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UNIVERSIDADE CATOLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Direito

Reflexão da cláusula geral de competências nas autarquias locais em


Moçambique

Richarde da Paula Colete

Nampula
2023
Richarde da Paula Colete

Reflexão da cláusula geral de competências nas autarquias locais em


Moçambique

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira


de Administração Autárquica, referente
ao 1º semestre, curso de Administração
Publica, 3º ano, período laboral.
Leccionada pelo docente: M/A.
Aboochama Vontade

Nampula

2023
Índice

Introdução.............................................................................................................................. 4

1. Reflexão da cláusula geral de competências nas autarquias locais em Moçambique ........ 5

1.1. É o conselho municipal um órgão inconstitucional ................................................... 5

1.2. O recurso tímido a cláusula geral de atribuições e de competências .......................... 6

1.3. Os limites da cláusula geral de atribuições e competências ....................................... 9

1.4. A limitação a enumeração legal de atribuições ......................................................... 9

Conclusão ............................................................................................................................ 11

Referências bibliográficas .................................................................................................... 12


Introdução
O presente trabalho faz um estudo sobre “Reflexão da cláusula geral de competências nas
autarquias locais em Moçambique”, cujo tema circunscreve-se na área do Direito Público,
concretamente em Administração Autárquica. Este tema constituiu uma abordagem de
extrema relevância para efeitos de estudo da Administração Autárquica enquanto conjunto de
normas jurídicas que regulam o processo de organização e gestão dos municípios enquanto
autarquias locais.

As autarquias locais são entidades públicas que desenvolvem a sua acção sobre uma parte
definida do território, visando a prossecução de interesses próprios das populações aí
residentes. São dotadas de órgãos representativos próprios.

Nesta senda, para compreensão do tema em alusão, iremos trazer conceitos e aspectos cruciais
tais como: conceito de autarquias locais, reflexão da cláusula geral de competências nas
autarquias locais em Moçambique, o recurso tímido a cláusula geral de atribuições e de
competências, os limites da cláusula geral de atribuições e competências.

Quanto a metodologia, deu-se primazia o método dedutivo visto que para perceber relevância
das autarquias locais, é imperioso que partir dos aspectos gerais de autarquia como entidades
públicas dotadas de órgãos representativos próprios. Não obstante, no que tange ao tipo
pesquisa deu-se primazia a pesquisa bibliográfica porque, a nossa recolha de dados foi
baseada na doutrina e demais artigos científicos

Do ponto de vista estrutural, o trabalho apresenta se seguinte estrutura:

 Capa, introdução;
 Desenvolvimento onde encontrar-se-á abordagens referentes ao tema;
 Conclusão onde é abordado o resumo ou a síntese no que se refere do assunto tratado;
 Referência bibliográfica onde está contido as obras usadas na elaboração do trabalho.
Com a realização do trabalho tem – se como objectivo geral analisar a cláusula geral de
competências nas autarquias locais em Moçambique a luz da legislação Moçambicana.

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1. Reflexão da cláusula geral de competências nas autarquias locais em
Moçambique
Segundo Chapananga (2019), diz que a CRM integra os princípios sobre as autarquias locais
no capítulo XIV que fala sobre o Poder Local, ou seja, o n.° 1 do art. 272 estabelece que "o
Poder Local compreende a existência de autarquias locais", e no n.° 2 do mesmo artigo
define-as como sendo “pessoas colectivas públicas, dotadas de órgãos representativos
próprios, que visam a prossecução dos interesses das populações respectivas, sem prejuízo
dos interesses nacionais e da participação do Estado”. (p.99).

Cistac (2008), retira deste conceito três elementos distintos: o primeiro, as autarquias locais
são pessoas colectivas públicas; segundo, são dotadas de órgãos representativos próprios;
terceiro e último elemento, prosseguem os interesses das populações respectivas.

Segundo Amaral (2008), define que as atribuições como sendo “os fins ou interesses que a lei
incumbe as pessoas colectivas públicas de prosseguir”. Portanto, este autor entende ou
defende que falar de fins ou interesses é a mesma coisa que falar de atribuições.

O termo atribuições não é sinónimo de competências, pois, enquanto as atribuições se referem


às tarefas, fins ou interesses assumidos pela autarquia local, as competências traduzem-se no
conjunto de “poderes funcionais que a lei confere para a prossecução das atribuições das
pessoas colectivas públicas”.

