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Projecto de lei nº ______

De ______/ ______

Objecto: aprova o regime juridico das Policias Municipais.

Nota Justificativa

Ninguém pode contestar com seriedade o facto de os Municípios serem as instituições


democráticas com maior conhecimento dos problemas reais que afectam os cidadãos
dos respetivos concelhos.

Hoje a actividade de «polícia» é concebida numa diferente perspetiva, com


predominância de uma maior orientação para a resolução dos conflitos, num diálogo
constante e próximo com as populações. A participação, a mediação e a
responsabilização da comunidade são encarados como factores essenciais na concepção
de uma polícia mais próxima dos cidadãos e mais eficaz.

Mas também hoje ganha peso um novo conceito da atividade policial, exigindo
um pensamento cada vez mais global para uma ação cada vez mais local, mais
perto da realidade que se pretende regular.

A Constituição da República no nº 4 do artigo 240º da Constituição da República,


sob a epígrafe “polícia” prevê a criação de polícias municipais.

A al. e) do artigo 170º da Constituição da República atribui à Assembleia Nacional a


competência para estabelecer o regime e forma de criação das polícias municipais,
sem prejuízo da delegação de tal competência no Governo.

Também é importante realçar que o Decreto nº 112/90, de 8 de Dezembro, já previa


a possibilidade de destacamento de pessoal com funções policiais para prestar
serviço junto dos Municípios, até à criação de polícias municipais. Trata-se,
claramente, de um expediente para preencher a lacuna derivada da falta de um
serviço público de polícias municipais, no sentido próprio do termo.

O Estatuto dos Municípios, aprovado pela Lei nº 134/IV/95, de 3 de Julho, também


prevê muito claramente a existência de policia municipal como atividade, definida
como o estabelecimento e fiscalização do cumprimento de posturas e regulamentos
policiais, designadamente nos domínios da defesa e protecção da saúde pública,
meio ambiente, segurança na circulação de viaturas e peões nas vias públicas,
normas de gestão urbanística, garantia do abastecimento público e defesa do
interesses do consumidor.
Na verdade, dispõe o artigo 43º do Estatuto dos Municípios, sob a epígrafe
«policia»: No domínio da policia é, nomeadamente, atribuição do Município o que
respeite à emissão e fiscalização do comprimento de posturas e regulamentos
policiais com vista, designadamente a defesa e protecção da saúde pública e do
meio ambiente, à segurança na circulação de viaturas e peões nas vias públicas, ao
respeito das normas de gestão urbanística, à garantia do abastecimento público e à
defesa do consumidor.

E impõe a lei a articulação com a Administração Central nos termos do nº 2 do


mesmo artigo: As funções municipais de policia são exercidas em estreita
articulação com os serviços da Administração Central com intervenção em áreas
afins, em especial os serviços da policia de ordem pública, cujas as forças os
Municípios recorrerão, quando necessário, para assegurar o comprimento das suas
decisões.

E impõe a lei que essa atividade de polícia seja exercida «em estreita articulação
com os serviços da Administração Central com intervenção em áreas afins, em
especial os serviços da polícia de ordem pública, cujas forças os Municípios
recorrerão, quando necessário, para assegurar o comprimento das suas decisões».

Pode-se facilmente concluir que a polícia municipal é uma actividade normal e


corrente dos Municípios, pois que estes detém o poder funcional de estabelecer e
fazer cumprir disposições normativas de relevante importância no seio das
comunidades, num leque vasto de matérias.

Mas também se pode concluir que tais competências em matéria de polícia vêm
sendo exercidas de forma limitada, exatamente pela ausência de lei que preveja a
polícia municipal não apenas como actividade, mas como estrutura e entidade
dotadas de poderes próprios em matéria de atribuições municipais, e criando um
ambiente que permita uma maior articulação com outros corpos de polícia,
especialmente aquelas com intervenção relevante na ordem pública.

E deve-se ainda dizer que o ordenamento jurídico cabo-verdiano parece não


contentar-se com a concepção de polícias municipais como policias meramente
administrativas, pois que existem referências claras à admissibilidade de intervenção
em matéria de ordem pública, nas condições que vierem a ser definidas por lei, nos
exatos termos do nº 3 do artigo 43º do Estatuto dos Municípios.

