seguida de sinais incomuns. No século XX, a ideia de “sinais e maravilhas”
passou a integrar substancialmente o cerne do conceito de avivamento.

A palavra “avivamento” (ou reavivamento, do inglês revival) surge desde o século XVII e afirma-se no
século XVIII, quando se começava a falar sobre o reavivamento da religião. Embora o vocábulo fosse
novo, aqueles que o endossavam entendiam claramente que a doutrina era amplamente encontrada
nas Escrituras e na história da Igreja. Por “avivamento” pensava-se num “derramar incomum do
Espírito Santo”.

Jonathan Edwards e a soberania de Deus no avivamento

Jonathan Edwards (1703-1758) foi um dos grandes líderes do avivamento do século XVIII, que tem
sido chamado pelos norte-americanos de “Grande Despertamento”. Um estudo sério acerca deste
assunto terá de levar em conta o que ele fez e escreveu.

D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) e J. I. Packer, ao escreverem sobre Edwards, entendem que é na


questão do avivamento que ele é preeminentemente o mestre. Avivamento é um derramamento do
Espírito, e “se vocês quiserem saber algo sobre o avivamento verdadeiro, Edwards é o homem que se
deve consultar”, arremata Lloyd-Jones.

Em sua clássica obra A Treatise Concerning Religious Affections (Tratado sobre Afeições Religiosas),
Edwards nos fala sobre a atuação do Espírito Santo, dando grande atenção à experiência pessoal. O
anseio de Edwards em diferenciar a experiência religiosa verdadeira da falsa resultou de sua
preocupação pastoral no contexto do avivamento. Ele pregou uma série de sermões sobre 1 Pedro
1.8 tratando do assunto, em 1742-1743. O Tratado resultou da revisão do texto desses sermões para
publicação em 1746. Nesta obra, Edwards argumentou que o cristianismo verdadeiro não se
evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração
transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa das
diferenças entre a religiosidade carnal e a verdadeira espiritualidade, que toca o coração com a
visão da excelência de Deus e liberta o homem do egocentrismo. Edwards lutou em duas
frentes: contra os adversários do avivamento e contra os extremistas; contra o perigo de
extinguir o Espírito e contra o perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás.

Por um lado, tinha que argumentar contra aqueles que descartavam todo o avivamento como histeria
irracional; por outro, tinha que argumentar contra aqueles que pareciam pensar que tudo o que
aconteceu no avivamento era “de Deus”, não importa quão estranho, extremista ou desequilibrado
isso fosse (…).

Em sua tentativa de traçar um caminho intermediário entre esses extremos, a um tempo similares e
opostos, Edwards confrontou-se com uma série de questões fundamentais.

Nos seus escritos, Edwards avaliou a experiência religiosa à luz das Escrituras e das suas convicções
reformadas. O ponto de partida da sua pregação e da sua teologia foi o Deus soberano, em sua
majestade, graça e glória. Edwards incluía uma ênfase na obra soberana e graciosa de Deus, ao
tratar do avivamento. Segundo ele, o avivamento é uma visitação divina. É Deus vindo e agindo de
maneira poderosamente incomum entre o seu povo. Utilizando a analogia do mar, o avivamento seria
como as ondas do mar, que vêm e quebram sobre a praia, e nós podemos visualizar a história
constatando essas ondas vindo e quebrando. De fato, a história dos avivamentos seria a história do
povo de Deus.

Num avivamento, ou experiência religiosa genuína, o critério principal é este: se quem está no centro
das atenções é Deus ou o ser humano. Para que Deus esteja no centro é necessário:
Em primeiro lugar, que haja nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de
Deus, e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja a consciência de que
toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do Espírito de Deus, que transforma e santifica
os pecadores, capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas.

Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas ou à capacidade humana
só desmerecem a grandeza do amor de Deus revelado a nós, por meio de Cristo Jesus e tornado real
em nossos corações somente pela iluminação do Espírito Santo.

