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Os Sete Níveis Do Ser
Os Sete Níveis Do Ser
Os Sete Nafs
Os primeiros versos sobre a Jihad foram revelados em Makkah, antes da Hijra para
Medina. Nestes versos existe a referência à “Jihad an-Nafs”, ou seja, à luta contra o eu (o ego e
os desejos humanos mais básicos). Mas é preciso notar que este termo, Nafs, possui dois
sentidos distintos.
O primeiro refere-se aos poderes da raiva e do apetite sexual no ser humano. Este uso
é encontrado principalmente entre as pessoas do tasawwuf (sufis), que consideram a palavra
“nafs” um termo abrangente para tratar dos atributos negativos de uma pessoa. É por este
motivo que costumam dizer: “é preciso que se trave uma batalha contra o ego para derrotá-lo”
(la budda min mujahadat al-nafs wa kasriha), ou como está dito no hadith: “A`da `aduwwuka
nafsuka al-lati bayna janibayk” (Seu pior inimigo é o nafs, que se encontra entre os seus
flancos). Al-‘Iraqi diz que este hadith se encontra em Bayhaqi, sob a autoridade de Ibn ‘Abbas,
cuja corrente de transmissão contém Muhammad Ibn Abd al Rahman ibn Ghazwan.
O segundo sentido de nafs é alma, o ser humano na realidade, o seu eu (self) e a sua
pessoa. Contudo, isto é descrito de forma distinta de acordo com os diferentes estados em
que o homem pode se encontrar em determinado momento. Caso este eu se evidencie por
uma grande calma que o controla e que removeu de si mesmo a perturbação causada pela
investida das paixões, este nafs é chamado de “alma satisfeita” (al-nafs al-mutma’inna).
No primeiro sentido, os nafs não visam o retorno a Deus, buscando se manter longe
d’Ele: tais nafs são da facção de shaytan. Contudo, quando a alma não atinge tal calmaria,
embora se lance contra os afetos desordenados por paixões e desejos mundanos, é chamada
de “a alma que acusa a si mesma” (al-nafs al-lawwama), pois repreende seu possuidor pela
negligência de ter evadido à sua obrigação de adorar o seu Mestre. Caso desista frente aos
protestos de sua alma e se renda em total obediência ao chamado das paixões e de shaytan,
passa a ser chamada de “a alma que ordena o mal” (al-nafs al-ammara bi al-su’), o que refere-
se novamente ao ego em seu primeiro sentido.
Desde o principio de nossa entrada na escola do Sufismo fomos ensinados sobre os
sete níveis do Ser. Estes níveis são como que as etapas de qualquer sistema educacional pelos
quais se deve passar para se conseguir uma graduação. Contudo, em nosso sistema, as
avaliações são realizadas por uma Autoridade mais Elevada que o professor comum.
Neste aprendizado, o passar ou reprovar de série torna-se conhecido através de
sonhos reais, onde o Professor atribui novas responsabilidades e deveres ao buscador. Porém,
mais importante do que isto, é o fato de que o próprio buscador deve se tornar apto a
perceber o nível onde no momento se encontra, para que possa começar a viver de acordo
com as expectativas de um próximo nível para o qual aspira chegar. Obviamente, em primeiro
lugar é necessário que tal buscador esteja consciente e desperto o suficiente para perceber os
traços de temperamento e os cursos de ação que costuma tomar nas mais variadas situações
pelas quais passa em sua vida. Portanto, torna-se necessária uma sinceridade no olhar para
consigo mesmo. E também é preciso conhecer plenamente as características de cada nível de
desenvolvimento, especialmente aqueles onde a pessoa presume-se estar e o próximo, para o
qual aspira ascender.
Por este motivo é necessário estudar as características dos sete níveis do ser (nafs),
para que possamos perceber exatamente onde nos encontramos neste momento. Esperamos
que este intuito aumente os nossos esforços em atingir um nível acima e nos torne mais
cuidadosos para que não retornemos a um nível inferior.
Não há dúvidas de que existe um potencial completo para a perfeição dentro de todos
os seres humanos, pois Allah, o Altíssimo, colocou os seus próprios Segredos Divinos na
essência do homem a fim de que, desde reinos desconhecidos, trouxéssemos a tona os Seus
mais Belos Nomes e Atributos. Mas esquecemos desta perfeição que foi colocada em nós
antes mesmo que chegássemos a este mundo, revestidos de carne e ossos. Nosso ser físico e
sua conexão com o mundo em que vivemos cobre e obscurece a beleza e a sabedoria que
encontram escondidas dentro de nós, fazendo-nos esquecer de nossa origem e nos deixando
em um estado de ignorância.