Em todo o caso, por se tratar de matéria nova, sem experimentação significativa,


o projeto de lei que se apresenta revela alguma contenção em matéria de
competência da polícia municipal no domínio da ordem pública, sem prejuízo
das actividades de vigilância e guarda de edifícios e equipamentos públicos
municipais, actividades que são materialmente de ordem pública.
A preocupação fundamental prende-se com a necessidade de dotar os
Municípios de um quadro mais clarificador de intervenção dos serviços públicos
de policia municipal, com condições que possam optimizar o seu desempenho,
clarificar as áreas de atuação, mas também permitir, na medida necessária, a
complementeridade de intervenções que melhorem globalmente os resultados
em matéria de fiscalização de cumprimento das leis e dos regulamentos.

A polícia como corpo, com regras e procedimentos, especialmente vocacionado


para assegurar o cumprimento das normas no domínio das atribuições
municipais, sem prejuízo de outras competências que ventualmente nelas
venham ser delegadas, faz falta aos Municípios cabo-verdianos, particularmente
numa conjuntura que se mostra cada vez com maior pertinencia ser
absolutamente necessária uma cultura de maior exigência no cumprimento da
regras de convivencia social, de respeito para com as leis e regulamentos, e de
intolerância para com comportamentos que tendem a «normalizar» o
desregramento e os incumprimentos, criando um ambiente de impunidade geral.

Na verdade, a permissividade existente no domínio dos ilicitos meramente


administrativos, pode abrir caminho para a supressão de facores inibitórios da
prática de ilicitos de maior gravidade, criminalmente puníveis.

A actuação firme e eficaz das polícias municipais, sem prejuízo da preocupação


pedagógica, no domínio das «incivilidades» pode dar uma contrbuição
importante para a criação de um ambiente que permita conter os delitos a um
nível mais suportável para a comunidade.

A presente lei reforça, deste modo, o sistema de autoridade pública,


promovendo articulações entre entidades com diferentes responsabilidades, com
diversos níveis de actuação, mas comungando da mesma preocupação essencial:
o cumprimento das leis e dos regulamentos, absolutamente necessário para o
normal funcionamento das instituições e para a vida em comunidade.

Assim, por mandato do Povo, a Assembleia Nacional decreta, nos termos da al.
b) do artigo 175º da Constituição da República, o seguinte:

CAPÍTULO I
Objecto, natureza e âmbito

Artigo 1.º
Objecto

A presente lei tem por objeto a definição do regime jurídico das polícias municipais.
Artigo 2º
Natureza e âmbito

1. As polícias municipais são serviços municipais especialmente vocacionados


para o exercício de funções de polícia administrativa, com as competências definidas
na presente lei.

2. O âmbito de atuação das polícias municipais circunscreve-se ao território do


respetivo Município e no estrito quadro das atribuições conferidas por lei .

3. É proibida a gestão associada ou federada das polícias municipais, sem prejuízo


da possibilidade da existência de acordos intermunicipais ou no quadro da
Associação dos Municípios, em matéria de formação, de aquisição e uso de
equipamentos e de outras com relevância na economia de custos dos serviços.

CAPÍTULO II
Atribuições e competências

Artigo 3º
Atribuições

1. No exercício de funções de polícia administrativa, é atribuição prioritária dos


municípios fiscalizar, na área da sua jurisdição, o cumprimento das leis e
regulamentos que disciplinam matérias relativas às atribuições das autarquias e à
competência dos seus órgãos, e, designadamente, a defesa e protecção da saúde
pública e do meio ambiente, a segurança na circulação de viaturas e peões nas vias
públicas, o respeito das normas de gestão urbanística, a garantia do abastecimento
público e a defesa do consumidor.

2. As polícias municipais cooperam com as forças de segurança na manutenção da


tranquilidade pública e na protecção das comunidades locais.

3. A cooperação referida no número antecedente exerce-se no respeito reciproco


pelas esferas de atuação próprias, nomeadamente através da partilha de informação
relevante e necessária para prossecução das respectivas atribuições e na satisfação
de pedidos legítimos de colaboração apresentados.

4. O exercício das atribuições e competências em matéria da polícia municipal


previstas na presente lei não prejudica o disposto na legislação sobre segurança
interna e nas leis orgânicas das forças de segurança.