De acordo com Cistac e Chiziane (2008), a prossecução das atribuições dos municípios é feita
através dos órgãos dos Municípios que deviam recorrer a cláusula geral de atribuições
competências que todavia comporta limites ao invés de recorrem quase que exclusivamente a
enumeração legal das atribuições.

1.1. É o conselho municipal um órgão inconstitucional


A organização de cada autarquia local comporta de acordo com a Constituição dois tipos de
órgãos que são uma assembleia dotada de poderes deliberativos e um executivo que responde
perante ela nos termos fixados por lei.

Parece, todavia que a lei ordinária, ao invés de se limitar a estabelecer as condições de


organização e funcionamento dos dois órgãos determinados pela Constituição, acrescentou
um terceiro órgão. Com efeito, se num primeiro momento ela estabelece que as autarquias
locais tem como órgãos uma Assembleia dotada de poderes deliberativos e um órgão

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executivo que responde perante ela, nos termos fixados por lei, num segundo momento, a
mesma lei vem nos dizer de modo contrario ao estipulado na constituição, que os órgãos dos
municípios e povoações são a Assembleia Municipal ou de Povoação, o Conselho Municipal
ou de povoação, portanto que os órgãos executivos das Autarquias locais são dois que são um
órgão executivo colegial que é o Conselho Municipal ou de Povoação e um órgão executivo
singular que é o Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação.

De acordo com Cistac (2012), o conselho municipal ou de povoação é o órgão executivo


colegial constituído pelo presidente do conselho municipal ou de povoação e pelos vereadores
por ele escolhidos e nomeados. O número de vereadores é fixado pela assembleia da
municipal ou de povoação sob proposta do presidente do conselho municipal ou de povoação,
de acordo com parâmetros estabelecidos por lei. Em especial, a lei opera uma distinção entre
duas categorias de vereadores: os vereadores em regime de permanência e os vereadores em
regime de tempo parcial.

Mas adiante Cistac (2012), acrescenta que cabe ao presidente do conselho municipal ou de
povoação de definir quais são os vereadores que exercem as funções em cada um dos dois
regimes. Os vereadores respondem perante o Presidente do Conselho Municipal ou de
Povoação e submetem-se às deliberações tomadas por este órgão, mesmo no que toca às áreas
funcionais por si superintendidas.

1.2. O recurso tímido a cláusula geral de atribuições e de competências


De acordo com Cistac (2012), o legislador, a partir de 1997, tinha estabelecido o princípio de
que a transferência de competências dos órgãos do Estado para os órgãos das autarquias locais
devia ser acompanhada pela transferência de recursos financeiros e, se necessário, humanos e
patrimoniais (Artigo 25 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro).

As dificuldades financeiras com as quais se debatia o Governo (mais de 50% do orçamento do


Estado é alimentado pelos parceiros internacionais ao desenvolvimento), e, talvez, também, a
ausência de uma real vontade política de promover o processo de transferência de
competências (fenómeno bem conhecido do “conservantismo administrativo”), tinham feito
com que o legislador, por um lado, não tivesse optado por uma transferência de “blocos de
competências”, e que o Governo, por outro lado, não tivesse adoptado uma verdadeira política
na matéria.

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É apenas em 2008 que o legislador moçambicano deu um certo impulso ao processo de
transferência de competências, consagrando os princípios directores que deviam orientar este
processo.

Em primeiro lugar, o Governo é encarregue criar as condições para a implementação do


processo de transferência (responsabilidade política). Em segundo lugar, o legislador afirma a
forma gradual deste procedimento e estabelece uma relação substancial com as condições
materiais (técnicas, humanas e financeiras) necessárias para o seu sucesso (Artigo 84 da Lei
n.º 1/2008, de 16 de Janeiro).

De acordo com a lei, compete a Assembleia Municipal pronunciar – se e deliberar sobre os


assuntos que digam respeito aos interesses próprios da autarquia local. Esta disposição
estabelece uma cláusula geral de atribuições e competências, um princípio com uma dupla
vocação.

Por um lado, tem uma vocação externa na medida em que reparte as atribuições entre o
Estado, as autarquias locais, as organizações públicas de administração indirecta (empresas
publicas, institutos públicos, fundações publicas, associações publicas) que segundo os
princípios gerais do direito administrativo, são regidos pelo princípio da especialidade que
lhes interdita de ter outras atribuições, para além das conferidas pelo acto de constituição.