Allah, em toda a sua Misericórdia, revelou instruções através de Seus Livros Divinos e
nos enviou Seus profetas e santos enquanto guias e exemplos, para que eles pudessem nos
ensinar e guiar de volta ao zelo divino e à luz original da qual viemos antes que nos
cobríssemos com a escuridão. Àqueles que conseguem realizar este despertar e descobrem
novamente a dimensão sagrada que existe dentro de cada um de nós e que desejam se
aproximar de nosso Criador e origem, que é a própria perfeição, é prometido que: “Se dermos
um passo rumo a Allah, Ele virá correndo ao nosso encontro”.
O homem possui duas almas. Uma delas é chamada de Ruhu Hayvani (a alma animal) e
a outra de Ruhu Insani (a alma humana). A alma animal é criada a partir de uma substância
refinada que controla a vida, a mente, os sentidos, os sentimentos, as emoções, à vontade e o
movimento do corpo físico. Nosso ser relacionado a este corpo animal é chamado de o “eu
(self) animal”, guiado pelos desejos da carne, ou Nafsi Ammara, o eu (self) que governa ao
mal, sendo este o primeiro e mais baixo de todos os sete níveis do ser.
Nafsi Ammara é a própria manifestação da alma animal no homem, enquanto que os
seis degraus acima deste ego que governa ao mal representam o desenvolvimento próprio da
alma humana, que é também chamada de Nafsi Natiqa, ou seja, o ser que pode se comunicar
através da fala, o ser racional.
• Nafsi Lawwama: quando o homem escuta a voz de sua consciência e tenta resistir aos
seus desejos carnais;
• Nafsi Mulhima: quando o homem recebe instruções diretas através de inspirações
advindas de seu Senhor;
• Nafsi Mutmainna: quando o homem é liberto da autoindulgência e encontra paz e
tranquilidade em seu estado de piedade e obediência ao seu Senhor;
• Nafsi Radiyya: quando o homem aceita tudo o que lhe acontece sem ressentimento ou
dor, quando o bem e o mal se tornam o mesmo e ele se encontra satisfeito com
qualquer coisa que lhe aconteça;
• Nafsi Mardiyya: quando o homem passa a assumir os Atributos Divinos, abandonando
sua materialidade; e
• Nafsi Safiyya: quando o homem atinge a pureza da perfeita harmonia.
1 – Nafsi Ammara
1
N.T. E também “Cofre” na língua portuguesa.
Neste nível do ego que comanda ao mal, todas as influências mencionadas são de
caráter muito denso. Para sair de seu jugo, é preciso que alguém forte o suficiente pegue-o
pela mão e o retire de baixo delas. É muito difícil, senão impossível, fazê-lo por si mesmo.
Mas também é possível que com da ajuda de Allah se ouça a voz da razão, que diz:
“Fazer as coisas que Allah permite que sejam feitas por conta de Sua Misericórdia, ao invés de
fazer aquilo que Ele nos ordena a fazer é o que fazem as criaturas preguiçosas”. Para os
verdadeiros servos de Allah é uma obrigação viver de acordo com as leis da Shari’a e os ideais
da Tariqa.
E ao decidirmos seguir esta decisão racional, que é uma dádiva imerecida de Allah, o
Altíssimo, ou caso sejamos resgatados de nossa miséria por um professor dotado de força,
então poderemos nos alçar ao segundo nível do Nafsi Lawwama. Deste modo a alma é puxada
para fora da caverna escura do ego rumo à luz da consciência e veremos nossa arrogância
sendo transformada em humildade; a vingatividade e o ódio em amor; a raiva em bondade; a
luxúria em castidade... se Allah assim desejar.
2 – Nafsi Lawwama
• A CURA PARA A HIPOCRISIA encontra-se em perceber o real valor de tudo aquilo que
se encontra no mundo, inclusive as opiniões das outras pessoas, com seu caráter
temporal, inconsistente e subjetivo, que muda de minuto a minuto, de lugar para
lugar, de pessoa para pessoa e finalmente desaparece. Portanto, deve-se optar por
aquilo que seja permanente, eterno e poderoso ao invés de algo que pode estar aqui,
agora, e amanhã já se foi. Que tipo de tolo acende uma vela enquanto o sol ainda está
brilhando? Não conte com o respeito e o louvor de outras pessoas e também não as
tema, pois é dito: “Quem quer que lhe elogie é o seu inimigo, pois é aliado do seu
inimigo; e quem quer que aponte o que está errado em você é o inimigo de seu
inimigo”.