Artigo 4º
Funções de polícia
1. As polícias municipais exercem funções de polícia administrativa dos
respectivos municípios, prioritariamente nos seguintes domínios:

a) Fiscalização do cumprimento das posturas e demais regulamentos;


b) Fiscalização do cumprimento das normas de âmbito nacional ou regional
cuja competência para aplicação ou de fiscalização esteja deferida ao
Município;
c) Cumprir e fazer cumprir as decisões dos órgãos do município.

2. As polícias municipais exercem, ainda, funções nos seguintes domínios:

a) Vigilância de espaços públicos ou abertos ao público, designadamente de


áreas circundantes de escolas, praças, feiras e e mercados, em coordenação
com as forças de segurança;
b) Guarda de edifícios e equipamentos públicos municipais ou de outros que
forem colocados sob a sua responsabilidade;
c) Vigilância nos transportes urbanos locais, em coordenação com as forças de
segurança;
d) Regulação e fiscalização do trânsito rodoviário e pedonal na área de
jurisdição municipal.
e) Intervenção em programas destinados à acção das polícias junto das escolas
ou de grupos específicos de cidadãos;

3. Para os efeitos referidos no nº 1, os órgãos de polícia municipal têm


competência para o levantamento de auto, para instrução do ilícito de mera
ordenação social e para a participação de crimes por factos estritamente conexos
com violação de lei ou com a recusa da prática de acto legalmente devido no âmbito
das relações administrativas.

4. Quando, por efeito do exercício dos poderes de autoridade previstos nos nº 1 e


2, os órgãos de polícia municipal directamente verifiquem o cometimento de
qualquer crime, podem proceder à identificação e revista dos suspeitos no local do
cometimento do ilícito, bem como à sua imediata condução à autoridade judiciária
ou ao órgão de polícia criminal competente.

5. Fora dos caso previstos nos números anteriores e noutras disposições especiais
da lei, é vedado às polícias municipais o exercício de competências próprias dos
órgãos de polícia criminal.

Artigo 5º
Competências genéricas

No exercício de funções de polícia administrativa, compete em geral às polícias


municipais:

a) A fiscalização do cumprimento das posturas e demais regulamentos municipais;

b) A fiscalização do cumprimento de normas de âmbito nacional ou regional cuja


competência de aplicação ou de fiscalização esteja deferida ao município;

c) A fiscalização do cumprimento das decisões dos órgãos do município;

d) Adopção das providências organizativas apropriadas aquando da realização de


eventos na via pública que impliquem restrições à circulação, em coordenação com
as forças de segurança competentes, quando necessário;

e) Detenção e entrega imediata, a autoridade judiciária ou a entidade policial, de


suspeitos de crime punível com pena de prisão, em caso de flagrante delito, nos
termos da lei processual penal;

f) Denúncia dos crimes de que tiverem conhecimento no exercício das suas


funções, e por causa delas, e competente levantamento de auto, bem como a prática
dos actos cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, nos
termos da lei processual penal, até à chegada do órgão de polícia criminal
competente;

g) Elaboração dos autos de notícia, autos de contra-ordenação ou transgressão por


infracções às normas cuja cumprimento lhe incumbe verificar;

h) Elaboração dos autos de notícia, com remessa à autoridade competente, por


infracções cuja fiscalização não seja da competência do município, nos casos em
que a lei o imponha ou permita;

i) Instrução dos processos de contra-ordenação e de transgressão em matéria da


sua competência.

Artigo 6º
Competências no domínio da Edificação e Urbanização

1. No domínio da edificação e da urbanização compete nomeadamente às Polícias


Municipais:

a) Assegurar o cumprimento das leis e regulamentos em matéria de edificação e


urbanização;

b) Fiscalizar obras particulares, o respectivo licenciamento e a conformidade da


sua execução com as leis, regulamentos, os projectos aprovados e demais
imposições técnicas e ou administrativas;

c) Elaborar autos de notícia e instruir os processos de contra-ordenação por


violação das leis e regulamentos em matéria de edificação e urbanização;

d) Instruir os processos de embargo de obras relativos às operações de


loteamento, urbanização ou edificação, bem como de demolição, reconstrução,
ampliação ou alteração das mesmas quando estejam a ser executadas sem a
necessária licença ou autorização, em desconformidade com o respectivo projecto,
condições de licenciamento ou autorização, ou ainda, em violação das normas legais
e regulamentares aplicáveis;

e) Notificar os interessados dos embargos de obras ordenados pela autoridade


municipal competente, elaborar os respectivos autos e garantir a sua execução;