The Distinguishing Marks of a Work of the Spirit of God (As Marcas Distintivas de uma Obra do
Espírito de Deus) é um pequeno, mas importante livro de Edwards baseado em um sermão que
pregara em Boston, durante o Grande Despertamento. Depois do sermão, ele fez alguns acréscimos
e publicou o livro em 1741. Trata-se de uma exposição do capítulo 4 da Primeira Epístola de João,
texto que nos exorta a provarmos “se os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo fora”. De fato, no argumento de Edwards, a palavra “evidência” seria
preferível à palavra “marca”. Edwards extrai dos escritos do apóstolo João um total de quatorze sinais
ou evidências que indicam a presença ou ausência do Espírito de Deus numa pessoa, movimento ou
igreja. A seguir, ele oferece cinco conclusões práticas para a igreja, encerrando com sua ênfase
característica na humildade em todas as coisas do Espírito. Esta questão lhe era crucial, pois sua
igreja fora atingida pelo Grande Despertamento nas décadas de 30 e 40 do século XVIII, e aquele
período foi de grande agitação e confusão, à medida que se faziam todos os tipos de reivindicação
espiritual.

Em seu livro Jonathan Edwards e o Avivamento Brasileiro, o qual recomendo ao leitor, Luiz Roberto
França de Matos (1956-2004), ao analisar os escritos de Edwards, conclui sobre os “princípios úteis
para julgar se uma obra espiritual ou movimento religioso efetivamente vem do Espírito”. Que
princípios são esses? O autor resume-os como segue:

1. Quaisquer manifestações exteriores resultantes de experiências extraordinárias não são um


sinal fidedigno de espiritualidade e não asseguram uma obra genuína do Espírito.

2. Uma obra verdadeira do Espírito de Deus produzirá uma mudança radical na natureza de
uma alma individual, que irá expressar-se em um comportamento e prática completamente
novos, revelando-se progressivamente a imagem de Jesus Cristo implantada no crente.

Quanto ao avivamento, é ele um período marcante, quando Deus, de forma rápida e


impressionante, expande o seu Reino através de um revitalizar da sua igreja; é obra poderosa
do Espírito Santo no meio de muita gente ao mesmo tempo. O avivamento é uma intensificação do
Cristianismo. Não é um outro tipo de Cristianismo, mas uma intensificação do mesmo quando em
tempos normais. Não é diferente em essência; a diferença é de grau e não de tipo. O Catecismo
Maior de Westminster, na resposta à pergunta de número 182, diz que o Espírito Santo nos ajuda
“operando em nossos corações, e despertando (embora não em todas as pessoas, nem em todos os
tempos, na mesma medida) aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários…”.7Alguém
recorreu à analogia entre uma “chuva normal” e uma “chuva forte”. Num contexto de avivamento, os
crentes são mais zelosos, pecadores são atraídos, e mesmo os incrédulos que não se convertem, se
veem convencidos da verdade. J. I. Packer diz que a “Escritura aponta para um processo repetido
muitas vezes, mediante o qual, seguindo-se à frieza, descuido e infidelidade existentes dentre o povo
de Deus, o próprio Deus age soberanamente para restaurar o que estava prestes a perecer”. E
acrescenta: “E através do transbordamento evangelístico consequente, [Deus] torna a estender
ainda mais o reino de Cristo”.

Uma observação importante, que deve novamente ser enfatizada, é que o avivamento vem
exclusivamente de Deus. “Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu
povo?” (Sl 85.6). O desejo do salmista está voltado para Deus, pois o homem não pode operar esta
façanha. É Deus quem pode vivificar. O avivamento é uma obra soberana de Deus, pois “o
vento sopra onde quer” (Jo 3.8). Nós não podemos dar uma ordem para que haja um
avivamento, e ele não segue um modelo previamente fixado por qualquer homem. Nós estamos
amarrados à misericórdia de Deus. “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim
também o Filho vivifica aqueles a quem quer” (Jo 5.21). Isto não deveria causar-nos desespero, mas
fome, um apetite pela visitação de Deus. Deveria nos levar à humilhação. Na compreensão de
Edwards, avivamento é algo que acontece, não é algo que se promove. O homem não é o
agente; ele é objeto dessa obra do Espírito. Deus é absolutamente soberano em cada dádiva que
concede. Isto é tão verdadeiro acerca do avivamento como é de qualquer grande obra redentora. J. I.
Packer colocou isto nas seguintes palavras:

O avivamento é Deus demonstrando a soberania de sua graça. Avivamento é inteiramente obra da


graça, pois sobrevém as igrejas e cristãos que merecem apenas julgamento; e Deus o faz acontecer
de maneira a mostrar que sua graça foi decisiva neles. Os homens podem organizar convenções e
campanhas e buscar a bênção de Deus sobre elas, mas o único organizador dos avivamentos
é o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo. Repetidas vezes, o avivamento tem vindo
de maneira súbita, irrompendo frequentemente em lugares obscuros, através do ministério de
homens também obscuros. Na verdade, ele vem em resposta à oração, e onde ninguém orou é
provável que também ninguém seja avivado; entretanto, a maneira pela qual a oração é respondida
será de forma a enfatizar a soberania de Deus como a única fonte de avivamento, mostrando que
todo o louvor e toda a glória precisam ser dados somente a Trindade Santa.

Iain Murray, em seu excelente livro Pentecost Today, chama a atenção para o fato de que a soberania
de Deus no avivamento é revelada em que Ele é soberano nos instrumentos que se propõe utilizar
neste sentido, em seus propósitos no avivamento, e com relação ao tempo quando o avivamento
começa. Roberts & Gruffydd, em seu livreto, quando se referiram ao avivamento de 1762, no País de
Gales, escreveram: Avivamento e seus Frutos

Avivamento, por definição, é o próprio princípio de vida da igreja. O poder que produz a vida é o
próprio princípio de sua vida. O poder que traz à vida é o poder que sustém a vida. A igreja como um
corpo de crentes permanece numa contínua necessidade do vivificante Espírito de Deus.

Evans observa que “um dos fatos mais coagentes e convincentes que serve para demonstrar a
soberania do Espírito Santo em instaurar reavivamentos é a maneira simultânea de manifestar Sua
operação em vários lugares e pessoas”. E o mesmo autor salienta o papel da oração. Não obstante
ser obra graciosa e soberana, o avivamento sempre vem através da oração. Oração intensa e
persistente. A correta compreensão da doutrina da soberania de Deus não implica em
passividade da parte do povo de Deus. Edwards coloca isto da seguinte maneira:

Quando Deus tem algo muito grande para realizar em favor da sua igreja, a vontade dele é que isso
seja precedido pelas orações extraordinárias do seu povo, segundo manifestado por Ezequiel 36.37…
E é revelado que, quando Deus está para realizar grandes coisas para a sua igreja, ele começará
derramando de maneira notável o espírito de graça e de súplicas (Zc 12.10).
Ez 36.37 - Assim diz o Senhor Deus: “Deixarei que a casa de Israel peça que eu lhe faça ainda
isto: que eu aumente o número de pessoas como se fosse um rebanho. 38Como os rebanhos
consagrados para os sacrifícios,

os rebanhos de Jerusalém nas suas festas fixas, assim as cidades desertas se encherão de
rebanhos de pessoas. E eles saberão que eu sou o Senhor.”

Zc 12.10 - E sobre a casa de Davi e sobre os moradores de Jerusalém derramarei o espírito da


graça e de súplicas. Olharão para aquele a quem traspassaram.
Prantearão por ele como quem pranteia por um filho único e chorarão por ele como se chora
amargamente pelo primogênito.
“Aviva a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a
conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia” (Hc 3.2).
Isaías 64 é uma oração muito própria em favor de um avivamento.

Também o salmista ora: “Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira
da tribulação a minha alma” (Sl 143.11).
Além disto, a pregação da Palavra de Deus é instrumento de Deus para reavivar seu povo. O
SENHOR utiliza sua própria Palavra (Sl 119.25; Ez 37.9). O Salmo 119 descreve a Palavra de Deus
como o meio para o reavivamento do povo de Deus: “Estou aflitíssimo; vivifica-me, SENHOR,
segundo a tua palavra” (Sl 119.107).
O impulso do avivamento há de partir do Senhor, como também o poder que acompanha a Palavra
deve ser atribuído a Ele. Enfim, se pudermos falar de uma metodologia em Edwards, esta era,
basicamente, orar por avivamento e expor a palavra da Escritura.

