mas não era só água, era ácida Ácida de compostos instáveis de homens instáveis, vidas quebradas A chuva não fez o de sempre, molhar também corroeu e levou a superfície
Carregou-me a pele, o exterior
a roupa empolada, a hipocrisia A chuva da cidade grande é mais que só uma chuva Pode ser emprego, energia, confortos resumidos na clausura
Tirou a casca como dos monumentos
que não mais com momentos São figuras escorridas, tristes e choram de um choro ácido Acidulou muitas mentes, queimou olhos que agora preferem se trancar
Corrói pintura como corrói peles
peles de luxo, peles de classe A chuva não escolhe classe só decidiu se derramar E se deleitou nos vasos vazios sisudos e santos, querem alguns
Chamem os químicos, chamem os biólogos
porque esse filósofo das letras se perdeu A torrente vertical é veloz e leva possibilidades várias Queimou meu chão, minha sustentação não perguntou a que vim, nem eu
E segue sem dó de homens
a natureza que segue, mesmo sem nós Mas poucos perceberam e adoram a chuva, como se límpida Mas nada mais é cristalino nem meu cristalino
Já enxerga o oposto, indiferente
quer mais a vida dos livros Aquelas ficções contundentes com ares de realidade sublime Raros furores de água que agora já se limpou