como diria o memorável francês tive mais perdas que valores
A sala visitada, empoeirada
perdeu o que me era sumiu, e conquistou a lembrança
Mas para mim, resta muita coisa,
uma mesa de madeira, cadeiras com estofados rosados, e a celeridade
Na minha busca, vi pouco, sofri muito
rememorando brincadeiras desconexas, agora sem valor algum, e até banais
Plásticos em mil cores, moldam-se em
heróis nada valentes, em pedaços já sem explosão imaginativa
Tudo quebranto do que me foi,
e agora não é, não é por excelência, por vontade de não ser, impotente
Agora estados e nações me tomam
a mente, me tomam o futuro, e quem sabe até meu esquecido passado
Guardado nas camadas negras de fuligem
da sala, das enciclopédias vermelhas, das encadernações da escola
Tudo está sereno e quieto,
nada se move no apartamento, mas até a tela que me é um horror, tem aspecto novo
A novidade está em mim, tal qual
me é, e resta um valor minguado, restrito em mim, só em mim, mas valoroso Querer entender o que passou não é minha busca, mas o tempo se perdeu, minha busca é mais profunda, pegajosa
Resta saber se vale o risco de no caminho
se perder de tal forma, que me encontrar será difícil, penoso e árduo
Mesmo sendo difícil, homens batidos
em carros, tiros ouvidos na noite, algumas cenas nada agradáveis
Busco o clímax em mim, a razão,
é isso que busco, e o objeto da busca se torna de tal forma secundário, que estou relegado
Mas nesse passado remoto e tão vivo,
me tornei brinquedo de mim mesmo, em exercício lúdico de memória
Brinquei comigo, com as palavras,
com o meu próprio ser, e aquilo que me constitui de tal maneira que não sou
Não sou por motivos simples,
minhas memórias não têm valor, me pesa o não-valor, o descompromisso
O valor de minha vida é ínfimo
mas de tão exíguo, tornou-se parte minha e não a dispenso, por mais irrelevante
Mesmo não valendo, um pai não abandona o filho,
assim como mesmo sabendo que não me são nada minhas memórias, não as relegarei
O espaço da casa ainda me é familiar,
os sofás negros, os pisos disformes de pedras, o banheiro de uma brancura doce, quase feliz
Mas nas memórias, nunca se está feliz,
sempre se quer buscar aquele momento chave, que remonta diversos fatos depois No entanto a peça chave, ao ser essencial é sublime e pequenina, tristonha, se esconde e tão bem que nos resta vasculhar
O baú dos desesperados é a porta
da casa improvável, do apartamento surreal, quase tão estanque que parece não ter ocorrido
E de fato o que ocorreu? Amigos a correr
nos corredores livres, bolas a ricochetear as portas brancas, os pênaltis que marcaram a parede
Essas memórias de uma criança ainda
sem pessimismo, sem conhecimento, se tornaram na maturidade bobagem de crianças
Nas crianças, porém as possibilidades,
as verdades não consolidadas, a memória em formação
Esquecerei, vou bater na casa de colega
nada amigável, assim posso me furtar de contar a mim mesmo o que não quero