Charles Finney e a “Ciência do avivamento”

A definição que Edwards ofereceu para avivamento sofreu grande revisão no século XIX. Um dos
mais influentes líderes do chamado “Segundo Grande Despertamento” foi Charles Finney. Ele
escreveu um livro em 1838 chamado Reavivamento da Religião. De forma contrária a Jonathan
Edwards, Finney fez o avivamento repousar decisivamente sobre o homem. No seu livro,
Charles Finney e a Secularização da Igreja, Jadiel Martins Sousa (1964-2002) observa com
muito acerto que “em algum sentido, pode-se dizer que Finney foi uma reação a Edwards, uma
vez que o calvinismo representado por este foi repudiado e relegado à condição de fantasma
por aquele”. Finney argumentou que podemos alcançar o avivamento simplesmente utilizando
adequadamente os meios corretos. No raciocínio de Finney, “orar pelo reavivamento religioso e deixar
de empregar qualquer outro meio, é tentar a Deus”. E na sua argumentação subsequente, estes
meios recebem grande ênfase. A analogia que ele utilizou foi a de um fazendeiro à espera de uma
colheita. Ele ara, irriga e prepara o seu campo… E à medida que ele faz essa obra, a colheita
inevitavelmente acontece. Assim, o avivamento é como uma ciência. Em sua biografia de Finney, V.
Raymond Edman falou sobre “a ciência do avivamento” – de fato, o título da obra em português é
Despertamento: A Ciência de um Milagre.

Avivamento é tido frequentemente como um ato da soberania divina, outorgado pelo Deus
todo-poderoso segundo sua vontade, sob sua direção. O homem, no caso, é considerado
inteiramente incapaz de promover ou impedir semelhante manifestação do poder soberano. A
evidência da experiência cristã não confirma a exatidão de tal conceito, e a verdade é que
parece concludente haver muito que os crentes devem fazer na preparação e promoção do
verdadeiro avivamento (…).

Finney é explícito e exigente na sua explicação de que um avivamento espiritual, como ele o
chamava, “não é milagre”, mas antes “o resultado do emprego acertado dos meios apropriados”.

E o autor cita o próprio Finney:

Avivamento não é milagre, nem depende de milagre, em nenhum sentido. É resultado puramente
filosófico do emprego acertado dos meios comuns, tal como qualquer resultado que se obtenha
empregando métodos apropriados. Pode haver um milagre entre suas causas antecedentes, ou pode
não haver. Os apóstolos empregavam milagres simplesmente como meios de chamar a atenção para
sua mensagem e de estabelecer a autoridade divina dessa mensagem. Mas o milagre não era o
avivamento…

Afirmei que o avivamento é o resultado do emprego acertado dos meios adequados. Os meios que
Deus determinou para a operação de um avivamento, sem dúvida, possuem tendência natural para
produzir um avivamento, senão Deus não os teria determinado. Mas, conforme todos sabemos, os
meios não produzirão um avivamento sem a bênção de Deus. É impossível dizer que não há a
mesma influência ou ação direta da parte de Deus para produzir uma colheita de cereais ou para
promover um avivamento…

Suponhamos que um homem fosse pregar essa doutrina entre agricultores, com referência à
plantação de cereais. Diga-lhes ele que Deus é soberano e lhes concederá uma colheita somente
quando lhe aprouver; que arar a terra, semear e cultivar como quem espera uma colheita, está muito
errado; é tirar a obra das mãos de Deus, é interferir na sua soberania, é labutar com suas próprias
forças; que não existe, entre os meios e os resultados, nenhuma ligação de que possam depender. E
suponhamos que os agricultores aceitassem tal doutrina. Ora, poriam o mundo a morrer de fome. Pois
os mesmos resultados advirão se a Igreja se deixar convencer de que a expansão do evangelho é
matéria misteriosamente sujeita à soberania divina, que não existe conexão entre os meios e o fim….