Assim as organizações públicas de administração indirecta são regidas pelo princípio da


especialidade, diversamente de uma autarquia local que possui uma vocação geral e as
pessoas privadas. Por outro lado, tem uma vocação interna na medida em que reparte as
competências entre a assembleia deliberativa e o executivo.

Na perspectiva de Cistac e Chiziane (2008), a cláusula geral de atribuições permite considerar


que todos os assuntos de interesse público local fazem parte das atribuições municipais, o que
por seu turno, permite que os municípios se adaptem as novas necessidades dos administrados
para as satisfazerem, uma situação de silêncio dos textos necessariamente mais lento a serem
modificados de acordo com a conveniência social.

E a cláusula geral de competências permite considerar que a Assembleia Municipal é


competente para emitir pareceres e deliberar, como o interesse público é complexo, porque ele
é necessariamente evolutivo no espaço e no tempo, o acto do órgão autárquico, mesmo em
ausência de especificação legal, se presume legal e valido até a anulação ou declaração de

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nulidade, nos termos da lei. É portanto o juiz administrativo que joga, caso a caso, um papel
essencial nesta investigação.

Para tal é necessário distinguir as decisões que impõem a terceiros, quer se trate de
administrados ou outras pessoas publicas, que não podem ser tomadas excepto nos casos em
que a lei tenha conferido expressamente essa possibilidade, de todas as outras opiniões e
deliberações.

Contudo somos da opinião de que se enquadra na cláusula geral de atribuições e


competências, a acção dos municípios que tendo ignorado a falta de regulamentos e de
orientação central simplesmente avançaram com projectos por exemplo melhorando infra –
estruturas na área de saúde e educação, sem prejuízo coordenação com o Estado ou sem
prejuízo os interesses nacionais.

O regulamento do governo que em virtude do poder regulamentar das autarquias locais deve
ser apenas executivo e não independente que aprova os procedimentos de transferências de
funções e competências dos órgãos do Estado para as autarquias locais, não tem por vocação
limitar a cláusula geral de atribuições e competências, determinada por uma norma de valor
hierárquico superior. Em suma destacamos que os conflitos que surgem entre o Estado e os
municípios devem ser dirimidos pelos órgãos jurisdicionais.

De acordo com Cistac (2012)


O presidente do conselho municipal ou de povoação dirige o conselho municipal ou de
povoação. O Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação é o órgão executivo
singular da respectiva autarquia local. Ele é eleito por cinco anos, por sufrágio
universal, directo, igual, secreto e pessoal, por escrutínio maioritário uninominal em
dois sufrágios, dos cidadãos eleitores recenseados e residentes na respectiva
circunscrição territorial.

A lei vigente atribui numerosas competências ao presidente do conselho municipal ou de


povoação. Pode-se classificá-las em cinco grupos distintos: as competências de direcção e de
administração (por exemplo, a direcção e a coordenação do funcionamento do conselho
municipal ou povoação); as competências de representação (por exemplo, o presidente do
conselho municipal ou de povoação é o representante legal da autarquia local); as
competências de execução e de controlo (por exemplo, o presidente do conselho municipal ou
de povoação é o principal responsável para a execução das deliberações da assembleia
municipal ou de povoação);

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Competências em matéria de nomeação dos vereadores e do pessoal administrativo; as
competências de substituição (por exemplo, no caso de situação de urgência, o presidente do
conselho municipal ou de povoação pode tomar actos no âmbito da competência do conselho
municipal ou de povoação. Os referidos actos devem ser sujeitos à ratificação do órgão
executivo colegial na primeira reunião após a sua prática, o que deverá acontecer num prazo
máximo fixado por lei.

Além destas competências, o presidente do conselho municipal ou de localidade participa nas


sessões da assembleia municipal ou povoação mas sem direito a voto. A presença do
presidente do conselho municipal ou de povoação às sessões da assembleia municipal ou de
povoação visa, por um lado, permitir a assembleia municipal ou de povoação de exercer a sua
função de controlo sobre a actividade do conselho municipal ou de povoação, e por outro
lado, garantir a sua intervenção nos procedimentos decisórios da assembleia municipal ou de
povoação.