• A CURA PARA A ARROGÂNCIA é lembrar-se de que seu começo se deu através de uma
gota do sêmen do seu pai e um óvulo da barriga de sua mãe, e que ao final você será
um cadáver apodrecido sob o solo. Beleza, força e inteligência em breve diminuirão e
desaparecerão. Toda a sua fortuna, propriedades, reputação e amigos estarão
excluídos no momento em que você for baixado sozinho em seu túmulo. Suas orações,
piedade e boas ações, se praticados para impressionar aos outros, evaporarão e pior,
poderão se voltar contra você. Perceba que tudo o que tem, incluindo o seu corpo e a
sua própria vida, na realidade não são seus, mas foram emprestados e confiados a
você pelo Criador. Suas ações são também as d’Ele caso estas sejam boas e, quando
são más, é você quem está sendo o tirano de si mesmo. Agradeça por tudo e sinta
vergonha pelo que faz de errado, e então você se tornará humilde. A queda de quem
está baixo é muito menos dolorosa do que a de quem está no alto.
• A CURA PARA A RAIVA a principio é realizada caso seja possível curar-se da arrogância.
É o arrogante que se torna enraivecido pela adversidade, ou até mesmo pela ausência
de recompensas suficientes por aquilo que ele crê estas terem sido merecidas. A
emoção negativa da raiva quando inflamada é mais rápida do que o esforço racional
para contê-la. Uma vez que raiva pegou fogo, é difícil de extingui-la e, assim como o
fogo, queima tudo o que há de humano em nós: compaixão, amor, gentileza,
generosidade, a capacidade de comunicação, de considerar as consequências e a
inteligência são todos reduzidos a cinzas. Tudo o que resta é um animal ferido,
selvagem e perigoso.
4 - Nafsi Mutmainna
Este estágio representa um lugar seguro para o buscador após uma longa e difícil luta
contra o demônio particular, o seu ego, e o exército de demônios tentando-o na vida
mundana. Para ser capaz de chegar e este nível é preciso ter subjugado a ambos. Assim, neste
estágio se está comparativamente livre de perigos. Agora que se está sob o comando da alma
humana, que se alegra em seguir as leis da religião e o exemplo do Profeta (saws), passa-se a
ter as qualidades louvadas por Allah: gentileza, generosidade, paciência, perdão, sinceridade,
gratidão, contentamento e está em paz. Ele escuta a voz de Allah dizendo:
Ele encontrou paz, felicidade e deleite em seu Senhor. A este buscador foi-lhe dado o
céu na terra, e ele pôde entrar no Paraíso ainda nesta vida. Cada palavra que sai de seus lábios
vem do Sagrado Corão, da tradição do Profeta (saws), ou do ensinamento dos santos. Sua
adoração e devoções são como alimento para o crescimento de sua alma. Ele torna-se um
professor não apenas por suas palavras, mas principalmente por seu exemplo. Milagres que
transpiram através de sua presença são atribuídos por ele a outras causas, jamais os
reivindicando, renegando-os e chegando até mesmo ao ponto de negar que sequer teriam sido
milagres. Cada ação sua corresponde às leis da religião. Ele recuperou o nome de Insan, o
verdadeiro ser humano. Tal palavra deriva-se de “uns”, que significa estar próximo, ser intimo
de seu Senhor. A partir deste ponto, seu Senhor irá guiá-lo pela mão e levá-lo adiante sem
muitas dificuldades.
5 – Nafsi Radiyya
Ai de mim! Muitos poucos homens podem sequer aspirar chegar a um estado de alma
tão elevado quanto este. Em todos os estágios anteriores, e até o presente nível, o buscador é
ensinado por palavra e/ou exemplos de outros que não sejam ele mesmo, através do Ilm al
Yaqin, conhecimento adquirido. Agora ele aproximou-se do nível do conhecimento através da
experiência pessoal e das revelações: Ayn al Yaqin, a Certeza. Até este momento tudo era
relativo e agora a Verdade passa a ser oferecida a ele.