f) Proceder à selagem de estaleiros de obras ou outros equipamentos por violação


de normas legais e regulamentares;

g) Garantir a execução coerciva das ordens de demolição total ou parcial das


construções que ameacem ruína, ofereçam perigo para a saúde pública ou para a
segurança dos cidadãos;

h) Garantir a execução coerciva de demolição total ou parcial de obras que não


cumpram as medidas de tutela da legalidade urbanística, bem como a reposição dos
terrenos, nos casos previstos na lei;

i) Assegurar a tomada de posse administrativa dos respectivos imóveis para


execução imediata de obras impostas pelo Município, designadamente de correcção
de más condições de segurança ou de salubridade ou para assegurar o cumprimento
de medidas essenciais de tutela da legalidade urbanística ou a reposição dos
terrenos;

j) Garantir a execução coerciva de despejo sumário dos prédios ou parte dos


prédios nos quais hajam de realizar-se obras de conservação necessárias à correcção
de más condições de segurança, de salubridade ou de demolição, sempre que tal se
mostre necessário à execução das mesmas;

k) Assegurar o cumprimento da lei e dos regulamentos na ocupação da via


pública;

l) Fiscalizar a abertura de covas, buracos ou quaisquer trabalhos que impliquem


a demolição de pavimento da via pública ou a utilização do seu subsolo;

m) Assegurar o cumprimento dos regulamentos em matéria de comodidade,


segurança e conservação da via pública;

n) Apreender equipamento ou objectos em consequência da aplicação de sanções


acessórias ou que sejam susceptíveis de servir de prova na aplicação das normas
previstas no regime das contra-ordenações;

o) Tomar posse administrativa dos prédios, cumpridas as formalidades legais,


com vista a assegurar a execução coerciva das demolições totais ou parciais
ordenadas nos termos das leis e regulamentos, ou de obras ou trabalhos urgentes que
afastem ou diminuam sensivelmente o risco para a segurança ou saúde públicas;

p) Denunciar ao Ministério públicos as infracções criminais por desobediência às


decisões adoptadas pelos órgãos municipais competentes e quaisquer outros delitos
de que tiver conhecimento no exercício das suas funções ou por causa dele.

2. As polícias municipais, por determinação da câmara municipal, promovem, por si


ou em colaboração com outras entidades, acções de sensibilização e divulgação de
matérias de relevante interesse social no concelho.

4. As polícias municipais procedem ainda à execução de comunicações,


notificações e pedidos de averiguações por ordem das autoridades judiciárias e de
outras tarefas locais de natureza administrativa, mediante protocolo do Governo com
o município.

5. As polícias municipais integram, em situação de crise ou de calamidade


pública, os serviços municipais de protecção civil.

Artigo 7.º
Competências no Domínio do Comércio

No domínio do comércio compete nomeadamente às Polícias Municipais:

a) Fiscalizar os estabelecimentos comerciais no que respeita a licenças, alvarás,


autorizações, condições de salubridade, controlo metrológico, publicidade, preço,
neste caso quando se tratar de preço administrativo, ocupação da via pública e
horário de funcionamento;

b) Fiscalizar o exercício da actividade do comércio a retalho, incluindo o retalhista


em sentido próprio, o vendedor ambulante, o feirante e o negociante, nos exactos
termos da legislação comercial aplicável;

c) Assegurar o cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis ao sector do


comércio submetido à autoridade municipal, designadamente em matéria de
verificação da conformidade da licença com a actividade comercial efetivamente
exercida; verificação do capital mínimo, quando exigido; instalações apropriadas;
actividades interditas por lei ou regulamento; ocupação das vias públicas,
fundamentalmente com respeito pela estética e comodidade urbanas, segurança e
trânsito de veículos e pessoas; condições de higiene e saneamento, em estreita
cooperação com as autoridades sanitárias; respeito pelo ambiente; regras da
concorrência e defesa do consumidor.

d) Fiscalizar as actividades comerciais de venda nas peixarias, talhos, matadouros,


feiras, parques, mercados, lojas, bares, restaurantes, discotecas, pubs e quaisquer
outros espaços similares nos quais se exercem actividades que, por lei, estão
submetidas ao controlo municipal;

e) Fiscalizar o funcionamento dos mercados, matadouros e recintos de diversão;

f) Elaborar autos de notícia e instruir os processos de contra-ordenação por violação


das leis e regulamentos e das imposições legítimas das autoridades em matéria de
comércio;