1.3. Os limites da cláusula geral de atribuições e competências


Conforme a lei os órgãos das autarquias locais só podem deliberar ou decidir no âmbito das
suas competências e para a realização das atribuições que lhe são próprias. Com efeito as
noções de atribuições próprias ou de interesses próprios da autarquia local, ou seja de
interesse público local, constituem um limite interno as atribuições das autarquias locais. Por
outro lado a repartição de atribuições entre as autarquias e o Estado, as outras pessoas
colectivas públicas e as pessoas privadas constitui um limite externo, que delimita igualmente
a esfera de actuação das primeiras. Em fim a cláusula geral de competências atribui a
competência de princípio ao órgão deliberativo.

Assim pensamos que a reabilitação de escolas que se situam na área do município para
benefício de parte significativa dos habitantes locais e sendo a educação a priori uma
actividade de natureza pública esta inquestionavelmente dentro dos limites de assunto de
interesse público local, desde que respeite as competências de outras pessoas publicas e
privadas nos casos aplicáveis.

1.4. A limitação a enumeração legal de atribuições


Porque ninguém é capaz de delimitar de maneira precisa os assuntos locais, a enumeração
exemplificativa das atribuições dos municípios coexiste com a cláusula geral de atribuições
que vimos precedentemente.

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As atribuições das autarquias locais respeitam os interesses próprios, comuns e específicos
das populações respectivas e, designadamente:

 Desenvolvimento económico e social local;


 Meio ambiente, saneamento básico e qualidade de vida;
 Abastecimento público;
 Saúde;
 Educação;
 Cultura, tempos livres e desporto;
 Polícia da autarquia;
 Urbanização, construção e habitação.

A prossecução das atribuições das autarquias locais é feita de acordo com os recursos
financeiros ao seu alcance e respeita a distribuição de competências entre os órgãos
autárquicos e os de outras pessoas colectivas de direito público, nomeadamente o Estado,
determinadas pela presente Lei e por legislação complementar. Porém, os órgãos das
Autarquias locais só podem deliberar ou decidir no âmbito das suas competências locais e
para a realização das atribuições que lhes são próprias.

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Conclusão
Finda a realização do trabalho foi possível concluir o seguinte:

No geral, percebe que as autarquias locais em Moçambique foram introduzidas pela primeira
lei sobre descentralização aprovada mesmo antes do início do mandato da Assembleia
multipartidária em 1994, a Lei nr. 3/94, no âmbito do Programa de Reforma dos Órgãos
Locais (PROL) em curso desde 1991, que criava o quadro legal e institucional de reforma dos
órgãos locais, e foi revogada pela Lei n.° 2/97, ainda em vigor.

O Poder Local compreende a existência de autarquias locais, que são pessoas colectivas
públicas, dotadas de órgãos representativos próprios, que visam a prossecução dos interesses
das populações respectivas, sem prejuízo dos interesses nacionais e da participação do Estado.

A prossecução das atribuições dos municípios é feita através dos órgãos dos Municípios que
deviam recorrer a cláusula geral de atribuições competências que todavia comporta limites ao
invés de recorrem quase que exclusivamente a enumeração legal das atribuições.

A organização de cada autarquia local comporta de acordo com a Constituição dois tipos de
órgãos que são uma assembleia dotada de poderes deliberativos e um executivo que responde
perante ela nos termos fixados por lei.

No que tange as atribuições, a CRM garante às autarquias locais a administração, sob


responsabilidade própria, de todos os assuntos locais e, na Lei n.º 1/2008, o legislador
consagra um núcleo fundamental de atribuições essenciais para assegurar a autonomia local.
Daí que atribui as seguintes competências às autarquias locais: fazer o investimento público
nas áreas de infra-estruturas rurais e urbanas; saneamento básico; energia; transporte e
comunicações; educação e ensino; cultura, tempos livres e desporto; saúde; acção social e
gestão ambiental.

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Referências bibliográficas
Amaral, D. F., (1998). Curso de Direito Administrativo. (2a Ed). Almedina‫׃‬
Coimbra.

Chapananga, N. D. B. (2019). A dimensão jurídico – material da autonomia


financeira do município de Nampula. Universidade Nova de Lisboa‫ ׃‬Nampula.

Cistac, G. (2012). Moçambique‫ ׃‬Institucionalização, organização e problemas do


poder local. Lisboa‫ ׃‬UEM

Cistac, G. Chiziane, E. (2008). 10 Anos de descentralização em Moçambique‫ ׃‬os caminhos


sinuosos de um processo emergente. Maputo

Constituição da República de Moçambique de 2018.

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