A manifestação deste estado se dá através do amor, de um amor todo-envolvente. O
buscador vê a tudo e a todos como atos perfeitos de Allah e, assim, passa a amá-los enquanto
ações, fil, do Amado. Ele atinge a perfeita submissão a tudo o que acontece, e esta é a
“Verdade do Islã”. Tudo se encontra em perfeita harmonia, da qual ele está ciente, não
havendo possibilidades de erro, pois ele é o mestre de seu ego e o próprio ego se tornou um
Muçulmano, submetendo-se ao seu Senhor. Ele não deseja mais nada além daquilo que já tem
e, assim, não pede mais nada para si a Allah. Porém, quando reza por outra pessoa, suas
orações são imediatamente gratificadas. Ele está sentado em um trono no reino espiritual,
enquanto que o mundo exterior está pronto para servi-lo. Sua aceitação, submissão, alegria,
gratidão e amor para com o Senhor são tão perfeitos que o próprio Senhor responde com
alegria ao Seu servo.
6 – Nafsi Mardiyya
Neste nível, o elo entre Criador e criatura torna-se manifesto através de uma
comunhão amorosa entre ambos. O Criador encontra no homem perfeito as qualidades
conferidas por Ele no momento em que o criou, conforme diz:
Os Seus próprios Belos Nomes e Atributos, que ensinou ao nosso pai Adão, tornam-se
manifestos no buscador. Assim, o homem perfeito, aquele que atingiu o nível onde merece a
alegria de Allah, perde todas as suas características físicas animais, assim como os aspectos
humanos imperfeitos que se encontravam sob o domínio de seu ego. Agora, os Divinos
Atributos de Allah passam a ser manifestos nele, que vê a Verdadeira Realidade, a Verdade,
pois foi abençoado com Ayn al Yaqin, a Certeza. Ele passa a ver a beleza em tudo, a amar a
todos, a perdoar as falhas daqueles que ainda não conhecem a verdade e a ser compassivo e
generoso, alguém que dá e nunca pede, servindo através de tudo o que tem para trazer outros
à luz da alma e protegê-los dos perigos de seus próprios egos e da escuridão de sua
mundaneidade. Tal pessoa realiza tudo isto simplesmente por amor e em nome de Allah.
É difícil reconhecer estes seres, pois seu estado não pode ser descrito em palavras. Eles
não podem ser comparados aos conceitos que habitualmente conhecemos. Uma característica
identificável e muito particular a eles é que se encontram sempre em perfeito equilibro, como
o centro de um círculo e o ponto de apoio em uma balança: exatamente no meio, nem mais,
nem menos, no meio. Allah nos pede e o Profeta (saws) nos aconselha que atinjamos este
ponto de balanço onde todos desejam estar, mas só se chega quando atinge-se a perfeição.
7 – Nafsi Safiyya
Estando no meio de tudo, tendo descoberto o centro, a alma encontra seu lugar
apropriado. É um ponto sem comprimento ou largura, que não cobre área ou espaço algum,
sendo assim um lugar puro. Não há desejos e nem pedidos. É o começo e o fim. Assim como
acontece com o ponto sob o Ba e sobre o Nun, todo conhecimento está contido nele. Quando
o ser que possui esta alma pura se move, o movimento é um poder benéfico; quando fala, é
sabedoria e música aos ouvidos; quando aparece, é beleza e alegria para quem o contempla.
Todo o seu ser é a própria devoção; cada célula em seu corpo está em contínuo louvor
ao seu Senhor. Ele é humilde e, embora sem pecados, derrama lágrimas de arrependimento.
Sua alegria é ver o homem buscar ao seu Senhor; sua dor é vê-lo desgarrar-se. Ele ama, mais
do que a qualquer outra coisa, àqueles que servem a Allah. Irrita-se com aqueles que se
revoltam. Tudo o que deseja para a humanidade é o que Allah deseja, e teme pelo destino
daqueles que não têm fé. É justo, e muito mais do que justo! É aquele que irá interceder pelos
pecadores.
Allah sabe o melhor, e pedimos que Ele nos guie pela Senda Reta e nos alce a níveis em
que possamos encontrar Sua aprovação; pedimos também que nos dê paciência,
perseverança, força e sabedoria para termos sucesso no Caminho. Amin.
Fonte: https://sufipathoflove.com/seven-levels-of-being/