Artigo 8.º
Competências no domínio da Salubridade Pública

Em matéria de salubridade pública compete às Polícias Municipais:

a) Assegurar o cumprimento das leis, regulamentos, instruções administrativas e


procedimentos técnicos em matéria de salubridade pública;

b) Fiscalizar directamente os produtos alimentares sujeitos à inspecção sanitária do


município;

c) Fiscalizar as actividades dos particulares e dos estabelecimentos públicos ou


privados em matéria de remoção, despejo e tratamento de lixos e detritos urbanos;

d) Fiscalizar as actividades dos particulares e dos estabelecimentos públicos ou


privados de forma a evitar ou a reprimir situações que ponham em risco a saúde
pública, designadamente em matéria de despejo na via pública, conservação de
entulhos ou semelhantes, lixos, água ou líquido mal cheiroso, abandono de animais
vadios vivos ou mortos e realização de necessidades fisiológicas fora dos locais que
especialmente lhes estão destinadas;

e) Fiscalizar as actividades dos cemitérios de forma a garantir o cumprimento das


leis e regulamentos e procedimentos técnicos em matéria de saúde pública;

f) Assegurar o cumprimento das leis, regulamentos e procedimentos técnicos em


matéria de remoção, transporte, inumação, exumação, trasladação e cremação de
cadáveres;

g) Fiscalizar as actividades susceptíveis de emitir fumos, gazes e cheiros, de


produzir ruídos ou de constituir factores de insalubridade;

h) Fiscalizar o cumprimento das leis e regulamentos em matéria proibição da


poluição sonora e da poluição do solo e do ar por parte dos veículos, seus condutores
e passageiros;

i) Assegurar o cumprimento das leis e regulamentos em matéria de animais


vadios;

j) Assegurar o cumprimento das leis e regulamento em matéria de abate de


animais e comercialização dos produtos resultantes;

k) Propor o encerramento de estabelecimentos locais que ponham em perigo, de


forma grave, a saúde pública;

l) Elaborar autos de notícia e instruir os respetivos processos de contraordenação


por violação das leis, regulamentos e imposições legítimas das autoridades em
matéria de saúde pública ou remeter as participações às autoridades competentes
para os devidos efeitos, conforme couber.

Artigo 9.º
Competências no domínio dos transportes rodoviários

No domínio da circulação rodoviária e do estacionamento de veículos compete às


polícias municipais:

a) Exercer as funções de autoridade rodoviária nas estradas municipais;

b) Fiscalizar, em geral, o cumprimento das disposições do Código da Estrada e


legislação complementar, na parte em que tal incumbência estiver deferida aos
Municípios;

c) Assegurar o cumprimento das leis e regulamentos em matéria de ordenamento e


sinalização do trânsito e estacionamento dos veículos nos aglomerados
populacionais;

d) Fiscalizar o cumprimento das disposições legais e regulamentares respeitantes


às licenças de condução de ciclomotores, de motociclos de cilindrada não superior a
cinquenta centímetros cúbicos e de veículos agrícolas;

e) Fiscalizar o cumprimento das leis e regulamentos relativos à matrícula dos


veículos referenciados na alínea antecedente;

f) Fiscalizar o cumprimento das deliberações dos órgãos do município e das


disposições legais e regulamentares sobre o ordenamento, a segurança e comodidade
de trânsito e do estacionamento de veículos e circulação rodoviária;

g) Fiscalizar o cumprimento das normas e regulamentos em matéria de concessão,


manutenção e renovação das licenças, autorizações a alvarás municipais respeitantes
à exploração comercial dos veículos automóveis;

h) Proceder ao bloqueamento e remoção de veículos abandonados ou em situação


de estacionamento indevido e abusivo nos exactos termos regulados pelo Código da
Estrada.

Artigo 10º
Competência territorial

1. A competência territorial da polícia municipal coincide com a área do respetivo


município.
2. Os agentes de polícia municipal não podem actuar fora do território do
respectivo município, excepto em situações de flagrante delito ou para prestar
socorro em situações de emergência, mediante solicitação da autoridade municipal
competente.