Creio firmemente que, caso pudéssemos saber todos os fatos, verificaríamos que, quando os meios
determinados são usados acertadamente, as bênçãos espirituais são alcançadas com maior
uniformidade que as temporais.

Em resumo, este é o pensamento de Finney acerca do avivamento. E parece que não se alterou
substancialmente, embora alguns autores identifiquem alguma mudança em suas últimas
correspondências. Pelo final da vida de Finney, os sinais do avivamento vinham declinando. Ele
concluía que, se para trazer o avivamento bastava utilizar os meios corretos, a mesma lógica deveria
aplicar-se para manter o avivamento. Entretanto, por alguma razão, essa lógica não se verificava na
realidade ao seu redor. Ele sentiu a impossibilidade de manter o avivamento pelo esforço
humano, e em suas cartas teria concluído que atribuiu muito da obra ao homem. À luz disto,
podemos compreender porque Iain Murray conclui que a inevitável tendência da visão de Finney é
que, embora espere encorajar a diligência e os sinceros esforços práticos, “ela irá, contudo, cedo ou
tarde, produzir desencorajamento”. No final das contas, nesta visão, não há avivamento se a
desobediência continua a prevalecer, pois é a obediência humana que assegura o avivamento.

Efetivamente, Finney estava reagindo a uma situação que considerava grave. Além disso, ele era
alguém muito interessado em resultados. Para ele, a única forma de afirmar a veracidade de um
método era sua eficácia em atingir alvos propostos. O fato de ter experimentado avivamento e ter se
concentrado em seus efeitos visíveis deu a Finney a oportunidade de desenvolver sua tese da
produção do avivamento. Nela há uma enorme confiança no caráter natural dos poderes da própria
mente que são despertados e excitados pela palavra dirigida de forma clara à consciência. Embora
houvesse dito que “os meios não produzirão um avivamento sem a bênção de Deus”, de alguma
maneira, em sua lógica matemática e forense, e promovendo alguma confusão entre causa e efeito, o
avivamento ficou reduzido a uma ciência. Numa observação dos escritos de Finney a este respeito,
uma leitura superficial dos títulos já é suficiente para perceber sua tese: os títulos sugerem ação
exclusiva do homem e apontam para resultados seguros. O avivamento é, pois, o resultado do
despertamento dos poderes da consciência por meio das várias técnicas, que passaram a ser
exaustivamente empregadas. Assim nasceu o “Avivalismo”. A definição de Finney prevaleceu entre a
maioria dos cristãos evangélicos desde então, e “avivamento” e “metodologia” passaram a caminhar
juntos, e com grande detrimento da teologia. Fato, porém, é que a metodologia de Finney era, clara e
inescapavelmente, uma expressão de sua teologia.

Jadiel Martins Sousa resume bem tudo isto:


Até os dias de Finney, a Igreja Cristã estava relativamente familiarizada com o fenômeno do
avivamento. Vários períodos marcados por grande despertamento espiritual, desde a Reforma do
século dezesseis, já haviam ocorrido. Mas a partir do ano 1800, no período do chamado Segundo
Grande Despertamento, algo novo começava a ser notado. As manifestações emocionais e as
expressões corporais, que já eram conhecidas dos outros períodos de avivamento, ganharam
uma nova dimensão. Passavam a ser não apenas sinais secundários ou adereços presentes, mas
se tornavam praticamente a essência do avivamento. Se antes essas manifestações eram algo a
ser administrado, filtrado e julgado à luz da Palavra de Deus e de seus próprios frutos, agora
elas eram buscadas, estimuladas e promovidas. Além disso, havia o pensamento de que todas
as coisas relacionadas ao avivamento eram possíveis de serem promovidas pelo homem.
Nesse contexto, o avivalista era tão importante quanto o avivamento, o evangelista tão
importante quanto o evangelho.