CAPÍTULO III
Organização e funcionamento

Artigo 11º
Dependência orgânica e coordenação

1. A polícia municipal actua no quadro definido pelos órgãos representativos do


município e é organizada na dependência hierárquica do presidente da câmara.
2. A coordenação entre a acção da polícia municipal e as forças de segurança é
assegurada, em articulação, pelo presidente da câmara e pelos comandantes das
forças de segurança com jurisdição na área do município.

Artigo 12º
Designação e distintivos

1. As polícias municipais designam-se pela expressão «Polícia Municipal»,


seguida do nome do município.
2. O modelo de uniforme do pessoal das polícias municipais é único para todo o
território nacional e deverá ser concebido de molde a permitir identificar com
facilidade os agentes de polícia municipal, distinguindo-os, simultaneamente, dos
agentes das forças de segurança.

3. Os distintivos heráldicos e gráficos próprios de cada polícia municipal, a exibir


nos uniformes e nas viaturas, deverão permitir a fácil identificação do município a
que dizem respeito e distingui-los dos utilizados pelas forças de segurança.

4. Os modelos de uniforme e distintivos heráldicos e gráficos a que aludem os


números anteriores são aprovados por portaria conjunta do membro do Governo
responsável pela área da administração interna e do membro do governo com
poderes de tutela sobre as autarquias locais.

Artigo 13º
Efectivos

O efectivo das polícias municipais é objecto de regulamentação por decreto-lei,


tendo em conta as necessidades do serviço e a proporcionalidade entre o número de
agentes e o de cidadãos eleitores inscritos na área do respectivo município.

Artigo 14º
Armamento e equipamento

1. As polícias municipais só podem deter e utilizar as armas de defesa e os


equipamentos coercivos expressamente definidos pelo Governo.
2. As regras de utilização das armas são as fixadas na lei, a qual estipulará,
obrigatoriamente, que aquelas serão depositadas em armeiro próprio.
3. As especificações técnicas, como o tipo, o calibre, a dimensão e o modelo,
bem como o número das armas e equipamentos de uso autorizado às polícias
municipais, nos termos do número anterior, são definidas por portaria.
4. O armamento das polícias municipais não pode ser de calibre superior ao
detido pelas forças de segurança.

Artigo 15º
Tutela administrativa

Sem prejuízo dos poderes de tutela previstos na lei geral sobre as autarquias locais,
compete ao membro do Governo responsável pela administração interna, por
iniciativa própria ou mediante proposta do membro do Governo responsável pelas
autarquias locais, determinar a investigação de factos indiciadores de violação grave
de direitos, liberdades e garantias de cidadãos praticados pelo pessoal das polícias
municipais no exercício das suas funções policiais.

Artigo 16º
Criação

1. A criação das polícias municipais compete à assembleia municipal, sob


proposta da câmara municipal.
2. A deliberação a que se refere o número anterior formaliza-se pela aprovação do
regulamento da polícia municipal e do respectivo quadro de pessoal.
3. A deliberação da assembleia municipal deve ser submetida à ratificação dos
membros do governo responsável pela área da administração interna e do membro
do governo com poderes de tutela sobre as autarquias locais, efetuada por despacho
conjunto.

Artigo 17º
Fixação de competências

1. Das deliberações dos órgãos municipais que instituem a polícia municipal


devem constar, de forma expressa, a enumeração das respectivas competências e a
área do território do município em que as exercem.
2. O Governo, através de decreto-lei, fixará as regras a observar nas deliberações
referidas, nomeadamente no que respeita ao conteúdo do regulamento da polícia
municipal, à adequação dos meios humanos às competências fixadas e à área do
município em que as exercem.

Artigo 18º
Transferências financeiras

O Governo adoptará as medidas necessárias à dotação dos municípios que optem


pela criação da polícia municipal com os meios financeiros correspondentes às
competências efectivamente exercidas.

CAPÍTULO IV
Dos agentes de polícia municipal

Artigo 19º
Poderes de autoridade
1. Quem faltar à obediência devida a ordem ou mandado legítimos que tenham
sido regularmente comunicados e emanados do agente de polícia municipal será
punido com a pena prevista para o crime de desobediência.
2. Quando necessário ao exercício das suas funções de fiscalização ou para a
elaboração de autos para que são competentes, os agentes de polícia municipal
podem identificar os infractores, bem como solicitar a apresentação de documentos
de identificação necessários à acção de fiscalização, nos termos da lei.

Artigo 20º
Uniforme e identificação

1. O exercício das funções de agente da polícia municipal obriga ao uso de


uniforme e de cartão de identificação pessoal.
2 - Os Agentes da polícia municipal são funcionários de carreira e, quando em
exercício de funções, serão, para todos os efeitos considerados agentes da
autoridade.
3.- Sem prejuízo do que especialmente estiver previsto na lei, os agentes da polícia
municipal gozam de todos os direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na
Constituição e nas demais leis aplicáveis aos funcionários municipais.

Artigo 21º
Meios coercivos

1. Os agentes de polícia municipal só podem utilizar os meios coercivos previstos


na lei que tenham sido superiormente colocados à sua disposição, na estrita medida
das necessidades decorrentes do exercício das suas funções, da sua legítima defesa
ou de terceiros.
2. Quando o interesse público determine a indispensabilidade do uso de meios
coercivos não autorizados ou não disponíveis para a polícia municipal, os agentes
devem solicitar a intervenção das forças de segurança territorialmente competentes.
3. O recurso a arma de fogo é regulado por lei.

Artigo 22ºº
Porte de arma

1. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, os agentes de polícia municipal,


quando em serviço, podem ser portadores de arma fornecida pelo município.
2. A câmara municipal manterá um registo actualizado das armas distribuídas e
dos agentes autorizados a serem portadores das mesmas.
Artigo 23º
Recrutamento e formação

1. O regime de recrutamento e formação dos agentes de polícia municipal será


regulado mediante decreto-lei.
2. A formação de base conterá obrigatoriamente formação administrativa, cívica e
profissional específica, contemplando módulos de formação teórica e estágios de
formação prática.

Artigo 24º
Estatuto

1. Os agentes das polícias municipais estão sujeitos ao regime geral dos


funcionários da administração local, com as adaptações adequadas às
especificidades decorrentes das suas funções e a um estatuto disciplinar próprio, nos
termos definidos em decreto-lei.
2. As denominações das categorias que integrarem a carreira dos agentes de
polícia municipal não podem, em caso algum, ser iguais ou semelhantes às
adoptadas pelas forças de segurança.

Artigo 25º
Acesso a lugares públicos

Os agentes da polícia municipal têm, no exercício das suas funções, o direito de


entrar livremente em todos os lugares onde se realizem reuniões públicas ou onde o
acesso do público dependa do pagamento de uma entrada ou da realização de certa
despesa, dos quais se encontram dispensados.

Artigo 26º
Facilidades de transportes públicos

O Município pode negociar com as empresas de transportes colectivos urbanos em


ordem a assegurar aos agentes da policia municipal, no exercício das suas funções
de vigilância, a livre circulação nos respectivos meios de transporte, na área da sua
competência, desde que devidamente uniformizados e identificados.

Artigo 27º
Dever de Identificação

Para além da obrigatoriedade da ostentação de uma placa de identificação em local


vem visível do uniforme, os agentes da polícia municipal, sempre que solicitados,
devem identificar-se pelo seu nome completo e categoria.

Artigo 28º
Despistagem do consumo de substâncias aditivas e alcoólicas

Os agentes da polícia municipal devem ser submetidos a teste de despistagem de


consumo de substâncias aditivas e alcoólicas, com carácter periódico e aleatório, e
sempre que as circunstâncias o aconselhem, por determinação do superior
hierárquico.

Artigo 29ºº
Deveres dos agentes da policia municipal

1. Os agentes da policia municipal regem-se pelo princípio da hierarquia.


2. O princípio da hierarquia consiste na ordenação e na subordinação das diversas
categorias.
3. A hierarquia tem por finalidade estabelecer as relações de autoridade e de
subordinação entre os agentes, determinadas pela respectiva categoria, antiguidade e
função.

Artigo 30º
(Princípios de atuação)

1. No cumprimento da sua missão, os agentes da policia da municipal regem-se


pelos seguintes princípios de actuação:

a) Respeito absoluto pelos preceitos legais contidos na Constituição e demais


leis da República;
b) Rigoroso apartidarismo e isenção na sua actuação;
c) Obediência rigorosa às orientações, instruções, ordens e determinações dos
seus superiores;
d) Relacionamento adequado com os cidadãos, usando de correcção e de boa
conduta sempre que seja solicitado o seu auxílio;
e) Prevenção eficaz e firme repressão das acções que violam as leis e os
regulamentos cujo cumprimento esteja deferido ao Município;
f) Oposição firme a todas as formas ou tentativas de corrupção, combatendo
todas as tentativas de obtenção de privilégios e ou de benefícios ilegítimos,
dando pronta participação dos casos às entidades competentes.
g) Utilização de meios de persuasão em detrimento de quaisquer medidas de
coacção, salvo casos especialmente previstos na lei ou de recurso aos
competentes serviços do Estado encarregados da segurança e ordem pública;
h) Uso de meios coercivos adequados e estritamente necessários para vencer a
resistência à execução de ordem legítima e manter o princípio da autoridade;
i) Firmeza, rapidez e oportunidade na intervenção, sempre que esta se revele
necessária;
j) Recurso às forças de segurança e ordem pública sempre que se mostrar
necessário;
k) Disponibilidade e prontidão permanentes na actuação como agente de
autoridade;
l) Não servir-se da qualidade que possui, ou da função que desempenha, para
tirar proveito pessoal, para atribuir benefícios ilegítimos ou causar prejuízos
a terceiros;
m) Não intervenção em assunto de natureza exclusivamente civil ou de
competência deferida a outras entidades;
n) Prestação, dentro do quadro legal das suas competências, da devida
colaboração a autoridades ou entidades públicas e privadas que lha solicitem.

2. Os agentes da polícia municipal devem ainda, no exercício das suas funções,


atender às seguintes regras de conduta e relacionamento:

a) Usar de correcção e urbanismo no trato e na linguagem, procurando auxiliar


e proteger os cidadãos, em todas as circunstâncias ou sempre que tal lhe for
solicitado, não respondendo a provocações, devendo sempre ter presente que
é dever geral, de todos os funcionários e agentes, actuar no sentido de criar
no público confiança na acção da administração municipal;
b) Apresentar-se ao serviço pontualmente e devidamente uniformizado, de
acordo com as normas estabelecidas e legítimas instruções dos seus
superiores;
c) Manter uma apresentação cuidada, tratando da limpeza e conservação dos
artigos de fardamento e equipamento ou qualquer outro material que lhe
tenha sido distribuído ou esteja a seu cargo;
d) Evitar actos ou comportamentos que possam prejudicar o vigor ou a aptidão
física ou intelectual, nomeadamente o consumo excessivo de bebidas
alcoólicas, bem como o consumo de quaisquer outras substâncias nocivas à
saúde;
e) Não praticar, no serviço ou fora dele, acções contrárias à ética, à deontologia
funcional, ao brio ou ao decoro do serviço de policia municipal, mantendo
sempre uma postura digna;
f) Não se ausentar do lugar onde deva permanecer por motivo de serviço ou por
determinação superior sem a necessária autorização;
g) Impedir, no exercício da sua actuação profissional, qualquer prática abusiva,
arbitrária ou discriminatória de violência física ou moral, fazendo recurso às
autoridades competentes sempre que a matéria não se inscreva no quadro da
competência deferida à policia municipal;
h) Não criar e nem aceitar situações de dependência incompatíveis com a
liberdade, imparcialidade, isenção e objectividade do desempenho do cargo
através da contracção de dívidas ou assunção de compromissos que não
possa satisfazer em condições de normalidade;
i) Esclarecer os cidadãos das causas e finalidades da sua intervenção;
j) Não se valer dos seus poderes de autoridade, nem da sua hierarquia para
obter benefícios ou para coagir subordinados ou o público em geral;
k) Não utilizar nem permitir a utilização de instalações, equipamentos, viaturas
e demais material afecto à policia municipal em proveito próprio ou para fins
estranhos às atribuições próprias, desde que para tal não exista a necessária e
competente autorização;
l) Manter níveis adequados de formação e actualização de conhecimentos
necessários ao desempenho das suas funções;
m) Cooperar com outras instituições ou seus agentes encarregues da aplicação
da lei e da justiça ou que visem a prossecução do interesse público.

Artigo 31º
Sigilo Profissional

Sem prejuízo do dever profissional de informar superiormente todos os factos


relevantes para o bom funcionamento do serviço, os agentes de polícia municipal
estão vinculados ao dever de sigilo em relação às informações de que tenham
conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.

CAPÍTULO V
Disposições finais e transitórias

Artigo 32º
Regulamentação

O Governo procederá, no prazo de 90 dias, à regulamentação da presente lei.

Artigo 33º
Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no prazo de trinta dias, contados da sua publicação.

Os Deputados,

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