Uma série de adornos foram acrescentados ao fenômeno do avivamento, como, por exemplo,
os acampamentos, de tal forma que se acreditava ser impossível que o avivamento ocorresse
fora desse ambiente meticulosamente preparado pelo homem. Esse era o novo perfil do
avivamento do início do século XIX. O avivamento não era mais um fenômeno surpreendente,
determinado pela soberania de Deus e executado livremente por ele. Já não era mais uma visitação
especial na qual Deus restabelecia o vigor de seu povo trazendo nova disposição àqueles que
estavam moribundos. O avivamento passava a ser um movimento terreno, um programa da
igreja, algo planejado e executado pelos homens. Era um movimento ao qual as pessoas
aderiam ou se opunham. Surgia o reavivalismo, do qual Finney se tornou o principal
representante.

Alguns líderes cristãos piedosos e operosos, contemporâneos de Finney, e que também estavam sob
o impacto de uma grande visitação de Deus, se opuseram ao seu novo conceito e às suas “novas
medidas”. Tais homens não eram negligentes quanto aos deveres cristãos, mas entendiam que o
avivamento dependia da soberania de Deus. Era ele quem determinava quando e onde ocorreria um
derramamento especial do seu Espírito. Havia um elemento de surpresa no avivamento. Não era
possível nem mesmo estabelecer um modelo fixo de avivamento; Deus se reserva no direito de agir
de formas variadas, embora algumas marcas estejam geralmente presentes.

William Sprague (1795-1876) foi durante quarenta anos pastor da Igreja Presbiteriana em Albany,
New York. Ele testemunhou um período em que milhares de homens e mulheres foram convertidos.
Sendo contemporâneo de Charles G. Finney, Sprague escreveu em 1832 um livro chamado Lectures
on Revivals of Religion (Conferências em Avivamento). De onde procedem tais avivamentos da
religião? De onde eles vêm? Sprague põe isto da seguinte maneira:
Em todo avivamento nós somos distintamente conduzidos a reconhecer a soberania de Deus. Assim
como, isto é verdade e pode ser percebido, na influência pela qual uma única alma é convertida,
certamente não é menos manifesto nessas copiosas chuvas de influência pela qual são convertidas
centenas de pessoas. É Ele quem causa isto. É Ele quem faz chover em uma cidade e não em outra.
É Ele quem dirige o movimento dessas nuvens no mundo espiritual, das quais descem as
bênçãos de reavivar e acelerar a graça. “O vento sopra aonde quer; e ouves a sua voz, mas não
sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo que é nascido do Espírito». Assim,
igualmente, é todo avivamento da religião.

Uma grande necessidade

A ideia completa de avivamento parece que se tornou estranha a muitos bons cristãos. Isto se
deve a um sério equívoco na compreensão das Escrituras, e a uma lamentável ignorância da
história da Igreja. Visto que em nosso tempo este termo é utilizado para uma cruzada
evangelística ou para alguns eventos planejados, o significado original tornou-se quase
inacessível para a maioria dos cristãos.

Precisamos ser conduzidos a um grande senso de nossa própria indignidade e insuficiência, e que
seja criado dentro de nós um correspondente desejo pela manifestação da glória e do poder do
SENHOR. O “seu braço não está encolhido”.

As épocas de avivamento trazem um profundo sentimento de que sempre se está diante dos olhos de
Deus; as coisas espirituais tornam-se sobejamente reais, e a verdade de Deus se torna
irresistivelmente poderosa, tanto para ferir quanto para curar; a convicção de pecado torna-se
intolerável; o arrependimento é profundo; a fé desabrocha forte e firme; a compreensão espiritual
cresce depressa e aguda; e os novos convertidos amadurecem em período de tempo bem curto. Os
cristãos tornam-se destemidos no testemunho e incansáveis no serviço do seu Salvador. Eles
reconhecem a sua nova experiência como um verdadeiro antegozo da vida do céu, onde Cristo
se lhes revelará tão plenamente que jamais serão capazes de deixar, dia e noite, de cantar seus
louvores e fazer sua vontade. A alegria transborda (Salmo 85.6; 2 Crônicas 30.26; Neemias
8.12, 17; Atos 2.46,47; 8.8), abundando uma generosidade cheia de amor (Atos 4.32).

Você também pode gostar